Guia 2016 - WordPress.com
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2 1. CARTA DE BOAS VINDAS......................................................................................4 2. EQUIPE ORGANIZADORA SIEM 2016....................................................................5 3. SIMULAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS PARA ENSINO MÉDIO..6 3.1. O SIEM..............................................................................................................6 3.1.1. A VI EDIÇÃO............................................................................................7 3.2. PREPARAÇÃO DOS DELEGADOS..................................................................7 3.2.1. QUESTÕES QUE DEVEM ESTAR CLARAS..........................................8 3.3. RESPONSABILIDADE DO PROFESSOR.........................................................8 4. ENTENDENDO AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS...............................................9 4.1. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS...............................................................9 4.1.1. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS................................................9 4.1.1.1. A ASSEMBLEIA GERAL (AG)..................................................10 4.1.1.2. O COMITÊ ESPECIAL DE DESCOLONIZAÇÃO (SPECPOL).11 4.1.2. UNIÃO EUROPEIA................................................................................13 4.1.2.1. O CONSELHO DA UNIÃO EUROPEIA.....................................13 4.1.3. UNIÃO AFRICANA.................................................................................14 4.1.3.1. ASSEMBLEIA GERAL DA UNIÃO AFRICANA........................14 5. O RECONHECIMENTO DO SAARA OCIDENTAL COMO ESTADO....................15 6. PROTEÇÃO E EMPODERAMENTO DAS MULHERES NA CONSOLIDAÇÃO DE SEUS DIREITOS BÁSICOS....................................................................................28 7. A CRISE HUMANITÁRIA E A QUESTÃO DOS REFUGIADOS............................41 8. AS DISPUTAS TERRITORIAIS NO MAR DO SUL DA CHINA.............................60 9. GLOSSÁRIO...........................................................................................................70 MENSAGEM FINAL................................................................................................76 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................77 3 Prezados delegados, É com grande prazer que desejamos as boas-vindas a todos os participantes da VI Edição do SiEM – Simulação de Organizações Internacionais para Ensino Médio – que ocorrerá na cidade de Florianópolis, Santa Catarina (SC), no dia 31 de maio de 2016. Neste ano, quatro comitês serão simulados: a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Conselho da União Europeia, o Comitê Especial de Descolonização da ONU (SPECPOL) e a Assembleia Geral da União Africana. Não há dúvidas de que a conscientização e a compreensão acerca das questões internacionais são de suma importância para qualquer país e, de certa forma, para qualquer pessoa. Uma vez compreendendo as discussões e os aspectos da política externa dos países, você estará apto a perceber como questões tão distantes da vida de um cidadão comum podem, de fato, influenciar sua vida cotidiana. Desta forma, o curso de Relações Internacionais da UFSC está disposto a lhes mostrar um mundo novo e completamente interligado, um mundo que vai muito além das manchetes de jornais. Em um modelo de Simulação, você, caro delegado, irá desenvolver habilidades que servirão como experiência para toda sua vida, tanto pessoal quanto profissional. Muitas vezes, acaba descobrindo aptidões antes desconhecidas, tais como: oratória, capacidade de negociação, elaboração de documentos oficiais, tolerância, capacidade de interação com culturas diferentes, postura formal diante de um grande público, além do conhecimento adquirido durante as pesquisas. Vale ressaltar, que este guia de estudos é sucinto e busca auxiliá-los com informações básicas, sendo um ponto de partida para suas pesquisas. A Equipe Organizadora do SiEM 2016 está trabalhando para lhes oferecer uma experiência única e enriquecedora. Desde já, é com grande prazer que desejamos as boas-vindas a todos os participantes do evento. Que tenhamos todos uma grande simulação! Cordialmente, Equipe Organizadora SiEM 2016. 4 Profª. Drª. Graciela de Conti Pagliari Profª. Drª. Karine de Souza Silva Prof. Dr. Lucas Pereira Rezende Profª. Drª. Patrícia Ferreira Fonseca Arienti Ana Beatriz Slomski Oliveira Julia Cristina Koch Ana Clara Bernardes Júlia França de Abreu Andressa Molinari Lisiane Locatelli Anna Luiza Odebrecht Dias Luan Felipe Neis Beatriz Pimenta Klein Lucas Jota Carolina Hartmann Marina Palma de Moura Cecília Brancher de Oliveira Maurício Luiz Munarini Diogo Bruggemann Monalisa Kozerski Scalco Fernando Bassi Paula Gabriela Werlang Fernando Lehn Viotti Guimarães Renan Singer Gabriel Henrique Rosa Querne Thássia Barbosa de Menezes Gabriela Bassoli Pedroso Thiago Söthe Isabelle Ferreira Vieira Victoria Campos Costa Isabel Apel Britez Vinicius Zuniga Fagotti 5 O modelo de simulação de organizações internacionais é realizado por diversas universidades brasileiras e estrangeiras. Nos Estados Unidos, Harvard é considerada a maior organizadora de simulações. Elas são realizadas na própria Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque e atraem centenas de estudantes interessados não apenas nas temáticas previstas, mas também no funcionamento administrativo da maior organização internacional do mundo. Já no Brasil, a Universidade de Brasília (UnB) é referência nesse projeto, nas últimas edições, a UnB contou com a participação de mais de 500 pessoas envolvidas, entre alunos e professores. Atualmente, o Projeto já está consolidado na UFSC. A expectativa é que o número de escolas interessadas em participar aumente, colaborando com o crescimento pessoal e também profissional de seus alunos através desta experiência. Para que isso seja concretizado, o SiEM conta com um staff de cerca de 50 alunos da graduação do curso de Relações Internacionais. O SiEM – Simulação de Organizações Internacionais para Ensino Médio – é um projeto de extensão do curso de Relações Internacionais que visa fomentar a educação e a cultura; estimular a criatividade, o conhecimento, a tolerância nas diferenças; contemplando não somente os alunos participantes, mas toda a sociedade civil. Nele, os alunos são convidados a participar de simulações das principais organizações internacionais (ONU, União Europeia, UNASUL, etc.), atuando como delegados, que representam seus respectivos países e suas opiniões. A equipe organizadora produz guias de estudos e de procedimentos que visam auxiliar os alunos e professores. Contudo, os guias não serão os únicos meios de informação. Estaremos disponíveis por meio de endereços eletrônicos e redes sociais. Basicamente, o SiEM pode ser dividido em três etapas, sendo as duas primeiras preparatórias e a terceira seria a parte prática propriamente dita. O primeiro momento é o de conhecimento dos temas a serem simulados e da divisão dos países. A partir de então, 6 inicia-se a procura por entender o contexto que cada país se encaixa para poder estabelecer sua Política Externa da forma mais real possível. A segunda fase consiste em familiarizar-se com as regras da simulação, para poder elaborar uma estratégia de ação, prevendo possíveis aliados e contrários. Na terceira etapa tem-se a simulação das reuniões, que ocorrerá no dia 31 de maio de 2016 nos períodos matutino e vespertino no auditório do Centro de Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina. O objetivo das reuniões é estabelecer um processo de diálogo e de negociação sobre um determinado tema, que resulte em um encaminhamento expresso em uma Resolução. Posteriormente aos posicionamentos, aos debates e à apresentação dos Projetos de Resolução, ocorre o processo de votação das mesmas. Evento: Simulação de Organizações Internacionais para Ensino Médio. Data: 31 de maio de 2016. Temas: O Reconhecimento do Saara Ocidental como Estado – Assembleia Geral das Nações Unidas. Proteção e Empoderamento das Mulheres na Consolidação de seus Direitos Básicos – Assembleia Geral da União Africana. A Crise Humanitária e a Questão dos Refugiados – Conselho da União Europeia. As Disputas Territoriais no Mar do Sul da China – Comitê Especial de Descolonização da ONU Para que os alunos possam contribuir com a Simulação de forma mais próxima à realidade, são necessários alguns esforços, tais como: o conhecimento das regras de procedimentos da simulação e conhecimento da estrutura da organização internacional simulada, o aprofundamento no tema que será debatido na simulação, as alianças que o país possui com outros países na esfera internacional, a pesquisa sobre a política externa do país que será representado, etc. 7 No dia da simulação a pontualidade e o decoro são obrigatórios, deve-se evitar: levantar quando não for necessário, bater fotos, conversar alto, demorar nos coffee breaks e fugir do tema. Prestar atenção nas ordens da mesa é essencial. Faz-se necessário observar a lista de pronunciamento do debate formal e apenas manifestar-se quando for sua vez. Durante a reunião a comunicação com as demais delegações deve ser feita através de correspondências diplomáticas. Lembramos que os alunos estão representando diplomatas, por isso é fundamental portar-se como tal e usar vocabulário adequado com sua posição. Por fim, os delegados terão que trabalhar para chegar a uma decisão final que seja aprovada, logo, tolerância e negociação serão armas indispensáveis. 1. Qual a localização geográfica do país? 2. O país a ser representado faz fronteira com quais países? 3. O país tem saída para o mar ou está cercado por terras? 4. Qual seu grau de desenvolvimento? 5. Qual a fonte primária de riquezas? 5.1. Recursos naturais? 5.2. Importação e Exportação? 6. Há uma religião ou cultura predominante? 7. O país pertence a outras Organizações Internacionais? (OPAC, OTAN, EU, OEA)? 8. Qual o tipo de governo de sua nação? Qual o regime político? Houve transição de regime nos últimos tempos? 9. Qual o tipo de sistema econômico? Cabe ao professor responsável por preparar as delegações: incentivar os alunos a participarem do SiEM, explicar a importância e o funcionamento das organizações internacionais simuladas, discutir os temas, esclarecer dúvidas dos alunos quando 8 possível, marcar encontros com a equipe organizadora do SiEM para que se explique sobre o projeto e acompanhar os alunos no dia da simulação. As Organizações Internacionais (OIs) são associações voluntárias estabelecidas por acordos internacionais, dotadas de órgãos permanentes, próprios e independentes, encarregadas de gerir interesses coletivos e capazes de expressar vontade jurídica distinta da de seus membros. Com efeito, as OIs são capazes de elaborar vontades próprias e autônomas. Além disso, possuem sete elementos característicos: 1. Composição essencialmente interestatal; 2. Construídas exclusivamente por Estados Soberanos; 3. Base jurídica convencional; 4. Estrutura Orgânica Permanente e Independente; 5. Autonomia jurídica; 6. Uma estrutura institucional fortemente fundamentada no setor administrativo da Organização; 7. Devem sua existência, geralmente, a um tratado multilateral, tendo como marco uma conferência e os Estados contratantes são sujeitos às normas do tratado. Esta é a principal diferença entre OI e ONGs, já que as últimas são organizações de cunho privado. A ONU é o exemplo mais claro de Organização Internacional de âmbito universal. Ela surgiu a partir de diversas declarações formuladas pelas potências no fim da Segunda Guerra Mundial. Oficialmente, a ONU foi instituída na Conferência de São Francisco, em 1945. 9 A ONU é regida por sua Carta constitutiva, a Carta das Nações Unidas, a qual determina os preceitos da Organização. Seus princípios são formulados no Artigo 2 da Carta e constituem o marco geral de obrigações que permeiam a atuação dos órgãos e dos membros da ONU. São eles: igualdade soberana dos Estados; boa-fé; resolução pacífica de controvérsias; proibição da ameaça por meio do uso da força; assistência para a ONU; autoridade da ONU sobre os Estados-membros; princípio da exceção e da jurisdição interna dos Estados. O status de membro efetivo das Nações Unidas pressupõe gozar de todos os direitos e estar submetido a todos as obrigações positivadas na Carta. Desde que foi criada, há setenta anos, a Assembleia Geral da ONU tem sido palco central de deliberações políticas internacionais. Em 1946, em Londres, ocorreu o primeiro encontro da Assembleia Geral, com a presença de 51 Nações. Hoje, a Assembleia Geral conta com os 194 membros das Nações Unidas e tem em sua carta o princípio de que cada país tem direito a um voto, independentemente de seu tamanho, população ou peso político. Isso faz com que as decisões da Assembleia tenham caráter de tratamento mais equitativo. Toda a organização da Assembleia Geral é dada pela Carta das Nações Unidas, compreendendo o Capítulo IV, tendo órgão conhecidos e importantes sob sua tutela, como o Conselho de Segurança, a Corte Internacional de Justiça e o Conselho Socioeconômico. De acordo com os artigos 9º a 22 da Carta das Nações Unidas, a Assembleia Geral é o órgão encarregados das seguintes funções: 1. Discutir e fazer recomendações sobre qualquer assunto/questão dentro das finalidades da ONU; 2. Considerar princípios gerais de cooperação na manutenção da paz e segurança internacionais; 3. Elaborar recomendações sobre a solução pacífica de qualquer litígio internacional; 4. Aprovar o orçamento da ONU; 5. Eleger os membros não-permanentes do Conselho de Segurança; Desde suas primeiras reuniões, que hoje tomam lugar sempre entre setembro e dezembro na cidade de Nova Iorque (Estados Unidos), importantes decisões foram tomadas, como a Resolução do descobrimento de energia atômica, a extradição e punição 10 de criminosos de guerra, a falta de cereais no mundo e a reconstrução econômica de Estados-falidos. Porém, as mais importantes decisões da Assembleia recaem sobre temas como a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as Metas do Milênio e as decisões sobre questões de segurança, como têm sido as questões relativas ao Oriente Médio (Afeganistão, Iraque, Irã, Líbia e Síria) por exemplo. Além disso, por mais que algumas das decisões da Assembleia não sejam cumpridas por alguns membros, o peso da decisão da AG influi muito no concerto das Nações e no rumo da política internacional. A Assembleia Geral, assim como o Conselho de Segurança, pode punir seus membros. Tais punições tomam a forma de advertências, punições dentro do próprio plenário, chegando até sanções maiores, como embargos econômicos. Países como a Coreia do Norte recebem advertências com certa frequência devido ao seus posicionamentos em relação a temas polêmicos e que envolvem a segurança global, como é o caso dos mísseis balísticos que o país desenvolve. Outros sofrem sanções dentro da própria reunião, como foi o caso da África do Sul, impedida de tomar assento no plenário por suportar em seu país um regime de segregação racial: o apartheid. Já outras sanções, embora mais raras, podem ocorrer, como no caso das sanções econômicas ao Irã, devido ao seu programa nuclear, em 2011. Em 1945, após a II Guerra Mundial, 51 países se reuniram na Conferência de São Francisco e criaram a Organização das Nações Unidas (ONU), entidade que se comprometeria com a finalidade de preservar a paz mundial, fomentando a solução pacífica de conflitos, proporcionando meios idôneos de segurança coletiva e de estabelecer uma cooperação econômica, cultural e científica entre seus membros. De acordo com o Artigo 7 da Carta da ONU, a entidade é formada por seis órgãos principais: a Assembleia Geral, o Conselho de Segurança, o Secretariado, o Conselho Tutelar, o Conselho Econômico e Social e a Corte Internacional de Justiça. A Assembleia Geral possui seis comissões principais que podem ser convocadas para discutir, cada qual em seu âmbito, os seguintes assuntos: o Desarmamento e a Segurança Internacional, Assuntos Econômicos e Financeiros, Assuntos Sociais, Humanitários e Culturais, Descolonização e Políticas Especiais, Assuntos Administrativos e Assuntos Jurídicos. Todos estes comitês são compostos por 11 delegados de cada um dos 194 Estados-membros da ONU. Em relação ao seu funcionamento e suas limitações, os comitês não têm o poder de tomar decisões vinculativas, como ações militares ou imposição de sanções. Ainda que eles não possuam essa competência, considerando o impacto dos tratados e acordos internacionais existentes em relação às questões abordadas por eles, os comitês da Assembleia Geral possuem enorme importância na elaboração de declarações de aconselhamento e recomendações aos Estados-nação, outras comissões e o Conselho de Segurança, conforme o Artigo 14 do Capítulo IV da Carta das Nações Unidas. A Assembleia Geral [...] poderá recomendar medidas para a solução pacífica de qualquer situação, qualquer que seja sua origem, que lhe pareça prejudicial ao bem-estar geral ou às relações amistosas entre as nações, inclusive em situações que resultem da violação dos dispositivos da presente Carta que estabelecem os Propósitos e Princípios das Nações Unidas. O Special Political and Decolonization Committee (SPECPOL), ou o Quarto Comitê, foi criado em 1962 como um dos seis comitês especializados da Assembleia Geral da ONU. Ao longo do tempo, o comitê teve seu teor reformado para adaptar-se à realidade e às mudanças na configuração global ao longo do tempo desde sua criação. O histórico desse comitê remete a desestruturação do sistema de tutela, quando o restante das colônias e territórios ainda não autônomos conquistou sua independência, a partir de 1945, com o final da Segunda Guerra Mundial. De acordo com Adherbal Meira Mattos, o processo de independência de diversas ex-colônias, situadas, em sua maioria no continente africano, foi realizado sob os auspícios da ONU por meio do Conselho Tutelar entre as décadas de 1970 a 1980. Esse órgão tinha como função monitorar e estabelecer padrões de administração dos territórios tutelados. No entanto, tendo em vista a concretização do processo de independência, ele esvaziou-se de qualquer conteúdo funcional, não atuando mais nos dias de hoje. Para evitar o mesmo fim, o Quarto Comitê, que tratava exclusivamente das questões acerca da descolonização, remodelou seu escopo e adaptou-se às mudanças para que não deixasse de existir e continuasse sendo útil à estrutura da Organização das Nações Unidas. Após fundir-se ao Sétimo Comitê, que era responsável pelos assuntos de Política Especial, o SPECPOL passou a discutir questões sociais e políticas atuais, tratando especificamente de temáticas relacionadas à descolonização, direitos humanos e direitos dos refugiados Palestinos, peacekeeping, informações públicas, radiação 12 atômica, ação contra as minas, o espaço ultraterrestre e as Universidades para a Paz. A União Europeia (UE) é uma União política e econômica formada por 28 Estados europeus que possuem um mercado comum e uma união aduaneira com livre circulação de pessoas, bens e serviços. O precursor da Organização é a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA), formada ainda na década de 1950 por apenas 6 países. A partir disso, nas décadas seguintes, o bloco evoluiu para um maior nível de interdependência e aumentou a abrangência territorial com a adesão de novos membros. A UE é formada por várias instituições supranacionais, sendo as principais delas: o Conselho Europeu, o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia, o Tribunal de Justiça da UE e o Conselho da União Europeia. Cada uma desses instituições possui funções específicas e jurisdição sobre assuntos específicos. Mesmo cada Estado-membro tendo representação em cada uma delas, e mesmo que muitas vezes os assuntos transitem entre elas, suas atividades não devem ser confundidas. . O Conselho da União Europeia tem sua sede em Bruxelas e possui representação ministerial. Em cada reunião do Conselho o Estado-membro envia um ministro responsável pelo domínio político em questão. A presidência do Conselho tem caráter rotativo entre os países membros e seu mandato tem seis meses de duração. Além da presidência, a convocação de reuniões pode ser por petições de algum membro da Comissão Europeia. A missão do Conselho da UE consiste em, conjuntamente com o Parlamento Europeu, aprovar a legislação da União Europeia, coordenar as políticas econômicas gerais dos países do bloco, firmar acordos entre a UE e outros países, aprovar o orçamento anual da Organização e definir as políticas externa e de defesa da União. As sessões não são públicas e a deliberação é por maioria qualificada – quanto maior a 13 população de um país, maior será o número de votos que este possui. Quando se tratam de temas políticos de grande importância, como assinatura de Tratados, utiliza-se a regra da unanimidade para o processo de votação. A União Africana é um órgão fundado em 2002, pela Declaração de Sirte, que objetiva a integração socioeconômica, política e cultural entre os países do continente africano. Embora a data de fundação da União Africana (UA) seja recente, sua formação data de 1963, marco da institucionalização de sua precedente Organização da Unidade Africana (OUA). A OUA nasce constituída por 32 países, sediada em Addis Ababa, capital da Etiópia. A OUA tinha por objetivo fortalecer as relações entre as nações africanas e aprofundar a independência dos países africanos perante à Europa, no que tange a sua soberania e seu território. A UA representa 54 nações do continente africano, enfatizando a relevância da democracia, dos direitos humanos e do desenvolvimento econômico. Sua principal missão é estabelecer unidade e cooperação entre os Estados-membros e entre os povos africanos. Percebe-se uma mudança de foco através da passagem da OUA para a UA, pois a primeira concentrava-se mais em combater o colonialismo, o racismo do apartheid e a dependência em relação aos países estrangeiros na época de sua criação. A Assembleia Geral da União Africana é a instância suprema da União Africana. É composta pelas representações oficiais dos 54 países membros da União, que são: Algéria, Angola, Benim, Botswana, Burkina Faso, Burundi, Camarões, Cabo Verde, República Centro-Africana, Chade, Comoros, República Democrática do Congo, República do Congo, Costa do Marfim, Djibouti, Egito, Guineia Equatorial, Etiópia, Gâmbia, Gana, Guiné-Bissau, Quênia, Eritreia, Gabão, Lêsoto, Libéria, Líbia, Madagascar, República do Malawi, Mali, Mauritânia, Mauritius, Moçambique, Namíbia, Niger, Nigéria, Ruanda, República Árabe Sarauí Democrática, São Tome e Príncipe, Senegal, República das Seicheles, Serra Leoa, Somália, África do Sul, Sudão, Sudão do Sul, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia, e Zimbábue. 14 Devido ao golpe de Estado ocorrido no país, a República Centro-Africana encontrase suspensa do órgão – desde 2013. A única nação africana que não é membro da União Africana e, por conseguinte, da Assembleia Geral, é o Marrocos 15 1. HISTÓRICO DO TEMA.........................................................................................17 2. ATUAÇÃO DA ONU NO SAARA OCIDENTAL...................................................20 3. CONJUNTURA ATUAL........................................................................................23 4. CONCLUSÃO.......................................................................................................26 PERGUNTAS ORIENTADORAS..........................................................................26 16 Fonte: THEOFILOPOULOU,2006. O Saara Ocidental é um território costeiro situado no noroeste do continente africano, possuindo fronteiras com o Marrocos, Mauritânia e Argélia. O território é historicamente habitado pela população saarauí, a qual pode ser considerada etnicamente como árabe-berbere, com uma pequena proporção de negros. Esta população, majoritariamente muçulmana, possuía como sua principal característica a cultura nômade, que hoje se encontra enfraquecida em consequência da colonização espanhola e do seu subsequente processo de fixação populacional a partir da década de 1960. Com o processo de expansão europeia no continente africano durante o século XV, a Espanha teve seu primeiro contato com o território saarauí em 1497, com a finalidade de garantir seu domínio sob as Ilhas Canárias. Durante mais de quinhentos anos, a Espanha não conferiu muita relevância ao território do Saara Ocidental. Porém, com o advento do movimento neocolonialista europeu em direção à África no século XIX, há uma mudança nesta perspectiva. No ano de 1884, o governo espanhol enviou uma missão para a região costeira do território com o objetivo de alegar o uti possidetis da região, e, por fim, conseguir transformá-la em um protetorado espanhol. No local onde esta expedição se fixou, fundou-se a Villa Cisneros, hoje conhecida como a cidade de 17 Dakhla. Apesar de garantir sua presença na costa, as forças espanholas passariam as próximas décadas tentando se interiorizar. Durante a Conferência de Berlim, realizou-se uma partilha do território africano entre as potências europeias, e, quando da sua conclusão, a Espanha conseguiu positivar o seu domínio sob o território do Saara Ocidental. Entretanto, como destacado anteriormente, o país europeu só conseguiria efetivamente ocupar a região no século seguinte. O território do Saara Ocidental demonstrava-se interessante por possuir recursos naturais lucrativos como a segunda maior reserva de fosfato do mundo, ademais de reservas de minério de ferro, areia e uma extensa área pesqueira em sua costa atlântica. Além disso, o território possui vantagens geoestratégicas, como corredor de rotas tradicionais de comércio entre o Sahel e a região do norte africano concomitante a sua grande área de costa atlântica propícia para o comércio transoceânico. Durante o domínio espanhol, a exploração de recursos naturais, em especial a pesca, e o comércio e a mineração foram as principais atividades econômicas da colônia, conhecida na época como Saara Espanhol. O processo de descolonização do Saara Ocidental teve início em meados dos anos 1970, principalmente em razão do enfraquecimento do governo de Franco, no cenário doméstico espanhol, e das atividades da Organização das Nações Unidas no tema da descolonização africana. Nesta conjuntura, o Reino do Marrocos e a Mauritânia logo manifestaram seu interesse na anexação do território saarauí, defendendo a existência de laços coloniais compartilhados e traços de identidade culturais semelhantes. Em contrapartida, com o objetivo de garantir a autodeterminação da população saarauí criou-se, em 1973, a Frente Popular para a Libertação de Saguia Al Hamra e Rio de Oro (POLISARIO). A organização foi formada pela elite acadêmica saarauí que estudava na cidade de Rabat, no sul do território marroquino, e foi influenciada diretamente pela Harakat, o primeiro movimento nacionalista saarauí liderado por Mohamed Sidi Ibrahim Bassiri, nos anos 1960. Inicialmente, a organização focou-se em combater o domínio espanhol. Porém, com a retirada deste do Saara Ocidental, começou a combater a ocupação marroquina e mauritana, atuando nos primeiros anos de conflito em duas frentes. Devido às pressões políticas internacionais, o governo espanhol comprometeu-se, em 1974, a realizar um referendo com a população local acerca da independência da região no ano seguinte. Entretanto, os governos marroquino e mauritano demonstraramse contrários à realização de tal plesbicito e, juntos, levaram uma demanda à Assembleia Geral da ONU, declarando seu direito ao território do então Saara Espanhol. Com a 18 finalidade de sanar as divergências entre as partes, a Assembleia Geral demandou à Corte Internacional de Justiça (CIJ) seu veredito acerca do status jurídico do Saara Ocidental. Nesta ocasião, a CIJ defendeu que Os materiais e informações apresentados à Corte mostram a existência, no momento da colonização espanhola, de laços legais de fidelidade entre o sultão do Marrocos e algumas tribos que habitavam o Saara Ocidental. Elas mostram igualmente a existência de direitos, incluindo alguns direitos relacionados a terras, da que constitui-se laços legais entre a entidade da Mauritânia, como entendido pela Corte, e o território do Saara Ocidental. Por outro lado, a conclusão da Corte é de que os materiais e informações apresentados não estabelecem nenhum laço de soberania territorial entre o território do Saara Ocidental e o Reino do Marrocos ou a entidade da Mauritânia. Por isso, a Corte não encontrou laços legais de natureza que possam afetar a aplicação pela Assembleia Geral da Resolução 1514 (XV) na descolonização do Saara Ocidental e, em particular, do princípio de autodeterminação através da livre e genuína expressão da vontade da população deste território. (CIJ, 1975, p. 100, tradução e grifo nossos). Entretanto, no mesmo dia em que foi conhecida a conclusão da Corte, o Rei do Marrocos, Hassan II, em um discurso à população marroquina, afirmou ter sido inspirado por Deus e sonhado com uma forma de reconstruir o Grande Marrocos1: a Marcha Verde. Esta foi iniciada em 6 de novembro de 1975, e enviou aproximadamente 350 mil civis e militares para reabitar o território saarauí e ocupar as residências desocupadas em razão da saída dos colonos espanhóis. Neste contexto, Espanha, Marrocos e Mauritânia instituíram uma administração tripartite do território, nos chamados Acordos de Madrid. Como recompensa da partilha de seu domínio, a Espanha receberia 35% da arrecadação com a exploração do fosfato no território do Saara Ocidental. Contudo, em razão da retirada da Espanha da região em 1976, uma nova divisão do território foi feita, desta vez em apenas duas partes. No dia seguinte da retirada espanhola, com objetivo de impedir o expansionismo marroquino e mauritano e garantir sua independência na região, a POLISARIO funda a República Árabe Saarauí Democrática (RASD). Desde então, a POLISARIO se manteve atuante e as instituições de sua República foram mantidas fora do território do Saara Ocidental, mas em pleno 1 Após sua independência em 1957, a estabilidade interna do Marrocos se mostrava muito frágil, por isso criou-se a ideia da existência de um Grande Marrocos histórico, de fundamental importância para a construção do nacionalismo e centralização do poder sob o sultão a fim de se manter a integridade territorial. Como resultado, o mapa do Marrocos foi redesenhado, abrangendo territórios além de sua herança colonial, sendo descrito como “desde o estreito de Gibraltar até o rio Senegal, incluindo 500 mil quilômetros da Argélia, um pedaço do Mali, todo o Saara Ocidental e a Mauritânia por completo.” 19 funcionamento no território da Argélia. A RASD, até 2013, tem reconhecimento como país independente de mais de 80 países, de todos os continentes, além de ser um membro pleno de União Africana. O país foi aceito na Organização da Unidade Africana em 1982 e é reconhecido pela maioria dos países membro da organização. Como resultado desta partilha, o território possuía uma ocupação militar do Marrocos ao norte e da Mauritânia ao sul. Com o fim de combater a ocupação estrangeira, a POLISARIO empenhou uma intensa atividade de guerrilha, dando início a um conflito em duas frentes para conter os avanços das forças estrangeiras. Em razão do aumento da violência e da utilização de bombas napalm e de fósforo branco nos bombardeamentos marroquinos, milhares de saarauís abandonaram suas casas e cidades com esperança de encontrar proteção da POLISÁRIO no deserto. Entretanto, as tropas da organização não possuíam recursos suficientes para manter seu povo. Como resultado, os refugiados saarauís se concentram na cidade de Tindouf, no sudoeste da Argélia, onde foram construídos os acampamentos de refugiados que até hoje se encontram ativos. Em 1979, o governo mauritano se retirou do conflito em razão de seu alto custo de manutenção, renunciando seu território ocupado e, em 1984, reconhecendo a POLISÁRIO e a RASD como representantes legítimos do Saara Ocidental. Para manter seu domínio em parte do território, o Marrocos iniciou a construção do muro Berm, na década de 1980, o qual divide o território do Saara Ocidental em dois, sendo que aproximadamente 80% do território total do país é controlado pelas forças armadas marroquinas. Com a manutenção do conflito durante anos, conferiu-se à ONU a responsabilidade de atuar no caso como forma de manter a paz, tópico que será explorado na próxima seção. No ano de 1960, a Organização das Nações Unidas, considerando a sua Carta fundadora e o surgimento do desejo de independência de diversos territórios coloniais, iniciou o debate acerca da criação de uma política anticolonialista. Este debate resultou na criação da Resolução 1514 (XV), a qual discorre acerca do direito à autodeterminação dos povos e à integridade territorial, além de trazer mecanismos com caráter de normas, como a realização de referendos com a população destes territórios, para a implementação de um processo de descolonização na África. Defende-se em seu texto que os povos em territórios não-autônomos deveriam atingir sua independência. Dever20 se-ia transferir o controle deste território à sua população e que ações para obstrução deste processo seriam de caráter incompatível com os princípios e finalidades da Carta das Nações Unidas. Seguindo esta linha de trabalho, a Organização adicionou o Saara Ocidental na lista de territórios não-autônomos, ou seja, pendentes de descolonização em 1963. Já em 1964, o Comitê de Descolonização da ONU estipulou que o direito de autodeterminação se aplicava à população saarauí, o que significaria, baseando-se na Resolução 1514, o direito desta população de escolher, por meio de um referendo, entre a independência, a associação ou a integração a um Estado independente. No ano seguinte, a Resolução 2072 definiu que o governo espanhol deveria iniciar o processo de descolonização no território ocupado e, em 1966, a Resolução 2229 estipulou que os espanhóis deveriam realizar uma consulta à população de sua colônia acerca de seu futuro. Resoluções com caráter semelhante a este foram criadas todos os anos que se seguiram, tornando-se mais incisivas a partir de 1973, declarando a preocupação da ONU com a instabilidade da região do Magreb e solidariedade com o povo saarauí. Após anos de conflito, a Organização das Nações Unidas começou seu maior envolvimento na mediação da contenda na década de 1980. Em 1988, em uma atuação conjunta com a União Africana, conseguiu lograr que as partes assinassem o Settlement Plan, um cessar fogo baseado na realização de um referendo, no qual a população decidiria entre a proclamação da independência ou a integração do Saara Ocidental ao Marrocos. Assim, em 29 de abril de 1991, com a adoção da Resolução 690, o Conselho de Segurança instituiu a Missão das Nações Unidas para o Referendo no Saara Ocidental (MINURSO), que, desde sua implementação até os dias atuais, não conseguiu realizar tal plebiscito, em razão da discordância entre as partes no perfil dos eleitores envolvidos. Inicialmente, no Settlement Plan as partes haviam concordado em aceitar o censo realizado pelo governo espanhol em 1974 como base de trabalho, contudo, durante diversas rodadas de negociação, o Marrocos procurou inserir milhares de nomes na lista de eleitores, enquanto a POLISÁRIO é contrária ao alargamento no número de eleitores. Diante do impasse das partes acerca dos eleitores, em 1997, o ex-secretário de Estado dos EUA, James Baker, foi nomeado como enviado especial das Nações Unidas para a questão do Saara Ocidental. Em 2001, ele apresentou o conhecido Plano Baker, o qual continha uma nova proposta e cronograma para a realização do referendo. Segundo o plano, ainda se faria a consulta por autonomia da população, mas sem se falar inicialmente de sua independência. A região passaria por um período de transição de 21 quatro a cinco anos, sendo semiautônoma, no qual a população poderia escolher um governo executivo e legislativo local responsável pela administração doméstica, enquanto o Marrocos ficaria a cargo das relações exteriores e da defesa do país. Posteriormente, realizar-se-ia o plesbicito com a participação de todos os habitantes da região, o qual determinaria a independência, a autonomia ou a integração do Marrocos. Contudo, a proposta foi recusada tanto pelo reino do Marrocos quanto pela POLISÁRIO. Enquanto o governo marroquino rejeitava qualquer ideia de independência do território saarauí, a Frente Polisário considerava o plano insuficiente e com demasiadas concessões de sua parte ao Reino do Marrocos. Após consultas prévias com as partes, o plano Baker foi reformulado em 2003, sendo nomeado como Peace Plan for Self-Determination of the People of Western Sahara, mas ficando conhecido como Plano Baker II. Em seu novo formato, o plano possuía três fases, sendo que a primeira, de um ano, estipulava a liberação dos prisioneiros de guerra e redução de efetivo das Forças Armadas. Já durante sua segunda fase se realizaria uma campanha eleitoral para a chamada Autoridade do Saara Ocidental (ASO), que seria formada pelo chefe executivo e assembleia legislativa, órgãos que possuiriam poderes amplos - excluindo-se os temas relacionados à segurança nacional, defesa da integridade territorial, política externa, impostos e símbolos nacionais como bandeira, hino e moeda. Segundo o plano, nesta fase o corpo eleitoral seria formado pelos maiores de idade incluídos na lista de votantes de 31 de dezembro de 1999 da MINURSO, conjuntamente com a lista de repatriados de 31 de outubro de 2000 disponibilizada pelo ACNUR. Em sua última fase, se realizaria um referendo como estipulado no Settlement Plan em 1991. Neste plebiscito, incluir-se-ia na lista de eleitores os indivíduos que vivessem no Saara Ocidental de forma contínua desde dezembro de 1999. O plano contou com o apoio do Conselho de Segurança da ONU, o qual em sua a Resolução 1495, de 31 de julho de 2003, que foi aprovada por unanimidade, o descreveu como uma ótima solução política entre as partes. A proposta foi aprovada por unanimidade no Conselho de Segurança. Entretanto, em razão da resistência das partes envolvidas, não foi implementada. A Frente POLISÁRIO foi inicialmente contrária à sua aprovação, mas, após pressões de seus aliados, acabou cedendo. Contudo, o governo marroquino não aceitou a sua aplicação. Após diversas tentativas de negociações, em 2007 as partes apresentaram individualmente propostas de resolução ao então secretário geral da ONU, Ban Ki-moon. O projeto marroquino defendia a ideia da autonomia saarauí inserida na soberania 22 marroquina, ou seja, o território possuiria certa autonomia, mas o Marrocos manteria sua integridade territorial. Segundo sua proposta, a região do Saara Ocidental possuiria autonomia nos âmbitos administrativos, econômico, fiscal, de infraestrutura, cultural e de meio ambiente, mas se manteriam sobre controle do governo central do reino as questões jurídicas relacionadas à soberania, segurança e defesa nacional, as questões de política externa, as questões de direito de exploração e exportação dos recursos naturais e as questões religiosas e relacionadas à figura do rei. Em contrapartida, ao apresentar sua proposta, a POLISÁRIO reiterou seu direito de autodeterminação. Porém, desta vez ofereceu ao governo marroquino garantias econômicas e de segurança, baseando-se no preceito da cooperação. Devido às diferenças de perspectivas, não se chegou a um entendimento entre as partes e nenhuma das propostas conseguiu ser aprovada. As várias rodadas de negociações informais realizadas desde então não têm conseguido evoluir para a resolução do conflito. Deve-se ressaltar que a atuação da MINURSO tem sido positiva no monitoramento do cessar-fogo, mas não tem atuado na desminagem do território, no retorno dos refugiados às suas casas e na proteção dos Direitos Humanos, os quais não estão incluídos em seu mandato. Apesar da pressão da população civil e de organizações de defesa dos Direitos Humanos para a inclusão das defesas destes no mandato da missão, este tema se mantém muito controverso. Todas as iniciativas neste sentido vêm se demonstrando ineficazes. Em março 2009, um relatório da delegação do Parlamento Europeu que havia visitado o território da Saara Ocidental, afirmava que deveria se incluir no mandato da MINURSO a supervisão dos Direitos Humanos no território. A iniciativa contava com apoio de ONGS internacionais como Human Rights Watch e Anistia Internacional. Entretanto, em abril do mesmo ano, a França se opôs outorgar o monitoramento dos Direitos Humanos à missão. Deve-se destacar que a MINURSO é uma das missões de paz mais antigas em funcionamento da organização, e seu mandato histórico tem sido estendido anualmente. A despeito do patrocínio da ONU na continuidade das rodadas de negociação entre o Marrocos e a POLISARIO, nota-se que a discussão sobre o tema encontra-se estagnada. O governo marroquino se nega a discutir a possibilidade de independência do território, defendendo no máximo, a autonomia deste sob sua jurisdição, e sendo claramente contra a adição da defesa dos direitos no mandato da MINURSO. A 23 POLISÁRIO continua a defender seu direito de autodeterminação e independência. A manutenção do conflito fez com que a POLIÁSRIO cedesse diversas prerrogativas sem que se chegasse a um acordo entre as partes. Consequentemente, pode-se perceber um desgaste em sua vontade de se manter na negociação. Apesar de, oficialmente, as partes continuarem a manter o cessar-fogo de 1991, a sensação de insegurança e da possibilidade de uma retomada súbita do conflito se mantêm presentes no território. A fragilidade da situação pode ser exemplificada pela existência de pressões para a retomada da luta armada entre os saarauís, da continuidade das violações dos direitos humanos sobre a população no território controlado pelo Marrocos, com detenções ilegais, espancamentos, tortura, censura e falta de liberdade de expressão, além de se observar um crescimento nas atividades de resistência à ocupação marroquina. A população saarauí está atualmente estipulada em 273 mil habitantes, sendo que esta se encontra dividida entre a zona controlada pelo Marrocos, a qual representa aproximadamente 7/8 do território original do Saara Ocidental; a zona livre, a qual se encontra sob domínio da POLISÁRIO; e os campos de refugiados, localizados no território argelino. A região do Muro de Berm, que separa a zona ocupada e a sob controle saarauí, segundo a Landmine Action2, forma um dos maiores campos minado do mundo, dificultando a comunicação e contato entre as famílias que se encontram em lados distintos deste muro. Segundo dados da POLISÁRIO, cerca de 165 000 refugiados saarauís vivem nos campos de Tindouf. Contudo, os dados oficias do ACNUR em 2009 estimavam cerca de 116 mil nestes campos. A sobrevivência nos quatro campos existentes se deve à ajuda humanitária; hoje agências como a Cruz Vermelha Internacional, o Programa Alimentar Mundial (PAM), a Oficina de Cooperação da Comunidade Europeia (ECO) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) já regularizaram sua atuação na ajuda ao povo saarauí. 2 Organização sem fins lucrativos que atuava no desarmamento de minas terrestres, hoje se transformou na Action on Armed Violence. 24 Fonte: site Brasil de Fato, Disponível em:<http://www.brasildefato.com.br/node/6377>. Acesso em set. 2015 Enquanto isso, o governo marroquino continua investindo no território ocupado, explorando seus recursos naturais, fazendo cessões para exploração, muitas vezes às empresas estrangeiras, por mais que seus países de origem não reconheçam o direito de soberania marroquino na região. O forte controle, perpetrado pelas forças armadas do reino, das atividades sociais da população, a censura e a restrição da entrada de jornalistas estrangeiros no território ao Saara, o controle rígido das atividades sociais da população e o restrito acesso de jornalistas estrangeiros no território acabam por gerar uma incerteza acerca do que está de fato acontecendo dentro deste território, o que 25 dificulta a contestação às violações aos direitos humanos e até mesmo a própria ocupação marroquina. O conflito do Saara completou 40 anos duração no ano de 2015, e a intransigência e a falta de diálogo entre as partes fazem com que as negociações continuem estagnadas e se mantenha o cenário de instabilidade na região. Cientes da complexidade do tema, contamos com os senhores delegados para representar suas respectivas nações, para assim avançarmos no sentido de uma resolução para a situação na qual o Saara Ocidental se encontra atualmente. Espera-se que seja discutida durante a simulação a atuação da MINURSO, abordando possíveis mudanças no mandato e plano operativo, como transferência de recursos e efetivo, a fim de torna-la mais efetiva; inclusive uma possível extensão de seu mandato, agregando-se às suas funções o monitoramento do respeito dos direitos humanos e atuação na reaproximação dos grupos familiares que se encontram separados entre as partes do território. Neste sentido, deve-se debater durante as sessões a atual conjuntura das violações de Direitos Humanos na região, tanto perpetradas pelo governo marroquino, quanto pela POLISÁRIO. Para além destes temas, deve-se procurar construir planos de ação para possíveis parcerias para melhoria da condição de vida dos civis, focando-se principalmente na criação de diretrizes para a retomada das negociações entre a POLISARIO e o governo marroquino – os únicos capazes de efetivamente solucionar este conflito. 26 27 1. UNIÃO AFRICANA: SÍMBOLO DE INDEPENDÊNCIA E INTEGRAÇÃO REGIONAL NA ÁFRICA.................................................................................................................29 1.1. MULHERES AFRICANAS: A LUTA PELA CONSOLIDAÇÃO DA IGUALDADE DE GÊNERO..............................................................................................................30 1.2. UNIVERSAL OU REGIONAL? PERSPECTIVAS ACERCA DOS DIREITOS HUMANOS NA ÁFRICA........................................................................................31 2. A SITUAÇÃO DAS MULHERES NA UNIÃO AFRICANA............................................33 2.1. MEDIDAS TOMADAS PARA O EMPODERAMENTO E GARANTIA DOS DIREITOS BÁSICOS DA MULHER......................................................................34 3. A DÉCADA DAS MULHERES AFRICANAS...............................................................35 3.1. A PRIMEIRA FASE: 2010-2015............................................................................36 3.2. A SEGUNDA FASE: 2015-2020............................................................................37 4. DESAFIOS DA UNIÃO AFRICANA.............................................................................37 PERGUNTAS ORIENTADORAS................................................................................39 28 Forças histórico-conjunturais após a II Guerra Mundial marcam o impulso para o desenvolvimento da integração através da formação da Organização da Unidade Africana, que precedeu a União Africana. A colonização europeia no continente africano é um marco da história na famosa partilha da África pelos europeus, os quais, artificialmente, delimitaram geograficamente os países sob seu domínio. Em torno de 1960 e 1970, os países africanos lutaram por sua independência com o objetivo de garantir sua soberania. O Pan-Africanismo foi o movimento que assegurou as bases para a noção de independência para os africanos no mundo inteiro, servindo de instrumento para acabar com o colonialismo. Visava-se recuperar o controle dos recursos naturais e humanos dominados pela Europa além de assegurar a autodeterminação de seus povos e de seu território, tendo em vista a bandeira levantada pelos próprios países ocidentais na defesa dos valores democráticos durante a Segunda Guerra Mundial. A integração africana aprofundou-se apenas após o período de independência. Em 1970 e 1980, diversas organizações sub-regionais surgiram pelo continente, as quais passaram por processos de modificação e expansão durante a década de 1990. Essas organizações variam conforme seu objetivo e formato como, por exemplo, as uniões aduaneiras ou as uniões monetárias, frisando a grande gama de temas abordados (integração econômica e alimentar, direitos humanos, segurança humana e alimentar, construção da paz e manutenção do conflito, questões de gênero e outros). Dentre as instituições, pode-se citar, além da OUA, a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), o Mercado Comum da África Oriental e Austral (COMESA) e a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS). Entretanto, a existência de governos autoritários no continente dificultou o desenvolvimento de uma maior integração e coordenação de políticas comuns. A admissão de membros à UA é aberta para qualquer Estado africano que se encontre de acordo com os princípios de seu tratado fundador3 e demonstre o desejo de 3 Princípios da Carta Constitutiva da União Africana: "(A) igualdade soberana e interdependência entre os Estados-Membros da União; (B) respeito às fronteiras existentes a partir do alcance à independência; (C) participação dos povos africanos nas atividades da União; (D) estabelecimento de uma política de defesa comum para o Continente Africano, através dos meios apropriados que possam ser decididos pela Assembleia; (E) resolução pacífica dos conflitos entre Estados-Membros da União através dos meios apropriados que podem ser decididos pela Assembleia; (F) a proibição 29 tornar-se membro. Ainda, no artigo 5 do Ato Constitutivo da UA, tem-se que sua estrutura é composta pelos seguintes órgãos: a) A Assembleia da União; b) O Conselho Executivo; c) O Parlamento Pan-Africano; d) A Corte de Justiça; e) A Comissão; f) O Comitê Representativo Permanente; g) O Comitê Técnico-Especializado; h) O Conselho Econômico, Social e Cultural (ECOSOCC); i) as Instituições Financeiras [...]. Ao observar-se o artigo 4º da Ata Constitutiva da União Africana, constata-se que, além da preocupação para com a integridade territorial, econômica, política e securitária, a “promoção da igualdade de gênero” é também um princípio da UA. Assim, a partir da criação do ECOSOCC, centralizado nos indivíduos e não nos governos, tem-se por objetivo aproximar a sociedade da organização, para que aquela seja ouvida e possa participar nas tomadas decisórias. Em 2004, a Assembleia da UA instaurou a Solene Declaração de Igualdade de Gênero na África, “reconhecendo que ainda existem grandes desafios e obstáculos para a igualdade de gênero que requerem lideranças e esforços concertados e coletivos de todos nós, incluindo também redes que trabalham em gênero e desenvolvimento”. Houve também a criação do Diretório da Mulher, Gênero e Desenvolvimento, um grupo especializado dentro da Comissão da UA. Ele segue as diretrizes do Protocolo da Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos (adotada em 1981 pela OUA) como, por exemplo: eliminação da discriminação contra a mulher; direito do uso da força ou da ameaça do uso da força entre os Estados-Membros da União; (G) não ingerência de qualquer Estado membro nos assuntos internos de outro; (H) o direito da União de intervir num Estado-Membro em conformidade com uma decisão da Assembleia em caso de circunstâncias graves, a saber: crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade; (I) coexistência pacífica dos Estados membros e seu direito de viver em paz e segurança; (J) o direito dos Estados membros a pedirem a intervenção da União, a fim de restaurar a paz e segurança; (K) promoção da autossuficiência no âmbito da União; (L) promoção da igualdade de gênero; (M) respeito pelos princípios democráticos, os direitos humanos, o Estado de direito e da boa governança; (N) promoção da justiça social para assegurar o desenvolvimento econômico equilibrado; (O) respeito pela santidade da vida humana, condenação e rejeição da impunidade, dos assassinatos políticos, atos de terrorismo e atividades subversivas; (P) condenação e rejeição de mudanças inconstitucionais de governos ". 30 pela dignidade; o direito à vida, integridade e segurança da pessoa; eliminação de práticas dolorosas; casamento; acesso à justiça e igualdade de proteção perante a lei; direito de participação na tomada de decisão política; proteção das mulheres em conflitos armados; direito à educação; direitos econômicos e de bem-estar; direitos de saúde e reprodução dentre outros. A UA busca também inserir a mulher na tomada de decisão das políticas ao estabelecer números de assentos para a mulher no ECOSOCC, ora preocupando-se com a vulnerabilidade econômica da mulher ao criar o Fundo para o Desenvolvimento das Mulheres Africanas, ora criando ou auxiliando programas especiais para o empoderamento da mulher. A participação da antiga OUA em diversas conferências internacionais possibilitoua produzir diversas resoluções que versam sobre os direitos das mulheres. O sucesso obtido através da Quarta Conferência Mundial da Mulher em Beijing (1995) demonstrouse como uma das maiores experiências da organização, pois, estimulou “[...] networking e solidariedade através da sinergia de ações, as quais levaram a uma transferência de conhecimento e valores no movimento das mulheres sobre problemas de gênero e formações institucionais na África” como atestado na Política de Gênero da União Africana. A UA reconheceu que seus objetivos não seriam alcançados sem a participação da mulher em todos os níveis e em todas as estruturas da UA. Atualmente, há uma constante luta para a implementação de políticas de gênero dentro dos próprios órgãos da UA. Diversas redes pan-africanas organizaram três consultas em parceria com redes regionais de mulheres. O objetivo era definir estratégias críveis e reais para implementar e assegurar a efetiva participação da mulher na UA. Dentre os instrumentos observados, encontramse a Declaração de Durban (2001) e a Declaração de Maputo (2003), em vistas a salientar o direito da mulher de participar e ter voz ativa no processo político. Diversas foram as decisões tomadas, como o estabelecimento de 50% de representantes na Comissão no estabelecimento da agenda da UA, a criação do Diretório de Promoção de Gênero no âmbito da presidência da UA e o recrutamento de pessoal administrativo, profissional ou técnico da Comissão, obedecendo aos princípios de igualdade de gênero. A Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948 pelas Nações Unidas foi um marco do pós-guerra. Com o objetivo de formalizar e normatizar os direitos humanos, 31 buscou-se o reconhecimento das diversidades num mundo que se tornava cada vez mais interdependente e complexo. Entretanto, a não participação da maioria dos povos na sua elaboração, confere um caráter ocidental na cristalização dos direitos da carta, criando uma problemática acerca da representatividade e das perspectivas de países periféricos e não-ocidentais. As coletividades, assim, possuem direitos e visões que podem diferir tendo em vista as suas culturas e a maneira pela qual se relacionam em coletividade. Dentre uma perspectiva relativista de direitos humanos, a qual defende a existência de um conjunto de sistema morais e judiciais não ocidentais, os direitos humanos possuem uma característica conflituosa quando colocados ao lado de diversos sistemas culturais plurais. A globalização dos direitos humanos também não está isenta desses conflitos, visto que são formadas por feixes culturais amplos que envolvem perspectivas culturais, sociais e políticas. A base dos direitos humanos sob uma perspectiva universal é que cada indivíduo possui direitos inalienáveis (liberdade de expressão, liberdade de crença, paz, autodeterminação dos povos, qualidade de vida digna entre outros) que não podem ser negados por qualquer regime. Algumas autoridades e estudiosos atestam que a aplicabilidade da carta é limitada, dada a multiplicidade de interpretações conforme as diferentes culturas. Outro questionamento acerca da aplicabilidade é a barreira do desenvolvimento econômico. Muitos direitos humanos são constantemente violados por ‘escassez de recursos’, o que faz com que a proteção de tais direitos somente seja implementada quando favorável pela situação econômica do país. A universalidade seria mera pretensão; a globalização não é neutra; O problema nasce a partir da diversidade de sistemas culturais no mundo que se tornam incompatíveis com a Declaração Universal; ela pode, em determinados casos, demonstrar-se como imposição de uma cultura sobre outra. Desta maneira, caso os direitos humanos fossem concebidos como universais ou tendessem à universalidade, haveria um localismo globalizado, ou seja, a imposição de uma cultura sobre a outra. Ao colocar-se como valor universal, exerce pressão por meio dos Estados do centro sobre os Estados periféricos do sistema internacional. O domínio cultural e econômico fez com que o diferente fosse temido e combatido, uma ameaça. O relativismo cultural seria outro instrumento que preservaria o poder e sistemas opressores, pautados na força do Estado. 32 Contra o universalismo, pode-se defender a construção de maiores diálogos interculturais; contra o relativismo, pode-se também desenvolver políticas nãoconservadoras (diferentes das políticas progressistas, as quais questionam a ordem vigente e os paradigmas estruturantes e problemáticos que visam redirecionar o caminho a ser seguido pelos direitos humanos) que possibilitem a emancipação e o empoderamento dessas culturas. Assim, o reconhecimento de que as culturas são incompletas e incessantemente transformantes possibilita a condição para o diálogo intercultural. A Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW), dispositivo multilateral adotado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1979, define, em seu artigo 1º, a discriminação contra a mulher como sendo: […] qualquer distinção, exclusão ou restrição feita com base no sexo que tenha efeito ou propósito de prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher, independentemente de seu estado civil, em uma base de igualdade entre homens e mulheres, de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural, civil ou qualquer outro (UNITED NATIONS, 1979, p. 02, tradução nossa). Utilizando esta definição como base de análise para a situação das mulheres na África, é possível observar que, mesmo após a ratificação da CEDAW pela maior parte dos países-membros da União Africana, ainda são muitos os obstáculos a serem superados para alcançar a igualdade de gênero no continente. Segundo o relatório da Década da Mulher Africana, em 2011, muitas mulheres ainda eram impedidas do acesso a direitos básicos. Na maioria dos países africanos, as mulheres não possuem direito de posse ou herança de terras. Adicionalmente, são comuns valores culturais que colocam a mulher em posição marginalizada na sociedade, dificultando o acesso à educação formal e à profissionalização, ocasionando maiores taxas de analfabetismo e a ocupação de cargos com menor remuneração. Práticas que violam a integridade física das mulheres, como a Mutilação Genital Feminina, casamento infantil e crimes de honra são, também, resultados da cultura patriarcal presente em várias sociedades africanas. 33 Em resposta a isso, diversos países africanos adotaram, nos últimos anos, dispositivos internacionais, regionais e nacionais para a promoção da igualdade de gênero, que permitiram avanços significativos no empoderamento das mulheres. O continente africano tem demonstrado comprometimento com as questões de gênero e empoderamento da mulher. Isso pode ser exemplificado pela ratificação, por 50 dos 54 países membros da União Africana, da CEDAW, que entrou em vigor a partir de 1981. Fruto de mais de três décadas de trabalho da Comissão das Nações Unidas sobre o Status da Mulher, a CEDAW dá enfoque às áreas nas quais as mulheres mais enfrentam a desigualdade, como no acesso a uma ampla gama de direitos civis e reprodutivos, definindo ações a serem tomadas, por parte dos Estados, para que estes sejam promovidos e assegurados. Ainda no âmbito multilateral, cabe destacar a Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) “Mulheres, Paz e Segurança”. A Resolução objetiva, proteger os direitos de mulheres e meninas durante conflito armado, combater a impunidade em crimes de gênero, promover a igualdade de gênero em operações de manutenção da paz, e aumentar a participação das mulheres nas atividades de pacificação, antes, durante e depois do conflito armado. Destaca-se a importância de tal dispositivo em vista de seu objetivo e adequação com a realidade de diversos países africanos em situação de conflito, nos quais o estupro é largamente utilizado como arma de guerra, sem que haja qualquer punição para isso. No entanto, apesar de conter recomendações concretas aos Estados, a efetividade da Resolução depende da implementação, por parte dos países membros, de planos nacionais de ação para atingir seus fins, além de seu monitoramento do funcionamento. Apesar dos incentivos, apenas nove países4 da União Africana, até a atualidade, desenvolveram e colocaram em prática planos de ação para a resolução 1325 do CSNU. 4 Os países que adotaram planos de ação foram: Burundi, Gâmbia, Libéria, Nigéria, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Ruanda, Serra Leoa e Uganda. 34 Outro importante instrumento para a efetivação dos direitos das mulheres na África diz respeito ao Protocolo à Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos sobre o Direito das Mulheres na África, também conhecido como Protocolo de Maputo, adotado em 2003 e vigente desde 2005. Ratificado por 36 países da UA5, o Protocolo surge do trabalho realizado, desde 1995, pela Comissão Africana dos Direitos dos Humanos e dos Povos a partir do reconhecimento da insuficiência contida no texto original da Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos, e estabelece uma série de direitos para as mulheres, além de obrigações aos Estados signatários de implementação, monitoramento e reparação em caso de violação desses direitos. Os instrumentos legais supracitados demonstram o aprofundamento do compromisso da União Africana com a promoção da igualdade de gênero nas últimas décadas. No entanto, fez-se preciso enfatizar ainda mais essa pauta, trazendo-a para o centro do debate na Organização Internacional e colocando-a como prioridade para os próximos anos. Sendo assim, fez-se a escolha do período entre 2010 e 2020 como Década das Mulheres Africanas, período no qual os países-membros se dedicariam a uma série de medidas para promover o empoderamento das mulheres e o acesso a seus direitos básicos. A idealização de uma década da mulher decorre da primeira Conferência Mundial sobre a Mulher da ONU, realizada na Cidade do México em 1975, mas sua proposta foi feita em 2008 por Ministros de Gênero e Assuntos da Mulher da UA e aprovada então em Assembleia Geral. A Década das Mulheres Africanas (DMA) foi dividida em duas fases de implementação (de 2010 a 2015, e de 2015 a 2020) e tem como propósito desenvolver a igualdade de gênero. 5 Os países que ratificaram o Protocolo são: Angola, África do Sul, Benin, Burkina Faso, Camarões, Cabo Verde, Comores, Congo, Costa do Marfim, Djibouti, Gabão, Gâmbia, Gana, Guiné, GuinéBissau, Guiné Equatorial, Lesoto, Libéria, Líbia, Malawi, Mali, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Quênia, República Democrática do Congo, Ruanda, Senegal, Seicheles, Suazilândia, Tanzânia, Togo, Uganda, Zâmbia e Zimbábue. 35 Ao longo da década, serão trabalhados dez temas específicos sobre os quais serão realizados projetos práticos, sendo um projeto por tema a cada ano. Os temas são: combate à pobreza e empoderamento econômico; agricultura e segurança alimentar; saúde, mortalidade materna e HIV/AIDS; educação, ciência e tecnologia; mudanças climáticas e ambientais; violência contra a mulher; governança e proteção legal; orçamento de gênero; mulheres na tomada de decisão; e aconselhamento e incentivo aos jovens na busca pela igualdade de gênero. Em 12 de fevereiro de 2014, durante a preparação para a quinquagésima oitava sessão da Comissão sobre o Status da Mulher (CSW), estiveram presentes ministros e oficiais africanos para discutir a temática dos Objetivos do Milênio para Mulheres e Meninas. Organizada pela ONU Mulheres, em parceria com a Comissão da União Africana (AUC) e a Comissão das Nações Unidas para a África (UNECA), reuniram-se em Addis Ababa, Etiópia, para criar solidariedade e consenso africano de acordo com a CSW e desenvolver um plano estratégico que envolvesse e demonstrasse a influência da igualdade de gênero e o empoderamento da mulher dentro da agenda pós-2015. As principais recomendações feitas foram o empoderamento econômico da mulher, a transformação social, governança, paz e segurança e desenvolvimento institucional. Em 2 de junho de 2014, a UA lançou um programa de cinco anos (2015-2020) para o desenvolvimento de Gênero, Paz e Segurança com o objetivo de estruturar estratégias efetivas e mecanismos sólidos com vistas a participação da mulher na promoção da paz e da segurança. Um conjunto de instrumentos foi discutido, como a situação das mulheres em locais de desarmamento e a prevenção e resposta para a violência sexual. No decorrer da primeira fase da Década das Mulheres Africanas, várias conquistas foram alcançadas, principalmente no campo político, em que mulheres têm ocupado cargos tradicionalmente masculinos e garantido a representatividade na tomada de decisões. Na África Subsaariana, as mulheres agora detêm 23% dos assentos parlamentares, enquanto a média mundial é 22%. Esse aumento deve-se a políticas de ações afirmativas implementadas pelos Estados, como a do Senegal que exige que 50% dos candidatos de um partido sejam mulheres. 36 Políticas públicas e medidas legais foram adotadas por diversos Estados com o intuito de barrar a mutilação genital feminina, diminuir o estupro e o casamento infantil, no entanto a maioria dos acusados não chega a ser processado e os casos de violência continuam frequentes. Diversos projetos foram iniciados para melhorar a situação econômica das mulheres, no entanto elas ainda são mais afetadas pelo desemprego. Segundo Margaret Chacha, presidente da Aliança das Mulheres do Agronegócio na África Sub-Saariana, “O papel das mulheres no agronegócio nunca melhorou substancialmente ao longo dos anos. [...] Em geral, mais de 80% das mulheres moram em vilarejos e ainda dependem de homens da tribo e continuam empobrecidas”. Não há relatórios formais por parte da UA sobre o assunto, mas a organização nãogovernamental Make Every Women Count lança relatórios anuais desde 2011. A nova fase da Década possui temas mais amplos e interligados, que tangem desde questões climáticas à representatividade política, e por fim almeja enfatizar o movimento das mulheres africanas e da igualdade de gênero. Apesar do progresso alcançado nos termos de legislação, a realidade de sua implementação apresentou-se pouco eficaz. Para a segunda fase da Década, os Estados africanos devem ter como norte ações concretas que promovam mudanças efetivas nas questões de gênero e confirmar a abordagem de base proposta no lançamento da Década. 1. Países como Senegal já adotaram politicas públicas que culminaram numa maior inserção da mulher dentro do espaço político nacional. É necessário que outros países adotem posturas mais proativas de empoderamento político tal qual nos moldes senegaleses? Há a necessidade da União Africana, como um todo, exercer 37 pressão sobre seus membros para que estes estabeleçam metas internas ou uma resolução com caráter universal deverá ser imposta aos Estados membros? 2. Dentro da OEA, ainda há países que não são signatários do Tratado de Maputo, e 4 de sues 54 membros não ratificaram a Convenção para a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW). Por representar comprometimento formal, é fundamental que tratados e convenções sejam considerados importantes primeiros passos em direção a uma mudança de atitude. Cabe a OEA definir quão significativa são as adesões remanescentes e qual a postura da organização para com aqueles que ainda não se vincularam explicitamente aos referidos tratados. 3. A participação feminina na economia africana insiste em se manter em níveis abaixo do desejável. Quais metas a OEA pode fornecer a seus membros para que a mulher africana passe a contar com mecanismos de proteção e incentivo laboral mais eficientes? Sendo a África o continente mais assolado por questões de pobreza e subdesenvolvimento, quão fundamental para o crescimento econômico africano é a participação mais ativa e saudável da mulher na produção de bens e serviços? Como os membros da OEA podem entrelaçar o desenvolvimento do continente como um todo com o empoderamento feminino? 4. Qual a postura que os Estados membros adotarão em relação àqueles que ainda permitem a realização de circuncisões femininas em seus territórios? A Assembleia Geral da ONU estabeleceu, em 2012, que a mutilação genital feminina é uma violação aos direitos humanos, o que a Organização dos Estados Africanos pode (ou mesmo, deve) fazer a respeito dessa prática? 5. O nível de analfabetismo entre as mulheres africanas é superior daquele entre os homens. O que pode ser feito para garantir que a educação oferecida na África atinja, de modo igual e equivalente, tanto homens quanto mulheres? Quais melhorias na educação podem ser almejadas de maneira multilateral e conjunta? Como combater o analfabetismo de modo imparcial e verdadeiramente universal? 38 6. O direito a posse (e, subsequentemente, herança) de terras ainda é muito restrito a homens em grande parte dos países africanos. A participação ativa e igualitária da mulher dentro do setor agrícola africano é fundamental, visto que o continente possui um alto nível de pessoas dependentes do campo. É necessário, assim, que os membros da OEA promovam garantias de autonomia e independência agrária para as mulheres do continente. 7. De acordo com a Unicef, a África é o continente onde são registrados os maiores números de casamentos infantis. Mesmo havendo mecanismos legais que limitem tal prática, muitas vezes eles são ineficazes pois não alcançam devidamente todos os setores da sociedade (principalmente os mais vulneráveis). Além disso, há casos em que as próprias leis são, no mínimo, controversas, como por exemplo na Etiópia, onde a idade legal para casamento é 15 anos. Para a OEA o desafio passa a consistir, primeiramente, de uma definição clara e inequívoca do que seria considerado um casamento infantil, para que só então medidas possam ser discutidas. 8. O ano de 2016 inaugura a segunda etapa da Década da Mulher. Os objetivos propostos para o período de 2010 a 2015 foram cumpridos? Quais são os novos desafios previstos, e quais são aqueles que não foram superados? Há uma necessidade de revisão das metas? Quais as medidas de curto prazo que precisam ser traçadas nesse inicio de ciclo? A assembleia da Organização dos Estados Africanos de 2016 nesse sentido será dinâmica, pois será responsável pela formulação e reformulação de objetivos ligados à Década da Mulher. 39 40 1. O FLUXO DE REFUGIADOS E A SITUAÇÃO NO CONTINENTE EUROPEU.........41 2. OS REFUGIADOS NA ALEMANHA..........................................................................44 3. AS FRONTEIRAS NA HUNGRIA...............................................................................45 4. A SOBRECARGA DE MIGRANTES NA ITÁLIA.......................................................46 5. OS CONFLITOS INTERNOS E EXTERNOS DA ÁUSTRIA......................................46 6. A OPINIÃO PÚBLICA FRANCESA E A SITUAÇÃO PRECÁRIA DOS CANDIDATOS A REFÚGIO NO PAÍS.......................................................................48 7. A INICIATIVA DO REINO UNIDO E A PARTICIPAÇÃO DE ONGs..........................49 8. A SUPERLOTAÇÃO NA SUÉCIA..............................................................................50 9. A ENTRADA PELA GRÉCIA.....................................................................................51 10. O ACORDO DE SCHENGEN NO CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES..........................52 11. A DISTRIBUIÇÃO DE REFUGIADOS PELA EUROPA E A ATUAÇÃO DA UNIÃO EUROPEIA.................................................................................................................55 12. O DESAFIO DA UNIÃO EUROPEIA E SEUS PAÍSES-MEMBROS.........................57 PERGUNTAS ORIENTADORAS...............................................................................59 41 De acordo com a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), em 2010 não mais que 10.000 candidatos a refúgio haviam cruzado o Mediterrâneo em busca de proteção sob o manto da União Europeia. Cinco anos mais tarde, e esses dados passam por um processo de aumento exponencial: 972.500 pessoas vieram, pelo Mar Mediterrâneo, em direção à Europa. Estas, somadas àquelas 34 mil que fizeram sua viagem por terra, representam uma população de um milhão de homens, mulheres e crianças que se deslocaram na esperança de escapar do turbilhão de violências que assolam seus países de origem. Em 2012, a Grécia, numa tentativa de controlar o número de migrantes cruzando suas fronteiras com a Turquia, construiu cercas e muros em seus limites territoriais com sua vizinha. O número de solicitantes de refúgio oriundos de cruzadas marítimas aumentou exponencialmente desde então (de, por exemplo, 3.600 em 2012, para 800.000 em 2015 – 80% daqueles vindo pelo mar), resultando, segundo as autoridades, numa sobrecarga sobre a infraestrutura grega. A travessia, entretanto, não se encerra no mar, e muitos daqueles que chegam na costa Europeia seguem em direção ao continente. O estado de vulnerabilidade dos refugiados colide, assim, com a falta de recursos e preparo dos países pelos quais cruzam. Na Macedônia (passagem obrigatória àqueles que chegam pela Grécia), candidatos a refúgio e imigrantes têm direito a apenas 72 horas de uso de transporte público, o que faz com que eles muitas vezes sejam forçados, como consequência, a andar por parte do trajeto. Ademais, relatos de abusos por parte de autoridades não são incomuns; na Sérvia, depoimentos coletados pela Anistia Internacional, apontam para o recorrente hábito de policiais fronteiriços de cobrar dinheiro aos imigrantes como condição para seu ingresso à Hungria. Há, também, um notável desequilíbrio no tocante ao destino final dos solicitantes de refúgio. Em julho de 2015, a ACNUR, por meio de um relatório sobre as principais características dos imigrantes que chegavam na Grécia pelo Mediterrâneo, descobriu que apenas 10% tinham planos de buscar asilo na própria Grécia. Os 90% restantes tinham como destino, em sua maioria, a Alemanha ou a Suécia. Não surpreende, pois, que estes dois países tenham sido os que, em 2014, mais aceitaram pedidos de asilo: 47.555 (de 42 um total de 202.815 requerentes) e 33.025 (de um total de 81,315 requerentes) respectivamente; cerca de 40% do aceito pela União Europeia como um todo. Se abordados sob uma perspectiva relativa e não absoluta, os números apontam para um desequilíbrio ainda mais alarmante. Em 2015, 163.000 pedidos de asilo foram feitos à Suécia (um país de não mais que 10 milhões de habitantes); o que significa a maior quantidade de requerimentos per capita em qualquer país da UE (cerca de 16 a cada 1000 habitantes). De acordo com o órgão de estatística da União Europeia (EUROSTAT), a Hungria recebeu, em 2015, o equivalente a 15 requerimentos por 1000 habitantes. Inversamente, o Reino Unido, país não-membro do acordo de Schengen, teve um total de 0,4 pedidos de asilo por cada 1000 habitantes – um nível estrondosamente abaixo dos demonstrados pela Suécia e Hungria. Ainda como exemplo pode-se citar a Alemanha, com uma média de 05 pedidos a cada 1000 residentes. O governo alemão, no entanto, contesta esse valor e alega que devido ao alto número de candidatos a refúgio pertencentes aos Estados dos Balcãs e de Kosovo, há muito mais pedidos de asilos não computados. O aumento progressivo no fluxo de refugiados que adentram a Europa expôs, principalmente no decorrer de 2015, grandes disparidades que existem dentro do continente. Não há homogeneidade na maneira como o peso de manejar imigrantes é repartido entre as nações europeias; há poucos países por onde os solicitantes de refúgio chegam (principalmente Itália e Grécia), e, graças às opções limitadas de caminhos a seguir, há poucos países por onde trafegar (sendo o sudeste europeu o mais movimentado). Finalmente, a maioria dos pedidos de asilo também está concentrada em poucos países, mais notadamente a Suécia, a Hungria e a Alemanha. Segundo as normativas de Direitos Humanos, migrar é um direito de todos os seres humanos. Além disso, a Convenções de Genebra impõem aos Estados signatários, inclusive os membros da União Europeia, o dever de proteger e acolher os refugiados. Por outro lado, embora as autoridades europeias considerem que o bloco está sendo assolado por uma crise humanitária sem proporções, é relevante frisar que, segundo a Anistia Internacional, 95% dos refugiados sírios estão distribuídos em apenas cinco países: Turquia, Líbano, Jordânia, Iraque e Egito. Ou seja, a Europa é uma das regiões que tem sido o destino dos outros 5% dos seres humanos que estão fugindo das guerras, como a da Síria. 43 Entretanto, é indispensável amenizar o desequilíbrio hoje existente na Europa para que se planifique as discrepâncias e que se proteja, efetivamente, os direitos dos refugiados. A Alemanha, até o final de outubro de 2015, havia recebido o maior número de pedidos de asilo dentre os países europeus, com mais de 315 mil requerimentos. Apesar desses dados, oficiais alemães acreditam que mais de 1 milhão de pessoas refugiadas tenham entrado no território sem o requerimento, segundo dados do sistema alemão “EASY”, utilizado para contagem e distribuição de pessoas. Mesmo com os números elevados, em agosto de 2015 a Chanceler Angela Merkel optou por suspender as restrições do Regulamento de Dublin impostas para os pedidos de asilo, causando desconforto em partes da população alemã antes mesmo do atentado de Paris, em 13 de novembro. O maior medo da população era que, junto aos refugiados, viessem infiltrados membros do Estado Islâmico, principalmente após o atentado, quando um membro do grupo terrorista alegou que mais de 4.000 homens pertencentes ao ISIS haviam sido infiltrados nos países do Ocidente disfarçados de refugiados. A declaração aguçou o medo e gerou hostilidade às decisões da Chanceler alemã, o que estimulou seu Ministro do Interior a retomar as restrições aos pedidos de asilo. O povo alemão mostrou-se divido com relação à presença dos refugiados, mas a preocupação é clara. Manifestações, contra e a favor, são frequentes em diversas cidades alemãs. Apesar de episódios como os ataques incendiários aos centros de refugiados, demonstrações de solidariedade foram frequentes na Alemanha sobretudo após a veiculação da imagem do menino refugiado sírio encontrado nas areias de uma praia turca, após ter morrido afogado. A onda xenofóbica contra os refugiados foi acirrada após os ataques ocorridos na cidade de Colônia, oeste da Alemanha, em que na noite de Ano Novo mais de 700 denúncias foram feitas às autoridades - sendo metade delas envolvendo crimes sexuais – e incendiou o debate acerca do tema. Os ataques deram força à extrema direita do país na luta contra a presença dos refugiados, uma vez que a grande maioria dos investigados eram imigrantes esperando por asilo ou, simplesmente, em situação irregular. Mais uma 44 vez, as ondas de protestos ressurgem em diversas cidades alemãs, fato que causa temor de um abalo aos pilares da democracia e incide frontalmente contra as históricas conquistas no plano de direitos humanos. A Hungria foi o segundo país a receber mais pedidos de asilo em 2015. Até o final de outubro de 2015, obteve mais de 174 mil requerimentos, o que representou o maior número de pedidos proporcionais a população do país: mais de 1.450 refugiados por 100.000 da população local da Hungria no primeiro semestre de 2015. Os números elevados levaram o governo húngaro a fechar as fronteiras com a Croácia e com a Sérvia, vedando-as com arame farpado, o que obrigou os refugiados a cruzarem a Eslovênia para chegar à Alemanha - destino buscado pela maioria deles. Ao fazer isso, a Hungria suspendeu o sistema europeu do Acordo de Schengen com a Eslovênia, tornando necessária a utilização do passaporte para acessar o território húngaro. O fato levou outros países a também restringirem a entrada por suas fronteiras na tentativa de barrar a entrada dos refugiados, como a Polônia, República Tcheca, Eslováquia e a própria Eslovênia. A Hungria reabriu as fronteiras parcialmente e permitiu transportar milhares de refugiados pelo território em ônibus e carros até a fronteira com a Áustria, sob pressões por parte da UE que tentava buscar um consenso com relação aos migrantes, após a instauração das cotas por membros da União em uma das muitas reuniões emergenciais. Uma marcha com milhares de refugiados que seguia a pé pela Hungria, também com destino à Áustria e posteriormente, à Alemanha, desencadeou uma série de conflitos dentro do país, desagradando uma parcela da população de extrema direita e também aos migrantes, insatisfeitos com a polícia húngara pela burocracia exigida para a realização do trajeto. 45 Pela proximidade com o Oriente Médio e África, pelo Mar do Mediterrâneo, a Itália tornou-se uma das principais portas de entrada dos demandantes de refúgio para a Europa. A ilha Lampedusa é uma via ingresso utilizada pelos migrantes muito antes da guerra civil síria, principalmente da Líbia, Eritreia e Somália. Mas o número de aspirantes de refúgios aumentou de forma intensa após o ocorrido. Uma vez que a Itália se considera sobrecarregada, a UE tenta dividir o fardo com outros países membros em 2015. O custo para manter os refugiados também é um fator que levou à Itália a recorrer a UE por ajuda. Porém, segundo ativistas que trabalham com os requerimentos de asilo, o negócio de hospedagem é movido pela corrupção e pela influência de grupos criminosos organizados que se aproveitam de uma emergência nacional para lucrar. Os migrantes estão concentrados no sul da Itália, onde a influência do crime organizado é significativa. Supostamente, os solicitantes de refúgios devem ser entrevistados pelas autoridades de imigração locais no prazo de 60 dias de sua chegada, mas a maioria tem de esperar seis a oito meses para a sua entrevista, e depois mais seis meses antes de chegar a sua resposta. Nesse período, eles não estão autorizados a deixar o país. Alguns grupos que acompanham a situação dos refugiados acreditam que quanto mais tempo levar o processo de aceitação, mais o país receberá ajuda da UE, e os proprietários de abrigos continuarão a receber ajuda financeira do Estado. Além das acusações de corrupção, migrantes também protestaram contra o abandono dos abrigos por parte do governo italiano na cidade de Nápoles, após dias sem o fornecimento de água e gás. Em 2015, a Áustria encontrou-se em uma situação conflituosa com seus países fronteiriços como a Alemanha, a Hungria e a Eslovênia sobre como proceder com a chegada de milhares de solicitantes de refúgios à região. Em outubro do mesmo ano, a Alemanha acusou a Áustria de ter abandonado solicitantes de refúgio em regiões com fronteiras que não possuíam nenhum tipo de abrigo, forçando assim que os mesmos cruzassem os limites do território austríaco e deixassem de ser responsabilidade do governo local. A denúncia foi feita pelo jornal alemão Bild, que alegou ter provas de que 46 as forças policiais austríacas não prestavam a ajuda necessária aos imigrantes e os forçavam a travessia da fronteira. O jornal ainda apresentou e acrescentou que centenas de candidatos a refúgio foram obrigados a dormir ao ar livre, em temperaturas congelantes, enquanto esperavam para atravessar a fronteira entre os dois países; e dois imigrantes ainda tiveram que ser resgatados por bombeiros depois de tentarem pular em um rio em uma tentativa de nadar até a Alemanha. A Ministra do Interior austríaca respondeu alegando que a Alemanha não estava cooperando na recepção dos imigrantes e número que estava recebendo não condizia com sua política de encorajamento à vinda dos mesmos. Os números segundo as polícias locais estavam em 6.500 solicitantes de refúgios chegando na Áustria por dia e mais de 8.850 na Alemanha. Após o ocorrido, a Áustria afirmou que montaria uma barreira na fronteira com a Eslovênia para diminuir o fluxo, mas diferentemente da Hungria, não impediria a entrada dos imigrantes, apenas tentaria organizar e controlar melhor sua vinda. Em Spielfeld, na Áustria, é a principal entrada dos imigrantes vindo da Eslovênia. Dessa forma, recebe-se mais de 4000 pessoas por dia nessa localidade, e a polícia austríaca é responsável pelo encaminhamento desses indivíduos para sua origem final, sendo na maior parte do tempo, a Alemanha. A Eslovênia, devido à demora da Áustria em aceitar os refugiados e a criação da barreira na fronteira, fez fortes críticas ao governo austríaco. Outra situação envolvendo os dois países ocorreu em dezembro de 2015, em que mais de 400 homens foram enviados de volta para Eslovênia da província austríaca de Carinthia, após a polícia constatar que os mesmos haviam mentido sobre suas nacionalidades e não eram de origem síria ou afegã, não podendo ser aceitos na Áustria sem verificação de suas reais identidades. Segundo dados apresentados no veículo de comunicação Sputnik News em novembro de 2015, com a pesquisa realizada pela Unique Reaserch, 60% da população austríaca demonstrou-se preocupada e com medo do enorme fluxo de imigrantes entrando no país e 35% dos entrevistados disseram que queriam que o governo parasse de aceitar mais novas pessoas; 16% era a favor de soluções da líder do Partido da Liberdade para a crise, que incluem construção de cercas de fronteira em qualquer lugar onde os imigrantes estão tentando entrar na Áustria. O jornal austríaco Der Standard, no mesmo período, publicou reportagens sobre ativistas austríacos que participaram de comboios com até 150 carros que iam até a Hungria na tentativa de ajudar os refugiados a alcançarem a Áustria e a Alemanha, que 47 estão respondendo a acusações de tráfico de pessoas. Está sendo investigados pelo Ministério Público outra iniciativa cidadã para ajudar os refugiados - uma plataforma online chamado 'fluchthelfer.in', que foi lançada na Alemanha e dá às pessoas dicas sobre como ajudar os refugiados, sem enfrentar acusação. Os responsáveis pela criação do site podem ser acusados de incentivar as pessoas a cometerem crimes e desobedecer a lei. A medida estatal foi criticada por diversos advogados de direitos humanos que argumentam que muitos traficantes de pessoas estão fazendo o que o governo deveria fazer: dar uma passagem segura aos solicitantes de refúgios. Até o final de 2015, mais de 50 mil pedidos de asilo foram feitos ao governo francês por cidadãos majoritariamente de origem síria. Nesse período, segundo o jornal americano “Voice of America”, houve uma mudança no comportamento da população acerca da presença dos imigrantes no território francês. Segundo o jornal, a principal mudança se deu após os ataques em Paris de 13 de novembro, e afastou a parte da população que se voluntariava levando comida, brinquedos e roupas aos solicitantes de refúgio recémchegados ao país. A boa recepção por parte da população claramente diminuiu após o ocorrido, principalmente após a confirmação das autoridades francesas de que pelo menos dois membros dos ataques com as bombas suicidas vieram da Síria pelo mesmo trajeto que milhares de refugiados, entrando pela Grécia. Até agora, no entanto, não houve denúncias de maus-tratos dos solicitantes de refúgios na França, segundo o diretor de Refugiados da Amnistia Internacional e programa Migrante. Segundo ele, é claro o ceticismo com relação aos refugiados apesar da difícil tarefa de ativistas em convencer a população a aceitar os refugiados e compreender a situação complicada e horrível pela qual passaram e continuam passando. Ainda que haja importante grau de solidariedade com a trágica situação dos candidatos a refúgio, nota-se um aumento das hostilidades. Os ataques em Paris também deram espaço para o crescimento de votos para os setores da extrema-direita nas eleições regionais em dezembro de 2015 dentro da França. Apesar da opinião popular não ser homogênea, o presidente francês François Hollande confirmou que continuará a receber os refugiados e confirmou a concessão de até 30 mil vistos para refugiados nos próximos dois anos. De acordo com o Presidente, a 48 França tem um dever humanitário para com os refugiados e conclui: “Temos que reforçar nossas fronteiras, permanecendo fiéis ao nossos valores”. Em janeiro de 2015, o jornal inglês The Guardian publicou uma reportagem sobre a situação de calamidade em que centenas de solicitante de refúgios estavam vivendo nos Campos de refugiados no norte da França. Na cidade portuária de Dunquerque, os solicitantes de refúgios estão vivendo em condições insalubres e perigosas após dias de chuva intensas que praticamente afundaram o acampamento. Ao mesmo tempo, guardas bloquearam tentativas dos migrantes de substituir tendas e reconstruir abrigos temporários, além da proibirem a entrada de materiais de construção, lenha e até mesmo cobertores durante o período frio e chuvoso. A polícia militar, responsável pela segurança do local não quis comentar sobre as proibições feitas no acampamento, mas segundo voluntários que estavam no local a motivação seria para impedir o crescimento da área, impedindo a reconstrução do que foi destruído pelas chuvas. Apesar da presença parcial do Médicos Sem Fronteiras no acampamento não há acompanhamento médico para os candidatos a refúgio e a ONG é incapaz de lidar com os problemas imediatos das pessoas enquanto aguardam a ajuda do governo francês na construção de novas instalações no local. Em setembro de 2015, o Primeiro Ministro David Cameron afirmou que o Reino Unido possuía uma responsabilidade moral com as pessoas que vivem nos acampamentos na fronteira com Síria e além de ajudá-los também faria o possível para o termino do conflito. Dessa forma, concordou com a entrada de 20 mil refugiados vindos das Síria até 2020. O discurso do Primeiro Ministro causou desconforto e críticas à política de não aceitação dos refugiados que já se encontravam em território europeu, que foi justificada por ele como uma forma de não encorajar a letal viagem através do Mediterrâneo. O número de refugiados aceitos também foi criticado devido ao fato de ser superior ao aceito por países vizinhos, como a França por exemplo. O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados seria responsável por identificar os mais necessitados dentro dos acampamentos na Síria, Turquia e Jordânia e os considerados para o reassentamento deveriam passar por um controle de segurança antes de adentrar o Reino Unido. 49 A instituição de caridade “Save the Children”, fundada no Reino Unido, confirmou que mais de 26 mil crianças foram forçadas a viajarem sozinhas para a Europa no ano de 2015. Segundo a Europol, Agência de aplicação da lei da União Europeia, pelo menos 10 mil crianças estão desaparecidas supostamente vítimas de gangues ligadas ao tráfico de pessoas, que forçam as crianças a realizar trabalho sexual e escravo. A “Save the Children” ainda pediu ao governo para auxiliar 3.000 ou mais crianças desacompanhadas que tinham viajado para a Europa além dos 20 mil já prometidos pelo Primeiro Ministro. Além disso, outras instituições de caridade e indivíduos fizeram apelos para ajudar aqueles na Síria, como a Cruz Vermelha britânica e Oxfam; e uma petição online pedindo ao Reino Unido para aceitar mais refugiados passou o limiar de 100.000 assinaturas, o que significa que era elegível para ser considerado para um debate no Parlamento. A Suécia tem manifestado grande solidariedade a situação dos imigrantes. O país foi o que teve o maior número de pedidos de asilo aceitos em proporção à sua população, mais de 1.575 refugiados por 100.000 da população local em 2015. Em novembro do mesmo ano, após o número de pedidos chegar a 163 mil pessoas, a política sueca com relação a aceitação dos refugiados mudou e o governo confirmou que apenas aceitaria o mínimo já estipulado pela União Europeia. O Primeiro Ministro, Stefan Löfven, ainda asseverou que a partir de abril de 2016 seriam concedidas apenas residências temporárias, que aumentaria o controle da identidade das pessoas que buscam asilo e que haveria maior restrição no tocante ao reagrupamento familiar. O Primeiro Ministro ainda criticou a UE por não ter conseguido espalhar mais uniformemente os refugiados ao redor do bloco. De acordo com o jornal The Guardian, o novo regime de asilo da Suécia será aplicado durante três anos. Com duas semanas de imposição de controles nas fronteiras, iniciada em 12 de novembro de 2015, o número médio de requerentes de asilo caiu de 1.507 por dia para 1222 em 2 semanas, segundo funcionários da imigração. Em janeiro de 2016, autoridades suecas pediram à polícia e à agência de migração do país para preparar as expulsões de milhares de candidatos a refúgio e migrantes que chegaram em 2015 e cujos pedidos de asilo poderia ser rejeitada. De 160 mil pedidos, 50 apenas 55% seriam de fato aceitos, enquanto os outros 45% seriam enviados de volta para seus países de origem. Entre os requerentes de asilo foram 51.000 sírios, 41.500 afegãos e quase 21.000 iraquianos. O tema da superlotação de centros de asilo suecos também foi assunto em diversos jornais, quando funcionários suecos fizeram um apelo por maior segurança nos centros de asilo após o esfaqueamento seguido de morte de uma empregada em uma instalação de jovens refugiados desacompanhados. A morte da funcionária gerou perguntas sobre as condições de superlotação dentro de alguns centros, com poucos funcionários para cuidar de crianças traumatizadas pela guerra. Apesar de haver grande apoio à causa dos refugiados, há muita tensão no país. De acordo com o jornal Independent, em janeiro de 2016, um grupo formado por centenas de homens mascarados marcharam pela principal estação de trem de Estocolmo, para supostamente espancar refugiados e qualquer um que não parecesse ser etnicamente sueco. Antes dos ataques, o grupo espalhou panfletos pelo local com o slogan “É o suficiente agora!”, ameaçando dar "as crianças de rua do Norte Africano que estão perambulando por aí", o "castigo que merecem". Os folhetos, segundo as autoridades, se referiam a morte da assistente social no abrigo. Após o ataque, o Movimento de Resistência sueco, um grupo neonazista, divulgou um comunicado afirmando que o ataque tinha "limpado imigrantes criminosos do Norte de África que estão alojados na área ao redor da Estação Central". A Grécia, assim como a Itália, tem sido a principal porta de entrada para a Europa utilizada pelos migrantes e refugiados. Estima-se que as chegadas pelo mar ao território grego passaram de 800 mil em 2015 e até janeiro de 2016 já chegaram a marca dos 50 mil. Em setembro de 2015, a União Europeia concordou em realocar 160 mil refugiados para outros países membros, aliviando a pressão demográfica na Grécia e Itália. A Grécia, nessas novas cotas estabelecidas, diminuiria em 66 mil o número de candidatos à refúgio em seu território. No mesmo mês, a Grécia se viu obrigada a criar espaços de abrigos para 50 mil refugiados que já se encontravam no país mediterrâneo. Porém, apesar das cotas estabelecidas pela UE, a resistências de outros paísesmembros tornou a situação grega mais preocupante. O país seria apenas um ponto de passagem para os que buscam asilo em outros países europeus mas, com a construção 51 de barreiras nas fronteiras por diversos países, o governo e uma parte da população grega temem que muitos imigrantes acabem obrigados a permanecer na Grécia. O número de solicitantes de refúgio que chegam à costa da Grécia ainda chega a 3 mil pessoas por dia em 2016 e, segundo funcionários da ONU, o país não oferece nenhum tipo de recepção e instalações adequadas, deixando-os em uma situação extremamente complicada e precária. Em apenas um dia de janeiro, 43 pessoas morreram afogadas, quando dois barcos viraram em águas gregas, a maioria deles mulheres e crianças. A Grécia sugeriu no mesmo mês que barcos policiais interceptassem essas embarcações clandestinas nas costas gregas, e os migrantes fossem escoltados para os campos para identificação. Além disso, os refugiados deveriam ser separados dos migrantes econômicos. Em 1985, na cidade de Schengen, em Luxemburgo, reuniram-se os líderes da Bélgica, Alemanha, França, Holanda, Espanha, Portugal e Luxemburgo com o objetivo de definir uma política que levasse à abolição gradual do controle das fronteiras comuns. Assim, o Acordo de Schengen começa a se consolidar no cenário europeu e, paulatinamente, outros países foram compondo o acordo que, atualmente, é aplicado em 26 países – sendo 22 membros da União Europeia e 4 não-membros, como indica a Tabela 1. Membros da União Europeia Bélgica Estônia França Letônia Alemanha Suécia Luxemburgo Finlândia Holanda Dinamarca Portugal República Tcheca Espanha Hungria Itália Malta 52 Áustria Polônia Grécia Eslováquia Lituânia Eslovênia Não-membros da União Europeia Islândia Suíça Noruega Liechtenstein Fonte: Ministério de Relações Exteriores da França. Tradução nossa. Bulgária, Croácia, Chipre, Irlanda, Romênia e o Reino Unido são os seis membros da União Europeia que não são signatários do Acordo de Schengen. A União Europeia, que sob o abrigo do Acordo de Schengen tornou livre a circulação de pessoas entre muitos seus países membros tem, nesta concessão de liberdade que norteia os princípios da Organização, um dos maiores desafios de sua história: como cumprir as normativas de Direitos Humanos no sentido de garantir a proteção e acolhimento aos migrantes que tem chegado massivamente dos países instáveis no Oriente Médio e no norte da África e, ainda, manter coerente a proposta de integração socioeconômica, política e territorial do acordo? A falta de acordo entre muitos dos países membros da União Europeia para coordenar uma atuação conjunta acerca do tema fez com que muitos dos países reinstaurassem o controle de suas fronteiras, sob a justificativa do caráter provisório das medidas tomadas. A Figura 3 revela a situação das fronteiras dos países mais afetados pelas migrações na Europa. 53 Fonte: BBC Europa. Adaptado e traduzido pelos autores. Reinstaurar o controle das fronteiras por motivos extraordinários também é parte do Acordo de Schengen, que no artigo 121º, segundo parágrafo, informa: Caso exista a ameaça de organismos prejudiciais sendo propagados ou introduzidos, uma Parte Contratante [do acordo] pode requerer a restauração temporária das medidas de vigilância prescritas pela lei da comunidade, e pode implementá-las. A parte deve informar imediatamente as outras Partes Contratantes por escrito, informando as razões para a sua decisão. Entretanto, retomar o controle das fronteiras é algo que usualmente desagrada os europeus, já que a livre circulação de pessoas é considerada uma das mais relevantes conquistas da União Europeia. Assim, em 2013, o Parlamento Europeu e o Conselho de Ministros aprovaram uma Resolução que determina e estabelece regras e condições para o restabelecimento de controle nas fronteiras. O artigo 4º da Resolução é semelhante ao 54 artigo 121º do Acordo de Schengen, porém, o artigo 4º é mais enfático ao esclarecer e nomear os “organismos prejudiciais” e as situações extraordinárias: A reintrodução dos controles internos de fronteira podem ser necessários excepcionalmente em caso de séria ameaça à ordem pública ou a segurança interna, no âmbito da área específica sem controle de fronteira ou a nível nacional, em particular após ameaças ou ataques terroristas, ou por causa de ameaças realizadas pelo crime organizado. Ainda, no artigo 5º da Resolução, é estabelecido que a “migração e o cruzamento de fronteiras externas por um grande número de estrangeiros de um país terceiro [ao Acordo] não deve, por si só, ser considerado uma ameaça à ordem interna ou a segurança interna”. Assim, sob a análise dos termos da Resolução, o fechamento de fronteiras apenas pela migração maciça não seria justificável, bem como a unilateralidade na tomada de tal decisão. Durante o Fórum Econômico Mundial, ocorrido em Janeiro de 2016, o primeiro ministro grego, Alexis Tsipras, afirmou que para solucionar o impasse das pressões demográficas é crucial que seja desenvolvido um mecanismo que melhor realoque os refugiados que entram na Europa. Tal recomendação, porém, não é inédita e nem de todo recente. Já na metade de 2015, a ACNUR apontava para a necessidade de a União Europeia adotar políticas que distribuíssem equitativamente os pedidos de asilos entre seus membros. De fato, durante o ano de 2015 a União Europeia buscou lidar com o problema, e a própria ACNUR reconheceu, em seu relatório de Julho de 2015, que a realocação de 40.000 imigrantes Sírios e Etíopes promovida pela UE foi um passo importante na solução de questões ligadas ao destino dos refugiados. Além disso, desde Maio de 2015, a União Europeia conta com a Agenda Europeia Sobre Migração, um documento que visa unificar e padronizar as políticas comuns europeias concernentes às decisões sobre refugiados. Uma das metas de curto prazo da Agenda era justamente formular um sistema de distribuição de refugiados, para que cada membro da União Europeia contribuísse de maneira proporcional e balanceada. Ainda na Agenda, há um índice que, baseado em critérios como o PIB, tamanho da população, taxa 55 de desemprego, número de requerimentos de asilo e número de refugiados integralmente incorporados na sociedade, calcula a porcentagem do total de refugiados na União Europeia que cada país deveria, idealmente, receber. A Tabela 2 ilustra as estimativas. País-Membro Porcentagem Áustria 2.62% Bélgica 2.91% Bulgária 1.25% Croácia 1.73% Chipre 0.39% República Tcheca 2.98% Estônia 1.76% Finlândia 1.72% França 14.17% Alemanha 18.42% Grécia 1.90% Hungria 1.79% Itália 11.84% Letônia 1.21% Lituânia 1.16% Luxemburgo 0.85% Malta 0.69% Holanda 4.35% Polônia 5.64% Portugal 3.89% Romênia 3.75% Eslováquia 1.78% Eslovênia 1.15% Espanha 9.10% Suécia 2.92% Fonte: Agenda Europeia sobre Migração. 56 A estimativa é de que em 2015 a União Europeia recebeu 942,400 solicitações de refúgio. Destes, conforme mencionado anteriormente, 163.000 foram destinados à Suécia; ou seja, não menos que 17% de todos os pedidos. De acordo com a Agenda Para Migração, a Suécia deveria comportar cerca de 3% dos requerimentos, sendo que o único país considerado adequado para lidar com uma porcentagem de pedidos de da tal sorte era a Alemanha. Ressaltando que as políticas de distribuição equitativas de refugiados eram tidas como medidas de curto prazo, e comparando a situação atual com o cenário sugerido pela Agenda, é razoável ponderar sobre a real eficiência das ações tomadas pela União Europeia durante o segundo semestre de 2015. Os países-membros ainda possuem quantidades relativamente díspares de refugiados em seus territórios, como é o caso da costa das nações do Mediterrâneo e, principalmente, a Grécia que ainda são anfitriões despreparados para o fluxo aparentemente incessante (54.518 em pleno Janeiro invernal), e a perspectiva para 2016, – especialmente para a primavera e o verão – não é de calmaria nos mares helenos. A solução apresentada, já em Maio de 2015 pela Agenda Europeia sobre Migração (e novamente pelo relatório da ACNUR em julho), e mais recentemente reiterada enfaticamente por líderes europeus durante o Fórum Econômico Mundial, orbita ao redor da premissa de “solidariedade”. De acordo com essa ideia**, Os Estados-membros da União Europeia devem tomar atitudes de maneira harmoniosa e coesa, sempre levando em consideração a posição de seus demais, bem como a da União Europeia como um todo. É preciso que haja cooperação e consenso entre os diversos processos de tomada de decisão que compõe o quadro de ação dentro da Europa. Para que os problemas estruturais e sociais criados pelo fluxo de imigrantes sejam superados e que o União funcione de maneira mecânica, é preciso que todas as engrenagens que compõem o sistema estejam ajustadas. E, de fato, pode-se dizer que atualmente as peças apresentam coordenação insatisfatória. Em setembro de 2015, os ministros do Conselho da União Europeia aprovaram um plano responsável pela realocação de 120.000 refugiados situados na 57 Grécia, Itália e Hungria. Os refugiados seriam distribuídos por entre os demais membros da UE, através da adoção de um sistema em que cada país é designado uma cota específica de pessoas para receber. O que poderia ser visto como um primeiro e importante passo em direção a tomada de iniciativas uníssonas dentro do bloco foi, entretanto, constrangido justamente pela falta de consenso de seus membros. Tendo sido um dos quatro países que votaram contra o plano, a Hungria declarou que não iria realocar os 54.000 imigrantes que, segundo a proposta, iriam ser transferidos – impedindo o remanejo de quase metade de todos aqueles enquadrados no plano. A Eslováquia, outro país que votou contra, prometeu tomar medidas cabíveis caso fosse coagida pela União Europeia a aceitar as cotas impostas pelo esquema. Paralelamente às discussões em busca de soluções coletivas, alguns países europeus estão tomando medidas unilateralmente. Na tentativa de conter o fluxo humano que entra em seu território, a Hungria instalou cercas com arame farpado em sua fronteira com a também sobrecarregada Sérvia, bom como na sua fronteira com a Croácia. A Suécia declarou em Janeiro que pretende não só rejeitar até 80.000 pedidos de asilo, mas deportar seus solicitantes. Outro país escandinavo, a Dinamarca, aprovou uma lei controversa - e que viola as normas internacionais – que dificulta o reagrupamento familiar e permite o confisco de bens de refugiados que ultrapasse o valor de 10.000 coroas dinamarquesas (cerca de 6.000 reais). Logo, parece não surpreender que durante uma sessão do Parlamento Europeu, a sueca Cecilia Wikström – ao criticar o posicionamento dinamarquês – afirmou que, dada a ausência de um sistema de compartilhamento de responsabilidades, a situação europeia sucumbiu a uma disputa em que cada país tenta se tornar o menos atrativo possível para refugiados, na esperança de que eles escolham outras nações para entrar. Por fim, a crise dos refugiados e a seriedade do desafio que ela representa não podem ser contemplados em sua totalidade se não levados em conta aqueles que perderam suas vidas buscando asilo na Europa. Segundo a Organização Internacional de Migração, 3.695 pessoas morreram cruzando o Mediterrâneo em 2015, e outras 3.279 em 2014. O mês mais sombrio de 2015 foi abril, quando um acidente envolvendo um barco superlotado jogou ao mar cerca de 800 pessoas vindas da Líbia. Em outubro de 2013, após a morte de 368 refugiados perto da ilha de Lampedusa, a Itália lançou uma operação de busca e resgate batizada de Mare Nostrum. O sucesso da Mare Nostrum, contudo, foi – ironicamente – criticado: países que se opunham a tal operação defendiam que ela atraia mais refugiados para a Europa, aumentando a quantidade destes no velho continente. A 58 Itália, então, encerrou suas atividades relacionadas à Mare Nostrum em dezembro de 2014. Atualmente, a Frontex (agência responsável pelo controle das fronteiras europeias) comanda uma operação de menor escala e com menos recursos que a sua predecessora Italiana. A necessidade de um esforço mais proativo, porém, é visível; segundo a ACNUR, em Janeiro deste ano 236 refugiados morreram ou estão desaparecidos. 59 A região do sul do mar da China é geopoliticamente muito relevante para a economia global. Este é considerado pivô das rotas marítimas global, sendo, segundo Johnny Kallay, “responsável por ⅓ do tráfego marinho. Pelos estreitos de Malaca, Sunda, Lombok e Makassar passa mais de 50% da tonelagem da frota mercante mundial.” Além disso, Kallay relata que “pelo Mar do Sul da China passa 60% do suprimento de energia da Coréia do Sul, de Taiwan e do Japão e 80% do óleo bruto importado pela China, tornando esta uma área central para o desenvolvimento global”. Dessa forma, observa-se que as áreas de pesca, o controle estratégico de rotas de navegação, a potencial exploração de petróleo bruto e gás natural e ainda questões 60 históricas e nacionalistas, são apenas algumas questões que movimentam um dos mares mais importantes na atualidade. As disputas no Mar da China apresentam-se de forma bastante complexa, envolvendo diretamente nações asiáticas – Vietnã, Malásia, Brunei, Cingapura, Indonésia, Índia e Japão – e indiretamente também outros Estados distantes da região, como os Estados Unidos e a Austrália. Existe, então, uma diversidade de interesses que podem variar desde uma tentativa de barrar a expansão territorial chinesa e seu fortalecimento geopolítico até a manutenção do status-quo regional. Diferentes grupos de ilhas estão sob disputa. As Ilhas Paracel, contestadas pela China e Vietnã, as Ilhas Spratly contestadas pela China e pelos membros da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) – Brunei, Malásia, Filipinas e Vietnã – e as Ilhas Senkaku disputadas pelo Japão, China e Taiwan. Os Estados Unidos, que se apresentam decididos a proteger seus interesses comerciais e militares, almejam manter as rotas de passagem por essas áreas. Este país mostra-se disposto a trazer o assunto à fóruns multilaterais, em uma tentativa de barrar a tendência da China de negociar individualmente com os Estados menos proeminentes. Os que disputam as ilhas discordam, em geral, sobre seus direitos e deveres nas águas próximas, bem como no fundo do mar, acirrando a disputa. O histórico de ocupação da área é frequentemente colocado em pauta, como argumento, pelos diversos países da região, principalmente pela China e Japão. Estes alegam sobre a história “verdadeira” destas cadeias de ilhas, na tentativa de fundamentar suas recentes reivindicações. Estes Estados afirmam, por exemplo, o domínio nacional da pesca em torno das ilhas ou ainda a utilização das mesmas como abrigo. Porém, historicamente não demonstrou-se um padrão de controle exclusivo sobre o Mar do Sul da China, ou mesmo em partes isoladas. Os primeiros indícios de utilização das ilhas disputadas data de 200 anos a.C, quando pescadores chineses já usavam as ilhas Spratly. Porém, apenas entre os séculos XII e XV as contestações ganharam força. Os chineses empregavam suas rotas para alcançar as costas do que é hoje Vietnã e Tailândia para a venda de especiarias e produtos e, embora bem sucedidas em suas incursões no Oceano Índico e nas descobertas de rotas até a península arábica e costa leste da África, as frotas chinesas cessaram atendendo às ordens do Imperador da época. 61 Esse fato coincidiu com o início de pesquisas europeias na região entre os séculos XV e XVII. Holandeses, franceses, ingleses e portugueses passaram a ter uma forte presença na área. Esses povos utilizavam as rotas do Mar do Sul da China para estabelecer colônias e abastecer entrepostos locais com produtos europeus de todos os tipos. O Mar do Sul da China observou, assim, o crescimento, o estabelecimento e a predominância dos europeus na região. Desde as primeiras investidas europeias no século XV, a China enviou forças navais à região, como forma de barrar as tentativas estrangeiras. Porém, as maiores disputas datam de um período mais recente, após a Segunda Guerra Mundial. Seus desdobramentos mudaram por completo o panorama das disputas no Mar do Sul da China, que apresenta um formato atual de certa forma moldado por eventos da Guerra. Ressalta-se a retirada das tropas japonesas de suas possessões no sudeste asiático, o processo de descolonização, a descoberta de reservas de óleo e gás na região e o estabelecimento da Convenção das Nações Unidas para o Direito dos Mares em 1973. Nas últimas décadas do século XIX, observa-se a ascensão do Japão como potência marítima. Suas reformas, sob o comando do imperador Meiji, deram prioridade para a construção naval, a criação de um exército nacional eficaz e de uma marinha forte. O Exército Imperial Japonês e a Marinha foram capazes de infligir uma sequência de derrotas aos chineses por meio de prospecção, resistência, estratégia e poder de organização, o que resultou na derrota Chinesa na Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895). Os japoneses já haviam assumido até mesmo o controle de Taiwan, fazendo com que sua dominância na região fosse, naquele momento, quase absoluta. A Segunda Guerra Sino-Japonesa foi travada entre os anos de 1937 a 1945 entre a China e o Japão, antes e durante a Segunda Guerra Mundial. A principal motivação do conflito foi a intenção de anexação de territórios chineses pelo Império Japonês, que iniciava uma nova fase de colonialismo baseado no militarismo. O Japão acabaria por incorporar as ilhas do mar do sul da China ao seu controle em 1939, entrando de fato na disputa. A partir de 1940, a ocupação japonesa foi contida em sua expansão, graças a esforços por parte do governo chinês. Além de tais esforços, novos países entram na guerra, logo após ataques japoneses, além da China, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e a França também declararam guerra ao Japão, ocorrendo uma imersão da Guerra Sino-Japonesa, em plena Segunda Guerra Mundial. 62 Os países, chamados de Aliados, pouco a pouco enfraqueceram o Japão que apresentava cada vez maiores debilidades em relação ao seu exército. Ofensivas contra o Japão, realizadas em 1944, debilitaram ainda mais o país, que perdeu territórios conquistados anteriormente, como o sudoeste da Birmânia. A vitória dos países Aliados levou a China, em 1946, a iniciar de forma incisiva o envio de navios a região com o objetivo de reivindicar principalmente a maior das Ilhas Spratly. A retirada das tropas Japonesas gerou uma importante consequência para a disputa territorial mais recente, um vazio foi deixado em certos territórios, principalmente no sudeste e leste asiático, o que determinou a formação de regimes nacionalistas decididos a demonstrar e clamar soberania sobre os territórios. Já o processo de descolonização e reconstrução dos países do Sudeste da Ásia tornou o já complexo cenário ainda mais difuso. Com a independência das Filipinas, em 1946, e do Vietnã, em 1950, as disputas pelo controle de áreas do Mar do Sul da China ganharam mais dois atores. O novo Estado vietnamita, embora ainda profundamente instável política e socialmente, exigiu oficialmente que todas as áreas até então controladas pela França fossem transferidas para seu controle como parte histórica de seu território, sendo a maior porção das demandas referentes ao controle das Ilhas Paracel e das Ilhas Spratly. Já as demandas Filipinas ocorreram de forma inesperada, com a alegação da descoberta de um novo grupo de ilhas até então desabitadas, logo as reinvindicações de soberania por parte das Filipinas iniciaram-se e referiam-se a essa área, considerada uma fração das Ilhas Spratly. A China resistiu às demandas de tais países elaborando um mapa de localização do conjunto de ilhas Paracel, Spratly e também Scarborough Shoal na tentativa de aumentar sua área de influência com o estabelecimento de fronteiras. O país delimitou onze traçados marcando os limites nacionais chineses e declarando sua reclamação pela região. As linhas apresentam-se em forma de U englobando a maior parte da área do sul do mar da China, como observado na Figura 4. Mais recentemente um novo mapa foi publicado pela China em 2009, com a permanência de apenas nove traçados. 63 Disponível em: http://www.southchinasea.org/maps/territorial-claimsmaps/> Publicado em: Set. 2014. Acesso em: 5 Set.2015. As ilhas passaram por uma longa fase de tentativas de ocupação por parte do Vietnã – que demandava porções das ilhas Spratly e Paracel. A partir de 2006, com a primeira descoberta significativa de petróleo e gás natural no Mar do Sul da China, a 64 disputa foi novamente estimulada. Empresas petroleiras dos Estados Unidos e Reino Unido deram início a pesquisas e, com a real possibilidade da existência de petróleo, os países demonstraram interesses de caráter nacionalista em toda a área. Johnny Kallay aponta que, “segundo um estudo de 2012 da CNOOC (China National Offshore Oil Corporation), o Mar do Sul da China tem reservas estimadas em 125 bilhões de barris de petróleo e 14 trilhões de metros cúbicos de gás natural”. As disputas impulsionaram a criação da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS). Inúmeras reuniões e conferências foram realizadas desde 1958, data da primeira Conferência, até 1982 quando a convenção foi assinada por mais de 118 países. A partir de então, foi instituído o Tribunal Internacional sobre Direito do Mar, atualmente sediado em Hamburgo, Alemanha. A convenção ampliou e definiu os direitos e deveres dos Estados nacionais em relação a uma variada gama de aspectos. Sendo o mais importante a definição dos limites onde cada país pode exercer soberania e as áreas onde poderá exercer jurisdição sobre exploração e atividades econômicas. A convenção versa sobre as seguintes áreas: Águas Interiores, Mar Territorial, Zona Contígua, Zona Econômica Exclusiva (ZEE), Plataforma Continental, Alto-Mar e Fundos Marinhos. No entanto, a Convenção acabou por trazer mais atores à disputa, que agora também apresentava uma dimensão legal. A Convenção estabeleceu o limite de 200 milhas marítimas da costa de um determinado país como sendo sua Zona Econômica Exclusiva (ZEE), colocando, por exemplo, grande parte das Ilhas Spratly dentro dos limites das Filipinas e ao mesmo tempo dentro dos limites da Malásia. Esta sobreposição não se apresenta neste caso somente. Por este mesmo critério, as Ilhas Paracel pertencem às aguas vietnamitas e chinesas ao mesmo tempo. Esse panorama fez o problema ser ainda maior e, o caminho para sua solução, ainda mais longo e emaranhado. Mais recentemente a competição parece ter chegado a uma nova etapa, principalmente em 2002, quando a ASEAN e a China se uniram para assinar a Declaração sobre a Conduta das Partes no Mar do Sul da China (DOC). A Declaração se utiliza de princípios da Carta da ASEAN de 1967 às disputas territoriais e utiliza a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar como base. De acordo com Kallay, as partes prometeram “exercer auto restrição na condução de atividades que complicariam ou desencadeariam disputas a afetar a paz e a estabilidade, incluindo a abstenção e ação de habitar as ilhas desabitadas, recifes, bancos de areia e ilhotas.” 65 No entanto, a declaração não apresenta um poder vinculante e não possui um mecanismo de solução de disputas, já que seus membros se comprometerem a resolver seus conflitos de forma voluntária. Tal documento não conseguiu gerar uma posição comum entre os países da ASEAN sobre suas demandas. Assim, o que se assiste atualmente é a manutenção de conflitos e posições que perpassam apenas as questões territoriais do Mar do Sul da China e chegam a envolver o passado histórico, as posturas e relações dos países e outras disputas, alianças e inimizades. Visões divergentes emergem, assim, de um conflito já considerado complexo. Uma dessas visões defende a ideia de que os chineses atuam de forma assertiva na região, ao barrar as investidas e a presença de outros países interessados de forma veemente, fatos como os disparos contra barcos de pesca vietnamitas e os ataques a navios de vigilância estadunidenses e filipinos são utilizados para sustentar essa ideia. Estas seriam apenas algumas das resistências feitas por parte da China que, dessa forma, segue a linha de um país que se consolidou como um dos países mais fortes e dinâmicos do mundo, com uma força militar crescente. A política incisiva chinesa não se limitaria apenas ao âmbito militar, mas também ao político - econômico. Com o acordo de Livre Comércio em vigor desde 2005, a China emergiu como o maior parceiro comercial da ASEAN e vem estabelecendo um grande volume de comércio na região. A postura chinesa vem sendo expressa mais recentemente pela construção de ilhas artificiais. Pequim lançou uma campanha para acelerar a recuperação de terras em todo o Mar da China Meridional. Em pelo menos sete locais, os navios chineses têm derramado toneladas de areia, na tentativa de transformar recifes de coral em portos e em infraestruturas, formando terreno sobre as áreas. Outra questão importante que envolve as disputas é a importância da região entre os Oceanos Índico e Pacífico como principal ponto de estrangulamento do comércio mundial, o Estreito de Malaca. Hoje, mais da metade do tráfego de contêineres do mundo e um terço de todo o tráfego marítimo cruza o Oceano Índico e passa por esse ponto no Mar do Sul da China. Acredita-se que a real ideia chinesa é constituir o que seria equivalente a uma nova “rota da seda” formando um novo cinturão econômico na Ásia Central e assegurando os corredores de abastecimento em hidrocarbonetos no sul da Ásia. Junto a criação de tais rotas para e em torno de Malaca, a China forneceu empréstimos 66 em condições favoráveis para Bangladesh, Paquistão, Mianmar e Sri Lanka direcionados para vários setores, desde rodovias, usinas de energia e portos marítimos. Tudo isso tem sido parte da estratégia, já citada, da Rota Marítima da Seda da China, que se destina a ligar os países da Baía de Bengala e no Oceano Índico mais perto da economia chinesa, bem como para construir rotas comerciais da China através do seu território para o Oceano Índico, o que permitiria a China evitar Malaca. Assim, as motivações das disputas são baseadas, por um lado, no conceito do que historicamente pertenceu a um determinado país ou que está ou esteve em sua área de influência e por outro lado, na aplicação das modernas leis marítimas internacionais e da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Países como Vietnã, China e Taiwan, reivindicam as ilhas que disputam entre si baseados no direito histórico, inclusive afirmando que podem provar por meio de seus arquivos os seus interesses sobre os territórios desde o século XVII no caso do Vietnã, e desde o século XV no caso da China e Taiwan. Este critério pode explicar as contestações, mas apresenta difícil justificativa perante as leis internacionais. Em relação às divergências e posições, a China é a mais expansiva, pois seu pedido abrange a totalidade das Paracels e as Spratly. Já a Indonésia tem tentado agir como um árbitro imparcial para resolver as questões. O Vietnã desponta com uma robustez capitalista mesmo com seu sistema político socialista que busca construir laços militares com os Estados Unidos. A Malásia vem obtendo um significante crescimento econômico, porém ainda bastante dependente de seus principais mercados consumidores e provedores dos investidores externos; Taiwan considera-se um país soberano e independente e, por fim, as Filipinas, país que se apresenta com grande potencial econômico, mesmo com problemas sociais. Assim, os países, apesar de suas diferenças e algumas vezes problemas internos, se mostram prontos para avançar sobre os direitos territoriais que reconhecem como seus. Os atores envolvidos mostram-se cada vez mais abertos ao diálogo, principalmente pelo reconhecimento da importância da região asiática no século XXI, levando a busca do consenso e a tentativa do alcance para reduzir o risco de conflito. Assim, países como a Malásia trabalham em ações de segurança nacional de forma mais diplomática, fazendo com que a própria China também apresente um tratamento mais suave, declarando vontade de chegar a um acordo. Brunei é outro país que apresenta relações intensificadas com a China que a vê como uma voz para melhorar a relação China-ASEAN. 67 O cenário, de fato, vem mudando e mais uma das tentativas para isso é a criação da Iniciativa de Transparência Marítima da Ásia. O objetivo é promover a transparência no Indo-Pacífico para dissuadir o comportamento assertivo e gerar oportunidades de cooperação e de reforço da confiança, disponibilizando informações de diversas fontes, que passam por um controle e análise. Como explicitado, a região é detentora de algumas das rotas marítimas mais importantes do mundo e possui abundantes recursos naturais. Além disso, passa por uma grande competição e reivindicações territoriais, incidentes entre países vizinhos, e crescente militarização. Não há como negar que a situação é delicada e ainda apresenta-se incerta. O iminente conflito poderá ser evitado, a intensificação da cooperação e da diplomacia são ingredientes fundamentais na construção de um ambiente estável. 68 69 AGENDA EUROPEIA SOBRE IMIGRAÇÃO: Agenda criada pela Comissão europeia para dar repostas imediatas e a longo prazo à crise dos refugiados e da migração. ANISTIA INTERNACIONAL: Movimento global com mais de 7 milhões de apoiadores, que realiza ações e campanhas para que os direitos humanos internacionalmente reconhecidos sejam respeitados e protegidos. AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS: É um princípio que garante aos povos de todos os Estados o direito de autogovernar e poder optar pelo seu próprio destino sem interferências externas. BASE MILITAR: Instalação destinada a suprir às necessidades das forças armadas de determinada região ou Estado, cabendo a estas, normalmente, a manutenção e operação das mesmas. Uma base militar pode ser terrestre, aérea ou naval, ter funções operacionais ou logísticas e pode ser de caráter temporário ou permanente. CESSAR-FOGO: Interrupção ou fim das hostilidades. COTAS ESTABELECIDAS PELA UNIÃO EUROPEIA: Cotas que permitem realocar refugiados entre os estados-membros para aliviar os países que encontram-se com uma grande concentração dos mesmos. CRISE MIGRATÓRIA: Crítica situação humanitária vivida pelas centenas de milhares de refugiados, oriundos majoritariamente da África e Oriente Médio, e da Ásia (em menor proporção), que buscam chegar na Europa Ocidental. CRITÉRIOS DE ADESÃO (CRITÉRIOS DE COPENHAGUE): Lista de critérios a serem seguidos e alcançados antes de um candidato tornar-se membro da UE. Qualquer um dos candidatos deve cumprir as condições do Art. 49 e os princípios do Art. 2º do Tratado da União Europeia. Tais critérios foram estabelecidos no Conselho de Copenhague em 1993 e reforçados pelo Conselho reunido em Madrid em 1995. Os três critérios são: 1. Critério político: estabilidade das instituições democráticas, o império da lei, dos direitos humanos e respeito e proteção das minorias. 2. Critério econômico: existência de uma economia de mercado e a capacidade de lidar com a pressão competitiva e com as economias fortes da União. 3. Critério de aceitação do acervo comunitário: capacidade para assumir todas as obrigações decorrentes da adesão, incluindo os objetivos da união política, econômica e monetária. Para que o Conselho Europeu decida abrir as negociações é obrigatório que o critério político seja cumprido e qualquer país que deseje juntar-se à União deve preencher o critério de aceitação. Para melhor compreensão do assunto, vide artigos 2º e 49 do Tratado da União Europeia: Art. 2º: "A União funda-se nos valores do respeito pela dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, do Estado de direito e do respeito pelos direitos do Homem, incluindo os direitos das pessoas pertencentes a minorias. Estes valores são comuns aos Estados-Membros, numa sociedade caracterizada pelo pluralismo, a não discriminação, a tolerância, a justiça, a solidariedade e a igualdade entre homens e mulheres.". Art. 49: "Qualquer Estado europeu que respeite os valores referidos no artigo 2.o e esteja empenhado em promovê-los pode pedir para se tornar membro da União. O Parlamento Europeu e os Parlamentos nacionais são informados desse pedido. O Estado requerente dirige o seu pedido ao Conselho, que se pronuncia por unanimidade, após ter consultado a Comissão e após aprovação do Parlamento Europeu, que se pronunciará por maioria dos membros que o compõem. São tidos em conta os critérios de elegibilidade aprovados pelo Conselho Europeu. As condições de admissão e as adaptações dos Tratados em que se funda a União, decorrentes dessa admissão, serão objeto de acordo entre os EstadosMembros e o Estado peticionário. Esse acordo será submetido à ratificação de todos os Estados Contratantes, de acordo com as respectivas normas constitucionais." CRUZ VERMELHA: Organização humanitária, independente e neutra, que se esforça em proporcionar proteção e assistência às vítimas da guerra e de outras situações de violência. DECLARAÇÃO DE SIRTE: A Declaração de Sirte tinha como objetivo encarar as novas realidades sociais, políticas e econômicas no continente africano e no globo, atendendo aos desafios globais e desenvolvendo o continente conforme os objetivos da carta da OUA. 71 DECLARAÇÃO DE DURBAN: Compreende a Declaração e o Plano de Ação que resultou da III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlatas realizada na cidade de Durban na África do Sul em 2001 e que contou com a presença de 173 Estados. A Declaração se confirma como um compromisso dos países no combate aos referidos temas. ENCLAVES: Em geografia política, um enclave é um território cujas fronteiras geográficas ficam inteiramente dentro dos limites de um outro território. ESTADO DE EXCEÇÃO: Situação oposta ao Estado de direito, decretada pelas autoridades em situações de emergência nacional, como agressão efetiva por forças estrangeiras, grave ameaça à ordem constitucional democrática ou calamidade pública. ESTADO ISLÂMICO: Tipo de governo que se fundamenta na aplicação da lei religiosa islâmica, que atualmente, coordena ataques terroristas dentro do território sírio além de ser responsável por incidentes na Europa e outros países. FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL: Organização sem fins lucrativos na qual reúne os principais líderes empresariais e políticos, assim como intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente, incluindo saúde e meio-ambiente. IMIGRANTES: Aquele que imigra, ou seja, aquele que entra em um país estrangeiro, com o objetivo de residir ou trabalhar. JURISDIÇÃO: Poder de um Estado, decorrente de sua soberania, para editar leis e ministrar a justiça dentro do seu território MÉDICOS SEM FRONTEIRAS: Organização internacional, não governamental e sem fins lucrativos que oferece ajuda médica e humanitária a populações em situações de emergência, em casos como conflitos armados, catástrofes, epidemias, fome e exclusão social. MIGRANTES: deslocamento de indivíduos dentro de um espaço geográfico, de forma temporária ou permanente. Esses fluxos migratórios podem ser desencadeados por vários motivos: econômicos, culturais, religiosos, políticos e naturais (secas, terremotos, enchentes etc.). 72 MUTILAÇÃO GENITAL FEMININA: A Mutilação Genital Feminina também pode ser vista através de uma visão alternativa, ou seja, como uma estratégia de empoderamento e resistência anticolonial perante a opressão feminina. Um dos casos observados é a mobilização política que se inicia em 1920 no Quênia e culmina em sua independência nos anos 1960. Por conseguinte, a MGF como instrumento político de resistência à colonização, buscou combater e questionar o modelo de família nuclear europeu no período que categorizava quem era ou não civilizado. PEDIDOS DE ASILO: Forma de proteção internacional de refugiados, com caráter humanitário. PLEBISCITO: Consulta sobre questão específica, feita diretamente ao povo, similar a referendo. PRESSÃO DEMOGRÁFICA: Significa que a população da área é próxima do volume máximo consistente com os recursos disponíveis, ou seja, haverá, inevitavelmente, pressão da população sobre os meios de subsistência. PROTETORADO: território ou país que, no direito internacional, possui certos atributos de Estado independente, porém, sob outros aspectos, está subordinado a uma potência que decide sua política externa e tem a obrigação de o proteger e, às vezes, controla internamente seu governo, seu judiciário e suas instituições financeiras. REFERENDO: É uma forma de se fazer consultas populares para decisões em relação a assuntos de grande relevância como, por exemplo, uma mudança fronteiriça, constitucional e de legislação. REFUGIADOS: Toda a pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar ao mesmo, ou devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outros países. REGULAMENTO OU CONVENÇÃO DE DUBLIN: Estabelece uma hierarquia de critérios para identificar o Estado-Membro responsável pela análise de um pedido de asilo na Europa. Este é predominantemente com base em laços familiares, seguido de 73 responsabilidade atribuída com base no Estado através do qual o requerente de asilo entrou primeiro, ou do Estado responsável pela sua entrada no território dos EstadosMembros da UE, Noruega, Islândia, Liechtenstein e Suíça. REPATRIADO: Aquele que foi alvo de repatriação, ou seja, que retornou à pátria. SANÇÃO: É uma mudança deliberada em relação a alguma forma de relação que exista entre dois países. No caso em questão, a União Europeia passou a limitar o comércio alimentício que tinha com a Rússia, como forma de sancionar o país para pressioná-lo a tomar as medidas desejadas pelo bloco. SOBERANIA: É uma das características dos Estados nacionais e garante a eles total controle sobre sua população, governo, território e instituições. SOLENE DECLARAÇÃO DE IGUALDADE DE GÊNERO NA ÁFRICA: A Solene Declaração de Igualdade de Gênero na África foi realizada em Addis Ababa, entre 6-8 Julho de 2004 com o objetivo de reafirmar o comprometimento da organização com a igualdade de gênero e os acordos assinados pelos países membros, como a CEDAW (1979) e a Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas (2000) UNIÃO ADUANEIRA: Um território aduaneiro único, dentro do qual as tarifas e outras restrições ao comércio são eliminadas entre os países membros da União, e mantida uma tarifa externa comum, contra todos os demais países (SELDON, 1986). UNIÃO MONETÁRIA: Consiste no processo de harmonização das políticas monetárias entre os países membros da União com vista à instituição de uma moeda única. UTI POSSIDETIS: Princípio do Direito Internacional que reconhece a legalidade e a legitimidade do poder estatal que de fato exerce controle político e militar sobre uma região. XENOFOBIA: Medo, aversão ou a profunda antipatia em relação aos estrangeiros, a desconfiança em relação a pessoas estranhas ao meio daquele que as julga ou que vêm de fora do seu país. ZONA SCHENGEN: Zona de livre circulação de pessoas instituída pelo Acordo de Schengen e que garante que os cidadãos dos países signatários possam circular livremente sem a necessidade de vistos. A zona não é consequência automática após a adesão à União Europeia e não deve ser confundida com ela. Os países-membros da UE podem, entretanto, decidir fazer parte ou não da mesma, sem necessidade de autorização 74 dos demais países. Além disso, alguns países fazem parte da Área Schengen sem ao menos ser membro da UE. Atuais Estados-membros da Área Schengen: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Itália, Letônia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Noruega, Polônia, Portugal, Suécia e Suíça. (http://www.schengenvisainfo.com/schengen-visa-countries-list/). 75 No preâmbulo da Carta das Nações Unidas, estão colocadas as principais diretrizes do pós 2ª Guerra Mundial, dentre as quais destacamos uma como princípio norteador desde a 1ª Edição do projeto SiEM: Este princípio ordenador das Nações Unidas é, acima de tudo, aceitar as diferenças e, para isso, faz-se necessário conhecermos outras culturas e civilizações. O SiEM 2016 será guiado sob a luz da integração humana, buscando nas simulações uma maior representatividade de todas as civilizações – colocando o aluno do Ensino Médio em sintonia com os ideais da delegação por ele representada. 76 ARCE, José. Naciones Unidas: admisión de nuevos miembros. Madrid, em: <https://books.google.com.br/books/about/Naciones_Unidas.html?id=o1sGAAAAMAA J&redir_esc=y>. Acesso em: 28 set. 2015. AUSTRALIA. Australian Government Departament Of Defence (Org.). 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