Os Pianos do Jazz
Transcrição
Os Pianos do Jazz
Os pianos do jazz Esse instrumento doméstico dos finais do Século XVIII, que tanta paixão transmitiu aos amantes, bibelot de tantas casas da alta burguesia, teve no Ragtime o percursor do estilo jazístico. Os homens dos blues oitavaram a mão esquerda e criaram o Boogie Woogie, e a rapaziada do jazz desenvolveu-o através dos vários estilos e épocas, até à derradeira electrificação (Fender Rhodes), houve um retorno desta sonoridade, na nova música de dança actual. A História “Maple Leaf Rag” de Scott Joplin deu a conhecer ao mundo, essa frenética forma de tocar piano, o Ragtime, que aos ouvidos mais conservadores, não passava de alterações a polkas e a outras estruturas trazidas da cultura Europeia. Este tema foi transcrito e gravado por volta do ano de 1938, por Jelly Roll Morton, outro nome referencial do piano da altura. Earl Hines, no seu solo “Save It Pretty Mama”, com Louis Armstrong’s Savoy Ballroom Five, acrescentou uma nova intensidade à técnica do piano. Algumas vezes divertia-se a criar um ostinato com a mão direita para que a melodia pertencesse á mão esquerda. O estilo de Stride Piano, baixo e harmonia perfeitamente definidos na mão esquerda e a direita livre para a melodia, sempre livre e alterada, culminou com Art Tatum. Quem conseguir a sua versão de “Tiger Rag”, não irá decerto esquecer, aquele que eu considero o maior virtuoso de sempre. Quem esteve sempre entre o diabo e o fundo do mar, “Between the devil and the deep blue sea”, foi Teddy Wilson, um dos principais pianistas dos pequenos agrupamentos de Benny Goodman. E para acalmar o teclado quem melhor que Count Basie, a sua simplicidade e o valor dado a cada pequena nota são surpreendentes, atendendo ao frenesim musical da altura. O termo “Honky Tonk”, criado por Jimmie Yancey, um representante do Boogie Woogie, deu um formato de tripla colcheia, estilo que o Rock não tardou em usar. Chegamos ao Bop, anos 40, e com Kenny Kersey ouvimos o primeiro solo em “Swing Stride”, estilo melhorado por Teddy Wilson. Uma longa nota nos intercalados “bridges” e a utilização dos acordes em melodia “Block chords”, dão essa sonoridade ouvida em muitos pianistas da história do jazz. Thelonious Monk e Tadd Dameron, ouviram Stan Kenton e seguiram os seus percursos. Monk, com a sua forma de tocar esquisita, alguns críticos achavam que não tinha técnica, mostrou pela primeira vez como fazer justiça à classificação do piano, nos instrumentos percutidos. O ritmo de Monk, tão bem patente nas suas composições, com as harmonias em subidas e descidas tonais, ainda quebram a cabeça a muitos dos seus seguidores. O grande nome do Bop é sem dúvida, Bud Powell. Companheiro desde a primeira hora do quinteto de Charlie Parker, foi um improvisador nato com as suas sequências de acordes arrepiantes. Erroll Garner, vem de novo amaciar este estilo mais rápido de tocar, voltando a dar ao piano a sua magnitude de ambas as mãos. “Bop, Look and Listen” de 1949, é um tratado de harmonia e de piano dado por George Shearing. Os anos 50, com as influências vindas do Afro-Cuban Jazz, têm em Red Garland, pianista do quinteto de Miles Davis, um exemplo de continuidade e mudança. Quem renova o gosto dos blues e lhe dá um primário estilo de funk é Horace Silver. Os anos 50 são definitivamente marcados por Bill Evans. Poderíamos considerá-lo um impressionista do piano, pela sua forma leve e livre de seguir, por vezes longe dos apontamentos da linha de baixo. McCoy Tyner, revigora a sonoridade e a atitude de Powell dos anos 40, nos inícios dos anos 60. A sua mão esquerda de acordes de quartas, marca indubitavelmente a música de John Coltrane. Com as experiências atonais de Lennie Tristano chegamos à liberdade absoluta, tribal e percutida de Cecil Taylor, o pianista do Free Jazz. Keith Jarrett vem fazer um resumo estético, entre a harmonia diatónica, o erudito, o bop e o cool, a sua música criou asas que nenhum pianista conseguiu mais alcançar. Se Tyner foi beber na forma de Powell, poderemos considerar o mesmo na relação de Oscar Peterson, com Tatum. Só um tremendo tecnicista poderia ousar tal influência. Com o aparecimento do piano eléctrico em 1954 pela mão de Benjamin Miessner, e mais tarde alterado e redesenhado por Harold Rhodes e Leo Fender, teve em Joe Zawinul, Herbie Hancock e Chick Corea, os seus mais acérrimos defensores nos anos 70. Se Jarrett foi uma lufada de ar fresco, o mesmo podemos adjectivar a Brad Mehldau nos tempos de hoje. Muitos pianistas ficaram de fora, não por não ser digno de realçar o seu trabalho, mas por não terem contribuído de uma forma tão importante para o desenvolvimento da escola pianística do jazz. Eu também os ouço e continuo a amá-los. No próximo artigo vamos saber dos pianistas de jazz em Portugal.