N - Arautos em Portugal
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Número 78 Novembro 2009 Sede de transcendência _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 1 22/10/2009 14:10:59 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 2 22/10/2009 14:11:06 SumáriO Flashes de Fátima Escrevem os leitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 ...................... Sede de transcendência (Editorial) . . . . . . . . . Director: Manuel Silvio de Abreu Almeida Conselho de redacção: Guy Gabriel de Ridder, Juliane Vasconcelos A. Campos, Luis Alberto Blanco Cortés, Mariana Morazzani Arráiz, Severiano Antonio de Oliveira A voz do Papa – A nova geração sente sede de transcendência ........................ Uma tese de teologia sobre o “Big Bang”? ...................... ...................... www.arautos.pt / www.arautos.org.br E-mail: [email protected] O que é a verdade? 10 ...................... 18 ARAUTOS DO EVANGELHO Impressão e acabamento: Pozzoni - Istituto Veneto de Arti Grafiche S.p.A. Via L. Einaudi, 12 36040 Brendola (VI) Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, desde que se indique a fonte e se envie cópia à Redacção. O conteúdo das matérias assinadas é da responsabilidade dos respectivos autores. ...................... 40 ...................... 46 Os santos de cada dia A grande misericórdia de Deus ...................... Aconteceu na Igreja e no mundo História para crianças... Salvo por um amigo invisível Assinatura anual: 24 euros Com a colaboração da Associação Privada Internacional de Fiéis de Direito Pontifício 37 6 Comentário ao Evangelho – As três vindas do Senhor Editor: Associação dos Custódios de Maria R. Dr. António Cândido, 16 1050-076 Lisboa I.C.S./D.R. nº 120.975 Dep. Legal nº 112719/97 Tel: 212 338 950 / Fax: 212 338 959 32 5 Boletim da Campanha “O Meu Imaculado Coração Triunfará!” Ano XI nº 78 - Novembro 2009 Carisma de sacerdote e didática de pedagogo 24 Arautos no mundo ...................... 48 A Grand-Place de Bruxelas Membro da ...................... Associação de Imprensa de Inspiração Cristã 26 ...................... 50 Tiragem: 40.000 exemplares _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 3 22/10/2009 14:11:28 E SCREVEM SÃO PEDRO JULIÃO EYMARD Comunico-lhes meu sentimento de gratidão pela citação da Consagração a Jesus Sacramentado por meio de Maria, de autoria do fundador da minha Congregação, São Pedro Julião Eymard, o Apóstolo da Eucaristia. Este santo, pela vasta obra eucarística que produziu, é um verdadeiro Doutor da Igreja. Falta-lhe somente o título. Ao fundar a Congregação e as Servas do Santíssimo Sacramento, além do ramo leigo dos Agregados à obra eucarística, o Pe. Eymard deixou na Igreja uma pequena família religiosa com a missão de “viver e revelar o mistério da Eucaristia” (cf. Regra de Vida, 1). Estou convicto de que a riqueza do seu pensamento eucarístico será cada vez mais explorado pela Igreja, de modo especial pelos religiosos sacramentinos e por todos os que anseiam pela espiritualidade eucarística eymardiana na vida cristã. Mais uma vez, obrigado aos Arautos do Evangelho pela divulgação desta Consagração na revista número 92, agosto de 2009. Dom Jorge Alves Bezerra, SSS Bispo de Jardim – MS “HIPNOTIZOU” MEUS FILHOS A chegada da revista dos Arautos do Evangelho ao meu lar foi um verdadeiro presente de Deus. Quase se poderia dizer um “milagre”, pelos benéficos efeitos que produziu em meus filhos, jovens estudantes universitários. No início, não lhe davam muita importância, mas o fato de circular pela casa acabou despertando sua curiosidade. É verdade que são ávidos leitores — eles gostam de ler de tudo —, mas a revista dos Arautos os “hipnotizou”. O colorido, a apresen4 OS LEITORES tação e o conteúdo lhes serviram de temas de conversa e levantaram interrogações próprias à idade em que tudo se questiona. Como cristã e como mãe, felicito-os por este trabalho precioso que estão fazendo com a revista Arautos do Evangelho. Pela imprensa, soube da aprovação pontifícia de suas duas Sociedades de Vida Apostólica e lhes envio aqui meus cumprimentos também por este dom de Deus, que o Santo Padre lhes concedeu. María del Pilar Sánchez Montevidéu – Uruguai suas matérias cativam a atenção e enriquecem o espírito. Como esposo e pai católico, sempre encontro nelas alimento e estímulo para bem conduzir minha família, num mundo onde os valores autênticos cada vez mais são esquecidos e até desprezados. Nos comentários ao Evangelho, de Mons. João Scognamiglio Clá Dias, sou contagiado pelo transbordamento do amor que ele transmite em suas apreciações da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo. Edson Marcos Azevedo Gomes Vitória – ES SEMPRE A LEIO MAIS DE UMA VEZ INSTRUMENTO DA NOVA Sinto-me muito ligada aos Arautos do Evangelho e fico muito contente por saber que aumentou o número dos arautos sacerdotes. Constituem uma grande riqueza para nossa Igreja, pois são tão poucos os jovens que querem servir a Deus! Sua revista é maravilhosa em todo o seu conteúdo. Sempre a leio mais de uma vez, pois ela me transmite muita paz e desejo fazer conhecer a beleza inesgotável do Evangelho. Alicia Valenzuela Farias Talca – Chile FELICITAÇÕES PELA MENSAGEM Desde que assinamos a revista, sentimos como ela nos enche espiritualmente cada vez que a temos em mãos. Nossas felicitações pelos artigos, pela apresentação, pelo colorido, pela qualidade do papel, mas, sobretudo, pela mensagem que leva a tantas pessoas... Darwin e Rosário Lourdes Picón de Salas Lima – Peru ALIMENTO E ESTÍMULO PARA MINHA FAMÍLIA Tenho muito gosto em ser assinante desta revista desde seu primeiro número. Com palavras simples, ensinamentos claros e uma fé profunda, EVANGELIZAÇÃO Estamos diante de uma revista genuinamente católica, que oferece uma imensa gama de temas da maior importância e relevância para o diaa-dia dos nossos meios católicos. Digo ainda que a reputo bastante eclética em seus artigos e matérias. E pela qualidade destes nunca se cansa de lê-la. De tal ordem que, quando acabamos de ler a atual, já ficamos desejando a próxima. É uma edição que nos faz sentir claramente a ação do Espírito Santo na inspiração dos arautos que a ela se dedicam. Esta revista revela-se para nós como um forte instrumento da nova evangelização em curso na nossa Santa Igreja. Edmilson Cardoso de Oliveira Recife – PE UMA REVISTA DE ORAÇÃO Creio ter sido um biógrafo de São Luís Grignion de Montfort que disse ser seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem um livro “não de recomendação, mas de oração”. Digo algo análogo para esta revista, bem como para todas as outras publicações inspiradas, orientadas e conduzidas por Mons. João Scognamiglio Clá Dias. Antônio Lobo Leite Filho Salvador – BA Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 4 22/10/2009 14:11:37 Editorial SEDE DE TRANSCENDÊNCIA E 78 Número ro 2009 Novemb Sede de ência transcend Bento XVI na Missa Solene pela canonização de cinco novos santos no dia 11 de outubro pp. (Foto: L’Osservatore Romano) nfastiados do mundo secularizado e sem valores morais em que vivemos, uma parcela ponderável da juventude manifesta o desejo de elevar-se acima dos limites do meramente terreno, em busca daquilo que há de superior, de sublime, de elevado. No meio desta geração, vai crescendo o número daqueles que optam por seguir o caminho do sacerdócio, e é necessário que se lhes atenda esses nobres anseios de alma. Daí a urgência de formadores que sejam, eles mesmos, autênticos modelos segundo Jesus Cristo. Eis uma das principais ideias do discurso do Papa Bento XVI aos Bispos brasileiros, das regiões Oeste 1 e 2, que realizavam a visita ad limina em setembro último. Aproveitando o transcurso do Ano Sacerdotal, o Santo Padre destaca uma vez mais a necessidade de os seminários oferecerem uma formação excelente a seus alunos, e para isto é necessário, antes de tudo, que os mestres levem vidas exemplares, sendo “verdadeiros homens de Deus”, “que testemunhem o dom de si à Igreja, através do celibato e da vida austera”. E devem ser, ao mesmo tempo, profundos conhecedores da doutrina, de modo a poderem ensinar com segurança e conhecimento, advertindo para os graves erros que hoje circulam, no tocante à teologia, razão e ciência, e à relação entre esses três campos do conhecimento. Por seu turno, a Congregação para a Educação Católica vem se esmerando em divulgar e desenvolver as diretrizes pontifícias, a fim de impulsionar o aperfeiçoamento da formação do Clero por meio de iniciativas concretas. Notamos com agrado que um número cada vez maior de seminários, atentos às orientações pontifícias, demonstram um crescente empenho em preparar homens de exemplar vida de piedade, devoção eucarística e comprovada idoneidade moral; em suma, pessoas desejosas de fazer bem espiritual a seus dirigidos, conduzindo-os à santificação. Isso requer não apenas elevada formação intelectual, mas também fino discernimento pedagógico. Para os Arautos do Evangelho este último ponto é da maior importância. Se o jovem contemporâneo tem “sede da transcendência”, como destaca o Papa, também se ressente da desestruturação e desarmonia da sociedade hodierna, com profundas consequências psicológicas: é instável, faltam-lhe as regras do bem pensar, é incapaz de solucionar seus problemas, e sobrevaloriza as sensações. Ademais, é inapetente de estudos doutrinários meramente teóricos. Foi por tal razão que o Presidente Geral dos Arautos elaborou métodos pedagógicos inovadores, que visam não apenas à transmissão de conhecimentos, mas à virtuosa maturação do caráter, e a incutir o amor aos estudos em vista de um fim mais elevado, que é a evangelização. A base filosófica deste método está exposta na obra A fidelidade ao primeiro olhar da inteligência, sua tese de Mestrado em Psicologia Educacional, pela Universidade Católica da Colômbia (ver p. 30-37). Seguindo as orientações de seu fundador, os Arautos do Evangelho estão intensificando a instrução acadêmica de seus formadores. Assim, 24 deles receberam recentemente o título de Mestre em Filosofia, pela Pontifícia Universidade Bolivariana, de Medellín, ao passo que outros 251 se graduaram em Teologia, pelo Centro Universitário Ítalo-Brasileiro, de São Paulo. Os Arautos do Evangelho procuram, desse modo, atender os desejos do Papa. Pois quem tem sede de transcendência, procura aprofundar no conhecimento daquilo que ama. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 5 de Fátima 5 22/10/2009 14:12:32 A VOZ DO PAPA A nova geração sente sede de transcendência Gustavo Kralj Na audiência concedida ao primeiro grupo de Bispos brasileiros em visita “ad limina”, Bento XVI lembrou a necessidade de uma adequada formação dos seminaristas, na fidelidade às normas universais da Igreja. C omo Sucessor de Pedro e Pastor universal, posso assegurar-vos que o meu coração vive dia a dia as vossas inquietudes e cansaços apostólicos, não cessando de lembrar junto a Deus os desafios que enfrentais no crescimento das vossas comunidades diocesanas. Em nossos dias, e concretamente no Brasil, os trabalhadores na Messe do Senhor continuam a ser poucos para a colheita que é grande (cf. Mt 9, 36-37). Não obstante a carência sentida, é verdadeiramente essencial uma adequada formação daqueles que são chamados a servir o Povo de Deus. Por essa razão, no âmbito do Ano Sacerdotal em curso, permiti que me detenha hoje a refletir convosco, amados Bispos do Oeste brasileiro, sobre a solicitude própria do vosso ministério episcopal que é a geração de novos pastores. O bom Deus tem pressa de que todos os homens se salvem Embora seja Deus o único capaz de semear no coração humano a chamada para o serviço pastoral do Seu povo, todos os membros da Igreja deve6 riam interrogar-se sobre a urgência íntima e o real empenho com que sentem e vivem esta causa. Um dia, quando alguns dos discípulos temporizavam observando que faltavam “ainda quatro meses” para a colheita, Jesus rebateu: “Pois Eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos, como estão dourados, prontos para a colheita” (Jo 4, 35). Deus não vê como o homem! A pressa do bom Deus é ditada pelo seu desejo de que “todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tm 2, 4). Há tantos que parecem querer consumir a vida toda em um minuto, outros que vagueiam no tédio e na inércia, ou abandonam-se a violências de todo gênero. No fundo, não passam de vidas desesperadas à procura da esperança, como o demonstra uma difusa — embora às vezes confusa — exigência de espiritualidade, uma renovada busca de pontos de referência para retomar a estrada da vida. Após o Concílio, deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da Fé Prezados Irmãos, nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã, como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da Fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na autossecularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não veem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado. Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 6 22/10/2009 14:12:37 A nova geração sente uma grande sede de transcendência Atualmente há uma nova geração já nascida neste ambiente eclesial secularizado que, em vez de registrar abertura e consensos, vê na sociedade o fosso das diferenças e contraposições ao Magistério da Igreja, sobretudo em campo ético, alargar-se cada vez mais. Neste deserto de Deus, a nova geração sente uma grande sede de transcendência. São os jovens desta nova geração que batem hoje à porta do Seminário e que necessitam encontrar formadores que sejam verdadeiros homens de Deus, sacerdotes totalmente dedicados à formação, que testemunhem o dom de si à Igreja, através do celibato e da vida austera, segundo o modelo do Cristo Bom Pastor. Assim esses jovens aprenderão a ser sensíveis ao encontro com o Senhor, na participação diária da Eucaristia, amando o silêncio e a oração, procurando, em primeiro lugar, a glória de Deus e a salvação das almas. Amados Irmãos, como sabeis, é tarefa do Bispo estabelecer os critérios essenciais para a formação dos seminaristas e dos presbíteros na fidelidade às normas universais da Igreja: neste espírito devem ser desenvolvidas as reflexões sobre este tema, objeto da assembleia plenária da vossa Conferência Episcopal, em abril passado. Reproduzir na própria vida a caridade do Bom Pastor Certo de poder contar com o vosso zelo no tocante à formação sacerdotal, convido todos os Bispos, seus sacerdotes e seminaristas a reproduzirem na vida a caridade de Cristo Sacerdote e Bom Pastor, como fez o Santo Cura d’Ars. E, como ele, tomem por modelo e proteção da própria vocação a Virgem Mãe, que correspondeu de um modo único ao chamado de Deus, concebendo no Seu coração e na Sua carne o Verbo feito homem para doá-Lo à humanidade. (Excerto do discurso aos Bispos dos Regionais Oeste 1 e 2 da CNBB, 7/9/2009) SACERDÓCIO MINISTERIAL E SACERDÓCIO COMUM A função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos. Urge, pois, pedir ao Senhor que envie operários à sua messe. N os seus fiéis e nos seus ministros, a Igreja é sobre a Terra a comunidade sacerdotal organicamente estruturada como Corpo de Cristo, para desempenhar eficazmente, unida à sua Cabeça, a sua missão histórica de salvação. Assim no-lo ensina São Paulo: “Vós sois Corpo de Cristo e Seus membros, cada um na parte que lhe toca” (I Cor 12, 27). Evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos Com efeito, os membros não têm todos a mesma função: é isto que constitui a beleza e a vida do corpo (cf. I Cor 12, 14-17). É na diversidade essencial entre sacerdócio ministerial e sacerdócio comum que se entende a identidade específica dos fiéis ordenados e leigos. Por essa razão é necessário evitar a secularização dos sacerdotes e a clericalização dos leigos. Nessa perspectiva, portanto, os fiéis leigos devem empenhar-se em exprimir na realidade, inclusive através do empenho político, a visão antropológica cristã e a doutrina social da Igreja. Diversamente, os sacerdotes devem permanecer afastados de um engajamento pessoal na política, a fim de favorecerem a unidade e a comunhão de todos os fiéis e assim poderem ser uma referência para todos. É importante fazer crescer esta consciência nos sacerdotes, religiosos e fiéis leigos, encorajando e vigiando para que cada um possa sentir-se motivado a agir segundo o seu próprio estado. Papel insubstituível do sacerdote como pastor da comunidade O aprofundamento harmônico, correto e claro da relação entre sacerdócio comum e ministerial constitui atualmente um dos pontos mais delicados do ser e da vida da Igreja. É que o número exíguo de presbíteros poderia levar as comunidades a resignarem-se a esta carência, talvez consolando-se com o fato de a mesma evidenciar melhor o papel dos fiéis leigos. Mas, não é a falta de presbíteros que justifica uma participação mais Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 7 de Fátima 7 22/10/2009 14:12:39 ativa e numerosa dos leigos. Na realidade, quanto mais os fiéis se tornam conscientes das suas responsabilidades na Igreja, tanto mais sobressaem a identidade específica e o papel insubstituível do sacerdote como pastor do conjunto da comunidade, como testemunha da autenticidade da Fé e dispensador, em nome de Cristo-Cabeça, dos mistérios da salvação. Sabemos que “a missão de salvação, confiada pelo Pai a seu Filho encarnado, é confiada aos Apóstolos e, por eles, aos seus sucessores; eles recebem o Espírito de Jesus para agirem em Seu nome e na Sua pessoa. Assim, o ministro ordenado é o laço sacramental que une a ação litúrgica àquilo que disseram e fizeram os Apóstolos e, por eles, ao que disse e fez o próprio Cristo, fonte e fundamento dos sacramentos” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1.120). Por isso, a função do presbítero é essencial e insubstituível para o anúncio da Palavra e a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia, memorial do Sacrifício supremo de Cristo, que dá o Seu Corpo e o Seu Sangue. Por isso urge pedir ao Senhor que envie operários à sua Messe; além disso, é preciso que os sacerdotes manifestem a alegria da fidelidade à própria identidade com o entusiasmo da missão. Concentrar esforços para que haja sacerdotes melhor formados e mais numerosos Amados Irmãos, tenho a certeza de que, na vossa solicitude pastoral e na vossa prudência, procurais com particular atenção assegurar às comunidades das vossas dioceses a presença de um ministro ordenado. Na situação atual em que muitos de vós sois obrigados a organizar a vida eclesial com poucos presbíteros, é importante evitar que uma tal situação seja considerada normal ou típica do futuro. Como lembrei ao primeiro grupo de Bispos brasileiros na sema- na passada, deveis concentrar esforços para despertar novas vocações sacerdotais e encontrar os pastores indispensáveis às vossas dioceses, ajudando-vos mutuamente para que todos disponham de presbíteros melhor formados e mais numerosos para sustentar a vida de Fé e a missão apostólica dos fiéis. Por outro lado, também aqueles que receberam as Ordens sacras são chamados a viver com coerência e em plenitude a graça e os compromissos do Batismo, isto é, a oferecerem-se a si mesmos e toda sua vida em união com a oblação de Cristo. A celebração cotidiana do Sacrifício do Altar e a oração diária da Liturgia das Horas devem ser sempre acompanhadas pelo testemunho de uma existência que se faz dom a Deus e aos outros e torna-se assim orientação para os fiéis. (Excerto do discurso aos Bispos do Regional Nordeste 2 da CNBB, 17/9/2009) A ORAÇÃO, ALMA DA ATIVIDADE PASTORAL O Bispo é chamado a alimentar nos sacerdotes a vida espiritual, para favorecer neles a harmonia entre a oração e o apostolado, olhando para o exemplo de Jesus e dos Apóstolos. A imitação de Jesus Bom Pastor é, para cada sacerdote, o caminho obrigatório para sua santificação e a condição essencial para exercer responsavelmente o ministério pastoral. Se isto é válido para os presbíteros, é ainda mais válido para nós, estimados irmãos Bispos. Aliás, é importante não esquecermos que uma das tarefas essenciais do Bispo é precisamente a de ajudar, me- 8 diante o exemplo e o apoio fraterno, os sacerdotes a seguirem fielmente a sua vocação e a trabalharem com entusiasmo e amor na vinha do Senhor. A união com Cristo, segredo da fecundidade do ministério A este propósito, na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores gregis, o meu venerado predecessor João Paulo II pôde observar que o gesto do sacerdote, quando põe as suas mãos nas mãos do Bispo no dia da ordenação presbiteral, compromete ambos: o sacerdote e o Bispo. O neopresbítero escolhe confiar-se ao Bispo e, por sua vez, o Bispo compromete-se a salvaguardar aquelas mãos (cf. n. 47). Em última análise, esta é uma tarefa solene que se configura para o Bispo como responsabilidade paterna, ao conservar e promover a identidade sacerdotal dos presbíteros con- Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 8 22/10/2009 14:12:40 L’Osservatore Romano L’Osservatore Romano Bento XVI recebeu no Palácio de Castel Gandolfo diversos prelados brasileiros em visita “ad limina”. À esquerda, com os Bispos dos Regionais Oeste 1 e 2; à direita com os do Regional Nordeste 2 fiados aos seus cuidados pastorais, uma identidade que hoje, infelizmente, vemos posta à prova pela secularização crescente. Portanto, o Bispo — continua a Pastores gregis — “procurará sempre comportar-se com os seus sacerdotes como pai e irmão que os ama, escuta, acolhe, corrige, conforma, busca a sua colaboração e cuida o melhor possível do seu bem-estar humano, espiritual, ministerial e econômico” (Ibidem, n. 47). De modo especial, o Bispo é chamado a alimentar nos sacerdotes a vida espiritual, para favorecer neles a harmonia entre a oração e o apostolado, olhando para o exemplo de Jesus e dos Apóstolos, que Ele chamou, como nos diz São Marcos, antes de tudo para que “permanecessem com Ele” (Mc 3, 14). Efetivamente, uma condição indispensável para que produza frutos de bem é que o presbítero permaneça unido ao Senhor; aqui está o segredo da fecundidade do seu ministério: somente se estiver incorporado em Cristo, autêntica Videira, dará fruto. O tempo consagrado à oração é sempre o melhor utilizado A missão de um presbítero e, com maior razão, de um Bispo, comporta hoje em dia uma quantidade de trabalho que tende a absorvê-lo continua e totalmente. As dificuldades aumentam e as incumbências vão-se multiplicando, também porque nos encontramos diante de realidades novas e de maiores exigências pastorais. Todavia, a atenção aos problemas de todos os dias e às iniciativas destinadas a conduzir os homens pelo caminho de Deus nunca devem distrair-nos da união íntima e pessoal com Cristo, desta permanência com Ele. O fato de estarmos à disposição das pessoas não deve diminuir nem ofuscar a nossa disponibilidade para o Senhor. O tempo que o sacerdote e o Bispo consagram a Deus na oração é sempre o melhor utilizado, pois que a oração é a alma da atividade pastoral, a “linfa” que lhe infunde vigor, é o sustentáculo nos momentos de incerteza e de desânimo, e a nascente inesgotável de fervor missionário e de amor fraterno para com todos. Modos de prolongar a ação santificadora da Eucaristia No centro da vida sacerdotal está a Eucaristia. Na Exortação Apostólica Sacramentum caritatis, sublinhei o modo como “a Santa Missa é formadora no sentido mais profundo do termo, enquanto promove a configuração a Cristo e reforça o sacerdote na sua vocação” (n. 80). Por conseguinte, a celebração eucarística ilumine toda a vossa jornada e a dos vossos sacerdotes, imprimindo a sua graça e a sua influência espiritual nos momentos tristes ou alegres, agitados ou tranquilos, de ação ou de contemplação. Um modo privilegiado de prolongar no dia a misteriosa ação santificadora da Eucaristia é a recitação devota da Liturgia das Horas, assim como a adoração eucarística, a lectio divina e recitação contemplativa do Rosário. (Excerto do discurso por ocasião do encontro com os Bispos ordenados durante o último ano, 21/9/2009) Todos os direitos sobre os documentos pontifícios estão reservados à Libreria Editrice Vaticana. A íntegra dos documentos acima pode ser encontrada em www.vatican.va Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 9 de Fátima 9 22/10/2009 14:12:45 Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana “O Juízo Final”, por Fra Angélico Museu de São Marcos, Florença a EVANGELHO A “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra as nações ficarão angustiadas com pavor do barulho do mar e das ondas. 26 Os homens vão desmaiar de medo, só de pensar no que vai acontecer ao mundo porque as forças do céu serão abaladas. 27 Então eles verão o Filho do Homem vindo sobre uma nuvem com grande poder e glória. 28 Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça; porque a vossa liberta25 10 ção está próxima. 34 Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra. 36 Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem” (Lc 21, 25-28.34-36). Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 10 22/10/2009 14:12:51 COMENTÁRIO AO EVANGELHO – PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO As três vindas do Senhor No Natal, o Messias desceu à terra sob os véus da humildade. No fim dos tempos, virá em todo esplendor e glória, como supremo Juiz. Entre essas duas vindas, segundo São Bernardo de Claraval, há uma “terceira vinda” de Jesus, que ocorre a todo instante de nossa vida. Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP I – AS DUAS VINDAS DE CRISTO A despreocupação com que a criança vive e brinca lhe advém em grande medida da confiança no apoio, para ela infalível, do pai ou da mãe. Essa salutar segurança é, sem dúvida, uma das razões para a desanuviada e contagiante alegria infantil. Relacionamento semelhante a esse entre filhos e pais, na ordem natural, observa-se também entre o homem e Deus, na ordem espiritual. É o que poeticamente exprime a Sagrada Escritura ao dizer: “Mantenho em calma e sossego a minha alma, tal como uma criança no seio materno, assim está minha alma em mim mesmo” (Sl 130, 2). Deus é muito mais do que um pai terreno Deus, como incomparável Pai, nos ama verdadeira e incondicionalmente, e fica agradado sempre que pedimos Seu auxílio, não importa em que situações. Entretanto, ao contrário da criança, que jamais se esquece dos seus progenitores, tendemos a levar a vida cotidiana sem considerar quanto dependemos da Divina Providência, a qual nunca deixa de velar por nós. E essa propensão à autossuficiência seria muito maior se nossas debilidades, limitações e infortúnios não nos recordassem frequentemente o quanto precisamos da ajuda divina. Ora, Deus é para nós muito mais do que um pai terreno, pois dEle dependemos de forma absoluta, essencial e única. Em primeiro lugar, Ele nos criou: devemos-Lhe nossa existência. Ademais, Ele nos conserva, nos sustenta no ser, o que nenhum pai humano pode fazer a seu filho. Se Deus, por assim dizer, cessasse de pensar em nós um instante, deixaríamos de existir, voltaríamos ao nada. Em relação a Ele, nossa dependência é total. Além disso — mistério de amor! —, Deus Se encarnou para nos remir. E o preço pago para essa Redenção foi a morte na Cruz, derramando todo o Seu Sangue por nós. Mais, verdadeiramente, não poderia Ele fazer pela humanidade. É nessa perspectiva da Bondade de Deus que nos ama como Pai e nos redime, que devemos entrar no período do Advento que hoje começa, e é também nessa clave que comemoramos, na Liturgia deste domingo, as duas vindas de Nosso Senhor. Uma vinda na humildade e outra na glória Na primeira, que já se realizou, o Menino Jesus apresentou-Se pobre, humilde, sem qualquer manifestação de grandeza: “Revestido da nossa fragilidade, Ele veio a primeira vez para realizar Seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação”.1 De forma bem diversa se dará a seNovembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 11 de Fátima 11 22/10/2009 14:12:53 Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana capando, pela fuga, aos emissários de um tirano sanguinário. Na segunda, descerá cercado de glória e majestade, como Rei do Universo”.5 As quatro semanas de advento Na Sua primeira vinda, Ele Se apresentou aos homens na fraqueza da infância, na pobreza e na indigência "Fuga ao Egito", por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença Tão humilde quanto foi o nascimento de Jesus, gloriosa será Sua segunda vinda 12 gunda, no fim dos tempos, quando Nosso Senhor vier para julgar os vivos e os mortos: “Revestido de Sua glória, Ele virá uma segunda vez para concedernos em plenitude os bens prometidos, que hoje, vigilantes, esperamos”.2 Mostra o grande Bossuet como, ao assumir a natureza humana, Deus quis fazê-lo nas condições mais modestas, humilhando-Se até o inconcebível: “Ele como que caiu, do seio de Seu Pai, no de uma mulher mortal, daí num estábulo, e daí desceu, por sucessivos graus de rebaixamento, até a infâmia da Cruz, até a escuridão do túmulo. Reconheço que não era possível cair mais baixo”.3 Ora, tão humilde quanto foi o nascimento de Jesus, gloriosa será Sua segunda vinda, a respeito da qual afirma São Gregório Magno: “Aquele a Quem não quiseram escutar quando Se apresentou humilde, eles O verão descer em grande poder e majestade, e experimentarão o Seu poder, tanto mais rigoroso quanto menos dobrem agora a cerviz do coração ante a paciência dEle”.4 O acentuado contraste entre essas duas situações leva o Pe. Dehaut a exclamar: “Que diferença entre esta segunda vinda de Jesus e a primeira! Na primeira, Ele Se apresentou aos homens na fraqueza da infância, na pobreza e na indigência, es- O Tempo do Advento compõe-se de quatro semanas, representando os séculos e milênios que esperou a humanidade pela vinda do Redentor. Nesse período, tudo na Liturgia se reveste de austeridade — omite-se o Glória, os paramentos são roxos e as flores não enfeitam mais o interior dos templos — para lembrar “nossa condição de peregrinos, ancorados ainda na esperança”, como afirma o famoso liturgista Manuel Garrido.6 A causa de estar dedicado o Evangelho deste primeiro domingo à segunda vinda de Nosso Senhor é assim explicada por Dom Maurice Landrieux, Bispo de Dijon: “A Igreja nos fala do fim do mundo, isto é, dos Novíssimos, para recordarnos o sentido da vida, desapegar-nos do pecado e encorajar-nos à prática do bem. Deus nos criou para a vida eterna. Não temos morada permanente nesta terra: aqui estamos de passagem, a caminho do Céu”.7 Daí que, já no início da Celebração Eucarística, a Igreja faça esta oração: “Concedei aos Vossos fiéis o ardente desejo de possuir o Reino Celeste. Para que acorrendo com as nossas boas obras ao encontro do Cristo, que vem, sejamos reunidos à Sua direita na comunidade dos justos”. Assim, nesta abertura de ano litúrgico, temos duas preparações: uma para comemorar dignamente o nascimento de Jesus em Belém; outra, para o grandioso ato de encerramento da História humana, que é o Juízo Final. Pois “a lembrança da última vinda de Nosso Senhor, inspirandonos um salutar pavor que nos afasta do pecado e nos conduz ao bem, prepara-nos também para celebrar santamente a primeira vinda”.8 Na segunda e terceira semanas são considerados aspectos do Precursor; e na última a Liturgia trata de uma preparação mais direta para o nascimento do Redentor, considerando toda a espera e as orações de Nossa Senhora, dos patriarcas, dos profetas, como fatores que aceleraram a vinda do Messias à terra. II – JESUS ANUNCIA SUA SEGUNDA VINDA “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra as nações ficarão angustiadas com pavor do barulho do mar e das ondas. 25 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 12 22/10/2009 14:12:57 São João Crisóstomo faz uma interessante consideração sobre estes versículos, ao dizer que Nosso Senhor indica aqui uma série de sinais prenunciadores do fim do mundo enquanto, em outras passagens, afirma que este virá num momento inesperado (cf. Mt 24, 42).9 Para explicar esta aparente contradição, levanta o Crisóstomo a hipótese de que nos últimos tempos haverá guerras e perseguições, mas em certo momento tudo entrará numa aparente tranquilidade em meio à desordem do pecado. Os bons ficarão reduzidos a presenciar impotentes todo tipo de abominações. Quando, porém, parecer evidente a todos o triunfo geral e definitivo do mal, dando a ideia de que Deus não existe, o Juiz Supremo Se apresentará inesperadamente para julgar os vivos e os mortos.10 Santo Agostinho, de sua parte, comenta que os fenômenos da natureza descritos nestes versículos “devem ser entendidos como se referindo à Igreja, pois esta é o sol, a lua e as estrelas; ela tem sido chamada de formosa como a lua, eleita como o sol, e não brilhará nessa época, devido à furiosa perseguição”.11 Mais circunstanciado é o comentário de Santo Agostinho, que considera duas possíveis interpretações para esse pormenor: “Pode-se entender isso em dois sentidos. Ele poderá vir à Igreja como sobre uma nuvem, como não cessa de vir agora, conforme diz a Escritura: ‘Vereis doravante o Filho do Homem sentar-Se à direita do Todo-Poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu’ (Mt 26, 64). Mas virá então com grande poder e majestade, porque manifestará mais nos santos Seu poder e majestade divina, pois aumentou-lhes a fortaleza para não sucumbirem na perseguição. Pode-se entender também que venha em Seu Corpo, que está sentado à direita do Pai, no qual morreu, ressuscitou e subiu ao Céu, conforme está escrito nos Atos dos Apóstolos: ‘Dizendo isso, elevou-Se da terra à vista deles e uma nuvem O ocultou aos seus olhos’. E ali mesmo disseram os Anjos: ‘Voltará do mesmo modo que O vistes subir ao Céu’ (At 1, 9.11). Temos, pois, motivos para crer que virá, não só em Seu Corpo, mas também sobre uma nuvem; virá como Se foi, e ao ir-Se uma nuvem O ocultou. É difícil julgar qual dos dois sentidos é o melhor”.14 Aquele a Quem não quiseram escutar quando Se apresentou humilde, eles O verão descer em grande poder e majestade Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana Os homens vão desmaiar de medo, só de pensar no que vai acontecer ao mundo porque as forças do céu serão abaladas”. 26 “Então eles verão o Filho do Homem vindo sobre uma nuvem com grande poder e glória”. 27 Vejamos a bela relação que faz o Pe. Julien Thiriet entre este versículo e a primeira vinda do Senhor: “Eles verão o Filho do Homem vindo com grande poder e majestade. Ou seja, com força invencível, para confundir e castigar Seus inimigos, mas também com uma glória resplandecente, uma majestade divina, para recompensar e coroar Seus eleitos. Assim, depois de ter aparecido sob uma forma humilde e desprezível na Sua primeira vinda — ‘aniquilou-se a Si mesmo, assumindo a condição de escravo’ (Fl 2, 7) —, aparecerá na última vinda como poderoso Rei e soberano Senhor do Céu e da terra. Todos os homens verão em Seu Corpo as gloriosas cicatrizes de Suas chagas, e os pecadores, conforme disse o profeta Zacarias, reconhecerão Aquele que transpassaram”.12 O fato de Cristo vir sobre uma nuvem é relacionado pelo mesmo autor com o dia de Sua Ascensão: “As nuvens que Lhe serviram de carro triunfal para subir ao Céu, diz Orígenes, servir-Lhe-ão de trono quando Ele descer para julgar a terra”.13 Ele virá com uma glória resplandecente para recompensar e liberar os eleitos. “Redenção dos justos”, por Fra Angélico - Museu de São Marcos, Florença Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 13 de Fátima 13 22/10/2009 14:12:59 Gustavo Kralj, por concessão do Ministério dos Bens Culturais da República Italiana Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça; porque a vossa libertação está próxima”. 28 “ “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida” 14 As palavras de Jesus neste versículo convidam e elevar o ânimo e ter confiança pois, junto com o anunciado castigo, chegará para aqueles que tiverem permanecido fiéis a hora da libertação. Daí que São Gregório Magno afirme: “Quando as pragas afligirem o mundo, levantai vossas cabeças, isto é, alegrai vossos corações, porque enquanto acaba o mundo, do qual na verdade não sois amigos, aproxima-se vossa redenção, que tanto tendes procurado”.15 A aumentar nossa esperança e alçar nossos corações para o Céu nessa hora, convida também Dom Maurice Landrieux: “Se o dia do Juízo Final deve ser terrível para os réprobos, será, ao contrário, consolador para os eleitos, os quais entrarão de corpo e alma na glória completa, tão desejada. Portanto, quando essas coisas começarem a acontecer, enquanto os pecadores murcharão de terror e serão tomados de desespero, vós, Meus amigos e servidores, levantai a cabeça e olhai; fortalecei vossa fé e vossa esperança, desviai da terra vosso espírito e vosso coração e elevai-os ao Céu; alegrai-vos, pois está próxima a vossa libertação. Essa libertação ou redenção será para os eleitos o fim absoluto de todos os males, a perfeita satisfação da alma e do corpo, o gozo incomparável da eterna bem-aventurança”.16 E conclui com esta exclamação: “Dia de pavor e desespero para os ímpios, os pecadores: dies iræ, dies illa! Mas de indizível esperança para os justos de Deus, para os pequenos e os humildes desconhecidos, desdenhados, rejeitados, execrados, explo- rados, maltratados, oprimidos de todos os modos nesta terra”.17 Ora, se no fim dos tempos os castigos de Deus contra os maus significam a libertação dos bons, a ponto de Santo Agostinho afirmar que “a vinda do Filho do Homem incute temor só aos incrédulos”,18 bem poderíamos tirar disso uma conclusão para nossa época: por mais que, nos dias atuais, as aflições e apreensões oprimam os bons, estes igualmente não devem temer, pois Deus jamais abandona quem nEle confia. É o que afirma São Cipriano: “Quem espera a recompensa divina deve reconhecer que em nós não poderá haver medo algum ante as borrascas do mundo, nenhuma vacilação, pois o Senhor predisse e ensinou que isso aconteceria, exortando, instruindo, preparando e fortalecendo os fiéis de Sua Igreja com vistas a suportar os acontecimentos futuros”.19 III – PREPARAÇÃO DOS CORAÇÕES Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida, e esse dia não caia de repente sobre vós; 35 pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes da terra”. 34 “ “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis!”. Nesta segunda parte do Evangelho escolhido pela Igreja para este domingo, o Divino Mestre faz referência àquelas almas que, mesmo não negando formalmente a Fé, já não se enlevam, não vibram, nem se comovem Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 14 22/10/2009 14:13:06 Se o dia do Juízo Final deve ser terrível para os réprobos, será, ao contrário, consolador para os eleitos, os quais entrarão de corpo e alma na glória completa, tão desejada. “Juízo Final”, por Fra Angélico Museu de São Marcos, Florença com as mais belas doutrinas, cerimônias ou acontecimentos, ficando incapazes de reconhecer neles a voz ou a presença do Salvador. “Como uma armadilha”, cairá o dia terrível do Juízo Final sobre os habitantes da terra; portanto, para não sermos apanhados de improviso, precisamos estar vigilantes para impedir que nossos corações se tornem insensíveis pelos vícios e pela preocupação com os efêmeros bens deste mundo. Gula, embriaguez e preocupações da vida Jesus menciona, em primeiro lugar, a gula. Pecado que, em nossos dias, pode ser considerado inclusive no sentido inverso, ou seja, como a preocupação excessiva com o controle do peso, em prejuízo da própria saúde. O equilíbrio consiste em comer o necessário para manter-se e poder enfrentar as dificuldades da vida. Mas existe também uma gula dos olhos: a excessiva curiosidade; ou dos ouvidos: o desejo imoderado de conversar, de querer estar a par de todas as novidades. Para não estender demais a lista dos vícios correlatos à gula, mencionemos apenas mais um, e dos mais perniciosos: o anseio de chamar a atenção sobre si. Quanto à embriaguez, Orígenes nota quão profunda é a degradação à qual ela conduz, por afetar simultaneamente o corpo e a alma. “Em outros casos pode acontecer que o espírito se fortaleça quando o corpo se debilite, como diz o Apóstolo (cf. II Cor 12, 10); e quando ‘o homem exterior se enfraquece, o interior se renova’ (II Cor 4, 16). Mas na enfermidade da embriaguez deterioramse ao mesmo tempo o corpo e a alma; o espírito se corrompe como a carne. Debilitam-se os pés e as mãos, embota-se a língua, as trevas lançam um véu sobre os olhos, e o olvido envolve a mente, de modo que o homem não conhece nem sente”.20 Em nossos dias, bem poderia este vício ser tomado como símbolo do inebriamento com as coisas materiais como o automóvel, o computador, o telefone celular, a internet e outros aparelhos que são úteis e até necessários, mas que, usados sem o controle da virtude da temperança, contribuem para tornar o coração insensível às realidades sobrenaturais. Uma eloquente metáfora do mesmo Orígenes vem muito a propósito para realçar o quanto precisamos tomar em consideração a advertência feita pelo Divino Mestre no Evangelho deste domingo: “Imagine-se que um médico experiente e sábio dê prescrições parecidas a esta, recomendando, por exemplo: ‘Cuide de não tomar em excesso suco de tal erva, pois isso pode causar morte repentina’. Não duvido que, para preservar a própria saúde, todos obedeceriam a essa advertência. Ora, Aquele que é médico das almas e dos corpos, o Senhor, nos ordena tomar cuidado com a erva da embriaguez e da crápula, bem como dos negócios mundanos e dos sucos mortais que é preciso evitar”.21 Assim, não só quem se deixa levar pelos vícios degradantes como a gula e a embriaguez, mas também quem se toma de excessivas preocupações pelos bens terrenos, acaba ficando com o coração insensível, pesado, incapaz de elevar-se até Deus. É novamente Orígenes quem faz esclarecedores comentários: “A última advertência de Jesus, no momento, incide soNovembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 15 Quem se toma de excessivas preocupações pelos bens terrenos, acaba ficando com o coração insensível, pesado, incapaz de elevar-se até Deus de Fátima 15 22/10/2009 14:13:11 “Emendaivos, mudai vossos costumes, vencei as tentações e castigai com lágrimas os pecados cometidos, porque algum dia vereis a chegada do eterno Juiz com tanto maior segurança quanto mais tiverdes prevenido pelo temor de Sua severidade” (São Gregório Magno) bre o cuidado que devemos ter com aquelas coisas da vida que — embora não sendo consideradas como pecados graves, mas sim como atividades aparentemente indiferentes — obnubilam entretanto nossa consciência a respeito de Sua volta iminente e da repentina chegada do fim do mundo”.22 A este respeito, recomenda-nos São Basílio: “A curiosidade e os cuidados desta vida, embora não pareçam prejudiciais, devem ser evitados quando não contribuem para o serviço de Deus”.23 E o douto Tito nos alerta: “Tomai cuidado para não se obscurecerem as luzes de vossa inteligência, porque as preocupações desta vida, a crápula e a embriaguez afugentam a paciência, fazem vacilar a fé e provocam o naufrágio”.24 Ao que Dom Landrieux acrescenta: “Prestai muita atenção para não deixar vosso coração apegar-se à terra pelos prazeres grosseiros dos sentidos, pela fruição imoderada dos bens deste mundo, ou por um cuidado excessivo com vossa situação, que vos exporia a ser surpreendido de repente pela morte: et superveniat in vos repentina dies illa. Pelo contrário, vigiai e orai, sede prudentes, recorrei aos meios sobrenaturais para obter que a mão de Deus vos sustente nessas provações, de sorte a poderdes permanecer de pé no dia do Juízo: stare ante filium hominis”.25 Vigilância e oração “Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”. 36 Bem observam os professores de Salamanca o fato de São Lucas não acompanhar seu relato com parábolas, como fazem os outros sinópticos. 1 Prefácio do Advento, I. 2 Idem. 3 BOSSUET. Oeuvres choisies. Versailles: Lebel, 1822, p. 156. 4 5 16 SAN GREGORIO MAGNO. Obras de San Gregorio Magno. Madrid: BAC, 1958, p. 538. DEHAUT, P. Pierre Auguste Teóphile. L’Évangile expliqué, défendu, médité. Paris : Lethielleux, 1868, vol. 4, p. 405. Ele traz apenas uma exortação geral. “Em compensação, exprime bem o sentido dessa vigilância constante em pureza de vida e oração”.26 Ficar atento significa estar sempre preparado para o encontro com Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora, mantendo bem abertos, não apenas os olhos do corpo, mas, sobretudo, os da alma, pois são estes que poderão indicar a proximidade do Senhor. E para isto precisamos viver continuamente em estado de oração, mesmo quando estivermos cumprindo nossas obrigações habituais. Só assim poderemos estar preparados para os grandes acontecimentos anunciados por Jesus e nos apresentar “de pé diante do Filho do Homem”, isto é, íntegros, honestos e virtuosos. Em suma, permanecendo no estado de graça. Na vida terrena, muito mais importante do que conservar a saúde, o dinheiro ou qualquer outro bem, é manter-se na graça de Deus. Portanto, esforçando-se por jamais ofendê-Lo; mas, se tiver a desgraça de cair no pecado, procurando imediatamente reconciliar-se com Ele, pelo sacramento da Confissão. A isso nos exorta São Gregório Magno: “Emendai-vos, mudai vossos costumes, vencei as tentações e castigai com lágrimas os pecados cometidos, porque algum dia vereis a chegada do eterno Juiz com tanto maior segurança quanto mais tiverdes prevenido pelo temor Sua severidade”.27 IV – A “TERCEIRA VINDA” A Liturgia do Primeiro Domingo do Advento é toda ela penetrada pela perspectiva da comemoração da primeira vinda de Nosso Senhor, com Seu nascimento na gruta em Belém, e pela preparação da segunda, que se dará no fim do mundo para julgar toda a humanidade. 6 GARRIDO, Manuel. Iniciación a la Liturgia de la Iglesia. Palabra, p. 275. 10 Cf. SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilias sobre el Evangelio de San Mateo, 76 e 77. 7 LANDRIEUX, Mgr. Maurice. Courtes gloses sur les Evangiles du dimanche. Paris: Beauchesne, 1918, p. 2-3. 11 Apud AQUINO, São Tomás de. Catena Aurea. 12 THIRIET, Op. cit., p. 5. 13 Idem. 14 SAN AGOSTÍN, Carta 199, 41-45. In Comentarios de San Agustín, Valladolid: Estudio Agustiniano, 1986, p. 52-53. 8 9 THIRIET, P. Julien. Explication des Evangiles du dimanche. Hong-Kong: Société des Missions Étrangères, 1920, p. 2. Veja-se também I Ts 5, 2; II Pd 3, 10; Ap 16, 15. Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 16 22/10/2009 14:13:12 De acordo com São Bernardo de Claraval, porém, são três as vindas de Nosso Senhor: “A primeira, quando Ele veio por Sua Encarnação; a segunda é cotidiana, quando Ele vem a cada um de nós, pela Sua graça; e a terceira, quando virá para julgar o mundo”.28 Em outra passagem, especifica o Doutor Melífluo que o segundo advento de Cristo é oculto e “somente os eleitos o veem em si mesmos, e com ele salvam suas almas”. Ele está vindo constantemente a nós para ser “nosso repouso e consolo”.29 Assim, a todo instante somos chamados a ter um encontro com Jesus. Será, sobretudo, na Eucaristia. Mas também, por exemplo, ao meditar este Evangelho do Primeiro de Advento, ou escutando uma palavra inspirada de algum ministro de Deus. Por isso, nossa vida deveria em realidade girar em torno de um Natal permanente, que se iniciasse ao acordar pela manhã e não terminasse sequer ao dormir à noite, porque para tudo dependemos da graça de Deus e devemos estar continuamente esperando o auxílio que nos vem dEle. Fiquemos atentos e aproveitemos esses valiosos convites da graça de modo a estarmos em condições de receber, não com pavor e desespero, mas com júbilo, o justo Juiz que descerá do Céu em toda pompa e majestade e dirá àqueles que nesta terra confiaram em Sua misericórdia e cumpriram Seus Mandamentos: “Vinde, benditos de Meu Pai, tomai posse do Reino que vos está preparado desde a criação do mundo” (Mt 25, 34). Quem tiver sempre em vista esse fim, terá ânimo redobrado para praticar a virtude e comparecer sem temor ao encontro definitivo com Nosso Senhor. Preparemo-nos, portanto, porque Ele virá quando menos esperarmos! 15 Apud AQUINO, São Tomás de. Catena Aurea. 16 THIRIET, Op. cit., p. 6. 17 LANDRIEUX, Op. cit. p. 7 18 19 Apud ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La biblia comentada por los Padres de la Iglesia. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p. 431. SAN CIPRIANO. Sobre la mortalidad, 2 apud ODENJUST, Op. cit., p. 434. Jesus está a todo instante batendo à porta da nossa alma para ser nosso repouso e consolo Grupo escultórico do cemitério da Consolação, São Paulo 20 Homilías sobre el Levítico, 7, 1-237. Apud ODEN-JUST, Op. cit., p. 434-435. 26 TUYA, OP, Pe. Manuel de. Biblia comentada. Madrid: BAC, 1964, p. 904. 21 Idem. 27 22 Apud ODEN-JUST, Op. cit., p. 432. SAN GREGORIO MAGNO, Op.cit., p. 541. 28 Cf. THIRIET, Op. cit., p. 2. 29 SAN BERNARDO DE CLARAVAL. In Obras completas de San Bernardo. Madrid: BAC, 1953, p. 177. 23 Apud AQUINO, São Tomás de. Catena Aurea. 24 Apud idem. 25 LANDRIEUX, Op. cit. p. 8-9. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 17 Para tudo dependemos da graça de Deus e devemos estar sempre esperando o auxílio que nos vem dEle. de Fátima 17 22/10/2009 14:13:17 O que é a verdade? O homem vive à procura da verdade. Ama-a quando ela se lhe manifesta, e pode chegar a odiá-la quando ela o repreende... Tal é o espírito humano, sem o auxílio da graça divina. Diác. Winston de la Concepción Salazar Rojas, EP C onta-se que, certa feita, querendo pregar uma peça em São Tomás de Aquino, alguns frades começaram a chamá-lo com insistência: — Vem ver um burro voando! E aguardaram ansiosos sua reação, prontos a rir-se do irmão de hábito. Acorreu o santo ao local e pôsse a perscrutar os ares à procura do inusitado fenômeno, enquanto os outros desatavam em gargalhadas, criticando-o: — Mas, homem de Deus! Como podes ser tão ingênuo? Tu, que pareces conhecer tudo, deverias saber que é impossível burros voarem. A brincadeira cessou de modo imprevisto, quando Frei Tomás respondeu com seriedade: — É que me parece coisa mais possível ver um burro voar do que religiosos mentirem...1 Essa curiosa história nos introduz em um apaixonante tema: mentira, verdade... o que é a verdade? Se considerarmos com atenção, veremos tratar-se do problema mais elementar que todo homem se põe no íntimo de seu ser. A todo momento, em tudo quanto observa ou pensa, 18 em tudo aquilo que sente, o homem tem uma propensão, uma aspiração ou uma inclinação a buscar uma certeza, uma verdade na qual se basear. Daí vem o famoso “Por quê?” das crianças, que querem saber de tudo; em sua inocência, elas se admiram e se encantam diante de um mundo novo que oferece, às suas mentes ansiosas de conhecer, uma infinidade de atraentes questões. Conformidade entre a realidade e o pensamento Em vista disso, o que é a verdade? Foi esta a pergunta, carregada de ironia, feita por Pilatos Àquele que afirmou de Si: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz” (Jo 18, 37). A mesma indagação, muitos a fazem hoje, sem encontrar resposta satisfatória. Habitualmente, conceitua-se a verdade como a conformidade entre o que se pensa e a realidade. Assim a entenderam fundamentalmente a Filosofia clássica e a escolástica, desde Aristóteles, para quem a verdade consiste em afirmar o que é e negar o que não é; e São Tomás a define como a adequação da coisa e do intelecto: “veritas est adæquatio rei et intellectus”.2 A humildade, primeiro requisito para alcançar a verdade De sua parte, com seu característico estilo, Santa Teresa de Jesus vincula estreitamente a verdade à virtude da humildade. Assim escreve ela em seu famoso livro As Moradas ou Castelo: “Certa vez estava eu refletindo sobre a razão pela qual Nosso Senhor é tão amigo desta virtude da humildade, e logo ocorreu-me o seguinte: é porque Deus é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade”. Depois de explicar que “anda na verdade” quem não faz bom conceito de si mesmo, mas reconhece que, de si, é nada e miséria, a grande doutora da Igreja acrescenta: “Quem não entende isso, anda na mentira. E a quem mais entende isso, mais agrada a suma verdade, porque anda nela”.3 Desse modo, a mística de Ávila nos ensina a atitude que devemos assumir diante de nosso Deus e Criador. É necessário aceitar Sua soberania e onipotência, o que implica re- Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 18 22/10/2009 14:13:20 São Tomás de Aquino, o “apóstolo da verdade” É conhecida a afirmação do Aquinate: “Omne verum, a quocumque dicatur, a Spiritu Santo est” — “toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo”.4 Com isto nos ensina que, “para o conhecimento de uma verdade, de qualquer ordem que seja, alguém precisa do auxílio divino para que o intelecto seja movido por Deus ao seu ato”.5 Este anelo da verdade mereceu ao Doutor Angélico o reconhecimento de vários Papas, entre os quais Paulo VI: Gustavo Kralj conhecer em nós — e nos outros — tanto as qualidades, virtudes e dons que o Criador nos tenha outorgado em Sua infinita liberalidade, quanto nossos pecados, defeitos e erros, que devemos não somente detestar, mas procurar corrigir. Ou seja, quem ama e pratica a virtude da humildade, não tergiversa nem manipula a verdade de acordo com sua própria conveniência, mas encara a realidade como ela é, objetivamente. Com razão afirma o Papa Bento XVI, na introdução de sua Encíclica Caritas in veritate: “Defender a verdade, propô-la com humildade e convicção e testemunhála na vida são formas exigentes e imprescindíveis de caridade. Esta, de fato, ‘rejubila com a verdade’ (I Cor 13, 6). Todos os homens sentem o impulso interior para amar de maneira autêntica: amor e verdade nunca desaparecem de todo neles, porque são a vocação colocada por Deus no coração e na mente de cada homem. Jesus Cristo purifica e liberta das nossas carências humanas a busca do amor e da verdade e desvenda-nos, em plenitude, a iniciativa de amor e o projeto de vida verdadeira que Deus preparou para nós. Em Cristo, a caridade na verdade torna-se o Rosto da Sua Pessoa, uma vocação a nós dirigida para amarmos os nossos irmãos na verdade do seu projeto. De fato, Ele mesmo é a Verdade (cf. Jo 14, 6)”. “O que é a verdade? Foi esta a pergunta, carregada de ironia, feita por Pilatos Àquele que afirmou de Si: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a Minha voz” “Jesus diante de Pilatos” - Mosaico italiano da Igreja Ortodoxa do Sangue Derramado, São Petersburgo (Rússia) “Esse afã de procurar a verdade, entregando-se a ela sem regatear qualquer esforço — afã que São Tomás considerou a missão específica de toda a sua vida, e cumpriu eximiamente em seu magistério e em seus escritos — faz com que se possa denominá-lo com toda razão ‘apóstolo da verdade’, e propô-lo como exemplo a todos quantos desempenham a função de ensinar. Contudo, ele brilha a nossos olhos também como admirável modelo de erudito cristão que, para captar as novas preocupações e dar resposta às novas exigências do progresso cultural, não sente necessidade de sair das vias da Fé, da Tradição e do Magistério, que as riquezas do passado e o selo da verdade divina lhe proporcionam”.6 O princípio de não-contradição Um princípio fundamental da Filosofia se encontra na base da verdade: o princípio de não-contradição, segundo o qual uma coisa não pode ser e não ser, sob o mesmo aspecto e ao mesmo tempo. Como princípio, é evidente e dispensa demonstração, pois, por assim dizer, a inteligência pode apreendê-lo intuitivamente. Para alcançar a ver- Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 19 de Fátima 19 22/10/2009 14:13:22 Gustavo Kralj “Por que Nosso Senhor é tão amigo da virtude da humildade? Porque Ele é a suma verdade, e a humildade consiste em andar na verdade” “Santa Teresa de Ávila” - Basílica de São Pedro (Vaticano) dade, o homem deve construir seu pensamento tendo como base este princípio, pois do contrário cairá no erro e na confusão. Princípio proclamado pela própria Sabedoria Eterna e Encarnada, ao advertir os discípulos: “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” (Mt 5, 37). De forma mais categórica ainda, o livro do Apocalipse manifesta quanto o Senhor aprecia a veracidade e a coerência: “Ao Anjo da igreja que está em Laodiceia, escreve: ‘Assim fala o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço a tua conduta. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitarte de Minha boca’” (Ap 3, 14-16). 20 É obrigação moral manter-se na verdade Para esclarecer o assunto de como pode a razão humana conhecer a verdade e de que, uma vez conhecida esta, tem-se o dever moral de segui-la, o conceituado filósofo espanhol Jaime Balmes aborda o tema de como o caráter racional do homem requer que suas ações possuam um fundamento na razão, por ser esta a mais importante de suas faculdades: “É claro que a inteligência não pode ficar indiferente ante a verdade e o erro, e sua perfeição consiste no conhecimento da verdade; por isso temos o dever de buscá-la. E quando não empregamos a inteligência nesse objetivo, abusamos da melhor de nossas faculdades. O objeto da inteligência é a verdade, porque a verdade é o ser; e o nada não pode ser objeto de nenhuma faculdade. Quando conhecemos o ser, conhecemos a verdade; por conseguinte, temos o dever de procurar o conhecimento da realidade das coisas. Se, por indolência, paixão ou capricho, extraviamos nossa inteligência, fazendo-a consentir no erro — seja por criar como existentes objetos que não existem, ou como não existentes os existentes; seja por atribuir-lhes relações que não têm, ou negar-lhes as que têm —, cometemos uma falta contra a lei moral, porque nos afastamos da ordem prescrita à nossa natureza pela sabedoria infinita. O amor à verdade não é uma simples qualidade filosófica, mas um verdadeiro dever moral. Procurar ver nas coisas o que existe, e nada mais do que aquilo que existe, que é no que consiste o conhecimento da verdade, não é apenas um conselho da arte de pensar: é também um dever prescrito pela lei do agir bem”. De onde se compreende a advertência feita pelo Divino Mestre aos que não querem andar nos caminhos da verdade: “O vosso pai é o diabo, e quereis cumprir o desejo do vosso pai. Ele era assassino desde o começo e não se manteve na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele fala mentira, fala o que é próprio dele, pois ele é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8, 44). A unidade da verdade: postulado fundamental da razão humana Assim, pois, já que toda verdade, todo bem e toda beleza provêm de Deus como de sua fonte, é impossível haver contradição na verdade. O que pode variar é o caminho para se chegar a ela, a partir da Fé, da Filosofia ou da ciência. Mas, como ocorre em toda a Criação, há uma hierarquia e uma ordem admiráveis também na esfera do conhecimento. Somos criaturas especialmente complexas, tendo algo de espiritual e algo de material. Pois bem, o espírito é superior à matéria, a ordem sobrenatural é superior à ordem natural, Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 20 22/10/2009 14:13:25 de maneira que o estudo daquilo que se refere a Deus é superior, pelo seu próprio objeto, a qualquer outro. Isso não tira nem diminui a importância, a utilidade e a necessidade do estudo do universo. Para isso, o ser humano — criatura racional feita à imagem e semelhança de Deus — possui a inteligência, que o leva a querer investigar o universo. Bem ordenada, essa inteligência, por si só, pode e deve conduzir a seu Criador; iluminada pela luz da Fé, chegará inclusive a discernir os mistérios e as verdades da ordem sobrenatural: “Esta verdade, que Deus nos revela em Jesus Cristo, não está em contraste com as verdades que se alcançam filosofando. Pelo contrário, as duas ordens de conhecimento conduzem à verdade na sua plenitude. A unidade da verdade já é um postulado fundamental da razão humana, expresso no princípio de não contradição. A Revelação dá a certeza desta unidade, ao mostrar que Deus criador é também o Deus da história da salvação. Deus que fundamenta e garante o caráter inteligível e racional da ordem natural das coisas, sobre o qual os cientistas se apoiam confiadamente, é o mesmo que Se revela como Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esta unidade da verdade, natural e revelada, encontra a sua identificação viva e pessoal em Cristo, como recorda o Apóstolo Paulo: ‘A verdade que existe em Jesus’ (Ef 4, 21; cf. Cl 1, 15-20). Ele é a Palavra eterna, na qual tudo foi criado, e ao mesmo tempo é a Palavra encarnada que, com toda a Sua pessoa, revela o Pai (cf. Jo 1, 14.18). Aquilo que a razão humana procura ‘sem o conhecer’ (cf. At 17, 23), só pode ser encontrado por meio de Cristo: de fato, o que nEle se revela é a ‘verdade plena’ (cf. Jo 1, 14-16) de todo o ser que, nEle e por Ele, foi criado e, por isso mesmo, nEle encontra a sua realização (cf. Cl 1, 17)”.7 A verdade impõe deveres Por isso, a razão humana, quanto mais se aprofunda no estudo do universo, mais se admira ao conhecer sua perfeição, sua harmonia e sua beleza, que nunca podem ser produto do acaso, do mesmo modo como não pode acontecer que milhares de letras lançadas por uma janela componham, ao cair, a Divina Comédia, de Dante. De onde podemos concluir que sábio e inteligente não é somente quem muito conhece ou entende, mas sobretudo quem, admirando a obra de arte que é a cria- ção, remonta ao Criador. Pois ninguém é tolo a ponto de, contemplando uma maravilha da técnica ou uma obra de arte, acreditar que não teve autor ou causa. Não obstante, quando o homem orgulhosamente viola esse natural afã pela verdade, instala-se em seu espírito a desordem; na sua mente, a confusão; em suas ideias, o caos; e cairá mais tarde em crises psicológicas, morais e espirituais que podem atingir todos os âmbitos de sua existência. De maneira que, quem erige “sua” verdade, constrói sua alma sobre a areia movediça do individualismo e do egoísmo mais exacerbado, com as trágicas sequelas que derivam de quem se coloca como origem e medida da verdade. De outro lado, quem adere à Verdade alcança, junto com ela, a liberdade: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres” (Jo 8, 32). O Papa Bento XVI, na Missa Crismal da QuintaFeira Santa deste ano, explica os deveres que a verdade impõe: “Ser imersos na verdade e, deste modo, na santidade de Deus significa para nós também aceitar o caráter exigente da verdade; contrapor-se, tanto nas coisas grandes como nas pequenas, à mentira, que de modo tão variado está presente no mundo; aceitar a fadiga da verdade, porque a sua alegria mais profunda está presente em nós. Quando falamos de ser consagrados na verdade, também não devemos esquecer que, em “Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não. O que passa disso vem do Maligno” “Cristo Rei” - Igreja de Santo André, Bayonne (França) Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 21 de Fátima 21 22/10/2009 14:13:31 Gustavo Kralj “Toda verdade, dita por quem quer que seja, vem do Espírito Santo” “Glória do Espírito Santo” Museu Arquidiocesano de Arte Sacra, Rio de Janeiro Jesus Cristo, verdade e amor são uma coisa só. Ser imersos nEle significa ser imersos na Sua bondade, no amor verdadeiro”.8 De maneira que o homem, tendo conhecido a verdade, deve segui-la, e aceitar seus conselhos como se tratasse de seu melhor amigo, de acordo com a famosa frase atribuída ao Estagirita: “Amicus Plato, sed magis amica veritas — Platão é amigo, porém, mais amiga é a verdade”.9 Esse caminho em busca da verdade exige do homem uma atitude de aceitação dela e de rejeição do erro, como explica João Paulo II: “‘Todos os homens desejam saber’ (Aristóteles, Metafísica, I, 1) e o objeto próprio deste desejo é a verdade. A própria vida cotidiana demonstra o interesse que tem cada um em descobrir, para além do que ouve, a realidade das coisas. Em toda a criação visível, o homem é o único ser que é capaz não só de saber, mas também de saber que sabe, e por isso se interessa pela verda22 de real daquilo que vê. Ninguém pode sinceramente ficar indiferente quanto à verdade do seu saber. Se descobre que é falso, rejeita-o; se, pelo contrário, consegue certificar-se da sua verdade, sente-se satisfeito. É a lição que nos dá Santo Agostinho, quando escreve: ‘Encontrei muitos com desejos de enganar outros, mas não encontrei ninguém que quisesse ser enganado’ (Confissões, X, 23, 33: CCL 27,173). Considerase, justamente, que uma pessoa alcançou a idade adulta, quando consegue discernir, por seus próprios meios, entre aquilo que é verdadeiro e o que é falso, formando um juízo pessoal sobre a realidade objetiva das coisas. Está aqui o motivo de muitas pesquisas, particularmente no campo das ciências, que levaram, nos últimos séculos, a resultados tão significativos, favorecendo realmente o progresso da humanidade inteira”.10 A verdade engendra o ódio Diante desse panorama, como se pode explicar o fato de Jesus Cristo — o Caminho, a Verdade e a Vida — ter sido perseguido por aqueles que diziam procurar a verdade, a ponto de crucificá-Lo entre dois ladrões? A isso responde o imortal Doutor da Graça. Comentando a famosa frase de Terêncio, “Veritas odium parit” (A verdade engendra o ódio), Santo Agostinho se pergunta como explicar fato tão absurdo. Com efeito, pondera ele, o homem ama naturalmente a felicidade e, dado que esta consiste na alegria nascida da verdade, seria uma aberração alguém tomar como inimigo quem prega a verdade em nome de Deus. Enunciado assim o problema, passemos à explicação. A natureza humana é tão tendente à verdade que, quando o ho- mem ama algo contrário à verdade, deseja que esse algo seja verdadeiro. Com isso engana-se a si mesmo, convencendo-se de que é verdadeiro o que na realidade é falso. É preciso, pois, que alguém lhe abra os olhos. Ora, como o homem muitas vezes não admite que se lhe demonstre que se enganou, tampouco tolera que se lhe demonstre o erro no qual se encontra. E a Águia de Hipona conclui: “Assim, odeiam a verdade porque amam aquilo que supõem ser a verdade. Amam-na quando ela brilha, e a odeiam quando ela os repreende. […] Mas a verdade sabe retribuir: como eles não querem ser por ela revelados, ela os denunciará contra a vontade deles, e não mais se revelará a eles. Assim é o espírito humano: cego e preguiçoso, torpe e indecente; deseja permanecer escondido, mas não quer que nada lhe seja ocultado. E sucede-lhe o contrário: ele não se esconde da verdade, mas é esta que se lhe oculta”.11 Relativismo Ao discorrer sobre a verdade, não se pode deixar de tratar também de um fenômeno tão atual como a globalização, e muito ligado a ela, o relativismo. Este último, tão em moda hoje, propugna, em última análise, que: não existe uma verdade, mas sim verdades; não se pode afirmar nada como tendo uma validez eterna e universal; as diversas e variadas circunstâncias históricas, culturais, sociais ou temporais podem modificar os conceitos e as coisas. De acordo com essa concepção relativista, se justifica uma série de comportamentos e situações que até há pouco eram considerados reprováveis, mas que hoje reputam-se aggiornatti, uma vez que “os tempos mudaram”, como se costuma dizer. Embora os tempos mudem, sabemos e cremos que a Palavra de Deus não muda (como também o homem é sempre o mesmo em essência), pois mais facilmente “passarão o céu e a Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 22 22/10/2009 14:13:32 Quem nos há de conduzir à Verdade é o Espírito Santo, segundo a promessa de Cristo aos Apóstolos: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por Si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão” (Jn 16, 13). E a estrela que nos guia até o Porto da Verdade é a Virgem Imaculada. Ela nos indica como proceder, do mesmo modo como nas bodas de Caná, quando disse aos serventes: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5). Essa singela frase resume todo o itinerário cristão. Fazer o que Jesus nos diz, como Maria, que guardava todas as Suas palavras e as meditava em Seu coração (cf. Lc 2, 19.51). terra do que se perderá uma só letra da Lei” (Lc 16, 17). A Igreja, coluna e sustentáculo da verdade Concluindo estas reflexões, não podemos senão admirar e ponderar como é maravilhoso haver Deus dotado a Igreja de uma voz infalível, que transmite a verdade cristalina, evitando-lhe naufragar na tempestade de opiniões e de pareceres pessoais desordenados e desarmônicos, que acontece quando não se segue a verdade. Alguém dirá que isto constitui uma amarra, e outro mais atrevido dirá que o dogma cerceia a liberdade. Nada mais contrário à realidade. Qual o insensato capaz de afirmar que as leis de trânsito escravizam os motoristas e lhes coarctam a “liberdade” de colidir com outros veículos ou de atropelar os pedestres? E quem não vê a utilidade do corrimão na escada para evitar acidentes? Por isso, dignou-Se Deus ornar Sua Igreja, “coluna e sustentáculo da verdade” (I Tm 3, 15), com a preciosa joia que é a infalibilidade papal, graças à qual sabemos e A estrela que nos guia até o Porto da cremos que o Sumo Pontífice, asVerdade é a Virgem Imaculada sistido diretamente pelo Espírito “Nossa Senhora da Luz” - Convento da Luz, Santo, não se equivoca em matéSão Paulo ria de Fé e moral. Isso dá à Igreja um fundamento sólido como uma ro- nhecer que somos seres débeis, limicha. Ainda que as tempestades amea- tados e contingentes; nossa inteligêncem submergi-la, podemos confiar em cia, com o pecado original, ficou obssua continuidade, pois não se deixará curecida e nossa vontade, inclinada de cumprir a palavra do Senhor segun- ao mal. Contudo, Deus, em Sua mido a qual as portas do inferno não pre- sericórdia, dispôs a solução e nos convalecerão contra ela (cf. Jo 16, 18). cedeu com infinita generosidade todos os meios de que necessitamos paQuem nos conduz à verdade ra alcançar a felicidade à qual anelaé o Espírito Santo mos. Sem embargo, enquanto o coraSomente na Verdade e no Amor — ção dos homens não se voltar para seu em uma palavra, somente em Deus — Criador e Senhor, não encontrará a pode a criatura humana saciar a fo- paz, a tranquilidade, a felicidade; pois, me e sede de plenitude que leva em si. como disse Santo Agostinho: “FizesteDistante de Deus só se encontram tre- nos para Ti, e inquieto está o nosso covas, erro e confusão. Precisamos reco- ração, enquanto não repousa em Ti”.12 Cf. SILVEIRA, Pablo da. Historias de filósofos. Buenos Aires: Ed. Alfaguara, 1997, p. 88. 1 Cf. AQUINO, São Tomás. De Veritate q. 1a. 1; Summa Theologica I, q. 16, a. 1, Resp. 2 3 Sexta morada, cap. X. AQUINO, São Tomás de. Summa Theologica. I-II, q. 109, a. 1, ad 1. 4 5 Idem, ibidem. 6 Carta Apostólica Lumen Ecclesiæ, 20/11/1974, n. 10. 7 JOÃO PAULO II. Encíclica Fides et ratio, 14/9/1998, n. 34. 8 Homilia, 9/4/2009. 9 Frase atribuída a Aristóteles por Ammonio em sua obra La vida de Aristóteles. Apud FRAILE, Guillermo. Historia de la Filosofia. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1975, p. 417. 10 JOÃO PAULO II, Op. cit., n. 25. 11 SANTO AGOSTINHO. Confissões, livro X, cap. XXIII. 12 Idem I, 1, 1. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 23 de Fátima 23 22/10/2009 14:13:35 A grande m Gustavo Kralj Amor sob a lei do temor e sob a lei do amor Nada é mais instrutivo, sob este ponto de vista, que a história do profeta Jonas. Incumbido por Deus de fazer aos ninivitas o anúncio dos castigos divinos, o profeta primeiro se esquiva de sua missão e procura fugir “Sagrado Coração de Jesus” - Catedral Maria Rainha do Mundo, Montreal (Canadá) para o ocidente dos mares, quando deveria partir para o oriente. Coneus é Pai. Nessas três do, acompanha, apesar de tudo, até duzido à força a Nínive, pela vontapalavras está contida o extremo e com um olhar de ter- de do Alto, ele começa a percorrer as toda a grandeza da divi- no apego, o filho mau e culpado; o ruas da grande cidade, gritando com na misericórdia. E, pa- amor, enfim — último traço que re- força e convicção: “Daqui a quarenra ser mais preciso, devo acrescentar: mata a pintura — que esquece sua ta dias Nínive será destruída” (Jn 3,4). Deus não é apenas um pai, mas um honra de pai ultrajado, seus direitos Mas o Senhor pretendia destruir esprofanados pela mais negra ingrati- sa cidade somente se ela perseveraspai e uma mãe ao mesmo tempo. dão, pela mais indigna conduta, pa- se em sua malícia. Ninguém é pai ou mãe como Deus ra correr, ele, o ofendido, rumo ao Ora, os ninivitas fizeram penitênO amor paterno é aquele que se ofensor, se vê de longe o filho pró- cia sob o cilício e a cinza. Deus enaplica sobre quem não existe ain- digo voltando para ele arrependido. tão os perdoou, e isso causou ao proEis o amor paterno, tal qual a na- feta grande cólera: “Eu bem o sabia” da, desejando ardentemente dar-lhe a vida. É o amor que envolve a tureza o dá aos verdadeiros corações — exclama ele — “e por isso eu queria fugir para Társis. Eu sabia bem que criança com sua força, depois de tê- de pai nesta Terra. Mas Deus tem sua maneira de Vós me faríeis ameaçar em vão e que -la gerado; o amor que vela a todos os instantes do dia e da noite, pre- ser pai e mãe ao mesmo tempo, que pouparíeis esse povo. Porque Vós sois vine todos os perigos, apoia todos excede infinitamente tudo isso. Ne- um Deus clemente, misericordioso, paos pequenos passos desse ser frágil mo tam pater, tam mater nemo: nin- ciente, de uma compaixão extrema. que tenta andar, dirige-o, suporta- guém é pai, ninguém é mãe como Agora, Senhor, tirai-me a vida, porque o, faz-se pequeno com esse peque- Ele. E Ele mesmo nos diz, por meio é-me penoso viver depois do que acabo no, à espera da hora de fazer-se he- da mais brilhante voz dos profetas de ver” (Jn 4, 1-3). “Pensas tu que é justa tua cólera?” roico e de imolar-se, se for preciso; do Antigo Testamento, Isaías: “Poo amor que às vezes pune, muitas de uma mãe esquecer-se do seu fi- (Jn 4,4) — responde-lhe simplesmenvezes mais perdoa, e não pune se- lho e não ter piedade do fruto de suas te o Eterno. E Ele conduz Jonas panão para fazer merecer o perdão; o entranhas? Pois bem, mesmo que is- ra fora da cidade, do lado do nascenamor que ama até o fim e que, me- to acontecesse, Eu não te esquecerei” te. Jonas ali se instala sob um espesso feixe de hera, miraculosamente prenosprezado, insultado, amaldiçoa- (Is 49, 15). D 24 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 24 22/10/2009 14:13:45 de misericórdia de Deus “Pode uma mãe esquecer-se do seu filho e não ter piedade do fruto de suas entranhas? Pois bem, mesmo que isto acontecesse, Eu não te esquecerei” (Is 49, 15). parada por Deus para resguardá-lo dos raios abrasadores do Sol. Mas, durante a noite o Senhor faz secar a planta protetora, de maneira que o Sol, tornando a subir ao céu de manhã, dardeja seus raios sobre a cabeça do profeta. Grande aflição deste, que de novo deseja a morte. “Ah, bem!” — diz-lhe o Senhor — “tu te afliges e te irritas pela perda de uma planta que não plantaste, nem cultivaste, e Eu faria perecer toda esta multidão de homens de Nínive dos quais sou o Criador e o pai?” (Jn 4,10). Eis como, sob a Lei do temor, Deus entendia seu papel de pai. Mas, sob a nova Lei, seu amor de Pai, sua misericórdia, vão revestir-se de uma forma capaz de lançar nossos espíritos e nossos corações em maravilhamentos sem fim. Ele irá — mistério adorável e três vezes incompreensível — ao ponto de abafar, se podemos dizer assim, o amor sem nome que une-O no Céu a seu Verbo, a seu Filho, e entregá-Lo a nós como vítima, para que, em seu sangue, se opere nossa Redenção. Na Nova Aliança, Deus nos enche de benefícios e graças A Encarnação, a Redenção, esses prodígios de amor do qual — diz-nos o Apóstolo — ninguém nesta terra jamais saberá toda a altura, toda a largura, toda a profundidade, eis a verdadeira medida da misericórdia de Deus por nós! Será demais, então, repetir com o Salmista que grande é a misericórdia divina, grande a multidão de suas compaixões? 1 – Grande, ela o é no espaço. Ela se estende a todos, não exclui ninguém. “Senhor” — diz o Salmista — “Senhor, vossa bondade chega até os céus” (Sl 35,6); “acima dos céus se eleva a vossa misericórdia” (Sl 107,5). Ora, da mesma forma que a abóbada celeste nos envolve a todos, e de todas as partes, assim é a divina misericórdia. 2 – Grande, ela o é no tempo. Salvo razões muito especiais, ela deixa aos homens, aos pecadores, o tempo de reconhecer sua culpa, de se converter, de se resgatar: “Eu não me comprazo com a morte do pecador, mas antes com a sua conversão, de modo que tenha a vida” (Ez 33,11). 3 – Enfim, falando como o reiprofeta, grande é a misericórdia divina na multidão de suas operações, de suas comiserações. Que chuva, que dilúvio de graças naturais e sobrenaturais ela derrama cada dia sobre o menor de nós! “A filosofia observa que, em nossa existência, o primeiro momento não acarreta necessariamente o segundo, e que a mão de Deus, por uma criação contínua, precisa nos manter incessantemente sobre este abismo do nada, do qual saímos e para o qual tendemos a retornar” (Mgr. Le Camus, Théologie populaire de N.S.J.C., 2ª Confér., Dieu). Cada novo instante acrescentado à nossa vida, cada batida de nosso coração é, portanto, um benefício da misericordiosa Providência do Criador. Apesar do repouso no qual Ele entrou no sétimo dia, depois da Criação, sua misericórdia está sem cessar em atividade em torno de nós. Quem contará essas maravilhosas atenções e operações da misericórdia em relação a nós? Ora, esses benefícios naturais, por mais abundantes que sejam, são talvez infinitamente menos numerosos que os socorros sobrenaturais prodigalizados à nossa alma: Graças atuais de luz, de força, de resignação, de compunção, que sei eu? Quem dirá o que foi preciso de graças para povoar o Céu de todos os santos que lá reinam com Deus, dos quais um grande número é de indignos pecadores? Para um só pecador — seja ele Santo Agostinho, ou seja qualquer um de nós — quem dirá o oceano de Graças com o qual Deus o inunda para reconduzi-lo a Si? Oh! À vista desta grande, desta grandíssima misericórdia do Senhor, não hesiteis mais, almas pecadoras, ide até Ele com confiança. Quaisquer que sejam vossos pecados, mesmo vossos crimes, por mais arraigados que sejam vossos hábitos culposos, por mais desesperadoras que sejam vossas misérias, vinde, atirai tudo isso, e atirai-vos vós mesmos, nas mãos da divina misericórdia. (Traduzido, com adaptações, de L’Ami du Clergé, 23/01/1902, p. 68-69). Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 25 de Fátima 25 22/10/2009 14:13:47 Arautos em missão promovem Oratórios C omposta por sacerdote e cerca de vinte missionários, a “Cavalaria de Maria” é uma comunidade dos Arautos do Evangelho dedicada exclusivamente ao anúncio querigmático. Sua missão consiste em percorrer as paróquias de todo o Brasil, a convite dos Bispos e párocos, proclamando o Evangelho através das Missões Marianas. Com zelo e empenho no labor pastoral, esta “comunidade móvel” inicia o dia com Missa e Adoração Eucarística na Matriz, da qual podem participar todos os paroquianos que desejarem. Após esse tempo dedicado à oração, percorrem eles, de porta em porta, o território paroquial, conduzindo uma bela imagem do Imaculado Coração de Maria. Ao ser Ela acolhida em uma residência, escritório ou loja, os missionários rezam com os presentes e procuram saber se têm necessidade de algum Sacramento. Essa visita de Nossa Senhora nos lares marca a vida de muitos, que desejam prolongar de alguma forma es- Itatinga 26 Anhembi sa benfazeja e maternal presença. A eles, os missionários oferecem o Oratório de Maria Rainha dos Corações. Cada capelinha é venerada por um grupo de trinta famílias que a acolhem uma vez por mês, em data previamente combinada com o coordenador do grupo. No dia em que o Oratório está na casa, são convidados amigos, parentes e vizinhos para juntos fazerem a leitura de um trecho do Evangelho, seguida de alguns minutos de reflexão, rezarem o terço e realizarem um ato de consagração ao Imaculado Coração de Maria. Os oratórios de Maria Rainha dos Corações difundidos pelos arautos missionários são abençoados e entregues pelo pároco ao respectivo coordenador durante a Missa que encerra cada Missão Mariana. É uma bela forma de dar continuidade ao trabalho pastoral feito durante esses dias. (Nas fotos, cerimônias de entrega do Oratório em diversas cidades do Estado de São Paulo.) Várzea Paulista Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 26 22/10/2009 14:14:06 Itatiba Areiópolis Com entusiasmo, os novos coordenadores de Oratório assumem sua função evangelizadora. À esquerda, antes da Celebração Eucarística, entrada solene da Imagem do Imaculado Coração de Maria na igreja lotada, em Itatiba; à direita cortejo de novos coordenadores do Oratório, em Várzea Paulista. Areiópolis Botucatu Pereiras É costume o respectivo pároco abençoar e entregar o Oratório aos coordenadores. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 27 de Fátima 27 22/10/2009 14:14:20 Espanha – Em Saragoça, arautos participam da procissão organizada pela Adoração Noturna Espanhola e presidida pelo Cardeal Antonio Cañizares Llovera, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Brasil – No festa dos Santos Anjos da Guarda, 26 aspirantes provenientes da Argentina, Equador e nove Estados do Brasil receberam das mãos de Mons. João Scognamiglio Clá Dias o hábito dos Arautos do Evangelho. Colômbia – Após uma Missa campal presidida pelo Bispo de Zipaquirá, Dom Héctor Cubillos, foi feito o lançamento da pedra fundamental da igreja dos Arautos do Evangelho na Colômbia, na cidade de Tocancipá. 28 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 28 22/10/2009 14:14:54 Brasil – Irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum cantam em homenagem a Dom Odilo Pedro Scherer após a Missa organizada pela Arquidiocese de São Paulo por ocasião do seu 60º aniversário. A significativa data foi também comemorada durante a visita que o Cardeal fez ao Seminário dos Arautos, uma semana antes, para jantar com todos os membros da comunidade. Homenagem da Câmara Municipal de São Paulo A colhendo a proposta do vereador Dr. Gabriel Chalita, a Câmara Municipal de São Paulo outorgou a Medalha Anchieta ao fundador dos Arautos do Evangelho, Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. Considerada a mais alta honraria da cidade, ela é concedida a personalidades cuja trajetória tenha conquistado a admiração e o respeito do povo paulistano. Entre os que a receberam estão o Papa João Paulo II, o jurista Miguel Reale, o cientista Milton Santos e o empresário Horácio Lafer Piva. A entrega da medalha se deu na Igreja Nossa Senhora do Rosário no Seminário dos Arautos do Evangelho têm seu Seminário, em Caieiras. Entre outras autoridades e personalidades estiveram presentes o desembargador e presidente da Academia Paulista de Letras, Mestre e Doutor em Direito Constitucional, Dr. José Renato Nalini, o deputado da Assembleia Legislativa de São Paulo, Dr. Sérgio Olímpio Gomes, o Prefeito de Caieiras, Dr. Roberto Hamamoto, e o Vice-Prefeito, Dr. Gerson Romero. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 29 de Fátima 29 22/10/2009 14:15:42 251 arautos bacharéis em Teologia N o dia 23 de setembro, 251 arautos receberam o título de Bacharel em Teologia no Centro Universitário Ítalo-brasileiro (UniÍtalo), em São Paulo. Foram 207 membros do ramo masculino dos arautos e 44 membros da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum. A colação de grau se deu no auditório Paulo Autran, do mesmo Centro Universitário, e foi presidi- da pelo Magnífico Reitor Prof. Dr. Marcos Antônio Gagliardi Cascino. Na homilia da Missa que precedeu a cerimônia de formatura, o paraninfo da turma, Pe. Prof. Lourenço Isidoro Ferronatto, EP, frisou a responsabilidade de os formandos colocarem a serviço da Igreja os conhecimentos adquiridos, transformando-os em frutos de evangelização. Nesse sentido, não se pode dizer que o labor concluiu, mas sim que ele começa agora. O representante dos estudantes cumprimenta o Reitor do UniÍtalo, Prof. Dr. Marcos Antônio Gagliardi Cascino Mestres em Filosofia N o dia 9 de outubro, vinte e quatro arautos, entre os quais três sacerdotes e dois diáconos da Sociedade de Vida Apostólica Virgo Flos Carmeli, e sete irmãs da Sociedade de Vida Apostólica Regina Virginum, receberam o título de Mestre em Filosofia na Universidade Pontifícia Bolivariana, em Medellín (Colômbia). A cerimônia de entrega dos diplomas foi presidida pelo Reitor, Mons. Luis Fer- 30 nando Rodríguez Velásquez, quem agradeceu a presença de arautos de dez países diferentes e sublinhou o quanto isso enriquecia a própria Universidade. Estiveram também presentes o Revmo. Pe. Diego Alonso Marulanda Díaz, Decano da Escola de Teologia, Filosofia e Humanidades, e Dr. Luis Fernando Fernández Ochoa, Diretor da Faculdade de Filosofia. Na foto da esquerda, vemos a defesa de uma das teses de Mestrado. Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 30 22/10/2009 14:16:09 Mestre em Psicologia Educativa N o último dia 1 de outubro, Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP, recebeu, na igreja do Seminário dos Arautos, em Caieiras, São Paulo, o título de Mestre em Psicologia Educativa pela Universidade Católica de Colômbia (UCC), bem como a Cruz de Lorena com Cordão Dourado, máxima condecoração concedida por essa Universidade (foto 2). A entrega da comenda foi feita pelo Prof. Dr. Carlos Vargas Ordóñez, Decano da Faculdade de Psicologia (foto 1). Participaram também do evento a Profa. Dra. Martha Lozano Ardi- la, Diretora de Pós-Graduação e Diretora de Mestrado em Psicologia Educativa (foto 3), e o Dr. Carlos Arturo Ospina Hernández, Diretor de Gestão em Talento Humano da UCC, representando o Reitor, Prof. Dr. Francisco Gómez Ortiz. No final da solene Missa, o Dr. Carlos Vargas Ordóñez destacou a originalidade e importância da tese de Mestrado apresentada por Mons. João Scognamiglio Clá Dias, sob o título “A fidelidade ao primeiro olhar da inteligência”. Nas páginas seguintes reproduzimos a íntegra desse discurso. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 31 1 2 3 de Fátima 31 22/10/2009 14:16:31 REFLEXÕES SOBRE A TESE DE MESTRADO EM PSICOLOGIA DO FUNDADOR DOS ARAUTOS Carisma de sacerdote e didática de pedagogo Ciência, Filosofia, Teologia, mas, sobretudo, uma consagrada experiência pedagógica e um conhecimento clarividente do ser humano, fazem da tese de mestrado de Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias uma obra-prima. Prof. Dr. Carlos Vargas Ordóñez Decano da Faculdade de Psicologia da Universidade Católica da Colômbia É muito honroso para a Universidade Católica de Colômbia fazer hoje a entrega do título de Mestre em Psicologia, com ênfase em Psicologia Educativa, ao Monsenhor João Scognamiglio Clá Dias. Temos, além disso, especial satisfação em proceder a essa entrega, pois julgamos ser um dever da Universidade e da Academia, não só oferecer uma rigorosa formação em todas as disciplinas, mas também prestar um merecido ato de reconhecimento aos mestres mais destacados e insignes servidores da Educação, como é o caso de Monsenhor Scognamiglio. Na leitura de sua obra, Monsenhor, vimos como o carisma do sacerdote consagrado ao serviço generoso de sua comunidade se conjuga admiravelmente, e no mais alto grau, com a mais elevada didática do pedagogo experiente, com a sabedoria de quem abeberou seus ensinamentos nas fontes do saber filosófico e teológico, com a prudência iluminada pela luz do Evangelho, com a mais profun32 da humildade de espírito — própria dos grandes homens —, com admirável formação humanística que, no seu caso, transcende as simples categorias da ciência e da reflexão filosófica, para penetrar nos mais complexos e difíceis temas das várias ciências do espírito. Ciência, Filosofia, Teologia, mas, sobretudo, uma consagrada experiência pedagógica e um conhecimento clarividente do ser humano, de suas riquezas e limitações, fazem certamente de sua tese de mestrado — A fidelidade ao primeiro olhar da inteligência — uma obra-prima que ensina a todos nós e levou-nos a uma reflexão muito profunda. Nós a lemos com particular prazer e proveito espiritual, e a ela devo referir-me agora, obviamente de modo bastante resumido. É a fidelidade ao primeiro olhar que permite harmonizar a razão com a Fé Nesse seu trabalho, encontra o leitor um maravilhoso percurso in- telectual que — à maneira do itinerário de São Boaventura, citado pelo senhor mesmo, Itinerarium mentis Deo — leva-nos quase pela mão, de modo brilhante e documentado, pelos diferentes momentos e caminhos que permitem ao menino e ao adolescente iniciar sua trajetória a partir do mundo do sensível; revela, em seguida, “os fundamentos filosófico-antropológicos do conhecimento e seu indiscutível impacto sobre o desenvolvimento da personalidade”; e chega à proposta psicopedagógica dos Arautos do Evangelho, que, iluminada e enriquecida pelo Magistério da Igreja, se fortalece e se torna guia de seu modelo educativo. É a fidelidade a esse primeiro “olhar da inteligência”, é a fidelidade e a coerência com ela que permitirão ao ser humano articular e harmonizar em um só conjunto os dados da razão com os da Fé, o mundo do sensível com o mundo do espiritual, a finitude das criaturas com a infinitude do Criador. Seu trabalho assina- Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 32 22/10/2009 14:16:35 Héctor Mattos Um momento da Missa que precedeu a entrega do título. À esquerda, Dr. Arturo Ospina Hernández, representando o Reitor da UCC, Dra. Martha Lozano, orientadora da tese de Monsenhor João e Dr. Carlos Vargas la isso, com uma evidente articulação lógica, ao concluir o primeiro capítulo: “Todas as riquezas do conhecimento humano, do raciocínio e dos atos morais do homem adulto — e de quem já entrou na ancianidade — consistem na fidelidade a esse primeiro olhar ou na sua restauração”. O esquecimento do ser é um dos maiores desastres da história do pensamento ocidental Contudo, o importante não é só o enunciado; é sua demonstração lógica e epistemológica no transcurso da obra que em cada página respiga sua riqueza conceitual e prática tanto na filosofia perene como nas fontes da Revelação divina, unidas — e de que modo! — a uma estruturada reflexão de caráter teológico como também aos mais recentes desenvolvimentos da psicologia científica. O crescimento e desenvolvimento do ser humano, seu comportamento nas diferentes etapas da vida, suas aspirações, suas limitações, em uma palavra, sua grandeza e sua pequenez, sua in- descritível complexidade, além de serem enunciados com sábia interpretação e compreensão dos próprios fenômenos, sugerem profundas implicações que, entendidas e analisadas de modo articulado e complementar pelas várias disciplinas, permitem inferir o selo característico e os padrões básicos que todo sistema educativo deveria ter. O importante não é só o enunciado da tese, é sua demonstração lógica e epistemológica no transcurso da obra Todavia, tais fenômenos não podem ser compreendidos, e menos ainda explicados, se não se recorre e se começa pelo próprio estudo do ser; por isso, com Heidegger, sua tese nos recorda que “o es- quecimento do ser é um dos maiores desastres da história do pensamento ocidental”. As sensações não são subjetivas, mas reais e objetivas Posteriormente, no marco da filosofia tomista, faz um maravilhoso itinerário desde a afirmação do ser, passando por sua reconquista e descobrimento nos primeiros anos do menino que, como objeto da intuição, é o primeiro a ser apreendido pela inteligência através dos sentidos. “A única solução sensata — conclui com impecável lógica — é volver os olhos novamente ao ser. Pois precisamente ele, em sua inabarcável variedade e rica unicidade, é objeto do conhecimento, entendido primordialmente pela inteligência através da experiência sensível”. Como, porém, abordar o problema do conhecimento a partir dos sentidos e das próprias sensações? Eis uma boa pergunta de investigação científica que seu trabalho aborda sem qualquer temor, assinalando os limites da reflexão epistemológica e a Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 33 de Fátima 33 22/10/2009 14:16:42 Portanto, “só a contemplação de Deus, que é a Verdade por essência, torna o homem perfeitamente feliz”. Eis aqui — conclui — um princípio teológico da verdade que cabe acentuar: “O homem não se aperfeiçoa intelectualmente, de acordo com seu fim, a não ser tendo em vista o movimento de sua inteligência em direção à contemplação da Verdade Suprema”. Sérgio Miyazaki necessidade da interdisciplinaridade. De modo imprescindível, precisamos recorrer aos estudos contemporâneos da Psicologia Científica, particularmente em seus estudos e investigações associados com o campo da sensação e da percepção. Por isso a tese salienta com muita propriedade: “Ao primeiro olhar acrescenta-se também o que poderíamos chamar o primeiro ouvir, o primeiro olfatear, o primeiro degustar e o primeiro tocar”. Portanto, as sensações — conclui com Royo Marín — “não são subjetivas, mas reais e objetivas, como o demonstram a experiência, a própria consciência e os procedimentos científicos da psicologia experimental moderna”. Nostalgia da verdade De outra parte, continua o estudo em sua lógica argumentativa, ninguém poderia permanecer sinceramente indiferente à verdade do seu saber. Se descobre que é falso, rejeita-o; se pode con“Na sua obra, o carisma do sacerdote firmar sua veracidade, sense conjuga admiravelmente com a sabedoria te-se satisfeito. Esta é a lide quem abeberou seus ensinamentos nas fontes ção de Santo Agostinho, ao do saber filosófico e teológico” Só a contemplação escrever: “Encontrei muitos de Deus torna o homem que queriam enganar, mas ninguém perfeitamente feliz que quisesse deixar-se enganar”. Nostalgia da verdade. Feliz expressão enEntretanto, a apreensão do ser a contrada por João Paulo II para despartir dos sentidos e a partir da racrever uma realidade de extrema imzão deve ter um direcionamento, um portância. norte que lhe permita avançar com Por isso, “é necessário reconhecer liberdade, mas por caminhos see atender ao chamado dessa nostalgia guros. Por isso no itinerário do pri— perceptível no contato com as mulmeiro olhar sobre o ser em direção tidões modernas — para proporcionar ao Absoluto, uma etapa essencial é ao homem de nossos dias a recuperao conhecimento da verdade, fundação do equilíbrio de alma. Ao contrámentada na capacidade humana de apreender o ser. sua própria “verdade” subjetiva, in- rio de tantas ‘nostalgias induzidas’, ou letargias e depressões contemporâneHá mais: sua tese de mestrado consistente e contraditória. acentua com o Papa João Paulo II “Dentro de cada um de nós se sen- as, a nostalgia da verdade não é doloque “na vida real, essa certeza da ver- te o tormento de algumas questões es- rosa, no sentido estrito. Quanto mais dade está ainda mais gravada na alma senciais e, ao mesmo tempo, se guar- o homem contemporâneo se aproxiinfantil”; o menino “conserva um in- da na alma, pelo menos, o esboço das ma da verdade, mais a deseja; e quanquebrantável senso da verdade, indis- respectivas respostas” (João Paulo II, to mais aplaca esse apetite, mais ele se soluvelmente unido ao senso do ser”. Fides et ratio, n. 29). Sim a sede de acentua. Contudo, a busca da verdaSem embargo, como recorda o mes- verdade está profundamente enrai- de leva o espírito humano a procurar mo Papa João Paulo II (Fides et ra- zada no coração humano, que de al- também o bem. Trata-se de mais uma tio, n. 28), o homem pode ser defini- gum modo a discerniu em seu pri- etapa no caminho do primeiro olhar, do como um ente que está à procura meiro olhar, e ele a encontrará com densa e cheia de consequências”. Em síntese, “assim como o primeida verdade. E ele não deixará de se- uma facilidade tanto maior quanto gui-la, mesmo que feche os olhos pa- maior tiver sido sua fidelidade a es- ro olhar da inteligência tem como objeto o ser, e leva à verdade, o primeira a verdade real e procure fabricar se olhar. Sua formação humanística penetra nos mais difíceis e complexos temas das ciencias do espírito 34 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 34 22/10/2009 14:16:45 Obrigado, Monsenhor, por nos ter dado a feliz oportunidade de nos nutrirmos de alimento tão substancioso, por ternos permitido nos aproximarmos mais, como diz o Evangelho, dessa “fonte de água que jorrará até a vida eterna” (Jo 4, 14). Sérgio Miyazaki ro olhar da vontade conduz ao bem — ou àquilo que convém ao ser”. Como acontece com os primeiros princípios da razão especulativa, também os primeiros princípios da Lei Natural são verdades evidentes. Na precoce fidelidade do menino a esse maravilhoso entrelaçamento está o segredo de toda uma vida coerente e virtuosa. Em consequência, “reconhecer e promover os princípios morais é a única maneira de respeitar a dignidade da pessoa humana, ou seja, de promover realmente os direitos do homem, que expressam essas exigências fundamentais inscritas na natureza humana”. Que importante desafio o de sua tese para nós, educadores, independentemente de nossas próprias crenças e ideologias! Caloroso testemunho de admiração e afeto A Universidade Católica da Colômbia, particularmente nós que a representamos neste ato, aqui estamos, mais do que para entregar-lhe seu merecido título de Mestre em Psicologia, para prestar-lhe um caloroso testemunho de admiração, de afeto e de congratulações por suas carismáticas qualidades de “mestre de mestres” e por sua extraordinária obra educativa cujos ideais se respiram e “Mais do que para entregar-lhe seu merecido título, se vivem nesta acolhedora estamos aqui para prestar-lhe um caloroso testemunho casa e em todos os lugares de admiração, de afeto e de congratulações” Não foi fácil por onde se estende a maavaliar um estudo de tal ravilhosa obra dos Arautos do Evanriqueza de pensamento gelho. Sem dúvida alguma, Monsenhor, Os trechos acima citados são obdesconhecemos muito do perfil e do viamente apenas uma minúscula tesouro de mestre que existe oculto amostra do excelente trabalho elabono senhor; ignoramos, porque conrado e apresentado por Monsenhor seguimos apenas vislumbrar, a altura com vistas ao título de Mestre em e a dimensão de sua entrega pessoal Psicologia, que a Universidade Caàqueles que são ou foram seus discítólica da Colômbia hoje lhe confere pulos. O que, porém, sabemos com comprazida. certeza é que, durante os muitos anos Certamente não foi fácil, para os de consagração à sua comunidade e jurados que tiveram a seu cargo a leitura da tese apresentada, avaliar tivemos o privilégio de fazer sua de- à educação, o senhor marcou e conum estudo de tal riqueza de pensa- talhada leitura, fecundas horas de tinua marcando indelevelmente o esmento e alcance acadêmico. Conju- estudo e de reflexão. Mas foi, so- pírito de seus alunos e de seus amigar a complexa riqueza de tão valio- bretudo, uma excepcional possibi- gos da Universidade Católica de Cosas contribuições do ponto de vis- lidade de rever nossas próprias ati- lômbia que hoje temos a felicidade ta da Filosofia, da Teologia, da Psi- tudes frente ao nosso compromisso de nos reunirmos com o senhor. Por este motivo, ao conferir-lhe cologia, mas, sobretudo, da sua ad- de católicos, frente à experiência da mirável experiência como educador vida, frente ao autêntico sentido da este título, sabemos que, além de um simples reconhecimento acae guia espiritual, exigiu de nós, que educação. Que importante desafio o de sua tese para nós, educadores, independentemente de nossas próprias crenças e ideologias! Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 35 de Fátima 35 22/10/2009 14:16:48 dêmico, quiséramos que este ato se constituísse para todos, de alguma maneira, num forte laço que nos aproxime mais da semelhança e da obra do autêntico mestre que perdura além dos limites do tempo e do espaço. Daquele mestre cuja obra permanece estando ele distante ou ausente, daquele mestre em cuja recordação os discípulos se reconciliam com a vida. Em nome de todos eles, de seus estudantes e dos nossos lá na Colômbia, presentes ou ausentes, em nome da Universidade Católica da Colômbia, obrigado, Monsenhor, pelo que deu de si mesmo, de sua inteligência, de seu afeto, de seu tempo, de sua vida, de suas expectativas, de suas esperanças, mas sobretudo de “sua fidelidade ao primeiro olhar”. Que Deus continue inspirando-o e cumulando de Suas bênçãos por muitos, muitos anos mais. (Discurso pronunciado em 1/10/2009, durante a Missa de entrega do título de Mestre em Psicologia pela Universidade Católica da Colômbia a Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP – Tradução: Revista Arautos do Evangelho) “Uma maravilhosa experiência” Em entrevista à agência “Gaudium Press”, o Prof. Carlos Vargas manifestou suas impressões sobre o Seminário dos Arautos do Evangelho, no qual hospedou-se durante sua estada no Brasil. Transcrevemos abaixo alguns de seus comentários. T Julgo que vocês conseguiram atingir aquilo que parece-me ter sido sempre a meta da Liturgia da Igreja: unir, digamos assim, as possibilidades terrenas que temos, com as possibilidades que nos oferece o Senhor na Glória eterna. É certamente algo indescritível. Queira Deus, muitas outras pessoas tenham a feliz oportunidade de participar de uma Missa como essa e poder, assim, ter uma experiência pessoal como a que eu tive. ive aqui uma maravilhosa experiência vivencial. Vejo que vocês creem no homem, criatura de Deus, e por isso cuidam de seu desenvolvimento com luxo de detalhes, com notável delicadeza em tudo, com grande disciplina, com uma inteligente formação. E os efeitos dessa formação se manifestam nos produtos de arte, como também na disposição, na permanente disponibilidade de serviço. Nos poucos dias que aqui passei, pude admirar as múltiplas aplicações que — sem explicitá-las — os arautos fazem da psicologia na formação dos jovens. Vocês têm um modo de entender e de considerar o ser humano de forma integral, em suas múltiplas dimensões. Noto, por exemplo, com grande satisfação seu zelo não só pelo aspecto físico, mas também pelo espiritual: o desenvolvimento do menino, o crescimento social e tudo quanto tem a ver com a interação humana, um aspecto do qual não se cuida suficientemente em outros modelos educativos. Sérgio Miyazaki Aplicações da psicologia à formação O papel da Liturgia Ontem tive oportunidade de assistir a uma Missa solene, celebrada por Mons. João Scognamiglio Clá Dias e abrilhantada pela presença da comunidade, pela música e numerosos detalhes que realmente elevam o espírito do ser humano. 36 Dra. Martha Lozano, Dr. Carlos Vargas e Dr. Carlos Arturo Ospina cumprimentam Mons. João antes da Missa Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 36 22/10/2009 14:16:51 Uma tese de teologia sobre o “Big Bang”? Entre as teses de licenciatura em Teologia apresentadas neste ano na Universidade Gregoriana, de Roma, chamou a atenção, por sua originalidade, uma intitulada “A teologia de interpretação do ‘Big Bang’”. Seu autor, que recebeu a nota máxima — “Summa cum laude” — explica os motivos pelos quais escolheu o sugestivo tema. Pe. Eduardo Miguel Caballero Baza, EP “N a atualidade parece que a ciência nunca será capaz de levantar o véu que encobre o mistério da criação. Para o cientista que durante toda a sua vida se guiou pela crença no poder da razão, esta história termina como um pesadelo. Ele escalou as montanhas da ignorância e está a ponto de chegar ao mais alto pico; quando consegue alcançar a última rocha, é recebido por um grupo de teólogos que ali estão sentados há séculos”.1 Esse testemunho pessoal de Robert Jastrow, renomado cientista norte-americano, fundador do Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA, ilustra bem como a Teologia não está alheia às questões científicas, mas as explica e transcende. Aspecto pouco conhecido da história científica Os pioneiros das ciências naturais no século XVII, assim como muitos de seus continuadores nos séculos seguin- tes, eram homens profundamente religiosos, persuadidos de que suas investigações não passavam de uma contribuição para desvendar a obra do Criador. Basta pensar nos importantes estudos do Bispo dinamarquês Beato Niels Stensen (1638-1686) sobre geologia e mineralogia, pelos quais ele é considerado o fundador da geologia moderna. Ou nos filhos espirituais de Santo Inácio de Loyola — entre os quais o padre Athanasius Kircher (1602-1680), erudito em inúmeros campos científicos; o padre Giovanni Battista Riccioli (1598-1671), cuja enciclopédia astronômica marcou época; o padre Francesco Maria Grimaldi (1618-1663), descobridor da difração da luz; o padre Ruggero Boscovich (1711-1787), considerado o criador da física atômica fundamental — que contribuíram significativamente para as conquistas da ciência e da técnica, e foram correspondentes assíduos de cientistas influentes de sua época.2 Depois desses pioneiros, não têm faltado católicos fervorosos na vanguarda dos mais diversos campos da ciência. O francês Augustin Louis Cauchy (1789-1857) — cujo nome figura inúmeras vezes nos livros de ciências exatas, física e engenharia — era católico convicto, membro da Sociedade de São Vicente de Paulo. Um dos maiores cientistas da História, Louis Pasteur (1822-1895), foi um católico exemplar em pleno século do positivismo ateu e do racionalismo agnóstico. Seu contemporâneo, o abade agostiniano austríaco Gregor Johann Mendel (18221884), é considerado o pai da genética. O físico italiano Alessandro Volta (1745-1827), inventor da pilha elétrica,3 era homem de Missa e Rosário diários, enquanto seu contemporâneo, o cientista francês André-Marie Ampère (1775-1836), fundador da eletrodinâmica,4 tem uma obra intitulada Provas históricas da divindade do Cristianismo. E muitos outros poderiam ser citados como exemplo até nossos dias. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 37 de Fátima 37 22/10/2009 14:16:57 A ciência e a Fé se complementam Diz-se que a sã filosofia é aquela que diz coisas evidentes, mas que não são ditas por ninguém; pois bem, essa é a filosofia realista, a filosofia de São Tomás de Aquino e de tantos outros pensadores católicos. O cosmos: uma dimensão da realidade inatingível pela ciência A ciência — mesmo quando se baseie numa filosofia realista e considere o universo como contingente — deve estar consciente de que nunca poderá revelar todos os mistérios do cosmos, por mais que progrida a técnica, pois há toda uma série de dimensões da realidade que escapam completamente a seu alcance. Por isso, a ciência jamais poderá demonstrar a existência de Deus nem tampouco negá-la; simplesmente não tem autoridade para se pronunciar sobre tal matéria. Quem observa o céu estrelado com um mínimo de espírito contemplativo é naturalmente levado a formular a si mesmo uma série de perguntas para as quais a astrofísica não tem resposta: Por que existe o universo? Por que possui a ordem que observamos nele? É fruto de um projeto inteligente? Teve origem? Quando e como? Sempre foi assim como o vemos hoje? NASA / WMAP Science Team De outro lado, o Magistério Pontifício tem sido unânime em mostrar como ciência e Fé convergem para a única verdade, por vias diversas mas complementares.5 O Concílio Vaticano II confirmou isso, lembrando que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus: “A investigação metódica em todos os campos do saber, quando levada a cabo de um modo verdadeiramente científico e segundo as normas morais, nunca será realmente oposta à Fé, já que as realidades profanas e as da Fé têm origem no mesmo Deus. Antes, quem se esforça com humildade e constância por perscrutar os segredos da natureza, é, mesmo quando disso não tem consciência, como que conduzido pela mão de Deus, o qual sustenta as coisas e as faz ser o que são”.6 Ora, para ser possível uma relação frutuosa entre ciência e Fé, é necessária a mediação de uma filosofia realista, reconhecedora de que as entidades materiais observadas pela ciência são reais, que existem independentemente do observador, que possuem uma racionalidade coerente, que estão governadas por leis determinadas e que formam um todo ordenado. A ciência procura dar resposta a essas e outras perguntas do gênero por meio da cosmologia, um ramo do saber que trata, de um lado, da formação do universo, de sua estrutura e evolução (aspecto físico ou científico), e de outro, de sua origem e finalidade (aspecto filosófico-teológico). Na realidade, a cosmologia é uma disciplina fronteiriça entre as ciências naturais, a Filosofia e a Teologia. É uma ciência da totalidade, que, entre outras coisas, busca a resposta à pergunta sobre a totalidade do universo no sentido ontológico. A resposta a essa pergunta, porém, não se encontra na totalidade física do universo, que é o objeto de estudo da cosmologia, mas fora dela; a totalidade do universo encontra sua explicação somente em uma Causa superior que transcende sua realidade física. As questões relacionadas com a origem do universo e sua evolução, portanto, suscitam fortemente perguntas fundamentais como essas, que de um modo natural põem em relação à Fé e a ciência. Esta é a razão que me levou a escolher o Big Bang como tema para a tese de licenciatura em Teologia, na Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia Gregoriana, na especialidade de Teologia Fundamental, pois a Teologia não só tem o direito de dizer uma palavra no debate científico, mas, mais do que isso, sua voz é indispensável para se poder entender em profundidade a realidade do universo. Hoje os astrônomos sustentam quase unanimemente que o universo começou a expandir-se a partir de uma minúscula e incrívelmente quente bola de fogo Gráfico confeccionado pela NASA para representar a expansão do universo 38 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 38 22/10/2009 14:17:00 Aspectos filosóficos e teológicos da origem do universo Hoje, os astrônomos sustentam quase unanimemente que o universo primitivo começou a expandir-se a uma grande velocidade — num processo tão rápido quanto violento, denominado “inflação cósmica” — faz uns 13 bilhões de anos, a partir de uma minúscula e incrivelmente quente “bola de fogo”. É o denominado “modelo standard” do universo, ou “modelo do Big Bang”. Em torno desta concepção e de outros modelos cosmológicos, existe hoje em dia um aceso debate relacionado com os aspectos mais estritamente científicos, como a história térmica do universo, a causa do deslocamento para o vermelho dos es1 Cf. R. Jastrow. God and the Astronomers. New York: 1978, p. 116. 2 Entre outros com os quais mantinham frequente correspondência, cabe mencionar os seguintes: o matemático francês Pierre de Fermat (16011665), pai do cálculo di- L’Osservatore Romano Influiu também poderosamente na minha escolha o Revmo. Pe. Paul Haffner, da diocese de Portsmouth (Grã Bretanha), licenciado em Física pela Universidade de Oxford e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana, da qual é Professor convidado. Autor de mais de 30 livros e 150 artigos, estudou ele durante décadas as relações entre religião e ciência, com especial ênfase na cosmologia e na obra do Revmo. Pe. Stanley L. Jaki, OSB, que conhece em profundidade. Por fim, não foi alheia a essa escolha minha formação acadêmica de Engenheiro Aeronáutico pela Universidade Politécnica de Madri, embora nunca tenha exercido a profissão, pois, logo após o término de meus estudos, tive a graça de dedicar-me inteiramente ao serviço da Igreja. A Teologia não está alheia às questões científicas, mas as explica e transcende O autor destas linhas, sendo ainda diácono, recebe o Evangelho das mãos de Bento XVI durante a Missa do primeiro dia deste ano, na Basílica de São Pedro pectros eletromagnéticos das radiações estelares, radiação cósmica de fundo de microondas, a suposta existência da matéria escura e da energia escura, a explicação da abundância relativa dos elementos químicos que se observa no universo, a descrição do nucleossíntese estelar, bem como dos processos de formação das estrelas e das galáxias, e tantos outros. Mas o debate não se limita aos aspectos científicos da questão. Estão em jogo concepções filosóficas e teológicas da maior importância. Se o modelo do Big Bang explica a origem do universo a partir do nada, que necessidade há de um Criador? Podem ser separadas a dependência temporal do universo e sua dependência ontológica em relação ao Criador? O cosmos é autossuficiente e conduzido exclusivamente por uma causalidade cega, ou obedece à amorosa Providência Divina? ferencial; o astrônomo, matemático e físico holandês Christiaan Huygens (1629-1695), inventor do relógio de pêndulo; o alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (16461716), espírito multifacetado que formulou os princípios fundamen- Como justificar, então, a existência de leis naturais imutáveis? Por outro lado, se Deus intervém na criação, que sentido têm os fenômenos puramente casuais? Como se harmonizam a autonomia das criaturas e sua dependência essencial do Criador, imanência e transcendência? Uma das variantes do modelo do Big Bang postula uma futura contração paulatina cada vez mais rápida do universo, culminando num colapso gravitacional sobre si mesmo. Quer isso dizer que o modelo do Big Bang prevê o fim do mundo? Responder aqui a cada uma dessas perguntas alongaria demasiadamente esta matéria e me obrigaria a tratar de forma sumária um assunto rico e apaixonante. Proponho, portanto, voltar ao tema em outros artigos. Assim poderei compartilhar com nossos leitores a preparação de minha futura tese de doutorado. tais do cálculo infinitesimal; ou o britânico Isaac Newton (1642-1727), que deduziu a lei da gravidade universal. 3 4 Em sua honra, chama-se “volt” a unidade de medida da tensão elétrica. Em sua honra, denominase “ampère” a unidade de medida da intensidade da corrente elétrica. 5 Neste sentido, ver por exemplo, P. HAFFNER. Creazione e scienze. Roma: 2008, p. 1-60. 6 Constituição pastoral Gaudium et spes, 7/12/1965, n. 36. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 39 de Fátima 39 22/10/2009 14:17:01 virgendeitati.org Cerca de 350 mil pessoas, na maioria jovens, participaram em 20 de setembro da tradicional peregrinação anual à Basílica de Itatí na região ar40 Milagre atribuído à intercessão do Venerável McGivney Processo de beatificação de cofundador dos Focolares 350 mil fiéis na peregrinação para venerar a Virgem de Itatí Knights of Columbus O Arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Dom Jorge Ferreira da Costa Ortiga, confirmou que o Papa Bento XVI visitará Portugal no dia 13 de maio de 2010, a convite do Episcopado português e do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva. “O amor dos católicos portugueses ao sucessor de Pedro é um elemento-chave da nossa tradição católica e da nossa fidelidade à Igreja”, afirma o Arcebispo em seu comunicado. Esta será a quinta viagem de um Papa ao Santuário Mariano de Fátima: Paulo VI lá esteve em 1967, e João Paulo II nos anos de 1982, 1991 e 2000. tinha 22 anos, na cama de um hospital militar, sobrevivente da Primeira Grande Guerra” — informa a página web dos Focolares. Destacouse como político casto e desinteressado, que exercia sua missão parlamentar como um “serviço social, caridade em ação”. iginogiordani.info Bento XVI visitará Fátima em maio de 2010 gentina de Corrientes, segundo notícia do jornal La Nación. Dom Andrés Stanovnik, OFM Cap, Arcebispo de Corrientes, celebrou a Missa dos peregrinos. Após a cerimônia, os jovens colocaram uma oferta aos pés da imagem de Nossa Senhora de Itatí e leram um manifesto no qual expressam seus anseios e inquietações. “Queremos olhar para trás e Vos agradecer pelo que temos e corrigir os erros, mas também vamos olhar adiante para continuar desenvolvendo os valores morais e cristãos”— diz o texto. Após cinco anos de trabalhos, foi concluída a fase diocesana do processo de beatificação de Igino Giordani, jornalista, escritor e político italiano que desempenhou importante papel no desenvolvimento dos Focolares, a ponto de ser considerado por Chiara Lubich como um dos cofundadores desse Movimento. A fase diocesana concluiu-se com 2.500 páginas de atos processuais. Os censores teólogos examinaram 98 livros e mais de 4 mil artigos. E os peritos históricos analisaram 120 brochuras de escritos inéditos, somando mais de 60 mil páginas. Igino Giordani nasceu em 1894 e faleceu em 1980. “O desejo da santidade tinha-se acendido nele quando O processo de beatificação do Venerável Michael McGivney, sacerdote diocesano fundador dos Cavaleiros de Colombo, teve um importante avanço no mês de setembro. Segundo informa o site dessa instituição (www.kofc.org), um tribunal suplementar da Arquidiocese de Hartford (EUA), da qual o Pe. McGivney foi pároco, “enviou formalmente um novo relatório à Congregação para as Causas dos Santos” a respeito de um milagre atribuído à sua intercessão. Esse tribunal entrevistou várias testemunhas, inclusive médicos, que prestaram declarações sobre o fato miraculoso. “O Vaticano contará agora com um valioso testemunho adicional que acrescenta aspectos significativos à apresentação inicial”, declarou à Zenit Carl Anderson, cavaleiro supremo da Ordem. Pe. Michael McGivney, nasceu em 1852, fundou os Cavaleiros de Colombo em 1882 e faleceu em 1890. Em março de 2008 o Papa Bento Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 40 22/10/2009 14:17:17 Novo reitor do “Angelicum” O Pe. Charles Morerod, OP, foi nomeado reitor da Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino, de Roma, mais conhecida como Angelicum. Nascido na Suíça em 1961 e recebeu a ordenação sacerdotal em 1988, Pe. Morerod doutorou-se em Teologia na Universidade de Fribourg (Suíça), em 1994, e em Filosofia no Instituto Católico de Toulouse (França), em 2004. Teólogo de projeção internacional e autor de vários livros, exerce também as funções de secretário geral da Comissão Teológica Internacional e consultor da Congregação para a Doutrina da Fé. A Pontifícia Universidade São Tomás de Aquino se compõe atualmente de quatro faculdades: Teologia, Filosofia, Direito Canônico e Ciências Sociais. Fazem parte dela também o Instituto Mater Ecclesiæ, destinado à formação de catequistas e professores de Religião, e o Instituto São Tomás, para estudar especificamente a obra do Aquinate. Seu corpo docente conta com 150 professores, o corpo discente com cerca de 1600 alunos, os quais têm à sua disposição uma biblioteca de 200 mil volumes. koreaconvention.org XVI assinou o decreto de reconhecimento da heroicidade de suas virtudes, o que lhe confere o título de Venerável. Reaberto ao público o Museu dos Mártires Coreanos Após dez anos de reformas e remodelação, reabriu suas portas o Museu dos Mártires Coreanos em Seul (Coreia do Sul). Ciclos de palestras sobre informação religiosa O iics.org.br O segundo, Gestão da CoInstituto Internacional municação na Igreja, visou de de Ciências Sociais promodo especial as pessoas que moveu em São Paulo, de 8 a trabalham nas assessorias de 11 de setembro, dois ciclos de comunicação das dioceses e palestras dedicadas a aperfeiparóquias. Surgiu da necesçoar e enriquecer o noticiário sidade de “informar corretasobre temas religiosos. mente aos meios de comunicaO primeiro, intitulado Inção o que acontece na Igreja”, formação Religiosa de Quaesclareceu Di Franco. lidade, destinou-se a perioEntre os participantes, desdistas especializados. “Quetacou-se a presença do Carderemos oferecer aos jornalisProf. Carlos Alberto Di Franco al Odilo Scherer, Arcebispo tas que cobrem as notícias da Igreja informações técnicas e precisas de como funciona de São Paulo; de Dom Orani João Tempesta, Arcebisa Religião. Boa parte das notícias hoje divulgadas con- po do Rio de Janeiro; do Prof. Juan Manuel Mora, vicetém informações erradas, por falta de conhecimento do reitor da Universidade de Navarra (Espanha); e do Prof. ambiente da Igreja”, explicou o Prof. Carlos Alberto Di Diego Contreras, diretor da Faculdade de Comunicação da Pontifícia Universidade de Santa Cruz, de Roma. Franco, coordenador dos eventos. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 41 de Fátima 41 22/10/2009 14:17:33 cerdotes das diversas dioceses representadas na Romaria. Outros pontos importantes do programa foram a caminhada até a Basílica da Mãe das Dores e a palestra de Dom Eugênio sobre A mística da Romaria. 50º Congresso Eucarístico Internacional O Comitê para os Congressos Eucarísticos Internacionais, da Santa Sé, divulgou em 22 de setembro a aprovação do Papa Bento XVI ao tema e a data do 50º Congresso Eucarístico Internacional. Sob o lema A Eucaristia: comunhão com Cristo e entre nós, o Congresso se realizará em Dublin (Irlanda), de 10 a 17 de junho de 2012. Este lema encontra inspiração direta na Constituição Dogmática Lumen Gentium. “Ao participar realmente do Corpo do Senhor, na fração do Pão Eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós”, explicou à Rádio Vaticano o Arcebispo da capital irlandesa, Dom Diarmuid Martin. Participaram da cerimônia o governador de Goiás, Ademir Menezes, o Arcebispo de Brasília, Dom João Braz de Aviz, além de diversos Bispos e reitores de universidades. Fundada em 1959, a Pontifícia Universidade Católica de Goiás possui cinco campi: quatro em Goiânia e um em Ipameri, no interior do estado. Oferece cinquenta cursos de graduação, setenta especializações, quinze mestrados e três doutorados. Dispõe de uma biblioteca com 212 mil obras, centro de idiomas, um canal de TV aberta, quatro centros de pesquisas e quatro clínicas-escola na área de saúde. www.champagnat.org “É um lugar de extraordinária importância para fazer conhecer a história da Igreja na Coreia e a Fé de nossos predecessores”, declarou à agencia Fides o Cardeal Nicholas Choeng, Arcebispo de Seul. O Museu-Santuário — assim designado porque contém também locais para oração — foi construído em 1967 no local onde morreram vários mártires no período de 1866-1873, quando milhares de católicos foram vítimas de uma feroz era de perseguição. Nele os visitantes encontram documentos históricos, reconstruções visuais, fotografias, imagens e vídeos que ajudam a refletir, despertar ou renovar a Fé. Ainda segundo Fides, o anúncio do Evangelho chegou à Coreia no início do século XVII, graças ao apostolado de alguns leigos que formaram uma forte e fervorosa comunidade. Esta comunidade cristã sofreu duras perseguições, que fizeram mais de 10 mil mártires, 103 dos quais foram canonizados em 1984. ucg.br cnbb.org.br Novo Superior Geral dos Irmãos Maristas Romaria de cinco mil catequistas Sob o tema A catequese como caminho para o discipulado, realizou-se em 27 de setembro na cidade de Juazeiro do Norte (CE) a 2ª Romaria dos Catequistas do Regional Nordeste I da CNBB. Dela participaram 5 mil catequistas da Arquidiocese de Fortaleza e das dioceses de Itapipoca, Quixadá, Crateús, Tianguá, Sobral, Iguatu, Limoeiro do Norte e Crato. O Bispo de Goiás (GO) Dom Eugênio Rixen, presidiu a Missa oficial do encontro, concelebrada pelos sa42 Brasil tem mais uma Universidade Pontifícia Em solenidade realizada no dia 9 de setembro, o prefeito da Congregação para a Educação Católica, Cardeal Zenon Grocholewski, entregou ao reitor da Universidade Católica de Goiás, Wolmir Amado, os documentos pelos quais a Santa Sé confere a esta instituição de ensino o reconhecimento de Universidade Pontifícia. Foi escolhido Superior Geral do Instituto Marista o Irmão Emili Turú, natural da Catalunha, Espanha. A eleição ocorreu durante o 21º Capítulo Geral, realizado em Roma de 8 de setembro a 10 de outubro. Participaram da votação 83 irmãos capitulares. Da grande família marista fazem parte um pouco mais de 3.700 irmãos, em torno de 43.000 professores, administradores e colaboradores leigos, atuando em 79 países na educação de mais de 660.000 crianças e jovens em centros de assistência social, colégios de vários níveis e centros universitários. O Irmão Emili Turú, 13º sucessor de São Marcelino Champagnat, nasceu em 1955 e iniciou sua vida marista em 1968. É professor de Teologia, foi provincial da Catalunha e, desde 2001, Conselheiro Geral do Instituto. Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 42 22/10/2009 14:17:47 Santa Sé condecora Madre Angélica O EWTN.com Papa Bento XVI outorgou à Madre Angéli- de Nossa Senhora dos Anjos, e em 1981, instalou na ca, fundadora do Eternal Word Television Ne- garagem desse mosteiro o primeiro estúdio do canal twork (EWTN), e ao Diácono Bill Steltemeier, colabo- de televisão católico EWTN, o qual hoje leva sua menrador dessa instituição, a medalha Pro Ecclesia et Pon- sagem de Fé a mais de 150 milhões de lares de mais de 140 países. Com sua retifice. A entrega foi feide de televisão via satélita pelo Bispo de Birminte, cadeias de rádio AM gham (EUA), Dom Roe FM, web site e editobert J. Baker, em cerimôra, EWTN é a maior renia realizada no Santuário de de difusão católica do do Santíssimo Sacramento mundo. em Hanceville (EUA), em O diácono William 4 de outubro. Steltemeier, 80 anos, Rita Antoinette Franabandonou uma promiscis Rizzo, internaciosora carreira de advoganalmente conhecida codo para cooperar com mo Madre Angélica, tem Madre Angélica quan86 anos e pertence desdo o canal EWTN estade 1944 à Congregação va em seu início. Atualdas Clarissas Pobres da D. Robert Baker (ao centro), Diác. Bill Steltemeier e mente preside o ConseAdoração Perpétua. Em M. Margaret Mary, que representou a M. Angélica lho Diretivo da rede. 1961, fundou o Mosteiro Ano jubilar da Igreja no Vietnã Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé. Victor Toniolo Fides – 2010 será um ano jubilar para os católicos no Vietnã: a Igreja vietnamita celebrará o 50° aniversário da instituição da Hierarquia e, ao mesmo tempo, os 300 anos da chegada do Cristianismo ao país. Entre as iniciativas que nascem em vista do Ano Jubilar, foi já anunciado e programado o evento culminante do Ano: o Congresso Nacional que se realizará em Hué de 7 a 10 de outubro de 2010. O congresso será ocasião para avaliar a vida e a missão da Igreja no Vietnã, marcada novamente, nos últimos meses, por alguns episódios de difíceis relações com as autoridades civis locais. No Ano Jubilar serão lembrados alguns missionários que deram uma importante ajuda à evangelização do país, como Pe. Cardière, das Missões Exteriores de Paris, e o Pe. Alessandro de Rhodes, jesuíta. Processados por rezar no colégio Dom Odilo Scherer no Pontifício Conselho para a Família O Arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Scherer, foi nomeado em 30 de setembro membro do Comitê de Presidência do Pontifício Conselho para a Família. O Cardeal Odilo Scherer é membro também da Congregação para o Clero, da Pontifícia Comissão de Vigilância sobre o Instituto para as Obras de Religião (IOR) e do Conselho do Sínodo dos Bispos; e de dois importantes órgãos da CNBB: o Conselho Permanente e a Comissão O diretor e um funcionário categorizado de um colégio da cidade de Santa Rosa (Flórida, EUA) foram processados por terem violado uma ordem judicial que proíbe fazer orações nos estabelecimentos escolares. Ambos ficaram sujeitos a multa, prisão e perda de benefícios de aposentadoria. Em 28 de janeiro deste ano, Frank Lay, diretor da Pace High School, de Santa Rosa, pediu a Robert Freeman, diretor de atletismo, que fizesse uma rápida oração antes de iniciar um almoço em homenagem aos doadores que contribuíram para a construção das instalações desportivas do colégio. Freeman atendeu ao pedido do diretor. A American Civil Liberties Union (ACLU) acusou os dois de terem, Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 43 de Fátima 43 22/10/2009 14:18:00 A família, sujeito da Evangelização O Pontifício Conselho para a Família promoveu em Roma, nos dias 10 e 11 de setembro, um seminário sobre o tema Família, sujeito da evangelização. Dele participaram numerosos casais provenientes de diversos países, bem como sacerdotes comprometidos com a pastoral familiar. Na primeira conferência, o subsecretário do Pontifício Conselho para a Família, Mons. Carlos Simón Vázquez, discorreu sobre os documentos do Magistério da Igreja a respeito da matéria em estudo. Constaram também no programa três seções de testemunhos: Experiências na paróquia, Experiências nos Movimentos e Experiências nas Associações Familiares. Madri espera dois milhões de jovens para a JMJ Em entrevista ao jornal ABC, o Cardeal Antonio Rouco Varela, Arcebispo de Madri, calcula que nada menos de dois milhões de jovens estarão 44 com o Papa na XXVI Jornada Mundial da Juventude, a realizar-se em agosto de 2011, na capital espanhola. Para milhares de jovens, as JMJ “significaram um reencontro com a Fé, outros nelas descobriram sua vocação, e todos vislumbraram modos de ser jovem, de querer viver com dignidade, nobreza e horizontes claros” — explicou o Cardeal Rouco Varela. testimoni.org com essa ação, desacatado uma ordem judicial exarada no ano de 2008. Levados a julgamento no dia 17 de setembro, Lay e Freeman alegaram que a oração “criminosa” havia sido fruto de um ato inadvertido de sua parte, e assim acabaram sendo absolvidos pela juíza federal Margaret Casey Rodgers. Entretanto, a juíza advertiu que o diretor, Frank Lay, “tem a responsabilidade de dar o bom exemplo” e, permitindo a oração, “abriu um triste precedente”. que se estendeu rapidamente por toda Palestina. Governo cubano autoriza Missas nas prisões Após 50 anos de implantação do regime castrista em Cuba, Raúl Castro autorizou que as instituições religiosas celebrem Missas e cultos nos cárceres desse país, informa a agência argentina Infobae. A permissão entrou em vigor no mês de setembro, para os presos que solicitem a celebração nas respectivas celas. De acordo com o Infobae, essa medida é indício de uma aproximação entre a Igreja e o governo comunista cubano, já que a celebração de Missas nos cárceres é uma reivindicação “histórica” dos religiosos. O próprio Cardeal Tarcisio Bertone, Secretário de Estado da Santa Sé, tratou desse assunto com Castro, em sua viagem a Cuba no ano passado. Madre Maria Alfonsina será beatificada “Jesus Cristo e a Igreja” atinge mais de um milhão de “downloads” Os católicos da Terra Santa se preparam para a beatificação da Madre Maria Alfonsina Danil Ghattas, cofundadora das Dominicanas do Santíssimo Rosário de Jerusalém, que se realizará no dia 22 deste mês, na Basílica da Anunciação de Nazaré. “Esperamos com entusiasmo este dia. Estamos nos preparando não somente no âmbito organizativo, mas também, e sobretudo, no espiritual” — informou à Rádio Vaticano a secretária geral da Congregação, Irmã Ildefonsa. Maryam Soultaneh Danil Ghattas nasceu em 4 de outubro de 1843, em Jerusalém, onde faleceu em 25 de março de 1927. Ingressou na vida religiosa aos 14 anos, na Congregação das Irmãs de São José da Aparição. Em 1880 fundou, junto com o sacerdote Joseph Tannous, a Congregação das Irmãs Dominicanas do Santíssimo Rosário de Jerusalém, Um documento contendo resposta às 54 perguntas mais frequentes sobre Jesus Cristo e as origens da Igreja já ultrapassou a cifra de um milhão de “downloads”, contando apenas sua versão original em espanhol. O texto foi preparado por um grupo de professores do Departamento de Sagrada Escritura da Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra (Espanha) sob a direção de Francisco Varo e responde questões tão variadas como: Em que idioma falou Jesus? Como foram escritos os Evangelhos? Quais são as diferenças entre os evangelhos canônicos e os apócrifos? Quem foram os fariseus, saduceus, zelotes e essênios? Intitulado Jesucristo y la Iglesia, o estudo está disponível para descarga em http://www.opusdei.es/art. php?p=15203, nos formatos HTML e PDF. Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 44 22/10/2009 14:18:12 FALECE MONS. ANGELO DI PASQUALE Uma página viva da História da Igreja N o dia 2 de outubro, festa dos Santos Anjos da Guarda, faleceu em Roma o Mons. Angelo Di Pasquale, aos 84 anos de idade, após mais de seis décadas de fecundo ministério sacerdotal. Cerimonário de cinco Papas e cônego da Basílica de São Pedro Nascido em Gênova no dia 4 de janeiro de 1925, foi ordenado sacerdote em 1948 e, já no ano seguinte, convidado a colaborar na Secretaria de Estado da Santa Sé, onde trabalhou durante 41 anos. De 1955 até 1997 serviu como Cerimoniário Pontifício a cinco Papas (Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I e João Paulo II), e nessa função esteve presente a quatro conclaves. Em 1997, o Papa João Paulo II o nomeou Protonotário Apostólico e Cônego honorário da Basílica de São Pedro, no Vaticano. Essa longa experiência a serviço do Vaticano, somada à sua prodigiosa memória, fez com que ele fosse qualificado de “uma página viva da História da Igreja”. Reitor de San Benedetto in Piscinula Arquivo pessoal Mons. Di Pasquale David Domingues Em 2003, o Vicariato de Roma confiou aos Arautos do Evangelho a igreja de San Benedetto in Piscinula, da qual o Mons. Di Pasquale era reitor havia mais de 20 anos. Pode-se dizer que começou, naquele momento, uma nova etapa da existência do ilustre sacerdote. Castigado pelo passo dos séculos, o histórico templo precisava de urgentes reformas e os arautos se encarregaram delas. Entre outras muitas tarefas, foram consolidados os muros, reparados o telhado e as paredes internas do templo e recuperados os belos afrescos medievais. Mais importante do que isso, as celebrações litúrgicas passaram a ser cada vez maismais frequentes e o culto tomou nova vida. “Considero um verdadeiro dom da Virgem de Fátima, eu ter comigo, em San Benedetto in Piscinula, os caríssimos Arautos do Evangelho”, dizia Monsenhor Di Pasquale em carta dirigida ao Mons. João Scognamiglio Clá Dias. Entre o Mons. Di Pasquale e os Arautos do Evangelho nasceu assim uma sólida amizade da qual são testemunha estas palavras por ele escritas ao Fundador dos Arautos: “Considero um dom especial da Providência Divina ter encontrado e conhecido o senhor e os Arautos, colaborar nas suas atividades pastorais, dar a conhecer a instituição e seu carisma, na fidelidade à Igreja e ao Papa. E sinto-me feliz e honrado por poder oferecer a minha modesta, mas total, disponibilidade na difusão do Reino de Cristo, de justiça, amor e paz”. Acima, Mons. Di Pasquale com o Servo de Deus João Paulo II, durante uma de suas últimas atuações como cerimoniário; à direita, em janeiro deste ano, presidindo uma cerimônia de Recepção de Cooperadores, em San Benedetto in Piscinula Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 45 de Fátima 45 22/10/2009 14:18:24 HISTÓRIA PARA CRIANÇAS... OU ADULTOS CHEIOS DE FÉ? Salvo por um amigo invisível M atilde era uma jovem senhora, conhecida em toda a aldeia por sua caridade. Em sua casa, os mais necessitados sempre encontravam o que comer e suas roupas eram lavadas e remendadas com carinho. Além disso, a boa mulher procurava ensinar-lhes algum ofício para ajudá-los a sair da miséria. Seu filho Mateus ainda não completara quatro anos. Matilde o educava com ternura e desvelo incomparáveis. Desde muito cedo, ensinou-lhe a se encomendar sempre ao Anjo da Guarda antes de sair de casa. E o menino, piedoso e obediente, tomou por costume fazê-lo até quando saía ao jardim para brincar com o gato Mimoso. Gostava de repetir de memória, com as mãozinhas postas sobre o peito, a oração que a mãe 46 Edith Petitclerc Aquela megera havia batido em Mateus com tanta força que o menino decidira fugir. Mas as janelas tinham grades e as portas estavam bem trancadas... Como sair da espelunca? Stefanie Ellis Wegley lhe ensinara: “Meu Anjo da Guarda, minha doce companhia, tu és o meu guarda e meu vigia. Meu Santo Anjo, meu grande Amigo, dize ao Senhor que quero ser bom e que sempre permaneça comigo. Guia-me pelo bom caminho, com todos os meus queridos. Amém”. Uma manhã ensolarada de inverno, Matilde ausentou-se de casa para atender a uma enferma. Mateus foi brincar ao ar livre com o gatinho e, antes de fazê-lo, encomendou-se ao seu guardião celestial. Quando mais entretido estava com seus jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente, chamou-o do outro lado do muro. Mimoso não gostou dela: retesou o corpo, mostrou as unhas e rosnou ameaçador. Mas Mateus o aquietou. Não era mamãe sempre bondosa com todos os que dela se aproximavam? Não tinha lhe ensinado a ser gentil com os desconhecidos? Aproveitando a boa acolhida, a inesperada visitante logo começou uma conversa. Elogiou a beleza das plantas do jardim, o bem arranjado dos muros e janelas e, adivinhando logo o ponto fraco de Mateus, louvou o quanto pôde a dona da casa, afirmando que deveria ser, certamente, uma senhora muito afetuosa e diligente. Conquistado o menino, a mulher lhe pediu para abrir o portão, ao que ele acedeu sem nenhuma desconfiança. Já dentro do quintal, aquela megera esforçou-se por tornar a conversa mais atraente. Indagou pelo nome da mãe, e perguntou a Mateus se não estava sentindo saudades dela. — Sim! — respondeu ele em seguida. Mamãe sai muito pouco de casa sem mim... Quando o faz, me sinto tão sozinho! Aparentando ter ficado emocionada pelas palavras do menino, a desco- Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 46 22/10/2009 14:18:35 nhecida osculou-o com fingido cari- quial. Ali, uma senhora banhou-o, deu- nha doce companhia, tu és o meu nho, e ofereceu-se a levá-lo até “on- lhe alimento e deixou-o dormir até re- guarda e meu vigia...” — e descobriu, então, que o cadeado de uma porteide estava sua mãe”. Mateus deu um cuperar completamente as forças. Quando, depois de algumas ho- ra lateral não tinha sido fechado... pulo de alegria, estendeu sua mãoziAo ouvir a prece, o rosto do frade ras, o menino despertou, frei Leonha e se dispôs a acompanhá-la. A boa Maria, ajudante de Matil- nardo perguntou-lhe seu nome, de se iluminou, e pediu ao menino para de, que se encontrava na cozinha, nem onde era, como se chamavam seus repeti-la. Não era aquela a cândida e chegou a ver aquela cena. Afanava-se pais. O pobrezinho, porém, ainda piedosa oração que rezavam as criannesse momento em preparar uma de traumatizado, pouco sabia respon- ças de uma aldeia próxima, na qual tisuas deliciosas empadas de espinafre e der. Só lembrava de ter por nome nha pregado missões há alguns meses? cenoura que tanta fama lhe traziam... Mateus. Falava do seu gatinho Mi* * * No dia seguinte, a notícia chegou moso, do lindo jardim em que cosmas que tanto trabalho lhe davam. ao povoado de Matilde. Ainda estava em plena Um menino chamado Mafaina quando Matilde retorteus havia sido encontranou e chamou pelo menino: do numa cidade não mui— Filhinho! Meu bem! to distante dali. Estava sujo Mamãe já voltou! e maltrapilho, mas não feNinguém respondia... rido, nem aleijado. Só falaMatilde insistiu, mas o va de um gatinho chamado silêncio continuava. ApeMimoso e tinha saudades nas se ouviam na casa o de sua mãe, que, segundo bater de panelas de Maria ele, era muitíssimo bondoe os estranhos rosnados de sa. Frei Leonardo, o monge Mimoso, nervoso por alguque estivera pregando ali ma razão desconhecida. na aldeia durante a primaA cozinheira, percebenvera, tinha-o encontrado do que algo estranho se hana praça, e estava tomando via passado, teve um palpiconta dele... te e ficou gelada. Não tinha Matilde não teve dúvivisto passar duas vezes peda. Era o seu filhinho! Tila frente da janela uma munha de sair logo ao seu enlher loura, de esquisito sorcontro! riso? O que fazia ela por perto da casa? Não teria al* * * O abraço entre Matilgo a ver com a desaparição Quando mais entretido estava Mateus com seus de e Mateus foi mais do da criança? jogos, uma mulher loura, de fisionomia sorridente, que longo, quase intermi* * * chamou-o do outro lado do muro nável. Não paravam de se Dias depois, numa cidade não muito distante daquela aldeia, tumava brincar e, sobretudo, de sua fitar e se agradar, e só de vez em apareceu um menino sujinho, mal- extremosa mãe, doce e amorosa co- quando cessavam momentaneamente seus mútuos carinhos, para trapilho, cansado e com fome. Sen- mo nenhuma outra. tou-se na praça da Matriz, debaixo de Narrou também como era feliz juntos agradecerem a frei Leonaruma grande árvore, e ali ficou cho- com ela, até que uma mulher má o do ter cuidado com tanto esmero rando. Era de manhã muito cedo e arrancou da casa materna, trancan- do pobre menino. Chegada a hora da partida, o bom não havia ninguém na rua, mas seus do-o numa suja espelunca, da qual só soluços não passaram despercebidos saía para pedir esmolas. Nessa noite, frade os reteve um instante. Levoupara frei Leonardo, que acabava de aquela megera havia batido nele com os à igreja matriz, ajoelhou-se com eles diante do Santíssimo Sacramencelebrar a Santa Missa. Saiu o frade tanta força, que tinha decidido fugir. da igreja para ver o que acontecia. As janelas eram muito estreitas to e fê-los prometer solenemenAo se deparar com uma tão jovem e tinham grades. As portas estavam te que nunca deixariam de ter devocriança, de grandes e vivos olhos ne- bem trancadas. Mas rezou uma vez ção àquele amigo invisível que salvagros, inchados de tanto chorar, tomou- mais a oração que sua mãe lhe ensi- ra Mateus do infortúnio: o Anjo da se de pena e levou-o para a casa paro- nara — “Meu Anjo da Guarda, mi- Guarda! Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 47 de Fátima 47 22/10/2009 14:18:41 OS SANTOS DE CADA DIA _________ 1. Solenidade de Todos os Santos. Beato Teodoro Jorge Romzsa, Bispo e mártir (†1947). Por ter conservado a fidelidade à Igreja, foi vítima de um atentado em Mukacevo, Ucrânia, e posteriormente, envenenado no hospital. 2. Comemoração dos fiéis defuntos. Santa Vinfreda, virgem (†séc.VII). Instruída por seu tio São Beuno, progrediu rapidamente na prática da virtude, abraçando a vida monacal em Holywell, País de Gales. 3. São Martinho de Porres, religioso (†1639). São Joanício, monge (†846). Abandonou o exército imperial para viver como eremita no Monte Olimpo e depois ingressou “São Martinho de Tours” Catedral de Colmar (França) no mosteiro de Antidium, Turquia. Defendeu o culto das imagens e é autor de diversos ícones em honra da Virgem Maria. 4. São Carlos Borromeu, Bispo (†1584). Beata Francisca de Amboise, religiosa (†1485). Desposada com Pedro II, duque da Bretanha, ambos mantiveram castidade perfeita de comum acordo. Após ficar viúva, fez-se carmelita e fundou os mosteiros de Bondón e Nantes, na França. 5. Beato Bernardo Lichtenberg, presbítero e mártir (†1943). Vigário capitular da Catedral de Berlim, por ter denunciado os abusos nazistas, passou dois anos encarcerado e morreu a caminho do campo de Dachau, após muitos sofrimentos. 6. São Winoco, abade (†716). Discípulo de São Bertino no mosteiro de Sithiu, próximo de Saint Omer, França, fundou e regeu o cenóbio de Wormhoudt. 7. Beato Antônio Baldinucci, presbítero (†1717). Religioso jesuíta, desejou muito ser missionário no Oriente, mas, por sua débil saúde, foram-lhe confiadas as missões na Itália, nas quais obteve notável êxito por seu exemplo de virtude e suas ardorosas pregações. Sergio Hollmann 8. XXXII Domingo do Tempo Comum. São Godofredo, Bispo (†1115). Abade beneditino eleito Bispo de Amiens, França. Sofreu muito para apaziguar as disputas entre os governantes e a população da cidade, e para reformar os costumes do clero e do povo. 9. Dedicação da Basílica de Latrão. 48 Beata Joana de Signa, virgem (†1307). Ainda na juventude, abandonou a vida pastoril e viveu cerca de 40 anos como reclusa numa cela próxima ao rio Arno, na Itália. 10. São Leão Magno, Papa e doutor da Igreja (†461). Beato Acisclo Pina Piazuelo, mártir (†1936). Religioso da Ordem de São João de Deus, assassinado em Barcelona por ódio à Religião, na Guerra Civil Espanhola. 11. São Martinho de Tours, Bispo (†397). São Verano, Bispo (†séc. V). Governou com sabedoria e santidade a diocese de Vence, França, e apoiou a carta de São Leão Magno contra o monofisismo. 12. São Josafá, Bispo e mártir (†1623). Beato João Cini da Paz, penitente (†1335). Depois de cometer um crime, arrependeu-se e tornouse terciário penitente franciscano. Seu exemplo atraiu muitos jovens para a Congregação dos Eremitas Terciários Franciscanos, por ele fundada. 13. São Nicolau I, Papa (†867). Consolidou a autoridade do Romano Pontífice em toda a Igreja. 14. São Lourenço O’Toole, Bispo (†1180). Arcebispo de Dublim, Irlanda, reformou a disciplina eclesiástica e empenhou-se em obter a concórdia entre os príncipes. 15. XXXIII Domingo do Tempo Comum. Santo Alberto Magno, Bispo e doutor da Igreja (†1280). São Rafael de São José Kalinowski, presbítero (†1907). Engenheiro militar, participou da insurreição Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 48 22/10/2009 14:18:54 ____________________ NOVEMBRO 16. Santa Margarida da Escócia, rainha (†1093). Santa Gertrudes, virgem (†1302). Beato Eduardo Osbaldeston, presbítero e mártir (†1594). Sacerdote de Yorkshire, Inglaterra, executado durante o reinado de Isabel I por exercer seu ministério. 17. Santa Isabel da Hungria, religiosa (†1231). Santo Hugo, abade (†séc.XII). Discípulo de São Bernardo de Claraval, enviado a fundar os mosteiros cistercienses na Itália. 18. Dedicação das Basílicas de São Pedro e São Paulo, Apóstolos. Beata Carolina Kózka, virgem e mártir (†1914). Jovem catequista da paróquia de Zabawa, Polônia. Morreu aos 16 anos, durante a Primeira Guerra Mundial, resistindo a um soldado que atentava contra sua castidade. 19. Santos Roque González, Afonso Rodríguez e João del Castillo, presbíteros e mártires (†1628). São Barlaão, mártir (†303). Fervoroso cristão de Antioquia, condenado por ter muitas vezes recusado-se a queimar incenso aos ídolos. 20. São Cipriano de Calamizzi, abade (†1190). Médico de rica família, abandonou tudo e ingressou no mosteiro do Santíssimo Salvador de Calanna, Itália. Eleito abade de São Nicolau em Calamizzi, foi severo consigo mesmo, generoso com os pobres e bom conselheiro para todos. 21. Apresentação de Nossa Senho- ra. São Rufo. Discípulo de São Paulo e por ele qualificado de “eleito no Senhor”, na epístola aos Romanos. 22. Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo. Santa Cecília, virgem e mártir (†séc. II). Beato Tomás Reggio, Bispo (†1901). Arcebispo de Gênova, Itália, e fundador da Congregação das Irmãs de Santa Marta. Empenhouse na formação do clero e valorização do apostolado leigo. 23. São Clemente I, Papa (†séc. I). São Columbano, abade (†615). Beato Miguel Agostinho Pro, presbítero e mártir (†1927). Sacerdote jesuíta, condenado sem processo e fuzilado no México durante a perseguição contra a Igreja. 24. Santo André Dung Lac, presbítero, e companheiros, mártires (†1625-1886). São Porciano, abade (†532). Jovem escravo que, guiado pela Providência, encontrou a liberdade num mosteiro da região de Clermont-Ferrand, França, do qual se tornou monge e depois abade. 25. Santa Catarina de Alexandria, virgem e mártir (†séc. III). São Moisés de Roma, presbítero e mártir (†251). Junto com o colégio presbiteral, cuidou da Igreja após o martírio do Papa São Fabiano. Passou longo tempo no cárcere antes de testemunhar com o próprio sangue sua fé em Cristo. 26. Beata Caetana Sterni (†1889). Enviuvou-se muito jovem e fundou a Congregação das Irmãs da Divina Vontade, para assistência aos pobres e enfermos. ©santiebeati.it lituano-polonesa contra a Rússia, foi capturado e condenado a trabalhos forçados. Posto em liberdade, tornou-se carmelita e dedicou-se ao ministério da Confissão e à expansão da ordem na Polônia. Beata Caetana Sterni 27. Beato Bernardino de Fossa, presbítero (†1503). Religioso franciscano nascido em Fossa, Itália, pertencente à antiga e nobre família dos Amici. Autor de obras ascéticas e cronista da ordem, foi Padre Provincial da região dos Abruzos e da Dalmácia e Bósnia. 28. Beato Tiago Thomson, presbítero e mártir (†1582). Executado em York, Inglaterra, durante as perseguições de Isabel I da Inglaterra, depois de haver reconduzido muitas almas à Igreja. 29. I Domingo do Advento. São Francisco Antonio Fasani, presbítero (†1742). Religioso franciscano, Mestre em Teologia e professor de Filosofia em Lucera, Itália, distinguiu-se como pregador e foi, por três anos, foi provincial de Sant’Angelo na Apulia. 30. Santo André, Apóstolo. São Galgano Guidotti, eremita (†1181). Após uma juventude devassa, viveu como penitente numa ermida sobre o monte Siepi, na Toscana, Itália. Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 49 de Fátima 49 22/10/2009 14:19:04 A Grand-Place de Bruxelas Guy Gabriel de Ridder Getty Images Dir-se-ia que seus esplendorosos edifícios foram construídos para manifestar o bom gosto de ilustres príncipes ou ostentar a riqueza de grandes potentados. A realidade, entretanto, é bem diversa... 50 Flashes de Fátima · Novembro 2009 _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 50 22/10/2009 14:19:16 Gettyimages A o apreciar a Grand-Place de Bruxelas, na Bélgica, compreende-se o motivo pelo qual Victor Hugo a considerava a mais bela do mundo. Composta de esplendorosos edifícios harmônicos entre si, causa ela uma impressão das mais agradáveis pela distinção e nobreza do conjunto. Dir-se-ia tratar-se de uma catedral com sua alta torre, cercada de palácios que se aconchegam a seu redor, cada qual procurando manifestar o bom gosto do ilustre príncipe ou a riqueza do grande potentado que mandou construí-lo. A realidade, entretanto, é bem diversa: a maior parte desses belos edifícios eram sedes de corporações de ofício, erguidos em torno do Hôtel de Ville, ou seja, em termos atuais, sedes de sindicatos de trabalhadores manuais e do comércio, cercando a Prefeitura Municipal. Para o homem moderno, talvez seja difícil imaginar algo assim, mas a Grand-Place é bem um símbolo da dignidade que cercava o exercício das atividades dos artesãos, trabalhadores e comerciantes na baixa Idade Média. As corporações de ofício foram se constituindo na Europa, a partir do século XII, tendo em vista a necessidade que os artesãos e trabalhadores no comércio sentiam de preservar a identidade da respectiva categoria profissional. Perante seus próprios associados, a corporação exercia o papel de reguladora da boa qualidade dos serviços, dos preços dos produtos, da margem de lucro, da aprendizagem, etc. Perante o poder público, e também de outras associações particulares, ela era o órgão de defesa dos interesses de seus afiliados. Em Bruxelas, concretamente, as corporações acabaram por tornar-se um símbolo da autonomia burguesa face ao governo dos Duques de Brabante. Nem todos os atuais edifícios são os originais: vários foram reconstruídos após o bombardeio das tropas francesas de Luís XIV, que arrasaram, em 1695, a maior parte das construções medievais. A casa do Rei, por exemplo, foi reerguida em 1873, em estilo neogótico. Um costume relativamente recente tem contribuído a realçar de forma especial a beleza desse ímpar conjunto arquitetônico. Desde 1976, a cada dois anos, no dia 15 de agosto, um magnífico tapete composto de cerca de um milhão de begônias de vivas cores, cobre o piso da praça, proporcionando um espetáculo verdadeiramente feérico! Novembro 2009 · Flashes _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 51 de Fátima 51 22/10/2009 14:19:25 “Nossa Senhora das Graças” Casa de Nossa Senhora da Divina Providência, Mairiporã (SP) Luis María B. Varela E _Flashes_de_Fatima_78_RAE95.indb 52 nquanto Maria vos sustenta, não caís; enquanto vos protege, não temeis; enquanto vos conduz, não vos fatigais; e, sendo-vos propícia, chegareis ao porto da salvação. (São Bernardo de Claraval) 22/10/2009 14:19:35
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