C1 - WordPress.com

Transcrição

C1 - WordPress.com
C1
%HermesFileInfo:C-1:20141223:
O ESTADO DE S. PAULO
TERÇA-FEIRA, 23 DE DEZEMBRO DE 2014 ANO XXVIII – Nº 9684
Caderno2
JOE COCKER ★ 1944 ✝ 2014
Glorioso. Transfiguração
pessoal do soul, blues, mas
havia também um
condimento de funk que
eletrificava a plateia
a
d
o
d
n
O fu
z
o
v
a
alma n
TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 29/3/2012
Morre, aos 70 anos, o cantor inglês que mudou paradigmas de interpretação no mundo pop
Jotabê Medeiros
O cantor inglês Joe Cocker, um
dos maiores intérpretes da música moderna internacional,
morreu ontem, aos 70 anos, em
sua casa em Crawford, no Colorado. Ele tinha câncer no pulmão. A morte foi confirmada
por seu agente, Barrie Marshall.
Ele se tornou universalmente
conhecido ao cantar uma versão de With a Little Help From
my Friends, dos Beatles, no Festival de Woodstock, em 1969.
Sua voz rouca, seu estilo trágico
e sua interpretação lancinante
criaram novos paradigmas para
a interpretação na música pop.
“Não sei por que escolhi With a
Little Help From My Friends –
eu queria uma bem conhecida
e meio que espremer ela, sacou? Era o último número do
show e senti que tínhamos nos
comunicado com alguém”, ele
disse, sobre a canção que o projetou mundialmente.
Em 1975, uma outra interpretação dele, You Are So Beautiful,
se tornou novo hit planetário, e
em 1983 ele ganhou um Grammy pelo single Up Where We Belong, um dueto com Jennifer
Warnes. Em 2007, ele recebeu
uma comenda do governo britâ-
nico no Palácio de Buckingham
por sua contribuição à música.
Sua última passagem pelo
Brasil foi em 2012, quando se
apresentou para 5 mil pessoas
na Vila Olímpia. Havia então
21 anos que não cantava aqui
(esteve no Rock in Rio, em
1991) e veio com uma banda
que incluía um tecladista, um
organista, guitarrista, baterista, baixista e duas fenomenais
cantoras de apoio (Nichelle
Tillman e Andrick Brown). Ele
cantou duas músicas do disco
que lançara naquele ano, o derradeiro, Hard Knocks, e de resto mandou um desfile de hits:
Unchain My Heart (que Ray
Charles celebrizou), You Can
Leave Your Hat On, Cry Me A River, Feeling Alright, Shelter Me,
You Are So Beautiful, Unforgiven, entre outras.
Seu show era basicamente
uma transfiguração pessoal do
soul e do blues, mas havia também um condimento de funk
que eletrificava a plateia, e que
ele imprimia a canções especiais, como Come Together, dos
Beatles. Deixou no Brasil uma
sensação de êxtase coletivo, as
pessoas saíam do show com
sorrisos de satisfação de orelha a orelha, aquele jeito glorio-
so de quem está saciado, mas
não empapuçado.
Musicalmente, Joe Cocker
aprendeu lições do soul, da disco music, do jazz, do blues, e
tudo isso comparecia em seu
amálgama. “Eu amava James
Brown. Nós fizemos uma turnê juntos pela Europa pouco
antes de ele morrer, com uma
orquestra, e ambos estávamos
no programa. Toda noite ele
vinha ao meu show e a gente
dividia o microfone. Acho que
todo cantor de R&B dos Estados Unidos tem um débito para com James Brown, assim
como eu tenho um débito para com Ray Charles e também
para com Marvin Gaye”, ele
disse, ao Estado.
Não eram só as baladas que
ele desfiava fibra por fibra. A
voz de Joe Cocker era capaz de
abarcar qualquer coisa, de
Honky Tonk Women (dos Rolling Stones) a Feelin’ Alright
(do Traffic). Ele cantou Could
You Be Love, reggae de Bob
Marley, e Don’t Let Me Be Misunderstood, que foi hit da era disco com o Boney M.; além de triturar Can’t Find My Way Home,
sucesso do Traffic, também
animava a trilha yuppie do filme 9 e 1/2 Semanas de Amor
Ringo e Clapton
lamentam perda
do grande amigo
Joe Cocker, é o desejo de um de
seus amigos. Paz e Amor”, disse
Ringo Starr sobre a morte do cantor. “É muito triste ouvir sobre a
morte de Joe. Ele era um adorável camarada do norte que eu
amei muito e, como muitas pessoas, amava ouvir cantando”, declarou Paul McCartney, “Descanse em paz”, escreveu Eric Clap-
ton. Cocker integrou o maior clube de estrelas da música. Isso
começou a ser gestado em 1960,
quando ele formou seu primeiro
grupo de música, The Cavaliers.
Tinha então 16 anos. O sonho só
duraria um ano: a banda acabou
e ele foi trabalhar de instalador
de gás. Finalmente, em 1966,
achou o formato que o consagraria, ao lado da Grease Band – ao
lado do pianista Chris Stainton. O
resto é história. Voltaria a ser cultuado em 1988, quando colocaram sua versão de With a Little
Help from My Friends na trilha do
seriado de TV Anos Dourados.
com You Can Leave Your Hat
On. “Apesar de ele ser um garoto inglês de Sheffield, de 24
anos, sua voz é a de um negro
sulista de meia-idade”, espantou-se um crítico de música ao
vê-lo cantar pela primeira vez.
Influenciou artistas posteriores que não têm nada de ordinários, como Bryan Adams, a
canadense k.d. lang, a guitarrista Deborah Coleman e até contemporâneos como Dr. John e
Van Morrison. Joe, no palco,
transmitia a ideia de uma via-
gem sem retorno, uma grande
aventura pela alma. “Quando
interpreto canções como You’
re So Beautiful, minha proposta
é reinventá-la a cada noite. Isso é interpretação, trazer emoção à sua voz. Eu tenho uma
boa banda, que sabe o que eu
quero. Se estou ainda cantando após 45 anos, é porque talvez eu possa transformar uma
canção em algo especial. Tento comunicar um sentimento
por meio de uma canção, o que
não é fácil”, afirmou.
● “Adeus e que Deus bendiga
TAL PAI, TAL FILHO.
SÃO PAULO: Shopping Iguatemi - Tel. (11) 3323 3555 / Shopping Cidade Jardim - Tel. (11) 3323 3585 • RIO DE JANEIRO: Shopping Leblon - Tel. (21) 2126 8166
Nascido John Robert Cocker, teve sérios problemas
com drogas na época da contracultura, problemas que aumentaram com o abuso de
substâncias alcoólicas. “Não
havia rehab na minha época.
Ninguém chegava para mim e
dizia: ‘Joe, você precisa parar
com isso’”, ele disse, também
em entrevista ao Estado.
Ele dizia que nunca tentara
se acercar do mistério que o fez
se tornar tão íntimo do american songbook, mesmo tendo
nascido tão longe do Mississippi. “Nunca tentei entender isso, mas sou do Norte da Inglaterra. Quero dizer, os Beatles
eram de Liverpool, que não é
tão distante de Sheffield. Ali, fomos muito influenciados pelo
blues de Chicago. Acho que carreguei aquilo comigo em minha
voz. Amo Ray Charles, Muddy
Waters, Sonny Boy Williamson. Sou um ‘bluesband guy’.”
NA WEB
Vídeo. Veja
trechos de shows
de Joe Cocker
estadao.com.br/e/joecocker