Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro
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Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro
FABIANO TIMBÓ BARBOSA Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro MACEIÓ 2013 FABIANO TIMBÓ BARBOSA Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro A presente obra é uma produção independente do autor cuja finalidade é auxiliar pesquisadores iniciantes a darem seu pontapé inicial no mundo da pesquisa. Toda pesquisa deve antes ser precedida sistemática. MACEIÓ 2013 por uma revisão Informações gerais Endereço do autor. Endereço eletrônico: [email protected] Endereço postal: Fabiano Timbó Barbosa FACULDADE DE MEDICINA – FAMED/UFAL Campus A. C. Simões - Av. Lourival Melo Mota, S/N Tabuleiro dos Martins - Maceió/AL/Brasil. C.E.P.: 57072-900 Telefone: (82) 3214-1141/3214-1140/3322-1396 http://lattes.cnpq.br/2273678989024980 Conflito de interesse. Disponível em: http://tinyurl.com/timboconflito. Colaborador de capítulo “Explorando a heterogeneidade”. Nassib Bezerra Bueno. Mestre em Nutrição Humana pela UFAL. Data da última modificação. 18 de fevereiro de 2013. 4 DEDICATÓRIA A minha amada esposa Tatiana Rosa Bezerra Wanderley Barbosa. Aos meus filhos Rafael José e Rosa Maria Wanderley Barbosa. EPÍGRAFE “O conhecimento só é verdadeiramente útil e eficaz quando auxilia a encontrar os resultados desejados.” Sócrates PREFÁCIO As revisões sistemáticas estão há muito nos mostrando um novo olhar ao conhecimento já existente, embora muitas vezes desprezamos o que é “o novo” pela condição natural do seres humanos de repulsar o que é novo. A revisão sistemática é um tipo de pesquisa que reúne dados da literatura, analisa-os criticamente e se for possível mostra qual a melhor estimativa de efeito para determinada intervenção terapêutica, social ou pedagógica. A presente obra trás um modelo para quem deseja iniciar uma revisão sistemática abordando intervenções sejam elas terapêuticas, diagnósticas ou profiláticas. Fabiano Timbó Barbosa [email protected] http://tinyurl.com/timboh http://bit.ly/lrs01 5 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ ÍNDICE 1. Motivos para executar uma revisão sistemática 6 2. Pergunta da pesquisa 15 3. Localização e seleção dos artigos originais 23 4. Avaliação da qualidade dos artigos originais 37 5. Coleta de dados 64 6. Análise e apresentação dos dados 79 7. Interpretação dos resultados 93 8. Projeto de pesquisa 102 9. Relatório final 110 10. O que fazer quando não há ensaios clínicos aleatórios? 122 11. Explorando a heterogeneidade 128 12. Referências bibliográficas 144 http://bit.ly/lrs01 6 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Motivos para executar uma revisão sistemática Fabiano Timbó Barbosa “O conhecimento só é verdadeiramente útil e eficaz quando auxilia a encontrar os resultados desejados.” Sócrates, V a.C. INTRODUÇÃO O conhecimento se renova de maneira contínua e pode ser adquirido por meio dos livros, cursos, congressos, CDs, periódicos e pela internet. A principal forma de divulgação dos novos conhecimentos ocorre pela leitura dos artigos originais ou artigos de pesquisa publicados em periódicos e conseguidos por meio da assinatura dos periódicos ou pela internet. A literatura científica apresenta artigos originais referentes a estudos que foram executados de forma correta e respeitando os padrões científicos assim como artigos originais de estudos que apresentaram resultados dúbios e questionáveis. É obrigação dos modernos profissionais da área da saúde saberem separar o joio do trigo, pois, pesquisas de má qualidade tendem a apresentar resultados favoráveis e positivos, porém não reprodutíveis na população de interesse. CLASSIFICAÇÃO DOS ESTUDOS http://bit.ly/lrs01 7 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Os principais tipos de estudos encontrados na área de saúde são: os ecológicos e os individuais. Os estudos ecológicos ocorrem após a coleta de dados de uma população. Os estudos individuais ocorrem quando se usa dados de amostras das populações de interesse e podem ser divididos em: os observacionais, os experimentais e a revisão sistemática. Os estudos observacionais descrevem as características de um ou mais grupos de sujeitos de pesquisa que são registradas para análise. Podem ser classificados em: série de casos, estudos transversais, estudos de caso e controle e estudos de coorte. As séries de casos apresentam os dados que foram observados por um pesquisador sem a elaboração de um projeto de pesquisa e sem a existência de hipóteses específicas. São fáceis de redigir, mas estão sujeitos a muitos erros sistemáticos, mormente para a escolha dos participantes e para as características observadas. São estudos que geram hipóteses e servem de inspiração para futuras pesquisas. Os estudos transversais analisam os dados sem vinculação a um lapso de tempo, por isso são chamados estudos de corte transversal. Todos os dados são coletados no momento em que o sujeito da pesquisa é incluído no estudo. São relativamente baratos e rápidos para executar além de poderem gerar informação sobre o estado de uma doença ou condição de interesse. A desvantagem principal deste tipo de estudo é que ele fornece informações apenas sobre o que está ocorrendo naquele momento específico. http://bit.ly/lrs01 8 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Os estudos de caso e controle são ótimos para analisar doenças raras ou condições que demorem a ocorrer. São selecionados casos com a condição de interesse e controles sem essa condição para uma análise retrospectiva dos dados. A principal dificuldade relatada pelos pesquisadores ocorre na seleção de um grupo controle adequado para a situação clínica. A análise estatística tem de ser muito criteriosa devido à presença de muitos fatores que podem confundir o pesquisador e levar a conclusões inadequadas. Os estudos de coorte ocorrem com a observação de uma coorte que pode ser definida como um grupo de indivíduos que apresentam características semelhantes e que permaneceram juntos por um período de tempo. São excelentes para avaliar fatores causais, fatores de risco e a evolução das doenças. Os estudos experimentais avaliam a realização de uma intervenção que é controlada pelo pesquisador. Esta intervenção pode ser um medicamento, um procedimento ou um tratamento. Podem ser executados em animais, estudos laboratoriais, ou em serem humanos, ensaios clínicos aleatórios. O ensaio clínico aleatório é um tipo de estudo de coorte onde ocorre uma intervenção sendo obrigatória à presença de pelo menos dois grupos para análise. São os estudos mais adequados para analisar uma intervenção diagnóstica, terapêutica ou profilática. São os estudos menos propensos aos erros sistemáticos, mas são relativamente dispendiosos e requerem geralmente um longo período de seguimento para observação dos desfechos. http://bit.ly/lrs01 9 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A revisão sistemática é um tipo de pesquisa que analisa a combinação dos resultados de estudos já executados e concluídos previamente ao início da revisão sistemática. Este tipo de pesquisa procura analisar a qualidade da informação gerada a partir dos estudos já executados e resumir os resultados existentes de forma que se possa perceber o poder de cada evidência científica gerada após a execução das pesquisas. O QUE É UMA REVISÃO SISTEMÁTICA É um tipo de revisão da literatura que serve para responder a uma pergunta de pesquisa que utiliza métodos específicos para identificar, selecionar, avaliar e criticar os artigos originais de estudos já concluídos e para coletar e analisar os dados gerando resultados a cerca de um conhecimento específico. Toda revisão sistemática difere das revisões narrativas porque aquelas seguem a um projeto de pesquisa que é elaborado previamente a sua execução e estas são realizadas sem critérios específicos. Os cálculos matemáticos utilizados para estimar um resultado, ou seja, um ponto central contendo a magnitude do efeito de uma intervenção que está sendo avaliada e seu intervalo de confiança, testes estatísticos de heterogeneidade e estimativas de viés de publicação, são conhecidos como metanálise. O termo metanálise também tem sido utilizado no lugar do termo revisão sistemática para se referir as revisões que apresentam cálculos de metanálise. http://bit.ly/lrs01 10 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ COMO FAZER UMA REVISÃO SISTEMÁTICA O ponto de partida para iniciar uma nova revisão sistemática é checar a existência de outras revisões sistemáticas que já analisaram aquele foco de pesquisa ou que estejam em andamento. O segundo passo é definir se uma nova revisão sistemática irá contribuir com uma nova visão sobre alguma área do conhecimento científico ou se a atualização de algum tópico poderá incrementar algo novo ao conhecimento vigente até então. A busca por revisões sistemáticas deve ser iniciada pesquisando-se em: Database of Abstracts of Reviews of Effects (DARE), que contém resumos de revisões já concluídas, na The Cochrane Database of Systematic Reviews (CDSR), que contém revisões completas e protocolos para novas revisões e no International Prospective Register of Systematic Reviews (PROSPERO), que contém o registro e protocolos de revisões sistemáticas em andamento. Estes locais avaliam o efeito da intervenção na saúde humana, porém existem outros locais que executam revisões na área da educação, na saúde pública e na área social. A existência de uma revisão sistemática avaliando um foco de interesse deve conduzir o pesquisador a realizar uma análise da qualidade metodológica desta revisão sistemática. Em geral uma boa revisão sistemática deve conter: uma pergunta de pesquisa bem definida; métodos claros e objetivos para identificar, selecionar e analisar os artigos originais incluídos a ponto de poder se repetir a revisão sistemática; relatar o processo de análise da qualidade dos http://bit.ly/lrs01 11 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ artigos incluídos; a descrição de como foi o processo de extração e combinação dos dados; e relato das medidas para evitar os vieses. A desatualização de uma revisão sistemática, mesmo que de boa qualidade metodológica, também autoriza a execução de uma nova busca por artigos científicos. Quando se perceber a necessidade de nova revisão sistemática inicia-se o processo da criação de protocolo para nova revisão sistemática. A revisão sistemática segue então a um projeto de pesquisa elaborado a priori que é seguido passo a passo. As etapas deste tipo de pesquisa estão demonstradas na Figura 1. Pergunta da pesquisa Projeto de pesquisa Identificação dos artigos originais Seleção dos artigos originais Classificação dos artigos: dois pesquisadores Avaliação da qualidade: dois pesquisadores Tabulação e interpretação dos dados Conclusão e relatório final Figura 1. Etapas de uma revisão sistemática http://bit.ly/lrs01 12 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ QUANDO FAZER UMA REVISÃO SISTEMÁTICA A inexistência de uma revisão sistemática ou a existência de uma revisão de qualidade metodológica duvidosa ou mesmo desatualizada autoriza a realização de uma nova revisão sistemática. As novas revisões sistemáticas podem ser executadas também quando as evidências disponíveis se baseiam em estudos com amostras pequenas, quando os resultados encontrados em diferentes estudos abordando o mesmo foco de pesquisa são conflitantes e quando se deseja mapear o conhecimento existente sobre algum foco de interesse. As revisões sistemáticas são indicadas para analisar: as intervenções, os testes diagnósticos, os marcadores biológicos e prognósticos, os efeitos adversos e os custos. Quando não é possível realizar um ensaio clínico aleatório a sua realização também é exeqüível utilizando os resultados dos estudos observacionais. A existência de uma revisão sistemática de boa qualidade alerta o pesquisador para a realização de um novo ensaio clínico aleatório caso não exista uma resposta definitiva a pergunta da pesquisa (Figura 2). O ensaio clínico randomizado é uma peça fundamental para a execução e conclusão da revisão sistemática, pois, a sua existência é considerada pelos revisores como existência da evidência para a intervenção (Figura 2). Quando não existirem ensaios clínicos na área de interesse o mais coerente é realiza-lo com projeto de pesquisa adequado (Figura 2). http://bit.ly/lrs01 13 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Figura 2. Importância de um ensaio clínico randomizado para uma revisão sistemática As informações deste livro referem-se a revisões sistemáticas que analisam as intervenções terapêuticas e profiláticas na área da saúde. Outras formas de analisar informações relacionadas a testes diagnósticos, no campo social e na área da pedagogia fogem ao escopo deste livro. DEPOIS DA REVISÃO SISTEMÁTICA A pesquisa clínica possui um contexto aonde ela é realizada com o objetivo auxiliar no processo de tomada de decisão clínica, porém a realização de uma revisão sistemática pode não ser suficiente. É necessário fazer análises econômicas dessas intervenções, que resultarão em diretrizes clínicas, isto é, condutas padronizadas que levam em conta os resultados das revisões sistemáticas e a experiência clínica. http://bit.ly/lrs01 14 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A decisão clínica deve ser a resultante das evidências geradas pela metanálise, da situação local de atendimento e das particularidades dos pacientes. Figura 3. Contribuição da revisão sistemática na tomada de decisão clínica CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão sistemática avalia a qualidade das pesquisas e quantifica os seus dados, expondo-os de forma crítica e resumida. É um tipo de pesquisa que pode levar a descoberta da melhor estimativa de efeito para uma determinada intervenção e seu início ocorre quando ainda não foram executadas ou quando existem revisões sistemáticas cujos resultados podem ser questionáveis. http://bit.ly/lrs01 15 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Pergunta da pesquisa Fabiano Timbó Barbosa Toda pesquisa começa com uma “pergunta de pesquisa”, pois, sem ela estaremos mascarados para o mundo das invenções e descobertas tirando conclusões que podem já serem consolidadas ou não serem replicadas as situações cotidianas. INTRODUÇÃO As pesquisas científicas se iniciam após a idealização de uma pergunta de pesquisa. Este é o primeiro e mais importante passo porque define a área do conhecimento que se deseja pesquisar e, na maioria das vezes, determina a forma como os dados serão analisados. ORIGEM DA PERGUNTA DE PESQUISA A pergunta da pesquisa pode surgir em qualquer lugar e a qualquer hora pela observação de um fenômeno específico em uma população de interesse. Essa pergunta determinará a retirada de uma amostra de sujeitos de pesquisa para análise e a mensuração do fenômeno observado para que a pergunta possa ser respondida. As medidas utilizadas numa pesquisa para responder a uma pergunta da pesquisa numa amostra selecionada são conhecidas como validade interna. A http://bit.ly/lrs01 16 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ avaliação da qualidade metodológica de um artigo original visa analisar a validade interna de um estudo. Quando a pergunta de pesquisa é respondida adequadamente, ou seja, sem erros sistemáticos, os resultados podem ser generalizados para a população que originou a amostra e essa capacidade de generalização é conhecida como validade externa (Figura 1). POPULAÇÃO AMOSTRA FENÔMENO OBSERVADO FENÔMENO ANALISADO PERGUNTA DA PESQUISA RESPOSTA A PERGUNTA Validade externa Validade interna Figura 1. Origem da pergunta de pesquisa, localização didática das validades externa e interna COMPONENTES DA PERGUNTA DA PESQUISA Os componentes básicos de uma pergunta de pesquisa são: a população ou amostra, a variável preditora e a variável de desfecho. Entendese como população um conjunto de indivíduos que possuem a mesma característica e a amostra é um subconjunto desta população. A variável preditora pode ser entendida como uma característica analisada que poderá levar a algum resultado. A variável de desfecho é a característica que está relacionada ao resultado. O desfecho também pode ser entendido como sendo o resultado final. http://bit.ly/lrs01 17 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ As revisões sistemáticas servem também para avaliar as intervenções sejam elas para terapia, diagnóstico ou profilaxia. Os componentes das perguntas sobre intervenções são: a população, a intervenção ou a exposição e as variáveis de interesse. a) População. A população que será investigada pode ser considerada em dois passos: primeiro, definir a doença ou condição que será estudada com critérios bem claros; e segundo, definir a população e o cenário em que esta população deve ser analisada. b) Intervenção ou a exposição. A intervenção e a exposição devem ser explicitadas porque a revisão sistemática exige a comparação entre grupos sendo um aquele que receberá a intervenção ou ficará exposto a alguma situação e o outro aquele que servirá de controle para comparações. c) Variáveis de interesse. Variável é uma característica que varia de um indivíduo para outro. Os autores da revisão sistemática têm de definir qual ou quais as variáveis são mais importantes para responder a pergunta de pesquisa. As variáveis mais simples não devem figurar na pergunta da pesquisa porque podem torná-la muito ampla e pouco específica. Utilizar a variável relacionada ao principal resultado é a melhor estratégia na criação de uma pergunta de pesquisa. O sucesso ou falha de uma intervenção terapeutica geralmente serão analisados a luz das diferenças de mortalidade e morbidade. http://bit.ly/lrs01 18 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ As principais pesquisas clínicas que contribuíram positivamente para a ciência consideraram algumas variáveis como sendo primárias para responder a pergunta das suas pesquisas. As principais vaiáveis primárias foram: a mortalidade e a morbidade, a efetividade, a eficácia, a segurança, a qualidade de vida, o grau de satisfação e a eficiência considerando os custos envolvidos no procedimento analisados. Estas são boas variáveis para figurarem numa pergunta de pesquisa. As perguntas de pesquisa podem seguir alguns modelos já conhecidos. Alguns modelos para uma pergunta são: a) INTERVEÇÃO A comparada a INTEVENÇÃO B para CENÁRIO CLÍNICO em POPULAÇÃO. Por exemplo: Amoxicilina comparada a clindamicina para pneumonia aspirativa em idosos; b) INTERVENÇÃO para PROCEDIMENTOS. Por exemplo: Ácido acetilsalicílico para profilaxia de infarto agudo do miocárdio; c) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO comparada AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO para CENÁRIO CLÍNICO: TIPO DE ESTUDO. Por exemplo: Incidência de insuficiência respiratória aguda após uso de curares comparada ao uso de placebo para anestesia geral: estudo de coorte; d) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO para POPULAÇÃO. Por exemplo: Cárie dentária após uso de flúor para crianças abaixo de um ano de idade; e) DESFECHO na(o)/após uso/com INTERVEÇÃO comparada AUSÊNCIA DE INTERVENÇÃO para CENÁRIO CLÍNICO em POPULAÇÃO: TIPO http://bit.ly/lrs01 19 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ DE ESTUDO. Por exemplo: Grau de satisfação após trabalho de cuidador comparado a ausência do trabalho do cuidador para sequelados de acidente automobilístico em idosos. Existem outras formas de fazer uma pergunta de pesquisa que também são possíveis cabendo ao pesquisador usar o bem senso na escolha dos termos mais adequados que utilizará em sua busca por respostas. CARACTERÍSTICAS DE UMA BOA PERGUNTA A boa pergunta de pesquisa deve ser: factível, interessante, inovadora, ética e importante. Não há relação entre a qualidade da pergunta e o tamanho da mesma. A pergunta torna-se factível no momento em que apresenta objetividade, permite que um número adequado de participantes seja analisado e, se possível, minimize os custos. Ela será interessante se despertar o interesse de todos os envolvidos com o assunto de interesse como os pacientes, os pesquisadores, os clínicos, os gestores, etc. A pergunta de pesquisa será inovadora se corroborar com o conhecimento existente adicionando-lhe uma nova visão do mesmo problema ou se a pergunta envolver um conhecimento novo, desconhecido ou original. http://bit.ly/lrs01 20 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A ética da pergunta deve ser analisada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (C.E.P.) por meio da observação do projeto de pesquisa. O C.E.P. deve analisar toda e qualquer pesquisa previamente a sua execução para analisar a conformidade com os parâmetros éticos envolvendo a pesquisa com humanos. A pergunta será importante se a sua resposta puder auxiliar diretrizes, levar a um novo pensamento em relação às intervenções, se puder estimular futuras pesquisas ou se auxiliar na criação de diretrizes locais ou internacionais. RESPOSTA A PERGUNTA DA PESQUISA A pergunta de pesquisa deve ser preferencialmente respondida de forma numérica. A resposta provisória a uma pergunta de pesquisa chama-se hipótese. Por exemplo: A hipótese da pesquisa é que 10% dos idosos que vomitam e broncoaspiram apresentam pneumonia e 1% morrem após um ano de observação. A resposta pode não ser real, mas o ideal é fazer uma busca na literatura pela resposta correta. NECESSIDADE DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA A resposta a uma pergunta de pesquisa para revisão sistemática vem através dos resultados presentes em artigos originais, por isso, deve-se http://bit.ly/lrs01 21 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ analisar se a pergunta de pesquisa já foi respondida por meio de estudos prévios ou mesmo outras revisões sistemáticas. Se a resposta já existir e já for definitiva não haverá necessidade de se realizar uma nova revisão sistemática. Se a resposta não existir ou não for definitiva permanece a dúvida a cerca da viabilidade da realização de uma revisão sistemática (Figura 2). A pergunta da pesquisa foi respondida com ensaios clínicos randomizados? Sim Há evidências. Suficiente? Insuficiente? Não Não há evidências. O que fazer? Figura 2. Fluxograma representando a necessidade de uma revisão sistemática As respostas relacionadas às perguntas de pesquisa envolvendo intervenções somente existem se já houver algum ensaio clínico aleatório executado. Se não houver ensaios clínicos randomizados realizados em relação ao tópico de interesse a melhor conduta não é realizar uma revisão sistemática, mas planejar um novo ensaio clínico randomizado (Figura 2). Se os ensaios clínicos randomizados já existirem e apresentarem sempre o mesmo resultado e se foram executados sem erros sistemáticos, então a necessidade da realização de uma revisão sistemática passa a ser http://bit.ly/lrs01 22 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ questionável (Figura 2). Uma revisão sistemática só irá confirmar o que já se sabe. As perguntas de pesquisa já podem ter sido respondidas por meio dos ensaios clínicos e nesta condição diz-se que existe evidência para a resposta, mas a presença dos ensaios clínicos não exclui a necessidade de uma revisão sistemática, pois, eles podem ser insuficientes para a prática clínica (figura 2). Se os ensaios clínicos randomizados já existirem e apontarem para direções opostas, ou seja, apresentarem resultados discordantes entre si então a pergunta de pesquisa poderá ser respondida por meio de uma revisão sistemática (Figura 2). CONSIDERAÇÕES FINAIS A pergunta da pesquisa é o ponto de partida para toda pesquisa. Ela é o início de uma seqüência de eventos que culminam com o surgimento de respostas que impulsionam a ciência a evoluir cada vez mais e a cada dia. As revisões sistemáticas auxiliam a responder perguntas que possuem resultados duvidosos, quando não existe resposta definitiva e quando os resultados são conflitantes. http://bit.ly/lrs01 23 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Localização e seleção dos artigos originais Fabiano Timbó Barbosa O pesquisador que executa uma revisão sistemática depende da existência de artigos originais, por isso, todos os esforços são válidos para achar estudos já publicados ou resultados de estudos que ainda não foram publicados. INTRODUÇÃO As revisões sistemáticas baseiam-se na busca de artigos originais de estudos já concluídos, mormente os ensaios clínicos aleatórios porque eles conduzem a estimativas do efeito do tratamento mais fidedignas. A busca pelos artigos pode ser por meio das bases de dados eletrônicas, lista de referências, busca manual, eventos científicos, consulta com especialistas e em outras revisões sistemáticas. A seleção dos estudos é geralmente conduzida em dois estágios: primeiro, analisar títulos, resumos e palavras-chave comparando-os com os critérios de inclusão para identificar estudos com potencial para responder a pergunta da pesquisa, e segundo, analisar os artigos científicos conseguidos na íntegra para confirmar se os estudos possuem realmente potencial para serem incluídos na revisão. http://bit.ly/lrs01 24 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ BASES DE DADOS ELETRÔNICAS A maioria dos revisores prefere iniciar suas buscas em bases de dados eletrônicas, pois, são analisadas mais rapidamente e consomem menos tempo na identificação de artigos originais relevantes. Algumas bases de dados, como o MEDLINE e EMBASE, possuem resumos de artigos publicados no mundo inteiro, por isso são as mais utilizadas. MEDLINE (MEDLARS on line, the Medical Literature Analysis and Retrieval System) foi produzida pela Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos da América e contém referências e resumos de mais de 4.600 títulos de revistas biomédicas, publicadas nos Estados Unidos e em outros 70 países. Em fevereiro de 2002 já continha mais de 17 milhões de registros da literatura catalogadas desde 1966. O PUBMED é uma forma livre e online de acesso a essa base de dados http://www.pubmed.gov. A base de dados mais utilizada é o MEDLINE, porém 30% dos artigos de interesse podem não ser identificados se o revisor utilizar somente esta base. EMBASE (Excerpta Medica database) é frequentemente considerado o equivalente europeu da MEDLINE. Tem indexado mais de 4000 jornais de mais de 70 países e em maio de 2002 continha aproximadamente 9 milhões de citações. A biblioteca da Universidade de São Paulo permite acesso a esta base de dados gratuitamente. O acesso também pode ser conseguido via CAPES http://aplicacao.periodicos.saude.gov.br/. Scopus é a maior base de dados de resumos e citações da literatura de pesquisa com mais de 20.500 títulos de mais de 5.000 editoras internacionais. http://bit.ly/lrs01 25 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A base de dados abrange as seguintes áreas: de medicina, das ciências sociais, das artes e das ciências humanas. Os resumos datam de 1823 e as atualizações são diárias. Acesse o link http://www.scopus.com/home.url. Os estudos com resultados que são estatisticamente significantes são mais facilmente publicados em revistas de países que utilizam o idioma inglês, enquanto que estudos com resultados negativos podem ser publicados em outros idiomas com menores restrições, por isso revisões sistemáticas que fazem restrição a língua e utilizam somente o idioma inglês para os artigos incluídos podem ter seus resultados enviesados. É importante pesquisar outras bases de dados que possuam periódicos em outros idiomas como a LILACS. LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde): Compreende a literatura relativa às Ciências da Saúde, publicada nos países da América Latina e do Caribe, a partir de 1982. Contém artigos de aproximadamente 670 revistas, entre as mais conceituadas na área da saúde, atingindo mais de 150.000 registros. ISI (Institute for Scientific Information) Web of Science: É considerado a primeira indústria da informação interdisciplinar, foi criado em 1958, na Filadélfia, EUA. Mantém, em suas bases de dados, o registro do conteúdo de mais de 8000 títulos dos mais renomados títulos de periódicos de todo o mundo, além de livros recém-publicados, anais de congressos e revisões. CINAHL (Cumulative Index of Nursing and Allied Health): É uma base de dados que enfoca predominantemente uma área específica da saúde, enfermagem, porém não se restringe somente a publicações nesta área. http://bit.ly/lrs01 26 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ The Cochrane Library é uma coleção de fontes de informação de boa qualidade relacionadas à saúde. Inclui as revisões sistemáticas da Colaboração Cochrane, protocolos de revisões sistemáticas em andamento nesta colaboração, lista de ensaios clínicos aleatórios, pesquisas de avaliação econômica em saúde e revisões sistemáticas resumidas criticamente. BUSCA MANUAL E ESTUDOS NÃO PUBLICADOS Os estudos não publicados devem ser identificados e se possível incluídos na análise, pois, os estudos com resultados positivos são publicados com maior facilidade e aqueles com resultados negativos podem até nunca serem publicados. O viés de seleção ocorre quando somente os estudos com resultados positivos são incluídos, mesmo existindo estudos com resultados contrários, porém não identificados. As estratégias para localizar estudos não publicados são: analisar listas de referências, busca manual nos periódicos, localizar ensaios clínicos em andamento nos registros de ensaios clínicos como, por exemplo no www.clinicaltrial.gov, contato com experts e fabricantes de produtos farmaceuticos, pesquisar em websites na internet e observar as referências bibliográficas das citações dos artigos incluídos na revisão sistemática. A busca manual é executada procurando-se pelos ensaios clínicos aleatórios em periódicos e página por página. Algumas bases de dados podem http://bit.ly/lrs01 27 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ utilizar termos diferentes para identificação dos ensaios clínicos como: vendamento, casualização, encobrimento, etc. Alguns artigos que apresentam resultados negativos nunca são publicados, assim os artigos publicados podem não representar uma amostra satisfatória a cerca do real efeito do tratamento. Este erro é conhecido como viés de publicação. ESTRATÉGIA PARA O PUBMED A principal vantagem das bases de dados eletrônica é que elas podem ser pesquisadas eletronicamente. As palavras no título, no resumo e os termos indexados podem ser utilizados para a elaboração de uma estratégia de busca. A pergunta da pesquisa deve ser analisada com a finalidade de identificar os seus núcleos principais conhecidos como conceitos. Uma vez desenvolvida uma série de conceitos que refletem a pergunta da pesquisa eles podem ser combinados por meio dos Operadores Booleanos (AND, OR, NOT) para criar uma série de resultados que podem conter artigos relacionados ao interesse do pesquisador. Os operadores Booleanos são usados para: AND, diminuir ou focar a busca; OR, acumular termos e expandir a busca; e, NOT para excluir termos da buscados artigos científicos. Os passos para realizar uma estratégia de busca são: definir os conceitos, achar os termos correspondentes na base de dados que se deseja pesquisar, rodar os termos isoladamente, unir os termos com os Operadores http://bit.ly/lrs01 28 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Booleanos e refinar a estratégia. Por exemplo, caso quiséssemos pesquisar no PUBMED "anestesias para a cirurgia de mama em mulher não grávida com pequena incisão" os passos seriam os seguintes: Passo 1 (criar uma lista de conceitos analisando a pergunta de interesse): 1 Anestesia epidural; 2 Anestesia espinal; 3 Anestesia geral; 4 Mulher ; 5 Cirurgia de mama com pequena incisão; 6 Fora da gravidez. Passo 2 (achar os termos correspondentes aos conceitos): Os conceitos devem ser escritos em inglês, pois a base de dados está neste idioma. Os descritores em saúde escritos em inglês podem ser pesquisados em http://decs.bvs.br. Os descritores podem não ser utilizados no PUBMED exatamente da forma como se escreve no site dos descritores em saúde, por isso deve ser checar a existência do termo dentro da base de dados PUBMED e para isso deve-se acessar o endereço http://www.ncbi.nlm.nih.gov/mesh. Os termos da plataforma MeSH para o exemplo acima são: "anesthesia, epidural"[MeSH Terms] - (para “Anestesia epidural”); "anesthesia, spinal"[MeSH Terms] - (para “Anestesia espinal”); http://bit.ly/lrs01 29 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ "anesthesia, general"[MeSH Terms] - (para “Anestesia geral”); "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word] - (para “Mulher”); "mastectomy, segmental"[MeSH Terms] - (para “Cirurgia de mama com pequena incisão”); "pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word] - (para “Gravidez”). Passo 3 (utilizar os termos isoladamente): O termo deve ser checado individualmente já na base de dados (http://www.pubmed.gov), pois, pode haver uma relação muito pequena de artigos com aquele termo e isso restringir a estratégia de busca. Passo 4 (unir os termos com os descritores Booleanos): A união dos termos deve ser realizada com os descritores para orientar a base eletrônica do que se deseja pesquisar (http://www.pubmed.gov). Quando se utiliza a estratégia "anesthesia, epidural"[MeSH Terms] AND NOT "anesthesia, spinal"[Mesh Terms] significa que se deseja pesquisar anestesia peridural, mas excluir a anestesia raquianestesia da lista de artigos de interesse. Passo 5 (refinar a estratégia): A base de dados organizará automaticamente cada termo se você utilizá-los isoladamente. Cada vez que se usa um termo ou vários termos unidos com os Descritores Booleanos cria-se uma linha de estratégia que é representada por um número acompanhado do sinal gráfico #. http://bit.ly/lrs01 30 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ #1 - "anesthesia, epidural"[MeSH Terms]; #2 - "anesthesia, spinal"[MeSH Terms]; #3 - "anesthesia, general"[MeSH Terms]; #4 - "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word]; #5 - "mastectomy, segmental"[MeSH Terms]; #6 - "pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word]; As linhas #1, #2, #3, #4, #5 e #6 aparecem devido à utilização dos termos na base de dados PUBMED, porém cada base eletrônica pode utilizar sinais gráficos diferentes para organizar as linhas das estratégias. Assim devese complementar: #7 - #1 OR #2 OR #3 OR #4 OR #5; A estratégia exige a combinação dos termos. A linha #7 mostra a combinação dos termos de forma que ela representa a união das técnicas de anestesia epidural, espinal e geral administradas em mulher que se submeterá a cirurgia na mama. Percebe-se que a linha #6 não foi usada diretamente na estratégia de unir os termos. Veja a seguir: #8 - #7 AND NOT #6. A linha #8 refere-se ao cenário descrito na linha #7, porém excluindo o tópico "gravidez" da busca dos artigos de interesse que estava na linha #6 e que não era do interesse do pesquisador incluir na estratégia. Quando os resultados forem muito extensos a estratégia deve ser refinada para melhor atender as necessidades da pesquisa. http://bit.ly/lrs01 31 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A criação de uma estratégia de busca desta forma retorna muitos títulos para análise, porém somente alguns poderão responder efetivamente a dúvida do profissional ou a pergunta de pesquisa que motivou a criação da estratégia de busca, por isso acredita-se que a estratégia pode ser muita sensível, mas pouco específica. Os artigos científicos identificados pela estratégia de busca e que possuem potencial para responder a pergunta da pesquisa são confrontados com os critérios de inclusão para serem incluídos na revisão sistemática. É necessário rodar a estratégia mais de uma vez se a revisão sistemática for iniciada seis meses após o término da confecção do protocolo. A descrição da estratégia que foi utilizada deve conter: o nome da base de dados, o sistema utilizado (Ovid, Silver Plater, PUBMED, etc.), a data da realização da última busca pelos artigos de interesse, os anos em que a estratégia identificou os artigos e a descrição da estratégia, preferencialmente a descrição completa e não somente os termos utilizados. A criação da estratégia de busca pode ser realizada sem que se avalie cada termo correspondente ao núcleo da pergunta isoladamente, e pode ser criada diretamente sem a organização de linhas. Para o exemplo acima seria: (("anesthesia, epidural"[MeSH Terms] OR "anesthesia, spinal"[MeSH Terms] OR "anesthesia, general"[MeSH Terms] OR "women"[MeSH Terms] OR woman[Text Word] OR "mastectomy, segmental"[MeSH Terms]) AND NOT ("pregnancy"[MeSH Terms] OR pregnancy[Text Word])). Outro exemplo para cirurgia coloretal pode ser visto no estudo de caso no Apêndice 1. http://bit.ly/lrs01 32 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ SELEÇÃO DOS ARTIGOS ORIGINAIS A seleção deve ser realizada pelo menos por dois revisores e de forma independente, pois, quando realizado por apenas um revisor até 8% dos estudos elegíveis podem não ser selecionados. As discordâncias entre os revisões devem ser resolvidas por meio de reuniões de consenso. A seleção inicial dos artigos de interesse é realizada pela observação dos títulos e resumos. Esta estratégia economiza tempo e impede que artigos originais que não sirvam para responder a pergunta de pesquisa sejam conseguidos na íntegra. Os artigos selecionados inicialmente são conseguidos na íntegra para uma avaliação pormenorizada. Essa avaliação pormenorizada se inicia com a observação do tipo de estudo, do tipo de participantes, do tipo de intervenção e a presença das variáveis de interesse. Os dados serão extraídos se o estudo identificado pela estratégia de busca desenvolvida estiver de acordo com os critérios de inclusão e possuir as variáveis de interesse. Todos os artigos conseguidos na íntegra e que não foram selecionados devem ser relatados assim como os motivos que levaram a exclusão dos mesmos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A identificação de artigos originais de estudos já finalizados é primordial para a execução de uma revisão sistemática. A elaboração de uma estratégia de busca para bases de dados eletrônicas é necessária para tornar possível o http://bit.ly/lrs01 33 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ processo de identificação de estudos já publicados na forma de artigos originais. Somente após a identificação dos artigos originais é que se inicia o processo de seleção. A seleção é inicialmente realizada pela observação dos títulos e dos resumos. O processo de identificação e seleção de artigos originais deve ser executado por dois avaliadores de forma independente com discussão das suas discordâncias. http://bit.ly/lrs01 34 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ APÊNDICE Apêndice 1 – Estudo de caso para criação de estratégia de busca para PEBMED Pergunta da pesquisa: Qual a mortalidade dos idosos que apresentam infarto miocárdico após cirurgia coloretal? A criação da estratégia de busca exige os seguintes passos: Identificação dos núcleos de conceitos: idoso, infarto miocárdico e cirurgia colorretal. Identificação dos descritores em saúde para estes núcleos: aged, myocardial infartion e colorectal surgery. Identificação dos termos referentes aos descritores na plataforma Mesh: "aged"[MeSH Terms] OR aged[Text Word], "myocardial infarction"[MeSH Terms] OR Myocardial Infarction[Text Word] e "colorectal surgery"[MeSH Terms] OR Colorectal Surgery.[Text Word]. A combinação dos termos formando uma estratégia de busca: (("aged"[MeSH Terms] OR aged[Text Word]) AND ("myocardial infarction"[MeSH Terms] OR Myocardial Infarction[Text Word]) AND ("colorectal surgery"[MeSH Terms] OR Colorectal Surgery.[Text Word])). Resultado desta estratégia em dezembro de 2012 (Figura 1): http://bit.ly/lrs01 35 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 1. Causey MW, Maykel JA, Hatch Q, Miller S, Steele SR. Identifying risk factors for renal failure and myocardial infarction following colorectal surgery. J Surg Res. 2011 Sep;170(1):32-7. Epub 2011 Apr 12. 2. Dalton SJ, Ghosh A, Greenslade GL, Dixon AR. Laparoscopic colorectal surgery - why would you not want to have it and, more importantly, not be trained in it? A consecutive series of 500 elective resections with anastomoses. Colorectal Dis. 2011 Feb;13(2):144-9. doi: 10.1111/j.1463-1318.2009.02101.x. 3. Salihoglu Z, Baca B, Koksal S, Hakki Hamzaoglu I, Karahasanoglu T, Avci S, Ozben V. Analysis of laparoscopic colorectal surgery in high-risk patients. Surg Laparosc Endosc Percutan Tech. 2009 Oct;19(5):397-400. 4. Singh R, Omiccioli A, Hegge SG, McKinley CA. Can community surgeons perform laparoscopic colorectal surgery with outcomes equivalent to tertiary care centers? Surg Endosc. 2009 Feb;23(2):283-8. Epub 2008 Apr 24. 5. Ram E, Sherman Y, Weil R, Vishne T, Kravarusic D, Dreznik Z. Is mechanical bowel preparation mandatory for elective colon surgery? A prospective randomized study. Arch Surg. 2005 Mar;140(3):285-8. 6. Isbister WH, Prasad J. Emergency large bowel surgery: a 15-year audit. Int J Colorectal Dis. 1997;12(5):285-90. 7. Luukkonen P, Mikkonen U, Järvinen H. Abdominal rectopexy with sigmoidectomy vs. rectopexy alone for rectal prolapse: a prospective, randomized study. Int J Colorectal Dis. 1992 Dec;7(4):219-22. http://bit.ly/lrs01 36 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 8. Rosati R, Rebuffat C, Fumagalli U, Montorsi M, Olivari N, Salvaneschi S, Roviaro G, Pezzuoli G. [Clinical use of a new compression surgical stapler in surgery of the large intestine]. G Chir. 1992 Apr;13(4):213-5. Italian. 9. Wise WE Jr, Padmanabhan A, Meesig DM, Arnold MW, Aguilar PS, Stewart WR. Abdominal colon and rectal operations in the elderly. Dis Colon Rectum. 1991 Nov;34(11):959-63. 10. Rebuffat C, Rosati R, Montorsi M, Fumagalli U, Maciocco M, Poccobelli M, Roviaro G, Varoli F, Pezzuoli G. Clinical application of a new compression anastomotic device for colorectal surgery. Am J Surg. 1990 Mar;159(3):330-5. Figura 1. Visão da busca on line http://bit.ly/lrs01 37 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Avaliação da qualidade dos artigos originais Fabiano Timbó Barbosa “A qualidade metodológica de uma pesquisa é a possibilidade que ela possui de apresentar seus resultados sem tendenciosidades.” Verhagen et al., 1998 INTRODUÇÃO O delineamento dos ensaios clínicos aleatórios pode interferir na interpretação dos resultados de uma revisão sistemática. Os estudos de má qualidade metodológica tendem a gerar resultados positivos com mais frequencia e também são os mais publicados pelos resultados que apresentam. A validade de um estudo pode ser entendida como o surgimento de um resultado sem tendenciosidades em virtude do seu delineamento e condução adequados. A interpretação e a qualidade de uma revisão sistemática está diretamente relacionada com a validade dos estudos incluídos. Uma revisão sistemática deve ser baseada na evidência de melhor qualidade que esteja disponível. A análise da qualidade metodológica de um estudo pode ser usada para auxiliar a interpretar e explicar diferenças nos resultados entre os estudos. http://bit.ly/lrs01 38 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A revisão sistemática deve ser efetuada com os estudos de má qualidade metodológica, porém em segundo momento fazendo-se análise de sensibilidade estes estudos são retirados para saber qual a sua influência nos resultados. Se os resultados se mantiverem após a retirada dos estudos que não são bons significa que os resultados não estão distorcidos ou influenciados negativamente pelos estudos de má qualidade metodológica. COMO LER ARTIGOS CIENTÍFICOS A execução de uma revisão sistemática depende da leitura pormenorizada de artigos científicos e da identificação das características de interesse para a execução da pesquisa. Os profissionais que não tem prática em fazer críticas a artigos científicos geralmente procedem à leitura desta forma: observam o título, valorizam o resumo, analisam a introdução, não fazem leitura do método porque julgam não saber estatística, resultados são lidos ocasionalmente e finalmente acham que lendo a discussão irão aprender tudo que o artigo pode oferecer na visão do autor e passam a acreditar piamente na conclusão. Depois de todo este processo alguns mudam de imediato a sua rotina na prática clínica. A leitura adequada dos artigos científicos exige alguns passos que podem ser vistos na Figura 1. http://bit.ly/lrs01 39 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Figura 1. Fluxograma para análise de um artigo científico. Legenda: CEP, Comissão de Ética em Pesquisa; CI, critérios de inclusão; e CE, critérios de exclusão. A primeira etapa da boa leitura dos artigos científicos é ler o título para identificar qual a área do conhecimento relatada no artigo científico. Em revisão sistemática a observação dos títulos e resumos aumenta a praticidade, pois, evita que um artigo que não se enquadre nos critérios de inclusão seja conseguido na íntegra. Não se deve dar ênfase aos autores de um artigo para evitar que o preconceito em relação ao autor e suas credenciais, ao local de realização do estudo e ao contato com indústrias farmacêuticas prejudique a sua análise (Figura 1). O resumo deve ser analisado em seguida. Deve-se dar ênfase na leitura da conclusão. Muitas vezes a conclusão é evasiva e não leva a nenhum acréscimo do conhecimento. Deve-se questionar sempre se há sentido biológico na conclusão, se ela é dissonante do restante da literatura e se ela http://bit.ly/lrs01 40 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ apresenta algum sentido clínico. Muitos especialistas param a análise de um artigo já na leitura do resumo por identificarem motivos que justificam o abandono da leitura (Figura 1). Os clínicos norte-americanos baseiam suas decisões apenas na leitura do resumo deixando de lado a leitura dos demais itens de um artigo. Esta atitude deve ser desencorajada, pois, a maioria das revistas não apresenta informações suficientes na forma de um resumo estruturado. Se o leitor desejar prosseguir com a leitura deve passar para a observação do método que é onde se encontram os itens que dão validade a análise do artigo científico (Figura 1). É nesta secção que constam características que demonstram a forma de execução e os cuidados para o surgimento dos erros sistemáticos. Estudos mal delineados tendem a apresentar resultados positivos e assim serem mais facilmente publicados. A análise estatística não precisa ser rigorosa ao extremo. Se um resultado for negativo, ou seja, estatisticamente não significante, deve-se perceber se o número de pacientes utilizado na análise foi o mesmo que o descrito no cálculo do tamanho da amostra. Se este número for inferior ao cálculo desconsidere este resultado. Se o cálculo do tamanho da amostra estiver ausente desconsidere o cálculo. O leitor deve parar a leitura caso perceba que o artigo de interesse não tenha demonstrado parâmetros para sua credibilidade (Figura 1). http://bit.ly/lrs01 41 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A secção dos resultados mostra a magnitude do efeito do tratamento ou da intervenção, mormente pela observação das tabelas e dos gráficos. Muitos autores e críticos de artigos acham que é suficiente ler somente até os resultados e abandonam a leitura do artigo. Se o leitor desejar perceber a visão do autor a cerca do contexto e a aplicabilidade dos seus resultados deve ver a discussão. A introdução somente deve ser lida caso o leitor deseje saber a importância da pergunta da pesquisa. A regra é parar a qualquer momento em que aja discordância entre o leitor e o autor do artigo em relação a necessidade do conhecimento ou se houver a percepção de que não valerá a pena continuar lendo o artigo (Figura 1). QUALIDADE METODOLÓGICA DOS ENSAIOS CLÍNICOS ALEATÓRIOS A qualidade de um ensaio clínico pode ser definida como a probabilidade de um estudo gerar resultados que se aproximem da realidade terapêutica, ou seja, resultados sem tendenciosidades. Os principais componentes que providenciam qualidade a um ensaio clínico aleatório são: o método da randomização e o sigilo da alocação. O método de randomização, também conhecido como método de aleatorização ou de alocação, é considerado adequado quando: a aleatorização é centralizada por um escritório central ou farmácia, ocorre administração sequencial de pacotes pré-codificados ou numerados aos http://bit.ly/lrs01 42 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ pacientes selecionados para o estudo, é relatada a utilização de uma tábua de números aleatórios, o sistema de escolha dos participantes for computadorizado e os dados forem gerados por um programa de computador contendo a distribuição codificada. O sigilo da alocação é considerado adequado quando: forem utilizados envelopes seriados opacos e numerados, houver relato de ampolas contendo medicações com a mesma cor e tamanho contendo códigos desconhecidos pala pessoa que vai praticar a intervenção, a intervenção é realizada por uma pessoa que não participa da pesquisa e por isso não conhece e nem divulga o que está administrando naquele momento e também por outras maneiras que pareçam oferecer uma alocação adequada. Somente os artigos originais de ensaios clínicos com sigilo adequado devem participar de uma revisão sistemática. Analisar o tratamento estatístico descrito nos estudos não é tarefa obrigatória numa revisão sistemática, pois, os resultados ou os dados individuais de cada paciente são reunidos em metanálise e não os valores estatísticos. Quando a metanálise não é possível então uma análise qualitativa de um estudo exige a análise do tratamento estatístico, principalmente o poder estatístico do estudo (ver Apêndices e Tabelas). Há quatro métodos para avaliar a qualidade metodológica dos ensaios clínicos aleatórios: os marcadores individuais, as escalas, as listas e a tabela para o risco de viés. http://bit.ly/lrs01 43 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ MARCADORES INDIVIDUAIS Os marcadores são itens avaliados isoladamente que permitem uma visão individualizada sobre a influência de determinado ponto em produzir tendenciosidades. O cálculo do tamanho da amostra é um item essencial a ser analisado. Um estudo deve ser grande o suficiente para ter uma alta possibilidade de detectar uma diferença entre os grupos em comparação, caso ela exista, e para descartar com segurança o efeito procurado caso ele não exista na população que originou a amostra (Apêndice 1). O tempo de seguimento também deve ser avaliado. O tempo de seguimento deve ser suficiente para avaliar o efeito da intervenção no desfecho de interesse. As perdas e exclusões devem ser avaliadas. A perda ocorre quando o paciente não é achado durante o seguimento de um estudo e seus dados ausentes. A exclusão ocorre quando: se percebe que o paciente não se encaixou no protocolo do estudo, a intervenção estudada trouxe prejuízos e malefícios, o participante tomar a decisão de abandonar. Os motivos para perdas e exclusões assim como a descrição das suas taxas confere qualidade ao relato do artigo original. O desenho ou delineamento de um estudo é outro item da qualidade metodológica. A realização de um ensaio clínico randomizado nem sempre é possível devido às implicações éticas. Em relação ao tipo de estudo a escolha http://bit.ly/lrs01 44 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ pode ser decisiva no surgimento das tendenciosidades (Figura 2). Mesmo para a execução de um estudo de coorte é recomendável uma randomização simples para a sua execução. Figura 2. Tipos de estudo e sua possibilidade de tendenciosidades. Menor tendenciosidade nos estudos de coorte O desfecho pode não responder adequadamente a pergunta de pesquisa. Saber qual o desfecho analisado e como foi medido é item fundamental na análise de qualquer ensaio clínico randomizado. Os periódicos internacionais estão exigindo a inscrição dos projetos dos estudos em órgãos internacionais previamente a sua execução. O acesso ao projeto pode facilitar a análise de como foi planejado o acesso aos dados e como ocorreu de fato conforme está na publicação do artigo original. http://bit.ly/lrs01 45 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ ESCALA DE QUALIDADE As escalas transformam informações em números simples que podem ser quantificados e traduzidos em informações sobre o artigo original. Aproximadamente 25 escalas já foram identificadas. Uma escala muito referenciada pela sua simplicidade é a Escala de Qualidade. Ela foi desenvolvida através da técnica de Consenso de Grupo Nominal. Uma relação com os itens constantes em várias escalas e listas de critérios de avaliação de ensaios clínicos aleatórios, que foi construída por um painel multidisciplinar de seis especialistas, os quais as resumiram em três itens, diretamente relacionadas com a redução de tendenciosidades (Quadro 1). Quadro 1. Itens da Escala de Qualidade Itens da qualidade 1.a 1.b 2.a 2.b 3. O estudo foi descrito como aleatório (uso de palavras como "randômico", "aleatório", "randomizado")? O método foi adequado? O estudo foi descrito como duplo-cego? O método foi adequado? Houve descrição das perdas e exclusões? Pontuação: cada item (1,2 e3) recebe um ponto para a resposta sim ou zero ponto para a resposta não Um ponto adicional é atribuído se, no item 1, o método de geração da seqüência aleatória foi descrito e foi adequado; no item 2, se o método de mascaramento duplo-cego foi descrito e foi adequado. Um ponto é deduzido se, na questão 1, o método de geração da seqüência aleatória foi descrito, mas de maneira inadequada; na questão 2, se foi descrito como duplo-cego, mas de maneira inadequada. http://bit.ly/lrs01 46 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Todos os itens têm duas opções de resposta: sim ou não. Um máximo de cinco pontos poderia ser obtido: três pontos para cada sim, um ponto adicional para um método adequado de randomização e um ponto adicional para um método adequado de mascaramento. O estudo era considerado de má qualidade metodológica se o artigo original referente a sua descrição receber dois pontos ou menos. LISTA DE DELPHI A lista de Delphi é uma relação dos itens constantes em várias escalas e listas de avaliação da qualidade de ensaios clínicos aleatórios que foi submetida à análise de mais de vinte e cinco especialistas nesta área. Através da técnica do Consenso de Delphi, os duzentos e seis itens da lista inicial foram resumidos a nove, os quais avaliam três dimensões da qualidade: validade interna, validade externa e considerações estatísticas (Quadro 2). http://bit.ly/lrs01 47 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Quadro 2. Itens da lista de Delphi (validade interna, validade externa e análise estatística) Itens da lista de Delphi 1.a A alocação dos pacientes foi aleatória? 1.b Se os indivíduos foram alocados aleatoriamente para os grupos de tratamento, foi mantido o sigilo de alocação? 2. Os grupos eram comparáveis em relação às características mais importantes do prognóstico? 3. Os critérios de inclusão e exclusão foram especificados? 4. Foi utilizado um avaliador independente para avaliar os resultados? 5. O responsável pelo cuidado do paciente foi mascarado? 6. O paciente foi mascarado? 7. As medidas de variabilidade e a estimativa dos pontos foram apresentadas para a variável primária? 8. O estudo incluiu uma análise por intenção de tratar (todos os pacientes alocados)? 9. Descrição das taxas e razões para as exclusões? Todos os itens têm três opções de resposta: sim, não e não mencionado. A análise é qualitativa e dispensa pontuações, porém para simplificar a visão do pesquisador iniciante é recomendável atribuir igual peso é aos itens desta lista resultando em uma pontuação entre 0 e 10. A resposta sim equivale a um ponto. Um estudo é considerado de má qualidade metodológica quando recebeu menos de 5 pontos ou de forma qualitativa quando menos de 50% dos itens da lista não foram adequadamente relatados. TABELA PARA O RISCO DE VIÉS A tabela para o risco de viés (TRV), do inglês, Risk of Bias Table (Rob Table), é um novo instrumento que reúne informações sobre os itens da validade interna e outras fontes de erros sistemáticos (viés). Esta tabela é http://bit.ly/lrs01 48 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ gerada no aplicativo RevMan, distribuído gratuitamente pela Colaboração Cochrane, e gera um gráfico e um sumário contendo informações que permite visualizar com mais clareza e facilidade a contribuição de cada artigo original incluído para o risco de viés. As respostas possíveis para cada item são: baixo, indeterminado e alto. A resposta “baixo” sugere que o item está presente na publicação e representa baixo risco para que o viés tenha ocorrido, a resposta “alto” sugere que o item está ausente na publicação e representa elevado riso para que o viés tenha ocorrido e a resposta “indeterminado” sugere que não foi possível ter certeza sobre a informação de cada item e representa um indeterminado o risco de viés (Quadro 3). Quadro 3. Itens da Tabela Para o Risco de Viés (Rob Table) Itens da Tabela presentes no RevMan 1. Método de escolha da sequência de alocação (Sequence generation) 2. Sigilo da alocação (Allocation Concealment) 3. Mascaramento, vendamento ou ocultamento (Blinding) 4. Dados incompletos dos resultados das variáveis (Incomplete outcome data) 5. Relato incompleto das variáveis (Selective reporting) 6. Outras fontes potenciais de viés (Other potential sources of bias) Os critérios para considerar a resposta de cada item como sendo “baixo” são: a) Método de escolha da sequência de alocação: referência a tabela de números aleatórios, geração de sequencia por meio de computador, arremesso de moeda, arremesso de dados, sorteio e embaralhar cartas ou envelopes; http://bit.ly/lrs01 49 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ b) Sigilo da alocação: alocação central (farmácia, telefone ou pela web), sequencia numerada de ampolas com aparências idênticas e envelopes seriados, opacos e não transparentes; c) Mascaramento, vendamento ou ocultamento: ausência de mascaramento desde que o revisor acredite que o mascaramento não influenciaria positivamente nos resultados, referência ao mascaramento dos participantes da pesquisa e quando houver mascaramento do participante e do responsável pela coleta de dados; d) Dados incompletos dos resultados das variáveis: quando não há ausência de dados dos resultados das variáveis, descrição dos motivos para ausência dos dados das variáveis e quando os dados ausentes não influenciem nos resultados; e) Relato incompleto das variáveis: quando se tem acesso ao projeto da pesquisa e quando todas as variáveis citadas foram relatadas nos resultados e quando não se tem acesso ao projeto da pesquisa, mas o revisor acredita que todas as variáveis foram citadas nos resultaos; f) Outras fontes potenciais de viés: quando o estudo parecer livre de outras formas de viés. Os critérios para considerar a resposta de cada item como sendo indeterminado e não se encontram nos Anexos 1 e 2 respectivamente. A TRV permite interpretar o risco de viés dentro e entre os estudos conforme Quadro 4. http://bit.ly/lrs01 50 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Quadro 4. Interpretação dos resultados da tabela para o risco de viés dentro e entre os estudos Possibilidade de viés dentro e entre os estudos Risco de viés Interpretação Dentro de um Entre os estudos estudo Baixo O viés ocorrer, pode Baixo risco de A mas improvável maioria das é viés para todos informações que os itens é de estudos com comprometa baixo risco de viés resultados Indeterminado Presença de viés Risco que torna A o indeterminado resultado para um duvidoso mais itens maioria das informações ou é de estudos com baixo e indeterminado risco de viés Alto Presença de viés Alto risco para A que compromete um o resultado itens ou proporção de mais informações provenientes de estudos com alto risco de viés é suficiente para comprometer a interpretação dos resultados http://bit.ly/lrs01 51 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ ANÁLISE ESTATÍSTICA A análise estatística não é obrigatória como critério de avaliação da qualidade metodológica, porém a sua análise, às vezes, se faz necessária uma vez que um estudo pode individualmente apresentar um resultado e a combinação dos resultados dos estudos em metanálise pode não garantir o mesmo resultado de um estudo individual. Isto pode ocorrer porque a metanálise utilizada os resultados e não os dados estatísticos. A análise qualitativa de um estudo exige a avaliação do tratamento estatístico apresentado no artigo. A análise estatística pormenorizada não é obrigatória e pode ser inviável. Uma lista contendo itens relevantes pode auxiliar na análise da estatística relatada no artigo original. Os itens estão elencados abaixo e devem ser procurados nas seções “método” e “resultado”. Quanto maior for o rigor na descrição dos itens desta lista menor será a possibilidade de viés estatístico. A análise é qualitativa e não gera uma pontuação para interpretações. Observar três conjuntos de itens: estatística descritiva, estatística inferencial e anomalias. O itens da lista para análise estatística são: a) Estatística descritiva: descrição do n para cada conjunto de dados, descrição das medidas de tendência central, descrição das medidas de dispersão e http://bit.ly/lrs01 52 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ quando uma medida estatística vier descrita X±Y perceber se o Y é o desviopadrão ou o erro-padrão; b) Estatística inferencial: descrição das variáveis, descrição da forma de medição das variáveis, descrição dos testes estatísticos de hipóteses, justificativa para o uso dos testes em cada análise, ajuste para testes múltiplos, realização de testes estatísticos aferindo a normalidade dos dados, descrição do cálculo do tamanho da amostra ou justificativa da ausência, descrição do nível do alfa, informação sobre a utilização de teste uni ou bicaudal, descrição do valor exato de p e descrição do intervalo de confiança; c) Anomalias: algum método estatístico não usual foi usado e explicado detalhadamente, explicação para a exclusão de dados, explicação para dados ausentes, discrepâncias entre n em diversas análises, justificativa para transformação de dados e descrição do tipo de análise: por protocolo ou por intenção de tratar. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os ensaios clínicos aleatórios são os estudos que mais contribuem com o avanço da ciência devido ao seu baixo potencial para a produção de resultados tendenciosos. A boa qualidade metodológica nos estudos permite maior confiança nos seus resultados. A revisão sistemática usa os resultados relatados nos artigos originais reunindo-os em metanálise. http://bit.ly/lrs01 53 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ APÊNDICES Apêndice 1 – Considerações sobre o cálculo do tamanho da amostra Existem duas possibilidades de interpretação quando a diferença entre os grupos não é evidenciada pelos testes estatísticos e o cálculo do tamanho da amostra não foi executado: ou a diferença não existe de fato ou o estudo não teve poder estatístico suficiente para captá-la. O cálculo do tamanho da amostra possui implicações éticas. Por exemplo: Qual o número de participantes mais adequado numa pesquisa onde o número calculado de pacientes para detectar pneumonia seja de 200 pacientes e para mortalidade seja de 400 pacientes? a) Analisando somente a parte metodológica o mais coerente seria considerar o maior número entre as variáveis, pois, utilizando 400 pacientes os desfechos pneumonia e morte seriam analisados corretamente na pesquisa sem precisar realizar outra pesquisa posteriormente; b) Analisando somente a parte ética o mais coerente seria utilizar somente 200 pacientes, pois, seria necessário induzir pneumonia em outros 200 participantes para detectar quantos mais morreriam na pesquisa. Neste contexto seria possível a realização de duas pesquisas para pneumonia analisando também a mortalidade possibilitando unir os resultados da mortalidade em metanálise. http://bit.ly/lrs01 54 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A descrição do cálculo do tamanho da amostra requer alguns cuidados. Alguns modelos de descrição adequada podem ser vistos abaixo: O tamanho da amostra para detectar uma diferença de mortalidade de 2% entre os grupos, com um nível de significância de 5% e com um poder estatístico de 80% com o uso do teste do qui quadrado é de 1504 pacientes em cada grupo; O tamanho da amostra para detectar uma correlação estatística de 0,6 entre peso e altura, com intervalo de confiança de 95%, um nível de β de 10% com teste bicaudal é de 21 participantes; São necessários 61 participantes na amostra considerando uma frequencia de eventos (pneumonia) da população de 10%, um nível de significância de 5%, um poder estatístico de 80% e um intervalo de confiança de 95% com amplitude de 15%; São necessários 294 participantes em cada grupo da amostra considerando um nível de significância de 5%, um poder estatístico de 80%, a frequencia do evento no primeiro grupo de 20% e a frequencia do evento no segundo grupo de 10%. http://bit.ly/lrs01 55 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 2 – Tabelas e fórmulas para o cálculo do tamanho da amostra para dois grupos em análise A melhor forma de maximizar o poder estatístico de um teste é ter grupos com o mesmo tamanho. Uma forma simples de calcular o tamanho da amostra para dois grupos para dados quantitativos contínuos é por meio da fórmula de Lehr. A fórmula é de Lehr apresenta um valor aproximado e superestima o valor. A fórmula é: n = 16 / MPE2 MPE = diferença que se deseja encontrar / desvio-padrão onde, n é o tamanho da amostra em cada grupo e MPE é a magnitude padronizada do efeito. Um pesquisador deseja captar uma diferença de 5 batimentos por minutos entre dois grupos após uso de medicamento e placebo. A literatura refere que o desvio-padrão fica próximo de 12 batimentos por minuto. Com estes dados e considerando um nível de significância de 5% e com poder estatístico de 80% o número de participantes em cada grupo é de 100 participantes. MPE = 5 /12 = 0,416 n = 16 / 0,42 = 100 n = 100 pacientes http://bit.ly/lrs01 56 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A MPE também pode ser utilizada para o cálculo do tamanho da amostra observando valores tabelados. O exemplo acima pode ser visualizado na Tabela 1 para confirmar o cálculo por meio da fórmula de Lehr. O tamanho da amostra será maior se o tamanho dos grupos for desigual porque o desenho do estudo possuirá menor poder estatístico. Outra fórmula que utiliza o n já calculado pode ser utilizada para estimar o tamanho de cada grupo. A relação (r) entre os grupos é utilizada para auxiliar nas estimativas. Em uma relação 2:1 o r será 2, se a relação for 3:1 o r será 3 e assim por diante. A fórmula é: n’ = (r + 1 / 2r) x n O n’ é o valor do primeiro grupo e rn’ é o valor do outro grupo. http://bit.ly/lrs01 57 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Tabela 1 - Tamanho da amostra para um nível de significância de 5% de acordo com os vários valores de poder estatístico do teste Cálculo do tamanho da amostra para cada grupo com uma significância de 5% Poder estatístico (1 - β) MPE 99 95 90 80 50 0,1 3676 2600 2103 1571 770 0,2 920 651 527 394 194 0,3 410 290 235 176 87 0,4 231 164 133 100 49 0,5 148 105 86 64 32 0,6 104 74 60 45 23 0,7 76 54 44 33 17 0,8 59 42 34 26 13 0,9 47 34 27 21 11 1,0 38 27 22 17 9 1,1 32 23 19 14 8 1,2 27 20 16 12 7 1,3 23 17 14 11 6 1,4 20 15 12 9 5 1,5 18 13 11 8 5 Fonte: Campbel et al, 1995. http://bit.ly/lrs01 58 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Tabela 2 - Tamanho da amostra por grupo para comparar duas proporções (teste bicaudal). Primeira linha α = 0,10 e β = 0,20 Segunda linha α = 0,05 e β = 0,20 Terceira linha α = 0,05 e β = 0,10 Diferença entre proporções (P1 e P2) Menor Valor de P 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,05 0,1 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 381 129 72 47 35 27 22 18 15 13 473 159 88 59 43 33 26 22 18 16 620 207 113 75 54 41 33 27 23 19 578 175 91 58 41 31 24 20 16 14 724 219 112 72 51 37 29 24 20 17 958 286 146 92 65 48 37 30 25 21 751 217 108 67 46 34 26 21 17 15 944 270 133 82 57 41 32 26 21 18 1252 354 174 106 73 53 42 33 26 22 900 251 121 74 50 36 28 22 18 15 1133 313 151 91 62 44 34 27 22 18 1504 412 197 118 80 57 44 34 27 23 1024 278 132 79 53 38 29 23 18 15 1289 348 165 98 66 47 35 28 22 18 1714 459 216 127 85 60 46 35 28 23 1123 300 141 83 55 39 29 23 18 15 1415 376 175 103 68 48 36 28 22 18 1883 496 230 134 88 62 47 36 28 23 1197 315 146 85 56 39 29 23 18 15 http://bit.ly/lrs01 59 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 1509 395 182 106 69 48 36 28 22 18 2009 522 239 138 90 62 47 35 27 22 1246 325 149 86 56 39 29 22 17 14 1572 407 186 107 69 48 35 27 21 17 2093 538 244 139 90 62 46 34 26 21 1271 328 149 85 55 38 28 21 16 13 1603 411 186 106 68 47 34 26 20 16 2135 543 244 138 88 60 44 33 25 19 1271 325 146 83 53 36 26 20 15 1603 407 182 103 66 44 32 24 18 2135 538 239 134 85 57 42 30 23 1246 315 141 79 50 34 24 18 1572 395 175 98 62 41 29 22 2093 522 230 127 80 53 37 27 1197 300 132 74 46 31 22 1509 376 165 91 57 37 26 2009 496 216 118 73 48 33 1123 278 121 67 41 27 1415 348 151 82 51 33 1883 459 197 106 65 41 1024 251 108 58 35 1289 313 133 72 43 1714 412 174 92 54 900 47 217 91 1133 270 112 59 1504 354 146 75 http://bit.ly/lrs01 60 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 0,80 751 175 72 944 219 88 1252 286 113 0,85 578 129 724 159 958 207 381 0,90 473 620 P, proporção. Fonte: Hulley et al., 2008. http://bit.ly/lrs01 61 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ ANEXOS Anexo 1. Critérios para considerar “alto” em cada item da tabela para o risco de viés Os critérios para considerar “alto” em cada item são: a) Método de escolha da sequência de alocação: referência de escolha por data de aniversário, data de admissão no hospital ou número de prontuários; escolha pelo julgamento clínico, preferência do participante; baseado nos resultados de laboratório; e pela viabilidade da intervenção; b) Sigilo da alocação: lista de números randômicos, envelopes não enumerados e nem opacos, alternância, data de aniversário, número de prontuários ou qualquer outro método que não pareça consistente; c) Mascaramento, vendamento ou ocultamento: ausência de mascaramento, mas o revisor acredite que o mascaramento influenciaria positivamente nos resultados, quando parecer que houve quebra do mascaramento e mascaramento do participante apenas; d) Dados incompletos dos resultados das variáveis: ausência de dados de variáveis, descrição inadequada dos motivos para ausência dos dados das variáveis e quando os dados ausentes influenciem nos resultados. e) Relato incompleto das variáveis: quando alguma variável pré- especificada não foi relatada nos resultados, quando se planejou utilizar um forma de analisar a variável e se relatou outra forma de mensuração, variáveis relatadas e que não foram planejadas previamente no http://bit.ly/lrs01 62 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ momento do projeto e quando as variáveis de interesse a metanálise não forem relatadas ou forem de forma incompelta no artigo original; f) Outras fontes potenciais de viés: identificação de uma potencial fonte de viés pelo revisor, término antecipado de ume estudo, populações ou amostras com dados basais diferentes, suspeita de fraude e algum outro tipo de problema. http://bit.ly/lrs01 63 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Anexo 2. Critérios para considerar “indeterminado” em cada item da tabela para o risco de viés Os critérios para considerar “indeterminado” em cada item são: a) Método de escolha da sequência de alocação: informações insuficientes para julgar a resposta do item como sendo sim ou não; b) Sigilo da alocação: quando a descrição é incompleta ou inadequada ou quando informações insuficientes para julgar a resposta do item como sendo sim ou não; c) Mascaramento, vendamento ou ocultamento: quando o estudo não cita ou quando as informações insuficientes para julgar a resposta do item como sendo sim ou não; d) Dados incompletos dos resultados das variáveis: quando os resultados das variáveis citadas no método não estiverem presentes nem parcialmente ou quando as informações insuficientes para julgar a resposta do item como sendo sim ou não e) Relato incompleto das variáveis: informações insuficientes para julgar a resposta do item como sendo sim ou não; f) Outras fontes potenciais de viés: relato insuficiente para perceber que existe risco de viés por algum problema. http://bit.ly/lrs01 64 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Coleta de dados Fabiano Timbó Barbosa A coleta de dados torna qualquer pesquisa viável, porém coletá-los inadequadamente implica em resultados com tendenciosidades. INTRODUÇÃO A coleta de dados é um momento crucial na realização de qualquer pesquisa. Coleta de dados implica em observar o comportamento das variáveis ao mesmo tempo em que se preenche um formulário. As conclusões de uma pesquisa podem ser enganosas quando a coleta de dados é realizada de forma diferente daquela que foi planejada no seu projeto de pesquisa ou quando ela é realizada de forma desigual entre os grupos que estão sob investigação. A revisão sistemática depende qualidade do relato da apuração dos dados das variáveis de interesse nos artigos originais incluídos na revisão e que possam responder a sua pergunta de pesquisa. http://bit.ly/lrs01 65 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A extração dos dados que serão utilizados numa revisão sistemática deve ser executada idealmente por pelo menos dois revisores ou então por um só revisor com checagem dos dados por outro. A forma mais eficaz de coletar dados é com dois revisores analisando artigos de forma independente seguindo-se de uma reunião de consenso para resolver as discordâncias entre eles. Se um revisor puder checar o trabalho de outro pode haver um aumento na acurácia e redução das informações ausentes, porém esta prática é mais sujeita a viés. IMPORTÂNCIA DO FORMULÁRIO O formulário de extração de dados representa uma ponte entre o que foi reportado pelos autores dos artigos originais incluídos e o que será utilizado pelos revisores em seu relatório final. A criação do formulário para cada revisão depende do interesse do revisor nos participantes, intervenções, comparações, desfechos e tipo de estudo. Um formulário pode possuir três funções básicas: primeira, possui uma conecção direta com o projeto de pesquisa representando as suas partes principais como a pergunta de pesquisa, as variáveis, os participantes e as intervenções providenciando uma representação visual destes; segunda, é um documento que pode ser utilizado durante todo o processo de revisão; e http://bit.ly/lrs01 66 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ terceira, serve de fonte de informações de onde surgirão os cálculos de metanálise. COMPONENTES DE UM FORMULÁRIO O formulário deve ser idealizado para representar todas as informações relevantes e existentes num artigo original. Ele possui basicamente três partes: a primeira parte contém o cabeçalho e critérios de elegibilidade, a segunda parte deve conter características dos estudos que foram reportados nos artigos originais e a terceira parte possui o resultado das variáveis. Opcionalmente pode-se reservar uma parte para análise das referências, porém esta prática não é aceita por todos devido à possibilidade de viés na inclusão de artigos. O cabeçalho deve conter: nome da revisão, identificador da revisão, título do artigo original incluído, data do preenchimento, revisor responsável pelo preenchimento, identificação do artigo incluído na sua base de dados e idioma (Apêndice 1). Os critérios de elegibilidade podem ser claramente identificados em um artigo original quando ele responde no mínimo a três perguntas (Apêndice 1): a) Os pacientes foram alocados adequadamente? b) Os pacientes respondem à pergunta de pesquisa da revisão sistemática? c) Houve randomização? http://bit.ly/lrs01 67 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ É aconselhável também verificar se houve sigilo da alocação, pois, somente os artigos com sigilo adequado devem ser incluídos na revisão sistemática (Apêndice 1). As características dos estudos que foram reportados nos artigos originais de interesse são: métodos, participantes, intervenções, resultados e desfechos (Apêndice 2). Neste momento também é aconselhável colher dados que serão utilizados para analisar a qualidade metodológica (Apêndice 2). Um modelo para a extração dos dados relativos aos resultados pode ser vista no final deste capítulo (Apêndice 3). TESTE PILOTO O formulário deve ser submetido a um teste piloto com um conjunto de artigos para seu aprimoramento. Quanto mais informações o formulário puder captar mais idêntico ao artigo original ele se tornará. O formulário de coleta de dados ideal é aquele que contiver todas as informações de um artigo original de forma que o artigo possa ser descartado e não mais consultado no processo da coleta de dados. http://bit.ly/lrs01 68 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ INFORMAÇÕES AUSENTES Os revisores podem se deparar com artigos originais que não apresentam informações sobre todas as variáveis de interesse ou com dados incompletos de variáveis relatadas. O máximo de esforços deve ser tomado em relação a coleta destas informações, pois, elas podem ter sido coletadas pelos autores dos estudos e não relatadas ou podem não terem sido coletadas. É pertinente realizar contato com os autores dos artigos originais para o esclarecimento de dúvidas. A importância de dados ausentes pode ser atestada realizando-se uma análise de sensibilidade. TIPOS DE ANÁLISE DOS ENSAIOS CLÍNICOS É importante conhecer o tipo de análise que foi realizada pelos pesquisadores em seus ensaios clínicos porque isso pode influenciar nos resultados de uma revisão sistemática. As análises possíveis são: estatística, por intenção de tratar, por protocolo e de subgrupo. A análise estatística é aquela realizada com os dados dos participantes em testes estatísticos para a comparação entre os grupos. É importante observar o nível de significância adotado e o cálculo do tamanho da amostra. O nível de significância demonstra o rigor assumido pelos pesquisadores na execução da análise dos participantes e o tamanho da amostra denuncia a preocupação com o poder estatístico assumida para um estudo. É comum http://bit.ly/lrs01 69 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ utilizar na área de saúde um nível de significância de 5% e um beta de 20% assumindo um poder estatístico de 80%. A análise por intenção de tratar ocorre quando cada participante é analisado conforme a sua alocação independentemente de ter ou não recebido a intervenção proposta. Esse tipo de análise pode subestimar o verdadeiro efeito do tratamento. A maioria dos autores prefere relatar os resultados dos pacientes que receberam a intervenção. A análise por protocolo refere-se aos dados de pacientes que seguiram o protocolo completamente ou em sua maioria. Os dados dos pacientes que não seguiram o protocolo são descartados pelos autores. A análise de subgrupo ocorre quando pequenos grupos de pacientes foram analisados em relação a características específicas de interesse aos pesquisadores. Este tipo de análise pode levar a conclusões enganosas, pois, a redução do número de participantes compromete o poder estatístico. CONSIDERAÇÕES FINAIS O formulário para extração dos dados é o espelho do artigo original incluído para análise e serve como um documento que auxilia na realização da metanálise. Coletar dados de maneira correta e sem viés é um passo para o sucesso da revisão sistemática. A metanálise só pode ser executada quando mais de http://bit.ly/lrs01 70 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ um artigo original fornece dados relativos a uma mesma variável e que pelo menos dois artigos originais forneçam dados sobre a mesma variável. http://bit.ly/lrs01 71 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ APÊNDICES Apêndice 1 – Modelo de formulário para avaliação dos critérios de inclusão dos artigos originais AVALIAÇÃO INICIAL DOS ESTUDOS ID do estudo:___________________________Data: ___/___/______ Título: ____________________________________________________________________________ ____________________________________ Autores: ____________________________________________________________________________ ____________________________________ ID na MEDLINE: _______________ Idioma: __________________ 1. Tipos de estudos Trata-se de um ensaio clínico aleatório? Sim Não Indeterminado 2. Tipos de participantes Os participantes são apropriados para responder a pergunta da pesquisa da revisão sistemática? Sim Não Indeterminado Participantes Diagnóstico 3. Tipos de intervenção http://bit.ly/lrs01 72 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Houve alguma intervenção de interesse a revisão sistemática? Sim Não Indeterminado Quais são os grupos de comparações? Grupo experimental Grupo controle 4. Variáveis do estudo As variáveis analisados neste estudo são de interesse a revisão sistemática? Sim Não Indeterminado 5. Decisão final Este estudo pode ser incluído na revisão sistemática para extração de dados? Sim Não Se a resposta desta questão foi NÃO explicitar os motivos para a exclusão do estudo na revisão sistemática. ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________ http://bit.ly/lrs01 73 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 2 – Formulário para coleta de dados dos artigos originais incluídos INFORMAÇÃO DOS ESTUDOS INCLUÍDOS ID do estudo:___________________________Data: ___/___/______ Título:_______________________________________________________________________ ____________________________________ Autores:_____________________________________________________________________ ____________________________________ ID na MEDLINE: _______________ Título do Informação a ser coletada RevMan 1. Método 1.1) Pergunta da pesquisa: 1.2) Hipóteses: 1.3) Objetivos: 1.4) Randomisação: 1.4.1 Geração da seqüência de alocação: 1.4.2 Sigilo da alocação: 1.5) Cegamento: 1.5.1 Pessoa responsável pelos cuidados aos participantes 1.5. Participantes 1.5.3 Pessoa responsável pela coleta de dados 1.5.4 Pesquisador principal 1.5.5 Pessoa que faz a análise dos dados 1.5.6 Pessoa que escreveu o artigo 1.6) Perdas do seguimento após a intervenção: 1.6.1 Perdas: 1.6.2 Exclusões: 1.7) Duração do seguimento pós-intervenção: http://bit.ly/lrs01 74 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 1.8) Quais os critérios de inclusão? 1.9) Número de participantes que receberam o tratamento desejado (envolvidos no estudo) 1.10) Número de participantes que foram analisados: 1.11) Momentos em que os dados foram avaliados durante o estudo: 1.12) Momentos relatados no estudo: 1.13) Tipo de estudo: 1.14) Os grupos eram comparáveis em relação a mais importante característica prognóstica? 1.15) Princípio da intenção-do-tratamento: 1.16) Cálculo do tamanho da amostra: 1.17) Representatividade: 1.18) Escala de Qualidade (JADAD et al., 1996): 1.18.1O estudo foi descrito como aleatório (uso de palavras como "randômico", "aleatório", "randomização")? 1.18.2 O método foi adequado? 1.18.3 O estudo foi descrito como duplo-cego? 1.18.4 O método foi adequado? 1.18.5 Houve descrição das perdas e exclusões? 1.19) Lista de Delphi (VERHAGEN et al., 1998): 1.19.1 A alocação dos pacientes foi aleatória? 1.19.2 Se os indivíduos foram alocados aleatoriamente para os grupos de tratamento, foi mantido o sigilo de alocação? 1.19.3 Os grupos eram comparáveis em características mais importantes do prognóstico? relação às 1.19.4 Os critérios de inclusão e exclusão foram especificados? http://bit.ly/lrs01 75 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 1.19.5 Foi utilizado um avaliador independente para avaliar os resultados? 1.19.6 O responsável pelo cuidado do paciente foi mascarado? 1.19.7 O paciente foi mascarado? 1.19.8 As medidas de variabilidade e a estimativa dos pontos foram apresentadas para a variável primária? 1.19.9 O estudo incluiu uma análise por intenção de tratar (todos os pacientes alocados)? 1.19.10 Descrição das taxas e razões para as exclusões? 1.20) Itens da tabela para o risco do viés (HIGGINS et al., 2011) 1.20.1 Descrição do método de randomização. 1.20.2 Descrição do sigilo da alocação. 1.20.3 Descrição do vendamento. 1.20.4 Existem dados de variáveis incompletas? 1.20.5 Existem dados de variáveis selecionadas? 1.20.6 Há outras fontes de viés aparente? 2. 2.1) Critérios de inclusão: Participantes 2.2) Idade: 2.3) Sexo: 2.4) Número de participantes: 2.5) Critérios de exclusão: 2.6) Duração do estudo: 3. Intervenções 2.7) Local do estudo: 3.1) Grupo de intervenção: 3.1.1 Técnica anestésica: 3.1.2 Fármacos utilizados: http://bit.ly/lrs01 76 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 3.2) Grupo controle: 3.2.1 Técnica anestésica: 4. Variáveis 3.2.2 Fármacos utilizados: 4.1) Variáveis primárias: 4.1.1 mortalidade: 4.1.2 4.2) Variáveis secundárias: 4.2.1 grau de satisfação: 5. Notas 4.2.2 Fonte de fomento, comissão de ética, conflito de interesses. http://bit.ly/lrs01 77 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ MODELO PARA ANÁLISE DAS REFERÊNCIAS (OPCIONAL) ID do estudo:___________________________Data: ___/___/______ Título:_______________________________________________________________________ ____________________________________ Autores:_____________________________________________________________________ ____________________________________ ID na MEDLINE: _______________ Referências para outros estudos Esse artigo possui alguma referência de artigos publicados com potencial para participar dessa pesquisa ainda não identificado pelos autores dessa revisão? Primeiro autor Jornal / Conferência Ano de publicação Esse artigo possui alguma referência de artigos não publicados com potencial para participar dessa pesquisa ainda não identificado pelos autores dessa revisão? Primeiro autor Jornal / Conferência Ano de publicação http://bit.ly/lrs01 78 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 3 – Formulário para extração dos dados das variáveis EXTRAÇÃO DOS DADOS ID do estudo:___________________________Data: ___/___/______ Título:_______________________________________________________________________ ____________________________________ Autores:_____________________________________________________________________ ____________________________________ ID na MEDLINE: _______________ Variáveis contínua Variável Unidade de medida Grupo experimental Grupo controle N Média DP N Média DP Legenda: N= número de participantes, DP = desvio padrão. Variáveis dicotômica Variável Unidade de medida Grupo experimental Observados N Grupo controle Observados N Legenda: N= número de participantes. http://bit.ly/lrs01 79 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Análise e apresentação dos dados Fabiano Timbó Barbosa Planejar corretamente e coletar ou analisar inadequadamente não prejudicam tanto quanto planejar inadequadamente e coletar e analisar eximiamente. Analisar estatisticamente pode às vezes maquiar os resultados. INTRODUÇÃO Analisar dados significa procurar significado no que foi achado por um pesquisador. Os dados só adquirem importância quando analisados adequadamente. Existem pelo menos duas formas de sintetizar os dados: a síntese quantitativa e a síntese narrativa. A síntese quantitativa ocorre quando os resultados dos estudos podem ser combinados quantitativamente utilizando-se testes estatísticos e análises secundárias avaliando melhor e pior cenário clínico. A síntese narrativa é uma forma de organizar os dados com o intuito de melhor entender o efeito do tratamento oi intervenção analisada. Esta síntese analisa a força das evidências, demonstra quando possível o elo cientifico entre a intervenção e o resultado encontrado e analisa os resultados de cada estudo individualmente para melhor entendê-los no conjunto. http://bit.ly/lrs01 80 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A revisão sistemática também exige um sumário descritivo dos estudos incluídos contendo pelo menos com os seguintes itens: tipo de estudo, intervenções, número de participantes e suas características, variáveis e os desfechos. VARIÁVEIS CLÍNICAS Variável é uma característica que pode ser mensurada e que varia de indivíduo para indivíduo, daí o nome variável. As variáveis põem ser: quantitativa ou numérica e qualitativa ou categórica. A variável quantitativa ainda pode ser contínua, precisa de instrumento de precisão, e discreta, pode ser contada sem instrumentos. A variável qualitativa pode ser dicotômica, só aceita dois resultados que são mutuamente excludentes, e policotômia, aceita mais de um resultado. A realização da metanálise requer que as variáveis sejam adequadamente definidas e mensuradas nos artigos originais incluídos. As variáveis também podem ser classificadas em biológica e clínica. As variáveis biológicas são aquelas que geram dados relacionados a parâmetros biológicos e que muitas vezes não trazem grande contribuição a prática clínica. Por exemplo: quantidade de noradrenalina na fenda sináptica, número de canais de cálcio em receptores do sistema nervoso central, etc. A análise destas variáveis serve para explicar fenômenos ainda não compreendidos e gerarem ou elucidarem hipóteses relacionadas indiretamente a prática clínica. http://bit.ly/lrs01 81 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ As variáveis clínicas são aquelas que geram dados diretamente relacionados ao cotidiano. Por exemplo: mortalidade, pneumonia, tempo de internação hospitalar, etc. Estas são mais valorizadas pelas revisões sistemáticas. NÍVEL DE SIGNIFICÂNCIA O nível de significância representa o limite numérico para a rejeição da hipótese nula. É um valor que representa o limite a partir do qual se atribuirá o resultado ao a encontrado ao caso. O valor de P apresentado nos artigos originais representa a probabilidade do efeito ter ocorrido na pesquisa mesmo que ele não exista na população que deu origem a amostra avaliada. A revisão sistemática também possui estatística própria conhecida come metanálise. Os parâmetros estatísticos dos artigos originais não são utilizados, mas sim os resultados relatados nos artigos. No contexto de uma revisão sistemática o valor de P pode representar: “ausência do efeito da intervenção”, ou seja, ausência de significância estatística entre os grupos e “ausência de diferença do efeito da intervenção entre os estudos”, ou seja, ausência de heterogeneidade. http://bit.ly/lrs01 82 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ INTERVALO DE CONFIANÇA Os resultados de uma metanálise são relatados como um ponto central estimado e seu intervalo de confiança sob o aspecto gráfico de um losango chamado de diamante. Os valores numéricos são representados para não prejudicar a análise dos resultados. Os resultados dos estudos individualmente também são representados no cálculo da metanálise por uma linha reta que é o resultado do intervalo de confiança e uma caixa no centro da linha que é o ponto central estimado ou magnitude do efeito. O intervalo de confiança revela a incerteza da estimativa do ponto central e demonstra com uma relativa confiança o intervalo de valores em que o verdadeiro valor possa se encontrar. Quanto mais estreito for o intervalo maior será a precisão estatística. TESTES ESTATÍSTICOS A metanálise permite a aplicação de testes em dois níveis de análise: a análise do efeito do tratamento entre os grupos e o efeito do tratamento entre os estudos. As razões para realizar a metanálise são: aumentar o poder estatístico, aumentar a precisão do efeito da intervenção, aumentar o número de pacientes, reduzir o erro randômico e diminuir o intervalo de confiança. Grandes intervalos de confiança de estudos individuais demonstram imprecisão estatística da análise. http://bit.ly/lrs01 83 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A decisão acerca de quais estudos que devem ou não ser combinados é subjetiva e requer sensatez no julgamento (Apêndice 1). A decisão deve ser baseada nos critérios estabelecidos no protocolo, nas perguntas das pesquisas dos estudos incluídos e nas variáveis de interesse. É recomendável realizar a metanálise em duas etapas: primeira, mostrar os resultados de cada estudo individualmente, e segunda, a combinação dos resultados dos estudos. As perguntas de pesquisas possuem diferenças que podem tornar a combinação dos resultados sem sentido e estes dois passos podem auxiliar na identificação e interpretação das heterogeneidades. A homogeneidade dos resultados encontrados na metanálise deve ser analisada. A heterogeneidade estatística é resultado da heterogeneidade clínica ou metodológica. A heterogeneidade clínica provém da diferença real no efeito da intervenção. A heterogenidade metodológica advem provavelmente como resultado das tendenciosidades (Apêndice 2). A metanálise é a média ponderada da combinação dos resultados de cada estudo. Quanto maior o "peso" maior a influência deste estudo no resultado final e isto ocorre devido a forma como ocorre parte do cálculo. Os estudos são "pesados" na proporção inversa da variância ou no quadrado do erro padrão. Os dados de variáveis podem ser analisados por alguns testes estatísticos como: Mantel-Haenszel, Peto e variância invertida. Geralmente os estudos incluídos apresentam valores numéricos pequenos, por isso ocorre maior utilização do teste de Mantel-Haenszel. http://bit.ly/lrs01 84 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A magnitude do efeito pode ser expressa por meio de algumas medidas tais como: Peto Odds Ratio, razão de chances, diferença de risco, diferença de média, etc. O teste de heterogeneidade estatística pode ser executado por: χ2, I2, Tau2. Casos ocorra heterogeneidade entre os estudos então os resultados de uma metanálise tornam-se questionáveis sendo necessária a exploração desta heterogeneidade (Apêndice 2). MODELOS DE EFEITO Os modelos matemáticos utilizados para sumarizar os resultados dos estudos em uma metanálise são: modelo de efeito fixo e modelo de efeito randômico (Figura 1). Fixo Randômico Mesmas questões: acaso Diferentes questões: acaso + diferença de questões Favorece o tratamento Figura 1. Exemplo do resultado final após análise dos modelos de efeito fixo e randômico O modelo de efeito fixo mostra um resultado que pode ser visto como um efeito típico do tratamento para os estudos incluídos na metanálise, e para o seu cálculo do intervalo de confiança é assumido que o verdadeiro efeito do http://bit.ly/lrs01 85 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ tratamento é o mesmo em cada estudo, ou seja, que o efeito do tratamento é fixo em cada estudo e que as diferenças são devidas ao acaso. O modelo de efeito fixo pesa a contribuição de cada estudo proporcional a quantidade de informação observada em cada estudo. Considera a variação dos resultados dentro dos estudos e não entre os estudos. As condições que são necessárias para se utilizar o modelo de efeito fixo são: primeira, os estudos devem ser funcionalmente idênticos, e segunda, ter como objetivo computar um efeito da intervenção ou tratamento único, comum, para uma população específica e não generalizá-lo para outras populações. Os estudos incluídos na análise ganham pesos equivalentes a sua contribuição no cálculo matemático, por isso, estudos com maior contribuição ganham mais peso e estudos com pequena contribuição podem ser descartados. O intervalo de confiança tende a ser estreito. O modelo de efeito randômico envolve a suposição de que o efeito estimado entre os estudos não é o mesmo, mas seguem a mesma distribuição e que a análise se dá em uma média da distribuição destes efeitos. O modelo de efeito randômico permite a variabilidade entre os estudos pesando os estudos usando a combinação das suas variâncias e a variância entre os estudos. Uma condição é necessária para este modelo: analisar estudos funcionalmente equivalentes. Os estudos incluídos na análise ganham pesos, mas de forma ponderada valorizando a contribuição dos grandes e pequenos estudos. O intervalo de confiança tende a ser mais amplo. http://bit.ly/lrs01 86 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A estratégia de se iniciar como modelo de efeito fixo e depois mudar para modelo de efeito randômico se o teste de heterogeneidade for significativo é um erro e deve ser desaconselhado, pois, não se está se respeitando a indicação de cada modelo. É mais conservador usar o modelo de efeito randômico uma vez que na maioria das vezes se analisam estudos funcionalmente equivalentes, porém quando se tem poucos estudos incluídos não se pode afirmar com certeza que seu uso esteja totalmente correto devido a pequena variância entre os estudos. Alguns autores aconselham que em caso de dúvida se proceda: a uma descrição de cada resultado isolado, a utilização do modelo de efeito fixo sem fazer inferências a populações ou a execução de uma análise Bayesiana. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE Análise de sensibilidade explora a força do resultado por meio da repetição da análise matemática modificando números ou alterando critérios dos métodos dos estudos incluídos. Se a análise não modificar a interpretação dos resultados percebe-se que há alta possibilidade dos resultados serem confiáveis. As formas de executar análise de sensibilidade são: modificar critérios de inclusão possibilitando incluir ou excluir estudos quase-randomizados, excluir estudos de má qualidade metodológica da análise, modificar o tratamento estatístico empregado (e.x. modelo de efeito randômico para fixo ou http://bit.ly/lrs01 87 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ vice-versa, odes relativa para risco relativo ou vice-versa, etc.), utilizar os dados ausentes ou que deixaram de ser relatados pelos autores dos artigos originais e utilizar número que simulem o melhor e o pior cenário de respostas para cada intervenção (Apêndice 3). Analisar a sensibilidade de uma revisão sistemática significa perceber como as diferenças clínicas, metodológicas e estatísticas podem ter afetado os resultados. As decisões após a análise podem ser: modificar critérios de inclusão, incluir ou excluir estudos responsáveis pela heterogeneidade, reanalisar os dados usando outros testes estatísticos e atribuir valores razoáveis a variáveis com resultados ambíguos. VIÉS DE PUBLICAÇÃO O gráfico do funil pode ser utilizado para avaliar o viés de publicação. O gráfico é gerado baseando-se na relação entre o efeito do tratamento e o tamanho da amostra utilizada. A precisão na estimativa do efeito aumenta com o aumento do tamanho da amostra. Quando não há diferença no resultado entre os pequenos e grandes estudos o gráfico assume a forma de um funil invertido sendo que os grandes estudos ficam situados no topo do funil e os pequenos estudos, dispersos na sua base (Figura 2). http://bit.ly/lrs01 88 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Figura 2. Gráfico do funil invertido mostrando a relação entre os grandes estudos, na parte superior, e os pequenos estudos, na parte inferior A diferença neste formato pode se dever ao viés de publicação ou a diferenças entre os estudos como populações diferentes ou heterogeneidade clínica entre as intervenções. CONSIDERAÇÕES FINAIS A metanálise é a aplicação de modelos matemáticos para calcular um ponto central de efeito e seus intervalos de confiança utilizando os resultados dos artigos originais incluídos em uma revisão sistemática. http://bit.ly/lrs01 89 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ APÊNDICES Apêndice 1 - Escolha do estudo incluído para análise dos resultados (metanálise) Algumas considerações podem ser feitas para identificar os estudos que serão analisados em conjunto, tais como: 1. A pergunta da pesquisa é a mesma ou quase a mesma nos estudos incluídos para a metanálise? a) Qual foi o gênero dos participantes? b) Os participantes possuíam a mesma média de idade nos diferentes grupos de análise? c) A condição clínica era a mesma ou quase a mesma entre os participantes dos estudos que serão incluídos? d) Qual foi à intervenção, método diagnóstico, método profilático, tratamento, etc. em todos os estudos que se deseja analisar? Foi a mesma? e) Qual foi o controle ou medida queserviu de controle nos estudos incluídos? f) Qual o tempo de seguimento? g) Qual e como foi o tipo de análise relatada no estudo? Houve análise por intenção de tratar? 2.Qual o momento em que os dados foram coletados? a) Só durante a intervenção? b) Só durante o seguimento? c) Durante a intervenção e o seguimento? d) O que o autor do artigo incluído fez com os dados dos pacientes que se perderam durante o seguimento? http://bit.ly/lrs01 90 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ 3. Como os valores numéricos foram analisados nos artigos incluídos? a) Todos os pacientes randomizados foram incluídos nos cálculos? b) Houve exclusão após a randomização? O que o autor fez com os excluídos, analisou também ou simplesmente excluiu da análise? http://bit.ly/lrs01 91 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 2 - Análise de homogeneidade Algumas considerações podem ser feitas para identificar a heterogeneidade entre os estudos que foram analisados em conjunto, tais como: 1. Houve heterogeneidade estatística na metanálise? Se sim: a) Foi clínica (diferenças nas intervenções)? b) Foi metodológica (houve erro sistemático ou viés)? 2. Existem indícios de que algum estudo seja o causador da heterogeneidade? a) Aplicar o gráfico do funil invertido disponibilizado no aplicativo estatístico. 3. Mesmo sem que seja perceptível estatisticamente a heterogeneidade você pessoalmente acredita que isso possa ter ocorrido? Onde? Como? http://bit.ly/lrs01 92 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 3 - Análise de sensibilidade Algumas considerações podem ser feitas para dar credibilidade aos resultados dos estudos que foram analisados em conjunto, tais como: 1. Os pacientes perdidos no seguimento ou excluídos podem influenciar nos resultados? a) Os pacientes perdidos e excluídos podem contar como eventos negativos para o grupo em que aquele participante perdido ou excluído foi randomizado; b) É possível por todos os eventos adversos em ambos os grupos; c) E possível retirar todos os eventos adversos em ambos os grupos; 2. Ao excluir estudos de má qualidade metodológica ocorre alguma distorção nos resultados da metanálise? 3. Modificar o tratamento estatístico interfere na interpretação final dos resultados? 4. Você testou números fictícios simulando o melhor cenário clínico para responder a pergunta de pesquisa da metanálise? http://bit.ly/lrs01 93 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Interpretação dos resultados Fabiano Timbó Barbosa Aquele que sabe interpretar os dados pode profetizar o futuro fazendo extrapolação dos resultados das pesquisas para grandes populações. INTRODUÇÃO A metanálise é uma análise matemática que a revisão sistemática utiliza para estimar a magnitude do efeito da intervenção. A metanálise utiliza dados dos resultados relatados nos artigos originais incluídos e não pode ser executada com os parâmetros estatística. Os dados individuais de cada paciente relatado nos artigos originais também podem ser analisados em um único estudo gerando metanálise. GRÁFICO DE FLORESTA A interpretação do gráfico da metanálise começa com a visualização do diamante, losango que aparece no final da análise, e sua relação com a linha de nulidade (Figura 1). Quando não houver diferença estatística entre os grupos o diamante incidirá sobre a linha de nulidade, mas quando ele estiver http://bit.ly/lrs01 94 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ em um dos lados da linha significa que o resultado estatístico será favorável a um dos grupos, ou seja, a uma das intervenções. Os grupos sob análise estão descritos abaixo da linha horizontal (Figura 1). O diamante representa um ponto central calculado e seu intervalo de confiança. A representação numérica do resultado normalmente situa-se na linha horizontal (Figura 1). Linha da nulidade Estudo 1 80% Estudo 2 20% Diamante A favor do tratamento A favor do controle Figura 1. Gráfico em floresta representando hipoteticamente uma metanálise Os estudos que foram analisados são descritos geralmente no canto esquerdo do gráfico assim como o ano da publicação do artigo original (Figura 1). Eles também têm seus resultados representados como uma linha e uma caixa que poderá incidir ou não sobre a linha de nulidade (Figura 1). O tamanho da caixa situada na linha de cada estudo representa a contribuição para a análise que também é representada por meio de porcentagens com o título de “peso do estudo” (Figuras 1 e 2). http://bit.ly/lrs01 95 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Estudo Castro 2010 Jucá 2008 Tratamento Controle Odds Ratio EventosTotal Eventos Total Peso M-H, Fixo, 95% IC 2 1 Total (95% IC) 50 70 120 Odds Ratio M-H, Fixed, 95% IC 3 40 33.8% 0.51 [0.08, 3.24] 5 40 66.2% 0.10 [0.01, 0.90] 80 100.0% 0.24 [0.06, 0.92] Total de eventos 3 8 Heterogeneidade: χ² = 1.25, GL = 1 (P = 0.26); I² = 20% Teste do efeito global: Z = 2.08 (P = 0.04) 0.01 0.1 1 10 100 A favor do tratamento A favor do controle Figura 2. Resultado de variável dicotômica na forma de gráfico e tabela gerado pelo RevMan 5. Legenda: M-H, teste de Mantel-Henzel; Fixo, modelo de efeito fixo; IC, intervalo de confiança; GL, graus de liberdade; I2, teste de Higgins As retas referentes a cada estudo podem ser representadas por setas que demonstra que os resultados dos estudos incluídos são maiores do que a escala numérica que se apresenta na linha horizontal do gráfico. Á esquerda do gráfico, entre o peso e o gráfico da análise, percebe-se informação sobre o intervalo de confiança usado na análise, e intuitivamente o nível de significância, o modelo de efeito e o teste estatístico (Figura 2). Os valores que se encontram fora do colchete representam os resultados e o colchete contém o intervalo de confiança tanto para os estudos como para a metanálise (diamante). Á esquerda do peso percebem-se informações sobre o número de eventos que ocorreu em cada grupo e em cada artigo original incluído assim como o número total de participantes (Figura 2). http://bit.ly/lrs01 96 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A parte inferior contém informações sobre o número total de eventos e de participantes em cada grupo, em negrito, os testes para análise da homogeneidade e o teste do efeito global que informa sobre a significância da metanálise (Figura 2). HOMOGENEIDADE A heterogeneidade é conhecida como qualquer tipo de divergência entre os artigos originais incluídos em uma revisão sistemática. O gráfico da metanálise geralmente apresenta testes estatísticos para captar a heterogeneidade estatística. Esta heterogeneidade corresponde a diferenças observadas no efeito do tratamento e pode ser subdividida em: clínica e metodológica. A heterogeneidade clínica corresponde à variabilidade entre os participantes, as intervenções e as variáveis e a heterogeneidade metodológica corresponde à divergência encontrada entre o desenho e a qualidade dos artigos originais. O teste do qui-quadrado e o teste de Higgins (I2) são os mais comumente utilizados para captar a heterogeneidade estatística (Figura 2). A heterogeneidade pode ser identificada quando o qui-quadrado apresenta significância estatística e o I2 for maior que 50%. http://bit.ly/lrs01 97 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ GRÁFICO DO FUNIL Os estudos mal delineados tendem a apresentar mais facilmente resultados positivos do que os estudos bem delineados. Os estudos com resultados negativos tendem a não ser publicados, portanto a literatura pode conter estudos com resultados positivos, entretanto estes estudos não são representativos do total de todos os estudos. Quando somente os estudos com resultados positivos são utilizados ocorre um erro sistemático conhecido como viés de publicação. A seleção dos artigos originais para análise estatística pode ser incorreta por vários motivos: citação mais comum de artigos publicados na língua pátria; exclusão de artigos publicados em outro país, por empresas ou em outro continente e inclusão de artigos mal delineados. O gráfico do funil é uma forma de diagnosticar um erro sistemático conhecido como viés de seleção. Utilizando-se uma linha vertical para representar o efeito estimado do tratamento e bolas ou quadrados para representar o resultado de cada artigo original incluído, percebe-se que os estudos com um maior número de participantes possuem intervalos de confiança mais estreito e maior precisão estatística, por isso, ficam mais próximos do ponto central estimado e acima no gráfico (Gráfico 1). Os estudos com menor poder estatístico ficam mais dispersos na parte inferior do gráfico (Gráfico 1). A combinação de estudos maiores e menores forma um funil invertido (Gráfico 1). Qualquer assimetria no gráfico representa viés de seleção. http://bit.ly/lrs01 98 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro Tamanho da amostra _______________________________________________________________ 10.000 1.000 100 0 RR 1,5 Gráfico 1. Gráfico do funil para análise do viés de seleção GRÁFICO DA TABELA DO RISCO DE VIÉS Os artigos originais também podem ser analisados para gerar um gráfico que visualmente facilita a interpretação da possibilidade de ter ocorrido erro sistemático no estudo. Os itens analisados são: método da alocação, sigilo da alocação, mascaramento, descrição de variáveis incompletas até seis semanas e com mais de seis semanas, descrição de variáveis selecionadas para a revisão sistemática e outros tipos de erros sistemáticos (Gráfico 2). Método da alocação Sigilo da alocação Mascaramento Descrição de variáveis incompletas (todas) Descrição de variáveis incompletas (Todas) Descrição de variáveis selecionadas Outros tipos de erros sistemáticos 0% Sim (baixo risco de viés) Indeterminado 25% 50% 75% 100% Não (alto risco de viés) http://bit.ly/lrs01 99 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Gráfico 2. Gráfico contendo a análise do preenchimento da tabela para o risco de erros sistemáticos As três respostas possíveis são sim, não e indeterminado. A resposta sim representa baixo risco para erros sistemáticos. A interpretação do gráfico sugere onde pode estar o ponto falho na revisão sistemática e até o motivo pelo qual os resultados da revisão sistemática podem não ser confiáveis considerando todos os estudos incluídos (Gráfico 2). SUMÁRIO DA TABELA DO RISCO DE VIÉS O gráfico da tabela par ao risco de viés possui informações generalizadas, por isso um sumário para o risco dos erros sistemáticos se faz necessário para a individualização da informação. A avaliação deste sumário melhora a visualização para o leitor e permite ver as falhas em cada estudo Ad e q u a e t s e q u e n ce g e n e r ia to n A lo c a ito n co n c e a lme n t B lin d in g I n co m p le e t o u ct o m e d a t a a d d e r s se d ( A l o u ct o m e s) I n co m p le e t o u ct o m e d a t a a d d e r s se d ( A l o u ct o m e s) Fr e e o f s e l c itv e Outros tipos de erros sistemáticos Descrição de variáveis selecionadas Descrição de variáveis incompletas Descrição de variáveis incompletas Mascaramento Sigilo da alocação Método da alocação individualmente. e r p o r itn g Fr e e o f o h t e r Castro 2010 + + + + ? + + Jucá 2008 + + ? ? ? ? - Timbó 1978 + ? - + ? ? + b ia s http://bit.ly/lrs01 100 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Figura 3. Sumário para o risco dos erros sistemáticos. Legenda: Verde, baixo riso de viés; amarelo, indeterminado risco de viés; vermelho, alto riso de viés APLICABILIDADE O leitor deve ser capaz de analisar os resultados de uma revisão sistemática sozinho, por isso alguns esforços devem ser tomados para que o leitor consiga ter uma idéia da aplicabilidade dos resultados. Um guia da visão detalhada para o leitor pode auxiliar nesta interpretação (Quadro 1). Este é um guia prático que leva o leitor a refletir sobre a importância da revisão sistemática e sua aplicabilidade. As perguntas são simples e não geram pontuações com posteriores interpretações. A análise será qualitativa. Por exemplo: a inclusão de estudos com pacientes que não foram randomizados sugere viés de seleção; ausência de relato das variáveis de interesse pode representar ausência de efeito; a execução de intervenção pode ser viável em determinado serviço, mas em outro pode ser muito futurística; etc. http://bit.ly/lrs01 101 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Quadro 1. Guia da visão detalhada para o leitor Questões para análise do leitor 1. Os pacientes foram realmente randomizados nos estudos incluídos? 2. Todas as variáveis relevantes foram descritas nos estudos e na revisão sistemática? A revisão sistemática informa sobre variáveis não analisadas? 3. Os pacientes são similares aos da prática clínica? 4. Houve significância estatística e clínica? 5. A intervenção é executável na prática clínica diária? 6. Todos os pacientes dos ensaios clínicos foram incluídos nas conclusões destes ensaios? Houve análise por intenção de tratar*? *Análise por intenção de tratar: quando os pacientes são analisados de acordo com a sua randomização independentemente de terem recebido a intervenção proposta. CONSIDERAÇÕES FINAIS A metanálise pode confirmar ou refutar a superioridade de uma intervenção sob a óptica de uma variável ou desfecho clínico, mas a análise do leitor deve ser realizada como um todo e não somente do gráfico em floresta. http://bit.ly/lrs01 102 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Projeto de pesquisa Fabiano Timbó Barbosa Planejar é antecipar infrações éticas, prever gastos, antecipar possíveis resultados, identificar erros sistemáticos, predizer as dificuldades na coleta dos dados e antever a contribuição do resultado em determinada área do conhecimento. INTRODUÇÃO O projeto de pesquisa é um documento que contém todos os passos que serão executados em uma pesquisa cuja elaboração foi realizada previamente a sua execução. A revisão sistemática é uma pesquisa retrospectiva uma vez que os artigos originais incluídos referem-se a estudos já realizados e concluídos previamente a execução deste tipo de pesquisa. Todos os critérios devem ser bem definidos e relatados, pois, o conhecimento antecipado dos resultados pode levar a tendenciosidades. MOTIVAÇÕES PARA EXECUÇÃO DA PESQUISA As motivações para a realização de uma revisão sistemática são: http://bit.ly/lrs01 103 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ a) Elucidar evidências conflitantes. Este é um dos principais motivos que justificam a realização de uma revisão sistemática. Se todos os estudos demonstrarem uma uniformidade de resultados a revisão sistemática é desnecessária; b) Procurar respostas quando existem explicações incertas a perguntas de pesquisa. A maior contribuição de uma revisão ocorre quando se percebe uma resposta definitiva a uma pergunta de pesquisa. O uso do corticoide durante a gravidez para maturação pulmonar fetal se deve a uma revisão sistemática; c) Explicar variações na prática. A observação de fenômenos que ocorrem na prática clínica e a sua explicação pode justificar a utilização ou não de uma intervenção; d) Confirmar ou refutar a superioridade de uma intervenção já utilizada. A revisão sistemática busca definir qual a melhor intervenção e o motivo para tal justificativa; e) Demonstrar superioridade de uma nova intervenção. A comparação de novas intervenções com o padrão-ouro pode justificar o uso da nova intervenção em detrimento da antiga; f) Ajudar na tomada de decisão na prática clínica. Muitas são as dúvidas presentes na tomada de decisão perante um paciente. A revisão sistemática avalia de critica as intervenções e mostra a força dos seus resultados auxiliando na tomada de decisões; g) Buscar a melhor evidência existente sobre alguma intervenção. Às vezes as evidências sobre uma intervenção já existem, mas estão desconexas e dispersas na literatura. A revisão sistemática propicia a http://bit.ly/lrs01 104 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ organização do pensamento em relação a determinada área do conhecimento; h) Modificar paradigmas. A prática de utilizar uma intervenção baseando-se apenas em experiências pessoais ou na rotina de determinados serviços nem sempre auxilia na administração da melhor intervenção para os pacientes. A revisão sistemática serve para orientar sobre a melhor intervenção baseada em uma avaliação crítica do conhecimento existente até o momento de sua realização. A prática da utilização de diuréticos em altas doses para transformar a insuficiência renal oligúrica em não oligúrica vem sendo desmistificada pela ausência de evidências que demonstrem benefício a longo prazo. FORMATO DE UM PROJETO DE PESQUISA SEGUNDO A COLABORAÇÃO COCHRANE As revisões sistemáticas orientadas pela Colaboração Cochrane têm o mesmo formato. Ter o mesmo formato auxilia os leitores a visualizarem rapidamente a secção de interesse e auxilia os revisores a descrever seus resultados de maneira uniforme e concisa. O formato de um protocole tem: folha de rosto, texto do projeto, tabelas e figura e referências. A folha de rosto contém todas as informações pertinentes ao título da revisão sistemática, datas para sua execução e conclusão e aos autores. http://bit.ly/lrs01 105 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ O texto de um projeto deve conter: introdução, métodos, agradecimentos, conflito de interesses, figura e tabelas. A introdução deve conter o contexto e os objetivos que motivaram a realização da revisão sistemática. Explicar ao leitor o cenário e a motivação para a realização da pesquisa pode estimulá-lo a ler toda a revisão sistemática (Quadro 1). A secção métodos demonstra como o revisor pretende executar a sua revisão sistemática. As figuras que interessarem a introdução ou ao método devem estar presentes como uma tabela contendo a estratégia de busca. Quadro 1. Tópicos para introdução de revisão sistemática Tópicos para introdução Descrição da condição de interesse. Descrição da intervenção que será analisada. Como a condição pode funcionar. Por que é importante executar a revisão. SEÇÃO DE MÉTODOS A secção de método é a parte mais importante do projeto de pesquisa porque demonstra como o revisor executará a sua revisão sistemática. Esta secção deve conter: critérios de seleção, estratégias de busca, forma de coleta dos dados e método de análise estatística. Os critérios de seleção devem elucidar o tipo de estudo, tipo de participantes, a intervenção e as variáveis. a) Tipo de estudo. O objetivo da aleatorização é eliminar a possibilidade de erros sistemáticos que podem levar ao aparecimento de diferenças http://bit.ly/lrs01 106 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ sistemáticas entre os grupos que estão sendo tratados e analisados, por isso, os ensaios clínicos aleatórios são os estudos mais adequados a serem incluídos em uma revisão sistemática; b) Tipo de participantes. Devem ser adequados a responde a pergunta de pesquisa; c) Tipos de intervenção. O ideal é que a intervenção seja comparada com a melhor intervenção em uso até aquele momento; d) Variáveis. A variável primária é ou são as variáveis que podem responder diretamente a pergunta de pesquisa. As variáveis secundárias são aqueles que podem auxiliar a responder a pergunta. A revisão sistemática se baseia na identificação de todos os artigos originais de estudos que podem responder a uma pergunta de pesquisa. estratégia para identificação dos artigos originais deve ser A descrita minuciosamente. A forma que os dados serão coletados e extraídos dos artigos originais incluídos deve ser descrita, assim como deve haver anexação dos formulários que serão utilizados para a realização desta etapa da realização da pesquisa. A análise de sensibilidade e a forma com os erros sistemáticos serão abordados também devem ser descritos, pois, isto impõe qualidade ao processo de revisão sisemática. A análise estatística pode ser realizada pelo aplicativo Review Manager, que é um programa de computador disponibilizado gratuitamente pela Colaboração Cochrane que permite a realização das análises e a redação do http://bit.ly/lrs01 107 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ texto da revisão sistemática. Outros aplicativos também podem ser utilizados, porém geralmente não são gratuitos. Os parâmetros da análise estatística devem ser descritos como o valor do nível de significância estatística, os testes para análise da homogeneidade estatística, os testes estatísticos para metanálise e o modelo de efeito. EVITANDO TENDENCIOSIDADES A qualidade de uma pesquisa pode ser definida como a probabilidade de um estudo gerar resultados que se aproximem da realidade terapêutica, ou seja, livre de tendenciosidades. A avaliação da qualidade metodológica é realizada por meio da observação das informações referentes ao desenho, à condução e à análise dos estudos e está diretamente relacionada à qualidade do estudo executado. Há três métodos para avaliar a qualidade dos ensaios clínicos: os marcadores individuais, as listas e as escalas. O projeto de uma revisão sistemática deve explicitar a forma de avaliação da qualidade metodológica dos artigos originais incluídos para análise e é aconselhável que a seleção, análise da qualidade e extração dos dados sejam realizados por mais de um revisor de forma independente com as sua discordâncias realizadas por meio de reuniões de consenso. As escalas têm a finalidade de converter informações relativas ao estudo, e colhidas através do artigo original, em valores numéricos simples, porém os resultados dependem da escolha da escala e a interpretação dos http://bit.ly/lrs01 108 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ resultados pode ser difícil. As escalas de qualidade não devem ser usadas para incluir ou excluir artigos originais em uma revisão sistemática, pois, a influência da qualidade dos artigos originais é mais bem executada através da análise de sensibilidade. A qualidade metodológica de um estudo também pode ser definida como um conjunto de itens no planejamento e na condução de uma pesquisa, relacionados com a validade interna, com a validade externa e com a análise estatística. A lista de Delphi é utilizada por alguns autores porque avalia todos estes itens. A má qualidade metodológica dos estudos avaliada através da sua descrição nos artigos originais pode distorcer os resultados de uma revisão sistemática e comprometer a credibilidade dos resultados apresentados em uma revisão sistemática, por isso é obrigatório que os revisores abordem este tópico. A Colaboração Cochrane desenvolveu uma tabela que identifica o risco da ocorrência dos erros sistemáticos. Esta ferramenta gera um gráfico que auxilia na identificação dos erros sistemáticos. REGISTRO DE PROJETOS DE PESQUISA O registro de projetos de pesquisa das revisões sistemáticas começou a ser mais solicitado a partir de 2009 quando uma publicação conhecida como The PRISMA statement gerou uma lista de itens que trazem qualidade as http://bit.ly/lrs01 109 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ publicações de revisões sistemáticas, e entre eles encontra-se o registro do projeto de pesquisa. As Colaborações Cochrane e Campbell permitem o registro das revisões sistemáticas realizadas sob a orientação destas organizações. O PROSPERO, International Prospective Register of Systematic Reviews, permite o registro livre e gratuito de revisões sistemáticas que estejam em andamento e que ainda não finalizadas. O acesso a esta base de dados para o registro de revisões pode ser conseguido em http://www.crd.york.ac.uk/PROSPERO/. O registro dos projetos de pesquisa permite que uma revisão sistemática possa ser executada por um pesquisador sem que outro perca tempo e fundos de investimento iniciando uma pesquisa que já esteja em andamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto de pesquisa demonstra a intenção de um revisor em realizar a sua pesquisa em busca de respostas a uma determinada pergunta de pesquisa. A construção de um projeto de pesquisa previamente a sua execução demonstra a consonância do revisor com o rigor científico necessário a condução do seu trabalho científico. http://bit.ly/lrs01 110 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Relatório final Fabiano Timbó Barbosa A revisão sistemática não mostra a verdade absoluta, apenas o caminho para alcançar maiores benefícios com menos esforço e menores danos ao paciente. INTRODUÇÃO As duas condutas possíveis para estimar a melhor estimativa do efeito de um tratamento são a execução de um ensaio clínico aleatório e a condução de uma rigorosa revisão sistemática com metanálise de ensaios clínicos aleatórios. O ensaio clínico aleatório é a melhor forma de responder a perguntas de pesquisa que envolvem qualquer intervenção, porém são relativamente dispendiosos, exigem um adequado tempo de seguimento e podem levar a resultados pouco consistentes quando a randomização e o sigilo da alocação não forem adequados. A revisão sistemática é um tipo de pesquisa que usa uma abordagem bem definida para identificar todos os artigos originais que possam responder a uma pergunta de pesquisa, fornece uma avaliação crítica da literatura e auxilia na tomada de decisão perante um paciente, porém não substitui um ensaio clínico aleatório adequadamente conduzido. http://bit.ly/lrs01 111 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ REVISÃO SISTEMÁTICA A revisão sistemática é uma revisão de literatura planejada para responder a uma pergunta de pesquisa que segue a um projeto elaborado previamente a sua execução. Os cálculos estatísticos são conhecidos como metanálise e podem ser realizados quando mais de um artigo original apresentar dados a cerca de uma variável de interesse. A análise das informações existentes fornece dados para a tomada racional de decisões, verifica se os achados científicos são consistentes e se esses achados podem ser generalizados para as populações. A metanálise pode aumentar o poder e a precisão das estimativas dos efeitos do tratamento assim como pode expor os seus riscos. PERGUNTA DA PESQUISA As pesquisas se iniciam após a elaboração de uma pergunta de pesquisa. Uma boa pergunta para a realização de ma revisão sistemática deve ser factível e relevante e deve albergar a condição de interesse, a população e a intervenção que se deseja investigar. Sugere-se criar uma pergunta com os seguintes itens: participantes, intervenção, comparação, variável e tipo de estudo. A resposta deve ser preferencialmente numérica. http://bit.ly/lrs01 112 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ IDENTIFICAÇÃO DOS ESTUDOS É recomendável realizar pelo menos duas buscas antes de realizar uma revisão sistemática: a primeira, para identificar outras revisões sistemáticas analisando o mesmo foco de interesse e seu estado de atualização; e a segunda, por ensaios clínicos randomizados, pois a pergunta já pode ter sido respondida. A busca por artigos em uma revisão sistemática não deve se limitar a uma base de dados, pois, pode ser insuficiente na identificação de todos os artigos originais de interesse. A estratégia deve ser definida antes de se conhecer o resultado dos artigos originais. A literatura cinzenta, a busca por estudos não publicados, opinião de especialistas e lista de artigos originais também podem servir de fonte de dados. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO Os critérios de inclusão e exclusão são: período de publicação, população avaliada, condição de interesse, intervenções executadas, grupos controles relatados nos artigos originais, variáveis analisadas, perdas e tempo de seguimento. Os motivos para a exclusão de um artigo original devem ser explicitados. http://bit.ly/lrs01 113 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ COLETA E ESTRAÇÃO DOS DADOS A coleta e extração dos dados deve ser feita por pelo menos dois revisores e de forma independente. O formulário para extração deve conter informações sobre a elegibilidade do artigo original, características do estudo executado e dos resultados encontrados. RESULTADOS Os resultados devem conter informações sobre a busca executada, informações sobre a qualidade e os dados relativos as variáveis de interesse para a revisão sistemática. Também deve demonstrar os resultados de uma análise secundária: análise de sensibilidade. METANÁLISE O resultado final da análise estatística é representada por um valor central e seu intervalo de confiança. Este valor central representa um efeito médio ponderado pelo inverso da variância do desfecho relatado em cada artigo original. http://bit.ly/lrs01 114 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ AVALIAÇÃO DAS PUBLICAÇÕES O viés de publicação ocorre quando publicações inadequadas são incluídas pelo revisor como, por exemplo, a inclusão somente de estudos com resultados positivos. Os estudos não-publicados também podem ser incluídos, porém somente os estudos com adequados métodos de randomização e sigilo da alocação devem ser considerados. ANÁLISE DE SENSIBILIDADE A análise de sensibilidade permite uma visão crítica da revisão sistemática executada e demonstra aspectos sobre o delineamento da revisão ou sobre a inclusão ou não de alguns artigos originais. CONCLUSÕES DE UMA REVISÃO SISTEMÁTICA As evidências podem não existir como no caso da ausência dos estudos de interesse ou podem existir de forma suficiente ou insuficiente quando a metanálise não esclarece a pergunta da pesquisa. É importante que se perceba a diferença entre estes conceitos para minimizar os erros na conclusão. http://bit.ly/lrs01 115 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão sistemática permite respostas a perguntas de pesquisa mostrando a força das evidências a comunidade científica. Ela deve ser acessível aos clínicos, aos pacientes, aos gestores em saúde e a qualquer pessoa que tenha interesse em analisar perguntas de pesquisa que envolvam intervenções sejam elas diagnósticas, terapêuticas ou profiláticas. Um estudo de caso relatando a realização de uma revisão sistemática pode ser visto no Apêndice 1. Um roteiro contendo os principais itens para publicar este tipo de pesquisa encontra-se no Apêndice 2 e está disponível na internet de forma mais abrangente em http://bit.ly/modelosistematica. http://bit.ly/lrs01 116 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ APÊNDICES Apêndice 1 – Estudo de caso Uma revisão sistemática foi realizada por mim e foi publicada na Revista Brasileira de Anestesia em março de 2009 abordando o contexto sobre a diferença da escolha das técnicas anestésicas em idosos que se submetem a revascularização dos membros inferiores. Anestesia Neuroaxial versus Anestesia Geral em Idosos para Revascularização dos Membros Inferiores Introdução A obstrução vascular por doença aterosclerótica ocorre mais intensamente em pacientes diabéticos e idosos. Os principais sistemas relacionaods aos desfechos pós-operatórios são: nervoso central, respiratório e cardiovascular. A anestesia geral parece comprometer todos estes sistemas mais intensamente, por isso, existe um consenso entre os clínicos que induz a se pensar que a anestesia neuroaxial, raquianestesia e anestesia peridural, é superior a anestesia geral em relação a eficiência na população de idosos. Pergunta da pesquisa Qual a eficiência da anestesia neuroaxial comparada a outras formas de anestesia para a revascularização dos membros inferiores em idosos? Identificação dos estudos http://bit.ly/lrs01 117 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Critérios de inclusão e exclusão Os critérios de inclusão foram: Artigos originais de ensaios clínicos aleatórios. Comparação entre qualquer técnica anestésica e anestesia neuroaxial. Revascularização de membros inferiores. Idosos. Os critérios de exclusão foram: Artigos originais com aleatorização inadequada. Artigos originais com descrição incompleta Combinação de anestesia neuroaxial com a anestesia geral. Coleta de dados As fontes de bases de dados para identificação dos estudos foram: MEDLINE, CINAHL, EMBASE, ISI, LILACS. As referências dos artigos incluídos também foram escaneadas. A seleção dos artigos foi realizada por dois revisores (FTB e MJJ) que fizeram a seleção e análise inicialmente por títulos e resumos, mas posteriormente observando os dados de artigos selecionados conforme critérios de inclusão na íntegra. http://bit.ly/lrs01 118 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Houve observação do sigilo da alocação. Todo o processo foi seguido por reuniões de consenso. A avaliação da qualidade dos artigos originais incluídos se deu por meio da: escala de qualidade publicada por Jadad em 1996 e pela lista de Delphi. Resultados e metanálise As bases de dados utilizadas nesta revisão foram: MEDLINE, EMBASE, CINHAL, IsI Web of Science e Lilacs. Foram identificados 3913 artigos científicos. Entre estes apenas três foram incluídos na metanálise com um total de 465 pacientes analisados. Os resultados das variáveis mortalidade e pneumonia podem ser vistos nas figuras abaixo (Figuras 1 e 2). Estudo Anestesia regional Anestesia geral Anestesia neuroaxial n/N n/N OR (randômico)l 95% 95%ICCI 01 Raquianestesia 6/39 7/46 Cook 1986 0/86 1/96 Pierce 1997 125 142 Subtotal (95% IC) Total de eventos: 6 (Anestesia regional), 8 (Anestesia geral) Teste de heterogeneidade: χ² = 0,34; GL = 1 (P = 0,56); I² = 0% Teste do efeito global: Z = 0,19 (P = 0,85) 02 Anestesia peridural 1/82 1/96 Pierce 1997 5/49 4/51 Christopherson 1993 131 147 Subtotal (95% CI) Total de eventos: 6 (Anestesia regional), 5 (Anestesia geral) Test de heterogeneidade: χ² = 0,01; GL = 1 (P = 0,93); I² = 0% Teste do efeito global: Z = 0,42 (P = 0,68) 0,1 0.2 0,5 1 Favorávelààanestesia anestesianeuroaxial regional Favorável Peso % OR (randômico) 95% 95% CI IC 48,63 6,1 55,24 1,01 [0,31, 3,31] 0,37 [0,01, 9,15] 0,90 [0,30, 2,73] 8,79 35,98 44,76 1,17 [0,07, 19,05] 1,34 [0,34, 5,29] 1,30 [0,38, 4,48] 2 5 10 Favorável à anestesia geral Figura 1. Fonte: BARBOSA, F.T., 2008. Resultados da variável mortalidade, em três artigos incluídos, por meio da odds ratio, com IC de 95%. Legenda: n, número de casos; N, número de participantes; OR, odds ratio; IC, intervalo de confiança e randômico, modelo de efeito randômico http://bit.ly/lrs01 119 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Estudo Anestesia neuroaxial n/N Anestesia geral n/N OR (randômico) 95% IC 01 Raquianestesia 8/50 18/51 Cook 1986 50 51 Subtotal (95% IC) Total de eventos: 8 (Anestesia regional), 18 (Anestesia geral) Teste de heterogeneidade: não aplicável Teste do efeito global: Z = 2.17 (P = 0.03) 02 Anestesia peridural 1/49 2/51 Christopherson 1993 49 51 Subtotal (95% IC) Total de eventos: 1 (Anestesia regional), 2 (Anestesia geral) Teste de heterogeneidade: não aplicável Teste do efeito globalt: Z = 0.54 (P = 0.59) 99 102 Total (95% IC) Total de eventos: 9 (Anestesia regional), 20 (Anestesia geral) Teste de heterogeneidade: χ² = 0.08, GL = 1 (P = 0.78), I² = 0% Teste do efeito global: Z = 2.22 (P = 0.03) 0.01 0.1 Favorável à anestesia neuroaxial 1 10 Peso % OR (randômico) 95% IC 86,79 86,79 0,35 [0,14, 0,90] 0,35 [0,14, 0,90] 13,21 13,21 0.51 [0,04, 5,82] 0,51 [0,04, 5,82] 100,00 0,37 [0,15, 0,89] 100 Favorável à anestesia geral Figura 2. Fonte: BARBOSA, F.T., 2008. Resultados da variável pneumonia, em dois artigos incluídos, por meio da odds ratio, com IC de 95%. Legenda: n, número de casos; N, número de participantes; OR, odds ratio; IC, intervalo de confiança e randômico, modelo de efeito randômico Avaliação das publicações Apesar de haver diferença estatística favorável a anestesia neuroaxial na variável pneumonia houve heterogeneidade clínica na análise e maior contribuição de um dos artigos originais incluídos. Os autores do artigo original denominado Cook 1986 apresentaram dados incongruentes em relação aos seus resultados, pois, não justificaram porque houve mais idosos no grupo da anestesia geral assim como maior número de fumantes nestes grupo. Análise de sensibilidade Foi realizada analisando-se o melhor e pior cenário clínico mudando-se os resultados das variáveis. Mortalidade e pneumonia não alteraram seus resultados. Conclusão http://bit.ly/lrs01 120 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Os artigos originais dos ensaios clínicos aleatórios incluídos nessa revisão sistemática com metanálise foram insuficientes para demonstrar que a anestesia neuroaxial é mais eficiente, equivalente ou menos eficiente quando comparada com as outras formas de anestesia para a revascularização dos membros inferiores em idosos. http://bit.ly/lrs01 121 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Apêndice 2 - Roteiro de itens para publicar revisões sistemáticas Título - Lista de tópicos e conteúdos. - Lista de Abreviaturas. - Glossário de termos. Sumário - Contexto, objetivos, métodos (fontes de dados e datas, técnica de seleção, técnica de extração, análise da qualidade, síntese da estatística), resultados e conclusão. Texto principal - Introdução (contexto, pergunta da pesquisa e objetivos). - Métodos (registros do protocolo dentro e fora da rede mundial de computadores, critérios de inclusão e exclusão, pelo menos uma estratégia de busca completa, identificação, técnica de seleção, técnica de extração, análise da qualidade e tratamento estatístico). - Resultado (desvios da pesquisa; características da amostra como os detalhes sobre estudos incluídos e excluídos com justificativas, avaliação da qualidade, detalhes das intervenções analisadas nos estudos, dados demográficos das populações dos estudos; variáveis ressaltando os achados das variáveis por estudo isoladamente e pela combinação dos estudos e as análises secundárias como análise sensibilidade e avaliação da heterogeneidade). - Discussão (resposta a pergunta da pesquisa, método e resultados). - Conclusões (conclusão da revisão, implicações para prática clínica e implicações para futuras pesquisas). - Conflito de interesses. - Referências (estudos incluídos e excluídos). - Apêndices (estratégias de busca, lista de artigos excluídos e motivos de exclusão e descrição da fonte de fomento). Informação extra - Lista contendo a participação de cada revisor nas atividades desenvolvidas. O roteiro dos itens encontra-se disponível em: http://bit.ly/modelosistematica. http://bit.ly/lrs01 122 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ O que fazer quando não há ensaios clínicos aleatórios? Fabiano Timbó Barbosa O ensaio clínico aleatório é um tipo de pesquisa que nem sempre pode ser executada, mas é o padrão-ouro para difundir o conhecimento da informação referente a qualquer intervenção. A realização de uma revisão sistemática serve para alertar os pesquisadores sobre a necessidade da execução de um ensaio clínico aleatório. INTRODUÇÃO Os ensaios clínicos aleatórios fornecem fortes evidências para perguntas de pesquisa envolvam intervenções, mas nem sempre este tipo de delineamento de pesquisa está presente na literatura para todas as perguntas existentes principalmente para aquelas que ainda não possuem uma resposta definitiva, por isso, nem sempre serão localizados pelas estratégias de busca. Quando esta situação acontecer um revisor possui duas opções: sistematizar a informação encontrada até aquele momento e chamar a atenção da comunidade acerca da necessidade da execução de um ensaio clínico ou realizar uma metanálise de pesquisas observacionais. http://bit.ly/lrs01 123 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ SISTEMATIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO A sistematização da informação encontrada é importante porque fornecerá aos usuários do sistema de saúde e aos pesquisadores informações que não poderiam ser vislumbradas sem a realização de uma revisão sistemática. As pesquisas encontradas devem ser relatadas e as informações devem ser retiradas dos estudos observacionais encontrados. Uma quantidade mínima de informações pode ser retirada analisando os seguintes itens: o desenho do estudo, os participantes, as intervenções, as comparações e os resultados. É recomendável que as informações sejam apresentadas em forma de quadro para facilitar a compreensão dos leitores. O Quadro 1 mostra os resultados de uma análise hipotética sobre o tratamento do vômito pósoperatório. Quadro 1. Resultados de uma análise hipotética na literatura sobre o tratamento dos episódios de vômitos pós-operatório Pesquisas Desen (autores/an ho o)* estudo Participant Intervenções do es Comparaçõe Resultados s Jucá et al., Coorte 200 Metoclopram Bromoprida 2012 adultos ida (10 mg (10 Menor mg freqüência acima de venosa) para venosa) para de 50 anos tratamento tratamento vômito com http://bit.ly/lrs01 124 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ do vômito. com do vômito. bromoprida (p = 0,04) quadro clínico de abdome agudo inflamatóri o divididos em dois grupos Castro et Coorte al., 2005 50 adultos Propofol (20 Metoclopram Menor acima de mg venoso) ida (10 mg freqüência 70 anos para venosa) para de vômito com tratamento tratamento com propofol quadro do vômito. do vômito. (p = 0,001) clínico de abdome agudo hemorrági co divididos em dois grupos Vane et al., Caso e 60 Os 2000 eram control crianças casos Controles não Todos os pacientes http://bit.ly/lrs01 125 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ e até 18 pacientes anos com com quadro vômito tratados sem clínico de um padrão vomitaram. que vomitaram utilizaram metoclopram abdome específico ida agudo de fármacos. 0,01) (p = inflamatóri o, sendo 20 casos e 40 controles. * Estes são diferentes modelos para expressar o nome da pesquisa. METANÁLISE DE PESQUISA OBSERVACIONAL Os ensaios clínicos aleatórios nem sempre podem ser executados devido a limitações éticas, a análise de fatores de risco e a impossibilidade de manter o sigilo da alocação e o mascaramento em algumas situações, por isso os dados referentes a algumas situações da prática clínica podem existir apenas de estudos observacionais. A aplicação do método tradicional metanalítico para calcular um ponto central de efeito estimado é controverso devido ao elevado potencial para ocorrência dos erros sistemáticos que podem contribuir para um resultado não http://bit.ly/lrs01 126 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ confiável. Outro ponto controverso é a diferença de delineamento dos estudos observacionais assim como a análise de diferentes populações. As publicações de metanálises de estudos observacionais requerem o relato do cenário clínico, da estratégia de busca, dos métodos empregados, dos resultados, das discussões e da conclusão. O cenário clínico que motivou a realização da metanálise deve ser descrito para que o leitor possa identificar a situação que motivou a execução da pesquisa. O relato deve conter: a pergunta da pesquisa, a hipótese, a descrição das variáveis de interesse, o tipo de exposição ou intervenção utilizada, os tipos de delineamento empregados e uma descrição completa sobre as populações dos estudos. A descrição da estratégia de busca deve conter os termos utilizados, as bases de dados e os descritores. Informações sobre as restrições a línguas, pesquisas manuais efetuadas e a observação de referências de pesquisas incluídas também devem ser abordadas nesta seção. A descrição dos métodos empregados deve conter: informações sobre a análise das hipóteses das pesquisas incluídas, os testes estatísticos, avaliação da qualidade das pesquisas incluídas, análise de sensibilidade, gráficos e tabelas. Quando os resultados das pesquisas com delineamento observacional são combinados é justificável a existência de heterogeneidade nas populações (ex.: local versus mundial), nos delineamentos (ex.: coorte versus série de casos) e nas variáveis. http://bit.ly/lrs01 127 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Os resultados devem incluir: estimativa dos resultados de cada pesquisa incluída, tabela listando informações descritivas sobre cada pesquisa incluída, resultados da análise de sensibilidade e análise de subgrupo e a indicação dos testes estatísticos utilizados na metanálise. A descrição da seção discussões deve dar grande ênfase aos erros sistemáticos como o viés de publicação, viés de confundimento e o viés de qualidade. A conclusão deve conter informações sobre a contribuição para a prática clínica e para futuras pesquisas. Esta seção também deve conter explicações alternativas para os resultados encontrados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A revisão sistemática deve ser o ponto inicial de qualquer pesquisa clínica uma vez que permite mapear o conhecimento e demonstrar a presença ou não de estudos importantes em determinada área do conhecimento. http://bit.ly/lrs01 128 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Explorando a heterogeneidade Nassib Bezerra Bueno Explorar a heteriogeneidade existente em nossos resultados é uma maneira adequada de descobrir fatores que os influenciam, complementando nossos achados. INTRODUÇÃO A combinação estatística dos resultados de diferentes pesquisas, mesmo que de maneira sistematizada, invariavelmente, apresenta algum grau de heterogeneidade. O pesquisador deve ser capaz de identificar, quantificar, explorar e interpretar tal heterogeneidade existente em sua análise. Para isso, é necessário um bom julgamento científico no momento da inclusão dos estudos, bem como conhecimento de alguns procedimentos estatísticos específicos. O IMPACTO DA HETEROGENEIDADE NA ANÁLISE O termo heterogeneidade, no contexto das revisões sistemáticas, pode ter diversos significados. Quando escrito de maneira desacompanhada, normalmente refere-se à heterogeneidade estatística, que pode ser definida como a variação nos efeitos dos estudos que estão sendo avaliados. http://bit.ly/lrs01 129 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Suponha uma metanálise hipotética que esteja avaliando o risco de morte em pacientes cirróticos com varizes esofágicas submetidos à terapia A comparados com aqueles submetidos à terapia B (Figura 1). Figura 1. Gráfico em floresta hipotético de terapia A versus terapia B O resultado final mostra que não parece haver superioridade de nenhuma terapia na redução do risco de morte. Entretanto, uma rápida inspeção visual no gráfico sugere que os efeitos dos estudos diferem sensivelmente entre si. Os estudos 1, 2 e 5 indicam que, de fato, não há superioridade de nenhuma terapia. Já o estudo 3 indica que o risco de morrer está reduzido nos indivíduos submetidos à terapia A e, por sua vez, o estudo 4, indica que o risco de morrer está aumentado nesses indivíduos. Pode-se notar que os intervalos de confiança (IC 95%) dos estudos 3 e 4 nem chegam a se sobrepor. Essas diferenças nos efeitos observados indicam presença de heterogeneidade estatística na análise. Ao se deparar com uma situação como essa o pesquisador precisa ter em mente que tal heterogeneidade pode mascarar os reais efeitos de sua análise. Vejamos o mesmo gráfico da Figura 1, agora com a remoção do estudo visualmente mais discrepante, o de número 4 (Figura 2). Pode-se perceber que, agora, o resultado final da análise indica que os indivíduos http://bit.ly/lrs01 130 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ submetidos à terapia A apresentam menos risco de morte que os indivíduos submetidos à terapia B, o que dá sustentação para a escolha daquela terapia. No entanto, a remoção de um estudo em particular não pode ocorrer sem critérios. O pesquisador precisa de uma justificativa plausível para que algum estudo discrepante em particular seja removido da análise. Para isso, é importante conhecer quais são as principais fontes de heterogeneidade entre os estudos. Figura 2. Gráfico em floresta hipotético sem o estudo discrepante FONTES PARA HETEROGENEIDADE A heterogeneidade estatística como a apresentada na análise da Figura 1 pode ter diversas fontes. Antes de realizar testes estatísticos para esse fim, o pesquisador deve realizar alguns procedimentos para investigar a heterogeneidade em determinada análise. Os procedimentos são: o primeiro, verificar se não houve erros de digitação no momento de inserir os dados no programa; e o segundo, verificar se os dados dos estudos estão todos na http://bit.ly/lrs01 131 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ mesma escala (risco relativo, razão de chance ou diferença de risco absoluto para variáveis dicotômicas e diferença entre médias ou diferença padronizada entre médias para variáveis contínuas). Excluindo-se essas possibilidades, é necessário investigar as possíveis diferenças nas características dos estudos que justifiquem a heterogeneidade estatística na análise. Os estudos incluídos em uma metanálise devem apresentar consistência clínica e metodológica. Quando os estudos variam em alguma dessas características podemos dizer que há, respectivamente, heterogeneidade clínica ou heterogeneidade metodológica entre os estudos, o que, quando combinados estatisticamente, poderá levar à heterogeneidade estatística. A heterogeneidade clínica ocorre quando há diferenças nos participantes, nas intervenções ou nos desfechos dos estudos incluídos. Levando como exemplo a metanálise hipotética da Figura 1, em que a população avaliada era constituída por indivíduos cirróticos com varizes esofágicas, pode-se encontrar diferenças referentes à população se alguns estudos incluíram indivíduos idosos e outros incluíram indivíduos jovens, ou se alguns incluíram indivíduos recém-diagnosticados e outros indivíduos cirróticos de longa data. Em suma, qualquer diferença nas características dos indivíduos pode ser fonte de heterogeneidade clínica nos estudos. A heterogeneidade clínica ocorre também quando o mesmo caso se repete para as intervenções e os desfechos. Por exemplo: Doses ou tempo de tratamento diferentes de fármacos iguais, fármacos diferentes pertencentes a uma mesma classe ou técnicas cirúrgicas diferentes. Diferenças nos desfechos podem ocorrer se um estudo acompanhou a taxa de morte nos indivíduos por 20 anos e outro por apenas 5 anos após a intervenção. http://bit.ly/lrs01 132 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ A heterogeneidade metodológica ocorre quando há diferenças nos desenhos dos estudos ou no risco de viés dos estudos. Combinação de ensaios clínicos aleatórios com ensaios clínicos cruzados é um exemplo da primeira situação. A segunda situação, referente a diferenças no risco de viés nos estudos, pode ocorrer ao combinar-se estudos que realizaram alocação sigilosa com aqueles que não realizaram, ou combinar estudos com análise por intenção-detratar com aqueles que utilizaram análise por protocolo ou ainda combinar estudos que mascararam os indivíduos com estudos abertos. A partir disso, percebe-se a importância de elaborar uma pergunta da pesquisa sensata e critérios de inclusão e exclusão bem definidos. Esta é a maneira mais adequada de evitar a presença de heterogeneidade entre os estudos. No entanto, invariavelmente, mesmo que esses pressupostos da pergunta da pesquisa e dos critérios de inclusão sejam atendidos, alguma heterogeneidade ocorrerá na análise e o pesquisador precisa saber como lidar com ela. QUANTIFICANDO A HETEROGENEIDADE É importante saber como quantificar a heterogeneidade para saber se ela pode estar influenciando os resultados. Apesar da inspeção visual do gráfico em floresta dar uma boa idéia se há heterogeneidade na análise, uma abordagem mais segura é quantificá-la http://bit.ly/lrs01 133 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ estatisticamente e para isso existem diferentes métodos estatísticos, cada um com suas particularidades. Aqui serão discutidos os mais utilizados. ESTATÍSTICA Q A primeira maneira de quantificar a heterogeneidade em uma análise é aferir a sua estatística Q. O objetivo deste parâmetro é verificar se há variação em excesso na análise. Para isso, computa-se, para cada estudo, o produto entre o quadrado do desvio (ou seja, a diferença entre o efeito observado no estudo e o efeito observado na metanálise final, elevada ao quadrado) e o peso do estudo (normalmente representado pelo inverso da variância do estudo). Ao realizar o somatório dos resultados desta equação para cada estudo, temos a estatística Q da análise, que não possui nenhuma unidade de medida, ou seja, é adimensional e também é conhecida como variação observada. A estatística Q sozinha não dará uma informação definitiva, sendo necessário confrontá-la com algum outro parâmetro. Como a intenção é testar a hipótese de nulidade que todos os estudos compartilham o mesmo efeito (ou seja, não há heterogeneidade estatística entre eles), a única heterogeneidade permitida será aquela advinda do erro de amostragem dos estudos, o que é representado pelos graus de liberdade (GL) da análise, ou seja, o número de estudos incluídos menos 1 (k – 1), que pode ser chamado de variação esperada. http://bit.ly/lrs01 134 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Tomando como exemplo a Figura 1, a variação esperada nesta análise é GL = 5 – 1 = 4. O cálculo da estatística Q mostra que a variação observada é Q = 11,33. A variação observada (Q) menos a variação esperada (GL) nos mostra o excesso de variação na análise. Como se pode observar, Q – GL = 7,33, que é maior que 0, ou seja, há excesso de variação, logo, há indícios para se desconfiar de que haja heterogeneidade estatística na análise. TESTE Q DE COCHRAN É comum que a investigação não pare na avaliação bruta de Q e GL, visto que ainda não é possível dizer se de fato a heterogeneidade afeta ou não ou os resultados. Para responder a pergunta “se a heterogeneidade é estatisticamente significante” pode ser realizado um teste estatístico para verificar a hipótese de nulidade de que todos os estudos compartilham um efeito comum (ou seja, de que não há heterogeneidade estatística entre eles). Os revisores podem tilizar um teste de hipótese ordinário, conhecido como teste Q de Cochran, usando Q e GL. Sob a hipótese de nulidade, Q segue uma distribuição qui-quadrado central com k – 1 graus de liberdade. Se o valor de Q observado for maior que o de Q tabelado para o dado GL rejeitase a hipótese de nulidade de que não há heterogeneidade estatística entre os estudos. A estatística Q é muito sensível ao número de estudos devido ao fato da estatística Q ser uma soma (e não uma média). Como em sua maioria as http://bit.ly/lrs01 135 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ metanálises possuem poucos estudos incluídos, o teste pode não ter a força estatística necessária para detectar diferenças significativas, culminando com o chamado “Erro do Tipo II”. Por isso, é recomendado que o valor de alfa adotado para rejeitar a hipótese de nulidade seja de 10%, ao invés do tradicional 5%. Por outro lado, em casos que haja um grande número de estudos incluídos, a recíproca é verdadeira, ou seja, o teste fica com força estatística excessiva, podendo detectar significância onde não há, culminando com o conhecido “Erro do Tipo I”. Em resumo, o teste Q de Cochran deve ser interpretado com bastante cautela e o pesquisador deve ter em mente que o objetivo do teste é apenas verificar a viabilidade da hipótese de nulidade (de que a heterogeneidade é igual a zero) e não dar uma estimativa da magnitude da heterogeneidade propriamente dita. TESTE DE HIGGINS (I²) A estatística do I² é útil para nos dizer qual a proporção da variação observada que realmente influência os resultados da análise, ou seja, qual o grau de heterogeneidade verdadeira (separando-a da heterogeneidade devido a causas espúrias). Esta estatística é calculada facilmente, dividindo-se o excesso de variação (Q – GL) pela variação observada (Q) e multiplicando o resultado por 100, para que seja expresso em porcentagem. Esta é uma medida quantitativa do grau de sobreposição dos IC 95% dos estudos e independe do número de estudos incluídos, permitindo que a heterogeneidade http://bit.ly/lrs01 136 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ seja discutida de maneira relativa. É uma medida útil para verificar a viabilidade de explorar a heterogeneidade encontrada em uma análise. Em resumo, valores de I² próximos de zero indicam que a heterogeneidade é espúria e não influencia de maneira importante os resultados, logo, não tem necessidade de ser explorada. Em contraste, valores de I² elevado sugerem presença de heterogeneidade verdadeira, que influencia os resultados e, logo, deve ser explorada. Há sugestão de alguns pontos de corte para serem utilizados na interpretação do I², são eles: 25% - baixa; 50% moderada e 75% - alta heterogeneidade verdadeira. É importante notar que o I² não é uma medida da dispersão total na análise. Um valor de I² baixo não necessariamente significa que os efeitos dos estudos estão pouco dispersos, visto que eles podem variar em um intervalo bastante amplo se todos os estudos possuírem uma grande variância. Do mesmo jeito, um valor de I² elevado não significa que existam apenas estudos com grande variância, pois é possível que estudos extremamente precisos, com variância minúscula, apresentem baixa sobreposição em seus efeitos, o que causaria uma elevação do valor de I². EXPLORANDO A HETEROGENEIDADE Explorar a heterogeneidade significa buscar as possíveis fontes que a expliquem. Existem duas outras opções além de explorar a heterogeneidade que são: ignorá-la ou incorporá-la. Ignorar a heterogeneidade é o equivalente a usar um modelo de efeitos fixos e incorporá-la significa usar um efeito de http://bit.ly/lrs01 137 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ modelos aleatórios. Discutir as particularidades desses modelos vai além do escopo deste capítulo, então no caso de heterogeneidade verdadeira na análise, a opção mais sensata do pesquisador é explorá-la. Análise de sensibilidade é o nome que se dá para as análises que visam determinar as fontes de heterogeneidade. Aqui serão discutidas três diferentes estratégias: exclusão passo a passo; análises de subgrupos e análise de metarregressão. EXCLUSÃO PASSO A PASSO A exclusão passo a passo se dá para verificar se a heterogeneidade é explicada por um estudo exclusivo. Para isso, a análise é re-executada removendo-se um estudo por vez e analisando se os valores relacionados à heterogeneidade se modificam de maneira importante. No exemplo da Figura 1, a remoção do estudo 4 faz com que os valores de I² passem de 65% para apenas 5%, assim como o valor de Q baixa de 11,33 para 3,16. Se houver alguma justificativa plausível, normalmente com relação às características clínicas ou metodológicas, para a discrepância no efeito do estudo 4, ele pode ser removido da análise final. http://bit.ly/lrs01 138 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ ANÁLISE DE SUBGRUPOS A análise de subgrupos consiste em agrupar estudos que compartilhem alguma característica (normalmente clínica ou metodológica) e verificar se neste grupo de estudos em particular o efeito final diferencia-se daquele da análise geral. Teoricamente, qualquer característica pode ser agrupada em um subgrupo, no entanto, o recomendado é que apenas as características que apresentem algum racional científico sejam utilizadas. O exemplo das terapias em pacientes cirróticos com varizes esofágicas, citado anteriormente, permite agrupar estudos que compartilhem determinadas característica clínicas. Por exemplo, subgrupos de estudos que utilizaram uma determinada técnica cirúrgica menos agressiva, ou que utilizaram uma dose do fármaco acima de um valor considerado crítico, ou ainda que utilizaram indivíduos adultos apenas podem apresentar um efeito diferente da análise geral, pois estas características podem influenciar diretamente o desfecho. Uma abordagem muito comum é agrupar os estudos de acordo com suas características metodológicas. Normalmente, verifica-se o tamanho do efeito no subgrupo de estudos que apresentam adequado sigilo de alocação, ou baixo risco de viés ou ainda análise por intenção-de-tratar. Todas essas são características metodológicas que sabidamente podem influenciar o resultado de qualquer estudo, logo, analisar os subgrupos de estudos com essas características é uma maneira plausível de explorar a heterogeneidade na análise geral. A Figura 3 mostra uma análise de subgrupos hipotética de http://bit.ly/lrs01 139 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ nosso exemplo, que agrupou estudos com adequado sigilo de alocação (Figura 3A) versus estudos com sigilo de alocação inadequado (Figura 3B). Figura 3. Análise de subgrupos Em um primeiro momento, a análise dos gráficos pode nos levar a concluir que o subgrupo A, estudos com adequado sigilo de alocação, apresenta um efeito diferente daquele do subgrupo B, estudos com inadequado sigilo de alocação, visto que o diamante se encontra em lados opostos do gráfico. No entanto, para afirmarmos que um subgrupo difere do outro é necessário realizar uma análise mais aprofundada. Existem testes estatísticos para isso, mas uma maneira prática de realizar essa comparação é verificar a sobreposição dos IC 95% dos efeitos. No caso acima, o subgrupo A apresenta um efeito de 0,79 com IC 95% de [0,67 a 0,93]. Já o subgrupo B apresenta um efeito de 1,45 com IC 95% de [0,75 a 2,81]. Como podemos ver o limite superior do IC 95% do subgrupo A (0,93) ultrapassa o limite inferior do IC 95% do subgrupo B (0,75), logo podemos concluir que não há diferenças significativas entre os efeitos dos dois subgrupos em um nível de 5%. De fato, o teste estatístico para esta comparação nos retornaria um valor de p = 0,09. http://bit.ly/lrs01 140 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Deve-se ressaltar, entretanto, que a análise de subgrupos desse exemplo, assim como na maioria das metanálises, carece de força estatística devido ao reduzido número de estudos incluídos. Logo, a ausência de diferenças significativas não pode levar à conclusão definitiva que o efeito é o mesmo entre os subgrupos. De fato, é bastante provável que, se houvesse mais estudos nessa análise, esses subgrupos tenderiam a apresentar diferenças significativas entre si. A recomendação geral é que em casos de análises com poucos estudos, não sejam realizadas análises de subgrupo. Não há uma regra para determinar qual a quantidade mínima de estudos, devendo prevalecer o bom-senso do pesquisador. ANÁLISE DE METARREGRESSÃO O último meio para explorar a heterogeneidade em uma análise é conduzir uma metarregressão. Ela segue o mesmo princípio de uma regressão ordinária em um estudo primário, que é o de avaliar a influência de uma ou mais variáveis independentes sobre uma variável dependente. As explicações dadas aqui assumirão que os leitores possuem conhecimento básico sobre regressão em estudos primários. A diferença entre metarregressão e uma regressão ordinária reside no fato de que em estudos primários as variáveis independentes são características em nível dos pacientes e a variável dependente é algum dos desfechos. Na metarregressão as variáveis independentes são em nível dos estudos e a variável dependente é o efeito de cada estudo. http://bit.ly/lrs01 141 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Levando-se em consideração o exemplo da Figura 1, se o pesquisador desconfiar que o sigilo de alocação adequado seja uma fonte de heterogeneidade nos estudos, ao invés de conduzir a análise de subgrupos ele pode conduzir uma metarregressão entre a variável independente “adequado sigilo de alocação”, que seria dicotômica sim/não, e a variável dependente seria o efeito de cada estudo. Assim como numa regressão ordinária, a metarregressão origina um coeficiente associado a um valor de p, assim como um índice análogo ao coeficiente de determinação (R²) para cada variável independente. A covariável “adequado sigilo de alocação” apresenta um coeficiente de -0,43 com IC 95% de [-0,85 a -0,01] (p = 0,047) e um R² = 100%, ou seja, estudos com adequado sigilo de alocação apresentam uma redução estatisticamente significante no risco de morte de 43%, quando comparados com estudos com inadequado sigilo de alocação. Ademais, esta covariável explica 100% da heterogeneidade encontrada na análise geral, o que é representado pelo valor de R². Aqui neste exemplo foi realizada uma metarregressão bivariada, no entanto, é completamente possível realizar este procedimento de maneira multivariada, testando a influência de diversas covariáveis ao mesmo tempo. Além disso, ao contrário das análises de subgrupos, a metarregressão permite a utilização de covariáveis continuas, como por exemplo a dose exata do fármaco utilizado nos estudos, o peso dos indivíduos, a idade em anos, entre outros. As duas análises de sensibilidade descritas acima, a de subgrupos e a de metarregressão, direcionam a mesma suposição, de que o sigilo de http://bit.ly/lrs01 142 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ alocação é uma boa variável preditora da heterogeneidade. No entanto, pela análise de subgrupo não se pode concluir que o efeito entre os grupos sejam diferentes, ao passo que a metarregressão mostra significância estatística entre essas variáveis. Essas discrepâncias se devem provavelmente ao já explicado baixo poder estatístico das análises de sensibilidade nesse exemplo, devido ao baixo número de estudos incluídos. Uma regra geral para a condução de metarregressões é escolher uma variável independente para cada 10 estudos incluídos na análise. Como de maneira geral as metanálises publicadas apresentam não muito mais que essa quantidade de estudos incluídos é comum que os achados das metarregressões sejam considerados apenas como exploradores e/ou geradores de hipóteses. A metarregressão é a análise de sensibilidade que fornece o maior número de informação acerca da heterogeneidade, no entanto, nem todos os programas de metanálises têm capacidade para executá-las. O RevMan 5.1 (Cochrane Collaboration, Denmark, Copenhagen), que é distribuído gratuitamente, não possui esta ferramenta. Devido ao fato de ser semelhante a uma regressão ordinária, o pesquisador pode ficar tentado a realizar uma metarregressão em um pacote estatístico comum, simulando uma regressão ordinária. Entretanto, esta abordagem não é adequada, visto que numa metanálise cada estudo apresenta um peso diferente na análise final, ao contrário de um estudo primário, onde cada indivíduo apresenta o mesmo “peso” para o resultado. http://bit.ly/lrs01 143 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Um ponto importante a ser considerado nas análises de subgrupo e de metarregressão é a antecipação das covariáveis que serão investigadas. O pesquisador deve estar familiarizado com os fatores que sabidamente podem influenciar os resultados de sua metanálise, logo, ele deve relatar no protocolo da revisão sistemática todo o planejamento para explorar a heterogeneidade, para evitar que as relações entre as variáveis independentes e o tamanho do efeito sejam identificadas após a combinação dos estudos, o que reduziria a importância desses achados. CONSIDERAÇÕES FINAIS A heterogeneidade pode influenciar de maneira importante os resultados de uma metanálise. A escolha de uma pergunta da pesquisa bem feita, assim como critérios de inclusão e exclusão adequados podem ajudar a reduzi-la, no entanto, invariavelmente ela estará presente nos resultados. O pesquisador precisa saber identificá-la, quantificá-la e explorá-la, para aumentar o grau de confiança de sua metanálise. http://bit.ly/lrs01 144 Introdução a Revisão Sistemática: A Pesquisa do Futuro _______________________________________________________________ Referências bibliográficas Escrever é uma dádiva. Citar é uma lembrança. Referenciar é mostrar o caminho. ALTMAN, D. G. Randomisation. B. M. J., 30: 1481-1482, 1991. ALTMAN, D.G.; SCHULZ, K.F.; MOHER, D., et al. The revised CONSORT statement for reporting randomized trials: explanation and elaboration. Ann. Intern. Med., 134:663-94, 2001. BARBOSA, F.T. 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