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Nº 68 - jul./ago./set. de 2014 - ANO XVI Associação de Deficientes Visuais e Amigos João Maia pode fotografar sem ver Profissão pág. 8 Um admirável mundo novo em 4 rodas pág. 10 Convivaware E-Hipermídia: acessibilidade na web pág. 7 Parceiros OPINIÃO Editorial Direito, Dever e Preconceito Muito se fala sobre direitos: que devemos nos conscientizar deles, reivindicá-los, lutar por eles. Concordo. Porém, tenho notado que, não raro, tenta-se fazer do direito uma obrigação. Meses atrás, um amigo com deficiência visual sofreu enorme constrangimento em um ônibus simplesmente pelo fato de não querer ocupar o assento preferencial reservado a “gestantes, idosos, pessoas com crianças de colo e pessoas com deficiência”. Será que ele é obrigado a isso? Suponhamos que ele quisesse ceder seu lugar a um idoso ou a uma gestante, por respeito e gentileza. Não tem esse direito? E quando as pessoas com deficiência não querem ficar em uma fila preferencial de bancos ou repartições públicas quando as outras filas estão menores e são obrigadas, elas estão “desfrutando” um direito? Onde está seu direito à livre escolha, ao livre arbítrio? O direito sobre o qual estamos falando é chamado pelos juristas de Direitos Subjetivos. Segundo a Wikipédia, é a “faculdade concedida a uma pessoa para mover a ordem jurídica a favor de seus interesses”. Ora, se alguém faz de um direito uma obrigação, esse direito passa a ser um dever, perdendo, portanto, sua função. Muitas vezes, as pessoas com deficiência visual são impedidas de abrir contas em bancos, assinar determinados documentos, sem que estejam acompa- Expediente: Jornalista responsável: Liane Constantino (MTb 15.185). Colaboradores: Ivan de Oliveira Freitas, Laercio Sant’Anna, Lothar Bazanella, Lucia Maria, Lúcia Nascimento, Markiano Charan Filho, Miguel Leça (fotos), Sidney Tobias de Souza. Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 - São Paulo (SP) telefones: 11 5084-6693/6695 - fax: 11 5084-6298 - e-mail: adeva@ adeva.org.br - site: www.adeva.org.br. Diagramação: Fernanda Lorenzo. Revisão: Célia Aparecida Ferreira. Fotolitos e impressão: cortesia Garilli Artes Gráficas Ltda. - tel.: 11 2696-3288 - e-mail: 2 [email protected]. Tiragem: 1.000 exemplares. DISTRIBUIÇÃO GRATUITA. nhadas de testemunhas. Mas no Artigo III do Código Civil Brasileiro não há nenhuma menção à incapacidade ou à relativa capacidade por parte das pessoas com deficiência visual, o que não dá amparo legal a qualquer lei, decreto ou norma que muitas instituições insistem em invocar. Refletindo sobre esses fatos, me pergunto: qual será a razão desse comportamento corriqueiro de tornar um direito uma obrigação? Primeiramente, creio haver, por parte de muitos, a falta de esclarecimento do que é realmente um direito e, por não terem isso claro, querem impor às minorias sociais seu “desfrute”. Pressupõem, na maioria das vezes, que as minorias desconhecem seus direitos ou que não se bastam para garantir sua segurança. Pensando dessa forma, inconscientemente, estão praticando um pré-conceito, pois acreditam que essas parcelas da sociedade são ignorantes, ou que não têm condições de cuidar de si mesmas. Mas... quem melhor para cuidar de sua segurança do que o próprio sujeito, seja alguém com ou sem deficiência? Tornar um direito uma obrigação é colocar as pessoas com deficiência visual, ou qualquer outra minoria social, à margem do exercício pleno da cidadania. É cercear, portanto, o direito ao exercício do Direito. Markiano Charan Filho, diretor-presidente da ADEVA Índice: Opinião|Editorial............................p. 2 Lazer|Estive lá e gostei!.............p. 3 Adeva|Em foco............................p. 4 Talentos...........................p. 6 Parceiros..........................p. 7 Mercado de Trabalho|Profissão:.........................p. 8 Esporte|Um direito de todos.........p. 9 Tecnologia|Convivaware....................p. 10 Na rede............................p. 11 Literatura|Outros olhares.................p. 11 Espaço poético................p. 12 Mais!|Para seu lazer..................p. 12 LAZER Estive lá e gostei! A Alemanha nas ruas de São Paulo Comida e cultura alemãs podem ser desfrutadas em festas e clubes típicos Por Sidney Tobias de Souza | [email protected] O hino nacional da Alemanha é a música que os fãs das corridas de Fórmula 1 mais têm ouvido ultimamente pelo bom desempenho das equipes e dos pilotos alemães. Entre os fãs de música clássica, porém, as obras de Johann Sebastian Bach, Ludwig van Beethoven e Richard Wagner são mais apreciadas. Mas há outro gênero de música alemã muito querido e popular: a polca. E foi acompanhado com um chope e um espeto de einsbein que ouvi uma bandinha de polca na MaiFest, festa multicultural que acontece anualmente nas ruas do Brooklin no mês de maio e faz parte do calendário oficial de eventos da cidade de São Paulo. Nesta 15ª edição, o tema central foi a Alemanha. Festas típicas de rua Para o visitante da MaiFest, os organizadores oferecem mais de 160 barracas com grande variedade de artigos para comprar ou apenas admirar. Este ano, bandinhas itinerantes de polca se misturavam com o público e, em palcos estrategicamente distribuídos, podia-se apreciar música popular, música de coral e a performance de grupos de dança folclórica alemãs. Assisti à apresentação do Gold und Silber (abaixo, na foto), grupo folclórico alemão fundado em 1983. Seus 38 integrantes exibem danças de várias regiões da Alemanha e da Áustria, com repertório que vai do popular ao erudito. A ColôniaFest é uma festa alemã tradicional que acontece sempre no último final de semana de junho e no primeiro de julho. Na rua Jackson Pollock, no bairro de Colônia, os shows folclóricos, as apresentações de danças típicas, exposições e a gastronomia alemã, procuram resgatar a cultura e os costumes dos colonos que chegaram a essa região em 1829. Clubes A Sociedade Filarmônica Lyra, associação cultural de origem alemã fundada em 1884, localizada na rua Otávio Tarquínio de Souza 848, no Campo Belo, é sede e local de ensaios do Gold und Silber. Para preservar suas tradições, a Filarmônica Lyra oferece também cursos e disputas de skat, um jogo de cartas originário da Alemanha e popular em toda a Europa. O Clube Transatlântico, outra associação representante da comunidade alemã em São Paulo, fica na rua José Guerra, 130, Chácara Santo Antônio. Mostras regulares de arte, de cinema e concertos musicais e seu restaurante Weinstube são abertos ao público em geral. Gastronomia Dos variados e típicos pratos da cozinha alemã, os mais conhecidos são o einsbein, joelho de porco servido com batata; o kassler, uma bisteca de porco defumada; e as salsichas artesanais, como a weisswurst (salsicha branca) e a bratwurust (salsicha de carne de porco e vitela), que se degustam acompanhadas com chucrute (repolho fermentado) ou purê de maçã, “arrematadas” com um chope claro ou escuro bem gelado. Na hora da sobremesa, um dos destaques é o apfelstrudel, uma torta de maçã com massa folhada, passas e canela. Tem também o dresdner stollen, um bolo de frutas polvilhado com açúcar de pasteleiro; o blechkuchen, uma panqueca de massa de bolo coberta com fruta da época; e o welfenspeise, feita com vinho e sabor de baunilha. Outra opção é o kartoffelpuffer, uma panqueca de batata frita com vários recheios doces e salgados. Experimentei e aprovei o kartoffelpuffer com geleia de morango. Uma delícia! 3 ADEVA Em Foco Alunos do cu rso de fotografia curso stentes do Uma das assi elo od m como fotografada e rant o du rafia n u l r e a e fotog esso d Prof rcícios e x e os Curso de fotografia O fotógrafo João Kulcsár, responsável pelo projeto Alfabetização Visual do Centro Universitário Senac Campus Santo Amaro, ministrou um curso de fotografia para alunos com deficiência visual da ADEVA, em seu Centro de Treinamento, entre os dias 6 e 8 de maio último. As fotos farão parte da exposição sobre acessibilidade que será inaugurada no Memorial da Inclusão em 7 de outubro próximo, integrando um evento em homenagem à Sandra Maciel, fundadora e vice-presidente da ADEVA, falecida em fevereiro último. Com o patrocínio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), da Garilli Artes Gráficas, da Pé da Fama Brasil e da Sintonia Consultoria de Imagem e Estilo, a gráfica da ADEVA imprimiu 1.000 tabelas dos jogos da Copa Fifa 2014 em braille e em fonte ampliada. A distribuição, gratuita, beneficiou seus alunos, entidades afins e bibliotecas públicas. MarcusVDT / Shutterstock.com Copa Fifa 2014 Como colaborar com a ADEVA Você pode colaborar com nossos projetos de duas maneiras: fazendo uma doação em dinheiro pelo sistema PagSeguro através deste link http://www. adeva.org.br/comocolaborar/doacoes.php no nosso site, ou doando sua Nota Fiscal Paulista sem CPF ou CNPJ (no caso de empresas) para a ADEVA e enviando-a via Correios para nosso endereço: rua São Samuel, 174, CEP 04120-030, Vila Mariana, São Paulo (SP). A ADEVA agradece! 4 ADEVA Em Foco Acesso para Todos O projeto Acesso para Todos, criado pela ADEVA, pelo escritório de design E-Hipermídia e pela empresa de sistemas Web2Business, oferece a construção de websites acessíveis segundo os padrões da W3C, comunidade internacional que estabelece os padrões da web. Para mais informações e orçamento, visite o site http:// www.acessoparatodos.com.br Programa Via Rápida Emprego Estão abertas as matrículas para os cursos de assistente administrativo e montagem e manutenção de computadores, direcionados a pessoas com deficiência visual, no Centro de Treinamento da ADEVA, na rua São Samuel, 174, Vila Mariana. Para mais informações e inscrição, entre em contato pelos telefones: 11 5084-6693 / 5084-6695. Comissão de Cultura Mão na Massa: conhecendo o museu por outros sentidos, primeiro evento da recémconstituída Comissão de Cultura da ADEVA aconteceu no Museu de Arte Sacra de São Paulo dia 24 de maio passado. Os participantes conheceram o acervo do Museu, em visita guiada e acessível, e participaram de uma oficina de produção de escultura em argila. 5 ADEVA Talentos Valdir está na “porta de entrada” da ADEVA Ao telefone ou face a face, sua recepção é sempre gentil Por Lúcia Nascimento | [email protected] “Valdir, ADEVA, bom dia!” É com esta frase, e com simpatia, que Valdir Donizete Faria, 55, atende às chamadas telefônicas para a ADEVA. Ele é o recepcionista da entidade. “Gosto do que faço e procuro atender a todos tão bem como fui recebido. Geralmente, sou o primeiro contato de quem procura a ADEVA.” Dedicado e responsável, assim que começou a frequentar a ADEVA, Valdir conquistou a confiança da diretoria, a amizade dos colegas e o respeito dos alunos. No início, como aluno, completou os cursos de orientação e mobilidade e de informática básica pela ADEVA, e de operador de call center e auxiliar de escritório no Programa Via Rápida Emprego. Na ADEVA 6 Valdir conheceu a ADEVA por meio da sua filha, Tatiane, em uma busca na internet. “A ADEVA surgiu na minha vida na hora certa. Quando cheguei aqui, as pessoas tinham medo até de me oferecer café! Hoje, me sinto realizado com tudo o que aprendi com os colegas e com a saudosa vice-presidente, Sandra Maciel. Ela foi uma mãe para mim. Por isso, posso afirmar que o trabalho que a ADEVA realiza com os deficientes visuais é muito importante, pois muitos chegam com depressão, mas logo começam a andar sozinhos, a se ‘virar’. Sou um exemplo disso.” “A ADEVA também me deu um ‘anjo da guarda’, a Rosana, minha colega de trabalho. Ela me ajuda desde que cheguei à entidade. Uma vez, até me citou como um exemplo de superação para um aluno dela. A ADEVA é minha segunda casa e a Rosana é tudo para mim, o amor da minha vida.” Família Valdir passou parte de sua infância em Cornélio Procópio (PR), sua cidade natal, e outro tanto em São Paulo, no Campo Limpo, bairro da zona sul da capital. Ele é um dos doze filhos de Emídio e Adelina. “Eu era um menino arteiro e apanhei bastante, mas fui um adolescente tranquilo, caseiro, cujo único ‘vício’ era o futebol. Fiz testes no São Paulo, na Portuguesa Santista e até cheguei a jogar em times nos Estados Unidos, mas, por problemas no joelho, tive de desistir do esporte.” Já foi casado e tem três filhos, a Tatiane, o Caio César e a Carolina, “minha ex-enteada, que vive nos Estados Unidos”. Vida profissional Antes de um período morando fora do Brasil, Valdir trabalhou por cinco anos na Trevisan Auditores Independentes, como comprador, encarregado de almoxarifado, do setor de xerocópias e do arquivo técnico. Por ter parentes nos Estados Unidos, decidiu tentar a sorte por lá. De 1995 a 2009, foi pintor de paredes. “No início, ganhava US$ 22.50 por hora, depois, com a ajuda de mais duas pessoas, montei uma empresa e cheguei a ganhar entre US$ 12 e US$ 13 mil por mês. Porém, a diabetes e um descolamento de retina mudaram minha vida e meus planos. O tratamento era muito caro nos EUA e decidi voltar para o Brasil.” “Vim para ficar dois Jogo rápido com Valdir Donizete Faria meses, mas uma hemorragia Signo: Libra. | Cor preferida: Azul. | Hobby: Hoje, provocou a perda da é pensar no meu amor. | Um filme: A lagoa azul visão do olho esquerdo e (1980). | Um livro: O alquimista, de Paulo Coelho. comprometeu bastante o | Estilo de música: Sertaneja. | Uma música: direito. Daí, veio o medo. Eu Você foi tudo que eu pedi a Deus, da dupla Jean e só ficava na cama, cuidado Geovani. | Cantoras preferidas: Paula Fernandes pela minha filha e minha e a norte-americana Cyndi Lauper. | Cantores: irmã, que me davam tudo Leonardo e o canadense Bryan Adams. | Sobre na mão. A cirurgia para a deficiência: Superação. | Religião: Católica. | Deus: É tudo. | Amigos: Os poucos que tenho são implante de uma lente no muito importantes para mim. | Amor: É vida. | olho direito, realizada no Esporte preferido: Futebol. | Time do coração: Hospital São Paulo, me São Paulo Futebol Clube. | Família: Minha filha e devolveu 10% da visão. Foi meu amor. | Um sonho: Casar com meu amor. | então que decidi enfrentar O que fazer para viver melhor? Fazer aquilo que minha nova realidade e se gosta. | Uma frase: Deus abençoe vocês! morar sozinho.” ADEVA Parceiros e-hipermídia Um escritório de design comprometido com a acessibilidade na web O primeiro contato entre Cláudia Nascimento, proprietária do escritório de webdesign E-Hipermídia, e Markiano Charan Filho, diretor-presidente da ADEVA, foi informal, em um curso onde ambos eram alunos. “Nos intervalos, conversa vai, conversa vem, o Markiano me perguntou se eu teria interesse em reconstruir o site da entidade para torná-lo visualmente bonito, funcional e, principalmente, acessível. Aceitei a tarefa voluntária, que era também um desafio, pois até então pouco trabalhara com acessibilidade na web.” Depois de pesquisar e estudar o tema, e de várias reuniões para conhecer as necessidades e especificidades desse cliente especial, a webdesigner Cláudia Nascimento construiu um site totalmente novo e acessível para a ADEVA. “Empreguei recursos e informações atualizadas dinamicamente e construí um site 100% conformado aos padrões internacionais de acessibilidade definidos pela W3C, organismo de padronização da web. A equipe da ADEVA que me assessorou agregou valor à minha proposta, trazendo sua experiência na capacitação de pessoas com deficiência visual e no uso de softwares leitores de tela.” Por tudo isso, o novo site da ADEVA pôde se inscrever e participou do Todos@Web 2012, primeiro prêmio de acessibilidade na web promovido pelo escritório brasileiro da W3C. “Ficamos entre os cinco finalistas na categoria Projetos Web, subcategoria Governo/Instituições.” Acesso para Todos Após esse primeiro bem sucedido trabalho conjunto, “decidimos formalizar uma parceria para oferecer a terceiros, pessoas físicas e jurídicas, o serviço de criação de sites acessíveis”. Nasceu, então, o projeto Acesso para Todos, que ganhou um terceiro parceiro, a Web2Business, uma empresa de sistemas de Vitória (ES). “Vimos nessa parceria uma ampliação de possibilidades de negócios para todos os três envolvidos, pois o Acesso para Todos atende uma demanda crescente de mercado”, esclarece Cláudia. A partir do Decreto Federal nº 5.296 de 2004, todos os portais e sites dos órgãos da administração pública devem atender aos padrões de acessibilidade digital, e essa obrigatoriedade foi estendida a quaisquer sites por meio da Lei nº 12.527 de Acesso à Informação sancionada em novembro de 2011. “Apesar dessa legislação vigente, o panorama ainda não está plenamente sintonizado com a acessibilidade universal, mas acreditamos que é uma questão de tempo. Para nós, do Acesso para Todos, é um dever fazermos a nossa parte, trabalhando por uma web igualitária, sem barreiras de comunicação e interação, consoante um paradigma novo nas relações comerciais: crescimento em favor do sucesso e da sustentabilidade de todos os envolvidos”. Escritório E-Hipermídia Cláudia Nascimento trabalha com internet desde 1998. Seu projeto de pesquisa de mestrado em estética e história da arte pela Universidade de São Paulo (USP) foi aprovado com menção de distinção e louvor pela originalidade e alto nível. Em 2011, sua biografia foi publicada no Who’s Who in Research, série de eBooks da Intellect Books (UK). Criou o escritório de webdesign E-Hipermídia (http://www.e-hipermidia.com/) em 2005 com a proposta de contribuir para a criação de um mundo mais humano, inovador, criativo e sustentável por meio do design e das mídias digitais. Hoje, atende desde profissionais liberais até multinacionais. Oferece criação de logomarca, de websites, design responsivo (adaptável a diferentes dispositivos e tamanhos de tela), acessibilidade, sistemas dinâmicos com banco de dados e gerenciamento automático de conteúdo, vendas online, marketing digital, estratégia de publicação de conteúdo e criação ou adaptação visual de perfis de redes sociais. 7 MERCADO de TRABALHO Profissão: professor João Maia pode fotografar sem ver Deficiente visual, ele conquistou seu lugar num mundo de imagens João Maia e, acima, uma das fotos tirada por ele Por Lúcia Nascimento | [email protected] “Minha visão é uma grande aquarela e a fotografia é um quadro que vou pintando com os meus clicks.” A declaração é de João Batista Maia da Silva, 39, deficiente visual e fotógrafo. João Maia se deparou com a fotografia na adolescência. “Fiz um curso por correspondência pela Fuji Film; na época, eu não tinha dinheiro para comprar uma câmera profissional, mas tinha uma compacta e usava filme fotográfico. Não podia errar, pois o filme era caro e a revelação ainda mais!” Quando veio para São Paulo, lá de Bom Jesus, no Piauí, onde nasceu, comprou uma câmera semiprofissional, uma Zenit. Começou a perder a visão aos 28 anos, devido ao glaucoma e a uma uveíte bilateral. Mesmo assim, completou o curso de História no Centro Universitário UniSantana, mas achou que não poderia fotografar mais. Foi então que descobriu o Alfabetização Visual, um curso livre e gratuito de fotografia idealizado pelo fotógrafo João Kulcsár, do Centro Universitário Senac Santo Amaro em 2008. “Com o apoio dos alunos e professores da Faculdade de Fotografia do Senac, não existia mais limites para a minha fotografia.” “Minha fonte de inspiração foi o esloveno Evgen Bavcar, considerado o maior fotógrafo cego do mundo, com quem tive algumas aulas durante os anos em que frequentei esse curso. Ele mostrou ao mundo que a fotografia não é só para quem enxerga, mas que é possível relacionar imagens com os outros sentidos.” E o que era hobby virou profissão. João Maia já fotografou casamentos, batizados, aniversários e eventos esportivos. A técnica 8 “Para facilitar o trabalho de um fotógrafo cego, como ainda não existe nenhum programa de voz ou leitor de tela na câmera, o primeiro passo é conhecer o equipamento, cada botão, saber segurar, enquadrar e fazer a composição”, explica João Maia. “É importante também ter um bom assistente, pois, em alguns momentos, é preciso ajustar a câmera conforme as necessidades da foto. Depois, é só deixar a imaginação e a criatividade atuarem juntas e os outros sentidos fazerem o resto.” João Maia trabalha com uma câmera profissional Canon e seu assistente é o Edson, “que também é meu atleta guia nos treinos e provas de corrida de rua”. Paratleta João Maia é paratleta e participa das competições de arremesso de peso, lançamento de dardo e corrida de rua, na categoria F12, para atletas com baixa visão, pela ONG Força no Pé. Já conquistou ótimos resultados em campeonatos no estado de São Paulo, mas ainda não tem patrocinador. “Treino três vezes por semana no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) da Prefeitura da Cidade de São Paulo e estou tentando obter um índice brasileiro para poder solicitar uma bolsa-atleta do Ministério do Esporte.” Seu recado Ao encerrar esta entrevista, João Maia deixa um recado aos leitores do CONVIVA. “Quando disserem que você não pode fazer algo, então, faça! O limite é saber do que somos capazes. Com estudo e muita dedicação, vamos nos adaptando às necessidades. Por exemplo, com meu iPhone, já fiz uma selfie. Quando a câmera aparece, um aplicativo avisa se o rosto está centralizado. Então, eu aperto o botão de disparo, que pode ser o do volume do celular.” “Faço as minhas fotos no meu tempo e a imagem será tão bela como o sorriso de uma criança e o nascer do pôr do sol!” ESPORTE Um direito de todos Chico é um paratleta polivalente Atletas paralímpicos contam sua história e suas vitórias II Por Ivan de Oliveira Freitas | [email protected] Na terra do futebol, o paratletismo tem crescido de forma fantástica. Desde que o Comitê Paralímpico Brasileiro, com o patrocínio da Caixa Loterias, começou a investir na modalidade, o Brasil passou a ser reconhecido e respeitado no cenário internacional. O CONVIVA entrevistou Francisco de Assis Melo e Santos, nacionalmente conhecido como Chico, um dos principais paratletas brasileiros, vitorioso em inúmeros campeonatos regionais, abertos, do estado de São Paulo, Circuitos Caixa, meetings internacionais etc. Chico está no paratletismo desde quando nem se pensava que a modalidade pudesse ter patrocinador e seus praticantes treinavam “na raça”, investindo recursos próprios para participar de competições. Mesmo agora, chegando aos 50 anos de idade – nasceu em 4 de outubro de 1964 – continua sendo um paratleta de relevo nas provas que disputa, superando os mais jovens e se mantendo entre os primeiros no ranking nacional. CONVIVA: É um imenso prazer tê-lo conosco nesta edição. Conte um pouco da sua trajetória no paradesporto. Chico: Comecei no paradesporto em 1993 no atletismo, depois conheci o futebol de 5, joguei alguns anos, fiz natação e joguei goalball, chegando até a seleção brasileira. Disputamos um panamericano na Argentina, obtendo a segunda colocação. Hoje, pratico apenas o atletismo nas provas de salto em distância, e tenho conseguido bons resultados. CONVIVA: Você tem patrocinador? Chico: Não, nunca tive. CONVIVA: Sua deficiência visual é total ou parcial? Chico: A deficiência visual me acompanha desde criança e foi evoluindo até que tive perda total da visão aos 26 anos. CONVIVA: Como ficou sabendo da prática de modalidades paradesportivas? Chico: Por meio das assistentes sociais da antiga Divisão de Reabilitação Profissional de Vergueiro (DRPV), hoje, Divisão de Medicina de Reabilitação (DMR), do Hospital das Clínicas de São Paulo. Foi lá que conheci os diversos tipos de deficiências e cheguei à conclusão que a minha não era nada diante do que eu vi. CONVIVA: Como é seu treinamento? Chico: Treino regularmente cinco vezes por semana. No meu treino diário tem aquecimento, condicionamento físico, alongamento e treinos táticos e técnicos com muitas repetições. CONVIVA: Como são as provas de pista e as provas de campo para um paratleta com deficiência visual? Chico: Na prova de pista, o deficiente visual total corre acompanhado por um atleta guia, ambos segurando uma corda, ou cordão, ou qualquer outra coisa que os mantenham unidos durante todo o percurso. Nas provas de campo, o paratleta é posicionado no local do arremesso/lançamento e o guia se coloca distante dele para emitir um som orientador, com a voz ou com palmas, para que ele posicione o lançamento. CONVIVA: De quais provas você já participou? De quais está participando? Chico: Já participei dos 200m rasos, 800m, 1500m e lançamento de dardo. Hoje, participo das provas de salto em distância. CONVIVA: Há quanto tempo você é paratleta e qual foi seu momento mais marcante? Chico: Há 21 anos. Os momentos mais marcantes da minha carreira foram os Jogos Parapanamericanos de 1995, onde ganhei medalha de prata em goalball, e os Parapanamericanos de 2001, nos Estados Unidos, onde consegui medalha de ouro em salto em distância, salto triplo e pentatlo. Mas minha principal conquista, na realidade, foi ter voltado à vida. Antes de conhecer o paradesporto, eu vivia preso dentro de casa, sem a ajuda de ninguém e não conhecia nenhum outro deficiente nem nenhum outro tipo de deficiência. No paradesporto, fiz bons amigos, voltei a trabalhar, enfim, voltei a ter uma vida normal. CONVIVA: Qual é o segredo para estar há tanto tempo competindo e vencendo? Chico: O segredo é manter um bom condicionamento físico, uma boa alimentação e uma rotina de treinos frequentes. Mas o mais importante é a vontade de vencer. CONVIVA: Quais são suas metas para o futuro? Chico: Minha meta é chegar nas Paralimpíadas de 2016 competindo de igual para igual com a molecada. CONVIVA: Deixe sua mensagem para os nossos leitores. Chico: Nunca desista de seus objetivos, acredite em você, faça por merecer e boa sorte! 9 TECNOLOGIA Convivaware Um admirável mundo novo em 4 rodas Os carros autodirigíveis já são realidade no Brasil Por Laercio Sant’Anna | [email protected] Estima-se que mais de um milhão de pessoas morrem em acidentes nas ruas e estradas do mundo a cada ano, fora os milhões de mutilados e feridos. A maioria dos acidentes é causada por erros humanos. Segundo estudos que “pipocam” por aí, isso deve acabar a partir do momento em que os carros forem guiados por computadores. Carros autônomos se transformaram na bola da vez no setor automobilístico, com empresas de tecnologia e montadoras se unindo para construir veículos que revolucionarão a forma de locomoção. Pode parecer futurista demais, mas seus desenvolvedores defendem que os benefícios são tangíveis e chegarão em breve. Montadoras sustentam que esses veículos evitarão 90% dos acidentes automobilísticos. Especialistas dizem que, quando toda a frota estiver sendo autodirigida, a velocidade será mais constante e a distância entre os carros será facilmente sincronizável, acabando com os engarrafamentos. Aquela história de dar seta e o carro ao lado não deixar passar, atravancando o tráfego, terminará. Controlados, no caso de afunilamento de duas pistas, o sistema fará com que passe um carro de cada vez, alternadamente, permitindo que as duas filas andem. Imagine aproveitar a viagem ao trabalho para, ao invés de dirigir, checar e-mails, auxiliar as crianças nas lições de casa, assistir a um filme ou mesmo dormir! Esses novos veículos também devem revolucionar o conceito de propriedade. Por que um carro para cada indivíduo se, por exemplo, os filhos podem ser levados para a escola enquanto os pais se arrumam para serem transportados ao local de trabalho quando o único carro da família retornar ao ponto de partida? Por que comprar um carro se posso contratar um serviço de táxi autônomo para me apanhar em casa pela manhã, me levar ao trabalho e, em seguida, atender uma chamada estrategicamente selecionada a partir do local em que me deixou? Não tenho dúvidas de que teremos menos carros nas ruas, sendo mais eficientes e com menos riscos e preocupações. Um Mercedes-Benz 10 Há mais de 15 anos, a corrida por lançar no mercado de massa o primeiro carro autodirigível é grande. O novo modelo S500, da Mercedes-Benz, dirigiu sozinho cem quilômetros na Alemanha em agosto do ano passado, guiando-se com sucesso por rotatórias, semáforos e eventuais ciclistas. O Carina Batizado de Carina, o Carro Robótico Inteligente para Navegação Autônoma foi o primeiro veículo do tipo a andar em vias públicas na América Latina. O carro autônomo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, no interior paulista, embora ainda apresente freadas bruscas e não consiga seguir as marcações das faixas da rua com precisão, andou por dois quilômetros de ruas na manhã do dia 22 de outubro de 2013. Equipado com câmera com sensor laser que monitora 70 mil pontos ao redor do carro dez vezes por segundo, GPS de grande precisão e dois computadores, sendo um de bordo, o protótipo deixa evidente que, se ainda não está pronto, já não é algo do outro mundo. Já me imagino entrando no carro e dizendo... “ir para a ADEVA”. Em seguida, começo a tomar o meu café da manhã ouvindo um audiolivro que escolhi por comando de voz enquanto desembrulho o meu lanche. Assim que chego na ADEVA, como sei que a minha esposa precisa ir para o trabalho, saio do carro e digo: “voltar para casa”. Assim que estiver próximo do final da reunião do CONVIVA, pelo celular, aciono a vinda do carro para me buscar. Maravilha das maravilhas este admirável mundo novo! O vídeo de exibição do protótipo Carina está disponível em: http://www.youtube.com/watch? v=DNagM7avpYo&feature=player_embedded TECNOLOGIA Na rede LITERATURA Outros olhares Machado de Assis, obra completa O portal Domínio Público e o Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Linguística, da Universidade Federal de Santa Catarina, organizaram, sistematizaram, complementaram e revisaram as edições digitais dos escritos de Machado de Assis existentes na rede. Neste site, os usuários da internet podem se embrenhar na sua obra completa em edições confiáveis e gratuitas. http://machado.mec.gov.br DescolaAí DescolaAí favorece uma prática sustentável, pois possibilita que se troquem objetos, se contrate um serviço ou se alugue algo por um tempo determinado, estimulando, assim, o consumo colaborativo. Em um artigo da revista Time (EUA, 2011), o consumo colaborativo é citado como uma entre as 10 coisas que vão mudar o mundo. O empréstimo ou aluguel é intermediado pelo site, que garante segurança a seus usuários. http://www.descolaai.com/ O Beijo Amor O João conta que sempre foi o preferido da avó Maria entre os doze netos e ela nem tentava disfarçar: “Esse menino é a minha vida”, dizia. Eram para ele os telefonemas mais longos, os presentes mais caros, os abraços mais apertados e os doces mais gostosos. “A gente era criança e os primos, na hora da briga, diziam que é porque eu nasci cego”, explica o João, rindo. Das visitas à casa da avó, ele se lembra do papagaio que avisava quando chegava gente e do assoalho rangendo quando entrava, mais o som oco de sua bengala fazendo tum, tum, tum. Aí ela vinha quase correndo da cozinha, toda feliz, e ele ficava até tonto de tanto beijo e tanta pergunta. Como a avó Maria fazia doces “pra fora”, como se dizia na época, a casa cheirava a baunilha, canela e chocolate e o João fala que até hoje basta um deles para bater um vazio misturado com uma saudade danada daquele tempo. Ele foi crescendo e a avó, aos poucos, foi se esquecendo. Um dia de uma coisa, outro dia de outra. Do doce no fogo, do ferro na tomada, do caminho de casa e, por último, do neto preferido. Dedicado às artes visuais brasileiras, este site reúne informações a respeito do mundo artístico da cidade de São Paulo, com roteiro completo das principais instituições, museus, centros culturais, galerias, espaços alternativos e arte pública. Traz também informações sobre novas mostras, entrevistas com artistas, resenhas de livros, promoções, vídeos, exposições virtuais e detalhes sobre editais, concursos e bolsas. http://obeijo.com.br Um dia, na última visita, o João, já homem feito há muito tempo, entrou no quarto bem devagar e sentou-se na beira da cama, pertinho dela. Sentiu a pequena mão da avó acariciar seu rosto e seus cabelos. Foi aquele silêncio, até que ouviu a voz que docemente sussurrou: “Eu não sei quem você é... Mas eu te amo”. Lucia Maria é jornalista, audiodescritora e autora do blog Outros olhares (outrosolhares.blog.terra.com.br) 11 LITERATURA Espaço poético Um dedo de trova Tu lês os versos que eu faço, e nem sequer adivinhas o segredo que eu te passo no espaço das entrelinhas... Selma Patti Spinelli – SP Afinal, que te aproveita o labor que te consome, se não doas, da colheita, uma parte a quem tem fome?… A.A. de Assis – PR Foi um choque e muita mágoa para quem acreditou: a tua barriga d’água com nove meses chorou... Edmar Japiassu Maia – RJ Amor em dois tempos Rompendo a neblina que embaça o passado, o sol em minha alma desperta a saudade e eu volto contente à feliz liberdade, ao álacre jogo do tempo encantado, do idílio inocente, do beijo apressado, temendo os olhares do pai da beldade. Depois uma flor do gentil namorado no peito da amada era a felicidade!... Não sei em que ponto perdeu-se o lirismo do amor que os “ficantes”, em seu modernismo, mataram o encanto e a pureza ideal. E enquanto eles “ficam”, ao som da balada, o amor vai perdendo a feição encantada, mudando-se em coisa sem graça e banal. Thalma Tavares Por Lothar Bazanella MAIS! Para seu lazer Exposição O Museu da Língua Portuguesa, sintonizado com a Copa Fifa 2014, recebe a exposição “Futebol na Ponta da Língua”, que fica em cartaz até 17 de agosto, de terça a domingo, das 10h às 17h, com entrada gratuita. Praça da Luz, s/nº, Luz-Centro, São Paulo (SP), tel.: 3326-0775. Festa na rua A BrooklinFest acontece no bairro paulistano do Brooklin sempre em outubro. Este ano, a Alemanha é o país e tema de destaque. Apresentações musicais, dança, teatro, circo, artesanato e a gastronomia típicos se entremeiam com exposições e a exibição de filmes alemães ao ar livre. Dias 18 e 19, das 10h às 22h, no quadrilátero das ruas Bernardino de Campos, Joaquim Nabuco, Barão do Triunfo e Princesa Isabel. Concertos Até novembro deste ano, a Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo cumpre a temporada 2014 na companhia de diversos artistas convidados. Em setembro, apresenta-se com o grupo Trio Corrente, ganhador de um Grammy. Os concertos acontecem no palco do Auditório do Ibirapuera e os ingressos custam R$ 20 e R$ 10 (meia-entrada). Dias 26 e 27, às 21h. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n, portão 2, Ibirapuera, tel.: 3629-1075, São Paulo (SP). ADEVA - Associação de Deficientes Visuais e Amigos Correspondência: rua São Samuel, 174, Vila Mariana, CEP 04120-030 São Paulo (SP) | e-mail: [email protected] - site: www.adeva.org.br Nossos parceiros:
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