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ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE O PROJETO DE EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS E A GESTÃO DA PRODUÇÃO. JOÃO ALBERTO CAMAROTTO SÃO PAULO 1998 ESTUDO DAS RELAÇÕES ENTRE O PROJETO DE EDIFÍCIOS INDUSTRIAIS E A GESTÃO DA PRODUÇÃO. JOÃO ALBERTO CAMAROTTO Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo para obtenção de grau de Doutor. Orientador: Prof. Dr. Luiz Gastão de Castro Lima. SÃO PAULO 1998 CAMAROTTO, João Alberto. Estudo das relações entre o projeto do edifício industrial e a gestão da produção. São Paulo, 1998. 1v.il. Tese – Doutorado – FAU/USP Para Rosangela e Leonardo AGRADECIMENTOS Às pessoas que sempre estiveram comigo e aquelas que me ajudaram neste trabalho: Rosangela Vanalle Alceu Gomes Filho Nilton Menegon Paulo Bento Luiz Gastão C. Lima - meu orientador Miguel de Simoni - meu eterno orientador Eliane Bôscolo Francisco Alves Targino Araújo Filho Celso Rodrigues Ubirajara Mattos José Alfeo Röhm Dirceu Guaglianoni Jr. (Capi) Miguel Bueno da Costa Egle Setti Silvane Matusita Elizabeth Schutzer (in memorian) Ao pessoal da secretaria do DEP Aos velhos amigos sumidos: Domenico(Nick) e Sóstenes Ao meu velho Obrigado pela força. RESUMO A pesquisa é uma contribuição para o estudo e projeto de edifícios industrias no tocante à sua relação com os desenhos da organização e da gestão da produção desenvolvidos para uso nestes edifícios. O objetivo principal é verificar as conseqüências das mudanças nos padrões de organização da produção sobre o sistema de trabalho, quando se mantém a mesma edificação da fábrica. Este estudo é realizado através da análise do desempenho da edificação em relação ao arranjo físico das instalações e do conforto ambiental para os trabalhadores. Realiza-se inicialmente um estudo da evolução da concepção do edifício industrial a partir do século 18, estabelecendo-se uma relação entre o projeto arquitetônico e a organização da produção. Os parâmetros utilizados são os princípios de desempenho do arranjo físico em relação aos fatores de produção. Partindo-se da evolução dos modelos de gestão da produção e seus relacionamentos com os princípios do arranjo físico, os sistemas de trabalho são estudados mostrando que as mudanças de gestão interferem na distribuição e nos padrões dos espaços de trabalho. O conforto ambiental é utilizado como referencial de comparação, tendo como parâmetros de medida os agentes ruído, calor e iluminamento. Os estudos de caso foram realizados em empresas que, sem alterar seus edifícios, introduziram mudanças na gestão da produção, mostrando as incompatibilidades entre os parâmetros de gestão e os espaços de trabalho com as limitações impostas pelo edifício. Para comparar estas situações foram utilizadas como referência as variáveis de conforto ambiental e a opinião dos usuários destes ambientes. Flexibilidade e projetos voltados para a organização do trabalho são as principais mudanças verificadas no modelo desenvolvimento de edifícios industriais no final deste século. A tendência das organizações industriais é o uso de unidades de produção pequenas e independentes, com edificações modulares e a valorização do trabalho em grupo com maior autonomia de decisões. ABSTRACT This thesis deals with the study and design of industrial buildings, focusing the relationships amongst paradigms of production management, organisation design, and those related specifically with industrial building. The main objective is to find out the possible consequences of changes in production organisation patterns over work systems, when the factory building is kept unchanged. The study is carried out by analysing building performance in terms of physical arrangement of installations and environment comfort for workers. First, it is studied the evolution of industrial building conceptions since the eighteenth century, seeking relationships between architectonic project and production organisation. This work considered for that the possible influences of physical arrangement in the productivity of production factors. Beginning from the evolution of production management models and its relationships with the principles of physical arrangement, work systems have been studied showing that management changes interface in the distribution and patterns of the work spaces. Environment comfort has been used as a comparation guide. Loudness, heat and light agents have been used as measuring parameters. In this work some cases studies were carried out in enterprises that, without changing their buildings, have introduced changes in its production management systems. Many incompatibilities between management parameters and work spaces have been identified and analysed, especially those limitations imposed by the unchanged buildings. The work used environment comfort variables and users' opinions as references to compare these situations. Finally, this work concluded that the need of flexibility and the correspondent alterations in the work organisation are the main changes found in the industrial buildings development model at the end of this century. The tendency of industrial organisation is the use of work groups with bigger decision autonomy arranged in small and independent production units, in modular buildings. SUMÁRIO Página 1. INTRODUÇÃO 01 1.1. Contextualização da pesquisa 01 1.2. Objetivos e hipótese 05 1.3. Métodos utilizados no desenvolvimento da pesquisa 10 2. EDIFÍCIO INDUSTRIAL E ARRANJO FÍSICO ( Layout ) 15 2.1. O surgimento das fábricas 20 2.2. Os principais padrões dos edifícios industriais no século 20 31 2.3. Primeiros estudos de layout 49 2.4. Métodos e técnicas de desenvolvimento de layout 56 2.5. Tipos Clássicos de arranjo físico 65 2.6. Projeto de edifícios industriais e o conforto ambiental 74 2.6.1. O projeto do edifício industrial 75 2.6.2. Conforto Ambiental 81 2.6.2.1. Avaliação das condições térmicas 82 2.6.2.2. Avaliação das condições acústicas 85 2.6.2.3. Avaliação das condições de iluminamento 90 3. GESTÃO DA PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E LAYOUT 93 3.1. Formas tradicionais de gestão da produção e organização do trabalho: relações com a edificação industrial 96 Página 3.2. Novas formas de Gestão da Produção 102 3.3. Novas formas de Gestão do trabalho: trabalho em grupo, autonomia, humanização do trabalho 118 3.4. Novos padrões de layout derivados de novas formas de gestão da produção e do trabalho 124 3.4.1. Layout em grupo 129 3.4.2. Célula de Manufatura 133 3.4.3. Projeto modular: layout modular, mini-fábrica 140 3.5. Considerações finais 4. ESTUDO DE CASOS 153 156 4.1. O modelo de pesquisa utilizado 157 4.2. As Fábricas estudadas 158 4.2.1. Fábrica - F1 161 4.2.2. Fábrica - F2 181 4.2.3. Fábrica - F3 198 4.3. Considerações finais sobre as empresas estudadas 5. CONCLUSÕES 208 211 5.1. Edifícios industriais e instalações: exemplos recentes e indicativos de tendências 215 5.2. Análise de tendências nas relações do layout com os modelos de gestão da produção e do trabalho 220 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 225 BIBLIOGRAFIA 238 ANEXO 01 - MODELO DE ROTEIRO UTILIZADO PARA LEVANTAMENTO DE DADOS NAS FÁBRICAS 241 ANEXO 02 - Normas Técnicas utilizadas para avaliação de RUÍDO, CALOR e ILUMINAMENTO 246 LISTA DE FIGURAS Página Figura 01 Ilustração de uma fábrica do século 16 - com detalhes de fábrica e habitação Figura 02 Fábrica e residência em uma única edificação 20 22 Figura 03 Ilustração de uma fábrica típica do início da Revolução Industrial 24 Figura 04 Uma edificação simples de uma fábrica do século 19 27 Figura 05 Fábrica moderna da metade do século 19 29 Figura 06 Indústria de tecelagem do início do século 19 30 Figura 07 Fábrica de Turbinas AEG, 1909 32 Figura 08 Complexo de indústria automobilística da década de 40 33 Figura 09 Interior de uma fábrica da automóveis em Detroid/EUA 34 Figura 10 Centro de distribuição de peças da FORD/EUA 36 Figura 11 Maqueta de uma fábrica da produtos de plásticos em Illinois 36 Figura 12 Esquema de carta de fluxo(flow chart) de processo de fabricação e montagem de um automóvel, década de 40. 39 Figura 13 Modelo de fluxo de uma fábrica padrão da década de 40 40 Figura 14 Interior de uma fábrica da década de 40 42 Figura 15 Planta de uma fábrica de peças para eletrodomésticos 43 Figura 16 Esquema de uma fábrica pós-guerra 46 Figura 17 Fluxo de produção após várias expansões do edifício 47 Figura 18 Layout de um moinho de cereais, de 1795 50 Figura 19 Ilustração de uma fábrica da década de 40 52 Figura 20 Modelo de fluxo em única edificação e setores paralelos 53 Figura 21 Modelo de fluxo com disposição em anel 53 Figura 22 Fluxo em anel com saídas opostas e setores em paralelo 54 Página Figura 23 Fluxo em fila única com ambientes separados 55 Figura 24 Fluxo em fila dupla, com ambientes separados 55 Figura 25 Ilustração de um layout posicional 67 Figura 26 Esquema do layout Funcional 69 Figura 27 Esquema do layout por produto 70 Figura 28 Modelo de fábrica após a 2ª guerra mundial 102 Figura 29 Layout em gaiolas da pássaros 127 Figura 30 Layout em ilhas separadas 127 Figura 31 Layout em linha 128 Figura 32 Tipos de layout da Tecnologia de Grupo 130 Figura 33 Layout utilizado na Tecnologia de Grupo: Centro TG 131 Figura 34 Linha-TG, tipo de layout da Tecnologia de Grupo 131 Figura 35 Layout de uma célula da manufatura, em U 139 Figura 36 Esquema geral de uma construção em espinha de peixe 141 Figura 37 Estrutura dos módulos da layout - Volvo 143 Figura 38 Módulos de montagem de automóveis da Volvo/Kalmar 144 Figura 39 Rotas de fluxo das montagens Volvo/Kalmar 145 Figura 40 Vista geral da planta da Volvo/Kalmar 146 Figura 41 Abordagens de montagem utilizadas na Volvo/Kalmar 147 Figura 42 Mini-fábricas integradas em edifícios separados 151 Figura 43 Detalhes de uma mini-fábrica da Volvo/Kalmar 152 Figura 44 Layout e mapofluxograma - linha F1 164 Figura 45 Layout e fluxo do processo na célula F1 170 Figura 46 Esquemas alternativos de layout - célula F1 179 Figura 47 Layout geral e planta Fábrica F2 182 Figura 48 Layout e mapofluxograma inicial - F2 186 Figura 49 Sequência das operações - célula F2 189 Página Figura 50 Modelo de estrutura da layout da célula F2 190 Figura 51 Layout geral da célula de usinagem F2 192 Figura 52 Planta baixa Fábrica F3 199 Figura 53 Fluxograma do processo F3 200 Figura 54 Layout de F3 201 Figura 55 Representação do percurso F3 202 Figura 56 Representação da célula - F3 204 LISTA DE QUADROS Página Quadro 01 Evolução dos sistemas de produção 09 Quadro 02 Principais conhecimentos e áreas de atuação envolvidos no projeto de instalações industrias 19 Quadro 03 Modelo de desenvolvimento de projeto de fábrica MUTHER 56 Quadro 04 Esquema geral do sistema SLP - MUTHER 62 Quadro 05 Representação esquemática dos processos de produção 66 Quadro 06 Características do sistema de produção e tipo de layout 71 Quadro 07 Relação entre o tipo de layout e gestão da produção 72 Quadro 08 Progressão do processo projetual em arquitetura 76 Quadro 09 Processo de projeto segundo método sistemático 79 Quadro 10 Principais métodos de avaliação do conforto térmico 83 Quadro 11 Principais métodos de medição e avaliação do ruído 90 Quadro 12 Evolução da automação dos sistemas de produção 116 Quadro 13 Critérios e vantagens na adoção de tipos de layout 135 Quadro 14 Aplicabilidade do conceito de manufatura celular 136 Quadro 15 Unidades típicas de uma fábrica 155 Quadro 16 Equipamentos e controles na linha Fábrica F1 162 Quadro 17 Sequencia de operações - linha F1 163 Quadro 18 Distribuição dos postos de trabalho - linha F1 164 Quadro 19 Atividades do operados - linha F1 166 Quadro 20 Distribuição das áreas de trabalho - linha F1 167 Quadro 21 Conceitos e técnicas de gestão da produção - célula F1 168 Quadro 22 Estrutura de trabalho - célula F1 169 Quadro 23 Distribuição dos postos de trabalho - célula F1 171 Quadro 24 Distribuição das áreas de trabalho - célula F1 172 Quadro 25 Comparação de fatores de produção - célula x linha F1 177 Quadro 26 Configuração inicial - F2 185 Quadro 27 Tipos de flexibilidade aplicadas aos sistemas de produção 213 LISTA DE TABELAS Página Tabela 01 Fontes geradoras de ruído industrial 86 Tabela 02 Valores médios aproximados dos agentes ambientais - F2 188 Tabela 03 Comparação das variáveis de processo - F3 205 Tabela 04 Valores das variáveis ambientais - F3 206 GLOSSÁRIO Apenas termos utilizados no texto que possuem interpretações diferentes em relações a autores e áreas de projeto. PROJETO DE EMPRESA: (Plant Design, Enterprise Design) Compreende o projeto total do empreendimento da empresa para a concepção de uma fábrica(MOORE, 1962). Abrange as fases de: a) aquisição de capital, b) projeto do produto, c) planejamento de vendas, d) comprar ou fazer, e) tamanho da fábrica, f) preço do produto, g) localização da fábrica, h) layout da fábrica, i) edificação, j) desenvolvimento da organização e implantação da fábrica. PROJETO DE FÁBRICA: (Factory Planning ) Compreende as fases do projeto de empresa referentes ao projeto da unidade de produção do produto: a) tamanho da fábrica, b) localização, c) layout d) edificação d) desenvolvimento e implantação. OLIVÉRIO(1985) traduz o termo Plant Design como Projeto de Fábrica. PROJETO DO ARRANJO FÍSICO OU PROJETO DE INSTALAÇÕES INDUSTRIAIS: (Plant Layout, Layout, Facility Design) compreende o estudo e projeto do arranjo produção(materiais, apoio(utilidades, espacial equipamentos, pessoal, e organizacional mão-de-obra), suprimentos) e dos dos fatores de serviços de administrativo da fábrica.(OLIVÉRIO, 1985 e MOORE, 1962). TEMPO DE MANUFATURA(TM) - Tempo total de transformação de uma matéria-prima, considerando o intervalo entre a chegada da matéria-prima no estoque até a expedição do produto. Este tempo é função dos tempos de preparação dos postos(set-up), tempos de transporte, tempo-padrão(tempo de processamento básico + tempo de carga e descarga da peça no posto) e tempos de estocagens intermediárias.(CAMAROTTO, 1997 e AGOSTINHO, 1985). CARGA DE MÁQUINA - Quantidade de trabalho(ou tempo efetivo de trabalho) de cada equipamento de produção, para uma programação específica(peças, quantidades e tempo). Serve para dimensionar a quantidade de equipamentos e a taxa de utilização de cada um, em função do volume de produção.(BARNES, 1977 e CAMAROTO, 1997) 1 1. INTRODUÇÃO 1.1. Contextualização da pesquisa O estudo das relações entre a tecnologia e as condições ambientais de trabalho é uma preocupação que possui registro desde o século 16, com a publicação dos estudos de George Bauer em 1556, sobre doenças e acidentes relacionados ao trabalho de mineiros e fundidores de ouro e prata (BISSO, 1990). Entretanto, foi a partir da publicação do livro De Morbis Artificum Diatriba , do médico Italiano Bernardino Ramazzini em 1700, que os estudos sobre o conforto do ser humano nos ambientes de trabalho são sistematizados. Até o século 17, enquanto a produção de mercadorias era basicamente artesanal, realizada em instalações pequenas e com o trabalho predominantemente manual; não havia a preocupação com o projeto de edificações industriais (MELIS,1953). Esta preocupação surge a partir do século 18, na Inglaterra, com as construções de edifícios para a indústria têxtil, que utilizava a tecnologia da máquina a vapor para geração de energia e de teares mecânicos construídos a partir de tornos e outras máquinas operatrizes de precisão (USHER Apud GAMA, 1986)1. No século 18 houve uma predominância de novas edificações para o setor têxtil. Somente na segunda metade do século 19, começaram a surgir edificações industriais em quantidade e tamanho expressivos em outros setores, como havia na indústria têxtil até então (PEVSNER, 1980). Um dos 1 USHER, A. História das invenções mecânicas. Apud. GAMA, R. A. Tecnologia e o Trabalho na História. 1ª. edição. São Paulo. EDUSP, 1987. 2 setores que se destacou como demandante destas edificações foi o setor metalmecânico, inicialmente na Europa e, posteriormente, nos EUA. Entre o final do século 19 e início deste século, o setor metal-mecânico era o mais dinâmico dentre os setores industriais, sendo utilizado como exemplo de organização do processo de trabalho industrial moderno, pois foi a partir de estudos empíricos sobre este setor que surgiram as técnicas e as teorias de gestão mais influentes deste século (CORIAT,1994; WOMACK et alii, 1992; HELOANI,1994). Os estudos sobre gestão e organização industrial da época eram baseados nos modelos adotados em empresas deste setor, destacando-se os trabalhos clássicos e históricos de: C.Babbage, H. Fayol, H. Ford, F.W. Taylor, E. Mayo, Frank e Lilian Gilbreth, entre outros (MAYNARD, 1970). Na gestão dos fatores de produção, incluindo a organização do trabalho, as obras de TAYLOR(1971), Charles Babbage (MAYNARD,1970), FORD(1954) e, posteriormente, BARNES(1977); foram fundamentais no traçado de uma nova forma organizacional da produção, influenciando todos os ramos da indústria e com reflexos nas demais organizações que, de alguma forma, se relacionavam com a indústria. Uma destas áreas de influência, de particular interesse para este trabalho, é a das construções para fins industriais, que a partir da 2a. guerra segue o trinômio: industrialização, racionalização e mecanização ( BRUNA, 1976), de conotação claramente inserida nos princípios de Taylor. Taylor sistematizou a Teoria da Administração Científica do Trabalho e Henry Ford colocou em prática a produção em massa e a linha de montagem. A corrente Fordista/Taylorista de organização da produção e do trabalho tornou-se paradigma da produção industrial, cuja predominância permaneceu inquestionável até os anos 60 (WOMACK et alii, 1992). A divisão e a organização do trabalho propostas e implantadas por Taylor criaram uma nova base de relações industriais, fundamentadas na 3 racionalização das tarefas, e foram determinantes no surgimento das áreas de atuação profissional preocupadas com o layout industrial, com a concepção dos espaços de trabalho e com a composição das tarefas. Estas relações, em conjunto com a produção em massa de produtos padronizados de Ford cujas preocupações se concentravam no dimensionamento e controle do fluxo do processo; direcionaram a evolução industrial no ocidente na primeira metade deste século. Este conjunto de ordenações industriais novas requereu novos conceitos de projetos para edificações destinadas à indústria. Notadamente durante os períodos de guerra e imediatamente após a 2ª Guerra, na reconstrução de países da Europa, onde ocorreu um direcionamento para a implantação de fábricas em parques industriais nas periferias das grandes cidades, em substituição aos espaços inadequados situados nos centros urbanos (MILLS,1951). Esta dinâmica provocada pelas guerras proporcionou, entre outras mudanças, renovações de tecnologias tanto na produção industrial como nas edificações para a indústria, utilizando-se o funcionalismo (MASCARÓ, 1990) e a racionalização como suas bases projetuais (BRUNA,1976). É possível encontrar algumas relações entre a gestão da produção e o projeto de fábricas pelos relatos históricos de projetos realizados entre as décadas de 30 a 60 constantes nas obras de MUNCE(1960), GRUBE(1972) e MILLS(1951). Nestes projetos, os edifícios industriais seguem padrões de distribuição uniforme dos elementos de conforto ambiental, com construções de grandes vãos livres na forma de galpões e uso de estruturas "high-tech" (BENEVOLO, 1985). Estas concepções dos edifícios são adequadas aos layouts industriais predominantes na época, cujos pressupostos vinham do modelo de produção das indústrias do setor metalmecânico, em particular da indústria automobilística norte-americana. 4 A partir da década de 60, com a estagnação dos mercados de pós-guerra e pela exaustão dos modelos de gestão da produção e do trabalho, surgem movimentos de modernização das relações industriais liderados pelo modelo Japonês de produção (Toyotismo, JIT/Kanban, Ohnoismo, etc.) e pela corrente de humanização do trabalho da escola sociotécnica ,com suas experiências em países escandinavos (ORSTMAN,1984). Destas mudanças, é possível estabelecer relações entre arquitetura industrial, como relata Orstman no caso da fábrica da Volvo em Kalmar, e os conceitos de humanização e flexibilidade nos levantamentos históricos de FRIGÉRIO(1985). Entretanto, casos como os da Volvo e outros semelhantes na Suécia(SAAB/Scania), onde, por concomitância de acontecimentos sociais e econômicos, foi possível a redefinição dos padrões de layout e da arquitetura industrial, são considerados raros ou mesmo exceção, como será visto no decorrer do trabalho. Na evolução do conhecimento de áreas que interagem em um mesmo espaço de aplicação profissional, como no caso da arquitetura industrial e da gestão da produção, no que tange ao uso de espaços de trabalho; torna-se difícil estabelecer qual área ou quais aspectos do contexto social irão direcionar, ou influenciar, as mudanças na tecnologia(e em quais aspectos da tecnologia) e no trabalho envolvidos na produção industrial. SILVA(1991), pesquisando as relações entre trabalho e tecnologia na indústria automotiva, encontrou 3 conclusões diversas sobre esta questão: "... 1)-A tecnologia determina as formas de trabalho...... 2)-A cultura ou outros fatores superestruturais, como ideologia ou religião, determinam os modos de trabalho, desempenhando a tecnologia um papel secundário... 3)-Verifica-se uma interação entre tecnologia e trabalho, de tal modo que as formas de trabalho estimulam a inovação ou a implementação de mudança tecnológica, exigindo a tecnologia modos de trabalho específicos. ...".( p. 13-14 ). 5 Estas indagações indicam que a análise das relações existentes entre a edificação industrial e as atividades da produção, inseridas nas relações entre tecnologia e trabalho, refletem também uma dinâmica evolutiva no decorrer deste século que é, inicialmente, marcada pela predominância dos modelos de gestão da produção Fordista/Taylorista e, posteriormente, se transformam, porém, mantendo uma dependência das mudanças ocorridas anteriormente nestes modelos de gestão. 1.2. Objetivos e hipótese. Este trabalho é um estudo das relações entre o arranjo físico industrial e o edifício da fábrica. Estas relações são estudadas em situações de empresas que, mantendo o mesmo edifício da fábrica, promoveram mudanças nos modelos de gestão da produção que, por sua vez, provocaram alterações no layout, no fluxo de materiais; interferindo nas condições de trabalho dos usuários destes ambientes. Dada a complexidade e a diversidade de variáveis estudadas sobre mudanças técnicas e condições de trabalho, para abordar o tema proposto foi preciso estabelecer algumas relações específicas quanto à evolução do conhecimento acerca de projeto de fábrica, em particular quanto à incorporação das mudanças técnicas nos projetos e na consideração das variáveis ambientais nos rearranjos de instalações industriais. Inicialmente é preciso considerar que são escassos os trabalhos sobre arquitetura industrial, principalmente no Brasil, que se preocupam em estudar as relações de trabalho como fator de projeto em arquitetura2. Dentre os trabalhos mais significativos, inclusive com metodologia própria de análise de casos práticos, destaca-se a Avaliação Pós-Ocupação (APO), porém, com 2 No programa de pós-graduação da FAU-USP apenas 11 trabalhos entre teses e dissertações, disponíveis na Biblioteca da Faculdade, tratam de arquitetura industrial. 6 casos estudados que não abrangem edifícios industriais. Os exemplos citados são conjuntos habitacionais, hospitais e universidades ORNSTEIN(1992). Os check-lists de projetos de edificações e instalações industriais, conforme detalhado em MILLS(1951), citados e aplicados em MAFFEI(1982) e OLIVEIRA(1979) não se preocupam explicitamente com as técnicas de gestão da produção utilizadas e não discutem os respectivos projetos de organização do trabalho destes ambientes, como defendido por ORSTMAN(1984): "...Durante muito tempo, a possibilidade de uma escolha ao nível da organização do trabalho não era completada por uma reconsideração ao nível da tecnologia propriamente dita. Certas experiências recentes mostraram que era desejável modificar o sistema técnico; que, ao fazelo, se abriam largas possibilidades de reorganização. Assim, pede-se aos autores de fábricas novas um esforço de imaginação de grande amplitude e alcance considerável a nível social....". (p. 263) Esta proposta é manifestada pelo autor a partir do movimento de humanização do trabalho, em que há uma reconsideração dos padrões ergonômicos dos espaços de trabalho, de tal forma que a arquitetura, a tecnologia e a gestão da produção devem interagir formando um projeto harmonizado com a organização de trabalho. Na relação direta entre o projeto das instalações industriais e as condições ambientais de trabalho, as teses de MATTOS(1988) e de RODRIGUES(1993) mostram que as metodologias em uso não consideram( ou consideram muito superficialmente ) as variáveis relacionadas ao uso de espaços de trabalho e conforto ambiental, principalmente no fluxo entre postos de trabalho. 7 Os estudos ergonômicos relacionados com mudanças tecnológicas, como a automação, têm se preocupado quase que exclusivamente com os espaços no interior dos postos de trabalho e com as variáveis relacionadas com o conteúdo cognitivo das tarefas (MORAES, 1992). Desta forma, o fluxo entre os postos de trabalho e a disposição relativa das máquinas, que estão diretamente relacionadas com a periculosidade do ambiente, e a distribuição espacial dos postos de trabalho, que define os padrões de insalubridade, não são devidamente trabalhados pelos projetos industriais. MORAES(1992) faz uma exaustiva retrospectiva histórica das visões de trabalhos em ergonomia e mostra esta tendência do trabalho centrado na tarefa, no homem e no posto de trabalho. Os estudos efetuados em empresas que passaram por mudanças na gestão de produção, mantendo os mesmos edifícios, e a revisão bibliográfica sobre mudanças técnicas na gestão da produção mostraram que não existem, metodologicamente, considerações dos impactos das mudanças técnicas sobre o conforto no trabalho e sua relação com a edificação. A hipótese estudada é a de que as alterações no arranjo físico e no fluxo de materiais efetuadas para atender as mudanças de gestão da produção alteram as condições de execução do trabalho nos postos, principalmente na distribuição dos agentes ambientais e nos espaços de trabalho. Decorre desta hipótese que as mudanças na organização espacial priorizam a racionalidade da produção em detrimento dos aspectos ergonômicos e de conforto dos operadores dos postos de trabalho. Um dos fatores que pode explicar esta hipótese é a diferença de vida útil entre os principais elementos em estudo: os modelos de gestão da produção e as edificações industriais. Enquanto a gestão da produção sofreu, ao longo deste século, várias mudanças conceituais, seja nos padrões de planejamento e controle da produção, seja na organização do trabalho, as 8 edificações industriais seguiram um padrão funcionalista, ditado, com grande ênfase, pelo estilo norte-americano, conforme PEVSNER(1980): "...durante os 10 anos após a 2a. guerra se verificou uma breve emergência do expressionismo( se referindo principalmente às grandes obras de uso público), mas logo veio a vitória do racionalismo e do funcionalismo.........o tipo corrente de nossos dias, em projetos de fábricas, é o modelo Norte-americano: cúbico, baixo e sem janelas...". ( p. 348, grifo nosso) Além dos padrões arquitetônicos, é necessário considerar que uma edificação industrial é projetada para durar 30 anos (MATHIAS,1989). Esta projeção de vida útil longa para as edificações industriais encontra justificativa nos processos de avaliação técnico-econômicos de projetos de empresas em que a depreciação de edifícios, para efeito de horizonte de projeto, é de, no mínimo, 25 anos. O estudo da vida útil dos modelos de gestão da produção, por sua vez, não permite uma abordagem estática como o das edificações, já que tratase de um fenômeno que envolve múltiplas relações entre fatores de distintas inserções sociais e de conhecimentos. No mínimo, deve ser abordado através de 3 elementos, ou níveis, básicos: (FLEURY, 1990) 1) nos fatores de coordenação do processo de produção como estoques, materiais e ordens de produção; 2) na esfera de projeto do processo de manufatura englobando o fluxo do processo, a distribuição de tarefas de produção e de grupos de produtos; e 9 3) no nível da fabricação, que diz respeito ao layout ou arranjo espacial do trabalho, incluindo o dimensionamento do trabalho nos postos de trabalho e o fluxo de materiais e de informações entre eles. Nestes 3 elementos básicos estão consideradas inúmeras técnicas e abordagens de PCP(Planejamento e Controle da Produção), arranjo físico(layout), organização industrial e organização do trabalho, que foram se transformando a partir de uma estrutura marcada pela organização das empresas do setor metal-mecânico do início deste século, seguindo o modelo Fordista/Taylorista. O quadro 01 sintetiza as principais mudanças ocorridas nos elementos que compõem a gestão da produção. Quadro 01 - Evolução dos Sistemas de Produção. ELEMENTO DE GESTÃO Sistemas de trabalho: ferramentas/ equip. Natureza do trabalho Organização de grupos de trabalho Sistemas de controle ( medidas de desempenho e sist. de informação) Mecanismo de controle do trabalho e da produção Sistema Artesanal de Produção Ferramentas manuais flexíveis Sistema Rígido/tradicional de Produção (produção em massa) Capital intensivo em equipamentos especializados Trabalhos de habilidades manuais Tarefas orientadas para grupos Trabalhos manuais desqualificados - trabalhos especializados Grupos especializados por função Mercado padronizado aprendizado informal e baseado na experiência O próprio Artesão ou Mestre de ofício Tarefas simples e específicas. Sistema de informações formais p/ o controle de execução de tarefas p/ coord. seqüência de atividades Estrutura hierárquica de autoridade Sistemas de Produção atuais Capital intensivo em equipamentos flexíveis Informação intensiva e trabalho intelectual Grupos auto-organizados e auto-dirigidos Sistemas globais, formais e informais, p/ controle, ajustes e aprendizado Modificados por mecanismos de mercado (Fonte: DOLL, 1991, p. 404). Qualitativamente, estas mudanças também redirecionam os padrões de conforto ambiental, como explica FRIGÉRIO(1985): 10 "... existe uma pressão constante no sentido de melhorar o local de trabalho, cujo reflexo se fará sentir não só no esforço em eliminar a sujeira, baixar o nível de ruído e melhorar o conforto térmico...., mas estabelecer uma relação menos constrangedora entre o trabalhador e seu entorno.... ....apesar da dificuldade em definir exatamente o que seria uma melhoria nesta relação( do homem com o ambiente de trabalho), acredita-se que esteja no sentido de melhorar a habitabilidade destes espaços, aumentar sua apropriação e incentivar a comunicação entre as pessoas.." ( p. 141). Assim, não se trata apenas da duração da vida útil mas, da capacidade da organização em modificar as técnicas de gestão e manter os padrões de conforto e satisfação dos ambientes. Desta forma, este trabalho têm por objetivo contribuir para a melhoria da combinação entre layout, ergonomia e segurança do trabalho, no reprojeto de instalações industriais, em situações onde o edifício permanece o mesmo, e indicar formas de estudos para adequar os edifícios e os modelos de produção quando ocorrerem mudanças nos modelos de gestão, considerando a possibilidades de se modificar o edifício. 1.3. Métodos utilizados no desenvolvimento da pesquisa O trabalho de pesquisa foi realizado utilizando-se diferentes métodos para a obtenção de fontes que permitissem trabalhar a hipótese e, consequentemente, atingir os objetivos. 11 Inicialmente, para estudar os principais assuntos tratados no objeto da pesquisa - arranjo físico, projeto de instalações industrias, edifício industrial, gestão da produção e condições de trabalho - realizou-se uma revisão teórica a partir de levantamentos bibliográficos, para montar-se um relato da evolução histórica, principalmente de suas características no século 20. Estes levantamentos objetivaram estabelecer os padrões evolutivos dos assuntos, visando correlacionar as tendências quanto ao uso dos espaços nos postos de trabalho, conforto ambiental e flexibilidade à mudanças. Para conhecer as situações em que ocorreram mudanças semelhantes às propostas no estudo, ou seja, mudanças de gestão da produção mantendo-se a mesma edificação, utilizou-se de uma pesquisa exploratória. Nesta fase foram estudadas empresas com características de produção semelhantes às empresas do ramo metal-mecânico(processo intermitente, produtos padronizados e produção em massa) tomadas como referência dos modelos Fordista/Taylorista de produção e organização. Ou seja, que foram projetadas para trabalhar produtos em série, com organização da produção em linha(ou funcional), tarefas parceladas e com acentuada divisão da trabalho. As empresas escolhidas apresentaram, de forma geral, os mesmos tipos de mudanças e possuem tecnologias muito semelhantes. Estas semelhanças entre tecnologias, edificações, organização do trabalho e entre as justificativas para as mudanças facilitaram os estudos da relação entre mudanças de arranjo espacial e o conforto no trabalho. Para manter graus de concordância e uniformidade na análise das situações em estudo, foram utilizados dois métodos de observação. O primeiro, denominado de método prospectivo, é baseado em check-lists utilizados em segurança do trabalho, que estabelecem medições dos agentes ambientais com instrumentos de precisão(luxímetro, por exemplo), estudo dos acidentes através de sua conexão de causalidade com atos e condições inseguras e pela retrospectiva, através de estatísticas, destes acidentes 12 (MATTOS, 1988). Por este método foram determinados, quantitativamente, as variáveis físico-químicas dos ambientes(insalubridade) e dos acidentes de trabalho(periculosidade). O segundo método empregado, denominado de indutivo, é baseado em observações de comportamento das variáveis ambientais através da percepção dos usuários e por comparações de padrões sociais com outras situações semelhantes. Este método apresenta diversas formas de interpretação e de aplicação (BENTO,1996; RODRIGUES, 1993; LAURELL e NORIEGA, 1989 e ORNSTEIN,1994). A Avaliação Pós-Ocupação proposta por Ornstein, por exemplo, trabalha com a percepção imediata do ambiente, enquanto o modelo epidemiológico utiliza as relações sociais para explicar as agressões dos ambientes sobre as pessoas. No estudo das empresas foi utilizado um método mais próximo da Avaliação Pós-Ocupação, através de entrevistas com usuários dos postos de trabalho e das seções onde ocorreram as mudanças técnicas, complementado por um check-list de conteúdo quantitativo para a medição de variáveis ambientais e de espaços de trabalho (modelo apresentado no Anexo 01). A utilização dos métodos acima descritos, para o estudo das empresas, se justifica, primeiro, pela insuficiência de cada um dos métodos, isoladamente, em responder à abrangência de fatores que se manifestam no estudo proposto; segundo, pela tentativa de montar um método de análise que possa responder tanto as questões relativas à organização do trabalho como da gestão da produção, e que forneçam parâmetros para o projeto de edificações industriais. A Avaliação Pós-Ocupação (APO), segundo ORNSTEIN(1994), “... estuda as relações biunívocas entre ambiente construído e comportamento humano a partir da aferição de fatores técnicos, funcionais, estéticos e comportamentais do ambiente em uso e tendo em vista a opinião tanto de 13 técnicos, projetistas e clientes como os usuários, diagnosticando aspectos positivos e negativos ...”.(p. 79). Este método não se ocupa em discutir as relações de trabalho e de produção que ocorrem nos edifícios analisados e quando trata dos usuários, não considera suas diversas inserções sociais no processo de uso da edificação. Para melhor compreender as relações das variáveis estudadas nas empresas, foi necessário definir as variáveis de influência das mudanças técnicas de gestão sobre o desempenho das edificações industriais, no tocante às condições de execução do trabalho humano. O padrão de satisfação do trabalho humano em situações industriais usado o definido por ORSTMAN(1984) , na proposição de padrões organizativos dos ambientes de trabalho, que parte do entendimento da escola sociotécnica das necessidades do homem no trabalho, compreendendo: "... enriquecimento individual das tarefas, por modificação de diversas funções; -reagrupamento de diferentes postos de trabalho, para formar grupos de produção, com uma certa responsabilidade de conjunto pelos produtos que saem(dos postos); -aumento do ciclo de trabalho, que pode ir até 20-25 minutos e mesmo, por vezes, até 60 minutos; -incorporação de tarefas complementares como, por exemplo, a lubrificação e o abastecimento normal das máquinas, a efetuar por aqueles que delas se servem....". (p. 256) Como já salientado, estas modificações só serão possíveis se, entre outras mudanças, os espaços de trabalho estiverem em conformidade com os princípios acima. Também deve-se reestudar o conteúdo das tarefas em termos 14 de sua significação para os usuários. O conteúdo das tarefas industriais, utilizado por WISNER(1987), deve ser regido por critérios ergonômicos, descritos como: 1- Critérios Higiênicos - que consideram os aspectos evolutivos dos ambientes de trabalho, como a redução da nocividade e da penosidade, ou como é tratado na segurança do trabalho, redução da insalubridade e da periculosidade dos ambientes. "... a validação das transformações do posto de trabalho em vista de uma melhoria só pode ser pesquisada junto ao próprio homem que trabalha, pois as melhorias destinam-se aos homens e não às máquinas...".(p. 164). 2- Critérios Sociais - pela relação existente entre as condições de trabalho com salários, vantagens sociais e à imagem social da atividade. 3- Carga de trabalho - todas as atividades têm pelo menos três aspectos: físico, cognitivo e psíquico(p. 172). As tarefas de conteúdo cognitivo são aquelas em que há uma grande ênfase na tomada de decisões e questões relativas à percepção, identificação e reconhecimento de elementos dinâmicos do trabalho, que exigem o uso constante da memória, seja imediata, seja de longo prazo.(p. 173 a 175). Assim, os padrões de desempenho das edificações industriais, seu comportamento em relação a mudanças e os pressupostos de melhoria das relações de trabalho - incluindo a produtividade, a qualidade e o ambiente de manufatura - das novas formas de gestão da produção devem ser olhados sob o prisma dos padrões ergonômicos de conforto do usuário. 15 2. EDIFÍCIO INDUSTRIAL E ARRANJO FÍSICO ( Layout ) O objetivo deste capítulo é sistematizar o conhecimento sobre a edificação da fábrica e das atividades de projeto de arranjo físico dos setores produtivos da fábrica em relação aos fatores de produção - equipamentos, materiais, pessoal e instalações - para estabelecer as relações entre as mudanças na organização espacial e na gestão da produção. Inicialmente é montado um resumo da evolução da concepção do edifício industrial a partir do século 18 para evidenciar a relação existente entre o projeto arquitetônico destes edifícios e a organização da produção. No entendimento de que as formas básicas da organização da produção são reflexos da dinâmica das relações de produção e de mercado, num dado momento histórico, e que a organização da produção é que define a eficiência do sistema de produção; as concepções dos edifícios industriais estarão sempre sujeitas às soluções espaciais encontradas para materializar uma organização de produção. Isto implica na afirmação de que o processo de projetação e de construção dos edifícios industriais também são orientados pelos padrões vigentes na organização da produção. No interior das edificações, a distribuição espacial do trabalho e a organização física do processo de produção são resultantes do projeto de arranjo físico e de fluxo de materiais estudados por MUTHER(1955), MOORE(1962) e APPLE(1977) entre as décadas de 50 e 70, constituindo-se em obras de referência sobre projeto de instalações industriais e presentes na 16 quase totalidade das citações bibliográficas de cursos e disciplinas relacionadas com o assunto (RODRIGUES, 1993). Segundo APPLE(1977), o resultado de projeto de arranjo dos elementos físicos de uma atividade industrial, denominado de ‘Plant Layout', ou apenas de 'Layout’, passou a ser chamado de ‘facility design’ (Projeto de Instalações) a partir da década de 40, em função de: 1°) da incorporação dos princípios e técnicas aplicados no arranjo espacial de máquinas e equipamentos aos demais setores da fábrica, como estoques, administração; 2°) uso destes princípios para o projeto de outras atividades produtivas como correios, restaurantes, hospitais, etc.; 3°) da incorporação dos estudos relativos ao fluxo dos materiais(logística); e 4°) pelo projeto de utilidades e requisitos da edificação (p. 3 a 9). O termo 'Projeto de Instalações' compreende a análise, conceituação, projeto e implantação de sistemas para a produção de produtos ou serviços, através da representação de uma planta física contendo o arranjo das instalações (equipamentos, materiais, pessoas, requisitos de edificações, utilidades e circulações) visando otimizar o inter-relacionamento entre o pessoal operacional, o fluxo de materiais, fluxo de informações e os métodos estabelecidos para atingir os objetivos da empresa, de forma eficiente, econômica e com segurança (APPLE, 1977). Segundo MOORE(1962), os principais objetivos de um Layout são: 1- Simplificar o processo de produção através, principalmente, de: maximização do uso dos equipamentos, diminuição de esperas, facilidade de manutenção dos equipamentos e aumento da taxa de processamento; 2- Minimizar o custo de movimentação de materiais pelo arranjo das atividades em função da seqüência de produção e diminuindo as distâncias entre os postos de trabalho; 17 3- Promover a redução de estoques intermediários pelo balanceamento da operações e de movimentação dos materiais; 4- Racionalizar o uso dos espaços de produção, armazenagem e serviços de fábrica usando conceitos de ergonometria, dos requisitos funcionais dos equipamentos e de logística; 5- Garantir boas condições de trabalho para os trabalhadores em termos de segurança, satisfação e higiene, através da organização do trabalho, ergonomia e conforto ambiental; 6- Minimizar o investimento em capital pelo uso intensivo de equipamentos, diminuição de área construída e estoques menores; 7- Maximizar a taxa de ocupação do trabalho do pessoal da produção, expedição supervisão e manutenção; através de sistemas de tempos e métodos e organização do trabalho. APPLE(1977) acrescentou a manutenção da flexibilidade do arranjo e das operações em função de mudanças em demandas, mudanças nos produtos e substituição de equipamentos. Para conseguir os seus objetivos, o layout deve seguir os seguintes princípios gerais (MOORE, 1962): Princípio da integração Os diversos elementos da produção devem estar harmoniosamente integrados, pois a falha em qualquer um deles resultará numa ineficiência global. Princípio da mínima distância O transporte nada acrescenta ao produto. As distâncias devem ser reduzidas ao mínimo para evitar esforços, congestionamentos e custos maiores. 18 Princípio de obediência ao fluxo das operações Materiais, equipamentos, pessoas, devem se dispor e movimentar-se em fluxo continuo e de acordo com a seqüência do processo de manufatura. Devem ser evitados cruzamentos, retornos e interrupções. Princípio do uso das 3 dimensões espaciais para minimizar a ocupação da edificação Os elementos do processo produtivo ocupam volume e não apenas uma determinada área. Princípio da satisfação e segurança Deve proporcionar boas condições de trabalho e máxima redução de risco. Não se deve esquecer a influência que fatores psicológicos como cores, impressão de ordem, impressão de limpeza, possuem para melhorar a moral do trabalho. Princípio da flexibilidade São freqüentes e rápidas as necessidades de mudança do projeto do produto, mudança de métodos e sistema de trabalho. A flexibilidade é a capacidade do layout em se adaptar à estas mudanças mantendo suas características de eficiência, segurança e economia. Os principais aspectos da flexibilidade estão relacionados à: edifícios, serviços, equipamentos e expansão. Neste princípio, deve-se considerar que as condições vão mudar e que arranjo físico deve servir às condições atuais e futuras. No projeto de instalações industriais verifica-se que, além das áreas tradicionalmente consideradas da engenharia de produção, encontram-se 19 atividades mais abrangentes e que necessitam de conhecimentos compartilhados por outras áreas de conhecimentos. A partir das descrições de MOORE(1962), APPLE(1977), KONZ(1985) e MUTHER(1955 e 1978) sobre o escopo do trabalho de projeto de instalações e as áreas do conhecimento envolvidas é possível a montar um conjunto de conhecimentos e respectivas áreas de atuação que interagem neste processo de projeto, como mostrado no quadro 02. Quadro 02 - Principais conhecimentos e áreas de atuação envolvidos no projeto de instalações industriais. Fatores de projeto (variável de interesse para o Áreas e sub-áreas de conhecimentos envolvidas projeto de instalações) Equipamento Operação (transformação montagem) Materiais Mão-de-obra direta e indireta Manutenção Segurança e saúde Almoxarifado/estoque Serviços auxiliares de fábrica Edificação Sistema de movimentação Utilidades Fluxo Espaço Eng. de Processos, Ergonomia, org. do Trabalho, Eng. de Máquinas, Eng. Segurança Eng. de Processos, Eng. de Materiais, Eng. de Máquinas, Logística, Ergonomia, Eng. de Segurança, PCP* Eng. de Materiais, Logística, Eng. de Segurança, Ergonomia Org. do trabalho, Eng. Econômica, PCP, Administração**, Ergonomia Eng. de Manutenção, Eng. de máquinas, PCP Eng. de Segurança, Eng. de Processos, Saúde Ocupacional, Administração, Org. do Trabalho Logística, PCP Eng. de Processos, Eng. de Máquinas, PCP Arquitetura, Eng. Civil, Eng. de Segurança, Ergonomia, Eng. Econômica, PCP PCP, Logística, Ergonomia, Eng. de Segurança, Eng. de Processos, Eng. de Máquinas, Eng. de Materiais PCP, Logística, Eng. Econômica, Eng. de Segurança, Org. do Trabalho Ergonomia, Eng. de Segurança, Eng. de Processos, PCP, Arquitetura Org. do Trabalho, Eng. de Segurança, Arquitetura, Administração, Serviços de pessoal (refeitório, sanitários, lazer, creche, vestiários, (*) PCP = Planejamento e Controle da Produção. Área tradicional e mais conhecida da Engenharia de Produção, que abrange: administração de estoques, seqüenciamento/roteamento da produção, balanceamento da produção e controle de qualidade. (**) Administração inclui: trabalhista, contabilidade, compras/vendas, finanças e assistência social. 20 2.1. O surgimento das fábricas A visão da estrutura de uma fábrica que se conhece hoje é fruto de uma concepção de espaços de produção que começou no século 18, portanto, uma evolução de quase 300 anos. (Fonte: FRIGÉRIO, 1994, pag.10) Figura 01 - Ilustração de uma fábrica do século 16 - notar o conceito de local de trabalho com um bar ao fundo e em primeiro plano uma mulher carregando uma criança. Até o século 17, a produção de objetos era considerada como produção artesanal e realizada na própria casa do artesão, que trabalhava com 21 seus aprendizes, produzindo uma quantidade de produtos exclusivamente para atender as necessidades de sua família e de poucos clientes próximos no próprio vilarejo. A figura 01 mostra a estrutura da organização espacial e funcional de uma fábrica, cuja produção se insere no conceito de produção artesanal. As principais fontes de energia que estas fábricas utilizavam era eólica e a roda d’água. A edificação que acomodava este tipo de produção era a própria casas dos trabalhadores, confeccionadas em madeira e pedra, sem divisão entre produção e habitação. Essa produção artesanal, no decorrer do século 17, sofreu modificações, principalmente no volume de produção em decorrência da acelerada mercantilização promovida pela navegação, com reflexos na organização da produção e, consequentemente, nos locais onde se dava a produção. Embora a produção continuasse ocorrendo na casa dos trabalhadores, com exceção de alguns setores como mineração; já havia a preocupação com o excedente que era destinado para venda e no uso da mãode-obra operária. Estas casas de produção já apresentavam divisões nítidas entre habitação e fábrica com depósitos para materiais e ferramentas, dormitórios e outros locais para hospedar os operários e os aprendizes (figura 02). A produção, nesta época era adequada ao consumo, só havendo crises por guerras ou epidemias (MELIS, 1953). Neste período intensificou-se o uso do carvão vegetal como combustível para a obtenção do ferro fundido, embora que o estado da técnica ainda não permitisse sua utilização na construção de máquinas, face à baixa precisão do processo, da resistência do material final e da dificuldade na obtenção de madeira. As duas necessidades básicas da manufatura industrial ainda não estavam adequadamente desenvolvidas: transporte adequado de materiais e potência para as máquinas (MUNCE, 1960). 22 As edificações destinadas exclusivamente para a fabricação de bens, separadas da habitação, começaram a ser significativas na Inglaterra a partir da primeira metade do século 18, impulsionadas por avanços tecnológicos(como as novas técnicas de fiação dos precursores do tear mecânico de John e Thomas Lambe) que exigiam força motriz mais constante, com o deslocamento das fábricas para locais próximos ao leitos de rios para o aproveitamento de quedas, e o desenvolvimento na área da metalurgia, pela obtenção do carvão de coque que tornava mais eficiente a utilização do carvão vegetal como combustível e permitia avanços para tornar o aço acessível para a construção civil e de máquinas. (Fonte: PEVSNER, 1980, p. 343) Figura 02 - Fábrica e residência em uma única edificação. Os construtores - artífices - é que projetavam e construíam as fábricas, para tecelagem de algodão, a partir de métodos empíricos e baseados na experiência, sem padrões e sem ajuda de projetistas (figura 03). Estes 23 edifícios eram de paredes de alvenaria com estruturas de madeiras e uma grande extensão de aberturas de janelas. Entre os precursores desta época, considerado como um marco das grandes fábricas do século 18, destacou-se um edifício de 5 pavimentos construído por John Lombe em 1718, para uma confecção em Derby (FRIGËRIO, 1994). Embora a produção se desenvolvesse em edifícios exclusivos, não havia, nesta fase, o uso intensivo da energia mecânica, apenas roda d’água e vento. O trabalho possuía características essencialmente artesanais, embora já se verificasse uma certa especialização de tarefas, como no trabalho de cerâmica e vidro. Entretanto, os edifícios ainda não eram adequados para comportar muitas pessoas e materiais (MELIS, 1953). Na metade do século 18, Matthew Boulton projetou e construiu uma fábrica para a produção de artefatos de metal (fivelas e correntes p/ relógio) preocupando-se, também, com a construção e instalação das máquinas e em fornecer boas condições de trabalho aos trabalhadores. Esta fábrica conhecida como “Soho Factory”, tornou-se modelo de instalações industriais da época. Era o início do uso do ferro fundido na construção de estruturas de máquinas, época em que Watt projetou , construiu e colocou em operação quatro máquinas à vapor movendo 50 pares de moinhos de pedra para a fábrica da Albion Works of London (MUNCE, 1953). O conjunto de transformações tecnológicas, sociais e econômicas que foi denominado de revolução industrial, iniciou-se na industria têxtil na segunda metade do século 18, juntamente com a invenção da máquina a vapor que , diferentemente da energia hidráulica, não mais limitava a localização da fábrica ao local da queda d’água. A utilização da máquina a vapor no transporte difundiu-se enormemente a troca de produtos, ampliando os mercados na Europa. A grande mudança que aconteceu na Inglaterra no século 18, como a primeira economia industrializada, foi uma combinação de condições favoráveis de desenvolvimento em tecnologia, agricultura, 24 comércio, finanças e transportes, somados com um crescimento populacional que, juntos, proporcionaram mudanças na economia que justificaram o nome de revolução industrial (MATHIAS apud: FRIGÉRIO,1994)1. (Fonte: GRUBE, 1972, p. 17) Figura 03 - Ilustração de uma fábrica típica do início da revolução industrial na Inglaterra A procura por novas invenções era evidente, com todos os setores da sociedade inflamados, com abundância de novas idéias e patentes, impulsionando o desenvolvimento da economia. Nas fábricas existia um aumento da quantidade da produção, com diversos trabalhadores realizando simultaneamente operações semelhantes e especializadas(como já comentado sobre a figura 03), desenvolvendo habilidades e velocidades próprias, 1 MATHIAS, P. The first Industrial Nation, an economic history of Britain 1700-1914. London, Methuen & Co., 1969. Apud: FRIGÉRIO, E. Designing for Knowledge Industries. Oxford. Thesis for degree of Doctor of Philosophy. Oxford Brookes University, 1994. 25 reduzindo assim, o tempo necessário da fabricação dos produtos ( FRIGÉRIO, 1994). Durante a última metade do século 18, as novas indústrias têxteis se desenvolveram e as velhas e pequenas fábricas domésticas de algodão continuaram coexistindo com as novas. As novas máquinas de tecelagem, em particular os novos teares mecânicos de Arkwright de 1765 e de Cartwright de 1789 (GILLE, 1978) foram rapidamente incorporadas pelas pequenas fábricas domésticas sendo necessária a construção de novas instalações para acomodar estas invenções. Com o aumento da produção impulsionada pelo desenvolvimento do tear mecânico, tornou-se necessário a construção de novos cômodos nas antigas edificações para acomodar as novas estruturas de máquinas e depósitos de materiais. O mais avançado exemplo da época foi uma fábrica e depósito de 7 pavimentos, com estrutura em ferro fundido, construída por Watt e Boulton em Salford em 1801, que é considerada um marco do desenvolvimento das plantas industriais modernas. Esta edificação durante mais de 30 anos foi considera modelo, até que em 1845 Willian Faibairn construiu uma fábrica de 8 pavimentos utilizando ferro forjado em uma estrutura semelhante ao do ferro fundido e substituindo os tijolos por concreto (MUNCE, 1953). Da mesma forma que os moinhos, os antigos depósitos também tiveram que ser reconstruídos, deixando as proximidades dos cursos d’água e deslocando-se ao longo das ferrovias. Estes depósitos eram extensos, com amplos espaços livres, de estruturas pesadas em madeira e ferro para suportar grandes cargas, com paredes em tijolos e pedra e grandes portas laterais para facilitar o recebimento de mercadorias, especialmente para acomodar levantamentos com guinchos. A disseminação da energia hidráulica e da máquina a vapor, iniciada na manufatura de lã e depois disseminada para outros setores da indústria, livrou as novas fábricas de sua dependência de máquinas manuais e 26 permitiu o aproveitamento de novos tipos de trabalhos e de mão-de-obra, particularmente das grandes cidades, surgindo os primeiros distritos e, posteriormente, as cidades industriais da Inglaterra, sendo a principal, Manchester que em 20 anos, no final do século 18, foi transformada pela construção de 50 novas fiações de algodão (MUNCE,1953). Estas fábricas, resultantes de ampliações das antigas, eram inadequadas às novas estruturas da produção. As primeiras fábricas eram praticamente oficinas com as máquinas dispostas sem uma organização prévia, de maneira a comportar o trabalho individualizado ou de pequeno grupo de artesãos e seus aprendizes, comportando a máxima quantidade possível de equipamentos, apertados dentro das pequenas áreas urbanas disponíveis, ampliando as instalações conforme as necessidades imediatas de mercado. As mudanças na técnica empregada nos mecanismos de máquinasferramenta e na área social, já eram experimentadas na Soho Factory e em outras, que se preocupavam com questões relativas às condições de trabalho, como a construção de enfermarias para primeiros socorros. Mas estas indústrias eram exceções da regra geral, tanto que em 1802, para tentar melhorar as condições nas fábricas, foi apresentado no Parlamento Inglês um projeto de lei para coibir alguns excessos, com duas recomendações: 1a.) todas as paredes e superfícies da fábricas deveriam ser pintadas de cal duas vezes por ano; e 2a.) as áreas de janelas deveriam permitir uma ventilação adequada. O edifico industrial, construído para abrigar exclusivamente a produção de bens, foi estabelecido definitivamente a partir do final do século 18. No século 19, os arquitetos começaram a se preocupar com a relação entre questões sociais e as funcionais na concepção de um edifício industrial, principalmente nas estruturas e no tratamento, na disposição das funções da fábrica e no conforto ambiental(acústico, lumínico e ventilação). A defasagem que existia entre a concepção de edifícios pelos arquitetos e sua construção pelos engenheiros era particularmente notada na área de edificação industrial. 27 A engenharia descobria e utilizava as potencialidades dos novos materiais e estruturas, porém, não desenvolvia as capacidades de relacionamentos espaciais e estéticos. Enquanto o arquiteto se mantinha distante deste problema, fruto do imediatismo capitalista a partir da revolução industrial (MILLS,1951), gerando normalmente edificações de conteúdo estético e de conforto muito aquém do esperado (figura 04), se comparados com o desenvolvimento da área na época. (Fonte: MUNCE, 1960, p. 8) Figura 04 - Uma edificação simples de uma fábrica do século 19. Com o advento da máquina a vapor e sua utilização intensiva na fábrica agravaram-se as condições de trabalho industrial, marcadas por uma mudança radical na liberdade que os trabalhadores tinham quando trabalhavam nas pequenas oficinas nas residências. As mudanças na tecnologia e na organização do trabalho tiveram implicações nos locais de trabalho, transferindo o trabalho de pequenas oficinas para novas fábricas visando economia de escala de produção e a concentração de trabalhadores em 28 um mesmo local, para obter maior eficiência na produção permitindo assim, colocar em prática o trabalho especializado e o desenvolvimento de novas habilidades industriais requisitadas pela tecnologia mecânica (BRAVERMAN,1981). As condições de umidade de algumas plantas eram tão ruins como a poeira de outras, onde os trabalhadores adoeciam com freqüência e conviviam com altas taxas de mortalidade (BRAVERMAN,1981). As condições de vida nas residências eram tão ruins quanto nas fábricas, com falta de higiene e casas amontoadas junto à moinhos nas periferias das cidades, convivendo com ambientes carregados de fumaça e poeira. No final do século 18 e início do século 19 as péssimas condições de trabalho e de habitação dos trabalhadores na Inglaterra começaram a causar preocupações de tal forma que, em 1830, começou a vigorar uma legislação sobre fábricas que regulamentava algumas características do trabalho como jornada de trabalho, salário mínimo, higiene e conforto ambiental, sendo que os novos edifícios industriais, construídos a partir desta legislação, ganharam novas características, mudando e influenciando na aparência dos distritos industriais, criando talvez, o primeiro emblema do edifício industrial moderno (PEVSNER,1980). Entretanto, as guerras napoleônicas trouxeram condições adversas, acirrando o imediatismo das relações industriais, além de permitirem o surgimento de especuladores e exploradores que se apossavam de fábricas, contribuindo para degradação das condições de trabalho, como a exploração do trabalho infantil. Neste cenário de conturbação e de mudanças nos anos de transição entre os séculos 18 e 19, verificou-se, de um lado, uma perversidade dos proprietários das fábricas em intensificar o trabalho e, de outro, a vida miserável dos trabalhadores ao redor destas fábricas. A edificação industrial era, em função de sua diversidade de operações e natureza, mantida como um galpão fechado e com traçado o mais tradicional possível em linhas retas, 29 poucas inclinações, grandes portas e pequenas janelas. Quando o arquiteto era chamado para intervir no processo, sua atuação era restrita ao disfarce da fachada do edifício, atuando como um decorador de exteriores. Assim, a grande maioria das fábricas construídas na primeira metade do século 19 foi resultado da cooperação entre industriais e construtores, sem a participação do arquiteto (MUNCE, 1953). (Fonte: PEVSNER,1980, p. 339) Figura 05 - Fábrica moderna da metade do século 19. Pode-se identificar dois estágios distintos no relacionamento entre a industria e os edifícios industriais durante a revolução industrial: 1o.) No estágio inicial, quando as máquinas eram dependentes da água ou vento como forças motrizes para máquinas e processos da fabricação e 2o.) quando do desenvolvimento da máquina à vapor como nova força motriz (FRIGÉRIO,1994). Outros fatos mudaram a composição das edificações neste período, como as leis de fábrica que começaram a exigir melhores condições de trabalho e que indicavam mudanças nas características dos edifícios, o desenvolvimento de moldes em ferro fundido para as estruturas da maquinaria e de sistemas de elevação e transportes que tornavam a produção mais limpa e eficaz, e as técnicas construtivas de estruturas de edificações em ferro fundido. 30 Estas técnicas, no princípio, ficaram restritas à aplicações industriais e comerciais, abrindo uma lacuna entre a arquitetura e a engenharia. Não foi somente a fonte de energia que influenciou a forma dos edifícios industriais, mas também a forma do edifício. Quando o vapor substituiu o antigo moinho da roda d’água, associado com o desenvolvimento de técnicas mecânicas, novas e maiores máquinas e técnicas de produção foram incorporadas à produção, e o edifício industrial cresceu em dimensões e forma. Na indústria de confecção e tecelagem, os edifício de vários pavimentos eram mais adequados ao processo de transformação (figuras 05 e 06), enquanto que nas indústrias pesadas da construção e reparos de máquinas, os edifícios planos eram mais apropriados em função dos sistemas de movimentação, dos sistemas de elevação, do peso sobre o piso e da vibração causada pela máquina à vapor (FRIGÉRIO,1994). (Fonte: PEVSNER, 1980, p. 337) Figura 06 - Indústria de tecelagem do início do século 19. A matéria-prima entra pelo primeiro pavimento e o produto final sai no último pavimento. 31 2.2. Os principais padrões dos edifícios industriais no século 20 Este item faz uma retrospectiva dos principais tipos de edificações utilizadas nas fábricas no século 20, com ênfase nos modelos predominantes entre a segunda guerra e os anos 70, que é o período de maior crescimento econômico do ocidente, em particular, a economia norte americana e, por reflexo, da economia brasileira. Havia uma diferença substancial entre os modelos de desenvolvimento da indústria americana e da européia no século 19. Nos EUA os materiais eram abundantes e a mão-de-obra escassa, enquanto que na Europa era o contrário. Este fato explica uma das razões para adoção intensiva de maquinaria nos EUA, substituindo o trabalho qualificado e especializando as funções (MUNCE,1960). A característica familiar das fábricas americanas no século passado era representada por edifícios planos, térreos, com paredes rebocadas e muitas construções em madeira. Nos primeiros anos deste século, novas fábricas substituíram as velhas instalações dos dois séculos anteriores usadas para acomodar pequenas tecelagens e metalúrgicas, trocando a madeira por construções em alvenaria e concreto armado. Estas edificações antigas não eram adequadas ao propósito das novas fábricas deste século, sendo demolidas e substituídas por novas plantas, com as edificações para a industria automobilística servindo de modelo para as novas e grandes plantas industriais. Na década de 30, a empresa de projetos de Albert e Louis Kahn, tradicional projetista de plantas para a indústria automobilística do início do século, tinha 400 funcionários, com 175 arquitetos e projetistas, e era responsável por 20% do total de edificações industriais nos EUA nas primeiras décadas do século (NELSON, 1938). A primeira grande fábrica de concreto armado construída nos EUA foi projetada por Kahn, em 1903, com caixilhos de metal importados da 32 Inglaterra e uma estrutura que permitia o uso de grandes aberturas de janelas. Esta era uma tendência: uso de concreto armado, aço e grandes áreas envidraçadas. Na Europa, particularmente na Alemanha, Peter Behrens projetou uma fábrica de turbinas para a AEG, em 1909 (figura 07) com uma estrutura que usava aço e parede de vidro, considerada um clássico exemplo da arquitetura moderna. Hans Poelzig e Walter Gropius projetaram uma indústria química, em 1911, seguindo os padrões funcionais da Bauhaus que eram similares aos utilizados no projeto de Behrens (PEVSNER,1980). (Fonte: PEVSNER, 1980, p. 347) Figura 07 - Fábrica de Turbinas AEG, projeto de P. Behrens de 1909. No período entre as guerras, a indústria e as construções continuaram crescendo, mesmo com crash do final dos anos 20 que produziu efeitos significativos nos aspectos técnicos e sociais. Nos EUA onde eclodiram diversas revoltas de trabalhadores, deu-se início ao processo de projeto com preocupações com o conforto, saúde e satisfação dos trabalhadores (BERMAN,1978). Esta era a época das grandes plantas automotivas para a FORD em Detroit. Eram plantas com usinagens sucedendo as fundições, com imensas linhas de montagens e uma mudança drástica sobre as concepções de fábricas vigentes até então, com o surgimento da produção em massa e sua aplicação na indústria automobilística. Os problemas presentes 33 neste tipo de indústria não eram, até então, considerados no projeto de fábricas. Enquanto que, nos modelos de fábricas do século 19, as máquinas eram fixas e não facilmente substituídas, com a produção em massa, os layout passaram a ser mudados mais rapidamente, exigindo flexibilidade na realocação de máquinas. Isto exigia a construção de grandes espaços livres e a diminuição no número de colunas (figura 08). (Fonte: MUNCE, 1960, p. 171) Figura 08 - Complexo da indústria automobilística na década de 40 da Renault- França. O aparecimento do automóvel foi um evento de incalculável importância no desenvolvimento de indústria americana e européia. Pode-se dizer que as plantas para a indústria automobilística revolucionaram completamente a construção das fábricas americanas, e Detroit pode ser realmente chamada de berço da fábrica moderna. Henry Ford estabeleceu seu negócio na produção de um carro viável e exigiu a mesma qualidade 34 conceitual nos projetos de suas fábricas. Ele foi o primeiro a requerer a construção de fábricas térreas e de grande extensão, mas não imaginou que este projeto seria tomado como modelo. A tendência nos EUA, a partir dos anos 30, era construir grandes unidades, bastante flexíveis, onde se instalavam todos os processos dentro de um sistema estrutural único mesmo que, temporariamente, alguns espaços dentro do edifício não fossem ocupados e ficassem reservados para futuras expansões mantendo-se uma condição básica de alocação de máquinas seguindo o processo de transformação (figura 09). (Fonte: REID, 1951, p.71) Figura 09 - Interior de uma fábrica de automóveis em Detroit/EUA, com detalhes da extensão do edifício, característico deste tipo de indústria. 35 Esta tendência era descrita por Albert Kahn, da seguinte maneira: “... se coloca com freqüência a necessidade de construir uma planta composta por edificações dispersas, porém na organização KAHN o objetivo é integra-las em um só edifício sempre que possível. A multiplicidade de edificações aumenta os custos de construção devido ao aumento de paredes exteriores, os depósitos intermediários ocupam um espaço que poderia ser melhor aproveitado para produção e, finalmente, a manutenção de várias edificações é maior. As perdas de calor através de paredes exteriores também são maiores nos grupos de edifícios. ....Estas vantagens ainda se refletem na flexibilidade do processo, nas mudanças de processos e funções da fábrica. ....Isto é particularmente importante nos casos de ampliações em que não haverá outro edifício para atrapalhar as construções, o que não aconteceria se existissem várias edificações”. (GRUBE, 1972, p. 12). Ainda, segundo GRUBE (1972), uma das razões encontradas neste tipo de visão era o tipo de planejamento utilizado por empresários americanos que consideravam períodos curtos para a depreciação dos edifícios e incluíam em seus cálculos as possibilidades de mudanças totais no processos de produção e, portanto, no uso dos edifícios. Como resultado desta concepção adotou-se o uso de grandes coberturas e galpões unidos de forma que pudessem ser facilmente rearranjados internamente, de acordo com diferentes demandas por espaços de departamentos ou divisões de uma empresa. Resultante desta concepção de megaprojetos, de acordo com a visão de Grube, o efeito arquitetônico pode ser impressionante, como o de um complexo da indústria automobilística (figura 10), ou resultar em um projeto exemplar de uma indústria de produtos plásticos (figura 11). 36 (Fonte: GRUBE, 1972, p. 10) Figura 10 - Centro de distribuição de peças da FORD. Projeto do escritório de Albert Kahn. (Fonte: GRUBE,1972, p. 11) Figura 11 - Maqueta de uma fábrica de produtos plásticos em Illinois, da década de 50 A orientação de projeto que utilizava a noção de edifício multifuncional, comportando todas as funções da produção desde a fabricação até a administração, era derivada de uma concepção com fortes influências da escola de administração racional do trabalho sobre, principalmente, a escola funcionalista da Bauhaus. Como salientou GROPIUS(1977) na introdução de seu livro, ele estava fascinado pela nova forma americana de produção, em particular com os trabalhos de Louis Kahn. Esta concepção, segundo 37 GRUBE(1972) citando Albert Kahn, norteava os projetos de edificações industriais em: “... Design Funcional- O objetivo de um edifício para a industria é facilitar a produção. Deve acomodar os equipamentos de produção de tal forma que cada equipamento possa funcionar com eficiência. Este modelo geral é fundamental e deve levar em conta: Produção linear- as diversas seções de operações sucessivas devem estar dispostas de forma a obter-se um fluxo de produção direto e simples, de maneira que os transportes e o manuseio de materiais sejam reduzidos ao mínimo. A linha de produção não deve ter cruzamentos ou retrocessos para se evitar congestionamentos. Flexibilidade- distribuição interior suficientemente elástica para a realocação de espaços e locais de acordo com mudanças nos sistema técnicos de produção e para a ampliação de setores ou da produção sem provocar desorganização no esquema existente. Espaços amplos entre colunas- a maior distância economicamente possível entre colunas a fim de permitir maior liberdade para acomodação das máquinas e causar o mínimo de interferências no transporte de materiais. Piso e teto adequados- altura livre de acordo com a função da produção, pisos suficientemente resistentes para suportar todo tipo de carga. Locais de serviços convenientemente situados- elevadores, escadas, rampas colocados onde melhor cumpram suas funções e não interfiram no fluxo da produção. 38 Boa Iluminação- Iluminação natural e artificial adequadas, uniformemente distribuídas e com intensidade suficiente para a realização das tarefas, sem ofuscamento. Ventilação adequada- Movimento do ar suficiente para as necessidades humanas e equipamentos especiais para resolverem qualquer problema criado pelo processo de produção. Baixos custos iniciais e de manutenção- Economia resultante de projeto racional e uso eficiente dos materiais, reduzindo os custos iniciais e gastos com manutenção..." (GRUBE, 1972, p. 13 e NELSON, 1938, p. 24). Com a produção em massa e o uso crescente de máquinasferramenta comandadas mecanicamente, há uma mudança na característica do trabalhador industrial, passando de operário altamente qualificado para operador especializado por máquina ou por operação, com a dedicação do trabalhador à cada tipo de máquina e a criação de postos de trabalho especializados e individuais, seguindo os conceitos do Taylorismo. Tal concepção do processo de trabalho condiciona o modo construtivo das fábricas, voltados para atender a produção, conforme pode-se ver no esquema de concepção de projeto de fábrica baseado na carta de processo de um automóvel (figura 12). 39 REID(1950) explica que a década de 40 foi marcada pelo conceito de que o planejamento da fábrica e sua edificação seguia o fluxo do processo de fabricação do produto, no caso um automóvel. (Fonte: REID, 1950, p. 2) Figura 12 - Esquema de carta de fluxo de processo de fabricação e montagem de um automóvel. A concepção de uma fábrica deveria seguir este esquema, segundo revista de arquitetura da década de 40, editada por K. REID em 1950. Segundo MILLS(1951), o planejamento da área de manufatura de uma unidade industrial é condicionado pelo tipo de planta usada, pela natureza do produto a ser manufaturado e pelo processo de produção empregado. A fábrica deveria ser construída com edificação de apenas um pavimento(térreo), que era praticamente a forma usual nos EUA, em função da economia em fundações para máquinas pesadas e para facilitar as linhas de produção; mesmo sendo mais onerosa para serem erguidas e mais complicadas para o 40 tratamento natural de calor e de ventilação. A seqüência lógica das operações de manufatura determinavam a forma construtiva da fábrica. A movimentação dos materiais deveria ser linear, a mão-de-obra especializada por posto de trabalho, com produtos acabados simples e padronizados. Seqüências em linha e sem interrupções, conforme representado no mapofluxograma de uma fábrica padrão proposta por Mills (figura 13). (Fonte: Mills,1951, p. 31) Figura 13 - Modelo de fluxo de uma fábrica padrão da década de 40, proposta por MILLS em 1951. 41 Embora a edificação, durante a década de 40, não seguisse, ainda, estritamente os princípios da construção industrializada, portanto padronizada, os princípios da padronização já eram aplicados nos trabalhos de construção dos edifícios industriais, com o objetivo de minimizar custos de mão-de-obra. Conforme afirma BARNES(1977), os canteiros de obras da construção civil utilizavam técnicas da racionalização do trabalho propostos por Gilbreth e Taylor. Com o trabalho nas fábricas seguindo os conceitos de racionalização do trabalho propostos por Taylor, com a gestão da produção seguindo os preceitos da produção em massa de Ford, com o projeto da edificação seguindo fluxos lineares dos layouts por produto ou funcional e a edificação construída com um sistema de trabalho padronizado pelos métodos Tayloristas; a concepção final da fábrica obrigatoriamente seguia um dos axiomas da engenharia de produção em que “...a planta deve ser construída seguindo o processo de produção..” (REID, 1950, p. 1). O projeto da fábrica era controlado diretamente pelo tipo, programa e custos das operações de produção e as condicionantes de terreno e das expansões seguindo estritamente o processo de produção, sendo essencial que o projeto da fábrica fosse encarado como um problema de produção, com racionalização do trabalho e sistemas de manufatura em linha. (REID, 1950): “.... O grau de especialização de áreas de produção, a mobilidade do processo e a coordenação dos tempos de fabricação são os 3 princípios de controle dos modernos sistemas de manufatura. Estes fatores estudados em termos de operações necessárias para produzir um determinado produto, irão determinar as características gerais da estrutura. Estes fatores irão estabelecer o tipo de fluxo, indicando as necessidades maiores ou menores de setores da estrutura; as 42 necessidades de fixação de colunas, espaços livres, ..... e por fim, sugerir o grau de atendimento e controle das condições ambientais internas como luz, calor e ruído. Uma tendência crescente considera as plantas em um só pavimento(one-story) mais eficientes para a maioria das operações de manufatura, mais flexíveis no uso, melhores adaptadas à mudanças que ocorrem na produção, como expansão ou eliminação de operações, de manutenção mais rápida e econômica; e, usualmente, de menor custo para construir e equipar que os edifícios de vários pavimentos... ” (REID, 1950, p. 2) (Fonte: REID, 1950, p. 7) Figura 14 - Interior de uma fábrica da década de 40, com destaque para a padronização das estruturas da edificação. As bases do projeto arquitetônico eram principalmente: o fluxo de produção, o diagrama de movimentação interna da fábrica seguindo no sentido longitudinal do edifício (figura 14) e ampliações na horizontal (edifício plano) 43 e perpendiculares à cadeia principal de produção. Assim, se facilitava a distribuição de novos espaços e não se atrapalhava a produção (WILD, 1972). Outro conceito utilizado era da flexibilidade do edifício. O conceito de flexibilidade pode se referir tanto às possibilidades de utilização de um mesmo edifício para várias atividades, ou sua adequação à diferentes possibilidades de mudanças nos processos de produção. Segundo WILD(1972), o conceito de flexibilidade influi de uma maneira decisiva no projeto da fábrica, como nas distribuições das superfícies e na escolha do sistema estrutural, ou programa, da edificação. (Fonte: WILD,1972, p. 17) Figura 15 - Planta de uma fábrica de peças de plástico para a industria de eletrodomésticos - EUA - com destaque para a forma do edifício de grande comprimento em relação à sua largura. 44 As principais preocupações quanto à flexibilidade eram direcionadas para resolver problemas de mudanças de equipamentos, como substituição e introdução de modelos novos com inovações tecnológicas, e para acomodar expansões da fábrica, pois o planejamento do empreendimento considerava períodos curtos para depreciação dos equipamentos e incluíam nos cálculos a possibilidade de mudanças totais nos processos de produção (GRUBE, 1972). Neste sentido, os edifícios industriais eram projetados em um único pavimento, com grandes vãos livres, sendo seu comprimento muito maior que sua largura, como mostrado na ilustração da figura 15. As fábricas com apenas um pavimento passaram a ser consideradas padrão em função do conceito de que o transporte horizontal era melhor e mais econômico que o vertical. Muitas fábricas americanas construídas no período da 2ª. guerra e logo após, eram de tipos similares, independente da natureza do produto manufaturado. Tal fato era função de novos métodos de produção que eram constantemente implementados, exigindo flexibilidade das edificações. Também, um edifício industrial adaptado para vários tipos de produção (e de produtos) era mais fácil de ser vendido (ou alugado) quando estava desocupado e podia ser adaptado para a produção de armamentos durante os tempos de guerra. Uniformidade de características era a maior qualidade das fábricas americanas. Os industriais preferiam, para a fábrica, edifícios amplos, extensos em comprimento, áreas livres, salas fechadas e isoladas para os escritórios, telhado planos e contínuos(com treliças e com grande pé direito), marquises e mezaninos. Estas características permitiam que a área de fabricação ficasse sem obstáculos, facilitando a circulação. A tendência era colocar a estrutura (treliças) do telhado à uma altura de 5 a 6 metros do piso para a colocação de sanitários em mezaninos de tal forma que os trabalhadores pudessem ter acesso num tempo menor e com pequenos percursos (WILD,1972). 45 As fábricas fechadas (sem janelas) tornaram-se comuns, por permitirem maior flexibilidade de planejamento. A necessidade de blackout durante a guerra foi também fator decisivo. Entretanto, as condições deste tipo de construção fugiam muito da usual e provocavam efeitos psicológicos negativos nos trabalhadores. O tipo de arranjo físico continuava sendo a base do projeto da edificação. A mudança na forma do edifício não invalidava os princípios que até então eram praticados para as edificações industriais. O fluxo regular de materiais através da linha de produção continuava sendo o objetivo principal do conjunto da fábrica, onde o tempo de manufatura era de vital importância para que o fluxo pudesse seguir rigorosamente sem dificuldades e sem transporte manual, se máquina pudesse fazelo. Considerava-se que a base de toda movimentação de materiais era o sistema transportador, em suas centenas de diferentes tipos construídos (BARNES, 1977) e a tendência era a substituição do transporte manual por mecanizado como forma de tornar o processo mais automático e flexível. O princípio da produção contínua economia de movimentos - fundamenta os trabalhos de pesquisa realizados por arquitetos e engenheiros de produção (MUNCE, 1960). A partir do final da 2a. guerra, mudanças importantes ocorreram na Europa em relação aos edifícios industriais. Dentre elas a localização das novas fábricas. Neste contexto, de acordo com MUNCE (1960), as novas fábricas eram de 3 tipos: 1°.) a “fábrica avançada” constituída de módulo padrão e ocupações construída por uma agencia de desenvolvimento para futuras de novos empreendimentos industriais, como locatários(incubadoras); 2°.) a fábrica construída para um locatário ou proprietário específico, onde o processo e a área são conhecidos; e 3°.) ampliação de plantas já existentes, no mesmo local ou muito próximo (FRIGÉRIO, 1994). As novas tendências de projeto de fábricas não mais colocavam todas as atividades em um único edifício, mas separavam blocos de escritórios (administrativa) conectados ao edifício principal da produção por passarelas e 46 a colocação de dutos, escadas, rampas e tubulações, aparentes ou externas, para não obstruir futuras expansões (figura 16); com previsão de lavatórios espaçosos, planejados não somente em relação aos vários usos mas, com localização central de forma que pudessem ser acessados facilmente por todos os trabalhadores, preferencialmente com as instalações acima do piso principal em um mezanino; com colocação de passarelas suspensas para que o pessoal administrativo pudesse passar do escritório diretamente para a fábrica e; com escadas ligando a área de fabricação para facilitar o acesso do pessoal de chão fábrica aos sanitários e escritórios nos mezaninos. (Fonte: MUNCE, 1960, p. 15) Figura 16 - Esquema de uma fábrica pós-guerra, com edifícios funcionais separados Para as fábricas já existentes no período pós 2ª guerra, foram aplicados conceitos do movimento de racionalização do trabalho, com mecanização da movimentação de materiais, como forma de aumentar a produtividade da mão-de-obra e, consequentemente, a eficiência destas instalações, utilizando-se o estudo de tempos e métodos nas plantas, nos 47 projetos de equipamentos e nos layouts, com o objetivo de conseguir maior eficiência e melhores condições de trabalho. “….Aumento da produtividade da mão-de-obra através de movimentos mais eficientes é um dos mais expressivos desenvolvimentos na indústria Britânica no período pós-guerra, muito maior que a preocupação com novos layouts. É preferível manter a edificação e melhorar a eficiência da produção que ocorre dentro….” (MUNCE, 1960, p. 16). Estas situações, no entanto, causavam inúmeros transtornos na produção em função de expansões desordenadas em edificações já obsoletas(figura 17). O principal problema era o fluxo interno da produção que acabava sendo prejudicado e, portanto, contribuindo para uma baixa produtividade da fábrica. (Fonte: MUNCE, 1960, p. 43) Figura 17 - Fluxo de produção após várias ampliações em um mesmo edifício. MOORE (1962), ao analisar situação semelhante nos EUA concluem que os novos edifícios industriais deveriam atender requisitos de melhoria de condições de trabalho voltando seus projetos para: "... 1. Um 48 único pavimento... 3. Edifícios retangulares com relação entre 2:1 a 3:1 entre comprimento e largura... 8. Grandes áreas de janelas envidraçadas... 9. Áreas externas de lazer e serviços de pessoal...". (p. 72). Estas fábricas deveriam ser operadas segundo métodos modernos de alocação de tempos e com funções especializadas, de acordo com os princípios da ciência de gerenciamento (MOORE, 1962) Segundo GRUBE(1972), a construção de edifícios industriais, nas décadas de 50 e 60, se encontravam em perigo de serem corrompidas por projetistas indolentes e de converterem-se em uma espécie de “Arquitetura Enlatada: uma multidão de pequenas unidades de revestimento empregadas para cobrir formas amorfas sem estrutura lógica. Nos EUA, a arquitetura dos edifícios de escritórios tem recuperado (na década de 60) um caminho na direção da expressão arquitetônica, marcando novos estilos. Talvez possa ser um desafio para os arquitetos de edifícios industriais em continuar com a tradição da primeira metade deste século, em uma forma lógica, e desenvolvela com inovações ..." . (GRUBE, 1972, p. 36) Fundamentalmente, esta visão surgiu em decorrência da quantidade de novos projetos industriais no início da década de 60 com características construtivas diferenciadas dos modelos anteriores, marcados por projetos de unidades menores e edificações separadas. Esta separação de edificações já evidenciava, em países industrializados, o início da valorização das atividades meio, ou de serviços, associadas à produção. Esta tendência, no entanto, ainda só se verificava nos EUA e alguns países da Europa e inserida no movimento internacional de transferência de tecnologias de fabricação e de diferenciação de produtos, promovida pelos países centrais nas décadas de 60 e 70 (TAUILE apud: CAMAROTTO, 1990)1T. 1 TAUILE, J.R. A internacionalização da produção e de produtos: aspectos estratégicos e políticos. Apud: CAMAROTTO, J.A. Gerência e Projeto de Produtos: textos básicos. São Carlos. Universidade Federal de São Carlos. Apostila do cursos de Engenharia de Produção, 1990. 49 2.3. Primeiros estudos de layout Conforme já apresentado no item 2.1, a partir do início do século 18, com a revolução industrial, principalmente na Inglaterra, surge um grande número de novas fábricas impulsionadas pela demanda crescente de países da Europa e de outros continentes, não só por produtos têxteis, mas também por artefatos estampados em metal para uso pessoal e doméstico (WILLIAMS, 1978). As fábricas já existentes no início da Revolução Industrial ganharam impulso tecnológico proveniente da novos dispositivos mecânicos de teares ou de moldes em aço para estamparia ou, ainda, novas ferramentas de corte para usinagem. Estas fábricas que inicialmente tinham seus equipamentos acionados por força hidráulica e que posteriormente incorporaram o acionamento motriz por vapor, também foram obrigadas a reorganizar suas instalações fabris e, como uma das conseqüências desta reorganização, promover transferências de suas instalações ou mesmo construir novas instalações (FRIGÉRIO, 1994), gerando grande demanda por projetos de instalações industriais. Credita-se à esta época o surgimento dos primeiros estudos de administração da produção e de layout (MAYNARD, 1970, v.1). Na metade do século 18 Arkwright, que ficou mais conhecido pela sua invenção do tear mecânico, já se destacava como administrador de fábricas de tecidos pois, segundo URE (apud MAYNARD,1970, v.1)2, suas maiores preocupações eram com os hábitos de trabalho dos operários e com a disposição das máquinas no novo processo de mecanização(referindo-se aos teares mecânicos). Com o projeto da fábrica de artefatos metálicos em Soho, que começou a operar em 1762, de Matthew Boulton e posteriormente, em 1795, com o projeto da fábrica de equipamentos para a indústria mecânica, projetada 2 URE, A. The Philosophy of Manufactures. London, 1835. Apud: MAYNARD, H.B. Manual de Engenharia de Produção. 1° edição. São Paulo, Ed. EDGARD BLÜCHER, 1970. v . 1. 50 pelos engenheiros Matthew R. Boulton(filho de Matthew Boulton) e James Watt Jr.(filho de Watt, o inventor da máquina a vapor); é que se registram os primeiros estudos de layout industrial. Entretanto não há um registro confiável dos métodos utilizados nestes projetos (MAYNARD, 1970). Um dos primeiros layouts registrados nos EUA data de 1795, de um moinho de cereais construído por Thomas Ellicott em 3 pavimentos na Filadélfia (figura 18). (Fonte: MOORE, 1962, p. 5) Figura 18 - Layout de um moinho de cereais de 3 pavimentos, projetado em 1795 por Thomas Ellicott. Ainda, no final do século 18, Eli Witney projetou uma fábrica de mosquetões e utilizou princípios de divisão do trabalho com a introdução de desenhos de peças, guia de operação para orientar os operadores de máquinas e, principalmente, o projeto do produto separando-o em pequenas peças com 51 alta precisão, que pudessem ser intercambiáveis, através de princípios de controle de qualidade dimensional e uso de modelos de peças padrões. Para esta fábrica, Witney projetou o layout, um sistema de troca de ferramentas para as máquinas, adaptou as máquinas para a produção padronizada e treinou ao operadores para a produção (MOORE, 1962). O arranjo físico e o projeto de instalações são relativamente recentes na engenharia e na arquitetura, tendo surgido, como uma atividade gerencial e tratado em disciplinas científicas, apenas no início deste século, acompanhado de outras disciplinas da engenharia de produção como tempos e métodos, custos e controle da produção, principalmente nos EUA, com o surgimento da indústria automobilística, dos conceitos de produção em massa de Henry Ford e do movimento da administração científica de F.W. Taylor. MAYNARD(1970) relata que, em 1940, dentro das funções tradicionais da engenharia de produção, aparecia entre as atividades de layout: “... Recursos de fabricação e projeto – Arranjo físico da fábrica, obtenção e reposição de equipamentos, projeto do produto, projeto de ferramentas, gabaritos e medidores..” (p. 44, v.1), com o registro de um modelo de roteiro de projeto de layout que foi utilizado no início do século e constava das seguintes etapas: 1) Projeto do processo produtivo, 2) Fluxo de materiais, 3) Cálculo de equipamentos e de armazenagem, 5) Edificação e, 6) Desenvolvimento do layout. Na arquitetura industrial aparece, já na década de 30, um roteiro de projeto de edifícios industriais (NELSON, 1938) com requisitos de layout aplicados à produção em massa, contendo: a) princípio do fluxo linear com a saída no lado oposto ao da entrada, b) máquinas uniformemente espaçadas(figura 19), c)sistemas de estoques intermediários(work-in-process), d) sistema de movimentação interna por transportadores mecânicos, e) máquinas especializadas (REID,1951). Nas relações entre o fluxo de materiais no interior do edifício industrial e a arquitetura deste edifício, encontram-se os estudos de 52 MELIS(1953) sobre os edifícios industriais do início do século, sistematizando os modelos encontrados e gerando uma classificação para os projetos de edifícios industriais. (Fonte: REID(1950), p. 7) Figura 19 - Ilustração de uma fábrica da década de 40, com destaque para a disposição uniforme e em linha das máquinas. A - Único ambiente dividido em setores de produção A1) Disposição com repartições paralelas - figura 20 Construção de seções de produção iguais em comprimento e largura, com a primeira seção vizinha ao depósito de matéria-prima e a última junto ao depósito de produtos acabados. Na frente das seções de produção intermediárias ficam os setores de apoio como ferramentaria e de materiais auxiliares. As vantagens desta disposição são: possibilidade de expansão, disposição uniforme das máquinas, controle geral facilitado e iluminação constante e uniformemente distribuída. 53 (Fonte: MELIS, 1953, p. 28) Figura 20 - Modelo de fluxo em única edificação e setores paralelos A2) Disposição em Anel - Figura 21 e 22 Os setores produtivos se sucedem partindo do depósito de matériaprima e retornando ao mesmo local, ao lado do depósito de produtos acabados. Nesta disposição os setores auxiliares( materiais, ferramentaria, peças, etc..) podem ser localizados no centro do anel. As ampliações são sempre possíveis por rotação. (Fonte: MELIS, 1953, p. 29) Figura 21 - Modelo de fluxo com disposição em anel 54 A figura 22 mostra um modelo que apresenta duas variantes, uma com o produto acabado saindo no lado oposto à entrada dos materiais e a outra com uma estrutura em ‘U’ com setores em paralelo. (a) (b) (Fonte:MELIS, 1953, p. 29) Figura 22 - Fluxo em anel com saídas opostas(a) e com setores em paralelo(b). As vantagens deste modelo são: fácil controle de entrada e saída e possibilidade de iluminação lateral. B - Ambientes e setores separados B1) Disposição em fila única - figura 23 Os ambientes são paralelos e ligados por um único corredor operando de um só lado. Necessita de um terreno com frente muito grande e pouca profundidade. Dificulta o transporte e a comunicação. 55 (Fonte: MELIS, 1953, p. 32) Figura 23 – Fluxo em fila única com ambientes separados. B2) Disposição em fila dupla - figura 24 (Fonte: MELIS, 1953, p. 32) Figura 24 – Fluxo em fila dupla, com ambientes separados É praticamente uma variante da anterior e representa um melhoramento do ponto do vista das ligações, que são divididas pela metade em relação à anterior. Melhora o projeto da iluminação mas necessita de terreno com grande profundidade. Estas disposições estão apresentadas como modelos ideais de fluxo do layout devendo ser, na prática, adaptadas às condições de terreno, de benfeitorias, vias de acesso e, principalmente, ao projeto funcional da fábrica. 56 Segundo MELIS(1953), só havia, até o início deste século, duas formas de se dispor as máquinas no layout: máquinas transversais ou longitudinais em relação à principal distribuição das aberturas. A disposição transversal, com a iluminação lateral, permitia melhor acesso à janela e aos demais setores da fábrica. A disposição longitudinal era melhor adaptada à máquinas de dimensões maiores e de comprimentos longos, pois distribuía melhor a iluminação ao longo da máquina e oferecia melhor movimentação nas atividades de manutenção, porém dispõe de menor espaço de trabalho para os operadores. 2.4. Métodos e técnicas de desenvolvimento de layout Uma vez definido o processo de fabricação, o tipo de produto e a tecnologia a ser utilizada pela unidade produtiva, há necessidade de alocar as diversas áreas funcionais e atividades necessárias para o trabalho da fábrica. Este processo é denominado de projeto de layout ou de instalações industriais. Entretanto, esta etapa de projeto depende de fases anteriores, desde a decisão do empreendimento da fábrica, conforme esquematizado no modelo de MUTHER(1978): I. LOCALIZAÇÃO II. ARRANJO FÍSICO GERAL III. ARRANJO FÍSICO DETALHADO Tempo IV. IMPLANTAÇÃO (Fonte: MUTHER, 1978, p. 5) Quadro 03 - Modelo de desenvolvimento de projeto de fábrica - Muther. 57 O modelo do processo de projeto de fábrica pode ser sumariado em: .Macro e micro-localização: região, distrito, situação, vias .Aproveitamento do terreno: acessos, recuos, níveis, tratamentos .Espaço arquitetônico: orientação, ocupação, formulação .Arranjo físico: fluxos, funções, atividades, distribuição .Estações de trabalho: espaços, requisitos, relações, organização .Construção do espaço(edificação): programa, partido, detalhamento .Ocupação e operação do espaço: uso, manutenção, avaliação Este processo geral de construção do projeto do layout é baseado no modelo de resolução de problemas (ASIMOV, 1962 e JONES, 1970), que é um método tradicional de projeto em engenharia (BONSIEPE, 1978). Todos os métodos de desenvolvimento de layout, consultados na bibliografia, trabalham fundamentalmente com este modelo, sendo que as grandes diferenças entre os métodos são as técnicas que utilizam e seus procedimentos operacionais, como as relações entre as fases do projeto, a modelagem, o tratamento das informações e os critérios de julgamento de alternativas. Esses métodos também se diferenciam quanto à abrangência e profundidade de seus procedimentos em relação às fases de projeto, representadas no quadro 03. Uns iniciam na fase de localização, outros na fase de arranjo físico geral e outros apresentam procedimentos exclusivamente para o arranjo físico detalhado. O trabalho de projeto de layout necessita de procedimentos específicos de tratamento que lhe confere o detalhamento suficiente para sua transformação em instruções operacionais. Nestes procedimentos é que os principais métodos de desenvolvimento de layout vão se diferenciar. Os métodos apresentados a seguir estão em ordem cronológica de publicação, entendendo que os mais recentes são os mais elaborados. 58 Método IMMER - 1950 ( MUTHER, 1955) Seus procedimentos se baseiam em 3 etapas: 1. Descrever detalhadamente o problema com atenção para as variáveis e utilizar recursos gráficos. 2. Representar as linhas de fluxo principais e secundárias 3. Transformar as linhas de fluxo em seqüências de máquinas. A ênfase dada é no rearranjo de layout já existente, já que o autor estava preocupado com a expansão das fábricas americanas no pós-guerra. O layout era definido como sendo a alocação de máquinas seguindo métodos de trabalho e de produção que permitissem o processamento de cada parte do produto de maneira mais eficiente, percorrendo a menor distância possível e no menor tempo. Nesta definição não aparece a preocupação com a segurança, ergonomia ou satisfação no trabalho. Método REED - 1961 (TOMPKINS, 1984) O autor recomenda um conjunto de procedimentos denominados de “plano sistemático de ataque”, como os passos necessários para o planejamento e preparação do layout: 1. Analisar os produtos a serem produzidos 2. Determinar os processos necessários para a produção dos produtos 3. Preparar as cartas para o planejamento do layout 4. Determinar os postos de trabalho 5. Analisar as necessidades de áreas de estocagem 6. Estabelecer as larguras mínimas de corredores 7. Estabelecer as necessidades para escritórios 8. Considerar o pessoal de manutenção e de serviços 9. Pesquisar os serviços de fábrica 10. Planejar para expansões futuras. 59 Neste método de construção do layout o autor utiliza uma carta de planejamento que é constituída de um roteiro de produção para cada parte do produto, acrescido de informações sobre sistema de transportes, método de armazenagem, ocupação de mão-de-obra e requisitos de movimentação. Este procedimento passou a ser comum a todos os demais métodos a partir da sistematização de Reed. Método MOORE - 1962 Reconhecido como o primeiro modelo de desenvolvimento de layout que se preocupou em descrever as bases metodológicas envolvidas no processo do projeto. Mais preocupado em desenvolver o projeto da fábrica (plant design), coloca o projeto de layout como uma etapa deste processo. As etapa do projeto de fábrica são: (MOORE, 1962, p. 9) 1. Aquisição do capital 2. Projeto do Produto 3. Planejamento de vendas – volume de produção 4. Seleção do processo de produção 5. Comprar ou fazer as partes do produto 6. Tamanho da fábrica 7. Faixa de preço do produto 8. Localização da fábrica 9. Layout da fábrica 10. Seleção do tipo de edificação 11. Diversificação 12. Desenvolvimento da organização No desenvolvimento do projeto de layout, as etapas consideradas são: 60 1. Determinação do volume de produção 2. Detalhamento do projeto do produto 3. Especificação das rotas e fluxos 4. Fluxograma do processo do produto 5. Necessidades de espaços 6. Características da edificação 7. Equipamentos necessários 8. Construção da planta de situação(plot Plan) 9. Construção do layout de blocos(block layout) 10. Layout detalhado 11. Avaliação do layout 12. Implantação Dos métodos pesquisados, Moore é o único que apresenta uma seqüência de procedimentos sobre a edificação, voltados para o desenvolvimento do projeto de fábrica. Considera como fatores importantes das relações entre a edificação e o uso industrial: manuseio de materiais, iluminamento, tipos especiais de armazenagens, calor e ventilação, requisitos dos tipos de produtos e operação dos equipamentos. Método NADLER - 1965 (TOMPKINS, 1984) O autor apresenta um procedimento para projeto de sistemas de trabalho, aplicável ao planejamento de instalações e indica, junto com os procedimentos, uma abordagem hierárquica do processo de projeto. As etapas conceituais são: 1. Teorização do sistema ideal 2. Conceituação e detalhamento do sistema ideal 3. Projeto do sistema de trabalho tecnologicamente ideal 4. Instalação do sistema recomendado. 61 Este sistema de trabalho é apresentado pelo autor como um modelo de resolução de problemas que utiliza uma base teórica (a situação ideal) para propor uma nova situação. Entretanto, o autor não detalha qual a base teórica utilizada, mas se baseia em método retrospectivo para propor uma nova solução. Parte do “O que tem sido” para chegar em “O que pode ser” (TOMPKINS, 1984 , p. 233) Método SLP – MUTHER - 1973 O autor desenvolveu o método SLP – Systematic Layout Planning,, em 1973, como um roteiro composto de um conjunto de técnicas facilitadoras para a prática de projeto de layout industrial ou comercial. Este método é, sem dúvida, o mais conhecido e o mais utilizado por engenheiros projetistas de layout. Este método trabalha com as variáveis: Produto (materiais), Quantidade (volumes), Roteiro (seqüência do processo de fabricação), Serviços de suporte e Tempo (P,Q,R,S,T) e as relaciona segundo o esquema apresentado no quadro 04. O método pressupõe que os dados de entrada estejam organizados de acordo com as formas padronizadas de registro (organogramas, diagrama Produto x Quantidade, lista de materiais), para que seja possível estabelecer regras e relacionamentos entre as atividades (matriz de ligações preferenciais), análise de fluxo (carta de processo ou fluxograma de processo) e análise de relacionamento entre as atividades e o fluxo (diagrama de relacionamento ou carta de processos múltiplos). 62 Dados de entrada: P, Q, R, S, T e atividades 1. Fluxo de 2. Inter-relações de Materiais atividades 3. Diagrama de inter-relações 4. Espaço 5. Espaço necessário Disponível 6. Diagrama de Inter-relações de espaços 7. Considerações 8. Limitações de mudanças práticas Plano X Plano Z Plano Y 9. Avaliação Plano Selecionado (Fonte: MUTHER, 1978, p. 7) Quadro 04 - Esquema geral do sistema SLP – Systematic Layout Planning Muther O processo de construção do layout através deste modelo é linear e cumulativo, permitindo que sejam abandonados dados não consistentes, pois trabalha apenas com os fluxos e relacionamentos principais(faz julgamentos de importâncias relativas). O processo SLP pode ser utilizado de forma seqüencial para desenvolver o layout em blocos e, posteriormente, as 63 alternativas mais detalhadas. Vale ressaltar, no entanto, que a utilização de formas geométricas simples(quadrados e retângulos) para a representação de áreas funcionais na composição das alternativas de layout, propostas pelo método, pode influenciar a geração destas alternativas, já que não admite outros polígonos, o que proporcionaria melhores acoplamentos e acomodações de áreas. Também, nota-se que, a conversão de um diagrama de relacionamento de espaços em várias alternativas viáveis de layout não é um processo mecânico, sendo necessário julgamentos, abstrações e, principalmente, experiência no processo de projeto. Método APPLE - 1977 Para se obter um projeto de sistema de trabalho industrial, segundo o autor, é necessário seguir um conjunto de procedimentos de projeto de instalações, ou layout de instalações industriais, que, independente do tipo de instalação, do tipo de processo de produção ou do tamanho da fábrica; deve seguir os seguintes passos (APPLE, 1977): 1. Obter os dados básicos: 2. Analisar os dados básicos: 3. Projetar o Processo Produtivo 4. Planejar o padrão de fluxo de materiais 5. Considerar o modelo geral de manuseio de materiais 6. Calcular os requisitos necessários para os equipamentos 7. Planejar os postos individuais de trabalho 8. Selecionar os equipamentos específicos para o manuseio de materiais 9. Coordenar os grupos de operações relacionadas entre si 10. Projetar o inter-relacionamento de atividades 11. Determinar os requisitos de armazenagem 12. Planejar as atividades auxiliares e de serviços 64 13. Determinar os requisitos de espaço 14. Alocar as atividades no espaço total 15. Considerar as características da edificação 16. Construir o layout geral 17. Avaliar, ajustar e conferir o layout com demais especialistas e gerência 18. Discutir a validação do projeto 19. Detalhar e implementar o layout 20. Acompanhar a implantação do layout Os procedimentos traçados pelo autor consideram o processo de layout como um processo evolutivo, mas não restringe os métodos utilizados, permitindo certa variabilidade e confiabilidade dos dados trabalhados. Na obra citada (APPLE, 1977) o autor detalha 19 dos 20 passos acima, sendo que o único para o qual não apresenta procedimentos operacionais, ou metodológicos, é o passo 15 (características da edificação). De maneira genérica, os passos para a construção de um layout segue a seguinte estrutura (TOMPKINS, 1984): 1. Definir o objetivo da instalação 2. Especificar as atividades primárias e de suporte a serem realizadas de acordo com o objetivo. 3. Determinar o inter-relacionamento entre as atividades. 4. Determinar requisitos de espaços para todas as atividades 5. Gerar alternativas de layouts das instalações 6. Avaliar as alternativas dos layouts. 7. Selecionar um layout 8. Implementar a alternativa escolhida 9. Manter e adaptar o layout de acordo com mudanças nos objetivos. 65 O procedimento genérico, comum a todos os métodos apresentados determina a metodologia de projeto em instalações industriais utilizada nas diversas situações, seja de novas fábricas, transferências de instalações ou rearranjos internos. As situações encontradas nos estudos de campo desta pesquisa, como inúmeros exemplos já trabalhados em outras pesquisas, mostram que estes são os métodos empregados no desenvolvimento das instalações industriais e layout. Verifica-se, também, que as principais referências bibliográficas utilizadas em projetos industriais, utilizam os métodos de Muther e de Moore. 2.5. Tipos Clássicos de arranjo físico Os sistemas industriais requerem uma grande variedade de layouts. Um layout é determinado primeiramente pelo tipo de processo de produção empregado, que condiciona a tecnologia e a organização industrial. Os processos de manufatura são usualmente classificados em: contínuos, repetitivos e intermitentes(quadro 05). Indústrias de processos contínuos são características do processamento químico de substâncias, que não pode sofrer interrupção na fabricação sob risco de perder o material processado ou até mesmo danificar equipamentos ou parte das instalações. Os problemas de projeto de planta de uma indústria de processo contínuo é completamente diferente daqueles de processos intermitentes ou repetitivos. No processo contínuo o layout é extremamente influenciado pelos condicionantes tecnológicos e sua lógica é determinada pelo processo de fabricação. São layouts rígidos com equipamentos dedicados aos produtos. Indústrias de processamento repetitivo são aquelas em que o produto é processado em lotes. Os produtos são movimentados, através do processo, em quantidades fixas e cada item segue através do fluxo de forma 66 análoga à todos os itens do lote. Quando o lote de um mesmo item, ou itens semelhantes, segue rigidamente as mesmas seqüências em tempos uniformes entre lotes; o processo assume, para efeito de estudo de layout, as características de um processo contínuo. Quadro 05 - Representação esquemática dos Processos de Produção. Processo de Manufatura Processo Contínuo Desintegração Separação em Componentes Exemplo: destilaria refinaria Processo Repetitivo Integração Transformação Agregação de materiais, com processamento conjunto, resultando em um produto não encontrado no estado natural Mudança no material por operações sucessivas em um produto de características diferentes. Exemplo: Plásticos Borrachas Exemplo: cerâmicas Processo Intermitente Fabricação Montagem Mudança na forma do material. Adição de materiais no estado sólido a partir de um componente inicial. Exemplo: peças mecânicas Exemplo: automóvel mesa Processos Combinados desintegração, integração, fabricação, montagem produção de aço projetos industriais serviços (Fonte: MOORE, 1962, p. 7) Uma indústria de processamento intermitente processa um produto ou pequenos lotes de produtos (ou itens) sem regularidade de período ou de 67 tamanho de lote. O processamento depende de encomenda e o produto pode sofrer alterações de especificações, mesmo dentro de um lote. Este tipo de indústria é característico de empresas que trabalham através de encomenda de clientes. Para o estudo de layout, as empresas de processo de informações ou documentos, as empresas de serviços, são consideradas de processamento intermitente. Os tipos clássicos de layout estão relacionados com a quantidade e diversidade de produtos produzidos, às características físico-químicas e geométricas dos materiais manipulados e aos tipos de movimentação possíveis no interior da fábrica. A divisão do layout em tipos clássicos fundamentais, atende principalmente a motivos didáticos. Muito freqüentemente, o que se observa na prática é uma mistura dos tipos denominados clássicos e dificilmente observa-se uma fábrica totalmente projetada utilizando-se um único tipo de arranjo. layout posicional ou arranjo de posição fixa Este layout é caracterizado por um arranjo espacial onde o material a ser trabalhado (peça, parte ou item) permanece parado enquanto que os operadores e os equipamento se movimentam ao seu redor (figura 25). (Fonte: TONPKINS, 1984, p. 228) Figura 25 - Ilustração de um layout posicional. 68 Este era o tipo principal de arranjo no sistema artesanal de trabalho. O produto era iniciado e acabado no local de trabalho do artífice, que o construía inteiramente. Com a evolução da indústria, este tipo se tornou menos importante e atualmente a sua aplicação se restringe, principalmente, a casos onde o material, ou o componente principal, é difícil de ser movimentado, sendo mais fácil transportar equipamentos e homens. Em montagem de grandes máquinas como fresadoras e retificadoras, a base destas máquinas permanece parada e ferramentas portáteis, peças componentes e homens se movimentam para a produção. Existem montagens em séries nas quais as peças são posicionadas em bancadas (em forma de linha) e o operário percorre a linha com ferramentas e peças componentes, executando a operação. Em montagem de navios e nas obras de construção civil, a produção é feita com o componente principal fixo e os instrumentos de trabalho se movimentando em torno deste componente, realizando operações de transformação e de montagem. layout funcional, departamental ou por processo Neste tipo clássico, os equipamentos são agrupados em função da similaridade de suas operações no processo de produção, independente do produto processado. Contrapondo-se ao modelo anterior, no arranjo funcional os equipamentos permanecem fixos e os materiais são movimentados entre os postos de trabalho. É característico deste tipo de arranjo o agrupamentos de máquinas semelhantes formando departamentos ou setores de processos com nomenclatura bastante comum nas fábricas, como: setor de estampagem, departamento de usinagem, seção de tingimento, setor de acabamento, etc. 69 (figura 26). Nestas configurações não se identifica a fábrica, ou seus setores, pelos produtos fabricados mas, pelos seus processos. (Fonte: TOMPIKNS, 1984, p. 228) Figura 26 - Esquema do layout Funcional. Este tipo de arranjo é bastante encontrado especialmente em ferramentarias e, é particularmente interessante onde a tecnologia de execução tem caráter preponderante em relação aos demais itens da produção. Uma propriedade deste tipo de layout é sua flexibilidade quanto à mudanças nos produtos processados, sendo usualmente aplicado em fábricas de processamento intermitente, de produção por encomendas de produtos com pequeno volume de produção ou de baixa padronização. layout linear ou por produto A disposição dos postos de trabalho obedece a seqüência do processamento do produto, formando agrupamentos de equipamentos e atividades distintas entre si, mantendo em comum o processamento seqüencial 70 de partes de um produto. De maneira semelhante ao layout funcional, os materiais se movem e os equipamentos permanecem fixos (figura 27). O arranjo é praticamente uma reprodução da carta de operações do produto. O material, sob a forma de matéria-prima, sofre a primeira operação caminha de uma operação a outra, percorrendo equipamentos colocados próximos e dispostos segundo o fluxograma da peça. A figura 12 (p. 35) mostra um 'Flow chart' de montagem de um automóvel. Um exemplo típico de uma fábrica com layout por produto. (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 228) Figura 27 - Esquema do layout por produto. Os layouts reais são normalmente combinações destes tipos clássicos pois as indústrias possuem, normalmente em suas instalações, misturas desses tipos de layout. Ao lado de uma seção de arranjo tipo departamental ou funcional, pode existir um layout por produto, ou por posição fixa. Ou então, dentro do arranjo funcional, pode-se colocar os grupos de equipamentos dispostos segundo a seqüência preferencial do processamento do produto. Como exemplo, em setor de fabricação de engrenagens. 71 Cada tipo de layout é recomendado em determinadas circunstâncias, e possui vantagens e desvantagens relativas em sua aplicação (quadro 06). Quadro 06 - Características do sistema de produção e tipo de layout TIPO DE LAYOUT Funcional ou Processo Posicional Por Produto ou 1) Muitos tipos ou estilos de 1) Um ou poucos produtos ser produtos, ou produção sob padronizados; encomenda; 2) Grande volume de produção de 2) Ferramentas, dispositivos, 2) Pequeno volume de produção cada item durante considerável equipamentos fáceis de em itens individuais (embora a período de tempo; produção total possa ser grande); serem movimentados; 3) Possibilidade de estudos de 3) Necessidade de se fixar 3) Impossibilidade de se fazer tempos e movimentos; estudos adequados de tempos e responsabilidades; 4) Possibilidade de se encontrar movimentos; um bom balanceamento entre 4) Produção pequena e não 4) Dificuldade de se encontrar um operações; cooperativa. bom balanceamento entre 5) Número mínimo de inspeções operações; requeridas durante a seqüência de 5) Muitas inspeções requeridas operações; durante a seqüência de operações; 6) Mínima proporção de que requeiram 6) Alta proporção de equipamentos equipamento que requeiram instalações instalações especiais (isolamento especiais ou supervisão muito das outras áreas de produção, por exemplo), ou supervisão muito técnica; técnica; 7) Materiais ou produtos grandes ou pesados , o que dificulta um 7) Material e produto que permite manuseio contínuo; manuseio contínuo; 1) Material impossível movimentado; difícil de Pequena ou nenhuma 8) Necessidade freqüente de 8) utilização de mesma máquina ou possibilidade de se utilizar a estação de trabalho para duas ou mesma máquina ou estação de trabalho para mais uma operação. mais operações; (número mínimo de “set up” (Fonte: MOORE, 1962, p. 107 e OLIVÉRIO, 1985, p. 179) Como cada tipo clássico de layout é melhor adequado às certas características de processo, relacionando as variáveis quantidade versus variedade de produtos, e também com a organização do trabalho e da gestão da produção (Quadro 07). 72 Quadro 07 - Relação entre o tipo de layout e gestão da produção Tipo de layout POSICIONAL POR PROCESSO POR PRODUTO 1) Permite à fábrica elevar a 1) Pouca duplicação de 1) Menor custo de manuseio habilidade de seus operários, equipamento, logo pequeno e transporte; produzindo um conhecimento investimento total; completo do trabalho 2) Menor tempo total de 2) Grande flexibilidade de produção; 2) O operário se identifica com produção; o produto, aumentando o seu 3) Menor inventário de orgulho profissional pela sua 3) Supervisão mais eficiente e material em processamento; maior participação e mais técnica; responsabilidade no produto 4) Maior incentivo para grupo final; 4) Maior incentivo para o de operários, com operário, com a possibilidade de possibilidade de se utilizar 3) Grande flexibilidade. se utilizar prêmios de produção prêmios de produção para grupo ou linha; Permite freqüentes e fáceis individuais; mudanças em: a) projeto do produto 5) Controle melhor de processos 5) Menor área por unidade de b) volume de produção complicados ou precisos, produção; especialmente onde muita c) tipo do produto inspeção é requerida; 6) Maior simplicidade de controle de produção, com 4) Mínimo investimento no layout. 6) Facilidade de contornar menor número de registros quebras de equipamentos, necessários. transferindo-se trabalho de uma estação para outra. (Fonte: OLIVÉRIO, 1985, p. 180) Um fator complementar na decisão para escolha de um tipo de layout é a movimentação dos fatores de produção que concorrem para o fluxo da manufatura. A movimentação, para a construção do layout, é separada em: a) Movimentação dos materiais: os materiais se deslocam de posto em posto de trabalho e, nesse deslocamento, sofrem as alterações que os processos produtivos ocasionam na peça para a obtenção do produto acabado. b) Movimentação do homem - neste caso o homem se desloca de posto de trabalho, e em cada uma delas executa uma operação. c) Movimentação do equipamento - o equipamento se movimenta para produzir a operação, percorrendo vários postos de trabalho, ou seguindo o produto. 73 d) Movimentação do homem e do material - ambos se movimentam. Acontece por exemplo, em linhas de montagem, quando o homem e o material se deslocam simultaneamente. e) Movimentação do material e do equipamento - O homem recebe o material e o equipamento, que se deslocam para o posto de trabalho, como na construção civil em que o concreto vai até a obra, com uma betoneira. f) Movimentação do homem e do equipamento - O material permanece fixo, recebendo a ação combinada dos outros dois fatores de produção. Nas obras de pavimentação existem vários exemplos desse tipo de movimentação. g) Movimentação de homem, máquina e material - São bastantes raros. Normalmente não é necessária esta movimentação conjunta Os produtos processados e a tecnologia empregada neste processamento restringem a adoção do layout, mas não o determinam. Esta determinação só se dá a partir da escolha dos modelos de gestão da produção e do trabalho. Claro que esta escolha também não é irrestrita, pois vão existir incompatibilidades , advindas da base técnica e das relações sociais de produção, entre os elementos do sistema produtivo. Um dos condicionantes mais difundidos é imposto pela tecnologia dos equipamentos de produção, cuja operação condicionam os esforços, os conhecimentos, os tempos e os espaços de trabalho. A edificação, na medida em que serve de elemento acondicionador do sistema de produção, também está presente no conjunto das condicionantes do processo de trabalho industrial, seja nos espaços de trabalho e de movimentação, seja no conforto. 74 2.6. Projeto de edifícios industriais e o conforto ambiental Este item tem como objetivo mostrar, sinteticamente, as etapas do projeto de uma edificação, em particular a edificação industrial; em que etapas do processo de projeto são incorporados conceitos de conforto ambiental e como são considerados no projeto. Pretende-se mostrar que, nas etapas de projeto de edificações industriais comumente utilizadas, não são consideradas questões de conforto dos usuários, e que os edifícios não são projetados levando-se em consideração as possíveis mudanças em processos e tecnologias que podem interferir no conforto destes usuários. Além destes, considera-se, também, que os métodos de projeto de edificação se baseiam no fluxo de materiais e no fluxo de processo. Assim, quando estes fluxos sofrem alterações, o edifício perde sua eficiência. Não se pretende aprofundar as metodologias do projeto arquitetônico, nem sequer discutir as diversas escolas ou correntes de pensamento sobre o processo de projeto. Pretende-se, apenas discorrer sobre as etapas de desenvolvimento do processo de projeto no que concerne aos seus resultados, ou seja, na projetação a partir da definição do programa construtivo, conforme definido por SILVA (1984) “…tradução pelo projetista/usuário das necessidades em termos de uma representação ou imagem mental da obra…” (p. 36). A preocupação é concentrada nas soluções e na distribuição dos espaços internos dos edifícios industriais, suas relações com o layout, com o fluxo do processo de produção e a incorporação no projeto, de soluções construtivas visando o conforto ambiental. Pretende-se responder as questões de como o projeto de edificação industrial se adequa aos anseios (satisfação, necessidades, conforto, prazer, saúde, etc.) de seus usuários já que, implicitamente, os edifícios industriais atendem aos requisitos de produção, que é uma de suas funções. 75 Segundo BROADBENT(1982), um edifício além de ser analisado como um acondicionador de atividades, modificador do clima físico e fator de mudanças econômicas, é necessário considerar suas implicações culturais, sendo o usuário o sujeito perceptor que, através de seus sentidos, ouvirá, verá, sentirá frio ou calor e terá outras experiências, todas como resultado das decisões do projetista. Nos projetos de edifícios industriais entretanto, os princípios de projeto parecem seguir mais enfaticamente os preceitos da função produção do que das funções de conforto dos usuários, ou seja, dos trabalhadores. É importante salientar que parte-se do pressuposto de que o edifício deve ser projetado após a definição do arranjo físico. O edifício, além de ser um invólucro da fábrica, deve ser parte integrante do processo industrial. Somente desta maneira pode-se assegurar uma perfeita adequação do edifício ao funcionamento da fábrica. 2.6.1. O projeto do edifício industrial Vários autores, como BANHAM(1979, p.500 a 503) e MASCARÓ(1990, p.161 a 174), parecem considerar que a arquitetura de edifícios industriais, a partir do século 18 (acentuando-se no século 20), tem seguido um modelo funcionalista ou racionalista: no qual cada material ou obra deve ter uma nova forma, ditada pela função que exerce, recuperando a equação (proposta por Nervi) de junção de forma, estrutura e função, gerando projetos funcionais (COELHO NETO, 1979, p. 103). BROADBENT(1982) refere-se à Gropius e outros arquitetos funcionalistas, como defensores de uma maior padronização dos edifícios(em contraposição aos projetos exclusivos para um único cliente) através de um sistema em que os elementos pré-fabricados eram projetados e transportados até a obra para serem montados, produzindo assim edifícios funcionais. 76 A estrutura de projeto descrita em SILVA(1984) mostra uma seqüência de etapas conceituais bastante parecida com a estrutura clássica de projetos sistemáticos proposta por ALEXANDER(1974) que, em essência, apresenta uma metodologia de projeto em engenharia para a projetação de produtos ou processos, de estrutura claramente funcionalista, que pode ser resumida no esquema do quadro 08. Quadro 08 - Progressão do processo projetual em arquitetura. S O L Definição Crescente U Ç Ã O PROGRAMA Î ESTUDOS Î Incerteza Decrescente ANTEPROJETO Î PROJETO Ò P R O B L E M A (Fonte: SILVA, 1984, p. 77) Segundo ALEXANDER (1974), o desenvolvimento do projeto representa o processo de inventar coisas físicas que apresentem nova ordem física, organização e forma em resposta à função, ressaltando o aspecto da necessidade de atendimento à relação forma-função. Muitos autores, notadamente aqueles preocupados com a engenharia do projeto, se preocupam mais decisivamente com as relações entre o resultado do projeto e a satisfação das necessidades do homem. ASIMOV (1962) define o projeto de engenharia 77 como uma atividade orientada para o atendimento das necessidades humanas, principalmente daquelas que podem ser satisfeitas por fatores tecnológicos de nossa cultura. ORTIZ (1978) relaciona o aspecto forma-função com um processo de gestação de um objeto que pode ser interpretado como o esforço para modelar e organizar espacialmente uma porção de material com a finalidade de possibilitar a manifestação de suas propriedades aptas para um efeito ou trabalho necessário para a execução de uma função. A forma pode ser entendida pela imagem do produto ou método que é percebida através de canais sensoriais, isto é, sua configuração geométrica, proporções, cor, textura, brilho e dureza superficial; e de uma sensibilização cultural e tecnológica de conteúdo de trabalho e de ofício; constituindo todo um gestalt, ou conjunto perceptivo. Este conceito sobre forma não se esgota com a captação da aparência externa, mas com sua conotação perceptiva. Abrange também uma configuração estática ou dinâmica que adquire a organização de seus elementos materiais, a distribuição de seus componentes, estruturados com uma finalidade precisa, ou seja, de cumprir todas as funções previstas, constituindo também uma conotação conceitual (ORTIZ, 1978). Os produtos ou processos se justificam na medida que atendam a uma finalidade humana. Esta é a função do produto ou processo. É comum encontrar considerações sobre as funções de produtos fazendo-se referência aos seus mecanismos de funcionamento, ou seja, aos princípios de engenharia(mecânica, eletrônica, etc.) nos quais o produto se baseia. As funções-fins seriam as funções principais que atendem as necessidades para as quais o produto/processo foi projetado; e as funções-meios correspondem às funções através das quais as necessidades seriam atingidas. Uma caneta tem como função-fim permitir uma forma de transmissão de informação através de sinais gráficos e para atingir este objetivo precisa de tinta, corpo e distribuição da tinta para permitir a escrita. Além disto a caneta precisa ter também uma 78 forma adequada à pega pelos dedos e uma interpretação formal que a diferencie de outros objetos. Assim, o desenvolvimento de projeto deve resultar um conjunto de soluções com aspectos formais, construtivos e de produção. Embora, todas as atividades que envolvem o desenvolvimento de projetos possuam características comuns no seu desenvolvimento racional, nem sempre se pode utilizar com bons resultados uma determinada proposta ou modelo de desenvolvimento para aquela situação particular em que se necessita um suporte metodológico. Desta forma, é possível encontrar propostas que se aplicam a diversos campos de atividades de projeto. Christopher Alexander, considerado um dos fundadores da metodologia de projeto, tem desenvolvido métodos sistemáticos aplicados ao planejamento urbano. Christopher Jones publicou uma coletânea de métodos e técnicas de diversas tendências visando difundir sua aplicação de acordo com a estrutura e o âmbito do projeto (JONES, 1970). A sistematização do processo é necessária, entre outros aspectos, pelo grau de complexidade envolvido nos projetos. Ela se torna imprescindível porque esta complexidade dos projetos atuais transcende a capacidade intuitiva dos projetistas (ALEXANDER, 1979). A intervenção metodológica no processo de desenvolvimento de projeto se justifica na medida que permita explicitar a própria estrutura do processo de projeto, estruturar os problemas do projeto claramente, transmitir as informações entre os membros da equipe, otimizar a criação de alternativas de solução do problema, controlar o processo do projeto, estimular a criatividade. A metodologia de projeto baseia-se na hipótese de que no processo de projeto existe uma estrutura comum para o todo e uma abstração do conteúdo particular de cada problema específico logo, os procedimentos de trabalho em cada etapa devem estar explicitados no processo e, para cada procedimento, uma ou várias técnicas com as quais cada procedimento é construído, analisado e avaliado. O desenvolvimento de um projeto deve ser 79 analisado como um processo geral de resolução de problemas, usando-se modelos desenvolvidos em psicologia e teoria da informação aplicada ao comportamento humano, para explicar os processos mentais no desenvolvimento de projetos (BONSIEPE, 1978) O processo de projeto, segundo o método sistemático, pode ser dividido em etapas que possuem características semelhantes aos processos de resolução de problemas de qualquer tipo (ASIMOV, 1962), como explicitado no quadro 09 Quadro 09 - Processo de projeto segundo método sistemático ou de resolução de problemas. FORMULAÇÃO ¬ ANÁLISE ¬ SÍNTESE ¬ GERAÇÃO DE IDÉIAS ¬ AVALIAÇÃO ¬ SELEÇÃO ¬ EXECUÇÃO (Fonte: ASIMOV, 1962) O projeto do edifício industrial, utilizando-se do conceito de que a forma arquitetônica estará condicionada à função do edifício, segue os métodos denominados de sistemáticos. De acordo com o esquema do quadro 08, SILVA(1984) descreve o processo de desenvolvimento do projeto em duas etapas conceituais básicas: o programa e o partido. O programa seria o "... enunciado dos requisitos a serem satisfeitos pela obra a ser construída ..."(p.81). O programa contém todos os requisitos construtivos e as relações materiais e imateriais estabelecidas entre os usuários e o resultado do projeto que irá atender suas necessidades fisiológicas, afetivas, psicológicas, socioculturais, etc.; no que ALEXANDER(1979) denominou de contexto de projeto. São elementos do programa: 1) 80 Características desejáveis do modelo teórico de solução, 2) Requisitos mínimos de habitabilidade da solução, 3) medidas de avaliação do modelo de solução. As características, requisitos e avaliações, segundo os autores citados, se reportam exclusivamente a ambientes como habitação, serviços de saúde, serviço público, exposições, etc., com sumárias referencias a edificações para atividades industriais. Para as edificações industriais, os elementos de avaliação do programa se reportam à: Conforto ambiental (ARGELES, 1991), Flexibilidade (FRIGÉRIO, 1994) e Funcionalidade (TOMPKINS, 1984 e RODRIGUES, 1993). A etapa programática se concretiza através de uma proposta com uma definição dos elementos projetuais e das hipóteses, que são o cumprimento dos requisitos da obra. Esta proposta, se avaliada e validada para execução, materializa o partido arquitetônico: "... partido, na arquitetura, é o nome que se dá à conseqüência formal de uma série de determinantes, tais como o programa do edifício, a conformação topográfica do terreno, a orientação, o sistema estrutural adotado, as condições locais, a verba disponível, as condições das posturas que regulamentam as construções e, principalmente, a intenção plástica do arquiteto...” (CORONA, 1972 apud SILVA, 1984, p.97). 5 A concretização do partido arquitetônico é o desenho da edificação. Dentro do contexto deste trabalho, o partido e o programa serão tratados sob os aspectos de conforto ambiental e no uso dos espaços de trabalho. 5 CORONA, Eduardo & LEMOS, Carlos A. C. Dicionário da Arquitetura Brasileira. São Paulo, 1ªedição, Edart-São Paulo, 1972. Apud: SILVA, Elvan. Uma Introdução ao Projeto Arquitetônico. Porto Alegre.1ª edição. Ed. UFRGS, 1984. 81 2.6.2. Conforto Ambiental Entende-se por conforto ambiental, em arquitetura, uma combinação de aspectos fisiológicos (visuais, higiênicos, acústicos, térmicos), psicológicos (de reconhecimento, adaptação), funcionais (atividades, permanência, convivência) e dimensionais (espaços para as atividades, antropometria), que atuam em conjunto nos espaços artificialmente construídos para uso humano, que momentaneamente transmitem uma ‘sensação’ agradável aos usuários destes espaços (EGAN, 1975 e PUPPO, 1972). Delimita-se o conforto ambiental, neste trabalho, aos aspectos fisiológicos, e dentro destes, às condições térmica, acústica e lumínica do ambiente interno da edificação industrial que, avaliadas por critérios técnicos, encontram-se dentro de parâmetros considerados aceitáveis para o exercício de atividades humanas. Explicando: 1) A condição térmica do ambiente pode ser expressa, principalmente, pelas variáveis: temperaturas(seca, úmida e de radiação), umidade e condições de movimentação do ar (velocidade e direção), tipo de atividade desenvolvida pelas pessoas no ambiente (taxa metabólica) ; 2) A condição acústica, ou mais especificamente a condição de ruído, é expressa pelo nível de pressão sonora do ambiente, pela distribuição(ou percurso) destes níveis no espaço do ambiente e pelas faixas de freqüências sonoras; e 3) A condição lumínica é dada pelo nível de iluminamento dos pontos de trabalho no ambiente estudado. Não há um valor fixo para cada variável que possa ser usado como padrão de conforto para as condições de trabalho(consideradas individualmente ou em conjunto) e a expressão ‘conforto ambiental’, 82 delimitada pelas variáveis acima, é resultado de um conjunto de faixas de valores para as variáveis que explicam cada condição e por variáveis intrínsecas ao organismo humano como: idade, sexo, massa corpórea, atividades físicas, etc. 2.6.2.1. Avaliação das condições térmicas Existem vários métodos de avaliação das condições térmicas, com diferentes conjuntos de variáveis e formas de avaliação. O quadro 10 relaciona os principais métodos e as variáveis que eles consideram. Cada método foi desenvolvido visando aplicações específicas, logo atendem condições específicas. De acordo com as especificações colocadas para cada método, conforme detalhado nas fontes consultadas, e aproveitando a sistematização proposta por GIVONI (1976, p. 99 a 102) é possível classificar estes métodos em relação às condições mais adequadas para sua aplicação. Em relação aos interesses desta pesquisa, nas situações de trabalho industrial (atividade metabólica moderara/pesada), ambiente construído (edificação, sem carga solar), com geração de calor (equipamentos/processos) e nas condições climáticas da região sudeste do Brasil; pode-se agrupar os métodos mais adequados, já que alguns deles foram desenvolvidos para uso em situações bastante diversas das indicadas acima, logo, distantes dos propósitos deste trabalho. Os métodos Temperatura Efetiva, Resultant temperature, Temperatura Efetiva Corrigida, Carta Bioclimática de Olgyay, Índice de Conforto Equatorial e Método de MAHONEY foram desenvolvidos para aplicações habitacionais e situações de atividades sedentárias, com baixo gasto energético. Assim, não são adequadas para aplicações de trabalhos industriais. Os métodos Previsão de produção de Suor em 4 horas e Temperatura Efetiva Padrão, embora considerem a possibilidade de atividade em condições de 83 trabalho moderado ou pesado, as fontes de consulta (GIVONI, 1976 e RORIZ, 1995a) apontam estes métodos como os mais recomendados para situações de trabalho leve ou atividade sedentária. Quadro 10 - Principais métodos de avaliação do conforto térmico ambiental. MÉTODO Temperatura Efetiva – TE (Effetive Temperature - ET) (Resultant Temperature – RT) Previsão da Produção de suor em 4 horas (Predicted 4-hour Sweat Rate – P4SR) Índice de Sobrecarga Térmica – IST (Heat Stress Index – HSI) (Index of Thermal Stress – ITS) Temperatura de bulbo úmido – TBU Carta Bioclimática de Olgyay Temperatura Efetiva Corrigida – TEC Índice de Conforto Equatorial Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo – IBUTG Temperatura Efetiva Padrão – TEP (Standard Efetive Temperature – SET) Método de MAHONEY VARIÁVEIS CONSIDERADAS TBS, TBU, URAr, Var, TBS, TBU, TG, URAr, Var TBS, TG, URAr, Var REFERÊNCIAS GIVONI(1976) FROTA(1995) GIVONI(1976) GIVONI(1976) MESQUITA(1977) TBS, TBU, TG, URAr, Var, gasto GIVONI(1976) energético(atividade) MESQUITA(1977) TBS, TG, Var, URAr, energético (atividade) TBU, Var, Urar, energético(atividade) TBS, URAr, Var TBS, TBU, TG, URAr, Var TBS, TBU, Var TBS, TBU, TG, energético(atividade) TBS, TBU, URAr TBS, TBU, URAr, Var gasto GIVONI(1976) gasto MESQUITA(1977) FROTA(1995) FROTA(1995) FROTA(1995) gasto BRASIL(1997) WELLS(1994) ISO 7243(1989) RORIZ(1995 a) RORIZ(1995a) TBS = Temperatura de Bulbo Seco, TBU = Temperatura de Bulbo Úmido, TG = Temperatura de Globo, URAr = Umidade Relativa do Ar, Var = Velocidade do Ar Dos métodos descritos, restam 4 deles que, segundo as fontes consultadas, são mais adequados para aplicação em situações de trabalho industrial, inclusive por considerarem os valores limites do que consideram como conforto térmico. Destes quatro restantes, o IST e o IBUTG são os que consideram todas as variáveis comumente consideradas no estudo do conforto térmico; logo estes são os que melhor podem representar as variações nas condições térmicas do ambiente e destes, a escolha recai sobre o IBUTG por 84 ser o método mais utilizado nos estudos industriais, seja porque foi padronizado pela ISO, como pelo fato de ser o método estabelecido pela legislação brasileira em relação às condições de insalubridade dos ambientes de trabalho (BRASIL, 1997). IBUTG - Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo - Este método baseia-se em experimentos efetuados pelo NIOSH(National Institute for Occupational Safety and Health) onde são considerados os efeitos combinados de temperatura do ar, pressão de vapor sobre a capacidade evaporativa, da velocidade do ar e do dispêndio de energia, na forma de calorias, na execução de atividades físicas vigorosas, como as atividades de trabalho com máquinas e trabalhos manuais que envolvam manuseio de cargas. Foi desenvolvido através de cálculos teóricos relacionando a ação do ambiente sobre uma pessoa exposta à um ambiente com carga térmica, com o calor produzido pelo metabolismo para vários tipos de atividades e a capacidade de evaporação do ambiente. Foi elaborado com o objetivo de analisar a contribuição relativa dos vários fatores resultantes de sobrecarga térmica e indicar limites para esta sobrecarga. A legislação brasileira aplica este método através de norma de segurança do trabalho – NR 15 (BRASIL, 1997)- utilizando-se de equações matemáticas para composição do IBUTG e considerando o tipo de atividade exercida, da seguinte forma (íntegra no anexo 2): -para ambientes externos, com carga solar, o IBUTG é dado pela equação: IBUTG = 0,7 TBU + 0,1 TBS + 0,2 TG -para ambientes internos, sem carga solar IBUTG = 0,7 TBU + 0,3 TG, onde TBU = temperatura de bulbo úmido; TBS = temperatura de bulbo seco e TG = temperatura de globo. 85 -estabelece uma referência para relacionar o tipo de trabalho com taxas metabólicas através de um quadro de atividades leves, moderadas e pesadas -relaciona o IBUTG obtido, para fins de verificar a sobre carga, com um quadro que considera o tipo de atividade exercida com o regime de trabalho horário(tempo de trabalho x tempo de descanso, para cada hora de jornada de trabalho) -para situações em que exista período de descanso durante a jornada, ou situações de trabalho distintas em relação à carga térmica e em relação ao tipo de atividade durante a jornada de trabalho diária, aplica uma média ponderada das taxas metabólicas horária para as atividades diferentes, com uma média ponderada, também horária, dos IBUTGs dos locais de trabalho; estabelecendo valores máximos limites de IBUTG a média das taxas metabólicas. 2.6.2.2. Avaliação das condições acústicas As condições acústicas de um ambiente devem ser entendidas sob dois aspectos: 1) do controle das características de audibilidade do ambiente e da inteligibilidade da comunicação sonora, visando condições que favoreçam a qualidade dos sons e de ouvir bem; e 2) do isolamento contra sons indesejáveis, evitando prejuízos causados por estes sons indesejáveis(ruídos) no ambiente. O primeiro destes aspectos se refere à ambientes destinados à comunicação sonora como: auditórios, salas de espetáculos, etc. onde a legibilidade dos sons, mormente discursos ou musicas, é essencial para a qualidade dos ambientes que necessitam de algum tipo de comunicação, mesmo que informal, como em habitações e recintos de lazer. O segundo aspecto do ruído ambiental é característico de locais públicos e locais de trabalho, onde os sons não são gerados direta e exclusivamente como fim de 86 comunicação ou lazer. São resultados da cinética de diversos elementos presentes no ambiente que para exercerem suas funções emitem sons aleatórios, sem representação simbólica relacionada às funções principais destes elementos. A obtenção de valores precisos do ruído em ambientes industriais é uma tarefa quase impossível, pois a oscilação dos níveis de pressão sonora é contínua e extremamente discrepante em função das características e diversidade de fontes geradoras de ruído e da distribuição espacial aleatória destas fontes dentro do ambiente. A tabela 01 mostra um conjunto de exemplos de fontes e a diversidade de fatores de estudo de acústica. Tabela 01 - Fontes geradoras de ruído industrial e as características principais dos tipos de ruído. Tipo de Ruído Formas de Geração do Ruído Industrial Causas Mecânicas (Impacto) Causas Mecânicas (Fricção) Causas Pneumáticas Explosões e Implosões Causas Hidráulicas Causas Magnéticas CONTÍNUO ----- INTERMITENTE Características Predominantes IMPACTO Corte de chapas, Desempeno prensas, de chapas, estampagem. marteletes, prensas pesadas Teares, punções Guilhotinas Serras, tornos, retíficas Jatos de ar, ar Escape de gás por comprimido, válvulas ----turbinas ----Motores à explosão Moldagem interna por explosão Jateamento Bombas hidráulicas Válvulas de água Geradores, Guindaste motores ----magnético elétricos Níveis de Pressão Sonora dB(A) Faixas de Freqüências Hz 95 – 105 1000 – 2000 85 – 100 1000 – 3000 90-105 3000 – 5000 100 – 120 500 – 1000 80 – 90 300 – 500 80 – 100 500 – 2000 (Fonte: CAMAROTTO, 1983) 87 No estudo do ruído industrial, dentro da acústica arquitetônica, ou seja, do controle dos sons indesejáveis, comumente se trabalha no projeto de redução dos níveis de ruído do ambiente através de (REID, 1980; JOSSE, 1975; CAMAROTTO, 1983 e ALLEN, 1995): -Uso de materiais absorventes e isoladores de ruído na composição da estrutura da edificação -Separação de atividades ruidosas, visando uniformizar os níveis de ruído, no programa arquitetônico e especificado no projeto executivo da obra. -Distanciamento entre as fontes ruidosas e áreas de trabalho, visando o amortecimento do ruído pela distância, na fase de detalhamento do projeto executivo. Na fase de operação da unidade industrial, as formas de controlar o ruído, do ponto de vista do ambiente, são: -Isolamento das fontes de ruído por enclausuramento dos componentes ruidosos -Tratamento acústico das paredes e divisórias para absorver e/ou refletir o ruído -Criação de locais com baixos níveis de ruído para descanso dos usuários destes ambientes. Além destas medidas, na área de segurança, pode-se adotar os protetores auriculares como equipamentos de proteção individual e, em engenharia de processos, a manutenção ou substituição de máquinas e equipamentos ruidosos. As técnicas para medição e avaliação do ruído industrial mais utilizadas estão apresentadas no quadro 11. 88 Em função dos objetivos da pesquisa, os métodos utilizados para a aferição dos níveis de ruído nas instalações estudadas e sua distribuição espacial, foram o método de malha para a verificação da distribuição espacial, ou concentração do ruído e o método do posto de trabalho para avaliar a insalubridade dos ambientes. Método da malha -divide-se cada ambiente de trabalho, delimitado por paredes, em seções de áreas de, aproximadamente, 4 m2 (2 x 2 metros) e toma-se o nível de ruído nestes pontos. Em situações em que cada ambiente for muito grande(mais de 500 m2 ) ou os equipamentos forem de grandes dimensões(dificultando medições a cada 4 m2 ) ou com poucos postos de trabalho(ou muito distantes um do outro); deve-se reavaliar a área da malha para 9 ou 16 m2 . -toma-se os valores de ruído: a)em cada vértice da malha traçada, b) a cada 2 metros(ou 3 ou 4 conforme as ressalvas acima) de distância ao longo da parte central dos principais corredores(de passagem de pessoas) e c) à 1 metro de distância das paredes, percorrendo toda extensão do ambiente delimitado, com medições a cada 2 metros. -Os valores encontrados devem ser compensados nas variações utilizando-se: a) um dosímetro(medidor de ruído equivalente), ou b) realizando várias medidas ao longo dos períodos de observação(recomenda-se mínimo de 10 medições por jornada diária e mínimo de 3 jornadas), ou ainda c) relativizar os valores, através de média ponderada utilizando-se tabelas de limites de tolerâncias ou de índices de exposição parcial (B&K, 1992, BRASIL, 1997). -Plotar os valores de ruído encontrados e, se necessário, traçar curvas isossonicas utilizando-se as equações de amortecimento de ruído pela distância e composição de tabelas de ruído de fundo (B&K, 1992 e CAMAROTTO, 1990) 89 Método do posto de trabalho -Método adotado pelo Ministério do Trabalho para avaliação de condições de insalubridade de ambientes de trabalho – Norma Regulamentadora n° 15. (ver íntegra no anexo 02). -As medições de ruído devem ser efetuadas no local, ou locais, onde o trabalhador executa suas tarefas e próximo ao seu ouvido com a finalidade de aproximar os níveis medidos com os percebidos pelo trabalhador. -As medições para ruídos contínuos ou intermitentes devem ser feitas em decibéis, com circuito de compensação ‘A’ – dB(A) e os ruídos de impacto na escala dB(C) ou linear. -Para avaliação do ruído contínuo ou intermitente é apresentada uma tabela de correspondência entre o nível de ruído e o tempo máximo permitido para exposição àquele nível. Considera-se que fora dos limites da tabela, ou seja para um tempo de exposição maior que o máximo estipulado para aquele nível, a condição de trabalho é insalubre em relação ao ruído. Esta tabela tem como limite inferior o valor de 85 dB(A) para 8 horas de exposição e limite superior de 115 dB(A) para 7 minutos de exposição diária. -Para ruídos de impacto esta norma estabelece um valor máximo permitido de 130 dB(linear) ou 120 dB(C), independente do tempo de exposição. -Para situações de ruído contínuo em que os níveis são variados, é estabelecida uma equação para a determinação do ruído equivalente através de uma média ponderada entre os tempos expostos a cada nível de ruído e os tempos máximos permitidos para cada nível exposto. 90 Quadro 11 - Principais métodos de medição e avaliação do ruído ambiental. NOME Ruído Equivalente PRINCIPAIS APLICAÇÕES VARIÁVEIS ESTUDADAS Mapeamento externo -média de exposição ao ruído NPS em dB(A) -locais com diversas fontes -para ruídos contínuos ruídos acima de 80 dB -Ruídos com duração maior que 10 min. -Estudo de interferência nas comunicações NPS em dB(linear) -Projeto de revestimento de paredes -Estudo de materiais isolantes -Estudo da redução da emissão acústica para o NPS em dB(linear) exterior da edificação Método da malha -Projeto de enclausuramento de máquinas Distribuição espacial do ruído Método da fontes de ruído ou método do ruído de fundo Método do posto de trabalho Método do ruído em áreas habitadas -Contribuição do ruído de cada máquina no DB(linear) ruído total do ambiente -Distribuição espacial do ruído Mapeamento interno DB(A) ou dB(linear) -Nível de exposição ao ruído -Determinação de limites de tolerância DB(A) e dB(linear) -Ruído urbano -Ruído de tráfego DB(linear) dB(C) FONTES B&K(1992) ABNT – MB 268, CAMAROTTO (1983) ABNT – MB 268, CAMAROTTO (1983) CAMAROTTO (1983), BERANEK(1971), B&K(1992) CAMAROTTO (1983), B&K(1992) ou BRASIL(1997), CAMAROTTO (1983) ABNT – NBR 10151e 10152 NPS = Nível de Pressão Sonora 2.6.2.3. Avaliação das condições de iluminamento O conforto visual depende do maior ou menor esforço do sistema da visão para a percepção e reconhecimento dos objetos visados e da eficiência visual na percepção destes objetos. O esforço visual está diretamente relacionado com a iluminância do ambiente. A eficiência visual, além da iluminância, depende: a) do contraste entre o objeto e o fundo, que é caracterizado pela diferença de iluminação entre o campo do objeto visado e o restante do ambiente; b) do brilho do objeto, que está relacionado com a reflexão da superfície do objeto; e c) da relação entre a distância e as dimensões do objeto (REID, 1980 e RORIZ, 1995b). Em projetos e operações de edificações destinadas à produção industrial, tanto o esforço como a 91 eficiência visuais são determinantes da eficácia dos usuários destes ambientes, tanto em termos da qualidade do trabalho executado como de sua saúde. Os principais métodos de avaliação do conforto visual aplicados à situações de trabalho em fábricas encontrados na bibliografia consultada, com destaque para FISCHER(1976), KAUFMAN(1972), NBR 5382(ABNT,1990) e NBR 5413(ABNT, 1992), apontam como critério básico o nível de iluminamento do ambiente, cujo cálculo e verificação podem ser sumariados nos seguintes procedimentos: -A iluminância de um posto de trabalho deve ser medida sobre o plano principal de trabalho com o ponto de leitura do equipamento posicionado perpendicularmente à principal direção do fluxo luminoso ou, quando o plano de trabalho for de difícil determinação, a medida deve ser feita sobre um plano horizontal imaginário a 0,75 metros do piso (ABNT, NBR 5382 e 5413, FISCHER, 1976) -A iluminância do restante do ambiente não deve ser menor que 1/10 da adotada para o campo de trabalho e a iluminância mínima em qualquer ponto do campo de trabalho não deve ser menor que 70% que a iluminância média medida (NBR 5413 e 5382). -A iluminância média é calculada através de equação matemática que considera o fluxo luminoso total das lâmpadas, da área total do plano de trabalho, do percentual de refletância do teto e das paredes, do tipo de luminária e do fator de manutenção e conservação do sistema de iluminação e do ambiente (FISCHER, 1976). A iluminância do ambiente pode ser medida também por um luxímetro adequado às escalas consideradas. -Os valores de iluminância de um ambiente devem ser comparados com tabelas padronizadas que consideram: a iluminação geral ou adicional para as tarefas visuais, os tipos de tarefas visuais, a faixa de idade do 92 observador, a velocidade ou precisão da visualização e a refletância do fundo da tarefa (ABNT, NBR 5413). Assim, para a análise do conforto dos usuários, os métodos quantitativos de avaliação, mesmo que tomados isoladamente para cada agente ambiental; fornecem parâmetros que permitem comparar ambientes diferentes, ou como nos casos estudados, ambientes alterados por mudança na organização espacial. Embora os métodos consagrados de avaliação das variáveis ambientais que interferem na fisiologia humana não indiquem valores fixos do conforto ambiental; alguns sistemas de avaliação, particularmente na segurança do trabalho, se preocupam em estipular limites de tolerância para as variáveis. Limites estes que expressam o grau de desconforto em relação às variáveis ou, como é comumente estabelecido, expressam graus de insalubridade do ambiente em relação às variáveis. 93 3. GESTÃO DA PRODUÇÃO, ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E LAYOUT. Este capítulo faz uma descrição das formas históricas recentes de organização do trabalho e de gestão da produção, relacionando-as com o desenvolvimento de formas do layout industrial. O objetivo central é mostrar que as mudanças de gestão da produção e organização do trabalho implicam na construção de modelos de layouts, cujos padrões, em termos de espaço, distribuição do trabalho, fluxos de materiais e estoques, são substancialmente diferentes dos modelos clássicos apresentados no capítulo 2 e, também, mostrar as incompatibilidades entre os novos layouts e a concepção tradicional da edificação. Trabalhos, de autores citados abaixo, que estudaram as relações industriais e de mercado, têm enfatizado as mudanças de paradigma nas estruturas industriais. Dentre as mudanças estruturais que têm relações com as mudanças internas às unidades industriais como no layout, nos estoques e nos fluxos, que se relacionam diretamente com a edificação, destacam-se: -Integração da cadeia de fornecedores/clientes/fabricantes, caracterizado pela produção enxuta (WOOMACK e JONES, 1998), que modifica substancialmente o layout para a estrutura de layout modular; -Montagem de produtos em sistema de docas(dock-assembly) que muda o layout em linha para layout em pequenas ilhas e auto grau de 94 automação nos sistemas de transferência de materiais (FERREIRA et alli, 1991); -Mudanças na organização do trabalho, mesmo mantendo as relações de trabalho no sistema Fordista, que alteram a estrutura física dos layouts nas industrias automobilísticas, com reduções de estoques, automação e linhas dedicadas (SILVA, 1991 e CARVALHO, 1990). -Produção para pronta entrega, ou venda programada no lugar da produção para estoque e minimização de estoques, características do sistema JIT/KANBAN, que utiliza layout em células e extingue áreas de estoques dentro da fábrica (HUGE, 1993). -Mudanças no projeto de produtos existentes, a eliminação de linha de produtos e a introdução de novos produtos, em decorrência de mudanças rápidas de mercados para produtos eletroeletrônicos de consumo, que alteram as linhas de produção, rearranjam plantas inteiras ou até exigem novas plantas, menores e mais flexíveis (KHAN e GWEE, 1997). -Tecnologias de microinformática e miniaturização de componentes de equipamentos têm diminuído o espaço necessário para a produção, implicando em realocações de áreas produtivas (BINIEWICZ, 1993). -Empresas do setor automotivo têm revisto suas estratégias de produção e adotado modelos de produção com descentralização de plantas, terceirizando parte de sua produção e concentrando sua fabricação em módulos de produtos com conteúdo tecnológico (VANALLE, 1995), que implica em alterações de layout em linha para layouts dedicados por partes de produtos. 95 -Mudanças na seqüência de processamento dos produtos existentes e mudanças de equipamentos em função de alterações tecnológicas acompanhadas de mudanças de gestão da produção como células e layout em grupo (TOMPKINS, 1984). -Mudanças nas quantidades produzidas associadas com mudanças nas prioridades de produção, resultando em mudanças de capacidades de equipamentos e rearranjo de fluxos (TOMPKINS, 1984). -Mudanças na estrutura organizacional e no gerenciamento da produção passando de controle centralizado para descentralizado, trabalho em grupo e com maior autonomia nas tarefas (SCHOMBERGER, 1996). Este elenco de mudanças, provocado pelas estratégias adotadas pelas empresas, vai refletir também nas condições e na organização do trabalho dos ambientes que sofreram alterações no fluxo de materiais e no layout, pela incorporação de mudanças técnicas, como as citadas acima. Alguns estudos nas áreas da sociologia do trabalho, impactos tecnológicos e ergonomia têm apontado mudanças na estrutura e composição do trabalho humano nas empresas que passaram por mudanças de gestão de produção, com reflexos nas condições ambientais de trabalho. CARVALHO(1987), em seus estudos sobre automação do processo de trabalho da indústria automobilística no Brasil, comenta que a flexibilização da produção resultante da incorporação de elementos de automação, torna esta produção "mais densa e compacta" (p. 83), com diminuição dos espaços de trabalho. Esta constatação diz respeito ao setor de montagem em indústrias automobilísticas, pela introdução de robôs, esteiras comandadas por computador e células de montagem de chassis. Os Anais do simpósio promovido pela Secretaria Especial de Informática (SEI, 1984), já reforçavam algumas tendências no sentido da 96 mudança da estrutura dos espaços de trabalho, através das conclusões dos debates: a) Mudança no perfil da qualificação do trabalhador no sentido de torná-lo menos qualificado, b) Alterações no processo de trabalho, modificando o conteúdo e a importância hierárquica de tipos diferentes de funções, e c) Concentração da produção e diminuição do espaço útil total para a fabricação. Estas evidências apontam para a necessidade do estudo, pelo menos, dos fatores considerados na pesquisa, relacionando as mudanças de gestão da produção e do trabalho com os rearranjos das instalações realizados para comportar estas mudanças. 3.1. Formas tradicionais de gestão da produção e organização do trabalho: relações com a edificação industrial. Segundo NOBLE (1979), a fase da difusão social da engenharia nos EUA começou nas fábricas de máquinas-ferramenta, setor metal-mecânico, nos últimos anos do século 19, na forma de gerenciamento científico ou Taylorismo. A contribuição mais significativa do movimento de gerenciamento científico foi assegurar à gerência o controle sobre o processo de produção e uma sistemática de configuração para a reorganização do trabalho. A partir do setor metal-mecânico, os princípios de gerenciamento científico foram implantados nos EUA, no início deste século, nos demais setores industriais como o elétrico, químico e têxtil. Após sua difusão como método de controle do trabalho nas fábricas, seus princípios também foram aplicados nas áreas de finanças, administração e serviços públicos. De forma incisiva, NOBLE(1979) considera que o projeto sistemático do trabalho e uma administração eficiente dentro do modelo da 97 administração científica, são as bases da fundação da empresa capitalista moderna. A obtenção do conhecimento, pela gerência, dos processos de trabalho nas fábricas era motivada pela necessidade de aumentar a capacidade de produção em função da demanda gerada pela expansão do comércio internacional, de racionalização da produção, em função da concorrência com países europeus, e pelo baixo retorno de capital das empresas americanas, já que as corporações de trabalho, representadas pelos artesãos dos ofícios tradicionais, impunham seus ritmos e formas de trabalho (BRAVERMAN, 1981). Este movimento começou dentro da ASME (American Society of Mechanical Engineering) e foi posteriormente sistematizado por F. W. Taylor, com as seguintes diretrizes: (1) acumulação pela gerência de todas informações de produção relativas à processos, máquinas e pessoal, através de pesquisas e registros adequados; (2) a sistematização destas informações em regras e formulações compreensivas e facilmente aplicáveis; (3) a determinação científica de padrões de desempenho ótimos de máquinas e trabalhadores; (4) a transferência destes padrões ótimos como referencia para a reorganização dos processos de trabalho na fábrica; e (5) conseguir a cooperação da mão-de-obra através do desenvolvimento de trabalhadores satisfeitos (NOBLE, 1979, p. 267). “... A OCT (Organização Científica do Trabalho) estabeleceu rigidamente cada uma das tarefas dos operários, seguindo três princípios básicos: deslocar o trabalho das especialidades para tornálas autônomas dos ofícios e permitir assim a realização rápida de atividades; separar a concepção da realização de tarefas formalizando “cientificamente” esta ruptura; concentrar todos os conhecimentos nas mãos da gerência...” (KATZ, 1995, p. 15) 98 As expressões do sistema Taylorista de organização do trabalho são evidenciadas fisicamente na estrutura da fábrica através do parcelamento das atividades produtivas, com a especialização de tarefas, utilizando-se de sistemas de cronometragem e do desenvolvimento de máquinas e dispositivos técnicos de base elétrica e eletro-mecânica. Estas transformações tecnológicas permitiram o surgimento das linhas(ou cadeias) de montagem/produção. No layout fica evidente a concepção de postos de trabalho especializados, com a menor quantidade de tarefas possível, de modo a manter balanceada a produção (TAYLOR, 1971). Após a difusão por quase todos os setores produtivos norteamericanos, do modo de organização do trabalho proposto por Taylor, o modelo da OCT foi estendido como um modelo internacional do ocidente e partes do oriente e Ásia. “... A linha de produção e a superfragmentação do trabalho foram assimiladas por todas as economias capitalistas, demonstrando que o Taylorismo tem sólido componente universal ...” (KATZ, 1995, p. 20). Na Europa, o modelo chegou logo após a 2ª. guerra no plano de reconstrução dos parques industriais da França, Inglaterra, Itália e Alemanha (MUNCE, 1960, caps. 3, 4 e 5). Em essência, o que o modelo Taylorista condiciona no resultado do processo de projeto de edificações industriais pode ser melhor compreendido no método de projeto descrito por NELSON(1938) e na explicação de REID(1950), citados no item 2.2, p. 41. Como resultante dos conceitos Tayloristas aplicados ao layout, os postos de trabalho são distribuídos seguindo uma seqüência rígida de operações com quantidades de trabalho claramente especificadas, o que implica em dimensões precisas para máquinas, materiais e operadores. Para a construção do layout, os espaços são precisamente definidos para cada posto de trabalho. O dimensionamento e posterior construção de cada posto de trabalho, na concepção racional do trabalho de Taylor, pode seguir modelos 99 lineares de adição de áreas funcionais, como o método do centro de produção proposto por Ireson em 1952 (MOORE, 1962) e detalhado em RODRIGUES (1993). Este método construtivo do posto de trabalho detalha a ocupação de área de cada elemento contribuinte para a produção no posto (equipamento, matéria-prima, partes processadas, operador, manutenção, ferramentas, serviços, etc.) e compõe estas áreas no layout final do posto. Como todo o trabalho é prescrito, ou seja, é previamente determinado, incluindo as taxas de consumo de materiais, velocidades, quantidade produzida; a área final do posto é precisa e com forma definida, o que permite modularizar mais facilmente o layout da fábrica. Ainda, pela fragmentação do trabalho em postos com poucas operações, os equipamentos se tornam também mais especializados. Este fato leva à alocação de postos de trabalho semelhantes e repetidos na fábrica. O layout final é uma repetição de áreas semelhantes em seções especializadas. No mesmo período de desenvolvimento do Taylorismo, Henry Ford implantou sua fábrica de automóveis em Detroit, utilizando-se dos conceitos da OCT, porém, com a introdução de inovações no sistema de gestão da produção e na organização espacial do trabalho, denominadas de linhas de produção ou produção em massa. No Fordismo, o sistema de trabalho incorpora as noções de tempos e movimentos, com prescrição rígida do trabalho, fragmentação de tarefas e coloca todos estes conceitos como requisitos de projeto das instalações industriais de suas fábricas (NELSON, 1938). Pode-se compreender as bases do sistema de trabalho das fábricas de Ford através de seus pressupostos: “... Os nossos princípios de montagem são: 100 1°.) Operários e ferramentas devem ser dispostos na ordem natural da operação de modo que cada componente tenha a menor distância possível a percorrer da primeira à última fase. 2°.) Deve-se empregar, sempre que possível, planos inclinados ou dispositivos de modo que o operário sempre coloque no mesmo lugar a peça que terminou de trabalhar, estando a peça sempre à mão do operário seguinte, por seu próprio peso ou inércia de movimento. 3°.) Usar sempre uma rede de esteiras através das quais as peças a serem trabalhadas estejam sempre distribuídas a distâncias uniformes e convenientes. O resultado são economias de pensamento e de movimentos do operário que, sempre que possível, deve fazer sempre uma só operação com um só movimento...” (FORD, 1954, p. 18 a 32, e HELOANI, 1994, p. 45). A estrutura Fordista de trabalho, tomando-se apenas os aspectos internos às unidades industriais, já que a filosofia de Henry Ford é extensiva aos padrões de comportamento da própria sociedade(ver FORD,1954, introdução e parte 1; CORIAT, 1994 e BOYER, 1990) pode ser entendida como uma aplicação dos conceitos racionalistas do trabalho propostos por Taylor e como a visão de evolução tecnológica que reinava na ASME desde o início do século até os anos 30 (NOBLE, 1979) com: -fragmentação das tarefas nos postos de trabalho das fábricas de automóveis, incorporando todas as fases de produção dos automóveis (do chassi ao acabamento), com baixa taxa de terceirização, e integrando-as em um ou poucos edifícios, cuja orientação de projeto era o fluxo de montagem do automóvel, conforme relata REID(1950) e mostrado na figura 12, p. 39. 101 -separação entre a execução e o projeto do trabalho/produto com especialização de tarefas e mecanização de equipamentos, também altamente especializados, transformando as unidades de produção em seqüências de postos de trabalho idênticos, com trabalhos individualizados e uma preocupação de alocar a maior quantidade possível de trabalho para cada máquina, necessitando portanto de grandes estoques reguladores de linhas de produção e o fornecimento de condições adequadas para o funcionamento dos equipamentos, com iluminação distribuída longitudinalmente às linhas de produção (PEVSNER, 1980). É preciso estabelecer os limites da adoção do modelo Fordista/Taylorista de produção e contextualizá-lo na estrutura industrial do ocidente. Nem todos os setores produtivos seguiram os padrões de trabalho como colocado acima. Os setores de serviços, a construção civil e as indústrias de processamento contínuo são alguns exemplos de indústrias onde o sistema Fordista/Taylorista, no que se refere à organização do trabalho e gestão da produção internas à fábrica, não foi aplicado integralmente (FERREIRA et alli, 1991). Conforme já desenvolvido no item 2.2, é possível estabelecer uma relação direta entre o desenvolvimento da OCT no ocidente com a história dos edifícios industriais na primeira metade deste século. As grandes fábricas projetadas neste período sofreram, sobremaneira, a influência deste pensamento do modo de produção capitalista sob os conceitos Fordista/Taylorista. Este sistema, entretanto, sofreu desde o início de sua disseminação nos EUA uma contradição intrínseca ao próprio modelo: “... buscou reduzir ao mero gasto fisiológico uma atividade como o trabalho, que por sua natureza humana e consciente, resiste à degradação...” (KATZ, 1995, p. 23). 102 Em decorrência de traumas da 2ª guerra verificou-se, nos anos 50, uma emergência de construções fechadas, sem aberturas de janelas ou áreas envidraçadas; o que transformou o visual destas fábricas na chamada “fábrica prisão”, não só pelo trabalho desumanizado, mas, também, por sua forma cúbica e fechada (figura 28). (Fonte: PEVSNER, 1980, p. 348) Figura 28 - Modelo de fábrica após a 2ª guerra, sem aberturas e forma cúbica. 3.2. Novas formas de Gestão da Produção As novas formas de gestão da produção parecem seguir dois princípios básicos: 1) recomposição do trabalho fragmentado com adoção maior quantidade de funções por posto de trabalho, incluindo o compartilhamento de tarefas entre operadores do mesmo posto de trabalho; e 2) otimização dos fatores de produção diretamente relacionados ao layout (materiais, pessoal e equipamentos), através do reestudo dos produtos e processos, visando um aumento da flexibilidade desses fatores de produção, com a dedicação de áreas produtivas e de equipamentos para partes de produtos, com o princípio de semelhança de processos de processamento. 103 Just-in-Time e Kanban - (JIT/KANBAN) Tradicionalmente, a maioria das indústrias de produtos padronizados, seja de fabricação em série ou por encomendas, produziam em função da formação de estoques, utilizando-se de previsões de vendas de médio e longo prazos. Uma razão desta estratégia tradicional era a impossibilidade, em função dos tempos de produção serem longos, de prestar um serviço conveniente aos clientes, como prazos curtos. Outra razão, era a existência de picos e de depressões de demanda, nem sempre compatíveis com a capacidade de produção. A existência de picos e depressões de demanda constitui um dos maiores problemas para a estrutura dos custos industriais, relacionados à estoques, nos últimos 20 anos da indústria de produtos repetidos na Europa e América do Norte (HARMON, 1991). A maioria das empresas contornava o problema produzindo lotes desnecessariamente grandes, acarretando em grandes níveis de estoques de matérias-primas e de produtos acabados, além dos estoques intermediários de peças semi-processadas, com implicações no sistema de controle de materiais e de fluxo. Esta estratégia de produção, baseada na escassez, encontra grandes problemas operacionais, principalmente quando os picos superam a capacidade de produção. As soluções tradicionais encontradas para resolver esta dualidade do sistema compreendiam: 1. trabalhar com variação do volume de produção, dentro de um intervalo limitado, sem alterar o efetivo de mão-de-obra direta. Implicava em trabalhar menos em alguns períodos e mais rápido em outros. 2. realizar remanejamento de trabalhadores, entre seções, de forma a suprir gargalos de produtos e postos em função de demandas diferenciadas. Implicava em manter funções simples para cada posto e treinamentos em múltiplas funções. Só era possível em situações de vários produtos com picos de demandas não coincidentes entre si, 104 tecnologias semelhantes para produtos/processos e baixo grau de automação. 3. aumentar quantidade de horas-extras. Implicava em aumento de custos, acidentes por fadiga e ausenteísmo. A partir dessas considerações, uma das propostas gerenciais que mais ganhou notoriedade, nos anos 80, foi a aplicação dos conceitos do sistema japonês de produção e suas variadas técnicas, entre elas, o JIT/KANBAN. Este sistema, criado no Japão a partir de experiências da empresa TOYOTA na década de 70, teve como fundamento básico: ".... manter um fluxo contínuo dos produtos que estão sendo manufaturados, a fim de obter flexibilidade às alterações de demanda. A realização de tal fluxo de produção é denominado de produção no momento exato, e significa, produzir somente os itens necessários na quantidade necessária e no tempo necessário....". (MONDEN, 1984, p. vii). Segundo este autor, para alcançar do JIT/KANBAN são necessárias algumas restruturações nos conceitos e técnicas de organização do processo de produção, como por exemplo: ".... o layout de máquinas deve ser rearranjado para o fluxo de produção nivelada. Portanto, cada operário deve operar 3 tipos de máquinas... Em outras palavras, o operário de uma única função tornou-se, agora, um operário de funções múltiplas... ...Inventários desnecessários entre cada processo podem ser eliminados.. ...O conceito de operário de múltiplos processos pode diminuir o número de operários necessários e aumentar a produtividade..." . (p. 5). 105 Trata-se, basicamente, da produção de produtos a partir de ciclos curtos de demandas, em contraposição dos ciclos longos utilizados anteriormente, para um ambiente de produção em pequenos lotes e grande variedade de produtos finais, porém com similaridades funcionais e de projeto (CORIAT, 1994). Neste sistema os produtos, ou suas partes, são produzidos de acordo com necessidades de entrega e em quantidades suficientes para atender demandas específicas de clientes no curto prazo, mantendo os estoques em níveis mínimos. O Kanban é a técnica utilizada para facilitar a comunicação entre as seções e postos de trabalho, no sentido da obtenção da produção 'Just-inTime'. Trata-se de um sistema operacional de informações visuais, representadas por cores diferentes através de cartões, sobre as necessidades de produção de cada item de produção e colocados próximos aos postos de trabalho que irão processar os itens solicitados. O nome Kanban, vem do termo japonês para a palavra cartão. Sinteticamente, e de maneira simplificada, o sistema funciona da seguinte forma: 1. quando um produto (ou um lote, ou várias quantidades de um mesmo produto para clientes diferentes) é solicitado, a expedição da fábrica solicita o produto para o setor de montagem final/embalagem; 2. o setor de montagem solicita cada peça necessária para a montagem do produto, para cada seção ou posto de trabalho que faz o acabamento daquela peça; 3. cada posto de trabalho/seção que processa a peça solicita ao posto anterior, até que o primeiro posto requisita o material necessário ao almoxarifado, que por sua vez requisita a matéria-prima ao fornecedor externo. Geralmente, este sistema funciona em conjunto com outro sistema de distribuição de necessidades de materiais denominado MRP (Material 106 Requirement Planning), um sistema de controle de produção informatizado que desdobra cada produto em materiais necessários para sua produção, com as quantidades necessárias em cada fase do processo de transformação, faz o balanceamento dos tempos de processamento, verifica o estoque disponível para cada material necessário e informa as necessidades de solicitações de materiais adicionais para cumprir o pedido do cliente. O sistema MRP é chamado de sistema PUSH da produção e o Kanban é chamado de PULL, em função das características de seus sistemas de informação (WOMACK et alii, 1992). O sistema JIT/KANBAN envolve aspectos da estrutura produto versus processo versus variedade, aplicando-se melhor em situações onde são produzidos produtos padronizados, em larga escala, com alterações de modelos e de demandas no curto prazo. Neste contexto, as ferramentas mais difundidas do sistema são os processos de troca rápida de ferramentas, processos baseados em similaridade de ferramentas para diminuir o tempo de preparação de máquinas, uso de equipamentos multifunções e layout dedicado por partes de produtos. Os princípios deste sistema são: 1°) Princípio da eliminação de perdas: máquinas em excesso, layout ineficiente, sobras de material, retrabalhos, refugos; 2°) Princípio do supermercado: o processo seguinte (P2) retira a quantidade exata de material (que ele vai processar) no estoque processado (supermercado) do processo anterior (P1), no momento em que for utilizar o material, e o processo anterior (P1) processa somente a quantidade que estiver faltando para o processo seguinte (P2); 3°) Princípio do momento exato: deve-se produzir a quantidade necessária solicitada pelo processo seguinte (P2), no menor tempo necessário com a qualidade básica solicitada pelo processo P2, colocando a produção sempre no local previamente determinado no sitiam (supermercado); 107 4°) Princípio da qualidade total: peças defeituosa devem ser retiradas do lote e, se necessário, interromper o processo para correção do problema; 5°) Princípio do sistema único de movimentação (unitizador): sistema unitizado (ou caixas p/ transporte) padronizado contendo sempre a mesma quantidade especificada pelo sistema Kanban, ou seja pela instrução de lote no cartão identificador; 6°) Princípio da flexibilidade: trocas rápidas de ferramentas, células de produção, máquinas multifunção, etc., para atender variações de demandas e de produtos. Estas estratégias tinham em comum, no início de sua difusão no Japão, a necessidade de criar um setor industrial automotivo que pudesse competir com a industria automobilística americana baseada no modelo Fordista/Taylorista de produção, que tinha na economia de escala e no trabalho parcelado suas bases de sustentação. Pela fragilidade da estrutura econômica do Japão nos anos 50, conforme relata CORIAT(1994), o desenvolvimento de modelos alternativos de gestão da produção resultou em substanciais ganhos de produtividade e puderam competir no mercado internacional a partir da década de 70. Estes modelos se baseavam, como já acentuado, na produção em séries pequenas de produtos diferenciados e variados e com baixos custos. Uma primeira medida adotada foi a fabricação ‘Just-in-time’, ou seja, produção no exato momento em for necessário o produto fabricado, implicando na ausência de estoques. Esta eliminação ou redução dos estoques implicava na redução de pessoas que cuidam dos estoques e dos equipamentos que manuseiam estes estoques. A conseqüência da produção Just-in-Time então, foi a redução de pessoal e de equipamentos que cuidavam dos almoxarifados da empresa, cuja forma encontrada para materializar este controle foi o Kanban. 108 A Segunda medida de impacto na direção da modernização foi a noção de flexibilização na produção. Esta flexibilidade era dirigida para o uso de equipamentos multifunções e operadores operando várias máquinas simultaneamente. Estas diretrizes eram, em essência, adotadas como forma de concretizar a situação anterior, de extinção dos estoques, já que uma parte substancial destes estoques era formada por peças semi-processadas (estoques em processo) que, por serem inspecionadas por amostragem, necessitavam constantemente de novas inspeções de qualidade e de retrabalhos para serem montadas nos produtos finais. Assim, tornar os operadores em multifuncionais foi uma forma de passar-lhes a responsabilidade pela qualidade das peças produzidas, eliminando-se inspeções rotineiras e, portanto, eliminando atividades e pessoas ressonáveis pelo controle de qualidade, substituindo-os por ‘gerentes de qualidade’, incorporando estas funções na supervisão de fábrica. A terceira inovação gerencial foi a mudança de enfoque de gestão de pessoal, substituindo a forma mais usual que era o controle pela quantidade total produzida e pelos níveis de estoques em processo, pelo controle de trabalho da produção individual, através dos cartões Kanban. Embora que, no sistema Fordista/Taylorista o trabalho fosse fragmentado e individualizado, o controle da produção não se dava individualmente sobre cada operador, ma sim sobre a produção da linha ou da seção, já que os estoques intermediários, pelo sistema de estoques de reserva, só podiam ser efetivamente controlados por grupo de postos de trabalho semelhantes. Cada posto individualmente não poderia ser responsabilizado pela produção, pois esta, sendo em cadeia, o trabalho de cada posto (em termos de quantidades e de qualidade) dependia dos postos anteriores e posteriores. Já, pelo sistema de controle através do cartão Kanban, a produção de cada posto (ampliado para mais de uma máquina e/ou funções), incorporando a qualidade das peças produzidas, podia ser controlada individualmente: “... o operador, neste novo sistema, Kanban, pode a qualquer momento parar a produção por falha na qualidade das peças 109 que recebeu e, todos juntos na seção, resolver o problema ...” (MONDEN, 1984, p. 21). O layout utilizado, nas empresas que adotam este sistema de gestão da produção, diferencia-se dos layouts tradicionais vistos no item 2.5., por processo ou funcional. Neste novo sistema, as máquinas são agrupadas de acordo com o roteiro de produção dos produtos, formando células dotadas de equipamentos necessários para processar completamente um tipo de produto, ou um de seus componentes principais. Os conceitos do JIT/KANBAN, isoladamente, não modificam significativamente a estrutura do layout, porém experiências práticas têm mostrado que, pela simplificação ou eliminação dos estoques intermediários, pela necessidade de trocas rápidas de ferramentas e pela multifuncionalidade dos equipamentos e operadores; o layout final é modificado para uma estrutura celular. O processo de formação de células associa-se à técnica denominada de Tecnologia de Grupo(TG). Tecnologia de grupo – TG A Tecnologia de Grupo, que sugere e incorpora a adoção de célula de manufatura, pode ser assim definida: "....é uma técnica que identifica e explora as similaridades de projeto e de processos de fabricação dos componentes produzidos por uma empresa. ...A idéia principal da Tecnologia de Grupo é o agrupamento de componentes de acordo com similaridades geométricas e/ou de processos de fabricação em famílias...". (GONÇALVES FILHO, 1990, p. 2). Esta definição aponta no sentido de uma modificação do layout funcional para um novo arranjo baseado no agrupamento de máquinas em 110 função de semelhanças de peças ou produtos e não mais em função de semelhanças de operações, como é ressaltado pelo mesmo autor ao comentar a ineficiência do layout funcional para as indústrias mecânicas de produção em lotes: "....atualmente, o único sistema de manufatura capaz de harmonizar os requisitos de produtividade e flexibilidade é o sistema de manufatura celular, baseada nos conceitos da Tecnologia de Grupo....". (GONÇALVES FILHO, 1990, p. 6 e 10). Uma pesquisa pioneira, conduzida na década de 60 (GALLAGHER, 1986), concluiu que em empresas de produção em lotes, o tempo de processamento para um lote em um posto de trabalho era praticamente igual ao tempo de transferencia deste lote para outro posto, e que 90% do tempo total que um material permanecia dentro da fábrica, era perdido em esperas para processamento, sendo este tempo, perdido em estoques intermediários devido à falhas na programação de produção, sendo que o tamanho do lote ou o tempo de processamento de cada posto não influenciavam neste tempo total de espera. Tecnologia de Grupo é uma técnica que, trabalhando sistemas de agrupamento de processos, por similaridades de projeto e de processos de fabricação, procura trazer para o sistemas de produção em lotes, que se utilizam de layout por processo, vantagens da produção em linha, que utilizam layout por produto. Estas vantagens são conseguidas através de benefícios na economia de escala, pelo agrupamento de peças similares em conjunto de máquinas que ficam preparadas para o processamento, eliminando-se tempos de preparação de máquinas e a movimentação dos lotes entre os estoques intermediários. As técnicas associadas à TG são: 111 1. padronização de projetos e processos: usada para reagrupar partes de produtos e explorar as similaridades de processos; 2. codificação de peças por similaridade geométrica: para facilitar o agrupamento e definir grupos de máquinas de processos similares; 3. uso do conceito de famílias de componentes: conjunto de componentes ou partes de produtos que possuem atributos (geometria ou operações) em comum e que podem ser feitos nos mesmos grupos de máquinas; 4. Célula de máquinas: grupo de máquinas dispostas juntas que manufaturam uma ou mais famílias de componentes. O princípio da TG, conforme GALLAGHER(1986), pode ser explicado pelo relacionamento existente entre os produtos acabados e os componentes que os compõem. Enquanto que a montagem final de cada um dos produtos diferenciados de uma mesma fábrica não guarda semelhança com a dos demais produtos também produzidos naquela unidade, os componentes e as submontagens podem possuir características semelhantes em peças, materiais e processos de fabricação. Por exemplo, numa fábrica de automóveis com diversos modelos diferenciados (tamanho, potência, versão, etc.); os componentes (chassis, caixa de câmbio), as partes (vidros, portas, mecanismos elétricos) e as peças (engrenagens, eixos, barramentos), podem ser comuns à vários modelos. Assim, explorando estas similaridades de processos e de projetos, o agrupamento de máquinas que pode processar ‘famílias’ de componentes, onde cada componente passa de uma máquina para outra na seqüência das operações sem que haja manuseio e armazenagens intermediárias e sem que haja parada de máquina para ser preparada para nova operação; ganha tempo de processamento e reduz os estoques de peças semi-processadas. As vantagens de adoção de TG, segundo GALLAGHER(1986), CORREA(1994) e BURBIDGE(1979), são: 112 1. diminuição do tempo de permanência do material(da matéria-prima ao produto final) dentro do sistema de fabricação; 2. menores estoques em processo e de produtos processados; 3. menores custos de movimentação de materiais; 4. facilidade do sistema de controle e planejamento da produção; 5. redução do espaço utilizado; e 6. redução na variedade de projetos de produtos. Entretanto, algumas desvantagens aparecem na literatura. A maioria na forma de ‘dificuldades na implantação da TG’. Estas dificuldades, no entanto, podem ser efetivamente separadas em procedimentos necessários para a implantação e sucesso da TG, e nos problemas que resultam estas implantações. As principais ações para a implantação das técnicas da TG podem se sumariadas em (GALLAGHER,1986): -Métodos de agrupamento: amostragem, codificação e classificação, projeto e produção, estrutura de rotas do processo. -Projeto de célula: famílias de componentes, grupo de máquinas, escolha das instalações, seleção de equipamentos, características da matériaprima, capacidade e cargas do processo, ferramentaria, moldes e sistemas de fixação de ferramentas. -Organização da produção: controle da produção, controle de qualidade, layout e movimentação de materiais, manutenção . Os principais problemas encontrados na adoção de TG podem ser apontadas como: aumento dos custos relacionados ao controle do sistema, aos equipamentos e à implantação do sistema (GALLAGHER, 1986), riscos na formação das famílias (CORREA, 1994), coexistência com trabalhos fora das 113 células (GALLAGHER, 1986), maior complexidade nas ações de segurança e ergonomia e condições de trabalho (CALEGARI, 1994), resistência dos operários em aceitar as mudanças (SCHÄFER, 1992), ineficiência do layout da fábrica (GALLAGHER, 1986) e falta de pessoal qualificado (SCHÄFER, 1992). Embora a TG venha sendo estudada, desde a década de 60, e gradativamente adotada em diversos países, nota-se que, em função das culturas organizacionais e do estágio de desenvolvimento das relações de mercado de cada um, as técnicas e procedimentos se apresentam de formas diferenciadas. Países como Inglaterra, Alemanha, Japão e USA, por diferentes motivos (as vezes até antagônicos), foram os que mais se integraram às técnicas da TG, aperfeiçoando-as com uso intensivo de robótica e sistemas automatizados de manufatura como CAM- manufatura assistida por computador e CAD – projeto assistido por computador. No entanto, os conceitos do layout em grupo para a produção de componentes similares já eram conhecidos e aplicados na indústria desde a primeira metade do século (GALLAGHER, 1986). Mas, como os padrões de manufatura eram dominados pela produção em massa, com demanda crescente e operários especializados, não era época de mudanças na direção da TG. Apenas na década de 70, quando os mercados internacionais mostraram sinais de saturação dos modelos de produção em uso, é que a preocupação com novos modelos de gestão começaram a surgir. Não é por coincidência que, após 30 anos de hegemonia do sistema Fordista /Taylorista, surgiram, em apenas uma década, diversos novos modelos (técnicas, filosofias, procedimentos), todos com propósitos de flexibilizar a produção adaptando-a à variação de demandas, e que minimizam custos (CTQ, MRP, Kanban, JIT, OPT, SFM, CIM, TG, Produção enxuta, Manufatura superior, etc.)em relação ao sistema anterior. 114 Sistemas Flexíveis de Manufatura - SFM A flexibilização do layout e a incorporação de elementos de automação nos processos de manufatura ganhou o nome de movimento de flexibilização da produção ou, como tornou-se mais conhecido, Sistemas Flexíveis de Manufatura (SFM, ou FMS na língua Inglesa). Segundo HARTLEY(1984), um dos autores mais citados sobre o assunto, SFM é: "....Um sistema voltado para aumentar flexibilidade de instalações industriais para resolver problemas de produtividade da produção em lotes e variações de demanda do mercado, através da produção de grupos ou famílias de peças, utilizando-se de tecnologias de automação, com o mínimo de intervenção manual....". (p. 42) Esta definição incorpora conceitos da Tecnologia de Grupo, por trabalhar com grupos ou famílias de peças, e do JIT/KANBAN, ao apontar para o aumento da flexibilidade, pelo uso de equipamentos multifuncionais e de mão-de-obra também multifuncional para operar o sistema, como forma de melhorar a produtividade. Embora que teoricamente um layout flexível não seja necessariamente um layout celular, os exemplos citados por autores como HARTLEY(1984), BATOCCHIO(1988), RÁNK(1983) e AGOSTINHO(1985), ressaltam que a estrutura de fabricação celular é a que melhor se insere nas estruturas do SFM para a indústria mecânica de fabricação em lotes. SFM, também chamado de Sistemas Adaptativos de Manufatura, é a aplicação de sistemas computacionais e automatizados ao conceitos de família de componentes, TG e JIT/KANBAN, dispondo as máquinas para formar células. A definição de SFM mais comumente usada é a célula de máquinas controladas numericamente por computador, com movimentação 115 automática de material entre as máquinas. Estas células, nos SFM, incluem sistema de medição controlada que fornecem inspeções automáticas dos componentes em processamento eliminando operações de inspeção manuais ou por instrumentos tradicionais que necessitavam interromper o processamento, incorporando também sistemas de controles centralizados para a coordenação dos processos de transformação e movimentação. Os 3 elementos básicos deste sitiam de manufatura, são: 1) as máquinas operatrizes, 2) os dispositivos de manuseio de materiais, e 3) os equipamentos de controle; sendo que o fator básico de operação é o equipamento controlado numericamente(CN), normalmente um sistema único denominado centro de usinagem(ou centro de manufatura), constituindo-se no chamado computador de primeiro nível (KONZ, 1985). Alguns sistemas, controlados por computadores de controle numérico (CNC), possuem um computador de segundo nível para realizar que realiza o sequenciamento e ordenação formando um sitiam hierárquico de decisões(scheduler), onde o computador de segundo nível supervisiona o de primeiro nível. Na conceituação ideal do SFM, o material é carregado no sistema para a primeira operação e durante toda seqüência de seu processamento, até tornar-se um componente acabado, é processado e movimentado automaticamente sem contato manual. As situações práticas, no entanto, mostram que os SFM são, em essência, um conjunto de princípios aplicados nos sistemas de produção que utilizam os conceitos de TG e JIT/Kanban, no sentido de aumentar as vantagens competitivas destes sistemas, através da automação de funções, de movimentação de materiais e trocas de ferramentas em equipamentos multifunções (os denominados centro de usinagens, por exemplo). As vantagens dos SFM estão relacionadas à possibilidade de obtenção de altas taxas de processamento, com pequenos tempos de paradas de máquinas, e com redução na quantidade de mão-de-obra direta. Estas vantagens, no entanto, só são obtidas na conjunção das seguintes situações: a) 116 produtos padronizados, b) grandes volumes de produção e c) produtos de vida curta. As desvantagens mais destacadas são os custos de capital, não somente nos chamados custos visíveis, como de equipamentos e dispositivos, mas nos custos adicionais do sistema, denominados de invisíveis, em custos de programação, depuração e testes dos sub-sistemas, aplicativos e manutenção eletrônica. Outras desvantagens estão associadas à estrutura do ambiente físicos em relação a dedicação de áreas e adequação da edificação HUGE(1993) mostra a evolução dos graus de automação dos SFM, conforme quadro 12, referindo-se às empresas que implantam apenas parte dos conceitos do sistema, através de melhorias nos equipamentos existentes(do estágio I), como manutenção preventiva, controle estatístico de processo e reduções de tempos de preparo (set-up) de máquinas. Argumenta, que os sistemas completos apresentam custos elevados, não só de investimentos mas de operação, por problemas de qualidade e tempo ocioso de máquina. Quadro 12 – Evolução da automação dos sistemas de produção. Estágio I Estágio II Estágio III Estágio IV Sistema de Sistema Sistema Célula Flexível Sistema Flexível produção Tradicional JIT/Kanban De De (Adm.p/ estoques) - básico - Manufatura Manufatura (TG e JIT) - completo - Fator de análise Máquinas Convencional Manual Manual da Célula Somente CNC Manual e semi- Automatizado automatizado** de Materiais Controle Total CN e CNC CN/CNC* Operatrizes Movimentação Convencional e Não há Manual Manual e Computador computador integrado isolado (Fonte: HUGE, 1993, p. 23) (*) – CN significa controle por comando numérico local. CNC significa comando numérico controlado por computar integrado. (**) – uso de sistemas automatizados de movimentação, porém sem comandos de integração com outros sistemas, por exemplo AGVs integrados com almoxarifados. 117 Como as atividades de processamento e de movimentação de materiais estão intimamente ligados, um SFM completo (estágio IV) pode falhar, se um processo parar, já que a movimentação é automática e, em muitos casos, unitária e sem estoques intermediários. Finalmente, o autor acentua sua convicção nos SFM mas, faz a ressalva que seu uso será intenso no futuro, quando as empresas já tiverem passado por outros estágios de evolução da manufatura integral, como: manutenção preventiva e preditiva total, qualidade total, JIT/KANBAN, TG e, principalmente, com um mercado estável. Aparentemente, este futuro ainda está distante pois alguns indicadores recentes, pelo menos no setor automobilístico, apontam para uma estabilização, ou mesmo reversão, de velocidade nas mudanças de gestão da produção e de perspectivas de mercado (associados aos custos dos produtos), na direção oposta das vantagens dos SFM. Duas notícias recentes apontam no sentido de aumentar a vida útil dos modelos anteriores ao SFM, e manter baixos volumes de produção: 1ª) O jornal O ESTADO DE SÃO PAULO mostra uma pesquisa na TOYOTA onde se reverte a automação das linhas, voltando a utilizar o trabalho manual em substituição à tarefas automatizadas (BUTLER , 1997) e, 2ª) A empresa Alemã Daimler-Benz se associou à empresa Americana Chryler para a produção conjunta de veículos visando a venda dos veículos da Chryler na Europa e os da Benz nos EUA, sem a criação de novos modelos, acentuando a tendência de padronização de modelos e redução de diversidade de componentes. Ao mesmo tempo, a Volkswagen quer comprar a Rollls-Royce para aumentar a produção de veículos de luxo, de maiores preços unitários, em contraposição à produção de diversos modelos populares de grande diversidade final por modelo (FSP, 8/5/98, caderno Dinheiro, p. 1 e 6 e dia 7/5/98 p. 16). 118 3.3. Novas formas de Gestão do trabalho: trabalho em grupo, autonomia, humanização do trabalho. Na década de 70 surgiram, principalmente na Europa, movimentos de organização e gestão do trabalho que tinham como pressupostos superar os modelos derivados do sistema Fordista/Taylorista, que foram até denominados de “pós-tayloristas” (KATZ, 1995, p. 31). No sistema de trabalho taylorizado, o operário não tinha a menor motivação para ampliar seu horizonte de tarefas, incorporando, por exemplo, funções de inspeção de seu próprio trabalho, até porque era praticamente impossível esta possibilidade em função da distribuição e especialização dos postos de trabalho e do ritmo deste trabalho. Este sistema possuía limitações claras, como o aumento dos tempos de movimentação e de transferência entre postos de trabalho, impostos pelo modelo de mecanização e automação adotados, no qual o, até então, operador de máquina passou a ser um supervisor passivo no processo de trabalho, o que afetava a otimização do processo produtivo. No entanto, os primeiros movimentos como círculos de controle de qualidade (CCQ) e os grupos semi-autônomos (GSA) implantados em empresas da Suécia, Japão e nos EUA não romperam com o modelo dominante da OCT, pois se destinavam principalmente a eliminar tempos mortos nas operações e a transferir os custos de vigilância e inspeção do trabalho, que se enquadravam perfeitamente nos princípios da OCT (CORIAT, 1994). As mudanças verificadas neste período podem ser resumidas conforme explica FERREIRA et alii (1991): a) divisão do trabalho em grupos com autonomias para pausas, revezamentos e liderança; b) redução da fadiga por melhorias na automação ‘flexível’ e transporte de ferramentas; c) alguma variação de ritmo de produção através de estoques reguladores; e d) melhoria de aspectos ambientais e higiênicos do trabalho. 119 Estas mudanças no entanto não são suficientes para permitir a afirmação que a OCT e os métodos Fordista/Taylorista de trabalho foram superados e, que através destes novos procedimentos é possível estabelecer novas bases de projeto de fábricas. Se o sistema Fordista/Taylorista forneceu os métodos e procedimentos necessários para viabilizar economicamente o sistema de produção em grande escala e de produtos padronizados, que caracterizaram grande parte dos setores produtivos até os anos 70, a necessidade de sobrevivência, em situações de retração de demanda provocada por excesso de produção e acirramento de competição dentro de mesmos mercados(ou produtos semelhantes em mercados diferentes), levou as empresas que não conseguiam competir neste modelo, por deficiências de mercado ou falta de experiência em enfrentar estas novas situações, a buscar novos padrões de organização industrial na tentativa de recuperar a rentabilidade do capital e manter vantagens competitivas com seus concorrentes. CORIAT(1994) compara o sistema Japonês de gestão da produção baseado nos princípios de Ohno aos princípios de Taylor e Ford do início do século, entendendo que os objetivos de ambos são praticamente os mesmos: manter controle sobre o trabalho e melhorar a produtividade do sistema de produção. O autor afirma, inclusive, que o Ohnoismo tem uma difusão internacional tão intensa quanto teve o Fordismo/Taylorismo. O conceito geral de trabalho em grupo, em referência ao projeto de novos sistemas de produção, segue princípios que procuram se interpor aos princípios do sistema Fordista/Taylorista, com a formação de sistemas menores de trabalho dentro do sistema de produção da fábrica, melhoria na consistência do sistema de trabalho, enriquecimento do trabalho e melhoria das condições do ambiente físico, que formariam as bases das mudanças para uma organização do trabalho mais flexível e participativa (SCHAFER, 1992 e FLYKT, 1984). 120 Sistemas menores de trabalho Formação de redes de pequenas unidades de trabalho descentralizadas e coordenadas, cada uma funcionando independentemente, como elementos de simplificação do trabalho administrativo. Esta descentralização é uma forma para estimular iniciativas locais dentro dos grupos, tornando a organização mais participativa com o envolvimento de maior quantidade de pessoas nas decisões de trabalho. A reestruturação de um sistema maior em vários sistemas menores independentes segue 4 passos: - A divisão de um sistema que já possui divisões internas(seções) porém sem independência e torna-las auto-suficientes e independentes. - Organização de pequenas unidades em torno de produtos específicos ou grupo de produtos de tal forma que contenham todos os equipamentos necessários para a produção completa dentro da unidade. - Extensão do grau de independência das unidades menores para outros serviços como: manutenção, movimentação de materiais, ferramentaria, etc. - Criação de um método de arranjo flexível e maleável para coordenar e dar suporte às unidades menores. Consistência do sistema de trabalho Se refere à capacidade do projeto do trabalho quanto a sua influência para evitar flutuações de carga de trabalho, e na facilidade de controle e monitoração do sistema de trabalho. Dos elementos do sistema de trabalho, os principais que podem contribuir para a estabilidade são: simplificação dos padrões de fluxo de material, confiabilidade e manutenção dos equipamentos de produção e dos processos, a organização do trabalho e o projeto das tarefas. 121 Enriquecimento do trabalho Os esforços para projetar tarefas mais estimulantes e criativas são apontados como os princípios básicos dos novos sistemas de trabalho com o pressuposto de que as pessoas trabalham melhor se estiverem satisfeitas com seu trabalho e que a satisfação vem do trabalho (VARGAS e FLEURY, 1981), gerando assim, melhores resultados. Existem muitos fatores no trabalho que podem afetar positivamente a motivação dos trabalhadores. Dentre estes, os principais são: - Tarefas com diferentes graus de dificuldade e de tempos de execução. - Graus de autonomia sobre o trabalho, tanto individual como para os grupos. - Organização da produção baseada no trabalho em grupo e na formação de equipes de trabalho, visando enriquecer e ampliar as tarefas - Sistema de produção de dimensões que permitam o contato visual e social do grupo. Condições do ambiente físico O ambiente de produção deve ser adequado ao processo de transformação, à tecnologia usada e deve ser satisfatório aos trabalhadores em relação às condições físico-químicas do ambiente, espaços de trabalho e espaços de lazer. A eliminação de riscos de acidentes e de doenças do trabalho deve ser considerada no projeto de novos ambientes de trabalho como fator de melhoria das condições visando o enriquecimento do trabalho. Como os novos sistemas se constituem de pequenas unidades independentes de trabalho, distribuídas espacialmente e postos agrupados dentro destas unidades; os novos projetos de instalações industriais precisam considerar este 122 novo arranjo com uma distribuição da unidades de modo a não concentrar agentes agressores. O trabalho no sistema de Tecnologia de Grupo, segundo SCHÄFER(1992), apresenta como principal mudança na estrutura do trabalho a formação de uma estrutura de equipes de trabalhadores. Esta estrutura facilita a comunicação de trabalho dentro do grupo, se comparada com a comunicação existente nos departamentos funcionais (característicos do layout por processo) e simplifica as atividades de coordenação entre os grupos, em função de que os controles do processo passam a ser efetuados por produtos(ou componentes) e não mais por processo. Os benefícios sociais do trabalho em grupo proporcionado pela TG, mais freqüentemente descritos se relacionam com o aumento da satisfação no trabalho proveniente de um enriquecimento das tarefas pelo conceito de operador multifuncional. Dentre estes benefícios, os principais são: a) envolvimento dos trabalhadores nas decisões de trabalho; b) relacionamentos baseados no trabalho; c) variedade nas tarefas; d) liberdade para determinar métodos e layout do posto; e e) expressiva melhoria salarial. Como a TG, a princípio, emprega menos pessoas por máquinas, cada membro da equipe terá, necessariamente, que possuir mais qualificação que os operadores que trabalham em máquinas especializadas em um sistema por processo, onde executam sempre as mesmas funções. Assim, no TG são necessários novos treinamentos para permitir rotação de funções dentro das células. As desvantagens apontadas no trabalho dentro destes grupos, relativas aos trabalhos nas células do sistema, são: 1) isolamento do grupo de trabalho, principalmente quando o grupo for pequeno e dedicado à um produto exclusivo diferenciado dos demais; 2) rompimento do conhecimento dos operadores que agora se especializam na produção de determinados componentes contraposição ao conhecimento de processos de fabricação; e 123 3) cada tarefa é mais monótona em função do aumento da automação dos equipamentos; 4) dificuldade de rotação entre as células em decorrência da especialização por componentes. A adaptação dos trabalhadores aos sistemas flexíveis de manufatura (SFM) depende do grau de desenvolvimento da organização em relação aos conceitos dos sistemas sociotécnicos aplicados ao trabalho, ou seja, da ações já implementadas pela organização no sentido de tornar o trabalho mais participativo (DEBRESSON, 1987). Esta adaptação abrange um grande conjunto de conceitos de gerenciamento, vindos da organização do trabalho e do treinamento da influencia da engenharia de fatores humanos no projeto de SFM. A respeito da organização do trabalho, a decisão principal da gerência é determinar o grau de homogeneidade na estrutura das funções. A maior homogeneidade da estrutura das funções envolve um alto nível de habilidades e uma baixa divisão de trabalho. A estrutura de funções mais diferenciada é aquela inserida nos conceitos Taylorista, de trabalho especializado, acompanhados de uma organização com alta divisão de trabalho. Neste caso existe uma polarização de habilidades: fora do sistema, nas funções de programação, manutenção e reparos que são executados por unidades serviços de outros departamentos, e a divisão interna dos trabalhadores no SFM, que ficarão restritos às tarefas de menor habilidade de carregar e descarregar as máquinas. Uma desvantagem da abordagem de estrutura de funções diferenciadas é seu alto grau de especialização, e os trabalhadores mais especializados podem sofrer falta de motivação pelo resultado das melhorias no sistema de manutenção e reparos. Por este lado, a especialização do trabalho diminui os custos de treinamento e a média de idade do trabalho. 124 No uso de uma estrutura de funções mais homogênea, surge no entanto, alguns questionamentos quanto à habilidade necessária para adotar esta abordagem, em que as estruturas internas e externas de controle e de hierarquia não possuem suporte para a implementação de equipes de trabalho com habilidades polivalentes e autônomas. Esta visão tem sofrido críticas em função da visão tecnicista do trabalho adotada nos SFM, com argumentos de que os equipamentos e as técnicas de processo de manufatura não podem predeterminar a estrutura de habilidade de sua mão-de-obra. Segundo GUPTA(1988), a incorporação de técnicas de trabalho industrial e de qualificação profissional no sistema educacional japonês tem ajudado nas mudanças das estruturas de trabalho nas fábricas, permitindo que as empresas usem os novos trabalhadores jovens, e já treinados, nos SFM enquanto que os trabalhadores que eram usados nos processos tradicionais de produção sejam transferidos para outros departamentos. Este procedimento reduz o tempo de aprendizagem e o custo de treinamento para a empresa. Também no Japão a estrutura social é mais direcionada para a estrutura de funções homogêneas, já que os conceitos do Taylorismo nunca foram completamente implantados lá, enquanto que no ocidente eles têm sido praticados desde o início do século. Ainda, a proliferação de classificação de funções nas fábricas com sistemas tradicionais de produção acabam tendo custos mais elevados na implantação dos SFM em função do tempo e da quantidade de treinamentos e na adaptação dos trabalhadores em decorrência de resistências aos novos padrões de divisão do trabalho imposta pelo sistema. 3.4. Novos padrões de layout derivados de novas formas de gestão da produção e do trabalho. Com as definições e relacionamentos entre as principais técnicas e conceitos de gestão da produção vistas no item 3.2, é possível estabelecer uma 125 linha de estudos sobre as modificações no arranjo espacial do trabalho e suas conseqüentes interferências sobre a forma e o partido arquitetônicos adotados na concepção de edificações industriais. O JIT/KANBAN surgiu como uma alternativa para competir com a produção em massa do layout em linha, a Tecnologia de Grupo (TG) como solução para melhorar a competitividade (através de aumento de produtividade) do layout funcional para a fabricação em lotes e os Sistemas Flexíveis de Manufatura (SFM) surgiram para aumentar o grau de automação dos sistemas anteriores. Estas tendências, em síntese, apontam para: - Aumento da automação do processo de produção. - Uso de mão-de-obra multifuncional. - Agrupamento de máquinas por similaridades geométricas e de funções dos componentes. - Trabalho em grupo ( tanto de máquinas como de pessoas). - Mudança para layout celular ( ou grupo de máquinas). - Diminuição dos espaços entre os postos de trabalho pela diminuição dos estoques intermediários e integração da produção. Estudos sobre a indústria de processamento intermitente têm mostrado uma preocupação das empresas que se estruturam com layouts funcionais, pela perda de competitividade (baixa produtividade) quando comparadas com empresas que utilizam layouts em linha (devido às características de produção em massa). Da mesma forma, as empresas que utilizam layout em linha, se preocupam com a perda de competitividade no mercado, pela baixa capacidade de atender demandas novas do mercado, expressa por baixa flexibilidade à variações nos produtos. Essas mudanças no cenário industrial, que já vêm ocorrendo desde o final dos anos 80 no Brasil e, antes de 70 nos países mais industrializados, podem ser explicadas, entre outras questões estruturais, pelas mudanças no 126 cenário das relações comerciais mundiais na chamada globalização da economia, que aumentou o grau de competitividade industrial e da aceleração nos processos de inovação de produtos e de tecnologias de produção (VANALLE, 1995). Os modelos clássicos de layout apresentados no item 2.5 já não mais atendem as necessidades de mudanças provocadas pelos fatores acima mencionados. Estes fatores estruturais afetam o layout na medida que promovem mudanças na estrutura de produção relacionadas a: 1. Mudanças no projeto dos produtos da empresa, eliminação de produtos da linha de produtos e a introdução de novos produtos; 2. Mudanças nas seqüências de processamento dos produtos de linha, renovação e melhorias em equipamentos de processos; 3. Mudanças nas quantidades produzidas associadas com planos de produção, resultando em mudanças nas capacidades e balanceamentos; e 4. Mudanças na estrutura organizacional principalmente relacionadas às filosofias de gerenciamento da produção quanto a descentralização/centralização dos controles. Os modelos de arranjo espacial de máquinas e a distribuição dos operadores nestas máquinas, que foram abandonados com a introdução do modelo japonês de produção, segundo CORIAT(1994), são: Layout em “Gaiolas de pássaros” (figura 29) Com um operador operando várias máquinas iguais, com tempo alocado de trabalho em cada máquina a partir de um diagrama homemmáquina. Neste sistema há um acúmulo de materiais estocados em cada máquina, muito tempo para transporte movimentação(grandes quantidades por viagem) e sistemas pesados de 127 (Fonte: CORIAT, 1994, p. 63) Figura 29 - Layout em gaiolas de pássaros. Os círculos representam postos de trabalho e os retângulos máquinas. Layout em “Ilhas separadas” (figura 30) Onde cada operador é responsável por um conjunto de máquinas diferentes que operam seqüencialmente partes de um mesmo produto ou produtos semelhantes, porém mantendo um trabalho individualizado com a prescrição de seu tempo de trabalho em cada máquina a partir da distribuição estabelecida pelo diagrama homem-máquina. (Fonte: CORIAT, 1994, p. 64) Figura 30 - Layout em ilhas separadas. 128 Neste layout, como o trabalho é individual em cada ilha, os estoques intermediários permanecem altos já que depende do ritmo do operador da ilha e só estarão disponibilizados após o término da seqüência das operações da ilha. Tal sistema de transferência provoca acúmulo de materiais entre as ilhas em função da dificuldade de balanceamento dos trabalhos entre cada ilha. Layout em Linha(figura 31) Os equipamentos são colocados em seqüência de processamento de cada parte de um produto com os operadores percorrendo vários equipamentos na linha. Este modelo, segundo o autor, mantém ainda, embora pequenos, estoques entre as máquinas e estoques relativamente altos no final da linha e nas transferências entre linhas. No entanto, a maior crítica à este modelo é a rigidez da relação entre o operador e os equipamentos que ele opera. (Fonte: CORIAT, 1994, p. 64) Figura 31 - Layout em linha. A estrutura de layout que o autor propõe, ainda de acordo com seu entendimento do modelo japonês de produção, é a organização em vários layouts em ‘U’, a partir destas estruturas básicas de arranjo, em uma combinação encadeando espacialmente uns aos outros. 129 As vantagens apontadas por esta estrutura estão nos baixos estoques entre as máquinas e nas transferencias entre os agrupamentos e, principalmente, pela utilização multifuncional dos operadores inclusive entre os agrupamentos, que permite melhor regularização do ritmo de trabalho, racionaliza a ocupação dos operadores e contribui decisivamente para reduzir os estoques. O principal efeito, para o layout, é a diminuição da área ocupada com a produção, logo, da área ocupada na edificação. As características das fábricas da Volvo em Kalmar e posteriormente em Udvalla, ambas na Suécia, são consideradas marcos neste processo de mudanças mais significativas, principalmente sobre a relação entre a organização do trabalho e o projeto do edifício industrial. Estes exemplos serão explorados com mais detalhes no decorrer deste capítulo. 3.4.1. Layout em grupo Este nome ganhou significância a partir do advento da noção da Tecnologia de Grupo, pelo princípio de agrupar a fabricação de ‘famílias’ de componentes, em contraposição à fabricação agrupada por processos, característica do layout funcional e da fabricação de componentes isolados no layout por produto. Pela definição da TG, o layout em grupo é representado por um conjunto de máquinas de diferentes tipos e funções, cujo objetivo é a possibilidade de fabricar determinados grupos de peças que mantém características de similaridades geométricas(formas e dimensões) e de processos. Sempre que se refere à TG, a primeira noção de layout é a célula de manufatura. A célula é a forma mais usual utilizada para representar o agrupamento de uma ‘família’ de componentes, mas não a única forma. De acordo com MIRANDA(1993), o layout da TG é um layout intermediário entre o sistema de produção funcional e o linear, posicionando as máquinas de forma a processarem famílias de peças com maior eficiência e 130 economia em relação aos sistemas tradicionais, através de 3 sistemas básicos de arranjo entre o funcional e por produto(figura 32): Centro-TG, Célula-TG e Linha-TG. Layout Funcional Layout Layout-TG Centro-TG Célula-TG Linear Linha-TG (Fonte: MIRANDA, 1993 p. 61) Figura 32 - Tipos de layouts da Tecnologia de Grupo. O sistema Centro-TG consiste de um posto de trabalho com uma máquina que processa um conjunto de peças similares em forma e operações. O arranjo do layout dar-se-á pelo agrupamento de centros diferentes processando famílias diferentes. A diferença deste tipo de arranjo em relação ao arranjo funcional é que o processamento é realizado sobre peças similares em contraposição ao processos similares, conforme exemplifica a figura 33. O sistema Célula-TG é a forma mais conhecida de arranjo para o sistema TG. É um agrupamento de máquinas que permite o processamento seqüencial de operações de um conjunto de componentes de uma família, mesmo que os componentes tenham seqüências diferentes de operações. No próximo item as células de manufatura estão detalhadas. 131 (Fonte: MIRANDA, 1993, p. 62) Figura 33 - Layout utilizado na Tecnologia de Grupo: Centro – TG O arranjo de fluxo em Linha-TG (figura 34), de acordo com MIRANDA(1993), é um arranjo de máquinas em seqüência, cada uma com operações fixas, processando famílias de componentes. A diferença deste arranjo para o arranjo linear é que na linha-TG são processadas famílias de componentes e não componentes isolados, que caracteriza a linha tradicional. (Fonte: MIRANDA, 1993, p. 63) Figura 34 - Linha-TG, tipo de layout utilizado na Tecnologia de Grupo onde cada seqüência de máquinas processa uma família de componentes. 132 O layout em grupo surge também em decorrência do movimento de humanização do trabalho com os princípios de trabalho em grupo, da escola sociotécnica iniciada com os trabalhos de Emery e Trist (VARGAS e FLEURY, 1981). Uma das bases deste movimento era o redesenho dos sistemas de trabalhos altamente repetitivos, usualmente associados à linha de montagem, na tentativa de promover uma melhor qualidade de vida no trabalho através de enriquecimento vertical de cargos, ampliação horizontal de tarefas, rotação de tarefas e criação de grupos semi-autônomos de trabalho (VARGAS e FLEURY, 1981). Desta transição da linha de montagem para o trabalho em grupo surgiram 3 padrões de modelos de arranjo (GALLAGHER, 1986): 1) Grupos em série, separados por estoques reguladores intermediários, para superar problemas de balanceamento. posto Estoque posto Estoque posto 2) Grupos em paralelo que montam um produto completo onde a quantidade de grupos depende do volume de produção do produto. 133 3) Grupos independentes que realizam cada um uma sub-montagem independente para uma montagem final de um produto ou de produtos separados. Montagem Final 3.4.2. Célula de Manufatura A manufatura celular pode ser definida como uma organização espacial de produção discreta de pequenos lotes de componentes, agrupados em famílias(similaridade de formas e/ou dimensões e/ou processos) usando máquinas agrupada em células. Assim, célula de manufatura é cada uma das unidades espaciais deste sistema de manufatura celular. As células de manufatura são definidas, desta forma, como o agrupamento de máquinas, formando centros de produção, arranjadas para processar um conjunto de operações completas de famílias de componentes de um produto. A manufatura celular é uma forma de organização da produção, enquanto que a célula é o arranjo espacial que expressa esta organização (SCHONBERGER, 1996). O conceito de organização da produção da manufatura celular é uma tentativa de resolver problemas de ineficiência do sistema de produção em lotes baseados em arranjos espaciais por processo, produzindo mudanças, principalmente em: a) layout dos postos de trabalho e de equipamentos, b) organização do trabalho do chão de fábrica, c) fluxo de materiais em processo e estoques intermediários, d) movimentação de materiais, e) programação da produção (WARREN, 1997). 134 Para tornar a definição mais precisa, não apenas baseada na forma de agrupamento mas nas mudanças de gestão que permeiam este padrão de manufatura, deve-se considerar a aplicabilidade da manufatura celular em termos de magnitude, variedade(no tempo e quantidade) e tipo de volume de produção, comparando-a com outros sistemas de produção. Tradicionalmente, as fábricas têm adotado um dos dois tipos de abordagens principais para o layout de equipamentos de produção, chamados de ‘job-shop’, ou layout baseado no processo, onde as máquinas de tipos funcionais similares são agrupadas em áreas específicas; e o layout ‘transfer line’ caracterizado por linhas dedicadas de manufatura. O conceito de ‘jobshop’, ou baseado no processo, possui problemas complexos de gerenciamento da produção com a programação de resultados, em função da diversidade e variação dos lotes de produção, e normalmente requer substancial movimentação de materiais e partes semi-acabadas para atender a programação de produção em prazos estabelecidos e competitivos. As ‘transfer lines’ são, geralmente, adequadas somente para grandes volumes de produção, requerendo grandes aportes de capital e possui pequena flexibilidade para mudança na linha de produtos. As técnicas da manufatura celular oferece uma alternativa intermediária entre os conceitos de produção baseados no ‘job-shop’ e ‘transfer line’. O quadro 13 mostra as vantagens relativas da adoção de tipos diferentes de layout em função de algumas variáveis do sistema de produção. O desenvolvimento da manufatura celular foi motivado pela necessidade de uma grande quantidade de industrias em simplificar o gerenciamento da produção enquanto procuravam obter flexibilidade nos sistemas de produção por lotes (WARREN, 1997. Segundo este autor, as empresas tentaram reduzir a complexidade das decisões operacionais, como o lote econômico, roteamento (logística), programação da produção, técnicas de manutenção preventiva, transporte de peças e trocas de ferramentas, etc.; mas os resultados mostraram que as economias conseguidas ainda não eram 135 suficientes para tornar o sistema competitivo e que as medidas acima precisavam ser complementadas com uma simplificação do sistema de produção e um aumento de sua flexibilidade em termos de variedade e volume de produção. Quadro 13 – Critérios e vantagens na adoção de tipos de layout em função de variáveis de gestão e fatores de produção. Sistema de Layout Fator de Análise PRODUTOS VANTAGENS RELATIVAS DE CADA TIPO DE LAYOUT JOB-SHOP TRANSFER LINE CÉLULA DE (Arranjo Funcional (Arranjo em linha ou MANUFATURA ou por processo) por produto) (Arranjo por grupo de famílias de peças) -Grande flexibilidade para mudança de produtos -Mudar produto significa mudar layout e novas máquinas -Dificuldade para encontrar sistema otimizado -Grande flexibilidade para variações de demandas - O arranjo na seqüência do - Arranjo na seqüência do fluxo facilita o transporte processo, facilita transporte de materiais e peças - Menor dos tempos de - Pequeno tempo total de manufatura manufatura QUANTIDADE ROTEIROS E PROCESSOS GERENCIA -Complexidade para estabelecer padrões de desempenho MÃO-DE-OBRA - Especialização de funções - Facilidade de destaques individuais EQUIPAMENTO - Pouca duplicação de equipamentos, menor investimentos - Dificuldade de manter regularidade de prazos com quebras e reparos - Manutenção especializada é facilitada - Grande variedade de materiais em estoque e movimentação dificultada pelo tamanho de lote MATERIAL -Média flexibilidade para mudar produtos - Sistema de informações é simples - fácil controle e sistema de desempenho - Controle de grupos - Descentralização de controles e de informação - Melhor adequada ao conceito do JIT/Kanban - Aumenta flexibilidade de pessoal pelo uso de grupos multifuncionais. - Formação de equipes facilita mudança de processos -Estoques intermediários elevados para balancear produção na linha - Fácil controle de material em processo. - Pouco estoque de materiais - Estoques intermediários pequenos e de fácil controle. Na prática, verifica-se que a manufatura celular é mais flexível que o sistema ‘transfer line’, porém, requer um trabalho maior de gerenciamento e de organização da produção. De maneira análoga, é menos flexível que um 136 ‘job-shop’, mas é mais simples de gerenciar. O quadro 14 mostra onde se situa a manufatura celular em relação a outros conceitos de sistema de produção. Quadro 14 – Aplicabilidade do conceito da Manufatura celular em relação ao volume de produção e variedade de peças produzidas. Grande Transfer Line Sistema Volume de Produção Especial Sistema Flexível de Manufatura CÉLULA Job Shop Variedade de peças Pequeno Grande (Fonte: WARREN, 1997, p. 3) Algumas das razões mais citadas para o uso da manufatura celular como conceito de processo de produção, e a célula de manufatura como base do layout da fábrica, são: - Aumentar a competitividade do processo de produção pela redução dos tempos de transferencia e de manufatura, inicialmente pela redução dos tempos associados com a movimentação de peças e materiais. - Usar modernas técnicas de produção e atender as exigências de consumidores de programas de produtividade e qualidade. - Reduzir os altos custos de materiais em processo em comparação com os sistemas atuais. 137 - Aumentar a capacidade da fábrica (planta) pela redução do tempo de preparo de máquinas (set-up). - Diminuir o tempo de entrega de produtos aos clientes. - Aumentar a produtividade do trabalho (mão-de-obra) e melhorar a relação custo-benefício pelo aumento da qualidade. - Reduzir as distâncias de transporte de materiais e, consequentemente, os danos de manuseio. -Preparar a fábrica para automação De acordo com WARREN(1997), uma célula típica é operada por trabalhadores multifuncionais dedicados a uma célula particular, sendo capazes de operar, e abastecer e regular todos os equipamentos da célula. O material em processo na célula deve ser menor que um dia de suprimento, requerendo que o material seja reposto em pequenas quantidades, preferencialmente, com o produto sendo processado inteiramente em uma única célula. Toda a produção e o trabalho devem ser programados dentro da célula e orientados para a célula e não para uma máquina ou para um operador da célula. Os trabalhadores de cada célula são responsáveis pelos programas de qualidade e de manutenção preventiva de sua célula e os resultados do trabalho são medidos pelo mix de produtos finais da célula, pelo volume semanal ou mensal, e não em desempenho de cada operador ou lotes de produtos. O fluxo de materiais, produtos ou componentes entre as células são controlados por grupos específicos de trabalhadores que não pertencem à estas células, organizados em sub-sistemas (baseados em Kanban, por exemplo), formando equipes de logística da fábrica. Segundo HOSKINS(1977), estas células são arranjadas, comumente, em um formato de ‘U’ ou circular, com áreas de interseção entre espaços de trabalho nas máquinas, para minimizar as distâncias de transporte entre as máquinas, favorecer o trabalho em equipe dentro das células e 138 simplificar a entrada e saída de peças facilitando a logística da fábrica (figura 35). KONZ(1984) explica que o layout modificado para adoção de células de manufatura terá: 1) Redução de áreas de postos de trabalho – pela interseção de áreas para trabalho em grupo e pela diminuição dos estoques de processo. 2) Diminuição da quantidade de postos de trabalho – pela melhor utilização dos equipamentos, diminuindo ociosidade , por conseguinte, diminuição do número de máquinas em uso. 3) Redução de área para movimentação e transporte de materiais em processo – pela redução do tamanho de lotes e pelo transporte unitário dentro das células. 4) Redução de áreas de estoques – pelo uso de controles do trabalho por célula(Kanban) e pela melhoria da previsão baseada no trabalho de cada célula. As células de manufatura têm sido classificadas quanto aos seus arranjos espaciais internos sem, no entanto, prescrever a forma geral do layout da fábrica que irá acomodar estas células. A relação e estrutura dos blocos funcionais, de uma fábrica organizada em células de manufatura, irão depender dos conceitos de autonomia adotados para as células. Ou seja, quais as atividades complementares à fabricação que as células irão conter de forma independente e específica, como manutenção, estoques, ferramentaria, montagens, engenharia de processos, etc.. Uma célula completa com todas as funções de uma fábrica completa é chamada de mini-fábrica, conceito que será visto no item 3.4.4. Em geral, as células típicas, como já definidas, possuem, além dos fatores imediatos necessários para a fabricação(pessoal, equipamentos, 139 ordenação e material em processo), os estoques(inicial e final) e as áreas para troca e reposição de peças e ferramentas de máquinas. (Fonte: KONZ, p. 52) Figura 35 - Layout de uma célula de manufatura, no formato 'U'. Uma classificação de células de manufatura, em relação aos possíveis arranjos espaciais internos (HOSKINS, 1997), separa inicialmente as células quanto ao grau de automação (‘manned’ ou ‘unmanned’) e ao formato do caminho do fluxo interno ( em ‘U’ ou linear). Célula ‘manned’ (tripulada) pode ser definida como um sistema de trabalho semi-automatizado em que os operadores conduzem (pela tradução literal, pilotam) o fluxo de trabalho, o ritmo e divisão de tarefas (grupos semiautônomos). 140 Célula ‘unmanned’ (não tripulada) é uma célula automatizada onde as principais atividades dos operadores são de supervisão de máquina, ajustes, reparos e movimentação de materiais (geralmente de abastecimento da primeira máquina da célula e retirada das peças prontas da última máquina). Para o layout da fábrica, o grau de automação irá interferir nos serviços complementares de fabricação. Geralmente, as células ‘manned’ são ligadas umas às outras pelos sistemas de manuseio de materiais. Pela características de trabalho em que os operadores devem operar diversas máquinas, o layout mais comum é o de formato ‘U’, pela dificuldade de balanceamento de atividades entre máquinas e pelas distâncias a serem percorridas pelos operadores. Para as células ‘unmanned’, em função de seu grau de automação, independe o formato do caminho do fluxo, seja ‘U’ ou linear, pois é pressuposto que os materiais irão seguir automaticamente entre as máquinas sucessivas no processo e que os trabalhadores irão se deslocar com menor freqüência entre as máquinas, já que não estarão operando-as, mas apenas supervisionando seu funcionamento. 3.4.3. Projeto modular: layout modular, mini-fábrica Os conceitos relacionados ao projeto modular de sistemas de produção e de instalações industriais tem ganhado significância a partir dos anos 80 em países como Canada, Japão e EUA, como uma alternativa para diminuir os custos iniciais de construções relativos ao uso de espaço dentro da fábricas, em decorrência do encurtamento da vida útil produtos(principalmente produtos de consumo de base eletrônica), dos da velocidade de mudanças na tecnologia para a produção e na variação da demanda (RIOPEL et alii, 1994). Em alguns setores estas mudanças são tão rápidas e radicais que empresas mudam completamente sua estrutura produtiva. 141 A decisão de adotar o conceito de projeto modular para as instalações industriais tem por objetivo conseguir uma instalação que comporte todas as funções da fábrica, atendendo as necessidades de produção e que possa se ajustar à mudanças de demandas e de especificação de componentes. Os benefícios derivados são: aumento da utilização dos espaços, redução de custos e melhor ambiente de trabalho (PETERS and YANG, 1997). M2 M1 M4 M3 Espinha ou corredor central M5 M7 M6 M8 M1 a M8 = módulos Figura 36 – Esquema geral de uma construção modular em espinha. Uma abordagem que tem sido usada, dentro do conceito de instalação modular, para facilitar futuras expansões é a construção em diversos módulos paralelos, dispostos em ângulo reto, conectados por um módulo central de ligação que funciona como um corredor. Esta forma construtiva é denominada disposição em espinha de peixe ou simplesmente em espinha. Como mostrada na figura 36, a instalação resultante é semelhante à de uma galeria de distribuição ou compras - um local acessível onde os produtos são facilmente encontrados, como em um supermercado, um shopping, etc. porém com os módulos tendo funções distintas como etapas de fabricação, montagens, testes e estoques. Neste tipo de instalação os módulos podem ser 142 idênticos ou de tamanhos diferentes. Normalmente os módulos possuem a mesma forma geométrica (ou formas parecidas) e os fluxos de materiais e de pessoas ocorrem ao longo da espinha. O uso de módulos de tamanhos padronizados favorece futuras expansões e melhor se adaptam às mudanças na demanda, facilitando o rearranjo de atividades entre os módulos. As expansões podem ocorrer pela extensão da espinha adicionando-se novos módulos ou pela ampliação do comprimento de cada módulo. Para reduzir distâncias de transportes ao longo da espinha a modularização pode seguir formas, por exemplo de ‘T’ ou em ‘X’ ou uma composição de polígonos diversos. No entanto, com o aumento da complexidade das formas dos módulos aumenta a dificuldade construtiva e pode diminuir possibilidades de expansão. Layout modular O conceito de distribuição espacial em módulos interligados, com a possibilidade de possuírem atividades independentes entre si, permitiu o desenvolvimento de novos padrões de organização do trabalho e, consequentemente, novos padrões de layout (PETERS and YANG, 1997). Os modelos que melhor se adaptaram ao projeto modular foram aqueles derivados da escola sociotécnica de organização do trabalho com grupos semiautônomos e layout celular do sistema flexível de manufatura (ORSTMAN, 1984). Para melhor contextualizar os modelos de layout que derivam da aplicação dos conceitos do projeto modular com a organização do trabalho, foram usados exemplos adotados pela empresa Volvo, na Suécia, em suas plantas de Kalmar e Skovdeverken, construídas entre as décadas de 70 e 80, dentro da filosofia do projeto modular e com propostas de trabalho em grupo e em células de manufatura. Estes exemplos foram montados por composição 143 dos seguintes textos: ORSTMAN (1984), MARSH (1995), WOMACK e JONES(1992), TOMPKINS (1984) e KANAWATY (1984). A fabrica da VOLVO em Skovdeverken produz motores de 4 cilindros e foi projetada nos conceitos do projeto modular. Esta fábrica foi proposta com um novo conceito de layout, ambiente, tecnologia e organização do trabalho. Os projetistas da fábrica trabalharam junto com representantes dos empregados e especialistas externos durante o planejamento e a execução dos trabalhos de projeto e implantação. Estas considerações práticas exigem que os departamentos de fabricação, montagem e testes estejam concatenados no layout da fábrica como princípios básicos de projeto. O objetivo foi criar uma atmosfera de uma pequena oficina mantendo as vantagens de uma produção racional e um fluxo flexível de materiais, que uma grande fábrica pode oferecer. O resultado é um layout muito diferente dos padrões tradicionais com muitas vantagens práticas e ambientais (figura 37). (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 252) Figura 37 - Estrutura dos módulos do layout - Volvo de Skovdeverken/Suécia. A fábrica consiste de um corpo principal contendo os departamentos de montagem e testes com 4 ramos em ângulo reto contendo os departamentos de fabricação que são separados entre si por áreas livres (jardins). A linha de montagem tradicional foi substituída por um sistema 144 extremamente flexível de grupos de montagem. Carrinhos de montagem, eletricamente guiados (AGVS), auxiliam os trabalhos e são controlados pelo pessoal de montagem. As diferentes equipes, tanto nos departamentos de fabricação como de montagem, participaram do planejamento e projeto da fábrica e dos postos de trabalho e, após a implantação trabalharam no desenvolvimento de novas formas de organização do trabalho. Os 4 módulos de fabricação são conectados por espinhas de fluxo de material e de pessoas na extremidade do módulo. A planta total da fábrica ocupa aproximadamente 37.000 m2 de área construída. (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 252) Figura 38 - Módulos de montagem da automóveis da fábrica da Volvo em Kalmar, Suécia. 145 A planta de montagem de automóveis em Kalmar é outro exemplo de projeto modular. Como mostrado na figura 38, a planta de montagem consiste de 4 módulos hexagonais de tamanhos iguais, com 3 módulos de montagem em 2 pavimentos e um modulo de preparação e acabamento em um só pavimento. Possui ainda um modulo hexagonal em um só pavimento para suporte administrativo e de engenharia localizado na parte da frente do edifício e conectado com a montagem. As operações de montagem são realizadas em 3 módulos adjacentes. As rotas da montagem estão indicadas na figura 39. (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 253) Figura39 - Rotas de fluxo das montagens da fábrica da Volvo de Kalmar, Suécia. A área de armazenagem de materiais está localizada no centro da planta (figura 40) e elevadores de carrinhos são usados para armazenar e pegar 146 os materiais nas estantes dos estoques, como também transportar os materiais entre a área de estoques e as estações de plataformas de estoques rápidos localizadas em cada piso. O elevador de carrinhos opera no primeiro piso transportando pequenas quantidades de materiais entre o primeiro e o segundo piso. A planta de Kalmar é reconhecida internacionalmente pelo seu pioneirismo no enriquecimento do trabalho e na formação dos conceitos de equipes na montagem de automóveis. O conceito de equipes foi uma dos objetivos básicos estabelecidos no início do processo de planejamento da planta. Os membros das equipes de montagem participaram da composição de suas próprias tarefas e dos trabalhos comuns dentro de uma estrutura de produção estabelecida. Eles tinham permissão para interromper o trabalho, variar seus ritmos de trabalho, eram responsáveis pela qualidade e tinham a possibilidade de influenciar em seus ambientes de trabalho. (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 254) Figura 40 - Vista geral da planta da Volvo em Kalmar, Suécia. 147 A hipótese da gerência da Volvo era a de que um aumento de tarefas, por enriquecimento horizontal e vertical de funções, combinado com equipes de trabalho; poderia alcançar maiores resultados de produção e satisfação para cada empregado. Como resultado do projeto, cada equipe de trabalho passou a ter sua entrada própria, vestiários e sanitários próprios, área de descanso e a área de montagem, no total de 900 m2 , incluindo uma pequena oficina própria. As montagens de automóveis são realizadas por 20 diferentes equipes. Cada equipe completa um sistema no carro, por exemplo, o sistema elétrico, instrumentos e equipamentos de segurança. A montagem é feita sobre um teleférico guiado, movido à bateria elétrica e carros controlados por computadores (AGVS). Duas abordagens de montagens são usadas: montagem em linha e montagem em docas (figura 41). (Fonte: TOMPKINS, 1984, p. 255) Figura 41 - Abordagens de montagem utilizadas na fábrica da Volvo em Kalmar, Suécia. (a) método de montagem em linha, (b) montagem em docas. 148 Com a montagem em linha, o trabalho a ser realizado é dividido em equipes ao longo de 4 ou 5 estações de trabalho. Os operadores trabalham em pares e seguem um carro de estação em estação, realizando todo o trabalho designado para sua equipe. Quando um par de operadores completa o trabalho em um carro, caminham de volta para a estação inicial de sua área e repetem o processo. Tipicamente, as equipes compostas de duas pessoas negociam as tarefas designadas para cada uma, de forma a produzir uma variedade adicional ao seus trabalhos. A abordagem de montagem em docas é usada quando o conjunto de tarefas de montagem é realizada inteiramente em uma das 4 estações de montagens por uma equipe de 2 ou 3 operadores. Na abordagem de montagem em docas, os AGVS trazem um carro para a doca de montagem onde um ciclo completo de trabalho é realizado. O conteúdo e a qualidade do trabalho realizado não é diferente dos padrões da abordagem da linha de montagem. Segundo FERREIRA et alii (1991) o sistema de produção em docas apresenta as seguintes características: 1- o produto a ser trabalhado fica parado e a equipe de trabalho se movimenta ao redor do produto. Nesta proposição pode-se verificar, pelo menos, duas inovações em relação aos sistemas tradicionais de produção intermitente: substituição de sistemas de movimentação de partes inacabadas semi-processados percorrendo postos de processos especializados, e a mudança do layout predominante de processo ou produto por posição fixa. 2- o grupo de trabalho é composto de 5 até 10 trabalhadores responsáveis pelo ciclo completo de trabalho sobre o produto(montagem completa, por exemplo). A principal mudança em relação ao layout é a complexidade de cada posto de trabalho que, pelas característica de absorver um conjunto maior de atividades diferentes, passa a ser 149 denominado de estação de trabalho(tem vários postos agregados e incorpora funções de decisão de processo com uso de computador e funções de qualidade). O layout de uma estação de trabalho irá conter quase todos os elementos de um layout de uma pequena fábrica, como processamento, estoques, ferramentaria, testes, sub-montagens, etc. 3- o trabalho é compartilhado entre os membros da equipe sem rigidez de tarefas preestabelecidas para cada um dos membros, podendo assumir desde uma estrutura de linha rígida de montagem até uma estrutura de mutirão com todos fazendo a mesma tarefa, ao mesmo tempo. Desta forma, o layout das estações de trabalho deve ser extremamente simples para permitir uma variação rápida de sistema de trabalho e, ao mesmo tempo, possuir instrumentos de trabalho para serem fornecidos nestas mudanças de sistemas. 4- participação de sindicatos e outras instituições sobre as formas de organização do trabalho e sobre o ambiente de produção como segurança e ergonomia. Esta forma de discussão e participação favorecem atualizações mais freqüentes nas estruturas do layout da fábrica, tornando sua relação ainda mais dinâmica com a edificação da fábrica. Mini-fábrica O conceito de mini-fábrica surgiu como uma ampliação do conceito do projeto modular de layout, em decorrência de problemas operacionais. Como visto nos exemplos das fábricas da Volvo, os módulos são dotados de infra-estrutura necessária para seu funcionamento independente do restante da fábrica, ou seja, como uma mini-fábrica. Nas especificações iniciais do trabalho dos módulos, como proposto para a montagem de veículos, estes 150 seriam auto-suficientes em relação ao trabalho designado para o grupo em termos de materiais, equipamentos, ferramentas, manutenção e área de descanso (incluindo sanitários). Entretanto, na disseminação do uso do conceito de projeto modular na prática de diversas empresas, por acomodações funcionais e até mesmo em decorrência de programas de melhoria de produtividade, outras funções foram sendo absorvidas pelos grupos de trabalho semi-autônomos como: ferramentaria, almoxarifado de materiais indiretos, controles administrativos e engenharia (em alguns casos até projeto de produto). Este conceito parte do princípio de que pequenas unidades independentes de produção, dentro de uma fábrica de grandes dimensões, possuem maiores facilidades operacionais relativas a tomada de decisões diárias sobre a produção, simplicidade do fluxo, menor quantidade de itens a controlar, áreas menores, etc., o que as tornam mais eficientes e de fácil gerenciamento (KANAWATY, 1984). Na mini-fábrica é mais fácil estabelecer condições de trabalho apropriadas aos grupos, revezamentos de funções, e até contatos inter-grupos. Existem duas formas básicas de se estabelecer uma mini-fábrica: através de pequenos edifícios independentes ou projeto de pequenos módulos de trabalho dentro de um grande edifício. Se for possível dividir a produção de um produto em partes estanques e independentes, a melhor forma de trabalhar em mini-fábricas é a divisão da produção em pequenos edifícios, cujo projeto torna-se mais simples e de melhor adequação às condições de ruído, iluminação e temperatura; alem dos aspectos já mencionados de organização do trabalho. O mais encontrado na prática, em função de edifícios já existentes, de grandes dimensões, e destinados à atividades de produção, várias míni-fábricas funcionando dentro de um mesmo ambiente, separadas por corredores (caso da fábrica F2 estudada no item 4.2.2) ou por divisórias (caso da fábrica F1, item 4.2.3). Um exemplo de mini-fábricas construídas de forma integrada na produção e em blocos de edifícios separados é mostrado na figura 42 de uma 151 fábrica sueca onde a disposição dos blocos é semelhante à disposição de quadras urbanas, separadas por ruas (KANAWATY, 1984). (Fonte: KANAWATY, 1984, p. 88) Figura 42 - Mini-fábricas integradas em edifícios separados. Esta forma construtiva deu uma aparência de casas construídas em uma área relativamente grande. Cada bloco padrão tem 10.000 m2, com 200 pessoas trabalhando e possui, além de todas as atividades de produção e oficinas de suporte, um conjunto de serviços de fábrica: escritório, sanitários, vestiários, copa e local de descanso. Em cada bloco são processados produtos 152 ou partes de produtos de forma independente com um estoque central de fornecimento para todas as mini-fábricas e uma área comum de expedição de produtos para toda a fábrica. A segunda maneira de se estruturar as míni-fábricas pode ser exemplificada pela fábrica da Volvo de Kalmar. O esquema de uma minifábrica na planta de Kalmar pode ser vista na figura 43, que mostra em detalhe a área anexa ao módulo de montagem com oficina, vestiário, sanitário, escritório e sala de descanso. Na parte central do módulo há um estoque de peças de suprimento para montagem. (Fonte: KANAWATY, 1984, p. 89) Figura 43 - Detalhes de uma mini-fábrica da fábrica da Volvo em Kalmar, Suécia. 153 As principais vantagens encontradas na literatura para adoção de mini-fábrica parecem residir: na simplicidade de planejamento e controle, na flexibilidade da organização do trabalho, no nível de envolvimento dos trabalhadores e na adequação do edifício aos processos e ao conforto no trabalho. 3.5. Considerações finais Os objetivos de um layout de fábrica, conforme já descrito no capítulo 2, podem ser sumariados em: a) simplificar o fluxo de materiais; b) racionalizar o uso dos espaços; c) garantir boas condições de trabalho; e d) manter a flexibilidade do processo de produção. Estes objetivos, embora se mantenham independente dos padrões dos sistemas de trabalho, passam a agregar novas variáveis, em decorrência da evolução dos conceitos de organização do trabalho aliados às mudanças no cenário das relações econômicas e de produção de diversos países. De acordo com as mudanças exploradas neste capítulo, é possível pontuar algumas direções gerais - mais de estrutura do que de contexto - que as empresas vêm seguindo (ou perseguindo), nestes últimos 10 anos, como alternativas para manter suas competitividades, e que se referem diretamente ao layout. Dentre as direções, algumas parecem consensuais entre os diversos autores pesquisados e já citados neste trabalho como: 1-Reorganização da fábrica em sistemas menores e independentes. 2-Aproximação dos estoques de materiais dos locais de seu processamento. 3-Dedicação dos sistemas menores, ou subfábricas, à produtos ou subsistemas de produtos mais complexos, fazendo a agregação das subfábricas por unidades de produção. 154 4-Minimização do tamanho da fábrica eliminando tarefas ou atividades complementares como serviços, suprimentos, administração; por transferencia de responsabilidade, eliminação ou redução. 5-Descentralização dos estoques e de sua responsabilidade, transferindoos para as subfábricas. 6-Construção de layouts para trabalhos em grupos semi-autônomos, sem prescrição formal da relação área versus função. 7-Incorporação de equipamentos multi-operações e com grau de automação que permita intervenção do operador no processo de trabalho e que possam ser operados indistintamente pelos operadores. 8-Uso de sistemas automatizados para transporte e manuseio de materiais, tornando os corredores em sistemas de conexão funcional entre as subfábricas. A introdução das variáveis acima relacionadas aos objetivos clássicos do layout redirecionam as bases projetais dos edifícios industriais em unidades ou módulos menores e autônomos, constituindo-se de “pequenas fábricas” independentes, mesmo que dentro de um único edifício ou ambiente, implicando no remanejamento e rearranjo de funções e de relacionamento das atividades típicas de uma fábrica. O quadro 15 mostra uma relação de atividades típicas de uma fábrica e que, independente do sistema de produção, se materializam em áreas funcionais no layout. A forma como se relacionam e se agregam, depende dos princípios adotados para o sistema de produção particular da unidade. Por exemplo, na manufatura celular, pode-se dividir os blocos funcionais em: 1) bloco de ocupação das células, 2) bloco de acesso às células, 3) bloco de armazenagem central de materiais e produtos, e 4) bloco de apoio de fábrica e, dentro destes blocos, coloca-se as demais áreas funcionais. 155 Quadro 15 - Unidades típicas de uma fábrica e principais atividades no processo de produção. Área Funcional Funções principais Acabamento/ Conferir aos produtos finais a forma de Embalamento apresentação para venda(ou expedição) Administração Controle funcional, fiscal e financeiro das atividades da fábrica. Almoxarifado Armazenamento de materiais diretos ou indiretos. Apoio de Serviços de higiene, conforto e saúde para a Pessoal mão-de-obra. Expedição Controle de saída de pessoas, materiais ou produtos da fábrica. Fabricação Processamento dos materiais, transformando matérias-primas em partes intermediárias ou produtos finais. Atividades básicas controle de qualidade/ produção, embalamento e movimentação para armazenamento. contabilidade, compras, vendas, recrutamento/ seleção, pagamentos, gerência e direção. matérias-primas, partes em processo, produtos acabados. ambulatório, vestiários, sanitários, refeitórios, creche, bebedouros, salas de descanso. movimentação de produtos finais, carregamento e vias de circulação externa. processamento de materiais brutos, processos intermediários/tratamentos superficiais, processamento de componentes finais, montagem. Ferramentaria/ Confecção de ferramentas de máquinas, Oficina de reparos de partes de máquinas. máquinas Manutenção Conservação e adequação de equipamentos e instalações visando sua disponibilidade de uso no processo. Preparação de Adequação dos materiais diretos para serem controle de qualidade de matérias-primas e MP processados. materiais comprados, sistema de movimentação, disposição dos materiais para processamento. Recepção Controle de entrada de materiais ou pessoas recebimento de materiais, vias de acesso, na fábrica. estacionamento, controle de ponto. Suprimentos Sistemas de provimento de energia e de reservatório de água, casa de força, gás, óleo, materiais secundários para o processamento. etc. (Fonte: CAMAROTTO, 1997) Em relação aos padrões de layout, CORIAT(1994), ao relacionar as formas clássicas de agrupamento de máquinas, derivadas da organização Fordista/Taylorista de trabalho, que o modelo japonês de produção abandonou, explica que foram substituídas por arranjos novos baseados em grupos de máquinas por produto e sem definição rígida da relação posto de trabalho x operador. Este novo arranjo, com operadores percorrendo vários postos de trabalho, no conceito de multifunção, compartilhando funções com os demais operadores do setor, representa a base de mudanças dos paradigmas vigentes sobre as formas de controle do trabalho e da produção. 156 4. ESTUDO DE CASOS Este capítulo relata a pesquisa de campo efetuada em empresas industriais que modificaram seus sistemas de gestão da produção mantendo os mesmos edifícios. O objetivo é mostrar as mudanças ocorridas nos ambientes de trabalho decorrentes de mudanças nos padrões de Layout, por produto ou funcional, para layouts baseados em novos padrões de gestão da produção, diferentes dos modelos tradicionais derivados da produção em massa e fragmentação de tarefas, característicos do sistema Fordista/Taylorista. Estas mudanças, conforme a discussão do capítulo 2, se referem ao comportamento dos ambientes de trabalho em relação ao conforto do trabalhador, analisados sob três conjuntos de variáveis: agentes ambientais de trabalho(calor, ruído e iluminamento), áreas de trabalho nos postos de trabalho e satisfação do trabalhador. Os agentes ambientais são analisados de acordo com as normas descritas no item 2.6.2. As áreas de trabalho são comparadas entre as área utilizada por um posto de trabalho antes das mudanças e a área utilizada pelo mesmo posto (ou para a mesma função) depois das mudanças no Layout. A satisfação do trabalhador é medida por comentários dos trabalhadores que trabalharam na mesma empresa antes e depois das mudanças na gestão da produção e do trabalho. Os casos estudados não pretendem exaurir todas as variáveis colocadas para o problema de mudança técnica de gestão do trabalho e da produção nas empresas, mas apontar as principais incompatibilidades entre as estratégias adotadas pelas empresas nestas situações de mudança. 157 O modelo de pesquisa adotado, como já descrito no item 1.3, foi montado utilizando elementos do método de levantamento das características do ambiente da edificação através da percepção dos trabalhadores destes ambientes e elementos de pesquisa prospectiva para a quantificação dos agentes ambientais e das áreas ocupadas pelos postos de trabalho. Entretanto, como o método da APO utiliza questionários dirigidos, com quesitos fechados (ver exemplos citados em ORNSTEIN, 1992), tratados estatisticamente; verificou-se no decorrer da pesquisa que somente questões dirigidas não conseguiriam responder questões relativas à satisfação dos usuários dos ambientes industriais. Para complementar o levantamento das informações utilizou-se de questões abertas que abrangiam aspectos relacionados ao ambiente percebido pelos trabalhadores, aos aspectos técnicos e sociais envolvidos no trabalho. 4.1. O modelo de pesquisa utilizado. A pesquisa de campo nas empresas foi realizada em duas épocas diferentes, a primeira por ocasião da efetivação das mudanças de modelo de gestão e de Layout e a segunda após as mudanças já terem sido efetivadas completamente. O tempo decorrido entre a primeira e a segunda pesquisa foi diferente para cada empresa, em função da dinâmica das mudanças ocorridas. Em cada uma das pesquisas efetuadas foram utilizados instrumentos específicos, divididos em 3 modos distintos, de acordo com o modelo de instrumento de coleta de informações apresentado no anexo 1: 1) Avaliação dos agentes ambientais para determinação do conforto ambiental, através de medições de ruído, calor e iluminamento nos postos de trabalho e em diversos pontos do ambiente, com equipamentos próprios: luxímetro, 158 decibelímetro, psicrômetro, termômetro de globo e anemômetro. O método de medição e avaliação seguiu a prescrição detalhada no item 2.6.2. 2) Avaliação do sistema de gestão da produção através de indicadores de rendimento do sistema de produção para cada situação, com usos de questionário com perguntas dirigidas sobre produtividade, produção, tempos, etc. 3) Avaliação da organização do trabalho através de entrevistas com trabalhadores e levantamento de quantidades de tarefas, postos e áreas para cada atividade e as áreas ocupadas pelos postos de trabalho. Compreende: a. Levantamento de dados sobre os espaços de trabalho nas células de manufatura, através de observação direta incluindo: envoltórios de alcance, movimentos do corpo, esforços, agentes ambientais, ritmo de trabalho, quantidade e complexidade das tarefas, etc. b. Comparação de espaços de trabalho no Layout em linha e no Layout celular concentrando-se nos mesmos parâmetros do item "a" acima. c. Descrição dos conteúdos do trabalho na linha e na célula, procurando identificar os elementos cognitivos e a separação entre trabalho prescrito e trabalho real em cada situação. 4.2. As Fábricas estudadas A pesquisa inicial contava com um conjunto de oito empresas mas, em função da dificuldade de obtenção de uma quantidade razoável de dados, foi realizada integralmente em 3 destas empresas. São empresas que 159 apresentam características de produzir produtos padronizados, ou seja, mantém certa uniformidade no trabalho em cada posto e no sistema de movimentação de materiais. As demais empresas, dentre as 8 pesquisadas, em que se iniciou a pesquisa mas não se obteve dados mínimos necessários para uma análise mais detalhada, são mencionadas ao longo das discussões apenas como ilustração, sem referências específicas. Para uma uniformidade no tratamento, as três empresas estudadas estão identificadas através de códigos, visando preservar as informações obtidas. A denominação de “fábrica”, conforme definido em MAFFEI (1982), é a mais adequada para a descrição dos locais estudados, já que as empresas possuem várias outras unidades de produção e diversos outros produtos. .FÁBRICA (F1) – Indústria de transformação de produtos metálicos, fabricação de peças e acessórios para veículos automotores, do setor de autopeças. Localizada em São Paulo, capital. . FÁBRICA (F2) – Indústria de transformação de produtos metálicos, fabricação de peças e acessórios para veículos automotores, do setor de autopeças. Localizada no interior do estado de São Paulo. . FÁBRICA (F3) – Indústria de transformação de produtos plásticos e de madeira, fabricante de produtos diversos para escritório. Localizada no interior do estado de São Paulo. Para os propósitos do trabalho as fábricas possuem características de processo de trabalho e de produção semelhantes, no que tange às variáveis estudadas. Estas características são: 160 1) os equipamentos utilizados na produção são de base mecânica ou eletro-mecânica, cujas funções de transformação e tipos comercializados são bastantes difundidos no mercado, como máquinas-ferramenta tradicionais(tornos, fresas, plainas, etc.), estamparia(prensas, dobradeiras, rebitadeiras, coladeiras), injetoras, estufas etc.; 2) os equipamentos não são totalmente automatizados, exigindo intervenções dos operadores, no mínimo, em carga/descarga de peças nas máquinas(individual ou por lote), manuseio de comandos das máquinas para ajustes na operação e auxílio na movimentação de materiais nos postos; 3) os setores de produção estudados são organizados com divisão rígida de trabalho por operador e por posto; 4) as edificações foram projetadas em épocas próximas(entre as décadas de 50 e 60) para comportarem organizações de produção em massa e Layout por processo ou por produto. Para melhor compreensão da forma de aplicação do modelo de coleta de informações nas fábricas, incluindo o questionário, e como as informações foram rearranjadas para os objetivos do trabalho, na descrição da primeira fábrica estudada (F1) estão relatadas as informações de maneira bastante detalhada, incluindo tratamentos dos dados, para demonstrar o método e explicar a seqüência utilizada. Para as demais fábricas estudadas (F2 e F3) a descrição é apresentada de forma sucinta, mostrando apenas os dados tratados e específicos para as variáveis de interesse. 161 4.2.1. Fábrica - F1 A empresa estudada foi fundada em 1950, para a produção e comercialização de peças para veículos automotores. Ocupava inicialmente uma área de 2.800 m² e com capacidade de produção de 220.000 produtos/ano. Atualmente a empresa produz 5 classes de produtos diferentes, sendo que a fábrica pesquisada produz uma destas classes, com 19,2 milhões de unidades/ano em uma área de 65.864 m² construídos. A empresa trabalha por encomendas das montadoras de veículos, para o mercado de reposição interno e exportação. As matérias-primas básicas utilizadas na fabricação destes produtos são: alumínio puro, cobre, silício, níquel, magnésio, antimônio, estanho, chumbo, alumínio extrudado, aços especiais e aços laminados. Para o estudo da célula de manufatura foi escolhida a usinagem de um dos modelos mais produzidos do produto principal da empresa. Esta escolha foi em função de que na usinagem o processo de adoção de células já está completo com registros da situação anterior, e a escolha do tipo de modelo do produto é a sua representatividade em termos de processo de fabricação, volume de produção e a padronização das diversas células desta seção. O processo de fabricação do produto pode ser representado pelo seguinte esquema: FUNDIÇÃO Æ Æ USINAGEM ÆÆ .preparação da liga .moldagem .inspeção .corte de canais .tratamento térmico .estocagem .usinagem .tratamento superficial .inspeção EMBALAGEM e ESTOCAGEM .embalagem .estocagem 162 Situação anterior – Linha de produção Na seqüência de operações estão colocados apenas os equipamentos que executam as operações básicas no modelo de produto escolhido. Os equipamentos possuem diferentes tipos de controle de programação, ou seja, diferentes níveis de automação e, portanto; formas diferentes de intervenção do operador. Os controladores tipo CLP (Controlador Lógico Programável) requerem pouca intervenção do operador, enquanto que os equipamentos controlados por Relé ou mesmo por CNC (Controlador Numérico) necessitam de intervenções mais freqüentes do operador, embora que de naturezas bastante diversas. O quadro 16 sumaria os equipamentos, os tipos de controles e o quadro 17, a seqüência das operações: Quadro 16 - Equipamentos e controles utilizados na estrutura de fabricação do produto da Fábrica F1, no sistema de linha de produção. EQUIPAMENTO CÓDIGO Torno especial - 2 TEP-R2 Torno especial - 4 TEP-R4 Fresadora/Mandriladora de 3 vias Furadeira 4 cabeçotes Torno INDEX GU 600 FRE 3 VIAS FUR-4 CAB TORNO GU 600 Torno especial para pistões 8 Torno especial para pistões 5 Torno copiador Mandriladora Wegemachine TEP-R8 TEP-R5 TCML MANDR WEGE Torno INDEX GFG 250 Mandriladora PB 742 Bruniladora KD 1 Fresadora Wottan TORNO GFG 250 MANDR PB 742 BRU KD 1 FRE WOTTAN FUNÇÃO Usinar profund. e chanfros, acabamentos. Desbaste das canaletas, chanfros e do topo Desbaste do furo furos para lubrificação Desbaste, chanfro e acabamento pré-acabamentos Acabamentos Acabamentos pré-acabamentos, furo, chanfro Acabamentos Acabamentos Brunir furo Usinar furo CONTROLE CLP CLP CLP CLP CNC Relé CLP CNC, CLP CLP CNC CLP Relé CNC 163 Quadro 17 - Seqüência de operações na linha de produção da Fábrica F1. MÁQUINA NÚM. DE OPERAÇÕES OPERAÇÃO SISTEMA DE TRANSPORTE TEP-R2 TEP-R4 FRE-3VIAS FUR-4CAB TEP-R2 TORNO GU 600 TEP-R8 TEP-R5 TCML TCML MANDR-WEGE TORNO GFG 250 MANDR PB 742 BRU KD 1 FRE WOTTAN 02 03 02 01 02 03 01 02 01 02 04 01 01 01 01 Usinar/furar Desbaste Desbaste Brocar furos acabamento Desb./Chanfros Usinar Usinar Usinar Usinar Usinar Acabamento Acabamento Brunimento Usinar Manual copo/calha Manual copo/calha copo/calha copo/calha Manual Manual copo/calha copo/calha Manual caixa/calha caixa/calha caixa/calha Situação Anterior - Layout e fluxo nos postos de trabalho Conforme o layout apresentado na figura 44, a linha do produto possui 12 postos (ou estações) de trabalho, com um operador por posto e cada um realizando um conjunto de funções de forma independente dos demais. Esta linha produz 1.100 produtos/dia em 8:48 horas de trabalho, com jornada das 7:00 às 17:08 horas. No mapofluxograma sobre o layout da linha, na figura 44, pode-se verificar os percursos dos produtos ao longo da linha e o quadro 18 mostra a divisão dos postos de trabalho. 164 Figura 44 – Layout e mapofluxograma - linha de produção do produto da fábrica F1. Quadro 18 - Distribuição dos postos de trabalho na linha de fabricação, Fábrica F1. POSTO DE MÁQUINA(S) TRABALHO 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 QUANT. OPERAÇÕES TEP-R2, TEP-R4 FRE- 3 VIAS, FUR-4 CAB TEP-R2 TORNO GU 600 TEP-R8, TEP-R5 TCML TCML(2) TCML(2) MANDR WEGE, TORNO GFG 250 MANDR PB 742 BRU-KD1 FRE-WOTTAN 05 03 02 03 03 01 01 01 05 01 01 01 165 Situação Anterior - Análise do trabalho na Linha de Produção As mudanças relatadas foram obtidas através de entrevistas com engenheiros das áreas de planejamento da produção, da segurança do trabalho e supervisores das células e das linhas. Foram consultados, também, arquivos e plantas da área de planejamento da empresa. Esta linha de produção começou a ser alterada para uma estrutura de layout celular a partir de 1993, com implantação concluída em 1996. As principais mudanças técnicas verificadas estavam relacionadas com a adoção de células de manufatura e de sistemas semi-automáticos de troca de ferramentas e de movimentação de materiais na usinagem. A fundição e o setor de embalagem/estoque não foi objeto de mudanças. As mudanças que a empresa promoveu na gestão do processo de produção foram motivadas por: a) melhoria no processo de usinagem pela diminuição do tempo entre fundição e desbaste; b) especialização da manutenção da fábrica pela alocação de técnicos nas células; c) melhoria do controle de qualidade pela distribuição destes controles e incorporação de medições nas máquinas; d) aumento da taxa de produção pela redução de estoques intermediários e dos tempos de preparação de máquinas; e) aumento da flexibilidade na produção de vários modelos de produtos; e f) como resultado final deste processo, aumento da produtividade( capital e trabalho ). O trabalho de cada operador, nesta linha, consistia da realização de 12 atividades básicas realizadas em seu posto de trabalho sem contato com o 166 trabalho dos demais operadores da linha. Tais atividades eram necessárias para completar um ciclo de trabalho no posto. Como a produção diária da linha era de 1.100 produtos/dia, com 27 operações por produto e realizadas por 12 operadores; durante uma jornada de trabalho cada operador executava 2.495 operações. Como várias operações são feitas automaticamente pelos equipamentos sem a interferência do operador; não significa que cada uma das 2.495 operações para a produção são também executadas pelos operadores. Em cada posto de trabalho, o operador tinha que cumprir as 12 atividades básicas, independente de quantas operações fizer. Estas atividades básicas estão mostradas no quadro 19 abaixo. Quadro 19 - Atividades do operador no posto de trabalho da linha de produção, Fábrica F1. SÍMBOLO O Ö O O D O Ö O Ö DESCR. ATIVIDADE pegar peça a ser trabalhada levar peça até ponto de operação colocar peça na máquina ajustar peça na máquina acionar máquina aguardar operação conferir operação da máquina tirar peça da máquina conferir trabalho na peça levar peça até local de transporte Depositar peça no estoque buscar nova peça p/ trabalho Assim, na média, cada operador executava (ou supervisiona) 4,72 operações por minuto6. Como na linha, cada posto de trabalho executava, em média 2,25 operações ( 27 operações / 12 postos de trabalho) e cada operação 6 este número é resultado do seguinte cálculo: (1.100 pistões) x (27 operações por pistão) / ( 12 operadores na linha) = 2495 operações por dia por operador, ou: 2495 / 8,8 horas/dia = 4,72 operações por minuto e por operador 167 era composta de 12 atividades; cada operador executava, por minuto: 2,25 ciclos de 12 atividades cada ciclo por minuto, ou 27 atividades por minuto. Este conjunto de atividades era executado dentro dos espaços destinados aos postos de trabalho, conforme distribuição mostrada no quadro 20. Quadro 20 - Distribuição das áreas na linha de produção, separadas em áreas de trabalho do operador e dos equipamentos, por posto de trabalho na Fábrica F1. POSTO DE TRABALHO QUANT. DE OPERAÇÕES ÁREA DO(S) EQUIPAMENTOS (m²) ÁREA DO OPERADOR (m²) 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 TOTAL 05 03 02 03 03 01 01 01 05 01 01 01 27 25 25 08 20 16 11 22 22 20 12 1,5 12 194,5 2,0 1,5 1,5 3,0 1,5 1,5 1,5 1,5 2,0 1,5 1,0 1,5 20 Este quadro mostra que existia um espaço reduzido para a realização dos ciclos de atividades em função da velocidade com que as atividades são executadas. Segundo IIDA(1991,pags. 159/60) os postos de trabalho com espaços exíguos e com execução de tarefas precisas são mais propícios à acidentes do trabalho e à maior número de erros por parte dos operadores destes postos. O autor mostra graficamente que corredores menores que 80 cm de largura têm probabilidade de até 80% de que ocorram acidentes quando as tarefas forem executadas com muita rapidez. Neste ambiente foram encontrados níveis de ruído de até 92 dB(A) nos pontos de operação dos postos e nível de iluminamento mínimo de 310 LUX. A legislação - Normas Regulamentadoras de Higiene e Segurança do 168 Trabalho do MTb(BRASIL, 1997) e ABNT(1992) - estabelece um nível máximo de ruído de 85 dB(A) e um nível mínimo de iluminamento de 300 LUX para atividades de usinagem em indústrias mecânicas e metalúrgicas. Situação atual – Célula de manufatura A adoção de célula de manufatura foi justificada pela empresa por critérios de produtividade e redução de custos de materiais e de espaços. A denominação de célula é uma representação de um conjunto de mudanças do processo de gestão da produção que incorpora novas técnicas e conceitos de layout, organização do trabalho, estoques intermediários e finais, automação de máquinas, entre outros; conforme resumido no quadro 21, abaixo. Quadro 21 - Conceitos e Técnicas de gestão da produção incorporados na célula de manufatura, conforme explicação da empresa da Fábrica F1. ORIGEM DO ESTRUTURA DE TRABALHO OU PRINCÍPIO/TÉCNICA PROCESSO Grupo Semi-Autônomo (sócio-técnica) Tecnologia de Grupo .autonomia de tarefas .área exclusiva p/ fabricação .dedicação a um único produto .padronização de operações .previsão de demanda à curto Just-in-Time/ Kanban prazo( pronta-entrega) .operário multifuncional .inexistência de estoques intermediários Sistema Flexível de Manufatura .automação dos processos .transporte auto-guiado Com relação às máquinas utilizadas na célula em estudo, foram aproveitadas algumas das existentes na linha, porém com modificações nos sistemas de controle de processo e de troca de ferramentas, passando os 169 controles de relés para CNC e alguns CNCs para CLP. Foram incorporados equipamentos novos que executam, cada um, operações que antes eram feitas por vários equipamentos. Dos novos equipamentos, destaca-se um centro de usinagem que substituiu 8 máquinas que antes existiam na linha. Assim, a estrutura da célula ficou mais "enxuta" se comparada com a linha de produção, no que tange ao número de máquinas, ao conjunto de operações e ao sistema de transporte entre as estações de trabalho (quadro 22). A diminuição do número de operações para se obter um produto acabado deve-se à três fatores conjugados: a) mudança no processo de fundição, que aumentou o grau de acabamento e de detalhes construtivos para a usinagem; b) incorporação de ferramentas multifuncionais nos novos equipamentos; c) eliminação de algumas operações de acabamento na célula de usinagem, que foram passadas para os setores de inspeção final e de embalamento. Quadro 22 - Estrutura de trabalho na célula de fabricação, Fábrica F1. MÁQUINAS TEP-R2 FRE-3 VIAS FUR-4 CAB TORNO GU 600 TORNO TEUF, TORNO GFG 250 C-US-FURO QUANTIDADE DE NOME DAS SISTEMA DE OPERAÇÕES OPERAÇÕES TRANSPORTE 02 02 01 02 03 Usinar Desbaste Brocar Desbaste Usinar Copo/calha Manual Copo/calha Manual copo/calha Situação Atual - Layout e fluxo na Célula (figura 45) Na célula, cada operador é responsável, além das 12 atividades anteriormente alocadas nos postos de trabalho da linha, por outras tarefas adicionais que fazem parte do projeto do modelo Japonês de gestão da produção. A proposta de MONDEN (1987) de operador multifuncional aumenta a quantidade de tarefas no posto em função da movimentação e do 170 carregamento de máquinas; e, de forma subjacente, a teoria sociotécnica de gestão do trabalho implica no aumento da responsabilidade dos operadores pela incorporação de novas funções ORSTMAN (1984). Figura 45 - Layout e fluxo do processo na célula - Fábrica F1. No caso estudado, houve incorporação das seguintes funções em cada posto de trabalho: - movimentação do material processado no posto. - manutenção básica dos equipamentos - controle de qualidade das peças processadas no posto - controle do ritmo de produção e balanceamento do fluxo de produção - realização de funções de outros operadores(em outros postos) 171 O projeto de célula de manufatura prevê um esquema de trabalho sem operadores fixos nos postos de trabalho, onde cada operador deve trabalhar em vários postos, com operações diferentes(multifuncionalidade). Isto não acontece na célula estudada, com também não ocorre nas demais células existentes na fábrica. Embora não haja uma norma formal determinando o posto de cada operador, na prática verifica-se um operador por posto de trabalho e um líder de grupo que supre eventuais ausências de operadores e auxilia nas operações gargalos. A estrutura dos postos é mostrada no quadro 23, abaixo. Quadro 23 - Distribuição dos postos de trabalho na célula de fabricação, Fábrica F1. POSTO DE MÁQUINAS TRABALHO 01 02 03 04 QUANT. DE OPERAÇÕES TEP-R2, C-US-FURO FRE-3 VIAS, FUR-4 CAB, TORNO GFG 250 TORNO GU 600 (2), TORNO TEUF(2) TORNO GFG 250 03 04 03 03 Nesta célula são produzidos 850 produtos/dia, com 13 operações por produto final, com trabalho de 4 operadores, que executam 17 atividades no posto, para cada lote de 2,3 produtos. Este lote representa a quantidade média de produtos processados por máquina e é função do sistema de carregamento e processamento das máquinas. O sistema produz: 850(prods./dia) x 13(operações/prod.) /4(operadores/célula) = = 2.762 operações/dia / operador Utilizando-se a jornada de trabalho(ver item 4.2) temos: = 2.762 / 8, 5 horas = 325 operações por hora Como os produtos são processados em lotes médios de 2,3 produtos, cada operador comanda um total de 141 operações por hora. 172 Entretanto, para cada lote, um operador tem que cumprir 17 atividades no posto; o que leva cada operador a realizar 2397 atividades / hora, ou 39,95 atividades por minuto de trabalho. Estas atividades são realizadas em áreas distribuídas, com as dimensões mostradas no quadro 24. Quadro 24 - Distribuição das áreas de trabalho na célula de fabricação, Fábrica F1. POSTO DE TRABALHO QUANT. DE OPERAÇÕES ÁREA DOS EQUIPAMENTOS (m²) ÁREA DO OPERADOR (m²) 01 02 03 04 TOTAL 03 04 03 03 13 40 40 62 15 157 2,0 2,5 3,0 1,0 8,5 Situação Atual - Análise do trabalho na Célula Nota-se que, para a empresa, conforme os motivos relacionados acima, não foram consideradas variáveis de segurança ou de ergonomia no projeto do rearranjo do trabalho, embora que na teoria das mudanças técnicas consideradas - JIT, TG, SFM e layout em grupo - existam as considerações de qualidade do trabalho humano que incluem: ergonomia, satisfação e conforto. Cada conjunto de 2 a 4 células foram colocadas em uma única área que recebeu a denominação de "Míni-Fábrica". Uma míni-fábrica é composta de um conjunto de células que definem um grupo completo de produtos semelhantes, com autonomia de estoques, ferramentaria, controle de qualidade e almoxarifado. Esta estrutura simula uma fábrica completa como um centro de custos autônomo, que "compra" matéria-prima da fundição e "vende" os produtos acabados para a expedição da empresa. Estas míni-fábricas formam 173 áreas uniformes dentro dos galpões da empresa, separadas por grades metálicas e demarcadas espacialmente. Dentro do galpão, na situação anterior de organização da produção, os equipamentos estavam dispostos em linha, numa estrutura de layout por produto, com 2 linhas por galpão onde cada uma era responsável pela fabricação e inspeção de um tipo de produto (a fundição é realizada em um galpão separado dos demais). Conforme explicitado no início, cada linha comportava 15 máquinas em 12 postos de trabalho diferentes, com um operador por posto. Após as mudanças para a estrutura de células de fabricação e as míni-fábricas em cada galpão, o local passou a ter 4 células com uma média de 7 máquinas e 4 estações de trabalho além do almoxarifado, estoque de produtos, controle de qualidade e área administrativa da mínifábrica. Segundo os relatos colhidos, a estrutura de produção em linhas era ineficiente em diversos aspectos: ergonômicos (stress, fadiga e trabalho monótono), tecnológicos (equipamentos obsoletos, manutenção deficiente e baixa produtividade dos equipamentos ) e no uso dos espaços (layout e proteção de máquinas ). Com a adoção das células houve uma melhora na produtividade quanto ao uso dos equipamentos como no uso dos espaços de produção. Para a implantação das células foram necessários alguns procedimentos preliminares: a) treinamento das chefias para mudanças comportamentais. b) implantação de transportes semi- automatizados. c) avaliação da capacidade técnica dos operadores para trabalho nas células. d) necessidade de diminuir temporariamente o volume de produção para ajustes do trabalho. e) reformas nos equipamentos antigos e aquisição de novos. 174 Situação Atual - Instalações da fábrica As edificações industriais da fábrica são constituídas de diversos módulos de galpões contíguos de alvenaria com cobertura de telhas de amianto, construídos em diferentes épocas, sendo que as áreas onde hoje se localizam a fabricação, são da década de 60. Cada galpão tem um vão de aproximadamente 800 metros quadrados, com pé direito de 10 metros na parte central, aberturas laterais com 4 portas de 3x5 metros cada e janelas com 1,5 metros de altura em toda a extensão lateral do galpão( não foi possível estudar o regime de ventos e a orientação da edificação). A iluminação artificial do galpão é proveniente de pares de luminárias( lâmpadas brancas) distribuídas uniformemente pelo ambiente, com uma luminária por metro quadrado, suspensas a uma altura de, aproximadamente, 4 metros do piso. A iluminação natural é proveniente das janelas, porém durante todo o dia é necessária a iluminação artificial. Após a implantação das células, foi necessário um rebaixamento das luminárias para uma altura de 2,5 metros do piso. Quanto aos espaços de trabalho nada pôde ser feito pois ficou dependente da forma como as células foram montadas. Neste aspecto, foi relatado que aumentaram os acidentes de trabalho como decorrência do layout reduzido e que, entretanto, diminuiu a gravidade destes acidentes pela melhoria da ordenação dos elementos de trabalho. Na célula estudada foram encontrados níveis de ruído de até 96 dB(A) em pontos de operação, com um mínimo de 82 dB(A) e valores de 91 dB(A) nos corredores internos da célula. O nível de iluminamento, face às luminárias rebaixadas, passou para valores entre 400 e 415 LUX, para um mínimo de 300 LUX exigidos pela legislação trabalhista. Neste aspecto do conforto ambiental não houve nenhum projeto anterior para adaptação às mudanças e, portanto, não foram feitas modificações no ambiente após a implantação das células( a exceção das luminárias já citadas ). Uma avaliação informal feita pelos técnicos da área de 175 segurança e por psicólogas da área de treinamento nas entrevistas, não houve mudanças na tipologia dos acidentes, o ruído diminuiu devido ao uso de máquinas novas, porém dentro das células aumentou devido à concentração de máquinas em espaços menores. As mudanças na organização do processo e do fluxo para o trabalho em células, com incorporação de máquinas novas com elementos de automação; requerem, pelo menos, operadores multifuncionais e uma ampliação de tarefas. Enquanto que no sistema em linhas os operadores executavam exclusivamente tarefas técnicas de operação de uma máquina, na estrutura celular torna-se necessário outras tarefas como: manutenção, controle e supervisão do processo, qualidade, controle de demanda e arrumação dos postos de trabalho. Foi preciso um programa de treinamento dos operários visando sua melhoria funcional. A primeira etapa foi uma seleção dos operários mais habilitados e em seguida uma capacitação dos demais. Esta capacitação envolveu: a) semana de qualidade - com cursos diários de JIT/KANBAN, qualidade total, organização e limpeza, processos de produção e noções sobre os produtos das células. b) cursos para operadores multifuncionais - controle, preparação e operação. c) cursos de matemática elementar, metrologia e desenho mecânico. Esta capacitação, exclusivamente técnica sobre a produção, acabou gerando conflitos internos em função, principalmente, de relacionamentos interpessoais com insatisfações e temeridades quanto a permanência nos locais de trabalho onde não haviam sido implantadas as células. Uma parte da pesquisa nesta empresa foi dedicada à entrevistas com diversos operários para entender o comportamento e o perfil do operário que estava sendo colocado em contato com as novas tecnologias e observar al- 176 gumas de suas reações frente às diversas situações de trabalho e os principais problemas enfrentados. Estas entrevistas foram importantes pois tratava-se dos usuários deste ambiente e que não haviam sido consultados sobre as mudanças deste local. O perfil do grupo entrevistado caracterizou-se pela baixa escolaridade, falta de treinamento e de preparo para o desenvolvimento das novas funções e não possuíam uma visão clara do processo produtivo da empresa. Em alguns casos pôde-se observar que a implantação de novas tecnologias no processo gerou expectativa, ansiedade e desconforto físico/emocional, dada a cobrança exagerada das chefias por resultados em termos de produtividade e qualidade do produto. Enquanto que o treinamento e reuniões eram baseados em qualidade do produto, no dia-a-dia a cobrança era na obtenção de uma produção máxima. As atividades eram desenvolvidas de forma mecânica sem saber o que se esperava com as mudanças e adaptações no processo. Verificou-se uma forte preocupação quanto a manutenção do emprego, pela insegurança, frente às mudanças, com possibilidade de demissão. Isto, talvez, estivesse inibindo uma participação mais ativa nas reuniões e cursos. Nas condições físicas de trabalho, pôde-se observar uma condição de desconforto geral não só nas células como em toda a fábrica. Os itens mais evidenciados foram o reduzido espaço de trabalho e a temperatura elevada nos dias de calor. Com relação ao espaço de trabalho, constatou-se um descontentamento com a implantação das células, pois as mudanças foram rápidas e não contaram com a participação dos operadores. O sentimento era de que estavam sendo excluídos do processo porque seriam realocados das funções ou mesmo demitidos. 177 Conclusões e recomendações sobre a Fábrica - F1 Os resultados das mudanças efetuadas pela empresa mostraram que, do ponto de vista imediato da produtividade, houve uma melhoria no processo de produção, conforme quadro 25, abaixo: Quadro 25 - Comparação de fatores de produção entre o resultado da linha e da célula de fabricação, Fábrica F1. ELEMENTO DE ANÁLISE Número de Máquinas Nº de Est. De Trabalho Nº de Operadores Nº de operações/produto Nº de atividades/posto/lote Área ocupada (m²) Produção diária(produtos) Tempo de set-up (hs/mês) Produtividade (produtos/homem-hora) LINHA DE PRODUÇÃO CÉLULA DE MANUFATURA 19 13 15 27 12 410 1.100 30 9 4 4 13 17 195 850 15 4,17 9,66 Conforme expectativas da empresa, a nova estrutura de trabalho trouxe benefícios para a produção, entretanto, as entrevistas mostraram que há uma insatisfação (ainda que não explícita) por parte dos trabalhadores em relação à sua participação nos processos de mudanças. Quanto aos espaços de trabalho, na linha de produção a média era de 1,7 m² por operador e na célula passou a ser de 2,1 m². A velocidade, no entanto passou de 27 atividades/min para 39,95 ativ./min. A média de área por operador aumentou, mas aumentou também o número de 178 atividades(operações)/ operador/ minuto. Torna-se necessário, no projeto da célula, aumentar o número de operadores para regular o ritmo de trabalho. Para voltar ao ritmo da linha seriam necessários mais 3 operadores na célula, ficando com um total de 7 operadores. Esta nova configuração significa uma área de 1,45 m2 /operador, que aumentaria a probabilidade de ocorrência de acidentes do trabalho. Quanto às condições ambientais, os dados mostraram que: a) O novo layout, baseado em uma estrutura celular que diminui os espaços internos às células para facilitar a movimentação dos operadores, é responsável por um aumento dos níveis de ruído nos postos de trabalho, se comparados com a linha de produção. Na linha, os níveis de ruído ficavam em torno de 92 dB(A) e na célula passou para 96 dB(A). Os dois valores estão acima dos valores máximos recomendados pelas normas de segurança do trabalho, mas a estrutura do layout celular piorou a situação. b) Com a formação de células passou a existir a necessidade de iluminação concentrada em pontos específicos do ambiente e não mais a iluminação uniformemente distribuída como é comum em ambientes industriais com edificações tipo galpão e com linhas de produção. c) Pelo maior agrupamento das máquinas no layout celular, houve um aumento da temperatura nos corredores das células e pela distribuição das células no galpão o fluxo de corrente de ar da ventilação natural da edificação foi prejudicado. d) No sistema JIT/KANBAN, pela sua metodologia de ritmo de produção, não deve existir estoques intermediários de peças nas seções de fabricação e assim os antigos corredores destinados aos sistemas de transporte -como empilhadeiras e carros motorizados- 179 devem ser eliminados. Esta eliminação dos corredores, cujos espaços passam a ser utilizados pelas novas células, sem o respectivo planejamento do fluxo de materiais em processo acabou gerando, na empresa estudada, um congestionamento de materiais e pessoas nos poucos corredores restantes que tornaram-se causadores de acidentes e desbalanceando a programação da produção para as células e mínifábricas da usinagem, o que diminui a produtividade do sistema e é fator de desequilíbrio do ritmo de trabalho. Para resolver o problema de espaço dentro da célula seria necessário alterar o layout para uma forma de corredores externos e não internos como foi projetada a célula. A figura 46 mostra as alternativas de posições dos corredores no caso atual e uma nova proposta. corredor externo corredor central situação 1 - célula c/ corredor interno situação 2 - célula c/ corredor externo Figura 46 - Esquemas alternativos de corredores de circulação para a célula da Fábrica F1. Com corredor interno (1) e com corredor externo (2). 180 Esta proposta de rearranjo das células, como mostrado na figura 46 acima, poderia resolver os problemas de ventilação, melhorando o conforto térmico nos postos de trabalho e também do ruído. Para impedir a transmissão de ruídos entre as células, seria necessário a colocação de biombos amortecedores de som nos corredores externos às células. Estes biombos anecóicos poderiam ser colocados diretamente apoiados no solo ou serem colocados na forma de placas e suspensos, presos no teto. Devem ser materiais leves (baixa densidade) e, se possível, permeáveis para não dificultar em demasia a ventilação do ambiente. A iluminação já foi parcialmente resolvida pelo rebaixamento das luminárias para uma altura menor em relação ao piso, colocando-as perto dos pontos de operações nas células. Este sistema, combinado com a concentração das células do meio do galpão (as laterais são usadas para os corredores e expedição das míni-fábricas), tornou a iluminação natural totalmente inútil. O conforto térmico do ambiente pode ser resolvido mudando-se a célula com corredor externo, como já comentado acima (figura 46), o que diminui a temperatura nos pontos de operações, e pela eliminação completa dos estoques desordenados dentro dos galpões que dificultam as correntes de ar. Estas soluções apresentadas acima são paliativos para resolver os problemas imediatos dos ambientes dos galpões da usinagem, já que o aumento de produtividade verificado logo após a implantação das mudanças para as células, começou a mostrar tendências de declínio. Propostas mais consistentes e duradouras serão necessárias se a empresa realmente deseja continuar como uma empresa de ponta neste setor. Não é compatível a adoção de uma estrutura de layout celular -ou de trabalho em grupo- em edificações projetadas para trabalhos em postos seqüenciais com organização da produção em linha, o que confirma a hipótese inicial da pesquisa. 181 4.2.2. Fábrica - F2 Fundada na década de 40, a empresa tinha, em 1995, 2.200 funcionários, com produção distribuída em 39% para as montadoras de veículos automotores, 26% para o mercado de reposição e 35% para exportação. A fábrica, dividida em 7 edificações, tem 57.000 m2 de área construída. A pesquisa foi realizada em um setor, uma das divisões interna, onde se produz o corpo principal do produto, que é comum a 65% dos modelos fabricados nesta fábrica. O produto completo é composto de 35 peças entre fabricadas(20 peças) e compradas(15 peças). O processo básico estudado é a usinagem de uma peça fundida(corpo), com as seguintes operações principais: faceamento, abertura de chanfros laterais, rebaixos e retíficas interna e externa. A célula estudada serviu de modelo para implantação das demais células da fábrica e foi rearranjada no mesmo local onde anteriormente eram feitas as operações de usinagem no arranjo funcional. Situação anterior – departamentos funcionais Em 1990 a empresa iniciou a implantação de mudanças na estrutura dos setores de produção, dentro de uma estratégia de mudanças na organização, passando de uma organização funcional para uma organização por produto, em unidades de negócio, sendo estruturada em mini-fábricas por grupo ou classe de produtos. Dentre as mudanças implantadas destacam-se aquelas que interferiram no layout e na composição do trabalho na fábrica, derivadas dos programas de gestão estratégica da empresa em: produção, qualidade, organização, tecnologia e automação de processos. 182 Figura 47 - Layout geral da Fábrica F2, com o mapofluxograma do produto estudado. As principais mudanças concentraram-se em1: 1.Sistemas de controle de estoque em processo por JIT/KANBAN 1 Estas mudanças também foram encontradas no relato apresentado no estudo de caso de 183 2.Sistema automatizado de controle de produção. 3.Controle de desempenho de mão-de-obra 4.Sistema flexível de manufatura composto de: organização de componentes e de classe de produtos por famílias(Tecnologia de Grupo), terceirização de atividades de manutenção e parte da ferramentaria, sistema de informações de manufatura, controle de recebimento de materiais e de fornecedores, racionalização na diversidade de produtos e adoção de células de manufatura por componente. 5.Divisão da fábrica em mini-fábricas, por produto ou componentes principais. 6.Ampliação do conjunto de tarefas dos trabalhadores, uso de círculos de qualidade e dedicação de grupo de operadores por célula. Como pode ser visto na figura 47, antes das mudanças acima enunciadas a fábrica era estruturada em departamentos funcionais com divisão de produção por funções de processo: fundição, usinagem, estamparia, acabamentos, montagem, expedição. Desta forma, a comparação entre áreas de produção e composição do trabalho feitas entre a situação anterior e a nova organização do espaço não pôde ser efetuada diretamente como no caso da fábrica E1, já que naquele caso a mudança foi de linha de produção de um produto para uma célula para produzir o mesmo produto. Assim, a opção foi utilizar o setor de usinagem que existia (setor A, ala IV no layout da figura 47) VANALLE(1995), p. 135 a 149. 184 antes das mudanças, que incluía também a usinagem do produto em análise, e comparar estes espaços com os da célula estudada. No setor de usinagem eram produzidas todas as peças que requeriam esta modalidade de processo: faceamentos, rebaixos, furos, sulcos, etc.; distribuídos em máquinas-ferramenta como: tornos, fresas, plainas, retíficas, furadeiras; que executavam apenas uma operação (máquinas dedicadas) ou máquinas com operações múltiplas(tornos programados CN). Como a área deste setor era utilizada para a produção de peças muito diferentes, adotou-se para fins de comparação, uma parte do setor onde eram realizadas algumas operações sobre o produto que posteriormente passou a ser produzido na célula. O agrupamento das operações nesta parte estudada, embora estivesse organizado por processo, já tinha incorporado um layout seqüencial para algumas peças, indicando um princípio de agrupamento por funções no produto. As operações principais eram: 1 inspeção da peça fundida (espessura e trincas) 2 faceamento externo: 3 faceamento interno 4 faceamento interno 5 retífica do faceamento 6 inspeção de trincas na peça 7 inspeção final (acabamento) O quadro 26 apresenta as relações de área e divisão em postos de trabalho no setor escolhido, revelando uma distribuição rígida de áreas e postos de trabalho, com poucas operações em cada posto e um sistema misto 185 de movimentação de peças entre os postos. Quando o transporte é realizado manualmente é feito em caixas com 15 peças, quando é realizado mecanicamente (calhas) é feito unitariamente. Quadro 26 - Configuração inicial do setor de usinagem, layout funcional, Fábrica F2. Máquina Quantidade de Operações Nome das operações Área da operação (m2) Área do operador (m2) Bancada c/ instrumentação(1) 02 2,0 1 caixas/manual Torno AMA(2) 01 3,5 3 peça/calha CHURCHIL(3,4) 02 4,5 2,2 CENTERPLESS(5) Bancada c/ instrum.(6,7) 02 02 7,80 6,60 5 4 Estoques intermediários/calhas TOTAL 02 Inspeção de espessura e trincas Faceamento externo Faceamento interno Retífica Inspeção de trincas, inspeção de acabamento Armazenagem e movimentação ----- 4,85 -- 29,25 15,20 11 Sistema de transporte/ manuseio caixas/manual e peça/calha caixa/manual peça/calha caixa/manual e peça/calha ------ Situação Anterior - Layout e fluxo nos postos de trabalho Na configuração inicial, os 11 postos de trabalho eram ocupados por 5 pessoas. Embora esta relação apresente quase 2 postos por operador, a figura 48 mostra, que pelo layout, as pessoas permanecem praticamente em um único local para realizar suas tarefas, já que das 11 operações, 2 são de estocagem e 4 são de inspeção, realizadas 2 em cada posto; apresentando uma divisão real de 6 postos para 5 operadores. 186 Figura 48 - Layout e mapofluxograma de uma área do setor de usinagem estudada, antes das mudanças, Fábrica F2. Situação anterior - Análise do trabalho no setor. Os relatos obtidos na empresa por ocasião do processo de mudanças no sistema de trabalho mostraram uma preocupação muito grande com questões relativas à competitividade da empresa, em função de retração do mercado de automóveis e a entrada de empresas concorrentes no setor. Tais fatos, segundo a visão da gerência industrial, fizeram com a que a direção da empresa tomasse medidas para diminuir custos, através de diminuição de estoques, melhoria da produtividade do pessoal operacional e racionalização da linha de produtos; e produção para exportação. Em 1995 já era possível comparar alguns indicadores, como resultado do processo de enxugamento industrial: de 3500 funcionários em 1990 passou para 2200 em 1995; a produtividade da mão-de-obra em 1994 era 156%, maior que em 1989, medida em produtos/hora-homem-trabalhada, e 82% maior, se medida em faturamento/ hora-homem-trabalhada; redução do total de itens da produção (entre peças fabricadas, matérias-primas, peças compradas, embalagens, etc.) de 4000 para, aproximadamente, 2500. 187 Mais especificamente dentro dos setores produtivos, as necessidades de mudanças estavam relacionadas com os seguintes aspectos da produção: a) redução do tempo de processamento, computados cada um dos produtos isoladamente b) redução do tempo de preparação de máquinas c) diminuição de peças defeituosas e de retrabalho d) melhoria de processo através da reforma de equipamentos O primeiro deles era relativo à capacidade do sistema de produção para atender um pedido, com quantidade específica de um produto, produzindo em um tempo determinado. Significava conseguir uma estrutura de produção que fosse flexível para que um determinado pedido pudesse entrar no sistema e ser rapidamente atendido. Uma solução viável foi o projeto de células para processar grupos de produtos semelhantes, não necessariamente em funções, mas em processos. O princípio da Tecnologia de Grupo (TG). O segundo aspecto, em decorrência do primeiro, era permitir a produção da maior variedade de peças em uma máquina, com a menor troca de ferramentas possível. Também é um dos princípios da TG. O terceiro e quarto aspectos se referiam à melhoria da produtividade do material e dos processos, sendo utilizada a alternativa de reforma de máquinas no lugar de adquirir novos equipamentos, como uma medida de minimização de investimentos. A alegação era de que os equipamentos existentes na fábrica não estavam muito defasados, necessitando apenas de melhorias como acoplamentos de controles novos, ampliação de funções e de troca de partes desgastadas. Todos estes aspectos, no entanto, estão intimamente ligados com a composição das tarefas nos postos, na medida que não se alterando 188 substancialmente a tecnologia de fabricação; também não se altera o conteúdo cognitivo do trabalho nas máquinas e não se alteram também as condições ambientais de trabalho nos postos. Nota-se que se mantém, além da mesma edificação, os mesmos equipamentos e os mesmos produtos. As condições ambientais nos galpões da produção já era fator de preocupação por parte da segurança do trabalho desde os anos 80 em função dos níveis de ruído altos, principalmente, na estamparia, montagens e acabamentos; e os índices térmicos da fundição e sub-montagens que ocorriam no setor de estamparia. No setor estudado, conforme dados da tabela 02, alguns agentes ambientais se encontravam muito próximos dos limites de tolerância, segundo as normas do MTb (BRASIL,1997). Nas observações e coleta destes dados em campo foi possível estabelecer algumas relações entre os níveis dos agentes e fatores relativos à edificação e ao seu entorno. Tabela 02 - Valores médios aproximados dos agentes ambientais -ruído, calor e iluminamento- encontrados no setor estudado antes das mudanças, Fábrica F2. Máquina / Posto de trabalho Bancada c/ instrumentação(1) Torno AMA(2) CHURCHIL(3,4) CENTERPLESS(5) Bancada c/ instrum.(6,7) Estoques intermediários/calhas Ruído -dB(A)85 87 89 87 85 83 Conforto Térmico Iluminamento -IBUTG( 0C)(Lux) 26 - 28 28 - 29 28 - 30 29 - 30 27 - 28 27 - 28 500 350 350 450 600 300 O espaçamento entre as edificações é muito pequeno, com aberturas muito grande entre elas, permitindo difusão de alguns destes agentes entre estas edificações. Verificou-se que a temperatura proveniente da fundição era sentida na área de usinagem e que o ruído proveniente da estamparia era percebido na montagem e no setor de embalamento. As áreas de produção estão distribuídas por 5 galpões, sendo que a fabricação, propriamente dita, ocorre nos galpões G2, G3 e G5, enquanto que embalamentos e estoques estão nos galpões G1 e G7. 189 Situação Atual - Células de manufatura A célula estudada processa um componente de um dos principais produtos da empresa. O processo básico estudado é a usinagem de uma peça fundida(corpo), com as seguintes operações principais: faceamento, abertura de chanfros laterais, rebaixos e retíficas interna e externa, como mostrado no fluxograma esquematizado na figura 49. Esta célula está localizada no setor A, ala IV do layout, no local onde anteriormente era o setor de usinagem da fábrica, conforme explicitado nos itens anteriores, sendo operada por 10 operadores que trabalham nas diversas máquinas, como operadores multifuncionais. Ordem Símbolo 1 Descrição Inspeção e faceamento AMA 2 { Abertura de chanfros laterais(R-400) 3 { Ajustes e sub-montagem 4 ∇ Estocagem de regulação de gargalo 5 { Rebaixos internos e externos 6 7,8 Inspeção final { Tratamento superficial Figura 49 - Seqüência das operações do fluxograma do processo de trabalho na célula, Fábrica F2. A restruturação do trabalho em células de manufatura foi justificada pela empresa como resultado de melhorias voltadas para a redução na variedade de itens produzidos (padronização de processos, produtos e componentes), aumento da produtividade(de mão-de-obra e de processos) e de qualidade dos produtos(visando exportação). Dentro desta visão, o trabalho foi modificado passando-se de uma estrutura de fábrica dividida em setores funcionais, baseados em processos de fabricação, para uma divisão em mini-fábricas, onde cada mini-fábrica é 190 responsável por uma ou várias classes de produtos da empresa que possuem funções semelhantes para o mercado. Dentro de cada mini-fábrica o trabalho foi organizado em células de manufatura por família de componentes, na seqüência de fabricação do produto ou de conjunto de produtos semelhantes, exclusivamente por processos. Cada célula foi estruturada segundo os conceitos da Tecnologia de Grupo e o arranjo entre células foi baseado no Just-in-Time em relação às seqüências de produção e ao fluxo de materiais, no Kanban em relação aos estoques em processo, e nos princípios de sistemas flexíveis em relação a movimentação de materiais e do relacionamento funcional(de processos) entre as células. O layout final de cada mini-fábrica ficou parecido com modelos de layout modular vistos em 3.4.3. Infelizmente a empresa não forneceu o novo layout geral da fábrica contendo todas as células das mini-fábricas, até porque muitas ainda estavam sendo implantadas. A mini-fábrica onde foi realizado o estudo apresenta o seguinte modelo: Mini-Fábrica célula 1 célula 3 FUNDIÇÃO célula n célula 2 célula 4 MONTAGEM FINAL Figura 50 - Modelo de estrutura de layout da célula estudada, Fábrica F2. As peças chegam da fundição para a mini-fábrica, são processadas nas células desde a peça bruta até o acabamento final e sub-montagens e depois são transferidas para o setor de montagem final/embalamento e posteriormente para a expedição. 191 Os equipamentos utilizados nas células são os que já existiam na fábrica, apenas reformados e com a introdução de dispositivos simples de controle de operações, com medidores, calibradores e ejeção de peças, através de sistemas pneumáticos com controles eletroeletrônicos (uso de relês elétricos e alguns com controles CNC). A incorporação de equipamentos automatizados com controles por CLP ocorreu posteriormente às mudanças iniciais nas células, como um processo de modernização tecnológica provocada por alterações nas especificações técnicas em algumas classes de produtos e substituição de outros. Situação Atual - Layout e Fluxo na Célula A célula estudada, que ocupa parte do espaço onde antes se localizava a usinagem, realiza um ciclo completo de operações de usinagem de um componente deixando-o pronto para a montagem final. Esta célula é especializada em determinadas operações de usinagem para determinados componentes. Em função desta característica de especialização, o fluxo de trabalho na célula, que obedece um layout em 'U', é freqüentemente modificado, a partir do esquema mostrado na figura 51, com entradas e saídas de materiais ocorrendo em diversos pontos ao longo das ruas que circundam a célula, criando áreas de entrada e de saída de materiais em diversos locais e ocupando áreas de trabalho ou circulação dentro da célula. Estas características de trabalho na célula resultaram em diminuição das áreas livres e congestionamentos nos locais de trabalho, aumentando os riscos de acidentes. O sistema de distribuição de peças para os postos de trabalho na célula obedece os princípios do Kanban, onde cada posto de trabalho requisita o material para trabalhar através de fichas que controlam as entradas e saídas de materiais e regulam o abastecimento da célula. Este sistema é chamado de 192 'supermercado' no Kanban, cujo controle é feito pelos programadores dos sistemas informatizados de PCP da mini-fábrica, através de MRP e COPICS. Figura 51 - Layout geral da célula de usinagem, Fábrica F2. 193 O 'supermercado' de saída possui uma área própria e fica localizado no lado oposto da rua onde fica a célula, dificultando o transporte de peças acabadas e aumentando os riscos para o pessoal que transita por locais onde passam empilhadeiras e outros equipamentos de movimentação de materiais. Esta localização do estoque é para facilitar a entrega do produto para a célula seguinte dentro da mini-fábrica. Em termos do uso do espaço do setor, as mudanças implicaram em: a) diminuição do espaço livre entre máquinas, pelo uso de um sistema semi-contínuo de transporte de peças entre os postos da célula, através do uso de esteiras mecânicas em forma de calhas, com velocidade e distribuição de trabalho controlados pelo sistema de PCP; b) duplicação de máquinas semelhantes para balancear o volume de produção e facilitar o fluxo de materiais, em função da rigidez do sistema de movimentação, para possibilitar a fabricação de diferentes modelos de produtos da célula; c) aumento da quantidade de máquinas, por duplicação e diversificação, para atender modificações nos produtos e atender os diferentes modelos; d) diminuição do número total de operadores, se comparados com a quantidade de pessoas que realizavam o total de operações que agora estão concentradas na célula, em função de automação de algumas operações, com alocação de mais funções/máquinas por operador; e) substituição do estoque intermediário, entre as máquinas, por estoques no início e final de cada conjunto de processos e um único estoque regulador no interior da célula. 194 Situação Atual - Análise do trabalho na célula O trabalho nas células da fábrica está organizado em equipes multifuncionais compreendendo, além das operações de máquinas, a manutenção preventiva, o acompanhamento e controle de qualidade das peças trabalhadas na célula, retrabalho e responsabilidade sobre a distribuição do trabalho dentro da célula. Na célula estudada são processados 15 tipos diferentes de produtos que requerem seqüências diferentes de processamentos. Face a esta diversidade, os trabalhos são divididos principalmente em função da necessidade de atendimento de prazos de fabricação, o que prejudica a distribuição de trabalho baseada no ritmo e na carga. Comparando os dados apresentados no quadro 24 com alguns indicadores da célula, mostrados abaixo; verifica-se que o espaço de trabalho na célula é pequeno e o ritmo é intenso. Ritmo alto e trabalho desbalanceado, provocam uma distorção nas propostas iniciais das células da fábrica, causando insegurança e insatisfação nos operadores. Na situação por setores funcionais, as relações de área de trabalho, operadores e produção eram: = 8,89 m2 de área de trabalho para cada operador no setor de usinagem. (44,45 m2 ÷ 5 operadores) = 3,04 m2 de área de operação para cada operador. (15,2 m2 ÷ 5 operadores) = 4,04 m2 de área para cada operação do setor. (44,45 m2 ÷ 11 operações) = 45 peças por hora produzida em cada máquina. (180.000 peças ÷ 4000 horas trabalhadas, tomado como exemplo um torno Churchill). 195 Na célula, estas relações ficaram: = 12,2 m2 de área total de trabalho para cada operador na célula. (122 m2 ÷ 10 operadores) = 9,38 m2 de área para cada operação na célula. (122 m2 ÷ 13 operações) = 2,64 m2 de área de trabalho para cada operador da célula. (26,4 m2 ÷ 10 operadores = 60 peças produzidas por hora em cada máquina. (180.000 peças ÷ 3.000 horas trabalhadas, para cada torno Churchill) Os dados mostram um aumento de 33% na velocidade de trabalho por máquina, uma diminuição de 15% na área efetivamente utilizada para o trabalho de cada operador. Embora a relação de área total de trabalho tenha aumentado na célula, a média de área livre de trabalho, para cada operador, diminuiu. Pelo aumento de produção de cada máquina, consequentemente houve um aumento de ritmo para os operadores. Mesmo considerando-se que parte deste aumento de produção deveu-se à incorporação de mecanização nas operações, foram mantidas atividades de carga e descarga de máquina, regulagens e movimentação de materiais, além de novas funções, como controle de qualidade e manutenção, que antes não faziam parte do trabalho dos operadores. Situação Atual - Instalações da Fábrica Pelas implicações já comentadas na mudança do layout e na composição do trabalho, foi possível detectar um aumento relativo no fluxo provocado pelo sistema de transporte dentro e fora das células, principalmente em função da substituição de empilhadeiras com estrados, por empilhadeiras menores com caixas; aumentando a freqüência de movimentação. Este 196 congestionamento só se reflete significativamente nas condições de segurança do trabalho, pelo fato dos corredores de movimentação das empilhadeiras serem usados também como vias de circulação dos trabalhadores da fábrica. Estes limitantes foram impostos pela edificação do galpão onde se localiza o setor da célula que, para comportar as áreas para as células, requereu a retirada dos corredores que eram distribuídos ao longo das máquinas, com um lado para usos de empilhadeiras e outro para trânsito de pessoas, e usar apenas o contorno externo das células; criando locais de cruzamentos de equipamentos com materiais de várias células. Com este sistema de fluxo e organização espacial das células, as máquinas ficaram mais distantes das paredes da edificação, o que prejudicou a quantidade de iluminação natural no interior de cada célula. Com os corredores circundando as células, aumentou a distância entre as máquinas de uma célula em relação às máquinas das outras células, o que diminuiu o ruído de fundo nas mini-fábricas e, consequentemente, em toda fábrica. Entretanto, pela aproximação das máquinas dentro das células, houve um aumento do ruído total em cada ponto de operação das máquinas. Por exemplo, o ruído na operação de retífica (máquina CENTERPLESS) que era de 87 dB(A), na estrutura de linha, passou para 90 dB(A), um aumento de quase 40% na sensação sonora. A edificação não sofreu modificações em sua estrutura, ou no seu revestimento, para acomodar a nova distribuição espacial do trabalho. Sendo uma edificação com grandes vãos livres(50 x 70 metros com uma fileira central de colunas) e pé direito de 8 metros, não contribui para a reflexão do ruído mas, pelo uso de materiais estruturais pouco absorventes como concreto e aço nesta edificação, não impede a disseminação do ruído no ambiente. 197 Conclusões da Fábrica F2 Nesta nova organização notou-se alguns conflitos de natureza conceitual entre o modelo de gestão adotado, com respectiva organização do trabalho, e os resultados esperados. O JIT/KANBAN, em conjunto com os princípios de TG, adotados na concepção do trabalho nas células, se baseia em princípios como: 1.) Eliminação de perdas - nada mais deve ser feito na produção que não seja a transformação dos materiais em produtos; 2.) Atendimento ao cliente - cada célula posterior deve ser tratada como um cliente e, portanto, deve ser atendida prontamente e com suas exigências de qualidade; 3.) Redução de estoques - deve-se reduzir ao máximo a quantidade de materiais em movimentação, processando imediatamente o material recebido da célula anterior; 4.) Qualidade assegurada - todo produto entregue pela célula deve estar dentro das especificações previstas pela fábrica, sem necessidade de inspeção; e 5.) Tempo de atendimento - tempos e prazos de entrega estabelecidos pelo sistema de PCP para cada célula/mini-fábrica, que devem ser obrigatóriamente respeitados. Estes princípios quando aplicados na situação estudada acabaram gerando conflitos com outros princípios de organização do trabalho, como a formação de equipes de trabalho baseadas na distribuição consensual de tarefas, respeitando os conhecimentos profissionais dos membros do grupo. A especificidade de aplicação das técnicas derivadas do JIT/Kanban tem sido alvo de reclamações dos operadores já que houve um aumento da quantidade de trabalho dos operadores nas células, provocando atritos entre o pessoal operacional e as chefias imediatas no tocante à metas e qualidade do trabalho de cada célula. Segundo a empresa, o número total de acidentes diminuiu após as mudanças no sistema de trabalho, mas tem aumentado a frequencia de atendimentos ambulatoriais e a quantidade de reclamações na caixa de 'sugestões', adotada pela empresa como uma das medidas de melhoria na área de RH, sobre a participação dos funcionários no processo de mudanças (kaisen). 198 4.2.3. Fábrica - F3 Este caso refere-se à uma empresa produtora de artefatos de madeira para trabalhos de escritório, em especial, produtos para escrita. A empresa situa-se no interior do estado de São Paulo, fundada na década de 20 como empresa nacional. A partir da década de 70 foi adquirida por uma empresa multinacional produtora de lápis e canetas. A situação estudada refere-se à adoção de células para processar algumas etapas de um grupo de produtos que representam 60% da produção da fábrica, sem nenhuma alteração de tecnologia e de produto, ou seja, com alteração, exclusivamente no sistema de gestão da produção, com alteração de layout. Neste caso não houve mudanças de equipamentos, processos ou de materiais. Além destes fatores que não se alteraram, a edificação também permaneceu a mesma1. A estrutura de célula veio acompanhada de estudos para o agrupamento de produtos com operações e processos praticamente idênticos, formando famílias no conceito da TG e o uso de sistema de controle de estoques e de produção baseados no JIT/Kanban. O edifício onde foi realizado o estudo é composto de 4 pavimentos, construído na década de 40. Sua característica construtiva é completamente diferente dos edifícios dos casos anteriores, conforme pode-se verificar na figura 52. A altura de cada pavimento é de 6 metros de pé direito, com aberturas para acesso situados nas extremidades do pavimento e janelas de 1 metro de altura e à 1,5 metros a partir do piso, ao longo das laterais da edificação. O sistema de produção é baseado em lotes, com entregas programadas e um planejamento 'que empurra' a produção. O layout predominante é funcional, com as máquinas agrupadas por funções 199 semelhantes de processo, como representado no mapofluxograma de setores (figura 52). As etapas básicas do produto estão mostradas no fluxograma na figura 53. Figura 52 - Planta baixa da Fábrica F3 com o layout atual do 3° pavimento e o mapofluxograma dos setores de fabricação. 1 Os dados da situação anterior à implantação das células foram extraídos, em sua maioria, de GUAGLIANONI Jr.(1990). 200 Os motivos que levaram a empresa a promover mudanças no layout de parte do setor de produção estão relacionados com aumento de produtividade da mão-de-obra e de equipamentos, redução de custos associados à estoques e materiais e otimização no uso de áreas de produção visando ampliação da capacidade instalada. 1 Inspeção da peça bruta: regularidade de superfície 2 { Pintura 3 Cortar topo 4 { Envernizar 5 Inspeção: superfície e topo 6 { Fazer ponta 7 { Carimbar 8 Inspeção de acabamento 9 { Montar estojo 10 { Embalar 11 { Encaixotar ∇ Figura 53 - Fluxograma do processo do produto da fábrica F3. Os fatores determinantes para as mudanças foram: Lotes muito grandes Cada lote de produto representava aproximadamente 3 horas de duração em cada etapa do processo para um produto cujo tempo de processamento era menor que 10 minutos. Significava menor freqüência de preparação de máquinas, mas estes lotes eram responsáveis por longos prazos de entrega dos produtos finais, chegando a 45 dias de permanência em 201 processamento(lead time), e aumentavam a quantidade de partes semiacabadas em estoques intermediários, o que aumentava a necessidade de área junto às seções de produção e de pessoal para transportes e controle do processo. Figura 54 - Layout do 3° pavimento da Fábrica F3, com o layout atual e o mapofluxograma das operações do produto. 202 Inadequação do layout O produto percorria 3 pavimentos do edifício da fábrica, conforme figura 55, durante seu processo de fabricação apenas nas etapas de acabamento. Este fator é agravado pela produção em grandes lotes que aumenta o volume transportado e as distâncias percorridas. (Fonte: GUAGLIANONI Jr., 1990, p. 73) Figura 55 - Representação do percurso do produto e distribuição das seções de processamento, situação anterior, Fábrica F3 203 A célula proposta inicialmente era constituída por um agrupamento do conjunto de operações: cortar topo(3), envernizar(4) com 2 máquinas, inspeção(5), fazer ponta(6) e carimbar(7) com 2 máquinas. Esta escolha de operações para compor a célula foi decidida exclusivamente para otimização do processo de fabricação e, a quantidade de equipamentos foi resultado de balanceamento da produção. Na figura 55 pode-se verificar que estas operações ficavam distantes umas das outras, sendo que as operações 3 e 4 ficavam no 4°. Pavimento e as demais(5,6 e 7) no 2°. Pavimento. Na distribuição intermediária, antes da adoção da célula, ou seja, com uma distribuição funcional dos equipamentos; as operações foram transferidas para o 4° pavimento e, com a adoção do Kanban, montou-se uma estrutura de layout em linha por tipo de produto, mantendo-se a mesma disposição dos equipamentos. Uma mistura de layout por produto e funcional (figura 54). Na distribuição atual, estas células(atualmente em número de 9) estão localizadas no 4°. Pavimento, indicado pelo setor 'D' na figura 53. Inicialmente foi implantada uma célula piloto no 4°. pavimento juntamente com os demais setores, conforme mostrado na figura 56, cujo posicionamento foi resultado da disponibilidade de espaço e por razões organizacionais, já que o supervisor da pintura era também responsável pelas operações da célula. Por ocasião desta implantação, surgiram alguns problemas relacionados à distribuição de tarefas no interior da célula e à composição do trabalho fora desta, já que com o Kanban, as funções de movimentação e controle de estoques em processo foram remanejadas para os operadores dos postos imediatamente anteriores e posteriores à célula. 204 Célula Piloto PINTURA PINTURA Corta Topo 4° Pavimento Figura 56 - Representação esquemática do 4° pavimento com a célula, Fábrica F3. No entanto, para a produção, os resultados foram significativos quanto à redução de estoques e ao tempo de processamento (tabela 03), se comparados com as mesmas variáveis na célula (incluindo Kanban), no sistema convencional sem Kanban e nos setores onde já havia sido implantado o Kanban (mas sem células). Estas comparações são válidas para o mesmo volume de produção e para o processamento de um mesmo tamanho de lote. Nestas mesmas situações foram medidos também os agentes ambientais calor, ruído e luminosidade nos pontos de operação nos postos estudados e na célula montada no 4°. Pavimento (tabela 04). Neste quadro, pode-se verificar que a luminosidade manteve-se praticamente a mesma nas 3 situações, em decorrência da disposição dos equipamentos e grande quantidade de janelas. A menor média encontrada é função da sombra da edificação vizinha projetada sobre o 2°. Pavimento. 205 Tabela 03 - Comparação de variáveis de processo para o sistema convencional de produção(áreas funcionais), sistema Kanban(áreas funcionais) e célula da manufatura para o produto estudado, Fábrica F3. Fatores de comparação Sistema Sistema Kanban Convencional sem célula Produção Diária(pacote*) 10.000 15.000 8.000 Estoque em processo(pacote) 115.000 15.000 5.500 5 0,5 12 minutos Várias Nenhuma Nenhuma Produção(pacote/hora paga) 3,7 5,2 8,8 Estoque em Processo(pacote) 350 100 15 100 60 Tempo em Processo(dias) Falta de Material 2 Área ocupada(m ) CÉLULA (*)Pacote = unidade de transporte e de manuseio dos produtos O ruído nos pontos de operação da célula encontram-se com valores ligeiramente superiores aos demais em função da proximidade das máquinas, principalmente da apontadeira próxima da carimbadeira. As condições térmicas são mais agressivas nos pontos mais centrais do ambiente em função da baixa ventilação nestes locais. Na célula não há fontes geradoras de calor, apenas os motores elétricos das máquinas. Dependendo do tipo de pintura de fundo, para alguns produtos, é necessário a colocação de lâmpadas incandescentes para auxiliar na secagem da tinta, que se torna uma fonte de calor considerável no setor de pintura ou na célula. 206 Conclusão - Fábrica F3 Nos setores onde houve a implantação de controle de estoques por Kanban sem mudança para células constatou-se um ganho de áreas decorrentes da diminuição de estoques em processo, porém um aumento no trânsito, com movimentação de carrinhos e caixas, pela diminuição no tamanho dos lotes. Nestes locais, os espaços que antes eram ocupados por materiais puderam, parcialmente, ser ocupados como áreas de trabalho, melhorando a circulação entre as máquinas. Tabela 04 - Valores das variáveis ambientais: ruído, calor e iluminamento nos mesmos postos de trabalho, nas situações de linha, Kanban sem célula e na célula de manufatura, Fábrica F3. No sistema Variável Ambiental No sistema convencional Kanban Na célula (sem célula) 2° pav. Iluminamento - Lux 3° pav. 4° pav. 3° pav. 4° pav. 320 - 600 400 - 650 400 - 650 500 - 650 500 - 650 4° pav. 500 - 650 (min - max) Ruído - dB(A) 85 82 82 85 85 90 Calor - IBUTG(oC) 25 27 28 26 28 29 Nas células, o layout modificado apresentou algumas deficiências, claramente por limitações da forma do edifício. Pela figura 56 pode-se notar que o local onde a célula foi colocada é inadequado em relação aos agentes ambientais, pois fica próxima do setor de verniz(com solventes), fica distante dos locais de ventilação natural, muito próximo da corta topo(ruído) e próximo da pintura(solventes). Esta localização, no entanto, foi condicionada pelas dimensões da edificação e pela existência de colunas que restringiam a 207 alocação de alguns equipamentos em outras posições, em função de suas dimensões. Nos setores 'A', 'B' e 'C' da figura 52, que mantém layouts funcionais com equipamentos dedicados por função no processo, os equipamentos estão arranjados de forma que os pontos de operação se localizam próximos às janelas, aproveitando a iluminação e ventilação naturais e os pontos de saída dos materiais estão colocados próximo às colunas, no corredor central formado na direção longitudinal do edifício. Há claramente uma adequação entre a colocação das máquinas e a forma do edifício, no layout funcional. No setor 'D' , onde se localizam as células, existem pontos de operação muito distantes das janelas, como na inspeção, e a saída de material é dificultada pela proximidade com o setor de embalagem, que é uma mistura de layout em linha(montagem) e célula de embalagem. Este edifício foi projetado para uma situação que se caracterizava por: 1) produção em série de produtos padronizados; 2) uso de equipamentos pequenos e com baixa mecanização, com grande dependência de intervenções dos operadores no processo de qualidade do produto final; 3) uso de iluminação e ventilação naturais; 4) movimentação e manuseio manuais dos materiais dentro de cada pavimento e uso de elevadores entre pavimentos; 4) dedicação de cada pavimento para cada processo ou todos os processos de uma classe de produtos; e 5) uso dos pavimentos superiores para atividades administrativas, o térreo para processamento de materiais mais pesados e freqüentes e os intermediários para produtos/materiais mais leves. As incompatibilidades verificadas na alocação das novas células, principalmente quanto às dimensões do edifício, mostram que o novo sistema de organização espacial pode melhorar o rendimento da produção (como diminuição no tempo de processamento e melhoria de produtividade de máquinas), mas apresentam problemas nos aspectos de conforto ambiental e, provavelmente, nos futuros espaços de trabalho nas células. 208 4.3. Considerações finais sobre as empresas estudadas. Conforme já salientado no início do capítulo, o estudo das fábricas não tinha a intenção de, isoladamente, esgotar os critérios de comprovação das hipóteses da incompatibilidade entre as mudanças de gestão da produção e os edifícios industriais. Estes serviram para direcionar algumas tendências colocadas teoricamente nos capítulos precedentes, principalmente, onde foi possível quantificar parte desta dicotomia, que foi em relação ao uso de áreas de trabalho e o comportamento de variáveis relacionadas ao conforto ambiental: ruído, calor e luminosidade. Entretanto, nos casos estudados, foi possível quantificar vários elementos de incompatibilidade entre a edificação e a eficiência do sistema de trabalho. Nos sistemas de trabalho notou-se uma concentração de treinamentos em aspectos da qualidade dos produtos e na responsabilidade dos operadores, em especial sobre conhecimentos técnicos dos processos efetuados, enquanto que os treinamentos deveriam ser mais direcionados ao ofício da fabricação do produto e de organização do trabalho. Ou seja, mudar a direção da especialização para a ampliação das funções dentro do processo de produção. Isto deveria incluir treinamentos de multi-funcionalidade (proposta do JIT/KANBAN), com conhecimentos técnicos sobre o produto, de ergonomia, projeto do trabalho e trabalho participativo; permitindo uma flexibilidade de trabalho nas células e uma estabilidade emocional aos operários. Nesta proposta deve-se também reorientar os procedimentos de qualidade para as características funcionais do produto e não mais sobre os métodos de controle dimensional da qualidade. As modernas técnicas de gestão da produção, que foram as mesmas utilizadas (teoricamente) nas mudanças estudadas nas fábricas, em que pese as distorções verificadas, incluem modelos de gestão do trabalho baseados em sistemas participativos- e mesmo cooperativos- na distribuição dos postos de trabalho e, dentro destes, no processo de discussão da distribuição das tarefas. 209 Nota-se que as empresas estudadas não se preocuparam com estas questões, sendo que podem ser alguns dos aspectos da tendência de declínio da produtividade verificada posteriormente, já que houve um aumento de responsabilidade dos operários sem que houvesse uma restruturação na organização do trabalho nas células. Os novos layouts, baseados em ciclos de trabalhos fechados em células, com o objetivo de diminuir as distâncias entre os postos, são construídos dentro de parâmetros antropométricos mínimos em relação aos envoltórios de alcance e corredores de circulação interna; quando comparados com os espaços antes utilizados nas linhas. Tal fato é decorrência de necessidades de otimização de fatores de produção, independente do edifício onde ocorre esta produção. No entanto, com a formação de layouts em células, a distribuição da iluminação dos ambiente precisa ser modificada de distâncias constantes para concentração em pontos específicos do ambiente. Isto modifica a relação entre a oferta de iluminação natural do edifício e a necessidade do processo de trabalho que anteriormente existia. Da mesma forma, o projeto de dissipação do ruído, previsto em uma edificação para comportar uma distribuição espacial do trabalho, em layout por produto ou por processo, fica prejudicado quando esta distribuição espacial muda para a formação de células. Analogamente, ocorre o mesmo com a distribuição da ventilação natural nestes edifícios. Algumas soluções para estes problemas residem em adaptar a edificação às mudanças de ordenação dos fatores de produção, principalmente em rearranjar os sistemas de ventilação, iluminação e absorção do ruído dos galpões. A necessidade de otimizar espaços dentro das instalações de produção, advinda do conceito de produzir com tempo menor, e para aproveitar as antigas áreas de estoques para novas células, as áreas de corredores foram diminuídas e, também como decorrência de técnicas do JIT/KANBAN, a freqüência de movimentação aumentou (lotes menores = maior freqüência de movimentação de materiais). 210 As implicações desta nova organização são congestionamentos, que podem provocar acidentes do trabalho, e que atrasam a programação da produção interferindo na produtividade do sistema. Edifícios projetados para a produção em série de produtos padronizados, como bem caracterizado pelo edifício da fábrica F3, se tornam ineficientes em situações de layout baseado em processos interligados ou mini-fábricas. 211 5. CONCLUSÕES Este capítulo faz uma análise final da pesquisa, acrescentando critérios de avaliação das edificações industriais quanto ao seu desempenho para as condições de trabalho, e mostra algumas tendências no projeto da edificação industrial, através de exemplos internacionais, como forma de constatar que os edifícios industriais são, ou devem ser, tão dinâmicos quanto os modelos de gestão do trabalho e da produção. A avaliação da edificação com a finalidade de verificar seu desempenho de funcionamento, usualmente é feita após um período de funcionamento da mesma e em condições normais de uso, ou seja, supondo-se que o ambiente se mantém estático e que pode ser mensurável quantitativamente. A metodologia de Avaliação Pós-Ocupação (APO) é aplicada nestas situações, ou seja, com a edificação em uso, avaliando duas situações estanques: antes e depois das mudanças ocorridas, comparando as duas situações. Este método constata que algo saiu errado, já que não pode agir preventivamente, só depois das mudanças. É necessário um método que avalie uma futura situação (uma simulação), e consiga prever as conseqüências das mudanças. Uma característica, de projeto e uso, das edificações industriais, e que se reporta à possibilidade de suas adequações às futuras alterações na produção, é a flexibilidade destas instalações. 212 Flexibilidade é um conceito, utilizado no estudos de sistemas de produção e de trabalho, que se refere à capacidade, de um ou mais elementos destes sistemas, de absorver satisfatoriamente variações em parâmetros de funcionamento dos sistemas, sem que seus princípios sejam rompidos e que possa adaptar-se à mudanças. Flexibilidade, quando estudada na área de sistemas produtivos, assume dimensões diferenciadas em função da abrangência do estudo pretendido. No âmbito de relações sociais inter-empresariais, a flexibilidade em geral toma as seguintes modalidades: de organização, de contratos de trabalho, de formação de salários, de formação de mercados, de regulamentação social, de alocação de recursos financeiros, etc. (SALERNO, 1991). Nas relações gerenciais de tomada de decisão empresarial, a flexibilidade é tratada nos aspectos: de estratégica, estrutural, operacional, de gestão (SALERNO, 1991). Os estudos de flexibilidade nos sistemas flexíveis de manufatura, têm procurado detalhar este conceito de forma a torná-lo adequado à discussão de estratégias de produção da fábrica. O quadro 27 procura sistematizar estes conceitos e mostra que, embora existam diversos tipos de flexibilidade na fábrica, poucos destes se reportam à compatibilidade entre a edificação e organização da produção; mais ainda, nenhum deles se refere à organização do trabalho. As medidas de flexibilidade encontradas na literatura sobre sistemas produtivos compreende duas variáveis: tempo e rendimento. Rendimento refere-se à quantidade e a qualidade de funcionamento de cada um dos elementos(ou conjunto de elementos) de um sistema, em relação à suas características iniciais, quando submetido à mudanças ocorridas neste sistema. Tempo é a medida de eficácia de adaptação de um elemento às mudanças no sistema, ou seja, quanto tempo um elemento demora para atingir uma determinada eficiência após ser submetido à mudanças (BARAD, 1988; GUPTA, 1988). 213 A avaliação da flexibilidade de um sistema, apresentada por FRIGÉRIO (1994) para as edificações, é a adaptabilidade: que é a qualidade da flexibilidade. Segundo a autora, toda edificação é potencialmente flexível, medida pela capacidade de acomodar mudanças internas e externas. A qualidade final do funcionamento dos elementos constituintes da edificação em relação ao seu uso, são medidos pela adaptabilidade. Quadro 27 - Tipos de flexibilidade aplicadas aos sistemas de produção. Tipo Categoria Definição Possíveis mudanças de nos fatores de flexibilidade produção(*) Produto Customização Modificações Volume Novos produtos Incertezas Variações Processo Mix Substituições Roteiros Materiais Seqüências Habilidade para produzir um produto com características específicas, determinadas por exigências do cliente. Habilidade para modificar produtos existentes para necessidades especiais. Velocidade com que os novos produtos são projetados, fabricados e introduzidos no mercado. Capacidade para responder a mudanças imprevistas no volume de um produto requerido pelo mercado. Velocidade com que novos processos de produção podem passar de pequenos volumes para uma produção em grande escala. Habilidade para produzir uma variedade de produtos, sem modificar as instalações existentes. Ferramental, equipamentos, rotas. Ferramental, equipamentos, rotas. Equipamentos, materiais. Rotas, espaços. Rotas, estoques, espaços. Rotas, equipamentos, ferramental, estoques. Capacidade de mudança no mix de produtos a longo Equipamentos, prazo. ferramental, materiais. Capacidade do sistema em absorver alterações nos Rotas, equipamentos. roteiros de produção. Habilidade para absorver variações e substituições Estoques, das matérias-primas. equipamentos. Habilidade para absorver alterações no Estoques, rotas, seqüenciamento da produção, em virtude de espaços, incertezas nas datas de liberação das matérias- equipamentos. primas. (Fonte: VANALLE, 1995, p. 39) (*) - Esta coluna não foi extraída da fonte da tabela. FRIGÉRIO (1994) ao estudar o projeto arquitetônico de fábricas, na Inglaterra, trabalha com três conceitos: flexibilidade, adaptabilidade (adaptability) e ajuste (fit), relacionando-os diretamente com a edificação no 214 processo de mudanças decorrentes da tecnologia e do sistema de produção. A autora trabalha com as seguintes dimensões: 1. mudanças internas à edificação decorrentes de mudanças nos parâmetros de produção(mercado, produtos, tecnologia, gestão de produção), para acomodar diferentes sistemas de organização do trabalho(trabalho em grupos, terceirização, etc.) e derivado de mudanças econômicas(recessão, problemas de fluxo de caixa, falta de financiamentos, etc.). 2. crescimento externo à fábrica, que ocorre quando a edificação não tem mais capacidade para acomodar as mudanças na organização. Neste caso há a necessidade de ampliação da edificação existente ou construção de novos módulos da mesma edificação. 3. Obsolescência da edificação, sendo necessário a construção de outro espaço para acomodar a organização. Os principais fatores são: deterioração física da edificação, fatores estéticos por mudanças nos padrões arquitetônicos, localização inadequada em função de novos sistemas de transportes e depressão na economia regional. Para esta pesquisa, os fatores de análise de performance estão condicionados pelos parâmetros de condições de produção e de trabalho que são as referencias para esta análise. As medidas de flexibilidade, aplicadas às situações de estudo de edificações industrias frente às mudanças de gestão da produção e do trabalho, podem ser auferidas pelos parâmetros já identificados no texto, comparando-os antes e depois das mudanças. Neste sentido pode-se usar indicadores de comparação que já foram descritos nos capítulos 3 e 4, separando-os em indicadores para a produção e indicadores para o trabalho (ou para os usuários da fábrica). Como medidas de rendimento da fábrica pode-se utilizar: a)produtividade da mão-de-obra, b)índices de acidentes, c)níveis dos agentes ambientais(calor, ruído, luminosidade), d) satisfação dos usuários, e) espaços de trabalho. 215 5.1. Edifícios industriais e instalações: exemplos recentes e indicativos de tendências. Os novos padrões de layout industrial, principalmente para industrias de produção em série de produtos discretos, como mostrado no item 3.4, indicam que na segunda metade do século 20 a tendência foi do trabalho em grupo, com as novas edificações seguindo as formas geométricas assumidas por estes grupos, como exemplo a fábrica de Kalmar da Volvo (figura 38, cap. 3. , item 3.4). Esta concepção de projeto de edificações parece se encaixar nas mesmas bases de projeto dos edifícios da primeira metade do século, com suas formas ditadas pela necessidade imediata dos modelos de produção emergentes na época, derivados da produção em massa do Fordismo e seguindo a escola funcionalista. O exemplo de projeto de fiação e tecelagem (PROJETO, out/92) de uma nova unidade em Uberlândia/MG apresenta um layout circular com a entrada de materiais e a saída de produtos finais em um mesmo ponto. Na tentativa de romper com a forma clássica do galpão retangular do layout funcional, característico das fábricas do setor têxtil (MATTOS, 1988), cria uma edificação na forma de um hexágono, com a produção no interior do hexágono e as atividades complementares à produção localizadas nas extremidade das faces deste hexágono. O memorial deste projeto indica que a solução adotada não prioriza a forma em detrimento da função, em referência à projetos semelhantes que foram criticados por não serem funcionais. Esta crítica surge em relação aos projetos de fábricas do setor automobilístico nos países escandinavos (MAYERSOHN, 1989). Se alguns projetos recentes incorporam soluções formais derivadas de experiências em sistemas participativos na concepção de edifícios industriais, como os projetos suecos das décadas de 70 e 80 (ORSTMAN, 1984), vários outros projetos pesquisados indicam ainda uma predominância 216 de modelos formais baseados na segmentação de atividades e especialização de setores da fábrica, tais como os projetos de décadas anteriores, cujas concepções seguiam modelos de produção tradicionais. O projeto de uma nova unidade de fabricação de equipamentos de usinagem, da empresa Weil & Rhein na Alemanha (BROTO, 1997), foi construída para atender a demanda de projetos de máquinas especiais. A empresa já possuía mais 4 galpões industriais, todos construídos para abrigar a produção de máquinas. Este novo galpão tem 9.000 m2 de área coberta, com forma retangular de 100 x 90 metros, ou seja, quase um quadrado. As divisões internas são organizadas de acordo com processos de fabricação em uma composição de layout muito semelhante à estrutura de departamentos funcionais. As áreas de fabricação são separadas por grandes corredores centrais e as seções de cada departamento, separadas por corredores laterais. No centros de cada seção tem um escritório de fábrica colocado em uma estrutura suspensa (redonda e envidraçada) com uma visão completa de todos os postos de trabalho da seção. Neste escritório se concentram atividades de controle, programação e de projeto, indicando uma organização descentralizada por mini-fábricas. A estrutura da edificação é tradicional para galpões industriais, treliça em shed com aberturas para ventilação e iluminação zenital. Uma primeira observação, sobre estes projetos, é que não há uma única tendência conceitual para os edifícios industriais, até porque não é possível estabelecer um paradigma para o futuro dos modelos de gestão de produção. Porém, a evolução dos sistemas de produção e os respectivos modelos de edificações utilizados para comportar as fábricas mostram que a flexibilidade e a modularidade são dois conceitos fundamentais dentro do cenário de incertezas provocado pela aceleração do comércio e rearranjo locacional das industrias no processo de globalização. 217 Os projetos do parque gráfico do periódico Folha de São Paulo (PROJETO, março/96), da cidade industrial da empresa de equipamentos eletrodomésticos BRAUN na Alemanha (ARQUITETURA e URBANISMO, junho/93) e de uma industria têxtil na Inglaterra da empresa Parkland (ARCHITECTES' JOURNAL, july/97), são exemplos de soluções de edificações industrias onde os conceitos de flexibilidade, modularidade e adaptabilidade são exaustivamente mencionados e destacados no desenvolvimento dos espaços de trabalho. Estes conceitos são empregados de formas diferentes e com características bastante distintas em cada um dos projetos, mas refletem uma preocupação explicita com as mudanças nos processos de gestão do processo de produção, incluindo a organização do trabalho, prevendo a possibilidade de rearranjos na estrutura interna em um curto horizonte de tempo. Estas preocupações aparecem em detalhes construtivos e nas explicações do usos dos espaços, como: "... o projeto foi uma oportunidade para desenvolver idéias inovadoras e criar um ambiente que refletisse as mudanças que estão ocorrendo nas práticas do trabalho industrial. Fundamental para alcançar estes objetivos, foi o rompimento da separação das equipes de projeto e da segregação das distintas áreas de trabalho na fábrica, permitindo um projeto integrado de acomodação das atividades de escritório e de serviços de fábrica dentro da área de produção. Com estas soluções, os mecanismos da fábricas interdependência funcional ficam da expostos produção, expressando controle, uma serviços e administração; refletindo uma característica de ocupação integral do espaço da fábrica..... Os elementos constituintes da edificação são modulares e possibilitam uma maior flexibilidade de composição articulada com mudanças na organização interna.." (ARCHITECTES'JOURNAL, july/97, p.28-29). 218 Neste projeto em particular, a distribuição das áreas de produção não fogem, em demasia, de modelos mais tradicionais de tecelagens e de tingimento, mas estas mesmas áreas se compõem com serviços, indicando a formação de equipes autônomas de trabalho. Outra preocupação é com o acondicionamento dos agentes ambientais e os vapores do tingimento. O projeto da cidade industrial da BRAUN mostra uma diversidade de estilos arquitetônicos e de funcionalidade, sendo que alguns edifícios são projetados com uma distribuição rígidas de funções, como refeitório e estacionamento, e outros de concepções mais arrojadas. A planta do escritório e da produção sugerem uma organização em grupos de trabalhos, como a formação de células na administração e ilhas na produção. O edifício da produção possui uma estética muito semelhante ao edifício projetado por P. Behrens em 1909 para a fábrica de turbinas AEG (figura 07, p. 32, item 2.2). "... Trata-se(a área de produção) apenas de um módulo que será repetido conforme as necessidades de expansão da fábrica.... com as áreas de apoio construídas ao lado para permitir a expansão da produção ...adoção de diferentes estilos em edifícios distribuídos segundo uma estrutura com características urbanas.... se esse tipo de disposição acaba por integrar bem as várias funções, ela também é reveladora de conflitos estilísticos.... ... Os edifícios do estacionamento e do depósito apresentam um programa de funções bem determinadas.... compensada(a estratégia criativa do projetista) mais adiante pela diversidade e pela sofisticação das propostas para os edifícios administrativos e de produção ...". (ARQUITETURA & URBANISMO, junho/93, p. 52-55). O projeto do parque gráfico do jornal Folha de São Paulo apresenta uma estrutura de projeto que, aproveitando a seqüência do processo e as dimensões diferenciadas dos equipamentos, utiliza um conjunto integrado de edificações em vários níveis proporcionando uma composição diferenciada em 219 relação à projetos atuais semelhantes. O uso da vertical para funções de apoio e de controle permite a aproximação das atividades e libera as laterais e as extremidades para expansões. "... Evita-se confundir-se com a imagem corriqueira da galpão industrial- o anódino caixotão fechado, monótono, feio. Sua arquitetura(do projeto novo) resulta de bem urdidas relações plásticas que dissimulam a excessiva linearidade, transformando-a numa composição de quatro volumes que ora se justapõem, ora se interceptam.... ... Propôs-se um arranjo espacial/funcional norteado pelas idéias de flexibilidade e adaptabilidade - para favorecer a assimilação de futuras exigências e demandas -, organizando a linha de produção em três blocos principais modulados, em planta livre e seqüencialmente ordenados. ... O layout industrial se desenvolve com fluência e integração. Grosso modo, o depósito de papéis liga-se à sala de impressão e esta, por sua vez, à seção de montagem e expedição de jornais, otimizando percursos de funcionários e trajetos operacionais. Essa solução contrasta com a situação atual dos parques gráficos espalhados pelo país, nos quais permanece como regra a desorganização e falta de planejamento..." (PROJETO, março/96). Em resumo, e como direção geral, as principais tendências mais recentes nas edificações industriais, cujos projetos incorporam, ou ao menos se preocupam, com as mudanças nos modelos de gestão da produção e do trabalho, encontradas na literatura; apontam para: -Abandono do conceito de segregação de áreas em função da separação de funções. -No projeto de linhas de produção é necessário considerar a flexibilidade da construção que permita a expansão vertical e horizontal, mantendo 220 a mesma estrutura construtiva. É indispensável o uso de níveis diferentes na produção, em particular no uso de atividades de apoio e de serviços de fábrica. -A parte da edificação que comporta os processos automatizados (contínuos) é a que define o programa geral da fábrica. O projeto de fábrica deve se preocupar com as direções e tendências dos avanços tecnológicos sobre a maquinaria e relativos à padronização de componentes construtivos e estruturais. -As fábricas recentes e automatizadas tendem a ser menores que suas similares, já que a miniaturização dos sistemas de produção tem diminuído os espaços necessários dentro da fábrica. -As edificações são de custos baixos, limpas, claras e de linhas ordenadas. -Poucas colunas e grandes vãos livres com iluminação natural dispersa por todo o ambiente, permitindo grande flexibilidade de colocação de mezaninos ou criação de vários níveis. 5.2. Análise de tendências nas relações do layout com os modelos de gestão da produção e do trabalho Um layout clássico, por produto ou funcional, não implica necessariamente em uma organização rígida e única de trabalho. Entretanto, a organização espacial proporcionada por estes tipos de layouts é decorrente de um projeto formal de gestão da produção com características de controle da qualidade do trabalho por posto, com a produção estipulada por sistema de previsões e com estoques distribuídos pela fábrica, ou seja, um modelo clássico de gestão. Da mesma forma, um layout celular ou por mini-fábrica ou modular não garante uma organização de trabalho flexível (SALERNO, 1991). 221 Destarte, a simples adoção de um layout flexível, organizado segundo premissas de produtividade e adaptabilidade, pode imprimir uma visão de atualidade de gestão, mas não garante um ambiente de trabalho inovador. O projeto de instalações industriais, mais que o projeto de layout, pode e deve ser repensado quanto à sua conceituação tradicional de divisão de espaços e do conteúdo do trabalho operacional de chão de fábrica, e contribuir para o atingimento de metas de recomposição do trabalho em suas dimensões físicas e cognitivas. As teorias e escolas de organização do trabalho e de ergonomia, apontam para situações de trabalho onde haja maior participação dos trabalhadores no projeto do sistema (de produção e do trabalho), que o conteúdo deste trabalho seja compatível com as expectativas socioculturais dos executantes e que os conhecimentos exigidos sejam adequados à base técnica experimentada ou estudada pelos trabalhadores (ORSTMAN, 1984). Da mesma maneira, os ambientes de trabalho devem ser mais humanizados no sentido de oferecer condições de conforto aos usuários das fábricas, incluindo as variáveis comumente estudadas em conforto ambiental (item 2.6.2), como aquelas concernentes à relação conteúdo versus espaço de trabalho derivados da análise ergonômica do trabalho (MORAES, 1992 e BENTO, 1996). Neste processo, o layout pode contribuir para o avanço das relações industriais entre produção e trabalho incorporando os conceitos de mudanças derivados das teorias e técnicas discutidas neste trabalho. Alguns princípios puderam ser observados no decorrer das discussões da literatura e das situações estudadas, como o layout em módulos planejados, a supressão de corredores por proximidade de processos e adoção de mini-fábricas, espaços de processos e de trabalho por estudos de funções e tarefas e não mais por movimentos corporais, projetos de expansões baseados também em mudanças na organização do trabalho, etc. As mudanças de layout de fábricas tradicionais, em expansões ou rearranjos provocados por inovações tecnológicas, se caracterizam por 222 construções de edificações anexas, sem composição estética ou de volumes com a edificação original, sem um plano agregado às estratégias de produção e de tecnologia para estas mudanças. Conforme processos novos são incorporados aos antigos, novos arranjos são realizados nos prédios existentes, resultando em perda de produtividade do sistema de produção. Mesmo o projeto e a construção de novas unidades fabris sofrem as influências dos processos e dos layouts antigos, em função da manutenção de padrões culturais da empresa e da continuidade de relações já sedimentadas na fábrica (processos, seqüências, rotinas, divisão de tarefas, etc.). Os novos layouts, derivados da modernização de gestão, sofrem a influência, quase antiga, do conceito da fábrica focada de SKINNER (1974) que se caracteriza por processar poucos tipos e modelos de produtos, para um segmento de mercado específico e de poucos clientes, mantendo, desta forma, equipamentos e trabalhos especializados e uma quantidade limitada de tarefas administrativas e de controle. Estas peculiaridades, segundo o autor, faz com que a fábrica focada tenha um desempenho melhor que uma fábrica tradicional. Deste conceito derivaram-se as propostas de sub-fábrica, fábrica dentro da fábrica, ilhas de produção ou, como ficou mais conhecida, a minifábrica, e a aplicação da Tecnologia de Grupo. Assim, resumindo uma coletânea de princípios de layout, reprojeto, rearranjo e projeto para fábricas do futuro deveria incluir: 1) Reorganização em minifábricas, 2) Aproximação dos pontos de recepção e expedição de materiais, 3) Agregar os trabalhos das mini-fábricas em sub-fábricas maiores e centralizadas, 4) Minimizar o tamanho da fábrica e modularizar as atividades em docas, 5) Construir fábricas modulares com previsão de expansão baseada na organização do trabalho, 6) Inclusão das mudanças de layout nas estratégias de produção e tecnológicas da empresa, evitando as reorganizações parciais do sistema de produção. 223 Quanto a relação com a organização do trabalho, dada a complexidade de situações e variáveis envolvidas, já que se trata de campo complexo, que é a parametrização do trabalho humano, torna-se mais difícil estabelecer regras específicas, sendo apenas possível estabelecer regras gerais de direcionamento, no sentido de: 7) Evitar ciclos de tarefas excessivamente curtos e monótonos, para melhoria da satisfação e conteúdo do trabalho; 8) Evitar trabalhos que requeiram conecções rígidas entre homem e máquina, para reduzir acidentes e ampliar as faixas de decisão do trabalhadores; 9) Promover tarefas para equipes de trabalho, com autonomia e variedade de decisões; 10) Promover ambiente seguro e atrativo para os trabalhadores; 11) Aumentar a variedade de tarefas; 12) Estabelecer metas para o resultado do trabalho, e não para tarefas, com conhecimento e participação na avaliação dos resultados; 13) Aumentar os requisitos de decisão; 14) Transparência de metas do trabalho e relação com a empresa; e 15) Aprendizagem no trabalho e pelo trabalho. Todas estas recomendações devem ser incorporadas, não somente nos projetos de gestão da produção na fase de operação da fábrica, mas na concepção dos edifícios industriais. O início de um projeto de edificação para atividades industriais deve contemplar um levantamento dos aspectos relativos à higiene e segurança do trabalho, a partir dos níveis dos agentes ambientais e riscos de acidentes, por fonte e posto de trabalho e cada local de trabalho na fábrica. Em se tratando de projetos novos, este estudo deve ser feito em várias instalações semelhantes em: região de instalação da fábrica, produtos, processos, tecnologia e organização do trabalho; visando uma simulação das novas instalações. Em situações de mudanças de padrões de gestão, processo ou tecnologia, deve-se adotar o modelo de análise adotado para os estudos dos casos, em particular, as análises constantes da descrição da Fábrica F1, que foram detalhadas com objetivos didáticos. Nestas situações é importante a 224 avaliação dos espaços de trabalho e as possibilidades de regulação do ritmo, quantidade e distribuição destes trabalhos pelos trabalhadores. Deve-se medir os espaços de trabalho por posto de trabalho e espaços de movimentação de pessoas antes das mudanças, compará-los com normas de espaços de trabalho (por exemplo, as medidas ergonométricas de padrões de espaço nos postos) e simular como ficarão estes espaços após as mudanças. Registrar a quantidade de tarefas e funções de cada operador antes das mudanças e compará-las com o projeto de funções após as mudanças. Em suma, os novos projetos devem contar com a participação dos interessados diretos no usos dos espaços e funções da edificação industrial - os trabalhadores - desde a fase de concepção do empreendimento, quanto nas discussões de estratégias de tecnologia e de produção. O edifício destinado à atividades de trabalho, principalmente, industrial, deve ser projetado moldado aos seus usuários principais, e não aos interesses exclusivos da função produção. Como mostrado nesta pesquisa, quando este fato ocorreu, a edificação acabou depondo contra sua função básica de projeto, a produção; tornando esta edificação desagradável para uso pelos trabalhadores e ineficiente para a produção. 225 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT- Associação Brasileira de Normas Técnicas. Iluminância de interiores. NBR 5413. Rio de Janeiro. ABNT, 1992. ______. Verificação da iluminância de interiores – Método de ensaio. NBR 5382. Rio de Janeiro. ABNT, 1990. AGOSTINHO, O. L. Estudo da Flexibilidade dos Sistemas Produtivos. São Carlos. Tese de Doutorado. EESC/USP, 1985. ALEXANDER, C. El modo intemporal de construir. 1ª edição. Barcelona. GUSTAVO GILI, 1979. ____________. Notes on the Syntesis of Form. Cambridge. HARVARD U. PRESS, 1974. ALLEN, E. How Buildings Work. ed. Revisada. 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Camarotto Roteiro de Levantamento de Informações Ergonômicas e de Produção sobre Posto de Trabalho e Célula de Manufatura I - CARACTERIZAÇÃO DO POSTO/CÉLULA 1.1 - Produtos Fabricados NOME DESCRIÇÃO QUANT. PRODUZIDA (dia, sem., mês, ano) 1.2 - Documentos de Programação e Controle da Produção no posto. ( ) Folha de Processo ( ) Guia de Operação ( ) Roteiro de Produção ( ) Ordem de Fabricação ( ) Contr. Estat. de Processo ( ) Ficha Contr. Qualidade ( ) Ficha de Análise de Falhas ( ) Ficha de Manutenção ( ) ____________________ ( ) __________________ 1.3 - Seqüência de Operações para completar um ciclo de trabalho, por operador. Símbolo da Operação { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ { D ∇ Simbologia utilizada { operação Local e/ou Equipamento Descrição Tempo (min.) Ö Ö Ö Ö Ö Ö Ö Ö Ö Ö inspeção D espera Ö transporte ∇ armazenagem 1.4 - Layout do posto/célula. (anexar croquis da célula identificando áreas de: Equipamento, oPeração, Corredor, estoQue, Manutenção) II - SISTEMA DE TRABALHO 243 2.1 - Posto de Trabalho a. posturas do corpo adotadas, por posto de trabalho:(DESCREVER) b. posições de trabalho e alcances, por posto de trabalho:(DESCREVER) c. freqüência e tipos principais de movimentos e deslocamentos utilizados para a execução das tarefas:(DESCREVER) d. informações e decisões de trabalho tomadas pelos operadores, por posto de trabalho: (REGISTRAR APENAS AS PRINICIPAIS E RELACIONADAS COM A EXECUÇÃO BÁSICA DAS OPERAÇÕES NO POSTO) 2.2 - Nível de Produção a. controle de qualidade/freq. erros:(DESCREVER AS FORMAS DE REGISTRO E DE CONTROLE DO RETRABALHO) b. medida de produtividade:(DESCREVER O MÉTODO ADOTADO PELA EMPRESA OU NA SEÇÃO A QUE PERTENCE O POSTO) c. regularidade e ritmo de produção:(DESCREVER) III - MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS 3.1 - Nível Tecnológico a. grau de automação: b. principais tipos de decisões automáticas sobre o processo: 3.2 - Dimensões de Trabalho(descrever os tipos, dimensões e desenhos) a. envoltório de alcance: b. distâncias de trabalho: c. arranjos de displays e controles: 3.3 - Controles (descrição, distâncias, localizações, desenho) a. manuais: b. pedais: c. tronco: d. simultaneidade/compatibilidade: 3.4 - Displays (descrição, distâncias, localizações, desenho) a. visuais(diais, indicadores, contadores, luzes): b. auditivos(fala, sinais sonoros, ruídos de fundo): c. táteis(estático, dinâmico): IV - TRABALHO HUMANO 244 a. antropometria(forças, alcances): b. percepções(visão, audição, cinestesia, posições): c. desempenho(acertos, erros, velocidade): d. acidentes(freq., gravidade, tipos, partes atingidas): e. subjetivos(conforto, segurança, fadiga): V - AMBIENTE 5.1 - Ambiente Físico LOCAL TEM Tbs PERA °C Tg TURA RUÍDO dB(A) ILUMIN (LUX) Tbn Obs.: as medições devem ser feitas nos pontos de operação, nos corredores e em pontos externos à célula. 5.2 - Ambiente Psicossocial a. monotonia: b. motivação: c. liderança: d. variabilidade: e. autonomia 5.3 - Organização do Trabalho a. horário de trabalho: b. turnos e pausas: c. tipo de supervisão: d. distribuição de tarefas Num. 01 02 03 04 05 CARGO TAREFAS MAQ./EQIUP. CONTROLES e. treinamento(Curso, Estágio, Serviço, EVento, SImulação) TIPO NOME DURAÇÃO (horas) FORMA DE AVALIAÇÃO 245 f. Equipamentos de Proteção Individual(EPI) NOME TIPO/ MODELO FINALIDADE (prevenção) 5.4 - Sócio-técnico a. imagem operatória: b. incidentes críticos: c. interferência entre atividades: d. avaliação do conteúdo cognitivo: FREQÜÊNCIA de uso (horas) MANUTENÇÃO 246 ANEXO 02 Normas Técnicas utilizadas para avaliação de RUÍDO, CALOR e ILUMINAMENTO. - NR 15 - Atividades e operações insalubres. (BRASIL, 1997) - NBR 5413 - Iluminância de Interiores. (ABNT, 1992)