Artigo completo (em português) - Faculdade Salesiana Maria
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Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n 3 (2016) pp. 2-9 http://www.fsma.edu.br/si/sistemas.html Avaliação do Processo de Produção de Tintas à Base de Argila Lívia Vieira Leite*, Rafael da Costa Pacheco*, Warlley Ligorio Antunes** developed with the components of commercial inks. Thus, the ink developed has an excellent ratio cost / benefit. Resumo - A aplicação das tintas é muito importante para proteger materiais do intemperismo. O consumo de tintas tem crescido e o desenvolvimento tecnológico nesse setor tem sido intenso, com isso o mercado tem exigido dos fabricantes produtos mais sustentáveis e com menores custos. Dentro deste contexto, este trabalho foi desenvolvido buscando um projeto para a produção de tintas à base de argila, um produto com baixo custo e com um menor impacto ambiental quando comparado com as tintas comumente encontradas atualmente no mercado. Para tanto foi elaborada uma metodologia para processo de produção com a definição das etapas. Em seguida, a metodologia foi testada em escala laboratorial com o intuito de verificar a coerência da metodologia proposta. Foi também realizado o balanço de massa para o processo e, em seguida, uma avaliação econômica. Desta avaliação foi possível obter um forte indicativo da viabilidade do processo de produção de tinta proposto neste trabalho. Já a avaliação ambiental foi positiva em todos os aspectos na comparação dos componentes (pigmento, solvente, adesivo) da tinta à base de argila com os respectivos componentes utilizados em tintas comerciais. Desta forma, a tinta desenvolvida possui uma ótima relação custo/benefício. Palavras chaves: tinta, argila, grude, processo de preparação de tinta. Production Process Evaluation of Ink using clay as a pigment. Keywords: ink, clay, adhesive, Method ink preparation. I. INTRODUÇÃO N ENHUM material está isento da ação do intemperismo, mas a degradação pode ser minimizada com os revestimentos superficiais proporcionados pelas tintas, aumentando o valor estético e melhorando a aparência. Nos últimos anos, o desenvolvimento tecnológico nesse setor tem sido intenso e o mercado tem exigido dos fabricantes produtos mais sustentáveis e com menores custos (SANTOS, 2010). O Brasil é um dos cinco maiores mercados mundiais para tintas, fabricando-se tintas destinadas às mais variadas aplicações, com tecnologia de ponta e grau de competência técnica comparável à dos mais avançados centros mundiais de produção (ABRAFATI, 2013). Produzir toda essa variedade de produtos pode gerar impactos ambientais, pelo fato das matérias primas terem propriedades tóxicas e corrosivas. Abstract - The applicability of the paint is very important to protect materials from environmental actions. The ink consumption has grown and technological development in this sector has been intense, with that the market has been demanding more sustainable products at lower costs. This work was developed looking for a project for the production of paints using clay as a pigment. The clay is cheap and has lower environmental impact than the inks commonly found on the market. Then, a method for the production process was developed by selecting each of the steps. Next, the methodology was tested in the laboratory to check the consistency of the proposed methodology. The mass balance for the process was calculated and then an economic evaluation. From this evaluation it was possible to obtain a strong indication of the viability of the ink production process. The environmental evaluation was positive in all aspects when comparing the components (pigment, solvent, adhesive) ink A tinta é uma mistura de pigmentos, solventes, aditivos e adesivos ou colas. Os pigmentos são as substâncias que conferem cor, enquanto os líquidos e adesivos servem para dar a fluidez, ou seja, a viscosidade necessária para transportar e fixar os pigmentos na superfície. Os pigmentos e adesivos podem ser de origem mineral, animal, vegetal ou sintética, enquanto os líquidos podem ser água, óleos ou solventes (CARVALHO, 2009). Os pigmentos são constituídos de pequenas partículas sólidas de granulometria fina, os quais após o tempo de secagem proporcionam a formação da camada uniforme que 2 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 reveste o substrato. Este material além de conferir cor, pode tipo de tinta para outro e revestimento a ser empregado aumentar o brilho, opacidade, durabilidade e resistência à (FAZENDA, corrosão. Por isso, os pigmentos são utilizados pelo homem substâncias de mais fácil obtenção que podem ser utilizadas com finalidades decorativas e artísticas desde muito tempo, como adesivos na produção de tinta, como o grude feito com o podendo ser retirados de vegetais ou minerais (FAZENDA, amido (CARVALHO, 2009). 1995 apud FÜCHTER, 2007). 1995 apud FÜCHTER, 2007). Existem O grude é uma cola tradicional à base de amido que pode O solo pode ser considerado como um pigmento barato, de ser utilizado como uma mistura adesiva nas tintas de solos. O fácil acesso e obtenção para as tintas, diminuindo. o custo da amido é formado por duas substâncias chamadas amilose e tinta e contribuindo para sustentabilidade do produto. O seu amilopectina. Estas substâncias encontram-se unidas por uso é amplamente disseminado, como por exemplo na prática interações muito fortes e por isso, água na temperatura do barreamento que é comum no meio rural mineiro e consiste ambiente não consegue romper essa união, pois, o amido é no revestimento ou pintura de fogões de lenha, fornalhas e pouco solúvel em água. No entanto, o calor ou a soda cáustica paredes com solo diluído em água aplicada com pano úmido conseguem enfraquecer as interações entre a amilose e a ou brocha (CARVALHO, 2009). amilopectina, permitindo que a água não somente dissolva o Os solventes são compostos (orgânicos ou água) grânulo de amido, mas também se ligue a ele formando uma responsáveis pelo aspecto líquido da tinta com uma pasta que conhecemos como grude ou cola de amido determinada viscosidade. Após a aplicação da tinta, resta uma (CARVALHO, 2009). camada de filme seco sobre o substrato, formada por alguns A proposta desta pesquisa baseia-se no aperfeiçoamento da processos, tais como a evaporação do filme. O principal técnica de barreamento, melhorando a qualidade da tinta, objetivo do solvente é ajustar as propriedades de cura e a fazendo-a mais aderente, resistente e durável. Em outras viscosidade da tinta. Também controla a reologia e as palavras, este trabalho terá como ponto de partida, uma técnica propriedades da aplicação, e afeta a estabilidade da tinta artesanal (barreamento) que será direcionada para uma enquanto esta se encontra no estado líquido. A sua função produção em maior escala sem que, com isso, perca suas principal é funcionar como transportador dos componentes não características de sustentabilidade. E, devido a essas duas voláteis, podendo ser um componente opcional numa tinta. A características, preço e sustentabilidade, a linha de produção água é o principal solvente das tintas de base aquosa. As tintas proposta pode atender um consumo “verde” voltado para de base solvente podem ter várias combinações de solventes construções “verdes” com engajamento na preservação como diluente, que podem incluir hidrocarbonetos, álcoois, ambiental. cetonas e éter de petróleo (SOARES, 2012). Note-se que mesmo a exploração de argila sendo uma Os adesivos são substâncias que fazem com que as atividade extrativista não renovável, pode-se considerar este partículas dos pigmentos fiquem aderidas às paredes, ou seja, é processo como ambientalmente correto pois diminui a uma substância aglutinante e adesiva que vai colar cada dependência de compostos possivelmente nocivos e cuja partícula uma na outra e estas nas superfícies a serem pintadas produção pode ser considerada como extremamente poluente. (CARVALHO, 2009). É considerado responsável pela aglomeração das partículas sólidas dos pigmentos, II. METODOLOGIA convertendo-o em película e fornecendo propriedades físico- A metodologia foi inspirada na técnica de barreamento, mas químicas específicas ao produto, determinando inclusive o uso direcionada para um projeto de produção com uma maior do produto e a sua secagem. Ainda, é importante para dar escala e tendo sua qualidade melhorada, fazendo-a mais aderência, brilho e flexibilidade a tinta, diferenciando de um 3 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 aderente, resistente, durável e com características de final. Seguindo a linha de raciocínio para a obtenção de um sustentabilidade. produto sustentável, as operações unitárias foram definidas a fim de que não provoquem danos à saúde do homem e nem ao A. Definição Quantitativa da Produção Para definir a quantidade de tinta produzida, criou-se a meio ambiente. hipótese que a fabricação de tintas à base de argila tem em técnica de barreamento sugerida por Carvalho (2009), foi vista atender a construção de um conjunto habitacional sugerida a inserção se uma etapa de peneiramento cujo “verde”. Para tanto, tomou-se como base o Projeto de Controle objetivo é obter um pigmento uniforme majoritariamente de Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios composto por argila, utilizando peneiras com abertura de Iguaçu, Botas e Sarapuí executado pelo Instituto do Meio 0,002 mm. Esta é uma etapa de grande importância, pois a Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (INEA), conhecido seleção do material utilizado como pigmento resulta em uma também como Projeto Iguaçu (PROJETO IGUAÇU – INEA, tinta de boa qualidade, pois partículas de menor granulometria 2013). (argila) possuem maior aderência, resultando em uma tinta Baseado na proporção sugerida por Carvalho (2009) são É necessário salientar que, neste trabalho, aprimorando a mais resistente e duradoura. necessários aproximadamente 31.000 litros de tinta, demanda No diagrama da Figura 1, pode-se verificar as três principais que deverá ser atendida pelo projeto da fábrica de pequeno etapas da produção que são a separação dos grãos, obtendo porte proposta neste trabalho. argila pura; a produção do grude, misturando uma solução de soda cáustica (25 g/L) como uma mistura de amido e água B. Definição do Tipo de Processamento: Batelada1 x Contínuo No caso do presente trabalho, por se tratar do projeto de uma indústria de pequeno porte, a quantidade de tinta a ser produzida é relativamente pequena. Desta forma, (100 g/L) numa proporção de 1 L da solução de soda cáustica para 1,5 L da mistura de amido e, por fim; a mistura da argila com o grude na proporção 8kg de argila para 10 litros de grude. o processamento em batelada seria o mais indicado. Outro aspecto que deve ser considerado é a possibilidade de formação de incrustações. No caso da fabricação de tintas à base de argilas, o pigmento é misturado no solvente, mas na prática, existe a possibilidade de partes da argila não estar totalmente solubilizado, o que ocasionaria incrustações. Em operações que existem significantes incrustações, os processos em batelada são favorecidos, pois a limpeza dos equipamentos sempre é realizada e pode ser facilmente programada. C. Estruturação do processo de produção e definição das etapas. Para obtenção da tinta à base de argila, as matérias primas Figura 1: Diagrama de Blocos para a produção de tinta à base de argila. devem passar pelo processamento até a obtenção do produto 1 Processos em batelada são aqueles que processam uma carga considerável de cada vez e ao fim da mesma tornam-se prontos para uma nova carga (denominada batelada). D. Aplicação da metodologia desenvolvida em escala laboratorial Nesta etapa do trabalho, a tinta foi testada produzindo-a em escala laboratorial nas dependências do laboratório de 4 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 Química da Faculdade Salesiana Maria Auxiliadora e para III. RESULTADOS obtenção de dados experimentais essenciais para avaliações. matérias primas: argila, hidróxido de sódio, polvilho azedo e A. Teste de Aplicação da Tinta Este teste consistiu em aplicar 3 demãos da tinta produzida água. A argila usada no teste foi obtida comercialmente e trata- em uma pequena superfície de parede de alvenaria como se de argila medicinal usada no tratamento de pele produzida mostra a Figura 3. Este teste foi realizado com intuito de pelo Laboratório P.C. Campos Produtos Naturais. O hidróxido avaliar o aspecto visual da tinta produzida e sua secagem. O primeiro passo para realização do teste foi a obtenção das de sódio utilizado foi da marca Vetec (P.A2.). O polvilho azedo utilizado foi produzido pelas Indústrias Granfino S.A. A água utilizada trata-se de água destilada. Após preparado 100 ml de grude seguindo as proporções já descritas, sua massa específica foi determinada usando a técnica da picnometria. Em seguida, usando os 100 ml do grude preparado, adicionou-se 80 g de argila sob contínua agitação para obter uma tinta homogênea e de coloração verde Figura 3: Aplicação da tinta em uma pequena superfície. escura, como mostra a Figura 2. Foi observado que a tinta tem um tempo de secagem bem curto e, devido às matérias primas utilizadas, não foi percebido nenhum tipo de cheiro como na maioria das tintas imobiliárias comerciais. Já em relação ao aspecto estético, obteve-se um resultado satisfatório com grande poder de cobertura e Figura 2: Preparo da tinta à base do solo. Nesta fase não foram efetuados testes de verificação de pH, pois a verificação de compatibilidade da tinta com a natureza básica da argamassa foi feita de forma empírica, aplicando-se a tinta produzida aqui em superfícies reais. Os resultados obtidos por picnometria para o grude e para a aderência como mostra também a Figura 3. B. Balanço de Massa do Processo Como estratégia do cálculo de balanço de massa, definiu-se 3 envoltórias, como enumeradas abaixo na Figura 4. tinta estão apresentados na Tabela 1. Tabela 1: Valores de picnometria. Grude Tinta massa específica obtidos por Massa específica (g/mL) 1,025 1,380 2 P.A. Reagente com grau de pureza para ser utilizado em análises químicas Figura 4: Diagrama de Blocos com as 3 envoltórias usadas para o balanço de massa 5 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 foram aplicadas, respectivamente, nas envoltórias 1, 2 e 3 (Figura 4) e como resultado final destes balanços de massa Matéria Prima primas usadas para produção da tinta, as equações 1, 2 e 3 Preço Fonte Quant. Custo (R$) R$ 15,00/ton Departame nto Nacional de Produção Mineral 37,505 ton 562,58 CEDAE 22,46 m3 289,79 NaOH experimentalmente e também as proporções de matérias Tabela 3: Estimativa dos gastos com matéria prima para produção de 31000 litros tinta à base de argila. R$ 32,00/kg Sigma Aldrich 224,55 kg 7185,6 Polvilho Considerando os valores de massa específica obtidos R$ 9,46/kg Pesquisa de Mercado (Macaé) 1347,32 kg 12745,64 envolvidas no processo de produção de tinta apresentados na Solo temos os valores requeridos para todas as matérias primas como matéria prima possui um teor de 50% de argila. Água Tabela 2. Outra consideração adotada é de que o solo usado margila + mgrude = mtinta (Equação 1) margila + mgrãos de maior granulometria = msolo (Equação 2) mgrude = mágua (mistura de polvilho) + mágua (solução NaOH) + mNaOH + 0-20m3: 12,83 R$/m3 21-31 m3: 13,47 R$/m3 mpolvilho (Equação 3) Rejeito das Frações grossas Tinta Polvilho NaOH Água Argila Solo Tabela 2: Valores requeridos das matérias primas para produção de 31000 L de tinta à base de argila. A partir da Tabela 3, estimou-se o valor de RS 12,07 para o gasto com matérias prima para fabricar 18 litros de tinta. Comparando este valor com os preços de três marcas de tintas 18752,88 42780 1347,32 224,55 22455,25 18752,88 37505,76 Massa (kg) imobiliárias vendidas no mercado (Tabela 4), pode-se Finalmente, o balanço de massa global para este processo pode ser representado pela Equação 4: constatar a viabilidade econômica da tinta à base de argila. Tabela 4: Estimativa dos gastos com matéria prima para produção de 18 litros (uma lata) de tinta à base de argila. Tinta à base Preço Marca X Marca Y Marca Z de argila 12,07 109,90 119,90 149,90 R$ (Equação 4) Os dados expostos neste balanço global, podem ter sua consistência verificada aplicando aos valores apresentados na Tabela 2. D. Avaliação Ambiental A avaliação ambiental aqui realizada baseou-se principalmente na comparação entre os componentes aplicados na fabricação da tinta à base de solo e das tintas imobiliárias encontradas no mercado. Partindo da definição de que a C. Avaliação Econômica Para fazer comparações com foco econômico, estimou-se o preço da tinta à base de argila aqui proposta considerando produção de tinta requer três matérias primas (pigmento, adesivo e solvente) o Quadro 1 foi construído com intuito estabelecer as comparações propostas. apenas o custo das matérias primas empregadas conforme a Tabela 3. 6 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 Quadro 1: Comparação dos componentes aplicados para fabricação da tinta à base de solo e tintas imobiliárias encontradas no mercado. Tinta à Componente base de Tinta imobiliária comercial solo Argila Pigmentos naturais ou sintéticos Pigmento Grude Resina Adesivo Solventes Orgânicos ou, no caso Água de tintas PVA e acrílicas, Solvente solvente a base de água Começando pelos pigmentos, para a tinta à base de solo, temos a argila como pigmento, já para as tintas imobiliárias polvilho azedo. Já as resinas possuem uma composição muito variada que, segundo Fonseca (2010), as matérias-primas mais comuns em resinas são os óleos vegetais, alguns polióis como etileno glicol, glicerina, pentaeritritol e alguns poliácidos como, anidrido ftálico, anidrido trimetílico, anidrido maleico. Dessa forma, devido à complexidade da resina, envolvendo em sua composição várias matérias primas que podem causar danos ao meio ambiente, tem-se que a aplicação do grude como adesivo é uma escolha coerente com a proposta ecológica da fabricação de tinta à base de solo. normalmente encontradas no mercado são utilizados os mais Portanto, de uma forma geral, a escolha dos três variados tipos de pigmentos que podem ser naturais ou componentes (pigmento, solvente e adesivo) da tinta à base de sintéticos. Segundo Silva (2010), vários destes pigmentos solo resultou em uma tinta ecológica que é menos agressiva ao podem ser muito prejudiciais ao meio ambiente por possuírem meio ambiente quando comparada com as tintas encontradas em sua composição metais pesados. no mercado. O principal problema ambiental relacionado aos corantes é que, quando descartados inadequadamente em ambientes IV. CONCLUSÕES aquáticos, ocorre diminuição da transparência da água, o que No presente trabalho desenvolveu-se o processo de dificulta a penetração da radiação solar. Assim sendo, esses produção de tinta à base de solo a partir do aprimoramento da rejeitos coloridos diminuem a atividade fotossintética e técnica de barreamento. Para a melhoria do processo e provocam distúrbios na solubilidade dos gases, causando produção de uma tinta de qualidade, pode-se perceber a danos nas guelras e brânquias dos organismos aquáticos, além fundamental importância da seleção de partículas pequenas de perturbar seus locais de desova e refúgio (BARCELOS, (argila) para aplicação como pigmento, o que justifica o 2009). peneiramento. Para avaliação do solvente, comparou-se o solvente empregado na tinta à base de solo, a água, com os solventes Sem tal etapa, as partículas maiores sedimentariam e a tinta não teria aderência mesmo com a adição de uma substância adesiva. normalmente utilizados nas tintas imobiliárias comerciais, os Ressalta-se também a importância do teste em escala solventes orgânicos. Esta comparação pode ser realizada de laboratorial. Com esta etapa foi possível verificar a coerência forma bem simples, pois tendo a água como solvente do processo proposto bem como as proporções das matérias universal, ela não causa qualquer prejuízo ao homem nem ao primas sugeridas para a produção da tinta de solo. A tinta meio ambiente. Por outro lado, os solventes orgânicos obtida neste teste atendeu a todas as expectativas, sendo uma empregados em tintas comerciais, tais como hidrocarbonetos, tinta homogênea com grande poder de cobertura, aderência e álcoois, acetatos, cetonas e ésteres podem trazer inúmeros bom aspecto estético. prejuízos ao meio ambiente tanto na sua obtenção quanto no tratamento inadequado dos seus rejeitos. Em relação à avaliação econômica da tinta, foi calculado os gastos com as matérias primas utilizadas na obtenção na tinta. Na comparação dos adesivos, o grude usado para produção Este estudo não representa o exato valor de venda caso esta de tinta à base de solo foi confrontado com a resina que é o tinta fosse comercializada, mas, devido ao fato de seu custo principal adesivo utilizado nas tintas comerciais. O grude, estar bem abaixo do preço das tintas comerciais, é um forte como já dito, trata-se de um adesivo simples à base de 7 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 indicativo da viabilidade econômica do processo de produção [2] BARCELOS, Ivonete O. Remoção de cor de soluções corantes reativos com cinzas de casca de arroz. Dynamis revista tecno-científica, 2009. [3] CARVALHO, A. F. (2009) Cores da terra: fazendo tinta com terra! UFV, DPS, Viçosa-MG. https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/files/cursos/2/cores.swf, acessado dia 22 de agosto de 2013. de tinta proposto neste trabalho. Já a avaliação com foco ambiental foi positiva em todos os aspectos comparando cada um dos componentes (pigmento, solvente, adesivo) da tinta à base de solo com os respectivos [4] Equipe CEAD. (2013) Curso Cores da Terra, Universidade Federal de componentes utilizados em tintas comerciais. Além disto, para Viçosa (UFV), MG sobre pintura de paredes de alvenaria, https://www2.cead.ufv.br/espacoProdutor/files/cursos/2/cores.swf, acessado dia 22 de agosto de 2013. a tinta à base de solo aqui proposta não há geração de resíduos no processo de produção, exceto pelo excedente de solo de [5] CEDAE: Companhia Estadual de Água e Esgoto http://www.cedae.com.br/div/Estrutura_Tarifaria_2013.pdf, acessado em 20 de outubro de 2014. [6] DNPM: Departamento Nacional de Produção Mineral http://www.dnpm.gov.br/go/mostra_arquivo.asp?IDBancoArquivoArqui vo=6402, acessado em 20 de outubro de 2014. [7] FAZENDA, Jorge M. R. et al. Tintas & Vernizes: Ciências e Tecnologia. 2ª ed. São Paulo: Texto Novo, 1995. [8] FELDER, Richard. Princípios Elementares dos Processos Químicos. Rio de Janeiro: LTC, 2008. [9] FONSECA, A. S. Fonseca. Tintas e correlatos. Monografia de Química Industrial da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2010. maior granulometria. Assim sendo, através deste projeto e de toda a pesquisa feita para possibilitar sua conclusão, pode-se perceber que a tinta aqui desenvolvida possui uma ótima relação custo/benefício empregando materiais menos agressivos a natureza e à saúde humana. O valor do trabalho está na iniciativa de desenvolvimento e avanço tecnológico em material de construção, ainda que em fase inicial. Por ainda figurar como estudo inicial, ainda não fizemos os estudos dos parâmetros de desempenho definidos pela norma NBR/ABNT 15 575, o que pode ser considerado como um trabalho futuro neste momento. O caráter inicial desta pesquisa fica evidente quando se compreende que as conclusões colocadas aqui ainda não não podem ser aplicadas diretamente em edificações, pois necessitam de aprofundamento e mais ensaios laboratoriais, [10] FÜCHTER, R. Miguel. Proposta de melhoria no processo de fabricação de tintas automotivas. Monografia da Engenharia Química da Universidade do Sul de Santa Catarina,Tubarão, 2007. [11] INEA: Instituto Estadual do Ambiente (2013). Projeto de Controle de Inundações e Recuperação Ambiental das Bacias dos Rios Iguaçu, Botas e Sarapuí – Projeto Iguaçu. http://www.inea.rj.gov.br/projetoiguacu/index.html. Acessado em 02 de novembro de 2013. [12] JUNIOR, A. C, Badino, CRUZ, A. J. Gonçalves. Fundamentos de Balanços de Massa e Energia. EdUFSCar, 2010. como por exemplo, ensaios de envelhecimento acelerado, permeabilidade e estanqueidade. Da mesma forma, precisamos estudar de forma mais profunda a questão das técnicas de aplicação e manutenção. [13] MALONEY, JAMES O. Perry’s Chemical Engineers’ Handbook. The McGraw-Hill Companies, Inc. 2008. [14] SANTOS, J. C, Gomes, T.M., Sampaio,V. G. Aspectos gerais sobre a fabricação de tintas e revestimentos. Monografia da Engenharia Química do CCA/UFES, Guararema, Alegre, ES, 2010. Assim, como trabalhos futuros consideramos a possibilidade de um estudo de durabilidade da tinta produzida frente as condições de intemperismo e verificação da aplicabilidade das tintas às edificações reais. Ademais, achamos interessante a prossibilidade de verificação da produção de cores variadas e análises de solidez de cor. REFERÊNCIAS [1] [15] SILVA, Queli Viviana. Análise da Aplicação de Ferramentas de P+L em uma Empresa De Tintas Imobiliárias. Trabalho submetido ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UNISINOS. São Leopoldo, 2010. [16] SIGMA ALDRICH http://www.sigmaaldrich.com/catalog/search?interface=Product%20Na me&term=Sodium+hydroxide&N=0+&mode=mode%20matchpartialma x&focus=productN=0%20220003048%20219853286%20219853075& lang=pt®ion=BR, acessado em 21 de outubro de 2014. [17] SOARES, Felipe, CORRÊA, M. L. Santos, et al. Projeto de Controle Ambiental e Processos Industriais Químicos para Conclusão de Curso de Química apresentado à Escola Técnica Oswaldo Cruz. São Paulo, 2012. ABRAFATI – Associação Braseileira de Fabricantes de Tintas. http://www.abrafati.com.br/, acessado dia 29 de setembro de 2013. 8 LEITE, L. V.;, PACHECO, R. C.; ANTUNES, W. L. / Revista de Engenharias da Faculdade Salesiana n. 3 (2016) pp 2-9 [18] TORRADO, Pablo Vidal. Solos do Brasil. http://www.mma.gov.br/port/conama/processos/FE4582B1/PabloTorrad o_ESALQ. Acessado em 19 de outubro de 2014. [19] TURTON, R., BAILIE, R. C., WHITING, W. B., SHAEIWITZ, J. A. Analysis, synthesis, and design of chemical processes, Prentice-Hall, 2009. 9