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Saneas SUMÁRIO Saneas é uma publicação técnica quadrimestral da Associação dos Engenheiros da Sabesp AESABESP DIRETORIA EXECUTIVA Eliana Kazue Irie Kitahara / Presidente Amauri Pollachi / Vice-Presidente Cecília Takahashi Votta / 1ª. Secretária Aram Kemechian / 2º. Secretário Choji Ohara / 1º. Tesoureiro Emiliano Stanislau de Mendonça / 2º. Tesoureiro DIRETORIA ADJUNTA Carlos Alberto de Carvalho / Diretor de Marketing Gilberto Alves Martins / Diretor Técnico Cultural Ivan Norberto Borghi / Diretor de Esportes Ivo Nicolielo Antunes Junior / Diretor de Pólos Hiroshi Ietsugu / Diretor de Pólos da RMSP Cecília Takahashi Votta / Diretor Social CONSELHO DELIBERATIVO Almiro Cassiano Filho, Cid Barbosa Lima Jr., Eduardo Augusto R. Bulhões, Getulio Martins, Gilberto Alves Martins, Ivo Nicolielo Antunes Junior, José Marcio Carioca, Luiz Yukishigue Narimatsu, Magali Scarpelini Mendes Pereira, Nelson Luiz Stábile, Nizar Qbar, Reynaldo Eduardo Young Ribeiro, Viviana Marli N. Aquino Borges, Wagner Luis Bertoletto, Yazid Naked CONSELHO FISCAL Benedito Felipe Oliveira Costa, Luciomar Santos Werneck, Oto Elias Pinto FUNDO EDITORIAL EQUIPE RESPONSÁVEL PELA SANEAS Getúlio Martins (Coordenador) Américo Oliveira Sampaio, Andréa Ferreira Guzzon, Darcy B. Filho, Jairo Tardelli Filho, José Antônio de Oliveira Jesus, Luiz Carlos Helou, Maria Cristina G. Stefani, Paulo Ernesto Marques da Silva, Rodolfo Baroncelli Júnior, Silvio Leifert, Ullisses Cruz Andrade JORNALISTA RESPONSÁVEL Ana Holanda Mtb 26.775 ARTE E PRODUÇÃO GRÁFICA Formato Artes Gráficas ([email protected]) TIRAGEM: 2.500 exemplares AESABESP Associação dos Engenheiros da Sabesp Rua 13 de maio, 1.642 – casa 1 01327-002 - São Paulo, SP Fone (11) 3284 6420 – 3263 0484 Fax (11) 3141 9041 www.aesabesp.com.br [email protected] EDITORIAL 3 Saneamento Básico e Legislação Ambiental: entre o real e o ideal 4 AGENDA OPINIÃO 5 Regras ambientais e investimentos P&D 6 Gestão da inovação tecnológica: paixão ou ferramenta de competitividade? MATÉRIA DE CAPA 10 Saneamento e Meio Ambiente: direitos e responsabilidades ARTIGOS TÉCNICOS 16 Aplicabilidade do dióxido de cloro no tratamento de águas de abastecimento 22 Crítica antecipada de leitura maximizando a eficiência da micromedição 26 Parâmetros Biológicos envolvidos no reúso de efluentes de estações de tratamento de esgotos MEIO AMBIENTE 29 Por que produção mais limpa? Aumente seus lucros e ajude a natureza A SABESP INOVA 31 Armazenadores de ruídos: uma nova ferramenta na pesquisa de vazamentos não-visíveis ENTREVISTA 38 O saneamento lado a lado com o meio ambiente EMPREENDIMENTOS E GESTÃO 40 Conferência das cidades HISTÓRIA DO SANEAMENTO 41 Água subterrânea em São José dos Campos 48 NOVIDADES - FIQUE POR DENTRO 49 ATENÇÃO E RECONHECIMENTO 50 CAFEZINHO 51 AGRADECIMENTOS Foto: Odair Marcos Faria Filtro Prensa ETE Barueri Apoio: Carbocloro S/A Indústrias Químicas Tel (11) 3704 4200 ; www.carbocloro.com.br EDITORIAL Saneamento Básico e Legislação Ambiental: entre o real e o ideal Eng. Eliana Kitahara Presidente da Associação dos Engenheiros da Sabesp (AESABESP) D esde a Conferência Mundial sobre o Meio Ambiente Humano de 1972, em Estocolmo, que a questão ambiental vem assumindo importância na agenda internacional dos Estados, permeando diferentes e até contraditórios interesses. Os países passaram a considerar a necessidade de equacionar a problemática do desenvolvimento sustentável, buscando novo rumo, que reinterpreta o conceito de progresso. E, para muitas empresas, ‘administrar com consciência ecológica’ passou a ser lema e somente um investimento na sua imagem, ao invés de uma efetiva preocupação com a preservação do meio ambiente em toda a cadeia de produção. Atualmente, a preocupação com o meio ambiente transcende fronteira e sugere ao menos duas reflexões: em primeiro lugar, que a sociedade internacional não vive em sistemas separados, e que cada sistema interage com outro mais amplo, do qual é parte estrutural e funcional. Toda ação do homem, do cidadão, da empresa, de cada Estado, cedo ou tarde, esbarra nas dimensões espaciais e temporais. Em segundo lugar, que a influência antrópica nos sistemas ambientais é tamanha, que somente com ações efetivas seria possível enfrentá-la, modificando atitudes e práticas. Resolver a problemática ambiental exige dos governos, empresas e da população em geral um conjunto de ações, que não dependem exclusivamente da vontade do homem – uma vez que é ditada pela disponibilidade de recursos econômico-financeiros, tecnológicos e humanos para as diversas regiões do país. Para controle e proteção do meio ambiente, legislações foram criadas. Uma das mais recentes é a lei nº 9605, intitulada Lei dos Crimes Ambientais, aprovada em 1998. Essa lei tem caráter punitivo baseado em modelos de impor normas. Seu mérito é incontestável, porém, em face dos desequilíbrios existentes entre a demanda e a situação real da cobertura dos serviços de saneamento básico, a sua aplicação carece de entendimentos entre o Ministério Público e os gestores das empresas, mediante compromissos de curto, médio e longo prazos, sem eximir ninguém das suas responsabilidades. Muitas vezes nossos profissionais são punidos, acusados de poluir ao invés de sanear. Só que nesta balança, antes de apontar culpados, é preciso considerar a importância de investimentos em ações que sejam mais impactantes na redução da prevalência de doenças relacionadas com a falta de saneamento, a capacidade de investimento das empresas, as necessidades emergentes da população e a capacidade individual de ação. É preciso perceber que a preservação da água, matas e do solo, pela enorme complexidade, precisa de uma abordagem holística, de um enfoque sistêmico e de um tratamento interdisciplinar. É nisso que deveríamos pensar. Muitas vezes nossos profissionais são punidos, acusados de poluir ao invés de sanear. Antes de apontar culpados, é preciso considerar a importância de investimentos Saneas / dezembro 2003 – 3 Agenda Agenda 7º Congresso da Água “Qualidade de Toda a Vida” Período: 08/03/2004 a 12/03/2004 Local: Lisboa – Portugal Maiores informações: tel (351-21)844-3428 ; e-mail [email protected] XI SILUBESA – Simpósio Luso-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Período: 29/03/2004 a 02/04/2004 Local: Natal – RN Organização: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES Os interessados poderão inscrever-se na Sede Nacional da ABES, Av. Beira Mar, 216 – 13º andar, CEP 02021-060 – Rio de Janeiro – RJ, até o dia 27/02/2004 Maiores informações: www.abes-dn.org.br I Congresso Interamericano de Saúde Ambiental Período: 27 a 29/04/2004 Local: Porto Alegre – RS Organização: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES-RS e AIDIS – Asociación Interamericana de Engenieria Sanitária y Ambiental Tema: “Saúde Ambiental e Desenvolvimento Sustentável: Perspectivas e Conseqüências” Maiores informações: tel (51)3226-3111; www.abes-dn.org.br IV Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental Período: 24 a 26/05/2004 Local: Porto Alegre – RS Organização: Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES-RS Tema: Qualidade Ambiental e Responsabilidade Social Maiores informações: tel (51)3211-3631; e-mail [email protected] VII SIBESA – Simpósio Ítalo-Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Período: 23 a 26/06/2004 Local: Taormina – Itália Tema: “A Recuperação de Áreas Degradadas” e “Qualidade da Água e Ambiente Hidrogeológico” Maiores informações: www.sidisa2004.dica.unict.it; www.abes-dn.org.br FENASAN 2004 e XV Encontro Técnico da AESABESP Período: 30/08/2004 a 01/09/2004 Local: Pavilhão de Exposições Branco do Expo Center Norte – São Paulo – SP Organização: AESABESP Objetivo: promover o intercâmbio de novas tecnologias e conhecimentos relativos ao Saneamento Ambiental Maiores informações: www.aesabesp.com.br 4 – Saneas / dezembro 2003 OPINIÃO Regras ambientais e investimentos Paulo de Bessa Antunes Opinião S egundo dados da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil é um país eminentemente urbano, muito embora a maior parte das preocupações com o meio ambiente estejam voltadas para a proteção das florestas e da diversidade biológica. O chamado meio ambiente urbano que, em linhas gerais, pode ser descrito como o conjunto de condições que estabelecem o padrão de vida nas cidades, tem sido relegado a segundo plano. Muitos fatores contribuem para que assim seja. Dentre eles, merece destaque a dificuldade de financiamento para a conservação e ampliação do saneamento básico nas cidades brasileiras, sejam elas pequenas, médias ou grandes. Além do problema do esgotamento sanitário, não se pode esquecer a dramática situação dos resíduos sólidos urbanos em nosso país. Não tenho a menor dúvida em afirmar que, se o gênio das 1001 noites nos oferecesse um único desejo para solucionar problemas ambientais no Brasil, a minha escolha seria pelo saneamento básico. Justifica-se a escolha por alguns argumentos bastante simples e, na minha opinião, irrefutáveis. Estabelecer uma adequada rede de coleta de esgotos e de coleta de resíduos sólidos urbanos, embora necessite de altos custos para a implantação, é uma medida de economia de gastos públicos, em especial na área de saúde. Além disso, é indiscutível que um adequado saneamento básico e coleta de resíduos sólidos é um fator essencial na recuperação da auto estima e da dignidade humana de milhares de comunidades marginalizadas e empobrecidas. O Congresso Nacional, infelizmente, ainda não se conscientizou para tais questões, pois, lamentavelmente, não consegue definir temas básicos para que o setor saneamento possa se desenvolver da forma que o Brasil necessita. Não há dúvida que a capacidade de investimento do Estado brasileiro está cada vez mais reduzida e que o saneamento básico somente será enfrentado corretamente com o aporte de capitais privados, que necessitam ter regras claras e estáveis para investir. Inclusive do ponto de vista ambiental. O risco regulatório – isto é a interferência na vida das empresas causada por atos do poder público – ambiental é elevadíssimo, pois os legisladores não se cansam de produzir normas ambientais, muitas delas absolutamente inúteis e repetitivas que incidem como verdadeiros Exocets sobre a vida das empresas. É necessário, portanto, que seja aprovada a Política Nacional de Resíduos Sólidos, bem como as normas referentes à concessão dos serviços de saneamento e que se crie um conjunto estável de regras ambientais, facilitando o investimento e protegendo o meio ambiente. A incompreensão de que o meio ambiente urbano deve ser tratado de forma diferente do meio ambiente rural ou florestal, faz com que, muitas vezes, sejam criadas situações extremamente difíceis para a solução de problemas de resíduos sólidos. Não com pouca freqüência, medidas aparentemente mais protetivas do meio ambiente – porém irrealistas do ponto de vista prático – acarretam o agravamento de situações ambientais adversas, como nos pode servir de exemplo o caso do emissário submarino na Barra da Tijuca (RJ) que, em função de um embargo judicial, levou ao agravamento da situação sanitária das belas lagoas da região. A exigüidade do espaço e a vastidão do tema não permitem que o mesmo seja explorado com a profundidade devida. Entretanto, é importante que o tema do saneamento básico seja incorporado como o principal tema urbano brasileiro na agenda ambiental e não, apenas, na agenda da engenharia. Saneamento é um tema de interesse público relevante e de ampla repercussão na vida nacional. Enquanto existirem pessoas vivendo com valas negras à sua porta, sem coleta de resíduos, sem água de boa qualidade, não poderemos dizer que vivemos em um estado de direito ambiental, conforme preceitua o artigo 225 da Constituição Federal. Lamentavelmente, a própria sociedade brasileira, ainda, precisa acordar para o tema que tem merecido menos atenção do que alimentos transgênicos, por exemplo. Advogado (Mestre e Doutor em Direito) da Dannemann Siemsen Meio Ambiente Consultores, Procu- rador Regional da República, Professor de Direito Ambiental. [email protected] Saneas / dezembro 2003 – 5 P&D PESQUISA E DESENVOLVIMENTO Gestão da inovação tecnológica: paixão ou ferramenta de competitividade? Alipio Teixeira dos Santos Neto Cristina Leigo Barrichello Pesquisa & Desenvolvimento Introdução As atividades tecnológicas nas organizações vem sendo, cada vez mais, um importante diferencial competitivo. Exige-se, portanto, para esta função, uma estruturação organizacional com o apoio da alta administração, visando uma gestão apropriada do processo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D). Este é o caminho mais curto para que as empresas não invistam esforços – pessoal e financeiro – em P&D de forma inadequada, muitas vezes em duplicidade e atendendo a anseios pessoais, provavelmente importantes, mas não necessariamente aderidos a estratégia de negócios da empresa, suas prioridades e diretrizes. A função organizacional, que gere as atividades de P&D na empresa, deve buscar resultados focados nas demandas das áreas operacionais e promover a capacitação de seu corpo técnico e gerencial, preparando, assim, a organização para o ambiente competitivo atual. Competitividade no setor de saneamento A competitividade no setor de saneamento continua crescendo em larga escala. Temos cada vez mais presente nos processos de concorrência para concessões, empresas estrangeiras detentoras de conhecimentos tecnológicos estratégicos para as suas operações. Agregando imagens a este cenário, inúmeros contratos de concessão têm data de término para os próximos anos. Certamente empresas que venham a concorrer na complexa operação dos nossos sistemas são competitivas, operam de acordo com as legislações, porém com mais baixo custo e utilizando tecnologias inovadoras. Mas o que é uma empresa competitiva? Como poderemos definir competitividade numa empresa do setor de saneamento – um setor por longo tempo monopolista? Dentre várias tendências, poderemos assumir como competitiva a empresa que tenha, como diretriz básica em suas operações, o respeito ao meio ambiente e que possua boa imagem e aceitação perante os clientes, fato que acarreta uma importante sustentação. Já presenciamos no mercado brasileiro o que ocorre com empresas prestadoras de serviços, até então públicos, que não têm boa aceitação pelos seus clientes. Basta lembrar o setor de telecomunicações e telefonia, no passado próximo. Respeitar o meio ambiente significa atender às legislações nacionais e certas recomendações mundiais, porém para que isto aconteça a organização deve dominar conhecimentos tecnológicos, em todas as suas escalas, desde os básicos até os emergentes, que se caracterizam como tecnologia de ponta. Em outro aspecto da competitividade, não basta a empresa ser detentora de tecnologia simplesmente. Ela tem que ser lucrativa, para ter capacidade de investimento, por meio de sua própria geração, em face das dificuldades de se captar recursos – seja nas fontes nacionais ou internacionais. Neste ponto, as tecnologias adotadas, se aderidas às reais necessidades da organização, a tornam mais competitiva. Função estratégica Por ser considerada como uma das ferramentas de competitividade, a administração Gerente do Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa – Sabesp. Engenheira Civil do Departamento de Desenvolvimento e Pesquisa – Sabesp. 6 – Saneas / dezembro 2003 Pesquisa & Desenvolvimento das atividades de pesquisa e desenvolvimento tecnológico deve ser apoiada pela alta administração da empresa, entendida e aceita pela média gerência e pelos responsáveis pelas atividades fim da organização. Esta corrente formada com os elos “diretoria, média gerência e unidades operacionais” não pode ter fragilidades. Caso existam, é neste ponto que deve-se atuar estrategicamente (a resistência de uma corrente é determinada pelo seu elo mais faco). P&D deve ser nomeada como uma das funções estratégicas. Este é o passo inicial para a competitividade. À partir desta decisão, a gestão das atividades tecnológicas deve ser estruturada com uma política clara, que estabeleça diretrizes, uniformize conceitos e defina responsabilidades; ser gerida de forma institucional e “linkada” às demandas da empresa (operacionais, legais, ambientais e econômico-financeiras) trazendo, assim, resultados importantes para a sua sobrevivência. Institucionalização e estruturação da atividade tecnológica Quanto maior o tamanho das operações da organização, maiores e mais complexos serão seus problemas. Consequentemente maior será a sua necessidade de absorver tecnologias inovadoras para resolver estas demandas. Ao analisar esta realidade e como o desenvolvimento tecnológico ocorre em nossas empresas, deve-se ter em mente algumas perguntas: estaremos incorporando ao nosso potencial inovador as reais tecnologias de que necessitamos? Não estaremos, porventura, sendo seduzidos por fornecedores a adquirir tecnologias que não necessariamente representem a melhor solução para a demanda? Se esta é a melhor solução, será a mais prioritária para o momento? Estamos compartilhando os conhecimentos adquiridos com a solução tecnológica que descobrimos e/ou adotamos? As soluções de problemas operacionais podem estar ocorrendo por iniciativas pessoais informais, podemos estar tendo duplicidade de esforços e até estarmos obtendo resultados relevantes, porém sem um direcionamento para a estratégia de negócios da organização. Estas reflexões devem ser analisadas pelos dirigentes e corpo gerencial das empresas e orientar decisões para a estruturação das atividades tecnológicas, priorizando esforços – despesas e investimentos – em P&D para resultados que sejam impactantes. Estamos adotando que uma empresa, que queira ser competitiva e ter como uma de suas ferramentas a gestão tecnológica, tenha definida a sua estratégia de negócios, dentro de um planejamento estratégico que defina, objetivamente, as diretrizes estratégicas, metas de desempenho operacional e prioridades de atuação. Para a estruturação da atividade tecnológica deve-se partir das seguinte premissa básica: As atividades tecnológicas serão realizadas de forma centralizada, por uma unidade grande, com especialistas de todos os temas das operações da empresa. Esta unidade deve planejar, contratar, executar projetos de P&D e assim obter resultados tecnológicos a serem adotados pelas unidades operacionais, pela ponta da organização, ou por uma unidade central. Ela Engenheiros Oto e Macedo, do Vale do Ribeira: pioneiros no desenvolvimento de sistemas de automação de estações de tratamento de água, a dupla faz inspeção nos equipamentos Saneas / dezembro 2003 – 7 Pesquisa & Desenvolvimento tido em toda a organização. Seja uma decisão da alta administração, seja uma demanda prioritária das unidades operacionais. O gestor de P&D deve se utilizar desta rede como uma ferramenta para ajudar a empresa a solucionar seus problemas, e a colocar em prática as diretrizes estratégicas nos tópicos relacionados com a tecnologia. Para tanto, estabelecerá parcerias internas para a condução de projetos de P&D; comporá grupos temáticos específicos para a busca de soluções; promoverá meios de capacitação tecnológica para os colaboradores; e fará a transferência de tecnologia interna e externa. Inovação tecnológica como diferencial competitivo Interface gráfica (Aqualog) do sistema de automação de ETA deve, também, ter atuação institucional, com um número de colaboradores (o menor possível) adequado ao tamanho da empresa e aos resultados esperados de P&D. Dentre estes colaboradores, alguns especialistas, com a missão de fazer a gestão da inovação tecnológica, onde os projetos serão definidos em conjunto, mas realizados na unidades operacionais, que efetivamente tenham o problema a resolver. Esta unidade teria a missão de integrar estes esforços e fazer a transferência interna dos conhecimentos tecnológicos desenvolvidos. Esta é uma decisão difícil de se tomar, devem ser levados em conta vários fatores, como a cultura da organização, dimensão, aceitação ou não de áreas centrais e o nível de investimentos que se espera para P&D. Os conceitos modernos de gestão da inovação têm indicado a segunda opção como a mais factível de sucesso, pela adoção efetiva de inovações, devido ao comprometimento e proximidade das áreas da ponta na execução dos projetos. Porém o modelo ideal será aquele desenhado para a organização, pelos seus colaboradores e gerentes, ressaltando-se a importância do envolvimento, desde o início da média gerencia. Este sim é um fator chave de sucesso. Este nível gerencial é o que podemos chamar de elo de integração entre as decisões e as efetivas realizações na empresa. Com o segundo modelo, a gestão da inovação tecnológica será desenhada de forma a se estabelecer uma rede tecnológica conforme a figura ao lado. Semelhante a uma teia de aranha, qualquer movimento relativo a tecnologia deve ser sen- 8 – Saneas / dezembro 2003 Para a gestão destas atividades é importante que seja desenvolvido um sistema, que integre as ações tecnológicas da empresa. Todo desenvolvimento concluído ou em execução deverá ser identificado – registrado – armaze- DC: Diretoria Colegiada P&D: área corporativa GT: Grupos Temáticos Modelo de gestão da inovação tecnológica Pesquisa & Desenvolvimento nado – disponibilizado. Desta forma, facilita-se a transferência interna das inovações já desenvolvidas, auxiliando na solução de problemas semelhantes em outras unidades da organização e evitando a duplicidade de esforços no mesmo tema. Os resultados dos projetos devem ser tratados de forma muito especial. Eles são o fator chave para que as inovações sejam um real diferencial competitivo, pois é por aqui que começa a etapa principal: a adoção das inovações. Para isto, é de fundamental importância que a área operacional, que tenha o problema a solucionar, seja envolvida de modo que seus técnicos participem desde a fase de concepção de um projeto de P&D. Identifica-se a seguir outras áreas que possam ter o mesmo problema, onde então convida-se os técnicos formadores de opinião a compor o grupo, responsável por estudar o assunto. Com estas ações, teremos o efetivo comprometimento das áreas operacionais, que acompanharão todo o desenrolar do projeto e avaliarão os resultados, que, se forem positivos, terão grande chance de serem adotados. Muitas empresas desenvolvem seus projetos nas áreas de P&D e depois tentam que a inovação seja adotada nas ponta da organização. Conduzindo-se desta forma, dificilmente os novos conhecimentos serão postos em prática, devido à resistência que se terá na sua aceitação. Estas organizações estão criando um grupo de “inventores”, que chegam a soluções inovadoras, mas nunca postas em prática. Somente seremos inovadores se cruzarmos a fronteira da geração de novos conhecimentos, com posterior adoção. Isto auxiliaria na competitividade da organização. Não basta para as empresas investir em P&D. É preciso que este esforço esteja bem investido, de acordo com os reais problemas das áreas operacionais. Estas demandas devem ser levantadas, identificadas, analisadas e priorizadas, levando-se em conta a contribuição potencial de cada projeto para a competitividade da empresa. Ao investir esforços de P&D de forma correta, com números compatíveis com a capacidade de entrega, que se traduz em bem formatar, acompanhar, concluir e disseminar os resultados de projetos de P&D, a empresa estará alavancando a competitividade. Para que a adoção das inovações resultantes seja favorável em relação aos concorrentes e melhore nosso desempenho competitivo, é obrigatório sistematizar as atividades tecno- lógicas, permitindo o gerenciamento da inovação tecnológica, que facilitará a eficiência e eficácia operacional. Instrumentos de monitoramento do sistema Aqualog Referências bibliográficas 1. JOHNSON, Bruce B.; COTRIM, Silvana de Almeida Nogueira; SANTOS NETO Alipio Teixeira. Concepção e Experiência na Implantação do Sistema Integrado de Gestão da Inovação Tecnológica para uma Companhia de Saneamento Básico. In: SIMPÓSIO DE GESTÃO DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA, XX., 1998, São Paulo. Anais eletrônicos, São Paulo, USP, 1998. p. 1129-1140. CD-ROM. 2. ROUSSEL, Philip A.; SAAD, Kamal N.; ERICKSON, Tamara J. Third Generation R&D, Managing the Link to Corporate Strategy. Boston, Massachusetts: Harvard Business School Press, 1991. 3. COTRIM, Silvana de Almeida Nogueira; JOHNSON, Bruce B.; SANTOS NETO Alipio Teixeira. Integrated System of Technology Management for a Basic Sanitation Company. In: INTERNATIONAL FORUM ON TECHNOLOGY MANAGEMENT, 7th., 1997, Kyoto, Japan. Proceedings of the 7th International Forum on Technology Management, Kyoto, National Institute of Science and Technology Policy, 1997. p. 325-328. Saneas / dezembro 2003 – 9 CAPA Saneamento e Meio Ambiente: direitos e responsabilidades Pressionadas pelas leis ambientais, empresas de saneamento básico ainda tateiam para encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento sustentável e a universalização dos serviços de água e esgoto Foto: Odair Marcos Faria Matéria de Capa Disposição final do efluente líquido da ETE Barueri no rio Tietê M anter os rios limpos, o solo produtivo, as matas intactas e o ar respirável. Foi a partir deste princípio e pensando naquilo que chamamos de qualidade de vida, que, dentro do caos urbano, foram criadas, na década de 1970, a maior parte das leis ambientais. Anos depois, o artigo que proíbe o lançamento de esgoto in natura no estado de São Paulo, engrossou a rigidez desta legislação, durante a promulgação da Constituição Estadual, em 1989. Da teoria para a prática muito tem sido feito para pôr fim às valas negras e, conseqüentemente, proporcionar saúde e conforto por meio da implantação de sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário. O tratamento dos efluentes, no entanto, está longe de atender às exigências da legislação consolidadas na Resolução 20 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), 10 – Saneas / dezembro 2003 de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Brasil, em cerca de 42% dos domicílios os esgotos gerados são devidamente coletados e apenas 34%, deste esgoto, é tratado antes de ser lançado nos rios. Mas, apesar dos esforços, pela falta de recursos financeiros para investimentos, a vida real emperra nos meandros da lei e carece do componente básico para uma relação de equilíbrio e sustentabilidade. Como resultado, funcionários das empresas de saneamento e as próprias companhias vão parar no banco dos réus. O ponto de vista de juristas, empresários, gestores e órgãos fiscalizadores não parece encontrar, ainda, um senso comum. As companhias estaduais de saneamento básico, assim como os serviços municipais de água e esgoto, enfrentam, atualmente, vários processos por razões ambientais. Dessa forma, engenheiros e gerentes de áreas operacionais Matéria de Capa estão tendo de lidar com uma situação distante daquela aprendida nas cadeiras da universidade. Cumprir a lei ambiental e, ao mesmo tempo, atender às necessidades dos clientes com eficiência, passa a ser um verdadeiro malabarismo. Mesmo assim, é cada vez maior o número daqueles que precisam se defender em processos judiciais, acusados de não fazer –ou não cumprir– aquilo para que se prepararam: sanear, fazer saúde preventiva, tornar Soluções possíveis N os últimos anos, acordos introduzidos pelo Código de Direito do Consumidor, conhecidos como ‘Termo de Ajuste de Conduta’ (TAC) são feitos entre as companhias e os órgãos competentes. O Termo prevê, literalmente, que ajustes sejam feitos para adequar a realidade à legislação. De acordo com Daniel Fink, promotor de Justiça do Meio Ambiente em São Paulo, o TAC é uma alternativa à ação civil pública ambiental. Para ele, existem percalços no processo judicial que causam desgaste emocional e perdas de patrimônio. A idéia do Termo de Ajuste de Conduta é ser uma solução que imponha menos ônus às partes e que coloque um ponto final nos litígios e controvérsias. “Quando a lei autoriza o ajustamento de conduta, o que se quer é que o infrator se disponha, mediante a assunção de obrigações, recuperar o ecossistema alterado, por sua ação ou atividade, de tal forma a recompor integralmente o interesse público representado pelo bem ambiental”, explica Fink. De acordo com o TAC, a obrigação de recuperar o meio ambiente pode ser feita através da realização de uma tarefa única ou por medidas mais complexas, que tenham como fim à recuperação da região. Para a promotoria, não uma região habitável e saudável para uma comunidade. Falta de verbas para novos investimentos; legislação com exigências de padrões de emissão de efluentes muito restritivas, muitas vezes copiadas de outros países, sem considerar as características climáticas das nossas regiões, ou mesmo a capacidade do rio se auto-recuperar; falhas na fiscalização; dificuldade em transformar a realidade em uma situação ideal perante se deve buscar primeiro a condenação em dinheiro, já que não é interessante trocar ecossistemas por somas em cifras. Deve-se obter a obrigação de não voltar a fazer o que causou o dano ou risco ao ambiente e, em seguida, o comprometimento de reordenar os estragos. “Há vantagens do ajustamento de conduta em relação ao processo judicial. Antes de lançar soluções desgastantes para os conflitos ambientais, deve-se buscar a negociação, por meio da qual todos encontrarão seus lugares e, ao final do processo, sairão muito mais fortalecidos do que se fossem obrigados a obedecer um comando frio e inexorável de uma sentença”, acredita o promotor público Daniel Fink. Por outro lado, as companhias ainda tentam negociar prazos possíveis para os TACs. Para o diretor da Sabesp, José Everaldo Vanzo, os prazos dos termos, que atualmente giram em torno de três a seis anos, não são suficientes para a adequação a legislação. Isso somado a falta de uma política nacional, que privilegie os setores de saneamento, através de financiamentos a juros compatíveis. “O montante de capital para realizar os ajustamentos é muito grande”, diz. De acordo com Vanzo, as exigências jurídicas passam por cima da exigüidade de capital e da dificuldade de execução destes empreendimentos em curto prazo. “Teríamos que ter, no estado de São Paulo, um plano acordado entre as autoridades ambientais e sanitárias, o ministério público e as empresas de saneamento para que, no prazo de dez a 20 anos, essas demandas fossem equacionadas”, vislumbra. Para tanto, ele conta que estão sendo feitas apresentações junto a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB), órgão fiscalizador, para mostrar a necessidade de um grande pacto, que se adeque ao que a legislação determina e coerente com a disponibilidade de capital e capacidade de realização. “Sem esse amplo acordo, vejo dificuldades. Vamos continuar repetindo um cenário de insucesso, que se traduz em ações pontuais, em crimes ambientais que vitimam pessoas, gestores públicos, engenheiros da Sabesp, gerentes”, acredita o diretor José Everaldo. E desabafa: “E tudo isso sem levar objetivamente a nada. A não ser a um desconforto e uma descrença no próprio ideal de saneamento”. Em tempo - Está sendo feita a revisão do artigo 20 do Conama. Fazem parte dos temas revistos assuntos, como os princípios da graduação das ações de tratamento de esgoto e a diferença entre matéria orgânica viva e matéria orgânica morta (veja Box). É uma possibilidade de caminho para compatibilizar a legislação com a capacidade de realização e de financiamento Saneas / dezembro 2003 – 11 Matéria de Capa Os dois lados da moeda: quando profissionais vão parar no banco dos réus* Prática cada vez mais habitual, empregados das companhias de saneamento estão sendo acusados de crime ambiental ou passam por pressões diárias para decidir entre o que diz a lei e o que é possível ser feito. Quem é acusado se sente injustiçado e coloca a função ética do profissional da área de saneamento em cheque. * Os profissionais de saneamento procurados pela reportagem de Saneas solicitaram a não identificação de seus nomes por possíveis danos jurídicos que isso poderia causar. O que pensam os profissionais de saneamento “A gravidade é grande porque expõe pessoas, sanitaristas. Gente que tem formação para tratar, levar saúde, despoluir. Corremos o risco da acusação, como se tivéssemos cometido um crime. E, na verdade, no dia-a-dia, as tentativas giram em torno de ações, que tragam melhorias ambientais. É impossível não se sentir penalizado por algo que não se tem controle. A verba para realizar, ou não, uma obra, que trará ações não poluidoras, não cabe a um funcionário. Isso dá a sensação de ser responsabilizado por algo que não está sob o seu alcance. Mas que depende, sim, de investimento.” “As obras sempre vieram atrás do crescimento da população, das cidades. E hoje vivemos o dilema de sermos judicialmente responsabilizados por um sistema que não está adequado às normas ambientais. Isso causa desconforto e tem gente que pensa em desistir da sua área de atuação. De engenheiros a fiscais de obras e a empresa. Todos estão sujeitos à acusação. O funcionário tem que ter, sim, a sua responsabilidade, a sua ética. Mas, acredito, que a segurança para trabalhar poderia vir por meio de Termos de Ajuste de Conduta, antes mesmo de uma ação ser iniciada. É uma garantia de que não sofreríamos sanções, previstas na legislação. As leis de padrões de emissão, por exemplo, são muito rigorosas. Mais do que em países do primeiro mundo. É preciso que haja uma conciliação de interesses.” O que diz a promotoria Daniel Fink, procurador de Justiça e coordenador do Centro de Apoio Operacional de Urbanismo e Meio Ambiente, durante o ‘I Fórum de Legislação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável’, que aconteceu em setembro último, em São Paulo: “Não acho, particularmente, que a legislação brasileira seja ruim. O que precisamos é talvez discutir de que forma vamos implementar os instrumentos previstos na mesma. A discussão sobre uma legislação do Sistema Ambiental Brasileiro se calca na Lei 9638, que é uma boa lei. Mas é preciso estudar um sistema que otimize as ações do Poder Público para que possamos fazer os instrumentos, hoje já previstos na legislação, mais eficazes. O erro não é conceitual, mas de infra-estrutura. Os instrumentos previstos na política nacional de meio ambiente são extremamente bons, oportunos e podem demandar uma revisão, um aperfeiçoamento. Mas existe um 12 – Saneas / dezembro 2003 distanciamento entre o ideal do jurídico e o real, que permeia não só a questão ambiental, mas todos os setores da sociedade hoje. Há um mundo jurídico ideal e um mundo real extremamente distante. Isso é um conflito ético, que muitos promotores enfrentam no cotidiano, em todas as Comarcas. Como é que eu faço para regularizar um loteamento de baixa renda de uma população extremamente pobre que está instalado numa área de proteção ambiental? Isso é um drama ético para o promotor, mas sua única opção para cumprir a lei, mas é preciso cumprir com inteligência. Com qual inteligência? A da sociedade, considerando os setores produtivos e ambientalistas, e, portanto, o Ministério Público deve estar aberto a todos estes segmentos para que ele possa cumprir a legislação no caso concreto, da forma mais inteligente possível. Com isso, nós teremos muito mais chance, de fato, de realizar pela via da lei o desenvolvimento sustentável.” Matéria de Capa a Justiça e a sociedade são também alguns dos desafios desta década. Cenários reais Aproximadamente 60 milhões de brasileiros – o que representa 9,6 milhões de domicílios urbanos – não têm coleta de esgoto. Essa situação é mais comum principalmente nos bolsões de pobreza das grandes capitais, assim como nas cidades de até 20 mil habitantes e nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. Os dados mostram também que é grande a deficiência de tratamento do esgoto coletado. Quase 75% de todo o esgoto sanitário é despejado in natura. Para engrossar este cenário, daqueles que não contam com coleta de esgoto, cerca de 15 milhões (3,4 milhões de domicílios) não têm acesso à água encanada. E uma parcela da população que tem ligação domiciliar não conta com abastecimento diário e nem de água potável com qualidade. Os dados são da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, vinculada ao Ministério das Cidades. Para a lei, esta situação é proibitiva. E as estimativas do Governo Federal não são nada animadoras para que a lei se faça cumprir. Para alcançar a almejada universalização de água e esgoto seriam necessários, de acordo com dados fede- rais, R$ 178 bilhões em investimentos nos próximos 20 anos. As cifras correspondem a 0,45% do Produto Interno Bruto (PIB), considerando um crescimento anual de 4% do PIB. É sabido que um único habitante não atendido representa risco para a saúde pública e também para o meio ambiente. Mas o que pode fazer o funcionário de uma empresa de saneamento que, diante da falta de verbas necessárias, não tem recursos para cumprir a lei – e fica a mercê da justiça por isso? De acordo com o diretor de sistemas regionais, o engenheiro José Everaldo Vanzo, a maioria das cidades ainda padece da falta de rede coletora de esgoto ou de tratamento do mesmo. Cria-se, assim, um impasse gerado pela legislação: como está vedado o lançamento de qualquer esgoto não tratado nos rios, é preciso, primeiro, construir as estações de tratamento de esgotos e, só depois, as redes coletoras. Na teoria, isso significa primeiro atender à questão ambiental para depois considerar a questão sanitária. “Essa situação contraria toda a história do saneamento no planeta. O correto é primeiro a realização de um sistema de abastecimento público de água – que é a grande demanda –, depois a coleta e o afastamento dos esgotos, e, num último momento, os esgotos são tratados e aí têm seus resíduos, após diversos processos, dispostos de forma adequada no Fotos: Odair Marcos Faria A coleta e o afastamento de esgoto representam um impacto importante na redução de doenças Saneas / dezembro 2003 – 13 Matéria de Capa Mudanças à vista: Conama 20 A Resolução nº 020/86 do Conama, que dispõe sobre a “Classificação das águas doces, salobras e salinas do Território Nacional”, está sendo revista, com previsão para entrar em vigor, com o novo formato, em 2004. Foram reavaliados parâmetros e os respectivos limites de concentração e conceitos, com a contribuição das empresas, entidades e organizações envolvidas com as questões ambientais, como CETESB, ANA, IBAMA, FUNASA, SABESP e PETROBRAS, por exemplo. Novos conceitos foram considerados na revisão, como o de metas intermediárias e a classificação de ambientes para limites diferenciados de mesmos parâmetros. Além disso, foram incluídos limites para concentrações de cianobactérias, novos compostos orgânicos e limites diferenciados para nitrogênio em função do pH. As atas das reuniões do Grupo de Trabalho podem ser acessadas no endereço: http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm. ambiente”, explica Vanzo. Só para se ter uma idéia, do ponto de vista epidemiológico, a coleta dos esgotos e o seu afastamento da frente das residências representa um impacto importante na redução da prevalência das doenças diarréicas e helmínticas, principalmente nas crianças. Já o trata- mento dos efluentes significa um grande fator de preservação do meio ambiente, em especial dos cursos d´água. Quando se estabelece que, antes de coletar tem que tratar, o resultado é um enorme investimento na limpeza do esgoto – e, evidentemente, uma aplicação financeira temporariamente ociosa – deixando a questão sanitária para trás, numa inversão de valores e prioridades. Desta lógica desconexa e se as companhias seguissem a cartilha do que diz a lei, o esgoto continuaria a ser lançado na rua. “Desta forma, a obra não dá retorno imediato, nem para a preservação dos rios, nem para as necessidades básicas da população. Porque, afinal, se dispõe do tratamento do esgoto, mas não tem a coleta do mesmo,” completa Vanzo. A mesma opinião é compartilhada pelo engenheiro e sanitarista Wolney Castilho Alves, pesquisador responsável pela Seção de Saneamento Ambiental do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). “A legislação ambiental brasileira é relativamente exigente e, talvez, um tanto rígida na sua aplicação com prejuízos para o próprio desenvolvimento da qualidade ambiental”, acredita. Para ele, no setor do saneamento ocorrem, com freqüência, problemas dessa natureza na disposição final de efluentes de esgoto tratado. “Acontece, constantemente, e, em especial, no interior paulista, que um determinado corpo d´água está sendo Foto: Odair Marcos Faria Para avaliação dos parâmetros de controle são realizados investimentos em tecnologia e em capital intelectual 14 – Saneas / dezembro 2003 Matéria de Capa Foto: Odair Marcos Faria poluído pelo lançamento de esgoto in natura. Esse lançamento é feito de forma ilegal, já que a lei paulista 8468 e/ou a Resolução Conama 20 explicitam as condições para o lançamento de efluentes em função da classificação do corpo d´água”, explica Wolney Castilho. A história que vem a seguir é, de acordo com o pesquisador do IPT, quase sempre a mesma: a companhia responsável ou o serviço local decide fazer uma estação de tratamento de esgotos ali. É elaborado um projeto e se verifica que o investimento total para alcançar os padrões de qualidade da água tratada é muito alto, inviável. O investimento talvez pudesse ser feito em duas ou três etapas. No entanto, para implantar esta estrutura é preciso obter a Licença Ambiental, que somente será concedida se as leis forem obedecidas. No impasse entre o atendimento da lei, com características exigentes, e a manutenção do lançamento in natura, não havendo possibilidade de flexibilização – com a implantação em etapas gradativas de qualidade da água– muitas vezes, ocorre, simplesmente, o recuo do serviço de saneamento e a manutenção do status quo. “Embora, muitas vezes, o Ministério Público venha acionar a prefeitura, legalmente responsável, para proceder a despoluição do rio mediante o tratamento”, finaliza Wolney. Velhos e novos desafios No Estado de São Paulo, a Sabesp tem a concessão dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário de 366 municípios dos 645 do Estado. A empresa acredita que para se adequar à todas as exigências ambientais seriam necessários cerca de R$ 1 bilhão –somente no interior. O valor equivale à construção de estações de tratamento, coleta, elevatórias de esgoto, destinação adequada do lodo e/ou dos efluentes de lagoas. “É evidente que um montante deste não pode ser alcançado ou disponibilizado de forma imediata”, conclui o diretor de sistemas regionais da Sabesp, José Everaldo Vanzo. Diante da constatação, surge o paradoxo. Para a diretoria das companhias de saneamento, como a Sabesp, a empresa tem como papel amortizar os impactos ambientais. “Mas são essas mesmas companhias que são sempre apontadas como as grandes impactantes. Há um erro de essência aí”, acredita o diretor de sistemas regionais da companhia. Quando a legislação diz, por exemplo, que uma estação de tratamento de esgoto ou de água são fontes de poluição, corre-se o risco, na opinião do diretor da Sabesp, de se fazer abstração às verdadeiras causas da poluição, que remete a existência das cidades, onde surgem as fontes de desequilíbrio ambientais. “Do jeito que a coisa está calcada, do ponto de vista legal, uma estação de tratamento de esgoto é considerada fonte de poluição quando na verdade é uma fonte de amortização do impacto ambiental. Não importa em que grau de tratamento ela se enquadra”, justifica José Everaldo Vanzo. Hoje, a legislação não prevê nenhuma graduação na aplicação da solução. No tratamento dos esgotos, por exemplo, não se leva em conta se é secundário ou terciário –que equivalem a diferentes níveis de limpeza. Isso é um enorme desafio tanto para a captação de recursos quanto para transformar o capital em obras e serviços, num curto prazo. E esse é um compromisso que tem que ser coletivo. Caso contrário, corre-se o risco de cair em ciclos de ações, quase permanentes, e na busca por descobrir culpados –pessoas físicas e jurídicas–, sem levar à solução alguma. Quem perde com isso é a sociedade e, de quebra, a preservação de rios, solos e matas. ■ Vista aérea dos decantadores secundários da ETE Barueri Saneas / dezembro 2003 – 15 ARTIGOS TÉCNICOS P&D Aplicabilidade do dióxido de cloro no tratamento de águas de abastecimento Sidney Seckler Ferreira Filho Ivanildo Hespanhol Roque Passos Piveli Artigos Técnicos Introdução No ano de 1974, alguns pesquisadores descobriram que a reação do cloro com determinados compostos orgânicos naturais (CONs) poderiam formar compostos orgânicos halogenados (Rook (1976); Bellar et al. (1976)). Dentre estes, os que estão presentes em maiores concentrações em águas de abastecimento, quando submetida ao processo de desinfecção com o cloro, são os compostos classificados como trihalometanos (clorofórmio, bromofórmio, diclobromometano, dibromoclorometano) e os ácidos haloacéticos (ácido monocloroacético, dicloroacético, tricloroacético, monobromoacético e dibromoacético) (Symons et al. (1975); Rook (1976); Krasner et al. (1989); Arora et al. (1997)). A partir de então, a operação dos processos unitários componentes do tratamento de águas de abastecimento passaram a ter de contemplar, não apenas a produção e fornecimento de água com padrões estéticos adequados e isenta de microrganismos patogênicos, como também tendo que minimizar a formação de compostos orgânicos, subprodutos da desinfecção. Em função dos estudos epidemiológicos e toxicológicos desenvolvidos pela Environmental Protection Agency (EPA), em 1979, foi proposto o limite máximo de concentração de 100 µg/l para os THMs e, atualmente, encontra-se limitado a 80 µg/l sendo que, espera-se uma redução futura para uma concentração de 40 µg/l. Além disso, tendo por base controlar outros compostos orgânicos, subprodutos da desinfecção, também, hoje, é controlada a concentração máxima de ácidos haloacéticos (AHAs) em águas de abastecimento em 60 µg/l. Tendo por propósito reduzir a formação de THMs e AHAs em águas de abastecimento, podem ser identificadas três linhas de atuação, a saber (Singer (1994)): • Remoção dos compostos orgânicos precursores de subprodutos da desinfecção em águas de abastecimento. • Alteração do ponto de aplicação do agente desinfetante, mudança do agente desinfetante ou uma combinação de ambos. • Remoção dos compostos orgânicos halogenados totais, uma vez formados durante o processo de desinfecção. Dado que a remoção dos compostos orgânicos precursores de subprodutos da desinfecção em águas de abastecimento não consiga reduzir a formação de sub-produtos da desinfecção a um nível considerado satisfatório, diferentes alternativas tecnológicas têm que ser incorporadas no processo de tratamento de água, Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da USP. Professor Associado do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Regime de Dedicação Exclusiva à Docência e Pesquisa. Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos da USP. Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Regime de Dedicação Integral à Docência e Pesquisa. Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia de São Carlos (USP). Professor Assistente Doutor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo em Regime de Dedicação Exclusiva à Docência e Pesquisa. Escola Politécnica da USP - Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. Av. Professor Almeida Prado, 271 Prédio de Engenharia Civil. Bairro Butantã. Cidade Universitária. CEP: 05508-900. e-mail: ssffi[email protected] 16 – Saneas / dezembro 2003 Artigos Técnicos incluindo a mudança do agente oxidante. Dentre estes, os mais utilizados no tratamento de águas de abastecimento são o dióxido de cloro, permanganato de potássio e ozônio, combinado, ou não, com peróxido de hidrogênio. As principais vantagens da mudança do cloro como agente oxidante para o dióxido de cloro são as seguintes (EPA (1999)): • Redução na formação de THMs e AHAs. • Maior efetividade do ponto de vista cinético na oxidação de manganês na faixa de pH entre 6,0 e 8,0. • A sua capacidade como agente desinfetante não é afetada pelo pH na fase líquida. • Maior estabilidade química na fase líquida. • Apresenta maior eficácia no controle do biofilmes e crescimento microbiológico em adutoras. • Efetivo no controle de gosto e odor em águas de abastecimento resultante da presença de sulfetos e compostos fenólicos. No entanto, o emprego do dióxido de cloro também apresenta desvantagens, podendo-se citar: • O dióxido de cloro a ser aplicado em uma estação de tratamento de água deve ser gerado in loco, não podendo o mesmo ser produzido, comprimido e transportado. • Apresenta custo elevado, pelo fato das matérias primas empregadas para a sua produção (clorito de sódio e clorato de sódio) serem de disponibilidade restrita. • Os sistemas de geração e produção de dióxido de cloro apresentam custos mais elevados do que quando comparados com os sistemas de cloração existentes, além de exigirem maiores cuidados operacionais. • O sub-produto da desinfecção quando da aplicação do dióxido de cloro é o íon clorito, regulamentado pela EPA em 1,0 mg ClO2/l e em 0,2 mg ClO2/l pela Portaria 1469, o que requer cuidados adicionais quando de seu empego, especialmente no tocante as suas dosagens aplicadas. Uma vez que o sucesso da aplicação do dióxido de cloro como agente pré-oxidante e pós-desinfetante é altamente dependente das características da água bruta, da concepção da Estação de Tratamento de Água (ETA) e de sua operação e das características requeridas para a qualidade da água final, a sua viabilidade de utilização em um Sistema Produtor de Abastecimento de Água deve compreender ensaios em escala de laboratório e piloto. Objetivo Em função do exposto, este trabalho teve como objetivos principais: • Avaliar o comportamento do dióxido de cloro como agente oxidante no tratamento de águas de abastecimento • Comparar a eficiência do dióxido de cloro produzido a partir de diferentes matérias primas (Clorito de sódio e clorato de sódio) • Avaliar o comportamento de ambos agentes oxidantes (Cloro e dióxido de cloro) para aplicações específicas Materiais e métodos Com o objetivo de avaliar o comportamento de ambos os agentes oxidantes para um espectro amplo de qualidade de águas naturais, utilizadas para abastecimento público, foram selecionadas quatro diferentes Estações de Tratamento de Água para fins de estudo, a saber: • Estação de Tratamento de Água do Guaraú (Sabesp) • Estação de Tratamento de Água do Alto da Boa Vista (Sabesp) • Estação de Tratamento de Água do Baixo Cotia (Sabesp) • Estação de Tratamento de Água Iguaçu (Sanepar) As Estações de Tratamento de Água escolhidas são do tipo convencional, apresentando os processos unitários de coagulação, floculação, sedimentação, filtração e desinfecção. Todos os ensaios experimentais foram efetuados em escala de bancada (Jar-Test), tendo-se como cuidados principais garantir a simulação do comportamento hidráulico de cada ETA (Tempos de detenção hidráulico nas unidades), manter a similaridade do processo de coagulação (tipo e dosagem de coagulante e pH de coagulação) e permitir a simulação da formação de THMs (Tempo de contato: 24 horas). A utilização do dióxido de cloro no tratamento de águas de abastecimento foi avaliada na forma de préoxidação e pós-oxidação e desinfecção. Saneas / dezembro 2003 – 17 Artigos Técnicos A avaliação da eficácia de ambos os agentes oxidantes foi efetuada de modo que fosse possível estudar: • Concentração residual dos agentes oxidantes na água decantada, final e após 24 horas de tempo de contato • Qualidade microbiológica da água final (Coliformes totais e fecais) • Formação de trihalometanos e íon clorito na água tratada (24 horas de tempo de contato) Dado que o objetivo principal do estudo foi efetuar um estudo comparativo entre o cloro livre e o dióxido de cloro gerado a partir de diferentes matérias primas, definiu-se que a condição padrão a ser fixada para a comparação dos resultados experimentais seria a manutenção da situação operacional atual da referida ETA, ou seja, empregando-se cloro livre como agente pré-oxidante e pós-desinfetante. Deste modo, foram executados três ensaios básicos de “jar-test” com o objetivo principal de avaliação de ambos os agentes oxidantes para as águas brutas empregadas na investigação experimental para diferentes dosagens e tipo de agente oxidante, a saber: • Ensaio 1: utilização do cloro como agente pré-oxidante e pós-desinfetante. Este ensaio, conforme já citado, foi adotado como ensaio de referência para fins de comparação dos resultados experimentais obtidos. • Ensaio 2: utilização do dióxido de cloro como agente pré-oxidante e do cloro livre como pós-desinfetante. • Ensaio 3: utilização do cloro livre como agente pré-oxidante e do dióxido de cloro como pós-desinfetante. As dosagens de coagulante e condições fixadas para a realização dos ensaios de “jar-test” foram efetuadas de modo a representar o mais fielmente possível o comportamento hidráulico e operacional das Estações de Tratamento de Água investigadas. A solução de dióxido de cloro produzida a partir de clorato de sódio como matéria prima utilizada quando da execução dos ensaios experimentais foi fornecida diretamente pela Eka Chemicals. Por sua vez, a solução de dióxido de cloro, gerada a partir de clorito de sódio, foi produzida a partir da sua acidificação por meio de ácido clorídrico e de um gerador fornecido pela Prominent. 18 – Saneas / dezembro 2003 A determinação da concentração de dióxido de cloro na solução foi efetuada por iodometria clássica, conforme apresentado em APHA (1995). A solução foi sempre estocada em ausência de luz solar e refrigerada em uma temperatura da ordem de 4° C, de modo que fosse minimizada a sua decomposição. Ao longo de todo o trabalho, não foi evidenciada nenhuma mudança em sua concentração original. A aplicação de cloro livre foi efetuada a partir de uma solução-mãe de água clorada, preparada com uma concentração igual a 2.000 mg Cl2/L. A determinação da concentração de cloro livre na solução foi efetuada por iodometria clássica, conforme apresentado em APHA (1995). A correção de pH nos ensaios de jar-test foi efetuada mediante o emprego de soluções de hidróxido de sódio (NaOH) 0,1 M ou cal hidratada e ácido clorídrico (HCl) 0,1 M. Apresentação dos resultados experimentais A Figura 1 apresenta os resultados (concentrações residuais de dióxido de cloro para a água decantada, final e após 24 horas de contato) dos ensaios efetuados quando da aplicação do dióxido de cloro como agente pré-oxidante e cloro livre como pós-oxidante para a água bruta, que abastece a ETA Guaraú (Sabesp). A Figura 2 apresenta os valores de concentração residual de cloro livre e clorito para dos ensaios efetuados quando da aplicação do dióxido de cloro como agente pré-oxidante e cloro livre como pós-oxidante para a água bruta, que abastece a ETA Guaraú (Sabesp). Analisando-se a Figura 1, é possível observar que, com o aumento da dosagem de dióxido de cloro aplicado na água bruta como agente préoxidante, maiores foram as suas concentrações residuais na água decantada, final e após 24 horas de tempo de contato. O dióxido de cloro aplicado como agente desinfetante apresentou uma relativa estabilidade na água final, o que garante a manutenção de uma concentração residual ao longo do sistema de distribuição de água. No entanto, um dos grandes problemas com respeito a sua aplicação diz respeito à formação do íon clorito, atualmente controlado pela Portaria 1469. Observando a Figura 2, pode-se verificar que com aumento da dosagem aplicada de dióxido de cloro na água bruta como agente pré-oxidante, maiores também foram as concentrações Artigos Técnicos 0,8 Concentração de cloro residual (mg/L) 0,7 0,7 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,3 0,3 0,2 0,2 Pré: 1,0 mg/L Pós: 1,5 mg/L Pré: 1,5 mg/L Pós: 1,5 mg/L Figura 1 Concentrações residuais de dióxido de cloro para o ensaio efetuado para a água bruta que abastece à ETA Guaraú. Agente pré-oxidante: dióxido de cloro. Agente pósoxidante: cloro livre 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0 Pré: 0,5 mg/L Pós: 1,5 mg/L Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração Concentração residual de dióxido de cloro na água decantada Concentração residual de dióxido de cloro na água final Concentração residual de dióxido de cloro (24 horas) 0,4 0,35 Concentração de cloro residual (mg/L) de clorito na água decantada, valores estes superiores a 0,2 mg/l. Com o cruzamento do clorito com cloro livre (água final), pode-se observar que houve uma redução em sua concentração, no entanto, também foi evidenciada uma diminuição da concentração de cloro livre. As Figuras 3 e 4 apresentam os resultados experimentais obtidos para a água bruta proveniente da ETA ABV relativo aos seus valores das concentrações residuais de dióxido de cloro, obtidos nos ensaios de pré-oxidação conduzidos com o dióxido de cloro e inter e pós-oxidação tendo-se empregado o cloro como agente oxidante, para as soluções de dióxido de cloro tendo sido produzidas a partir de clorito de sódio e clorato de sódio, respectivamente. Comparando-se as Figuras 3 e 4, pode-se observar que os resultados experimentais obtidos nos ensaios de pré-oxidação conduzidos com as soluções de dióxido de cloro produzidas, a partir de clorito de sódio e clorato de sódio, foram muito similares, podendo-se afirmar que não há diferença entre ambas, comportamento este também similar ao observado para os ensaios conduzidos com a água bruta que abastece à ETA Guaraú. É interessante notar que, para todas as dosagens de dióxido de cloro aplicadas na forma de agente pré-oxidante, de 1,5 mg ClO2/L a 5,0 mg ClO2/L, foram observadas concentrações residuais na água decantada, o que indica a sua estabilidade na fase líquida. Também pode-se observar que as concentrações residuais de dióxido de cloro na água final são bastante similares quando comparado com 0,35 0,3 0,3 0,25 0,23 0,2 0,16 0,15 0,11 0,1 0,1 0,05 0,01 0 0,00 0,03 0,01 0,00 0,01 0 Figura 2 Concentrações residuais de cloro livre e clorito para o ensaio efetuado para a água bruta que abastece à ETA Guaraú. Agente préoxidante: dióxido de cloro. Agente pós-oxidante: cloro livre 0,00 0 Pré: 0,5 mg/L Pós: 1,5 mg/L Pré: 1,0 mg/L Pós: 1,5 mg/L Pré: 1,5 mg/L Pós: 1,5 mg/L Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração Concentração residual de clorito na água decantada Concentração residual de clorito na água f inal Concentração residual de cloro livre na água f inal Concentração residual de clorito (24 horas) Concentração residual de cloro livre (24 horas) Saneas / dezembro 2003 – 19 Figura 3 Concentrações residuais de dióxido de cloro obtido nos ensaios de pré-oxidação (Dióxido de Cloro), intercloração e póscloração. Água bruta: ETA ABV. Agente pré-oxidante: Dióxido de Cloro (Matéria Prima: Clorito de Sódio). Concentração de agente oxidante residual (mg/L) Artigos Técnicos 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4 0,3 0,3 0,2 0,2 0,2 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0 Pré: 1,5 mg/L inter+ Pré: 3,0 mg/L inter+ Pré: 5,0 mg/L inter+ Pós: 3,0 mg/L Pós: 3,0 mg/L Pós: 3,0 mg/L Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração Figura 4 Concentrações residuais de dióxido de cloro obtido nos ensaios de pré-oxidação (Dióxido de Cloro), intercloração e póscloração. Água bruta: ETA ABV. Agente pré-oxidante: Dióxido de Cloro (Matéria Prima: Clorato de Sódio). Concentração de agente oxidante residual (mg/L) Concentração residual de dióxido de cloro na água decantada Concentração residual de dióxido de cloro na água final Concentração residual de dióxido de cloro (24 horas) 0,6 0,5 0,5 0,4 0,4 0,2 0,3 0,2 0,1 0,3 0,2 0,1 0,1 0,1 0,0 0 Pré: 1,5 mg/L inter+ Pré: 3,0 mg/L inter+ Pré: 5,0 mg/L inter+ Pós: 3,0 mg/L Pós: 3,0 mg/L Pós: 3,0 mg/L Pré: Dióxido de Cloro (Clorito de Sódio) e Pós-cloração Concentração residual de dióxido de cloro na água decantada Concentração residual de dióxido de cloro na água final Concentração residual de dióxido de cloro (24 horas) 20 – Saneas / dezembro 2003 as obtidas para a água decantada, ainda que, na água final, o dióxido de cloro aplicado na forma de agente pré-oxidante já tivesse cruzado com o cloro aplicado na forma de agente inter e pós-oxidante. Observa-se que as dosagens de dióxido de cloro aplicadas na forma de agente pré-oxidante para a água bruta que abastece à ETA ABV foram significativamente maiores do que quando comparadas com os ensaios conduzidos com a água bruta que abastece à ETA Guaraú. O motivo pelo qual as dosagens de dióxido de cloro aplicadas para a água bruta da ETA ABV foram maiores do que quando comparado com as aplicadas para a ETA Guaraú reside no fato de que, de acordo com a finalidade do processo de pré-oxidação, faz-se necessário o estabelecimento de uma concentração residual do agente oxidante na água decantada. Uma vez que a demanda do agente oxidante foi maior para a água bruta que abastece a ETA ABV, também foram maiores as suas dosagens aplicadas a fim de que fosse possível o estabelecimento de uma concentração residual mínima. Com respeito à formação de THMs, quando da aplicação do cloro na forma de agente pré, inter e pós-oxidante para a água bruta que abastece a ETA ABV, observou-se que os seus valores situaram-se entre 15 µg/L e 30 µg/L, estando, portanto, numericamente muito inferiores quando comparado com o Padrão de Potabilidade regulamentado pela Portaria 1469 (100 µg/L). Por sua vez, quando da aplicação do dióxido de cloro como agente pré-oxidante, em todos os ensaios execu- Artigos Técnicos tados, os valores de concentração de THMs obtidos foram inferiores a 7 µg/L, sendo que, em muitos deles, os valores obtidos estavam abaixo do limite de detecção do método (5 µg/L). No entanto, com o aumento da dosagem de dióxido de cloro aplicado, observou-se um aumento da concentração de íon clorito em valores superiores a 0,2 mg ClO2/L , o que reforça a necessidade de um controle rigoroso da sua concentração aplicada, a fim de que a formação de sub-produtos seja controlada. Efetuando-se uma análise crítica dos resultados obtidos e comparando-se com os conseguidos quando da aplicação do cloro como agente pré e pós-oxidante, pode-se observar que, conforme reportado pela literatura, há uma diminuição da formação de THMs quando da utilização do dióxido de cloro na forma de agente pré e pós-oxidante. No entanto, embora tenha-se evidenciado uma redução na formação de THMs quando do emprego do dióxido de cloro em ambas as formas de pré e pós-oxidação quando comparado com a aplicação do cloro na forma de pré e pós-oxidante, em princípio, não faz sentido a mudança do agente oxidante em questão, uma vez que, a formação de THMs observada quando da utilização do cloro livre foi tal que não foram observadas concentrações superiores a 100 µg/L. Uma vez que os custos de produção e aplicação do dióxido de cloro são significativamente mais altos quando comparado com o custo do cloro, em função, principalmente, do alto custo das matérias primas empregadas em sua fabricação, não há sentido em efetuar-se a mudança do agente oxidante, tendo-se como justificativa o controle da formação de THMs. Deste modo, para as águas brutas empregadas na investigação experimental, a utilização do cloro como agente oxidante e desinfetante não apresenta inconvenientes com respeito a formação de sub-produtos da desinfecção, haja visto que as suas concentrações foram inferiores a 100 µg/L. Tendo em vista a diversidade dos resultados experimentais obtidos, em função, principalmente, das características das águas brutas empregadas na investigação experimental e da concepção das estações de tratamento de água, recomenda-se que sempre sejam executados ensaios em escala de laboratório e piloto, a fim de que seja possível estabelecer os limites de aplicação do dióxido de cloro como agente oxidante no tratamento de águas de abastecimento. Conclusões De acordo com os resultados experimentais obtidos pode-se concluir que: • A aplicação do dióxido é viável em águas que apresentem baixa demanda de agente oxidante (Redução da formação de clorito). • O comportamento das soluções de dióxido de cloro gerado a partir de clorito de sódio ou clorato de sódio foram bastantes similares entre si. • Para sistemas produtores de abastecimento de água complexos, a aplicação do dióxido de cloro como agente pós-oxidante deve ser descartada em função do seu possível cruzamento com águas contendo cloro livre no Sistema de Distribuição. • Para todas as água brutas estudadas, a concentração de trihalometanos ficou abaixo de 100 µg/l, quando empregado o cloro e o dióxido de cloro como agentes oxidantes. • Não foram observadas diferenças quanto à qualidade microbiológica da água final quando da utilização do cloro e do dióxido de cloro como agentes oxidantes. Referências bibliográficas 1. ARORA, H., LeCHEVALIER, M.W., DIXON, K.L. Disinfection by-products occurrence survey. Journal of American Water Works Association, pag 61-68, June, 1997. 2. BELLAR, T.A., LICHTENBERG, J.J., KRONER, R.C. The occurrence of organohalides in chlorinated drinking water. Journal American Water Works Association, pág 703-706, December, 1974. 3. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Alternative disinfectants and oxidants guidance manual. April, 1999. 4. ROOK, J.J. Haloforms in drinking water. Journal of American Water Works Association, pag 168-172, March, 1976. 5. SINGER, P.C. Control of disinfection by-products in drinking water. Journal of Environmental Engineering, American Society of Civil Engineers, pag 727-744, July/August, 1994. 6. SYMONS, J.M., BELLAR, T.A., CARSWELL, J.K., DeMARCO, J., KROPP, K.L., ROBECK, G.G., SEEGER, D.R., SLOCUM, C.J., SMITH, B.L., STEVENS, A.A. National reconnaissance survey for halogenated organics. Journal of American Water Works Association, pag 634-647, November, 1975. Saneas / dezembro 2003 – 21 P&D ARTIGOS TÉCNICOS Crítica antecipada de leitura maximizando a eficiência da micromedição Rosária Nunes Eliane Pereira Lopes Artigos Técnicos Resumo O Setor Comercial de São José dos Campos encontrou na Crítica Antecipada de Leitura – projeto desenvolvido dentro do próprio setor – uma alternativa que maximiza a eficiência no processo de medição do consumo, atingindo grau elevado de exatidão, com agilidade na execução de serviços e aumento no faturamento. Além disso, este trabalho reforça a missão do setor que é a de “ser o elo de confiabilidade entre o cliente e a Sabesp, pela excelência no atendimento”, através da redução do número de reclamações na agência e a conseqüente melhora na imagem da empresa. Para superar as expectativas de uma cidade como São José dos Campos, com 539.313 habitantes e uma rede de mais de 140 mil ligações de água, essa missão era um desafio, que exigia muito conhecimento, alta dose de criatividade e, principalmente, uma equipe comprometida e preparada para a execução de serviços com qualidade, pronta a aceitar – e vivenciar – mudanças nos processos de trabalho. Estimulada por esse desafio, a equipe do do Setor Comercial de São José dos Campos (RVSS1) buscava uma alternativa que aumentasse a eficiência dos métodos e possibilitasse um atendimento ao cliente, que superasse o serviço prestado até então. • • Leitura informatizada dos hidrômetros. Repasse para recuperação de leituras que não puderam ser feitas na primeira etapa, por motivos como morador ausente, abrigo trancado, cão solto, imóvel vago etc. • Crítica de Leitura, para correção de eventuais erros em endereços, onde se constatava alta de consumo ou leitura atual menor que a leitura anterior e, mais uma vez, tentativa de recuperação de leituras. Nessas três etapas, o trabalho era feito em 10 dias, de acordo com o cronograma estabelecido pela empresa, e o processo acabou se tornando mecânico: os agentes confirmavam a leitura, comunicando ao setor interno, sem que fossem avaliadas causas e conseqüências de possíveis distorções de consumo. No modelo tradicional, após o processamento da leitura, são gerados, junto com as contas, relatórios que acusam ocorrências, como consumo superior à média habitual do imóvel, estouro ou superestouro de consumo, leitura atual menor que a leitura anterior e hidrômetro sem consumo. Esses relatórios eram analisados e outros passos deviam ser seguidos: Modelo tradicional • Retenção das contas selecionadas para confirmação de leitura; • Vistoria nos imóveis para confirmação ou correção da leitura. • Análise e, se necessário, revisão das contas. Até o começo de 2002, os colaboradores do setor comercial trabalhavam seguindo os passos definidos pelo procedimento tradicional: Devido ao grande número de endereços que apresentavam distorções de consumo, o tempo entre a análise dos relatórios e a reforma Bacharel em Administração de Empresas, Técnica em Serviços Administrativos na RVSS.1 – Setor Comercial de São José dos Campos;, E-mail: [email protected] Bacharel em Ciência da Computação, Analista em Informática na RVOM – Divisão de Operação e Manutenção do Vale do Paraíba, E-mail: [email protected] 22 – Saneas / dezembro 2003 Artigos Técnicos das contas costumava demorar vários dias, levando, muitas vezes, à postergação da data de vencimento ou reemissão da fatura, obrigando o cliente ao pagamento de duas contas num único mês. Em muitos casos, com a demora no recebimento da conta, o cliente retirava, na agência, segunda via da conta que estava retida para revisão, e o pagamento gerava inconsistência de baixa no Sistema, que teria que ser solucionada. Além disso, se houvesse vazamento interno, o consumo de pelo menos dois meses seria afetado, pois o usuário só ficava ciente ao receber a conta. Outros serviços, como troca de hidrômetros, regularização de ligações fraudadas e alterações cadastrais, só podiam ser executados após o retorno da vistoria. Todo esse processo implicava custos adicionais com recursos humanos e administrativos, gastos com combustível, repetição dos serviços e dificuldade de comunicação. O atendimento ao cliente era prejudicado, pois o serviço 195 não tinha informações suficientes no Sistema para fornecer respostas imediatas e precisas às ligações. E, no atendimento personalizado, dispendia-se muito tempo na procura de processos pendentes, aumentando a espera e o fluxo de clientes na agência, que gerava insatisfação. A imagem da Sabesp acabava sendo prejudicada, tanto junto ao público interno - pois os colaboradores possuíam conhecimento limitado do processo de trabalho –, quanto frente ao cliente externo, que tinha a visão de uma empresa ineficiente e burocrática. dos Campos e da Divisão de Planejamento e Manutenção do Vale do Paraíba (RVO), no final de 2001. Implantação do projeto RCL – crítica antecipada de leitura Além de um novo software, os processos de trabalho deveriam ser redefinidos, buscando a otimização dos recursos humanos e materiais. Envolveram-se no desenvolvimento e implantação do projeto todas as pessoas que trabalhavam com leitura informatizada, crítica de leitura, análise dos relatórios, separação e análise de contas. A equipe administrativa preparou um curso para integrar a equipe externa, composta de agentes e técnicos de serviço a clientes, apresentando o projeto, orientando quanto aos novos procedimentos e inserindo todos no seu desenvolvimento. Foram envolvidas, também, as demais áreas do setor, pois a maioria dos serviços, que antes eram executados somente após a emissão das contas, passaria a ser executada no período entre a leitura e a emissão das contas. A união do software e a redefinição dos processos de trabalho é conhecida como projeto RCL – Crítica Antecipada de Leitura. Trabalho atual Criação do projeto Com isso, após um período de experiência em que foram selecionadas algumas regiões do município, foi possível implantar o projeto definitivamente, em março de 2002, e as atividades passaram a ser as seguintes: Após análise do programa institucional para leitura CLM (Comercial – Leitura em Microcoletor), utilizado pela contratada para consolidação dos dados da leitura, verificou-se que era possível o acesso a todas as leituras pelo menos três dias antes que fossem processadas pelo sistema da Sabesp, o que tornaria possível, além da correção das leituras, também a regularização da maioria das ocorrências antes da emissão das contas . Para viabilizar a antecipação do trabalho seria necessário o desenvolvimento de um software de acompanhamento paralelo. O novo software, batizado de RCL (Relatórios de Crítica de Leitura), foi criado através de parceria entre o Setor Comercial de São José • Execução da leitura informatizada; • Repasse das leituras; • Acesso às leituras logo após o envio para o sistema, três dias depois de sua execução; • Geração de crítica de leitura para análise através do RCL; • Análise prévia e liberação de vistorias para os endereços onde se acusa irregularidade no consumo, quatro dias antes da data estabelecida pelo cronograma para correção da leitura e alteração de dados cadastrais; • Serviços dos agentes externos: apontamento e correção de irregularidades encontradas; recuperação de leitura; verificação de erros de leitura e dados cadastrais; verificação de alta de consumo e Saneas / dezembro 2003 – 23 Artigos Técnicos vazamento, orientando o cliente; troca de hidrômetro, colocação de lacres e regularização de fraudes. • Trabalho da equipe interna: análise e correção após retorno das vistorias antes da emissão das contas; atualização de dados cadastrais; emissão de solicitações de serviços; acertos de consumo. Após a emissão das contas, são feitas a distribuição de consumo e a reforma de contas em casos de vazamento que não escoaram para o esgoto, com emissão de segundas vias que, na chegada das faturas, substituirão as vias originais. Assim, são fornecidas ao cliente, durante a vistoria, as informações necessárias sobre consumo, identificação e reparo de vazamentos. E ele recebe, na data estabelecida pelo cronograma, a conta emitida com os valores corretos, o que reduz significativamente o número de reclamações através do 195 e o fluxo nas três agências de atendimento ao público em São José dos Campos. A partir de março de 2003, o projeto foi implantado em todo do município. Resultados obtidos Com a implantação do projeto, também chamado de Crítica Antecipada de Leitura, verificaram-se inúmeras vantagens, como desenvolvimento do trabalho realizado pela equipe de serviços externos, reestruturação Gráfico 1 Apuração de clientes na agência de atendimento 500 Fonte: RVSS.1 julho/2003 400 470 436 450 350 da equipe interna, otimização dos processos de trabalho, desenvolvimento profissional dos colaboradores, integração da equipe, aumento da performance da contratada, parceria com outros setores da empresa, agilidade na prestação de serviços, redução de perdas e aumento do faturamento, redução dos custos internos, melhora no atendimento ao cliente e, principalmente, melhora na imagem da empresa, pela prestação de serviços mais rápidos e mais eficazes. A partir de abril de 2003, foi verificado o fluxo dos clientes que vinham até a agência para pedir revisão de contas ou para obter informações sobre consumo. Como era esperado, após a implantação do projeto de Crítica Antecipada de Leitura em todo o município este número apresentou queda de 16%, no primeiro mês, para solicitação de revisão de contas, e 7% para informações sobre consumo. Cabe destacar que a queda mais significativa foi observada na solicitação de informações sobre consumo: em julho de 2003, a redução já chegava a 44%, fruto do serviço prestado em campo aos clientes pelos agentes comerciais (gráfico 1). Outro resultado esperado foi a recuperação de consumo micromedido, através da melhora na qualidade das leituras executadas tanto pela Sabesp como pela contratada e do desempenho da crítica antecipada na substituição de hidrômetros. Conforme verificado nos meses de março e abril de 2003 (gráfico 2) houve uma recuperação de, respectivamente, 62% e 52% de consumo medido, o que melhora a eficiên- 396 308 300 265 259 250 230 202 200 150 abril 100 maio 50 junho 0 julho previsão de consumos 24 – Saneas / dezembro 2003 informações sobre consumo e valor de contas Artigos Técnicos Gráfico 2 Recuperação de consumo micromedido 10000 9158 8817 9000 Fonte: RCL – abril/2003 8000 7000 6035 6000 5428 5000 4000 3000 2000 1000 340 média antes da troca 671 média após a troca 0 fevereiro / 03 - 97% março / 03 - 63% abril / 03 - 52% Gráfico 3 Recuperação (em reais) em ligações fraudadas julho/2003 58% Fonte: Equipe CaçaFraudes – RVSS1 40% Somente em hidrômetros violados 2% julho Eq. Fraude Agentes comerciais Contazul 113.887,29 78.462,39 4.025,33 * valores em Reais cia da micromedição e colabora também com a redução de perdas não-físicas. Entretanto, um dos resultados mais satisfatórios, não previstos na realização do projeto, foi o alto índice de recuperação de faturamento para a empresa através da regularização de ligações fraudadas (gráfico 3). Em julho de 2003, a equipe de agentes comerciais, responsável pela execução em campo da Crítica Antecipada, participou em 40% das regularizações no município. Vale lembrar que a equipe de agentes comerciais regulariza ligações fraudadas somente pela substituição de hidrômetros, diferente da equipe de Caça-Fraudes, que atua apenas através de denúncias. Conclusão Desenvolver o projeto RCL – Crítica de Leitura Antecipada, que se tornou uma ferramenta de melhoria contínua no processo de apuração de consumo no Setor Comercial de São José dos Campos, tornou possível também o desenvolvimento dos colaboradores do setor. Este foi um fato de relevante importância e que toda empresa busca para competir no mercado. Mas podemos considerar que, dos resultados obtidos até então, os mais importantes são os que levam à melhoria na imagem da Sabesp perante seus clientes e a eficácia na apuração do consumo deste recurso tão essencial e cada vez mais escasso: a água. Saneas / dezembro 2003 – 25 ARTIGOS TÉCNICOS Parâmetros biológicos envolvidos no reúso de efluentes de estações de tratamento de esgotos Luiz Carlos Helou Artigos Técnicos Introdução Desde a década de 1950, o consumo de água potável no planeta aumentou em aproximadamente 350%, num ritmo superior ao do crescimento populacional (Brito, LP 1998), com isto houve o aumento no custo da água, induzindo a procura de novas fontes para usos não potáveis. O emprego de águas residuárias, que podem conter os mais variados microorganismos patogênicos, causa preocupação com a transmissão e propagação de doenças de veiculação hídrica. Portanto, o interesse na determinação de parâmetros biológicos das águas de reúso reside nos aspectos relacionados à saúde pública. Neste sentido, convém analisar os microorganismos patogênicos, que podem ser divididos em: – Bactérias; – Parasitas (protozoários e helmintos); – Vírus. Bactérias Estes microorganismos, cujas dimensões variam de cerca de 0,2 a 10 µm, estão largamente distribuídos no ambiente, possuindo uma grande variedade de requisitos nutricionais. As bactérias de maior importância nos esgotos domésticos são aquelas presentes no trato gastrintestinal do seres humanos, que se alojam no material fecal, denominadas de bactérias entéricas. As condições presentes no trato intestinal, com a grande presença de carbono orgânico, nutrientes e temperatura relativamente elevada, são ideais ao desenvolvimento deste tipo de bactéria. Quando liberadas no ambiente aquático, as bactérias entéricas, adaptadas às condições do trato gastrintestinal, enfrentam condições ambientais adversas e, portanto, têm sua capacidade de sobrevivência diminuída. Além disto, sua capacidade de competição pelos nutrientes, mais escassos, com as bactérias já existentes no ambiente e melhor adaptadas a ele, também é menor, o que faz com que a sobrevivência seja ainda menor. Contudo, a grande quantidade de bactérias presentes no material fecal humano cerca de 1012 bactérias / g - faz com que haja uma grande incidência deste tipo de bactéria nos esgotos, mesmo nestas condições adversas. Uma grande quantidade de espécies de bactérias entéricas não causa doenças, porém aquelas presentes nas fezes de indivíduos infectados contêm grande quantidade de bactérias patogênicas, que se misturam aos esgotos domésticos. A Tabela 1 indica algumas das bactérias patogênicas mais comuns, as doenças causadas, as concentrações existentes nos esgotos sanitários e a dose de infecção. A bactéria mais comumente associada à contaminação das águas por esgotos sanitários é o Coliforme, por isso é também utilizada como indicados deste tipo de contaminação. Embora seu comportamento no ambiente seja similar ao de grande parte das bactérias patogênicas, não representam adequadamente a presença de vírus e protozoários. Protozoários Este grupo de microorganismos unicelulares apresenta um tamanho variável de 2 a 60 µm, sendo, portanto, de dimensões maiores que as das bactérias. O ciclo de vida destes organismos inclui uma fase vegetativa e uma de descanso (cisto). Os cistos não se reproduzem no ambiente, porém são capazes de sobreviver por longos períodos - até cerca de sete anos em condições de solo adequadas. Estes cistos são também resistentes à inativação durante os processos de tratamento de esgotos. A Tabela 2 indica alguns dos protozoários patogênicos mais comuns, as doenças causadas, as concentrações existentes nos esgotos sanitários e a dose para infecção. Engenheiro civil pela Escola Politécnica da USP; Doutor pela Escola Politécnica da USP Engenheiro de Operação da ETE Barueri. E-mail [email protected] 26 – Saneas / dezembro 2003 Artigos Técnicos Helmintos Helmintos são parasitas: vermes multicelulares que incluem nematóides, trematóides e cestóides. As fases da vida destes organismos, que são infecciosas para seres humanos, são para alguns grupos a fase adulta ou a fase de larva, ao passo que para outros ovas e ovos são as fases infecciosas. Os estágios de larva em estado livre de nematóides não são infecciosos. Os ovos e larvas, cujo tamanho varia de 10 a 100 µm, são resistentes às variações ambientais, aos processos usuais de desinfecção de águas residuárias. Os métodos de remoção desses ovos são a sedimentação, filtração ou lagoas de estabilização. Vírus Os vírus são parasitas intracelulares capazes de se multiplicar apenas no interior de uma célula hospedeira. Seu tamanho varia de 0,01 a 0,3 µm e somente indivíduos infectados excretam vírus em suas fezes. Neste caso a presença de vírus pode chegar a 1012 vírus por grama, perdurando até 16 semanas. Existem cerca de 140 tipos de vírus entéricos que podem contaminar as águas residuárias. A dose de infecção dos enterovirus varia de 1 a 10 por dia. Os mais comuns estão relacionados na Tabela 4 juntamente com sua concentração nos esgotos sanitários. Sobrevivência de organismos patogênicos A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1989) afirma que existem grandes variações nos períodos de sobrevivência dos agentes patogênicos no solo e em cultivos em climas quentes. Estes períodos são apresentados na Tabela 5. Observa-se através dela que os microorganismos sobrevivem mais tempo no solo que na superfície, pois estão protegidos dos efeitos da luz solar e da evaporação. O trabalho citado observa, ainda, que a irrigação de pastos com águas residuais contendo ovos viáveis de Taenia saginata produzirá cisticircose no rebanho bovino se este utilizar o pasto enquanto os ovos forem viáveis. Recomenda-se um intervalo mínimo de 14 dias entre a irrigação e o pastoreio. Remoção de organismos patogênicos pelo processo de lodos ativados O processo de lodos ativados é relativamente eficiente na remoção de organismos patogênicos, devido à sedimentação e à aeração. Os ovos de helmintos são removidos já Tabela 1 Bactérias patogênicas mais comuns existentes nos esgotos sanitários Bactéria Doença Camphylobacter jejuni Escherichia coli Legionella pneumophila Leptospira (spp.) Salmonella typhi Salmonella (2400 serotipos) Shighella (4 spp.) Gastroenterite Vibrio cholerae Yersina enterocolitica Concentração média em esgotos sanitários (NMP/100mL) 3700 Dose de infecção Gastroenterite Mal de Legionnaire Leptospirose Febre tifóide Salmonelose ND ND ND ND ND ND 2,3 – 8000 ND 104 - 107 10 Shiguelose (disenteria) Cólera Versinose 1 – 1000 180 10 –10000 ND 103 - 107 ND ND ND: não disponível Tabela 2 Protozoários patogênicos mais comuns existentes nos esgotos sanitários Protozoário Doença Concentração Dose de nos esgotos infecção sanitários NMP/L Balantidiun Coli Balantisíase 28 -52 ND Criptosporidium Parvum Cripotosporidíase, diarréia, febre. 0,3 -122 1 - 10 Entamoeba Histolytica Amebíase 4 20 Giardia Lanblia Giardíase 125 -100.000 < 10 Tabela 3 Helmintos patogênicos mais comuns existentes nos esgotos sanitários Helmintos Doença Concentração Dose de nos esgotos infecção sanitários NMP/L Ancylostomus duodenalis Ancilostomose 6 -188 ND Ascaris lumbricoides Ascaríase 5 - 111 1 - 10 Echinococcus Granulosis Hidatitose ND ND Enterobius vermicularis Enterobiose ND ND Necator americanus Necatoríase ND ND Schistosoma Esquistossomose ND ND Strongyloides Stercolaris Strongiliose ND ND Taenia Teníase ND ND Trichuris trichiura Tricuriase 10 - 41 ND Saneas / dezembro 2003 – 27 Artigos Técnicos Tabela 4 Vírus entéricos mais comuns existentes nos esgotos sanitários Vírus Doença Concentração nos esgotos sanitários NMP/L Adenovirus Doenças respiratórias, conjunti- ND vite, diarréia e vômitos Astrovirus Diarréia e vômitos ND Enterovirus Paralisia, meningite, febre, 182 – 492.000 (inúmeros tipos) doenças respiratórias, miocardite conjuntivite hemorrágica, encefalite, dentre outras. Hepatite A e E Hepatite ND Norwalk Diarréia e vômitos ND Rotavirus Diarréia e vômitos 400 – 85.000 Tabela 5 Período de sobrevivência de alguns agentes patogênicos excretados nos solo e superfícies de cultivos a 20-30 oC, segundo OMS (1989). Agente Patogênico Período de sobrevivência (dias) No solo Nos cultivos Geral Mais Geral Mais comum comum Vírus Enterovirus Bactérias Coliformes fecais Salmonella spp Vibrio cholera Protozoários Entamoeba histolytica (cistos) Helmintos Ascaris lumbricoides (ovos) Anquiostomas (larvas) Taenia saginata (ovos) Trichuris trichura (ovos) <100 <20 <60 <15 <70 <70 <20 <20 <20 <10 <30 <30 <5 <15 <15 <2 <20 <10 <10 <2 <60 <30 <30 <60 <60 <10 <30 <30 Meses <90 Meses Meses <30 Tabela 6 Eliminação prevista de microorganismos de acordo com o sistema de tratamento (OMS-1989) Processo de tratamento Eliminação em unidades logarítmicas de Bactérias Helmintos Vírus Cistos Sedimentação Simples 0-1 0-2 0-1 0-1 Química 1-2 1-3 0-1 0-1 Lodo Ativado 0-2 0-2 0-1 0-1 Biofiltração 0-2 0-2 0-1 0-1 Lagoa aerada 1-2 1-3 1-2 0-1 Valo de oxidação 1-2 0-2 1-2 0-1 Desinfecção 2-6 0-1 0-4 0-3 Tanque de estabilização 1-6 1-3 1-4 1-4 Disposição de efluentes 1-6 1-3 1-4 1-4 28 – Saneas / dezembro 2003 nos decantadores primários em virtude de seu tamanho. Bactérias associadas aos sólidos em suspensão também são parcialmente removidas nesta fase. A competição com outros organismos e a captura de bactérias nos flocos biológicos formadas durante a fase de aeração são responsáveis pela maior parte da remoção de bactérias e vírus. Esta remoção pode chegar a 90% para bactérias entéricas e protozoários e a 99% para enterovirus e rotavirus. Contudo, há uma concentração de ovos de helmintos e de protozoários no lodo. A OMS (1989), apresenta, através da tabela 6, as remoções propiciadas pelos diversos tipos de tratamento. Processos de desinfecção associados ao reúso Para que o efluente de estações de tratamento de esgotos por lodos ativados seja utilizado para fins de reúso, recomenda-se que sofra um processo de polimento. Neste processo o efluente final passa por um processo de coagulação, geralmente com polímeros numa concentração de 0,1 mg/L. Neste processo há formação de flocos que facilitam a remoção de partículas em suspensão, que são responsáveis pelo encapsulamento de microorganismos. Um filtro de areia e antracito remove as partículas em suspensão, que passam de uma concentração de cerca de 20 mg/L para algo em torno de 5 mg/L. Um filtro cartucho com poros de 1 a 10 µ remove ainda mais estas partículas, fazendo com que a turbidez atinja cerca de 2 NTU. Finalmente, o efluente passa por uma cloração de forma a manter um nível de cloro residual combinado na faixa de 2 a 4 mg/L. Alternativamente pode ser utilizada a desinfecção por dióxido de cloro para se evitar a formação de trihalometanos. Ambos os processos necessitam de baixa turbidez para serem eficientes. Referências Bibliográficas OMS Diretrices sanitárias sobre el uso de aguas residuales em agricultura y acuicultura, Informe de um Grupo Cientifico, Serie de Informes Técnicos 778, Organización de la Salud, 1989. Brito, LP Reutilización de Água Residual Depurada, UFRN, Natal 1998 Cooper, R. C. & Olivieri. A. W. Infectious desease concerns in Wastewater Reclamation and Reuse – Water quality management library volume 10, Technomic Publishing Co., 1998. MEIO AMBIENTE Por que produção mais limpa? Aumente seus lucros e ajude a natureza Tânia Mara Tavares Gasi Produzir mais com o mesmo significa ser mais eficiente como diferencial competitivo no mercado e para a gestão ambiental Meio Ambiente O modelo capitalista de desenvolvimento econômico, praticado por décadas, considerou o planeta como fornecedor inesgotável de matérias primas, bem como receptor infinito de resíduos. A tecnologia moderna seria capaz de resolver todos os problemas. Poderíamos crescer indefinidamente, com prosperidade e bem estar. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) demonstram que os impactos ambientais desse modelo são extraordinários. Cerca de metade dos rios do mundo já se encontra severamente contaminada ou poluída. A escassez da água, evidenciada desde a década dos anos 90, se agrava e promete recrudescer no futuro, transformando este líquido em bem precioso, a ser disputado pelas nações e pelo mercado. A degradação do meio ambiente provoca enfermidades e incapacitação, causando mais mortes que as verificadas em conflitos armados. Estima-se que o uso de água contaminada provoca 4 bilhões de casos de diarréia por ano e 2,2 milhões de mortes teríamos que abater cerca de 20 aviões jumbo, por dia, para igualar o número de óbitos. 17 milhões de pessoas morrem por ano de doenças que poderiam ser curadas, como as já citadas diarréias, malária, sarampo e tuberculose. O PNUMA contabilizou cerca de 2 bilhões de hectares de solo degradados devido à ativi- dade humana – uma área maior que Estados Unidos e México juntos. A biodiversidade, patrimônio genético do Planeta, tem sido sistematicamente reduzida, estando ameaçados de extinção um quarto de todas as espécies de mamíferos, para não citar as aves, plantas, anfíbios e insetos. Cerca de 150 mil quilômetros quadrados de corais estão com risco médio a alto de degradação. A mudança do clima, uma das questões globais de maior repercussão nos fóruns internacionais, nada mais é do que um sintoma do desbalanceamento do ciclo biogeoquímico do carbono. É a demonstração de que o Homem está alterando o funcionamento natural do Planeta. Destruir a natureza significa comprometer as reservas de matérias primas e a capacidade produtiva da Terra. Como exemplo, a contaminação da água prejudica e encarece os sistemas de abastecimentos público, agrícola e industrial e afeta o turismo. A degradação dos corais impacta a produção pesqueira; a perda de solos aráveis, por processos de erosão e excessiva irrigação, prejudica a agricultura. “A capacidade produtiva do planeta está em declínio”, alerta o relatório Tomorrow´s markets – global trends and their implications for business, preparado pelo PNUMA, pela ONG World Resources International e pelos conselho de empresários do World Business Council for Sustainable Development. A Terra é um sistema fechado, esgotável, que não pode receber resíduos em quantidades e características além de sua capacidade natural Engenheira da CETESB Secretária Executiva da Mesa Redonda Paulista de Produção +Limpa Presidente da ASEC – Associação dos Engenheiros da CETESB Saneas / dezembro 2003 – 29 Meio Ambiente de absorção. Modelos de desenvolvimento, que não incorporem esta realidade em suas premissas, não podem se sustentar no presente e não poderão subsistir no futuro. Praticar Produção Mais Limpa Como produzir bens e serviços sem cobrar um preço exorbitante e insuportável à Natureza? Uma possibilidade concreta é praticar a chamada Produção Mais Limpa (P+L), que é uma idéia muito simples e efetiva. A P+L entende que a geração de poluentes - como efluentes, emissões, resíduos sólidos, odor, vibração, ruído – é uma falha no processo produtivo. As matérias-primas e insumos, que deveriam seguir a rota de geração de produtos, desviaram e se transformaram em sobras. Diversos problemas podem ter acontecido: o processo produtivo foi ineficiente ou mal gerenciado, houve perdas e vazamentos, as matérias primas foram inadequadamente estocadas e perderam a validade, houve acidentes, o lay out dos equipamentos era impróprio, o produto era mal formulado, as embalagens foram usadas em excesso, os operários não eram treinados, as especificações de compra foram mal feitas, para citar apenas algumas possibilidades. Assim, ao otimizar a transformação de matérias-primas e insumos em produtos obtém-se, inevitavelmente, menor geração de poluentes, o que permite concluir que Lavoisier estava correto e que o ditado popular “Mais vale prevenir que remediar” pode e deve ser praticado. Produzir mais com o mesmo significa ser mais eficiente e isto é um diferencial de competitividade no mercado. Assim, praticar P+L é compreender que a gestão dos aspectos ambientais é elemento indissociável da equação da produtividade e da competitividade. A busca pela conformidade ambiental deixa de ser o mero cumprimento de normas e decretos baixados pelo poder público, transformando-se na procura sistemática de oportunidades de aprimoramento do negócio da empresa. O chamado modelo “fim-de-tubo”, que visa o tratamento e a disposição dos resíduos, pode ser progressivamente substituído por ações de eliminação dos mesmos na fonte e por sistemas de reciclagem, com vantagens econômicas. Diversas empresas, dentro e fora do Brasil, já descobriram a P+L e muitos governos desenvolvem ações concretas para fomentá-la. Os 30 – Saneas / dezembro 2003 empresários verificam que podem economizar matérias-primas e insumos, gerar resíduos em menor quantidade e toxicidade, melhorar as condições de trabalho e obter retorno financeiro dos investimentos. Em São Paulo, que hoje representa uma fantástica oportunidade para a prática da P+L, foi criada a Mesa Redonda Paulista de Produção + Limpa, como um fórum aberto aos interessados em promover e trocar experiências. A Mesa congrega empresas, instituições governamentais, entidades de ensino e pesquisa, ONGs e cidadãos, podendo-se obter informações no site www. mesaproducaomaislimpa.sp.gov.br Outros Dilemas Praticar a P+L pode responder ao desafio de produzir com a preservação da Natureza. Há outros dilemas colocados para a sobrevivência humana, neste início de milênio, cuja abordagem é bem mais complexa. Sabe-se que um quinto da população mundial mais rica, em países do hemisfério norte, detém 86% dos gastos mundiais com consumo, usando 84 % de todo o papel produzido no planeta, 65 % de toda a eletricidade e 85 % de todos os metais e produtos químicos. As 225 pessoas mais ricas detêm mais de um trilhão de dólares, que corresponde à soma da riqueza dos 47 % mais pobres do mundo, que perfazem 2,5 bilhões de seres humanos. Cerca de um bilhão de pessoas não têm acesso a direitos básicos de consumo e, na América Latina, 240 milhões estão abaixo da linha da pobreza. O acesso à tecnologia, cujos avanços enaltecem a capacidade do ser humano, também é restrito. Dois bilhões de pessoas não têm energia comercial e, portanto, não se beneficiam da lâmpada elétrica, inventada por Thomas Edison, em 1879. Um bilhão e meio não usam a tecnologia denominada torneira, por não dispor de sistemas domiciliares de abastecimento de água. Mais da metade da população mundial não usa telefone e apenas sete porcento dispõem de computador pessoal. Como dividir a riqueza gerada de forma mais digna e justa? Como garantir que bilhões de seres humanos possam ascender ao consumo sem que a produção desses bens implique na destruição do planeta? A Produção + Limpa não tem a pretensão, nem a capacidade, de resolver essas questões, mas é um ingrediente indispensável na busca de soluções. A SABESP INOVA Armazenadores de ruídos: uma nova ferramenta na pesquisa de vazamentos não-visíveis Edson Almeida Torre Paulo Sérgio Padilha U A Sabesp Inova m dos maiores desafios das companhias de saneamento é a redução e o controle das perdas nas redes de distribuição de água, tanto as Perdas Reais quanto as Perdas Aparentes. Valores elevados de perdas significam má gestão operacional e comercial do sistema de abastecimento de água. Os vazamentos na rede de distribuição representam a maior parcela das Perdas Reais. Para a companhia de saneamento, a existência de vazamentos escoando pelas vias é fator de degeneração de sua imagem perante a população, além dos aspectos associados ao aumento de custos de produção de água tratada e à exploração desnecessária de recursos naturais. Os vazamentos podem ser decorrentes de várias situações, tais como a má qualidade do material empregado, má execução dos serviços de instalação e manutenção das redes, altas pressões ou variações bruscas de pressão na rede, idade da rede e tráfego intenso, gerando esforços dinâmicos nas tubulações próximas à superfície, não previstos nos projetos. Os vazamentos podem ser caracterizados de duas maneiras: Visíveis: aqueles que afloram à superfície, na grande maioria próximos ao local do afloramento, sendo facilmente identificados pela população e equipes de manutenção. Não-Visíveis: aqueles que não afloram à superfície, dificultando a correção do problema pela companhia de saneamento. Além do grande volume de água perdido, a existência desse ponto de fuga no tubo pode provocar graves acidentes nas estruturas ou vias de tráfego devido à infiltração e, principalmente, contaminação da água distribuída por agentes nocivos, quando houver despressurização da rede. A simples busca de agilizar o estancamento do vazamento visível é o que se chama de Controle Passivo dos Vazamentos que, se por um lado melhora a imagem da companhia, por outro lado deixa que os vazamentos não-visíveis continuem existindo durante um longo período de tempo, perdendo, assim, uma quantidade enorme de água. O Controle Ativo dos Vazamentos envolve a pesquisa para a detecção dos vazamentos nãovisíveis na rede de distribuição. Para isso são utilizados equipamentos acústicos, que detectam e apontam o local do vazamento. O procedimento básico exige a pesquisa (varredura da região com haste de escuta), para a verificação dos pontos suspeitos de vazamentos e o emprego de geofones ou correlacionadores de ruídos, para indicar o local exato do vazamento. Os equipamentos e métodos utilizados na pesquisa de vazamentos têm sofrido desenvolvimentos contínuos, melhorando a qualidade dos serviços de detecção e dos profissionais envolvidos. Nesse sentido, os Armazenadores de Ruídos de vazamentos (ou “Loggers” de Ruídos) são uma das maiores agregações de tecnologia Engenheiro do Departamento de Planejamento Integrado da Superintendência de Planejamento e Apoio da Distribuição da Sabesp. Engenheiro Civil (Univ.Mogi das Cruzes/77), Pós-Graduado em Eng.ª Segurança do Trabalho (Fundacentro/83) e Hidráulica Aplicada (Fatec/90). Engenheiro do Departamento de Planejamento Integrado da Superintendência de Planejamento e Apoio da Distribuição da Sabesp. Engenheiro Civil (Univ. Paulista Objetivo/94). Saneas / dezembro 2003 – 31 A Sabesp Inova nesse tipo de serviço, com elevado potencial de otimização geral dos trabalhos em campo e dos resultados das pesquisas. De aplicação relativamente recente na Sabesp, já está sendo incorporada no dia-a-dia dos técnicos do setor e, principalmente, evoluindo permanentemente nos seus procedimentos e na exploração do seu potencial tecnológico e operacional. Este artigo procura retratar o conhecimento atual na aplicação desses equipamentos, contribuindo para o registro e divulgação dessa tecnologia, visando a melhoria contínua de sua performance operacional e para a redução das perdas nas redes de distribuição de água. Os Armazenadores de Ruído registram dois parâmetros distintos: Intensidade: parâmetro que indica o pico do ruído do vazamento, ou seja, se aquele ruído apresentar um som de grande intensidade, pode ser caracterizado como um ponto de vazamento suspeito. Dispersão: parâmetro que indica a amplitude do ruído na rede, ou seja, a capacidade que o som tem de se espalhar a partir de um ponto de vazamento suspeito, sendo que valores de baixa dispersão associados a valores de alta intensidade indicam grande proximidade do vazamento. 2. Conceitos Os Armazenadores de Ruídos (A.R.s) são equipamentos utilizados nos sistemas de distribuição de água para promover o monitoramento de ruídos, que podem ser provocados por vazamentos. Esses equipamentos baseiamse na captação de ruídos, tal como na pesquisa de vazamentos tradicional, na qual, através de equipamentos acústicos, escutam-se os ruídos transmitidos pelos vazamentos, que, de acordo com a pressão da rede, diâmetro do orifício, solo e material, se propagam com maior ou menor intensidade. Instalação do A.R. leitura em campo com U.R. A.R.s Vazamento 32 – Saneas / dezembro 2003 Após análise destes parâmetros o A.R. armazenará as informações que serão transmitidas à Unidade Receptora (U.R.), através de sinais de rádio, identificando no display, ou por aviso sonoro, a existência de vazamento ou não no trecho pesquisado. Alguns equipamentos permitem a visualização dos dados diretamente na tela da U.R., porém essas informações serão descarregadas em computadores ou laptops para geração de planilhas e gráficos. Geralmente os A.R.s atuam no período noturno, das 2h às 4h, horário em que as vazões e os consumos são menores e, conseqüentemente, as pressões são maiores. A programação da leitura dos dados pode ser feita e alterada em vários intervalos, permitindo que a probabilidade de detecção de um vazamento existente tornese maior e mais eficaz. Quanto mais curto o tempo entre a programação dos A.R.s e o recebimento dos sinais de ruídos registrados, mais precisos serão os resultados. Os A.R.s podem armazenar medidas de amplitude de até 10 dias e valores de vazamentos de até 180 dias, sem qualquer perda de dados. Alguns modelos, ainda, podem efetuar a correlação do trecho indicando o local do vazamento ou possibili- A Sabesp Inova tar ao operador ouvir o ruído do vazamento por meio de fones de ouvido, ou efetuar remotamente mudanças nos parâmetros dos A.R.s. A partir dos dados obtidos nos A.R.s, dá para programar as atividades das equipes de detecção de vazamentos, que só irão atuar nos trechos onde os A.R.s indicarem o surgimento/ ocorrência/suspeita de vazamentos, otimizando os trabalhos em campo. 3. Tipos de Equipamentos Dentre os equipamentos existentes no mercado, a Sabesp utiliza os modelos Permalog e o Zonescan, que se destacam pela facilidade de operação e objetividade dos resultados obtidos em campo. Com o Zonescan é permitida a realização da correlação dos dados obtidos em campo, a fim de se localizar o vazamento. Tipo ZONESCAN (permite a correlação do vazamento) Tipo PERMALOG (não permite a correlação do vazamento) Maleta de transporte do microcomputador Microcomputador (Laptop) Antena de longo alcance Caixa metálica para fixação e segurança dos A.R.s Armazenador de Ruídos (A.R.) Unidade Receptora (U.R.) Maleta para transporte da U.R. Antena de longo alcance Cabo principal de alimentação Unidade Receptora (U.R.) Alça de transporte da U.R. Cabo de dados Cabo de alimentação de uso no veículo Armazenador de Ruídos (A.R.) Saneas / dezembro 2003 – 33 A Sabesp Inova 4. Procedimento de Operação 4.1. Pré-Definição dos Pontos de Instalação do A.R. A pré-definição dos pontos deverá ser realizada mediante escolha da área de instalação através das seguintes informações: • Realização de pré-estudo das perdas reais em áreas delimitadas e estanques; • Utilização do método Fator de Pesquisa medido em Distritos Pitométricos, ou em áreas de influência de VRPs e boosters, através do método das vazões mínimas noturnas; • Buscar os históricos operacionais das áreas de influência de boosters, os locais com alta pressão, elevada idade de rede e com alto índice de vazamentos. Definida a área de instalação do A.R., o próximo passo deverá ser a solicitação das cópias das plantas cadastrais referentes à área em estudo para montagem das plantas de trabalho, pré-definição dos pontos de instalação dos A.R.s, estimativa da quantidade necessária, de acordo com as características do material da rede de distribuição, e a identificação em planta dos A.R.s a serem instalados no campo. A distância entre os pontos a serem instalados será definida de acordo com o tipo de material existente na rede: A.R. (Zonescan) instalado em registro 34 – Saneas / dezembro 2003 • Em redes de material plástico (PVC e PE) os A.R.s devem ser instalados a cada 50 metros, aproximadamente; • Em redes de outros materiais (cimento amianto, ferro fundido ou aço) os A.R.s devem ser instalados a cada 100 metros, aproximadamente; • Em redes mistas (vários tipos de materiais) ou sem informação do tipo de material existente em campo, os A.R.s devem ser instalados a cada 50 metros, aproximadamente. 4.2. Instalação dos A.R.s em Campo A instalação dos A.R.s deverá ser realizada mediante o registro e o preenchimento do relatório com as informações referentes ao número de sé rie dos A.R.s, endereço e número do imóvel, data da instalação e da retirada para o controle dos aparelhos. Visando garantir a máxima eficiência dos equipamentos a instalação dos A.R.s deve ser realizada, preferencialmente, em registros de parada e, opcionalmente, em cavaletes, hidrantes e rede de abastecimento, obedecendo a distância máxima entre as A.R.s citadas anteriormente. Deve ser instalado um dispositivo de segurança nos A.R.s, através de cabo de aço ou caixa protetora, evitando-se roubos e danos ao equipamento. Os A.R.s devem ficar instalados, no mínimo, por um período de três dias, antes de se efetuar A.R. (Permalog) em cavalete A Sabesp Inova a primeira leitura comparativa de ruídos e verificar a indicação de possíveis vazamentos. Neste caso, deverá ser dada continuidade aos serviços de varredura da rede até que não haja mais indicação de vazamentos na área em estudo. Importante: Para se evitar a falsa indicação de ruídos, os A.R.s não devem ser instalados: • Próximos a Válvulas Redutoras de Pressão (V.R.P.s), Boosters, grandes reduções de rede, casas noturnas, linhas de alta tensão, geradores, motores elétricos, transformadores de energia, máquinas que emitam ruídos constantes, entre outros, devido a falsa indicação de ruídos de vazamentos produzido por esses equipamentos; • Em grandes consumidores tais como prédios, fábricas, etc, devido a falsa indicação de vazamentos. 4.3. Leitura com Unidade Receptora - U.R. Após a instalação dos A.R.s nos locais prédeterminados, as leituras (armazenamento de dados) são feitas de madrugada, ficando a cargo do técnico ou do operador a extração das informações com a U.R. para verificar a existência ou não de vazamentos. A coleta de dados é feita através da transmissão de ondas de rádio que acusam condições de vazamento (Leak) ou não-vazamento (No Leak). Em alguns aparelhos de A.R. pode-se obter a leitura de pontos com características de vazamentos suspeitos, que são identificados na U.R. através de letras, símbolos ou avisos sonoros. No escritório, os dados coletados em campo deverão ser descarregados no computador através de programa específico, de modo que os dados obtidos pelos A.R.s que apresentarem níveis de dispersão (amplitude) menores e intensidades maiores (picos de ruídos) sejam selecionados como possíveis pontos de vazamentos. A posterior execução da Pesquisa e Detecção de Vazamentos deverá ser realizada de acordo com o procedimento ABENDE-PR-051, que trata dos profissionais certificados em pesquisa e detecção de vazamentos não-visíveis em redes pressurizadas. Importante: A demora ou a não execução dos serviços de reparo do vazamento detectado pelo A.R. traz uma série de transtornos: • Contribui com o aumento do índice de perdas; • Interrompe a seqüência dos trabalhos de coleta e análise de dados dos ARs; • Desmotiva as equipes de pesquisa e detecção de vazamentos não-visíveis; • Interrompe a coleta de dados e localização de novos vazamentos; Os serviços de reparo devem ser executados imediatamente após a identificação dos vazamentos de forma que os A.R. possam prosseguir apontando a existência de novos vazamentos na área. Nem toda indicação do A.R. significa vazamento, podem existir casos em que agentes externos falseiam os resultados; portanto, quando for detectado um A.R. com suspeita de vazamento espera-se que essa informação também seja identificada por outros A.R.s próximos, caso contrário, pode significar que o aparelho, que está acusando o vazamento, pode estar sofrendo interferência local. Tal suspeita é confirmada pelo método de pesquisa convencional que inclui o uso dos equipamentos acústicos de pesquisa e detecção de vazamentos não-visíveis – ABENDE PR-051. Os A.R.s não devem ser retirados até a conclusão dos serviços de reparo, devendo permanecer nos locais pré-determinados até a formação de um histórico de dados coletados, para que seja possível mapear e conhecer a área analisada. 4.3.1. Cronograma de Trabalho dos A.R.s O cronograma de trabalho que define as etapas de aplicação do A.R. foi desenvolvido com a finalidade de otimizar as atividades e padronizar a seqüência dos trabalhos. A equipe mínima necessária para a execução dos trabalhos deve ser de dois profissionais de pesquisa e detecção de vazamentos não-visíveis com Certificação ABENDE (Associação Brasileira de Ensaios Não-Destrutivos). Saneas / dezembro 2003 – 35 A Sabesp Inova Gráfico 1 A.R. instalados 1ª Coleta com a U.R. em toda a área A.R. + Análise dos dados com os trechos suspeitos 1ª Varredura (pesquisa e detecção de vazamentos) + 2ª coleta com U.R. em toda área Reparo do vazamento 3ª coleta com a U.R. em toda a área + Análise dos dados com os novos trechos suspeitos “N”´varreduras (pesquisa e detecção de vazamentos) + “N”coletas com a U.R em toda área. A.R. armazenando dados FIM 1º dia 2º dia 3º dia 4º dia 5º dia 6º dia “N” dias “N”ciclos até zerar os vazamentos da área Importante: • Todas as etapas do Cronograma de Trabalho dos A.R.s são seqüenciais, portanto, caso alguma não seja realizada, todas as atividades posteriores estarão comprometidas. 5. RESULTADOS PRELIMINARES GERADOS PELA SABESP A seguir serão apresentados alguns resultados obtidos com o uso dos A.R.s nas Unidades de Negócios da RMSP. 5.1 Área da Unidade de Negócio Centro • Dados: – Extensão total da área => 4km – Equipe: dois profissionais Gráfico 2 – Avaliação da utilização dos A.R.s 15 20 • 1ª Etapa com pesquisa convencional sem A.R.s – Total de vazamentos encontrados e reparados => 15 (quinze) vazamentos • 2ª Etapa com pesquisa convencional com A.R.s – Instalação de 40 A.R.s; – Total de vazamentos encontrados e reparados na 1ª leitura => 6 (seis) vazamentos; – Extensão de pesquisa => 2km; – Total de vazamentos encontrados e reparados na 2ª leitura => 1 (um) vazamento; – Extensão de pesquisa => 500m; – Total de vazamentos encontrados e reparados na 3ª leitura => 0 (zero) vazamento; – Extensão de pesquisa => 0m; – Diminuição da extensão a ser pesquisada em torno de 50 a 80% da extensão total da área de atuação dos A.R.s. 5.2 Área da Unidade de Negócio Norte 5.2.1 Área 1 – Atividade de pesquisa convencional com A.R.s • Dados: 12 A.R.s instalados em uma pequena área; 18 Vazamentos locados 16 14 6 12 10 1 8 6 4 0 • Principais Resultados: – Identificado o vazamento de 100 mm (rede) que estava sendo encoberto por um vazamento de ramal; – A primeira varredura com os A.R.s fora detectados vazamentos de baixa vazão; 2 0 1ª leitura 2ª leitura Pesquisa sem A.R.s 36 – Saneas / dezembro 2003 3ª leitura Pesquisa com A.R.s 5.2.2 Área 2 Atividade de pesquisa convencional com A.R.s A Sabesp Inova Gráfico 3 – Avaliação da utilização dos A.R.s 50 mont 45 40 3 (m /h) 35 29 m³/h 30 25 jus 20 mín. not* 15 16 m³/h 10 5 0 20/02 14/03 • Dados: – Extensão de rede de F.º F.º : 9,3km; – Vazão mínima noturna de 29 m³/h; – 186 A.R.s instalados; • Principais Resultados: – Total de vazamentos não-visíveis reparados => 50 vazamentos entre redes e ramais; – Total de vazamentos consertados por km de rede => 5,4; – Vazamentos consertados por km de rede varrido => 3,8; – Vazão mínima noturna recuperada (média entre 2 e 4h) => 13 m³/h; – Recuperação de pressão no ponto crítico de 5mca; O gráfico 3 demonstra a diminuição da vazão mínima noturna de 29m³/h para 16m³/h com a utilização do A.R. 5.2.3 Área 3 Atividade de pesquisa convencional com A.R.s • Dados: – Extensão de rede: 23,8 km; – N.º de A.R.s: 232 A.R.s instalados; • Principais Resultados: – Total de vazamentos não-visíveis confirmados => 83 vazamentos em 3 varreduras executadas; 6. Vantagens e Benefícios A utilização dos A.R.s garante alguns aspectos positivos, como segue: 04/04 15/04 29/04 07/05 – Diminuição de 50 a 80% da extensão total da área na pesquisa convencional (geofonamento); – Indicação de novos vazamentos com o A.R. (10dB a 40dB) não detectados pela pesquisa convencional (40dB a 100dB); – Diminuição da vazão mínima noturna de 3 a 5% em comparação à pesquisa convencional; – Otimização do tempo de trabalho para que a equipe de detecção possa estar envolvida em outros projetos; – Eliminação total da quantidade dos vazamentos da área monitorada; – Motivação da equipe envolvida com os trabalhos. 7. Conclusão A tecnologia apresentada neste artigo é utilizada em alguns países, sendo muito recente no Brasil e aplicada pioneiramente na Sabesp, agregando grandes valores aos serviços de detecção de vazamentos não-visíveis, permitindo atuar com eficácia em campo, aumentar a produtividade e obter bons resultados na área de pesquisa e detecção. 8. Bibliografia Tardelli, Jairo Filho; Torre, Edson Almeida; Padilha, Paulo Sérgio; Manual de Operação de Armazenador de Ruídos, desenvolvido pelo Departamento de Planejamento Integrado – MPI. Intranet Sabesp / novembro de 2003. Saneas / dezembro 2003 – 37 P&D ENTREVISTA O saneamento lado a lado com o meio ambiente Para o engenheiro Hugo Marques da Rosa, saneamento e meio ambiente andam de mãos dadas, numa relação de intrínseca dependência F Entrevista ormado em engenharia de produção pela Escola Politécnica, da Universidade de São Paulo, o engenheiro de produção Hugo Marques da Rosa fala, com experiência, das engrenagens que mantém o setor de saneamento no Estado. Diretor presidente da Método Engenharia, Hugo Marques da Rosa deixou sua empresa de lado, por alguns anos, para se dedicar ao cargo de secretário de Recursos Hídricos, Saneamento e Obras do Estado de São Paulo, de janeiro de 1995 a novembro de 1998, durante a gestão do governador Mário Covas. Atualmente, o engenheiro é também vice-presidente do Conselho do Greenpeace Brasil e membro do Conselho Curador da Fundação Mario Covas. O período no setor público lhe rendeu experiências valorosas, que ele conta nesta entrevista. Quais as questões que envolvem o saneamento e o meio ambiente? Há uma profunda inter relação entre recursos hídricos e meio ambiente. De um lado, os serviços de saneamento dependem dos suprimentos de água bruta e de boa qualidade, da preservação e da qualidade das áreas de mananciais. E a qualidade das águas de mananciais tem a ver com tudo que acontece na bacia hidrográfica. Os corpos d’água, os rios, os reservatórios acabam sofrendo tudo o que acontece dentro do território da bacia: obras, o lixo da cidade. O serviço de saneamento no início do seu ciclo – na captação - depende de água de boa qualidade. Por outro lado, essa água depois de distribuída e utilizada pela população e captada pelo esgoto, retorna ao meio ambiente. E é importante que retorne em condições adequadas. O saneamento precisa da preservação do meio ambiente como pode ser um agente poluidor se o processo não for feito 38 – Saneas / dezembro 2003 de forma adequada. Acho fundamentalmente, que a legislação ambiental está correta. Não vejo problemas nisso. A questão é como se aplica a legislação. E aí o que ocorre é quando se parte de uma situação aonde, aqui no Brasil, na maior parte das regiões, até algum tempo atrás, havia muito pouca coleta de esgoto e muito menos ainda era tratado, estava numa situação de franca agressão ao meio ambiente. E que vinha, inclusive, do próprio setor de saneamento. Haviam municípios que jogavam esgoto in natura nos corpos d’água de outros municípios, que captavam essa água rio acima. O desejável é que todos os esgotos sejam tratados e que a qualidade do tratamento seja feita de forma adequada e de maneira que a qualidade do que seja jogado no corpo d’água seja compatível. A questão é que isso não se faz espontaneamente. Isso demanda tempo e recurso. Isso tem que ser entendido no tempo. Ao partirmos de uma situação irregular, aquilo não se torna regular espontaneamente. Demanda um tempo para ser realizado. Tem que acordar o que é razoável em matéria de tempo. Quando eu estava na secretaria de recursos hídricos, a nossa preocupação fundamental era o ser humano. E isso se traduz em ter água potável. A nossa primeira prioridade em termos de saneamento foi a universalização do abastecimento de água. Mesmo porque a grande parte das doenças no Brasil, ainda hoje, são doenças de veiculação hídrica. A universalização da distribuição de água potável está ligada à redução dos índices de mortalidade infantil. Porque a criança é a ponta mais indefesa dessa situação. A segunda prioridade foi o afastamento do esgoto. Se o esgoto causa problema ao ser lançado sem tratamento no rio, ele causa muito mais dano quando corre em céu aberto numa rua, onde pessoas e crianças transitam. A segunda prioridade foi então a coleta e o afastamento do esgoto. E, a terceira, o tratamento deste esgoto. Do ponto de vista técnico não dá pra ser diferente: os investimentos têm de ser feitos nesta ordem, de universalização, afastamento e tratamento do esgoto. Entrevista O que observei neste período recente é que houve um enorme avanço do Estado de São Paulo nestes três itens. Hoje, nos municípios que são atendidos pela Sabesp, esses itens já são uma realidade – salvo aqueles que estão em situação irregular. O que precisa de maneira geral é interligar os sistemas coletores a estações de tratamentos. Avançou-se muito, mas ainda há um caminho a ser feito. E, de outro lado, aí sim, é uma coisa que devíamos questionar, estão as limitações que existem de acesso à capacidade de investimento dos serviços de saneamento, tanto dos municípios quanto da própria Sabesp. De um lado há uma obrigação legal de coleta e tratamento de esgoto, de universalizar o serviço de abastecimento de água e, de outro lado, há limitações para a capacidade de endividamento do setor público, por conta dos famosos acordos do FMI (Fundo Monetário Internacional). Isso emperra as empresas estatais de investir, mesmo que existam condições técnicas para isso. As leis ambientais seriam muito rígidas? Não acredito nisso. O que acontece é mesmo a falta de investimento. Hoje, no Estado de São Paulo, a capacidade de endividamento existe no seu conjunto: o endividamento da CESP afeta a capacidade de endividamento da Sabesp. Existe uma amarração neste aspecto no setor público que acaba afetando o setor de saneamento e, de quebra, a ambiental. A lei impõe obrigações de um lado e, de outro, existem restrições que impedem que aquilo seja atendido. E muitas vezes quem está no meio desta situação é o administrador público ou o engenheiro da Sabesp, obrigado a cumprir uma lei ambiental, mas sem recursos para investir. Isso limita a capacidade de ação. Quais são os grandes desafios no setor do saneamento? O grande desafio, no Brasil, ainda é avançar na questão institucional. Avançamos no ponto de vista técnico, mas paramos no aspecto institucional. É uma discussão tão complicada quanto a reforma da previdência e a tributária. Mas precisa ter uma definição. Precisamos avançar com a questão do marco regulatório – quem é o poder concedente –, ter uma definição clara federal, que envolve, eventualmente, lei complementar, emenda constitucional. E depois temos que evoluir também na questão dos entes reguladores – criado no setor elétrico e de telecomunicações, por exemplo. O saneamento continua a mercê, não está submetido a nenhuma regu- lação. Ou fica ao arbítrio político ou atendendo aos interesses corporativos. A grande questão – e a primeira — é a institucional. E este é um processo de aprendizado, de aquisição de conhecimento, que pode demorar décadas. Como o senhor vê a parceria entre público e privado? É fundamental. Hoje temos que pensar sempre em integrar os três setores: público, privado e o terceiro setor. E essa integração tem que acontecer sempre. Ao conseguir fazer parcerias, a ação se torna mais eficaz. O que a experiência no setor público agregou para o seu atual trabalho no setor privado? Fundei minha primeira empresa nos tempos da faculdade e sempre trabalhei na minha própria empresa. Eu nunca tinha tido a experiência de trabalhar numa outra organização. No governo do Estado, pude ter a experiência de atuar numa organização diferente na minha própria organização. A complexidade dentro do governo é muito maior. Assim como o número de atores. E tudo o que se faz tem que ser negociado: com a comunidade, com as corporações, com o setor público, a área política do governo. Você está sempre muito exposto. O processo de tomada de decisão é muito mais complexo. Quando tomo uma decisão na minha empresa, divido apenas com meu sócio ou acionistas da empresa, que tem interesses mais alinhados. É mais fácil. No setor público, os interesse, muitas vezes, são conflitantes. E o processo é de acordos, de costura de grandes acordos, de negociação. Isso faz com que se aprenda a trabalhar numa situação em que você nunca pode impor, mas, sim, ouvir muito e negociar muito. A outra coisa é que sempre no setor público, obviamente, é preciso ter em vista o interesse público. A Sabesp leva em conta o acionista, o governo, mas, principalmente, a população. E aí a questão da responsabilidade social fica muito mais forte. O que é responsabilidade social para o empresariado? No passado, quando se falava em responsabilidade social, era sempre a empresa patrocinando algo. Como doar uma creche, a reforma de uma praça. Estava muito ligado ao dar. Hoje quando a gente faz alguma coisa, procuramos envolver a todos: clientes, colaboradores internos. Tem que ser realmente uma ação estratégica da empresa e não apenas filantropia. Saneas / dezembro 2003 – 39 EMPREENDIMENTO & GESTÃO Conferência das cidades José Aurélio Boranga Empreendimento & Gestão A Conferência das Cidades tem o objetivo de formular democraticamente diretrizes para a política nacional de desenvolvimento urbano, de forma a promover a inclusão social e assegurar um ambiente com qualidade, onde haja saúde, liberdade e segurança . Trata-se de um processo muito importante, uma vez que debate as principais questões do saneamento e do meio ambiente (entre outras questões, como habitação, mobilidade urbana etc) nas esferas municipal, estadual e nacional, através da participação de membros eleitos no Conselho Nacional das Cidades. No Estado de São Paulo, coube à Secretaria de Economia e Planejamento do Governo do Estado a coordenação, num processo participativo que elegeu 222 delegados para Conferência Nacional, ocorrida entre os dias 23 e 26 de outubro de 2003, com a participação de 2.500 delegados de todo o Brasil. Devemos destacar que, no caso do Estado de São Paulo, graças a Comissão Preparatória Estadual, houve um trabalho exemplar de interação entre o Poder Público, ONG`s, entidades de pesquisa, sindicatos, empresários, concessionárias de serviços públicos, movimentos sociais e populares. A Sabesp mostrou seu poder de mobilização e articulação, conseguindo levar representantes para todas as vagas, e o resultado disto é uma maior representação do setor de saneamento, possibilitando a discussão e a articulação junto a outros setores na defesa da tese do saneamento com gestão pública. A importância da Conferência das Cidades para o Saneamento é a oportunidade que temos de traçar diretrizes e iniciar um processo que venha efetivar, de forma séria e responsável, o acesso ao abastecimento de água e esgotamento sanitário a todos os brasileiros, promovendo a universalização do saneamento. É a chance que temos de apontar soluções mais abrangentes para temas como, por exemplo, o tratamento da gestão de resíduos e drenagem urbana, priorizando o atendimento às famílias de baixa renda e as comunidades localizadas em pequenas cidades e regiões rurais. Neste sentido a participação da Sabesp é fundamental, trazendo a experiência e o conhecimento de um modelo de gestão que deu certo. A utilização de instrumentos de inclusão social como o subsídio cruzado, modelos de gestão participativa, processos de qualidade, entre outros, estarão sendo disponibilizados para todas as outras Companhias de Saneamento, trazendo uma grande contribuição para que, um dia, todos os brasileiros possam ter assegurado o seu direito ao saneamento ambiental e ao abastecimento de água com qualidade. Nota da Redação: Por deliberação da 1ª Conferência Nacional das Cidades foi composto o Conselho Nacional das Cidades com 70 titulares e 70 suplentes representantes do: Poder Público Federal, Estadual e Municipal (30); Movimentos Populares (19); Empresários (7); Trabalhadores (7); Entidades Profissionais, Acadêmicas e Pesquisa (4); ONG (3). A Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério da Cidades e a ABES são as entidades, diretamente ligadas ao setor do saneamento, que participam desse conselho. Informações sobre a Conferência das Cidades podem ser obtidas no endereço: http://www.cidades.gov.br/ Administrador de Empresas, Superintendente da Unidade de Negócio Alto Paranapanema, Ex-Pre- sidente da ABES/SP, Conselheiro da ABES/SP, Conselheiro da APU, Conselheiro do CONESAN (Conselho Estadual de Saneamento) e Conselheiro do CRH (Conselho de Recursos Hídricos SP). 40 – Saneas / dezembro 2003 HISTÓRIA DO SANEAMENTO Água subterrânea em São José dos Campos História do Saneamento Celso Atienza Jorge Luiz Monteiro Mario Pero Tinoco Mauricio Rocha Junior Sonda percursora utilizada para perfuração de poço tubular profundo em Lorena em 1974. A água tem sido, ao longo dos séculos, elemento de destaque, estudos e de fundamental importância para a sobrevivência dos povos desde a criação do mundo. Pela sua importância, a própria Bíblia registra este assunto mais de 70 vezes. Através da água, o relevo da Terra foi se amoldando, nas suas diferentes épocas. Moisés, grande figura bíblica, utilizou a separação das águas para salvar o povo judeu da perseguição e escravidão egípcia. No deserto, os oásis são fonte de água para dessedentar peregrinos e viajantes. As bacias hidrográficas dos rios mais antigos do mundo, como o rio Amarelo, na China, Hindo, no Paquistão, Tigre e Eufrates, na Mesopotâmia, e rio Nilo, no Egito, são muito conhecidas e há milênios exercem grande influência na formação da civilização humana moderna (Rocha, 1997). As comunidades, desde as antigas aldeias e, até hoje, as grandes cidades, têm sido construídas e cresceram a margem de rios e lagos. Ao longo dos séculos, a água tem ocasionado lutas entre povos. Sua escassez, nas próximas décadas, em muitos lugares do mundo a tornará um bem de custo altíssimo e, com certeza, motivo de discórdia e guerras entre nações. Engenheiro Civil, Univ. de Mogi das Cruzes, 1974. Pós-Graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, Univ. Santa Cecília/SP, 1975. Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2001/2003 Engenheiro Civil, UNITAU, 1985. Pós-Graduação em Estruturas e Mecânica dos Sólidos, ITA –Instituto Tecnológico de Aeronáutica, 1986/1987. Pós-Graduação em Engenharia Sanitária, UNITAU, 1996 Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004 Engenheiro Mecânico, UNESP/Guaratinguetá, 1970. Engenheiro Civil, UNIVAP, 1974. Pós-Graduação em Engenharia Sanitária, UNITAU, 1996. Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004 Engenheiro Agrônomo – Universidade Federal de Lavras/MG – 1998 Mestrando em Ciências Ambientais, UNITAU – 2002/2004 Saneas / dezembro 2003 – 41 História do Saneamento Perfuração do poço Jardim Morumbi em São José dos Campos em 1976 Mas, se nos atentarmos para qual é o papel da água ao longo dos períodos na civilização humana, vamos concluir que além de elemento vital para cada um de nós, a água é instrumento de saúde pública, de integração de povos, de demarcação de limites geográficos, fator de controle climático, instrumento de lazer, e, principalmente, representação do índice de cultura e desenvolvimento dos povos. Dentro desse panorama e considerando que a água subterrânea tem papel importante como fonte de abastecimento das comunidades, o propósito deste projeto é mostrar o incremento da utilização da água subterrânea em São José dos Campos (SP) e as prováveis alterações havidas em seus parâmetros indicativos (profundidades, níveis, vazões, etc.). Paralelamente a esses estudos, trabalhamos também com a interferência dos ruídos na utilização dos equipamentos de perfuração, ao longo da história. Inicialmente com as máquinas movidas a vapor, posteriormente com as acionadas a gasolina e a eletricidade e, modernamente, com as movidas a diesel. O Vale do Paraíba, tradicionalmente uma região de origem agrícola, sempre teve na captação superficial sua principal fonte de abastecimento. No entanto, com o desenvolvimento urbano dos últimos quarenta anos, a maioria das indústrias e algumas cidades paulistas, como São José dos Campos, Caçapava e Lorena, iniciaram uma diversificação na forma de obtenção de mananciais de abastecimento 42 – Saneas / dezembro 2003 e, atualmente, são fortemente abastecidas por águas oriundas do subsolo e com excelente potencial (Frangipani e Pannuti, 1965). São José dos Campos, hoje, tem cerca de 40% de seu abastecimento público proveniente de poços profundos, quase todos instalados em bairros distantes do centro da cidade formando Sistemas Isolados (Tinoco, M.P., et al, 1993). Também a maioria das indústrias são totalmente abastecidas por poços profundos (DAEE, 1977). História e Características de São José dos Campos É sempre difícil estabelecer datas e locais para as origens das cidades brasileiras, principalmente as que remontam as primeiras investidas dos Jesuítas e dos Bandeirantes. Normalmente foram estabelecidas a partir de núcleos indígenas locais. É o que supostamente aconteceu com São José dos Campos. De acordo com a “Enciclopédia dos Municípios Brasileiros” (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, volume XXX, 1958) páginas 192 e seguintes, “a povoação teve o seu começo na segunda metade do século XVI, por um aldeamento de parte da tribo de índios guaianases, emigrados de Piratininga, sendo fundada no alto do Rio Comprido, à distância de dez quilômetros da atual cidade, pelo Padre José de Anchieta, sendo esse lugar, até hoje, conhecido História do Saneamento com a denominação de “Vila Velha”. Em cartas escritas pelo Padre Anchieta, ele relata o aparecimento em 1563 de um núcleo indígena que se denominava “Aldeia do Rio Comprido” (Agê Júnior, 1978). Por volta de 1590, o território onde hoje está localizada a divisa entre as cidades de São José dos Campos e Jacareí, às margens do Rio Comprido, era ocupado por uma fazenda de pecuária, criada, a partir da concessão de Sesmarias, a pedido dos Padres Jesuítas. A propriedade era um artifício dos Padres para ocultar dos bandeirantes uma Missão Catequética que, somente em setembro de 1611, foi oficializada pela legislação. Esse reconhecimento da missão desagradou aos colonos, que necessitavam da mão de obra indígena. O resultado do conflito entre colonos e religiosos culminou com a expulsão dos jesuítas em 1640 e a conseqüente extinção da missão. Alguns anos mais tarde, os religiosos reapareceram no Vale do Paraíba, em nova Sesmaria, distante cerca de cinco quilômetros da antiga aldeia, onde hoje se encontra o centro comercial de São José dos Campos (atual Igreja e Praça da Matriz). Do novo local tinha-se uma visão privilegiada da área, o que garantia maior segurança contra invasões e enchentes. Em meados do século XIX, a então Vila de São José do Parahyba já demonstrava alguns sinais de crescimento econômico e com o desenvolvimento da agricultura, em 1864, foi elevada a cidade. O nome de São José dos Campos só foi adotado em 1871. No final do século XIX, a cidade passou a ser procurada por doentes do pulmão por seu clima favorável. Por volta de 1940, o lugar é quase uma cidade-sanatório. A descoberta da penicilina revolucionou o tratamento da tuberculose e, a partir de 1955, a cidade voltou a crescer, já começando a aparecer as primeiras indústrias de porte. Curiosamente, por volta de 1935, a cidade foi Estância Hidromineral e Climática. Na década de 70, por conveniência política, voltou a ser Estância Hidromineral, com a implantação forjada de uma fonte milagrosa de água e depois de reconquistada a emancipação política, perdeu a categoria de Estância. A fonte voltou a ser comum e até hoje é conhecida como Fonte Canidu. Quanto ao abastecimento público de água da cidade, data de 1941. Os primeiros estudos foram realizados entre 1938 e 1939, com previsão de atendimento para vinte anos (Tinoco, M.P., et al., 1990). Com uma localização estratégica e privilegiada, São José dos Campos está no centro do Vale do Paraíba, região sudeste do Estado de São Paulo, entre as duas mais importantes capitais do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro. São José dos Campos tem uma área de cerca de 1.102,20 km², sendo que 60% destes estão localizados em Área de Proteção Ambiental e, por estar situada entre as serras do Mar e da Mantiqueira, permite que apresente um clima bastante agradável durante o ano inteiro. A cidade é formada por três distritos: a sede principal, Eugênio de Melo e, ao norte, São Francisco Xavier. Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul se estende por territórios pertencentes a três Estados da Região Sudeste, numa área de drenagem total de 57 mil km²: São Paulo (13.605 km²), Rio de Janeiro (22.600 km²) e Minas Gerais (20.500 km²). O Rio Paraíba do Sul é formado pela confluência dos rios Paraitinga e Paraibuna, no Estado de São Paulo. Da Serra da Bocaína, nos municípios de Areias e São José do Barreiro, a 1.800 m de altitude, desce o rio Paraitinga rumo a sudoeste em vale estreito e encaixado entre a serra do Mar e seus contrafortes (Serras da Bocaína, Quebra-Cangalha e Jambeiro). Num vale proximamente paralelo ao primeiro, a partir do município de São Luiz do Paraitinga, desce o rio Paraibuna. Eles se encontram próximos a cidade de Paraibuna, e de sua junção nasce o Rio Paraíba do Sul. Após, o rio continua em direção ao Oeste, até as proximidades da cidade de Guararema, onde é barrado pela Serra da Mantiqueira, no chamado “Cotovelo” de Guararema (Teixeira et al, 2001) que o obriga a inverter completamente o rumo de seu curso, passando a correr para Nordeste, depois, para Leste, indo desaguar no Oceano Atlântico, em Atafona, distrito de São João da Barra (RJ). No trecho paulista da bacia, seus principais afluentes são os Rios Jaguari, Una, Buquira, Embaú, Piquete, Bocaína e Pitangueiras/Itagaçaba. Em São Paulo, a bacia é constituída por 34 municípios pertencentes a Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Dentre esses municípios, São José dos Campos é um dos mais importantes e recebe diretamente a interferência e influência da bacia, através do rio Paraíba, dos reservatórios de Santa Branca e Paraibuna/Paraitinga, bem como de seus prinSaneas / dezembro 2003 – 43 História do Saneamento sas profundidades e retiradas através de poços. Algumas das mais remotas referências à água subterrânea são registradas na Bíblia. Embora existam várias teorias a respeito da ocorrência das águas subterrâneas, o conceito geral é o de que tudo se inicia com o ciclo da água na terra, ou Ciclo Hidrológico. É a contínua circulação da umidade e da água em nosso planeta. Não tem início nem fim, mas começa com as águas dos oceanos, uma vez que cobrem cerca de 3/4 da superfície terrestre. É uma equação simples e lógica, ou seja, evaporação, precipitação, escoamento superficial, infiltração e evaporação. Os agentes principais nesse processo são a irradiação solar, a gravidade, a atração molecular e a capilaridade. Reservatáorio do poço tecelagem Paraíba em São José dos Campos. cipais afluentes, destacando-se os rios Jaguari e Buquira. São José dos Campos está inserido na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e sua participação ativa desde a implantação do Comitê das Bacias Hidrográficas do Rio Paraíba do Sul (CBH/PS), bem como sua contribuição para o pleno desenvolvimento do Comitê já está começando a se fazer sentir na preservação de seus recursos hídricos, permitindo no futuro o uso racional da água, principalmente nesta região. O aumento nos índices de coleta de esgotos, a Estação de Tratamento de Esgotos do Lavapés, as canalizações que compõem o emissário do Córrego Senhorinha, o emissário do Vidoca (a ser contratado brevemente), e a reversão das bacias para atingir cerca de 90% do tratamento de esgotos da cidade são frutos diretos da atuação do município no referido Comitê e a preocupação permanente com a qualidade da Bacia. Água Subterrânea Origens e ocorrência As águas subterrâneas correspondem a 97% de toda a água doce encontrada no planeta (excetuando-se as geleiras e calotas polares). As reservas subterrâneas geralmente são formadas e realimentadas pelas águas de chuvas, neblinas, neves e geadas, que fluem, vão sendo absorvidas e filtradas pela areia e pelas rochas, que funcionam como peneiras. Lentamente as águas vão descendo e se acumulando, formando reservatórios naturais como se fossem lagos. As águas subterrâneas são encontradas em diver- 44 – Saneas / dezembro 2003 Equipamentos de perfuração de poços – Histórico, Desenvolvimento e Melhoria Acústica Os primeiros vestígios da utilização das águas subterrâneas datam de 12 mil anos antes de Cristo e acredita-se que os chineses foram os primeiros a dominar a técnica de perfurar poços (Sabesp, 2002). Os antigos persas construíram túneis e poços para atingir lençóis aqüíferos. Os chineses estavam bastante familiarizados com métodos de perfuração que lhes permitiam obter água do subsolo, e consta que foram os primeiros a usar o método da percussão para perfuração de poços. Através de um pórtico feito de bambu, sustentavam uma vara com ponteira de ferro e com ajuda de um cinzel batiam para perfurar o poço. A perícia revelada na construção do poço de José, no Cairo, o faz um dos mais conhecidos dentre os poços antigos. Escavado em rocha sólida, foi construído em duas partes: uma superior, com cerca de 50 m de profundidade e secção de 5,50 m por 7,30 m e outra inferior, com cerca de 40 m de profundidade, perfazendo ao todo uma profundidade de 90 m. A água era levantada por meio de caçamba sobre uma corrente sem fim. As do poço inferior eram acionadas por jumentos, que se moviam em uma câmara no fundo do poço superior (Puppi, I.C. - 1978). O interesse geral na perfuração de poços, substituindo a escavação, foi despertado no século XII, quando se perfurou com sucesso um poço em Artois, França, em 1126. A palavra “ARTESIANO” deriva do nome dessa localidade. Os relatos sobre tecnologia para perfuração de poços começaram a ser registrados com História do Saneamento mais freqüência a partir de 1800, com o surgimento de jornais, revistas, catálogos, etc. Em 1808, foi perfurado o primeiro poço nos Estados Unidos pelo método de percussão, em Buffalo Lick, Virgínia. Alguns êxitos foram alcançados na França e prosseguiram com perfurações profundas na Inglaterra e na Alemanha. Alguns desses poços eram de grandes dimensões e proporcionaram aos geólogos oportunidade de examinarem a crosta da terra em profundidades relativamente grandes. Um dos pioneiros da moderna indústria de equipamentos para poços profundos, foi John W. Miller. Em 1855, ele fundou a Star Drilling Machines Corporation (Hinks, D.; 1997), em Akron, Ohio (EUA) e que se tornou a pioneira na construção de equipamentos para perfuração de poços naquele país, pioneiro no desenvolvimento das firmas de equipamentos para poços. Entre 1884 e 1889, surgiu uma das primeiras perfuratrizes móveis, acionada a vapor, o que deveria ser um avanço para a época. Em 1904, os catálogos da Star Drilling já mostravam mais de 20 modelos diferentes de perfuratrizes, com capacidade para atingir de 45 a 900 m de profundidade, o que para essa época era uma verdadeira ousadia, visto que somente em 1912 é que surgiram as primeiras máquinas acionadas a gasolina e, logo depois, a diesel. Em 1930, a Star Drilling criou um dos mais modernos equipamentos para perfuração de poços profundos, a conhecida “SPEED STAR”. Um avanço tecnológico sem paralelo. Em 1941, durante a segunda guerra mundial é que surgiram as máquinas rotativas, utilizadas na perfuração de poços profundos para abastecimento de água potável das tropas em litígio. Em 1989, a George Failling Corporation, construtora das famosas máquinas Failling, adquiriu o acervo das sucessoras da Star Drilling, e se tornou praticamente a maior empresa produtora de equipamentos e ferramentas para poços profundos, no mundo, tendo como linha de frente a Speed Star e as Failling (Hinks, D.; 1997). No Brasil, até meados da década de 1980, boa parte dos equipamentos para poços eram importados dos Estados Unidos, da Suécia e da Alemanha, até começarem a ser desenvolvidos pelas empresas nacionais. Dos Estados Unidos, foram importadas as perfuratrizes Speed Star, Failling, Joy, Aquadrill. Da Alemanha, as Wirth. Os equipamentos usados pela Companhia T. Janer (uma das maiores empresas do país até a década de 1980) para perfuração de seus poços, foram quase todos importados da Suécia. Entre as inúmeras empresas nacionais surgidas na esteira do desenvolvimento das perfurações de poços profundos, podemos citar a Tringil, a Wirth Latina e a Prominas BrasIL. No Rio Grande do Sul, também se desenvolveram algumas empresas, no entanto, entre todas elas a Prominas BrasiL foi a que mais se aparelhou e cresceu tecnicamente. Fundada em 1953, começou com perfuratrizes a percussão, passou para as máquinas mistas, depois para as rotativas e evoluiu para as rotopneumáticas, além de todo o ferramental para perfuração. Antes das empresas nacionais iniciarem seu desenvolvimento na construção de equipamentos e ferramental para poços profundos, o que se tinha era verdadeiramente resultado de puro artesanato. As máquinas eram acionadas por motores a gasolina, ou, as vezes, a diesel, e seu acionamento era feito através de correias e polias. Boa parte das transmissões eram feitas com peças de tratores ou caminhões e, nem sempre, eram novas. Na maioria das vezes, eram adaptações grosseiras, o que originava muitos ruídos, chegando a ocasionar lesões irreversíveis nos operadores. Todos esses fatores faziam com que as perfurações, além de imperfeitas, se tornassem demasiadamente demoradas. Os poços levavam, as vezes, semanas ou mesmo meses para ficarem prontos, para desespero dos perfuradores e dos próprios clientes. Com o desenvolvimento da indústria petrolífera nacional, as empresas de perfuratrizes e de equipamentos para perfuração tiveram um vertiginoso crescimento e, hoje, o mercado Primeiro poço perfurado em São José dos Campos na Tecelagem Paraíba em 1932, ainda em operação Saneas / dezembro 2003 – 45 História do Saneamento - o próprio equipamento - a transmissão por correias - os componentes da máquina - as engrenagens - as bombas - a própria perfuração (hastes e compressores) Com a evolução desses equipamentos, eles passaram a ser acionados por gasolina, eletricidade ou diesel e, aí, os ruídos passaram a ter como fonte: – – – – o próprio equipamento mancais e rolamentos fricção dos anéis fricção acidental de componentes dos estatores e rotores – ruído devido a componentes soltos Caminhão com perfuratriz rotopneumática sem ruídos Perfuratriz rototiva por compressão nacional atende as empresas de poços artesianos com sucesso. Os poços passaram a atender um padrão de qualidade na sua execução e os tempos foram reduzidos assustadoramente, a ponto de, hoje em dia, levarem de dois a cinco dias para ficarem prontos e em condições de operação, dependendo do material perfurado. Com a evolução tecnológica, vários trabalhos foram desenvolvidos com o objetivo de predizer a potência sonora das máquinas e equipamentos industriais. No passado, os ruídos provocados pelos equipamentos de perfuração de poços acionados a vapor, podiam ser destacados como: Comparativamente aos equipamentos de perfuração produzidos entre 1880 e 1970, os produzidos a partir de 1970 são muito menos ruidosos. Além da modernização dos componentes, embora acionados por motores mais possantes e associados a grandes compressores, as transmissões nesses equipamentos tem maior qualidade, boa parte de seus mecanismos são automáticos, os lubrificantes são melhores e isso tudo gera menos ruído. Para os operadores, a gama de equipamentos de proteção individual (EPI) tem minimizado os efeitos dos ruídos de forma bem satisfatória. Para que o estudo tivesse resultados mais precisos e numericamente expressíveis, seria interessante dispor de medições do passado para compará-las com um equipamento rotopneumático de última geração. Como não foi possível, procuramos contatar perfuradores e operadores que induziram a conclusão pela melhoria acústica dos novos equipamentos. É claro que nem todas as empresas dispõem de novos equipamentos, mas as que tiveram oportunidade de atualizar seu acervo técnico, com certeza, obtiveram melhoria para seus funcionários e principalmente para seus clientes. Poços profundos em São José dos Campos – Cadastro e localização A história da água subterrânea em São José dos Campos deveria, ou poderia ser dividida em três fases bem distintas: a primeira com início na década de 1930 com a perfuração do primeiro poço cadastrado, na antiga Tecelagem 46 – Saneas / dezembro 2003 História do Saneamento Parahyba; a segunda que vai até os anos 1970 e coincide com a inauguração da nova Estação de Tratamento de Água da cidade e o sonho de que não haveria mais necessidade de se perfurar poços profundos, uma vez que a água aduzida do Rio Paraíba seria suficiente para o abastecimento da cidade para os próximos trinta anos; e a terceira, real, que revendo os parâmetros e projetos, necessitou das perfurações por diversos motivos, sendo o principal deles o crescimento populacional e o surgimento de bairros cada vez mais distantes do centro da cidade, bem como o desenvolvimento industrial e fabril que a cidade teve ao longo destes últimos trinta anos. Com essas informações, realizamos várias pesquisas e conseguimos cadastrar a maioria dos poços perfurados na cidade, bem como sua localização e seus parâmetros iniciais. Numa etapa seguinte, pretendemos levantar os parâmetros atuais desses poços e montar um mapeamento das alterações havidas ao longo do tempo e identificar as regiões mais propícias ao desenvolvimento das perfurações de poços profundos no município. Hoje, esses dados não são conhecidos de maneira generalizada. A Sabesp possui um excelente cadastro, porém os demais estão parte na ilegalidade e parte restrita aos seus proprietários. Nossa intenção é, num futuro bem próximo, transformar tudo isso em fonte permanente de consulta. Conclusões Ao realizarmos essas pesquisas, destacamos como um dos objetivos do projeto, resgatar e cadastrar os poços perfurados em São José dos Campos, bem como a situação da maioria deles ao longo dos anos e quais perspectivas teríamos com o futuro da água subterrânea na cidade. Ao longo do projeto, surgiu a possibilidade de mostrar que a evolução dos equipamentos de perfuração de poços permitiu grandes reduções nos índices de ruídos gerados. Para tanto, o projeto foi subdividido em três seqüências que nos pareceu bem lógica e produtiva: - Na primeira etapa, situamos a cidade nos seus aspectos de origem, tecnologia e desenvolvimento, bem como sua inserção na Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul; - Na segunda etapa, mencionamos a origem e a ocorrência das águas subterrâneas, considerando que nem todos pudessem ter fami- liaridade com esse tema e sua importância. Também começamos a pesquisar onde e como os equipamentos de perfuração de poços profundos surgiram, como evoluíram nas últimas décadas e como houve redução significativa nos índices de ruídos desses equipamentos; - E, na etapa final, realizamos o cadastro, a listagem cronológica dos poços conhecidos em São José dos Campos, sua localização e seus principais parâmetros. Bomba de lama utilizada para retirada do material de perfuração e refrigeração da broca de perfuração - utilizada em Guararema em 2003 É claro que esse trabalho não se encerra aqui. Há muito que se pesquisar, principalmente na exploração dos lençóis subterrâneos de São José dos Campos. No que se refere aos ruídos, eles atingiram um patamar bem satisfatório nas últimas décadas. No entanto, nossa intenção principal foi a de provocar uma reflexão e um alerta para os projetistas e planejadores que têm caracterizado a exploração dos mananciais superficiais imaginando-os inesgotáveis, em detrimento de uma enorme potencialidade subterrânea que o município possui. Dia a dia estamos nos deparando com uma realidade que nos direciona nesse sentido: o esvaziamento de nossas represas, que tem sido motivo de estudos e objeto de manchetes de jornais e revistas especializadas nos últimos dois anos e a intensificação na colocação de produtos para tratamento, necessário para vencer a guerra da despoluição e obter água potável. Só esses fatores já serão suficientes e preponderantes para o incremento da utilização de poços profundos em São José dos Campos. Saneas / dezembro 2003 – 47 Novidades Novidades Estratégias para um mundo melhor E m seu trabalho, o médico oncologista Karl-Henrik Robert chegou a seguinte constatação: um grande número de pais faria qualquer sacrifício para salvar os filhos, mas o mesmo esforço não seria empregado para salvar o meio ambiente. Partindo disso, o especialista sueco deu início a um longo processo de consultas a cientistas e outras pessoas. O resultado disso é uma estrutura de referência para planejamento estratégico, considerando a sustentabilidade social e ecológica –conteúdo do livro The Natural Step (editora Cultrix, 304 páginas, R$ 40, em média). Na Europa e nos Estados Unidos, poucas organizações têm sido tão influentes quanto esta obra em incentivar e inspirar as pessoas a criar um mundo mais sustentável. Em The Natural Step, o autor conta como essas idéias evoluíram, comenta sobre o drama de “vendê-las” a um mundo, às vezes, relutante e explica o seu potencial para a revolução. Karl-Henrik Robert é professor de teoria de Recursos Materiais, na Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Ele iniciou o movimento The Natural Step em 1989, e continua trabalhando pela sustentabilidade ao redor do mundo por intermédio desse movimento, uma organização com representação em nove países. Em 1999, o médico recebeu o Green Cross Award de Liderança International e, em 2000, o Blue Planet Prize, considerado o “Nobel do Ambientalismo”. Sabesp conquista prêmio em criatividade A empresa de saneamento de São Paulo, por intermédio da Superintendência de Recursos Humanos e Qualidade e Superintendência Técnica, recebeu o “Prêmio APARH Revista Vencer! – de Criatividade no Trabalho”, com o case intitulado “Recursos Humanos e Meio Ambiente, uma Parceria que dá Certo”. O evento de entrega aconteceu em novembro último, dia 17, em São Paulo. Foram avaliados critérios como originalidade, contribuição para a qualidade de vida, efeito na competitividade e contribuição para o espírito de equipe. Estavam entre os finalistas, empresas como Alpargatas, Banco Itaú, Colgate Palmolive, Dow Química S/A, Mapri Textron e SBT. 48 – Saneas / dezembro 2003 Responsabilidade social H ortas Comunitárias, Projeto Areião, Caracol, Teatro de Fantoches, Gota Borralheira são alguns dos programas divulgados na I Mostra de Responsabilidade Social da Sabesp, dia 27 de novembro, em São Paulo. A idéia da Mostra é compartilhar as ações desenvolvidas pela empresa e, assim, conseguir a adesão dos colaboradores. Durante o evento, aconteceram palestras e a apresentação de programas na área de meio ambiente, educação, voluntariado, cultura e comunidade. Reconhecimento Reconhecimento Destaques no setor em 2003 O Geólogo João Carlos Simanke Souza e os Engenheiros Mário Otsubo e Wilton Silva Carneiro, nossos associados, foram homenageados no dia 28 de novembro, como destaques no setor do saneamento básico, no ano de 2003. O Geólogo João Carlos atua na área de hidrogeologia e saneamento básico e está na SABESP desde 1978. Atualmente, é Gerente da Divisão Técnica Operacional em Águas Subterrâneas, que presta apoio à manutenção e operação dos 1200 poços tubulares profundos da Cia. O Engenheiro Mário Otsubo fez carreira na SABESP trabalhando sempre na área de projetos de engenharia. Com especialização em Saúde Pública, também foi professor da Universidade Mackenzie. O Engenheiro Wilton fui Superintendente da Unidade de Negócio do Vale do Ribeira e atualmente é gerente da Superintendência de Gestão de Empreendimentos de Sistemas Regionais. Saneas / dezembro 2003 – 49 Cafezinho Cafezinho Entre tantas histórias de trabalho e empenho, os empregados da Sabesp ainda encontram um tempo para criar “causos” que ao longo do tempo passam a fazer parte da memória que acompanha a vida da empresa. Ao longo desses trinta anos de existência, a Sabesp pode colecionar muitos contos, lendas, prosa e verso, em que os personagens e histórias se confundem com a própria vida de seus criadores. O Jornal Ligação mostrou muitas dessas histórias, como essa a seguir, publicada na edição de novembro de 1990. Lendas e Mistérios de Santa Inês Falar da ESI-Estação Elevatória Santa Inês não significa apenas falar de tecnologia e progresso. Lendas e superstições rondam essa incrível obra da Sabesp construída com a inteligência do homem e pela força da máquina. Foto: Odair Marcos Faria A ESI faz parte do superfície. A beleza é sistema Cantaindescritível, fazendo reira em São Paulo, lembrar um outro um dos maiores promundo. As gigantescas dutores de água do bombas de recalque, mundo. É responsável as paredes sem revespelo bombeamento de timento, as rochas em 33 mil litros de água estado natural e conspor segundo, produtantemente molhadas, zidos nos reservatófazem do local um rios Jaguari-Jacareí, lugar misterioso. Cachoeira, AtibaiNo meio dessa nha e Paiva Castro. gigantesca caverna Através desse bom- Vista das bombas da Estação Elevatória Santa Inês existe um túnel que beamento, a serra da leva a uma nascente. Cantareira é vencida e a água chega, por gra- Conhecida como “Fonte das Águas Milagrosas”, vidade, à estação do Guaraú para tratamento. a lenda diz que a água possui substâncias ou São 48 km de túneis e canais construídos em medicamentos que restauram ou aumentam o rochas e florestas. apetite sexual, influindo diretamente na fertiliIdealizado nos anos 60 pelo engenheiro dade masculina. Diz também a lenda que três Paiva Castro, o Sistema Cantareira foi alvo ou quatro casos já constataram a veracidade do de críticas e discussões. A princípio era visto poder dessas águas. Para outros, a água é tão mais como um sonho do que realidade, mas pura que um simples copo pode melhorar um em pouco tempo a idéia se concretizou e equi- mal estar ou até mesmo uma dor de cabeça. pes de engenheiros e técnicos, com o apoio do Se você estiver interessado em conhecer a governo, colocaram o projeto em prática. ESI, forme uma turma e formalize seu pedido Finalmente em 1973, na época da criação através de memorando, enviando-o à Supeda Sabesp, o Sistema Cantareira entrava em rintendência de Divulgação, coordenadoria de funcionamento. O sonho se tornara realidade Relações Públicas.” e, a partir daí, uma família nascia, a família que deu origem à ESI: um grupo de funcionáEm tempo: o programa de visitas ao Sisrios que até hoje acompanha cada passo dessa tema Cantareira existe há trinta anos e contielevatória. Cada árvore, cada flor, cada metro nua atuante, através da Superintendência de quadrado é constantemente vigiado. Comunicação, com as profissionais Laura e Conhecida como o “coração do sistema”, a Rosa. Para maiores informações, você pode história da ESI está no olhar de cada funcio- acessar o site da Sabesp, www.sabesp.com.br . nário. Para aqueles que passaram dias e dias acompanhando a evolução de um sonho, as Colaboração de Isabel Cristina Nascimento, da fantasias surgiram e com elas vieram as lendas Superitendência de Comunicação-PC, Sabesp sobre um lugar escavado a 60 metros abaixo da 50 – Saneas / dezembro 2003 XV Encontro Técnico e FENASAN 2004 D e 30 de agosto a 1° de setembro de 2004, serão realizados, no Expo Center Norte, Pavilhão Branco, em São Paulo, o XV Encontro Técnico e da Feira Nacional de Materiais e Equipamentos para Saneamento - FENASAN 2004. Você também pode participar da Comissão Organizadora do Encontro Técnico. Para isso, você pode entrar em contato com Gilberto Martins, no telefone 11 3284 6420. Os trabalhos técnicos já podem ser preparados. Em breve serão publicadas as especificações para sua apresentação à comissão julgadora. Sua participação é muito importante, como voluntário na organização, como expositor de trabalho técnico e como participante das palestras e mesas redondas que acontecerão durante o evento. Não perca essa oportunidade. Essa iniciativa da Associação dos Engenheiros da Sabesp já está sendo reconhecida nacional e internacionalmente, uma vez que dele têm participado entidades e empresas de outros países como Itália, Alemanha, Japão, Argentina, Peru e Paraguai. Agradecimentos Daniel Fink José Everaldo Vanzo Odair Marcos Faria Wolney Castilho Alves Wanderley da Silva Paganini e sua equipe que nos antecedeu e nos abriu o caminho para a publicação desta edição.