Situação e caminhos para o Ensino Médio e Técnico no
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Situação e caminhos para o Ensino Médio e Técnico no
SituaçãoecaminhosparaoEnsinoMédioeTécniconoBrasil1 (versãopreliminarparadiscussão,julhode2016) SimonSchwartzman (ComacolaboraçãodeBahijAminAur,EleniceMonteiroLeite,MariaHelena MagalhãesdeCastro,RicardoChavesdeRezendeMartinseThereza Barreto) Índice ListadeGráficos.................................................................................................................4 ListadeQuadros.................................................................................................................4 Introdução..........................................................................................................................6 1.Aeducaçãoetrabalhodajuventude............................................................................14 Juventudeeeducação..............................................................................................14 Desenvolvimentocerebraleaeducaçãodosjovens...............................................16 Educaçãoedesigualdade.........................................................................................18 Educaçãoetrabalho.................................................................................................21 Surgimento,expansãoedeclíniodaeducaçãotécnica............................................23 Oimpactodasnovastecnologias.............................................................................29 Opapeldosetorprodutivonaeducação.................................................................31 2.Aorganizaçãodoensinomédioeprofissionalnomundo...........................................33 Aclassificaçãointernacionaldossistemaseducativos.............................................33 1 TrabalhorealizadocomoapoiodoItauBBAeInstitutoUnibanco.Asideiaseinterpretaçõesno textonãoexpressamnecessariamenteaorientaçãodestasinstituições,nemopensamentodos colaboradores,cujacontribuiçãofoiinestimável. 1 ExemplosdesistemasdeensinomédionaEuropaeÁsia.......................................35 AeducaçãotécnicaeprofissionalnosEstadosUnidos............................................42 3.EducaçãoeTrabalhodosjovensnoBrasil....................................................................46 Oacessodosjovensaoensinomédio......................................................................46 Amáqualidadedaeducaçãobasileira.....................................................................48 Oensinomédioetécnico.........................................................................................55 OfunildoENEM.......................................................................................................58 Educaçãoeemprego................................................................................................62 4.Políticaselegislaçãoparaoensinomédioeprofissionalnaeducaçãobrasileira........66 Aevoluçãodasconcepçõessobreoensinotécnicoeprofissional..........................66 Asprimeirasmudanças:osanos50eaequiparaçãodoensinomédioedoensino técnico......................................................................................................................68 Asegundamudança:aLDBde1961eaequiparaçãodefinitiva..............................72 A terceira mudança: a “LDB” do 1º e 2º Graus, de 1971, e o ensino técnico compulsório..............................................................................................................75 Aquartamudança:aLDBde1996eoensinotécnicoemadiçãoaoensinomédio geral..........................................................................................................................82 Consideraçõesfinais.................................................................................................93 Alegislaçãobrasileiradeeducaçãomédiaeprofissional............................................96 Panoramahistórico..................................................................................................96 ReformaFranciscoCampos......................................................................................96 Aevoluçãodalegislaçãosobreformaçãoprofissional...........................................104 Legislaçãosobreoensinomédio............................................................................112 5.PanoramadoEnsinotécnicoeprofissionalnoBrasil.................................................118 2 Panoramageral......................................................................................................118 Oensinotécnicodenívelmédio............................................................................120 Outrasmodalidadesdeformaçãoprofissional......................................................128 Quadros..................................................................................................................135 6.PolíticasrecentesparaoensinotécnicoeprofissionalnoBrasil...............................135 AproximaçõesaummarconacionaldecompetênciasnoBrasil...........................135 AcertificaçãodasprofissõesnoBrasil...................................................................136 Oensinointegradoeoconceitode"politecnia"...................................................146 OPRONATEC..........................................................................................................156 Conclusões.............................................................................................................159 7.Embuscadenovoscaminhosparaoensinoprofissionaletécnico...........................161 ABaseNacionalCurricularComum........................................................................161 Umanovalegislaçãoparaoensinomédio.............................................................163 Ocaminhopelafrente............................................................................................165 Quadros..........................................................................................................................167 Referências.....................................................................................................................181 3 ListadeGráficos Gráfico1–EvoluçãodoEnsinoMédionoBrasil,1992-2014..........................................47 Gráfico2–Populaçãoadultacomensinomédioousuperior,poridade,2015..............47 Gráfico3–Educaçãodapopulaçãode30anos,2015.....................................................48 Gráfico4-Investimentopúblicodiretoporestudante,valoresatualizadospara2013.49 Gráfico5–ResultadosdoPISA2002paramatemática,paísesselecionados..................51 Gráfico6-OFunildoENEM.............................................................................................59 Gráfico7–MédiadoENEM,poreducaçãodopaietipodeescola.................................60 Gráfico8–Níveisderendaporeducação........................................................................63 Gráfico9–Proporçãodeinativosoudesempregados,poreducaçãoesexo..................64 ListadeQuadros Quadro1-Proporçãodeestudantesdenívelmédioemcursostécnicos,regiõesepaíses ................................................................................................................................167 Quadro2–MatrículasnoensinomédionoBrasil,2015...............................................168 Quadro3–Eixosdeformaçãotécnicaprofissional,portipodeinstituição..................168 Quadro4–Posiçãonomercadodetrabalhoporeducação..........................................169 Quadro5–Rendamédiahabitualdotrabalho,porocupação......................................169 Quadro6–Rendimentomensalemtodosostrabalhos,poráreadeformaçãodecurso superior..................................................................................................................170 Quadro7–ModalidadesdeEducaçãoprofissionaltécnicadenívelmédio..................171 Quadro8-O“nãosistema”deEducaçãoProfissionalnoBrasil:dadoseestimativasda matrículaanual–2015...........................................................................................172 4 Quadro9–Evoluçãodosestabelecimentosematrículasnoensinotécnicodenívelmédio, 2002-2005..............................................................................................................173 Quadro 10- Distribuição da matrícula no ensino técnico, por região e dependência administrativa........................................................................................................174 Quadro 11- Evolução das matrículas no ensino técnico médio, segundo esfera administrativaemodalidades................................................................................174 Quadro12–Eixoseprincipaiscursosdeformaçãotécnica(matrículas,2015)............175 Quadro13–Idademédiaesexodosalunosdecursostécnicos,oreixoetipodecurso, 2015........................................................................................................................176 Quadro14–Cursostécnicosàdistância........................................................................176 Quadro15–Principaismudançasnaaprendizagemprofissional(lei10.097/2000).....177 Quadro16–característicasdoensinotecnológicodenívelsuperior............................177 Quadro17–EixoTecnológico–Gestãoenegócios.......................................................178 Quadro18-ProfissõesRegulamentadas:normasregulamentadoras...........................179 Quadro19-Exigênciasparacertificaçãodeprofissõesregulamentadasselecionadas.180 5 Introdução Aampliaçãodoacessoàeducaçãosecundária,oumédia,éumfenômenorelativamente recente,etemrecebidomenosatenção,noBrasilcomoemoutraspartesdomundo,do queaeducaçãoprimáriafundamental,porumlado,eaeducaçãosuperior,poroutro.A educaçãofundamental,ouprimária,associandooensinodasprimeirasletrasàformação religiosaecívica,foidesenvolvidaemtodoomundopelasgrandesreligiõese,apartirdo século18naEuropaeoutraspartesdomundo,comopartedosprocessosdeconstrução dos Estados Nacionais (Zajda 2015, Heater 2004), e sua ampliação para os países mais pobres tem sido objeto de atenção prioritária de agências internacionais. A educação superior,desdeaidademédianaEuropaemesmoantesempaísesdoOriente,temsido objetoconstantedepreocupaçãodegovernoseestudiososinteressadosnaformaçãode elitesenodesenvolvimentoeconômicoecientíficodediferentespaíses(Ben-David1977, Perkin2009).Entreasduas,aeducaçãomédia,ousecundária,eraentendidanopassado sobretudocomopreparaçãodeumapequenaeliteparaosestudosuniversitários.Aofinal do século 20, no entanto, a universalização da educação secundária se tornou uma realidade nos países desenvolvidos e uma tendência crescente também nos países em desenvolvimento.Umadasconsequênciasdestaexpansão,emtodoomundo,foiqueos modelos tradicionais de educação secundária se transformaram profundamente, para acomodar a grande diversidade das pessoas que buscavam se educar, com diferentes expectativas, interesses e condições (Benavot 2006). Uma parte central destas transformaçõessãoasdiferentesformasderelacionamentoentreaeducaçãosecundária tradicionaleaeducaçãotécnico-profissional,ouvocacional,que,namaioriadospaíses,se desenvolveu de forma separada. O termo "educação vocacional" é utilizado em todo o mundoparasereferiràeducaçãovoltadaparaacapacitaçãomaisdiretaparaomercado detrabalho,eserátambémutilizadocomestesentidodaqui. Oobjetivodestelivroéajudaraentendereproporcaminhosparaaeducaçãomédiano Brasil,queéaeducaçãodosjovenseincluinecessariamenteaeducaçãoparaotrabalho, a partir dos dados disponíveis, da forma como o tema tem sido entendido no Brasil e 6 tratado na literatura internacional especializada, e na experiência de outros países. O Brasil avançou muito, nos últimos 30 anos, em dar acesso à educação para a grande maioria de sua população, mas a qualidade desta educação é extremamente baixa, frustrandomilhõesdejovensemsuasesperançasde,atravésdaeducação,conseguirum lugardignonasociedadeenomercadodetrabalho,eincapazdeproporcionar,paraopaís, os recursos humanos de alta qualidade que necessita para seu desenvolvimento. Tem havidoalgumprogresso,localizado,nosprimeirosanosdaeducaçãofundamental,masa qualidade da educação dos jovens não melhora, apesar de que o Brasil gaste hoje três vezesmaisporestudantedaeducaçãobásicadoque10anosatrás. EmboraosproblemasdaeducaçãomédianoBrasilsejamespecialmentegraves,eafetados emgrandepelamáqualidadedaeducaçãofundamentalquelheantecede,oBrasilnão estásozinhonadificuldadedelidardemaneiraadequadacomaeducaçãodajuventude. Existem questões gerais que afetam a todos os países, relacionadas com a posição dos jovensnasociedade,adesigualdadedeoportunidades,atransiçãodajuventudeparao mercadodetrabalho,easquestõesdosconteúdosqueseriamdesejáveisparaaeducação nestenível.OutrospaísestêmconseguidoavançarmaisdoqueoBrasil,masemtodosos sistemaseducacionaisestãoemconstanterevisãoetransformação,eexisteumadiscussão permanente entre os especialistas e observadores sobre as virtudes e defeitos das diferentesalternativas. O que distingue o Brasil de praticamente todo o resto do mundo é que o país tem um currículo único para o ensino médio, obrigatório para todos, que não toma em consideraçãoofatodequeosjovenschegamaoensinomédiocomdiferentesinteresses, motivações,formaçãoecapacidadeintelectual,eporistonãopodemsersubmetidosà camisadeforçadeumcurrículoúnico,eaindaporcimaextremamentedetalhadocomoé onosso.Ocurrículoúnicobrasileiroéinadequadomesmoparaosqueconseguemcumprilodealgumamaneira,porquenãoestáconstituídoapartirdeumentendimentoadequado doqueosjovensprecisamepodemfazernestaetapadavida,masapartirdeumacoleção defragmentosdetemaseáreasdeconhecimentoqueforamseagregandoaolongodo tempo,equeacabamsendoensinadosdeformasuperficialeburocrática.Aimposiçãodo 7 currículoúnicoinibetambémodesenvolvimentodaeducaçãotécnicaeprofissional,que é tratada como uma formação complementar e acessória, e não como uma alternativa legítima e necessária de formação e qualificação para milhões de jovens que nunca entrarãoemumauniversidade,ouque,mesmoentrando,precisamdesdelogodeuma qualificaçãoprofissionalvalorizadapelomercadodetrabalho. Parasairdesteformato,énecessárioqueoensinomédiosediferenciededuasmaneiras, horizontaleverticalmente.Aquestãodadiferenciaçãohorizontalérelativamentesimples deentender,porqueéassimqueossistemasdeensinomédiosãoorganizadosemtodoo mundo, e era assim também no Brasil no passado: ao invés do objetivo impossível de estudareaprendertudo(dizemqueLeonardodaVincifoiaúltimapessoaaconhecertodas ciênciaseartesdeseutempo),osjovensprecisamescolheralgumasáreasetemasparase dedicar e se aprofundar, seja nas ciências, nas artes, nos esportes ou na formação profissional.Aquestãodadiferenciaçãoverticalémuitomaisdifícildelidar,porqueela requerqueseaceiteque,independentementedasáreasaqueosjovenssedediquem, nem todos conseguirão os mesmos resultados, e é preciso ter políticas educacionais específicas para tratar dos diferentes segmentos da população, dos excepcionalmente bem-dotados aos que somente conseguirão atingir um nível mínimo de desempenho; todosmerecemeprecisamdeumaeducaçãoapropriadaaseusinteresses,motivaçõese capacidade. Existemduasgrandesresistênciasàidéiadadiferenciação,umadeprincípio,outramais prática.Aresistênciadeprincípioconsisteemsuporquequalquerformadediferenciação implica discriminação, que afeta de maneira diferente jovens de diferentes condições sociais.Edefato,emtodosossistemasdiferenciadosexistemdiferençasdeprestígioe seleção social entre diferentes carreiras ou trilhas de formação, frequentemente valorizandoaformaçãomaisacadêmicaedepreparaçãoparaosestudosuniversitários, preferidapelosestratosmaisricosefamíliasmaiseducadas,emdetrimentodaformação maispráticaemaisvoltadaparaomercadodetrabalho,queacabasendoconsideradauma educaçãodesegundaclasse,parapessoasmaispobres.Masoformatoúniconãoresolve oproblema,porqueasdesigualdadescontinuamexistindoemseuinterior,comosepode 8 constatarpelograndenúmerodejovensqueacadaanoterminamoensinomédio,quando terminam,semnenhumaqualificaçãomaissignificativa,efracassamnoExameNacional doEnsinoMédio. Asegundaresistência,deordemprática,équeatransiçãodosistemaatual,unificadoe burocrático, para um sistema novo, diferenciado e com um espaço importante para a educaçãotécnicaeprofissional,exigiriadasredesescolaresedasescolasumaflexibilidade eautonomiadetrabalhoqueelasgeralmentenãotêm,eteriamdificuldadeemutilizar. Umasimplesmudançadelegislaçãonãoseriasuficiente,porexemplo,parafazercomque umaescolapassasseaofereceraosalunosumaopçãodeestudosaprofundadosemciência etecnologia,oudeformaçãotécnicaeprofissionalqualificadaemserviçosdesaúde.A transição do atual sistema unificado e burocrático para um outro diversificado e de conteúdomaisverdadeiroerelevanteparaosestudantesrequerumlongoaprendizado,e poristomesmonãopodeserimplantadadeumdiaparaoutro.Masexisteminiciativas importantesqueprecisamsermelhorconhecidas,eéprecisoabrirespaçonalegislação paraistopossaocorrer. O livro está organizado em duas partes, a primeira que procura apresentar os grandes temasdaeducaçãodajuventudeedasalternativasdeformaçãoprofissionaletécnicano mundo,easegundaqueolhamaisespecificamenteparaasituaçãobrasileira. Naprimeiraparte,ocapítulo1lidacomotemadajuventudeeseurelacionamentocomo mundo da educação e do trabalho. Temas centrais, aqui, são as características da juventudecomoummomentoespecialnodesenvolvimentoemocionaleintelectualdas pessoas, a questão da desigualdade, o tema da inserção dos jovens no mercado de trabalho, e como as transformações no mercado de trabalho afetam a natureza e o entendimentodopapeldaeducaçãodosjovens.Ocapítulo2dáumpanoramadecomoo ensino médio e profissional está organizado em diferentes países do mundo, seja em sistemasfortementediferenciados,comoEuropaeÁsia,comforteparticipaçãodosetor públicocomosetorempresarialnaformaçãoprofissional,ounosEstadosUnidos,aonde asdiferenciaçõesocorremnointeriordeumsistemaaparentementeúnicoqueéodas highschools.EstecapítuloresumetambémalgunsdebatesquetêmhavidonosEstados 9 Unidossobreotemadaeducaçãoprofissional,quetêminteressemaisgeral.Estecapítulo tambémdiscutedemaneiramaisdetalhadaotemadaeducaçãoporcompetênciasedos marcos nacionais de qualificação, que tem sido adotado, e também questionado, em grandepartedomundo,equetambémestápresentenoBrasil. Nasegundaparte,ocapítulo3retomaotemadaeducaçãoetrabalhodosjovens,jáagora a partir das informações mais recentes sobre acesso e desempenho, tanto no sistema educativo quanto no mercado de trabalho. Ele inclui também uma discussão e questionamento do Exame Nacional de Ensino Médio, o ENEM, que contribui para enrijeceromodeloúnicodeensinomédioefuncionacomoumgrandefunilqueacentua asdesigualdadesqueseexistemnoatualmodelounificado.Ocapítulo4mostracomoas políticasrelativasaoensinomédioeprofissionaltêmsidoconcebidasnoBrasilatravésdo tempo,quaissãoasprincipaisquestõesquetêmsidotratadas,e,emalgumdetalhe,como alegislaçãobrasileiradeensinomédioetécnicoevoluiueestáconstituídaatualmente,em funçãodestasideias.Ocapítulo5mostracomovemevoluindoeestáhojeaeducação profissionalnoBrasil,doqualoensinotécnicodenívelmédioésomenteumadaspartes. Ocapítulo6apresentaediscuteemalgumemalgumdetalhealgumasdaspolíticasmais recentesparaaeducaçãomédiaeprofissional,atentativadecriarumsistemanacionalde qualificações,asexperiênciasdeensinogeraleprofissionalintegradoseaprevalênciado conceitomarxistade"politecnia"entreseusproponentes,acriaçãodosInstitutosFederais de Edução, Ciência e Tecnologia, o PRONATEC. O capítulo 7, finalmente, discute duas iniciativasemandamentoquepodemterconsequênciasbastanteproblemáticasparao ensinomédiosemalencaminhadas,umprojetodeleiquemudaaLeideDiretrizeseBases naparterelativaaoensinomedio,eapropostadabasenacionalcurricularcomumque estásendoconduzidapeloMinistériodaEducação. EstetextoincorporacontribuiçõesdeEleniceMonteiroLeite,sobreasituaçãoetendências doensinotécnicoeprofissionalnoBrasil;eRicardoChavesdeRezendeMartins,sobreas transformaçõesdoentendimentosobreoensinotécniconoBrasildesdeosanos50,tal comoaparecenosdebateselegislaçõesaprovadaspeloCongressoNacional;deB.Amin Aur, com um levantamento exaustivo da legislação brasileira sobre ensino médio e 10 educaçãoprofissional;deMariaHelenaMagalhãesCastro,sobresistemasdequalificação e certificação profissional; e de Thereza Barreto, sobre a experiência de ensino médio integradonoCeará.EstestextostambémestãodisponíveisnaInternet. Épossívelresumirasprincipaisconclusõesdestetrabalhonosseguintespontos: 1 – Nenhum país do mundo, dos conhecidos, possui um sistema único de educação secundária de tipo acadêmico. Todos permitem uma ampla diferenciação que ocorre tipicamenteapartirdos15anosdeidade,queconduzadiversostiposdecertificaçãoque permitemqueaformaçãoadquiridasejareconhecidapelomercadodetrabalhoeabre portatambémaestudosmaisavançados,sejadetipotecnológico,sejadetiposuperior. 2 – A intensidade da participação dos governos centrais na definição dos conteúdos, certificaçãoefinanciamentodoscursosdeformaçãoprofissionalvariamuito,mastodas asexperiênciasbem-sucedidasrequeremumaforteparticipaçãodosetorempresarialna concepção dos cursos a serem oferecidos, em proporcionar oportunidades de aprendizagem,eemparticipardosdiferentessistemasdecertificaçãodecompetências 3–Existeumfortemovimentonosentidodedarprioridade,nossistemasdeformação profissional,acompetênciasehabilidadesmaisgerais,começandocomacapacitaçãoem linguagemematemática,eincluindocompetênciassociaisecomportamentais,evitando, por outro lado, cursos de conteúdo limitado e vinculado a atividades profissionais suscetíveisderápidaobsolescência. 4–Se,nopassado,aeducaçãoprofissionaleravistacomoumaalternativadesegunda classeparaosjovensquenãoconseguiamingressarnasescolassecundáriasacadêmicas, hoje ela é buscada como uma alternativa de igual ou maior valor, tanto pelas oportunidadesmaisimediatasdetrabalhoqueproporcionamcomopelapossibilidadede continuarestudandoesedesenvolvendoaolongodavida,eseadaptandoàsinevitáveis mudançasquecontinuarãoocorrendonomercadodetrabalho. 5–Estaevoluçãorecentedaeducaçãoprofissionalnospaísesmaisdesenvolvidosdeixa semrespostaaquestãodoquefazercomosecondhalfdapopulaçãoquechegaaos15 anosdeidadesemasqualificaçõesmínimasnecessáriasparareceberumaeducaçãomédia 11 dequalidade,sejaacadêmica,sejaprofissional.Arespostamaisgeraléqueesteproblema devesertratadonosanosanteriores,atéosecundárioinferior,detalformaquetodosos estudantespossamchegaros15anoscomníveisadequadosdeformação.Osdadosdo PISArevelam,noentanto,quemesmonosmelhoressistemaseducacionais,muitosalunos nãoatingemesteníveldeformação,eempaísescomoBrasileMéxico,agrandemaioria nãoofaz. A educação média, em todo o mundo, precisa atender a este universo de pessoas que chegam até ela, oferecendo caminhos alternativos de formação, buscando valorizar e desenvolveraomáximopossívelascompetênciasintelectuais,emocionaisepráticasde cada um, sem deixar de estabelecer padrões claros de qualidade, mas entendendo também e aceitando que, embora nem todos possam chegar aos mesmos resultados, todos necessitam ter as mesmas oportunidades, e receber estímulo e apoio para se desenvolvertantoquantodesejaremeforemcapazes.Estudossobreascaracterísticas dos mercados de trabalho atuais e suas projeções para os próximos anos indicam que profissõesrotineiraserepetitivastendemadesaparecer,sendosubstituídasporsistemas computadorizados,equeademandaportécnicoseprofissionaisaltamentequalificados em ciência e tecnologia, embora continue forte, nunca absorverá um número muito grandedepessoas.Umaconsequênciadistoseriaumencolhimentoseverodomercadode trabalho para estudantes menos qualificados. Por outro lado, no entanto, as áreas de serviço,sobretudonaáreadasaúde,educaçãoatendimentoeserviçossociais,tendema crescer,exigindoníveismuitodiferentesdecompetência,algumasmaisespecializadas,e outrassobretudodetiposocialenãocognitivo. 6–Adiversificaçãodoensinomédiosignificaqueoensinosuperiortambémprecisase diferenciar, oferecendo trajetórias de formação distintas, em conteúdo e exigências profissionaiseacadêmicas,paradiferentespessoas.NosEstadosUnidos,istosedáem grande parte através dos community colleges de 2 anos voltados para o mercado de trabalho;noBrasil,aeducaçãotecnológicadenívelsuperiorpoderiadesempenhareste papel,searticulandocomoensinotécnicoe,posteriormente,comosníveisavançadosde 12 educaçãosuperior,tornandoaeducaçãotécnicaumatrajetóriadeestudosvalorizada,e nãoumbecosemsaída. 13 1.Aeducaçãoetrabalhodajuventude Juventudeeeducação Oensinomédioé,pordefinição,aeducaçãodajuventude,eporistomesmoédiferente daeducaçãodacriançaedoadulto.Oquesignificaserjovem,equetipodeeducaçãoele ouelanecessitam,nãoésimples,evemmudandodesentidotodootempo,edelugar para lugar. A ideia de juventude está associada à idade, mas é, sobretudo, histórica e social,ecostumaserinterpretadacomooperíododetransiçãoquevaidainfância,de dependênciaemrelaçãoaospaiseàsociedade,atéavidaadulta,quandoterminama escolaouentramparaauniversidade,encontramumtrabalho,saemdacasadospais, vivemindependentementeesecasam. Ojovem,destecedo,temumdesenvolvimentofísicoementalsemelhanteaoadulto,mas aindanãotemoamadurecimentosuficienteparaadministrarseusimpulsoseemoções. Segundoospsicólogos,duascaracterísticasimportantesdaadolescênciasãoaforçadas emoçõeseatendênciaabuscarnovasexperiênciaseassumirriscos(Kehl2004,UNICEF 2002,PajaresandUrdan2002).Comodizumautor, "na adolescência as emoções se tornam mais intensas, flutuam frequentemente e são sujeitas a condições mais extremas do que as experimentadas por crianças e adultos. Juntoaestasalteraçõesemocionaisocorremmudançasnaregulaçãocomportamental. Na infância, a regulação comportamental é mais externa, derivada da orientação e restrições dos pais e cuidadores, enquanto que que na adolescência existe uma necessidadecrescentedeautoregulação.Amaneirapelaqualasmudançasemocionaise na autoregulação são negociadas vai ter grande influência no quanto que o ou a adolescentevaiconseguirnavegaratravésdeummundosocialcadavezmaisampliado" (JethaandSegalowitz2012,VII). Existe,alémdisto,nasociedadeatual,umaculturaprópriadajuventude,simbolizadapela música,indumentária,linguagemecomportamentopróprios,centradosemgrandeparte navalorizaçãodocorpoedasexualidade,livresouemoposiçãoàsrestrições,inibiçõese 14 tabusqueexistemtantoemrelaçãoàscriançasquandoemrelaçãoaocomportamento deadultos. Nopassadonãomuitoremoto,esteperíododetransição,socialmente,nãoexistia,ouera muitomaiscurtodoquehoje–otrabalhocomeçavaaindanainfância,asmulheresse casavamesetornavammãespoucodepoisdeterminadaapuberdade,epoucostinham aoportunidadedeumaeducaçãoprolongada.Atransiçãodainfânciaparaavidaadulta eramuitasvezesabrupta,marcadaporumritual,comooBarMitzvaparaoshomensaos 13 anos na tradição judaica, ou as núpcias, em toda parte, que marcavam a saida das mulheresjovensdascasasdeseuspais. Hoje, no Brasil, a juventude vai oficialmente de 15 a 29 anos, segundo o Estatuto da Juventudede2013,eumnúmerocrescentedepessoaschegaaos30anosemaissem completarastransiçõesquecaracterizariamaentradanavidaadulta.Aprópriaideiado quesejaumadultojánãoéamesma–aeducaçãopodecontinuarportodaavida,muitas pessoasnãosecasamouentramesaemdecasamentos,aperspectivadeumtrabalho permanente e regular é substituída pelo trabalho precário, desemprego e a aposentadoriaprecoce,eaculturadejuventudeseprolongaindefinidamente.Serjovem ouadultopodesignificarcoisasmuitodistintaspararicosepobres,homensemulheres, brancosenegros. Anaturezaprofundamentesocialdoqueseseentendeesevivecomojuventudeestá associada a processos biológicos e hormonais que começam com a puberdade e se expressamemtransformaçõescerebraisquesónosúltimosanoscomeçamasermelhor entendidas.Astransformaçõescerebrais,porsuavez,nãosãoumprocessototalmente autônomo e congênito, que determina como as pessoas vão se desenvolver, mas são moldadaspelasexperiênciasvividasemsociedade,damesmaformaqueaformaçãodo vocabulário e do desenvolvimento emocional nos primeiros anos de vida também dependemdasexperiênciasedoambientesocialdascrianças. Nassociedadescontemporâneas,operíododejuventudenãosóterminamaistarde,mas começamaiscedo,oquesepodeservistopelaenormeantecipaçãodaidadeemque 15 começaapuberdade–decercade16oumaisanosparaasmoças,noséculo19,para cercade11ouatémenosnosdiasdehoje,comosrapazescomeçandoumpoucomais tarde. Não há uma explicação clara para isto – pode ser um efeito de mudanças na alimentação,fatoresambientaiseefeitodesubstânciasquímicas,maspodesertambém um efeito da exposição crescente das crianças aos estímulos corporais e sexuais da culturadajuventude,maisumamanifestaçãodaforteinterdependênciaqueexisteentre osocialeobiológico. Desenvolvimentocerebraleaeducaçãodosjovens Emumasériedetrabalhos,JamesHeckmanecolaboradores,combinandoresultadosde pesquisas em economia, pedagogia e ciências cognitivas, mostraram como o desempenho na escola, no trabalho e na vida social das pessoas é fortemente condicionadopelacombinaçãodefatoresgenéticoseambientaisquesemanifestamnos primeirosanosdevida.Segundoeles, “Estáhojemuitobemdocumentadoqueosindivíduossãomuitodiversosemumagrande variedade de habilidades, que essas habilidades são responsáveis por uma quantidade substancial da variação interpessoal em resultados socioeconômicos, e que essa diversidadejáéaparentenaprimeiraidade.Afamíliadesempenhaumpapelpoderoso naformaçãodessashabilidades,contribuindotantocomatributosgenéticosquantocom condições ambientais pré e pós-natais, que interagem para determinaras habilidades, comportamentoetalentosdecrianças.Algumasfamíliasdesempenhammalestatarefa comconsequênciasnegativasparaosseusfilhos.Apartirdeumavariedadedeestudos de intervenção, sabemos que é possível compensar parcialmente a exposição a ambientesadversosseaintervençãoforfeitasuficientementecedonavidadascrianças. Os esforços de remediação que parecem ser mais eficazes são aqueles que complementamosrecursosdafamíliaparacriançasdemeiosdesfavorecidos.Osrecursos eficazesnãosãonecessariamenteouexclusivamentearendadafamília.Comoafamília éafontefundamentaldadesigualdadehumananasociedadeamericana,programasque têm como alvo crianças de famílias desfavorecidas têm retornos econômicos e sociais substanciais”(Cunhaetal.2005). 16 Aspesquisassobreodesenvolvimentocerebralnaadolescênciaseampliarammuitonos anosrecentes,enosajudamaentendermelhoroqueocorrenestafasedavida.Uma conclusãomuitoimportante,dopontodevistadaeducação,éasuperaçãodaideiade queocérebrodaspessoasestápraticamenteprontoaostrêsanosdeidade,equeapartir daí o destino das pessoas está selado. A palavra chave, aqui, é "plasticidade", a capacidadedocérebrodeaprendercoisasnovasedesenvolvernovascompetências.Os três primeiros anos são certamente fundamentais, mas existe também um período de grandeatividadededesenvolvimentocerebraleplasticidadenosanosqueantecedema puberdade,quecriamabaseparaosdesenvolvimentosnosanosposteriores. Aimagemqueosespecialistasusamparadescreveresteprocessoédeumaárvoreque crescerapidamenteeparatodososladosatéapuberdade,edepoiscomeçaumperíodo depodaefortalecimentodosgalhosprincipais: "Aosseisanosdeidade,océrebrojátem95porcentodeseutamanhoadulto.Masa massa cinzenta, a parte pensante do cérebro, continua a se adensar durante toda a infância,comascélulasdocérebroestabelecendonovasconexões,muitoparecidocom umaárvorequecresceramoseraízes.Napartefrontaldocérebro-aparteenvolvidano julgamento, organização, planejamento, elaboração de estratégias - este processo de adensamentodamatériacinzentachegaaomáximoaos11anosdeidadenasmeninase aos12nosmeninos,maisoumenosnoiníciodapuberdade"(Giedd2002). Aindasegundooautor, "estecrescimentoexuberantenosanosqueantecedemapuberdadedáocérebroum potencialenorme.Acapacidadedesetornarcompetenteemmuitasáreasdiferentesestá sendo construída nesta etapa. Ainda não sabemos bem como diferentes fatores - a atuação de pais ou professores, da sociedade, os efeitos da nutrição, de infecções bacterianasevirais-contribuemouprejudicamesteprocessodedesenvolvimento.Mas a fase seguinte, de poda, é a mais interessante, porque nossa hipótese principal é o princípio de 'usar ou perder'. As células e conexões que serão utilizadas vão se desenvolvereprosperar;asoutrasvãomurcharemorrer"(Giedd2002). 17 Aeducaçãodosjovensé,assim,umperíododeescolhaeaprofundamento,emqueas potencialidadesdesenvolvidasnosanosanterioresseexpandemousãoeliminadas,eem que as competências executivas (capacidade de planejamento, organização, desenvolvimento de estratégias, iniciativa, controle emocional), se desenvolvem e consolidam.Éumperíodomarcadopelabuscadenovasexperiênciasefortesemoções, quetrazemconsigooportunidades,aprendizagemeriscosimportantes.Étambémum períodoemqueestarounãoenvolvidoeengajadoematividadesconstrutivaspodem fazergrandediferença:aspesquisasconfirmamqueadolescentesengajadostêmmelhor desempenhoacadêmico,sãomaisfelizesemenossujeitosaproblemascomodepressão, ansiedade,abusodedrogasecomportamentoviolento(JethaandSegalowitz2012,69). Educaçãoedesigualdade Anaturezaduplamentesocialebiológicadodesenvolvimentointelectualeemocionalfaz comqueotemadajuventudesejainseparáveldotemadasdesigualdades.Alémgrandes diferenças provocadas pelas condições familiares, de origem social, existem também importantesdiferençasentreaspessoasemtermosdecapacidadeintelectualetipode inteligência.Existeumgrandeacúmulodepesquisasemtodoomundoquemostramque ainteligênciadaspessoas,medidapelostestesdeQI,éemgrandeparteherdadadeseus paism,efortementecorrelacionadacomcaracterísticassocioeconômicaseculturaisdos ambientesemqueaspessoasnascemecrescem;equeainteligência,assimcomooutras características de personalidade, pode ser inibida, expandida ou alterada. Aqui, como tudomaisemeducação,épossíveldiscutirinfinitamentesobreopesorelativodosfatores que explicam estas diferenças, e sobre o que elas realmente medem2; mas todos conhecemospessoas,emtodososmeiossociais,quetêmmaisoumenoscapacidadede aprender,gostammaisdelínguasouesportesdoquedeciênciasoumatemáticas,gostam deresolverproblemaspráticosmasnãotantodeteorias,secomunicamcomfacilidade outendemficarcaladas.Ofatodequeaspessoaschegamàadolescênciadiferentesé 2 Sobreacontrovérsiaarespeitodosdeterminantesbiológicosesocioculturaisdainteligência, ver, entre outros, (Devlin et al. 2013, Murray 1998, Herrnstein and Murray 1994). Sobre os diferentestiposdeinteligência,(Gardner1999). 18 razãosuficienteparanãoobrigaratodasaestudarasmesmascoisas;eofatodeque estasdiferençasestãorelacionadasepodemcontribuiràpersistênciadasdesigualdades sociaiscolocaaquestãodadesigualdadenocentrodosestudosedebatessobrepolítica educacional. Um indicador importante da desigualdade, de interesse especial para o Brasil, é quantidadedejovensqueabandonamosistemaescolarantesdeseutérmino(dropouts). Comparações internacionais confirmam que o abandono escolar está fortemente relacionado com características socioeconômicas dos estudantes, e também com a organização dos sistemas escolares. Estudantes de famílias mais pobres, menos educadas, vivendo em regiões mais isoladas, tendem a abandonar a escola com mais frequência. Nos países em que os estudantes de nível médio não são distribuídos em programasdeensinodistintos,maisacadêmicosoumaisprofissionais,oacessoaoensino superiorémaisamplo,masoabandonoescolartendeasermaior.Einversamente,nos paísesemqueosestudantesseguemdiferentescaminhos,astaxasdeabandonotendem asermenores(Lamb2011). NosEstadosUnidos,quefoioprimeiropaísauniversalizaroacessoaoensinomédio aindaaoaofinaldoséculo19,umdosprodutosdomovimentopelosdireitosciviseda legislaçãodosanos60(oCivicRightsAct)foiarealizaçãodeumamploestudosobrea desigualdade educacional do país, conhecido como o “Relatório Coleman” (Coleman 1966),quemostroucomoosistemaeducacionalamericanoerafortementesegregado emtermosraciais,oquelevouaumapolíticasistemáticadeintegraçãoracialnasescolas nosanossubsequentes.Umadasconclusõesmaisimportantesdoestudo,alémdisto,foi que os resultados obtidos pelos estudantes nas escolas eram em grande parte determinadospelascondiçõessocioeconômicasdasfamílias,eeramrelativamentepouco afetadospeloqueasescolaspudessemfazer.Segundoorelatório, “As escolas influenciam pouco os resultados obtidos pelas crianças de forma independente de suas origens e contexto social mais amplo; e esta ausência de efeito independentesignificaqueasdesigualdadesimpostasàscriançaspeloambientedesua casa, vizinhança e grupo de pares permanecem com elas e se transformam nas 19 desigualdadescomquevãoseconfrontarnavidadepoisdaescola.Acriaçãodeigualdade deoportunidadeseducacionaispelasescolasrequerumforteefeitodasescolasqueseja independentedoambientesocialimediatodascrianças,eesteefeitoindependentenão existenasescolasamericanas”(Coleman1966,p.325). Este pessimismo em relação ao poder transformador da educação formal aparece também nos trabalhos de Pierre Bourdieu, na França, que argumenta que a educação exerce,sobretudo,afunçãodereproduziremanterasdesigualdadessociais(Bourdieu andPasseron1970).Istoserviudebaseparadiversaspropostasmaisoumenosutópicas erevolucionáriassobreanecessidadederomperourevolucionarossistemasformaisde ensino,comoasdeIvanIllichePauloFeirenoBrasil (Illich1988,Freire1987,Burawoy 2012) OsdadoseasconclusõesdeColemanforamobjetodemuitasanáliseserevisões,que resultaramemumavisãomenospessimista,emaisqualificada,dospossíveisefeitosdas escolasnodesempenhodosalunos.Oefeitodasescolasaumentaoudiminuiconformea existênciadeváriosfatores.Primeiro,aqualidadedoprofessor,sobretudoquandoele encontraalunosmotivadoseinteressadosemaprender.Seoprofessornãosabeoque ensinar, ou se o aluno não se interessa, então o aprendizado não ocorre. Segundo, a liberdade das escolas de selecionar seus professores, e a liderdade das famílias de escolher as escolas para seus filhos. Uma das vantagens das escolas particulares e religiosas em relação às escolas públicas nos Estados Unidos, que Coleman também estudou em outras pesquisas, é que as escolas privadas tinham mais liberdade para escolher seus professores e administrar seus recursos; a outra é que estudar nestas escolaséumaescolhaporpartedosalunos,queporistomesmoaproveitammelhora oportunidadedestudareaprender,dentrodeumambientemaismotivanteparatodos. Terceiro, a importância dos incentivos corretos. Quando as escolas têm um padrão externo de desempenho que conhecem e procuram atingir, e quando diretores, professoresealunossemobilizamparaatingirestesobjetivos,osresultadossãomelhores (Heckman and Neal 1996). A existência ou não destes fatores, no entanto, está fortementerelacionadaaoambienteemquefuncionamasescolaseàscaracterísticas 20 socioeconômicasdosalunos,oqueacabalevandoaque,namaioriadoscasos,sejamas escolas de famílias educadas e de classe mais alta que tenham melhores professores, melhores padrões de desempenho, e alunos mais motivados e incetivos melhor alinhados,eoopostonasescolasdapopulaçãomaispobre,umcírculoviciosoquecabe àspolíticaspúblicasdeeducaçãoprocurarromper. Mas,pormelhoresquesejamestasintervenções,existirãosempregrandesdiferençasde aptidão,interessesecapacidadeintelectualnapopulação,eossistemaseducacionais, por sua própria natureza, sempre produzirão hierarquias de competências, reconhecimentoebenefícios(Wolf2002).Oobjetivodapolíticaeducacional,doponto devistadaeducaçãogeral,devesermaximizaraigualdadedeoportunidadesegarantira melhorqualidadepossívelàeducaçãoquecadaumrecebe,sempretender,noentanto, chegar à igualdade de resultados, e tendo que lidar com as grandes diferenças que existemnasociedade. Educaçãoetrabalho Os sistemas educativos têm, assim, uma aparente contradição: por um lado, eles são vistospelaspessoascomoumgrandecanaldemobilidade,ascensãosocialereduçãoda desigualdade, e de fato o são, quando as oportunidades educacionais se expandem e criam oportunidades para que milhões de pessoas se desenvolvam e melhorem suas condiçõesdevida;mas,poroutrolado,elessãoinerentementedesiguais,namedidaem que refletem as desigualdades da sociedade, e também porque têm a função de selecionar e distribuir as pessoas em hierarquias de competências, reconhecimento e benefícios,quevãoserefletiremdiferentesoportunidadesnomercadodetrabalho.A teoria do capital humano, desenvolvida pelos economistas da educação (Becker 1962, Mincer1958,Schultz1960),ofereceumarespostaaestacontradição:quandoaspessoas seeducammais,elassetornammaisprodutivas,criammaisriquezaeoportunidadesde trabalho,oquepodelevarinclusiveaumareduçãodasgrandesdiferençasderendaque existememsociedadesemqueaeducaçãoéreservadaapoucos;eumfatorimportante neste processo de crescimento do capital humano é exatamente a competição por 21 desempenhodentrodossistemaseducacionais,quesubstituiasdesigualdadessociaise declassepordesigualdadesdemérito. A teoria do capital humano, no entanto, não basta para dar conta de uma outra característica muito comum dos sistemas educacionais, que é a separação entre a educação geral, na escola secundária, e a capacitação para o trabalho. Se o objetivo principaldaeducaçãofosseacapacitaçãodaforçadetrabalho,nãohaveriacomoexplicar porqueagrandemaioriadosestudantesfazemcursosdeformaçãogeral,quenãotêm aplicabilidadenemrelaçãodiretacomaatividadeprofissional,equetendemasermuito maisprestigiadosevalorizadosdoqueoscursosdecapacitaçãoprofissional. Aexplicaçãoéqueaeducaçãomédiasurgiu,nopassado,comoumperíododepreparação para os cursos e carreiras universitárias de prestígio, sobretudo nas áreas de direito, teologiaemedicinaantiga,aondeacompetênciamaisimportanteeraacapacidadede lerosclássicosemlatim,equeeramcanaisimportantesdemobilidadesocialparaosque não tinham as vantagens da nobreza e da riqueza familiar. Com a abertura das universidadesparaascarreirasmaistécnicas,comoamedicinamodernaeaengenharia, esta preparação, também chamada de "propedêutica", passou a incluir também os estudosmatemáticosedasciênciasnaturais.Enquantoisto,apreparaçãoparaotrabalho sedavanochãodasfábricasounascorporaçõesdeofício,aondeseaprendiatrabalhar comasmãos,eaondeasnovastecnologiasprodutivaseramdesenvolvidaseaplicadas. Esta separação entre a educação geral, de elite, e mundo do trabalho, para os mais pobres, começou a ser questionada por filósofos e educadores na medida em que o acessoàeducaçãomédiacomeçouaseuniversalizarnosEstadosUnidoseEuropa,apartir das primeiras décadas do século 20, no que ficou conhecido como o movimento da educação nova, ou da escola nova. Um autor central neste questionamento foi John Dewey,quecriticavaaseparaçãoentreaeducaçãoparaaculturaeolazer,dasclasses altas, da educação para o trabalho, das classes baixas, que valorizava o trabalho intelectualemdetrimentodotrabalhomanualeprático,umaseparaçãoque,segundo, ele remontava à divisão entre homens livres e escravos na Grécia antiga. A educação propostaporDeweydeveriaunirotrabalhointelectualemanual,oconhecimentoteórico 22 e aplicado, ambos baseados na riqueza da experiência prática (daí o conceito de pragmatismo) que deveria levar ao fim da separação entre as escolas para ricos e o treinamentoprofissionalparaospobres(Dewey1916). Aideiadeuniraformaçãogeralcomaformaçãopráticaeparaotrabalhofoitrazidapara oBrasilnoventaanosatrásporAnísioTeixeira,quehaviaestudadosobainfluênciade DeweynaUniversidadedeColumbia,equefoiumdosautoresprincipaisdo"Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, junto com Fernando de Azevedo (Azevedo 1932), documento considerado a carta de fundação da educação brasileira. O manifesto defendiaaideiadeumaescolaquedeveria “Servir não aos interesses de classes, mas aos interesses do indivíduo, e que se funda sobre o princípio da vinculação da escola com o meio social, e tem o seu ideal condicionadopelavidasocialatual,masprofundamentehumano,desolidariedade,de serviçosocialecooperação” Eistoseriaalcançadoporumaforteintegraçãoentreaeducaçãoeotrabalho,emuma sociedadeidealizadaemquetodostrabalhariampelobemcomum.Diziaomanifesto: “Écertoqueéprecisofazerhomens,antesdefazerinstrumentosdeprodução.Mas,o trabalho que foi sempre a maior escola de formação da personalidade moral, não é apenas o método que realiza o acréscimo da produção social, é o único método susceptíveldefazerhomenscultivadoseúteissobtodososaspectos”. Era uma ideia revolucionária para o Brasil, com a memória ainda viva de séculos de escravidãoque,talcomonaGréciaantiga,faziacomqueotrabalhofossevistocomouma atividadeindignadaspessoaseducadas. Surgimento,expansãoedeclíniodaeducaçãotécnica Estasideiasnãoforamsuficientes,noentanto,pararesolveraquestãodadissociaçãoe hierarquiadeprestígioentreaeducaçãopropedêutica,geral,eaqualificaçãoprofissional. O crescimento das sociedades urbanas e industriais e a demanda por mais educação, sobretudo na Europa ocidental a partir do início do século 20, não levou ao desaparecimentodaeducaçãosecundáriatradicional,masaodesenvolvimentodenovas 23 modalidades de educação, para setores diferentes da sociedade, ao lado da educação paraaselites,quecontinuouexistindo.ComodescritoporBenavot,umespecialistaem históriadaeducação,trêstiposdeeducaçãomédiaseconsolidaramnaEuropa: "umnúmeropequenodeinstituiçõesaltamenteseletivas,paraosfilhosdasclassesmais altas; um grupo mais amplo de escolas secundárias "modernas", com programas de educaçãogeralquedavamacessoàeducaçãosuperioreaempregosnaadministração pública; e uma multiplicidade de escolas técnicas, vocacionais e industriais proporcionando treinamento para os jovens de classe mais baixa para as profissões especializadasetrabalhomanual"(Benavot1983,64-65). Odesenvolvimentodaeducaçãotécnicaeprofissionalcomoumsegmentoseparadoda educação geral, organizado pelo setor público em parceria com o setor privado, ainda segundoBenavot,temsidoexplicadoportrêsteoriasdiferentes.Aprimeiraéateoria funcional,segundoaqualestedesenvolvimentofoiumarespostaàsnecessidadesdos novos sistemas produtivos, em que os processos de produção são mais complexos e requeremtrabalhadoresespecializadosquenecessitamdeumaformaçãoapropriada.A segundaéquefoiummecanismocriadonassociedadesdemocráticasemexpansãopara melhorincorporarosjovenseimigrantesmaispobresàeconomiaeàsociedademoderna, atendendoàsaspiraçõesdeumapopulaçãoheterogênea,atravésdeumcurrículomais práticoecompatívelcomsuasnecessidadesdetrabalhodoqueocurrículoacadêmico tradicional.Aterceirateoria,queseaparentementesecontrapõeàsduasanteriores,éa visão de inspiração marxista segundo a qual a educação profissional teria sido um mecanismoinventadopeloscapitalistaseempresáriosparamanterasclassesoperárias sob controle, valorizando as atividades manuais e a ética do trabalho, e retirando das corporaçõesdeofícioesindicatosopodersobreossistemasdeaprendizagemqueantes detinham (Benavot 1983, 65-66). Estas três explicações não são incompatíveis: o desenvolvimentodaeducaçãotécnicaeprofissionalfoi,aomesmotempo,umaresposta às necessidades de qualificação profissional da nova economia; uma resposta das sociedadesdemocráticasàsdemandaspormaiseducaçãoeparticipaçãosocialporparte 24 dapopulaçãomaispobre;e,quandofuncionou,ajudouacriarumaclassetrabalhadora maisintegradaaosistemacapitalistaeindustrial. Naprática,orelacionamentoentreasduasmodalidadesdeeducação,geralevocacional, varioumuitodeumpaísparaoutro,desdesituaçõesqueosdoissetorespermaneceram separados,comosistemaescolarcuidandodaeducaçãogeraleosetorindustrialede serviçosdaeducaçãoprofissional,comotemsidoatradiçãoinglesa,asituaçõesemque oEstadoseencarregadosdoistiposdeeducação,comonaFrança,ouquandoosetor educativoeosetorprodutivotrabalhamemconjunto,nochamado“sistemadual”queé típicodomodeloalemão;oucomonosEstadosUnidos,aondenãoexisteumaseparação claraentreosdiferentessetores,quesedánointeriordashighschoolsedoscommunity collegesde2anos. Aseparaçãoentreaeducaçãogeraleaeducaçãoprofissionalpassouaserquestionada namedidaemqueasrígidasdiferençasdeclassequehaviamnaEuropacomeçaramase reduzir, em que setor industrial passou a perder importância em relação ao setor de serviços, e em que as fronteiras entre os trabalhadores de "colarinho branco", de escritório,ede"colarinhoazul",dochãodafábrica,começamasetornarmaisimprecisas. Ospontosprincipaisdacríticasão,primeiro,aseparaçãodascrianças,logonoinícioda adolescência, aos 12 ou 13 anos, entre os que se destinam à educação técnica ou à educação geral. Ainda que esta separação (que é conhecida como tracking, ou seja, colocar as pessoas em trilhas diferentes) costume ser baseada em provas de conhecimento,éumaseleçãoqueacabasendofortementecorrelacionadacomaorigem social das crianças, e impede que elas tenham a possibilidade de continuar se desenvolvendoefazendonovasescolhas.Asegundacríticaéque,umavezdestinadosà educação profissional, os jovens ficam impedidos de ter acesso às universidades, que selecionam seus alunos pelo desempenho acadêmico. E a terceira é que, por estas e outrasrazões,oensinotécnicoeprofissionalcostumaservistonasociedadecomouma educaçãodesegundaqualidade,parapobreseoperários,eporistomesmodesvalorizada pelosquebuscamaeducaçãocomoumaviadeascensãoeamobilidadesocial.Existe uma última crítica, mais filosófica ou pedagógica, que argumenta que o ensino 25 profissionalprivariaosestudantesdeentenderosfundamentoscientíficoseocontexto socialdoconhecimentoprático,quesóseriaacessívelnoscursosmaisacadêmicos,eisto impediriaestesestudantesdedesenvolverumpensamentoindependenteecríticoem relaçãoàsociedade. Estascríticasnãolevaramaodesaparecimentodaeducaçãoprofissional,masumadesuas consequênciasfoiaampliaçãodaeducaçãocomumatéofimdaeducaçãofundamental ou média inferior, aos 15 ou 16 anos de idade, e às tentativas de criar escolas abrangentes,oucomprehensive,quepossamtratardeformaintegradaaeducaçãogeral eprofissional.Estasescolas,porsuavez,sãocriticadaspornãoconseguiremfazerbem nemumacoisanemoutra. Agrandevariedade,adiscussãopermanenteeassucessivasreformasdossistemasde educaçãomédiaeprofissionalemtodoomundomostramquenãoexistesoluçãosimples e satisfatória para os problemas identificados desde os tempos de Dewey e Anísio Teixeira, que estão associados à grande variedade de aspirações, condições sociais e necessidades de educação e formação profissional para a juventude, assim como às diferenças sociais que existem em toda parte. Com a enorme expansão da ciência, tecnologia e das profissões nas últimas décadas, não é possível imaginar que todas as pessoas em um país possam ou devam ter o mesmo conjunto de conhecimentos e formação,eatesedeDeweydequeoconhecimentoteórico,abstrato,nãoerasuperior nem antecedia ao conhecimento prático e aplicado, se mostrou verdadeira, tanto no universo da ciência e tecnologia quanto no mundo da educação (Gibbons et al. 1994, Katajavuori,Lindblom-Ylänne,andHirvonen2006).Masháumatensãopermanenteentre as aspirações de equidade e igualdade de oportunidades para toda a população e as grandesdiferençasquepersistementrediferentessetoresdasociedade,motivadaspor fatoreseconômicos,sociaiseindividuais,quepodemserreduzidas,masnãotêmcomo sereliminadas.Oprestígioassociadoàscarreiraseprofissõesuniversitáriasfazcomque outrostiposdeformaçãosejammuitasvezesdesvalorizados,criandoumafortepressão paraquetodosprocuremseaproximardomodelodeformaçãouniversitária(tendência conhecida como viés acadêmico, ou academic drift) embora os próprios sistemas 26 universitários sejam também altamente diferenciados e estratificados (Schwartzman 2011,Jaquette2013). Nospaísesqueadotamumsistemaeducacionalunificado,comoahighschoolnosEstados Unidosounospaíseslatino-americanos,comooBrasil,oproblemaprincipaléogrande númerodeestudantesquenãoconseguemcompletarcomummínimodequalidadeos requisitosdoensinomédio,enãosequalificamnemparaascarreirasdenívelsuperior nemparaasprofissõesdenívelmédiorequeridaspelomercadodetrabalho.Estasituação ocorretambémnaEuropa,segundoumestudorecentequemostraque,nospaísesda OECD, um em cada quatro estudantes aos 15 anos não consegue atingir o mínimo esperadodedesempenhoemleitura,matemáticaouciências(OECD2016). Existem muitos estudos que buscam avaliar os resultados das diferentes trajetórias, acadêmicas ou técnicas, na vida profissional. Os resultados indicam que, por um lado, bonscursostécnicosdenívelmédioepós-secundáriopermitemumingressomaisrápido nomercadodetrabalho,menosdesempregoeníveisderendamaisaltosdoquecursos universitáriostradicionais,comexceçãodascarreirasdemaisprestígioedifícilacesso, comomedicina,direitoeengenhariasespecializadas;masque,nolongoprazo,carreiras universitárias permitem maior mobilidade ocupacional e salarial ao longo da vida e reduzemapossibilidadedeobsolescênciaprofissional,prolongandoapermanênciadas pessoasnomercadodetrabalho(Hanushek,Woessmann,andZhang2011,BarHaimand Shavit 2013, Schneider 2012, Hippach-Schneider et al. 2013). Estudos feitos no Brasil tambémmostramquecursosprofissionaistêmimpactopositivonasoportunidadesno mercadodetrabalho(Almeida,Kullberg,etal.2015). Asoluçãoidealparaproblema,naturalmente,seriamcursostécnicoseprofissionaisde alto nível que pudessem, ao mesmo tempo, dar aos estudantes acesso rápido e qualificadoaomercadodetrabalho,quandonecessário,eacessoacursossuperioresque aprofundem e ampliem esta experiência inicial; no entanto, muitos estudantes não teriamcondiçõesdeseguirestescursoscombomaproveitamento.NosEstadosUnidos, estaquestãotemsidodiscutidaemtermosdecomolidarcomoforgottenhalf(ametade esquecida), a grande quantidade de jovens que são excluídos e não chegam ou não 27 completamoensinosuperior,equeacabamsendonegligenciadosquandoaspolíticas educacionaisseconcentramnaformaçãodealtonível. Osdebatesinternacionaissobreaeducaçãotécnicaeprofissionaltêmsidoinfluenciados porumasériedeestudosqueprocuramentendermelhoraquestãododesempregoda juventudeeseurelacionamentocomossistemasdeeducaçãoprofissional.Umtrabalho paraoBancoMundialde2012mostraque,alémdefatoresmaisgeraiscomoaproporção dejovensnomercadodetrabalho,asbarreiraslegaisdotrabalhoformaleascondições geraisdaeconomia,aexistênciadesistemasdeformaçãoprofissionaltemumimpacto muitosignificativonareduçãododesemprego: “A educação geral a nível primário e secundário fornece a base necessária, mas as evidências disponíveis mostram que a formação profissional, em particular em um sistemadual,permiteestabelecermaiscedoumaligaçãocomosempregadores,adquirir competências relevantes no mercado de trabalho e avançar para cargos mais permanentesequalificados.Comparandoasescolasprofissionaisporumladoesistemas duais de aprendizagem, por outro, as evidências sugerem que uma transição suave e oportuna da escola ao trabalho sem encontrar grandes rupturas pode ser melhor alcançadaatravésdosistemadual”(Biavaschietal.2012,18-9). Osestudostambémcomparamdoistiposprincipaisdeformaçãovocacional,odetipo dual,comaparticipaçãodosetorempresarial,eoproporcionadoemescolasprofissionais relativamenteafastadasdomercadodetrabalho(QuintiniandManfredi2009).Embora o sistema dual seja claramente superior, pelos seus resultados, ele é de difícil implementação em países que não têm uma tradição estabelecida de aprendizado profissional, como os países germânicos. Isto não significa, porém, que formas menos elaboradasdeparceriasentreosistemaescolareosistemadeensinonãopossamser buscadas.EmrelaçãoàAméricaLatina,oestudoconcluiqueossistemasdeeducação vocacionalnestespaísessãoultrapassadoseemdeclínio: “Nos anos mais recentes, programas orientados para os jovens em situação de desvantagem têm preponderado, mas os países da região ainda sentem falta de um sistemaestávelemodernodeeducaçãovocacional.Daíodesencontrocrescenteentre 28 as demandas por uma força de trabalho competente e o sistema educacional, com o empregoeacapacitaçãoematividadesinformaissendoaindaimportantes”(Biavaschiet al.,2012,p.21). Oimpactodasnovastecnologias Outros estudos procuram avaliar as tendências de transformação do mercado de trabalho,peloimpactodasnovastecnologiasdeinformaçãoecomunicação.OCenteron EducationandtheWorkforcedaUniversidadedeGeorgetownestimaque,em2020,65% dosempregosvãorequereducaçãoetreinamentopós-secundários,enquantoqueem 1973eramsomente28%.(Carnevale,Smith,andStrohl2013,15).Osautorestambém avaliamostiposdeconhecimento,decompetências(skills)ehabilidadesqueserãomais demandadas,emummercadodetrabalhoaondepredominamasatividadesdeserviços, usandoosdescritoresdisponíveisnosistemaO*NET3.Emtermosdeconhecimentos,os estudosconcluemqueserviçosdequalidadedeatendimentopessoaleaclientes,assim como a competência no uso da língua inglesa, são requeridos em 55% de todos os trabalhos,oqueécoerentecomofatodeque80ˆ%dosempregosestãonosetorde serviços.Empregosematividadesdenegócios,educação,atendimentodesaúdeeoutros serviços de escritório requerem capacidades elevadas de interação e de respostas personalizadas aos desejos e necessidades dos clientes. As mesmas competências comportamentaissãorequeridasemtrabalhosnaáreadealtatecnologiaemanufatura. Atecnologiaseencarregadasatividadesderotinaedeprocessamentomanual,deixando paraosempregadosmaistempoparainteragir,explorarnovastecnologiasmaisflexíveis e proporcionando serviços de mais valor (qualidade, variedade, customização, conveniência, velocidade e inovação). Competências em matemática, computadores e eletrônica são também muito valorizadas e transferíveis entre ocupações. Níveis intermediáriosaaltosdematemáticaecomputaçãosãorequeridosem75%detodosos trabalhos(p.25).Oestudoconcluiquecincodasdozecompetênciasmaisvalorizadasna economia são na área de comunicação (capacidade de ouvir atentamente, falar, 3 http://www.onetonline.org 29 entendimento da leitura, pensamento crítico e escrita), mesmo em profissões menos qualificadas.Aprincipaldiferença,emrelaçãoàsáreasprofissionaisdemaiordemanda, éumavalorizaçãomaiordafluênciadeideias,raciocíniomatemáticoeoriginalidade. Estaanálisemostraqueosconhecimentos,competênciasehabilidadesmaisgerais,que possamtransmitidasdeumaáreaocupacionalparaaoutra,adquiremimportânciacada vezmaior,erequeremumprocessoeducativobemdistintododasescolastradicionais. Segundoosautores, “Acurvadeaprendizagemémaissuavequandoestascompetênciassãointroduzidaspara osestudantesdeformapráticaeemumcontextoapropriado.Omaisimportanteéque estashabilidadesecompetênciassãomelhoraprendidasquandotrabalhadasnocontexto de domínios particulares e conhecimento e área práticas. Também sabemos que habilidades e competências são em certa medida transferíveis entre áreas de conhecimentoedeatividadespráticas,sobretudoemcamposdeestudorelacionados(p. 30). ConclusõessemelhantessãoapresentadasemumtrabalhorecentedeLevyeMurnane, Dancingwithrobots:Humanskillsforcomputerizedwork(LevyandMurnane2013).Eles distinguemcincotiposprincipaisdeatividadesnotrabalho,algumasdasquais,comoos trabalhos intelectuais e manuais de rotina, tendem a ser substituídas facilmente por computadores,enquantooutras–comoresolverproblemasnãoestruturados,trabalhar comnovasinformaçõesetrabalhosnãomanuaisderotina(comotrabalhosdemotorista, serviços pessoais e de limpeza) são mais difíceis de ser codificadas e por isto devem persistir. São tendências que vêm se acentuando desde a década de 80, e devem se acentuaraindamaisnofuturo. Para a educação, isto significa que é importante se concentrar cada vez mais nas competênciasmaisbásicasquecapacitamaspessoasatrabalharcomquestõesnovase não estruturadas – domínio da língua e raciocínio matemático e familiarização com conceitoscientíficos,comênfasecrescentedacompreensãointelectualenacapacidade de resolver, deixando de lado a capacitação em atividades de rotina que tendem a desaparecer. 30 Estaênfasecadavezmaiornaformaçãobásicacomum,quedeveseiniciaromaiscedo possível,nãosignifica,noentanto,quetodososestudantestenhamqueseguiromesmo currículo.Comoobservamosautores, “Embora todos os adolescentes americanos precisem dominar as habilidades fundamentais,alunosdiferentesterãodiferentesexperiênciasdoensinosecundáriopara alcançar este objetivo. Para alguns, currículos acadêmicos explicitamente focados na preparação para o ensino pós-secundário irão funcionar melhor. Para outros, a aprendizagem é melhor feita através de cursos técnicos e profissionais que fornecem ligações mais explícitas entre habilidades fundamentais e grupos de ocupações. Na verdade,umadasdescobertasinesperadasdepesquisasrecentestemsidoqueosalunos envolvidosemprogramasvocacionaisbemconcebidossesaemtãobemnosexamesde matemáticaeInglêsexigidospelosestadosquantoestudantessemelhantesseguindoo currículoacadêmicomaistradicional.ParaqueaAméricapossaretornaràposiçãoque detinhanofinaldosanos1960,comoomembrodaOCDEcomamaiortaxadeconclusão do ensino secundário, precisará de uma variedade de opções bem concebidas de formaçãonestasescolas(Levy&Murnane,p.30). Opapeldosetorprodutivonaeducação Existeumforteconsensoqueosmelhoressistemasdeformaçãoprofissionalsãoosque conseguemenvolverosetorprodutivodoprocessodeformação,combinaroestudocom aprática,ecolocarosestudantespróximosdeseupossívellocaldetrabalho,cujomelhor exemploéosistemaalemão(Mourshed,Farrell,andBarton2013).Nãoporacaso,muitos paísesprocuramcopiarouadaptarestesistema,emboraaconclusãogeraltendaaser que é muito difícil reproduzir, em outro contexto, as características culturais e institucionais que tornam o sistema alemão possível. (Valiente et al. 2013, Juul and Jørgensen2011,Powelletal.2012,TremblayandLeBot2010) Um componente central do sistema dual é a aprendizagem no trabalho, que tem sua origem na experiência secular das corporações de ofício, em que os aprendizes trabalhavam sob a tutela de mestres até adquirir os conhecimentos e competências necessários para receber a habilitação profissional plena. Na sua versão moderna, os 31 sistemas de aprendizagem requerem parcerias efetivas entre empresas e escolas, e políticas governamentais que cubram parte dos custos e assegurem a qualidade das qualificaçõesproporcionadas. 32 2.Aorganizaçãodoensinomédioeprofissionalnomundo Aclassificaçãointernacionaldossistemaseducativos Ospaísesorganizamseussistemaseducacionaisdeformasmuitodistintas,masquase todos, de alguma maneira, procuram tomar em conta as diferentes fases da vida dos estudantes, da infância à vida adulta, e sua diversidade. Para poder comparar os diferentespaíses,aUNESCOdesenvolveuumsistemainternacionaldeclassificaçãoda educaçãoquenospermite,também,entenderoqueagrandemaioriadepaísesentende oquesedevebuscaremcadaetapa(UNESCOInstituteforStatistics2011). Éumaclassificaçãodenoveníveis,começandocomaeducaçãoinfantileterminandocom os cursos avançados de pós-graduação. O nível zero, da educação infantil, tem por objetivo apoiar o desenvolvimento cognitivo, físico, social e emocional na primeira infânciaeintroduzirascriançasàinstruçãoorganizadaforadocontextofamiliar.Onível 1,daeducaçãoprimária,começatipicamenteaos6anosevaiatéantesdaadolescência, aos 11 ou 12 anos de idade. Seu objetivo é proporcionar aos alunos habilidades fundamentais de leitura, escrita e matemática, e estabelecer uma base sólida para aprender e compreender as principais áreas de conhecimento e de desenvolvimento pessoalesocial,empreparaçãoparaonívelsecundárioinferior.Aeducaçãoéfeitade forma integrada, sem especializações, e existe tipicamente um professor por turma, podendohaver,noentanto,professoresespecializadosparaalgunstemas. Onível2éodosecundáriooumédioinferior,quevaitipicamentedos11ou12atéos15 ou16anosdeidade,quesãoosprimeirosanosdaadolescência.Elecorrespondeaoque eranoBrasil,nopassado,ocursoginasial,quefoiintegradoaocursoprimáriopelaLeide DiretrizeseBasesde1971,criandooensinofundamentalde8emaisrecentemente9 anosdeduração,embora,naprática,continuemexistindoimportantesdiferençasentre osprimeirosanos,emquetipicamenteexisteumprofessorouprofessoraporturma,eos anosmaisavançados,emqueexistemprofessoresespecializadospordisciplinas. Oscursosdesteníveltêmporobjetivodesenvolverosfundamentosdeaprendizagema partirdoqualasescolaspossamexpandirasdiferentespotencialidadesdosestudantes. 33 Alguns países já começam a oferecer cursos de formação profissional neste nível, desenvolvendocompetênciasrelevantesparaomercadodetrabalho.Ocurrículotende a ser organizado por assuntos, com a introdução de conceitos teóricos em diferentes áreasdeconhecimento,dadospordiferentesprofessoresquetêmformaçãopedagógica específicanasáreasemqueensinam. Onível3éosecundáriosuperior,quecorrespondeaoensinomédionoBrasil,queatende tipicamente aos jovens de 15 aos 18 anos. Os cursos neste nível são concebidos normalmente para aprofundar a educação do secundário inferior, preparando os estudantesparaaeducaçãosuperiorouparadesenvolvercompetênciasrelevantespara o mercado de trabalho, ou ambos. Eles tendem a oferecer educação mais variada, especializada e aprofundada do que os cursos do secundário inferior, com opções e diferentes trilhas de estudo a serem seguidas. Os professores tendem a ser mais qualificadosnasdisciplinasoucamposdeespecializaçãoemqueensinam,principalmente nasúltimasséries. Onível4éodecursospós-secundáriosquepreparamparasobretudoparaomercadode trabalho.Estescursosnãosãonecessariamentemaisavançadosdoqueosdonível3,mas são mais especializados e detalhados, e muitas vezes são dados por instituições especializadas.NoBrasil,elescorrespondemaoscursosdetecnólogosproporcionados pelaFaculdadesdeTecnologia(FATECs)doCentroPaulaSouzaemSãoPaulo,eaoscursos superiores de curta duração (que recebem a denominação de "tecnológicos", embora sejam,emsuamaioria,daáreadeserviços)dadossobretudoporuniversidadesprivadas. Onível5ésemelhanteaonível4,tambémdeformaçãoprofissionalcurta,masjádenível universitário,permitindoacessoaonível6,queéoníveluniversitáriopropriamentedito, debacharelado.Onível7éodeformaçãoprofissionaldeavançada,demestrado,eo nível8éodosdoutoradosdeformaçãocientífica. Énonível3,daeducaçãosecundáriasuperior,queossistemaseducativoscomeçamase diferenciardeformamaisacentuada,sobretudoentreaeducaçãogeral,oupropedêutica, eaeducaçãoprofissionaloutécnica.OQuadro1mostraaproporçãodeestudantesde nívelmédioousecundárioemcursostécnicosemdiferentespaíseseregiões,apartirde 34 dadoscompatibilizadospeloInstitutodeEstatísticadaUNESCO.Comoaorganizaçãodos sistemasescolaresvariamuito,estesdadosnãosãoestritamentecomparáveis,masdão um panorama bastante abrangente a respeito dos sistemas diferenciados. Os Estados Unidosnãoaparecemnestatabulação,porteremsomenteumtipoabrangentedeescola secundária. ExemplosdesistemasdeensinomédionaEuropaeÁsia Publicação recente do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) traz uma descrição e comentários detalhados sobre a organização do ensino profissional e seu relacionamento com o ensino médio em um grande número de países, de autoria do professorCândidoAlbertodaCostaGomes(SENAI-DN2015).Nestaseção,fazemosuma breveapresentaçãodealgunsdosmodelosprincipais. Natradiçãoeuropeia,empaísescomoaAlemanhaeaInglaterra,aeducaçãosecundária era entendida sobretudo como preparação de uma pequena elite para os estudos universitários, aonde predominavam a formação humanística, religiosa, filosófica e científica.Comodesenvolvimentodaengenhariaedaindústriaeoaumentodademanda por educação, os países foram desenvolvendo diferentes tipos de cursos de formação geraledecapacitaçãoparaotrabalhoe,eventualmente,institutosmaisavançadosde formação pós-secundária que não tinham o mesmo status e prestígio que as universidades. Na maioria dos países, ao longo da década de 1960, estes institutos avançadossetransformaramemsistemasseparadosdeensinosuperior,orientadospara aformaçãoprofissional,maisbaratos,demaisfácilacessoesemasatividadesdepesquisa epós-graduaçãodasuniversidades,equerecebiamalunosquenãoprovinhamdoscursos secundários tradicionais. Estes sistemas binários de educação superior persistem na Holanda,Bélgica,Alemanha,Suécia,Noruega,Irlanda,GréciaePortugal,esãoadotados tambémnamaioriadospaísesdaEuropaOrientaleÁsia,comoSingapura.Em1992,a Inglaterraunificouosdoissetoresemumsistemauniversitárioúnico,respondendoem parte à demanda dos institutos politécnicos pelo prestígio e recursos financeiros 35 associadosàsuniversidadestradicionais.AFrança,comseusistemapeculiardeGrandes Écoles, Universidades e Instituts Universitaires de Technologie (IUTs) não cabe nesta classificação, mas seu sistema de ensino superior é também claramente diferenciado, com diferentes tipos de formação e capacitação sendo oferecidos para diferentes categoriasdeestudantes(Kyvik2007,2004). Aorganizaçãodossistemasdeeducaçãomédianestespaísesrefleteestadiferenciação do ensino superior, com escolas mais acadêmicas, que preparam os alunos para as carreiras universitárias, e as técnicas e profissionais, que os preparam de forma mais imediata para o mercado de trabalho, e podem dar acesso a cursos profissionais mais avançados. Esta diferenciação começa geralmente no nível médio inferior, que correspondeàsidadesde11a14ou15anos,eseacentuanonívelmédiosuperior. Alemanha NaAlemanha,aeducaçãocomeçacomaescolaprimária,Grundschule,comumatodos até os 10 anos de idade, quando então os estudantes entram em diferentes tipos de escola,dasquaisasmaisimportantessãoGymnasium,quepreparaosestudantesparao exame de Abitur que dá acesso ao ensino superior, e escolas com menos exigências acadêmicasquepreparamparaprofissões,comoaRealschule(5º-10ºano,namaioriados estados) que leva escolas vocacionais de tempo parcial de nível médio e superior; a Hauptschule(5º-9ºano)queensinaasmesmasmatériasqueaRealschuleeoGymnasium, masaumritmomaislentoecomalgunscursosdeformaçãovocacional.Atualmenteé possívelparaalunoscomdesempenhoacadêmicoelevadonoRealschulemudarparaum Gymnasiumnagraduação.Alémdestas,existeaGesamtschule,ouescolaabrangente,só encontrada em alguns dos estados. Ela toma o lugar tanto da Hauptschule como da Realschule,erecebeestudantesdo5ºao10ºano. Depois da Hauptschule e Realschule existe a Berufsschule, que combina o estudo acadêmicoemtempoparcialcomaaprendizagemprofissional.Aconclusãocomêxitode umprogramadeaprendizagemlevaàcertificaçãoprofissionalemumadeterminadaárea oucampodotrabalho.Estasescolasdiferemdasdemaismencionadaspelofatodequeo 36 controlenãocabeàsautoridadesescolareslocaisouregionais,masaogovernofederal,à indústriaeaossindicatos.Nãoimportaquetipodeescolaumalunofrequenta,eledeve completar pelo menos nove anos de escolaridade. Um estudante que abandona um Gymnasium, por exemplo, deve se inscrever em uma Realschule ou Hauptschule até completar nove anos de escolaridade (Hoeckel & Schwartz, 2010). A idade média frequentementecitada,de15anos,paraumjovemalemãoentraremseuaprendizado, mudou recentemente para 17 anos, como resultado do aumento do número de graduados na Realschule e no Gymnasium que entram na aprendizagem nas áreas de serviços. Osistemadual A característica mais notável do sistema alemão, comum a outros países de tradição germânicacomoSuiçaeÁustira,equemuitosoutrospaísestratamdecopiarouadaptar, é o sistema dual, em que os estudantes combinam o treinamento prático no setor produtivo com a atividade escolar. A responsabilidade pelo currículo e avaliação da educaçãoéderesponsabilidadedeumacoalizãoderepresentantesdostrabalhadores, empresárioseeducadores.Asassociaçõesempresariaistêmumpapelparticularmente importante,queincluiagestãodosistemademonitoramentodaqualidadedaformação ministrada pelas empresas no sistema dual. Estudos do modelo alemão identificam os seguintes componentes centrais que precisam existir para que o sistema dual possa funcionar: a) um marco legislativo que obriga as empresas a investir na formação dos trabalhadores recém-contratados; b) um mecanismo de financiamento combinando recursosfederais,regionais,edasempresas;c)acapacidadedeanalisarasnecessidades domercadodetrabalhoeodesenvolvimentodecurrículocurrículosapropriadosaelas; d) instituições locais que representam os interesses das empresas; e f) Instrutores e administradoresprofissionaiscapacitados(Hawley2007,2). Mas o sistema dual é somente uma parte de um sistema mais amplo de formação profissional, que tem dois outros componentes: escolas de formação profissional dedicadasaocupaçõesdenívelintermediário,aondepredominammulheres,emáreas comosaúde,serviçosocial,enfermagem,atendentesdejardimdeinfância,assistentes 37 médicas;eumsetorpré-profissionaldetransição,comcursosdecercadeumano,que não levam a certificados profissionais, e que são seguidos por estudantes enquanto aguardamaoportunidadedeentraremumaescolaprofissionalouemumprogamade aprendizagem;epodesertambémodestinofinaldeestudantesdemenosqualificação quenãoconseguemprosseguircomseusestudos. Osistemaalemãoégeralmenteavaliadomuitopositivamente,pelaempregabilidadee altaqualidadedaformaçãoprofissionalqueoferece.Umdosproblemasmencionados, no entanto, é que a própria qualidade do sistema dual fez com que ele se tornasse seletivo, excluindo candidatos com menos qualificação das oportunidades de treinamentomaisprestigiadas,comdiferençasdereputaçãoeprestígioentreosdiversos tiposdeformação,queafetamsuasperspectivasprofissionais(Solgaetal.2014). Suiça NaSuíça,depoisdenoveanosdeescolaridadeobrigatória,osestudantespodemescolher secontinuamaeducaçãonaschamadasescolasdebacharelado,deformaçãogeral(que conduzemaoMatura,equivalenteaoA-LevelinglêsouaoAbituralemão)ouemescolas especializadas do ensino secundário ou ainda em programas combinados de ensino e formação profissional. A educação geral é fornecida pelas escolas de bacharelado acadêmico (Gymniasale Maturitätsschulen) e escolas de ensino médio especializadas (Fachmittelschulen). Escolas de bacharelado acadêmico costumam levar quatro anos e preparamparaoacessoaumauniversidade.Asescolasdeensinomédioespecializadas levam três anos e oferecem um Certificado de Escola de Ensino Médio Especializado (Fachmittelschulausweis), que dá acesso aos colégios de ensino profissional superior (Höhere Fachschulen). Depois de completar um ano adicional opcional, os alunos de escolasespecializadaspodemobterobachareladoespecializado(Fachmatura),quedá acessoauniversidadesdeciênciasaplicadasemsuasrespectivasáreasdeespecialização. Para a formação profissional inicial, existem programas de formação dual de aprendizagem, bem como programas de tempo integral baseados na escola. Os aprendizes passam cerca de três a quatro dias por semana trabalhando na empresa (Lehrbetrieb), e o resto do tempo na escola. Diferentemente dos sistemas duais da 38 AlemanhaedaÁustria,naSuíçaoscursosdentrodasempresassãoparteintegrantedo sistema de formação dual. Os cursos nas empresas são organizados pelas respectivas associaçõesprofissionais(Berufsverbände)eajudamosjovensaadquirircompetências mais práticas. Portanto, a Suíça poderia até mesmo ser classificada como tendo um sistematriplo(TrialesSystem)(Graf2013,214) França NaFrança,aescolaridadeobrigatóriavaidos6aos16anosdeidade,divididaentreuma école élémentaire de 6 anos, e um collège (médio inferior) de 4 anos. A partir daí, conformeodesempenhodosalunosemumexame(diplômenationaldubrevet),existem duas opções, a dos lycées (liceus, médio superior), que pode ser de tipo geral ou tecnológico,eoprofissional.Osliceustêmaduraçãode3anos,culminamsejaemum baccalauréatgénéralouemumbaccalauréattechnologique,quedãoacessoacursosde nível superior. Na opção profissional, os alunos se preparam por dois anos para um Certificatd'aptitudeprofessionale,sejaemumlycéeprofessionnel,oucomoaprendizes em uma empresa, com 200 áreas diferentes de formação. Depois disto, ou entram diretamentenomercadodetrabalho,ousepreparamparaumbaccalauréatprofessionel, quetambémdáacessoacursossuperioresespecializadosde2anos,obrevetdetechnicien supérieur (BTS). Os liceus profissionais podem ser públicos ou privados, operando sob contratocomoEstado.Oscursosincluemdisciplinasacadêmicas,comoliteratura,históriae geografia,matemática,física,umaouduaslínguasmodernas,artesaplicadas,educaçãofísica eaulasdesaúde,segurançaemeioambiente;cursosprofissionaispráticoseaplicadosnas áreasdeformaçãoprofissional;atividadespráticas,naformadeprojetos,trabalhoemgrupo, etc;etrainamentopráticonosetorprodutivo Osdadosde2008-9mostravamque37%,dosalunosqueterminamcollègeseguemarota profissional.Destes,70%vãoparaos1.700liceusprofissionais,eosdemaispara1500centros de formação de aprendizes. Dos que completam o baccalauréat profissional, creca de um terçoobtémoBTS(Teese2011,FranceandMinistèreÉducationNationale2010). 39 ReinoUnido NoReinoUnido,comalgumasdiferençasentreInglaterraeEscócia,oensinoprimáriovai dos5aos11anos,epodeserdadopordiferentestiposdeescola,públicaseprivadas, com diferentes tipos de financiamento. O ensino secundário vai dos 11 aos 16 anos, quando os alunos passam por um exame nacional, o GCSE (General Certificate of SecondaryEducation).Apartirdaíseabremdiferentesopções,conformeodesempenho no GCSE e o interesse dos alunos. Os que se orientam para cursos universitários se preparamtipicamenteemtrêsacincodisciplinasparaosexamesdoGeneralCertificate of Education Advanced Level (A Level), de dois anos de duração, proporcionados por diferentesexaminationboards.Paraosqueseorientamparacursosprofissionais,existem diferentesalternativaseníveisdequalificação,omaiselevadodosquais,oBusinessand Technology Education (BTEC) 3 Level Extended Diploma, também qualifica para a educaçãosuperiornamaioriadasuniversidades.Ascorrespondênciasentreosdiferentes tiposdeníveisdequalificaçõesecertificaçõessãoestabelecidaspeloQualificationsand CreditFramework,queestásendoatualmenterevistopeloOfficeofQualificationsand ExaminationsDepartment(Ofqual),aagênciaresponsávelpelosistemadeavaliaçõese qualificaçõesnopaís(OfficeofQualificationsandExaminationsRegulation-Ofqual2015). Finlândia Depois da educação básica compulsória, os egressos optam pelo ensino secundário superior geral ou vocacional. Ambas as modalidades em geral levam três anos e dão acessoàeducaçãosuperior.AformaçãoprofissionalémuitopopularnaFinlândia,emais de40%dosjovensnogrupoetáriorelevanteiniciamosestudossecundáriossuperiores deformaçãoprofissionalimediatamenteapósaeducaçãobásica.Asmaioresáreassão tecnologia,comunicaçõesetransporteseserviçossociais,desaúdeeesportes.Aseleção dealunosparaoensinosecundárioébaseadaemsuamédiadepontosnasdisciplinas teóricas do certificado de educação básica. Também podem ser utilizados testes de 40 entradaedeaptidão,eosalunospodemreceberpontosparahobbieseoutrasatividades relevantes4. As qualificações profissionais podem ser completadas nos cursos vocacionais de nível secundário, em sistemas de aprendizagem ou através de exames de aferição de competências. A maioria dos jovens completa sua formação profissional em escolas vocacionais,enquantoqueasqualificaçõesporexamesdecompetênciasãonormalmente buscadasporadultos.Alegislaçãofinlandesafoialteradaem2014porumareformaque visafortaleceracertificaçãoporcompetência(learningoutcomeapproach)eaestrutura modulardasqualificações. Singapura5 Singapura segue a tradição europeia de forte separação entre o ensino acadêmico e profissional.Aescolaprimáriaédivididaemumafasedefundamentosdequatroanose umafasedeorientaçãodedoisanos.Naprimeirafase,osestudantesrecebemumabase sólidaeminglês,línguamaternaematemática,civismo,educaçãomoral,estudossociais, artes e ofícios, e educação física. Na fase de orientação, os alunos podem optar por diferentescursosemlínguamaternaeoestudodematemáticaeciênciasemdiferentes níveisdeaprofundamento.AeducaçãoprimáriaterminacomoExamedeConclusãoda Escola Primária (Primary school leaving examination / PSLE), que determina se o estudanteestáprontoparaaeducaçãosecundáriaounão.Dependendodosresultados, osestudantessãoalocadosemdiferentesescolassecundárias.Háquatrofluxosemque osestudantessãodivididos:Especial,Expresso,Normal(Acadêmico)eNormal(Técnico). Asduasprimeirascategorias,EspecialeExpresso,sãocursosdequatroanosdeduração, queconduzemaoExamedeCertificaçãoGeraldeEducaçãoSingapore-Cambridge(Nível Ordinary/‘O’),quedãoacessoàuniversidade,comadiferençadeque,nofluxoespecial, osalunospassamporavaliaçãodenívelelevadodedomíniodelínguachinesa,Malaioou Tâmil.OfluxoNormaléumcursodequatroanosquelevaaumexamedenível‘N’,com 4 5 http://www.oph.fi/english/education_system/upper_secondary_education_and_training http://www.focussingapore.com/education-singapore/ 41 apossibilidadedeumquintoanoseguidoporumnível‘O’.OfluxoNormalAcadêmico tratadedisciplinastaiscomoPrincípiosdeContabilidadeeoNormalTécnicolidacom disciplinasqueenvolvemDesigneTecnologia.Comoemoutrospaíses,existeumdebate sobreapermanênciaounãodestesdiferentespercursosdeformação. AeducaçãotécnicaeprofissionalnosEstadosUnidos Os Estados Unidos têm uma tradição educativa diferente da europeia, apesar de importantes elementos importados da Inglaterra e da Alemanha. A maior parte das instituiçõesdeelite,conhecidascomoformandoaIvyLeague,comoHarvard,Yale,Cornell e Princeton, são universidades privadas, estabelecidas nos séculos 17 e 18, e têm sua origemnomodelodoscollegesinglesesdeOxfordeCambridge,dedicadosinicialmenteà formação religiosa e humanística e que evoluíram depois para se transformarem em universidades de pesquisa. Outras permaneceram, no entanto, permaneceram como liberal arts colleges de 4 anos, sem desenvolver a parte de pesquisa e pós-graduação, comooDartmouthCollege(Clark1992).Aprimeirainstituiçãoainstituirapesquisaea pós-graduação, inspirada no modelo da Universidade de Humboldt alemão, foi a universidadeJohnsHopkins,fundadaem1876(Geiger1993,2004). Amaiorpartedasuniversidadesatuaisamericanas,noentanto,tevesuaorigemnosland grant colleges estabelecidos no século 19, a partir de doações de terras dos governos estaduais,comamissãodedarformaçãopráticaaaplicada,sobretudoparaatividades agrícolas,semaforteseparaçãoentreaformaçãoacadêmicaecientíficaeaformação profissionaltípicasdaEuropa,equesãoaorigemdamaioriadasuniversidadespúblicas estaduais(nãoexistemuniversidadesfederais)(McDowell2003,Eddy1973).Alémdisto, existeumgrandenúmerode“communitycolleges”,emsuagrandemaioriadedoisanos, quedãoformaçãogeralouprofissionalespecializada,enquantoqueoscollegesdequatro anos preparam os alunos para as carreiras universitárias como direito, engenharia ou medicina, ou para mestrados e doutorados profissionais e acadêmicos (graduate education). Na verdade, o sistema norte-americano é muito mais diversificado do que isto,comosepodevernacomplexaclassificaçãodesenvolvidapelaCarnegieFoundation (CarnegieFoundationfortheAdvancementofTeaching2011) 42 Esta grande diversidade no nível superior se reflete também no ensino médio. Após a educaçãoinicial(elementaryschool),quevaitipicamenteatéos11ou12anosdeidade, osalunosiniciamosestudossecundários,divididosemduasfases,ajunioroumiddleea highschool.Aindaqueadenominaçãogeralsejaamesma,oformatoeosconteúdosda educação proporcionada a partir da escola secundária variam muito de um estado a outro,e,dentrodasescolas,osestudantespodemtambémescolhercursosdiferentese comdiferentesníveisdeexigênciaconformeseusinteresseseaptidões.Noveemcada dezalunosqueconcluemoensinosecundárionosEstadosUnidoscursampelomenosum cursonaáreatécnico-vocacional.Aeducaçãotécnico-vocacionalestápresenteemquase todas as escolas públicas de ensino secundário nos Estados Unidos. Em 2008, 36 dos cinquentaestadosamericanosincluíramaeducaçãotécnico-vocacionalcomopartedas disciplinas obrigatórias para a conclusão do ensino secundário. A educação técnicovocacionalcontinuanonívelpós-secundárioemcursosdeumedoisanos,noscommunity colleges,quequalificamparaomercadodetrabalho(Levesqueetal.2008,UnitedStates DepartmentofEducation2012,AmorimandSchwartzman2014). OsdebatessobreoensinotécnicoeprofissionalnosEstadosUnidos Apesardesuaampladifusão,aeducaçãotécnicadenívelmédionosEstadostemsofrido altosebaixosatravésdostempos.OlançamentodoSputnikpelaUniãoSoviéticaem1957 desencadeouumaampladiscussãosobreamáqualidadedaeducaçãonopaís,quefoio caldodeculturaparaumasériedereformasemtodososníveis.Umdeseuspontosmais salientesfoioprogramaNoChildLeftBehindde2001,emaisrecentementeoCommon Core State Standards, que aumentaram significativamente o papel da administração central sobre os sistemas escolares administrados pelos Estados. Estas reformas atingiramtambémashighschools,criticadaspeladebilidadedoscurrículosemciênciae tecnologia(Smith2005,Herold1974).Umaconsequênciafoiqueformaçãoprofissional denívelmédiopassouaservistacomoumaeducaçãodesegundaclasse,quedeveriaser substituídaporumaformaçãogeralmaissólida.Comisto,aaformaçãovocacionalde nívelmédioperdeuespaço,fazendocomqueonúmerodeestudantesseguindotrêsou maiscursosvocacionaiscaíssede34para19%entre1982e2009. 43 Istonãosignificou,noentanto,queodesempenhogeraldapopulaçãotenhasetornado mais elevado e mais homogêneo, fazendo com que o tema da educação vocacional voltasseaservalorizado.Oquesebuscaagoranãoévoltaraosantigoscursosvocacionais debaixaqualificação,massimoferecercaminhosalternativosdeformaçãoprofissional que possam atrair e reter muito mais estudantes e prepará-los melhor, seja para o ingressomaisimediatonomercadodetrabalho,sejaparaaformaçãoespecializadamais avançada. Criticando a negligência com a educação vocacional, Kenneth Grey escrevia, em 2004, que, “NapercepçãodosrepresentantesdoDepartamentodeEducaçãodosEstadosUnidos, todos os adolescentes querem ir para a faculdade; portanto, o ensino médio deve ser apenas para ensinar inglês, matemática e ciências. Os defensores desta visão argumentam que o currículo acadêmico tradicional é a melhor abordagem; afinal de contas, funcionou para eles, e vaifuncionar para todos os alunos, desde que se tenha professoresaltamentequalificadosemcadasaladeaulaesecontroleomaudesempenho através de testes padronizados. A implicação disso é que a Educação Técnica e e Profissional(CTE/CareerandTechnicalEducation)seriaincompatívelcomoNoChildLeft Behinde,portanto,obsoleta”(Gray2004,128). Contraisto,oautorargumentaque,seoobjetivoédefatonãodeixarnenhumacriança paratrás,opçõescurricularessãoindispensáveisnoensinomédio: “Seincluirmososestudantesqueestãoemriscodeabandonaraescola,osalunosque ingressamnaforçadetrabalhodiretamenteapósoensinomédioeosestudantesque aspiramafrequentarafaculdadenoensinotécnicoepré-bacharelado,entãoCTEéuma opçãoimportanteemrelaçãoaocurrículoacadêmicoparamaisdametadedetodosos estudantes do ensino médio, uma alternativa que estes estudantes consideram mais relevante e, portanto, mais eficaz, do ponto de vista educativo, do que programas de estudopuramenteacadêmicos”(p.129). EstesmesmosargumentossãoretomadosemtextosmaisrecentesdeRobertB.Schwartz (Symonds,Schwartz,andFerguson2011,Schwartz2014),quemostramque,aosvintee 44 poucosanos,somente32%daspessoasnosEstadosUnidostinhamconcluídoumcurso superiordequatroanos,10%umcollegede2anos,eprovavelmenteoutros10%algum certificadoprofissionalpós-secundário,deixandoquasemetadedapopulaçãosemuma credencialpós-secundária(Schwartz2014,p.24).Paralidarcomestasituação,elelista vários programas de formação técnica e profissional americanos, busca inspiração nos modelos europeus de formação profissional de alta qualidade, como os da Finlândia, Áustria e Alemanha, que têm como uma das características o forte envolvimento de empregadores no processo educativo, e propõe o que seria um novo sistema de trajetórias, o American Pathway System, notando também que, embora um sistema diversificadocomoestepossaatenderaumagamamuitomaisampladeestudantesdo queosprogramasacadêmicosconvencionais,elesnãovisamdiretamenteosestudantes emsituaçõesderiscooucomcompetênciasacadêmicasmuitobaixas,queprecisamde umatendimentoespecífico. UmaexperiênciarecenteimportantenosEstadosUnidossãoascareeracademies,um modelodeensinocomumaestruturade“escoladentrodaescola”,comumprograma diferenciado de formação profissional. Normalmente atendendo entre 150 e 200 estudantesdesdeo9ºou10ºatéo12ºano,asCareerAcademiessãodefinidasportrês características distintivas: (1) são organizadas como pequenas comunidades de aprendizagemparacriarumambientedeaprendizagemmaisfavorável,personalizado; (2)combinamcurrículoacadêmicoecurrículoprofissionaletécnicoemtornodeumtema decarreiraparaenriqueceroensinoeaaprendizagem;e(3)estabelecemparceriascom os empregadores locais para sensibilizar os alunos para a carreira e fornecer-lhes oportunidadesdeaprendizagembaseadasnotrabalho.Estima-sequeexistammaisde 2.500careeeracademiesemtodoopaís,operandocomoumúnicoprogramaoucomo programasmúltiplosnoâmbitomaisvastodoensinomédio(KempleandWillner2008, 1). 45 3.EducaçãoeTrabalhodosjovensnoBrasil Oacessodosjovensaoensinomédio O ensino médio brasileiro cresceu rapidamente a partir dos anos 90, e vem se estabilizandonosúltimosanosaumnívelrelativamentealto,comcertadedezmilhões dealunosmatriculados,massemperspectivasdesetornaruniversalnofuturopróximo. Hoje,emaioriadapopulaçãocompletaoensinomédio,terminamaiscedo,etemmais chancesfazerumcursouniversitáriodoquequinzeouvinteanosatrás.Ataxabrutade matrículanonívelmédio–ototaldematriculados,comparadocomototaldapopulação entre15e17anos–nãopassavade42%em1992,chegoua88.5%em2003,esemanteve nesteníveldesdeentão.Ataxalíquida–aparceladejovensde15a17anosqueestá matriculadanoensinomédio-temaumentado:erasomentede18.3%em1992,echegou a56.5%em2014.Apercentagemdeestudantescommaisde2anosdeatrasoescolarno ensinomédio,queerade40.3%em1992,caiupara19.1%em2014(Error!Reference sourcenotfound.). OError!Referencesourcenotfound.mostracomoaampliaçãoocorreuparaapopulação brasileiraparadiferentesgerações.Em2015,entreosadultosaoredorde30anos,cerca dedoisterçostinhameducaçãomédiacompletaoumais,ecercade25%tinhaeducação superior,comparadoscom42%e15%,respectivamente,dageraçãoanterior,de50anos. Apopulaçãoaoredorde30anosera,em2015,amaiseducadadopaís,com65%das pessoascomeducaçãomédiaousuperior,dasquaiscercade40%haviamcompletadoo estavammatriculadosemumcursosuperior(Error!Referencesourcenotfound.). Gráfico1–EvoluçãodoEnsinoMédionoBrasil,1992-2014 46 Gráfico1–EvoluçãodoEnsinoMédionoBrasil,1992-2014 EvoluçãodoEnsinoMédionoBrasil,1992-2014 100.0 90.0 80.0 70.0 60.0 50.0 40.0 30.0 20.0 10.0 0.0 1992 1995 1997 1999 2002 2004 TaxaBrutadeMatrícula 2006 2008 2011 2013 TaxaLíquida deMatrícula Defasagemde2anosemais . Gráfico2–Populaçãoadultacomensinomédioousuperior,poridade,2015. Populaçãoadultacomensinomédioousuperior,por idade(percentagens,2015) 70.0 60.0 percentagens 50.0 40.0 30.0 20.0 10.0 0.0 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64 Idade Médio superior incompleto superior competo Fonte:IBGEPNADcontínua4/2015. 47 Gráfico3–Educaçãodapopulaçãode30anos,2015 Educaçãodapopulaçãode30anos,2015 superior 19% semfundamental 21% superiorincompleto 6% fundamental 15% médio 39% semfundamental fundamental médio superiorincompleto superior Fonte:IBGEPNADcontínua4/2015 Amáqualidadedaeducaçãobasileira Esta melhora que se observa no acesso ao ensino médio não foi acompanhada, no entanto,porumamelhoradequalidade,umproblemaqueafetaaeducaçãobrasileira emtodososníveis.Porondeolhemos,aeducaçãobrasileirapareceterbatidoemum teto de vidro que não consegue superar, apesar dos investimentos crescentes que recebeunosúltimostempos,edascentenasdemilharesdepessoasquefazemdelasua atividade profissional. Não é que não tenha havido progresso. Nas últimas décadas, o acessoàeducaçãoseexpandiuparatodosossetoresdasociedade,emtodososníveise emtodasasregiõesdopaís,epraticamentejánãoexistempessoas,napopulaçãomais jovem, que não conseguem ler nem assinar o nome. Diminuiu muito o número de criançasejovensquenãoentramouabandonamaescola,eamaioriaconsegueterminar dealgumaformaosegundograu;diminuíramtambémasdiferençasregionais.Aofinal de2015,50milhõesdebrasileiros,umemcadaquatro,estavammatriculadosemalgum 48 tipo de escola6; e os governos nos diversos níveis - federal, estadual e municipal - gastavam em educação 6.2% do produto bruto do país e 23% do gasto social, uma proporçãomuitomaiordoqueamaioriadospaísesdomundo.7Osetorprivado,segundo estimativas, gastava outros 2% (Menezes-Filho and Nuñez 2011). Refletindo este aumento,osgastosporalunonaeducaçãobásicatriplicaramentre2005e2013. Gráfico4-Investimentopúblicodiretoporestudante,valoresatualizadospara2013 Investimentopúblicodireto porestudante,valoresatualizadospara2013(reaisporano) 6,000 5,000 reaisporano 4,000 3,000 2,000 1,000 0 2000 2001 2002 2003 Infantil 2004 2005 2006 fundamentalI 2007 2008 FundamentalII 2009 2010 2011 2012 2013 Medio Fonte:MinistériodaEducação/INEPhttp://portal.inep.gov.br/web/guest/indicadoresfinanceiros-educacionais/investimento-publico-direto-em-educacao-por-estudante-emvalores-reais-por-nivel-de-ensino Apesardetodaestamobilizaçãodeesforços,aqualidadedaeducação,ouseja,oqueas criançasejovensefetivamenteaprendemeconseguemusar,namédia,émuitoruim,e quasenãotemmelhorado.Sabemosistograças,sobretudo,aoSistemadeAvaliaçãoda EducaçãoBásica(SAEB)criadopeloINEPnosanos90,queestánaorigemdaProvaBrasil edoÍndicedeDesenvolvimentodaEducaçãoBásica(IDEB)implantadosapartir2005 6 Segundo a PNAD contínua do IBGE do 4 trimestre de 2015, haviam 50.739 mil pessoas matriculadas,paraumapopulaçãototalde204.490mil. 7 DadosdoInstitutoNacionaldeEstudosePesquisasEducacionais(INEP)para2013,disponíveis emhttp://portal.inep.gov.br/indicadores-financeiros-educacionais 49 (HortaNeto2007);emaisrecentemente,peloprogramainternacionaldeavaliaçãode estudantesdaOECD(PISA),quecomparaaqualidadedaeducaçãoemleitura,raciocínio matemáticoeciênciasemdezenasdepaísesacadatrêsanos,edoqualoBrasilparticipa desdeoano2000. ÉimportantevercomalgumdetalheosresultadosdoPISA.Oexameconsisteemprovas deleitura,matemáticaeciênciasaplicadasaumaamostrarepresentativadeestudantes de15anosqueestejamnasériecorrespondenteàidade,ouseja,noúltimoanodoensino fundamentalounoprimeiroanodoensinomédio,quesãocercade35%dototaldesta idadenoBrasil–osoutros65%,queficamparatrás,nãoparticipam.Asprovasprocuram medir a capacidade dos alunos em fazer uso dos conhecimentos para a solução de problemaspráticos,eosresultadossãodivididosem6níveis,dosquaisosníveis5e6 correspondem a alto desempenho, os níveis 3 e 4 a desempenho médio, o nível 2 ao mínimoesperadoparaogrupodeidade,eonível1aodesempenhoinsuficiente.Existe ainda um nível zero, para os estudantes que não conseguem responder de nenhuma maneiraàsquestõesapresentadas.Osdetalhesdecomoasprovassãofeitas,aplicadas einterpretadas,sãoimensos,enãopoderiamserresumidosaqui(vejaarespeito,entre outros,Carnoyetal.2015,OECD2014a,b,Klein2011,OECD2007).Bastadizerque,de modogeral,osresultados,apesardealgunsquestionamentos,sãoaceitospelospaíses participantescomoválidos,etêmsidousadosparaavaliaraqualidadedaeducaçãoque proporcionam, entender que fatores estão relacionados com os resultados, e propor melhorasnaspolíticaseducativasdosgovernos. NaúltimarodadadoPISA,em2012,oBrasilficoucom391,401e405pontosnasprovas de matemática, leitura e ciências, bem distante da média de 500 dos países da OECD, lideradosporSingapura,Coreia,JapãoeFinlândia;umpoucomelhordoqueArgentina, Malásia,ColômbiaePeru;masabaixodoChile,México,UruguaieCostaRicanaAmérica Latina.Apercentagemdeestudantesdedesempenhoinsuficiente,abaixodonível2,era, em matemática, 67,1%; em leitura, 49.2%; e, em ciências, 61.0%. No outro extremo, somente1.1%dosestudantestinhamaltodesempenhoemmatemática(níveis5ou6), 0.5%emleitura,e0.3%emciências(OECD2013).OError!Referencesourcenotfound., 50 uecomparaosresultadosdematemáticadoBrasilcomoutrospaísesmostraque,em todoseles,existemestudantesdeníveisdiferentesdedesempenho,mas,noBrasil,temos doisproblemasexcepcionalmentegraves,onúmeroenormedeestudantesnosníveis1 e2,epraticamenteninguémnosníveismaisaltos,quesãoosquepoderiamsededicara atividadesprofissionaisedepesquisadealtonível. Gráfico5–ResultadosdoPISA2002paramatemática,paísesselecionados ResultadosdoPISA2012emmatemática,paísesselecionados(percentagempornível) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Coreia Finlândia Abaixode1 Portugal Nivel1 Nível2 Nível3 Mexico Nível4 Nível5 Nível6 Brasil Asrazõesparaestedesastresãodeduasnaturezas,asquevêmdasociedade,começando pelas famílias, e as que vêm das escolas; e existe uma grande discussão, entre os especialistas,sobreoqueacontecenestesdoisambientes,equalopesorelativodecada um. Sobreasfamílias,sabemostrêscoisasfundamentais.Aprimeiraéqueodesenvolvimento intelectualdaspessoascomeçaaseformarmuitocedo,norelacionamentodascrianças comsuafamíliaeempré-escolasdequalidade.Criançasquedesdecedoconversamcom os pais, ouvem histórias e vivem em um ambiente emocional seguro e estimulante acumulamumamplovocabulário,seinteressamporaprenderaler,escreverepensarpor conta própria, e desenvolvem características de temperamento que as tornam mais sociáveis e produtivas ao longo da vida (Knudsen et al. 2006). Este ambiente familiar depende,porsuavez,daeducaçãodospais,daorganizaçãoeestabilidadedafamília,e dacondiçãosocialemquevivem–émaisdifícilteromesmoestímuloeapoioemocional 51 se os pais têm um vocabulário pequeno, nem sempre estão presentes, e vivem em situaçõesdeconstantetensãoeprivaçãoeconômica.Comoveremosmaisadiante,isto nãosignificaquenadapodeserfeitoparaeducaraspessoasquenãotiveramosestímulos eoambienteemocionaladequadonosprimeirosanos,mastudosetornamaisdifícil. Asegundacoisaquesabemoséqueodesempenhoescolardascrianças,aolongodavida, estáfortementerelacionadoàcondiçãosocialeeducaçãodesuasfamíliasdeorigem,o queestárelacionado,porsuavez,afatorescomoocupação,regiãoderesidênciaeorigem étnicaouracialdasfamílias.Aeducaçãopúblicabrasileiracomeçouaseexpandirmuito tarde,e,atérecentemente,amaioriadascriançasbrasileiras,sobretudomaispobrese deregiõesmenosdesenvolvidas,tinhampaisquenuncaestiveramemumaescola,mal sabiamlerefazercontas,enãotinhamcomoapoiareestimularaeducaçãodeseusfilhos. Éprovávelqueasnovasgeraçõesjápartamdeumasituaçãomelhor,masopoucoque nossosestudantesaprendemhojenãonospermiteserdemasiadootimistas. Oproblemaseagravapelofatodequeascriançasdefamíliasmaiseducadasemaisricas tendemaentraremescolasmelhoresdoqueasdefamíliasmaispobres.NoBrasil,isto significageralmenteestaremumaescolaparticularque,quantomaiscara,maisconsegue contratar bons professores e criar um ambiente escolar estimulante; ou em uma das poucas escolas públicas altamente seletivas, como as escolas militares, escolas de aplicaçãodasuniversiadadespúblics,ouemcursosprofissionaisdetempointegral;ea existênciadeumgrupoestimulantedecolegasajudamuitoaosquechegamcommenos condiçõesemotivação.Asescolasmunicipaiseestaduais,poroutrolado,nemsempre contam com os dirigentes e professores que precisariam, estão sujeitas a incertezas políticas,nãopodemescolherosalunosquerecebem,eestãomuitasvezeslocalizadas emáreassocialmentedegradadas.Escolasquenãodãoaosestudantespossibilidadesde aprender não têm como superar as limitações e estimular a potencialidade que eles possamter. Existemmuitosestudos,noBrasilenomundo,quebuscamidentificarcommaiorprecisão osfatoresqueexplicamaqualidadedasescolas,eemquemedidaelaspodemcompensar osefeitossocioeconômicostrazidospelosalunosepeloambienteexternoemqueelasse 52 situam.UmestudodaConsultoriaMcKinsey,feitoapartirdosdadosdoPISA,concluique ostrêsfatoresmaisimportantesparadesenvolverumsistemaescolardealtaqualidade são,primeiro,conseguiraspessoascertasparaseremprofessores;segundo,transformálosemprofessoreseficientes;e,terceiro,fazercomqueosistemaescolarconsigalevara melhor instrução possível para cada criança, o que significa levar a sério as diferenças socioeconômicastrazidaspelosalunosedesenvolvermaneirasadequadasparalidarcom elas.Orelatórioresumesuasconclusõesemumafrasequeficoufamosa:aqualidadede um sistema escolar não tem como ser melhor do que a qualidade de seus professores (BarberandMourshed2007). OBrasilnãocumpre,infelizmente,comnenhumdestescritérios:asescolaseasredes públicas são, em geral, muito mal administradas, com professores faltando e sendo substituídos com frequência; a maioria dos diretores não têm compromisso e responsabilidadepelosresultadosdosalunos;acarreiradeprofessornãoatraiaspessoas maistalentosasemotivadas,quepreferemascarreirasuniversitáriasmaisprestigiosas; os cursos de formação de professores não os capacitam como deveriam; não existem políticas educativas que tomem em conta a grande desigualdade que existe entre os alunos,todoselessubmetidosaummesmocurrículo,quemuitasvezesnãoécumprido. Estes problemas gerais do sistema escolar brasileiro talvez expliquem o extraordinário pesodosfatoressocioeconômicosnodesempenhodosalunosbrasileiros,emcontraste comosefeitosextremamentereduzidosdosfatoresescolares.NaércioAquinoMenezes Filho,analisandoosdadosdoSAEBparaalunosde4ae8aséries,concluiqueosfatores escolares só explicam 25% da variação no desempenho dos alunos. Ele mostra que os recursosgastoscomasescolasnãofazemdiferença,equepagarmaisaosprofessoressó faz diferença nas escolas privadas. O único fator que parece fazer diferença no desempenho é o tempo de permanência as crianças na escola (Menezes-Filho 2007, Menezes-FilhoandAmaral2009).AndradeeLaros,emoutroestudo,estimaramopeso do fator escola em 17%, com dois componentes principais, o que eles denominam "recursos culturais", que incluem a experiência do professor, qualidade dos equipamentos,climadisciplinaretrabalhocooperativoentreosprofessores,eoatraso 53 escolar,quenarealidadeéumacaracterísticadosalunos,enãodasescolas(Andradeand Laros2007).FranciscoSoares,emestudosemelhante,concluiquefatoresescolaressó explicam12.3%davariaçãodosresultadosdosalunos,eumaconclusãoparadoxalaque chega é que, quando a escola melhora sua infraestrutura e a qualidade de seus professores,adesigualdadeentreseusalunosaumenta;emoutraspalavras,sóumaparte dosalunosconsegueaproveitarosbenefíciosdamelhora(Soares2004). Apesar de tudo, existem escolas que conseguem proporcionar uma formação muito melhordoqueamédiaemsituaçãosemelhanteemtemosdonívelsocioeconômicodos alunosederecursos.DoisestudosdaFundaçãoLemanneItauBBAbuscaramidentificar osfatoresquepodemexplicarestasdiferenças.Sãoquatroaspráticasquegarantemos bonsresultados:1)definirmetaseterclarooquesequeralcançar;2)acompanharde perto–econtinuamente–oaprendizadodosalunos;3)usardadossobreoaprendizado paraembasaraçõespedagógicas;e4)fazerdaescolaumambienteagradávelepropício ao aprendizado. Estas práticas podem ser resumidas em uma palavra: gestão. Para os anosfinaisdoensinobásico,oestudoapresentaumquadrodefatoresmaiscomplexo, alguns relativos ao funcionamento da rede escolar, e outros às escolas propriamente ditas,emsuamaioriarelacionadostambémàgestão.Asmelhoresescolasgarantema frequênciaepermanênciadosalunos,recebemapoiodassecretarias,osgestorescuidam dovínculodosprofessorescomaescola,osprofessorestêmaltasexpectativasquantoao desempenhodosalunos,otempopedagógicoégarantido,odesempenhodosalunosé avaliadocontinuamente,eháumapráticaconstantedeleitura(LemannandBBA2012a, b). Asboaspráticasgerenciaisidentificadasporestesestudospodemserpostasemprática hoje,masaeducaçãobrasileirasóalcançaráumpatamarrazoávelquandoconseguirmos avançarnorecrutamento,formaçãoequalidadedosprofessores.Otetodevidropodee deve ser quebrado. A Prova Brasil mostra que tem havido, nos últimos anos, alguma melhoranaeducaçãofundamentalinicial,de1aà5asérie;menosnosanosfinais,da6aà 9asérie;masnoensinomédio,avaliadopeloSAEB,nãotemhavidoprogressoalgum. 54 Oensinomédioetécnico Amáqualidadedaeducaçãofundamentalafetafortementeoensinomédio,que,além deseusproblemaspróprios,aindaprecisalidarcomumapopulaçãoque,emsuagrande maioria, não aprendeu o mínimo que se esperaria nos anos anteriores. Apesar disto, todososalunos,emprincípio,devemcumpriromesmoprogramadeeducaçãogeral,com 13oumaisdisciplinasobrigatórias,eummínimode2400horasdeestudoaolongode três anos, um currículo pautado, em grande parte, pela preparação para o Exame NacionaldeEnsinoMédio(ENEM).Alegislaçãoatualbrasileira,diferentementedagrande maioria dos países, não permite a existência de trajetórias diferentes de estudos no ensino médio, e só admite a formação profissional como atividade complementar e adicionalàeducaçãogeral8. Para os estudantes que queriam obter uma formação técnica de nível médio, as alternativassãosematricularemumprogramadetempocompleto,dosquaisexistem poucos,emqueoensinogeraleprofissionalseriamproporcionados,emtese,deforma integrada;seguirumcursotécnicoemumaoutraescola,concomitantementeaoensino geral;oufazerumcursotécnicodepoisdoensinogeral,deformasubsequente. O 8 Alegislaçãoprevêtrêsmodalidadesdecursosprofissionais:aformaçãoinicialecontinuadade trabalhadores,comummínimode160horas,esemrequisitosprévios;aeducaçãotécnicade nível médio, de 800 a 1600 horas de duração; e em cursos tecnológicos de nível superior. A educaçãoprofissionalemsuasdiversasmodalidadeséreguladapelaLeideDiretrizeseBasesda Educação(Lei9.394,de20/12/1996),alteradapelaLei11.741,de16/07/2008,eváriosdecretos, incluindooDecreto8.268,de18/06/2014. 55 Quadro 2 mostra como está distribuido o sistema de ensino médio no Brasil, com o númerodeestudantesmatriculadosnosdiversostiposdeescola.São10,6milhõesde estudantes,71%dosquaisnoscursosregulares,oupropedêuticos,comaidademédiade 16.6anos,próximadoesperado,queseriade16.Agrandemaioria,77%estánasredes públicasestaduais,eorestanteeminstituiçõesprivadas,compequenaparticipaçãode instituiçõesfederais,municipaiseoutras. Paraestudantesdemaisde18anos,existemváriasalternativasdeadquirirodiplomado ensinomédiosempassarpeloscursosregulares.Aprincipalalternativasãoosprogramas de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que podem ser presenciais ou não; e existe também a possibilidade de obter o diploma de ensino médio tendo um desempenho minimamentesatisfatórionaprovadoENEM.Em2015haviam1,3milhõesdeestudantes matriculadosemcursosdestetipo,agrandemaioriadosquaisnasredesestaduais,e24% delesemcursossemi-presenciaisouàdistância. Oterceirogruposãoosmatriculadosemcursostécnicos,com1.7milhões.Aindaexistem estudantes,sobretudomulheres,emescolasnormaisdenívelmédioemalgunsestados, deformaçãodeprofessoras,quepodematuarsobretudonaeducaçãopré-escolar,etêm direitodeacederaoensinosuperior.Paraosdemais,noscursosdenominados"técnicos", ocaminhoaoensinosuperiorestávedado,anãoserquecompletemtambémoensino médiopropedêuticoouregular. Idealmente,nomodelovigente,omelhorformatoseriadecursosintegrados,emqueas duas partes, profissional e propedêutica, sejam proporcionadas conjuntamente. São poucas,noentanto,asvagasparaestescursos,quesedãosobretudonosistemafederal, comosInstitutosFederaisdeEducação,CiênciaeTecnoogia(133mil)eestaduais(224 mil),comdestaqueparaosestadosdeCeará,Bahia,SãoPauloeParaná.Nãoháevidência claradeque,nestescursos,asduaspartessejamdefatointegradas,emmuitoscasoselas simplesmentecoexistememhoráriosdiferentes.Aidadedestesalunosésemelhanteà dosqueseguemoscursospropedêuticos.Aseleçãodealunossedá,geralmente,através deprovas,eháevidênciaqueamaioriadestesalunostemcomoobjetivoseprepararpara ingressarnoensinosuperioratravésdoENEMoudaFUVESTemSãoPaulo. 56 Paraosmaisvelhos,queprecisamtrabalharenãotiveramacessoaoscursosintegrados, as opções são cursos concomitantes ou subsequentes. Os 512 mil alunos de cursos concomitantesfazemcursostécnicosemoutrasescolasantesdecompletaremoensino médioregular.Sãomaisvelhos,comquase21anosdeidadeemmédia,esedistribuem emproporçãosemelhanteentreasredesestaduais,privadas,ecursosproporcionados peloSistemaS.Os790mildoscursossubsequentessãomaisvelhosainda,comquase28 anos de idade em média, e mais da metade frequentam cursos proporcionados por escolas particulares. Finalmente, existe uma pequena parecela de estudantes que combinam o curso técnico com o EJA, uma modalidade que envolve menos de 40 mil estudantes,todoselesmaisvelhos. Nalegislaçãoenasestatísticasbrasileiras,"ensinotécnico"nãosignificanecessariamente ensinovoltadoparaatividadesdenaturezatécnica,comoaoperaçãodeequipamentos ou trabalho em laboratório, ou na área de informática, mas inclui qualquer tipo de educação de nível médio voltada para uma atividade profissional. Os 1.7 milhões de estudantesdestescursossedistribuememcercade250áreasdeformaçãotécnica,que o censo escolar agrupa em 13 "eixos" de formação (Quadro 3). Os cursos mais demandadossãoosdaáreadesaúde,com13.3%dosalunosemcursosdeenfermagem e radiologia; gestão e negócios, com 13% em administração e logística; seguido de controle e processos industriais, com 9.1% em mecânica, eletrotécnica e eletrônica; e informação e comunicação, com 9.3% em informática e redes de computadores. A maioriadoscursossãodadospelosetorprivado,seguidopelasredesestaduaisepelo sistemafederal,edepoispelosistemaS. Uma outra informação importante sobre o ensino médio é a proporção de alunos nas diversascategoriasemcursosnoturnos:35%dototal,eamaioriadosqueseguemcursos técnicos.Estudantesmaisvelhosqueprecisamtrabalharpodem,defato,necessitarde cursos noturnos; mas sabe-se que os cursos noturnos tendem a ser precários, com professoresealunoscansadoseusoinadequadodotempoescolar.Umaoutraalternativa sãooscursossemi-presenciaiseàdistância,seguidospor7%dosalunosecursostécnicos concomitantese14%dosalunosdecursostécnicossubsequentes. 57 Épossívelresumirestasinformaçõesdizendoqueagrandemaioriadosalunosdoensino médioestáemcursospropedêuticosemescolasestaduais,muitosdosquaisemcursos noturnos,equeoensinotécnicoprofissionalsóatendeaumaminoria,enãoseconstitui emumaalternativaefetivadeformação,masumrecursocomplementareadicionalpara estudantesmaisvelhosqueprecisamtrabalhar.OsdadosdoSAEBedoPISAmostrama precariedadedaformaçãoqueelesrecebem,alémdagrandedesigualdade,perceptível quandoexaminamosoENEMeseuimpactonegativosobreoensinomédio. OfunildoENEM O Exame Nacional de Ensino Médo –ENEM – foi instituido em 1998 como um exame voluntário desenvolvido pelo Ministério da Educação para servir de referência para a qualidade do ensino médio no Brasil, que vinha se expandindo rapidamente, e hoje é utilizado como principal mecanismo de seleção de alunos para as universidades e institutosfederaiseparaconcederdiplomadenívelmédioparaadultosnãocompletaram aescola.Pensadoinicialmentecomoummecanismoparamelhoraraqualidadedoensino médioedemocratizaroacessoaoensinosuperior,elesetransformouemumagrande camisadeforçasobreasescolas,eagravouosproblemasdedesigualdadenosistema. O ENEM foi concebido inicialmente uma prova geral, avaliando as competências dos estudantes no domíno da linguagens, compreensão de fenômenos, enfrentamento de situações-problemas, construção de argumentações e elaboração de propostas de intervenção na sociedade (Castro and Tiezzi 2005, 139). Sem testar diretamente o conteúdodasmatériasescolares,oENEMbuscava,sobretudo,influenciarasescolaspara que elas desenvolvessem entre os alunos competências mais gerais, de forma interdisciplinar e contexualizada. Embora voluntário, seus resultados começaram a ser utilizados por universidades como um dos critérios para a seleção de seus alunos, e o número de participantes cresceu rapidamente. Seu impacto sobre o ensino médio propriamenteditoédesconhecido. Em2009oMinistériodaEducaçãoreformulouoexame,transformando-onoprincipal mecanismodeacessoàsuniversidadesfederais,etambémparaaseleçãodealunospara 58 o PROUNI, o programa de bolsas de estudo para o ensino superior privado. Nesta transformação,aprovainicial,de63perguntaseumaredação,setransformouemuma maratonadedoisdiascomprovasseparadasdeciênciasdanatureza,ciênciashumanas, linguagemmatemáticaeredação,agoraamarradasaocurrículoescolar.Em2014,último anoparaoqualexisteminformaçõesdetalhadas9,8,7milhõesdepessoasseinscreveram, e5.6milhõescompletaramasprovas. Adistribuiçãodosalunospelasuniversidadesfederaissedáporumsistemaunificado,o SISU,peloqualoscandidatosindicamsuasuniversidadesecursosdepreferência,esão selecionados conforme seu desempenho. Algumas universidades e cursos podem dar pesosdiferentesàsdiferentesprovasdoENEM,masnãoéapráticadominante.NoSISU 2015, para os que fizeram as provas do ENEM, foram abertas 205 mil vagas em universidadeseinstitutosfederais. Gráfico6-OFunildoENEM OFunildoENEM 8,721,946 6,227,469 5,632,848 2,791,334 250,000 Inscritos Presentes Completaramaprova Participaramdo SISU Vagasdisponíves Fonte:MicrodadosdoENEM2014,tabulaçãoprópria. 9 OInstitutoNationaldeEstudosePesquisasEducacionais(INEP)divulgaosmicrodadosdoENEM, ou seja, as informações desidentificadas de cada participante, que foram utilizadas para esta análise.http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar 59 Dototalde8.7milhõesdeinscritos,1.4milhõesaindanãohaviamcompletadooensino médio em 2013, e participaram como treinamento. Outros 1.7 milhões estavam terminandooensinomédioem2013,cercade80%dosalunosmatriculadosna3asérie naqueleano;eoutros5milhõeshaviamterminadooensinomédioemanosanteriores. Alémdestes,500milnãohaviamconcluidooensinomédio,ebuscavamacertificação. Achancedeumcandidatoconseguirumavagaémenosde4%,eoENEMéumjogode cartas marcadas, em que o resultado já se sabe de antemão: deixando de lado as diferenças individuais, ele depende fortemente no nível socioecômico da famíia do estudanteedeseelevemdeumaescolapúblicaouprivada.Asnotasdecorte,ouseja,o mínimodepontosnecessáriosparaentraremumauniversidadefederal,vãode550a 600,paracursosdebaixademandacomopedagogiaaserviçosocial,a700oumaispara cursosdealtademandacomomedicinaeodontologia. Gráfico7–MédiadoENEM,poreducaçãodopaietipodeescola MédiadoENEM,poreducaçãodopaietipodeescola 630 610 590 570 550 530 510 490 470 450 Nãoestudou FundamentalFundamental Medio I 2 incompleto Pública Médio completo Superior Incompleto Privada Superior Fonte:MicrodadosdoENEM2014 OError!Referencesourcenotfound.mostraanotamédiadosparticipantesdoENEM 014conformeaeducaçãodopai,queéumbomindicadordonívelsocioeconômicoda família,etipodeescola.Paraosqueestudaramemescolaspúblicas,amédiavaide469 pontos,parafilhosdepaisquenãotiverameducação,até537paraosfilhosdepaiscom educaçãosuperior.Paraosqueestudaramemescolasparticulares,asmédiasvãode498 60 a 605 pontos. Estar em uma escola particular proporciona 30 pontos adicionais para alunos de pais sem educação formal, e 68 pontos para alunos de pais com educação superior. Uma outra maneira ver estes dados é pela proporção de candidatos que conseguem600oumaispontosemmédia:37%dosquevêmdeescolasprivadas,e7% dosquevêmdeescolaspúblicas. Paraosquenãoconseguementrarnasuniversidadespúblicas,restamasalternativasde entrarparaoensinosuperiorprivado,obterumabolsaparaoPROUNI,voltaraoensino médioparafazerumcursoprofissionalatravésdeumsistemadeseleçãodenominado SISUTEC,oudesistirdecontinuarestudando.Entrarnoensinosuperiorprivado,mesmo comumabolsadoPROUNIoufinanciamentodoFIES,éuminvestimentoderisco:Em 2014,3.1milhõesdepessoassematricularamnoensinosuperiorprivadoeapenas805 milseformaram,oquesignificaquequase70%nãoterminam,supondoqueosetornão esteja crescendo; e, dada a má qualidade da grande maioria dos cursos, nem todos conseguemdepoisexerceraprofissãoescolhida.OPROUNI,ProgramaUniversidadePara Todos,émaisreduzidodoqueseunomeindica:em2015foramoferecidas213milbolsas PROUNI,dasquais135milintegrais.AseleçãoparaoPROUNIcombinacritériosdenota noENEMcomcritériossocioeconômicos(cor,renda),enemtodososalunosmaispobres de escolas públicas atingem a pontuação mínima necessária na prova. O SISUTEC, finalmente, foi instituido em 2013, com cursos de ensino técnico proporcionados sobretudo por universidades privadas e pelo Sistema S totalmente financiados com recursos do PRONATEC, o programa governamental de apoio à educação profissional. Para2015foramanunciadas83.641vagas10,masnãoháinformaçõesdisponíveissobre quantasforamefetivamentepreenchidas,eemqueáreas,etampoucosobreaqualidade doscursosoferecidos. AjustificativaparaatransformaçãodoENEMemumexamevestibularunificadoeraque eletornariaoacessoaoensinosuperiormaisdemocrático,edefatoosistemapermite que estudantes de qualquer parte possam se candidatar a uma vaga em qualquer 10 http://www.sisutec2016.com/sisutec-sisutec-inscricoes-vagas-sisutec-2016/ 61 universidade federal do país. Mas, ao criar um grande funil, criou uma situação mais elitistadoqueantes:asinstituiçõesregionaisperdemvagasparaalunosvindoderegiões mais ricas, as notas de corte são cada vez mais altas, e as universidades perdem a possibilidade de selecionar alunos que sejam mais adequados a seus projetos pedagógicoseprofissionais.Aseparaçãoentrealunoscotistasenãocotistasnãoajuda, porqueofunilserepetedentrodecadagrupo.NoSISUde2015,baseadonoENEMde 2014, o total de inscrições foi de 2.791 mil, das quais 51,9% pela ampla concorrência, 42,7%pelaleidecotas,eainda5,4%paraaçõesafirmativas.Arelaçãocandidatoporvaga pelaleidecotasfoimaiorquenaamplaconcorrência(27,99contra25,66)11 Ao se transformar no grande objetivo da grande maioria dos alunos do ensino médio, comoumaestreitaportadesaída,oENEMimpõeapraticamentetodasasescolasum programadeestudospesado,sempossibilidadesdeescolhaporpartedosalunos,ecom resultados já predeterminados pelas características socioeconômicas dos alunos e das escolasquefrequentam.Éumsistemaqueprecisaseralterado,dentrodeumareforma maisgeraldediversificaçãodoensinomédiobrasileiro. Educaçãoeemprego Nãoéporacasoquetantaspessoassematriculamnasescolas,apesardeseusproblemas. Alémdeoutrosbenefícios,maiseducaçãotrazmaiorrenda,maisacessoaomercadode trabalhoemenosdesemprego(Error!Referencesourcenotfound.).Aofinalde2015,na opulaçãode18a50anos,entreossemeducaçãofundamental,35.6%estavamforada forçadetrabalhooudesempregados;entreosdenívelsuperior,somente13.2%(Error! eference source not found.). O efeito da educação é ainda mais acentuado entre as mulheres,emboraseusrendimentosmédiossejammenores.Emgeral,aproporçãode mulheres fora do mercado de trabalho é maior do que a dos homens, mas, entre as mulheresquenãocompletaramoensinofundamental,ametadedogrupoentre18e50 11 http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/01/mec-divulga-aprovados-no-sisu2015.html 62 anosestavaforadomercadodetrabalho,contrastandocom16.8%entreasdeformação superior. Gráfico8–Níveisderendaporeducação Níveisderendaporeducação(rendamensalmédiahabitual) 8000 4000 2000 1000 500 SemInstrução Fundincompleto Fundamental Médioinc Homens Médio Supincompleto Mulheres Superior Fonte:IBGEPNADContinua4/2015 63 Gráfico9–Proporçãodeinativosoudesempregados,poreducaçãoesexo Proporçãodeinativosoudesempregados,poreducaçãoesexo,18a50 anos 70 60 50 40 30 20 10 0 SEMFUNDAMENTAL FUNDAMENTAL MÉDIO Homens SUPERIOR mulheres TOTAL Fonte:IBGEPNADcontínua4/2015 Atitulaçãoescolar,deensinomédioousuperior,éimportante,mas,porsisó,nãogarante uma posição que faça uso das competências e uma renda correspondente ao nível educacional. Dos que tinham educação de nível médio, somente 18.6% estavam em ocupaçõesclassificadasdeníveltécnicoousuperior;entreosquetinhamnívelsuperior, cercademetadeestavaematividadesdedireçãoouprofissionaisdenívelsuperior,eos demaisematividadestécnicasoudeoutrotipo(Quadro4) Uma maneira de ver a diferença entre estas diversas posições é comparando os rendimentosmédiosdasdiversascategoriasprofissionaiseníveisdeeducação(Quadro 5).Emtodasascategoriassociais,tereducaçãosuperiorasseguraumnívelderendamais alto; mas existe muita desigualdade de renda e, presumivelmente, também de 64 competênciasentreaspessoasmaiseducadas,umefeitodaaltadesigualdadequeexiste nointeriordosistemaeducativo(Quadro6). Umaanálisedetalhadadoefeitodaeducaçãoprofissionalnarenda,baseadanaPesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE, mostra efeitos positivos, ainda que não espetaculares (Almeida, Anazawa, et al. 2015). Ter feito um curso curto de formação inicialelevaosalário,emmédia,em2.2%;entreosquecompletaramocursosecundário, terfeitoumcursotécnicoproporcionaumavantagemsalarialde9.7%;eossaláriosdos que completam cursos tecnológicos de nível superior são similares aos dos que completamcursossuperioresregulares,muitomaioresdoqueosquesócompletamo cursosecundário.Apesquisamostratambémquealgunscursosprofissionais,comoos proporcionados pelo sistema S na área de manufatura leva a salários bem mais significativosdoqueosdemais. É preciso observar, porém, que nem sempre o investimento em educação compensa. Maisdametadedosqueentramnoensinosuperiornuncaterminamoscursos,emuitos acabamtrabalhandoematividadesdenívelmédio,semprecisardomesmoinvestimento emtempoedinheirodoqueumcursodenívelsuperior.Umaavaliaçãodosresultados dasbolsasdeformaçãoinicialfinanciadaspeloprogramaPRONATEC(BolsaFormação), comcercade3.5milhõesdeparticipantes,feitaportécnicosdoMinistériodaFazenda concluiu que "não existe diferença estatística significativa entre as probabilidades de reinserçãonomercadodetrabalhoformalentreogrupodosinscritosquecursarameo grupo de controle na maioria dos Estados e eixos tecnológicos. O mesmo pôde ser verificadocomrelaçãoaosganhossalariais"(BarbosaFilho,Porto,andLiberato2015). Na medida em que o número de pessoas educadas aumenta, o mero certificado de conclusãodeumcursoperdeseuvalor,equalidadeeapertinênciadaformaçãoadquirida setornammaisimportante.Atéhoje,aspolíticasparaeeducaçãobrasileirasemprese preocuparamsobretudocomacesso,masjáéhoraparacolocarostemasdequalidadee relevânciaemprimeiroplano. 65 4.Políticaselegislaçãoparaoensinomédioeprofissionalna educaçãobrasileira Aevoluçãodasconcepçõessobreoensinotécnicoeprofissional AhistóriadaeducaçãotécnicaeprofissionaledasrespectivaspolíticasnoBrasiltemsido escrita e reescrita de diferentes formas. Se os fatos ou eventos mencionados são obviamentesempreosmesmos,aleituradeseusdeterminantesedesuarelaçãocoma sociedadevariamdeacordocomospressupostosteóricosemetodológicosdosautores. Dois grandes grupos de autores podem ser mencionados, sem pretender que haja homogeneidadedentrodecadaumdeles.Deumlado,aquelesquesededicamaestudar os movimentos segundo os quais essa modalidade de educação evoluiu na história brasileira, ressaltando sua contribuição e suas necessidades, à luz do que ocorreu em outros países. Aí podem ser situados autores que recuperaram a história da educação brasileirae,dentrodela,atrajetóriadoensinoprofissional,comoOtaízaRomanelli,Jorge Nagle,LaurodeOliveiraLima,ArnaldoNiskier,PauloNathanaelPereiradeSouzaeCelso SuckowdaFonseca(Romanelli1978,Nagle1974,Fonseca1961,NiskierandNathanael 2006,SouzaandSilva1984,OliveiraLima1975,1962).Outrosautoresvoltaram-semenos para o enfoque histórico e mais para o destaque da relevância do ensino técnico na sociedade brasileira, com abordagens educacionais, políticas, sociológicas ou econômicas, como Claudio Moura Castro, Cândido Gomes, Simon Schwartzman e outros(Gomes2009,Gomes1998,Castro2005,2009,Castro2010,Castro2011,Castro and Schwartzman 2013, Schwartzman and Castro 2013, Schwartzman 2014). Em boa medida,osenfoquesdessesautoresencontramestreitarelaçãocomasconcepçõesque nortearamalegislaçãoeaspolíticasqueenfatizaramopapeleaespecificidadedoensino técnico, como alternativa formativa que, dentro de sua própria organização, pode oferecer conteúdos e desenvolver competências que, embora voltadas para campos profissionais específicos, promovem formação compatível com a cidadania e as necessidadeseconômicasesociaisdasociedade.Essasconcepçõesconduzem,emgeral, aduaspropostasdeorganizaçãoescolarparaoensinotécnico:umaemqueelesetorna 66 opção alternativa ao ensino médio geral e não um apêndice deste, dando acesso a diplomas equivalentes e possibilitando a continuidade de estudos em nível superior; outra é a proposta segundo a qual o ensino técnico deve ser ministrado preponderantemente em instituições específicas, de modo concomitante ou subsequenteaoensinomédiogeralcursadonasescolasregulares.Nasduasvertentes, nãosehierarquizaoensinogeraleoensinotécnico,quesãoigualmentevalorizadoscomo alternativasformativas,contemplandosuarelaçãocomamodernasociedadetecnológica e o imperativo de atendimento às necessidades de inserção dos jovens no mundo da produção. Outro grupo reúne autores que adotam enfoques de origem marxista ou gramsciana. Analisam o papel do ensino técnico e profissional e das políticas a ele associadas no reforço das condições de reprodução da forma de organização econômica e social no Brasil.Suaspropostassãoformuladasnaperspectivadesuperaçãodessarealidade,em abordagens educacionais ou filosóficas. Aqui, por exemplo, podem ser encontrados autores como Gaudencio Frigotto, Maria Ciavatta, Acácia Kuenzer, Dermeval Saviani e outros (Gentili and Frigotto 2000, Ciavatta, Frigotto, and Oliveira 2001, Frigotto 2002, Frigottoetal.2002,Ciavatta2005,Kuenzer1988,1997,Saviani2007,2008).Osenfoques desses autores se direcionam para políticas que supõem, para a formação técnica, o requisitoantecedentedaformaçãointegraloferecidanoensinomédiogeral.Encontram inspiraçãocentralnoconceitodepolitecnia,quepostulaasuperaçãodadicotomiaentre trabalho manual e trabalho intelectual, entre instrução profissional e instrução geral (Saviani1989).Aorganizaçãodaeducaçãoescolar,especialmentenoensinomédio,deve superaraquelaqueseriadecorrentedeumaconcepçãocapitalistaburguesa:oensino profissionalparaaquelesquedevemexecutareoensinocientífico-intelectualparaosque devemconceberecontrolaroprocessodetrabalho.Aconcepçãocurriculardecorrente, adochamadoensinomédiointegrado,comoseveráadiante,aindaquetransitória,supõe que o estudante do ensino técnico curse toda a formação geral, a ela adicionada a formaçãoprofissionalpropriamentedita. 67 A leitura desses e muitos outros autores contribui para a formação de um quadro contextualdiversificadoparaacompreensãodasquestõescentraisrelacionadasàhistória e as políticas da educação técnica e profissional no País. As diferentes leituras dessa histórianãosecorporificamapenasnasanálisesfeitasporessesautores,mastambémse revelamnosfatos,embateseposiçõesassumidaspordiferentesgrupossociaisenvolvidos naorigemenaformaçãodessamodalidadeeducacionalnarealidadebrasileira,aolongo dotempo. As concepções do primeiro grupo de autores, por exemplo, se apresentam, em graus variadosdeintensidade,naspolíticasligadasàsmudançasocorridasduranteosanos50 edecorrentesdaaprovaçãodaLeinº4.024,de1961(dediretrizesebasesdaeducação nacional-LDB)edaLeinº9.394,de1996(novaLDB).Jáosenfoquesdosegundogrupo deautoresseapresentammaisnitidamentenasprimeiraspropostasdeprojetosdelei paraanovaLDBde1996e,nalegislaçãopropriamentedita,pormeiodasalteraçõesna Leinº9.934,de1996,introduzidaspelaLeinº11.741,de2008. Asprimeirasmudanças:osanos50eaequiparaçãodoensinomédioedoensinotécnico A Reforma Capanema, realizada entre os anos de 1942 a 1945, reorganizou o ensino secundário e regulamentou o ensino industrial e comercial, além de promover a instituiçãodoServiçoNacionaldeAprendizagemIndustrial(SENAI).JáfindaaeraVargas, com novo Ministro da Educação, esse movimento teve sequência, em 1946, com a reorganização do ensino primário, a regulamentação do ensino normal e agrícola e a criaçãodoServiçoNacionaldeAprendizagemComercial(SENAC). Emboraessasreformastenhamavançadobastantenaestruturaçãodoensinotécnicoprofissional,elasmantiveramaseparaçãoentreessamodalidadeeoensinosecundário geral, conferindo apenas a este o direito de continuidade de estudos na educação superior. Essetemadaequiparaçãofoiograndemotedodebatepolítico-legislativonesseperíodo. Decertomodo,prevaleciaaquestãodacontinuidadedosestudosemdireçãoaonível superiorenãoexatamenteopapeloufunçãodoensinotécniconosistemadeensino 68 brasileiroedeste,nasociedade,aindaqueessetematenhasidomuitodebatidonoPaís, até mesmo muitos anos antes, como foi o caso dos alentados debates promovidos na CâmaradosDeputadosduranteosanos20. Aequiparação,paraesseefeito,ocorreupormeiodaLeinº1.821,de12demarçode 1953,quedispôssobreoregimedeequivalênciaentrediversoscursosdegraumédio parafinsdematrículanociclocolegialenoscursossuperiores(éimportantelembrarque, naépoca,ograumédiocorrespondiaàsidadesde11a14anos,queéhojeosegundo ciclodaeducaçãofundamental,eocolegialàsidadesde15a17,ouseja,aonívelmédio atual).Poressediplomalegal,passaramateracessoàeducaçãosuperiorosegressosdos cursos técnicos do ensino comercial, industrial ou agrícola, com duração de três anos. Esseacesso,porém,eradirecionadoadeterminadascarreiras,nostermosdoDecretonº 34.330,de21deoutubrode1953.Osegressosdoscursostécnicosdeensinocomercial, comduraçãomínimadetrêsanos,poderiampostularmatrículanoscursosdeEconomia, Direito, Geografia, História, Ciências Sociais e Jornalismo. Aos provenientes dos cursos técnicosdeensinoindustrialeraadmitidooingressonoscursosdeEngenharia,Química Industrial, Arquitetura, Matemática, Física, Química e Desenho e ainda, se também concluídoocursopedagógicodoensinoindustrial,aocursosuperiordePedagogia.Para os que concluíssem os cursos técnicos de ensino agrícola, era facultado o acesso aos cursosdeEngenharia,Agronomia,Veterinária,Física,Química,HistóriaNaturaleCiências Naturais. Outras disposições tratavam do acesso a cursos superiores de Pedagogia e Letras por egressos do segundo ciclo do curso normal e, além desses, também ao de DireitopelosconcluintesdocursodeSeminário,comduraçãomínimadeseteanos. Aorigemdessamudançalegislativaestánoprojetodeleinº690,de1951,deautoriado Deputado Ulysses Guimarães, que pretendia apenas assegurar o acesso à educação superioraosegressosdoscursosnormais,aoqualseagregaramdiversosoutros,comfoco específico nessa formação. Amplo debate se estabeleceu na Câmara dos Deputados, duranteoqualemergiramtrêsquestõesrelevantes.Aprimeiradelas,aexistênciadeuma leianterior,aLeinº1.076,de31demarçode1951,quepermitia:(a)queosegressosdos primeirociclodoscursosdeensinocomercial,industrialouagrícolativessemacessoao 69 curso colegial (clássico ou científico), se aprovados em exames das disciplinas não cursadasdocurrículodoprimeirociclodoensinosecundária;(b)queosdiplomadosdos cursoscomerciaistécnicosingressassememcursossuperiores,seaprovadosemexames vestibulares.Asegundaquestãofoiresultantedemovimentaçãoparlamentarnosentido deampliaressaúltimapossibilidadeparaosconcluintesdoscursostécnicosindustriais, comofoiocasodoprojetodeleinº404,de1951,doDeputadoMenottidelPicchia.A terceiraquestãorefletiuumposicionamentodoslegisladoresnosentidodeassegurara diversidadeeaflexibidadenaformaçãodenívelmédioe,simultaneamente,aigualdade nosdireitosaprosseguimentodeestudosemnívelsuperior.Esseposicionamentopode ser verificado no parecer do Deputado Carlos Valadares, relator da proposição do DeputadoUlyssesGuimarãesedasdemaisaelaapensadas,cujoSubstitutivo,umavez aprovado, converteu-se na Lei nº 1.821, de 1953. Do parecer, destaca-se o seguinte trecho, citando relatório de Congresso de Reitores realizado em São Paulo, em 1950 (BrasilCâmaradosDeputados1951p.31): Aflexibilidadeeaarticulaçãodoscursosdenívelmédiosãoumimperativo davidademocrática,porqueestabelecemparatodososescolaresmaiores possibilidades de escolha da profissão adequada às suas tendências ou aptidões, resultando daí melhor encaminhamento dos candidatos às escolassuperiores. Estacaminhadalegislativa,porém,nãosefezdemodolinearouisentadecontrovérsias. O mencionado projeto de lei nº 404, de 1951, do Deputado Menotti del Picchia, por exemplo,foirejeitadoumanoantes,naesteiradecontundentemanifestaçãodoPoder Executivo,naspalavrasdoentãoDiretordoEnsinoIndustrialdoMinistériodaEducação eSaúde,SolonGuimarães(BrasilCâmaradosDeputadosandComissãodeEducaçãoe Cultura1951p.27-28): Se pudéssemos avançar nossa opinião, diríamos que a lei 1076 , cujos benefíciossequernoprojetoestendidosaostécnicos,nãoconsultouaos interêsses do País, porque, longe de estimular a formação do pessoal habilitadoparaocomércioeparaaindústria,concedendoao1ºciclodêste curso mutação no científico ou clássico, tão necessários, atendeu mais àquelapropensãoparaostitulosdoutorais,menosporvocaçãoemaispor hábito e falso julgamento, e que devíamos combater numa reforma de conceitosqueesclareçaajuventudedosnossosmalesdepaísdedoutores, 70 a mendigar técnicos de 1º e 2º graus. Assim, julgamos o projeto desinteressantee,sepossível,conviriaaoBrasilarevogaçãodalei1.076, acusadosquejáestãooscursosindustriaisdeginásiosdisfarçados. Essaeraaposiçãodegoverno,manifestadanaMensagemdoPresidenteGetúlioVargas ao Congresso Nacional, nesse mesmo ano de 1951. Abordando a ocorrência de inesperadaampliaçãodaprocuraporvagasnoensinosecundário,apontavaasmudanças desuasfinalidadesdeselecionaraselitesintelectuaiseanecessidadedeimplementar medidas de orientação vocacional para encaminhar os jovens, de acordo com suas aptidões,paraascarreirasindustriais,comerciaiserurais.Semanifestavapreocupação com a articulação da educação geral com o ensino técnico, não indicava intenção de integrar essas modalidades em uma mesma trajetória escolar diversificada (Brasil PresidênciadaRepública1951,212-213): “Atarefadeestimularodesenvolvimentodoensinosecundárionosentido de uma educação acessível ao maior número e que prepare os adolescentes para a participação mais completa na vida coletiva, deve correrparelhacomoimpulsionamentodoensinotécnico.[...]Abaixodo níveluniversitário,masjáexigindoconclusãodecursoginasial,devemos manternumerososcursosemescolastécnicas.[...]Daísairãohomenspara asfunçõesdeconduçãodeserviços,oudecontroledeprodução,situados entreengenheiroseoperários.” Havia, portanto, um debate relevante entre as finalidades da diversificação do ensino médio, entre as modalidades acadêmica e técnica, em que preponderou a questão da continuidadedosestudosemnívelsuperior.Emborarevestidadeimportânciaemtermos deequidade,adiscussãonãofavoreceuofortalecimentodoensinotécnico,masantesa suaconsolidaçãocomomaisumaviadeacessoàeducaçãosuperior. Éoportunosalientarqueessesposicionamentoseramcontemporâneosàtramitaçãodo projeto de lei de diretrizes e bases da educação nacional, encaminhado pelo Poder Executivo ao Congresso Nacional, em 1948, durante o Governo do Presidente Eurico GasparDutra,sendoClementeMarianioMinistrodaEducaçãoeSaúde.Onovogoverno Vargas, instalado em 1951, parecia discordar da orientação de política educacional adotadapeloseuantecessor. 71 Asegundamudança:aLDBde1961eaequiparaçãodefinitiva. Oencaminhamentonadireçãodaintercomunicaçãoentreosramosgeraletécnicode ensinomédioprevaleceunatrajetóriaqueculminounaaprovaçãodaLeinº4.024,de20 dedezembrode1961,quefixouasdiretrizesebasesdaeducaçãonacional.Aorigem legislativa desse diploma legal se encontra no projeto de lei encaminhado pelo Poder ExecutivoaoCongressoNacionalcomaMensagemnº605,de29deoutubrode1948. Desta Mensagem consta longa Exposição de Motivos assinada pelo então Ministro da Educação e Saúde, Clemente Mariani, da qual o trecho a seguir evidencia a opção de políticaeducacional,quantoaoensinomédio,adotadapelogovernoDutra: Naeducaçãodegraumédioalteia-seocaráterprudentementeinovadordo projeto, estabelecendo afinal, no Brasil, as condições democráticas para êsse ensino destinado, em essência, à formação do adolescente, com a flexibilidadeevariedadenecessáriasparaatenderàsmúltiplasaptidõese necessidadestantodosjovenscomodoorganismosocial.Fá-loemfórmula conciliatória, mantendo, ainda, os dois sistemas, cultural e utilitário, mas permitindoatransferênciaentreêlesefacilitandoasuainterpenetração.O magníficorelatóriodacomissão,noseucapítuloVIIeodaSubcomissão,que oacompanha,ambosanexosaestaexposição,dispensam-medetratarmais largamente da matéria, Devo apenas louvar o equilíbrio com que, libertando-se do modêlo tradicional dos sistemas estanques, evitaram, também, os exageros da escola compreensiva, em moldes americanos, contra cujo “'nivelamento por baixo" já protestava S. R. Kaldell em 1933. RealizamosovotodaIIIConferênciaInternacionaldeInstruçãoPúblicade Genebra,em1934,paraaqual"importaàvidasocialdasnações,comoaos interêsses dos individuos, preparar, ao lado de uma elite de profissionais liberais, também elites de natureza comercial, industrial, agrícola, etc., correspondendo aos diversos tipos de atividade econômica e possuindo, comoaoutra,umaculturaverdadeiramentegeral. É interessante observar os termos da Exposição de Motivos. Tratando da fórmula conciliatória,afirmaquesemantêmaindaosdoissistemas:cultural,istoé,oensinode formaçãogeral,eoutilitário,ouseja,oensinotécnico.Aomencionarquesepermitea transferência entre eles e é facilitada a sua interprenetração, o texto sugere que, na realidade,aconcepçãoqueinspiravaoprojetopercebiaapropostacomodetransição em direção a um sistema ainda mais integrado de formação secundária, flexível e 72 diversificado,comasdiferentesformaçõestécnicascomoopçõesformativas,aoladode outrasdecarátermaisacadêmico. Otextodestacatambémqueapropostasedistanciavatantodos“sistemasestanques” quantodaescolacompreensiva.Osprimeiroseramreferênciaaomodeloentãoadotado naFrança,quetraçavatrajetóriasescolaresdistintasparaaformaçãoacadêmicagerale paraaformaçãotécnicaprofissional,sempossibilidadesdeintercâmbioentreoscursos e reservando à primeira o acesso à universidade. Já a escola compreensiva norteamericanaerapercebidacomoumaformadeorganizaçãoescolarquenãofavoreciaa qualidade do ensino, promovendo a admissão indiscriminada de grande número de estudantes,semcondiçõesdeofereceraorientaçãoeducacionaleasopçõesformativas quemelhoratendessemàsaptidõesdosjovens.Estapercepçãoseconfirmapelaleitura detrechomaisavançadodaExposiçãodeMotivos(BrasilPresidenciadaRepública1948 p.22-23): Reconhecendoasdeficiênciasdosnossoscursosdeformaçãodetécnicos, inspira-se o projeto nas conclusões da Comissão harvardiana de 1946, de que "a especialização diversifica os homens e os separa, agrava as forças centrífugas do convívio social, reclamando, pois, como elemento de equilíbrio,ocontraimpulsodaeducaçãogeral".Destaconcepçãomoderna e democrática nascera no Distrito Federal, em 1932, como acentua o relatório, a experiência de Anísio Teixeira, com a instituição de escolas profissionais,que"refletindoessaimensaconciliaçãoentreopensamentoe a ação e a ciência e a indústria", deveriam "unir e pacificar objetivos supostamente hostis de cultura e de profissão, de teoria e de prática, de pensamento e de trabalho", orientação em boa hora restabelecida, já no govêrnodeVossaExcelência."Essaimpregnaçãodeculturageral,baseda cidadania,elementodeprogressãoindividualedef!exibilidadeutilitária,diz orelatóriodaComissão-éocaráterfundamental,intrínseco,daeducação profissionaldegraumédiopropostanoanteprojeto"conservadanoprojeto. Ela permitirá que as escolas profissionais de todo o gênero, através de currículos os mais variados, em todos os quais figurarão, entretanto, disciplinas de natureza cultural atendam às necessidades de um sem númerodeadolescentesatualmentecondenados,arealizarem,nasescolas secundárias,cursosparaosquaisnãosãoaptoseque,emvezdelibertar, deformamasuapersonalidadenascente. Dessemodo,oprojetodeleiencaminhadoaoCongressoNacional,emoutubrode1948, previa, em seu art. 28, § 3º, que seriam entendidos como “cursos técnicos os que 73 ministremeducaçãoprofissional,emtrêsanosletivos,juntamentecomomínimodecinco disciplinasdecaráterculturalaalunosquetenhamconcluídoocursoprofissionalbásico, ou o curso de regentes de ensino primário, ou o ciclo ginasial”. Os cursos técnicos deveriamobedeceràsmesmasnormasseguidaspelocursocolegial,noquesereferea exame de admissão, duração do ano letivo, seriação das disciplinas, organização do programa,percentagemdeaulaseexercícios,frequênciadealunos,notasdeaprovação, atividades complementares e exame de conclusão de curso. Ao egresso era facultado matricular-seemcolégiouniversitáriodeescolasuperiorrelacionadocomocursotécnico realizado,casoaprovadoemexamedeadmissãoesatisfeitoasdemaisexigênciaslegais. Para melhor entendimento dessas disposições, cabe esclarecer que o projeto previa a existênciadocolégiouniversitário,comumoudoisanosdeduração,comoetapaprévia àmatrículanoscursossuperiorespropriamenteditos.Estescolégiosdeveriamfuncionar, segundo a proposição, anexos às escolas superiores ou, excepcionalmete, a escolas secundáriasautorizadaspeloConselhoNacionaldeEducação. Nadiscussãodoprojeto,emendasforamapresentadasparaassegurarasupressãodo “colégiouniversitário”.Paraoscursostécnicos,pretendia-semanterasdisposiçõesque vinculavamocursosuperioràáreatécnicacursada,demodosimilaraoprevistonajá vigenteleinº1.821,de1951. Esse projeto de lei, como é sabido, teve longa trajetória de tramitação. Remetida à apreciação de Comissão Mista de Leis Complementares, das duas Casas do Congresso Nacional, ficou arquivado e sem debate, após receber parecer negativo da autoria do Deputado Gustavo Capanema, em 1949. Este fato merece atenção especial. Este parlamentarforaquem,comoMinistrodaEducaçãoeSaúdedosúltimosanosdoEstado Novo,promoveuareformaquerecebeuseunome:areformaCapanema.Estareforma reorganizouoensinotécnicoemseusdiferentesramos,afirmouaseparaçãoentreessas trajetórias formativas e o ensino secundário geral e não conferiu à terminalidade das primeirasapossibilidadedecontinuidadedeestudossuperiores.Atramitaçãodoprojeto, portanto, desde logo enfrentou, no cenário legislativo, o embate de duas posições distintas. Não surpreende que, durante um bom número de anos, ela não tenha 74 avançado,nãoobstanteaCâmaradosDeputados,em1951,tenharetomadoainiciativa deanalisá-lo. Após muitas discussões, emendas e substitutivos, a proposição tomou corpo como o projetodeleinº2.222,de1957.Oscursostécnicosteriamorganizaçãosimilaràdoensino secundário,divididosemcicloginasialecolegial,oferecendo,respectivamente,alémdas disciplinas profissionalizantes, quatro e cinco disciplinas do currículo do ensino secundáriogeral,sendoumaoptativaeasdemaisobrigatórias.Paraacessoàeducação superior,odiplomadocolegialacadêmicoedocolegialtécnicoteriamamesmavalidade, desaparecendodotextolegislativoocolégiouniversitário. EssafoiaorganizaçãoafinaladotadanaLeinº4.024,de1961.Comofundamentodesua concepçãoeducacional,encontra-seaquelaquepostulaapossibilidadedeintegração,em currículos específicos, de disciplinas de caráter geral e de cunho profissionalizante, reconhecendo o potencial dos cursos técnicos em oferecer grau equivalente de densidadeformativaàqueleatribuídoaocursosecundáriogeral.Istosignificavaatestar queoensinotécnicoeoensinosecundáriogeralseriamviasalternativasdeformaçãoem nível médio de mesmo padrão, concretizadas em propostas curriculares diferenciadas, masconducentesaperfisformativosequivalentesemtermosdesuarelevânciaeeficácia para a afirmação da cidadania, possibilidades de contribuição para a sociedade e continuidadedeestudos. Essaconcepção,levadaaumgrauextremadodeaplicação,tambémseencontrapresente naLeinº5.692,de1971,quepromoveuareformadoensinode1ºe2ºGrause,dentro dela,ainstituiçãodaprofissionalizaçãocompulsóriano2ºGrau(ensinomédio). Aterceiramudança:a“LDB”do1ºe2ºGraus,de1971,eoensinotécnicocompulsório. A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, é frequentemente discutida na literatura educacional como um diploma legal de inspiração tecnicista, elaborada de forma não participativaeaprovadapeloPoderLegislativosemdebate. De fato, é preciso considerar que essa lei educacional foi a que tramitou mais rapidamentenoâmbitodoPoderLegislativo.AMensagemPresidencialnº209(numerada 75 comodenº55,noCongressoNacional),datadade25dejunhode1971,foipublicadano DiáriodoCongressoNacionaldodia30dejunho.Em11deagostodomesmoano,alei estava sancionada e publicada no Diário Oficial da União, sem modificações de fundo introduzidas pelo Poder Legislativo. Embora tenham sido apresentadas mais de 350 emendas,otextofinalaprovado,acatandoumterçodasmodificaçõessugeridaspelos parlamentares,manteveoteordapropostadoPoderExecutivo,inclusiveacentuandoo carácterprofissionalizantedoensinode2o.grau.Nãohouvediscussãoouintervençãodo PoderLegislativoaoapreciaramatéria.Contrastandocomosinúmeroseprolongados debatesquecaracterizamahistórialegislativadaeducaçãobrasileiraduranteosperíodos democráticos,aquelefatoencontracertamenteasraízesdesuaocorrêncianasrelações assimétricas que se estabeleciam entre o Poder Executivo e o Legislativo durante o períododoregimemilitar,especialmentenoiníciodadécadadosanos70. Dessemodo,aindaqueoprojetotenhasidoredigidocombaseempropostadegrupode trabalho de educadores e tenha sido objeto de consulta aos sistemas de ensino e às superintendênciasdedesenvolvimentoregionaledediscussãopeloConselhoFederalde Educação e seus congêneres estaduais, não se pode afirmar que o processo de sua elaboraçãotenhasidoparticipativo.Érazoáveladmitirque,dadoocontrolepolíticosobre todasasinstânciasenvolvidas,houvessemaissintoniaquediscordância. Essecenário,porém,nãodeveimpedirumaanálisemaisprecisadoquesignificouessa lei,notrajetodaevoluçãodaspolíticasedalegislaçãoeducacionais,particularmenteno queserefereaoensinotécnico.Asdiscussõeshavidasdesdeosanos50secentravamna possibilidade de integração dos diferentes ramos do ensino médio e de equidade nos direitosdeacessoàeducaçãosuperior.Apreocupaçãorelativaàarticulaçãodaeducação escolarcomasnecessidadesdomeiosocialeeconômicotambémsefezpresentedesde entãooumesmoantes. Dentro desse movimento, devem ser considerados os argumentos que constam da Exposição de Motivos do então Ministro da Educação e Cultura, Jarbas Passarinho, ao PresidentedaRepública,fundamentandooprojetodaleidareformadoensinode1ºe 2ºGraus(BrasilPresidenciadaRepúblicaandPassarinho1971p.819-820) 76 Nummomentoemque,noBrasilcomonomundo,secaminharapidamente para a integração educacional, já não há lugar, por exemplo, para uma separação por demais nítida dos graus de ensino [...]; para uma segunda separação dentro daquela, cindindo horizontalmente o grau médio em subgraus ou "ramos"; para a organização de universidades pela mera justaposiçãodeescolasestanques;eassimpordiante. Oprojetoseapresentavacomoelaboradoapartirdetrêseixos:variedade,flexibilidade earticulação.Comparava-secomalegislaçãovigente(Leinº4.024,de1961)que,segundo aExposiçãodeMotivos,permitiaaaplicaçãodessesprincípios,masnãoosconsagrava definitivamentenasnormasdeorganizaçãoefuncionamentodaeducação: Ademais,nocontextogeraldalei,émuitoforteapersistênciadomodelo anterior. Esta circunstância, aliada ao fraco ou inexistente sentido de integração,tolheuemgrandepartearealvivênciadaquelesprincípiosde variedade, flexibilidade e articulação. Sente-se ainda muito presente um compromissoentreoantigoeonovoquenãoencorajainovações,apenas aspermite.Istosetornoumaisvisívelnafasedeexecução:poucosforamos órgãos estaduais que se reestruturaram. efetivamente, para implantar e desenvolveraLDB,eopróprioMinistériodaEducaçãoeCulturapodeaplicálacomaestruturaquelhefoidadaparacumpriralegislaçãoprecedente. Na perspectiva do projeto, essas indefinições eram superadas e a integração se manifestava de diferentes formas. A primeira era a unificação do curso primário e do cursoginasialemumaúnicaetapaobrigatória,oensinode1ºGrau,comduraçãodeoito anos. O ensino secundário, tal como tradicionalmente entendido (ginásio e colegial) deixavadeexistir,instituindo-seoensinode2ºGrau,noespaçoanteriormenteocupado pelocursocolegial.Esteteriaváriosramosformativosecontemplariaaformaçãotécnica emseucurrículocomum. Isso importa antes de tudo em integração. A reunião do que é comum, idênticoousemelhanteensejamaiorliberdadeparadiversificaçãodoqueé ou deve ser diferente, pois a unidade do conjunto estará previamente assegurada.[...]Fez-se,poroutrolado,ajunçãodoschamados"ramos"de escolanumsóensinode2ºgrauemque,assentando-sesobreumaparte geralecomumdocurrículo,todasasformasdeestudos"especiais"poderão serdesenvolvidas,conformeaspossibilidadesdecadaestabelecimento.Não hámaislugar,noBrasildehoje,paraodualismodeumaescolamédiaque levaàUniversidadeeoutraquepreparaparaavida.Aescolaéumasóe devesemprecumpriressasduasfunções,indispensáveisaumaeducação verdadeiramenteintegral. 77 Aofimdaadolescência,todosdevemexigircondiçõesdequalificaçãoque lhespermitaingressarnaforçadetrabalho,pretendamounãoprosseguir estudosemnívelsuperioretenham,ounão,capacidadeoumotivaçãopara fazê-lo.Talorientação,porém,serádetodoinexequívelnumesquemarígido dequatromodalidadesestanquesdepreparo-industrial,comercial,agrícola enormal-,quandojásecontampelascentenasasocupaçõesquerequerem formaçãode2ºgrau. Essas alterações implicaram mudanças curriculares relevantes. A concepção era a do currículo em camadas (que, por sinal, prevalece até os dias de hoje). Determinava a existênciadeumnúcleocomum,obrigatórioemtodooPaís,eumapartediversificada, definida em cada sistema de ensino. Além disso, o currículo deveria contemplar duas grandesdimensõesformativas:ageral(disciplinasacadêmicas)eaespecial(preparação paraotrabalhoehabilitaçãoprofissional).Essasduasdimensõessearticulariamdeforma diferenciadaaolongodatrajetóriaescolar:predomíniodageralnoensinode1ºGraue da especial no ensino de 2º Grau. Somente excepcionalmente a parte de formação especialpoderiaassumirocaráterdeaprofundamentodeestudosgerais. Comrelaçãoàformaçãogeral,oParecernº853,de1971,eaResoluçãonº8,de1971,do Conselho Federal de Educação, fixaram o núcleo comum desses dois níveis de ensino. Divididasemtrêsáreas,estabeleceram-seasrespectivasmatériasparao2ºGrau,aserem “tratadas predominantemente como disciplinas e dosadas segundo as habilitações profissionaispretendidaspelosalunos”.Oparecernº871,de1972,listouasmatériaspara apartediversificada,noâmbitodosistemafederaldeensino.Asnormasassimdefinidas admitiam variações de carga horária e do número de períodos letivos em que cada disciplinaseriaoferecida. Comrelaçãoàformaçãoespecial,oParecernº45eaResoluçãonº2,ambosde1972, listaram conjuntos ou áreas de habilitação profissional, discriminando as habilitações técnicas e outras habilitações. Na Resolução nº 2, de 1972, também se encontravam sugestões de composição curricular para 12 habilitações de nível técnico. Essas composiçõesapresentavamosconjuntosdedisciplinasdeformaçãogeralorganizadosde modo a fundamentar diretamente as necessidades de cada habilitação profissional. Havendoumelencoobrigatóriodedisciplinasdonúcleocomum,aprincipalvariaçãose 78 dava na carga horária. Propunha-se a dosagem das disciplinas de acordo com as habilitaçõesprofissionais. Caberessaltarqueessegraudeaplicabilidadedaformaçãogeralàespecialnãoprescindia da universalidade cultural assegurada pela existência do núcleo comum. Subjaz a essa propostacurricularaconcepçãodequeaformaçãoemumahabilitaçãotécnicarequer umasólidaformaçãogeralmasestapodeserobtida,desdelogo,demodoarticuladoe integrado aos cursos e atividades profissionalizantes. Em outras palavras, trata-se de concepçãoquepostulanãoserprecisosubmeteroestudanteaumacargaexcessivade formaçãogeraldesvinculadadoseuinteresseprofisionalizanteequeissonãosignifica reducionismonaformaçãooulimitaçãonapreparaçãoparaacidadania. Osproblemasdeimplantaçãodessaconformaçãocurricularprofissionalizantedoensino de2ºGraulogosefizeramsentir,combinandodificuldadesoperacionaiscominteresses ouaspiraçõesdosestudantes.Dentreasmaiscitadas:afaltaderecursosfinanceirospara adequaçãodasescolas;escassezdepessoalqualificadoparaaofertadasdisciplinasde formaçãoespecial;carênciadeinformaçõessobreasdemandasdomercadodetrabalho para orientar a oferta de habilitações; resistências do segmento docente, face a uma possívelreduçãodeoportunidadesdetrabalhoparaoslicenciadosantesdavigênciada lei. Alémdisso,amaiorpartedosestudantesqueàépocalogravaalcançaroensinode2º Grau provinha de segmentos superiores da pirâmede social, nos quais a demanda de escolarização não se limitava ao nível médio mas antes aspirava à educação superior. Havia, portanto, resistências quanto à [eventual] redução da carga de formação geral, compossíveisprejuízosnosprocessosseletivosdeacessoaoensinosuperior. OGovernofederal,aomenosformalmente,demoroualgumtempoparadar-secontados obstáculosenfrentadosparaaimplementaçãodareforma.Defato,nasMensagensao Congresso Nacional, na abertura das sessões legislativas de 1973 e 1974, afirmava o PresidentedaRepública(BrasilPresidênciadaRepública1973,1974): 79 “Na área do 2º grau, as habilitações profissionais foram apreciadas e definidas,eintensificadaaintercomplementaridade,particularmentecom asescolasfederais,objetivandooaproveitamentototaldesuasinstalações e equipamentos, em benefício de escolas iniciantes da Reforma, mas despreparadasemmeiosmateriais.” “Pela Lei nº 5.692, de agosto de 1971, não só se reformou a natureza da educação de 1º e 2º graus, como se garantiu a eliminação da prejudicial dicotomia de educação humanística e educação profissionalizante, na sondagemdevocaçõesdacriança,entreos7e14anos,naeducaçãoparaa vida,enaterminalidadenonívelde2ºgraueconseqüentepreparaçãodos técnicosdenívelmédio,tãoescassosnoPaís.” Já em 1975, o Conselho Federal de Educação, em seu Parecer nº 76, reinterpretou as disposiçõesdaLeinº5.692,de1971,introduzindo,dentrodoconceitomaisamplode educaçãoprofissionalizante,odehabilitaçãobásicaouhabilitaçãoparcial.Asescolasnão seriam então obrigadas a promover a formação profissional em nível técnico, mas poderiamofereceressahabilitaçãoparcial.Tratou-se,narealidade,doinícioda“diluição conceitual” da proposta original da Lei nº 5.692, de 1971, que se completou com a aprovaçãodaLeinº7.044,de1982.Apartirdeentão,oensinode2ºGrau,noquese referiaàpreparaçãoparaotrabalho,poderia“ensejarhabilitaçãoprofissional,acritério doestabelecimentodeensino.”Asexpressões“formaçãogeral”e“formaçãoespecial” foram suprimidas e consequentemente o predomínio da segunda sobre a primeira, anteriormenteobrigatório. Este foi o fim da compulsoriedade da educação profissional no ensino de 2º Grau. O ensinotécnicoseguiusendoumramoatendidoporescolasespecificamentevoltadaspara essafinalidade.Ospareceresnº618,de1982,nº108,de1983,nº170,de1983,enº281, de1983,pretenderamexplicarconceitualmenteasmudançasepropornormasparaasua operacionalização. Os sistemas de ensino, no entanto, voltaram a fazer o que faziam antes: ensino secundário propedêutico e a oferta de ensino técnico (modesta) em instituiçõesespecíficas. Existeconsensodequeaformacomquefoirealizadaeauniversalizaçãodaformação profissional para todo o ensino de 2º Grau foram equívocos da reforma de 1971. No entanto,éprecisodestacarque,noprocessodeevoluçãodaspolíticasedalegislaçãoda 80 educação no País, a proposta de integração entre formação geral e formação profissionalizante,variandoinclusiveacomposiçãohoráriadaprimeiraemfunçãodas necessidades da segunda, constituiu uma etapa consequente das discussões e dos diferentesposicionamentosqueseconformaramaolongodotempo. Adiante, o tema do ensino técnico só foi retomado, de modo efetivo, quando da apreciação do projeto de lei, de 1988, que redundou, anos mais tarde, na nova lei de diretrizesebasesdaeducaçãonacional,de1996.NosdebatesdaAssembleiaNacional Constituinteinstaladaem1987,contudo,oassuntofoitratadotangencialmente.Como afirmaViana,analisandoostrabalhosdaSubcomissãodeEducação,CulturaeEsportes (Viana2013p.45-46): Quandosediscutiaoensinodenívelmédioemsimesmo,odebate,namaior parte das vezes, voltava-se para sua finalidade: profissionalizante ou preparatóriaparaauniversidade. [...] MuitasdasentidadesqueparticiparamnasAudiênciasPúblicasenviaramà Subcomissãodocumentoscomsuaspropostas.Odocumentodecorrentedo Fórum da Educação na Constituinte e em Defesa do Ensino Público e Gratuitopreviaaseguinteorganizaçãoparaoensinode2ºgrau: ‘Art.5ºOensinodesegundograuconstituiasegundaetapadoensinobásico e é de direito de todos. Visa assegurar formação humanística, científica e tecnológicavoltadaparaodesenvolvimentodeumaconsciênciacríticaem todasasmodalidadesdeensinoemqueseapresentar.Nosegundograusão oferecidoscursosde: I–formaçãogeral; II–caráterprofissionalizante,emqueaformaçãogeralsejaarticuladacom formaçãotécnicadequalidade; III – formação de professores para as séries iniciais do 1º grau e da préescola.’ (Ata da 15ª Reunião de Subcomissão de Educação, Cultura e Esportes,28deabril,1987,p.278). Nessaproposta,sugere-se[...]aorganizaçãodoensinodesegundograusob 2orientações:formaçãogeraloucaráterprofissionalizante.” Éinteressantenotarqueapropostaserefereàformaçãode“caráterprofissionalizante, emqueaformaçãogeralsejaarticuladacomaformaçãotécnicadequalidade”.Nãodeixa de ser uma reafirmação do estágio de discussão do tema no cenário educacional 81 brasileiro:aformaçãotécnicanãoprescindedasólidaformaçãogeral,masestapodeser concebidademodoaviabilizar,demodoconsistenteesocialmenterelevante,aprimeira, comomeiodequalificaçãoparaoexercíciodotrabalhoprodutivoedeinserçãocidadã. Aquartamudança:aLDBde1996eoensinotécnicoemadiçãoaoensinomédiogeral. Em1988,antesdapromulgaçãodanovaConstituiçãoFederal,oDeputadoOctávioElísio apresentou a primeira versão de seu projeto de lei de diretrizes e bases da educação nacional, que recebeu o nº 1.258, de 1988. A proposição era bastante sintética com relaçãoaoentãoensinode2ºGrau.Dispunhaapenasqueoscurrículosdasescolasdesse níveldeensinodeveriamabranger,alémdalínguaportuguesa,oestudoteórico-prático das ciências e da matemática, em estreita vinculação com o trabalho produtivo. Essas escolas deveriam dispor de oficinas práticas preferencialmente organizadas como unidadessocialmenteprodutivas. Em dezembro do mesmo ano, como emenda substitutiva, apresentou nova versão do projeto.Nesta,deixavaclaroqueaeducaçãoescolarde2ºGraudeveria“propiciaraos adolescentes a formação politécnica necessária à compreensão teórica e prática dos fundamentos científicos das múltiplas técnicas utilizadas no processo produtivo”. Informava,emsuajustificação,queotextodecorriadeestudoapresentadoporDermeval Saviani na XI Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa (ANPEd), realizada em abril do mesmo ano, em Porto Alegre. Incorporava também sugestões de Jacques Velloso e Luiz Antonio Cunha. Desvelava assim o texto que a concepção pedagógica de ensino médio incorporava o conceito de politecnia, de inspiraçãomarxistaeque,noBrasil,jásemesclavacomideiaseducacionaisgramscianas. Em março de 1989, o autor do projeto apresentou a terceira versão de sua proposta. Mantendo a mesma concepção pedagógica, detalhava os dispositivos referentes ao ensino médio, prevendo agora duas modalidades: a geral, voltada para o aprofundamento de estudos; e a profissionalizante, dedicada ao aprofundamento de estudoseàformaçãotécnica.Alémdeestabeleceraduraçãomínimadetrêsanos,seguia 82 mantendoaobrigatoriedadedequeasescolascontassemcomoqueagoradenominava delaboratórioseoficinasparatrabalhospráticos.Aredaçãodotextosugeria,portanto, queamodalidadeprofissionalizantesedesenvolveriaparaalémdosconteúdosprevistos paraaformaçãogeral. Aquartaversãodoprojeto,oferecidaporseuautoremjunhode1989,jánãoseservia explicitamentedaexpressão“formaçãopolitécnica”,masmantinhaseusfundamentos. Traçavaosobjetivosdoensinomédioepreviaque,asseguradaaformaçãobásicacomum, poderiaserofertadaaformaçãotécnico-profissional,desenvolvidaemestabelecimentos próprios.Aduraçãodessescursosdeveriaserampliadaparaquatroanosou3.200horas, emcontrastecomaformaçãogeral,comduraçãode3anosou2.400horas.Previa-se, assim, que o ensino técnico, além de abranger os conteúdos do ensino médio geral, contemplaria os conteúdos científicos e tecnológicos específicos às habilitações oferecidas. A proposição foi examinada, junto com várias outras que lhe foram apensadas, pela ComissãodeEducaçãoeCulturadaCâmaradosDeputados,sobarelatoriadoDeputado Jorge Hage, que lhe ofereceu Substitutivo, após amplo e participativo processo de discussão parlamentar e com a sociedade civil organizada. Afirmou o Relator (Brasil CâmaradosDeputadosandComissãodeEducação1990p.296-297) Um tema específico e particularmente polêmico - as relações entre EducaçãoeTrabalhoe,muitopróximodele,aquestãodoEnsinoMédioem si mobilizou, de nossa parte, as contribuições que fomos buscar, pessoalmente, em debates e pela consulta à sua produção escrita, dos seguintespesquisadoresquesetêmdedicadodemodomaisdiretoaotema: DermevalSaviani(nãohácomodeixarderepetí-Ioaqui),AcáciaKuenzer,da UFPR, Lucilia Souza Machado e Miguel Arroyo, da UFMG, Gaudêncio FrigottoeVanildaPaiva,daUFRJ,IracyPicançoeRobertVerhine,daUFBA, Paolo Nosella, da UFSCar, Fúlvia Rosemberg e Maria Laura Franco, da PUC/SP,MariaUmbelinaSalgado,doCNPq,SilviaVelho,doMinistériodo Trabalho,SilkeWeber,daUFPEeSecretáriadeEducaçãodePernambuco,e Sérgio Haddad, do CEDI. Ainda sobre esse tema, ouvimos técnicos da SESG/MECeprofessores,dirigentesealunosdeEscolasTécnicaseoutrasde 2ºgrau. 83 A lista de nomes apresentada reúne pesquisadores que, em sua maioria, defendem a escola unitária e politécnica. Essa concepção é contraposta à chamada organização dualistadoensinosecundário,emqueasegmentaçãoentreensinogeraleensinotécnico profissionalcristalizatrajetóriaseducacionaisdistintas,quenãosecomunicam,refletem e reproduzem diferenças de classes sociais. Esse embate teórico prosseguirá nas discussõesdoprojetodeleiatésuatransformaçãoemnormajurídica. Aconcepçãoadotadaéapresentadacomoumavisãocontemporâneadodebatesobreo tema.EscreveuoRelatorsobreoSubstitutivoporeleoferecido: Procura incorporar os avanços do atual estágio do debate nacional e internacionalemtornodasrelaçõesentreTrabalho,EducaçãoeEscola.Eo faz,tantonoquetangeaoespíritoglobaldoProjeto,quantonoparticular doEnsinoMédio,ondeessaquestãoserebatedeformamaisdireta.Neste níveldeensino,apropostabuscasuperaromovimentopendulardasidase vindas do nosso Ensino Médio, historicamente hesitante entre dois polos igualmente insuficientes: o da formação geral tradicional, propedêutica e simplesmente conducente ao nível superior, de um lado; e o da profissionalizaçãouniversalecompulsória,deoutro. Certamente a discussão não precisaria se situar entre dois polos extremos (educação puramentegeraloutotalmenteprofissionalizante),comovãoapontar,maisadiante,os debatesemtornodotextolegal,masoargumentoserveparajustificaroconjuntode propostasqueoRelatoraseguirelabora,destacandoanecessidadedeumaeducação básica comum para todos os jovens, a incapacidade das escolas regulares oferecerem formação técnica atualizada e as possibilidades de sua oferta por outro conjunto de instituições. Reconhecendo não ser papel próprio da escola uma profissionalização específica e imediata, além de ser, de resto, impossível cumpri-lo com competêncianessestermos(principalmenteàvistadadinâmicadomercado de trabalho e da vertiginosa evolução tecnológica dos nossos tempos), a propostaassumeereconheceexplicitamenteanecessáriaexistênciadeum outrosistemadeinstituições,privadasepúblicas,voltadasexclusivamente para a formação técnico-profissional, em tarefas específicas. E, ao reconhecê-lo,vaiadianteeestabeleceasrelaçõesdecomplementaridadee coexistênciaquedevemexistirentreambos. 84 OSubstitutivo,portanto,colocaaformaçãotécnico-profissionalemumaoutravertente institucional,emboraadmitasuaofertatambémnosistemaregular. De sua parte, porém, o Sistema Educacional regular não se limitará, no EnsinoMédio,aotradicionalensinogeralpropedêutico,comoantesalado EnsinoSuperior.Pelocontrário,apropostaparaoEnsinoMédioédeum ensino concebido como etapa final da Educação Básica, sim (necessariamente igual para todos os cidadãos e sem admitir a dualidade "escoladorico”e“escoladopobre”),masdeumaEducaçãoBásicacomas seguintescaracterísticas:a)fortecomponentedeeducaçãotecnológicaou politécnica,aoladodaeducaçãogeral,paradarcontadascaracterísticasda própriasociedadecontemporânea,eminentementetecnológica,inclusivee particularmentenoquetangeaotrabalho,emboranãosomenteaele;[...] c)possibilidadede,umavezgarantidaaformaçãobásicacomumatodos, acrescentar-se uma formação específica (mesmo dentro do Sistema de ensinoregular,portanto),medianteaampliaçãodacargahoráriatotaldo cursomédio,noequivalenteamaisumano.Éocaso,porexemplo,doCurso Técnico e do Curso Normal, que o projeto mantém com as necessárias adaptações; d) articulação com as oportunidades de formaçâo técnicoprofissional específica, fora do Sistema de Ensino; [...] 3ª – Propõe-se a assegurar o oferecimento de uma educação básica unitária, comum para todos os cidadãos, antecedendo ou, no máximo, concomitante, com qualquerespéciedeformaçãoprofissionalespecífica,paratarefasimediatas no “mercado de trabalho". Não fazê-lo, sob qualquer pretexto, significa aceitar o tratamento desigual, discriminatório, para uma parcela dos cidadãos, que implica, dentre outras coisas. em renunciar ao seu pleno e integraldesenvolvimentocomoserhumano,postoqueoEnsinoMédioé parte da Educação Básica e esta é aceita como indispensável ao pleno desenvolvimentodoindivíduo,alémdeconstituir-seemelementodealta instrumentalidade para o atingimento de graus mais elevados de aprendizadoposterioredetrabalho. Estava delineada, portanto, a proposta para o ensino técnico de nível médio. Uma formaçãoadicional,paraalémdaformaçãogeral,implicandoaampliaçãodaduraçãodo curso.Defato,oart.53doSubstitutivopreviaaformaçãogeral,fundamentadaembases deeducaçãotecnológicaepolitécnica,acrescidadaformaçãoprofissional,comduração de quatro anos ou 3.200 horas, adicionando-se ainda um semestre de estágio supervisionado. Em resumo, um técnico de nível médio, de acordo com essa norma, obteria seu diploma em quatro anos e meio. Aprovada na Comissão de Educação e Cultura, essa disposição foi alterada na Comissão de Finanças e Tributação, na qual a 85 Relatora,DeputadaSandraCavalcantimodificouaduraçãodocursopara3anosou2.400 horas,acrescidadeestágiosupervisionadocomduraçãodeumano. Com o pronunciamento das Comissões, o projeto passou à apreciação do Plenário da Câmara, sob a relatoria da Deputada Ângela Amin. O Substitutivo afinal aprovado mantinha as propostas do Substitutivo do Deputado Jorge Hage, autorizando que as disciplinasdeconteúdoprofissionalizantefossemdistribuídasaolongodetodoocurso. Asseguravatambémapossibilidadedetransferênciaentreasdiferentesinstituiçõesde ensinomédio.ApreciadanoSenadoFederal,tendocomorelatoroSenadorDarcyRibeiro, amatériaretornouàCâmaracomalteraçõesnosdispositivosreferentesaoensinotécnico denívelmédio.Admitiaqueoensinomédio,atendidaaformaçãogeraldoeducando, preparasseparaoexercíciodeprofissõestécnicas.Apreparaçãogeralparaotrabalhoe a habilitação profissional poderiam ser desenvolvidas nas próprias escolas de ensino médiooueminstituiçõesespecializadasemeducaçãoprofissional.Dispunhaqueoensino médiotivesseorganizaçãoflexívelparaatenderàsnecessidadesdiversificadasdosalunos. Excetuadaestaúltimadisposição,asdemaisforamsancionadascomoaLeinº9.394,de 20dedezembrode1996. Aoperacionalizaçãodasnovasnormasdaeducaçãotécnicadenívelmédiofoi,noano seguinte,definidapeloDecretonº2.208,de17deabrilde1997,queestabeleceutrês níveis de educação profissional: básico, voltado para a qualificação, requalificação e reprofissionalização de trabalhadores, independentemente de escolarização anterior; técnico, destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio; tecnológico, correspondente a cursos superiores na área tecnológica,destinadosaegressosdoensinomédioetécnico. Aeducaçãotécnicadenívelmédioteriaorganizaçãocurricularprópriaeindependente doensinomédio,sendoofertadademodoconcomitanteousequencialaesteúltimo.O ensino médio poderia oferecer, na parte diversificada do currículo, disciplinas profissionalizantes até o limite de 25% da sua carga horária total e que poderiam ser aproveitadas no currículo de habilitação profissional em que o estudante viesse a se matricular. Os cursos teriam diretrizes curriculares nacionais definidas pelo Conselho 86 Nacional de Educação e poderiam ser organizados em módulos, cada um deles oferecendocertificadodequalificaçãoprofissional. Seanovaorganizaçãodoensinomédioedoensinotécniconãocaracterizouumretorno aomodelodualistaanterioràLDBde1961,promoveuumaseparaçãosignificativadas duasmodalidades,estabelecendooensinomédiocomorequisitoprévioousimultâneo paracursaroensinotécnico.Aformaçãogeraldoensinomédio,semnenhumtipode articulação necessária com o ensino técnico, passou a ser obrigatoriedade curricular integralparaquemaspirasseaobtençãodeumdiplomadetécnicodenívelmédio. Esta percepção está claramente exposta no Parecer nº 16, de 1999, da Câmara de Educação Básica, do Conselho Nacional de Educação, que tratava das diretrizes curricularesnacionaisparaaeducaçãoprofissionaldeníveltécnico(ConselhoNacional deEducação1999): Aindependênciaentreoensinomédioeoensinotécnico,comojáregistrou oParecerCNE/CEBnº17/97,évantajosatantoparaoaluno,queterámais flexibilidade na escolha de seu itinerário de educação profissional, não ficando preso à rigidez de uma habilitação profissional vinculada a um ensinomédiodetrêsouquatroanos,quantoparaasinstituiçõesdeensino técnico que podem, permanentemente, com maior versatilidade, rever e atualizarosseuscurrículos.Ocidadãoquebuscaumaoportunidadedese qualificar por meio de um curso técnico está, na realidade, em busca do conhecimentoparaavidaprodutiva.Esseconhecimentodevesealicerçar em sólida educação básica que prepare o cidadão para o trabalho com competências mais abrangentes e mais adequadas às demandas de um mercadoemconstantemutação. AsnormasregulamentadorasdasdisposiçõesdanovaLDBbuscavamevidenciaroque,de acordocomosformuladoresdessapolítica,seriamosméritosparaanovaformatação desvinculando,oumelhor,inserindonovarearticulaçãoentreoensinotécnicoeoensino médio. Ela representaria flexibilização e ampliação das oportunidades de educação profissionalnoníveldoensinomédio:paraoaluno,maiorflexibilidadeparadefiniçãoseu itineráriodeeducaçãoprofissional,nãoficandorestritoaumahabilitaçãorigidamente vinculadaaoensinomédio,passíveldeconclusãosomenteapósomínimodetrêsanos; para as instituições, melhores condições para a permanente revisão e atualização dos 87 currículos. Destacavam que o currículo integrado seria muito rígido, difícil de ser modificado e com elevada probabilidade de, ao longo do tempo, se distanciar progressivamentedarealidadedomundodotrabalho.Ressaltavamqueapossibilidade deoalunocursarprimeirooensinomédioedepoisocursotécnicoapontavanadireção datendênciainternacionaldeformartécnicoscomsólidabasedeformaçãogeral.Por outrolado,apossibilidadedecursaroensinomédioeotécnicodeformaconcomitante atendiaànecessidadedeinserçãomaisimediatanomercadodetrabalho.Lembravam ainda que, dependendo da habilitação, os currículos e a jornada escolar poderiam ser organizadosdetalformaqueoalunopudesseestudaretrabalhar.Emresumo,anova propostaeraderearticulaçãocurricularentreoensinomédioeaeducaçãoprofissional deníveltécnicoorientadapordoiseixoscomplementares:adevoluçãoaoensinomédio damissãoecargahoráriamínimadeeducaçãogeral,incluídaapreparaçãobásicaparao trabalho;eodirecionamentodoscursostécnicosparaaformaçãoprofissionalemuma sociedadeemconstantemutação. Essa argumentação buscava reforço em análises críticas à proposta de ensino técnico decorrentedalegislaçãode1971.SegundoomesmoParecerCEB/CNEnº16,de1999: Essa legislação, na medida em que não se preocupou em preservar uma carga horária adequada para a educação geral, a ser ministrada no então segundo grau, facilitou a proliferação de classes ou cursos profissionalizantes soltos, tanto nas redes públicas de ensino quanto nas escolas privadas. Realizada em geral no período noturno, essa profissionalização improvisada e de má qualidade confundiu-se, no imagináriodascamadaspopulares,comamelhoriadaempregabilidadede seusfilhos. Comisso,aofertadecursoúnicointegrandoahabilitaçãoprofissionaleo segundograu,comcargahoráriareduzida,passouaserestimuladacomo resposta política local às pressões da população. Pior ainda, na falta de financiamento de que padece o ensino médio há décadas, tais cursos profissionalizantesconcentraram-sequaseemsuatotalidadeemcursosde menorcusto,semlevaremcontaasdemandassociaisedemercado,bem comoastransformaçõestecnológicas. O então ensino de segundo grau perdeu, nesse processo, qualquer identidadequejátiveranopassado–acadêmico-propedêuticaouterminalprofissional. O tempo dedicado à educação geral foi reduzido e o ensino 88 profissionalizante foi introduzido dentro da mesma carga horária antes destinadaàsdisciplinasbásicas. Traduzindoessasnormaslegaisemformulaçãodepolíticaspúblicas,oPlanoNacionalde Educação 2001-2010, aprovado pela Lei nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001, assim se referiuàeducaçãoprofissionale,dentrodela,aoensinotécnicodenívelmédio(Brasil PresidênciadaRepública2001ítem7): Háumconsensonacional:aformaçãoparaotrabalhoexigehojeníveiscada vezmaisaltosdeeducaçãobásica,geral,nãopodendoestaficarreduzidaà aprendizagem de algumas habilidades técnicas, o que não impede o oferecimento de cursos de curta duração voltados para a adaptação do trabalhador às oportunidades do mercado de trabalho, associados à promoção de níveis crescentes de escolarização regular. Finalmente, entende-se que a educação profissional não pode ser concebida apenas como uma modalidade de ensino médio, mas deve constituir educação continuada,queperpassatodaavidadotrabalhador. Por isso mesmo, estão sendo implantadas novas diretrizes no sistema público de educação profissional, associadas à reforma do ensino médio. Prevê-se que a educação profissional, sob o ponto de vista operacional,sejaestruturadanosníveisbásico–independentedonívelde escolarização do aluno, técnico - complementar ao ensino médio e tecnológico-superiordegraduaçãooudepós-graduação. Havia uma clara ênfase na consolidação de uma rede de instituições de educação profissional, que ofereceria a formação técnica concomitante ou sequencial ao ensino médio,comosedepreendededuasdasmetasestabelecidaspeloPlano: 5. Mobilizar, articular e ampliar a capacidade instalada na rede de instituiçõesdeeducaçãoprofissional,demodoatriplicar,acadacincoanos, a oferta de formação de nível técnico aos alunos nelas matriculados ou egressosdoensinomédio. 89 9. Transformar, gradativamente, unidades da rede de educação técnica federalemcentrospúblicosdeeducaçãoprofissionalegarantir,atéofinal dadécada,quepelomenosumdessescentrosemcadaunidadefederada possa servir como centro de referência para toda a rede de educação profissional, notadamente em matéria de formação de formadores e desenvolvimentometodológico. EssasorientaçõesdepolíticaforammodificadascomaediçãodoDecretonº5.154,de23 dejulhode2004,querestabeleceuaformadeofertaintegradadoensinotécniconas escolas de ensino médio. A nova regulamentação foi apresentada em contraposição àquelaprevistanodecretode1997,nosseguintestermos(BrasilMinistériodaEducação andSecretariadeEducaçãoMédiaeTecnológica2004): Combasenasconcepções,diretrizeseproposiçõesdoProjetoparaaárea da Educação do atual governo, a equipe que assumiu a Secretaria de EducaçãoMédiaeTecnológicaem2003tinhaclarezadequeeranecessária umamudança,noconteúdoenaforma,dapolíticadeensinomédioeda educação profissional e tecnológica. O Decreto nº 2.208/97 e as regulamentações subseqüentes sobre a matéria haviam efetivado uma profunda mudança no ensino médio em sua relação com a educação profissional, contrariando concepções e proposições da maior parte das instituições da sociedade que efetivaram longos estudos, debates e audiências públicas na década de 80, no processo da Constituinte e, na décadade90,nosdebatesdaconstruçãodanovaLDBedoPlanoNacional deEducação. Noplanodoconteúdo,amudançamaisprofundafoiainstauraçãodeuma novaformadedualismonaeducação,aosepararaofertadeensinomédio do ensino técnico, e restringir a oferta do ensino médio nas instituições federaisdeeducaçãotecnológica.[...]Noâmbitodasconcepções,oideário de um sujeito autônomo, protagonista de cidadania ativa, fortemente sinalizado nos debates das décadas acima assinaladas foi reduzido à perspectivadaadaptaçãoaosrequisitosimediatosdomercado.Noquese refere ao método, as decisões foram tomadas de forma vertical e imperativa, tendo gerado enormes constrangimentos na área, mormente nasredesfederaleestadualdeeducaçãoprofissional. A autovisão sobre essa mudança encontra-se expressa em documento publicado, em dezembrode2007,pelaSecretariadeEducaçãoProfissionaleTecnológicadoMinistério daEducação,historiandooprocessodeediçãodoDecretonº5.154,de2004.Ogoverno apresentavaamudançacomoumaretomadadaconcepçãodeeducaçãopolitécnicaque inspirara os primeiros projetos de lei de diretrizes e bases da educação nacional. De 90 acordo com sua percepção, essa concepção foi progressivamente abandonada até se descaracterizarnaleiafinalpublicadaque,inclusive,deraensejoàpolíticadeseparação entre ensino médio e ensino técnico implementada pela gestão presidencial anterior (BrasilMinistériodaEducaçãoandSecretariadeEducaçãoProfissionaleTecnológica2007 p.23): Assim, retoma-se a discussão sobre a educação politécnica, compreendendo-a como uma educação unitária e universal destinada à superaçãodadualidadeentreculturageraleculturatécnicaevoltadapara “o domínio dos conhecimentos científicos das diferentes técnicas que caracterizamoprocessodetrabalhoprodutivomoderno”(Saviani2003p. 140,citadoporFrigotto,CiavattaeRamos,2005,p.42),sem,noentanto, voltar-separaumaformaçãoprofissionalstrictosensu,ouseja,semformar profissionais em cursos técnicos específicos. Nessa perspectiva, a escolha porumaformaçãoprofissionalespecífica,emníveluniversitárioounão,só viriaapósaconclusãodaeducaçãobásicadecaráterpolitécnico,ouseja,a partirdos18anosoumaisdeidade. Segundo o documento, essa formação politécnica não ensejaria, durante a educação básica, a profissionalização específica que, em uma situação ideal, viria a ser obtida posteriormente,emnívelsuperiorounão.Arealidadebrasileira,porém,extremamente desigual,nãopermitiriaaimplantaçãodessapropostasemcausardificuldadesparaos estudantes da classe trabalhadora, levados a se inserir prontamente no mundo do trabalho. A solução adotada, portanto, considerada como transitória, foi a adoção do ensinomédiointegradoàformaçãoprofissional,comosedepreendedaleituradeoutro trechododocumentoemquestão: Taisreflexõesconduziramaoentendimentodequeumasoluçãotransitória eviáveléumtipodeensinomédioquegarantaaintegralidadedaeducação básica, ou seja, que contemple o aprofundamento dos conhecimentos científicosproduzidoseacumuladoshistoricamentepelasociedade,como tambémobjetivosadicionaisdeformaçãoprofissionalnumaperspectivada integração dessas dimensões. Essa perspectiva, ao adotar a ciência, a tecnologia,aculturaeotrabalhocomoeixosestruturantes,contemplaas basesemquesepodedesenvolverumaeducaçãotecnológicaoupolitécnica e,aomesmotempo,umaformaçãoprofissionalstrictosensuexigidapela durarealidadesocioeconômicadopaís. 91 Assim se alterou a organização da educação profissional técnica de nível médio, que passouaserarticuladacomoensinomédio,sobtrêsformas:integrada,concomitantee subsequente. A ênfase se situou na alternativa do ensino integrado. Analisando as políticas educacionais, o Ministério da Educação, em 2007, afirmava o seguinte posicionamento: Nosanos90,foibanidapordecretoaprevisãodeofertadeensinomédio articulado à educação profissional e proibida por lei a expansão da rede federaldeeducaçãoprofissionaletecnológica.[...]EmoposiçãoaoDecreto nº2.208,de14deabrilde1997,quedesarticulouimportantesexperiências deintegraçãodoensinoregularàeducaçãoprofissional,oDecretonº5.154, de23dejulho2004,retomouaperspectivadaintegração.OPDEpropõesua consolidaçãojurídicanaLDB,quepassaráavigoraracrescidadeumaseção especificamente dedicada à articulação entre a educação profissional e o ensino médio, denominada “Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio”.Aeducaçãoprofissionalintegradaemespecialaoensinomédioéa que apresenta melhores resultados pedagógicos ao promover o reforço mútuodosconteúdoscurriculares,inclusivenamodalidadeadistância. Naverdade,oDecretonº2.208,de1997,nãobaniuaarticulaçãoentreoensinomédio e o ensino profissional, como foi intrepretado depois; a intenção foi requerer que as instituiçõesfederaisdeensinoprofissionaltambémoferecessemcursostécnicosdenível básico, definidos como "modalidade de educação não-formal e duração variável, destinada a proporcionar ao cidadão trabalhador conhecimentos que lhe permitam reprofissionalizar-se,qualificar-seeatualizar-separaoexercíciodefunçõesdemandadas pelo mundo do trabalho". Além disto, o decreto estabelecia, no artigo 5o, que "a educaçãoprofissionaldeníveltécnicoteráorganizaçãocurricularprópriaeindependente doensinomédio,podendoseroferecidadeformaconcomitanteouseqüencialaeste" (BrasilPresidênciadaRepública1997).Nasequência,oGovernofederalfirmouacordode empréstimocomoBancoInteramericanodeDesenvolvimento–BID,novalordeUS$250 milhões, acrescidos de contrapartida nacional de igual valor, para implantação da reformulaçãodaeducaçãoprofissional,incluindoconstrução,reformaeequipamentos de escolas técnicas. Denominou-se Programa de Expansão da Educação Profissional – PROEP.Oprogramafoiinterrompidoem2003eretomadonoanoseguinte.Aoencerrar suas atividades em 2007, o PROEP financiou ações em 262 escolas de educação 92 profissional, com capacidade de atendimento a cerca de 927 mil alunos(as) em cursos técnicos,tecnológicosedeformaçãoinicialoucontinuada. AopçãodogovernoLula,aocontrário,foidaraosantigosCentrosFederaisdeEducação Tecnológica o status de universidade, transformando-os em Institutos Federais de Educação,CiênciaeTecnologia,pelaleino.11.892,de29/12/2008.Antes,aLeinº11.741, de16dejulhode2008,haviaalteradodiversosdispositivosdaLeinº9.394,de1996(LDB), relativosàeducaçãoprofissionaleinseriu,nessediplomalegal,umnovocapítulosobrea educação profissional técnica de nível médio, incorporando as principais normas que haviamsidofixadaspeloDecretonº5.154,de2004.Oprojetodeleiquedeuorigema essasmodificações,denº919,de2007,pretendiaqueaalternativadoensinointegrado fosseaquelapreferencialmenteadotada.Noentanto,naleiaprovada,essasinalização preferencialdeixoudeconstar. Nasequência,pormeiodoParecerCEB/CNEnº11,de2012edaResoluçãoCEB/CNEnº 6, do mesmo ano, o Conselho Nacional de Educação fixou as diretrizes curriculares nacionaisparaaeducaçãoprofissionaltécnicadenívelmédio.EssaResoluçãoreafirmou asformasdeoferta(articulada–integradaeconcomitante–esubsequente),oprincípio deorganizaçãoporeixostecnológicosedeitineráriosformativosflexíveis(mencionando matrizestecnológicas,núcleopolitécnicocomum,conhecimentosehabilidadesnasáreas doconhecimentoesuaarticulação)eatribuiucaráternormativoaoCatálogoNacionalde Cursos Técnicos, mantido pelo Ministério da Educação, como orientador dos cursos e perfisbásicosdeformaçãoequetambémdefineacargahoráriamínimaparacadacurso. Paraoscursosoferecidosnasformasintegradaouconcomitante,acargahoráriatotal, conformeahabilitaçãoprofissional,podesersuperiorem600eaté800horasàcarga horáriamínimaprevistaparaoensinomédiogeral,queéde2.400horas. Consideraçõesfinais A posição de política educacional hoje consagrada nas normas legais é a de que a formaçãoprofissionaltécnicadenívelmédiodeveserobtidaemadiçãoatodooconjunto derequisitoscurricularesprevistosparaoensinomédiodeformaçãogeral.Remetendo 93 aos momentos iniciais de discussão da atual LDB, encontra-se o argumento de que a ofertadeumahabilitaçãotécnicanãodeverepresentarlimitaçãooureduçãodoacesso doestudanteaoconjuntodesaberesquedevesergarantidoatodocidadãobrasileirona educação básica. Na sua base, uma concepção de escola unitária e politécnica que, segundo seus postulados, evita a instrumentalização da educação escolar e impede o (re)estabelecimentododualismonaorganizaçãodaeducaçãonacional. Essaorganização,contudo,sedeparacomumaquestãorelevante.Aindaquealegislação possibiliteformasflexíveisdeorganizaçãodoensinomédio,aquantidadedeconteúdos obrigatórioseatendênciahistóricaàpadronizaçãocurricularlevaramaoenrijecimento do currículo de formação geral, composto de um número elevado de componentes curriculares que todos os estudantes devem cumprir. Isto, em boa medida, resulta na ampliaçãotemporaldositineráriosformativosdoensinotécnico. Essaquestãoécentralparaposiçõesque,emcontrapontoàquelaque,emboamedida, inspira a legislação vigente, argumentam que a formação técnica pode ser oferecida mediante combinações específicas de conteúdos gerais com conteúdos profissionalizantes,semprejuízodedesenvolvimentodoestudanteparaoexercícioda cidadania, para o pensamento crítico e para a interpretação das relações que se estabelecemnomundodaprodução.Atrajetóriaouajornadaescolaresnãoprecisariam seralongadasparaassegurarsólidaformaçãotécnicacomdensaformaçãogeral.Seria assimviávelsituaraformaçãotécnicadenívelmédiocomoumaopçãoamais,similarà opçãoporumaáreadeestudos,noâmbitodaformaçãogeral. Estadiversidadedeposicionamentosnovamentesefezsentirnoprojetodeleinº6.840, de 2013, que “altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizesebasesdaeducaçãonacional,parainstituirajornadaemtempointegralno ensinomédio[e]disporsobreaorganizaçãodoscurrículosdoensinomédioemáreasdo conhecimento”. Em substitutivo aprovado pela Comissão Especial que apreciou esse projeto, a formação profissional técnica é apresentada como uma opção formativa alternativaàsquatroprevistasparaoensinomédiogeral(áreasdeênfaseemlinguagens, matemática,ciênciasdanaturezaeciênciashumanas).Trata-sedeumencaminhamento 94 distintodaqueleatualmentevigenteereabrediscussõesqueinspiraramalongatrajetória daLDBde1996. Defato,naatualidade,amatériaaindaestásujeitaacontrovérsiasesenteosefeitosdo embatedasdiferentesposiçõesreferidasnestetexto.Outraevidêncianessesentidopode sercolhidanaLeinº12.513,de26deoutubrode2011,queinstituiuoProgramaNacional deAcessoaoEnsinoTécnicoeEmprego(Pronatec).Emsuaredaçãooriginal,aleiprevia concessãodebolsa-formaçãoapenasparaoestudanteque,matriculadonoensinomédio geral, cursava o ensino técnico sob a forma concomitante. Isto significa que, em um primeiromomento,oGovernofederaloptaraporprivilegiaraviadeformaçãotécnica que,potencialmente,separaosespaçosinstitucionaisouaomenosostemposemquea formação geral e a técnica são obtidas. É fato que, passado pouco mais de um ano, MedidaProvisória,aseguirconvertidanaLeinº12.863,de2013,alterouessedispositivo, inserindoasdemaisformasdearticulaçãoentreoensinogeraleotécnico. Adiscussão,portanto,estáposta.Orelevanteéencontrareimplantarumapropostaque atendadefatoaosinteresseseaspiraçõesdosjovensdoensinomédioe,dentreesses, dos que pretendem ou necessitam da formação técnica para ingresso no mundo do trabalho. Sempre levando em conta que, no cenário contemporâneo, os setores produtivos da sociedade brasileira requerem cada vez mais profissionais com sólida formaçãogeralecompetênciatécnica,capazesdelidarcomoavançotecnológicoeaté mesmo impulsioná-lo. Essa trajetória formativa pode ser precisa e ter a duração necessáriaparagarantirsuaintegridadepedagógicaetécnica,semobrigarosestudantes, de um lado, a estudos enciclopédicos excessivamente amplos e, de outro, sem reducionismosquetornemaformaçãomeramenteinstrumental. Essa questão assume particular relevância na medida em que o sistema brasileiro de educação básica alcança graus expressivos de universalização, abrangendo todos os segmentos da população, em sua diversidade econômica, social e cultural. O fortalecimentodoensinotécnicocomoopçãoformativadenívelmédio,comorganização flexível e competente, permitirá aos sistemas de ensino atender às aspirações, 95 necessidadesepossibilidadesdeumexpressivocontingentedeestudantescujatrajetória escolarnãoapontanadireçãodaeducaçãosuperior. Alegislaçãobrasileiradeeducaçãomédiaeprofissional Otermo"educaçãobásica"éutilizadohojenoBrasilparadesignaraeducaçãoescolar quecompreendeaeducaçãoinfantil,atéos5anosdeidade:aeducaçãofundamental,de 9anos;eaeducaçãomédia,de3anos.Nopassado,aatualeducaçãofundamentalse dividiaemdoisníveis,aeducaçãoprimária,de4anosdeduração,eaginasial,também dequatroanos;eaeducaçãosecundária,divididaemdoisciclos,oginasial,de4anos,e osegundociclo,subdividoemclássico,científicoenormal,depreparaçãodeprofessoras paraaeducaçãoprimária. Panoramahistórico De1931a1996,podem-seidentificarmomentosemqueocorreramsaltosqualitativos maisexpressivosnaspolíticaseducacionais,comosmarcoslegaisenormativosqueas disciplinaram. ReformaFranciscoCampos Pelo Decreto nº 18.890/1931, a chamada Reforma Francisco Campos organizou e regulamentou o Ensino Secundário, padronizando-o nacionalmente, substituindo o regime de cursos preparatórios e de exames parcelados que vinha desde o Império. Estabeleceuaseriaçãoanualeafrequênciaobrigatória,bemcomoumainspeçãofederal no âmbito do então Ministério da Educação e Saúde Pública. A organização do Ensino PrimáriocontinuouacargodosEstados. OEnsinoSecundáriofoi,então,constituídopordoiscursosseriados: - Fundamental(de5anos,deformaçãogeral,comingressomedianteexamede seleção); - Complementar(de2anos),propedêutico,paracandidatosaoEnsinoSuperior, com diversificação de caminhos orientados para curso de Direito, ou de Medicina/Farmácia/Odontologia, ou de Engenharia/Arquitetura, ou, ainda, Educação/Ciências/Letras. 96 EstareformapreparavaestudantesdeclassesmaisprivilegiadasparaoEnsinoSuperior, mantendooaprendizadoprofissionalparaosmaispobres.Comessaperspectiva,pelo Decreto nº 20.158/1931, foi organizado o Ensino Comercial, composto por um curso propedêutico (de 3 anos) e pelos cursos técnicos de Secretário, Guarda-Livros, Administrador-Vendedor, Atuário, Perito Contador e, ainda, um curso elementar de AuxiliardeComércio,edeumsuperiordeAdministraçãoeFinanças. AReformaCapanema OconjuntodasLeisOrgânicasdaEducaçãoNacional,editadasde1942a1946,instituíram adenominadaReformaCapanema,queformatouasetapasemodalidadesdaEducação Básicaqueperduramatéhoje.Sãoasseguintestaisleis: • LeiOrgânicadoEnsinoSecundário(Decreto-Leinº4.244/1942); • LeiOrgânicadoEnsinoIndustrial(Decreto-Leinº4.073/1942); • LeiOrgânicadoEnsinoComercial(Decreto-Leinº6.141/1943); • LeiOrgânicadoEnsinoPrimário(Decreto-Leinº8.529/1946); • LeiOrgânicadoEnsinoNormal(Decreto-Leinº8.530/46); • LeiOrgânicadoEnsinoAgrícola(Decreto-Leinº9.613/1946). OEnsinoSecundário,àsemelhançadaqueledareformaanterior,manteveduasetapas, comamesmaduraçãototaldeseteanos,porémcomdistribuiçãodiferente: • 1ºCiclo,doCursoGinasial,comduraçãode4anos,destinadoa“fundamentos”; • 2ºCiclo,comaduraçãode3anos,dosCursosClássico,CientíficoeNormal,os doisprimeirosdeconsolidaçãodaeducaçãoministradanoGinasialeoterceiro, paraformaçãodeprofessoresdoCursoPrimário.Esteciclomantinha,embora modificada, a diversificação que havia no Curso Complementar da reforma anterior,passandodequatroparatrêscaminhos. Nas Leis Orgânicas, o objetivo do Ensino Secundário continuava a ser o de "formar as elitescondutorasdopaís”eodoEnsinoProfissionalera,assumidamente,odeoferecer “formação adequada aos filhos dos operários, aos desvalidos da sorte e aos menos afortunados,aquelesquenecessitamingressarprecocementenaforçadetrabalho”. 97 Note-se que alguns de seus efeitos perduram até hoje, como na comumente e usual divisão do Ensino Fundamental em “anos iniciais” e “anos finais”, em quase tudo assemelhadosaoPrimárioeaoGinásio,respectivamente. ALeideDiretrizeseBasesde1961 C.Em1961,aLeinº4.024/1961,aprimeiradeDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional, conservou, basicamente, a estrutura da Reforma Capanema ao regular o que então chamoudeEnsinoMédio(aoinvésde“Secundário”),comosciclosGinasialeColegial, porém,ambospodendosersecundários,técnicosoudeformaçãodeprofessoresparao EnsinoPré-PrimárioeoPrimário. - O Colegial Secundário visava ao preparo para cursos superiores, para isso prescrevendodiversificaçãocurricularnaterceiraeúltimasérie; - OEnsinoTécnicoabrangiaoIndustrial,oAgrícolaeoComercial,podendoser ministradotantonocicloGinasialcomonoColegial. EmboramantendoocaráterelitistaeaestruturabásicadaReformaCapanema,trouxe inovações,entreasquaisadorelativo“enobrecimento”doscursostécnico-profissionais, colocadosapardosdemaisemcadaumdosdoisciclose,até,permitindotransferências paraoutro,medianteadaptação. ALeideDiretrizeseBasesdoEnsinode1oe2o.graus Em1971,aLeinº5.692/1971,deDiretrizeseBasesdoEnsinode1ºe2ºGraus,revogou os dispositivos da Lei nº 4.024/61 referentes aos então Ensinos Primário e Médio, regulando-osedenominando-osEnsinosde1ºede2ºGraus. FoieditadasobaégidedaConstituiçãode1967,aqual,comaEmendaConstitucionalnº 01/1969,baixadapelaentãoJuntaMilitar,dispôsqueoEnsinoPrimário,passava,com8 anos, a ser “obrigatório para todos, dos sete aos quatorze anos, e gratuito nos 98 estabelecimentos oficiais”. O Ensino Médio, diferentemente, não era previsto como obrigatório,nemcomogratuito.12 Aleientendeuesse“EnsinoPrimário”indicadonaConstituição,comosendoEnsinode1º Grau, com 8 anos, e o “Médio”, como Ensino de 2º Grau, com 3 ou 4 anos, assim os denominando.Destemodo,ocorrespondenteaoantigoCursoGinasial,queeraetapa inicialdoanteriorEnsinoMédio,passouaseraetapafinaldoentãoEnsinode1°Grau. Anteriormente,somenteoPrimário,comquatroanosdeduração,seconstituíaemetapa obrigatóriaedeofertagratuitaemestabelecimentosoficiais.13 ParaoEnsinode2ºGrau(anterior2ºCicloeatualMédio),estaleigeneralizoueobrigou aprofissionalização,pretendendoeliminarodualismoentreaformaçãoacadêmicade preparaçãoparaestudossuperiores,eaprofissionalnosramosIndustrial,Comerciale Agrícola. Foi mantido o curso de preparação de professores para o ensino nas quatro sériesiniciaisdo1ºGrau,chamadodeHabilitaçãoparaoMagistério. OConselhoFederaldeEducação,peloParecerCFEnº45/1972,haviaregulamentadoa profissionalizaçãono2ºGrau,estabelecendohabilitaçõescomseusmínimoscurriculares profissionalizantes, para compor a parte diversificada dos cursos, os quais ofereciam, portanto, currículos mistos, com disciplinas de formação geral e com disciplinas de formaçãoprofissional.Teve,destemodo,reduzidootempodedicadoàeducaçãogeral, paracomportaraformaçãoespecialprofissionalizante,causando,entreoutrosefeitos,o da perda de identidade, seja a propedêutica para o ensino superior, seja a da terminalidade ocupacional. Corretivamente, essa profissionalização foi tornada facultativapelaLeinº7.044/1982. 12 O ensino público somente seria gratuito “para quantos, no nível médio e no superior, demonstrarem efetivo aproveitamentoeprovaremfaltaouinsuficiênciaderecursos”. 13 LeiFederalnº5.692/1971:Art.44.Nosestabelecimentosoficiais,oensinode1ºgrauégratuitodos7aos14anos,e odeníveisulterioressê-lo-áparaquantosprovaremfaltaouinsuficiênciaderecursosenãotenhamrepetidomaisde umanoletivoouestudoscorrespondentesnoregimedematrículapordisciplinas. 99 Édesenotarque,emborapossibilitandoadiversificaçãodehabilitaçõesprofissionaisna parteespecialdocurrículo,trouxeumretrocessoemrelaçãoàpartegeral,representada pelasdisciplinasdeformaçãogeral,tornadapadronizadaparatodasasescolas. AmesmaLeinº5.692/71instituiuaformaçãoprofissionalpelaviadoEnsinoSupletivo, mediante cursos de Qualificação Profissional, mais flexíveis e atentos às demandas de trabalhadoreseempresas,ealgunsjáorganizadospormódulos.Eramindependentesdo Ensinode2ºGrau,cujaconclusãopodiaserobtidaemescolaemomentodiferentes,mas semprenecessárioparaaobtençãododiplomadeTécnico,àsemelhançadoqueveioa ser,maistarde,generalizadopeloDecretonº2.208/1997,navigênciadanovaLDB. ALeideDiretrizeseBasesde1996 Em1996ocorreuaatualreforma,pelaLeiFederalnº9.394/1996,deDiretrizeseBasesda Educação Nacional (LDB), a qual reflete e detalha as disposições relativas à educação contidas na Constituição Federal de 1988 e suas posteriores emendas, bem como é interpretada e complementada pelas normas do Conselho Nacional de Educação, especialmenteporsuasDiretrizesCurricularesNacionais. Note-seque,visandoàformaçãogeral,oretrocessorepresentadoporumformatoúnico para o Ensino Médio foi mantido pela generalidade das escolas, por não determinar diversidadecurricularparaopçãodosestudantes,emboraaleipermitaqueassimseja feito, pois é uma lei bastante aberta, que dá às escolas autonomia e liberdade para a construçãodeseuscurrículos,desdequeatendamaosinteressesdaaprendizagem. Estaleivemrecebendosucessivasalterações,sendoqueasreferentesaoEnsinoMédio eàEducaçãoProfissional,emvigor,foram: - Leinº13.277/2016:alterouo§6ºnoArt.26,dispondoqueasartesvisuais,a dança, a música e o teatro são linguagens constituintes do componente curricular Arte, dando prazo de 5 anos para implantação das mudanças decorrentes; 100 - Leinº13.010/2014:incluiuo§9ºnoArt.26,determinouconteúdosrelativos aosDireitosHumanoseàprevençãodetodasasformasdeviolênciacontraa criançaeoadolescente,comotemastransversais; - Leinº13.006/2014:incluiuo§8º,determinouaexibiçãodefilmesdeprodução nacional como componente curricular complementar, no mínimo, 2 (duas) horasmensais; - Leinº12.960/2014:incluiuParágrafoúniconoArt.28,sobrecondiçõespara fechamentodeescolasdocampo,indígenasequilombolas; - Leinº12.796/2013:introduziudiversasalterações(novasredações,inclusõese revogações):Art.3o:incluindooIncisoXII;Art.4º:dandonovaredaçãoaoInciso I,comainclusãodadiscriminaçãodaEducaçãoBásicaobrigatóriados4aos17 anos, e dando nova redação aos Incisos II, II, IV e VIII; Art. 5º: dando nova redaçãoaocaput,ao§1oeseuIncisoI;Arts.6º,26e29:dadasnovasredações; Art.30:dandonovaredaçãoaoIncisoII;Art.31:dandonovaredaçãonocaput eincluindoosIncisosI,II,III,IVeV;Art.58,59:dandonovaredaçãoaoscaputs; Art. 60: dando nova redação ao seu Parágrafo único; Art. 62: dando nova redaçãoaocaputeincluindoos§§§4º,5oe6o;Art.62-A:incluindooartigoe seuParágrafoúnico;Art.67:incluindo§3º;Art.87:revogandoos§§2ºe4º,e oIncisoIdo§3o; - Lei nº 12.608/2012: incluiu o § 7º no seu Art. 26, para que os currículos do EnsinoFundamentaleMédioincluamosprincípiosdaProteçãoeDefesaCivile aEducaçãoAmbiental; - Leinº12.287/2010:alterouo§2ºdoart.26,acrescentando“especialmente emsuasexpressõesregionais”aoensinodaArte; - Leinº12.061/2009:alterouoincisoIIdoart.4ºeoincisoVIdoart.10daLDB, paraasseguraroacessodetodososinteressadosaoEnsinoMédiopúblico; - Leinº12.056/2009:incluiu§§§1º,2ºe3ºnoArt.62,dispondosobreformação inicial,continuadaecapacitaçãodosprofissionaisdemagistério. - Lei nº 12.020/2009: alterou a redação do inciso II do art. 20, que define instituiçõesdeensinocomunitárias; - Lei nº 12.014/2009: alterou o art. 61 para discriminar as categorias de trabalhadoresquesedevemconsiderarprofissionaisdaEducaçãoBásica; - Leinº12.013/2009:alterouoart.12,determinandoàsinstituiçõesdeensino obrigatoriedade no envio de informações escolares aos pais, conviventes ou nãocomseusfilhos,bemcomosobreaexecuçãodapropostapedagógicada escola; - Leinº11.788/2008:alterouoart.82,sobreoestágiodeestudantes; - Lei nº 11.741/2008: redimensionou, institucionalizou e integrou as ações da Educação Profissional Técnica de Nível Médio, da Educação de Jovens e Adultos,edaEducaçãoProfissionaleTecnológica; 101 - Leinº11.684/2008:incluiuFilosofiaeSociologiacomoobrigatóriasnoEnsino Médio; - Leinº11.645/2008:alterouaredaçãodoart.26-A,paraincluirnocurrículoa obrigatoriedadedatemática‘HistóriaeCulturaAfro-BrasileiraeIndígena’ - Leinº11.301/2006:alterouoart.67,incluindo,paraosefeitosdodispostono § 5º do art. 40 e no § 8º do art. 201 da Constituição Federal, definição de funçõesdemagistério; - Lei nº 10.793/2003: alterou a redação do art. 26, § 3º, e do art. 92 , com referênciaàEducaçãoFísicanosEnsinosFundamentaleMédio; - Lei nº 10.709/2003: acrescentou incisos aos arts. 10 e 11, referentes ao transporteescolar; - Lei nº 10.639/2003: Art. 79-B, incluindo no calendário escolar o dia 20 de novembrocomo‘DiaNacionaldaConsciênciaNegra’; - Lei nº 10.287/2001: incluiu inciso no art. 12, referente a notificação ao ConselhoTutelardoMunicípio,aojuizcompetentedaComarcaeaorespectivo representante do Ministério Público a relação dos alunos que apresentem quantidadedefaltasacimadecinquentaporcentodopercentualpermitidoem lei. Desserol,pelaimportânciaparaaEducaçãoProfissional(quepassouaseradjetivada, também,deTecnológica),destaca-se,aLeinº11.741/2008queincorporouasdisposições essenciais do Decreto n 5.154/ 2004 que havia regulamentado o § 2º do art. 36 e os artigos39a41daLeinº9.394/1996,LDB,revogandooDecretonº2.208/1997. * AConstituiçãoFederal,emresultadodaEmendaConstitucionalnº59/2009,determina, comeconaLDB,queaescolaridadeobrigatóriapassaaserde14anos,paracriançase adolescentesde4a17anos. IstosignificaqueoiníciodaobrigatoriedadecoincidecomamatrículanaPré-Escolae,seu final,desejáveleidealmente,deveriacoincidircomaconclusãodoEnsinoMédio.Esta obrigatoriedade,noentanto,garantequeoEnsinoMédiovenhaaserconcluídoapenas pelos que não tiveram nenhum atraso no seu percurso escolar, desde sua entrada no EnsinoFundamental,atésuaconclusãoeingressoeprogressãoregularnoEnsinoMédio. Onovodispositivoconstitucional,portanto,nãotemeficáciaparaalcançardiretamente 102 osquetiveramalgumaformadeatrasonoseupercursoescolar.Arealidadeatualmostra, assim,quenãosignifica,ainda,obrigatoriedadedoEnsinoMédioparatodos. Dessa obrigatoriedade constitucional decorrem desafios quantitativos relativos à ampliação da oferta, inclusive para atender a demanda potencial reprimida, especialmente nas etapas da Pré-Escola e do Ensino Médio, ainda sem suficientes coberturas, diferentemente do Ensino Fundamental que já atingiu, praticamente, a universalização. Edecorrem,também,desafiosqualitativosparaagarantiadeacesso;dealfabetizaçãona idade certa; de permanência com eliminação da distorção de idade, da retenção e da evasão;e,enfim,desucessonaaprendizagem. EnsinoMédioédeincumbênciaprioritáriadosEstadosedoDistritoFederal,cabendolhesassegurarsuaofertaatodosqueodemandarem. AoEnsinoMédio,emboratenhaodesafiodepropiciar,também,preparaçãogeral/básica paraotrabalho,14nãocabe,comoregrageralatual,aformaçãoprofissionalespecífica, objeto da Educação Profissional. A LDB, entretanto, prevê no § 2º do seu art. 36, que ambas as formações podem ocorrer em um mesmo curso, desde que “atendida a formaçãogeraldoeducando”visadapeloEnsinoMédio,oqueocorrenaformaarticulada integradacomaEducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio. Emnívelnacional,aResoluçãoCNE/CEBnº02/2012,fundamentadanoParecerCNE/CEB nº 05/2011, fixa as Diretrizes Curriculares para esta última etapa da Educação Básica, devendo, também, ser considerados o Parecer CNE/CEB nº 07/2010 e a Resolução CNE/CEB nº 04/2010, que definem Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a EducaçãoBásica. 14 Lembra-se que a LDB prevê que os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, entre suas diretrizes, a “orientação para o trabalho”; e que o Ensino Médio tem, entre suas finalidades a “preparação básica para o trabalho”, bem como, que este ensino, entre suas diretrizes, conduzirá o educando à “preparação geral para o trabalho”. 103 Aevoluçãodalegislaçãosobreformaçãoprofissional A formação profissional, desde as primeiras iniciativas no período do Império, tinha carátereintençãode“ampararosórfãoseosdemaisdesvalidosdasorte”. NoiníciodaRepública,semprecomessacaracterísticaassistencial,jáerarelacionadacom aincipienteindústria.Apartirde1906,desenvolveram-seosEnsinosIndustrial,Comercial eAgrícola,sendocriadasem1910dezenove“EscolasdeAprendizesArtífices”emvários Estados,destinadas“aospobresehumildes”,asquaisforamosembriõesdaatualrede de instituições federais de Educação Tecnológica. Nessa década, o Ensino Agrícola foi reorganizado, objetivando formar “chefes de cultura, administradores e capatazes”. Foram,ainda,criadasescolas-oficinadestinadasàformaçãodeferroviários,paraatender aocrescimentodessesetor. Na década dos anos 20, a Câmara de Deputados debateu a expansão do Ensino Profissional, propondo sua extensão a todos, não apenas aos pobres e aos “desafortunados”. A Constituição 1937, pela primeira vez, tratou das “escolas vocacionais e prévocacionais”, como um “dever do Estado”, ainda para as “classes menos favorecidas”, deveresseasercumpridocomacolaboraçãodasempresasedossindicatoseconômicos. De1942a1946,comojáexposto,aReformaCapanemainstituiuasLeisOrgânicasda EducaçãoNacional,inclusiveasreferentesaosEnsinosIndustrial(1942),Comercial(1943) eAgrícola(1946). Em 1942, foi estabelecido o conceito de menor aprendiz para efeitos da legislação trabalhista, bem como foi organizada a Rede Federal de Estabelecimentos de Ensino Industrial.Acolaboraçãodasempresasedosórgãossindicaispatronaislevouàcriação dosdoisprimeirosServiçosNacionaisdeAprendizagem,oIndustrial(Senai),em1942,e o Comercial (Senac), em 1946. No mesmo período as antigas escolas de aprendizes artífices foram transformadas em Escolas Técnicas Federais. Consolidou-se o Ensino Profissional relacionado com as necessidades emergentes da economia industrial e da sociedadeurbana,embora,aindacomseuviésassistencialista. 104 No entanto, os ramos do Ensino Profissional, de um lado, e o Ensino Secundário e o Normal,deoutro,nãosecomunicavamnempropiciavam"circulaçãodeestudos",oque veio a ocorrer na década seguinte, quando foi dada a equivalência entre os estudos acadêmicoseosprofissionais,aqualpassouaserpossívelem1950,15criandoponteentre osdoistiposdeensinoe,mesmo,entreosramosdoscursosprofissionais.Noinícioda décadaseguinte,efetivou-seaplenaequivalênciaentretodososcursosdomesmonível, pelaLeiFederalnº4.024/1961,aprimeiraLeideDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional. EstamanteveamesmaestruturabásicadaReformaCapanemaedispunha,quantoao EnsinoProfissional(chamado“Técnico”),queoscursosIndustrial,AgrícolaeComercial tinhamdoisciclos,oGinasialeoColegial.16 ALeinº5.692/1971,quefixouDiretrizeseBasesparaoEnsinode1ºe2ºGraus,suprimiu a profissionalização na parte final do 1º Grau que correspondia ao Ginásio, e a universalizou no 2º Grau, atual Ensino Médio, o que trouxe efeitos danosos para esta etapa,sendocorrigidapelaLeinº7.044/1982,quetornoufacultativaessamedida. Presentemente, a Educação Profissional e Tecnológica é regida pela Lei Federal nº 9.394/1996(LDB),17comasalteraçõesdaLeiFederal11.741/2008,18queamantémcom especificidadeeautonomia,aomesmotempoemqueaarticulacomaEducaçãoBásica, nãoasubstituindo,masacomplementando,tantonaetapadoEnsinoFundamentalpara jovenseadultos,quantonadoEnsinoMédioe,aindaconstituindo,naEducaçãoSuperior, aGraduaçãoTecnológicaeaPós-Graduação. 15 A Lei Federal nº 1.076/1950 permitiu que egressos de cursos profissionais prosseguissem estudos superiores, desde, porém, que passassem por exames das disciplinas não estudadas e comprovassem “possuir o nível de conhecimento indispensável à realização dos aludidos estudos”. A Lei Federal nº 1.821/1953, com regras para a aplicação desse regime de equivalência, foi regulamentada pelo Decreto nº 34.330/1953. 16 Observa-seque,daLeinº4.024/1961,sósubsistemosArts.6ºao9º,referentesàAdministraçãodoEnsino,sendo que todos os demais, juntamente com a de nº 5.692/1971 e outras, foram revogados pela atual LDB, Lei nº 9.394/1996. 17 SeusdispositivosreferentesàEducaçãoProfissionaltiveramdoismomentos: - deseparaçãodaEducaçãoProfissionalTécnica,doEnsinoMédio(DecretoFederalnº2.208/97); - deopçãopelasformasarticuladasintegradaouconcomitante,esubsequente(DecretoFederalnº5.154/04). 18 EstaleiincorporounaLDBasdisposiçõesessenciaisdoDecretoFederalnº5.154/04. 105 Assim,aEducaçãoProfissionaleTecnológica: Complementa o Ensino Fundamental na Educação de Jovens e Adultos (EJA) como Qualificação Profissional, inclusive Formação Inicial e Continuada de Trabalhadores, nestaincluídosacapacitação,oaperfeiçoamento,aespecializaçãoeaatualização, EcomplementaoEnsinoMédio,podendointegrá-lo,tantonochamado“regular”como na modalidade de EJA, com Qualificação Profissional, inclusive Formação Inicial e ContinuadadeTrabalhadoresou,emespecial,comEducaçãoProfissionalTécnicade NívelMédio. Em seu Capítulo III, a LDB passou a tratar da Educação Profissional e Tecnológica, institucionalizandosuaorganizaçãoporEixosTecnológicos,possibilitandoaconstrução dediferentesitineráriosformativos,edefinindo3diferentestipos: FormaçãoInicialeContinuadaouQualificaçãoProfissional, EducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio, EducaçãoProfissionalTecnológica-deGraduaçãoedePós-Graduação. NaEducaçãoProfissionalTécnica,acitadaLeiFederalnº11.741/2008incluiunaLDBa SeçãoIV-A,querevalorizouapossibilidadedoEnsinoMédiointegradocomaEducação ProfissionalTécnica,sendodefinidasduasformas: ArticuladacomoEnsinoMédio,aqualpodeserIntegradaaeleemummesmocurso, ou com ele Concomitante, na mesma ou em outra escola, sem ou com projeto pedagógico unificado, neste último caso mediante convênio de intercomplementaridade; SubsequenteàconclusãodoEnsinoMédio. Emnívelnacional,apartirdasdisposiçõesdaLDB,foramfixadasasDiretrizesCurriculares paraaEducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio,lembrando-sequeossistemasde ensinodosEstados,doDistritoFederaledosMunicípiospodemacrescentarsuasnormas complementares. 106 As Diretrizes foram definidas pelo Conselho Nacional de Educação pela Resolução CNE/CEB nº 06/2012, fundamentada no Parecer CNE/CEB nº 11/2012, da qual se apresentamexcertosmaisexpressivosparaaorganizaçãocurricular: Art. 3º. A Educação Profissional Técnica de Nível Médio é desenvolvida nas formas articulada e subsequente ao Ensino Médio, podendo a primeira ser integrada ou concomitante a essa etapa da Educação Básica. § 1º. A Educação Profissional Técnica de Nível Médio possibilita a avaliação, o reconhecimento e a certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. § 2º. Os cursos e programas de Educação Profissional Técnica de Nível Médio são organizados por eixos tecnológicos, possibilitando itinerários formativos flexíveis, diversificados e atualizados, segundo interesses dos sujeitos e possibilidades das instituições educacionais, observadas as normas do respectivo sistema de ensino para a modalidade de Educação Profissional Técnica de Nível Médio. § 3º. Entende-se por itinerário formativo o conjunto das etapas que compõem a organização da oferta da Educação Profissional pela instituição de Educação Profissional e Tecnológica, no âmbito de um determinado eixo tecnológico, possibilitando contínuo e articulado aproveitamento de estudos e de experiências profissionais devidamente certificadas por instituições educacionais legalizadas. § 4º. O itinerário formativo contempla a sequência das possibilidades articuláveis da oferta de cursos de Educação Profissional, programado a partir de estudos quanto aos itinerários de profissionalização no mundo do trabalho, à estrutura sócio-ocupacional e aos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos de bens ou serviços, o qual orienta e configura uma trajetória educacional consistente. § 5º. As bases para o planejamento de cursos e programas de Educação Profissional, segundo itinerários formativos, por parte das instituições de Educação Profissional e Tecnológica, são os Catálogos Nacionais de Cursos mantidos pelos órgãos próprios do MEC e a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Art. 15. O currículo, consubstanciado no plano de curso e com base no princípio do pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, é prerrogativa e responsabilidade de cada instituição educacional, nos termos de seu projeto político-pedagógico, observada a legislação e o disposto nestas Diretrizes e no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos. Art. 17. O planejamento curricular fundamenta-se no compromisso ético da instituição educacional em relação à concretização do perfil profissional de conclusão do curso, o qual é definido pela 19 explicitação dos conhecimentos, saberes e competências profissionais e pessoais, tanto aquelas que caracterizam a preparação básica para o trabalho, quanto as comuns para o respectivo eixo tecnológico, bem como as específicas de cada habilitação profissional e das etapas de qualificação e de especialização profissional técnica que compõem o correspondente itinerário formativo. Parágrafo único. Quando se tratar de profissões regulamentadas, o perfil profissional de conclusão deve considerar e contemplar as atribuições funcionais previstas na legislação específica referente ao exercício profissional fiscalizado. 19 Atente-se que há uma inovação, ainda pouco observada, que é a da indicação de competências pessoais na definição do perfil profissional de conclusão do curso, as quais, certamente, dizem respeito a aprendizagens não cognitivas, de caráter socioemocional. São, também, chamadas competênciassociais, produtivas ou de gestão, habilidades socioemocionais, atributos ou características de personalidade, qualidades de caráter e, mesmo, “soft skils”. O Instituto Ayrton Sena (IAS) elaborou uma Matriz de Competências para o Século XXI, agrupando-as em oito macrocompetências: colaboração, responsabilidade, pensamento crítico, abertura, resolução de problemas, comunicação, autocontrole e criatividade (Instituto Ayrton Senna 2014) 107 Indica,ainda,critériosparaoplanejamentoeaorganizaçãodoscursosecomoosPlanos de Curso, coerentes com os respectivos projetos político-pedagógicos, devem ser estruturados contendo obrigatoriamente, no mínimo: I. identificação do curso; II. justificativa e objetivos; III. requisitos e formas de acesso; IV. perfil profissional de conclusão;V.organizaçãocurricular;VI.critériosdeaproveitamentodeconhecimentose experiências anteriores; VII. critérios e procedimentos de avaliação; VIII. biblioteca, instalações e equipamentos; IX. perfil do pessoal docente e técnico; X. certificados e diplomasaserememitidos(Art.20). E seu § 1º. determina que a organização curricular deve explicitar: componentes curriculares de cada etapa, com a indicação da respectiva bibliografia básica e complementar; orientações metodológicas; prática profissional intrínseca ao currículo, desenvolvidanosambientesdeaprendizagem;eestágioprofissionalsupervisionado,em termosdepráticaprofissionalemsituaçãorealdetrabalho,assumidocomoatoeducativo dainstituiçãoeducacional,quandoprevisto. Prescrevepassosquedevemserconsideradosnoplanejamentodaorganizaçãocurricular dos cursos técnicos, bem como sobre a carga horária mínima de cada um, a qual é a indicada no Catálogo Nacional de Cursos Técnicos por habilitação profissional, acrescentandoumainovaçãonoParágrafoúnicodoArt.26,queéadeoplanodeCurso Técnico de Nível Médio poder “prever atividades não presenciais, até 20% (vinte por cento) da carga horária diária do curso, desde que haja suporte tecnológico e seja garantido o atendimento por docentes e tutores”. O quadro 7, extraído do Parecer CNE/CEB nº 11/2012 que fundamenta as Diretrizes para esta modalidade, indica a duração,emhoras,dasdiferentesformasdeofertadaEducaçãoProfissionalTécnicade NívelMédio. Registra-se,ainda,queoPlanoNacionaldeEducação(PNE),instituídopelaLeiFederalnº 13.005de25dejunhode2014,tementresuasMetas: - Oferecer, no mínimo, 25% (vinte e cinco por cento) das matrículas de Educação de JovenseAdultos,nosEnsinosFundamentaleMédio,naformaintegradaàEducação Profissional(Meta10). 108 - TriplicarasmatrículasdaEducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio,assegurando aqualidadedaofertaepelomenos50%daexpansãonosegmentopúblico(Meta11). Observa-se, no entanto, que tais Metas, de caráter quantitativo, visam à expansão da EducaçãoProfissional,nãoalterandoseusobjetivos,estruturaeformasdeoferta. O conjunto principal da legislação e das normas que, atualmente, regem a Educação ProfissionaleTecnológicaéoseguinte: § Lei Federal nº 9.394/1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). No referenteàEducaçãoProfissionaleTecnológica,recebeumodificaçõesrelevantes:a Lei nº 11.741/2008, que redimensionou, institucionalizou e integrou as ações da EducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio,daEducaçãodeJovenseAdultos,e daEducaçãoProfissionaleTecnológica;eaLeino11.788/2008,quealterouoart. 82,sobreoestágiodeestudantes. § LeiFederalnº11.788/2008,quedispõesobreoestágiodeestudantesedáoutras providências; § LeiFederalnº13.005/2014,queaprovaoPlanoNacionaldeEducação(PNE),com vigênciapor10(dez)anos; § Decretonº5.478/2005,queinstitui,noâmbitodasinstituiçõesfederaisdeEducação Tecnológica,oProgramadeIntegraçãodaEducaçãoProfissionalaoEnsinoMédiona ModalidadedeEducaçãodeJovenseAdultos–PROEJA; § Decretonº5.154/2004,queregulamentao§2ºdoart.36eosartigos39a41daLei nº9.394/1996,LDB,revogandooDecretonº2.208/1997(teveainclusãodosseus dispositivosessenciaisnaLDB,pelaLeinº11.741/2008). § Parecer CNE/CEB nº 07/2010 e Resolução nº 04/2010, que Define Diretrizes CurricularesNacionaisGeraisparaaEducaçãoBásica; § Parecer CNE/CEB nº 11/2012 e Resolução nº 06/2012, que define Diretrizes CurricularesNacionaisparaaEducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio; 109 § Parecer CNE/CEB nº 35/2003 e Resolução CNE/CEB nº 01/2004, que estabelece Diretrizes Nacionais para a organização e a realização de Estágio de alunos da EducaçãoProfissionaledoEnsinoMédio; § ParecerCNE/CEBnº20/2005,queincluiaEducaçãodeJovenseAdultos,previstano Decreto nº 5.478/2005, como alternativa para a oferta da Educação Profissional TécnicadeNívelMédiodeformaintegradacomoEnsinoMédio; EmtermosdePolíticasPúblicasparaaEducaçãoProfissionaleTecnológica,oMinistério da Educação (MEC) desenvolveu a reordenação e a expansão da sua Rede Federal, sobretudo,pelacriaçãodenovasunidadesoutransformaçãodamaiorpartedelasem Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia – lFETs, bem como pela implementaçãodoPronatec,queganhouespecialrelevância. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) criou novas açõesecongregououtrasantesemexecução,contemplando: - Plano de Expansão e Reestruturação da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, amplia, democratiza e qualifica a oferta de Educação Profissionalemtodoopaís,parachegara562unidadesem512Municípios. - Bolsa-Formação, oferece vagas gratuitas em duas modalidades: Bolsa-Formação Trabalhador, para cursos de Formação Inicial e Continuada (FIC) ou Qualificação Profissional, e Bolsa-Formação Estudante, para cursos técnicos para concluintes ou matriculadosnoEnsinoMédio. - ProgramaBrasilProfissionalizado,promoveofortalecimentodasredesestaduaisde EPT, incentivando a implementação de cursos na forma darticulada integrada da EducaçãoProfissionalTécnicacomoEnsinoMédio,medianteobrasdeinfraestrutura, aquisição de equipamentos, apoio ao desenvolvimento da gestão e das práticas pedagógicaseàformaçãodeprofessores. - Redee-TecBrasil,oferececursosdeEPTadistâncianasinstituiçõesdaRedeFederal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica; unidades de ensino dos Serviços Nacionais de Aprendizagem; e instituições de vinculadas aos sistemas estaduais de ensino. - Acordo de Gratuidade com os Serviços Nacionais de Aprendizagem – Sistema S, possibilitaaofertadevagasgratuitasparajovensdebaixarenda,nasmaisvariadas áreas. - O Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec), oferece a candidatos participantes do ENEM vagas gratuitas em cursos técnicos na 110 formasubsequente,eminstituiçõespúblicaseprivadasdeEducaçãoProfissionalede EducaçãoSuperior. Aestesprogramaseações,soma-seaRedeNacionaldeCertificaçãoProfissionaleFormação InicialeContinuada(RedeCERTIFIC),instituídapela PortariaInterministerialnº1.082/2009, doMinistériodaEducaçãoedoMinistériodoTrabalhoeEmprego,combasenoArt.41da LDB,20paraoprocessoformalde identificação,avaliação, reconhecimentoevalidação de conhecimentos e habilidades adquiridos por jovens, adultos e trabalhadores, em suas trajetórias de vida e de trabalho, necessários ao prosseguimento de estudos e/ou exercíciodeatividadeslaborais. Umaquestãoseimpõe,queéadosdocentesparaaconduçãodoprocessodeensinoe aprendizagem técnico-profissional: professores graduados em cursos superiores de LicenciaturaouprofissionaiscompetentesnaprofissãoalvodecadacursodeEducação ProfissionalTécnica? AopçãofoipelaGraduaçãoeLicenciatura,conformeconstadasDiretrizesCurriculares paraaEducaçãoProfissionalTécnicadeNívelMédio(ResoluçãoCNE/CEBnº06/2012), que prescrevem, no Art. 40, que a “formação inicial para a docência na Educação ProfissionalTécnicadeNívelMédiorealiza-seemcursosdegraduaçãoeprogramasde licenciaturaououtrasformas,emconsonânciacomalegislaçãoecomnormasespecíficas definidaspeloConselhoNacionaldeEducação”.Econtinuaemseu§2º: “Aos professores graduados, não licenciados, em efetivo exercício na profissão docente ou aprovados em concurso público, é assegurado o direito de participar ou ter reconhecidos seus saberes profissionais em processos destinados à formação pedagógica ou à certificação da experiência docente, podendo ser considerado equivalente às licenciaturas: Excepcionalmente, na forma de pós-graduação lato sensu, de caráter pedagógico, sendo o trabalho de conclusão de curso, preferencialmente, projeto de intervenção relativo à prática docente; Excepcionalmente, na forma de reconhecimento total ou parcial dos saberes profissionais de docentes, com mais de 10 (dez) anos de efetivo exercício como professores da Educação Profissional, no âmbito da Rede CERTIFIC; Na forma de uma segunda licenciatura, diversa da sua graduação original, a qual o habilitará ao exercício docente. ” 20 LDB, Art. 41: O conhecimento adquirido na educação profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos. 111 O § 3º ressalva que se encerrará no ano de 2020 o prazo para as excepcionalidades previstas nos incisos I e II daquele § 2º para a formação pedagógica dos docentes em efetivo exercício da profissão. E acrescenta no § 4º que a formação inicial exigida não esgotaaspossibilidadesdesuaqualificaçãoprofissionaledesenvolvimento,“cabendoaos sistemaseàsinstituiçõesdeensinoaorganizaçãoeviabilizaçãodeaçõesdestinadasà formaçãocontinuadadeprofessores”. Legislaçãosobreoensinomédio ALeiFederalnº9.394/1996,deDiretrizeseBasesdaEducaçãoNacional(LDB)defineo atualEnsinoMédiocomointegrantedoníveldaEducaçãoBásica,sendoasuaetapafinal, cabendo-lhe a preparação para continuidade dos estudos, a preparação básica para o trabalhoeoexercíciodacidadania. Estalei,comojáindicado,vemrecebendosucessivasalteraçõeseacréscimos(Aurand Castro2012)Relembram-seamaissubstantivaspromovidaspelaLeinº11.741/2008,a qual redimensionou, institucionalizou e integrou as ações da Educação Profissional TécnicadeNívelMédio,daEducaçãodeJovenseAdultosedaEducaçãoProfissionale Tecnológica,incorporandooessencialdoDecretonº5.154/2004,entreoutrasmedidas, propiciandolegalmenteoEnsinoMédiointegradocomaEducaçãoProfissionalTécnica. Destaca-se, ainda, que a LDB, com a modificação trazida pela Lei nº 12.061/2009, prescrevequeéasseguradooacessodetodososinteressadosaoEnsinoMédiopúblico com a “universalização do ensino médio gratuito”. E, como incumbência dos Estados, determina“asseguraroensinofundamentaleoferecer,comprioridade,oensinomédioa todosqueodemandarem”. OPlanoNacionaldeEducaçãoparaoperíodo2011/2020(LeiFederalnº13.005/2014) estabelece10diretrizese20metasaseremalcançadaspelopaísnesseperíodo,incluindo váriasvoltadasdiretamenteouquetêmrelaçãocomoEnsinoMédio.São,porém,metas predominantementequantitativasesóindiretamentequalitativas. OConselhoNacionaldeEducação(CNE)emitiuinúmerasnormasquedizemrespeitoàs diferentesetapasdaEducaçãoBásica,incluindooEnsinoMédio. 112 Dentre elas destacam-se as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica(ResoluçãoCNE/CEBnº04/2010eParecerCNE/CEBnº07/2010),quedestacama garantiadepadrãodequalidade,complenoacesso,inclusãoepermanênciadossujeitos das aprendizagens na escola e seu sucesso, com redução da evasão e da distorção de idade/ano/série, resulta na qualidade social da educação. Em sua Seção III, dedicada especificamenteàetapadoEnsinoMédio,oArt.26prescrevequeesteensinodeveter uma base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades diversas como preparação geral para o trabalho ou, facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na tecnologia, como iniciação cientifica e tecnológica; na cultura, como ampliaçãodaformaçãocultural.Equeadefiniçãoeagestãodocurrículoinscrevem-se emumalogicaquesedirigeaosjovens,considerandosuassingularidades,quesesituam emumtempodeterminado,assimcomoossistemaseducativosdevemprevercurrículos flexíveis, com diferentes alternativas, para que os jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso formativo que atenda seus interesses, necessidades e aspirações, assegurando-seassimapermanênciadosjovensnaescola,comproveito,atéaconclusão daEducaçãoBásica(§3º). Destaca-se, também, que o CNE apreciou favoravelmente a proposta do MEC de Experiência Curricular Inovadora do Ensino Médio – “Ensino Médio Inovador” (Parecer CNE/CPnº11/2009).Estapropostadespertouinteressegeral,comamplarepercussão, demonstrando que se esperam novos encaminhamentos para o Ensino Médio. Das recomendações aprovadas destacam-se o estímulo à diversidade de modelos, com currículosconcebidoscomflexibilidadeecomênfasesepercursosvariadosquepermitam itinerários formativos diversificados, para melhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, interesses e aspirações dos estudantes, com previsão de espaçosetemposparautilizaçãoabertaecriativa. Emmaiode2011,oCNEaprovouasnovasDiretrizesCurricularesNacionaisparaoEnsino Médio (Resolução nº 02/2012 e Parecer CNE/CEB nº 05/2011), as quais reforçam a necessidade de currículos diversos que atendam os interesses dos estudantes, sejam adolescentes,jovensouadultos.Nessesentido,retomandoaorientaçãodoEnsinoMédio 113 Inovador,prescreveque“aorganizaçãocurriculardoEnsinoMédiodeveoferecertempos e espaços próprios para estudos e atividades que permitam itinerários formativos opcionaisdiversificados,afimdemelhorresponderàheterogeneidadeepluralidadede condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias,sociaiseculturais,bemcomosuafasededesenvolvimento”. Indica,ainda,que“formasdiversificadasdeitineráriospodemserorganizadas,desdeque garantidaasimultaneidadeentreasdimensõesdotrabalho,daciência,datecnologiae dacultura,edefinidaspeloprojetopolítico-pedagógico,atendendonecessidades,anseios easpiraçõesdossujeitosearealidadedaescolaedoseumeio”. Atualmente,aLDBdeterminaqueocurrículodoEnsinoMédiosejacompostoporuma Base Nacional Comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada escola, por uma Parte Diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade,dacultura,daeconomiaedoseducandos. Deve o currículo contemplar o estudo da Língua Portuguesa falada e escrita, da Matemática, do mundo físico e natural e da realidade social e política do Brasil e do mundo. A partir desse mandamento, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, operacionalmente, indicam componentes integrados nas Áreas de Conhecimento, os quais devem ter tratamento metodológico que evidencie a contextualização e a interdisciplinaridadeououtraformadeinteraçãoearticulaçãoentrediferentessaberes específicos.AsÁreasdeConhecimentoeosrespectivoscomponentessão: I. Linguagens: incluindo Língua Portuguesa (e Língua Materna para populações indígenas),LínguaEstrangeiramoderna,EducaçãoFísica,eArte(especialmenteem suasexpressõesculturaisregionaiseemsuasdiferenteslinguagens:cênicas,plásticas e,obrigatoriamente,amusical). II. Matemática. III. CiênciasdaNatureza:incluindoBiologia,FísicaeQuímica. 114 IV. Ciências Humanas: incluindo Filosofia, Sociologia, Geografia e História (que deve abrangerHistóriadoBrasil,contandocomascontribuiçõesdasdiferentesculturase etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africanaeeuropeia). A LDB estabelece que determinados componentes (conteúdos, temas, estudos) sejam ministradosdeformatransversalnoâmbitodetodoocurrículodoEnsinoMédio(assim comodoFundamental): • PrincípiosdaProteçãoeDefesaCivileEducaçãoAmbiental(§7o); • DireitosHumanoseprevençãodetodasasformasdeviolênciacontraacriançae oadolescente(§9o); • História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, em especial em Arte, Literatura e Históriabrasileiras.(Art.26-A). Outrasnormaslegaisdispõemamesmaobrigaçãodetratamentotransversalemtodos osníveisdeensino,portanto,tambémnoEnsinoMédio: • Educação para o Trânsito (Lei nº 9.503/1997, que institui o Código de Transito Brasileiro); • Processo de envelhecimento e o respeito e valorização da pessoa idosa (Lei nº 10.741/2003,queinstituioEstatutodoIdoso); • Educação Alimentar e Nutricional (Lei nº 11.947/2009, que dispõe sobre AlimentaçãoEscolareoProgramaDinheiroDiretonaEscola); • Educação Ambiental (Lei no 9.795/1999, que institui a Politica Nacional de EducaçãoAmbiental,agoratambéminscritanaLDB); • EducaçãoemDireitosHumanos(Decretonº7.037/2009,queinstituioPrograma NacionaldeDireitosHumanos-PNDH3,agoratambéminscritanaLDB); • EducaçãoDigitalparacapacitaçãoparaousoseguro,conscienteeresponsávelda internet (Lei nº 12.965/2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveresparaousodaInternetnoBrasil/MarcoCivildaInternet). 115 ParaaEducaçãoAmbientaleparaaEducaçãoemDireitosHumanosoConselhoNacional deEducaçãoeditouDiretrizesespecíficas: • ParecerCNE/CPnº14/2012eResoluçãonº02/2012,queestabeleceasDiretrizes CurricularesNacionaisparaaEducaçãoAmbiental; • Parecer CNE/CP nº 08/2012 e Resolução nº 01/2012, que estabelece Diretrizes NacionaisparaaEducaçãoemDireitosHumanos. Para História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, o Parecer CNE/CP nº 03/2004 e a Resolução CNE/CP nº 01/2004, instituíram Diretrizes Curriculares Nacionais para a EducaçãodasRelaçõesÉtnico-RaciaiseparaoEnsinodeHistóriaeCulturaAfro-Brasileira eAfricana,sendodenotarsuadesatualização,poisfoieditadaantesdamodificaçãona LDBpelaLeinº11.645/2008,que,agora,tornaobrigatóriooestudodahistóriae“cultura afro-brasileira”eda“indígena”. Em acréscimo, pela Lei nº 11.161/2005, é obrigatória a oferta pela escola de Língua Espanhola,emborafacultativaparaoestudante. Comosevê,háumapletoradeconteúdosquetornaenciclopédicoocurrículo,oqueé agravado pelo tratamento monolítico que, por tradição, lhe dão as escolas, tanto das redespúblicascomoprivadas,reproduzindo,emcadaanodocurso,oconjuntointeiro dos componentes prescritos. Raramente são desenhados currículos que distribuem de formaharmônicaeadequadamentedosadatodaessacargadeestudos,quasesempre ministradosdeformaconteudista,emprejuízodemetodologiasativasemotivadorase do desenvolvimento de saberes significativos, tanto de natureza cognitiva, como socioemocional. Isto,apesardeaprópriaLDBindicarqueaEducaçãoBásica(e,portanto,oEnsinoMédio) pode se organizar em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outroscritérios,ouporformadiversadeorganização,semprequeointeressedoprocesso deaprendizagemassimorecomendar. 116 EjáfoiindicadoqueasDiretrizesCurricularesNacionaisparaoEnsinoMédioreforçama necessidadedecurrículosdiversos,oferecendotemposeespaçosprópriosparaestudos eatividadesquepermitamitineráriosformativosopcionaisdiversificadosafimdemelhor responder à heterogeneidade e pluralidade de condições, múltiplos interesses e aspirações dos estudantes, com suas especificidades etárias, sociais e culturais, bem comosuafasededesenvolvimento. 117 5.PanoramadoEnsinotécnicoeprofissionalnoBrasil Panoramageral O ensino técnico formal, de nível médio, é somente uma das modalidades de ensino profissionalnoBrasil.ALeideDiretrizeseBasesde1997classificaaeducaçãoprofissional em três níveis: inicial e continuado, técnico (médio) e tecnológico (superior). Os dois últimosfazempartedosistemaeducacionalformal,eestãoporistosobajurisdiçãodo MinistériodaEducação;oprimeiro,noentanto,éabertoemmatériadeconteúdos,carga horária,duraçãoegestão. Alémdestastrêsmodalidades,noentanto,praticamentetodooensinosuperiorforma paraomercadodetrabalho,eexistemmuitasoutrasformaseducaçãoprofissionalque se dão de maneira informal e "invisível" e são difíceis de identificar nas estatísticas disponíveis, formando o que podemos denominar um "não sistema" de educação profissional. Agregando as informações disponíveis chegamos a uma cifra de de 36 milhões de pessoas recebendo algum tipo de formação profissional no país em 2015 (Quadro8). Cabedestacar,nesseconjunto: • A Escala deste “não sistema”, que atende de alguma forma a um entre cada três pessoas na população economicamente ativa, uma proporção próxima à dos países economicamente mais avançados; • A diversidade dos provedores de educação profissional, incluindo redes de ensino públicas e privadas, ao lado de um vasto universo formado pelo ensino livre, terceiro setor, sindicatos e associações profissionais, empresas, além do Sistema S, perfil similar ao que se desenvolve a partir dos anos 80 em outros países emergentes como Índia e China. No Brasil, ele começa a se consolidar no pós-guerra, pela adaptação e construção de respostas práticas aos desafios da modernização econômica e a precariedade de trabalhadores com uma base educacional extremamente precária (Leite 2003). 118 • Combinação entre gestão privada e financiamento público, por meio de dotações, incentivos, subsídios. Este tipo de parceria público-privada assegurou o dinamismo e diversificação da educação profissional no Brasil, mesmo nos anos 70-80, quando crise político-econômica fez minguar grande parte das instituições formadoras latino-americanas surgidas no pós-guerra (Leite, Mello, and Chieco 2009, CINTERFOR 1990). Com isto, a formação profissional deixou de ser entendida como, simplesmente, uma atividade assistencial para os "desfavorecidos da cultura", como era entendida no passado, com as antigas Escolas de Aprendizes e Artífices, passando a ser uma opção valorizada para pessoas que participavam de processos seletivos e podiam pagar or sua formação. • Pequena expressão do ensino técnico de nível médio nessa oferta. No segmento formal, a maior oferta corresponde ao nível superior, incluindo os cursos tecnológicos, de menor duração. A rigor, graduação e pós-graduação não se enquadrariam como educação profissional, nos termos da Lei de Diretrizes e Bases de 1996, mas é na prática a principal via de inserção produtiva de qualidade, abrindo as portas para melhores empregos, salários mais altos e carreiras profissionais. • Concentração de mais de dois terços da oferta em educação inicial e continuada, que reúne diversas modalidades de cursos, em geral de curta e média duração (até 200 horas), para as mais diversas clientelas e finalidades – iniciação, qualificação, especialização, aperfeiçoamento. Conquanto prevista na LDB/96, é uma das modalidades mais “invisíveis e informais” da educação profissional no Brasil. Este tipo de formação tem sido objeto de uma sucessão de programas nacionais desde nos anos 6021, tendo como versão mais recente o Pronatec – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, 21 ComoporexemplooProgramaIntensivodePreparaçãodeMãodeObraIndustrialPIPMOI), lançado em 1963, substituído em 1968 pelo PIPMO, ativo até meados dos anos 80; o Plano NacionaldeQualificaçãodoTrabalhador(PLANFOR),1995-2002;oPlanoNacionaldeQualificação (PNQ),ativodesde2003,mascompoucaexpressãoapartirde2010.OMinistériodoTrabalhofoi ogestordetodosessesplanos,salvooPIPMOI,geridopeloMinistériodaEducação. 119 iniciado em 2011, sob gestão do MEC, com 5,6 milhões de matriculas anunciadas em cursos em cursos de formação inicial e continuada (160-240 h) e 2,4 milhões em cursos técnicos de nível médio (800 h) até 2014, com previsão de prosseguir até 2018"22. Oensinotécnicodenívelmédio Oensinotécniconapautadepolíticaspúblicas Emborapoucoexpressivoemtermosquantitativos,oensinotécnicodenívelmédioestá na pauta do setor produtivo e de políticas públicas pelo menos desde os anos 70, contando, em diversos momentos, com apoio técnico e financeiro internacional, procurando responder às novas demandas do mercado, geradas por medidas de regulamentaçãoprofissional,inovaçãotecnológicaereestruturaçãoprodutiva. Aorigemdoensinoprofissionalsãoasantigasescolasdeaprendizesartíficesquedatam do início do século 20, dedicadas a ajudar aos "desfavorecidos da fortuna" a "adquirir hábitosdetrabalhoprofícuoqueasafastassedaociosidade,escoladovícioedocrime” (Pacheco, Pereira, and Domingos Sobrinho 2009). Estas escolas foram mais tarde transformadasemescolasindustriaisetécnicas,financiadaspelogovernofederal,alguns governos estaduais (especialmente São Paulo e Rio Grande do Sul) que matriculavam sobretudo estudantes de nível equivalmente ao antigo ginásio. Em 1978, três escolas técnicas do Paraná, Minas Gerais e Rio de Janeiro foram transformadas em Centros FederaisdeEducaçãoTecnológica,dandoinícioaumarededeCEFETs,eapartirde1994 outrasescolastécnicaspassarampelamesmatransformação.Aofinaldadécadade90a redefederaldeeducaçãotecnológicacontavacom34CEFETe36EscolasAgrotécnicas Federais; todas as escolas técnicas federais e dez escolas agrotécnicas haviam sido transformadasemCEFET.Antesdisto,em1969ogovernodeSãoPaulocriouoCentro EstadualdeEducaçãoTecnológicadeSãoPaulo(CentroPaulaSouza)quetevesuaorigem aSuperintendênciadeEducaçãoProfissionalde1934.Noinício,oobjetivodoCentroera 22 OPronatecprevia12milhõesdematrículaspara2015-18,masdeveserajustadoemfunçãode cortesnoorçamentofederalem2015-16. 120 proporcionarcursostecnológicosdenívelsuperiornaáreadeengenhariaoperacional, nas Faculdades de Tecnologia (FATECS), que são a origem da educação tecnológica de nível superior no país. Em 1993, o Centro Paula Souza passou a adminsitrar todas as escolastécnicasfederaisdoEstado,agrícolaseindustriais.Em1997,ogovernofederal, preocupadocomofatodequeosCEFETshaviamsetransformado,naprática,emescolas depreparaçãoparaosvestibularesuniversitários,procurousepararoensinotécnicodo médio,exigindoqueosCEFETSdedicassem50%desuasvagasparaoensinotécnicoe profissional. ao mesmo tempo em que lançava um programa nacional Programa de Apoio ao Ensino Profissional, o PROEP, financiado por um acordo com o Banco InteramericanodeDesenvolvimento.Estapolíticacontrariouasaspiraçõesdemuitosdos professores destes centros, que pretendiam que os Centros de dedicassem ao ensino superioreàpós-graduação,oquefoifinalmenteconseguidocomsuatransformaçãoem Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que devem combinar o ensino técnico de nível médio com o ensino superior e a pós-graduação em suas diferentes modalidades(Schwartzman2011,2014,Cunha2000,Campello2011). A regulamentação profissional, iniciada no final da década de 60 com a de “técnico industrial”(Lei5.524/68),avançaapartirdos90,mediantelegislaçãoquevisaelevaro perfil de trabalhadores que mal atingiam escolaridade média, como atendentes de enfermagem,cuidadoresemcreches,professoresdeeducaçãoinfantil,pessoaldeapoio escolar. Na mesma onda, diversas categorias tratam de definir e reservar mercados, impondotambémcertificaçãotécnica(médiaousuperior)aseusocupantes(corretores de imóveis, operadores de seguros). Compromissos internacionais do país, em áreas comosegurançadotrabalhoemeioambiente,reforçamessaexigência. A partir dos anos 80, intensifica-se a restruturação de perfis ocupacionais, mediante a difusãodenovastecnologias,emespecialdamicroeletrônica,aceleradapelainauguração dainternetnoBrasilem1995.Nomesmosentido,aaberturadaeconomiaapartirdos 90estimulaabuscadepadrõesinternacionaisdequalidadeeprodutividade,commaior 121 ênfasenagestãodeprodutos,processosepessoas,assimcomoemquestõessociaise ambientais. Políticas de expansão e modernização a partir dos nos 2000 levaram a mudanças expressivas no perfil do ensino técnico, com uma participação importante do setor privado, predominância das atividades do setor terciário, em lugar de industrial, e atendendo principalmente a jovens adultos, do sexto feminino e menos branco, bem diversodoqueeranofinaldos90. Expansãonosanos2000:dobrodeestabelecimentosetriplodematrículas Entre2002-15,onúmerodeestabelecimentosdeensinotécnicodenívelmédioaumenta 213%eamatrícula,306%.Emnúmerosabsolutos,háacréscimosuperioraummilhãode matrículasentre2002-15.Crescemaisaredepública,federalquequadruplicaonúmero deestabelecimentos,emboraapartirdeumabasepequena;etambémaredeestadual e privada, que duplicam. A rede federal passou recentemente, por uma verdadeira reconfiguração,ssignificandoexpansão,diversificaçãoeinteriorização.Apartirde2005, passou a se constituir como Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica23queintegra38InstitutosFederais,queofertamcursosdeformaçãoinicial econtinuada,cursostécnicos,cursossuperioresdetecnologia,licenciatura,bacharelado, especialização,mestradoedoutorado.TambémfazempartedaRede24escolastécnicas vinculadas às Universidades Federais, dois Centros Federais de Educação Profissional eTecnológica(CEFETs)eoColégioPedroII.Em2014,aRedejácontabilizava562unidades emfuncionamento,com57mildocentesetécnico-administrativos,contandocommais de um milhão de matrículas em cursos de cursos de diferentes níveis e modalidades. Todas as instituições federais - a maioria denominada IFEPT (Instituto Federal de EducaçãoProfissionaleTecnológica)-estãohabilitadasacertificarosconcluintesdeseus cursosetambémoscandidatosareconhecimentoecertificaçãodecompetenciaslaborais previsto pela CERTIFIC - Rede Nacional de Certificação Profissional. Não há avaliações conclusivassobreodesempenhodestasinstituições,mashádoisrelatóriosabrangentes 23 Leinº11.892,de29dedezembrode2008. 122 dagestãoinstitucional-doTCU(2012)edaCGU(2013)-queapontamdificuldades,mas asjustificampelopoucotempotranscorridodesdeareconfiguração(ControladoriaGeral daUnião2013,2012). Embora com aumentos expressivos nas esferas federal e estadual, a matrícula cresce maisnosegmentoprivado(295%).OsegmentoincluioSistemaS,masomaiorpesocabe aoutrasredes,queabsorvem43%damatrículatotal,contra11%doSistemaS(Quadro 9). Descentralizaçãogeográfica Desde suas origens, o ensino técnico esteve concentrado no Sudeste, responsável por 71%dosestabelecimentose68%damatrículaaté2002.SomadosaosdaregiãoSul,esses percentuaiseram88%e84%respectivamente.Aexpansãodosanos2000mudouesse perfil.ArededeestabelecimentoseasmatrículasseexpandemmaisnasregiõesNorte, NordesteeCentroOeste,quetinhampoucaexpressãoem2002.OSudestecrescemenos, mantendo,todavia,predomínioabsolutonaofertamunicipaleprivada–quedependem maisdiretamentedograudedesenvolvimentoedinamismodomercadolocal(Quadro 10). O potencial de mercado também explica a concentração do ensino técnico segundo unidadesfederativas:80%damatrículacorrespondemaos10maiorespoloseconômicos do país, quase sempre com a previsível liderança de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.Hávariaçõesporesferaadministrativa:aredefederalémaisdescentralizada,a municipal praticamente se limita a esses três estados. Essa distribuição espelha, com algumasexceções,operfildapopulaçãoedomercadodetrabalho,fatoresquetambém pesamnadistribuiçãodamatrículanoensinomédio.Este,todavia,émenosconcentrado, porforçadedispositivoslegaisdecoberturaeducacional Diversificaçãodemodalidades:otécnico“pós-médio” O Decreto 5.154/2004, regulamentado pela Lei 11.741/2008, desdobrou o técnico de nível médio em três modalidades: integrado (técnico e médio no mesmo curso), 123 concomitante (matrícula em cursos-escolas-períodos independentes) e subsequente (pós-média). Os sistemas públicos federais e estaduais passaram a investir mais no sistemaintegrado,cujamatrículatriplicouentre2008e2015,mascontinouatendendoa somente23%dosalunos.Amodalidadequemaiscresceu,emnúmerosabsolutos,foia subsequente, que passou de 417 a 789 mil matrículas, com 47% da oferta total. A modalidaeconcomitantefoiaquecresceumenos,passandoaocupar30%daoferta. Predominaosubsequente,concentradonaredeprivada,cujaofertadematrículacresce 151% entre 2008-14, passando de 45% para 60% da oferta total. O que mais cresce (177%), porém, é o integrado, com maior expressão na rede pública, em particular na federal, onde contribui com 54% do alunado em 2015 (contra 38% em 2008). O concomitanterecua13%noperíodo,caindode41%para19%damatrículanotécnico, poisoduploperíododeestudosémaisdifícildeconciliarcomtrabalho(Quadro11). Diversificaçãodeeixosecursos:predomíniodeatividadesdeserviços A diversificação de habilitações técnicas no ensino médio acentua-se nos anos 2000, mediantecombinaçãodefatorescomointeriorizaçãoindustrial,inovaçõestecnológicas, reestruturaçãoorganizacional,aberturadaeconomiaeregulamentaçãoprofissional.O MinistériodaEducaçãolista250cursosdistintosdeformaçãoprofissional,agrupadosem 13 eixos temáticos. O predomínio é das profissões de serviços, começando com AmbienteeSaúde,com23.2%dasmatrículas,seguidodeGestãoeNegócios,com20.2%; nas áreas mais técnicas, os destaques são para Controle e Processos Industriais, com 15.5%,eInformaçãoeComunicação,com12.5%.Aconcentraçãonesseseixosembute ampladiversificaçãodecursos( Quadro12).Sãodesdobramentosassociadosamedidasderegulamentaçãoprofissional, novasdemandase/ouapelopublicitário.Aaberturadenovoscursostemsidofacilitada nosúltimosanos,emespecialnasredesdiretamentesujeitasaoMEC–comoafederal,o SistemaSeuniversidadesprivadasautorizadaspeloPronatecaatuarnessenível,através doSistemadeSeleçãoUnificadadaEducaçãoProfissionaleTecnológica(SISUTEC),sobre 124 o qual, no entanto, não existem informações de matrículas disponíveis dos censos escolares. IndependentementedasiniciativasdosministériosdaEducaçãoedoTrabalho,aáreada saudetemprocuradodesenvolverseusprópriossistemasdequalificaçãoecertificação profissional,tantonosetorpúblicoquantoprivado.Desdeosanos60oBrasilpossuiuma rededeescolastécnicasecentrosderecursoshumanosdoSistemaÚnicodeSaúde(ETSUS),paraaformaçãodepessoaldenívelmédioparaosistemapúblicodesaúde,que constituemhojeaRededeEscolasTécnicasdoSUS,formadapor40instituiçõesemtodo opaís,proporcionandocursosemtodososníveis,daformaçãoinicialàpós-graduação, nas áreas de Radiologia, Análises Clínicas e Farmácia, Instrumentação Cirúrgica, Hemodiálise,CTI,Oncologia,comogestãoedocência.Aredecomeçouaseexpandirnos anos 80, com o Programa de Formação em Larga Escala de Pessoal de Nível Médio e ElementarparaosServiçosBásicosdeSaúde(LargaEscala),qauedurouaté1999,com cercade96milalunosqualificados,incluindoprofissionaisdeenfermagemedocentes formados, dentro de uma parceria do Ministério da Saúde com a Organização Panamericana da Saude. Este programa foi continuado pelo Programa de ProfissionalizaçãodosTrabalhadoresdaÁreadeEnfermagem(PROFAE),financiadopelo BancoInteramericanodeDesenvolvimento,tendoformado,segundosestima,320mil trabalhadoresemenfermagem.(PereiraandRamos2006,BassinelloandBagnato2009, Borges, Garbin et al. 2012). Não existe aparentemente uma avaliação global do funcionamentodestarede,masestudosqualitativosapontam,aoladodosimportantes resultadosemtermosquantitativos,deproblemasnaintegraçãoentreensinoeserviço, que afeta inclusive os procedimentos de contratação e alocação do tempo de profissionaisquesãoaomesmotempofuncionáriosdosistemadesaúdeeprofessores dasescolas. Hospitaisprivadostambémdesenvolvemseusprópriossistemasdeformaçãotécnicae profisssional e certificação, cabendo destacar o Hospital Albert Einstein em São Paulo, queabriurecentementeumcursodegraduaçãoemmedicinaeoferececursostécnicose deespecializaçãoemparceriaecomfinanciamentodoprogramaVENCE,daSecretaria 125 Estadual de Educação. Também em São Paulo, o Hospital Sirio-Libanês, através do InstitutoSírio-LibanêsdeEnsinoePesquisa,oferececursostécnicosdeEnfermagemeem dezenas de especialidades e ocupações técnicas na área de Saude. O Hospital BeneficiênciaPortuguesapossuiumaEscoladeEnfermagemprópria,quefuncionadesde 1959. Outros exemplos incluem os hospitais Pompéia, Moinhos de Vento, Instituto de CardiologiaeaSantaCasadeMisericórdia,quetrabalhaemparceriacomaAssociação CristãdeMoços,todoselescombinandoaformaçãoemaulacomaexperiênciaprática emserviço.EmMinasGerais,oHospitalBiocor(NovaLima),eaEscolaTécnicadaSanta CasadeBeloHorizonteoferecemcursotécnicoemenfermagem.OdaSantaCasatem duração de 26 meses, carga horária de 1.200 horas de aulas teóricas, e 600 horas de estágio. São todos exemplos de instituições empregadoras que possuem sistemas de formação e certificação de competências técnicas desenvolvidas em ambientes de aprendizagemadequadosnãosóparaformarascompetências,mastambém,paraavaliálasecertificá-las.Nãosãoexemplosde“sistemasdecertificaçao”,masdeformaçao“no trabalho” com base em competencias, que confere certificados reconhecidos pelas autoridades. Idadeesexo:mulheresejovensadultos. Excetoparaospoucosqueconseguemacessoaoscursosintegradosdosistemapúblico, oalunodoscursostécnicosdenívelmédiosãojovensadultos,aproximando-sedos30 anos para os matriculados em cursos subsequentes, que são a maioria, e em cursos profissionaisassociadosàeducaçãodejovenseadultos.Nototal,54%dasmatrículassão de mulheres, uma reflexo da tendência de aumento da participação de mulheres educadas na força de trabalho (DIEESE 2011); mas existe ainda clara segmentação de gênero por área de estudo: profissões de natureza mais técnica, como controle e processos industriais infraestrutura, informação e comunicação e da área militar, são predominantemente masculinos; serviços, e especialmente nas áreas de saúde e educação,sãopredominantementefemininos(Quadro13). 126 Novasmetodologias:modulaçãoeensinoàdistância Embora a educação profissional à distância no Brasil tenha começado há mais de um século e venha se consolidando desde os anos 40 (Vianney, Torres, and Silva 2003), a criaçãodecursostécnicosàdistânciasófoiregulamentadaem1998(Decretos2.494e 2.561),partindodefundamentosestabelecidospelaLDB/96. Em2007começouaserestruturadaaRedee-TecBrasil,paraampliaraofertadecursos técnicosnamodalidadeàdistância(EAD),públicosegratuitos,medianteparceriaentre União,estados,DistritoFederalemunicípios,incluindoformaçãodeservidorespúblicos daáreadeeducação24.Entretanto,aredeganhacorpoapenasapartirde2011,quando setornousubprogramadoPronatec(Decreto7.589)eoSistemaSfoiintegradoàrede federal, abrindo mais oportunidades de cursos técnicos à distância gratuitos. Segundo dados do MEC, entre 2011-14, a Rede e-Tec Brasil ofertou, via Pronatec, 275 mil matrículasemcursostécnicosàdistância(poucomaisde10%dototalde2,3milhões ofertadosnessenível),contandocom985polosdeapoiopresencialemtodasasunidades federativas. Patrocinou também reestruturação de laboratórios, capacitação docente, elaboraçãodematerialdidático,realizaçãodepesquisasnaáreadeeducaçãoàdistância efinanciamentodeofertadecursos.Ocensoesccolarde2015registra144milestudantes emcursostécnicosàdistância,dosquais134milemcursosprofissionaissubsequentese concomitantesoumixtos,menosde10%dototaldosetor.Mesmoassim,entidadescomo Senai e Secretaria de Educação de Pernambuco sinalizam forte expansão do técnico à distâncianosúltimoscincoanos,comperspectivasdeaceleraçãonocurtoemédioprazos (Quadro14).Algunstraçoscomunsdosegmentosão: • Garantia de credenciamento junto aos organismos educacionais competentes (Conselhos Estaduais ou MEC, no caso de entidades 24 Nesseacerto,caberiaaoMECfinanciaroscursos;aosdemaisparceiros,aestrutura,equipamentose materiais,recursoshumanoseoutrositensparaseufuncionamento.Ametaseriaestruturarmilpolosde EAD,paraatender200milalunosaté2010. 127 federais) e reconhecimento dos certificados por entidades de classe, no caso de profissões regulamentadas; • Concentração nas modalidades concomitante ou subsequente, embora algumas entidades também ofertem cursos associados à Educação de Jovens e Adultos, para garantir a conclusão do médio; • Duração prevista na faixa de 800-1.200 h, além do estágio eventualmente obrigatório em algumas habilitações (200-300 h). Na prática, porém, a duração depende do ritmo do aluno e seu desempenho em provas parciais e finais. Algumas entidades fixam prazo de validade por matrícula. • Oferta de cursos direcionada para áreas abertas por novas regulamentações profissionais ou mercados em aparente expansão, como informática, logística, segurança no trabalho, meio ambiente. • Modulação dos cursos, com certificações parciais, combinando alternativas semipresencial, apostilada e/ou online (que costumam ser mais baratos). • Nas entidades mais estruturadas, definição de polos regionais para eventos presenciais (provas, uso de laboratórios, consultas e explicações). Outrasmodalidadesdeformaçãoprofissional A formação de técnicos de nível médio é a principal, mas não a única perspectiva educaçãoprofissionalnoBrasil,coexistindocomosistemadeaprendizagemprofissional, oscursosdequalificaçãoeoscursostecnológicos,denívelsuperior,queprecisamser vistosemconjunto. Cursotécnico:possíveisobjetivosetrajetórias Quem faz o curso técnico parece, antes de tudo, buscar inserção profissional, como indicamaspesquisasdoSenaiedoCentroPaulaSouza:cercade70-80%dosgraduados dessasentidadesseencontramocupadosumanodepoisdaconclusãodocursotécnico, dosquais70-80%naáreaemqueseformaramouatividadeafim(Froncillo2008,Centro Paula Souza and SAIE - Sistema de Acompanhamento Institucional de Egressos 2009b, 128 2010, 2009a, Senai-DN 2014, 2010, 2009). Pode-se, todavia, apontar outros projetos, coletivosouindividuais,quemotivamabuscapeloporestetipodecurso: • Formação e certificação de servidores públicos, tal como ocorre no “Profuncionário” (Decreto 7.425, de 2010), que prevê a formação de pessoal da rede pública de educação básica (área de apoio escolar) por meio de escolas técnicas federais e estaduais. Um exemplo é a formação à distância ofertada pela Secretaria de Educação de Pernambuco. • Especialização de profissionais de nível superior, em busca de segunda carreira, mudança profissional, por motivo de aposentadoria, perda do emprego ou novos interesses (em consultorias, pequenos negócios, franquias). • Canal de acesso a cursos superiores, especialmente para alunos mais jovens que entram através de exames de seleção nos cursos imtegrados dos Institutos Federais e do Centro Paula Slouza, que têm um padrão de qualidade bem superior às escolas das redes públicas e mesmo de muitas privadas25. Além disto, não é incomum que os estudantes cursos concomitantes ou subsequentes como uma garantia de emprego e uma etapa de experiência prática que possa ser útil par estudos superiores a serem cursados mais • Certificaçãodeprofissionaiscomcursosuperioroutécnicoemoutrasáreas,parao exercíciodeprofissõesregulamentadas(comocorretagemdeimóveisesegurançano trabalho).Nessescasos,umcursotécnicopodeseraopçãomaisfácilerápidapara obterocertificadopretendido,permitindoarevalidaçãodedisciplinasjácursadase certificaçãoàdistância,alémdecontarcommaiorofertadegratuidade. 25 OEnem2015arrola,entreas100maioresnotasdeescolaspúblicas,77InstitutosFederaisou militares. As 23 restantes são paulistas, em sua maioria da rede Paula Souza ou colégios de aplicação,ligadosauniversidadesestaduais.Todassesituamemnívelsócioeconômicoaltoou muitoalto(www.estadao.com.br,05/08/2015). 129 AprendizagemProfissional:“moratória”parajuventude? AAprendizagemProfissionaléummecanismohíbrido,trabalhistaeeducacional,gerido pelo Ministério do Trabalho. Proporciona formação metódica (400-600 horas, em dois anos),combinadaàvivêncianaempresa,paraadolescentesejovensnafaixade14-24 anos, obrigatoriamente matriculados na educação básica. Na prática, opera como um “técnico concomitante”, pois a maioria dos aprendizes cursa o ensino médio. Aprendizagem foi instituída há quase um século no país, inspirada pelo sistema dual alemão26,consolidando-seapartirdosanos40,pormeiodaConsolidaçãodasLeisdo Trabalho (Decreto-Lei 5.452/1943). Foram então fixadas “cotas” obrigatórias de aprendizes (inicialmente na faixa de 12-18 anos, passando mais tarde a 14-18), a ser formadosnosServiçosNacionaisdeAprendizagem–naépoca,oSenai(fundadoem1942) edepoisoSenac(de1946). Essemodelofuncionouatéosanos60,resistiunos70eeentrouemcrisenosanos80.As matrículasnaAprendizagemrecuamnoSenacapartirdos70enoSenaiapartirdos80 (Senai-SP1987,1992).Àmedidaqueseexpandiuaofertadeeducaçãobásica,cresceuo interesse da população jovem por de nível técnico ou superior, mais prestigiados na sociedade e no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, às voltas com inovações tecnológicas, reestruturação produtiva e enxugamento de quadros, as empresas deixaramdecumprirascotas,obrigatórias,maspoucofiscalizadasnaépoca.Apartirdo ano2000osistemadeaprendizagemfoireformuladopeloMinistériodoTrabalho(Lei 10.097/2000),ampliandoqueaformaçãofossedadaporoutrosprovedoresalémdoS,e criandováriosincentivosparaasempresasincorporaremaprendizes(Quadro15). Oresultadofoiexpressivocrescimentodamodalidade:de57,2milcontratosem2005 para 402,7 mil em 2014 (MTE, 2015). Como esperado, em que pese a abertura de mercado,oSistemaSconcentra80%doscontratos,sendo52%noSenai27,18%noSenac 26 AformaçãodeaprendizesnoBrasilfoiregulamentadapeloDecreto13.064,de1918,relativoà EscoladeAprendizeseArtífices. 27 NoSenai,aAprendizagemcrescequaseseisvezesentre2000e2013,de36,9milpara207,6 milmatrículas(Senai-DN,2005,p.78e2014b,p.43). 130 e6%nosdemaisServiços(Senar,Senat,Sescoop).Os24%restantesficamcomredes confessionais(comoosSalesianos),fundaçõesprivadas(emespecialintegrantesdoGIFE) eONGscomhistóricodeatuaçãojuntoagruposvulneráveis.Nestegrupo,sobressaem iniciativas como o “Aprendiz Legal”, com mais de 80 mil aprendizes até final de 2014, lançadopelaFundaçãoRobertoMarinho,emparceriacomaPetrobrás,oCIEE(Centrode IntegraçãoEmpresaeEscola,queatuanoramodeestágiosdesdefinaldos70)eaOscip Gerar(Leite2015) Emboraexpressivos,osnúmerosatingidosficaramaquémdasmetasdoPlanoNacional daAprendizagemProfissional,quepretendia1,2milhõesdecontratosanuaisaté2015, considerando o potencial estimado para esse tipo de contrato, no mercado formal. Persistem,porém,dificuldadescrônicas:evasãodasempresas,restriçõesaotrabalhode adolescentesejovensedesinteressedaclientelaque,dependendodasituaçãofamiliar, preferefazerumcursotécnicoousuperior.Naprática,amodalidadefunciona,antesde tudo, como um período de espera, ou moratória, para para jovens que aguardam a maioridadeeconclusãodoensinomédioparatermaischancesnomercadoeprosseguir estudos.RegistrosdoMinistériodoTrabalhoindicamque68%dosaprendizesem2014 tinham entre 14-17 e 31%, 18-24 anos, restando 1% acima desta faixa. Quanto à escolaridade,9%cursavamofundamental,63%faziamomédioe28%jáconcluírameste nível(BrasilMinistériodoTrabalhoeEmprego2015) Acombinaçãodeformaçãocontinuadaeensinomédio Aformaçãocontinuada,querespondeporcercadetrêsquartosdaofertadeeducação profissional no país, costuma ser criticada pela curta duração dos cursos, falta de certificação,baixoretornoemtermosdeempregoerenda.Nãoobstante,podeincluir práticas eficientes, indicando que, mais importante que duração dos cursos é sua focalização e inserção em processos de construção de trajetórias profissionais. Entre essas,destacam-seváriasformasdecombinaçãoentreescolaridademédiaecursosde qualificação, que resultam em perfis “quase técnicos” valorizados pelo mercado de trabalho.Algumasdessastrajetóriassãoilustradasaseguir: 131 • Certificação em cursos livres, por iniciativa individual, mediante acúmulo de módulos de curta duração (podendo somar, no final, 300-500 horas), que garantem certificados “técnicos” não reconhecidos pela legislação, mas prestigiados no mercado (como os do • Certificação de empregados do setor formal, patrocinada por empregadores e/ou fornecedores, para cumprir exigências legais e/ou obter credenciais e certificações internacionais de qualidade, excelência, segurança do trabalho, sustentabilidade etc., valorizados no mercado global (Organização Internacional do Trabalho 2002). O Senai certifica profissionais para empresas públicas e privadas desde os anos 80, em áreas como eletricidade, ensaios não destrutivos, caldeiraria, solda etc. Opera, desde 2000, o Sistema Senai de Certificação de Pessoas (SSCP), que conta com 18 Centros de Exames, em 12 Estados, cobrindo 38 ocupações em seis áreas (automotiva, construção civil, petróleo e gás, soldagem, têxteis e vestuário e turismo. • Treinamentopromovidoporempregadorese/ouseusfornecedores,mediantecursos, estágios,semináriosinternos,feiraseoutroseventosespecializados(alémdasimples demonstraçãoprática). • Qualificação de grupos vulneráveis, em especial jovens na faixa de 15-29 anos. São ofertados, no geral, programas com duração próxima à da Aprendizagem Profissional (300-500 horas), que contemplam reforço escolar, desenvolvimento pessoal e formação profissional, mediante metodologias inovadoras. Programas desse feitio difundem-se nos governos estaduais e municipais desde os 80. Segundo o IBGE, todas as UFs e mais de 90% dos municípios desenvolveram algum tipo de inclusão produtiva em 2014, incluindo qualificação profissional e programas de trabalho/renda (IBGE 2015). Poucos, porém, passam da fase piloto, atingem escala expressiva ou sobrevivem a trocas de equipes. Sobressaem, nesse contexto, projetos mais estáveis (em operação há pelo menos 10 anos), sob gestão privada ou do terceiro setor, que incluem sólidas parcerias e práticas de monitoramento e avaliação. Exemplos incluem o Portal do Futuro, do SENAC Rio, iniciado em 2000, em 132 oito unidades, que atendem jovens de 16 a 21 anos em programas de sete meses voltados para as áreas de turismo, eventos e gastronomia; o Com.Dominio Digital (CDD), na área de informática, criado em 2004 pelo Instituto Aliança28 em Salvador, com fnanciamento do programa Entra 21, financiado pelo Banco InterAmericano de Desenvolvimento, focalizado em jovens estdantes de ensino médio; e a Escola Social do Varejo, de formação para o comércio varejista, em especial supermercados, subproduto do CDD, implantada desde 2010 em diversas regiões do país, em parceria entre o Instituto Aliança e a Fundação Walmart. Oscursostecnológicosdenívelsuperior Oscursostecnológicos,quetêmsuaorigemprincipal,nasFaculdadesdeTecnologiado CentroPaulaSouzainstituidasnosanos70,buscamformarpessoascomformaçãotécnica avançada,decurtaduração,emespaçointermediárioentreostécnicosdenívelmédioe os engenheiros e outros profissionais de nível superior. Dois fatores limitaram o seu crescimento.Porumlado,ascorporaçõesprofissionaislimitavamocampodeatividade dos formados por estes cursos, dando prioridade aos detentores de diplomas universitáriosplenos,oquedesestimulavaosestudantesabuscarestetipodeformação; poroutro,asuniversidadestampoucotinhammaiorinteresseemorganizarcursosdeste nível, dando prioridade aos cursos regulares e, tanto quanto possível, aos de pósgraduação. Emboratenhamcrescidorecentemente,asmatrículasemcursostecnológicosem2014 perfaziam somente 12.2% do total de 6.7 milhões de alunos matriculados em cursos superiores.85%destasmatrículassedavameminstituiçõesprivadas,e56.3%estavam nas áreas das profissões sociais, e 14% na área de processamento de dados e informações;e38%doscursoseramàdistância.Amédidadeidadeerade29anos,bem acimadamédiadosalunosdoscursosdebacharelado,queerade25.5,eagrandemaioria estudavaànoite(Quadro16)Estesdadossugeremqueosestescursos,apesardeterem 28 http://www.institutoalianca.org.br 133 a denominação de "tecnológicos" se dão predominantemente nas áreas de serviços, incluindoosdeinformática,epermanecemcomoumnichoparaestudantesmaisvelhos que por alguma razão não podem seguir os cursos acadêmicos tradicionais, e que são atendidospredominanteporinstituiçõesprivadasorientadasparaaeducaçãosuperior debaixocusto. 134 Quadros 6.PolíticasrecentesparaoensinotécnicoeprofissionalnoBrasil Nos últimos anos, diferentes iniciativas ocorreram buscando organizar e trazer mais recursos para o ensino técnico e profissional no país, incluindo as aproximações a um marco nacional de competências profissionais, conforme as recomendações da Organização Internacional do Trabalho; a criação dos Institutos Federais de Ciência e Tecnologia;aimplantaçãodoensinoprofissionalintegrado,comomodelopreferencialde formaçãoprofissional;eoPRONATEC,quefoiumadasprincipaispolíticaseducacionais dogovernoDilmaRousseff. AproximaçõesaummarconacionaldecompetênciasnoBrasil Em 1997 o Ministério do Trabalho, em parceria com a Organização Internacional do Trabalho,deuinícioaumprimeiroprojetodoqueseriaoSistemaNacionaldeCertificação de Competências Profissionais (SNCCP) do país. Concluído em 2001, o projeto foi encaminhandoaoConselhoNacionaldeEducaçãoparaaprovação.Comainstalaçãodo governo Lula, em 2002, a proposta foi deixada de lado e, em 2004 iniciou-se outro processo,comacriaçãodeumaComissãoInterministerialdeCertificaçãoProfissional– CICP,coordenadapelaSecretariadeEducaçãoTécnicadoMinistériodaEducaçãoedo MinistériodoTrabalho,comumamaiorpreocupaçãocomainclusãosocial,segundoa qual "as políticas de qualificação, certificação e orientação profissional são assumidas como direito social e devem: a) ser articuladas entre si e aos sistemas públicos: de emprego e de educação; b) sustentar-se na participação e na concertação social.” (Manfredi2010).Concluídaem2005,estasegundapropostafoidebatidaemSeminário Internacionale,combasenasdiscussõesesugestões,concluiu-searedaçãopreliminar de Decreto-Lei que foi encaminhado à Casa Civil contendo os elementos para a institucionalizaçãodoSistemaNacionaldeCertificaçãoProfissional,quenãochegouaser promulgado.EstapropostapreviaacriaçãodeumaComissãoNacionaldeCertificação ProfissionaleaelaboraçãodeumRepertórioNacionaldeQualificaçõesCertificáveis,com Comissões Técnicas Setoriais responsáveis por manter atualizado o repertório de 135 qualificações, e entidades certificadoras, públicas e privadas, que deveriam fazer as certificaçõesprofissionais(ComissãoInterministerialdeCertificaçãoProfissional2005). Nosanosseguintes,oMinistériodaEducação,emparceriacomoMinistériodoTrabalho, avançounodesenvolvimentodeumaclassificaçãobrasileiradeocupações,definidapor sucessivosparecereseresoluçõesdoConselhoNacionaldeEducação.Umparecerde 2006,deautoriadeLuizBeviláqua,propõeumaclassificaçãodaeducaçãoprofissionale tecnológica de graduação ao redor de dez eixos, agrupados em três categorias, "tecnologias simbólicas, tecnologias físicas e tecnologias organizacionais" (Parecer CNE/CESnº277/2006).Estaclassificaçãoserviudebaseparaodesenvolvimentodeuma classificação semelhante desenvolvida para o ensino técnico de nível médio. A classificaçãomaisrecenteparaestenível,adotadapeloCensoEscolarde2014,lista195 cursos, agrupados em 13 "eixos tecnológicos". O Ministério da Educação elaborou também um Catálogo Nacional de Cursos Técnicos que foi colocado e posteriormente retiradodaInternet,queprocuravaproporcionarumadescriçãodecadaumdoseixos,e detalharascaracterísticasdecadaumdoscursosquedelefaziamparte.Oquadroabaixo éumexemplodecomoumdesteseixos,edentrodelesumcursotécnicoespecífico,são definidos. AcertificaçãodasprofissõesnoBrasil Naausênciadeummarcogeraldequalificações,asprofissõesdeníveltécnicopodem estarsujeitasatrêstiposdecertificação:(i)certificaçõesdadaspelosistemaescolar;(ii) certificaçõesexternasparaacessoaoexercícioprofissional,emitidasporcorporaçõesou conselhos profissionais e (iii) certificações externas, emitidas por agencias governamentais para disciplinar o exercício de ocupações especificas que requerem controle pelo poder público. Além disto, existem diferentes iniciativas para o reconhecimentodascompetênciaspráticasadquiridasinformalmente,proporcionando osrespectivoscréditosecertificados. 136 Certificaçõesescolares Ascertificaçõesdaprimeiramodalidadeatingemtodasasredesdeformaçãotécnica, sejam estaduais, federais, municipais ou particulares (onde se incluem os Sistemas Nacionais de Aprendizagem). As certificações abrangem formação presencial, semipresencial,àdistanciaepor“unidadesmóveis”-umamodalidadepresencialrecente eemcrescimento.Asexigênciasparacertificaçãotécnicadenívelmédionãoincluem estágio obrigatório supervisionado em todas as carreiras, mas exigem carga horária mínimade800horaseaconclusãodoensinomédioregular.Aregrageraléqueoensino denívelmédio–profissional,técnicoouacadêmico;publicoouparticular-constituiuma atribuição dos governos estaduais e de seus Conselhos e Secretarias Estaduais de Educação.Asinstituiçõesdeensinoetodososcursosdenívelmédio(ostécnicosounão) precisamserautorizadospelasautoridadesestaduaise,aestasescolasecursostécnicos competeacertificaçãodeconclusãodecursoaseusalunoseoregistrodocertificado junto à respectiva autoridade estadual. (SEEDs e/ou CEEs). As autoridades estaduais administram as redes privadas e publicas estaduais em seus territórios e influem nas políticasnacionaisparaoensinomédio–e,certamente,emmatériassobrecertificação decompetências-,diretamenteepormeiodesuasentidadesrepresentativas:oFórum Nacional dos Conselhos Estaduais (FNCEE) e o Conselho Nacional de Secretários da Educação (CONSED) junto à Câmara do Ensino Básico (CEB) do Conselho Nacional de Educação – CNE e junto à SETEC/MEC. Há também a União Nacional dos Dirigentes Municipais da Educação, a UNDIME que representa uma pequena rede de escolas técnicasdenívelmédio. Contudo,ogovernofederalvemseenvolvendocadavezmaisnasquestõesdaformação técnica,introduzindoprogramas,políticaseregulaçõesparavêmprovocandomudanças. Apartirde2009aSecretariadeEducaçãoProfissionaleTecnológicadoMinistériodo Trabalho instituiu três novidades: (i) uma nova instancia de validação burocrática dos certificados- o SISTEC (Sistema Nacional de Informações da Educação Profissional e 137 Tecnológica)29; (ii) a Rede CERTIFIC que credencia as instituições de ensino federais e outras que se candidatem para certificar indivíduos que comprovem competências “laborais” independentemente de credenciais escolares, e (iii) a partir de 2013, o credenciamento de universidades particulares para ofertarem cursos técnicos de nível médionoâmbitodoprogramaSisutec,paraparticipantesdoENEMquenãoconsigam acessoaoensinosuperior,comrecursosdoPronatec.Em2011oPronatec,criadopela LeiFederal12.513,aotransferirrecursosparaoensinoprofissional,sobretudoparao SistemaSformadopeloSesc,Sesi,SenaieSenac,tambémcriouumsistemadehabilitação dasentidadesprovedorasjuntoaoMinistériodaEducação,detalhadonaLei12.816de5 dejulhode2013,quetambémestabelece,emseuartigo20,que"osserviçosnacionais deaprendizagemintegramosistemafederaldeensinonacondiçãodemantenedores, podendocriarinstituiçõesdeeducaçãoprofissionaltécnicadenívelmédio,deformação inicial e continuada e de educação superior, observada a competência de regulação, supervisão e avaliação da União". Existe, assim, um conflito de competências entre o governofederaleosgovernosestaduais,quetemsidoobjetodequestionamentolegal (Mendes2013). Acertificaçãodecompetênciasadquiridas. Alémdoscertificadosproporcionadospeloscursostécnicosregulares,existeumesforço para reconhecer as competências adquiridas formal ou informalmente pelos trabalhadores, para efeitos de créditos escolares ou mesmo certificação plena para o exercício profissional. Um documento técnico do SENAC a respeito descreve este processocomotendoporobjetivo"reconhecercompetênciasdesenvolvidasformalou informalmente, possibilitando que o aluno apto fique isento de cursar determinados componentes curriculares (disciplinas, blocos temáticos, módulos etc.) exigidos em cursos de educação profissional, ou obtenha certificado ou diploma de conclusão de curso.Istosignificaqueacertificaçãonãoteráapenasocompromissodeoferecerum certificadooudiplomaaquemjátrabalhanaárea,massimodeasseguraraocidadãoa 29 Instituído pela Resolução CNE nº 3 de 30/09/2009. 138 possibilidadedeajustarseupercursoformativo,tendoemvistasuaqualificaçãoparao trabalho"(SENACDN2008).Pararealizarestetipotrabalho,osMinistériosdaEducação edoTrabalhocriaram,em2009,a"RedeCertific".Emsuaprimeirafase(2009-2014),este programa buscou atrair trabalhadores pouco instruídos e de baixa qualificação, oferecendo avaliação e reconhecimento de suas competências e oportunidade de reinserçãonosestudos,oferecendovagasemcursosdeformaçãoinicialecontinuada. Emsuasegundaeatualfase(instauradapelaPortariaInterministerialNº5/2014),arede ampliaseuescopodecertificaçãoealargaseusobjetivos.Passaaabrangerverticalmente todososníveisdeformaçãotécnica–doinicialaosuperior(Art.20).Osparâmetrosde implementaçãodestetipodecertificaçãoforamdetalhados,emseguida,naPortariaMEC nº8/2014.ARedeéformadaporinstituiçõesdeensinofederais,estaduais,municipaise do Sistema S (excluindo, aparentemente, instituições privadas), que devem ser devidamente credenciadas, e obedecer a procedimentos detalhados no processo de certificação.OCentroPaulaSouzainiciaestetipodecertificaçãoapartirdedecisãodo ConselhoEstadualdeEducaçãodeSãoPaulode2011.Adotaumsistemaquefazmuitas exigênciasdedocumentos,masdeixaaavaliaçãoserlivrementeconduzidaporbancasde professoresnomeadospelaDiretoria.OSENAItambémpossuium"SistemaSENAIde CertificaçãodePessoas"(SSCP)desde200730.Apesardestasiniciativas,edaausênciade estatísticasapropriadas,sabe-sequeonúmerodepessoascertificadasporestessistemas émuitoreduzido. Várias outras iniciativas independentes são relatadas em estudo da Organização Internacional do Trabalho de 2002 (Organização Internacional do Trabalho 2002). Um primeiro grupo inclui experiências de atendimento a necessidades específicas de treinamentonasempresas,ondeacertificaçãovisaobtermaiorqualidade,produtividade e segurança no trabalho. Neste grupo estão as experiências da ABRAMAN (Associação BrasileiradeManutençãoeGestãodeAtivos),daFBTS(FundaçãoBrasileiradeTecnologia daSoldagem)edaPETROBRÁS.AABRAMANépioneiraemaplicaracertificaçãopara 30 http://sscp.senai.br 139 trabalhadoresquejápossuemexperiênciatácita.EstabelecendoparceriascomoSENAI, aFBTSeaPETROBRÁS,aABRAMAMabriuváriosCEQUALs(CentrosdeQualificação)com o objetivo de formar, certificar e dar complementação àqueles trabalhadores que não passarampelosistemaformaldeensino.CumpredestacaraadesãodoInstitutoBrasileiro deMetrologia(INMETRO)que,porforçadesuaexperiêncianacertificaçãodeprodutos, passou a orientar a certificação de pessoas. Um segundo grupo é constituído por experiênciasorientadasprincipalmenteparaaformaçãoecertificaçãodecompetências emórgãosgovernamentaisdesenvolvidaspelaSecretariaMunicipaldoTrabalhodoRio deJaneiroepelaSecretariaEstadualdeRelaçõesdoTrabalhodeSãoPaulo(SERT/SP).Um terceiro grupo reúne as experiências voltadas para a melhoria de empregabilidade, incluindo as iniciativas das Centrais Sindicais. E, o quarto e último grupo engloba as experiências dos programas de certificação profissional do Sistema “S”, desenvolvidos comaABRAMAN,SABESP,CompanhiadeForçaeLuz,dentreoutros. CertificaçãodasProfissõesRegulamentadas Oquetemosdemaisantigoeconsolidadoemtermosdecertificaçõesexternas são as aplicadas às profissões regulamentadas por autoridade publicas, de um lado, e pelosConselhosProfissionais,deoutro.Estesúltimosconquistaramodireitodecertificar e normatizar o exercício profissional de seus quadros (em seus diferentes níveis, do superioraotécnico)pormeiodelegislaçãoeteminclusiveconseguidoinfluirempolíticas governamentais de seu interesse. Fundados desde a década de 30, os Conselhos das profissõesmaistradicionaistiveramtrajetóriasbastantedistintasgrandediversidadede arranjos-quevãodesdeconselhoscartoriaisquecobramparaincluiremanterosnomes de seus filiados no cadastro oficial, até outros que efetivamente avaliam e renovam o credenciamento de seus membros e ainda outros que militam ativamente pelos interessescorporativos. Porexemplo,oConselhoFederaldeOdontologiaeseus27ConselhosRegionais formamumaautarquiacujaprincipalfinalidadeéasupervisãodaéticaodontológicaem todooterritórionacional.Paratanto,oCFOlegislapormeiodeatosnormativos,julga processoséticosecentralizaasinformaçõessobrecursosdeespecializaçãoregistradose 140 reconhecidos,bemcomosobreonúmerodeinscritosemtodooBrasil,entrecirurgiõesdentistas,auxiliardesaúdebucal,técnicosemsaúdebucal,técnicosemprótesedentária, auxiliaresdeprótesedentáriaeclínicasodontológicas. NasEngenhariasosistemaConfea/CreaeMútua,criadoem1933,éhojeéum conjunto amplo de organizações autônomas e interdependentes, com finalidades própriasequejuntasvisamo“bem-estardasociedade(...)pormeiodosserviçostécnicos prestados pelos profissionais de engenharia, agronomia, geologia, geografia, meteorologia,alémdetecnólogosetécnicosdessasáreas.”Hoje,oSistemaProfissional é formado por dezenas de organizações e fóruns consultivos, e abrange mais de 300 habilitações reconhecidas em diferentes níveis e modalidades profissionais. Quando o Confea/CrearegistraumprofissionalouemiteumaART(AnotaçãodeResponsabilidade Técnica), ele está atestando que aquele profissional está apto a realizar obras com a melhortécnicaequesegueasregrasdoSistemaConfea/Crea,queestãoemconsonância comoCódigodeÉticaProfissional.Semesteregistro,oprofissionalnãoconsegueemitir aART. AOrdemdosAdvogadosdoBrasilnãoatuacomprofissionaisdenívelmédio,mas seuExamedeOrdemconstituiumamodalidadeeficazdecertificaçãoexternaquepode seradotadaparaoutrasprofissõeseoutrosníveisdequalificação.Criadaem1930,aOAB sóintroduzo“ExamedaOrdem”obrigatórioaoexercícioplenodaadvocaciaem1963, pelaLei4215.EstaLei,contudo,sóéregulamentadapelaLei8906,de1994,(...)quando atribuiàOABacompetênciapara,atravésdeprovimento,regulamentarosdispositivos doreferidoExamedeOrdem.Em2009,oExamefoiunificadonacionalmentee,em26de outubro de 2011 o Supremo Tribunal Federal em decisão unânime declarou a constitucionalidadedoexame. AregulamentaçãodaMedicinatambémexcluiosquadrostécnicosdaáreadaSaúde(que temseusprópriosconselhos).Ointeressanteaquiéocompartilhamentodaautoridade normativa entre Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB)easSociedadesdeEspecialistas.TantooCFMquantoaAMBforamfundadosem 1951.OCFMofereceassessoriajurídicaeéresponsávelpelocadastrogeraldosmédicos 141 que consolida os registros realizados nos Conselhos Regionais de Medicina. De acordo comoCódigodeÉticaMédica,omédiconãopodereceitar,atestarouemitirlaudossem aidentificaçãodeseunúmeroderegistronoConselhoRegionaldeMedicinaondeestiver trabalhando.JáaAssociaçãoMédicaBrasileiraéumasociedadesemfinslucrativosque também possui 27 Associações Médicas Estaduais e 396 Associações Regionais. Compõem o seu Conselho Científico 53 Sociedades Médicas que representam as especialidadesreconhecidasnoBrasil. Emrelaçãoàscertificaçõestécnicas,cabelembrarquehásindicatosqueaplicam testese/ouemitematestadosregistradosnasDelegaciasRegionaisdoTrabalhoevários órgãos públicos como a Receita Federal (despachantes aduaneiros) ou municipais (taxistasemototaxistas)queemitemcertificações,emgeral,temporáriasparadisciplinar certasocupações.Osquadros18e19mostramquemsãooscertificadoresequaissãoas exigênciasparaumconjuntode25profissõescomníveltécnicoincluído. Há outras modalidades de certificação de competências que são de interesse das empresasemseenquadrarouseatualizarfrenteasistemasdegarantiadequalidade.O SENAI se apresenta como organismo certificador do Instituto Nacional de Metrologia, QualidadeeTecnologia(Inmetro)paraCertificaçãodePessoasemmaisde40ocupações, com 18 centros de certificação em 13 Departamentos Regionais.31 A ABNT é outra instituiçãocertificadoraqueofereceeventualmentecursosabertosparaConstruçãoCivil eTurismo.Mas,opúblico-alvodamaioriadoscursos(decurtaduração)sãoempresas quemandamengenheiros,projetistasparaseinteirardenovasnormas.Há,porcerto, dezenasdeempresasqueoferecemcertificações,comonaáreadesoftware(Cisco;IEEE; ISTQB;Microsoft;Oracle,etc.). 31 Em 2014, o Sistema Senai de Certificação de Pessoas (SSCP) passou por auditorias do Inmetro para supervisão de acreditação, com resultados considerados excelentes. Os dois processos de auditorias – de escritório e de testemunha – verificaram, principalmente, a transição do sistema de gestão para a nova revisão da norma ABNT NBR ISSO/IEC 17024. Também em 2014, o Comitê Técnico Setorial Nacional (...) atualizou e validou o esquema de certificação do Soldador de Polietileno, um dos principais escopos do SSCP. Em Relatório Anual SESI, SENAI e IEL de 2014.p. 44. www.arquivos.portaldaindustria.com.br/.../RelatrioAnualdoSESISENAIeIEL-2014 142 Instrumentosadicionaisdecontroledequalidade Além dos sistemas de classificação, registro e certificação profissional, existem várias iniciativasquebuscamavaliar,dediversasmaneiras,oimpactoeaqualidadedaeducação profissional. Elas incluem sistemas de acompanhamento de egressos, organização de bancos de dados com informações pessoal qualificado, e várias pesquisas com dados primáriosousecundários. Assim, o Centro Paula Souza, do Estado de São Paulo, mantém um Sistema de Acompanhamento Institucional de Egressos (WebSAI), com questionários respondidos pelosegressosatravésdaInternet32,eoSENAIpossuio"SistemaSenaideAvaliaçãoda Educação Profissional" (SAEP)33, que realiza levantamentos periódicos sobre seus diversos cursos. Dados sobre ocupações de nível médio estão disponíveis na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE (com destaque para o suplemento sobre EducaçãoeQualificaçãoProfissionalde2007),enaRelaçãoAnualdeInformaçõesSociais do Ministério do Trabalho (RAIS), e o Censo Escolar do Ministério da Educação traz informações sobre cursos e alunos matriculados nos cursos técnicos de nível médio. Existemestudosquebuscammapearaofertaemercadodetrabalhoprofissionalnopaís (CGEE 2015), e estudos prospectivos sobre as tendências do mercado de trabalho profissional. Alémdisto,aSecretariadeEducaçãoProfissionaleTecnológicadoMinistériodaEducação implantoudoiscadastrosdeavaliadoresespecialistas.Oprimeiroteveinscriçõesabertas em2012paraavaliadoresespecialistasemEducaçãoProfissionaleTecnológicaparaatuar naavaliaçãodasaçõescoordenadaspelaDiretoriadePolíticasdeEducaçãoProfissionale TecnológicaSósãoelegíveisprofessoresdasredesfederal,estaduaisemunicipaiscom diplomadegraduaçãoquetenhamatuadoporpelomenosdoisanosemcursostécnicos denívelmédiorelacionadonoCatálogo(CNCT)eminstituiçãocadastradanoSISTEC.O segundocadastroteveprocessoseletivoabertoem2014,peloConselhoPermanentede 32 33 http://www.centropaulasouza.sp.gov.br/sai/sai.asp http://www.avaliacaosenai.caedufjf.net 143 Reconhecimento de Saberes e Competências (CPRSC), criado neste ano na SETEC/MEC paraatuarnoprocessodeReconhecimentodeSabereseCompetências(RSC)dacarreira domagistériodoEnsinoBásico,TécnicoeTecnológico. Paraoensinoàdistância,háoscensosdaAssociaçãoBrasileiradeEducaçãoàDistância (ABED),queperiodicamenteproduzemestatísticasdecursosporeixotecnológico,pelas matriculasepelasregiõesdopais.EntreseusmembrosfiguramoCentroPaulaSouza,o SENAI,aUniversidadeFederaldeViçosa,aFGVOnline,oIBMECOnline,Mackenzie,ESPM, ABRADI (Desenho Instrucional), entre outras. O último censo foi realizado em 2013 e apurou 94.334 alunos matriculados em cursos técnicos regulamentados totalmente à distância e 38.109 em cursos técnicos regulamentados semipresenciais e de teor mais técnico34. Finalmente, inúmeros estudos têm surgido procurando avaliar o impacto da educação profissional, assim como de programas específicos como o Pronatec, sobre os rendimentoseainserçãonomercadodetrabalhodos Conclusões Este levantamento incompleto de fontes de dados, sistemas de registro, acompanhamento,avaliaçõeseestudossobreaeducaçãoprofissionaletécnicamostraa existência de grande atividade no setor, que data dos anos 80 ou até antes, com o predomínio mais recente, entre 2011 e 2015, das iniciativas lideradas pelo governo federalatravésdoMinistériodaEducaçãoedoPronatec,quesetornouumdosprincipais programasdoGovernoDilmaRousseffnaáreaeducacional.OPronatecnãopossuium sistema robusto de acompanhamento de resultados, e os poucos estudos existentes mostram que, por um lado, ter uma formação técnica traz vantagens significativas no mercadodetrabalhoemcomparaçãocompessoasdomesmoníveleducacionalsemuma qualificaçãoespecífica,mas,poroutrolado,oimpactodeprogramasdetreinamentode 34 http://www.abed.org.br/site/pt/midiateca/censo_ead/1272/2014/10/censoead.br_2013/2014 144 grandeescalaeconduzidosdeformacentralizadaéquestionável(Almeida,Anazawa,et al.2015,Neri2010,BarbosaFilho,Porto,andLiberato2015,Varellaetal.2015). Nospróximosanos,aexpectativaéqueovolumederecursosinvestidospelogoverno nestaáreadiminua,equeatendênciaàcentralizaçãodaspolíticasdeformaçãoedos sistemasdedocumentação,registroeavaliaçãodosdiferentesprogramaseatividades nesta área seja reequilibrada com a participação mais ativa do Sistema S, do setor empresarial, das associações profissionais, dos ministérios setoriais e das secretarias estaduaisdeeducaçãoeredesprivadas,quesãoosprincipaisprovedoresdeformaçãoe empregadoresdosprofissionaisdeníveltécniconopaís. Emboraagrandedispersãodeiniciativasquehojeseobservapossaserconsideradauma anomalia,aexperiênciainternacionalmostraqueastentativasdecriargrandesmarcos nacionais de competência dificilmente produzem os resultados que deles se espera, a custosconsideráveisdetempo,recursosetolhimentodeiniciativaslocais.Umestudodo Instituto McKinsey mostra que um problema central da relação entre a educação e o mercado de trabalho é que os estudantes não creem que o sistema escolar lhes proporciona as competências necessárias para encontrar trabalho, e os empregadores dizemquenãoencontrampessoascapacitadasparaasfunçõesqueprecisampreencher (Mourshed,Farrell,andBarton2013). Este problema não se resolve pela criação de grandes sistemas centralizados de qualificaçõeseincentivos,maspelofortalecimentodacomunicaçãoecolaboração,anível local,entreosetorprodutivoeasinstituiçõesdeensino,participandonaelaboraçãode currículos,proporcionandocondiçõesadequadasdetreinamentoprático,e,tantoquanto possível, associando os processos de recrutamento e contratação aos processos de treinamentoequalificação.Existemalgumaspolíticasquepodemcontribuirparaisto:um sistemadeinformaçõesdeboaqualidadequepermitaqueestudanteseempregadores possam escolher seus cursos e perfis profissionais disponíveis; redes de colaboração desenvolvidasdentrodesetoresespecíficosdeatividadeeconômica;esistemasnacionais que possam integrar as diversas atividades de forma a torna-las mais visíveis e transparentes, seja por setor, região ou grupo populacional específico. Iniciativas de 145 coordenação que contribuam para o fortalecimento destes vínculos entre o setor educacionaleosetorprodutivosãoimportantesebem-vindas;asqueosdificultem,ou nãotomememcontasuanecessidade,estãosujeitasaquestionamento. Oensinointegradoeoconceitode"politecnia" Enquanto, por um lado, o Ministério da Educação, em parceria com o Ministério do Trabalhoecomosetordeeducaçãoprofissional,trabalhavamparaimplantarnoBrasil um sistema de educação técnica baseado nas competências profissionais demandadas pelomercadodetrabalho,poroutroopróprioMinistério,sobretudoapartirdoDecreto nº5.154,de23dejulhode2004,passouaestimularacriaçãodecursosdeeducação profissionalintegradoaoensinomédio,dentrodasconcepçõesdeumgrupodeautores marxistas com grande penetração nos cursos de pedagogia e nas escolas técnicas públicas. Inspirando-se nos escritos dos anos 20 de Antonio Gramsci, estes autores criticam a ideia de que a educação técnica deveria ter como prioridade preparar profissionaisparaomercadodetrabalho,queseriaalienanteefortaleceriaadivisãode classes na sociedade, e propõem em seu lugar uma educação integral, que rompa a dicotomiaentretrabalhointelectualetrabalhomanual,edêaosestudantesdoscursos profissionaissólidosconhecimentoscientíficoseculturais,queostornecidadãoscríticos eativos.Daíousodoconceitode"politecnia",neologismodefinidocomo"especialização com o domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produçãomoderna.Nessaperspectiva,aeducaçãodenívelmédiotratarádeconcentrarsenasmodalidadesfundamentaisquedãobaseàmultiplicidadedeprocessosetécnicas deproduçãoexistentes"(Saviani2007p.161).Estamesmaconcepçãofoiutilizadana definição dos "eixos" utilizados para a classificação das centenas de ocupações profissionaisexistentesnopaís.Oentendimentoéquecadaeixoteriaseupróprio"núcleo politécnico", que compreenderia "os fundamentos científicos, sociais, organizacionais, econômicos, políticos, culturais, ambientais, estéticos e éticos que alicerçam as tecnologias e a contextualização do mesmo no sistema de produção social" e que permitiriam que o estudante começasse sua formação em um curso técnico de nível 146 médio,oumesmodeformaçãoinicial,epudesseprogrediratéocursosuperior(Brasil MinistériodaEducaçãoandConselhoNacionaldeEducação2012). A ideia de que possa existir uma progressão entre diversos níveis de qualificação profissional é em princípio importante, e pode ser viabilizada em áreas específicas medianteaelaboraçãocuidadosadesequênciasdeestudoclaramentedefinidas.OSenai vem desenvolvendo uma série de "itinerários formativos nacionais de educação profissional"(Ormond2014),masnãoháaindainformaçõesdisponíveissobreseuuso efetivo. Já a pretensão de que os eixos sejam mais do que uma tentativa aproximada de classificação das ocupações é questionável, e não está baseada em nenhum trabalho empírico ou conceitual que mostre, por exemplo, que profissões como enfermagem, imagem pessoal, meteorologia e gerência de saúde, algumas dentre as dezenas que fazempartedoeixode"ambienteesaúde",compartamentresiosmesmosfundamentos científicosecontextualizaçãosocioeconômica. Maisdoqueumasimplesquestãosemântica,oconceitode"politecnia"temsidoutilizado para justificar uma série de políticas questionáveis desenvolvidas pelo Ministério da Educação na área da formação profissional nos últimos anos. Por isto mesmo, é importante entender o que Gramsci propunha, e o lugar que suas ideias ocupam nas discussõescontemporâneassobreeducação. Simplificando, pode-se dizer que principal contribuição de Gramsci ao marxismo foi o conceitode"hegemonia",segundooqualasclassesdominantesmantinhamopodernão somentepelocontroledosmeiosdeproduçãoedamáquinadoestado,massobretudo através do controle das instituições culturais, entre as quais as universidades e os sistemasescolares,quefaziamcomquetodosaceitassemcomonaturaladominação.A lutadeclasses,portanto,nãodeveriasedarsomentenocampodapolítica,mastambém no campo intelectual e cultural. A separação entre a educação das elites, baseada no estudo dos clássicos e das ciências, e a educação dos trabalhadores, voltada para as competênciasprofissionaiseainculcaçãodosvaloresdasclassesdominantes,reforçava 147 esta dominação. Ele defendia, assim, uma escola em que os trabalhadores tivessem tambémacessoàculturaclássicaecientífica,entendendoque,destamaneira,elesteriam condiçõesdedisputarahegemoniaintelectualeculturaldasclassesdominantes.Gramsci é uma referência muito utilizada, no Brasil e internacionalmente, pelas correntes pedagógicas conhecidas como "pedagogia crítica", embora a escola que ele idealizava fosseaescolatradicionaleconservadora,centradanatransmissãodosconhecimentos estabelecidos, e oposta às concepções culturalistas e construtivistas do conhecimento quehojetambémpermeiamosmeiospedagógicos(Mayo2015,Entwistle1979). Despidasdeseuconteúdopolíticopeculiar,muitasdasideiasdeGramscisobreeducação nãosãonovas,esãodeamplaaceitação.Acríticaàseparaçãoentretrabalhomanuale intelectualjáestavapresentenosescritosdeJohnDeweyenoManifestodosPioneiros daEducaçãoNovanoBrasildesdeosanos30;eapreocupaçãocomevitaraformação profissionalestreita,limitadaàscompetênciasoperacionais,equerestrinjaoacessodos formados à cultura mais ampla e aos aos cursos superiores, é hoje amplamente compartidamesmoempaísescomfortediferenciaçãoentreeducaçãogeraleeducação profissional.UmaanálisedastendênciasdeevoluçãodaeducaçãosecundárianaEuropa (Green et al. 1999), citada por Wolf, mostra uma tendência clara de convergência na organizaçãoescolar,expressanadeterminação,porpartedasautoridades,emretardaro momentoemqueosestudantesescolhemousãoencaminhadosparaespecializações. Como diz o relatório, Independentemente da idade ou fase em que a especialização tradicionalmenteocorria,dizorelatório,asreformasfizeramcomquemomentoemque oalunoseespecializapassassemaocorrerumaidadeposterioràdeantes.Porexemplo, nosistemaespanhol,adiferenciaçãoemdiferentestrilhasparaobacharelatofoiadiada paraos16anos.NaFrança,osjovensconsideradosmenosaptosacademicamentenão são mais transferidos para os liceus profissionais antes que seus colegas sejam transferidosparaosliceusregulares;NaFinlândia,aespecializaçãoagoraocorrenofinal daescolaridadeobrigatória,enãomaisnoiníciodesuasegundafase(Wolf2011p174) .Efinalmente,avalorizaçãodaescolamaistradicional,comênfasenaaquisiçãoordenada e sistemática do conhecido, tem crescido por oposição às vertentes construtivistas e 148 relativistas que ainda predominam em muitos círculos na área da educação (Osborne 1996,Hyslop-MargisonandStrobel2007,KirschnerandSweller2006). Oquediferenciaestastendênciasgeraisdomodeloda"politecnia"brasileiro,emrelação à educação profissional, é que, primeiro, a educação não é entendida por oposição à economia de mercado, mas, ao contrário, como uma forma de fazer com que os estudantessepreparemparaavidaprofissionalemsociedadesabertas;segundo,quea educaçãoprofissionalnãoétratadacomoumassessóriodaeducaçãogeral,mascomo um caminho alternativo; e, terceiro, o reconhecimento explícito de que nem todos os jovenschegamaoensinomédiocomasmesmascondiçõesdeseguirasexigênciasdeum forte programa acadêmico, e o oferecimento de diferentes modalidades e níveis de formaçãoprofissionalsãoumamaneiradedaracessoqualificadoaomercadodetrabalho quedeoutraformanãoexistiriam. Analisandoosefeitosdaeducaçãoprofissionalsobreasdesigualdadessociais,Shavite Müllermencionamascríticassegundoasquais,nossistemasdiferenciados,enquantoas criançasdeclassemédiaealtaseguemcaminhosquelevam,atravésdoensinosuperior, àsprofissõesdealtoprestígio,ascriançasdeclassemaisbaixastendemasercolocadas emtrajetóriasquereduzemsuaschancesdefrequentarumauniversidadeeteracessoàs melhoresposiçõesnomercadodetrabalho: Poristo,algunsdestescríticoschegamaproporatotalaboliçãodaeducaçãoprofissional nonívelmédio,argumentandoqueascompetênciasprofissionaispodemserfacilmente adquiridas mais tarde no mercado de trabalho. Esta perspectiva, no entanto, ignora o papelpositivoqueaeducaçãoprofissionalpodedesempenharnadefiniçãoaschancesde vida de seus graduados. Ao concentrar-se sobre o processo pelo qual as pessoas têm acessoàsocupaçõesmaisprestigiosaseopapelreconhecidamentenegativodaeducação profissional em relação a isto, estes críticos não conseguem perceber que o ensino profissional pode reduzir as probabilidades de desemprego ou emprego em atividades maisindesejáveis(ShavitandMüller2006p.437). Naprática,asideiasdeGramscieoconceitodepolitecniaforamutilizadosnoBrasilpara justificarasdemandasdosprofessoresdasescolastécnicasefederaisporequiparação 149 comasuniversidades,eparajustificaraposiçãosubordinadacomqueoensinotécnico foi mantido em relação ao ensino médio propedêutico, e para privilegiar, no ensino técnico,amodalidademaiselitista,queéaintegradaemtempocompleto,quepassoua serdefendidacomoamodalidadepreferencialdeformaçãotécnicanopaís,eadotada tantonosInstitutosFederaisdeCiência,TecnologiaeEducaçãoquantonoCentroPaula Souza,doEstadodeSãoPaulo,ignorandoofatodeque,peloseualtocusto,elenãoteria condiçõesdesegeneralizar.SegundooCensoEscolarde2015.23%dasmatrículasem educaçãotécnicadenívelmédioeramdamodalidadeintegral,91%dasquaisnasredes públicasfederaiseestaduais.Enquantoisto,ototaldealunosdoensinomédioemcursos detempointegralnopaísnãochegavaa5%damatrícula.Assim,emnomedoidealde uma educação igualitária e de alto nível para todos, o que se logrou foi um sistema altamente seletivo de educação pública, ocupado predominantemente por jovens que conseguiram chegar ao ensino médio com formação suficiente para ser admitidos nos processosseletivoseganharacessoqualificadoaoensinosuperior,aomesmotempoem que os professores das instituições federais de ensino profissional conquistavam seu almejadostatusuniversitário. OsInstitutosFederaisdeEducação,CiênciaeTecnologia Em2008oPresidenteLuizInácioLuladaSilvaassinouaLei11.892,de29/12,queinstituía aRedeFederaldeEducaçãoProfissional,CientíficaeTecnológicaecriavaosInstitutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Foram criados 38 Institutos, a partir os Centros Federais e Escolas Técnicas preexistentes, incluindo as que estavam antes vinculadasàsuniversidadesfederais.Osinstitutospassaramaterporfinalidadeoferecer educaçãoprofissionalemtodososníveis,edesenvolverpesquisaeinovaçãotecnológica, reservando50%desuasvagasparaaeducaçãotécnicadenívelmédio,prioritariamente na forma de cursos integrados, e 20% para cursos de formação inicial e integrada de trabalhadores. Acriaçãodarededeinstitutosfederaisfoisaudadacomoumarevoluçãonaeducação profissional e técnica do país (Pacheco 2011), que marcaria o fim do "ciclo neoliberal definidoporumconteúdoideológicofundadonoindividualismoenacompetitividade"e 150 opredomíniodosinteressesdosorganismosfinanceirosedocapitalestrangeiro(p.5)35. Osnovosinstitutosmarcariamumnovotempoemque"osprojetospedagógicostêmque estar articulados, especialmente, com o conjunto de organismos governamentais e da sociedade civil organizada, estabelecendo uma relação dialética em que todos somos educadores e educandos" (p. 8). Uma parte importante do projeto seria "o restabelecimentodoensinomédiointegrado,numaperspectivapolitécnica"eoobjetivo nãoseriaformarprofissionaisparaomercadodetrabalho,"massimumcidadãoparao mundodotrabalho–umcidadãoquetantopoderiaserumtécnicoquantoumfilósofo, umescritoroutudoisto"(p.11). Em 2012 a Presidente Dilma Rousseff completou a equiparação nos Institutos às universidadesfederais,aoassinaralei12.677,de25dejunho,quecriou19.569cargos deprofessoresde3ograuparaosprofessoresdosInstitutos,quepassarameintegrara Carreira de Magistério Superior do governo federal, além de 27.714 cargos técnicosadministrativos,e1,608cargosdedireçãoe5.589funçõesgratificadas,aomesmotempo emqueextinguia2.571cargostécnico-administrativos2.063funçõesgratificadas.Não existemdadosconsolidadossobreopreenchimentoefetivodestesnovoscargos,maseles significaram,semdúvida,importantesmelhoriasnascarreirasdosprofessoresetécnicos dos novos institutos. Os dados de matrícula mais recentes do Ministério da Educação indicamaexistênciade38institutose644"campi"daredefederal36;ocensoescolarde 2015 identifica 280 mil estudantes em 636 escolas federais, das quais 415 oferecendo cursosmédiosintegrados;oCensodaEducaçãoSuperioridentifica130milestudantes em38Institutos;enãoháinformaçõesdisponíveissobreonúmerodealunosemcursos deformaçãoinicialecontinuada. Seestasescolasdetempointegralconseguemdefatodarumaeducaçãodequalidade, com critérios de admissão fortemente baseados em competências, elas podem estar desempenhandoumpapelimportante,emboranãosejamumsubstitutivoparaosistema 35 EliezerPachecoeratitulardaSecretariadeEducaçãoProfissionaleTecnológicadoMinistério daEducação. 36 http://institutofederal.mec.gov.br/expansao-da-rede-federal,acessoJunho2016. 151 deeducaçãoprofissionaldegrandeescalaqueopaísnecessitaria.Assim,éimportante saberseestemodeloestáfuncionandodeformasatisfatória,equeliçõessepodeextrair dosesforçosparaimplantá-lo.Paraisto,examinamosemalgumdetalheaexperiênciado EstadodoCearáetambémdealgumasoutrasinstituiçõesanalisadasemumpequeno númerodetrabalhosdisponíveis. AexperiênciadeEnsinoMédioIntegradonoCeará OPlanoIntegradodeEducaçãoProfissionaleTecnológicadoEstadodoCeará,iniciado em2008,éconsideradoumadasprincipaisiniciativasdestetiponopaís,comaprevisão deimplantaçãode50escolasdetempointegral(Ceará2008).Esteplano,queteveoapoio dogovernofederal,atravésdoprogramaBrasilProfissionalizado,edoBancoMundial, como parte do apoio do Banco ao Plano Plurianual para 2012-2015, envolveu a participação de trinta e três instituições, entre aquelas de oferta de ensino técnico e tecnológico das esferas públicas e privadas, além de Universidades, Secretarias e Instituiçõesdefomentoàpesquisaedesenvolvimentotecnológico.Paraidentificaras áreas de formação, o governo passou a fazer parte das câmaras setoriais do setor produtivo, e promoveu estudos para identificar as prioridades dos arranjos produtivos locaiseevitarsuperposiçõescomoutrasredesdeformaçãoprofissionaljáexistente. As escolas funcionam com ampliação do tempo de permanência tanto do estudante quantodosprofessoreseequipesgestoras,comofertadeEnsinoMédioIntegradopara os estudantes que tenham concluído o Ensino Fundamental, com a garantia de três refeições diárias, uniforme, material didático e assegurado o estágio curricular obrigatóriocomconcessãodebolsa-estágioebenefíciosafins.Aofertafoiiniciadaem 2008 com a implantação das vinte e cinco primeiras escolas, com 4.181 estudantes matriculados;em2015haviam113escolasimplantadasemmaisde80municípios,com 45.054estudantesmatriculadosem54cursostécnicos.Ocensoescolarde2015identifica 280milestudantesem415 A implantação das escolas foi coordenada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará,comacolaboraçãodaSecretariadeEducaçãoTécnicaeProfissionaldoMinistério 152 daEducaçãoeinstituiçõescomooInstitutoTecnológicodoCeará–CENTEC(organização socialvinculadaàSECITECEparaaofertadecursosdecurtaduração),eaparticipação, emdiversosmomentos,daEscoladeSaúdePública,paraimplantaçãodoCursoTécnico emEnfermagem:daEmpresadeTecnologiadaInformaçãodoCeará,paraaofertado Curso Técnico em informática; da Secretaria de Turismo, para o curso em Guia de Turismo;doServiçoBrasileirodeApoioàsMicroePequenasEmpresas(SEBRAE),paraa implantação de empreendedorismo como componente curricular do ensino médio integrado; da Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa), para os cursos em Agropecuária;doServiçoNacionaldeAprendizagemRural(SENAR),paraasdisciplinasde gestão em agronegócio; do Centro de Ensino Tecnológico do Ceará, para seleção e contratação de professores para as disciplinas técnicas; do Instituo de Pesquisa e EstratégiaEconômicadoCeará,liderouoComitêIntersetorialdeEducaçãoProfissional,e geriu o programa de financiamento do Banco Mundial (P4R); do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, que colaborou na inserção dos estudantes em estágios juntoaosetorprodutivo;doSistemaSincopeças/Agropeças,dosetorautomotivo,que participoudiretamenteparaodesenvolvimentodocursoemManutençãoAutomotiva, incluindoooferecimentodeestágioseadoaçãodeequipamentos. Ao buscar uma vinculação do ensino técnico com as possibilidades de emprego no mercadodetrabalho,oEstadodoCearáseafastouempartedaorientaçãodoMinistério da Educação, alinhado com as teorias da "politecnia", para o qual seria "essencial desmistificar a pretensa correspondência direta entre qualificação ou habilitação profissionaleempregoouoportunidadesdetrabalho"(BrasilMinistériodaEducaçãoand ConselhoNacionaldeEducação2012p.11).Assim,paracriarescolasecursos,houveum esforçosistemáticodeidentificarasáreasdemaiordemandaprofissionalnomercadode trabalho, com a participação de várias instituições relacionadas com a atividade econômica. Por outro lado, no entanto, a única experiência mais direta de participação do setor produtivodaeducaçãoprofissionalsedeunocasodocursotécnicodeeletromecânica, na área de refrigeração e climatização, em uma parceria com o Sindicato dos 153 TrabalhadoresemRefrigeraçãoeClimatização–SINDIGELeàAssociaçãodeEmpresas de Refrigeração e Ar Condicionado do Ceará – REDE SINDIAR. Na parceria, o setor empresarial participou da elaboração das competências técnicas requeridas, proporcionouestágiosparaosestudantes,econtribuiufinanceiramenteparaamelhoria do laboratório técnico da escola, e abriu a perspectiva de contratar os estudantes formados em suas empresas, estando previsto para 2015, a criação de um centro tecnológicodaformaçãoprofissionalcomespaçopróprionaEscola.Comoaçãoprevista para 2016, está a estruturação de um centro tecnológico de formação profissional, utilizando como espaço a própria estrutura física e tecnológica da escola. O centro atenderátantoaosprofissionaisinseridosnasempresasfiliadasaoSindicato,quantoaos estudantesdoCursoTécnicoemEletromecânica,emde40emestágiodeconclusãode curso. A experiência das escolas integradas do Ceará deve ser vista em termos de sua importânciarelativaparaaeducaçãomédianoEstado,dodestinodeseusestudantes,e deseucustorelativo.Napopulaçãode15a17anosnoEstado,em2015,decercadeum milhão de pessoas, somente 56% estavam no ensino médio, e 13.5% estavam fora do sistemaescolar,segundoaPNAD.Ocensoescolarde2015identifica44.069estudantes em escolas integradas, para um total de 85.584 em todas as modalidades de ensino profissional,e465.423estudantesemtodasasmodalidadesdeensinomédio,inclusive EJA,dosquais369.978naredeestadual.Istosignificaqueasescolasdetempointegral atendem a menos de 10% da população estudantil deste nível, 12% das matrículas na redeestadual,ecercade5%dapopulaçãoentre15e17anos.Adistribuiçãodealunos por áreas de formação reflete a estrutura econômica do Estado do Ceará, aonde predominam os serviços. O maior número de matrículas, 22.7%, se dá em gestão e negócios,seguidodeinformaçãoecomunicação,21.8%;eemterceirolugarsaúdeemeio ambiente,compredomíniodoscursosdeenfermagem. O custo estimado por estudante, nas escolas integradas, era de aproximadamente R$6.200,00 (Freitas 2014), comparado com o valor do Fundeb para o ensino médio integral,queerade3.880,89em2015. 154 Estefortesubsídioaumapequenaparceladapopulaçãosósejustificaseoacessoaestas escolas não for socialmente enviesado, e seus resultados pedagógicos e profissionais forem significativos. No início, as escolas só davam acesso a alunos provenientes do ensinofundamentalpúblico,medianteprovasdelínguaportuguesaematemática.Mais recentemente, criou cotas também para alunos provenientes da rede particular, e começouaimplementarumumapolíticadeacessoporsorteioaalgumasescolas.Nãohá informações sistemáticas sobre a qualidade das escolas, nem sobre a efetividade da integraçãodoensinotécnicocomaformaçãogeral,queéumadaspremissascentrais destetipodeeducação.DadosdaSecretariaEstadualdeEducaçãoindicamqueamaioria dosalunosqueestasescolasprocuramingressarnasuniversidades,enãonomercadode trabalho,umatendênciaquevemseacentuandodeanoaano. Outrasexperiênciasdeescolasintegradas Existem vários trabalhos, todos feitos na perspectiva marxista que predomina nas faculdadesdeeducação,queprocuramanalisarcomoensinoprofissionalintegradoestá defatofuncionandoemalgumas.Elesmostram,deumamaneirageral,queestescursos tendemaserseletivos,queamaioriadosalunospretendemsequalificarentraremuma universidade. No curso Técnico em Edificações do Instituto Federal de Goiás, estudado por Virote (Virote 2009), haviam 30 vagas para cerca de 300 candidatos. Os alunos explicam o interessepelocursoporqueégratuito,deboaqualidade,eofereceboapreparaçãopara ovestibular.Adivisãoentreaáreageraleprofissionaldocursoémarcante,nãoexiste interdisciplinaridade, e os professores da área geral, pelo menos nas entrevistas se preocupam com a necessidade de direcionar seus recursos para apoiar a formação profissional, sem lugar, portanto, para a formação humana que seria um pressuposto centraldomodeloidealdapolitecnia. Moreira da Silva (Silva 2009), analisando o currículo integrado do curso técnico em Agropecuária de Guanambi, na Bahia, critica sua forte relação com o "modelo de produçãocapitalista",eencontranocurrículouma"construçãoaligeirada,semespaço 155 para discussões mais aprofundadas entre todos os sujeitos do processo educativo", resultandoemumcurrículotradicionalefragmentado,semdiálogoentreosdocentesdo ensinomédiogeraledaáreaprofissional. Nessralla(Nessralla2010)focalizaseutrabalhonosprofessoresdocursodeQuímicado CEFET-MG,procurandomostraradistânciaentreoqueelesfazemoudizemeosideais domodelodapolitecnia.Segundoela,oprogramaaindasegueoformatodalegislação de 1997, "as mudanças no que se referem às diretrizes curriculares ainda não foram estabelecidas,excetuando-seamudançadeorientaçãodeáreaprofissionalparaeixos tecnológicos, desconhecendo-se estudos sobre esta mudança" (p. 8). O currículo integrado, na prática, não ocorre, com a parte geral e profissional se dando de forma separada: "Excetuando-se os professores da parte específica do curso, que conhecem o projeto pedagógicodocursonapartetécnica,osoutrosdocentesdesconhecemessesprojetos. Observou-se,pelorelatodosentrevistados,queofatodeosdocentesatuarememcursos diferentes a cada ano dificulta o conhecimento do respectivo curso. Também não há interaçãoentreosdocentesdaáreadeformaçãogeraledaáreaespecífica.Comoum sujeitonãoconheceotrabalhodooutro,ocorreasobreposiçãodeconteúdosenãose observaasequênciadepré-requisitosentreasdisciplinasdoensinomédioedisciplinas técnico-científicas" (p. 168). O aumento da carga horária, necessário acomodar todo o currículodoensinomédioemaisodocursotécnico,resultouemmaisde50horasde aulasemanais,efezcomquemuitosalunosabandonassemocurso.Poroutrolado,ofato de os alunos já chegam ao curso selecionados compensa em parte esta dificuldade. Segundoumdosdepoimentosquerelata,"muitosquefazemointegrado,nãoofazem pelotécnico,fazemparaterumaeducaçãodequalidade"(p.140). OPRONATEC OProgramaNacionaldeAcessoaoEnsinoTécnicoeEmprego–PRONATECfoicriadoem ano de 2011, como um programa de financiamento para a educação técnica e profissional, administrado pela Secretaria de Educação Técnica e Profissional do MinistériodaEducação,eseconstituiuemumadasprincipaisvitrinesdogovernoDilma 156 Rousseff,comgrandeinjeçãoderecursos.Suasprincipaislinhasdeatuaçãosãooapoioà expansão da Rede de Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia; a bolsaformação,paracursosdeformaçãoinicialecontinuada(FIC)etécnicosdenívelmédio, no setor público e privado; no programa Brasil Profissionalizado, de criação e consolidaçãodeunidadesdeescolastécnicasestaduais;aRedee-TEC,deofertadecursos técnicosàdistância;eoacordodegratuidadecomoSistemaNacionaldeAprendizagem paraaofertadevagasgratuitascomrecursosdacontribuiçãocompulsória. ComoPRONATEC,asdespesascomensinoprofissionaletecnológicocresceramdeforma significativa.Em2014,ogastodiretocomoprogramafoide4.2bilhõesdereais,dosquais umbilhãoembolsasdeestudoparaaformaçãoprofissional,científicaetecnológica37. Informações proporcionadas pela Secretaria de Educação Técnica e Profissional apresentamnúmerosbastantesignificativosdoprograma38: • De 2011 a 2014, por meio do Pronatec, foram realizadas mais de 8,1 milhões de matrículas, entre cursos técnicos e de qualificação profissional, em mais de 4.300 municípios. Em 2015, foram 1,3 milhão de matrículas; • Entre 2003 e 2014 foram construídas 422 unidades dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Entregues à população, elas foram somadas as 140 unidades construídas entre 1909 e 2002. Hoje, a Rede Federal é composta por 38 Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, 02 Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica, 24 Escolas Técnicas Vinculas às Universidades Federais e o Colégio Pedro II, totalizando 562 campi em funcionamento. • No programa Brasil Profissionalizado, de apoio a laboratórios e infraestrutura de escolas estaduais, entre 2011 e 2014, 304 obras foram concluídas, sendo 78 construções e 226 ampliações e reformas, em 245 municípios, havendo ainda 194 obras em execução (Feres 2015) 37 http://www.portaltransparencia.gov.br/PortalTransparenciaGDProgramaPesquisaAcao.asp?ano =2014&codigoPrograma=2031&textoPesquisaPrograma=2031,acessadoemjunhode2016. 38 http://portal.mec.gov.br/pronatecacessadoemjunhode2016. 157 • Na rede E-TEC Brasil, de ensino profissional à distância, haviam, em 2015, 985 Polos de Apoio Presencial, nas 27 unidades federativas, vinculados a Rede Federal, redes estaduais e Sistemas Nacionais de aprendizagem. Auditoria da Controladoria Geral da União, realizada em 2014, traz outros dados significativos sobre o programa Bolsa-Formação. As bolsas são dadas para financiar cursos oferecidos por cerca de 200 "parceiros ofertantes" entre entidades públicas e privadascom2.683unidadesdeensino.Existemtambém44"parceirosdemandantes"do programa, todos eles do setor público (ministérios, secretarias) que têm a responsabilidade de demandar cursos e captar candidatos interessados. Não há referênciaademandaprovenientedosetorprivado. Omaiornúmerodeunidadesdeensinoeradasredesestaduais,seguidodaredeprivada. Ototalderecursostransferidosentre2011e2014foide6.455milhõesdereais,sendo que70%dototalfoidestinadoaosSistemasNacionaisdeAprendizagem,comdestaque paraoSENAI.Foramconcedidas,nesteperíodo,3.122milbolsas,dasquais2.500milde formaçãoinicialecontinuada,em638cursos,e622milestudostécnicosdenívelmédio, em158cursos.AredeprivadaparticipadoprogramaatravésdoSISUTEC,sistemaque utiliza o ENEM para selecionar estudantes para cursos técnicos proporcionados por universidadesprivadas.Das622milbolsasdeensinotécnicofinanciadaspeloprograma, 292milforamdestinadasàsuniversidadesprivadas,e173milaoSENAI(Controladoria GeraldaUnião2014). Umaavaliaçãoinicialsobreareinserçãonomercadodetrabalhoformalderecipientesda BolsaFormação,paracursosdeformaçãoinicial,nãoencontrouresultadossignificativos. Oestudoidentificoutrabalhadoresquehaviamsidodesligadosdeempregosformaisem 2011ecomparouasituaçãodeempregoem2012-2013entreosquehaviamconcluído oscursosdoPronateccomoutrosnamesmasituaçãoquenãoseinscreveramounão concluíramoscursos(BarbosaFilho,Porto,andLiberato2015).Oestudomostrouqueas bolsasestãofocalizadascorretamenteempessoasdemaisbaixarenda,equeaspessoas queseinscrevemnoprogramatêmmaisprobabilidadedeentrarnomercadoformal;mas 158 quenãohádiferençaentreosquesematricularameconcluíramoscursoseosquese matricularammasnãocompletaramosestudos. Um outro estudo avaliou o impacto das bolsas do PRONATEC entre beneficiários do programabolsafamília(MontagnerandMuller2015).Segundooestudo,das2.8milhões debolsasformaçãodadasaté2014,1.7milhõesforamparapessoasinscritasnoCadastro Único do bolsa família, dentre as quais 936 mil eram beneficiarias também do Bolsa Família.Amaioriadosquesematricularamnoscursoseramjovensaté25anos(53.4%), com forte predominância de mulheres (60%), com nível educacional relativamente elevado–54.4%haviamconcluídooensinomédio.Astaxasdeconclusãoeaprovação noscursossãoaltas,acimade80%,easáreasdeformaçãosãopredominantementena área de serviços, com destaque para cursos de auxiliar administrativo, seguido da de operadordecomputador.Nãohádadossobreososbenefíciosdoscursosnaparticipação dosformadosnomercadodetrabalho,masasindicaçõessãodequeosqueatendem estescursostêmaexpectativadequeelestrarãobonsresultados. Conclusões Vistos em conjunto, as diversas iniciativas descritas neste capítulo mostram, primeiro, queaáreadaeducaçãoprofissionaletécnicaatraiugeroumuitointeresseemovimentou recursos muito significativos tanto por parte do governo federal como dos governos estaduais.Osetordeeducaçãoprivadatambémidentificouumademandacrescentepor educaçãoprofissionaletécnica,eampliousuaoferta.Segundo,asprincipaisiniciativas nestaáreadeixaramdeserlideradaspelosetorprivado,atravésdasentidadesdoSistema Nacional de Aprendizagem, e passaram à iniciativa do Ministério da Educação. Esta mudançateveumaconsequênciapositiva,quefoichamaraatençãoparaanecessidade deconsideraraeducaçãoprofissionalcomopartedosistemaeducacionalmaisamplo,e não como um sistema à parte. A consequência negativa, por outro lado, foi que a preocupaçãoemmanterosistemadeeducaçãoprofissionalvinculadoerelevanteparao sistema produtivo deixou de ser prioritária. Isto se agravou ainda mais pela ideologia pedagógica da "politecnia" predominante no Ministério da Educação, adotada pelos 159 professoreseadministradoresdaRededeInstitutosFederais,querejeitaexplicitamente abuscadevínculosmaisestreitosentreaeducaçãoprofissionaleomercadodetrabalho. Chamaaatençãofinalmente,aausênciadedesistemasdeavaliaçãoeacompanhamento dos resultados, além das informações nem sempre claras sobre recursos investidos e número de pessoas envolvidas. Existem avaliações feitas pelos órgãos federais de auditoria(TribunaldeContasdaUnião2012,ControladoriaGeraldaUnião2014),mas elastendemaseateraosaspectosformaisdosprogramas,semtentaravaliaremque medidaosrecursosaestãosendobemaplicados,comosresultadosdesejáveis. 160 7.Embuscadenovoscaminhosparaoensinoprofissionale técnico A preocupação com a má qualidade e inadequação da estrutura do ensino médio brasileirolevou,nosúltimosanos,aváriasiniciativasderepensarereorganizaramaneira pela qual ele está estruturado, dentre as quais se destaca o projeto de lei 6.840, em tramitaçãonaCâmaradeDeputadosdesde2013,quealteraaLeideDiretrizeseBasesde 1996,emprocessoderevisãopelaComissãodeEducação,eadiscussãodoprojetode daBaseNacionalCurricularComuminiciadapeloMinistériodaEducaçãoem2015,cuja segunda versão foi divulgada no primeiro semestre de 2016. O que se observa nestes documentosé,porumlado,oreconhecimentodanecessidadedeabriralternativasde formaçãoparaoensinomédio;mas,poroutro,apersistênciadeconcepçõestradicionais, ainda que muitas vezes apresentadas em linguagem aparentemente avançada, que corremoriscodeinviabilizarqualquertentativadetornaroensinomédioadequadoàs condiçõesdasociedadecontemporâneaedajuventudebrasileira. ABaseNacionalCurricularComum AsegundaversãodapropostadaBaseNacionalCurricularComum(BrasilMinistérioda Educação 2016), infelizmente, mantém a visão tradicional do Ministério da Educação contrária à diferenciação efetiva do ensino médio. Por um lado, ela admite que os estudantespodemterformaçõesdiferenciadas,masinsisteemque"adefiniçãodeuma base comum deve se comprometer com a criação de alternativas que superem a fragmentaçãodosconhecimentosetornemotratocomosaberumdesafiointeressante eenvolventeparaos/asestudantes".Elacolocacomocentralomodelode"politecnia", reproduzindo trechos do parecer que aprova as diretrizes curriculares para o ensino profissionalmédiodoCNEde2012(BrasilMinistériodaEducaçãoandConselhoNacional de Educação 2012), que preconiza que trabalho, ciência, tecnologia e cultura sejam entendidas "como dimensões indissociáveis da formação humana", propondo que o pontodepartidadaanálisesejao"conceitodetrabalho,simplesmentepelofatodesero 161 mesmocompreendidocomoumamediaçãodeprimeiraordemnoprocessodeprodução daexistênciaedeobjetivaçãodavidahumana";emantémapreferênciapeloprincípio utópico da "formação integral", que deveria ser "o elo articulador e para o qual convergemtodasasáreasdoconhecimento,deformaqueoscomponentescurriculares, comseusobjetivosdeaprendizagementrelaçadosaoseixosformativos,componhamum mosaico de aprendizagens que assegurem o desenvolvimento dos/das estudantes em todasassuasdimensões(intelectual,física,social,emocionalesimbólica)". O documento propõe quatro eixos de formação para o ensino médio que, aparentemente, poderiam significar opções, mas, na realidade, são temas gerais e comuns a todas as áreas de estudo: (i) Pensamento crítico e projeto de vida, (ii) Intervençãonomundonaturalesocial,(iii)letramentosecapacidadedeaprender,e(iv) solidariedadeesociabilidade;einsistenaprioridadeàformaçãointegrada,identificando quatro "temas integradores", que seriam (i) economia, educação financeira e sustentabilidade(ii)culturasafricanaseindígenas(iii)culturasdigitaisecomputação(v) direitoshumanosecidadaniae(v)educaçãoambiental.Destaforma,asáreasclássicas deformaçãonasciênciasnaturaisesociaissedissolvemsobomantodasculturasedas interdisciplinaridades. Em relação à educação profissional e técnica, a proposta da base repete a ideia questionáveldequeos13"eixos"utilizadospeloMECparaagruparascentenasdeáreas de formação técnica teriam bases científicas e contextuais comuns. Segundo o documento, "o Eixo Tecnológico é o conceito que organiza os cursos da educação profissionaletecnológicaeosagrupaconformesuascaracterísticascomunsrelativasà concepção, à produção e ao uso da tecnologia. Cada eixo define a convergência dos conteúdosdeumconjuntodecursos,queapresentamidentidadetécnicaetecnológica. Cada eixo apresenta um núcleo politécnico comum que compreende os fundamentos científicos,sociais,organizacionais,econômicos,políticos,culturais,ambientais,estéticos e éticos que alicerçam as tecnologias e a contextualização do mesmo no sistema de produção". Como já foi visto, é difícil argumentar que profissões como agricultura, agronegócio,geologia,pescaeemineração,porexemplo,quefazempartedoeixode 162 recursosnaturais,tenhamosmesmos"fundamentoscientíficos,sociais,organizacionais, estéticos",etc. Em nenhum momento a proposta se refere à necessidade de aproximar o sistema de formaçãoprofissionaldasnecessidadesecaracterísticasdosistemaprodutivo,nemtoma emconsideraçãoaspossíveistrajetóriasdeformaçãoetrabalhodosalunos.Infelizmente, aformaemqueestáconcebidaapropostadabasecurricularparaoensinomédio,apartir deconstruçõesintelectuaisabstratas,ideologiaspedagógicaseutopiasquenãotomam emcontanemaexperiênciapráticadeoutrospaísesnemarealidadedosistemaescolar e da população estudantil do Brasil, não permite que se possa esperar muito de seus efeitospráticos. Umanovalegislaçãoparaoensinomédio Oprojetodelei6.840,quealteraaLeideDiretrizeseBasesnapartedoensinomédio, temsidoobjetodegrandesdiscussõesediferentessubstitutivos,quenãoseriaocasode reproduzir aqui. A principal crítica ao projeto é que ele mantém a grande carga de conteúdos e disciplinas obrigatórias no ensino médio, sem abrir espaço para uma diferenciaçãoquepermitaaosalunosescolhersuasáreasdeformaçãoeabraespaçopara aformaçãoprofissionalsemaobrigatoriedadedocurrículomédiotradicional.Oprojeto assumia que o ensino médio brasileiro tenderia a ampliado para o regime de tempo completo de 7 horas, o que, embora desejável, não tem possibilidade real de ser implementadonospróximosanos,equeseriaaúnicaformatentardeacomodarasatuais exigências de conteúdo que o projeto não reduziu. O projeto utiliza termos como "contextualização","interdisciplinaridade"e"transversalidade",que,emboracorrentes nalinguagempedagógica,nãotêminterpretaçãopráticaadequada.Namesmalinha,o projetoestabeleciaque"asinstituiçõesdeensinodefinirãosuaspropostascurriculares, articulando-ascomasdimensõesdotrabalho,daciência,datecnologiaedaculturacomo eixointegradorentreosconhecimentosdedistintasnaturezas,contextualizando-osem suadimensãohistóricaeemrelaçãoaocontextosocialcontemporâneo",quenãopassa deumaexpressãodedesejosdolegislador. 163 Uma legislação que efetivamente livrasse o ensino médio das atuais amarras deveria, fundamentalmente,permitirqueosalunosoptassempordiferentestrajetóriasdeestudo eaprofundamentoqueocupassemamaiorpartedeseutempo,equefossemcombinadas comumjuntobemlimitadodeconteúdosdeformaçãogeralecomuns.Haveriamdois tipos de trajetórias, umas mais acadêmicas, de preparação para estudos superiores, e outras mais diretamente orientadas para a formação profissional. Possíveis trajetórias acadêmicasseriamaformaçãoemciência,tecnologia,matemáticaeengenharia(CTEM); ciênciasbiológicasedasaúde;ciênciassociais(economia,sociologia,direito,história)e as humanidades (filosofia, literatura, línguas estrangeiras). As trajetórias profissionais poderiamsemultiplicarnasdiferentesáreasdeformaçãoprofissionalrelevantesparao mercado de trabalho, conforme a capacidade de formação das escolas e o contexto produtivolocal.Apartecomumatodosdeveriaselimitaraodomíniodoportuguês,da matemática,dalínguainglesaedeestudossociais,quepermitamaosalunosentendero contextoinstitucional,legal,econômicoeascondiçõessociaisemquevivem.Nestenovo modelo,nãohaveriammatériasoudisciplinasobrigatórias,masáreasgeraisdeformação aserdefinidasemconjuntoentreasescolaseseusalunos,dentrodaofertadisponível,e os conteúdos comuns deveriam ser definidos de comum acordo com os responsáveis pelas diferentes áreas de formação, de tal maneira que eles contribuíssem para o fortalecimentodosestudosnasdiferentesáreasdeformaçãoeaprofundamento,enão fossemdadosdeformadissociada. As escolas teriam a tarefa de organizar as diferentes trajetórias de formação a ser oferecidas,naformadecursoseprojetos,edirecionarosestudantesparaasdiferentes alternativas conforme seus interesses e competências. Dependendo dos recursos disponíveis e das características dos alunos, elas poderiam oferecer cursos em tempo parcialouintegral,ecomdiversosníveisdeexigência,permitindoaosalunosoptarpor diferentestrajetórias. Todasastrajetóriasdeformaçãodevemconduziraumdiplomalegaldeensinomédio que dê acesso ao ensino superior, mas estudantes que seguem trajetórias mais aprofundadas e de formação mais rigorosa terão mais facilidade de acesso a cursos 164 superioresmaisdisputados.Aexistênciadeumnúmerocrescentedepessoasdenível médio com diferentes tipos e níveis de formação deveria repercutir também no nível superior,queprecisaabrirmaisespaçoparacursosdenívelintermediário,hojelimitados àofertadoschamadoscursos"tecnológicos". Um ensino médio organizado desta forma é incompatível com o Exame Nacional de EnsinoMédiotalcomoéorganizadohoje.Paraosalunosquesedestinamdiretamente aoensinosuperior,oENEMdeveriaserdivididoemdiferentesexames,decompetência geralemportuguês,matemáticaeinglês,edecompetênciasmaisespecíficasnasáreas de CTEM, ciências biológicas, ciências sociais e humanidades. Para os alunos que se preparam para o mercado de trabalho, deveriam ser oferecidos exames externos de certificação profissional, que, embora não obrigatórios, fortalecem o valor das qualificaçõesprofissionaisnomercadodetrabalho. Ocaminhopelafrente Paraavançar,énecessárionãoperderdevistaalgumasideiassimples.Amaisimportante équeoensinomédioeoensinoprofissionalnãopodemsermoldadosporconstruções mentaisconformediferentescorrentespedagógicasoufilosóficasecolocadasnaforma deleisouresoluçõespelasautoridadesemBrasília,enãosópelofatodequeaimensa maioria das matrículas se dão nas redes estaduais, e a maior parte da formação profissionalexistenteocorredeformadescentralizada,noSistemaS,emalgumasredes estaduaise,crescentemente,eminstituiçõesprivadas;mastambémporqueaexperiência mostraqueastentativasdedefinircentralmenteaconcepçãoeosdetalhesdocurrículo edaorganizaçãodossistemasescolaresdificilmentesãoentendidaseincorporadasno dia a dia das escolas e das redes escolares, embora possam, muitas vezes, atrapalhar, quandoacompanhadasdeexigênciasdediferentestipos. Istonãosignificaquefilosofiaseconceitosrelativosàscaracterísticasdaciência,educação esistemasescolarescontemporâneosnãotenhamimportância,enãodevamserlevados em conta. Em relação a isto, impressiona o fato de que os documentos de política educacional elaborados pelas autoridades brasileiras dificilmente tomam em conta a 165 experiência internacional, expressa em uma ampla literatura especializada que existe hoje sobre estes temas, e que é praticamente desconhecida no Brasil. Temas como formação disciplinar e interdisciplinaridade, educação integral, relação entre educação geral e profissional, pedagogias ativas e passivas, educação por disciplinas ou por competência,e,maisamplamente,asrelaçõesentreossistemasescolares,aeconomia, aculturaeaestruturasocialtêmsidodiscutidosemtodoomundopelomenosdesdeo século19,enãoseresolvem,quandoseresolvem,emdiscussõesacadêmicas,maspelo usodasevidênciasacumuladaspelospaíses,regiõeseredesescolaresqueconseguem apresentarbonsresultadoscomsuaeducação. Asegundaideiaimportanteéqueexistemmuitasmaneirasdiferentesdesechegarabons resultados.OspaísescommelhoresresultadosnasavaliaçõesdoPISAsãoaFinlândiaea Coréia,quetrabalhamcomconcepçõespedagógicasdiametralmenteopostas.Omelhor sistemadeeducaçãoprofissionaléodaAlemanha,quemantémumformatodiferenciado deeducaçãomédiaemumasociedadequeémaisigualitáriadoqueosEstadosUnidos, quetemumsistemaintegrado.Oprincipalqueestessistemastãodiferentestêmem comuméaqualidadeeocompromissocombonsresultados,oquesãoseresolveno papel. OBrasilpoucasexperiênciasdeeducaçãomédiaeprofissionaldequalidade,emuitas experiênciasdepolíticasgovernamentaisfracassadasnaáreadaeducação.Ogoverno centraltem,certamenteimportantespapéisacumprir,nacriaçãodeestímuloseapoios adiferentesiniciativas,acompanhandoeavaliandoosresultadosglobais,ecriandoum marcoregulatórioquevalorize,enãoiniba,asiniciativasmaispromissorasdosdiversos agentesenvolvidosnaeducaçãomédiaemtodososseusníveis.Masistodevesefeitode forma modesta, abrindo espaço para experiências, respeitando as iniciativas locais e levandoemcontaaexperiênciainternacionalemtodasuacomplexidade,enão,como muitasvezesseapresenta,deformaimperial. 166 Quadros Quadro1-Proporçãodeestudantesdenívelmédioemcursostécnicos,regiõese países 167 Quadro2–MatrículasnoensinomédionoBrasil,2015 Count MatrículasnoEnsinoMédionoBrasil,2015 Federal medio EnsinoMédio Propedêutico Ensino Normal/Magistério Cursotécnico integrado Cursotécnico concomitanteemixto Cursotécnico subsequente TécnicoEJA EJA-EnsinoMédio Total Total Estadual Sindicatosde Privadocom trabalhadores esemfins oupatronais, Municipal lucrativos associações SistemaS Total idade % média feminino %noturno 22,049 6,510,140 37,503 913,217 46,987 60,569 7,590,465 16.6 52.4% 24.5% 314 84,551 3,592 4,975 477 10 93,919 21.7 87.4% 40.2% 133,562 224,739 9,798 19,020 2,678 1,969 391,766 16.3 50.4% 2.8% 41,935 148,654 7,120 169,260 6,542 138,298 511,809 20.8 51.2% 54.4% 139,985 9,301 1,611 348,757 142,886 21,593 1,098,753 8,231,316 8,634 840 32,655 100,142 402,393 6,149 71,874 1,586,888 15,786 255 3,272 75,997 80,051 789,735 90 38,228 62,033 1,270,198 343,020 10,686,120 27.7 29.5 26.6 20.8 55.4% 63.8% 52.0% 51.9% 63.7% 82.3% 93.5% 34.5% Fonte:CensoEscolarde2015(tabulaçãoprópria) Quadro3–Eixosdeformaçãotécnicaprofissional,portipodeinstituição Count Total eixos Eixosdeformaçãotécnicaprofissional,portipodeinstituição Sindicatos e Federal Estadual Municipal Privada associações SistemaS Total AmbienteeSaude 31,133 79,091 4,676 250,305 4,146 32,480 401,831 Gestãoenegócios 40,431 172,224 7,699 81,079 9,451 39,184 350,068 Controleeprocessosindustriais 56,266 57,376 2,012 80,722 3,711 68,916 269,003 Informaçaoecomunicação 55,731 89,401 4,368 46,767 825 18,686 215,778 Segurança 15,700 21,467 1,187 58,778 964 28,407 126,503 Recursosnaturais 40,695 38,464 1,136 10,639 3,258 2,134 96,326 Infraestrutura 25,879 19,458 1,307 28,442 906 7,080 83,072 ProduçãoIndustrial 18,371 16,614 2,231 14,091 938 11,540 63,785 ProduçãoculturaleDesign 4,010 13,016 1,235 13,415 813 7,268 39,757 DesenvolvimentoEducacionaleSocial 14,966 11,766 108 5,571 72 547 33,030 Turismo,hospitalidadeeLazer 7,775 12,402 331 5,717 140 2,303 28,668 Produçãoalimentícia 13,402 6,432 40 929 37 1,863 22,703 Militar 424 161 62 367 0 0 1,014 Total 324,783 537,872 26,392 596,822 25,261 220,408 1,731,538 Fonte:CensoEscolar2015(tabulaçãoprópria). 168 Quadro4–Posiçãonomercadodetrabalhoporeducação Posiçãonomercadodetrabalhoporeducação(populaçãode18a50anosdeidadeem12/2015)(percentagens) Níveisdeeducação sem Ocupações fundamental fundamental médio Superior Total Dirigentesegerentes 0.8% 1.7% 3.6% 11.0% 3.6% Profissionaisdasciênciaseintelectuais 0.2% 0.5% 2.5% 42.5% 7.5% Técnicoseprofissionaisdenívelmédio 0.7% 1.7% 10.7% 12.0% 6.7% Trabalhadoresdeapoioadministrativo 0.8% 3.0% 9.0% 7.9% 5.6% Trabalhadoresdosserviços,vendedoresdos comérciosemercados 10.0% 16.7% 20.2% 7.8% 15.0% Trabalhadoresqualificadosdaagropecuária, florestais,dacaçaedapesca 8.3% 3.4% 1.4% 0.4% 3.5% Trabalhadoresqualificados,operárioseartesõesda construção,dasartesmecânicaseoutrosofícios 13.1% 14.2% 8.9% 1.7% 9.8% Operadoresdeinstalaçõesemáquinase montadores 6.7% 9.1% 6.5% 1.0% 6.1% Ocupaçõeselementares 23.7% 17.9% 7.9% 0.9% 12.8% Membrosdasforçasarmadas,policiaisebombeiros militares 0.0% 0.3% 1.1% 1.6% 0.8% Ocupaçõesmaldefinidas 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% 0.0% Desempregados 5.9% 8.1% 8.5% 5.1% 7.2% Inativos 29.7% 23.5% 19.6% 8.1% 21.3% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% Totaldepessoas 26,981,447 15,449,247 40,260,925 14,548,451 97,240,070 Fonte:IBGEPNADcontínua4/2015 Quadro5–Rendamédiahabitualdotrabalho,porocupação ocupac VD4019Rendim.habitualqqtrabalho Rendamédiahabitualdotrabalho,população18a50anos NíveisdeEducação Ocupações Dirigentesegerentes Profissionaisdasciênciaseintelectuais Técnicoseprofissionaisdenívelmédio Trabalhadoresdeapoioadministrativo Trabalhadoresdosserviços,vendedoresdos comérciosemercados Trabalhadoresqualificadosdaagropecuária, florestais,dacaçaedapesca Trabalhadoresqualificados,operárioseartesões daconstrução,dasartesmecânicaseoutrosofícios Operadoresdeinstalaçõesemáquinase montadores Ocupaçõeselementares Membrosdasforçasarmadas,policiaise bombeirosmilitares Ocupaçõesmaldefinidas Total Fonte:IBGEPNADcontínua4/2015 semfundamental fundamental 2,569.93 2,465.50 1,911.76 1,443.22 1,522.86 1,541.96 1,150.26 1,185.84 médio 2,951.43 1,524.17 1,797.80 1,298.32 Superior 6,095.22 4,312.43 3,735.75 2,155.50 Total 4,321.95 3,880.55 2,301.69 1,465.07 1,006.99 1,132.42 1,354.09 2,669.94 1,353.57 864.66 1,128.82 1,498.37 4,210.66 1,062.13 1,269.45 1,410.55 1,578.78 2,887.92 1,460.00 1,370.80 761.19 1,488.94 891.51 1,644.80 949.23 2,728.36 1,746.51 1,551.70 848.32 1,926.01 1,000.00 1,025.69 2,078.12 1,333.20 1,227.95 3,230.57 1,364.90 1,544.58 5,552.85 2,000.00 4,067.07 3,861.12 1,358.89 1,836.03 169 Quadro6–Rendimentomensalemtodosostrabalhos,poráreadeformaçãodecurso superior Report Rendimentomensalemtodosostrabalhos Desvio númerode Areadeformaçãodecursosuperior Média Mediana padrão pessoas Administração 3,532.83 2,000.00 7,296.37 2,438,121 Professores 1,976.16 1,500.00 5,856.71 2,062,513 Direito 5,163.89 3,000.00 2,597.39 1,068,692 Saúde 2,646.01 2,000.00 12,605.18 817,477 Humanidades 2,372.90 1,600.00 4,483.60 648,176 Engenharia 5,817.07 4,000.00 2,976.24 535,026 Medicina,Odontologia 7,833.39 5,500.00 7,843.67 505,825 CienciasFísicas,Matemática 3,215.74 2,000.00 11,084.53 320,056 Serviços 2,677.81 1,800.00 4,558.64 311,503 EngenhariaCivileArquitetura 5,808.74 4,000.00 4,051.73 289,755 CursoSuperiorIgnorado 3,004.45 1,800.00 16,325.51 287,254 CienciasSociais 3,544.45 2,500.00 5,136.03 282,681 ComputaçãoeEstatística 3,827.49 2,800.00 5,565.11 215,968 Agricultura,Pecuária 4,407.85 3,000.00 4,269.63 213,577 Economia 5,548.60 3,500.00 10,857.97 195,515 CienciasdaVida 2,934.72 1,900.00 8,539.08 184,154 Jornalismo,Informação 3,454.47 2,300.00 6,293.80 181,326 ProcessamentodeDados 3,266.79 2,500.00 4,230.63 154,905 Artes 2,889.91 2,000.00 3,286.33 139,501 FabricaçãoeProcessamento 3,888.74 2,500.00 8,335.43 44,979 CursodePós-graduaçãonãospecificado 5,531.60 3,600.00 4,060.30 28,431 SetorMilitar 7,049.89 6,000.00 6,365.80 14,772 Total 3,634.48 2,000.00 6,633.69 10,940,303 Fonte:CensoPopulacionalde2010(amostra) 170 Quadro7–ModalidadesdeEducaçãoprofissionaltécnicadenívelmédio EDUCAÇÃOPROFISSIONALTÉCNICADENÍVELMÉDIO Forma Oferta Horas IntegradacomoEnsinoMédio regularmenteoferecido,naidade própria,nomesmoestabelecimento deensino. Mínimode3.000,3.100ou3.200horas,paraa escolaeparaoestudante,conformeahabilitação profissionalofertada. Mínimosde800,ou1.000ou1.200horas,conforme ahabilitaçãoprofissionalofertada,acrescidademais 1.200horasdestinadasàpartedaformaçãogeral, totalizandomínimosde2.000,ou2.200,ou2.400 horasparaaescolaeparaoestudante. ARTICULADA INTEGRADA IntegradacomoEnsinoMédiona modalidadedeEducaçãodeJovense Adultos(EJA),nomesmo estabelecimentodeensino. IntegradacomoEnsinoMédiono âmbitodoPROEJA(Decretonº 5.840/2006). ARTICULADA CONCOMITANTE SUBSEQUENTE Mínimosde800,ou1.000ou1.200horas,conforme ahabilitaçãoprofissionalofertada,acrescidasde mais1.200horasparaaformaçãogeral,devendo sempretotalizar2.400horas,paraaescolaeparao estudante. ConcomitantecomoEnsinoMédio regular,naidadeprópria,em instituiçõesdeensinodistintascom projeto.pedagógicounificado, medianteconvênioouacordode intercomplementaridade. ConcomitantecomoEnsinoMédio regular,namesmainstituiçãode ensinooueminstituiçõesdeensino distintas,aproveitando-seas oportunidadeseducacionais disponíveis. Mínimosde800,ou1.000ou1.200horas,conforme habilitaçãoprofissionalofertada,nainstituiçãode EducaçãoProfissionaleTecnológica,acrescidade mais2.400horasnaunidadeescolardeEnsino Médio,totalizandoosmínimosde3.200,ou3.400 ou3.600horasparaoestudante. ConcomitantecomoEnsinoMédio namodalidadeEJA,namesma instituiçãodeensinoouem instituiçõesdeensinodistintas aproveitando-seasoportunidades educacionaisdisponíveis. Mínimosde800,ou1.000ou1.200horas,conforme habilitaçãoprofissionalofertada,nainstituiçãode EducaçãoProfissionaleTecnológica,acrescidasde mais1.200horasnaunidadeescolardeEnsino MédionamodalidadedeEJA,totalizando2.000, 2.200ou2.400horasparaoestudante. EducaçãoProfissionalTécnicade NívelMédioofertadaapósa conclusãodoEnsinoMédioregular ounamodalidadeEJA. Mínimosde800,ou1.000ou1.200horasparao estudante,conformehabilitaçãoprofissional ofertadanaInstituiçãodeEducaçãoProfissionale Tecnológica. Mínimosde3.000,ou3.100ou3.200horas,paraas escolaseparaoestudante,conformehabilitação profissionalofertada,similaràofertanaforma articuladaintegrada. Ocursopodeincluiratividadesnãopresenciais,até20%dacargahoráriadiáriaoudecadatempodeorganização curricular,desdequehajasuportetecnológicoesejagarantidoonecessárioatendimentoporpartededocentese tutores. Ascargashoráriasdestinadasaestágioprofissionalsupervisionado,obrigatórioounão,emfunçãodanaturezados cursos,ouatrabalhodeconclusãodecursoousimilar,ou,ainda,aavaliaçõesfinais,devem,comoregrageral,ser adicionadasàcargahoráriatotaldosrespectivoscursos. 171 Quadro8-O“nãosistema”deEducaçãoProfissionalnoBrasil:dadoseestimativasda matrículaanual–2015 O“nãosistema”deEducaçãoProfissionalnoBrasil:dadoseestimativasdamatrículaanual–2015 Modalidades Matrículas (milhões) Gestão privada(%) Principaisofertantes a)Formal-visível Técnicosdenívelmédio(1) Superior–tecnológico(2) 9.2 1.7 1.0 72% 49% Redeprivada(incluiSistemaS) 86% Redeprivada(incluiSistemaS) Bachareladosdenívelsuperior(todasasáreas)(3) 5.3 78% EscolastécnicasdoSUS(40centros) Especialização,mestradoedoutorado(todasasáreas)(4) 0.8 64% 0.4 80% SistemaS+Terceirosetor Aprendizagem(Lei10.097/2000)(5) b)Informal,nãovisível(6) 27.1 Treinamentodepessoalnasempresas 9.8 EPcontinuadanoSistemaS(qualificação,aperfeiçoamento, especialização) 6.0 97% Fabricantes,fornecedores, 100% franqueadores 100% Senai,Senac,Senar,Senat,Sebrae Escolasprivadas(5,5milhões) +terceirosetor(3,3milhões)+ Cursoslivres/comunitários(7) 10.6 sindicatoseassociaçõesdeclasse(1,8 Formaçãoetreinamentodeservidorespúblicoscivise Ministérios,secretarias,escolas, militares(8) 0.7 fundações,escolasmilitares*** Total 36.3 90% Fontes:Atualizaçãodatabela30em{Castro,2006},comdadosdoCensoEscolar2015,CensodaEducaçãoSuperior2014,RAIS 2014eoutros. Fontes:Atualizaçãodatabela30em(Castro,Castro,andMonteiro2006,184)},comdadosdoCensoEscolar2015, CensodaEducaçãoSuperior2014,RAIS2014eoutros. (1)CensoEscolar2015.O"SistemaS"éadesignaçãoinformaldoconjuntodeServiçosNacionaisdeAprendizageme respectivosServiçosSociais(Senai-Sesi,Senac-Sesc,Senar,Senat-SesteSescoop),alémdoSebrae,quedefatosão independentesentresi.Os“S”têmgestãoprivada(acargodeconfederaçõesefederaçõesempresariais)e financiamentopúblico(tributossobreafolhadepagamento/faturamentodossetorescontribuintes). (2)CensodaEducaçãoSuperior2014. (3)CensodaEducaçãoSuperior2014..Excluindoaslicenciaturas (4)IBGE,PNADcontínua4/2015 (5).RAIS2014 6.“Informal/invisível”:acréscimode10%sobredadosdoIPEA(baseadosemreferênciasde2004-2005).Esse acréscimotomaporbase,paramenos,aexpansãodaPEAocupadaentre2004-2013(14%).ParaoSistemaS,foram utilizadosdadosdosrelatóriosde2013doSenai,Senac,Senar,SenateSebrae,semcomputartreinamentosofertados peloSesi,Sesc,Sest,incluídosnoestudodoIPEA. (7)"Oterceirosetor"brangeorganizaçõesdeinteressesocial,comunitárias,confessionaiseempresariais(Coelho 2002).PartedosegmentoseagreganoGrupodeInstituiçõeseFundaçõesdeEmpresas,cujoCensoregistra130 entidades(GIFE2013).AAssociaçãoBrasileiradeONGs,porsuavez,arrolaquase250entidadesemseurelatório trienal2010-13(ABONG2013).SegundooIBGEentre14,7milentidadessociaisprivadassemfinslucrativos existentesnopaísem2013,1,6milrealizavamatividadeseducacionais(IBGE2014). 172 8)MantidasporfundosprópriosdaMarinhaeAeronáutica,similaresaosquemantêmoSistemaS:Fundode DesenvolvimentodoEnsinoProfissionalMarítimo(Lei5.461/68)eFundoAeroviário(Dec.1.305/74).Asescolas tambémministramformaçãotécnicaesuperiorparacarreirasmilitares. Quadro9–Evoluçãodosestabelecimentosematrículasnoensinotécnicodenível médio,2002-2005 Brasil2002-2015:estabelecimentosematrículasnoensinotécnicodenívelmédio 2002 2015 variação2002/2015 Estabelecimentos Federal 138 573 415.2% Estadual 808 1913 236.8% Municipal 105 119 113.3% Matrículas(mil) Privada Total Federal Estadual Municipal 1750 2801 72.2 187.2 19.7 3378 5,983 324.3 537.9 26.4 193.0% 213.6% 449.2% 287.3% 134.0% Privada 285.9 842.5 294.7% Total 565.0 1,731.1 306.4% Fonte:INEP–SinopseEstatísticadoCensodeEducaçãoBásica–2002eCensoEscolarde 2015(tabulaçãoprópria). 173 Quadro10-Distribuiçãodamatrículanoensinotécnico,porregiãoedependência administrativa Distribuiçãodamatrículanoensinotécnico,porregiãoedependênciaadministrativa Norte Nordeste Sudeste Sul CentroOeste Total Estadual 32512 114857 91584 52805 33025 324783 Federal 25074 176179 217415 92289 26915 537872 Municipal 354 2136 22499 1119 284 26392 Privada 36612 142394 320501 68800 28515 596822 Sindicatos 763 3701 11425 8945 427 25261 SistemaS 13671 25621 103005 52445 25666 220408 108986 464888 766429 276403 114832 1731538 Fonte:CensoEscolasde2015 Quadro11-Evoluçãodasmatrículasnoensinotécnicomédio,segundoesfera administrativaemodalidades Brasil2008e2015-matrículasnoensinotécnicomédio,segundoesferaadministrativaemodalidades Federal Estadual Municipal Privada Total 2008 2015 2008 2015 2008 2015 2008 2015 2008 2015 Integrado 47,644 133,562 60,861 224,739 6,904 9,798 17,153 224,739 132,562 391,766 Concomitante 30,514 41935 156,948 148654 16,306 7120 178,798 148654 382,566 513,323 Subsequente 46,560 139985 100,811 142886 12,923 8634 257,551 142886 417,845 789,735 Total 124,718 315,482 318,620 516,279 36,133 25,552 453,502 516,279 932,973 1,694,824 Fonte:CensoEscolar2008e2015.ExcluindoeducaçãotécnicaemEJA.OsetorprivadoincluioSisstemaS. 174 Quadro12–Eixoseprincipaiscursosdeformaçãotécnica(matrículas,2015) Eixoseprincipaiscursosdeformaçãotécnica(matrículas,2015) 401,831Infraestrutura Enfermagem 190,161 Edificações Radiologia 39,903 outros MeioAmbiente 34,795 Outros 136,972 Produçãoindustrial GestãoeNegócios 350,068 Química Administração 158,348 outros outros 191,720 ProduçãoculturaleDesign Controleeprocessosindustriais 269,003 DesigndeInteriores Mecânica 65,617 outros Eletrotécnica 63,958 DesenvolvimentoEducacionaleSocial Eletrônica 27,918 SecretariaEscolar Eletromecânica 27,423 outros Mecatrônica 24,143 Turismo,hospitalidadeeLazer AutomaçãoIndustrial 22,032 Hospedagem Eletroeletrônica 14,934 outros outros 22,978 DesenvolvimentoEducacionaleSocial Informaçãoecomunicação 215,778 Secretariaescolar Informática 139,919 outros RedesdeComputadores 21,253 Produçãoaimentícia outros 54,606 alimentos Segurança 126,503 outros Segurançadotrabalho 125,206 Militar outros 1,297 Mecânicadeaeronaves RecursosNaturais 96,326outros Agropecuária 60,264 outros 36,062 Fonte:CensoEscolarde2015 AnbienteeSaude 83,072 68,484 14,588 63,785 36,391 27,394 39,757 9,679 30,078 33,030 12,332 20,698 28,668 7,714 20,954 33,030 12,332 20,698 22,703 10,462 12,241 1,014 556 458 175 Quadro13–Idademédiaesexodosalunosdecursostécnicos,oreixoetipodecurso, 2015 Idademédiaesexodosalunosdecursostécnicos,poreixoetipodecurso Idademédia Integrado Concomitante Subsequente(*) AmbienteeSaude 16.8 24.1 28.3 DesenvolvimentoEducacionaleSocial 16.7 31.3 36.0 Controleeprocessosindustriais 16.6 19.7 26.4 Gestãoenegócios 16.1 21.3 27.9 Turismo,hospitalidadeeLazer 16.6 20.3 29.7 Informaçaoecomunicação 16.1 17.5 26.1 Infraestrutura 16.5 21.2 26.8 Militar 25.0 23.7 Produçãoalimentícia 16.3 18.6 28.3 ProduçãoculturaleDesign 16.2 18.4 27.5 ProduçãoIndustrial 16.3 18.5 25.9 Recursosnaturais 16.4 18.7 25.8 Segurança 16.7 22.5 27.8 Total 16.3 20.8 27.7 Totaldematrículas 391,766 278,212 1,023,332 (*)Incluiosconcomitantesesubsequentesmixtos Fonte:CensoEscolar2015 EJA 29.6 34.3 29.7 29.4 32.9 28.5 30.0 30.2 32.3 38.1 26.3 28.9 29.5 38,228 %de mulheres Totalde matrículas 81.3% 84.6% 14.5% 62.6% 72.5% 36.4% 39.4% 18.5% 68.6% 66.0% 53.7% 42.1% 55.0% 53.8% 401,831 33,030 269,003 350,068 28,668 215,778 83,072 1,014 22,703 39,757 63,785 96,326 126,503 1,731,538 Total 26.7 35.2 23.0 24.2 24.9 20.5 23.2 23.8 21.9 23.7 21.7 19.5 26.5 24.1 1,731,538 Quadro14–Cursostécnicosàdistância CursosTécnicosàDistância Destaques: Apoena–CE-Técnicoemedificações,segurançadotrabalho,contabilidade,serviçosjurídicos,transações imobiliárias CETAP-Técnicoeminformática,contabilidade,logística,administração,secretariado,eventos,RH,secretaria escolar *InstitutoFederaldeSãoPaulo-Técnicoeminformática,administração,serviçospúblicos InstitutoMonitor–SPTécnicoemtransaçõesimobiliárias(corretores),administração,informática,logística, eletrônica,secretariado,secretariaescolar,petróleoegás,guiadeturismo,segurançanotrabalho InstitutoNacionaldeEnsinoàDistância-Técnicoemtransaçõesimobiliárias,administração,contabilidadee eletrônica InstitutoUniversalBrasileiro:Técnicoemtransaçõesimobiliárias,secretariado,comércio,logística,segurançado trabalho,secretariaescolar *SenacTécnicoemcomércio,gestão,informática,design,meioambiente,turismo,segurança *ServiçoNacionaldeAprendizagemRural-Senar-Agronegócio(iniciadoem2015) Exemplosdeexpansãorecente SecretariadeEducaçãodePernambuco:61polosqueofertamcursosdeAdministração,Biblioteca,Informática, Logística,MultimeiosDidáticos,RecursosHumanos,SecretariaEscolar,SegurançadoTrabalhoeServiçode RestauranteeBar.Crescimentodamatrículaentre2010e2014:presencial=de6,9milpara16,2mil;àdistância= 1milpara12,7mil.Metapara2016>passarde29para40escolastécnicas,comaumentotantodaoferta presencialcomoàdistância Links: www.apoenacursostecnicos.com.br www.cetap.com.br <www.ead.ifsp.edu.br> www.institutomonitor.com.br www.institutonacional.com.br www.institutouniversal.com.br> www.ead.senac.br www.etec.senar.org.br Programa Senai de Educação à Distância (PS EAD ), coordenado pelo Departamento Nacional, que inclui cursos técnicos e de qualificação. Oferta atual: 10 cursos técnicos à distância: Automação Industrial, Controle Ambiental, Edificações, Eletroeletrônica, Logística, Manutenção e Suporte de Informática, Meio Ambiente, Petróleo e Gás, Redes de Computadores e Segurança do Trabalho. Evolução da matrícula nos cursos técnicos à distância > de 592 em 2011 para 4,5 mil em 2014. Perspectivas da Educação à Distância: 10 novos cursos técnicos a partir de 2016 e desenvolvimentodeoutros10apartirde2015,chegandoa20%damatrículatotaldotécnicoem2018. *IntegrantesdaRedeE-TecBrasil Fonte:consultasàspáginasdasentidades(jun.-jul./2015)einformaçõesobtidasjuntoaoSenaieSecretariadaEducaçãodePernambucoemago./2015. 176 Quadro15–Principaismudançasnaaprendizagemprofissional(lei10.097/2000) PrincipaismudançasnaAprendizagemProfissional(Lei10.097/2000) Extensãodaidademáximade18para24anos,esemlimitenocasodepessoascomdeficiência; Obrigatoriedadedefrequênciadoaprendizaoensinobásico,controlada/apoiadapeloempregador-formador; Formaçãometódicacombinadaàpráticanaempresacontratantedoaprendiz,comduraçãoentre400-600horas,segundoconteúdosdefinidospelo MinistériodoTrabalho(*); ExecuçãodosprogramasporqualquerentidadecredenciadapeloMinistériodoTrabalho,(alémdoSistemaS)(**); Contratosdeaté24meses(eram36),registradosemcarteiraprofissional,comtodososdireitostrabalhistasassegurados(definidospelaCLTouporacordo coletivodacategoria)(***); Aberturaaempresasdesetoresnãoobrigadosamanteraprendizes(comobancoseautarquiasfederais). Ampliaçãodoelencoocupaçõeselegíveisparacálculodacotaobrigatóriaepadronizaçãodas“cotas”em5%dessasocupações(antesentre5-15%). Incentivosfiscaisetrabalhistasparacontrataçãodeaprendizesnasempresas(reduçãodoFGTSde8%para2%;eliminaçãodemultapordemissãodo aprendiz,pordesempenhoinsuficiente).; InserçãodaAprendizagemnoprotocolodefiscalizaçãodoMTE,acargodaSecretariadeInspeçãodoTrabalho,comequipesdeauditoresnas27UFs. (*)OMTEestabelececonteúdosespecíficos(técnicos)egeraisparaoscursos,abrangendoaspectoscomocidadania,saúdeesegurançanotrabalho, direitostrabalhistaseprevidenciários,prevençãodousodedrogaslícitasouilícitas,segurançapúblicaeconsumo(Portarias615/2007e1.003/2008). Oferecetambémmetodologiascomoos“arcosocupacionais”(queagrupamocupaçõescomafinidadestécnicas),paraosetorbancário,administrativoe desporto. (**)EstasinstituiçãoesdevemestarinscritasnoCadastroNacionaldeAprendizagemProfissional,regulamentadopelaPortaria723/2012.Desde2010,o MinistériodoTrabalhoofereceoselo“ParceirosdaAprendizagem”paraentidadesquesedestacamnaexecuçãodosprogramas. (**)EstasinstituiçãoesdevemestarinscritasnoCadastroNacionaldeAprendizagemProfissional,regulamentadopelaPortaria723/2012.Desde2010,o MinistériodoTrabalhoofereceoselo“ParceirosdaAprendizagem”paraentidadesquesedestacamnaexec (***)Nocasodeoutrosorganismospúblicos,oscontratossãointermediadospelaformadoraououtraentidadeprivada. Fontes:(Leite2015,BrasilMinistériodoTrabalhoeEmprego2014,2015) Quadro16–característicasdoensinotecnológicodenívelsuperior CaracterísticasdoEnsinoTecnológicodeNível Superior Totaldematrículas 823,638 Modalidade: Presencial 511,076 Àdistância 312,562 Área CiênciasSociais,negóciosedireito 463,523 Ciênciasmatemáticasecomputação 114,092 Serviços 111,380 Outros 134,643 Mantenedora Presencial 56,273 PúblicaFederal 64,280 PúblicaMunicipal 4,367 Privadafinslucrativos 472,274 Privadasemfinslucrativos 226,444 %turnonoturno: 79.3% Fonte:CensodoEnsinoSuperior2014 177 Quadro17–EixoTecnológico–Gestãoenegócios EixoTecnológico:GestãoeNegócios Compreendetecnologiasassociadasaosinstrumentos,técnicaseestratégiasutilizadasnabuscadaqualidade,produtividadeecompetitividadedas organizações. Abrangeaçõesdeplanejamento,avaliaçãoegerenciamentodepessoaseprocessosreferentesanegócioseserviçospresentesemorganizações públicasouprivadasdetodososporteseramosdeatuação. Esteeixocaracteriza-sepelastecnologiasorganizacionais,viabilidadeeconômica,técnicasdecomercialização,ferramentasdeinformática, estratégiasdemarketing,logística,finanças,relaçõesinterpessoais,legislaçãoeética. Destacam-se,naorganizaçãocurriculardestescursos,estudossobreética,empreendedorismo,normastécnicasedesegurança,redaçãode documentostécnicos,educaçãoambiental,alémdacapacidadedetrabalharemequipescominiciativa,criatividadeesociabilidade. Cursostécnicoscompreendidos:TécnicoemAdministração;TécnicoemComércio;TécnicoemComércioExterior;TécnicoemContabilidade;Técnico emCooperativismo;TécnicoemFinanças;TécnicoemLogística;TécnicoemMarketing;TécnicoemQualidade;TécnicoemRecursosHumanos; TécnicoemSecretariado;TécnicoemSeguros;TécnicoemServiçosdeCondomínio;TécnicoemServiçosJurídicos;TécnicoemServiçosPúblicos; TécnicoemTransaçõesImobiliárias;TécnicoemVendas. Exemplo:técnicoemlogística-800horas Colaboranaelaboraçãodemanuais,procedimentos,diagnósticoserelatóriosdosprocessosdequalidadedasempresas.Registraocontroleda qualidade,emformuláriosespecíficosedeacordocomasnormasepadrõespreestabelecidos.Atuanaelaboraçãoeexecuçãodaauditoriainterna daqualidadeeacompanhaaauditoriaexterna.Divulgaosprocedimentosdequalidadeepropõeaçõesdeinformaçãoeformaçãoespecífica. Identificainconformidadesemprodutoseprocessos,suaspossíveiscausaseaçõescorretivasepreventivas. Possibilidadedetemasaseremabordadosnaformação:Qualidade;Normalizaçãoelegislaçãodaqualidade;Estatística;Planejamentoeauditoria; Comunicação;Produtividade;Contabilidade;Segurançaesaúdedotrabalho;Processosadministrativoseindustriais. Possibilidadesdeatuação:Instituiçõespúblicas,privadasedoterceirosetor;Empresasdeconsultoriaedeauditoriaedeformaautônoma. Infraestruturarecomendada:Bibliotecacomacervoespecíficoeatualizado;Laboratóriodeinformáticacomprogramasespecíficos 178 Quadro18-ProfissõesRegulamentadas:normasregulamentadoras. Certificadores/objetivos Conselhos Sindicato Junta Órgãospúblicos reservar disciplinar profissionais +DRT Comercial X X técnicodearquivo técnicoemespetáculose X diversões Corretordeimóveis X Corretordeseguros X despachanteaduaneiro X leiloeiro mototaxista/motoboy X Musico X representantecomercial X autônomo taxista X técnicoem X administração técnicoindustrial varia técnicoemprótese X dentária técnicoemradiologia X Atuário X TécnicoAgrícola X TécnicoemEnfermagem X TécnicoemEnologia X TécnicoemSaúdeBucal X X TécnicoemSecretariado X TécnicoemSegurançado Trabalho Técnicoemaeronáutica X Massagista X Totais(N=25) 13 8 Fonte:BRASIL.MinistériodoTrabalhoedoEmprego. X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X 5 1 12 X X 9 179 Quadro19-Exigênciasparacertificaçãodeprofissõesregulamentadas selecionadas não Exigências,requisitospara exame curso idoneidade exige médio idade certificação específico técnico médio técnicodearquivo X X técnico em espetáculos e X X X diversões corretorimóveis X X X corretorseguros X X X despachanteaduaneiro X X leiloeiro X X X mototaxista/motoboy X X X X Musico X X representante comercial X autônomo taxista X X X X técnicoemadministração X técnicoindustrial X técnicoemprótesedentária X técnicoemradiologia X X totais 4 5 8 4 8 3 Fonte:BRASIL.MinistériodoTrabalhoedoEmprego.ListagemdasProfissõesRegulamentadas:normas regulamentadoras 180 Referências ABONG. 2013. Abong 2010 a 2013; em defesa dos direitos e bens comuns (relatório trienal).SãoPaulo:ABONG. Almeida, Rita Kullberg, Leandro Anazawa, Naercio Menezes Filho, e Ligia Maria De Vasconcellos. 2015. 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