no contexto africano

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no contexto africano
REVISTA de TEOLOGIA
NO CONTEXTO AFRICANO
2014
Número - 001
Estudos de Teologia no Istha
Paz, Reconciliação e
Unidade no Contexto
Angolano
Perspectiva da Educação
Teológica no Contexto da
Serra Leoa
A Perspectiva Teológica de
África
A Teologia no Contexto Africano
Queremos dar-vos as boas vindas a uma nova experiência – uma Revista online com artigos da
autoria de teólogos africanos.
Algo de importante que temos aprendido nas últimas décadas é que as eternas verdades de Deus
devem enraizar-se e ter relevância onde quer que sejam aprendidas e vividas. A isso se chama o
“contexto” para o ministério.
A cristandade está a amadurecer e a crescer em África. A Igreja Metodista Unida tem 16 escolas
de teologia e colégios universitários para pastores no continente africano. Estes estabelecimentos
de ensino destinam-se a ajudar os cristãos, cuja fé é crescente, a ver as verdades eternas através
de uma perspectiva africana. Como é que a fé se aplica às suas vidas diárias? O que é que a
história que nos fala de “Alimentar 5.000” significa no meio da pobreza? O que é que o
“Príncipe da Paz” tem para dizer às nações africanas?
Em 2011, foi criada a African Association of United Methodist Theological Institutions
[Associação Africana das Instituições Metodistas Unidas de Teologia]. À medida que os
decanos e os professores se reuniam, isso permitia-lhes partilhar as suas celebrações e os seus
desafios e dificuldades. Também podiam falar, sob o ponto de vista teológico, sobre a sua
vocação e sobre os seus objectivos para moldar os líderes espirituais tendo em conta o futuro da
igreja. Com o intuito de expandir esse diálogo, criaram esta Revista chamada “A Teologia no
Contexto Africano”, para que estas conversas se possam realizar em todo o mundo.
A história de Pentecostes referente ao Espírito Santo conhecido em várias línguas, continua a ser
a história em África. As instituições de teologia em África usam três línguas principais, que são o
francês, o inglês e o português, para além dos dialectos locais e das suas variações,
nomeadamente o swahili e o shona. Apesar de não podermos publicar esta Revista em todas as
línguas, estamos a fazê-lo em três línguas.
Convidamo-los a ler e a partilhar estes primeiros artigos e a manter-vos atentos aos próximos
artigos que virão. Se quiserem entrar em contacto e conversar com a AAUMTI (African
Association of United Methodist Theological Institutions), recomendamos que comuniquem
directamente com o Presidente do Conselho Editorial, o Dr. Sidney Cooper, da Serra Leoa. O seu
email é [email protected].
Reverenda Dra. Rena M Yocom
Secretária Geral Adjunta
Formação do Clero e Educação Teológica
Junta Geral de Ensino Superior e Ministério
Igreja Metodista Unida
Contribuição pelo Professor Reverendo Nathanael Ohouo
ESTUDOS DE TEOLOGIA NO ISTHA
(Instituto Superior de Teologia de ABADJIN-DOUME na Costa do Marfim)
CONTEXTO E FUNDAMENTAÇÃO
A Universidade Metodista Unida na Costa do Marfim [Université Méthodiste Unie – Côte
d’Ivoire (UMECI)], através do ISTHA, como instituição de formação permanente para os
trabalhadores da Igreja Metodista Unida na Costa do Marfim, deve procurar organizar um
simpósio (conferência, seminário) em colaboração com as várias entidades implicadas na vida da
Igreja Metodista Unida na Costa do Marfim.
Porquê esta conferência?
Esta instituição de formação é muitas vezes interpelada através da pergunta que se segue:
Existe um equilíbrio perfeito entre a formação tal como a mesma é oferecida na sua
própria estrutura e os problemas com os quais as igrejas metodistas unidas se defrontam
e sobretudo as respostas que devem fornecer para os controversos problemas actuais que
assombram todas as mentes da população da Costa do Marfim?
A dita conferência tem de ser definitivamente organizada para servir de apoio a esta
problemática, tendo em conta que a necessidade mais premente que o ISTHA enfrenta
actualmente é o trabalho para reconciliar a formação teológica e o compromisso social das
igrejas.
Como é óbvio, todos os elementos da Igreja Metodista Unida são chamados a oferecer as suas
contribuições dado que:
As instituições de formação teológica e pastoral afastam-se cada vez mais das realidades da
sociedade. A razão deve-se ao facto de que os Pastores e os Teólogos se comportam
demasiadas vezes como “elites” acima das “massas populares”.
Infelizmente, as instituições de formação teológica e pastoral modelam muito frequentemente
o programa de ensino no programa das instituições ocidentais, as quais são, em geral,
inundadas de grandes teorias que, frequentemente, não possuem uma fundamentação
específica na vida quotidiana das populações.
A multiplicação dos centros de formação nas diversas regiões do continente africano requer
uma política global da sua rentabilidade, da sua complementaridade e da sua ligação.
Hoje em dia, as igrejas assemelham-se mais a centros de doutrinação e de formação;
parecem-se mais com instituições à procura de novos membros do que a ambientes e
locais através dos quais se providenciam ou se tentam providenciar soluções apropriadas
e duradouras para os desafios sociais dos nossos dias. Por conseguinte, pertence-nos a
nós optar por uma teologia realmente contextual, uma teologia que tem em conta os
2 valores do Evangelho e a sua integração na sociedade da Costa do Marfim. A missão da
Igreja consiste em acalentar e dar testemunho com base no Evangelho, espalhar as Boas
Novas, com vista a elucidar os homens e as mulheres sobre as situações sociais, culturais,
económicas e políticas do nosso país.
Numa sociedade da Costa do Marfim na qual os valores ancestrais já não têm direito a existir
e onde os jovens, sem qualquer ponto de referência, caem na droga, na delinquência, na
prostituição e na homossexualidade;
As perturbações sociopolíticas têm originado um clima de intolerância em todo o lado.
Todos os trabalhadores e todos os intelectuais só procuram fugir deste país para uma “vida
melhor” no ocidente, um ocidente que mal os aprecia e quer. A Igreja é desafiada por
uma sociedade africana que está em risco de explodir. Perante isto, que fazer?
Neste contexto, que constitui um novo desafio para a Igreja Metodista Unida da Costa do Marfim
(EMU-CI) e para o Evangelho, os futuros líderes da EMU-CI devem ser preparados com vista a
enfrentar o problema a fundo e a oferecer soluções concretas, justas e duradouras.
DENOMINAÇÃO
ISTHA DA UMECI - FORMAÇÃO TEOLÓGICA E PRÁTICA DA
TEOLOGIA OU PRÁTICA ECLESIÁSTICA
OBJECTIVOS
O objectivo global é o seguinte:
Redefinir a política da formação teológica.
Além disso, existem os objectivos específicos que se seguem:
Interrogar a sociedade sobre os problemas que a minam;
Procurar o esclarecimento da Bíblia;
Suscitar que as Igrejas discutam o seu compromisso social;
Capitalizar nas realizações;
Partilhar as experiências;
Iniciar um plano de acção prático.
BENEFICIÁRIOS
Os fiéis cristãos, tanto os homens como as mulheres;
Os professores e os alunos das diferentes instituições de formação em África;
Os dirigentes das Igrejas;
Os pastores;
As igrejas;
Os leigos detentores de responsabilidades específicas;
3 Os participantes sociais e políticos;
As organizações eclesiásticas.
RESULTADOS ESPERADOS
No âmbito da conciliação da formação inicial, da expectativa das Igrejas e da prática eclesiástica,
do compromisso das Igrejas para com uma sociedade mais justa e não violenta, este simpósio
espera obter os resultados que se seguem:
1. Uma nova interpretação da teologia que tem em conta a vivência quotidiana das
populações;
2. A elaboração de uma Teologia práxis comunitária;
3. Uma redescoberta assim como uma releitura do texto bíblico à luz dos problemas que
minam as nossas sociedades;
4. A emergência de uma nova pedagogia teológica e pastoral em ligação com a vivência
quotidiana das populações;
5. A introdução de novos métodos de disseminação do Evangelho;
6. A articulação de uma reflexão teológica em conformidade com o contexto de cada região
do continente africano;
7. A implementação de programas modulares de ensino pondo em evidência a relação entre
a teologia, a paz, a justiça e a reconciliação;
8. A emergência de uma nova sociedade;
9. Uma nova imagem e uma nova visão das Instituições de formação;
10. A aproximação das Instituições de formação entre si.
PLANO DETALHADO
As matérias ensinadas na Faculdade (UFR) de Teologia do ISTHA (Institut Supérieur de
Théologie d’Abadjin-Doumé) estruturam-se como nas outras Faculdades de Teologia Protestante
na Europa e em África em quatro campos disciplinares principais; por outras palavras, trata-se de
um conjunto de disciplinas que se agrupam em quatro ramos principais:
Disciplinas Bíblicas
· Antigo Testamento
· Novo Testamento
· Filologia Bíblica
Disciplinas Históricas
· História do Cristianismo Antigo
· História da Reforma
· História das Religiões (diversas expressões da religião)
Disciplinas Sistemáticas
· Dogmatismo
· Ética
· Filosofia da Religião
4 Disciplinas Práticas
· Teologia Prática
· Musicologia
· Sociologia
NB.:
O programa propõe uma formação em Ciências Bíblicas (Antigo e Novo Testamento), em
História do Cristianismo, em Teologia Sistemática e em Teologia Prática). São oferecidas
algumas cadeiras em Ciências das Religiões.
Todas estas disciplinas se caracterizam por uma diversidade de abordagens, mas têm em comum
a vontade de dialogar entre si e de se articular em volta da mesma consulta e da mesma pesquisa.
Examinemos em detalhe os elementos que constituem estes campos disciplinares.
Disciplinas Bíblicas
I - 1. O Antigo Testamento
O ensino do Antigo Testamento tem como objectivo:
•
•
•
•
•
O estudo dos diferentes livros da Bíblia Hebraica a que os cristãos atribuem o
nome de Antigo Testamento;
Um estudo sério da história e da literatura do Próximo Oriente antigo;
Iniciação da leitura e da crítica dos textos levadas a cabo pelos alunos que
frequentam estas cadeiras;
O conhecimento dos géneros literários e do universo conceptual dos antigos
israelitas, a partir do estudo das línguas dos antigos israelitas;
A percepção das questões teológicas dos livros do Antigo Testamento.
I - 2. O Novo Testamento
O estudo do Novo Testamento baseia-se na compreensão dos 27 livros que constituem,
incluindo o Antigo Testamento, os textos fundamentais do cristianismo.
A metodologia utilizada cobre uma vasta gama de elementos, nomeadamente:
• Análise de textos;
• História do cristianismo nascente;
• Conhecimento sobre o ambiente religioso judeu e o grego e daí, o estudo das
línguas do Novo Testamento.
• Estudo da teologia que se encontra incluída em cada texto. Trata-se de determinar
como, cada um à sua maneira, os autores do Novo Testamento decidiram dar
conta da irrupção de Deus na vida de todo mundo, através da vida, da morte e da
ressurreição de Jesus, o Cristo.
5 Disciplinas Históricas
O ensino da história do cristianismo compreende tudo aquilo que, nos séculos passados, foi
dito, feito ou pensado em referência directa ou indirecta ao cristianismo. Tem em consideração e
confronta:
1.
2.
3.
A doutrina e as práticas;
A teologia e os costumes;
As teorias da religião.
Este curso também introduz a aprendizagem dos métodos históricos, assim como a reflexão
sobre a validade do conhecimento e a compreensão da história.
Disciplinas Sistemáticas
Reflexão a fundo sobre o conjunto da fé cristã nas suas variadas relações com o mundo cultural e
religioso dos dias de hoje. A teologia sistemática abrange vários componentes didácticos:
•
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•
•
Dogmático;
Teologia fundamental;
Teologias contemporâneas;
Filosofia da religião;
Teorias da religião;
Ética.
NB.:
O ensino da ética baseia-se nas diferentes tradições representadas pela filosofia e pela teologia.
Os princípios fundamentais da ética relacionam-se com os fundamentos e os tipos de
argumentação provenientes da reflexão moral; as convergências e as divergências entre a ética
secular e a ética religiosa serão tidas em consideração. A ética aplicada, um outro elemento
essencial, realiza análises de estudos de casos em diferentes domínios de carácter humano e
social (sexualidade, medicina, política, ambiente, etc.).
Disciplinas Práticas
O ensino da Teologia Prática faz apelo às diferentes tradições representadas pela Prática da
Teologia, Sociologia, Musicologia, etc.
APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DO GRAU DE BACHARELATO
* Os Semestres de 1 a 5 proporcionam ao aluno a formação de base em Teologia Protestante.
Eis aqui os ramos disciplinares da teologia protestante:
•
•
Disciplinas Bíblicas (línguas antigas, Antigo Testamento e Novo Testamento);
Disciplinas Históricas (história das diversas expressões da religião: judaísmo,
6 •
•
cristianismo, maometismo, entre outras);
Disciplinas Sistemáticas (dogmática, ética, filosofia);
Disciplinas Práticas (teologia prática, musicologia, sociologia das religiões).
A estas unidades pedagógicas pertencentes ao estudo da Teologia Protestante acrescentam-se:
•
•
•
A formação em metodologia universitária;
A formação em cultura geral (durante os dois primeiros semestres), incluindo sessões
com dias consagrados à interdisciplinaridade em teologia;
A formação em línguas vivas, o que permite aos alunos aceder a literatura teológica não
francófona (por exemplo, em inglês).
* No fim do segundo e no início do terceiro semestre, os alunos frequentam um estágio de 60
dias de sensibilização às realidades profissionais (SRP).
* No sexto semestre, o aluno escolhe entre o curso de estudos fundamentais ou teóricos e o curso
de estudos aplicados ou práticos.
* O curso de estudos fundamentais ou teóricos aprofunda os campos disciplinares inerentes à
Teologia Protestante e prepara assim a entrada dos alunos num programa para a obtenção do
Mestrado. Este é o diploma exigido pela UMECI com vista à qualificação como membro do
clero.
* O curso de estudos aplicados ou práticos destina-se principalmente aos alunos que não
pretendem continuar para além do grau académico de Bacharelato em Teologia. Este curso
oferece uma prática pré-profissional específica, que propõe várias opções, nomeadamente, a
teologia prática, a sociologia, a musicologia, o diaconato, o acompanhamento e o
aconselhamento pastoral e a psicopedagogia.
Esta formação destina-se mais particularmente aos alunos que pretendem vir a ser catequistas,
educadores especializados ou assistentes sociais de obras eclesiásticas, músicos de igreja,
visitadores de doentes hospitalizados, etc.
OBTENÇÃO DA CARTA DE CURSO OU DIPLOMA DE BACHARELATO
Os estudos têm uma duração de seis semestres. O diploma de Bacharel é concedido após a
obtenção de 180 créditos (isto é, 30 créditos por semestre). Os créditos obtidos em outras
Faculdades podem ser apresentados à equipa de formação para a obtenção de validação. A
equipa de formação é responsável por todos os trâmites do curso e pela concessão do diploma ou
carta de curso.
7 GREJA METODISTA UNIDA.
CONFERENCIA ANUAL DO LESTE DE ANGOLA.
FACULDADE METODISTA DE TEOLOGIA DO QUÉSSUA.
ARTIGO PARA REVISTA DO ENCONTRO DA AAUMTI, CELEBRADO EM
NAIROBI, KENYA DE 15 – 17 /09 / 2013.
PERSPECTIVA TEOLÓGICA AFRICANA:
Paz, Reconciliação e Unidade no Contexto Angolano
O Deus da história da humanidade revela-se às nações e estas respondem através da sua religião.
Actos verdadeiros entre o Criador e o ser humano são interpretados e sistemátizados em
conhecimento teológico. A religião e a teologia devem caminhar de mãos dadas para se obter
uma experiência de fé que leve a uma perspectiva teológica equilibrada de paz, reconciliação e
unidade.
Se deve reconhecer que com a existência da Associação Africana das Instituições Teológicas da
Igreja Metodista Unida (AAUMTI), à África está dando passos significativos para a
materialização desta visão. Contudo, entende-se por Perspectiva Teológica Africana como a
maneira em que os africanos encaram e abraçam os conceitos teológicos dentro das suas
tradições religiosas e sócio-culturais. Tendo em conta a diversidade e também a complexidade
religiosa existente no continente berço da humanidade, a presente abordagem mostra a realidade
de Angola neste sentido. Não apenas por ser o contexto mais próximo, mas também porque é
deste lugar, cujas instituições de ensino superior teológico da Igreja Metodista Unida se fazem
representar no terceiro encontro magno organizado pela AAUMTI em Nairobi, Kenia do 15-17
de Setembro de 2013.
Semelhante ao que acontece com os outros povos africanos, os angolanos dentro das suas
tradições e culturas, também se podem considerar religiosos. Nos tempos dos seus ancestrais se
vivia uma realidade de fé que prevalece até hoje. Em todas as tribos do País se encontra um
nome para referir a Deus. Por exemplo, nas diferentes línguas nacionais de origem Bantu, se usa
um termo específico para o Ser Supremo que rege o curso da vida. O povo Kimbundu, Tchokwe
e Kikongo chamam Deus de “Nzambi.” Os falantes da língua Umbundu com a tribo do mesmo
nome Lhe atribuiem o nome “Suku.” Esses atributos a Deus servem de testimunha da fé prática
dos habitantes de Angola através dos tempos. Com a chegada dos missionários, se identifica a
divindade com o Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
Com tanta diversidade étinica e cultural existente nesse meio será possível a unidade na fé? Em
Angola a voz da paz falou mais alto que os gritos da guerra. Os filhos de Deus durante o combate
no campo de tiro que durou cerca de três décadas, isto é, de 1975 até o ano 2002, souberam
preservar a fé com a perspectiva da esperança. Foi uma fé unificadora que transformou o conflito
armado num ambiente pacífico. A paz é fundamental para qualquer sociedade, porque os seus
benefícios são visíveis aos olhos de todas as pessoas. Com essa tranquilidade nos dias de hoje se
pode materializar o mandamento de Cristo de levar as boas novas do reino de Deus à todos os
lugares (S. Mateus 28:19). Isso não seria possível quando uma nação se encontra num estado de
agitação militar. A calma vivida hoje traz consigo muitos benefícios, não só materiais, mas
também espirituais. Por exemplo, a distribuição equitativa dos bens da nação a todos, o desfrute
8 do sossego espiritual do ser humano no seu viver quotidiano, um clima de desenvolvimento
sócio-económico com a reabilitação de infransestruras, a melhoria de condições básicas da
população e além disso a unidade em meio da diversidade nos vários domínios: social, político,
económico, cultural e religioso.
Pelo accionar de Deus o País hoje respira os ares da paz. O contexto religioso, cultural e
teológico actual é diferente aos tempos de guerra. Pode-se alegar que a paz e a unidade da nação
foi possível porque os homens antes desavindos se entenderam. Mas, fazendo uma leitura
teológica na distância histórica revela - se uma paz que gerou a unidade somente pela graça de
Deus. Muitos anos de sofrimento fizeram com que pessoas de fé intercedecessem através da
oração à Jesus, o Rei da Paz que prefiriu entrar triunfalmente na cidade de Jerusalém montando
um jumentinho, símbolo de humildade e paz e não num cavalo que se traduz em poder e guerra.
Neste sentido, os factos desta história mais uma vez confirmam a palavra de Deus quando diz:
Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de
separação que estava no meio, na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos
mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar, em si mesmo, dos dois, um novo
homem, fazendo a paz, e pela cruz reconciliar ambos com Deus, em corpo, matando com
ela as inimizades (Efésios 2: 14 -16).
A carta do apóstolo Paulo aos Efésios, no capítulo dois, versículo 14, refere a paz usando a
palavra grega: eirhnh. Note-se que o substantivo feminino paz encontra-se na forma nominativa,
conferindo que a eirhnh que recebemos como resultado da morte de Jesus na cruz, também é
nossa. Deve-se lembrar a apresentação que usava Jesus para com seus discípulos e seguidores:
“paz seja convosco” (João 20:19).
No versículo 2:16 se estabelecem relações entre eirhnh e a reconciliação. Em língua grega, a
palavra que usa o texto bíblico referido acima, para referenciar a acção de reconciliar é:
apokatallaxh. O verbo reconciliar está conjugado no tempo verbal subjuntivo Aoristo activo, na
terceira pessoa do singular. Isso quer dizer que o autor da reconciliação é o próprio Jesus Cristo;
dele os homens recebem um grande legado, o ministério da reconciliação.
Os seres humanos para viverem unidos e em reconciliação uns com os outros necessitam
reconciliar-se primeiro com Deus e encontrar a paz de Jesus que ultrapassa os níveis de
inteligência da humanidade, como recorda as Escrituras “E a paz de Deus, que excede todo o
entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos, em Cristo Jesus (Filipenses
4: 7).
Será que os homens podem ter um acordo em meio do desacordo? A Igreja como veículo da
palavra do Senhor no mundo, cumpriu com a sua missão reconciliadora para aproximar as partes
angolanas em conflito até se alcançar este desiderato.
Na Bíblia encontramos um exemplo claro indicando que é possível conviver em paz e união,
mesmo que haja desentendimento e ruptura de laços de relacionamento interpessoal. Isto quer
dizer que ainda que não se concorde com o próximo, ela ou ele continua a ser parte importante
dentro do projecto divino. O livro de Actos, fala de uma briga ou desentendimento que aconteceu
9 entre o apóstolo Paulo e o seu companheiro de viagem missionária chamado Bernabé. Tudo
sucedeu porque enquanto Bernabé era de opinião que se levasse João Marcos na viagem que eles
estavam a fazer, Paulo por sua vez não concordava com essa ideia. Como resultado, Bernabé foi
acompanhado de Marcos para Chipre e Paulo tomou seu caminho para outro destino (Actos 15:
37-39).
Até aqui já não existem dúvidas de que houve um desentendimento entre os companheiros de
missão. Isso pode levar alguns de nós a levantar certas questões: será que Paulo, Bernabé e
Marcos ficaram desentendidos para sempre? O que terá acontecido nas suas vidas após dessa
discórdia? A resposta para essas perguntas podem ser encontradas na carta do próprio Paulo à
Filémon, onde dentre muitos companheiros que com ele colaboravam no ministério, Marcos
também foi mencionado “Saúdam-te Epáfras, meu companheiro de prissão, por Cristo Jesus,
Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, meus cooperadores.” (Filém vv. 23-24). Esse facto é
suficiente para mostrar que Paulo e Marcos apesar da divergência que tiveram, ainda voltaram a
se reencontrar e dar sequência juntos trabalhando para expansão do Evangelho. Esse é um
milagre que torna os desentendidos em cooperadores.
Sobre que ponto de vista o conflito deve ser encarado? É verdade que em qualquer parte do
mundo assim como aconteceu em Angola, o conflito traz consequências devastadoras a esfera da
individualidade e colectividade. Mas, dentro da perspectiva teológica, o povo africano serve de
encorajamento ao resto do mundo para apreciar o positivo no meio de um conflito.
Nelson Mandela, cristão Metodista, um dos mais proeminentes líderes africanos, é um grande
exemplo no processo reconciliador que reflecte o propósito de Deus para com o seu povo.
Mandela ficou preso 27 anos, mas quando foi posto em liberdade pouco tempo depois se tornou
Presidente da África do Sul. Muitos, talvez a maioria, pensavam que era justo que o recém-eleito
presidente fizesse uma retaliação pela humiliação e maus tratos a que foi imposto enquanto
estava preso. Mas, o estadista da nação Sul-africana não aproveitou da sua posição política para
expandir a vingança sobre os autores de seus muitos anos de sofrimento. Ele fez absolutamente o
contrário, optando pela via do diálogo, perdão e reconciliação. Em outras palavras, Mandela,
digno exemplo para imitar, fez dos seus inimigos seus cooperadores.
O ensino que se pode tirar desse facto mostra que desentendimentos podem ocorrer
frequentemente entre os seres humanos. Quando isso acontece, deve-se sempre procurar meios
pacíficos para resolver o problema e restabelecer os laços quebrados pela discórdia. Se assim se
fizer obter-se-ia como resultado o resplandecer do amor de Deus entre as pessoas. Nesta altura,
por causa de Cristo, já não haverá mais divergência, senão o perdão, já não se - sentira mais ódio,
nem animosidade, senão amizade, irmandade, companheirismo e cooperação entre todos.
A reconciliação é uma das causas teológicas pela qual Cristo sacrificou-se na cruz. Porém, a
teologia contemporânea deve ter este enfoque reconciliador no anúncio das boas novas no dia-adia.
A reconciliação encara a necessidade duma espiritualidade amadurecida. Trata-se de uma vida
vivida em cristo, cheia, guiada e habilitada pelo Espírito Santo. A espiritualidade que precisa o
crente para exercer o ministério da reconciliação; é uma vida como a que encarnou Jesus em
10 cada fibra de seu ser; uma vida ausente de vaidade e egoísmo; livre para obedecer a Deus. Paulo
Jimenez em seu livro: “Princípios da Educação Cristã”, expõe que um dos pilares do ensino
bíblico-teológico, é que o povo viva no mundo duma maneira responsável. “A educação Cristã
conduz a examinar e mudar nosso estilo de vida individual e social”; respaldada pela instrução
teológica que faz discípulos para à transformação do mundo.
Tendo em conta a necessidade da contribuição teológica no desenvolvimento social de uma
comunidade ou mesmo um país, é importante que as escolas teológicas de ensino superior e não
só em Angola, incluam nos seus curriculum académicos disciplinas que têm a ver com a matéria
na área de resolução de conflitos. As cadeiras de psicologia pastoral, aconselhamento pastoral,
teologia da reconciliação e outras ao estilo pedagógico de Jesus, devem ser preenchidas com
conteúdos bíblico-teológico social que respondam neste sentido à realidade actual de Angola em
particular e do continente africano em geral.
Considerando Jesus Cristo como alicerce da teologia, se deve iniciar a educação cristã desde à
infância, oferecendo um discipulado consciente e responsável.
A perspectiva teológica em África tem a possibilidade de reinterpretar a sua história social
apegando-se na pedagogia ao estilo de Jesus. A Dra. Mercy Nyman, especialista em pedagogia,
na sua palestra sob o título Pedagogia Científica e Dinâmica, ao corpo docente e discente da
Faculdade Metodista de Teologia do Quéssua, em Malanje-Angola, faz referência dos princípios
metodológicos, para obtenção da formação académica baseada numa edução científica e ao
mesmo tempo usando as experiências significativas vividas de cada pessoa. Nyman vai mais
longe quando define estas experiências valorosas como:
O encontro extraordinário, poderoso e transformador de diversas realidades vividas que
causam uma troca fisiológica no cérebro do ser humano, que mostra-se com a revelação
do conhecimento permanente e sem esquecimento e se faz presente como alicerces na
pedagogia científica e dinâmica (Nyman, Julho de 2013).
O processo do ensino aprendizagem que impacta o intelecto do ser humano e atinge a renovação
da maneira de pensar, até gerar o conhecimento qualitativamente superior inclui uma prática
pastoral que deve completar a formação teológica nas escolas de ensino superior a nível de
África. Jesus no seu ministério como Mestre aproveitou todos os sucessos da vida quotidiana,
para revelar a vontade de Deus e ensinar a partir da experiência de vida. Isto também é inspirador
para criar conhecimento autêntico que impeça esquecer o ensino na área de teologia a luz das
vivências e através das histórias dos diversos contextos africanos. É uma tarefa desafiante que
tem os teólogos hoje. Fazer teologia prática no meio da dor, desolação, desavença, fome,
ausência de teto, luto, marginalização e outras realidades difíceis de África, estimula a prosseguir
às raízes wesleyanas legadas pelo movimento metodista, na Inglaterra, no século XVIII;
desenvolver uma teologia prática do coração e da vida é o grande desafio.
A teologia actual em Angola desempenha um papel profético e visionário que corresponde às
experiências vividas pelo povo que habita nessa parcela do continente africano. De facto tem
conquistado um espaço social que influencia na evangelização da população angolana. Por
exemplo: todos os sábados no período da manhã o principal canal televisivo do País (TPA)
11 transmite integralmente o culto da Igreja Metodista Unida. Para além disso também existem
outras conquistas nos espaços radiofónicos tais como: a Rádio Kayros em Luanda, Ecos do
Evangelho, um programa ecuménico das igrejas Protestantes da Rádio Nacional de Angola e a
Voz do Senhor, um programa transmitido pela Emissora Provincial de Malanje. Nestas
experiências os teólogos angolanos aproveitam a oportunidade para apelar a sociedade em
relação a ética e formação de valores cristãos.
A preservação da paz, reconciliação e unidade nacional encabeçam a agenda quotidiana na
perspectiva teológica do país. As mulheres e homens comprometidos com a fé em Jesus Cristo, o
reconciliador perfeito, empenham-se em fazer um trabalho pastoral que faça com que os
objectivos já atingidos com a paz, a reconciliação e a unidade ao nível social sejam incluídos nos
lares de todas famílias angolanas. Pois, é das famílias pacíficas, reconciliadas e unificadas que se
construem sociedades justas e fortes. Angola está trilhando este bom caminho!
É óbvio que uma boa parte das famílias enfrentam ainda problemas que faz com que a
tranquilidade se distancie das mesmas. Contudo, acredita - se que estes problemas podem ser
ultrapassados pelo poder Divino permitindo que o sorriso resplandeça nos seus rostos e o raiar de
um novo dia venha cheio de graça. Essa é a esperança que faz com que o trabalho dos fiéis na
solidificação da Paz, Reconciliação e Unidade Nacional se inclua dentro da Perspectiva
Teológica Africana no contexto de Angola.
Por: Rev. Dr. Leonardo Garcia Salgado
Rev. Dra. Cleivy Benítez Rivalta
Rev. Mestre Bernardo André Luís
12 PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO TEOLÓGICA NO CONTEXTO DA
SERRA LEOA
REVERENDO DR. SIDNEY A. COOPER
O QUE É A EDUCAÇÃO TEOLÓGICA?
A educação teológica é o estudo da palavra de Deus. É centrada em Deus. É o tipo de formação
que se realiza em seminários, universidades e institutos de ensino superior. É uma formação
holística que abrange matérias tais como os Estudos do Velho Testamento, os Estudos do Novo
Testamento, a Teologia Sistemática, a Filosofia, a língua grega e a língua hebraica entre outras.
A educação teológica destina-se a moldar a mente, o corpo, a alma e o espírito através da
autoridade da Bíblia para a missão de Deus. Forma, guia e apresenta testemunhos aos alunos
para que estes conheçam Deus. Sem uma adequada e relevante educação teológica, o próprio
futuro da igreja, o seu diálogo com a sociedade e a sua participação na luta quotidiana e nos
desejos das pessoas comuns estão todos comprometidos e ameaçados. Quanto menos igrejas e os
seus responsáveis estiverem a investir na educação teológica, cada vez mais o futuro da
Cristianismo ficará nas mãos daqueles que promovem uma imagem deturpada da identidade
cristã e comprometem o diálogo e a coexistência com outras igrejas assim como com outras
tradições religiosas. A educação teológica é crucial para a interacção entre a igreja e a sociedade
onde tantas questões exigem uma posição perspicaz do cristianismo. O seu papel nunca se limita
unicamente à formação dos seus pastores, mas a atenção e a ênfase devem constituir a renovação
e a formação de todo o povo de Deus.
Sem um empenhamento aumentado na educação teológica em prol da justiça social, da unidade
da igreja, para criar a consciência social, o discernimento político, o envolvimento social e a
participação cristã no processo de transformação das sociedades, é possível que vejamos um
aumento da fragmentação da liderança cristã nas nossas igrejas crescentes da Serra Leoa que
precisam do nosso investimento. O único remédio adequado é o investimento na educação. A
falta de educação e de formação teológicas, muitas vezes, constitui uma das causas mais
profundas da ignorância sobre os contextos sociais. As igrejas que levam a sério a sua
responsabilidade pela educação teológica dos leigos e dos futuros pastores, que demonstram um
adequado sentimento de participação e que prestam apoio às igrejas em relação a todos os níveis
de educação teológica académica e não académica, estão melhor equipadas para contrariar e
impedir as tendências para as tensões na Serra Leoa dos dias de hoje. A educação teológica que
seja relevante para as realidades do contexto do continente africano e que se caracterize pelas
circunstâncias da vida será apreciada. Existe a necessidade de uma relevante educação teológica
para todo o povo de Deus, com o intuito de capacitá-lo a participar no ministério. Neste sentido,
as igrejas e os ensinantes teológicos são convidados a considerar muito seriamente a complexa e
variada natureza do contexto africano, assim como a elaboração de uma teologia em várias
línguas locais. É necessária a criação de novos métodos e de matéria de educação teológica à luz
dos determinados factores políticos, económicos e plurireligiosos da aldeia global.
13 A Natureza da Educação Teológica
A educação teológica possui algumas características especiais as quais a distinguem de outras
disciplinas pedagógicas. A teologia baseia-se no encontro com Deus e consiste na experiência e
na expressão do nosso encontro com Deus e na reflexão sobre este encontro. Como tal,
desenrola-se através da revelação e da reflexão. Todos os cristãos partilham o encontro com
Cristo que nos chama, que nos abraça no baptismo e nos integra na vida divina através do
espírito. A palavra de Deus dirige-se e abrange todos os cristãos. Por conseguinte, todos os
cristãos são chamados ao trabalho teológico.
Ao contrário de muitas outras disciplinas que se podem limitar a transmitir um conjunto de
conhecimentos, por natureza, a educação teológica implica a formação da fé, que empenha
plenamente uma pessoa. A educação teológica é um processo que tem várias implicações.
A educação teológica é uma jornada de fé que precisa de incidir sobre o desenvolvimento
espiritual e, no entanto, com toda a facilidade torna-se numa disciplina académica que
empenha a mente, mas não a alma. A experiência dos alunos nos seminários, muitas
vezes, torna-se numa experiência de secura espiritual. Apesar de os alunos entrarem no
seminário para aprofundar a sua fé, com muita frequência, sentem-se encurralados entre
este desejo e uma percepção de que não se sentem à vontade para revelar quaisquer
sentimentos de inadequação espiritual.
A educação teológica precisa de assegurar que ao formar as pessoas, não vai prejudicá-las.
Para algumas pessoas em África, a educação teológica, muitas vezes, tem sido dolorosa,
alienante e destrutiva. Muito poucos ‘espaços seguros’ têm existido nos seminários para
exprimir a nossa fúria ou para curar as nossas feridas à medida que tentarmos remediar
uma fé destroçada no conflito entre a teologia e as experiências vividas. A nossa teologia
debate-se com aquilo que significa ser uma África criada à imagem de Cristo. Será que
aqui, criámos Cristo à imagem ocidental, uma imagem de um branco abastado? Será que
os nossos irmãos e irmãs no ocidente assumem que a experiência de fé e de igreja é a
mesma para todas as pessoas, independentemente do local onde se encontram? Será que a
nossa formação da fé tem tido suficientemente em consideração os antecedentes culturais
e históricos, assim como o sexo dos alunos? A educação teológica tem de ser homogénea.
A formação que não consegue abordar as implicações de não contextualizar a formação
da fé arrisca-se a afastar-se da verdade ou mesmo a ser mais prejudicial do que benéfica.
Como é que vamos abordar estas questões? A nossa educação teológica deve permitir que os
alunos integrem a teologia com a sua fé no âmbito do seu próprio contexto. Quando
aprofundamos a nossa fé através da educação teológica, quer esta seja formal ou informal,
encontramos culturas que são diferentes umas das outras. Também encontramos vestígios de
culturas que floresceram entre dois ou quatro mil anos.
Para muitos de nós, a região do mundo sobre a qual se escreve, encontra-se muito longe de nós
geograficamente. Por conseguinte, existem dizeres e referências que pura e simplesmente não
compreendemos, dado que o nosso meio é tão diferente.
14 A educação teológica é um instrumento que tem por objectivo enriquecer as pessoas do ponto de
vista teológico. A palavra de Deus deve dirigir-se a todo o povo de Deus. Deve falar-nos na
nossa língua materna e não em latim, grego, hebraico ou seja qual for a linguagem teológica do
momento. Deus fala-nos na nossa cultura e não unicamente na nossa língua. A palavra tornou-se
humana para que os seres humanos possam ouvir, ver, sentir e aceitar a palavra de Deus e, desse
modo serem salvos.
A educação teológica pode valorizar as pessoas ou pode torná-las competentes para servir as
instituições relevantes. Deve valorizar e enriquecer todo o povo de Deus. Quanto melhor
conhecemos a nossa teologia, melhor podemos tomar decisões informadas a todos os níveis da
nossa fé.
Tudo isto estava nas mentes daqueles que se esforçaram por criar instituições teológicas na Serra
Leoa em 1975.
O Contexto da Serra Leoa
Teologia e educação teológica são conceitos extremamente difíceis de definir. A nossa definição
dependerá muitas vezes do nosso contexto, isto é, de onde vimos e o nosso ponto de entrada na
questão que se concentra à volta das nossas vidas, um Deus que é difícil de compreender. Por
conseguinte, não é possível concordar numa definição ampla, mas os eruditos reconhecem e
concordam que existe uma grande diferença de opiniões em relação àquilo que diferentes grupos
de pessoas consideram ser a educação teológica. Graças a Deus que o meu objectivo através
deste documento não se trata de decidir, mas simplesmente de compartilhar perspectivas sobre a
educação teológica.
Reconhece-se que a educação teológica, muitas vezes tem tido um papel essencial em relação ao
desenvolvimento de muitas nações do mundo, incluindo a Serra Leoa. Os primeiros
ensinamentos da igreja ajudaram a adaptar muitas das nossas leis, quer estas sejam escritas ou
não. Se aceitarmos que a educação teológica, na verdade, forma e tem impacto sobre a vida das
pessoas desde os seus primeiros anos, as nossas casas passam a ser a primeira sala de aula na
qual aprendemos a falar e a viver a solicitude e o amor de Deus.
Hoje em dia, muitas pessoas estão empenhadas em educação teológica sem saber que estão a
fazer teologia, tal como muitas pessoas têm tendência em conhecer a Deus sem ler sobre Ele na
Bíblia. Em África e em todo o mundo, os primeiros missionários eram professores, médicos e
administradores, cada um com o seu papel individual e tinham oportunidade tomar iniciativas de
liderança e mudar as suas atitudes, comportamentos e pontos de vista sobre a vida. Isso também
estimulou o desenvolvimento e o aproveitamento das aptidões instintivas.
Em 1975 o Instituto Superior de Teologia e de Gestão e Centro de Formação da Igreja
(anteriormente chamado Instituto Superior Teológico da Serra Leoa e Centro de Formação da
Igreja) foi estabelecido. Antes do estabelecimento deste instituto superior, os alunos para o
ministério ordenado em várias denominações eram formados quer na Faculdade de Teologia do
Instituto Superior de Fourah Bay ou no Instituto Superior Bíblico da Serra Leoa (actualmente
chamado Instituto Superior Evangélico de Teologia [Evangelical College of Theology – TECT]).
15 Durante vários anos, a Igreja Metodista Unida preocupou-se com a adequação do modelo
universitário para a formação pastoral de todos os candidatos ao ministério. Os dirigentes destas
três instituições reuniram-se em várias ocasiões para discutir esta questão e para orar por ela. A
Igreja Metodista Unida compreende a necessidade de criar a sua própria escola de Teologia com
a sua própria singularidade e identidade. O desejo de criar uma escola de teologia resulta dos
princípios específicos reivindicados pela nossa tradição metodista e pela nossa teologia
wesleyana.
16 A PERSPECTIVA TEOLÓGICA DE ÁFRICA
Preparado pelo Reverendo Nito Armando Joaquim e pelo Sr. Filipe Augusto Hoguane
Escola Teológica de Cambine
O tema da perspectiva teológica de África poderia ser compreendido como o desafio que os
africanos enfrentam de fazer com que a teologia do cristianismo se torne autenticamente
africana. A África deve ter os seus próprios teólogos, ou seja, teólogos africanos nascidos em
África, enraizados em África, assim como na cultura africana ou na filosofia africana,
responsáveis por pesquisar, explorar, analisar e envolver-se numa reflexão teológica profunda.
Tal como afirmou Gabriel Setiloane, compete aos teólogos africanos exprimir uma reflexão
africana sobre a Divindade, a partir de uma perspectiva proveniente de um contexto e de uma
cultura africana ao nível das bases e da população local. A perspectiva teológica de África apela
para que os teólogos africanos pensem, escrevam e vendam obras de teologia, porque a África é
rica e possui uma teologia oral. Tal como John Smith Mbiti declarou, “A teologia oral é criada
nos campos, pelas populações, através das canções, dos sermões, dos ensinamentos, das orações,
das conversas, etc. É a teologia ao ar livre, muitas vezes não gravada, muitas vezes ouvida
apenas por pequenos grupos de pessoas e, por conseguinte, não chega às bibliotecas e aos
seminários.
Como sabemos, desde o início, a missão cristã em África era cristianizar e civilizar todo o
continente africano. Por “civilização” entende-se que os africanos deveriam seguir a cultura
ocidental e, consequentemente, os africanos tinham perdido a sua própria identidade e filosofia.
Como tal, estas precisam de ser recuperadas para que os africanos possam passar a ser autênticos
africanos e verdadeiros cristãos. Segundo a opinião de B.S. Chuba na sua reflexão sobre o tema
da “teologia cozinhada numa panela africana”, esta é, por conseguinte, uma teologia pertinente e
adaptada a um determinado contexto, completamente criada pelos povos indígenas e na qual
estes participam com entusiasmo sem excluir a participação de povos provenientes de outros
contextos. Uma teologia cujo contexto é africano, cuja língua é africana, cujos defensores são
eles próprios africanos e cuja meta (objectivo resultante da fé) é africana.
Não obstante, é importante começar por referir que a maioria dos povos africanos no continente
vivem sob o peso da pobreza, calamidades naturais, doenças endémicas, desemprego, desrespeito
pelos direitos humanos, conflitos políticos e violência, assim como outros factores que
constituem grandes desafios para as instituições governamentais e não-governamentais,
incluindo as diversas religiões. Por conseguinte, dado que estamos a falar sobre a perspectiva
teológica em África, é essencial referir que Moçambique é um dos países africanos composto por
mais de 20.226.296 habitantes, de acordo com o senso de 2007, e está dividido em três regiões
geográficas principais, nomeadamente: o Norte, o Centro e o Sul de Moçambique, com as suas
ricas e diversas culturas e religiões.
Durante as últimas 3 décadas, algumas catástrofes naturais e de natureza política, fizerem com
que Moçambique se tornasse num dos países mais pobres de África e, consequentemente, de
todo o mundo. Estes e outros factores levam o país a manter-se dependente do apoio financeiro
internacional. Por conseguinte, a questão primordial sobre a qual os moçambicanos devem
17 reflectir refere-se à integração social, nomeadamente mais justiça e igualdade, liberdade do
exercício democrático, mais informações actualizadas, o direito de todas as pessoas à igualdade
de oportunidades, ao emprego, à educação e a uma boa saúde, a fim de abordar as elevadas taxas
de violência e de criminalidade, a pobreza, a SIDA e o VIH, entre outros problemas.
Consequentemente, a igreja tem de levar a cabo a sua missão, a missão do amor, da paz, da
liberdade, da justiça, da caridade e da solidariedade para todas as pessoas. Para cumprir a sua
missão, a igreja tem de formar as pessoas que poderão levar a mensagem de salvação a todos os
cantos do país.
Tendo em conta os desafios acima mencionados, a Igreja Metodista Unida em Moçambique
responde a estes problemas de várias formas. Entre estas, promovendo a educação através da
construção de escolas; providenciando os cuidados de saúde principalmente nas zonas rurais
através da construção de hospitais; através do abastecimento de água; oferecendo abrigo e
cuidados aos órfãos através da criação de orfanatos; proporcionando bolsas de estudo para o
ensino superior e outros tipos de formação social, quer para pastores ou para leigos, sem atender
à filiação religiosa ou à política dos beneficiários.
A história do Metodismo em Moçambique começou em 1890 na Província de MongweInhambane por um missionário chamado Erwin H. Richards proveniente da América do Norte
que era formado em medicina e no domínio pastoral. Trabalhava em conjunto com a sua esposa
Margheret e com a assistência da Igreja Metodista Episcopal. Algum tempo depois, fundou as
igrejas em Chicuque e em Cambine (ambas na Província de Inhambane, no Sul de Moçambique).
Estes dois locais passaram a ser a “panela” onde se “cozinhou” o metodismo africano e
moçambicano, usando um dialecto local, o CHITSUA, como a língua oficial para todas as
celebrações do culto e mesmo na conferência anual 99,9% das pessoas usam este coloquialismo.
Este artigo, cujo tema é “A Perspectiva Teológica de África” pretende examinar o crescimento
histórico do Seminário de Teologia de Cambine. Cambine é um seminário histórico que foi
criado há vários anos no seio da Missão de Cambine. Era uma simples escola bíblica criada para
dar a conhecer a Bíblia aos povos indígenas e ajudá-los a estudá-la. Desde o seu início, a missão
de Cambine começou com uma escola secular apenas para rapazes e um internato para raparigas
em Chicuque. A razão pela qual era apenas uma escola para os rapazes era porque nesta região
em particular e no Sul de Moçambique em geral, os rapazes e as raparigas não podiam receber a
mesma educação e no mesmo local, dado que os rituais africanos de preparação para os rapazes e
para as raparigas também eram separados nessa base.
O Seminário de Teologia de Cambine está situado na Província de Inhambane, no Sul de
Moçambique (África austral), e faz parte de uma Igreja Metodista Unida. A igreja tem duas
missões, nomeadamente, a missão de Chicuque e a missão de Cambine e é nesta última que se
localiza o Seminário de Teologia. Este está rodeado de Escolas Seculares (de nível O, de nível
superior e uma escola técnica e profissional), um centro de saúde, a paróquia de Cambine,
dormitórios para as mulheres e para os homens que frequentam as escolas seculares e outros
dormitórios para os estudantes de teologia. Também existe um orfanato e um projecto agrícola.
Em 1923, os missionários introduziram um programa de estudo da Bíblia com a duração de três
anos, a fim de formar elementos interessados da população local como pregadores e evangelistas.
18 Na sua obra intitulada “Church, State and People in Mozambique, an historical study with
special emphasis on Methodist development in the Inhambane region » [A Igreja, o Estado e a
População em Moçambique, um estudo histórico com ênfase especial no desenvolvimento
metodista na região de Inhambane] (1994, p. 275), Alf Helgesson estipula que, “durante os anos
1930, o encerramento de centenas de escolas rurais significava um número continuamente
crescente de alunos nestas Escolas Centrais”. Em 1941, pouco depois da Concordata e do acordo
missionário terem sido executados, havia 172 rapazes no internato de Cambine. Esse foi o ano
em que as Escolas Primárias Rudimentares do Governo português em toda a colónia foram
transferidas para diversas missões católicas. Este acontecimento parece ter acelerado o
crescimento das Escolas Centrais Protestantes. Em 1954, treze anos mais tarde, a Escola de
Cambine estava a transbordar com 1134 alunos.
A Escola de Teologia de Cambine abriu a 21 de Setembro de 1941; mais tarde, em 2007, era
conhecida como Seminário de Teologia, porque só formava pastores e pastoras. A mudança de
nome foi o resultado de uma longa discussão entre os alunos e o missionário brasileiro, Nadir
Cristiano de Carvalho, que era professor no Seminário de Teologia. O objectivo era de
diferenciar a educação secular da educação teológica. O primeiro grupo de alunos começou a
seguir uma formação teológica em 1942. Antes desse ano, os pastores tinham que receber a sua
formação fora do país.
Além disso, era preciso satisfazer certas condições necessárias para poder receber esta formação.
Uma das condições necessárias era ter frequentado com êxito uma formação bíblica, o que
poderia corresponder a quatro anos de estudos, e após isso era preciso demonstrar a sua vocação
ou o apelo divino para o aluno poder ser recomendado para frequentar uma escola de teologia
onde poderia passar mais quatro anos de estudos. Estes alunos deviam ser recomendados pelos
seus distritos eclesiásticos e deviam ser homens casados. Era um longo trajecto para atingir o
nível de formação teológica, dado que após ter concluído os seus quatro anos de estudos,
também era exigido que os candidatos tivessem alcançado a maturidade na sua vida cristã.
Deviam ser chamados por Deus ou demonstrar a sua dedicação à congregação local, através da
participação em todos os programas da igreja local e do distrito e manifestando o seu interesse
em frequentar os estudos bíblicos em Cambine, ou então, outros membros da igreja os
propunham para solicitar à igreja que os enviassem para Cambine, a fim de frequentarem os
estudos bíblicos. Se os candidatos cumprissem todas as condições necessárias com êxito,
poderiam então ser recomendados para continuar os seus estudos de teologia.
Desde 1963, a duração dos estudos bíblicos foi reduzida e os candidatos podiam passar, a partir
daí, dois anos de estudos bíblicos em Cambine e, depois disso podiam ser recomendados para
quatro anos de teologia. Além disso, de 1998 a 2009, os candidatos eram directamente
recomendados à escola de teologia durante quatro anos e, a partir de 2010, o período de tempo
dos estudos foi reduzido para três anos. Como se pode observar, a duração dos estudos no
seminário tem sido progressivamente reduzida. Por um lado, pode dizer-se que se trata de uma
consequência de problemas financeiros e, por outro lado, que é uma forma de estabelecer uma
ligação com os institutos governamentais que oferecem estudos com a duração de três anos.
Como já mencionámos, no início, este tipo de estudos era apenas oferecido aos rapazes. No
entanto, mais tarde, em 1977, duas mulheres foram aceites para frequentar os seus estudos de
19 teologia em Cambine, que ambas concluíram com êxito em 1979 e foram nomeadas como
pastoras da igreja. Muitas pessoas admiraram o seu sucesso, mas também pensavam em todos os
desafios e problemas com que estas pastoram se iriam defrontar no seu ministério pastoral. A
partir daí, o ministério das mulheres pastoras foi introduzido na Igreja Metodista Unida em
Moçambique e, em 2009, as mulheres pastoras celebraram, na missão de Cambine, os seus trinta
anos de ministério.
Para além dos seus estudos de teologia, todos os alunos também se dedicavam a outras
actividades, sobretudo à agricultura, à criação de animais e, as suas esposas também
frequentavam sessões de estudo da bíblia, e outras actividades como a costura, entre outras.
Como sabemos, dois anos após a independência do país, proclamada a 25 de Junho de 1975,
Moçambique viveu uma guerra civil que durou cerca de 16 anos e que acabou no fim de 1992.
Em Outubro de 1986, Cambine sofreu ataques de guerrilha incríveis e a população fugiu. A
escola de teologia foi fechada. Reabriu em 1994, após o acordo de cessar-fogo entre a RENAMO
e o Governo (Acordo Geral de Paz). Neste processo, a RENAMO era liderada por Afonso
Macacho Marceta e o Governo da FRELIMO era liderado por Joaquim Alberto Chissano (o
Presidente da República de Moçambique). Este acordo permitiu que as populações de diferentes
regiões pudessem continuar as suas actividades e os seus estudos. O Seminário de Teologia de
Cambine encontrava-se relativamente perto do local onde decorreu este acontecimento histórico.
O Seminário de Teologia de Cambine tem diplomado centenas de ministros, homens e mulheres,
que têm ido trabalhar em diferentes paróquias da Igreja Metodista Unida, e alguns deles que
passaram a ser bem conhecidos no seio do governo. Actualmente, o seminário tem 26 alunos;
quatro são casados e os outros ainda são solteiros, entre os 20 e os 37 anos de idade. O corpo
docente é formado por 9 professores, 3 missionários provenientes da Alemanha, do Burundi e do
Brasil e é considerado um dos melhores corpos docentes dos seminários locais do país. Os
professores são diplomados por institutos de ensino superior muito conceituados. O Reverendo
Thomas Gunther e a Reverenda Maisa Gomes de Oliveira são missionários oriundos da
Alemanha e do Brasil. Ambos são titulares de graus académicos e a reverenda frequentou cursos
acelerados de inglês na Universidade de África. Dioudone é um outro missionário oriundo do
Burundi e é titular de um diploma da Faculdade de Agronomia, da Universidade de África, no
Zimbabué.
Os outros seis professores são moçambicanos que obtiveram os seus diplomas na Universidade
de África, com excepção do bispo reformado, João Somane Machado, que se formou na
Universidade Metodista de São Paulo, no Brasil e é titular de um mestrado da Universidade
Protestante de Kinshasa, na República Democrática do Congo. Júlio André Vilanculos, o Decano
do seminário, é actualmente um candidato a doutoramento pela Universidade de Pretória, na
África do Sul (ensino à distância). É titular de um bacharelato e de um mestrado da faculdade de
teologia da Universidade de África, no Zimbabué. O Reverendo Moisés Gujamo é titular de um
bacharelato da faculdade de teologia e de um mestrado em filosofia da Universidade de África; o
Reverendo Nito Armando Joaquim, a Reverenda Iliana Lucite Pereira e Filipe Hoguane são
todos titulares de bacharelatos da faculdade de teologia da Universidade de África.
Dado que estamos a reflectir sobre o tema da Perspectiva Teológica de África, a missão do
20 Seminário de Teologia de Cambine é formar, instruir e edificar líderes cristãos para servirem a
igreja e a sociedade. (Por exemplo, Leonardo Massango, um pastor diplomado por esta Escola de
Teologia, e nomeado para o Norte de Moçambique, serviu como director da Comissão Nacional
das Eleições na província de Cabo Delgado, e depois, foi chamado para trabalhar no
departamento nacional onde se encontra até agora). Com base nesta perspectiva, os alunos são
formados para serem criativos, independentes no seu trabalho e decisivos nas suas reflexões e
nas suas acções. Isto transforma os espíritos colonizados, desenvolve a sua fé num contexto
africano e ajuda os alunos a dedicar-se arduamente às suas tarefas. Este Seminário de Teologia
ajuda os alunos ou os pastores formados a procurar a justiça, a paz, o amor e a minorar o
sofrimento humano na comunidade, ajudando os seus membros a descobrir e a utilizar certos
recursos locais, com vista a desenvolverem projectos e aumentarem os seus rendimentos. O seu
objectivo é garantir a educação, a formação dos pastores locais (pregadores leigos com
responsabilidade pastoral) e a promoção de sessões de formação prática para os pastores no
ministério (pastores ordenados). Tendo isto em conta, são desenvolvidas certas áreas, tais como o
aconselhamento pastoral e bíblico, a história e a teologia wesleyana. Com o intuito de
desenvolver e de actualizar as suas actividades, o seminário estabeleceu parcerias com outras
escolas de teologia. Além disso, existe um projecto chamado SOL_AFRICA através do qual o
seminário envia leitores universitários para a Faculdade de Teologia no Brasil (Universidade
Metodista de São Paulo, no Brasil), para que estes recebam formação em certas áreas. O
seminário também envia um leitor para o Seminário de Teologia Unido de Ricatla (Maputo,
Moçambique) para ensinar o Metodismo e a Teologia Wesleyana durante um semestre.
A biblioteca está bem equipada, dispondo de obras sobre teologia e filosofia, dicionários de
português, livros de história, entre outros, mas a maior parte destas obras não são da autoria de
autores africanos nem de teólogos africanos. Um grande número destas obras são em português,
mas no contexto da América Latina e no contexto alemão, porque foram traduzidas para
português a partir do alemão e outras obras são da autoria de eruditos brasileiros. Também
existem muitas obras em inglês, mas estas são principalmente utilizadas pelos professores e por
alguns alunos. A falta de obras da autoria de teólogos africanos, que poderiam oferecer a verdade
e as reflexões do contexto africano, é um grande desafio que deve ser resolvido. Neste
Seminário, em geral, os professores trabalham arduamente, lendo textos provenientes de outros
contextos, de outras culturas e de outras perspectivas e, depois, têm de apresentá-los às mentes
africanas que vivem uma realidade muito diferente daquela que viviam os autores dos ditos
textos. Por conseguinte, os professores devem contextualizar o seu ensino, para poderem
responder às realidades dos africanos. Por exemplo, existe um curso chamado “A Teologia
Africana”, mas existem apenas quatro obras da autoria de teólogos africanos. Por conseguinte, as
obras de teologia da autoria de autores africanos seriam extremamente vantajosas tanto para os
alunos como para os professores. A maior parte destes livros são obtidos através de doações
feitas por certos missionários e universidades, em particular pela Faculdade de Teologia de São
Paulo, no Brasil, assim como por outras entidades.
Para que este Seminário funcione da melhor forma, existe uma excelente organização estratégica,
pedagógica e administrativa. Esta organização corresponde aos objectivos e à alta qualidade do
programa de estudos, respeitando simultaneamente os princípios concebidos pela Junta de
Ensino Superior e Ministério Ordenado, assim como as realidades concretas do processo e do
desenvolvimento do ensino teológico, tanto a nível nacional como internacional.
21 Desde o primeiro ano dos estudos, os alunos começam a trabalhar numa paróquia local como
auxiliares do pastor ou do capelão, obtendo dessa forma uma experiência prática; no segundo
ano, trabalham em outras paróquias pertencentes à Igreja Metodista Unida, durante os fins-desemana. Prestam ajuda aos pastores na celebração dos sacramentos e dos casamentos, na oferta
de aconselhamento pastoral, nos projectos e nas reuniões da igreja, etc. Isso ajuda os alunos a
conhecer, a familiarizar-se e a experimentar a prática da teologia. Discutem certas questões
problemáticas ou dificuldades, que têm de resolver na prática.
Além do mais, este Seminário é abençoado por ter professores dedicados e bem equipados,
formados não só em teologia, mas cuja maior parte já tinham sido professores em escolas
seculares e outros continuam a trabalhar como professores em estabelecimentos de ensino do
governo. Um grande número de professores formou-se na Universidade de África. Estes
professores participaram e organizaram muitas sessões de formação prática e teórica e alguns
deles especializaram-se em certas áreas, a fim de desenvolver os temas de uma perspectiva
teológica africana.
Em relação às parcerias, o Seminário é membro de uma associação de instituições que ensinam a
teologia evangélica em Moçambique. Desta forma, a instituição está em vias de ser reconhecida
pelo governo. Em relação a isso, os professores são chamados para participar em debates ou em
sessões de formação.
Tal como outras instituições em funcionamento em África, o seminário também enfrenta vários
desafios, nomeadamente:
1) Em matéria de salários: como indicámos anteriormente, todos os professores obtiveram os
seus diplomas em universidades, mas nenhum deles recebe um salário compatível com as suas
habilitações. Por outro lado, os salários não são pagos a tempo, e por vezes, os professores não
são pagos durante quatro a cinco meses. Por isso, os professores têm de dedicar-se à agricultura e
à criação de galinhas, para obter algum rendimento adicional. Não obstante, os alunos recebem
os seus subsídios mensais da parte da Conferência Anual do Missouri, e não precisam de muito
apoio financeiro da parte das suas famílias.
2) Em matéria de transporte: o seminário está situado no interior do país, o que quer dizer que se
encontra longe da estrada principal. Por isso, torna-se difícil para os professores e para as suas
famílias obter o transporte necessário para poder ir fazer compras na cidade ou vila.
3) Em matéria de alojamento: os edifícios do seminário e de toda a missão de Cambine são
bastante velhos, estão em mau estado e são praticamente inabitáveis. As famílias sofrem muito,
sobretudo durante a estação das chuvas.
Por outro lado, existe um outro desafio que o seminário tem de enfrentar, referente à formação de
professores. Temos três professores com bacharelatos, que gostariam de continuar os seus
estudos; infelizmente, não existem nenhuns fundos nem meios para os ajudar a continuar a sua
formação. Por conseguinte, torna-se um desafio para o seminário descobrir parceiros que possam
ajudar os ditos professores e também alguns excelentes alunos diplomados, a continuar os seus
estudos.
22 No entanto, Cambine não representa apenas desafios; também existem factores positivos, tais
como:
1) A formação das esposas: existe um projecto para a formação das esposas dos professores em
residência e dos alunos em vários domínios com o objectivo comum de obter autonomia
económica; especificamente, aprendem a utilizar máquinas de costura e frequentam também
sessões de estudo da Bíblia.
2) Projecto de sensibilização sobre o VIH/SIDA na sociedade: o Seminário oferece um curso
para instruir os pastores sobre como viver e trabalhar com as pessoas infectadas pelo VIH/SIDA
e com as pessoas que sofrem as consequências. Cremos que isto contribuirá para a redução do
número de mortes devido a esta pandemia.
Perspectivas: um projecto a favor da auto-sustentabilidade – o Seminário está a criar um projecto
agrícola que tem por objectivo a formação agrária dos alunos de teologia. Isso deve-se ao facto
de que a maior parte dos nossos alunos depois de terem terminado os seus estudos trabalharão
em zonas rurais e, em alguns casos, sem salário. Por conseguinte, conhecimentos sobre certas
técnicas de produção agrícola e pecuária poderão ser úteis nas suas vidas, para que não tenham
de depender das contribuições financeiras de leigos.
Para concluir, os missionários proclamaram e ensinaram o evangelho aos africanos, mas fizeramno no seu próprio contexto. Esqueceram-se de responder às realidades dos africanos. Por
conseguinte, os próprios africanos devem desenvolver uma teologia enraizada na cultura
africana. Precisamos de descolonizar as nossas mentes da filosofia ocidental e devemos pôr em
primeiro plano a mente e o espírito africano. Por outras palavras, devemos compreender e
interpretar a Bíblia no contexto africano.
A parede de pedras amareladas pertence à capela, que está ligada à escola de teologia, e tem
capacidade para entre 80 e 100 fiéis praticantes. A escola tem quatro salas de aula, um escritório
para o decano ou a diaconisa, uma biblioteca e um escritório para o/a secretário/a, e uma capela.
23 Outra perspectiva visual do Seminário de Teologia de Cambine
Harvey J. Sindima, Drums of Redemption: an Introduction to African Christianity [Tambores da Redenção:
Introdução à Cristandade Africana]; Westport, London: Praeger, 1994, Pg. 155
Klaus Fiedler, at all, Theology Cooked in an African Pot [Teologia Cozinhada em Panela Africana], Zomba:
ATISCA, 1997, Pg. 45
Documento de proposta de regulamento interno da Escola Teológica de Cambine na sua página 2 (do documento
oficial dos regulamentos internos do Seminário de Teologia de Cambine).
24