Cristiano Ronaldo nasceu porque o doutor se negou a fazer o

Transcrição

Cristiano Ronaldo nasceu porque o doutor se negou a fazer o
Uma família pobre, um matrimónio infeliz, a
vida segue!
Cristiano Ronaldo nasceu
porque o doutor se negou a
fazer o aborto que pedia a
mãe: fala ela
Cristiano Ronaldo, a sua bonita namorada russa Irina Shayk, a sua orgulhosa mãe que tentou abortá‐lo quando viviam na pobreza e o presidente do governo da sua região natal a Madeira
Actualizado 19 de Julho de 2014
Paulo Sousa Costa / La Razón
O jogador de futebol português Cristiano Ronaldo tem 29 anos e um salário
em 2014 de 21 milhões de euros no Real Madrid. É o maior goleador da
história da selecção portuguesa, o português que mais goles marcou na
Champions League, o madrilhista que menos jogos necessitou para alcançar os
cem golos na Liga, o primeiro futebolista na história da Liga que conseguiu
marcar a todas as equipas com que se enfrentou numa temporada, e o único
futebolista que conseguiu marcar em seis visitas consecutivas ao Camp Nou.
Tudo isso (e muito mais) pode ter-se perdido se um médico tivesse cedido aos
medos e desespero da sua mãe e o tivesse abortado a seu pedido. A sua mãe,
Maria Dolores dos Santos Aveiro, contou-o numa biografia recente. A Razão
publicou este extracto.
***
Nervosa e com medo, Maria Dolores sabia que tinha chegado o dia. Tinha que
falar com o médico e pedir-lhe que pusesse fim à sua gravidez. Era a sua
quarta gravidez, que tanto a preocupava e que tantas dificuldades ia trazer à sua
casa. Tendo em conta o pedido da afligida mãe, as palavras do médico não
poderiam ter sido mais lacónicas.
– De nenhuma maneira! Você têm só trinta anos e nenhuma razão física pela
qual não possa ter este bebé. Já verá como é a alegria da casa!
Dolores começou a chorar: não podia crer que não tivesse a conivência
do médico para levar a cabo a interrupção. Mas pior ainda foi o comentário
sobre a alegria que traria o bebé quando ela não sabia nem como ia alimentá-lo
quando nascesse.
Regressou à sua casa derrotada pelo medo ao que o futuro lhe depararia. Não
estava convencida de que aquele bebé deveria nascer. Que vida o esperaria?
O aborto caseiro que não funcionou
Em conversa com uma das filhas da madrasta, sua vizinha, que estava
consciente das dificuldades que Dolores e a sua família viviam, recomendou-lhe
uma receita caseira para aqueles que querem evitar que o embrião continue o
seu caminho dentro do útero materno. A solução era muito simples, talvez
demasiado simples. Tudo o que a mulher grávida tinha que fazer era ferver uma
cerveja negra, bebê-la e, uma vez ingerido até o último sorvo o líquido quente,
correr até sentir que o seu corpo realizava um grande esforço. Passadas
um par de horas, a reacção seria espontânea, e o que os médicos não queriam
que acontecesse sucederia à velocidade de um pestanejar. O embrião sairia
tranquilamente do ventre daquela que nunca seria a sua mãe.
Dolores, com o seu desespero nascido do medo, seguiu as indicações.
Passadas duas horas... Nada! Procurou no seu baixo-ventre desconfiada, à
espera de notícias, e não viu nenhum sinal. Reinava a paz no seu corpo. O
embrião parecia estar num tranquilo e profundo sono, sem querer sair
antes do previsto.
Deus tem uma vontade
Com a mão no seu ventre, umas poucas horas depois do intento de aborto,
Maria Dolores tomou uma decisão que mudaria a sua vida para sempre,
apesar de que nesse momento não era consciente da sua importância.
– Se a vontade de Deus é que este menino nasça, que assim seja.
As crenças e o instinto materno de Dolores falaram mais alto. Seguiria o
desígnio de Deus e deixaria que aquele embrião chegasse a termo.
A convicção que levou Dolores a aceitar o bebé que vinha a caminho era forte,
tão forte como a realidade que a rodeava.
Por mais horas que trabalhasse, ela não conseguia dar aos seus filhos o que
necessitavam. Tudo o que ela queria era que estudassem, mas a verdade é que o
caminho que pisavam os levaria, mais tarde ou mais cedo, a abandonar a escola
e ir trabalhar para ajudar a manter a família.
Numa das revisões rotineiras, Dolores soube que teria um rapaz, pelo que teria
dois casais. O médico insistia em que o novo pequeno seria a alegria da
casa, mas Dolores sentia que o mundo lhe caía em cima.
Menos mal porque podia contar com o carinho que as suas irmãs tinham por ela
e pelos seus filhos.
O ventre crescia, trazendo certezas de que aquele bebé nasceria. Nada o
impediria. Queria nascer e esperava ser bem recebido.
O amor com o temor
A opção do médico pela vida
prevaleceu sobre a decisão da mãe a
favor da morte... Depois ela mudou
a sua forma de vê-lo
Ainda que o seu bilhete de identidade lhe
outorgasse somente uma trintena de anos, a vida
tinha assignado a Dolores uma condição de
mulher mais «velha», com mais experiência que
outras mulheres da mesma idade. Aquele seria o
seu quarto parto e estava preparada, mas ainda
assim, o nascimento de um bebé sempre traz a
dor dos nascimentos anteriores e nunca se sabe
como terminará.
Dolores sabia que tinha chegado o momento que
tanto temia e, que ao mesmo tempo, tanto desejava. Ao longo dos meses de
gravidez, como era de esperar, tinha desenvolvido um terno amor por
aquele pequeno que tinha usurpado o seu ventre.
Era a hora de abraçá-lo, de dizer-lhe que o amava, que o queria comos aos
seus irmãos e que o perdoava por vir fora de tempo, ainda que viesse a
tempo de ser muito querido por todos.
Os segundos atropelavam-se no relógio, com o bulício próprio da ocasião. A
respiração ofegante de Dolores dava claros indícios de que podia suceder em
qualquer momento. As dores aumentavam com cada suspiro. Os nervos também.
As dúvidas insistiram em aparecer no pior momento. Nasceria perfeito? Nasceria
saudável? Nasceria...?
Uma vez mais os terríveis porquês, o inevitável sentimento de culpa ao reviver os
fantasmas de uma vida difícil e um futuro incerto, que com o novo membro da
família só piorariam.
O bebé e a profecia
Com gritos e pranto, o bebé abandonou o berço natural da mãe e precipitou-se,
graças às mãos do médico, nos seus braços. Entre sangue e lágrimas, mãe e
filho reconhecem-se pela primeira vez. Confirmava-se: era um rapaz com uma
voz de quem só acaba de chegar, mas que já tem algo que dizer.
O médico, para suavizar a tensão do momento, lançou uma frase que se fixou
para sempre na memória de Dolores:
– Com uns pés como estes, será jogador de futebol!
Fora esperava um pai nervoso e três crianças desejosas de ver o bebé por quem
tinham esperado tantos meses. Logo se deram conta de que o recémchegado dominaria a humilde casa dessa família, do clã Aveiro, já
completo.
Dois adultos e quatro crianças partilhavam o mesmo tecto, unidos por um amor
que não diferencia entre famílias ricas ou pobres. Nessa casa não haveria
ouro, mas prevaleciam o afecto e o carinho. Orgulhosa, Dolores via a sua
família amar-se.
Faltava escolher o nome do membro recém-chegado. Dolores tinha um enorme
apreço por um homem que fora actor uns anos antes e que, naquele tempo,
presidia os Estados Unidos da América: Ronald Reagan.
Com a vontade de quem deseja uma vida de sonho para o seu filho, ficou
decidido que o pequeno seria baptizado com o nome de Cristiano Ronaldo
dos Santos Aveiro.
Pobreza... Mas acolhimento amoroso
Numa das consultas de rotina que Dolores fazia com o bebé, o médico, que via
uma mãe abatida pelas dificuldades para manter uma casa cheia de crianças e
com escassos meios de subsistência, tratou de motivar a pobre mãe lançando um
prognóstico quase num tom de profecia:
– Alegre-se, mulher, este bebé dar-lhe-á muita sorte na vida e muita felicidade!
Maria Dolores não percebia que sorte era essa, somente sabia que cada dia que
passava, estava mais desesperada.
De todos os modos, pareceu-lhe que, de facto, o seu bebé trouxe uma certa
alegria à casa. O primeiro sorriso, o primeiro riso, os primeiros passos
vacilantes. Todos os movimentos do novo «pequeno rei» do clã Aveiro eram
recebidos com grande entusiasmo pelos seus irmãos mais velhos. Cristiano
crescia num ambiente de amor.
Elma, Hugo e Katia tratavam de fazer as vezes da mãe, que estava sempre
ocupada em trazer comida à mesa. Dinis mostrava agora um lado mais humano,
determinado pelo grande amor que sentia pelos seus filhos, dando um pouco de
ânimo a Maria Dolores. De certo modo, sentia-se aliviada ao saber que, sem ter
em Dinis o marido que sempre tinha sonhado, pelo menos o pai dos seus
filhos os queria e nunca os maltrataria! Isso era o mais importante.
Enquanto a sua felicidade como mulher casada, tinha pouco ou nada que fazer.
Os anos que tinha vivido de costas para o seu marido tinham levado o seu
matrimónio ao fracasso.
Dinis e Dolores estavam cada vez mais distantes entre si; o que os unia era
somente o amor pelos seus filhos. Mantinham o respeito um pelo outro, mas
pouco mais que isso.
O divórcio nunca foi uma opção, porque tinha um enorme temor às
crenças e à opinião do seu pai, José. Dolores sabia que, com o anúncio de
uma eventual separação, teria que esperar, muito provavelmente, a velha correia
contra a qual tinha lutado em tantas batalhas. O fantasma da autoridade do pai
ainda estava preso no ar, apesar de que Dolores tinha mais de 30 anos e era
mãe de quatro filhos.
Conhecia bem aquela velha frase do pai:
– Se boa cama fazes, nela te vais deitar.
Dolores decidiu partilhar a vida com o homem que lhe tinha dado esses quatro
maravilhosos filhos. Viveria por eles, e respeitaria por eles. Nada mais que isso.
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