só | quinta edição, janeiro de 2009, distribuição gratuita

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só | quinta edição, janeiro de 2009, distribuição gratuita
só | quinta edição, janeiro de 2009, distribuição gratuita
lucas rodrigues de campos - edição, revisão, redação, reportagem, diagramação e comercial;
chuck dedo amarelo - comercial e ilustração;
tatiane klein - edição, redação e revisão.
andré mainardi - redação, reportagem, comercial e tratamento dos logos de anunciante
colaborações: erich jones, renato e elton amorim, geraldo malta e paulo bórgia
contato: [email protected]
2218 0796, falar com andré ou 7600 5699, falar com tatiane
Ousando ou dando um passo além. Em sentido desconhecido, quebrando paulatinamente. Saída do cubo.
A cada edição a normas se alternam. Regras contorcem-se, mas visitam o que já foi feito. Esse movimento
parte em busca de uma aprimoração. O que motiva o trabalho é a crença de que o material veiculado nessas folhas é do interessante das pessoas, em especial daqueles que têm como interesse comum a música.
Nessa edição de sÓ, relembramos eventos dos últimos meses de 2008 relevantes para o cenário musical:
a passagem do Art Ensemble Of Chicago, um show de Lanny Gordin e o lançamento do trabalho do Djalma
Lima Quinteto. A montagem deste número foi, em momentos, ao acaso, segundo a conveniência dos prévios
contatos musicais e experiências.
Emerge também, nas pequenas duas páginas da sessão sÓ-letrado, a poesia setentista de Ana Cristina
César, cuja morte completou 25 anos em 2008.
Beto Martins, um músico que ajusta o violão na luthieria de um amigo, revela O Lodo. Trata-se de um trabalho de garimpagem que deixa um breve legado. Geraldo Espíndola é protoganista do som pantaneiro;
Beto Martins e Pedro Jaguaribe destacam-se como músicos em sessões de gravação. No começo da década
de 70, eles formaram o conjunto Lodo, que infelizmente não registrou nenhum áudio. Agradecimentos a Elton
e Renato Amorim, que localizaram o guitarrista Beto Martins.
Outra investida de arrojo é apresentar o celeiro de músicos que foi O Bando. Celamos nossa parceria com
o festival Psicodália, acontecimento que conquistou seu espaço e reúne mais de 40 grupos de rock’n’roll calcados no progressivo, hard e psicodelia, feito quase que exclusiva em terras brasileiras. Crescendo a cada
ano ele prova que obstinação e amor pela música conseguem causar muito barulho.
As turbulências geradas pela crise financeira chegaram ao nosso pequeno público, ressoando de algumas
formas no funcionamento de nosso jornal. A previsão de lançamento extrapolou uma semana, mas a perspectiva de um novo ano força uma reação.
A partir de janeiro pretendemos ampliar um pouco o leque de nossas intervenções musicais. Os projetos
são vários; entre eles uma rádio nos domínios da internet, som direto do vinil, com roteiro baseado nos detalhes de capa, fichas técnicas, e amparado em reportagem. Um roteiro musical deve acompanhar cada
edição, para ler e ouvir. Uma outra iniciativa é a assinatura do jornal. Quem contribuir com dez reais em prol
de nossa causa musical, receberá a sÓ em casa. O conteúdo presente nas próximas páginas compensam
o pequeno investimento. O negócio é: por dez reais, o contribuinte receberá seis edições do jornal sÓ, o
correspondente a um ano. Apesar desse mecanismo de assinatura, o jornal permanece gratuito, e pode ser
encontrados em lojas especializadas e shows.
As três edições desse ano de 2008 concretizam nossas vontades e crenças. A idéia de coletivo precisa ser
amadurecida, contudo os assuntos abordados e a dedicação ao trabalho já estão consistentes, o chavão de
novo ano nos cabe, e o lema continua, a tortura, a procura da essência. Assim apresentamos este número.
21thCenturySquizoidMan
(ou quando Lanny tocou)
por lucas rodrigues de campos
Dentro da ante-sala do casarão, o olhar
do guitarrista não compreendia os olhares
do pequeno público. Os olhares do público
não comprendiam o olhar do guitarrista. O
guitarrista, naturalmente, não conhecia o público. O público, estranhamente, não conhecia
o guitarrista. Esse foi o primeiro contato, já
perto das três da manhã, entre Lanny Gordin
e as poucas dezenas de pessoas. Os acordes
transformados em espasmos acompanhavam
a estranheza do momento. Uma Gibson, um
cry baby, distorção e um bom amplificador
Fender traziam os primeiros sons de jazz em
uma produção em sintonia com os olhos do
músico. Eles misturavam medo e timidez, e
estabeleciam o primeiro contato esquizóide
com os parcos presentes.
Rave Cultural foi o evento que abrigou, no
meio da madrugada do dia 6 de dezembro,
o talento de um músico escamoteado por
mais de 30 anos de história; uma história
pela qual ele foi responsável e da qual foi
sujeito fundamental. Se hoje os tropicalistas
perdem-se em ministérios, releituras bregas e shows com Roberto Carlos, o lado
musical, a toada da música, é bem maior
que a “vanguarda” tropicalista, e resiste
no peso mediúnico da guitarra de Lanny
Gordin. O caminho percorrido, de insanidades e abusos, criou o mito e o
mito resumiu a carreira, velando competência extraordinária. Difícil dizer
se as experiências intra cerebrais
(talvez haja melhor expressão)
prejudicaram a carreira de Lanny – o que ele produz contesta
o fosso em que foi colocado.
O brilhantismo dos melhores
trabalhos de Gal Costa,
Gilberto Gil e Caetano
Veloso tem nas seis
cordas eletrificadas
de Lanny os melhores momentos. A psicodelia da tropicália tem nesse guitarrista a parte
mais relevante do movimento.
Com cacife mais que suficiente, ele pula da
passagem de som para a execução de Tronpicália. Quase o lado avesso do movimento.
porrada, em um rock inaudível para o público
desatento, que não se permitiu desfrutar do
raro momento. Os presentes não reconheciam
quem estava sentando no banco, batendo nas
cordas. Talvez o anonimato seja o melhor companheiro de Lanny.
Diferente das últimas apresentações com
base em standards do jazz, a estrutura musical veio cheia de quebras. O momento solo
trouxe Tom Jobim, mas o destaque foi um riff
com pé na distorção – simples, mas pesado,
pesado no melhor estilo “hard dos anos 70”.
Os poucos alcoolizados no espaço distorciam a apresentação, seja com gritos incômodos ou arremessos ao chão. “Ele é o Jimi
Hendrix brasileiro!” gritavam no meio do show
– não estava claro que ele não é Hendrix, mas
Lanny Gordin.
Sem necessidade de declarações. ou horas
de entrevista, as perguntas foram respondidas com um olhar que espremia algo entre o
frágil, cansado, mas envolto de uma ternura
pueril. Mais do que palavras ou a insistência
de olhares, a reflexão que a caminhada fria
trouxe foi a da existência incompreensiva de
uma guitarra tão expressiva. Arredia quando
necessária, com notas lacônicas. Atenciosa em
intrincadas melodias, completando lacunas,
fornecendo as respostas mais completas.
grande
música
música
negra
Membros remanescentes da formação clássica: Famadou Don Moye e
Roscoe Mitchell
por lucas rodrigues de campos
experimentos
Mais uma vez a grande mídia deixou de relatar uma das experiências
musicais mais relevantes no tocante ao
desenvolvimento do jazz e sua gama
de linguagens: a segunda passagem
do Art Ensemble of Chicago
pelo Brasil (AEoC). Para os que nunca
tiveram contato com o grupo, cabe
uma pequena introdução.
O AEoC é de suma importância no
estilo musical chamado avant-garde,
compondo a AACM, – Association for
the Advancement of Creative Musicians – escola musical fundada por
Muhal Richard Abrahams. Essa as-
sociação contou com a colaboração
massiva de Roscoe Mitchell (sopros),
Lester Bowie (sopros, falecido em
1999), Famoudou Don Moye (bateria
e percussão, que passou a integrar o
AEOC após a saída de Philip Watson,
em 1970), Malachi Favors Maghoshut
(baixo, falecido em 2004), Joseph
Jarman (saxofone, sopros em geral,
que deixou o AEOC em 2004 para se
dedicar ao budismo), todos membros
do Art Ensemble.
Em busca de um contexto artístico
interativo de formas diversas, e que
extrapolasse limites musicais, surge o
AEoC. Mais do que um grupo, o Art Ensemble foi e ainda é uma proposta estética,
que reúne crítica e referencia-se na cultura africana,
tomando-a como base das
experimentações
sonoras.
O grupo chega à “Grande
Música Negra”, ideal compartilhado dentro da AACM.
Musicalmente, o Art Ensemble
dialoga com a música erudita, incorporando inovações
sonoras com roupagens de
Stockhausen e John Cage.
fotos: Tatatiane Klein
Roscoe Mitchell, Famoudou
Don Moye, Wadada Leo Smith
(trompete e surdina, advindo da AACM) e
Jaribu Sahid (baixo e percussão, desde
2004 no grupo), tocaram três noites no Sesc
Vila Mariana – dias 10, 11 e 12 de Outubro.
O auditório da “casa de shows” beirou a lotação de sexta a domingo, mesmo com o último
concerto agendado para as 17h. O público
compôs-se heterogêneo: curiosos, músicos,
acadêmicos, jornalistas cobrindo a área de
“cultura”, conhecedores do grupo. Fato é que
parte dessa construção de estereótipos traduziu-se na grande fatia do público que, com
cerca de 20 minutos de contato com os improvisos, retirou-se do espetáculo.
No domingo, ingressos esgotados e espectadores atrasados espalham adrenalina entre
todos. “Esperar começar pra saber se ainda
tem lugar?!” bradava um; outro agradecia o
ingresso negociado. Por 16 reais consegui o
meu, “nada mal, já que a meia-entrada saira
por 15”, pensamento rapidamente contradito pela descrição do ingresso: convidado,
R$00,00. O fato é que pude presenciar dois
acontecimentos já citados: a excelente música
e a fuga de mais de um terço do público (conferir de alguma forma).
Divulgado a partir do slogan free-jazz o
show atraiu ouvidos não acostumados aos ar-
rojos do AEoC. Os que reagiram ao levantar
das cadeiras, o faziam quase como se estivessem sendo agredidos, ou até mesmo lesados.
A aposta em conhecer um grupo “cult” de
jazz decepcionou parte da platéia, que não
tolerou o peso e as improvisações em massa.
Sempre antecedida por resmungos, chiados
e reclamações silenciosas, a debandada em
peso constituiu mais um dos cenários paradoxais que corroboram a afronta sonora do
ensemble. Não cadente, espacialmente distorcida, assim fez-se a enegenharia sonora,
desnaturando modos e escarnecendo tolas
convenções musicais.
Contra a regra
Com ambiente diferente do costumeiro - excetuando as vestes tipicamente africanas de
Don Moye - o palco não estava alastrado por
componentes percussivos. Rostos maquilados
também foram deixados de lado. Chamava
a atenção uma poltrona posicionada no lado
direito do palco, adorno de desenho sutil comparado à eloqüência dos trajes e pinturas já
tradicionais do AeOC. O baterista, liderando
a marcha com uma bengala que domava a
possível artrite, caracterizada pelo andar
moroso e mancado: os quatro integrantes
seguiram Moye movendo-se lentamente. Todos
posicionados próximos ao set de instrumentos.
De frente para o público, quase em perfeita
sincronia viram e olham para a direita.
De cara se viu que a enfermidade não afetaria a música de Moye, com as congas ele
anunciou a harmônica passagem de flauta
transversal feita por Roscoe Mitchell. Durante
longos minutos os músicos revezaram momentos
solo. Primeiro o trompetista, abusou muito bem
da surdina, uma seqüência de frases num rítmo
frenético, entrecortando a percurssão de Moye
– isso enquanto Roscoe Mitchell repousava em
sua poltrona, criando uma esfera mediúnica
ao apoiar a cabeça em um dos braços. De
olhos fechados Mitchell apurava o som ao
aguardar Jaribu Sahid e Moye demonstrarem
técnica, musicalidade e improviso.
Wadada Smith recordou a postura e o som
de Miles Davis. Filósofo da música, honrando
a tradição da AACM, Smith tem como última
incursão interessante tributo a Miles. São
Mestre nos sopros, Mitchell fascinou os sujeitos à experiência Art Ensemble, e expulsou
àqueles que foram ao show sem antes conferir
alguma amostra do trabalho do grupo. Atacado pela constância respiratória do instrumentista, o sax emitia sons que se misturavam com
o ar expirado pelo músico. O fluxo sonoro causou inércia ao público que continuou nas poltronas. Espanto e reverência eram registrados
com olhares fixos e tímidos comentários, vezes
intercalados por palmas solitárias.
foto: Paulo Borgia
O que vimos através do show foi interação
e coletividade, sempre criando uma atmosfera, seja calcada no lirismo de passagens
suaves ou em solos frenéticos, carregados de
insultos e provocações, devolvidas em forma
de agradecimento.
Como no álbum duplo Urban Bushmen
- gravação ao vivo captada em maio de
1980, no Amerika Haus Munchen, primeiro
pelo selo ECM lançado em 1982 -, o show foi
encerrado com Odwalla, be-pop recheado
de arrojos e solos dissonantes. O bis foi um
surpreendente tema, que voltou a qualidade
de cada músico no desenvolvimento de um
tema entre o funk e o fusion, mas sempre com
pitadas de quebras rítmicas e mudanças de
tempo.
Pasmo. Quem acompanhou os mais de noventa minutos do excelente concerto compartilhava o momento catártico na imensa fila
dos que aguardavam Moye e a chance de
comprar um dos últimos cd’s a venda. Como
de praxe misturei-me à euforia, momento em
que recebi quatro reais de troco pelo ingresso.
Saldo final: o ingresso saiu por 16 reais. O
dinheiro “perdido” não causou nenhum trauma, e se causassem seriam rapidamente suprimidos pela recompensa de ter participado
de uma experiência tão enriquecedora.
câmara de eco
SOFT MACHINE
por andré mainardi
VOLUME II
ABC Probe Records - 1969
Mike Ratledge, orgãos Lowrey Deluxe e Hammond, piano e flauta;
Hugh Hopper, baixo e sax-alto;
Robert Wyatt, bateria e voz principal.
Musico convidado: Brian Hopper, sax-soprano e tenor.
Produção Artística e Executiva: Soft Machine e Mike Jeffrey
Capa: Byron Goto e Henry Epstein
O segundo álbum sempre é um desafio na
carreira de um grupo; muitos jamais superam
seus debuts. Tal premissa, contudo, sequer chegou a preocupar o Soft Machine na confecção
de seu Volume II. Com uma curiosa mistura de
dadaísmo, anêmonas, ursos, Arnold Shoenberg, e soturnas melodias em modo dórico, o
disco – gravado entre fevereiro e março de
69 no Olympic Sound em Londres – é um marcante registro do jazz rock pós-Canterbury no
mapa da música de vanguarda.
Um breve texto na contracapa da luxuosa
reedição relançada pela ABC Probe Records,
adverte: “Esta banda, na sua acepção mais
estrita, toca música para a mente, o que impõe
algumas vezes, uma certa responsabilidade
cerebral ao ouvinte”. O complexo conceito
gráfico, musical e artístico-intelectual da obra
foi desenvolvido em 1969, portanto recomenda-se que a gravação seja apreciada em vinil, pois foi projetada para este formato.
O amor à arte de compor improvisando levou Robert Wyatt e trupe a dividir a obra em
duas partes: Rivmic Melodies, preenche todo
primeiro lado, dividindo-se em dez temas;
ela começa por “Pataphisical Introduction”, um
pequeno discurso musical que anuncia “A Concise British Alphabet Part 1”. Ambas são curtas
e servem de prólogo ao tresloucado 9/8, “Hibou, Anemone and Bear”, em que se destaca a
poliritmia gerada pelo choque da melodia dos
metais contra a cozinha, baixo e bateria.
Um som de tosse inicia a Part 2 do alfabeto
britânico, que passa por “Hulloder” e “Dada
was here”, cantada em espanhol. O grupo ainda homenageia Schoenberg, em “Tank you
Pierrot Lunaire”, e agradece a Jimi Hendrix,
Mitch Mitchel e Noel Redding por expô-los à
Multidão, segundo a letra de “Have you ever
been green?”. A Part 2 da introdução patafísica do LP segue com melodias de sétima maior
atacadas no órgão, preparando o free form
jazz de “Out of Tunes”, música que encerra
esse primeiro movimento.
Na outra face da chapa, desenrola-se “Esther’s
Nose Job” encabeçada por “As long he lies perfectly still”. A bela e inconstante “Dedicated to
you but you weren`t listening”, que seria, anos
mais tarde, utilizada por Wyatt em sua banda
Matching Mole, e a cacofonia generalizada de
“Fire engine passing with bells clanging” divergem um pouco das demais subdivisões do tema.
Todas estão no ritmo 7/8 e têm os mesmos motivos melódicos observados em “As long he lies...
Pig, Orange skin food”, “A door opens and
closes” e “10:30 Return to the bedroom”, nesse
mesmo diapasão, completam o set.
O Volume II representa uma fase de transição
e experimentalismo vivida pelo Soft Machine.
Mesmo desfalcados pela ausência de David
Allen e do baixista e compositor Kevin Ayers,
substituído por Hugh Hooper, que acrescentou
o jazz ao som do grupo, conseguiram produzir
música com substância, incrustada de tenacidade, disciplina e maturidade musical que são
referências em seus trabalhos subseqüentes.
Lá se vai
O Bando
por lucas rodrigues de campos e andré maindari
No frenesi da Jovem
Guarda, em 1965, Os
Malucos - Diógenes
Burani, (bateria), Paul
de Castro, (guitarras
e voz), Américo Issa,
(guitarras e voz), Emilio
Carrera, (órgão e piano),
Rodolpho Grani,(baixo
e voz) e Marisa Fossa,
(voz principal) – apresentavam-se
semanalmente nos lugares da
moda, como o restaurante O Beco e a boate
Urso Branco. Essa última
casa recebia um evento
patrocinado pela Coca
Cola. Por intermédio do
empresário Teo de Barros, (não confundir com
o compositor), Os Malucos conseguiram lugar no
evento ao lado de “Ronaldo Lark e os Versáteis”.
O êxito na Urso Branco
proporcionou uma ex-
cursão através da América do Sul e dois meses
na Venezuela. Em Caracas, os garotos gravaram
dezesseis programas de TV na principal emissora
local, um deles acompanhando a atriz-cantora
Sarita Montiel. “Chegando lá ficamos encantados
com a salsa e outros ritmos locais. Ali pintou a
idéia de colocar outro percussionista no grupo”,
conta o baterista Diógenes.
Novamente em São Paulo, passaram a se
chamar O Bando. O baterista Dudu Portes, amigo
de Emilio, logo abandonou o programa televisivo
O Fino da Bossa, apresentado por Jair Rodrigues
e Elis Regina, para integrar a primeira banda
brasileira com dois bateristas. O pioneirismo
desses jovens músicos não parava aí: faziam um
som bem arrojado dentro dos padrões psicodélicos, e, assim como os Beat Boys e Os Mutantes,
eram sempre convocados a tomar parte no tropicalismo. Sob a égide e proteção de Solano Ribeiro, grande mentor da banda, conseguiram
um contrato com Phillips do Brasil. André Midani
apaixonou-se pelo som deles e, em busca de servir o mercado aberto pelos Mutantes, adicionou
O Bando no cast da gravadora, colocando à inteira disposição deles os maestros Júlio Medaglia, Damiano Cozzela e Rogério Duprat. A vontade de misturar as inovações da música erudita
com a contemporaneidade do
rock uniu a academia à tradição
da garagem: “Não tinha pra
ninguém... nós e Os Mutantes
éramos os tais!”.
Em 1969, bem à vontade, entraram no estúdio Scatena para
registrar o primeiro disco do
grupo. Trabalhar com os maestros possibilitou o acúmulo de
grande conhecimento na área
de arranjos e orquestração.
Para Diógenes, os maestros assumiam o papel de intérpretes:
“A gente bolava os arranjos e
eles traduziam nossa linguagem
de cabeludos doidos ao pessoal
da gravadora”. Em oito canais
gravaram um disco com apoio
o esmerado dos regentes. Elaboradas partes de cordas e metais pintam em vivas cores, sob
o signo tropicalista, músicas do
cancioneiro popular como “Disparada” e “Quem Sabe”, composições do grupo, de Caetano
Veloso e a primeira e definitiva
versão de “Que Maravilha”,
música de Jorge Ben, com a qual
O Bando concorreu no Festival da TV Tupi, conquistando o
primeiro lugar.
Rio Grande
Muitas foram as incursões do
Bando pelo sul do Brasil. Levados pelo Centro Acadêmico de
Arquitetura da UFRGS, granjearam muitos fãns em Festivais
nos Pampas. Nesse período conheceram os compositores Hermes
Aquino e Laíz Marques. No Festival Universitário da Musica
Popular Brasileira, em 1969,
onde apresentaram-se Zé Rodrix, Danilo Caymmi e O Som
Imaginário, O Bando defendeu “Pela Rua da Praia”, da
dupla gaúcha Hermes e Laíz, e
receberam um indesejado segundo lugar: “Só não vencemos
porque éramos paulistas”.
Com a agenda lotada, o
Bando passou boa parte do
ano de 69 viajando. No verão,
arrendavam a boate Barbarela em Ubatuba, fazendo boa
temporada e descansando.
A “rotina era praia, ensaio
e show”, lembrança de Diógenes.
Além da vida de rocker californiano, o grupo fez aparições
nos programas televisivos de
Wilson Simonal e no Jovem
Guarda, de Roberto Carlos. O
grande mérito pós-disco veio
com a participação na peça
teatral O Plug, espetáculo multimídia, com representações de
tipo teatral, filme underground,
audiofotonovela com participação de Décio Pignatari, Duprat e Grupo OEL. Entre colunas romanas, versos e os mais
absurdos happenings, o Bando
mostrava todo o seu balanço.
A pesada sessão rítmica retumbava tal qual uma barulhenta sinfonia de Beethoven
ou Berlioz. Com suas câmeras
desbundadas, Rogério Sganzerla registra tudo. Era o ano
de 1972, já próximo do crepúsculo da banda.
O fim do Bando foi uma conseqüência natural dos rumos musicais que cada integrante seguiu.
A experiência com os maestros tropicalistas, produtores e empresários em uma época de franca
expansão da indústria do disco no Brasil, proporcionou aos integrantes d’O Bando excelentes
contatos profissionais, que acabou por direcioná-los para diversos caminhos
Dudu Portes tornou-se um dos grandes mestres da percussão brasileira e participou de obras que
são referência aqui e no exterior. Foi parceiro e baterista de confiança de Elis Regina, tendo estado
ao lado da cantora nos momentos mais importante sde sua carreira: o disco Falso Brilhante de 76, Elis
e Elis, ao vivo, de 77, Transversal do Tempo de 78 e a vitoriosa turnê européia, também de 78. Na
vasta discografia de Portes – que também se dedica à luthieria – constam alguns registros como Gal
Costa, de 1969, Revolver de Walter Franco de 1975, São Paulo Brasil de César Camargo Mariano
de 1977, Romaria de Renato Teixeira e Clube da Esquina 2 de Milton Nascimento de 78. Humauaca,
Scaladácida, Grupo Água, Hermeto Pascoal, Heraldo do Monte, Flying Banana, Bendegó e Arismar
do Espírito Santo, tantos e variados grupos dão idéia do talento de Dudu.
Ao “debandar”, Emílio Carrera passou a integrar o Secos & Molhados, gravando o segundo LP do
grupo em 1974. Também participou dos discos de Walter Franco e mais tarde ingressou no ramo da
publicidade, dirigindo duas produtoras musicais – Som Piano e Zeeg 2. Atualmente é diretor musical
e músico do espetáculo “Os Inclassificáveis” de Ney Matogrosso, seu velho amigo. Com esse show,
excursionou em 2008 por todo o país e disputou o prêmio Grammy Latino.
A cantora Marisa Fossa continuou emprestando sua bela voz às composições de Duprat, gravou Cadernos de Viagem, de 1975, com Sá & Guarabyra e participou de mais de trinta discos ao lado de
Chico Buarque, Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tim Maia, Djavan, Cazuza, Roberto Carlos,
Raul Seixas, Moraes Moreira, Fágner, Elis Regina e Milton Nascimento. Uma curiosidade é que Marisa
foi casada com Pedro Baldanza do Som Nosso de Cada Dia, com quem teve dois filhos.
Os falecidos Américo Issa e Paul de Castro tocaram com Humauaca e Os Mutantes, respectivamente.
Rodolpho Grani gravou com Gal Costa em 1969; foi o baixista do segundo LP de Jorge Mautner de
1974; participou, com Diógenes, Dudu e Emilio da produção de Ou Não de 73 e Revolver de 75 de
Walter Franco, onde cantou e tocou violão, craviola, guitarra, piano, órgão e baixo elétrico. Tocou
viola caipira e violão em Amora de Renato Teixeira de 79. Mais tarde tornou-se produtor musical,
dirigiu a produção artística da série de CD’s Complete Piano Works do compositor francês Erik Satie
e compôs as trilhas sonoras da animação Os Irmãos Williams, do diretor Ricardo Dantas, e do documentário Raça na Praça, de Luiz Alberto Pereira.
Parceiro e quase irmão de Dudu, Diógenes Burani, ainda nos tempos d’O Bando, também gravou
o disco de Gal Costa de 1969 e Build Up, de Rita Lee, de 1970. Também ajudou na concepção dos
dois já citados discos de Walter Franco, tocou com Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Lanny Gordin
e Naná Vasconcelos. Ainda nos anos 70, integrou o Cilibrinas do Éden de Rita Lee e fundou, com
Guilherme Arantes, o Moto Perpétuo, uma das grandes referências do rock progressivo nacional, que
mais tarde, no final da década, teria continuidade no projeto São Quixote. Na atualidade dedica-se
ao seu retorno à carreira musical: “Vai ser um pouco de Moto, Bando, São Quixote; do rock progressivo à MPB; afinal a gente nunca muda completamente. Tenho mais de seiscentas músicas acumuladas nesses quarenta anos. Foi pensando nessa volta que parei de fumar há quase duas décadas”.
a letra de ana c.
só-letrado
por tatiane klein
Do sétimo andar, o livro escorrega para
minha mão; Inéditos e dispersos. Levo-o para
a cama e engulo suas palavras como um remédio contra a morte. As primeiras páginas
apresentam-me o rosto de quem escreve; as
páginas que seguem sussurram baixinho uma
narrativa temporal. De 1961 a 1983, uma
amiga conta-me tudo o que escreveu. Entre
fotografias, aparecem poemas; são de Ana
Cristina Cesar, uma desconhecida que faleceu
em 29 de novembro de 1983.
Pedem-me para sangrar o papel com algumas palavras sobre Ana. Trago minha resposta encharcada pelo vazio, pois ainda não
resolvi minha relação com ela. Por ter feito
esse acordo tácito entre meus olhos e as letras
impressas é que me sinto tão longe do conforto. Só foi possível descobrir mais adiante
que, apesar de ter sido estampada nos jornais a sua morte, a poesia de Ana tinha pouco
ou quase nada das letras serifadas, do cheiro
de papel impresso. Manuscritos, desenhados
e rabiscados, os textos da suicida poetisa
mostram-se como em um diário.
Apesar de expoente da poesia que se convencionou chamar marginal, da Geração
Mimeógrafo, Ana Cristina teceu uma estética que se diferencia da dos colegas Paulo
“Agora, imediatam
ente, é aqui que co
meça o primeiro si
do corpo que sob
nal do / peso
e. Aqui troco de m
ão e começo a ord
enar / o caos”.
- Inéditos e dispers
os, 1983
Leminski, Cacaso, Francisco Alvim. Entre ironias, cartas, pílulas poéticas, declarações de
amor, a poetisa dava a seus versos as cores
dos travesseiros das adolescentes, dores das
senhoras casadas com panos de prato e de
uma angústia que nos parece parte de sua
própria personalidade. Apesar da estética
da confissão, seus textos não aparecem como
receitas subjetivistas, herméticas, mas como
brincadeiras estéticas em que a cisão entre o
autor e obra desfaz-se propositadamente.
Os vinte e cinco anos da morte de Ana Cristina
foram marcados em novembro 2008 pelo lançamento de Antigos e soltos, um livro organizado
por Viviana Bosi, professora de Teoria Literária
da USP, que registra o que foi, por anos, guardado em uma pasta rosa pela poetisa Ana. Entre
bilhetes, prosas e poemas, prontos e inacabados, emerge uma espécie de colagem íntima de
parte da obra da autora. Especial destaque
merece o trabalho de organização e transcrição
dos fac-símiles dos textos manuscritos.
Os capítulos são divididos entre “PRONTOS
mas rejeitados”, “inacabados”, “inacabados
2”, “rascunhos/primeiras versões”, “cópias”,
“O Livro” e “antigos & soltos”. Sua leitura
quase torna certeira a latência presente em
toda a obra de Ana: a de que tudo não passa
de uma biografia versificada, de uma poesia
egótica, confessional, de fluxo de consciência.
A glória dessa poesia é, não obstante, não
permitir que o leitor descubra quanto de eulírico e quanto de autor está impresso ali; o
leitor, em verdade, está sozinho e preso na
ilusão de que lê as histórias de uma jovem poetisa. Ana Cristina brinca com a presença de
Ana Cristina na escritura e transforma autor
e autoria nos personagens-fantasma de seus
textos.
Uma dessas brincadeiras é o livro Correspondência completa, de 1979, em que a
autora simula uma carta. Esse texto guarda
características próximas às das reais cartas e cartões trocadas por Ana Cristina com
amigos, como registra a publicação póstuma
Correspondência Incompleta, organizada por
Armando Freitas Filho e Heloisa Buarque de
Hollanda. “Ela se confessa, sim, mas faz (fala
de) literatura o tempo todo. Em muitos e extensos momentos dessa correspondência, ouvimos trechos de sua dicção poética de teor tão
peculiar”, afirma, no livro, o amigo e organizador Armando.
A própria Ana Cristina externa em uma de
suas correspondências a Ana Candida Perez,
colega de faculdade, a confusão instalada
entre intimidade e literatura: “(...) em carta
fica difícil o limite entre o arbitrário, o gratuito, o vôo e a correspondência, a significação, a comunicação. Ou melhor, a gente tem
medo de desembestar para o vôo. De dizer
coisas que não sabe explicar. A leitora pedirá
explicações, sutilmente pedirá que se desfaça
o feitiço, ou o jogo. Só por insegurança. Ou
como ajuizada medida pra não receber de
volta cartas em que a literatura vá ocupando
cada vez mais terreno, até que não sobre
nada, mas a literatura”. Para Armando, a escritora é “quem sofreu da premência, quase
teatral de ser íntima, e da fatalidade, sempre
questionada, de ser pública”.
Tradutora de Dylan Thomas, Sylvia Plath,
Katherine Mansfield, Ana Cristina formou-se
em Letras pela PUC do Rio de Janeiro. Além
da docência e da pesquisa em teoria literária
– que resultou na publicação da pesquisa Literatura não é documento –, Ana escreveu para
os principais jornais alternativos dos anos 70,
entre eles, o Versus, o Opinião e o Beijo, este
um jornal da luta homossexual. Todo o acervo
de fotografias, manuscritos e inclusive a biblioteca da autora foram doados para o Instituto
Moreira Salles, no Rio de Janeiro; o registro
desse material está no site do Instituto.
“O desespero precisa ser discreto / soletrado / numa pequena esquina”.
- Antigos e soltos,
tenho uma vida branca
e limpa à minha espera:
Cenas de abril. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1979
Correspondência completa. Rio de Janeiro: Edição da autora,
1979
Luvas de pelica. Rio de Janeiro: Edição da autora, 1980
Literatura não é documento. Rio de Janeiro:
MEC / Funarte, 1980
Caderno de desenhos. São Paulo:
Livraria Duas Cidades, 1980
A teus pés. São Paulo: Brasiliense, 1982
A teus pés. São Paulo: Ática
/ IMS, 1998
Inéditos e dispersos. São
Paulo: Ática / IMS, 1999
Crítica e tradução. São Paulo: Ática / IMS, 1999
.Correspondência incompleta.
Organização de Armando Freitas
Filho e Heloisa Buarque de Hollanda. São Paulo: Aeroplano / IMS,
1999
26 poetas hoje. Seleção
de Heloisa Buarque de
Hollanda. Rio de Janeiro: Labor do Brasil,
1976. (Bolso)
LIVRO
“ESTE
zz do
ro. É ja wo
t
mo. Ju
omatis
tea for z,
o é aut prêmio. Um
cê sedu
ho. Nã
Meu fil prosa que dá rdade que vo Enfie a
o. É
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oda.
Coraçã
sta, a t arapuça.
lintar d
c
Total ti lante pela po
.
E cante
eur vo
Charm
blue”.
ranco e
çúcar b s pés, 1982
- A teu
tenho uma cama branca
e limpa à minha espera:
mudo convite
Obras de Ana Cristina Cesar
“trilha sonora ao fundo: piano no bordel, vozes barganhando
uma informação difícil. agora silêncio; silêncio eletrônico,
Quem caça mais o olho um do outro?
produzido no sintetizador que antes construiu a ameaça das
Sou eu que admito vitória.
asas batendo freneticamente.
Ela que mora conosco então nem se fala.
Apuro técnico.
Caça, caça.
Os canais que só existem no mapa.
E faz passos pesados subindo a escada correndo.
O aspecto moral da experiência.
Outra cena da minha vida.
Primeiro ato da imaginação.
Um amigo velho vive em táxis.
Suborno no bordel.
Dentro de um táxi é que ele me diz que quer chorar mas não chora.
Eu tenho uma idéia.
Não esqueço mais.
Uma frase em cada linha. Um golpe de exercício.
E a última, eu já te contei?
Memórias de copacabana. Santa Clara às 3 da tarde.
É assim.
Autobiografia. Não, biografia.
Estamos parados.
Mulher.
Você lê sem parar, eu ouço uma canção.
Papai Noel e os marcianos.
Agora estamos em movimento.
Billy the Kid versus Drácula.
Atravessando a grande ponte olhando o grande rio e os três
Drácula versus Billy the Kid.
barcos colados imóveis no meio.
Muito sentimental.
Você anda um pouco na frente.
Agora pouco sentimental.
Penso que sou mais nova do que sou.
Pensa no seu amor de hoje que sempre dura menos que o seu
Bem nova.
amor de ontem.
Estamos deitados.
Gertrude: estas são idéias bem comuns.
Você acorda correndo.
Apresenta a jazz-band.
Sonhei outra vez com a mesma coisa.
Não, toca blues com ela.
Estamos pensando.
Esta é a minha vida.
Na mesma ordem de coisas.
Atravessa a ponte.
Não, não na mesma ordem de coisas.
É sempre um pouco tarde.
É domingo de manhã (não é dia útil às três da tarde).
Não presta atenção em mim.
Quando a memória está útil.
Olha aqueles três barcos colados imóveis no meio do grande rio.
Usa.
Estamos em cima da hora.
Agora é a sua vez.
Daydream.
Do you believe in love...?
Então está.
Não insisto mais.”
Puro a
.
Tenho uma folha branca
e limpa à minha espera:
mudo convite
da,
afa.
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ta
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que
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s
u
sou e
e
sou
que
“Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado entre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas”.
- A teus pés, 1979
O LODO
VEM AÍ!
vintage
Cabelos compridos e distorção combinados: a
combustão é certa. Ensaios em cenários bucólicos
e técnica musical são o oxigênio da reação. Se
os anos forem os iniciais da década de 1970, o
resultado recebe o nome de “hard”. Seguindo
essas recomendações, o Lodo, junto dos comparsas Bolha, Veludo participou de forma ativa
do cenário hard prog que caracterizou o lado B
musical da cidade do Rio de Janeiro.
Enquanto a camada intelectual-estudantil discutia entre a guitarra elétrica tropicalista e o
banquinho da bossa, Beto Martins, então estudante da Faculdade de Música Villa Lobos,
fazia A Mente, seu primeiro grupo. A barulheira é garantida por válvulas saturadas nas
festas do prédio da extinta UNE, no Rio. Na
sede da União dos Estudantes, Beto foi chamado por Pedro Jaguaribe, um conhecido que
tocava baixo, para formar um grupo de rock
pesado. Pedro já estava acompanhado do baterista “Nacho Meña, chileno, firme na pegada,
pesado”, segundo Beto. Para completar o que
seria um quarteto, Marcelo Villela juntou-se ao
proto grupo, sendo responsável por voz, gaita
e guitarra. O grupo deixou de ser proto e foi
nomeado Lodo.
“Fizemos uns sons e pintou a possibilidade de
passar um tempo compondo e ensaiando num
sítio na [estrada] Rio-Petrópolis. Fomos para lá
e ficamos um ano. Ensaiávamos o tempo todo”.
Beto detalha o casamento entre a música e
o cenário idílico: “o sítio era um paraíso, com
direito a passeios no campo para inspirar as
músicas”. O resultado das inspiraçõese, entretanto, não podem ser conferidos, pois, conforme conta Beto, “muitas fitas foram gravadas
e esquecidas”. “Infelizmente”, ele continua, “não
sei onde estão. Pelo que me lembro o som era
Hard mesmo. Batera pesada, uma Gibson SG
[ligada] direto no Marshall, baixo forte [ligado]
no Ampeg SVT, voz e gaita. Sem palavras.”
Para aliviar o ritmo dos ensaios, o Lodo seguia
para a capital, para rever a família, apresentar-se em bailes e garantir uma pequena porção de cruzeiros. Contudo a maior onda de
passar pela capital fluminense era pintar muros,
em uma estratégia digna de militante político
insuflado pelo maio de 68. Ação arriscada,
por lucas rodrigues de campos
entrevista de Beto Martins concedida a Elton e Renato Amorim
vintage
ainda mais em tempos em que a polícia não
media a mão para “dar cacete” em estudante.
O ato era nomeado pelo próprio grupo: “difoto de divulgação para o periódico Rolling Stone, em algum momento entre 71 e 72
vulgação de guerrilha - basicamente pichar os
muros da cidade com frases do tipo ‘O Lodo
Geraldo Espíndola deu ao Lodo um pouco de O Lodo por uma intempérie na forma de pesvem ai... Aguardem!’”.
Nos bailes a mesmice era deixada de lado. seu espírito pantaneiro, característica que pode adelo real, virou um lamaçal. “Infelizmente, de
Vale lembrar que grande parte dos “grupos ser conferida no grupo Lírio Selvagem, projeto sonhos se acordam, fomos tocar em Campo
de baile” baseava seu repertório nas canções da família Espíndola, que reuniu os irmãos Tetê, Grande, MT, e quando voltamos, deixamos o
radiofônicas. “Repertório próprio, original e em Alzira e Marcelo. Traços regionais mesclados equipo no sítio e retornamos ao Rio. De volta,
português e, pra inxertar um tempinho extra, a um tom universal, essa proposição fica clara tivemos a bad trip de perceber o roubo do
sempre tinha um Led, um Humble Pie, Mountain, com toques de progressivo presente no trabal- Marshall, do Ampeg, dos microfones, pratos,
Cream”. Marcadas na lembrança do guitarrista ho, uma tentativa de entender o que era o Lodo enfim, uma verdadeira sacanagem. O alívio foi
estão o Festival da Pedra Azul, uma apresen- nessa nova fase. Geraldo conta: “os rapazes que não levaram a guitarra e o baixo, que estação no programa de TV Band 13 e outra no tocavam algumas músicas minhas na época. tavam num canto da sala. Depois dessa, tiramos
Teatro São Pedro, em São Paulo. A grande tran- Fizemos uma excursão ao Mato Grosso com umas férias forçadas pra ver como ficavam as
sa do Lodo, porém, rolou na cidade natal do dois shows memoráveis. A gente foi o primeiro coisas, mas o destino não quis a continuação da
grupo: “Tocamos também no Teatro da Lagoa, grupo a tocar rock progressivo no Brasil. Equi- banda na época. Aos poucos as pessoas se esno Rio, abrindo para o Gilberto Gil. O show foi pamentos importados e eu usava uma craviola palharam em outros projetos paralelos”.
Os registros do Lodo são quase nenhum; a bande 12 cordas na banda. Era
bem comentado na época.
da
está presente em uma edição do periódico
um som muito especial que
Ainda bem, afinal, depois de
RS
e
nada mais. Os problemas foram enfrentaa gente fazia. Um som lindo
meses trancados em ensaios
dos
e
as carreiras dos integrantes seguiram com
fazia essa banda!”. A localhavia alguma [muita] expecinteressantes
contribuições à música brasileira.
ização geográfica dos intetativa em relação ao som da
O
lançamento
de um registro fonográfico foi
grantes do Lodo refletiu uma
banda, mas deu tudo certo.”
ventilado
na
época:
“a Continental do Rio ia
mística para Espíndola, fator
Essa formação durou pouco
nos
gravar,
mas
perdemos
para São Paulo com
corrente em conjuntos que se
tempo e houve uma troca de
os
Secos
&
Molhados.
Mesmo
assim foi uma
intitulam “progressivo” e que
vocalista, brecando a promépoca
memorável
que
me
traz
boas
recordade certa maneira contribuem
issora carreira na seara do
ções”,
conta
Geraldo.
Os
anos
de
peso,
válvupara imaginar a sonoridade
rock pesado. Em contraparlas
saturadas
e
viagens
progessivas
do
Lodo
do grupo. “Fazíamos uma lua
tida, o mesmo lance deu inítraduzem-se
nesta
declaração
de
Martins:
“O
nova no mapa da América
cio a uma produção musical
ao
vivo,
no
canal
Band
13
sonho...
pelo
menos
foi
sonhado
e
vivido
a
todo
Latina com as cidades de nasdiferenciada. “Na seqüência
mudamos para outro sítio, desta vez perto de cimento de cada integrante: Nacho Meña, de volume.”
Anos depois, a parceria de Beto Martins e
Petrópolis. Entrou Geraldo Espíndola, composi- Santiago do Chile, eu, de Campo Grande/MS,
Pedro
Jaguaribe renderia outras bandas como
tor e cantor inspirado, de Mato Grosso. Com ele Beto Martins, o melhor guitarrista do Brasil, de
Apaluza,
e mais tarde o Ponte Aérea. No ano
acho que estávamos descobrindo um caminho Minas Gerais, e o Pedro do Rio”. Fora a contride
1984
o grupo gravou um disco com Itamar
para o Rock Rural, já que ele tocava uma cravi- buição musical que tocava a nova musicalidade
Corrêa,
escritor
e músico que evoca o Araguaia,
ola de 12 cordas. Um grande compositor e com do Lodo, Geraldo distoava em determinado
com
quem
desenvolveram
um trabalho entre o
muitas músicas novas. Um som muito bom que ponto, as cabeleiras. “Como eu tinha pedido
rock
rural,
picos
de
rock
progressivo (adapsomado ao peso original do trio ficava ótimo. dispensa do Exército, fui ao Rio completamente
tado
à
conjuntura
oitentista)
e a influência da
Melódico, mas pesado; entre Hard e Progres- careca. Fui um dos raros cantores de rock do Rio
tradição
musical
do
Centro
Oeste,
simbolizada
sivo. Nesse segundo sítio ficamos quase que completamente careca”.
muito
bem
pela
carreira
de
Geraldo
Espíndola.
mais um ano, muitos ensaios, jams e criações.
O orgulho de Geraldo por ter composto o
Assim
o
disco
torna-se
uma
amostra,
mesmo
que
Nessa nova formação, de novo, nada de fitas”, “primeiro grupo de rock progressivo no Bradistante
mais
de
dez
anos,
do
que
foi
o
Lodo.
compensadas pelas excelentes lembranças de sil”, veio unido de uma decepção: “Depois do
Beto Martins.
sucesso aqui [no Mato Grosso], voltamos ao
Convidado por Pedro Jaguaribe, o notável Rio, quando roubaram nossos equipamentos”.
udi
udigru
grudi
gru
psicodália 2009
por lucas rodrigues de campos
colaboraram érico e andré
Proposta declarada, O PSICODÁLIA mescla
na medida certa nostalgia com ufanismo ao
deixar presente a sonoridade rock setentista
nos aspectos diversos que a consagram: rural,
psicodélica, estúdios ruins, chiados, fuzz, vozes
agudas, emulações sintetizadas, ondas valvuladas, udigrudi; Elementos condensados na
vocação do festival, que há sete anos sustenta
constante qualidade, estrutura, organização e
ambiente apropriado para experimentações
das mais diversas. Interior, num bom espaço
rodeado por montanhas, na cidade de São
Martinho em Santa Catarina, uma chácara com
lagos e reserva verde. Além das maratonas
musicais, divididas em dois palcos – Palco do
Sol e Palco do Pasto (palco principal) – a grade
de programação inclui ainda eventos gratuitos
como exposições, peças de teatro, palestras,
oficinas várias e workshops. Em edições anteriores o evento recebeu como headliners nomes
consagrados como Patrulha do Espaço, Sérgio
Dias e Casa das Máquinas; Este ano o glorioso Som Nosso de Cada Dia encabeça o cast,
dando continuidade a sua volta aos palcos, iniciado neste ano de 2008.
O Udigudi especial desta edição, procura
traçar um perfil sonoro das principais atrações
com apresentação marcada nos cinco dias do
próximo carnaval. A maior parte das bandas,
seguindo a tradição é do Sul, principalmente
do estado do Paraná, expondo o arsenal de
bandas que a região apresenta. Faremos aqui,
um breve release das bandas que se apresentarão nos dias 20, 21, 22, 23 e 24 de fevereiro
de 2009, no carnaval mais roqueiro do Brasil!
O projeto vem crescendo ano a ano, e chama cada vez mais a atenção dos pirados que
apreciam boa música. Sem muita exposição,
mesmo em publicações especializadas em música, o Psicodália junta-se ao coro de outros festivais como o Rock Camping e Camping Rock,
e incentiva outros pólos musicais a realizar
acontecimentos como este, que montam palcos
de qualidade e são ponte da produção mais
barata com o público.
O “Cast” do festival
A mistura de sons regionais ao pop lembra
a variada canção nordestina dos 70´s: Rabecas, cavaquinhos, clarinete, violas, gaitas regionais e distorção, executadas por anos de
estudo que buscam a raiz. Os grupos Sopro
Difuso (PR) e Trupe Sonora Casa de Orates
(SC) unem harmonias sofisticadas com foco nas
flautas, vezes em arranjos de cordas. Som sincrético numa linha regional, com sintetizadores
e poesia, principalmente o segundo grupo que
se apresenta com roupas e intervenções lúdicas; Lembram algo do obscuro conjunto Quintal
de Clorofila, que é referência para passagens
mais chapadas. Flutuam entre o progressivo,
a canção mineira e música andina; Admirável
dinâmica nos coros. Semelhantes ao conjunto
curitibano Universo em Verso Livre que também
traz as mesmas peculiaridades das bandas
acima, porém predomina nesta a fácil fluência
do pop que consagrou Zé Ramalho e Alceu na
sua fase pós-oitenta.
O corpo da banda Cadillac Dinossauros
(PR) evoca rock de peso, tudo mediado por
uma cadencia hard, embalados pela sessão
rítmica quebrada, meio Led, uma sonoridade
mais cosmopolita. Som de cabeludos ávidos
por raridades hard-prog tem representação
com a banda Mesa Girante (PR), que traz composições saturadas, melodiosas e coloridas por
um Hammond que guia músicas de “A ao Z”,
incrementadas por flautas, vocais femininos e
guitarras estridentes. Todo épico conceito de
um prog, riqueza sonora com instrumentais bem
arquitetados como comprovam as deliciosas
“Liberdade Espiritual” e “Fantasia”.
De Sergipe(Aracaju), o som beat dos compactos da Rozemblit é alimentado por sintetizadores e uma parafernália que supera as
composições. Em resumo, Plástico Lunar - única
banda do Nordeste a participar do evento
- apresenta um rock sydbarretiano e letras
despretensiosas, com cadencias que resvalam
em Jefferson Airplane. Do Paraná e trazendo
a mesma proposta dos sergipanos, porém
arriscando um pouco mais, surgem os Seres
Inteligíveis Vindos do Hiperurano, com suas
tecladices a lá’Manzareck, e orquestrações a
lá’Duprat, ousam em faixas como “Circo Encantado De Lá” – composição máxima da banda.
O conjunto mais conhecido do cenário independente vem do Rio Grande do Sul – circulando
pelos lados da capital paulistana, com apresentações destacadas na casa Astronete - o
trio-dinâmico Pata de Elefante mescla viagens
instrumentais entre surf music, heavy rock, passagens progressivas, atmosféricas com influências de Hendrix, George Clinton, e do compositor italiano Ennio Morricone, famoso por suas
trilhas para o cinema . Em cima do palco o trio
surpreende com apresentações devastadoras,
sendo uma viagem que nunca se sabe onde vai
parar e como poderá terminar.
Letras cômicas, polcas, valsas e performance
circense... imaginem algo como um Jethro Tull
punk! Assim a banda Gato Preto (PR), com seu
recém lançado álbum de estréia (do final de
2007) marcará sua presença, como sempre
requisitada pelos organizadores e publico
do PSICODÁLIA. A seguir, “Rock n´ Acordeon!
Subtropicalismo! Teimosia! Vertigem musical!”. É
dessa forma que a banda RoberSouTheValsa
(PR) se apresenta em seu site no myspace. Eles,
que são uma espécie de queridinhos do festival,
tendo inclusive estreado nos palcos na primeira
versão do PSICODALIA em 2004, ficaram um
tempo parados, voltando este ano para a felicidade dos roqueiros sedentos por irreverência,
loucuras e viagens musicais em cima do palco,
destaque para os arranjos de “Guerreiros”.
No mesmo caminho, seguem os parceiros do
Sopa (PR), investindo um pouco mais na comicidade – comicidade, contudo, que deve ser
levada a sério, pois não é graça pela graça e
sim graça como meio de ilustrar a riqueza so-
nora executada
pela banda de
alto nível profissional. Ainda mais gracioso é o vocal feminino
e chapado de Daniele Madrid, que guia a
banda em suas viagens sonoras. Instrumentação elaborada, plantel numeroso, uso inusitado
de acordeons, timbragens modernas com leves
pitadas de rock psicodélico e muita diversão
com a “clown music” da gaúcha Bandinha Di Dá
Dó: uma banda formada por palhaços-músicos,
literalmente. Sem dúvida uma nova e interessante proposta musical que parece fazer a cabeça do público.
Para completar a salada sonora que o festival oferece, participa também o grupo Tântalus
Cantantes (PR). Sem acesso ao som da banda,
tivemos a segura informação de que se trata
de um inusitado grupo que toca musicas indianas com cítaras, violinos, instrumentos acústicos
e outros não-convencionais. Impressiona também o projeto ousado de O Conto (PR) - que
pretende estrear seu primeiro trabalho em CD
no festival- trata-se de um trio multiinstrumental
que tem como propósito “contar estórias acompanhados de música progressiva/psicodélica”,
conforme o site do PSICODÁLIA.
Outros veteranos do festival são as bandas
paranaenses Goya e O Sebbo, que conquistaram o público com suas particulares contribuições musicais. Enquanto Goya esbanja um
jazz porretaespacial do planeta GOYA – seu
lema: Vivemos no planeta Goya! Em breve mais
uma nave estará partindo. Suba! O Sebbo, que
inclusive acaba de tirar do forno seu álbum de
estréia “Porque Não Sabíamos Voar” configura
tresloucadamente, uma síntese perfeita entre o hard, o funk e o prog setentistas, talvez
como nenhuma outra banda no festival, um rock
and roll “do bão” que dialoga com o rock das
bandas daqui de Sampa, como atesta “O Seu
mundo inteiro vai cair” , meio Made In Brazil, e
a piradaça “Vozes Distantes”. Para finalizar as
bandas sulistas do evento, temos ainda o som
bem rítmico e grooveado, um hard blues psicodélico dos Calibrados (PR) e o mítico Plá, a
versão paranaense do maluco de BR Ventania,
de São Thomé das Letras; Suas canções de viagem, trova de estrada, se fazem necessárias
num festival desse porte, no sentido de conectar
o público com uma proposta musical mais direta
e simplista. Afinal, não poderia deixar de faltar no PSICODÁLIA um representante autêntico
do folk-brasileiro: um hippie-de-estrada cabeludo, cheio de mensagens, simbolismos e idéias
libertárias para o público, acompanhado por
psicodália 2009
seu fiel companheiro, o violão. Uma espécie de
“mascote” do festival.
Subindo o mapa, no Sudeste, representando
as Minas Gerais, o power-trio Zé Trindade; Sem
grandes exageros, competente e sem meias
palavras, três bons instrumentistas nos fazem
lembrar bandas como Mopho e Casa Flutuante.
De São Paulo – além do Som Nosso De Cada
Dia, (ver sÓ #s 2 e 3) – com a hiper produção
visual que inclui um ônibus da década de setenta e figurinos elaborados. Estação da Luz, de
São José do Rio Preto, traz proposta sonora
semelhante a da banda Sebbo, vocais femininos, nostálgicos timbres valvulados, exuberância em cores e sons, como atesta o promo-clip
de “Par Perfeito”, lembrando os clips psicodélicos de televisivos como o clássico e finado Beat
Club. Completando o cast do Psicodália 2009,
a banda Soul Barbeccue vem para representar
o Rock Da Cantareira, com sua Antiqua Cientia Astro-musicallis: riqueza sonora composta
de elementos musicais dos mais diversos, tendo
como principal ênfase o Rock Progressivo, ainda que exibindo talentos jazzisticos e folkistas,
o fuzz e as harmonizações vocais do quarteto,
tornam seu som ímpar, com composições e arranjos sofisticados. Mais grupos deverão esquentar o público durante o dia no Palco do
Sol. Até o fechamento desta edição, seus nomes
não haviam sido divulgados.
“O Movimento Psicodália busca uma nova era
na música, na arte em geral e na sociedade. Buscamos nos eventos realizados pelo movimento
abrir espaço para uma arte livre, com qualidade
e ideologia, buscando unir essa luta a modelos
de vida que acreditamos serem vitais para a humanização das relações entre pessoas. Pacifismo,
respeito, diversão, alegria, consciência ambiental
e ecológica, liberdade de expressão e de ‘ser’
fazem parte dessa empreitada por um mundo
melhor. Convidamos você a se juntar a nós, participando e contribuindo com sua presença nos
eventos, para que cresçamos e possamos assim
difundir um estilo de vida pelo qual acreditamos
e lutamos”.
trecho extraído do sítio do festival psicodália
Interessado? Aqui estão as coordenadas:site oficial: http://www.psicodalia.mus.br/ comunidade no
orkut: http://www.orkut.com.br/Main#Community.
aspx?cmm=147516
e-mail: [email protected]
jjazz nos fundos
djalma lima
quinteto
por andré mainardi
Um bar de jazz nos fundos de um estacionamento.Sábado,
noite quente; cérebros em combustão; O Quinteto liderado
por Djalma Lima alternava standards jazzísticos e as nove
faixas autorais do segundo e mais recente disco do guitarrista, lançado pelo selo Guandama Music.
Discípulo de Ted Greene e Steve Cardenas no Musicians
Institute (GIT) de Los Angeles, EUA, Djalma reuniu em seu
novo CD os companheiros da big band Sound Scape; o baterista norte-americano Bob Wyatt (que gravou, em 1986,
os discos Pindorama, do Grupo Pau Brasil, e Mundo, de Rodolfo Stroeter, e já foi sideman de Maynard Fergunson e
do lendário Chet Baker no Free Jazz Festival de 1985); o
saxofonista Vitor Alcântara que tocou com Túlio Mourão,
Banda Mantiqueira e Azael Rodrigues; Cássio Ferreira,
saxofonista que gravou com Michel Leme e Alex Buck; e o
jovem e talentoso contrabaixista, Bruno Migotto.
Muito diferente da maioria dos CDs de guitarristas
– recheados de pretensões e exageradas demonstrações
puramente técnicas – este novo trabalho de Lima traz composições coesas onde cada músico deu fundamental contribuição. O disco, produzido pelo próprio Djalma junto a
Fábio Veroneze, foi gravado no Estúdio das Faculdades Integradas Cantareira. O lançamento aconteceu no dia 6 de
dezembro de 2008, no bar Jazz nos Fundos.
A sonoridade é calcada no be-pop com liberdadew conservada para migrar a outra vertentes. Em perfeito entrosamento com seu grupo, o band leader, desfere seus solos
bem elaborados em complicadas divisões rítmicas; Na seqüência – gravada no enorme
e bem equipado estúdio das
Faculdades Integradas Cantareira – destacam-se “I Got It”,
composição de Wyatt, “Fui!”,
“Idéia Fixa”, “Proximidade” e
“Pete(r)”, bela homenagem de
Djalma a Pete Wooley, falecido
baixista de Tutti Moreno e do
projeto Brazilian Jazz.
Saiba mais:
www.djalmalima.com