CECILIA HELENA VIEIRA FRANCO DE GODOY CARVALHAES
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CECILIA HELENA VIEIRA FRANCO DE GODOY CARVALHAES
CECILIA HELENA VIEIRA FRANCO DE GODOY CARVALHAES Padronização e Aplicação da Espectrometria de Massa por Ionização e Dessorção a Laser Assistida por Matriz na Detecção de Carbapenemases em Bactérias Gram-negativas Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Doutor em Infectologia. São Paulo 2014 CECILIA HELENA VIEIRA FRANCO DE GODOY CARVALHAES Padronização e Aplicação da Espectrometria de Massa por Ionização e Dessorção a Laser Assistida por Matriz na Detecção de Carbapenemases em Bactérias Gram-negativas Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo - Escola Paulista de Medicina para obtenção do título de Doutor em Infectologia. Orientadora: Profa. Dra. Ana Cristina Gales Coorientador: Dr. Rodrigo Cayô da Silva Este trabalho foi realizado com auxílio financeiro fornecido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). São Paulo 2014 ii CARVALHAES, Cecilia Helena Vieira Franco de Godoy Padronização e Aplicação da Espectrometria de Massa por Ionização e Dessorção a Laser - Assistida por Matriz na Detecção de Carbapenemases em Bactérias Gram-negativas. Cecilia Helena Vieira Franco de Godoy Carvalhaes - São Paulo, 2014. xxiii, 179. Tese (Doutorado) - Universidade Federal de São Paulo. Escola Paulista de Medicina. Programa de Pós-graduação em Infectologia. Título em inglês: Standardization and application of matrix-assisted laser desorption ionization time-of-flight mass spectrometry for carbapenemase detection in Gram-negative rods. 1. Pseudomonas spp., 2. Acinetobacter spp., 3. Enterobactérias, 4. Klebsiella pneumoniae; 5. β-lactamase; 6. OXA-carbapenemase; 7. KPC; 8. Infecção de corrente sanguínea; 9. Metalo-β-lactamase; 10. MALDI-TOF MS; 11. Hemocultura; 12. Espectrometria de massa; 13. Resistência bacteriana. iii UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA DISCIPLINA DE INFECTOLOGIA Chefe do Departamento: Profa. Dra. Maria Tereza Zanella Coordenador do curso de Pós-graduação: Prof. Dr. Ricardo Sobhie Diaz Chefe da Disciplina de Infectologia: Prof. Dr. Celso Franciso Hernandes Granato São Paulo 2014 iv CECILIA HELENA VIEIRA FRANCO DE GODOY CARVALHAES Padronização e Aplicação da Espectrometria de Massa por Ionização e Dessorção a Laser Assistida por Matriz na Detecção de Carbapenemases em Bactérias Gram-negativas BANCA EXAMINADORA: Presidente: Profa. Dra. Ana Cristina Gales Professora Adjunta e Diretora do Laboratório ALERTA da Disciplina de Infectologia do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Titulares: Prof. Dr. Luis Martinez-Martinez Professor Titular do Departamento de Biología Molecular da Facultad de Medicina da Universidad de Cantabria - UNICAN e Chefe do Servicio de Microbiología do Hospital Universitario Marqués de Valdecilla - IDIVAL, Santander, Espanha. Prof. Dr. Cledir Rodrigues Santos Gerente da Qualidade da Micoteca da Universidade do Minho, Braga, Portugal e Professor Visitante Internacional no Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras, Minas Gerais. Prof. Dr. Adagmar Andriolo Professor Associado e Livre Docente da Disciplina de Patologia Clínica do Departamento de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Prof. Dr. Luis Fernando Aranha Camargo Chefe do Grupo de Infecção em Transplantes da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP. Suplentes: Profa. Dra. Marinês Dalla Valle Martino Professora Adjunta da Disciplina de Microbiologia do Departamento de Ciências Patológicas da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e Médica-coordenadora do Setor de Microbiologia do Laboratório Clínico da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein (SBIBHAE). Prof. Dr. João Nóbrega de Almeida Júnior Médico Assistente do Laboratório de Microbiologia da Divisão de Laboratório Central, Hospital das Clínicas - HC, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - USP. v “O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são” Aristóteles vi Dedico este trabalho ao meu pai, Prof. Dr. Cid Vieira Franco de Godoy, a quem eu tenho muito orgulho de chamar de PAI. vii Agradeço à DEUS, pela Sua INTERCEDÊNCIA na minha vida, pela Sua SABEDORIA acima de todas as coisas, e por permitir a CONFLUÊNCIA de fatores que me levaram a concretizar esta jornada. viii Agradeço ao meu pai, Prof. Dr. Cid Vieira Franco de Godoy, mas para mim, MEU PAI, que com muito amor e dedicação me ensinou o valor do ESFORÇO e da DEDICAÇÃO, e que devo sempre ter mérito e perseverança para alcançar os meus objetivos. Pai, você me proporcionou todos os instrumentos para que eu trilhasse meu caminho. OBRIGADA MEU PAI. Agradeço à minha amada mãe, Maria Carmen, não há palavras no mundo que possam expressar meu reconhecimento e retribuir seu AMOR, DEDICAÇÃO e CARINHO, sempre tão presentes em minha vida. Mãe, você é o meu alicerce. Obrigada por procurar fazer de mim uma pessoa melhor, por ser o exemplo do AMOR INCONDICIONAL, por me ensinar a FÉ e a buscar minha FORÇA INTERIOR. ix Agradeço ao meu amado marido, Marcelo, meu companheiro de uma longa jornada, pela paciência, pela compreensão nos momentos em que estive ausente, pelos conselhos, pela segurança na tomada de decisões. Agradeço a construção e dedicação à nossa MARAVILHOSA FAMÍLIA e por permitir que eu buscasse meu SONHO e a minha REALIZAÇÃO. Agradeço aos meus amados filhos, Alessandra e Lucas, que me ensinaram que a VIDA é um milagre de DEUS e que o AMOR pode ser maior do que eu poderia imaginar. Obrigada pela ALEGRIA que vocês me trazem, e por me fazerem entender o PROPÓSITO da VIDA. x Agradeço às minhas irmãs, Cris, Carola e Silvinha, minhas amadas companheiras de vida, cada uma um exemplo incrível de dedicação, perseverança, esforço e força. Obrigada, pelo amor e carinho a mim dedicados, por estarem do meu lado em TODOS os momentos da minha vida e me levantarem quando mais precisei. Somos uma IRMANDADE com toda força, amor e união que a palavra remete. Amo vocês. xi AGRADECIMENTOS À minha orientadora e amiga, Profa. Dra. Ana Cristina Gales, por quem tenho imenso RESPEITO e ADMIRAÇÃO. Sinto-me imensamente privilegiada não apenas pelos inúmeros conhecimentos transmitidos e grande dedicação à minha formação, mas também pela sua essência, pela busca no aprimoramento do SER HUMANO, mente e espírito, por compartilhar experiências de VIDA e por me dedicar seu escasso tempo com muito carinho. Tenho ORGULHO de ser sua aluna e, muito mais, de ser sua AMIGA. OBRIGADA, Ana. Ao meu grande AMIGO, Rodrigo Cayô, a quem eu muito ADMIRO pela DEVOÇÃO ao trabalho, pelo ESFORÇO e MÉRITO por tudo que faz e, principalmente, o que o destaca, pela sua capacidade de se DOAR aos outros. Eu agradeço pelos inúmeros momentos que passamos juntos, pelo conhecimento compartilhado, pelos conselhos, pelo altruísmo e dedicação para comigo. Agradeço do fundo do meu coração. OBRIGADA, meu AMIGO. À UNIFESP, a minha amada ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA, que ainda jovem me acolheu, onde apreendi e trilhei meu caminho profissional com muito orgulho. Onde agora posso retribuir o muito que me foi ensinado. Ao Prof. Dr. Adagmar Andriolo, por me acolher na Patologia Clínica, e compartilhar seus conhecimentos. Agradeço pela sua dedicação e perseverança em tornar nossa especialidade reconhecida e forte. À Dra. Antonia Maria de Oliveira Machado, por me ensinar MICROBIOLOGIA, por me auxiliar na busca pelo mestrado e doutorado, pelos inúmeros conselhos pessoais e profissionais, e, principalmente, pelo sempre presente suporte profissional. OBRIGADA pelo INCENTIVO e ORIENTAÇÃO. À minha querida AMIGA, Eliete Frigatto, que me passou mais do que seus conhecimentos e imensa experiência, mas também sua paixão pela nossa MICROBIOLOGIA. Uma grande amiga, um exemplo de dedicação e altruísmo, de respeito e responsabilidade, de comprometimento e educação. Sinto-me honrada de tê-la ao meu lado, no trabalho, mas, principalmente, na vida. xii À Equipe de Microbiologia do Laboratório Central, por me acolher ainda na resisdência médica, por compartilhar seus conhecimentos, por dividir momentos de alegria e de tristeza, por sofrer com a falta e alegrar-se com as nossas conquistas e, principalmente, por tornarem-se a MINHA EQUIPE, da qual eu tenho muito orgulho de estar a frente. A todos os Médicos e Colaboradores do Laboratório Central e Disciplina de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pelo apoio e incentivo, pela alegria do convívio diário. Ao Prof. Dr. Luis Fernando Aranha Camargo, por me receber no seu competente e dedicado grupo de Infecção em Transplante, onde tive oportunidade de adicionar à minha formação seus preciosos conhecimentos de Infectologia, e compartilhar com profissionais de excelência, como Dr. Alexandre Marra, Dr. Moacyr Silva Jr., Dr. Fernando Gatti Menezes e Dr. Marcelo Mostardeiro. Obrigada a todos pela amizade, companheirismo e conhecimentos compartilhados. Ao Prof. Dr. Antonio Carlos Campos Pignatari, pelo exemplo do que significa a profissão de Médico, pela dedicação aos pacientes acima de tudo, pelos ensinamentos e conselhos fornecidos, pela experiência de vida compartilhada, por me ensinar a ser flexível e me mostrar caminhos não antes percebidos. OBRIGADA Professor pela sua SABEDORIA. Aos pós-graduandos do Laboratório ALERTA, Adriana Nicoletti, Adriana Pereira, Ana Carolina Ramos, Ana Paula Streling, Anderson Santos, Bruna Nonato, Danilo Xavier, Dandara Corsi, Eloiza Campana, Eliete Frigatto, Fernanda Petrolini, Fernanda Rodrigues, Graziela Braun, Jéssica Werneck, Jhonatha Moura, Juliana Provasi, Lorena Fehlberg, Lucas Andrade, Lygia Schandert, Marina Visconde, Paula Peraro, Rafael Affini, Renata Picão, Rodrigo Cayô e Talita Barone, que me ensinaram a MICROBIOLOGIA de ponta, mas também o respeito, a amizade e a dedicação entre companheiros de trabalho. Agradeço a todos aqueles que hoje estão no laboratório e também àqueles que por lá passaram e plantaram suas sementes, àqueles que participaram ativamente dos meus trabalhos e dos quais são coautores, que me auxiliaram quando eu tinha minhas obrigações maternas e que cresceram junto comigo. Agradeço às minhas coorientandas, Ana Carolina, Bruna e Eliete, que me proporcionaram um amadurecimento profissional. Agradeço especialmente, as minhas amigas Raquel Girardello, Ana Carolina Ramos e Ana Paula Streling. xiii Aos pós-graduandos do Laboratório Especial de Microbiologia Clínica (LEMC) pelos ensinamentos e experiências compartilhadas. Agradeço em especial ao Dr. André Doi e à Rosana Capecce. Ao Prof. Dr. Luis Martínez-Martínez, por me receber em um curto estágio em seu Serviço de Microbiologia, em Santander, Espanha. Agradeço pela oportunidade de conhecer e a almeijar um serviço de excelência, pelos seus inúmeros conhecimentos compartilhados, pela dedicação e conselhos em nossos projetos. Agradeço imensamente por me dar a honra de ser membro de minha banca de doutorado. À Equipe do Servicio de Microbiología do Hospital Universitário Marqués de Valdecilla, Santander, Espanha, por me acolher e compartilhar seus conhecimentos, especialmente, Bélem Ruiz del Castillo, Elena Román Paucar, Alain Ocampo Sosa e Dr. Jorge Calvo Montes. À querida amiga María Pilar Garcillán Barcia, que acolheu a mim e a minha família em sua casa, pelo carinho, alegria e dedicação. MUITO OBRIGADA. Ao Departamento de Biofísica da UNIFESP, ao Prof. Dr. Luiz Juliano Neto e Profa. Dra. Maria Juliano, pela colaboração e apoio aos nossos estudos. À toda equipe, especialmente, à Débora e Lilian, pelos auxílios e dedicação a mim dispensados. Ao amigo Diego Magno Assis, por acreditar e se dedicar ao nosso projeto, pelos conhecimentos e grandes momentos de alegria compartilhados quando no sucesso do projeto. Muito OBRIGADA, sem você este trabalho não teria se concretizado. Ao Prof. Dr. Alberto Duarte, pelo apoio e incentivo para conclusão deste trabalho. Tenho uma grande ADMIRAÇÃO pelo seu exemplo de que a ciência PODE e DEVE estar acima de outros interesses. Aos meus colegas e amigos do HCor, pela compreensão, apoio e estímulo para a conclusão deste trabalho. Agradeço especialmente ao Dr. André Doi, Dr. Nilo Duarte, Dra. Carina Ceneviva, Dr. Luis Gustavo, Dra. Maria Rita Elmor de Araújo, Dra. Lucilene Rodrigues e Dra. Annelise Lopes. Agradeço também ao carinho e atenção dispensados a mim pela equipe da secretaria e demais colaboradores, especialmente, Nata e Daniel. xiv À minha sogra, Maria Alice, pela sua IMENSA dedicação à minha família, por me auxiliar e me dar o suporte para que eu pudesse me ausentar muitas vezes do meu lar. OBRIGADA por estar sempre presente, pelo seu APOIO, COMPREENSÃO, CARINHO e DEVOÇÃO. Ao meu querido sogro, Luís Fernando, a quem eu tenho enorme apreço, AGRADEÇO o AMOR que tem por mim e pelos meus filhos, AGRADEÇO à DEUS por permitir compartilhar destes momentos preciosos ao seu lado, e PEÇO com muito carinho que cuide de sua sáude, para que desfrutemos de muitos outros. À Amara Maria Felix, que com simplicidade, muita dedicação, paciência e AMOR cuida dos meus filhos como se fossem seus, me garantindo a segurança e confiança para exercer meu trabalho profissional. O meu profundo AGRADECIMENTO. O meu muito obrigado aos pacientes, que proporcionaram a execução deste trabalho, muitos dos quais já evoluiram para outra dimensão em decorrência destas infecções. Que o fruto deste trabalho posse reverter em benefício a muitos outros pacientes que virão. Às bactérias, a quem tenho apreço e respeito, pois apesar de suas minúsculas dimensões, habitam a Terra há milhares de anos antes que nós e provavelmente a habitarão por milhares de anos a mais. Temos ainda muito que apreender com vocês. xv SUMÁRIO ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ................................................................................. XVIII ÍNDICE DE TABELAS................................................................................................................. XX ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................................ XXI 1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 1 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................................................... 6 2.1. A Espectrometria de Massa Aplicada à Microbiologia Clínica ............................................ 7 2.1.1. O Princípio da Técnica de MALDI-TOF MS................................................................. 9 2.1.2. A Espectrometria de Massa na Identificação de Micro-organismos .......................... 11 2.1.2.1. Identificação de Bactérias Aeróbicas....................................................................13 2.1.2.2. Identificação de Bactérias Anaeróbicas................................................................15 2.1.2.3. Identificação de Micobactérias..............................................................................15 2.1.2.4. Identificação de Fungos........................................................................................16 2.1.2.5. Identificação de Micro-organismos Diretamente de Frascos de Hemocultura......18 2.1.3. A Espectrometria de Massa na Tipagem de Micro-organimos .................................. 24 2.1.4. A Espectrometria de Massa na Resistência aos Antimicrobianos ............................. 25 2.2. Epidemiologia das Bactérias Gram-negativas no Ambiente Hospitalar ............................ 27 2.2.1. Resistência aos Antimicrobianos β-lactâmicos em Bactérias Gram-negativas ......... 31 2.3. Mecanismos Envolvidos na Resistência aos Carbapenens .............................................. 34 2.3.1. Cefalosporinases e ESβL Associadas à Impermeabilidade de Membrana ............... 35 2.3.2. Produção de β-lactamases: Carbapenemases.......................................................... 45 2.3.3.1. Carbepenemases de Classe A..............................................................................49 2.3.3.2. Carbapenemases de Classe B..............................................................................52 2.3.3.3. Carbapenemases de Classe D..............................................................................54 2.4. Impacto Clínico da Resistência aos Carbapenens ........................................................... 56 2.5. Metodologias Aplicadas à Detecção de Carbapenemases ............................................... 60 2.5.1. Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos ............................................................. 61 2.5.2. Teste de Hodge Modificado ...................................................................................... 64 2.5.3. Teste com Inibidores de Carbanemases ................................................................... 65 2.5.4. Testes Genotípicos ................................................................................................... 67 2.5.5. Testes Baseados na Detecção da Atividade Enzimática .......................................... 69 2.5.5.1. Testes Colorimétricos (Carba NP, CarbAcineto NP e Blue Carba)......................69 xvi 2.5.5.2. Espectrofotometria................................................................................................71 2.5.5.3. Espectrometria de Massa - MALDI-TOF MS........................................................71 3. OBJETIVOS ............................................................................................................................. 75 4. ARTIGOS CIENTÍFICOS ......................................................................................................... 77 4.1. Artigo Científico 1: Detection of SPM-1-Producing Pseudomonas aeruginosa and Class D β-Lactamase-Producing Acinetobacter baumannii Isolates by Use of Liquid ChromatographyMass Spectrometry and Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization-Time of Flight Mass Spectrometry………………………………………………………………………………..………....79 4.2. Artigo Científico 2: Detection of carbapenemase activity directly from blood culture vials using MALDI-TOF MS: a quick answer for the right decision……………….……………………92 4.3. Artigo Científico 3: Detection of carbapenemase activity using VITEK® MS: Interplay of carbapenemase type and period of incubation……………………………………………..……108 5. DISCUSSÃO .......................................................................................................................... 118 6. CONCLUSÕES ...................................................................................................................... 138 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 140 8. ANEXOS ................................................................................................................................ 165 8.1. Anexo 1: Cloverleaf test (modified Hodge test) for detecting carbapenemase production in Klebsiella pneumoniae: be aware of false positive results………………………..………….…167 8.2. Anexo 2: Tabela 8 - Estudos da literatura que avaliaram a detecção de carbapenemases pela ténica de MALDI-TOF MS...............................................................................................178 xvii ÍNDICE DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APACHE - Acute Physiology and Chronic Health Evaluation APBA - Ácido Aminofenil Borônico BRCAST - Comitê Brasileiro de Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos CARB - White House National Strategy for Combating Antibiotic Resistant Bacteria CDC - Centers for Disease Control and Prevention CIM - Concentração Inibitória Mínima CHDL - Carbapenem-Hydrolyzing Class D β-Lactamases CLSI - Clinical Laboratory Standard Institute DPA - Ácido Dipicolínico EARS-Net - European Antimicrobial Resistance Surveillance Network ECDC - European Centrer for Disease Prevention and Control EDTA - Ethylenediamine Tetraacetic Acid ESβL - Extended-Spectrum β-Lactamases EUA - Estados Unidos da America EUCAST - European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing HCCA - Ácido α-Ciano-4-Hidroxicinâmico ICSP - International Committee on Systematics of Prokaryotes ICS - Infecção de Corrente Sanguínea IRAs - Infecção Relacionada à Assistência à Saúde IS - Insertion Sequence KPC - Klebsiella pneumoniae carbapenemase LPS - Lipopolissacarídeos xviii MALDI-TOF MS - Matrix Assisted Laser Desorption Ionization - Time Of Flight - Mass Spectrometry MβL - Metalo-β-Lactamases MDR - Multirresistentes MHT - Modified Hodge Test MRSA - S. aureus resistente à meticilina MSSA - S. aureus sensível à meticilina NCBI - National Center for Biotechnology Information NHSN - National Healthcare Safety Network OMS - Organização Mundial da Saúde OMPs - Proteínas de membrana externa PAV - Pneumonia associada à ventilação mecânica PCA - Análise dos Componentes Principais PCR - Polymerase Chain Reaction SBI - Sociedade Brasileira de Infectologia SBM - Sociedade Brasileira de Microbiologia SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica / Medicina Laboratorial SCIHs - Serviços de Controle de Infecção Hospitalar SCoN - Staphylococcus coagulase negativa STs - Sequences Types TSB - Caldo tríptico de soja UTIs - Unidades de Terapia Intensiva VRE - Enterococcus spp. resistentes à vancomicina WHO - World Health Organization xix ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1. Diferenças entre os principais artigos publicados que descreveram a identificação de bactérias diretamente do frasco de hemocultura.................................................................................... 20 Tabela 2. Característica dos estudos de vigilância epidemiológica que incluem isolados bacterianos brasileiros............................................................................................................................................... 30 Tabela 3. Classificação das β-lactamases adaptada de Bush & Jacoby (2010).................................... 42 Tabela 4. Características das principais carbapenemases reportadas………...................................... 46 Tabela 5. Pontos de corte utilizados para triagem e para classificação da sensibiliade de enterobactérias recomendados pelo EUCAST e CLSI...............................……………..….........…........ 63 Tabela 6. Characterization of the 73 clinical isolates and performance of carbapenemase detection by different methodologies (Table 1 - Artigo Científico 1)………………................................................. 88 Tabela 7. Carbapenem susceptibility profile and time in days for detection of carbapenemaseproducing isolates by MALDI-TOF MS (Table 1 - Artigo Científico 2)………………............................... 107 Tabela 8. Interplay of carbapenemase type and period of incubation (IP) for detection of carbapenemase activity by testing VITEK® MS (Table 1 - Artigo Científico 3)……................................ 114 Tabela 9. Estudos da literatura que avaliaram a detecção de carbapenemases pela ténica de MALDI-TOF MS.................................................................................………………............................... 178 xx ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Espectômetro de massa - MALDI-TOF MS............................................................................ 10 Figura 2. Espectro de massa gerado pelo MALDI-TOF MS para diferentes espécies bacterianas............................................................................................................................................. 14 Figura 3. Fluxograma do uso da técnica de MALDI-TOF MS na identificação de micro-organismos no laboratório de microbiologia clínica................................................................................................... 23 Figura 4. (A) The hydrolysis of ETP mediated by β-lactamases occurring in two steps. (B) Analysis of ETP degradation by MALDI-TOF MS (Figure 1 - Artigo Científico 1)................................................ 90 Figura 5. Analysis of ETP degradation by MALDI-TOF MS from carbapenemase-producing isolate and non-carbapenemase-producing isolate (Figure 1 - Artigo Científico 2)..…………….……….......... 106 Figura 6. Interplay of carbapenemase type and period of incubation (IP) for detection of carbapenemase activity by testing VITEK® MS (Figure 1 - Artigo Científico 3)...................................... 114 xxi RESUMO A presente tese de doutorado objetivou a padronização e a aplicação do MALDI-TOF MS na detecção de carbapenemases em bacilos Gram negativos. Inicialmente, realizamos a padronização de um ensaio para detecção da atividade de diferentes carbapenemases pela técnica de MALDI-TOF MS. Foram testados para esse estudo 73 isolados clínicos produtores e não produtores de carbapenemase. O método foi comparado à LC-MS, ao MHT e à espectrofotometria. O espectro de massa do ertapenem mostrou-se superior ao do imipenem e ao do meropenem. A atividade de carbapenemase das classes A e B foi rapidamente detectada pelo MALDI-TOF MS após 2 horas de incubação, enquanto uma extensão do período de incubação foi necessária para a detecção das enzimas da classe D em isolados de A. baumannii. Embora todos os resultados obtidos pelo MALDI-TOF MS tenham sido confirmados pela LC-MS e pela espectrofotometria, o MHT detectou 55%, 100% e 68% das enzimas de classes D, A e B testadas, respectivamente. No segundo estudo, padronizamos a técnica de MALDI-TOF MS na detecção de carbapenemase diretamente de 100 frascos de hemocultura. Adicionalmente, realizamos a rápida identificação dos micro-organismos causadores de infecção de corrente sanguínea diretamente da hemocultura. O ensaio de carbapenemase no MALDI-TOF MS identificou 21 (72,4%) dos 29 isolados produtores de carbapenemase, especialmente aqueles produtores de KPC-2 (100%) e SPM-1 (100%), após um período de 4 horas de incubação. Apesar da maioria dos isolados de A. baumannii produtores de OXA-23 não terem sido identificados no primeiro dia, todos foram identificados como produtores de carbapenemases quando testados diretamente da colônia bacteriana no dia seguinte. Após a padronização da técnica de MALDI-TOF MS na detecção de diferentes carbapenemases direto da colônia bacteriana e de hemoculturas, utilizando o equipamento da Bruker Daltonics, decidimos avaliar então o desempenho do VITEK MS. Nesse terceiro estudo, 79 isolados de bacilos Gram negativos produtores e não produtores de carbapenemases foram avaliados. Taxas progressivas de detecção dos isolados produtores de carbapenemase foram observadas de acordo com o período de incubação para todas as classes. A maioria dos isolados produtores de KPC e MβL foi detectada após 1 hora de incubação. Entretanto, um período de 4 horas de incubação foi necessário para excluir a atividade de carbapenemases entre amostras produtoras de carbapenemases fracas, como as CHDLs em isolados de A. baumannii. A técnica de MALDITOF MS mostrou-se ser uma excelente ferramenta para a detecção de diferentes carbapenemases. As principais vantagens encontradas são a rapidez e acurácia na detecção das diferentes classes moleculares de carbapenemases, além da simplicidade de execução tanto da colônia bacteriana quanto diretamente dos frascos de hemocultura. xxii ABSTRACT Initialy, we standardize a protocol for detecting carbapenemase activity from different carbapenemase-producing Gram-negative bacilli by MALDI-TOF M. A total of 73 carbapenemase- and non-carbapenemase-producing clinical isolates were studied. The method was compared to LC-MS, MHT and spectrophotometric assays. Ertapenem mass spectrum was easier to interpret than those of imipenem and meropenem. Class A and B carbapenemases were rapidly detected by MALDI-TOF MS in a 2-h assay. However, an extended incubation time was necessary for detection of class D carbapenemases in A. baumannii. Although, all MALDITOF MS results were confirmed by LC-MS and espectophotometric assay, MHT detected 55%, 100%, and 68% of classes D,A and B carbapenemases, respectively. In the second study, we standardized the MALDI-TOF MS assay for detecting carbapenemase activity directly from 100 positive blood culture vials. Additionally, we performed a rapid identification of microorganism causing bloodstream infections directly from blood cultures. The MALDI-TOF MS carbapenemase assay identified 21 of 29 (72.4%) of the carbapenemase-producing isolates directly from blood culture vials, especially those producing KPC-2 (100%) and SPM-1 (100%), after a 4 h incubation period. Although the majority of OXA-23-producing A. baumannii isolates were not identified on the first day, but all isolates were identified as carbapenemase producers directly from the bacterial colony on the next day. After the standardization of the MALDI-TOF MS carbapenemase protocol from both bacterial colony and directly from blood culture vials using the Bruker Daltonics’ equipment, we evaluated the performance of the VITEK MS by applying the same protocol. In the third study, a collection of 79 carbapenem-producing and 28 noncarbapenemase-producing Gram-negative clinical isolates were evaluated. Progressive detection rates of carbapenemase-producing isolates were observed according to the extension of incubation period for all classes. The majority of KPC and MβL-producing isolates were detected by testing 1-h incubation period. However, a 4-h incubation period was necessary to exclude carbapenemase activity in strains producing weak carbapenemases, like the CHDLs in A. baumannii isolates. In conclusion, the MALDI-TOF MS showed to be an excellent tool for identifying bacterial species and different types of carbapenemase. Its main advantages are its simplicity, accuracy and speed in detecting different carbapenemases from both bacterial colony and positive blood culture vials. xxiii Introdução 1. INTRODUÇÃO 1 Introdução As doenças infecciosas são uma das principais causas de mortalidade em todo o mundo. Uma grande diversidade de micro-organismos, desde virais, bacterianos, parasitários e fúngicos, são capazes de acometer indivíduos tanto no ambiente hospitalar quanto na comunidade. Apesar da euforia proveniente do decréscimo das taxas de mortalidade relacionadas às infecções bacterianas após a descoberta do primeiro antimicrobiano e da imunização em larga escala, vivenciamos, atualmente, a angústia da escassez de agentes eficazes contra uma progressiva gama de micro-organismos. Diversos fatores podem estar relacionados a este fato. O uso indiscriminado de agentes antimicrobianos não apenas na prática médica, mas igualmente na veterinária e, principalmente, na agricultura e na pecuária, seja, talvez, um dos maiores responsáveis pela seleção natural e disseminação de bactérias resistentes aos antimicrobianos (Cars et al., 2011). A crescente observação da resistência aos antimicrobianos em isolados bacterianos é um fato que tem recebido grande destaque não apenas na comunidade médica, mas também no âmbito governamental, econômico e social. Em 2013, no Fórum Econômico Mundial de Davos a resistência bacteriana foi descrita como um dos poblemas que pode por em risco a existëncia da raca humana. Em abril de 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um documento que alerta sobre o risco da era pós-antibiótica, onde não haverá antimicrobianos disponíveis para o tratamento de infecções causadas por bacterias mutirresistentes (WHO, 2014). Assim como, em 2013, o Center for Disease Control and Prevention (CDC) publicou um documento classificando o risco das bactérias multirresistentes e alertando sobre as taxas de mortalidade e dos custos relacionados às infecções causadas por bactérias multirresistentes. Neste documento, é estimado que 23.000 mortes ocorram por ano nos Estados Unidos (EUA) em consequência das infecções causadas por bactérias resistentes. Além disto, estas infecções representam um custo adicional de $20 bilhões de dolares (CDC, 2013). Em ambas as publicações, do CDC e da OMS, as bactérias Gram-negativas constituem ao menos metade dos 2 Introdução agentes bacterianos citados como de urgente ou de grave ameaça à saúde pública. Destes, ambos os documentos citam enterobactérias, como Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae, Salmonella não-typhi e Shigella spp., resistentes aos carbapenens, cefalosporinas de amplo espectro e/ou fluoroquinolonas como uma grave ameaça. O CDC ainda inclui neste grupo os isolados de Acinetobacter baumannii e Pseudomonas aeruginosa multirresistentes (MDR). O custo adicional relacionado às infecções causadas por bactérias multirresistentes ao sistema de saúde está relacionado à necessidade da prescrição de antimicrobianos, que podem ser mais tóxicos, menos efetivos e/ou mais onerosos. Além disso, mesmo quando há alternativa terapêutica, a mortalidade de pacientes acometidos por infecções causadas por microorganismos resistentes a múltiplas classes de antimicrobianos é mais elevada, e aqueles pacientes que sobrevivem experienciam maior tempo de internação, recuperação prolongada e maior morbidade. Diversas são as estratégias consideradas fundamentais para conter a resistência antimicrobiana. Dentre elas podemos citar, nos âmbitos sócio-econômico e veterinário, a proteção aos suprimentos alimentícios, o uso criterioso de antimicrobianos no agronegócio, na pecuária e na prática veterinária e, no âmbito da medicina, tanto o uso racional de antimicrobianos como o controle da disseminação pessoa-a-pessoa através da detecção, do tratamento e da prevenção. O entendimento da dimensão da resistência antimicrobiana em bactérias Gram-negativas no âmbito hospitalar, assim como dos mecanismos envolvidos na sua disseminação, constitue o ponto de partida para estabelecer as estratégias de detecção, terapia adequada e controle, sobre as quais versa este estudo. Desde a descoberta do primeiro agente antimicrobiano da classe, os β-lactâmicos são a terapia de escolha para diversas infecções devido às suas propriedades favoráveis como amplo espectro de atividade, boa penetração tecidual e baixa toxicidade. As infecções graves causadas por bactérias Gram-negativas eram frequentemente tratadas com cefalosporinas de amplo 3 Introdução espectro, até o surgimento e disseminação de isolados produtores de β-lactamases de espectro extendido, quando o uso de carbapenens aumentou significativamente. Consequentemente, o surgimento e disseminação de carbapenemases nestes agentes restringiu o uso desta classe de antimicrobianos na prática clínica. Atualmente, devido ao constante aumento da resistência aos antimicrobianos em isolados clínicos de P. aeruginosa, A. baumannii e enterobactérias em todo o mundo, estamos ingressando a era pós-antibiótica, onde a falta de opções terapêuticas disponíveis para estes patógenos tem limitado o tratamento das infecções causadas por bactérias MDR (Peleg & Hooper, 2010). Sabe-se, ainda, que a resistência aos antimicrobianos e a terapia inadequada são fatores associados à mortalidade em pacientes com infecção graves por estes patógenos (Falagas et al., 2008). Nos casos de infecções graves, como a infecção de corrente sanguínea (ICS), somente com o conhecimento do micro-organismo causador e do seu perfil de sensibilidade aos antimicrobianos, será possível a introdução precoce da terapia antimicrobiana adequada, que representa a base para o sucesso clínico do tratamento destas infecções. A produção de carbapenemases em bactérias Gram-negativas é o principal mecanismo associado à resistência aos carbapenens. Porém, a diversidade de enzimas, assim como as diferentes características cinéticas e distribuição geográfica heterogênea dificultam sua detecção. Dessa forma, considerando que: (I) as bactérias Gram-negativas vêm aumentando sua participação nas infecções nosocomiais, especialmente espécies de enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp.; (II) as taxas de resistência aos antimicrobianos entre estes isolados tem aumentado progressivamente. Apesar de múltiplos mecanismos de resistência possam estar presentes, a produção de β-lactamases é o principal mecanismo de resistência ao principal grupo de antimicrobianos utilizados para o tratamento de infecções graves causadas por estes agentes; (III) os carbapenens são os compostos mais potentes deste grupo e a produção de carbapenemases pelas espécies de bactérias Gram-negativas acima descritas 4 Introdução inviabiliza a utilização destes compostos como opção terapêutica em monoterapia; (IV) a frequente localização em elementos genéticos móveis dos genes que codificam as carbapenemases facilitam a disseminação destes fatores de resistência entre diferentes espécies bacterianas; (V) os testes disponíveis até o momento para a detecção de carbapenemases tem importantes limitações: (i) falta de rapidez para liberação dos resultados dificultando a administração da terapia antimicrobiana adequada e instituição de medidas de prevenção e controle de disseminação no ambiente hospitalar, (ii) flexibilidade para detecção de todas as inúmeras enzimas deste grupo, (iii) acurácia na detecção dos tipos e variantes de carbapenemases, (iv) baixo custo, para que possa ser realizados em diversos cenários econômicos, e (v) simplicidade de execução. A espectrometria de massa consiste em uma nova ferramenta para detecção da atividade hidrolítica de carbapenemases através da vizualização da modificação da molécula do antimicrobiano. Dessa forma, optamos, inicialmente, pela padronização da detecção de carbapenemases pela espectrometria de massa (MS) utilizando a técnica de dessorção e ionização a laser assistida por matriz em um tempo de vôo (MALDI-TOF) a partir da colônia bacteriana, para, em seguida, prosseguir com a detecção diretamente de frascos de hemocultura. 5 Revisão Bibliográfica 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 6 Revisão Bibliográfica 2.1. A Espectrometria de Massa Aplicada à Microbiologia Clínica A espectrometria de massa está revolucionando a microbiologia ao redor do mundo. A identificação de micro-organismos que antes demoravam dias agora é realizada em minutos por um sistema automatizado e de simples utilizacao. Historicamente, a utilização da espectrometria de massa na microbiologia ganhou seu espaço quando a identificação de bactérias foi proposta nos anos 70, por Anhalt e Fenselau (1975). Estes autores demonstraram que espécies bacterianas poderiam ser discriminadas pela obtenção de espectros de massas após o aquecimento das mesmas (Anhalt & Fenselaul, 1975). Entretanto, somente com a descoberta de uma matriz capaz de ionizar macromoléculas de forma a não fragmentá-las através da absorção eficiente da energia do laser, pelo engenheiro japonês Kioshi Tanaka, é que esta tecnologia pôde ser aplicada para a identificação de micro-organismos (Tanaka et al., 1988). Este trabalho rendeu-lhe, em 2002, o Prêmio Nobel de Química. Na mesma época, Karas e Hillenkamp (1988), reportaram a dessorção e ionização suave (ou seja, sem fragmentação das proteínas) utilizando um composto orgânico como matriz, denominando-a de MALDI - dessorção e ionização à laser assistida por matriz (Karas & Hillenkamp, 1988). Mesmo após este avanço, os primeiros experimentos para a identificação de bactérias usando a técnica de MALDI-TOF MS iniciaram-se na década de 90. Alguns pesquisadores apresentaram o método inicialmente utilizando a correlação de cada ion gerado com uma proteina e esta com o organismo fonte, através de um banco de dados de proteínas disponível na internet (Krishnamurthy & Ross, 1996; Demirev et al., 1999). O método, apesar de promissor, necessitava de aperfeiçoamentos relacionados ao preparo da matriz, da reprodutibilidade dos espectros de massas, da presença de contaminantes, e principalmente, da acurácia, robustez e agilidade no banco de dados. Dessa forma, muitos anos se passaram antes que a tecnologia pudesse ser disponibilizada, mesmo que somente na pesquisa em laboratórios de microbiologia. Vários anos foram dedicados à implementação de um banco de dados robusto, acurado que 7 Revisão Bibliográfica permitisse a agilidade da análise realizada pelo MALDI-TOF MS. Pesquisadores de diversas instituições participaram do desafio de criar e comparar os perfis de massas dos microorganismos com bancos de dados contendo os espectros de referência através da criação de diversos algoritmos (Fenselau & Demirev, 2001; Keys et al., 2004). A aprovação nos órgãos regulamentadores e a comercialização do MALDI-TOF MS para os laboratórios de microbiologia clínica ocorreu apenas recentemente. A lista de microorganismos do sistema MALDI Bioyper (Bruker Daltonics, Bremen, Alemanha) aprovada pelo Federal and Drug Administration (FDA) nos EUA, e pela ANVISA, no Brasil, está limitada apenas às bactérias Gram-negativas, apesar de sua aplicação para a identificação de outros microorganismos estar disponível somente para fins de pesquisa. Este sistema permite a construção personalizada de um banco de dados. O sistema VITEK® MS (bioMérieux, Marcy l'Etoile, França) está aprovado pelo FDA e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para identificação de bactérias aeróbias e anaeróbias, Gram-negativas e Gram positivas, além de leveduras. Apesar de ambos os equipamentos serem compostos por um espectrômetro de massa, por banco de dados e por um software, estes diferem de um equipamento para o outro. O MALDI Biotyper é um equipamento de menor porte, de bancada, capaz de trabalhar em sistema aberto ou fechado, utilizando o mesmo banco de dados denominado Biotyper system, atualmente na versão 4.0. O VITEK MS é um equipamento instalado sobre o piso, e disponibiliza dois sitemas de banco de dados, o Myla (IVD) e o Saramis (RUO), porém, estes foram combinados recentemente no VITEK MS Plus. Algumas diferenças em relação ao manuseio dos sistemas e amostras também ocorrem. O MALDI Biotyper analisa no máximo 96 amostras por corrida e disponibiliza placas de metal reutilizáveis, já o VITEK MS analisa quatro placas descartáveis de 48 amostras cada (172 amostras em uma única corrida), porém, devem ser analisadas de 16 em 16 ou os spots remanescentes serão inutilizados (Patel, 2013). 8 Revisão Bibliográfica 2.1.1. O Princípio da Técnica de MALDI-TOF MS Na técnica de MALDI-TOF MS, um composto, chamado de matriz, é utilizado para auxiliar na dessorção e isonização das partículas de micro-organismos através da energia do laser. Este se caracteriza por um laser de N2 de comprimento de onda de 336 nm, frequência de 60 Hz e tempo de vida de milhões de disparos. A função da matriz é diluir a amostra e absorver a energia do laser, promovendo assim a suave ionização das suas moléculas (Marvin et al., 2003). Inúmeras matrizes estão disponíveis, e a escolha da matriz adequada para cada amostra é fundamental para o sucesso da análise (Santos et al., 2010). Estas são compostas de derivados de ácido cinâmico ou benzóico, diluídos em um solvente orgânico e água, ou ainda em ácido trifluoracético. A matriz adequada permite a obtenção de espectros com melhor qualidade, pela ótima razão entre sinal e ruído e picos estreitos, favorecendo a análise final do espectro de massas (Santos et al., 2010). As partículas de micro-organismos e da matriz, através da incidência do laser, desprendem-se da superfície onde se encontram (Figura 1). A maioria da energia é absorvida pelas moléculas da matriz, convertendo-as para um estado ionizado. Através de colisões aleatórias, na fase gasosa, a carga elétrica é transferida da matriz para as moléculas da amostra. Estas são aceleradas, baseadas na sua relação de massa e carga para um tubo de vácuo, o analizador de massas (TOF; tempo de vôo) (Fenselau & Demirev, 2001). Os íons migram pelo campo elétrico até alcançarem o detector, com velocidades inversamente proporcionais às suas massas. O espectro de massas é gerado, representanto o número de íons que atingem o detector através do tempo. O analisador TOF determina a razão da massa molecular pela carga (m/z) dos íons por meio da mensuração da velocidade destes, após a calibração do instrumento com moléculas de pesos conhecidos (Santos et al., 2010). A separação ocorre pela razão massa/carga, entretanto, a carga é praticamente única, sendo o 9 Revisão Bibliográfica peso molecular a variável que efetivamente separa as moléculas (Patel, 2014). Todo este processo ocorre de forma muito rápida, em menos de 1 minuto por amostra. Figura 1. Espectômetro de massa - MALDI-TOF MS. A placa-alvo é inserida na câmara do espectômetro de massa. Os spots a serem analisados, são individualmente atingidos pelo feixe de laser para dessorção e ionização das moléculas do micro-organismo e da matriz. A nuvem de partículas ionizadas é acelerada em um analisador de massas (TOF), até atingir um detector. As moléculas mais leves voam mais rapidamente, seguidas das de maior peso molecular. Adaptado de Patel (2014). As proteínas ribossomais são muito abundantes nos micro-organismos e, portanto, constituem os principais componentes de avaliação pelo espectro de massa. Com base no perfil das proteínas ribossomais, que variam de 2 a 20 kDa, que é único para cada espécie de microorganismo, o espectro de massa obtido é comparado a um banco de espectros de referência como um todo. O micro-organismo com espectro de massa mais relacionado é identificado e a medida da confiança desta análise é indicada por um valor, que difere de um sistema para outro 10 Revisão Bibliográfica (Murray, 2010; Emonet et al., 2010). A identificação em espécie e gênero é avaliada com base nestes valores de confiança. Os principais fatores que influenciam a qualidade da identificação de micro-organismos pela espectrometria de massa são a pureza das cepas a serem identificadas, a quantidade de material biologico disponível para análise e a experiência do microbiologista. A interpretação e validação dos resultados requerem sempre a avaliação de todos os resultados obtidos até aquele momento, como as condições de crescimento do micro-organismo em meios de cultura e as suas características morfológicas e tintoriais. A análise e a expertise do microbiologista são fundamentais para a acurácia do diagóstico etiológico. O sistema Bruker fornece valores entre 0 e 3,000, baseando-se na presença ou na ausência de picos no espectro de massa e adota critérios para a identificação em espécie e gênero, correspondentes a superior a 2,000 e entre 1,700 e 1,999, respectivamente. Valores inferiores a 1,700 indicam que a identificação do micro-organismo não é confiável. O sistema VITEK MS realiza a identificação baseando-se na similaridade do espectro do micro-organismo testado com aquele de referência no banco de dado, e àquele denominado de superespectro, que representa o espectro de picos conservados derivados de múltiplos isolados de uma espécie ou grupo em particular. O valor atribuído relaciona-se à especificidade destes para a espécie ou gênero em questão. Estes valores de confiança variam de 0 a 100% (Patel, 2014). 2.1.2. A Espectrometria de Massa na Identificação de Micro-organismos Há exatamente cinco anos, foi publicado o primeiro estudo que avaliou a acurácia da espectrometria de massa pela técnica de MALDI-TOF MS com a finalidade de identificação de isolados bacterianos, aeróbios e anaeróbios, provenientes de amostras clínicas (Seng et al., 2009). Neste estudo, dos 1.660 isolados bacterianos, 95,4% foram identificados corretamente pelo MALDI-TOF MS e demonstraram que a acurácia na identificação bacteriana pela 11 Revisão Bibliográfica espectrometria de massa se correlacionou diretamente ao número de espectros de massas daquela espécie incluído no banco de dados. Diversos estudos se seguiram, demonstrando a utilidade desta metodologia na prática diária dos laboratórios de microbiologia. Entretanto, algumas espécies são muito relacionadas entre si e apresentam um pequeno número de picos que podem ser utilizados para distinguí-las, como Streptococcus pneumoniae do grupo Streptococcus mitis. Neste caso, o sistema VITEK MS (IVD) demonstrou superioridade, pois pelo sistema Biotyper apesar dos isolados de S. pneumoniae serem identificados corretamente, os isolados de S. mitis/oralis podem ser erroneamente identificados como S. pneumoniae (Martiny et al., 2012). Entretanto, alguns microorganismos são extremamente relacionados e nenhum dos algoritmos propostos, até o momento, é capaz de diferenciá-los, como E. coli e Shigella spp. (Patel, 2014). Porém, ambos os sistemas apresentam uma nota referente a esta limitação quando estas bactérias são identificadas. O procedimento para a identificação requer apenas que se transfira a colônia bacteriana, após crescimento em placa de ágar, para o spot da placa de MALDI-TOF MS com a ajuda de um palito ou alça bacteriológica. Adiciona-se 1 µL da matriz, para a identificação bacteriana, utilizase, preferencialmente, o ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico (HCCA) dissolvido em 50% de acetonitrila e 2,5% de ácido trifluoroacético. Em seguida o material é deixado à temperatura ambiente até que o material fique completamente seco. A placa deve ser inserida no equipamento para análise. Com o objetivo de se melhorar a qualidade do espectro obtido, a extração de proteínas pode ser realizada através de um procedimento utilizando-se ácido fórmico e acetonitrila, ou apenas com a adição de 1 µL de ácido fórmico a 70% sobre a colônia do micro-organismo na placa de MALDI-TOF MS, auxiliando a ruptura celular. Entretanto, na rotina laboratorial, este procedimento torna-se trabalhoso. Recomenda-se, então, que para facilitar o fluxo de trabalho, a análise inicial de bactérias e leveduras seja realizada diretamente 12 Revisão Bibliográfica da colônia do micro-organismo, com ou sem adição do ácido fórmico e, para aquelas nas quais o resultado obtido não for satisfatório, a extração proteica poderá ser realizada (Patel, 2014). 2.1.2.1. Identificação de Bactérias Aeróbicas O sistema de MALDI-TOF MS apresenta um excelente desempenho para a identificação de bactérias aeróbicas (Figura 2). Utilizando o sistema da Bruker, Patel (2013) observou 93% e 82% de identificações corretas em gênero e espécie, respectivamente, quando avaliou 440 isolados bacterianos de bacilos Gram-negativos usuais e não-usuais. Estas taxas foram superiores àquelas observadas para os métodos de identificação convencionais (Patel, 2013). No mesmo estudo, Patel avaliou 217 isolados de cocos Gram positivos encontrando 98% de identificação correta para o gênero e 79% para espécie. As maiores dificuldades relatadas estão na diferenciação de espécies de Streptococcus, especialmente S. pneumoniae, grupo S. mitis e grupo S. viridans, como dito anteriormente (Martiny et al., 2012; McElvania Tekippe et al., 2013). Lau e colaboradores (2014) obtiveram 75% de identificação correta em gênero para 67 micro-organismos de difícil identificação, como Granulicatella adiacens, Micrococcus luteus, Nocardia spp., Pantoea dispersa, Actinomyces spp., entre outros (Lau et al., 2014). Alatoom e colaboradores (2012) mostraram que os bacilos Gram positivos também poderiam ser identifcados por esta metodologia, já que observaram 85% de concordância em gênero ao avaliarem 190 isolados (Alatoom et al., 2012). Entretanto, a identificação de bacilos Gram positivos, geralmente, apresenta taxas de concordância inferiores àquelas apresentadas para cocos Gram positivos e bacilos Gram-negativos. Bizzini e colaboradores (2010) observaram uma concordância de 88,6% para os 1 371 micro-organismos testados, sendo que quando estratificados mostrou 92,2% de resultados corretos para bacilos Gram-negativos, 99,2% para cocos Gram positivos, porém, apenas 84,6% para bacilos Gram positivos (Bizzini et al., 2010). 13 Revisão Bibliográfica Figura 2. Espectro de massa gerado pelo MALDI-TOF MS para as diferentes espécies bacterianas. Adapatado de Liu e colaboradores (2007). Os estudos que avaliaram o sistema VITEK MS obtiveram resultados semelhantes, incluindo bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e fastidiosas (91-97% de identificação em gênero e 78% a 96% em espécie). No estudo de Richter e colaboradores (2013), este sistema identificou corretamente 97% e 84% das enterobactérias testadas em gênero e espécie, respectivamente (Richter et al., 2013). Martiny e colaboradores (2012) avaliaram o desempenho dos dois sistemas e respectivos bancos de dados. Estes apresentaram resultados bastante similares (93%) para a identificação de bactérias usualmente encontradas na rotina laboratorial, exceto quando o banco de dados Saramis foi utilizado (83,8%) (Martiny et al., 2012). Em nossa experiência, o sistema VITEK MS apresentou 98% e 92% de concordância em gênero e 14 Revisão Bibliográfica espécies, quando 119 isolados bacterianos comumente encontrados no laboratório de microbiologia foram avaliados, diretamente da colônica bacteriana. Dentre estes a concordância em gênero e espécie foi de 97% e 86% para os 59 cocos Gram positivos, e de 100% e 98%, respectivamente, para 60 bacilos Gram-negativos (dados não publicados). 2.1.2.2. Identificação de Bactérias Anaeróbicas A espectrometria de massa tornou-se o método de escolha para a identificação de bactérias anaeróbicas. Barreau e colaboradores (2013) avaliaram uma coleção de 1 325 bactérias anaeróbicas e alcançaram 100% e 93% de correta identificação direto da colônia em gênero e espécie, respectivamente, utilizando o sistema Biotyper (v. 3.0) (Barreau et al., 2013). Jamal e colaboradores (2013b) reportaram 89% e 100% de identificação entre 274 bactérias anaeróbicas usando os sistemas Biotyper e VITEK MS, respectivamente (Jamal et al., 2013b). 2.1.2.3. Identificação de Micobactérias A identificação de micobactéria é um grande desafio para o laboratório de microbiologia, e apesar de algumas limitações, o MALDI-TOF MS é uma técnica mais rápida, de menor custo, e mais fácil que as técnicas atualmente empregadas (testes bioquímicos e moleculares). As espécies de micobactérias exigem, além da inativação prévia, um procedimento de extração mais elaborado. A inativação pode ser realizada com o calor ou com exposição ao etanol, seguida de um processo de ruptura mecânica, com auxílio de pérolas de vidro, e extração proteica com ácido fórmico e acetonitrila, uma vez que sua parede é constituida por uma camada de ácidos graxos que impede sua ruptura apenas com a incidência do laser (Balada-Llasat et al., 2013; Dunne et al., 2014). Em seu estudo, Balada-Llasat e colaboradores (2013) testaram 178 isolados de micobactérias, cultivados em meios sólido e líquido, utilizando-se o calor para inativação, seguido de tratamento com etanol e lise mecânica, como recomendado pela Bruker. 15 Revisão Bibliográfica Os autores observaram 98% e 94% de correta identificação em gênero e espécie, respectivamente (Balada-Llasat et al., 2013). Dunne e colaboradores (2014) demonstraram boa efetividade na inativação de isolados de Mycobacterium spp. utilizando a lise mecânica por cinco minutos na presença de etanol 70%, seguida de um período adicional de inativação por dez minutos (Dunne et al., 2014). Da mesma forma, Mather e colaboradores (2014) avaliaram 198 isolados clínicos utilizaram a lise mecânica com auxílio do vórtex e pérolas de silica na presença de etanol para inativação das amostras. Com o aprimoramento do banco de dados do sistema Biotyper (v. 2.0) com 123 espectros de cepas clínicas, foi observada uma concordância de 95% das espécies de Mycobacterium por este sistema e 94% utilizando-se o sistema VITEK MS (Saramis) (Mather et al., 2014). Os bancos de dados dos sistemas VITEK MS e Biotyper têm sido atualizados principalmente com o aumento no número e variedade de espectros de micobactérias, o que deve melhorar o desempenho desta metodologia no futuro. A condição e tempo de crescimento das colônias de micobactérias também podem influenciar a qualidade dos espectros obtidos. Lotz e colaboradores (2010) observaram que quando cultivada em meio sólido (Löwenstein-Jensen), o extrato proteico obtido apresentava qualidade supeiror no espectro de massas do que quando as amostras eram cultivadas em meio líquido, consequentemente a identificação correta foi obtida para 97% e 77% dos isolados cultivados em meio sólido e líquido, respectivamente (Lotz et al., 2010). 2.1.2.4. Identificação de Fungos A identificação de leveduras pelo MALDI-TOF MS apresenta bons resultados, sendo uma ótima alternativa aos métodos manuais, trabalhosos e demorados ou aos métodos automatizados e painéis comerciais, que são mais honerosos. Entretanto, há diferenças de desempenho quando avaliamos os sistemas disponíveis. O sistema VITEK MS apresenta excelentes resultados (97-95%), apenas com a transferência da colônia associada ao ácido 16 Revisão Bibliográfica fórmico na própria placa do MALDI-TOF MS (Westblade et al., 2013; Pence et al., 2014; Hamprecht et al., 2014). Entretanto, o sistema da Bruker somente apresenta bons resultados (90%), quando a análise é precedida de extração proteica, utilizando-se ácido fórmico e acetonitrila. Esse sistema alcançou 100% quando o sistema Biotyper (v. 3.0) foi adicionado à construção de um banco de dados próprio (Mancini et al., 2013). Desta forma, o sistema Biotyper requer melhorias no seu banco de dados em relação aos espectros de leveduras incluídos. Corroborando com estes achados, De Carolis e colaboradores (2014) demonstraram excelente desempenho (96% de 4232 leveduras) quando, além do desenvolvimento do seu próprio banco de espectros com 156 cepas referências de leveduras, os autores realizaram um rápido procedimento de extração, analisando o sobrenadante da combinação de uma colônia com 50 µL de ácido fórmico a 10%, após homogenização vigorosa com auxílio de um vórtex (De Carolis et al., 2014). Santos e colaboradores (2011) avaliaram 67 isolados de leveduras, intimamente relacionadas, como Candida parapsilosis, C. orthopsilosis e C. metapsilosis; C. albicans e C. dubliniensis; e C. glabrata e C. bracarensis, que somente podem ser discriminadas entre si através de técnicas moleculares. Apesar de algumas espécies não apresentarem espectros no banco de dados Saramis, quando os mesmos foram inseridos, o MALDI-TOF MS foi capaz de identificar e distinguir todas as espécies, mostrando-se uma excelente ferramenta para identificação de leveduras (Santos et al., 2011). Em nossa experiência com o sistema VITEK MS para identificação direta da colônia de 66 leveduras, incluindo Trichosporon asahii, Kodamaceri ohmeri e diversas espécies emergentes de Candida, obtivemos 92% e 84% de concordância em gênero e espécies com o sistema API ID32, respectivamente (Mota et al., 2014). Embora a identificação de fungos filamentosos possa ser realizada pela plataforma de MALDI-TOF MS, cuidados devem ser tomados para evitar que meios de cultura possam favorecer a mutagênese ou a presença de inibidores que alterem o perfil proteico, e levem, 17 Revisão Bibliográfica consequentemente, às alterações nas análises pelo MALDI-TOF MS (Santos et al., 2010). Outro desafio é a aquisição das proteínas totais e em qual momento do crescimento fúngico a extração proteica deverá ser realizada de modo efetivo. Diferentes protocolos foram descritos na literatura e bons resultados foram alcançados quando banco de dados apropriados foram combinados. Isso demonstrou, que da mesma forma como ocorre para micobactérias, os sistemas atualmente disponíveis requerem aprimoramento dos seus respectivos bancos de espectros para fungos filamentosos (Lau et al., 2013; Schulthess et al., 2014). 2.1.2.5. Identificação de Micro-organismos Diretamente de Frascos de Hemocultura O diagnóstico etiológico rápido de infecção de corrente sanguínea (ICS) e a introdução precoce da terapia antimicrobiana são a base para o sucesso clínico desta grave infecção. Atualmente, o procedimento mais utilizado para o diagnóstico etiológico de ICS requer a cultura em meio líquido, continuamente monitorizada, seguida da pesquisa direta pela coloração de GRAM e subcultivo para a realização de testes fenotípicos de identificação bacteriana, automatizados, ou não, seguido do teste de sensibilidade aos antimicrobianos. Este processo geralmente necessita de 3 a 5 dias, retardando a adequação da terapia antimicrobiana. Algumas limitações comprometem ainda mais o resultado deste processo como a baixa sensibilidade na detecção de micro-organismos de difícil crescimento (Bizzini et al., 2011). A redução no tempo de resposta dos resultados microbiológicos é muito desejada para melhorar o desfecho clínco dos pacientes, otimizar o uso de antimicrobianos, e, reduzir custos (Doern et al., 1994; Barenfanger et al., 1999). A comunicação da coloração de Gram é considerada urgência para as boas práticas de microbiologia clínica, e mostrou-se de grande valor para a adequação de terapia empírica (Munson et al., 2003). Barenfanger e colaboradores (2008) reportaram uma redução significativa da mortalidade geral quando grupos pareados de pacientes com ICS foram comparados em relação ao tempo de comunicação da coloração de 18 Revisão Bibliográfica Gram. O grupo em que o Gram foi reportado em menos de 1 hora (tempo médio 0,1 hora) a mortalidade foi de 10% enquanto que quando o Gram ultrapassou este tempo (média de 3,3 horas) a mortalidade elevou-se para 19% (Barenfanger et al., 2008). Portanto, há uma imensa necessidade de testes que auxiliem na instituição da terapia antimicrobiana apropriada precoce. Com este objetivo, diversos protocolos foram propostos para obter a identificação do microorganismo causador de ICS diretamente de frascos de hemocultura utilizando-se a técnica de MALDI-TOF MS (Prod’hom et al., 2010; Martiny et al., 2012; Stevenson et al., 2010). A Tabela 1 sumariza alguns destes estudos. 19 Revisão Bibliográfica Tabela 1. Diferenças entre os principais artigos publicados que descreveram a identificação de bactérias diretamente do frasco de hemocultura. MALDI-TOF MS Extração Volume da HMC N de passos e soluções utilizadas Análise Critério Método de comparação N° Concordância Erros Microflex LT "in house" utilizando tubo contendo gel separador 8 mL 5 passos de lavagem e centrifugação; solução de lise NH4Cl, NaHCO3, EDTA Stevenson et al., 2010 Extração proteica A Convencional 202 95% Espécie: S. mitis; complexo E. cloacae Prod'hom et al., 2010 Microflex LT "in house" 5 mL 3 passos de lavagem e centrifugação; solução de lise NH4Cl e KHCO3 Extração proteica B Convencional 122 79% Espécie: S. caprae; Não identificou 21% Kok et al., 2011 Microflex LT Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica B Convencional 476 75% Espécie: S. mitis; P. putida Não identificou: 23,7% Vlek et al., 2012 Microflex LT "in house" 5 mL 3 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica B Convencional 89 56% Não identificou: 39% Microflex LT "in house" 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação, solução de lise Saponina 5% Colônia C Convencional 59 BGN: 90%; CGP: 62% Espécie: S. typhi; Não identificou: 27% C Convencional 59 BGN: 68%; CGP: 73% Espécie: S. typhi e S. marcescens; Não identificou: 29% D Sequenciamento gene 16S rRNA 92 97% Não identificou: 3,3% Estudo Martiny et al., 2012 Chen et al., 2013 Microflex LT Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica para CGP e Colônia para BGN Microflex LT "in house" de Martiny et al., 2012 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação, solução de lise Saponina 5% Extração proteica 20 Revisão Bibliográfica Vitek MS "in house" de Martiny et al., 2012 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação, solução de lise Saponina 5% Extração proteica E Sequenciamento gene 16S rRNA 92 88% Não identificou: 12% Microflex LT Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica D Sequenciamento gene 16S rRNA 202 94% Não identificou: 6,5% Vitek MS Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica E Sequenciamento gene 16S rRNA 202 88% Não identificou: 12% Lagacé-Wiens et al., 2012 Microflex LT Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica B Convencional 61 85% Gênero: S. mitis, SCN; Não identificou: 15% Clerc et al., 2013 Microflex LT "in house" de Prod'hom et al., 2010 5 mL 3 passos de lavagem e centrifugação; solução de lise NH4Cl e KHCO3 Extração proteica B Convencional 165 87% Modificou a terapia empírica em 35% dos casos 76% Gênero: K. oxytoca; Espécie: Salmonella arizonae; A. baumannii, Streptococcus e Staphylococcus; Não identificou: 5,6% Jamal et al., 2013a Microflex LT Kit SepsiTyper 1 mL 2 passos de lavagem e centrifugação Extração proteica B Convencional e Seq. 16S rRNA 160 Abreviaturas: HMC - Hemoculturas. Critérios adotados para identificação do micro-organismo: A. Score < 1,7: não identificado; 1,7-1,9: identificado em gênero; ≥ 1,9: identificado em espécie; B. Score < 1,7: não identificado; 1,7-1,99: gênero; ≥ 2: identificado em espécie; C. < 1,7: não identificado; 1,7-1,99: identificado em gênero; > 2: identificado em espécie. D. < 1,6: não identificado; 1,6-1,99: identificado em gênero; ≥ 2 : identificado em espécie; E. valor < 90%: não identificado; 90 - 98%: identificado em gênero e >98%: identificado em espécie. 21 Revisão Bibliográfica Em seu estudo, Clerc e colaboradores (2013) utilizaram o MALDI-TOF MS para identificação de micro-organismos diretamente dos frascos de hemocultura e avaliaram seu impacto na adequação da terapia antimicrobiana mesmo após a comunicção da coloração de Gram em um cenário de baixa prevalência de bactérias MDR (Clerc et al., 2013). A adequação da terapia pelo resultado do MALDI-TOF MS foi realizada em 35% dos casos de bacteremia apesar do resultado prévio da coloração de Gram. Vlek e colaboradores (2012) também observaram um impacto significativo do resultado da identificação pelo MALDI-TOF MS diretamente do frasco de hemocultura na modificação da terapia antimicrobiana de pacientes com ICS (Vlek et al., 2012). Apesar do benefício da identificação bacteriana precoce, o perfil de sensibilidade aos antimicrobianos, especialmente para aqueles considerados determinantes para o tratamento de infecções graves, como os carbapenens, é imprescindível para a adequação da terapia, principalmente em regiões de alta prevalência de bactérias multirresistentes. De maneira geral, a introdução da espectrometria de massa na microbiologia clínica trouxe um grande avanço, tanto em termos de rapidez como de acurácia frente aos métodos disponíveis até o momento (Figura 3). Pela primeira vez, o laboratório de microbiologia tem disponível, em uma única plataforma, a possibilidade de identificar diferentes micro-organismos, desde bactérias comumente isoladas na prática clínica, como bactérias fastidiosas ou de díficil identificação, micobactérias, leveduras e fungos filamentosos. Adicionalmente, esta metodologia tem sido aplicada com sucesso para a identificação de micro-organismos diretamente de amostras clínicas, especificamente de frascos de hemoculturas. 22 Revisão Bibliográfica Figura 3. Fluxograma do uso da técnica de MALDI-TOF MS na identificação de microorganismos no laboratório de microbiologia clínica. Adaptado de Carvalhaes e colaboradores (2012). Entretanto, aprimoramentos nos bancos de referência de espectros, assim como, em metodologias e padronizações de extrações e análises são necessárias e devem ocorrer no futuro próximo. Este sistema apresenta vantagens frente aos tradicionais sistemas de identificação de micro-organismos, sendo essas: (i) facilidade de implantação; (ii) fácil manuseio do equipamento e software; (iii) rapidez nos resultados; (iv) capacidade de identificação a partir da colônia de bactérias e leveduras; assim como diretamente de amostras clínicas, especificamente hemocultura (v) a acurácia semelhante ou superior a dos métodos automatizados; (vi) baixo consumo de reagentes; (vii) poucos resíduos; (viii) baixo custo por amostra; e (ix) com uma aplicação potencial para aplicação em tipagem de micro-organismos e na detecção de mecanismos de resistência. 23 Revisão Bibliográfica 2.1.3. A Espectrometria de Massa na Tipagem de Micro-organimos O princípio pelo qual a espectrometria de massa pode ser aplicada para a discriminação de isolados pentencentes a mesma espécie se baseia na observação de que espectros de massas podem diferir em intensidade, perda ou mudança de um sinal (ou pico de massa/carga no espectro). As variações na intensidade do sinal podem também ser causadas por diferenças de expressão, que por sua vez podem ser diretamente correlacionadas com as condições de crescimento, e, não necessariamente, em relação às diferenças genéticas dos microorganismos. A perda de um sinal é causada pela falha na expressão de uma proteína ou peptídeo, que por sua vez pode indicar uma mutação, causando a interrupção da transcrição do gene. Entretanto, a perda do sinal também pode ser consequente das condições de cultivo, mutações em fatores regulatórios ou do preparo da amostra. Portanto, até o momento, não há um critério claro de correlação entre a perda de um sinal e a discriminação de um microorganismo (Josten et al., 2013). Entretanto, a mudança de um sinal, ou seja, a perda de um sinal associado à detecção de um novo sinal, ambos correlacionados ao mesmo peptídeo, corresponde a mutações pontuais no gene do peptídeo correspondente. Essa mutação leva à modificação do aminoácido na sequência proteica, modificando o peso molecular desta (Josten et al., 2013). Estas diferenças podem contribuir para a identificação de linhagens de um isolado diretamente da análise do MALDI-TOF MS. A utilização de ferramentas, como a análise dos componentes principais (PCA) e estruturação de dendogramas, auxilia na discriminação dos espectros, entretanto é muito trabalhosa. Menacci e colaboradores (2013) utilizaram-se da PCA para discriminar isolados de A. baumannii. Estes autores observaram boa correlação entre os achados desta técnica quando comparados ao Rep-PCR (Menacci et al., 2013). Em seu estudo, Josten e colaboradores (2013) identifacaram peptídeos presentes em cada linhagem de S. aureus. Estes peptídeos foram 24 Revisão Bibliográfica capazes de correlacionar cepas clínicas de S. aureus às principais linhagens de S. aureus conhecidas (Josten et al., 2013). Entretanto, Lasch e colaboradores (2014), utilizando as mesmas ferramentas de análise, não obtiveram sucesso em diferenciar cepas de S. aureus e E. faecium de acordo com seu perfil clonal (Lasch et al., 2014). Portanto, esta aplicação precisa ser melhor avaliada antes de poder ser aplicada nos laboratórios de microbiologia. 2.1.4. A Espectrometria de Massa na Resistência aos Antimicrobianos Visando a crescente demanda pela rápida informação quanto à sensibilidade de microorganismos aos agentes comumente utilizados para tratar infecções, diversas tentativas para distinguir espectros de isolados bacterianos resistentes e sensíveis a determinados antimicrobianos foram propostas. Considerando-se que o padrão de proteínas é um reflexo das sequências gênicas que as codificam, diferenças são esperadas entre isolados sensíveis e resistentes. Na tentativa de encontrar diferenças nos espectros foram realizados inicialmente estudos com isolados de S. aureus resistentes (MRSA) e sensíveis (MSSA) à meticilina (EdwardJones et al., 2000). Apesar de obter sucesso na diferenciação destes isolados, esta técnica não se mostrou reprodutível (Walker et al., 2002). Da mesma maneira, a detecção de isolados de Enterococcus spp. resistentes à vancomicina (VRE) foi proposta, associada ao rastreamento epidemiológico em um episódio de surto institucional, utilizando-se um modelo estatístico baseado no espectro proteico bacteriano (Griffin et al., 2012). Os autores obtiveram 92% de sensibilidade e 85% de especificidade na detecção de E. faecium carreador do gene vanB. Ao incorporar este modelo na rotina laboratorial, os autores alcançaram resultados ainda melhores, 97% e 98% de sensibilidade e especificidade, respectivamente (Griffin et al., 2012). Entretanto, a reprodutibilidade deste modelo não foi avaliada por outros grupos, o que poderia refletir apenas em uma situação epidemiológica favorável e restrita à área geográfica avaliada (Kostrzewa et al., 25 Revisão Bibliográfica 2013). Estes modelos assemelham-se ao acima descrito para tipagem de micro-organismos, através da análise cuidadosa de seus espectros. A possibilidade da detecção direta de peptídeos ou enzimas relacionadas à resistência aos antimicrobianos também foi estudada. Entretanto, no caso da detecção direta de βlactamases, apesar de serem muito ativas, estas enzimas são produzidas em pequenas quantidades. Além disso, seu peso molecular é semelhante a diversas outras proteínas bacterianas e existem centenas de diferentes tipos de β-lactamases com pesos moleculares similares. Até o presente momento, o modelo que melhor se estabeleceu para a detecção da resistência aos β-lactâmicos mediada por β-lactamases, consiste em um ensaio funcional. Neste modelo não é a bactéria que é analisada pela espectrometria de massa, mas sim, as moléculas dos compostos β-lactâmicos. A detecção da modificação das moléculas destes compostos frente aos fatores enzimáticos produzidos pelos micro-organismos é atualmente o método mais próximo de ser aplicado à rotina laboratorial. Este método será melhor descrito no item 2.5.5.3. Um interessante modelo para a detecção de resistência aos antimicrobianos pela técnica de MALDI-TOF MS, é a utilização de nutrientes marcados com isótopos estáveis no meio de cultura. Comparando-se o espectro obtido de um isolado após crescimento de três horas em meio líquido, com ou sem a marcação isotópica adicionada de um antimicrobiano, é possível diferenciar o isolado resistente, pois este ao se multiplicar incorpora os isótopos marcados que desviam os picos de massa quando comparados ao perfil dos isolados em meio sem marcação (Demirev et al., 2013). Acredita-se que tal método possa ser aplicado a diferentes antimicrobianos e para rapidamente identificar as bactérias resistentes, com a construção de um banco de espectros de referência e automação de sua interpretação. Um possível fator limitante desta metodologia seria o custo de tais meios. Recentemente, Lau e colaboradores (2014) demonstraram a possibilidade de rastrear a presença do plasmidio pKpQIL, carreador do gene blaKPC, pela identificação de um pico de 26 Revisão Bibliográfica ~11.109 Da no espectro de massa correspondente a um produto clivado de uma proteina codificada pelo plasmídio pKpQIL. Através desta determinação, a presença do gene blaKPC poderia ser inferido prospectivamente nos isolados identificados pelo MALDI-TOF MS, através da presença ou ausência deste pico no espectro de massa (Lau et al., 2014). Apesar da detecção de um fator único de resistência, esta abordagem poderia ser interessante na vigência de um surto. Entretanto, resultados falso-positivos e falso-negativos poderiam ocorrer caso o palsmídio pKpQIL perdesse o gene blaKPC ou se a proteína detectada (~11.109 Da) sofresse alguma mutação ou interrupção de sua expressão, respectivamente. 2.2. Epidemiologia das Bactérias Gram-negativas no Ambiente Hospitalar Enterobactérias, P. aeruginosa e A. baumannii são as mais frequentes bactérias Gramnegativas causadoras de infecção hospitalar em todo o mundo. As enterobactérias são habitantes do trato gastrointestinal de seres humanos e animais, podendo também colonizar a pele, a orofaringe e as vias aéreas superiores, vivendo em estreita relação com o hospedeiro, porém, podem se tornar patogênicas, causando infecções graves. P. aeruginosa tem seu habitat natural em ambientes úmidos, e assim como A. baumannii, possui grande potencial para se estabelecer em soluções utilizadas nos cuidados médicos, como desinfetantes, fluídos de irrigação ou de diálise, além de equipamentos de terapia respiratória e inaladores. A. baumannii possui ainda a capacidade de persistir por longos períodos em ambientes secos (Paterson, 2006). Estas características, associadas à capacidade de aquisição de resistência aos antimicrobianos, permitem que estes micro-organismos permaneçam no ambiente hospitalar. Estes patógenos podem ser facilmente transmitidos de paciente para paciente por meio dos profissionais de saúde, sendo frequente a ocorrência de surtos hospitalares por disseminação de clones. Estudos de vigilância reportam Acinetobacter spp. como um dos patógenos mais frequentes entre isolados causadores de infecção relacionada à assistência à saúde (IRAs) na 27 Revisão Bibliográfica América Latina, Europa e EUA (Gales et al., 2012; Sader, 2014; Sievert et al., 2013; Tabah et al., 2012). No Brasil, segundo dados da ANVISA, este patógeno foi o quarto patógeno mais frequentemente isolado de infecção de corrente sanguínea (Tabela 2). Em sua última publicação, a National Healthcare Safety Network (NHSN) do CDC, mostrou que entre 2009-2010, P. aeruginosa (16,6%), Klebsiella spp. (10,1%), Enterobacter spp. (8,6%), e A. baumannii (6,6%) foram responsáveis por 42% dos episódios de pneumonias associadas à ventilação mecânica (PAV), sendo menos frequente apenas que S. aureus (24,1%) (Sievert et al., 2013). Gales e colaboradores (2012) reportaram dados semelhantes, em um estudo de vigilância realizado entre os anos de 2008 e 2010, onde os principais patógenos relacionados à etiologia de pneumonias na América Latina foram P. aeruginosa (31,2%), S. aureus (20%), Acinetobacter spp. (17,7%), Klebsiella spp. (10,2%) e Enterobacter spp. (5,1%) (Gales et al., 2012). Entretanto, diferenças podem ser observadas na epidemiologia das ICS entre as localidades dos estudos. Enquanto segundo o NHSN-CDC, nos EUA, os quatro primeiros micro-organismos foram cocos Gram positivos, na América Latina, E. coli (19%) e Klebsiella spp. (12,3%), foram encontrados nas segunda e terceira posições. P. aeruginosa e Acinetobacter spp. foram responsáveis por 7,5% e 7,2% das ICS na América Latina, ocupando a quinta e sexta posições, respectivamente (Gales et al., 2012). Poucos são os estudos de vigilância exclusivos ou que incluem isolados bacterianos brasileiros. Dentre eles, podemos citar o programa de vigilância SENTRY, o SCOPE-Brasil e, mais recentemente, o Programa Nacional de Monitoramento da Resistência Bacteriana no Brasil realizado pela ANVISA (Marra et al., 2011; ANVISA, 2014). As diferenças metodológicas empregadas por cada um destes estudos podem interferir em seus resultados e devem ser levadas em consideração. O programa SENTRY, desde 1997, monitora os patógenos mais prevalentes e seu perfil de sensibilidade aos antimicrobianos em diversos países, incluindo quatro centros hospitalares do Brasil desde 1997. Este programa baseado em dados de 28 Revisão Bibliográfica vigilância laboratoriais contempla patógenos isolados de ICS, infecções respiratórias e infecções de pele e partes moles (Gales et al., 2012). O estudo SCOPE-Brasil foi realizado entre os anos de 2007 e 2010, considerando apenas isolados de ICS e baseando-se em critérios epidemiológicos. Dezesseis centros hospitalares distribuídos em oito Estados brasileiros fizeram parte do estudo (Marra et al., 2011). De maneira semelhante a ANVISA iniciou em 2005 um programa de vigilância de isolados bacterianos de ICS, exclusivamente de unidades de terapia intensiva (UTIs), baseado em critérios epidemiológicos, porém, abrangendo os 27 estados brasileiros (ANVISA, 2014) (Tabela 2). 29 Revisão Bibliográfica Tabela 2. Característica dos estudos de vigilância epidemiológica que incluem isolados bacterianos brasileiros. SENTRY Brazilian SCOPE Programa Nacional ANVISA Gales et al., 2012 Marra et al., 2011 ANVISA, 2014 Período 2005-2008 Jun/2007- Mar/2010 Jan a Dez/2012 Foco Laboratórial Epidemiológico Epidemiológico 20 primeiros isolados consecutivos do mês ICS ICS em UTI Estudo de Vigilância Referência Critério 1 único isolado por paciente Número de centros médicos Estados participantes Número total de isolados 4 16 908 4 3 807 8 2 447 27 19 009 10 principais patógenos S. aureus SCoN Klebsiella spp. E. coli Acinetobacter spp. P. aeruginosa Enterobacter spp. Candida spp. Enterococcus spp. Serratia spp. S. maltophilia Proteus spp. (%) 20,2 14,5 12,1 12 9,1 8,7 6,1 5 3,3 1,9 - 15,4 13,8 13,2 12,5 8,9 6,1 5,6 4,5 3,5 1,6 16,5 19,9 12,4 5,9 11,4 8,9 4,9 6,3 5,8 2,9 - Em todos os estudos, as bactérias Gram-negativas foram responsáveis por aproximadamente 50% dos isolados (46,4%-51,3%), distribuidos entre espécies de enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. Dentre as espécies de enterobactérias, destacam-se K. pneumoniae, terceiro agente mais frequente em todos os estudos, além de Enterobacter spp., Serratia spp., E. coli e Proteus spp. (Tabela 2). Apesar das semelhanças dos dados brasileiros em relação aos dez patógenos mais frequentemente encontrados na Europa e 30 Revisão Bibliográfica nos EUA, nota-se uma variabilidade de prevalência regional. Biedenbach e colaboradores (2004) observaram uma alta prevalência de E. coli em isolados de ICS na Europa, Enterococcus spp. nos EUA e bactérias Gram-negativas entéricas e não entéricas na América Latina (Biedenbach et al., 2004). No Brasil, o estudo de vigilância SCOPE-Brasil, conduzido por Marra e colaboradores (2011) durante os anos de 2007 e 2010, reportaram que 58,5% das ICS foram causadas por micro-organismos Gram-negativos, porém, S. aureus (15,4%) e Staphylococcus coagulase negativa (SCoN; 13,8%) foram os agentes mais isolados, seguidos de Klebsiella spp. (13,2%), Acinetobacter spp. (12,5%), P. aeruginosa (8,9%) e Enterobacter spp. (6,1%) (Marra et al., 2011). Neste estudo ainda, a mortalidade reportada entre estes pacientes foi muito elevada, sendo de 31-32% entre os pacientes que apresentaram episódio de ICS por Staphylococcus spp., de 30-52% entre aqueles com ICS por bactérias Gram-negativas e de 68% nos quais Candida spp. foi responsável pela ICS. 2.2.1. Resistência aos Antimicrobianos β-lactâmicos em Bactérias Gram-negativas Entre todos os micro-organismos Gram-negativos causadores de IRAs, aproximadamente 65% dos isolados de A. baumannii, 15% de Klebsiella spp. e 2% de E. coli foram considerados multirresistentes (MDR - resistentes a três ou mais classes de antimicrobianos testados) entre 2009-2010 nos EUA (Tacconelli et al., 2014). Na Europa, houve um aumento significativo nas taxas de resistência aos antimicrobianos em isolados Gram-negativos. Em 2011, segundo o European Antimicrobial Resistance Surveillance Network (EARS-Net) da European Center for Disease Prevention and Control (ECDC), 36% dos isolados de E. coli foram resistentes às cefalosporinas de amplo espectro. Esta taxa era 50% superior àquela relatada nos últimos quatro anos. A resistência aos carbapenens também apresentou um aumento importante, se elevando 31 Revisão Bibliográfica de 3,2% em 2009 para 6,2% em 2012. Em países como a Grécia e a Itália estas taxas chegaram à 60,5% e 28,8%, respectivamente (ECDC, 2012). No Brasil, Marra e colaboradores (2011), observaram que, em isolados de ICS entre os anos 2007 e 2010, as taxas de resistência às cefalosporinas de amplo espectro em Klebsiella spp. foram muito elevadas (54,4% e 50,2%, respectivamente) (Marra et al., 2011). Estes achados foram corroborados pelo relatório do programa SENTRY, onde Gales e colaboradores (2012) reportaram o fenótipo de resistência às cefalosporinas de amplo espectro em 50% dos isolados de Klebsiella spp. no Brasil, assim como em outros países da América Latina, Argentina (60%) e Chile (59%) (Gales et al., 2012). Portanto, o uso de antimicrobianos da classe dos carbapenens é elevado nestes países, tanto na terapia empirica como no tratamento definitivo de infecções graves causadas por bactérias Gram-negativas. Consequentemente, somos testemunhas do aumento assustador das taxas de resistência destes micro-organismos aos carbapenens. Apesar de em seu estudo, Marra e colaboradores (2011) observarem que apenas 0,3% dos isolados de Klebsiella spp. foram resistentes a imipenem, Gales e colaboradores (2012) reportaram taxas muito mais elevadas (Marra et al., 2011; Gales et al., 2012). Entre os anos de 1997-1999, o programa SENTRY reportou que 0,5% dos isolados de Klebsiella eram resistentes aos carbapenens no Brasil, porém, esta taxa elevou-se para 1,7% entre 2003-2005, e para 8,6% entre 2008-2010 (Gales et al., 2012). As diferenças nas taxas reportadas por estes estudos podem estar relacionadas aos desenhos dos estudos. O estudo de Marra e colaboradores (2011) incluiram 16 centros brasileiros, e isolados apenas de ICS em UTIs, enquanto que o programa SENTRY inclui dados dos 20 primeiros e consecutivos isolados bacterianos mensalmente de apenas quatro centros brasileiros. Recentemente, a ANVISA reportou, pela primeira vez, um relatório epidemiológico com dados de ICS primária confirmadas laboratorialmente obtidos de todos os 27 estados brasileiros. Foram 908 centros médicos que enviaram dados coletados no ano de 2012 (ANVISA, 2014). Neste boletim, os isolados de 32 Revisão Bibliográfica Klebsiella spp. resistentes às cefalosporinas de amplo espectro atingiu 32,5% de todos os isolados de Klebsiella spp., sendo que 16,1% destes foram resistentes aos carbapenens. A resistência aos antimicrobianos entre os isolados de P. aeruginosa são ainda piores. No relatório do CDC, 26,1% das ICS adquiridas no ambiente hospitalar causadas por P. aeruginosa foram resistentes aos carbapenens, e 15,4% por isolados apresentando fenótipo MDR (CDC, 2013; Sievert et al., 2013). Na Europa, 17,1% dos isolados de P. aeruginosa provenientes de infecções invasivas foram resistentes aos carbapenens e 13,8% foram MDR (ECDC, 2012). No Brasil, segundo o estudo SCOPE-Brasil (2007 a 2010), 35,8% dos isolados de P. aeruginosa provenientes de ICS foram resistentes à imipenem, corroborando com os dados reportados recentemente pelo boletim da ANVISA, onde esta taxa foi de 36,9% em 2012, e pelo programa de vigilância SENTRY, onde 42,1% dos isolados de P. aeruginosa foram resistentes aos carbapenens, entre os anos de 2008 e 2010 (Marra et al., 2011; Gales et al., 2012; ANVISA, 2014). A. baumannii, apesar de isolado em menor frequencia que P. aeruginosa e Klebsiella spp., apresenta taxas de resistência ainda mais elevadas aos carbapenens. Nos EUA, Sievert e colaboradores (2013) reportaram que 62,6% das amostras de A. baumannii provenientes de ICS adquirida no ambiente hospitalar apresentavam resistência aos carbapenens. Na Europa, o relatório do ECDC mostrou 51% de MDR entre os isolados de Acinetobacter spp. provenientes de infecções invasivas. Semelhante ao reportado por Marra e colaboradores (2011), no estudo SCOPE-Brasil, onde 56% dos isolados de A. baumannii foram resistentes aos carbapenens (Marra et al., 2011). Assim como em outros países da América Latina, o programa SENTRY, reportou importante elevação das taxas de resistência aos carbapenens no Brasil, de 16,3% em 2003-2005, para 71,4% em 2008-2010. Na Argentina este aumento foi de 58,6% para 84,9% e no Chile de 6,2% para 50%, nos mesmos períodos avaliados (Gales et al., 2012). Segundo o boletim da ANVISA, incluindo todos os estados brasileiros, a taxa reportada de isolados de 33 Revisão Bibliográfica Acinetobacter spp. resistentes aos carbapenens foi de 38,8% (ANVISA, 2014). A diferença entre as taxas de resistência reportadas pelo boletim da ANVISA pode ser explicada pela diversidade geográfica de um país com dimensões continentais como o Brasil, assim como pelo fato deste programa ser baseado em dados epidemiológicos, não havendo padronização da metodologia utilizada para os testes de sensibilidade aos antimicrobianos. Frente aos dados apresentados, infelizmente, a resistência das bactérias Gramnegativas, especialmente Klebsiella spp., P. aeruginosa e Acinetobacter spp. às principais opções terapêuticas para o tratamento de infecções graves tornou-se uma das mais desafiadoras questões de saúde pública no âmbito mundial. Em setembro de 2014, o governo americano anunciou medidas da Casa Branca para combater a resistência bacteriana aos antimicrobianos (White House National Strategy for Combating Antibiotic Resistant Bacteria CARB). Entre os objetivos do documento estão a redução da progressão da resistência bacteriana e disseminação de infecções causadas por estes agentes, uso e desenvolvimento de testes diagnósticos rápidos e inovadores para identificação e caracterização de bactérias resistentes e a aceleração das pesquisas básicas e aplicadas ao desenvolvimento de novos antimicrobianos, novas terapias e vacinas. Neste mesmo ano a OMS publicou um documento onde afirma que cada vez mais os governos ao redor do mundo estão começando a prestar atenção para um problema tão grave que ameaça as conquistas da medicina moderna. A era pós-antibiótico em que infecções comuns e pequenas lesões podem ser letais está longe de ser uma fantasia apocalíptica, mas, é sim, uma possibilidade muito real para o século XXI (WHO, 2014). 2.3. Mecanismos Envolvidos na Resistência aos Carbapenens O desenvolvimento de técnicas moleculares e os conhecimentos adquiridos nas últimas décadas possibilitou a melhor compreensão dos mecanismos de resistência das bactérias Gram- 34 Revisão Bibliográfica negativas aos antimicrobianos. Conhecidas pela sua capacidade de aquisição de diferentes estratégias para se defender da agressão antimicrobiana, as bactérias Gram-negativas constituem um desafio clínico e laboratorial. 2.3.1. Cefalosporinases e ESβL Associadas à Impermeabilidade de Membrana Um dos primeiros mecanismos que a bactéria se utiliza para se tornar resistente aos antimicrobianos é reduzir o acesso destes agentes aos seus alvos, impedindo assim a sua ação. A redução de permeabilidade de membrana externa confere uma elevação nos valores da concentração inibitória mínima (CIM) dos antimicrobianos, porém, também amplifica a resistência conferida por outros mecanismos, sejam estes intrínsecos, mutacionais ou adquiridos (Rice, 2006). A impermeabilidade pode ser conferida pela diminuição da expressão das porinas, proteínas de membrana externa (OMPs) que atuam como canal de entrada de nutrientes e excreção de produtos do metabolismo bacteriano, que seriam tóxicos para a célula, assim como porta de entrada para os agentes antimicrobianos hidrofílicos. Além disso, a hiperexpressão de sistemas de efluxo também contribui com a impermeabilidade de membrana, pois são capazes de ejetar as moléculas de antimicrobianos para o exterior da célula bacteriana pelas proteínas de membrana externa. Elevados graus de resistência podem ser observados quando a impermeabilidade de membrana se associa a produção de β-lactamases. Estas se constituem na principal ferramenta das bactérias Gram-negativas para se contrapor à agressão pelos agentes β-lactâmicos. A primeira enzima descrita desta classe foi uma penicilinase isolada de E. coli, em 1940 (Abraham & Chain, 1940). Apesar do desenvolvimento de penicilinas, cefalosporinas e carbapenens com crescente estabilidade à hidrólise causada pelas β-lactamases, as bactérias passaram a se adaptar produzindo enzimas com uma capacidade hidrolítica cada vez maior (Livermore & Woodford, 2006). 35 Revisão Bibliográfica Vários esquemas foram propostos para a classificação das β-lactamases, mas as classificações de Ambler (1980) e Bush e colaboradores (1995) são as mais utilizadas. (Ambler, 1980; Bush et al., 1995). A classificação de Ambler se baseia na sequência de aminoácidos que compõe as β-lactamases. Esta classificação propõe que as β-lactamases sejam divididas em classes moleculares A, B, C e D. Em uma tentativa de facilitar a utilização da classificação das βlactamases, Bush e colaboradores (1995) propuseram uma atualização da classificação de Bush (1989) levando em consideração o substrato preferencial da β-lactamase, o seu perfil de inibição pelos inibidores de β-lactamases e EDTA, e os principais exemplos das espécies onde estas βlactamases eram encontradas. Estes autores ainda correlacionaram esta nova classificação com a classificação molecular proposta por Ambler. Em 2010, a classificação de Bush, Jacoby & Medeiros passou por uma nova atualização devido ao aumento do número de β-lactamases descritas (Bush & Jacoby, 2010). Esta constitui a classificação mais utilizada até o momento e encontra-se exemplificada na Tabela 3. As enzimas do tipo AmpC pertencem ao grupo 1, ou classe C, e são encontradas em enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. Estas podem ser cromossomais, produzidas constitutivamente em baixos níveis e/ou induzidas na presença de β-lactâmicos. Os genes que codificam estes enzimas podem ser encontrados no cromossomo de algumas espécies de enterobactérias, como Enterobacter spp., Serratia spp., Citrobacter spp., entre outras. Também conhecidas como cefalosporinases, pela sua capacidade de hidrolisar penicilinas, cefamicinas e oximino cefalosporinas (ceftazidima, cefotaxima e ceftriaxona), porém, sua atividade é limitada contra cefepima (Bush et al., 1985). Assim como em enterobactérias, as enzimas do tipo AmpC descritas em P. aeruginosa são induzidas pela exposição aos agentes β-lactâmicos, especialmente à cefoxitina e ao imipenem. Por meio de mutações nos genes que regulam sua produção, estas enzimas passam a ser hiperexpressas, conferindo resistência às cefalosporinas de amplo espectro, inclusive à 36 Revisão Bibliográfica cefepima (Rodriguez-Martinez et al., 2009). Frequentemente a desrepressão do gene ampC opera conjuntamente com a perda da função da OprD, sendo este um frequente determinante de resistência aos carbapenens em P. aeruginosa (Gutierrez et al., 2007; Rodrigues-Martinez et al., 2009). Cabot e colaboradores (2011) avaliaram a expressão dos genes codificadores de AmpC, OprD, e sistemas de efluxo em uma coleção de 190 isolados de P. aeruginosa. Neste estudo, os autores observaram que todos os isolados resistentes ao imipenem apresentavam deficiência de expressão da OprD (Cabot et al., 2011). Esta porina é a principal porta de entrada destes compostos na célula bacteriana, especialmente o imipenem, e sua diminuição ou ausência em isolados clínicos demonstrou elevar a CIM de imipenem de 1-2 µg/mL para 8-32 µg/mL. (Livermore, 2001). Entretanto, Ocampo-Sosa e colaboradores (2012) observaram que mutações no gene oprD estavam presentes em isolados de P. aeruginosa com diferentes fenótipos de sensibilidade aos carbapenens, inclusive em isolados apresentando sensibilidade a ambos, imipenem e meropenem (Ocampo-Sosa et al., 2012). Portanto, segundo alguns autores, é necessária uma ação conjunta destes mecanismos, hiperexpressão de AmpC e deficiência de OprD, para que a resistência à carbapenem seja expressiva nos isolados de P. aeruginosa (Livermore, 1992). Em contraste, a produção de AmpC em isolados de Acinetobacter spp. não é induzível. Porém, a presença de elementos de inserção, como a sequência de inserção (IS), ISAba1, a montante do gene blaAmpC pode promover a sua hiperexpressão e, consequentemente, à resistência às cefalosporinas de amplo espectro (Héritier et al., 2006). Entretanto, a expressão reduzida de OMPs e/ou seu menor tamanho contribui para a menor permeabilidade da membrana de Acinetobacter calcoaceticus-baumannii, comparada à de P. aeruginosa (2 a 7 vezes menor para cefalosporinas) e E. coli (97 a 99% menor para carbapenens) (Sato & Nakae, 1991). A redução da expressão ou ausência de porinas, como a Omp33-36 (31 kDa) e a CarO 37 Revisão Bibliográfica (29 kDa) foi relacionada à diminuição de sensibilidade a carbapenem em isolados de A. baumannii (Clark, 1996; Limansky et al., 2002). Em algumas enterobactérias genes codificadores de β-lactamases do tipo AmpC foram descritos em elementos genéticos móveis (pAmpC). Nestas a produção de AmpC é elevada, conferindo resistência às cefalosporinas de amplo espectro (Jacoby, 2009). No Brasil, apenas raros relatos de AmpC plasmidiais foram reportados na literatura (Pavez et al., 2008; Campana et al., 2013). O grupo das β-lactamases de espectro extentdido apresentam grande importância clínica pela capacidade de hidrólise de cefalosporinas de amplo espectro, inclusive cefepima, e pela facilidade de disseminação entre bactérias Gram negativas. Essa disseminação ocorre pelo fato de que os genes codificadores de ESβL são frequentemente carreados por elementos genéticos móveis, concomitantemente aos genes que conferem resistência a outras classes de antimicrobianos, como aminoglicosídeos, cloranfenicol e sulfametoxazol-trimetropim. Consequentemente, a terapia antimicrobiana torne-se bastante restrita. Estas enzimas foram reconhecidas logo após a introdução das cefalosporinas de amplo espectro na prática clínica (Sirot et al., 1988; Jacoby et al., 1988). As ESβL originaram-se de β-lactamases de espectro restrito, como TEM-1/TEM-2 e SHV-1, diferindo-se destas pela substituição de apenas um ou dois aminoácidos em sua sequência (Bush, 2010). Enterobactérias também podem expressar outras ESβLs que não estão relacionadas às famílias TEM e SHV, conhecidas como CTX-M. Atualmente, a prevalência desta família de ESβL aumentou de forma considerável tanto nos EUA como na Europa, porém, apresentam taxas ainda mais elevadas na América Latina e no sul da Ásia (Castanheira et al., 2014; Cantón et al., 2008). Em diversas espécies de enterobactérias, relatos de resistência aos carbapenens multiplicaram-se na década de 90 em consequência da expansão de isolados produtores de cefalosporinases plasmidiais ou cromossomais induzíveis do tipo AmpC, ou da produção de 38 Revisão Bibliográfica ESβLs, em associação com a redução ou perda de expressão das principais OMPs (Bradford et al., 1997; Bornet et al., 2000; Martinez-Martinez et al., 1999). A resistência aos carbapenens em isolados de enterobactérias foi primeiramente reportada no início dos anos 90 (Chow & Shlaes, 1991). Neste estudo, Chow e Shlaes (1991) reportaram a resistência à imipenem em uma cepa de E. aerogenes isolada de ICS, onde não foi observada nenhuma atividade hidrolítica mas sim a ausência de uma OMP de 40 kDa. Subsequentes a este estudo, diversos autores confirmaram os achados iniciais de que a alteração da permeabilidade da membrana externa associada à hiperprodução de AmpC ou a produção de ESβL poderiam conferir às enterobactérias resistência aos carbapenens (Bradford et al., 1997; MacKenzie et al., 1997). Em seu estudo, Martinez-Martinez e colaboradores (1999) demonstraram a contribuição da porina OmpK36, assim como de diferentes ESβLs e AmpC plasmidiais, na resistência às cefalosporinas e carbapenens em dois isolados clínicos de K. pneumoniae que não expressavam as porinas OmpK35 ou OmpK36. A elevação das CIM para cefalosporinas foi observada com a introdução de genes produtores de ESβL e AmpCs, porém, a CIM de cefepime demonstrou apenas um discreto aumento na presença de AmpC, de 1 µg/mL para 2 a 8 µg/mL. A restauração da expressão da OmpK36, através da manipulação gênica, permitiu a redução das CIMs de cefalosporinas de amplo espectro, tanto em isolados produtores de ESβLs como de AmpC. Somente nos isolados produtores de AmpC, as CIMs de imipenem e meropenem reduziram de 4 a 6 log (Martinez-Martinez et al., 1999). Uma das justificativas indicadas pelos autores do estudo para a ausência de observação de efeito das ESβLs nas CIMs dos carbapenens seria o tipo de ESβL estudado, ou seja, variantes do tipo SHV e TEM. Em contraste, a família CTX-M parece contribuir para este fenótipo quando associada à impermeabilidade de membrana. Carvalhaes e colaboradores (ANEXO 1) observaram uma diminuição de sensibilidade para ertapenem (CIMs; 16 a 64 µg/mL), imipenem (CIMs; 2 a 4 µg/mL), e meropenem (CIMs; 4 a 16 µg/mL) em isolados clínicos de K. pneumoniae que apresentavam produção de ESβLs (CTX- 39 Revisão Bibliográfica M-2, CTX-M-15 e CTX-M-59) e a ausência de uma ou ambas as porinas, OmpK35 ou OmpK36 (ANEXO 1). Da mesma maneira, outros autores demonstraram que, apesar da ausência das porinas não ser suficiente para conferir resistência aos carbapenens, quando associadas à produção de β-lactamases, a elevação das CIMs destes antimicrobianos pôde ser observada (Cornaglia et al., 1995; Girlich et al., 2009). Estes achados geraram inquietação na comunidade médica, uma vez que, os compostos da classe dos carbapenens são os agentes de primeira escolha para o tratamento de infecções causadas por micro-organismos produtores de ESβL. Entretanto, não há estudos randomizados e controlados para embasar a superioridade destes para o tratamento de micro-organismos produtores de ESβL (Kanj & Kanafani, 2011). Entretanto, alguns estudos demonstraram que o tratamento com carbapenem foi um fator independente para redução de mortalidade quando comparado a outros agentes com atividade in vitro no tratamento de ICS por isolados de K. pneumoniae produtores de ESβL (Paterson et al., 2004; Paterson, 2009). Assim como a redução da expressão de porinas, a hiperexpressão de sistemas de efluxo tem sido associada com a resistência a múltiplas classes de antimicrobianos, entre elas os carbapenens, especialmente em P. aeruginosa. Constitutivamente, isolados selvagens de P. aeruginosa expressam os sistemas de efluxo MexAB-OprM e MexXY-OprM, o que lhes confere resistência intrínseca a diversos antimicrobianos. Estes diferem de outros sistemas de efluxo, também descritos em isolados de P. aeruginosa, por não apresentarem expressão induzida por seus substratos, como MexCD-OprJ e MexEF-OprN (Poole, 2005). Fluoroquinolonas, penicilinas, cefalosporinas e aminoglicosídeos são substratos comuns dos sistemas de efluxo descritos em P. aeruginosa, e atuam como agentes na pressão seletiva de mutantes com hiper-regulação destes sistemas quando utilizados para o tratamento destas ou de outras infecções. Além destes antimicrobianos, diferentes especificidades de substratos podem ser observadas entre os sistemas de efluxo, por exemplo, MexAB-OprM apresenta efetiva atividade na ejeção de 40 Revisão Bibliográfica moléculas de meropenem, mas não de imipenem, e MexXY-OprM é capaz de extruir cefepime mas não ceftazidima (Livermore, 2001; Farra et al., 2008; Okamoto et al., 2002). Embora pouco estudado em isolados de Acinetobacter spp. e de enterobactérias, os sistemas de efluxo podem ter sua eficiência elevada quando os genes reguladores de sua expressão sofrem mutações, resultando na hiperexpressão e aumento da resistência aos antimicrobianos (Piddock, 2006). O sistema de efluxo AdeABC, frequentemente presente em isolados de A. baumannii, quando hiperexpresso pode conferir resistência às fluoroquinolonas, às tetraciclinas, ao cloranfenicol, à eritromicina, à tigeciclina e ao meropenem (Peleg et al., 2007). Da mesma maneira, Findlay e colaboradores (2012) demonstraram que a hiperexpressão do componente acrA do sistema de efluxo AcrAB-TolC em isolados de K. pneumoniae pode contribuir para resistência ao meropenem (Findlay et al., 2012). Esta contribuição é cada vez mais reconhecida como decorrente não apenas da ausência ou alteração nas porinas, mas conjuntamente com a hiperexpressão de sistemas de efluxo que agravam de maneira substancial a impermeabilidade da membrana bacteriana aos agentes antimicrobianos (Piddock, 2006). 41 Revisão Bibliográfica Tabela 3. Classificação das β-lactamases adaptada de Bush & Jacoby (2010). Grupo Funcional (Bush & Jacoby) Classe Molecular (Ambler) Substratos AC ou TZB 1 C Cefalosporinas Características Enzimas representantes Espécies bacterianas de importância clínica Referência Não Hidrólise preferencial de cefalosporinas que benzilpenicilinas, hidrólise cefamicinas E. coli AmpC, P99, ACT1, CMY-2, FOX-1, MIR-1 Enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. Zavascki et al., 2010 GC1, CMY-37 Enterobacter cloacae, Citrobacter freundii Crichlow et al., 1999; Ahmed & Shimamoto, 2008 Inibidoresa Não EDTA 1e C Cefalosporinas Não Não Hidrólise intensa da ceftazidima e frequentemente de outros oximino β-lactâmicos 2a A Penicilinas Sim Não Hidrólise preferencial de benzilpenicilinas que cefalosporinas PC1 Staphylococcus aureus Pieper et al., 1997 2b A Penicilinas, cefalosporinas espectro limitado Sim Não Hidrólise similar de benzilpenicilinas e cefalosporinas TEM-1, TEM-2, SHV-1 Enterobactérias Bush & Jacoby, 2010 2be A cefalosporinas de espectro extendido, monobactâmicos Sim Não Hidrólise intensa de oximino β-lactâmicos (cefotaxima, ceftazidima, ceftriaxona, cefepime e aztreoam) TEM-3, SHV-2, CTX-M15, PER-1, VEB-1 Enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. Bush & Jacoby, 2010; Shakil et al., 2010 2br A Penicilinas Não Não Resistência ao ácido clavulânico, tazobactam e sulbactam TEM-30, SHV-10 Enterobactérias Prinarakis et al., 1997; Bradford et al., 2004 42 Revisão Bibliográfica 2ber A Cefalosporinas de espectro extendido, monobactâmicos Não Não Hidrólise intensa de oximino β-lactâmicos combinada à resistência ao ácido clavulânico, ao tazobactam e ao sulbactam TEM-50 Enterobactérias Sirot et al., 1997 PSE-1, CARB-3 Enterobactérias, P. aeruginosa Medeiros et al., 1982; Lachapelle et al., 1991; Melano et al., 2002 2c A Carbenicilina Sim Não Hidrólise intensa da carbenicilina 2ce A Carbenicilina, cefepima Sim Não Hidrólise intensa da carbenicilina, cefepime e cefpiroma RTG-4 A. baumannii Potron et al., 2009 2d D Cloxacilina Variável Não Hidrólise intensa de cloxacilina ou oxacilina OXA-1, OXA-10 P. aeruginosa Evans & Amyes, 2014 2de D Cefalosporinas de espectro extendido Variável Não Hidrólise da cloxacilina, da oxacilina e dos oximino-βlactâmicos OXA-11, OXA-15 P. aeruginosa Evans & Amyes, 2014 2df D Carbapenem Variável Não Hidrolise da cloxacilina, da oxacilina e dos carbapenens OXA-23, OXA-48 Enterobactérias e Acinetobacter spp. Evans & Amyes., 2014 A cefalosporinas de espectro extendido Não Hidrolise das cefalosporinas, inibida por ácido clavulânico, mas não aztreonam CepA Bacteroides fragilis Rogers et al., 1993 Não Hidrólise intensa dos carbapenens, dos oximino β-lactâmicos e das cefamicinas KPC-2, IMI-1, SME-1 Enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. WaltherRasmussen & Hoiby, 2007 2e 2f A Carbapenem Sim Variável 43 Revisão Bibliográfica 3a B Carbapenem Não Sim Espectro ampliado de hidrólise incluindo carbapenem, mas não monobactâmicos 3b B Carbapenem Não Sim Hidrólise preferencial de carbapenens NI Unknown IMP-1, VIM-1, CcrA, IND1 Enterobactérias, P. aeruginosa e Acinetobacter spp. Cornaglia et al., 2011 CphA, Sfh-1 Aeromonas spp., Serratia fonticola Massidda et al., 1991; Saavedra et al., 2003 a. Abreviações: AC - Ácido Clavulânico; TZB - Tazobactam. 44 Revisão Bibliográfica 2.3.2. Produção de β-lactamases: Carbapenemases Dentre os mecanismos de resistência aos carbapenens, a produção de carbapenemases talvez seja o mais temido, pois estas enzimas apresentam o maior espectro de atividade e, geralmente, hidrolisamtodos os β-lactâmicos. Estas enzimas pertencem às diferentes classes moleculares, podendo ser encontradas na classe A, B e D (Tabela 4). 45 Revisão Bibliográfica Tabela 4. Características das principais carbapenemases reportadas.a Classe Classe A Classe B Grupo de enzima Enzima(s) Número de variantes no grupo Localização Exemplos de espécies em que foram encontradas SME IMI NMC-A SME-1 a SME-5 IMI-1 a IMI-8 NMC-A 5 8 1 C CeP C KPC KPC-2 a KPC-22 21 CeP S. marcescens E. cloacae, E. asburiae E. cloacae K. pneumoniae, Salmonella enterica, K. oxytoca, Enterobacter spp., E. cloacae, E. aerogenes, E. coli, P. aeruginosa, C. freundii GES GES-2, GES-4 a GES-6, GES-16 5 CeP P. aeruginosa, K. pneumoniae, E. coli IMP IMP-1 a IMP-48 48 CeP P. aeruginosa, Entereobactericeae, A. baumannii, A. xylosoxidans, A. baumannii, P. aeruginosa, P. putida, A. caviae VIM VIM-1 a VIM-43 43 CeP P. aeruginosa, Entereobactericeae, A.baumannii, A. baumannii, P. aeruginosa, P. putida, A. hydrophila SPM GIM SIM AIM KHM NDM DIM TMB SPM-1 GIM-1 SIM-1 AIM-1 KHM-1 NDM-1 a NDM-12 DIM-1 TMB-1 e TMB-2 1 1 1 1 1 12 1 2 CeP P P P P CeP P P P. aeruginosa P. aeruginosa, Enterobacteriaceae A. baumannii, Enterobacteriaceae P. aeruginosa C. freundii Enterobacteriaceae e A. baumannii P. stutzeri A. xylosoxidans 46 Revisão Bibliográfica OXA-23-like OXA-23, OXA-27, OXA-49, OXA-73, OXA-102, OXA-103, OXA-105, OXA-133, OXA-134, OXA-146, OXA-165, OXA171, OXA-225, OXA-239 19 CeP A. baumannii, A. junii, A. radioresistens, A. pitii, P. mirabilis, A. phenon 5, A. phenon 6/ct 13TU, A. nosocomialis, A. genomic species 10/11, A. lwoffii, K. pneumoniae, A. baylyi OXA-40-like OXA-40, OXA-25, OXA-26, OXA-72, OXA-139, OXA-160, OXA-207 7 CeP A. baumannii, A. haemolyticus, A. pittii, A. baylyi, P. aeruginosa, A. calcoaceticus, K. pneumoniae OXA-51-like OXA-51, OXA-64 - OXA-71, OXA, 75 a OXA-80, OXA-82 OXA-84, OXA-86 a OXA-95, OXA-98 a OXA-100, OXA-104, OXA-106 a OXA-113, OXA-115 a OXA-117, OXA-120 a OXA-128, OXA-130 a OXA-132, OXA-138, OXA-144, OXA148 a OXA-150, OXA-172 a OXA-180, OXA-194 a OXA197, OXA- 200 a OXA-203, OXA-206, OXA-208, OXA-216, OXA-217, OXA-219, OXA-223, OXA-241, OXA-241, OXA248 a OXA-250, OXA-254 95 CeP A. baumannii, A. noscomialis, E. clocae, E. coli, K pneumoniae Classe D OXA-58-like OXA-58, OXA-96, OXA-97, OXA-164 4 CeP A. baumannii, A pittii, A. nosocomialis, A. phenon 6/ct 13TU, A. junii, Acinobacter genomic species 9, A. bereziniae, A. calcoacetius, A. radioresistens, E. cloacae, C. testosteroni, E. coli, K. pneumoniae, D. acidovorans OXA-134a-like OXA-143-like OXA-213 OXA-214-like OXA-211-like OXA-229-like OXA-235-like OXA-134a, OXA-186 a OXA-191 OXA-143, OXA-182, OXA-231, OXA-253, OXA-255 OXA-213 OXA-214, OXA-215 OXA-211, OXA-212, OXA-309 OXA-228 a OXA-230, OXA-257 OXA-235 a OXA-237, OXA-278 7 5 17 5 6 8 7 C P C C C C C A. lwoffii A. baumannii, A. pittii A. calcoacetius A. haemolyticus A. johnsonii A. bereziniae A. schindleri 47 Revisão Bibliográfica OXA-48-like a. OXA-48, OXA-48b, OXA-162, OXA-163, OXA-181, OXA199, OXA-204, OXA-232, OXA-244, OXA-245, OXA-247 11 CeP E. cloacae, K. pneumoniae, E. coli, S. xiamenensis, C. freundii, S. marcescens, P. rettgeri, K. oxytoca, E. sakazaii, A. baumannii Adaptado de Cornaglia e colaboradores (2011), Walther-Rasmussen & Hɸiby (2007), Nordmann e colaboradores (2011), Queenan & Bush (2007), Evans & Amyes (2014) e http://www.lahey.org/Studies/. Abreviações: C - localização cromossomal; P - localização plasmidial; 48 Revisão Bibliográfica 2.3.3.1. Carbapenemases de Classe A Há uma variedade de enzimas da classe A alocadas no grupo 2f. Algumas destas enzimas são cromossomais, como NmcA, Sme, IMI-1 e SFC-1, e outras, geralmente, codificadas por genes localizados em plasmídios, como KPC, IMI-2 e as variantes do tipo GES. Todas essas β-lactamases apresentam uma serina no seu sítio ativo e hidrolisam efetivamente os carbapenens, sendo parcialmente inibidas pelo ácido clavulânico (Nordmann et al., 2011). A principal representante do grupo, KPC, foi primeiramente isolada em 1996 na Carolina do Norte nos EUA, de uma cepa de K. pneumoniae resistente aos carbapenens (Yigit et al., 2001). Entre 2001 e 2004, apenas alguns isolados produtores de KPC foram recuperados nesta área geográfica. A disseminção deste determinante de resistência foi documentada pelo NHSN, entre os anos 2006-2007, onde 10% de todas as K. pneumoniae isoladas de ICS relacionadas à cateter ou de infecção do trato urinário apresentavam resistência aos carbapenens nos EUA (Hidron et al., 2008). A mesma enzima doi documentada em isolados de enterobactérias em Israel, seguido da Europa, Ásia e América Latina ainda na mesma década (Nordmann et al., 2011). Embora o gene blaKPC esteja associado ao transposon Tn4401, os quais por sua vez estão inseridos plasmídeos que podem diferir em tamanho e estrutura, além do conteúdo de genes codificadores de diferentes β-lactamases (Nordmann et al., 2011). Apesar da comprovada mobilidade do gene blaKPC em isolados de K. penumoniae, a disseminação primária deste agente parece ocorrer, principalmente de maneira clonal, sendo o principal complexo clonal, CC258, detectado ao redor do mundo (Temkin et al., 2014). No Brasil, os primeiros quatro isolados de K. pneumoniae produtores de KPC foram encontrados em Recife, em 2006. (Monteiro et al., 2009). Novos casos surgiram no Rio de Janeiro, entre os anos 2007 e 2008 (Peirano et al., 2009). Entretanto, Pavez e colaboradores (2009), ao estudarem isolados recuperados entre os anos de 2003 a 2008, em São Paulo, observaram a presença do gene blaKPC em uma amostra isolada 49 Revisão Bibliográfica em São Paulo em 2005 (Pavez et al., 2009). A disseminação rápida deste fator de resistência elevou a taxa de resistência aos carbapenens em isolados de K. pneumoniae no país. Embora o CC258 seja ainda o mais frequente entre amostras de K. pneumoniae produtores de KPC-2, o gene blaKPC passou a ser adquirido por outros sequences types (STs) de K. pneumoniae ao longo de seu estabelecimento no país (Nicoletti et al., 2012), assim como em outros locais, a maioria destes isolados pertenciam ao CC258, apesar da diversidade de “” (STs) encontrados (Nicoletti et al., 2012). Embora exista um predomínio de K. pneumoniae e Enterobacter spp. produtores de KPC, a transferência do gene blaKPC para outras bactérias Gram-negativas, como E. coli, Enterobacter spp., S. marcescens, P. putida e P. aeruginosa, foi observada no Brasil e no mundo (Nordmann et al., 2009; Zavascki et al., 2009; D'Alincourt et al.; 2010; Almeida et al., 2012; Jácome et al., 2012). A despeito de haver, até o presente momento, 21 variantes de KPC descritas, a KPC-2 e KPC-3 são as mais encontradas mundialmente, e no Brasil apenas a variante KPC-2 foi reportada, até o momento. A primeira enzima da família GES, a GES-1, foi isolada de um isolado de K. pneumoniae na Guiana Francesa, e apresentava perfil hidrolítico de ESβL (Poirel et al., 2000). As enzimas do tipo GES são peculiares, pois, uma mutação pontual no seu sítio ativo pode conferir-lhes extensão da sua atividade hidrolítica, tornando-as carbapenemases. Algumas variantes com estas características são, primordialmente, isoladas em P. aeruginosa na Ásia, África do Sul e Brasil, e em Acinetobacter spp. na Turquia, Tunisia, Kuwait e França (Zavascki et al., 2010; Zeka et al., 2014; Bonnin et al., 2011; Bonnin et al., 2013; Charfi-Kessis et al., 2014). Os genes que codificam as carbapenemases do tipo GES estão localizados em integrons, na sua maioria inseridos em plasmídios transferíveis, porém, já foram descritos inseridos no cromossomo de algumas bactérias, como E. coli e P. aeruginosa (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2007). No Brasil, a primeira enzima da família, GES-1, uma β-lactamase de espectro extendido, foi descrita em P. 50 Revisão Bibliográfica aeruginosa por Castanheira e colaboradores em 2004 (Castanheira et al., 2004). Em 2007, da Fonseca e colaboradores reportaram a presença do gene blaGES-5 em três isolados de P. aeruginosa recuperados da Região Norte do país em 2001 (da Fonseca et al., 2007). Estes isolados eram sensíveis apenas a colistina. Posteriormente, GES-5 foi observada em um isolado de K. pneumoniae subsp. ozaenae de vigilância ativa em São Paulo (Picão et al., 2010). E mais recentemente, uma nova variante desta classe, a GES-16, foi descrita em um isolado S. marcescens na cidade do Rio de Janeiro (Barbosa, 2011). De menor importância clínica, as demais serino-carbapenemases do grupo estão localizadas no cromossomo de espécies de enterobactérias, como SME, exclusiva de S. marcescens, com cinco variante descritas até o momento no Canadá e EUA (WaltherRasmussen & Hoiby, 2007). Estudos com a variante SME-1 mostraram que esta enzima pode ser produzida em níveis basais elevados por uma subpopulação de S. marcescens, porém, um aumento de sua expressão foi observada na presença de imipenem (Naas et al., 1995). A família IMI-1/NMC-A, refere-se a imipenemase/não MβL-A, e são distribuídas em 2 grupos, as NMC-A derivam por oito substituições de duas variantes de IMI, que por sua vez diferem entre si por 2 substituições de amino ácidos na sequência proteica. Estas enzimas foram encontradas esporadicamente em isolados clínicos de E. cloacae e E. asburiae, nos EUA, França, Argentina, China e mais recentemente em Singapura, e em um isolado de Enterobacter spp. resistente a colistina na Irlanda (Walther-Rasmussen & Hoiby, 2007; Boo et al., 2013; Teo et al., 2013). Apresentam até o momento apenas oito variantes, e sua expressão pode ser induzida pela presença de imipenem. As últimas representantes do grupo, SFC-1 e SHV-38, foram reportadas apenas em S. fonticola (Portugal) e K. pneumoniae (França), respectivamente. Ambas são capazes de hidrolisar o imipenem, e foram encontradas no cromossomo de seus hospedeiros. SHV-38 difere da SHV-1 pela substituição de alanina por valina na posição 146, levando a uma modificação estrutural que favorece a hidrólise de carbapenem (Walther-Rasmussen & Hoiby, 51 Revisão Bibliográfica 2007). Geralmente, estas enzimas da classe A são capazes de hidrolizar os carbapenens, mas não apresentam atividade contra cefalosporinas de amplo espectro (Bush, 2010). 2.3.3.2. Carbapenemases de Classe B Pertencente ao grupo funcional 3a, as MβLs são compostas por uma vasta gama de enzimas, que em comum necessitam de moléculas de zinco interagindo no seu sítio ativo para excercer sua atividade hidrolítica sobre todos os compostos β-lactâmicos, incluindo carbapenem, com exceção do aztreonam. Desta maneira, tem sua atividade inibida na presença de agentes quelantes de íons, como EDTA e ácido 2-mercaptopropiônico. Estas enzimas foram detectadas inicialmente, nos anos 60, no cromossomo de isolados com pouca expressão clínica, como Bacillus cereus, Aeromonas spp., e Stenotrophomonas maltophilia (Iaconis & Sanders, 1990; Kuwabara & Abraham, 1967; Saino et al., 1982). Entretanto, apenas na década de 90, quando os genes codificadores destas enzimas carreados por elementos genéticos móveis se disseminaram para os principais patógenos Gram-negativos (P. aeruginosa e S. marcescens produtoras de IMP-1 no Japão e A. baumannii produtor de IMP-2 na Europa), estas enzimas foram reconhecidas com importante problema clínico (Watanabe et al., 1991; Osano et al., 1994; Cornaglia et al., 2011). Atualmente, foram descritas 48 variantes de IMP (nomeadas devido a sua atividade contra imipenem) e 43 variantes de VIM (Verona integron-encoded metallo-βlactamase), as maiores famílias do grupo, que inicialmente eram encontradas em bacilos Gramnegativos não fermentadores, porém, disseminaram-se para espécies de enterobactérias, sendo descritas em Enterobacter spp., E. coli, C. freundii, Klebsiella spp. e S. marcescens (Bush, 2010). Outras enzimas frequentes do grupo são GIM (German imipenemase) e SIM (Seoul imipenemase), que assim como IMP e VIM, estão localizadas em uma variedade de integrons, onde foram incorporados como genes cassetes (Queenan & Bush, 2007). A São Paulo metalocarbapenemase (SPM-1), descrita e restrita, até o presente momento, em amostras de P. 52 Revisão Bibliográfica aeruginosa isoladas no Brasil, onde foi reportada a disseminação de um clone de P. aeruginosa produtor de SPM-1 (Toleman et al., 2002; Gales et al., 2003). A única descrição de SPM-1 fora do território brasileiro foi na Europa, especificamente na Suiça, porém com conexão epidemiológica com o Brasil (Salabi et al., 2010). Assim como SPM-1, outras enzimas, DIM-1 (isolada na Holanda) e AIM-1 (Austrália imipenemase) contém apenas uma variante, identificadas apenas em Pseudomonas spp. (Poirel et al., 2010; Zavascki et al., 2010). Em 2008, Sekiguchi e colaboradores reportaram uma nova enzima da classe B, KHM-1, isolada de um isolado clínico de Citrobacter freundii no Japão. Este apresentava resistência aos β-lactâmicos com exceção de monobactans, e diminuição de sensibilidade aos carbapenens (Sekiguchi et al., 2008). Recentemente, uma nova integrante do grupo das MBL foi descrita na Líbia, TMB-1, em um isolado de Achromobacter xylosoxidans (El Salabi et al., 2012). Posteriormente, TMB-2 e TMB-1 foram encontradas em isolados de Acinetobacter spp. no Japão (Suzuki et al., 2013; Kayama et al., 2014). A mais nova enzima do grupo das MβL foi descrita em um isolado de K. pneumoniae resistente a todos os antimicrobianos testados, exceto colistina, proveniente da Índia (Yong et al., 2009). Trata-se da New-Delhi metallo-β-lactamase (NDM), que atualmente conta com 12 variantes descritas (http://www.lahey.org/Studies/other.asp). A localização do gene blaNDM-1 em plasmídios altamente transferíveis, possibilitou com que rapidamente casos no Reino Unido, EUA e no sul da Ásia se alastrassem, em diferentes espécies de enterobactérias e inclusive em A. baumannii (Rolain et al., 2010). No Brasil, o primeiro relato de NDM-1 foi em um isolado de Providencia rettgeri na cidade de Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul (Carvalho-Assef et al., 2013), seguido de E. cloacae, E. homaechei e Morganella morganii, nesta mesma região, e em A. baumannii em Londrina (Rozales et al., 2014; Carvalho-Assef et al., 2014; Pillonetto et al., 2014). Embora não tenha sido estabelecida uma ligação epidemiológica com o subcontinente 53 Revisão Bibliográfica indiano, o Rio Grande do Sul está geograficamente próximo ao Paraguai, onde foram descritos casos de NDM (Pasteran et al., 2014). 2.3.3.3. Carbapenemases de Classe D O primeiro grupo de CHDL identificado em isolados de A. baumannii foi o da OXA-23 no Reino Unido, em 1985 (Paton et al., 1993). As CHDLs compreendem um grupo de enzimas encontrados quase que exclusivamente em Acinetobacter spp., com exceção da OXA-48, disseminada entre as enterobactérias. Atualmente, podem ser divididas em seis grupos, sendo os mais importantes os grupos OXA-23, OXA-24/40, OXA-48, OXA-51, OXA-58 e OXA-143. As propriedades cinéticas das enzimas do grupo OXA-23 variam bastante entre os estudos publicados, porém, todos concordam que estas enzimas são capazes de hidrolisar oximino cefalosporinas (com exceção de ceftazidima), amino penicilinas, piperacilina, oxacilina e aztreonam, além dos carbapenens, porém, com baixa afinidade (CIMs ao redor de 16 µg/mL) (Afzal-Shah et al., 2001; Smith et al., 2013). Apresentam maior atividade contra imipenem quando comparado aos demais carbapenens. Entretanto, valores maiores de CIMs para carbapenens são reportados quando isolados produtores de OXA-23 também expressam o sistema de efluxo AdeABC (CIMs; > 32 µg/mL) (Evans & Aymes, 2014). Das 19 enzimas que compõe este grupo, apenas a OXA-146, possui atividade contra ceftazidima. Este grupo parece ter sido adquirido de A. radioresistens (Poirel et al., 2008). Em enterobactérias, a presença do gene blaOXA-23 somente havia sido reportado no cromossomo de isolados de P. mirabilis na França, até que recentemente, foi também encontrado em um plasmíde isolado de E. coli em Singapura (Bonnet et al., 2002; La et al., 2014). A principal enzima do grupo da OXA-24/40, que leva seu nome, foi isolada de um surto de A. baumannii na Espanha em 1997, e, apesar de frequentes nesta espécie, também foram reportadas em isolados de P. aeruginosa e K. pneumoniae (Bou et al., 2000; Evans & Aymes, 54 Revisão Bibliográfica 2014). Em geral, este grupo de enzimas, assim como as enzimas do grupo OXA-58, possui atividade contra penicilinas, mas fracamente hidrolisam carbapenens, e não apresentam atividade contra cefalosporinas de amplo espectro (Poirel & Nordmann, 2006). Assim como as enzimas do grupo OXA-51, que ocorrem naturalmente em A. baumannii, as enzimas do grupo OXA-134 são restritas, até o presente momento, a A. lowffii. Essas enzimas não apresentam elevada expressão, uma vez que, isolados desta espécie são sensíveis a todos os β-lactâmicos. O maior grupo, o da OXA-51, contém 95 variantes. Estas enzimas são intrínsecas em A. baumannii, presentes em seu cromossomo, e apresentam fraca atividade hidrolítica contra carbapenens (Héritier et al., 2005). Entretanto, as variações no espectro de atividade observadas entre as diferentes enzimas deste grupo, mostram a necessidade de uma melhor caracterização do perfil hidrolítico de cada enzima (Evans & Aymes, 2014). Em 2004, foram reportados três isolados de A. baumannii resistentes a carbapenem e produtores de OXA143, no Brasil (Mostachio et al., 2012). Outras variantes do grupo da OXA-143, as enzimas OXA231 e OXA-253, ambas isoladas em A. baumannii no Brasil e em Honduras, respectivamente, e OXA-255 em um isolado de A. pittii nos EUA (Zander et al., 2014). Uma importante característica dos isolados de Acinetobacter spp. é a mobilização de IS, como ISAba-1 e ISAba-3, pelo seu cromossomo. Presentes em transposons, em únicas ou múltiplas cópias, ISAba1, foi descrita associada aos genes blaOXA-23 e blaOXA-51 em isolados resistentes aos carbapenens, intensificando sua expressão (Mugnier et al., 2009; Segal et al., 2007). Já, a ISAba3 é comumente encontrada a montante do gene blaOXA-58 (Corvec et al., 2007). Diferentemente de todos os grupos anteriores, o grupo da OXA-48 foi inicialmente descrito em isolado de K. pneumoniae multirresistente, inclusive a carbapenem, na Turquia em 2001 (Poirel et al., 2004). Disseminadas entre espécies de enterobactérias, porém, também descrito em A. baumannii, as enzimas deste grupo apresentam baixa atividade hidrolítica contra 55 Revisão Bibliográfica carbapenens, entretanto, maior afinidade ao imipenem que aos demais carbapenens. As dez variantes deste grupo podem diferir deveras em suas características cinéticas, sendo que a OXA-163, apresenta-se com atividade de carbapenemase muito baixa, assemelhando-se muito mais a um perfil de ESβL, com atividade contra ceftazidima e aztreonam (Poirel et al., 2011). No Brasil, o primeiro isolado de uma variante do grupo OXA-48, a OXA-370, foi recentemente reportado por Sampaio e colaboradores (2014). A enzima foi encontrada em um isolado de E. hormaechei com redução de sensibilidade para impenem e resistência à ertapenem, em Porto Alegre (Sampaio et al., 2014). O perfil hidrolítico desta enzima ainda não foi determinado. 2.4. Impacto Clínico da Resistência aos Carbapenens Há décadas, diversos estudos observaram que a resistência aos antimicrobianos e a terapia inadequada são fatores associados à mortalidade em pacientes com infecção por estes patógenos (Falagas et al., 2008). Kollef e colaboradores (1998) observaram taxas de mortalidade superiores em pacientes com PAV quando a terapia antimicrobiana inicial não era adequada para o agente infeccioso (23,5% vs. 7,8%; p = 0,018) (Kollef et al., 1998). Da mesma forma, Rello e colaboradores (1997), associaram a terapia empírica inadequada para tratamento de PAV às maiores taxas de mortalidade (37% vs 15,6%, p < 0,05) (Rello et al., 1997). Esta diferença mostrou-se ainda maior quando Ibrahim e colaboradores (2000) analisaram a influência da terapia antimicrobiana inadequada na mortalidade de pacientes com ICS (61,9% vs 28,4%; p < 0,001), e risco relativo de 2,18 (IC: 1,77-2,69) (Ibrahim et al., 2000). Os carbapenens constituem a terapia de escolha contra infecções graves causadas por bactérias Gram-negativas, principalmente, àquelas adquiridas no ambiente hospitalar. A resistência aos carbapenens põe em risco o sucesso da terapia com os carbapenens no tratamento de infecções causadas por bactérias Gram-negativas multirresistentes. A diminuição de sensibilidade a um ou mais compostos do grupo dos carbapenens pode ocorrer tanto pela 56 Revisão Bibliográfica presença de carbapenemases como pela associação de impermeabilidade de membrana externa e produção de AmpC e/ou ESβL (Zavascki et al., 2013). Amostras produtoras de carbapenemases podem-se apresentar como sensíveis aos carbapenens, dificultando a identificação destas amostras e, portanto, a introdução da terapia antimicrobiana adequada e a implementação das medidas adequadas de controle (Munhoz-Price et al., 2013; Cohen Stuart et al., 2010). Apesar dos estudos que avaliaram o tratamento de infecções causadas por microorganismos produtores de carbapenemases serem compostos apenas por série de casos e diferentes tipos de infecção, três estudos retrospectivos avaliaram, recentemente, a mortalidade associada à terapia antimicrobiana em ICS causadas por enterobactérias produtoras de KPC. O primeiro, conduzido por Tumbarello e colaboradores (2012), avaliou 125 casos e os autores observaram elevada taxa de mortalidade em 30 dias (42%). Estes autores compararam a monoterapia com a terapia combinada com dois ou três agentes, sendo que apenas a introdução da combinação de colistina, tigeciclina e meropenem foi associada com maior sobrevida (OR 0,27; 95% CI 0,07-1,01; p=0,009) (Tumbarello et al., 2012). De maneira semelhante, Zarkotou e colaboradores (2011), observaram taxa de mortalidade em 30 dias de 53% e taxa de mortalidade atribuída à infecção de 34%, entre os 53 casos avaliados naquele estudo. No geral, a terapia antimicrobiana apropriada foi introduzida em 35 pacientes, dos quais todos os pacientes tratados com terapia combinada apropriada sobreviveram (20), enquanto que, entre os 15 pacientes tratados com monoterapia, mesmo que apropriada e incluindo colistina, a taxa de mortalidade associada à infecção foi de 47% (Zarkotou et al., 2011). Por fim, Qureshi e colaboradores (2012) avaliaram 41 pacientes apresentando bacteremia secundária à pneumonia causada por K. pneumoniae produtora de KPC. A taxa de mortalidade em 28 dias foi de 39%, sendo de 13,3% no grupo que recebeu terapia combinada e 57,8% no grupo tratado com monoterapia (p=0,01) (Qureshi et al., 2012). 57 Revisão Bibliográfica Na tangente ao tratamento de outras bactérias Gram-negativas, incluindo P. aeruginosa, o estudo retrospectivo observacional, caso-controle, conduzido por Kofteridis e colaboradores (2010) avaliou a terapia endovenosa de colistina com a terapia combinando colistina endovenosa e inalatória para tratamento de PAV causada por P. aeruginosa, A. baumannii ou K. pneumoniae sensíveis apenas à colistina. Apesar de demonstrar que a terapia de vias combinadas (EV e inalatória) apresentou maior taxa de cura clínica (p<0,05) e tendência de superioridade em relação ao sucesso clínico e mortalidade, a análise multivariada apresentou apenas uma tendência em relação à cura clínica pela terapia endovenosa associada à inalatória (p=0,08) (Kolfteridis et al., 2010). No entanto, algumas razões poderiam explicar a falha em demonstrar superioridade do regime de vias combinadas (EV e inalatória). Inicialmente, o número da amostragem pode não ter atingido significância estatística suficiente para demonstrar diferenças entre os dois grupos. O número de casos de pneumonia por A. baumannii (66; 77%) foi muito superior aos demais patógenos, e o diagnóstico de PAV, mesmo com rígidos critérios microbiológicos, pode não ser satisfatório, ou seja, é possível que casos de colonização tenham sido considerados como PAV, prejudicando a análise estatística. Adicionado ao fato de que por tratar-se de um estudo retrospectivo, a decisão da equipe médica assistente possa ter sido influenciada pela gravidade da infecção no momento da escolha ou introdução da terapia antimicrobiana. Da mesma forma, no estudo de Peña e colaboradores (2013), apesar de prospectivo, a escolha da terapia a ser instituída foi determinada pelo médico assistente (Peña et al., 2013). Neste estudo os autores compararam a monoterapia adequada (uso de um agente antipseudomonas sensível in vitro, exceto aminoglicosídeo) com a terapia combinada adequada (uso de dois agentes anti-pseudomonas sensíveis in vitro) para o tratamento de ICS por P. aeruginosa, e não observaram diferença na mortalidade em 30 dias. Entretanto, a terapia combinada foi instituída com maior frequência em pacientes com pontuação ≥ 2 pelo score de 58 Revisão Bibliográfica Pitt (67%) do que naqueles pacientes que apresentaram pontuação de Pitt < 2 (7%) (Peña et al., 2013). A pontuação no score de Pitt é uma alternativa simplificada à pontuação de APACHE II (Acute Physiology and Chronic Health Evaluation II score) para predizer o desfecho clínico de pacientes com sepse em UTIs, e tem obtido preferência por diversos autores, não apenas por se correlacionar adequadamente com seu objetivo, mas por não requerer dados laboratoriais para sua determinação (Rhee et al., 2009). Ainda no estudo de Peña e colaboradores (2013), um maior número de pacientes com bacteremia de alto risco (Infecção primária em trato respiratório, sítio cirúrgico ou de origem indeterminada) receberam terapia combinada em relação àqueles que apresentaram-se com bacteremia de baixo risco (Infecção primária em trato urinário ou cateter intravascular). Fato este que pode ter resultado em viés na análise do desfecho clínico dos pacientes em uso de terapia combinada (Peña et al., 2013). Recentemente, os primeiros estudos clínicos randomizados, ambos avaliando a combinação de colistina e rifampicina versus monoterapia com colistina para tratamento de infecções graves por A. baumannii resistentes a carbapenem, foram publicados. No primeiro, Durante-Mangoni e colaboradores (2013) avaliaram 210 pacientes em cinco centros médicos na Itália. Os autores observaram 43% de mortalidade geral, sem diferença entre os grupos estudados, porém, a taxa de erradicação microbiológica foi superior no grupo da terapia combinada (Durante-Mangoni et al., 2013). De forma similar, Aydemir e colaboradores (2013), demonstraram menor tempo para erradicação microbiológica no grupo de terapia combinada (p=0,029). Neste estudo, apesar de não atingir significância estatística, possivelmente pelo pequeno número de pacientes (n=43), os autores observaram maior taxa de mortalidade para PAV causada por A. baumannii resistente a carbapenem no grupo tratado com monoterapia com colistina (63,6%) ante ao grupo de terapia combinada (colisitna e rifampicina; 38%) (Aydemir et al., 2013). 59 Revisão Bibliográfica Deste modo, a prática médica urge, atualmente, por estudos randomizados e controlados no campo do tratamento de infecções por bactérias Gram-negativas MDR. Segundo Paterson & Rogers (2010), a gravidade das doenças e complexidade clínicas que usualmente afetam os pacientes com infecções graves por estes agentes, assim como o suntuoso financiamento necessário, dificultam a execução destes estudos (Paterson & Rogers, 2010). Talvez, a randomização destes estudos devessem incluir informações quanto aos mecanismos de resistência presentes nos isolados resistentes à carbapenem. Poderia se questionar se a resistência conferida pela produção de carbapenemase responderia melhor à terapia combinada, enquanto que na ausência desta, a monoterapia fosse suficientemente adequada para o desfecho clínico favorável. Apesar das limitações metodológicas dos estudos retrospectivos, este fato é observado nos estudos que avaliaram a terapia combinada versus a monoterapia para o tratamento da infecção por enterobactérias resistentes a carbapenem devido à presença de carbapenemase, acima descritos. 2.5. Metodologias Aplicadas à Detecção de Carbapenemases A grande variedade de carbapenemases produzidas por patógenos de importância clínica, além de suas diferentes características cinéticas dificultam a aplicação de um único teste para a sua detecção. Diversas metodologias foram propostas e avaliadas, porém, não há uma única metodologia disponível na prática clínica, até o presente momento, que seja rápida, prática, com baixo custo e que apresente 100% de sensibilidade na detecção de todas as classes de carbapenemases. A dificuldade diagnóstica contribui para a rápida disseminação destas enzimas no ambiente hospitalar, assim como no atraso para instituição de terapia adequada, o que consequentemente influenciou nas altas taxas de mortalidade. 60 Revisão Bibliográfica 2.5.1. Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos O teste de sensibilidade é a primeira ferramenta para predizer a adequação da terapia instituída, entretanto, os testes de sensibilidade apesar de imprescindíveis na prática clínica, requerem muito tempo para que seus resultados estejam prontos. É necessário que o crescimento e o isolamento do micro-organismo, assim como um período de incubação do teste antes que os resultados sejam reportados, em média 48 a 72 horas. Tempo este, que, na vigência de uma infecção grave, pode comprometer o desfecho clínico do paciente. Diversos estudos demonstram a importância da rápida e adequada introdução da terapia antimicrobiana em casos de infecções graves como pneumonias e ICS. Kumar e colaboradores (2006) observaram um aumento na taxa de mortalidade intra-hospitalar com a introdução da terapia antimicrobiana efetiva realizada após duas horas do início de um episódio de hipotensão em pacientes com sepse quando comparada à introdução desta em apenas uma hora da hipotensão (Kumar et al., 2006). Desta maneira, a redução do tempo dispendido para a realização dos testes de sensibilidade aos antimicrobianos a fim de guiar a terapia antimicrobiana é de fundamental importância para o desfecho clínico de pacientes com infecções graves. A introdução dos sistemas de automação disponíveis para a determinação do teste de sensibilidade possibilitou a redução do tempo para obtenção destes resultados (Sanders, 2000). Entretanto, resultados equivocados podem ter sérias implicações no desfecho clínico do paciente (Micek et al., 2005; Jorgensen & Ferraro, 2009). Diversos estudos reportaram falhas nestes sistemas, especialmente envolvendo P. aeruginosa e enterobactérias testados contra agentes βlactâmicos, inclusive carbapenens (Sader et al., 2006; Steward et al., 2003). Sugere-se que estes fatos possam ocorrer, ao menos em parte, devido ao efeito da densidade do inóculo e ao período de incubação empregado pelos sistemas (Bratu et al., 2005). Markelz e colaboradores (2011) também avaliaram a acurácia dos diversos sistemas automatizados na detecção da sensibilidade de isolados do complexo A. calcoaceticus-baumannii aos carbapenens. Neste 61 Revisão Bibliográfica estudo os autores relatam resultados bastantes discrepantes quando foram interpretados utilizando-se os pontos de corte recomendado pelo EUCAST ou pelo CLSI (Markelz et al., 2011). Além desta limitação, os testes de sensibilidade aos carbapenens podem falhar na acurácia em predizer o desfecho clínico. A categoria de sensibilidade, segundo o documento do CLSI (CLSI, 2014) implica que o isolado bacteriano é inibido pelas concentrações usualmente alcançadas do agente antimicrobiano quando a dose recomendada para tratar o sítio de infecção é administrada. Porém, diversos isolados de Enterobacteriaceae produtores de carbapenemases (KPC, NDM, VIM e OXA-48) são considerados como sensíveis quando estes pontos de corte são empregados, colocando em risco o uso da terapia adequada e consequentemente o sucesso clínico. O sucesso clínico raramente é atingido quando o carbapenem é utilizado como monoterapia no tratamento de infecções causadas por estes micro-organismos (Nordmann & Poirel, 2013; Weisenberg et al., 2009; Cornaglia et al., 2011; Nordmann et al., 2011). Entretanto, quando a diminuição de sensibilidade a um ou mais compostos do grupo dos carbapenens ocorre devido a impermeabilidade de membrana externa associada à produção de ESβL ou AmpC, a utilização de carbapenem como terapia antimicrobiana definitiva pode ser adequada (Endimiani et al., 2010). Desta forma, a detecção da presença de carbapenemases, ao menos em enterobactérias, é fundamental não apenas para fins epidemiológicos e controle de infecção, mas também para dirigir a terapia antimicrobiana a ser empregada, especialmente, em infecções graves e pacientes imunocomprometidos ou com agravantes comorbidades. Nas enterobactérias, a sensibilidade aos diferentes compostos do grupo dos carbapenens pode diferir deveras entre os isolados com diferentes mecanismos de resistência, a até mesmo entre aqueles que produzem as mesmas carbapenemases. O teste de triagem utilizando o disco de ertapenem é o indicador mais sensível da produção de carbapenemases, porém, quando testes dilucionais são utilizados, os valores das CIMs de imipenem, meropenem e doripenem podem ser úteis para a detecção destes micro-organismos (Levy Hara et al., 2013). 62 Revisão Bibliográfica Apesar da elevada sensibilidade, o emprego do ertapenem na triagem de enterobactérias produtoras de carbapenemases demonstra baixa especificidade, uma vez que a resistência a ertapenem e sensibilidade a imipenem e meropenem ocorre também em isolados que apresentam impermeabilidade de membrana externa e produção de ESβBL ou AmpC (Anexo 1). O CLSI e o EUCAST recomendam que a suspeita de enterobactérias produtoras de carbapenemases ocorra quando estes isolados apresentem diminuição de sensibilidade para um ou mais carbapenens, e que testes confirmatórios devem ser realizados apenas para fins epidemiológicos ou de controle de infecção. A mesma recomendação foi realizada pela ANVISA, em 2013, porém, compondo seus critérios com dados tanto do CLSI como do EUCAST. Estes pontos de corte podem ser observados na Tabela 5. Tabela 5. Pontos de corte utilizados para triagem e para classificação da sensibiliade de enterobactérias recomendados pelo EUCAST e CLSI. Halo de inibição (mm) com disco 10 µg CIM (µg/mL) EUCAST CLSI ANVISA Ponto de corte S/I Ponto de corte triagem Ponto de corte S/I Ponto de corte triagem Meropenem ≤2 > 0,12 ≥ 22 < 25 Imipenem ≤2 >1 ≥ 22 < 23 Ertapenem ≤ 0,5 > 0,12 ≥ 25 < 25 Meropenem ≤1 ≥2 ≥ 23 ≤ 22 Imipenem ≤1 ≥2 ≥ 23 ≤ 22 Ertapenem ≤ 0,5 ≥1 ≥ 22 ≤ 21 Meropenem ≤1 ≥2 ≥ 23 ≤ 22 Imipenem ≤1 ≥2 ≥ 23 ≤ 22 Ertapenem ≤ 0,5 ≥1 ≥ 25 ≤ 24 63 Revisão Bibliográfica O CLSI e o EUCAST, além de diferirem quanto aos valores de triagem, também recomendam distintos testes fenotípicos confirmatórios, e apenas convergem quanto ao valor dos testes moleculares como padrão-ouro na determinação e caracterização das carbapenemases (CLSI, 2014; EUCAST, 2013). O EUCAST, assim como a ANVISA, adotou o teste fenotípico de disco combinado com diferentes inibidores, enquanto que o CLSI recomenda a realização do MHT, até o presente momento (ANVISA, 2013). 2.5.2. Teste de Hodge Modificado Em 1971, Orstavik & Odegaard descreveram um teste fenotípico para a detecção de isolados de S. aureus produtores de penicilinases. Este foi denominado de teste da folha de trevo (Cloverleft test), devido ao formato semelhante que os isolados com resultado positivo apresentavam no ágar (Orstavik & Odegaard, 1971). O teste foi utilizado por Hodge e colaboradores (1978) para detecção de penicilinase em isolados de Neisseria gonorrhoeae (Hodge et al., 1978). Em 2009, o CLSI recomendou que o teste, modificado para a detecção de carbapenemases, fosse realizado para os isolados de enterobactérias com diminuição de sensibilidade a um ou mais carbapenens e resistentes às cefalosporinas de amplo espectro (CLSI, 2009). Porém, em junho de 2010, o mesmo comitê, reduzindo os pontos de corte para a combinação de enterobactérias com carbapenens, passou a recomendá-lo apenas para fins epidemiológicos e de controle de infecção (CLSI, 2010). A simplicidade do teste tornou-o muito difundido nos laboratórios de microbiologia, especialmente em regiões onde testes moleculares não estão facilmente disponíveis, como no Brasil. Este teste apresenta excelente sensibilidade para detecção de carbapenemases das classes A e D, inclusive para aquelas de baixa atividade como OXA-23 e GES-5 (Hornstein et al., 1997; Vourli et al., 2004; Thomas et al., 2013). Entretanto, amostras produtoras de NDM, VIM e OXA-48 podem não ser identificadas por esta metodologia (Castanheira et al., 2011). O teste 64 Revisão Bibliográfica também apresenta baixa especificidade, especialmente, onde a prevalência de enterobactérias produtoras de ESβL ou AmpC é elevada, uma vez que isolados com alteração de permeabilidade associada à produção destas enzimas podem apresentar resultados falsopositivos no MHT (Anexo 1). Além disto, o teste requer um período de incubação de 16 a 20 horas na liberação dos resultados, o que leva a um retardo na liberação dos resultados e possivelmente na adequação da terapia antimicrobiana. 2.5.3. Teste com Inibidores de Carbanemases Na presença de inibidores específicos para as classes de carbapenemases, é possível detectar a redução da atividade destas enzimas e aumento da sensibilidade dos isolados bacterianos aos β-lactâmicos. Diversos testes fenotípicos foram criados e avaliados, sendo uma opção interessante para a detecção de carbapenemases das classes A e B. Estes inibidores também podem ser empregados na detecção de cepas produtoras de carbapenemases da classe D, porém, como estas apresentam hidrólise fraca contra os carbapenens e outros mecanismos de resistência associados estão presentes na amostra, o teste de inibição pode falhar na detecção destas amostras. Recentemente, foi reportado que o avibactam apresenta atividade inibitória também às enzimas da classe D, podendo tornar-se uma alternativa para um teste fenotípico baseado em inibição (Huang et al., 2014). O mesmo princípio de inibição pode ser utilizado empregando-se diferentes métodos, disco combinado, dupla difusão, fita combinada e diferença das CIMs na presença ou ausência de determinado inibidor. A utilização de testes inibitórios para a detecção de MβLs foi avaliada por diversos estudos, utilizando diferentes inibidores e substratos. Yong e colaboradores (2002) observaram 100% e 95,7% de sensibilidade para P. aeruginosa e A. baumannii, respectivamente, quando o disco combinado de EDTA-Imipenem foi empregado (Yong et al., 2002). Corroborando com estes achados, Picão e colaboradores (2008) realizou um estudo avaliando separadamente 65 Revisão Bibliográfica diferentes metodologias, substratos e concentrações de inibidores contra isolados de P. aeruginosa, A. baumanni e enterobactérias produtoras de diferentes MβLs (GIM, IMP, SIM, SPM e VIM) e concluiu que o disco combinado utilizando imipenem e ácido etilenodiamino tetraacético (EDTA) é uma excelente estratégia para enterobactérias. Enquanto que a dupla-difusão utilizando ácido 2-mercaptopropiônico com 20 mm de distância dos discos de imipenem e ceftazidima foi uma ótima estratégia para detecção destas enzimas em A. baumannii e P. aeruginosa, respectivamente (Picão et al., 2008). Mais recentemente, outros estudos demonstraram a habilidade da combinação EDTA-Imipenem em detectar a presença de NDM-1 em bactérias Gram-negativas (Solanki et al., 2013; Bonnin et al., 2012). Entretanto, resultados falso-positivos, com isolados produtores de AmpC e ESβL, e falso-negativos, com isolados produtores de VIM, foram descritos (Huang et al., 2014; Cassu-Corsi et al., 2014). A vantagem do método é a simplicidade de sua execução e alta sensibilidade, entretanto, assim como o MHT, requer um período prolongado de incubação (16-20 horas). Da mesma forma, os excelentes resultados obtidos utilizando-se a inibição de imipenem ou meropenem com ácido fenil borônico para detecção de carbapenemases da classe A, especialmente KPC, fizeram deste teste uma opção para os laboratórios de microbiologia. Entretanto, isolados coprodutores de AmpC e/ou ESβL, podem apresentar resultados falsopositivos, uma vez que o ácido fenil borônico também é um potente inibidor de enzimas de classe A e C (Tsakris et al., 2009; Pasteran et al., 2009). Baseando-se nos mesmos princípios, fitas comerciais estão disponíveis utilizando as combinações de meropenem e meropenem/ácido fenil borônico, e, imipenem e imipenem/EDTA para a detecção de carbapenemases das classes A e B, respectivamente. Os estudos que avaliaram estes produtos mostraram bons resultados de sensibilidade e especificidade para enzimas da classe A (sensibilidade 92%, especificidade 97%) e classe B (sensibilidade 94%, especificidade 95%) (Walsh et al., 2002; Girlich et al., 2013; Bonnin et al., 2012). 66 Revisão Bibliográfica Em dezembro de 2013, o EUCAST publicou um documento recomendando a detecção e confirmação da produção de carbapenemases em isolados de enterobactérias, apenas para fins epidemiológicos ou de controle de infecção. Neste documento, após a triagem com disco (halo < 25 mm) ou CIM (> 0,12 µg/mL) de meropenem, combinações deste antimicrobiano com e sem adição de ácido fenil borônico (PBA ou ácido aminofenil borônico; APBA), de cloxacilina, e de ácido dipicolínico ou EDTA devem ser comparadas quanto ao halo de inbição e interpretadas com diferentes critérios (EUCAST, 2013). De forma semelhante, porém, com algumas modificações, a ANVISA recomenda em todo território nacional que testes com inibidores sejam utilizados para os mesmos fins (ANVISA, 2013). As limitações destes testes são a incapacidade de detecção de enzimas da classe D em qualquer isolado bacteriano, e da classe A em presença de isolados co-produtores de AmpC, plasmidiais ou cromossomais, o que limita sua utilização entre algumas espécies de enterobactérias. Recentemente, Woodford e colaboradores (2014) publicaram um estudo demonstrando a utilidade da temocilina como marcador da presença de OXA-48 entre isolados de enterobactérias (Woodford et al., 2014). Associado a este fato, Huang e colaboradores (2014) propuseram um teste de inibição utilizando a temocilina como substrato e o novo e potente inibidor de β-lactamases das classes A, C e algumas representantes da classe D, o avibactam. Os resultados foram promissores, uma vez que, usando o critério de inibição de ≥ 8 mm, alcançou 97% de sensibilidade e 93% de especificidade para detecção de OXA-48 (Huang et al., 2014). Porém, como para todos os testes com inibidores, os métodos moleculares ainda são recomendados para a confirmação e determinação da enzima presente. 2.5.4. Testes Genotípicos Os testes moleculares são considerados como padrão-ouro para a detecção e caracterização dos genes que codificam as carbapenemases. Os testes realizados da colônia 67 Revisão Bibliográfica bacteriana podem gerar resultados em 2 a 6 horas. A reação em cadeia da polimerase (PCR) pode ser realizada para detectar um único alvo ou múltiplos, e ser realizada em três etapas, extração, amplificação e detecção com gel de agarose (PCR convencional); em duas etapas, extração e amplificação/detecção em tempo real (RT-PCR); ou, mais recentemente, em uma única etapa, onde plataformas totalmente automatizadas são utilizadas (amostra-resultado). Devido à grande diversidade das carbapenemases, em geral, as reações são direcionadas a um grupo de enzimas, por exemplo, grupo VIM, grupo KPC, grupo IMP, grupo NDM, grupo OXA-23 (Poirel et al., 2011b; Monteiro et al., 2012; Mendes et al., 2007). Algumas plataformas comerciais compreendendo uma grande variedade de enzimas em um mesmo teste já encontram-se disponíveis (Hyplex, CheckPoints) e outras em desenvolvimento (Film array, X-pert Carba-R). Cada uma apresenta diferentes genes alvos e devem ser avaliadas com cuidado antes de sua implantação. Entretanto, estes testes não estão isentos de limitações, a principal delas é a incapacidade de detectar novas enzimas, ou variantes com mutações no sítio de anelamento dos iniciadores, seu custo e necessidade de profissionais especializados (Levy Hara et al., 2013). Podem ainda detectar variantes que não apresentem cinética compatível com outras carbapenemases do mesmo grupo (Poirel et al., 2012). Recomenda-se que um resultado negativo nos testes moleculares com fenótipo de resistência aos carbapenens seja confirmado por métodos que detectem atividade enzimática, como a espectrofotometria (Cohen Stuart et al., 2010). Ainda que, raramente, diversos eventos podem interferir na expressão de um gene. A detecção do gene que codifica determinada enzima pode não garantir a sua expressão e a compatibilidade com o fenótipo observado (Pellegrino et al., 2008). Para fins epidemiológicos, a identificação do gene da β-lactamase ainda requer o sequenciamento integral de sua região codificadora, e a comparação da sequência obtida com os bancos de dados, como o National Center for Biotechnology Information (NCBI) (Queenan & Bush, 2007). 68 Revisão Bibliográfica 2.5.5. Testes Baseados na Detecção da Atividade Enzimática Os testes baseados na detecção da atividade enzimática são considerados referência entre os testes fenotípicos. São capazes de detectar novas enzimas ou variantes que apresentem o perfil cinético procurado, por exemplo, de carbapenemase, utilizando-se o respectivo substrato. Podem ainda ser associados aos inibidores de β-lactamases para a determinação de sua classe molecular. O primeiro teste disponível foi a espectrofotometria. Mais recentemente, a espectrometria de massa e a detecção da atividade enzimática pela colorimetria foram propostas. 2.5.5.1. Testes Colorimétricos (Carba NP, CarbAcineto NP e Blue-Carba) O teste CarbaNP basea-se na detecção bioquímica da atividade enzimática contra imipenem, através da mudança de pH gerada pela reação de hidrólise do anel β-lactâmico e seguida da visualização colorimétrica, utilizando-se o indicador de pH vermelho-fenol (Nordmann et al., 2012). O teste apresentou elevada sensibilidade e especificidade para detecção de carbapenemase em P. aeruginosa (94% e 100%, respectivamente) e enterobactérias (100%), não apresentando resultados falso-positivos para a combinação de impermeabilidade de membrana externa com a produção de ESβL ou AmpC (Dortet et al. 2012, Nordmann et al., 2012). Entretanto, o teste falhou na detecção de variantes da família GES e OXA-48, possivelmente pela baixa atividade de carbapenemase destas enzimas (Dortet et al., 2012; Tijet et al., 2013). Tijet e colaboradores (2014) observaram dois resultados falso-negativos, uma P. rettgeri produtora de NDM-1 e um P. mirabilis produtor de IMP-27, quando este teste foi empregado. Os autores atribuiram estes resutados ao fenótipo mucóide da primeira e a formação do chamado véu da segunda cepa, com consequente lise celular incompleta (Tijet et al., 2014). Entretanto, a expressão destes genes não foi avaliada. 69 Revisão Bibliográfica Com o objetivo de superar as dificuldades na detecção de CHDLs, Dortet e colaboradores (2014) aprimoraram o teste Carba NP com modificações no inóculo bacteriano e na solução de lise, chamando o de CarbAcineto NP. Importante ressaltar que as colônias utilizadas para os testes foram cultivadas por uma noite em tryptic soy agar (TSB) (Dortet et al., 2014). Neste estudo, os autores reportaram a detecção de todos os isolados produtores de CHDLs, com exceção de três isolados apresentando resistência aos carbapenens em decorrência da hiperexpressão da enzima OXA-51 pela presença da ISAba1 a montante do gene blaOXA-51, além de oito isolados produtores de carbapenemases do tipo GES (GES-11 e GES-14). A vantagem deste teste é a possibilidade de se obter um resultado em duas horas e a simplicidade de sua execução, pois não requer o uso de equipamentos. Este teste será recomendado para detecção rápida de carbapenemases no próximo documento do CLSI em 2015 e futuramente terá um kit comercialmente disponibilizado pela bioMérieux. Uma modificação no teste CarbaNP foi proposta recentemente por Pires e colaboradores (2013). A vantagem deste em relação ao CarbaNP é a possibilidade de detecção da atividade de carbapenemase diretamente da colônia bacteriana, sem a necessidade de lise celular. Segundo os autores, esta modificação foi alcançada pela substituição do indicador vermelho-fenol pelo azul de bromotimol, com pH ótimo variando de 6,0 a 7,6 o que possibilita a melhor atividade enzimática das carbapenemases (pH 6,8) (Pires et al., 2013). Entretanto, uma maior variação das possíveis colorações do teste negativo e positivo pode ser um fator de dificuldade na prática, de azul para amarelo, de verde para amarelo ou ainda de azul para verde, respectivamente. O teste apresentou 100% de sensibilidade e especificidade para carbapenemases das classes A, B e D, revelando o resultado entre 30 minutos e 2 horas, entretanto nenhuma variante de GES foi testada (Pires et al., 2013). 70 Revisão Bibliográfica 2.5.5.2. Espectrofotometria Este método é utilizado para a detecção da atividade hidrolítica de diversos substratos, inclusive carbapenens, utilizando a luz ultravioleta em comprimentos de ondas específicos para cada substrato, em um equipamento de espectrofotometria. O teste, utilizado nos laboratórios de referência, é capaz de detectar e quantificar a velocidade da reação de hidrólise. Entretanto, é um método trabalhoso, que requer o crescimento bacteriano em meio líquido por 16 a 20 horas, a extração do conteúdo proteico e visualização em tempo real da curva de hidrólise após mistura com o substrato. Bernabeu e colaboradores (2012) reportaram 100% de sensibilidade e 98,5% de especificidade para detecção de carbapenemases (Bernabeu et al., 2012). Porém, isolados produtores de carbapenemase com baixa atividade hidrolítica podem não ser detectados a não ser que intensos inóculos sejam utilizados e maiores períodos de avaliação sejam utilizados (Queenan & Bush, 2007). 2.5.5.3. Espectrometria de Massa - MALDI-TOF MS A espectrometria de massa através da técnica de MALDI-TOF MS foi inicialmente utilizada para a detecção da atividade enzimática de carbapenemases por dois pesquisadores europeus, concomitantemente (Hrábak et al., 2011; Burckhardt & Zimmermann, 2011). O princípio do teste baseia-se na detecção dos produtos de degradação do antimicrobiano em questão e do desaparecimento de sua molécula íntegra após a incubação com bactérias produtoras de carbapenemase. A metodologia requer que esta solução, depositada em superfície sólida, seja misturada a uma matriz, que confere carga às moléculas do antimicrobiano presentes na amostra e as cristalizam. Estas, através da incidência do laser, sofrem um processo de dessorção, ou seja, desprendimento da superfície onde se encontram e adentram um campo elétrico a vácuo, onde um detector no final do campo negativo atrairá as moléculas ionizadas positivamente (Fenselau & Demirev, 2001). Estas migraram pelo campo 71 Revisão Bibliográfica elétrico até alcançarem o detector, com velocidades inversamente proporcionais às suas massas (tempo de vôo). Todo este processo ocorre de forma muito rápida, em menos de 1 minuto por amostra. A calibração prévia com moléculas de massas conhecidas na faixa de detecção da amostra em questão é necessária para que o equipamento converta o tempo de vôo adquirido pelo detector em picos no espectro de massa/íon (m/z) correspondente (Fenselau & Demirev, 2001). Outros importantes fatores relacionados à técnica são: (i) a capacidade das moléculas presentes na amostra em adquirir cargas elétricas, pois moléculas com maior capacidade terão maior chance de dessorção e alcançarão o detector em maior quantidade resultando em pico de maior intensidade, sendo importante a razão entre amostra e matriz; (ii) a quantidade de amostra presente; (iii) a intensidade e a frequência do laser empregada sobre a amostra, o que relacionase também com a capacidade e frequência com que as moléculas alcançarão o detector; (iv) o ajuste do intervalo de valores de m/z utilizado para a obtenção do espectro; e, (v) a automação da aquisição do espectro através de software, que torna o espectro obtido menos subjetivo (Fenselau & Demirev, 2001). Portanto, todos estes fatores podem interferir na qualidade da aquisição dos espectros e impedem a quantificação direta de cada pico presente na amostra por esta metodologia. Apesar do espectro fornecer uma intensidade do pico, é importante ressaltar que esta intensidade é relativa aos demais picos presentes na mesma amostra. Portanto, não é uma técnica quantitativa, e sim qualitativa, sendo que os critérios adotados até a presente data para categorizar os resultados em positivos ou negativos baseiam-se na presença ou ausência de determinados picos de massa esperados (Hrábak et al., 2014). A técnica requer ainda a expertise na interpretação dos resultados, uma vez que o conhecimento prévio das massas das moléculas intactas, de seus aditivos em solução (moléculas de Na+, K+ e/ou H+), e dos produtos correspondentes após a reação de hidrólise são requeridos para a interpretação dos resultados 72 Revisão Bibliográfica (Zboromyrska et al., 2014). As empresas, fabricantes dos equipamentos atualmente disponíveis, estão desenvolvendo uma programação que permita a identificação automática da atividade enzimática para facilitar a sua implantação nos laboratórios de rotina. As vantagens desta metodologia são: (i) a rapidez com que o teste fornece um resultado. O tempo requerido refere-se ao período de incubação das amostras com a solução contendo o antimicrobiano para que a reação ocorra, este tempo é dependente da capacidade da enzima em hidrolizar o substrato, da quantidade do inóculo e da concentração do antimicrobiano adicionado; (ii) a capacidade de detectar qualquer enzima que apresente capacidade de hidrolisar o substrato, seja esta conhecida ou não; e, (iii) uma vez adquirido o equipamento, o teste para detecção de carbapenemase requer poucos insumos e de baixo custo (Kostrzewa et al., 2013). Entre suas limitações, pode-se citar: (i) a incapacidade do teste de identificar a enzima presente, porém, esta limitação pode ser superada, em parte, pela a adição de inibidores específicos, resultando na classificação desta enzima quanto à sua classe; (ii) a necessidade de profissionais capacitados para interpretação dos resultados, fator que deve ser superado no futuro próximo, com a automação da análise e interpretação dos resultados; e (iii) a realização apenas em laboratório que disponha do equipamento de MALDI-TOF MS (Kostrzewa et al., 2013). A acurácia desta metodologia foi avaliada por Burckhardt e Zimmermann (2011) para detecção de carbapenemases utilizando um ensaio com ertapenem. Neste, uma alça bacteriológica de 10 µL contendo as colônias bacterianas crescidas por uma noite em ágar sangue foi adicionada a 1 mL de solução de NaCl 0,45%, com ou sem 0,5 g/L de ertapenem. A mistura foi então incubada a 36°C por até 2 horas e meia. A solução foi centrifugada e analisada no equipamento de MALDI-TOF MS após adição da matriz (HCCA). Os autores detectaram a atividade de carbapenemase em todos os isolados testados (n=47), os quais consistiam em enterobactérias e P. aeruginosa produtoras de diferentes carbapenemases (NDM-1, IMP-1 e 73 Revisão Bibliográfica IMP-2, KPC-2, VIM-1 e VIM-2). O tempo de incubação para a detecção de diferentes enzimas variou de 1 hora para IMP-1 e NDM-1, 1 hora de meia para IMP-2, KPC-2 e VIM-1, e de 2 horas e meia para VIM-2 (Burckhardt & Zimmermann, 2011). No mesmo período, Hrábak e colaboradores (2011) avaliaram a acurácia da metodologia, agora empregando como substrato o meropenem. Os resultados obtidos no MALDI-TOF MS foram comparados àqueles obtidos por espectrofotometria. A solução na qual foi diluida o meropenem, Tris-HCl 20 mM com pH 6,8, diferiu daquela utilizada pelo estudo anterior, assim como o calibrante. Neste estudo o pico correspondente ao próprio meropenem foi utilizado como calibrante, enquanto que no primeiro estudo, os picos conhecidos da matriz HCCA foram utilizados com este propósito. Outras diferenças foram o meio de crescimento bacteriano previamente a execução do teste, que neste estudo foi o Müeller-Hinton ágar, o inóculo bacteriano, escala 8 de MacFarland, a matriz utilizada, ácido 2,5-dihidroxi-benzóico (DHT), e o tempo de incubação de 3 horas. Excelentes resultados foram obtidos (97% de especificidade e 98% de sensibilidade) quando foram testados 14 isolados de P. aeruginosa e 16 isolados de diferentes espécies de enterobactérias, sendo todos produtores de carbapenemases (VIM, IMP, NDM-1 e KPC-2). Apenas um resultado falso-negativo foi observado em P. aeruginosa produtora de VIM-2 e dois resultados falso-positivos em P. aeruginosa resistente a carbapenem. Segundo os autores, não foi possível a visualização do pico correspondente à molécula do meropenem degradado (Hrábak et al., 2011). Frente a estes únicos estudos publicados, com inúmeras variações metodológicas entre si, iniciamos a padronização do teste para a detecção de carbapenemase com isolados produtores de enzimas não antes testadas pelos estudos apresentados. Adicionalmente, a padronização de um protocolo para identificação precoce de micro-organismos causadores de ICS, e que permitisse a detecção de atividade de carbapenemase diretamente do frasco de hemocultura foi o segundo objetivo deste estudo. 74 Objetivos 3. OBJETIVOS 75 Objetivos Padronizar a detecção de carbapenemase pela técnica de espectrometria de massa por MALDI-TOF MS; Avaliar a acurácia da metodologia na detecção de carbapenemases em isolados clínicos de bacilos Gram-negativos; Padronizar a detecção de carbapenemases e identificação bacteriana diretamente de amostras de hemocultura de pacientes com ICS pela técnica de espectrometria de massa por MALDI-TOF MS. 76 Artigos Científicos 4. ARTIGOS CIENTÍFICOS 77 Artigos Científicos 4.1. Artigo Científico 1. Detection of SPM-1-Producing Pseudomonas aeruginosa and Class D β-Lactamase-Producing Acinetobacter baumannii Isolates by Use of Liquid Chromatography-Mass Spectrometry and Matrix-Assisted Laser Desorption IonizationTime of Flight Mass Spectrometry. Publicado em Janeiro de 2013 no periódico Journal of Clinical Microbiology - JCM, volume 51, número 1, páginas 287-290. Os resultados parciais desse estudo também foram apresentados na forma de poster (D-731a) na seção de MALDI-ToF Mass Spectrometry and Identification and Susceptibility Testing no 52th Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy - ICAAC, realizado no período de 9 a 12 de setembro de 2012 na cidade de San Francisco, EUA. 4.2. Artigo Científico 2. Detection of carbapenemase activity directly from blood culture vials using MALDI-TOF MS: a quick answer for the right decision. Publicado em Agosto de 2014 no periódico Journal of Antimicrobial Chemotherapy - JAC, volume 69, número 8, páginas 2132-2136. Os resultados parciais desse estudo também foram apresentados na forma de eposter (eP680) na seção de Rapid detection of carbapenemases no 23th European Congress of Clinical Microbiology and Infectious Diseases - ECCMID, realizado no período de 27 a 30 de Abril de 2013 na cidade de Berlin, Alemanha. 4.3. Artigo Científico 3. Detection of carbapenemase activity using Vitek ® MS: Interplay of carbapenemase type and period of incubation. Os resultados parciais desse estudo foram apresentados na de pôster (D-897) na no 54h Interscience Conference on Antimicrobial Agents and Chemotherapy - ICAAC, realizado no período de 5 a 9 de setembro de 2014 na cidade de Washington, EUA. O presente será submetido ao periódico Jornal of Global Antimicrobial Resistance no formato de New-Data Letter. 78 Artigo Científico 1 1 Detection of SPM-1-Producing Pseudomonas aeruginosa and Class D β-Lactamase- 2 Producing Acinetobacter baumannii Isolates by Use of Liquid Chromatography-Mass 3 Spectrometry and Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization-Time of Flight Mass 4 Spectrometry 5 6 Cecilia G. Carvalhaes,a Rodrigo Cayô,a Diego M. Assis,b Evelin R. Martins,a Luiz Juliano,b,c Maria 7 A. Juliano,b Ana C. Gales.a 8 9 aLaboratório Alerta, Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal 10 de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, São Paulo, Brazil. 11 bDepartamento 12 Paulo, Brazil. 13 cFundação de Biofísica, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, São Parque Zoológico de São Paulo, São Paulo, Brazil. 14 15 *Corresponding author. 16 Current Address: Laboratório ALERTA, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Rua 17 Pedro de Toledo, 781, 6th floor, Vila Clementino, 04039-032, São Paulo - SP, Brazil. Phone/Fax.: 18 +55 11 5576-4748. E-mail: [email protected]. 79 Artigo Científico 1 19 Abstract 20 This study evaluates the accuracy of liquid chromatography-mass spectrometry (LC-MS) and 21 matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) for 22 detecting carbapenem hydrolytic activity among SPM-1-, GIM-1-, and GES-5-producing 23 Pseudomonas aeruginosa isolates and OXA-143-, IMP-10-, and OXA-58-producing 24 Acinetobacter baumannii isolates. Class A and B carbapenemase activities were rapidly detected 25 by MALDI-TOF MS in a 2-h assay. However, an extended incubation time was necessary for 26 detection of carbapenem-hydrolyzing class D β-lactamase (CHDL) activity in Acinetobacter spp. 80 Artigo Científico 1 27 Over the last two decades, the therapeutic options to treat infections caused by Gram- 28 negative rods have been narrowed by bacterial acquisition of carbapenemase-encoding genes 29 (1). The rapid detection of clinically significant carbapenemases is important for establishing 30 adequate therapy and controlling their spread. Recently, the detection of class A or B 31 carbapenemase activity has been accomplished by matrix-assisted laser desorption ionization- 32 time of flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) (2,3). Although MALDI-TOF MS seems to be a 33 promising tool, there is a lack of evidence showing its usefulness in testing a broader range of 34 carbapenemases. To date, the published studies have mainly focused on KPC-2- and NDM-1- 35 producing Enterobacteriaceae, IMP-1-, VIM-1-, and VIM-2-producing Pseudomonas aeruginosa, 36 and OXA-23- and OXA-24-producing Acinetobacter baumannii isolates (2–4). In the current 37 study, we evaluated the performance of the MALDI-TOF MS assay in detecting carbapenemase 38 activity of GES-5-, GIM-1-, or SPM-1-producing P. aeruginosa and IMP-10-, OXA-58-, or OXA- 39 143-producing A. baumannii isolates which had not been tested previously. The detection of 40 carbapenemase by MALDI-TOF MS was compared to that of the modified Hodge test (MHT) and 41 hydrolysis assay. Additionally, liquid chromatography-mass spectrometry (LC-MS) was used to 42 confirm the results of carbapenem hydrolysis obtained by MALDI-TOF MS. 43 A total of 73 carbapenemase-producing and non-carbapenemase- producing bacterial 44 clinical isolates were studied and molecularly characterized as shown in Table 1. Generally, no 45 carbapenemase- producing isolates were susceptible to imipenem (IPM) and meropenem (MEM), 46 except for three A. baumannii isolates (one OXA-23 and two IMP-10 producers) that showed 47 imipenem and/or meropenem MICs of 4 _g/ml by the agar dilution technique (5,6). In our study, 48 MHT using ertapenem (ETP) disks (10 µg), following CLSI guidelines, detected 55%, 100%, and 49 68% of carbapenem-hydrolyzing class D β-lactamase (CHDL) and class A and class B 50 carbapenemases, respectively. No additional carbapenemase producers were identified by 51 testing with meropenem disks (7). Recently, MHT was reported to have poor sensitivity and 81 Artigo Científico 1 52 specificity for detecting class B and D carbapenemase activity in carbapenem-resistant A. 53 baumannii isolates (8). Indeterminate and false-positive results by MHT were observed in our 54 study 55 ESβL/ΔOmpK36 isolates, respectively, as was observed previously (9,10,11). All carbapenemase 56 isolates hydrolyzed imipenem according to a UV spectrometric assay using 100 mM phosphate 57 buffer (pH 7.0) (9). fornon-carbapenemase-producing P. aeruginosa and Klebsiella pneumoniae 58 The LC-MS and MALDI-TOF MS assays were performed by incubating fresh bacterial 59 inoculums from Mueller-Hinton agar plates (Oxoid, Basingstoke, United Kingdom) in a buffer- 60 adjusted solution (20 mM Tris-HCl, pH 6.8) with or without serial dilutions of ertapenem (0.12 to 61 0.5 µg/ml; Merck Sharp & Dohme, NJ) for periods of 2 and 4 h. This buffer solution was selected 62 since a NaCl solution could inhibit the CHDL activity. After centrifugation, 1-_l aliquots of each 63 sample were overlaid with 1 µl of -cyano-4-hydroxycinnamic acid matrix solution (HCCA; Bruker 64 Daltonics, Bremen, Germany) and spotted onto a stainless steel MALDI target plate as 65 recommended by the manufacturer. The mass spectrum was obtained by using a Bruker 66 Daltonics Microflex LT instrument operating in linear, positive ion mode and using the Flex 67 Control 3.3 software with the following instrument parameters: pulsed ion extraction delay, 30 ns; 68 ion source voltage one, 20 kV; ion source voltage two, 18.65 kV; and ion source lens voltage, 69 7.00 kV. The mass spectrometer was calibrated using the HCCA matrix peaks ([M+H]+ = 189.17; 70 [2 M+H]+ = 379.35) and bradykinin fragment 1-7 ([M+H]+ = 757.40). For each sample, mass 71 spectra were acquired by accumulating 100 laser shots at 45% to 60% laser power in the m/z 72 range of 200 to 600 Da. Carbapenem hydrolysis was considered positive if the ertapenem intact- 73 molecule mass peak (475 m/z) and that of its monosodium salt (497 m/z) disappeared completely 74 (Fig. 1A and B2) (2). 75 LC-MS was performed in an LCMS-2020 instrument equipped with an electrospray 76 ionization probe (ESI-145; Shimadzu, Kyoto, Japan). Aliquots of 15 µl from each reaction tube 82 Artigo Científico 1 77 were applied directly into the instrument. The analytical LC-MS conditions were as follows: an 78 XR-ODS C18 column (2 µm, 3.0 by 100 mm) was eluted with solvent system A 79 (water/trifluoroacetic acid[TFA], 1:1,000) and B (acetonitrile/water/TFA 900:100:1) at a flow rate of 80 1 ml/min and a 0-to-80% gradient for 10 min, monitored by absorbance at 220 nm. The mass 81 spectrum profile was considered positive using the same interpretative criteria established for the 82 MALDI-TOF MS assay. 83 The performance of the MALDI-TOF MS, LC-MS and hydrolysis assays in detecting class 84 A (KPC-2 and GES-5) and B (SPM-1, IMP-1, IMP-10, VIM-1, GIM-1, and NDM-1) 85 carbapenemase activity was excellent for both 2- and 4-h incubation times (100% sensitivity and 86 100% specificity). A similar result was observed by Burckhardt and colleagues, who tested an 87 ertapenem MALDITOF MS assay to detect carbapenemase activity of NDM-1, VIM-1, VIM-2, and 88 KPC-2 enzymes in P. aeruginosa isolates and Enterobacteriaceae (2). In our study, an extended 89 incubation period (4 h) was necessary to detect carbapenemase activity in 100% of the CHDL- 90 producing A. baumannii isolates, mainly due to OXA-23-producing isolates (Table 1). Probably an 91 extended incubation period was necessary for detection of the carbapenemase activity in CHDL- 92 producing isolates because these enzymes usually show a low level of carbapenem hydrolysis 93 due to poor turnover of these β-lactams, as previously noticed by Queenan and Bush (12). In 94 addition, the expression of CHDL-encoding genes is driven by an upstream-inserted insertion 95 sequence, ISAba1 (13). LC-MS confirmed all MALDI-TOF MS results. Recently, Kempf and 96 colleagues observed a similar detection rate (95% sensitivity) in a collection of OXA-23- and/or 97 OXA-24-producing A. baumannii isolates by MALDI-TOF MS using imipenem and HCCA as the 98 substrate and matrix, respectively (4). In the present study, imipenem was not selected for the 99 MALDI-TOF MS because the mass spectrum profile obtained did not show good resolution with 100 overlap of mass peaks, even when different matrices were tested. It could be due to the MALDI- 101 TOFMSsystem tested in our study, the Microflex LT instrument, since Kempf and colleagues 83 Artigo Científico 1 102 tested the Ultraflex I mass spectrometer. However, the Microflex LT instrument has been the 103 apparatus mostly available in the European clinical laboratories. 104 Although the hydrolysis assay yielded excellent results, this method is laborious to 105 implement in routine clinical laboratories. To our knowledge, this is the first study to evaluate the 106 performance of MALDI-TOF MS in detecting carbapenemase activity in a collection of SPM-1-, 107 GES-5-, and GIM-1-producing P. aeruginosa isolates, as well as OXA-143-, IMP-10-, and OXA- 108 58-producing A. baumannii isolates. In addition, the MALDI-TOF MS results were confirmed by 109 using LC-MS. MALDI-TOF MS is a rapid tool to detect class A and B carbapenemase activity, 110 including that of SPM-1-producing P. aeruginosa, in a 2-h assay. However, an extended 111 incubation period of 4 h must be used for detection of CHDL activity. MALDI-TOF MS has been 112 shown to be an easy, rapid, and cheap methodology for the detection of carbapenemase activity. 113 It can yield results before those of antimicrobial susceptibility testing can be available and 114 constitutes a very attractive methodology, especially for clinical laboratories that have already 115 used this technique for bacterial identification. 84 Artigo Científico 1 116 Acknowledgments 117 The authors declare no conflicts of interest. The study was carried out as part of our routine work. 118 A.C.G. is a researcher from the National Council for Science and Technological Development 119 (CNPq), Ministry of Science and Technology, Brazil (process number 307816/2009-5). 85 Artigo Científico 1 120 121 122 References 1. Walsh TR. 2008. Clinically significant carbapenemases: an update. Curr. Opin. Infect. Dis. 21:367-371. 123 2. Burckhardt I, Zimmermann S. 2011. Using matrix-assisted laser desorption ionization- 124 time of flight mass spectrometry to detect carbapenem resistance within 1 to 2.5 hours. J. 125 Clin. Microbiol. 49:3321-3324. 126 3. Hrabák J, Walková R, Studentová V, Chudácková E, Bergerová T. 2011. 127 Carbapenemase activity detection by matrix-assisted laser desorption ionization- time of 128 flight mass spectrometry. J. Clin. Microbiol. 49:3222-3227. 129 4. Kempf M, Bakour S, Flaudrops C, Berrazeg M, Brunel JM, Drissi M, Mesli E, Touati 130 A, Rolain JM. 2012. Rapid detection of carbapenem resistance in Acinetobacter 131 baumannii using matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass 132 spectrometry. PLoS One 7:e31676. 133 5. Clinical and Laboratory Standards Institute. 2009. Methods for dilution antimicrobial 134 susceptibility tests for bacteria that grow aerobically, 8th ed. Approved standard M07-A8. 135 CLSI, Wayne, PA. 136 6. Clinical and Laboratory Standards Institute. 2012. Performance standards for 137 antimicrobial susceptibility testing, 22nd informational supplement M100-S22. CLSI, 138 Wayne, PA. 139 7. Clinical and Laboratory Standards Institute. 2009. Performance standards for 140 antimicrobial susceptibility testing, 19th informational supplement. CLSI document M100- 141 S19. CLSI, Wayne, PA. 142 8. Bonnin RA, Naas T, Poirel L, Nordmann P. 2012. Phenotypic, biochemical, and 143 molecular techniques for detection of metallo-β-lactamase NDM in Acinetobacter 144 baumannii. J. Clin. Microbiol. 50:1419-1421. 86 Artigo Científico 1 145 9. Carvalhaes CG, Picão RC, Nicoletti AG, Xavier DE, Gales AC. 2010. Cloverleaf test 146 (modified Hodge test) for detecting carbapenemase production in Klebsiella pneumoniae: 147 be aware of false positive results. J. Antimicrob. Chemother. 65:249-251. 148 10. Lee K, Kim MN, Choi TY, Cho SE, Lee S, Whang DH, Yong D, Chong Y, Woodford N, 149 Livermore DM, KONSAR Group. 2009. Wide dissemination of OXA-type 150 carbapenemases in clinical Acinetobacter spp. isolates from South Korea. Int. J. 151 Antimicrob. Agents. 33: 520-524. 152 11. Pasteran F, Veliz O, Faccone D, Guerriero L, Rapoport M, Mendez T, Corso A. 2011. 153 A simple test for the detection of KPC and metallo-β-lactamase carbapenemase- 154 producing Pseudomonas aeruginosa isolates with the use of meropenem disks 155 supplemented with aminophenylboronic acid, dipicolinic acid and cloxacillin. Clin. 156 Microbiol. Infect. 17:1438-1441. 157 158 12. Queenan AM, Bush K. 2007. Carbapenemases: the versatile β-lactamases. Clin. Microbiol. Rev. 20:440-458. 159 13. Bogaerts P, Cuzon G, Naas T, Bauraing C, Deplano A, Lissoir B, Nordmann P, 160 Glupczynski Y. 2008. Carbapenem-resistant Acinetobacter baumannii isolates 161 expressing the blaOXA-23 gene associated with ISAba4 in Belgium. Antimicrob. Agents 162 Chemother. 52:4205-4206. 87 Artigo Científico 1 163 Table 1. Characterization of the 73 clinical isolates and performance of carbapenemase detection by different methodologies. MIC range (μg/mL) Percentage of isolates detected as carbapenemase producers (n° positive isolates/ total isolates) n° Isolates ETP IMP MEM MHT IMP Hydrolysis MALDI-TOF 2 hours MALDI-TOF 4 hours LCMS 2 hours LCMS 4 hours Oxa-23 Oxa-23 and Oxa-143 Oxa-24 and Oxa-143 Oxa-25 Oxa-26 Oxa-58 Oxa-23, Oxa-143 and IMP-1 IMP-10 31 16 4 1 1 1 3 1 3 16 - >256 256 - >256 > 256 > 256 > 256 64 - 128 > 256 8 - 128 0.5 - 128 32 - 256 256 256 256 8 - 32 256 4 - 64 56% (9/16) 100% (4/4) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 0% (0/3) 100% (1/1) 67% (2/3) 100% (16/16) 100% (4/4) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (3/3) 100% (1/1) 100% (3/3) 19% (3/16) 75% (3/4) 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/3) 100% (1/1) 100% (3/3) 100% (16/16) 100% (4/4) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (3/3) 100% (1/1) 100% (3/3) 19% (3/16) 75% (3/4) 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/3) 100% (1/1) 100% (3/3) 100% (16/16) 100% (4/4) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (3/3) 100% (1/1) 100% (3/3) Negative control 11 2-8 4 - 64 32 - 256 128 128 128 16 128 0.5 - 31 < 0.06 0.25 0.25 - 1 0% (0/11) 0% (0/11) 0% (0/11) 0% (0/11) 0% (0/11) 0% (0/11) KPC-2 NDM-1 8 1 1 32 128 8 64 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) 100% (1/1) ESBL/∆OmpK36a 4 0.25 0.25 - 2 8 32 <0.06 16 0% (0/4) 0% (0/4) 0% (0/4) 0% (0/4) 0% (0/4) 0% (0/4) GES-5 GES-1 26 1 1 256 64 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/1) 100% (1/1) 0% (0/1) 11 >256 64% (7/11) 100% (11/11) 100% (11/11) 100% (11/11) 100% (11/11) 100% (11/11) IMP-1 VIM-1 1 2 >256 256 - >256 100% (1/1) 0% (0/2) 100% (1/1) 100% (2/2) 100% (1/1) 100% (2/2) 100% (1/1) 100% (2/2) 100% (1/1) 100% (2/2) 100% (1/1) 100% (2/2) GIM-1 4 >256 128 - 256 100% (4/4) 100% (4/4) 100% (4/4) 100% (4/4) 100% (4/4) 100% (4/4) Negative control 6 4 - >256 0.5 - 16 256 4 64 >256 >256 256 256 >256 <0.06 32 100% (1/1) 0% (0/1) SPM-1 16 1 128 >256 32 256 0% (0/6) 0% (0/6) 0% (0/6) 0% (0/6) 0% (0/6) 0% (0/6) Bacterial Species Enzymes Acinetobacter baumannii Klebsiella pneumoniae Pseudomonas aeruginosa 88 Artigo Científico 1 164 a. ETP, ertapenem; IPM - imipenem; MEM - meropenem; MHT - modified Hodge test; MALDI-TOF - matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight 165 mass spectrometry; LC-MS - liquid chromatography-mass spectrometry. 166 b. Isolates previously characterized by Carvalhaes et al. (5). 89 Artigo Científico 1 167 168 Figure 1. (A) The hydrolysis of ETP mediated by β-lactamases occurs in two steps: in the first 169 step, the ETP intact molecule (475 gmol-1) suffers a rupture on its β-lactam ring, resulting in a 170 hydrolyzed ETP molecule (493 gmol-1). In the second step, the hydrolyzed ETP molecule loses a 171 carboxyl group (-CO2), resulting in a metabolite with a molecular mass of 450 g mol-1 (hydrolyzed 172 and decarboxylated ETP molecule). (B) Analysis of ETP degradation by MALDI-TOF MS. (B1) 173 Results for a negative-control strain incubated with ETP solution which appears ionized with 174 hydrogen ([ETP + H]+ = 475 gmol-1) and its sodium adduct ([ETP + Na]+ = 497 gmol-1). (B2) 90 Artigo Científico 1 175 Results for a hydrolyzed and decarboxylated ETP after incubation with SPM-1-producing P. 176 aeruginosa. Arrows represent HCCA matrix peaks. (C) Analysis of ETP degradation by LC-MS. 177 (C1) Results for a negative-control strain incubated with ETP which appears ionized with 178 hydrogen ([EPT + H]+ = 476 gmol-1). (C2) Hydrolyzed and decarboxylated ETP after incubation 179 with SPM-1-producing P. aeruginosa ([ETP + H]+ = 450 gmol-1). 91 Artigo Científico 2 1 Detection of carbapenemase activity directly from blood culture vials using MALDI-TOF 2 MS: a quick answer for the right decision 3 4 Cecilia G. Carvalhaes1*, Rodrigo Cayô1, Marina F. Visconde1, Talita Barone1, Eliete A. M. 5 Frigatto2, Debora Okamoto3, Diego M. Assis3,4, Luiz Juliano3, Antonia M. O. Machado2 and Ana 6 C. Gales1. 7 8 1Laboratório Alerta, Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal 9 de São Paulo - UNIFESP, São Paulo - SP, Brazil. 10 2Laboratório Central, Hospital São Paulo, São Paulo - SP, Brazil. 11 3Departamento 12 Brazil. 13 4Bruker de Biofísica, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, São Paulo - SP, Daltonics, Atibaia - SP, Brazil. 14 15 Short running title: Carbapenemase detection in blood cultures by MALDI-TOF MS 16 17 *Corresponding author. 18 Current Address: Laboratório ALERTA, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Rua 19 Pedro de Toledo, 781, 6th floor, Vila Clementino, 04039-032, São Paulo - SP, Brazil. Phone/Fax.: 20 +55 11 5576-4748. E-mail: [email protected]. 92 Artigo Científico 2 21 Abstract 22 Objectives: 23 spectrometry (MALDI-TOF MS) was successfully applied for the detection of carbapenemase 24 activity directly from Gram-negative colonies. Based on this principle, we evaluated the 25 performance of MALDI-TOF MS for rapid detection of carbapenemase activity directly from 26 positive blood culture vials. 27 Methods: A total of 100 blood culture vials were randomly selected. MALDI-TOF MS 28 carbapenemase assay results were confirmed by the detection of carbapenemase-encoding 29 genes. 30 Results: A total of 110 bacterial isolates were recovered. The MALDI-TOF MS carbapenemase 31 assay identified 21 of 29 (72.4%) of the carbapenemase-producing isolates directly from the 32 blood culture vials, especially those encoding KPC-2 (100%) and SPM-1 (100%), after a 4 h 33 incubation period. Although the majority of OXA-23-producing Acinetobacter baumannii isolates 34 were not identified on day 1, all isolates were identified as carbapenemase producers directly 35 from the colony on the next day. 36 Conclusions: The MALDI-TOF MS carbapenemase assay is a feasible and rapid test to identify 37 carbapenemase activity directly from blood culture vials. It may contribute to faster readjustment 38 of empirical antimicrobial therapy and implementation of infection control measures. Recently, matrix-assisted laser desorption ionization–time-of-flight mass 93 Artigo Científico 2 39 Introduction 40 Recently, matrix-assisted laser desorption ionization-time-offlight mass spectrometry 41 (MALDI-TOF MS) has emerged as an important tool in clinical microbiology laboratories. This 42 methodology is fast, simple, accurate and cost-effective to routinely identify bacterial isolates.1 In 43 addition, it has been also applied for rapid identification of pathogens directly from positive blood 44 culture vials.2,3 However, the time required for reporting antimicrobial susceptibility results is still 45 of crucial importance for readjustment of antimicrobial therapy. Although MALDI-TOF MS has 46 been integrated into automated antimicrobial susceptibility testing platforms, these systems 47 habitually do not accurately report the carbapenem MICs for carbapenemase-producing 48 Enterobacteriaceae.4-9 Thus, the accurate detection of carbapenemase production is still 49 necessary. 50 MALDI-TOF MS has detected activity of different carbapenemases directly from bacterial 51 colonies with great specificity and sensitivity.10-12 It has the potential to detect carbapenemase 52 activity independent of the enzyme produced, including novel enzymes. Based on these facts, we 53 focused on evaluating the performance of MALDI-TOF MS for the first time to rapidly detect 54 carbapenemase activity directly from blood culture vials. 94 Artigo Científico 2 55 Methods 56 Standardization of bacterial pellet for carbapenemase detection. Initially, three 57 carbapenemase-producing strains (KPC-2-producing Klebsiella pneumoniae ATCC BAA 1705, 58 SPM-1-producing Pseudomonas aeruginosa 48-1997A and OXA-23-producing Acinetobacter 59 baumannii 2387-08A) and a negative control strain (K. pneumoniae ATCC BAA 1706) were 60 inoculated into four BD BactecTM Plus Aerobic blood culture bottles (Becton Dickinson, USA) 61 with an inoculum corresponding to 1000 cfu for each strain.13,14 The vials were then introduced 62 into a Bactec 9240TM blood culture system. 63 64 Clinical samples and routine blood culture procedures. After optimization of the pellet 65 extraction and carbapenemase assay detection, clinical blood culture vials were selected 66 randomly for the study during a 2 month period (October and November 2012). Routine bacterial 67 identification and antimicrobial susceptibility testing were performed by the PhoenixTM automated 68 system (Becton Dickinson, USA) and confirmed by MALDI-TOF MS and CLSI agar dilution, 69 respectively.15 70 71 Bacterial extraction for MALDI-TOF MS experiments. The investigators were blinded to Gram 72 stain results during MALDI-TOF MS experiments. The positive blood culture vials were submitted 73 to bacterial extraction, MALDI-TOF MS carbapenemase assay and bacterial identification. An 74 aliquot of 8 mL was retrieved from each positive blood culture vial on the same day that the 75 bacterial growth was flagged on the Bactec 9240TM blood culture system and placed into a sterile 76 tube containing a separator gel and clot activator (BD Vacutainer SST II AdvanceTM, Becton 77 Dickinson, USA). The tubes were centrifuged at 10,000 rpm for 10 min. The bacterial pellet was 78 visible at the outer surface of the separator gel. The supernatant was removed and the bacterial 79 pellet was washed with 1 mL of sterile water to obtain the bacterial inoculum. This mixture was 95 Artigo Científico 2 80 transferred to a 1.5 mL sterile tube. The clear bacterial pellet was tested for carbapenemase 81 assay following whole bacterial protein extraction for the identification procedure as previously 82 described.2,10 83 84 Detection of carbapenemase activity by MALDI-TOF MS. A fresh ertapenem solution (0.5 g/L) 85 was prepared using Tris-HCl 20 mM pH adjusted, as previous reported.10 A 500 mL aliquot of 86 ertapenem solution was added to the bacterial pellet tube, gently mixed and incubated at 37°C 87 for 2 and 4 h. The tubes were then centrifuged at 13,000 rpm for 2 min and 1 mL of the 88 supernatant was spotted onto a stainless steel MALDI target plate (Bruker Daltonics, Bremen, 89 Germany). One microlitre of a-cyano-4-hydroxycinnamic acid matrix solution (Bruker Daltonics, 90 Bremen, Germany) was placed on each spot and allowed to dry at room temperature. A mass 91 spectrum was obtained using a Bruker Daltonics Microflex LT instrument (Bruker Daltonics, 92 Bremen, Germany) operating in accordance with the manufacturer’s instructions as 93 recommended.10 Carbapenem hydrolysis was considered positive if the corresponding 94 ertapenem intact molecule mass peak (475 m/z and its monosodium salt, 497 m/z) completely 95 disappeared.10 In each assay, a fresh inoculum of K. pneumoniae ATCC BAA1705 and of K. 96 pneumoniae ATCC BAA1706 were tested as the positive and negative controls, respectively, as 97 well as a tube containing only the ertapenem solution. The detection of carbapenemase activity 98 by MALDI-TOF MS was also performed directly from the colonies of all Gram-negative isolates to 99 confirm the initial results. 100 101 Molecular characterization of carbapenemases. PCRs targeting genes encoding KPC-like, 102 NDM-1, OXA-48, metallo-β-lactamases and carbapenem-hydrolysing class D b-lactamases 103 (CHDLs) were performed using primers previously described followed by DNA sequencing of the 104 respective amplicons.13,16-19 96 Artigo Científico 2 105 Results 106 During the study period, 100 blood culture vials were flagged as positive and were further 107 evaluated. Among them, the presence of two different pathogens was detected in 10 positive 108 blood culture vials resulting in a total of 110 bacterial isolates. K. pneumoniae (27; 24.5%) was 109 the most frequent pathogen isolated, followed by coagulase-negative Staphylococcus (19; 17.3%) 110 and Escherichia coli (18; 16.4%). Overall, MALDI-TOF MS correctly identified 81.8% (90/110) of 111 bacterial isolates tested directly from blood culture vials and 97.2% (107/110) after colony 112 isolation. All positive blood culture vials were submitted to carbapenemase assay, including those 113 where Gram-positive bacteria were subsequently isolated. The MALDI-TOF MS carbapenemase 114 assay detected 21 isolates as carbapenemase producers directly from blood culture vials at the 115 time of positivity (day 1). Among those, 17 isolates (13 K. pneumoniae, 2 Enterobacter cloacae, 1 116 P. aeruginosa and 1 A. baumannii) were detected within a 2 h incubation period, while the 117 remaining 4 isolates (2 K. pneumoniae and 2 A. baumannii) required an extended incubation 118 period (Table 1 and Figure 1). Among the 11 carbapenemase-producing A. baumannii isolates, 119 only 3 isolates were directly detected from blood culture vials on day 1. The eight remaining 120 isolates were successfully identified as carbapenemase producers only by testing bacterial 121 colonies on the next day (day 2), making a total of 29 carbapenemase-producing Gram-negative 122 isolates detected by MALDI-TOF MS. As expected, all Gram-positive isolates yielded negative 123 results. Molecular characterization of carbapenemase genes was performed among the Gram- 124 negative isolates (76/110; 69.1%). Among these, all 29 isolates (38.2%) detected by MALDI-TOF 125 MS as carbapenemase producers were confirmed to carry carbapenemase-encoding genes by 126 PCR and DNA sequencing (Table 1). The blaKPC-2 gene was detected in 17 Enterobacteriaceae 127 isolates (15 K. pneumoniae and 2 E. cloacae), followed by CHDL-encoding genes in 11 A. 128 baumannii isolates (blaOXA-23, n=10; blaOXA-72, n=1) and the blaSPM-1 gene in 1 P. aeruginosa 129 isolate (Table 1). The carbapenem MICs for carbapenemase-producing isolates are described in 97 Artigo Científico 2 130 Table 1. All CHDL-producing A. baumannii and SPM-1-producing P. aeruginosa isolates were not 131 susceptible to imipenem and meropenem by agar dilution and Phoenix. Moreover, all KPC- 132 producing Enterobacteriaceae were not susceptible to ertapenemby either methodology. In 133 contrast, 7 of 17 KPC-producing isolates were susceptible to imipenem and meropenem by the 134 Phoenix system (MIC ≤1 mg/L). According to CLSI agar dilution, only a single isolate was 135 confirmed to be resistant to meropenem (MIC 64 mg/L) while six isolates were not susceptible to 136 imipenem (MICs 2-32 mg/L). 98 Artigo Científico 2 137 Discussion 138 Currently, according to CLSI and EUCAST guidelines, clinical laboratories should report 139 the category of susceptibility to carbapenems without confirming the production of 140 carbapenemases, since Gram-negative bacteria may possess other mechanisms of carbapenem 141 resistance. However, automated systems habitually fail to determine carbapenem MICs for 142 carbapenemase-producing Enterobacteriaceae. Consequently, based only on antimicrobial 143 susceptibility results, carbapenem prescription may be disregarded, leading to the use of more 144 toxic compounds. Recently, EUCAST developed a new guideline for the detection of resistance 145 mechanisms and specific resistances of clinical and/or epidemiological importance. Phenotypic 146 double-disc synergy tests have been recommended by EUCAST to detect carbapenemase 147 activity among Enterobacteriaceae isolates. However, these tests require an overnight incubation 148 period and molecular confirmation of the results is usually necessary. Molecular-based methods, 149 although more rapid and accurate, are unable to detect new carbapenemase-encoding genes, 150 require a high degree of expertise and are still expensive for routine use in some geographic 151 regions. In addition, the detection of a carbapenemase-encoding gene by PCR does not 152 guarantee its expression.20 MALDI-TOF MS is the latest advance to detect carbapenemase 153 activity. Recently, it was successfully employed to identify carbapenem hydrolysis products 154 directly from Gram-negative bacterial colonies.10-12 In our study, we report for the first time that 155 MALDI-TOF MS was able to detect carbapenemase activity directly from positive blood culture 156 vials for all KPC-2-producing and SPM-1-producing isolates. This is in accordance with previous 157 studies that demonstrated the high sensitivity (100%) and specificity (100%) of MALDI-TOF MS 158 for detecting the carbapenemase activity of KPC-2-, KPC-3- or SPM-1-producing isolates from 159 bacterial colonies.10-12 In contrast, the detection of CHDL activitywas not so easily achieved with 160 this methodology. Carbapenem resistance in Acinetobacter spp. is mainly mediated by the 161 production of CHDLs.21,22 In our study, all but one CHDL detected was OXA-23, which is the most 99 Artigo Científico 2 162 disseminated CHDL in A. baumannii worldwide.23 The majority of CHDLs weakly hydrolyse 163 carbapenems, which may compromise their detection by susceptibility testing and other 164 phenotypic tests. Therefore, PCR-based methods remain the “gold standard” for the identification 165 of CHDLs.22 In our study, the MALDI-TOF MS methodology was able to identify the 166 carbapenemase activity of all CHDL-producing Acinetobacter spp. isolates only when bacterial 167 colonies were tested and the assay was incubated for an extended period (4 h) as previously 168 observed.10 Therefore, MALDI-TOF MS may constitute an alternative to PCR-based methods for 169 the detection of CHDLs, but only after isolation of bacterial colonies. 100 Artigo Científico 2 170 Conclusions 171 MALDI-TOF MS has been revolutionizing bacterial identification in clinical laboratories, especially 172 due to its simplicity and rapid turnaround time. Similarly, the detection of carbapenemase activity 173 by MALDI-TOF MS directly from clinical blood culture vials may provide a quick answer for faster 174 readjustment of antimicrobial therapy and implementation of infection control measures. In 175 summary, MALDI-TOF MS empowers clinical laboratories to address a clinical demand for faster 176 results. 101 Artigo Científico 2 177 Acknowledgements 178 This work was presented in part as an ePoster (eP680) at the Twenty-third European Congress 179 of Clinical Microbiology and Infectious Diseases, Berlin, Germany, 2013. We thank Dr Jussimara 180 Monteiro and Dr Lygia Schandert for their valuable support during initial tests. 181 182 Funding 183 The study was carried out as part of our routine work. A. C. G. is a researcher from the National 184 Council for Science and Technological Development (CNPq), Ministry of Science and 185 Technology, Brazil (Process number: 307816/2009-5). 186 187 Transparency declarations 188 D. M. A. is an employee of Bruker Daltonics, Brazil, but he does not own stocks or options in the 189 company. A. C. G. has received research funding and/or consultation fees from Janssen-Cilag, 190 Wyeth/Pfizer, Novartis and Sanofi-Aventis. All other authors: none to declare. 102 Artigo Científico 2 191 192 193 References 1. Patel R. Matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass spectrometry in clinical microbiology. Clin Infect Dis 2013; 57: 564-72. 194 2. Stevenson LG, Drake SK, Murray PR. Rapid identification of bacteria in positive blood 195 culture broths by matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass 196 spectrometry. J Clin Microbiol 2010; 48: 444-7. 197 3. Lagace´-Wiens PR, Adam HJ, Karlowsky JA et al. Identification of blood culture isolates 198 directly from positive blood cultures by use of matrix-assisted laser desorption ionization- 199 time of flight mass spectrometry and a commercial extraction system: analysis of 200 performance, cost, and turnaround time. J Clin Microbiol 2012; 50: 3324-8. 201 4. Romero-Gomez MP, Gomez-Gil R, Pano-Pardo JR et al. Identification and susceptibility 202 testing of microorganism by direct inoculation from positive blood culture bottles by 203 combining MALDITOFand Vitek-2 Compact is rapid and effective. J Infect 2012; 65: 513- 204 20. 205 5. Wimmer JL, Long SW, Cernoch P et al. Strategy for rapid identification and antibiotic 206 susceptibility testing of Gram-negative bacteria directly recovered from positive blood 207 cultures using the Bruker MALDI Biotyper and the BD Phoenix system. J Clin Microbiol 208 2012; 50: 2452-4. 209 6. Clark AE, Kaleta EJ, Arora A et al. Matrix-assisted laser desorption ionization-time of 210 flight mass spectrometry: a fundamental shift in the routine practice of clinical 211 microbiology. Clin Microbiol Rev 2013; 26: 547-603. 212 7. Tenover FC, Kalsi RK, Williams PP et al. Carbapenem resistance in Klebsiella 213 pneumoniae not detected by automated susceptibility testing. Emerg Infect Dis 2006; 12: 214 1209-13. 103 Artigo Científico 2 215 8. 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Burckhardt I, Zimmermann S. Using matrix-assisted laser desorption ionization-time of 229 flight mass spectrometry to detect carbapenem resistance within 1 to 2.5 hours. J Clin 230 Microbiol 2011; 49: 3321-4. 231 13. Toleman MA, Simm AM, Murphy TA et al. Molecular characterization of SPM-1, a novel 232 metallo-β-lactamase isolated in Latin America: report from the SENTRY antimicrobial 233 surveillance programme. J Antimicrob Chemother 2002; 50: 673-9. 234 235 14. Werneck JS, Picão RC, Girardello R et al. Low prevalence of blaOXA-143 in private hospitals in Brazil. Antimicrob Agents Chemother 2011; 55: 4494-5. 236 15. Clinical and Laboratory Standards Institute. Performance Standards for Antimicrobial 237 Susceptibility Testing: Twenty-third Informational Supplement M100-S23. CLSI, Wayne, 238 PA, USA, 2013. 104 Artigo Científico 2 239 16. Woodford N, Ellington MJ, Coelho JM et al. 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The inserted structure represents the intact ETP. (B) Results for a hydrolyzed 265 and decarboxylated ETP ([M+H = 449] – dark grey bars) represented by inserted structure after 266 incubation with SPM-1-producing P. aeruginosa Arrows indicate the β-lactam ring where the 267 hydrolysis and decarboxylation reactions occur. Note that [ETP+H] = 475 g mol -1 and its sodium 268 adduct [ETP+Na] = 497 g mol-1 (light grey bars) have complete disappear. 106 Artigo Científico 2 269 Table 1. Carbapenem susceptibility profile and time in days for detection of carbapenemase-producing isolates by MALDI-TOF MS. Isolates detected as carbapenemase producers by MALDI-TOF MS (n°) MIC range (µg/mL) Enzyme Microrganism (n°) KPC-2 Phoenix system Agar dilution Day 1a Day 2b ERT IMI MER ERT IMI MER 2h 4h 2h 4h K. pneumoniae (15) >4 <=1 - >8 <=1 - >8 2 - >256 1 - 128 1 - 128 13 15 15 15 KPC-2 E. cloacae (2) >4 >8 >8 >256 64 - 128 128 2 2 2 2 SPM-1 P. aeruginosa (1) - >8 >8 64 32 16 1 1 1 1 OXA-23 A. baumannii (10) - >8 >8 32 - 256 8 - 128 8 - 64 0 2 9 10 OXA-72 A. baumannii (1) - >8 >8 >256 64 128 1 1 1 1 270 ETP, ertapenem; IPM, imipenem; MEM, meropenem. 271 a.Day 1, direct from positive blood culture vials. 272 b.Day 2, direct from bacterial colony. 107 Artigo Científico 3 1 Detection of carbapenemase activity using VITEK® MS: Interplay of carbapenemase type 2 and period of incubation 3 4 Cecilia Godoy Carvalhaesa,b*, Ana Carolina Ramos da Silvaa, Ana Paula Strelinga, Rodrigo 5 Cayôa, Anna Carolina Rockstrohc, Antonia Maria Oliveira Machadob, Ana Cristina Galesa. 6 7 Short running title: Carbapenemase detection by VITEK® MS. 8 9 aLaboratório Alerta, Disciplina de Infectologia, Departamento de Medicina, Universidade Federal 10 de São Paulo - UNIFESP/EPM, São Paulo - SP, Brazil. 11 bLaboratório 12 Medicina, Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP/EPM, São Paulo - SP, Brazil. 13 cbioMérieux de Microbiologia Clínica, Disciplina de Medicina Laboratorial, Departamento de do Brasil, Brooklin Novo, Rua Ponta Delgada, São Paulo - SP, Brazil. 14 15 *Corresponding author. Current Address: Laboratório ALERTA, Universidade Federal de São 16 Paulo - UNIFESP, Rua Pedro de Toledo, 781, 6th floor, Vila Clementino, 04039-032, São Paulo - 17 SP, Brazil. Phone/Fax.: +55 11 55764748. E-mail: [email protected]. 108 Artigo Científico 3 18 Dear Editor, 19 Recently, carbapenemase activity of Gram-negative bacilli has been detected by matrix- 20 assisted laser desorption ionization-time of flight mass spectrometry (MALDI-TOF MS) (1-3). This 21 method relies on the modification of mass spectrum profile of the carbapenem molecule by 22 carbapenemases (4). Most studies have evaluated ertapenem hydrolysis by testing the Microflex 23 LT instrument (Bruker Daltonics, Dremen, Germany) (1,4,6-8). To the best of our knowledge, only 24 one recently published study evaluated the detection of carbapenemase activity by using VITEK® 25 MS instrument (bioMérieux, Marcy l’Etoile, France) (5). The authors reported a lack of sensitivity 26 (87%) by testing imipenem as substrate. Recently, we have accessed the performance of VITEK® 27 MS for detection of carbapenemase activity by testing a well characterized collection of 28 carbapenemase-producing strains against ertapenem activity. In addition, since carbapenem 29 hydrolysis may depend on many factors, especially carbapenemase type and time required for 30 complete β-lactam hydrolysis (4), the interplay among different classes of carbapenemases and 31 period of incubation required for carbapenemase detection by VITEK® MS instrument were also 32 addressed in the present study. 33 A collection of 73 carbapenem-producing and 28 non-carbapenemase-producing Gram- 34 negative clinical isolates, previously characterized, were evaluated (Table 1) (4,9). The MALDI- 35 TOF MS carbapenem hydrolysis assays were performed incubating 1 µL loop of fresh bacterial 36 colonies from Müeller-Hinton agar plates (bioMérieux S/A, Rio de Janeiro, Brazil) in 100 µL of a 37 buffer adjusted solution [Tris-HCl 20 mM pH 6.8] with or without ertapenem (ETP 0.25 µg/mL; 38 Merck Sharp & Dohme, NJ, USA), as previously described (4). The mass spectrum was obtained 39 by VITEK® MS instrument using SARAMIS software v.4.1.2 (bioMérieux, Marcy l’Etoile, France) 40 operating in linear, positive ion mode. Mass spectra were acquired by accumulating 200 laser 41 shots at 50-55% laser power in the m/z range of 400 to 600 Da, after instrument calibration using 42 α-cyano-4-hydroxycinnamic acid matrix solution (HCCA; bioMérieux, Marcy l’Etoile, France) and 109 Artigo Científico 3 43 ertapenem solution. Carbapenem hydrolysis was considered positive if the ertapenem intact- 44 molecule mass peak ([M+H+], 476 m/z) and that of its monosodium salt ([M+Na+], 498 m/z) 45 completely disappeared. 46 The majority of classes A (62%) and B (61%) carbapenemase-producing isolates could 47 be detected after 15 minutes of incubation. Increasing detection rates of carbapenemase- 48 producing isolates were directly proportional to the incubation period for all β-lactamases classes, 49 with significant improvement after 60 minutes of incubation for class A (95%) and B (87%) 50 carbapenemases. Corroborating the findings of previous studies, all carbapenem-hydrolyzing 51 class D β-lactamases (CHDLs) could be detected only after a 4h-incubation period, including an 52 Acinetobacter baumannii isolate possessing ISAba1 upstream blaOXA-51 (Fig. 1) (4,10). All KPC-2- 53 producing isolates and all metallo-β-lactamases (MβL)-producing isolates, except for one IMP-1- 54 producing A. baumannii isolates were detected after 2h-incubation period. A new Class A 55 enzyme, Brazilian Klebsiella Carbapenemase (BKC) showed poor carbapenemase activity and 56 could only be detected by VITEK® MS after an extended incubation period (4 hours) (11). No 57 false positive results were observed even after a 4-hour incubation period. 58 The VITEK® MS platform showed excellent performance in detecting carbapenemase- 59 producing isolates using ertapenem. The majority of KPC and MβL-producing isolates were 60 detected by testing 1-h incubation period. However, a 4-h incubation period was necessary to 61 exclude carbapenemase activity in strains producing weak carbapenemases like BKC-producing 62 K. pneumoniae and OXA-producing A. baumannii. 110 Artigo Científico 3 63 Funding 64 The study was carried out as part of our routine work. A. C. G. is a researcher from the National 65 Council for Science and Technological Development (CNPq), Ministry of Science and 66 Technology, Brazil (Process number: 307816/2009-5). We are grateful to the Fundação de 67 Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), which gave a Post-doctoral grant to R.C. 68 (protocol 2012/15459-6). 69 70 Transparency Declarations 71 A.C.G. has recently received research funding and/or consultation fees from AstraZeneca, Merck 72 Sharp & Dhome, and Novartis. A. C. R. is an employee of bioMérieux Brazil, but she does not 73 own stocks or options in the company. Other authors have nothing to declare. This study was 74 presented in part as poster (poster number D-897) at the 54th Interscience Conference on 75 Antimicrobial Agents and Chemotherapy - ICAAC, in Washington, DC, USA, 5-9 September 76 2014. 111 Artigo Científico 3 77 REFERENCES 78 1. Burckhardt I and Zimmermann S. 2011. Using matrix-assisted laser desorption 79 ionization-time of flight mass spectrometry to detect carbapenem resistance within 1 to 80 2.5 hours. J. Clin. Microbiol. 49: 3321-3324. 81 2. Hrabák J, Walková R, Studentová V, Chudácková E, Bergerová T. 2011. 82 Carbapenemase activity detection by matrix-assisted laser desorption ionization-time of 83 flight mass spectrometry. J. Clin. Microbiol. 49: 3222-3227. 84 3. Sparbier K, Schubert S, Weller U, Boogen C, Kostrzewa M. 2012. Matrix-assisted 85 laser desorption ionization-time of flight mass spectrometry-based functional assay for 86 rapid detection of resistance against β-lactam antibiotics. J. Clin. Microbiol. 50: 927-937. 87 4. Carvalhaes CG, Cayô R, Assis DM, Martins ER, Juliano L, Juliano MA, Gales AC. 88 2013. Detection of SPM-1-producing Pseudomonas aeruginosa and class D β- 89 lactamase-producing Acinetobacter baumannii isolates by use of liquid chromatography- 90 mass spectrometry and matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass 91 spectrometry. J. Clin. Microbiol. 51: 287-290. 92 5. Knox J, Jadhav S, Sevior D, Agyekum A, Whipp M, Waring L, Iredell J, Palombo E. 93 Phenotypic Detection of Carbapenemase-Producing Enterobacteriaceae by Use of 94 Matrix-Assisted Laser Desorption Ionization-Time of Flight Mass Spectrometry and the 95 Carba NP Test. J Clin Microbiol. 2014; 52(11):4075-7. 96 6. Hoyos-Mallecot Y, Riazzo C, Miranda-Casas C, Rojo-Martín MD, Gutiérrez- 97 Fernández J, Navarro-Marí JM. Rapid detection and identification of strains carrying 98 carbapenemases directly from positive blood cultures using MALDI-TOF MS. J Microbiol 99 Methods. 2014; 105:98-101. 100 7. Vogne C, Prod'Hom G, Jaton K, Decosterd L, Greub G. A simple, robust and rapid 101 approach to detect carbapenemases in Gram negative isolates by MALDI-TOF mass 112 Artigo Científico 3 102 spectrometry: validation with triple quadripole tandem mass spectrometry, microarray 103 and PCR. Clin Microbiol Infect. 2014 Jun 14. [Epub ahead of print] 104 8. Lee W, Chung HS, Lee Y, Yong D, Jeong SH, Lee K, Chong Y. Comparison of matrix- 105 assisted laser desorption ionization-time-of-flight mass spectrometry assay with 106 conventional methods for detection of IMP-6, VIM-2, NDM-1, SIM-1, KPC-1, OXA-23, 107 and OXA-51 carbapenemase-producing Acinetobacter spp., Pseudomonas aeruginosa, 108 and Klebsiella pneumoniae. Diagn Microbiol Infect Dis. 2013 Nov;77(3):227-30. 109 9. Carvalhaes CG, Picão RC, Nicoletti AG, Xavier DE, Gales AC. 2010. Cloverleaf test 110 (modified Hodge test) for detecting carbapenemase production in Klebsiella pneumoniae: 111 be aware of false positive results. J Antimicrob Chemother.65 (2):249-51. 112 10. Kempf M, Bakour S, Flaudrops C, Berrazeg M, Brunel JM, Drissi M, Mesli E, Touati 113 A, Rolain JM. 2012. Rapid detection of carbapenem resistance in Acinetobacter 114 baumannii using matrix-assisted laser desorption ionization-time of flight mass 115 spectrometry. PLoS One. 7: e31676. 116 11. Nicoletti AG, Marcondes MFM, Fehlberg LCC, Almeida LGP, Nicolás MF, 117 Vasconcelos ATR, Oliveira V, Gales AC. 2013. Abstr. Characterization of a new class 118 A carbapenemase isolated from Klebsiella pneumoniae (KPN) clinical isolates. 53th 119 Intersci. Conf. Antimicrob. Agents and Chemother., abstr C1-1593c. 113 Artigo Científico 3 120 FIGURE LEGENDS 121 Figure1. Interplay of carbapenemase type and period of incubation (IP) for detection of 122 carbapenemase activity by testing VITEK® MS. 114 Artigo Científico 3 123 FIG. 1 124 115 Artigo Científico 3 Table 1. Interplay between the bacterial characteristics and incubation period required to detect the different classes of carbapenemase tested by VITEK® MS. 125 Ambler Class Carbapenemase-producing isolates Class A Class B CHDL β-Lactamases Bacterial isolates Nº Nº of isolates detected as carbapenemase-producers by Vitek® MS according to the incubation period (min) KPC-2 KPC-2 KPC-2 KPC-2 BKC Subtotal Serratia marcescens Klebsiella pneumoniae Enterobacter cloacae Escherichia coli Klebsiella pneumoniae 13 26 1 1 1 42 15' 12 12 1 1 0 26 30' 13 16 1 1 0 31 60' 13 25 1 1 0 40 120' 13 26 1 1 0 41 240' 13 26 1 1 1 42 IMP-1 IMP-1 IMP-1 IMP-1 NDM-1 NDM-1 GIM-1 VIM-1 SPM-1 Subtotal Enterobacter cloacae Serratia marcescens Klebsiella pneumoniae Acinetobacter baumannii Klebsiella pneumoniae Escherichia coli Pseudomonas aeruginosa Enterobacter cloacae Pseudomonas aeruginosa 1 1 6 3 1 1 1 1 8 23 1 1 1 0 1 1 1 1 7 14 1 1 1 1 1 1 1 1 7 15 1 1 6 1 1 1 1 1 7 20 1 1 6 2 1 1 1 1 8 22 1 1 6 3 1 1 1 1 8 23 OXA-51* OXA-23, OXA-143 OXA-58 Acinetobacter baumannii Acinetobacter baumannii Acinetobacter baumannii 1 2 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 2 1 116 Artigo Científico 3 Non-Carbapenemaseproducing isolates OXA-25 OXA-26 OXA-72 OXA-231 Subtotal Total CTX-M2 + Δ OmpK35/OmpK36 ESβL (CTX-M15) OXA-51 only none none none none Total Acinetobacter baumannii Acinetobacter baumannii Acinetobacter baumannii Acinetobacter baumannii 1 1 1 1 8 73 0 0 0 0 0 40 0 0 0 0 0 46 0 1 0 0 1 61 1 1 0 0 2 65 1 1 1 1 8 73 Klebsiella pneumoniae 8 0 0 0 0 0 Klebsiella pneumoniae Acinetobacter baumannii Klebsiella pneumoniae Escherichia coli Proteus mirabilis Burkholderia cenocepacia 2 2 12 2 1 1 28 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 126 117 Discussão 5. DISCUSSÃO 118 Discussão No Brasil, o primeiro relato de um isolado de K. pneumoniae produtor de KPC ocorreu em 2006 (Monteiro et al., 2009). Até então, a resistência aos carbapenens em bactérias Gramnegativas era mais comumente descrita em isolados de P. aeruginosa e A. baumannii produtores de ML e/ou CHDLs (Sader et al., 2004), os quais eram facilmente reconhecidos pelos testes de sensibilidade empregados. Em 2009, os laboratórios brasileiros, seguindo a recomendação do CLSI (CLSI, 2009), passaram a realizar o MHT para confirmação da produção de carbapenemase em isolados de enterobactérias que apresentassem redução de sensibilidade para ao menos um carbapenem, já que cepas produtoras de KPC poderiam se apresentar como sensíveis a estes compostos no antibiograma habitualmente realizado. Com a disseminação de enterobactérias resistentes aos carbapenens pelo país, o Laboratório ALERTA passou a receber diversos isolados positivos no MHT para a confirmação molecular da produção de carbapenemases. Sendo assim, um total de 28 isolados de K. pneumoniae, provenientes de oito hospitais brasileiros, apresentando redução de sensibilidade aos carbapenens foram investigados em nosso laboratório (ANEXO 1). Estes isolados foram distribuídos em 7 diferentes genótipos através da técnica de eletroforese em gel de campo pulsado (PFGE). Embora o teste de MHT tenha sido realizado segundo as recomendações do CLSI, optamos por também realizar o teste com inóculo maior. Nesse estudo, um total de 25% e 54% dos isolados testados com o inóculo padrão e o inóculo mais alto, respectivamente, apresentaram MHT positivo quando utilizado o disco de ertapenem. Entretanto, nenhum desses isolados apresentou hidrólise pela espectrofotometria ou carreavam os genes codificadores de carbapenemase. Os resultados falso-positivos do MHT foram atribuídos à produção de ESL, confirmada por PCR e sequenciamento dos genes relacionados, principalmente o gene blaCTX-M-2 (86%), associada à alteração de permeabilidade devido à ausência de uma (18%) ou ambas (79%) as porinas, OmpK35 e OmpK36 (ANEXO 1). 119 Discussão Resultados similares ao nosso estudo foram reportados por Pasteran e colaboradores (2009) que descreveram 25% de resultados falso-positivos no MHT associados à produção de CTX-M ou à hiperprodução de AmpC (Pasteran et al., 2009). Entretanto, segundo os autores, apesar da baixa especificidade, o MHT apresentava elevada sensibilidade para detecção de carbapenemases da classe A, especificamente KPC (Pasteran et al., 2009). Em outro estudo, Girlich e colaboradores (2012) reportaram 100% de sensibilidade do MHT para a detecção de carbapenemases das classes A e D em enterobactérias. Apesar disso no mesmo estudo, resultados falso-positivos também foram reportados (55%; 11/20) entre os isolados produtores de ESL ou hiperprodutores de AmpC (Girlich et al., 2012). No Brasil, a prevalência de enterobactérias produtoras de ESL é elevada, chegando a 50% em isolados clínicos hospitalares de K. pneumoniae (Gales et al., 2012), sendo a maioria destes (>90%) produtores de CTX-M (Seki et al., 2013). Com o objetivo de melhorar a especificidade do MHT para isolados brasileiros, Cury e colaboradores (2012) estratificaram os resultados positivos em “verdadeiros-positivos”, quando o crescimento da cepa de E. coli ATCC 25922 tocava o halo do disco de ertapenem, e “inconclusivo” quando o crescimento não chegava a tocar o disco (Cury et al., 2012). Apesar de elevar a especificidade do teste (>90%) nos isolados classificados como “verdadeiramentepositivos”, o gene blaKPC-2 foi detectado em apenas 51% dos isolados incluidos no grupo “inconclusivo” (N=154; 28%). Consequentemente, apesar de muitos laboratórios no Brasil ainda utilizarem o MHT para detecção de carbapenemase, este deve ser utilizado com parcimônia em regiões onde a produção de CTX-M é endêmica, pois outros testes serão ainda necessários para a confirmação da produção de carbapenemases, o que poderia retardar ainda mais a liberação dos resultados. Após relatos de resultados falso-negativos pelo MHT para isolados de enterobactérias produtores de NDM-1, a confiabilidade na sensibilidade do teste diminuiu ainda mais 120 Discussão (Castanheira et al., 2011; Girlich et al., 2012). Embora algumas tentativas de modificações no MHT tenham sido realizadas, elevando a sensibilidade, a baixa especificidade ainda é um fator limitante do uso clínico deste teste. Uma dessas modificações foi a execução do MHT em ágar MacConkey ou com a adição de sulfato de zinco ao ágar Müeller-Hinton (Lee et al., 2010; Girlich et al., 2012). Além disso, o MHT também foi avaliado para isolados de P. aeruginosa, porém um grande número de resultados inconclusivos foi observado, devido à inibição do crescimento da cepa de E. coli ATCC 25922 ao redor dos isolados de P. aeruginosa (Lee et al., 2003; Pasteran et al., 2011). Desta forma, apesar do CLSI ainda recomendar o uso do MHT para fins epidemiológicos e de controle de infecção (CLSI, 2014), o EUCAST, assim como a ANVISA, optaram pela recomendação de testes baseados na inibição da atividade de carbapenemases para cada uma das classes moleculares de -lactamases (ANVISA, 2013; EUCAST, 2013). Os testes baseados na inibição de carbapenemases, utilizando discos combinados ou por dupla difusão, foram amplamente descritos devido à sua fácil execução e alta sensibilidade (Tsakris et al, 2009; Pasteran et al., 2011; Giske et al., 2011). Inicialmente, estes testes foram propostos para detecção de ML em isolados de P. aeruginosa, as quais geralmente apresentam elevadas CIMs para carbapenens (Picão et al., 2008). Entretanto, o mesmo não ocorre com isolados de Acinetobacter spp. e espécies de enterobactérias, nos quais as MLs podem variar tanto na habilidade de conferir resistência aos substratos, ceftazidima e imipenem, comumente utilizados para triagem dessas enzimas, quanto no grau de inibição por certos compostos (Walsh et al., 2005). Consequentemente, não há um inibidor perfeito para a detecção de todas as MLs, e algumas destas carbapenemases podem não ser detectadas por apresentarem-se sensíveis ou com discreta redução de sensibilidade aos carbapenens, especialmente as amostras pertencentes à família Enterobacteriaceae (Walsh et al., 2005). Segundo Lee e colaboradores (2003), o teste com discos de EDTA é o mais acurado para detecção de ML em P. aeruginosa, enquanto que o ácido mercaptopropiônico obteve 121 Discussão melhores resultados para Acinetobacter spp. Entretanto, quando os dois inibidores foram testados em conjunto em um único disco observou-se maior sensibilidade comparado ao teste com cada composto isoladamente (Lee et al., 2003). Com o aumento do número de isolados de enterobactérias coprodutoras de MLs (VIM e IMP) e KPC na Grécia, e relatos na Alemanha, Itália, China e Colombia, a combinação de inibidores, como o EDTA e o APBA, foi proposta para evitar resultados falso-negativos com os inibidores utilizados isoladamente (Giakkoupi et al., 2009; Miriagou et al., 2013; Rojas et al., 2013). Apesar do tempo necessário de 24 horas para a leitura dos resultados, os testes com inibidores são uma alternativa para a detecção de carbapenemases em enterobactérias. Baseado nestes dados, o EUCAST recomendou o uso de discos de meropenem associados ou não aos seguintes inibidores: (i) EDTA ou ácido dipicolínico (DPA) para triagem de ML; (ii) PBA ou APBA para a detecção de carbapenemases da classe A; e (iii) cloxacilina para distinguir isolados hiperprodutores de AmpC que poderiam falsear o teste com PBA ou APBA (EUCAST, 2013). Segundo o estudo de Giske e colaboradores (2011), o DPA apresentou menos resultados falso-positivos para isolados produtores de KPC, OXA-48 e CTX-M-15 associada à alteração de porina em enterobactérias do que o EDTA (Giske et al., 2011). Embora discos combinados com inibidores estejam disponíveis comercialmente na Europa, Doyle e colaboradores (2012) observaram baixa sensibilidade (78-80%) para a detecção de ML em enterobactérias, devido ao grande número de isolados produtores de IMP e VIM (4250%) não terem sido detectados, apesar de alcançarem 100% de sensibilidade e especificidade para aqueles isolados produtores de NDM-1 e 98-100% de sensibilidade e 93% de especificidade para detecção de KPC (Doyle et al., 2012). Igualmente, Giske e colaboradores (2011) reportaram 100% de sensibilidade do teste com APBA para a detecção de KPC, apesar de resultados falso-positivos terem sido observados em isolados apresentando hiperprodução de AmpC associado à alteração de porina. Entretanto, os autores relataram que tais isolados foram 122 Discussão discriminados quando a cloxacilina foi testada, alcançando uma especificidade de 98% (Giske et al., 2011). Atualmente, não existe um inibidor eficiente capaz de detectar todas as CHDLs. Entretanto, segundo van Dijk e colaboradores (2014), a presença de OXA-48 pode ser sugerida pela ausência de sinergismo com inibidores de classe A e B, associada à resistência de alto grau à temocilina (CIM ≥ 32 µg/mL) (van Dijk et al., 2014; Hartl et al., 2013; EUCAST, 2013). Recentemente, a associação desse antimicrobiano ao novo inibidor de β-lactamase avibactam (potente para classe A e alguns representantes da classe D, como a OXA-48) pode se tornar uma alternativa para detecção de isolados produtores de OXA-48 em um futuro próximo (Huang et al., 2014). Atualmente, o récem-criado Comitê Brasileiro de Teste de Sensibilidade aos Antimicrobianos (BrCAST) recomendará as diretrizes nacionais para a execução e interpretação do teste de sensibilidade aos antimicrobianos. O BrCAST é composto por representantes das quatro sociedades brasileiras, Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC), Sociedade Brasileira de Microbiologia (SBM), Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC). Além disso, o comitê brasileiro traduzirá e publicará os documentos do EUCAST para o público brasileiro, permitindo a ampla divulgação dessas informações no âmbito nacional. As recomendações deste comitê para a suspeita e confirmação da produção de carbapenemases ainda não estão disponíveis. Até o momento, de acordo com as recomendações da ANVISA, testes com os inibidores PBA e EDTA devem ser utilizados para a detecção inicial de cepas produtoras de carbapenemases das classes A e B, respectivamente. O teste com cloxacilina também é indicado para inibir a atividade de AmpC plasmidial (ANVISA, 2013). Entretanto, a mesma nota técnica recomenda que testes moleculares sejam utilizados quando houver suspeita de produção de carbapenemase entre isolados produtores de AmpC cromossomais (grupo CESP - 123 Discussão Citrobacter spp., Enterobacter spp., Serratia marscescens, Proteus vulgaris, Providencia spp., entre outros). No Brasil, o uso de testes moleculares ainda está restrito a poucos laboratórios de microbiologia. Como Enterobacter spp. constitui a segunda espécie mais frequente de isolados produtores de KPC no Brasil, o uso do teste com inibidores tem seu valor limitado para os laboratórios de microbiologia em geral. Além desta limitação, os testes com inibidores, assim como o MHT, requer tempo prolongado para confirmação do resultado, o que prejudica a rápida liberação dos resultados e, consequentemente, a introdução de terapia adequada e a aplicação de medidas de controle de infecção. Dessa forma, testes alternativos que apresentem maior sensibilidade, especificidade e rapidez são necessários na prática laboratorial (Carmeli et al., 2010). Dentro deste cenário, uma nova metodologia revolucionou a microbiologia clínica pela sua rapidez e acurácia na identificação de patógenos, a espectrometria de massa. Porém, o teste de sensibilidade aos antimicrobianos ainda constitui uma limitação dessa técnica, e por isso, atualmente, a detecção de resistência em isolados bacterianos é um dos maiores desafios para a espectrometria de massa por MALDI-TOF MS (Kostrzewa et al., 2013). A maioria dos estudos da literatura se concentrou na detecção da hidrólise de compostos β-lactâmicos, especialmente os carbapenens (ANEXO 2), provavelmente devido a urgente demanda por testes rápidos e acurados para detecção de um dos mecanismos de resistência bacterianos mais temidos na prática clínica. Diferentemente dos ensaios acima propostos, este representa um ensaio funcional, baseado no monitoramento molecular da atividade enzimática das β-lactamases (Kostrzewa et al., 2013). O teste baseia-se na clivagem enzimática do anel β-lactâmico, caracterizada pela adição de uma molécula de H2O, resultando em um acréscimo de 18 Da no peso molecular do antimicrobiano. Entretanto, para alguns antimicrobianos o produto originado é instável e a reação química, após a hidrólise, se completa 124 Discussão com a perda de um grupo carboxila (CO2), resultando em um decréscimo de 44 Da no peso molecular do produto final do antimicrobiano. Esta mudança de massa pode ser facilmente monitorada pelo MALDI-TOF MS (Sparbier et al., 2012; Kostrzewa et al., 2013), como demonstrado na Figura 1 do Artigo Científico 1. Como toda reação química, o tempo necesário para ocorrer a hidrólise de qualquer antimicrobiano presente em uma solução depende: (i) da concentração inicial do antimicrobiano; (ii) da quantidade de enzima presente na amostra; e (iii) da velocidade de hidrólise da enzima em questão (kcat/Km). O pré-requisito desta reação é a presença da enzima com atividade hidrolítica sobre a molécula do antimicrobiano testado, outros mecanismos de resistência como alteração de porina ou efluxo não são detectados (Sparbier et al., 2012). Alguns pontos são críticos em relação a utlização desta técnica para a detecção de carbapenemases, e a falta de padronização entre os diversos estudos pode ser observada na Tabela 9 (ANEXO 2). O primeiro deles é o ajuste inicial do equipamento de MALDI-TOF MS, cujo software deve permitir a adequação da faixa de massa a ser analisada. A identificação de micro-organismos nestes equipamentos utiliza a faixa de massa entre 2 000 e 20 000 Da, sendo que a molécula dos antimicrobianos possuem peso molecular abaixo de 500 Da. A otimização do equipamento é necessária para obter resolução e sensibilidade suficiente na faixa de 0 a 1.000 Da. A calibração nesta faixa de massa com três ou mais massas conhecidas torna-se crítico para a máxima acurácia do teste (Sparbier et al., 2012). Em nosso estudo, três pontos foram utilizados para a calibração do equipamento, permitindo uma elevada acurácia dos espectros de massas observados. Em seu estudo, Sparbier e colaboradores (2012) monitoraram a mudança de massa de diferentes β-lactâmicos após incubação com cepas controles, caracterizadas como produtoras de ESL e KPC, além de controles negativos (E. coli DH5α e K. pneumoniae não produtora de KPC) (Sparbier et al., 2012). Neste estudo, os autores demonstraram as massas esperadas de 125 Discussão cada molécula de antimicrobiano testada (ampicilina, piperacilina, cefotaxima, ceftazidima, ertapenem, imipenem e meropenem), assim como de seus aditivos de cátions (Na + e K+) e respectivos produtos após reação de hidrólise e descarboxilação. Ao testar os carbapenens, os autores observaram diferentes comportamentos destes compostos em relação à adição de cátions, descarboxilação das moléculas após a hidrólise e visualização dos produtos da hidrólise. No momento da padronização de nosso ensaio de carbapenemase, os três compostos, ertapenem, imipenem e meropenem foram testados e diluídos em concentrações crescentes (Tris-HCl 20 mM), ajustando-se o pH para 6,8 (pH ideal para atividade das β-lactamases) (Artigo Científico 1). A análise do espectro do imipenem mostrou um pico de 300 Da, correspondente a sua massa molecular [M+H+]. Entretanto, não foram visualizadas adição de moléculas de cátions (Na+ ou K+) ou dos seus produtos de hidrólise esperados após a incubação com isolados produtores de carbapenemase (SPM-1 e KPC-2), apesar do pico de 300 Da ter claramente desaparecido. Da mesma maneira, quando testado o meropenem, apesar da visualização dos picos correspondentes a sua massa molecular ([M+H+], 384) e à adição de Na+ ([M+Na+], 406), não foram visualizados picos esperados correspondentes aos produtos da hidrólise após incubação com isolados produtores de KPC-2 e SPM-1. Porém os picos de 384 e 406 Da desapareceram. Outros autores apresentaram resultados semelhantes, com desaparecimento dos picos correspondentes às massas das moléculas intactas, porém sem visualização dos produtos de hidrólise para imipenem e meropenem (Sparbier et al., 2012; Hrábak et al., 2011; Knox et al., 2014). As possíveis explicações para este fenômeno são de que trata-se de produtos instáveis ou de difícil ionização (o que seria um pré-requisito para a técnica de MALDI-TOF MS), ou ainda que estes produtos poderiam se ligar às estruturas celulares e não estarem presentes no sobrenadante analisado pela técnica (Sparbier et al., 2012). Com o objetivo de melhorar a técnica, utilizando o ensaio com meropenem, Hrábak e colaboradores (2012) sugeriram modificações na solução de diluição do meropenem, 126 Discussão adicionando SDS a 0,01%, para evitar a aderência dos produtos às estruturas celulares. Segundo o estudo, com este ajuste foi possível a visualização dos picos correspondentes às moléculas de meropenem hidrolisada e descarboxilada adicionadas ou não a mol[eculas de sódio ([Mhidr./desc.+H+], 358 Da; [Mhidr./desc.+Na+], 380 Da) (Hrábak et al., 2012). A interpretação dos espectros de massas é o ponto mais crítico deste ensaio. Desta forma, a facilidade da clara visualização dos picos das moléculas de ertapenem ([M.+ H+], 476 Da) assim como seu aditivo de sódio ([M + Na+], 498 Da) e dos produtos de hidrólise correspondentes ([Mhidr.+H+], 494 Da; [Mhidr./desc.+ H+], 450 Da e [Mhidr./desc.+ Na+], 472 Da), fazem com que este carbapenem seja a molécula preferencial para ser testada contra isolados produtores de carbapenemases (K. pneumoniae produtora de KPC-2, P. aeruginosa produtora de SPM-1 e Acinetobacter spp. produtor de OXA-23) (Artigo Científico 1). O uso do ertapenem em um ensaio para detecção de carbapenemases em isolados de P. aeruginosa e Acinetobacter spp. poderia ser questionável, uma vez que este composto não tem atividade contra estes patógenos. Entretanto, a inatividade deste composto ocorre por impermeabilidade da membrana nestes dois patógenos, sendo que em P. aeruginosa é consequente à hiperexpressão de sistemas de efluxo e em Acinetobacter spp. pela redução do tamanho das porinas. O princípio da detecção de carbapenemase pelo MALDI-TOF MS está na capacidade das bactérias em modificar a molécula do ertapenem, o que somente ocorrerá na presença de uma carbapenemase. Porém, como as β-lactamases encontram-se no espaço periplasmático das bactérias Gram-negativas, o ertapenem precisa entrar na célula bacteriana para sofrer modificação, o que pode justificar o maior tempo necessário para a detecção de carbapenemases em isolados de Acinetobacter spp., onde o influxo pode ser mais lento (Artigo Científico 1; Kempf et al., 2012; Lee et al., 2013). Este fato associado à lenta capacidade hidrolítica das CHDL em geral, poderia explicar a demanda por um período de incubação mais prolongado para isolados de Acinetobacter spp (Artigo Científico 1; Queenan & Bush, 2007). 127 Discussão Em nosso estudo, o ensaio utilizando o ertapenem como substrato durante 2 horas de incubação, apresentou 100% de sensibilidade e especificidade para a detecção de carbapenemase em enterobactérias e P. aeruginosa produtoras de diferentes enzimas, inclusive as variantes de GES, para as quais resultados falso-negativos foram reportados com o teste CarbaNP (Tijet et al., 2013; Artigo Científico 1). Até o momento, todos os estudos que avaliaram a atividade de carbapenemase pela técninca de MALDI-TOF MS, utilizando o ertapenem como substrato, reportaram 100% de sensibilidade e especificidade (Burkhradt & Zimmermann, 2011; Sparbier et al., 2012; Hoyos-Mallecot et al., 2014; Lee et al., 2013; Vogne et al., 2014). Portanto, este parece ser um excelente substrato para a detecção de carbapenemases em enterobactérias e P. aeruginosa. Da mesma maneira, tais estudos utilizaram o mesmo critério para a interpretação dos resultados, ou seja, a ausência dos picos correspondentes à massa molecular do ertapenem e seus aditivos de cátion. Dessa forma, estes estudos, apesar de diferirem em relação à concentração do antimicrobiano (de 0,25 a 0,5 g/L, ou disco de 10 µg em 1 mL de solução), à solução utilizada (Tris-HCl 20 mM pH ajustado, NaCl 0,45% ou citrato de amônio) e ao tempo de incubação (de 1 a 12 horas), tornam-se comparáveis quanto aos critérios interpretativos. Tornando-os mais próximos de uma possível padronização inter-laboratorial do que aqueles que utilizaram como substrato o imipenem ou meropenem. Os estudos que utilizaram imipenem como substrato, além de variarem quanto à concentração do antimicrobiano (de 0,25 a 0,5 g/L), à solução utilizada (Tris-HCl 20 mM pH ajustado ou NaCl 0,45% ou citrato de amônio) ou ao tempo de incubação (de 1 a 4 horas), também diferiram quanto aos critérios de interpretação de positividade, possivelmente em consequência à dificuldade de visualização dos picos correspondentes às moléculas hidrolisadas, o que torna difícil a comparação entre os seus resultados (Sparbier et al., 2012; Kempf et al., 2012; Alvarez-Buylla et al., 2013; Sauget et al., 2014; Knox et al., 2014). Entretanto, a seleção deste substrato poderia trazer benefício para a detecção de CHDLs, especialmente em 128 Discussão isolados de Acinetobacter spp., uma vez que constitui-se no substrato preferencial destas enzimas (Queenan & Bush, 2007). Entre os cinco estudos que avaliaram isolados de Acinetobacter spp., apenas dois utilizaram imipenem como substrato (Kempf et al., 2012; Alvarez-Buylla et al., 2013). Kempf e colaboradores (2012) testaram 63 isolados de Acinetobacter spp. produtores de OXA-23 (n=57), OXA-24 (n=3) e coprodutores de OXA-23 e OXA-24 (n=3), alcançando 95% de sensibilidade após duas horas de incubação e 100% quando o período de incubaçao foi ampliado para 4 horas (Kempf et al., 2012). Da mesma forma, em nosso estudo, a incubação por quatro horas foi suficiente para detecção de todos os isolados de Acinetobacter spp. produtores de CHDLs (OXA23, OXA-24, OXA-143, OXA-25, OXA-26 e OXA-58) utilizando ertapenem como substrato. Porém, com duas horas de incubação, apenas 33% destes isolados teriam sido reconhecidos como produtores de carbapenemase. O mesmo período foi reportado por Lee e colaboradores (2013), em ensaio semelhante ao nosso (Lee et al., 2013). Já no estudo de Alvarez-Buylla e colaboradores (2013), os autores compararam diferentes soluções, inóculos bacterianos e concentrações de imipenem com objetivo de potencializar a reação e minimizar o tempo de detecção de isolados de Acinetobacter spp. produtores de IMP e diferentes CHDLs (AlvarezBuylla et al., 2013). A melhor combinação encontrada, segundo os autores, constituiu-se no conjunto de Tris-HCl ou NaCl, 1 g/L de imipenem e 1010 UFC/mL de inóculo bacteriano com uma hora de incubação. Nessas condições, os autores detectaram 100% dos isolados testados. Entretanto, diferentemente do critério utilizado por Kempf e colaboradores (2012) (desparecimento do pico 300 Da), Alvarez-Buylla e colaboradores (2013) utilizaram critérios mais subjetivos, como a redução significativa dos picos de 300 Da e 489 Da, sendo a massa de 489 Da correspondente à composição do imipenem com a matriz. Esta modificação no critério de positividade poderia explicar a diferença no tempo de detecção entre os dois estudos, uma vez 129 Discussão que no estudo de Alvarez-Buylla e colaboradores (2013) a hidrólise de todo conteúdo de imipenem pela amostra foi necessária para classificá-la como positiva. Entre os estudos que avaliaram a detecção da atividade de carbapenemase de isolados produtores de OXA-48, dois utilizaram o imipenem como substrato. Sauget e colaboradores (2014) detectaram 99% dos 92 isolados de enterobactérias produtoras de OXA-48, com 97% de especificidade, utilizando uma hora de incubação, e a razão entre as áreas dos picos do imipenem e de seu metabólito como critério de positividade (Sauget et al., 2014). Entretanto, este é o único estudo na literatura que reporta o pico de 254 Da como correspondente a um metabólito da hidrólise do imipenem. Knox e colaboradores (2014) também utilizaram o imipenem para detectar a produção de carbapenemases em enterobactérias, dentre as quais a OXA-48 (n=4). Naquele estudo, os autores compararam estes resultados com o teste CarbaNP (Knox et al., 2014). Os autores consideraram apenas o desaparecimento do pico de 300 Da, como critério de positividade. Todos os isolados produtores de OXA-48 foram detectados pela técnica de MALDI-TOF, enquanto que três destes não foram detectados pelo teste CarbaNP. O ensaio com meropenem foi utilizado apenas por dois estudos desenvolvidos pelo mesmo grupo de pesquisa (Hrábak et al., 2011; Hrábak et al., 2012). No segundo estudo, Hrábak e colaboradores (2012) realizaram modificações no ensaio, como diminuição do inóculo bacteriano testado, adição de SDS à solução tampão e redução no tempo de incubação de 3 para 2 horas. Estas modificações aprimoraram o desempenho do teste, resultando em 100% de sensibilidade e especificidade para detecção de carbapenemases em 110 isolados de enterobactérias e Acinetobacter spp. produtores de diferentes enzimas, incluindo OXA-48 (n=6) (Hrábak et al., 2011; Hrábak et al., 2012). Recentemente, Vogne e colaboradores (2014) mostraram excelente desempenho do MALDI-TOF MS quando comparado às metodologias fenotípicas, como MHT e Etest, e genotípicas, como os painéis comerciais Check MDR Carba e o Check MDR CT103 microarray 130 Discussão (Vogne et al., 2014). Além de ser o primeiro estudo a utilizar o equipamento VITEK MS para esta finalidade, foi também testado um disco de ertapenem de 10 µg, comumente utilizado pelos laboratórios de microbiologia, como fonte deste antimicrobiano, em uma solução de 1 mL de NaCl 0,45% em tubo de vidro. Os autores ainda relatam que a técnica de MALDI-TOF MS foi a única a alcançar 100% de sensibilidade e especificidade. Os painéis moleculares não detectaram dois isolados de Aeromomas spp. produdores da MβL cromossomal CphA (Vogne et al., 2014). Outro importante fator é o meio de cultura utilizado para o crescimento das colônias bacterianas, que pode resultar em variação no desempenho do teste. Em nosso primeiro estudo (dados não mostrados), inicialmente todas as colônias bacterianas haviam crescido em ágar MacConkey e testadas para o ensaio de carbapenemase no MALDI-TOF MS, sendo que apenas 35% dos isolados produtores de CHDLs haviam sido detectados. Entretanto, ao repetirmos os testes com colônias isoladas no ágar Müeller-Hinton, todas foram positivas (Artigo Científico 1). Baseados nesses dados, a influência de outros meios de cultura utilizados nos laboratórios de rotina poderiam influir no desempenho deste teste. Com o objetivo de esclarecer esta hipótese, no pôster apresentado no 54th ICAAC, em Washington - DC, avaliamos 64 isolados produtores de carbapenemase e 32 não produtores de carbapenemase, com crescimento em diferentes meios de cultura (ágar sangue, ágar MacConkey, ágar Müeller-Hinton e ágar cromogênico CPS) e observamos uma sensibilidade de 100% para todos os meios, exceto ágar MacConkey (81%) (Ramos et al., 2014). Apesar das grandes variações metodológicas entre os estudos que avaliaram a hidrólise dos carbapenens por carbapenemases, a detecção de carbapenemase por MALDI-TOF MS é bastante promissora, principalmente pela sua rapidez e acurácia em detectar diferentes enzimas. A rapidez do ensaio pode estar relacionada à enzima presente na amostra, como observado no estudo de Burkhardt & Zimmermann (2011), no qual diferentes tempos de positividade foram atribuídos para as enzimas IMP-2, KPC-2 e VIM-1 (1,5 horas) e VIM-2 (2,5 horas) (Burkhardt & 131 Discussão Zimmermann, 2011). Da mesma maneira, em nosso terceiro estudo, avaliamos a detecção de diferentes classes moleculares de carbapenemases (A, B e D), para a validação do equipamento VITEK MS, variando o tempo de detecção de 15 minutos, 30 minutos, 1 hora, 2 horas e 4 horas. Para esse estudo, utilizamos o software Saramis (v.4.1.2). A detecção da maioria das enzimas de classe A (63%) e B (56%) ocorreu em apenas 15 minutos, seguido de 95% (classe A) e 81% (classe B) em 1 hora, e finalmente 100% de todas as enzimas, incluindo as CHDLs, em 4 horas (Artigo Científico 3). A identificação de micro-organismos pela técnica de MALDI-TOF MS diretamente de amostras clínicas foi reportada por diversos autores, tanto de urina como de hemocultura. O maior desafio é a obtenção de quantidade suficiente do micro-organismo com menos interferentes, como proteínas humanas e células sanguíneas. Os protocolos utilizaram uma série de centrifugações e lavagens com este fim. Adicionalmente, a maioria dos autores preconizou o uso de uma solução de lise para melhorar a recuperação de micro-organismos, especialmente de patógenos intracelulares (Prod’hom et al., 2010; Stevenson et al., 2010; Martiny et al., 2012). As taxas de identificação correta de micro-organismos diretamente dos frascos de hemocultura variaram de 62% a 97% para os protocolos que utilizaram métodos “in house” com solução de lise (Tabela 1). Todos os estudos mostraram que a identificação de bactérias Gram positivas era inferior aquelas obtidas para bactérias Gram-negativas. Entretanto, as taxas obtidas por esses estudos foram determinadas após a exclusão de hemoculturas polimicrobianas e daquelas, cujo espectro de massa não foi obtido pela escassez de material para análise, demonstrando, portanto, um viés na análise dos resultados. No estudo realizado por Stevenson e colaboradores (2010) foram utilizadas diluições seriadas e foi reportado que ao menos 106 UFC/mL devem estar presentes na amostra para a obtenção de espectro de massa com score acima de 1,7 (Stevenson et al., 2010). Em nosso estudo, a contagem de células bacterianas foi realizada após a separação e limpeza do inóculo 132 Discussão do frasco de hemocultura. A contagem para isolados Gram-negativos variou de 107 a >108 UFC/mL, entretanto; porém, contagens de UFC inferiores foram observadas para isolados Gram positivos (105 a 107 UFC/mL) (dado não publicado). Esta diferença poderia explicar a melhor performance do método para a identificação de bactérias Gram-negativas diretamente dos frasco de hemocultura. O desempenho do MALDI-TOF MS em nosso estudo foi semelhante ao previamente reportado. O MALDI-TOF MS identificou corretamente 86% dos 110 isolados bacterianos recuperados de bacteremias, incluindo oito de 10 amostras polimicrobianas, onde o MALDI-TOF MS obteve a correta identificação de pelo menos um dos agentes presentes (Artigo Científico 2). Uma adaptação do protocolo de Stevenson e colaboradores (2010) foi realizada para a obtenção do inóculo bacteriano no nosso estudo, no qual o tubo contendo gel separador auxilia na separação das células sanguíneas, e as células dos micro-organismos permanecem em uma camada logo acima do gel separador, facilitando a sua recuperação e limpeza com apenas uma lavagem com água estéril. Este método é simples e rápido para ser implantado facilmente na rotina do laboratório de microbiologia. No estudo de Stevenson e colaboradores (2010), os autores obtiveram 80% de identificação correta, realizando cinco etapas de lavagem e centrifugação, em uma delas com adição de solução de lise (NH 4Cl, NAHCO3 e EDTA), além do uso do tubo com gel separador (Stevenson et al., 2010). Alguns estudos avaliaram o kit comercial Sepsityper® (Bruker Daltonics) para a extração do inóculo bacteriano dos frascos de hemocultura. Entretanto, além de honeroso, o mesmo apresentou desempenho similar ou inferior aos métodos desenvolvidos “in house” (68-94% de identificação correta) (Kok et al., 2011; Chen et al., 2013). Martiny e colaboradores (2012) demonstraram discreta melhora na identificação de bactérias Gram positivas quando o Sepsityper (73%) foi comparado ao método “in house” (62%), porém, este último foi muito 133 Discussão superior ao Sepsityper para identificação de bactérias Gram-negativas (90% versus 68%) (Martiny et al., 2012). A maioria dos estudos reportados na literatura comparou o desempenho do MALDI-TOF MS aos métodos automatizados rotineiramente utilizados nos laboratórios de microbiologia (VITEK 2 e PHOENIX). Entretanto, assim como o estudo aqui apresentado, quando resultados discordantes entre estas metodologias foram comparados com métodos moleculares considerados padrão-ouro para identificação de micro-organismos, o desempenho da espectrometria de massa foi superior ao dos sistemas automatizados rotineiramente empregados pelos laboratórios de rotina (Artigo Cientifico 2; Patel et al., 2013). Apesar de poucos estudos na literatura terem avaliado o impacto clínico da rápida intervenção na identificação de micro-organismos diretamente dos frascos de hemocultura, eles apresentaram muitas diferenças. Entre elas, diferentes end-points, inclusão de todas as hemoculturas positivas ou apenas aquelas com presença de bactérias Gram-negativas e a associação da intervenção ou não da equipe de infectologia após o resultado do MALDI-TOF MS (Huang et al., 2013). Os resultados destes estudos podem ainda ser altamente dependentes das taxas de resistência apresentadas por cada região geográfica. Em nossa instituição, a prevalência de enterobactérias produtoras de KPC é elevada, Durante o período de 01 de janeiro a 30 de setembro de 2014, foram recuperados 457 (6,8%) isolados de enterobactérias produtoras de KPC de um total de 6759 enterobactérias isoladas neste período, confirmados por biologia molecular, provenientes de 308 pacientes, dos quais 62 apresentaram ICS (dados não publicados). No Artigo Científico 2 propusemos a identificação do agente causador de ICS associada à detecção precoce de carbapenemase diretamente do frasco de hemocultura. Os objetivos desse estudo foram motivados pelo fato de que o reconhecimento da expressão de carbapenemase é fundamental para o manejo de infecções causadas por bactérias Gram-negativas resistentes aos carbapenens (Kanj & Kanafi, 2011) Além 134 Discussão disso, o atraso na adequação da terapia correlaciona-se com o aumento na mortalidade, mesmo quando o paciente é considerado estável em sua avaliação inicial (Tam et al., 2010). Utilizandose de um protocolo simples de extração do inóculo bacteriano a partir dos frascos de hemocultura, e incubação com ertapenem, todos os isolados produtores de KPC-2 e SPM-1 foram detectados após duas horas de incubação, totalizando três horas de ensaio até a liberação do resultado. Entretanto, isolados de Acinetobacter spp. produtores de CHDLs somente foram identificados quando testados a partir da colônia bacteriana. O teste apresentou 100% de especificidade (Artigo Científico 2). Recentemente, Hoyos-Mallecot e colaboradores (2014) avaliaram a detecção de carbapenemase a partir de frascos de hemocultura inoculados com cepas caracterizadas como produtoras e não produtoras de carbapenemases, entre elas IMP, VIM, KPC e OXA-48 (HoyosMallecot et al., 2014). Os autores observaram 100% de sensibilidade para as enzimas testadas, entretanto, em dois isolados, de E. cloacae e E. coli, para os quais os testes moleculares para enzimas acima foram negativos, o MALDI-TOF MS apresentou atividade de carbapenemase. Apesar dos autores considerarem estes como resultados falso-positivos, os mesmos deveriam terem sido confirmados por outra metodologia, preferencialmente por espectrofotometria, uma vez que a presença de outra carbapenemase não pode ser descartada. Recentemente, Oviaño e colaboradores (2014) realizaram um ensaio de detecção de ESβL e AmpC pelo MALDI-TOF MS inoculando 128 frascos de hemocultura (Oviaño et al., 2014). Os autores utilizaram ceftaxima e ceftazidima como substrasto e ácido clavulânico como inibidor para confirmar a presença de ESβL. O ensaio não foi capaz de detectar apenas um isolado produtor de CTX-M-14 e dois isolados produtores de CMY-2. Os isolados produtores de CMY-2 não apresentaram hidrólise no teste confirmatório através da espectrofotometria, e o isolado produtor de CTX-M-14 apresentou apenas uma fraca hidrólise utilizando-se cefotaxima. Neste caso, o ensaio de MALDI-TOF MS poderia ser realizado extendendo-se o tempo de 135 Discussão incubação com cefotaxima (apenas de uma hora) para detecção de isolados com menor taxa de hidrólise. No total, os autores observaram 99% de sensibilidade e 100% de especificidade para isolados produtores de ESβL, e 83% e 100% para isolados produtores de AmpC, respectivamente. A utilização da técnica de MALDI-TOF MS para a detecção diretamente dos frascos de hemocultura de isolados produtores de carbapenemase ou ESβL e AmpC, dependendo da epidemiologia local, traz rápidos resultados sem necessitar da execução de técnicas moleculares, que limitam o número de alvos. A técnica de MALDI-TOF MS tem a vantagem de ser capaz de detectar novas enzimas ou variantes, desde que apresentem o perfil hidrolítico estudado. Adicionalmente, quando apropriadamente transferida para a rotina laboratorial, caracteriza-se por um método simples e de baixa demanda. A presença de carbapenemases, ESβL ou AmpC são determinantes da escolha terapêutica em isolados de bactérias Gramnegativas, principlamente na presença de infecções graves, como infecção de corrente sanguínea. Entretanto, a realização do teste de sensibilidade para determinação da CIM, não apenas dos carbapenens como também de outros antimicrobianos que possam constituir-se em alternativas terapêuticas, ainda será necessária para a melhor adequação da terapia antimicrobiana prescrita e suas doses. Diante de todos estes fatores, a possibilidade de padronização e avaliação de um teste rápido, de fácil execução e capaz de detectar todos os representantes do grupo de carbapenemases diretamente de hemocultura, motivou a execução deste trabalho. Isso representa um grande potencial para a redução, a baixo custo, da mortalidade associada à infecção. A detecção de carbapenemases direto de colônias bacterianas ou mesmo diretamente de amostras clínicas, pode ser utilizada nos laboratórios de microbiologia clínica, onde a identificação de microorganismos por MALDI-TOF MS já estiver implantada, fato que é realidade na Europa e EUA, e está em crescente expansão na América Latina, inclusive no Brasil. O real impacto deste teste no 136 Discussão desfecho clínico do paciente, assim como no tempo de hospitalização e modificação da terapia antimicrobiana constituem nossos futuros projetos. 137 Conclusões 6. CONCLUSÕES 138 Conclusões A espectrometria de massa por MALDI-TOF MS, através do ensaio com ertapenem, demonstrou ser uma metodologia rápida e acurada para detecção de carbapenemase em bactérias Gram-negativas. Porém, a interpretação dos espectros requer ainda a expertise de profissionais treinados; A técnica de MALDI-TOF MS apresentou uma excelente sensibilidade e especificidade para a detecção de carbapenemases das classes moleculares A e B em duas horas. Já os isolados de Acinetobacter spp. requerem um período de incubação maior chegando a quatro horas; A sensibilidade do método pode variar de acordo com o meio de cultura utilizado, sendo o ágar MacConkey o que apresentou maior taxa de resultados falso-negativos e, portanto, não deve ser recomendado para o cultivo das amostras antes da realização dos experimentos de MALDI-TOF MS; A detecção da atividade de carbapenemase pode ser realizada diretamente do frasco positivo de hemocultura para enterobactérias e P. aeruginosa, porém, resultados negativos devem ser confirmados para os isolados de Acinetobacter spp. após o isolamento da colônia bacteriana. A metodologia de MALDI-TOF MS apresentou boa acurácia para identificação de bactérias diretamente dos frascos positivos de hemocultura. 139 Referências Bibliográficas 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 140 Referências Bibliográficas Abraham EP, Chain E. An enzyme from bacteria able to destroy penicillin. Nature. 1940;146:837. 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Rev Esp Quimioter. 2014; 27:87-92. 164 Anexos 8. ANEXOS 165 Anexos 8.1. Anexo 1. Cloverleaf test (modified Hodge test) for detecting carbapenemase production in Klebsiella pneumoniae: be aware of false positive results. Publicado em Fevereiro de 2010 no periódico Journal of Antimicrobial Chemotherapy - JAC, volume 65, número 2, páginas 249-251. 166 Anexo 1 1 Cloverleaf test (modified Hodge test) for detecting carbapenemase production in 2 Klebsiella pneumoniae: be aware of false positive results 3 4 Cecilia G. Carvalhaes1*, Renata C. Picão1, Adriana G. Nicoletti1, Danilo E. Xavier1 and Ana C. 5 Gales1. 6 7 1Laboratório Alerta, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Brazil. 8 9 Running title: False-positive carbapenemase detection in Klebsiella pneumoniae. 10 11 *Corresponding author. Mailing adrress: Laboratório ALERTA, Rua Pedro de Toledo, n°781, 12 6°andar, fundos. Vila Clementino, São Paulo-SP. CEP 04039-032. Phone: 55-11-5084-6538. 13 Fax: 55-11-5081-2965. E-mail: [email protected]. 167 Anexo 1 14 Abstract 15 Objectives: The aim of this study was to evaluate the presence of carbapenemases in a 16 Klebsiella pneumoniae collection and the performance of the modified Hodge test (MHT) to 17 correctly identify this phenotype. 18 Methods: Twenty-eight K. pneumoniae clinical isolates with reduced susceptibility to 19 carbapenems were evaluated. Antimicrobial susceptibility and molecular typing were performed 20 by agar dilution and PFGE, respectively. The MHT was performed using both standard and high 21 inoculum of test organisms. Imipenem hydrolysis was investigated by spectrophotometric assays 22 and carbapenemase-encoding genes were identified by PCR and amplicon sequencing. Porin 23 loss was investigated by both PCR and SDS-PAGE. 24 Results: Susceptibility rates for imipenem, meropenem and ertapenem were 93%, 57% and 25 11%, respectively. The PFGE analysis showed seven unrelated genotypes. By testing standard 26 inoculum and ertapenem or meropenem discs, 25% (n=7) and 21% (n=6) of the isolates were 27 classified as carbapenemase producers, respectively. When a higher inoculum was employed, 28 these rates increased to 54% (n=15) and 43% (n=12), respectively. No imipenem hydrolysis was 29 detected. PCRs identified blaCTX-M in 27 (96%) isolates, of which 2 isolates also carried blaGES-1. 30 SDS-PAGE and PCR assays revealed that all isolates had lost at least one outer membrane 31 protein, except for a single isolate that was found to express both OmpK35 and OmpK36. 32 Conclusions: False detection of carbapenemase production was observed by the MHT possibly 33 as a result of extended-spectrum β-lactamase (ESβL) production coupled with porin loss as 34 reported before. Clinical laboratories must be aware of this fact, especially in geographical areas 35 where ESβL-producing isolates are highly prevalent. 168 Anexo 1 36 Introduction 37 Infections due to Klebsiella pneumoniae have emerged as an important challenge in 38 healthcare settings. In Brazil, K. pneumoniae has been the fourth most frequent pathogen 39 isolated from bloodstream infections according to the SENTRY Antimicrobial Surveillance 40 Program.1 High rates of extended-spectrum β-lactamase (ESβL) production have been observed 41 in this species, making the carbapenems the main therapeutic option for treatment of serious 42 infections caused by such pathogens. Although the rates of resistance to carbapenems are low, 43 they have been increasing. The most common mechanism for carbapenem resistance in 44 Klebsiella spp. is the production of carbapenemases belonging to Ambler class A, especially K. 45 pneumoniae carbapenemase (KPC), or B, metallo-β-lactamases (MβLs) such as IMP and VIM 46 types. Production of ESβL and/or AmpC β-lactamases coupled with porin loss has also been 47 shown to be responsible for carbapenem resistance.2,3 48 The detection of KPC has become a real challenge for clinical laboratories since some 49 carbapenemase-producing Enterobacteriaceae may have carbapenem MICs that are elevated 50 but still within the susceptible category according to currently defined breakpoints. 4 To address 51 this challenge, in January 2009, the CLSI published a recommendation in which carbapenem- 52 susceptible Enterobacteriaceae with elevated MICs or reduced disc diffusion inhibition zones 53 should be tested for the production of carbapenemases. 4 For this purpose, the Cloverleaf test5 54 [modified Hodge test (MHT)] was suggested due to its acceptable sensitivity and specificity for 55 carbapenemase detection.4,5 To date, the BSAC and the European Committee on Antimicrobial 56 Susceptibility Testing (EUCAST) do not routinely recommend carbapenemase detection in 57 Enterobacteriaceae. 58 The aim of this study was to evaluate the presence of carbapenemase production in a K. 59 pneumoniae collection with reduced susceptibility to carbapenem, and the performance of the 60 MHT in correctly identifying the presence of such resistance determinants. 169 Anexo 1 61 Methods 62 Collection. In 2009, the Laboratório ALERTA, a research laboratory from the Universidade 63 Federal de São Paulo, received 28 K. pneumoniae clinical isolates with reduced susceptibility to 64 carbapenems. These isolates were recovered from eight hospitals located in three distinct 65 Brazilian regions. A PFGE assay was performed to study the genetic relatedness among these 66 isolates. 67 68 Antimicrobial susceptibility testing and MHT. Antimicrobial susceptibility testing was 69 performed using the CLSI agar dilution technique. Cefepime, ceftazidime, ertapenem, imipenem 70 and meropenem MICs were interpreted following the CLSI recommendations.4 All isolates fulfilled 71 the CLSI criterion for performing carbapenemase detection by the MHT. MHT was performed with 72 both a CLSI standard inoculum (three to five colonies) and a high inoculum (a full 1 µL loop) of 73 test organisms. Results were interpreted by two blinded observers. 74 75 β-Lactamase detection. Investigation of carbapenemase activity in crude extracts was 76 performed by UV spectrophotometric assays. Briefly, a full 10 mL loop of the test organism was 77 inoculated into 500 mL of 100 mM phosphate buffer (pH 7.0) and disrupted by sonication. The 78 cells were removed by centrifugation and the supernatants were used for further experiments. 79 Protein quantification in crude extracts was performed using the Bradford stain, and the results 80 were used to normalize the volume to be tested for each isolate. The hydrolytic activity of crude 81 extracts was determined against 100 mM imipenem in 100 mM phosphate buffer (pH 7.0), and 82 measurements were carried out at a wavelength of 297 nm. Positive controls included SPM-1- 83 producing Pseudomonas aeruginosa and GES-5-producing P. aeruginosa for high- and low-level 84 hydrolysis, respectively. CTX-M-2-producing P. aeruginosa was included as a negative control.6 85 PCRs targeting genes encoding CTX-M, GES, KPC, plasmid-mediated AmpCs, MBL and OXA- 170 Anexo 1 86 type carbapenemases were performed using primers described previously.6,7 For direct DNA 87 sequencing, PCR productswere purified using PCR purification columns (Qiagen, Hilden, 88 Germany). Sequencing reactions were performed using the Big Dye Terminator v3.1/1.1 cycle 89 sequencing kit (Applied Biosystems, Foster City, CA, USA) and an automated ABI 3130 90 sequencer (Applied Biosystems). The nucleotide and deduced protein sequences were analysed 91 with software available at the National Center for Biotechnology Information website 92 (http://www.ncbi.nlm.nih.gov). 93 94 Outer membrane proteins.The presence of outer membrane proteins (OMPs) was analysed by 95 SDS-PAGE as previously described.8 Altered OmpK35- and OmpK36-encoding genes were 96 investigated by PCR.7 171 Anexo 1 97 Results 98 Twenty-eight K. pneumoniae clinical isolates were investigated. None of these isolates 99 was susceptible to cefepime but 7% were susceptible to ceftazidime. Susceptibility rates for 100 imipenem, meropenem and ertapenem were 93%, 57% and 11%, respectively. MIC50/MIC90 101 values (mg/L) were as follows: cefepime, 128/.256; ceftazidime, 32/128; ertapenem, 16/64; 102 imipenem, 2/4; and meropenem, 4/16. PFGE, interpreted according to Tenover et al.,9 showed 103 seven unrelated genotypes. By testing standard inoculums and ertapenem or meropenem discs, 104 25% (n=7) and 21% (n=6) of the isolates were classified as carbapenemase producers, 105 respectively. When a higher inoculum was employed, these rates increased to 54% (n=15) and 106 43% (n=12), respectively. Carbapenemase production by MHT was detected among K. 107 pneumoniae isolates belonging to distinct genotypes. No imipenem hydrolysis was detected 108 among the isolates classified as carbapenemase producers by the MHT. PCRs targeting genes 109 encoding KPC, plasmid-mediated AmpCs, MBL and OXA-type carbapenemases did not show 110 any amplicons. blaCTX-M was detected in 27 (96%) isolates, in which 24 (89%) were blaCTX-M-2, 2 111 (7%) were blaCTX-M-15 and 1 (4%) was blaCTX-M-59. Two blaCTX-M-2-positive isolates also carried 112 blaGES-1. Both OmpK35 and OmpK36 were expressed in a single isolate (Kpn 27) according to the 113 SDS-PAGE results. Interestingly the MICs of imipenem, meropenem and ertapenem for this 114 isolate were ≤ 0.12 mg/L, ≤ 0.12 mg/L and 2 mg/L, respectively. Five isolates (18%) presented 115 two bands, probably corresponding to OmpA and either OmpK35 or OmpK36. Finally, 22 isolates 116 (79%) presented one single band, probably corresponding to OmpA, suggesting that they have 117 lost both porins. These findings were corroborated by PCR analysis of OMP-encoding genes, in 118 which 24 isolates (86%) presented altered amplicons of at least one OMP-encoding gene, being 119 either the lack of amplification or enhanced amplicon size. 172 Anexo 1 120 Discussion 121 In this study, we have observed the occurrence of false detection of carbapenemase 122 production by the MHT among isolates in which carbapenem reduced susceptibility or resistance 123 was detected. Therefore, a false positive MHT probably results from low-level carbapenem 124 hydrolysis by ESβLs, particularly those of the CTX-M type.10 This hypothesis is strengthened by 125 the fact that the frequency of false positive results was directly related to the inoculum tested. 11 126 Our results corroborated with those observed by Doumith et al.3 in which carbapenem resistance 127 due to ESβL production coupled with porin loss was reported. 128 When testing true carbapenemase producers, Escherichia coli ATCC 25922 usually 129 grows better within the carbapenem disc inhibition zones. For this reason, we thought that the 130 true production of carbapenemase could be discriminated by looking at the growth size produced 131 in the MHT. However, we have observed that KPC-producing K. pneumoniae isolates might also 132 show a weak positive result on MHT, as shown in Figure 1. 133 Clinical laboratories must be aware that false positive results may occur, especially in 134 geographical areas where ESβL-producing isolates are prevalent. Currently, a new study is being 135 carried out to determine the frequency of false detection of carbapenemase production in 136 Enterobacteriaceae by the MHT in the clinical microbiology routine setting. 173 Anexo 1 137 Funding 138 The study was carried out as part of our routine work. A. C. G. is a researcher from the National 139 Council for Scientific and Technological Development (CNPq), Ministry of Science and 140 Technology, Brazil (307714/2006-3). 141 142 Transparency declarations 143 None to declare. 174 Anexo 1 144 References 145 1. Andrade S, Sader HS, Barth A et al. 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Estudos da literatura que avaliaram a detecção de carbapenemases pela ténica de MALDI-TOF MS. Tempo de incubação Matriz Equipamento Calibração Range de massa Critério de Positividade Resultados (Sens/Esp) Ertapenem 0,5 g/L 2,5 horas HCCA Microflex LT HCCA 438-530 Δ 476, 498 e 521 Da 100%/100% - Meropenem 0,1 mM 3 horas DHB Microflex LT ? 375-475 Δ 383 ou 405 Da 97%/98% APBA Ertapenem, 0,5 g/L; Imipenem, 0,5 g/L; Meropenem, 0,5 g/L Microflex LT HCCA; Bradicinina (15) e Bradicinina (17) 100 1000 Picos M/ Picos Mh; R, I, S 100%/100% Estudo Bactérias N Enzimas Meio de cultura Inóculo Solução Inibidores Burkhardt & Zimmermann, 2011 Enterobactérias e P. aeruginosa; cepas controles 87 NDM, IMP, KPC, VIM, nãocarbapenemases ágar sangue alça 10 µL 1 mL 0,45% NaCl - Hrábak et al., 2011 Enterobactérias e P. aeruginosa; cepas controles 124 NDM, IMP, KPC, VIM, nãocarbapenemases ágar MH sç adicional McFarland 8 50 µL 20 mM Tris-HCl pH 6,8 Sparbier et al., 2012 Enterobactérias; cepas controles 3 KPN, 6 E. coli alça 1 µL Citrato de amônio 10 mM pH 7,0 Kempf et al., 2012 Acinetobacter spp.,Enterobactérias, P. aeruginosa (cepas controles) ágar sangue 3 horas HCCA 149 OXA-23; OXA-24; OXA-23 e 24 ágar sangue alça 10 µL 1 mL 0,45% NaCl - Imipenemcilastatina 0,25 - 2 g/L 4 horas HCCA Ultraflex Imipenem 0 - 1000 Δ 300 e aumenta 254 Da Sensibilidade 95% em 2 horas 100% em 4 horas; Especificidade 100% ágar MH alça 10 µL 1 mL 20 mM Tris-HCl pH 6,8 - Ertapenem 0,12 - 0,5 g/L 2 e 4 horas HCCA Microflex LT HCCA; e Bradicinina (17) 400-600 Δ 476 e 498 Da 100% Classe A e B em 2 horas; CHDL em 4 horas ágar MH sç adicional McFarland 3 50 µL 20 mM Tris-HCl pH 7,0 + 0,01% SDS - Meropenem 0,1 mM 2 horas DHB Microflex LT Meropenem 350-480 Δ 383 ou 405 Da; e presença 358 e 380 100%/100% ? 50 µL 20 mM Tris-HCl pH 7,0 + 0,01% SDS Microflex LT HCCA; Bradicinina (15) e Bradicinina (17) 100 1000 Δ 476, 498 e 521 Da 100%/100% alça 1 µL 20 e 50 µL 20 mM Tris-HCl pH 7,0; ou 0,45% NaCl ? Δ 476, 498 e 521 Da 20 µL Tris-HCL 100% Classe A e B em 2 horas; e 100% CHDL em 4 horas Carvalhaes et al., 2012 Acinetobacter spp., P. aeruginosa, Enterobactérias (cepas controles) 61 OXA-23; OXA-23 e 143; OXA-24 e 143; OXA-25; OXA-26; OXA-58; IMP-1; IMP10; GES-5; SPM-1; VIM-1; GIM-1; KPC2; NDM-1 Hrábak et al., 2012 Enterobactéria e Acinetobacter spp. 145 NDM-1, KPC 2 e 3, VIM-1, OXA-48 e OXA-162 Hoyos-Mallecot et al., 2013 Enterobactérias e P. aeruginosa; cepas controles Lee et al., 2013 Acinetobacter spp., P. aeruginosa, Enterobactérias (cepas controles) 63 IMP, VIM, KPC 101 IMP, SIM, VIM, OXA23, NDM, KPC, ISAba1-OXA-51 ágar MH ágar MH EDTA Ertapenem 0,25 g/L 4 horas - Ertapenem 0,5 g/L 2, 4, 6 e 12 horas HCCA HCCA Microflex LT HCCA 178 Anexo 2 Alvarez-Buylla et al., 2013 Acinetobacter spp. 70 IMP, OXA-23, OXA24, OXA-58, ISAba1OXA-51 ? 109-1010 UFC/mL 0,45% NaCl; ou 20 mM Tris-HCl pH 7,0; ou Citrato de amônio 10 mM pH 7,0; todos ± SDS Sauget et al., 2014 Enterobactérias 372 OXA-48 ágar MH alça 10 µL 1 mL 0,45% NaCl - Imipenemcilastatina 0,25 g/L 1 hora HCCA Microflex LT HCCA 200-500 Razão das áreas M/Mh; positivo ≤ 0,46 99% / 97% Vogne et al., 2014 Acinetobacter spp., P. aeruginosa, Enterobactérias (cepas controles) 47 KPC, VIM,NDM, OXA-48 ágar sangue McFarland 7 1 mL 0,45% NaCl (tubo de vidro) - Disco ertapenem 10 µg 1 hora HCCA Microflex LT ? 400-600 Δ 476 e 498; e presença do 478, 496 100%/100% Knox et al., 2014 Enterobactérias 105 KPC, NDM, IMP, VIM,OXA-48 ágar sangue alça 1 µL 100 µl 0,45% NaCl - Imipenem 0,25 g/L 4 horas HCCA Vitek MS Imipenem 200-700 Δ 300 Da; AUC 300 < 5% AUC controle 87%/100% 8 mL Tubo gel separador, H2O estéril - Ertapenem 0,5 g/L Microflex LT HCCA; e Bradicinina (17) 400-600 Δ 476 e 498 Da D1: 100% classe A e B em 4 horas, D2: 100% CHDL em 4 horas 8 mL 4 passos de centrifugação e lavagem com H2O estéril - Ertapenem 0,25 g/L Microflex LT HCCA; Bradicinina (15) e Bradicinina (17) 100 1000 Δ 476, 498 e 521 Da 100%/95% KPC-2, OXA-23, OXA-72, SPM-1 Carvalhaes et al., 2014 Frascos positivos de HMC Hoyos-Mallecot et al., 2014 Frascos de HMC inoculados com cepas controles 100 39 - IMP, VIM, KPC, OXA-48 - DPA Imipenemcilastatina 0,25 - 5 g/L 1 hora HCCA 2 e 4 horas 4 horas HCCA HCCA Microflex LT HCCA; Bradicinina (15) e Bradicinina (17) 100 1000 Redução significativa dos picos 300 e 489 Da Melhor: Tris-HCl ou NaCl sem SDS; 1g/L imipenem/ inóculo 1010 UFC/mL; 1 hora de incubação 179
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