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Revista Científica ISSN 2179 6513 AMAZÔNIC A Faculdades Integradas do Tapajós Ano 3 Nº 5 Revista Científica ISSN 2179 6513 AMAZÔNIC A Faculdades Integradas do Tapajós Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 Conselho Mantenedor Paulo Roberto Carvalho Batista Presidente Antônio de Carvalho Vaz Pereira Vice-Presidente Ana Paula Salomão Mufarrej Edson Raymundo Pinheiro de Sousa Franco Etiane Maria Borges Arruda Marlene Coeli Vianna Direção Geral da FIT Helvio Moreira Arruda Direção Financeira William José Pereira Coelho Direção do Centro de Estudos Sociais Aplicados Ana Campos da Silva Calderaro Direção do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde José Almir Moraes da Rocha Editor Responsável (Coordenação de TCC e Pesquisa) Gabriel Geller Conselho Editorial Helvio Moreira Arruda Ana Campos da Silva Calderaro José Almir Moraes da Rocha Gabriel Geller Concepção gráfica Publicittá Agência de Comunicação da FIT Profª Thais Helena Medeiros Capa Lígia Augusta Aluna-estagiária do Curso de Publicidade e Propaganda da FIT Foto da capa Arquivo THM Diagramação Thais Helena Medeiros Impressão: Gráfica Global Perspectiva Amazônica: Revista de Publicação Acadêmica da FIT. Ano III. Vol. 05 (Janeiro 2013) Santarém. Pará: Faculdades Integradas do Tapajós. 2013. 129p. Semestral ISSN 2179-6513 Estudos Multidisciplinares relacionados à Amazônia Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 “Contribuir para o entendimento aprofundado das questões amazônicas nos diversos campos do conhecimento mediante a divulgação de produção científica local que possa subsidiar as atividades acadêmicas e práticas tendo em vista o estudo da Amazônia para o progresso da humanidade e o aumento da qualidade de vida da população Amazônica”. Escopo e Foco A revista Perspectiva Amazônica publica trabalhos teóricos e teórico-empíricos nas seguintes modalidades: artigo original, artigo de revisão, resenha, relato de caso e ensaio, em qualquer área do conhecimento e preferencialmente que tenham relação com a região Amazônica. Público alvo O público-alvo é constituído principalmente de profissionais e estudantes da academia amazônica e brasileira, e, paralelamente, de todas as pessoas interessadas nas questões da Amazônia nos diversos campos do conhecimento. Requisitos Os artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios submetidos à apreciação da revista “Perspectiva Amazônica” devem ser inéditos, nacional e internacionalmente, não estando sob consideração para publicação em nenhum outro veículo de divulgação. Trabalhos publicados ou em consideração para publicação em anais de congressos podem ser considerados pelo Conselho Editorial e pelos Avaliadores, desde que estejam em forma final de artigo. Os artigos e documentos podem ser redigidos em língua portuguesa, inglesa ou espanhola. Para serem publicados, os trabalhos deverão adequar-se às normas para publicação da revista e serem aprovados pelos Avaliadores. PERSPECTIVA AMAZÔNICA Missão Revista Perspectiva Amazônica EDITORIAL Ano 3 N° 5 A Revista Perspectiva Amazônica chega à sua quinta edição de cara nova! A reformulação na identidade visual da publicação demonstra a busca pelo aprimoramento constante e desenvolvimento deste projeto, que teve seu primeiro número em 2011 e que, consolidado e recebendo cada vez mais artigos, contribuirá com maior força para a cultura científica em nossa região. Neste número há ainda outras novidades. As grandes áreas de conhecimento estão agora indicadas no sumário, para facilitar a busca do leitor diretamente pelos artigos que contemplam seus temas de interesse. Além disso, a parceria com o Simpósio de Informática e Geotecnologia de Santarém - SIGES, evento interinstitucional que em 2012 foi realizado nas Faculdades Integradas do Tapajós, proporcionou a publicação nesta edição dos três artigos mais bem avaliados no evento. É neste espírito de inovação e aperfeiçoamento que iniciamos o ano de 2013, o terceiro ano da Revista Perspectiva Amazônica, confiantes de que estamos no caminho certo para o desenvolvimento da educação superior em Santarém e no Tapajós. Gabriel Geller Editor Geral da Revista Perspectiva Amazônica Coordenador de TCC e Pesquisa da FIT Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 · · · · · · · · · · · · · · · · · · Alexandre Rodrigo Batista de Oliveira, FIT/UEPA, Mestre, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) Ana Karine Albuquerque de Alves Brito, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Edivaldo da Silva Bernardo, FIT, Doutor, 80000002. Linguística, Letras e Artes Francisco Edson Sousa de Oliveira, FIT, Doutor, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Gabriel Geller, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Hipócrates Menezes Chalkidis, FIT, Mestre, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) José Almir Moraes da Rocha FIT/UEPA/UFOPA,Doutor, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) José de Lima Pereira, FIT, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Lidiane Nascimento Leão, UFOPA, Mestre, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Mara Rejane Miranda de Almeida,FIT, Mestre, 80000002. Linguística, Letras e Artes Maria Irene Escher Boger, FIT, Doutora, 60000007. Ciências Sociais Aplicadas; 70000000. Ciências Humanas; 80000002. Linguística, Letras e Artes; 90000005. Multidisciplinar (Sociais e Humanidades) Marla T. Barbosa Geller, CEULS/ULBRA , Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da Terra (Computação); 30000009. Engenharias Martinho Leite, FIT, Mestre, 10000003. Ciências Exatas e da Terra (Computação); 30000009. Engenharia Maura Cristiane e Silva Figueira, FIT, Mestre, 40400000. Enfermagem Raimunda Nonata Monteiro, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias; 60000007. Ciências Sociais Aplicadas Robinson Severo, UFOPA, Doutor, 50000004. Ciências Agrárias Rodrigo Tenório Padilha, FIT, Mestre, 50500007. Medicina Veterinária Rubens de Oliveira Martins, Ministério da Ciência e Tecnologia, Doutor, 7000000. Ciências Humanas Síria Lissandra de Barcelos Ribeiro, FIT, Doutora, 20000006. Ciências Biológicas; 40000001. Ciências da Saúde; 90000005. Multidisciplinar (Ensino de Ciências) O Abstract, a revisão linguística e a ortográfica são de responsabilidade dos autores. Os artigos publicados não expressam necessariamente a opinião da FIT. AVALIADORES · Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 SUMÁRIO ciências humanas e sociais aplicadas RACIONALIDADE TECNOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA CRÍTICA FRANKFURTIANA Ivair da Silva Costa DURKHEIM & PARETO: REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL É DERIVAÇÃO RESIDUAL PARETIANA Thais Helena Medeiros ENSAIO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS PLANTAS POTENCIALMENTE MEDICINAIS ORIUNDAS DA FLORESTA AMAZÔNICA NA COMPOSIÇÃO DE MEDICAMENTOS PROCESSADOS PELA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Helvio Moreira Arruda AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INTERNET EM SANTARÉM, ESTADO DO PARÁ E OS PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CONSTANTES INTERRUPÇÕES E A BAIXA VELOCIDADE DAS CONEXÕES DOS PROVEDORES EM 2012 José de Lima Pereira 9 19 32 46 ciências biológicas e da saúde PARTICIPAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ORIENTAÇÃO DO AUTOCUIDADO PARA PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES NA HANSENÍASE 67 Jéssika Larissa de Assis Araújo; Lília Silva de Almeida; Rodrigo Luis Ferreira da Silva ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA LEPTOSPIROSE NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA, NO PERÍODO DE 2001 A 2010 Adjanny Estela Santos de Souza, Danna Cristine Tavares Queiroz, Keila Monteiro Marinho, André Sousa de Siqueira INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS LABORATÓRIOS DE REFERÊNCIA NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2009 A JUNHO DE 2011 Karina Angélica Alvarenga Ribeiro; Rosália da Conceição Moura; Sheza Mayara dos Santos Oliveira 78 86 edição especial: SIGES 2012/ TECNOLOGIA REPRESENTAÇÃO SEMÂNTICA DE CONHECIMENTO NO SETOR DA CONSTRUÇÃO Ruben Costa, Paulo Figueiras, Pedro Maló, Celson Lima ARQUITETURA EM CAMADAS: REUTILIZAÇÃO E ADAPTAÇÃO DE COMPONENTES DE SOFTWARE NO DESENVOLVIMENTO DE UM SISTEMA PARA GERENCIAR ATIVOS DE REDE Luciano Parintins Viana, Rafael Brelaz, Antônio Fabrício Guimarães de Sousa, Amanda Monteiro Sizo Lino USO DA PLATAFORMA ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA PESQUISAS DE DADOS ATMOSFÉRICOS NA AMAZÔNIA Adyson S. Moreira, Adelson M. Portela, Rodrigo Silva NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 97 109 119 127 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 RACIONALIDADE TECNOLÓGICA E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA CRÍTICA FRANKFURTIANA Ivair da Silva Costa¹ RESUMO Este artigo enfoca temas atuais referentes a questões que envolvem o debate sobre racionalidade tecnológica e sustentabilidade na Amazônia. O objetivo fundamental é mostrar as várias faces desse debate nas diversas esferas sociais, onde envolve temas como defesa da ecologia e ação política, e apontar as implicações dessas questões na realidade amazônica. Como pano de fundo para o debate buscou-se apoio em filósofos críticos da sociedade tecnológica que analisam os efeitos decorrentes do avanço da sociedade burguesa e em Enrique Leff, teórico latino-americano, que propõe uma “cultura ecológica”, conjunto de ações que visa a equidade e promove o despertar da consciência política em oposição à passividade diante da realidade social motivada pela racionalidade ideológica da sociedade contemporânea. Na Amazônia, situações de degradação ambiental e descaso pela vida aparecem como resultados do encontro entre o desenvolvimento tecnológico de grandes projetos capitalistas e o modo de ser e de viver das populações da região que por eles são afetados. Palavras-chave: Amazônia – racionalidade tecnológica – cultura ecológica ABSTRACT This article focuses on current topics related to issues surrounding the debate over technological rationality and sustainability in the Amazon. The fundamental objective is to show the many faces of this debate in different social spheres, which involves issues such as defense of ecology and political action, and point out the implications of these issues actually Amazon. As background to the debate sought to support philosophers critics of technological society that analyze the effects of advancing bourgeois society and E. Leff, theoretical latin american, which proposes an "ecological culture" set of actions aimed at promoting equity and the awakening of political consciousness as opposed to passivity in the face of social reality motivated by ideological rationality of contemporary society. In the Amazon, situations of environmental degradation and disregard for life appear as results of the meeting between the technological development of large projects and the capitalist mode of being and living of the people of the region who are affected by them. Key words: Amazon – technological rationality – ecological culture ¹ Licenciado em filosofia, doutor em Teologia pela PUC/SP, professor de ética, filosofia e ciência política na FIT, IESPES, IFPA e IFITESP. 9 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 I. Introdução 10 É comum na história da humanidade discussões em torno do confronto entre racionalidade tecnológica e sustentabilidade. Na Amazônia, essas questões saltam à reflexão por meio do paradoxo desenvolvimento x preservação ambiental, onde temas envolventes como: defesa da ecologia, valores culturais, ação política alcançam relevada importância, merecendo, por isso mesmo, maiores considerações. Para PIKAZA (1999),desde tempos remotos, o ser humano tem se esforçado em construir um mundo que seja ordenado razoavelmente e que expresse um sentido, embora tal esforço, às vezes, tenha privilegiado uma caminhada que não leva em conta as alterações substanciais causadas pelo domínio da técnica sobre a natureza. De fato, o homem da técnica (homo faber), com sua capacidade produtiva e transformadora é ameaça à natureza. Suas ações alteram a normalidade dos complexos sociais, assim como alguns ecossistemas que são gravemente atingidos e modificados devido aos impactos provocados pela ação antrópica, quase sempre destruidora. A realidade sui generis da Amazônia despertou um olhar crítico e esta ação antrópica alavancada pela técnica começou a ser vista como um impulso infinito diante das espécies, cujo êxito é obter o domínio máximo sobre a natureza e sobre os próprios homens. Isso fez surgir também uma consciência política e ética mais esclarecida na população amazônida, sobretudo quando se analisa a relação do homem com o ambiente natural o que envolve o modo cultural de ser e as ações projetadas para a região, em que são destacadas as ações políticas. Dentro desta constatação, o presente texto procura analisar, no primeiro item, como as questões que envolvem política e cultura foram absorvidas nas discussões mundiais sobre desenvolvimento e sustentabilidade e sua correlação com o que ocorreu na Amazônia. Tal despertar favoreceu a inclusão dos temas projetos desenvolvimentistas e defesa da ecologia na região, devido a especificidade deles no contexto amazônico atual. No segundo item, procura-se aprofundar o tema da racionalidade tecnológica sob a ótica da escola frankfurtiana e como ocorreu sua operatividade na realidade concreta da Amazônia, para perceber as conseqüências práticas ocorridas na cultural local e a urgência em resgatar e incluir nas discussões o tema da ética. O terceiro item analisa o quadro geral das questões e retoma a proposta de E. Leff que aponta uma sustentabilidade em que são conjugados ação política e pressupostos éticos que aparecem na própria realidade cultural e onde devem ser buscados. Busca-se, dessa forma, resgatar esses valores ecológicos e éticos engendrados no próprio conceito de desenvolvimento sustentável a ser assumido pelos projetos político-econômicos e pela população em geral. Ao longo das discussões, percebeu-se que a região está amazônica envolvida por um debate acirrado entre aqueles que operam a defesa de projetos Revista Perspectiva Amazônica desenvolvimentistas e os que são contra, o que demonstra o real dilema imposto pelo projeto da racionalidade tecnológica que não deixa transparecer suas reais pretensões, mas somente as conseqüências de suas ações. Ano 3 N° 5 p.9-18 II. Poder político e debate cultural na amazônia Como era previsto no campo teórico, a discussão acerca da relação entre ciência, técnica e meio ambiente leva normalmente ao tema da cultura. Na visão de KRISCHKE (2000), os grandes encontros mundiais sobre o desenvolvimento e as formas de preservação da natureza, ao se pronunciarem sobre a realidade ambiental, demonstraram a íntima relação entre as políticas desenvolvimentistas dos governos em relação aos recursos naturais e os efeitos delas nos processos culturais vividos, manifestados e cultivados pelas populações. Realizados tanto em nível mundial quanto em níveis regionais, os encontros se tornaram, na verdade, espaços nos quais as discussões sobre os problemas ecológicos, tão concretos e urgentes, se transformaram em debate político-cultural. Por quê? Qual a razão de tudo isso? Segundo Krischke, uma das razões é a controvérsia entre opositores e defensores de projetos que pretendem oferecer soluções concretas, corretivos práticos, prazos para intervenções ou modelos de planejamento e perspectivas para o futuro. Essas disputas assumem um caráter político-cultural porque partem de diferentes pontos de vistas que conduzem a diferentes prognósticos da realidade ecológica. De fato, as querelas, muitas vezes, resultaram, por parte dos economistas representantes do poder hegemônico que está atuando, na taxação de “catastrofistas” aos prognósticos dos movimentos ecologistas e aos políticos que estudam o assunto. Observa-se, nessas críticas, a defesa de uma posição materialista e individualista, indiferente aos problemas coletivos da humanidade (KRISCHKE, 2000). Na realidade amazônica atual o acirramento dessas discussões provoca divisão de opiniões que resulta, em alguns casos, em situações trágicas, como perseguição, morte, conspirações, difamações, manifestações populares, reivindicações das populações minoritárias mais carentes, processos judiciais que se arrastam por décadas sem solução, envolvendo pessoas, grupos organizados da sociedade e grandes projetos político-econômicos. Além disso, permanece, no fundo, uma contenda que repete o dilema mundial em nível regional, ao suscitar questionamentos sobre o tipo de desenvolvimento que se deseja alcançar; quais os meios para realizá-lo e quais as perdas necessárias para sua aplicação prática. Com isso já se percebe que as questões regionais ultrapassam a própria fronteira amazônica e que os dilemas mundiais acabam respingando nessa que é considerada uma das últimas reservas mundiais de riqueza útil para a humanidade. Ademais, a cultura do amazônida acaba envolvida por esses dilemas que quase sempre a impossibilitam de situar-se em sua subjetividade e posicionar-se de forma racional 11 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 acerca das investidas tecno-científicas que caminham quase sempre acompanhadas pelas promessas falsas e soluções paliativas aos agudos problemas sociais da população. Para David BELL (2000), este debate polêmico pode ser resfriado quando o estilo de sustentabilidade for proposto tendo como identificação principal o tipo de mudança cultural. Segundo ele, três aspectos devem ser levados em conta: compreender a dinâmica da mudança de valores ou transformação cultural; compreender a “cultura da sustentabilidade”; experimentar formas para promover a mudança cultural, no sentido da sustentabilidade. David Bell se apóia em dois significados do termo cultura (double entendre): um como substantivo e outro como verbo. Como substantivo refere-se, no cotidiano, às artes e à literatura; nas ciências sociais tem sentido mais amplo, pois diz respeito também aos modos de ação da sociedade. Baseia-se ele na definição de cultura adotada na Conferência Mundial sobre política cultural, realizada no México, em 1985: [A cultura] é o conjunto de traços distintivos, espirituais e materiais, intelectuais e emocionais, que caracterizam uma sociedade ou grupo social. Inclui, além das artes e da literatura, modos de vida, direitos humanos, sistemas de valores, crenças e tradições (BELL, 2000). Como verbo, a cultura tem sentido muito diferente, particularmente na Biologia - onde se fala na “cultura” (ou cultivo) de um microorganismo, proporcionando-lhe um meio adequado e condições de crescimento e reprodução. Acentua ainda, David Bell, que a cultura da sustentabilidade tem como dupla tarefa promover a aplicação das práticas e princípios da sustentabilidade e apoiar a preparação de um medium cultural favorável, para garantir o sucesso desta tarefa. Além disso, são envolvidos no conceito cultura elementos como: valores, crenças e atitudes dos indivíduos acerca da política; símbolos que catalisam sentimentos e crenças sobre a política e a ação política; conhecimentos e percepções politicamente relevantes, inclusive percepções de experiências históricas e noções de identidade; e ideologias como agregações de valores e crenças que mantém coerência e coesão à identidade interna. Ao tratar de questões ecológicas na Amazônia e, sobretudo quando se envolve temas como desenvolvimento sustentável, não deveria ser levado em conta tais proposições? Segundo a Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento das nações Unidas, no relatório intitulado: Nosso Futuro Comum, desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades da presente geração sem comprometer a capacidade de as futuras gerações satisfazerem as suas próprias necessidades” (BELL, 2000:32). Não deveria, por isso mesmo, ser declarado um desenvolvimento sustentável que não somente leve em conta, mas que garanta a transmissão para as gerações futuras de um estoque igual, e preferencialmente aumentado, do capital econômico, natural, social e humano das sociedades contemporâneas? Com isso, desenvolve-se uma nova perspectiva sobre os temas e desafios 12 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 cotidianos da atualidade, pois são exigidos maior apreciação e um maior debate das complexas inter-relações entre os aspectos econômicos, sociais e ambientais. Merece destaque aqui o entendimento de desenvolvimento sustentável proveniente do mesmo relatório citado que serve como novo paradigma para todos os setores da sociedade na Amazônia em relação às políticas ambientais e sua eficácia: “as políticas sociais devem ser eficazes econômica e ambientalmente; e as políticas econômicas necessitam ter eficácia social e ambiental.” Algumas forças organizadas da sociedade desempenham um papel importante nesse processo. Entre elas merecem destaque a educação, os meios de comunicação social e a academia de ciências. Segundo a proposta da Agenda 21, a educação foi reconhecida como uma base fundamental para a sustentabilidade (é mencionada 600 vezes, com referências ao tema em cada capítulo). Além disso, o documento identifica três modalidades de educação, conforme é detalhado a seguir: educação formal (a que acontece em sala de aula); não-formal (compreende o trabalho educativo fora do sistema escolar, pelos governos, ONGs, e empresas); educação informal (envolve as múltiplas influências culturais, que afetam tudo aquilo que as pessoas pensam, acreditam e valorizam). Os meios de comunicação de massa são agentes de educação informal que, em conjunto com a religião, o teatro e os debates comunitários, organizados pela sociedade civil, constituem-se em modalidades importantes de educação informal. Na Amazônia se apresentam como espaços específicos de participação popular, inclusive em parceria com as instituições de ensino superior. De fato, a academia amazônica está empreendendo esforços no sentido de comprometer-se com temas socioambientais voltados para as questões que estão sendo debatidas. Algumas incluíram temas afins no currículo regular de alguns cursos. Trata-se de iniciativas que demonstram que esses espaços do saber, além de estarem voltados para o campo técnico através dos cursos tecnológicos, em vista dos grandes projetos mineradores instalados na região, também se abrem para as questões ecológicas e humano-sociais. Ao fazerem isso, estampam para o mundo o retrato da região como um espaço degradado e uma população abandonada, ao mesmo tempo em que colaboram na gestação de uma nova história amazônica, construída a partir da própria identidade cultural e no reconhecimento das potencialidades reais que a capacitam para construir conhecimento e abrir perspectivas para o futuro. III. Racionalidade tecnológica e mudanças provocadas pela ação humana O conceito “racionalidade tecnológica”, introduzido por Max Weber nas discussões modernas, envolve poder técnico e ação humana sobre a natureza (HABERMAS, 1987). Traduz uma forma da atividade econômica capitalista burguesa, caracterizada pelo tráfego social regido pelo direito privado burguês e pela dominação 13 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 burocrática. J. Habermas amplia essa perspectiva fazendo a ligação com as esferas sociais que ficam submetidas aos critérios da decisão racional, resultando que a “ação instrumental,” própria da técnica, provoca conseqüências em vários âmbitos da vida, envolvendo “urbanização das formas de existência, tecnificação do tráfego e da comunicação” (HABERMAS, 1987:45). A contribuição de Habermas à proposição de Weber conduz ao entendimento da racionalização da sociedade como um processo que penetra todos os setores da sociedade e institucionaliza o progresso científico e técnico. Além da ação eficaz sobre os recursos da natureza, diz Habermas, esse processo atinge também a cultura e as tradições das populações, vítimas dos projetos técnico-científicos e das transformações substanciais operadas nas relações sociais (HABERMAS, 1987). H. Marcuse, por sua vez, introduz na discussão sobre a racionalização da sociedade o aspecto político. Ao analisar a sociedade tecnológica aplica o termo Eindimensionale Mensch para caracterizar o homem que vive em uma sociedade sem oposição, isto é, que teve sua visão crítica paralisada pela força atrofiadora do controle total promovido pela sociedade tecnológica. Trata-se de uma forma de dominação política oculta (REALE e ANTISERI, 1991). Marcuse, citado por Habermas, Afirma: O que eu quero realçar é que a ciência, em virtude do seu próprio método e dos seus conceitos, projetou e fomentou um universo no qual a dominação da natureza se vinculou com a dominação dos homens – vínculo que tende a afectar fatalmente este universo enquanto todo. A natureza, compreendida e dominada pela ciência, surge de novo no aparelho de produção e de destruição, que mantém e melhora a vida dos indivíduos e, ao mesmo tempo, os submete aos senhores do aparelho (MARCUSE apud HABERMAS, 1987:50-51). 14 Eficiente no seu modo de ser, a aplicação demonstra correta eleição de estratégias e “adequada utilização de tecnologias à instauração de sistemas que exige somente uma coisa: dominação sobre a natureza e sobre a sociedade” (MARCUSE apud HABERMAS, 1987:46). Mais ainda: por trás do material da ciência e da técnica se oculta um projeto de mundo determinado por interesses de classe e pela situação histórica. À luz da perspectiva de Marcuse, o amazônida (construtor de cultura), envolvido por este universo globalizante e inevitável, perde sua liberdade e passa a demonstrar uma impossibilidade “técnica” de ser autônomo, de determinar pessoalmente sua história e sua vida. Torna-se submisso ao aparelho técnico que causa efeitos como a ampliação da comodidade da vida e intensificação da produtividade do trabalho; proteção da legalidade da dominação em vez de eliminála e o horizonte instrumentalista da razão que se abre para uma sociedade totalitária de base racional, como fim de si mesma (MONDIN, 1989). Percebe-se que a ciência e a técnica, por ocuparem em seu processo natural um caráter instrumental de controle da produção, ampliaram, na Amazônia, a dominação sobre a natureza e sobre os próprios homens. Isso se deu não somente por meio da tecnologia e sua eficiência, mas pela justificação de sua ação, ao serem Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 amparadas pelo poder político que se auto-promove como aquele que tem a missão de assumir para si todas as esferas da cultura. Várias críticas com bases teóricas fortes ajudam na tomada de posição oposicionista a esta realidade. Marcuse, por exemplo, sugere uma atitude alternativa diante do relacionamento desastroso da técnica para com a natureza, destacando a ação dos marginalizados e explorados como capazes de oferecer esperança de libertação; Habermas detalha tal proposta destacando os seguintes pressupostos: a) tratar a natureza não como objeto de uma “disposição possível”, mas como o interlocutor de uma possível interação. E o reconhecimento da natureza como o outro, valorizando sua subjetividade. Assim ele se posiciona: Em vez da natureza explorada podemos buscar a natureza fraternal. Na esfera de uma intersubjetividade ainda incompleta podemos presumir subjectividade nos animais, nas plantas e até nas pedras, e comunicar com a natureza, em vez de nos limitarmos a trabalhá-la com rotura da comunicação (HABERMAS, 1987:53). C. Brandão, analisando estes aspectos do pensamento de Habermas, afirma que sua proposta sugere “uma completa inversão em tais relacionamentos tornados possíveis por um saber de ciência através da técnica, onde se elimine, de uma vez, a verticalidade do domínio utilitário.” Domínio este regido por uma racionalidade submetida aos princípios do “agir-racional-com-respeito-a-fins” que age de modo arbitrário, partindo do suposto de o homem ser sujeito único e solitário, senhor absoluto de tudo. A inversão se daria na construção de relações que em nome de uma horizontalidade regida por princípios de uma troca entre parceiros, passaria de um agir sobre a natureza a um trocar recíprocos com a natureza (BRANDAO, 1994). Na realidade específica da região amazônica todas as prerrogativas colocadas por Habermas são verificáveis e urgentes em sua aplicação; basta, para isso, dar maior atenção ao campo político e ao debate ecológico que são fomentados pela condição desgastante imposta à natureza pelos projetos destruidores dos ecossistemas e sua biodiversidade. Além disso, a proposição de Habermas sugere o resgate de novos valores, que, mesmo reafirmando a validade e a operatividade da técnica e das forças produtivas orientadas por ela, sofreria o agravante de ter sua regulação modificada. Isto é, esses novos valores tenderiam a tarefas tecnicamente solucionáveis e direcionaria o progresso para fins e máximas de uma ação comunicativa, entendida por Habermas como “interação simbolicamente mediada”². IV. Racionalidade tecnológica e ética ecológica Segundo LEFF (2000), pela urgente necessidade de fomentar o debate que envolve questões relacionadas à racionalidade tecnológica e políticas de sustentabilidade, faz-se necessário ampliar a questão e incluir temáticas como a ética e a ecologia, que dialoga respectivamente com a tecnologia e a cultura. Para LEFF (2000), trata-se de temas convergentes, o que o faz propor uma nova postura, ² Para Brandão, “Habermas e Marcuse convocam a uma posição extremamente simples: trazer o mundo da natureza ao palco da subjetividade. Alargar o lugar social do diálogo até o ponto em que outros seres, dotados de outras sensibilidades e, por certo, de outras disposições à comunicação, possam participar de uma mesma e muito diferenciada rede de comunicações conosco, ainda que não necessariamente sempre através de nós. Assim, a natureza e seus seres individuais, apropriados até aqui de acordo com os nossos interesses, devem ser libertados de serem considerados como uma dimensão outra da existência – o que não significa negar a alteridade de suas diferenças... [...] Devem ser, assim, liberados para converterem-se numa alargada dimensão de diálogo e comunicação com/entre os humanos. Desde logo, a dominação [...] poderia passar a ser a comunicação e a troca de dons entre dois pólos aos quais caberia o desafio de estabelecer os novos termos de uma lógica e de uma ética de reciprocidades.” Id., p.76-77. 15 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 ³ Cultura “como estilos de vida e de desenvolvimento, como direitos das comunidades sobre os seus territórios e seus espaços étnicos e como um conjunto de valores, práticas e instituições para a autogestão de seus recursos, livre dos paradigmas dominantes da economia.” Id., p. 81-82. denominada de “cultura ecológica”. Um conjunto de ações que visam alcançar a equidade social, a diversidade cultural e a democracia ambiental entrelaçando-se na perspectiva do desenvolvimento sustentável³. Com essa proposta, Leff, ao contrário do que parece apregoar, não defende um simples retorno às técnicas tradicionais e à aplicação de métodos pouco produtivos, mas leva em conta o sistema de crenças e saberes de mitos e ritos que estão intimamente relacionados com a organização econômica e as práticas produtivas das sociedades tradicionais que, para o autor, são fundadas na simbolização de seu ambiente, nas suas crenças religiosas e no significado social dos recursos e geraram diversas formas de percepção e apropriação, regras sociais de acesso, práticas de manejo dos ecossistemas e padrões culturais de uso e consumo dos recursos (LEFF, 2000:81-81). A conjugação desses fatores na realidade concreta é defendida por Leff e enquadrada nos conceitos de cultura ecológica e racionalidade ambiental, temas incorporados na reflexão como eminentemente necessários para a discussão do assunto proposto. Cultura é entendida como formas de organização simbólica do gênero humano, remetendo a um conjunto de valores, formações ideológicas e sistemas de significação, que orientam o desenvolvimento técnico e as práticas produtivas, e que definem os diversos estilos de vida das populações humanas no processo de assimilação e transformação da natureza (LEFF, 2000). Como aplicar esse conceito na realidade concreta de uma Amazônia que se apresenta como o paradigma da ausência de dignidade humana, em primeiro lugar, e onde a ética está relegada ao segundo plano? Primeiro Leff propõe uma revisão dos princípios morais que guiam a conduta dos homens e que legitimam a tomada de decisões sobre as práticas de uso e exploração dos recursos naturais; depois, abre novas perspectivas interligando a cultura com a racionalidade ambiental. Leff acentua a valorização da cultura ao incorporar como pressupostos para sua harmonia certos princípios éticos e morais como “valores universais do homem” (LEFF, 2000:124). Necessário se faz, para isso, que a ética e suas disciplinas correlatas, enquanto teoria e ação práticas se tornem indispensáveis no planejamento, elaboração e execução dos projetos de desenvolvimento. Dispensar a ética é provocar o “desequilíbrio ecológico” como tem acontecido. Desequilíbrio manifestado na destruição da base de recursos naturais, na contaminação ambiental e na degradação da qualidade de vida. Outro conceito importante para Leff é o da racionalidade ambiental, entendida como um sistema integrado de esferas de racionalidade, que articula a fundamentação dos valores e a organização do conhecimento em torno dos processos materiais que dão suporte a um paradigma ecotecnológico de produção e à instrumentalização dos processos de gestão ambiental (LEFF, 2000:211). Segundo Leff, para a efetivação dessa racionalidade é indispensável a coerência entre os princípios de racionalidade ambiental e os conceitos de sua 16 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 racionalidade teórica com os processos produtivos que lhe dão suporte material e com os instrumentos da racionalidade técnica que asseguram a sua eficácia. Para ele, somente assim se estabelece uma articulação de racionalidades, que vai dos princípios éticos às práticas produtivas do ecodesenvolvimento (LEFF, 2000). Tais proposições colidem no palco amazônico com um substrato diferente, em que a região, por força da inferência do sistema capitalista fundado numa racionalidade econômica dirigida à maximização do lucro em curto prazo, tem sido freqüentemente assolada e as conseqüências aparecem na degradação dos ecossistemas e na transformação/destruição de valores culturais e sociais do ethos do povo. Com isso, os princípios de igualdade dos direitos individualistas, do acúmulo e do lucro têm gerado uma tendência à desestabilização dos processos ecológicos, inclusive a separação das práticas tradicionais de uso dos recursos, a desintegração da identidade e solidariedade dos grupos culturais e a dissipação dos significados existenciais que fundamentam a vida humana (LEFF, 2000). Seguindo a diretiva de MANCINI (2000), a reflexão filosófica analisa a realidade pelo olhar de agente de transformação social, cujo esforço se detém em sustentar e motivar nos indivíduos, grupos sociais e nos governos a adesão a uma ética intercultural para a praxe política. Mancini sugere o resgate de uma ética sustentada por valores que podem ser propostos e vividos na Amazônia; para isso, precisa promover princípios planetários e incorporá-los aos regionais em vista do desenvolvimento de uma consciência que prima pela busca de soluções para os problemas ecológicos, vislumbrando um mundo sem guerra e sem miséria, com os direitos plenamente respeitados e com uma nova relação com a natureza4 . Dessa forma, a cultura regional, localizada, autóctone e conservada tem um papel fundamental no desenvolvimento do processo que envolve tecnologia, cultura e tradição, destruição e conservação5. De modo concreto, Mancini complementa a proposta de LEFF (2000) para quem a aplicação de tal conceito na realidade se daria com os objetivos explícitos de reorientar os comportamentos individuais e coletivos relacionados às práticas de uso dos recursos naturais e energéticos; a promoção da vigilância dos agentes sociais sobre os impactos ambientais e os riscos ecológicos; a organização da sociedade civil pela defesa de seus direitos ambientais e a participação das comunidades na autogestão de seus recursos naturais. 4 Tais mudanças, exatamente pela radicalização e pela unanimidade com que deveriam advir, são impossíveis sem uma profunda transformação cultural (MANCINI, 2000:202). 5 “Para que mude a práxis consolidada na política e na economia, nas relações internacionais ou na relação com o ambiente natural, é preciso que as culturas colaborem para modificar as coordenadas orientadoras, as idéias, as representações, as linguagens, os códigos jurídicos que até agora de forma abrangente justificaram pela práxis.” Ibid., p.203. IV. Considerações finais O artigo fez uma análise crítica da situação que a humanidade está vivendo particularmente a Amazônia, ao oferecer um indicativo teórico para a avaliação da realidade concreta. Tecendo uma crítica à racionalidade tecnológica e os efeitos sobre a cultura e práticas de sustentabilidade das populações, atingiu-se em cheio o modelo de desenvolvimento proposto que cria a realidade de desumanização e degradação socioambiental. 17 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.9-18 Na Amazônia, situações de luta contra as formas destruidoras dos projetos desenvolvimentistas manifestadas na depredação dos ecossistemas informam o fracasso econômico, social e ecológico de algumas políticas públicas aplicadas nas últimas décadas. Novos modelos de organização territorial não destrutivo e viável em longo prazo são atualmente estimulados. O extrativismo e as práticas tradicionais de sustentabilidade são também resgatados como alternativas ao desenvolvimento que une ecologia e desenvolvimento. Práticas simbólicas, do mesmo modo, são valorizadas em vista do resgate das muitas informações autóctones que visualizam traços culturais potencialmente carregados de sinais próecológicos que fundamentam a luta de defesa da vida e a salvaguarda da criação. Referências BELL, D. V. J. 2000 A cultura da sustentabilidade. In: KRISCHKE, P. J. (org.), Ecologia, juventude e cultura política: a cultura da juventude, a democratização e a ecologia nos países do cone sul. Florianópolis: Editora da UFSC. BRANDÃO, C. R. 1994 Somos as águas puras. Campinas: Papirus. HABERMAS, J. 1987 Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa/ Portugal: Edições 70. KRISCHKE, P. J. (Org.) 2000 Ecologia, juventude e cultura política: a cultura da juventude, a democratização e a ecologia nos países do cone sul. Florianópolis: Editora da UFSC. LEFF, E. 2000 Ecologia, Capital e culturas: racionalização ambiental, democracia participativa e desenvolvimento sustentável. Blumenau: Editora da UNIFURB. MANCINI, R et al. 2000 Éticas da mundialidade: o nascimento de uma consciência planetária. São Paulo: Paulinas. MARCUSE, H. 1987 Der eindimensionale Mensch, Neuwied 1967. Apud HABERMAS, J. Técnica e ciência como “ideologia”. Lisboa /Portugal: Edições 70. MONDIN, Battista. 1989 Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. São Paulo: Paulinas. PIKAZA, Xabier. 1999 El fenómeno religioso. Curso fundamental de religión. Madrid: Editorial Trott. REALE, G.; ANTISERI, D. 1991 História da filosofia: do romantismo até nossos dias. Vol.III. São Paulo: Paulinas. 18 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 DURKHEIM & PARETO: REPRESENTAÇÃO AMBIENTAL É DERIVAÇÃO RESIDUAL PARETIANA Thais Helena Medeiros¹ RESUMO O estudo aqui realizado parte das reflexões sociológicas em torno da teoria da representação social de Émile Durkheim e da ação não lógica de Vilfredo Pareto. As argumentações aproximam a derivação residual paretiana da representação ambiental dos movimentos sociais na Amazônia de Santarém e Belterra, área de abrangência da BR 163, no bojo da ambientalização. Nesse sentido, o trabalho é uma revisão bibliográfica das duas teorias sendo abalizada pela realidade social que performa-se na globalização. O trabalho é resultado das leituras e das aulas da disciplina Teoria Sociológica I, ministrada pela professora Marilene Corrêa, no âmbito do Programa de PósGraduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Palavras-chave: Vilfredo Pareto – derivação residual– representação ambiental ABSTRACT The study conducted here departs from sociological reflections around the representation theory of Emile Durkheim and “not logical action” from Vilfredo Pareto. The arguments approach the residual Paretian derivation to the environment representation of social movements in the Amazon region, more specifically Santarém and Belterra. In this sense, the work is a literature review of two theories supported by the social reality that performs through globalization. This work results from readings and lectures of the module Sociological Theory I, taught by Prof. Marilene Corrêa, under the Graduate Program in Sociology at the Federal University of Amazonas (UFAM). Key words: Vilfredo Pareto – sociology – environmental representation ¹ Mestranda em Sociologia (PPGS) pela UFAM, bolsista CAPES. É especialista em ecoturismo, interpretação e planejamento em áreas naturais e graduada em comunicação social, professora e coordenadora do curso de Jornalismo na Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). 19 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 I. Representação ambiental: a configuração de uma derivação paretiana Resíduo é tudo aquilo que sobra, é lixo humano. Na natureza o resíduo é a biomassa, o que nas ciências florestais, num plano de manejo, é o que sobra na área antropizada: galhada, raiz, folhas, cascas, serragem (ZARIN et al., 2005). Para Vilfredo Pareto resíduo é “o princípio que existe na mente humana” (PARETO apud PARSONS, 2010 p.251). O autor é apresentado pela primeira vez numa aula de Teoria da Sociologia I, no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal do Amazonas, ministrada pela professora Marilene Corrêa da Silva, cujo tema central era o mago da sociologia, Émile Durkheim (MEDEIROS, 2011c). O trabalho de Durkheim “resultou na criação de uma indiscutivelmente nova disciplina. Com o nome de sociologia era a antropologia social que também nascia” (CARDOSO DE OLIVEIRA, 1988, p.18). Aquele autor referia-se a Durkheim como o autor das Formas Elementares da Vida Religiosa e a seu discípulo Marcel Mauss. Nas aulas da professora Marilene Corrêa, discursando sobre a estrutura da teoria do fato social, expressão na idéia, mas também na matéria, chegou à noção da representação coletiva. Mesmo que banalizada pelas ciências sociais, explicou que as representações são as soldas históricas que agrupam “valores societais, ideais coletivos, opiniões, representações que a sociedade tem de si mesma, lendas e mitos”. Assim como incorporam as “ideações coletivas, correntes livres efervecentes, valores” (SILVA apud MEDEIROS, 2011d). Enfatiza que entre as regras informacionais dos modelos, crenças coletivas, hábitos (correntes de opinião) numa fricção com as representações coletivas (para alguns autores, é o que permite a compreensão da cultura a partir dessa noção) interpõem-se um “gap incompatível: conflitos de tensão e dissidência aparecem na disfuncionalidade; os impasses e realizações temporais entre eles próprios” (SILVA apud MEDEIROS, 2011d). Ampliando essa noção durkheimiana, a representação coletiva “é o modo pelo qual a sociedade exprime as coisas da sua existência, são representações coletivas que representam realidades coletivas”. Demonstra que é a representação coletiva a “ponte entre subjetivo e objetivo ou ao contrário. Como é que o fato social ao se tornar total inclui dimensões socioculturais da afetividade do sentimento e arte das pulsões” (SILVA apud MEDEIROS, 2011c). As representações coletivas são o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço mas no tempo também; para fazê-las, uma multiplicidade de espíritos diversos associam, misturam e combinam suas idéias e seus sentimentos; longas séries de gerações acumularam aí suas experiências e sabedorias. (ORTIZ, 1989, p.158). As teorias são como os sujeitos que as elaboram e as praticam: mutantes, dinâmicas. Hoje em dia, sabemos o quanto o sujeito ou a coletividade é rica e complexa em sua valoração nas ações sociais, pois é ele que realiza-a e é quem produz 20 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 a teoria. Com base nessas argumentações, começamos a pensar o socioambiental¹ amparado numa representação ambiental. Carregando simbologias próprias é arrastado pelo discurso da ambientalização em múltiplas dimensões e sob a ótica das mudanças climáticas operadas na turbulência da globalização. De acordo com Silva (2011a; 2011b) e mediada pela teoria de Durkheim, uma instituição pode levar tempo para virar uma representação (apud MEDEIROS, 2011c). Nota-se que as redes societárias na Amazônia agrupam uma pluralidade de grupos singulares que engajamse na dimensão socioambiental após as dispersões históricas em que estiveram envolvidos, agora, acomodados no caminho inverso das rupturas globalizantes. Assim pensando via teórica durkheimiana, Marilene Corrêa da Silva acaba por trazer a tona científica a teoria de Vilfredo Pareto, ou os resíduos e derivações da ação não lógica, formulado por esse cientista italiano que residiu na França entre final do século XVIII e início do XX. Segundo ela (MEDEIROS, 2011a), o autor foi testemunho esclarecido de mudanças cruciais das sociedades ocidentais européias. E justifica que ao recuperar a centralidade dos modos de examinar as sociedades tornase um bom motivo para revisitar e abordar as ideias que fundamentam o pensamento de Pareto, posto que não é muito visitado pelos cientistas da atualidade. Parsons (2010, p.253), por exemplo, entende que há inconsistência em sua obra social. E continua na mesma seção, que “essa inconsistência aparente é o caminho mais importante para toda uma série de problemas, que embora, é claro, não resolvidos por Pareto, ele, talvez, mais do que qualquer outro teórico social, contribuiu para abrílos”. Não nos cabe neste artigo relativizar as mazelas desse ostracismo e nem (des)considerar o autor da teoria dos resíduos mentais. Aqui, o que nos cabe, primeiro, é compreender a ação social lógica e não lógica. Esta última é o que nos aproxima de Pareto em seus resíduos e derivações os quais iremos correlacioná-las as representações ambientais, de origem teórica em Durkheim (SILVA, 2011.). Dessa forma, “os fenômenos sociais se apresentam, para Pareto, segundo as formas mutantes, manifestadas por ideologias, os costumes, as representações coletivas, em suma, pelos sistemas simbólicos”. Ele divide os fenômenos sociais em dois pontos de vistas: o objetivo e o subjetivo. Para o teórico social, “o aspecto subjetivo é a forma pela qual o espírito humano representa os fenômenos, representação geralmente deformada, ao passo que o aspecto objetivo é o feito real, constante, imutável” (SILVA apud MEDEIROS, 2011b, p.01). ¹ Como apontou o ISA (2007), socioambiental “se escreve tudo junto”. Uma primeira constatação mostra que as ações sociais podem ser distinguidas em duas grandes categorias: as ações lógicas “que são ao menos na sua parte principal, o resultado dos raciocínios”; as ações não lógicas que “provêm principalmente de um certo estado psíquico: sentimentos, subconsciente, etc.” (SILVA, 2011A, p.02). Considerava que “o conjunto das ações humanas não são lógicas”. E para situá-las “o método lógico-experimental as constata e permite distinguir as ações lógicas das não lógicas que são constituídas pelas derivações dos resíduos” (SILVA, 2011b). Parsons aponta que a ciência paretiana “é mais bem caracterizada pelo termo 'lógico21 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 experimental'”. Nos “dois elementos essenciais envolvidos, o raciocínio lógico e a observação do fato”, o primeiro, “é por si só incapaz de produzir os resultados necessários além de tautologias, mas, apesar disso, é um elemento essencial. No entanto, ele é considerado como sendo subordinado ao outro elemento, isto é, o fato experimental ou observado” (PARSONS, 2010, p.233). Pareto associa o objetivo ao conhecimento do cientista pois mais extenso e o subjetivo é o do ator. Parsons, no entanto atenta que o subjetivo “é implicitamente incluído em sua definição de ação lógica: “designamos por ações lógicas aquelas operações que estão logicamente ligadas até seu final, não apenas do ponto de vista do sujeito que desempenha as operações, mas também para aqueles que têm um conhecimento mais extenso” (PARETO apud PARSONS, 2010, p.239). A professora Marilene Corrêa as introduz como sendo “aquelas que utilizam de meios apropriados ao objetivo e unem logicamente os meios aos objetivos”. E Parsons (2010) insere que em Pareto “a ação é lógica na medida em que ela se adéqua a um certo tipo de norma” (p.244). Neste estudo, o relevante é a categoria correlata da ação não lógica, e que por sua vez “não é definida positivamente e sim residualmente”. Silva (2011a e 2011b) nos atentou que Pareto preferia as ações não lógicas. Parsons (2010, p.245) corrobora ao afirmar que o teórico social abstraiu as lógicas e estudou “intensivamente a ação não lógica”. Ele começa afirmando a seguinte antítese: “As ações não lógicas são, pelo menos em seu elemento principal, o resultado de um processo de raciocínio; as ações não lógicas se originam principalmente de certo estado psíquico (etát psychique) de um sentimento, do inconciente, etc. É tarefa da psicologia interessarse por esse estado mental” (PARSONS, 2010, p.245). “Pareto diz que as não lógicas circulam entre nós como lógicas, revestidas de capas, máscaras”, salientou Marilene Corrêa. E a professora de sociologia (hard sociology) vai mais longe ao introduzir que quanto mais complexa a sociedade mais máscaras e derivações (MEDEIROS, 2011a). As ações não lógicas remetem à parte obscura da natureza humana que é feita de instintos, pulsões, de necessidades, denominadas por Pareto de resíduos, porque eles variam segundo os indivíduos e as civilizações. Sobre estes resíduos vêm-se grafar as derivações, quer dizer as ideologias, as construções pseudo-racionais que são as auto-justificações. A potência das ideologias e das crenças têm aí um esclarecimento como causa das ações não lógicas. Os atos não lógicos tem a vantagem da paixão, daí serem mais freqüentemente encontrados em ações não racionais na política com as conseqüências jurídicas que lhe podem resultar. Esta é a causa das derivações, que são os meios verbais utilizados pelos indivíduos e os grupos para justificarem suas ações e dar-lhes uma lógica, lógica que não necessariamente existe mas que é uma camuflagem psicológica (SILVA, 2011b, destaque do original). Marilene Correa ensina que os resíduos imprimem uma marca e que podemos encontrá-los quanto mais atrás no tempo, isolado, prolongado no tempo: como medicina grega, romana (antiga), ritos cerimoniais mágicos, práticas estamentais (religiosas, militares), estruturas do imaginário. Ao contrário das ações sociais, os resíduos são 22 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 imóveis, fixos, são como as pré-noções (SILVA apud MEDEIROS, (2011a). Os resíduos são o que fica quando se evita a camuflagem psicológica que é a racionalização do não lógico. Há, segundo Pareto, seis classes de resíduos que correspondem à dois comportamentos fundamentais: o comportamento de conservação, o espírito de ordem e de estabilidade, a conformidade, de uma parte, e o comportamento de inovação, o espírito de criação, de desenvolvimento ou de renovação, de outra parte. O jogo social dos resíduos e das derivações formam as elites existentes em toda sociedade hierarquizada; as elites que conhecem a mobilidade, e que desaparecem nas sociedades hierarquizadas que são mortais (SILVA, 2011b). Pareto mexe com as estruturas mentais humanas para teorizar os sentimentos em resíduos. Parsons (2010, p.251) demonstra que, quando traçava seu esquema residual, atribuiu para resíduo “o princípio que existe na mente humana”; e para derivações “a explicação, as deduções a partir desse princípio”. “Antes de ir adiante talvez valha a pena dar nomes as entidades a, b e c; pois designá-las apenas por letras do alfabeto confundiria a exposição e a tornaria menos clara. Por esse motivo, a exclusão de todos os outros, chamaremos de a de resíduo, b de derivações e c de derivativos”. Esta é a única definição explícita de resíduos e derivações que Pareto nos dá. É evidente, sem sombra de dúvida, que eles são elementos das teorias não científicas (PARSONS, 2010, p.251-252, grifos do autor). Como a teoria social de Pareto pode reforçar, ampliar, ilustrar, interpretar através dos conceitos chaves esta especificidade de fatos, processos e fenômenos que é o movimento ambiental² na Amazônia? Pelas diferenças e desigualdades? Ou pelos modos de inserção na sociedade, nesta realidade global, mas ao mesmo tempo nacional, em seu sistema econômico onde, a priori deve oferecer acesso aos bens promotores de cidadania? Ou pelas relações sociais e políticas personificadas em representações ambientais? II. Socioambiental e globalização: as derivações paretianas chegam na Amazônia contemporânea ² Neste artigo, considerou-se movimento ambiental as ações que historicamente estão situadas no desencadeamento das preocupações ambientais mundiais que datam a partir da década de 60 (WORSTER, 1991). DIAS (1994, p.32) aponta que em 1960, “surge o ambientalismo nos Estados Unidos”. “O mundo esta uma correria, e está chegando perto do fim” – assim falou um certo arcebispo Wulfstan, num sermão proferido em York, no ano de 1014. É fácil imaginar os mesmos sentimentos sendo expressos hoje (GIDDENS, 2010, p.13). A cena que nos remete essa realidade acima está muito longe da ontológica modernidade e mais alterada ainda dessa contemporaneidade. Em meio às intersubjetividades, a sociologia como uma ciência nascida moderna deve inaugurar uma sociologia amazônica. Poderíamos nos inspirar no tripé economia, social e ambiental como propõe o professor do Instituto de Ensino e Pesquisa/ São Paulo (INSPER), Eduardo Giannetti da Fonseca (MOREIRA, 2011). Na Amazônia, total ou parcial, como na de Santarém e entorno, esse momento epistemologicamente turbulento entre ciências naturais, sociais e humanas deve nortear- se nas dimensões 23 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 destacadas, oportunizando geração de conhecimentos científicos a serem empregados em negócios sustentáveis num “novo padrão produtivo e tecnologias avançadas” (BNDES, 2010, p.136-203). Não cabe mais a ciência ficar debatendo em quais categorias, noções ou conceitos apoiar-se, vivendo essa realidade avassaladora. A ciência, tecnologia e inovação devem subsidiar as três dimensões indossociáveis na Amazônia para a vida Planetária. Nesse espaço que se acaba no tempo, onde tudo é muito rápido, a cultura e seu modo de vida singular da Amazônia sai do lugar, desloca-se sob nossos movimentos. Mas, para manter-se em pé com o todo planetário contraria o global enriquecendo o local. Entrementes, a mudança é contínua, desafiadora, dolorosa e vigilante, onde o intervalo de tempo é quebrado pela instantaneidade da comunicação e informação. Sob o “impacto da ciência, da tecnologia e do pensamento racional”, na convergência da religião e dos dogmas que substituíram uma visão mais racional da vida, a “cultura industrial ocidental foi tomada pelo Iluminismo”, (GIDDENS, 2010, p.13). É o mesmo autor que reflete a seguir que o mundo em que nos encontramos hoje, no entanto, não se parece muito com o que eles previram. Em vez de estar cada vez mais sob nosso comando, parece um mundo em descontrole. Além disso, além das influências que, supunha-se antes, iriam tornar a vida mais segura e previsível para nós, entre eles o progresso da ciência e da tecnologia tiveram, muitas vezes, o efeito oposto. A mudança do clima global e os riscos que a acompanham, por exemplo, resultam provavelmente de nossa intervenção no ambiente. A ciência e a tecnologia estão inevitavelmente envolvidas em nossas tentativas de fazer face a esses riscos, mas também contribuíram para criá-los (GIDDENS, 2010, p.13-14). 24 Nesse mundo em descontrole sugestionado por Giddens, podemos utilizar a teoria residual de Vilfredo Pareto para uma compreensão do discurso do desenvolvimento sustentável. Enxergá-lo pela veia conflitante das dimensões econômicas, sociais e ambientais em suas representações ambientais dominantes como o são governo, as ciências socioambientais, o empresariado, o movimento ambiental e, principalmente, pelo movimento social e as suas práticas ambientais. É nesse bojo social que está representada o que Ianni (2011) desperta para noção da globalização, quando se “rompe e recria o mapa do mundo, inaugurando outros processos, outras estruturas e outras formas de sociabilidade, que se articulam ou impõem aos povos, tribos, nações e nacionalidades” (p.01). Na verdade, as preocupações ambientais no mundo começam com o impacto do aumento da população e converge com o ápice da industrialização e do estabelecimento do sistema econômico vigente. Dias (1994, p.27) aponta que em 1825 “a população humana sobre a Terra chega ao seu primeiro bilhão de habitantes”. No Brasil, as preocupações com o meio ambiente datam do ano de 1542, quando na Carta Régia “estabelece normas para o corte de madeira e determina punições para os abusos que vem sendo cometidos”. Worster (1991) escreve que a “história ambiental começou a surgir na década de 1970”, no crescimento dos eventos internacionais da “crise global” que Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 desenrolavam os movimentos ambientalistas entre os cidadãos de vários países”, junto com a ”reavaliação e reforma cultural, em escala mundial” (p.199). Assim, Lima & Pozzobon (2001) acrescentam que a “construção do modelo ambientalista” resulta de reflexões “sobre as raízes éticas e ideológicas” dessa questão colocando em discussão “o modelo de desenvolvimento capitalista, questionam o lugar da espécie humana na natureza e sua responsabilidade pelo futuro da biosfera. Esta autocrítica era, até recentemente, impensável” (p.2). A efetivação das práticas socioambientais na cena brasileira é mais incisiva a partir da Rio 92³, colocando em cena a noção do desenvolvimento sustentável. Compactua-se com as idéias postadas em Lenzi (2006) que, a despeito das problemáticas conceituais do fenômeno, “recusar a utilidade do 'desenvolvimento sustentável' como um conceito analítico, ou com sua atratividade como conceito normativo, em nada compromete sua popularidade e importância como conceito político” (LAFFERTY; LAGHELLE apud LENZI, 2006, p.92-93). E mais na frente, Lenzi interpreta Skirbekk (1994a) quando o aborda que “logo na introdução, explica-se que a sustentabilidade, devido sua complexidade, requer uma visão interdisciplinar”. E, citando Jacobs, “nenhum conceito de proteção ambiental é capaz de evitar juízos de valor”, daí configurar que também a “sustentabilidade é um conceito ético” (LENZI, 2006, p.94). Na discussão de modelos de desenvolvimento para a Amazônia, pela sua importância socioambiental para o Planeta, Diegues (1996) insere que ³ Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro entre 03 e 14 de junho de 1992. Popularizou-se como Rio-92. Vinte anos depois, acontecerá a ao invés de se discutir qual o “desenvolvimento sustentável” mais adequado para a região, deveriam ser questionados quais são os modelos de “sociedades sustentáveis” mais apropriados para a Amazônia baseados na diversidade de ecossistemas regionais e locais, e na imensa diversidade social e cultural aí existente (DIEGUES, 1996, p.12). Assim, via decisões e pressões ambientais de cunho internacional, o Brasil em seu Ministério do Meio Ambiente, reformula as leis, institucionaliza o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), cria Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) para implementar as diretrizes ambientais, dividindo o então Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Dessa política, configura-se o mosaico de sustentabilidade do Distrito Florestal da Br 1634, envolvendo a área que já mencionamos acima. E a experiência mais nova dessa vertente é o Plano Amazônia do BNDES (2010), apoiando projetos voltados para o combate ao desmatamento e ao desenvolvimento social. Hoje, na premência da Rio+20, de uma crise do sistema financeiro eminente, existe uma preocupação em estabelecer-se uma dialogicidade entre os setores envolvidos da sociedade civil organizada. O distrito é um indicador de que o Governo Brasileiro adotou uma postura privilegiando encontros entre atores sociais propondo esse diálogo (ESCOBAR, 2005). Na área do município de Santarém, por exemplo, muitas das centenas das comunidades e suas representações sociais estão inseridas em unidades de conservação como as Reservas Extrativistas, os Projetos de ⁴Sobre o Distrito Florestal da BR 163 consultar ; www.sfb.gov.br; www.icmbio.gov.br 25 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 Assentamentos Agroextrativistas dos Governos Federal e Estadual exercendo uma pressão representativa, apesar do processo ser ainda conflituoso e lento, característica de sistemas coloniais e capitalismo (SCHWEICARDT, 2010). Corroborando para a emergência de novas posições políticas e econômicas, Ianni (2001) especula que o “sistema mundial emergente requer uma perspectiva holística no que se refere ao futuro desenvolvimento mundial: tudo parece depender de tudo, devido a trama das interdependências entre as partes e o todo” (p. 82). Foi nessa formação social –e temos que dizer, em busca desse novo modelo de trocas econômicas em sistemas financeiros– singular de representação socioambiental que, tanto a representação coletiva durkheimiana quanto os resíduos de Pareto se encaixam. Resíduo enquanto correspondente ao comportamento fundamental do sentido de sobrevivência, de preservação e mais do que tudo de conservação da vida planetária, dos recursos naturais e humanos. As estruturas mentais do comportamento humano estão em descompasso das atuais estruturas das instituições sociais. O espírito de uma nova ordem e estabilidade econômica e financeira sustentável começou mundial e se globalizou, mas antes de tudo localizou. Um espírito que, entre outros, é mediado através de documentos como as Metas do Milênio e tantos outros de âmbito internacional e nacional, estadual e municipal. Metas para atender ao crescimento populacional mundial e aos anseios de equidade da humanidade de exterminar a pobreza; o analfabetismo; a inclusão feminina e de todos excluídos e a margem do mundo, a mortalidade infantil; combate as doenças viróticas e bacterianas; ao desmatamento ou sustentabilidade ambiental (CELENTANO & VERÍSSIMO, 2007). Todas essas temáticas se agrupam para formar um sentimento comum na construção de uma sociedade mais justa e ecologicamente mais sustentável derivando uma representação coletiva expressa em representação ambiental. Antes dos resíduos explodirem em derivações, através das representações socioambientais pela ambientalização (LEITE, 2004), há um rompimento generalizado dos sentimentos individuais em coletivos. Solidariedade, inclusão, socialização são noções e sentidos que se mesclam “aos usos e costumes da socialidade de base” na intersecção dos conhecimentos de sustentabilidade, trazidos no bojo daquela ambientalização pela ação das organizações não governamentais aos conhecimentos locais. É uma “sutil ligação existente entre a preocupação presente, a vida quotidiana e o imaginário, em uma palavra, a estética, entendida aqui em seu sentido mais amplo: o da empatia, do desejo comunitário, da emoção ou da vibração comum” (MAFFESOLI, 1995, p.11). Um dos pontos fundamentais nessas representações é o componente da educação ambiental. Nessas interconexões comportamentais numa nova postura de atitudes é o que move as 26 interações intersubjetivas e comunicativas entre pessoas com diferentes concepções de mundo e relações cotidianas com o meio Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 natural construído; características de vida social e afetiva; acesso a diferentes produtos culturais; formas de manifestar as suas idéias; conhecimento e cultura; dimensão de tempo e expectativas de vida; níveis de consumo e de participação política que poderemos estabelecer diretrizes mínimas para a solução dos problemas ambientais que preocupam a todos (REIGOTA, 1998, p.28). A BR 163, é uma das porta de entrada via Cuiabá a Amazônia Brasileira, mais precisamente Santarém. E tem como mote de sua pavimentação o transporte da produção do agronegócio matogrossense, culminando no porto Graneleiro da Cargill, tendo ao seu lado a Docas do Pará que subsidia o embarque da exploração madeireira constituída. Todos, nesse entorno, vivem em clima do conflitos da ordem agrária, mexendo com os territórios de significação simbólicos, de povos indígenas, assentados, migrantes e dos habitantes de origem ou descendências indígenas. Nessa pluralidade de atores sociais, o movimento ambiental é responsável pela propulsão das noções de sustentabilidade que em seu bojo trouxe as grandes discussões em torno do desenvolvimento sustentável (LENZI, 2006; LEFF, 2001). Muitos desses movimentos sociais na Amazônia foram movidos por esses encontros etnográficos até se constiruírem uma representação socioambiental própria. Buscam pelo “(re)posicionamento identitário em 'autodefinição' e territorial em 'terras tradicionalmente ocupadas'” na Amazônia (ALMEIDA, 2008). “Estamos em pleno envolvimento com as novas práticas” sobressaíndo um “espírito de ação e liderança, da capacitação para o trabalho em grupo”. “Os movimentos sociais buscam a integração com os demais setores da economia para se sobrepujarem da marginalidade impondo de certa forma a entrada nos mercados, o direito a participarem dos processos de desenvolvimento”. “Lento, muitas vezes desolador” mas com uma socialização” (MEDEIROS, 2011, p.05). Na contramão do processo da globalização, a localidade busca-se nessas particularidades, envolvendo-se nas associações e cooperativas comunitárias. Os resíduos na Amazônia “estão mais próximos”, também “expressam a linguagem dos grafismos, arte plumária, combinacão de cores, com os sons e ruídos da floresta” (SILVA apud MEDEIROS, 2011a). Enfim, resíduos e derivações são aqueles sentidos que percebemos através da lente ecológica discursiva imbutida nas relações sociais e que performam as representações ambientais. Marilene Silva e Parsons levam-nos a especular que Vilfredo Pareto mexe com os sentimentos, sentidos mais profundos do ser humano, e que o relaciona com o mundo mitológico da natureza humana e sua ação no mundo natural e social na Amazônia. III. Para finalizar Essa residualidade de sobrevivência planetária e suas derivações ambientais nos remetem a relativização da premência da construção de um novo modelo de desenvolvimento calcado num paradigma que possa emergir no bojo da sociedade (SANTOS, 2002). Os resíduos podem muito bem se relacionar com as tradições na Amazônia, em suas estranhas entranhas, mesmo que sejam inventadas ou 27 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.19-31 (re)inventadas. E elas estão expressas nas tendências, nos canais configurados pelas derivações, sustentando uma particularidade de origem geográfica que é inegável (MEDEIROS, 2011). E é isso mesmo que as tornam representações sociais únicas! Para vivenciarmos uma economia verde, sociedade e tecnologia em prol da diversidade ecológica natural e humana, como num “Vale do Silício”, “comercializando serviços ambientais”, devemos postular a agroecologia em produção local e para o local. Do ponto de vista ambiental, “tem um lado benéfico porque ninguém fica pensando em agronegócios, mas sim fortalecendo biotecnologia e tecnologia capacitando e qualificando mão de obra e gerando emprego” naquela que tem por origem a verdadeira vocação florestal (SCANNAVINO FILHO apud BNDES, 2010, p.182-183). Assim como tem grande vocação epistemológica, conhecimento aqui é concebido em mão dupla, como diria Da Mata (1978) transformando o “exótico no familiar” e o “familiar no exótico”. “E, em ambos os casos, é necessário a presença dos dois termos (o que representam dois universos de significação) e, mais basicamente, uma vivência de dois domínios por um mesmo sujeito disposto a situá-los e apanhá-los” (DA MATA, 1978, p.28; apud MEDEIROS, 2011, p.13). A poesia dessa biodiversa Floresta do Trópico Úmido deve oportunizar a geração de riqueza, emprego e renda a seus povos. Com o aumento da população mundial temos que priorizar as dimensões sustentáveis e eliminar a pobreza e a fome. Há muito que se investir em energia e alimento para todos, mitigando e minimizando os efeitos das mudanças climáticas que seguem planetária. O que salvará a floresta não é a tecnologia de uma engenharia ultrapassada, mas as tecnologias da biotecnologia, da nanotecnologia, dos modelos científicos de mudança climática. São as tecnologias de aferição da química da atmosfera, de aferição das novas perspectivas para a hidrologia. Quando pensamos a Amazônia locomovendo-se com canoas, esquecemos a possibilidade de utilizar o setor aeroviário brasileiro ou de pensar em novas tecnologias de transporte (Marilene Corrêa da Silva apud BNDES, 2010, p.155). Referências ALMEIDA, Alfredo Wagner 2008 Terra de quilombo, terras indígenas, “babaçuais livre”, “castanhais do povo”, faixinais e fundos de pasto: terras tradicionalmente ocupadas. 2.ª ed. Manaus: PGSCA–UFAM, 2008. Disponível em www.novacartografiasocial.com/arquivos/publicacoes/livro_terrasOcupadas.pdf. Acesso, 06 de abr. 2011. BNDES 2010 Um novo olhar sobre a Amazônia. Carro ou canoa? Índios ou operários? Qual o valor da floresta? 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O objetivo central deste artigo é levantar a discussão acerca da importância das plantas medicinais no mercado farmacêutico. Palavras-chave: plantas medicinais no mercado farmacêutico – Amazônia ABSTRACT Among the riches of the Amazon Rainforest, medicinal plants call special attention as they are proven to have pharmacological properties and are used by millions of people around the world. There are very few scientific studies in this topic. There is no research proving the real importance of medicinal plants as drugs and its maximized use in the pharmaceutical industry. We believe that the use of medicinal plants in industrialized drugs is a fastly growing activity. This work intends to raise the discussion about the importance of medicinal plants in the pharmaceutical industry. Key words: medicinal plants in the pharmaceutical industry – Amazon ¹ Graduado em Administração. Especialista em Marketing. Mestre em Administração. Atualmente é: Diretor Geral das Faculdades Integradas do Tapajós – FIT; Diretor Geral do Colégio Tapajós; Coordenador da Região Oeste do Pará do Conselho Regional de Administração do Estado do Pará; Avaliador de Cursos e Avaliador Institucional do INEP – MEC; 1º Secretário do Conselho Fiscal da Associação Comercial e Empresarial de Santarém – ACES; Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular – FUNADESP. 32 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 I. Introdução A Floresta Amazônica é imprescindível para o futuro do Brasil e do Mundo, à medida que o nosso e outros países começam a eleger bens e serviços ecológicos como as melhores opções para uma economia sustentável e para o bem-estar humano, aumentando as promessas de preservação e de cuidado com a floresta. É detentora da maior reserva de plantas medicinais do mundo, segundo a FIEAM – Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, 2002. Este ensaio versa sobre a importância das plantas medicinais para a produção de medicamentos em escala. Em 1987 a ONU publicou o relatório “Nosso Futuro Comum”, com o objetivo de demonstrar a necessidade de um ajuste da demanda mundial para um ritmo mais próximo da natureza (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). Entender a importância da Amazônia para o Brasil e para o mundo deverá ser o aspecto central para o desenvolvimento de uma política para a região, o que está descrito em vários trabalhos e artigos científicos, dependendo do enfoque sócio-econômico-ambiental que se queira abordar (VEJA, 2010, p.94). Hoje em dia há uma preocupação crescente e há cada vez mais consciência da população mundial com a preservação dos recursos naturais ainda existentes no globo, especialmente os da Amazônia e seu uso sustentável. A sociedade precisa ter uma resposta sobre a manutenção da biodiversidade, especialmente da floresta degradada da Amazônia, na qual hoje já prosperou uma floresta secundária. Segundo Lovatto, Etges e Karnopp (2008) a agropecuária somada à exploração da madeira são as principais causas da devastação das florestas primárias e secundárias existentes no Planeta. O uso de plantas potencialmente medicinais, oriundas da Floresta Amazônica, integra o seu ecossistema, e tem importância ímpar na manutenção do meio ambiente, pois onde se encontra plantas medicinais, há preservação da floresta secundária. Ademais, a utilização de plantas medicinais para produção de medicamentos apresenta a melhor relação custo/benefício quando comparada aos produtos sintéticos, pois sua ação biológica é eficaz, com baixa toxidade e efeitos colaterais, além de apresentar um custo de produção inferior. Grandes empresas farmacêuticas vêm investindo milhões em pesquisas com plantas brasileiras, e, por consequência disso, acabam por requerer patentes e sintetizar novos fármacos. (FUZÉR ; SOUZA. 2003) Historicamente, das florestas primárias só se valoriza a madeira nobre, quase nenhum valor é atribuído aos produtos não madeireiros e os serviços ambientais das florestas comumente são desconhecidos (SCHAFFER; PROCHNOW, 2002). Essa mentalidade extrativista-exploratória permanece até hoje. Com a valorização das plantas medicinais, oriundas da floresta secundária (capoeira) talvez esta condição mude. Segundo Arruda (1999), o manejo florestal deve ser uma exploração racional, ou seja, a exploração da floresta secundária deverá ser realizada através de um conjunto de atividades a serem estabelecidas. O cultivo de plantas medicinais na Amazônia contribui para a manutenção do 33 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 ecossistema e deve valorizar a flora regional. Investimentos na produção de plantas medicinais, em especial nas nativas, poderão gerar melhorias na qualidade dos produtos fitoterápicos, reduzindo os custos de medicamentos industrializados. A ausência de estudos e pesquisas que determinem a importância das plantas medicinais como produto farmacêutico contribuem para a falta de conscientização com relação ao tema. Sua utilização por grandes laboratórios deve ser conhecida, para que se dê a real importância para esse produto nativo da Amazônia. Apesar de haver registros de utilização de plantas medicinais há mais de seis mil anos, somente no século XV é que seu uso foi maximizado em virtude dos resultados observados nos tratamentos, hoje, com o advento da cultura ecológica, incentiva-se cada vez mais o uso de medicamentos naturais. Na década de 90, no Brasil, os produtos alopáticos começaram a ceder mercado para as plantas medicinais, inclusive com a automedicação e o cultivo de ervas em quintais, as quais traziam os mesmos resultados dos alopáticos com menor custo. Atualmente a utilização de plantas medicinais em medicamentos industrializados é uma atividade em franco crescimento. Na esfera governamental, o Ministério da Saúde vem desenvolvendo ações no sentido de elaborar políticas públicas para introduzir algumas plantas medicinais nos programas do Sistema Único de Saúde – SUS (BRASIL, 2006b). Estima-se que 25% dos R$ 8 bilhões de faturamento da indústria farmacêutica brasileira registrados em 1996 advêm de medicamentos derivados de plantas. As vendas nesse setor crescem 10% ao ano, alcançando a cifra de 550 milhões no ano de 2001 (GUERRA; NODARI, 2003). II. Questões para investigação O conceito básico de sustentabilidade começou a ser delineado em 1972, na primeira Conferência Internacional das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo para discutir as atividades humanas em relação ao planeta região. Hoje, o conceito que vigora foi criado em 1988, por John Elkington, o qual possui três esferas: a ambiental, a econômica e a social, sendo a sua interseção a própria sustentabilidade (MUNDO VERDE, 2011, p. 28). A situação atual exige ações urgentes para promover o desenvolvimento econômico, ambiental e socialmente sustentável da floresta. Já é fato que as plantas medicinais possuem propriedades farmacológicas e são utilizadas por milhões de indivíduos no globo terrestre. O Ministério da Saúde reconheceu esse recurso terapêutico como útil nos diversos programas de atenção à saúde (BRASIL, 2006a). Os laboratórios farmacêuticos se valem de várias destas plantas para comporem medicamentos produzidos em grande escala. Acreditamos que estas plantas têm maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais, fato que deve ser objeto de investigação científica. 34 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 Diante deste contexto, levanta-se uma interessante questão de pesquisa: qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da Floresta Amazônia na composição de medicamentos processados por grandes laboratórios farmacêuticos? Para se chegar à resposta científica a esta pergunta, é preciso encontrar soluções para uma série de outras questões de investigação secundárias: Quais são as plantas medicinais mais procuradas pela indústria farmacêutica nacional e internacional? Quais são os laboratórios que utilizam este produto da Floresta Amazônica? Como o comércio das plantas medicinais pode contribuir com a preservação ambiental? Como os produtos pesquisados são comercializados? Qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes laboratórios? Quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos? A comunidade científica ainda não encontrou respostas satisfatórias. Acreditamos que diversos laboratórios farmacêuticos, inclusive os que têm abrangência multinacional, usam plantas medicinais em seus principais produtos. Há de se investigar quais plantas medicinais têm maior importância e valor comercial para os mercados nacionais e internacionais, como os produtos pesquisados são comercializados, qual o comportamento do mercado de plantas medicinais, no âmbito dos grandes laboratórios, qual a real importância farmacológica das plantas medicinais da Amazônia e quais são os principais laboratórios que processam plantas medicinais, transformando-as em insumos farmacêuticos. III. As plantas medicinais: etnofarmacologia Define-se etnofarmacologia como “a exploração científica interdisciplinar dos agentes biologicamente ativos, tradicionalmente empregados ou observados pelo homem” (BRUHN, 1992). A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia que estuda o complexo conjunto de relações entre plantas e animais com a sociedade humana (BERLIN, 1992). A Etnofarmacologia não trata de superstições, e sim do conhecimento popular relacionado a sistemas tradicionais de medicina. Para apreciar o conhecimento popular é preciso admiti-lo como tal – um corpo de conhecimento, um produto do intelecto humano – e não se pode ser preconceituoso. A Etnofarmacologia é uma divisão da Etnobiologia, uma disciplina devotada ao estudo do complexo conjunto de relações de plantas e animais com sociedades humanas, presentes ou passadas (BERLIN, 1992). Como estratégia na investigação de plantas medicinais, a abordagem etnofarmacológica consiste em combinar informações adquiridas junto a usuários da flora medicinal, com estudos químicos e farmacológicos. (ELISABETSKY; SETZER, 1990). A seleção etnofarmacológica de plantas de acordo com informações relatadas pela população sobre um determinado efeito terapêutico pode 35 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 contribuir sobremaneira com a descoberta de fármacos. O real valor do conhecimento tradicional de novos fármacos só seria possível se houvesse a possibilidade de comparar os resultados de uma amostra razoável de pesquisas feitas com base em coletas de plantas ao acaso ou por etnofarmacologia, considerando-se também que a maioria dos estudos não publica resultados negativos. Segundo Vlietinck e Van den Berghe (1991), Spujt e Perdue (1976), ao analisarem compostos com potencial anticancerígeno verificaram que a porcentagem de gêneros/espécies vegetais ativas citadas em compêndios de plantas medicinais, é consistentemente próxima ao dobro das de triagem ao acaso. Quanto a antivirais, a seleção de plantas com uso tradicional mostrou uma porcentagem 5 vezes maior de substâncias ativas. A maior parte da flora ainda desconhecida, tanto química quanto farmacologicamente, e o saber tradicional associado existem predominantemente em países em desenvolvimento. A perda da biodiversidade e o acelerado processo de mudança cultural acrescentam um senso de urgência no registro desse saber. A criação de instrumentos legais de direitos de propriedade intelectual para conhecimentos tradicionais é de fundamental importância (ELISABETSKY,1990). IV. O preparo das plantas medicinais 36 Plantas medicinais são aquelas que possuem em sua composição substâncias químicas, biologicamente sintetizadas a partir de nutrientes, água e luz. Estas substâncias provocam no organismo humano e animal reações que podem variar entre a cura e o abrandamento de doenças, pela ação de princípios ativos como alcaloides, glicosídeos, saponinas, etc. A utilização de plantas medicinais para tratamento de doenças é denominada fitoterapia. Apesar do potencial que representam essas plantas, na região amazônica a aplicação empresarial dos resultados das pesquisas é bastante rara. A eficiência da fitoterapia é assegurada por milênios de tradição, sendo prática comum entre os índios e as populações tradicionais. Já existe comprovação científica das propriedades de um número razoável de plantas, ponto de vista medicinal, tornando-se viáveis para a agro industrialização ou uso in natura. As indústrias farmacêuticas nacionais e internacionais, especialmente estas últimas, vêm buscando nas plantas da Amazônia, ou domesticadas na região, essências, produtos e formulações para a produção de medicamentos, vacinas e outras formas de terapias. Visam a industrialização e comercialização em larga escala de, aproximadamente, 5.000 princípios ativos identificados nestas plantas De acordo com o Ministério da Saúde (2006), estão identificadas na Amazônia Legal em torno de 650 espécies vegetais farmacológicas, de valor econômico. O estado do Pará é o que mais se destaca com 540 espécies, seguido dos estados do Amazonas, com 488; Mato Grosso, 397; Amapá 380; Rondônia, 370; Acre, 368; Roraima, 367; Maranhão, 261, além do Tocantins. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 A distribuição de plantas medicinais e afins, na Amazônia, está basicamente circunscrita às lojas de produtos naturais, ambulantes, feirantes, fabricantes de remédios caseiros, empresas familiares de empacotamento de plantas in natura e alguns laboratórios e/ou farmácias de manipulação de atuação localizada. Para uma planta medicinal tornar-se produto de mercado necessita e, pelos menos, dois anos de testes de laboratórios e uso regular em pacientes. O isolamento de princípios ativos habilitados à indústria farmacêutica demanda vários anos de pesquisa. As plantas, dependendo da espécie, chegam ao consumidor final na forma sólida in natura em pacotes de cascas, raízes, sementes e folhas, ou após rudimentar processo de beneficiamento. Em alguma situações são comercializadas na forma líquida: óleos, xaropes, tinturas, e vinhos. V. Algumas plantas medicinais oriundas da Amazônia Nome científico: Carapas guianensis Nome Popular: andiroba – Brasil; crab wood – Guiana Inglesa Principais características: Árvore que tem nome originado pelas populações indígenas devido o seu sabor amargo (nhandi – óleo e rob – amargo), pertence a família das meliaceas, e se encontra em sociedade com árvores de ucuuba, heveas, jaboti, pracaxis, etc. Encontra-se em solos alagados pelas mares e ilhas baixas, porém se adapta muito bem em solos de terra firme. A árvore possui um tronco alto, com diâmetro as vezes de até dois metros, folhas compridas imparipinadas, flores brancas hermafroditas, reunidas em maços. O fruto é um ouriço redondo, formado de 4 valvas, de 3 a 4 mm de espessura, coriáceas, duras, de cor parda, e, quando o fruto está maduro, abre-se deixando cair no chão as sementes que recobre. Estas sementes ou castanhas, em número 7 a 9, geralmente, são grossas, poligonais, chata na arte interna e convexa na arte externa, casca lisa um pouco mais esponjosa, cor havana, recobrindo uma massa branca, levemente rosada, compacta, mas um pouco dura, oleosa. É encontrada também em toda Bacia Amazônica, com predominância nas várzeas e faixas alagáveis ao longo dos cursos d'água, frequentemente formando associações com as seringueiras e outras espécies. Registra-se maior ocorrência nos Estados do Pará, Amapá, Amazonas, Maranhão e Roraima. Em floresta natural, a andiroba é uma árvore grande, podendo atingir 30m de altura, de fuste reto e cilíndrico, com sapopemas na base. Possui casca grossa e amarga, apresentando descamação em placas. Da andiroba aproveita-se comercialmente o óleo derivado das sementes e a madeira. Tradicionalmente, o principal uso desta planta é a madeira, pelas suas qualidades físico-mecânicas (densidade 0,70% kg/cm2). Devido à qualidade superior, a madeira é muito procurada e a exploração é feita de forma seletiva para construção de casas, forros e esquadrias, com alto risco às espécies, uma vez que praticamente não existe plantação tecnicamente organizada, nem replantio sistemático. 37 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 O óleo, conhecido na região como “azeite de andiroba”, é muito utilizado na medicina doméstica, para fricção sobre tecidos inflamados, tumores, distensão muscular, etc. É usado pelos indígenas em mistura com corante de urucum (Bixa orellana L.), como repelente contra insetos e medicamentos para parasitas do pé. Pode também ser usado como protetor solar. A abundância da espécie na região Amazônica torna-o também atraente como insumo ora produtos empregados no controle de transmissão de malária, de alta ocorrência na área. Na indústria farmacêutica homeopática, onde está sendo comercializado na forma de cápsulas, é utilizado para diabetes e reumatismo, o bálsamo para o uso típico de luxações e sabonetes medicinais. Investimento com grande potencial apresenta como principais alternativas a comercialização do óleo de andiroba e a fabricação de velas repelentes de insetos, especialmente os mosquitos de gênero Anopheles, transmissores de malária. Espécimes semelhantes: Carapas touloucouna (África Ocidental); Carapas grandiflora (Uganda); Carapas indica (Índia) Ingredientes Bioativos: Artrite e Câncer Uterino. Fonte (Jornal of EthnoFharmacology 40 (1993) 53-75) Utilização: como repelente, cicatrizante, contra luxações e contusões em massagens com relaxante, na fabricação de cremes para pele, na fabricação de sabonetes finos (fábrica artesanais), nas florestas os barcos quando são colocados nos estaleiros para reforma, são untados com óleo de andiroba para evitar a ação dos cupins com grande eficiência. Nome científico: Dipterix odorata Nome Popular: cumarú Principais características: esta árvore que produz frutos extremamente aromáticos e com uma elevada porcentagem de óleo, é uma leguminosa que produz como fruto uma noz verde-amarelada de forma ovóide, constituída de uma massa consistente, esponjosa que recobre uma semente construída por uma casca lenhosa. Espécies semelhantes: fava tonka – Europa; angustura – Venezuela Ingredientes bioativos: cumarinas; óleo gordo Utilização: antispasmódico e utilizado nos tratamentos de otites e outros processos inflamatórios do ouvido. Ø Nome científico: Ptychopetalum uncinatum Nome popular: muira-puama, marapuama, muira-pixi, mirindiba doce Principais características: utilizam-se hastes principalmente e as raízes das plantas novas o que é ecologicamente correto. Espécimes semelhantes: Ptychopetalum olacoides Ingredientes bioativos: alcalóide semelhante a yoinbina Utilização: como tônico neuro-muscular de primeira ordem. A decocção da raiz é empregada em banhos e em fricções contra a paralisia facial. Internamente, o Ø 38 Revista Perspectiva Amazônica extrato aquoso ou alcoólico produz efeitos notáveis na debilidade, na impotência sexual (neurastenia-sexual), na ataxia locomotriz, no reumatismo crônico, nas paralisias faciais, nas gripes e segundo consta é muito utilizada em determinadas regiões da Amazônia na forma contra a queda de cabelo. Ano 3 N° 5 p.32-45 Nome científico: Stryphodendron rotundifolium Mart. Família: leguminosae Nome popular: barba-de-timão, barba-de-timan, charaosinho-roxo, cascasda-virgindade, casca-da-mocidade, iba-Timão, paricarana (Pará), uabatima, uabatimo, babatimão Principais características: árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos. Folhas com 16 a 24cm de comprimento com 10 a15 pares de pinas, pinas com 6 a10 pares de folíolos; folíolos oblongos, oblíquos, glabros, de face inferior acastanhada ou ferrugínea; pecíolo apresentando uma glândula nas proximidades da base. Inflorescências compostas de espigas axilares de 10 a 12 cm de comprimento, multifloras; flores brancas de corolas curtas. O fruto é um legume séssil, castanhoescuro, recurvado, com 10 a 14 cm de comprimento, sementes alongas de 10 a 13, inseridas obliquamente. Floresce de julho a agosto e frutifica em setembro-novembro. Indicações terapêuticas: antiblenorrágica, antiescorbútica, antidiarreico, antileucorreica, antihemorrágica, antigonorreica, adstringente, tônica, emética, oftálmica Utilização: contra impigem, ferimentos, flores brancas, doenças venéreas. Ø Nome cientifico: Mauritia vinijera, Mauntia flexuosa Nome popular: buriti, miriti, cocô buriti Principais características: palmeira de grande porte, que tem o nome derivado do tupi-guarani que tem como significado "o que contem água". Encontram-se as margens dos rios em forma de florestas densas aonde chegam a atingir 50m de altura, onde a média de palmeiras por hec¬tare é de 200 a 500. Seus cachos chegam a dar de 500 a 800 frutos, e em cada arvore encontra-se até cinco cachos. A árvore é considerada pelos nativos como árvore da vida, pois dela tudo se aproveita. Em algumas regiões da Amazônia esta palmeira não é muito valorizada e o seu fruto é carregado pelas águas dos rios todos os anos, desperdiçando um dos óleos mais ricos em material graxo e vitamínico do mundo. Espécimes semelhantes: Hiphoene tebaica – África Ingredientes bioativos: B-caroteno Utilização: pelos nativos para frituras sem qualquer refino, como forma de aliviar as queimaduras do sol, conservando a pele dos nativos. Ø Ø Nome cientifico: Copaíphera multijuga Família: leguminosae–caesalpinoideae 39 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 Nome popular: copaíba, óleo de copaíba, copaíba-vermelha, balsamo, oleiro, copaíba-da-várzea (AM), copaibeira-de-minas, copaúba, cupiúva, óleo-vermelho, paude-óleo (MG), podoí (PI, CE) Características morfológicas: altura de 10 a 15m, com tronco de 50 a 80 cm de diâmetro. Copa globosa densa, folhas compostas pinatífidas, com 3 a 5 jugos; folíolos alternos ou opostos, glabros, de 4 a 5 cm de comprimento por 2 a 3 cm de largura. Ocorrência: Pará, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, principalmente na floresta latifoliada da bacia do Paraná. Existem varias espécies de copaíba, dependendo da região de ocorrência, todas muito apreciadas, com as mesmas aplicações e os mesmo nomes. Na região sul ocorre a espécie "Copaífera trapezifolia Hayne". Os frutos amadurecem entre agosto e setembro, com a planta quase totalmente despida de folhagem. Ingredientes bioativos: cariofileno, um fitoquímico com fortes propriedades anti-inflamatórias Utilização: a madeira é indicada para a construção civil, como vigas, caibros, ripas, batentes de portas e janelas, para confecção de móveis e peças torneadas, como coronhas de armas, cabos de ferramentas e de vassouras, para carrocerias, miolos de portas e painéis, lambris e tábuas para assoalhos. A copaíba é usada topicamente para aliviar a inflamação e ajudar a curar péde-atleta, feridas, erupções cutâneas, dermatites, eczema e psoríase, além de ajudar a restaurar a pele danificada e curar pequenas cicatrizes. Age como um agente antisséptico, desinfetante e antimicrobiano para usos internos e externos em infecções bacterianas, câncer de pele, úlceras no estômago e câncer de estômago. Vários shampoos (xampus) que contém copaíba são eficazes no combate à caspa. O bálsamo de copaíba é benéfico para tosse crônica, catarro, resfriados, bronquite e outros problemas respiratórios. A planta é um bom remédio para tratar catarro e bronquite crônica, vez que auxilia na expectoração e é antisséptico. Também é recomendado no tratamento natural de leucorréia, cistite crônica, diarréia, hemorróida, gonorréia. A copaíba alivia os sintomas de uma ampla gama de doenças que causam a inflamação dos tecidos moles ou mucosas. Testes de laboratório mostraram que a resina atua reduzindo a permeabilidade das paredes capilares para a histamina, substância química responsável pelo inchaço doloroso em todas estas condições. O óleo volátil é antimicrobial e previne infecções secundárias no eczema, herpes e psoríase. Nome cientifico – Virola sebifera Nome popular: ucuubarana, ucuúba Principais características: árvore de grande porte da família das Miristicáceas, que tem seu nome originado da língua indíge¬na que significa ucu (graxa) e yba (árvore) cresce em regiões alagadas pelas marés ou várzeas, e Ø 40 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 encontrada em toda a Amazônia na região das ilhas, zona guajarina, Amapá, afluentes do Amazonas. Espécimes semelhantes- Miristica guatemalensis Ingredientes bioativos - ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico Utilização: comumente, o óleo é usado na fabricação de velas e como combustível para iluminação de lamparinas, que na queima exala um cheiro aromático. Na medicina caseira, principalmente, é aplicado com sucesso no tratamento de reumatismo, artrite, cólicas, aftas e hemorroidas. A manteiga de ucuúba, que é dura e amarelada, pode ser usada em combinação com outros ingredientes para a produção de velas e sabonetes vegetais, sendo um substituto vegetal para a parafina oriunda do petróleo. Sabonetes e cremes a base de ucuúba tem ação anti-inflamatória, cicatrizante, revitalizante e antisséptica comprovada. Nome científico: Uncaria tomentosa Nome farmacêutico: cortex uncariae Nome popular: unha de gato, bejuco de água, deixa, gabarato, gabarato amarillo, gabarato colorado, garra gavilán, jipotatsa, michomentis, paotati-mosha, paraguyayo, saventaro, tua juncara, uña de gato, uncucha, unganangi Principais características: gênero uncaria, família rubiácea, subfamília cinchonoideae. É encontrado na América Central e América do Sul. São arbustos trepadores, pouco ramificados que têm entre 10 a 30 metros de altura, com diâmetro entre 5 a 40 centímetros, com folhas simples e opostas, pecioladas, com espinhos em forma de gancho (daí a aparência com unha de gato), tem flores globosas branco amareladas em glomérulos axilares. Ingredientes bioativos: alcaloides ativos (oxindólicos pentacíclicos, oxindólicos tetracíclicos e indólicos), triterpenos, ácidos orgânicos, glicosídeos, procianidinas e esteróis Utilização: em forma de vinho ou chá para doenças como: asma, artrite, antiinflamatório, úlceras gástricas, feridas profundas, contracepção, dores nos ossos e câncer. Ø 41 42 ptycho pelatum olacoides - raízes das plantas novas e hastes das plantas adultas árvore pequena de ramos acinzentados e rugosos muira-puama marapuama muira-pixi mirindiba doce barba-de-timão barba-de-timan barbatimão charaosinho-roxo cascas-de-virgindade casca-da-mocidade iba-timão paricarana uabatima uabatimó Ptychopelatum uncinatum Stryphodendron rotundifolium mart fava tonka angustura frutos aromáticos leguminosa cumarú Dipterixodorata carapastouloucouna carapas grandiflona carapas indica ESPÉCIES SEMELHANTES andiroba crab wood sabor amargo solo alagado ou firme tronco alto com até 30 metros de altura diâmetro de até dois metros folhas compridas flores brancas hermafroditas fruto ouriço redondo com 4 valvas PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS Carapas guianensis NOME POPULAR antiblenorrágica antiescorbútica antidiarreico antileucorreica antihemorrágica antigonorreica adstringente ofitálmica alcalóide semelhante a yoin bina cumarinas óleo gordo artrite câncer uterino BIOATIVOS INGREDIENTES impigem feridas flores brancas doenças venéreas tônico neuro- muscular combate a paralisia facial impotência sexual e queda de cabelo antispasmódico otite inflamação no ouvido repelente cicatrizante luxações UTILIZAÇÃO Ano 3 N° 5 p.32-45 CIENTÍFICO NOME Revista Perspectiva Amazônica TABELA 1 Resumo das particularidades das plantas medicinais NOME árvore com 10 a 15 m de altura, com tronco de 50 a 80 cm de diâmetro regiões alagadas da amazônia arbustos trepadores com 10 a 30 m de altura diâmetro entre 5 e 40cm, folhas opostas com espinhos em forma de gancho ucuubarana ucuúba unha de gato bejuco de água deixa gabarato gabarato amarillo gabarato colorado garra gavilán jipotatsa michomentis pao tati-mosha paraguyayo saventaro tua juncara uña de gato uncucha unganangi Virola sebifera Uncaria tomentosa PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS copaíba óleo de copaíba copaíba- vermelha copaíba – da- varzea copaibeira-de-minas copaúba cupiúva óleo-vermelho pau-de-óleo podói NOME POPULAR Copaiphera multijuga CIENTÍFICO - miristica guatemalensis - ESPÉCIES SEMELHANTES alcaloides ativos, triterpenos, ácidos orgânicos, glicosíodeos, procianidinos e esteróis ácidos graxos: láurico, mirístico e palmítico cariofileno BIOATIVOS INGREDIENTES asma artrite anti-inflamatório úlcera gástrica, feridas profundas contracepção dores nos ossos câncer velas repelentes madeira para construção civil cicatrizante anti-inflamatório UTILIZAÇÃO Revista Perspectiva Amazônica TABELA 1 Resumo das particularidades das plantas medicinais Ano 3 N° 5 p.32-45 43 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 VI. Considerações finais Qual a real importância das plantas potencialmente medicinais oriundas da floresta Amazônica na composição de medicamentos processados pela indústria farmacêutica? As ideias apresentadas neste ensaio demonstram a necessidade de mobilizar a comunidade científica para pesquisar um tema de alta relevância para a realidade amazônica e que, ao mesmo tempo, pode produzir soluções para a região. É preciso aprofundar os estudos e discussões sobre o assunto em pauta, é imperioso tratar da sustentabilidade (da riqueza) da floresta Amazônica, considerando as variáveis ambiental, econômica e social. Há de se realizar ações urgentes para promover o desenvolvimento econômico da sociedade, a preservação da natureza e o desenvolvimento sustentável da floresta. Referências ARRUDA, Helvio Moreira 1999 Identificar mercados potenciais para produtos derivados das florestas secundárias da Região Nordeste do Estado do Pará. Pará: Relatório de Pesquisa para EMBRAPA / CPATU – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental. ARRUDA, Helvio Moreira 2001 Perfil do Consumidor de Plantas Medicinais nas Lojas do Centro da Cidade de Belém. Pará: Dissertação de Mestrado. ARRUDA, Helvio Moreira. 2004 Força de Vendas. 2ª ed. Pará: Ed. UNAMA. BERLIN, B. 1992 On the making of a comparative ethnobiology. In: Ethnobiological Classification: principles of categorization of plants and animals in traditional societies, Princeton, Princeton University. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica 2006a A fitoterapia no SUS e o Programa de Pesquisa de Plantas Medicinais de Central de Medicamentos. Brasília: Ministério da Saúde. BRASIL 2006b Decreto nº 5813, de 22 de junho de 2006. Aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Diário Oficial da União. Brasília: Poder Executivo. BRUHN, J. G. & HOLMSTEDT, B. 1982 Ethnopharmacology, objectives, principles and perspectives. In: Natural products as medicinal agents. Stuttgart: Hippokrates. ELISABETSKY, E. e SETZER, R. 1990 Caboclo concepts of disease, diagnosis and therapy: implications for Ethnopharmacology and health systems in Amazonia. In: The amazon caboclo: historical and contemporary perspectives. Williamsburgh: Studies On Third World Societies Publication. 44 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.32-45 FIEAM 2002 Pelo aproveitamento racional das plantas medicinais da Amazônia. In: Anuário da Agricultura Brasileira (AGRIANUAL 2002). São Paulo: FNP Consultoria & Comércio. FUZÉR, L.; SOUZA, I.; IBAMA. 2003 Núcleo de plantas medicinais. Vol. 57. Bionotícias, p.6-7. GUERRA, P. M.; NODARI, O. R. 2003 Biodiversidade: aspectos biológicos, geográficos, legais e éticos. Porto Alegre: UFRGS. LOVATTO, P.B.; ETGES, V.; KARNOPP, E. 2008 A natureza na percepção dos agricultores familiares do município de Santa Cruz do Sul/ RS, Brasil: algumas perspectivas para o Desenvolvimento Regional Sustentável. Santa Cruz do Sul: Redes. MINISTÉRIO DA SAÚDE 2006 Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica. Brasília: Ed. M.S. MUNDO VERDE 2011 Revista Mundo Verde. 7ª ed. Mai. SCHAFFER, W.B.; PROCHNOW, M. 2002 A Mata Atlântica e Você: como preservar, recuperar e se beneficiar da mais ameaçada floresta brasileira. Brasília: APREMAVI. VEJA 2010 Revista Veja. Edição Especial. Dezembro. São Paulo: Ed. Abril. VLIETINCK; VAN DEN BERGHE 1991 Plantas Medicinais. São Paulo: Ed. Pedagógica e Universitária Ltda. 45 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA INTERNET EM SANTARÉM, ESTADO DO PARÁ E OS PREJUÍZOS CAUSADOS PELAS CONSTANTES INTERRUPÇÕES E A BAIXA VELOCIDADE DAS CONEXÕES DOS PROVEDORES EM 2012 José de Lima Pereira¹ RESUMO Este estudo tem como objetivo avaliar a qualidade da internet em Santarém, no Estado do Pará, nos últimos seis meses, bem como mensurar os prejuízos causados pelas constantes interrupções dos serviços a toda sociedade, incluindo o setor produtivo, os órgãos públicos, profissionais liberais e os domicílios. O estudo tem como base a Teoria da Produção, que dispõe sobre a oferta e a demanda por serviços essenciais por concessão do governo. A metodologia escolhida foi a pesquisa de dados primários e secundários com método Heurístico com amostra de 131 agentes econômicos que foram entrevistados no período de 28/11 a 06/12/2012, com nível de confiança de 97,31%. O instrumento utilizado foi o questionário estruturado com 11 perguntas objetivas e um grupo de questões que teve como objetivo definir o perfil dos entrevistados por setor da economia, segmento, classe econômica e renda e/ou receita mensal. O trabalho está desenvolvido com o uso de planilhas, gráficos e a análise de dados a partir de uma série de seis meses de atividades e apresenta com resultado o desperdício efetivo de 5.462,19 horas sem acesso a Internet por todos os segmentos totalizando um prejuízo de R$ 93,7 milhões. Palavras-chave: internet – conexão – prejuízo financeiro – consumidor ABSTRACT This study aims to evaluate the quality of internet in Santarém, in Pará State, in the last six months, and measure the damage caused by the constant interruptions of service to the whole society, including the productive sector, government agencies, professional liberals and households. The study is based on the Theory of Production, which regulates the supply and demand for essential services by government grant. The methodology chosen was searching for primary and secondary data with Heuristic method with a sample of 131 economic agents who were interviewed in the period from 11/28 to 2012/12/06, with a confidence level of 97.31%. The instrument used was a structured questionnaire with 11 objective questions and a set of questions that aimed to define the profile of the interviewees by sector of the economy segment, economic class and income and monthly income. The work is developed with the use of spreadsheets, graphs and analysis of data from a series of six months of activities and displays results with effective waste 5,462.19 hours without access to the Internet for all segments totaling a loss of US$ 46.6 million. Key words: internet – connection – financial loss – the consumer ¹ Economista (UNAMA), Mestre em Economia (UNAMA), Alunos especial do doutorado em desenvolvimento regional (NAEA/UFPA). Pesquisador de desenvolvimento econômico regional há mais de 20 anos com mais de 100 trabalhos publicados em revistas, jornais e sites especializados. Coordenador do curso de Ciências Econômicas (13 anos) e docente de economia, formação de preços, perícia econômica, mercado financeiro, estatística, econometria, política econômica e outras disciplinas (24 anos) para cursos de graduação e pós-graduação ministrados pelas Faculdades Integradas do Tapajós (FIT). Docente de pós-graduação para outras Instituições de Ensino Superior (IES) como UEPA, UFMT, ULBRA e UNAMA. Secretário Executivo e Pesquisador do Centro Avançado de Estudos Amazônicos (CEAMA). Perito Judicial do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, Comarca de Santarém (400 processos). 46 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 I. Introdução A internet é a rede mundial interligada por computadores que conecta pessoas de diferentes partes do mundo, como se fosse uma aldeia global. Nos tempos modernos a internet é indispensável e essencial para: estudantes, profissionais e para população em geral. Afora isso, cada vez mais cresce o número de pessoas em todo mundo que utiliza a internet para acessar as redes sociais, com o objetivo de se relacionar com outras pessoas, conhecer lugares virtuais, empresas, organizações, fazer cursos à distância, desenvolver trabalhos lucrativos e tantos outros. Há serviços para os quais a internet é uma ferramenta indispensável cujo sistema é composto por um banco de dados. Com os negócios cada vez mais globalizados e disponíveis na web, crescente número de empresas tem investido grandes somas monetárias em seus departamentos de Tecnologia da Informação (TI). Apesar disso, é comum ouvir críticas contra a lentidão dos provedores de internet, que acaba, em maior ou menor volume, comprometendo o rendimento do trabalho, das pesquisas e a entrega de serviços. E é com base nesse contexto que este estudo aponta como objetivo avaliar a qualidade da internet em Santarém, no Oeste do Estado do Pará, apontando os prejuízos causados pelas constantes interrupções e baixa velocidade das conexões na economia do município nos últimos seis meses, a partir de uma pesquisa de campo com amostra de 131 entrevistados, entre empresários, dirigentes de escolas, órgãos públicos, profissionais liberais e os representes dos mais de 125 mil domicílios. O período da realização da pesquisa foi de 29/11 a 06/12/2012, somente na zona urbana do município. O nível de confiança da pesquisa chegou a 97,31% e o método utilizado foi o heurístico. O estudo tem como resultado um prejuízo acumulado de R$ 93,7 milhões nos seis últimos meses levando-se em conta, tomando como base as horas que as empresas, órgãos públicos, profissionais liberais, escolas e pessoas físicas utilizam de fato a internet para o desenvolvimento de suas atividades. II. Contextualização problemática A internet em Santarém é recebida de duas formas: via satélite, através da Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL) e por meio de fibra ótica, pela ELETRONORTE. Nos últimos meses, devido à elevação da demanda e a falta de investimentos nas mesmas proporções, tem provocado constantes quedas no sinal de forma mais frequente, gerando graves transtornos à sociedade, principalmente para quem necessita de internet para trabalhar ou estudar, dentre as quais: as empresas comerciais, industriais e de serviços; do setor de agronegócios, os órgãos públicos e principalmente as escolas que passam mais de 46% do tempo conectadas com a rede mundial de computadores no desenvolvimento de atividades acadêmicas e pedagógicas. Nas duas últimas semanas a cidade ficou sem o serviço de forma integral, 47 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 situação provocada por um incêndio no último dia 14/11, na Rodovia Santarém/Cuiabá (BR-163), no bairro Cambuquira que atingiu a rede de transmissão de fibra ótica. Devido ao tempo seco, o fogo se aglomerou em grandes proporções e se espalhou rapidamente e a cidade passou mais de 12 horas sem internet. A conexão via cabo voltou a funcionar somente na manhã do dia seguinte (15/11). Mais recentemente o município ficou outra vez sem internet e ainda sem comunicação telefônica desde a noite de quarta-feira (21/11), quando um cabo de alta tensão rompeu por volta das 23h, caindo sobre o cabo de fibra ótica, provocando incêndio em altas proporções. O incidente aconteceu na Avenida Cuiabá, no bairro da Nova República, rompendo o cabo (fibra ótica) em três lugares, causando parada total na internet e também na telefonia fixa. Todos os serviços emergenciais foram seriamente afetados. O Centro Integrado de Operações da Polícia Militar (CIOP), acionado pelo número 190, ficou sem comunicação com a população, circunstância só reestabelecida as 20h30 do dia 22/11. Em face aos problemas e aos transtornos causados pela falta de Internet e telefonia celular em razão do aumento de demanda e a falta de investimentos, no dia 28/11, representantes do Ministério Público Estadual, lojistas e comerciantes de Santarém se reuniram no início da tarde na sala de audiência do programa “O Ministério Público e a Comunidade” para discutir os prejuízos que a falta de internet vem provocando em Santarém. O Ministério Público que foi representado pelos promotores: Sandro Chermont e Samuel Furtado comunicaram aos presentes a necessidade de um estudo técnico e econômico que viesse subsidiar uma ação do MP em relação à demanda. Os representantes da Associação Comercial e Empresarial de Santarém (ACES), do Sindicato dos Lojistas (SINDILOJAS), de uma rede de supermercados da cidade e um especialista em informática, expuseram os prejuízos causados aos serviços prestados à sociedade, principalmente no comércio, nos órgãos públicos e nas escolas, com as constantes oscilações e interrupções no serviço de internet local. Se por um lado a empresa Central Elétrica do Pará (CELPA), que detém a concessão da energia elétrica no Estado, esclarece que as interrupções recentes dos serviços de internet em Santarém, vêm sendo provocadas por constantes incêndios com danos aos cabos de fibra ótica, atenua que, afora os incidentes, a falta de conexão tem por responsabilidade os provedores de internet e concessionários de telefonia celular. De outra ordem, os mesmos operadores e/ou provedores vêm apontando a ELETRONORTE e a concessionária de distribuição de energia com verdadeiros culpados: o problema persiste por muito tempo sem qualquer solução. O Ministério Público solicitou aos presentes na reunião que o estudo esteja pronto até o dia 07/12 e que tenha como foco subsídios para um inquérito civil que tenha como objetivo a solução definitiva do problema. Às 19h do dia 28/12 (quarta-feira) aconteceu uma reunião sem a presença do 48 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 Ministério Público no auditório da ACES para discutir a forma de se realizar o estudo técnico e econômico, matéria esta que tivesse como objeto, medir os valores referentes aos prejuízos das empresas, escolas, profissionais liberais, órgãos públicos e da sociedade em geral pela falta dos serviços de Internet nos últimos seis meses. Diante do atual cenário e atentando para o fato de não se ter solucionado o problema que persiste há muito tempo, e levando-se em conta a situação de penúria por que passa a sociedade santarena sem um serviço de Internet com qualidade, as perguntas que se fazem são as seguintes: § Levando-se em conta um serviço de extrema necessidade para a sociedade moderna, quem foram os mais afetados com a falta de internet nos últimos seis meses em Santarém? § Durante o período estudado, que serviços foram mais afetados? § Qual o tamanho dos prejuízos causados às empresas, profissionais liberais, órgãos públicos, escolas e aos domicílios nos últimos seis meses? III. Metodologia III.1. Local da pesquisa A pesquisa foi desenvolvida entre usuários de internet na zona urbana de Santarém, município que possui área 22.422,5 km², com população de 310.124 habitantes (IBGE, 2012), Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 3,65 bilhões em 2011. Hoje existem 14 instituições de ensino superior que juntas somam 28.254 alunos matriculados (INEP, 2012) e mais 73,6 mil alunos nos ensinos técnico, médio e fundamental (INEP, SEDUC/PA e SEMED, 2012). Tem 125.250 domicílios (CEAMA, 2012), 4.656 obras em andamento (CREA, 2011), frota de 59.652 veículos, 37.589 motocicletas, 1.584 máquinas e implementos agrícolas, 10.890 embarcações registradas no Ministério da Marinha (MM) e 26.492 não registradas entre grandes e pequenas. A cidade é considerada o polo da economia regional do Oeste do Estado do Pará. É o segundo município mais importante do Pará e o principal centro socioeconômico do oeste do Estado. Pertence à mesorregião do Baixo Amazonas e à microrregião homônima. Situa-se na confluência dos rios Amazonas e Tapajós. Está localizado à meia distância entre as principais capitais da Amazônia (Belém e Manaus), distando aproximadamente 800 quilômetros em linha reta. Poeticamente é conhecida como “Pérola do Tapajós”. Foi fundada em 22 de julho de 1661, sendo então a segunda cidade mais antiga do norte do país (atrás apenas de Belém). Em 1758 foi elevada a categoria de vila e quase um século depois em consequência de seu notável desenvolvimento foi elevada a categoria de cidade em 1948. Está incluída no plano das cidades históricas do Brasil. 49 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 1 Dados macroeconômicos e de localização de Santarém · · · · · · · · · · · · · Área: 22.422,50 km² População: 310.124 habitantes Demografia: 70,4% na zona urbana e 29,6% na zona rural PIB: R$ 3.650.345.058,32 (R$ 3,65 bilhões) PIB Per capita: R$ 11.770,60 Renda per capita: R$ 6.161,91 Setor Primário (agricultura, pecuária e extrativismo): 35,01% Setor Secundário (indústria de transformação): 14,85% Setor Terciário (comércio e serviço): 50,14 Localização: Oeste do Estado do Pará Situação: cidade polo de centraliza a economia de 26 outros municípios totalizando 1,4 milhão de habitantes Domicílios: 125.250 unidades, 4.656 obras em andamento 14 instituições de ensino superior com 28.254 alunos matriculados em 49 cursos sequenciais, graduação e pósgraduação; 73.560 alunos nos ensinos médios técnicos; 9.584 micros e pequenas empresas; 1.056 médias e 112 grandes empresas; 2.542 profissionais liberais; 163 órgãos públicos Fonte: CEAMA (2012) III.2. Universo da amostra O universo da pesquisa compreende a totalidade de micro e pequenas empresas formais (9.584), as médias empresas (1.056), as grandes empresas (112), os profissionais liberais (2.542), os domicílios (125.250) e os órgãos públicos (163) (TABELA 1). A amostra foi definida levando-se em conta o universo de usuários efetivos de internet, com índice de 97,31% de confiabilidade, distribuídos em: 32 micros e pequenas empresas (0,33%); 15 médias empresas (1,42%); 12 grandes empresas (10,71%); 12 profissionais liberais (0,47%); 53 domicílios representados por pessoas físicas (0,04%) e sete órgãos públicos (4,29%), totalizando 131 entrevistados. A EQUAÇÃO (1) definiu o número de entrevistados de cada segmento com margem de erro de 2,69%: EQUAÇÃO (1) 2 é ù N .P.Q.(Za / 2 ) n=ê ú 2 2 ë (N - 1)e + P.Q.(Za / 2 ) û 50 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 Onde: n = tamanho da amostra N = tamanho da população P = proporção de casos de interesses observados na população Q = 1 – P. Quando P é desconhecido, utilizando a proporção de 50% (P = 0,5) Zα/2 = nível de confiança ɛ = margem de erro (2,69%) TABELA 1 Universo de amostra da pesquisa Item 1 2 3 4 5 6 Descrição Micro e pequenas empresas Médias empresas Grandes empresas Profissionais liberais Domicílios Órgãos públicos TOTAL Universo 9.584 1.056 112 2.542 125.250 163 138.707 Usuários 5.450 1.056 112 2.542 68.011 163 Web (%) 56,87 100,00 100,00 100,00 54,30 100,00 77.334 55,75 Amostra 32 15 12 12 53 7 131 % 0,33 1,42 10,71 0,47 0,04 4,29 0,09 Fonte: CEAMA (2012) III.3. Período de realização da pesquisa A pesquisa foi realizada no período de 28/11 a 06/12/2012, na zona urbana do município, por cinco pesquisadores com a coordenação do pesquisador e economista José de Lima Pereira. III.4. Instrumento O instrumento de coleta de dados na realização da pesquisa de campo foi o “Questionário”, estruturado com 11 perguntas objetivas, com hipóteses prováveis aos anseios do usuário de internet, com informações importantes que viessem dar as respostas necessárias ao estudo (FIGURA 2). FIGURA 2 Assuntos componentes da estrutura do questionário ITENS 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 TEMAS CENTRAIS DO QUESTIONÁRIO Setor, segmento, classe, renda e/ou receita mensal dos usuários de Internet Uso ou não da Internet Frequência do uso da Internet Provedor de acesso à Internet Interrupções da internet e o aviso pelo provedor Frequência das interrupções do acesso à Internet Tempo médio de duração das interrupções dos serviços de Internet Existência ou não e o tipo de prejuízo causado pelas interrupções da Internet nos seis últimos meses Grau de satisfação do usuário com o uso da Internet em Santarém Grau de importância da pesquisa Observações importantes 51 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 III.5. Métodos Para o estudo que tem como foco a avaliação da qualidade da internet e os prejuízos causados pelas constantes interrupções no município de Santarém, levaram-se em conta os aspectos históricos e a correlação destes com os dados estatísticos, de forma primária e secundária, a partir do numero de entrevistados, permitindo-se assim o entendimento do sistema operação da internet em Santarém, projetando assim perspectivas para a solução dos constantes problemas de conexão e as expectativas para um novo cenário. III.5.1. Histórico Método que consistiu investigar os fatos e acontecimentos ocorridos pela falta de internet no município nos últimos meses, verificando-se possíveis projeções de sua influência na sociedade contemporânea local. Oferece ainda a possibilidade de análise da organização da sociedade e das instituições permitindo-se entender a dinâmica histórica de sua evolução, transformação e desaparecimento. III.5.2. Estatístico Método que se aplicou ao estudo a partir dos fenômenos aleatórios, especialmente nos conjuntos de procedimentos apoiados em teorias de amostragem e, como tal, indispensáveis no desenho do cenário da informação cibernética em Santarém, dando-se aspectos relevantes da realidade local e regional, objeto pretendido para medir o grau de correlação entre dois ou mais fenômenos: o atual e outro modelo mais moderno de conexão, com dados primários, com amostragem de 131 entrevistados ligados aos segmentos produtivos e à sociedade em geral, projetando-se um erro padrão de 2,69%. III.6. Análise de dados Para análise dos resultados, utilizaram-se mapas geográficos, tabelas e gráficos estatísticos, que foram fundamentais na observação dos dados, demonstrando-se com clareza as respostas decorrentes da satisfação dos consumidores dos serviços de internet em todos os seus aspectos. III.7. Mensuração dos prejuízos 52 Para medir o custo da ociosidade e os reais prejuízos à sociedade santarena em todos os seus aspectos decorrentes das constantes interrupções dos serviços de internet, utilizou-se a EQUAÇÃO (2), que tem como suporte básico os dados numéricos absolutos e relativos dos segmentos produtivos e dos domicílios, a renda Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 e/ou receita média mensal de cada segmento, o número de horas efetivamente utilizadas no uso da internet e o produtos dessas três variáveis, sendo: EQUAÇÃO (2) δ = ? (N . Rx/h . Qh) Onde: δ = Custo da ociosidade por falta de Internet (em R$) N = Número de consumidores do universo por segmento da economia Rx/h = Receita média de empresas e/ou domicílios por hora (R$/h) Qh = Quantidade de horas efetivamente ociosas em consequência das interrupções na conexão da Internet em Santarém IV. Resultados Os resultados do estudo estão analisados com base nos dados da pesquisa de campo, tendo como apoio a distribuição da amostra por setor, por segmento, por classificação de atividade e por receita e/ou renda mensal. As análises definidas em dados quantitativos e qualitativos, tendo como foco o uso ou não da internet, sua frequência, os provedores de acesso; as interrupções, as frequências e o tempo de duração delas nos últimos seis meses; os prejuízos financeiros inerentes à falta de conexão à rede pelos usuários, o nível de satisfação destes com o uso da internet local e o grau de importância da pesquisa. IV.2. Distribuição da amostra Entre os 131 entrevistados na pesquisa de campo, 96,12% pertencem ao setor terciário da economia, formado por empresas ligadas ao segmento comercial, de serviço e os domicílios; 3,10% referentes às atividades do setor primário (agricultura, pecuária e o extrativismo) e 0,78% em empresas ligadas ao setor secundário (indústria de transformação) (FIGURA 3). Entre os entrevistados, 71,74% são do segmento comercial e de serviços, incluindo bancos, escolas, empresas comerciais de uma forma em geral; 16,67% formados pela mostra de domicílios; 5,07% de empresas e/ou pessoas ligadas à agricultura; 2,90% de empresas e/ou pessoas ligadas à pecuária; 2,17% ao extrativismo (pedra, seixo, fibras etc.) e 1,45% de indústrias de transformação (FIGURA 4). 53 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 3 Distribuição da amostra por setor da economia FIGURA 4 Distribuição da amostra por segmento da economia FIGURA 5 Distribuição da amostra por classe da economia 54 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 Levando-se em conta a classe econômica, 40,46% dos entrevistados foram de domicílios; 24,43% de micros e pequenas empresas do mais diversos segmentos da economia local; 11,45% referente à mostra de médias empresas; 9,16% de profissionais liberais e de grandes empresas e 5,34% de órgãos públicos (FIGURA 5). Na distribuição da amostra por renda e/ou receita mensal, foi levado em conta o orçamento anual de cada órgão público e nos domicílios, a renda mensal. Dessa forma a renda e/ou receita mensal da amostra ficou assim distribuída: 20,16% com renda entre 20 e 50 salários mínimos (SM); 21,71% com receita mensal acima de 100 SM. Nesta faixa de renda estão as médias e grandes empresas. 19,38% com renda mensal até 3 SM; 14,73% com renda entre 50 e 100 SM. Nesta faixa estão micros e pequenas empresas e parte dos profissionais liberais. 13,95% com renda entre 3 e 10 SM e 10,08% com renda entre 10 e 20 salários mínimos de R$ 622,00. FIGURA 6 Distribuição da amostra por nível de renda e ou receita mensal IV.3. Uso da internet Entre os entrevistados e levando-se em conta a margem de erro de 2,69% sobre os resultados, 96,12% têm usado a internet com frequência como uma ferramenta indispensável no trabalho, na escola, em serviços disponibilizados pelos órgãos públicos ou mesmo na conexão com as redes sociais; 3,10% da amostra se manifestaram em não usuários da Web e apenas 0,78% dos entrevistados foram indiferentes (FIGURA 7). A frequência do uso da internet entre os entrevistados ficou assim definida: 86,51% responderam que usam a internet diariamente; 8,73% usam em uma frequência de três vezes por semana; 1,59% usam a rede com frequência de uma a duas vezes por semana e 0,79% utilizam a internet para no intervalo de 15 dias ou uma vez a cada mês. Neste contexto estão os aposentados ou assalariados (FIGURA 8). 55 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 7 Uso da Internet em Santarém: 2012 FIGURA 8 Frequência do uso da Internet em Santarém: 2012 IV.4.Provedores de acesso à Internet Entre os dirigentes de empresas, profissionais liberais, pessoas físicas e gestores de órgãos públicos entrevistados, o maior mercado de internet em Santarém está com a operadora VIVO (31,65%), em segundo a CLARO/EMBRATEL, com 13,45%. A empresa ZZUM ficou com 11,39% dos entrevistados, principalmente nos bairros próximo ao centro. Os demais provedores de acesso são: REDE WSP (5,91%), NETSAN (5,49%), TIM (5,06%), NAVEGA PARÁ (4,22%), OI VELOX (3,80%), ISP PAPAGAIO e VSTM (3,38%), AOL, UOL e LINUX PROVEDOR (2,53%), IG (2,21%) e outro provedores (1,69%) (FIGURA 9). 56 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 9 Market share dos provedores de acesso à Internet em Santarém: 2012 (em %) IV.5. Interrupção dos serviços de internet nos últimos seis meses Pela amostra de consumidores entrevistados, 95,75% deles tiveram interrupções no acesso ao provedor de internet nos seis últimos meses; 2,44% disseram não ter qualquer interrupção nos serviços e 0,81% se mostraram indiferentes (FIGURA 10). FIGURA 10 Interrupção nos serviços de Internet nos seis últimos meses As interrupções aconteceram da seguinte forma: 27,20% dos entrevistados disseram ter tido interrupções no período (últimos seis meses) diariamente; 20% pelo menos uma vez por quinzena; 19,20% uma vez por semana; 16,80% duas vezes por semana; 2,8% três vezes por semana e 4% disseram ter tido interrupções no acesso a internet em pelo menos uma vez por mês (FIGURA 11). 57 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 11 Frequência das interrupções nos serviços de Internet nos seis últimos meses Os intervalos de tempos médios das interrupções foram os seguintes: 26,19% dos entrevistados responderam que as interrupções duraram até uma hora; 23,81%, com intervalo de tempo até 30 minutos; 23,02% tiveram interrupções até duas horas; 11,11% tiveram interrupções com intervalo de tempo até 15 minutos; 10,32% disseram ficar parados por falta de internet em até 12 horas e 5,56% com intervalor de tempo acima de 12 horas sem internet (FIGURA 12). FIGURA 12 Tempo médio de duração das interrupções nos serviços de Internet nos seis últimos meses Por outro lado, do total de entrevistados (131), 92,74% deles responderam não terem qualquer aviso da falta de acesso a internet pelo seu provedor; 6,45% responderam que foram avisados e 0,81% se mostraram indiferentes (FIGURA 13). 58 Revista Perspectiva Amazônica Figura 13 Aviso do provedor das interrupções nos serviços de internet nos seis últimos meses Ano 3 N° 5 p.46-66 IV.5. Os prejuízos causados pela falta de internet em Santarém Quanto aos prejuízos absorvidos pela falta do serviço de internet, 64,06% dos entrevistados disseram ter tido algum tipo de dano causado por falta da conexão aos provedores; 35,16% disseram não ter tido qualquer prejuízo e 0,78% dos entrevistados se mostraram indiferentes (FIGURA 14). FIGURA 14 Existência de prejuízos causados pelas interrupções nos serviços de internet nos seis últimos meses em Santarém Entre os prejuízos detectados junto estão aos seguintes: 33,33% não conseguiram pagar suas contas pela falta de conexão na internet, principalmente junto aos bancos ou empresas prestadoras de serviços de correspondente bancário como as loterias, farmácias, supermercados e outros credenciados; 17,71% disseram ter interrupções no atendimento de serviços essenciais, principalmente junto aos órgãos públicos, escolas, serviços de saúde, arrecadação de impostos e outros. 59 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 FIGURA 15 Tipos de prejuízos causados pelas interrupções nos serviços de internet nos seis últimos meses em Santarém (em %) Dentre os dirigentes de empresas que foram entrevistadas, 14,58% disseram terem pedido negócios importantes com a falta de conexão na internet; 9,9% deles disseram que tiveram suas vendas interrompidas; 9,38% dos entrevistados (bancos, órgãos públicos, serviços de saúde e outros) disseram ter tido interrupção no atendimento de seus clientes e/ou pacientes; 8,33% informaram a ociosidade de pessoal em serviços; 4,69% tiveram que interromper suas compras junto aos seus fornecedores (FIGURA 15). Quanto ao tempo destinado exclusivamente à internet, os órgãos públicos responderam que usam 37,43% do tempo em serviços exclusivos por via internet; os profissionais liberais responderam que usam 33,33% do seu tempo com a internet em verificação de processos, remessas de imagens (atendimentos em saúde), encaminhamento de petições e outros; as grandes empresas responderam que dependem de internet em 25,87% do seu tempo útil; as médias empresas ficam conectadas em 10,30% do seu tempo de atividade; micros e pequenas empresas dependem da internet em 8,96% do seu tempo produtivo e os domicílios afirmaram que em 2,57% de seu tempo dependem da rede (FIGURA 16). FIGURA 16 Uso do tempo médio efetivo na internet pelos consumidores em Santarém: 2012 (em %) 60 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 Levando-se em conta os intervalos geométricos de tempo em relação às quantidades de agentes econômicos entrevistados, verificou-se uma ociosidade de 128,7 mil horas no universo de 77,3 mil agentes entre profissionais liberais, micros e pequenas empresas, médias empresas, grandes empresas, domicílios e órgãos públicos. TABELA 2 Quantidade de horas perdidas em relação ao número de empresas por intervalo de tempo Fonte: CEAMA (2012) No intervalo de até 15 minutos de ociosidade, totalizaram 8.893 agentes econômicos; até 30 minutos, 18.413 agentes; até uma hora, 20.254 agentes; até 2 horas, 17.799 agentes; até 12 horas, 7.979 agentes e acima de 12 horas de paralisação, 4.296 agentes econômicos (TABELA 2). NOTA As médias geométricas foram determinadas pelas dispersões das médias dos intervalos de cada classe de forma relativa e foram utilizadas para o cálculo da ociosidade dos agentes econômicos nos últimos seis meses. A metodologia adotada para a determinação da receita e/ou renda mensal dos agentes econômicos de Santarém foi equacionada pelo terceiro decil da renda per capita média de acordo com a FIGURA 17. FIGURA 17 Quadro de determinação do valor da receita p/ hora por classe econômica (em R$) CLASSES ECONÔMICAS Profissional liberal (valor médio das entidades de classes) Micros e pequenas empresas Médias empresas Grandes empresas (valor mínimo p/ RF) Domicílios Órgãos públicos (valor médio do orçamento) RENDABASE/ANO 14.928,00 HORAS/ANO R$ / H 2.400,00 6,22 17.167,20 24.975,87 1.200.000,00 4.851,60 20.280,00 2.400,00 2.400,00 2.400,00 2.400,00 2.400,00 7,15 10,41 500,00 2,02 8,45 Pela metodologia adotada, o custo/hora dos profissionais liberais equivale a R$ 6,22; micros e pequenas empresas, R$ 7,15; médias empresas, R$ 10,41; grandes empresas, R$ 500,00; domicílios, R$ 2,02 e órgãos públicos, R$ 8,45, a partir da média de seus respectivos orçamentos (TABELA 3, FIGURA 17). 61 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 TABELA 3 Receita e/ou renda média por classe econômica (em R$) Item Descrição 1 Até 15 minutos 2 3 4 5 6 Até 30 minutos Até 1 hora Até 2 horas Até 12 horas Acima de 12H P. Liberal 6,2 ,2 6,22 6,22 6,22 6,22 6,22 MP Empresa 7,15 Média Grande Domicílios Universo 2,02 Org. Públicos 8,45 10,41 500,00 7,15 7,15 7,15 7,15 7,15 10,41 10,41 10,41 10,41 10,41 500,00 500,00 500,00 500,00 500,00 2,02 2,02 2,02 2,02 2,02 8,45 8,45 8,45 8,45 8,45 89,04 89,04 89,04 89,04 89,04 89,04 Fonte: CEAMA (2012) Para determinação das quantidades de horas perdidas pelos agentes econômicos foram levadas em conta as quantidades de horas ociosas (TABELA 2), multiplicando-se pelos percentuais efetivamente gastos com internet (FIGURA 16), chegando-se ao total de 5.462,19 horas, sendo 1.409,96 horas dos 2.452 profissionais liberais; 812,71 horas das 5.540 micros e pequenas empresas; 181,01 horas das 1.056 médias empresas; 48,22 horas das grandes empresas; 2.908,76 horas dos 68.011 domicílios que usam internet e 101,53 horas dos 163 órgãos públicos (TABELA 4). TABELA 4 Quantidade de horas perdidas pela falta de internet por classe econômica (em R$) Item 1 2 3 4 5 6 Descrição Até 15 minutos Até 30 minutos Até 1 hora Até 2 horas Até 12 horas Acima de 12H Total P. Liberal 156,66 335,71 369,28 324,52 145,47 78,33 1.409,96 MP Empresa 90,30 193,50 212,85 187,05 83,85 45,15 812,71 Média Grande Domicílios 20,11 43,10 47,41 41,66 18,68 10,06 181,01 5,36 11,48 12,63 11,10 4,97 2,68 48,22 323,20 692,56 761,82 669,48 300,11 161,60 2.908,76 Org. Públicos 11,28 24,17 26,59 23,37 10,48 5,64 101,53 Universo 606,91 1.300,52 1.430,57 1.257,17 563,56 303,45 5.462,19 Fonte: CEAMA (2012) Para determinação dos valores dos prejuízos causados pela falta de acesso à internet nos seis últimos meses, se multiplicou a quantidade de agentes econômicos pelos valores monetários de cada hora (R$/h) a ainda a quantidade de horas efetivamente perdidas, por intervalo de tempo efetivamente perdido, resultando: R$ 4,56 milhões de prejuízo para os profissionais liberais; R$ 6,47 milhões para micros e pequenas empresas; R$ 406,45 mil para médias empresas; R$ 551,75 mil para grandes empresas; 81,71 milhões para os domicílios e R$ 28,58 mil para os órgãos públicos (TABELA 5). 62 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 TABELA 5 Prejuízo econômico pela falta de internet por classe econômica (em R$) Item 1 2 3 4 5 6 Descrição Até 15 minutos Até 30 minutos Até 1 hora Até 2 horas Até 12 horas Acima de 12H Total P. Liberal 275.225,45 1.263.790,33 1.529.186,30 1.180.941,86 237.311,74 68.806,36 4.555.262,04 MP Empresa 391.172,31 1.796.199,37 2.173.401,24 1.678.448,52 337.286,33 97.793,08 6.474.300,83 Média Grande Domicílios 24.557,62 112.764,59 136.445,15 105.372,24 21.174,68 6.139,41 406.453,68 33.336,06 153.073,75 185.219,24 143.038,91 28.743,85 8.334,02 551.745,82 4.937.121,30 22.670.454,93 27.431.250,47 21.184.280,66 4.257.007,65 1.234.280,32 81.714.395,33 Org. Públicos 1.726,49 7.927,75 9.592,58 7.408,04 1.488,66 431,62 28.575,14 Universo 5.663.139,22 26.004.210,72 31.465.094,97 24.299.490,24 4.883.012,90 1.415.784,81 93.730.732,85 Fonte: CEAMA (2012) Levando-se em conta os intervalos de paralisação efetiva dos agentes econômicos, os resultados foram os seguintes: R$ 5,66 milhões referentes a 606,91 horas do intervalo de até 15 minutos de paralisação; R$ 26 milhões referentes a 1.300,52 horas do intervalo de até 30 minutos sem internet; R$ 31,47 milhões referentes a 1.430,57 horas do intervalo de até uma hora sem acesso a internet; R$ 24,3 milhões referentes a 1.257,17 horas do intervalo de até duas horas sem Internet; R$ 4,88 milhões referentes a 563,56 horas do intervalo de até 12 horas e R$ 1,42 milhão referente a 303,45 horas do intervalo de até 12 horas sem internet nos últimos seis meses (TABELA 5). O total do prejuízo nos últimos seis meses chegou a R$ 93.730.732,85 (noventa e três milhões, setecentos e trinta mil, setecentos e trinta e dois reais e oitenta e cinco centavos), referentes a 5.462,19 horas efetivamente desperdiçadas em decorrência da falta de acesso à internet (FIGURA 17). FIGURA 17 Distribuição relativa dos valores dos prejuízos causados pela falta de Internet em Santarém nos seis últimos meses 63 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 IV.6. Grau de satisfação dos Consumidores de internet em Santarém Quanto ao grau de satisfação dos consumidores dos serviços de internet, entre os entrevistados (131), 61,42% consideram os serviços de forma REGULAR; 19,69% consideram RUIM; 15,75% consideram BOM; 0,79% consideram EXCELENTE e 2,36% dos entrevistados se mostraram INDIFERENTES (FIGURA 18). FIGURA 18 Grau de satisfação dos consumidores de internet em Santarém: 2012 IV.7. Importância da pesquisa Quanto à importância da pesquisa como forma legítima de contribuir para a solução dos problemas de interrupções constantes no acesso a internet, 55,91% dos entrevistados avaliaram a pesquisa MUITO IMPORTANTE; 43,31% entenderam a pesquisa como IMPORTANTE e 0,79%, acharam o estudo SEM IMPORTÂNCIA (FIGURA 19). FIGURA 19 A importância da pesquisa 64 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 V. Considerações finais Finalizando este estudo de mercado que teve como foco avaliar a qualidade dos serviços de internet em Santarém, bem como os prejuízos causados pelas contínuas interrupções e a baixa velocidade das conexões junto às empresas do segmento produtivo, profissionais liberais, órgãos públicos e os domicílios, chegouse a um resultado que remete ao nível de satisfação MUITO RUIM, com 5.462,19 horas efetivamente desperdiçadas sem o serviço, totalizando um prejuízo de R$ 93.730.732,85 (noventa e três milhões, setecentos e trinta mil, setecentos e trinta e dois reais e oitenta e cinco centavos) nos seis últimos meses. A efetiva paralisação dos serviços no período de seis meses teve efeitos devastadores nos serviços essenciais em escolas, atendimento de saúde, benefícios e outros, além da interrupção das vendas e compras por empresas do setor produtivo, ociosidade de pessoal, atraso de pagamentos por todos os segmentos e principalmente a perda de negócios. Em outra ótica, todos os modelos econômicos, estatísticos e matemáticos foram devidamente testados, não deixando dúvidas sobre os valores apresentados neste estudo. O estudo finaliza concluindo tratar-se de uma pesquisa importante (99,21%), que corrobora com a indicação de valores e responsabilidades pelos tumultos causados pela falta de conexão dos serviços de internet, essencial à modernidade da economia como um todo. Por fim, considera-se que, a partir da situação problemática estabelecida, suas justificativas e principalmente a seleção dos procedimentos metodológicos, o estudo atingiu os objetivos previamente definidos, sem qualquer contratempo ou imprevistos que viessem colocar em xeque os resultados aqui efetivamente avaliados. Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS 2012 Normatização de trabalhos científicos. São Paulo: ABNT. ALMEIDA, Henrique Silveira 2010 Controle de qualidade com e sem estatística. São Paulo: Atlas. CENTRO AVANÇADO DE ESTUDOS AMAZÔNICOS 2012 Banco de dados da economia de Santarém. Santarém: CEAMA. CRESPO, Antonio Arnot 2011 Estatística fácil. São Paulo: Saraiva. DORNBUSCH, Rudifer & FICHER, Stanley 2010 Macroeconomia. São Paulo: Makron Books. FARIA, Carlos Alberto 2011 Dicas para uma pesquisa de satisfação de clientes. São Paulo: E-books. 65 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.46-66 GUJARATI, Damodar N. 2011 Econometria básica. São Paulo: Makron Books. HAZZAN, Samuel et al. 2011 Métodos quantitativos: cálculo de funções de várias variáveis. São Paulo: Atual. LEVY, Pierre & LEMOS, André 2012 O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus. MÁTRAR NETO, João Augusto 2012 Metodologia científica na era da informática. São Paulo: Saraiva. PEREIRA, José de Lima 2011 Dados quantitativos da economia de Santarém. Santarém: CEAMA. 2011 Estrutura de mercado e formação de preços em ambiente de concorrência (material didático). Santarém: FIT/CEAMA. SANTOS, Roberto Elísio 2012 As teorias da comunicação: da fala à internet. São Paulo: Paulinas. SILVA, Vera A. 2012 Pesquisa de satisfação de clientes. São Paulo: Atual. 66 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 PARTICIPAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ORIENTAÇÃO DO AUTOCUIDADO PARA PREVENÇÃO DE INCAPACIDADES NA HANSENÍASE Jéssika Larissa de Assis Araújo¹; Lília Silva de Almeida²; Rodrigo Luis Ferreira da Silva³ RESUMO Este estudo objetivou avaliar a participação da enfermagem na orientação do autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase. Trata-se de uma pesquisa do tipo observacional, descritiva, quantitativa e transversal. Foram aplicados questionários para 16 pacientes e expacientes de hanseníase e para 15 enfermeiras que atuam no programa de controle da hanseníase. Os resultados demonstraram que apesar dos pacientes relatarem uma elevada adesão a realização dos autocuidados (93,75% confirmam que realizam o autocuidado), o profissional enfermeiro participa de forma regular como orientador destes autocuidados aos pacientes (50% dos pacientes relataram ter sido orientados por enfermeiros), apesar de ser um profissional plenamente capacitado para tal (100% das enfermeiras investigadas sabiam repassar de forma satisfatória as orientações sobre autocuidados). Aventou-se que este desempenho apenas regular do profissional enfermeiro, deve-se em parte pela atuação multiprofissional (12,5% dos pacientes foram orientados por médicos e 17,5% por fisioterapeutas), assim como pela sobrecarga de trabalho que muitas vezes dificulta uma maior aproximação do enfermeiro ao paciente (58,33% dos pacientes relataram que o enfermeiro não pede para ele refazer as orientações na sua presença e 33,33% dos enfermeiros responderam de forma franca que repassam menos da metade das orientações necessárias). Apesar disso, pode-se concluir que o enfermeiro cumpre papel relevante quanto ao repasse de orientações sobre autocuidados aos pacientes acometidos pela doença, uma vez que, 93,75% de usuários dos serviços relataram terem sido orientados por estes enfermeiros, e 75% responderam já terem sido alguma vez orientados por estes profissionais. Palavras-chave: enfermeira – doença – cuidados ABSTRACT This study aimed to evaluate the role of nursing in the orientation of self-care to prevent disability in leprosy. This is an observational study, descriptive, quantitative and cross-sectional. Questionnaires were administered to 16 patients and ex-leprosy patients and 15 nurses who work in leprosy control program. The results showed that although the patients reported high adherence to a realization of self-care (93.75% confirm that perform self-care), the professional nurse participates regularly as a guide to self-care of these patients (50% of patients reported having been guided by nurses), despite being a fully qualified professional to do so (100% of nurses investigated know to pass satisfactorily the guidelines on self-care). Has suggested that this performance only regular nurse, due in part by the multiprofessional (12.5% of patients were advised by doctors and physiotherapists by 17.5%), as well as the workload often hinders closer to the patient's nurse (58.33% of patients reported that nurses did not ask him to redo the guidelines in their presence and 33.33% of nurses responded frankly that pass less than half the necessary guidelines). Nevertheless, it can be concluded that the nurse meets on the role of passing on selfcare guidelines for patients with the disease, since 93.75% of service users reported being targeted by these nurses, and 75% answered had already once been targeted by these professionals. Key words: nurse – disease – care ¹ Enfermeira formada pelas Faculdades Integradas do Tapajó; ² Enfermeira formada pelas Faculdades Integradas do Tapajós; ³ Fisioterapeuta, Professor da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do Tapajós, Mestre em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Castelo Branco/RJ, Doutorando em Doenças Tropicais do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará. 67 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 68 I. Introdução De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008d), no Brasil registra-se em média, a cada ano, 47.000 novos casos de hanseníase, dos quais 23,3% com graus de incapacidades I e II, sendo estas (as incapacidades potencialmente causadas pela hanseníase) as principais consequências desta doença que contribuem para a perpetuação do estigma e preconceito sobre os pacientes (ARAÚJO, 2003; BRASIL, 2007; ESCARABEL et al., 2007). Incapacidade segundo Gonçalves (1979) seria toda alteração anatômica ou fisiológica num indivíduo, que impede ou dificulta, total ou parcialmente, de modo permanente ou temporário, uma atividade qualquer. Na hanseníase a ocorrência de incapacidades atinge níveis elevados, apesar de existirem medidas que previnem a ocorrência das mesmas, evitando ainda que estas atinjam graus avançados, levando ao registro das deformidades (BRASIL, 2008a). Santos (1992) declara ser necessário assegurar ao usuário conhecimento sobre a hanseníase, bem como dos aspectos sócio/ambientais e culturais que a envolvem, o qual favorecerá o desenvolvimento do autocuidado e das mudanças de atitudes fundamentais para a prevenção de incapacidades. O autocuidado depende do paciente e de sua relação com a equipe de saúde. Nesse sentido o enfermeiro tem uma importância singular no repasse de orientações sobre o autocuidado, na motivação dos pacientes para introduzi-los no seu dia-a-dia e na valorização da autoconfiança (BRASIL, 2008d). Algumas das atribuições do enfermeiro da unidade de saúde são: dispensar medicamentos conforme normas estabelecidas e executar tratamento não medicamentoso das reações hansênicas, realizando cuidado humanizado, orientando quanto às atividades de autocuidado diários, para que se evitem incapacidades e deformidades (BRASIL, 2008c; VIEIRA et al., 2004). A prevenção das incapacidades físicas deve ser realizada através de técnicas simples e de orientação ao paciente para a prática regular de autocuidado. Esses procedimentos devem ser aplicados e ensinados aos pacientes nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) durante o acompanhamento do caso e após a alta por cura. A prática de autocuidado deve ser realizada regularmente pelo próprio paciente em seu domicílio, mas demanda apoio da equipe de saúde (BRASIL, 2010). O enfermeiro tem uma participação importante em orientar o paciente a aplicar diariamente certos autocuidados apropriados ao seu caso para que evite a instalação de incapacidades e evolução para deformidades (DUARTE et al., 2009; DUARTE et al., 2008). Frente ao exposto percebeu-se a necessidade de realizar uma investigação científica com objetivo de avaliar a participação da enfermagem na orientação do autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase e ainda: registrar a efetividade das orientações de autocuidados repassadas por enfermeiros aos Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 pacientes hansenianos; demonstrar a importância do profissional de enfermagem na abordagem ao paciente hanseniano e sugerir métodos efetivos de orientação dos autocuidados ao paciente hanseniano. II.Metodologia Para alcançar estes objetivos foi desenvolvida uma pesquisa transversal, quantitativa, descritiva, realizada de agosto a novembro de 2012, em 10 UBS e na Unidade de Referência em Especialidades da Universidade do Estado do Pará (URES-UEPA) do município de Santarém-Pará, que atende pacientes portadores de hanseníase. Nesta pesquisa foi investigada uma amostra de 31 indivíduos que foram divididos em duas categorias: os pacientes e ex-pacientes da hanseníase que constituíram 16 indivíduos adultos (13 homens e 03 mulheres; 48,56 anos, + 12,68); e os profissionais enfermeiros que atendem a estes pacientes, que foram representados por 15 enfermeiras (28,73 anos, + 8,07). Inicialmente foram realizadas visitas de reconhecimento às unidades de saúde que atendem à população de pacientes e ex-pacientes acometidos pela hanseníase, com o intuito de conhecer os pacientes, funcionários e os serviços prestados neste setor. Após este período de reconhecimento os pesquisadores passaram a programar visitas às unidades com intuito de coletar dados sobre o repasse das orientações relativas aos autocuidados necessários aos pacientes acometidos pela hanseníase, obtendo esta informação tanto junto aos pacientes, quanto junto aos profissionais de enfermagem. Os pacientes e ex-pacientes da hanseníase eram abordados após a consulta de enfermagem. Estes eram conduzidos, de forma individual, a uma sala reservada, aonde lhes eram explicados os objetivos da pesquisa, e apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para os indivíduos que concordaram em participar desta pesquisa, após a assinatura do TCLE, foi apresentado e aplicado um instrumento de coleta de dados, baseado na cartilha “Auto cuidado em Hanseníase: face mãos e pés” do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), constituído de perguntas fechadas para avaliar a assistência de enfermagem na orientação do autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase. Para a aplicação deste instrumento pesquisador lia as perguntas e as possíveis resposta para o paciente que tinha que escolher apenas uma das alternativas. A grande maioria das perguntas realizadas aos pacientes tinha como alternativas, respostas dicotomizadas (“sim” ou “não”). Vale ressaltar ainda que a leitura das questões acontecia de forma impessoal, e sem interferir nas respostas dos participantes. 69 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 As profissionais de enfermagem, por sua vez, foram abordadas na sala de consulta de enfermagem, após o término das consultas, aonde foram explicados os objetivos da pesquisa e o TCLE que foi devidamente assinado pelas que concordaram com sua participação. Posteriormente era aplicado o questionário, que também foi baseado na cartilha, “Autocuidado em Hanseníase: face, mãos e pés”, do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), constituídos de 50 perguntas fechadas, para avaliar o conhecimento e as orientações repassadas pela enfermagem, sobre autocuidado para prevenção de incapacidades na hanseníase. Através deste instrumento, e das respostas das enfermeiras pesquisadas, o desempenho das mesmas foi classificado em 5 categorias: não sabe repassar nenhuma das orientações sobre autocuidados (nenhum acerto); repassa as informações sobre autocuidados de forma precária (de 1 a 16 acertos); repassa as informações sobre autocuidados de forma regular (de 17 a 33 acertos); repassa as informações sobre autocuidados de forma satisfatória (de 34 a 49 acertos) e; sabe repassar perfeitamente todas as orientações sobre autocuidados (50 acertos). Além destas 50 questões sobre autocuidados, este instrumento de avaliação também apresentava uma última pergunta aos enfermeiros, sobre a frequência com que repassavam estas orientações aos seus pacientes. Os dados coletados foram transferidos e trabalhados com o Software Microsoft Excel®, e em seguida os resultados foram apresentados por meio de tabelas e gráficos estatísticos. III.Resultados A TABELA e o GRÁFICO 1 apresentam as respostas dos pacientes e expacientes de hanseníase investigados, quanto aos questionamentos realizados pelos pesquisadores em relação as orientações que receberam para realizar os autocuidados. TABELA 1 Distribuição das respostas dos pacientes investigados quanto às perguntas realizadas sobre os autocuidados 70 Pergunta 1: Você sabe o que é autocuidado? Nº % Respostas Sim 6 37,5 Não 10 62,5 Pergunta 2: Você realiza algum tipo de autocuidado? Nº % Resposta Sim 15 93,75 Não 1 6,25 Pergunta 3: Você realiza o autocuidado para os olhos? Nº % Respostas Sim 11 68,75 Pergunta 4: Você realiza o autocuidado para o nariz? Nº % Respostas Sim 6 37,5 Continuação da TABELA 1 na página seguinte. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 Continuação da TABELA 1 da página 70. Não 5 31,25 Perguntar 5: Você realiza o autocuidado para as mãos e braços? Nº % Respostas Sim 11 68,75 Não 5 31,25 Não 10 62,5 Pergunta 6: Você realiza o autocuidado para os pés? Nº % Respostas Sim 14 87,5 Não 2 12,5 Pergunta 7: Quem lhe ensinou pela 1a vez, a realizar o autocuidado? Pergunta 8: O enfermeiro(a) da unidade, onde você fez ou faz tratamento já lhe orientou a realizar o autocuidado? Nº % Respostas Sim 12 75 Não 4 25 Respostas Enfermeira Médico Fisioterapeuta Nº 8 2 6 % 50 12,5 37,5 Pergunta 9: Quando o enfermeiro lhe orienta a realizar o autocuidado, ele pede para você repetir os exercícios na frente dele? Nº % Respostas Sim 5 41,67 Não 7 58,33 Fonte: Pesquisa de campo (2011) FIGURA 1 Gráfico da distribuição das respostas dos pacientes investigados quanto às perguntas realizadas sobre os autocuidados Fonte: Pesquisa de campo (2011) Evidenciou-se que a maioria dos pacientes (62,5%) desconhecia o significado do termo “autocuidado”. Apesar deste resultado negativo, foi possível perceber durante o estudo, pelas respostas às demais perguntas deste questionário, que apesar dos pacientes e ex-pacientes de hanseníase declarem desconhecer o que é “autocuidado”, a maioria deles apresentavam perceptível conscientização da 71 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 importância de “cuidar de si próprio”, revelando que na realidade que em geral eles desconheciam apenas o significado do termo “autocuidado”, mas conheciam o sua importância. Vale ressaltar que após o paciente ter respondido a pergunta 1, os pesquisadores procuravam esclarecer aos pacientes que respondiam negativamente, o significado real e completo do termo “autocuidado”, sendo que a explicação era feita de acordo com a descrição do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010) que considera o autocuidado como “um cuidado que você tem com você mesmo”. Assim após os investigados terem conhecimento do significado do termo autocuidado estavam aptos para responderem a pergunta 2. Os dados obtidos a partir deste questionamento reafirmam a ponderação feita em relação às respostas da primeira pergunta, confirmando que apesar de desconhecerem o termo “autocuidado”, os investigados eram cientes de sua importância, uma vez que entre os 16 entrevistados apenas 1 indivíduo (6,25%) afirmou não realizar nenhum tipo de autocuidado. Com relação ao autocuidado para os olhos, a pesquisa apontou que 11 investigados (68,75%) realizavam algum tipo de autocuidado como o uso de óculos escuros e chapéus, para proteção nas atividades de vida diária. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008b) as complicações oculares por conta da hanseníase juntamente à perda da sensibilidade corneana, impõem uma carga adicional à pessoa, afetando sua independência, autonomia e competência de realizar práticas de autocuidado. A pesquisa revelou também que a maioria dos pacientes (62,5%), declarou não realizar nenhum tipo de autocuidado para nariz. Percebeu-se que apenas os investigados que possuíam algum tipo de alteração da região nasal, declararam realizar algum cuidado para esta região. Conforme o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008e) as alterações que podem estar presente são: desabamento da pirâmide nasal, sangramento, ressecamento, presença de fissuras, perfuração de septo, infiltrações, crostas e atrofias (GRÁFICO 11). Distribuição das respostas dos pacientes investigados quanto a pergunta 9: quando o enfermeiro lhe orienta a realizar o autocuidado, ele pede para você repetir os exercícios na frente dele? Quanto às mãos e braços, a pesquisa demonstrou que a maioria dos pacientes (68,75%), afirmou realizar algum tipo de autocuidado. Percebeu-se durante a pesquisa que a região das mãos e braços representa uma área de grande preocupação para os pacientes e ex-pacientes acometidos pela hanseníase, sobretudo em relação à manutenção da integridade da pele. Percebeu-se ainda que o autocuidado com os pés era realizado pela grande maioria dos pacientes (87,5%). Foi bastante visível que a maioria dos pacientes pesquisados tinha algum tipo de alteração nos membros inferiores, o que justifica essa preocupação. Carvalho e Alvarez (2000) corroboram esta hipótese ao relatarem que os pés são os segmentos corporais mais susceptíveis a traumas entre os pacientes 72 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 hansenianos, devido aos frequentes impactos ocorridos durante a deambulação. De acordo com a pesquisa o profissional mais citado como orientador para a execução dos autocuidados, aos pacientes acometidos pela hanseníase foi o enfermeiro (50%), seguido do fisioterapeuta (37,5%) e do profissional médico (12,5%). Percebe-se, portanto, que existe uma equipe multidisciplinar atuando frente aos cuidados com pacientes hansenianos. Contudo, os enfermeiros destacam-se por serem os profissionais que mantém maior contato com estes pacientes, sobretudo devido às consultas mensais, fator este que os torna mais participativos no repasse das orientações. O profissional fisioterapeuta também aparece em destaque neste estudo, sobretudo devido aos encaminhamentos realizados pelos próprios profissionais enfermeiros, para as unidades de saúde que possuem este serviço. Vale ressaltar que os pacientes que recebiam esta indicação quase sempre já apresentavam alguma sequela física importante da doença, cabendo, portanto, ao profissional fisioterapeuta as adequadas orientações para a sua condição. Evidenciou-se ainda que entre todos os investigados (16) a grande maioria (12 indivíduos, 75%) já haviam sido orientados, sobre os autocuidados, em algum momento, pelo profissional enfermeiro. Na pesquisa de Saho e Santana (2001) foi observado, que 92% dos pacientes entrevistados estavam satisfeitos com as consultas de enfermagem. Na referida pesquisa, porém os pacientes relataram que recebiam orientações não apenas sobre os autocuidados, assim como também em relação ao uso correto das medicações, importância da continuidade do tratamento, repouso e controle dos contatos. Contudo em relação a presente pesquisa dos 12 entrevistados que deram esta resposta, 7 (58,33%) responderam que o enfermeiro não lhe solicitava repetir os exercícios de autocuidado na sua presença. Verificou-se então que são poucos os enfermeiros que avaliam ou confirmam se as orientações que foram repassadas foram realmente captadas pelo paciente. Percebe-se, portanto, a carência de estratégias eficientes para se verificar se o paciente esta realizando essas habilidades de autocuidado de forma correta. Quanto ao desempenho dos enfermeiros diante da aplicação do questionário sobre os conhecimentos dos mesmos em relação às orientações de autocuidado, que devem ser repassadas aos pacientes, o resultado pode ser observado na TABELA 2. O resultado da aplicação do questionário aos enfermeiros foi considerado como satisfatório, visto que todas as profissionais enfermeiras investigadas obtiveram um índice de acertos entre 34-49 itens dos 50 questionamentos sobre autocuidados. A TABELA 3, por sua vez, demonstra as respostas das 15 enfermeiras investigadas quanto à frequência com que repassam estas orientações aos seus pacientes. 73 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 TABELA 2 Distribuição dos Enfermeiros investigados quanto ao desempenho nos repasses das orientações avaliado pelo questionário sobre autocuidados do paciente hanseniano Desempenho Não sabe repassar nenhuma das orientações sobre autocuidados (nenhum acerto) Nº 0 % 0 Repassa as informações sobre autocuidados de forma precária (de 1 a 16 acertos) Repassa as informações sobre autocuidados de forma regular (de 17 a 33 acertos) 0 0 0 0 Repassa as informações sobre autocuidados de forma satisfatória (de 34 a 49 acertos) 15 100 Sabe repassar perfeitamente todas as orientações sobre autocuidados (50 acertos) 0 0 15 100 Fonte: Pesquisa de campo (2011) TABELA 3 Respostas dos enfermeiros quanto à pergunta: quanta destas orientações, você realiza com frequência para os pacientes que acompanha? Respostas Nenhuma destas orientações Menos da metade destas orientações Aproximadamente a metade destas orientações A maioria (mas não todas) estas orientações Todas estas orientações Total Nº 0 5 1 9 0 15 % 0 33,33 6,67 60 0 100 Fonte: Pesquisa de campo (2011) Conforme exposto na tabela 3, a maior parte das profissionais investigadas (9 ou 60%) responderam de forma franca que repassam a maioria, mas não todas, estas orientações aos pacientes, acometidos pela hanseníase, que atende. Contudo outras 5 enfermeiras responderam que repassam menos da metade destas orientações (33,33%). Este achado revela que apesar do alto nível de conhecimento sobre as orientações em relação aos autocuidados para o paciente acometido pela hanseníase, as mesmas nem sempre repassam estas informações, o que pode justificar, pelo menos em parte, alguns dos resultados negativos observados nos questionamentos dirigidos aos pacientes. Saho e Santana (2001) também registraram em sua pesquisa, alguns depoimentos de pacientes que não se sentiam totalmente satisfeitos com o atendimento de enfermagem, queixando-se do longo tempo de espera, escassez de profissionais em relação à demanda, o uso inadequado da linguagem e o pouco tempo destinado ao atendimento. Na pesquisa de Duarte et al. (2009), o atendimento de enfermagem também observou-se resultados considerados negativos quanto a alguns dos principais aspetos das orientações sobre os autocuidados (cuidados com mãos, pés e lhos anestésicos; lubrificação ocular e nasal; lixar e retira calosidades; adaptação de 74 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 instrumentos de trabalho e vida diária; e realização de exercícios de fortalecimento), segundo os pacientes entrevistados. Uma das possíveis justificativas para este fato pode estar relacionado à sobrecarga de trabalho pelo qual estas profissionais passam no seu dia-a-dia dentro das UBS, muitas vezes sendo responsáveis por diversos programas de atenção básica do Ministério da Saúde. Pode-se constatar neste estudo, porém, que mesmo nas ocasiões em que o profissional enfermeiro não conseguiu repassar as orientações sobre autocuidados aos seus pacientes, ainda sim estes pacientes receberam tais orientações de outros profissionais desta equipe, como médicos e fisioterapeutas, como foi exposto na tabela e no GRÁFICO 1, sobre a pergunta 7. IV. Conclusão Após a análise dos dados colhidos nesta investigação científica, constatou-se que apesar dos pacientes relatarem uma elevada adesão à realização dos autocuidados (93,75% confirmam que realizam o autocuidado), o profissional enfermeiro participa de forma regular como orientador destes autocuidados aos pacientes (50% pacientes relataram ter sido orientados por enfermeiros), apesar de ser um profissional plenamente capacitado para tal (100% dos enfermeiros sabem repassar de forma satisfatória as orientações sobre autocuidados). Aventou-se que este desempenho apenas regular do profissional enfermeiro, deveu-se em parte pela atuação multiprofissional que se emprega no programa de combate e prevenção de incapacidades decorrentes da hanseníase (12,5% dos pacientes foram orientados por médicos e 17,5% por fisioterapeutas), assim como pela sobrecarga de trabalho que muitas vezes dificulta uma maior aproximação do enfermeiro ao paciente (58,33% dos pacientes relataram que o enfermeiro não pede para ele refazer as orientações na sua presença e 33,33% dos enfermeiros responderam de forma franca que repassam menos da metade das orientações necessárias aos seus pacientes). Apesar disso pode-se concluir que o enfermeiro é um dos profissionais da equipe multiprofissional de saúde que cumpre papel relevante quanto ao repasse de orientações sobre autocuidados aos pacientes acometidos pela hanseníase, uma vez que, 50% de usuários dos serviços relataram terem aprendido os autocuidados com enfermeiros, e 75% responderam já terem sido orientados sobre os autocuidados, pelo uma vez, por estes profissionais. Evidenciou-se ainda que o enfermeiro de uma UBS, pelo grande contato que tem com os pacientes, é capaz de demonstrar confiança e incentivar o próprio paciente a se cuidar, desta forma facilitando o bom andamento do seu tratamento. As atenções voltadas para a prevenção que o enfermeiro exerce, também contribuem para evitar incapacidades e deformidades, e consequentemente reduzem o preconceito sobre a doença. 75 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.67-77 Constatando-se que são poucos os enfermeiros que avaliam ou confirmam se as orientações que foram repassadas foram realmente captadas pelo paciente, pode-se concluir que existe uma forte carência de estratégias voltadas para a confirmação do aprendizado das orientações repassadas. Partindo disto sugere-se o incentivo a formação de grupos de autocuidados aos pacientes acometidos pela hanseníase, com dias específicos para a realização destas atividades nas UBS, aonde se pode, além de repassar novas orientações, constatar se aquelas que já foram repassadas foram bem aprendidas. Referências ARAÚJO, M. G. 2003 Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. V.36, Maio-Junho. Belo Horizonte, p. 373-382. BRASIL 2007 Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção Básica. Hanseníase in Vigilância em Saúde. N°21. Brasília, p.70-104. 2010 Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Autocuidado em hanseníase: face, mãos e pés. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Editora do MS. 2008a Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Como Ajudar no Controle de Hanseníase? Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília: Ministério da Saúde. 2008b Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Condutas para Alterações Oculares em Hanseníase. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde. 2008c Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Condutas para Tratamento de Úlceras em Hanseníase e Diabetes. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde. 2008d Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Manual de Prevenção de Incapacidade. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. 2ª ed. Brasília: Ministério da Saúde. 2008e Ministério de Saúde. Vigilância em Saúde: dengue, esquistossomose, hanseníase, malária, tracoma e tuberculose. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde. CARVALHO, G.A.; ALVAREZ, R.R.A 2000 Avaliação de incapacidades físicas neuro-musculo-esqueléticas em pacientes com hanseníase. Hansen International. V.25. Lexington, p. 39-48. DUARTE, M. T. C.; AYRES, J. A.; SIMONETTI, J. 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O trabalho tem como objetivo apresentar a incidência e descrever os aspectos epidemiológicos da leptospirose em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010. Trata-se de uma pesquisa básica, quantitativa, descritiva, epidemiológica, documental consistindo em um estudo retrospectivo, realizada com dados disponíveis na Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA), referentes à ocorrência de leptospirose em Santarém, no período de 2001 a 2010. Os resultados foram processados por meio de recursos de estatística descritiva, mediante a utilização do programa Excel (Microsoft para Windows-2010). O número de casos de leptospirose notificados em Santarém no período de 2001 a 2010 foram 283 e desses 82 confirmados, representando 29% dos casos, sendo 22 em 2001; 29 em 2002; 7 em 2003; 2 em 2004; 3 em 2005; 4 em 2006; 2 em 2007; 6 em 2008; 2 em 2009 e 5 em 2010. O coeficiente de incidência foi de 2,78, com aproximadamente 3 casos para cada grupo de 100.000 habitantes. Observou-se maior número de casos na zona urbana (89%), no gênero masculino (72%), na faixa etária de 20 a 39 anos (42,7%). Palavras-chave: leptospirose – epidemiologia – zoonose ABSTRACT Leptospirosis is an infectious fever, acute, potentially severe, caused by a bacterium, Leptospira interrogans. It is a zoonosis that occurs worldwide except in polar regions. The present study aims to describe the incidence and epidemiology of leptospirosis in Santarém, Pará, in the period 2001 to 2010. It is a basic research, quantitative, descriptive, epidemiological, documentary consisting of a retrospective study, conducted with data available in the Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA), regarding the incidence of leptospirosis in Santarém, in the period 2001 to 2010. The results were processed using descriptive statistics resources by using the program Excel (Microsoft 'for Windows-2010). The number of leptospirosis cases reported in Santarém in the period 2001 to 2010 were 283 and 82 of those confirmed, representing 29% of cases, with 22 in 2001, 29 in 2002, 7 in 2003, 2 i n 2004, 3 i n 2005; 4 in 2006, 2 in 2007, 6 i n 2008, 2 in 2009 and five in 2010. The average annual incidence rate was 2,78, with three cases for each group of 100,000 in habitants. A higher number of cases in urban areas (89%) for males (72%), aged 20 to 39 years (42.7%). Key words: leptospirosis – edpidemiology – zoonosi ¹Mestra em Genética e Biologia Molecular. Professora da Universidade do Estado do Pará e das Faculdades Integradas do Tapajós; ²Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Integradas do Tapajós; ³Acadêmica do Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas das Faculdades Integradas do Tapajós. 78 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 I. Introdução A leptospirose é uma doença infecciosa febril, aguda, potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Leptospira interrogans (LEÃO, 1997). Trata-se de uma zoonose de grande importância social e econômica. A letalidade pode chegar a 40% nos casos mais graves. Sua ocorrência está relacionada às precárias condições de infraestrutura sanitária e alta infestação de roedores infectados (BRASIL, 2009). O rato de esgoto (Rattus norvegicus) é o principal responsável pela infecção humana pelo seu grande número, pela sua proximidade com o homem, e pelo fato de que a bactéria multiplica-se em seus túbulos renais sem causar danos, sendo eliminada pela urina por períodos prolongados, às vezes pelo o resto da vida do animal. O homem é o hospedeiro casual e transitório, albergando a bactéria durante a doença por um curto período. A Leptospira interrogans penetra ativamente no organismo através da pele e de mucosa ou por meio de ingestão de água ou alimentos contaminados. A doença tem um período médio de incubação de 10 dias, com extremos entre dois e trinta. Animais domésticos como os cães, gatos e outros podem ser contaminados com a urina do rato e transmitir a leptospirose ao homem, atingindo preferencialmente donas de casa e crianças. As vacinas contra a leptospirose aplicadas rotineiramente nos cães e gatos domésticos são capazes de protegê-los contra a doença, mas não contra o estado de portadores (VERONESI; FOCCACIA, 2002). Os sintomas da leptospirose costumam ser divididos em dois estágios: a fase precoce e a fase tardia. A fase precoce corresponde ao período inicial da doença, sendo caracterizada por quadros clínicos de dor de cabeça, febre, dores musculares, anorexia, náuseas, diarreia, vômito, etc (VERONESI; FOCCACIA, 2002). Esta fase tende a ser autolimitada e regride em 3 a 7 dias, sem deixar sequelas. É frequentemente diagnosticada como uma “síndrome gripal”, “virose” ou outras doenças como dengue ou influenza. A fase tardia ocorre em aproximadamente 15% dos pacientes e está relacionada ao nível mais avançado e grave da doença conhecida também como Síndrome de Weil, caracterizada pela tríade de icterícia, insuficiência renal e quadros clínicos de hemorragias (BRASIL, 2009). O diagnóstico de leptospirose deve ser investigado em todo paciente com febre e mialgia, uma vez que as manifestações clínicas são comuns a outras doenças. A anamnese e exame físico são importantes. Doenças que têm apresentação clínica inicial indistinguível da leptospirose podem ser suspeitadas pela história epidemiológica (febre amarela, malária) ou através de exames complementares (dengue), (SCHECHTER; MARANGONI, 1998). O diagnóstico deverá se basear primeiramente nos elementos positivos de ordem epidemiológica e clínica. Entre eles estão os contatos com os animais, em especial, o rato, ou com água contaminada, após os períodos de enchentes ou por necessidade profissional, acompanhado do relato dos sintomas tais como febre, cefaléia intensa, mialgia (especialmente nos músculos da panturrilha). Consideram-se casos confirmados de leptospirose aquele que preenche qualquer um dos seguintes critérios: paciente com sintomas clínicos 79 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 sugestivos associados a uma conversão sorológica; detecção de IgM específica pela reação de ELISA; isolamento da leptospira em sangue; detecção de DNA da leptospira por PCR em amostra de sangue com anticoagulante em pacientes que evoluíram para óbito antes do 7º. dia; imunohistoquímica ou outras análises anátomo-patológicas (BRASIL, 2009). No Brasil, e em outros países em desenvolvimento, a maioria das infecções ocorre através do contato com águas contaminadas com urina de ratos. A ineficácia ou inexistência da rede de esgoto e drenagem de águas pluviais, a coleta de lixo inadequada e as conseqüentes enchentes são condições favoráveis à alta endemicidade e às epidemias. A leptospirose no Brasil é uma doença endêmica, tornando-se epidêmica em períodos chuvosos, principalmente nas capitais e áreas metropolitanas, devido às enchentes associadas à aglomeração populacional de baixa renda em condições inadequadas de saneamento e à alta infestação de roedores infectados. Algumas profissões facilitam o contato com as leptospiras, como trabalhadores em limpeza e desentupimento de esgotos, garis, catadores de lixo, agricultores, veterinários, tratadores de animais, pescadores, técnicos de laboratório, militares e bombeiros, dentre outras. Contudo, em nosso meio, a maior parte dos casos ainda ocorre entre pessoas que habitam ou trabalham em locais com más condições de saneamento e expostos à urina de roedores (BRASIL, 2009). Embora exista uma vasta literatura sobre a leptospirose, ainda existe uma escassez de estudos sobre a incidência da doença e sua relação com aspectos geográficos e sociais em Santarém. Este trabalho tem como objetivo apresentar os aspectos epidemiológicos da leptospirose, bem como verificar se há correlação entre número de casos confirmados da doença e precipitação pluviométrica em SantarémPará, no período de 2001 a 2010. II. Metodologia O município de Santarém, situa-se na região oeste do Pará e apresenta uma população constituída de 294.580 mil habitantes (IBGE, 2011). O estudo constitui-se em uma pesquisa descritiva, epidemiológica, documental consistindo em um estudo retrospectivo, realizada com dados disponíveis na Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA), referentes à ocorrência de leptospirose em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010. As variáveis utilizadas neste estudo foram: casos notificados; casos confirmados; precipitação pluviométrica; faixa etária; zona de residência e gênero dos pacientes. Os resultados foram processados por meio de recursos de estatística descritiva, mediante a utilização do programa Excel (Microsoft para Windows-2010). Para testar a associação entre número de casos confirmados e precipitação pluviométrica foi utilizado o teste de correlação de Pearson disponível no aplicativo Bioestat 5.0 com adoção de α<0,05. 80 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 III. Resultados O número de casos de leptospirose notificados em Santarém no período de 2001 a 2010 foram 283 e desses, 82 foram confirmados, representando 29% dos casos, sendo 22 em 2001; 29 em 2002; 7 em 2003; 2 em 2004; 3 em 2005; 4 em 2006; 2 em 2007; 6 em 2008; 2 em 2009 e 5 em 2010 (GRÁFICO 01). O coeficiente de incidência médio anual foi de 2,7, com aproximadamente 3 casos para cada grupo de 100.000 habitantes. GRÁFICO 01 Evolução dos casos de Leptospirose em Santarém no período de 2001 a 2010 Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM-PA Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM-PA De acordo com dados do Guia de Vigilância Epidemiológica (BRASIL, 2009), no período de 2004 a 2008 no Brasil foram confirmados 17.416 casos de leptospirose. O coeficiente médio de incidência foi de 1,9/100.000 hab. A atividade pluviométrica no período de 2001 a 2010 foi variável em Santarém, e os anos de 2008 e 2009 foram os que apresentaram maior precipitação pluviométrica (TABELA 01), de acordo com dados fornecidos pelo Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), (BRASIL, 2011). Foi realizado o teste de correlação de Pearson para verificar a associação entre número de casos confirmados de leptospirose e precipitação pluviométrica e não houve uma associação estatisticamente significativa (r= -0,1993 e p= 0,5810). 2002 foi o ano que apresentou maior número de casos de leptospirose em Santarém. Nos anos subsequentes ao ano de 2002, verificou-se diminuiçao no número de casos de leptospirose. 2009, ano em que houve grande enchente na região, foi o ano com maior número de casos notificados, entretanto, houveram apenas dois casos confirmados da doença. 81 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 TABELA 01 Precipitação pluviométrica e número de casos confirmados de leptospirose em Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010 Precipitação Anos Pluviométric a Casos Confirmados 3 (mm ) 2001 2.353,5 22 2002 1.946,9 29 2003 1.588 7 2004 2.465,6 2 2005 2.484 3 2006 2.536 4 2007 1.787,3 2 2008 3.118,2 6 2009 2.808 2 2010 1.693 5 Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM e BRASIL/ICEA, 2011 TABELA 02 Aspectos epidemiológicos da leptospirose no município de Santarém-Pará, no período de 2001 a 2010 NÚMERO DE CASOS NOTIFICADOS Confirmados Descartados ZONA DE RESIDÊNCIA DOS CASOS CONFIRMADOS Urbana Rural FAIXA ETÁRIA DOS CASOS CONFIRMADOS 01 – 04 anos 05 – 09 anos 10 – 19 anos 20 – 39 anos 40 – 59 anos < 60 anos GÊNERO DOS CASOS CONFIRMADOS Masculino Feminino N=283 82 201 N=82 73 09 N=82 01 04 21 35 18 03 N=82 59 23 % 29 71 % 89 11 % 1,2 4,9 25,6 42,7 21,9 3,7 % 72 28 Fonte: SINAN/ DIVISA SANTARÉM 82 Observou-se maior número de casos de leptospirose na zona urbana (89%), no gênero masculino (72%), na faixa etária de 20 a 39 anos (42,7%) (TABELA 02), a ocorrêcia de registro elevado de casos na área urbana, deve-se a presença do reservatório da leptospira ser predominante neste local, e o predomínio da doença no sexo masculino pode ser explicada devido ao sexo masculino se expor mais em suas atividades, correndo um risco maior de entrarem em contato com o reservatório da leptospira. Esses resultados corroboram com resultados obtidos em estudo realizado Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 em Manaus a partir das análises dos bancos SINAN (Sistema de Informação e Agravos de Notificação), em que, de 180 casos confirmados de leptospirose, 78,26% ocorreram no sexo masculino e o maior número de casos, incluindo os óbitos, ocorreu na faixa etária de 20 a 30 anos. Em Manaus observou-se que no período de 2007 a 2010 foram notificados 196 casos de leptospirose, dos quais, 91,83% (180) foram confirmados. A maior incidência foi contabilizada em 2009, ano em que ocorreu uma das maiores enchentes no município de Manaus (SBI, 2011). Em Minas Gerais, de acordo com o SINAN no período de 1999 a 2004 foram confirmados 152 casos de leptospirose, e 22 óbitos, com letalidade de 14,5%, maior que a média nacional de 12% (BRASIL, 2005). De acordo com dados do Ministério da Saúde, no período de 2004 a 2008 no Brasil, foram confirmados 17.416 casos de leptospirose, com uma média anual de 3.483 casos, variando entre 3.084 (2008) e 4.390 casos (2006). Nesse mesmo período foram informados 1.856 óbitos, com média de 371 óbitos/ano. A taxa de letalidade foi de 10,6%. Entre os casos confirmados, os mais acometidos são indivíduos do sexo masculino (78,6%), na faixa etária de 20 a 49 anos (60,3%), ainda que não exista uma predisposição de gênero ou idade para contrair a infecção. Do total de casos confirmados, 77% foram hospitalizados, o que claramente demonstra que o sistema de vigilância sofre um importante grau de subnotificação, captando principalmente os casos moderados e graves. A média de permanência no hospital foi de 7,5 dias (BRASIL, 2009). As situações mais freqüentes de exposição são aquelas relacionadas à ocorrência de enchentes, seguidas por contato com córregos ou cursos d'água, lavoura, lixo, esgoto e, em menor escala, com limpeza de caixas d'água e outras situações (BRASIL, 2005). A manutenção de leptospiras nas regiões urbanas e rurais do Brasil é favorecida pelo clima tropical úmido e uma vasta população de roedores. O crescimento urbano desordenado e a grande quantidade de lixo espalhado sobre as vias e terrenos baldios propiciam também um ambiente ideal para a proliferação da população de ratos. A leptospirose era considerada uma doença esporádica e rural. Casos de leptospirose urbana têm sido registrados e a doença passou a ser um problema de saúde pública, associada à alta mortalidade. No Brasil, alterações sociais ocorridas entre 1960 e 1996 causaram um aumento de 350% na população urbana favorecendo o aparecimento de favelas, onde as condições sanitárias são propícias para o aparecimento de ratos, principais reservatórios de leptospiras (KO et al., 1999). Em estudo realizado numa comunidade carente de Salvador por pesquisadores do Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz (CPqGM), concluiu-se que o nível de pobreza está fortemente ligado à prevalência da doença e, portanto, melhorar a infra-estrutura sanitária não basta para controlar a leptospirose, é preciso também melhorar a condição socioeconômica dos moradores, cuja variação acompanha o risco de infecção (MEDPLAN, 2008). Atualmente a leptospirose é considerada uma doença urbana e endêmica no 83 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 Brasil, o que constitui um sério risco à saúde pública. Sua ocorrência aumenta nas épocas de chuva, quando ocorre o contato de pessoas com água de inundações urbanas, contaminada por leptospiras patogênicas eliminadas, principalmente por roedores (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003; BRASIL, 2009). IV. Considerações finais No período de 2001 a 2010 foram notificados 283 casos suspeitos de leptospirose em Santarém, e desses 82 foram confirmados, representando 29% dos casos. A ocorrência da doença deve-se aos períodos de intensa pluviosidade, aliada ao acúmulo de lixo e entulho em bueiros e esgotos, fatores que reunem as condiçoes necessárias para que o animal rerservatório da doença (rato), possa disseminar o agente etiológico (Leptospira interrogans), proporcionando às pessoas que entram em contato com a água da chuva contaminada com a urina do rato, risco de contrairem a doença. Embora os estudos apontem para uma associação entre o aumento da atividade pluviométrica e ocorrência de leptospirose, em Santarém não houve associação estatisticamente significativa, indicando que outros fatores como acúmulo de lixo e entulho em bueiros e esgotos, más condições higiênico-sanitárias, bem como aumento da população de roedores favorecem a ocorrência da doença. Na prevenção e controle da doença poderão ser adotadas medidas como: ações de educação em saúde; controle dos roedores (desratização e anti-ratização); melhoria das condições higiênico-sanitárias da população; armazenamento apropriado de alimentos; destino adequado do lixo; cuidados com a higiene; remoção e destino adequado de resíduos alimentares humanos e animais; manutenção de terrenos baldios murados e livres de mato e entulhos; limpeza e desinfecção de áreas domiciliares potencialmente contaminadas. Agradecimentos Agradecemos à Divisão de Vigilância em Saúde (DIVISA) de Santarém-PA pelo fornecimento dos dados epidemiológicos e ao Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA) pelo fornecimento de dados climatológicos necessários para realização deste trabalho. 84 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.78-85 Referências BRASIL 2009 Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde (Série A. Normas e Manuais Técnicos). 7ª ed. Brasília: Ministério da Saúde, p.16. 2005 Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Doenças Infecciosas e Parasitárias. Guia de bolso. 5ª ed. Brasília. 2011 Ministério da Defesa. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Instituto de Controle do Espaço Aéreo. Subdiretoria de Pesquisa. Subdivisão de Climatologia Aeronáutica. Dados Climatológicos do Aeroporto Internacional Wilson Dias da Fonseca – SBSN. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE) Disponível em: http://www.ibge.gov.br . Acesso em 09 Mai. 2011 KO, A .I.; GALVÃO, R. M.; RIBEIRO, C. D. M.; JOHNSON, W. D. Jr.; RILEY, L. W. 1999 Urban Epidemic of severe leptospirosis in Brazil. Lancet 354, p.820-825. LEÃO, RAIMUNDO NONATO QUEIROZ 1997 Doenças Infecciosas e Parasitárias: Enfoque Amazônico. Belém: Cejup; UEPA: Instituto Evandro Chagas, p.525-536. MEDPLAN 2008 Estudo mostra que o nível de pobreza está ligado à prevalência da leptospirose. Disponível em: http://www.medplan.com.br. Acesso em 23 Dez. 2011. SCHECHTER, M.; MARANGONI, D. V. 1998 Doenças infecciosas: conduta diagnóstica e terapêutica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA (SBI) Leptospirose. Disponível em: http://www.sbinfecto.org.br Acesso em 28 Abr. 2011. VERONESI, Ricardo; FOCACCIA, Roberto 2002 Tratado de Infectologia. 2.ed. V.2. São Paulo: Atheneu, p.1785. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO) 2003 Human leptospirosis: Guidance for diagnosis, surveilance and control. 85 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 INCIDÊNCIA DE CANDIDÍASE VAGINAL EM DOIS LABORATÓRIOS DE REFERÊNCIA NO MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA NO PERÍODO DE JANEIRO DE 2009 A JUNHO DE 2011 ¹Karina Angélica Alvarenga Ribeiro; ²Rosália da Conceição Moura; ³Sheza Mayara dos Santos Oliveira RESUMO A Candida albicans é um agente comum da flora vaginal e é responsável por inúmeras visitas de mulheres ao consultório médico a cada ano. Existem estatísticas que pelo menos metade das jovens universitárias tenham tido um episódio confirmado até os 25 anos de idade. A candidíase vulvovaginal é um problema de saúde publica mundial, pois acomete milhões de mulheres por ano prejudicando a vida sexual, afetiva e no trabalho. O presente estudo teve como objetivo principal verificar a incidência de candidíase vaginal em dois laboratórios de referência no município de Santarém no período de janeiro de 2009 à junho de 2011. Trata-se de um estudo retrospectivo de casos positivos para cândida a partir de exames colpocitológicos de mulheres do município de SantarémPA. Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total analisados 4.167 foram positivos para candidíase vaginal. A faixa etaria de maior incidência é de 24 à 33 anos (35%) considerando que essas mulheres tem baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o primeiro grau incompleto (31%) e residem na zona rural (65,4%). Neste estudo, a porcentagem de positividade para infecção causada pela cândida albicans detectou incidência significativa como já era esperado, o que nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de maneira bastante semelhante em mulheres de diversas cidades de nosso país, independente do clima em que vivem. Palavras-chave: candidíase vaginal – cândida albicans – exame colpocitológico ABSTRACT Candida albicans is a common agent from the vaginal flora and it is responsible for numerous of the women's visits to gynecologists yearly. There are statistics showing that at least half of the young college students have had one case confirmed prior to the age of 25. Candida vulvovaginal is a worldwide public health problem that affects millions of women da maging their sexual life/ affection and work. The main objective of the actual study was to verify the incidence of Vaginal Cândida based on two labs in Santarém from January 2009 until June 2011. This is a retrospective study of positive Candida cases resulting from women colpocitologico exams in the city of Santarém – PA. 26.666 medical SISCOLO were analyzed during the period from January 2009 to June 2011 from which 4.167 were positive. The age range most affect was between 24 and 33 years old (35%). Most of the women had low educational level – mostly having only completed 8th grade (31%) – and residing out of the city limits (65,4%). This study presents a significant incidence of Cândida albicans as expected. The conclusion is that “vaginal candidiase” proliferates similarly in all women from different Brazilian cities regardless of the clime where they reside. Key words: vaginal candidiasis – cândida albicans – pap test 86 ¹ Enfermeira pela UNIFENAS. Docente da Universidade do Estado do Pará do curso de Medicina, em Saúde Coletiva/Interação Comunitária-INC. Especialista em Trauma, Emergências e Terapia Intensiva pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais - FCMMG. Pós-graduando em Saúde Coletiva pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) e Docência no Ensino Superior pela Universidade Gama Filho(UGF); ² Discente do 8º semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós; ³ Discente do 8º semestre de Enfermagem das Faculdades Integradas do Tapajós. Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 I. Introdução A Candida albicans que também é chamada de Monilía está presente no nosso corpo em pequena quantidade e quando ocorre redução do mecanismo de defesa há um crescimento considerável destes microorganismos causando o crescimento intenso da candidíase vaginal, deste modo há a multiplicação populacional desse microorganismo definindo-se então como superinfecção (BURTON; ENGELKIRK, 2005). Segundo estudos realizados por Trabulsi e Alterthum (2005), ocorrem dois tipos de infecções vulvovaginosas que são causadas pela Candida albicans, sendo que uma delas é transmitida pela origem endógena, do próprio paciente, e a outra são aquelas transmitidas pela origem exógena, infecção hospitalar, encontradas em pacientes internados em área hospitalar. A Candida albicans é um fungo freqüente encontrado na flora vaginal, na boca, no tubo digestivo, intestino, na pele e na orofaringe onde a sua ocorrência está associada há muitos fatores como o uso de anticoncepcionais orais, gravidez, diabetes mellitus, uso constante de antibióticos, corticoides, roupas apertadas e outros (TRABULSI; ALTERTHUM, 2005). Para Tortora (2005), a Candida albicans é um agente comum da flora vaginal, e é responsável por inúmeras visitas de mulheres ao consultório médico a cada ano. Assim Tortora (2005, p. 755) relata que: [...] Cândida albicans é a causa de candidíase oral ou sapinho. Ela também é responsável por casos ocasionais de UNG em homens e pela candidíase vulvovaginal, que é a causa mais comum de vaginite. Cerca de 75% de todas as mulheres sofreram na mínimo um episódio. A candidíase vulvovaginal é um dos diagnósticos mais comuns na prática em ginecologia e casos positivos têm aumentado drasticamente, tornando-se a segunda infecção genital mais frequente nos Estados Unidos e no Brasil (ALVARES; SVIDZINSKI; CONSOLARO, 2007). Assim, durante a vida acadêmica, se observou em campo de estágio a alta prevalência de exames positivos de candidíase vaginal nos resultados de Colpocitologia Oncológica. Como se sabe, a candidíase é conhecida como uma infecção sexualmente transmissível e está incluída como umas das doenças que faz a população feminina buscar ajuda de profissionais da saúde. Portanto, fez-se necessário desenvolver uma pesquisa referente ao quantitativo da população feminina que apresenta candidíase vaginal no município de Santarém/PA. No presente estudo optou-se por uma pesquisa quantitativa retrospectiva, onde o tema foi delimitado no contexto de variáveis que permitam através de sua análise obtenção de resposta. O estudo tem como objetivo verificar a incidência de candidíase vaginal em dois laboratórios de referência no município de Santarém/PA no período de janeiro de 2009 a junho de 2011, com o intuito de descrever a realidade do município através de levantamento de dados proporcionando o interesse de novas pesquisas. 87 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 II.A candidíase vaginal Em 1949 Wilkinson descreveu pela primeira vez a Candida Vulvovaginal e relacionou os fungos da vagina com o aparecimento da vaginite, após essa descoberta evoluíram os conhecimentos a respeito da doença (ALVARES; SVIDZINSKI; CONSOLARO, 2007). De acordo com Conceição et al (2005, p. 107): Em 1842, Gruby já descrevia, perante a Academia de Ciências de Paris, “o sapinho das crianças”. Robin, em 1853, descreveu o parasito como sendo Oidium albicans, denominação que perdurou, juntamente com a Monilia albicans em 1890 ate 1923, quando Berkhout criou o gênero cândida, aceito até hoje. Segundo Scechter e Marangoni (1998), infecções por Candida sp. ganharam importância médica a partir dos anos 40 e foram introduzidos antibióticos no tratamento clínico e, devido ao seu uso indiscriminado, houve um grande aumento da frequência dessas infecções em procedimentos cirúrgicos constante em transplante de órgãos e próteses valvulares cardíacas. Para Black (2002, p.503): [...] A cândida pode invadir os pulmões, os rins e o coração ou ser transportada pelo sangue, onde causa uma grande reação toxica. A candidíase a mais comum das infecções hospitalares causadas por fungo é encontrada em pacientes com doenças tais como tuberculose, leucemia e AIDS. Segundo Trabulsi e Alterthum (2005), o principal agente etiológico da cândida vulvovaginal é a Candida albicans; porém existem outras espécies identificadas como: Candida tropicalis, Candida glabrata, Candida krusei, Candida parapsilosis, Candida kefyr, Candida guilliermondii, Candida lusitanae. Segundo Freitas et al (2001, p.146): A maior parte da literatura específica atual demonstra que 85 e 90% da flora fúngica vaginal é constituída por Candida albicans. O restante é atribuído a outras espécies, sendo mais comuns a C. glabata (9 a 15%) e a C. tropicalis (até 15% dos casos) [...]. De acordo com Oliveira e Lembruber (2001, p. 772), “em um estudo envolvendo 2.184 mulheres, a Candida albicans foi isolada em 84,2%; a Candida tropicalis em 5,3% e a Candida glabrata em 5,5% das pacientes”. Para Scecter e Marangoni (1998), a cândida albicans se reproduz por brotamento e são leveduras pequenas de paredes finas; as pseudo-hifas e hifas se proliferam facilmente na hemocultura e em placas de ágar. De acordo com Moreira (2003, p. 216), “a candidíase vaginal é doença genital feminina provocada por fungos, cândida. É das queixas ginecológicas, a mais frequente, que acomete a mulher”. Segundo Moreira (2003), a paciente pode vir apresentar: prurido vaginal, secreção branco leitosa, dispareunia, ardor vulvar, disúria, polaciúria, irritabilidade vaginal, edema, eritema, hiperemia, fissuras, aumento do conteúdo vaginal, que muitas das vezes aderente á parede vaginal. Segundo Oliveira e Lembruder ( 2001, p. 86): [...] O sintoma predominante é o prurido, ás vezes, ocorrendo 88 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 clinicamente na fase pré-menstrual. O corrimento vaginal branco (tipo leite talhado ou aquoso) pode estar ou não presente, estando presente em 50% dos casos sem odor fétido. A dispareunia e a disúria externa também pode fazer parte do quadro. Algumas pacientes são assintomáticas, porém com achados positivos no exame ginecológico [...]. A vagina sofre mudanças fisiológicas devido a hormônios, tornando-se úmida e alterando o conteúdo do pH; conforme esta mudança ocorre há descamação do epitélio vaginal muco cervical, transudação vaginal e presença de flora vaginal contendo pH ácido de 3,8 a 4,5 principalmente durante estes períodos: gestação, puerpério e durante o período fértil, o neonato poderá apresentar devido á ação hormonal através da placenta (OLIVEIRA E LEMGRUBER, 2001). De acordo com Moreira (2003), independente da idade há ações que podem propiciar a manifestação da cândida como: Promiscuidade sexual, o uso de roupas excessivamente apertadas e de produto sintético, falta de higiene íntima, uso de DIU e outros como diabetes, gravidez, uso de contraceptivo oral, uso de antibiótico, de corticóide e imunossupressores, alergias a perfumes, desodorante íntimos, prémenarca, pós-menopausa, uso indiscriminado de ducha vaginal, HIV e outras imunodeficiências. Segundo Valadares-Neto Apud Barros (1995), a gravidez se torna um grande fator de risco para infecções vaginais, devido a mudanças que ocorrem no ecossistema vaginal durante a gestação, o que favorece o desenvolvimento de patógenos que causam infecções vulvovaginais. Segundo Glass (1978), as mulheres que fazem uso de anticoncepcionais orais são mais susceptíveis á candidíase, pois devido à ingestão de estrogênio e de progesterona cria-se um ambiente vaginal semelhante ao ocorrido no período gestacional, além de acontecer a descamação da parede vaginal o que leva a um aumento considerável de fragilidade à infecção. De acordo com Conceição et al (2005), a Diabetes mellitus e AIDS são alterações importantes que favorecem o aparecimento da candidíase, por este motivo a taxa de glicemia deve ser pesquisada rotineiramente assim como o teste para HIV. O trato gastrointestinal é o principal causador de leveduras vaginais, essa transmissão acontece através de um processo endógeno em que ocorre o auto contágio, se inoculam para a vagina, aonde vão se desenvolver e sofrer um processo adaptativo. Durante a ação das enzimas proteases e hidralases, essas leveduras se alojam na vagina e penetram superficialmente no seu epitélio realizando ali sua moradia e consegue causar distúrbios de ação imediata ou até mesmo confeccionar um reservatório para reinfecções posteriores. A Candida vulvovaginal também é considerada uma doença sexualmente transmissível (ALVARES; SVIDZINSKI; CONSOLARO, 2007). Segundo Piato (1993), a transmissão pode ocorrer através da relação sexual uma vez que o homem pode albergar a candidíase no prepúcio ou sucobalanoprepucial. A transmissão também pode acontecer por contato em locais 89 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-95 que o fungo poderá sobreviver por mais tempo como: toalha úmida, assentos de vaso sanitários, borda de piscinas, entre outros. De acordo com Trabulsi e Alterthum (2005, p. 495), “no homem, a balanite, infecção na glande, por Candida albicans, pode ser encontrada, sendo comumente considerada como sexualmente adquirida”. Já para Bastos et al (2003, p. 27) “A transmissão por via sexual não é aceita como dado importante, embora alguns parceiros de mulheres com candidíase vulvovaginal apresentem balanite fúngica”. De acordo com Moreira (2003), a Candida albicans é considerada uma das espécies mais patogênicas devido à grande capacidade de se aderir na célula através de seus próprios mecanismos bioquímicos contidos na sua membrana celular. Tornase mais maléfica quando há imunodepressão, como nos casos de pacientes com vírus da AIDS. As cepas de Candida albicans têm o privilégio de alterar a própria estrutura de formas e maneiras diferentes invadindo os tecidos do hospedeiro. Elas são resistentes aos agentes antifungos na alteração da capacidade antigênica do fungo, na transformação dos mecanismos em resposta ao fungo e a fatores ambientas. Ao se introduzir na vagina, o microrganismo se adere a células epiteliais, principalmente no pH vaginal elevado, ou seja ácido, onde o fungo se alberga e multiplica-se. Segundo Piato (1993), a flora vaginal normal possui um importante papel no combate do crescimento da Candida albicans, pois qualquer interferência que possa destruir ou diminuir a população do bacilo Doederlein favorecerá o crescimento do fungo, que além de eliminar a flora normal inibi a fagocitose do fungo. A cândida albicans prejudica a membrana citoplasmática das células epiteliais do colo, mucosas vaginais, períneo e pele da genitália externa, sendo estas as localizações mais comprometidas pela inflamação, porém esse processo também pode se estender a outras localizações na vagina como: região perianal, pequenos lábios, clitóris, vestíbulo da vagina, toda vagina e colo. Segundo Piato (1993), o diagnóstico pode ser realizado clinicamente através do exame da genitália externa que frequentemente é encontrado hiperemia, edema no introito vaginal, vestíbulo da vagina, lábios menores e fissuras pelo ato de coçar. O exame ar fresco demonstra a presença dos filamentos de pseudo-hifas que é de suma importância para o diagnostico da Candida albicans. Este exame é realizado através da análise microscópica em lâminas que contém secreção vaginal e que devem ser misturadas numa solução contendo hidróxido de potássio de 10 a 20%. Quando há a prevalência de lactobacilos apresentando prurido em um caso de vulvovaginite devemos evidenciar a presença de candidíase (GLASS, 1978). Já para Freitas et al. (2001, p. 147), “o exame microscópica a fresco ou á coloração de gram demostram em 40 a 60% dos casos a presença de hifas e pseudohifas, as formas mais comumente encontradas na fase sintomática”. De acordo com Oliveira e Lemgruber (2001), o teste de cultura é sensível e 90 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 deverá ser usado somente quando o teste for negativo para hifas, porém apresente sinais e sintomas é importante não esquecer que caso a cultura seja positiva para pacientes assintomáticos é sinal normal da flora vaginal. Segundo Moreira (2003), o exame da citologia (Papanicolau) também serve para diagnosticar leveduras do gênero cândidas albicans ou outros métodos de coloração. O mesmo autor recomenda tratamento sistêmico, pois exterminam os albergues genitais e extragenitais e principalmente, nos casos recidivas, onde orienta-se tratar o casal com derivados midazólicos como: clotrimazol, econazol, miconazol, putoconazol, cetoconazol, itraconazol e fluconazol que atuam diretamente na membrana celular fúngica impedindo a sua reprodução. Há também outras medicações utilizadas de ação local como: nistatina, anfotericina B e mepartricina. Existem formas de Candida albicans que não tem respostas positiva aos imidazolicos nesta situação é necessário o uso dos pirimidínicos usando-se 5-flucitocina. Os antiinflamatórios que não possuem hormônios ajudam a aumentar a ação dos linfócitos contra os fungos. Segundo Bastos et al. (2003) o tratamento de candidíase vaginal nos últimos anos evoluiu bastante, sendo que não há comprovação de resistência da Candida albicans aos antibióticos poliênicos e derivados midazólicos; porém alguns fatores devem ser analisados para um bom resultado de tratamento como: começar o tratamento com terapêutica local, evitar que o tratamento seja interrompido durante o período menstrual, ter o controle dos fatores predisponentes, não associar outros medicamentos principalmente o metronidazol. Em caso de mulheres que possuam casos de candidíase vulvovaginal é necessário o tratamento do casal, caso contrário não será obrigatório. Para Freitas et al. (2001, p. 147), “o tratamento do parceiro não tem demonstrado reduzir a frequência de recorrência de candidíase e deve ser realizado somente nos sintomáticos”. De acordo com o Ministério da Saúde (2002, p. 23): recomenda-se isoconazol (nitrato), uso tópico sob a forma de creme vaginal, durante 7 dias ou ovulo, em dose única; como 2º alternativa, tioconazol pomada ou ovulo em dose única. Outras substancias também são eficazes: clotrimazol, miconazol, derconazol, tioconazol ou nistatina, em aplicação tópica. Para Moreira (2003), a profilaxia consiste em ter cuidados dietéticos como: evitar doces, refrigerantes, vinho, leite e derivados, ou seja, ter uma alimentação saudável, além da alimentação é importante ter uma higiene adequada e alcalinização do pH vaginal com banho de bicarbonato de sódio, evitar desodorante intimo e uso de roupas sintéticas e justas. Segundo o Ministério da saúde (1999), as mulheres devem adotar algumas medidas profiláticas dentre as quais estão inclusas a realização da higiene pessoal no sentido da vulva para o ânus nunca do ânus para a vulva, evitar calças apertadas; não usar toalhas ou roupas de outras pessoas; não lavar calcinhas durante o banho, pois facilita a manutenção de fungos; nunca colocar roupa íntima para secar atrás da geladeira; evitar uso de roupa de lycra e sempre manter relação sexual com uso de preservativo. 91 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 III. Método O presente estudo trata-se de uma pesquisa retrospectiva com abordagem quantitativa. Esta pesquisa foi realizada no período de janeiro de 2009 a junho de 2011, em dois laboratórios de referência no município de Santarém-PA, após autorização dos responsáveis dos laboratórios A e B mediante o objetivo da pesquisa. Neste período foram analisadas 26.666 fichas de SISCOLO sendo que do total, 4.167 foram positivos para candidíase vaginal. A população de referência foi de mulheres que realizaram o exame de colpocitologia, onde os resultados foram representados em 05 gráficos divididos em: comparação de casos positivos segundo laboratórios A e B, zona de residência, grau de escolaridade, variável de raça e variável de faixa etária e o item sem informação (SI); sendo realizada em duas etapas. Primeiramente foi realizada a pesquisa documental facilitando o entendimento do tema estudado durante a pesquisa através de livros disponíveis de: microbiologia, ginecologia, patologia, metodologia da pesquisa, manual do Ministério da Saúde e através de 29 artigos científicos publicados nas bases de dados LILACS, nos seguintes periódicos: Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, Acta Paulista de Enfermagem, DST- Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, Revista NewsLab, Revista de Saúde Pública, Revista Brasileira de Análises Clínicas sendo que destes utilizamos apenas 14 artigos. A segunda etapa trata de dados coletados nos laboratórios A e B através do levantamento quantitativo dos exames colpocitológicos, em que foram utilizados para a construção de gráficos e tabelas. A análise teve duração de 37 dias ininterruptos. III. Resultados e discussão Em um dos estudos realizados por Barros em 1995, a citologia identificou microrganismos presentes em 54,3% do total de uma população, contendo em seus resultados a Cândida albicans (32,7%), Gardinerela vaginalis (29,9%) e Trichonomas vaginalis (25,8%), observando que a Cândida albicans predomina como sendo o caso mais comum na genitália feminina. Dessa forma o exame Papanicolau é um dos exames mais importantes de rotina em uma unidade de saúde por ser um método simples, de baixo custo e identifica agentes patogênicos da mulher. Durante o período de janeiro de 2009 a 30 de junho de 2011 foram registrados 26.666 exames citopatológicos de mulheres em diferentes faixas etárias, em dois laboratórios de referência do município de Santarém-PA; sendo que destes exames 4.167 (15,6%) foram positivos para candidíase vaginal. 92 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 GRÁFICO 1 Percentual (%) de casos confirmados por zona de residência Conforme observa-se no GRÁFICO 1, acima, a zona de maior incidência de casos positivos foi a Rural com 2.726 casos (65,4%) e a de menor incidência foi a zona urbana com 1.436 casos (34,5%). Neste item não foi possível realizar discussão com outros artigos, pois não encontramos nenhuma pesquisa publicada referente a zona de residência para que houvesse uma comparação de dados. Este fato mostra que pesquisas relacionadas a candidíase vaginal não tem sido direcionadas a este dado. GRÁFICO 2 Percentual (%) de casos confirmados segundo faixa etária De acordo com o GRÁFICO 2, a faixa etária de maior incidência de casos positivos foi de 24 a 33 anos (35%). O presente trabalho está de acordo com os resultados encontrados na pesquisa de Bastos et al (2003) em Niteroi-RJ onde a prevalência de casos ocorreu na faixa etária de 21 a 30 anos (36,7%); com Mendes et al (2005) na Universidade Federal de Pernambuco com a maior incidência de faixa etária de 21 a 30 anos e com Boatto et al (2007) em São Paulo com a prevalência em mulheres na faixa etária de 18 a 34 anos. 93 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 GRÁFICO 3 Percentual (%) de casos confirmados segundo grau de escolaridade Conforme o GRÁFICO 3, o grau de escolaridade de maior incidência de casos positivos foi 1° grau incompleto com 1291 casos (31%), discordando com o estudo realizado por Barcelos et al (2008) em Vitoria –ES, que relatam que 70% possuem o oitavo ano de escolaridade discordando também com a pesquisa de Neto, Hamdan e Souza (1999) em Minas Gerais onde a maioria 86,1% era de escolaridade primaria completa ou incompleta; em contrapartida concorda com a pesquisa realizado por Guerreiro et al (1986) na Universidade Federal da Bahia 38,1% em sua maior parte eram de mulheres com baixo grau de escolaridade e com o Bastos et al (2003) em Niterói-RJ dentre as mulheres estudadas 28,6% tinham o 1º grau incompleto. IV. Conclusão Neste estudo, a porcentagem de positividade para infecção causada pela Cândida albicans detectou incidência significativa como já era esperado. Sendo a faixa etária de maior incidência de 24 a 33 anos. Considerando que essas mulheres têm baixo nivel de escolaridade em sua maioria apresentando o primeiro grau incompleto e residem na zona rural. Em relação á raça não foi possível alcançar o objetivo deste item em virtude da falta do preenchimento adequado da ficha do SISCOLO, tendo em vista também, os diferentes impressos disponíveis que não apresentam o item raça. A incidência de portadoras de candidíase vaginal descrita em trabalhos consultados para a realizaçao de nossa pesquisa se mostrou bastante semelhante ao encontrado por nós. Este fato nos leva a concluir que a candidíase vaginal cursa de maneira bastante semelhante em mulheres de diversas cidades de nosso país, independente do clima em que vivem. O número de informações na literatura sobre infecção por levedura é insatisfatória, por este motivo outras pesquisas podem ser realizadas nesta area. 94 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.86-96 Referências ÁLVARES, C. A.; SVIDZINSKI, T. I. E; CONSOLARO, M. E. L. 2007 Candidíase Vulvovaginal: fatores predisponentes do hospedeiro e virulência das leveduras. Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial. Vol.43. ANDRIOLI, J. L. et al. 2009 Frequência de leveduras em fluido vaginal de mulheres com e sem suspeita clínica de candidíase vulvovaginal. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Vol.31. Rio de Janeiro, p.302. BARCELOS, M. R. B et al. 2008 Infecções genitais em mulheres atendidas em Unidade Básica de Saúdeprevalência e fatores de risco. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. Vol.30. Rio de Janeiro, p.349-354. BARROS, S. M. O. 1995 Vulvovaginites na Gestação: Prevalência, Atualização e Assistência de Enfermagem Obstétrica. 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Este trabalho explora a utilização de relações complexas (também conhecidas como associações semânticas), como forma de enriquecer as representações de conhecimento. Para tal, cada fonte de conhecimento é representada por um vetor (vetor semântico), que adopta o conceito do “vetor space model” extendido com suporte ontológico, utilizando conceitos e suas relações existentes em ontologias de domínio. ABSTRACT The semantic representations of knowledge in this work are ways to structure the existent content in documents using dependent metadata i.e. terms that occur in a document. One of the challenges is related to the limited information presented in these documents. This work explores the use of complex relations (also known as semantic associations), as a way to enrich the knowledge representations. In order to do so, each source of knowledge is represented by a vector (semantic vector) that adopts the concept of “vector space model” extended with ontological support, using concepts and its existent relations in domain ontologies. ¹ Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal; ² Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal; ³ Faculdade de Ciências e Tecnologia – Universidade Nova de Lisboa Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, PORTUGAL Centre of Technology and Systems – UNINOVA Campus da Caparica, Quinta da Torre, 2829-516 Monte Caparica, Portugal; 4 PC/IEG – Universidade Federal do Oeste do Pará Santarém, Brasil. 97 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 I. Introdução 98 A investigação realizada em técnicas de pesquisa foi um tópico crítico durante a “primeira geração da web”, tendo sido primeiramente liderada pela academia e posteriormente pela indústria. Uma nova geração, chamada “web semântica”, está sendo desenvolvida introduzindo anotações semânticas que o software pode interpretar e onde os humanos poderão se beneficiar indirectamente através do uso de ferramentas de software. O uso de relações complexas na web semântica e ordenando os resultados das pesquisas por grau de relevância baseados nestas relações, irá permitir que esta nova visão se torne cada vez mais uma realidade, transformando a descoberta do conhecimento em um processo cada vez mais eficiente e suportado por tecnologia semântica. Hoje em dia, as várias técnicas de captura de informação, classificação e representação do conhecimento dependem exclusivamente da utilização metadados independentes (e.g. autor e data), ou metadados dependentes (i.e., termos em um documento). Um dos desafios mais comuns presentes nestas técnicas, prendem-se ao fato destas serem inerentemente limitadas pela informação que é explicita em documentos, o que introduz um problema. Vamos considerar uma situação onde palavras como “arquiteto” e “desenho” não co-ocorrem frequentemente, técnicas usando modelos estatísticos não irão correlacionar ambas palavras. Enquanto a investigação recente faz uso de dicionários externos e hierarquias de domínio de forma a enriquecer a informação com a qual os classificadores utilizam, existe ainda bastante espaço para melhoramentos (NAGARAJAN et al., 2007). Uma das grandes inovações presente neste trabalho é a exploração do uso de informação semântica externa disponível em ontologias de domínio (GRUBER, 1993), em conjunto com a informação presente em documentos, com o intuito de se definir um modelo de representação para fontes de conhecimento (documentos). O objetivo é poder ir mais além da simples “co-ocorrência de palavras e sinônimos” usados em sistemas de classificação para um nível onde a relação semântica entre conceitos presentes em uma ontologia é explorada. Por exemplo, no setor da indústria da construção, uma ontologia poderá conter vários conceitos e relações entre eles, um “arquiteto” (conceito do tipo actor) está “envolvido_em” (relação semântica) “fase de desenho” (conceito do tipo fase de projeto). Sistemas de busca tradicionais usando esta informação como suporte, poderão inferir que dois documentos que contenham cada uma destas palavras estão de alguma forma relacionados. Uma das premissas deste trabalho, é que a informação contida em tais ontologias poderá ser incorporada em várias modelos de representação e algoritmos. Neste artigo, iremos focar em um modelo de representação em particular baseado no modelo de espaço de vetores “vetor space models” (SALTON et al. 1975), que representam documentos na forma de um vetor contendo os termos mais relevantes. A abordagem seguida neste trabalho utiliza informação contida em ontologias de domínio por forma a enriquecer a representação do conhecimento. O Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 objetivo principal é avaliar de que forma o conhecimento externo e independente do conteúdo presente em documentos, poderá ser benéfico e garantindo uma melhor representação de conhecimento. De forma a tornar a abordagem possível, os vetores de termos que representam cada documento (vetores estatísticos), são construídos através da aplicação do método TF-IDF (term-frequency inverse-documentfrequency) (SALTON & BUCKLEY, 1988), que posteriormente são alterados através do uso de uma ontologia de domínio de forma a gerar um novo vetor de termos semânticos. Não se pretende com este trabalho, melhorar a performance dos algoritmos usados, mas sim afetar os vetores de termos de cada documento com informação disponível em ontologias externas de forma intuitiva e medir os resultados dos efeitos produzidos. A eficácia da nossa abordagem foi estudada e aplicada ao setor da construção, usando para tal documentos existentes na base de dados bibliográfica ICONDA (IRB, 1986), base de dados esta que prima por ser uma fonte compreensiva para busca de publicações relacionadas com o planeamento e construção a nível internacional. A abordagem proposta foi validada, através do desenvolvimento de um mecanismo de classificação que mede o grau de semelhança entre uma consulta introduzida e cada vetor semântico, avaliando deste forma o nível de enriquecimento de cada vetor. Este artigo encontra-se estruturado como descrito a seguir. A seção 2 apresenta os trabalhos relacionados a este trabalho. A seção 3 descreve a ontologia de domínio desenvolvida no âmbito deste trabalho. A seção 4 especifica o processo de criação das representações de conhecimento. A seção 5 ilustra as validações efetuadas em relação ao trabalho desenvolvido até o momento. Finalmente, a seção 6 conclui o artigo e apresenta algumas indicações de trabalho futuro. II. Trabalhos relacionados As relações têm cada vez mais um papel importante na evolução da web, tem sido diversas vezes debatido o fato das pessoas utilizarem a web não só para a pesquisa de documentos, mas também para pesquisarem informação sobre relações semânticas. Uma ideia chave a reter no processamento de relações entre entidades é o conceito de associações semânticas, que são diferentes sequências de relações que ligam duas entidades; associações semânticas são baseadas nas noções de conectividade e semelhança semântica (ANYANWU et al., 2005). Cada associação semântica poderá ser encarada como um caminho simples contendo uma ou mais relações. A investigação na área de classificação de relações semânticas remete para Hurtado et al. (2009) e Franz et al. (2009, onde a noção de semantic ranking é apresentada de forma a classificar os resultados de uma consulta em portais de web semântica. De salientar que a base de conhecimento utilizada pelos autores encontrase descrita em linguagem RDF, em oposição com a base de conhecimento 99 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 apresentada neste trabalho, que é composta por informação não estruturada presente em documentos, sendo por isso necessário o recurso a técnicas de processamento de linguagem natural de forma a estruturar a informação neles contida. O grau de similaridade entre o resultado de uma consulta e a base de conhecimento é calculada tendo em conta o número de super-classes semelhantes entre o resultado e a base de conhecimento original. Na nossa abordagem o grau de semelhança tem em conta não só a quantidade de conceitos que são semelhantes, mas também a forma como estes conceitos estão relacionados entre si. O termo pesquisa semântica é usado quando a semântica é usada de forma a melhorar os resultados de uma pesquisa. As abordagens existentes incluem também a pesquisa baseada em entidades (CHEN et al., 1993; GUHA et al., 2004). O processo descrito âmbito deste trabalho também se insere nesta categoria de técnicas de pesquisa. O que diferencia este trabalho dos mencionados é que a abordagem aqui seguida não requer que os documentos estejam ligados como é o caso das páginas web. Métodos como o PageRank (MUKHERJEA & BAMBA, 2004) baseiam-se em ligações entre páginas de forma a atribuir um valor para o seu peso, ou seja, estes métodos baseiam-se no índice de popularidade de um documento, quanto mais popular for uma página maior será o seu peso. Em relação à problemática a ser estudada no âmbito deste trabalho, Castells et al. (2007) propõem uma abordagem baseada em ontologias e suportada por uma adaptação do modelo de espaço de vetores, semelhante ao trabalho aqui proposto. A grande diferença a reter é que a abordagem apresentada por Castells et al. não tem em consideração a noção de relações semânticas entre conceitos de uma ontologia. Por outro lado, (NAGARAJAN et al., 2007) propõe um sistema de indexação baseado no modelo de espaço de vetores e suportado em tecnologias de web semântica, semelhante à abordagem apresentada por este trabalho. A abordagem apresenta uma forma de quantificar relações ontológicas entre conceitos de uma ontologia, e estas são representadas em vetores semânticos. A grande diferença entre este trabalho e o proposto por (NAGARAJAN et al., 2007), é que este último não tem em linha de conta a diferença entre relações taxonômicas e ontológicas e o papel de cada uma destas no enriquecimento de representações do conhecimento. III. Ontologia de domínio A ontologia de domínio usada neste trabalho foi totalmente desenvolvida usando a ferramenta “Protégé ontology editor” (RESEARCH, 2012), a qual é totalmente compatível com a linguagem OWL-DL. Contudo, esta ontologia usou vários conceitos presentes em outras ontologias já desenvolvidas no setor da construção, dentre as quais destacam-se: OCCS (OmniClass Classification System for Construction Information), IFD (International Framework for Dictionaries desenvolvida por the International Alliance for Interoperability) e o projeto e-COGNOS (LIMA et al., 2005). A nossa ontologia foi 100 Revista Perspectiva Amazônica desenvolvida com o intuito de suportar os testes e a validação a serem desenvolvidas no âmbito deste trabalho, não pretendendo de forma alguma substituir as ontologias de domínio já existentes no setor da construção. Pretende sim, incluir um conjunto de conceitos ontológicos e respectivas propriedades, que permitirão a extração de conhecimento e posterior enriquecimento desse mesmo conhecimento disponível em fontes de conhecimento (documentos) relacionadas com o setor da construção. Diversos níveis de especificidades são dados a todas a famílias de conceitos ontológicas, de acordo com conceito “projeto” ilustrado na FIGURA 1, estas especificidades representam hierarquias e em último caso são definidades por relações taxonômicas, como por exemplo “edifício educacional” “é uma” “função de projeto”. Cada conceito/classe corresponde uma instância, contendo palavras ou expressões relacionadas com o conceito/classe em si, através da propriedade ontológica “has Keyword”. Ano 3 N° 5 p.97-108 FIGURA 1 Excerto da ontologia de domínio Em última análise, todos os conceitos são eles póprios palavras, porque os conceitos podem ser vistos como expressões ou termos que ocorrem em fontes de conhecimento. Adicionalmente ao nome do conceito, estes possuem termos relevantes (termos equivalentes), que correspondem a um conjunto de sinônimos associados a cada conceito e que deverão ser usados na captura do sentido semântico da cada conceito. Adicionalmente, vários conceitos estão relacionados entre si através de relações semânticas, que são exploradas de forma a garantir o enriquecimento dos vetores semânticos em função da sua relevância. Alguns exemplos de relações semânticas estão ilustradas na FIGURA 1. TABELA 1 Relações semânticas Propriedade <operates_in> <is_involved_in> <has_skills> <has_skill_needs> Sujeito Actor Actor Actor Project Objeto Project Phase Project Skill Skill <is_decomposed_in> Project Task Descri ção Um ator opera em uma ou diversas fases de um projeto Um a tor está envolvido em projeto s Um ator tem diversas especializações Um projeto tem necessidades de tipo de especializações de actores Um projeto pode ser decomposto em um conjunto de tarefas 101 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 IV. Processo de representação do conhecimento O processo proposto para o enriquecimento da representação do conhecimento no âmbito deste trabalho é composto por várias fases (ilustradas na FIGURA 2): a primeira fase, denominada por “extração do conhecimento”, trata da extração dos termos mais relevantes existentes nas fontes de conhecimento através de uma ferramenta de text mining RapidMiner (RAPIDMINER, 2012), a qual permite a adopção do algoritmo TFIDF à fontes existentes no repositório de fontes de conhecimento; a segunda fase é responsável pela geração dos vetores semânticos associados a cada fonte de conhecimento denominada por “indexação de fontes de conhecimento”; a terceira e última fase é composta pela definição do algoritmo de classificação denominada por “comparação de fontes de conhecimento” (COSTA & LIMA, 2011). As várias fases que compõem o processo são descritas com exemplos de um repositório contendo 70 fontes de conhecimento relacionadas com o setor da construção. FIGURA 2 Processo de representação do conhecimento IV.1. Extração do conhecimento 102 Embora tenham sido usadas algumas técnicas de text mining, o uso destas técnicas não são o propósito deste trabalho, no entanto estas são salientadas porque servem de base a todo o processo de representação do conhecimento. A extração de conhecimento é usualmente vista como um processo que envolve três fases distintas: extração de termos, filtro de expressões regulares e criação de um vetor estatístico. Extração de termos é o processo no qual palavras e expressões são extraídas através de técnicas de text mining. Filtro de expressões regulares é o processo responsável por remover expressões com um grande número de ocorrências em fontes de conhecimento que não representam conhecimento (ex: “e” “de”, “quando”). A criação do vetor estatístico tem como base, a criação de uma representação estatística das fontes de conhecimento na forma de matriz, composta por palavras ou expressões e o peso estatístico de cada uma delas na fonte de Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 conhecimento em questão, este processo utiliza o algoritmo TF-IDF para a geração do vetor estatístico. O vetor estatísco gerado é visto como a base principal sobre a qual acenta todo este trabalho. É no entanto importante referir, que o vetor estatístico é composto por termos na sua forma de primitiva pertencentes uma família de palavras (ex: desing, desinger e designing são tudo palvras pertencentes à família de palavras design). Um exemplo de um vetor estatístico é ilustrado na TABELA 2. TABELA 2 Termos e pesos de um vetor estatístico Termo Agreement Fund Provis Advanc Record Found Feder Local Governo … Peso estatístico 0.550 0.376 0.317 0.311 0.250 0.212 0.196 0.166 0.153 … IV.2. Criação do vetor semântico O vetor semântico é constituído por duas colunas: uma coluna contém os conceitos que formam a representação do conhecimento, i.e., os conceitos mais relevantes que caracterizam cada fonte de conhecimento; e uma coluna que indica o grau de relevância ou o peso de cada conceito para a fonte de conhecimento em questão. A nossa abordagem tem em linha de conta três abordagens distintas mas complementares, na forma como é realizada a geração de cada vetor semântico: baseada em termos (keyword-based), baseada em relações taxonômicas (taxonomybased) e baseada em relações ontológicas (ontology-based). Cada uma considerada de forma iterativa até se atingir uma representação mais próxima da realidade. A TABELA 3 ilustra um exemplo de um vetor semântico gerado a partir do vetor estatístico ilustrado anteriormente. A primeira coluna corresponde aos conceitos da ontologia que foram mapeados com o termos existentes no vetor estatístico. A segunda coluna contém os termos existentes no vetor estatístico. A terceira coluna indica quais o termos equivalentes respeitantes a cada conceito ontológico que estão também presentes no vetor estatístico. Na quarta coluna estão descritos os pesos semânticos de cada conceito ontológico mapeado. O peso final de cada conceito é calculado em função da aplicação do algoritmo TF-IDF, agora para o caso dos conceitos mais relevantes e não em função dos termos mais relevantes nos documentos. 103 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 TABELA 3 Conceitos e pesos de um vetor semântico Conceito Presence_Detection_And_Registration Foundation Association Inspector Territory Issue Trainer Request Consultant Management_Actor Termo record found feder inspect state compli manag request author manag Report report Termo Ontológico recording foundation federation inspector, inspection state complication manager request authority manager, management actor report Peso Semântico 0.189 0.134 0.124 0.114 0.095 0.087 0.028 0.063 0.057 0.028 0.025 Os vetores baseados em relações taxonômicas podem ser encarados como uma nova iteração no processo de geração de vetores semânticos, onde os pesos dos conceitos calculados na iteração anterior são reajustados tendo em linha de conta as relações taxonômicas entre conceitos presentes no vetor baseado em termos. Se dois ou mais conceitos presentes no vetor baseado em termos estiverem relacionados taxonômicamente por uma relação to tipo “is a”, esta relação irá aumentar o peso de cada um dos conceitos relacionados no vetor taxonômico. Vetores baseados em relações ontológicas são considerados o último estágio do processo de criação de vetores semânticos. Este tipo de vetores semânticos são gerados a partir dos vetores taxonômicos calculados no passo anterior. O processo de cálculo de vetores baseados em relações ontológicas tem em linha de conta possíveis relações ontológicas entre conceitos existentes no vetor taxonômico. Cada relação ontológica entre conceitos possui um peso associado e este é calculado em função do número de ocorrências de uma determinada relação no universo total de documentos, i.e., se dois conceitos co-ocorrem frequentemente em um determinado documento, a relevância da forma como eles se encontram relacionados será maior quando comparada com dois conceitos onde a sua co-ocorrência ao longo de um documento seja pouco frequente. Tal como na iteração anterior, este tipo de relações irá aumentar o peso que cada conceito presente no vetor ontológico possui caso os conceitos estejam relacionados ontologicamente. A grande diferença entre vetores taxonômicos e vetores ontológicos, prendese ao fato de os vetores taxonômicos apenas terem em linha de conta relações hierárquicas entre conceitos, i.e., relações do tipo pai-filho. Por outro lado, vetores ontológicos têm em linha de conta as relações entre conceitos que não necessitam estar hierarquicamente relacionados, mas poderão estar relacionados semânticamente. 104 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 V. Validação Esta seção descreve a abordagem usada na validação do trabalho desenvolvido, começando por ilustrar o processo de indexação das fontes de conhecimento, seguido pela descrição de um exemplo uma consulta inquirida ao sistema e, consequentemente, os resultados obtidos. As consultas são tratadas aqui como pseudo-fontes de conhecimento e, como tal, cada consulta é indexada em um processo semelhante ao aplicado às fontes de conhecimento. Inicialmente a consulta é dividida em termos, termos esses que são usados na criação de um vetor estatístico para a consulta em questão. No entanto, ao invés de efetuar o processamento estatístico, aos termos da consulta são dados os mesmos pesos estatísticos a todas as palavras existentes na consulta. Esta regra implica que é dado o mesmo grau de importância a cada termo que compõe a consulta, sendo que estes pesos poderão ser ajustados manualmente pelo utilizador. Como exemplo, uma consulta de teste é aplicada ao sistema, com os seguintes termos: “door”, “door frame”, “fire surround”, “fireproofing” and “heating”, indicando que o utilizador pretende encontrar descrições de portas contraincêndio. Neste caso particular o termo “door” está relacionado com o conceito ontológico “Door”, o termo “door frame” está relacionado com o conceito “Door component”, e assim por diante, tal como ilustrado na TABELA 4. Os pesos dos conceitos ontológicos relacionados possuem o valor 0.2, pelo fato de neste caso a cada conceito ontológico corresponde apenas um termo da consulta. TABELA 4 Vetor semântico da consulta # 1 2 3 4 5 Termo Door door frame fire surround Fireproofing Heating Conceito Ontológico Door Door Component Fireplace And Stove Fireproofing Complete Heating System Peso 0.2 0.2 0.2 0.2 0.2 A nossa abordagem usada para o cálculo da semelhança entre vetores usa o algoritmo da semelhança do coseno (DEZA & DEZA, 2009) entre dois vetores. Considerando d como sendo um vetor semântico representando um documento e q o vetor semântico que representa a consulta. O cosendo do ângulo θ entre d e q é dado pela seguinte fórmula, onde m corresponde ao tamanho dos vetores: d q Cos θ = · = ? d? ? q? sm k=1 wdk wqk 2 m 2 ? ?s m k=1 wdk ??s k=1 wqk ? 105 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 é o peso correspondente a cada conceito representado por d e é o peso correspondente a cada conceito representado por q. A apresentação dos resultados é calculada em função do índice de semelhança entre cada fonte de conhecimento e a consulta definida pelo utilizador. Mais especificamente, e pelo fato do resultado da função coseno variar entre 0 e 1, o sistema implementado apresenta os resultados de forma percentual. Em relação aos resultados obtidos para a consulta descrita anteriormente, estes são bastante satisfatórios: o primeiro resultado encontrado apresenta um índice de semelhança de 84% em relação à consulta inicial, em um total de 70 fontes de conhecimento. A TABELA 5 apresenta os resultados tendo em conta as 5 fontes de conhecimento mais relevante para a consulta introduzida. TABELA 5 Resultados obtidos Doc. Id Door 190 179 201 197 172 0.093 0.181 0.121 0.017 0.045 Door Componen t 0.093 0.182 0.122 0.017 0.045 Fireplace And Stove Fireproofin g 0.077 n.a. 0.013 0.109 0.035 0.077 n.a. 0.013 0.110 0.037 Complete Heating System 0.0803 n.a. n.a. n.a. 0.012 Relevância da consulta % 84 57 55 52 48 Para o caso do primeiro resultado (doc. id., p.190), todos pesos semânticos referentes ao respectivo vetor semântico apresentam valores próximos dos 10%. O segundo resultado (doc. id., p.179) os conceitos “Door” e “Door Component” apresentam valores superiores na ordem dos 18%, mas de salientar que os conceitos “Fireplace And Stove”, “Fireproofing” e “Complete Heating System” não pertencem ao vetor semântico referente a esta fonte de conhecimento, o que por sua vez faz baixar o índice de semelhança deste com a consulta inicial. O último resultado apresentado apresenta um índice de semelhança de 48%, isto deve-se ao fato de os conceitos apresentarem valores bastante baixos comparativamente aos primeiros resultados (na ordem dos 4%). Após uma validação manual por parte de profissionais no setor da construção, pode-se concluir que os resultados embora preliminares, refletem na sua generalidade o conhecimento existente no repositório de 70 documentos relacionados com o setor. VI. Conclusões 106 A nossa contribuição com este trabalho visa essencialmente a criação e enriquecimento de representações de fontes de conhecimento através do suporte de fontes externas (ontologias). Este trabalho resulta em um contributo importante essencialmente nas áreas da web semântica e captura de informação, no entanto e do ponto vista prático, este trabalho poderá ser encarado como um suporte a equipes de projetos no setor da construção que trabalham em ambientes puramente colaborativos, onde a forma como é efetuada a partilha, a captura e a representação Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.97-108 do conhecimento dentro das organizações, tornam-se cada vez mais fatores vitais na eficiência e qualidade neste tipo de projetos. Os resultados alcançados até à data ainda não refletem uma conclusão final sobre a abordagem aqui apresentada e fazem parte de um trabalho ainda em desenvolvimento que irá evoluir ao longo do tempo. No entanto, os resultados preliminares alcançados até então, permitem concluir que o uso da informação presente em ontologias de domínio na representação de fontes de conhecimento, contribui para o enriquecimento dessas mesmas formas de representação. Testes adicionais terão de ser realizados, bem como a implementação de outras métricas de validação (precision e recall) de forma poder-se permitir extrair conclusões mais concretas sobre o método proposto. Como trabalho futuro, é expectável que esforço adicional terá de ser conduzido no sentido de enriquecer a ontologia de domínio que suporta todo o método aqui descrito. É recorrente partir-se de pressupostos errôneos, nomeadamente quanto ao fato das ontologias serem vistas como algo que é estático e que não evolui da mesma forma que o conhecimento organizacional nos dias de hoje. Uma possível abordagem a ser implementada, de forma a tentar minimizar a falta de dinamismo das ontologias, terá que ter em linha de conta o conhecimento que está presente nas fontes de conhecimento que são criadas diariamente. Estas fontes de conhecimento podem traduzir-se em novos conceitos e novas relações entre conceitos, o que implica que mecanismos de extração de novos conceitos e relações terão de ser implementados de forma a refletir estas novas atualizações nas ontologias de domínio. Referências ANYANWU, K.; MADUKO, A.; SHETH, A. 2005 SemRank: ranking complex relationship search results on the semantic web. 14th International Conference on World Wide Web. China. CASTELLS, P.; FERNANDEZ, M.; VALLET, D. 2007 An Adaptation of the Vetor-Space Model for Ontology-Based Information Retrieval. IEEE Transactions on Knowledge and Data Engineering, 19(2), p.261272. 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Como importante contribuição, o artigo apresenta uma análise a cerca das vantagens e desvantagens alcançadas com a adaptação da Arquitetura da UFRN para a construção do sistema citado. ABSTRACT This paper describes the process of developing a control system for active networks, the SIAR, and as reuse of a software architecture consolidated interfered in final product quality. As major contribution, the paper presents an analysis about the advantages and disadvantages achieved with the adaptation of Architecture UFRN for the construction of system. ¹ Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; ² Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; ³ Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil; 4 Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) Santarém – PA – Brasil. 109 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 I. Introdução A reutilização de componentes (JACOBSON et al., 1997) tem sido tema de crescente pesquisa como uma alternativa para as organizações reduzirem tempo e custos envolvidos no processo de desenvolvimento de software. Nesse contexto, diversas abordagens que tratam do reuso têm sido definidas como: Arquitetura de Software (SHAW AND DARLAN, 1996), Middleware (DASHOFY, 1998), Padrões de Projeto (GAMMA et al., 2000) e Desenvolvimento Baseado em Componentes (ALVES, 2001), etc. Dentre essas abordagens a reutilização da Arquitetura de Software merece atenção, pois permite reuso em níveis que vão desde o estilo arquitetural até o padrão de projeto adotado. De acordo com Vasconcelos (2004), a capacidade de reutilização vem representando um fator de qualidade cada vez mais requerido em artefatos de software, a fim de atender a construção de sistemas grandes e complexos, compatíveis com as atuais exigências do mercado consumidor. Nesse contexto, várias arquiteturas de software como Tiboni (2009) e Pinhão (2012) consolidaramse no meio acadêmico e corporativo e estão sendo largamente reutilizadas como forma de atingir uma qualidade satisfatória no produto final. Com essa visão, a UFOPA (Universidade Federal do Oeste do Pará) optou por utilizar a arquitetura da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), com algumas adaptações, para desenvolver um sistema de maneira rápida e segura além de propiciar o estudo da arquitetura para melhor entendimento dos sistemas da UFRN adquiridos pela UFOPA. Dessa forma, pretende-se prover interoperabilidade entre os sistemas desenvolvidos na universidade e os demais sistemas implementados nas instituições cooperadas, atendendo assim os requisitos de interoperabilidade sugerida pelo governo federal, em e-PING (CEGE, 2012). Para validar as alterações feitas na arquitetura foi desenvolvido um sistema de controle de ativos de redes, o SIAR (Sistema de Ativos de Rede). Esse sistema tem como objetivo gerenciar as informações sobre todos os componentes da rede (servidores, usuários) e sua localização dentro da instituição, no caso a UFOPA. Como principal contribuição, esse artigo apresenta uma avaliação qualitativa sobre a influência na reutilização de uma arquitetura de software na qualidade do produto final. Na parte final do artigo, os dois últimos tópicos mais precisamente, são apresentadas algumas considerações em relação as vantagens e desvantagens encontradas na utilização da arquitetura da UFRN para a criação do SIAR e o que essa parceria contribuiu em termos profissionais e práticos para os desenvolvedores que participaram desse processo. II. Trabalhos correlatos 110 Segundo Simão (2002), a reutilização de módulos preexistentes pode Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 substituir ou pelo menos, diminuir a atividade de construção desses módulos, reduzindo o tempo e o custo do desenvolvimento, e aumentando a produtividade e a qualidade. Essa opinião é compartilhada por muitos autores da área de reutilização, podendo ser encontrada em relatórios de empresas (BAUER, 1993; GRISS, 1994; JOOS, 1994), “pesquisas informais” (FRAKES; ISODA, 1994) e estudos empíricos (MORISIO et al., 2002; ROTHENBERGER et al., 2003). Todos esses trabalhos mostraram que adotar um processo de reutilização pode ser uma maneira efetiva de se alcançar benefícios na construção de software. Algumas pesquisas apresentam arquiteturas de software que já são amplamente reutilizadas, como a plataforma Demoiselle (TIBONE, 2009), desenvolvido pelo SERPRO (Serviço Federal de Processamento de Dados) que é uma arquitetura totalmente livre que visa garantir a interoperabilidade e facilidade de manutenção dos sistemas das diferentes instituições do governo federal. No site da plataforma Pinhão (PINHÃO, 2012) é descrita a arquitetura de software desenvolvida na CELEPAR (Companhia de Informática do Paraná) que é composta por uma metodologia de desenvolvimento baseada nos padrões de mercado e por várias aplicações que tratam determinadas classes de problemas. Em Xavier (2001) padrões arquiteturais são selecionados para um domínio comparando-se os atributos de qualidade desejados no domínio com a probabilidade em se obter estes atributos por meio da utilização de um determinado padrão arquitetural. Apesar de vasta pesquisa na área, poucas foram as arquiteturas apresentadas no âmbito de instituições de ensino, sendo a da UFRN a mais consolidada. III. Reutilização da arquitetura de software A Arquitetura de Software reutilizada nessa pesquisa permite abstrair a complexidade da implementação de sistemas Java Enteprise Edition (JEE), como também definir padrões de codificação, visualização, navegação para sistemas WEB. A arquitetura reutilizada neste trabalho utiliza a abordagem de separação em camadas. O intuito é não misturar as responsabilidades dos componentes dos sistemas, onde cada componente deve ter suas responsabilidades bem definidas. As camadas são utilizadas para realizar esta organização, agrupando os componentes com funcionalidades afins em camadas semelhantes, conforme ilustra a FIGURA 1. FIGURA 1 Arquitetura em camadas 111 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 As camadas são organizadas em forma de pilhas e obedecem uma hierarquia. Em geral, as camadas mais acima da hierarquia dependem das camadas mais abaixo. Apenas as camadas adjacentes podem se comunicar entre si e uma camada inferior não pode depender de uma camada superior. De acordo com o Wiki ( 2012), cada camada representa: 1. Apresentação: utilizada para a exibição de informações em janelas ou páginas HTML. É nela que há a manipulação de requisições do usuário e de requisições HTTP. Considerando os componentes do desenvolvimento web, podemos listar Managed Bean, Actions, JSPs, Servlets; 2. Aplicação: delega trabalho da camada de apresentação para a camada de domínio. Adiciona serviços (transações, por exemplo) ao sistema. Componentes: Façades, EJB Commands; 3. Domínio/Negócio: representa a lógica de negócio dos sistemas. Componentes: classes de domínio e processadores (realizam a persistência); 4. Persistência: permite a comunicação com a base de dados, disponibiliza serviços de mensagens, etc. Assim, espera-se alcançar a padronização de alguns processos e procedimentos a partir da reutilização de código, pois todas as funcionalidades comuns encontravam-se na arquitetura, alem do aumento da produtividade dos desenvolvedores devido à abstração de complexidades e das regras de desenvolvimento. III.1. Adaptação da arquitetura Durante a fase de análise da arquitetura da UFRN foi verificado que não haviam mecanismos que facilitassem a criação de novos módulos usando os componentes arquiteturais disponíveis. Sendo assim foram necessárias algumas alterações na arquitetura da UFRN para aproveitar parte de sua estrutura. Conforme visto na FIGURA 1, a arquitetura da UFRN é composta por 4 (quatro) camadas separadas de acordo com as responsabilidades definidas para cada uma. Para o desenvolvimento do SIAR foram feitas algumas alterações visando aproveitar os componentes da arquitetura do SIG da UFRN e diminuir sua complexidade. A figura 2 apresenta uma visão das camadas da arquitetura da UFRN juntamente com as adaptações efetuadas na mesma afim de atender o esquema proposto na elaboração do SIAR. O fluxo proposto na arquitetura da UFRN inicia na camada de Apresentação onde é utilizado o padrão de projeto MVC (Model, View e Controller) (GLEEN 1988). O usuário interage com a View e então o Controller faz a comunicação com o Model para verificar as regras de negócio da aplicação. Na camada de Aplicação o comando é recebido e então faz-se o preparo do movimento para a camada de negócio. O papel de Controller fica a cargo da classe AbstractController. Essa classe possui funções para controle de navegação e também de comunicação com a camada de Aplicação. Essa comunicação é feita utilizando o padrão EJB Command (ALUR, 2003) que se encarrega 112 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 de movimentar os comandos entre as camadas da arquitetura. FIGURA 2 Arquitetura adaptada e a Arquitetura do SIGs da UFRN No modelo proposto para o SIAR o fluxo da camada de Apresentação, que é controlado pelos Managed Beans que extendem a classe AbstractController, se diferencia da arquitetura da UFRN, pois ele não utiliza o padrão EJB Command para pegar o comando e fazer o movimento pelas camadas. Desta forma, o SIAR não utilizou a camada de Aplicação e foi direto para a camada de Domínio/Negócio, onde utilizou apenas os componentes de Domínio já que a parte do Negócio da arquitetura da UFRN é encarregada justamente de receber os comandos da camada de Aplicação. Da camada de Domínio os dados vão para a camada de Persistência onde foram realizadas algumas customizações nas classes responsáveis pelos DAOs. DAO (Data Access Object) é um padrão de projeto criado para fazer o intermédio entre uma aplicação e uma base de dados, que pode ser de diferentes origens. Ele encapsula e abstrai todo o acesso ao banco (ORACLE, 2012). Novos DAO's foram criadas por conta da grande complexidade e da dificuldade em adequar o código da arquitetura da UFRN à arquitetura do SIAR. Foram criados a classe SiarGenericDAO e SiarFilter. A função da SiarGenericDAO é permitir a manipulação dos dados de forma simples, fazendo as operações de salvar, atualizar, deletar e buscar por determinada informação no banco. O SiarFilter implementa o padrão OpenSessionInView (HIBERNATE, 2012). Tivemos que refazer esta classe por conta também da complexidade e da grande mudança que teríamos que fazer adequando código. Ele cuida em abrir uma Session do Hibernate (BAUER, 2005) que é a classe responsável pelas transações com o banco. A cada requisição feita pela página do SIAR é aberta uma Session e ao final da requisição essa Session é fechada, para que esta sempre esteja disponível para consultas no banco. 113 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 IV. Sistema de Ativos de Rede (SIAR) O SIAR foi criado devido a uma demanda da coordenação de serviços do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) da UFOPA para gerenciar os ativos de rede da instituição. O contexto de desenvolvimento do sistema, usando a arquitetura da UFRN, leva em conta a requisição dos clientes que solicitaram o desenvolvimento do software juntamente com a necessidade da equipe de desenvolvimento de sistemas da UFOPA em estudar e entender a arquitetura dos SIGs adquiridos por meio do termo de cooperação com a UFRN, conforme (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 2010). O objetivo do SIAR é controlar os ativos de rede da UFOPA armazenando informações relativas aos servidores, serviços, senhas, bem como a localização física, associações entre permissões/usuários/servidores, acessos ao sistema, equipamentos, entre outras. Desta forma os funcionários dos setores de serviços e rede podem gerenciar melhor seus equipamentos tendo facilmente acesso às informações como localização, usuários responsáveis, informações adicionais (como IP, máscara, identificação do tipo de servidor: virtual ou físico) dentre outras, para administrar de maneira mais eficiente os ativos da Universidade. A FIGURA 3 apresenta a tela principal do SIAR, com os links para as várias funcionalidades do sistema, onde o usuário tem acesso ao realizar o login. FIGURA 3 Tela principal do SIAR A FIGURA 4 é apresenta a página com a listagem dos usuários e algumas informações como login, senha, tipo de permissão, bem como os acessos e equipamentos associados a este. No lado direito podem ser vistos os ícones de alteração, representado pelo item amarelo, e de deletar, caso seja preciso apagar o registro inserido no SIAR juntamente com suas associações nas tabelas correspondentes no banco de dados. 114 Revista Perspectiva Amazônica FIGURA 4 Lista de usuários Ano 3 N° 5 p.109-118 Vistas as permissões de acesso disponíveis para o usuário, é possível voltar à tela anterior clicando no link Lista de Usuários próximo ao canto superior esquerdo da página e então acessar a lista de equipamentos que o usuário em questão pode gerenciar, administrar ou ter acesso, conforme pode ser visto na FIGURA 6. Neste caso, o usuário seleciona os equipamentos e em seguida pode clicar no botão com as setas para esquerda se quiser associar os equipamentos ao usuário, e caso queira desfazer essa associação basta clicar no botão com setas para direita. FIGURA 5 Lista de Acessos V. Resultados Com o desenvolvimento do SIAR por meio de uma arquitetura de software consolidada foi possível obter alguns resultados como: 1. Reutilização de componentes: muitas funcionalidades e padrões de projeto foram aproveitados, o que minimizou as chances de cometer erros em situações onde já tinham sido encontradas soluções de projeto previamente analisadas; 2. Minimização do tempo gasto no desenvolvimento: devido ao fato de que não foi necessário começar um sistema e sim partir de um ponto adiante, apenas entendendo o que foi feito para desenvolver na plataforma já criada; 3. Aprendizado da estrutura arquitetural dos SIGs da UFRN: foi possível 115 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 entender melhor a arquitetura da UFRN e ter conhecimento prático de como funcionam alguns de seus sub sistemas; 4. Um sistema de ativo de redes com uma base sólida e robusta que poderá ser incorporado aos SIGs com alguns ajustes. Em contra partida foram encontradas algumas dificuldades na utilização da arquitetura, entre elas: 1. Falta de mecanismos apropriados para facilitar a incorporação de módulos aos SIGs: foi necessário aprofundar as análises nas camadas inferiores para entender o funcionamento da arquitetura como um todo e ir subindo para fazer alterações nas camadas posteriores; 2. Análise de extensa documentação: esta dificuldade é decorrente da anterior devido a ausência de meios para facilitar o uso da arquitetura. As mudanças realizadas no fluxo entre as camadas foram realizadas para tentar diminuir a complexidade no caminho dos dados, já que por se tratar de um sistema relativamente pequeno em relação ao conjunto de funcionalidades disponível nos SIGs não seria interessante adotar alguns padrões. O uso de padrões de projeto em sistemas simples muitas vezes acaba por prejudicar o produto final (GAMMA et al., 2000) ao invés de melhorá-lo, incrementando assim maior complexidade e etapas desnecessárias. VI. Considerações finais A utilização de arquiteturas de software tende a ajudar bastante no desenvolvimento evitando retrabalho e aproveitando soluções eficientes já consolidadas e implantadas por meio de padrões de projeto para dar maior robustez ao sistema. No entanto para que isso seja possível é necessário que a arquitetura esteja preparada para atender as necessidades de seus usuários de um modo prático e fácil com simples chamadas e incorporações de propriedades disponíveis, o que não aconteceu nesta abordagem, visto que a arquitetura da UFRN não foi desenvolvida com o objetivo de ser amplamente utilizada por outros sistemas e sim para servir de plataforma para os SIGs que estão incorporados a ela. O sistema desenvolvido com base na arquitetura da UFRN está em fase de teste e finalização de algumas funcionalidades como geração de relatório e gerenciamento de usuários. A experiência no desenvolvimento de software baseado na arquitetura da UFRN foi interessante do ponto de vista profissional pois ajudou a compreender melhor os sistemas que a UFOPA utiliza. Do ponto de vista prático, no entanto, apresentou questões que dificultaram o uso da arquitetura devido ao fato desta não ter sido criada propriamente para o fim que foi usada no SIAR, ou seja, servir de base para qualquer sistema e não apenas sub sistemas da UFRN. 116 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 Agradecimentos Agradecemos ao professor Mestre Enoque Calvino Melo Alves pela proposta de utilizar a arquitetura da UFRN no desenvolvimento do SIAR para a UFOPA, pois foi a partir desta que surgiu a ideia de elaborar o trabalho em questão. E ao Mestre Davi Junio Silva de Oliveira por ter participado na elaboração dos requisitos do sistema com a criação de diagramas de Banco de dados que ajudaram a equipe de desenvolvimento do SIAR a entender melhor o problema a ser solucionado com o software em questão. Referências ALUR, D.; CRUPI J.; MALKS D. 2003 Core J2EE Patterns: Best Practices and Design Strategies. Prentice Hall, 2ª Edição. ALVES, C. E. 2001 Seleção de Produtos de Software Utilizando uma Abordagem Baseada em Engenharia de Requisitos. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco, Brasil. BAUER C.; KING G. 2005 Hibernate In Action, Editora Manning. BAUER, D. 1993 A reusable parts center. IBM Systems Journal, Vol. 32, n. 04. CEGE, Executive Committee for Electronic Government Disponível em: http://www.governoeletronico.gov.br/o-gov.br/legislacao/portaria-no-05de-14-de julho-de-2005. Acesso em 11 Set. 2012. DASHOFY, N.; MEDVIDOVIC AND R. TAYLOR 1998 Using Off-The-Shelf Middleware to Implement Connectors in Distributed Software . DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO http://www.in.gov.br/imprensa/visualiza/index.jsp?jornal=3&pagina=80& data=03/12/2010. Acessado em 27 Set. 2012. FRAKES,W. B.; ISODA, S. 1994 Success factors of systematic software reuse”. IEEE Software, Vol.11, Nº1. GAMMA, E.; HELM, R.; JOHNSON, R.; VLISSIDES, J. 2000 Padrões de Projeto: Soluções Reutilizáveis de Software Orientado a Objetos. GRISS, M. 1994 Software reuse experience at Hewlett-Packard. In: 16th International Conference on Software Engineering (ICSE). Sorrento, Italy: IEEE/CS Press. HIBERNATE Open Session in View: Hibernate Jboss Comunity. https://community.jboss.org/wiki/OpenSessionInView. Acesso em 28 Set. 2012. 117 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.109-118 JACOBSON, M. GRISS AND P. JONSSON 1997 “Software Reuse – Architecture, Process and Organization for Business Success”, Addison-Wesley. JOOS R. 1994 Software reuse at Motorola. IEEE Software, Vol.11, n. 05. ORACLE Core J2EE Patterns: Data Access Object. http://www.oracle.com/technetwork/java/dataaccessobject-138824.html. Acesso em 27 Set. 2012 MORISIO, M.; EZRAN, M.; TULLY, C. 2002 Success and failure factors in software reuse. IEEE Transactions on Software Engineering, Vol.28, n. 04. PINHÃO Sítio Oficial da Plataforma Pinhão Paraná. 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V. 2004 Uma abordagem para recuperação de arquitetura de software visando sua reutilização em domínios específicos. Exame de Qualificação, COPPE. Rio de Janeiro: UFRJ. WIKI Arquitetura UFRN. http://info.ufrn.br/wikisistemas/doku.php?id=desenvolvimento:arquitetura :documentacao_desenvolvimento, Acesso em 05 Set. 2012. XAVIER, J. R 2001 Criação e instanciação de arquiteturas de software específicas de domínio no contexto de uma infra-estrutura de reutilização. Dissertação de mestrado do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ. 118 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 USO DA PLATAFORMA ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS PARA PESQUISAS DE DADOS ATMOSFÉRICOS NA AMAZÔNIA Adyson S. Moreira¹, Adelson M.Portela², Rodrigo Silva³ RESUMO Neste trabalho apresenta-se os resultados obtidos utilizando-se da plataforma Arduino customizada para medidas ambientais dentro de um projeto de pesquisa do Programa LBA em Santarém, PA. O objetivo foi construir um sistema de armazenamento de dados e de leitura de sensores de temperatura/umidade do ar, pressão atmosférica e concentração de CO2 para realizar sondagens atmosféricas. Foram desenvolvidos dois protótipos em especial, uma microestação e um data-logger usando o Arduino. Os resultados obtidos em teste de laboratório demonstram que o sistema construído a partir da plataforma Arduino é robusto e confiável para realizar as medidas das variáveis ambientais conjugadas remotamente por meio de uma interface ou coletando as informações. ABSTRACT This paper presents the results obtained using the Arduino platform customized for environmental measures in a research project of the Program LBA Santarém, PA. the goal was to build a system of data storage and reading sensor temperature/humidity, atmospheric pressure and CO2 concentration to perform atmospheric soundings. We developed two prototypes in particular, a microstation and a data-logger using the Arduino. The results obtained in laboratory testing show that the system built upon the Arduino platform is robust and reliable to perform measurements of environmental variables combined remotely through an interface or collecting the information.. ¹ Instituto de engenharia Geociência – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)– Santarém – PA – Brasil; ² Instituto de engenharia Geociência – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)– Santarém – PA – Brasil; ³ Instituto de engenharia Geociência – Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA)– Santarém – PA – Brasil. 119 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 I. Introdução O Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) é um Programa de cooperação cientifica internacional liderada pelo Brasil que tem estudado as mudanças climáticas e ambientais na Amazônia. O resultado desses estudos tem contribuído para o entendimento dos mecanismos que regem os processos de interação entre a superfície e a atmosfera, nos diferentes ecossistemas que compõem o bioma Amazônico (LBA, 2012). Em particular, uma pesquisa está sendo realizada na região de Santarém, PA, estudando o impacto dos diferentes usos da terra nos fluxos superficiais de massa e energia. Os resultados desde estudo poderão ser aplicados na consolidação de políticas relacionadas ao uso sustentável dos recursos naturais na Amazônia (LBA, 2012). Em especial, nesta pesquisa é desenvolvido o componente de inovação tecnológica, voltado a realizar medidas e monitoramento em ambientes inóspitos e isolados na Amazônia. Embora, os estudos conduzidos dentro do LBA estejam baseados em instrumentação de alta tecnologia, em muitas situações os pesquisadores necessitam customizar tanto a instrumentação quanto os aplicativos (softwares) utilizados nas investigações cientificas. Desta forma, os pesquisadores estão buscando alternativas tecnológicas com a capacidade de minimizar custos e maximizar informações medidas pelos sensores e equipamentos. O presente trabalho foi desenvolvido dentro desta pesquisa do Programa LBA em Santarém, PA. Foi testada a plataforma Arduino como alternativa para o desenvolvimento de uma solução capaz de atender a uma necessidade específica gerada pela pesquisa. A plataforma Arduino foi customizada com um sistema de gravação de dados em cartão SD e relógio e com sensores de medidas de temperatura e umidade do ar, pressão atmosférica e concentração de CO2. Por ser uma Plataforma open source, de fácil aprendizado e baixo custo operacional o Arduino demonstra grande potencial para gerar soluções adequadas em pesquisas ambientais. Neste contexto este trabalho apresenta alguns resultados obtidos utilizando-se o Arduino como ferramenta de inovações tecnológicas. II. Microcontroladores O surgimento dos microcontroladores ocorreu por volta da década de 70, a Intel baseada na arquitetura, utilizada até então em seus computadores, de um microprocessador e seus periféricos, resolveu desenvolver um componente que integrava em uma única unidade toda essa arquitetura (MARTINS, 2005). Atualmente, os microcontroladores estão presentes na maioria dos equipamentos eletrônicos, desde simples rádios a complexos sistemas de automação residencial. A aplicação deste componente nos aparelhos eletrônicos contribui na diminuição do seu valor de custo, pois o valor do chip é bem menor em 120 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 relação às alternativas encontradas no mercado, além ser capaz de substituir um grande número de outros componentes, contribuindo para compactação dos equipamentos que utilizam esta tecnologia (ROBOTICA LIVRE, 2012) Tooly (2007) considera um microcontrolador um computador de um único chip construído para realizar tarefas de controle, como gerenciar um motor ou enviar um dado para uma porta serial. Já Martins (2005) define os microcontroladores como pastinhas inteligentes, dotadas de um processador, pinos de entrada/saída e uma memoria. Podemos considerar então que os microcontoladores integram, em único chip, elementos computacionais – como CPU, memórias ROM e RAM, contadores, etc. - e que podem ser programados para realização de tarefas específicas. Todos esses elementos tornam os microcontroladores hardwares extremamente complexos, essa é a principal característica que diferencia os microcontroladores dos microprocessadores (MARTINS, 2005). Em comparação aos microprocessadores os microcontroladores são considerados menos poderosos, pois seu conjunto de instruções é limitado e mais simples, sua frequência de clock e espaço na memoria endereçada são relativamente menores. A programação usada nos microcontroladores é mais fácil, porque o acesso aos periféricos externos ao chip é feito por uma forma padronizada e integrada na linguagem de programação (DERNADIN, 2008). Os modelos mais populares no mercado são os da família 8051(fabricado pela intel), PIC (fabricado pela Microchip), AVR (da Atmel), BASIC Stamp (fabricado pela Parallax) e o BASIC Step (fabricado por Tato equipamentos) (DERNADIN, 2008). Os microcontroladores favorecem no desenvolvimento de novos projetos de hadware e software, pois seu uso possibilita aos desenvolvedores usarem sua criatividade e imaginação (MARTINS, 2005). A utilização desses equipamentos facilita na concepção de novos softwares e hardware mesmo para iniciantes, pois no passado a utilização de elementos da eletrônica era sinônimo de elaboração de circuitos complexos e a maioria das ferramentas eram destinadas para desenvolvedores mais experientes. Com passar do tempo houve o barateamento dos microcontroladores, além da facilidade no seu uso, no qual proporcionou o surgimento de ferramentas melhores e mais simples. III. Arduino O Arduino é uma plataforma de prototipagem de hardware eletrônica, que foi criada em 2005 na cidade de Ivrea, na Itália, com intuito de ensinar Design de Interação, uma disciplina que adota como principal metodologia a prototipação. Desde sua criação o Arduino já vendeu mais de 150.000 placas oficiais e estima-se que o número de placa-clones (não oficiais) vendidas, seja por volta de 500 mil em todo mundo (MCROBERTS, 2011). Isso comprova a popularidade do projeto, que tem ganhado 121 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 cada vez mais espaço desde desenvolvedores iniciantes a profissionais experientes. A placa Arduino utilizada nesse projeto é a UNO, sendo a mais recente versão, utilizando um chip Atmega8U2, diferente do chip FTDI utilizado na sua predecessora, a Duemilanove. O chip Atmega possui menores custos que o FTDI, reduzindo os custos da placa, o mesmo também permite a atualização do firmware do chip USB, possibilitando o reconhecimento do Arduino no computador como ocorre com outros dispositivos, tal como mouse, joystick e etc. De acordo com a pagina oficial do Arduino, a versão UNO possui 14 pinos digitais de entrada/saída - dos quais 6 podem ser destinados como saídas PWM (Modulação por Largura de Pulso) -, 6 são entradas analógicas, uma cristal oscilador de 16 MHz, uma conexão USB, uma tomada de força, um cabeçalho ICSP(InCircuit System Programming) e um botão de reset (ARDUINO, 2005). FIGURA 1 Arduino UNO Fonte: http://arduino.cc/en/Main/arduinoBoardUno 122 Hoje no mercado existem inúmeras plataformas de desenvolvimento microcontroladas, como por exemplo, PicStamp, Netmedias, Phidgts e MIT's Handyboard, PorStik AVR. A escolha pelo uso da plataforma arduino está baseada em diversos fatores, dos quais podemos destacar: 1. Facilidade na utilização: Pessoas de várias esferas podem aprender facilmente conceitos básicos e criar seus próprios protótipos em um intervalo de tempo curto. Além de haver uma grande comunidade em atividade que pode ajudar compartilhando códigos, diagramas de circuitos e no auxilio a outros desenvolvedores (MCROBERTS, 2011); 2. Custo benefício: o preço do hardware é relativamente mais barato em relação a outras plataformas, além das versões oficiais do Arduino, como o Arduino Uno aqui utilizado, existem diversas outras versões com preços menores. Outro ponto importante está na substituição do microcontrolador queimado, a baixos custos, possíveis erros acarretarão pequenos prejuízos (MASSIMO, 2011); 3. Multiplataforma: é um ambiente que pode ser executado nos sistemas operacionais Microsoft Windows, Apple Macintosh e GNU/Linux. Grande parte das outras plataformas de desenvolvimento estão limitadas ao Windows; 4. IDE de programação: seu principal ambiente de programação é baseado na IDE de programação Processing, é considerado um ambiente de desenvolvimento fácil de ser utilizado [MASSIMO, 2011). A linguagem utilizada para o desenvolvimento é baseada em uma linguagem padrão, C/C++; Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 5. Não utilização das portas seriais: O Arduíno é programado por meio do cabo USB, não havendo a necessidade de uma porta serial. Este recurso é importante, visto que a maioria dos computadores atuais não possuem portas seriais; 6. Hardware e Software são de fonte abertos: o diagrama do circuito está disponível para download, se quiser o desenvolvedor pode comprar todos os componentes e criar ou até mesmo aperfeiçoar seu próprio Arduíno totalmente compatível com os shields e softwares desenvolvidos para a plataforma oficial (MASSIMO, 2011); 7. Bibliotecas de desenvolvimento: estão disponíveis para download bibliotecas que permitem a interface com outros disponíveis, facilitando o desenvolvimento de aplicações, tanto simples como complexas (ANDERSON, 2011); 8. Bootloader: por meio desta interface não há necessidade de uma programação à nível de hardware; 9. Shields: Existem vários tipos de Shields, com diversas funcionalidades. Sua utilização permite que o desenvolvedor estenda as funcionalidades do Arduino sem se preocupar com a elaboração de circuitos eletrônicos. IV. Desenvolvimento A plataforma Arduino tem sido empregada no desenvolvimento de vários protótipos, dentre eles podemos citar as microestações de pesquisas e os data-loggers como protótipos que podem já ser utilizados dentro do projeto LBA. O primeiro sistema consiste em uma microestação, que realiza a leitura de sensores, estas microestações são empregadas em campanhas de pesquisa e monitoramento em áreas de interesses dos pesquisadores, geralmente em áreas de floresta. As microestações são constituídas de um Arduino ligado a um computador por meio da porta USB e de sensores conectados às portas analógicas do mesmo, que coletam informações de temperatura, umidade do ar e pressão. O código embarcado no Arduino FIGURA 2 Tela de gráficos gerada pelo software 123 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 realiza a leitura dos sensores e envia estas informações já processadas para o computador. Para a visualização destes dados está sendo feita uma adaptação de um software desenvolvido no próprio projeto. O software realiza a leitura de dados da porta serial conectada ao equipamento responsável por captar as informações dos sensores. Os dados são processados para geração de gráficos em tempo real. Na FIGURA 2 é apresentado uma das telas gráfica do sistema. O segundo sistema é um data-logger, em algumas pesquisas os dados são coletados por meio de torres de fluxo dos sítios experimentais do projeto LBA, estas torres são equipadas por data-loggers que armazenam os dados oriundos dos sensores. O sistema desenvolvido é dotado de um Arduino acoplado a um shield de data-logger com um RTC ( Real Time Clock – Relógio de tempo Real). Toda a comunicação com os sensores é feita pelo Shield. Os dados são coletados pelos sensores e o Arduino responsável pela leitura dos sensores e pelo processamento das informações. Todos os dados são armazenados em um arquivo tipo texto em um cartão SD contido no Shield. Além dos dados dos sensores são armazenadas a hora e data do armazenamento dos dados no arquivo. Um item importante da estrutura do sistema é a alimentação, pelo fato de alguns sítios estarem localizados em áreas remotas sem possiblidade de energia elétrica, essa alimentação é realizada por meio de uma bateria de 12 volts ligada a um regulador de 5 volts, esta voltagem é ideal para o uso do Arduino. FIGURA 3 Shield de Data-logger acoplado ao Arduino Fonte: www.ladyada.net/make/logshield/ V. Resultados Os dois protótipos apresentados neste artigo estão em fase de teste dentro de um projeto de pesquisa afiliado ao Programa LBA e já demostram ser alternativas eficientes para soluções que requerem baixo consumo de energia e baixo custo operacional, podendo chegar até a substituição de alguns equipamentos utilizados atualmente nas pesquisas. Os principais pontos positivos obtidos pelo uso do Arduino são: 124 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 1. Facilidade na locomoção da equipe e na instalação dos equipamentos: em algumas campanhas de pesquisa a equipe precisa coletar dados em área de floresta, instalar os equipamentos em torres ou utilizá-los em embarcações ou bóias fixas em rios e lagos na Amazônia. Os equipamentos empregados hoje são de grandes dimensões e peso e alto consumo de energia, isto acaba dificultando a operacionalização nestes locais e o processo de captura de dados. O arduino é capaz de substituir estes equipamentos, por ser pequeno, leve e de baixo consumo de energia, facilitando no processo de coleta de dados e a operacionalização do sistema de medidas; 2. Exibição dos dados em tempo real: partes dos equipamentos utilizados não são capazes de apresentar informações em tempo real, onde os dados apresentados não são processados, esses dados acabam sendo convertidos pelos próprios pesquisadores. Através do uso de uma simples codificação e do Arduino torna-se possível visualizar os dados no monitor serial da própria IDE do Arduino, já feita a conversão para grandeza desejada. A plataforma também possibilita a fácil implementação de Interfaces em vários tipos de linguagem, como Java, Android, processing, Rubi, etc.; 3. Fácil adaptação: Alguns equipamentos usados nas pesquisas são de arquitetura fechada, isso acaba não permitindo adaptação ou mesmo desenvolvimento de novas funcionalidades (customização) que possam atender as necessidades especificas dos pesquisadores. Por ser uma plataforma aberta o Arduino pode ser modificado ou adaptado para uma função especifica; 4. Custo-benefício e Manutenção: Boa parte dos equipamentos é de alto custo. O Arduino como já foi citado no artigo apresenta preço baixo de aquisição. Em relação à manutenção em certos casos os equipamentos não são produzidos no Brasil ou mesmo não existe peça para sua manutenção, já no Arduino todos seus componentes são encontrados no mercado nacional. Pretende-se aperfeiçoar ainda mais os protótipos destacados neste artigo, para isso está sendo desenvolvida uma interface para dispositivos móveis na plataforma Android que será usado nas microestações e para a comunicação do Arduino com uma estação pretende-se usa uma conexão sem fio, no momento realiza-se estudos de qual dispositivo usar para esta função, entre as possíveis estão os shield com modulo Xbee, wifi ou bluetooth. Também se pretende achar formas de adaptar a plataforma Arduino com dispositivos já usados hoje na coleta de dados pelo LBA, mas que não são capazes de transmitir estes dados por meio de uma conexão sem fio para uma estação. VI. Conclusão O Arduino demostrou ser uma alternativa viável para o desenvolvimento de tecnologias especificas aplicadas em estudos ambientais, pois atende as principais 125 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 p.119-126 necessidades do projeto como, preço, facilidade no desenvolvimento, fácil integração com outros circuitos e sensores, vasta quantidade de Shields, e a possibilidade de desenvolvimento de uma interface amigável tanto para PC como para dispositivos moveis, através da integração JAVA. Ao ultilizar o Arduino ficou claro a facilidade no desenvolvimento de soluções, principalmente em relação a construção dos circuitos e na codificação de software responsável por coletar e processar os dados. No desenvolvimento percebese também o potencial da plataforma Arduino para solucionar os mais diferentes tipos problemas não somente do LBA, como nas áreas agrícolas e nas indústrias. Referências ANDERSON, A. C. D. D. U. M. 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Rio de Janeiro: Elsevier. 126 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 GERAIS Artigo científico “é parte de uma publicação com autoria declarada, que apresenta e discute ideias, métodos, técnicas, processos e resultados nas diversas áreas do conhecimento” (ABNT. NBR 6022, 2003, p. 2). Os artigos originais apresentam temas ou abordagens inéditas, ao passo que os artigos de revisão analisam e discutem trabalhos já publicados sobre um determinado tema. Resenhas são revisões críticas de livros e de publicações científicas ou de interesse científico, nacionais ou estrangeiros. Uma resenha deve resumir, analisar, comparar e opinar sobre a obra em questão, constituindo portanto contribuição teórica ou científica ao campo. Relatos de caso são relatos de experiências vivenciadas adaptadas ao uso didático. Os relatos devem analisar a situação em exame e propor questões para reflexão, contextualizando o caso dentro da área do conhecimento e suas implicações nesta área. Ensaios são opiniões aprofundadas obtidas através da análise de um assunto. São exposições objetivas, lógicas, críticas e originais sobre determinado tema, pelo qual o autor pode transmitir informações e ideias. 2. Os trabalhos serão submetidos ao Conselho Editorial da revista que os encaminhará a dois Avaliadores conforme área de conhecimento e disponibilidade, para que emitam o parecer favorável ou desfavorável à publicação do artigo. O(s) avaliador(es), ao apreciar(em) o trabalho, não terá(ão) conhecimento de sua autoria. 3. O encaminhamento do manuscrito deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, reafirmando que o material não foi publicado e nem está sendo submetido a outro periódico. 4. Ao enviar o trabalho para análise o(s) autor(es) concorda(m) com todos os termos das normas de publicação e abre(m) mão de qualquer ação com relação a estes. As Faculdades Integradas do Tapajós, o Conselho Editorial e os Avaliadores da Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA” não se responsabilizam, nem de forma individual nem de forma solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, que são de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es). 5. As pesquisas que envolvam seres humanos ou animais devem apresentar na metodologia que os experimentos foram realizados em conformidade com a legislação vigente sobre o assunto adotada no país, de preferência com prévia aprovação do Comitê de Ética correspondente. 6. Os Avaliadores podem aceitar ou não os trabalhos submetidos e, eventualmente, sugerir modificações ao(s) autor(es), a fim de adequar os textos à publicação. Nesse sentido, só serão publicados os trabalhos que recebam parecer favorável, e que tenham sido ajustados conforme indicação dos avaliadores. 7. Os trabalhos não aceitos para publicação ficarão à disposição do autor até três meses após a comunicação do resultado. 8. Os autores terão direito a dois exemplares da revista na qual seu trabalho foi publicado. 9. Os trabalhos serão aceitos em fluxo contínuo e caso aprovados publicados conforme a edição semestral. ESPECÍFICAS 1. Na primeira página do arquivo deverá constar: a) título e subtítulo (se houver); b) autoria: nome completo do(s) autor(es) na forma direta, acompanhados de um breve currículo que o(s) qualifique na área do artigo; c) órgão financiador (se houver); d) resumo e abstract (máximo de 200 palavras); e) palavras-chave (no mínimo três); 2. O corpo do texto dos artigos originais deve apresentar, sempre que possível, a seguinte estrutura: a) introdução; b) fundamentação teórica; c) metodologia ou material e métodos; d) resultados; e) discussão; f) conclusões; h) referências. NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 1. A revista “Perspectiva Amazônica” publicará artigos originais, artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios, desenvolvidos por pesquisadores de diferentes instituições de ensino e pesquisa, que tenham caráter científico, sejam inéditos e versem sobre qualquer área do conhecimento e preferencialmente que possuam alguma relação com a realidade Amazônica. 3. Nos artigos de revisão, resenhas, relatos de caso e ensaios não será exigida a estrutura comum aos artigos originais. 127 Revista Perspectiva Amazônica Ano 3 N° 5 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO 4. As referências devem ser apresentadas conforme norma da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em ordem alfabética, com entrada pelo último sobrenome do (s) autor (es). Quando houver mais de um trabalho do mesmo autor citado, deve-se seguir a ordem cronológica das publicações. 128 5. As figuras e tabelas devem ser sempre em preto e branco, apresentadas em folha separada do texto e com numeração específica para cada categoria, acompanhadas das legendas, créditos e fonte. As tabelas e figuras devem ser executadas no mesmo programa usado na elaboração do texto. 6. As características técnicas dos trabalhos devem ser as seguintes: a. Editor de texto: Word 97 ou superior b. Fonte: Times New Roman, 12 c. Espaçamento: 1,5 linhas d. Papel: A4 e. Alinhamento: Justificado f. Margens: Superior: 3cm, Inferior: 3cm, Esquerda: 2cm, Direita: 2cm g. Extensão: De 08 a 20 páginas, incluindo a primeira página (título, autor, abstract, conforme item 1.) 7. Os trabalhos deverão ser entregues com cópia digital (em cd ou e-mail) e duas cópias impressas, enviados para: Revista “PERSPECTIVA AMAZÔNICA” Faculdades Integradas do Tapajós Coordenação de Pesquisa e TCC Rua Rosa Vermelha, 335 – Aeroporto Velho 68010-200 Santarém – Pará – Brasil e-mail: [email protected]