Hot News - Hot Club Portugal
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Hot News - Hot Club Portugal
HOT news 5 N O V E M BR O 2 0 1 1 b o l e t i m i n f o r m at i vo o f i c i a l H ot C lu b e P o rt u g a l BERNARDO MOREIRA André Fernandes XXI Meeting IASJ MARTA HUGON PRÉMIO JOVENS MÚSICOS ‘11 ENtRADA LIVRE Bruno Santos (gtr) Gonçalo Marques (trp) Romeu Tristão (ctbx) João Pereira (bat) e convidados NOVeMbrO 16 QUA >19H 4tO ANDRé sANtOs FUNDAçãO PORtUgUEsA DAs COMUNICAçõEs ENtRADA LIVRE André Santos (gtr) António Quintino (ctbx) Sérgio Rodrigues (pno) Miguel Moreira (bat) (C/ TRANSMISSão EM DIRECTo PELA ANTENA 2 / PARCERIA HCP/ANTENA 2) às QUINtAs-FEIRAs >19H 16 a 19 CésAR CONCERtO ALUNOs HCP CARDOsO FONtANA PARk HOtEL “HALF stEP” ENtRADA LIVRE André Galvão (ctbx) Tiago Paiva (gtr) e convidados 3 QUI >22H DAN HEwsON tRIO PágINAs tANtAs 10 QUI CésAR CARDOsO tRIO PágINAs tANtAs gALIzA tOUR ESPANHA 25 sEX >15H MASTERCLASS C/ vINNIE SPERRAzzA TRIo UNIVERsIDADE LUsíADA vinnie Sperrazza (bat) Masa Kamaguchi (ctbx) Jacob Sacks (pno) (PARCERIA HCP/uNIvERSIDADE LuSíADA) edit 6 tER >22H MELO / sANtOs 4tO C/ CONVIDADO OMER AVItAL (CtBX) ONDAJAzz 7 QUA >19H CONCERtO ALUNOs HCP IsEg-INstItUtO sUPERIOR DE ECONOMIA E gEstãO ENtRADA LIVRE 7 QUA >21H30 MELO / sANtOs 4tO >11H às 17H MASTERCLASS C/ o CoNTRABAIXISTA omer avital EsCOLA HCP Acredito verdadeiramente na sorte, embora os “científicos” que me rodeiam neguem a sua existência. Em tudo no processo de recuperação do Hot Clube tem havido o factor sorte. Pode dizer-se que a CML demorou muito tempo a responder, mas respondeu. Pode dizer-se que o valor que nos entregaram era pouco, mas a obra vai-se fazendo (e com alguma sorte e engenho) dentro do orçamento. Bastava que a crise se tivesse antecipado uns meses e não haveria dinheiro da CML. Bastava não haver na Praça da Alegria nenhum edifício devoluto à nossa espera... Se este arquitecto conceituado não tivesse amor ao Hot, esta obra não seria possível. Se este empreiteiro não fosse cumpridor (isso sim é uma verdadeira sorte), entrávamos em 2012 sem Clube. Também é verdade que só quem persiste chega lá. E é verdade que esta “sorte” custou muito trabalho, a muita gente. Mas conseguimos. C/ CONVIDADO OMER AVItAL (CtBX) tEAtRO AVEIRENsE aveiro Com sorte, o Hot reabre a 21 de Dezembro. 10 sáB >21H30 CONCERtO POR INstRUMENtO Com sorte, vemo-nos todos lá! índice Este número da HotNews está ilustrado com fotografias tiradas nas obras do novo clube na Praça da Alegria, que tiveram início em Abril deste ano. 4 PROJECtO DE INVEstIgAçãO PARA O EstUDO E PREsERVAçãO DO EsPó ó LIO DE LUIz VILLAs-BOAs 5 RECOMEçO DAs AULAs CONCerTOs, MasTerClasses, OfICINas e aTelIers 6 XXI MEEtINg IAsJ EM sãO PAULO 7 wORksHOPs DE VERãO 2011 8 ANDRé FERNANDEs eNTreVIsTa 12 à BOLEIA DO tEMPO HIsTórIas DO Jazz 14 tHE ONLy ONL t HINg BEttER tHAN sINgINg Is MORE sINgINg VOz 16 VAMOs FALAR DE tIMBRE 18 PRéMIO JOVENs MÚsICOs ‘11 JaM QuesTIONs 20 CONCERtO POR INstRUMENtO CróNICa 21 Os OLHOs t tAMB éM OUVEM A COLUMBIA RECORDs 22 POst-It Inês Cunha LUIz VILLAs-BOAs CENtRO CULtURAL DO CARtAXO Alunos HCP DezeMbrO 5/6 sEg / tER Digo muitas vezes aos meus filhos que nós somos pessoas de sorte. Quando perdemos um brinquedo no jardim e passadas duas horas estava no mesmo sítio, quando um deles se magoa e é uma coisa ligeira… Quando olhamos para a nossa família e todos têm escola, um tecto para morar e saúde. HOT news 5 tODOs Os DOMINgOs >17H às 20H Alunos e Professores HCP P Rov é R B I o P o P u L A R jazz novas JaM sessIONs CAFé tAtI ToDAS AS SEXTAS-FEIRAS FEIRAS ENTRE AS 17H E AS 20H CONCerTOs MasTerClasses JaM sessIONs JaM Ja M sessIONs Na esCO COla De Jazz luIz VIllas-bO bOas A sORt OR E ORt PRO EgE Os PROt AUDAzEs NOVeMbrO 2011 e-mail Direcção Design e fotografias Inês Cunha Colaboram neste número [email protected] © HOtdog HO Revisão Marta Olias Inês Cunha Bruno santos Nuno gonçalves Capa Bernardo Moreira Equipa de trabalho na Jorge Reis construção do Hot Clube Marta Hugon Foto © HotDOg André galvão Pedro Roxo ©t tODOs Os DIREItO t s REsERVADOs tO Luís tinoco 4to Ricardo toscano t HotNews é o boletim informativo oficial do Hot Clube Portugal www.hotclubedeportugal.org [email protected] www.facebook.com/hotclubedeportugal HOt Ot CLUBE O DE PORt OR UgAL ORt EsCOLA DE JAzz LUIz VILLAs-BOAs Bernardo Moreira Bruno santos Presidente da Mesa da Assembleia Geral Inês Cunha Director pedagógico Presidente do Conselho Directivo José sousa soares Presidente do Conselho Fiscal sEDE Praça da Alegria, 39 1250-004 Lisboa MORADA Travessa da Galé, n.º 36, 1.º andar 1300-263 Lisboa tel 21 361 97 40 f fax 21 361 97 48 INSTITuIção DE uTILIDADE PúBLICA PRéMIo ALMADA NEGREIRo EGREIR S 2001 EGREIRo MEDALHA DE MéRITo RITo CuLTuRAL Do MINISTéRIo DA CuLTuRA RIT MEDALHA DE HoNRA DA CIDADE DE LISBoA MEDALHA DE HoNRA DA SoCIEDADE PoRTuGuESA DE AuTo T RES To MEMBRo EMBRo FuNDADoR DA INTERNATIoNAL ASSoCIATIoN EMBR oF SCHooLS oF JAzz NÚCLEO MUsEOLógICO DO HCP 4 E O PROJECtO DE INVEstIgAçãO Jazz em Portugal: os legados de Luiz Villas-Boas e do Hot Clube de Portugal Com este projecto, o HCP pretende assim dar continuidade ao essencial trabalho preliminar de armazenamento, inventariação e catalogação do espólio do fundador do clube (que constitui uma parte substancial do actual núcleo museológico do HCP), trabalho esse iniciado com um projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian em 2009, coordenado por Miguel Lourenço e a actual presidente do HCP, Inês Homem Cunha. o actual projecto de investigação é coordenado pela etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco e constituído por uma equipa internacional e pluri-institucional, que integra investigadores portugueses, norte-americanos e franceses, na área da Etnomusicologia, dos Estudos de Música Popular e da Conservação e Restauro, maioritariamente com trabalhos desenvolvidos no âmbito do jazz. A presença de investigadores norte-americanos irá ainda potenciar o estabelecimento de parcerias com instituições desse país ligadas ao estudo e à divulgação do jazz, o que muito beneficiará a projecção internacional do trabalho a desenvolver no próximo triénio e as actividades do próprio HCP, incluindo a preparação e a adequação do seu espólio museológico para um futuro museu do jazz, que se espera poder vir a constituir num futuro breve. Além disso, o projecto a desenvolver prevê ainda divulgação da informação por via da publicação de estudos de carácter científico e de monografias de divulgação para o grande público, além da publicação de registos sonoros históricos em formato digital, o que muito contribuirá para uma real compreensão das dinâmicas da prática do jazz em Portugal ao longo do século XX. Adivinham-se portanto momentos muito excitantes e cheios de swing para a vida institucional do HCP nos próximos anos. Estamos todos de parabéns. Pedro roxo o novo ano lectivo na Escola Luiz villas-Boas promete. Há muitos antigos alunos que continuam e uma leva de novos candidatos, o que permite que a Escola se mantenha em grande força e com a dinâmica dos últimos semestres. Como sempre, temos os nossos cursos regulares em funcionamento (matrícula completa, componente teórica e componente prática), os cursos livres, o recente atelier de Introdução ao Jazz, que vai para o 2.º ano de funcionamento e que teve um 1.º ano de enorme sucesso. Este atelier é coordenado pelo Gonçalo Marques e neste 2.º ano temos um upgrade no horário e uma aposta ainda mais forte na componente didáctica. a Oficina de Introdução ao Jazz é a nossa nova aposta para este ano, idealmente apontada a candidatos com mais de 14 anos — o atelier funcionará apenas para alunos dos 10 aos 14 — e em regime pós-laboral, permitindo assim uma maior abertura da Escola a muitos interessados que não tinham disponibilidade para frequentar os cursos regulares. Esta componente funcionará em moldes muito práticos e pretende ser uma espécie de atelier de iniciação para os mais velhos. Estamos expectantes em ver como funcionará, mas estamos muito optimistas. Além disto continuaremos com a nossa actividade de masterclasses, em parceria com a universidade Lusíada. Tivemos em outubro uma masterclass com Carlos Bica & Azul (Carlos Bica, Frank Möbus e Jim Black) e agora, em Novembro, a 25, uma outra com o vinnie Sperrazza Trio, guitarrista residente nos EuA. as jam sessions de alunos aqui na escola continuam às sextas-feiras abertas ao público em geral (entre as 17h e as 20h). Temos programado uma considerável mostra de concertos com os nossos alunos (Concertos por Instrumento em vários locais) e continuamos com a programação de jazz no ISEG, em parceria com a Antena 2 (concertos geralmente transmitidos em directo); uma outra parceria com a orquestra Geração, entre outras actividades que anunciaremos no nosso site a tempo e horas. A juntar a tudo isto há uma grande expectativa em ver o Clube reaberto para que os alunos possam regularmente assistir a concertos e jam sessions. o ano promete!!! bruno santos 5 tRAtAMENtO DO é CoM ENoRME SATISFAção que anunciamos que o projecto de investigação para o estudo e preservação do espólio de Luiz villas-Boas, desenvolvido pelo Instituto de Etnomusicologia – Música e Dança (INET-MD), pólo da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da universidade Nova de Lisboa, numa parceria com o Hot Clube de Portugal, foi contemplado com financiamento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), o que permitirá a sua prossecução. Intitulado “Jazz in Portugal: The Legacies of Luiz villas-Boas and the Hot Club of Portugal”, o projecto, aprovado com uma excelente classificação, terá a duração de três anos (2012-2014) e contempla não apenas a digitalização dos registos fonográficos (bobinas de fita magnética, discos de 78 rpm, v-Discs, cassetes, etc.), videográficos e fotográficos, como também a análise dos arquivos administrativos e artísticos do HCP e do clube Luisiana, além da documentação escrita de Luiz villas-Boas e do seu vasto espólio bibliográfico — depositado nas instalações da escola de jazz do clube, em Alcântara. Apesar de terem existido no passado várias instituições académicas e não académicas interessadas em estabelecer parcerias para o estudo deste legado indispensável para a compreensão da prática do jazz em Portugal, foi privilegiada a ligação ao INET-MD de modo a usufruir da experiência dessa instituição no âmbito da preservação e da digitalização de registos sonoros antigos, uma vez que detém não apenas um estúdio especializado para esse fim, como também recursos humanos com a formação necessária para levar a efeito esse tipo de operações especializadas. Além disso, pretendeu-se igualmente capitalizar na experiência de investigação e de ensino da música popular por parte do INET-MD (a título de exemplo, foi nessa instituição que foi elaborada a Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, tendo sido também criada no âmbito do INET-MD a primeira Pós-Graduação em Estudos de Música Popular, em 2008, e a disciplina sobre Jazz em Portugal, entre outras disciplinas relacionadas com o estudo da música popular, integradas na licenciatura em Ciências Musicais da FCSH). RECOMEçO DAs AULAs fotos © victorhideo.blogspot.com o ENCoNTRo ANuAL DESTA ASSoCIAção com várias escolas de todo o mundo aconteceu este ano em São Paulo – Brasil, na Faculdade Souza Lima. o Hot Clube é uma das escolas fundadoras da Associação (International Association of Schools of Jazz) e fez-se representar mais uma vez por um aluno e um professor/representante da Escola Luiz villas-Boas. A CoNvITE DA INêS CuNHA E Do BRuNo SANTo ANT S ANTo planeei uma série de workshops que se realizaram entre 27 de Junho e 1 de Julho na escola do Hot Clube. Tivemos 45 alunos entre os 8 e os 39 anos. A ideia foi tentar atrair mais gente para a escola e para o jazz aproveitando a disponibilidade das instalações nesta época de férias e também a maior disponibilidade de muitos jovens para ter aulas de música nesta altura. o aluno escolhido foi o romeu Tristão, contrabaixista, e que esteve a um altíssimo nível nas aulas, nas jam sessions e principalmente no concerto final de apresentação. Era um dos elementos mais novos do meeting mas portou-se de modo muito profissional, muito maduro e com muito “boa onda”. Foram 3 os workshops que se realizaram em simultâneo. Para as manhãs concebemos o Hot Mornings@Hot Clube, um conjunto de 4 disciplinas diferentes de tópicos variados: Film Scoring, leccionado por Nuno Costa, Técnicas de Improvisação, leccionado por André Fernandes, Percussão em reciclados/Percussão afro-mandinga, pelo Hugo Menezes, e gamelão, orientado pela Elizabeth Davis. A ideia era oferecer uma gama variada de escolhas que pudesse interessar a músicos já experientes e também a músicos menos experientes, e não necessariamente ligados ao jazz. Infelizmente, e por falta de inscrições, destas 4 disciplinas só as 2 primeiras é que abriram. Fui como professor e representante da Escola. Foi a minha estreia a desempenhar estas funções; por duas vezes tinha planeado ir e não tinha conseguido. Como aluno, representei o HCP em 1998, em Santiago de Compostela, e a sensação da altura foi a mesma de agora. é uma semana muito intensa, de muito trabalho, de concentração total na música, e nota-se uma grande evolução ao longo da semana de todos os participantes, havendo uma grande interacção. A energia e experiência passadas pelo mentor e director artístico, David Liebman, é contagiante. Há que reconhecer que há ali muita vontade e amor à camisola para que a associação possa estender-se um pouco a todo o lado. A ideia é simples mas funciona em pleno: uma semana a trabalhar em grupo, em aulas de combo e instrumento, várias palestras sobre assuntos diversificados e jam sessions à noite. é o dia inteiro a pensar em música e à volta da música. Fiz muitos contactos, o que é muito importante neste tipo de encontros, e na verdade é um dos objectivos do meeting, promover a troca de conhecimentos, experiências e contactos para o futuro. A ambição do HCP é ser anfitrião de um destes meetings nos próximos anos. Para já, os próximos quatro estão definidos, para o ano conto estar em Graz – Áustria para mais um meeting. Até lá. 6 bruno santos Ao princípio da tarde realizou-se o Junior Jazz Days@Hot um workshop dedicado a jovens dos 10 aos 16 anos. A ideia aqui foi aproveitar parte da estrutura do Atelier de Jazz que o Hot já tem a funcionar há cerca de um ano, para oferecer um curso intensivo de Jazz a jovens que, já tendo alguns conhecimentos de música, provavelmente nunca tinham tido a oportunidade de experimentar este género musical. Foram oferecidas as disciplinas de Instrumento, Combo e big band, sendo que para esta última convidámos o trombonista Claus Nymark, um músico muito conhecido pela direcção de orquestras de jazz, em particular Big Bands formadas por jovens músicos. Club, 7 XXI MEEtINg IAsJ EM sãO PAULO Para o final da tarde ficou o Hot Days@Hot Club, um curso dirigido a músicos com um nível mais avançado. Aqui foram oferecidas as disciplinas de Instrumento, Combo e large ensemble. Na prática, esta última disciplina acabou por ser substituída por uma disciplina de Teoria do Jazz devido à falta de instrumentos de sopro para formar um Ensemble interessante. A substituição também coincidiu com um pedido por parte dos alunos que sentiram a necessidade de uma disciplina mais teórica. os combos disponíveis eram temáticos: Combo de Jazz Moderno, orientado pelo Rui Caetano, Combo Bossa-Nova, pelo Bruno Santos, e, por último, Combo blue Note, orientado por mim. Para este curso escolhemos alguns dos actuais professores do Hot, alguns antigos professores e músicos, de algum modo ligados ao Hot. À noite realizaram-se jam sessions,, que acabaram por ser inevitavelmente uma oportunidade de aprendizagem, e onde se assistiu a uma saudável convivência das diferentes gerações de alunos. No final da semana foi feita uma apresentação dos vários combos e da Big Band, com a presença de familiares e amigos dos alunos, com direito a catering. Assim, o resultado da apresentação destes 3 workshops foi bastante positivo: uma série de alunos inscreveram-se de imediato na escola. oss objectivos de captação de novos alunos e a sensibilização do público para o ensino do jazz foram cumpridos. Resta-me agradecer o convite que me foi dirigido pela Inês e pelo Bruno, o trabalho de todos os professores envolvidos e também o grande apoio dado por todo o staff do Hot. Esperemos que esta seja uma iniciativa a repetir e a desenvolver no Futuro. gonçalo Marques ilustração do contrabaixo © João Neves wORksHOPs DE VERãO 2011 entrevista NAs VésPERAs DA sUA PARt PAR IDA PARA EsPANHA, COM O PROJECtO t gOlDeN tO fIsH, DO CONtRABAIXIstA st NELsON CAsCAIs, FALáMOs COM ANDRé stA FERNANDEs NOs EstÚDIOs tIMBUktU, EM LIsBOA. [ MC ] É um bom ponto de partida, André, para esta conversa. Foi muito difícil marcar esta série de concertos em Espanha? [ af ] Eu acho que é sempre relativamente difícil, sobretudo quando queres marcar mais do que um concerto. Marcar um concerto é fácil mas não se justifica ir a Espanha para fazer um concerto, a não ser que seja um concerto num grande auditório. Por isso, conjugar as datas dos vários clubes e dos vários sítios, tendo em conta as localizações geográficas, para não andares a fazer 500 km todos os dias, é um bocadinho mais difícil. Mas o Nelson toca muito em Espanha, e eu também tenho tocado várias vezes, portanto, ao longo dos anos, ele foi construindo uma rede de contactos, e estes são sítios onde ele já tocou antes. é como que uma sequência natural do que ele tem feito lá. [ MC ] E a realidade é que são os músicos a marcar os seus próprios concertos? [ af ] Sim, aliás eu acho que sempre foi assim e essa vai ser sempre uma vertente do trabalho que nós temos. Idealmente seria um agente a fazer isso, mas em Portugal temos uma grande limitação em termos de agências. Principalmente para trabalho fora do país. ou seja, há uma ou duas boas agências cá mas que trabalham só com Portugal. E hoje em dia eu acho que é muito limitado pensar em tocar só em Portugal, até porque cada vez há mais músicos e não há assim tantos sítios. Mesmo que se faça um circuito de clubes ou auditórios num ano, por hipótese, os músicos vão provavelmente ter de esperar mais um ano ou dois para voltar a tocar nesses sítios. Em clubes nem tanto, mas em auditórios com certeza. Não se consegue uma regularidade de concertos com o mesmo projecto só em Portugal. Acho que é altura de se começar a virar as atenções para a Europa, porque tem muitos clubes e é muito fácil, hoje em dia, viajar. é barato e é fácil. É fundamental ter algumas bases — não quer dizer que nos tornemos uns especialistas e que toquemos como o Charlie Parker ou o Coltrane. Mas é muito importante ter o conhecimento para depois podermos fazer, consistentemente, qualquer outra coisa. ANDRé FERNANDEs por Mafalda Costa [ MC ] Espanha tem sido e continua a ser a opção mais natural para quem quer tocar fora do país, até pela facilidade de contactos. É igualmente fácil para os músicos de jazz portugueses, de diferentes gerações, tocarem em Itália, França ou nos países nórdicos, por exemplo? [ af ] Em termos de os grupos portugueses terem qualidade para serem programados nesses sobre fotografia de André Fernandes (site oficial) ©hotdog sítios, não tenho dúvida nenhuma. Assumindo que são bons grupos. Não é difícil marcar, mas é mais difícil pela questão geográfica, por estarmos na ponta da Europa. Eu tenho muitos colegas que vivem em Bruxelas, por exemplo, ou em Paris, ou na Holanda, que conseguem, de certa forma, fazer um circuito internacional tocando nos países ali à volta. Aquilo que nós fazemos em Espanha, eles têm por todo o lado, para norte, para leste, oeste… Para o tipo de viagem que fazemos, de carro ou de avião, em voos baratos, é o mais natural. Se estivéssemos no centro da Europa podíamos apanhar o comboio e ir tocar a uma cidade do país ao lado. outra limitação é o custo das viagens. ou seja, nós conseguimos marcar datas nos sítios mas nenhum dos sítios vai custear as nossas viagens. Portanto tem de haver sempre um equilíbrio entre o retorno do dinheiro que esses sítios dão e os custos de viagens. Alguns países, países com maior capacidade financeira, têm apoios estatais. Há muitos países que têm apoios para os artistas para esse tipo de coisas, justamente. os músicos franceses têm isso, os países nórdicos também… Eu cheguei a ajudar a marcar concertos em Portugal, no antigo Hot Clube, para muitos amigos meus da Finlândia, Suécia, etc., e eles vinham cá ganhar o mesmo que os músicos portugueses ganhavam no clube, sendo que para eles era exactamente igual, porque todos os custos associados à viagem estavam cobertos pelo governo. Há outros países, além de Portugal, onde estes apoios não existem, mas é uma coisa que fazia falta porque é uma representação importante do país, é uma imagem que os músicos podem transportar do país para fora, portanto acho que esse apoio serviria toda a gente. Mas não há. Mas vai-se conseguindo. E hoje em dia é menos mau do que era há dez anos. Hoje em dia temos as viagens low-cost e podemos, sei lá, ir para Berlim por 100 euros. Já não é assim tão difícil. [ MC ] Nos últimos tempos tens estado ocupado com o Box, o teu novo projecto, que tem duas formações diferentes, uma com músicos portugueses, outra com estrangeiros. Qual é a identidade musical do Box? [ af ] Na verdade são dois grupos diferentes. A música é diferente e a abordagem à música é completamente diferente. A questão é que eu comecei a trabalhar na ideia desses dois grupos mais ou menos ao mesmo tempo. A formação instrumental é a mesma, ou seja, ambos são quartetos comigo, um pianista, um contrabaixista e um baterista. E a minha ideia, que não sei se vai sobreviver, era poder ter um mesmo projecto que eu pudesse propor para concertos e até editar, eventualmente, num disco duplo, com dois lados. ou seja, a ideia era fazer uma caixa com duas coisas: um grupo a soar a uma coisa, o outro de outra forma diferente. E conforme a situação, eu podia optar entre tocar com um ou o outro projecto, sendo que eles iriam coexistir. Porque o que eu tenho feito até agora é criar um projecto ou um grupo, nesta área do jazz, e esse grupo tem a sua vida durante um período de tempo, enquanto o disco existe ou faz sentido musicalmente para mim, e depois passo para outro projecto e vou fazendo. Só que estes dois têm possibilidade de ter uma vida própria, longa mas diferente. E daí a ideia de o Box poder ser uma coisa e a outra. ouu seja, ver um concerto do Box pode ser ver o meu quarteto com os músicos de cá, como ver o meu quarteto com os músicos de lá. [ MC ] E quem são os músicos dos dois quartetos Box? [ af ] Na formação nacional estão comigo o Bernardo Sassetti, o Demian Cabaud e o Marcos Cavaleiro. A formação com músicos de fora, além de mim, o Pete Rende (piano), o Matt Pavolka (contrabaixo) e o Jordi Rossy (bateria). Brevemente vou gravar o disco do Box de cá, e a ideia é fazer um lançamento simultâneo de dois discos que eu ainda não decidi se vão sair juntos, num cd duplo, mas que no fundo são dois discos, um Box que inclui dois discos com títulos diferentes mas que são comprados em conjunto, ou se vou fazer duas edições distintas mas lançadas ao mesmo tempo. Provavelmente será o que vai acontecer. o Box de cá (disco que vou gravar agora), com alguns convidados como a Maria João, em dois temas, e dois sopros em três ou quatro temas, com a Susana Santos Silva e o zéé Pedro Coelho. Ao mesmo tempo, tenho um disco pronto do quarteto internacional, que foi o concerto que demos na Festa do Jazz do São Luiz, em 2010, que foi gravado. A gravação não foi planeada com nenhum intuito. o técnico de som grava todos os concertos, em geral, e eu pedi-lhe a gravação, por curiosidade. o disco está com muito bom som e eu gostei imenso da música. Pronto, e perguntei ao resto do grupo, ao Jordi, ao Matt e ao Pete, e todos eles gostam muito da música. A minha ideia inicial era ir para estúdio e gravar aquele projecto, que, até agora, só aconteceu nesse concerto. Foi o primeiro e único concerto. Foi um concerto que foi preparado no próprio dia, os músicos chegaram, ensaiámos nesse dia à tarde e tocámos no dia seguinte, à noite. E aquilo correu muito bem, houve uma química boa entre todos. E portanto pensámos “porquê estar a esperar que eu possa gravar em estúdio se temos ali um disco que é bom e de que todos gostamos?” Então esse vai ser o primeiro disco do Box internacional. [ MC ] Tens alguma ideia de quando serão editados os Box? [ af ] Em princípio, em Fevereiro de 2012. v vou ou gravar em Setembro este, o outro está pronto, tenho de tratar do disco de estúdio, das misturas, da imagem gráfica e depois arranjar dinheiro para editá-los. [ MC ] O Box é o projecto mais recente num percurso que já tem cerca de 20 anos… [ af ] Não, 20 anos não diria… mas quase. Quase, na verdade. Eu comecei a tocar jazz, nos primórdios dos meus primeiros concertos, com 17 anos, portanto, há 18 anos. São quase 20. o que é minimamente assustador. [ MC ] Em 2011, o André Fernandes instrumentista, compositor e criador de jazz, como é que olha para os primeiros tempos de formação, nomeadamente a formação do Hot Clube? abordar a música, não de tocar mas de abordar a música, acho que já tinha nessa altura. Talvez tenha sido um bocadinho mais solidificada ou reforçada depois do período em que eu estive na Berklee, não tanto pela escola mas pela experiência que tive lá, mas acho que já na altura do Hot eu fazia aquilo que hoje faço. Que hoje faço, espero eu, um bocadinho mais a sério e que na altura queria fazer. 10 [ MC ] E que é? [ af ] é seguir o meu caminho próprio. Isso, para mim, sempre foi muito importante. Trabalhar a minha música da forma mais honesta e intensa possível. E na altura em que andava no Hot, como em qualquer outra escola de jazz, o ensino era baseado no estudo da tradição jazzística. Ainda hoje é e ainda bem, acho que é uma coisa que não se deve perder. Nessa altura, no Hot, entre os meus 16 ou 17 anos e os 19, como tinha muita necessidade de fazer a minha música também, tinha muitas ideias e queria pô-las em prática; não era para mim muito fácil gerir aquilo que era suposto eu fazer no âmbito da escola, dominar a linguagem tradicional, tocar standards, etc., e ao mesmo tempo procurar aquilo que estava a fazer. Nessa altura, para fazer uma ou outra bem, teria de estar a fazer exclusivamente uma delas. Coisa que eu não queria fazer. Não conseguia abdicar de nenhum dos lados. Isto não era um problema, era uma característica. Eu sempre me dei bem com a escola, corriam-me bem os estudos e era um aluno activo, mas tinha muitos colegas que, fazendo só o lado da tradição, estavam muitos passos à minha frente no domínio dessa linguagem. Mas que, por outro lado, não tinham a sua música, não tinham ainda a sua linguagem desenvolvida, etc. Eu estava ali um bocado com um pé em cada lado. Nem tocava a tradição muito bem nem tocava as minhas coisas muito bem. Mas isso foi importante para mim, ao mesmo tempo, para definir, logo do início, aquilo que eu queria fazer. [ MC ] Não há então um caminho único, na área da formação, para ir fazendo o percurso… [ af ] Sim, eu acho que definitivamente não há só um caminho. Não é uma coisa formatada, nem deve ser. Acho importante não nos escondermos por detrás do radicalismo de um lado ou do outro, principalmente para quem está na escola. Pode haver a tendência de dizer que não estamos interessados em fazer a nossa música ou em ter a nossa linguagem, ou que a nossa personalidade não é o que nos interessa porque o que queremos é tocar standards, ou o oposto, que é dizer “não me interessam nada os standards ou a tradição porque o que eu faço é a minha música”. Não devemos ser radicais em relação a essas coisas porque isso, invariavelmente, corre mal. Anos mais tarde, corre mal. Acho que é muito importante o estudo da tradição para qualquer género de músico de jazz, não por uma questão de respeito pelo passado mas por uma questão efectiva de capacidade instrumental e de cultura musical. é a mesma coisa que, na área do clássico, por exemplo, vermos intérpretes virtuosos que são especializados na música contemporânea e tentarmos descobrir um que não tenha estudado Bach ou Mozart ou todo o percurso clássico que é fundamental fazer. Era impossível, nenhum deles era capaz de fazer isso. E na área do jazz, quer o nosso gosto seja o free jazz, o bebop ou o hard bop ou aquilo que se faz hoje em dia, tudo isso cresceu com base nos parâmetros que criaram a linguagem, na tradição. E portanto é fundamental ter algumas bases — não quer dizer que nos tornemos uns especialistas e que toquemos como o Charlie Parker ou o Coltrane. Mas é muito importante ter o conhecimento para depois podermos fazer, consistentemente, qualquer outra coisa. Há vários caminhos, não há uma fórmula. E o universo dos músicos está repleto de exemplos. Conheço imensos músicos, muito bem estabelecidos e respeitados, que estudam 10 horas por dia, e muitos outros, exactamente com o mesmo nível musical, que estudam 1h ou não estudam. o modo de fazer as coisas é pessoal, varia com a personalidade de cada um, mas que tem de ser intenso, isso tem. [ MC ] Há algum músico que vejas como mestre, no teu caso, da guitarra? Ou já tiveste, no passado? [ af ] Não, eu nunca tive assim nenhuma obsessão por nenhum músico específico. Passei por várias fases, em que ouvia intensamente um ou outro músico, mas nunca houve um que eu tentasse imitar exclusivamente ou que estudasse profundamente. Nunca tive. Há vários músicos que adorei e que foram importantes no meu percurso. Foi importante ouvi-los, mas nunca tive um caminho apenas. [ MC ] Guitarristas? [ af ] Também. Mas não só. No início ouvia mais guitarristas, na altura em que se calhar precisava mais de perceber a mecânica do funcionamento do próprio instrumento e de como dominar o instrumento para fazer as coisas que queria. Dos mais tradicionais, os meus favoritos sempre foram o Wes Montgomery e o Jim Hall; depois, dos outros, o primeiro que me influenciou muito foi o Pat Metheny, depois o John Scofield, o Frisell… e hoje em dia aprecio alguns guitarristas mas ouço cada vez menos. [ MC ] Guitarristas de jazz ou guitarristas em geral? [ af ] Guitarristas de jazz. Adoro a guitarra noutros contextos. Não sou assim tão fã da guitarra no jazz, hoje em dia. Mas claro que ouço e gosto de alguns. [ MC ] De resto, já o disseste noutros momentos, a tua inspiração em termos de som vem menos da guitarra e mais de outros instrumentos… Por alguma razão em especial? [ af ] Não sei qual será a razão… No início eu ouvia muito mais guitarristas e, como é natural, havia uma relação mais directa entre a música que eles faziam e a minha porque o instrumento era o mesmo. Portanto aquilo que se calhar me influenciava mais na música deles estava sempre relacionado com este instrumento. E houve uma altura, há muito tempo, em que eu comecei a ter mais curiosidade em perceber coisas que outros instrumentos faziam e a tentar aplicar esses conceitos na guitarra. Ritmicamente, bateristas; harmonicamente, pianistas; melodicamente, sopros, ou pianistas, também, muitos deles, e era uma coisa que me criava o desafio de tentar transpor algumas ideias ou conceitos que esses músicos tinham, ou usam, para o meu instrumento. Esta prática tornou-se muito mais estimulante. Foi um processo natural. Não decidi um dia fazer um corte com os guitarristas e passar a ouvir outros instrumentos. Sempre ouvi de tudo, mas naturalmente, a certa altura, comecei a gravitar mais em volta do que os outros faziam. [ MC ] Ou seja, há influências de outros músicos presentes na tua música sem que tenhas consciência delas… [ af ] De certeza que estão, sim. Ninguém toca nada, nenhuma nota é tocada, sem qualquer tipo de influência. Influência não quer dizer que tenhas estudado aquele músico e copiado aquelas frases ou aquela expressão e que depois, conscientemente, as transponhas para o que tu fazes.Tudo aquilo que nós ouvimos estrutura o nosso imaginário musical e aquilo que depois queremos transpor ou queremos fazer com o instrumento. Tenho algumas influências — eu e todos — que, certamente, estão presentes na minha forma de tocar. umas serão mais evidentes do que outras. Muitas delas não serão evidentes, mas estão lá. Eu acho que todos os músicos e toda a música que eu ouvi ou que ouço e gosto, que realmente me diz qualquer coisa ou que ouço de forma mais intensa, me ajuda a definir aquilo que depois quero ouvir quando toco. E isso, tanto a nível da guitarra como a nível composicional, de conceito ou de som. é fundamental. E inevitável, também. Desde os mais convencionais aos músicos mais inovadores, ou abstractos, ou radicais. Claro que depois é um ciclo. Provavelmente essas influências são filtradas pela personalidade desse músico e trabalhadas de outra forma até estarem mais dissimuladas. Não é uma cópia, é uma influência, lá está. E, provavelmente, esse músico, se estiver a dizer alguma coisa de novo nessa linha, irá influenciar um próximo, que irá pegar no que ele fez e criar outra mutação, e esta é a história da música. [ MC ] Sendo tu um músico com uma voz muito própria e um discurso identificável, sentes que poderás já ter deixado sementes da tua forma de trabalhar, da tua voz, do teu som, noutros músicos? [ af ] Não sei directamente, mas é possível. ou não, não sei. Às vezes há algum retorno, estando envolvido em escolas… Lembro-me de que houve um aluno na Escola Superior que fez o exame final — uma parte do exame implica tocar um solo de outro músico, ou seja, executar um solo por cima de um disco — e ele escolheu um solo de um disco meu. Eu perguntei-lhe por que raio é que ele ia fazer isso quando podia tocar um do Coltrane ou qualquer outro músico que teria muito mais conteúdo. Mas é simpático saber que haverá pessoas que querem tirar dali alguma informação ou que têm curiosidade em relação ao que nós fazemos. Isso é sempre possível, mas eu serei, provavelmente, a pessoa que menos noção terá desse reflexo nos músicos. Qualquer músico que perdure no tempo e que esteja a fazer alguma coisa que chegue às pessoas, ou que toque as pessoas, de uma maneira ou de outra acabará sempre por ter algum tipo de influência. Eu ou outro qualquer. Pode ser algo especificamente musical, pode ser simplesmente a ideia que a pessoa faz do músico, ou de tomar alguma coisa como exemplo e aplicar esse exemplo na sua forma de estar como músico. [ MC ] Como é a tua prática do instrumento, o teu estudo, se existe? [ af ] A coisa foi mudando ao longo do tempo. Desde que comecei a tocar guitarra até aos vinte e meios, tinha uma prática quase diária e muito intensa do instrumento. Fazia regularmente sessões de 8h de estudo por dia, quando podia, senão fazia 4h ou 5h. Tinha uma prática quase diária que envolvia muito trabalho; não era só estudar guitarra ou tocar. Envolvia compor, ouvir música e todo esse tipo de coisas que acomodam aquilo que se toca. Hoje em dia é muito diferente. Para já porque não tenho tempo para praticar 8h diárias. Mas mesmo que tivesse acho que não o faria, seria contraproducente. Mas estou sempre muito envolvido com a música, todos os dias e durante muito tempo. 11 [ af ] Eu não sei se mudei muito. o caminho que eu escolhi e a forma que eu tenho hoje de PEQuENo PARêNTESIS SoBRE CRITéRIoS: PRoCuRáMoS QuE A TRANSCRIção DA CoNvERSA FoSSE o MAIS FIEL PoSSívEL À GRAvAção. CoM EXCEPção DE INTERJEIçõES, FoRMAS RETóRICAS HESITANTES, NoRMAIS NuM DISCuRSo DIRECTo (E.G., REPETIçõES DE INíCIo DE FRASE) ou PoR CLARAS DIFICuLDADES NA PERCEPção Do SENTIDo DA FRASE, SERá TuDo TRANSCRITo iPSiS vErBiS SEM GRANDE PREoCuPAção GRAMATICAL. CREMoS ESTAR ASSIM A PRESERvAR MELHoR o ESPíRITo Do TESTEMuNHo oRAL. ÀS HISTóRIAS CoMo SANTIAGo AoS MouRoS, PARA QuE A MEMóRIA Não SE PERCA. à BOLEIA DO tEMPO uma história contada por bernardo Moreira 12 Introdução e transcrição de Nuno Gonçalves CoMo CHEGuEI Ao JAzz? Eu não faço ideia. A única coisa que lhe posso dizer... é que tinha um ambiente em casa... não particularmente votado à música, embora o meu pai fosse uma pessoa com abertura e tinha tido até uns devaneios como guitarrista acompanhador de fado de Coimbra dos grandes fadistas do princípio do século — o Bettencourt e o Menano e não sei quê… Tenho impressão que chegou até a gravar uns discos com um grande guitarrista, estudante de Coimbra, que era o Dr. Paulo de Sá, que eu nunca conheci pessoalmente. Estou a falar nos anos 20, 1920… o que é verdade é que havia uma viola lá em minha casa, que o meu pai tinha tocado quando era estudante... o meu pai era do Porto, mas formou-se em Direito em Coimbra, ficou toda a vida em Coimbra, primeiro como Professor da Faculdade de Direito, depois como vice-Reitor da universidade durante uma data de tempo e reformou-se lá. Portanto, eu tinha uma grande inserção no meio académico de Coimbra, por várias razões, até por ser filho do vice-Reitor, depois também estava ligado às actividades da Académica porque era um hoquista furioso e estava muito ligado às actividades culturais, porque durante cinco ou seis anos fui membro muito activo do orfeão Académico, etc. Conhecia toda a gente... Com 13 anos, quando a guerra acabou, eu passava algumas manhãs de sábado de volta do aparelho de rádio que entretanto eu já tinha em casa — antes disso não tínhamos rádio em casa — mas nessa altura já tinha um radiozinho que o pai comprou durante a guerra para ouvir as notícias. Lembro-me perfeitamente de ter uma parede da sala com um enorme mapa da Europa, com bandeirinhas alemãs, inglesas, russas, e não sei quê, onde o meu pai, ouvindo o noticiário, ia marcando conforme as notícias. Isso lembro-me como se fosse hoje… Com 17 anos, estava a acabar o Liceu, conheci um grupo de alunos em Coimbra, entre os quais o Dr. Barros veloso, que tinha um disco do Charlie Parker. Estou-me a referir em outubro-Novembro de 49. Tinha um disco do Charlie Parker e nós reuníamos... o pai era médico no Caramulo, ele estava em Coimbra num quarto, numa casa de uma senhora viúva que alugava quartos a estudantes e passava os meus tempos livres ali no quarto a ouvir aquela música. Ele comprou um pick-up, um gira-discos. Então foi assim que a gente começou. E depois começámos rapidamente a tocar. Eu depois comecei a tocar com esse grupinho. E numa altura em que os músicos de Lisboa estavam ainda a tocar aquela música tipo “swing” dos anos 30-40, nós já estavamos em Coimbra a querer tocar o bebop. Não sei como... porque não tínhamos discos, não tinha estudos, não tínhamos livros, não tinha nada. Havia um “maluco” do Porto, o Rocha Brito Guimarães, que tinha um disco de 33 rpm com uma jam session com o Lionel Hampton e ia passar o fim-de-semana a Coimbra, todas as semanas, levando o disco, chegava no comboio das 10 da manhã de sábado, passávamos o sábado todo no quarto do Tó zé veloso a ouvir o disco do Lionel Hampton, que era um 33 rpm de 12’’, uma coisa inédita, uma das faces era o Stardust e perguntávamos “como é que isto é feito?”, andávamos desvairados à volta daquilo. E ele ficava ali sábado, dormia em Coimbra no quarto de algum amigo e depois saía no domingo, no comboio das seis da tarde para o Porto. Depois começou a constar que havia um grupinho em Coimbra que tocava já na linha do bebop. Havia uma rapariga que estudava Letras em Coimbra, a família foi transferida para Lisboa, e veio para aqui formar-se em Letras, e organizou em 51, na Manutenção Militar que ficava na Rua de S. José, o Baile de Carnaval da Faculdade de Letras. Desafiou-nos a vir tocar. Esse grupo de cinco ou seis. Foi aí que eu conheci o villas-Boas. Nós estávamos a começar a tocar nessa altura, quando o villas entrou nesse sítio onde nós estávamos a tocar, com as pessoas activas do Hot Clube — Sangarou e o Hélder Martins —, foi aí que nos apresentámos uns aos outros e nunca mais nos deixámos disso. Portanto, a minha relação com o Villas começou aí. Foi assim que nós acabámos todos em Lisboa a tocar no Hot. 13 O testemunho oral que cada geração tinha o dever de guardar e transmitir foi, durante séculos, a única forma de preservar a memória e a tradição de um povo ou de uma nação. Durante esses séculos, desenvolveu-se, por isso, uma arte de contar histórias, verdadeira ciência pedagógica que, prendendo os mais novos, os ocupava, ao mesmo tempo que lhes ensinava história, valores, ideais. A qualidade a que hoje vulgarmente chamamos de grande comunicador existia em cada avô, em cada ancião da aldeia, era respeitada, quase idolatrada e invejada. Hoje, fruto dos avanços tecnológicos, perdemos um pouco esta necessidade de “ouvir histórias” , como se tudo o que a humidade sabe viesse nos livros ou na Wikipédia. O jazz é, no fundo, uma história que se conta no momento em que se toca. Na verdade, quando ouvimos os nossos pais ou os nossos avós contar aos nossos irmãos mesma história que já conhecíamos, ela, por diversas circunstâncias, soou diferente de quando a ouvimos pela primeira vez. Também o músico de jazz, quando chega ao palco, leva consigo circunstâncias tão diferenciadas que, necessariamente, o mesmo tema será bem diferente. O Hot Clube de Portugal é a história dessa música no nosso país. Tem, por isso, a obrigação de saber contar histórias. Recorremos, portanto, neste primeiro capítulo, ao nosso fiel depositário da memória do jazz em Portugal, Eng.º Bernardo Moreira, ouvindo-o contar a sua maravilhosa história de como chegou ao Jazz. E eu, aos sábados de manhã, depois da Guerra acabar, portanto em 45, na altura em que o villas estava a começar com isto, eu de manhã, por volta das 11h30, 12h, agarrava-me ao rádio cheio de apitos, para apanhar uma estação com um gajo com uma voz cavernosa que dizia “AFM, this is the American Forces Network in Europe”. eu ficava pregado a ouvir um programa que era os três tops de vendas de discos na América naquela semana — e ainda me lembro de alguns temas — e depois um programa de uma música que eu não sabia que se chamava jazz, que emitia uma música que me deixava perfeitamente intrigado — “o que é isto?” — e aquilo ficou-me nos ouvidos durante anos, sem que conseguisse perceber o que era. ilustração © hOtDog [ introdução ] The only thing better than singing is more sing-ing. A minha aprendizagem no jazz começou assim — pelo prazer de cantar e pela audição dos grandes discos de jazz do século passado, com vozes e não só. Ao longo do tempo, descobri que para chegar aos calcanhares de músicos como Ella, Anita O’Day, Sarah Vaughan, Betty Carter ou Carmen McRae era preciso muito trabalho, dedicação, uma grande dose de resiliência e aquela coisa indefinível a que chamamos talento. Nem sempre estas coisas andam de mãos dadas, e nem sempre os alunos mais talentosos são os que conseguem fazer da música a sua profissão. Quando comecei a cantar e a ouvir jazz com a atenção própria do estudante, descobri também que as cantoras e cantores que admirava tinham uma técnica sólida que lhes permitia soar bem em registos muito graves ou muito agudos e improvisar com a segurança e a flexibilidade a que a linguagem do jazz obriga. Na prática, existe muitas vezes a convicção de que a voz é um instrumento que, por nascer connosco, quase poderia dispensar um trabalho regular e intenso como aquele que fazem os outros instrumentos (os de sopro, por exemplo). Como se a “naturalidade” da voz e da interpretação no jazz não fosse uma coisa trabalhada. E este é um preconceito que me serviu de ponto de partida para este texto. Dentro dos cantores de jazz encontramos no entanto uma variedade de vozes extremamente diferentes entre si e que, independentemente do seu “tamanho”, se destacaram por esta ou aquela característica de interpretação que as tornou únicas. É verdade que, muitas vezes, estas características não têm a ver com a qualidade do som, a sua beleza, a afinação, ou outro tipo de, se quiserem, “perfeição técnica”. Por outro lado, conheci ao longo da vida alguns exemplos de cantores com formação clássica que tinham muita dificuldade em mudar para um registo de jazz. Era-lhes difícil swingar e improvisar, apesar de terem um conhecimento profundo de outro género musical. Esta questão não se aplica exclusivamente ao instrumento voz. Já conheci músicos de orquestra a tocarem em Big Bands, com um som bonito e capacidades de leitura inquestionáveis mas que se queixavam da dificuldade em improvisar. No caso da voz, muitos desses cantores usavam uma colocação operática que resultava de forma desadequada e pouco natural. Há vários exemplos de cantores que gravaram temas do cancioneiro norte-americano com resultados muito pouco jazzísticos: é o caso de Renée Fleming ou Kiri Te Kanawa. Mas existem também vários cantores e músicos de jazz com formação clássica que transitaram de um universo para o outro e que são incontornáveis: Diane Reeves, Sarah Vaughan, Andy Bey, Nina Simone, Mário Laginha, João Paulo Esteves da Silva, etc. Se estivermos a falar especificamente do scat, este exige respiração correcta, articulação e afinação, cor e volume, independentemente do uso do microfone, que não dispensa a necessidade de projecção da voz. Aliás, ao observarmos os grandes cantores, verificamos que o microfone é um acessório que permite uma interpretação mais “próxima” e nos livra (felizmente) da colocação operática, mas tem de ser bem utilizado. Assunto que dava para outro texto. Técnica afecta estilo e vice-versa. Parece-me que a rigidez, seja ela no género musical que for, tem sobretudo a ver com a forma como se ensina e o tempo de estudo dedicado a um único género ou estilo musical. Uma boa técnica permite-nos cantar um tema de swing, uma balada ou um tema bebop. Quando cantamos, por exemplo, temas rápidos e não há “tempo de reflexão”, a voz tem de estar igualmente colocada e um correcto controlo da respiração é indispensável. Não é só uma questão de estilo, é uma questão de manipulação da técnica para servir o estilo. Outro factor de exigência é o tempo efectivo que um cantor de jazz passa a ensaiar e a cantar em palco. Se a voz tiver muito ar, ou a laringe subida, se se “gritar” sem controlo de volume ou colocação, o risco de cansar a voz e criar problemas de saúde é maior. Para mim, uma boa voz, uma voz bonita, é aquela que é capaz de despertar emoção aparentemente sem esforço. E isso é difícil de conseguir sem uma boa técnica. 14 por Marta Hugon Vozes como Billie Holiday ou Chet Baker são disso exemplo. Destacaram-se acima de tudo pela emoção da interpretação e pela musicalidade única. Porém, em vozes mais poderosas como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Carmen McRae ou Frank Sinatra, para dar os exemplos mais conhecidos, encontramos uma competência e segurança no domínio do instrumento que condicionaram aquilo que fizeram criativamente e as escolhas que tomaram. Excluindo Sinatra (que optou por não fazer scat mas que era dado às suas improvisações, sobretudo nas letras), todas estas cantoras foram grandes improvisadoras, o que não seria possível sem essa segurança técnica. Quer para o scat, quer para a interpretação de um standard, independentemente do “tamanho” da voz, a solidez da técnica parece-me essencial para conseguir o melhor efeito e para uma coisa muito importante no jazz: arriscar. Sem segurança, respiração correcta e domínio da voz, não é fácil arriscar. Se a técnica estiver ao serviço da Música e não for considerada um fim em si mesma, uma formação sólida, na sua maioria das vezes com base clássica, pode ser um benefício. 15 Ella Fitzgerald por Jorge Reis Porque, então, são os sons mais bonitos ou menos bonitos, mais brilhantes ou menos brilhantes? Porque um som musical é mais complexo do que pode parecer a uma observação (audição, neste caso) menos atenta. Em cada som existe uma frequência principal, que se ouve mais alto do que as outras e à qual chamamos a “fundamental”, e depois existem outras frequências, todas mais altas (i.e., que produzem sons mais agudos) e derivadas da fundamental. A todas estas frequências chamamos “parciais”. Ora, é da soma das percentagens de volume de cada parcial presente numa única nota que surgem as diferenças de timbre. A boa notícia é que estas percentagens são controláveis pelos músicos, os produtores do som nos instrumentos de música. Por exemplo, no violino, que conheço directamente, pormenores como o sítio da(s) corda(s) contra o qual friccionamos o arco, a pressão que fazemos nessa fricção, a inclinação das cerdas, que são aqueles fios que tocam directamente na(s) cordas(s), são factores que influenciam o timbre do som produzido. O outro instrumento que conheço directamente é o saxofone. Ao contrário do violino, o saxofone é um instrumento de sopro, e pertence à subfamília dos instrumentos de palheta. O saxofonista produz som fazendo vibrar (aplicando pressão e soprando) o pedaço de madeira a que chamamos “palheta”. Esta vibração é transmitida ao metal do saxofone e amplificada pelo interior oco do corpo do instrumento, e temos enfim, se tudo correr bem, um som musical. Como controla um saxofonista o timbre do seu som, aumentando ou diminuindo, portanto, as percentagens de volume dos vários “parciais” presentes? De várias formas: — Escolhendo um instrumento cuja liga metálica e boa construção sejam propícias à obtenção de um som rico, cheio e flexível. Cá vai a má notícia: o preço de alguns dos saxofones de melhor qualidade pode condicionar seriamente esta escolha. — Escolhendo os pontos da palheta onde aplica pressão. — Fazendo variar o volume do interior da boca, o que na prática equivale a abrir mais ou abrir menos a garganta (como fazemos quando bocejamos, por exemplo). — Por fim, através da modificação da posição e da dimensão das cordas vocais, na zona a que chamamos “laringe”. Este último processo é o mais subtil e aquele que exige um treino físico mais específico e prolongado. As componentes do som, mas, sobretudo, o timbre, são a identidade, a imagem sonora de um instrumentista ou cantor. A ele é sensível a maioria dos agentes envolvidos numa experiência estética musical, sejam eles executantes ou ouvintes. Gostamos mais do som de um saxofonista do que o de um outro porque o seu timbre nos parece mais bonito. O som é um bem precioso a ser desenvolvido, mantido, valorizado. Conseguir ouvir o próprio timbre, por mais que ao bom senso possa parecer um dado adquirido, não o é necessariamente. Outra boa notícia é que um bom som está ao alcance de todo e qualquer músico. E estando nesta altura o resultado em boas notícias 2, más notícias 1, aproveito para dar por terminado o artigo, não vá a equipa das más notícias querer marcar mais algum golito. Por timbre entendemos as características do som que nos permitem distinguir um músico de outro. Distinguir um pianista de um saxofonista, como distinguir um saxofonista de outro, é uma tarefa de carácter tímbrico. O timbre é um dos factores que nos provocam atracção pela música. Gostamos do som de um saxofonista mais do que o de um outro porque o seu timbre nos parece mais bonito. 17 16 Hoje vamos falar de timbre Hoje vamos falar de timbre. São três as componentes que caracterizam o som musical: altura, timbre e intensidade. A altura indica-nos a frequência do som, isto é, se ele é mais grave ou mais agudo. A intensidade diz-nos se o som é mais baixo ou mais alto, ou seja, diz respeito ao volume do som. O timbre é, na vida prática, aquilo a que, em música, nos referimos quando usamos a palavra “som”. Dizemos um som bonito, um som feio, brilhante, escuro, quando, em bom rigor, deveríamos dizer um timbre bonito, feio, etc. O certo é que uma frase como “este som tem um timbre brilhante”, que é a correcta, nos soa algo rebuscada porque arranjámos uma maneira mais prática, mais curta, de dizer a mesma coisa. Para compensar esta alteração usamos a palavra “nota” quando queremos classificar as outras componentes – altura e intensidade. É mais provável ouvirmos dizer “uma nota aguda, uma nota alta”, do que “um som agudo ou alto”. por Luís Tinoco Director Artístico do Prémio / Festival Jovens Músicos o PRéMIo JovENS MúSICoS, CRIADo PELA RDP em 1987, tem sido considerado por muitos dos seus laureados como o momento decisivo que os lançou para a ribalta do mundo musical. No campo da música erudita, nenhum outro concurso tem conseguido idêntico impacto no mundo musical português, com tantos concorrentes, tanta diversidade instrumental, tantas edições, revelando músicos como Pedro Carneiro (percussão), Alexandre Delgado (viola), Pedro Ribeiro (oboé), Bruno Borralhinho (violoncelo), entre muitos outros. Com o decorrer do tempo, o Prémio tem adaptado a sua estrutura à realidade tanto do ensino como da prática da música em Portugal, procurando acompanhar as novas tendências, apoiando-as e promovendo-as através da inclusão de novas categorias a concurso. Neste contexto, reconhecendo o enorme valor de todo o trabalho que vem sendo feito no ensino da música jazz no nosso país e aproveitando o facto de, este ano, termos assinalado o 25.º aniversário do PJM, decidimos abrir uma porta aos jovens músicos de jazz. Convidámos, também, a Big Band do Hot Clube de Portugal para participar no concerto de encerramento do Festival Jovens Músicos, apresentando um programa com primeiras audições de obras de compositores da nova geração. A aposta excedeu, em larga medida, as nossas melhores expectativas. A qualidade e o talento revelados, bem como o entusiasmo gerado em torno dos três agrupamentos premiados, partilhado tanto pelos ouvintes como por toda a equipa da Antena 2 - RDP, levam-nos a querer dar continuidade a esta presença que em tanto enriqueceu o Prémio. A rotatividade das categorias a concurso, porém, impede-nos de repetir este desafio já na próxima edição de 2012. Mas o jazz veio para ficar e terá uma presença regular em futuras edições do Prémio Jovens Músicos! JAM QUEstIONs VENCEDOREs DO PRéMIO JOVENs MÚsICOs 2011 Jazz rICarDO TOsCaNO QuarT uar eTO uarT Ricardo Toscano (sax) andré santos (gtr) João Hasselberg (ctbx) João Pereira (bat) 1. De que nota gostas mais? 2. A tua namorada alguma vez te disse “Dá-me música que eu gosto” ou “Não toques aqui!”? 3. Nunca confundiste um conCerto com um conSerto? 4. Qual é o teu andamento? 5. Com quantas linhas se cose uma pauta? 6. Que pergunta gostarias que te fizessem, mesmo? rICarDO TOsCaNO aNDrÉ saNTOs JOÃO Hasselberg JOÃO PereIra 1. F# soa bem... 1. Gosto muito de Mi. 1. A de 500. Se houvesse de mil 1. Não é necessário que seja o Mas também gosto muito de Si! seria a de 500 na mesma. Sol. Desde que não chova, tudo bem. 2. umas dizem umas coisas, desconsertados... 2. Isso nunca aconteceu, mas de vez em quando diz-me que estou a tocar o acorde certo no sítio errado... 4. Aquele swing medium rápido 3. Nem por isso. Já repararam 3. Ainda nam mas kwandu ece soa sempre bem. que Concerto ao contrário é Concerto? diah xegare dexpessome de vóz. coisas da relação que tenho com o Ricardo Toscano, mas o que ele costuma dizer é mais do género “Dá-me música aqui” ou “Não toques que eu gosto”. 4. Allegretto Pedonale. 3. Não, eu asserto sempre. 2. Ela passa a vida a dizer “Dá-me música que eu gosto...” ;) 3. Já vi concertos todos 5. Depende da qualidade outras dizem outras, mas no final acabam por dizer o mesmo… “Não toques aqui!” da agulha. 4. Degavar, degavarinho. Até tirar a carta será assim. 6. Gostava que me 5. Cose ou Coze? 5. Depende se é para ponto- perguntassem se eu gostava que o Hot abrisse rapidamente... Agora fiquei baralhado! -cruz ou macramé. Ponto-cruz 5, macramé 7,5. 2. Não queria revelar muitas 4. Adagio Magro Morango. 6. Adorava que me perguntassem quais são as cordas que uso. 5. 4… mais uma. 6. Gosto quando aquela 6. “Que pergunta gostarias que te fizessem, mesmo?”, à qual responderia: “Que pergunta gostarias que te fizessem, mesmo?”, à qual responderia: “Que pergunta gostarias que te fizessem, mesmo?”, à qual responderia: “Que pergunta gostarias que te fizessem, mesmo?” © Bety Crespo senhora dos anúncios online pergunta: “Quem inventou o iPhone? A Windows ou a Apple?” Sinto-me sempre tão culto que não resisto a carregar na resposta… 19 PRéMIO JOVENs MÚsICOs 2011 A HotNews pretende descobrir a criatividade dos nossos músicos e confrontá-los com novas questões. A música está sempre presente. O questionário permanecerá nas próximas edições. Os entrevistados é que variam. CONCERtO POR INstRUMENtO Continuamos a trabalhar para melhorar a nossa Escola, apetrechá-la com os melhores meios possíveis, ultrapassando as dificuldades que se apresentam. O projecto Concerto por Instrumento é o fruto desse trabalho. O aluno André Galvão dá-nos conta dos últimos concertos que foram realizados no âmbito deste projecto. E N t I DA D E s QU E A P O I A M E s t E E V E N tO O projecto Concerto por Instrumento, desenvolvido pelo Hot, é, do meu ponto de vista, uma aposta ganha. Já participei neste projecto algumas vezes (Fonoteca Municipal de Lisboa, IsLA, Feira do Livro, Feira do Vinho, Lx Factory, Fórum Municipal do Cartaxo, Largo de são Paulo, Fontana Park Hotel), e penso que é uma mais-valia quer para os alunos, que têm oportunidade de pôr em prática todos os seus conhecimentos teóricos e práticos, quer para o Hot, que além das contrapartidas directas que tem com os concertos, consegue assim promover-se de uma forma mais directa e incisiva em locais que de outra forma não conseguiria. Das participações e experiências que tenho tido com este projecto, destaco os seguintes aspectos: as pessoas estão muito receptivas ao jazz, os concertos têm sido sempre muito descontraídos, há sempre boa disposição, mas temos de ser muito disciplinados, nos horários, na forma como nos apresentamos e tocamos, no repertório que escolhemos, porque o público é muito exigente. Claro que às vezes há excepções. No IsLA, toquei com o Rui guerreiro (bat) e o João Espadinha (gtr), e enquanto tocávamos estava, ao nosso lado, nada mais nada menos que um porco no espeto para fazer as delícias dos alunos. é obvio que não conseguimos competir com ele, e ninguém nos ligou nenhuma. Ou numa exposição de pintura no Lx Factory: toquei com o tiago Paiva (gtr), Daniela Alemão (sax) e Rui guerreiro (bat) e a meio do concerto pediram-nos para tocar mais baixo porque estávamos a incomodar as pessoas que estavam a ver a exposição. Na Fonoteca Municipal de Lisboa tivemos uma experiência muito interessante. Foi um concerto de apresentação de música clássica e de música jazz. Eu, a Daniela Alemão (sax) e o tiago Paiva (gtr) éramos os únicos representantes do jazz, com o professor João Moreira a apoiar-nos, e os alunos da Academia de Amadores de Música de Lisboa representavam a música clássica. Foi uma experiência enriquecedora e deveras interessante, pela possibilidade de cruzamento destas duas linguagens musicais. Muitos mais exemplos podia dar para mostrar que é sempre uma mais-valia ter a oportunidade de participar nestes concertos, e que este é um óptimo projecto para o Hot e para os seus alunos. Os OLHOs tAMBéM OUVEM COluMbIa reCOrDs fraNK sINaT a ra aT tHE VOICE OF FRANk sINAt sINA RA CoLuMBIA 78 rpm, 1946 fraNK sINaT a ra aT tHE VOICE OF FRANk sINAt sINA RA CoLuMBIA 33 rpm, 1948 JOHN KIrby JOHN kIRBy AND HIs ORCHEstRA por Nuno Gonçalves CoLuMBIA 78 rpm, c. 1940 DEsIgN alex sTeINweIss A CoLuMBIA é A MAIS ANTIGA CoMPANHIA de discos ainda no activo. Fundada nos anos 80 do século XIX, gravou o seu primeiro disco de jazz com a original Dixieland Jazz Band em 1917. Foi adquirida nos anos 20 pela sua subsidiária inglesa, que, por sua vez, ao fundar a EMI, foi forçada a vender a empresa de novo a capital americano nos anos 30, comprada pela Columbia Broadcasting System (CBS). A Columbia Records foi, em muitas matérias, pioneira no mercado discográfico internacional e também no campo do design gráfico das capas dos seus discos — talvez até possamos dizer que houve um antes e um depois das capas da Columbia, nomeadamente a partir da contratação, em 1939, de alex steinweiss como director de arte da empresa e criador da primeira capa de disco ilustrada. Antes disso, os discos eram vendidos com uma capa de papel castanho simples, com um cartão exterior, também simples, e o nome do artista estampado — segundo Alex Steinweiss, pareciam “lápides”. Em 1948, Alex trabalhou no design, não só gráfico, mas também funcional das capas dos discos de 33 rpm que a Columbia estava a desenvolver e que se tornaram, ainda hoje, as capas standard, inauguradas pelo disco “The voice of Frank Sinatra”. Curiosamente, esse disco saiu só com um design tipográfico, quando o disco original de 78 rpm, publicado dois anos antes, já possuía imagem. Depois de Alex Steinweiss, outros grandes nomes do design trabalharam para a Columbia, dando-nos algumas das mais brilhantes e belas capas de discos: é o caso de Jim flora, Neil fujita, bob Cato, John berg ou Mati Klarwein. O modo como olhamos os discos deve-se muito a esta companhia e a estes homens. 21 20 CRóNICA POR CONCERtO lOuIs arMsTrONg tHE LOUIs ARMstRONg stOR tORy, tOR ORy, VOL. 2 CoLuMBIA 12’’ LP LP, 1951 DEsIgN JIM aMOs CHICAgO styLE JAzz CoLuMBIA 12’’ LP LP, 1955 ILUstRAçãO beN sHaHN DEsIgN NeIl fuJITa JIT JITa tHE JAzz MEssENgERs CoLuMBIA 12’’ LP LP, 1956 FOtO FOt tOgRAFIA DON HuNsTeIN DEsIgN NeIl fuJITa JIT JITa Post-it JoE NAPoLI ERA uM G. I. AMERICANo na 2.ª Guerra Mundial. Foi protegido e escondido dos soldados alemães durante semanas pela população de uma pequena aldeia nas Ardenas belgas chamada Comblain La Tour. A primeira internacionalização do jazz português foi feita no Festival de Comblain La Tour pelo Quarteto do Hot Clube de Portugal, em Agosto de 1963. Este quarteto foi também um dos seis grupos seleccionados para a emissão do Festival na recém criada Eurovisão. (Como se pode imaginar, a primeira participação de um grupo de jazz português num festival desta dimensão é recheada de estórias que vale a pena contar. Lá voltaremos.) Inês Cunha 23 22 Regressado aos Estados unidos, no fim da guerra, tornou-se produtor de espectáculos e decidiu retribuir à população dessa pequena aldeia, produzindo um dos mais importantes festivais de jazz na Europa nessa época. os seus contactos nesse meio permitiam-lhe trazer grandes nomes do jazz americano, a que ele juntava nomes europeus. Aqui se mostra a carta escrita por Napoli a Luiz villas-Boas para que este enviasse um grupo de jazz português. aqui jazz... MÁRIO ALBERTO nasceu no Lubango, Angola, a 20 de Julho de 1925, cresceu no Alentejo e vivia em Lisboa. Pintor, cenógrafo, figurinista, homem do teatro, do cinema e da televisão, foi fundador do Teatro Adoque e da Barraca. Foi sócio do HCP logo no seu início, em 1948, sendo o responsável pela concepção dos cartazes e folhetos que eram distribuídos pela cidade e divulgavam os concertos e as jams que iam acontecendo. Faleceu em Lisboa a 4 de Outubro de 2011. Horário da mediateca disponível a todos os sócios / quarta-feira 11h > 13h / 13h30 > 15h30 segunda-feira / terça-feira quinta-feira 11h > 12h30 sexta-feira Encerrada [email protected] HOT news mail-me! news precisam-se. [email protected]