Crítica à baixa ecologia

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Crítica à baixa ecologia
Crítica à baixa ecologia:
Deuteronômio 5,12-15 por fios
condutores sociais
© Centro de Estudos Bíblicos – CEBI
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Revisão
Nélio Schneider
Capa
Eduardo de Proença
Editoração
Rafael Tarcísio Forneck
A447c
Almeida, Fábio Py Murta de
Crítica à baixa ecologia: Deuteronômio 5, 12-15 por
fios condutores sociais / por Fábio Py Murta de
Almeida. São Leopoldo: CEBI, Fonte Editorial,
2015.
130 p.
ISBN: 978-85-7733-235-9
1. Deuteronômio. 2. Bíblia – Antigo Testamento.
3. Interpretação bíblica. I. Título.
CDU 222.1.07
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Crítica à baixa ecologia:
Deuteronômio 5,12-15 por fios
condutores sociais
Fábio Py Murta de Almeida
São Leopoldo – RS
2015
Dedico o texto aos meus pais:
Seu Afonso e Dona Jailda
pela luta/vida e pelas tangerinas que estavam no cesto.
Sumário
Introdução...............................................................................................................15
Capítulo 1
A questão Deuteronômio e Deuteronômio 5,12-15...................................................21
1.1. Motivações para a leitura e o reconhecimento dos seus intérpretes.........23
1.2. Deuteronômio e decálogo no cânon..............................................................24
1.3. Crítica humanista: Wilhelm M. L. de Wette e os inícios dos estudos do
Pentateuco.........................................................................................................25
1.4. A pesquisa de Julius Wellhausen....................................................................26
1.5. A literalidade liberal: A. Klostermann..........................................................27
1.6. Uma revista na escola da Escandinávia.........................................................27
1.7. A “crítica das origens”: (Aage Bentzen,) Martin Noth e Gerhard von Rad.29
1.8. A manutenção das indagações sobre os inícios...........................................31
1.9. O caso da exegese feita nos EUA e o Deuteronômio....................................32
1.10. A análise bíblica na forma canônica............................................................34
1.11. Aprofundamento da “crítica da redação”: Deutero­nômio e o sábado..........35
1.12. O revigorar sociológico da escola espanhola.............................................38
1.13. O grupo das “Tribos de Yahweh”, suas interpretações de Deuteronômio
para a América Latina...................................................................................39
1.14. Os alunos de Norman K. Gottwald na América Latina............................41
1.15. A leitura histórico-social de Frank Crüsemann na América Latina.......42
1.16. A escola Norbert Lohfink-Georg Braulik na América Latina..................43
1.17. O Deuteronômio, o sábado e a ecologia nas Américas.............................45
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Capítulo 2
A forma de Deuteronômio 5,12-15...............................................................................49
2.1. A tradução.........................................................................................................50
2.2. O texto de Deuteronômio 5,12-15 ................................................................50
2.3. Introdução à forma do texto...........................................................................51
2.4. O sábado como prática social.........................................................................59
2.5. Estrutura concêntrica......................................................................................61
Capítulo 3
O lugar vivencial de Deuteronômio 5,12-15................................................................65
3.1. Anciãos e sacerdotes consideram as tradições do Reino de Israel............66
3.2. De Ezequias a Josias: o agente passa a ser o povo da terra.........................69
Capítulo 4
Deuteronômio 5,12-15 na vida!.....................................................................................73
4.1. Parte introdutória do mandamento (v. 12)...................................................74
4.2. O final do mandamento (v. 15c)....................................................................83
4.3. Todo trabalho em seis dias (v. 13)..................................................................86
4.4. “Pois escravo foste na terra do Egito” (v. 15ab)............................................90
4.5. Os envolvidos no ensino (v. 14).....................................................................97
4.6. Modelo e religião da situação.........................................................................109
Conclusão................................................................................................................117
Referências bibliográficas..........................................................................125
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Prefácio
A releitura de textos do passado é sempre um processo criativo de uma
nova mensagem para o presente. Trata-se de um processo de reconstrução,
que envolve uma complexidade de operações para muito além da simples
leitura literal, embora esta seja parte importante do processo. Isso se dá
com todos os tipos de textos. Aplica-se também aos textos bíblicos.
O presente livro é um experimento de reler o texto de Deuteronômio
5,12-15 por um viés histórico-social. Trata-se de um texto que apresenta o
mandamento do descanso sabático, o qual tem seu paralelo em Êxodo 20,8-11.
Apresenta o ordenamento do tempo na ordem do cotidiano do povo do
antigo Israel. Divide o tempo em sete partes; seis de dedicação ao trabalho
e a sétima, de dedicação ao ócio, ao não-fazer, enfim, ao descanso. Essa
estrutura de tempo tem sua justificativa mitológica. No texto, remete-se aos
tempos primordiais da criação do cosmo pelo Deus criador dos hebreus,
Yahveh. Assim, a recomendação da estruturação do tempo não deriva de
qualquer ordem temporal, seja um rei, seja um sacerdote, mas é justificada
como instauração da própria divindade. A justificativa mitológica reveste o
mandamento de validade atemporal, residindo nisso sua força.
Ao mencionar o conteúdo de Deuteronômio 5,12-15, que trata do descanso sabático na versão deuteronômica, estamos fazendo referência ao
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Fábio Py Murta de Almeida
que Paul Ricoeur chama de “mundo do texto”. Nesse universo, que é de
livre criação, o mundo recebe a sua ordenação. A natureza, as pessoas, os
animais e as possibilidades de relação decorrentes são ordenados como proposta normativa, reforçada pela forma imperativa do verbo: “santificarás...”.
Esse mundo do texto, contudo, precisa ser entendido a partir do que o mesmo autor chama de “mundo histórico”, isto é a confluência de lugar e tempo
em que pessoas se dedicaram à tarefa de produzir o texto. Com isso o texto,
no caso bíblico, recebe o seu enquadramento histórico. A sua primeira faceta histórica consiste em ter sido produzido em um determinado momento
histórico. Essa percepção abre as portas para os demais passos.
A leitura ou releitura histórico-social de textos bíblicos é, pois, uma
tarefa exegética, hermenêutica, histórica. Ela trabalha com reconstruções,
com hipóteses a serem fertilizadas, com indícios, com argumentos. É, claro,
uma atividade que envolve seletividade, opções, inventividade. Afinal, os
textos, em tal perspectiva de leitura, são desdobrados no viés da análise
crítica, que é histórica e científica. O olhar do leitor, as suas muitas possibilidades no campo da estética da recepção, a polissemia intrínseca do texto
são dimensões que entram no jogo interpretativo. Este “jogo científico” não
deve reivindicar para si a neutralidade que o paradigma científico clássico
reivindicava para si. Há de ser uma atividade que está balizada por interesses; afinal, na perspectiva habermasiana, o interesse é emancipatório.
O livro de Fábio Py – Crítica à baixa ecologia: Deuteronômio 5,12-15
por fios condutores sociais – é um texto que deriva de sua dissertação de
mestrado sob a orientação de um grande mestre da interpretação bíblica
histórico-social, o saudoso professor Milton Schwantes. Em muitas linhas
se percebe a sua inspiração orientadora misturada às palavras do autor. Na
confluência de perspectivas, a releitura do texto bíblico de Deuteronômio
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