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ORTOPESQUISA Trabalho original Trabalho participante do Prêmio NacionalSPO Avaliação in vitro, in vivo e pelo método dos elementos finitos da expansão palatal implantossuportada In vitro, in vivo and finite element method evaluation of implantsupported palatal expansion Dênis de Souza Zanivan* Maria Christina Thomé Pacheco** Hector Reynaldo Meneses Costa*** Carlos Nelson Elias**** *Ortodontista e mestre em Ciência dos Materiais – IME. **Doutora em Ortodontia e professora de Ortodontia – UFES. ***Doutor em Ciência dos Materiais – CEFET/RJ. ****Doutor em Ciência dos Materiais e professor de Biomateriais – IME. RESUMO - A expansão palatal implantossuportada (Epis) permite a abertura da sutura palatina evitando os efeitos indesejáveis da expansão maxilar sobre as estruturas dentoalveolares. Os aparelhos da técnica Epis são ancorados por dois implantes inseridos próximos à sutura palatina mediana. Métodos: este estudo foi conduzido em três estágios: aparelhos Epis foram instalados e ativados em dois crânios humanos adultos para avaliação das deformações ósseas craniofaciais através de extensometria com strain gauges; foram criados tridimensionalmente (3D) um modelo do complexo nasomaxilar e um aparelho Epis os quais foram unidos e receberam propriedades físicas e condições de contorno apropriadas para análise pelo método dos elementos finitos (MEF); foi realizada avaliação clínica de dois aparelhos instalados em pacientes adultos com necessidade de expansão maxilar. Os resultados dos strain gauges validaram qualitativamente os resultados do MEF pela coincidência dos locais com tensões trativas e compressivas nos modelos 3D mostrando o bom desempenho biomecânico da expansão palatal com aparelhos Epis. Estes locais também correspondem às áreas clinicamente consideradas como de alta resistência à expansão maxilar. A avaliação in vivo mostrou a facilidade de instalação e remoção do aparelho. Conclusão: a expansão palatal implantossuportada pode ser empregada com ou sem auxílio cirúrgico, dependendo da resistência óssea, sendo sua principal indicação na constrição maxilar com poucos dentes posteriores para ancoragem ou com limitações periodontais. Unitermos - Expansor palatal; Implantes; Deformações; Elementos finitos. ABSTRACT - The implant supported palatal expander (Epis) was developed to eliminate the undesirable effects on dentoalveolar structures due to upper jaw expansion. The Epis devices are anchored by two implants placed near the mid palatal suture. Methods: this study was conducted on three steps: Epis were installed and activated in two human adult skulls for assessment of craniofacial bone deformations by strain gauges, a naso-maxillary model and an Epis model were tridimensionally (3D) created, assembled and received physical properties and boundary conditions suitable for finite element methods (MEF) and clinical evaluation was carried out by installing Epis appliances in two adult patients in need of upper jaw expansion. Results: the strain gauges results qualitatively validated the MEF results on 3D models by the coincidence of the sites with compressive and tensile stress showing the good biomechanics performance of the palatal expansion with Epis devices. Those sites also correspond to the upper jaw areas considered clinically as high resistance to expansion. In vivo evaluation proves the facility to install and remove the device. Conclusions: the implantsupported palatal expansion can be employed with or without surgical assistance, depends on bone resistance being its main indication in upper jaw constriction with few posterior teeth for anchor or with periodontal limitations. Key Words - Palatal expander; Implants; Strains; Finite elements. OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 639 Zanivan DS | Pacheco MCT | Costa HRM | Elias CN INTRODUÇÃO MATERIAL E MÉTODOS A expansão palatal está indicada para aumento da Existem dois tipos de aparelhos Epis, modelo 1 e 2 (Figura largura transversal, corrigindo problemas de constrição 1a), diferenciados pela existência de uma barra estabilizadora maxilar e mordida cruzada posterior, além de possibilitar no modelo Epis 2 (Figura 1b), que proporciona maior rigidez do o aumento da passagem aérea nasal, quanto maior for o aparelho, indicado para a expansão palatal em paciente adulto. 1-3 efeito ortopédico . Pode ser realizada com emprego de Os aparelhos Epis são constituídos de um torno expansor de aparelhos dentossuportados4-9, ósseossuportados3,10-14 ou 9 mm de comprimento por 3 mm de diâmetro acoplado a duas 6,12 . Os aparelhos dentossuporta- bases de apoio, as quais são encaixadas na cabeça de dois dos têm eficiência comprovada1-2,4-5, no entanto, podem implantes de ancoragem óssea (IAO) e fixados com parafusos gerar maior expansão dentária que da base óssea, provo- de cobertura e auxílio de chave protética (Figura 1c). Cada IAO cando inclinação vestibular dos dentes de ancoragem6,12, mede 13 mm de comprimento com diâmetro de 2,5 mm. Um uma combinação destes 6 reabsorção radicular e recessão gengival , mesmo após sistema antirrotacional fixa a cabeça dos IAO em suas bases finalizado o tratamento6,8-9. Por outro lado, a expansão de apoio. O torno expansor e as bases de apoio são fabricados palatal com aparelhos ósseossuportados favorece a em aço inoxidável ASTM F 13816. Os IAO são fabricados em liberação de forças na área palatal, obtendo expansão liga de titânio (Ti6Al4V) grau 5, ASTM F13617. basal sem comprometer as estruturas dentais3,10-14. Tais O desenvolvimento dos aparelhos Epis foi conduzido em três aparelhos são fixados ao osso através de implantes ou estágios distintos: inicialmente, foram determinadas as áreas parafusos de titânio que, em sua maioria, são inseridos na com maior resistência à expansão maxilar, através do ensaio de região lateral, próximo às raízes dos dentes pré-molares extensometria com strain gauges13; em seguida, os aparelhos e molares superiores10-11, sendo necessária osteotomia foram avaliados em resistência e capacidade expansiva, através bilateral para permitir a expansão maxilar, sobretudo, da análise pelo método dos elementos finitos (MEF) e, por fim, 15 após a fusão da sutura palatina . Os expansores palatais avaliação in vivo do comportamento biomecânico dos aparelhos14. implantossuportados (Epis) foram idealizados para suprir estas lacunas13-14. Ensaio de extensometria Os Epis são aparelhos ósseossuportados instalados pró- O ensaio de extensometria com strain gauges permite ximos da sutura palatina e possibilitam a expansão palatal em avaliar a distribuição das tensões e deformações nos ossos pacientes com reduzido número de dentes posteriores, com craniofaciais sob carregamento18-20. Valores típicos para de- presença de problemas periodontais ou tendência à recessão formações ósseas são menores que 0,001 µm/mm sendo gengival13. A principal característica destes aparelhos é a libe- expressos como microdeformações (µε). As deformações ração da força expansora próximo à área da sutura palatina trativas são expressas por números positivos e deformações sem afetar as estruturas dentoalveolares, permitindo a movi- compressivas por números negativos21-22. Este ensaio é im- mentação dentária durante a expansão e, com isto, diminuir o portante para verificar o comportamento dos aparelhos Epis tempo necessário para o tratamento ortodôntico14. O objetivo em relação ao tecido ósseo circunvizinho durante a expansão deste trabalho foi avaliar o desempenho biomecânico in vitro e implantossuportada, além de identificar as áreas ósseas com in vivo do expansor palatal implantossuportado (Epis). maior resistência à expansão palatal. A C B Figuras 1 A. Aparelhos Epis 1 e 2. B. Epis modelo 2 fixado aos implantes. C. Implante, cover e chave protética. 640 OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 ORTOPESQUISA A B Figuras 2 Strain gauges colados nos sítios ósseos do crânio. C Protótipos dos aparelhos Epis foram instalados e ativados em dois crânios humanos adultos, doados para esta finalidade pelo Departamento de Morfologia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e avaliados através do ensaio de extensometria realizado no Laboratório de Ensaios Mecânicos da Escola de Engenharia Industrial e Metalúrgica de Volta Redonda (EEIMVR-UFF). Foram escolhidos crânios sem deformidades ou traumas, com idade de morte provável acima de 50 anos e de extensão de cobre ligados aos terminais dos aparelhos de rigidez óssea estimada em torno de 15 GPa23. Os crânios foram aquisição de sinais elétricos foram soldados aos strain gauges. mantidos em solução salina para evitar desidratação e perda Os crânios foram posicionados firmemente para evitar sua mo- das propriedades viscoelásticas22. No palato de cada crânio vimentação durante os ensaios. Para aquisição dos sinais dos foram feitas duas perfurações paralelas entre si de 8 mm de strain gauges foram usados dois conversores analógico-digitais profundidade por 2,5 mm de diâmetro na região paramediana (Spider 8-600 Hz, HBM, Alemanha). Foi verificada a sensibilidade da sutura, equidistantes 3 mm da sutura palatina, na altura dos e o perfeito funcionamento de cada conjunto de strain gauges e primeiros pré-molares. Em cada perfuração foi inserido um IAO realizada calibração através de um filtro ativo de potência (shunt de 2,5 mm de diâmetro. O aparelho Epis (torno expansor e active) sem aplicação de carga expansora. O torno do aparelho bases de apoio) foi fixado nas cabeças dos IAO com parafusos expansor foi ativado por duas voltas completas, com ativações de cobertura. de ¼ de volta a cada vez, sem se considerar os intervalos de Foram utilizados strain gauges uniaxiais (faixa de precisão tempo entre as ativações. A cada ¼ de volta de ativação foram de 50.000 µm/m, tipo PA-06-125BA-120L, Kyowa, Eletronic registradas microdeformações trativas (+) ou compressivas (-). Instruments, Japão), colados em pares bilateralmente nos sítios ósseos considerados de maior resistência à expansão palatal Método dos elementos finitos e posicionados perpendicularmente à sutura palatina (Figuras Para avaliar a distribuição das tensões durante a expansão 2): parte posterior dos processos palatinos da maxila, próximo com os aparelhos Epis foi empregada análise pelo MEF. Para à sutura palatina transversa; parte superior dos ossos nasais, tanto, foram criados modelos 3D do complexo nasomaxilar próximo à sutura frontonasal; pilares zigomáticos; soalhos das (NM) e do aparelho Epis. O modelo NM foi obtido por esca- órbitas; processos pterigoides do osso esfenoide. A região neamento a laser (Scanner Picza modelo LPX 250, Rolland, posterior do processo palatino foi escolhida para colagem de EUA), no Instituto Nacional de Tecnologia (INT), de um modelo strain gauges por ser considerada área de menor anisotropia de crânio de plástico (3B Scientific Products, EUA) o qual foi 23 do osso maxilar . exportado em formato STL para o software Solidworks 2008 As superfícies ósseas escolhidas para colagem dos strain (Solidworks Corporation, EUA) e salvo como elemento sólido. gauges foram previamente retificadas, polidas e limpas. A cola- As modelagens 3D e simulações computadorizadas foram gem foi realizada com adesivo à base de cianoacrilato22,24. Fios realizadas no Instituto Militar de Engenharia (IME) e contou com OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 641 Zanivan DS | Pacheco MCT | Costa HRM | Elias CN a colaboração do Laboratório de Análises Numéricas do Centro em forma de força transversal (FT) de 100 N nas faces mediais Federal de Educação Tecnológica (Cefet/RJ), sobre o emprego internas das roscas dos componentes bases de apoio, represen- do software de simulação computadorizada pelo método dos tando a ativação do torno expansor e simulando uma solicitação elementos finitos (MEF). O aparelho Epis foi modelado 3D no complexa de acúmulo de cargas1. mesmo software. Os modelos 3D foram agrupados com o lon- Para análise pelo MEF, o modelo NM/Epis, agrupado, foi go eixo do torno expansor posicionado na direção transversal importado para o software Cosmosworks (Solidworks Corpo- do modelo maxilar (x) representando y a direção vertical e z a ration, EUA) e discretizado em elementos tetraédricos sólidos. direção ântero-posterior. Foi aplicado controle de qualidade de malha de transição auto- O torno expansor foi eliminado do modelo NM/Epis para simplificar a simulação computacional, sendo substituído por conectores de pino, com rigidez axial e rotacional de acordo com as dimensões e propriedades materiais do torno elimina- mática e verificação Jacobiana nó por nó, dividindo o modelo em 84.975 elementos e 147.943 nós. Os parâmetros experimentais adotados para o modelo NM/ Epis estão resumidos na Tabela 1. do. Para as bases de apoio foram adotadas as propriedades mecânicas do aço inoxidável e para os IAO as propriedades da RESULTADOS E DISCUSSÃO – ENSAIO DE EXTENSOMETRIA liga de titânio. Além destas, outras condições de contorno foram aplicadas: restrições de movimento nas suturas circum-maxilares, Este estudo determinou o complexo padrão de defor- impedindo a translação nas direções xyz, mas permitindo rota- mações das estruturas ósseas craniofaciais ao suportar um ções. Conectores de vínculo foram empregados na extremidade carregamento expansor. Nenhuma osteotomia foi realizada posterior da sutura palatina e superior da sutura frontonasal, de- nos crânios, justamente, para permitir a máxima captação de terminando pontos de deslocamento-zero e rotação-zero durante deformações em todos os pontos craniométricos selecionados. o movimento de expansão palatal25. Conectores elásticos com O ponto de aplicação de carga foi no palato ósseo e nenhuma rigidez axial pré-estabelecida foram empregados para simular a carga foi aplicada aos dentes. O torno expansor foi ativado ¼ sutura palatina mediana jovem (E = 8 GPa), adulta (E = 15 GPa) de volta por vez, por duas voltas completas. Devido à rigidez e rigidez cisalhante correspondente à 53% da rigidez axial. Desta óssea dos crânios adultos não houve abertura da sutura pa- forma, a sutura palatina foi considerada fechada, com resistência latina. Embora, tenha provocado acúmulo de tensões, a força 26 à sua própria abertura , conforme a rigidez determinada para a expansora produzida não provocou fraturas ósseas ao redor sutura jovem ou adulta. Foi aplicado carregamento na direção x, dos IAO ou deformações nos encaixes do torno expansor. Os strain gauges captaram deformações ósseas em todos os sítios TABELA 1 - RESUMO DOS PARÂMETROS EXPERIMENTAIS APLICADOS NO MODELO DE ELEMENTOS FINITOS escolhidos para colagem, os quais foram seguidos de regiões de relaxamento, devido à recuperação elástica após cada ¼ de volta. Estas regiões não foram consideradas, sendo registrados Condições apenas os valores dos picos médios. Parâmetros Modelo jovem Modelo adulto Mód. de elasticidade (E) osso cortical 8 GPa 15 GPa taram deformações trativas (+) crescentes a cada ativação e Mód. de elasticidade (E) osso trabecular 1,4 GPa 2 GPa podem ser vistos na Figura 3. Nos ossos nasais, captaram de- Coeficiente de Poisson (ν) 0,30 0,30 formações compressivas ( - ), confirmando a resistência destes Densidade do osso cortical 1,6 g/cm3 1,8 g/cm3 Densidade do osso trabecular 1,2 g/cm3 1,6 g/cm3 foram captadas nos pilares zigomáticos, soalhos das órbitas Rigidez axial (sutura nasal e palatina mediana) 8 GPa 15 GPa e nos processos pterigoides. A porção superior do processo Rigidez cisalhante (sutura nasal e palatina mediana) 5 GPa 8 GPa Número de elementos finitos (EF) 84.975 84.975 Tipo de modelo de EF - rígido + rígido deslocamento expansor23. Os dados colhidos para cada sítio Condições de carga (força transversal) 100 N 100 N ósseo foram plotados utilizando-se os patamares maiores e Condições de carga (deslocamento transversal) 5 mm 5 mm 642 Os strain gauges colados aos processos palatinos cap- sítios ósseos ao deslocamento expansor pela proximidade com a sutura frontonasal23. Deformações compressivas ( - ) também pterigoide foi o principal sítio de resistência à expansão maxilar, seguido das porções média e inferior. A junção posterior do osso palatino com a porção superior do processo pterigoide é considerada como o local de maior resistência óssea ao menores em forma de picos médios de deformações (Figura 4). As áreas de maior resistência à expansão palatal no ensaio de OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 ORTOPESQUISA extensometria com aparelho Epis foram semelhantes à estudos da literatura sobre expansão palatal dentossuportada26-28. Validação do modelo em elementos finitos O modelo em elementos finitos deve apresentar comportamento semelhante ao modelo real. Para validação do modelo NM/Epis em elementos finitos foi realizada simulação de expansão com aplicação de FT = 100 N no aparelho Epis do modelo adulto e obtidas as tensões principais, trativas (σ1) e compressivas (σ3). Foram selecionados os nós correspondentes aos mesmos locais de colagem dos strain gauges nos crânios adultos, para comparação qualitativa com os resultados do ensaio de extensometria (Figuras 5). Figura 3 Gráfico de deformações (Δε) versus tempo (s) para os strain gauges colados nos processos palatinos. Os resultados obtidos com strain gauges validaram os resultados obtidos pelo MEF e pela coincidência dos locais de tensões trativas e compressivas. MEF Foi avaliado o risco de falhas dos aparelhos Epis simulando-se a ativação com alta carga durante a expansão palatal. O modelo NM/Epis adulto foi submetido a carregamento de 100 N para avaliar a possibilidade de fratura dos implantes de 2,5 mm de diâmetro e as consequências para o tecido ósseo ao redor, através das tensões equivalentes de von Mises (Figura 6). O critério de von Mises indica que um material dúctil começa a escoar quando as Figura 4 Gráfico do pico médio de deformações ósseas (desvio-padrão). tensões atingem o limite de escoamento do material em tração. O software calculou o critério normalizado em um determinado ponto, dividindo a tensão equivalente de materiais empregados, mostrando que o aparelho suportaria von Mises pela tensão de escoamento do material. Desta cargas exageradas de 100 N sem deformações permanentes. forma, foi estabelecido que, em qualquer posição, um fator A sutura palatina se abre durante a expansão palatal quando as de segurança que for: forças expansoras produzem tensões suficientemente maiores • Maior que 1 indica que o material naquela posição sofreu que a resistência óssea local. A sutura palatina é composta de escoamento e que o projeto não foi seguro. Isto indica que planos corticais fusionados irregularmente e sua abertura se áreas do modelo estão sofrendo esforços excessivos e a dá pelo complexo acúmulo de tensões próximas às superfícies peça irá quebrar. corticais. As tensões cisalhantes provocam deformações plás- • Igual a 1 indica que o material naquela posição está começando a escoar. ticas através do deslizamento de planos, sendo as principais responsáveis pela abertura sutural. O estudo destas tensões • Menor que 1 indica que o material naquela posição não escoará. foi possível devido à aplicação de rigidez cisalhante à sutura palatina do modelo de elementos finitos. As Figuras 7 mostram Os resultados mostraram que o fator de segurança perma- as tensões cisalhantes ao longo da sutura palatina, em formato neceu abaixo de 1 (0,844), constatando a segurança estrutural de isolinhas ao redor dos IAO e dispersas em sentido superior, do aparelho Epis. Foram observadas tensões de von Mises máxi- alcançando planos ósseos mais profundos. O acúmulo das mas na porção média das bases de apoio do aparelho Epis e nos tensões cisalhantes na interface osso/implante pode provocar terços cervicais dos IAO, abaixo do limite de escoamento dos rupturas na interface, no entanto, as tensões permaneceram OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 643 Zanivan DS | Pacheco MCT | Costa HRM | Elias CN A B Figuras 5 Nós selecionados para comparação das tensões principais com os resultados obtidos com strain gauges. A. Trativas. B. Compressivas. abaixo do limite de resistência cisalhante do osso cortical Os pacientes foram escolhidos de acordo com a neces- (53 MPa) para a carga aplicada de 100 N. O aparelho Epis sidade de expansão palatal. Receberam informações relativas foi então considerado seguro e apropriado para provocar a à técnica e assinaram um Termo de Consentimento Livre e abertura da sutura palatina. Esclarecido, cientes de que se tratava de um projeto experimental e, caso não tivesse êxito, técnicas convencionais seriam Avaliação in vivo aplicadas sem ônus. Após os aparelhos Epis serem aprovados em dimensão, O primeiro caso foi um homem adulto com 28 anos, materiais e efeitos ortopédicos, os aparelhos foram avaliados apresentando pequena constrição maxilar e sutura quase quanto ao desempenho biomecânico in vivo. A área para inser- totalmente consolidada, foi submetido à expansão não cirúr- ção dos implantes foi avaliada através da tomografia compu- gica com aparelho Epis. A instalação foi feita sob anestesia tadorizada cone-beam, visualizando a altura óssea palatal. Em local sem necessidade de suturas. O paciente foi orientado a geral, a maior altura óssea se localiza na região dos primeiros realizar ativações de ¼ de volta em dias alternados por três pré-molares superiores em um corte frontal. Essa visão tomo- semanas seguidas. Em pacientes adultos com a sutura palatina gráfica também permite visualizar se a sutura palatina ainda se totalmente consolidada deve ser empregado o auxílio cirúrgi- encontra com alguma possibilidade de abertura sem assistência co, no entanto, em alguns pacientes adultos/jovens pode ser cirúrgica ou se já está totalmente consolidada. possível a expansão palatal sem auxílio cirúrgico, bastando que Para a avaliação clínica foi utilizado o aparelho Epis mo- seja respeitado um período de tempo maior entre as ativações delo 2, contendo a barra de estabilização em aço inoxidável, do torno expansor29. Após duas semanas de ativações do implantes de 2,5 mm de diâmetro, 8 mm de altura de rosca e torno expansor, o paciente relatou dificuldade em continuar as 4 mm de altura de transmucoso. ativações, devido à resistência óssea encontrada (Figuras 8). Figura 6 Plotagem das tensões de von Mises no modelo adulto NM/Epis. 644 OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 ORTOPESQUISA A B Figuras 7 Tensões cisalhantes no plano xy nos modelos. A. Jovem. B. Adulto. A C B Figuras 8 Instalação de aparelho Epis em caso sem assistência cirúrgica. A. Antes da expansão. B. Instalação do aparelho. C. Pós-expansão. O paciente não relatou dores durante as ativações ou após a cirúrgica da sutura com cinzel, entre os incisivos centrais e, remoção do aparelho e o tratamento ortodôntico foi conduzido durante a cirurgia, o aparelho foi ativado para atestar a abertura ao mesmo tempo da expansão palatal. Foram obtidos 2,5 mm da sutura palatina e em seguida desativado. Foram aguardados de expansão transversal na altura da abóbada palatina (medida sete dias antes de reiniciar as ativações. O paciente foi instruído interimplantes). a ativar o aparelho ¼ de volta por dia, até a abertura total de- O segundo caso (Figuras 9), homem de 36 anos, com cons- sejada. O paciente foi instruído a interromper as ativações em trição maxilar esquelética. Este paciente recebeu um expansor caso de dor ou dificuldades de expansão. O tratamento orto- Epis e foi submetido à corticotomia horizontal bilateral sem dôntico foi iniciado após o primeiro mês de expansão tomando fragilização dos processos pterigoideos. Foi feita a abertura o cuidado de evitar aplicar forças nos incisivos superiores até OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 645 Zanivan DS | Pacheco MCT | Costa HRM | Elias CN A C B Figuras 9 A. Sequência de fotos mostrando dois implantes inseridos. B. Aparelho Epis posicionado. C. Após a expansão cirurgicamente assistida. que ocorresse neoformação óssea na área sutural. Nenhuma óssea encontrada, produzindo expansão transversal segura e dor foi reportada pelo paciente durante e após a expansão e o estável, sobretudo, em pacientes com poucos dentes poste- tratamento ortodôntico realizado concomitantemente diminuiu riores ou que apresentam limitações periodontais. A inserção o tempo total de tratamento. Foi obtido 6 mm de expansão na clínica de aparelhos Epis é simples, a ativação indolor e nenhum altura da abóbada palatina (medida interimplantes), considerado esforço expansor é transmitido para as estruturas dentais, suficiente para o caso e o paciente orientado a interromper as podendo o tratamento ortodôntico ser realizado ao mesmo ativações. O expansor foi mantido em posição por três meses tempo da expansão. e então removido sob anestesia local. Entre os benefícios proporcionados pelo aparelho Epis, destaca-se a concentração de toda a magnitude da força expansora sobre a sutura palatina, sob menor número de ativações e a redução da necessidade de expansão palatal cirurgicamente assistida em pacientes com algum potencial de crescimento Agradecimentos: ao Departamento de Morfologia da Ufes pelos crânios cedidos, ao Instituto Nacional de Tecnologia (INT), ao Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet/RJ) e à Titanium Fix pela confecção dos aparelhos expansores. Este estudo foi apoiado pelo CNPq (processos 472449/2004-4, 400603/2004-7 e 500126/2003-6) e Faperj (processo E-26/151.970/2004). residual12,14. CONCLUSÃO A expansão palatal implantossuportada pode ser empre- Endereço para correspondência: Denis Zanivan Rua 25 de Março, 33/409 – Centro 29310-720 – Cachoeiro do Itapemirim – ES Tel.: (28) 9885-1845 [email protected] gada com ou sem auxílio cirúrgico, dependendo da resistência 646 OrtodontiaSPO | 2010;43(6):639-47 ORTOPESQUISA Referências 1. Zimring JF, Isaacson RJ. Forces produced by rapid maxillary expansion. Part. III. Forces present during retention. Angle Orthod 1965;35(3):178-86. 2. Ruellas ACO, Guimarães JP, Araújo MTS, Monnerat ME. Sutural alterations due orthopedic forces applied in the nasomaxillary complex: revision of literature. J. Bras. Ortodon. Ortop. Facial 1999;4:486-97. 3. Deeb W, Hansen L, Hotan T, Hietschold V, Harzer W, Tausche E. Changes in nasal volume after surgically assisted bone-borne rapid maxillary expansion. Am J Orthod Dentofacial Orthop 2010;137:782-9. 4. Isaacson RJ, Ingram AH. Forces produced by rapid maxillary expansion. Part. II. 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