Livro - Androfert
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PREFÁCIO A publicação do Atlas de Reprodução Humana, da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), resultou do estímulo e do trabalho conjunto de mais de 200 autores de mais de 30 serviços de reprodução assistida, representando mais de dez estados da Federação. Esta obra possui 32 capítulos e mais de 300 ilustrações, e procura preencher uma lacuna na reprodução assistida moderna brasileira. Este Atlas elaborado de maneira clara e concisa, com inumeras fotos e ilustrações, contém as informações necessárias para os embriologistas, biólogos, biomédicos e médicos ginecologistas e urologistas que atuam em laboratórios de reprodução assistida, passando, dessa forma, a ser fonte fundamental de conhecimento para estes profissionais. O Atlas foi elaborado para quem está iniciando na reprodução humana. Contém capítulos básicos sobre construção e controle de qualidade de um laboratório moderno de reprodução assistida, passa pela fisiologia e pelo diagnóstico dos gametas feminino e masculino, ilustrando na sua totalidade as técnicas avançadas de reprodução assistida. Além disso, contou com a participação especial do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Anvisa nos aspectos éticos, jurídicos e da legislação do ano 2012. O nascimento de Louise Brown, em julho de 1978, é o grande marco da era moderna da reprodução assistida, que contabiliza mais de 4 milhões de nascimentos no mundo inteiro. O Brasil tem papel importante neste contexto, com mais de 200 clínicas de fertilização presentes em todos os estados do território nacional, responsáveis por 25 a 30 mil ciclos por ano, totalizando cerca de 50% das fertilizações da América Latina. A SBRH, fundada em dezembro de 1947, cumpre sua missão de organizar e difundir eticamente os conhecimentos da reprodução assistida, de forma prática, didática e inédita, por meio deste Atlas. Trata-se de mais uma conquista da SBRH, oferecendo aos seus associados este primeiro Atlas nacional, que irá contribuir na formação e no aprimoramento das técnicas de reprodução assistida moderna. A todos agradeço pela indispensável colaboração e pelo árduo trabalho, que tornaram possível a realização da presente obra. Artur Dzik Presidente da SBRH 2010-2012 1 Capítulo 9 Técnicas de extração e processamento de espermatozoides obtidos do epidídimo e do testículo Sidney Verza Jr. Sandro C. Esteves Introdução Em um curto período, dois grandes avanços ocorreram na área de infertilidade masculina1-3: (i) o desenvolvimento da injeção intracitoplasmática do espermatozoide no óvulo (Intracytoplasmic Sperm Injection – ICSI) e (ii) a extensão da ICSI para homens azoospérmicos, pela demonstração da capacidade dos espermatozoides provenientes tanto do epidídimo quanto do testículo em fertilizar oócitos e produzir gravidezes2,3. Duas condições clínicas totalmente distintas podem ser observadas nos homens com azoospermia. Na azoospermia obstrutiva (AO), a espermatogênese é normal, mas existe um bloqueio no trato reprodutivo extracanalicular entre o epidídimo e o duto ejaculatório, ou então o epidídimo e/ou os vasos deferentes estão parcial ou totalmente ausentes. A azoospermia obstrutiva pode decorrer da vasectomia ou de uma falha na reversão desse mesmo procedimento, de doenças infecciosas ou ainda de traumas ou procedimentos cirúrgicos nas regiões escrotais, inguinal, pélvica ou abdominal. Além destas, a AO pode ser congênita, como nos casos de fibrose cística, agenesia congênita dos canais deferentes, cistos nos dutos ejaculatório ou prostático e na síndrome de Young4. Por outro lado, a azoospermia não obstrutiva (ANO) resulta de um amplo espectro de doenças que comprometem de manei- ra dramática a espermatogênese. Entre elas, destacam-se a criptorquidia, orquite, trauma testicular, varicocele, exposição a radiação, quimioterapia ou outras gonadotoxinas, causas genéticas e endócrinas, podendo ainda ser idiopática. No contexto da reprodução assistida, o objetivo é extrair espermatozoides do epidídimo ou do testículo nos casos de AO, e apenas do testículo nos casos de ANO, para serem utilizados na fertilização in vitro por meio da técnica de ICSI. Na AO, os espermatozoides são facilmente obtidos, enquanto na ANO a extração de espermatozoides testiculares pode ser muito difícil ou mesmo impossível4,5. Diversos métodos foram desenvolvidos para a extração de espermatozoides nos homens azoospérmicos. Como regra geral, tanto a aspiração percutânea (Percutaneous Epididymal Sperm Aspiration – PESA6) como a aspiração microcirúrgica (Microsurgical Epididymal Sperm Aspiration – MESA2) podem ser utilizadas para recuperar espermatozoides no epidídimo de homens com AO. A aspiração testicular (Testicular Sperm Aspiration – TESA) também pode ser utilizada na AO, principalmente nos casos de ausência ou intensa fibrose do epidídimo, ou na falha da PESA6,7. Na ANO, os espermatozoides testiculares podem ser extraídos por via percutânea (TESA) ou por meio de biópsia aberta convencional8 (Testicular Sperm Extraction 3 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 4 – TESE) ou microcirúrgica (micro-TESE)9. Na AO, fatores como técnica de coleta dos espermatozoides, sua origem (epidídimo ou testículo) e causa da azoospermia não influenciam nos resultados da FIV-ICSI10,11. Por outro lado, a chance de extrair espermatozoides testiculares na ANO depende do método empregado 12,13 (Tabela 1). O processamento laboratorial dos espermatozoides obtidos cirurgicamente difere daquele normalmente aplicado às amostras ejaculadas. Espermatozoides epididimários e testiculares são geralmente obtidos em pequeno número e possuem motilidade reduzida ou ausente. Além disso, espermatozoides testiculares estão confinados nos túbulos seminíferos, que contêm outros elementos celulares. Nesses casos, o processamento espermático deve não somente objetivar a seleção dos espermatozoides de melhor qualidade para FIV-ICSI, mas também melhorar o potencial de fertilização deles quando possível. Para tanto, o laboratório deve: (i) receber material com mínima ou nenhuma contaminação de hemácias ou outros microrganismos; (ii) minimizar o dano iatrogênico celular durante o processamento das amostras, que inclui redução da força e tempo de centrifugação, não exposição das amostras à luz ultravioleta e oscilações de temperatura, rígido controle da qualidade dos reagentes, dos meios de cultura, dos materiais descartáveis e do ar do laboratório, além da utilização de técnicas antissépticas nos processos de diluição e lavagem; e (iii) melhorar o potencial de fertilização dos espermatozoides após o processamento, quando possível, pelo uso de substâncias estimulantes ou pela seleção de espermatozoides vivos para FIV-ICSI no caso da existência de apenas espermatozoides imóveis após o processamento. Neste capítulo, disponibilizaremos uma breve descrição laboratorial, passo a passo, das técnicas frequentemente utilizadas para processar amostras obtidas via PESA/TESA/ TESE, além das alternativas disponíveis para a identificação de espermatozoides imóveis e viáveis para FIV-ICSI. Procedimentos laboratoriais Preparo do laboratório Deve-se trabalhar em condições estéreis em cabine de fluxo laminar ou sala limpa durante todas as etapas. Preparam-se 10 mL (para PESA) ou 20 mL (para TESA/TESE) de meio de cultura tamponado e suplementado com 5% de albumina humana, que é mantido a 37 ºC. Transfere-se uma alíquota de 5 mL para um tubo estéril de poliestireno de 6 mL, que é enviado para o centro cirúrgico (o meio de cultura é utilizado para lavar o sistema de aspiração antes das aspirações percutâneas, e para incubar o fluido epididimário ou o fragmento testicular após a coleta). Colocam-se duas placas de petri (50 x 9 mm) em uma superfície aquecida na estação de trabalho do laboratório (apenas para PESA). Preparam-se quatro placas de petri de duplo poço, adicionando-se 0,5 mL no poço interno e 1 mL no poço externo (apenas para TESA). Nos casos de TESE, enviam-se duas dessas placas para o centro cirúrgico. Preparam-se duas seringas de 1 mL, conectando-se agulhas de 26 G (para serem utilizadas na dissecção mecânica dos túbulos seminíferos nos casos de TESA/TESE). Processamento de amostras obtidas do epidídimo (PESA e MESA) Técnica cirúrgica A aspiração de espermatozoides do epidídimo pode ser realizada no mesmo dia da coleta dos oócitos ou no dia anterior, sob anestesia intravenosa ou local. Os principais passos do procedimento encontram-se descritos na Figura 1. Tabela 1. Taxas de sucesso na recuperação de espermatozoides, de acordo com o tipo de azoospermia , com a técnica de extração e potencial reprodutivo dos gametas extraídos cirurgicamente na ICSI23 Azoospermia obstrutiva Azoospermia não obstrutiva Taxa de sucesso na obtenção de espermatozoides por método (variação) Percutâneo Microcirúrgico 90% (80%-100%) 90% (80%-100%) 35% (10%-100%) 50% (20%-100%) Resultados da ICSI, média (variação) Taxa de fertilização 2PN Taxa de gravidez clínica Taxa de nascidos vivos 60% (45%-75%) 50% (26%-57%) 35% (18%-55%) 50% (20%-65%) 30% (10%-45%) 20% (8%-35%) A PESA é realizada sob anestesia endovenosa ou local. O epidídimo é identificado e imobilizado. Utilizando-se seringa e agulha fina, o fluido epididimário é aspirado O fluido aspirado é transferido para um tubo estéril contendo meio de cultura tamponado e enviado ao laboratório para análise Uma alíquota da amostra é transferida para uma placa de petri e observada ao microscópio para confirmar a presença de espermatozoides SIM Número adequado de espermatozoides para ICSI? Processamento espermático Lavagem simples NÃO PESA é repetida em um segmento diferente de epidídimo e/ou no epidídimo contralateral. Gradiente descontínuo Avaliação ao microscópio Diluição do fluido epididimário com meio de cultura para sêmen Fluido é colocado sobre camadas de 0,3 ml de gradiente coloidal a 45% e 90% Centrifugação a 300 xg por 10 minutos. SIM Número adequado de espermatozoides móveis para ICSI? NÃO Na falha da PESA, a TESA pode ser realizada durante o mesmo procedimento anestésico Lavagem adicional quando gradiente é utilizado O sobrenadante é descartado e o sedimento é ressuspendido em 0,2 ml do meio da cultura Uma placa de petri contendo microgotas de 10 microlitros de meio de cultura e 4 microlitros de PVP coberta com óleo mineral é preparada para a captura e imobilização dos espermatozoides, respectivamente, após a adição do material processado. Espermatozoides móveis e morfologicamente normais são selecionados na microgota de meio de cultura e transferidos ao PVP para imobilização com o auxílio das microagulhas de ICSI Espermatozoides excedentes obtidos via PESA e que não foram utilizados para ICSI podem ser criopreservados Figura 1. Aspiração percutânea de espermatozoides do epidídimo (PESA). A figura mostra as etapas do procedimento, incluindo a técnica cirúrgica e o processamento laboratorial do fluido epididimário. A aspiração microcirúrgica de espermatozoides do epidídimo (MESA) também pode ser empregada. Nesta, realiza-se uma pequena incisão na pele do escroto, de modo a expor o epidídimo, seguida da abertura de um túbulo epididimário e aspiração do fluido nele contido com auxílio do microscópio cirúrgico e técnica microcirúrgica. Fonte: Androfert, 2011. T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO PESA 5 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 6 lhante antes do processamento espermático. Nos casos de falha da PESA ou MESA, a aspiração de espermatozoides testiculares pode ser realizada no mesmo procedimento anestésico-cirúrgico (Figura 4). Identifica-se o tubo contendo o fluido aspirado, anotando também o lado e a porção do epidídimo de onde o material foi obtido. De acordo com a qualidade inicial da amostra (número de espermatozoides sua motilidade), define-se a técnica de processamento a ser utilizada (lavagem espermática ou minigradiente descontínuo coloidal de duas camadas). De maneira geral, utiliza-se gradiente quando as amostras apresentam grande quantidade de espermatozoides, principalmente na presença de hemácias, debris e outros elementos celulares. Nos demais casos, utiliza-se a lavagem simples. Técnica laboratorial Dilui-se o fluido aspirado do epidídimo com 0,5 mL de meio de cultura. O fluido deve ser homogeneizado com auxílio de uma pipeta para evitar aglutinação (espermatozoides do epidídimo tendem a se aglutinar rapidamente). Deve-se manter o tubo a 37 ºC. Coloca-se uma alíquota de 10 µL a 20 µL do fluido epididimário homogeneizado em uma placa de petri e examina-se o material ao microscópio invertido (magnificação óptica de 400 ×), para confirmar a presença e determinar a qualidade dos espermatozoides (Figura 2). O cirurgião deve ser informado se o número de espermatozoides obtidos é suficiente para o procedimento de ICSI. Se mais de uma amostra tiver sido colhida, agrupar amostras de qualidade seme- A B C D Figura 2. Fluido epididimário obtido via PESA. Fotomicrografias do material examinado ao microscópio óptico invertido (Nikon Eclipse Diaphot 300) com contraste de fase (Hoffman), utilizando magnificação de 400 ×. A contaminação por hemácias (a) é geralmente observada no fluido aspirado do epidídimo. No caso de contaminação excessiva, realiza-se a lise das hemácias por diluição e lavagem com a solução hemolisadora de hemácias*. Aspecto do fluido epididimário pós-tratamento com a solução hemolisadora (B). Amostras obtidas das porções mais distais do epidídimo (C e D) geralmente contêm muitos espermatozoides imóveis e senescentes: (b) espermatozoides com cauda curta, (c) espermatozoides com ausência do flagelo. * Solução hemolisadora: solução aquosa estéril contendo NH4Cl 155mM + KHCO3 10mM + EDTA 2mM; pH = 7,2. Adiciona-se 2,0 mL da solução ao sedimento da amostra pós-diluição e lavagem, incubando-se à temperatura ambiente por dez minutos. Centrifuga-se novamente a 300 xg por cinco minutos e ressuspende-se o sedimento com meio de cultura tamponado e suplementado com proteína. A nado com grande número de hemácias, realiza-se diluição e lavagem simples com a solução hemolisadora de hemácias (Figura 2). Prepara-se uma placa de petri contendo microgotas de meio de cultura e polivinilpirrolidona (PVP) cobertas com óleo mineral, na qual será colocada a amostra do aspirado epididimário processado (Figura 3). Colocam-se 2 µL da amostra processada na microgota de PVP, caso existam espermatozoides com motilidade progressiva. Caso haja poucos espermatozoides móveis ou se estes possuírem motilidade não progressiva, coloca-se uma alíquota de 2 µL a 4 µL da amostra processada em cada uma das microgotas de meio de cultura. Identificam-se os espermatozoides móveis morfologicamente normais, para capturá-los e separá-los até o momento da ICSI. Considera-se criopreservar o fluido epididimário excedente e não utilizado na ICSI, dependendo de sua qualidade. A criopreservação desses espermatozoides pode ser realizada pela técnica clássica de congelamento, por meio de vapor de nitrogênio líquido14. B Figura 3. Preparo da placa de petri. Ilustração da placa de petri contendo microgotas recobertas com óleo mineral. (A) Microgotas de meio de cultura dispostas radialmente e microgota de PVP no formato de triângulo no centro da placa. Alíquotas (1 µL a 4 µL) de amostras processadas obtidas por PESA/MESA/TESA/TESE são colocadas nas microgotas numeradas de 1 a 4, das quais os espermatozoides são capturados. Estes são transferidos para a microgota de PVP (5), onde se realiza a seleção morfológica, a imobilização e a aspiração dos espermatozoides para o interior da pipeta de microinjeção; (B) método de seleção espermática utilizando o teste do inchaço da cauda do espermatozoide. O espermatozoide imóvel é aspirado da microgota contendo a suspensão celular (gotas 1 a 4) com auxílio da pipeta de microinjeção. A micropipeta é inserida na solução hiposmótica (gota 8) e somente a cauda do espermatozoide é exteriorizada da pipeta. A presença de inchaço na extremidade distal da cauda indica que a permeabilidade da membrana plasmática está intacta, sendo este um sinal de viabilidade celular. Após serem submetidos ao teste, os espermatozoides viáveis são transferidos para uma microgota de meio de cultura para que o reequilíbrio osmótico seja estabelecido e depois para a microgota de PVP. T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO Na técnica do minigradiente descontínuo coloidal, montam-se duas camadas de 0,3 mL de gradiente, sendo a camada inferior com gradiente de 80% a 90%, e camada superior de 40% a 45%. Sobre esta última, deposita-se 0,5 mL da amostra de PESA homogeneizada. Centrifuga-se o conjunto a 300 ×g por dez minutos. A seguir, remove-se o sobrenadante e ressuspende-se o sedimento em 1,5 mL de meio de cultura, repetindo-se a centrifugação. Remove-se novamente o sobrenadante, deixando-se intacto o sedimento e aproximadamente 0,2 mL de meio de cultura. Completa-se com meio de cultura para atingir o volume final de 0,5 mL e homogeneiza-se, mantendo a suspensão aquecida até o uso. Na lavagem simples, dilui-se a suspensão de espermatozoides com meio de cultura até atingir o volume final de 1,5 mL a 2,0 mL. Homogeneiza-se e centrifuga-se a suspensão a 300 ×g por dez minutos. Descarta-se o sobrenadante e ressuspende-se o sedimento em 0,2 mL de meio de cultura. Remove-se uma alíquota de 10 µL do fluido epididimário processado que é examinado ao microscópio invertido para se verificar a qualidade final da amostra. Caso o material obtido esteja contami- 7 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 8 Processamento de amostras do testículo obtidas por TESA Técnica cirúrgica A aspiração de espermatozoides do testículo pode ser realizada tanto no mesmo dia da coleta dos oócitos quanto no dia anterior, sob anestesia intravenosa associada à anestesia local. Os principais passos do procedimento encontram-se descritos nas Figuras 4 e 5. Técnica laboratorial (Figuras 4 e 5) Transfere-se o(s) fragmento(s) de parênquima testicular para o poço externo da placa de duplo poço contendo meio de cultura e realiza-se uma cultura. Aguarda-se cerca de dez minutos para sedimentação das células e realiza-se a avaliação microscópica. A seguir, procede-se com a captura dos espermatozoides móveis, transferindo-os para a microgota de PVP, onde os espermatozoides morfologicamente normais são selecionados para ICSI. Caso a extração de espermatozoides tenha sido realizada no dia anterior, adicionam-se as alíquotas da suspensão nas microgotas de meio de cultura e realiza-se a captura e a seleção no dia da ICSI (a suspensão celular pode permanecer até 48 horas em cultura, preferencialmente à temperatura de 25 oC). Pode-se realizar a criopreservação da suspensão celular excedente e não utilizada na ICSI, dependendo da qualidade do material, pela técnica clássica de congelamento seminal, utilizando vapor de nitrogênio líquido15. lavagem dos túbulos para remover o excesso de hemácias. Transferem-se os túbulos ainda intactos para o poço central da placa de duplo poço contendo meio de cultura. A seguir, realiza-se a dissecção mecânica dos túbulos seminíferos com o auxílio de agulhas, com o objetivo de romper a parede dos túbulos e facilitar a saída dos elementos celulares neles contidos. Examina-se a suspensão ao microscópio invertido (400 ×) para verificar a presença de espermatozoides. O cirurgião deve ser informado sobre a necessidade de extrair outros fragmentos. No caso de ausência de espermatozoides no material examinado, pode-se realizar a TESE no mesmo ato anestésico-cirúrgico (Figura 6). Aspira-se e transfere-se para um tubo estéril o fluido do poço central da placa de petri contendo as células em suspensão. Dilui-se o aspirado com 3 mL de meio de cultura e centrifuga-se o conjunto a 300 ×g por dez minutos. Descarta-se o sobrenadante e ressuspende-se o sedimento em 0,2 mL de meio de cultura. Remove-se uma alíquota, que é examinada ao microscópio invertido. Caso a amostra apresente contaminação com grande número de hemácias, realiza-se diluição e lavagem simples com a solução hemolisadora de hemácias. Prepara-se uma placa de petri conforme descrito no item referente ao processamento de amostras do epidídimo. Coloca-se uma alíquota de 1 µL a 2 µL da amostra processada em cada microgota de 10 µL de meio de Processamento de amostras do testículo obtidas por TESE e microTESE Técnica cirúrgica A TESE ou a micro-TESE pode ser realizada no dia da captação dos oócitos ou no dia anterior, e é feita pela associação de anestesias intravenosa e local. Na micro-TESE, utiliza-se microscópio e técnica microcirúrgica, como ilustrado nas Figuras 6 e 75,9. Técnica laboratorial (Figura 5) No laboratório de FIV, transferem-se os fragmentos de TESE recebidos do centro cirúrgico para o poço externo de uma placa de petri previamente preparada com meio de cultura aquecido. Sob estereomicroscopia, lava-se a amostra para remover o excesso de hemácias. Para tanto, o(s) fragmento(s) é(são) transferido(s) de um poço contendo meio de cultura para outro, repetindo-se o mesmo processo várias vezes. Realiza-se a dispersão mecânica dos túbulos, seguindo as etapas já descritas no item referente ao processamento de amostras de aspiradas do testículo. Preferencialmente, dois embriologistas devem trabalhar simultaneamente nesta etapa (enquanto um deles disseca os túbulos o outro examina a porção já dissecada ao microscópio invertido). O cirurgião deve ser informado sobre a qualidade do material obtido, para decidir se novos fragmentos devem ser removidos. Realiza-se a aspiração testicular percutânea com agulha grossa (18 G). Gera-se pressão negativa puxando-se o êmbolo da seringa, e movimentase a agulha no interior do testículo (movimentos de “vai-e-vem”) para romper os túbulos seminíferos. Observa-se a entrada de fragmento de parênquima testicular na seringa. Retirase cuidadosamente a agulha e removese o fragmento residual de parênquima que se exterioriza pela pele Transfere-se o fragmento de parênquima testicular para um tubo contendo meio de cultura aquecido. Envia-se o conjunto para o laboratório Lava-se o fragmento de parênquima testicular para remover o excesso de hemácias, e a seguir realiza-se a dispersão mecânica dos túbulos seminíferos com auxílio de agulhas finas O material dissecado é examinado ao microscópio invertido para verificar a existência de espermatozoides SIM Número adequado de espermatozoides para ICSI? NÃO Processamento de espermatozoides da TESA TESA ou TESE é realizada no testículo contralateral O parênquima testicular dissecado é transferido para um tubo contendo meio de cultura tamponado e aquecido Examinar ao microscópio SIM Realiza-se a centrifugação a 300 xg por 10 minutos Número adequado de espermatozoides para ICSI? NÃO Considerar a realização de TESE ou microTESE no mesmo procedimento anestésicocirúrgico, ou abortar o procedimento e considerar utilização de sêmen de doador O sobrenadante é descartado e o sedimento é ressuspendido em 0,2 ml de meio de cultura. Uma alíquota do material ressuspendido é examinada ao microscópio e, caso observe-se contaminação com hemácias, realiza-se a diluição e lavagem com solução hemolisadora de hemácias Prepara-se uma placa de petri contendo microgotas de meio de cultura (10 microlitros) e PVP (4 microlitros) recobertas com óleo mineral. Alíquotas da TESA processada são colocadas nas microgotas de meio de cultura para a identificação e captura dos espermatozoides. Os espermatozoides são transferidos para a microgota de PVP, onde são selecionados para a ICSI Espermatozoides obtidos pela TESA e não utilizados para ICSI podem ser criopreservados Figura 4. Aspiração percutânea de espermatozoides do testículo (TESA). A figura mostra as etapas do procedimento, incluindo a técnica cirúrgica e o processamento laboratorial do parênquima testicular. A inserção da agulha deve ser realizada na região anteromedial ou anterolateral do polo superior do testículo, num ângulo oblíquo em direção ao polo inferior, pois, nesta região, a túnica albugínea é relativamente avascular. Fonte: Androfert, 2011. T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO TESA 9 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 10 A B C D E F Figura 5. Processamento laboratorial do parênquima testicular. Esquema ilustrando o passo a passo do processamento de amostras obtidas via TESA/TESE: (A) placa de petri com o fragmento de parênquima testicular imerso em meio de cultura; (B) aspecto do fragmento de parênquima testicular observado ao estereomicroscópio com magnificação de 70X; (C) com auxílio de agulhas finas, os túbulos seminíferos são delicadamente separados, permitindo a observação de seus diâmetros (fotografia obtida do estereomicroscópio com magnificação de 70X). Observam-se túbulos seminíferos de aspectos e diâmetros diferentes numa mesma amostra de tecido: túbulos com menor diâmetro e translúcidos à luz (seta branca), e túbulos ingurgitados e mais escuros (seta preta). Os túbulos ingurgitados e mais escuros tem mais chance de conter células da linhagem germinativa; (D) dissecção mecânica dos túbulos seminíferos sob estereomicroscopia com auxílio de agulhas acopladas a seringas; (E) placa de petri com a amostra dissecada, em que se observa a ausência de túbulos seminíferos visíveis; (F) fotomicrografia da suspensão celular pós-dissecção, obtida do microscópio invertido com contraste de fase (magnificação: 400 ×). No destaque, verifica-se a presença de espermatozoides na amostra. Realiza-se a microdissecção dos túbulos seminíferos com o intuito de identificar e remover os túbulos ingurgitados, que representam aqueles onde há maior probabilidade de haver espermatogênese ativa. Os túbulos removidos são colocados no poço central de uma placa de petri contendo meio de cultura tamponado e aquecido, e o material é enviado para o laboratório de FIV Na micro-TESE, utilizam-se microscópio cirúrgico, instrumental e técnica microcirúrgica. O testículo é exteriorizado do escroto, e uma incisão ampla é realizada numa região não vascularizada da túnica albugínea, permitindo a exposição ampla do parênquima testicular Os túbulos seminíferos são lavados para remover o excesso de hemácias, e a seguir realiza-se sua dispersão mecânica com auxílio de agulhas finas A amostra é observada ao microscópio para confirmar a presença de espermatozoides SIM Número adequado de espermatozoides para ICSI? Processamento de espermatozoides da micro-TESE Os túbulos seminíferos dissecados são transferidos para um tubo contendo meio de cultura tamponado e aquecido Realiza-se a centrifugação a 300 xg 10 minutos NÃO Continuar a microdissecção para remover fragmentos adicionais ou realizar a microTESE no testículo contralateral Examinar ao microscópio Número adequado de espermatozoides para ICSI? Ausência de espermatozoides após micro-TESE bilateral Abortar o procedimento ou considerar utilização de sêmen de doador para ICSI O sobrenadante é descartado e o sedimento é ressuspendido a 0,2 ml de meio de cultura. Uma alíquota do material ressuspendido é examinada ao microscópio, e caso observe-se contaminação com hemácias, realiza-se a diluição e lavagem com solução hemolisadora de hemácias. Prepara-se uma de placa petri contendo microgotas de meio de cultura (10 microlitros) e PVP (4 microlitros) recobertas com óleo mineral. Alíquotas da micro-TESE processada são colocadas nas microgotas de meio de cultura para a identificação e captura dos espermatozoides. Os espermatozoides são transferidos para a microgota de PVP, onde são selecionados para a ICSI Espermatozoides obtidos pela micro-TESE e não utilizados para ICSI podem ser criopreservados Figura 6. Extração microcirúrgica de espermatozoides do testículo (micro-TESE). A figura ilustra as etapas do procedimento, incluindo a técnica cirúrgica e o processamento laboratorial do parênquima testicular. A principal diferença entre micro-TESE e TESE convencional (biópsia testicular) refere-se à utilização de magnificação e à técnica microcirúrgica na primeira. Por outro lado, a TESE convencional é realizada por meio de pequena incisão na túnica albugínea, e o fragmento de parênquima testicular (geralmente medindo entre 5 mm e 10 mm) que se exterioriza da incisão é extraído. Na TESE convencional, fragmentos únicos ou múltiplos podem ser extraídos. O processamento laboratorial das amostras obtidas via micro-TESE ou TESE convencional é semelhante; entretanto, este é menos trabalhoso na primeira, uma vez que a biópsia é dirigida para os túbulos seminíferos dilatados e, assim, uma quantidade menor de parênquima testicular é enviada ao laboratório em comparação à TESE convencional, o que facilita o processamento. Fonte: Androfert, 2011. T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO micro-TESE 11 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 12 A B C D E F Figura 7. Aspectos microcirúrgicos da extração de espermatozoides testiculares via micro-TESE. (A) Montagem da mesa auxiliar contendo instrumental microcirúrgico, placa de petri com meio de cultura e fios de sutura; (B) o procedimento é realizado com o auxílio do microscópio cirúrgico com magnificação variando entre 16 × e 25 ×; (C-F) aspectos intraoperatórios da micro-TESE; (C) realiza-se uma ampla incisão numa região na túnica albugínea do testículo para exposição do parênquima testicular; (D) a exposição do parênquima testicular é obtida pela eversão da túnica albugínea; (E) visualização dos túbulos seminíferos através do microscópio cirúrgico (aumento de 25 ×) e identificação de uma região contendo túbulos mais dilatados (no detalhe); (F) remoção do fragmento de parênquima testicular contendo o túbulo seminífero dilatado, com o auxílio de pinça microcirúrgica (no destaque). Sertoli (Figura 8). Nos casos em que a histologia testicular revela os padrões de espermatogênese normal e hipospermatogênese, as chances de obtenção de espermatozoides para a ICSI são de 100% e 65% a 90%, respectivamente14. Por outro lado, espermatozoides são obtidos numa faixa que varia entre 10% a 70% e 5% a 30%, respectivamente, nos casos de parada de maturação germinativa e aplasia germinativa (Sertoli-cell only), dependendo da técnica empregada para a extração13,14. A B C D Figura 8. Aspecto microscópico dos túbulos seminíferos examinados a fresco. Fotomicrografias obtidas do microscópio óptico invertido (Nikon Eclipse Diaphot 300) com contraste de fase (Hoffman), utilizando magnificação de 100 ×. (A-D) Túbulos seminíferos de diâmetros variados, pré-processamento (intactos); (A) túbulo seminífero de diâmetro muito reduzido e translúcido, normalmente observado nos casos de histologia testicular revelando Sertoli-cell only (aplasia germinativa). Não existem células germinativas na luz destes túbulos; (B) túbulo seminífero de diâmetro reduzido, geralmente observado nos casos de histologia testicular revelando hipospermatogênese. O diâmetro é maior em comparação ao anterior (A), e é possível encontrar células germinativas e espermatozoides nestes casos; (C) túbulo de diâmetro normal, geralmente encontrado nos casos de parada de maturação germinativa. Nesses casos, também é possível encontrar focos de espermatogênese completa e espermatozoides. Observa-se discreta transparência em comparação ao túbulo que contém espermatogênese normal (D). T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO Os túbulos seminíferos apresentam diâmetros variados quando examinados ao microscópio antes do processamento (Figuras 5 e 8). O diâmetro dos túbulos seminíferos (Figura 8) e o padrão histológico do testículo (Figura 9) correlacionam-se com a chance de se obterem espermatozoides pelas técnicas de TESA, TESE e micro-TESE. Os túbulos de maior diâmetro possuem maior chance de conter espermatogênese ativa, ao passo que os túbulos finos (diâmetro < 100 micra) geralmente possuem apenas células de 13 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 14 A B C Figura 9. Fotomicrografias ilustrando a relação entre os resultados da histologia testicular e o padrão celular geralmente observado após o processamento do parênquima testicular. Na parte superior, encontram-se ilustrados os três principais padrões histológicos encontrados nos casos de azoospermia não obstrutiva: (A) Sertoly cell-only (SCO) ou aplasia germinativa; (B) parada de maturação germinativa (PM); (C) hipospermatogênese (HIPO). Na parte inferior, observa-se o padrão celular geralmente encontrado em cada uma dessas condições. Na SCO, geralmente se observam apenas células de Sertoli (a), além de linfócitos (b) e hemácias (c). Na PM, visualiza-se a presença de grande número de células germinativas e, geralmente, a diferenciação celular estaciona antes da formação do espermatozoide: (d) espermatogônia/espermatócito primário, (e) espermatócito secundário, (f) espermátide redonda (observe o contorno suave e a vesícula acrossômica proeminente na porção apical). É importante destacar que focos isolados de espermatogênese ativa com diferenciação até espermatozoides podem ser encontrados na SCO e PM (não demonstrado). Na HIPO, observa-se a presença de células germinativas em quantidade reduzida, porém todos os estágios estão presentes, até os espermatozoides: (a) células de Sertoli, (e) espermatócito secundário, (f) espermátide redonda e espermatozoide (no destaque). Fotomicrografias obtidas das suspensões celulares observadas ao microscópio invertido com contraste de fase e aumento de 400 × (parte inferior) e de lâminas de histologia coradas com hematoxilina e eosina (aumento de 1000 ×). Congelamento e descongelamento de espermatozoides epididimários e testiculares Espermatozoides epididimários e testiculares podem ser criopreservados utilizando-se protocolos aplicados rotineiramente às amostras ejaculadas15,16. Após o descongelamento, deve-se remover o crioprotetor pela técnica de lavagem simples. Nos casos em que apenas espermatozoides imóveis são encontrados, devem-se utilizar técnicas laboratoriais (descritas a seguir) que permitam selecionar espermatozoides vivos para ICSI. Métodos para a seleção de espermatozoides vivos para ICSI Alguns parâmetros seminais convencionais têm demonstrado pouco ou nenhum impacto nos resultados da ICSI, exceto nos casos em que apenas espermatozoides imóveis são utilizados17. Nos casos de descongelamento de amostras de PESA/TESA/TESE, não é incomum observar a ausência completa de espermatozoides móveis após o processamento. Diferentes estratégias, descritas a seguir, podem ser aplicadas para diferenciar espermatozoides imóveis vivos dos mortos, permitindo que os primeiros sejam utilizados durante a ICSI. Teste hiposmótico (THO)18 – Teste do inchaço da cauda do espermatozoide Com o auxílio da micropipeta de injeção, aspiram-se os espermatozoides imóveis morfologicamente normais da microgota de meio de cultura e transfere-se para o PVP. Aspira-se cada espermatozoide individualmente, do PVP para o interior da micropipeta, no sentido cabeça-cauda. Teste da flexibilidade da cauda do espermatozoide20 Com o auxílio da pipeta de microinjeção, aspira-se o espermatozoide imóvel morfologicamente normal da microgota de meio de cultura, transferindo-o para o PVP. Toca-se a cauda do espermatozoide com a ponta da micropipeta, movimentando-a para cima e para baixo. A cauda é considerada flexível quando se movimenta independentemente da cabeça (essa flexibilidade é considerada um marcador de vitalidade do espermatozoide20). Quando a cauda permanecer rígida, realizando movimentos em conjunto com a cabeça, o espermatozoide é considerado inviável. Repete-se este procedimento até obter o número necessário de espermatozoides para ICSI. Utilização da solução de pentoxifilina para estimular a motilidade espermática21 Prepara-se uma placa de petri contendo 8 microgotas de 50 µL, sendo quatro delas com meio de cultura e outras quatro com a solução de pentoxifilina. Colocam-se alíquotas de 4 µL da amostra de PESA/ TESA/TESE processada nas microgotas da solução de pentoxifilina e incuba-se por 20 minutos. Examina-se a amostra ao microscópio invertido para verificar a presença de espermatozoides móveis. Geralmente, observa-se um discreto movimento de cauda, intercalado por períodos sem movimento, nos espermatozoides que respondem à pentoxifilina. Aspira-se o espermatozoide móvel com o auxílio da micropipeta de injeção, transferindo-o para uma gota de meio de cultura. Repetir esta etapa de três a quatro vezes para lavar a pentoxifilina, que deve ser eliminada, pois estudos animais demonstraram que ela pode ser embriotóxica22. Transferem-se os espermatozoides selecionados para a gota de PVP, onde se procede à seleção daqueles morfologicamente normais. Repete-se este procedimento até se obter o número necessário de espermatozoides para ICSI. A pentoxifilina atua inibindo a enzima fosfodiesterase, responsável pela degradação da adenosina monofosfato cíclica (AMPc), que tem papel importante na regulação da motilidade espermática. O efeito final é o aumento da concentração intracelular de AMPc, que estimula o movimento do flagelo e, consequentemente, a motilidade espermática21. Referências 1. Palermo G, Joris H, Devroey P, Van Steirteghem AC. Pregnancies after intracytoplasmic sperm injection of single spermatozoa into an oocyte. 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Aguarda-se de 5 a 10 segundos e observa-se se ocorre inchaço da extremidade distal da cauda. Esse inchaço é relativamente pequeno, porém suficiente para o observador diferenciar o espermatozoide vivo (inchaço da cauda presente) daquele cuja cauda não apresenta inchaço (espermatozoide inviável). Aspira-se o espermatozoide testado para o interior da pipeta. A seguir, ele é transferido para uma microgota contendo meio de cultura. Essa etapa é importante para permitir o reequilíbrio osmótico (o inchaço da cauda tende a desaparecer em aproximadamente 10 a 20 segundos). Quando não for observado inchaço, descartar o espermatozoide na solução hiposmótica. Transfere-se o espermatozoide vivo após equilíbrio osmótico para a microgota de PVP. O procedimento deve ser realizado com cada espermatozoide isoladamente, até que um número suficiente de espermatozoides vivos tenha sido selecionado para ICSI. O teste do inchaço da cauda apresenta ótimos resultados para amostras frescas que contenham somente espermatozoides imóveis, porém tem eficácia reduzida nas amostras criopreservadas19. 15 T É C N IC A S D E E XT R A Ç Ã O E PR O C E S S A M E N TO D E E S PE R M ATO ZOI D E S OB T I D O S D O E PI D Í D I M O E D O T E S T ÍC U LO 16 5. Esteves SC, Miyaoka R, Agarwal A. An update on the clinical assessment of the infertile male. Clinics. 2011;66:691-700. 6. Craft I, Tsirigotis M, Bennett V, Taranissi M, Khalifa Y, Hogewind G, et al. Percutaneous epididymal sperm aspiration and intracytoplasmic sperm injection in the management of infertility due to obstructive azoospermia. Fertil Steril. 1995;63:1038-42. 7. Craft I, Tsirigotis M. Simplified recovery, preparation and cryopreservation of testicular spermatozoa. Hum Reprod. 1995;10:1623-7. 8. Tsujimura A, Matsumiya K, Miyagawa Y, Tohda A, Miura H, Nishimura K, et al. 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