S7A2 - Os Cinco Inimigos - Conhecendo-os para melhor combatê-los.
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S7A2 - Os Cinco Inimigos - Conhecendo-os para melhor combatê-los.
OS CINCO INIMIGOS – Conhecendo-os para melhor combatê-los José Antonio Sazdjian Júnior – Mestre Palavras Chave: acidente, EUA, curso, prevenção. BIOGRAFIA O autor é Major do Exército formado pela Academia Militar das Agulhas Negras – AMAN, em 1993, mestre em ciências Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais – ESAO, em 2001, Bacharel em Direito pela Universidade de Taubaté – UNITAU, em 2003, especialista em prevenção e investigação de acidentes pelo CENIPA, em 2004, especialista em Segurança de Voo e aeronavegabilidade continuada pelo ITA, em 2005 e especialista em prevenção e investigação de acidentes aeronáuticos no Exército dos Estados Unidos, Fort Rucker- AL, em 2011. RESUMO Como aluno do Curso de Segurança de Aviação no Exército Americano vivi uma experiência interessante. Na aula inaugural ministrada pelo Senhor Colonel Thompson, Deputy Commander do U.S. ARMY COMBAT READINESS/SAFETY CENTER (USACR/SAFETY CENTER) foi comentado o artigo publicado na edição de Julho de 2010 da revista Knowledge, escrito pelo BRIG. GEN. ANTHONY G. CRUTCHFIELD, então Comandante do Centro de Segurança do Exército Americano. O referido artigo falava sobre as cinco palavras que se repetiam na quase totalidade dos relatórios de investigação de acidentes daquele Exército. Fazendo uma análise histórica dos acidentes da Aviação do Exército e da Aviação Civil brasileira, foi possível identificar uma grande semelhança entre os “inimigos” da segurança dos EUA e os do Brasil. Deste modo, o artigo passa a enumerar essas similaridades e sugere ações para combater cada um desses cinco inimigos, com base na experiência do Brig Gen Anthony G. Crutchfield, excomandante do USACR/SAFETY CENTER. INTRODUÇÃO Os cinco inimigos a que se refere o título deste artigo são fatores contribuintes frequentes observados em relatórios de investigação de acidentes no Exército dos Estados Unidos da América, na Aviação do Exército Brasileiro e na Aviação Civil Brasileira. A seguir serão abordados os referidos fatores, de modo a permitir a identificação dos maiores causadores de acidentes na aviação brasileira. DESENVOLVIMENTO Como aluno do Curso de Segurança de Aviação no Exército Americano vivi uma experiência interessante. Na aula inaugural ministrada pelo Senhor Colonel Thompson, Deputy Commander do U.S. ARMY COMBAT READINESS/SAFETY CENTER (USACR/SAFETY CENTER) foi comentado o artigo publicado na edição de Julho de 2010 da revista Knowledge, escrito pelo BRIG. GEN. ANTHONY G. CRUTCHFIELD, então Comandante do Centro de Segurança do Exército Americano. O referido artigo falava sobre as cinco palavras que se repetiam na quase totalidade dos relatórios de investigação de acidentes daquele Exército. Durantes quase dois anos na chefia do Centro, o Brig. Gen. Critchfield ficou impressionado com o elevado número de ocorrências aeronáuticas e terrestres. Buscando entender porque os acidentes continuavam ocorrendo, a despeito de todas as medidas de segurança adotadas. Então ele iniciou um estudo dos acidentes relevantes dos últimos dez anos no Exército Americano e, para sua surpresa, identificou uma semelhança grande entre eles, mesmo, por exemplo, comparando um acidente de bicicleta com o de um grande helicóptero como o Chinook, pois, para o Exército americano não há distinção entre acidente aéreo, terrestre em serviço ou fora de serviço, todos são investigados da mesma maneira. Algumas palavras se repetiam com frequência nos relatórios e então ele começou a tomar nota delas e passou a separar os relatórios em grupos, de acordo com as palavras que mais apareciam como fator contribuinte. Passaram-se horas, dias e semanas até que finalmente ele chegou ao fim de sua pesquisa. Foram cinco as principais palavras encontradas e por ele batizadas como “Cinco Palavras Fatais”, eram elas: 1. Inexperiente 2. Não supervisionado 3. Indisciplinado 4. Confiante 5. Complacente - - - - - - - - - - Anais do 5º Simpósio de Segurança de Voo (SSV 2012) – Direitos Reservados - Página 1086 de 1112 - - - - - - - - - - Após algum tempo aquele oficial General assumiu o Comando da 10ª Brigada de Aviação que foi enviada para combater no Afeganistão. Em um cenário de combate ele decidiu colocar à prova sua pesquisa adotando as cinco palavras como base da filosofia de prevenção de acidentes da Brigada. O resultado foi tão positivo que, após algum tempo, essas palavras foram incorporadas à doutrina de prevenção de acidentes e passaram a ser consideradas como os cinco inimigos da prevenção nas diversas Organizações militares do Exército Americano. por década enquanto que a Aviação Civil apresentou 827 acidentes na última década, razão pela qual decidi analisar também seus dados. O Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA) disponibiliza em seu site um documento denominado “Panorama Geral”. No referido documento existe entre outros, um gráfico (Gráfico 1) que aponta a incidência dos fatores contribuintes para esses 827 acidentes ocorridos na última década e, por incrível que pareça, as tais palavras fatais, juntamente com “planejamento” e “julgamento” lideram o gráfico como principais fatores contribuintes para os acidentes aeronáuticos ocorridos na Aviação civil na última década. Ao retornar ao Brasil, intrigado que estava com a questão das cinco palavras apresentadas no curso realizei uma pesquisa sobre os fatores contribuintes dos acidentes da Aviação do Exército(AvEx). Com os dados extraídos dos relatórios finais confeccionei o quadro abaixo (Tabela 1) que resume os fatores contribuintes de cada acidente da AvEx desde 1991 até 2006(ano do último relatório final disponível), respeitando-se a divisão dos fatores (humano e operacional) em vigor à época das investigações. ÁREA FATOR HUMANO FATORES CONTRIBUINTES 1° ao 8 ° ACIDENTES ASPECTO FISIOLÓGICO X ASPECTO PSICOLÓGICO X X X X X X X X DEFICIENTE MANUTENÇÃO DEFICIENTE INSTRUÇÃO X X 4 X 5 X 2 X DEFICIENTE SUPERVISÃO X X POUCA EXPERIÊNCIA DE VÔO NA AERONAVE X X DEFICIENTE COORDENAÇÃO DE CABINE X X CONDIÇÕES METEOROLÓGICAS ADVERSAS X DEFICIENTE INFRAESTRUTURA X DEFICIENTE PESSOAL DE APOIO X X X 2 X 5 X 4 X X 4 X 2 X 2 1 FATOR OPERACIONAL X INFLUÊNCIA DO MEIO AMBIENTE DEFICIENTE APLICAÇÃO DE COMANDO X X ESQUECIMENTO 1 X 3 X 1 DEFICIENTE PLANEJAMENTO X X X X X X X 7 DEFICIENTE JULGAMENTO X X X X X X X 7 IMPRUDÊNCIA X 1 X INDISCIPLINA DE VÔO OUTROS ASPECTOS OPERACIONAIS X DEFICIÊNCIA DE PROJETO X DEFICIÊNCIA DE FABRICAÇÃO X X 1 X X X X X 7 X 2 MATERIAL OUTROS OUTROS 1 X X Tabela 1: Fatores Contribuintes da AvEx de 1991 a 2006 Considerando-se que não existe aspecto psicológico no sistema de investigação do Exército Americano e ainda, que excesso de autoconfiança e complacência estão dentro do aspecto psicológico no sistema brasileiro, chega-se à conclusão de que quatro das cinco palavras fatais contribuíram para boa parte dos acidentes da AvEx. Porém, não se pode ignorar o fato de que a Aviação do Exército tem outros dois importantes fatores que contribuíram para sete dos oito acidentes analisados, quais sejam: deficiente planejamento e deficiente julgamento. A AvEx realiza as investigações de seus acidentes de acordo com as Normas do Sistema do Comando da Aeronáutica (NSCA). Normas essas que são utilizadas pela Força Aérea nas investigações dos acidentes da aviação civil brasileira. Estatisticamente a AvEx teve uma média de cinco acidentes 2 Gráfico 1: Fatores Contribuintes nos Acidentes da Aviação Civil 2001 a 2010 (http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa /Anexos/article/19/Panorama%20Geral%202010.pdf) Deste modo, fazendo uma analogia ao estudo do Brig. Gen. Critchfield, pode-se dizer que a Segurança de Voo da AVEx, e por que não dizer, a de toda a Aviação Civil Brasileira, tem cinco grandes inimigos a saber: 1. Julgamento 2. Planejamento 3. Supervisão 4. Aspecto Psicológico 5. Inexperiência Uma vez identificados os inimigos, façamos uma análise dos meios disponíveis e de como podemos combatê-los, dividindo essa ação em três fases. A NSCA 3-3, de 31 de outubro de 2008, traz as ferramentas da prevenção de acidentes aeronáuticos que podem ser consideradas “armas” para combater cada um desse inimigos conforme veremos a seguir: Primeira fase – Conhecendo o inimigo: As Vistorias de Segurança de Voo(VSV), os Relatórios de Prevenção(RELPREV), as Divulgações Operacionais(DIVOP), os Reportes de elevado Potencial de risco e até mesmo as reuniões da Comissão de Prevenção da Organização, podem ser considerados como a base do trabalho de prevenção uma vez que são fontes de informação e seriam a “munição” para atacar os inimigos; Segunda fase – Partindo para o Ataque: Uma vez armado e municiado pode-se partir para o ataque com programas como Gestão do Risco (GR) e Crew Resource Management(CRM) que por suas características são capazes - - - - - - - - - - Anais do 5º Simpósio de Segurança de Voo (SSV 2012) – Direitos Reservados - Página 1087 de 1112 - - - - - - - - - - de neutralizar os inimigos, o primeiro atuando especialmente na fase de planejamento das operações e o segundo na execução das mesmas, e, por fim; Terceira fase – Consolidando a conquista: A emissão e o cumprimento das Recomendações de Segurança de Voo consolidariam a vitória, mantendo o “inimigo” enfraquecido e em constante desvantagem, uma vez que as ameaças passariam a ser monitoradas e controladas constantemente, não permitindo que o acidente se configure. CONCLUSÃO As ameaças à segurança são de certa forma ameaças à integridade física dos seres humanos e, portanto à sua sobrevivência. Conforme vimos neste artigo, essas ameaças são semelhantes no Exército Brasileiro, no Americano, na Aviação civil, na militar, e até mesmo nas nossas vidas pessoais. Assim sendo cabe a cada um de nós termos a consciência de transmitirmos as informações de modo a alimentarmos, ou melhor dizendo, “municiarmos” o sistema para que seja possível prevenirmos as ocorrências. Ora, se temos um inimigo comum a solução está em nos unirmos para combatê-lo. Cada membro de uma organização, independente de posto, graduação, cargo ou função tem esse papel. Essa ideia inclusive nos remete a um dos princípios da Filosofia do Sistema de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (SIPAER) que diz: “A Prevenção de Acidentes requer mobilização geral”. Autores e Afiliação José Antonio Sazdjian Júnior Endereço: Estrada Municipal dos Remédios, 2135, complemento: Rua 1, casa 100, Itaim, Taubaté-SP, CEP 12080-000 Endereço eletrônico: [email protected] REFERÊNCIAS BRASIL. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. Gestão da Segurança Operacional: NSCA 33. Brasília-DF, 2008, 48 p. _______. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. CENIPA. Título: Panorama Geral (Fatores Contribuintes nos Acidentes da Aviação Civil 2001 a 2010) Disponível em:<http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa /Anexos/article/19/Panorama%20Geral%202010.pdf>. Acesso em:18 de ago. 2012 - - - - - - - - - - Anais do 5º Simpósio de Segurança de Voo (SSV 2012) – Direitos Reservados - Página 1088 de 1112 - - - - - - - - - -
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