Cirrose biliar primária. Diagnóstico e tratamento.
Transcrição
Cirrose biliar primária. Diagnóstico e tratamento.
Workshop Internacional de Atualização em Hepatologia Curitiba, 7 e 8 de abril de 2006 CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO João Galizzi Filho Belo Horizonte, MG Cirrose biliar primária ___________________________________________________________ • Hepatopatia crônica colestática de etiologia desconhecida • Destruição progressiva dos ductos biliares intrahepáticos pequenos, com subsequente fibrose e eventualmente cirrose • Manifesta-se como cirrose geralmente em mulheres de meia idade • História natural foi modificada com a introdução do ácido urso-desoxicólico. • Afeta todos as raças; muito mais frequente no sexo feminino (9:1); diagnóstico feito em torno dos 50 anos de idade. Selmi C et al. Gastroenterology 38, 2004 Kim et al. Gastroenterology 119, 2000 Jones DEJ et al. J Hepatol 30, 1999 Cirrose biliar primária __________________________________________________________ • Provável predisposição genética • Vários loci de MHC classe II foram descritos, mais frequentes em pacientes com CBP que na população geral: – Caucasianos: DR3, DR8 e DR4 – Japoneses: DR2 e DR8 • Risco familiar entre irmãos: comparável com outras doenças auto-imunes – 6-7% das mulheres afetadas têm parentes com a doença Selmi C et al. Gastroenterology 38, 2004 Kim et al. Gastroenterology 119, 2000 Cirrose biliar primária __________________________________________________________ • Patogênese desconhecida: provável mecanismo auto-imune • Infiltração linfocítica dos ductos biliares c/ destruição do epitélio. Extensão ao parenquima. – CD4, CD8. Células B menos aparentes • Interação dos AAM com subunidade E2 do complexo da piruvatoDHG: relação com a patogênese? • Apoptose: importância sugerida pela expressão dos receptores fas dos colangiocitos, com redução de Bcl2 nos ductos menores. MacDonald P et al. Clin Exp Immunol 136, 2004 Gerswhin ME et al. Immunol Rev 174, 2000 Rust C & Gores GJ. Am J Med 108, 2000 Cirrose biliar primária ___________________________________________________________ • Influência de agentes infecciosos em indivíduos geneticamente susceptíveis? – – – – E. coli H. pylori Clamídia Retroviroses • Sem evidências de microquimerismo fetal e da ação de químicos exógenos Haydon GH & Neuberger JM. Gut 47, 2000 Kita H et al. Ann Med 36, 2004 Cirrose biliar primária: trato portal com infiltrado inflamatório granulomatoso (mesmo caso) Riscos relativos de doenças auto-imunes entre irmãos de pacientes com CBP _____________________________________________________ D. auto-imune RR dos irmãos _______________________________________________ Artrite reumatóide 08 Cirrose biliar primária 10,5 Retocolite ulcerativa 12 Doença de B. Graves 15 Diabetes insulino-dependente 16 Doença de Crohn 20 LES 20 _______________________________________________ Jones DEJ et al. J Hepatol 30, 1999 CBP: manifestações clínicas à apresentação __________________________________________________________ Manifestações Prevalência (%) Lindor KD * B. Horizonte (n = 32) ______________________________________________________ Assintomática 25 17 Fadiga 65 45 Prurido 55 39 Hepatomegalia 25 52 * Hiperpigmentação 25 17 Esplenomegalia 15 48 * Icterícia 10 17 * Xantelasma 10 9 ______________________________________________________ * Kim WR et al. Gastroenterology 119, 2000 Distúrbios sistêmicos associados à CBP ___________________________________________________________ Distúrbio Prevalência (%) Lindor KD * Belo Horizonte (n = 32) _______________________________________________________ Ceratoconjuntivite Sicca 75 52 Acidose tubular renal 50 Cálculos biliares 30 35 Artrite 20 26 Doença da tireóide 15 26 Escleroderma 15 9 Fenômeno de Raynaud 10 13 Síndrome CREST 05 4 _______________________________________________________ * Kim WR et al. Gastroenterology 119, 2000 Cirrose biliar primária ___________________________________________________________ • Sua prevalência estimada é de 200 casos por 1 milhão de pessoas, parecendo estável • Filhas de pacientes: risco relativo de 15 de ter CBP aos 40 anos. • Assintomática em pelo menos 25% dos pacientes • A presença ou ausência de sintomas não são preditivas do prognóstico (evolução dos sintomas é independente da severidade) • Sintomas mais frequentes: fadiga (1º.) e prurido (2º.) • Icterícia e esplenomegalia: mais comuns na doença avançada. Springer J et al. Am J Gastroenterol 1999 Cirrose biliar primária ___________________________________________________________ • Alteração bioquímica mais característica: FA elevada (3-4 x LSN) • AC anti-mitocôndria contra componente E2 da piruvatodehidrogenase: em cerca de 95% dos casos • AC anti-mitocôndria: em até 25% dos casos de HAI. Raro na CEP e nas hepatopatias por drogas • ANA (FAN) e ASMA (AAML) positivos em 65% e 35% dos casos • Outros autoanticorpos ocasionais: anti-centrômero (comuns na S. CREST), F.reumatóide, AC anti-tireóide • Métodos de imagem inexpressivos. Huett PM et al. Am J Gastroenterol 95, 2000 Cirrose biliar primária ___________________________________________________________ • História natural: progressão lenta. Expectativa de vida de 10-15 anos (ou mais) após diagnóstico, s/ tratamento • Evolução histológica pelo modelo de Markov: progressão de um estágio a cada 1-2 anos • Vários distúrbios associados, que não respondem ao AUDC • Complicações: osteoporose, hiperolesterolemia, deficiência de vitaminas lipossolúveis, esteatorréia (rara) e carcinoma hepatocelular • Modelos prognósticos: úteis para avaliar sobrevida após tratamento avaliar “timing” do transplante Locke GR III et al. Hepatology 23, 1996 Cirrose biliar primária: tratamento ___________________________________________________________ • d-Penicilamina, colchicina, azatioprina, corticosteróides, metotrexato, ciclosporina A: ineficazes ou em estudo • Suplementação de cálcio e vitaminas A, D, E, K. Prurido • AUDC (20 mg/kg/dia) – diminui a progressão clínica e histológica – previne a cirrose (?) – parece melhorar a sobrevida: pacientes não cirróticos recuperam a expectativa de vida, comparados aos controles, por pelo menos 10 anos. Pares A et al. Gastroenterology 130, 2006 Poupon RE et al. Gastroenterology 113, 1997 Corpechot C et al. Hepatology 32, 2000 Poupon RE et al. Hepatology 29, 1999 Pares A et al. Excellent long-term survival in patients with PBC and biochemical response to UDCA. Gastroenterology 2006;130: 7155-20 • 192 pts (181 fem): AUDC 15 mg/kg/dia, p/ 1,5 a 14 anos • “Resposta ao tratamento”: < 40% da FA (ou normalização) após 1 ano de tratamento. • Sobrevista prevista: pelo modelo da Mayo Clinic (MMC) • Sobrevida estimada: população espanhola comparável e padronizada • Resultados: 17 pts (8,9%) faleceram ou foram a transplante – A sobrevida observada > a prevista pelo MMC e < a estimada para a população controle – 117 pts (61%) responderam ao tratamento – A sobrevida dos respondedores foi > à prevista pelo MMC e similar à estimada para a população. Cirrose biliar primária • Transplante hepático – Das melhores indicações – Sobrevida de 1 ano: até 95% ! – Sobrevida de 5 anos > 85% – Recorrência pós-Tx: 4-5% por ano Neuberger JM. Prac Res Clin Gastro 14, 2000
Documentos relacionados
Tratamento da Cirrose Biliar Primária
Cirrose biliar primária (CBP) Definição Doença auto-imune colestática que resulta da destruição apoptótica das células epiteliais dos ductos biliares intrahepáticos mediada por linfócitos T cito...
Leia maisCIRROSE BILIAR PRIMÁRIA AMA NEGATIVA: CASO CLÍNICO
CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA AMA NEGATIVA: CASO CLÍNICO I. PINHO1, P. VENTURA1, A. CARDOSO2, J. REIS PEREIRA3
Leia maisartigo completo
bloqueio do processo necroinflamatório e atraso da progressão da doença.19,20 Noutras séries ainda, a resposta ao tratamento com AUDC (13-15mg/Kg/dia) e o resultado do transplante hepático na doenç...
Leia mais