Perfil do varejo brasileiro de calçados e bolsas
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Perfil do varejo brasileiro de calçados e bolsas
Perfil do varejo brasileiro de calçados e bolsas Airton Manoel Dias Diretor do Fórum Couromoda e coordenador da pesquisa Conhecer o que ocorre em seu entorno, adaptar-se às novas bases de concorrência, saber o que mudou e o que está mudando são regras de sobrevivência e caminhos para a busca da qualificação e da competitividade necessárias para garantir o futuro e a longevidade da empresa. Alterar políticas comerciais e de produtos, criar novas estratégias de distribuição e de preços, adaptar a empresa às novas realidades mercadológicas com base, apenas, no empirismo, no “achismo”, é uma temeridade que expõe a empresa a riscos incalculáveis. Opção correta e segura é obter conhecimentos sobre o mercado e seu comportamento alicerçados em informações reais, fora dos muros da empresa, com dados concretos direto da fonte, ou seja, junto ao segmento que se quer conhecer e avaliar: as pesquisas! Pesquisas de mercado são sempre fundamentais, ainda mais em tempos de alta competitividade e de mercados que se renovam tão rapidamente como os de calçados e moda. Com esse intuito, incentivada pela quantidade de duvidas que existem sobre nosso varejo, externadas nos últimos anos no Congresso Brasileiro do Calçado, a Couromoda se prontificou em realizar uma ampla pesquisa envolvendo mais de 3.300 pontos de venda, localizados em 200 municípios de todas as unidades da federação. Essa pesquisa, realizada em setembro e outubro de 2012, focou cinco temas, decididos em conjunto com o próprio varejo através da Ablac. Os primeiros resultados foram apresentados no Congresso Brasileiro do Calçado de 2013 e em palestras em vários polos industriais. Diante do alto interesse demonstrado nessas apresentações, decidimos pela publicação dos principais resultados como uma contribuição da Couromoda ao setor. Que estas informações e análises, agora disponibilizadas como ferramentas de consulta, colaborem para estreitamento das relações comerciais entre fábricas, representantes e lojas e para o fortalecimento e o progresso do nosso mercado interno. Agradecemos aos lojistas que participaram da pesquisa e lhes desejamos um ótimo aproveitamento. 1 – QUEM PARTICIPOU DA PESQUISA Foram 426 empresas de todos os estados e do distrito federal, com 3.331 pontos de venda e a seguinte distribuição geográfica: Sudeste 41% / Sul 25% / Centro Oeste 17% / Norte-Nordeste 17%. Com base no tipo de produtos vendidos, as empresas foram identificadas como: Mistas 75% / Feminina-Butique 12% / Masculinas 6% / Bolsas 4% / Outras 3%. Na média, as empresas participantes da pesquisa atuam com oito de venda: 1 ponto 33 2 a 5 pontos 41 6 a 10 pontos 9 11 a 20 pontos 9 21 a 40 pontos 4 Mais de 41 pontos 4 TOTAL DE EMPRESAS 100% A participação das empresas pelo nível de faturamento mensal foi: MENOS DE R$ 200 mil 47 R$ 201 a R$ 400 mil 22 R$ 401 a R$ 600 mil 9 R$ 601 a R$ 800 mil 5 Acima de R$ 800 mil 13 TOTAL DE EMPRESAS 100% 2 – MARK-UP MÉDIO DO VAREJO O varejo está decidindo suas compras, cada vez mais, pela projeção do preço final de venda do produto, ou seja, pelo preço que o lojista entende que o produto terá giro e aceitação! Assim, retirando o mark-up desse preço final, a loja define o preço que deverá pagar a fábrica. Este comportamento é consequência de vários fatores. Entre outros, destaque para: - Consumidor muito mais arisco e informado com relação ao valor de produtos. - Pontas de estoques maiores, sempre vendidas com descontos, reduzindo o mark-up inicial/nominal. - Crescentes aumentos dos custos fixos e operacionais dos pontos de vendas. - Produtos e marcas com valor agregado, ou com maior força mercadológica, continuam com melhores condições para atuar com maior liberdade no quesito preço, mas essa liberdade passou a ser relativa e todos dependem cada vez mais do giro associado ao mark-up. A pesquisa trouxe à tona um aspecto importante: dependendo da categoria fiscal a que a loja estiver enquadrada, pode haver grande variação no mark-up praticado, com influência direta no preço final de vitrine. Isto merece atenção especial dos gerentes de vendas e representantes, na formulação e prática de suas políticas comerciais e de distribuição. MARK-UP: TODAS AS LOJAS PARTICIPANTES POR LINHA DE PRODUTOS POR REGIÃO GEOGRÁFICA FEMININOS 111% SUL 112% MASCULINOS 110% SUDESTE 111% INFANTIS 109% NORTE 110% TÊNIS 105% NORDESTE 110% BOLSAS 114% CENTRO OESTE 107% MARK-UP MÉDIO BRASIL EM TODAS AS LOJAS/LINHAS: 111% MARK-UP SÓ LOJAS ESPECIALIZADAS INFANTIS 115% BOLSAS 115% FEMININAS 113% MASCULINAS 113% TÊNIS 105% MATERIAIS ESPORTIVOS 100% PELO N.º DE PONTOS DE VENDA 1 PONTO 107% 2 A 5 PONTOS 110% 6 A 20 PONTOS 117% 21 A 40 PONTOS 120% MAIS DE 41 122% PONTOS COM MENOS COM MAIS ENTRE 100% DE 99% DE DE 120% DE E 119% DE MARK-UP MARK-UP MARK-UP FEMININA 14% 27% 59% MASCULINA 17% 20% 63% INFANTIL 21% 19% 60% TÊNIS 18% 17% 65% BOLSAS 12% 36% 52% LINHAS DE PRODUTOS Empresas que atuam com mark-up abaixo de 99% concentram-se entre: - as que faturam menos de R$ 200 mil por mês - as que atuam com um ponto de venda Portanto, enquadradas no Simples, com menor carga de impostos. Outra característica das que atuam com mark-up abaixo de 99% é sua localização em cidades pequenas, no interior, com custos fixos e operacionais menores. Importante registrar que butiques femininas nos grandes centros apresentaram markup médio de 130%, com algumas atuando acima de 150%. 3 – O ESTOQUE NO VAREJO E SEU GIRO Pela primeira vez pode-se projetar a média real dos estoques das lojas de calçados, it em que se transformou importante no quesito competitividade. Para lojas: giro mais rápido = loja mais competitiva. Para indústrias: produto girando mais rápido = vendas maiores e contínuas. Os resultados da pesquisa indicam que o estoque geral do varejo brasileiro de calçados equivale a aproximadamente 110 dias de vendas. Um estoque desse nível pode ser considerado satisfatório, baixo ou elevado? Não há como definir regra única para estoques e que sirva para todas as lojas, mas aquelas que já atuam com 90 dias de estoque, ou menos, são muito mais competitivas. Estoques menores significam custos de estocagem e de giro mais baixos, menor índice de formação de pontas, redução nos níveis de vendas com descontos nas promoções e liquidações. Não há duvidas de que os estoques nas lojas vêm se reduzindo, principalmente pela baixa reposição de modelos e pelas continuas renovações, aliás, como o mercado exige. Este processo influencia diretamente a relação com os fornecedores, pois o varejo quer entregas mais rápidas (entre emissão do pedido e a chegada do produto na loja) e mais próximas do período de consumo, uma realidade mundial, conforme ficou demonstrado nas apresentações realizadas no Congresso Mundial do Calçado de novembro de 2011, no Rio de Janeiro, evento organizado pela Couromoda. ESTOQUES MÉDIOS EM DIAS DE VENDAS LINHAS DE PRODUTOS/TIPO DE LOJAS TODAS SÓ LOJAS SÓ LOJAS LOJAS ESPECIALIZADAS MISTAS FEMININA 111 99 112 MASCULINA 106 96 102 INFANTIL 106 117 102 TÊNIS 109 120 103 90 102 88 BOLSAS Na sequência, duas realidades opostas: empresas que já estão atuando com melhor performance na gestão dos estoques com menos de 90 dias, e as que ainda atuam com estoques acima de 150 dias! ESTOQUES MÉDIOS EM DIAS DE VENDAS - TODAS AS LOJAS COM MAIS COM MENOS DE 150 DIAS DE 90 DIAS % DE LOJAS % DE LOJAS FEMININA 26 54 MASCULINA 19 59 INFANTIL 18 58 TÊNIS 21 59 BOLSAS 12 76 LINHAS DE PRODUTOS 4 – QUANDO O VAREJO QUER RECEBER AS PRINCIPAIS COLEÇÕES? Este foi um dos temas centrais da pesquisa, incentivado pelo movimento crescente de lojistas insatisfeitos com o calendário de renovações e de lançamentos, principalmente da coleção outono/inverno. Importante esclarecer que não há queixas com relação à quantidade de lançamentos anuais, pois o próprio varejo precisa de renovações para atrair clientes e aumentar suas vendas. O que se discute é a antecipação na entrega de produtos para inverno, que tem provocado problemas para os estoques das lojas e suas vendas. Isto acaba por se refletir nas vendas das indústrias. Com base nas observações e debates ocorridos durante as apresentações desta pesquisa, destacamos alguns pontos que julgamos fundamentais para análise dos interessados: - Fabricantes afirmam que, se não lançarem inverno em novembro, ficam sem pedidos para entrega fevereiro e março. - Muitos lojistas contrapõem dizendo que preferem comprar em novembro produtos novos de verão para entrega fevereiro e março, e não inverno, mas completam informando que não querem os mesmos modelos vendidos em novembro/dezembro. Poucas indústrias oferecem isto! - Fabricantes dizem que sabem que não faz frio em fevereiro e março e que por isso concedem 60 dias de prazo extra de pagamento para quem recebe botas em janeiro/fevereiro. - Lojistas informam que, ao receberem botas em janeiro ou fevereiro, são obrigados a colocá-las na vitrine e que não podem mantê-las em estoque por 60 dias em caixas fechadas, sem chance de venda. Uma enquete paralela a esta pesquisa junto a consumidoras, durante janeiro deste ano, indicou um fato importante que colabora com este debate, representado nas frases: “Ao ver as vitrines com botas em fevereiro, é sinal de que o inverno está chegando. Como está muito calor, a gente aguarda o frio chegar. Nos últimos anos, tenho comprado botas com bons descontos em abril e maio.” “Se tem bota já nas vitrines, a gente segura um pouco mais e adia a compra, mesmo querendo um sapatinho novo para o verão.” A pesquisa também procurou levantar o interesse do varejo em trabalhar com produtos neutros, aqueles que não sofrem tanto com relação às estações do ano, chamados de “meia estação”, comercialmente importantes num país continental como o nosso. Assim, a pesquisa perguntou aos lojistas o que gostariam de ter nas suas vitrines, disponíveis para venda, mês a mês, entre três opções de coleções: MEIA ESTAÇÃO – VERÃO/ALTO VERÃO – OUTONO/INVERNO. Vivemos liberdade de mercado no qual cada empresa faz o que acha melhor para seus negócios e que “cada um compra o que quer, quando quiser”. Respeitando essa liberdade, desejamos que os resultados sobre coleções sejam úteis para os que julguem ser válido rever calendários e ajustá-los ao padrão de consumo do Brasil. Na sequência, os resultados por região geográfica indicando, mês a mês, o % de pontos de venda que querem ter cada coleção em sua vitrine. SUDESTE - PARTICIPARAM 1.150 PONTOS DE VENDA COLEÇÕES MEIA ESTAÇÃO VERÃO / ALTO VERÃO OUTONO / INVERNO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET 54% OUT NOV DEZ 68 82 82 82 82 58 58 54 41 41 100% 100 85 29 19 19 44 61 100 100 100 100 40 100 100 100 68 24 0 0 1% 3 0 41 0 SUL – PARTICIPARAM 690 PONTOS DE VENDA COLEÇÕES MEIA ESTAÇÃO VERÃO / ALTO VERÃO OUTONO / INVERNO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 45% 79 79 73 51 51 51 79 79 45 45 100% 100 47 11 11 11 11 44 79 100 100 100 60 100 100 100 100 26 6 0 6% 25 0 45 0 CENTRO-OESTE – PARTICIPARAM 450 PONTOS DE VENDA COLEÇÕES MEIA ESTAÇÃO VERÃO/ ALTO VERÃO OUTONO/ INVERNO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 43% 64 64 64 74 74 53 53 53 43 100% 100 100 85 53 53 83 100 100 100 100 100 91 91 85 21 2% 43 4 21 0 0 0 0 43 0 NORTE/NORDESTE – PARTICIPARAM 470 PONTOS DE VENDA COLEÇÕES MEIA ESTAÇÃO VERÃO / ALTO VERÃO OUTONO / INVERNO JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ 10% 20 41 61 100 100 100 71 71 20 10 100% 100 92 82 51 51 82 100 100 100 100 100 14 31 61 82 82 10 0% 10 0 0 0 10 0
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