MATÉRIA de capa
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MATÉRIA de capa
Ano V • no 1 • 2007 FOLFOXIRI A associação de fluorouracil, oxaliplatina e irinotecano no tratamento do câncer colorretal. Uma opção válida? Estética revolucionária Impressionismo: pintores saíram de seus ateliês para captar as luzes da natureza ao ar livre MUCOSITE Relacionada ao tratamento antineoplásico1 MATÉRIA de capa A mucosite oral, denominada às vezes de estomatite, é uma das formas mais comuns e incômodas da mucosite. Esta abordagem revela a complexidade desse sintoma significativo no indivíduo com câncer ................................................................................................................ 4 EDITORIAL Entrevista Complicações orais, como a mucosite, talvez sejam responsáveis pelo maior declínio da qualidade de vida dos pacientes na vigência do tratamento quimioterápico. Não é incomum a interrupção ou o prolongamento desse tipo de tratamento em razão da debilidade sistêmica decorrente da severidade dos sinais e dos sintomas da mucosite oral. A abordagem sistêmica da avaliação oral facilita a detecção precoce e a instituição de medidas profiláticas e terapêuticas, melhorando a qualidade de vida do paciente em quimioterapia. Outro tema abordado neste número é a apresentação da combinação quimioterápica para câncer colorretal – FOLFOXIRI (fl uorouracil, leucovorina, oxaliplatina e irinotecano) –, que surge como uma opção com elevada taxa de resposta objetiva e toxidade aceitável. Ainda nesta edição, o leitor conhecerá o impressionismo, movimento artístico que revolucionou profundamente a pintura, tendo como expoentes nomes como Monet, Renoir, Degas e Manet. Com grande sensibilidade, esses artistas criaram novas técnicas de representação do mundo, deixando um importante legado artístico, e por isso são tema da reportagem da seção “Variedades”. Sergio Emerici Longato Assessor Científico Novo gerente geral da Sandoz Brasil fala sobre os investimentos e os projetos da empresa para a área de oncologia .............................................................................................................. 15 Artigo Critérios para a aquisição de medicamentos .............................................................................................................. 17 Estudo Clínico Estudo mostra os resultados da combinação dos fármacos irinotecano, oxaliplatina e fluorouracil, no tratamento quimioterápico do câncer colorretal .............................................................................................................. 19 Atualização Científica Importância do docetaxel na quimioterapia neoadjuvante para câncer de mama localmente avançado .............................................................................................................. 21 Variedades As pinturas impressionistas estão entre as obras de arte que mais agradam, de imediato, ao olho moderno. A “impressão” da luz sobre o objeto é retratada por artistas como Monet, Renoir, Degas e Manet .............................................................................................................. 25 Expediente Rua Cunha Gago, 412, 2o andar, cj. 21, Pinheiros 05421-001 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 www.segmentofarma.com.br [email protected] Prezado Doutor, Esta edição da Revista Chymion é um oferecimento da Sandoz do Brasil e se destina exclusivamente a profissionais da área de saúde. Os artigos assinados são de inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da Sandoz do Brasil. Informações de bulas dos produtos encontram-se disponíveis na última página desta edição. Diretor geral: Idelcio D. 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As mucosas hígidas dos tratos gastrointestinal, urogenital e respiratório têm funções de proteção, sustentação, absorção de nutrientes e secreção de muco e enzimas. O revestimento mucoso é auto-renovável. As células que formam uma membrana basal duplicam-se e diferenciam-se, formando as diversas camadas da superfície epitelial. Essas células duram cerca de 3 a 5 dias, proporcionando a renovação do revestimento epitelial externo a cada intervalo de 7 a 14 dias.1 Esse padrão de proliferação celular deixa a mucosa extremamente vulnerável a fontes de irritação, traumatismos ou lesão celular, como aquela causada pelos efeitos citotóxicos do tratamento do câncer. O resultado é a mucosite, termo geral que se refere à inflamação da mucosa. Incidência de mucosite relacionada ao tratamento antineoplásico A mucosite oral, denominada às vezes de estomatite, é uma das formas mais comuns e incômodas da mucosite no paciente com câncer. Essa resposta inflamatória e ulcerativa da mucosa oral decorre dos efeitos fisiológicos de múltiplos agressores, como a neoplasia propriamente dita e seu tratamento. De todos os pacientes com diagnóstico recente de câncer, 40% terão complicações orais relacionadas à doença ou a seu tratamento. Dessas complicações, a mais comum é a mucosite.2 A mucosa oral, revestimento úmido e contínuo da boca, desempenha importante função de proteção. Essa membrana epitelial é parte integrante da defesa de primeira linha do organismo contra o meio ambiente. A mucosa se junta à pele e ao revestimento do trato gastrointestinal para formar uma barreira completa contra os microorganismos externos. As alterações da integridade do revestimento mucoso representam uma porta de entrada para microorganismos, causando infecção localizada com potencial de disseminação através da corrente sangüínea. Assim, a cavidade oral pode servir de porta de entrada para infecções sistêmicas potencialmente graves.2 Essa possibilidade aumenta no indivíduo com comprometimento imunológico decorrente do tratamento antineoplásico. A capacidade de combater infecções nesse indivíduo é limitada pela diminuição do número de neutrófilos decorrente dos efeitos citotóxicos do tratamento do câncer nas células da medula óssea. Assim, a flora endógena normal da boca, que inclui bactérias gram-positivas e gram-negativas, fungos e vírus, pode infectar as áreas em que a integridade mucosa se mostra comprometida. As infecções localizadas podem ser transmitidas com facilidade pela corrente sangüínea através da rede capilar que envolve a mucosa, podendo causar septicemia. De fato, estudos verificam a relação entre septicemia e infecções orais em até 54% dos indivíduos neutropênicos.3 A tendência ascendente à bacteriemia por gram-positivos mostrou relação significativa com o aumento da mucosite oral.4 As alterações da integridade do revestimento mucoso representam uma porta de entrada para microorganismos, causando infecção localizada com potencial de disseminação através da corrente sangüínea Impacto sobre a qualidade de vida A mucosite oral quase sempre é acompanhada de dor oral. A dor decorre de exposição do revestimento do epitélio, ulceração e edema. Os neurotransmissores liberados no processo da resposta inflamatória estimulam o vasto leito de fibras nociceptivas da mucosa. A dor oral resultante dificulta a alimentação, a fala e a deglutição. A mucosa oral também recebe e transmite estímulos táteis, função que confere à boca um papel importante no paladar e na alimentação. A mucosite pode alterar os receptores gustativos, causando sensação de gosto desagradável, conhecida como disgeusia, ou ausência da sensação gustativa, denominada de ageusia. São manifestações e conseqüências da mucosite oral: a ulceração, a xerostomia (ou boca seca), a ageusia, a dor, as infecções, o sangramento e a alteração do estado nutricional. A mucosite não constitui um simples fenômeno, mas pode ser encarada como componente de um complexo sintomático bastante intrincado. À medida que se acrescentam outros sintomas, aumentam a intensidade e a duração da mucosite. O impacto negativo da mucosite no conforto, na capacidade de se 5 MATÉRIA de capa alimentar e se comunicar e no bem-estar geral do indivíduo pode diminuir significativamente sua qualidade de vida. Etiologia e fisiopatologia Fatores de risco A mucosite oral constitui um problema comum e significativo no paciente oncológico. A etiologia da mucosite relaciona-se ao câncer propriamente dito e também aos efeitos diretos e indiretos dos tratamentos antineoplásicos. Essas causas primárias intensificam-se em alguns indivíduos pela existência de uma variedade de fatores que aumentam o risco de complicações orais (Tabela 1).5 Câncer A mucosa oral pode ser agredida por uma variedade de patologias. Os tumores orais, por exemplo, comprometem a integridade da mucosa e com freqüência inflamam e infectam e região afetada.5 O tipo predominante é o carcinoma espinocelular, responsável por 90% das neoplasias orais.6 A maioria dos carcinomas da cavidade oral é diagnosticada em estágios avançados e freqüentemente se manifesta como massas ulceradas e necróticas. Nos pacientes com leucemia, os infartos decorrentes da infiltração de células malignas nos capilares podem acarretar esfoliação da mucosa. Os pacientes portadores da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids) com freqüência apresentam lesões orais de sarcoma de Kaposi ou de linfoma não-Hodgkin, duas neoplasias comuns nessa população.7 As neoplasias orais são responsáveis por menos de 5% de todos os tumores. As causas mais comuns de mucosite oral são os tratamentos para o câncer, como a quimioterapia, a radioterapia e o transplante de medula óssea. Quimioterapia Acredita-se que a quimioterapia tenha efeito direto e indireto sobre a mucosa oral. O efeito direto dá-se em nível celular. O processo de renovação epitelial constante torna a mucosa muito vulnerável aos efeitos dos antineoplásicos.8 Muitas dessas drogas causam destruição de células em reprodução ativa por interferir no DNA, no RNA ou na síntese de proteínas. São particularmente sensíveis aos efeitos citotóxicos diretos dos antineoplásicos as regiões de proliferação celular acelerada, como, por exemplo, as células da mucosa oral (Quadro 1). Isso ocorre por redução da produção, diminuição da diferenciação e aceleração da descamação das células epiteliais, levando ao desnudamento da mucosa.9 Uma vez rompida a continuidade do revestimento epitelial, a 6 seqüência de destruição tecidual, inflamação e infecção causa mucosite dolorosa e debilitante.10 Acredita-se que o efeito indireto das drogas antineoplásicas ocorra ao ser suprimida a função da medula óssea, durante o nadir do tratamento, momento em que são mais baixos os números de plaquetas e granulócitos. Nessa fase, o indivíduo se encontra imunossuprimido e extremamente suscetível a infecções. Estudos indicam que o aumento da incidência de mucosite está associado à diminuição dos números de granulócitos durante o nadir. Acredita-se, assim, que a estomatotoxicidade indireta seja mediada pela supressão da resposta imunológica.10 Como nem todas as drogas quimioterápicas causam mucosite, é importante identificar as drogas específicas incluídas no esquema de tratamento. As drogas de potencial estomatotóxico mais elevado são os antimetabólitos, certos fármacos que interagem com o DNA (especialmente os antibióticos antineoplásicos) e os fármacos que interagem com a tubulina (os derivados da vinca e os taxanos).11 Quadro 1. Quimioterápicos com alto potencial de causar estomatite Antimetabólitos Citarabina 5-Fluorouracil Hidroxiuréia 6-Mercaptopurina Metotrexato 6-Tioguanina Fármacos que interagem com o DNA Actinomicina D Bleomicina Daunomicina Doxorrubicina Etoposido Idarrubicina Mitomicina C Mitoxantrona Procarbazina Fármacos que interagem com a tubulina Docetaxel Paclitaxel Vimblastina Vincristina Vinorelbina Tabela 1. Fatores que aumentam o risco de mucosite oral no paciente oncológico Fator de risco Mecanismo de ação Estratégias de prevenção Má higiene oral • O aumento de detritos favorece a infecção • Falta de estimulação para melhorar a circulação • Higiene oral freqüente e cuidadosa, incluindo escovação da língua e das gengivas Alterações do padrão respiratório • A taquipnéia e a respiração oral ressecam a mucosa • Higiene oral freqüente e cuidadosa • Umidificador de ambiente Idade (crianças e idosos) • Não está bem esclarecido o aumento da prevalência, mas pode se dever à imaturidade da resposta imunológica, ao aumento da proliferação celular e à maior prevalência de malignidades hematológicas • Alterações degenerativas (diminuição do fluxo salivar, diminuição da queratinização da mucosa e aumento da prevalência de gengivite) • • • • • Mau estado nutricional • Os açúcares refinados aumentam as cáries dentárias • A má nutrição calóricoprotéica retarda a cura • As deficiências de vitaminas causam complicações orais • Minimizar uso de açúcares refinados • Dieta bem balanceada, incluindo frutas, verduras, grãos e fontes de proteínas • Suplementação vitamínica diária Desidratação • A saída de líquidos da mucosa e dos lábios como mecanismo de proteção acarreta secura e fissuras • Ingestão líquida diária mínima de 2.000 ml Exposição a álcool e tabaco • Irritação crônica da mucosa • Evitar ou limitar bebidas alcoólicas e produtos de tabaco, especialmente durante o tratamento Aspiração oral ou nasogástrica • A sonda e o processo de aspiração causam rupturas traumáticas da integridade da mucosa • Minimizar a freqüência e a duração das aspirações Certas drogas (anticolinérgicos e antihistamínicos, fenitoína e corticosteróides) • Diminuem o fluxo salivar • Hiperplasia gengival • Colonização com fungos • Higiene oral freqüente e cuidadosa • Se possível, evitar essas drogas Terapêutica com oxigênio • A umidade retirada da mucosa para o oxigênio causa secura do revestimento mucoso • Umidificar o oxigênio • Umectantes orais • Hidratação adequada Próteses dentais mal ajustadas • A movimentação irrita a mucosa e rompe a integridade • Realinhar as dentaduras • Remover as dentaduras à noite e usá-las somente para se alimentar até ocorrer a cura • Os irritantes térmicos e químicos inflamam e traumatizam a mucosa • Alimentos leves e macios • Evitar alimentos ácidos, apimentados e condimentados • Deixar os alimentos quentes esfriarem antes de ingeri-los Alimentos quentes, ácidos ou condimentados Higiene oral freqüente e cuidadosa Hidratação adequada Umectantes bucais Evitar traumatismos Tratamento dentário e da gengivite 7 MATÉRIA de capa A mucosite causada pela quimioterapia pode ser grave. O padrão da mucosite varia, tanto com o esquema farmacológico quanto com o indivíduo. A inflamação decorrente pode ocorrer pela primeira vez entre 2 e 14 dias do início da quimioterapia. A intensidade e a duração variam não somente com os tipos de droga, mas também com a posologia e a freqüência de administração. A intensidade da mucosite aumenta com doses mais altas de drogas citotóxicas. Até mesmo drogas que em geral não causam mucosite (como a ciclofosfamida, por exemplo) podem causar dano celular à mucosa em altas doses. A duração da mucosite pode se prolongar com a administração freqüente, pois não há tempo para a recuperação celular. Radioterapia A radioterapia constitui um tratamento regionalizado do câncer. A mucosite decorre da aplicação de radiação na região da cabeça e do pescoço quando a boca ou as glândulas salivares estão incluídas no campo de tratamento. Desse modo, sobrevém uma resposta inflamatória em decorrência da destruição das células mucosas ou glandulares, influenciada pela profundidade de penetração, pelo total de radiação aplicada, pelo número e pela freqüência do procedimento.12 O surgimento, a intensidade e a duração da mucosite variam de indivíduo para indivíduo, porém freqüentemente o quadro se inicia na segunda semana após o início da radioterapia, ou após uma dose próxima de 2.000 cGy. A mucosa no campo de tratamento apresenta-se de início edemaciada, eritematosa e, com o progredir do tratamento, se torna exposta, ulcerada e coberta de exsudato.8 São comuns a dor e o ardor, agravados por irritantes, como alimentos ácidos ou condimentados. A mucosite persiste por várias semanas depois da conclusão dos tratamentos, sendo freqüente a ocorrência de infecções secundárias (especialmente candidíase), que prolongam a duração da mucosite. Com o declínio dramático da produção salivar, quando se irradiam todas as glândulas salivares maiores, a mucosite pode se complicar. A diminuição do fluxo salivar (xerostomia) é de rápida instalação, sobrevindo em geral durante a primeira semana de tratamento. A xerostomia pode ser progressiva e irreversível, com declínio de cerca de 95% da produção salivar 3 anos após o tratamento.13 A radioterapia do câncer oral também causa perda do paladar por danificar as microvilosidades e a superfície exterior das células gustativas. A acuidade gustativa 8 geralmente melhora no prazo de 2 a 4 meses, embora, em alguns indivíduos, ocorra diminuição permanente da percepção gustativa. Transplante de medula óssea Aproximadamente 70% dos indivíduos submetidos a transplante de medula óssea apresentam complicações orais decorrentes da natureza agressiva e sinérgica das terapêuticas purgativas pré-transplante.14 São empregados esquemas de altas doses de antineoplásicos e irradiação corporal total na tentativa de destruir todas as células neoplásicas e induzir aplasia da medula óssea. Alguns dias após o início do tratamento, surgem placas esbranquiçadas, eritema, atrofia e aumento da vascularidade, que se intensificam progressivamente durante o período pós-transplante. As ulcerações ocorrem na maioria das vezes em áreas não-queratinizadas (como a língua e as mucosas jugal e labial).14 A terapêutica imunossupressora após o transplante e o surgimento da doença enxerto versus hospedeiro (GVHD) prolongam e agravam as complicações orais. São comuns as infecções bacterianas, fúngicas e viróticas. A dor que se associa à mucosite atinge seu pico cerca de 2 semanas após o transplante, quando em geral a cavidade oral se encontra infectada e ulcerada. Na GVHD crônica, a mucosa se torna cronicamente irritada e friável. Há episódios intermitentes de inflamação aguda, freqüentemente associada à infecções bacterianas, fúngicas e viróticas. Terapêutica multidisciplinar Na maioria dos indivíduos com câncer, as causas da mucosite são multifatoriais. A terapêutica moderna do câncer é multidisciplinar, combinando tratamentos para produzir o máximo efeito citotóxico. Infelizmente, esse efeito se estende às células normais, como as da mucosa, acarretando profundos efeitos na mucosa oral. Com o declínio dramático da produção salivar, quando se irradiam todas as glândulas salivares maiores, a mucosite pode se complicar Avaliação A avaliação completa e sistemática da boca faz parte da avaliação clínica completa de todos os pacientes com câncer (Quadro 2). A avaliação sistemática requer técnica apropriada. A mucosa oral normal e sadia é rósea, úmida, limpa e intacta. Podem ocorrer: • alterações da cor (como palidez, eritema de vários graus, placas esbranquiçadas), lesões ou úlceras discrômicas; • alterações da umidade (que se refletem em textura e brilho alterados, aumento ou diminuição da quantidade de saliva e modificação da qualidade e da tenacidade das secreções); • alterações da limpeza (representadas por acúmulos de detritos e películas, maus odores e mudanças da cor dos dentes); Quadro 2. Avaliação oral Avaliação oral 1. Reunir o equipamento: • • • • • boa fonte de luz luvas não-estéreis gaze abaixador de língua espelho dentário (opcional) 2. Lavar as mãos 3. Calçar as luvas não-estéreis 4. Retirar todos os aparelhos dentários. Indagar quanto ao ajuste de dentaduras e a alguma área lesada ou dolorosa 5. Investigar alterações da voz, do paladar, da capacidade de alimentar-se ou engolir e desconforto 6. Efetuar os procedimentos a seguir utilizando luz direta para observar umidade, cor, integridade e limpeza: • observar o exterior dos lábios • observar os dentes e o revestimento mucoso do vestíbulo externo • observar o palato mole e o palato duro • examinar a mucosa do interior das bochechas • observar a quantidade e a qualidade da saliva • examinar o topo e o lado de baixo da língua • observar as faces laterais da língua • observar a orofaringe, a parte posterior da língua e a úvula. Se essa técnica não permitir visualização adequada, usar o abaixador de língua suavemente e o espelho dentário para melhor visualização 7. Com base nos resultados desta avaliação, pontuar cada categoria no instrumento de avaliação • alterações da integridade (como rachaduras, fissuras, úlceras, vesículas) ou lesões isoladas, agrupadas, em placas, confluentes ou generalizadas; • alterações da percepção (como diminuição ou ausência do paladar); • rouquidão ou diminuição do tom audível e da força da voz; • dificuldade de engolir (que pode ser precursora de esofagite); • dor, ardor ou sensação de picada. Descrever com precisão as alterações que observar. O resultado da avaliação deverá ser uma lista específica de diagnósticos ou problemas ligados à possível etiologia. No aspecto físico, devem então ter avaliação abrangente, incluindo a triagem dos fatores de risco (Tabela 2). Assim, para descrever a intensidade da disfunção oral, podem-se utilizar a pontuação numérica e os critérios descritivos verbais (como “moderado”, por exemplo). Avaliação diagnóstica A extensão da avaliação diagnóstica depende do potencial de impacto da mucosite. No indivíduo imunocompetente, a abordagem de primeira linha é a terapêutica empírica com cuidadosa avaliação da melhora. No indivíduo imunocomprometido, a cultura é crítica para o diagnóstico acurado, já que a neutropenia pode impedir a manifestação habitual da inflamação, mesmo nas infecções mais comuns. Em particular, as infecções fúngicas e virais podem não se manifestar da forma clássica e facilmente passar desapercebidas.16 No diagnóstico de infecções, podem também ajudar: alterações de sinais vitais (como elevação de temperatura e aumento de freqüência cardíaca) e achados laboratoriais (em especial, o número de leucócitos). No paciente imunocomprometido, essa tendência pode não estar evidente em razão do baixo número de leucócitos. A neutropenia grave (número absoluto de neutrófilos por mm3 inferior a 500) indica um risco extremamente alto de infecção. Nesse indivíduo, as lesões orais localizadas podem evoluir para sepse. Graus de toxicidade No âmbito dos ensaios clínicos em oncologia, há critérios estabelecidos para monitorar os graus de toxicidade.17 Os guias de avaliação oral geram pontuação numérica que pode se traduzir em pontuação de intensidade da disfunção oral (leve, moderada ou grave). Tais pontuações 9 MATÉRIA de capa Tabela 2. Guia da avaliação física da cavidade oral: pontuações numéricas e descritivas Categoria Pontuação 1 2 3 4 1234 Lisos, róseos, úmidos e intactos Ligeiramente vincados e secos; uma ou mais áreas avermelhadas Secos e um tanto edematosos; pode haver uma ou duas vesículas isoladas; linha ou demarcação inflamatória Muito secos e edematosos; todo o lábio inflamado; vesículas ou ulcerações generalizadas Lisas, róseas, úmidas e intactas Pálidas e ligeiramente secas; uma ou duas lesões isoladas, vesículas ou áreas avermelhadas Secas e um tanto edematosas; eritema generalizado; mais que duas lesões isoladas, vesículas ou áreas avermelhadas Muito secas e edematosas; toda a mucosa muito vermelha e inflamada; múltiplas úlceras confluentes 1234 Lisa, rósea, úmida e intacta Ligeiramente seca; uma ou duas áreas avermelhadas isoladas; papilas proeminentes, particularmente na base Seca e um tanto tumefacta; eritema generalizado, mas com a ponta e as papilas mais vermelhas; uma ou duas lesões isoladas ou vesículas Muito seca e edematosa; espessa e tumefacta; toda a língua muito inflamada; ponta muito vermelha e demarcada com películas; múltiplas vesículas ou úlceras Dentes 1234 Limpos, sem detritos Mínimo de detritos, na maioria entre os dentes Quantidade moderada de detritos aderentes à metade do esmalte visível Dentes cobertos de detritos Saliva 1234 Delgada, aquosa, abundante Aumento da quantidade Saliva escassa, que pode estar um tanto mais espessa que o normal Saliva espessa e filamentosa, viscosa ou mucosa PONTUAÇÃO DE DISFUNÇÃO ORAL Sem disfunção (5) Disfunção leve (6-10) Disfunção moderada (11-15) Disfunção grave (16-20) Lábios Gengiva e mucosa oral Língua 1234 TOTAL Beck SL, Yasko, JM. Guidelines for Oral Care. 2.ed. Crystal Lake, IL. Sage, 1993. podem se projetar em gráfico a fim de avaliar os padrões e a evolução da mucosite. Conduta nos sintomas Há muitas abordagens para o tratamento da mucosite, e nenhum fármaco isolado demonstrou ser mais eficaz. Não é surpresa a conduta na mucosite variar de instituição para instituição.18 O clínico deve personalizar os cuidados para com cada indivíduo, baseando-se numa visão dual, qual seja, dos problemas reais e potenciais identificados pela avaliação e pelos objetivos da assistência (Quadro 3). Higiene oral A melhor forma de se obter uma higiene oral efetiva é escovando, enxaguando, passando fio dental e umidificando. 10 A escovação requer a utilização de uma escova estreita de cerdas de nylon macias e uma técnica efetiva de aplicação de movimentos curtos, horizontais ou circulares, com pressão suave na junção entre dentes e gengivas.19 As superfícies oclusais devem ser massageadas com movimentos mais longos. A língua deve ser suavemente escovada para estimular a circulação e remover detritos. Recomenda-se o uso de creme dental fluoretado para prevenir cáries. Os cremes dentais de bicarbonato são limpadores efetivos, ajudam a dissolver o muco e reduzem a acidez decorrente da inflamação. O fio dental melhora o processo de limpeza ao remover detritos localizados entre os dentes. São enxaguatórios recomendados: água, solução salina, bicarbonato e peróxido de hidrogênio de meia potência.5 Quadro 3. Diretrizes clínicas de prevenção e conduta na mucosite oral MUCOSITE, potencial ou real MANTER A LIMPEZA E PREVENIR INFECÇÕES MANTER A INTEGRIDADE E PROMOVER A CURA DA MUCOSA • Escovar os dentes com escova de cerdas macias e dentifrício fluoretado com bicarbonato de sódio no prazo de 30 minutos após as refeições e na hora de dormir. A escovação antes das refeições pode estimular o apetite. • Limpar e massagear a língua e a mucosa oral com escova de cerdas macias e dentifrício com bicarbonato de sódio após escovar ou retirar dentaduras. Pode-se utilizar um aplicador com ponta esponjosa para limpar os dentes e a língua caso a escovação provoque desconforto ou sangramento. • Enxaguar a boca com 30 ml de solução salina, sal e bicarbonato, água da torneira ou peróxido de hidrogênio a 1,5% por 1 a 2 minutos. Caso se utilize solução salina ou peróxido, enxaguar com água para intensificar a limpeza mecânica e minimizar o sabor residual. • Retirar e escovar as dentaduras no prazo de 30 minutos após as refeições e na hora de dormir, depois deixá-las de molho em peróxido de hidrogênio a 1,5% por vários minutos. • Passar fio dental uma vez por dia após a escovação. Não passar fio dental se ele causar dor, se o número de plaquetas por mm3 for inferior a 40.000 ou se o número de leucócitos por mm3 for inferior a 1.500. • Usar de especial cautela para evitar aspiração em caso de comprometimento do reflexo nauseoso. • Consumir dieta de alto teor protéico com suplementos vitamínicos. • Aplicar produtos para proteção da mucosa e promoção da cura, como, por exemplo, substratos de antiácidos ou sucralfato. • Manter ingestão ótima de líquidos e nutrientes, evitando alimentos irritantes. • Verificar com médico e nutricionista a necessidade de nutrição entérica ou parenteral. XEROSTOMIA, potencial ou real UMIDIFICAR A CAVIDADE ORAL • • • • • • • Aplicar umectante (como, por exemplo, gel de petrolato) com freqüência nos lábios e na mucosa. Usar lubrificante hidrossolúvel Salvo em casos de contra-indicação, tomar 300 ml de líquido por dia. Aplicar freqüentemente aerossol, solução ou esfregaço de saliva sintética. Usar goma de mascar ou balas sem açúcar para estimular o fluxo salivar. Verificar com o médico a necessidade de epilocarpinol. Usar umidificador de ambiente. Caso a xerostomia se prolongue, instituir profilaxia de cáries com fluoreto/clorexidina diariamente. Nota: Não usar esfregaços de limão ou glicerina, pois são secantes e irritantes. DOR RELACIONADA À MUCOSITE PROMOVER BEM-ESTAR E MINIMIZAR A DOR • • • • Usar anestésicos tópicos (como benzocaína ou diclonina) antes das refeições e conforme necessário para o controle da dor. Evitar irritantes, como álcool e tabaco. Usar analgésicos para o controle da dor 1,5 h antes das refeições ou em intervalos regulares nas 24 horas se a dor for constante. Evitar alimentos que causem irritação térmica, mecânica ou química. INFECÇÃO RELACIONADA À MUCOSITE TRATAR A INFECÇÃO • Monitorar a temperatura do paciente a cada 4 horas e comunicar toda elevação acima de 38oC. • Utilizar antibióticos, antifúngicos e antiviróticos, tópicos ou sistêmicos, de acordo com a prescrição. Nota: É crítica no indivíduo imunocomprometido a realização de cultura oral para identificar o microorganismo causador. SANGRAMENTO DECORRENTE DA MUCOSITE CONTROLAR O SANGRAMENTO • • • • Monitorar os sinais vitais a cada 4 horas. Avaliar a função plaquetária mediante hemograma completo. Inspecionar a mucosa e comunicar todo sangramento. Enxaguar a boca com água gelada e/ou aplicar pressão em uma área de sangramento descontrolado utilizando um pedaço de gaze embebida em água gelada ou um saquinho de chá molhado e congelado. • Verificar com o médico a necessidade de trombina ou ácido aminocapróico (usar com cautela em pessoas com trombocitopenia, pois pode ocorrer coagulação intravascular disseminada). Beck SL, Yasko, JM. Guidelines for oral care. 2.ed. Crystal Lake: Sage, 1993. 11 MATÉRIA de capa Devem-se evitar enxaguatórios bucais comerciais, pois contêm altas concentrações de álcool, que pode irritar e ressecar a mucosa.20 A água e a solução salina são soluções neutras não-irritantes que proporcionam enxágüe mecânico. Uma solução de sal e bicarbonato (mistura de água, sal e bicarbonato de sódio) tem ainda a vantagem de diminuir a acidez, tendo demonstrado eficácia comparável à do peróxido de hidrogênio de meia potência.21 Diferentes estudos mostram a validade da utilização de peróxido de hidrogênio,22,23 que não somente tem efeito limpador mecânico como também quimicamente terapêutico. A peroxidase salivar libera o oxigênio do peróxido, causando reação borbulhante que desloca o muco e os detritos. O peróxido de hidrogênio exerce ainda um efeito antimicrobiano. A utilização de peróxido, no entanto, tem sido objeto de certa controvérsia no que diz respeito à sua segurança.24 A clorexidina pode ser útil para evitar infecções, já que atua contra numerosas bactérias e fungos. A preparação disponível comercialmente contém 9,6% de álcool e causa sensação de picada e ardor. Outro importante efeito colateral da clorexidina é a coloração acastanhada dos dentes, manchas que podem ser removidas com oxidantes e abrasivos. São inconsistentes os achados de estudos relacionada à clorexidina,25,26 que, embora possa reduzir os potenciais patógenos, não tem eficácia documentada na redução da mucosite.25-28 O fluoreto atua diminuindo a desmineralização e aumentando a remineralização das lesões dentárias. Os enxágües com clorexidina podem aumentar os efeitos protetores do fluoreto nesses pacientes de alto risco.29 Há várias formas de se intensificar a umidade da mucosa oral. É essencial a hidratação adequada mediante ingestão freqüente de líquidos. Chupar balas ou mascar goma sem açúcar estimula o fluxo salivar. Devem-se aplicar com freqüência, especialmente à noite, umectantes como manteiga de cacau. A pilocarpina é um sialagogo que atua por estimulação direta das células das glândulas salivares. Os resultados de ensaios clínicos com essa droga colinérgica têm hoje aprovação para seu uso na xerostomia por radiação.31,32 Intervenções protetoras Na prevenção e no tratamento da mucosite, podem-se também utilizar intervenções visando proteger as células da mucosa. Uma dessas abordagens é a crioterapia, que promove a sucção de fragmentos de gelo por 5 minutos antes e 25 minutos depois da administração de fluorouracil em bolus. A intenção é minimizar os efeitos citotóxicos do fluorouracil na mucosa pela redução da circulação 12 durante os períodos de pico dos níveis sangüíneos. A eficácia dessa intervenção foi demonstrada em vários ensaios clínicos.33-35 Embora o risco pareça ser baixo, há indicação de pesquisas adicionais. É importante observar se o paciente não está sendo tratado com oxaliplatina, o que poderá gerar outros inconvenientes. Outra forma de intervenção é a aplicação tópica de substratos de antiácidos ou suspensão de sucralfato, sal de alumínio básico utilizado no tratamento de úlceras gástricas. Acredita-se que o sucralfato atue formando cobertura de proteção sobre as proteínas de superfície danificadas da mucosa. Pode também aumentar a produção local de prostaglandina E2, intensificando o fluxo sangüíneo e a produção de muco.36 Sua utilização em indivíduos com mucosite tem sido apoiada por relatos de estudos de caso. Em ensaio clínico randomizado em crianças, o sucralfato associou-se à diminuição não significativa da incidência de mucosite. A dor foi significativamente menor no grupo com sucralfato.37 Pesquisas subseqüentes fazem afirmações a favor dos efeitos analgésicos do sucralfato, mas os achados relativos à sua eficácia na redução da mucosite mostram-se conflitantes.38-41 O uso de fatores estimuladores de colônia de granulócitos e/ou granulócitos e macrófagos, padrão na assistência ao paciente em quimioterapia com alto potencial de mielossupressão não tem sua eficácia comprovada claramente na prevenção da mucosite.12 Atualmente, estão em investigação numerosas outras abordagens para proteger a mucosa. São intervenções de interesse as vitaminas tópicas, as prostaglandinas, as bandagens orais e o alopurinol tópico. Conduta nas complicações da mucosite Dor, infecção e sangramento são complicações comuns associadas à mucosite. A conduta em cada um desses problemas pode ser de natureza local ou sistêmica. Os anestésicos locais e as misturas contendo tais anestésicos produzem redução temporária da dor. A dormência resultante também diminui as percepções gustativa e térmica. As bandagens orais e as formulações de gel, que se solidifica formando cobertura oclusiva, proporciona alívio significativo da dor, com duração de até 6 horas.43 A administração contínua de analgésicos no decorrer das 24 horas constitui uma abordagem sistêmica de conduta na dor aguda e persistente associada à mucosite. As infecções da cavidade oral podem ser de origem bacteriana, fúngica ou virótica, devendo-se selecionar os antibióticos de acordo com o microorganismo causador. Podem-se aplicar os antibióticos topicamente em pomadas, bastões ou pastilhas ou tabletes.Também são indicados antibióticos sistêmicos sensíveis, especialmente no indivíduo imunocomprometido. No indivíduo soropositivo para herpes simples e em alto risco de imunossupressão, como, por exemplo, antes de um transplante de medula óssea, recomenda-se a utilização profilática do antivirótico aciclovir.44 Há relatos nessa população da utilização profilática de antifúngicos. O risco de sangramento secundário à mucosite é especialmente alto no indivíduo com baixo número de plaquetas (< 50.000/mm3). Nesse caso, pode-se obter o controle local do sangramento aplicando pressão na gaze embebida em água gelada ou irrigações com água gelada. A vasoconstrição possibilita hemostasia, podendo-se ainda utilizar trombina tópica ou xarope de ácido aminocapróico para promover a coagulação.45 A terapêutica sistêmica limita-se a transfusões de plaquetas. sistente de um guia de avaliação numérica proporciona uma forma definitiva de monitorar a resposta. Nesse sentido, os progressos no sentido de se atingir as metas da assistência também devem ser monitorados e documentados. Conclusão A mucosite oral constitui um sintoma complexo e significativo no indivíduo com câncer. A abordagem sistemática de avaliação oral facilita a detecção precoce e a contínua avaliação das complicações orais. A indicação de culturas no indivíduo imunocomprometido deve-se ao fato de que as manifestações típicas da infecção podem não ocorrer. A prevenção e a conduta requerem assistência na manutenção da higiene oral e no combate a problemas associados, tais como xerostomia, infecções, sangramento e dor. Referências bibliográficas 1. Farbman AI. “The oral cavity”. In: Weiss L (ed.). Cell and tissue biology: a textbook of histology. 6.ed. Baltimore: Urban & Schwarzenberg, 1988. 2. Fox PC. Introduction, in Consensus Development Conference on Oral Complications of Cancer Therapies: Diagnosis, Prevention, and Treatment. National Cancer Institute (NCI) Monographs 1990; 9: 1. 3. Peterson DE, Schubert MM. “Oral toxicity”. In: Perry MC (ed.). The Chemotherapy Source Book. 2.ed. 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O exame e a profilaxia dentária antes do início do tratamento do câncer podem diminuir a possibilidade de complicações orais e melhorar a probabilidade de o paciente vir a tolerar doses mais elevadas. São essenciais o tratamento de cáries e de doença periodôntica e a extração de dentes propensos a problemas antes de começar tratamentos para câncer (como quimioterapia ou radioterapia de cabeça e pescoço). Uma vez iniciada a terapêutica, a neutropenia e a trombocitopenia constituem contra-indicações à manipulação dentária. Nesse sentido, concluída a radioterapia e diminuídos os efeitos colaterais orais agudos, o dentista deve acompanhar o paciente a cada 4 a 8 semanas nos primeiros 6 meses.46 Educação do paciente 8. A educação do paciente deve considerar a importância da saúde e da higiene orais, identificando as possíveis causas das disfunções orais. Com o surgimento da mucosite, as abordagens de natureza preventiva devem se expandir de forma a incluir intervenções que mantenham a integridade, promovam a cura e o bem-estar, combatam infecções e controlem sangramentos. Dreizen S. Description and incidence of oral complications. Consensus Development Conference on Oral Complications of Cancer Therapies: diagnosis, prevention, and treatment. NCI Monographs 1990; 9: 11-16. 9. Squier CA. Mucosal alterations. Consensus Development Conference on Oral Complications of Cancer Therapies: diagnosis, prevention, and treatment. NCI Monographs 1990; 9: 169-172. Avaliação 11. Dorr RT, VonHoff DD. Cancer Chemotherapy Handbook. 2.ed. Norwalk: Appleton & Lange, 1994. A avaliação da assistência decorre da verificação contínua da resposta do indivíduo ao tratamento. A utilização con- 12. Berger AM, Kilroy TJ. “Oral complications of cancer therapy”. In: Berger AM, Portenoy RK, Weissman DE (eds.). Principles and 10. Sonis S, Clark J. Prevention and management of oral mucositis induced by antineoplastic therapy. Oncology 1991; 5: 11-18. 13 MATÉRIA de capa practice of supportive oncology. Filadélfia: Lippincott-Raven, 1998; pp. 223-236. 13. Dreizen S, Daly TE, Drane JB et al. Oral complications of cancer radiotherapy. Postgrad Med 1977; 61: 85-92. 14. Woo SB, Sonis ST, Monopoli MM et al. A longitudinal study of oral ulcerative mucositis in bone marrow transplant recipients. Cancer 1993; 72: 1612-1617. 15. Beck SL. “Prevention and management of oral complications in the cancer patient”. In: Hubbard S, Greene T, Knobf T (eds.). Current issues in cancer nursing practice. Filadélfia: Lippincott, 1990; pp. 27-38. 16. Walsh TJ. Role of surveillance cultures in prevention and treatment of fungal infections, in Consensus Development Conference on Oral Complications of Cancer Therapies: diagnosis, prevention, and treatment. NCI Monographs 1990; 9: 43-48. 17. Southwest Oncology Group. Toxicity criteria. San Antonio, 1994. 18. Mueller BA, Millhern ET, Farrington EA et al. Mucositis management practices for hospitalized patients: national survey results. J Pain Symptom Manage 1995; 10: 510-520. 19. American Dental Association Council on Community Health, Hospital, Institutional and Medical Affairs. Oral Health Care Guidelines for Head and Neck Cancer Patients Receiving Chemotherapy. Chicago, 1989. 20. Madeya ML. Oral complications from cancer chemotherapy. Part II: Nursing implications for assessment and treatment. Oncol Nurs Forum 1996; 23: 808-819. 21. Wujcik D. Comparison of the effects of two cleansing agents on oral condition and infection rates on patients receiving chemotherapy. Oncol Nurs Forum 1989; 16 (suppl.): 221 (abstract). 22. Beck S. Impact of a systematic oral care protocol on stomatitis after chemotherapy. Cancer Nurs 1979; 2: 185-199. 23. Dudjak LA. Mouth care for mucositis due to radiation therapy. Cancer Nurs 1987; 10: 131-140. 24. Tombes M, Gallucci B. 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Bethesda: National Institutes of Health, 1999. ENTREvista Medicamentos genéricos de qualidade tendem a liderar o setor de oncologia no País Novo gerente geral da Sandoz Brasil fala sobre os investimentos e os projetos da empresa para a área de oncologia Vista aérea da fábrica Sandoz Brasil, Cambé-PR m abril deste ano, o austríaco Vinzenz Plörer assumiu o cargo de diretor geral da Sandoz Brasil. Plörer foi também gerente geral da Sandoz Argentina, em Buenos Aires, onde morou por cinco anos. Antes, ocupou diferentes cargos na companhia em países da Europa e da Ásia. Em 2006, Plörer, que é graduado em administração de empresas na Áustria, completará 20 anos no Grupo. E A Sandoz é uma divisão do Grupo Novartis e tem posição de liderança global no segmento de medicamentos genéricos, oferecendo uma ampla gama de produtos não protegidos por patentes de alta qualidade acessíveis à população. Em Cambé, no Estado do Paraná, cidade próxima a Londrina, a Sandoz produz medicamentos que suprem o mercado interno e que também são exportados 15 ENTREvista para a América Latina. A Sandoz vem consolidando a sua capacidade de trazer ao mercado medicamentos isentos de patente de alta qualidade com excelente custo–benefício para pacientes e médicos, oferecendo mais opções de tratamento para o atendimento das necessidades da população. Com um portfólio de mais de 600 princípios ativos em mais de 5.000 apresentações, os principais produtos são antibióticos, medicamentos oncológicos, tratamentos para o sistema nervoso central, medicamentos gastrointestinais, tratamentos cardiovasculares e terapias hormonais. A empresa desenvolve, produz e comercializa esses medicamentos, além de substâncias biotecnológicas ativas e antiinfecciosas. De Cambé, o novo diretor Vinzenz Plörer diz ter a grata satisfação de participar deste momento no País e conta sobre os projetos da empresa para a área de oncologia. Acompanhe a entrevista concedida à Revista Chymion. Revista Chymion: O que significa para o senhor este momento da Sandoz Brasil? Vinzenz Plörer: Para mim, é um momento fascinante e de grande expectativa, porque o Brasil é um dos países estratégicos para a Sandoz e possui um mercado de genéricos ainda muito jovem. A Sandoz está fortemente comprometida com o desenvolvimento desse setor no País, e eu estou realmente feliz por estar participando desse momento, poder contribuir para o acesso da população aos tratamentos e fazer com que a empresa alcance a liderança no mercado nacional de genéricos. RC: Qual a importância da Sandoz Brasil para os negócios da Sandoz no mundo? VP: Do ponto de vista mercadológico, o Brasil é um dos países que mais crescem no mercado de genéricos e este é claramente um momento estratégico para alcançarmos uma posição forte aqui. A 16 importância disso no grupo é que o Brasil é uma das principais plataformas de desenvolvimento de produtos na medicina. Então, a Sandoz investiu 50 milhões de dólares nos mais modernos recursos e em estrutura, e acho que esse investimento expressa o nosso comprometimento com o País. Isso significa que produzimos e exportamos para o Brasil, para a América do Norte e também para a Europa. Em curto prazo, nossa previsão é o desenvolvimento de produtos para o Brasil e a América Latina. RC: Como o senhor avalia a posição da Sandoz no segmento de oncologia no Brasil e no mundo? VP: O segmento da oncologia é um dos setores que crescem mais rapidamente no mercado da saúde. Seu crescimento é conduzido pelo desenvolvimento de novas terapias e pela demanda de pacientes que não têm acesso ao tratamento em decorrência dos altos custos (mais especificamente em países como o Brasil). Tais fatos são cada vez mais onerosos para o sistema de saúde, significam um grande problema. A produção de medicamentos isentos de patente, com alta qualidade e mais baratos, é a melhor maneira de equilibrar as necessidades do sistema de saúde. Então, podemos ver de maneira clara que o setor de oncologia é um mercado promissor para esses medicamentos. Um dos elementos principais no tratamento é a qualidade, pois médicos e pacientes não podem correr riscos, é claro. Nesse ponto, a Sandoz tem uma trajetória consolidada e é reconhecida no mercado como a companhia com melhor posição para oferecer isso aos médicos. A Sandoz é uma das empresas que possuem o maior portfólio global e uma forte posição no setor oncológico brasileiro. Esperamos liderar também neste setor. As terapias vão de bioengenharia a produtos biológicos, e a Sandoz também é líder no desenvolvimento de novas tecnologias que serão, no futuro, a chave para proporcionar tratamentos aos pacientes. Para mim, a Sandoz está na melhor posição para liderar esse segmento. ARTIGO Critérios para a aquisição de medicamentos Marly Albuquerque Farmacêutica Bioquímica Especialista em Direito Sanitário da Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS/BA). No Brasil, é responsabilidade do Estado a formulação de políticas econômicas e sociais que visem estabelecer condições que assegurem a eficácia, a segurança e a qualidade dos medicamentos comercializados. Nesse cenário, insere-se a política nacional de medicamentos, que tem como uma de suas diretrizes a regulamentação sanitária destes. Os critérios de regulamentação levam em conta padrões de qualidade que os medicamentos devem atender e estabelecem as condições ideais para a aquisição de produtos com qualidade. Neste último quesito, que regulamenta a aquisição, a qualificação de fornecedores é fundamental. Essa qualificação pressupõe um elenco de requisitos legais e técnicos que estabelecem as regras ideais para venda. As especificações para aquisição funcionam como um checklist, que fornece os requisitos que os medicamentos devem atender para a avaliação inerente à sua qualidade. Especificar é estabelecer procedimentos capazes de conduzir a aquisição ao seu real objetivo, que é a utilização de produtos que atendem às reais necessidades da unidade aliada aos componentes de segurança, eficácia e qualidade. No arsenal normativo disponível, a Resolução RDC no 133/2003 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode ser utilizada como um dos critérios para a aquisição de medicamentos similares, pois determina que estes deverão ter como exigência para renovação dos registros a comprovação de que são equivalentes farmacêuticos ao medicamento de referência, ou seja, apresentam-se sob a mesma forma farmacêutica, contêm composição qualitativa e quantitativa idêntica de princípio(s) ativo(s) e têm bioequivalência, ou seja, biodisponibilidades comparáveis quando administrados na mesma dose molar e nas mesmas condições experimentais. Para a implementação dessa exigência normativa, foi editada a RDC/Anvisa no 134/2003, que estabelece os critérios para a adequação do setor regulado, que ocorrerá de acordo com a criticidade dos princípios ativos e as classes terapêuticas, obedecendo também o período da renovação do registro do medicamento. Os medicamentos mais críticos tiveram a data-limite de 1/12/2004, resultando numa série de cancelamentos de registros pela não-apresentação dos respectivos estudos, conforme nota divulgada no site da Anvisa. 17 ARTIGO Diante do grande número de especialidades farmacêuticas registradas e do impacto da regulamentação, evidenciamos que, neste momento, no Brasil, nem todos os medicamentos similares cumprem os requisitos da RDC 133/2003. De acordo com informações da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma), determinados medicamentos similares terão o prazo de 2009 a 2013 para apresentar os testes mencionados. Conforme os procedimentos normativos, no Brasil, o registro dos medicamentos na Anvisa é revalidado a cada cinco anos. Como forma de estabelecer uma cronologia adequada, ficou estabelecido que, na ocasião da primeira revalidação, após 1/12/2004, por exemplo, para medicamentos de prescrição médica, a empresa detentora do registro deverá apresentar o estudo de equivalência farmacêutica e bioequivalência, porém, caso não tenha realizado o teste de bioquivalência, este deverá ser apresentado obrigatoriamente na ocasião da segunda revalidação, a partir de 1/12/2009. Os medicamentos registrados ou revalidados antes de 2/6/2003, data de publicação da legislação sobre os similares, deverão ser revalidados até 2/6/2008. Estabelecendo o correto entendimento da exigência legal, a realização do referidos estudos demonstra que: • a equivalência farmacêutica de dois medicamentos relaciona-se à comprovação de que ambos contêm o mesmo fármaco (mesmo sal ou éster da mesma molécula terapeuticamente ativa), na mesma quantidade e forma farmacêutica, o que pode ser avaliado por meio de testes in vitro; • a bioequivalência é um estudo comparativo entre as biodisponibilidades de dois medicamentos com o mesmo fármaco, administrados pela mesma via extravascular. Como o estudo de bioequivalência poderá ser apresentado até a segunda revalidação, os medicamentos similares serão enquadrados até 2/6/2013, ou seja, a partir desta data, todos os produtos similares já terão, obrigatoriamente, seus estudos de equivalência farmacêutica e bioequivalência apresentados. É de fundamental importância a participação ativa dos profissionais de saúde responsáveis pelas especificações de aquisição de produtos no sentido de conhecer e fazer acontecer na sua prática um gerenciamento da qualidade dos medicamentos que gere impacto na recuperação da saúde das pessoas, trazendo confiança ao usuário do sistema de saúde. 18 O esforço concentrado do setor regulatório e regulado trouxe avanços na qualidade dos medicamentos disponíveis no mercado, estabelecendo as seguintes categorias: Medicamentos inovadores (também chamados de medicamentos de referência ou originais) – Contêm a entidade química (o fármaco) desenvolvida e investigada originalmente pelo laboratório fabricante, responsável pelos ensaios pré-clínicos e clínicos, nos quais foram demonstradas a eficácia e a segurança para as indicações clínicas e as condições de uso autorizadas. Geralmente, o medicamento inovador é considerado um medicamento de referência; Medicamentos licenciados – Especialidade igual ao medicamento de referência comercializada por outra companhia com autorização do investigador, que fornece todas as informações. Assim, o titular da licença assume a responsabilidade pelo medicamento em todos os aspectos relacionados à qualidade, à segurança e à eficácia; Medicamentos similares ou “cópias” – Especialidade que contém o mesmo ou os mesmos princípios ativos do medicamento de referência, apresenta a mesma concentração, forma farmacêutica, via de administração, posologia e indicação terapêutica, sendo equivalente ao medicamento registrado no órgão federal responsável pela vigilância sanitária, podendo diferir somente em características relativas a: tamanho e forma do produto, prazo de validade, embalagem, rotulagem, excipientes e veículos. Também chamados de medicamentos mee-too drugs (ou drogas “eu também”). Para os medicamentos similares, é obrigatória a utilização de um nome comercial ou marca (um nome fantasia), sendo proibida a utilização da denominação genérica; Medicamentos genéricos – Medicamento similar a um produto de referência ou inovador, que pretende ser intercambiável com este, geralmente produzido após expiração ou renúncia da proteção patentária ou de outros direitos de exclusividade, comprovadas sua eficácia, sua segurança e sua qualidade e designado pela Denominação Comum Brasileira (DCB), ou seja, a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo aprovada pelo órgão federal responsável pela vigilância sanitária ou, na sua ausência, pela Denominação Comum Internacional (DCI), ou seja, a denominação do fármaco ou princípio farmacologicamente ativo recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Para ser considerado genérico, o medicamento deve demonstrar ser bioequivalente ao produto de referência. ESTUDO Clínico FOLFOXIRI no tratamento do câncer colorretal Roberto Jorge Salomão Sergio Emerici Longato irinotecano, a oxaliplatina e o fluorouracil são fármacos com atividade comprovada no tratamento quimioterápico do câncer colorretal. No tratamento da doença metastática, os esquemas com oxaliplatina ou com irinotecano são superiores ao de fluorouracil/leucovorina, tanto na taxa de resposta objetiva quanto na sobrevida livre de progressão e na sobrevida global. O Em 2002, Fanconi et al. realizaram um estudo de fase I/II com 42 pacientes com câncer colorretal avançado. O esquema quimioterápico consistia de: irinotecano oxaliplatina leucovorina 125-175 mg/m2/inf 1 hora 2 100 mg/m /inf 2 horas 2 200 mg/m /inf 2 horas dia 1 dia 1 dia 1 2 fluorouracil 3.800 mg/m /inf cronomod 48 horas a cada 2 semanas O esquema FOLFOXIRI modificado consistia em: irinotecano 165 mg/m2/inf 1 hora dia 1 oxaliplatina 85 mg/m2/inf 2 horas dia 1 leucovorina 200 mg/m2/inf 2 horas dia 1 2 3.200 mg/m /inf 48 horas a cada 2 semanas fluorouracil Nesse estudo com o FOLFOXIRI modificado, foram incluídos 32 pacientes com idade mediana de 63 anos de idade (43-74 anos). Foram administrados 336 ciclos com uma mediana de 12 ciclos/paciente (1-14). A mediana da intensidade da dose (mg/m2/semana) foi de 71 para o irinotecano (86% da dose planejada), 38 para o oxaliplatino (89%) e 1.443 para fluorouracil (90%). Para manter o esquema quinzenal, administrou-se G-CSF em 23% dos ciclos. Eficácia • a cronomodulação do fluorouracil; • a elevada incidência de neutropenia. Em 32% dos ciclos, houve necessidade de fatores estimuladores de colônia de granulócitos (G-CSF) para poder repeti-los a cada 2 semanas. Além disso, foi necessário reduzir a dose de pelo menos um dos fármacos em 35% dos ciclos. A intensidade da dose foi de 78% daquela planejada para o estudo. Para contornar os inconvenientes encontrados no estudo piloto, Fanconi et al. delinearam um esquema simplificado de FOLFOXIRI com doses ligeiramente menores de oxaliplatina e irinotecano e com fluorouracil administrado de forma não cronomodulada. O tratamento foi administrado até a progressão da doença, ou toxicidade inaceitável, ou recusa do paciente, ou até um máximo de 12 ciclos. A avaliação da resposta realizou-se segundo os critérios da RECIST, e as provas de imagem foram feitas por um radiologista independente. A taxa de resposta objetiva foi de 72%, com 13% de respostas completas e 59% de resposta parciais (intervalo de confiança de 95%: 53%-86%). A duração da resposta foi de 11+ meses (8,3-22+). Além disso, houve 22% dos casos de estabilização da doença, e a progressão ocorreu em somente 6% dos casos. Um aspecto muito interessante consistiu na avaliação cirúrgica após a quimioterapia, em que 25% dos pacientes puderam ser submetidos à ressecção completa das metástases, que eram predominantemente hepáticas. Com um seguimento mediano de 18 meses, a mediana de sobrevida livre de progressão foi de 10,8 meses e a sobrevida global foi de 28,4 meses, conforme o gráfico a seguir. Gráfico 1. Sobrevida livre de doença e sobrevida global sobrevida global mediana 28,4 meses 100 % pacientes sobreviventes e livre de progressão Esse esquema foi denominado de FOLFOXIRI. A taxa de resposta objetiva foi elevada: 71,4%, com uma sobrevida livre de progressão mediana de 10,4 meses e uma sobrevida global mediana de 26,5 meses. Apesar da elevada eficácia, esse esquema trouxe grandes inconvenientes: sobrevida livre de doença mediana 10,8 meses 75 50 25 0 0 5 10 15 20 25 30 35 40 meses 19 ESTUDO Clínico Tolerância Os efeitos secundários mais freqüentes foram: neutropenia, plaquetopenia, náuseas, vômitos e neurotoxicidade periférica. A toxicidade graus III e IV não foi freqüente, exceto a neutropenia. A neutropenia febril foi observada em 4 pacientes, sendo de curta duração e podendo ser tratada com antibioticoterapia ambulatorial, salvo em 1 caso. A oxaliplatina teve de ser suspensa em 8 pacientes em razão de neuropatia periférica. Este esquema apresenta elevada taxa de eficácia, com um perfil de tolerância aceitável. Estudos adicionais Alguns autores também haviam explorado outros esquemas de dosagem das combinações com esses três fármacos, com respostas objetivas superiores a 55%. Assim, se fazem necessários estudos adicionais controlados que comparem esses esquemas com as combinações padrões de oxaliplatina + fluorouracil e irinotecano + fluorouracil e os novos esquemas de quimioterapia. Tabela 1. Toxicidade da combinação de irinotecano, oxaliplatina e fluorouracil/leucovorina em câncer colorretal avançado (n = 32) GI (%) G II (%) G III (%) G IV (%) Neutropenia* 9 25 25 34 Plaquetopenia 22 6 3 – Náusea/vômito 56 44 – – Reação adversa Mucosite 44 22 6 – Diarréia 47 34 16 – Alopecia 52 40 – – Neurotoxicidade periférica 41 34 3 – * Neutropenia febril: 12%. Tabela 2. Estudos com a combinação de irinotecano, oxaliplatina e fluorouracil/leucovorina Autor No Oxaliplatina (mg/m2) Irinotecano (mg/m2) Fluorouracil (mg/m2) Leucovorina (mg/m2) Resposta objetiva (%) Falconi 42 100 175 3800/48hs 200 67 Calvo 26 120 250 2600/24hs 500 69 Souglakos 35 65 150 Conroy 35 85 180 Comella 46 85-110 150-200 57 Vide abaixo – 250 650/bolus – 2 Esquema de fluorouracil/leucovorina empregados por Suoglakos e Conroy: leucovorina 200 mg/m mais fluorouracil 400 mg/m2/bolus ou fluorouracil 600 mg/m2 inf. 22 horas, dias 1-2. Referências bibliográficas Fanconi A et al. Biweekly chemotherapy with oxaliplatin, irinotecan, infusional fluorouracil, and leucovorin: a pilot study in patients with metastatic colorectal cancer. J Clin Oncol 2002; 20: 4006-4014. Calvo E et al. Combined irinotecan, oxaliplatin, 5FU in patients with metastatic colorectal cancer. Oncology 2002; 63: 254-265. Souglakos J et al.Triplet combination with irinotecan plus oxaliplatin plus continuous-infusion fluorouracil and leucovorin as first-line 20 treatment in metastatic colorectal cancer: a multicenter phase II trial. J Clin Oncol 2002; 20: 2651-2657. Comella P et al. Oxaliplatin plus irinotecan and leucovorin-modulated 5-fluorouracil triplet regimen every other week: a dose-finding study in patients with advanced gastrointestinal malignances. Ann Oncol 2002; 13: 1874-1881. Conroy T et al. Phase I study of triplet combination of oxaliplatin + irinotecan + LV5FU2 in patients with metastatic solid tumors. Proceeding ASCO 2000; 921G (abstract). ATUALIZAÇÃOcientífica IMPORTÂNCIA DO DOCETAXEL NA QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE PARA CÂNCER DE MAMA LOCALMENTE AVANÇADO Sergio Emerici Longato objetivo da quimioterapia neoadjuvante é reduzir o volume tumoral, tornando ressecáveis os tumores irressecáveis e/ou possibilitando a cirurgia conservadora nos tumores inicialmente candidatos a mastectomia radical.1 A resposta à quimioterapia neoadjuvante é um fator preditivo de sobrevida livre de doença e de sobrevida global.2 Os esquemas quimioterápicos atualmente empregados são geralmente baseados em regimes contendo antraciclinas (doxorrubicina ou epirrubicina) associadas a taxanos (AT) ou ciclofosfamida e fluorouracil (FAC, FEC, AC), administrandose de 3 a 4 ciclos segundo a resposta objetiva obtida. Isso nos motivou a avaliar o papel do docetaxel no tratamento quimioterápico neoadjuvante do câncer de mama localmente avançado, comparando-os a outros esquemas empregados. Foram selecionados cinco estudos clínicos de fase III, comparando esquemas quimioterápicos neoadjuvantes contendo docetaxel. Foram analisados: as respostas objetivas (patológicas e clínicas) do tumor e dos linfonódulos, o percentual de cirurgia conservadora da mama, a sobrevida livre de doença e a sobrevida global. Na tabela 1, encontram-se disponíveis o número de pacientes avaliados em cada braço do estudo e o esquema de tratamento empregado. O Detalhes do esquema terapêutico empregado podem ser observados na tabela 2. Na tabela 3, são analisadas as respostas objetiva, patológica e clínica do tumor e dos linfonodos de acordo com o esquema empregado. Na tabela 4, são apresentados o percentual de pacientes submetidas a cirurgia conservadora da mama, a sobrevida livre de doença e a sobrevida global. Conclusão Dos cinco estudos com docetaxel no tratamento neoadjuvante de câncer de mama localmente avançado, dois apresentaram diferenças estatisticamente significativas. De cinco estudos do docetaxel que comparam um esquema neoadjuvante contendo docetaxel a outros regimes neoadjuvantes, dois relataram diferenças estatisticamente significativas. A resposta clínica melhorada do primeiro estudo mostra aumento do número de cirurgias conservadora da mama, da sobrevida livre de doença e da taxa de sobrevida global com terapia neoadjuvante contendo docetaxel quando comparada à resposta de pacientes que receberam e responderam a ciclofosfamida, vincristina, doxorrubicina e prednisolona iniciais (n = 145). Tabela 1. Esquemas de tratamentos neoadjuvantes propostos para câncer de mama localmente avançado Autor ACCOG3 Lee4 NSABP5 6-9 Aberdeen Bouzid10 N° de pacientes Esquema de tratamento 183 [A+D q 3w x 6]➞Cir➞Rt➞Ht 180 [A+C q 3w x 6]➞Cir➞Rt➞Ht 33 [D+X q 3w x 4]➞Cir➞Rt➞Ht 32 [A+C q 3w x 4]➞Cir➞Rt➞Ht 752 [A+C q 3w x 4] + Ht➞ [D q 3w x 4] ➞Cir➞Rt 772 [A+C q 3w x 4] + Ht➞ Cir➞ [D q 3w x 4]➞ Rt 762 48 [A+C q 3w x 4] + Ht➞Cir➞Rt CVAPr q 3w x 4 (R-)➞[D q 3w x 4]➞Cir 47 CVAPr q 3w x 4 (R+)➞[D q 3w x 4]➞ Tamoxifeno 50 CVAPr q 3w x 4 (R+) CVAPr q 3w x 4➞ Cir 198 [A+D q 3w x 4]➞ Cir 164 [FAC q 3w x 4]➞ Cir 21 ATUALIZAÇÃOcientífica Tabela 2. Esquemas detalhados de tratamentos neoadjuvantes propostos para câncer de mama localmente avançado Esquema detalhado do tratamento: Autor Esquema de tratamento Dose do quimioterápico ACCOG [A+D q 3w x 6]➞Cir➞ Rt➞Ht Qt A1 = 50 mg/m2 D = 75 mg/m2 [A +C q 3w x 6]Cir➞ Pt➞ Ht A2 = 60 mg/m2 C = 600 mg/m2 Rt = se indicado Ht = (se RE+) T Lee [D+X q 3w x 4]➞ Cir➞ Rt➞ Ht Qt D = 75 mg/m2 (di) X = 1000 mg/m2 (bid d 1 - 14) [A+C q 3w x 4]➞Cir➞Rt➞Ht C = 600 mg/m2 (d1) Rt = NR Ht = (se indicado)T NSABP [A+C q 3w x 4] + Ht➞ [D q 3w x 4]➞Cir➞R QT A = 60 mg/m2 [A+C q 3w x 4] + Ht➞ Cir➞ [D q 3w x 4]➞ R C = 600 mg/m2 [A+C q 3w x 4] + Ht➞Cir➞Rt D = 100 mg/m2 RT = NR HT = T 20 mg/d, 5 anos Aberdeen CVAPr q 3w x 4 (R-)➞[D q 3w x 4]➞Cir QT C = 1000 mg/m2 (bolus) CVAPr q 3w x 4 (R+)➞[D q 3w x 4]➞ T A = 50 mg/m2 CVAPr q 3w x 4 (R+) CVAPr q 3w x 4➞ Cir V = 1,5 mg/m2 D = 100 mg/m2 (inf. 1 h) Pr = 40 mg/dia * Bouzid [A+D q 3w x 4]➞ Cir [FAC q 3w x 4]➞ Cir Qt A = 50 mg/m2 (inf. 15’) D = 75 mg/m2 (inf. 60’) F = 500 mg/m2 (bolus) C = 500 mg/m2 (bolus) A = doxorrubicina, C = ciclofosfamida; D = docetaxel; Pr = prednisolona; T = tamoxifeno; X = capecitabina; V = vincristina; ➞ = seguido de Qt = quimioterapia; Rt = Radioterapia; Ht = Hormonioterapia 22 ATUALIZAÇÃOcientífica Tabela 3. Resposta objetiva (tumor e linfonodo) segundo esquemas de tratamentos neoadjuvantes propostos para câncer de mama localmente avançado Autor Esquema de tratamento ACCOG A + D Lee NSABP Cirurgia Sobrevida Sobrevida global (%) conservadora livre de da mama (%) doença (%) 20 75 86 A+C 20 69 84 D+X 64 NR NR A+C 56 NR NR A + C➞ Cir 64 NR NR NR NR 62 NR NR 67ab 90ab 97ab/93ac 77 84 / 78 Aberdeen CVAPr ➞ D CVAPr ➞ CVAPr 48 Bouzid A+D NR NR NR FAC NR NR NR a = diferença estatisticamente significativa (p ≤ 0,05) b = seguimento de 38 meses c = seguimento de 65 meses Tabela 4. Percentual de pacientes com cirurgia conservadora da mama, sobrevida livre de doença e sobrevida global segundo esquemas de tratamentos neoadjuvantes propostos para câncer de mama localmente avançado Resposta terapêutica Autor Esquema Tumor Nódulo pRC pRR cRC cRP pRC pRP N-na (%) (%) (%w) (%) (%) (%) Cir (%) ACCOG Lee NSABP A+D 21 NR 20 50 NR NR 34 A+C 24 NR 17 44 NR NR 39 D+X 15 NR 3 85 27 NR NR A+C 6 NR 3 72 29 NR NR A + C➞D➞ Cir 26ª NR 91ª NR 58ª NR A + C ➞ Cir ➞ D 15 NR 85 NR 50 NR 13 NR 86 NR 51 NR A + C➞ Cir Aberdeen CVAPr ➞D Bouzid b b ab 31 42 85 2b 12b NR CVAPr➞ CVAPr 15 40 64 8 8 A+D NR NR 11 61 NR NR NR FAC NR NR 9 55 NR NR NR a = diferença estatisticamente significativa (p ≤ 0,05) b = seguimento de 38 meses 24 Referências bibliográficas 1. A + C➞ Cir➞ D 62 A + C➞ Cir Havia melhor tendência para a resposta patológica completa. O segundo estudo demonstrou maior resposta nas pacientes que receberam doxorrubicina e ciclofosfamida, seguidas pelo docetaxel, quando comparadas às que receberam doxorrubicina e ciclofosfamida (n = 2.255).A sobrevida livre de doença e a sobrevida global não foram relatadas. NR Fisher B, Brown A, Mamounas E et al. Effect of preoperative chemotherapy on locoregional disease in women with operable breast cancer: findings from National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project B-18. J Clin Oncol 1997; 15: 2483-2493. 2. Bonadonna G, Valagussa P, Brambilla C et al. Primary chemotherapy in operable breast cancer: eight-year experience an the Milan Cancer Institute. J Clin Oncol 1998; 16: 93-100. 3. Evans TRJ,Yellowlees A, Foster E, Earl H, Cameron DA, Hutcheon AW et al. Phase III randomized trial of doxorubicin (A) and docetaxel (D) versus A and cyclophosphamide (C) as primary medical therapy (PMT) in women with breast cancer. J Clin Oncol 2004; 22 (suppl. 14S): A521. 4. Lee HG, Lee JJ, Jung KH, Kwon Y, Shin EH, Chung KW et al. Phase III randomized trial of primary chemotherapy with doxorubicin/cyclophosphamide (AC) vs docetaxel/capecitabine (TX) for stage II/III breast cancer (BC): interim analysis. J Clin Oncol 2004; 22 (suppl. 14S): A607. 5. Bear HD, Anderson S, Brown A, Smith R, Mamounas EP, Fisher B et al. The effect on tumor response of adding sequential preoperative docetaxel to preoperative doxorubicin and cyclophosphamide: preliminary results from National Surgical Adjuvant Breast and Bowel Project Protocol B-27. J Clin Oncol 2003; 21 (22): 4165-4174. 6. Hutcheon AW, Heys SD, Miller ID. Improvements in survival in patients receiving primary chemotherapy with docetaxel for breast cancer: a randomized controlled trial. Breast Cancer Res Treat 2001; 69: 298. 7. Heys SD, Hutcheon AW, Sarkar TK, Ogston KN, Miller ID, Payne S et al. Neoadjuvant docetaxel in breast cancer: 3-year survival results from the Aberdeen trial. Clin Breast Cancer 2002; 3 (suppl. 2): S69-S74. 8. Smith IC, Heys SD, Hutcheon AW, Miller ID, Payne S, Gilbert FJ et al. Neoadjuvant chemotherapy in breast cancer: significantly enhanced response with docetaxel. J Clin Oncol 2002; 20 (6): 1456-1466. 9. Hutcheon AW, Heys SD, Sarkar TK, Ogston KN, Eremin O, Walker LG et al. Docetaxel primary chemotherapy in breast cancer: a five year update of the Aberdeen trial. Breast Cancer Res Treat 2003; 82 (suppl. 1): S6. 10. Bouzid K,Vinholes J, Salas F, Mickiewicz E,Valdivia S, Ostapenko V et al. A phase III trial of taxotere and doxorubicin (AT) versus 5-fluorouracil, doxorubicin and cyclophosphamide in patients with unresectable locally advanced breast cancer: an interim analysis. Eur J Cancer 2001; 37 (suppl. 6): S167. VARIEDades Ana Lúcia Nicastri Sergio Emerici Longato N a busca por revelar novas imagens, não se contentando simplesmente em reproduzi-las, um grupo de artistas quebra antigos preconceitos e, mais do que observar e estudar as paisagens, eles passam a senti-la, livres de conceitos geométricos. Nesse movimento, o artista revelará sua percepção sensorial na maneira de reproduzir o que viu. Seu foco passa a ser a “impressão” da luz sobre o objeto, não como uma característica intrínseca, mas com a constante mudança conforme o ângulo de incidência da luz, do reflexo desta ou do clima sobre a superfície do objeto. As pinturas impressionistas estão entre as obras de arte que mais agradam, de imediato, ao olho moderno. A atração do impressionismo e suas limitações se confundem.Trata-se de uma visão do mundo simples como o vemos, não como o pensamos ou sentimos. Uma visão de superfície, imediata e enganadora, na qual as formas sólidas se dissolvem em um banho de cores. Elas representam o lado agradável da vida: excursões e amigos, passeios no campo, viagens em rios, o drinque em um bar. O estilo impressionista parece tão natural, tão “verdadeiro”, que é difícil pensar nele como revolucionário, muito menos como uma atitude que remonta à Renascença: a idéia de que a pintura é algo para se ver. Início do impressionismo O movimento foi idealizado nas reuniões entre seus principais pintores no estúdio fotográfico de Nadar, na Rue de Capucines, em Paris. Em abril 1874, o estúdio do fotógrafo se preparava para uma exposição de jovens pintores que procuravam seus próprios caminhos, estando insatisfeitos com o clima restrito e acadêmico da pintura, característico daquela época. A estrela (Degas) 25 VARIEDades Na confecção do catálogo da exposição, Renoir observou que os títulos dos quadros eram monótonos e apresentou um quadro de Monet, com o título Impressão: nascer do sol. No dia seguinte à exposição, um crítico de arte do jornal Charivari a descreveria ironicamente como a “exposição dos impressionistas”. O público reagiu muito mal ao novo movimento, pois também se mantinha fiel aos princípios acadêmicos da arte pictórica vigente. Considerava-os falsos artistas, ignorantes da regras tradicionais da pintura e dos princípios da verdadeira beleza. Nascia assim a denominação do movimento artístico que revolucionou profundamente a pintura, apesar de sua curta duração: de 1860 até 1886. Características gerais da pintura impressionista Alguns impressionistas Monet Incessante pesquisador da luz e de seus efeitos, Monet pintou vários motivos em diversas horas do dia a fim de estudar as mutações coloridas do ambiente com sua luminosidade. Temas Cores Estilo O pintor impressionista não está, a rigor, interessado no modelo, no seu complexo contexto de realidade material, mas nas sutis modificações que a luz do sol produz nas cores da natureza. Os princípios básicos da pintura impressionista são: • registro de tonalidades que os objetos adquirem com o reflexo da luz (as cores se modificam constantemente na natureza pela incidência da luz do sol); • a linha não existe na natureza (a linha para o impressionista é o encontro de duas superfícies coloridas); • as cores e as tonalidades não devem ser obtidas pela mescla de cores na paleta, devendo ser puras e em pequenas pinceladas (a mistura deixa de ser técnica para ser óptica); Mulher no Jardim • as sombras devem ser luminosas e coloridas, tal como é a impressão que nos causa; • as figuras não devem ter contornos nítidos. Essas características davam à pintura uma “impressão” da luz sobre tudo. Os artistas, portanto, perceberam que a cor não é uma característica intrínseca e permanente, quiseram mostrar as qualidades voláteis da luz e, para isso, criaram pinceladas diferentes, curtas, pontuais com borrões irregulares, vibrando energia como o brilho da luz sobre a água. A certa distância, esses borrões e manchas se fundiam, dando formas mais ou menos definidas de objetos ou qualquer outra coisa retratada. Hoje, o impressionismo é considerado como a mais rica, complexa, completa e extraordinária experiência da arte figurativa do século XIX. 26 Lírios d’água Monet Paisagens marinhas, flores, rochedos, feno Tons solares, cores primárias puras com sombras de cores complementares Dissolvia a forma em luz e clima, com contornos suaves, sendo considerado um impressionista clássico Renoir Foi o pintor impressionista que ganhou maior popularidade, obtendo o reconhecimento da crítica ainda em vida. Seus quadros manifestam otimismo, alegria e a intensa movimentação da vida parisiense do fim do século XIX. Pintou o corpo feminino com formas puras e isentas de erotismo e sensualidade, preferia nus ao ar livre, composições com personagens do cotidiano, retratos e naturezas-mortas. Baile do Moulin de la Galette Renoir Temas Nus femininos, cafés parisienses, crianças e flores Cores Vermelhos vivos e cores primárias. Usava azul em vez de preto Estilo No início, empregava pinceladas rápidas, figuras manchadas. No final, estilos mais clássicos e nus solidamente formados Menina Degas Sua formação acadêmica e sua admiração por Ingres fizeram com que valorizasse o desenho e não apenas a cor, que era a grande paixão do impressionismo. Além disso, foi pintor de poucas paisagens e cenas ao ar livre. Os ambientes de seus quadros são interiores e a luz é artificial. Sua grande preocupação era flagrar um instante da vida das pessoas, aprender um momento do movimento de um corpo ou da expressão de um rosto. Adorava o teatro de bailados. O ensaio Degas A cantora Temas Bailarinas, cavalos, cafés parisienses, circos e nus Cores Tons pastéis Estilo Ângulos não convencionais, com figuras deslocadas do centro da tela para a lateral, composição assimétrica com vazio no centro 27 VARIEDades Manet Retrata o cotidiano baseando-se numa perspectiva de cima para baixo. É um impressionismo elegante. Apesar de nunca ter exposto com os impressionistas, realizava algumas de suas pinturas obedecendo a esse estilo. Sua carreira passou por diversas fases e costuma ser considerado tanto um pintor impressionista quanto realista. Temas Cores Estilo Manet Cenas contemporâneas e com visão crítica Manchas escuras contra a luz. No início, usava o preto, mas, na fase final, o colorido se faz presente Formas simplificadas com um breve modelo, manchas chapadas e de contorno preto O flautista Vasos de lilases Conclusão A novidade do impressionismo não está centrada exclusivamente no estilo e na técnica de pintura, mas também na nova atitude do artista diante do mundo e do espetáculo que a natureza oferece ao seu olhar. Nesse clima de desenvolvimento, o impressionismo marca sua escola, desvinculada do realismo e adotando como ideal a representação do dinamismo crescente da época por meio dessa nova forma de pintura. O gosto febril pela novidade gera um movimento sem precedente na atitude diante dos acontecimentos, e o impressionismo é a expressão desse novo sentimento. O progresso da técnica promove a mudança dos centros culturais para as grandes cidades, fazendo do impressionismo uma arte essencialmente citadina. Além disso, o impressionismo foi o ponto de partida para inúmeros artistas desenvolverem seu estilo próprio, como Toulouse-Lautrec,Van Gogh e Cézanne. 28