2. VIBRAÇÃO LIVRE
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VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 13 2. VIBRAÇÃO LIVRE Conforme mostrado no capítulo anterior, muitos sistemas dinâmicos podem ser representados por uma equação diferencial de segunda ordem, linear, com coeficientes constantes (parâmetros constantes). Estes modelos são denominados modelos de um grau de liberdade (1GL), pois os sistemas dinâmicos correspondentes têm seus movimentos definidos por apenas uma coordenada, de translação ou de rotação. Neste e nos capítulos seguintes serão analisadas as soluções dessa equação diferencial em função dos parâmetros de massa, de rigidez, de amortecimento e da força externa excitadora. Inicialmente serão analisadas as soluções da equação homogênea do sistema. Esta equação corresponde ao modelo matemático quando as funções excitadoras são nulas. Neste caso, estudam-se as vibrações livres que ocorrem devido a condições iniciais não nulas. Podese retirar um sistema de sua condição de equilíbrio e abandoná-lo a um movimento livre de duas formas: através de uma posição inicial diferente da posição de equilíbrio ou através de um impulso como, por exemplo, através de um martelo de impacto que imprime uma velocidade inicial não nula. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 14 2.1 - MODELO MATEMÁTICO Conforme mostrado no capítulo anterior, com a aplicação das leis do movimento e de hipóteses simplificadoras pode-se mostrar que muitos sistemas mecânicos possuem um modelo matemático representado por: mx c x k x (2.1) f onde m é a massa do modelo; c é o coeficiente de amortecimento do modelo; k é o coeficiente de rigidez do modelo; x x(t ) é o deslocamento da massa m na direção do movimento; x x (t ) x x(t ) f dx é a velocidade da massa m na direção do movimento; dt d 2x é a aceleração da massa m na direção do movimento e dt 2 f (t ) é a força externa aplicada na massa m na direção do movimento. x k m f c Figura 2.1 – Modelo elementar de 1 grau de liberdade. O estudo da vibração livre é feito a partir da equação (2.1) tornando nula a força externa aplicada, isto é, com f(t) = 0. Portanto, tem-se mx c x kx 0 (2.2) VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 15 A equação (2.2) é uma equação diferencial homogênea de segunda ordem. A solução geral possui uma das seguintes formas onde 1 e 2 x A1e 1t x A1e 1t 2t A2e A2te 2t para 1 2 (2.3) para 1 2 (2.4) são as raízes equação da característica do problema, dada por m 2 c k (2.5) 0 As constantes de integração A1 e A2 dependem das condições iniciais de posição x (0 ) e de velocidade x (0 ) . Resolvendo a equação algébrica (2.5), obtêm-se c 1,2 c 2 4 mk 2m c c2 c 2 2m (2.6) onde definiu-se o coeficiente de amortecimento crítico c através de c (2.7) 2 mk A partir das raízes dadas por (2.6), são observadas três situações: i - para um coeficiente de amortecimento c tal que c 2 mk , isto é c c , obtêm-se duas raízes complexas e conjugadas dadas por 1,2 c i 4 m k c2 onde 2m i 1 (2.8) Neste caso, o sistema é identificado como subamortecido. ii - para um coeficiente de amortecimento c tal que c 2 mk , isto é c c , obtêm-se duas raízes reais e iguais, dadas por 1 ,2 c 2m k m (2.9) Neste caso, o sistema é identificado como criticamente amortecido. Observa-se que este é um caso limite para a mudança do tipo das raízes, de complexas para reais. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE iii - para um coeficiente de amortecimento c tal que c 2 mk , isto é c 16 c , obtêm-se duas raízes reais distintas dadas por c 1,2 c2 4 m k 2m (2.10) Neste caso, o sistema é identificado como sobreamortecido. Para melhor identificar cada um destes três tipos de sistemas, pode-se definir um parâmetro adimensional denominado fator de amortecimento, dado pela razão c c c 2 km Portanto, tem-se amortecidos e < 1 para sistemas subamortecidos, (2.11) = 1 para sistemas criticamente > 1 para sistemas sobreamortecidos. Algumas aplicações requerem fatores de amortecimento menores que um. Em outros casos, particularmente no controle de vibrações, os sistemas devem ser criticamente amortecidos, ou até mesmo sobreamortecidos. Deve-se observar também que sistemas compostos de materiais metálicos possuem fatores de amortecimento muito pequenos, frequentemente menores que 0,1, quando não há dispositivos especiais (amortecedores) projetados para aumentar este valor. O amortecimento próprio dos materiais é difícil de ser modelado. Por isso, este parâmetro é obtido usualmente através de procedimentos experimentais. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 17 2.2 - SISTEMAS SEM AMORTECIMENTO Os sistemas não amortecidos são sistemas irreais. Podem ser analisados como um caso particular dos sistemas subamortecidos para os quais o coeficiente de amortecimento é admitido nulo, ou seja, c = 0. As raízes da equação característica são complexas conjugadas, com parte real nula, conforme se vê em (2.8), e são dadas por k m i 1, 2 (2.12) Sendo as duas raízes distintas, a solução da equação do movimento livre, dada por (2.3), é: i k t m x A1e x C1 sen i A2 e k t m (2.13) ou k k t C2 cos t m m (2.14) Impondo que a solução do problema de vibrações livres deva ser real, C1 e C2 devem ser reais na forma de solução (2.14) e A1 e A2 devem ser complexos conjugados em (2.13). Define-se então, a partir da solução do problema de vibração livre não amortecido, a frequência natural, k m n (2.15) obtida em rad/s, quando os parâmetros m e k são dados no SI de unidades. Uma unidade muito usual para a frequência é o Hz ou c/s. Neste caso, indica-se a frequência natural como fn n 2 1 2 k m (2.16) O período deste movimento de vibração é dado então por Tn 2 n 1 fn (2.17) VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 18 Aplicando as condições iniciais de posição x (0 ) e de velocidade x (0 ) na solução dada por (2.14) e na correspondente derivada no tempo, obtém-se: C1 x (0 ) e C2 (2.18) x(0) n 4 3 2 x u(t) 1 0 -1 -2 -3 -4 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 t Figura 2.1 - Vibração livre de sistemas não amortecidos. Aplicando as constantes dadas em (2.18) na solução (2.14), obtém-se x x (0 ) sen n t x (0 ) cos n t (2.19) n ou x A sen( nt com a amplitude A e a fase A 2 1 C C ) (2.20) dadas por 2 2 x (0 ) n e 2 [ x (0 )]2 (2.21) VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE tan 1 C2 C1 tan 1 x (0 ) x (0 ) n 19 (2.22) A figura (2.1) ilustra o movimento de vibração livre sem amortecimento. Pode-se observar nesta figura que o movimento corresponde a um movimento harmônico simples. A massa oscila na frequência natural n . Os zeros da função (2.20) ocorrem em intervalos de tempos iguais à metade do período de oscilação. Os máximos ocorrem em intervalos de tempos iguais ao período de oscilação Tn . O mesmo ocorre com os mínimos desta função. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 20 2.3 - SISTEMAS SUBAMORTECIDOS Os sistemas subamortecidos são aqueles para os quais o coeficiente de amortecimento é dado por c 2 mk , o que corresponde a um fator de amortecimento < 1. Então as raízes da equação característica, conforme (2.8), são iguais a c k i 2m m 1, 2 2 c 2m (2.23) Aplicando as definições do fator de amortecimento (2.11) e da frequência natural (2.15) nas raízes dadas em (2.23), obtém-se 1,2 i n (2.24) d onde define-se a frequência natural amortecida d 2 1 n (2.25) Assim a solução da equação do movimento livre de sistemas subamortecidos é dada por x A1e( x e n nt i d ( A1e )t i A2e( dt A2e n i dt i d )t (2.26) (2.27) ) ou com constantes reais C1 e C2, conforme mostrado no item anterior, x e nt (C1 sen d t C2 cos d t) (2.28) Aplicando as condições iniciais de posição x (0 ) e de velocidade x (0 ) na solução dada por (2.28) e na sua velocidade, dada pela correspondente derivada no tempo, obtêm-se: C1 n x(0 ) + x (0 ) e C2 x(0) (2.29) d Então a solução (2.28) é igual a x e nt com a amplitude A e a fase A sen( dt dadas por ) (2.30) VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE x (0 ) + A n x (0 ) 21 2 [ x (0 )]2 (2.31) d tan 1 x(0 ) x (0 ) + n x(0 ) d (2.32) 4 FATOR AMORT 3 0.1 0.2 2 1 u(t) x 0.5 0 -1 -2 -3 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 t Figura 2.2 - Vibração livre de sistemas subamortecidos. A Figura 2.2 ilustra o movimento para três valores do fator de amortecimento, com as mesmas condições iniciais. Pode-se observar, nesta figura, que o movimento corresponde ao chamado movimento harmônico amortecido. A massa oscila com a frequência natural amortecida d , com amplitudes que diminuem exponencialmente a cada ciclo. Os zeros da função (2.30) ocorrem em intervalos de tempos iguais à metade do “período” de oscilação. Os máximos ocorrem em intervalos de tempos iguais ao período de oscilação Td . O mesmo ocorre com os mínimos. Observe que os máximos ou mínimos não são centrados em relação aos zeros. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 22 2.4 - SISTEMAS CRITICAMENTE AMORTECIDOS Os sistemas criticamente amortecidos são aqueles para os quais o coeficiente de amortecimento é igual ao crítico, ou seja c amortecimento c 2 mk , o que corresponde a um fator de = 1. Então as raízes da equação característica são reais e iguais dadas, a partir de (2.9), por c 2m 1 ,2 (2.33) Usando a definição de fator de amortecimento c c (2.34) 2 mk obtém-se 2 mk 2m 1, 2 Como neste caso k m (2.35) n = 1 , tem-se 1,2 (2.36) n Como as raízes são iguais, a solução da equação do movimento livre, conforme (2.4), é x A1e nt A2 te nt (2.37) Aplicando as condições iniciais de posição x (0 ) e de velocidade x (0 ) na solução dada por (2.37) e na velocidade, dada pela correspondente derivada no tempo, obtêm-se: A1 x(0) e A2 x (0) + x(0) n (2.38) A Figura 2.3 ilustra o movimento livre para este caso de amortecimento, para determinadas condições iniciais. Pode-se observar a partir desta figura que este movimento corresponde a um movimento não oscilatório com decaimento exponencial. A massa se movimenta a partir da posição inicial em direção à posição de equilíbrio sem realizar oscilações. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 23 2.0 FATOR AMORT 1 1.5 u(t) x 1.0 0.5 0.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 t Figura 2.3 - Vibração livre de sistemas com amortecimento crítico. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 24 2.5 - SISTEMAS SOBREAMORTECIDOS Os sistemas sobreamortecidos são aqueles para os quais o coeficiente de amortecimento é dado por c 2 mk , o que corresponde a um fator de amortecimento > 1. Neste caso as raízes da equação característica são reais e distintas. A partir da equação (2.10), estas raízes podem ser escritas como c 2m 1, 2 c 2m 2 k m (2.39) Usando a definição do coeficiente de amortecimento crítico (2.7) e da frequência natural (2.15), obtém-se 1, 2 n (2.40) h onde 2 h 1 n Neste caso, as duas raízes da equação característica são reais, distintas e negativas. A solução da equação do movimento livre de sistemas sobre-amortecidos é dada, a partir de (2.3), por x A1e( x e h )t n A2e( h )t n (2.41) ou nt ( A1e ht A2e ht ) (2.42) onde A1 e A2 são constantes que dependem das condições iniciais. Aplicando as condições iniciais de posição x (0 ) e de velocidade x (0 ) na solução dada por (2.42) e na velocidade, dada pela correspondente derivada no tempo, obtém-se: A1 A2 ( h n ( h n ) x (0 ) + x (0 ) 2 h ) x (0 ) x (0 ) 2 h (2.43) VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 25 Alguns autores preferem escrever esta mesma solução de outra forma x e nt [ B1senh ( h t ) B2 cosh( t )] (2.44) x(0) (2.45) h onde n B1 x (0 ) + x (0 ) e B2 h 2.0 FATOR AMORT 2 1.5 u(t) x 5 1.0 0.5 0.0 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 t Figura 2.4 - Vibração livre de sistemas sobreamortecidos. A Figura 2.4 ilustra este movimento para dois valores do fator de amortecimento, com determinadas condições iniciais. Pode-se observar que este movimento corresponde a um movimento não oscilatório com decaimento exponencial. A massa se movimenta a partir da posição inicial em direção à posição de equilíbrio sem realizar oscilações. VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 26 2.6 - DECREMENTO LOGARÍTMICO Os sistemas subamortecidos, aqueles para os quais o coeficiente de amortecimento é dado por c 2 mk , o que corresponde a um fator de amortecimento < 1, possuem uma característica muito importante: a queda da amplitude depende exclusivamente do fator de amortecimento. Neste caso, o deslocamento da vibração livre num determinado instante de tempo t1, obtido de (2.28), é igual a x1 n t1 e ( A1sen t A2 cos d 1 (2.46) t) d 1 e, num instante t2 =t1+Td, onde Td é o período do movimento amortecido, é dado por x2 n ( t1 e Td ) [ A1sen (t1 Td ) d A2 cos d (t1 Td )] (2.47) 4 x(t) x1 u1 3 FATOR AMORT 0.05 x2 u2 2 1 0 t1 t2 -1 -2 -3 -4 0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 Figura 2.5 – Decremento logarítmico. Substituindo o período do movimento amortecido, dado por Td 2 (2.48) d VIBRAÇÕES MECÂNICAS - CAPÍTULO 2 - VIBRAÇÃO LIVRE 27 em (2.47), obtém-se x2 n ( t1 e Td ) [ A1sen ( t d 1 2 ) A2 cos( t d 1 2 )] (2.49) Dividindo (2.46) por (2.49), obtém-se x1 x2 n Td e (2.50) Substituindo (2.25) em (2.50), o resultado é igual a x1 x2 e 1 d Td 2 2 e 1 2 (2.51) Aplicando o logaritmo natural em ambos os lados de (2.51), tem-se ln x1 x2 onde o parâmetro 2 2 1 (2.52) é chamado decremento logarítmico. Então, rapidamente obtém-se o fator de amortecimento em função do decremento logarítmico, através de 2 4 2 (2.53) Pode-se também tomar o deslocamento xn+1 da vibração livre, num instante tn+1=t1+nTd, e mostrar de forma análoga que ln x1 xn 1 n (2.54) Logo, o decremento logarítmico pode ser obtido através de 1 x ln 1 n xn 1 (2.55)
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