cap.1 - história do circo - Dentro e Fora dos Picadeiros

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cap.1 - história do circo - Dentro e Fora dos Picadeiros
CAPÍTULO 1 – HISTÓRIA DO CIRCO
O circo tem origens em diversos países, com o registro de exercícios de força, resistência e
agilidade, que ultrapassaram as barreiras militares conforme os impérios enfrentaram seu
declínio. Os remanescentes desta era passaram a se apresentar e perpetuar seus
conhecimentos em feiras e espaços públicos durante a Idade Média. Na medida em que a
sociedade evoluiu, o Circo também acompanhou essa evolução, de forma a adaptar-se ao
que o expectador esperava enquanto entretenimento.
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1.1 Origens do circo
Alguns dos artistas, em algumas sociedades e contextos históricos específicos,
realizavam exercícios acrobáticos ou atividades artísticas com finalidades religiosas;
outros, simplesmente por prazer, numa relação mesmo dionisíaca. (SILVA, 2009)
Não se sabe ao certo como tudo começou, fato é que vários registros foram encontrados: na
Grécia; em Roma; na China; na Índia, no Egito; e até nas Américas, fazendo alusão às práticas
circenses.
Em qualquer sociedade e período histórico deparamo-nos com artistas, fossem eles
trovadores, poetas, atores, acrobatas, cantores, dançarinos, entre muitos outros.
Alguns dos artistas, em algumas sociedades e contextos históricos específicos,
realizavam exercícios acrobáticos ou atividades artísticas com finalidades religiosas;
outros, simplesmente por prazer, numa relação mesmo dionisíaca. Até mesmo na
recente pesquisa realizada por Alice Viveiros de Castro (nota), sobre os desenhos
rupestres encontrados no Parque Nacional Serra da Capivara (Piauí – Brasil), que se
pressupõe tenha em torno 27.000 anos, foi-nos apresentado um conjunto de
imagens denominado de “Acrobatas do Boqueirão da Pedra Furada”, por tratar-se
de desenhos que sugerem claramente ações acrobáticas, de equilíbrios com dupla
altura, de roda de dança, etc. (SILVA, 2009)
Fig. 01 - Acrobatas em pintura rupestre na Serra da
Capivara.
(Fonte: Disponível em:
<http://bloguinhojuriti.blogspot.com.br/2011/02/roda-dedialogo-preparatoria-para.html>, acesso em: 01/09/2013)
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Pensar na manifestação artística como algo recorrente num passado remoto, no mínimo nos
faz refletir sobre a necessidade intrínseca do espetáculo e do espectador, independente de
época, cultura e sociedade. Tais manifestações ocorreram e ainda ocorrem muito além de
uma simples atividade profissional, mas por uma resistência frente aos novos desafios.
Enquanto houver a alma do artista e aquele que se encante com sua apresentação, o
espetáculo continua. Pois o artista persiste, pinta a cara, faz aparecer qualquer coisa da
cartola, treina seu corpo, extraindo de cada músculo o movimento perfeito, pelo aplauso e
pelo amor.
Não seria ao acaso que milhares de anos depois essa necessidade alcançasse proporções tão
específicas, como foi o caso da política do “Pão e Circo”, que ocorreu na Roma Antiga
durante a hegemonia do Império Romano, quando o imperador decidiu oferecer à
população “alimentação e diversão” como uma estratégia para acalmar a população carente
e fazê-la esquecer por algum momento dos graves problemas sociais e diminuir, com isso, as
chances de revoltas. E mesmo que as apresentações consistissem em lutas entre gladiadores
e exibições de animais exóticos, em nada similares com nosso atual formato de circo, a fome
da população por exibições de habilidade, destreza física e artística fez com que o circo se
mantivesse em constante estado de evolução em prol de agradar seu público.
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1.2 A evolução do circo
Na China, a pedido do Imperador Wu (140 a.C.), realizou uma festa com apresentações de
acrobacias aos visitantes estrangeiros, a partir daí criou a festa popular chinesa para
abundância na colheita e a união entre os povos – Festival da Primeira Lua. Que em outras
manifestações e momentos também apresentaram veias cômicas o uso das artes marciais
com movimentos acrobáticos.
Em Roma, O Circo Máximo foi o exemplar mais significativo de um local destinado às
Fig. 02 – Circus Maximus / Circo Máximo.
(Fonte:
Disponível em: <www.patricianainspiracao.blogspot.com>,
acesso em: 01/09/2013)
apresentações de gladiadores, animais exóticos e corridas. Tempos depois dando lugar a
estrutura do Coliseu. Que devidos aos problemas sociais enfrentados durante o Império de
César, teve a política do Pão e Circo instituída para que a população pobre esquecesse os
problemas e adiasse sua capacidade de contestação.
Anos depois essas exibições deram espaço aos espetáculos sangrentos, provocando um
desinteresse geral por longos anos. Agora os artistas buscariam os espaços públicos para
realizar suas apresentações e estar mais próximo do seu público.
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Na idade média, observam-se, segundo alguns autores, a realização das Saturnais –
celebrações de origem romana durante o me de janeiro, permitindo a presença de artistas
circenses como parte do entretenimento. Essa festividade transformou-se na Festa dos
Loucos ou Festa do Asno, e eram marcadas por cortejos de embriaguês e lascívia. Tudo isso
chamou muita atenção da censura da Igreja Católica. E pouca coisa seria permitida.
Restando às feiras a configuração do espaço para apresentação de acrobatas, trovadores,
amestradores, dançarinos, palhaços e equilibristas, entre outros.
[...] até a década de 1750, o encontro de várias linguagens artísticas não eram
ainda denominadas de circenses. Somente no final da década seguinte, por volta
de 1768, é que diversos grupos de artistas existentes na época: acrobatas, atores,
cantores, músicos, dançarinos, prestidigitadores, ao se cruzarem com grupos de
cavaleiros que dominavam a arte de adestramento de cavalos que se exibiam nas
praças públicas, hipódromos, anfiteatros, iniciaram um processo de construção de
um espetáculo que posteriormente se denominou de circo e, portanto, se
conformaram como uma categoria de trabalhadores artistas circenses. (SILVA,
2009)
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Durante tais apresentações, desse grupo ainda não denominado, a construção de um
tablado era executada para permitir uma melhor visualização da população, estrutura essa
semelhante a bancos de madeira, daí surgiu o termo saltimbancos.
Essas figuras, ao longo do tempo, foram complementadas com outras figuras, como o bobo
da corte, os ciganos, os prestidigitadores, os personagens da Commedia dell’Arte- típica
encenação teatral italiana, cujas peças mais famosas envolviam o Arlequim, o Pierrô e a
Colombina.
Na modernidade, essa cultura se renovou, e uma arte milenar, que pode ser considerada
inerente à criatividade humana, tendo origens em povos e contextos diversos. Os exercícios
de força e resistência utilizados em treinamentos e apresentações de egípcios, chineses e
romanos, entre outros, passaram a ocupar as ruas, praças e feiras da Europa com o declínio
dos impérios. Muitos eram remanescentes dos setores militares ou tinham suas habilidades
aprendidas dentro do seio familiar.
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Através do inglês, militar, cavaleiro, Philip Astley que tivemos a construção que se
configurou como Circo Moderno. Uma estrutura fixa, com apresentações de provas hípicas.
O equilíbrio necessário para realização dos números fez com que o formato desse espaço – o
picadeiro – tivesse o formato circular, permitindo que os animais corressem ao redor do
centro e continuamente. Então Astley e o seu Amphitheatre of Arts, criado em 1768,
ofereciam ao público espetáculos equestres em um picadeiro circular, que dava mais
equilíbrio aos montadores durante o percurso dos cavalos em suas demonstrações. O
anfiteatro também incorporou atrações como palhaços e acrobatas entre seus números
principais. Estava criado o circo fixo. Então esse modelo foi replicado em outros locais, sendo
a base da construção do CIRCO MODERNO e surgindo a criação da expressão CIRCO DE
Fig. 03 – Amphitheatre of Arts.
(Fonte:
Disponível em: <www.circonteudo.com.br>, acesso em:
01/09/2013)
CAVALINHOS.
“Astley não fugiu de modelos de modelos arquitetônicos já construídos
anteriormente e contemporâneo a ele, de modo semelhante aos lugares descritos
aqui; especialmente lugares nos quais também se adestravam cavalos e/ou se
ensinava equitação (Astley usava a pista para aulas, nos períodos da manhã,
apresentado-se ao público à tarde), era semelhante, também, às construções de
alguns teatros, nos quais o tablado era cercado por algum tipo de arquibancada de
madeira, parecida com tribunas, sem pista para animal, mas com espaço para se
assistir em pé.” (CIRCONTEUDO, 2013)
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Houve com isso, a intercalação entre os números dos cavalos com apresentações artísticas
de humor e outras habilidades que demonstração um teor mais artístico do que técnico
(bem inerente aos ex-militares que desempenhavam os números eqüestres), a troca foi
inevitável, os números equestres absorviam mais beleza e movimentos artísticos, e os
artísticos, por sua vez, mais técnica e precisão.
Com a guerra, muitos grupos ficaram dispersos, forçando-os a uma adaptação fora desses
espaços fixos. E conforme a popularidade deste espetáculo crescia, outros surgiram, assim
como a demanda por mais apresentações. O envolvimento de vários profissionais, entre
artistas e técnicos, permitiu o surgimento de técnicas logísticas que permitiram o
deslocamento das trupes, que agregaram outros números ao seu repertório. E assim cresceu
o CIRCO TRADICIONAL, com uma lona improvisada, cujos fundadores construíram suas
famílias sob o universo dos picadeiros, repassando seus conhecimentos de geração em
geração. Talvez seja precipitado afirmar que assim como o circo evoluiu anteriormente
durante todos esses anos, uma nova transformação esteja acontecendo em virtude das
novas expectativas de entretenimento que o espectador tem, frente a tantas ofertas e
tecnologias da indústria de entretenimento – que engloba os shows, o cinema, etc. Frente a
esse novo modo de vida, uma arte tão antiga, acaba agregando novos atrativos para se
manter “vivo”.
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1.3 Casos significativos
O Circo – um elemento emblemático da infância de muitos. Desbrava estradas, finca
bandeiras coloridas e compete com as estrelas do céu em brilhos e cores. Nenhuma cidade
passa incólume perante suas lonas. Portanto, nada mais natural que constatar o caráter
disseminador que ele possui na cultura, fazendo jus à missão do artista de ir onde o povo
está. Mesmo entre aqueles que nunca puseram os pés numa arquibancada, o universo
mítico do picadeiro chega na forma de histórias, registros fotográficos e audiovisuais.
Alguns circos de renome internacional estabeleceram padrões, que se não puderam ser
seguidos à risca, ao menos serviram como referência para a construção dos espetáculos
levados na bagagem de milhares de famílias e trupes circenses.
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CIRCUS GYMNASTICUS
(Fundado por Christoph de Bach, em 1808, na cidade de Prater – Áustria)
Foi um dos primeiros circos permanentes construídos na Europa continental. Projetado pelo
arquiteto austríaco Joseph Kornhäusel para o campeão de montaria letão Christoph de Bach.
Composto por uma grande estrutura em forma de um polígono de dezesseis lados,
Fig. 04 – Circus Gymnasticus.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
construído de pedra em uma armação de madeira pesada, seu teto foi apoiado por duas
linhas circulares de catorze colunas e coberto por uma cúpula acima do anel, com grandes
janelas de vidro em torno de seu tambor. Este recurso era utilizado para deixar a luz do sol
entrar, já que as apresentações aconteciam apenas na matinê, para não competir com os
teatros de Viena. Enfim uma composição que comportava quase 3.000 espectadores.
Como de Bach era mestre de equitação, tinha então, mais foco nas aulas para esta
modalidade esportiva na parte da manhã, deixando a tarde para apresentações que também
tinham ênfase em hipismo, sem a intenção de incorporar elementos de outros segmentos.
Fig. 05 – Circus Gymnasticus - Interior.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
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Enquanto Christoph esteve vivo, o Circus Gymnasticus seguiu com um quadro que além dos
eqüestres trazia também um palhaço e uma bailarina. Após a morte de seu criador, a
companhia ainda atuou por mais 18 anos, sob o comando da viúva Laura de Bach. Embora
grandiosa, a construção nunca passou por manutenção ou reparos, sendo vendida num
leilão em 1852, para em seguida ser demolida e nunca reconstruída.
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CIRQUE D´HIVER
(Fundado por Louis, em 1852, na cidade de Paris – França)
Mais um exemplo de circo fixo que se destacou por sua arquitetura: ele possuía a forma de
um icosagono (um polígono de vinte lados) e tinha 42 metros de diâmetro, com uma cúpula
de 27,5 metros de altura, sem a ajuda de colunas para o seu sustento. O apoio desta grande
estrutura estava a cargo de suas paredes circundantes, com 55 centímetros de espessura e
16,25 metros de altura, reforçados em cada ângulo por pilares internos e externos para
absorver todo o peso.
Fig. 06 – Cirque d’Hiver.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
Utilizado tanto para espetáculos do gênero, shows musicais, competições esportivas e
eqüestres, além de desfiles de moda, a construção acomodava 3.900 espectadores, que
tinham à sua disposição um ambiente altamente decorado, a começar pelo lado externo: 20
pinturas de Félix-Joseph Barrias e Nicolas-Louis Gosse, uma em cada parede poligonal, que
contavam a história da equitação. Dentro, 20 lustres de gás ornamentados e um em
tamanho gigante no centro do anel destinado aos espetáculos. A casa ainda possuía
camarins, várias oficinas e salas de estar no segundo andar.
Fig. 07 – Cirque d’Hiver.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
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Os avanços econômicos e sociais que o tempo traz consigo trataram de moldar o gosto do
público, e assim, o Cirque D’Hiver, assumiu várias facetas, como cinema (1907), teatro
(1917), e circo novamente, sob a batuta de vários proprietários, entre eles a famosa família
circense Bouglione, que assumiu a casa em 1934, e a administra até hoje.
Nos anos 80, foi utilizado para toda a sorte de eventos: desde produções teatrais e musicais,
exposições e lançamentos de alta costura, intercalados com eventos circenses, como o
Festival Mondial du Cirque de Demain, realizado uma semana por ano, a partir de 1986. A
década de 90 trouxe uma série de reformas e trabalhos de restauração no prédio, e em
outubro de 1999, a casa voltou a se dedicar aos espetáculos circenses, com a estréia da
produção “Salto”, com iluminação, música orquestrada ao vivo e figurinos especialmente
desenvolvidos para o show. O sucesso foi tanto, que a iniciativa deu início à tradição de uma
nova montagem a cada ano.
Em 2008, mais um trabalho de conservação deixou o mais próximo de seu visual e cores
Fig. 08 – Cartaz do Cirque d’Hiver.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
originais, o que faz dele parada obrigatória no passeio de todos aqueles que admiram as
artes circenses.
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CIRCUS CHIARINI
(Fundado por Giuseppe Chiarini)
Com 55 anos de carreira, Giuseppe Chiarini é conhecido como um dos responsáveis por levar
as artes circenses aos lugares mais distantes do mundo. Percorreu Cuba, Estados Unidos,
passou pela Europa, Índia, Ásia e Austrália.
Nascido em uma família com tradição em montaria, Chiarini construiu uma carreira de
sucesso como treinador de cavalos pela Europa, até conhecer o empresário circense
americano Seth B. Howes em 1852, durante sua estadia em Londres. A ideia era levar à
América um show nos mesmos moldes do Hippodrome de Paris.
As apresentações equestres, ao estilo do Hippodrome, sempre atraíram a atenção da
nobreza européia. Conforme acresciam em popularidade, passaram a incluir números com
adestramento de outros animais além dos cavalos, como também, equilibristas, acrobatas,
malabaristas, manipuladores de bonecos e outros, que se distribuíam em outros pontos
Fig. 09 – Circus Chiarini no Japão.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
além da construção principal, como palcos e tendas.
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Em 1856, durante uma visita a Cuba, que na época estava sob domínio espanhol, Chiarini
abriu o Circo Real Espanhol – Royal Circus Spanish, que entre as atrações, contava com a
participação de nomes como o cavaleiro americano John Glenroy, e o acrobata britânico
George Orrin. A experiência foi tão boa, que a companhia retornou no ano seguinte. O êxito
lhe deu segurança para explorar novos territórios, e de lá foi para o México, nos anos de
1864 e 1865, mantendo visitas regulares a Cuba neste mesmo período.
A partir de 1968, Chiarini e sua trupe dirigiram-se ao Chile, Panamá, Argentina e Brasil, com
apresentações na Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco, entre os anos de 1875 e 1876.
O Circo Chiarini tornou-se referência de espetáculo circense, por ter visitado locais que
nunca haviam recebido este tipo de show. Entre as autoridades que já assistiram ao Circo
Chiarini estão o Czar Nicolau I da Rússia, Dom Pedro I no Brasil e Mitsuhito no Japão, entre
outros.
Giuseppe Chiarini morreu em 1897, aos 74 anos no Panamá durante uma turnê. Seus filhos
não seguiram com a tradição, encerrando também a vida da companhia.
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BERTRAM MILLS CIRCUS
(Fundado por Wagstaff Bertram Mills, em Londres)
Bertram foi criado em pequenas fazendas, onde desenvolveu sua paixão pela equitação e
pelos cavalos. Aos deixar o exército – chegando ao posto de capitão. Em dado momento, ao
assistir um espetáculo do “Wilkins e Young Circus”, se viu forçado a fazer uma aposta, que
em um ano faria uma companhia de circo tão boa ou melhor do que foi apresentado,
mesmo que seu contato até então tenha sido apenas com a exibição de cavalos. E assim foi
feito, através do “Bertram Mills Internacional Circus”.
A primeira produção foi um grande sucesso, considerado e elogiado pela imprensa como “o
melhor show em Londres”. Trazendo o circo britânico a um alto patamar, que elevou o
status do circo para alturas até então inimagináveis, ao apresentar um show de qualidade
reconhecida. O caminho trilhado pelo britânico teve como fator de impulso, o fato de Mills
Fig. 10 – Bertram Mills.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
ser um atento observador das transformações que desfilavam além dos seus interesses
imediatos.
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Considerado o renovador do cenário circense britânico, o Bertram Mills ajudou a pavimentar
os caminhos de várias companhias. Isso se deve a uma enorme gama de interesses e
experiências administrativas.
Com múltiplas habilidades e interesses, este cidadão londrino participou de variadas
comissões e conselhos no segmento de entretenimento, e também por isso, teve seu
reconhecimento público e uma inquestionável referência como “Showman”. Uma de suas
ações incluía conhecer os nomes importantes e formadores de opinião em vários
segmentos, como líderes industriais, culturais e da imprensa, além de autoridades
governamentais, para atraí-los aos shows, e assim, agregar o interesse do grande público.
Fig. 11 – Bertram Mills no Olympia em 1937.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
Entre os nomes que o Bertam Mills possuiu em sua grade de estrelas, excelentes artistas nas
mais diversas modalidades, estiveram ícones como a Trupe Siegrist-Silbon de trapezistas; a
lenda do malabarismo Enrico Rastelli, a famosa travesti acrobata e trapezista Barbette; o
"mago dos arames" Con Colleano; Katie Sandwina, considerada a mulher mais forte do
mundo; o contorcionista em trapézio Albert Powell; os montadores Baptista Schreiber,
Roberto de Vasconcellos, Jean e Marcelle Houcke e Fredy Knie; a domadora de tigres e
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panteras negras Mabel Stark; Koringa e seus crocodilos e Tuffy, um leão que andava no
arame; além dos palhaços, como Pimpo, Doodles e Coco, e outros.
A qualidade apresentada estruturava-se em cinco princípios. O primeiro era colocar
“qualidade” em tudo; o segundo, apresentar apenas os melhores; o terceiro, engajar
pessoas mais influentes na causa do circo; em quarto, promover os atos ou artistas como
estrelas do show e o quinto, usar e desenvolver-se como relações públicas focado na
publicidade do segmento.
Bertram Mills, com a sua excelência e visão estratégica, contribuiu para levantar o status das
artes circenses, conseguindo até o patrocínio da realeza britânica. O sucesso era tanto que
em 1926, o então Príncipe de Gales participou de um espetáculo espontaneamente, para
surpresa do público.
E quando parecia que tudo já estava feito, ele ainda conseguiu ramificar sua companhia, e
fazê-la viajar por outras partes da província, utilizando-se de linhas férreas, para transportar
seu circo de lona com apresentações de qualidade, o Mills Circus. O visionário dizia a seus
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filhos – Cyril e Bernard, que sempre o acompanharam: “Só porque vamos viajar como um
circo itinerante, eu não vou deixar vocês viverem como ciganos. A mesma regra é válida para
cada artista da companhia. O Mills Circus irá se apresentar como profissionais e viver como
cavalheiros”.
Morreu em 1938, e deixou um legado através dos filhos, e sua mulher como diretora da
nova companhia – Cyril e Bertram Mills Ltd.
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CIRCO AMERICANO FEIJÓO E CASTILLA
(Fundado em 1940, por Arturo Castilla, na Espanha)
O empresário espanhol Arturo Castilla ocupa um lugar importante no hall dos grandes
proprietários circenses, comparado a visionários como Bertram Mills. Enquanto seu colega
britânico ergueu um império a partir de sua visão de negócios e bons talentos conquistados
ao redor do mundo, Castilla foi responsável por uma nova fase do setor, ao incorporar
elementos estéticos do teatro, adaptando o circo às novas demandas do entretenimento,
frente à concorrentes como a televisão e o cinema.
Além desta incorporação de linguagens, Arturo estava ciente da importância da mídia para a
sobrevivência do circo e soube como poucos administrar estratégias de relações públicas e
marketing. Outro ponto importante foi o seu olhar atento fora dos picadeiros e perceber o
potencial das grandes arenas esportivas para montagem de espetáculos, além de encorajar a
troca de experiências e profissionais entre as maiores companhias circenses da Europa.
Fig. 12 – Cartaz do Circo Americano Feijoó e Castilla
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
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A paixão de Castilla pelo circo veio desde os 13 anos de idade, quando seu pai, Raimundo
Castilla, o levou para assistir ao circo alemão Krone, que visitava Bilbao, sua cidade natal, em
1929. Após o primeiro contato, Arturo estudou Belas Artes na Escola de Artes e Ofícios de
Axturi em Bilbao, e juntou-se a um clube de circo amador. Em paralelo, uniu-se a três amigos
para fundar um grupo de palhaços, conhecidos como os Hermanos Cape, que circularam por
diversas companhias no continente europeu.
Em 1940, chegaram ao Circo Feijóo, conhecido em toda a Europa por ser um celeiro de
palhaços. De lá saíram os mais renomados profissionais da arte da palhaçaria, da qual a
Espanha tem tradição. As seis temporadas no Feijóo foram suficientes para dar segurança e
fazer com que Castilla conquistasse a confiança e a amizade de Manuel Feijóo-Salas, filho do
proprietário da companhia.
A amizade deu como fruto um novo circo, desta vez batizado de Circo Americano, que saiu
em turnê no ano de 1946, com estruturas de segunda mão a partir de materiais de uma
outra família circense. A partir daí, percorreram cidades com números comumente
associados ao universo circense, como Fassman, o hipnotista, o palhaço Ramper, além de
elementos culturais do continente americano, como Edward Gray, um sósia de Buffalo Bill,
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vindo do Canadá em 1951, que ganhou fama com números de laços e atirando facas.
Começava aí a faceta teatral das apresentações.
Foi com o sósia do Bufallo Bill que Castilla criou campanhas de marketing amparadas em
produções caprichadas para desfiles levados às ruas com o elenco, cujo objetivo era
anunciar a chegada do circo à cidade. Grandiosas e calculadas, as apresentações seguiam
concepções teatrais com esquetes e pequenas operas com arranjos musicais e figurinos
desenvolvidos especialmente para cada temporada.
Entre os números, montadores de cavalos, domadores de animais selvagens, acrobatas,
aéreos, palhaços e mágicos. Tudo embalado em enredos com inspirações nas Mil e Uma
Noites, na Rússia dos Czares, no Velho-Oeste norte-americano e até mesmo nas histórias de
improváveis viagens espaciais. A crítica da época dizia que Castilla e Feijóo estavam
distanciando o circo de suas raízes, mas ao mesmo tempo, devolviam a ele a pompa e
circunstância de épocas passadas.
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O Circo Americano Castilla Y Feijóo pavimentou o modelo de apresentações adotado hoje
por grandes companhias como Cirque du Soleil e Tihany. A estrutura também foi motivo de
inspiração para as companhias que vieram depois. Em 1958, sua lona foi ampliada,
tornando-se uma tenda de seis pólos com um único anel no centro do picadeiro, por onde
desfilavam os artistas em sua entrada.
Castilla levou adiante diversos projetos paralelos que se completavam, entre festivais e
congressos circenses, shows musicais e equestres. Sua trajetória com o Circo Americano
terminou em 1976, cujo nome e conceito foi transferido para as mãos de Enis Togni, dono
do Circo Heros, um dos maiores da Itália. Arturo Castilla faleceu em 12 de novembro de
1996, aos 86 anos de idade.
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FAMÍLIA TOGNI
(Origem italiana)
A família Togni é conhecida como uma das maiores e mais antigas dinastias do circo ainda
ativas. Eles conseguiram se manter no cenário circense por cerca de um século, graças a dois
fatores básicos: um bom tino para a descoberta de novos talentos nos picadeiros e no foco
pela excelência na gestão administrativa dos negócios da trupe. Aristide Togni (1853 - 1924)
era um jovem estudante universitário quando fugiu com o Circo Torinese, uma companhia
que se apresentava em teatros e outros espaços fechados. A trupe Torinese tinha laços na
cultura cigana, pela figura de Maria de la Garenne, esposa de
Giovanni De Bianchi,
proprietário da companhia. E foi com Teresa, filha do casal, que Aristide construiu a sua
família e futura companhia.
A imersão no universo circense, permitida pela reunião deste conjunto de profissionais, era
tão grande, a ponto deles desenvolverem avanços técnicos amplamente utilizados nas
companhias até hoje, como a estrutura de cúpula redonda, criada em 1940, a cúpula de
quatro mastros e uma em forma de abóboda em 1970, e a de quatro mastros sem o mastro
central, em 1990.
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Aristide e Teresa tomaram a estrada com a sua própria companhia, que consistia apenas de
um vagão e um macaco, com o acréscimo de uma pequena lona de um mastro com
capacidade para 40 pessoas, adquirida em 1880. Nascia ali o Circo Togni. A trupe (e o
diâmetro da lona) foi aumentando com o tempo, recebendo artistas de diversos locais e
contando também com os herdeiros no elenco - O casal Togni teve oito filhos. A dedicação
ao espetáculo gerou frutos: em 1919, o então rei da Itália, Victor Emmanuel III, concedeu ao
Togni o título de Circo Nacional.
Circo Nazionale Togni (1949) teve o apoio do governo. Com morte de Aristide, o Circo
Nazionale Togni foi assumido por três de seus filhos, Ercole (1894 - 1958), Ugo (1807 - 1981)
e Ferdinando (1900 - 1990), que utilizaram tanto a lona quanto os teatros, dependendo das
temporadas. Enquanto o verão convidava a caravana a rodar livremente pelo país, o inverno
os permitia se apresentar nos teatros mais bonitos de sua terra. O seu sucesso despertou
olhares de nomes poderosos, que viram no circo uma ferramenta propícia para propaganda
política.
O retorno do circo a meandros políticos se deu quando o governo fascista apoiou a
companhia durante a década de 1930. Isso permitiu que a família pudesse investir mais em
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sua estrutura para oferecer os melhores espetáculos da época. Para se ter uma idéia da
grandeza do Togni, ele possuía cerca de 20 membros, entre filhos, netos e integrantes de
outras famílias com tradição artística. Entre os números, o público podia assistir desde
aéreos, palhaços, acrobacias, números equestres, domadores de leões, tigres, ursos e até
elefantes.
Os netos de Aristide, Darix, filho de Ercole, e Cesare, filho de Ugo, tornaram-se as estrelas de
sua companhia no final dos anos 40. Entre as apresentações mais aplaudidas, estava a
formação de pirâmide humana durante o passeio de cavalos e as incríveis acrobacias aéreas
de nove ginastas, que dividiam dois trapézios entre si. Mas um grande incêndio iria mudar os
rumos da família em 1951. Após o Circo Nazionale Togni ser reduzido a cinzas, muitos
acharam que só haveria duas saídas para aquela situação: ou a dinastia se encerrava ali, ou
tentariam um recomeço. Optaram pela segunda opção, mas com um diferencial: Das cinzas
do Togni, renasceriam outros três novos circos!
Circo Darix Togni (1951 -1980). A boa fama de Darix levou a família a assumir seu nome
nessa nova empreitada. Isso gerou dois aspectos muito positivos para o sucesso da nova
iniciativa: Curiosidade e Confiança. O primeiro iria atrair um público que especulava sobre o
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que havia sido feito do Circo Nazionale. O segundo traria mais segurança para que as
pessoas fossem conferir esta nova fase, amparada pela excelência nos espetáculos ao longo
dos anos.
A nova tentativa circense trazia os irmãos Darix, Wanet, Wioris, Leda e Doly, com Wioris
destacando-se como uma excelente administradora da companhia, ao lado de Darix. Juntos,
eles fecharam negócios e apresentações que foram recordes de sucesso na época, com casa
cheia em países como Grécia, Egito e a Ilha de Chipre. No ramo das inovações,
desenvolveram uma tenda especial para a turnê do Circo de Moscou na Itália em 1959 e a
criação de jaulas metálicas para os animais. Um novo incêndio se ateve sobre o picadeiro em
1963, e mais uma vez, a necessidade deu espaço a criatividade: Eles inventaram uma super
tenda de 10 mastros, sedimentando de vez o nome da família como líderes no ramo de
fabricação de lonas e estruturas.
Circo Cesare Togni. Sob o comando de Cesare (1924 - 2008) e Oscar (1929), o Circo Massimo
estreou em 1956, considerado o maior circo da Europa, composto de três cúpulas e um
número aquático além dos tradicionais. Mas os irmãos separaram-se, e em 1970, Cesare saiu
na estrada com o Circo Cesare Togni, acompanhado de seus filhos Elvio, Alex, Italo e Viviana,
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que se apresentavam com números equestres, acrobacias e aéreos, além de treinar animais
como elefantes e cavalos.
Em 1983, o Circo Togni retornou ao seu formato de três cúpulas, percorrendo países como
Turquia, Malta, Grécia e Yugoslávia, com sucesso de público e crítica. Enquanto isso, Oscar
Togni trabalhava coordenando a turnê italiana do Circo Las Vegas, braço internacional do
norte-americano Cassino-Hotel Las Vegas. Embora ele tenha saído em turnê com seu Circo
Oscar Togni durante os anos 90, ele e seus filhos voltaram a trabalhar em outras companhias
européias, com números equestres e elefantes domados.
Circo Lídia Togni. Casada com Riccardo Canestrelli, a irmã de Cesare fundou seu próprio circo
em 1970, batizado de Circo Royal, de curta duração. Mas a tradição seria perpetuada por
seus filhos, Vinicio e Davide, que amparados pela larga experiência treinando animais nos
lendários circos Bouglione e Amar, resolveram prestar uma homenagem à mãe, fundando o
Circo Lidia Togni em 1980, na ativa até hoje.
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O Circo Lidia Togni iniciou sua trajetória apresentando números equestres de reconhecida
sofisticação, intercalada com apresentações musicais que chamavam atenção pelo figurino,
energia e afinação de suas performances. Nos anos 2000, a companhia trouxe espetáculos
de diferentes formatos, como a patinação do Circus on Ice, em 2007, entre outros.
Circo Americano. Ferdinando Togni e seus filhos Adriana, Bruno, Willy e Enis fundaram o
Circo Ferdinando Togni em 1954, um dos mais rentáveis do período pós-segunda guerra.
Também conquistou fama por suas apresentações equestres e animais selvagens, com
Bruno domando leões, e Enis domando tigres.
Uma das características do Circo Ferdinando Togni era o fato dele ter unido forças com
outras companhias, misturando seus atos e apresentando-se sob a mesma lona. Em 1959,
sua trupe juntou-se à do alemão Circus Williams. Em 1960, a família investe no formato de
três cúpulas, com o Circo Heros, considerado o maior da Europa durante esta década. A
união de companhias seria mais uma vez utilizada pela família durante a chegada dos circos
norte-americanos Ringling Bros. e Barnum & Bailey, em 1963.
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A chegada de uma grande companhia do outro lado do Atlântico era motivo de notícias e
curiosidade em todo o meio artístico. Para contrabalançar essas novidades, a família Togni
se aliou a Carola Williams e os produtores espanhóis Arturo Castilla e Manuel Feijóo, do
lendário Castilla-Feijóo para criar o Circo Americano (que de americano só tinha o nome).
Com essa tática eles aproveitavam a turnê dos visitantes e presentearam o público com uma
super companhia, composta pelo melhor elenco já visto de circenses da Europa, seguido de
uma manada de 25 elefantes e três tropas de cavalos.
A família Togni somente assumiu o nome Circo Americano de forma definitiva em 1975, após
ter atuado em parceria com outras companhias durante a década de 60, como o Circo Knie
na Itália; Circo di Berlino, em parceria com o Williams, e Hero, em parceria com CastillaFeijóo. A partir daí, a companhia acumulou uma série de êxitos e reconhecimento de
associações e grupos internacionais, tendo sediado o Festival Internacional de Circo de
Montecarlo em 1976.
O final de década de 70 trouxe uma nova cena de números circenses. A partir daí, as
apresentações com animais tiveram de ceder um pouco de seu espaço para os novos
talentos dos números aéreos e outros segmentos: a família Togni estava "antenada" e
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acompanhando as novas tendências. Seus integrantes continuaram fazendo justiça à
tradição da família, mantendo o Circo Americano em turnê pela Europa até hoje. Eles
também seguem contribuindo para o setor, seja como professores e diretores de instituições
circenses, ou se apresentando e elaborando números para outros grupos, como os franceses
Arlette Gruss e Cirque D’Hiver-Bouglione e o sueco Cirkus Maximum.
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CIRCO IMPERIAL DA CHINA
(Fundado pelo Estado Ning, em 1951, China)
O Circo da China ocupa o posto da mais antiga companhia de profissionais das artes
acrobáticas em circulação na China após a fundação da República Popular. Composta por
cerca de 150 atletas, vencedores de competições nacionais e internacionais, tendo visitado
mais de 50 países nos cinco continentes, contribuindo para o intercâmbio cultural e
diplomático no país.
A incursão dos chineses pela arte circense é antiga. Data da época dos imperadores, que
eram entretidos pelos números artísticos há pelo menos três mil anos. A busca por
integrantes da trupe se dá através seleções anuais em todo o país. Os aprovados passam a
Fig. 13 – Circo Imperial da China - Divulgação.
(Fonte: Disponível em: <http://www.circopedia.org>, acesso
em: 01/09/2013)
estudar em Shenuyang, cidade sede da companhia, dividindo seu tempo entre técnicas
circenses e o currículo escolar, durante uma média de sete anos, tempo estabelecido para a
formação de um atleta apto a integrar o elenco.
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BIG APPLE CIRCUS
(Fundado em 1977, por: Paul Binder e Michael Christensen, em Nova York)
O Big Apple Circus nasceu no coração do caldeirão financeiro e cultural do ocidente: Nova
York, mais precisamente num aterro próximo ao World Trade Center, em 18 de julho de
1977. Fruto das idéias do russo Gregory Fedin e sua esposa Nina Krasavina, a companhia
tinha o objetivo de encontrar talentos e treiná-los como a próxima geração de talentos
circenses, aproveitando o fluxo de imigrantes de países variados, o que contribuía para o
contato com novas técnicas e segmentos artísticos.
O casal fundador teve a colaboração de Paul Binder e Michael Christensen, que ajudaram na
concepção dos números, que incluíam trapézio solo e em dupla, cães amestrados, arame e
palhaços, além de apresentadores que envolviam a platéia com entusiasmo e tiradas
divertidas.
Fig. 14 – Cartaz de 1977 do Big Apple Circus.
(Fonte: Disponível em: <http://www.naplesnews.com>,
acesso em: 01/09/2013)
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O Big Apple chamava atenção por ser um ponto colorido em meio ao mar de cinza concreto
da metrópole, e por isso atraiu famílias e turistas, tornando-se também uma atração
turística. Durante os anos 80, a companhia conseguiu bastante atenção da mídia, tendo
participado até em filmes de Hollywood.
O Big Apple Circus também era conhecido como a New York School for Circus Arts (Escola
Nova York de Arte Circense). Em 1984, uniu forças com o sistema municipal de educação e
desenvolveu atividades complementares para os alunos, com vistas a descobrir e
Fig. 15 – Entrada do Big Apple Circus em 1983.
(Fonte: Disponível em: <http://www.naplesnews.com>,
acesso em: 01/09/2013)
desenvolver os talentos em potencial.
Em 1986, o Big AppleCircus deu um de seus mais importantes passos, ao abrir a unidade de
palhaçaria terapêutica, com palhaços profissionais treinados extensivamente em
procedimentos hospitalares e improvisação circense. Esta iniciativa conseguiu levantar
fundos para a construção do Harlem Hospital Center, cuja área pediátrica servia como
central de treinamento dos palhaços doutores. A ação na educação e saúde fio estendida a
outros estados americanos, como Washington e Connecticut.
Fig. 16 – Entrada do Big Apple Circus em 1996.
(Fonte: Disponível em: <http://www.naplesnews.com>,
acesso em: 01/09/2013)
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A vocação social do Big Apple Circus rendeu uma homenagem do então prefeito de Nova
York, Michael Bloomberg, em 2002, ao anunciar a criação de uma data municipal conhecida
como o "dia do Circo Big Apple". No mesmo ano, a companhia foi tema de um documentário
chamado "Carnevale!", dirigido pelo italiano Raffaele De Ritis.
Os administradores do Big Apple Circus conquistaram o respeito de cidadãos e instituições, e
também de artistas de outros segmentos. Sabendo disso, costuraram parcerias com nomes
em ascensão na mídia, como atores de sucesso nos cinemas e artistas e bandas em ascensão
nas paradas musicais, como a cantora Britney Spears, que convidou a trupe em 2008, para
participar da turnê mundial "The Circus Starring Britney Spears".
A companhia segue ativa até hoje, e é parada obrigatória de artistas e espectadores que
desejam ver a chama do circo aquecendo mentes e corações.
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CIRQUE DU SOLEIL
(Fundado por Guy Laliberté, Gilles Ste-Croix, em 1984, Montreal - Canadá)
O Cirque du Soleil atualmente dispensa apresentações, tendo se firmado como a mais
famosa companhia de circo do mundo contemporâneo. Seus espetáculos são uma mistura
de arte dramática com circo e cultura urbana.
Entre as suas características marcantes está a ausência de pausa entre os números, com o
Fig. 17 – Cirque Du Soleil – Foto de divulgação.
(Fonte: Disponível em: <http://www.cirquedusoleil.com>,
acesso em: 01/09/2013)
espetáculo apresentado de forma contínua, acompanhado pela execução de sua música ao
vivo, além do cuidado com o figurino e maquiagens. Apenas no fim da década de 80, o
Cirque du Soleil obteve êxito financeiro que o permitiu criar novos shows. O reconhecimento
rendeu apoio do governo, que financiou a próxima empreitada, que aproveitaria os artistas
de rua em atividade no país.
Na época, Guy Caron era chefe da Escola Nacional de Circo e foi convidado por Laliberté para
ser o Diretor Artístico. Juntos, introduziram músicas de forte apelo emocional que trouxesse
o espectador para dentro da história contada nos espetáculos, mais dinamicidade troca de
Fig. 18 – Cirque Du Soleil – Foto de divulgação.
(Fonte: Disponível em: <http://www.cirquedusoleil.com>,
acesso em: 01/09/2013)
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equipamentos e adereços para não atrapalhar o andamento da apresentação, além não
utilizar animais, concentrando a atenção da platéia no desempenho da trupe.
A infra-estrutura do Cirque du Soleil é amplamente divulgada e admirada pelos amantes da
arte circense. A trupe dispõe de uma aldeia móvel, que inclui uma grande tenda de entrada,
tenda artística, cozinha, escola, além dos equipamentos de apoio à equipe e elenco. Do
ponto de vista social e econômico, o Cirque du Soleil contribui de forma significativa com as
cidades que visita, ao interagir com escolas de circo e utilizando profissionais de diversas
áreas na promoção e realização de seus espetáculos.
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CIRQUE DREAMS
(Fundado em 1993, Estados Unidos da América)
Tem sede na Flórida e como característica a união dos elementos cênicos dos musicais ao
estilo circense europeu e norte-americano, com turnês em parques temáticos, teatros,
cassinos e até mesmo na Broadway. Além de apresentações autorais, a companhia tem
como clientes grandes conglomerados do entretenimento, como os estúdios Disney, as
redes de televisão NBC e ABC, e o concurso anual de Miss Universo.
Fig. 19 – Cirque Dreams - Performance.
(Fonte: Disponível em: <http://www.naplesnews.com>,
acesso em: 01/09/2013)
A companhia possui sete produções temáticas, distribuídas em parques, teatros e turnês
mundiais. São elas: Cirque Dreams Jungle Fantasy, composta por números de malabaristas,
acrobatas, contorcionistas e aéreos, intercalados com musicais; Cirque Dreams Illumination,
uma performance dinâmica e dramática, cujo foco da história é batalha cotidiana das
pessoas comuns das grandes cidades; Cirque Dreams Holidaze, um espetáculo natalino com
todos os ícones desta festa em números de arame, aéreo, dança e canto; Cirque Dreams
Pandemonia, focado na fantasia do mundo da imaginação, com números de acrobacia e
aéreos; Cirque Dreams & Dinner, este apresentado num cruzeiro em alto mar, geralmente
uma versão adaptada dos números da companhia, com a presença de aéreos,
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acrobatas, contorcionistas, piadistas e músicos, durante um jantar servido aos passageiros;
Cirque Dreams Coobrila, encenado no Parque Six Flags, com temática espacial; e o Cirque
Dreams World Tour, desenvolvido em 2012 para entreter as tropas americanas em bases
militares localizadas em 10 países ao redor do mundo.
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