Baixar relatório 2014
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GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO, PETROBRAS, IBM apresentam #animaforum2014 Relatório 2014 OFERECIMENTO PATROCÍNIO GOVERNO DO RIO DE JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO, IBM apresentam GOVERNO DO RIO DEPETROBRAS, JANEIRO, SECRETARIA DE ESTADO DE CULTURA E LEI ESTADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO, PETROBRAS, IBM apresentam #animaforum2014 Relatório 2014 OFERECIMENTO PATROCÍNIO Sumário A cauda longa do curta 6 Apresentação: As estratégias de produção e exportação da Animação Francesa Convidado: Philippe Alessandri 60 Masterclass 1 Inventando Dragões e Vikings Críveis e Divertidos Convidado: Simon Otto 84 A integração Latino-americana 88 Rede de Festivais Latino-Americanos 144 Masterclass 2 Fazendo rostos Convidado: Chris Landreth 170 Projeto SEA 174 Masterclass 3 Criando Personagens Memoráveis Convidado: Eric Goldberg 228 Animação & Games – e Vice-Versa 232 29 de Julho A cauda longa do curta Convidados: Guigo Pádua – SAV-MinC Felipe Lopes – SEC – RJ Talita Arruda – Canal Curta! Zé Brandão – Copa Studio Moderador: Fabio Yamaji A cauda longa do curta O Anima Forum já tem uma história longa. encarar a animação como uma atividade Em sua oitava edição, o evento firma- econômica”, disse. se como o ponto de encontro anual em que animadores, produtores, e todos os Ao palco, Coelho convidou Heliana Marinho, interessados que compõem a cadeia da representante do segundo parceiro, animação no Brasil se reúnem para discutir, igualmente importante, o SEBRAE. avaliar, planejar e pensar os rumos do setor. É o espaço privilegiado da troca. Na “Assim como o BNDES, o SEBRAE também abertura de 2014, Cesar Coelho, um dos tem se debruçado muito sobre a questão quatro diretores do festival Anima Mundi, econômica, tudo que está ligado às linhas além de dar as boas-vindas ao público, fez criativas. A animação e o audiovisual são vitais um agradecimento especial à participação nesse processo. Desde 2006, nós criamos efetiva dos patrocinadores. uma gerência de economia criativa. Nesse sentido, o SEBRAE também se aproxima “A gente faz o Forum com o apoio de do Anima Mundi, principalmente do Anima dois patrocinadores muito importantes. Forum, e com olho grande no Anima O BNDES é talvez a primeira instituição Business. É aí que a gente acha que pode brasileira a entender, em termos plantar algumas sementes. Nossa missão institucionais e de planejamento, a é apoiar pequenos empreendimentos, e é importância da economia da cultura. em busca desses empreendimentos, dessas Tanto que eles criaram o Departamento da possibilidades de negócio, de ampliação desse Economia da Cultura, o DECULT, que está mercado, que nós estamos aqui”, disse ela. se debruçando no estudo de toda essa economia que envolve todas as atividades O Anima Forum estava aberto. O outro culturais, com foco no audiovisual. E, no diretor do Anima Mundi presente neste dia, audiovisual, eles têm uma predileção Marcos Magalhães, anunciou o tema da também estratégica pela animação. primeira mesa: “A cauda longa dos curtas”. Foi uma das primeiras instituições a 8 mudar o escopo da animação. Como “A gente tem que discutir a importância dos banco de desenvolvimento, começou a curtas-metragens frente aos investimentos 9 A cauda longa do curta que são feitos hoje na animação”, disse Magalhães sobre o que considera o laboratório da animação, o celeiro das grandes ideias. “Esse ano, a gente se permite ser um pouco mais poético, pensar mais em ideias, em conceitos. A gente já viu muitos números e leis aqui, e elas continuam sendo importantes. São dados da realidade. Mas o momento é de um mercado razoavelmente estabelecido, o que nos permite pensar em voltar para estratégias que mostraram sucesso no passado e pensar também no futuro. A ideia dos universos que se pode criar para a animação é o que delineia as quatro mesas programadas para esta edição. A mesa ‘A cauda longa dos curtas’ vai falar da permanência que têm os curtas, os que foram feitos no passado e os que estão por vir. Isso para nunca acharmos que curta é aquele formato iniciante que deve ser abandonado uma vez que a indústria se Fábio Yamaji estabeleça. Pelo contrário, tem de continuar Esta é uma mesa importante, voltada a um vivo, e cada vez mais forte”, passando a vez tema que não tem tido a devida atenção e o ao moderador, o animador Fábio Yamaji. devido espaço, disse Fábio Yamaji, logo na apresentação. “Eu sou curtametragista, meu ofício principal é fazer curtas. Enfim, como a vida é curta [risos], eu fui escolhido aqui para gente conversar um pouco sobre esse assunto”, ele anunciou. 10 11 Fábio Yamaji cercou-se também de apoio da ABCA – Associação Brasileira pesquisa acadêmica. “Eu peguei como base de Cinema de Animação –, ele fez, pela o mestrado do animador Léo Ribeiro, o internet, um chamado aos autores de texto ‘Considerações sobre a relevância da curtas-metragens brasileiros com o produção de curta-metragem de animação objetivo de conhecer a trajetória dos no Brasil’. Segundo ele, a animação curtas de animação autorais que tiveram pode ser dividida em três diferentes boa participação em festivais nacionais e grupos de formato de exibição: curta- internacionais. metragem, para festivais e mostras; série, Fábio Yamaji A cauda longa dos curtas Curta é o tema de Yamaji em campo. Com para televisão; e longa-metragem, para “Os autores deveriam conhecer a carreira distribuição cinematográfica. Cada qual dos seus curtas e como eles foram com sua especificidade e características viabilizados, para a gente tentar enxergar próprias. Também podemos dividir a qual que é a importância do apoio público animação relacionando as obras aos – porque a gente sabe que muita gente faz objetivos da produção, em dois grandes curta-metragem sozinho, bancando o seu grupos: as produções autorais – animação próprio trabalho. Claro que a maioria das independente, animação experimental ou animações é feita com recursos próprios, marginal – e as comerciais, que incluem no tempo livre, mas isso é um problema, indústrias de animação, grandes estúdios porque reflete diretamente no resultado e publicidade”, Fábio citou boa parte final. Se tivesse uma grana a gente podia do trabalho do colega, rememorou os elaborar um pouco melhor o roteiro, fazer fundamentos e questionou os caminhos um cenário maior, ter mais personagens. da ABCA. Porque é um processo muito demorado, e 12 muitas vezes pode levar um ano para fazer “A animação que a gente está defendendo um curta se não tiver esse apoio”, explicou. aqui é a animação autoral e totalmente A ideia da pesquisa, portanto, era detectar livre de qualquer amarra, de qualquer como são feitos os curtas e a importância formatação, sendo que o curta de animação do apoio para o curta-metragem, só vai fazer sentido se ele tiver essa principalmente para a animação. liberdade. Eu sou um dos fundadores da 13 está pensando aqui em arte, não somente em indústria, não somente em ter um retorno financeiro, a classe de animadores Fábio Yamaji A cauda longa do curta ou um longa-metragem. E como a gente e curtametragistas da ABCA sentia essa necessidade de fazer barulho e buscar esse espaço que a gente perdeu”, disse. Yamaji fez uma defesa fervorosa do curtametragem como expressão de arte. “A gente sempre pensa o curta-metragem como uma peça de expressão artística. A formatação para televisão e a exibição em ABCA, que juntou animadores, basicamente Internet seriam saídas secundárias para o curtametragistas, porque quando a ABCA nosso trabalho”, defendeu. foi fundada ainda não se faziam séries e 14 longas, e a ideia era buscar um apoio, a De volta ao estudo do colega, o moderador gente se organizar para que a gente pudesse, fez questão de pontuar a importância como classe, demandar os editais para dos festivais de animação ou curta- curta-metragem. Isso aconteceu. A gente metragem como uma rede paralela de conseguiu um edital específico com o MinC, distribuição. É por onde os animadores em 2004, mas depois nunca mais voltou. ganham visibilidade e alcance. Mas não É nesse ponto que a gente está voltando rentabilizam a expressividade ganha. agora: por que a ABCA acabou direcionando Trata-se, portanto, de um modelo que a sua força para séries, para longa- atende muito mais a produtores do que metragem?”, questionou. aos autores. O curta perdeu espaço, segundo Yamaji. “Eu Para demonstrar que o caminho do festival continuo no curta-metragem e, por enquanto, como difusor nem sempre rende os frutos não tenho nenhum projeto de fazer série que o animador espera, Fábio Yamaji 15 maioria deles foi feita com recursos prêmio de melhor animação brasileira do próprios. Alguns chegam à competição. E Anima Mundi, desde a estreia do festival os que acabam sendo premiados são os como mostra competitiva. que tiveram apoio de edital”, sentenciou. “São prêmios de público. O que eu notei aqui, A pesquisa de Yamaji também abrangeu por exemplo, é que os primeiros filmes, lá no um outro festival, desta vez estrangeiro, finzinho dos anos 1990, foram viabilizados o Annecy. “Eu estou pegando o principal, com recursos próprios. Ou seja, o próprio que são os curtas brasileiros que passaram animador bancou seu trabalho”, afirmou. pelo festival. Nem falo de competição, Fábio Yamaji A cauda longa do curta tomou como base os filmes ganhadores do porque foram só cinco vezes. O primeiro O apoio público para o curta-metragem, as curta-metragem brasileiro a competir políticas públicas específicas para produção, em Annecy foi ‘Tourbillon’ (1963), de defendeu Yamaji, são determinantes para Bassano Vaccarini e Rubens Lucchetti. a viabilização e a trajetória do filme. E, E o que eu queria pontuar aqui é que fundamentalmente, influenciam a qualidade dos animadores que chegam ao festival do produto final. Os exemplos vão de “O internacional, todos eles ou quase todos Espantalho” (1998), de Alê Abreu; “Deus eles tiveram um destaque no cinema, ou é Pai” (1999), de Allan Sieber; “Chifre de na animação e no cinema. No caso do Camaleão” (2000), de Marão, “O Lobisomem Rubens Lucchetti, competiu em Annecy, e o Coronel” (2002), de Elvis K. Figueiredo e depois ele se tornou um dos grandes Ítalo Cajueiro, a “Os Irmãos Williams” (2000), roteiristas do cinema brasileiro e também de Ricardo Dantas. de quadrinhos”, exemplificou. “O que eu quis mostrar é que o curta deu força para 16 “Não sei se é uma coincidência, mas os que depois esses animadores pudessem curtas que passaram a ter esse apoio seguir fazendo longa, fazendo séries e, público foram esses que chegaram a ser enfim, criando festivais, seguindo assim no premiados no Anima Mundi. Contando cinema, mostrando a importância do curta- que hoje são mais de trezentas inscrições metragem para a carreira dos animadores, de curtas brasileiros no festival, a grande para o mercado de animação”, finalizou. 17 A cauda longa do curta realista, menos apaixonada”, ele brincou e avisou seria esse o rumo que seguiria. “Vamos tentar uma abordagem mais pragmática, já que eu represento, de certa forma, a indústria”, ele seguiu, bemhumorado, numa tentativa de explicar o mercado brasileiro de animação: “Lá na PUC, falaram que eu devia fazer isso e eu não sou tão pragmático talvez, nem tão apaixonado, talvez. Mas fiz a minha pesquisa. Fui em todos os animadores com quem já trabalhei e que já trabalharam lá no Copa, perguntando para eles todos os estúdios de animação que eles conheciam no Brasil. Foi a minha amostragem, Zé Brandão Copa Studio A tarefa de defender o curta é fácil, avisou Zé Brandão. Defesa apaixonada, abordagem pragmática: “Gostei desse negócio do ‘curta é vida’. Achei maneiro. A vida é curta, curta a vida, a vida é curta... é bom! E aí por essas coisas, ‘a vida é curta e é maneiro’, eu quis também dar um título para a minha fala. Eu não sei o que é pragmático, mas a minha mulher me falou que é uma abordagem um pouco mais 18 mas é uma amostragem interessante. A gente conseguiu levantar que o mercado brasileiro de animação hoje tem 60 estúdios de animação, e a nossa referência para estúdio de animação era pelo menos cinco pessoas dentro do estúdio. Esses estúdios produziam publicidade, institucionais, séries, games e longas-metragens. Dentro desses estúdios se tem mais ou menos 800 profissionais trabalhando. Eu fiquei meio impressionado com esse número. E, no mercado, a gente tem muitos animadores independentes. Temos no Brasil o segundo maior festival de animação do mundo, 19 “Eu dirigi um curta, lá atrás, depois outro, em 2013 e outro 2014, sendo que, em 2014, com incentivo. ‘Rattus Rattus’ (2009) passou me corrija se eu estiver errado, o Brasil aqui no Anima Mundi, e muito me orgulhou. era o país com o maior número de longa Eu trouxe minha mãe ao Rio de Janeiro, ela metragens da mostra. Alguém me confirma até chorou, tadinha. Mas minha mãe chora isso? Ninguém confirma? Então vocês são até em inauguração de supermercado, tão desinformados quanto eu”, provocou. então não é uma coisa assim. Então, eu Zé Brandão A cauda longa do curta correto? Tivemos um vencedor do Annecy comecei dirigindo com o curta. Eu acho que Tudo isso para dizer o que ele considera eu não dirigiria uma série hoje se eu não inquestionável: o Brasil é um país que tivesse a experiência de dirigir curtas”, disse tem leis de incentivo e bastante produção o diretor de “Tromba Trem”. própria de animação. O mercado pode ser carente, mas é lindo, na definição dele, por Zé Brandão enumerou exemplos dos obra e graça dos curtas. diretores que hoje atuam em longasmetragens e séries de TV, todos com 20 “Os curtas são os grandes responsáveis. curtas-metragens no currículo. “Está fácil Porém, os curtas estariam perdendo terreno, para mim defender a tese de que o curta- é a tese que estamos levantando aqui metragem é importante para todo o resto hoje. Como eu não posso falar por outros da indústria de animação. Mas, como se não estúdios, eu vou falar do estúdio em que eu bastassem essas coisas mais pragmáticas, trabalho. O Copa tem seis anos, três sócios, a gente pode ainda destacar o quanto os 54 colaboradores, três séries em andamento. curtas-metragens são referências para Desses 54 colaboradores, 45 são artistas. qualquer pessoa que queira fazer animação. E antes de entrarem no Copa, 41 já haviam O quanto eles são experiências, o quanto colaborado com algum curta-metragem você pode testar. O canal não vai bancar. E antes. Ou seja, a grande maioria deles quando eu digo bancar, não é só dinheiro, adquiriu experiência, entre outras coisas, é uma aposta em vários níveis, muitas trabalhando em curtas-metragens”, ele fez experiências. Eu acho que o Leo Ribeiro as contas para comprovar a força do curta, foi meio duro lá quando ele disse que inclusive em sua trajetória como diretor. ‘nós, animadores, que fizemos o caminho 21 Zé Brandão A cauda longa do curta contrário para a indústria e nunca mais fizemos o caminho de volta’. É preciso, portanto, reconhecer que os incentivos governamentais são importantes e necessários. “Em todas as áreas em diversos países. Na verdade, quase todas as indústrias, em algum momento, tiveram algum tipo de incentivo governamental. Então, não tem que ter vergonha de ter uma indústria que, para crescer, precisa de incentivo do governo. Isso é básico na economia como um todo”, pontuou. Os incentivos existem, garantiu Zé Brandão, principalmente para séries e longas. Mas é o curta que mais precisa de patrocínio: na série de animação, a gente tem inclusive 22 “Existem vários tipos de incentivo. Existe a possibilidade de o canal investir recursos aquele patrocínio direto de recursos não do chamado dinheiro bom, que é o dinheiro reembolsáveis, e é isso que eu acho que não incentivado, do seu próprio bolso com o curta-metragem precisa. Existem vários uma porcentagem do valor da série. Hoje incentivos interessantes para série e longa- em dia, a gente não tem um canal no Brasil metragem, que não servem muito ao que tenha a capacidade de bancar 100% do curta. E eu não posso ser leviano de achar valor de uma série, mas ele pode dar 20%, que a indústria de animação brasileira 30%, ou seja, algum dinheiro já pode vir de série e de longa sobreviveria sem de um dinheiro não incentivado, enquanto incentivo estatal. Mas o curta, pelas suas para o curta isso é muito difícil. Você não características, tem mais dificuldade de tem instituições que patrocinem curtas- conseguir outros incentivos. Por exemplo, metragens que não tenham de alguma 23 Que besteira. Olha, vocês, animadores, são pessoas incríveis. Por que vocês tem medo de estar entre os outros tipos de curtas Zé Brandão A cauda longa do curta entre todos os outros curtas-metragens? metragens?” Não! A gente não tem medo. O problema é que é quase impossível avaliar os dois ao mesmo tempo com a mesma parcimônia”, argumentou, ele, dando um exemplo concreto: “Eu participei como júri de um edital que era todo ele muito bem intencionado. Tanto é que chamaram dois representantes da animação para garantir que a animação tivesse a sua defesa. Mas era um edital em que os curtas estavam juntos. Poderia dar certo? Não deu. Eu tive acesso depois, à nota de um dos jurados, e vi que para todos os curtas que eram de animação, o jurado forma alguma relação com incentivos tinha dado nota um, que era a menor públicos. Muitas vezes, quando grandes nota possível. A justificativa do cara se empresas patrocinam o curta-metragem resumia a uma palavra: animação. Ele deu elas estão fazendo isso também através de um em todas as animações. Por que isso? leis de incentivo fiscal”, analisou. Só porque é animação ganha um? E, por incrível que pareça, ele foi muito sereno, 24 O pleito é por mais editais e linhas de e disse: ‘eu não tenho parâmetros para editais específicas para o curta-metragem avaliar animação, cara. Desculpa’. E aí eu de animação: “Ah, mas que panelinha, achei que era só uma dificuldade desse que covardia, porque você não quer estar cara. Não! Todos os outros concordaram: 25 A cauda longa do curta ‘Olha, a gente entende o que é uma boa narrativa, um bom filme. Mas, na hora em que a gente avalia um orçamento, prazo, a linguagem visual e a técnica, a gente tem essa dificuldade’. Então, a partir daquele momento, eu defendo que as linhas de edital sejam específicas pra animação.” Além da especificidade, Zé Brandão defende a inscrição para pessoas físicas, a diversidade e, fundamentalmente, o curtametragem como essencial para a formação da mão de obra em animação. “O Brasil tem uma escolha: ser um país que faz mão de obra barata para os outros países criarem o conteúdo e a gente animar aqui, ou o Brasil quer ser co-criador de conteúdo. A gente tem essa escolha, e eu acho que a gente tem muito mais o perfil de criador de conteúdo. A gente tem que perceber que o valor agregado cultural que essa indústria criativa tem é muito importante, inclusive para que a gente seja soberano. É uma questão econômica, mesmo.A gente tem de pensar na economia criativa de uma maneira bem consciente. E eu acho que o curta perder espaço não é uma maneira muito inteligente de construir uma indústria criativa”, encerrou. 26 Talita Arruda Canal Curta! Talita tem cinco anos de experiência em curtas-metragens e mais dois no canal Curta! Segundo sua visão o curta não perdeu o espaço que lhe é de direito. Sua fala caminharia mais pelo panorama da distribuição do curta. “Antigamente, a gente só tinha a Lei do Curta, que era para exibição em sala de cinema e as TVs públicas. De uns tempos pra cá, 27 A cauda longa do curta entraram a TV paga, a internet. São dois ser licenciado, precisa desses dois cenários para os quais eu quero chamar documentos e da taxa da Condecine”, ela bastante atenção. Uma preocupação que a explicou. gente tem de ter aqui neste encontro, é não encarar o curta-metragem como formato à A Lei da TV Paga (12.485) criou um novo margem. O curta é um formato específico, cenário. “A gente está experimentando, mas não é só um formato para se iniciar carreira”, é uma lei favorável porque obriga os canais ela esclareceu. de TV por assinatura a exibirem conteúdo brasileiro independente. É um cenário que A Synapse, que atua no mercado de aumenta a quantidade e a qualidade dos distribuição de conteúdo audiovisual há produtos, porque aí você passa a ter mais mais de 25 anos, foi a referência e o ponto políticas de incentivo, que vêm do Fundo de partida de Talita para abordar o tema Setorial Audiovisual.” específico da distribuição, feita a partir de três mercados: TVs públicas, home vídeo e VoD Com a demanda e maior circulação de (Video on demand). “Esses são seguimentos de conteúdo, o que favorece produtores e mercado em que a gente consegue trabalhar emissoras, os contratos exclusivos começam melhor a animação”, disse ela. a ser repensados. “A gente tem de cumprir cota, preencher uma grade, exibir conteúdo O trabalho envolve lidar com as que seja brasileiro e que seja independente. burocracias e exigências para o E cada canal tem a sua demanda, tem o seu licenciamento de curtas-metragens calendário”, explicou ela. características de cada segmento. “Todos 28 os mercados exigem que você tenha Talita partiu, então, para a demonstração de CPB, o Certificado de Produto Brasileiro, como o Canal Curta! trabalha animação. Cabe o registro que você emite na Ancine. Ele a ela a contratação de curtas. Em um ano e possibilita que o seu curta seja negociado meio no ar, o canal contratou 140 curtas, dos em vários mercados de trabalho. Logo quais 20 são animações. O número não é depois, tem o CRT, que é o Certificado expressivo, ela reconheceu, mas foi o possível de Registro de Título. Cada curta, para de ser absorvido dentro da programação. 29 Talita exibiu um vídeo em que o animador e desenhista Marcelo Marão conta sua trajetória e descoberta da animação, desde Talita Arruda A cauda longa do curta curta”. Para explicar as demandas do canal, a adolescência até os primeiros trabalhos, a mudança do Rio para São Paulo, a fundação da ABCA. “Essa é uma peça que fica circulando no intervalo. A gente tem não um dogma, mas uma prática no canal, em que as pessoas que estão lá trabalhando são pessoas próximas ou que pelo menos tentam estar sempre próximas dos realizadores e falar das coisas que elas fazem. Essa é uma das missões do canal”, disse ela, após a exibição. “Inicialmente, era um pouco mais difícil porque a gente estava trabalhando com Sobre financiamento para curtas- semanas temáticas. Então fizemos uma metragens, Talita realçou que o Fundo reorganização e passamos a trabalhar com Setorial Audiovisual, ao mesmo tempo em dias temáticos. E ficou mais fácil trabalhar que ganha destaque, privilegia as séries. Os os conteúdos e fazer aquisição de conteúdo curtas, por sua vez, ficam dependentes dos de uma forma mais livre”, explicou ela, editais e, o que ainda é comum, de recursos exibindo o canal no telão. próprios do animador. “Outras formas de investimento que a gente tem são através Em valores, a média do curta por minuto, dos programadores, os canais.” no Canal Curta!, é de R$ 80. A exibição 30 é feita de duas formas, no “Curta! Os mercados, na outra ponta, estão se Relâmpago” e no programa “A vida é ampliando. O VOD, vídeo sob demanda, 31 A cauda longa do curta segundo Talita, merece destaque. “É um mercado super novo. No Brasil, a gente está experimentando e vendo como ele vai se construir ao longo do tempo, mas são esses serviços que a gente tem, como o Netflix. O Youtube acaba sendo também um tipo de VOD.” As brechas a serem exploradas existem. Outra empreitada destacada por Talita, o site Porta Curtas, que exibe curtasmetragens brasileiros desde 2002, bem antes do advento do Youtube, já tem um acervo de mais de 1.500 filmes online, dos quais 162 são de animação 162. “Uma das formas que a gente também achou de movimentar o acervo de curta-metragem foi trazer o Porta Curtas para dentro do canal”, contou ela, preparando a exibição de mais uma peça, desta vez de promoção do conteúdo do Porta Curtas no canal. Para encerrar, Talita endossou a reivindicação de Zé Brandão: os curtas carecem de editais específicos de animação. Felipe Lopes SEC/RJ O Superintendente de Audiovisual da Secretaria de Cultura, Felipe Lopes, teve como tarefa principal explicar o apoio ao curta-metragem e animação. Tomando como base a última gestão, ele iniciou com um breve balanço: três programas digitais, 2008, 2010 e 2012, com investimento total de R$ 1,7 milhão. Dos 27 projetos de curtasmetragens, apenas três são de animação. 32 33 metragem em evidência. No rol das apoiar a animação é evidente. Assim como questões que envolvem o setor em que a garantia de formação e capacitação tudo é urgente, ele chamou a atenção profissional do setor e a criação de políticas também para os festivais, tratados como públicas que garantam o aumento da estratégicos pela formação de público e por produção. Tudo isso, segundo Felipe Lopes, funcionarem como primeira janela para o deveria caminhar paralelamente. “Na curta-metragem. Felipe Lopes A cauda longa do curta A necessidade de formas específicas de Secretaria, a gente tem visto o aumento do investimento para o longa-metragem, e tem Formar plateias é um tema caro à Secretaria tentado equiparar com as outras áreas”, de Cultura, garantiu Felipe. Um bom exemplo afirmou. é o programa Cinema Para Todos, feito em parceria com a Secretaria de Estado de O interesse tem a ver também com o Educação (SEEDUC). Com foco no audiovisual, respeito à história do curta. “é fundamental é realizado pelo ICEM – Instituto Cultura em pensar numa outra questão que às vezes Movimento, que estimula e democratiza o fica um pouco invisível nos debates, que acesso dos alunos da rede estadual às salas é a preservação e o acervo. Há curtas de de cinema. O objetivo também é provocar animação importantíssimos para a nossa debates e reflexões dentro e fora da sala História. E se gente não tiver uma política de aula. Mais de mil escolas da rede pública que cuide desse acervo, que dê meios para estadual já foram atendidas. as produtoras, para donos de conteúdos cuidarem da melhor forma desses acervos, Também como parte do programa, eles vão acabar se perdendo. E é importante foram selecionadas 30 escolas da rede que a gente sempre tenha acesso a esses estadual para a implantação do Circuito grandes expoentes que fazem parte da de Cineclubes. Cada escola recebeu um história da animação e da história do curta- kit de equipamentos de áudio e vídeo, metragem nacional”, defendeu. acervo de filmes com direitos de exibição liberados para exibição e uma oficina de 34 Felipe reafirmou a necessidade e a capacitação. “A gente vê como é a recepção importância de se colocar o curta- de alunos, muitos deles vendo um filme pela 35 a gente vê que no Porta Curtas a gente tem curtas com mais de quinhentas mil visualizações, a gente vê que tem uma Felipe Lopes A cauda longa do curta de renda das salas comerciais. E quando demanda para esse conteúdo.” Mas o setor, como um todo, tem de se ajustar, uma ponta ajudar a outra. “Os festivais, por exemplo. Hoje, a maioria deles não têm um controle de público de forma tão rígida, e seria muito bacana para o realizador do curta-metragem poder saber quanto está tendo de retorno. Não só financeiro, mas do alcance que sua obra está tendo na população em geral. Isso faz parte da história do filme, isso dá margem, dá amparo para que se possa lutar primeira vez. Isso é fundamental, porque é com mais embasamento para as políticas incorporado como meio de formação desse públicas”, afirmou. aluno”, ressaltou. Para o realizador, seja qual for a sua O curta-metragem também tem o seu linguagem, capitalizar também é essencial. lugar e deve ser assimilado como conteúdo E as possibilidades, cada vez mais, se a ser perpetuado, que vai fazer parte do ampliam: internet, games, aplicativos, séries que o publico quer ver e do que o público de TV, longas-metragens, além do curta, consome, pontuou Lopes. Ou seja, o próprio obviamente. público sinaliza o desejo: Sobre a animação, especificamente, 36 “Hoje, a gente tem uma política que é Felipe Lopes lembrou das oportunidades muito guiada pelos resultados de público, de licenciamentos. “Você tem um 37 Assembleia Legislativa, e aproveitou o espaço esse produto de outras formas. É uma para mostrar como funciona a Secretaria oportunidade para o realizador pensar a de Cultura. “Nós somos um órgão vinculado sua obra e o que ele faz com algo que pode ao Estado, o que faz com que a gente fique ter continuidade. Historietas Assombradas sujeito ao orçamento anual do governo. (para crianças malcriadas) e Minhocas são Ficamos suscetíveis a contingenciamentos e bons exemplos”. a questões que vão além do setor cultural. Felipe Lopes A cauda longa do curta personagem, e consegue trabalhar Um dos principais pontos da Lei Estadual de O curta que vira longa, que pode virar game, Cultura é a criação de um Fundo Estadual de que pode vir a ser uma animação para Cultura, o que traz para o estado um pouco dispositivo móvel, e por aí vai. As linguagens mais de previsibilidade dos recursos, de vão se combinando, se desdobrando, continuidade, o que é fundamental, para que dialogando. Novos produtos vão surgindo e se trabalhe não de forma sazonal, mas que os mercados se abrindo. Os estúdios 2DLab, tenhamos um fluxo contínuo de projetos. Copa Studio e BEELD, segundo Felipe, são Isso, em complementação à Lei de Incentivo emblemáticos no quesito animadores que à Cultura”, explicou. trabalham com carteira de projetos. “Acho isso bacana, faz um e pensa no outro. O Felipe tratou do assunto de forma ampla para (Marcelo) Marão tem essa característica de abranger todos os temas. Do público à falta ser realizador independente. Faz curta e de estudos e dados concretos que fortaleçam está desenvolvendo um longa, ao mesmo as políticas públicas para o audiovisual; de tempo, então é bom pensar nesse mercado, direitos de licenciamento até a cadeia da que é muito pujante e tem muito recurso economia criativa. “Tem toda uma gama de para o audiovisual”, disse ele, reconhecendo obras que são feitas e que acabam sendo que, quando o assunto é curta, no entanto, ou esquecidas ou não evidenciadas por não os recursos são outros - ou melhor, são estarem no circuito de premiações”, disse escassos. ele. “A gente tem hoje esse boom de janelas e de oportunidades que permitem que você 38 Felipe Lopes anunciou que o projeto da Lei explore o seu produto, mas tem que pensar Estadual da Cultura está em tramitação na também num equilíbrio de licenciamento, 39 A cauda longa do curta em como você pensa em viabilizar o próximo projeto para poder ter uma visão estratégica de continuidade.” Para Felipe, o conceito contemporâneo de economia criativa agrega todas essas questões. “É você ter uma visão de empreendedorismo e de negócio. A criação artística faz parte disso tudo, e o sistema não é tão dicotômico assim. Então, quando a gente pensa política pública, a gente tem de ter essa visão macro para tentar garantir que todas as formas de criação sejam apoiadas e deem oportunidade a novos criadores, novos artistas, novos profissionais. Que a formação seja vista, que a preservação do acervo seja vista, assim como a distribuição a formação”, afirmou. 40 Guigo Pádua SAV-MinC Da linha de montagem para o envolvimento com a política no audiovisual. A trajetória de Guigo Pádua foi exatamente assim. Uma das suas primeiras empreitadas foi a participação da criação, em Belo Horizonte, da Associação Curta Minas. “Desde essa época, a gente já tinha essa visão de trabalhar com curta-metragem não como uma passagem, mas como uma estética própria, um produto, um fim em si mesmo. E eu tinha sempre essa impressão de que 41 metragem. Foram premiados 25 curtas- Para minha surpresa, agora (ele está no metragens. Está terminando a fase de cargo desde fevereiro), encontro uma visão recurso para os ganhadores, não sei dizer o contrária”, disse ele. número exato de animações”. O curta-metragem é, sim, valorizado. Assim A constante necessidade de voltar atrás como outras linguagens. “Hoje em dia, até o rendeu uma conclusão. Ainda sem solução: game tem uma valorização concreta dentro “Essa política de editais tem um problema da Secretaria do Audiovisual”, afirmou. sério na base. Nós recebemos 1200, 1300 Felipe Lopes A cauda longa do curta o governo não tratava isso dessa forma. inscrições para premiar 25 curtas. Isso é Por outro lado, há o tal do ridículo, é absurdo. Então, a gente tem de contingenciamento. “A gente chega lá com criar uma outra forma de atender a uma um orçamento maravilhoso, faz orçamentos demanda que está por aí. A gente não gigantescos, pensamos ‘vamos fazer, sabe ainda o que fazer, mas existe essa vamos acontecer’ , etc. Daí a um mês, preocupação dentro da SAV”, reconheceu ele. alguém diz ‘olha, vai ter um corte’. Opa! Agora você gasta mais um mês desfazendo O cenário ainda é confuso. Mais ainda com a o orçamento. Aí você acaba perdendo entrada em vigor da Lei da TV Paga. “Entrou os pontos de contato que você estava um dinheiro novo no setor, que não passa articulando”, contou ele. diretamente pela SAV, mas o setor está se movimentando”, disse ele. O ano de 2014, especificamente, foi ainda mais atípico para a SAV. Copa do Mundo, A qualificação está na ordem do dia: a SAV Eleições, e o planejamento vai ficando de está organizando oficinas de formatação lado, o orçamento que era gigantesco vai de projeto, especialmente para as regiões perdendo elasticidade. Norte e Nordeste. “A ideia inicial seria fazer oficina no Brasil inteiro, não vamos ter 42 “Mas não estamos parados. Daqui a pouco fôlego para isso ainda em 2014. Mas vamos a gente deve soltar a portaria com o fazer em cinco estados do Nordeste, quatro resultado do último concurso de curta- do Norte, além de Brasília, São Paulo e 43 Guigo Pádua A cauda longa do curta Porto Alegre”, contou. A cobertura de todos os estados ficou como meta para 2015. Em cada cidade, serão três oficinas de dois módulos, envolvendo produtos seriados e produtos não-seriados, com foco no mercado de televisão. Entre os meses de setembro e outubro, serão lançados os editais do PRODAV, o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual. “Essas oficinas serão oficinas de preparação. As pessoas irão se qualificar para fazer seus projetos para ingressar nos editais. Por que a gente está dando esta ênfase ao Norte e Nordeste? Porque a gente está vendo que existe um número muito menor nessas regiões e, das inscrições que chegam, a qualidade é baixa. Foi o caminho que a gente achou. Tem que se associar a outras secretarias, outros órgãos. Aí, infelizmente, irão ficar prontos ao longo de 2014. Se a temática não pode ser livre”, ele afirmou. possível, nós vamos refazer essa parceria. Tivemos o Curta Criança, com 12 projetos. Guigo deu quatro exemplos de editais E, especificamente para animação, nós cuja temática foi direcionada: “A gente se tivemos o Curta Animação de Resíduos associou à Fundação Palmares e fizemos Sólidos, que são filmes curtíssimos. Foram um edital específico para a juventude negra. 40 projetos, que receberam a primeira Foi criado o Edital Carmen Santos Cinema parcela agora para realização.” de Mulheres, em 2013, de apoio a curta 44 e média-metragem, que é para mulheres O trabalho, ele realçou, envolve a escassez realizadoras. Foram 20 filmes, que de recursos. “Não existe um descaso da SAV, 45 A cauda longa dos curtas PERGUNTAS E COMENTÁRIOS o que existe é uma falta de fôlego mesmo. Para vocês terem ideia, a gente tem um programa desenhado, o PRONAF (Programa Nacional de Apoio aos Festivais), e a gente descobriu, através do jurídico do Ministério da Cultura, que nós não podemos apoiar eventos. Então nós estamos buscando alternativas para ver como, a partir de agora, poderemos apoiar os festivais. E por aí vai, gente. A gente vai lutando sempre contra essas dificuldades”. Há boa vontade e abertura, ele pontuou. “Não é que a gente funcione sob demanda, mas ajuda muito quando vem a demanda organizada. Então, essa coisa do edital específico para animação para 2015 ou para 2016 só vai sair se isso chegar à SAV de forma organizada. Como uma demanda real, como uma demanda concreta e visível. Então, fica aí a chamada para todos os setores, é meio por aí, ajuda muito o nosso discurso”, ele deu o recado. Pergunta Tenho visto que as pessoas passam a fazer os filmes em torno dos projetos, e não filmes com uma personalidade. Todo mundo começa a fazer séries em ondas, como está acontecendo. Ninguém pensa no outro lado, nos artistas geniais do Ceará, Pernambuco, Rio, São Paulo, no Brasil todo, que têm um trabalho muito interessante, mas não são pessoas que escrevem projetos. Conheço também muitos produtores não tão talentosos, mas que conseguem os editais porque sabem muito bem como fazer projetos. A gente acaba, sem querer, criando uma máfia em torno desses projetos. Um caminho seria apoiar não os projetos, mas os artistas. Quantas possibilidades a gente está perdendo com pessoas que não sabem formatar um projeto e têm que contratar um produtor. Como a gente consegue repensar o apoio aos artistas? Como pensar em outras possibilidades que contemplem mais essa criação artística e menos esses projetos burocráticos? 46 47 Guigo PáduaA gente precisa que vocês falem mais sobre PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas isso para o poder público. Eu concordo totalmente. Dentro do governo, tem muita gente que também concorda com você. A gente precisa é de mais caldo para defender essa ideia. Acho que não tem muita dúvida quanto a esta especificidade da animação, assim como o documentário também tem as suas especificidades também. Felipe Lopes Vou só complementar a mensagem do Guigo. Para além dessa demanda, que é necessária para o poder público, é também pensar em propostas que fujam um pouco do que a gente tem de padrão de edital. Uma coisa que chama muito a minha atenção são laboratórios de criação, espaços de coworking. Trabalhar incubadoras ou núcleos de criação, que fiquem menos presos a um projeto só e que deem margem a um leque, a uma cartela de projetos para que não fique 48 Guigo Pádua Essa política de editais criou também essa tão amarrado a essa coisa de projeto que política de construção de projetos. Tem você inscreveu naquele edital, e que você o edital ali, vou fazer um projetinho para vai ter que entregar, depois de X tempo, encaixar. É claro que surgem projetos muito aquilo finalizado. Essa possibilidade dá legais e um monte de paraquedistas. Seria uma perspectiva de continuidade. Essa necessário um trabalho mais de base, demanda pode ser pensada por essa de longa escala, de longo prazo, em que associação, pelos realizadores e pela gente você não está trabalhando com iminência da política pública também. de um prazo do edital, a grana ali para 49 PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas fazer, mas você está consolidando um trabalho. São essas alternativas que a gente tem de começar a procurar. Pegar 1200 inscrições, metade paraquedista, um terço paraquedista, para premiar 25, isso não é política, isso é cala-boca. Pergunta Há menos inscrições em editais de animação do que de live-action. Havendo um edital específico, como já houve alguns, associados com outras secretarias, outros grupos, não haveria maior número de inscritos? Felipe Lopes Em curta-metragem é um número bem menor em percentual. A gente pode analisar o que está acontecendo no mercado, a partir do surgimento da nova Lei da TV Paga, da demanda que isso acabou criando, um pouco induzida as diversas linguagens, as experimentações no segmento de TV por assinatura. de linguagem, como projetos de animação Para desenvolvimento de série de TV, a que são documentários. É possível a gente proporção é outra, é mais de um terço pensar por outras diretrizes que não sejam de selecionados. A gente pena para específicas, mas que possam criar números conseguir escolher projetos que sejam mínimos. até de documentário, porque tem muita animação boa. Então, é um pouco também 50 Zé Brandão O porquê de um edital que não é específico pensar em políticas que possam ser para animação vir a ter uma inscrição direcionadas. Eu, particularmente, acredito menor é que, às vezes, você não quer nem que é possível fazer políticas que incluam se arriscar a entrar com um projeto dentro 51 a necessidade de desburocratização do claro que é sempre bom você conseguir Estado. Eu falo das esferas federal, estadual um patrocínio para o seu filme. Mas, às e municipal. Como viabilizar projetos vezes, você vê um edital não específico artísticos, viabilizar o fomento de cultura de animação que quer que você faça 15 dentro de uma legislação que muitas vezes minutos de animação com um valor que não compreende o que é esse setor, dentro não procede, ou com prazo muito curto, de amarras burocráticas que não entendem então você realmente não se inscreve. Para a expressividade e o que é uma criação não correr o risco de ganhar, porque aí você artística? Acho que esse é um debate que ganha para fazer, e você vai fazer mais ou tem até que ser mais amplo do que só uma menos? mesa. É uma questão de desburocratização PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas de determinados parâmetros de edital. É da política cultural como um todo. Pergunta Os editais, como um dos principais fomentos que se têm hoje, deveriam ser desvinculados Zé Brandão Gui falou da importância de que a gente da pessoa jurídica e direcionados para se organize, que a gente apresente as pessoas físicas. Principalmente para o curta- propostas organizadas. E eu queria metragem, porque você tem que se associar convidar, caso alguém aqui já não ao produtor, e o produtor levar o seu projeto faça parte, para que a gente continue até o edital para aí ele ganhar. É diferente dando força para a ABCA. Para que a quando você pode ganhar o edital e aí ABCA continue sendo cada vez mais um procurar uma produtora. É só uma maneira momento de encontro de discutir e de mais fácil de conseguir as coisas, uma pleitear coisas juntos. Seria talvez mais maneira mais justa. legítimo que uma associação grande, de grande relevância dentro de todo o meio 52 Felipe Lopes Pensando em edital, em recurso público, da animação, fosse aquela que pudesse realmente a pessoa jurídica é uma questão. indicar nomes. Mas para que isso aconteça, O último edital de curta-metragem foi ela tem de estar em todos os estados, ela só para PJ. Vou colocar para os relatórios tem que ter um número bem grande. Eu atuais essa demanda, mas tem algumas acho que todo mundo que está aqui tem questões que acabam aparecendo. Como de ir até a ABCA. E é isso. 53 Felipe Lopes Deixa eu aproveitar para convidar a instigar nos tempos de duração. O que seria essa a ABCA e os membros do Rio de Janeiro. limitação de tempo para televisão? Pela memória que eu tenho, nesses três anos na Secretaria, acho que é uma das Talita Arruda Na verdade, a gente não tem uma limitação. associações com a qual a gente teve menos Televisão trabalha meio que com alguns reunião e diálogo. Eu não tenho memória formatos de 26 a 50 minutos, mas, para disso, mas como superintendente, estou curta-metragem, o que acaba implicando é disposto a conversar, pensando um que por ser valor por minutagem, por filme pouco nessa questão de nosso programa que é muito pequeno, a gente não consegue de editais. No último, a gente entrou pagar muito. Mas funciona também. O que em contato com todas as associações falo pela minha experiência no canal é que a e representações que têm esse diálogo gente acaba contratando alguns filmes que com a gente. É bom ter essa organização ficam numa média entre 10, 20 minutos, representativa, que é um caminho mais mas não tem um limite definido. A gente institucional de se falar como representante consegue trabalhar com qualquer tipo. PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas de classe mesmo. Pergunta Zé Brandão Só queria dizer que a sua pergunta é Por que a animação entra como gênero, super relevante como forma de encaixar nos editais? Animação não é um gênero. É na grade da TV. Mas a gente tem de uma linguagem e está procurando espaço pensar sempre em produzir o filme ideal, para isso. independentemente se é curta-metragem, de como vai se encaixar. Eu não sei Felipe Lopes Isso de gênero é uma regulamentação exatamente, mas eu imagino que para os que vem de narrativas da ANCINE. Então festivais é interessante que os curtas não a gente segue um pouco o que diz a sejam muito longos, porque você tem a regulação federal. possibilidade de montar as sessões com um maior número de filmes. Eu acho que o 54 Pergunta A gente fala muito na liberdade da criação ideal é você pensar no seu filme, no quanto dos curtas, mas quando a gente quer que um ele deve durar para ser um ótimo filme, e curta passe em algum lugar, vai esbarrando depois encaixar nas grades. A não ser que 55 diferenciada? E também se existe a possibilidade de voltar a fomentar e não setorizar? A gente não deixou de mandar as propostas, a gente continua, insistentemente, mandando as propostas, criando coisas novas. Mas a gente tem visto sempre as mesmas duas, três pessoas PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas já que animação é uma linguagem ganhando o edital e continuando a fazer os projetos. Pessoas que nem precisam mais. Estou falando de fomentar, olhar para os novos artistas e criar possibilidades. Isso está faltando há muito tempo no país. Outra coisa que eu queria saber é se seria possível repensar, nos editais, a questão da formatação. É muito difícil, o seja um projeto de série ou minissérie. Mas tempo não é suficiente. A mesma proposta no caso de curta-metragem, tem de pensar tem de ser reinventada para cada edital. no que vale para o seu filme. Haveria a possibilidade de a gente criar uma linguagem mais universal? Talita Arruda Só completando, é realmente isso. É muito fácil encaixar o curta. E, além da TV, a gente Zé Brandão Bom, na questão da formatação, muito tem a internet. A gente faz um esforço para dessa complicação é resolvida através conseguir abraçar tudo da forma que é, e do Salic (Sistema de Apoio às Leis de tentar fazer essa produção livre circular Incentivo à Cultura). Só como informação, também. até porque não tem nada concreto ainda, existe um grupo interno do Ministério da 56 Pergunta Seria possível, também atendendo aos Cultura estudando formas de simplificar o pedidos gerais de pessoa física, garantir Salic. É sabido que ele é complicado. Isso maior tempo para fazermos a proposta, aí está sendo visto. Eu acho que muito 57 PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A cauda longa dos curtas dessa qualificação dos projetos passa por programas, por trabalhos de qualificação dos proponentes. Sobre o fomento, todos os editais têm sempre uma cota para estreantes. Não resolve problema, é claro, mas significa que existe um mínimo de pensamento nessa renovação. Felipe Lopes Falando um pouco da realidade da Secretaria de Cultura, a padronização deveria vir de um setor federal, mas eu não sei se eu concordo tanto com isso. A debate. Não. O curta é unanimidade. Eu gente já tentou trabalhar a padronização acho válido a gente continuar pensando de formulário de inscrição internamente, em editais de animação. A gente sabe e aparece uma coisa nova e muda tudo. que existe o dinheiro, mas a forma como Existem formatos que a gente consegue está formatado o acesso a esse dinheiro trabalhar, e que são sempre os mesmos, não está aberta para o curta. Mas talvez mas tem novos editais que vão surgindo e um projeto criativo de um canal que faz novas propostas de fomento que acabam curta possa reunir um monte de talentos exigindo novos pensamentos do que vai reconhecidos ou emergentes, e incluir ser avaliado ali. A inscrição da gente é toda produtores. Esse produtor de animação online e a gente tem tido poucas críticas de seria um ‘parceiro criativo’, aquele que quem se inscreveu aqui do Rio. abriga o autor, entende as demandas dele e o livra dessas preocupações de 58 Marcos Magalhães retomou o microfone preencher formulários de edital e saber para encerrar a primeira mesa do Anima quanto de dinheiro ainda tem para gastar Forum. “Nós encerramos a mesa e não no filme. Então, seria muito bacana a gente ouvimos aquela voz contra dizendo que conseguir montar um projeto que pudesse o curta é uma completa perda de tempo, entrar para usar estes recursos e continuar que deve acabar, para esquentar o valorizando o curta”, finalizou. 59 Philippe Alessandri 29 de Julho Apresentação: As estratégias de produção e exportação da Animação Francesa Convidado: Philippe Alessandri No Brasil pela primeira vez, Philippe Allesandri deu as boas vindas ao público, elogiou a qualidade da animação brasileira e disse estar maravilhado com a qualidade dos filmes apresentados no Anima Mundi. Fez um preâmbulo bem-humorado sobre o mercado de animação francês e sobre como o Brasil e a França podem ganhar em produções conjuntas. Alessandri também contou como o seu país evoluiu, nas últimas duas décadas, em técnica, arte, 61 O internacional Zodiak Kids vende e distribui internacionais. no mundo inteiro programas produzidos também por outras empresas, e mantém “Eu vou falar da produção francesa e da uma equipe que desenvolve o que eles maneira como a gente poderia coproduzir chamam de ‘merchandising associada juntos, porque depois de passar três dias às séries’. Allesandri listou algumas das com vocês eu estou realmente convencido produções dos braços franceses do grupo, de que a França e o Brasil têm interesse ambos com sede em Paris: Philippe Alessandri Animação Francesa ensino e produção, para ganhar mercados em trabalhar juntos na animação, seja no domínio do longa-metragem ou - A Marathon Medias, que produziu a série na televisão”, disse, anunciando que Totally Spies!, vista na América Latina no falaria, em particular, sobre o domínio da canal Cartoon Network, realizou também televisão, área que, segundo ele, parece séries como Martin Mystère e, mais ainda mais propícia à colaboração entre os recentemente, Lolly Rock. dois países. - A Tele Images é produtora dos programas Philippe Allesandri dirige duas sociedades, Atomic Betty, uma coprodução com Canadá, Marathon e Tele Images, ambas filiais do Foot de Rue (“Street football” em inglês), Zodiak, grupo internacional presente em 19 ambas exibidas na América Latina pelo países, sobretudo na Europa. Cartoon Network; e Sally Bollywood, série atualmente apresentada pelo Gloob no “No seio do Zodiak Media existe uma Brasil. divisão que se chama Zodiak Kids, que 62 cuida da produção e da venda internacional A coprodução com a França tem muitas de programas para a juventude, vantagens, assegurou Allesandri: “Somos especificamente de séries de animação um território interessante para coproduzir. para a televisão. Dentro dessa divisão, há Primeiramente, porque lá, como no três grupos de produção, o Foundation, na Brasil, há muita expertise em todos os Inglaterra; e o Marathon Medias e o Tele níveis. E, além disso, existe financiamento Images, na França.” disponível para a criação original de séries 63 Philippe Alessandri Animação Francesa de animação. Então, temos disponíveis, ao mesmo tempo, uma expertise artística e uma expertise de produção”, afirmou. No que concerne à expertise artística, a França possui diversas instituições voltadas para a formação de técnicos e artistas, ou seja, toda a mão de obra necessária para a linha de produção de séries e longasmetragens de animação. “Todos os anos, a França forma 500 jovens no campo da animação. Eles são generalistas, isso não quer dizer que nós não ensinamos os estudantes a utilizar os programas específicos em 3D ou em 2D numérico, mas sim que, de início, nós os formamos para fazer cinema. Nós os formamos para fazer animação, animação tradicional. E uma vez que que eles sigam suas vidas profissionais eles compreenderam o que é o cinema, com serenidade, já que os programas vão a animação tradicional e o desenho, é continuar mudando”, defendeu. somente neste momento que nós vamos 64 especializá-los em um programa ou outro. A expertise no domínio da produção, por E assim eles podem entrar tranquilamente sua vez, é garantida pela presença dos no mercado de trabalho”, explicou ele, muitos estúdios e produtores. “Existem lembrando que esse processo leva em muitas pessoas que produzem animação na consideração que os programas evoluem França, e a fragmentação é um obstáculo a cada dois, três ou cinco anos. “Somente que, ao mesmo tempo, permite aos uma formação generalista vai permitir grupos prosperar, porque existe muita 65 O Brasil, no entanto, não figura entre exibiu um quadro com os 10 principais os principais compradores da animação produtores franceses, que representam francesa, o que se repete em toda a América cerca de 60% do mercado. Xilam, Gomo, Latina. Tele Images e Marathon estão na lista. “Quando observamos os países que Conhecimento do mercado internacional, compram as nossas animações, nos segundo Allesandri, também é uma damos conta que as animações francesas expertise importante. Foi o que permitiu, se difundem no mundo inteiro, mas há mais de dez anos, a exportação de constatamos também que o mercado produções e produtores franceses. No da animação francesa na América Latina telão, ele exibiu algumas das séries que são continua muito baixo, menos de 5%. E é por difundidas na América do Sul, sobretudo essa razão que os produtores franceses no Brasil, em canais fechados como Gloob, estão sempre interessados em colaborar Nicklodeon e Cartoon Network, e nos canais com os produtores latino-americanos, abertos, como TV Brasil e TV Cultura. sobretudo com o Brasil, que é talvez o Philippe Alessandri Animação Francesa concorrência no mesmo mercado”, ele líder da América Latina. Para oferecer mais A exportação da animação francesa chances às produções francesas neste está em ascensão, assegurou Allesandri. continente, que é um mercado que vai se “Atualmente, com venda e pré-venda, desenvolver muito nos próximos anos”, movimentamos mais de 60 milhões de justificou. euros. Essa é a prova que nós podemos 66 defender nossa cultura e nos exportar para A lista de razões para alavancar a todo mundo ao mesmo tempo. É a escolha coprodução França-Brasil vai além. Para que o Brasil fez, assim como a França: Philippe Allesandri, os sistemas dos proteger sua cultura e a revelar para o dois países são parecidos, inclusive nos mundo todo. Sob esse ponto de vista, os mecanismos de financiamento. “A França, dois países têm uma abordagem parecida como o Brasil, tem um mercado rico que face a outras culturas, sobretudo aos norte- traz financiamento para as séries de americanos.” animação. Lá nós temos, como aqui, dois 67 contrário de vocês, nós não temos outros canais americanos no financiamento das animações francesas - não obrigatoriamente, depois que Nicklodeon e Cartoon Network escolheram ser difundidos Philippe Alessandri Animação Francesa Channel, também estão por lá. “Mas, ao a partir de Londres. Portanto, eles não têm nenhuma obrigação com a França. Ao contrário de vocês, que conseguiram obter sucesso no financiamento com esses dois canais. Eu espero que no futuro a gente possa convencer esses difusores a participar do financiamento da criação francesa também.” tipos de clientes, os canais abertos e os O financiamento de obras audiovisuais canais pagos. Dentre os canais abertos, na França vem, basicamente, de fontes estão grandes clientes, como o France privadas, nas quais os canais abertos Television, que representa praticamente a participam em maior parcela, porque metade dos investimentos em animação são taxados; e de recursos públicos, francesa. Já entre os difusores privados, provenientes do CNC (Centro Nacional temos TF1 e M6, que abordam assuntos de Cinematografia), um dos órgãos de gerais; e um canal 24h, o Gulli, que é regulação audiovisual mais antigos do menor, com menos dinheiro, mas que está mundo, que é ligado ao Ministério da crescendo”, afirmou. Cultura e administra a política da França nas áreas de cinema e outras artes e indústrias Entre os canais pagos, os mais expressivos da imagem animada. são o Canal+ e o Canal J (ou TéleToon). 68 Entre os pequenos, Allessandri citou Piwi O financiamento via CNC baseia-se e Tiji. Canais americanos, como o Disney fundamentalmente no recolhimento de 69 de televisão franceses”, disse ele, relatando, do sistema é que o dinheiro recolhido em seguida, o caminho obrigatório que retorna diretamente para o setor as coproduções percorrem, ou seja, as audiovisual, ou seja, as taxas aplicadas aos medidas regulamentares: difusores são redistribuídas aos criadores. - 50% do financiamento deve ser francês. Outros investidores do audiovisual francês “Essa é uma regra européia nova, que são exatamente os seus concorrentes pode causar o principal problema entre americanos. Presentes em boa parte das nós. Por isso devemos criar um tratado salas de cinema, os filmes de Hollywood de coprodução bilateral entre a França e o têm seus ingressos taxados. Brasil. O que já existe para o cinema deve Philippe Alessandri Animação Francesa taxas especiais. Uma das particularidades funcionar para a televisão; Há ainda recursos que vêm do exterior. É exatamente aí que entram as coproduções - Um difusor deve participar do com outros países que, como a França, financiamento das obras. “No Brasil, vocês o Brasil, a Itália, o Canadá ou a Austrália, devem ter uma participação de, no mínimo, escolheram proteger suas indústrias 15%, para poder acessar o fundo da Ancine. nacionais de animação com financiamento Na França, são 25% de participação dos público e privado, assim como com cotas difusores franceses. Esses 25% não são de exibição impostas aos seus difusores do valor total, são da parte francesa, é nacionais. bom deixar claro, porque no caso de uma coprodução entre a França e o Brasil, esses Eis a razão do atual foco francês na 25% serão somente da parte francesa”; animação brasileira. A coprodução é uma 70 meta e uma vontade, mas existem algumas - Meta de 14 pontos criativos em 21. “São regras a serem levadas em conta. “O os pontos levando em consideração a mais importante é que a gente encontre criação e a produção. Isso parece muito, um projeto comum que seja capaz de mas não é tão complicado assim de seduzir as crianças brasileiras e as crianças alcançar esses 14 pontos e, por outro francesas, os canais brasileiros e os canais lado, uma vez que tenhamos um tratado 71 franceses e os brasileiros podem encontrar brasileiros como os franceses, e os projetos em comum.” franceses como os brasileiros. Então, no final das contas, não há nenhuma As demandas na França, como no Brasil, dificuldade para se alcançar 14 pontos de estão em todas as faixas etárias. A pré- 21. Mais uma vez, é uma razão para que escolar representa cerca de 20% do nós tenhamos um tratado de coprodução mercado. A faixa entre os 5 e 8 anos fatura entre a França e o Brasil.” 40% do mercado e está espalhada por todos Philippe Alessandri Animação Francesa de coprodução, a gente considera os os canais, como TF1, M6, France Télévision. O ponto de partida, realçou Philippe Há também um mercado para a faixa de 6 a Allesandri, é encontrar um projeto comum. 10 anos, igualmente distribuída em todos os “Uma vez que nós somos criadores, como canais, por meio de dois estilos que são: a somos todos nós, mesmo se nós somos comédia e a ação-comédia. produtores, realizadores ou autores, é a paixão que nos coloca em um projeto e é “Se eu pudesse imaginar um modelo necessário estar apaixonado de um lado ideal de coprodução França e Brasil, eu e do outro do oceano atlântico para ter diria um projeto que fosse compartilhado vontade de fazer uma coprodução. Sendo artisticamente desde o começo. Em que assim, é necessário que a gente tenha a 70% de financiamento viesse da França, certeza de encontrar um projeto comum porque é isso que nos permitiria gerar que possa seduzir as crianças brasileiras e o crédito de imposto e o máximo de as crianças francesas, os canais brasileiros contribuição financeira; e uma participação e os canais franceses. Mas eu não estou de 30% do Brasil. Obviamente que poderia preocupado, porque eu percebo que nossas ser o contrário. O ideal seria que nos séries de animação francesa têm uma boa próximos meses nós pudéssemos ter audiência nos diferentes canais no Brasil. um tratado entre a França e o Brasil”, Também, quando há longas-metragens ele encerrou e abriu o microfone para brasileiros apresentados no festival de perguntas da plateia. Annecy, eles ganham prêmios. Portanto, eu não estou inquieto, porque eu penso que os 72 73 Pergunta Philippe Alessandri Animação Francesa PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Os modelos de financiamento no Brasil são claros e demorados, nós já temos um timing na cabeça. Para ter um projeto aprovado pela Ancine são seis meses. Se aprovado, é quase um ano para receber os recursos. Quanto tempo leva para que na França um projeto seja aprovado e o parceiro consiga levantar os recursos? Qual o tempo com o qual vocês trabalham? Resposta Na verdade, a gente tem a necessidade do mesmo tempo que vocês, mas por uma razão diferente. Os nossos canais 74 de televisão, cada dia mais, quase que do momento em que a gente realiza um sistematicamente, nos forçam a passar piloto de dois minutos, isso nos permite ir por uma convenção de desenvolvimento. A logo em seguida para a imagem final e isso gente vai vê-la geralmente com uma bíblia nos dá uma visão da série. Esse processo gráfica e literária e um primeiro roteiro. leva um ano e, durante esse ano, a gente Para um longa-metragem, a gente vai vê-la vai procurar financiamento internacional. com um roteiro total e depois um projeto Portanto, se vocês têm necessidade de um gráfico. E, depois que a gente fez um roteiro ano para passar pelo filtro administrativo e uma bíblia literária e uma bíblia gráfica, o da Ancine, isso não é nenhum problema, a canal de televisão nos pede para passar um não ser quando isso acontece no momento ano escrevendo outros roteiros e realizar que a gente apresenta aos canais franceses um pequeno piloto de dois minutos. Aliás, nosso projeto. Em todo caso, a partir do isso é muito interessante, porque a partir momento em que um canal francês nos 75 televisão se vendia menos no exterior. Por em uma fase de desenvolvimento. Então, qual razão? Porque, inconscientemente, nós a gente diz a vocês que nós vamos levar tínhamos permanecido muito franceses um ano, para que vocês possam aproveitar e os outros países não viam a série como esse ano para vender aos canais brasileiros uma série que poderia dialogar com seu e para “enrolar” a Ancine. Depois disso, público. E toda vez que trabalho com dois a gente vai ter 18 meses de produção. Eu países juntos, não importam os países - eu acredito que nós somos todos um pouco já trabalhei com a Austrália, coproduzi com parecidos. o Canadá, com a Alemanha ou com a Itália Philippe Alessandri Animação Francesa diz que isso o interessa, a gente vai entrar - cada vez que as diferenças nacionais mais PerguntaAs culturas francesa e brasileira têm fortes são amenizadas, nós conseguimos coisas em comum, mas também têm uma maior universalidade. E eu não tenho o coisas muito diferentes nas suas formas sentimento de ter tornado desinteressante de ser, sobretudo para as crianças. Então, o projeto. O exemplo mais marcante é Sally como você vê essa questão, porque pode Bollywood. Primeiramente, é uma série ser muito difícil de conseguir atingir um que fala sobre uma menininha de origem resultado que seja apreciado pelos dois indiana, mas que vive em uma grande lados, sem ser bizarro ou estranho, ou cidade ocidental. Na França, a gente não que não fale às crianças por causa dessa tem imigração indiana, se tivermos é bem diferença cultural. pouco, ocorre mais na Inglaterra ou no Canadá. Então, já é uma transferência para 76 Resposta Há tanto diferenças como semelhanças, nós. Nós coproduzimos com dois países, mas eu considero essas diferenças uma a Alemanha e a Austrália. Isso nos faz rir, sorte, e eu não digo só por dizer, explico mas os australianos ficaram muito ligados o porquê. Em minha experiência na ao fato de que as crianças se comportam vida profissional, a cada vez que a gente bem. É um tipo de moral anglo-saxã bem produzia sem um parceiro estrangeiro forte, enquanto os franceses eram muito - não porque a gente tivesse recusado, ligados à comédia. É necessário que a gente mas porque não tínhamos encontrado possa rir, mesmo que às vezes as crianças mesmo - sistematicamente nossa série de transponham uma certa moral. Os alemães 77 quer impor seus pontos de vista. Mas, ao fim de seis meses, nós encontramos um ponto de equilíbrio. Pergunta Existem assuntos que são mais Philippe Alessandri Animação Francesa das dificuldades iniciais, quando cada um interessantes para coproduzir? Resposta Sim, existem assuntos em comum, mas isso muda muito rápido, cuidado. É como aqui no Brasil, eu imagino, isso quer dizer que os difusores mudam a cada seis meses. E isso quando temos sorte, porque quando não temos sorte, é a cada três meses. Mesmo assim a gente consegue, porque existem os pontos fundamentais. Existem alguns temas que vão voltar eternamente para todas as crianças, isso é a primeira coisa em que nós devemos nos apoiar. A segunda é que 78 davam muita importância para a lógica existem canais americanos na França e no das enquetes, para que tudo seja crível Brasil que procuram um pouco a mesma e lógico. Cada um tinha suas referências coisa, como Disney Channel, Nick, Cartoon culturais, portanto estava sendo bem Network. Em Londres e em Paris, eles difícil de achar um ponto de equilíbrio. buscam quase a mesma coisa que procuram Mas, no fim das contas, foi uma das séries na América Latina. Isso porque os canais que mais venderam. Então, eu considero americanos têm uma visão completamente uma sorte ter essas diferenças culturais. É globalizada, completamente universal, e preciso experimentá-las para ter certeza, deixam pouco espaço para o resto. Então, mas eu jamais fiquei decepcionado com as essa é uma outra maneira de coproduzir, coproduções internacionais, mesmo diante é necessário que a gente crie o hábito. 79 exterior e decidimos se o projeto é do nosso Network amam um projeto francês e nos interesse ou não. pedem para coproduzir com eles, talvez que se a gente falasse com Disney Channel, Pergunta É bom ver a receptividade e o interesse Nick, Cartoon Network na América Latina, francês em coproduções com o Brasil. Há eles também se interessassem e, no lugar um capital relevante, uma qualidade de de pouco financiamento, nós teríamos produção e execução aqui. A possibilidade muito financiamento compartilhado. E nós é excitante, mas como seriam os direitos? poderíamos trabalhar juntos, cada um com Algumas coproduções internacionais não um episódio. Eu fiz isso com Atomic Betty e funcionaram de forma competente por deu super certo: cada um fica responsável questões burocráticas. Qual a abertura da pelos seus episódios e funciona super bem. Zodiac em relação a isso? Philippe Alessandri Animação Francesa Quando Disney Channel, Nick, Cartoon No fim das contas, ninguém é capaz de dizer que um episódio foi canadense e outro Resposta Primeiramente, você tem razão, é francês. Ou então, compartilhando as taxas. necessário que as instituições públicas Vocês são muito fortes em animação, nós não sejam um obstáculo para nós. Já é um pouco menos, talvez, então, pode ser muito difícil vender uma produção a um que a animação seja feita no Brasil, mas, canal, desenvolver artisticamente um por outro lado, a pré-produção e a pós- projeto e produzi-lo. Não há necessidade produção fiquem com a França. Todas as de imposições legais e administrativas. O cooperações são possíveis. peso está mais no lado da CNC na França, porque a Ancine é muito favorável a Pergunta Como a gente pode fazer para submeter um firmar o tratado. É responsabilidade dos projeto na Zodiak ou para na Tele Images? produtores franceses fazer isso andar. No que diz respeito à coprodução e Zodiak, a 80 Resposta É muito simples, você pode escrever para gente sempre considerou os coprodutores qualquer pessoa, para mim, por exemplo, como parceiros, que devem estar porque nós temos todos os meses dentro associados a todas as receitas. A gente tem do grupo Zodiak Kids uma reunião em que uma atitude extremamente simples, que analisamos os projetos que chegam do consiste em associar nossos parceiros à 81 Philippe Alessandri Animação Francesa altura do financiamento que ele traz. Então, se em uma série, por exemplo, a gente tem uma coprodução brasileira em torno de de 30% ou 40%, a gente vai reverter 40% de todos os benefícios ao nosso coprodutor, sabendo que, em geral, cada produtor guarda 100% de direitos do seu território, porque é mais simples. A gente faz o nosso parceiro estrangeiro aproveitar com o Grupo Zodiak a distribuição, o merchandising e a produção. Você dizia que podem existir dificuldades em termos de produção, e nisso não há outra solução senão trabalhar muito bem junto, preparar muito bem o primeiro ano, e não produzir nesse primeiro momento, porque estamos concentrados no desenvolvimento, porque nós esperamos o acordo com as autoridades. Então, é importante aproveitar esse ano para preparar o trabalho de modo que, na produção, tudo funcione muito 82 bem. Até porque, não podemos negar tempo juntas. É importante beber cerveja, que quando estamos a 20 mil quilômetros jantar [risos]. Outra maneira é promover uns dos outros, isso pode ser às vezes temporadas de um membro da equipe muito complicado. Existem, claro, muitas artística brasileira em Paris, e vice-versa. Ter maneiras de facilitar o processo. Uma delas um brasileiro lá, e um francês aqui facilita é, desde o início, fazer encontros não só muito as coisas e diminui os conflitos, com os produtores, mas, também com quando eles aparecem. É isso, são pequenas os realizadores, diretores de produção, coisas que podem tornar a coprodução mais para que todas essas pessoas passem um tranquila. 83 Simon Otto 30 de Julho Masterclass 1 Inventando Dragões e Vikings Críveis e Divertidos Convidado: Simon Otto O desenvolvimento de personagens sempre acompanhou a carreira de Simon Otto, primeiro através da criação de esculturas comerciais de neve, em resorts suíços, e da ilustração de charges para o jornal da sua cidade natal, Gommiswald, e depois através da animação, seguindo sua passagem pela prestigiosa escola Les Gobelins, em Paris. Otto reconhece a enorme contribuição da instituição na sua trajetória, mas afirma que “por melhor que seja a escola, a animação é 85 Simon Otto Masterclass 1 algo que aprendemos através da observação da vida real. Passei a vida inteira desenhando, e, portanto, posso afirmar que já estudava animação bem antes de me dar conta disto”. os dois longas da franquia Como Treinar o Seu Dragão (2010, 2014), nos quais trabalhou como diretor de animação de personagens. Em sua Masterclass, Simon Otto compartilhou com o público a história de um garoto que cresceu em uma zona rural, Ainda em Paris, Otto estagiou na Disney, onde desenvolveu ainda mais seu talento, antes de ser integrado ao primeiro projeto de animação da Dreamworks, O Príncipe do Egito, de 1997. Fundou-se, assim, a tradição impecável do estúdio dentro do cânone da animação, com importante contribuição de Otto, em filmes como Spirit: O corcel indomável(2002), Por Água Abaixo (2006), Os Sem-Floresta (2006), e, mais recentemente, 86 longe da indústria da animação, e que hoje é diretor de animação de personagens em um dos maiores estúdios de animação do mundo. Através dessa jornada retrospectiva, ele explicou como essas experiências moldaram as diretrizes da sua vida profissional. Otto apresentou exemplos dos bastidores de Como Treinar o Seu Dragão 2 para ilustrar a construção de um mundo de dragões crível e divertido, e de uma filosofia de animação própria. 87 30 de Julho A integração Latino-americana Convidados: Manoel Rangel – ANCINE Cláudio Grandinetti – UIPAA Guille Hiertz – Split Filmes Maria Graciela Severino – GONG Ralph Karam – Le Cube Miguel Del Moral – CutOut Fest Moderadores: Cesar Coelho e Luciane Gorgulho A integração Latino-americana Cesar Coelho, um dos diretores do Anima Mundi, assumiu o papel de mediador da tarde mais latino-americana do Anima Forum. Para compor a mesa, ele anunciou as presenças de Luciane Gorgulho, chefe do Departamento da Economia da Cultura do BNDES (um dos patrocinadores do fórum); Manoel Rangel, diretor presidente da ANCINE; Miguel Del Moral, presidente do CutOut Festival, do México; Claudio Grandinetti, da comissão executiva da União Industrial de Produtores de Animação Argentina (UIPAA); Guille Hiertz, diretor de animação da Split Filmes, de São Paulo; Maria Graciela Severino, produtora executiva da Gong! Animation Studio (GONG), do Chile; e, por fim, Ralph Karam, diretor criativo da Le Cube, produtora que trabalha entre Brasil e Argentina. Antes do debate, Cesar faz um breve Um bom exemplo para realçar esse viés, histórico do Anima Mundi, festival pensado segundo ele, é a evolução da indústria da como peça estratégica de promoção e animação francesa nos últimos 15 anos. desenvolvimento da indústria da animação como arte no Brasil. “Alguns anos atrás, logo nos primeiros Foruns, a gente fez uma mesa latino-americana 90 “A gente acha importante que o Festival em que tentávamos entender a nossa cumpra não só o papel de divertir, de revelar realidade na área de animação. Mais de 15 artistas, mas que seja também referência anos atrás, trouxemos alguns produtores de discussão e planejamento estratégico da que representavam uma cooperativa própria atividade em si”. formada na França. Na época, a animação 91 A integração Latino-americana matinal inteira. Com isso, a coisa foi evoluindo, e hoje a animação francesa está muito poderosa em todas as áreas. Eles têm grandes escolas de animação, estão começando a produzir longas-metragens de ponta, blockbusters e tudo”. Já mirando a troca entre os latinoamericanos, a edição de 2013 do Anima Forum contou com a presença de Iain Harvey, vice-presidente da Cartoon Media, uma entidade europeia que teve a mesma preocupação duas décadas atrás. “Eles pensavam como poderiam reforçar as companhias de animação da Europa e 92 francesa não era o que é hoje. Mas eles criaram essa associação, que em 20 anos estavam justamente preocupados com o revolucionou o panorama de animação mercado francês, com a invasão, na televisão na Europa. A Cartoon Media tem hoje um francesa, principalmente para as crianças, de orçamento trienal de 200 milhões de euros. produções – filmes e animação – americanas Eles promovem encontros de produtores e asiáticas. Eles queriam ver mais produtos europeus para troca de experiências e franceses na televisão. Então, eles criaram projetos, coordenam esforços dos produtores uma associação incentivada pelo próprio associados e trocam recursos. A Cartoon governo, e isso foi importante para conquistar Media também desenvolve programas o mercado. Eles começaram a entrar no de aperfeiçoamento e desenvolvimento mercado internacional de animação, não de tecnologia interna e um programa de isoladamente, mas coletivamente, e com isso intercâmbio com produtores fora da Europa”, chegavam com uma produção muito mais Cesar elogiou, numa clara associação com substancial. Em vez de oferecer um ou dois o que a direção do Anima Forum pretende programas, ofereciam uma programação alavancar na América Latina. 93 A integração Latino-americana “Desde o início, nós identificamos que a animação tinha um potencial bastante diferenciado de desenvolvimento como setor. Potencial de desenvolvimento artístico, de geração de emprego, de mão de obra etc. E passamos a desenvolver diversas ações em relação a isso. Nós temos linha de crédito a longo prazo, fundos de investimentos; temos um edital de cinema há quase 20 anos, que Luciane Gorgulho BNDES Patrocinador do Anima Mundi e do Anima Forum, o BNDES, como banco de desenvolvimento, dá o devido crédito à economia criativa. Luciane Gorgulho, convidada para dividir a mediação da mesa com César Coelho, ressaltou que a aposta do BNDES no setor é tamanha, que foi criado um departamento exclusivo para tratar da economia da cultura, que funciona desde 2006. 94 tem contemplado de duas a três animações longas a cada ano, e tem ajudado vários projetos, como o mais recente do Alê Abreu, O Menino e o Mundo”, enumerou Luciane. O BNDES, segundo a chefe do Departamento da Economia da Cultura, tem atuado, fundamentalmente, para ajudar o setor a se organizar. Particularmente voltado para a América Latina, o banco mantém, há três anos, um escritório em Montevidéu. “O objetivo é promover financiamentos e uma maior integração entre os países”, afirmou Luciane Gorgulho. 95 A integração Latino-americana disse ele, avisando que mostraria alguns números representativos da indústria cinematográfica e da animação no México. Quinto lugar mundial em média de público em salas e décimo maior comprador de ingressos em bilheteria no mundo, o México tem uma produção cinematográfica própria expressiva, ou seja, é um dos países com maior número de filmes produzidos anualmente. Segundo Del Moral, o país foi o principal produtor em 2013 na América Latina, com 126 filmes entre ficção, documentários e animação. “Nos anos de 2011 e 2012, a animação foi o Miguel Del Moral CutOut Fest Presidente do CutOut Festival, Miguel Del Moral começou com um breve panorama da animação no México: um mercado ainda incipiente, com coproduções raras e esquálida produção de longas-metragens. “Para podermos situar o Brasil em um caminho de coprodução no México, ainda temos que percorrer um longo caminho. Mas é para isso que estamos aqui”, 96 gênero que mais atraiu público entre os filmes que estrearam. Isto quer dizer que no México há um grande mercado para a animação. Lamentavelmente, toda a receita das salas vai para outros países, principalmente para os Estados Unidos”, afirmou. A fala de Del Moral é baseada em números do Anuário Estatístico do Cinema Mexicano, segundo o qual 79% do público no país vai atrás de produções americanas. Isso significa que tanto as produções mexicanas como as demais produções latino-americanas têm pouco público em salas mexicanas. 97 com 3; a República Dominicana e o Uruguai com 2 cada um; a Bolívia e a Suiça com uma coprodução cada. O Brasil não aparece na lista. Del Moral lembrou que, desde 2007, os Miguel Del Moral A integração Latino-americana e a Dinamarca com 5 cada uma; o Peru, dois países não atuam conjuntamente seja em ficção ou documentários. Em relação à produção de animação, o México viveu a década de 1990 sem que nenhum filme fosse produzido. No quadro da produção de animação no país desde a década de 1970, o total é de 26 animações. A década de 1990 foi o período de maior O Estado participa do financiamento e apoia ostracismo, sem nenhuma produção. Entre as coproduções, continuou Del Moral. “Em 2000 e 2008 houve oito produções, sendo 2013, o governo participou com 75% do que o pico se deu entre 2009 e 2011, com 10 financiamento dos filmes, que é uma cifra produções realizadas. Em 2013, foram três. muita alta”, comentou. As coproduções, no entanto, representaram apenas 15% de “Está melhorando, embora a indústria todas as produções realizadas. esteja começando. A maioria dos estúdios vive da publicidade e faz outros tipos de Entre os anos de 2007 a 2013, houve trabalhos relacionados com comerciais. Na incremento das coproduções com diversos cinematografia, há pouquíssima animação”, países, com destaque para os Estados disse Del Moral. Unidos, que aparece na lista com 27 98 coproduções realizadas. Em seguida, O México tem algumas necessidades aparecem a Espanha, com 23; a Colômbia, específicas, mas que se assemelham ao com 12; a Argentina, com 11; a França, com 9; cenário latino-americano. Del Moral citou o Chile, com 8; o Canadá, com 6; a Holanda como principais: 99 trabalhou no país. Faltam mais qualidade que implica em melhorar a formação e quantidade de pessoal especializado, de profissional e a capacitação técnica, professores, apesar da grande quantidade promover a certificação, melhorar a de alunos formados por ano. Também informação sobre o mercado global e precisamos elevar a competitividade dos aumentar a qualidade e a quantidade de estúdios para aumentar a disponibilidade dos professores e instrutores; recursos financeiros para essas indústrias. O Miguel Del Moral A integração Latino-americana - A formação de capital humano, o governo não apoia, e uma das ferramentas - Elevar a competitividade das empresas pode ser também a coprodução internacional e estúdios, que movimentam a indústria, e a coprodução latino-americana. Precisamos o que envolve incrementar recursos também promover a criação de organismos e financeiros para empresas, criar organismos grupos que representem a indústria.” representativos, promover a propriedade intelectual internacionalmente, realizar É preciso impulsionar o funcionamento das estudos analíticos da indústria; industrias latino-americanas, promover essa indústria e situá-la nacionalmente, além - Promover o crescimento dos mercados de atingir nível internacional e capacidade local e global, o que significa impulsionar a técnica. indústria latino-americana; e “São muitos os pontos que acredito que - Impulsionar um marco legal de promoção temos de trabalhar. Mas, dada a situação do crescimento da indústria de animação, em que vive a indústria de animação no o que demanda a homologação de práticas México, há muito por fazer, e acho que é isto com organismos internacionais. que temos de combinar: trabalhar para que passemos a ter propriedade intelectual latino- 100 “Não há informação de quanto cobrar, como americana que seja exportada para o resto do cobrar, não há tabelas. A animação é uma mundo, e que tenhamos uma indústria forte, indústria bastante desarticulada. No cinema, porque os mercados existem. O mercado temos trabalhado um pouco mais, mas a brasileiro é gigante, e o mercado mexicano animação é um assunto que ainda não se também é dos mais importantes. O mercado 101 A integração Latino-americana latino-americano tem um grande potencial, mas tudo está sendo importado, todo o dinheiro está indo embora. É uma pena não termos ainda o sucesso latino-americano como existe em outros países”, finalizou. Pergunta – Qual é a técnica mais utilizada para produzir animação de longa-metragem no México? Miguel Del Moral – Ultimamente é uma combinação de técnicas de 3D e 2D compostos, pouco stop motion, apesar de o México ser um um dos países que melhor dominam a técnica em stop motion, precisamente porque não viemos de uma formação acadêmica como animadores. Há uma formação plástica, há também uma formação cinematográfica e creio que o stop motion é uma das técnicas que, combinando a plástica com a cinematografia de live-action, pode ter resultados interessantes. No México, desenvolvemos bem uma construção de personagens imaginários muito interessantes e temos curtas-metragens incríveis. Dificilmente se faz uma coprodução de longa-metragem em stop motion, não sei porquê, talvez seja mais caro, mas por ai há alguns projetos que estão sendo trabalhados em stop motion. 102 Claudio Grandinetti UIPAA Segundo Claudio Grandinetti, representande da União Industrial de Produtores de Animação da Argentina, a animação vive cenários parecidos em toda a América Latina. “A UIPAA é uma organização formada em 2009 com o objetivo de profissionalizar o setor e dar forma à indústria audiovisual na área de animação, que era o que nos 103 pudessem ser consumidos em toda parte do momento. A partir daí, começamos a ver mundo, para exportar produto intelectual, o que estava acontecendo no mercado, teríamos que pensar em trabalhar com no mundo, o que estava acontecendo países que entendiam dessas coisas e que conosco. Na Argentina, tínhamos lugares hoje estão tendo êxito”, disse. onde mostrar nossos trabalhos de produção, os trabalhos comerciais, os Claudio Grandinetti compartilhou com trabalhos de animação a que a gente a plateia do Anima Forum o caminho assiste normalmente na televisão; mas o percorrido para entender como funcionam trabalho de fazer seriados na televisão ou e se concretizam as coproduções, a no cinema, não estava sendo explorado. colaboração com outros países, com outros Então, desenvolvemos algumas estratégias”, colegas. “Iniciamos um trabalho que incluía contou ele, sobre o início da associação. mercados internacionais. Formamos uma Claudio Grandinetti A integração Latino-americana preocupava, como produtores, naquele proposta, e a apresentamos à “ANCINE” Hoje, a entidade reúne 43 produtoras da Argentina. Para nós, foi uma proposta espalhadas por todo o país. “Estão todos histórica, porque em 22 anos nunca tivemos buscando o mesmo objetivo e trabalhando uma visão por parte do governo e do setor do âmbito privado ao governamental para privado de criarmos uma indústria como fortalecer a indústria, que acreditamos estamos criando”, contou ele. ser emergente e a mais frutífera deste novo milênio. As produtoras associadas A estratégia de convencimento envolveu contribuem para o desenvolvimento e a a formulação da proposta e a criação de oferta de serviços em diferentes frentes do um concurso em que se apresentavam audiovisual”, afirmou. pilotos prontos para competir no mercado internacional. “Isso significa que estávamos 104 “A turma foi atrás do governo e das empresas instituindo, desde o princípio, a criação privadas, insistiu que as coproduções eram de produtos que pudessem, pelo menos, importantes para alavancar a indústria. ser colocados numa mesa de negociação Entendíamos que para podermos nos num mercado internacional, e serem profissionalizar e gerar produtos que produzidos”. 105 em andamento. E os planos agora são foi uma grande aceitação no mercado de expansão. “Pensamos em explorar o local. “Tivemos 83 projetos apresentados, mercado e encontrar com alguns colegas do 20 selecionados e premiados com a Chile, Brasil, México e Colômbia. Nossa ideia possibilidade de produzirem o piloto, é unir esforços e lançar produtos para a com o mercado internacional incluído na América Latina, competir no mundo e poder realização. Com esse material, preparamos crescer juntos”, encerrou. Claudio Grandinetti A integração Latino-americana O resultado do concurso, sendo Grandinetti, um primeiro catálogo, que levamos ao mercado internacional para começar a entenderem o que se passava com nossos produtos e nossos projetos. Essa iniciativa superou todas as nossas expectativas. E a partir daí, iniciamos projetos já com o mercado aberto para produzir. Na verdade não foi nada fácil”, assumiu. No ano de 2013, quando todos estavam olhando para a Argentina, vieram as dúvidas. “Faltava algo mais. Então nos pusemos a trabalhar com canais públicos e armamos uma estratégia para poder financiar os projetos que tínhamos. Já que o catálogo teve muita repercussão, era a hora de aproveitar. E o governo entendeu que essa é uma indústria com muito futuro, e trabalhamos em uma nova proposta”, esmiuçou. O empenho rendeu um financiamento que pode variar de 30% a 50%, dependendo do projeto. Pelo menos três, de uma leva de 12, já estão 106 107 A integração Latino-americana geração de conteúdo tem vários invólucros”, o que ele explicaria em seguida. “A empresa surgiu com o intuito de fazer conteúdo. Mas a grande verdade é que a gente tem contas a pagar mensalmente, então, o que passa de animação na nossa frente a gente pega e faz. Em São Paulo há uma demanda muito forte de publicidade e, paralelamente, a gente tem esse nosso business de conteúdo, que é uma coisa que não dá dinheiro, até que dê dinheiro. Temos de fazer publicidade para nos manter”, contou ele. A coprodução passou a ser realidade para o Split Filmes em 2013, contou Guille. Especificamente a partir de um email da Guille Hiertz Split Filmes Pela segunda vez no Anima Forum, Guille Hiertz, no papel de representante das produtoras independentes de animação, anunciou que o foco de sua fala seria a coprodução com países da América Latina. O Split Studio, fundado em 2009, é um estúdio recente, mas já com algumas conquistas consistentes. “Ele surgiu com o objetivo claro de fazer conteúdo. E essa 108 Gong!.”Quando recebemos o e-mail do pessoal do Chile, pensamos taí, tá pronto! Boa qualidade, ótimo humor. O Gong! era mais novo que a gente. Eu consigo falar de um projeto pelo nível de maturidade que tinha, mas, no caso deles, já veio uma coisa muito bem feita e de muito boa qualidade. Imediatamente, nós também fomos atrás deles e conversamo e aí, a gente vai fazer só conteúdo?, vamos atender outras coisas?, vamos fazer dinheiro de que forma?, qual o dilema de vocês no momento? E parecia um caminho muito promissor. Mas, sabe como é o Brasil, tínhamos todo o preparo 109 a gente tentou trabalhar animação live aqui, por falta de dinheiro. E isso por causa action e o canal não confia R$ 1 milhão para da Lei 12.485, aprovada em 2012. A partir o projeto, mas se eu pedir R$ 5 milhões para daí, os próprios canais me disseram, em fazer animação, ele vai dar”, ponderou. Guille Hiertz A integração Latino-americana para fazer, mas não podíamos produzir algumas ocasiões, que antes de 2012, o melhor projeto, fosse chileno, argentino O mercado de animação, segundo Guille, ou brasileiro, recebia a verba. Após a segue um compasso diferente, é mais Lei, mudou muito o panorama lá fora e a linear e mais previsível. “Tudo depende de torneira se fechou para a América Latina. dinheiro. Eu adoro o trabalho do pessoal Se o Cartoon Network tiver uma verba para da Argentina, mas não posso coproduzir investir na América Latina, provavelmente com eles porque a gente não tem lei e o vai investir aqui porque não paga multa. meu conteúdo não pode ser qualificado Aqui ele consegue produzir conteúdo e como independente brasileiro, infelizmente. manter o canal dele em ordem”, explicou No caso do Chile, tínhamos um acordo ele, assegurando que não se tratava de cinematográfico de 1997, mas tivemos que reclamação. ligar para a Ancine e perguntar se ainda estava valendo. E fomos os primeiros a usar. A Lei 12.485, de acordo com Guille, trouxe Foram 17 anos para o acordo ser usado”, avanços, mas travou, de certo modo, os criticou. investimentos. “Eu não estou criticando 110 a Lei, seria pior sem ela, mas o risco de Buscar parceiros é importante, mas as investir o dinheiro em algo que não dá contribuições têm de vir com planos e certo, e ser responsabilizado por isso, foi ideias. “A gente devia trabalhar mais entre limado. Agora, se der mal ou se der bem vizinhos sul-americanos, o que faz muito tanto faz, vai para o cofre do governo. mais sentido. Mas a gente tem questões Ganha quem sabe levantar dinheiro. Esse burocráticas legais permeando o nosso é o dilema que a gente enfrenta hoje nessa caminho. Por exemplo, a RioFilmes faz uma área. Então, demora muito tempo para se contrapartida da verba de 1 real para 1 e levantar um projeto de animação no Brasil. ½, o que é interessante. Por outro lado, Mas o curioso no mercado brasileiro é que obrigava que o projeto entrasse no Fundo 111 A integração Latino-americana em janeiro, e estivesse pronto em 12 meses. Isso funciona para série, documentário, não para animação. Esse é só um exemplo de que, ao longo de todo o caminho, a gente tem de brigar com o mercado, com os canais, com as leis”, desabafou Guille. O cenário, segundo ele, é positivo. “A animação está estrategicamente colocada a um passo da televisão, a um passo do cinema, a um passo dos games e a um passo das editoras, já que qualquer livro infantil vira uma animação e vice-versa. E, no Brasil, nós temos o que o mercado pede, temos consumidor interno, temos qualidade, sabemos contar histórias, só precisamos que o dinheiro chegue à nossa mão”, fechou. Maria Graciela Severino – GONG Maria Graciela, a Maru, é produtora executiva do Gong!, o parceiro chileno do Split Filmes, e também é vicepresidente da associação dos produtores de animação do Chile. No Anima Forum, ela avisou, teria uma conversa sobre a animação chilena, coprodução e representação de toda uma geração de produtores. 112 113 fora e fazer parcerias para desenvolver o Chilemonos; oito universidades que os projetos com a qualidade que nós preparam para a carreira de animação, queremos. E acho que esse é o ponto de com cursos que variam de dois a quatro reflexão: se pensamos em fazer produções anos, entre técnicos e profissionais; e em nosso país, nós precisamos reduzir também tem uma associação que agremia a qualidade em tudo. E a gente não quer produtores, enumerou Maria Graciela. fazer isso, a gente quer fazer produtos Maria Graciela A integração Latino-americana O Chile tem um festival de animação, capazes de competir com os melhores “Somos aproximadamente 30 empresas conteúdos do mundo.” fazendo animação, algumas com uma direção voltada para conteúdo, outras com Sobre a estrutura de financiamento no mistura de conteúdo com publicidade, e Chile, Maria Graciela explicou as fontes muitas, especialmente as mais jovens, que disponíveis. A primeira delas é o CORFO, estão fazendo conteúdo para internet, instituição voltada para estimular o games e muitas coisas. Mas são sempre empreendedorismo e fortalecer a empresas pequenas”, ela afirmou, antes capacidade tecnológica. “Eles têm um de exibir uma pequena seleção de diversas financiamento que, no caso da animação, animações realizadas no Chile, por variados pode ser utilizado principalmente para o estúdios. desenvolvimento. Nós já o solicitamos em duas ocasiões. A cada vez, podemos pegar Após a amostra – e aplausos –, ela até 36 mil dólares, aproximadamente”, continuou, já com a questão do contou. financiamento em coproduções: “Vou falar 114 primeiro da nossa visão. Nós temos de Há também os fundos do Conselho olhar primeiro para os nossos projetos, Nacional da Cultura e das Artes (CNCA). para a natureza da técnica, que, no caso “Tem um fundo que financia o roteiro, da animação, precisa de mais recursos. outro com uma linha exclusiva para Nesse sentido, em países pequenos como animação, e vai financiar até 60 mil dólares, o Chile, onde não temos um mercado aproximadamente. E tem um fundo interno sustentável, temos de olhar para especial para as regiões fora de Santiago. 115 A integração Latino-americana Como tudo é bem centralizado, esse é um fomento para que as outras regiões possam desenvolver seus projetos. Tem outro fundo, para televisão, cujo custo é relacionado ao minuto de produção”, explicou. Sobre a relação Split e Gong!, Maru lembrou que Brasil e Chile têm um acordo de coprodução datado de 1996. E o acordo assinado entre as duas produtoras, segundo ela, foi o primeiro assinado como coprodução legal. Existem outras coproduções, mas que não estão assinadas nos mesmos termos. “Por nove anos, eu viajei pelo Brasil, conheci de Pelotas a Rondônia. Depois retornei ao Chile, montei os estúdios, criei empresas, entre elas a Gong!. Mas a gente viu que a coprodução estava na natureza da animação. E o primeiro país que a gente olhou foi o Brasil. Com a ajuda da ABPITV, nós contatamos os estúdios que tinham algo em comum conosco. A gente escreveu para a Split, eles abriram os braços para os nossos projetos, e assim começou a relação. Até agora, a gente só tem coisa boa para falar”, ela elogiou, finalizando. 116 Ralph Karam Le Cube Ralph Karam vive uma experiência já binacional. Ele é diretor da Le Cube, uma produtora baseada no Brasil e na Argentina. Após exibir um vídeo de animações produzidas pela Le Cube, ele explicou: “Somos três sócios. Um em São Paulo, outro em Buenos Aires, e eu, que fico no meio do caminho entre os dois países. E, além disso, temos uma série de amigos muito 117 Ralph foi conhecendo gente, trabalhando, projeto”, disse Ralph. fincando os pés – e as mãos – na animação argentina. A ideia de coprodução surgiu de maneira espontânea. “Na época, eu estudava design “Acabei ficando por lá. Comecei a conhecer gráfico em Florianópolis, e fui fazer um muita gente talentosa, e foi tudo muito intercâmbio na Argentina – do qual nunca espontâneo. Eu fazia trabalhos como mais voltei, já faz quase dez anos. E o freelancer e, como conhecia muita gente principal motivo foi que eu encontrei um aqui, começamos a dividir. Meu irmão nicho em Buenos Aires com o qual eu nunca Gustavo entrou depois nesse processo para tinha tido contato no Brasil. Quando eu fazer a coisa se estruturar, e depois veio o estava aqui, eu trabalhava em agência de Juan. A gente faz uma brincadeira dizendo publicidade, como diretor de arte, que era que a gente chuta uma árvore e começam a principal saída para quem tinha estudado a cair animadores, porque tem muita gente design. E lá, eu conheci um mundo de talentosa.” Ralph Karam A integração Latino-americana talentosos que nos acompanham em cada estúdios de animação, uma coisa que eu nunca tinha encontrado aqui”, contou ele. A coprodução fluiu naturalmente, no caso de Ralph. “Eu nunca tive pudor de chamar O mercado é diferente, o cenário é outro, o alguém para fazer um trabalho. Eu via o ensino também conserva particularidades trabalho de alguém na internet, no flickr, nos dois países. “Pela minha experiência gostava, escrevia para o cara para fazermos universitária, eu diria que temos um modelo alguma coisa juntos”, disse ele. E foi assim mais teórico no Brasil. Já nas universidades que os núcleos começaram a se espalhar e a argentinas, é mais prático. E tem uma galera ultrapassar fronteiras de Brasil e Argentina: recém-formada que vai para o mercado e 118 faz coisas incríveis. Nos primeiros estúdios “Ano passado, recebemos gente da Suécia. em que eu trabalhei na Argentina, a Esse ano, uma animadora da Bélgica. primeira coisa que me impactou foi ver que Vários franceses já vieram, e foi tudo muito os donos desses estúdios tinham acabado natural. Acho que isso se reflete bastante no de sair da faculdade”, comparou. nosso trabalho: a gente está dentro de um 119 A integração Latino-americana contexto de animação, mas não foca numa técnica. Usamos animadores da França, amigos ilustradores do Chile com traços que combinam com o projeto, conectamos tudo e, no fim, dá uma salada bem interessante. Nossa visão de coprodução é mais ver gente que tem um trabalho com o qual a gente adoraria colaborar, e encontrar um jeito de fazer juntos”, simplificou. Manoel Rangel ANCINE Além de presidente da Ancine, Manoel Rangel foi um dos responsáveis pela Lei da TV Paga, a 12.485, que revolucionou o mercado de audiovisual brasileiro, principalmente o de animação, assim César Coelho anunciou o próximo palestrante. “O momento é especial para o setor audiovisual brasileiro e o mercado está 120 121 paga, continuou Rangel, teve como Manoel Rangel, logo de início e com números primeiro mecanismo de estímulo o artigo para justificar a euforia: o número de salas 39 da Medida Provisória 2228. Esse foi o de cinema cresce a uma taxa de 8% ao ano, e mecanismo que criou laços entre canais o crescimento das TV por assinatura beira os de televisão por assinatura, inclusive os de 13% ao ano. Dois mercados que incorporam animação, com produções independentes. milhões de potenciais consumidores de Antes disso, praticamente não havia produção audiovisual. produções independentes brasileiras Manoel Rangel A integração Latino-americana extraordinariamente aquecido”, afirmou circulando nos canais. “No Brasil, nós temos uma televisão aberta muito robusta. Tínhamos um mercado O artigo 39 foi importante para criar um de DVD que era um dos maiores do relacionamento, mas a transformação, mundo e esse mercado tem diminuído de fato, veio com a Lei 12.485, a lei da sua importância – fruto da pirataria e das TV Paga, que criou a obrigatoriedade de transformações tecnológicas que colocam carregamento de conteúdo brasileiro: três outros serviços em operação. Mas o fato horas e meia por semana, sendo que a objetivo é que nós temos um mercado se metade disso de produção independente; expandindo todos os anos, de maneira três horas e meia no horário nobre, e a recorrente”, assegurou Rangel. obrigação de carregamento de canais brasileiros de espaço qualificado. O respaldo está nos números. Em 2013, foram lançados 129 filmes de longa- “A construção dessa Lei transformou metragem nas salas de cinema, e os filmes o cenário da demanda por conteúdo brasileiros tiveram participação de 18,6% no brasileiro, não só de produção mercado, a maior da América Latina. “É um independente de televisão, mas também número bastante expressivo no processo de de cinema. Porque foi a partir daí que, crescimento da ocupação”, afirmou. pela primeira vez no Brasil, a televisão compareceu como um ativo comprador, 122 A presença do conteúdo brasileiro de além de passar a ser um ativo agente de produção independente na televisão encomenda de produção de obras, com 123 Manoel Rangel A integração Latino-americana deslocamento de recursos das matrizes para serem aplicados para além dos recursos públicos disponíveis”, explicou Rangel. Retomando a queixa de Guille Hiertz sobre a decisão de um canal em alocar verba da América Latina prioritariamente para o Brasil, Rangel retrucou: “Tem a ver com a necessidade de oferecer resposta para produzir mais conteúdo no Brasil, e não com o mecanismo do art. 39. Tem a ver com as obrigações de carregamento de conteúdo brasileiro, o que coloca para eles como prioridade produzir no Brasil.” foi reservada a condição de mercado Obviamente, prosseguiu o presidente da consumidor, não de mercado produtor. Ancine, a Lei não foi feita para concorrer Por isso as verbas de produção estão com o Chile, com a Argentina, com o México, concentradas no mercado norte-americano, com o Paraguai ou com a Bolívia. “O alvo da nos EUA e no Canadá.” Lei não é concorrer com os nossos vizinhos latino-americanos. Mas é dizer que o mundo A melhor maneira de enfrentar a situação não está organizado entre países que são construída no mercado internacional, produtores de conteúdo e países que são defende Rangel, é construir mecanismos meramente consumidores de conteúdo. E de defesa nos mercados nacionais. Isso, ele a verdade é que os grandes estúdios e os assegura, a Lei 12. 485 garante. grandes canais, os grandes programadores 124 internacionais organizaram o mundo “A Lei tramitou durante cinco anos no entre produtores e consumidores. A nós, Congresso brasileiro, foi debatida por brasileiros, argentinos, chilenos, mexicanos todo o setor audiovisual. Não foi medida 125 “Estamos investindo pouco mais de R$ 90 ao contrário, foi um ato nascido de várias milhões no desenvolvimento de projetos, iniciativas parlamentares. O papel da documentários, animação, ficção para Ancine foi conduzir os debates de forma televisão e para cinema com investimentos que o interesse público prevalecesse. de tipos diferentes. Estamos investindo em Que interesse público? Não-arranjo 54 núcleos criativos dentro de empresas, entre agentes econômicos, não-arranjo em seis laboratórios de desenvolvimento entre as telefônicas, as operadoras de nos quais a produtora vai poder TV por assinatura e as programadoras desenvolver o roteiro e se capacitar no estadunidenses. Quando a gente diz canais meio desse processo. Além do investimento internacionais no Brasil, vamos combinar, direto através de uma terceira linha voltada é um eufemismo. Nós falamos de canais para o desenvolvimento de projetos de estadunidenses no Brasil, porque todos produtoras que julgam não precisar do eles operam a partir dos EUA, com o centro laboratório”, listou. Manoel Rangel A integração Latino-americana provisória nem um ato fechado do governo, da sua compra e do seu investimento em produção no mercado dos EUA. Não tenho A Ancine também colocou em marcha nada contra, só quero a mesma coisa para o cursos de capacitação de mão de obra mercado brasileiro”, afirmou. técnica em 12 capitais nas várias regiões do Brasil, para formação de mão de obra A Lei demanda outras ações concretas, técnica que possa se engajar na produção segundo Rangel. O plano de diretrizes de audiovisual. e metas organiza o desafio do 126 desenvolvimento do mercado audiovisual “Com a lei da TV Paga, nós passamos a viver brasileiro. Com o documento como base, um ambiente de escassez de mão de obra foi lançado o programa Brasil de Todas para produção de conteúdo para cinema e as Telas, cujo investimento é de R$ 700 televisão, sobretudo no Rio e em São Paulo, milhões. Aproximadamente R$ 315 milhões que começou a drenar a mão de obra de em produção de conteúdo brasileiro Pernambuco, Bahia, Ceará, Rio Grande do para cinema e televisão no decorrer dos Sul, Paraná, esvaziando também outros próximos 12 meses. centros de produção”, justificou. 127 sido capaz de produzir longas-metragens exibidor também ganha reforço. “É um de animação no nível que a indústria pacote de R$ 1,2 bilhão oriundos do Fundo hegemônica estabeleceu como padrão. Setorial de Audiovisual, que é um fundo “Eu não estou me referindo à capacidade alimentado com recurso recolhidos na técnica, e, sim, à estratégia geral de própria atividade econômica, fruto também produção, da concepção da obra à entrega das conquistas da Lei 12.485.” final, e isso é muito mais complexo do que Manoel Rangel A integração Latino-americana A expansão e digitalização do parque técnica ou investimentos tecnológicos.” Manoel Rangel apresentou ainda dados específicos da animação no Brasil, a A Ancine, assegurou Rangel, tem dado começar pela evolução da produção e sua contrapartida. Entre junho de 2012 exibição em salas de cinema: e julho de 2014, aprovou 30 projetos de longa-metragem de animação para - Entre 1995 e 2004, foi lançado apenas um captar recursos para se transformar em longa-metragem de animação em salas de filmes. Nesse mesmo intervalo, 58 séries cinema brasileiras; de animação para TVs aberta e paga também foram aprovadas. Cinco séries de - Entre 2005 e 2009, seis longas de animação animação vão direto para o mercado de estrearam nas salas de cinema do país; DVD, entre elas a Galinha Pintadinha. No balanço de Rangel, 26 obras de animação - Entre 2010 e 2014, serão nove longas- foram apoiadas pelo Fundo Setorial de metragens de animação estreando. Audiovisual nos quatro primeiros anos de operação. “É pouco, está muito aquém do que nós 128 precisamos ter na realidade do mercado “Com isso, estou querendo afirmar que não brasileiro, mas é mais ou menos o que os há o bom momento sem a coordenação de estúdios nacionais conseguem produzir um conjunto de fatores e eu diria que se o para ocupação no mercado de salas”, talento é indispensável, e é ele a matéria justificou Rangel, apontando para um outro prima definidora de tudo isso, a construção problema: o cinema nacional não têm de uma política robusta foi determinante 129 prazos para que uma obra de ficção fique pronta dentro da lógica do Fundo Setorial de Audiovisual são prazos de 30 meses e não de 18 meses, como são os prazos para Cesar Coelho É unanimidade a necessidade de fazemos os longas-metragens de ficção e para as essa integração latino-americana na área obras de documentário, porque se conhece de animação. Mas, pensando em termos a peculiaridade da animação. A lógica mais práticos, como a gente poderia evoluir do financiamento também é diferente”, essa proposta? Vocês acham que existe comparou. interesse de se construir um organismo PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana PERGUNTAS E COMENTÁRIOS para que esse salto pudesse ocorrer. Os multinacional, que comece a organizar e a Ainda que os tempos sejam outros, os gerenciar essa integração de maneira mais desafios persistem, principalmente para a efetiva? Existe essa possibilidade? E como integração latino-americana, por sua vez: poderíamos fazer isso? “Os institutos nacionais de cinema, nós, 130 Manoel Rangel Uma proposta é promover um encontro estamos muito longe de ter uma estratégia de coprodução latino-americana para articulada para maior coprodução de projetos de animação específicos. Anima animação, mas digo a vocês que há Mundi, ABCA, UIPAA, Associação do um crescente olhar da Conferência de México e os demais poderiam, juntos, Autoridades Cinematográficas Ibero propor um encontro de coprodução de Americanas, que reúne todos os estúdios e projetos para TV, para cinema, cadastrando cinema de Espanha e Portugal e da América projetos ou propostas de projetos para Latina, para o ambiente da TV pública e para que circulem entre os interessados. O uma articulação da política de audiovisual primeiro problema em coproduzir é que as que coloque a televisão pública em um pessoas se conheçam. A segunda sugestão papel relevante nessa operação. E isso é aproveitar que, ao longo dos próximos chegará inevitavelmente, a uma estratégia quatro meses, a Secretaria de Audiovisual e também de coprodução para animação”, a Ancine estão conduzindo uma articulação anunciou, otimista. com as 27 TVs públicas brasileiras para 131 México, é possível articular com rapidez um pequeno fundo, o que daria um gás para se armar a produção. E o resto do dinheiro se daria dentro da lógica de financiamento dos países. Essa é uma das vantagens de coproduzir, poder obter dinheiro em dois, três, quatro países. Guille Hiertz PERGUNTAS E COMENTÁRIOS meus pares na Argentina, Uruguai, Chile e Bom, se você diz que é tão simples, que não envolve um esforço tão absurdo essa integração entre televisões, eu já adianto que isso é muito bem vindo. Para já! Eu estou com medo de querer ser um pouco mais realista, mas acho que, a coprodução no Brasil – e estou falando no meu caso e trazendo experiências de outros estúdios que estão na mesma pegada – é assunto simplesmente porque falta dinheiro. O dilema é que eu acho que 132 um conjunto de editais. Simultaneamente, essa lei aprovada tira o apetite do canal está havendo um levantamento da de colocar dinheiro do bolso dele. Isso realidade das TVs públicas em diversos aconteceu comigo em 2012. Eu estava com países latino-americanos. Nós poderíamos um projeto aprovado em várias instâncias juntar algumas televisões do continente do Cartoon Network e, no advento da lei para serem parceiras numa convocatória ser aprovada – foi aprovada em setembro específica para projetos de coprodução. daquele ano –, o canal congelou todo Havendo uma articulação desse tipo, posso gasto que não era vindo de um subsídio ou dizer que a Ancine coloca um dinheiro fundo. E todos os projetos previstos nos para isso acontecer. E lhes digo que com 12 meses seguintes morreram, inclusive 133 também incentivo do governo. Mas hoje, nos primeiros dois anos prejudicou. Enfim, no Brasil, eu não consigo convencer canal a gente faz coprodução quando falta nenhum a colocar dinheiro do lucro deles dinheiro! Eu procuro parceria não porque por causa das leis. adoro a animação argentina, apesar de gostar muito. Eu sou muito a favor que se Manoel Rangel Posso fazer só um comentário? Eu acho regulamente, sim, como cada setor deve que você mistura duas coisas e precisa se comportar, mas eu acho que o que traz separá-las. Sua linha de raciocínio está realmente a capacitação técnica não é clara e há mais pontos de convergência fazer curso de roteiro, mas é o mercado entre o que a política de cinema e regular qual a qualidade que o roteiro tem audiovisual propõe e o seu pensamento que alcançar. Porque, no final das contas, do que você imagina. Nosso esforço tem ou ele compra ou não. O que eu sinto hoje sido o de introduzir risco nessa atividade. é que tem uma grande possibilidade de Eu concordo com você quando diz que o dinheiro, ao mesmo tempo que tirou o risco é qualificador e importante para que apetite dos caras, eles não querem investir o cara tenha compromisso, para que a porque sabem que ali tem a segurança qualidade se amplie e para que o resultado de colocar um dinheiro que não é deles, e de comunicação seja maior e melhor. Não é eles não precisam se responsabilizar por à toa que o Fundo Setorial exige devolução essa quantia. Não sei qual é a solução. de recursos. O FSA foi o primeiro Certamente, mobilizar televisão que tem mecanismo na política pública de cinema poder de compra vai fazer muita diferença, e audiovisual no país que introduziu inclusive se a gente estiver falando de a obrigação de devolver participação produções internacionais. Acho que dos recursos. Uma coisa é o fomento à depender efetivamente de incentivos produção de conteúdo, a outra coisa é a públicos gera insegurança. Hoje, o que eu obrigação de veicular conteúdo brasileiro. sei é é que não consigo convencer canal Não é verdade que os canais hoje nenhum a colocar dinheiro do lucro dele. estejam apenas investindo em obras com E esse é o segredo da indústria norte- recursos públicos. Não é. Peixonauta teve americana, não há só incentivo privado, há investimento de dinheiro privado dos PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana 134 o meu. Então, a lei que veio para ajudar, 135 Guille Hiertz Eu estou falando da minha experiência, obviamente, mas não estou colocando somente ela. Para concluir, eu entendo que o Fundo Setorial envolve recurso, mas ele é hoje completamente preterido pelos canais de animação, todos eles falam ‘pensa muito bem se você quer entrar no FSA’, porque nós temos outros mecanismos PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana para investir. Isso porque o fundo setorial é considerado um dinheiro caro para o próprio investidor. Manoel Rangel E sabe por quê? Porque obriga o canal a pagar 15% sobre o licenciamento da obra, enquanto se você fizer pelo art. 39 não vai receber nada de remuneração pela obra. Você está confundindo o mecanismo da obrigação de carregar conteúdo brasileiro, canais, outras séries têm tido investimento que é o que está gerando demanda para privado dos canais. Tem várias produções a sua produtora e para as produtoras em que o canal tem bancado integralmente, o geral. A política de financiamento público que muda é a capacidade de negociar de é outra coisa. Não foi a Lei da TV paga que cada produtora, a disposição do executivo fez as duas coisas, ela fixou a obrigação de correr o risco dentro do projeto que foi de carregar conteúdo brasileiro, que é o posto na mesa dele. Então, não é fato que que está gerando demanda real para sua existe só investimento de dinheiro público. empresa e para o mercado Ao contrário, essa é a primeira vez que os canais estão pagando para comprar 136 Cesar Coelho Voltando para a questão latino-americana, conteúdo e não simplesmente dando gostaria de ouvir os demais membros da dinheiro para produzir uma obra. mesa. 137 Miguel Del Moral Independentemente de casos específicos, PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana boas ou más histórias que cada estúdio tenha, é importante retomar o como vamos fazer. É importante usar os festivais para começar a trabalhar e gerar não apenas práticas, mas mesas completas para trabalho. Não só no Anima Mundi, mas em todos os outros. Há muito que fazer em cada país para trazer a indústria. Há muitíssimas linhas para trabalhar, e esses esforços locais podem ser reunidos nos próximos festivais. O mais importante é saber em quê nós nos comprometemos a trabalhar para que no próximo ano tenhamos resultados completos aqui no Anima Mundi. muitos países da América Latina, como 138 Maria Graciela Antes de procurar a Split, eu já conhecia nós, não temos isso. Então, para nós, a cultura brasileira, mas acho que muita organização é fundamental para fazer gente no Chile, e creio que posso falar da pressão. Não é que os canais e os meios América em geral, tem muita distância tenham que mudar a política para que do que acontece aqui. O Brasil tem outra nós desenvolvamos nossos projetos, língua, outra estrutura, outro jeito de acho que a responsabilidade também é fazer as coisas, e nós não conhecemos. nossa de termos o poder necessário para Em países como o Chile, se fizermos como negociar. Nesse sentido, acho que temos aqui, o que a gente vai conseguir é fazer as que começar conhecendo as produtoras, TVs irem embora. A diferença é que vocês porque uma coprodução é um casamento. têm um tamanho de mercado grande, Nós e a Split levamos mais de um ano nos capaz de fazer a pressão necessária conhecendo. Nenhuma relação é fácil, para garantir poder na negociação. E você não vai atirar os projetos e ver quem 139 nenhum arcabouço regulatório, nenhuma afinidade, saber os valores, visões das estrutura legal, não tínhamos fonte de empresas e isso é uma coisa que precisa financiamento. Tínhamos um mercado de tempo. Mas, paralelamente, as regiões destroçado. Então, o PL 29, que virou a Lei e as políticas públicas têm de ter uma 12.485, era um sonho demorado, distante, direção única. Para mim, o planejamento que em muitos momentos não acreditamos estratégico é o primeiro passo. Se nós que fosse acontecer. Enfim, acho que deu pegamos o dinheiro, com um planejamento um salto histórico. Dito isso, de volta ao estratégico bom, coordenado, podemos ter tema da integração latino-americana, eu sucesso. reforço que o Brasil é muito fechado, e PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana pega. Não. Tem que conhecer, criar uma nós não somos integrados com a América Claudio Grandinetti Eu creio que é nossa responsabilidade Latina. Temos a Cordilheira do Andes e gerar propostas que permitam alertar a barreira da língua, que nos separam. autoridades, canais e países latinos a De alguma forma, o governo brasileiro encontrar um ponto que nos permita e o BNDES, na sua modesta atribuição, entregar a mesma informação. Uma coisa estão começando a trilhar esse caminho. que está emergindo é a necessidade de falar Sob esse ponto de vista, eu pergunto ao com vários colegas, de vários países latino- Manoel e aos demais, o que poderíamos americanos. Hoje e nos próximos festivais fazer no âmbito da questão dos canais. Ter temos que ter um objetivo, ou não vamos programadoras mais fortes, que pudessem sair do lugar e não teremos nada para fazer. carregar canais latino-americanos ou Vamos criar propostas para apresentar em brasileiros? O que vem sendo pensado no cada país para que possam entender quais sentido de fortalecer o comércio bilateral as nossas necessidades. O mundo, me de conteúdo pela via de programadoras parece, está mirando na América Latina, se e canais de conteúdo brasileiros e latino- não trabalhamos em conjunto, perdemos americanos? uma grande oportunidade. Luciane Gorgulho 140 Manoel Rangel Eu vejo essa questão como desafio A discussão pontual sobre a questão da estratégico. A internacionalização da lei parece até surreal. Nós não tínhamos produção de conteúdo brasileiro só 141 pode atuar. Uma questão interessante quando nós formos capazes de fazer com é que a gente poderia criar uma escola de que programadoras brasileiras programem capacitação de nível internacional, que a canais em outros territórios, em outros gente conseguisse fazer em bloco; iniciativas países. Quando uma programadora pequenas, mas com repercussão a longo brasileira for capaz de manter três, quatro, prazo, como a iniciativa que reuniu Brasil, cinco ou seis canais internacionais que Dinamarca e Japão, na Animation Workshop. possam ser veiculados nos países da Em curto prazo, podemos pensar iniciativas América Latina, da Ásia, Europa, África e na modestas, mas concretas, em todas as América do Norte. Com o mesmo conceito áreas relacionadas ao audiovisual. Temos pelo qual nós nos acostumamos a encarar de pensar numa maneira de gerar recursos as tais programadoras internacionais. coletivamente. PERGUNTAS E COMENTÁRIOS A integração Latino-americana será enfrentada de maneira profissional Ou seja, se existem empresas que se estruturaram com multiplicidade de canais a partir da base do território dos Estados Unidos, não é uma condição natural que se faça isso, exclusivamente, a partir da base do território dos Estados Unidos. É possível você alavancar produtoras nacionais para ocuparem a cena internacional. Claudio Grandinetti Eu saio um tanto entusiasmado dessa conversa. Nós somos afiliados tanto da Ancine quanto da UIPAA, e vemos a possibilidade de fomento para fazer o que se gosta e quer. Cesar Coelho A coprodução é muito importante, mas não é a única instância na qual a gente 142 143 30 de Julho Rede de Festivais Latino-Americanos Convidados: Margarita Cid – Chilemonos Rosanna Manfredi – Expotoons Miguel Del Moral – CutOut Fest Marcos Magalhães – Anima Mundi Rede de Festivais Latino-Americanos Quatro festivais de animação reunidos é razão para celebrar. O Anima Forum reuniu representantes de Chile, México, Brasil e Argentina para que cada contasse a sua experiência e como eles têm se entrelaçado. E a ideia de que outros venham se juntar ao grupo. Do lado brasileiro, Marcos Magalhães representava o Anima Mundi, que já tem 22 anos de história para contar. “No último ‘Chilemonos’, a Margarita (Cid) promoveu essa união formal, que não está fechada a esses quatro festivais que estão presentes hoje. A gente espera que outros festivais, que estão acontecendo e se firmando na América Latina, venham participar dessa rede”, disse Magalhães, realçando que o objetivo é que os encontros frutifiquem. “Cada um dos quatro festivais tem feito isso, e a gente quer juntar esforços para que isso aconteça mais no âmbito da América Latina”, completou. Para realçar a importância da integração entre os países da América Latina, Marcos Magalhães citou o documentário Walt & El Grupo, sobre a viagem do lendário Walt Disney e sua trupe, na década de 1940, à América Latina: 146 147 Rede de Festivais Latino-Americanos “A gente vê, nesse filme, o Disney e a sua equipe discutindo, descobrindo e se deliciando com as riquezas do Brasil, da Argentina, do Chile. Vê o Disney dançando, um relaxamento que a gente nunca vê em outros materiais. Eles fizeram aqui uma festa, um carnaval. E se inspiraram muito, trouxeram cores e enriqueceram muito. Essa contribuição da América Latina, da nossa cultura, para a animação, para esse emblema da cultura hegemônica da animação, que foi o Disney, é evidente. Só que não teve brasileiro conversando com argentino, nem com chileno. Eles foram em cada país, o aviãozinho foi lá, pulando, pegou o que tinha de melhor de cada um, fez um longa e isso ficou uma coisa meio caricatural, o Zé Carioca e tal. E nós mesmos não fizemos o mesmo. Nós não tivemos troca aqui, como esses países que participaram dessa aventura. A gente está aqui, a gente gosta de tantos quadrinhos argentinos, do chileno Condorito, para ficar no mais conhecido, fora tudo o que a gente tem mostrado esses anos todos no Anima Mundi”, falou. A rede de Festivais serve exatamente ao propósito de formalizar a junção de mercados, culturas e gostos, segundo Magalhães. 148 Miguel Del Moral CutOut Fest Sim, a iniciativa é importantíssima, concordou Miguel Del Moral, representante do mexicano CutOut Fest, cuja sexta edição ocorrerá em novembro, na cidade de Querétaro, a 300 quilômetros da Cidade do México. “Graças à Margarita, conheci esses grandes festivais latino-americanos. E acredito que 149 público. A cada ano, o festival reúne alguns que se inicia, para que comecemos a ter dos artistas mais influentes, que dão mudanças e a fortalecer a indústria latino- provas de criatividade e inovação. Além americana da animação”, disse Miguel. disso, trata-se de um espaço criado para a promoção de uma cultura de negócios Para dar uma ideia do alcance do festival, criativos, e de estímulo à indústria e novas mesmo tão recente, Del Moral exibiu um ideias. Miguel Del Moral Rede de Festivais Latino-Americanos é algo muito, muito importante, esta união vídeo de um minuto sobre a edição de 2013 do CutOut Fest. Uma referência visual que Em 2013, o CutOut Fest contou com um 94 reunia nomes como Michael “Mikey” Please artistas convidados, 84 atividades e mais de e Johnny Goodman. 600 curtas-metragens inscritos em disputas. Houve inscritos de 54 países. Para a edição O CutOut Fest, segundo Miguel, é o maior de novembro, que já está com as inscrições do país em torno da animação e da arte encerradas, serão 800 curtas inscritos, de digital, reconhecido por sua competição 64 países. internacional de curtas. “Havia mais de 80 festivais de cinema no país, e nenhum Ainda não há disputa para longa-metragem, deles dedicado à animação. O impulso veio e a explicação é uma só: a indústria de em 2009, quando começávamos a ver o animação mexicana ainda não apresenta crescimento da indústria em todo país”, uma produção consistente. “Lá se produzem contou ele, otimista sobre o incremento do poucos longas por ano. Então, nós focamos setor em toda a América Latina, mas realista no curta. Exibimos alguns longas, mas não sobre o longo percurso que ainda deve ser fazemos premiação.” trilhado. Tanto no México como no restante da região. Ao contrário do que vira no Anima Mundi e no Chilemonos, ambos com boa frequência 150 Em sua vasta programação, o CutOut Fest do público infantil, Miguel ressaltou seu oferece workshops, conferências, palestras, festival é mais destinado ao público de exibição de filmes e exposições de arte. 18 a 35 anos, que representam 85% dos Todas as atividades são gratuitas para o frequentadores: 151 A oportunidade é para o público e também As crianças adoram animação, mas estão para animadores, produtores, e interessados muito mais acostumados a ver o que lhes no setor. Em formato similar ao do Anima é oferecido comercialmente pelos grandes Forum, o CutOut Fest inaugurou, em canais de televisão, pelo cinema. Essa 2013, atentos à formação da indústria animação, talvez mais de vanguarda, esses de animação no México, o Living Market. autores que propomos têm uma recepção “O CutOut Fest começou simplesmente muito melhor entre os jovens que entre os como um encontro mais artístico-cultural. adultos”, afirmou. Ano passado, Living Marketing foi um Miguel Del Moral Rede de Festivais Latino-Americanos “Talvez pelos conteúdos que escolhemos. experimento que conseguimos também O começo, para o CutOut Fest, foi igual graças a participação do Reino Unido como ao de muitos festivais independentes: país convidado, que chegou com muita força, com muita vontade e poucos recursos. com várias empresas de animação e de TI”, Na medida em que se consolidou, ganhou contou Miguel. mídia e divulgação. “Começamos com um festival sem nenhum orçamento, depois Foi um impulso, Miguel avalia. Se não existe continuamos sem pagar nem uma nota um mercado de animação, se a produção de de publicidade. Não pagamos para que longas-metragens é incipiente, também não nos publiquem ou nos coloquem nos existe um mercado consumidor. meios, mas os próprios meios aceitaram um evento que gera conteúdo para eles. E “É complexo gerar um espaço de mercado, então eles vão lá cobrir o festival. Interessa porque você não pode convidar as a eles divulgar toda essa experiência que produtoras ou distribuidoras que vendam se vive no México”, avaliou Miguel. Outros conteúdo. Realmente, não funcionava grandes aliados na divulgação são as redes assim e, então, começamos a experimentar sociais. “O impacto que elas podem gerar qual deveria ser o modelo de mercado”, é impressionante. É o que temos utilizado, ponderou. todos esses anos, para fazer contato com 152 as pessoas e manter a proximidade e o O Living Market foi criado, inclusive, para envolvimento com o público”, disse. pensar modelos de coprodução. “Esse vai 153 em no país. Em 2009, começamos com um toda essa de rede de festivais e todas as fórum de 3 mil pessoas, e não tivemos o propostas que estão surgindo aqui, que retorno dos investimentos. E, como vocês surgiram primeiro no Chilemonos e que podem ver, as cifras foram crescendo de depois vai para o Expotoons e para o CutOut forma exponencial até o ano passado. em novembro, que se dê seguimento, como Pulamos de 96 para 632 curtas em 2013. falávamos na conversa passada, que sejam Eram apenas quatro países na primeira 4, pelo menos, 4 momentos ao longo do edição”, ele encerrou convidando o público ano, latino-americanos, para o diálogo para brasileiro a encarar a viagem. Miguel Del Moral Rede de Festivais Latino-Americanos ser o espaço do Living Market, para que as coproduções, para os intercâmbios, de questões de cinema, de televisão e O endereço do site do festival: www. tudo o que tenha a ver com os conteúdos cutoutfest.com animados. Acredito que o Living Market vai ser um espaço fundamental.” O CutOut Fest extrapola a animação. “Não só focamos na tela do cinema, na animação para cinema, mas também em conteúdos ou propostas, negociações de artistas que fazem espetáculos de multimídia, de animação em outros formatos que não só os de tela grande. A animação está em todos os lados e tem muitas outras indústrias relacionadas”, explicou. E, finalmente, para justificar a carência de festivais do porte do CutOut Fest no México, Miguel usou os números: “Crescemos de uma forma impressionante, como aconteceu com poucos festivais de cinema 154 155 Rede de Festivais Latino-Americanos objetivo de sermos um pouco os motores do crescimento e nessa linha, durante estes anos, fomos criando um pouco e nos apoiando em toda uma política de estado. Como no Brasil, também na Argentina nestes anos houve muito apoio. Ainda falta muito, mas não tínhamos nada. E estamos agora em uma posição bastante melhor. O Festival serviu para que hoje estivéssemos nesta mesa, já não mais lutando pela animação argentina, mas unidos nesta atitude latinoamericana, porque nos demos conta de que juntos vamos ser muito mais rápidos. E esse é o objetivo número um.” Rosanna prosseguiu com a exibição de slides sobre o Expotoons: ocorrerá de 18 a Rosanna Manfredi Expotoons Representante do lado argentino na mesa, Rosanna Manfredi iniciou sua participação com a exibição de um vídeo com uma amostra da animação feita pelos hermanos. O Festival Expotoons vai para a sua oitava edição em 2014. “Ou seja, já faz sete anos que estamos desenhando a animação argentina. Nós produzimos o festival com o 156 21 de setembro, em Buenos Aires. “Nosso Festival não está somente na capital, mas também percorre outras cidades, buscando outros talentos, levando as conferências. São formas de nos aproximarmos e fazer crescer toda a região”, ressaltou. Com o objetivo de divulgar a animação como um motor de crescimento nas indústrias audiovisuais e culturais, o Expotoons firmou-se como espaço para a troca de tendências, tecnologias, conhecimentos, propostas artísticas e 157 mostrar que projetos existem na região, reúne animadores, produtores, estudos na Argentina, na América Latina, para que de comunicação, agências de publicidade, possam conhecer os projetos e as pessoas canais de televisão, empresas de tecnologia, que fazem os serviços”, defendeu. Já que a instituições de ensino, fornecedores e grande maioria das empresas não possui estudantes. grandes estruturas de pessoal, como é Rosanna Manfredi Rede de Festivais Latino-Americanos experiências entre os países. A cada edição, muitas vezes necessário em um projeto, a O viés no mercado é forte. “Nós temos, ideia da complementação é recorrente. por um lado, o que chamamos ‘roda de negócios’, em que se apresentam projetos Avançando com os slides, Rosanna exibiu em uma roda, onde convocamos os os mais diversos projetos que estão em compradores das emissoras de televisão, curso na Argentina, bem como alguns de aquisição, produtoras importantes. já realizados. Na medida em que os Fazemos um convite e, nesses encontros, projetos avançam, impulsionam o Festival o que estamos procurando são projetos Expotoons. Segundo ela, o Pakapaka, que estejam maduros para o mercado, que primeiro canal público voltado para o tenham um piloto, que se possam tanto público infantil, operado pelo Ministério da apresentar quanto procurar coproduções, Educação, foi um passo importante para para ver de que forma se pode produzi-los”, a animação do país, que ganhou uma tela explicou. para exibição. Este ano, a convocação seguirá para “Acredito que isto foi um apoio produtoras de toda a América Latina, não importantíssimo e que gerou a possibilidade somente da Argentina. “O que fazemos de que os projetos por aí, que não são tão é mostrar o trabalho, ou seja, uma das grandes, também tenham o seu canal de chaves é nos conhecer, porque uma exibição e possam ser vistos”. coprodução, como bem já se disse, é quase 158 um casamento. Então, como vamos fazer se Desde que foi iniciado o Expotoons, vários não nos conhecemos e não conhecemos os acordos e contatos foram delineados para projetos? Com isso, o Expotoons pretende alavancar o mercado de animação na 159 que não é menor, é um tema que estamos uma das indústrias que tem mais potencial, trabalhando em conjunto para que as como bem já se disse por aí. Nós tivemos produtoras possam manter seus direitos um crescimento importante, mas esse e dividi-los com as coproduções, como crescimento foi exponencial em todo o é lógico, segundo o capital e segundo o mundo”, ponderou ela. Em 2012, o país suporte que cada um recebe”, afirmou ela. Rosanna Manfredi Rede de Festivais Latino-Americanos Argentina. “Evidentemente, a animação é passou de uma média de dois filmes anuais para cinco produções. Parece pouco, Na sequência, Manfredi exibiu um vídeo mas, para a Argentina, não é o caso. “Nós de Metegol, animação em 3D dirigida pelo temos mais apoio no cinema que na área argentino Juan Jose Campanella, diretor de de séries, que ainda está começando a filmes como O filho da noiva e O segredo dos ter algum apoio. A área cinematográfica seus olhos. “A Argentina também está em sim, tem um trajeto mais importante e as um momento complicado, mas se chega coproduções têm uma porcentagem maior a fazer um filme de $ 20 milhões, que foi de suporte, porque é mais simples fazer vendido para 70 países, que estreou nos uma coprodução cinematográfica que fazer EUA dublada por atores americanos e uma série”. com muito sucesso”, ressaltou. Na área de séries, ainda que com mais dificuldade para O embate que as séries enfrentam para produzir, também houve um crescimento se firmar em telas argentinas, segundo acentuado, em relação com anos anteriores. Manfredi, se dá, principalmente, na Outra frente em que os argentinos área dos direitos. “A lei argentina não estão ganhando espaço, inclusive com deixa o direito das séries em poder das coproduções, é a área de serviços. produtoras. E isso é uma dificuldade 160 quando alguém sai para o mercado de Segundo Rosanna Manfredi, cresceu trabalho e tenta vender um projeto. não apenas o volume de animações Estamos nessa discussão, vendo de que argentinas, mas também a qualidade maneira podemos contar com os fundos das produções evoluiu. “O filme Metegol públicos, mas que isto não signifique que contribuiu para elevar o nível geral e fiquemos sem os direitos. Esse é um tema gerou uma quantidade de gente mais 161 Rosanna Manfredi encerrou sua os grandes líderes da animação”, avaliou participação no Anima Forum, mas não ela, exibindo um exemplo de projeto sem antes convidar a plateia a fazer uma transmídia, outra tendência. “É pensar em viagem rápida a Buenos Aires para conferir projeto que não é para série, nem para o Expotoons. “Estamos fazendo um convite cinema, mas com várias telas convivendo para que façamos os festivais seguirem em todos os diversos meios”, afirmou. trabalhando juntos. A ideia é seguir “Trata-se de um projeto que começou trabalhando de forma conjunta e que este como uma série para tornar-se depois um fórum se repita em setembro. Obrigada.” Rosanna Manfredi Rede de Festivais Latino-Americanos capacitada para trocar experiência com transmídia muito importante, no qual se mesclam o conhecimento com a diversão O endereço do site do festival: de uma maneira muito original, muito http://www.expotoons.com divertida, que tem várias temporadas de êxito e que está dando bem com esse mundo, em que a internet também tem um papel muito importante, que se atualiza permanentemente.” Transmídia pode ser o futuro, defendeu Rosanna. E as crianças são um público que requer particular atenção. “As crianças querem produzir conteúdo e são elas que impulsionam um pouco todo este desenvolvimento e que nos obrigam a repensar-nos em função de estar sintonizados com o que elas querem”, argumentou. Um bom exercício, portanto, para aprender a escutar as crianças, seria mudar de lugar com elas e deixar espaço para que elas possam participar. 162 163 Rede de Festivais Latino-Americanos Diretora executiva do Chilemonos, Margarita esclareceu o que é e quais os objetivos do Festival. A inspiração, ela fez questão de pontuar de onde veio: “Contamos com a generosidade e com a sintonia com Brasil. Nossa primeira edição foi realmente um tremendo impulso. Nosso festival de referência sempre foi o Anima Mundi. Não foi Annecy. Foi incrível, porque em nossa primeira edição, pudemos contar com a presença do César (Coelho, diretor do Anima Mundi), e contamos com a presença de mais, do Carlos Saldanha, que foi falar sobre o que é fazer animação nos grandes estúdios americanos. Sem dúvida, para nós, foi um impulso muito grande, porque partimos já grandes, ou seja, sendo capazes de congregar diversas instâncias, e podendo Margarita Cid Chilemonos Margarita Cid teve participação decisiva na formação da Rede de Festivais Latinoamericanos. Foi no Chilemonos, o mais jovem entre os participantes da mesa, com apenas três edições realizadas, que nasceu a ideia de reunir as iniciativas e promover trocas entre os países. 164 mostrar o que era a animação no Cone Sul, na América Latina e no mundo.” Criado para promover a difusão e o intercâmbio da animação chilena tanto dentro do país como nos principais centros do mundo, o Festival Chilemonos tem três pilares fundamentais: - Exibição, através de mostras, competições e exposições; 165 do Chile, a organização do Festival partiu laboratórios, encontros e workshops; para arranjos que criassem oportunidades de difusão em todo o país. “Todos sabem o - Mercado, através do MAI! (Mercado, quão grande o Chile é. E o quão complexo Animação e Indústria), plataforma de é conseguir articular qualquer iniciativa coprodução latino-americana, criada para que tenha por missão unificar o país. Nós, promover o encontro de produtores, no ano passado e neste, implementamos distribuidores e canais. O objetivo é servir a competição nas áreas de séries, curtas de estímulo ao crescimento da indústria de e estudantil, muito importante a nível animação no continente. nacional e internacional. Implementamos Margarita Cid Rede de Festivais Latino-Americanos - Formação, através de masterclasses, as séries latino-americanas com votação Para que a plateia conhecesse, Margarita nacional nas escolas do Chile”, explicou. explicou exibiu um vídeo das versões anteriores. O objetivo, ressaltou Margarita, era formar uma audiência que começasse a Desde a primeira edição, os organizadores se acostumar e a entender, desde cedo, a entenderam que não basta querer linguagem do audiovisual. Uma audiência conquistar o mundo, é preciso unir forças, preparada para valorizar o que é a acentuou ela: animação, e, por outro lado, entender os temas que traduzidos nas séries. “Era nosso primeiro festival, e pensamos: ‘sozinhos não vamos conseguir’, temos de “Além de sermos um festival, somos um fazer em forma conjunta. A ideia era fazer estúdio de animação e, quando tomamos a crescer rapidamente, porque necessitamos decisão, há três anos, de gerar um festival, que isto seja real, necessitamos conseguir tínhamos que encontrar uma janela que que o mercado se mobilize, e necessitamos permitisse difundir o que se fazia dentro do que coisas concretas aconteçam”, disse. nosso país, e permitir o crescimento do que poderia estar por vir. Na tentativa de impor a animação como viés importante para a economia criativa 166 O Chile possui uma quantidade acentuada 167 ano, tanto para o festival quanto para o a indústria é pequena, não absorve a mão mercado, será o Brasil. Portanto, vamos de obra. Margarita insistiu que os festivais fazer uma convocatória, na qual a gente têm também essa missão: “No caso do possa contar com as melhores opções e Chilemonos, nós temos a responsabilidade os melhores esforços para trabalhar em de gerar uma rede que permita a inserção conjunto com as produtoras e festivais. laboral, que permita a inserção de produtos Nós sabemos que uma das necessidades que estejam começando gerar um nível alto mais evidentes, em todos os países, é o de especialização.” suporte oriundo do financiamento público Margarita Cid Rede de Festivais Latino-Americanos de escolas de animação per capita. Mas, se e uma política conjunta. E desejamos que O eixo fundamental do Festival, em 2014, no próximo ano, assim como criamos uma foi a criação de uma rede latino-americana rede de festivais, possamos começar a criar que permitisse difundir e a animação, uma rede e um corredor também para essa e potencializar a coprodução latino- questão governamental. Esperamos contar americana. E, a partir daí, exportar. com o talento brasileiro, com a vontade de produzir e com a mentalidade generosa, Margarita exibiu ainda um clip sobre a que faz com que os projetos cresçam e inserção da programação latino-americana floresçam. Obrigada!” no Festival. Além da exposição em todo o país, foram convidados conferencistas O endereço do site do festival: latino-americanos, com o objetivo de festivalchilemonos.com valorizar o produto e o realizador. “Nós pensamos que a curto prazo, não a médio, isso vai gerar um ponto de inflexão e de crescimento.” A vontade de estabelecer vínculos e parcerias é grande. “Sem dúvida, o Brasil é uma grande referência para nós. Tanto que já definimos que o país foco do próximo 168 169 Chris Landreth 31 de Julho Convidado: Chris Landreth Masterclass 2 Fazendo rostos Poucos animadores iniciam suas carreiras como engenheiros mecânicos, mas Chris Landreth não é um animador comum, e sua primeira profissão talvez o tenha ajudado a compreender melhor as engrenagens da animação, e da psicologia e anatomia humanas. Não demorou muito para ele engrenar na nova carreira, que descobriu ser muito mais divertida, e ele logo foi contratado pela produtora Alias Inc. (hoje conhecida como Autodesk), onde criou seus 171 Chris Landreth Masterclass 2 primeiros curtas em computação gráfica, The End (1995) e Bingo (1998). Com uma narrativa que explora a psicologia e um visual fotorrealista das personagens, os curtas marcam as primeiras experiências dentro do que o diretor chama de “psicorrealismo”, uma maneira de “expor o realismo da qualidade incrivelmente complexa, desarrumada, caótica, às vezes mundana, e sempre contraditória que chamamos de natureza humana”. metragem de Animação em 2004), os Explorando os meandros e limites da paradoxos da codependência matrimonial, natureza humana e da animação, Chris no sombrio The Spine (2009), e as limitações percorreu temas como a decadência do da memória humana, no bem-humorado artista, no documentário animado Ryan Subconscious Password (2013). Seu próximo (ganhador do Oscar de Melhor Curta- projeto será um longa-metragem baseado na vida do escritor de terror H.P. Lovecraft. Além do seu trabalho como animador, Chris também ministra aulas de animação facial, em um curso chamado “Making Faces” (Fazendo Rostos), que apresentou este ano entre as Master Classes. Partindo da ideia de que somos naturalmente programados para reconhecer os mínimos detalhes do rosto humano, o curso teve o objetivo de demonstrar como expressões faciais são capazes de evidenciar sentimentos complexos. 172 173 31 de Julho Projeto SEA Convidados: Eduardo Valente – ANCINE Morten Thorning – The Animation Workshop Hiromi Ito – Office H Marcos Magalhães – Anima Mundi Amir Admoni – Participante SEA 2014 Emerson Rodrigues – Participante SEA 2014 Paolo Conti – Participante SEA 2014 Pedro Eboli – Participante SEA 2014 Sérgio Glenes – Participante SEA 2014 Moderador: Reynaldo Marchesini – Moderador Projeto SEA Um projeto criado para integrar. A tarde de quinta-feira, penúltimo dia do Anima Forum, foi reservada a um tema caríssimo para o próprio Anima Mundi: o projeto SEA Concept Development Master Class (South America, Europe e Asia), um workshop intensivo de exatas duas semanas, que reuniu 15 animadores do Brasil, Dinamarca e Japão. Com o objetivo de fortalecer a conexão entre artistas dos três continentes, o projeto foi organizado e gerenciado pelo Anima Mundi, do lado latino-americano; pela The animadores é de criadores de conteúdo. E Animation Workshop, do lado europeu; e o o programa SEA tem essa pegada de criar Office H, representando os asiáticos. conteúdos, mas criar em parceria com outros países. É um projeto que demonstra Conhecedor do mercado de animação, o a possibilidade de quebrar barreiras produtor Reynaldo Marchesini, há 17 anos culturais e comerciais, através da linguagem na área infanto-juvenil, responsável pela da animação”, realçou Marquesini, que produção artística da série Sítio do Pica Pau viajou como palestrante convidado. Amarelo, e pela série Princesas do Mar (2004), fez uma breve introdução ao tema da mesa: Em seguida, o moderador convidou Eduardo Valente, da Ancine, Morten Thorning, do The 176 “A gente falava muito, em 2004/2005, sobre Animation Workshop, Hiromi Ito, do Office qual seria o papel da animação brasileira no H, e Marcos Magalhães, do Anima Mundi, mercado de séries de animação, e sempre para compor a mesa. Cada um falaria tinha aquela discussão: O Brasil vai crescer sobre a sua participação no SEA. No final, a mão de obra em animação ou vai crescer os participantes brasileiros apresentariam um criador de conteúdo? A gente sempre o que desenvolveram nos 15 dias de defendeu que o Brasil, nosso DNA como intercâmbio. 177 Projeto SEA estão nesse oceano profundo que a gente começou a navegar”, disse o coordenador do Anima Forum. O entusiasmo com a proposta SEA, contou Magalhães, foi imediato. O contato com a comunidade internacional, para a turma do Anima Mundi, não é novidade, ele relembrou que o embrião do festival foi exatamente o acordo Brasil–Canadá, firmado nos anos 1980. “Os quatro diretores do festival se encontraram e começaram a pensar em conceitos de animação internacionais, trabalhando com o Canadá, que abriu essa porta. Já havia essa vocação universal de trazer russos, holandeses, japoneses, todo tipo de nacionalidade, para fazer filmes lá”, contou Magalhães. Marcos Magalhães e a “Perspectiva Brasileira” 178 A parceria internacional, portanto, é um caminho bom, prático e real, acentuou. A relação com os dinamarqueses é recente, mas o entusiasmo é grande. “A Animation Marcos Magalhães apresentou o SEA Workshop nos encantou. Primeiro, com Project com evidente orgulho: “South a apresentação que o Morten fez aqui no America, Europa e Ásia. Três países, Anima Mundi. Depois, com a oportunidade de três continentes, e a sigla acaba em que a gente teve de ir até lá pessoalmente ‘mar’, porque, realmente, é um mar de – eu e o César (Coelho) – e viver um pouco possibilidades. A gente tem muito o que da atmosfera que ele criou na escola. nadar para pegar todos os peixes que Realmente, é um ambiente muito inspirador, 179 possíveis. Foi tudo pensado com a ideia de pessoas criando em todos os cantos, muito ser animação comercial, de serem universos bem equipadas. É um lugar muito aberto a de animação, não somente projetos novas ideias”, contou. específicos para série de TV, para longas ou para jogos. Mas tudo isso”, explicou. A O Japão é um parceiro igualmente valioso. ordem era criar personagens, universos que Magalhães contou como se deu o processo pudessem ser explorados em quaisquer e os porquês da participação asiática: “O desses ambientes. Marcos Magalhães Projeto SEA onde você vê desenho por toda parte, vê Japão é a segunda indústria de animação, não digo nem segundo lugar, é o número A semente foi plantada. Cinco sementes, um [risos], em quantidade e qualidade. É Marcos Magalhães foi preciso, já começam o único lugar onde a animação, o desenho a desabrochar do lado brasileiro. “A gente animado está lá, firme, no mercado”, vai ver as notícias que eles vão dar aqui, Magalhães prosseguiu, animado. do que aconteceu nesse tempo, nesses seis meses. Mas acho que é um projeto de Se vontade e entusiasmo geram ações, o longo prazo. Lá pelo quinto SEA, a gente SEA Project é uma prova real. vai ter um acervo de sucessos que vai, incontestavelmente, deixar todo mundo “Foi tudo meio de última hora. A gente impressionado”, garantiu, empolgado. Isso conseguiu, com a Ancine, um apoio que significa que a sigla dos continentes pode foi fundamental para que todo mundo crescer, já que os planos são de expansão. E pudesse ir mais descansado, sem precisar a América Latina será o próximo alvo. desembolsar uma grande quantia. Você 180 investir 800 euros para passar duas “É possível a gente fazer isso também com semanas tendo tanta informação e criando países sul-americanos, assim como a Hiromi network, para emplacar um projeto está pensando na Coreia. A gente já teve ou emplacar você mesmo no mercado outras pessoas de países europeus, não internacional, é super barato. É um projeto apenas da Dinamarca. E o entusiasmo dos muito viável”, disse ele, adiantando os brasileiros impressionou a eles também. resultados: “São ideias muito fortes, Porque a gente teve 100 inscritos e um 181 Brinquei um pouco com eles. Por outro lado, muita dificuldade de escolher esses cinco. tem uma coisa interessante de coprodução Por coincidência, são cinco rapazes. Para internacional. O Brasil já fez algumas séries contrapor as cinco meninas japonesas”, em coprodução. Mas, normalmente, essa ele brincou, garantindo que não foi uma conversa é entre produtores executivos, decisão intencional. e, de certa forma, é interessante colocar Marcos Magalhães Projeto SEA prazo muito pequeno de inscrição. Tivemos os criadores brasileiros num espaço de O objetivo, agora, é expandir o conceito, coprodução. Na verdade, eles passaram duas fazer os animadores selecionados semanas coproduzindo. A gente só vai se circularem pelos países envolvidos. Ora tornar também um criador de conteúdo com na Dinamarca, ora no Brasil, ora no Japão. produções internacionais se a gente também “A indústria precisa desse ambiente de desenvolver essa relação de coprodução, cooperação. É mercado? É. A gente está entender o olhar do outro, a sutileza dos lidando com propriedades comerciais que japoneses, o olhar europeu”, disse ele. a gente tem de proteger. Eventualmente, fazer o jogo de sigilo ou de estratégia. Sim, tem de fazer isso. A gente tem que aprender a lidar com isso sem perder a criatividade, sem perder a colaboração e esse ambiente humano”, defendeu ele, avisando que a plateia faria seu próprio julgamento dos trabalhos que seriam apresentados mais adiante. Reynaldo Marchesini, na moderação, brincou: “Como produtor executivo, fiquei muito feliz em ver que em quinze dias na Dinamarca dá para fazer todo o trabalho de criação [risos]. 182 183 Projeto SEA para apresentar essa ideia, que ainda estava em formação. Num primeiro momento, eu já adiantei que era um projeto que tinha tudo a ver com uma série de coisas que a gente estava tentando fazer. E que se ele de fato avançasse, que eles nos procurasse mais adiante. E, no final do ano, eles nos procuraram, e conseguimos enquadrar isso num programa que já temos na Ancine”, ele contou as primeiras conversas. O projeto, segundo Valente, é estratégico do ponto de vista da política pública, uma vez que reúne três frentes em que a Ancine está investindo: - Investimento na coprodução como Eduardo Valente ANCINE Como se deu a participação da Ancine no projeto e qual o futuro do SEA. Falar sobre esses temas foi tarefa de Eduardo Valente. “No ano passado, eu vim participar de um debate sobre colaboração Brasil-Alemanha, no Anima Forum. Na saída da conversa, o César (Coelho), um dos diretores do festival, me pegou para falar muito rapidamente 184 caminho para a internacionalização do produto, do artista e do produtor audiovisual brasileiros, seja na animação, seja em outros setores. “A gente sabe que tentar inserir um produto como 100% brasileiro no mercado internacional é muito difícil. E a coprodução, pelo fato de a obra já nascer binacional, no mínimo, facilita a inserção e a circulação da obra nos mercados”; - Ampliação do Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros 185 O SEA, para a Ancine, foi o projeto certo, cerca de 80 eventos pelo mundo, e o apresentado na hora exata. realizador brasileiro, se tem uma obra selecionada, automaticamente a Ancine “Foi a junção do programa com todas essas dá um apoio. O que fizemos foi ampliar linhas que a gente já via como estratégicas. e, em vez de trabalhar apenas a obra O resto, é apoiar, é vir aqui e ver o que sai pronta, inclur também os workshops”, disso por que é isso que interessa para a disse ele sobre o programa que, em Ancine: como política pública viabilizar que 2014, passou a Programa de Apoio à coisas interessantes aconteçam. Nós vamos Participação de Filmes Brasileiros em continuar apoiando as próximas edições do Festivais Internacionais e de Projetos de SEA, não tenha a menor dúvida. Então, eu Obras Audiovisuais em Laboratórios e diria para as pessoas que é importante se Workshops, que contempla os projetos informar sobre os programas que a gente audiovisuais convidados para um dos 27 têm. Todos têm regulamento, listagem de laboratórios ou workshops internacionais eventos que a gente apoia , públicos e etc pré-listados pela Ancine; no site da Ancine. Quem faz são vocês”, Eduardo Valente Projeto SEA em Festivais Internacionais. “São Valente deixou o recado. E o site da Ancine: - Criação do Programa de Apoio à ancine.gov.br. Participação de Produtores de Audiovisual em Eventos de Mercado e Rodadas de Negócios. “A gente percebeu também que para os projetos surgirem é importante que as produtoras circulem mais no universo do audiovisual, nas rodadas de negócios. São Pontos de encontro, são momentos em as pessoas todas estão juntas, como aqui no Anima Mundi. Então a gente começou, esse ano, um programa que apoia essa participação. São 22 eventos listados pela Ancine. 186 187 Projeto SEA Dividida em sete departamentos, a The Animation Workshop oferece graduação em Artes para Design de Personagens de Animação, Computação Gráfica ou Narrativa Gráfica; formação profissional, uma academia dedesenho, workshops abertos, um centro pedagógico de animação, além de desenvolvimento de negócios e uma rede de inovações. E foi exatamente lá que ocorreu o SEA Concept Development Master Class. “Temos dez mil metros quadrados dedicados apenas à animação”, disse Morten, que atua na instituição desde a fundação, em 1989, e dedica-se ao desenvolvimento da animação europeia e a sua inserção no mercado internacional, numa tentativa de competir igualmente com os mercados americano e asiático. Morten Thorning The Animation Workshop Já conhecido do público do Anima Forum, Morten Thorning é o diretor geral da The Animation Workshop, uma escola de cinema de animação e centro de residência para artistas que desejam se especializar em design de personagens, computação gráfica, desenvolvimento de conceitos e design. 188 Depois de apresentar a escola, ele contou como se desenrolaram as conversas que resultaram no programa. “Eu já fui convidado pelo Marcos para participar do Anima Mundi, e foi uma experiência ótima. Lembro que, logo antes de voltar para casa, telefonei para ele e falei que precisávamos fazer o projeto juntos. O Anima Mundi é incrível. Então voltei e tentei imaginar como faríamos para financiar.” 189 globais. “Quem trabalha com animação projeto poderia ser desenvolvido em sabe que é uma coisa muito territorial. parceria: Uma série de TV que funciona muito bem nos Estados Unidos pode não funcionar “Decidimos então fazer um concept na América do Sul, ou uma que é boa para development laboratory (laboratório de os japoneses pode não vender na Europa. desenvolvimento conceitual) internacional. É muito territorial, muito cultural. Nós Envolveria cinco artistas brasileiros, cinco queremos saber se conseguimos criar europeus e cinco japoneses. Separaríamos ideias globais”, disse Morten, que também é em cinco grupos, com um brasileiro, um roteirista, produtor, ator e diretor de vários japonês e um europeu, e torceríamos para programas de rádio; dirigiu animações e foi que eles conseguissem fazer alguma coisa diretor executivo de mais de 40 curtas de juntos. Seria um experimento. É ótimo animação. Morten Thorning Projeto SEA As discussões seguiram sobre o tipo de poder fazer experimentos assim, porque quando você faz um você pode dizer com Morten Thorning exibiu um vídeo do projeto alguma tranquilidade ‘ah, falhamos’. Mas SEA. “Vendo isso, vocês devem imaginar que vocês vão ver por si mesmos se falhamos ou estávamos comendo o tempo inteiro. [risos] não”, disse ele, em tom bem-humorado. Nós queríamos oferecer a melhor situação possível para essas pessoas criarem. Então O programa era intenso. “Eles só tiveram colocamos todos em um prédio, fechamos um dia para arrumar a agenda e já as portas, enchemos de comida e dissemos trabalhariam com um diretor de teatro. ‘vocês têm de criar algo que seja realmente Fariam exercícios para se conhecer melhor, fantástico’ [risos]. É isso, obrigado!” tentar encontrar as diferenças criativas e descobrir quem gosta mais de quem, Para conhecer na internet: quem prefere trabalhar com quem”, Morten http://www.animwork.dk explicou a dinâmica dos grupos. O esforço era para que os participantes criassem conexões fortes, conexões 190 191 Projeto SEA O SEA (South America Europe and Asia) representou um grande desafio para a criação de algo novo, tendo em vista o aspecto multicultural do programa. As diferenças entre brasileiros, japoneses e dinamarqueses ficou evidente. Basta observar o comportamento de cada um em situações corriqueiras. Em um ponto de ônibus, por exemplo: “Eu diria que 99% dos brasileiros olham na direção que seu ônibus ou trem vem. Acredito que eles não confiam no horário. E eu me pergunto: ‘por que todos estão olhando para lá?’ Já 99% dos japoneses ficam em linha muito ordenadamente, olham estritamente para a frente (ou para seus smartphones) e entram no ônibus também em fila. Já os dinamarqueses nunca são Hiromi Ito Office H Hiromi Ito tem uma longa relação com a animação. Entre curtas, festivais e programas de formação de profissionais. Já o Office H é uma empresa que oferece serviços profissionais de planejamento estratégico, gerenciamento de marketing e novos negócios. 192 vistos até cinco minutos antes do horário da partida. A 30 segundos do horário, eles se reúnem ‘do nada’. Onde estavam?”, Hiromi brincou sobre os costumes. Entre as características dos participantes japoneses, todas meninas, Hiiromi realçou que, tradicionalmente, elas aliam o tradicional e o moderno, são acolhedoras, e administram bem meninos. Com faixa etária de 20 a 40 anos, elas têm experiência 193 de seleção para o programa. A troca de já se conheciam, outros se viram pela informação é importante tanto para o primeira vez”, disse. No quesito fluência na próprio programa como para alavancar língua inglesa, duas dominam a língua, uma uma coprodução. No entanto, Hiromi fala com certa destreza, e duas são ainda realçou que, especificamente no caso do iniciantes na conversa de negócios.” SEA, essa lacuna poderia ser preenchida Hiromi Ito Projeto SEA de diretor júnior a produtor sênior. “Alguns com informações disponíveis na internet, Não houve desistências, festejou Hiromi, na jornais, revistas e nos sites e blogs dos ao dar o feedback dos japoneses sobre parceiros envolvidos. “Eu reconheço que o programa: “Todas ficaram satisfeitas foi um desafio, mas nós buscamos cumprir em fazer parte do SEA. Foi maravilhoso os objetivos fundamentais que eram lidar para elas passarem duas semanas apenas de modo produtivo com a diversidade de estudando e criando. Elas se deram bem culturas e participantes, e encontrar um com seus companheiros, com exceção novo estilo de coprodução multicultural. de alguns. No entanto, fizeram menos Assim, eu espero que elas desafiem e networking do que suas expectativas.” encarem o mercado global e não desistam de seus sonhos facilmente.” Quem é o japonês, ou melhor, quem é o criador japonês? Segundo Hiromi, esse é um Para conhecer na internet: aspecto relevante para o programa. Em geral, http://blogs.yahoo.co.jp/hiromi_ito2002jp eles programam as ações, seguem o roteiro pré-estabelecido. Os princípios, portanto, devem estar claros desde o princípio para que o trabalho em equipe funcione. Profundamente detalhistas, têm uma capacidade ímpar de criar histórias novas. De acordo com o feedback que recebeu, as japonesas, por exemplo, reclamaram da pouca informação disponível no processo 194 195 Projeto SEA Uma equipe afiada, pronta para o desafio de criar uma série em duas semanas. Parece fácil. Para o produtor e diretor do longa-metragem Minhocas, sempre há mais para aprender. Havia três diretores no grupo de Paolo. “A primeira coisa que o time tinha de fazer era definir a tarefa de cada um. Ou a gente só iria brigar. Então decidimos dessa forma: o David vai dirigir, eu seria o produtor, a Agure faria o designer e o Niels faria o conceito. Isso parece uma bobagem, mas isso foi o que fez a gente não se matar duas semanas que teríamos de seguir”, ele contou, bem-humorado, como foi a tes cipan Parti eiros l brasi Paolo Conti Participante SEA 2014 Projeto: Bubblebit & Miau série de TV / 52 episódios de 11 minutos. Público: crianças de 5 a 9 anos Gênero: Ação/comédia Animação CG Equipe: Aguri Agura (designer), Niels Dolmer (concept artist), David Tousec (diretor/produtor) e Paolo Conti (diretor/produtor) 196 adaptação aos colegas. O projeto foi definido: “Nós decidimos que faríamos uma série de TV de ação e comédia, em computação gráfica, para o público de 5 a 9 anos. Nisso, a gente já estava visualizando o que a minha produtora poderia contribuir na produção se isso se viabilizasse, e o que a produtora do David também poderia fazer para a produção.” O produto foi desenhado, portanto, para ser uma coprodução entre as empresas. 197 Paolo Conti Projeto SEA Participantes brasileiros “A série conta as aventuras de um pequeno alienígena chamado Bubblebit e a detetive mirim Miau. Ele vem de um pequeno planeta onde ajudar as pessoas é a única coisa que importa. Já na cidade onde ele vai parar, ninguém se importa com ninguém. A única pessoa que se importa é a detetive Miau. Juntos, os dois amigos, vão resolver os problemas da cidade. O confronto cultural entre os dois heróis e a cidade inteira é a base cômica e narrativa dos episódios da série”, explicou. No projeto de Paolo e seus colegas, Bubblebit e sua amiga Miau irão entreter a criançada com histórias cheias de momentos meio desajeitados e tecnologias únicas, e amigos que cuidam uns dos outros sem esperar pessoas que não merecem ser ajudadas, recompensa. “A ideia era criar um conceito e é daí que vem a comicidade da série”, de comédia num universo onde dois contou Paolo. personagens querem ajudar, e o resto do mundo não se importa com nada.” O super poder de Bubblebit é criar robozinhos, que também têm o propósito 198 Paolo mostrou o Bubblebit , o alienígena de ajudar o próximo. “O robozinho é cujo único propósito é usar seus criado única e exclusivamente para ajudar superpoderes para ajudar aos outros. aquele personagem que precisa de ajuda.” Seja como for, mesmo que ele não tenha a Bubblebit não fala. Quando quer se menor ideia de como fazer isso. Bubblebit comunicar, produz uma bolha que sai de é a representação da inocência. “Ele quer dentro da sua boca.” Mas não é uma bolha, ajudar de qualquer forma, mesmo as é como se fosse um ‘cuspe’. Nessa bolha 199 única vontade de um personagem que está ele tá pensando”. A ideia dos hologramas na cidade. Os telefones não param de tocar, estava alinhada aos treinamentos e são milhares de ligações ao mesmo tempo , capacitação que o grupo teve no Workshop. de todos os cantos da cidade”, ele exibiu as Paolo Conti Projeto SEA Participantes brasileiros aparece um holograma, que mostra o que imagens para apresentar os personagens “Essa ideia se apropria de ícones de celular. para a plateia. Então, a gente poderia desdobrar aplicativos de Bubblebit para comunicar entre telefones Paolo também mostrou a arte conceitual para as crianças. Isso é bem interessante, do que é a casa da Miau. “Ela mora em um por que hoje se usa muito símbolos para lugar que é totalmente destruído, assim expressar emoções ou ideias.” como toda a cidade. Mas como agora ela se importa, ela tentou dar um jeito de No universo criado pelo grupo, ainda não deixar a vida dela mais alegre. Então ela existe wireless, é tudo comunicação com pintou as paredes, está tentando deixar fios. “É como se fosse início dos anos 1980. tudo mais bonito”, ele explicou também a Muitos fios e a tecnologia mais avançada estrutura: “Basicamente, Bubblebit e Miau que tem é pager. A gente quer mostrar para chegam sempre ao lugar de onde partiu as crianças as coisas que ela não conhecem. o telefonema, Bubblebit tenta resolver o Máquina de escrever, aparelho de fax, etc. problema sozinho, mas piora a situação, Todas essas coisas foram recuperadas nesse Miau entende o que está acontecendo e o nosso conceito de série.” ajuda a criar a solução. Ou seja, o robozinho certo. Aí é o gancho da próxima história. A cidade que desafia Bubblebit é cheia de Essa é a estrutura básica.” problemas. E cada casa ou edifício tem uma linha telefônica direta com a única central de polícia que existe no lugar. “Nós representamos visualmente o egoísmo de cada um desses cidadãos. Cada telefone tem uma cor, uma forma diferente e representa um único pensamento ou uma 200 201 Projeto SEA Uma versão reduzida, mas que deu a exata ideia do que se tratata. No seleto grupo dos cinco, Emerson Rodrigues teceu loas ao programa e fez questão de citar os colegas Participantes brasileiros com os quais trabalhou: Maho Yosida, que é do Japão, Pernille Sihm, dinamarquesa, e Anne Louise, também dinamarquesa, que entrou para reforçar o grupo, o que aconteceu com todos os outros. “Pip & Mo, nome do nosso projeto, é também o nome do personagem principal. É uma série para TV. Todas as pessoas que vinham prestar consultoria para a gente tinham uma base muito forte em série, era em que tinham uma expertise maior. O nosso formato foi de 26 episódios de tes cipan Parti eiros l brasi Emerson Rodrigues Participante SEA 2014 Projeto: Pip & Mo série de TV / 26 episódios de 7 minutos. Público: crianças de 4 a 6 anos Gênero: Ação/comédia Animação 2D Equipe: Emerson Rodrigues, Maho Yosida, Anne Louise, Pernille Sihm 202 sete minutos cada, em animação 2D, para crianças de 4 a 6 anos. Nosso público alvo eram criancinhas bem novinhas”, explicou. Os personagens criados pelo grupo de Emerson foram devidamente apresentados em imagens, enquanto ele explicava como se deu o processo de criação. “A gente estava caminhando para uma coisa bem diferente, com um outro conceito. Mas a gente estava caminhando e o que a gente tinha por certo era fazer uma coisa baseada na amizade entre dois personagens bem 203 das montanhas –, as flores e as plantas e lento, e o outro já é bem agitado. A base acompanham o caminhar dele”, Emerson da gente eram as explicações malucas que a mostrou o desenho do movimento . O criança inventa. Tipo: ‘de onde vem o vento?’ resultado final é de uma cena colorida. Aí, inclusive, uma das participantes, a Anne “Mo é o gordinho, uma pessoa bem lenta. Louise dizia que quando ela era criança Pip é apaixonado por objetos pequenos e acreditava que o vento era produzido pelas tem uma coleção de tudo que existe. Na árvores quando balançam. Então, a gente verdade, ele coleciona tudo o que encontra. partiu desse conceito para criar o mundo”, E o Mo, na velocidade dele, tenta ajudar no ele contou. que ele pode”, Emerson explicou e mostrou Emerson Rodrigues Projeto SEA Participantes brasileiros diferentes. Um é bem gordinho, preguiçoso os detalhes. No mundo habitado por Pip & Mo, todas as explicações, por mais malucas, são Para encerrar, Emerson exibiu um clip curto válidas e acontecem de verdade. “Os dois da música original criada para a nossa empacotam as informações desse mundo série. “Era isso que eu tinha para mostrar. e mandam para o nosso mundo em forma Obrigado, gente.” de sonho”, ele mostrou os desenhos de conceito, que acentuam as diferenças entre os protagonistas, e também de outros personagens. “São personagens que vivem nesse mesmo mundo da gente, como as flores e plantas, que são secretamente apaixonadas por um outro personagem igualmente real, o Sol. Emerson prosseguiu com uma sequência de desenhos em que ficam claras as relações entre as personagens. “Toda vez que o sol passa – e ele todo dia aparecia para comer um sanduíche e sentar em cima 204 205 Projeto SEA Sérgio Glenes é designer e ilustrador, com mais de dez anos de experiência. Ainda assim, o SEA foi um desafio: Participantes brasileiros “Além da questão da língua, da questão da cultura, é desafiador você criar uma coisa forte e que fale a muita gente. A nossa série é uma série sobre gatos, um convite à descoberta de um novo ponto de vista sobre as coisas.” O projeto do grupo de Glenes foi produzido em animação clássica 2D para TV. “Foi pensado para crianças em idade escolar. As crianças que estão indo para o mundo, se enchendo de informação, cheias de curiosidades e perguntas sobre como as tes cipan Parti eiros l brasi Sérgio Glenes Participante SEA 2014 Projeto: Time Cat Forgotten Série de TV / 26 episódios de 7 minutos. Público: crianças de 6 a 9 anos Gênero: Ação/comédia Animação 2D coisas funcionam”, a escolha do público influenciou diretamente o tipo de desenho: “São histórias leves, são como docinhos, balas de caramelo em 7 minutos e 26 episódios”, definiu. Time Cat Forgotten é sobre uma gata chamada Charlotte. “As pessoas têm imaginário rico a respeito dos gatos. Que eles são misteriosos, que vêm de outra dimensão, que são inteligentes. Eles são hipnotizantes, são uma coisa interessante para crianças, jovens e adultos”, daí a escolha. 206 207 Sérgio Glenes Projeto SEA Participantes brasileiros “Charlotte é uma gata especial, óbvio. Charlotte sabe das coisas. Charlote pensa, Charlotte não fala. Você nunca vai ouvir ela vai falar, vai ouvir o pensamento dela. Charlotte tem opinião, observa, questiona, imagine uma pessoa, é uma pessoa mesmo. Imagine uma pessoa dentro do corpo de um gato. Uma terapeuta, uma psicóloga, uma as pessoas, conhece os lugares. Charlotte filósofa, alguém que realmente sabe das vai à vida”, contou o empolgado Glenes, coisas e que é inteligente”, explicou ele. enquanto mostrava alguns desenhos. A esperteza de Charlotte, que mora em Charlotte, claro, tem outros poderes. “Como uma casa com seu dono, Peter, é evidente. toda série, essa série tem um herói, uma Peter é um cara mediano, bom cara, pacato, pessoa que se modifica a cada episódio. do tipo que sabe das coisas da vida pelo Então, para cada um dos 26 episódios, por Facebook e a Wikipedia. Apesar de trabalhar exemplo, teremos uma situação diferente. em uma empresa de tecnologia e ter acesso Personagens dos mais diferentes e variados a muita informação, as opiniões que ele tipos, crianças, adultos, jovens, que estão tem sobre as coisas são medianas, nada é em seu momento de aflição e que estão muito aprofundado. Charlotte, no entanto, querendo mudar. E aí eles conhecem a gata fica entediada e trata de dar voltas além dos e conseguem resolver seus problemas. domínios do condomínio onde vivem. Toda vez que Charlotte volta para casa, ela traz uma coisinha. E Pedro, na sua santa “Charlotte tem uma capacidade ignorância, vai ficar nisso por um bom interdimensional e ela consegue virar uma tempo. Ele vai sempre dizer um jargão, algo esquina, virar outra esquina, e aparecer do tipo – Charlotte, você deu seu passeio em Madri, em Londres. É capaz de andar à hoje ou você ficou dormindo?” vontade por aí. Então, o que acontece é que 208 Charlotte conhece o mundo. Essa é a grande Peter não tem a menor ideia do que diferença entre ela e Peter. Charlotte conhece acontece, finalizou Sérgio Glenes. 209 Projeto SEA Especial, fantástico, inesquecível. A lista de adjetivos de Amir para o SEA é longa. ““Foi uma experiência que mudou a gente, eu posso falar por mim. Como todos os Participantes brasileiros grupos, a gente precisava produzir muito. Ainda fico meio assombrado ao pensar no quanto a gente conseguiu produzir em duas semanas” ”, disse ele, antes de explicar o projeto desenvolvido pelo grupo do qual fez parte. Uma série de TV em animação 2D, para adolescentes acima de 12 anos, com temporadas de 26 episódios de 11 minutos. Eis o projeto. Mas, chegar até essa definição é que foi a parte boa: tes cipan Parti eiros l brasi Amir Admoni Participante SEA 2014 Projeto: Ship n’ sea Série de TV / 26 episódios de 11 minutos. Público: crianças de mais de 12 anos Gênero: Ação/comédia Animação 2D “Foi incrível quando juntou o grupo, porque não fomos nós que selecionamos quem estaria conosco. A seleção foi feita por eles, através de diretrizes que a gente dava no questionário. E foi incrível como, quando a gente se encontrou e começou a debater, a gente viu que a gente tinha muita afinidade. Todos nós tínhamos um humor sarcástico, a gente queria trabalhar com alguma cutucada, com alguma coisa que fosse divertida, mas que não fosse diversão pura”, contou ele, animado. 210 211 Amir Admoni Projeto SEA Participantes brasileiros O motivo principal da série estava definido: “A gente ia evidenciar o comportamento humano nas coisas óbvias, aquelas que a gente sempre toma como garantidas, mas usando um elemento externo para criar um estranhamento, um desligamento”, disse. Ship n’ sea, portanto, mostraria um chimpanzé num escritório. Amir exibiu alguns vídeos para apresentar seus personagens. “Tem muito a ver também com a relação que a gente estava tendo ali: três pessoas de lugares diferentes, o jeito que a gente se cumprimentava, o jeito que a gente expunha as idéias. E eu, que me achava uma pessoa super retraída, era o que falava demais. Então, eu vejo que essa série traz um grande reflexo desses pequenos atritos e diferenças que geram o variedade de episódios”, defendeu. No encontro de três culturas diferentes. Então porto existe um escritório, onde as ações pra isso, para materializar a série, a gente também se desenrolam. O mais, ou melhor, pegou um personagem muito parecido com o que se desenrola na série, é esperar para a gente: um macaco da América do Sul na conferir. Europa, sempre farejando alguma coisa estranha”, explicou. Para finalizar, Amir contou que o grupo começou a desenvolver também uma série 212 O universo de Ship n’ sea é um porto. “É só de produtos para merchandising. “Como a um porto, mas ele tem uma ligação com um história é voltada para o escritório, há uma mundo exterior, sempre tem coisas vindo série de produtos que a gente pode usar e saindo do cais e a rede de ligação entre com uma temática macaco num escritório. É eles é muito ampla, o que fornece muita basicamente isso. Obrigado!” 213 Projeto SEA “A gente queria usar essa oportunidade para fazer uma coisa que juntasse várias culturas. E a gente começou a explorar a ideia de mitos e lendas de diferentes Participantes brasileiros países. A minha primeira reação foi: ‘que bosta, mitos e lendas é uma parada careta’. Só que, na verdade esse tema sempre foi tratado de uma forma muito careta. O nosso desafio foi tentar achar uma forma legal de tratar desse tema”, ele começou a explicar. A série logo virou um longa metragem. “Poko é o nosso personagem principal: é uma criaturinha pequena, indefesa e super ingênua, e ele é tão pequenininho que ele não conseguia sair do canyon onde ele nasceu. Então ele passou a vida inteira tes cipan Parti eiros l brasi Pedro Eboli Participante SEA 2014 Projeto: Myth boy Longa-metragem Animação 2D O Myth boy começou como um projeto de série. O grupo de Pedro Eboli queria fazer algo que fosse verdadeiramente multicultural: 214 dentro desse buraco, e construiu uma casinha. Ali ele plantou a própria horta e, com folhas secas, fez um livro. E nesse livro ele começou a escrever as coisas que vinham à cabeça dele. Ele gostava muito de olhar para o céu e ver criaturas estranhas voando, nuvens de formatos esquisitos. E ele escrevia no caderninho tudo que via. Um dia, um passarinho tentou roubar o livro dele, ele jogou o livro no passarinho, o livro bateu na parede, a parede rachou e ele encontrou um túnel”, eis a história. 215 Projeto SEA Participantes brasileiros PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Mas, não, não acaba aí. Poko encontrou o túnel, por esse túnel foi parar numa caverna, na caverna havia uma árvore gigantesca. E embaixo dessa árvore, Poko viu um lobo gigante, preto, assustador e Pergunta Para o Morten, se você, pelo o que você viu acorrentado, humilhado, sem forças para dessa troca cultural, o que você imagina levantar. Onde esses dois vivem? Em um para as próximas edições do SEA? O que mundo que se chama Lenda e é habitado pode ser incorporado dessa experiência? por lendas e mitos do mundo todo. Lá, Quais são os aprendizados que a gente já todo mundo já nasce sabendo o seu pode imaginar para as futuras edições? propósito. Menos o Poko, que não sabe, mas vai procurar saber. E está contada a Morten Thorning Se, e quando, nós vamos fazer a próxima história. Ou melhor, o comecinho da história edição. Especialmente, nós precisamos criada pelo grupo de Pedro Eboli no SEA. de um roteirista em cada equipe. Nós Os aplausos ao fim da exibição detalhada tivemos muitos produtores. A ideia é juntar foram efusivos. artistas – e artistas podem ser pessoas que imaginar mundos e conseguir colocar “A gente apresentou o filme como se fosse para fora e transformar numa história de uma série, a gente não apresentou como verdade. [para os participantes] Todos vocês se fosse um filme. Seria uma série em que conseguiram fazer, mas tiveram dificuldades a cada episódio Poko conheceria um mito com o roteiro. Então, um roteirista é muito diferente. Só que a nossa série precisava importante. E precisamos de mais gente que desse final. Uma das coisas que as pessoas realmente desenhe, para que possamos ver mais gostavam era esse final. E esse arco o que estão criando. Mas não estou dizendo do Poko é tão forte que a gente resolveu o contrário - vocês fizeram um trabalho transformar num filme”, contou, agradecido lindo, e muito obrigado por participarem e orgulhoso. desse experimento. Pergunta O Japão tem um jeito muito particular de fazer animação e o anime é muito 216 217 nós tínhamos disponível para trabalhar, as animadoras japonesas? Não vi muitos já que todos os dias nós tínhamos uma elementos japoneses nas animações e bateria intensa de aulas. Apesar de todos imagino que elas tenham aprendido a fazer nós irmos para lá com esse sonho de tudo de uma forma bem restrita, então criar um conceito com os japoneses e os como foi essa troca? europeus, a cada aula que nós fazíamos, os professores nos puxavam para o Hiromi Ito Obrigada pela pergunta. Falando chão, dizendo: ‘vocês têm de criar para o francamente, acredito que mesmo sem o mercado, vocês tem de produzir uma coisa SEA, é sempre bom misturar desenhistas. que o mercado vá consumir, vocês têm de Alguns conceitos vêm de histórias pensar no licenciamento’. O programa, na japonesas, mas todos os projetos são bem minha percepção, é feito justamente para misturados, culturalmente falando. provocar esse misto que é como criar coisas PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Projeto SEA forte. Como foi a transição cultural para realmente novas, inovadoras, criativas, mas Morten Thorning É verdade que quando você olha para esses saber de que forma colocá-las dentro de projetos não vê um desenho muito japonês. um pacote comercial. Não tem coisa mais Não vê o anime. Mas acho que uma das deliciosa do que você sentar com quatro coisas bonitas, também, é que os elementos artistas, todos hipertalentosos, e ficar japoneses também estão no desenrolar discutindo livremente por duas semanas da história. Ao mesmo tempo, lembre-se o que cada um defende. Todo mundo ali que tudo o que você viu foi criado muito desenhava muito bem e tinha grandes rapidamente. É arte conceitual, não é o design ideias, mas nós tínhamos que ser coerentes final, ainda tem muito o que ser trabalhado. com o objetivo do programa. O ideal, acho que todo mundo concorda, seria fazer, sei Pedro Eboli Eu queria fazer um depoimento. Nossas lá, dez semanas. Aí, sim, nós teríamos uma atividades iam de segunda a sábado. integração incrível. Nós tínhamos o domingo disponível, depois voltávamos. Mas, na verdade, aos 218 Pergunta Os projetos continuaram, existe algum domingos, nós trabalhávamos também. plano de prosseguir com o que já foi Porque era quase que o único tempo que produzido? 219 Paolo Conti Depois que o programa acabou, a gente PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Projeto SEA andou muito com o projeto. Acho que porque a gente se organizou logo no começo. Ficou claro para todos os três e depois quatro, porque o Niels chegou por último, o que cada um deveria fazer. Então, aqui no Brasil, o projeto foi submetido a dois programas da Ancine. A gente já apresentou para algumas TVs, e já está começando a trabalhar com a possibilidade de financiamento pelo BNDES. Ou seja, o projeto está andando. Todos entendem que é um projeto com potencial para ser realizado. É mesmo o resultado de três culturas diferentes. Acho que a gente cumpriu bem o nosso papel. a gente teria de abrir mão da parte criativa Emerson Rodrigues A gente está tentando continuar. Falando total do projeto. E agora a nossa participante do meu grupo, andou bem menos do japonesa está trabalhando duro lá no Japão que a gente esperava. A gente teve algum para tentar viabilizar a produção do filme. progresso mas foi muito pequeno. Mas a gente está tentando levar o melhor que a gente pode. Sérgio Glenes Bom, essa é até uma coisa interessante de a gente falar. Quando a gente viu e soube do SEA, dos participantes e tudo mais, a gente 220 Pedro Eboli (“Não sei se eu posso falar”) A gente teve recebeu um documento acordando que a uma oferta de um estúdio dinamarquês propriedade intelectual que seria criada interessado em comprar a propriedade seria de bem comum. Então é um ponto intelectual para fazer por eles mesmos. E a que amarra muito as questões quando gente, depois de debater muito, não aceitou a você quer avançar com o projeto. No meu proposta deles comprarem o projeto porque caso, o projeto foi praticamente criado em 221 Pedro Eboli Saca aula de teatro? Então, teve massagem arrancando os cabelos, não tinha ideia, o coletiva. (risos) Não, eu não estou negócio não vinha. Enfim, é muito intenso. brincando, estou falando sério. A gente fez Depois que acabou o SEA dá aquele vários exercícios de fechar o olho, e guiar relaxamento. É claro que eu sonho. É claro a pessoa, reconhecer uma pessoa só de que eu quero continuar com o projeto. Há sentir a mão. Rolou todo esse processo. conversas esporádicas entre nós, mas é uma A gente fez um exercício super legal que coisa que leva tempo. Normalmente, uma é uma pessoa descrevia um personagem série, um produto para TV e para cinema para outras duas pessoas e aquelas demora anos para sair. Então, é pouco tempo duas pessoas tinham que desenhar o para dizer que não deu em nada ou que já personagem que aquela primeira estava deu em alguma coisa. Ainda é um processo. descrevendo. E, no final, a gente recebeu PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Projeto SEA quatro dias. A gente estava desesperado, um formulário em que a gente tinha que Amir Admoni No nosso caso, um norueguês participante dizer quais pessoas deixaram a gente da banca ficou muito interessado. E como curioso, com quais a gente sentiu uma nós já tínhamos um norueguês no grupo, afinidade maior, quais a gente não curtiu eles já começaram a articular um possível muito. A gente não escolheu os grupos. piloto. Mas está ainda sendo articulada Mas deu muito certo, foi muito legal, uma ajuda com o governo da Noruega. Mas no final das contas acho que os grupos eu acho importante falar que mesmo que casaram demais. Eles fizeram alguma o projeto não tenha dado o espaço que a mágica lá, com essa dinâmica de grupo que gente esperava, criou-se uma rede, que foi foi sensacional. semada ali. Pergunta Pergunta Como se dá esse primeiro encontro Como a organização vê a possibilidade de sediar o SEA no Brasil ou no Japão? entre os participantes lá, como que vocês identificam e como vocês conversam para 222 Marcos Magalhães A intenção é fazer um rodízio. Não sei se decidir qual que vai ser o grupo? Tem já no segundo, porque vai depender dos alguma dinâmica específica inventada pelo financiamentos. A gente está procurando SEA ou é só bate-papo? os apoios, para ver os orçamentos, mas 223 Paolo Conti Eu acho que cada grupo teve sua forma de equacionar a cultura. Mas a percepção que eu tenho, e o que aconteceu no meu grupo, é que por algum motivo os brasileiros mediavam o processo de integração entre os europeus e os japoneses. Porque as PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Projeto SEA chegavam nesse equilíbrio, basicamente? japonesas, por mais que elas fossem abertas pra uma cultura mais universal, elas eram mesmo japonesas. Absolutamente tímidas, perto dos brasileiros. Para você conseguir extrair uma informação era bastante difícil. Mas eu acho que passados alguns dias, todo mundo percebeu que as ideias eram de fato aceitas e que todos existe essa intenção, porque é interessante tinham suas opiniões respeitadas. Foi um o território onde as pessoas se encontram, processo de criação de amigos. E na hora acho que faz uma diferença grande. Então que você fica amigo da pessoa, você confia a gente vai ter coloridos diferentes em cada e fica mais seguro em falar as suas ideias, edição desse projeto, se a gente conseguir você começa a se abrir. fazer esse rodízio. 224 Pergunta Pedro Eboli Eu achei que os dinamarqueses são Como que foi essa dinâmica, esse conflito, grandes mediadores, estão de parabéns de vocês terem culturas tão diferentes e [risos]. Não sei o que vocês ensinam no como é que vocês decidiam, o que que colégio lá, mas se a Dinamarca tomasse poderia ser considerado uma coisa mais conta do mundo, não teria guerra. universal, e o que que vocês podiam Impressionante, eles são muito pacientes, colocar da própria cultura que não ficaria educados. A gente que é brasileiro não muito estranho ou que... como é que vocês liga para um pouco de barraco, um pouco 225 pouco. Inclusive para lidar com as questões abraço e tudo mais. E as japonesas, além culturais, para as pessoas se abrirem umas do problema da língua, elas são mais com as outras. Acho que tempo poderia ser tímidas e introvertidas mesmo. Eu falo um pouco maior. pelos cotovelos e tal, e acho que uma hora ela tinha que sair da sala até e dar um Reynaldo Marquesini De acordo com a percepção que eu tive, break de mim. [risos] Mas o bom de ter quando estive lá, os meus questionamentos os dinamarqueses é que a toda hora eles também eram dessa natureza: de estrutura, perguntam are you happy? Are you okay? de composição de personagem. E uma das What do you think? Excelente! Então estão sugestões que eu fiz foi que tivesse um de parabéns, acho que a ONU devia ser roteirista na equipe. PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Projeto SEA de gritaria e tal, depois é brother, dá um composta só de dinarmaqueses. A gente precisa da Dinamarca no Conselho de Morten Segurança da ONU urgentemente. [risos Claro, nós pretendemos ser muito melhores da próxima vez. da plateia] Reynaldo Marchesini Hiromi Ito Concordo plenamente com você. [risos] Eu gostaria de fazer um último comentário. Em 2007, quando participei também pela primeira vez do Anima Forum, as Morten ThorningObrigado por essas palavras tão gentis. discussão nas salas eram muito em As pessoas estão brigando por ideias, por torno de ‘como vamos fazer a indústria histórias. É importante estarmos juntos brasileira de animação acontecer?’ para fazermos histórias universais. [muitos Obviamente, essa pergunta ainda não aplausos da plateia] está totalmente respondida, mas é inquestionável que a gente está fazendo 226 Pergunta Senti que todos os artistas envolvidos têm perguntas mais sofisticadas. Já há questões um grande potencial, mas senti falta de uma se desdobrando. A animação brasileira estrutura nos projetos. Senti falta de mais está discutindo capacitação, coprodução gente na equipe. Roteirista, por exemplo, internacional, troca com outros países, alguém para lidar com a produção. Acho como reforçar o curta-metragem, o que é que duas semanas são realmente muito um excelente sinal. 227 1 de Agosto Masterclass 3 Criando Personagens Memoráveis Convidado: Eric Goldberg Eric Goldberg joga nas onze. Nos longasmetragens, curtas-metragens, comerciais e especiais de TV nos quais trabalhou, seja como diretor, designer, animador ou até dublador, este versátil artista se sente tão confortável animando à mão quanto em um computador de última geração. Em todos estes campos, desenvolveu técnicas pioneiras, com a ajuda da sua mulher, Eric Goldberg Masterclass 3 parceira de trabalho e diretora de arte, Susan. Afinal, para Goldberg, na animação, “uma boa ideia pode vir de qualquer lugar, não importa se você é diretor, finalizador, ou serve o café”. Seu talento e versatilidade o levaram a grandes estúdios, como a Warner Bros. e a Disney, onde dirigiu a animação de personagens memoráveis e adorados, como o amorfo Gênio, de Aladdin,e o sátiro Phil, de Hércules. Dirigiu ainda o primeiro longa-metragem da Disney baseado em fatos históricos, Pocahontas, e dois belos episódios para o poético Fantasia/2000. Este ano, Eric apresentou sua Masterclass Criando Personagens Memoráveis, que demonstrou processos criativos capazes de desenvolver personalidades únicas, com as quais o público se identifique e se divirta, e como criar, nas telas, as relações entre essas personagens. O diretor ilustrou seus exemplos com desenhos feitos na hora, assim como trechos de filmes. 230 231 1 de Agosto Animação & Games – e Vice-Versa Convidados: Alê McHaddo – ABRAGAMES Conrado Testa – Sword Tales Sebastian Gonzalez – ACE TEAM Rafael Rodrigues – Aquiris Moderador: Arthur Protásio Animação & Games – e Vice-Versa A última mesa, um grande fechamento Esse foi o objetivo: para o Anima Forum de 2014, anunciou Marcos Magalhães. Na indústria, há pouca “A gente vai encerrar com chave de ouro conversa entre quem faz animação e um ciclo bem legal, que é pensar sobre os quem faz game. Foi a hora de reunir as vários universos criados pela animação. turmas dos dois lados e provocar o diálogo. E hoje a gente vai falar de dois universos Afinal, se personagem de animação pode que também correm em paralelo, um mais virar game, e personagens que nasceram popular que o outro. Acho que o de game no game podem ser transformados em superou o de animação, a movimentação animação, é bom que essa galera converse. do produto game é maior. Mas tudo vem da mesma fonte, da vontade da gente de criar e construir e ver histórias narrativas, experiências que a gente tenta enriquecer. O objetivo de tudo é sempre criar a nossa experiência de vida mais rica, mas treinar bastante jogando jogos e, no caso do animador, cristalizar para o público a experiência que ele tem intensa na mente dele, na vida dele. É a primeira vez que a gente faz formalmente uma discussão sobre esse processo. Vamos juntar essas duas galeras tão legais e ver o que têm em comum”, disse o coordenador do evento, anunciando o mediador da vez. 234 235 Animação & Games – e Vice-Versa incrível ver esses mundos se conectando”, afirmou Arthur, esclarecendo que não é animador, seu trabalho é atuar como roteirista e designer de narrativa em diversas mídias, incluindo jogos e animações. A conversa seria sobre personagens, narrativas, histórias que são criadas e como essas histórias devem ser engajantes independentemente da mídia em que é criada. A animação como metalinguagem “Na prática, a animação é a ferramenta de viabilização do jogo. A representação visual Arthur Protasio do jogo é absolutamente crucial e não seria possível se a gente não tivesse tanto esmero e tanto cuidado na hora de criar; Discutir jogos é uma grande oportunidade, se não pensasse na abordagem artística, realçou Arthur Protasio, já no papel de na abordagem estética, como que é que moderador da mesa. “O videogame é uma a gente vai usar todos esses elementos mídia que está crescendo muito como para comunicar nossa mensagem”, produção criativa e como mercado. Eu disse ele, logo antes de exibir um curta acho que conforme a mídia dos jogos inspirado no jogo Monkey Island, produzido foi crescendo e se tornando cada vez exclusivamente para introduzir à mesa. mais relevante, a gente começou a ver 236 vários pontos em que a animação e jogos Ao longo do curta, foram exibidas micro passaram a se encontrar. E não só se animações de jogos como Pong!, Dragon’s encontrar, mas também colaborar. E é Lair, The Legend of Zelda, Megaman, Super 237 Animação & Games – e Vice-Versa Mario, Street Fighter II, Pokemon Red/Blue, Metal Gear Solid, The Sims 3, Shadow of the Colossus, Andry Birds, Journey e GTA V com o Ludobardo, personagem criado por Arthur, interagindo com os cenários e heróis. O objetivo do vídeo é mostrar que a animação é uma grande ferramenta de comunicação visual. “Esse vídeo, inclusive, foi coproduzido pela minha produtora Fableware e uma desenvolvedora de jogos, a Doubledash. Ou seja, é prova de que pessoas que trabalham com jogos têm de ter esse contato com a animação para poder criar essas experiências”, afirmou ele. Para começar de fato a conversa, Arthur anunciou os componentes da mesa: “Primeiro, a gente vai ter aqui o Rafael Rodrigues, que é produtor executivo da Aquiris Game Studio. Em seguida, a gente o Alê McHaddo, que é CEO da 44 Toons e presidente da Abragames. Depois, Conrado Testa, que é diretor de animação da Swordtales. E, por fim, Sebastian Gonzalez, que é produtor da ACE Team, do Chile. A intenção aqui é que basicamente cada um possa falar um pouco do seu trabalho, a comunicação entre o que eles produzem, e qual a conexão direta com o mundo dos jogos”, explicou. 238 Rafael Rodrigues Aquiris A animação e os jogos têm muito em comum, iniciou Rafael Rodrigues. “São universos em que as linguagens se encontram, um pode abastecer o outro com conteúdos para produzir histórias que realmente possam entreter a audiência”, disse ele, antes de explicar como funciona o Aquiris Game Studio. Munido de vídeos, ele explicaria como funciona e como é a empresa, e como animação tem sido importante para o desenvolvimento de vários produtos. 239 entrando no mundo dos jogos. Hoje, o estúdio, em Porto Alegre, está chegando a um pouco mais de 50 pessoas. No início, a gente trabalhou basicamente atendendo Rafael Rodrigues Animação & Games – e Vice-Versa material gráfico interativo, e acabaram a agências de propaganda e fazendo jogos para marcas – os famosos advergames – e, eventualmente, a qualidade dos jogos chamou atenção de algumas empresas de entretenimento, entre elas a Cartoon Network. Nos últimos dois anos e meio, produzimos com eles quatro jogos, digamos assim, top de linha, e boa parte do portfólio que vocês viram nesse vídeo tem a ver com a Cartoon Network”, contou. O namoro entre entretenimento digital e Para começar, ele mostrou um reel com a animação, continuou Rafael, começou com o apresentação da história da Aquiris, uma projeto de divulgação de uma série baseada sequência de cases e alguns dos trabalhos na franquia Como treinar o seu dragão. realizados nos últimos sete anos. Entre os jogos exibidos no telão, estavam Ballistic, “A Cartoon, junto com a Dreamworks, Wrath of Psychobos, Super Vôlei Brasil, The transmitia uma série chamada Riders of Berk, Great Prank War, Game NBB, Unity Bootcamp, que conta um pouco a história da relação Copa Toon, Dragons: Wild Skies, Talk or Fight e entre os dragões e os moradores da vila de Eagle GT Challenge. Berk. O briefing que a gente recebe para produzir esse jogo é ‘como é que a gente 240 “O estúdio começou muito pequeno. conta essa história, essa mesma história, É aquela velha história de dois amigos para os jogadores’. O bacana desse briefing, que trabalhavam no quarto, produzindo que vem relativamente aberto, é que a 241 lugares se existia uma definição geográfica história completamente nova. Tem algumas de como ela era, não encontramos, então a algumas limitações, como, por exemplo, não gente acabou criando do jeito que a gente pode utilizar os personagens do desenho imaginava que faria sentido”, contou. “O animado, então, o primeiro passo é a jogo tem de contar um pouco da história do criação dos personagens.” personagem e como que ele se relaciona Rafael Rodrigues Animação & Games – e Vice-Versa gente tem a oportunidade de contar uma com o dragão. O que ele tem de fazer para O desafio, Rafael pontuou, é manter a que um dragão ganhe a confiança dele? mesma unidade. “A gente teve de criar O dragão não é um cachorrinho, não é personagens completamente novos. Então um gatinho, é um animal selvagem. Você a gente chegou, depois de muitas idas e precisa ganhar a confiança para, então, vindas, a esses dois personagens que não passar pela etapa de poder voar com ele”, têm nome – essa é uma das bacanices de esmiuçou. fazer um jogo: quando o jogador começa, a primeira coisa que ele faz é definir o nome Para ilustrar o trabalho, Rafael mostrou do personagem que ele vai conduzir. Isso é uma imagem inicial do protótipo. O o tipo de interação que jogos, apenas jogos, modelo do dragão, Banguela, que que conseguem entregar para os jogadores.” foi adaptado para o jogo. “O jogo tem também muitas cinemáticas. Cinemáticas 242 Nesses casos, é preciso ter muito são, essencialmente, entender como é conhecimento de causa. “A gente tem que funciona uma animação e reproduzir de criar um jogo que faça sentido e que isso dentro de um jogo, mas com toda converse, mesmo que surja como um spin- a limitação técnica que a gente possui. off, com aquela narrativa que a gente viu Diferente de um filme, ou de uma animação nas telas. A gente tem que, por exemplo, digital, uma animação de jogo acontece pegar todo o material que a Dreamworks em tempo real, na placa de vídeo do produziu para o filme, e investigar. Em usuário. Então, a gente não pode abusar na cima do concept art deles, a gente tem que quantidade de polígonos – pro pessoal que criar uma ilha que é possivelmente a ilha é mais entendido –, as texturas tem de ser de Berk. A gente procurou em todos os bem medidas”, ele explicou. 243 antes de um mês do lançamento da Copa. E conceituais, o produtor executivo da foi o aplicativo mais vendido no Brasil para Aquiris exibiu a animação impecável do iPad por mais de um mês. E também ficou jogo. Tudo muito bem explicado: “Nessa entre os Top 10 mais vendidos nos Estados parte você já ficou amigo do Banguela. Unidos e é possivelmente o jogo que mais São treze dragões que você tem que vendeu para iPad em toda a América Latina desbloquear para voar com todos eles e durante o mês da Copa”, contou. Rafael Rodrigues Animação & Games – e Vice-Versa Entre imagens de protótipos e artes fazer desafios aéreos. O jogo, pra quem conhece, parece um pouco com o Sandbox Outro motivo de orgulho que Rafael fez – ele tem uma ilha gigante para explorar e questão de mostrar no Anima Forum foi The eventualmente você encontra os dragões Great Prank War. Jogo feito para uma série, pelo caminho.” foi traduzido para 15 línguas. No Brasil, é o Grande Guerra das Pegadinhas. “O bacana Seguindo adiante, Rafael exibiu Dragons: desse jogo é que ele foi baseado numa Wild Skies (Corcel Indomável, no Brasil), um propriedade intelectual da qual eu já era dos principais produtos desenvolvidos fã, a Regular Show, que de regular e comum em parceria com a Cartoon Network. Na não tem nada”, ele disse, mostrando os sequência, ele exibiu os vídeos promo dois personagens principais e contando um de dois novos jogos, jogos que rodam no pouco dos episódios: browser e também em iPad, e jogos para franquias famosas, como Ben 10, da nova “São dois personagens malucos, que vivem temporada. E ainda, na mesma sequência, em um parque. Eles são os zeladores do um jogo criado para a Copa do Mundo: parque, tem o chefe maluco que é uma daquelas máquinas de chiclete. Tem um 244 “A Cartoon Network aqui da América episódio da terceira temporada, se não me Latina tem uma propriedade intelectual engano, que se chama Prankless, ou Sem chamada Copa Toon, que é uma mistura de Pegadinhas, em que o Jimmy – a máquina várias franquias da Cartoon Network com de doces – está obcecado com a guerra personagens jogando futebol. Esse jogo foi das pegadinhas e tá tentando dominar o lançado para dispositivos móveis, um pouco parque para ele. Na história do episódio, o 245 Animação & Games – e Vice-Versa Musculoso, um dos personagens, não quer mais fazer pegadinha e, por causa disso, esse cara consegue dominar o parque. Até que o Musculoso, por motivos pessoais, resolve voltar à guerra das pegadinhas e põe ele pra correr. E a gente tem um desafio muito grande quando a Cartoon vira pra gente e diz: ‘a gente quer fazer um jogo baseado nesse episódio, e o resto é com vocês’. A gente decidiu que a gente queria fazer algo com impacto visual realmente único.” A Aquiris é um estúdio que faz essencialmente jogos em 3D. Mas, para esse jogo, especificamente, eles decidiram animar os personagens em 2D. Rafael exibiu ilustrações do processo de estudo e o resultado final utilizado dentro do jogo. “Quando a gente fala de jogo, a gente de otimizar muito porque, tecnicamente, tudo isso aqui tem que ir para dentro da memória do teu iPad, do teu iPhone, e, ainda assim, o jogo tem que rodar. Tem de ter uma otimização muito grande”, afirmou. Para encerrar, ele mostrou o vídeo promocional do jogo The Great Prank War que, para alegria do estúdio, foi parar entre os Top 5 mais baixados para iPad nos EUA. 246 Alê McHaddo Abragames Diretor de animação e game designer, Alê McHaddo é hoje presidente da Abragames, Associação Brasileira de Jogos Eletrônicos, e CEO da 44 Toons e da 44 Toons Interativa, além de diretor executivo do BIG (Brazilian Independent Game Festival), um festival de games que acontece em São Paulo. “É sobre a minha experiência nesses três chapéus que eu vou falar aqui. Eu comecei a 247 mesa de bilhar, onde se amontoavam e não tinha como. Eu trabalhava em um os computadores. “Sempre que a gente estúdio que fazia multimídia, em 1994, e fazia uma venda, a gente que dobrava as eu convenci o pessoal que poderia usar embalagens e ia mandando. Infelizmente, um software bem antigo, que morreu, para esse mercado foi para o saco logo. Os fazer um adventure game, que é um jogo consoles ficaram mais evoluídos, o PC parecido com Monkey Island. Basicamente, passou a não ser mais o principal lugar onde o adventure game é uma história e o as pessoas jogavam videogame”, contou ele. Alê McHaddo Animação & Games – e Vice-Versa fazer jogos porque eu queria fazer animação personagem vai andando conforme você vai dando os comandos, e a história vai se A época rendeu histórias engraçadas. Uma, desenrolando”, contou. em especial, ele fez questão de dividir com o público: “Ontem, eu estava tentando Em 1996, a turma lançou um jogo chamado pegar um vídeo do Enigma da Esfinge– que Enigma da Esfinge, que foi muito bem. “O não roda mais em lugar nenhum – com a mercado naquela época era maravilhoso; minha ex-sócia, que a era programadora do você colocava um jogo na prateleira e jogo. Ela me falou: ‘você lembra que a gente vendia, você concorria até com Disney. ligou para o Anima Mundi perguntando se Não existia console – o melhor console que eles aceitavam jogos?’ Na época, a gente tinha era o Nintendo, acho que ainda o de falou ‘mas é animação! só que é interativa, 32 (bits). Você tinha kit multimídia, todo mas é animação’. E alguém falou que não mundo queria colecionar CD-Rom, era uma pode, e não sei o quê. É engraçado lembrar maravilha. Esse foi meu primeiro título e essa história porque é exatamente isso que vendeu super bem, o Natal daquele ano foi o Arthur estava falando. Na Abragames, eu impressionante”, relembrou. costumo dizer que game é o audiovisual interativo. Até que, por umas questões 248 O começo foi parecido com o de muita políticas, a gente tem que entender que gente. O escritório da 44 Bico Largo, a aquilo é conteúdo, é onde você pode contar primeira empresa de Alê, uma criadora história, você pode se expressar e não é de jogos, funcionava no salão de jogos joguinho, aquele ‘joguinho’, no diminutivo, da casa da mãe dele, em cima de uma que às vezes acaba atrapalhando algumas 249 Alê McHaddo Animação & Games – e Vice-Versa conquistas que a gente tem feito. O importante é lembrar que a gente está falando em audiovisual, só que é um audiovisual em que a pessoa pode interagir”, defendeu. Os tempos são outros, Alê aproveitou para mostrar a estrutura da 44 Toons Interactive, que é derivada da 44 Toons, estúdio de animação criado muito depois da 44 Bico Largo. “Quando o mercado de jogos diminuiu, abri a 44 Toons e as coisas foram evoluindo. Naquela época, eu fazia prestação de serviço e, hoje, a gente está com uma atividade bem aquecida dentro do estúdio. aventura especial que vai render um longa- Por outro lado, a 44 Bico Largo, que metragem, com lançamento previsto para começou fazendo jogos – a gente fez quatro 2015. Outra propriedade do estúdio é Nilba jogos e o mercado foi despencando –, e os Desastronautas, uma série produzida parou. No momento em que a gente passou inteiramente no Brasil e de baixo orçamento. a fazer animação, a gente foi deixando de “A gente fez sem dinheiro público – a TV fazer jogos. Até que, hoje, a gente reativou. Cultura investiu um pouco, e a gente investiu Ainda é uma equipe pequena, de três o resto. A gente conseguiu vender para um pessoas, para fazer jogos exclusivos para canal americano, furando uma barreira ali, séries e longas.” porque nunca alguém da América Latina tinham vendido para eles. Não sei nem se 250 Todos os projetos têm a vertente do isso vai acontecer de novo, são aquelas game. A criação mais sofisticada, segundo coisas que acontecem uma vez. A diretora de Alê, é o jogo BugiGangue no Espaço, uma compras do canal era fã de ficção científica e 251 é pífia.” Ainda segundo a pesquisa, o Brasil vendendo e foi super legal”, contou ele, possui, em média, 200 estúdios em ação. exibindo a introdução da animação. “Todo ano alguns fecham, abrem outros, essa é a média. Poucos continuam vivos. Foi aí que Alê decidiu que a empresa faria Quem continua vivo desde a década de adaptações para jogos. “Comecei a trabalhar 1990 foi fazer outra coisa junto com games, com jogos no mesmo momento que eu que é o exemplo da 44 Bico Largo”, realçou. Alê McHaddo Animação & Games – e Vice-Versa se apaixonou pelo projeto e a gente acabou comecei a trabalhar na Abragames, onde a gente exclusivamente está defendendo O mercado, no entanto, mudou. A chegada o mercado de produção de conteúdo dos dispositivos móveis, dos telefones e nacional. Game é uma plataforma de lance iPads, abriu novamente a possibilidade imaginário de personagens tão forte ou de produção mais democrática. “Hoje, talvez mais forte que a animação hoje, é só qualquer pessoa publica na App Store ou no olhar o Ballistic. É muito importante que a Google Play. O difícil é depois você se tornar gente entenda que a capacidade brasileira conhecido. E a gente começou a retomar (a tem que dar vazão ao nosso conteúdo produção de jogos) por entender que essa do mesmo jeito que aconteceu com a transformação do mercado colocava as animação”, comparou. possibilidades de divulgar os jogos de novo”, afirmou. Para reforçar a fala, Alê se baseou em uma pesquisa feita pelo BNDES que aponta A tese defendida largamente por Alê é o Brasil como o décimo primeiro maior uma só: jogos são um produto cultural mercado de games do mundo – o maior da importante, que deve, assim como a América Latina: animação, ser reconhecido no mercado audiovisual, inclusive para o financiamento “Algumas outras nos colocam como o dos fundos setoriais. terceiro maior mercado consumidor de 252 jogos do mundo e nosso consumo de Em defesa também da produção conjunta jogos é muito maior do que o mercado de entre jogos e animação, Alê enumerou as audiovisual. Apesar disso, a nossa produção boas razões: as equipes são semelhantes – a 253 conglomerados e as produtoras de jogos, têm animadores, texturizadores, roteiristas; idem”, ele realçou as dificuldades. “Então a marca pode ganhar em expansão; o que se consegue é: a Pixar licencia para aumentam as possibilidades de retorno. se fazer jogos deles; a Aidos licencia Tomb “Nenhum estúdio vai conseguir recuperar Raider para se fazer um filme”, disse. todo o investimento de uma série só Para Alê, a produção conjunta renderia vendendo para televisão. Se tiver um jogo, experiência mais enriquecedoras. Alê McHaddo Animação & Games – e Vice-Versa produtora de games e a produtora de jogos vai facilitar. E a gente pode, de fato, pensar numa produção transmídia. A gente pensa Há uma tendência de compra de pequenos muito no transmídia em qualquer série estúdios por gente grande. É o caso do que vai para jogo e jogo que vai para série, Disney Interactive, estúdio montado a mas pensar de fato em transmídia é muito partir da compra de empresas canadenses; difícil. Até os estúdios americanos têm uma e da Warner. “Só que a vantagem que a certa dificuldade, porque você tem que gente tem no Brasil é que somos pequenos, pensar em uma lógica integrada desde o então eu posso conversar com a Aquiris princípio. Então, você vai ter que pensar um e criar um jogo em conjunto. A gente não filme que vai continuar em um jogo e eles tem aquele conglomerado enorme, em são complementares, não é simplesmente que é preciso falar com 15 diretorias e uma adaptação do filme no jogo, isso é o 16 departamentos para liberar a marca. crossmídia, é o spin-off”, afirmou ele. Então, esses pequenos arranjos produtivos são possíveis no Brasil. A gente é pequeno, Um exemplo bem-sucedido de transmídia, mas a gente é ágil”, finalizou. segundo Alê, é Matrix. “É um exemplo 254 legal de que você consegue engajar o seu Antes de passar a vez a Conrado Testa, o público em todas as mídias e não só no moderador, Arthur Protásio, reforçou que a cinema. Você pode ter uma mídia principal, produção transmídia é algo absolutamente em que você aposte, mas você trabalha crucial na lógica de produção entre animação de forma colaborativa. Por que isso não e jogos. E quanto mais integradas forem as acontece com tanta frequência? Porque produções, maior será a possibilidade de os estúdios americanos são grandes, são geração de conteúdo opcional. 255 Animação & Games – e Vice-Versa “Nós queríamos produzir um jogo, nós queríamos produzir algo que tivesse uma história e que, nessa história, as pessoas jogassem, entendessem, interagissem com o personagem, com o inimigo, com todo o cenário que a gente tinha”, explicou o diretor de animação. O trio tinha seis meses para criar todo o início, meio e fim do jogo. Feita uma etapa, para garantir a nota e o diploma, ficou o fim para depois. A ideia era fazer várias etapas, até chegar ao fim de verdade. “Então, com a conclusão do curso, nós continuamos. Nós não recebíamos briefing de outras empresas, como a Aquiris. Nós não recebíamos briefing externo. Nós só tínhamos o que a gente queria fazer Conrado Testa Swordtales Três alunos de pós-graduação no Rio Grande do Sul, com a tarefa de fazer um jogo de verdade para o projeto de conclusão de curso. Assim começou a Swordtales, empresa recente mas cheia de ambição, disse Conrado Testa, logo no início da sua participação na mesa: 256 do jeito que a gente podia fazer. Então nós éramos extremamente indies, isso seria um mercado indie, porque nós trabalhávamos fora, nós trabalhávamos em outras empresas, com outros projetos, e nós éramos uma equipe extremamente pequena tentando fazer algo que estava muito além da nossa capacidade, até. Nós tentamos continuar o jogo por mais meio ano, mas estava ficando muito difícil de fazer. Então nós decidimos que teríamos 257 “A gente não podia entrar no artigo 18 de produção. E recomeçar. Só que, dessa porque tem umas classificações para vez, a gente teria de fazer em uma forma games que não entravam nas classificações diferente”, contou ele. do artigo 18. Então, tinha uma lei a mais que entrava que era o artigo 26. Mas Como trabalhar só no tempo livre não ele tem um probleminha básico que é: a estava funcionando, eles decidiram ir empresa vai te dar cem reais, mas você vai atrás de financiamento. Foi aí que se receber oitenta, então para você receber interessaram pela Lei Rouanet. “Então 100 reais, a empresa tem que bancar 120 nós resolvemos juntar tudo e montar de reais. Então, na teoria, ela também está novo todo o nosso briefing”, disse ele. perdendo dinheiro. Aí a gente começou Desta vez, ao contrário do que vinham a fazer várias contrapropostas para fazendo, teriam de ajustar toda a história conseguir empresas que nos ajudassem. e personagens, definir exatamente os Então as empresas começaram a dizer que rumos do jogo. Foi preciso reestruturar ‘vocês são jogos’. Isso é um problema até tudo. A ideia era ambiciosa, mas o projeto hoje”, contou. Conrado Testa Animação & Games – e Vice-Versa deletar o jogo inteiro, depois de um ano foi aprovado. “A gente entrou para fazer o jogo, só que a Lei Rouanet não é como a Nas contas das empresas, era mais fácil gente inicialmente pensou: ‘Ah! Nós vamos e rentável patrocinar quaisquer outros pegar um dinheiro, nós vamos pagar as projetos. “A gente mostrava os dados que pessoas e aí a gente vai conseguir fazer o a Abragames tem e tal, ‘olha, veja como que a gente realmente quer’. Não é bem o mercado de games é grande’. Como assim.[risos] Não foi muito dessa maneira”, a empresa ainda não conhecia jogo, ela realçou ele. preferia pagar música, teatro, músico e teatro de rua, a pagar pra gente. 258 Metade de um ano fazendo captação, os tais Até porque jogo é mais caro de se fazer, artigos 18 e 26 no meio do caminho, uma a gente acabava pedindo retorno questão legal, além do desconhecimento, financeiro muito grande. Então a por parte das empresas, do real potencial gente conseguiu poucas empresas que de alcance dos jogos: pudessem nos ajudar.” 259 com a idade dela. Ela é pequena, então tem a gente conseguir acabar aquilo que a gente problemas relacionado a ela pequena. Se não tinha conseguido antes, de tirar tudo ela é média, vêm problemas de quando ela o que a gente tinha de produção e levar a é adolescente. E quando ela é adulta, ela um projeto maior e com mais qualidade, vai correndo contra o tempo porque a coisa na verdade. A gente chegou a contratar até está passando. A gente traz essa ideia mais 16 pessoas, entre animador, modelador, filosófica do jogo. O legal de tudo isso foi assistente para roteiro. A gente gastou que a gente está conseguindo trazer essa muito dinheiro porque não sabia o que narrativa das dificuldades dela, e as pessoas fazer, e nem como fazer. Mas, ao mesmo têm gostado”, ele encerrou. Conrado Testa Animação & Games – e Vice-Versa A dificuldade teve o seu lado bom. “Isso fez tempo, a gente aprendeu”, ele avaliou. Arthur Protasio agradeceu, e reforçou o Participar de um Global Game Jam ajudou. caráter da animação como elemento de “O que é isso? É criar um jogo, pequeno comunicação essencial no jogo. Ainda ou grande, em 24 horas. É um tempo que o grande diferencial do jogo seja a extremamente curto para testar as coisas. possibilidade real de interatividade, imagem Mas a gente queria testar câmera, efeito, é determinante para atrair a atenção. “O animação nova, corte de cena. A gente fez Toren, por exemplo, tem muita visibilidade pequenos jogos”, disse ele, anunciando que tanto por sua abordagem estética quanto iria mostrar o trailer do Toren, que está na por sua abordagem visual. Se não fosse quarta versão. A história é a mesma, mas a por esse primeiro impacto visual, pode ser animação evoluiu. que as pessoas nem chegassem à história”, opinou o moderador. O Toren é um jogo de aventura, a plateia conferiu o teaser, e Conrado explicou: “Você joga com uma menininha, que está aprisionada numa torre. Ela vai crescendo de acordo com as coisas que vai descobrindo. Os problemas vão evoluindo 260 261 Animação & Games – e Vice-Versa Já nos Estados Unidos, Gonzalez percebeu que se havia desejo, havia também muito trabalho. “No início se trabalha muito fazendo animação. E outra coisa que me chamou muita atenção era que todas as histórias eram muito comerciais, tipo Pixar. E todas as histórias eram as mesmas. Com isso, me desencantei um pouco. E, justamente, estava havendo uma onda experimental de jogos. Eu gosto de jogos, gosto de computadores, então me matriculei em todas as escolas de arte e, finalmente decidi trabalhar com videogames”, ele contou. De volta ao Chile, com um par de joguinhos como demo em mãos, Sebastian foi trabalhar em uma empresa onde havia Sebastian Gonzalez ACE TEAM Bastou assistir a Toy Story para que o chileno Sebastian Gonzalez decidisse o que gostaria de fazer para o resto da vida dele. Com a intenção de aprender animação, foi estudar nos EUA. E algumas dessas experiências, sobre como partiu da animação para os jogos, mais tarde, ele dividiu com o público do Anima Forum. 262 apenas 15 pessoas, e era uma das maiores. Na conversa com o chefe, ele sacou o que tinha de trunfo: “Mostrei o disco com dois jogos interativos e uma tecnologia que ele não conhecia, e não existe mais, imagino! Chama-se Macromedia Director. E comecei a trabalhar fazendo cafezinho (risos). Fui aprendendo todo o trabalho de um produtor. Até que, finalmente, me confiaram um trabalho de produção”, contou. Foi aí que ele conheceu 263 contou o feito. Com a boa aceitação, vieram Bordeu, os garotos que fundaram a ACE investimentos, mais reforço para o trabalho, TEAM. “Eu era desenhista nessa época e e o Zeno Clash saiu do PC para o Xbox. Foi a tinha feito um par de jogos para PC. Os entrada no mundo real dos videogames. movimentos que havia eram muito difíceis de se trabalhar, porque havia muito pouca A mecânica do jogo não era simplesmente memória, não eram touch, era outra época”, apontar e disparar, como a maioria que ele relembrou o ritmo intenso de trabalho existia e queria ser como Call of Duty. que enfrentou nos dois anos seguintes. O objetivo era ser um jogo de primeira Sebastian Gonzalez Animação & Games – e Vice-Versa Andres Bordeu, Carlos Bordeu e Edmundo pessoa focado no combate corpo a Na sequência, Sebastian exibiu um vídeo corpo, com punho e pernas. O realismo para que a plateia conhecesse a ACE fantástico embutido nas criaturas, armas, Team, fundada há sete anos. “O ACE vem hábitos vestuário agradou, e os jogadores das iniciais de Andres, Carlos e Edmundo. começaram a comprar. Com o sucesso do Estamos baseados em Santiago, e primeiro, veio a oportunidade do segundo. desenvolvemos software independente Desta vez, o jogo de estratégia Rock of de entretenimento. É importante ressaltar Ages, no qual, basicamente, dois jogadores que nós conservamos nossas propriedades assumem o controle de uma pedra gigante intelectuais, o que é super valioso. Podemos e a proteção de um castelo. Sendo que fazer qualquer coisa que quisermos, e a pedra gigante de um tem de destruir o não temos que pedir permissão a outros castelo do oponente. produtores intelectuais”, afirmou. Zeno Clash II, a segunda parte de Zeno 264 Desenvolvedor licenciado do Xbox 360 Clash, veio com um mundo maior que o e PlayStation 3, o estúdio desenvolve original e a mecânica de combate melhorou produtos para Xbox Live Arcade, PlayStation bastante, segundo Sebastian. Com mais Network e PC. O primeiro jogo, Zeno Clash, de cem personagens, o quais claramente foi lançado pela empresa em 2009. “Foi um consumiram muito tempo do artista. O jogo que levou dois anos de produção, e trabalho levou um ano e meio para ficar foi lançado até na Rússia e na Polônia”, ele pronto. Foi cansativo, ele reconheceu. 265 e anunciou um novo jogo, recém-lançado, jogo realmente impressionante. Ao mesmo o Abyss Odyssey, para Playstation III e PC. tempo nós não esperávamos que a crítica O principal propósito do jogo era que ele não fosse muito boa, principalmente porque pudesse ser jogado mais de uma vez, e nos compararam com títulos grandes”, disse. de forma diferente. Além disso, houve preocupação em fazer com que o inimigo Sebastian mostrou alguns personagens pudesse retornar, ou seja, o jogo dá a para a plateia já familiarizada com a criação chance de o inimigo retornar de maneira da ACE TEAM, com destaque para Gollen, inteligente. O esquema de lutas, Gonzalez Rimat. Com lançamento principalmente comparou, pode fazer muita gente se em 3D, em disco, o foco agora é o lembrar de Double Dragon. Sebastian Gonzalez Animação & Games – e Vice-Versa “Demoramos e, mesmo assim, fizemos um lançamento digital, por ter um alcance maior e ser mais viável economicamente. Arthur Protasio agradeceu e, antes “Lamentavelmente, a América Latina não é de passar para as perguntas, fez uma o melhor lugar para vender. Do México até observação sobre a questão da interação: o Chile, as vendas somam apenas pouco “A gente sempre está falando que existe um mais de 1% do total”, relatou. trabalho de animação na área dos jogos, mas um trabalho de animação na área dos A relação da ACE TEAM com animação é jogos tem de, em vez de prever um caminho real. “Somos quatro pessoas na arte, dois linear, tem de prever muitos outros”, modeladores, um ilustrador, um animador e afirmou, citando exemplos de como a dois desenhistas do jogo, dos quais um sou animação vem explorando novos caminhos eu. Passo a metade do tempo animando e com os jogos. Machine foi um deles. a outra desenhando o jogo. Temos quatro programadores, um músico e um par de Ao abrir a rodada de perguntas ao público, ilustradores que nos ajudam em algumas Arthur Protasio tratou de fazer, ele mesmo, coisas”, e é isso, ele relacionou a equipe. primeira delas: Em seguida, exibiu um vídeo com os trabalhos mais emblemáticos da ACE TEAM, 266 267 de criação, mas tudo o que a gente cria comunicação entre animação e jogos? Quais passa pelo crivo deles. É possível que essa ferramentas a gente usa para engajar o seja uma tendência, é possível que as duas público? coisas se conectem, e aí você já não vê Conrado Testa – Acho que a previsão é Sebastian Gonzalez Animação & Games – e Vice-Versa Quais são os caminhos futuros da sempre bastante arriscada, mas acho que é uma tendência. Participei do Anima Business, e foi-me apresentado um projeto que, teoricamente, era pra ser um projeto de animação e, eu como sou da área digital, eu me considero parte da indústria de entretenimento digital. Não necessariamente jogos, porque eu acredito que, futuramente, as coisas vão fazer uma mais parte da outra, e isso não é uma coisa só. Acredito que o futuro é algo que vai nos dar sentido. A Cartoon Network, cerca de anos atrás, percebeu que tinha propriedades intelectuais dela que estavam sendo usadas por desenvolvedores de jogos. E a companhia pensou ‘por que eu mesmo não produzo 268 os jogos?!’ Então ela criou todo um setor, mais a diferença do que é um jogo, o que que já existia, mas que vem crescendo e é uma história, o que é ilustração, o que é criando força. Eles assinam os jogos como quadrinho. E, sim, que está contando uma Cartoon Network Games, e a criação que história para um jogador, para uma pessoa. a gente faz para os jogos é orientada pelos Você quer transmitir entretenimento e roteiristas da série. Então, tudo o que a isso vai passar, por inúmeras cabeças. Eu gente cria, a gente tem toda essa liberdade imagino que vá por aí. 269 Alê McHaddo – É difícil falar de tendência. uma coisa que eu vi esses dias, no Android, Primeiro, acho que filme vai continuar sendo que era uma mistura entre animação, livro filme. TV não tanto, mas cinema vai continuar e jogo. Era um jogo, um aplicativo, em que sendo cinema, isso é o que eu tenho certeza. você começava vendo uma animação, aí De resto, eu acho que os meios digitais parava tudo, e ele começava a explicar vão sofrer alterações grandes em um curto uma história além daquela animação. Em espaço de tempo. Não vejo muito tempo seguida, ele aplicava um jogo em cima disso. para a televisão, como ela é organizada hoje, Então, acho que no futuro essa transmídia se sustentando. Da mesma maneira que seja cada vez mais integrada, pois tem sido não vejo os consoles, já se disse, a gente o foco nas empresas. está na última geração de consoles. Esses Sebastian Gonzalez Animação & Games – e Vice-Versa Rafael Rodrigues – Eu só queria acrescentar consoles vão acabar, e acabou. Não vai ter Sebastian Gonzalez – Uma coisa que venho mais outro, não vai ter Playstation 5. Porque percebendo é que interessante o novo a tendência é que se vá para os dispositivos mercado que está se criando. Está na hora móveis, ou para outras mídias. A única de se produzir jogos utilizando endings, certeza que tenho é que não importa para em que eu necessito de algum modelo, onde a tecnologia vá, tecnologia tem de ser uma animação, um som, algum tipo de entendida como segundo plano, a gente tem programação particular que não posso de pensar em história e personagem. produzir, então eu compro inteiro meu jogo. E eu, como criador, modelador, animador, posso vender meus produtos dentro deste mercado, para que consumam criadores como nós, que em algum momento não conseguem ir à frente. Ou contrato alguém e, se sou uma equipe independente pequena, provavelmente me sai mais barato comprar produto pronto. Então entendo que é muito valioso como uma forma alternativa de ter lucro e fazer o que gosta no seu tempo livre. 270 271 Pergunta PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Animação & Games – e Vice-Versa PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Como vocês acham que as produtoras de game, artistas, programadores e todos os interessados poderiam fomentar o interesse por games na América Latina? Teria como fazer alguma coisa mais autoral e conseguir um sucesso, como fazem as grandes empresas norte-americanas? que existe aí uma regulamentação que é Alê McHaddo 272 Eu acho que a gente não precisa de necessária. Até porque com os $14 bilhões apoio governamental. A gente precisa que elas movimentam anualmente, a regulamentar um mercado que é gente está perdendo a chance de criar o completamente injusto. A gente tem imaginário brasileiro. Então, não é uma aqui três companhias explorando um questão de financiamento do governo, mercado que é gigante, com remessas de não é passar o chapéu. A gente está lucro constante, que controlam inclusive falando de regulamentar, de desatar se você vai ou não distribuir o jogo na alguns nós, porque esse mercado é plataforma delas. Acho que, no mínimo, injusto. Esse discurso de dependência a gente tem que regulamentar isso. Se do governo, financiamento do governo fizer um paralelo dos jogos com o que é e cota é retrógrado. O Canadá tem um a televisão e o mercado cinematográfico, financiamento governamental para games os mídias são muito menos impositivos e para animação maior do que qualquer do que são as produtoras de console. país, inclusive se posicionou desa forma por Seria mais ou menos assim , você faz causa de um apoio governamental. A gente um filme usando uma câmera Sony, que tem de deixar de lado essa ideia de que está só pode passar num projetor Sony, num pegando dinheiro para fazer um filminho, cinema Sony, se ela deixar. Então, claro um joguinho. Não. A gente está investindo 273 Apesar de ser uma coisa divertida, desenvolver jogos vira uma coisa muito séria e a gente sabe que é uma indústria poderosa. Acho que desde 2009, quando a Apple liberou para criação de aplicativos, ela espalmou um mercado todo novo de desenvolvimento de jogos, qualquer um PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Animação & Games – e Vice-Versa indústria, mas a gente está formando. nessa sala tem a liberdade de fazer um jogo. Mas o que eu sempre digo é: faça jogos. Comece com um jogo simples, bobinho, se preocupe menos com a diversidade de interações, de arte. Faça um jogo simples. Aprenda aquele processo. em um mercado que hoje está caminhando para ser fundo de investimento. Esse é o Conrado Tesla grande caminho. Para conseguir crescer, mesmo, como pessoa e como artista, eu acho que tem de pegar cada vez mais projetos desafiadores. Rafael Rodrigues Concordo com tudo que o Alê falou. Tanto na criação, como no desenvolvimento Também sou professor de desenvolvimento e na distração. Você vai ver que as coisas de jogos na pós-graduação da PUC de Porto vão começar a crescer. Alegre, na cadeira de empreendedorismo, e uma das primeiras coisas que eu falo é que 274 Arthur Protasio Concordo totalmente. Complementando eu estou ali para dizer como é que vocês o que já foi dito aqui, eu acho que tem fazem para viver de jogos. É uma coisa que também a ideia de ‘eu tenho que me eu posso falar porque eu vivo, eu dou aula envolver, eu tenho que pegar projetos sobre jogos, eu trabalho desenvolvendo que me desafiem, eu tenho que correr jogos. E uma das coisas que eu sempre atrás, eu tenho que ser proativo para bato o martelo e insisto é que a gente não fazer isso acontecer’. Na IGDA, que é mais tem uma indústria. Vai existir como uma focada no desenvolvedor, volta e meia 275 Alê McHaddo É arte. Ponto! Não tem mais que continuar Então, artista procura animador ou discutindo isso. O Moma tem sessões de animador procura designer, que procura game, eu acho que essa discussão não programador, que procura outras pessoas. deve nem existir. É óbvio que é. Tem jogo Todos apresentam seus projetos, e acho bom, jogo ruim, tem Candy Crush, tem jogos que é bem por aí. Se você não colocar a mão ótimos, precisos. O jogo, além de contar na massa para começar a desenvolver, isso uma história , pode fazer o cara que está nunca vai se tornar um negócio rentável. experimentando aquela arte ter aquela Hoje em dia existem vários espaços para sensação de uma maneira mais próxima, às mostrar o jogo como uma mídia criativa. vezes, que o cinema. PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Animação & Games – e Vice-Versa eu faço encontros desses profissionais. Mas acho que o mais importante aqui é a palavra mídia. Porque o jogo como mídia Sebastian Gonzalez Sim, no fundo, jogos são artes. acaba tanto sendo útil do ponto de vista Independentemente de onde trabalho e criativo, arte mesmo, como ele também do que tenha de fazer para criar meu jogo, cumpre a sua função como produto. E um porque tudo trata do aprendizado, como outro fator que se liga totalmente com posso melhorar, como posso expressar isso é o fato de a gente ter cada vez mais uma coisa que realmente quero fazer. espaços culturais voltados para os jogos. Agora, se posso fazer com uma equipe Isso é ótimo por que a gente começa a continuamente, até que saia o que gosto, mostrar que temos uma mídia muito isso é genial! Caso contrário, faça como os criativa e que tem inúmeros espaços para outros, compre um jogo pronto. explorar. Isso é muito bacana. 276 Pergunta Rafael Rodrigues Uma das coisas mais recorrentes que Haveria alguma possibilidade de pensar no ouço de quem quer trabalhar com jogos é game como uma forma de arte “pura”, sem ‘o que eu tenho que fazer para trabalhar aniquilar as possibilidades transmídia? Uma na EA (Electronic Arts)’? A primeira coisa coisa que possa ser admirada e apreciada que você tem que fazer é não querer de uma forma única mas similar a como trabalhar na EA. Primeiro, você precisa você ir ver um filme no cinema, ou um filme ter um trabalho bom, o resto tudo é destes do Anima Mundi, por exemplo? consequência. 277 com a Constituição. Para a gente realmente mostrar que é uma mídia expressiva e que se o cinema está protegido, se a animação está protegida, o jogo também está protegido. Por que ele também é capaz, através da sua narrativa, personagens e de sua história, tecer mensagens que são PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Animação & Games – e Vice-Versa para o jogo como uma mídia, de acordo cada vez mais envolventes e engajantes, que acabam se sustentando como discurso comunicativo, científico, cultural e por aí vai. Arthur Protasio Pergunta Eu queria explorar um pouco mais o ponto A gente tem de enxergar o jogo do ponto de transmídia que, pelo debate, parece ser a vista da arte e também do ponto de vista tendência do futuro. Vocês estão vendo um legal. Uma das pesquisas mais substanciais mundo de possibilidades ampliado. Como que fiz na FGV (Fundação Getúlio Vargas) vocês estão enxergando as possibilidades foi sobre a censura de jogos. A gente tem das empresas brasileiras? Como partir para muitos jogos proibidos no mundo inteiro. Só esse desafio do transmídia? que, quando você vai analisar as decisões judiciais ou os projetos de lei que correm 278 Conrado Testa Acho que essa é uma possível tendência, na câmara, você vê que eles são pifiamente mas não acho que essa deveria ser uma fundamentados ou carecem de uma boa preocupação imediata. Eventualmente vai argumentação. Isso acaba muitas vezes acontecer quase que naturalmente de as acontecendo porque quem está avaliando coisas se fecharem um pouquinho mais ou quem está decidindo sobre aquela e se tornarem uma coisa só. Acho que vai mídia não tem um contato direto para acontecer naturalmente e vai nascer de poder ter uma noção melhor do que está demandas de grandes proprietários de acontecendo. Concomitantemente, a gente propriedades intelectuais, ou a gente aqui, precisa defender a liberdade de expressão produzindo um jogo que acha muito legal, 279 nesses elementos conectados, lá na frente, gente fizesse um fórum, uma ação onde as você acaba tendo uma situação muito pessoas se encontrassem? difícil de sustentar. A minha preocupação é fazer uma boa obra, um bom produto, seja Sebastian Gonzalez Acho que o transmitia é uma possibilidade animação, curta-metragem, jogo, filme ou grande e lucrativa e etc, mas não é a única. história em quadrinho, o que quer que seja. Em relação ao dia a dia das empresas, em O transmídia, como o nome já diz, é uma uma pesquisa que o próprio BNDES acabou narrativa que se conecta por diferentes de fazer, a gente identificou que o maior mídias, mas qual é o valor dessa grande problema é como fazer esse jogo ficar narrativa conectada por diferentes mídias conhecido. Publicar é fácil. Mas são 40 mil se essas mídias em si não se sustentam novos aplicativos por dia. O mercado é tão ou estão capengas? Primeiro, é preciso competitivo e tão árido para os produtores ter certeza de que vão consolidar essas de videogame, que eu tenho certeza que as determinadas áreas e, uma vez tendo essa companhias brasileiras que estão vivas são certeza, se esse é um modelo de negócio extremamente bem dirigidas, entendem sustentável para sua abordagem ou para de modelo de negócio, trabalham muito sua obra específica. PERGUNTAS E COMENTÁRIOS Animação & Games – e Vice-Versa mas ao mesmo tempo pensa Po! E se a bem. Acho que a gente arrumando a forma como o mercado de games está organizado Marcos Magalhães agradeceu a todos e falou, no Brasil, regulando, a gente vai ter uma como um dos diretores do Anima Mundi, explosão imediata. As nossas conversas que instituições como o BNDES, o Sebrae, com a Ancine tem sido muito positivas, a Secretaria de Cultura do Estado do Rio o Ministério da Cultura também tem e a Ancine vêm demonstrando interesse apontado para que está pensando na parte e efetivando ações para incluir o game na cultural do game, na parte de conteúdo. economia criativa. Os interessados devem Mas também tem a parte de tecnologia. ficar de olho nas oportunidades. Já como animador, assumiu ser fã de Candy Crush, Arthur Protásio Mais uma vez complementando, o Angry birds e Subway surf. E encerrou a mesa. transmídia bem feito precisa ser pensado do início. Se você não pensa desde o início 280 281 CRÉDITOS DIREÇÃO Aída Queiroz Cesar Coelho Léa Zagury Marcos Magalhães INTÉRPRETE Martha Moreira Lima COORDENAÇÃO GERAL DE PROJETOS Iara Carnauba PROJETO GRÁFICO DO RELATÓRIO PANTALONES / Ricardo Souza COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO Tainá Vital DESIGNER GRÁFICO OESTUDIO ASSISTENTE DE PRODUÇÃO Lívia Egger FOTOGRAFIA I HATE FLASH RECEPTIVO César Alfonzo Clara Medeiros Guilherme Marcondes Fabiana Oliveira Susana Amaral CENOGRAFIA Douglas Nogueira EDIÇÃO E REDAÇÃO Maria da Luz Miranda ILUSTRAÇÃO Ennio Torresan PATROCÍNIO MASTER PATROCÍNIO PRATA PATROCÍNIO VIA EDITAL Patrocínio via edital APOIO apoio HOTÉIS OFICIAIS PATROCÍNIO VIA EDITAL APOIO HOTÉIS OFICIAIS PATROCÍNIO MASTER PATROCÍNIO OURO PATROCÍNIO MASTER APOIO INSTITUCIONAL REALIZAÇÃO Patrocínio Master PATROCÍNIO MASTER apoio institucional APOIO INSTITUCIONAL PATROCÍNIO OURO PATROCÍNIO PRATA J PATROCÍNIO PATROCÍNIO MASTER MASTER PATROCÍNIO OURO J PATROCÍNIO PRATA PATROCÍNIO OURO PATROCÍNIO MASTER PATROCÍNIO PRATA Patrocínio ouro PATROCÍNIO PATROCÍNIO OURO OURO Hotéis oficiais PATROCÍNIO VIA EDITAL HOTÉIS OFICIAIS APOIO PATROCÍNIO PRATA PATROCÍNIO OURO PATROCÍNIO VIA EDITAL HOTÉIS OFICIAIS APOIO PATROCÍNIO PATROCÍNIO PRATA PRATA PATROCÍNIO VIA EDITAL HOTÉIS OFICIAIS APOIO APOIO INSTITUCIONAL REALIZAÇÃO Patrocínio PATROCÍNIOprata PRATA PATROCÍNIO VIA EDITAL APOIO APOIO INSTITUCIONAL HOTÉIS OFICIAIS J APOIO INSTITUCIONAL PATROCÍNIO PATROCÍNIO VIA EDITALVIA EDITAL APOIO REALIZAÇÃO HOTÉIS OFICIAIS HOTÉIS OFICIAIS APOIO J APOIO INSTITUCIONAL PATROCÍNIO VIA EDITAL J APOIO REALIZAÇÃO HOTÉIS OFICIAIS REALIZAÇÃO Realização REALIZAÇÃO Neste relatório foram utilizadas as fontes: Open Sans Cholla Sans Jellyka –Estrya’s Handwriting REALIZAÇÃO PETROBRAS, IBM apresentam TADUAL DE INCENTIVO À CULTURA DO RIO DE JANEIRO, PETROBRAS, IBM apresentam #anim OFERECI #animaforum2014 #animaforum2014 OFERECIMENTO OFERECIMENTOOferecimento PATROCÍ PATROCÍNIO Parceria PATROCÍNIO