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A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO MARIANA VICTORINO ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Revista de Comunicação e Marketing, 6 (1) 2015 ISSN 1645-0248 Edição e propriedade Instituto Superior de Comunicação Empresarial. Morada: Praça do Príncipe Real, n.º 27 1250-184 Lisboa - PORTUGAL Tel.: + 351 21347 42 83/ + 351 91723 3960 [email protected] ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS MARIANA VICTORINO ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Resumo A comunicação empresarial tem vindo a desenvolver práticas e perspetivas conceptuais para a gestão de situações que possam afetar a reputação das empresas e das marcas, adaptadas ao contexto tecnológico atual, caracterizado pela adoção massiva dos novos media. A comunicação de crise assume um papel determinante nestes contextos, como forma de minimizar ou mitigar os danos resultantes das ameaças reputacionais que, neste contexto, se colocam às empresas. A investigação nesta a área tem-se centrado maioritariamente na análise de estratégias de gestão de crise aplicadas a diversos sectores e tipos de crise, bem como na definição de procedimentos e teorias para lidar com este tipo de situações. As fases da prevenção e preparação para a crise são, porém menos abordadas na literatura e aparentemente menos utilizadas na prática do mundo empresarial. Partindo deste enquadramento global, a investigação conduzida foca-se nas “Metodologias Preventivas na Gestão da Comunicação de Crise”. Os objetivos da investigação apresentada são avaliar se, em Portugal, as grandes empresas dispõem de metodologias de preparação e prevenção de crise e, em caso afirmativo, se estas se provaram úteis, aquando da gestão da comunicação de uma situação de crise real. Para tal, em termos de investigação de campo, foi conduzido um estudo junto de responsáveis de comunicação de grandes empresas nacionais e multinacionais presentes em Portugal e obtido o testemunho de 29 clientes de uma Consultora de Comunicação. Palavras-Chave: Comunicação de Crise; Prevenção de Crise; Gestão de Crise Abstract Corporate communication has developed practical and conceptual perspectives for the management of situations that may affect the reputation of companies and brands, adapted to the current technological landscape, characterized by the massive adoption of new media. Crisis communication plays a key role in these contexts, as a way to minimize or mitigate damage resulting from reputational threats with which companies may face. Research in this area has focused mainly on the analysis of crisis management strategies applied to different sectors and types of crisis, as well as on the definition of procedures and theories to deal with such situations. The previous step - prevention and preparedness for the crisis - is however less addressed in the literature and apparently less used in practice in the business world. Building upon these assumptions, the research conducted focuses on "Preventive Methodologies Crisis Communication Management". The aim of this research is to evaluate whether large scale companies based in Portugal are equipped with the tools for preparation and prevention of a crisis and, if so, whether these tools proved useful when managing communication in a real crisis. In terms of field research for this purpose a survey was carried out amongst the Heads of Communication of both national and multinational large scale companies which have offices in Portugal, as well the testimony of 29 clients of a Communication Consultanc was gathered. Key-Words: Crisis Communication; Crisis Prevention; Crisis Management 1 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS MARIANA VICTORINO ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Introdução Do ponto de vista da comunicação empresarial, uma crise é um evento, ou uma série de eventos que podem gerar uma cobertura negativa nos meios de comunicação social, que pode afetar a imagem e a credibilidade da empresa ou da marca afetada, sendo apontada por alguns autores como um fator de viragem importante e distintivo (Ollefs, 2007). Este “fator de viragem” pode mesmo, afetar a própria existência da organização, ou a continuidade de uma linha de produtos, de uma marca ou de uma unidade de negócio (Mittrof, 2000). Para ultrapassar o problema, há que tomar medidas concretas que permitam contornar a situação e defender a posição dos stakeholders (Ollefs, 2007). Parece ser consensual que uma crise é uma ameaça concreta ao funcionamento de uma empresa ou das suas marcas, que pode ter consequências negativas se não for gerida adequadamente. As situações de crise têm efeitos negativos na reputação e estes impactos podem afetar a forma como os stakeholders interagem com a empresa (Barton, 2001; Dowling, 2002). Nas empresas, o habitual é que as crises apresentem características muito diversas, mas tenham consequências idênticas: normalmente afetam a produção e as vendas e podem conduzir a bloqueamentos que a descredibilizam, perturbam ou inviabilizam economicamente. Algumas crises têm características endógenas - são geradas no seio da empresa (ex. retirada de produtos do mercado, problemas de higiene e segurança no trabalho, acidentes, problemas laborais ou de recursos humanos, problemas financeiros ou legais, temas comerciais ou de marketing, etc.) -, outras exógenas – geradas por fatores externos à empresa, sobre os quais não tem controlo (problemas com clientes, fornecedores, legislação, crimes, fraudes, política fiscal, lobby setorial, etc.) Em termos gerais, existem alguns critérios que ajudam os especialistas a identificar uma situação de crise: normalmente são situações que representam perigo para a saúde ou a vida humana; podem gerar danos materiais ou financeiros relevantes; um impacto elevado sobre os funcionários, fornecedores, parceiros ou outras partes interessadas; perturbações significativas do fluxo de trabalho, um aumento de interesse por parte dos media; um grande afluxo de questões de funcionários, clientes, grupos de interesse ou outras entidades importantes, ou, finalmente, o medo ou a raiva gerados na opinião pública (Penrose, 2000). Em termos de impacto, de acordo com Timothy Coombs (2007), a crise pode trazer genericamente três tipos de ameaças: à saúde e à segurança pública; prejuízos financeiros para a organização e danos à sua reputação. É evidente que essas ameaças estão correlacionadas, mas o que é transversal é que todas as crises ameaçam causar danos à reputação da organização (Dilenschneider, 2000). Uma gestão eficaz da comunicação de crise é, portanto, um imperativo estratégico para a continuidade da organização. As crises originam uma pressão mediática que tende a ser crescente, gerando também um grande interesse em torno dos seus protagonistas e dos acontecimentos em si. Nos 2 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS dias de hoje e devido ao imediatismo no acesso à informação proporcionado pelos media e pela internet, as situações de crise passaram a ser acompanhadas em direto pela opinião pública, verificando-se uma diluição das linhas que separam aquilo que é do conhecimento individual e aquilo que é do conhecimento coletivo (Sinnreich, 2007). Este novo panorama veio influenciar o desenrolar dos acontecimentos em situação de crise e tornar mais exigente a forma como esta é gerida. A recuperação da crise na reputação da organização pode ser sentida a três níveis (Coombs, 2007a): os resultados dos estudos sobre a reputação da empresa antes e depois da crise, a cobertura dos media - tradicionais e online - e os comentários dos stakeholders. Num contexto de crise empresarial há uma sobrecarga de informação, é imperativo que os gestores tomem as decisões certas, de forma célere e firme, caso contrário, a imagem da empresa pode ser irremediavelmente afetada. Assim, a forma como a organização e os seus gestores lidam com uma situação de crise e especialmente com os media, vai condicionar o impacto na sua imagem e reputação. Vários autores defendem que na gestão de uma situação de crise, a gestão de topo das organizações deve procurar protegê-la dos danos que pode trazer, em termos de pessoas, bens e reputação (Barton, 2001 e Marcus & Goodman, 1991). A comunicação assume, assim, um papel fundamental no contexto de uma crise corporativa. De acordo com um estudo realizado pela multinacional de relações públicas Porter Novelli em 2005, 80 % das atividades necessárias para superar a crise de comunicação corporativa são baseados em comunicação. Pesquisas como esta, e a experiência de 20 anos na gestão de situações de crises corporativas reais, permite afirmar que uma organização que não faça uma gestão eficaz da sua estratégia de comunicação em situação de crise é normalmente penalizada, tendo em conta que o silêncio pode ser interpretado como assunção de culpabilidade e levar a danos ainda maiores na reputação da empresa. A gestão cuidadosa e eficaz da comunicação de crise das empresas deve, portanto, ser encarada como uma ferramenta estratégica, funcionando como um "seguro" da sua imagem e credibilidade, cujo principal objetivo é dar à organização a capacidade de responder eficazmente a situações potencialmente prejudiciais. A literatura disponível sobre comunicação de crise empresarial defende unanimemente, que para que esta gestão seja eficaz, é fundamental a fase de prevenção e preparação, consubstanciada numa série de atividades e metodologias, realizadas por profissionais qualificados e treinados, que dominam os mecanismos necessários de alerta, monitorização e reação. O contexto da gestão da comunicação de crise no contexto empresarial tem vindo a mudar desde o advento da internet, tendo em conta que os meios de comunicação digitais e as redes sociais vieram alterar o potencial de disseminação – em termos de abrangência geográfica e de barreira temporal – de uma situação de crise. Uma crise empresarial (ou qualquer crise) é agora divulgada rapidamente (tempo) e globalmente (espaço). Segundo Drury (2008), os social media são recursos online que as pessoas usam para partilhar conteúdos: vídeos, fotos, imagens, textos, ideias, humor, opinião, rumores, notícias. Esses recursos, que incluem blogs, vlogs, redes sociais, fóruns, podcasts e wikis, geraram uma mudança no panorama dos media. No entanto, na opinião deste autor, quando se fala sobre os media sociais, os especialistas geralmente enfatizam 'Media' como sendo o mais importante, quando na realidade o elemento 'social' é que é a chave. 3 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Ao permitir que as pessoas partilhem e interajam umas com as outras, os media sociais permitem que a geração de ‘conteúdos’ se torne mais democratizada do que nunca (Drury, 2008). Outros autores definem a Web 2.0 como uma coleção de aplicativos online, open-source, interativos e controlados pelo utilizador, que amplia as experiências, conhecimento e poder, tornando-os participantes de processos de negócios e sociais, de forma a facilitar o fluxo de ideias e conhecimentos, permitindo uma criação, disseminação, partilha e edição eficazes de conteúdos informativos (Constantinides e Fountain, 2008). Este novo contexto dá ao consumidor um controlo total da informação, que aliado à fragmentação dos media, resulta numa circulação muito mais ampla e abrangente da informação. Hoje em dia é comum o multitasking com várias formas de media, o que faz com que as pessoas já não estão focadas individualmente no consumo de um tipo ou formato de media, mas sim a usar vários meios de comunicação, ao mesmo tempo (Drury, 2008). Este panorama coloca novos desafios aos gestores de comunicação de crise, que agora têm de lidar com estes novos canais, não só transmitindo suas mensagens de forma multidirecional, mas interagindo com as suas audiências fragmentadas, através destes novos canais e recursos. Ao possibilitar estas formas pessoais, de confiança e diretas de acesso aos consumidores, os media sociais oferecem múltiplas oportunidades (e também ameaças) imediatas e futuras (Drury, 2008). Paul Gillin (2007) defende que, em situação de crise, o poder disruptivo dos medias sociais é apresentado de forma crua e direta – algo a que as empresas não estão acostumadas e terão de aprender a ajustar-se. Os media sociais são, pois, novos formadores de opinião que exercem influência, agregando os pensamentos e opiniões de outros em quem os seus autores confiam. Isso faz com que a blogosfera seja extraordinariamente resistente à rutura, já que as ligações são múltiplas e diversificadas, o que torna muito mais difícil a tarefa de determinar quais as redes de influência existentes (Gillin, 2007). Neste novo cenário, são necessárias estratégias de comunicação articuladas para lidar com a crise empresarial. Tal não invalida que os media tradicionais continuem a ter um papel importante a desempenhar, já que quando um assunto é abordado por um jornal ou uma televisão, a informação adquire um nível de legitimidade que lhe dá maior relevância. Quando uma informação se restringe, por exemplo, a um blog, o seu impacto é mais limitado, mas assim que uma notícia passa para os media tradicionais pode se espalharse com uma velocidade alarmante. Muitas vezes é preferível acompanhar as opiniões de especialistas e monitorizar o desenvolvimento dos temas nas redes sociais, mas não tomar medidas a não ser que os media tradicionais divulguem a história (Gillin, 2007). Assiste-se hoje a uma alteração radical na forma como a informação chega a tantas pessoas com tão poucas barreiras. Esta globalização da informação e a facilidade com se dissemina quer geográfica quer temporalmente, faz com que os media tenham hoje um papel substancialmente diferente, tornando-se muitas vezes difícil diferenciar fatos de ficção (Vinhas da Silva, 2010). Metodologia A investigação sobre “Metodologias Preventivas na Gestão da Comunicação de Crise” foi conduzida com o intuito de analisar a forma como as empresas de grande dimensão em Portugal lidam com a necessidade de desenvolver estratégias para prevenir a ocorrência 4 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS de situações de crise, mas também para estarem preparadas, caso estas venham a verificar-se. Procurou-se, com base numa metodologia empírica, avaliar se as empresas em Portugal estão preparadas para lidar com temas que possam ter um impacto negativo sobre a sua reputação e sobre a sua imagem; que tipo de metodologias utilizam para lidar com estas situações e se as metodologias utilizadas se têm vindo a provar eficazes. Pretendeu-se, com esta investigação, estabelecer e analisar a relação potencial entre a preparação e metodologias de comunicação utilizadas na prevenção de crise e a eficácia da gestão deste tipo de situações. Para o efeito, foram inquiridos os responsáveis de comunicação de empresas nacionais e multinacionais de grande dimensão, bem como um grupo de clientes de uma empresa de consultoria de comunicação. Perante os objetivos enunciados foram levantadas as seguintes hipóteses: em Portugal, a maioria das grandes empresas dispõem de metodologias de preparação e prevenção de crise; as empresas que dispõem dessas metodologias consideraram-nas úteis aquando da gestão de situações concretas de crise; poderá existir uma relação linear positiva entre a disponibilidade de metodologias de preparação e prevenção de crise e a eficácia da gestão de situações concretas de crise. Participantes e procedimentos Entre Maio e Setembro de 2009 foi conduzido um inquérito junto de empresas nacionais e multinacionais com Departamento de Comunicação ou serviços externos de Consultoria em Comunicação, com vista a aferir se as mesmas dispõem de metodologias de preparação e prevenção de crise e, em caso afirmativo, se se provaram úteis, aquando da gestão da comunicação de uma situação de crise real. Em termos de operacionalização da pesquisa, utilizou-se uma ferramenta online para maximizar a taxa respostas e minimizar o tempo de resposta aos inquéritos. Posteriormente foi feita a análise da informação, através da ferramenta de análise disponibilizada por esta aplicação. Paralelamente e para complementar as informações recolhidas através dos inquéritos acima mencionados, recorreu-se ao know how de uma consultora de comunicação especializada na gestão da comunicação em situação de crise, junto da qual se obtiveram informações – através de questionários - relativas à forma como 30 empresas suas clientes conduzem este tipo de situações. A metodologia utilizada consagrou os seguintes passos: 1. Recolha de informação para elaboração dos questionários, que deveriam possibilitar a recolha da seguinte informação: Existência de ferramentas de comunicação na empresa; Experiência prévia de situações de crise com impacto nos media; Atuação em situação de crise com impacto nos media; Utilidade das ferramentas de comunicação de crise. 2. Definição da amostra (Figura 1) e condução da investigação, com base no universo de empresas com mais de 250 colaboradores registadas em Portugal (919 empresas); 5 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Figura 1 – Descrição da Amostra Actividade económica Escalão de pessoal ao serviço Empresas (N.º) por Actividade económica e Escalão de pessoal ao serviço; Anual (1) Período de referência dos dados 2007 Localização geográfica Portugal Total N.º Total 1 101 681 10 – 49 43 443 Menos de 10 50 – 249 250 e mais 1 051 195 6 124 919 Fonte: site INE - 2008 Para integrar a amostra, foi definido que as empresas deveriam dispor de um Departamento de Comunicação ou serviços externos de consultoria de comunicação; que os alvos diretos da investigação deveriam ser prioritariamente Diretores de Comunicação/ Marketing ou Directores Gerais. Tendo em conta as condicionantes da investigação, optou-se por um método de amostragem não casual, por conveniência. A investigação abarcou um conjunto de 48 empresas, o que representa 5,2% do universo definido. Análise dos resultados e conclusões 2.1.1. Inquérito a Empresas Foram inquiridos 19 Directores de Comunicação (ou Directores de Marketing ou Directores Gerais) de empresas nacionais ou multinacionais. Relativamente ao seu perfil foi identificado o sector de actividade e o volume de facturação das respectivas empresas, o cargo ocupado, o sexo, a faixa etária e a sua formação. 6 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Gráfico 1 - Sectores de Actividade Saúde 6% 6% 6% 11% 22% 28% 5% Finanças e Seguros Automóvel 11% 5% Tintas Serviços Profissionais Construção Tecnologias Alimentação Logística Os sectores de actividade (Gráfico 1) das empresas inquiridas foram maioritariamente o dos Serviços Profissionais (28%); o da Saúde (22%); o da Alimentação e das Finanças e Seguros (cada um com 11%); o da Construção, Tecnologias e Logística (cada um com 6%) e o das Tintas e Automóvel (cada um com 5%). Gráfico 2 - Volume de Facturação 16% 21% 5% 11% 5% Menos 1 Milhão € 42% Entre 1 e 50 Milhões € Entre 51 e 100 Milhões € Entre 101 e 250 Milhões € Entre 251 e 500 Milhões € NR 42% das empresas inquiridas facturam (Gráfico 2) entre 1 e 50 milhões de Euros; 16% entre 251 e 500 milhões de Euros; 11% entre 101 e 250 milhões de Euros. 21% das empresas inquiridas não indicaram o volume de facturação e os restantes 10% dividem-se entre a faixa abaixo de 1 milhão de Euros de facturação e entre 51 e 100 milhões de Euros. Gráfico 3 - Cargo 11% 47% 42% Director Geral/ Administrador Director de Marketing/ Comunicação Outros 7 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS A maioria dos inquiridos (47%) ocupa cargos (Gráfico 3) de Direcção na área de Marketing ou Comunicação; 42% ocupam cargos de Administração ou Direcção Geral e os restantes 11% outros cargos. Gráfico 4 - Sexo 16% 84% Masculino Feminino 84% dos inquiridos pertencem ao sexo (Gráfico 4) masculino e apenas 16% ao sexo feminino. Gráfico 5 - Faixa Etária 16% 10% 21% 53% 30-34 anos 35-39 anos 40-45 anos Mais 45 anos 53% dos inquiridos incluem-se na faixa etária (Gráfico 5) dos 35-39 anos, 21% na dos 3034 anos. Os restantes inquiridos têm mais de 40 anos. Gráfico 6 - Formação 5%11% 84% 12º ano Licenciatura Mestrado 84% dos inquiridos têm o grau académico (Gráfico 6) de licenciatura; 11% completaram o 12º ano e apenas 5% tem o grau de Mestrado. 8 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS No que diz respeito às conclusões dos inquéritos conduzidos, foi possível recolher as seguintes informações: Gráfico 7 – Ferramenta de gestão de crise A maioria das empresas contactadas (sempre mais de 60% da amostra) não dispõem de ferramentas de comunicação para gerir eventuais situações de crise (Gráfico 7) com que se possam deparar. As que dispõem de algumas dessas ferramentas, optam maioritariamente pelos Manuais de Comunicação e pelos Argumentários de Crise, em detrimento dos Media Trainings, da constituição de uma Equipa de Crise, ou mesmo da realização de Simulações de Crise. Gráfico 8 – Impacto nos media Podemos verificar que quase metade das empresas consultadas já viveu situações de crise com impacto nos media (Gráfico 8), o que de alguma forma agrava os resultados 9 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS obtidos na questão anterior, uma vez que há empresas que, mesmo já tendo vivido situações com impacto negativo na sua imagem, não tomaram medidas para preparar ou prevenir situações futuras, do ponto de vista da gestão da sua estratégia de comunicação. Gráfico 9 – Tipo de crise A maioria das crises vividas pelas empresas (Gráfico 9) que responderam afirmativamente à questão anterior dizem respeito a situações relacionadas com as Pessoas (55,6%), ou seja, despedimentos, acidentes, processos laborais, etc. o que num contexto de crise como aquele em que vivemos, é normal. Uma parte significativa dessas empresas (44,4%) viveram também situações relacionadas com os seus Produtos (ou serviços) ou com a Política (22,2%). Gráfico 10 – Ferramentas utilizadas 66,6% das empresas consultadas confirmaram, em situação de crise, ter utilizado as ferramentas de comunicação (Gráfico 10). Dessas, maioritariamente os Argumentários de Crise (83,3%), seguidos da Equipa de Crise (66,6%), do Manual de Comunicação de Crise (50%), do Media Training de Crise (33,3%) e das Simulações de Crise (16,6%). 10 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Gráfico 11 – Outros procedimentos adoptados De sublinhar que, apesar de disporem de ferramentas Comunicação de Crise, 33,4% das empresas não as utilizou (Gráfico 11). Dentro destas, a maioria (75%) definiu na altura o que fazer e/ou deu resposta às solicitações pontuais que foram surgindo (50%). Gráfico 12 – Medidas tomadas por público Os Media e os Colaboradores, seguidos dos Clientes são aqueles com quem a maioria das empresas afirma tomar medidas, em situação de crise, nomeadamente através do envio de comunicados de imprensa para os media, comunicados internos para os Colaboradores e contactos pessoais ou por carta/telefone com os Clientes (Gráfico 12). 11 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Gráfico 13 – Nº notícias publicadas Das empresas afectadas por situações de crise, em 55,6% dos casos verificou-se que essa crise teve um impacto muito elevado (Gráfico 13), com mais de 25 notícias publicadas; em 33,3% dos casos um impacto médio, com 5 a 15 notícias publicadas e em 11,1% dos casos um impacto elevado. Estes resultados não são surpreendentes se atendermos ao facto de que 33,4% das referidas empresas não utilizou quaisquer ferramentas de comunicação de crise. Gráfico 14 – Teor das notícias Na maioria dos casos (55,6%) o teor dessas notícias foi entre 76% e 100% negativo (Gráfico 14) para a empresa; em 22,2% dos casos essa percentagem reduz para 51% a 75%; e para os restantes 22,2% dividiu-se entre 11% a 20% e 0% a 10%. Entenda-se que as notícias que não tiveram um teor negativo, tiveram um teor neutro e nunca positivo. 12 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Gráfico 15 – Duração do impacto Com este gráfico podemos verificar que o impacto da crise nos media é normalmente concentrado no tempo (Gráfico 15) – em 44,4% dos casos durou menos de uma semana -. No entanto, em 22,2% dos casos, arrastou-se por mais de um mês. Se cruzarmos esta informação com a informação de que em 55,6% dos casos sairam mais de 25 notícias, e na mesma percentagem serem entre 75% a 100% notícias negativas, podemos concluir que os efeitos em termos de imagem podem ser devastadores. Gráfico 16 – Tipos de Media Relativamente aos Media atingidos (Gráfico 16), podemos verificar que em todos os casos surgiram notícias na Televisão o que, desde logo, acentua a gravidade da situação tendo em conta a abrangência deste meio em termos de audiências e também o grau de exigência deste meio em relação à preparação dos porta-vozes que nele intervêm. Se cruzarmos esta informação com aquela que nos diz que apenas 2 empresas recorreram a 13 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Media Training, podemos concluir que dos 9 porta-vozes que tiveram de intervir junto dos meios, 8 deles fizeram-no “sem rede”. Gráfico 17 – Impacto no negócio A maioria das empresas afectadas considera que o impacto da crise (Gráfico 17) para a empresa foi essencialmente ao nível dos danos na imagem (85,7%) e da instabilidade interna (57,1%) e apenas 14,3% referiu ter sentido impacto nas vendas. Os empresários são, porém, capazes de ver as oportunidades que lhes podem ser trazidas por uma situação de crise, seja ao nível da revisão de procedimentos (em 75% dos casos), da detecção de pontos de melhoria (em 62,5% dos casos), da reestruturação (em 12,5% dos casos) ou de novos cliente/mercados (em 12,5% dos casos). Gráfico 18 – Utilidade das ferramentas 14 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS A maioria dos respondentes considerou que as ferramentas de comunicação de crise foram úteis para a gestão das situações de crise com que foram confrontados, mas 26,2% dos mesmos considerou que não tiveram utilidade. Gráfico 19 – Razão da utilidade das ferramentas Os fatores de utilidade das ferramentas de comunicação de crise (Gráfico 19) são maioritariamente o facto de terem contribuído para que as respostas aos media fossem mais adequadas (100%); o facto de terem permitido ajudar a organizar e distribuir funções (80%); terem contribuído para definir as medidas a tomar (60%); dar mais confiança aos intervenientes (40%) e poupar tempo (40%). 15 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS 2.1.2. Inquérito a Consultora de Comunicação Foi conduzido um inquérito junto de uma Consultora de Comunicação, que disponibilizou informações sobre a área de comunicação de crise de 29 dos seus clientes regulares, foi possível reunir as seguintes informações: Gráfico 20 - Sector de Actividade 4% 4% 4% 4% 4% 4% 3% Cosmética Turismo 7% 7% 3% Alimentação 11% Indústria 3% 3% 3% Retalho Ourivesaria Tecnologias Finanças Serviços Profissionais 36% Energia Electrodomésticos Tintas Televisão Associação Equipamentos Médicos 36% das empresas inquiridas pertencem ao sector (Gráfico 20) das Tecnologias; 11% ao sector da Alimentação; 7% ao sector do Turismo; outros 7% ao sector dos Serviços Profissionais, sendo as restantes de sectores da Cosmética, Indústria, Retalho, Ourivesaria e Finanças. Gráfico 21 - Dispõe de Ferramentas de Comunicação de Crise? 10% Sim 90% Não 90% das empresas inquiridas afirmam que não dispõem de ferramentas de comunicação (Gráfico 21). Apenas 10% referem que dispõem destas ferramentas. 16 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Gráfico 22 - Ferramentas de Comunicação de que dispõe Media Training de Crise Equipa de Crise Argumentário de Crise Manual de Crise 0 1 2 3 Das empresas que afirmaram dispor de ferramentas de comunicação de crise (Gráfico 22), 100% dispõe de Manual de Crise, Argumentários/ Q&A de Crise, já participaram em Media Trainings de Crise e dispõem de uma Equipa de Crise. Gráfico 23 - Já lidou com uma situação de crise com impacto nos media? 48% 52% Sim Não 52% das empresas inquiridas afirmam já ter tido que lidar (Gráfico 23) com uma situação de crise com impacto nos media. Os restantes 48% nunca passaram por essa situação. 0% Gráfico 24 - As ferramentas de comunicação de crise foram úteis? Sim 100% Ñão 17 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS 100% das empresas inquiridas afirmam que as ferramentas de Comunicação de Crise foram úteis (Gráfico 24) aquando da gestão de uma situação real de crise, com impacto nos media. Discussão e Conclusões A revisão da literatura realizada proporcionou a base teórica para defender o imperativo de desenvolver estratégias de comunicação de crise articuladas que incluam os media tradicionais e os meios digitais, num contexto de mudança que exige que os gestores de comunicação e as empresas em geral repensem as suas formas de interagir com os seus stakeholders. Não só os media - especialmente online – se têm multiplicado, como têm surgido novas formas de interação com os stakeholders, através dos media sociais, que se têm desenvolvido e consolidado a sua existência. Tudo isto, aliado a um consumidor muito mais exigente informado e esclarecido, vem reforçar e determinar a exigência de novas metodologias que vão além da abordagem tradicional do contexto de comunicação de crise da empresa. Hoje, o consumidor ou qualquer das partes interessadas da organização detém o controlo. As estratégias de comunicação das empresas estão a passar de de 'push ' para ' pull ', conforme referido anteriormente. É do conhecimento comum a capacidade de aceder, processar e armazenar todas as informações que se procura e necessita. As pessoas usam vários meios de comunicação, ao mesmo tempo , e muitos deles estão sempre online. Nenhuma organização deve ter a ilusão de ser capaz de se esconder ou adiar a divulgação de qualquer informação, especialmente as negativas. É, portanto, imperativo que para entrar no "jogo" da transparência e abertura, se estabeleça e pratique uma interação correta e permanente com as audiências adequadas. Só com esta atitude é que será dada oportunidade a uma organização que enfrente uma situação potencialmente negativa que pode impactar a sua imagem e reputação, de falar e de se defender. E, na maioria das vezes, para ser dada uma segunda oportunidade. Este contexto de maior exigência não tem sido, porém – como ficou patente nesta investigação - seguido pelas medidas necessárias em termos de prevenção e preparação para potenciais situações de crise, pela maioria das grandes empresas portuguesas. A preparação e prevenção, que são as fases mais importantes do processo de gestão de comunicação de crise, estão a ser negligenciadas pelas empresas, como revela a pesquisa empírica realizada. As principais contribuições desta investigação conduzida junto de um conjunto significativo de empresas nacionais e multinacionais presentes no mercado português apresentou evidências de que a maioria dessas empresas não têm metodologias de comunicação de crise para preparar, nem para prevenir situações de crise da empresa. Este fato torna-se mais grave quando verificamos que a maioria dessas empresas já enfrentaram situações de crise empresarial, com impacto nos meios de comunicação, e que, mesmo assim, não estão a tomar medidas corretivas para alterar a situação. Quando a crise atinge os media tradicionais, o impacto e as consequências são, na maioria dos casos, muito elevados e negativos, com efeitos que se prolongam no tempo. 18 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS A televisão desempenha um papel importante para amplificar o impacto negativo destas situações, no entanto, hoje em dia, e como já analisado na revisão da literatura, a internet desempenha também um papel importante nesta situação, especialmente como catalisador da situação de crise, que, em seguida, contamina os meios de comunicação tradicionais. Os porta-vozes das empresas não parecem estar preocupados, uma vez que apenas um terço deles receberam formação e, como tal, a maioria deles não têm preparação para lidar com os media. Apesar disso, segundo as informações recolhidas, a maioria das empresas que utilizaram metodologias de comunicação de crise, consideraram-nas muito úteis para gerir essas ocorrências, especialmente para dar as respostas mais adequadas aos meios de comunicação, organizar e distribuir tarefas, definir as medidas a serem tomadas, dar confiança para os intervenientes e poupar tempo. Embora as empresas em Portugal não estejam preparadas para lidar com situações de crise que afetem a sua reputação, manifestam estar conscientes e cientes da importância e utilidade de dispor de metodologias que as ajudem a preparar e evitar estas situações. Isto torna-se especialmente relevante, num contexto em que os media digitais têm aumentado a complexidade da gestão da comunicação nestas situações de crise. A falta de compromisso registada junto das empresas em relação à fase que antecede uma situação de crise é, na minha opinião, potencialmente muito prejudicial para a reputação da empresa, uma vez que "a maioria das partes envolvidas vai tomar conhecimento da situação de crise através dos media. Assim, a forma como os media apresentam a situação assume uma importância extrema. Uma investigação conduzida no âmbito das temáticas da reputação e da agenda setting (Carroll, 2004) sugere que o público tende a adotar a visão apresentada pelos media sobre a crise (Coombs, 2007). As organizações que não têm em conta a necessidade de se prepararem para uma crise, são normalmente penalizadas caso esta venha a ocorrer. Assim, são fundamentais as iniciativas que visam, não só para manter uma comunicação regular e aberta com os meios de comunicação, mas também com as associações profissionais do setor e as comunidades locais, bem como para preparar e implementar internamente as metodologias adequadas para lidar com uma situação de crise empresarial. O papel de liderança da organização, também deve tido em consideração, uma vez que são os gestores de topo da organização que têm de tomar as decisões e serem o seu porta-voz, e isso implica uma preparação e formação prévios. Tudo isso contribui para a construção de uma reputação sólida e positiva e, portanto, para minimizar (ou mesmo mitigar) o possível impacto de uma crise corporativa da organização. Segundo Coombs se uma organização tiver uma reputação favorável antes de ocorrer uma situação de crise, isso vai funcionar como um ‘amortecedor’ contra os danos infligidos à reputação durante uma crise, o que se traduz em que essa organização sofra menos consequências e recupere mais rapidamente. (Coombs, 2007). Por outro lado, se uma organização costuma tratar mal os seus stakeholders isso vai fazer com que tenha uma reputação desfavorável (Porrit, 2005). Uma organização que é orientada para a defesa da sua reputação e consciente da importância de estar preparados para qualquer situação que a possa afetar, tem presente que o seu historial anterior de situações de crise e a reputação de que usufrui antes da crise tem um impacto direto e indireto sobre a forma como vai ser vista e julgada pela opinião pública quando estas situações ocorrem. Os impactos mais negativos verificamse quando os meios de comunicação, ou a comunidade online, rejeitam a perspetiva apresentada pela empresa e usam uma visão diferente (e negativa) do problema, por 19 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS terem uma opinião desfavorável sobre a empresa ou por saberem que a empresa tem um historial negativo com situações de crise recorrentes (Coombs, 2007b). Em conclusão, é fundamental que as empresas portuguesas evoluam de uma atitude reativa e passiva e abracem este novo contexto global, através de ferramentas e metodologias eficazes que lhes permitam defender a sua reputação perante uma ameaça. 20 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS BIBLIOGRAFIA Argenti, Paul A.; 2009; Corporate Communication; McGraw Hill Argenti, Paul; Forman, Janis; 2002; The Power of Corporate Communication: Crafting the Voice and Image of Your Business; McGraw Hill Barton, L. 2001; Crisis in Organizations II Brochand, Bernard; 1999; Publicitor; Dom Quixote Brotzen, D., Janotti, E., Martins Lampreia, J.; 2003; Gestão de Crise: Uma Perspectiva Europeia; Edições Hugin Christensen, Lars Thoger; Morsing, Mette; Cheney, George; 2008; Corporate Communications: Convention, Complexity and Critique; S Publishing Constantinides, Efthymios and Fountain, Stefan J.; 2008; Web 2.0: Conceptual foundations and marketing issues; Journal of Direct, Data and Digital Marketing Practice Coombs, W.T.; 2007a; Ongoing Crisis Communication; Sage Publication Coombs, W.T.; 2007b; Protecting Organization Reputations During A Crisis: The Development And Application Of Situational Crisis Communication Theory; Department of Communication Studies, Eastern Illinois University, Charleston, USA, Corporate Communication Review, volume 10 – number 3 - Palgrave Journals (p. 163-176) Diakopoulos, Nicholas, Luther, Kurt, Medynskiy, Yevgeniy, Essa, Irfan; 2007; The Evolution of Authorship in a Remix Society; GVU Center, School of Interactive Computing, Georgia Institute of Technology Dilenschneider, D.L.; 2000; The Corporate Communications Bible; New Millennium Dionísio, Pedro; Rodrigues, Joaquim V.; 2004; Mercator XXI - Teoria e Prática do Marketing; Dom Quixote Doorley; John; Garcia; Helio Fred; 2006; Reputation Management: The Key to Successful Public Relations and Corporate Communications; Routledge Dowling, Grahame R.; 2002; Creating Corporate Reputations; Oxford University Press Drury, Glen; 2008; Social media: Should marketers engage and how can it be done effectively?; Journal of Direct, Data and Digital Marketing Practice Fink, S.; Crisis Management – Planning for the Inevitable; iuniverse.com; 2002 Firestein, Peter; 2009; Crisis of Character: Building Corporate Reputation in the Age of Skepticism; Routledge Gaines-Ross, Leslie; 2008; Corporate Reputation: 12 Steps to Safeguarding and Recovering Reputation; John Wiley & Sons Gillin, Paul; 2007; The New Influencers; Quill Driver Books; Gregory , James; Wiechmann, Jack; 1999; Marketing Corporate Image; Library of Congress Griffin, Andrew; 2009; New Strategies for Reputation Management: Gaining Control of Issues, Crises and Corporate Social Responsibility; Kogan Page Harvard Business Review on Crisis Management; 2000; HBS Press, Hill, M. e Hill, A., 2005; Investigação por Questionário, Edições Sílabo Kotler, Philip; 2008; Marketing para o século XXI; Ediouro Marcus, A.A. & Goodman, R.S.; 1991; Victims and Shareholders: the dilemma of presenting corporate policy during a crisis; Academy of Management Journal Marques Mendes, A. e Costa Pereira, F.; 2006; Crises – De Ameaças a Oportunidades; Edições Sílabo Mittroff, I.; 2000; Managing Crisis Before They Happen; Amacom Ollefs, B.; 2007; The Value of Communication; VDM Verlag Dr. Müller Penrose, John M.; 2000; The Role of Perception in Crisis Planning; Public Relations Review, volume 26, Issue 2, Summer Seneviratne, Oshani; Monroy-Hernandez, Andrés; 2008; Remix Culture on the Web: A Survey of Content Reuse on Different User-Generated Content Websites; MIT; 21 ANTES DA CRISE: A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS PREVENTIVAS DE CRISES REPUTACIONAIS NOS DIVERSOS SETORES DE EMPRESARIAIS Sinnreich, Aram Arthur; 2007; Configurable Culture - Mainstreaming The Remix, Remixing The Mainstream; Faculty Of The Graduate School University Of Southern California Skinner, C. e Mersham, G.; 2006; Expect the Unexpected Ulmer, R., Sellnow, T.; Seeger, M.; 2007; Effective Crisis Communication; Sage Publications Wooten, L.P. e E.H. 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Morada: Praça do Príncipe Real, n.º 27 1250-184 Lisboa - PORTUGAL Tel.: + 351 21347 42 83/ + 351 91723 3960 [email protected] A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO NATÁLIA TEIXEIRA1 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO RESUMO Uma nação necessita da conjugação de diversos factores para atingir patamares de desenvolvimento económico sustentados ao longo do tempo. Um dos vectores mais importantes e mais diferenciadores das nações é a qualificação da sua população e o grau de sofisticação, capacidade de decisão e visão estratégica dos seus líderes e elites. Uma maior capacidade competitiva de uma nação traduz-se numa maior capacidade de criação de riqueza e num melhor desempenho em itens importantes do desenvolvimento social e humano. Muitas vezes pequenos nichos de excelência e fortes lideranças em sectores-chave são cruciais pelo exemplo que dão, produzindo um efeito de arrastamento de outros sectores e indivíduos, pelo que significam como role models inspiradores. Com base no estudo efectuado pelo World Economic Forum, é efectuada uma análise do desempenho de Portugal em diferentes aspectos relacionados com aspectos de educação e retenção de indivíduos qualificados, de forma a avaliar os constrangimentos que o país enfrenta num momento crítico. Recomendações são centradas na ideia de um forte ênfase na aquisição de conhecimento como catalisador de crescimento económico. Palavras-chave: liderança, elites, educação, conhecimento, desenvolvimento económico ABSTRACT The competitiveness of nations requires a number of factors to simultaneously occur in order for it to attain sustained levels of economic development. One of the most important vectors that constitute true differentiators of nations competing globally is the qualification of its population, as well as the degree of sophistication, capacity for decision-making and strategic vision of its leaders and elites. A greater competitive ability of a nation translates into a higher capacity for wealth creation and a better performance on key items of social and human development. Often, small niches of excellence and strong leadership in key sectors are crucial, notably for the example that these examples of excellence signify to others, thus producing a dragging effect whereby other sectors and individuals are pulled in by inspiring role models and their examples. Grounded on an extensive study of World Economic Forum data, this article has analyzed the performance of Portugal on different aspects that relate to particular levels of education and retention of qualified individuals. In so doing, it aims to assess and evaluate the deep constrains that the country faces at a critical moment. Recommendations are centered around the key idea of a strong emphasis on the acquisition of knowledge as a catalyst for economic development. Key words: leadership, elites, education. Knowledge, economic development 1 Professora Adjunta do ISCEM, em regime de tempo integral, e do ISEC, tempo parcial A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO NATÁLIA TEIXEIRA A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO 1. O Papel das Elites numa Economia Uma economia desenvolve-se com base na sua capacidade produtiva onde as competências formais da mão-de-obra assumem um papel central. No entanto, é fundamental para potenciar essas competências, a existência de uma liderança forte, tanto a nível nacional como empresarial. Tal como Jones & Olken (2005) demonstraram, a elite de uma nação é fundamental para o seu crescimento económico. De acordo com o WEF (2010), no que concerne ao pilar da liderança e do papel das elites foram identificados os três factores de competitividade: retenção e capacidade de atrair talento e evitar a fuga de cérebros; formação em gestão e a qualidade das escolas de gestão; e disponibilidade de peritos altamente qualificados. A capacidade de reter e atrair talento, de manter os melhores indivíduos no país na idade em que estes são mais produtivos e em que podem dar contributos decisivos para a prosperidade de uma nação são factores críticos de competitividade nacional (Brown & Lauder, 1996). A capacidade de um país em evitar a fuga de cérebros para o exterior, de formar elites que desempenhem de forma eficaz um papel crítico de liderança na condução dos destinos da nação, constituem factores determinantes do crescimento económico futuro de uma nação, bem como do bem-estar futuro dos seus cidadãos. De acordo com Miyagiwa (1991), a fuga de cérebros irá potenciar o rendimento do país de destino e prejudicar os trabalhadores com capacidades de nível médio. Neste contexto, lideranças fortes e elites bem preparadas e dinâmicas, são críticas para o futuro das nações e constituem a locomotiva e força que caracterizam as economias mais competitivas do mundo. Esta constatação reforça a necessidade imperiosa de reter o verdadeiro talento dentro das fronteiras de uma nação, dada a desproporcionalidade da importância destes indivíduos na construção das sociedades e do seu contributo diferenciador para a competitividade económica das nações (Beine, et al., 2001). Acresce que a fuga de cérebros para o exterior, tem o efeito líquido de reforçar a massa crítica e de peritos de economias concorrentes aos mesmos recursos e mercados, redundando todo este processo numa perda de capacidade competitiva comparativa da economia nacional num dos factores de competitividade das nações mais importante entre todos, as pessoas (Meyer & Brown, 1999). As nações mais competitivas do mundo têm em comum a capacidade de atrair talento e de evitar que este saia das suas fronteiras, juntamente com um investimento forte na competência dos indivíduos, identificando e potenciando as suas capacidades de liderança (Paulsen, 2001). A excelência das elites, e o seu papel dinamizador na política, academia, economia e cultura constituem importantes motores do desenvolvimento de uma nação (Woolcock, 1998). A evidência empírica sugere que a existência de verdadeiras elites, legitimadas por critérios de excelência de conhecimento, e competências de liderança, podem ser motores importantes das sociedades e dos sistemas económicos (Brown, et al., 2003). As verdadeiras elites do conhecimento devem assumir neste contexto um papel crítico para o desenvolvimento económico das nações e para a melhoria das condições de vida da sociedade. Elites dinâmicas e competentes, e que ofereçam contributos diferenciais de conhecimento aplicado às respectivas áreas de intervenção, da política à economia, ou A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO em qualquer área crítica à construção social, desempenham um papel fundamental na consecução de vantagens competitivas sustentadas para a economia nacional (Grant, 1996). 2. A Importância da Retenção e Atracção de Talento para o Desenvolvimento Económico Conforme Shumpeter (1942) referiu, a inovação é o motor do crescimento e desenvolvimento económico e é gerada pela concorrência entre empresas que constantemente procuram um caminho de inovação para enfrentar os concorrentes. Assim, a capacidade de retenção e atracção de talento por parte de uma nação é um driver para uma espiral de inovação e um dos factores mais importantes para a competitividade das economias contemporâneas. A formação dos indivíduos e a excelência de sistemas educativos que os formata, bem como o acesso universal dos cidadãos à educação constituem factores críticos de competitividade das nações (Nelson & Phelps, 1966). As nações mais competitivas do mundo têm pools de talento único, elites académicas muito fortes, que emanam de sistemas educativos rigorosos e exigentes (Caballero & Jaffe, 1993). A elite académica proporciona aos indivíduos que a frequentam contribuírem de forma absolutamente impar para mudar não só as suas realidades envolventes como mesmo o mundo. Muitos deles são actores importantes nos seus países de origem, e nas suas respectivas áreas de intervenção ofereceram enormes contributos para a construção das respectivas sociedades de origem, sendo em muitos casos catalisadores de autênticas revogações paradigmáticas nos seus mundos (Benhabib & Spiegel, 1994). Em ambos os casos, torna-se evidente, que o que está subjacente à formação destas elites é o acesso destes indivíduos a docência de excelência, ao estado da arte do conhecimento, nas melhores condições de ensino. Todavia existe uma dimensão de networking que é crucial na formação e espírito destas elites, e que é, por vezes, mais importante do que os méritos curriculares ou excelência dos programas e dos docentes que os expõem (Hale & Moorman, 2003). Este tipo de atmosferas constitui para além dos desafios intelectuais constantes que suscita e da heterogeneidade cultural e académica que permite uma incorporação vasta de conhecimentos e experiência, um capital de credibilidade importante, de confiança que é transmitida ao individuo por professores e alunos de forma sistemática e segura e que, mais tarde ou mais cedo, encontra expressão na intervenção do individuo no seu mundo (Gurin, et al., 2002). Muitas vezes, esta auréola acaba por desculpar algumas falhas que acontecem nestas instituições, que tal como outras têm as suas debilidades, mas o capital de reputação que incorporam permite um pouco à semelhança do que acontece no contexto do fenómeno de reputação de marcas de produto e de empresa, de alguma forma flutuar acima dessas falhas. Portugal ocupa no ranking WEF (2012) no item de capacidade de atracção e retenção de talento a posição 90º em 144 nações, o que constitui um desempenho medíocre. Constata-se que muitos recém-licenciados, bem como futuros licenciados portugueses, acabam por deixar o país à procura de oportunidades de emprego fora de Portugal. Com o envelhecimento da população portuguesa, a questão que se coloca é de como se poderá compatibilizar uma redução da população activa, via emigração, desta magnitude, com os custos sociais que decorrem de uma população não activa dependente desta para sobreviver (Bongaarts, 2004). Não se trata apenas da redução da população activa, mas de que tipo de população activa se trata, uma vez que estamos a falar dos mais 2 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO qualificados, que reúnem maior conhecimento e instrução, mais jovens e com uma mais longa vida de trabalho pela frente. O envelhecimento da população mundial nas economias desenvolvidas, tal como sucede com Portugal, para além de reflectir os avanços generalizados da medicina, traduz também as conquistas do sistema de saúde nas últimas décadas e o seu impacto evidente sobre o aumento da esperança de vida dos indivíduos, bem como a melhoria geral da sua qualidade de vida. Tudo isso foi muito positivo e constitui um forte avanço civilizacional dos países (Pardes, et al., 1999). As baixas taxas de natalidade em Portugal, em linha com o que acontece a nível mundial nos países mais desenvolvidos, decorrem de abordagens geracionais diferentes, mas sobretudo reflectem uma percepção colectiva de extrema insegurança em relação ao futuro, um presente caracterizado por forte instabilidade económica e imprevisibilidade na vida dos indivíduos, a par com as alterações socioculturais ocorridas. Esta caracterização do quotidiano actual mostra que referenciais importantes da vida dos indivíduos são seriamente postos em causa e, perante a ambiguidade e incerteza, subsistem reduções significativas da taxa de natalidade e o envelhecimento gradual mas seguro da população mundial (Cohen, 2003). Como refere Cohen (2003), em 2050, prevê-se que o crescimento populacional, em termos mundiais, será de 2 a 4 mil milhões de indivíduos, um crescimento mais lento e com envelhecimento da população face ao século passado e um maior declínio nas regiões mais desenvolvidas. Assim, com a constatação da incapacidade da nação em reter os seus melhores talentos, em atrair talento do exterior e com o envelhecimento da população, a evidência empírica não é ambígua em relação às perspectivas de Portugal, se estas questões não forem confrontadas, em linha com o que sucede na União Europeia (Giannakouris, 2008). O único caminho possível é o da criação de riqueza, que consiga compensar tendências demográficas adversas, bem como a formulação e concretização de políticas sociais, que contrariem objectivamente o sentido da demografia, que caminha indelevelmente para um progressivo e acentuado envelhecimento da população (Van de Kaa, 1987). A fuga dos melhores, mais competentes e mais jovens constitui a evidência que corrobora a ineficácia, ou a inexistência, de soluções em matéria de política de emprego tendentes ao crescimento económico (Mahroum, 2005). Existem, ocasional e isoladamente, medidas pontuais e localizadas de política social de fixação dos indivíduos às comunidades através de incentivos financeiros, mas nada sistematizado, de âmbito estratégico e de abrangência nacional. A retenção de talento é algo crítico para a economia de uma nação. A fuga de cérebros para outros países provoca um vazio terrível para uma nação, ao significar a delapidação de talento em áreas críticas da vida das sociedades. Para além do desperdício de fortes investimentos feitos na educação e formação dos seus melhores indivíduos, a sua saída ocorre precisamente na altura em que melhor poderiam contribuir para a construção do país, constituindo algo profundamente desolador e desencorajador. Os indivíduos, por outro lado, ao sentir que não dispõem no país de oportunidades para expressar o seu talento, conhecimento e criatividade, procuram, com toda a legitimidade, noutras paragens essas mesmas oportunidades (Meyer, 2001). O 90º lugar em 144 nações que Portugal ocupa relativamente ao critério de retenção de indivíduos altamente qualificados é tão mais dramático se se constatar que tem existido um decréscimo acentuado neste item. Desde 2008, Portugal passou de um medíocre 52º para um alarmante, 90º. Este aspecto mais importante se torna, ao se verificar que nos países mais competitivos, com maior capacidade de crescimento e desenvolvimento económicos, este critério é fundamental, ocupando os lugares cimeiros e com tentativas 3 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO de melhoria para os que detém posições menos apelativas. Como exemplo do previamente descrito encontra-se a Suíça que ocupa o primeiro lugar na capacidade de atracção e retenção de indivíduos com elevadas qualificações nos últimos três anos, sendo há quatro anos líder em termos de competitividade. Outro exemplo é a Singapura que ocupa o segundo lugar em termos de capacidade de atracção e retenção de indivíduos altamente qualificados, entre 2011 e 2012, tendência que acompanha o ranking de competitividade global. Finalmente, os países nórdicos (Finlândia, Suécia e Holanda) que desde 2008 se encontram sempre com top 10 dos países mais competitivos e que têm efectuado um esforço claro para melhorar os indicadores de atracção de mão-deobra qualificada (WEF, 2008-2012). Se Portugal continuar a assistir à saída definitiva dos seus melhores activos, isto terá consequências absolutamente incalculáveis para o futuro da economia portuguesa, porque também implica a saída dos indivíduos que podem provocar a clivagem paradigmática que é fundamental nas áreas da inovação, e conhecimento aplicado, que são condições essenciais para a construção de um novo modelo de competitividade nacional, assente na excelência de desempenho conducente ao crescimento económico sustentado. Os saltos paradigmáticos nestas áreas são um imperativo para a competitividade nacional e para a viabilização do futuro da economia portuguesa, face aos desafios de competitividade global que terá de enfrentar. Se não o fizer de forma bem-sucedida, dificilmente haverá crescimento económico. A saída definitiva de indivíduos para o exterior, também parece ser um cenário que melhor caracteriza o êxodo corrente e que representa um desvio fundamental em relação a fenómenos migratórios históricos, alguns relativamente recentes, ocorridos na Europa (Galgóczi & Leschke, 2012). Isto acontece, porque muitos destes indivíduos não terão intenção de regressar, perante um país que os hostilizou e gerações precedentes que lhes comprometeram o futuro de forma irrevogável (Delicado, 2008). Outra das razões, pela qual muitos destes indivíduos não irão voltar, é precisamente a mesma motivação que os fez sair, ou seja o país não irá recuperar nos tempos mais próximos, uma vez que a natureza dos problemas é sistémica, comportamental e, sobretudo, demorada na sua solução, uma vez que a vocação e vontade reformista são inexistentes, os obstáculos são muitos, a dependência externa também, tornando a autonomia decisória em qualquer matéria estratégica virtualmente inexistente. Para além disso, as reformas fundamentais ainda não se iniciaram, não se tratando apenas de reformas estruturais nos mercados laboral e de bens e serviços. Trata-se de reformas tendentes a uma maior sofisticação do ambiente de negócios, à caracterização da economia como inovadora e centrada no conhecimento fundamental e aplicado (Nicholls, 2013). Em particular, a sofisticação do ambiente de negócios caracteriza-se por uma dimensão comportamental muito importante, que inclui variáveis tais como a orientação das empresas para os clientes, a constante preocupação com o conceito de agregação de valor, a utilização eficaz das ferramentas de marketing, etc. (Kotler & Armstrong, 2010). Isto acontece não só na tecnocracia, mas também no entendimento crucial das ciências da Gestão e da Economia, e do papel que estas têm na potenciação do conhecimento tendente a um controlo eficaz dos elos das cadeias de valor internacionais onde está concentrado o valor nas principais cadeias. Indivíduos treinados para terem estas competências entendem exactamente quais os requisitos e capacidades inerentes à ocupação de lugares de destaque ao longo dessas cadeias de valor, nomeadamente o que é preciso para progredir a jusante nas mesmas, com marcas de elevada notoriedade e enorme conteúdo de valor agregado. 4 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO Sem crescimento sustentado do PIB, os níveis de desenvolvimento social e humano dos cidadãos, expressos na universalidade do acesso à saúde, à educação e ao estado social, tal como o conhecemos hoje, não podem nem irão ser garantidos (Meier & Werding, 2010). Na realidade, a provisão futura dos bens públicos sem decréscimo de qualidade e abrangência, perante os demográficos actuais e as tendências adversas, só pode ser garantida por um (improvável) crescimento económico da nação, difícil de vislumbrar com os indicadores actuais. Acresce a este aspecto, as discrepâncias económicas existentes no país com um interior envelhecido e empobrecido e um litoral mais desenvolvido e onde existe maior concentração de rendimento. Esta situação cria uma economia com estágios de desenvolvimento distintos que têm de coexistir (Spaventa, 2013). Para além do esvaziamento do conteúdo de conhecimento fundamental e aplicado, que constitui o êxodo de cérebros para o exterior, o maior cosmopolitismo e sofisticação, que caracteriza os melhores desta geração, poderia contribuir para a sedimentação de uma cultura de exigência junto dos stakeholders da economia nacional (Hall & Vredenburg, 2012). Entre outros agentes económicos, consumidores mais cosmopolitas podem despoletar uma transformação profunda no ambiente de negócios, uma depuração dos critérios de consumo, no sentido do enfoque na exigência estética e hedonismo. Isto consubstancia numa cultura identitária de marcas, que é o contraponto ideal à esterilidade da função e do preço de bens transaccionáveis básicos, que caracteriza o pálido ambiente de negócios e de consumo nacional. A saída dos indivíduos mais jovens, que apesar dos graves problemas da educação em Portugal, constituem a geração com o mais elevado nível de instrução de sempre e formação específica sem paralelo na história da sociedade portuguesa, traduz também uma redução cirúrgica de talento, que impede a construção de massa crítica, nas áreas de inovação e de conhecimento fundamental e aplicado, críticos para a competitividade nacional (Di Maria & Lazarova, 2012). Estes são os elementos-chave da competitividade moderna das nações e a perda de indivíduos que melhor podem e sabem interpretar os requisitos de crescimento nas economias contemporâneas é algo de dramático para uma nação. Isto é particularmente verdade quando estes indivíduos são perdidos para economias concorrentes com a economia portuguesa, que competem pelos mesmos mercados e consumidores e que operam em muitos casos nos mesmos sectores de actividade económica. 3. A Competitividade das Nações num Cenário de Sofisticação de Gestão A formação em gestão é um dos predictors importantes da competitividade das nações, ou seja, existe um forte clustering de nações com excelentes desempenhos na qualidade das suas Business Schools, que aparecem consistentemente no topo dos rankings de competitividade global (Sabadie & Johansen, 2010). As nações com excelentes Business Schools são normalmente as mais competitivas do mundo. Esta associação entre as variáveis da formação em gestão e a competitividade das nações, não lhe tem implícita uma relação de causalidade, mas é uma relação importante. O que se constata, é que a qualidade do ensino da gestão numa economia está correlacionada com a competitividade da nação e com o seu desempenho económico. Neste contexto, a qualidade das Business Schools está associada a um melhor desempenho da economia nos pilares da inovação e da sofisticação do ambiente de negócios, maior ligação entre academia e empresas (Hewitt.Dundas, 2013). Estes desenvolvimentos traduzem-se numa maior competência e exigência dos consumidores, bem como a sobrelevação do papel crucial desempenhado pelo marketing na 5 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO competitividade moderna. A formação em gestão contribui para um melhor desempenho da economia nestes factores críticos de competitividade e permite uma melhor compreensão da importância vital da necessidade de controlo das cadeias de valor no contexto globalizado das economias contemporâneas e possibilita crescimento económico (Hanushek & Woessmann, 2012). Em 2012, Portugal ocupava a posição 22ª (WEF, 2012) no que concerne ao ranking de qualidade das suas escolas de gestão. Embora distante das economias mais competitivas, é de salientar que em 2008, Portugal ocupava o 38º lugar, tendo vindo a efectuar um esforço na tentativa de melhorar o seu desempenho nesta variável. O desempenho recente de algumas Business Schools em Portugal no que concerne a alguns programas, deve ser imitado e generalizado aos diferentes programas de MBA, mestrados e programas doutorais. A excelência no desempenho nos programas de Full-Time MBA em particular, mas também nos programas de PhD, constituem o barómetro universalmente aceite de qualidade das Business Schools e dada a importância da qualidade do ensino da gestão como factor associado de forma significativa à competitividade das nações, importa sobrelevar o papel do ensino da Gestão e da qualidade das instituições nas economias modernas. 4. A Necessidade de Conhecimento Aplicado ao Desenvolvimento Económico O corrente artigo tem vindo a enfatizar a importância do desenvolvimento e sofisticação do factor trabalho para a construção de alicerces de desenvolvimento e crescimento económicos sustentados. Este desenvolvimento pode ser feito através da qualificação dos recursos humanos existentes ou atracção de recursos altamente qualificados. Outro aspecto fundamental é a manutenção de um grupo forte e consistente de cientistas e engenheiros na economia. Mas o que ganha uma economia em ter muitos cientistas e engenheiros? Num contexto de intensa competitividade entre nações, em economias capital-intensivas, e com fortes requisitos de conhecimento fundamental e aplicado, em áreas de engenharia e do conhecimento tecnológico, a quantidade e qualidade, de cientistas e engenheiros disponíveis numa economia, constitui um indicador importante da sua capacidade competitiva (Hunter, et al., 2009). O estudo de Ioannidis (2004) demonstra que independentemente do grau de desenvolvimento económico do país em análise, a emigração de cientistas reduz o potencial de desenvolvimento das áreas de conhecimento, pois a tendência migratória irá perpetuar-se. Uma economia caracterizada por sectores produtivos capital-intensivos ganha em ter muitos engenheiros, cientistas e experts qualificados, pois estes podem transformar conhecimento fundamental em conhecimento aplicado, inovando processos produtivos e, nos melhores exemplos, revogando até o paradigma tecnológico e o modelo de negócios incumbente em sectores importantes de actividade económica (Eraut, 2009). A posição de Portugal no ranking WEF, no que concerne à disponibilidade de cientistas altamente qualificados, engenheiros e peritos em áreas científicas é de 31º em 2012, abaixo das economias globalmente mais competitivas, que ocupam os lugares cimeiros neste ranking (Finlândia, Japão ou Suécia) mas denotando uma melhoria significativa, visto ter ocupado a 48ª posição em 2008. No entanto, dado existir uma correlação entre competitividade das nações e a disponibilidade de profissionais qualificados na economia, o fundamental é a optimização da utilização desses recursos especializados pelos sectores industriais e empresariais de modo a que a economia nacional aumente os níveis de eficiência resultantes dessas mais-valias. 6 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO Contudo, observando mais atentamente a evidência empírica, constata-se que a Alemanha surge no mesmo ranking, ligeiramente abaixo de Portugal em 41º lugar, em 2012, o que não sendo um indicador positivo para a economia alemã traduz porém o seu grande dinamismo (WEF, 2012). Na realidade, a menor disponibilidade de cientistas, engenheiros e experts altamente qualificados na Alemanha, traduz o vigor e globalização da sua economia real e o dinamismo do seu sector produtivo. A economia alemã precisa continuamente de uma pool de engenheiros e cientistas, em quantidade e qualidade suficiente, que permita fazer face à sua enorme dimensão e potencial, ao elevado nível de exigência do seu mercado doméstico, bem como os elevados requisitos que caracterizam a procura externa de bens transaccionáveis da sofisticada industria alemã. Os consumidores de mercados externos têm expectativas elevadíssimas das marcas alemãs, baseadas em décadas de experiências positivas de fiabilidade de desempenho e de altíssima qualidade com produtos alemães que preenchem o quotidiano de consumo de indivíduos de todo o mundo. Esta posição da economia alemã no ranking da disponibilidade de engenheiros e cientistas e de peritos qualificados traduz os seus elevados requisitos de indivíduos extremamente qualificados e competentes. A indústria alemã, fortemente capitalintensiva, enviesada para processos produtivos e produtos, que carecem de elevado conteúdo de conhecimento aplicado e inovação tecnológica, precisa de experts que não se encontram facilmente disponíveis no mercado doméstico. A posição da Alemanha neste ranking reflecte esta necessidade premente e a procura constante da economia alemã por indivíduos extremamente qualificados. Estes constituem a força de trabalho que pode acrescentar conhecimento real traduzido em valor económico consubstanciado em bens transaccionáveis que muitos pelo mundo fora querem. Esta força de trabalho pode e deve auferir salários elevados, porque o seu contributo para a produtividade da economia não é ambíguo. Se for pacífico que a economia portuguesa só é viável segundo um modelo de competitividade assente em sectores capital-intensivos, então a disponibilidade de cientistas, engenheiros e experts altamente qualificados, que melhor possam responder aos requisitos de conhecimento que este tipo de modelo impõe, é por definição, um imperativo crítico de competitividade da economia nacional. Perante isto, aspirar competir com economias do conhecimento, sem efectuar os investimentos necessários nas áreas de inovação e não aproveitando os melhores cérebros na engenharia e nas ciências é um contra-senso, que não pode levar a bons resultados. A proliferação de cientistas e engenheiros numa economia, não poderá nunca traduzir a ideia de um problema de desemprego qualificado. No quadro de desafios que se apresentam à economia portuguesa, o país não pode desperdiçar a utilização dos seus recursos humanos especializados. Na realidade, o diagnóstico apresenta uma única saída possível para a situação actual: incorporação dos recursos mais educados e mais sofisticados na economia, com o objectivo de criar sectores de actividade com bens e serviços com valor acrescido, resultando na criação de riqueza, única via do crescimento económico sustentado. 5. Conclusões A incapacidade de absorção de indivíduos extremamente bem qualificados, em áreas críticas ao crescimento económico das nações, traduz um problema grave de enviesamento estratégico perigoso no trajecto da economia, com custos elevados, hoje e no futuro. Uma fuga de cérebros para o exterior e o desperdício de investimento feito na formação de indivíduos, que serão aproveitados depois por nações concorrentes, constitui 7 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO a génese da incapacidade de competir de igual para igual na economia global, tem-lhe subjacente um mecanismo negativo de auto-reforço da (in)capacidade competitiva da economia e irá seguramente traduzir-se a jusante em insustentabilidade do estado social e diminuição drástica do desempenho da nação num conjunto importante de indicadores de desenvolvimento social e humano. A saída de cérebros de um país como Portugal, configura algo de extremamente nefasto, para uma nação de recursos limitados, traduzindo uma terrível perpetuação da sua dependência do exterior, só reversível pela via da melhoria substancial da capacidade competitiva da nação e de comando dos seus próprios destinos. Se esta situação não for alterada, o abandono de cérebros do país traduzir-se-á num curto espaço de tempo, em perdas de competitividade mais abruptas do que a queda de 27 lugares que ocorreu desde o início do milénio, de acordo com os relatórios do WEF (de 22º em 2000, para um 49º em 2012). Mais do que isso, se esta fuga de cérebros se materializar de forma sistemática e continuada, com os indivíduos mais capazes a deixarem o país, então podem ser esperadas descidas ainda bem mais abruptas do que as que aconteceram na última década, de Portugal no ranking de competitividade das nações. Não será demais repetir que isto será inevitavelmente traduzido em descidas acentuadas dos indicadores de desenvolvimento social e humano dos portugueses. Infelizmente, não se vislumbram também no item da fuga de cérebros, razões para optimismo, uma vez que não há uma preocupação específica em reter os melhores. Por vezes até acontece o contrário, com o estímulo institucional recente por parte do decisor à emigração dos mais jovens. Também não parece haver uma preocupação específica com a sua retenção no país, traduzida em programas concretos de emprego, direccionados em particular para indivíduos que obedeçam a este perfil. A existência de mais e melhores engenheiros e cientistas numa economia constitui em abstracto, um contributo positivo para a sua maior competitividade, porque impacta de forma directa na capacidade de inovação de uma economia. Contudo a relação entre o número de engenheiros, cientistas e peritos qualificados numa economia e a sua capacidade de inovação depende de outros factores, que podem potenciar, ou em alternativa mitigar, os efeitos positivos da disponibilidade de muitos engenheiros e cientistas na economia. Em conclusão, para o aumento de competitividade das nações, sustentáculo de crescimento económico, é fundamental as economias assentarem o seu modelo de desenvolvimento económico em tecnologia sofisticada, conhecimento e recursos humanos qualificados. Estes serão os pilares para uma economia desenvolvida em luta por mercados sofisticados e consumidores exigentes, mas com elevado poder de compra, onde os potenciais de criação de valor, marcas e reputação serão substancialmente mais elevados, formatando a economia para uma espiral de crescimento sustentável. 8 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO E LIDERANÇA COMO DRIVERS DO CRESCIMENTO ECONÓMICO BIBLIOGRAFIA Beine, M., Docquier, F., & Rapoport, H. (2001). Brain drain and economic growth: theory and evidence. Journal of development economics, 64(1), pp. 275-289. Benhabib, J., & Spiegel, M. M. (1994). The role of human capital in economic development evidence from aggregate cross-country data. Journal of Monetary economics, 34(2), pp. 143-173. 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Morada: Praça do Príncipe Real, n.º 27 1250-184 Lisboa - PORTUGAL Tel.: + 351 21347 42 83/ + 351 91723 3960 [email protected] REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO ANTÓNIO PALMA ROSINHA2 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO Resumo A reputação é um dos intangíveis mais importantes na empresa de tal modo que pode aumentar o nível de satisfação do cliente e a sua lealdade, a atração e retenção de funcionários, o património da empresa, e a consciencialização dos investidores. A designação de Reputação Organizacional é muitas vezes utilizada pelo censo comum, embora seja intuitivo, o seu estudo e aplicação apresenta-se complexo. O artigo sistematiza numa primeira fase o conceito de reputação de forma global e caminha para uma visão assente em três perspetivas (Lange, Lee & Dai, 2011): Ser conhecido; Ser conhecido por algo; Escolha generalizada favorável. Sendo a reputação mais facilmente entendida pelos resultados do que através da sua formação, questiona-se como é formada a reputação, os fatores a ser considerados, fazendose referência ao modelo do desenvolvimento das impressões aplicado à reputação corporativa (Highhouse et al., 2009). Numa perspetiva “micro” da formação da reputação corporativa, o modelo clarifica, integra e expande a investigação em torno do conceito. Palavras-chave: Reputação Corporativa; Marketing; Gestão de impressões. ABSTRACT Reputation is one of the most important intangibles in the company, so that is possible to increase the level of customer satisfaction and its loyalty, the attraction and retention of employees, the assets of the company, and the awareness of investors. The designation of Organizational Reputation is often used by the common sense. Although intuitive, its study and implementation is complex. The article explores initially the concept of reputation globally and looks for a vision build on three perspectives (Lange, Lee & Dai, 2011): Being Known; Being Known for Something; and Generalized Favorability. Being reputation more easily understood by the results, than training, one wonders how reputation is formed, the factors to be considered with reference to the model of the development of impressions applied to corporate reputation (Highhouse et al. 2009). From a "micro" perspective of corporate reputation training, the model clarifies, integrates and expands the research around the concept. Keywords: Corporate Reputation; Marketing; Organizational Impression Management. 2 Doutorado em Psicologia dos Recursos Humanos, do Trabalho e das Organizações. 1 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO ANTÓNIO PALMA ROSINHA REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO Introdução O conceito de reputação organizacional tem vindo a assumir uma grande importância no desempenho das diferentes organizações sendo de salientar a afirmação de Warren Buffett “são precisos vinte anos para construir uma reputação e cinco minutos para a arruinar” (Buffett, citado por Lange, Lee & Dai, 2011, p.154). O comportamento do dia-a-dia dos membros de uma organização gera imagens que são de alguma forma comunicadas e percebidas pelo público da organização. A repetição dessas imagens expressa a sua conduta e forma a reputação da organização na mente dos stakeholders. A reputação ajuda a aumentar o negócio nos canais de comércio, ajuda a levantar capital no mercado de ações, proporciona uma segunda hipótese em caso de crise, dá acesso aos melhores prestadores de serviços profissionais, facilita a introdução de novos produtos, e agrega valor (i.e. confiança) em torno de produtos e serviços. O surgimento da responsabilidade social corporativa da empresa (CSR) como uma área do saber levou a que a reputação corporativa se constituísse como uma variável mediadora central entre a CSR e a vantagem competitiva (McGuire, Sundgren, & Schneeweis, 1988, citado por Highhouse et al, 2009). Nesta perspetiva a reputação configura-se ainda com a preocupação da empresa com o ambiente, com a justiça social e com os aspetos éticos. A reputação é mais facilmente entendida pelos resultados do que através da sua formação. No entanto, há ainda um conjunto de questões em aberto e que tornam pertinente o presente artigo. Da diversidade de conceitos de reputação que surgem na literatura é possível sistematizar em áreas de abordagem? Como é formada a reputação? Que fatores devem ser considerados? Como podem ser influenciados os julgamentos que recaem sobre a reputação? Assim, o artigo subordinado ao tema “Reputação Corporativa: do conceito à sua formação” divide-se em dois pontos principais: 1) Conceito de Reputação Organizacional, fazendo-se referência a uma visão tripartida do constructo; 2) Da gestão das impressões à reputação corporativa, fazendo-se referência ao modelo ilustrativo da formação de impressões aplicado à reputação. 2 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO 1. Conceito de Reputação A reputação é formada pelas crenças a que as pessoas se agarram, baseada nas suas experiências, nas suas relações e no conhecimento que foi passado no “boca a boca” ou através dos meios de comunicação (Sims, 2009). Por outro lado, a reputação é formada por estruturas internas e afirmações que definem os códigos de conduta, os planos estratégicos, a missão e visão organizacional, passando pelo conceito de gestão da marca, ou acontecimentos com que a organização se defronta. Para Fombrun (2007) a reputação advém de comportamentos anteriores da organização, como o “boca a boca” dos funcionários e o que estes dizem da própria organização. A reputação é uma forma de capital que está sujeito aos mesmos tipos de risco e depreciações que as outras formas de capital. A reputação não é diferente dos outros atributos cooperativos (Preston, 2004). É um ativo integral, mas de certa forma distinto e como a maioria dos ativos pode ser aumentado através da inovação e do investimento, podendo cair na depreciação e ficar mesmo obsoleta. Por outro lado a reputação pode flutuar sem destruir as fontes de valor da organização (Sims, 2009). Gaines-Ross (2008) reforçou que um pequeno acontecimento, por mais insignificante que seja, uma pequena modificação/alteração, uma resposta mal interpretada, tem o poder de instantaneamente manchar/denegrir a imagem de uma excelente reputação construída pelo desempenho exemplar da mesma. 1.1. Visão Tripartida do Conceito de Reputação Organizacional A revisão de literatura realizada por Lange, Lee e Dai (2011) sistematiza o conceito de reputação organizacional à luz de três diferentes perspetivas (Tabela 1): Ser conhecido3; Ser conhecido por algo4; Escolha generalizada favorável5. Ser conhecido Reflete a consciência generalizada da organização da sua importância na perceção coletiva, abrangendo assim a visibilidade da entidade. Ser conhecido por Reflete a perceção dos resultados organizacionais e algo comportamentos da entidade por parte de uma audiência específica. Escolha generalizada favorável Reflete as perceções positivas da generalidade das organizações referenciando uma entidade como boa, atraente ou apropriada para uma determinada atividade. Tabela 1: Perspetivas de Reputação Organizacional A perspetiva Ser conhecido é a mais linear pelo facto de traduzir a perceção das entidades serem conhecidas e bem vistas. A reputação de uma entidade apresenta-se com um valor mais forte se apresentar uma consciencialização da sua atividade independentemente Being Known Being Known for Something 4 Generalized Favorability 3 3 3 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO dos diferentes julgamentos ou avaliações internas (Barnett et al., 2006). Para Shamsie (2003) a consciencialização é associada à capacidade interna que a empresa deverá ter para se desenvolver por si mesma. Deste modo, a reputação pode ser reforçada pelo marketing corporativo, por campanhas de branding (Fombrun, 2001) e de fidelização da empresa com importantes parceiros (Rindova et al., 2005). A reputação é gerada através da construção multidimensional desenvolvida no seio das diversas entidades. A segunda perspetiva de reputação organizacional ser conhecido por algo tem acolhido um forte interesse por diversos investigadores. Para Fischer e Reuber (2007) esta perspetiva é essencial na reputação das organizações, dado que aponta para a avaliação de atributos e características específicas como por exemplo a elevada qualidade (Milgrom & Roberts, 1986) ou a apresentação de preços predadores (Rindova et al., 2005). Esta perspetiva visa a qualidade percebida pelos agentes económicos que interagem com a entidade, o que traduz as consequências dos resultados organizacionais tangíveis (Love & Kraatz, 2009) e se reflete nas impressões das partes interessadas da mesma (Basdeo, Smith, Grimm, Rindova & Derfus, 2006). No limite, visa a avaliação subjetiva do consumidor da qualidade percebida do produto. O papel da qualidade demonstrada pela entidade surge como uma fonte de informações sobre a qualidade atual. Assim, a reputação serve como um sinal do desempenho futuro com base em perceções de desempenho passado (Jensen & Roy, 2008). A reputação é um ativo que apresenta relações com o contexto ou processo específico, com um tema específico, com interessados específicos e com as expectativas de comportamento organizacional baseado em ações e situações do passado (Mahon, 2002). A terceira perspetiva da reputação organizacional escolha generalizada favorável é a que apresenta o maior número de publicações e estudos, sendo aceite pela generalidade das organizações. Consiste numa avaliação global feita às diferentes entidades, na qual se incluem atributos como: a estima apresentada pelas diferentes entidades da empresa e a atratividade da empresa por parte de outras (Lange, Lee & Dai,2011, p.159). De acordo com Barnett et al. (2006) as impressões levadas a cabo por entidades que não são especialistas na avaliação das organizações têm por base avaliações sobre os impactos financeiros, sociais e ambientais que são posteriormente atribuídos à empresa ao longo do tempo. Para Turban e Cable (2003) a reputação corresponde a uma avaliação pública de uma empresa em relação a outras empresas. Já para Highhouse, et al., (2009) a reputação é atribuída a um determinado período, correspondendo a um juízo valorativo sobre uma empresa que é compartilhado por várias entidades. As três dimensões abordadas anteriormente, relativas à reputação organizacional podem ser observadas segundo um modelo teórico onde são inseridas num mesmo gráfico tridimensional (Figura 1). Cada um dos seus eixos materializa cada uma das perspetivas. Relativamente à primeira dimensão analisada, Ser conhecido, é inserida no eixo dos X, refletindo a extensão da consciência e conhecimento da organização Por outro lado, no eixo dos Y encontra-se materializada a segunda dimensão mencionada, ser conhecido por algo, e representa as implicações do nível de confiança decorrentes da elaboração dos comportamentos das organizações. A última variável, “escolha generalizada favorável”, 4 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO representada no eixo dos Z, traduz as apreciações e o nível de intensidade com que são absorvidas pelo seu público. 1 1 5 2 2 6 2 Ser conhecido 3 4 4 6 8 Escolha generalizada favorável Ser conhecido por algo Figura 1: Modelo tridimensional das perspetivas de reputação (Lange, Lee & Dai, 2011, p.163) A reputação organizacional como um ativo de uma entidade deve ser vista como uma realização da organização que, mesmo em parte, seja criada subjetivamente pelas avaliações de terceiros (Lange, Lee & Dai, 2011). Assim, se a reputação é considerada um ativo da empresa, é uma característica da empresa, embora a sua caracterização possa residir em perceções externas. 2. Da gestão das impressões à reputação corporativa 2.1. Motivos corporativos para a Autoapresentação As organizações podem ser vistas como atores sociais completos com motivos, ações e intenções. Assim, as organizações estabelecem-se de acordo com o reflexo da sociedade possuindo soberania e sendo responsabilizados pelos seus atos (Highhouse et al., 2009). Responsabilizando as empresas pelos seus atos leva a que estas se esforcem por regular as suas ações. A “autoapresentação” surge assim como uma técnica de gestão de impressões. Os autores sugerem dois motivos de autoapresentação:, o desejo por aprovação e o desejo por status. As organizações lutam tanto por aprovação como por status. Especificamente, considerase que as organizações procuram atingir o público pela exemplificação (convencendo os outros que a organização é boa) e pela autopromoção (convencendo os outros que merece respeito). Para Jones e Pittman (1992) os agentes que procuram as formas acima referidas, querem ser admirados, mas os primeiros estão mais preocupados em projetar integridade do que projetar sucesso. 5 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO As impressões individuais irão complementar a reputação coletiva, o que é, meramente, a reflecção das impressões públicas. No entanto, é importante salientar que não se considera a reputação como a soma das impressões individuais. Pelo contrário, destacase que a noção de reputação representa uma impressão partilhada: o resultado da média de todas as impressões individuais, ou seja, a ideia comum (que é igual) das impressões individuais. Highhouse et al. (2009) apresentou a vários especialistas de finanças, marketing e gestão de recursos humanos alguns itens gerais (i.e. "Esta empresa está entre as melhores") a fim de serem avaliadas entre outras coisas, a quantidade de julgamentos necessários para estabelecer uma avaliação confiável de reputação. Estes especialistas avaliaram nove empresas conhecidas, os resultados indicaram que as estimativas estáveis de reputação são alcançadas com apenas cinco ou seis especialistas. 2.2. Modelo ilustrativo de Formação de Impressões Na ausência de um modelo da reputação compreensivo, o modelo apresentado na Figura 2 (Highhouse et al., 2009) demonstra o desenvolvimento das impressões dos indivíduos aplicado à reputação corporativa. O modelo incorpora um número de ideias retiradas da revisão de literatura ao conceito de reputação. Procura-se ilustrar o modo como os constituintes formam as impressões individuais do todo organizacional. ESTÍMULOS QUE DESENVOLVEM ATRIBUTOS CORPORATIVOS • Investimentos Organizacionais • Substantivos • Capital Humano • Desenvolvimento produtos • Diversificação • Simbólicos • Publicidade • Relações Públicas • Políticas de CSR • Fatores externos • "Boca à boca" • Exposição aos Media IMAGENS NA MENTE DOS CONSTITUINTES • Imagem no Mercado • Imagem do trabalhador • Imagem Financeira • Imagem de CSR IMPRESSÕES DOS CONSTITUINTES SOBRE A EMPRESA • Respeitabilidade • Posso considerar que esta empresa como tendo honra e integridade? • Impressionabilidade • Posso considerar que esta empresa tem notoriedade e prestígio? 6 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO Figura 2: Modelo ilustrativo do desenvolvimento das impressões dos indivíduos sobre a empresa. Adaptado de Highhouse et al., (2009, p. 1485) Implicitamente o modelo representa a noção que a formação das impressões individuais fluem no sentido dinâmico para o estático e do específico para o geral. À esquerda encontramos os estímulos, peças específicas de informação do ambiente, que desenvolvem imagens na mente dos constituintes (i.e. a imagem de um colaborador ou a imagem como fornecedor de bens/serviços). Alguns destes estímulos são manipulados diretamente pela organização na esperança de criar a perceção da qualidade da empresa. Existem ainda outros estímulos, os inesperados, que podem desenvolver nos constituintes imagens que a organização não controla e não consegue antecipar. Certas empresas manipulam o preço dos seus produtos usando a imagem de qualidade como mote. Para perceber como estes estímulos podem desenvolver diferentes imagens é necessário observar as deduções destes atores (Highhouse, Thornbury, & Little, 2007). 2.2.1. Estímulos que desenvolvem os atributos corporativos Em relação aos estímulos manipulados diretamente pela organização, podem ser divididos em ações substantivas e simbólicas (Mahon, 2002). As ações substantivas podem incluir investimentos em capital social ou capital humano, ou em desenvolvimento de produtos e diversificação (Petkova, Rindova, & Gupta, 2008). Diversos trabalhos têm demonstrado que o desempenho está diretamente ligado à reputação de uma organização (Cable & Graham, 2000). O desempenho financeiro superior indica o domínio da indústria e do seu prestígio. Dowling (2004) enfatiza a importância das relações laborais positivas, ou seja, o comportamento confortável dos funcionários no desenvolvimento de uma reputação positiva duradoura. Podemos incluir nas atividades simbólicas investimentos em publicidade, relações públicas ou responsabilização social (Fombrun & Shanley, 1990). Diversas investigações têm mostrado que a publicidade é uma das estratégias mais eficazes para incrementar o conhecimento da marca (Brady, Arndt, & Barret, 2005; Dobson, 2005; citados por Highhouse et al., 2009). Esforços diretos no estabelecimento de políticas de CSR podem mostrar que a organização está preocupada com aspetos mais globais do que apenas em gerar lucro. 2.2.2. Imagens nas mentes dos constituintes As “imagens” referem-se a representações mentais das empresas como, por exemplo, dos empregados e dos produtores (Brooks & Highhouse, 2006; Lievens, 2007). É preocupação que a “imagem” se refira apenas a aspetos específicos das empresas. Este ponto de vista é análogo à perspetiva atual sobre o clima organizacional (Highhouse et al, 2009). Em vez de falarmos das empresas de per si, torna-se mais correto falar sobre a imagem que elas transmitem aos constituintes como a imagem (do clima) para “algo” (i.e. sobre a segurança, sobre o empowerment dos colaboradores, sobre a perceção de justiça organizacional, sobre a satisfação dos clientes). Estas imagens estão contidas individualmente nos constituintes em vez de serem processadas pelas organizações. 7 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO A Tabela 2 contrasta a construção normalmente confundida da imagem com a reputação corporativa na literatura de gestão. Tal como os autores sugerem, a imagem refere-se a uma perceção dinâmica sobre uma área específica de distinção na empresa. As identidades organizacionais são normalmente consideradas como impressões partilhadas mantidas pelas organizações. A identidade baseia-se na questão “O que somos nós como organização?”, enquanto a reputação se resume à questão “O que os stakeholders realmente pensam da organização?”. 8 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO Construto Fonte Imagem Perceção individual constituintes Reputação Identidade Legitimidade Perceção partilhada conhecimento constituintes Definição do Um julgamento avaliativo, dos temporário, geral e partilhado sobre uma empresa dos Uma perceção dinâmica sobre uma área específica de distinção na empresa Perceção partilhada dos Sentimento membros da organização organização Perceção partilhada conhecimento constituintes coletivo da (Quem somos nós?) do Julgamento partilhado e global dos sobre a adequabilidade normativa Tabela 2: Diferenciação de construtos Finalmente, o modelo sugere que a empresa pode apresentar vários tipos de imagem (i.e. no mercado, no trabalhador, financeira, de RSC) conforme queira manipular os estímulos com resultados nas impressões ou conforme a essência dos estímulos e aquilo que eles representam para os constituintes. No entanto, a sua base consta sempre da estratégica e dos objetivos traçados pela empresa. 2.2.3. Impressões dos constituintes de respeito e impressionabilidade As impressões dos constituintes têm sempre presentes duas dimensões, o respeito e a impressionabilidade. As dimensões do respeito e da impressionabilidade estão também alinhadas com a teoria do recrutamento como objeto de atração simbólica, baseando-se na identidade social e na aproximação funcional às atitudes. A ideia fundamental é que a afiliação à empresa vai repercutir-se na imagem do candidato como um ganho no seu estatuto social e no estabelecimento de uma identidade (i.e. a admissão a uma ordem, como o caso da ordem de oficiais de contas ou ordem dos médicos). A visão de Highhouse (2009) concilia as perspetivas sobre a reputação que enfatizam o carácter, a conformidade e a eficiência. O modelo tem em conta duas componentes de admiração (respeito e impressionabilidade), em contrapartida com a visão global de apenas uma impressão, como boa ou má. Esta visão pode encerrar em si perspetivas de lealdade corporativa e confiabilidade, juntamente com uma componente que olha para a questão do modismo (tendência a modas) ou da realização. 2.2.4. Implicações decorrentes do modelo Uma estrutura conceptual adequada ao estudo da reputação deve reconhecer os múltiplos constituintes cujos argumentos se agregam em julgamentos coletivos e os diferentes critérios, sociais financeiros, usados para estabelecer esses julgamentos 9 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO (Fombrun, 1998, citado por Highhouse et al, 2009). O modelo apresentado oferece uma estrutura para se estudarem as múltiplas relações na formação da reputação. Pode ser testado através de modelos estatísticos analisando-se a correlação entre estímulos, imagens, impressões e previsões de julgamentos consensuais. As bases do modelo também podem ser manipuladas de forma experimental para determinar situações hipotéticas corporativas. Compreender a formação da reputação corporativa é o primeiro passo para perceber como as relações de desenvolvem, ou se alteram. O modelo pode vir a ser usado para identificar problemas específicos das empresas de modo a melhorar a sua reputação. Tem ainda a vantagem de quebrar impressões gerais focando-se em fatores específicos que podem ser resolvidos separadamente de modo a melhorar a reputação em geral. Estes fatores podem ser mensurados para identificar onde é que a empresa deve incidir o seu esforço (Highhouse et al 2009). A imagem deficiente de um colaborador, a título de exemplo, pode ser melhorada incluindo indicadores mensuráveis no processo de seleção diretamente relacionados com a sua imagem. É necessário um trabalho internacional para que se possa criar um modelo mais geral para a rede global de empresas. Como limitação, o modelo ao entender a reputação como um processo de construção lento, não tem em linha de conta os efeitos de eventos catastróficos, ou de crise, que podem levar a um súbito decréscimo de reputação. Conclusão O conceito de reputação pode ser melhor compreendido se decomposto, ou visto sobre diferentes perspetivas. A visão tripartida, centrada à luz dos conceitos de Ser conhecido, Ser conhecido por algo e Escolha generalizada favorável oferece-se como uma abordagem, parcimonioso e capaz de medir diversos intervenientes no processo de construção e gestão da reputação. Adicionalmente a esta análise, salienta-se o fato de que a reputação organizacional deve ser vista como um ativo de uma organização, embora a sua caracterização possa residir no plano interno e externo abrangendo aspetos negativos e positivos. Compreender a formação da reputação corporativa é particularmente crítico, dada a proeminência dos ativos intangíveis das empresas no planeamento de estratégias de curto e longo prazo. O modelo teórico do desenvolvimento e gestão das impressões dos indivíduos sobre a empresa (Highhouse et al., 2009) aplicado à reputação organizacional atende não apenas à empresa como um todo, mas também a cada constituinte em particular. O modelo procura perceber quais os fatores, os estímulos ou pistas que levam cada interveniente no processo a estruturar imagens da corporação refletindo a perceção da mesma. Os constituintes sofrem vários estímulos que desenvolvem atributos corporativos, que se vão refletir diretamente na impressão que o indivíduo tem da empresa. Ou seja, o modelo recria o processo entre o surgimento de estímulos, que podem ou não ser controlados pela empresa, a interação destes estímulos no tipo de imagem (no mercado, do trabalhador, financeira e de CSR) que a empresa vai representar e consequentemente nas impressões que estes constituintes vão recriar da empresa, nomeadamente no âmbito da respeitabilidade e da impressionabilidade. O modelo teórico do desenvolvimento das impressões dos indivíduos sobre a empresa (Highhouse et al., 2009) aplicado à gestão da reputação organizacional apresenta-se como promissor para organizar e testar novas perguntas de partida para futuras investigações. 10 REPUTAÇÃO CORPORATIVA: DO CONCEITO À SUA FORMAÇÃO Bibliografia Barnett, M. L., Jermier, J. M., & Lafferty, B. A. (2006). Corporate Reputation: The Definitional Landscape. Corporate Reputation Review, 9(1), 26–38. Basdeo, D. K., Smith, K. G., Grimm, C. M., Rindova, V. P., & Derfus, P. J. (2006). 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Apresentamos aqui um estudo sobre comunicação em momentos de crise e no final, como caso de estudo é apresentado o trabalho de comunicação em crise da Portugal Telecom durante o envolvimento da empresa no escândalo do “mensalão”, demonstrando que o trabalho do comunicador é indispensável. Palavras-chave: Crise; Crise de Comunicação; Mix de Comunicação; Reputação ABSTRACT This works focuses on what the work of a media relations officer every time he/she is confronted with the need to manage corporate crises. It shows the communication mix and states that a good media relations officer, a crise manager, has to manage and to be there at all times during a crisis. We present here a study on communication in moments of crisis. At the end we present a case study, e.g. the press relations' work during a crisis at Portugal Telecom, when the company was involved in the "mensalão", scandal and which shows that a company cannot do without the work of a press relations officer. Keywords: Crisis; Communication Crisis; Communication Mix; Reputation INTRODUÇÃO No dia dois de agosto de 2005, durante a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, no Brasil, Roberto Jefferson, deputado federal e denunciante do esquema “mensalão6”, pede que se investigue o porquê da vinda a Portugal, nomeadamente à Portugal Telecom (PT), de emissários do Partido dos Trabalhadores com o suposto objectivo de angariar fundos junto a empresas Portuguesas. Era o início de uma crise de imagem e reputação de uma das maiores empresas de Portugal. Crise que, se verdadeira, poderia destruir uma imagem que levou anos para a construção. Nesse momento os trabalhos de gestão e comunicação de crises são essenciais. Dawar e Pillutla (2000) acreditam que a comunicação efectiva ou ineficaz durante as primeiras horas, ou até mesmo minutos, de uma emergência pode ter implicações dramáticas para a imagem de uma companhia. Quando trata-se de gestão de crises ou do desenvolvimento de planos de contingência, destinados a garantir a sobrevivência da organização durante e após uma crise, as empresas em geral, com raras excepções, não assimilam o que está acontecendo com a concorrência e não seguem as recomendações daqueles que passaram por sérios problemas por não estarem justamente preparados para enfrentá-los. Ou seja, não investem previamente para proteger sua imagem, nos seus pontos mais vulneráveis e sensíveis: credibilidade, confiabilidade e reputação. Escândalo do Mensalão ou "esquema de compra de votos de parlamentares" é o nome dado à maior crise política sofrida pelo governo brasileiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalahdores) em 2005/2006. 6 14 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES Na obra Comunicação Empresarial / Comunicação Institucional, Gaudêncio Torquato apresenta uma motivação do empresariado em contar com sectores de comunicação. Dois fenómenos, a nosso ver, passaram a ditar necessidades de um modelo mais completo de comunicação nas empresas: o despertar da consciência de participação do cidadão comum, num esforço de elevação do espírito individual e a tentativa dos dirigentes empresariais e governamentais em iniciar uma nova fase na vida de suas instituições, a fase da informação responsável, necessária para a obtenção do consenso entre os empregados, liderados, comunidade e consumidores em geral (Torquato, 1986). O velho ditado, apesar de velho, está mais válido do que nunca: "é muito melhor prevenir do que remediar". No caso da imagem empresarial, a falta de preparo ou protecção prévia pode criar uma situação onde não haverá muito mais o que remediar. Os comunicadores trabalham para manter a harmonia dos relacionamentos das organizações com seus públicos preferenciais. Seu objectivo nos momentos de crise é garantir o menor dano à imagem da empresa, evitando que aspectos negativos possam ferir seus principais quesitos de sobrevivência que são: credibilidade, confiabilidade e reputação. Pretendo com esse trabalho demonstrar que a gestão de crises não é um evento, é um processo (tem começo meio e fim) que exige preparação prévia. O papel da Comunicação Organizacional é demonstrado como essencial para a gestão de crises. As metodologias utilizadas foram duas. A parte dos conceitos é fundamentada com uma pesquisa bibliográfica em publicações editadas em português, inglês e espanhol. A parte de descrição de um planeamento real foi realizada por meio de uma entrevista ao director de comunicação corporativa da Portugal Telecom, Francisco Lucena. O trabalho é dividido em duas partes: O primeiro - A Comunicação respondendo às Crises - mostra as razões pela qual uma empresa deve investir em um plano de gestão de crise, conceitua a palavra crise e a divide em diversos tipos. O segundo – Portugal Telecom envolvida no esquema do mensalão- é um exemplo do plano de comunicação de uma empresa de telecomunicação e multimédia. Esta empresa passou um processo “externo” de crise e utilizou algumas das metodologias para administrar a questão. A COMUNICAÇÃO RESPONDENDO ÀS CRISES Crise é um evento importante e imprevisível que pode prejudicar uma empresa, sua operação, suas fianças ou sua reputação. Crises sempre irão acontecer. Para a maioria das empresas, é apenas uma questão de tempo. E administrar crises é estar alerta. Administrar crises como procedimentos estruturado é uma ciência administrativa ainda recente, e ainda muda constantemente à medida que os fatos se adaptam ao desenvolvimento da tecnologia das comunicações. Portanto acredito que crises empresariais devem ser administradas pelos comunicadores. Crises podem ser grandes ou pequenas. Podem ser do tipo social, técnico ou essencialmente jurídico. Mas sempre envolverão uma parte significativa de trabalho dos comunicadores. Essa participação é ainda mais significativa durante o transcorrer do processo de crise, quando a gestão das informações e o contacto com os meios de comunicação é factor decisivo para a imagem da empresa. 15 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES Com o avanço da tecnologia e a velocidade com que a informação e a comunicação fluem actualmente ampliou-se a exposição das empresas, dos produtos e das pessoas em nível mundial. Por este motivo, todos estão mais vulneráveis aos olhos do público. Tanto no que se refere à divulgação de informações sobre determinada empresa ou produto, quanto no alcance geográfico destas informações. Há uma frase que diz: “uma vez perdida a reputação, é muito difícil perdê-la novamente”. Infelizmente muitas organizações não pararam para pensar sobre isso, inclusive grandes corporações que atuam globalmente. Talvez, devido ao alto custo em se elaborar e manter um Plano de Gestão de Crises, muitas empresas não se preparam para enfrentar essas situações, deixando para agir de improviso. No entanto, isto poderá levar a um arrependimento futuro e o custo do planeamento antecipado, que a princípio parecia alto, poderá representar nada se comparado aos gastos de uma crise mal administrada, sem contar com os danos causados à reputação e à imagem da organização. Susskind (1997:77) demonstra na obra “Em crise com a opinião pública” que quando uma crise é mal administrada, a credibilidade e reputação da empresa desaparecem rapidamente aos olhos do público. Tipologia de diferentes crises Otto Lerbinger (1997) em seu livro “The Crisis Manager” define crise como um evento que traz ou tem potencial para trazer à organização uma futura ruptura em sua lucratividade, seu crescimento e, possivelmente, sua própria existência. O Institute for Crisis Management 7 classifica crise como uma ruptura empresarial importante que estimula grande cobertura dos media O resultado do exame minucioso feito pelo público afectará as operações normais da organização podendo ter um impacto político, legal, financeiro ou governamental nos negócios. O Mário Rosa (2001) explica que as empresas, por definição, têm de estar preparadas para enfrentar um largo espectro de crises no seu dia-a-dia. Elas fazem parte da rotina de qualquer organização, assegurando que não há uma definição universalmente válida e irrepreensivelmente aceite sobre o que vem a ser crises de imagem. O Institute for Crisis Management divide os tipos de crise enfrentados pelas empresas em quatro. São eles: atos de Deus, problemas mecânicos, erros humanos e decisões ou indecisões administrativas. Lerbinger (1997) divide a crise em sete tipos dentro de três categorias: crises do mundo físico - crises naturais e crises tecnológicas - crises de clima humano - crises de confronto, crises de malevolência e crises de distorção de valores administrativos - e crises de falha administrativa - crises de decepção e crises de má gestão. Crises naturais são fenómenos da natureza, ou seja, é a “vontade de Deus” se manifestando e não há culpa humana. São aceitas como fatalidades. Por exemplo, furacão, tornado, terremoto, inundações, etc. Crises tecnológicas são crises causadas pelo homem uma vez que é resultado da manipulação dos recursos presentes em seu ambiente. Existe várias discussões sobre o avanço da tecnologia uma vez que esta pode representar um risco que não existia, por exemplo, as usinas nucleares, os implantes de silicone, etc. Nestes casos é necessário fazer um exame de custo - benefício, ou seja, esta nova tecnologia pode até gerar um risco a mais, entretanto, trará muitos benefícios para a sociedade. As empresas são culpadas e responsabilizadas por este tipo de crise. 7 http://crisisconsultant.com 16 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES Crises de confronto são crises que envolvem a actuação grupos civis, organizações não governamentais, movimentos ambientais e de consumidores, enfim grupos organizados que se reúnem para lutar pelos interesses que defendem. Dentre as suas acções está a vigilância das empresas. Quando encontram alguma actividade que não lhes agrada em uma empresa eles a pressionam a agir da maneira que julgam adequada. Esta pressão se dá por meio da imprensa uma vez que esta é a forma mais rápida e eficaz para mobilizar a opinião pública. Além do mais, estes grupos aproveitam destas oportunidades de espaço na imprensa para se promoverem. Crises de malevolência ocorrem quando grupos, indivíduos e até mesmo empresas concorrentes usam de actividades ilícitas ou de pura maldade para causar danos à imagem de uma empresa. Terrorismo, atentado, falsificação, boatos, mentiras e rumores são alguns tipos de ataque neste tipo de crise. Crises de distorção de valores administrativos ocorrem quando a empresa se preocupa com o interesse de um de seus públicos em detrimento dos demais. Todos sabemos que cada público tem o seu interesse em particular e muitas vezes, o que é bom para um é ruim para outro, por exemplo, accionistas que querem aumentar o lucro mesmo causando a demissão de vários empregados e corte de benefícios. Neste caso, enquanto a gestão satisfaz a vontade de um público, causa grande insatisfação no outro e, com isso, gera uma crise. Crises de decepção se originam quando há uma diferença entre o produto ou serviço que a empresa anuncia e o que realmente é. Não se pode criar uma expectativa no público que não seja suprida pela empresa. Os casos mais graves são aqueles que causam danos à saúde do público. Crises de má gestão são caracterizadas pelos actos ilegais ou imorais feitos pelos indivíduos que têm a função de administrar a empresa. Ocorre quando os directores da empresa vêem seus nomes envolvidos em fraudes, subornos, roubos, etc. As crises podem atingir a empresa de duas maneiras: anunciadas, ou seja, situações que têm potencial de gerar uma crise e que a empresa conhece previamente a data de seu início. Na maioria das vezes, é ela própria quem gera este conflito. Por exemplo, fechamento de uma fábrica, demissão em massa de funcionários, greves, fusões e aquisições de empresas, etc. Já as não anunciadas são as que pegam a empresa de surpresa, por exemplo, explosão de uma fábrica, contaminação em produtos alimentícios, etc. Justo Villafañe (Carrascosa, J. L. apud. Villafañe, J, 1993) menciona em seu texto uma divisão feita por J. Carrascosa dividindo a crise em três fases: a) A fase aguda, caracterizada pela pressão dos veículos de informação e de “espectáculos” da informação. É bastante variável podendo oscilar entre algumas horas e várias semanas b) A fase crónica, a empresa tem que enfrentar as consequências jurídicas, administrativas, corporativas, etc., provocadas pelo conflito. c) A fase de recuperação, a companhia deve restabelecer o equilíbrio anterior à crise. Com isto, percebe-se que o plano de gestão de crises engloba vários aspectos e é preciso analisá-lo por diversos pontos. Para conseguir obter um resultado satisfatório é importante ter estes conhecimentos para saber situar a crise nos tipos e fases acima descritos. 17 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES Uma crise, sob o aspecto de comunicação, não é um evento, é um processo (tem começo meio e fim) que exige preparação prévia de todos que circundam, ou circundarão, um momento de atenção. A figura mais importante em todos os processos é o comunicador que deve estar transmitindo informação para os públicos preferenciais: fornecedores, clientes, governo, imprensa, empregados e comunidade. Comité para gestão de Crise Para enfrentar uma crise, uma empresa deve contar com um "comité", no qual se integra a alta direcção e os responsáveis de diversas áreas, dependendo do tipo de empresa da qual se trate: legal, produção, finanças, logística, recursos humanos e, obviamente, comunicação. As empresas enfrentam agressões exógenas e endógenas. Algumas destas dificuldades podem originar crises internas muito graves, mas com menor notoriedade no exterior. Outras podem ter um impacto directo no negócio da companhia. Como trabalhar diante de uma crise Em principio, as companhias deveriam ter um manual de crise no qual se estabelecem os mecanismos básicos para abordar situações contingentes, imediatamente depois de acorrido o fato. Talvez este manual contemple o plano de acção para solucionar variáveis que pudessem antecipar-se com claridade dependendo da actividade da empresa. Por exemplo, uma indústria química deveria ser contemplada a possibilidade de um vazamento, em algum momento do processo de produção, suas consequências para a planta, seu entorno imediato e seus empregados. Além disso, também se deveria atender a outros públicos que algumas vezes não se contemplam. Que aconteceria se um grupo de repórteres se aproxima da planta para noticiar o incidente? E se os vizinhos ou autoridades desejarem obter informação sobre o acontecimento? O comunicador em momentos de crise deve: • Reunir toda a informação possível. • Evitar a ausência de informação comunicando o quanto antes. • Não apressar-se em comunicar pela pressão dos jornalistas ou outros grupos. • Determinar o formato da comunicação (notas de imprensa, carta, reuniões com representantes, rodas ou colectiva de imprensa, etc.). • Estabelecer um mecanismo de monitoria imediata em todos os meios para comprovar o alcance da crise. • Determinar a sequência e a coerência da comunicação, no caso de que se trate de uma crise com extensão no tempo. • Aconselhar sobre a política da companhia com relação a boatos e imprecisões difundidos pelos meios de comunicação. • Propor o plano de acção para o relançamento da imagem corporativa que contemple todos os públicos. O comunicador em momentos de crise não deve: • Informar sem o prévio conhecimento e aprovação do comité e da alta-direcção. 18 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES • Permitir que os membros do comité dêem declarações públicas sem preparar previamente suas intervenções. • Comunicar somente aos meios "amigos". • Mentir sobre informação crucial. • Fazer reservas sobre dados fundamentais para minimizar o acontecimento. • Mostrar incompetência, falta de controlo e arrogância. • Ser insensível às implicações emocionais dos afectados pelo acontecimento. • Dar informação "off the record8" a repórteres e a outros representantes dos grupos envolvidos. • Não considerar todas as possíveis implicações do acontecimento. • Levar em consideração unicamente aos jornalistas na hora de comunicar. Com a rapidez das novas tecnologias, um simples incidente pode se converter em uma crise maior. Entretanto, a mesma facilidade de comunicar um acontecimento negativo deve ser aproveitada para informar aos públicos sobre o que estão realizando a favor da solução dos problemas. Nunca é demais considerar que as melhores decisões são as que se tomam racionalmente, mesmo que em momentos de crise seja difícil manter a calma. Mas também se deve considerar que os interesses da companhia por resguardar o seu negócio devem equilibrar-se com as necessidades emocionais dos afectados pelos eventos. Preparar-se para afrontar uma crise Durante uma crise e sobretudo nos primeiros momentos, resulta muito difícil manter a calma e dar as indicações adequadas Mesmo que haja uma infinidade de variáveis de risco, é possível preparar-se para enfrentar as crises possíveis e, desta maneira, conseguir superá-la com mais possibilidades de sucesso. Foi mencionado anteriormente que as empresas deveriam contar com um manual de crise. Este documento deve ser o mais ambicioso possível quanto à cobertura do maior número de variáveis de risco, sem converter-se, contudo, em um texto denso e pouco prático. Em linhas gerais, o que o manual de crise deve conter é o seguinte: • O contacto de todos os membros do comité de crises (nome completo, cargo na companhia, endereço electrónico - da companhia e outro que possa aceder desde uma conexão remota - números de telefones da empresa, da residência e dos celulares). • Banco de dados de contactos com todos os interessados/afectados pela crise (bombeiros, polícia, políticos, sindicatos, fornecedores, clientes, seguradoras, meios de comunicação, associações civis, etc.). • Variáveis de risco e fluxos de actuação. • Relatórios de acontecimentos. • Documentos modelo (cartas, comunicados de imprensa, etc.). 8 Off the record - do inglês - significa extra oficial. Neste exemplo, declaração não oficial. 19 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES Outras actividades que se devem fazer para enfrentar uma crise são uma auditoria de risco e uma simulação de eventos entre os porta-vozes – Mídia Training9. Os porta-vozes devem ser escolhidos, preferencialmente, pelo comunicador. Para Octavio Isaac Rojas Orduña (2004), a auditoria de risco10 se refere à revisão das variáveis que poderiam interferir numa crise, de acordo com o que está identificado no manual de crise. É importante manter uma actualização dos issues11 que cada dia possa surgir novas situações que poderiam derivar numa crise. As novas tecnologias da informação como inimigas ou aliadas em momentos de crises A chegada das novas tecnologias significou o acesso intenso a toda informação ao mesmo tempo, em qualquer parte do mundo. Isto tem suas vantagens e inconvenientes na hora de administrar uma crise. Os maiores inconvenientes estão na capacidade de multiplicação de um fato simples, até transformá-lo num acontecimento de notoriedade inusitada. Além do mais, existem muitos issues que são produto dos rumores que circulam pela Internet, através de fóruns, listas de discussão, etc. Entre as vantagens, podemos destacar a capacidade de manter uma gestão telemática da crise, através de nodos dedicados de acesso a nível mundial, nos quais se actualiza o transcurso dos acontecimentos, se coloca à disposição dos dirigentes os documentos que posteriormente se publicarão, assim como a capacidade de distribuir informação de forma imediata. Cada vez mais jornalistas de todo o mundo estão buscando informação directamente das páginas web das empresas. As crises como oportunidade As crises não apresentam unicamente problemas, elas podem ser uma fonte de oportunidades que, infelizmente, só podem surgir nesses momentos difíceis. A exposição pública gratuita a que se vê submetida uma empresa quando sofre uma crise não conseguirá nunca mais. O público estará mais atento que o normal sobre o que aconteça com uma empresa enquanto durem os acontecimentos. Neste sentido, gerindo bem uma crise, se tem a oportunidade de atenuar o signo negativo da cobertura dos media e, inclusive, é possível lançar mensagens positivas sobre a empresa, seus produtos e serviços. Esta oportunidade não tem que ser vista nos últimos momentos da crise, quando a atenção aos fatos esteja decaindo e as mensagens sejam vistas como uma reacção retardada e suspeita por parte da empresa. Seria recomendável buscar a oportunidade desde os primeiros instantes, ainda que isso nem sempre seja possível. Deve-se pensar que não é por casualidade que uma civilização milenária como a chinesa tenha composto a palavra crise com dois símbolos que representam "o perigo" e "a Mídia Training – Treinamento de Media. O treinamento é geralmente realizado por consultores especializados em media. 10 O dicionário Aurélio define risco como possibilidade de perigo, incerto mas previsível, que ameaça de dano a pessoa ou coisa. Transpondo para este trabalho, risco significa a possibilidade de perigo, incerto mas previsível, que ameaça dano a um produto, uma marca, uma pessoa ou uma empresa. A palavra previsível é um estímulo à elaboração de um plano de gestão de crise. 11 Issues - do inglês, significa neste exemplo, problemas 9 20 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES oportunidade". O conceito de crise é formado pelo vocábulo “wi-iy” que é representado por uma combinação de caracteres que correspondem aos conceitos de perigo (ou risco) e de oportunidade. Reconstruindo a reputação Após terminado o período agudo da crise, ou seja, quando as operações da empresa estiverem de volta à normalidade, é imprescindível realizar uma pesquisa junto aos públicos de interesse e também junto ao público em geral para saber o quanto foi afectada sua imagem ou reputação. Com estes dados, a empresa deverá criar uma nova estrutura de suas operações e encaminhar suas acções de comunicação com o objectivo de reconstruir sua reputação, reconquistar seu espaço e reposicionar seu produto. Enfim, pelo menos ocupar o espaço que possuía antes da crise. A função deste planeamento é fortalecer e melhorar a reputação da empresa. Todas as empresas e pessoas são passíveis de erro. As empresas que forem capaz de assumir suas falhas, consertar seus erros e surpreender seus públicos gozarão de um respeito maior, pois serão também reconhecidas como responsáveis nos momentos adversos. O trabalho de reconstrução não exigirá nada além do que um bom planeamento estratégico de comunicação. A realização de uma pesquisa é fundamental para se conhecer a real percepção que os diferentes públicos têm da empresa no momento e, então, iniciar o planeamento e implantar as acções. Os esforços da comunicação devem ser somados para conquistar os objectivos pretendidos pela empresa. Paralelamente deve ser registrado como a crise foi administrada, avaliando as acções tomadas e analisando o que realmente deu resultado, quais acções foram benéficas e quais não foram, o que ocorreu conforme o esperado e o que fugiu ao controle da empresa. Com estes dados, o plano de gestão de crises deve ser revisto e actualizado. PORTUGAL TELECOM ENVOLVIDA NO ESQUEMA DO MENSALÃO Saindo do discurso teórico e aproximando o conteúdo deste trabalho à realidade, apresento uma visão geral de um plano de gestão de crises, mas que, por razões de confidencialidade, estará exposto sucintamente. Para Mário Rosa (2001) “ao analisar a evolução das crises de imagem na sociedade moderna, percebi que, há um traço razoável de semelhança. Essas crises se diferenciam daquelas do dia-a-dia apenas pelo aspecto: serem muito maiores e potencialmente bem mais devastadoras” (Rosa, 2001:xx). O Escândalo do Mensalão Escândalo do Mensalão ou "esquema de compra de votos de parlamentares" é o nome dado à maior crise política sofrida pelo governo brasileiro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2005/2006. O neologismo mensalão, popularizado pelo então deputado federal Roberto Jefferson em entrevista que deu ressonância nacional ao escândalo, é uma variante da palavra "mensalidade" usada para se referir a uma suposta "mesada" paga a deputados para votarem a favor de projectos de interesse do Poder Executivo. Segundo o deputado, o termo já era comum nos bastidores da política entre os parlamentares para designar essa prática ilegal. 21 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES A palavra "mensalão" foi então adoptada pelos media para se referir ao caso. A primeira vez que a palavra foi grafada em um veículo de comunicação de grande reputação nacional ocorreu no jornal Folha de S. Paulo12, na matéria do dia 6 de junho de 2005. A palavra, tal como ela é, foi utilizada também nos media internacionais sempre acompanhada de uma “tradução”. Em espanhol já foi traduzida como "mensalón" e em inglês como "big monthly allowance" (grande pagamento mensal) e "vote-buying" (compra de votos). O desenrolar das investigações e das CPIs chamou a atenção para outros escândalos que envolveram o partido do governo brasileiro em 2005, o Partido dos Trabalhadores (PT), e eclodiram antes do aparecimento das primeiras grandes denúncias sobre a existência do mensalão. Na entrevista, dada para a então editora do “Painel da Folha”, Renata Lo Prete, Jefferson conta que Delúbio Soares, tesoureiro do PT (o mesmo partido do presidente) pagava uma mensalidade de R$ 30 mil a alguns deputados do Congresso Nacional brasileiro, para que eles votassem seguindo a orientação do bloco do governo. Roberto Jefferson referiu-se a essa mensalidade como mensalão. A palavra "mensalão" passa a significar a mensalidade paga a cada deputado e fica famosa por causa da entrevista. Segundo Jefferson, o operador do mensalão seria o empresário Marcos Valério de Souza, cujas agências de publicidade SMP&B e DNA têm contractos de trabalho com muitos órgãos públicos. A divulgação da entrevista de Jefferson aprofunda a crise no governo brasileiro e o escândalo passa a ser conhecido como escândalo do mensalão. Após a denúncia da operação de abafamento da CPI e da entrevista de Jefferson, a oposição, com apoio de deputados do governo, consegue finalmente instalar, a 9 de junho, a chamada "CPMI dos Correios". O facto determinante, isto é, o objectivo da CPI, é segundo o seu requerimento de criação: "investigar as causas e consequências de denúncias de actos delituosos praticados por agentes públicos nos Correios — Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos". Após muita disputa, as lideranças da Câmara e do Senado chegam a um acordo para sua instalação, como uma Comissão Mista, em 20 de julho, com o nome oficial de: "CPMI da Compra de Votos", e tendo como facto determinante, de acordo com sua ata de abertura: "apurar as denúncias de recebimento de quaisquer vantagens patrimoniais e/ou pecuniárias indevidas por membros do Congresso Nacional, com a finalidade de aprovar as matérias de interesse do Poder Executivo e, as acusações do mesmo teor nas deliberações da Proposta de Emenda à Constituição nº 01/1995, que dispõe sobre a reeleição para mandatos executivos". Desde que o suposto “mensalão” foi noticiado pela imprensa brasileira novos factos supostamente ligados ao dito esquema de corrupção foram surgindo, diariamente. Entre esses factos há revelações surpreendentes, novas denúncias e muitos acontecimentos pitorescos. Durante o processo diversas autoridades foram afastadas de seus cargos e muitos renunciaram aos mesmos, desde chefes e directores de autarquias federais, até a deputados. 12 A Folha de S. Paulo, ou simplesmente Folha, é um jornal brasileiro. É o jornal de maior circulação do Brasil, segundo dados do IVC - Instituto Verificador de Circulação. Ao lado de O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil, a Folha é um dos jornais mais influentes. 22 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES O Relatório final da CPMI dos correios foi aprovado em abril de 2006. Porém os deputados ainda aguardam respostas de recomendações feitas a órgãos públicos. (Agência Câmara – 21.02.2007 - Deputados querem criminalizar quem não respondeu a CPI). O Envolvimento da Portugal Telecom No dia dois de agosto de 2005, durante a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, no Brasil, Roberto Jefferson pede que se investigue o porquê da vinda a Portugal, nomeadamente à Portugal Telecom (PT), de emissários do Partido dos Trabalhadores com o suposto objectivo de angariar fundos junto a empresas Portuguesas. Segundo o deputado Roberto Jefferson, seguindo sugestão do então Ministro da Casa Civil José Dirceu, o secretário do PTB Emerson Palmieri deveria testemunhar uma reunião entre o empresário Marcos Valério com Miguel Horta Costa, presidente da Portugal Telecom, durante a qual seriam pedidos recursos financeiros para o PT e PTB. Lidando com a Crise do “mensalão” Após a denúncia do deputado Roberto Jefferson, no dia dois de agosto, já pela noite em Portugal, a Portugal Telecom reage a estas declarações junto dos media (Lusa e Público) afirmando que “nunca manteve quaisquer contactos com representantes de partidos políticos brasileiros em Portugal” (Lucena, 2007). Tal reação foi tomada pela direcção de comunicação corporativa da empresa. Sobre isso o director de comunicação corporativa da PT, Francisco Lucena13, admite que foi o início de uma crise que se mal administrada poderia ter impactos na imagem da Portugal Telecom. O primeiro meio que nos procurou foi o jornal Público seguido da agência Lusa. Minha primeira acção, assim que recebi o pedido de informação do jornal, foi localizar o presidente e colocá-lo a par dos acontecimentos. Foi tomada a decisão de, no primeiro momento, negar o envolvimento com o Partido dos Trabalhadores. A Nossa resposta, negando o envolvimento, foi publicada e aceita pelos dois veículos. Pela manhã do dia três de agosto preparamos, juntamente com os advogados da PT, um Comunicado à Imprensa. (Lucena, 2007) A emissão de um comunicado oficial da Portugal Telecom reiterando que nunca participou em encontros com o objectivo de discutir ou negociar operações que envolvessem ou financiasse partidos brasileiros foi a primeira acção da gestão de crises. Este comunicado foi enviado para todos os meios de comunicação social portugueses e brasileiros, tendo sido, igualmente, adquirido espaço publicitário no Jornal Globo, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense, Valor e Gazeta Mercantil. Todas as respostas aos jornalistas eram fornecidas baseadas nesse comunicado. Também foi encaminhado o comunicado para todos os públicos. Para o público interno foi disponibilizado o mesmo na Intranet da organização. Ainda verificamos as agendas dos directores da PT para constatar se algum tinha recebido a visita de Marcos Valério e Emerson Palmieri nos dias 24, 25 e 26 de 13 Francisco Lucena - director de comunicação corporativa da Portugal Telecom - concedeu entrevista ao autor deste trabalho, em visita às instalações da Portugal Telecom (Lisboa - PT), no dia 07 de fevereiro de 2007, posteriormente transcrita. 23 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES janeiro. Realmente a PT recebeu a visita do publicitário Marcos Valério mas na função de publicitário, apresentando acções de comunicação do Brasil, noutra data. (Lucena, 2007) De acordo com Dawar e Pillutla as primeiras acções de comunicação são fundamentais para manter a imagem positiva da companhia. Durante os momentos de crises diversas situações externas podem influenciar, positiva ou negativamente, as acções de gestão de crises. Lucena explica: Agosto em Portugal é como o carnaval no Brasil em fevereiro, os directores das empresas estão em férias e os estudantes também. O País para e não há notícias de relevância para os jornais... Foi um prato cheio para os media portuguesas visto que a agenda estava aberta para notícias. Nesse mesmo dia, pela noite, recebemos o primeiro contacto da imprensa. O nosso Presidente, na altura estava em férias, assim como a direcção. Tive de localizar o presidente e começar os trabalhos de gestão da crise. (Lucena, 2007) Para enfrentar uma crise, a PT contou com um comité de gestão de crise “virtual”, no qual se integrou a alta direcção e os responsáveis de diversas áreas, e, naturalmente, a direcção de comunicação. A pressão dos media era muito grande, todos queriam informação. As reuniões de gestão de crise, neste caso, muitas foram feitas por telefone e e-mail para agilizar as respostas aos jornalistas... Sempre baseadas no Comunicado de Imprensa. Os nossos telemóveis sempre ligados 24 horas. (Lucena, 2007) Outra medida de gestão da crise foi a entrevista do presidente da PT, Miguel Horta e Costa, ao Jornal Diário Económico desmentindo qualquer envolvimento no caso e afirmando que “dizer que a Portugal Telecom financia partidos é uma heresia”. O presidente também concedeu entrevista ao Jornal de Negócios, reafirmando que “a PT não tem contratos recentes dependentes do governo brasileiro e que nunca foi solicitado qualquer financiamento para partidos políticos”. Mário Rosa (2001) a esse respeito diz que o valor de cultivar os valores certos, percebidos como positivos, é um atributo importantíssimo antes das crises. Durante, é fundamental e pode significar o arrefecimento da crise ou o seu agravamento. Todo o esforço de uma crise é buscar associação – por intermédio de gestos, iniciativas, posicionamentos – com o lado positivo. Numa crise não importa apenas o que se faz, mas acima de tudo como se faz. A percepção muitas vezes conta mais do que as acções. E complementa: “a maneira de atingir o público, especialmente em situações de crise, é dar uma demonstração simbólica dos valores expressos pelo líder ou pela empresa” (Rosa, 2001:xx). O tacto com os jornalistas foi fundamental durante os trabalhos. Como apresentado anteriormente, em uma gestão de crises não existe a decisão certa, e sim a mais certa. Em principio, as companhias deveriam ter um manual de crise no qual se estabelecem os mecanismos básicos para abordar situações contingentes, imediatamente depois de acorrido o fato. Talvez este manual contemple o plano de acção para solucionar variáveis que pudessem antecipar-se com claridade dependendo da actividade da empresa. A Portugal Telecom não conta com um Manual de Crises, porém, neste caso, conseguiram gerir e responder as questões do momento. Lucena sobre isso esclarece que: “cada caso é um caso. Ele é estudado à medida e de acordo com o momento”. Durante o desenrolar da crise as personagens negam a participação da Portugal Telecom no caso “mensalão”. No dia oito de agosto, o deputado Roberto Jefferson, afirmou que o Grupo PT não fez pagamentos a partidos políticos e que a empresa é honrada. No dia nove, durante o 24 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES depoimento de Marcos Valério na CPI, o publicitário diz que esteve em Portugal não como enviado do partido, mas como empresário, tendo reunido apenas uma vez com Miguel Horta e Costa para falarem unicamente de negócios. No dia dez, Roberto Jefferson, em entrevista a RTP, afirma que as empresas (PT e BES) receberam Marcos Valério com boa fé, pois teria sido recomendado por José Dirceu, mas que voltou de mãos vazias, pois as empresas são sérias e não compactuaram com os esquemas. Foram 16 dias em que a empresa esteve envolvida no caso mensalão até o último depoimento inocentando a PT. A empresa teve 260 matérias relacionadas ao caso. A agenda dos media de Portugal voltava a rotina. Sobre isso diz Lucena: A agenda dos media voltou ao normal... Fazendo com que o caso fosse arquivado nas redacções. Os jornalistas perceberam que a Portugal Telecom nunca financiou nenhum Partido Político, eles queriam saber se o Marcos Valério veio à PT solicitar o financiamento, o que também não aconteceu. (Lucena, 2007) O caso ficou marcado na direcção de comunicação corporativa da PT, apesar de, segundo Lucena, não ter sido a maior crise em qual a PT passou. “Em uma escala de zero a dez a crise do mensalão fica em oito” declara o director. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com uma maior consciência sobre a importância da comunicação será possível prevenir acontecimentos indesejáveis que antes teriam sido inevitáveis. O que está claro é que isso é possível apenas se existe capacidade e interesse para comunicar de forma transparente, continuada e próxima às pessoas. A competição entre as empresas, marcas e produtos, é muito grande e a reputação ou imagem destes três itens é um factor de diferencial vantajoso para os que estão em posição de destaque. As empresas investem tempo, tecnologia, capital, recursos físicos e humanos para construir sua reputação. No entanto, o que levou anos para ser construído pode ser destruído do dia para a noite. Para minimizar os efeitos negativos que uma crise tem potencial de causar a uma empresa e com isso lhe causar grandes prejuízos, tanto em faturamento quanto em imagem, o planeamento de gestão de crises serve de suporte para que os profissionais ajam com menos improvisação e mais fundamentação. Não se pode confiar no improviso quando se trata de tudo o que uma empresa conquistou. Existe um planeamento para proteger a empresa e este trabalho contou sobre ele É imprescindível que a empresa efectivamente tenha as atitudes que comunica nos momentos de crise, pois não é possível sustentar uma comunicação que não seja baseada na realidade. Para isso a empresa precisa contar com um comunicador in loco actuando dentro da empresa. Como estudo apresentado um comunicador deve ser personagem indispensável para os trabalhos de Gestão de Crise. Assim, os comunicadores devem estar preparados para todos os momentos, visto que em época de crise o trabalho do comunicador é o mais cobrado e visto pela organização. Em uma época em que a evolução tecnológica está facilitando o acesso aos meios de processamento e divulgação de informação, contribuindo para aumentar o grau de vulnerabilidade das organizações, os comunicadores devem estar aptos para o desdobramento no contacto com a imprensa em épocas de crise. 25 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES As empresas, ainda que mais preparadas, também enfrentarão uma série de obstáculos pela frente. É como partir da premissa de que nunca uma empresa estará totalmente preparada, pois todo aprendizado é constante e podem aparecer erros sobre os quais deve-se tirar o melhor proveito lembrando o conceito crise como oportunidade. Preparar-se para uma crise é evoluir, aos poucos, a forma de se antever, planejar e posteriormente executar a gerência da crise. Na crise de envolvimento da PT no caso “mensalão” percebeu-se, que as causas da crise foi de clima humano e de malevolência e a PT foi atingida de maneira não anunciada, porém acredita-se não haver uma ou algumas denominações consideradas como únicas e verdadeiras, para definirem as crises. Sabe-se, contudo, que todas elas podem se tornar crises de imagem, estas, as de pior consequência, pois abalam a credibilidade e a confiança dos públicos de interesse em uma empresa, e sua reputação, podendo ser arranhada. A PT formulou suas operações e encaminhou as acções de comunicação com o objectivo de firmar a reputação, reconquistar seu espaço e reposicionar sua credibilidade. Ocupando o espaço que possuía antes da crise. A carência de Manual de Crise foi um aspecto negativo nesse planeamento. A função deste plano foi fortalecer e melhorar a reputação da empresa. Portanto, o que se revelou neste trabalho em relação ao seu objectivo é que um dos grandes “capitais” da PT era a sua reputação construída ao longo dos anos, solidificada por “depósitos” de credibilidade importantes a este momento. Perante os media, esses créditos se sobrepuseram à crise vivida pela organização, até aquele momento. As crises devem ser vigiadas e controladas eternamente. Em 2015 o envolvimento da Portugal Telecom no mensalão voltou às notícias dos jornais como o caso “Lava Jato” como noticiou o jornal Público em três de fevereiro de 2015: “O escândalo sem fim do Brasil chega a Portugal”. Em 2014 e 2015 foi possível observar uma queda na reputação da Portugal Telecom devido ao envolvimento de líderes da empresa em julgamento de falência do Banco Espirito Santo. Em junho de 2015 a Portugal Telecom foi comprada pelo grupo francês Altice, separando-se da operadora brasileira Oi. Uma crise, sob o aspecto de comunicação, não é um evento, é um processo (tem começo meio e fim) que exige preparação prévia de todos que circundam, ou circundarão, um momento de atenção. A figura mais importante em todos os processos é o gestor de comunicação que deve transmitir informação para os públicos preferenciais: fornecedores, clientes, governo, imprensa, empregados e comunidade. Eternamente, como um cancro, as crises devem ser vigiadas e jamais as corporações devem dar por encerrados os processos, pois em pequenos detalhes elas voltam a eclodir. 26 PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARRASCOSA, J. L. apud. VILLAFAÑE, J. (1993). Imagem Positiva. Gestión estratégica de la imagen de las empresas. Madrid: Pirámide. DAWAR, N and PILLUTLA, M M. (2000). "Impact of Product-Harm Crises on Brand Equity", Journal of Marketing Research, vol 37. FIGUEIREDO, Lucas. (2006). O Operador como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT. São Paulo: Record. LERBINGER, Otto. (1997). The crisis Manager: facing risk and responsability. Mahwah, New Jersey. Lawrence Erlbaum Associates Publishers. ORDUÑA, Octavio (2004), A comunicação em momentos de crises, Beira Interior: BOCC. ROSA, Mario. (2001). A Síndrome de Aquiles, São Paulo, Editora Gente. ROSA, Mario. (2003). A Era do Escândalo, São Paulo, Geração Editorial. SUSSKIND, L. & FIELD, P. (1997). Em crise com a opinião pública. Tradução: Marcelo Macca. São Paulo: Futura. TORQUATO, Gaudêncio. (2002). Tratado de comunicação organizacional e política. São Paulo: Thomson. TORQUATO, Gaudêncio. (1986). Comunicação empresarial / comunicação institucional. São Paulo: Summus. Relatório PORTUGAL TELECOM. (2005). Relatório de Actividades 2005 – DCC Comunicação Corporativa Portugal Telecom, DCI – Comunicação Integrada PT Comunicações. Lisboa. Jornal Revista Veja – 18 e 22 de setembro de 2004 e 14 de maio de 2005 Jornal do Brasil – 24 e 25 de setembro de 2004 Jornal Folha de S. Paulo – 03 e 06 de junho de 2005 Jornal Público – 03 de agosto de 2005 e 03 de fevereiro de 2015. Agência Lusa — 03 de agosto de 2005 Jornal Diário Económico — 04 de agosto de 2005 Jornal de Negócios – dia 08 de agosto de 2005 27 Entrevista PORTUGAL NO “MENSALÃO” – UM ESTUDO DE CASO SOBRE O ENVOLVIMENTO DA PORTUGAL TELECOM NA CRISE BRASILEIRA DE COMPRA DE VOTOS PARLAMENTARES LUCENA, Francisco. Entrevista concedida no dia 07 de fevereiro de 2007 28