Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2011 - Sociedade Brasileira de Geriatria
Transcrição
Nº 3 – Edição: Jul/Ago/Set 2011 - Sociedade Brasileira de Geriatria
ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Geriatria & Gerontologia Brazilian Geriatrics & Gerontology Órgão Oficial de publicação científica da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Editorial Os editores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 artigos originais Comparação entre diferentes pontos de corte na classificação do perfil de fragilidade de idosos comunitários . . . 130 Silvia Lanziotti Azevedo da Silva, Vanessa Gomes da Silva, Leani Sousa Máximo, João Marcos Domingues Dias, Rosangela Correa Dias Frequência da síndrome de imobilidade em uma enfermaria de geriatria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Carla Araujo Ribeiro, Denise de Alvarenga Marcondes e Silva, Luciano Almeida Rizzo, Maurício Miranda Ventura Efeito de um programa de exercício resistido aquático na resistividade carotídea, qualidade de vida e autonomia funcional de mulheres idosas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .140 Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses, Rodrigo Gomes de Sousa Vale, Tânia Fernandes Campos, Armele de Fátima Dornelas de Andrade Efeito da hidroginástica na autonomia funcional de idosas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Jader de Andrade Bezerra, Neméia de Oliveira Farias, João Gomes Jácome, Aristéia Nunes Sampaio Castro, Jeane Maria Moura Costa, Estélio Henrique Martin Dantas Fatores relacionados à acessibilidade de idosos a medicamentos anti-hipertensivos em unidades de saúde da família de Pernambuco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Ana Carolina Facundo Castro de Aquino, Márcio Campos de Melo, Paulo José Bezerra de Albuquerque, Salvéa de Oliveira Campelo e Paiva Artrite reumatoide no idoso: estudo de 35 casos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Andrea Rocha de S. Mont’Alverne, Rafael Barbieri, Renata Moreira Montenegro, Sônia Maria Alvarenga Anti, Rina Dalva Neubarth Giorgi, Wiliam Habib Chahade ARTIGOs de revisÃO Imunossenescência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Karen Cecília de Lima Torres, Patrícia de Araújo Pereira, Giselle Sabrina França de Lima, Bruno Rezende Souza, Débora Marques de Miranda, Moisés Evandro Bauer, Marco Aurélio Romano-Silva A postura do idoso e suas implicações clínicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Eluciene Maria Santos Carvalho, Sâmara Paula Ferreira Mota, Guilherme Pinheiro Ferreira da Silva, João Macedo Coelho Filho Evidências da acupuntura no tratamento da dor lombar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 Julio César Rigo, Ana Paula Menezes Pires, Leandro Alves de Oliveira, Silvio S. Harres, Roberta Rigo Dalacorte meetings instructions for authors VOLUME 5 • NÚMERO 3 • Jul/Ago/Set 2011 ISSN 1981-8289 Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Geriatrics & Gerontology Brazilian Official Journal of the Brazilian Society of Geriatrics and Gerontology Editorial The editors. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 ORIGINAL ARTICLES Comparison between different cut-off points in the classification of frailty profile in community-living elderly . . . . 130 Silvia Lanziotti Azevedo da Silva, Vanessa Gomes da Silva, Leani Sousa Máximo, João Marcos Domingues Dias, Rosangela Correa Dias Immobility syndrome frequence in a geriatric ward. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136 Carla Araujo Ribeiro, Denise de Alvarenga Marcondes e Silva, Luciano Almeida Rizzo, Maurício Miranda Ventura Effect of a resisted aquatic exercise program on carotid resistive index, quality of life, and funcional automomy of elderly women. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140 Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses, Rodrigo Gomes de Sousa Vale, Tânia Fernandes Campos, Armele de Fátima Dornelas de Andrade Effect of water aerobics on the functional autonomy of the elderly population . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 Jader de Andrade Bezerra, Neméia de Oliveira Farias, João Gomes Jácome, Aristéia Nunes Sampaio Castro, Jeane Maria Moura Costa, Estélio Henrique Martin Dantas Factors linked to the accessibility of the elderly to antihypertensive drugs in Pernambuco state, Brazil . . . . . . . . . . 151 Ana Carolina Facundo Castro de Aquino, Márcio Campos de Melo, Paulo José Bezerra de Albuquerque, Salvéa de Oliveira Campelo e Paiva Rheumatoid arthritis in the elderly: a study of 35 cases. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159 Andrea Rocha de S. Mont’Alverne, Rafael Barbieri, Renata Moreira Montenegro, Sônia Maria Alvarenga Anti, Rina Dalva Neubarth Giorgi, Wiliam Habib Chahade Reviews Immunosenescence. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 Karen Cecília de Lima Torres, Patrícia de Araújo Pereira, Giselle Sabrina França de Lima, Bruno Rezende Souza, Débora Marques de Miranda, Moisés Evandro Bauer, Marco Aurélio Romano-Silva Posture of the elderly and its clinical implications. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170 Eluciene Maria Santos Carvalho, Sâmara Paula Ferreira Mota, Guilherme Pinheiro Ferreira da Silva, João Macedo Coelho Filho Evidence of acupuncture in treatment of low back pain . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 Julio César Rigo, Ana Paula Menezes Pires, Leandro Alves de Oliveira, Silvio S. Harres, Roberta Rigo Dalacorte meetings instructions for authors VOLUME 5 • NUMBER 3 • July/Aug/Sept 2011 Geriatria & Gerontologia Editor-Chefe João Macêdo Coelho Filho – Fortaleza, Brasil (UFC) Editores Associados Luiz Eugênio Garcez Leme – São Paulo, Brasil (USP) Marcos Aparecido Sarria Cabrera – Londrina, Brasil (UEL) Maysa Seabra Cendoroglo – São Paulo, Brasil (Unifesp) Myrian Spínola Najas – São Paulo, Brasil (Unifesp) Rosângela Correa Dias – Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Editores Executivos João Senger – Novo Hamburgo, Brasil Jussara Rauth da Costa – Porto Alegre, Brasil Marianela Flores de Hekman – Porto Alegre, Brasil Noêmia Lima Silva – Aracaju, Brasil Salo Buksman – Rio de Janeiro, Brasil Conselho Editorial Nacional Adriana de Melo Gomes João Carlos Barbosa Machado Mônica Rodrigues Perracini João Marcos Domingues Dias Newton Luiz Terra João Toniolo Neto Paulo Rogério Wasserstein Hekman Johannes Doll Renato Maia Guimarães José Elias Soares Pinheiro Renato Moraes Fabbri Júlio César Moriguti Ricardo Komatsu Karla Cristina Giacomin Roberto Dischinger Miranda Kátia Magdala Lima Barreto Rômulo Luiz de Castro Meira Laura Mello Machado Sérgio Márcio Pacheco Paschoal Leani Souza Máximo Pereira Silvia Maria Azevedo dos Santos Ligia Py Sônia Lima Medeiros Luiz Roberto Ramos Tereza Loffredo Bilton Maira Tonidandel Barbosa Toshio Chiba Marcella Guimarães Assis Tirado Túlia Fernanda Meira Garcia Maria Fernanda Furtado de Lima e Costa Ulisses Gabriel Vasconcelos Cunha Maurício Gomes Pereira Vânia Beatriz Merlotti Herédia Maurício Wajngarten Wilson Jacob Filho Recife, Brasil (Instituto de Geriatria e Gerontologia de Pernambuco) Belo Horizonte, Brasil (AURUS) Adriano Cézar Balthazar da Silveira Gordilho Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Salvador, Brasil Ana Amélia Camarano São Paulo, Brasil (Unifesp) Rio de Janeiro, Brasil (IPEA) Anita Liberalesso Néri Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Campinas, Brasil (Unicamp) Carlos Montes Paixão Júnior Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) Cláudia Burlá Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Rio de Janeiro, Brasil (CFM) Clineu Mello Almada Rio de Janeiro, Brasil (UERJ) São Paulo, Brasil (Unifesp) Edgar Nunes de Moraes Recife, Brasil (UFPE) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Eduardo Ferriolli Rio de Janeiro, Brasil Ribeirão Preto, Brasil (USP-RP) Eliane Jost Blessmann Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Elisa Franco de Assis Costa Goiânia, Brasil (HUGO) Elizabete Viana de Freitas Rio de Janeiro, Brasil (UERJ) Emílio Hideyuki Moriguchi Porto Alegre, Brasil (UFRGS) Emílio Jeckel Neto Porto Alegre, Brasil (PUC-RS) Flávio Chaimowicz Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Guita Grib Debert Campinas, Brasil (Unicamp) Ivete Berkenbrock Curitiba, Brasil Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) Rio de Janeiro, Brasil (UFRJ) São Paulo, Brasil (UFSP) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Belo Horizonte, Brasil (UFMG) Belo Horizonte, Brasil (Fiocruz-MG) Brasília, Brasil (UnB) São Paulo, Brasil (USP) São Paulo, Brasil (Unifesp) Porto Alegre, Brasil (PUC-RS) Porto Alegre, Brasil Brasília, Brasil (UnB) São Paulo, Brasil (Santa Casa/SP) Marília, Brasil (Famema) São Paulo, Brasil (Unifesp) Salvador, Brasil (UFBA) São Paulo, Brasil (USP) Florianópolis, Brasil (UFSC) São Paulo, Brasil (Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia-SP) São Paulo, Brasil (PUC-SP) São Paulo, Brasil (USP) Fortaleza, Brasil (Escola de Saúde Pública/CE) Belo Horizonte, Brasil (IPSENG) Porto Alegre, Brasil (UCS) São Paulo, Brasil (USP) Milton Luiz Gorzoni São Paulo, Brasil (FCMSC-SP) Conselho Editorial internacional Andrea Caprara David V. Espino Ângelo Boss Jay Luxenberg Roma, Itália Baltimore, Estados Unidos Antony Bayer Cardiff, Reino Unido Bruno Vellas San Antonio, Estados Unidos Masatoshi Takeda Osaka, Japão Paulo Henrique M. Chaves San Francisco, Estados Unidos Jeanne Wei Baltimore, Estados Unidos Roberto Kaplan Buenos Aires, Argentina Little Rock, Estados Unidos Sergio Ariño Blasco Barcelona, Espanha Toulouse, França Base Editorial Rua Cap. Francisco Pedro, 1255 – Bairro Rodolfo Teófilo – 60430-370 – Fortaleza – CE e-mails: [email protected]/[email protected] Indexada no LaTindex (Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, Espa~na y Portugal). Diretoria Nacional da SBGG Presidente Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) 1o Vice-Presidente Nezilour Lobato Rodrigues (PA) 2a Vice-Presidente (Presidente do Departamento de Gerontologia) Eliane Jost Blessmann (RS) Secretária Geral Márcia Helena Pereira Morgado (RJ) Secretária Adjunto Leonor Campos Mauad (SP) Tesoureira Débora Ávila Carvalho (MG) Diretor Científico Sabri Lakhdari (DF) Diretor de Defesa Profissional Adriano da Silveira Gordilho (BA) Conselho Consultivo André Junqueira Xavier (SC) Ligia Auxiliadora Oliveira Py (RJ) Paulo Renato Canineu (SP) Membros Natos do Conselho Consultivo Adriano César Gordilho (BA) Antônio Jordão Neto (SP) Elisa Franco de Assis Costa (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Flávio Aluízio Xavier Cançado (MG) João Carlos Barbosa Machado (MG) Jussara Rauth da Costa (RS) Laura Mello Machado (RJ) Margarida Santos (PE) Maria Aulixiadora Cursino Ferrari (SP) Marianela Flores de Hekman (RS) Myrian Spínola Najas (SP) Paulo César Affonso Ferreira (RJ) Renato Maia Guimarães (DF) Sônia Maria Rocha (RJ) Tereza Bilton (SP) Zally Pinto Vasconcelos Queiroz (SP) Representantes no Conselho da Associação Internacional de Geriatria e Gerontologia (IAGG) Silvia Regina Mendes Pereira (RJ) Eliane Jost Blessmann (RS) Marianela Flores de Hekman (RS) Comissão Científica Sabri Lakhdari (DF) Leonor Mauad (SP) Comissão de Normas Presidente: Marianela Hekman (RS) Jussara Rauth (RS) Elisa Franco (GO) Silvia Pereira (RJ) Adriano Gordilho (BA) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Comissão de Defesa Profissional Adriano Gordilho (BA) Tássio da Silva (SP) Comissão para Assuntos Internacionais Eliane Blessmann (RS) Silvia Pereira (RJ) Marianela Hekman (RS) Comissão de Título de Geriatria Presidente: Siulmara Galera (CE) Elisa Franco (GO) Elizabete Viana de Freitas (RJ) Karlo Edson Moreira Santana (PA) Lívia Devéns (ES) Maira Tonidandel (MG) Maria do Carmo Lencastre (PE) Paulo José Villas Boas (SP) Rodolfo Pedrão (PR) Comissão de Título de Gerontologia Presidente: Marisa Accioly Domingues (SP) Adriana Keller (MG) Etiene Fittipald (PE) Maria Celi Lyrio Crispim (RJ) Marlene Teda (RS) Comissão de Cuidados Paliativos Presidente: Ligia Py (RJ) Claudia Burlá (RJ) Dulcinea Monteiro (RJ) Johannes Doll (RS) José Francisco Oliveira (RJ) Leo Pessini (SP) Lucia Takase (SC) Margarida Santos (PE) Toshio Chiba (SP) Viviane Lemos (GO) Comissão de Formação Profissional e Cadastro Geriatria – Verônica Hagemeyer (RJ) Gerontologia – Célia Pereira Caldas (RJ) Comissão de Publicações Editor-Chefe da Revista G&G: João Macedo (CE) Luiz Eugenio Garcez Leme (SP) Marcos Aparecido Sarria Cabrera (PR) Maysa Seabra Cendoroglo (SP) Myrian Spínola Najas (SP) Rosangela Corrêa Dias (MG) Comissão de Informática Daniel Azevedo (RJ) Rubens de Fraga Júnior (PR) Comissão de Comunicação Salo Buksman (RJ) DIRETORIAS REGIONAIS DA SBGG BAHIA (2010/2012) Presidente: Christiane Machado 2a Vice-Presidente: Íris Soeiro Diretora Científica: Alini Ponte MATO GROSSO DO SUL (2011/2012) Presidente: José Roberto Pelegrino Diretora Científica: Marta Dreimeier MINAS GERAIS (2009/2011) Presidente: Claudia Pacheco C. Vieira CEARÁ (2010/2012) Presidente: João Bastos Freire Neto 2a Vice-Presidente: Rita de Cássia Guedes 2a Vice-Presidente: Túlia Fernanda Meira Garcia Diretora Científica: Ana Cristina N. B. Faria Diretor Científico: Jarbas de Sá Roriz Filho PARÁ (2010/2012) Presidente: João Sérgio F. do Nascimento DISTRITO FEDERAL (2010/2012) 2o Vice-Presidente: João Sérgio S. Oliveira Presidente: Marcelo de Faveri Diretor Científico: Nezilour Lobato Rodrigues 2o Vice-Presidente: Vicente de Paula Faleiros Diretor Científico: Rodrigo Nery Macedo Cruz PARAÍBA (2010/2012) Presidente: Arnaldo Henriques Gomes Viegas ESPÍRITO SANTO (2009/2011) 2a Vice-Presidente: Mirian Lucia Trindade Presidente: Regina Ângela V. Mesquita Diretor Científico: João Borges Virgolino a 2 Vice-Presidente: Elaine R. da Mata Baptista Diretora Científica: Daniela Souza G. Barbieri PARANÁ (2010/2012) Presidente: Rodolfo Augusto Alves Pedrão GOIÁS (2010/2012) 2a Vice-Presidente: Benedito Guilherme F. Farias Presidente: Juliana Junqueira Marques Teixeira Diretora Científica: Débora Christina de A. Lopes 2a Vice-Presidente: Viviane Lemos Silva Fernandes Diretora Científica: Isadora C. Alves Teixeira PERNAMBUCO (2010/2012) Presidente: Daniel Kitner MATO GROSSO (2010/2012) 2a Vice-Presidente: Marcia Carrera Presidente: Luis Gustavo Castro Marques Diretora Científica: Clarice Correia 2a Vice-Presidente: Leila Auxiliadora Sant’Anna Diretora Científica: Rosangela A. P. Carapeba RIO DE JANEIRO (2010/2012) Presidente: José Elias Soares Pinheiro 2a Vice-Presidente: Maria Angélica Sanches Diretor Científico: Rodrigo Bernardo Serafim RIO GRANDE DO SUL (2010/2012) Presidente: Marianela Flores de Hekman 2a Vice-Presidente: Jussara Rauth da Costa Diretor Científico: João Senger SANTA CATARINA (2010/2012) Presidente: Paulo Borges 2a Vice-Presidente: Jordelina Schier Diretora Científica: Angela Becker SÃO PAULO (2009/2011) Presidente: Omar Jaluul 2a Vice-Presidente: Claudia Marina Fló Diretor Científico: Renato Moraes Alves Fabbri Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia m e r a c i l b u p e u q r Po & geriatria gerontologia É a revista de maior circulação na área de Geriatria e Gerontologia, com distribuição para cerca de 2.000 associados da SBGG Circula nas principais bibliotecas de ciências da saúde do País Segue os padrões internacionais para indexação Caráter interdisciplinar, o que caracteriza o campo de Geriatria e Gerontologia www.sbgg.org.br editorial Um dos principais objetivos da atenção à saúde das pessoas idosas é prevenir ou adiar o aparecimento de incapacidade. Esse esforço comporta um leque amplo de possibilidades de ações e enfoques, bem caracterizados nos artigos que compõem esta edição de Geriatria & Gerontologia. O melhor entendimento da síndrome de fragilidade torna-se fundamental para implementação de intervenções que possam prevenir ou reduzir o impacto da incapacidade no idoso. Um aspecto primordial é o reconhecimento dessa condição, cujos critérios de diagnóstico vêm sendo amplamente utilizados. No entanto, a utilidade e a generalização desses critérios precisam ser mais bem estabelecidas, particularmente pelo fato de serem dependentes de medidas antropométricas, variáveis entre populações. Assim, o estudo de Silva et al. verificou, de forma original, as distribuições dos itens de fragilidade de idosos brasileiros, levando em consideração os pontos de cortes ajustados pelo percentil 20 e comparando-os com os já clássicos critérios de Fried. Por sua vez, os artigos de Menezes et al. e de Bezerra et al. ressaltam o impacto positivo da intervenção física em água, visando à melhoria e à manutenção da capacidade funcional de idosos. A descrição e o reconhecimento das peculiaridades do processo saúde-doença no idoso são importantes para o desenvolvimento da prática clínica geriátrica. Mont´Alverne et al. descrevem as características clínicas e laboratoriais da artrite reumatoide após os 65 anos de idade, uma condição relativamente pouco estudada na população brasileira e que tende a se tornar mais prevalente em virtude do aumento da população idosa. Dois artigos de revisão discutem as complexas mudanças moleculares, celulares e físicas que acompanham a senescência: um acerca da função imunológica, de Torres et al., e outro abordando especificamente a postura do idoso, de Carvalho et al. O cuidado clínico do idoso requer o manejo de condições patológicas comuns, como doenças cardiovasculares, dor crônica, e o enfrentamento de situações extremas como a imobilidade. Grande parte desse cuidado deveria ocorrer no nível primário de saúde, o que justifica a qualificação do atendimento nesse âmbito, como destacado por Aquino et al. em artigo sobre fatores que interferem no acesso a medicamentos anti-hipertensivos. Rigo et al. fazem uma revisão da evidência de efetividade da acupuntura no tratamento da dor lombar em idosos, e Ribeiro et al. chamam atenção para a frequência da síndrome de imobilidade em leitos hospitalares, com ênfase na casuística de um hospital geral de referência em São Paulo. Os Editores ARTIGO ORIGINAL Comparação entre diferentes pontos de corte na classificação do perfil de fragilidade de idosos comunitários Comparison between different cut-off points in the classification of frailty profile in community-living elderly Silvia Lanziotti Azevedo da Silva1, Vanessa Gomes da Silva1, Leani Sousa Máximo1, João Marcos Domingues Dias1, Rosangela Correa Dias1 RESUMO Introdução: O diagnóstico da fragilidade é complexo e difícil. O fenótipo de Fried é uma ferramenta utilizada para classificar os idosos segundo seu perfil de fragilidade. Dentre os cinco itens que o compõem, a redução da força de preensão palmar, o nível de atividade física e a lentidão da marcha podem sofrer influência de características antropométricas da população. Objetivo: Comparar a classificação de fragilidade usando os pontos de corte de Fried et al. (2001) e outros ajustados para a amostra. Métodos: Foram avaliados pelo Fenótipo de Fragilidade 125 idosos comunitários (70,4% de mulheres, média etária de 73,77 ± 5,65 anos). Após aplicação do fenótipo, os idosos foram classificados em frágeis, pré-frágeis ou não frágeis, inicialmente utilizando os pontos de corte utilizados por Fried et al. (2001) no CHS. Em seguida, foram reclassificados utilizando pontos de corte adaptados pelo percentil 20 da amostra, para os itens força de preensão manual, nível de atividade física e lentidão na marcha. Foram analisadas a frequência de fragilidade em cada classificação e a comparação feita pelo teste qui-quadrado (X2), com α = 0,05. Resultados: As distribuições de fragilidade foram distintas no uso dos diferentes pontos de corte, mas o grupo de idosos pré-frágil foi o maior nas duas situações. O critério exaustão foi pontuado por 28% dos idosos nas duas classificações. Não houve diferença significativa entre as distribuições pelo teste X2 (p = 0,356). Conclusão: Não houve diferença significativa na distribuição de fragilidade usando os dois pontos de corte. Exaustão foi critério frequente e não muda seu ponto de corte, justificando o resultado. Recebido em 16/5/2011 Aceito em 9/8/2011 Palavras-chave: Idoso fragilizado, fenótipo, critérios diagnósticos. ABSTRACT Introduction: The diagnosis of frailty in complex and difficult. The phenotype of Fried is a tool used to classify the elderly according to his or her profile of frailty. Among it’s five items, the reduction of grip strength, level of physical activity and slow gait speed may suffer influence of anthropometric characteristics of the population. Objective: Compare the frequency of frailty using cutoff points of Fried et al. (2001) and others adjusted for this sample. Methods: 125 elderly community (70.4% women, average age 73.77 ± 5.65 years) were assessed by the Phenotype of Frailty. After application of the phenotype, the elderly were classified as frail, pre-frail and non-frail, initially using the cutoff points used by Fried et al. (2001) in CHS. After that, they were reclassified using cutoffs adjusted by sample’s percentil 20, for grip strength, physical activity level and slow gait speed. We analyzed the frequency of frailty in each classification and the comparison made by the chi-square test (X2), using α = 0.05. Results: The distributions of frailty were distinct when used different cutoff points, but the pre-frail group was the biggest in both situations. The exhaustion criterion was score positive for 28% of the elderly in both classifications. There was no significant difference between the distributions according to X2 test (p = 0.356). Conclusion: There was not significant difference in the distribution of frailty using the two cutoff points proposed. Exhaustion criterion was frequent and does not change its cutoff point, justifying the result. Keywords: Frail elderly, phenotype, diagnose criteria. Endereço para correspondência: Silvia Lanziotti Azevedo da Silva • Rua João Antônio Cardoso, 157/301, Bairro Ouro Preto – 31310-390 – Belo Horizonte, MG • Telefone: (31) 9858-2485 • E-mail: [email protected] Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 1 Ponto de corte na classificação de fragilidade INTRODUÇÃO A fragilidade tem sido reconhecida como uma síndrome geriátrica altamente prevalente, e o uso desse termo aumentou na última década tanto entre os profissionais da saúde como na literatura científica1. Segundo a definição proposta por Fried et al. (2001), fragilidade caracteriza-se por um aumento da vulnerabilidade a fatores estressores que resulta da diminuição das reservas fisiológicas devido ao acúmulo de deficiências nos múltiplos sistemas1. Para que a fragilidade fosse identificada, Fried et al. (2001) operacionalizou um Fenótipo de Fragilidade que é composto por cinco itens1-3: redução de peso autorrelatada; redução da força de preensão palmar, exaustão autorrelatada; baixa velocidade de marcha, diminuição do nível de atividade física1-3. Idosos que não apresentam nenhum item positivo para fragilidade são considerados não frágeis; pontuação em um ou dois itens classificam o idoso como pré-frágil, e três ou mais itens positivos classificam o idoso como frágil1. Apesar do amplo uso do Fenótipo de Fragilidade, com ou sem modificações e adaptações de seus itens em vários estudos publicados3-6, limitações permanecem quanto à sua generalização e utilidade clínica7-10. Os itens diminuição do nível de atividade física, redução da força de preensão palmar e lentidão na marcha devem ter seus pontos de corte ajustados para cada população, pois seu cálculo varia de acordo com medidas antropométricas e estas variam entre populações10. Assim, seus pontos de corte para fragilidade são calculados para cada estudo pelo percentil 20 (P20), que fornece valores mais adequados para a amostra estudada. O objetivo deste estudo foi calcular novos pontos de corte pelo P20 para os itens diminuição do nível de atividade física, redução da força de preensão manual e lentidão na marcha para a amostra estudada e comparar as distribuições de fragilidade dos idosos utilizando os pontos de corte propostos por Fried et al. (2001) e os pontos de corte ajustados pelo percentil 20 da amostra. METODOLOGIA O presente estudo, de caráter transversal, é um subprojeto de um estudo maior, de amostra aleatória, denominado Rede Fibra (Rede de Estudos de Fragilidade de Idosos Brasileiros). Seus indivíduos são uma subamostra de 125 participantes deste estudo, selecionada ao acaso entre os 613 idosos componentes 131 do banco original da cidade de Belo Horizonte por contato telefônico. Os critérios de inclusão foram: ter idade igual ou superior a 65 anos ou mais; de ambos os sexos; residentes na comunidade; que concordaram em participar do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram excluídos idosos que apresentaram as seguintes características: déficit cognitivo grave sugestivo de demência, avaliado pelo Miniexame do Estado Mental (MEEM) com pontuação inferior a 17 pontos; em uso de cadeira de rodas ou que se encontravam acamados, provisória ou definitivamente. Após a inclusão no estudo, os idosos foram submetidos individualmente a uma única entrevista agendada no domicílio, com duração de aproximadamente uma hora, aplicada por examinadores treinados. Foram coletados os dados autorrelatados e feitos testes físicos previamente determinados pelo protocolo estabelecido. As entrevistas ocorreram no período de fevereiro a julho de 2010. Os dados relativos ao Fenótipo de Fragilidade foram avaliados pelos cinco itens propostos por Fried et al. (2001), da seguinte forma: 1) A força de preensão palmar foi mensurada pelo Dinamômetro Jamar (SAEHAN Hydraulic Hand Dynamometer, modelo SH5001 – 973, Yangdeck – Dong, PO Box 426, Masan Free Trade Zone, Masan 630-728 KOREA). Para ser considerado frágil por esse critério, o idoso deve estar abaixo do percentil 20 da amostra total, ajustado por sexo e índice de massa corporal (kg/m2). 2) A perda de peso foi avaliada por pergunta direta em busca do autorrelato se o indivíduo apresentou perda maior ou igual a 4,5 kg ou 5% do peso corporal nos últimos 12 meses. 3) A exaustão foi verificada por meio da aplicação de duas questões da escala de depressão do Center for Epidemiological Studies (CES-D)11. Os participantes foram perguntados se: “Sentiu que teve que fazer esforço para dar conta das suas tarefas habituais?” e “Não conseguiu levar adiante suas coisas?” As respostas são em escala Likert (nunca ou raramente = 1, às vezes = 2, frequentemente = 3, sempre = 4). Completou o critério para fragilidade o indivíduo que pontuou 3 ou 4 qualquer uma das duas questões citadas acima. 4) A marcha foi analisada por meio do tempo gasto para o idoso percorrer 4,6 m dentro de uma distância de 8,6 m livres, excluindo 2 m para a aceleração e 2 m para a desaceleração. Foi estabelecido 132 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):130-5 como padrão o uso de um cronômetro Professional Quartz Timer da marca KADIO, modelo KD 1069. Os resultados foram ajustados por estatura e sexo e foram considerados frágeis por esse critério aqueles que apresentaram tempo acima do percentil 80 da amostra. 5) O nível de atividade física foi analisado por meio do questionário Minnesota Leisure Time Activity Questionnaire, que inclui diversas atividades realizadas pelo indivíduo como caminhar e práticas esportivas. Posteriormente, foi calculado o consumo energético em quilocalorias despendidas pelo indivíduo durante as atividades realizadas nos últimos 15 dias. Completaram o critério para fragilidade aqueles que ficaram abaixo do percentil 20 da amostra, ajustado por sexo1. Os idosos que não apresentaram nenhum item positivo para fragilidade foram considerados não frágeis; pontuação em 1 ou 2 itens considerou o idoso pré-frágil; e se ele pontuou em mais de 3 itens, foi considerado frágil1. Os idosos foram classificados pela positividade nos itens de fragilidade de acordo com os pontos de corte propostos por Fried e, também, de acordo com os novos pontos de corte calculados para a amostra por meio do P20. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais n° ETIC 0545.0.203.000-09, e todos os entrevistados concordaram com a participação assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi realizada descrição da amostra mediante valores de proporção entre grupos, média e desvio-padrão. Os pontos de corte pelo percentil 20 para força de preensão palmar, lentidão na marcha e nível de atividade física foram obtidos no programa Microsoft Excel 2007, para cada valor separadamente. A comparação entre a distribuição dos grupos na variável nominal classificação de fragilidade foi feita pelo teste qui-quadrado, no programa SPSS versão 15. Foram considerados significativos valores α = 0,05. RESULTADOS A amostra de 125 idosos foi composta predominantemente por mulheres (70,4%), e a média de idade de todos os indivíduos foi de 73,77 ± 5,65 anos. Por meio do percentil 20 da amostra, novos pontos de corte foram calculados para os itens força de preensão palmar, nível de atividade física e lentidão na marcha (Tabela 1). A distribuição de fragilidade foi diferente quando foram utilizados os pontos de corte de Fried (2001) e os pontos de corte da amostra para força de preensão palmar, nível de atividade física e lentidão na marcha, calculados pelo percentil 20 (Tabela 2). O número de indivíduos pré-frágeis foi maior (69 indivíduos) quando foram usados os pontos de corte de Fried (2001) e diminuiu para 61 indivíduos quando foram usados os pontos de corte da amostra. Neste caso, aumentou-se a frequência dos frágeis, de 11 para 13 indivíduos, e também dos não frágeis, que totalizavam 45 indivíduos quando foram usados os pontos de corte de Fried (2001), e 51 idosos passaram a ser considerados não frágeis com a nova divisão. Porém, mesmo com a diminuição do grupo de idosos pré-frágeis, estes foram os mais presentes nas duas classificações realizadas, sendo considerados pré-frágeis 55,2% dos idosos com os pontos de corte de Fried (2001) e 48,8% no percentil 20 da amostra (Tabela 2). Tabela 1. Novos pontos de corte para preensão palmar, nível de atividade física e lentidão na marcha calculados pelo P20 da amostra (n = 125) Mulheres Homens IMC Força de preensão (kgf) IMC Força de preensão (kgf) < 24 ≤ 14,79 < 24 ≤ 21,33 24,1-27,3 ≤ 16,13 24,1-26,1 ≤ 25,96 27,4-31,24 ≤ 14,72 26,2-29,5 ≤ 31,06 > 31,24 ≤ 18,86 > 29,6 ≤ 32,06 Altura (m) Tempo da marcha (s) Altura (m) Tempo da marcha (s) ≤ 1,53 5,72 ≤ 1,70 5,31 > 1,53 5,63 > 1,70 5,27 Gasto calórico (kcal) ≤ 561,43 Gasto calórico (kcal) ≤ 1315,14 P20: percentil 20; kgf: quilogramas força; s: segundos; m: metros. 133 Ponto de corte na classificação de fragilidade Tabela 2. Distribuição dos níveis de fragilidade com diferentes pontos de corte (n = 125) Fried et al. 2001 (n/%) Percentil 20 (n/%) X2 p Não frágeis 45 (36%) 51 (40,8%) 1,764 0,356 Pré-frágeis 69 (55,2%) 61 (48,8%) Frágeis 11 (8,8%) 13 (10,4%) Ao comparar a distribuição entre os três grupos com os dois pontos de corte, a diferença encontrada pelo teste X2 não foi estatisticamente significante (p = 0,356) (Tabela 2). Em relação aos itens do Fenótipo, suas frequências variaram com o uso dos dois diferentes pontos de corte. O item mais frequente na distribuição pelo ponto de corte de Fried (2001) foi a força de preensão manual, positivo em 36% dos indivíduos. Com a classificação feita pelos pontos de corte pelo P20 da amostra, o item mais frequente passou a ser a exaustão, seguida pela força de preensão manual (Tabela 3). Tabela 3. Distribuição por dos itens positivos do fenótipo com diferentes pontos de corte na amostra total (n = 125) Fried et al. 2001 (n/%) Percentil 20 (n/%) Força de preensão manual 32 (25,5%) 45 (36%) Lentidão na marcha 26 (20,8%) 12 (9,6%) Gasto calórico 24 (19,2%) 19 (15,2%) Perda de peso 19 (15,2%) 19 (15,2%) 35 (28%) 35 (28%) Exaustão DISCUSSÃO Embora haja um reconhecimento universal da síndrome de fragilidade entre os profissionais da área de geriatria e gerontologia, há um obstáculo importante no desenvolvimento de intervenções específicas devido à falta de consenso no que se refere à definição de fragilidade e sua generalização em estudos e na prática clínica5. Sabe-se que uma boa definição de fragilidade deveria ser multidimensional, deixar claro que a fragilidade é um processo dinâmico, predizer desfechos adversos para a saúde do idoso e ser prática para aplicação clínica12. A forma de avaliação deve, ainda, ser utilizável em outras populações e grupos étnicos, o que é um passo importante para a identificação clínica dessa síndrome geriátrica13. Três dos cinco critérios de fragilidade – redução da força de preensão palmar, lentidão na velocidade de marcha e diminuição no nível atividade física – são passíveis de intervenção direta dos profissionais da área de fisioterapia e outras, permitindo a prevenção ou até mesmo a melhora desses parâmetros, evitando-se, dessa maneira, a instalação ou progressão da síndrome da fragilidade14. Contudo, esses itens devem ter seus pontos de corte ajustados para cada população, pois seu cálculo varia de acordo com medidas antropométricas e estas variam entre elas. Dessa forma, os pontos de corte para fragilidade devem ser calculados por meio do P20, já que este fornece valores mais adequados para a amostra estudada14. Ao adaptarem-se os critérios de fragilidade para a amostra estudada, foram encontradas diferenças na sua distribuição quando foram utilizados os pontos de corte de Fried e os pontos de corte da amostra para força de preensão palmar, nível de atividade física e lentidão na marcha. Achado semelhante foi encontrado em outro estudo, que revisou os itens e apontou para a importância da adaptação dos pontos de corte para a correta previsão por eles dos desfechos adversos comumente associados à fragilidade, como hospitalização, morte e incapacidade14. O número de indivíduos pré-frágeis foi maior quando foram usados os pontos de corte de Fried e diminuiu no uso dos pontos de corte da amostra para os mesmos itens, aumentando, nesse caso, os frágeis e também não frágeis. Isso pode ter ocorrido pela própria adaptação dos pontos de corte, criando um panorama mais fidedigno da população estudada. Essa prevalência maior de idosos pré-frágeis é semelhante à encontrada em estudos internacionais1,3. A força de preensão manual tem sido repetidamente considerada como ferramenta importante de avaliação de fragilidade14. Pesquisas recentes concluíram que a força de preensão foi um poderoso preditor de autopercepção, fadiga, incapacidade, morbidade e mortalidade14,15. A redução da força de preensão manual tem sido explorada como uma manifestação inicial de fragilidade e pode estar presente antes mesmo do surgimento de outras incapacidades funcionais, como a diminuição da velocidade de marcha15. Uma das principais limitações da avaliação desse item é a padronização de dinamômetros para uso em diferentes populações16. 134 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):130-5 A frequência da força de preensão manual foi menor no P20, já que os novos pontos de corte calculados para a amostra foram mais baixos se comparados aos pontos de corte de Fried, assim, muitos idosos deixaram de pontuar neste item. O estudo de Rothman17 encontrou que o item redução da força de preensão manual foi mais frequente durante todo o acompanhamento, com ajuste dos pontos de corte para a amostra, porém a população de seu estudo era mais semelhante à do Cardiovascular Health Study1 que à do presente estudo. Estudos recentes consideram o uso da diminuição da velocidade de marcha como um critério para a fragilidade17-23. A avaliação da velocidade da marcha e da identificação de um limite específico de velocidade de marcha lenta pode identificar uma população vulnerável de idosos com risco de desfechos clínicos adversos, tais como o desenvolvimento de incapacidades, demência, mortalidade, institucionalização e quedas, em que estratégias preventivas possam ser implementadas19. No presente estudo, a frequência de lentidão na marcha foi maior após os ajustes dos pontos de corte, já que o ponto de corte do P20 foi superior, indicando que os idosos deveriam ser mais rápidos para não pontuarem positivamente nesse item. A velocidade de marcha pode representar o instrumento de avaliação mais adequada de um único item de fragilidade a ser implementado na prática clínica usual. A avaliação da velocidade da marcha em ritmo normal é uma medida rápida, segura, fácil, barata e altamente confiável, com capacidade para identificar idosos em risco de desfechos clínicos por mais tempo19. A exaustão tem sido recentemente explorada como um instrumento único de avaliação de fragilidade, com resultados contraditórios13, e é verificada por meio da aplicação de duas escalas de depressão do Center for Epidemiological Studies (CES-D)11. O critério exaustão foi muito frequente nas duas classificações e, já que é verificado pela aplicação de duas escalas, seu cálculo não varia de acordo com medidas antropométricas. Por isso, esse critério não é alterado nas diferentes classificações, o que pode explicar a diferença encontrada pelo teste X2, a qual não foi estatisticamente significante. Diante do crescimento dos estudos acerca da síndrome da fragilidade entre idosos em todo o mundo, seu método de avaliação e acompanhamento deve ser bem definido e válido, adaptando-se bem a diversas populações13. Como ainda não há estudos com população brasileira que considerem os pontos de corte pelo percentil 20 para aqueles itens do fenótipo que podem sofrer influência de dados antropométricos entre populações distintas, o ajuste pelo percentil 20 de cada amostra seria adequado. CONFLITO DE INTERESSE Os autores declaram não possuir conflito de interesse na sua realização e publicação. Apoio: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). REFERÊNCIAS 1. Fried LP, Tangen CM, Walston J, Newman AB, Hirsch C, Gottdiener J, et al. Frailty in older adults: evidence for a phenotype. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56A(3):M146-56. 2. Fried LP, Ferrucci L, Darer J, Willianson JD, Anderson G. Untagling the concepts of disability, frailty, and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2004;59A(3):255-62. 3. Bandeen-Roche K, Xue QL, Ferrucci L, Walston J, Guralnik JM, Chaves P, et al. Phenotype of frailty: characterization in the women’s health and aging studies. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006;61A(3):262-6. 4. Boyd CM, Xue QL, Simpson C, Guralnik JM, Fried LP. Frailty, hospitalization, and progression of disability in cohort of disabled older women. JAMA. 2005;118:1225-31. 5. Gill TM, Gahbauer EA, Allore HG, Han L. Transitions between frailty states among community-living older persons. Arch Int Med. 2006;166:418-23. 6. Blaum CS, Xue QL, Michelon E, Sempa RD, Fried LP. The association between obesity and the frailty syndrome in older women: The Women’s Health and Aging Studies. J Am Geriatr Soc. 2005;53(6):927-34. 7. Rockwood K. Frailty and its definition: a worthy challenge. J Am Geriatr Soc. 2005;53:1069-70. 8. Gillick M. Pinning down frailty. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2001;56A:M134-5. 9. Walston J, Hadley E, Ferrucci L, Guralnick JM, Newmann AB, Studenski SA, et al. Research agenda for frailty in older adults: toward a better understanding of physiology and etiology: summary from the American Geriatrics Society/National Institute on Aging Research Conference on Frailty in Older Adults. J Am Geriatr Soc. 2006;54:991-1001. 10. Van Kan GA, Bergman RH, Morley JE, et al. Frailty assessment of older people in clinical practice expert opinion of a geriatric advisory panel. J Nutr Health Aging. 2008;12:29-37. 11. Batistoni SST, Neri AL, Cupertino AFPB. Validade da escala de depressão do Center for Epidemiological Studies entre idosos brasileiros. Rev Saude Publica. 2007;41(4):598-605. 12. Gobbens RJ, Luijkx KG, Wijnen-Sponselee MT, Schols JM. Toward a conceptual definition of frail community dwelling older people. Nurs Outlook. 2010;58(2):76-86. 13. Woods NF, LaCroix AZ, Gray SL, Aragary A, Cochrane BB, Brunner RL, et al. Frailty: emergence and consequences in women aged 65 and older in the Women’s Health Initiative Observational Study. J Am Geriatr Soc. 2005;53(8):1321-30. 14. Van Kang GA, Rolland Y, Vellas B. The assessment of frailty in older adults. Clin Geriatr Med. 2010;26:275-86. Ponto de corte na classificação de fragilidade 15. Xue QL, Bandeen-Roche K, Varadhan R, Zhou J, Fried LP. Initial manifestations of frailty criteria and the development of frailty phenotype in the Women’s Health and Aging Study II. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2008;63(9):984-90. 16. Guerra RS, Amaral TF. Comparison of hand dynamometers in elderly people. J Nutr Health Aging. 2009;13(10):907-12. 17. Rothman MD, Leo-Summers L, Gill TM. Prognostic significance of potential frailty criteria. J Am Geriatr Soc. 2008;56(12):2211-6. 18. Van Kan AG, Rolland Y, Bergman H, Morley SB, Kricthvisky B, Vellas B, et al. The IANA task force on Frailty assessment of older people in clinical practice. J Nutr Health Aging. 2008;12(1):29-37. 19. Van Kan AG, Rolland Y, Andrieu J, Bauer J, Beauchet O, Bonnefoy M, et al. Gait speed at usual pace as a predictor of adverse outcomes in community-dwelling older people. An International Academy on Nutrition and Aging (IANA) Task Force. J Nutr Health Aging. 2009;13(10):881-9. 135 20. Ferrucci L, Guralnick JM, Studenski S, Fried LP, Cutler GB Jr, Walston JD; Interventions on Frailty Working Group. Designing randomized, controlled trials aimed at preventing or delaying functional decline and disability in frail, older persons: a consensus report. J Am Geriatr Soc. 2004;52(4):625-34. 21. Newman AB, Simonsick EM, Naydeck BL, Boudreau RM, Kritchevsky SB, Nevitt MC, et al. Association of long-distance corridor walk performance with mortality, cardiovascular disease, mobility limitation, and disability. JAMA. 2006;295:2018-26. 22. Guralnik JM, Ferrucci L, Pieper CF, Leveille SG, Markides KS, Ostir GV, et al. Lower extremity function and subsequent disability: consistency across studies, predictive models, and value of gait speed alone compared with the short physical performance battery. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2000;55(4):M221-31. 23. Buchman AS, Wilson RS, Boyle PA, Bienias JL, Bennett DA. Change in motor function and risk of mortality in older persons. J Am Geriatr Soc. 2007;55(1):11-9. ARTIGO ORIGINAL Frequência da síndrome de imobilidade em uma enfermaria de geriatria Immobility syndrome frequence in a geriatric ward Carla Araujo Ribeiro1, Denise de Alvarenga Marcondes e Silva1, Luciano Almeida Rizzo1, Maurício Miranda Ventura1 RESUMO Introdução: O envelhecimento populacional é um fenômeno de abrangência mundial. O aumento do número de idosos eleva as possibilidades de aparecimento das doenças crônico-degenerativas, com consequente perda da funcionalidade e imobilidade. As causas da imobilidade são multifatoriais, predominando as neurológicas e musculoesqueléticas. Objetivo: Estimar a frequência da síndrome da imobilidade na enfermaria de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual. Materiais e métodos: Durante o período de 24 de agosto a 24 de setembro de 2009 foram avaliados todos os pacientes internados na enfermaria de geriatria, a fim de identificar quais preenchiam critérios diagnósticos para síndrome da imobilidade. Resultados: De 47 pacientes, doze (12/25,53 %) preencheram critérios para síndrome da imobilidade, sendo onze (11/91,6%) do sexo feminino, com uma média de idade de 85,3 anos. Em relação ao motivo que levou esses pacientes à internação hospitalar, a maioria, 75% dos casos, foi em decorrência de causas infecciosas: broncopneumonia (5/41,66%) e infecção urinária (4/33%). Conclusão: Comparando a população de pacientes com síndrome de imobilidade e a população geral da enfermaria de geriatria, observou-se pouca diferença quanto à idade, 85,3 e 83,1 anos, e ao tempo de internação, 12,08 e 12,47 dias, respectivamente. Em relação à mortalidade, observaram-se 50% para aqueles portadores de síndrome de imobilidade e 25% para a população em geral. Novos estudos abordando essa temática são de suma importância para eleger prioridades, gerando menor taxa de iatrogenia, promovendo melhorias na abordagem clínica e familiar desses pacientes. Recebido em 1/2/2011 Aceito em 2/8/2011 Palavras-chave: Prevalência, idoso, assistência terminal, demência. ABSTRACT Introduction: Population aging is a world-wide phenomenon. Increasing number of elderly elevate rates of chronic degenerative diseases, with loss of functionality and immobility. The causes of impaired mobility are multifactorial, predominantly neurological and musculoskeletal. Management and prevention of immobility syndrome is interdisciplinary. Objective: To determine the prevalence of the immobility syndrome in Hospital do Servidor Público Estadual geriatric ward. Materials and methods: From August 24 to September 24 of 2009, all patients admitted in geriatric ward were evaluated, in order to identify which of them fulfilled diagnostic criteria for the immobility syndrome. Results: Of 47 patients, twelve of them (12/25.53%) met criteria for the immobility syndrome. Eleven (11/91.6%) were females, with mean age of 85.3 years. Regarding the reason for admission at the geriatric ward, 75% were infectious etiologies: pneumonia (5/41.66%) and urinary tract infection (4/33%). Conclusion: When comparing patients with immobility syndrome and general population of this geriatric ward, there was little difference in age, 85.3 and 83.1 years, and the hospitalization stay, 12.08 and 12.47 days, respectively. Mortality observed was 50% for those patients with immobility syndrome and 25% for the general population geriatric ward. Further studies addressing this issue are important to choose its priorities, with lower rates of iatrogenic, promoting improvements in clinical and familiar approaches of this population. Keywords: Prevalence, aged, terminal care, dementia. Endereço para correspondência: Rua Pedro de Toledo, 1800, 8º andar/ala ímpar, Moema – 04039-004 – São Paulo, SP • E-mails: [email protected], [email protected] Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira (HSPE-FMO). 1 Frequência da síndrome de imobilidade 137 INTRODUÇÃO MÉTODOS O envelhecimento populacional é um fenômeno de abrangência mundial. No período entre 2000 e 2050, ocorrerá o mais rápido incremento na população de idosos, que saltará de 5,1% para 14,2%1. Trata-se de um estudo observacional, prospectivo, não intervencionista, realizado na enfermaria do Serviço de Geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual, que é constituída por 34 leitos. Durante o período de 24 de agosto a 24 de setembro de 2009 foram avaliados todos os pacientes internados a fim de identificar quais e quantos deles preenchiam critérios diagnósticos para síndrome da imobilidade, a saber: presença dos dois critérios maiores – declínio cognitivo e múltiplas contraturas – e pelo menos dois dos quatro menores – disfagia, afasia, úlcera por pressão e dupla incontinência4. As características demográficas e clínicas dos indivíduos que preenchiam critérios para imobilismo foram comparadas com aquelas dos demais pacientes internados na mesma enfermaria. Embora representem menos de 10% da população brasileira, indivíduos com mais de 60 anos são os maiores usuários do sistema de saúde, sendo responsáveis pela ocupação de metade dos leitos hospitalares. Além disso, frequentemente as internações são prolongadas. Como consequência, registram-se maiores taxas de declínio funcional, institucionalização e morte. O aumento da longevidade propicia o aparecimento de doenças crônicas, doenças agudas incapacitantes e inatividade. Patologias crônicas atingem 75,5% dos idosos, dos quais 60,5% são do gênero feminino2. A imobilidade corresponde a uma síndrome geriátrica, acometendo indivíduos com enfermidades incapacitantes, o que culmina na supressão dos movimentos articulares. As causas do comprometimento da mobilidade são multifatoriais, predominando as neurológicas e musculoesqueléticas3. Os prejuízos dessa afecção para o organismo são diversos: redução de massa muscular e óssea, acúmulo de secreção pulmonar, infecções de repetição, alterações metabólicas, obstipação intestinal, desnutrição, úlceras de pressão, depressão e isolamento social3. Os critérios para o diagnóstico da síndrome da imobilidade dividem-se em maiores e menores. Entre os critérios maiores, incluem-se déficit cognitivo e contraturas múltiplas. Em relação aos critérios menores, são encontradas: úlcera de pressão, disfagia, dupla incontinência e afasia4. Por terem caráter etiológico multifatorial, a abordagem e a prevenção da síndrome da imobilidade são interdisciplinares. Em todas as esferas de atendimento ao idoso, seja ambulatorial, domiciliar, hospitalar ou em instituições de longa permanência, e nas variadas condições clínicas, é essencial avaliação funcional completa abordando desde questões potenciais causadoras de danos à mobilidade até incapacidade grave5. O objetivo deste estudo foi determinar a frequên cia da síndrome da imobilidade na enfermaria de geriatria do Hospital do Servidor Público Estadual. Além disso, procurou-se identificar as principais causas de imobilismo nessa população. Após elaboração do protocolo de pesquisa, este foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital do Servidor Público Estadual. RESULTADOS No decorrer de um mês, 47 pacientes passaram pela enfermaria, dos quais doze (12/25,53%) preencheram critérios para síndrome da imobilidade, sendo onze (11/91,6%) do sexo feminino e idade média de 85,3 anos. A tabela 1 mostra a frequência diária dos pacientes portadores da síndrome, totalizando uma média de 15,25% durante o período analisado. Em relação aos critérios diagnósticos, todos apresentaram declínio cognitivo, contraturas múltiplas e dupla incontinência. Nove (9/75%) eram portadores de afasia e oito (8/66,6%), de úlceras de pressão. O tempo médio de internação foi de 12 dias, com quatro (4/33,33%) altas e quatro (4/33,33%) óbitos. Os demais permaneceram internados após o término do levantamento. A população usualmente internada em nossa enfermaria tem uma média de idade pouco menor (83,1 anos). Durante esse mesmo período, a média de internação foi de 12,47 dias, com taxa de mortalidade de 25%. Em relação ao motivo que levou os pacientes com síndrome de imobilidade à internação hospitalar, a maioria, 75% dos casos, foi decorrente de causas infecciosas: broncopneumonia (5/41,66%) e infecção urinária (4/33) (Tabela 2). Das doenças associadas, as mais prevalentes foram: hipertensão arterial (7/58,33%), doença de Alzheimer (5/41,66%), diabetes melito (4/33,33%), insuficiência cardíaca 138 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):136-9 congestiva (3/25%), demência vascular (3/25%), insuficiência renal crônica (2/16,66%), sequela de acidente vascular encefálico isquêmico (2/16,66%), doença de Parkinson (1/8,33%) e complicações referentes à doença vascular periférica (1/16,66%). A respeito da população geral internada em nosso serviço, observou-se que o motivo de internação também foi por causas infecciosas: pneumonia (31,14%) e infecção urinária (31,14%). As comorbidades associadas foram: síndrome demencial (29,5%), sequelas de acidente vascular cerebral (9,8%), insuficiência cardíaca congestiva e doença pulmonar obstrutiva crônica (4,9%). Tabela 1. Porcentagem diária de pacientes portadores da síndrome de imobilidade Data 24/ago 25 26 27 28 29 30 31 1/set 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 Nº de pacientes internados 31 31 29 31 32 32 32 32 31 31 31 29 31 32 31 31 32 32 32 32 32 31 31 30 26 32 31 31 30 29 29 32 Pacientes com Prevalência diária síndrome da (síndrome da imobilidade imobilidade) 6 19,35 6 19,35 5 17,24 5 16,12 5 15,62 5 15,62 5 15,62 6 18,75 5 16,12 5 16,12 5 16,12 4 13,79 4 12,9 4 12,5 4 12,9 4 12,9 4 12,5 6 18,75 6 18,75 5 15,62 5 15,62 5 16,12 5 16,12 5 16,66 4 15,38 4 12,5 4 12,9 4 12,9 4 13,33 4 13,79 4 13,79 4 12,5 Tabela 2. Causas da internação dos pacientes com síndrome da imobilidade Broncopneumonia ITU Diarreia Hiponatremia ICC Desidratação Úlcera de pressão infectada 5/41,66% 4/33,33% 1/8,3% 1/8,3% 1/8,3% 1/8,3% 1/8,3% ITU: infecção do trato urinário; ICC: insuficiência cardíaca congestiva. 8 7 6 5 4 3 2 1 0 7 5 4 3 3 2 S HA DA DM ICC DV IRC 2 1 Ei ão AV utaç p Am HAS: hipertensão arterial sistêmica; DA: doença de Alzheimer; DM: diabetes melito; ICC: insuficiência cardíaca congestiva; DV: demência vascular; IRC: insuficiência renal crônica; AVEi: acidente vascular encefálico isquêmico. Gráfico 1. Comorbidades apresentadas pelos pacientes com síndrome da imobilidade. DISCUSSÃO Após a análise dos dados, o perfil da população estudada pôde ser delineado com maior fidedignidade. Em relação à idade média/tempo de internação, verificou-se 85,3 anos/12,08 dias para os indivíduos com síndrome da imobilidade e 83,1 anos/12,47 dias para a população geral internada na enfermaria de geriatria. Inicialmente, recebemos esses dados com incredulidade. A princípio, imaginávamos que os pacientes com diagnóstico de imobilidade fossem de faixa etária superior e com maior tempo de internação, quando comparados aos outros indiví duos da mesma enfermaria. Entretanto, concluímos que, mesmo naqueles sem critérios para síndrome da imobilidade, coexistem elevadas taxas de doenças crônico-degenerativas, sequelas de insultos vasculares cerebrais, cardiopatias e doenças pulmonares debilitantes, que contribuem para um tempo de internação elevado, mesmo para a população em geral. Frequência da síndrome de imobilidade Na tentativa de justificar esses resultados, podem-se inferir algumas hipóteses. Primeiro, nem todos os indivíduos com perda de funcionalidade evoluirão para imobilismo. Cabe aqui salientar que o idoso precisa ser abordado com tenacidade nas esferas biológica, psíquica e social, principalmente na vigência de patologias que culminam com perda da mobilidade e dependência de terceiros. Apoio familiar, boa condição socioeconômica, assistência médica multidisciplinar e aderência à terapêutica proposta são exemplos de fatores que podem ser decisivos em evitar ou retardar a instalação de imobilidade. Por causa de condições comórbidas mais prevalentes, pacientes acima de 60 anos internam-se rotineiramente para tratamento de agudizações de suas patologias crônicas, as quais precisam ser adequadamente abordadas, sob pena de prejuízos funcionais não passíveis de serem revertidos. Todos esses fatores podem estar envolvidos isoladamente ou em conjunto no desenvolvimento de imobilidade. Um diferencial importante, esse sim observado de forma bastante consistente, foi a mortalidade de 50% conferida aos pacientes com síndrome da imobilidade, contra 25% para a população em geral. Ambos os índices são relativamente elevados quando comparados com dados obtidos em outras enfermarias, mas são reflexo da gravidade dos pacientes internados em nosso setor, com avançado comprometimento funcional, como já explanado previamente. Talvez esse fato também contribua para um encurtamento do tempo de internação, pois pacientes portadores de síndrome de imobilidade, por serem extremamente graves e comprometidos, reagem de maneira débil aos estressores ambientais, como infecções virais e bacterianas ou descompensação de doenças preexistentes, como insuficiência cardíaca congestiva e doença pulmonar obstrutiva crônica. 139 Diante desses fatos, é óbvio que a discussão inicial em relação a como cuidar desses pacientes tem a ver com uma reflexão de nossas intenções. Em outras palavras, deveríamos nos questionar sobre o que pretendemos ao abordar um paciente com síndrome de imobilidade: simplesmente prolongar seu tempo de vida ou provê-lo de cuidados voltados exclusivamente ao seu bem-estar, mesmo que seu tempo de vida seja extremamente exíguo? Nessa temática, pode-se questionar a realização de terapêuticas com cunho invasivo, que muitas das vezes têm como único estratagema prolongar a vida do paciente, renegando o bem-estar físico e mental para segundo plano. Não foi, de fato, objetivo deste estudo responder a essas questões. Entretanto, conhecer em profundidade todos os aspectos da população com a qual lidamos é essencial para trilharmos caminhos opostos a condutas meramente iatrogênicas. Certamente, novos estudos voltados a essa problemática serão conduzidos, contribuindo para sanar dúvidas e minorar o sofrimento desse grupo. REFERÊNCIAS 1. Datasus [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde (BR) [citado 29 set. 2010]. Apresenta: Indicadores Demográficos segundo o IBGE e Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS). Disponível em: http://www.datasus.gov.br/catalogo/sihsus.htm. 2. Ando F. Strategies to reduce bed-ridden or house-bound elderly people in Japan. Nippon Ronen Igakkai Zasshi. 2004;41(1):61-4. 3. Biolo G, Piccoli A, Zanetti M. Metabolic consequence of physical inactivity. J Ren Nutr. 2005:15(1)49-53. 4. Siqueira AB, Cordeiro RC. Imobilidade In: Ramos LR, Toniolo Neto J. Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar Unifesp – Escola Paulista de Medicina – Geriatria e Gerontologia. São Paulo: Manole; 2005. cap. 21. 5. Freitas EV, Py L, et al. Tratado de geriatria e gerontologia. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2006. cap. 100, p. 973-80. ARTIGO ORIGINAL Efeito de um programa de exercício resistido aquático na resistividade carotídea, qualidade de vida e autonomia funcional de mulheres idosas Effect of a resisted aquatic exercise program on carotid resistive index, quality of life, and funcional automomy of elderly women Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses1, Rodrigo Gomes de Sousa Vale2, Tânia Fernandes Campos3, Armele de Fátima Dornelas de Andrade4 RESUMO Objetivo: Verificar o efeito da prática de um programa de exercício aquático resistido na resistividade carotídea, na qualidade de vida e na autonomia funcional de idosas. Método: A amostra foi de 35 mulheres com idade de 68,67 ± 4,52, alocadas em grupo de intervenção (GH = 22) e grupo controle (GC = 13). Foi avaliada a resistência das artérias carótidas pelo método de ultrassom Doppler, a qualidade de vida pelo questionário WHOQOL-100 e a autonomia funcional por meio de quatro testes que simulam atividades da vida diária. O programa de exercício proposto durou 12 semanas com intensidade moderada controlada pela escala de percepção de esforço de OMNI-RES. Resultados: A resistividade carotídea e a qualidade de vida não sofreram modificações significativas. Obteve-se significância na autonomia funcional no teste de C10m com redução no tempo de execução, p = 0,002 após intervenção. Correlação entre o índice geral de autonomia funcional e índice de resistividade carotídeo, p = 0,000 em pré-teste e correlação positiva entre o teste levantar da posição de decúbito ventral e os domínios 2 e 6 da qualidade de vida em pós-teste. Conclusão: O programa de exercício aquático resistido proposto não foi capaz de reduzir a resistência da artéria carótida e causar melhorias significativas na qualidade de vida de idosas quando avaliadas isoladamente. Contudo, houve correlação entre autonomia funcional e qualidade de vida de idosas após a prática regular de exercício resistido aquático. Recebido em 2/6/2011 Aceito em 13/10/2011 Palavras-chave: Resistência arterial, qualidade de vida, idoso, exercício aquático. ABSTRACT Objective: Verify the effects of the practice of an aquatic exercise program resisted in the resistivity carotid, life quality and functional autonomy of elderly. Method: The sample was taken based on 35 women with 68.67 ± 4.52 years old, allocated in intervention group (HG = 22) and control group (CG = 13). The carotid arterial resistance was availed by the method of Doppler ultrasound, the life quality through the questioner WHOQOL-100 and the functional autonomy through four experiences which simulate day a day activities. The proposed exercise program lasted 12 weeks with moderate intensity controlled for the OMNI-RES effort perception scale. Results: The carotid resistivity and the life quality didn’t suffer significant changes. Significance was obtained on the functional autonomy in the procedure C10m with the reduction in the execution time, p = 0.002 after intervention. Correlation between the general functional autonomy index and the carotid resistivity index, p = 0,000 at before procedure and positive correlation between the standing up from the ventral decubiti position procedure and the domains 2 and 6 of life quality after procedure. Conclusion: The proposed resisted aquatic exercise program wasn’t capable of reduce the carotid arterial resistivity and cause significant improvement on elderly life quality when singly aviated. However there was correlation between functional autonomy and elderly life quality after aquatic resisted exercise regular practice. Keywords: Arterial resistance, life quality, elderly, aquatic exercise. Endereço para correspondência: Yúla Pires da Silveira Fontenele de Meneses • Rua Wilson Soares, 242, São Cristóvão – 64052-310 – Teresina, PI • Telefone: (86) 3233-5633 • E-mail: [email protected] Universidade Estadual do Piauí (UESPI), Faculdade NOVAFAPI, Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 2 Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ. 3 UFRN. 4 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Programa de PósGraduação em Ciências da Saúde da UFRN. 1 Exercício aquático em idosas INTRODUÇÃO MÉTODOS Fatores de risco arteriocoronarianos promovem aterosclerose nas artérias carótidas provocando condições crônicas que reduzem o desempenho nas atividades da vida diária (AVDs) em pessoas idosas, reduzindo o fluxo sanguíneo e, consequentemente, o aporte de oxigênio para o cérebro. As funções mecânicas e a tolerância ao esforço físico se tornam diminuídas nos indivíduos à medida que essas lesões avançam1,2. Amostragem Durante o processo de envelhecimento, essas alterações afetam tanto o aspecto funcional como o estrutural do sistema vascular, comprometendo grandes artérias, exercendo importante papel nas patologias cardiovasculares. A formação de placas ateromatosas na camada íntima das artérias carótidas conduz a um aumento na resistência arterial devido ao estreitamento da luz do vaso3,4. O aumento da resistividade nas artérias é um processo comum nessa fase da vida e pode estar relacionado a vários fatores, dentre os quais se destacam a hereditariedade de doenças crônicas como hipertensão e diabetes e hábitos de vida como sedentarismo e alimentação. Esses aspectos, quando em desequilíbrio, tornam a parede dos vasos permeáveis às substâncias formadoras de estenoses como colágenos, cálcio, substâncias gordurosas, entre outras, promovendo inflamação endotelial3. Essa inflamação pode comprometer a complacência das artérias, influenciando negativamente no índice de resistividade carotídeo4. Resultados não conclusivos mostram o efeito positivo do exercício físico na forma de condicionamento cardiorrespiratório sobre as inflamações crônicas em pessoas idosas5, sendo recomendado como promotor de saúde em prol da satisfação geral de praticantes sedentários e atuando favoravelmente no sistema cardiovascular, na captação máxima de oxigênio, nas funções hemodinâmicas centrais, no sistema nervoso autônomo e no sistema vascular periférico4,6. Estudos recentes sobre o exercício resistido em terra e na água têm demonstrado ganhos na aptidão física geral, principalmente relacionado a equilíbrio e coordenação, resultando em melhorias na autonomia funcional e na qualidade de vida (QV) de idosos7,8, enquanto a função vascular é beneficiada pelas características do meio líquido favorecendo o retorno venoso8. Diante disso, este estudo teve por objetivo verificar o efeito de um programa de exercício resistido aquático na resistência da artéria carótida, na QV e na autonomia funcional de mulheres idosas. 141 A amostra foi selecionada aleatoriamente entre idosas participantes de programa social da prefeitura de Teresina, Piauí. O critério de inclusão era ser do sexo feminino, ter idade entre 60 e 79 anos e ser sedentária. Como critério de exclusão, foram considerados a presença de patologia crônica que impossibilitasse responder ao questionário de QV e impedisse de rea lizar os testes de autonomia funcional e o exame de Doppler com independência e um número de falta às práticas superiores a 10% do total. As idosas foram alocadas em dois grupos; o primeiro foi considerado grupo de intervenção com aulas de hidroginástica (GH = 22) e o segundo, o grupo controle (GC = 13). Foi escolhido o sexo feminino por causa das perdas hormonais e demais modificações morfofuncionais do período pós-menopausa, que geram déficits no sistema cardiorrespiratório e neuromuscular. Este estudo foi aprovado por Comitê de Ética Institucional, e as idosas assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. Procedimentos O questionário PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnaire)9 para liberação para a prática de exercício físico foi aplicado aos grupos. Foi avaliada a massa corporal e a estatura em balança antropométrica com estadiômetro (Filizola, Brasil). Foram aferidas as circunferências de cintura e quadril com fita métrica da marca Sanny. Foram aplicados questionário de QV e testes de autonomia funcional. Artéria carótida interna Para a avaliação das artérias carótidas, utilizou-se o método de ultrassom Doopler, por meio do aparelho de alta resolução com Doppler e com Transdutor Linear de 7,5 Mz (Medson, modelo Sonoace 8000). Foi registrado o índice de resistividade das artérias carótidas interna direita (IRCID) e esquerda (IRCIE), resultante da fórmula matemática10: índice de resistividade (IR) = velocidade do pico sistólico (Vsist) – velocidade diastólica final (Vdiast) / velocidade do pico sistólico (Vsist) A carótida escolhida para análise foi a interna, porque irriga o cérebro, ficando suscetível à aglomeração 142 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):140-6 de substâncias devida à redução nos níveis de óxido nítrico (antioxidante) durante o envelhecimento. Os volumes sanguíneos foram registrados no ponto médio das artérias carótidas, medidos em centímetros por segundo. Para tanto, cada idosa foi convidada a deitar-se em decúbito dorsal e o aparelho de mensuração foi colocado sobre as artérias a serem avaliadas, registrando a presença de placas ateromatosas com os respectivos graus de obstrução. Qualidade de vida A QV foi avaliada por meio do questionário WHOQOL-10011, que avalia seis domínios do desenvolvimento humano (físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, ambiente e aspectos espirituais) e o índice geral de QV (Faceta 25). Após explicação coletiva, cada idosa respondeu ao questionário individualmente. A piscina tinha profundidade de 1,10 a 1,40 metros, com declive suave, com o nível da água na linha axilar. As idosas ficavam dispostas de forma que os dois pés ficassem na mesma profundidade para não sofrer interferência do declive do piso da piscina. A temperatura da água ficava entre 28ºC e 30ºC e a temperatura ambiente entre 32ºC e 34ºC. Nas duas primeiras semanas, não foram utilizadas sobrecargas adicionais; a sobrecarga do próprio corpo, a da água, a amplitude e a velocidade médias de execução dos exercícios foram suficientes para atingir o objetivo de adaptação ao meio líquido. Tabela 1. Programa de treinamento aquático Tempo de atividade Exercícios aquáticos Aquecimento 10 minutos Exercícios de alongamento dinâmico em deslocamento; saltitos com movimentos variados de braços e pernas Corridas variadas sem e com o auxílio dos braços Exercícios resistidos 30 minutos Método de alternância de seguimentos entre membros inferiores, superiores e tronco com movimentos de flexão, extensão, abdução, adução e rotações realizados no mesmo lugar e em deslocamento Alongamento 5 minutos Alongamentos estáticos a partir de estiramentos da musculatura trabalhada; exercícios respiratórios e de soltura Autonomia funcional A avaliação da AF foi realizada por meio de quatro testes que simulam AVDs: LPS = levantar da posição sentada, cinco vezes seguidamente, em cadeira de 50 centímetros de altura, do assento ao solo12; LCLC = levantar da cadeira e locomover-se pela casa, perfazendo um circuito formado por dois cones e uma cadeira, previamente demonstrado qual deveria ser percorrido duas vezes ininterruptamente13; C10m = caminhar 10 metros medidos com trena (Sunico) de 7 metros14; LPDV = levantar da posição de decúbito ventral estando sobre dois colchonetes e com os braços ao longo do corpo15; foi calculado o IG (índice geral de autonomia funcional) pela fórmula abaixo apresentada16: IG = [(C10m + LPS + LPDV) X2 + LCLC] 3 Registrou-se, em segundos, o menor tempo de duas tentativas de execução em cada teste, utilizando-se um cronômetro (Casio). Intervenção O programa de exercício aquático proposto durou 12 semanas, com programação de atividade neuromuscular predominantemente, envolvendo resistência muscular localizada e flexionamento em três sessões semanais em dias alternados no turno da manhã. Cada sessão tinha duração de 40 minutos e intensidade média controlada por meio da tabela de percepção subjetiva de esforço Omni-Res17 com percepção mantida entre 4 e 7. Cada exercício tinha duração de 1,5 minuto, perfazendo duas séries de cada exercício, alternando os seguimentos corporais. A partir da terceira semana, passou-se a utilizar materiais de baixa densidade em borracha EVA, para exercícios em flutuação; para aumentar a sobrecarga dos membros superiores, halteres e luvas; aquatubos e tornozeleiras para os membros inferiores. Aumentou-se a intensidade dos exercícios, que passaram a ter 1 minuto de duração, com incentivos constantes para a melhoria na execução e aumento da força a ser aplicada em cada atividade proposta, objetivando manter intensidade moderada na percepção de esforço. O grupo controle foi orientado a não fazer nenhum tipo de atividade física regular enquanto durasse a pesquisa, contudo receberam a garantia de serem inseridas em um programa de hidroginástica após o final do estudo. 143 Exercício aquático em idosas Análise estatística arterial sistólica (129,3 ± 0,09) e diastólica (87,5 ± 3,2), nos quais não foram observadas modificações significativas em pós-teste. A análise dos dados foi realizada por meio do programa SPSS 15.0 (Statistical Package for the Social Science), atribuindo-se o nível de significância de 5%. A normalidade da amostra foi verificada pelo teste Kolmogorov-Sminorv, sendo utilizado o teste t de Student não pareado para comparação da idade entre o grupo de hidroginástica e o grupo controle. Por meio do teste de Fisher, foi feita análise comparativa de frequência percentual e absoluta dos valores de IR e AF. A ANOVA foi utilizada para verificar diferença entre os grupos de hidroginástica e controle, antes e após a intervenção quanto aos IRCIs, os testes da autonomia funcional e os domínios da QV. As correlações entre o IRCID, os escores da autonomia funcional e a QV, antes e após a intervenção, foram analisadas por meio do teste de correlação de Pearson. A resistência da artéria carótida interna não reduziu após a prática de 12 semanas de exercício físico aquático. Foram verificados ateromas calcificados em aproximadamente 40% das idosas de ambos os grupos com 28,2% de obstrução das carótidas, em média, sugerindo risco baixo de descolamento de partículas na corrente sanguínea. No quesito QV, observou-se melhoria não significativa após a intervenção, contudo correlações foram encontradas entre QV e AF, entre o domínio representado por sentimentos positivos, memória, concentração e autoestima e o teste LPDV de AF demonstrando p = 0,044. RESULTADOS A autonomia funcional apresentou melhoria significativa no teste C10m, p = 0,002 e no IG de autonomia funcional, p = 0,017 no GH antes e após a intervenção de acordo com a figura 2. A amostra foi caracterizada pelo índice de massa corporal (IMC) (29,52 ± 3,72) e verificação de pressão Tabela 2. Análise descritiva do grupo de hidroginástica antes e após a intervenção GH Pré-intervenção Pós-intervenção Variáveis Mediana Mínimo Máximo Primeiro quartil Terceiro quartil IRCID 0,66 0,54 0,85 0,62 0,70 Faceta 25 15 11 18 14 16 IG 26,5 22,1 35,8 23,7 28,8 IRCID 0,67 0,56 0,79 0,63 0,71 Faceta 25 14 9 20 12 16 IG 25,0 22,9 35,4 24,1 29,1 Escores de qualidade de vida GH: grupo de intervenção; IRCID: índice de resistividade da carótida interna direita; Faceta 25: índice geral de qualidade de vida do WHOQOL-100; IG: índice geral de autonomia funcional. HPRE HPOS P > 0,05 Faceta 25 Dom1 Dom2 Dom3 Dom4 Dom5 Dom6 HPRE: grupo de hidro pré-teste; HPOS: grupo de hidro pós-teste; Faceta 25: índice geral de qualidade de vida; Dom1: domínio físico; Dom2: domínio psicológico; Dom3: nível de independência; Dom4: relações sociais; Dom5: ambiente; Dom6: aspectos espirituais. Figura 1. Qualidade de vida de idosas ativas. 144 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):140-6 45 40 Tempo em segundos 35 * 30 25 HPRE HPOS 20 CPRE 15 CPOS 10 * 5 0 P < 0,05 LPS LCLC C10m LPDV IG HPRE: grupo de intervenção pré-teste; HPOS: grupo de intervenção pós-teste; CPRE: grupo controle pré-teste; CPOS: grupo controle pós-teste; LPS: levantar-se da posição sentada; LCLC: levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa; C10m: caminhar 10 metros; LPDV: levantar-se da posição de decúbito ventral. * P < 0,05. Figura 2. Autonomia funcional de idosas submetidas à hidroginástica em Teresina, PI. DISCUSSÃO A resistividade carotídea e a QV das idosas não sofreram modificações significativas com a prática regular de exercício aquático durante 12 semanas. Esses resultados podem ser justificados pelo fato de as placas ateromatosas estarem calcificadas, segundo verificação em Doppler, não podendo ser desmobilizadas, a não ser por intervenção médica. A resistência arterial está diretamente relacionada a hábitos de vida e à independência do idoso4. Por isso, sugere-se considerar o fato do não aumento do índice de resistividade devido às modificações nos hábitos de vida proposto pela intervenção. Os valores de resistência arterial encontrados são considerados normais no processo de envelhecimento na mulher e de baixo risco à saúde das idosas. Somente valores de oclusão superiores a 70% são sintomáticos e considerados de risco3,10. Estudos com o mesmo tempo de intervenção desta pesquisa incluindo controle de outros hábitos de vida foram favoráveis à modificação na viscosidade sanguínea e na liberação de substâncias antioxidantes na corrente sanguínea, que tornaram as paredes dos vasos menos suscetíveis ao enrijecimento e à adesão de espécies reativas de oxigênio, formadoras de estenoses18,19. Os efeitos benéficos do exercício físico resistido nas funções endoteliais foram confirmados em outras faixas etárias em pesquisas randomizadas, como em estudo conduzido nos Estados Unidos, em que adultos e idosos mantiveram massa muscular, força e flexibilidade, sendo esses parâmetros para manutenção de hábitos saudáveis que levam à saúde vascular1. Na Espanha, a prática regular de exercício aquático resistido resultou em melhorias na saúde vascular e na capacidade física de mulheres pós-menopausa8. Na Austrália, adultos jovens, homens e mulheres reduziram pressão arterial e aumentaram a complacência da artéria20. O tempo de intervenção superior a 12 semanas tem apresentado resultados significativos em populações idosas, demonstrando desde melhorias na composição corporal, no condicionamento cardiorrespiratório e neuromuscular até redução em fatores de risco para doenças arteriocoronarianas19,21. A QV é avaliada, no questionário aplicado, como um instrumento multidimencional11, em que seus construtores em estudos diversos afirmam existir uma forte interação entre os domínios por ele avaliados e que são diretamente relacionados aos hábitos de vida. Dessa forma, considera-se importante a correlação encontrada entre o domínio 2 e o teste de autonomia funcional, uma vez que a QV tem um conceito amplo que envolve saúde física e mental, nível de independência para as AVDs, socialização, crenças pessoais e a relação com o meio ambiente. Durante a velhice, a QV é interpretada segundo avaliação pessoal, dependente de valores e atitudes tomadas durante toda a vida, refletindo sobre o sistema de valores nos quais vivem em relação às suas expectativas, padrões e preocupações22. Diante disso, os achados deste estudo relacionados à correlação entre Exercício aquático em idosas QV e autonomia funcional sugerem que uma melhor percepção de QV poderá indicar melhorias funcionais para a realização de atividades da vida diária. Conforme aumenta o nível de condicionamento físico, melhora o desempenho cognitivo e a percepção de bem-estar, assim mostrou estudo23 comparando a QV entre um grupo de alto rendimento e outro de sedentários idosos que realizavam atividade física desportiva. Outros estudos mostraram que a prática de atividade física promove satisfação e, quanto maior for esse índice, melhor será a percepção de QV de idosos; a QV de pessoas idosas é influenciada por condições de saúde25. O teste LPDV de autonomia funcional envolve grupos musculares de todo o corpo e mudanças de direção que requisitam equilíbrio e coordenação, qualidades físicas essas básicas para a aquisição de concentração e manutenção da capacidade de memorização, características essas que, quando mantidas durante o envelhecimento, geram sentimentos positivos e melhoria na autoestima, o que resulta em ganho na QV22,26. Corroborando essas expectativas, foi encontrada correlação entre resistência da artéria carótida e AVD de idosas sedentárias, demonstrando que um bom desempenho nas AVDs sugere menor índice de resistividade carotídea, assim como um baixo nível de autonomia funcional poderá proporcionar uma alta resistência na carótida27. Nesta pesquisa, o teste C10m de autonomia funcional no grupo de intervenção foi realizado em um menor tempo em pós-teste, sugerindo melhoria na função mecânica de caminhar, assim como na velocidade de reação para iniciar o teste. O IG de independência do idoso também apresentou significância em pós-teste. Corroborando esses achados, estudo anterior rea lizado por Vale et al.24 (2009) encontrou correlação positiva entre níveis séricos de IGH-1, essencial na síntese proteica, e o teste C10m, sugerindo que com o envelhecimento diminui o metabolismo de proteína, afetando a manutenção de massa muscular e, consequentemente, a força de membros inferiores. Orientações sobre os males advindos do sedentarismo, hábitos alimentares e pensamentos positivos foram propostas durante as sessões de exercício com o intuito de melhorar os hábitos de vida das idosas, contudo esse item não foi diretamente avaliado. 145 Novos estudos devem contemplar maior tamanho de amostra com avaliação de níveis de sedentarismo e hábitos alimentares. Questionários menos complexos para avaliação da QV são também recomendáveis, assim como programas de exercício físico com maior tempo total de duração, suficientemente capazes de causar adaptações hemodinâmicas significativas em populações idosas. REFERÊNCIAS 1. Cress M, Buchner D, Prohaska T, Rimmer J, Brown M. Physical activity programs and behavior counseling in older adult populations. Eur Rev Aging Phys Act. 2006;3:34-42. 2. Norgren L, Hiatt WR, Dormandy JA, Nehler MR, Harris KA, Fowkes FG, et al. Inter-Society Consensus for the Management of Peripheral Arterial Disease (TASC II). J Vasc Surg. 2007;45(1):S5-67. 3. Bortolotto LA. Implicação do agrupamento dos fatores de risco cardiovascular da síndrome metabólica da rigidez vascular. Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo. 2004;14(4):604-15. 4. Galetta F, Franzoni F, Virdis A, Ghiadoni L,Taddei S, Santoro G. Endotelium dependent vasodilation and carotid artery wall remodeling in athletes and sedentary subjects. Atherosclerosis. 2006;186(1):184-92. 5. Maeda S, Tanabe T, Otsuki T, Sugawara J, Ajisaka R, Matsuda M. Acute exercise increases systemic arterial compliance after 6-month exercise training in older women. Hypertens Res. 2008;31(2):377-81. 6. Janssen I, Jolliffe C. Influence of physical activity on mortality in elderly with coronary artery disease. Med Sci Sports Exerc. 2006;38(3):418-23. 7. Suminski R, Poston WSC, Foreyt JP, St Jeor S. Physical activity assessed with three different methods and the Framingham Risk Score on 10-year coronary heart disease risk. Med Sci Monit. 2008;14(1):CR1-9. 8. Colado J, Triplett NT, Tella V, Saucedo P, Abellan J. Effects of aquatic resistance training on health and fitness in postmenopausal women. Eur J Appl Physiol. 2009;106(1):113-22. 9. Luz L, Maranhão Neto G, Farinatti P. Validity of the Physical Activity Readness Questionnaire (PAR-Q) in elder subjects. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2007;9(4):366-71. 10. De Assis M, Machado H. Medida da velocidade de fluxo nas artérias cerebrais utilizando ultrassom Doppler transfontanela antes e após o tratamento cirúrgico da hidrocefalia. Arq Neuropsiquiatr. 1999;57(3- B):827-35. 11. Fleck M, Leal O, Louzada S, Xavier M, Chachamovich E, Vieira G, et al. Desenvolvimento da versão em português do instrumento de avaliação de qualidade de vida da OMS (WHOQOL-100). Rev Bras Psiquiatr. 1999;21(1):19-28. 12. Guralnik J, Ferricci L, Simonsick E, Salive M, Wallace R. Lowerextremity function in persons over de age of 70 years as a predictor of subsequent disability. N Engl J Med. 1995;332(9):556-61. 13. Andreotti R, Okuma S. Validação de uma bateria de testes de atividades da vida diária para idosos fisicamente dependentes. Rev Paul Educ Fís. 1999;(1):46-66. 14. Sipilã S, Multanen J, Kallinen M, Era P, Suominen H. Effects of strength and endurance training on isometric muscle strength and walking speed in elderly women. Acta Physiol Scand. 1996;156:457-64. 146 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):140-6 15. Alexander N, Ulbrich J, Raheja A, Channer D. Rising from the floors in older adults. J Am Geriat Soc. 1997;45(5):564-9. composition, blood lipids, and physical fitness. Am Heart J. 2007;154(3):560-6. 16. Vale R, Dantas E. Protocolo GDLAM de avaliação da autonomia funcional. Fit Perf J. 2004;3(3):175-82. 22. Fleck MP, Lima A, Louzada S, Schestasky G, Henriques A, Borges VR, et al. Association between depressive symptoms and social functioning in primary care service, Brazil. Rev Saude Publica. 2002;36(4):431-8. 17. Robertson R, Goss F, Rutkowski J, Lenz B, Dixon C, Timmer J, et al. Concurrent validation of the OMNI perceived exertion scale for resistance exercise. Med Sci Sports Exerc. 2003;35(2):333-41. 18. Conti AA, Macchi C, Molino Lova R, Conti A, Gensini G. Relationship between physical and cardiovascular disease. Selected historical highlights. J Sports Med Phys Fitness. 2007;47:84-90. 19. Colado JC, Saucedo P, Tella V, Naclerio F, Chulvi I, Abellan J. Effects of an aquatic strength training program on certain cardiovascular risk factors in early-postmenopausal women. Med Sci Sports Exerc. 2007;39(5):S422. 20. Bertovic D, Waddell T, Gatzka C, Cameron J, Dart A, Kingwell B. Muscular strength training is associated with low arterial compliance and high pulse pressure. Hypertension. 1999;33:1385-91. 21. Volaklis K, Spassis A, Tokmakidis S. Land versus water exercise in patients with coronary artery disease: effects on body 23. Mussoll J, Espinosa MC, Quera D, Serra ME, Pous E, Villarroya I, et al. Resultados de la aplicación en atención primaria de un protocolo de valoración geriátrica integral en ancianos en riesgo. Rev Esp Geriatr Gerontol. 2002;37(5):249-53. 24. Vale R, Oliveira R, Pernanbuco C, Meneses Y, Novaes J, Andrade A. Correlation between basal serum IGF-1 levels and functional autonomy in elderly women. Int J Sport Sci. 2009;5(14):11-8. 25. Kubota A, Ishikawa-Takata K, Ohta T. Effect of daily physical activity on mobility maintenance in the elderly. Int J Sport Health Sci. 2005;3:83-90. 26. Meneses Y, Cabral P, Abreu F, Vale R, Rocha F, Andrade A. Correlação entre resistência carotídea e autonomia funcional de mulheres idosas. Rev Bras Enferm. 2007;60(4):382-6. ARTIGO ORIGINAL Efeito da hidroginástica na autonomia funcional de idosas Effect of water aerobics on the functional autonomy of the elderly population Jader de Andrade Bezerra1, Neméia de Oliveira Farias1, João Gomes Jácome1, Aristéia Nunes Sampaio Castro1, Jeane Maria Moura Costa1, Estélio Henrique Martin Dantas2 Recebido em 10/3/2011 Aceito em 13/10/2011 RESUMO Objetivo: Verificar o efeito de aulas de hidroginástica na autonomia funcional de idosas. Métodos: O estudo foi realizado com 38 idosas selecionadas aleatoriamente, com idades entre 60 e 75 anos, divididas em dois grupos: GIS (idosas sedentárias), N = 19, e GIH (idosas praticantes de hidroginástica), N = 19. O GIH realizou aulas de hidroginástica, três vezes por semana, com duração de 50 minutos, durante seis meses. O GIS não praticou nenhuma atividade durante os seis meses. A aptidão física das idosas foi mensurada por meio da bateria de testes desenvolvida pelo Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM) de avaliação da autonomia funcional, utilizando no protocolo cinco testes, aferidos por tempo em segundos, que se relacionam com os principais movimentos da vida diária das idosas: “caminhar 10 metros (C10m)”, “levantar-se da posição sentada (LPS)”, “levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV)”, “levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC)” e “vestir e tirar uma camiseta (VTC)”. Resultados: O GIS apresentou menor autonomia funcional comparado com o GIH, e essa diferença foi comprovada estatisticamente: p < 0,05. Conclusão: Conclui-se que programas de hidroginástica colaboram para a melhoria e a manutenção da autonomia funcional de idosas, influenciando suas vidas de forma positiva, contribuindo para maior independência e assegurando a eles melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Idoso, autonomia funcional, hidroginástica. ABSTRACT Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Acre (UFAC). 2 Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), Laboratório de Biociência da Motricidade Humana (LABIMH). 1 Objective: To assess the effect of water aerobics exercise on the functional autonomy of the elderly. Methods: Thirty-eight elderly subjects (aged 60-75 years) were randomly selected and divided into two groups: sedentary elderly subjects (GIS N = 19) and elderly subjects who practiced water aerobics three times a week, 50 minutes per session, for six months (GIH; N = 19). The subjects in GIS did not participate in any activity during this period. Physical aptitude was assessed using a battery of tests from the Latin American Development Group for the Elderly (LADGE), which measure activities of daily life: a 10-min walk (10mW), getting up from a seated position (GSP), getting up from the prone position (GPP), getting up from a chair and moving around (GCM), and putting on/taking off a shirt (PTS). All data are expressed in seconds. Differences between groups were analyzed using descriptive and inferential statistics (SPSS software, version 16.0 for Windows). Results: The level of functional autonomy was higher in G1 than in G2 (p < 0.05). Conclusion: We found that practice of water aerobics contributes to the improvement and maintenance of functional autonomy of the elderly. Increased autonomy positively affects self-esteem and ultimately enhances the quality of life of the elderly. Keywords: Elderly, functional autonomy, water aerobics. Endereço para correspondência: Jader de Andrade Bezerra • Curso de Educação Física – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Acre. Campus Universitário • BR 364, Km 04, Distrito Industrial – 69900-000 – Rio Branco, AC • Telefone: (68) 3901-2629/Telefax: (68) 3229-7330. E-mail: [email protected] 148 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):147-50 INTRODUÇÃO Uma das mais importantes etapas da vida, e talvez a mais difícil, é a terceira idade. Os idosos têm maior probabilidade de tornarem-se dependentes na realização das atividades de vida diária, comprometendo sua qualidade de vida, o que se deve a alterações funcionais ocorridas com o envelhecimento e também a doenças crônicas não transmissíveis associadas à idade avançada1. A prática de atividade física, no entanto, pode minimizar essas alterações e assegurar a manutenção da autonomia funcional2. O envelhecimento populacional faz emergir uma grande preocupação com a qualidade de vida das pessoas, uma vez que o sedentarismo é uma frequente característica em seus estilos de vida3,4. O envelhecimento é um processo inexorável aos seres vivos e conduz a uma perda progressiva das aptidões funcionais do organismo, aumentando o risco do sedentarismo, e essas alterações nos domínios biopsicossociais põem em risco a qualidade de vida do idoso, por limitar sua capacidade para a realização de suas atividades de rotina5. A terceira idade desponta, assim, como um perío do normal da vida, com desafios e oportunidades de crescimento que lhe são próprios. É, apenas, mais uma instância da experiência humana que precisa e deve ser ainda bem vivida6. Para Zago7, devem ser incentivadas campanhas que visem principalmente à conscientização da população para a adoção de estilos de vida mais saudáveis, fortalecendo a relação saúde-doença por intermédio do exercício físico. Entre os exercícios físicos, acredita-se que os exercícios aquáticos podem proporcionar benefícios sem a dor e os riscos inerentes ao exercício praticado em terra, levando em conta a melhoria da capacidade funcional e a autonomia do idoso, que são de extrema importância para uma boa qualidade de vida deles. Portanto, o estudo objetiva avaliar os efeitos da prática da hidroginástica sobre a autonomia funcional de idosas. MÉTODOS A amostra foi composta de 38 idosas, selecionadas aleatoriamente, com idades entre 60 e 75 anos, praticantes de hidroginástica, e idosas sedentárias, mediante aceitação em participar do estudo, de acordo com a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (Brasil). O projeto foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa da Fundação Hospitalar do Acre (Fundacre), sob nº 507/2010, aprovado em 20 de outubro de 2010. Como critérios de exclusão, não fizeram parte da pesquisa as idosas com menos de 60 anos de idade, que não tinham frequência nas aulas e que apresentavam algum tipo de doença que impossibilitasse a realização dos testes. Foram formados dois grupos: GIS (grupo de idosas sedentárias), N = 19, e grupo GIH (grupo de idosas praticantes de hidroginástica), N = 19, matriculadas na modalidade de hidroginástica, oferecida pelo clube SESC da cidade de Rio Branco/AC. O GIH praticou aulas de hidroginástica, ministrada pela professora do clube, três vezes por semana, com 50 minutos de duração, por um período de seis meses. As aulas eram musicalizadas e envolviam atividades aeróbicas, exercícios localizados, alongamentos, relaxamentos e atividades lúdicas, ministradas com e sem aparelhos. O GIS não praticou nenhum tipo de exercício regular pelo mesmo período. Após os seis meses, a aptidão física dos dois grupos de idosas selecionados para o estudo foi mensurada por meio da bateria de testes desenvolvida pelo Grupo de Desenvolvimento Latino-Americano para a Maturidade (GDLAM)8 de avaliação da autonomia funcional, utilizando no protocolo cinco testes, aferidos por tempo em segundos, que se relacionam com os principais movimentos da vida diária das idosas, respectivamente: “caminhar 10 metros (C10m)”; “levantar-se da posição sentada (LPS)”; “levantar-se da posição decúbito ventral (LPDV)”; “levantar-se da cadeira e locomover-se pela casa (LCLC)” e “vestir e tirar uma camiseta (VTC)”8. As idosas realizaram duas tentativas para cada teste, sendo registrada a execução que levou o menor tempo. Após essa etapa, os dados obtidos foram analisados mediante estatística descritiva e inferencial, utilizando-se o pacote estatístico SPSS, versão 16. Os dados estão expressos com média e desvio-padrão. O teste Kolmogorov-Smirnov foi utilizado para verificar a normalidade dos dados, em seguida foi utilizado o teste t de Student para amostras independentes. O nível de significância estabelecido foi de p < 0,05. RESULTADOS Na tabela 1, estão os resultados descritivos das caraterísticas da amostra relativos a idade, peso, altura e IMC, com a respectiva comparação entre os grupos do estudo. Pode-se observar que não houve diferença significativa entre idade, peso, altura e IMC dos gru- 149 Hidroginástica e autonomia funcional pos estudados, dessa forma os resultados nos testes de autonomia funcional não foram influenciados por essas variáveis. ma de ginástica realizado em meio líquido é eficaz na perspectiva de prevenir o declínio funcional e conservar a autonomia de pessoas idosas. Na tabela 2, estão os dados descritivos dos testes de autonomia funcional GDLAM e a comparação entre os grupos. Verificou-se que o GIS apresentou uma menor autonomia funcional quando comparado com o GIH, nos testes de C10M, LPS, LPDV, VTC e LCLC, e essa diferença foi comprovada estatisticamente – p < 0,05. As idosas que realizaram exercícios de hidroginástica tiveram melhor desempenho nos testes, que se assemelham com as atividades de sua vida diária, quando comparadas com as idosas inativas. Esses resultados são corroborados pelo estudo de Belloni et al.11, no qual se verificou que a hidroginástica pode prevenir o declínio funcional e, ainda, conservar a autonomia funcional de mulheres idosas. DISCUSSÃO Estudos ainda demonstram que a prática de hidroginástica promove a melhoria da aptidão física dos idosas12,13. Esses resultados também são evidentes quando comparados idosos internos de instituição ou hospitais com idosos ativos14. A prática regular de atividades físicas está relacionada com significativa melhora das capacidades funcionais dos indivíduos quando estes atingem o terceiro ciclo de vida9. Os exercícios praticados na água, único local onde as condições reduzidas da gravidade diminuem o impacto nas articulações, além disso, criam uma resistência adicional, faz com que a hidroginástica seja muito indicada para pessoas com baixos níveis de condicionamento, isto é, pessoas idosas e pessoas com diferentes tipos de limitação e dores10. Nossos resultados apoiam essa afirmativa, pois foram encontradas fortes evidências de que um progra- Com relação aos exercícios de LPS e LPDV, as idosas do GIH concluíram os testes em menor tempo quando comparadas com as idosas do GIS (p < 0,05) (Tabela 2). Essas evidências mostram que as idosas do GIH apresentaram melhor desempenho em força e agilidade, que são essenciais para realizar com eficácia os dois testes. O aumento da força e agilidade das idosas pode ser explicado pela ação de resistência que a água proporciona quando da realização dos movimentos durante as aulas. Tabela 1. Características dos grupos de idosas GIS (n = 19) e GIH (n = 19) Variáveis GIS GIH p 95% intervalo de confiança Idade 67,37 ± 4,36 68,10 ± 4,19 0,599 -3,55 2,08 Peso 66,07 ± 10,78 65,90 ± 12,13 0,964 -7,38 7,72 Altura 1,61 ± 0,09 1,58 ± 0,08 0,119 -0,01 0,10 IMC 25,08 ± 4,69 26,78 ± 4,94 0,285 -4,87 1,47 IMC: índice de massa corporal; GIS: grupo de idosas sedentárias; GIH: grupo de idosas praticantes de hidroginástica. Tabela 2. Nível da autonomia funcional segundo protocolo GDLAM das idosas praticantes de hidroginástica (n = 19) e idosas sedentárias (n = 19) Teste GIS GIH p C10M 8,44 ± 1,22 7,70 ± 0,74 0,032 * 95% intervalo de confiança 0,06 1,40 LPS 11,05 ± 2,67 9,74 ± 0,58 0,045 * 0,03 2,58 LPDV 4,16 ± 1,26 3,41 ± 0,82 0,038 * 0,04 1,45 VTC 15,70 ± 2,04 14,00 ± 2,24 0,020 * 0,28 3,11 LCLC 47,21 ± 6,23 23,42 ± 2,51 0,0001 * 20,67 26,92 C10M: caminhar 10 metros; LPS: levantar-se da posição sentada; LPDV: levantar-se da posição decúbito ventral; VTC: vestir e tirar uma camiseta; LCLC: levantarse da cadeira e locomover-se pela casa; GIS: grupo de idosos sedentários; GIH: grupo de idosos praticantes de hidroginástica. * p < 0,05. 150 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):147-50 Resultados semelhantes foram encontrados no estudo realizado por Vale et al.15, em idosos praticantes de treinamento de força e flexibilidade, exercícios que são essenciais para atenuar o declínio funcional e prover substancialmente uma melhor qualidade de vida16. Pode-se acrescentar, com base nos nossos resultados, que os exercícios praticados em meio líquido, mais especificamente exercícios de hidroginástica, também podem atenuar esse declínio que acomete as idosas. Nos exercícios de CM10 e LCLC, que exigem maior velocidade e coordenação, a hidroginástica, assim como a caminhada regular e controlada17,18, mostrou ser capaz de melhorar o desempenho das idosas do GIH, que se mostraram mais ativas durante a realização dos testes e apresentaram resultados significativamente (p < 0,05) melhores do que o GIS (Tabela 2). Portanto, pode-se concluir com base nos nossos resultados que a ginástica realizada em meio líquido é uma prática eficaz de exercícios físicos, capaz de contribuir para a melhora da autonomia funcional de idosas, tornando-os mais ativas, independentes e sociáveis, melhorando sua qualidade de vida. No entanto, recomendamos estudos complementares que incluam, além da comparação entre os grupos de idosas ativas e inativas, testes realizados no início e no decorrer do estudo. REFERÊNCIAS 1. Amorim FS, Dantas EHM. Autonomia e resistência aeróbica em idosas: efeitos do treinamento da capacidade aeróbica sobre a qualidade de vida e autonomia de idosas. Fit Perf J. 2002;1(3):47-59. 4. Filho ML, Ferreira WR, César EP. Os benefícios do treinamento de força no desempenho da autonomia funcional do idoso. Rev Ed Física Exército. 2006;134:57-68. 5. Alves RV, Mota J, Costa MC, Alves JGB. Aptidão física relacionada à saúde de idosas: influência da hidroginástica. Rev Bras Med Esporte. 2004;10(1):31-7. 6. Loureiro AML. Velhice, imaginário e cultura: possibilidades na diversidade. Revista Linhas Críticas, Brasília. 2000;6(11):51-7. 7. Zago AS. Exercício físico e o processo saúde-doença no envelhecimento. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2010;13(1):153-8. 8. Dantas EHM, Vale RGS. Protocolo GDLAM de avaliação da autonomia funcional. Fit Perf J. 2004;3(3):175-82. 9. Virtuoso JJS, Lima COV, Lobato PL, Chiapeta SMSV, Sperancini MAC. Perfil das idosas ativos e sedentários da cidade de Viçosa (MG) em relação à força de membros superiores e inferiores. Rev Minei Ed Física. 2001;2(9):34-48. 10. Poyhonen T, Sipila S, Keskinen KL, Hautala A, Savolainen J, Malkia E. Effects of aquatic resistance training on neromuscular performance in healthy women. Med Sci Sports Exerc. 2002;34(12):2103-9. 11. Belloni D, Albuquerque AC, Rodrigues TO, Mazini FML, Silva VF. Estudo comparativo entre a autonomia funcional de mulheres idosas praticantes e não praticantes de hidroginástica. Rev Ed Fís. 2008;140:20-6. 12. Alves RV, Mota J, Costa MC, Alves JGB. Aptidão física relacionada à saúde de idosas: influência da hidroginástica. Rev Bras Med Esporte. 2004;10(1):31-7. 13. Assis EL, Rabelo HT. Percepção da capacidade funcional de mulheres idosas praticantes de hidroginástica. Movimentum – Revista Digital de Educação Física. 2006;1:1-16. 14. Pereira IC, Abreu FC, Vitoreti AV, Líbero GA. Perfil da autonomia funcional em idosas institucionalizados na cidade de Barbacena. Fit Perf J. 2003;2(5):285-8. 15. Vale RGS, Barreto AC, Novaes JS, Dantas EHM. Efeitos do treinamento de força e de flexibilidade sobre a autonomia e qualidade de vida de mulheres senescentes. Rev Bras Cineantropom Desempenho Hum. 2006;8(4):52-8. 16. Taaffe DR. Sarcopenia: exercise as a treatment strategy. Aust Fam Phys. 2006;35(3):130-4. 2. Matsudo SM, Matsudo VKR, Barros NTL, Araújo TL. Evolução do perfil neuromotor e capacidade funcional de mulheres fisicamente ativas de acordo com a idade cronológica. Rev Bras Med Esporte. 2006;9(6):365-76. 17. Cunha RCL, Fortes MSR, Ferreira MA, Bezerra JCP, Silva JMFL, Graup S, et al. Efeitos de um programa de caminhada sob os níveis de autonomia funcional de idosas monitoradas pelo programa saúde da família. Rev Bras Geriatr Gerontol. 2010;13(2):255-65. 3. César EP, Almeida OV, Pernambuco CS, Vale RGS, Dantas EH. Aplicação de quatro testes do protocolo GDLAM. Rev Minei Ed Física. 2004;12(1):18-37. 18. Alencar NA, Ferreira MA, Vale RGS, Dantas EHM. Nível de atividade física de idosas atendidas em Unidade de Saúde da Família no estado do Ceará. Geriatr Gerontol. 2010;4(3):141-5. ARTIGO ORIGINAL Fatores relacionados à acessibilidade de idosos a medicamentos anti-hipertensivos em unidades de saúde da família de Pernambuco Factors linked to the accessibility of the elderly to antihypertensive drugs in Pernambuco state, Brazil Ana Carolina Facundo Castro de Aquino1, Márcio Campos de Melo1, Paulo José Bezerra de Albuquerque1, Salvéa de Oliveira Campelo e Paiva1 Recebido em 1/6/2011 Aceito em 8/10/2011 RESUMO Introdução: O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que traz consigo o aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), com especial atenção às doenças cardiovasculares (DCVs), dentre as quais se destaca a hipertensão arterial sistêmica (HAS). Objetivos: Identificar os fatores que podem interferir na acessibilidade das populações idosas às medicações anti-hipertensivas, nos aspectos relacionados ao paciente e suas relações interpessoais, à estrutura física das unidades de saúde da família (USFs) e ao fluxo de distribuição e dispensação de medicações nas USFs de Recife e Paulista, Pernambuco. Métodos: Os dados foram coletados por meio de um protocolo de entrevista, no período de outubro a dezembro de 2010, nas referidas USFs. Resultados: A média de idade encontrada foi de 67,7 anos, sendo a maioria do sexo feminino. Os fatores que mais interferem na acessibilidade são: dificuldade de ler a receita do médico e o nome na embalagem da medicação, deslocamento da USF, falta de infraestrutura e falta de medicamentos. Conclusão: O Estado deve investir no aprimoramento do serviço de atenção básica à saúde, com o intuito de evitar os entraves à acessibilidade às medicações, de modo a promover um melhor alcance das metas pressóricas do paciente geriátrico e, assim, prevenir as complicações das DCVs. Palavras-chave: Idoso, atenção primária à saúde, hipertensão, acesso aos serviços de saúde, saúde do idoso. ABSTRACT Introduction: Population aging is a worldwide phenomenon that brings with it an increase in chronic noncommunicable diseases (NCDs) with particular attention to cardiovascular diseases (CVDs), among which stands out arterial hypertension (high blood pressure – HBP). Objectives: To identify factors that may interfere with the accessibility of the elderly population to antihypertensive medication in the context related to the patient and their interpersonal relationships, the physical structure of the family health units (USFs) and the flow distribution and dispensing of medications in the USFs of Recife and Paulista, Pernambuco. Methods: Data were collected using an interview protocol during the period of October to December 2010, in those USFs. Results: The profile of the population studied were: mean age 67.6, most females, the factors that most affect are: difficulty reading the doctor’s prescription and the name on the package, displacement of the USF, lack of infrastructure, lack of medicine. Conclusion: The state must invest in improving the service of primary health care in order to improve and achieve the goals of geriatric patients blood pressure and prevent complications of CVDs. Keywords: Aged, primary health care, hypertension, health services accessibility, health of the elderly. 1 Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco (UPE). Endereço para correspondência: Márcio Campos de Melo • Rua Jackson de Figueiredo, 174, Iputinga – 50680-380 – Recife, PE • Telefone: (81) 9945-4440/(81) 3226-1711 • E-mail: [email protected] 152 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):151-8 INTRODUÇÃO O fenômeno do envelhecimento populacional, embora esteja ocorrendo em ritmo e condições diferentes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, é um fenômeno universal. A diminuição das taxas de mortalidade (número de óbitos para cada mil habitantes em uma dada região em um período de tempo) e das taxas de fecundidade (número proporcional de nascidos vivos referidos a uma população de mulheres em um tempo determinado), somada ao consequente aumento da expectativa de vida, tem contribuído para esse processo1,2. No estado de Pernambuco, o processo vem ocorrendo com a mesma magnitude, e isso pode ser evidenciado tanto em números absolutos quanto em números relativos. Não só a diminuição das taxas de mortalidade e fecundidade, como também o aumento da expectativa de vida, tem contribuído para o aumento da população idosa. Ainda se soma a migração das populações mais jovens para municípios que ofereçam melhores condições de educação e trabalho como fator determinante no envelhecimento populacional de alguns municípios em estados nordestinos, como é o próprio caso do estado de Pernambuco3. Com todas essas modificações no perfil populacional, passa-se a estar diante também de um novo perfil epidemiológico. Não são mais as doenças infectocontagiosas as que prevalecem, mas são as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) as quais passam a prevalecer, com especial atenção às doenças cardiovasculares (DCVs), dentre as quais se destaca a hipertensão arterial sistêmica (HAS)4. A HAS é uma condição clínica multifatorial caracterizada por níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA). A medição da PA se faz a partir de dois parâmetros, os quais são a pressão arterial sistólica (PAS) e a pressão arterial diastólica (PAD). Considera-se HAS quando a PAS é igual ou maior que 140 mmHg e/ou a PAD é igual ou maior que 90 mmHg, em maiores de 18 anos5. Segundo pesquisa divulgada em 2010 pelo Ministério da Saúde, no Brasil o percentual da população adulta que se declara hipertensa é de 24,4%. Entre os idosos esse percentual aumenta para 63,2%6. Vê-se assim a importância do controle da HAS, tendo em vista a baixa taxa de controle da doença no segmento idoso da população. Do universo de idosos hipertensos somente 50% são tratados e, desses, apenas 25% a 30% conseguem atingir os níveis pressóricos desejados5,7. A HAS é um importante fator de risco para as doenças cardiovasculares, principalmente por acometimento cardíaco, cerebral, renal e vascular periférico, sendo responsável por 25% das cardiopatias isquêmicas e por 40% dos acidentes vasculares cerebrais8-10. O conjunto das DCVs é responsável por um número expressivo de licenças médicas por incapacidades para o trabalho e por aposentadorias precoces. Os custos anuais de pacientes com DCVs, referentes ao atendimento ambulatorial, hospitalização e benefícios pagos pela previdência no ano de 2004, foram estimados em cerca de R$ 30,8 bilhões, correspondendo a 8% do gasto total do país em saúde, o que corresponde a 0,52% do PIB. Este estudo foi realizado entre a população com idade igual ou superior a 35 anos e estima-se que a população idosa dentro desse grupo seja a principal responsável por esse custo, pois, entre essa população, é maior a prevalência dos casos graves11,12. Relacionados à importância do controle da HAS, dados recentes do Datasus apontam para uma elevada frequência de internações por DCVs. Em 2007, foram registradas 1.157.509 internações no Sistema Único de Saúde (SUS) e a inclusão de 94.282 indivíduos com doença renal terminal – condição frequente na HAS – em programa de diálise no SUS, resultando em 9.486 óbitos. Apenas no mês de novembro de 2009, houve 91.970 internações por DCVs, resultando em um custo de R$ 165.461.64410,12. Um estudo multicêntrico cuja finalidade foi traçar o perfil da população geriátrica com DCV relatou pontos importantes como: a prevalência de HAS foi de 67%; o índice de internamento e de consultas de emergência foi de 14% e 11%, respectivamente. Considerando apenas os idosos com idade superior ou igual a 85 anos, esses dados são elevados para 23% e 20%, demonstrando mais uma vez a importância do controle da HAS para com os gastos hospitalares por causa das DCVs13,14. Há esperança de que a realidade com todos esses custos sofra algumas mudanças, visto que os fatores de risco da HAS são modificáveis e podem ser controlados, não se precisando chegar a tais consequências. Desse modo, ações preventivas devem ser adotadas para diminuir a incidência da doença. Porém, apesar de esses fatores de risco serem modificáveis e embora a realização de ações preventivas seja uma via possível, parte-se da hipótese de que, mesmo assim, em nosso dia a dia, talvez a realidade encontrada seja um tanto diferente. O desperdício de recursos destinados à medicação em países em desenvolvimento é de 40% e em países Acessibilidade dos idosos às medicações desenvolvidos é de 8%, já que entre os pacientes cerca de 40% a 60% não fazem uso das medicações anti-hipertensivas prescritas13. Em países desenvolvidos, há disponibilidade de tratamentos anti-hipertensivos efetivos, porém menos de 25% apresentam metas pressóricas atingidas e o índice de abandono no primeiro ano dos pacientes que iniciaram o tratamento é de 50%15. Diante desse quadro, surge a necessidade de saber quais os fatores que estão contribuindo para a manutenção dele, pois no cotidiano dos atendimentos médicos nas unidades de saúde da família (USFs) acreditamos que haja um número pouco expressivo de pacientes idosos hipertensos que alcançam a terapia ideal com boa resposta ao tratamento. A adaptação do paciente idoso ao próprio processo do envelhecimento é difícil, ainda mais quando adicionadas a esse processo estão patologias talvez antes não experimentadas, como pode ser o caso da HAS. Como essa doença na maioria das vezes se inicia de maneira silenciosa e assintomática, é comum que o idoso, especialmente aquele com um nível de educação mais baixo, não entenda a necessidade de tomar suas medicações anti-hipertensivas16. O tratamento exige uma série de mudanças nos hábitos de vida dos pacientes, dentre as quais se destacam a diminuição da ingesta de sal na alimentação, a redução do consumo do álcool, o abandono do tabagismo e a realização de atividades físicas diariamente. Tais mudanças, porém, não são de responsabilidade exclusiva do paciente, demandando apoio familiar, visto que muitos idosos não possuem esse suporte de que precisam, sendo muitas vezes negligenciados17,18. Um dos grandes desafios enfrentados pelo idoso hipertenso é lidar justamente com todo esse processo adaptativo e também com o fato de que a HAS faz parte do grupo das doenças de caráter crônico, agregando dificuldades inerentes à cronicidade da doença19. Vê-se, assim, que é vasta a quantidade de fatores que podem estar implicados na não adesão ao tratamento da HAS e que especificamente o fator acessibilidade é pouco discutido na literatura disponível. Dessa forma, por haver escassez de estudos que demonstrem falhas no tratamento medicamentoso da HAS em idosos, devido prioritariamente à falta de acessibilidade às medicações anti-hipertensivas, este estudo surgiu a partir da inquietação de seus autores no sentido de dar explicação a esse aspecto que emergiu de suas rotinas médicas nas USFs. Os programas de atenção à saúde, especificamente o voltado para a HAS, em vez de estar realmente apoiado na prevenção primária, muitas vezes se rea 153 liza numa prática de saúde que, por deficiência do próprio sistema, acaba privilegiando uma clínica paliativa, algumas vezes onerosa para a população de baixa renda e, na maioria das vezes, de baixa cobertura e difícil acesso para essa população. Diferentemente de adesão, que é a utilização dos medicamentos prescritos e/ou medidas não farmacológicas de forma correta, a acessibilidade se configura como algo também amplo, porém que faz parte da adesão, sendo inclusive um dos pontos críticos para que esta ocorra ou não19. Em seu estudo, Travassos e Martins20 destacam um conceito de Donabedian que julgamos ser pertinente aos objetivos deste trabalho, por definir acessibilidade: Como um dos aspectos da oferta de serviços relativo à capacidade de produzir serviços e de responder às necessidades de saúde de uma determinada população. Acessibilidade, neste caso, é mais abrangente do que a mera disponibilidade de recursos em um determinado momento e lugar. Refere-se às características dos serviços e dos recursos de saúde que facilitam ou limitam seu uso por potenciais usuários. A acessibilidade corresponde a características dos serviços que assumem significado quando analisadas à luz do impacto que exercem na capacidade da população de usá-los20. Nesse sentido, este estudo tem por objetivo identificar os fatores que podem interferir na acessibilidade das populações idosas às medicações anti-hipertensivas, nos aspectos relacionados ao paciente e suas relações interpessoais, à estrutura física das USFs e ao fluxo de distribuição e dispensação de medicações nas USFs de Recife (Vila Tamandaré/Beirinha e Josué de Castro/27 de Novembro) e Paulista (José Borges de Souza). MÉTODOS Trata-se de um estudo de prevalência, de corte transversal, descritivo e quantitativo. Os dados foram coletados por meio de um protocolo de entrevista, devidamente aprovado pelo comitê de ética do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (CISAM – Protocolo nº 067/10), no período de outubro a dezembro de 2010, respeitando todos os princípios éticos da declaração de Helsinki21 e da Anvisa22. Para a elaboração do protocolo de entrevista, foram analisados fatores que poderiam se configurar como dificuldades de acesso às medicações. Os fatores estão relacionados basicamente a três aspectos: 154 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):151-8 ao paciente e suas relações interpessoais, à estrutura física e modo de organização da USF e ao fluxo de distribuição e dispensação das medicações. Tabela 1. Distribuição quanto a unidade de saúde, sexo e classificação da pressão N % José Borges de Souza (Paulista) 36 33,3 Josué de Castro (Recife) 50 46,3 Vila Tamandaré (Recife) 22 20,4 Masculino 24 22,2 Feminino 84 77,8 Sim 81 75,0 Não 27 25,0 Alterada 72 66,7 Controlada 36 33,3 Ótima 3 2,8 Normal 26 24,1 Limítrofe 7 6,5 Hipertensão H1 31 28,7 RESULTADOS Hipertensão H2 19 17,6 Hipertensão H3 7 6,5 Nas unidades pesquisadas, a USF Vila Tamandaré/ Beirinha cobre um total de 3.603 pessoas, das quais 5,1% são idosos e, desses, cerca de 69% são hipertensos; a USF Josué de Castro/27 de Novembro cobre 4.341 pessoas, dentre as quais 5,3% são idosas e, dessas, 74% são hipertensas; a USF José Borges de Souza cobre 3.368 habitantes, dos quais 7,7% são idosos e, desses, 75,4% são hipertensos. Hipertensão sistólica 15 13,8 Foi realizada uma análise descritiva para expor os resultados obtidos. A apresentação das variáveis mensuradas foi feita por meio de tabelas ou gráficos, incluindo também o uso de algumas medidas descritivas como: mínimo, máximo, média e desvio-padrão. Para testar a suposição de homogeneidade das variáveis envolvidas no estudo, foi aplicado o teste de Bartlett. Para análise comparativa das variáveis quantitativas, foi utilizado ANOVA. Quando observado o pressuposto de homogeneidade com o post hoc, utilizou-se o teste de Tukey, e quando não, foi utilizado ANOVA com correções das variâncias, e como post hoc, Pairwise t-test23. Para a análise comparativa entre as variáveis qualitativas, foi aplicado o teste qui-quadrado de proporções e qui-quadrado e, quando necessário, Fisher23. Todas as conclusões foram tomadas ao nível de significância de 5%. Os softwares utilizados foram o Excel 2000 e o R v 2.10.0. Durante a pesquisa, foi entrevistado um total de 108 pessoas, com 60 anos ou mais, com a média de idade de 67,6 anos, sendo 77,8% do sexo feminino e 22,2% do sexo masculino. De acordo com os resultados, 75% relataram que apresentam “alguma dificuldade para tomar os seus medicamentos”. A partir da aferição da PA, verificou-se que 66,7% apresentavam a PA alterada no momento da consulta, conforme pode ser observado na tabela 1. Do total dos 108 idosos entrevistados, 31 (28,7%) são alfabetizados (assinaram o termo de consentimento e declararam saber escrever além de seus nomes), 30 (27,7%) são analfabetos (utilizaram suas impressões digitais no termo de consentimento) e 47 (43,3%) são analfabetos funcionais (declararam apenas saber assinar seus nomes durante a assinatura do termo de consentimento). Variáveis USF Sexo O/A senhor(a) tem alguma dificuldade para tomar os seus medicamentos Pressão Classificação da pressão No que diz respeito ao paciente e suas relações interpessoais, 93,8% responderam que tinham alguma dificuldade na seguinte ordem: de ler a receita do médico (50%), de ler o nome na embalagem do remédio (49%), de distinguir as cores e formas dos remédios (36%) e de fazer uso de grande quantidade de remédios (22%). Em relação à estrutura física e à organização das unidades de saúde, 82,7% relataram alguma dificuldade e os fatores que se destacaram foram: a falta de estrutura física da USF como banheiros, cadeiras, bebedouro e ventilação (50,8%), a falta de acessibilidade para o paciente com necessidades especiais (46,3%), o deslocamento do posto para reforma (43,3%), a falta de estrutura da recepção (40,3%) e a distância do posto (35,8%). No tocante aos fatores relacionados à distribuição e à dispensação, 81,5% afirmaram ter algumas dificuldades, sendo as mais prevalentes: a falta de medicamentos (89,4%), não ter o tipo de remédio necessário ao tratamento compondo a lista de dispensação das farmácias (66,7%), o horário de entrega dos remédios (39,4%) e a falta de pessoas para entregar as medicações (36,4%). 155 Acessibilidade dos idosos às medicações 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Dificuldade Conselho Horário dos Sintomas de ler a de amigos, remédios dos receita do parentes, remédios médico vizinhos Não quer tomar os remédios Não Sim Não Sim Não Sim Cores e Grande Dificuldade Confiança de ler o no médico quantidade forma dos remédios de nome do remédios remédio Acha que piora com os remédios Outros Figura 1. Distribuição quanto aos fatores relacionados ao paciente na amostra. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Não Falha de acesso do paciente com necessidades especiais Sim Não Falta de estrutura (banheiro, cadeiras, bebedouro Sim Não Falta de estrutura da recepção Sim Não Distância do posto Sim Não Falta de informação Sim Não Sim Não Horário de Deslocamento funcionamento do posto para do posto reforma Figura 2. Distribuição quanto a cada fator relacionado à unidade de saúde na amostra estudada. Sim Não Não Outros 156 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):151-8 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Sim Não Falta de medicamentos Sim Não Horário de entrega dos remédios Sim Não Falta de pessoas para entregar o remédio Sim Não Entregador com má educação Sim Não Não ter o tipo de remédio Sim Não Demora na entrega dos remédios Sim Não Tamanho da fila na farmácia Sim Não Outros Figura 3. Distribuição quanto a cada fator relacionado à distribuição e à dispensação dos medicamentos aos pacientes na amostra. DISCUSSÃO Foram encontrados em nossas unidades de saúde os percentuais de 69%, 74% e 75,4%, respectivamente, de hipertensos dentro da população idosa estudada. Esse número corrobora e até supera o percentual citado anteriormente de 67% de hipertensos dentro de uma população geriátrica com DCV. Ratificamos, assim, a importância deste estudo com relação ao seu questionamento de que estaria realmente essa população idosa hipertensa tendo seu acesso às medicações anti-hipertensivas prejudicado ou não, e se sim, quais seriam os fatores implicados nesse processo. frável do médico prescritor. Essa questão encontra-se abordada no último código de ética médica lançado em 201024. Outro achado importante foi o de que quase metade dos entrevistados referiu dificuldade de ler o nome do remédio na embalagem, o que leva também a pensar em outras causas, como problemas visuais, fator que apareceu frequentemente durante as entrevistas, bem como o baixo grau de instrução entre os entrevistados. Os fatores “cores e formas dos remédios semelhantes entre si” e “grande quantidade de remédios” (polifarmácia) também foram bem enfatizados. Viu-se anteriormente que uma média de 25% de idosos em tratamento para hipertensão não consegue o controle de seus níveis pressóricos15. Em nossa pesquisa 66,7% dos idosos apresentaram PAs alteradas durante a consulta, demonstrando que talvez existam outros fatores que contribuam com essa rea lidade. Com relação aos fatores relacionados à estrutura física e à organização das unidades de saúde onde as entrevistas ocorreram, destacaram-se a “falta de estrutura física” das USFs e a “falta de acesso aos portadores de necessidades especiais”. Esse resultado pode ser explicado a partir do fato de duas das três USFs onde se realizou a pesquisa terem sido deslocadas para reforma de suas estruturas físicas. Dentre os fatores que podem interferir na acessibilidade das populações idosas às medicações anti-hipertensivas relacionados ao paciente, encontra-se o fator “dificuldade de ler a receita do médico”, com o percentual de 50%. Tal dado traz novamente à velha questão da dificuldade de decifrar o que está contido na receita médica, devido muitas vezes à letra indeci- Outra explicação pode estar relacionada a questões inerentes à própria população idosa e às doenças que comumente são diagnosticadas nessa faixa etária, como artrose, labirintite, sequelas motoras de acidentes vasculares encefálicos, entre outras. Embora essas doenças não tenham impedido os idosos de comparecer às consultas na unidade, não há como negligen- Acessibilidade dos idosos às medicações ciar seu caráter limitador significando um entrave em potencial à acessibilidade. O fator “distância do posto de saúde” configurou-se com um percentual grande de 35,8%, porém sabe-se que o fator já comentado anteriormente do “deslocamento do posto para reforma” (43,3%) pode ter contribuído para ele. Entre os fatores relacionados à distribuição e à dispensação dos medicamentos, o fator “falta de medicamentos” ganhou o primeiro lugar com a quase totalidade de 89,4% dos entrevistados. O que logo nos vem à mente é a hipótese de que, em pleno século XXI, ainda seja a falta de medicações nas farmácias das USFs e a provável falta de subsídios suficientes para a saúde os grandes agentes que interferem em um acesso de qualidade da população às suas medicações, em nosso caso, da população idosa às suas medicações anti-hipertensivas. 157 2. Kalache A, Veras RP, Ramos LR. O envelhecimento da população mundial. Um desafio novo. Rev Saude Publica. 1987;21(3):200-10. 3. Santos JS, Barros MDA. Idosos do município de Recife, estado de Pernambuco, Brasil: uma análise da morbimortalidade hospitalar. Epidemiol Serv Saúde. 2008;17(3):177-86. 4. Lessa I. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: um desafio para a complexa tarefa da vigilância. Ciênc Saúde Coletiva. 2004;9(4):931-43. 5. Sociedade Brasileira de Cardiologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arq Bras Cardiol. 2010;95(1 Supl.1):1-51. 6. Oliveira J. Avanço silencioso da hipertensão. Clip saúde eletrônica [periódico eletrônico] 2010 [citado em 2011 abr 20]. Disponível em: http://intranet.saude.mg.gov.br/index.php/component/ docman/doc_download/425-clipping-eletronico-da-saude-27-de-abril-de-2010.html. 7. Nobre F, Ribeiro AB, Mion Jr D. Controle da pressão arterial em pacientes sob tratamento anti-hipertensivo no Brasil: Controlar Brasil. Arq Bras Cardiol. 2010;94(5):663-7. 8. Passos VMA, Assis TD, Barreto SM. Hipertensão arterial no Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacional. Epidemiol Serv Saúde. 2006;15(1):35-45. Em segundo lugar, outro fator relacionado à dispensação dos medicamentos é a “falta do tipo de remédio” necessário ao tratamento. Isso quer dizer que nem todos os medicamentos anti-hipertensivos estão disponíveis nas farmácias das USFs. 9. Tasca RS, Soares DA, Cuman RKN. Acesso a medicamentos anti-hipertensivos em unidade básica de Maringá – Paraná. Arq Ciênc Saúde Unipar. 1999;3(2):117-24. Em suma, este estudo mostra a necessidade de aprimorar o serviço de atenção básica à saúde, com o intuito de melhorar e alcançar as metas pressóricas do paciente geriátrico. Como foi posto, o custo das DCVs anuais chega aos milhões de reais, os quais provavelmente diminuiriam de forma substancial se o nível básico de atenção conseguisse realizar adequadamente sua função de promoção à saúde. 11. Azambuja MI, Foppa M, Maranhão MFC, Achutti AC. Impacto econômico dos casos de doença cardiovascular grave no Brasil: uma estimativa baseada em dados secundários. Arq Bras Cardiol. 2008;91(3):163-71. Cabe ao Estado disponibilizar mais ferramentas que viabilizem um melhor acesso aos recursos da saúde aos pacientes idosos, o que poderia ser garantido a partir da atualização do arsenal farmacêutico de acordo com as diretrizes vigentes, inclusive a partir da discussão da possibilidade da criação de um terceiro turno nas USFs. Esse turno funcionaria de modo a facilitar o acesso do acompanhante desses pacientes às consultas, contribuindo para a acessibilidade do paciente, não só à medicação, como também ao conjunto das orientações médicas, o que proporcionaria, em tese, melhores resultados na prevenção e no tratamento das DCVs na população geriátrica, o que inclui a HAS. REFERÊNCIAS 1. Nastri F. O envelhecimento populacional no Brasil. Einstein (São Paulo). 2008;6(Supl 1):54-6. 10. Dosse C, Cesarino CB, Martin JF, Castedo MC. Factors associated to patients’ noncompliance with hypertension treatment. Rev Latino-am Enferm. 2009;17(2):201-6. 12. Brandão AA, Magalhães MEC, Ávila A, Tavares A, Machado CA, Campana EMG, et al. Conceituação, epidemiologia e prevenção primária. J Bras Nefrol. 2010;32(Supl 1):1-4. 13. Taddei CFG, Ramos LR, Moraes JC, Wajngarten M, Libberman A, Santos SC, et al. Estudo multicêntrico de idosos atendidos em ambulatórios de cardiologia e geriatria de instituições brasileiras. Arq Bras Cardiol. 1997;69(5):327-33. 14. Goffredo Filho GS, Faerstein E. Incapacidade para atividades habituais: relação com pressão arterial e terapêutica anti-hipertensiva. Arq Bras Cardiol. 94(4):472-6. 15. Barbosa RGB, Lima NKC. Índice de adesão ao tratamento anti-hipertensivo no Brasil e mundo. Rev Bras Hipertens. 2006;13(1):35-8. 16. Lima FGS. Hipertensão arterial: avaliação da adaptação do idoso após diagnóstico da doença. Disponível em: http://www. artigonal.com/medicina-artigos/hipertensao-arterial-avaliacao-da-adaptacao-do-idoso-apos-diagnostico-da-doenca-2601469. html. Acessado em: 25 out. 2010. 17. Possi KC. Cuidados de enfermagem: orientação ao paciente idoso e hipertenso na adesão ao tratamento para controle da pressão arterial. Disponível em: http://www.webartigos.com/ articles/30028/1/Cuidados-de-Enfermagem-Orientacao-ao-paciente-Idoso-e-Hipertenso-na-adesao-ao-Tratamento-para-controle-da-PressaoArterial/pagina1.html#ixzz13 NkvIT4X. Acesso em: 25 out. 2010. 18. Romero AD, Silva MJ, Silva ARV, Freitas RWJF, Damasceno MMC. Características de uma população de idosos hipertensos atendida numa unidade de saúde da família. Rev Rene. 2010;11(2):72-8. 158 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):151-8 19. Leite SN, Vasconcellos MPC. Adesão à terapêutica medicamentosa: elementos para a discussão de conceitos e pressupostos adotados na literatura. Ciênc Saúde Coletiva. 2003;8(3):775-82. 22. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretrizes e normas em pesquisa em saúde. Disponível em: http://www.ufrgs.br/bioetica/normart.htm. Acesso em: 28 abr. 2011. 20. Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saude Publica. 2004;20(Supl 2):S190-8. 23. Jerrold HZ. Biostatistical analysis. 3th ed. New Jersey: Prentice Hall; 1996. 21. Wikipédia. Declaração de Helsinki. Disponível em: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Declara%C3%A7%C3%A3o_de_Helsinque. Acesso em: 28 abr. 2011. 24. Conselho Federal de Medicina. Novo código de ética médica. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/novocodigo/index. asp. Acesso em: 28 abr. 2011. ARTIGO ORIGINAL Artrite reumatoide no idoso: estudo de 35 casos Rheumatoid arthritis in the elderly: a study of 35 cases Andrea Rocha de S. Mont’Alverne1, Rafael Barbieri1, Renata Moreira Montenegro1, Sônia Maria Alvarenga Anti1, Rina Dalva Neubarth Giorgi2, Wiliam Habib Chahade2 Recebido em 4/7/2011 Aceito em 8/10/2011 RESUMO Introdução: Cerca de um terço dos pacientes desenvolve artrite reumatoide (AR) após 65 anos de idade, condição denominada EORA (do inglês, elderly-onset rheumatoid arthritis). Postula-se que a EORA possua características diferentes da AR do adulto. Objetivo: Avaliar características clínicas e laboratoriais de pacientes com EORA. Pacientes e métodos: Análise retrospectiva de prontuários de 35 pacientes com EORA. Variáveis estudadas: sexo, idade ao diagnóstico, apresentação inicial, articulações acometidas, fator reumatoide (FR), sintomas constitucionais, valor da velocidade de hemossedimentação (VHS), resposta ao tratamento inicial e comorbidades. Resultados: Dos 35 pacientes, 26 (74%) eram mulheres e 9 (26%), homens, com média de 74 anos. Trinta (86%) apresentaram início poliarticular e 5 (14%), oligoarticular. As principais articulações envolvidas foram mãos e punhos, com envolvimento de ombros em 11 (32%). Manifestações constitucionais ocorreram em 9 (26%). FR foi positivo em 27 (77%), sendo em 23 maior que 100 UI/ml. A média da VHS foi de 62 mm/h. Quanto ao tratamento inicial, 26 (74%) apresentaram resposta satisfatória e 5 (14%), insatisfatória. Em 28, foi utilizado metotrexato como primeira droga e em 7, antimaláricos. Todos que usaram antimaláricos apresentaram resposta satisfatória. Não foi possível avaliar a resposta de 4 pacientes por causa do diagnóstico recente. Conclusão: Neste estudo, a relação entre mulheres e homens foi semelhante à encontrada em jovens, e a maioria apresentava FR positivo. Houve predominância de apresentação poliarticular e VHS elevada, e muitos apresentaram sintomas constitucionais e envolvimento de ombros. O reconhecimento da EORA torna-se difícil diante dos muitos diagnósticos diferenciais possíveis nessa faixa etária, o que justifica a heterogeneidade dos dados da literatura. Palavras-chave: Artrite reumatoide, artrite, idoso. ABSTRACT Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo (HSPE-SP). 2 Seção de Diagnóstico e Terapêutica do Serviço de Reumatologia do HSPE-SP. 1 Introduction: About one third of patients develops rheumatoid arthritis (RA) after 65 years of age, a condition named EORA (elderly-onset rheumatoid arthritis). It is postulated that EORA has different features of RA in adults. Objective: To evaluate clinical and laboratory characteristics of patients with EORA. Patients and methods: Retrospective analysis of 35 patients with EORA. Variables: gender, age at diagnosis, initial presentation, affected joints, rheumatoid factor (RF), constitutional symptoms, ESR, response to initial treatment and comorbidities. Results: Of 35 patients, 26 (74%) were female and 9 were (26%) men, with 74 years on average. Thirty (86%) had polyarticular onset and 5 (14%), oligoarticular. Main joints involved were hands and wrists, with involvement of shoulders in 11 (32%). Constitutional manifestations occurred in 9 (26%). RF was positive in 27 (77%), and it was greater than 100 UI/ml in 23. The mean ESR was 62 mm/h. As for the initial treatment, 26 (74%) showed satisfactory response and 5 (14%) unsatisfactory. Methotrexate was used as the first drug in 28 and in 7 we used anti-malarial drugs. All who Endereço para correspondência: Andrea Rocha de S. Mont’Alverne • Departamento de Reumatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo • Rua Pedro de Toledo, 1800, 9° andar central, Moema – 04039-004 – São Paulo, SP, Brasil • Telefone: (11) 5088-8099 • E-mail: [email protected] 160 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):159-62 used anti-malarial responded satisfactorily. It was impossible to evaluate the response of 4 patients due to the recent diagnosis. Conclusion: In this study, the relationship between women and men was similar to that found in young people, and most showed positive RF. Most had polyarticular presentation and elevated ESR, and many had constitutional symptoms and involvement of shoulders. The recognition of EORA becomes difficult in the face of many different possible diagnoses in this age group, which explains the heterogeneity of the literature data. Keywords: Rheumatoid arthritis, arthritis, aged. INTRODUÇÃO MÉTODOS A artrite reumatoide (AR) é uma doença inflamatória crônica sistêmica, de etiologia desconhecida, caracterizada pelo acometimento simétrico de pequenas e grandes articulações e que evolui com frequência para deformidades e incapacidade funcional. Possui caráter autoimune, com influência de fatores genéticos, hormonais e ambientais, afetando mais comumente mulheres entre 30 e 50 anos. Apresenta incidência anual de aproximadamente 0,2 por mil homens e 0,4 por mil mulheres e prevalência de 0,5% a 1% da população1. Estudos mostram que essa incidência e prevalência aumentam até os 85 anos de idade2, com prevalência em média de 2% após os 60 anos3,4. Foi realizada análise retrospectiva dos prontuários de 35 pacientes com diagnóstico de AR após os 65 anos de idade, em acompanhamento regular no Serviço de Reumatologia do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo Francisco Morato de Oliveira (HSPE-FMO). Todos os pacientes preenchiam os critérios de classificação para AR do Americam College of Rheumatology, de 198713. Cerca de um terço dos pacientes desenvolve a AR após os 60 ou 65 anos de idade5,6, condição essa denominada “artrite reumatoide do idoso” ou EORA (do inglês, elderly-onset rheumatoid arthritis). No passado, acreditava-se que a EORA era muito semelhante à AR de início na idade adulta, contudo, atualmente, postula-se que seja uma condição com características diferentes: distribuição mais igualitária entre os sexos, maior elevação das provas de atividade inflamatória, início mais agudo, envolvimento frequente de grandes articulações (principalmente ombros), sintomas “polimiálgicos”, maior frequência de manifestações sistêmicas e menor frequência de positividade para o fator reumatoide (FRe)5-7. Em relação ao prognóstico, os dados da literatura são controversos. Alguns estudos relatam maior dano articular e limitação funcional em pacientes com EORA6,8, enquanto outros descrevem um curso mais benigno, com doença menos erosiva9-11. O mais aceito atualmente é que a EORA constitui uma condição heterogênea, com o grupo de pacientes soropositivos apresentando prognóstico similar aos pacientes com AR de início na idade adulta, enquanto os soronegativos apresentam doença menos grave, com sintomas muitas vezes semelhantes aos da polimialgia reumática9,12. O objetivo deste trabalho foi avaliar dados epidemiológicos e características clínicas e laboratoriais de pacientes com EORA. As variáveis estudadas foram: sexo, idade ao diagnóstico, forma de apresentação clínica inicial (oligoarticular ou poliarticular) e articulações acometidas, presença e título de FRe, manifestações sistêmicas (febre, perda de peso, astenia, fadiga), valor da velocidade de hemossedimentação (VHS), resposta ao tratamento inicial e presença de comorbidades. Os dados foram computados em banco de dados do programa Excel 6.0, sendo realizada análise estatística simples. RESULTADOS Do total de 35 pacientes estudados, 26 (74%) eram do sexo feminino e 9 (26%), do sexo masculino. A idade ao diagnóstico variou de 65 a 97 anos, com uma média global de 74 anos. A média de idade das mulheres foi de 75 anos e a dos homens, de 74 anos. Em relação à forma clínica de apresentação da AR, obteve-se um total de 30 (86%) pacientes com acometimento inicial poliarticular e 5 (14%) com acometimento oligoarticular. As principais articulações envolvidas foram as pequenas articulações das mãos e os punhos. Observou-se envolvimento de ombros em 11 (32%) pacientes. Nove (26%) pacientes apresentaram manifestações sistêmicas constitucionais, como febre, perda de peso e fadiga. O FRe foi positivo em 27 (77%) pacientes e negativo em 8 (23%). Dentre os soropositivos, 4 apresentaram título menor que 100 UI/ml, enquanto 23 apresentaram titulação maior que 100 UI/ml. Todos Artrite reumatoide no idoso os FRe foram realizados pelo método de turbidimetria (valor de referência normal < 20 UI/ml). Quanto à VHS na época do diagnóstico, 7 (20%) pacientes apresentaram valores inferiores a 40 mm/h, 19 (54%), entre 40-80 mm/h e 9 (26%), acima de 80 mm/h, com média global de 62 mm/h. Ao avaliar-se o tratamento inicial utilizado, constatou-se que 26 (74%) pacientes apresentaram resposta satisfatória e 5 (14%), resposta insatisfatória, segundo a opinião do examinador e dos próprios pacientes. Não foi possível avaliar a resposta ao tratamento de 4 pacientes por causa do diagnóstico recente no momento desta revisão. Em 28 pacientes, foi utilizado metotrexato (MTX) como primeira droga modificadora do curso da doença (DMCD) e em 7 pacientes utilizaram-se antimaláricos (hidroxicloroquina ou difosfato de cloroquina). Todos os pacientes que usaram antimaláricos apresentaram resposta satisfatória ao tratamento inicial. Inúmeras foram as comorbidades encontradas entre os 35 pacientes, sendo as mais frequentes: hipertensão arterial (20 pacientes), osteoporose (16 pacientes), dislipidemia (6 pacientes), insuficiência coronariana (6 pacientes), doença pulmonar obstrutiva crônica (5 pacientes), passado de acidente vascular encefálico (4 pacientes), hipotireoidismo (4 pacientes), passado de neoplasia (3 pacientes), refluxo gastroesofágico (3 pacientes), insuficiência renal crônica (2 pacientes), diabetes (2 pacientes). DISCUSSÃO O diagnóstico da EORA constitui um desafio para o reumatologista diante da grande variedade de diagnósticos diferenciais possíveis nessa faixa etária. Osteoartrite, principalmente em sua forma erosiva, artropatias microcristalinas e artrite paraneoplásica são alguns exemplos de doenças que podem mimetizar AR e que são prevalentes em idosos. Os atuais critérios de classificação da AR muitas vezes não permitem diferenciá-la dessas patologias, principalmente em sua fase inicial. Além disso, esses pacientes podem apresentar diversas comorbidades, alterações cognitivas e limitações físicas, que podem dificultar a anamnese e o exame físico. Dessa forma, a heterogeneidade dos dados encontrados na literatura sobre manifestações clínicas, laboratoriais e evolução da EORA pode estar relacionada à dificuldade no seu diagnóstico. Nos pacientes aqui estudados, a idade média ao diagnóstico foi de 74 anos, e 1 paciente apresentou os sintomas iniciais aos 97 anos, com quadro clássico de 161 poliartrite simétrica com FRe positivo. A relação entre mulheres e homens foi de 2,89, sendo semelhante à relação encontrada em pacientes jovens. Esse achado foi discordante dos dados da literatura que postula que a EORA é mais frequente em mulheres, mas acomete uma maior proporção de homens. Outros estudos apresentaram resultados semelhantes, ou seja, não foi encontrada distribuição mais uniforme entre os sexos na EORA8,9. Clinicamente, a EORA é caracterizada por importante rigidez matinal e dor, afetando principalmente as extremidades superiores, com presença frequente de sintomas constitucionais. Ao exame físico, observa-se sinovite em ombros e punhos, assim como de metacarpofalangeanas e interfalangeanas proximais, com limitação funcional e edema de partes moles. O envolvimento de grandes articulações, particularmente os ombros, é descrito na literatura como típico do quadro em idosos, podendo simular polimialgia reumática2-6. No presente estudo, a maioria dos pacientes apresentou quadro poliarticular com acometimento de mãos e punhos, em concordância com a maioria dos trabalhos publicados7-9,12. A frequência do envolvimento em ombros na EORA em alguns trabalhos varia de 23% a 64%7,9,12, tendo sido neste de 32%. Em relação às manifestações constitucionais, houve dificuldade de comparação entre os estudos, visto que eles abordam sintomas diferentes ou avaliam apenas um deles. Cabe ressaltar que em três estudos relevantes comparativos entre populações de idosos e jovens, não houve diferença estatisticamente significante em relação à presença desses sintomas entre os grupos7-9. Quanto à VHS, a média dos 35 pacientes foi de 62 mm/h. Na literatura, encontrou-se uma variação entre 52-74 mm/h7-9. As provas de atividade inflamatória constituem um bom parâmetro para avaliar a atividade da doença e a resposta ao tratamento, contudo vale lembrar que, na população idosa, suas elevações frequentemente podem estar associadas a outras condições, tais como infecção, insuficiência cardíaca, anemia, dislipidemia e neoplasias. Foram encontrados dados discordantes entre os diversos trabalhos em relação à positividade do FRe na população idosa, com sua frequência variando de 29%-89%7-10,14. Apesar de a maioria dos estudos relatar um menor número de soropositivos no grupo da EORA7,9-11,14, outros descrevem uma frequência de soropositividade similar à dos pacientes jovens8,15. Na nossa casuística, encontrou-se FRe positivo em 77% dos pacientes, 85% deles em altos títulos (> 100 UI/ml), ou seja, nossos dados foram similares aos encontrados na população jovem com AR, em que 162 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):159-62 a frequência de FRe positivo varia de 70%-80%4. Assim como proposto por Van der Heije8, pacientes soronegativos, por apresentarem doença menos grave, procurariam menos os serviços de reumatologia, podendo ser uma possível explicação para a maior frequência de soropositivos em alguns trabalhos como o nosso. Outra questão seria: “os critérios diagnósticos foram aplicados de forma consistente nos estudos com maior proporção de soronegativos?”. Mesmo em trabalhos com metodologias comparáveis, heterogeneidade quanto ao diagnóstico sempre é possível. As metas do tratamento não são diferentes em pacientes com EORA, contudo devem ser levadas em consideração as comorbidades, assim como as medicações usadas em seu tratamento. A eficácia e a toxicidade das DMCDs são semelhantes em jovens e idosos, de forma que o algoritmo de tratamento proposto na Atualização do Consenso Brasileiro no Diagnóstico e Tratamento da AR16 pode ser aplicado no idoso. Metotrexato é o fármaco de escolha, mas em pacientes com FRe positivo pode ser necessária terapêutica mais efetiva com combinação de DMCDs. Pacientes com FRe negativo podem se beneficiar com o uso dos antimaláricos. Apesar de tratar-se de um estudo transversal e com pequeno número de pacientes, os dados aqui apresentados são relevantes diante da escassez de trabalhos abordando esse tema na literatura nacional. Além disso, o crescente envelhecimento da população brasileira tornará o impacto social e econômico da EORA cada vez maior, devendo ser do conhecimento de todo especialista suas peculiaridades. CONFLITOS DE INTERESSE Não há. REFERÊNCIAS 1. MacGregor AJ, Silman AJ. Rheumatoid arthritis and other synovial disorders: classification and epidemiology. In: Hochberg MC, Silman AJ, Smolen JS, Weinblatt ME, Weisman MH. Rheumatology. 4th ed.; 2007. chap. 71, p. 755-61. 2. Tutuncu Z, Kavanaugh A. Rheumatic disease in the elderly: rheumatoid arthritis. Rheum Dis Clin N Am. 2007;33(1):57-70. 3. Van Schaardenburg D, Breedveld FC. Elderly-onset rheumatoid arthritis. Semin Arthritis Rheum. 1994;23(6):367-78. 4. Laurindo IMM. Artrite reumatoide no idoso. Einstein. 2008;6(Supl.1):S33-9. 5. Olivieri I, Pipitone N, D’Angelo S, Padula A, Salvarani C. Clin Exp Rheumatol. 2009;27(Suppl 55):S139-45. 6. Yazici Y, Paget AS. Elderly-onset rheumatoid arthritis. Rheum Dis Clin N Am. 2000;26(3):517-26. 7. Turkcapar N, Demir O, Atli T, Kopuk M, Turgay M, Kinikli G, et al. Late onset rheumatoid arthritis: clinical and laboratory comparisons with younger onset patients. Arch Gerontol Geriatr. 2006;42(2):225-31. 8. Van der Heijde DM, Van Riel PL, Van Leeuwen MA, Van ‘t Hof MA, Van Rijswijk MH, Van de Putte LB. Older versus younger onset rheumatoid arthritis: results at onset and after 2 years of a prospective follow up study of early rheumatoid arthritis. J Rheumatol. 1991;18(9):1285-9. 9. Deal CL, Meenan RF, Goldenberg DL, Anderson JJ, Sack B, Pastan RS, et al. The clinical features of elderly-onset rheumatoid arthritis. A comparison with younger-onset disease of similar duration. Arthritis Rheum. 1985;28(9):987-94. 10. Terkeltaub R, Esdaile J, Décary F, Tannenbaum H. A clinical study of older age rheumatoid arthritis with comparison to a younger onset group. J Rheumatol. 1983;10(3):418-24. 11. Ehrlich GE, Katz WA, Cohen SH. Rheumatoid arthritis in the aged. Geriatrics. 1970;25:103-13. 12. Bajocchi G, La Corte R, Locaputo A, Govoni M, Trotta F. Elderly onset rheumatoid arthritis: clinical aspects. Clin Exp Rheumatol. 2000;18(Suppl 20):S49-50. 13. Arnett FC, Edworthy SM, Bloch DA, McShane DJ, Fries JF, Cooper NS, et al. The American Rheumatism Association 1987 revised criteria for the classification of rheumatoid arthritis. Arthritis Rheum. 1988;31(3):315-24. 14. Inoue K, Shichikawa K, Nishioka J, Hirota S. Older age onset rheumatoid arthritis with or without osteoarthritis. Ann Rheum Dis. 1987;46(12):908-11. 15. Ferraccioli GF, Cavalieri F, Mercadanti M, Conti G, Viviano P, Ambanelli U. Clinical features, scintiscan characteristics and X-ray progression of late onset rheumatoid arthritis. Clin Exp Rheumatol. 1984;2(2):157-61. 16. Bértolo MB, Brenol CV, Schainberg CG, Neubarth F, Lima FAC, Laurindo IM, et al. Atualização do Consenso Brasileiro no Diagnóstico e Tratamento da Artrite Reumatoide. Rev Bras Reumatol. 2007;47(3):151-9. ARTIGO de revisão Imunossenescência Immunosenescence Karen Cecília de Lima Torres1, Patrícia de Araújo Pereira1, Giselle Sabrina França de Lima1, Bruno Rezende Souza2, Débora Marques de Miranda1, Moisés Evandro Bauer3, Marco Aurélio Romano-Silva1 Recebido em 17/6/2011 Aceito em 1/10/2011 INCT de Medicina Molecular/Laboratório de Neurociência, Departamento de Saúde Mental, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 2 Department of Cell and Systems Biology, University of Toronto. 3 Laboratório de Imunologia do Envelhecimento, Instituto de Pesquisas Biomédicas e Faculdade de Biociências, PUCRS, Porto Alegre, RS. 1 Resumo Introdução: O envelhecimento é um processo que envolve complexas mudanças celulares e moleculares, incluindo um declínio generalizado das funções imunológicas denominado de imunossenescência. As consequências clínicas da imunossenescência incluem uma maior suscetibilidade às infecções respiratórias, neoplasias e doenças cardiovasculares. Objetivo: Revisar as principais alterações celulares e moleculares da imunossenescência. Métodos: Revisão da literatura entre 1996-2011 por meio de pesquisa nos bancos de dados PubMed e SciELO. Resultados: Com o avançar da idade, as células do sistema imune inato e adaptativo exibem piora de função generalizada e um número reduzido de células T naïve. Além disso, há uma expansão de determinados clones de linfócitos T (principalmente as células CD8+CD28-), que se correlacionam com morbimortalidade em idosos. Apesar de os indivíduos idosos apresentarem uma resposta imune menos efetora, há um aumento da expressão de moléculas inflamatórias circulantes e do número de células NK, o que é caracterizado pelo inflammaging. Esse quadro pode contribuir na etiopatogenia e fisiopatologia de doenças inflamatórias como aterosclerose, doença de Alzheimer, entre outras. Além disso, durante a imunossenescência, há também presente uma pior resposta a vacinas e aumento de doenças infecciosas, tumores e autoimunidade. Conclusão: Compreender a relação entre o sistema imune e o envelhecimento é de grande importância para a saúde humana, particularmente no impacto das doenças relacionadas à idade. Além disso, também auxilia na promoção de intervenções específicas e mais eficazes para doenças em idosos. Palavras-chave: Envelhecimento, sistema imune. Abstract Introduction: Aging involves various complex cellular and molecular changes, including a general decline in immunological functions known as immunosenescence. The clinical consequences of immunosenescence include increased susceptibility to respiratory infections, neoplasias and cardiovascular diseases. Objective: To review the major cellular and molecular changes in immunosenescence. Methods: Literature review between 1996-2011 employing the PubMed and SciELO databases. Results: With advancing age, the cells of the innate and adaptive immune system exhibit worsening of generalized function and a reduced number of naïve T cells. In addition, there is an expansion of certain clones of T lymphocytes (mainly CD8 +CD28- cells) that correlate with morbidity and mortality in the elderly. Besides the age-related impairments in cellular immune responses, aging is also associated with high serum inflammatory molecules and increased counts of circulating NK cells which is characterized by inflammaging. This framework can contribute to the pathogenesis and pathophysiology of inflammatory diseases such as atherosclerosis, Alzheimer’s disease among others. In addition, during immunosenescence is also present a poor response to vaccines and increase in infectious diseases, tumors and autoimmunity. Conclusion: Understanding the relationship between the immune system and aging is of great importance to human health Endereço para correspondência: Karen Cecília de Lima Torres • Av. Alfredo Balena, 190, sala 114, Santa Efigênia – 30130-100 – Belo Horizonte, MG • Telefone: (31) 3409-9753 • E-mail: [email protected] 164 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):163-9 particularly on the impact of age-related diseases. It also helps to promote more effective and specific interventions for the elderly diseases. Keywords: Aging, immunosenescence. Introdução O envelhecimento é um processo que envolve complexas mudanças celulares e moleculares que afetam a integridade de diversos tecidos, de maneira qualitativa e quantitativa. O sistema imune não é uma exceção, e as alterações imunológicas observadas no envelhecimento são chamadas de imunossenescência. Em geral, ocorre uma reestruturação do sistema imune durante o envelhecimento, com alguns parâmetros diminuídos, inalterados ou mesmo aumentados. As consequências clínicas da imunossenescência incluem uma maior suscetibilidade às infecções respiratórias, neoplasias, doenças autoimunes e cardiovasculares. Em geral, o envelhecimento humano está associado com poucas mudanças enumerativas das células que compõem o sistema imune inato (e.g. macrófagos, neutrófilos e células dendríticas) em paralelo com reduções importantes nas funções dessas células. Além disso, vários estudos indicam perdas enumerativas e funcionais importantes do sistema imune adaptativo, especialmente nas respostas mediadas pelos linfócitos T. Neste artigo, serão revisadas as principais alterações imunológicas do envelhecimento humano, relacionando com mudanças fisiológicas e apontando populações de risco ou proteção imunológica. Métodos A compilação dos dados foi realizada por meio de uma revisão sistemática da literatura, a partir dos bancos de dados PubMed e SciELO, utilizando-se artigos originais sobre imunossenescência e revisões sobre esse tema entre 1996-2011. Mecanismos fisiológicos da imunossenescência Vários mecanismos já foram propostos para explicar a imunossenescência, incluindo alterações moleculares ligadas ao estresse oxidativo e hormonais. De acordo com a teoria de rede, o envelhecimento é um processo indiretamente controlado por uma variedade de funções de defesa ou de respostas antiestresse, atuando globalmen- te como mecanismo antienvelhecimento1. Os estressores são muito diversos e incluem diferentes agentes físicos (calor, radiação gama), químicos (radicais livres), biológicos (vírus, bactérias) e psicológicos (depressão, estresse). Diferentes processos de estresse celular podem induzir envelhecimento, incluindo encurtamento telomérico, danos ao DNA, ativação de oncogenes e estresse oxidativo, entre outros. A eficiência da rede antienvelhecimento, que inclui enzimas de reparo de DNA, antioxidantes, proteínas de choque térmico e sistema imune, difere em várias espécies e indivíduos, o que é percebido pelas diferenças na expectativa de vida2. É bem aceito que o sistema imune é regulado por uma miríade de hormônios, incluindo os esteroides adrenais, hormônios sexuais, adipocinas, hormônio de crescimento, neurotransmissores etc. As alterações endócrinas observadas no envelhecimento contribuem para as variações individuais da imunossenescência3. Por exemplo, o envelhecimento é acompanhado de profundas modificações no eixo HPA (hipotálamo-hipófise-adrenal), o que é denominado de adrenopausa. A partir dos 30 anos de idade, os níveis séricos de sulfato de deidropiandrosterona (DHEAS) diminuem bastante, mantendo apenas 10%-20% dos níveis máximos em idosos. Evidências indicam que DHEAS e DHEA possuem função estimulatória sobre o sistema imune4. Em contraste, os níveis de cortisol (imunossupressor) se mantêm elevados no envelhecimento. Portanto, potencialmente, a razão cortisol/DHEAS alterada influenciará o sistema imune do idoso de maneira diferente de sua ação na juventude. Além disso, déficits dos hormônios de crescimento (somatopausa) e sexuais (menopausa/ andropausa) estão implicados na imunossenescência. Inflammaging Em 2000, Franceschi e colaboradores entronizaram o termo “inflammaging”5. Essa definição trata de uma extensão da teoria de rede do envelhecimento, em que os autores colocam a maneira como o sistema imune lida com um crescente aumento do status inflamatório, que é inerente ao envelhecimento do organismo e provocado por contínuo estímulo antigênico. Imunossenescência O inflammaging indica um aumento constante da resposta inflamatória basal, representada por níveis séricos aumentados de proteína C reativa (PCR), IL-6 e TNF-a, implicados em inúmeras doenças inflamatórias. De fato, inflamação está envolvida com a etiopatogenia de doença de Alzheimer, aterosclerose, diabetes e até câncer, que são mais incidentes em idosos. Por essa proposta, não seria estranho que uma mesma droga atuasse em doenças tão aparentemente distintas como Alzheimer e diabetes. Estudos com centenários, na ausência de doenças, mostrou que é possível alcançar idades avançadas mesmo na presença de aumento de fatores inflamatórios. Portanto, parece que o inflammaging se relaciona ao envelhecimento per se e que poderia ser um grande fator direcionador de doenças associadas à inflamação e à idade. Porém, devem-se considerar as diferenças individuais. O inflammaging parece ser um evento que ocorre universalmente, porém apresenta variações indivi duais, que se relacionam com morbidade e mortalidade em idosos. Entretanto, há vários centenários que vivem bem mesmo apresentando níveis altos de marcadores inflamatórios característicos do inflammaging. As diferenças individuais podem ser explicadas pelos variantes genéticos. Dentre as diferenças genéticas, os genes da APOE, IL-6 e IL-10 se relacionam respectivamente com fragilidade e com fatores pró ou anti-inflamatórios6. Polimorfismos de citocinas associados ao envelhecimento O envelhecimento imunológico é acompanhado por uma mudança de perfil de expressão das citocinas. Processo inflamatório característico do envelhecimento, o inflammaging aparenta ter uma propensão progressiva a um estado pró-inflamatório fortemente influenciado pela carga genética do indivíduo7,8. Polimorfismos genéticos de citocinas têm demonstrado uma associação à produção de citocinas in vivo e in vitro. Além disso, a regulação genética dessas variantes de citocinas também se relaciona à resposta inflamatória e à resistência e suscetibilidade a algumas doenças infecciosas, autoimunes e neurodegenerativas. Nesse sentido, é importante entender o papel das variações genéticas na inflamação e nas doenças crônicas, possibilitando identificar pessoas saudáveis que apresentam aumento do risco de doenças. Assim, pode-se potencializar a mudança de trajetória de determinada doença, atuando na longevidade e possibilitando um envelhecimento saudável. Variações nas frequências alélicas na região promotora dos genes das citocinas podem ser relacionadas com sua 165 produção e liberação. Os polimorfismos de nucleotídeo único (single nucleotide polymorphisms – SNPs) na região promotora dos genes de determinadas citocinas vêm sendo associados com maior suscetibilidade a doenças de caráter inflamatório. Polimorfismos na região promotora do gene de citocinas são responsáveis por influenciar a atividade e interferir nas ações biológicas delas. Sugere-se, então, que essas variações alélicas possam, ao menos em parte, explicar a suscetibilidade às doenças, uma vez que podem vir acompanhadas pelo aumento dos níveis séricos correspondentes. TNF-a: Um estudo sugere que a variante alélica A do polimorfismo -308 da região promotora do TNF-a influencia na resistência à insulina e no percentual de massa gorda e aumenta os níveis séricos de leptina9. Outro estudo de revisão baseado em metanálise sugere uma associação significativa entre o polimorfismo -850 C>T e risco de desenvolver Alzheimer10. Nesse mesmo estudo, em uma análise de subgrupo, o resultado sugeriu que a posse do alelo T aumentou significativamente o risco de desenvolver Alzheimer associado aos pacientes que possuem o alelo e4E da apolipoproteína (APOE) em caucasianos australianos e europeus do norte. IL-10: Arosio et al., em 2010, observaram que a homozigose para o alelo A da interleucina-10 (IL-10) no polimorfismo -1082 (G / A) promoveu maior risco de desenvolver Alzheimer11. IL-6: O principal foco das pesquisas de polimorfismos da IL-6, na tentativa de correlacionar com doenças agudas e crônicas, vem sendo o SNP na posição -17412-13. Foi mostrado que a mudança de bases G_C na posição -174 afeta a transcrição do gene, levando a possível alteração dos níveis plasmáticos da IL-6. Com relação à doença de Alzheimer, existe uma importante relação entre a presença do alelo C com o aumento do risco de desenvolver a demência. Envelhecimento do sistema imune inato O sistema imune inato confere a primeira barreira/resposta contra agentes infecciosos. Com a idade, as células do sistema imune inato exibem piora de função, por exemplo, macrófagos e neutrófilos apresentam reduções importantes na resposta fagocítica e do potencial de estresse oxidativo. Por isso, é importante conhecer bem o papel dos componentes do sistema imune inato no processo de defesa durante o envelhecimento. Neutrófilos Os neutrófilos constituem a primeira linha de defesa celular contra bactérias e fungos, constituída 166 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):163-9 de mecanismos microbicidas, incluindo geração de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio, liberação de enzimas proteolíticas, peptídeos microbicidas e grânulos citoplasmáticos. Com o aumento da idade, não há diminuição do número de neutrófilos, porém suas funções ficam bastante comprometidas14. Durante a imunossenescência, a capacidade quimiotática dos neutrófilos é diminuída, o que provavelmente é refletido no tempo em que essas células chegam ao sítio de resposta imune. Outro reflexo também pode ser considerado uma lesão tecidual maior, uma vez que durante sua trajetória os neutrófilos liberam enzimas proteolíticas (como elastase) para alcançar o sítio de resposta inflamatória. Além disso, o tempo de resolução da inflamação é aumentado14. Outro fator alterado com a idade é a produção de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio e a capacidade fagocítica. Essas duas funções são piores em idosos quando comparados a adultos jovens. Modificações na composição dos lipid rafts em idosos (onde ficam importantes receptores de membrana sinalizadores de neutrófilos) podem também comprometer a sinalização mediada por receptores dessas células14. Células NK e NKT As células NK e NKT medeiam respostas citotóxicas, independentes de MHC, contra infecções virais e tumores. De modo interessante, o número absoluto de células NK aumenta com a idade14. Apesar disso, a citotoxicidade e a produção de citocinas e quimiocinas como IL-8, RANTES e MIP-1alfa estão reduzidas. Provavelmente, essas alterações na função das células NK estão relacionadas com as mudanças dos níveis do zinco em idosos, visto que a suplementação com zinco pode melhorar as funções dessas células. Há também um aumento no número de células NKT com a idade. Esse aumento está associado com uma maior produção de IL-17. Um aumento da resposta inflamatória, e principalmente da IL-17, pode estar relacionado com aumento de doenças autoimunes, suscetibilidade a infecções e sepse em indivíduos idosos14. Monócitos e macrófagos Os monócitos representam um importante componente fagocítico do sistema imune inato, que em resposta ao estímulo inflamatório se diferencia em células apresentadoras de antígenos, os macrófagos. Números absolutos dessas células aumentam com a idade, o que está relacionado com a fragilidade dos idosos14. Assim como as outras células do sistema imune, apesar do aumento do número absoluto de células, sua função está diminuída, particularmente no contexto de ativação por toll-like receptor (TLR). Há uma pronunciada diminuição de produção de citocinas em resposta à ativação por TLR 2, 3, 4, 5 e 9 em modelos animais de camundongos C57BL/6. Em outro modelo animal Balb/c, a transdução de sinal induzida por ativação de TLR está reduzida com o envelhecimento14. Além disso, a fagocitose por monócitos/macrófagos em indivíduos idosos está diminuída em relação a adultos jovens15. Considerando que a apresentação de antígenos para o sistema imune é papel fundamental na montagem de resposta imune (e dependente da fagocitose), qualquer alteração nesse compartimento celular ao longo do envelhecimento afetará diretamente a capacidade de montagem de uma resposta imune. Estudos em humanos também mostram reduzida expressão de citocinas produzidas por monócitos de indivíduos idosos comparados aos indivíduos jovens. Células dendríticas As células dendríticas são as principais apresentadoras de antígeno. A maioria dos trabalhos relata que a função dessas células está diminuída com o envelhecimento. A produção de citocinas induzida por TLR está diminuída14,16. De maneira interessante, o nível basal de citocinas intracelular é aumentado em células dendríticas de idosos, mas não nas de jovens. Por outro lado, a produção de citocinas independente de TLR e dependente de lipopolissacarídeo (LPS) está aumentada em modelos de células dendríticas derivadas de monócitos17,18. Os aumentos na produção de citocinas inflamatórias ativados por LPS estão relacionados com piora de função fagocítica e migração in vitro. Envelhecimento do sistema imune adaptativo É bem estabelecido que o envelhecimento esteja associado com diminuída capacidade de o sistema imune responder a vacinação e a patógenos invasores. A resposta imune adaptativa, constituída por linfócitos B, T e secreção de anticorpos, apresenta um declínio importante no envelhecimento. Linfócitos B Células B desempenham um papel crucial e mantenedor da imunidade protetora, incluindo a geração de anticorpos protetores, apresentação antigênica e até outras funções reguladoras. Durante a imunossenes- 167 Imunossenescência cência, ocorrem várias modificações na resposta imune humoral, tornando-a menos efetora. Acontecem modificações pronunciadas no funcionamento e na quantidade das células precursoras de linfócitos B. Isso leva a uma diminuição do número de linfócitos B, modificações no repertório de receptores de superfície (imunoglobulinas) e vazão dos precursores da medula óssea19. Além disso, as alterações no processo de diferenciação de linfócitos B em plasmócitos também geram uma menor diversidade, afinidade de anticorpos produzidos influenciando em piores respostas vacinais, além de maiores taxas de desordens autoimunes e tumores19. Embora a produção de anticorpos contra novos antígenos esteja prejudicada no envelhecimento, a imunidade humoral contra antígenos de memória está preservada. Linfócitos T Os linfócitos T são produzidos no timo a partir de células precursoras derivadas da medula óssea. Esses percursores diferenciam-se no timo em linfócitos T maduros que expressam moléculas funcionalmente importantes como o TCR (receptor da célula T), CD4 e CD8. Os linfócitos T CD8+ são importantes na proteção do organismo contra vírus, tumores e rejeição de tecidos. Linfócitos T CD4+ são as principais fontes de citocinas e direcionadores da resposta imune. Os linfócitos T CD4+ coordenam a secreção e a troca de classe de anticorpos pelas células B, promovem a quimiotaxia de neutrófilos e ativam macrófagos e células citotóxicas (NK, NKT e T CD8+). Apesar de o número total das células T permanecer constante durante o envelhecimento, as células T periféricas de idosos apresentam inúmeras alterações fenotípicas e funcionais20. O envelhecimento está associado com uma importante involução tímica e consequente redução na contagem de células T naïve (CD45RA+). Em paralelo, existe um acúmulo de células T de memória (CD45RO+), redução da capacidade proliferativa, expansão de células senescentes (CD28-), diminuição de células NKT, citotoxicidade prejudicada e uma contração profunda do repertório TCR ab21-23. Após 65 anos de idade, existe uma contração de 99% do repertório TCR ab, limitando drasticamente o reconhecimento dos novos antígenos. Durante o envelhecimento, existe uma expansão clonal (sem malignidade) de células T CD8+ específicas a antígenos virais (discutido na próxima seção). As principais alterações de células T CD4+ e CD8+ estão descritas na tabela 1. Tabela 1. Principais alterações das células T CD4+ e CD8+ durante a imunossenescência Células T CD4+ Células T CD8+ Reduzida sinalização via TCR Resposta reduzida a novos antígenos Declínio na diversidade de repertório Reduzida ativação, diferenciação e expansão após estímulo Declínio na diversidade de repertório Expansão de alguns clones (não maligna) Função de auxílio às células B defeituosas Geração de memória defeituosa Aumento na produção de citocinas Th2 (IL-10, IL-4 e TGF-b) Diminuição na produção de citocinas Th1 (IL-2, IFN-g e IL-12) Expansão de células Treg Redução na resposta citotóxica TCR: receptor da célula T; Treg: células T regulatórias (CD4+CD25+FoxP3+). Análise da reação de hipersensibilidade tardia (DTH) em resposta a antígenos de Candida sp. na produção de citocinas pró-inflamatórias foi diminuída em idosos em relação a jovens. Essa diminuição de citocinas potencialmente contribui para uma menor migração de células T em resposta aos desafios antigênicos na pele24. Fenótipo imune de risco para doenças e mortalidade Uma questão fundamental na Gerontologia é a busca de marcadores biológicos associados com a morbimortalidade no envelhecimento. O perfil de risco imunológico parece melhor discriminar o envelhecimento saudável do patológico. Esse perfil foi definido a partir de estudos longitudinais com idosos suecos (> 80 anos de idade), com uma razão da quantidade das células T CD4/CD8 < 1, baixa proliferação T inespecífica e expansão de células T senescentes (CD28-)25. Os idosos com esse perfil de risco apresentavam elevada mortalidade ao longo de quatros anos do estudo, independentemente do estado de saúde. De maneira interessante, os idosos que apresentavam um perfil de risco e dano cognitivo morriam 2x mais cedo que os sujeitos com perfil de risco apenas26. Esses dados sugerem que as interações entre o sistema nervoso e imune estão provavelmente integradas com um maior desgaste fisiológico no envelhecimento, devido aos efeitos sinérgicos desses sistemas durante a sobrevivência. A perda de expressão de CD28, particularmente nas células T CD8+, é uma das mudanças mais significativas da homeostase dos linfócitos T durante a imunossenescência. O CD28 é o correceptor principal 168 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):163-9 na ativação, proliferação e sobrevivência das células T. Quando nascemos, praticamente todas nossas células T expressam o CD28. Porém, aos 80 anos, aproximadamente 10% a 15% de células T periféricas e 50% a 60% de células CD8 perdem a expressão do CD2827. As células CD28- apresentam menor diversidade do receptor de células T (TCR), menor proliferação após engajamento antigênico, maior citotoxicidade, função de supressão e menor habilidade em secretar IL-2 e regular a ativação. Além disso, apresentam maior suscetibilidade à morte induzida por ativação e o acúmulo das células CD28- está associado com uma pior resposta vacinal em idosos e resposta imune contra patógenos28. O fenótipo CD8+ CD28vem sendo associado ao fenótipo imune de risco e está associado à maior morbimortalidade em idosos. A perda do receptor CD28 tem sido associada a um constante estímulo das células via TCR, em um contexto pró-inflamatório, na presença de particulares e persistentes infecções28. As células CD8+CD28têm um impacto negativo na resposta imune mediante uma variedade de mecanismos que contribuem para o fenótipo imunológico defeituoso em idosos. Esses linfócitos são oligoclonalmente expandidos e reduzem a resposta imune adaptativa, pois competem pelo espaço imunológico, ou seja, menos espaço de diversidade de repertório. Em idosos saudáveis, as células CD8+CD28- são frequentemente específicas para antígenos dos vírus citomegalovírus (CMV) e Epstein-Barr (EBV). Essas células possuem um impacto negativo na resposta imune adaptativa por uma variedade de mecanismos acima relacionados27. Muitos indivíduos com elevados números de células T CD28- apresentam doenças autoimunes (artrite reumatoide, esclerose múltipla, espondilite anquilosante, entre outras), sugerindo ainda mais que essas células sejam desenvolvidas em contexto inflamatório. Uma maior caracterização das mudanças moleculares das células T CD28- abre oportunidades para explorar potenciais alvos de mudar e até melhorar o funcionamento desses linfócitos durante o envelhecimento. ratas. Esse grupo de idosos, logicamente, deve ser equipado com um excelente sistema imunológico, além de uma ótima combinação de estilo de vida e bagagem genética. O sistema imune está muito bem preservado nos centenários. Apesar de apresentarem uma diminuição do número de linfócitos T no sangue, eles têm uma proliferação linfocitária tão boa quanto a dos adultos29. Além disso, os centenários praticamente não apresentam autoanticorpos na circulação e exibem uma excelente atividade das células natural killer, o que explica a ausência de câncer na maioria dos integrantes desse grupo30. CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS A população brasileira está envelhecendo rapidamente, numa taxa 3x mais rápida que a média global. Várias alterações no sistema imune ocorrem durante o envelhecimento (Figura 1). A diminuída resposta imune inata e adaptativa, associada ao inflammaging e ao aumento do fenótipo imune de risco, está associada a maior suscetibilidade de idosos a doenças infecciosas, tumores e doenças autoimunes. Associadas a esses fatores inerentes ao processo de senescência, as variantes alélicas de genes de citocinas também contribuem na morbimortalidade dos idosos. Centenários são exemplos de envelhecimento bem-sucedido e apresentam um sistema imune muito bem preservado. Todas essas peculiaridades enfatizam a importância do conhecimento da imunossenescência para testes de vacinas, terapias farmacológicas e afins específicos para os idosos. Envelhecimento bem-sucedido: os centenários Os centenários são representantes do envelhecimento bem-sucedido, pois escaparam de várias doenças associadas com o processo de envelhecimento e atingiram o limite extremo da vida humana. Os centenários com frequência não têm doenças associadas ao processo de envelhecimento, como câncer, diabetes, demências, doenças cardiovasculares ou cata- Alterações durante a imunossenescência: destaque para as principais mudanças no sistema imune inato e adaptativo. As setas significam aumento ou diminuição. Ig: imunoglobulina; TLR: toll-like receptor; MO: medula óssea; PCR: proteína C reativa. Figura 1. Sumário das alterações durante a imunossenescência. Imunossenescência AGRADECIMENTOS Agradecemos pelo apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Referências 1. Cui H, Kong Y, Zhang H. Oxidative stress, mitochondrial dysfunction, and aging. J Signal Transduct. 2012;2012:646354. 2. Kirkwood TBL, Austad SN. Review article. Why do we age? Nature. 2000;408:233-8. 3. Shaw AC, Panda A, Joshi SR, Qian F, Allore HG, Montgomery RR. Dysregulation of human toll-like receptor function in aging. Ageing Res Rev. 2011;10(3):346-53. 169 15. Panda A, Qian F, Mohanty S, Van Duin D, Newman FK, Zhang L, et al. Age-associated decrease in TLR function in primary human dendritic cells predicts influenza vaccine response. J Immunol. 2010;184:2518-27. 16. Fietta A Merlini C, Dos Santos C, Rovida S, Grassi C. Influence of aging on some specific and nonspecific mechanisms of the host defense system in 146 healthy subjects. Gerontology. 1994;40:237-45. 17. Cancro MP, D’Cruz DP, Khamashta MA. The role of B lymphocyte stimulator (BLyS) in systemic lupus erythematosus. J Clin Invest. 2009;119(5):1066-73. 18. Fagnoni FF, Vescovini R, Mazzola M, Bologna G, Nigro E, Lavagetto G, et al. Expansion of cytotoxic CD8+CD28- T cells in healthy ageing people, including centenarians. Immunology. 1996;88:501-7. 19. Weng NP, Akbar AN, Goronzy J. CD28− T cells: their role in the age-associated decline of immune function. Trends Immunol. 2009;30(9):306-12. Epub 2009 Jun 18. 4. Hazeldine J, Arlt W, Lord JM. Dehydroepiandrosterone as a regulator of immune cell function. J Steroid Biochem Mol Biol. 2010;120(2-3):127-36. 20. Papassotiropoulos A, Bagli M, Jessen F, Bayer TA, Maier W, Rao ML, et al. A genetic variation of the inflammatory cytokine interleukin-6 delays the initial onset and reduces the risk for sporadic Alzheimer’s disease. Ann Neurol. 1999;45:666-8. 5. Franceschi C, Bonafé M, Valensin S, Olivieri F, Luca M, Ottaviani E, et al. Inflamm-aging: an evolutionary perspective on immunosenescence. Mol Cell Gerontol. 2000;908:244-54. 21. Maue AC, Yager EJ, Swain SL, Woodland DL, Blackman MA, Haynes L. T-cell immunosenescence: lessons learned from mouse models of aging. Trends Immunol. 2009;30(7):301-5. 6. Mishto M, Santoro A, Bellavista E, Bonafe M, Monti D, Franceschi C. Immunoproteasomes and immunosenescence. Ageing Res Rev. 2003;2(4):419-32. 22. Mocchegiani E, Giacconi R, Cipriano C, Malavolta M. NK and NKT cells in aging and longevity: role of zinc and metallothioneins. J Clin Immunol. 2009;29:416-25. 7. Leng SX, Cappola AR, Andersen RE, Blackman MR, Koenig K, Blair M, et al. Serum levels of insulin-like growth factor-I (IGF-I) and dehydroepiandrosterone sulfate (DHEA-S), and their relationships with serum interleukin-6, in the geriatric syndrome of frailty. Aging Clin Exp Res. 2004;16:153-7. 23. Weng NP, Akbar AN, Goronzy J. CD28(-) T cells: their role in the age-associated decline of immune function. Trends Immunol. 2009;30:306-12. 8. Mishto M, Santoro A, Bellavista E, Bonafe M, Monti D, Franceschi C. Immunoproteasomes and immunosenescence. Ageing Res Rev. 2003;2(4):419-32. 9. Ishii T, Hirose H, Saito I, Nishikaik K, Maruyama H, Saruta T. Tumor necrosis factor alpha gene G-308A polymorphism, insulin resistance, and fasting plasma glucose in young, older, and diabetic Japanese men. Metabolism. 2000;49:1616-8. 10. Di Bona D, Candore G, Franceschi C, Licastro F, Colonna-Romano G, Cammà C, et al. Systematic review by meta-analyses on the possible role of TNF-alpha polymorphisms in association with Alzheimer’s disease. Brain Res Rev. 2009;61(2):60-8. 11. Arosio B, Mastronardi L, Vergani C, Annoni G. Intereleukin-10 promoter polymorphism in mild cognitive impairment and in its clinical evolution. Int J Alzheimers Dis. 2010;2010:854527. 12. Mansoori N, Tripathi M, Alan R, Ramakrishnan LKL, Parveen S, Mukhopadhyay AK. IL-6-174 G/C and ApoE gene polymorphisms in Alzheimer’s and vascular dementia patients attending the cognitive disorder clinic of the all India Institute of Medical Sciences. Dement Geriatr Cogn Disord. 2010;30:461-8. 13. Shawkatová I, Javor J, Párnická Z, Vrazda L, Novák M, Buc M. No association between cytokine gene polymorphism and risk of Alzheimer’s disease in Slovaks. Acta Neurobiol Exp (Wars). 2010;70(3):303-7. 14. Ribizzi G, Fiordoro S, Barocci S, Ferrari E, Megna M. Cytokine polymorphisms and Alzheimer disease: possible associations. Neurol Sci. 2010;31(3):321-5. 24. Naylor K, Li G, Vallejo AN, Lee WW, Koetz K, Bryl E, et al. The influence of age on T cell generation and TCR diversity. J Immunol. 2005;174(11):7446-52. 25. Agius E, Lacy KE, Vukmanovic-Stejic M, Jagger AL, Papageorgiou AP, Hall S, et al. Decreased TNF-alpha synthesis by macrophages restricts cutaneous immunosurveillance by memory CD4+ T cells during aging. J Exp Med. 2009;206:1929-40. 26. Ferguson FG, Wikby A, Maxson P, Olsson J, Johansson B. Immune parameters in a longitudinal study of a very old population of Swedish people: a comparison between survivors and nonsurvivors. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 1995;50(6):B378-82. 27. Wikby A, Ferguson F, Forsey R, Thompson J, Strindhall J, Lofgren S, et al. An immune risk phenotype, cognitive impairment, and survival in very late life: impact of allostatic load in Swedish octogenarian and nonagenarian humans. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60(5):556-65. 28. Agrawal A, Agrawal S, Cao JN, Su H, Osann K, Gupta S. Altered innate immune functioning of dendritic cells in elderly humans: a role of phosphoinositide 3-kinase-signaling pathway. J Immunol. 2007;178:6912-22. 29. Agrawal A, Tay J, Ton S, Agrawal S, Gupta S. Increased reactivity of dendritic cells from aged subjects to self-antigen, the human DNA. J Immunol. 2009;182:1138-45. 30. Franceschi C, Bonafe M. Centenarians as a model for healthy aging. Biochem Soc Trans. 2003;31(2):457-61. 31. Sansoni P, Vescovini R, Fagnoni F, Biasini C, Zanni F, Zanlari L, et al. The immune system in extreme longevity. Exp Gerontol. 2008;43(2):61-5. ARTIGO de revisão A postura do idoso e suas implicações clínicas Posture of the elderly and its clinical implications Eluciene Maria Santos Carvalho1, Sâmara Paula Ferreira Mota2, Guilherme Pinheiro Ferreira da Silva2, João Macedo Coelho Filho3 RESUMO Considera-se uma postura correta o alinhamento do corpo com eficiência fisiológica e biomecânica máxima, o que minimiza os estresses e as sobrecargas sofridas ao sistema de apoio pelos efeitos da gravidade. A postura está relacionada à coordenação, ao equilíbrio e ao controle postural. Um dos principais problemas associados ao envelhecimento humano é a redução da habilidade para controlar a postura e a marcha. Estudos têm demonstrado associações entre controle postural e alteração do equilíbrio relacionadas à idade acima de 75 anos. Estima-se que a prevalência de queixas de equilíbrio nessa população chega a 85%, gerando disfunções biomecânicas e dependência funcional, podendo resultar em quedas frequentes responsáveis por aproximadamente 70% das mortes acidentais nos idosos. Chegar a uma idade avançada da vida em pleno uso de sua independência funcional é certamente um desejo comum do indivíduo para gozo de desempenho de suas funções. Dessa forma, este artigo se propõe a analisar as alterações posturais decorrentes do envelhecimento e suas implicações clínicas como fator relevante na qualidade de vida do indivíduo idoso, chamando a atenção para o planejamento de ações preventivas e cuidados da saúde funcional. Recebido em 3/6/2011 Aceito em 1/10/2011 Palavras-chave: Postura, idoso, saúde do idoso. ABSTRACT Correct posture is considered to be the alignment of the body with physiological efficiency and maximum biomechanics that minimizes the stress and overload on the support system caused by gravity. Posture is related to coordination, equilibrium and posture control. One of the main problems associated with human aging is the reduce ability to control the posture and the walk. Studies have shown an association between posture control and equilibrium alteration related to those over the age of 75. It is estimated that prevalence of equilibrium complains in this age group is 85% generating sible for approximately 70% of the accidentally deaths among the elderly. To arrive at an advanced age in life with functional independence is certainly a common desire of the individual to enjoy accomplishing his tasks. In this way, this article proposes to analyses the posture alterations emanate to aging and its clinical implications as a relevant factor for the elderly individuals quality of life and also an alert to plan preventative actions and cares for functional health. The topic is justifiable as an awakening to look at the necessary care regarding factors that intervene on posture alignment in the sense of preventing future repercussions. Keywords: Posture, aged, health of the elderly. Universidade de Fortaleza (Unifor), Universidade Federal do Ceará (UFC). 2 Unifor. 3 UFC. 1 Endereço para correspondência: Eluciene Maria Santos Carvalho • Av. Washington Soares, 1321, Edson Queiroz – 60811-341 – Fortaleza, CE. E-mail: [email protected] Postura no idoso INTRODUÇÃO Postura é a posição, atitude de um corpo, maneira em que suas partes se encontram para realizar uma atividade específica, ou a forma de suportar o próprio peso corporal1. Considera-se uma postura correta o alinhamento do corpo com eficiência fisiológica e biomecânica máximas, o que minimiza os estresses e as sobrecargas sofridas ao sistema de apoio pelos efeitos da gravidade2. Os maus hábitos posturais em geral acompanham o indivíduo desde a infância e constituem uma das primeiras razões para o desenvolvimento das alterações na postura, podendo induzir à disfunção irreversível3. Vários fatores individuais podem influenciar essas alterações, como anomalias congênitas e/ou adquiridas, má postura, obesidade, alimentação inadequada, atividades físicas sem orientação e/ou inadequadas, distúrbios respiratórios, desequilíbrios musculares, frouxidão ligamentar e doenças psicossomáticas4. Um dos principais problemas associados ao envelhecimento humano é a redução da habilidade para controlar a postura e a marcha. Estima-se que a prevalência de queixas de equilíbrio na população acima de 65 anos chega a 85%, estando associada a várias etiologias e podendo se manifestar como desequilíbrio, desvio de marcha, instabilidade, náuseas, tonturas, vertigens e quedas frequentes. Atualmente, as fraturas decorrentes de quedas são responsáveis por aproximadamente 70% das mortes acidentais em pessoas acima de 75 anos e da diminuição da independência funcional5,6. Chegar a uma idade avançada da vida em plena independência funcional é certamente um desejo comum do indivíduo para gozo de desempenho de suas funções. Dessa forma, este artigo se propõe a fazer uma revisão das alterações posturais decorrentes do envelhecimento e suas implicações clínicas como fator relevante na qualidade de vida do indivíduo idoso e também como alerta para planejamento de ações preventivas e cuidados da saúde. O tema se justifica pelo despertar de um olhar de cuidado necessário no que se refere aos fatores que intervêm no alinhamento postural no sentido de prevenir suas repercussões futuras. Foi realizada uma revisão por meio de levantamento de artigos científicos publicados entre os anos de 1994 e 2010 e de alguns livros relevantes da área. As bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), National Library of Medicine (Medline) e Scientific Electronic Library 171 Online (SciELO) foram consultadas, utilizando-se descritores da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) da Bireme (Decs). Os descritores utilizados foram: “postura”, “idoso”, “saúde do idoso”. A postura e o controle postural no processo de envelhecimento O envelhecimento compreende os processos de transformação do organismo que ocorrem após a maturação sexual e que acarretam resultados distintos para as diversas partes do organismo7. Dentre as principais alterações que surgem com o avanço da idade, está o decréscimo da função muscular resultante da “sarcopenia”, com redução substancial de massa muscular e um aumento na gordura subcutânea e intramuscular. Essas alterações geram diminuição da velocidade de caminhada, do equilíbrio, da habilidade de subir escadas e de levantar-se de uma posição sentada, fatores que favorecem a diminuição da independência funcional8. A postura é vista como um processo estático, mas a gravidade e os mecanismos de controle neural provocam constantemente um deslocamento sutil do alinhamento do corpo, que necessita de controle postural9. O controle postural exerce suas funções de suporte, equilíbrio e estabilização por informações sensoriais múltiplas. O sistema visual, vestibular e somatossensorial são as principais fontes de orientação para o desempenho dessas funções executadas pelo sistema motor10. A seleção e a organização dessas informações são processadas e comandadas pelo sistema nervoso. Para desempenhar essas funções, o controle postural exerce o controle do arranjo dos seguimentos corporais baseado no monitoramento da representação interna da postura11. Apesar de evidências indicarem diminuição no desempenho do sistema de controle postural em idosos, os motivos dessa diminuição, até o momento, não foram totalmente esclarecidos. Sugere-se que suas causas estariam associadas às alterações estruturais e funcionais nos sistemas sensoriais e motor e a problemas na integração das informações sensoriais11. Os distúrbios do equilíbrio decorrentes do envelhecimento alteram os sistemas sensitivos, visual e efetor e ainda estão associados às doenças crônico-degenerativas e ao ambiente em que o idoso está inserido, gerando instabilidade postural e risco de quedas12. Além das forças musculares para controle da ação da gravidade, a estabilidade postural estática depen- 172 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):170-4 de do equilíbrio de suporte de cada seguimento corporal, que, segundo Massion13, é formado pelo eixo vertical da cabeça e tronco e do alinhamento da projeção vertical do centro de massa do corpo na base de sustentação. Estudos têm demonstrado associações entre controle postural e alteração do equilíbrio relacionada à idade acima de 75 anos, analfabetismo e má percepção de saúde14. Com o avanço da idade, as funções do controle postural perdem a sua velocidade de informação e capacidade de resposta imediata ao equilíbrio corporal. Essas alterações contribuem para o aumento de incidência de quedas em idosos15. A função de estabilização requerida para o desempenho das tarefas utiliza ajustes posturais para manter estável a postura e preparar o corpo para deslocamentos dos seguimentos corporais durante os movimentos. Os ajustes posturais surgem por ação dos grupos musculares relacionados ao equilíbrio e ao controle dos movimentos. Pesquisas recentes sobre os ajustes posturais preparatórios à ação sugerem que a postura ortostática é utilizada como postura de referência e é ela que é modificada para preparar o gesto16. Com o envelhecimento, essas funções são afetadas e várias etapas do controle postural podem ser suprimidas, diminuindo a capacidade compensatória do sistema, levando a um aumento da instabilidade17. Barela e Freitas10 afirmam que a provável causa da instabilidade do sistema de controle postural em idosos seja a alteração no relacionamento entre informação sensorial e ação motora. Nas situações em que o equilíbrio postural é desafiado, a resposta motora tem que ser rápida para garantir o reequilíbrio. Como os idosos necessitam de maior tempo para processar e integrar as informações sensoriais, é provável que esse seja um fator importante para a ocorrência de quedas. Dessa forma, pode-se considerar que o corpo em grande desalinhamento dos seus seguimentos, com compressões inadequadas de suas estruturas articulares e seus ligamentos, poderá alterar a imagem corporal e a ação dos receptores mioarticulares na condução das informações, o que resultaria em dificuldades para as reações de restabelecimento do equilíbrio corporal. Mesmo na presença de um comando nervoso central eficiente, a própria limitação estrutural da amplitude do movimento poderá impedir reações de endireitamento postural instantâneas, e isso será mais agravado quando o sistema muscular estiver sob condições desfavoráveis. Será exigido um gasto energético excessivo, que na presença da fadiga e lentidão dos movimentos de marcha decorrerá em desfechos desfavoráveis como quedas ou contribuirá para um estado de vulnerabilidades em idosos. A postura estática e suas implicações clínicas Com a deterioração das estruturas que atuam sobre o controle do equilíbrio postural é que se percebe o quão difícil e crucial é a tarefa de ficar de pé. Manter o corpo em posição estática durante a postura ereta compreende a constante busca pelo equilíbrio, tendo em vista que o corpo oscila o tempo todo. Essa oscilação ocorre pela ativação do reflexo de estiramento e da força dos músculos antigravitacionais, que lutam contra a ação da gravidade18. A modificação da postura ereta em pé é uma das mudanças que ocorrem no sistema osteomuscular em consequência da idade. Parece haver um consenso entre os autores que têm estudado a postura corporal dos idosos de que com o avanço da idade são mais perceptíveis os desvios posturais. Manifestam-se principalmente no plano sagital, apresentando algumas características como o aumento da curvatura cifótica da coluna torácica, a diminuição da lordose lombar, o aumento do ângulo de flexão do joelho, o deslocamento da articulação coxofemoral para trás e a inclinação do tronco para diante, acima dos quadris19. Algumas alterações nas curvaturas da coluna vertebral como hipercifose torácica e hiperlordose lombar quase sempre estão presentes em indivíduos idosos. Lianza20 caracteriza a hipercifose como sendo um aumento no ângulo da cifose dorsal fisiológica e geralmente aparecendo como consequência de uma hiperlordose lombar, com a finalidade de manter o equilíbrio postural da coluna vertebral, devido ao deslocamento do seu centro de gravidade. Já a hiperlordose relata ser a deformidade mais importante que surge como consequência da flexão da cintura pélvica, com inclinação do conjunto de vértebras sacrais para frente. Dessa forma, a lordose lombar se acentuaria com a finalidade de equilibrar o sistema, provocando diminuição da flexão do tronco, aumento da cifose dorsal e aumento da lordose cervical. Kisner e Colby1 enfatizam que o exagero contínuo das curvaturas leva à má postura e ao desequilíbrio de força e flexibilidade muscular, assim como à retração ou hipermobilidade em tecidos moles. Cailliet21 salienta que o retorno à postura ereta depende não só da atividade muscular, como também do alinhamento das facetas que, essencialmente, só permitem o movimento no plano sagital. A estabilidade dos segmentos Postura no idoso móveis e a sustentação da coluna vertebral também apresentam alterações no idoso. Um estudo22 demonstrou que a “capacidade dos ligamentos anterior e posteriores da coluna vertebral reduz com o avanço da idade”. As alterações posturais dos membros comumente encontradas associadas à idade são protração ou abdução escapular, que podem alterar o ritmo escapuloumeral normal, provocando afecções dolorosas para o ombro; rigidez ou contraturas à flexão do cotovelo, desvio ulnar do punho e flexão dos dedos, que reduziriam a função de alcançar da mão; contratura em flexão do quadril, que provocaria a redução da passada, podendo também aumentar o custo de energia para mobilidade e as necessidades para o controle postural, sobretudo se a alteração for unilateral; contraturas em flexão do joelho; que podem reduzir o comprimento da passada e do impulso do quadril; alterações em varo ou valgo no quadril, joelhos e tornozelos, que, somadas às alterações provenientes das contraturas em flexão do joelho e quadril, provocam dores, devido à deformação mecânica e à tensão nos tecidos musculoesqueléticos18. Apesar da regularidade com que as mudanças acima descritas ocorrem, não é possível definir o que se poderia chamar de postura típica do idoso, haja vista a enorme variabilidade que se observa na posição bípede dos indivíduos na terceira idade. Porém, o que se percebe é que uma postura alerta e ativa parece ser resultado de uma atividade mental sobre o corpo, promovendo, assim, o equilíbrio e a estabilidade do corpo e da mente. A postura inadequada pode estar ligada a uma contração excessiva dos músculos, que diminui a atividade dos fusos musculares do sistema gama, havendo uma carência de transmissão de impulsos do cérebro, que não é informada sobre o grau de deformidade corporal que o corpo assumiu, e a postura, por isso, não é corrigida23. A postura dinâmica e suas implicações clínicas A postura humana é composta das posições de todas as articulações do corpo em um dado momento. Segundo Kauffman18, nem todas as alterações na postura podem ser classificadas como defeituosas ou anormais, algumas podem ser alterações compensatórias normais, resultantes de outras alterações neuromusculoesqueléticas na coluna vertebral, nos membros ou nos mecanismos de controle central. Porém, é certo que a manutenção da marcha, por exemplo, constitui componente imprescindível aos 173 objetivos de intervenção para manutenção da função e da independência funcional em idosos24. Dentre as alterações da marcha associadas à idade, destacam-se: diminuição da velocidade, da altura e do comprimento dos passos, diminuição da flexão dos joelhos e do tronco, perda de sincronia na movimentação dos membros superiores e aumento da base de apoio. Essas modificações podem estar associadas a mecanismos de compensação para manter a marcha e podem ocasionar quedas, assim como a diminuição da altura do passo provoca aumento do risco de tropeços, podendo ocasionar grave comprometimento dos movimentos requeridos para a execução das atividades da vida diária24. Em relação à marcha, pode-se citar o estudo de Teixeira et al.25, no qual os autores verificaram os aspectos biomecânicos do caminhar em idosos. Os achados desse estudo também apontaram para as fases de apoio maiores e de balanço menores nos idosos do que para populações mais jovens. Os autores pressupõem que nessa população existe uma necessidade maior de buscar segurança na manutenção do equilíbrio dinâmico. Neste estudo foram encontradas também assimetrias entre os comprimentos dos passos e uma diminuição de sua amplitude. Melo et al.26 analisaram as características dinâmicas da marcha do idoso, considerando a prática de atividade física e o histórico de quedas. Diante dos resultados, concluíram que os idosos apresentaram redução do primeiro e segundo pico de força e aumento do tempo de duplo apoio em relação aos adultos. Os autores destacaram que, embora ocorram alterações na marcha com o envelhecimento, estas são menores nos idosos sem histórico de quedas e praticantes de atividades físicas. De acordo com Guccione22, a variabilidade é uma palavra importante a ser lembrada quando são discutidas as alterações do envelhecimento na postura propriamente dita. Está claro que um idoso não é idêntico a outro, nem todos os idosos mostram inclinação para frente e nem todos estão motivados para mudar sua postura. CONSIDERAÇÕES FINAIS Nos últimos 20 anos, estudiosos têm tentado estabelecer um fenótipo de classificação para idosos na condição de fragilidade humana. O termo fragilidade é aplicado a indivíduos com alto risco para quedas, hospitalização, incapacidades, institucionalização e morte. Uma proposição de caracterização da fragilidade 174 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):170-4 defendida por Fried27 et al. elege cinco componentes físicos característicos para seu reconhecimento: perda de peso não intencional, autorrelato de fadiga, diminuição da força de preensão, redução das atividades físicas e diminuição na velocidade da marcha. Os distúrbios da marcha e do equilíbrio podem representar um problema de saúde sério com o avanço da idade. As quedas estão intimamente ligadas à postura e à marcha, que, por sua vez, sofrem várias influências do envelhecimento normal e patológico. Apesar de queda ser um problema multifatorial, é possível que indivíduos com déficits posturais, principalmente idosos, possam ser incapazes de gerar respostas adequadas posturais durante, por exemplo, a posição prolongada de pé. Isso pode levar à fadiga e, finalmente, contribuir para o risco de queda28. O conhecimento prévio das mudanças posturais em decorrência do processo de envelhecimento e suas implicações clínicas e funcionais darão suporte aos profissionais de saúde para avaliar, tratar e, principalmente, promover programas preventivos a fim de minimizar os efeitos deletérios das disfunções cinésio-funcionais em idosos resgatando sua autonomia funcional e melhorando sua qualidade de vida. REFERÊNCIAS 1. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos. São Paulo: Manole; 2005. 2. Palmer LM, Apler ME. Fundamentos das técnicas de avaliação musculoesquelética. 2. ed. São Paulo: Guanabara-Koogan; 2000. 3. Hayne CR. Considerações sobre profilaxia e ergonomia. In: Grieve GP. Moderna terapia manual da coluna vertebral. São Paulo: Panamericana; 1994. 4. Moreira AL. Ergonomia: mitos, verdades e controvérsias. Rev Ciências Gerenciais. 2005;9(11):54-61. 5. Simoceli L, Bittar RMV, Bottino AM, Bento RF. Perfil diagnóstico do idoso portador de desequilíbrio corporal: resultados preliminares. Rev Bras Otorrinolaringol. 2003;69(6):772-7. 6. Rogers MW, Mille ML. Lateral stability and falls in older people. Exerc Sport Sci Rev. 2003;31(4):182-7. 7. Nèri AL. As políticas de atendimento aos direitos da pessoa idosa expressa no Estatuto do Idoso. A Terceira Idade. 2005;16(34):7-24. 8. Lacourt MX, Marini LL. Decréscimo de função muscular decorrente do envelhecimento e a influência na qualidade de vida do idoso: uma revisão de literatura. Rev Bras Ciên Envelhecimento Hum. 2006;3(1)114-21. 9. Bonder BR, Wagner MB. Functional performance in older adults. Philadelphia: Davis Company; 2001. 10. Barela JA, Freitas Jr P. Alterações no funcionamento do sistema de controle postural de idosos. Uso da informação visual. Rev Port Cien Desp. 2006;6(1):94-105. 11. Mochizuki L, Amadio AC. As funções do controle postural durante a postura ereta. Rev Fisioter Univ São Paulo. 2003;10(1):7-15. 12. Gonçalves DFF, Ricci NA, Coimbra AMV. Equilíbrio funcional de idosos da comunidade: comparação em relação ao histórico de quedas. Rev Bras Fisioter. 2009;13(4):316-23. 13. Massion J. Postural control systems in developmental perspective. Neurosci Biobehav Rev. 1998;22(4):465-72. 14. Maciel ACC, Guerra RO. Prevalência e fatores associados ao déficit de equilíbrio em idosos. R Bras Ci Mov. 2005;13(1):37-44. 15. Gai J, Gomes L, Nobrega OT, Rodrigues MP. Fatores associados a quedas em mulheres idosas residentes na comunidade. Rev Assoc Med Bras. 2010;56(3):327-32. 16. Takahashi T, Ishida K, Hirose D, Nagano Y, Okumiya K, Nishinaga M, et al. Trunk deformity is associated with a reduction in outdoor activities of daily living and life satisfaction in community-dwelling older people. Osteoporos Int. 2005;16(3):273-9. 17. Ruwer SL, Rossi AG, Simon LF. Equilíbrio no idoso. Rev Bras Otorrinolaringol. 2005;71(3):298-303. 18. Kauffman TL. Postura. In: Manual de reabilitação geriátrica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 19. Olney SJ, Culham EG. Alterações de postura e marcha. In: Pickles B, Ann C, Janet CCS, Vander VA. Fisioterapia na terceira idade. 2. ed. São Paulo: Santos; 2002. 20. Lianza S. Medicina de reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 21. Cailliet R. Doenças dos tecidos moles. 3. ed. Porto Alegre: Artmed; 1998. p. 127-8. 22. Guccione AA. Fisioterapia geriátrica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. 23. Clarkson HM. Musculoskeletal assessment: Joint Range of Motion and Manual. Muscle Strength Philadelphia Lippincott. Philadelphia: Williams & Wilkins; 2003. 24. Rodrigues IG. Velocidade da marcha, quedas, medo de cair e capacidade funcional em idosos da comunidade: dados do FIBRA [dissertação]. Campinas, SP: Universidade de Campinas; 2009. 25. Teixeira CS, Link DM, Ribeiro JK, Costa VP, Mota CB. Aspectos biomecânicos do caminhar em idosos. In: XVII Jornada Acadêmica Integrada. Anais Acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): Santa Maria; 2002. 26. Melo W, Rocha M, Silva A, Bona C, Tourinho Filho H. Nível de força isocinética de mulheres idosas. In: XVII Jornada Acadêmica Integrada. Anais Acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM): Santa Maria; 2002. 27. Fried LP, Ferrucci L, Darer J, Williamson JD, Anderson G. Untangling the concepts of disability, frailty, and comorbidity: implications for improved targeting and care. J Gerontol A Biol Med Sci. 2004;59(3):255-63. 28. Freitas SM, Wieczorek SA, Marchetti PH, Duarte M. Age-related changes in human postural control of prolonged standing. Gait Posture. 2005;22(4):322-30. ARTIGO de revisão Evidências da acupuntura no tratamento da dor lombar Evidence of acupuncture in treatment of low back pain Julio César Rigo1, Ana Paula Menezes Pires2, Leandro Alves de Oliveira2, Silvio S. Harres3, Roberta Rigo Dalacorte4 Recebido em 9/5/2011 Aceito em 10/8/2011 RESUMO Introdução: A dor lombar é uma doença de alta prevalência, provocando significantes custos e morbidade para a sociedade. Considerando que as pessoas idosas são acometidas frequentemente por essa doença e que essa população é mais suscetível aos efeitos adversos dos medicamentos, a acupuntura tem sido uma opção efetiva e segura contra a dor lombar. Objetivo: Revisar as evidências do uso da acupuntura no tratamento da dor lombar. Métodos: Foram pesquisadas as fontes de dados PubMed e Lilacs, com as palavras-chave: “dor lombar” e “acupuntura”. Resultados: Estudos têm sugerido melhor eficácia da acupuntura em relação ao tratamento convencional com anti-inflamatórios. Outros estudos demonstraram similar superioridade entre a acupuntura verdadeira e a acupuntura falsa (sham) comparada ao tratamento medicamentoso, enquanto outros sugerem existir uma superioridade da real acupuntura em relação à acupuntura sham. Contudo, revisões sistemáticas têm demonstrado carência de estudos bem desenhados para avaliar adequadamente o efeito da acupuntura no tratamento da dor lombar. Conclusão: Existem evidências do benefício no tratamento da dor lombar com a acupuntura, sendo esse benefício demonstrado na literatura como superior ao tratamento convencional. Contudo, a utilização da acupuntura falsa e da acupuntura verdadeira tem demonstrado, até o momento, benefícios similares nesta revisão. Palavras-chave: Dor lombar, acupuntura. ABSTRACT 1 Serviço de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Núcleo de Atendimento à Terceira Idade do Exército – Policlínica Militar de Porto Alegre. 2 Médico de Família. Pós-Graduação em Acupuntura. 3 Mestre em Medicina. Especialista em Acupuntura. 4 Serviço de Geriatria e Gerontologia da PUCRS. Introduction: Low back pain is a very prevalent condition in the elderly. It causes significant morbidity and cost to society. Considering the search for effective, safe and affordable treatments, especially in the elderly, who are more susceptible to medication’s side effects, acupuncture has been widely used as a primary or complementary treatment option for low back pain. Objective: This review examined the currently available evidence supporting the use of acupuncture to treat low back pain. Methods: The following databases were searched: PubMed and Lilacs with keywords: “low back pain” and “acupuncture”. Results: Some studies suggest better efficacy of acupuncture compared to treatment with anti-inflammatory. Others studies showed similar superiority between real acupuncture and sham acupuncture compared to conventional drug therapy, while others studies suggest superior benefit of real acupuncture compared to sham. However, systematic reviews have highlighted the lack of well-designed studies to assess properly the true role of acupuncture in low back pain. Conclusion: The evidence of acupuncture for low back pain was demonstrate and it is better than the conventional treatment. However the sham and real acupuncture had haven the some evidence in this review. Keywords: Low back pain, acupuncture. Endereço para correspondência: Julio César Rigo • Rua Lavras, 617, Petrópolis – 90460-040 – Porto Alegre, RS • Telefax: (51) 3029-4844 • E mail: [email protected] 176 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):175-9 INTRODUÇÃO A dor lombar, ou lombalgia, acompanha o homem desde que este assumiu a postura ereta. Inúmeros fatores têm contribuído para um aumento na prevalência da dor lombar, entre eles o estilo de vida urbano sedentário, a obesidade, as novas exigências do trabalho (doenças ocupacionais), o aumento da sobrevida média da população e as alterações degenerativas associadas ao envelhecimento. A dor lombar é uma das queixas mais comuns da prática clínica, ocorrendo em mais de 80% dos indivíduos em algum momento de suas vidas. Estima-se que 7% da população adulta consultará um especialista por causa desse sintoma no período de um ano, especialmente idosos. Homens e mulheres são igualmente afetados, sendo eles trabalhadores braçais ou intelectuais. Para muitos indivíduos, a dor lombar é autolimitada e sem necessidade de tratamento específico; para outros, ela é recorrente ou crônica, interferindo em todas as esferas das atividades da vida diária. Raramente a lombalgia é secundária a uma doença grave como infecção, malignidade ou outra doença sistêmica1. A dor lombar pode originar-se de várias estruturas da coluna sensíveis à dor, incluindo ligamentos, anel fibroso do disco intervertebral, articulações interapofisárias, periósteo, musculatura e fáscia paravertebral, vasos sanguíneos e raízes nervosas. As articulações interapofisárias têm função de estabilização da coluna e situam-se próximas aos forames de conjugação, por onde emergem as raízes nervosas. Portanto, a artrose associada ao processo de envelhecimento dessas articulações pode determinar dor lombar e diversos graus de irritação radicular. Os discos intervertebrais desempenham importante função na absorção de impactos e permitem a mobilidade entre vértebras. Entre os processos degenerativos associados ao envelhecimento, estão a desidratação dos núcleos pulposos, que se tornam mais delgados, e o desgaste do anel fibroso externo. Contudo, a causa fisiológica da dor lombar não é totalmente esclarecida em mais de 85% dos pacientes2. Ocorrem gastos excessivos no tratamento da dor lombar com exames de imagem e procedimentos cirúrgicos, além do abuso de intervenções farmacológicas no manejo de episódios de lombalgia não complicada. Dada a elevada prevalência da lombalgia, estima-se que 50% da população apresentará dor lombar em seis meses, sendo 11% desses episódios mais severos – dados obtidos em diferentes populações estudadas como canadenses, norte-americanos e britânicos1,3,4. Os custos do tratamento da dor lombar são muito elevados, chegando a exceder 100 bilhões de dólares ao ano nos Estados Unidos da América, sendo 75% desse valor gastos com somente 5% dos casos de lombalgia, justamente os severos e que procuram os serviços de saúde. A dor lombar esteve associada com 72% de interrupções em atividades físicas esportivas regulares e 60% de interferência na realização de atividades da vida diária5. O tratamento atual da dor lombar visa à diminuição da dor, à melhoria da amplitude e da força dos movimentos e, em última análise, à melhora do estado funcional do paciente. Para tanto, existe uma gama de diferentes intervenções terapêuticas, incluindo a terapia medicamentosa, a fisioterapia, a cirurgia, a acupuntura, entre outras. Dada a elevada prevalência da dor lombar e o fato de, em geral, ela decorrer de situações não complicadas, justifica-se a busca por terapêuticas efetivas de menor custo e com poucos efeitos colaterais, especificamente entre a população idosa, uma vez que esta está mais predisposta aos efeitos colaterais de medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios. Acupuntura A acupuntura é um sistema médico complexo integral, com semiologia e diagnóstico específicos, sendo considerada uma parte integrante da medicina tradicional chinesa (MTC), praticada há 2.500 anos. A intervenção pela acupuntura consiste na inserção de agulhas para estímulos em determinados pontos da superfície corporal. Esses pontos fazem parte de uma rede de meridianos interconectados entre si e com os órgãos, por onde flui a energia vital do organismo (Qi). Atuando sobre esses pontos, é possível interferir na função dos órgãos, buscando corrigir desequilíbrios no fluxo da energia, promovendo a melhora do indivíduo Acupuntura no mundo O sistema clássico da acupuntura foi descrito pela primeira vez no Cânon de Medicina do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing), aproximadamente em 200 antes de Cristo (a.C.). A acupuntura inicialmente se espalhou pela Ásia. A partir do século XVI, missionários jesuítas trouxeram a prática para a Europa6. Em 1912, o médico inglês William Osler descreveu o uso da acupuntura em sua primeira edição do The principles and practice of medicine, indicando-a Acupuntura e dor lombar como “o melhor tratamento” para dor lombar. A pesquisa cresceu nos Estados Unidos a partir de 1971. O consenso do National Institutes of Health (NIH) dos Estados Unidos referendou a indicação da acupuntura, de forma isolada ou como coadjuvante, para várias doenças e agravos à saúde. Em 2006, mais de 3 milhões de adultos americanos submeteram-se a tratamentos com acupuntura. Acupuntura no Brasil A acupuntura foi introduzida no Brasil aproximadamente há 40 anos. Em 1995, foi reconhecida como especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e, posteriormente, pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em seus diversos níveis de atenção. Em 1999, o Ministério da Saúde inseriu a consulta médica em acupuntura, o que permitiu acompanhar a evolução das consultas por região e em todo o país. Em 2003, foram 181.983 consultas, com maior concentração de médicos acupunturistas na região Sudeste6. Mecanismos de ação da acupuntura Múltiplos modelos fisiológicos têm sido propostos para explicar os efeitos da acupuntura. Alguns têm implicado a liberação de citocinas, hormônios (como cortisol e ocitocina), efeitos biomecânicos e eletromagnéticos sobre o sistema imune e o sistema nervoso autonômico e somático. Endorfinas A principal aplicação da acupuntura tem sido para o tratamento da dor. Estudos realizados nas décadas de 1970 e 1980 contribuíram muito para o entendimento atual dos efeitos analgésicos da acupuntura7. De acordo com essa teoria, a estimulação por meio da acupuntura promove um efeito de liberação de neurotransmissores (endorfinas) no nível da medula nervosa espinhal e supraespinhal8. Vêm ao encontro dessa teoria as evidências de que antagonistas opioides bloqueiam os efeitos analgésicos da acupuntura9. Contudo, esse efeito sobre endorfinas parece ser de 10 a 20 minutos, podendo durar alguns dias, conforme documentado em estudo10. A liberação de endorfina pode ser obtida mediante estímulo em terminações nervosas livres ou musculatura aferente. Porém, a especificidade dos pontos de acupuntura e a utilização de pontos específicos para o agulhamento ainda permanecem não explicadas. Por isso, ainda existem 177 limitações às explicações dos efeitos da acupuntura relacionadas à liberação de endorfinas11. Efeito funcional cortical Estudos realizados por meio de ressonância magnética cerebral funcional têm demonstrado efeitos fisiológicos com a utilização da acupuntura. Em um deles, foi evidenciado que o estímulo com agulhas em pontos dos pés, específicos para tratamento de desordens visuais, estava associado com modificações funcionais no córtex occipital associado à visão12,13. Outros estudos também têm documentado esse efeito em ressonância magnética cerebral funcional, evidenciando que o estímulo de pontos específicos de acupuntura provoca efeito maior que o agulhamento de pontos aleatórios, não descritos na medicina tradicional chinesa como pontos de acupuntura14. Teoria do tecido conjuntivo Nessa teoria, a acupuntura estaria relacionada com localizações anatômicas onde existe menor concentração de tecido conjuntivo. Um estudo realizado avaliando pontos e trajetos de meridianos de acupuntura de membros superiores evidenciou essa associação15. Além disso, esses pontos seriam de maior sensibilidade, produzindo um efeito maior de sensação associada ao agulhamento, conhecida como “de qi”16. Evidências da acupuntura no tratamento da dor lombar A busca na literatura pelas evidências científicas da acupuntura no tratamento da dor lombar ocorreu por meio de pesquisa nas bases de dados PubMed e Lilacs, contemplando as palavras-chave “acupuntura” e “dor lombar”. Os artigos foram selecionados a partir de ensaios clínicos randomizados e revisões sistemáticas da literatura. As principais evidências até o momento da acupuntura no tratamento da dor lombar as que seguem. Em revisão sistemática da literatura, é evidente a falta de estudos bem desenhados para avaliar adequadamente o papel da acupuntura no tratamento da dor lombar17. Em revisão sistemática da Cochrane Collaboration, foi demonstrado não existir diferença entre a acupuntura e outras terapias convencionais para o tratamento da dor lombar, contudo o uso da acupuntura mostrou-se superior ao da acupuntura sham no tratamento da dor lombar crônica, além de ser indicado como um bom adjuvante no tratamento dessa patologia18. Estudos recentes têm demonstrado que a acupuntura sham (aquela realizada de maneira falsa, fora de 178 Geriatria & Gerontologia. 2011;5(3):175-9 pontos de acupuntura) e a acupuntura verdadeira (realizada sobre os pontos e meridianos da acupuntura chinesa) não parecem diferir em relação ao seu efeito analgésico, pois foi observado em torno de 60% de melhora da dor tanto com a acupuntura sham quanto com a verdadeira. Porém, com o tratamento convencional da dor lombar, foram obtidos somente 39% de melhora da dor, evidenciando um efeito importante do agulhamento. Esses dados objetivos questionam a validade de utilizar pontos específicos de acupuntura para o tratamento da dor lombar, pois o simples agulhamento, mesmo fora de meridianos específicos, já evidenciou melhora adicional da dor lombar em relação ao tratamento convencional com anti-inflamatórios19,20. Porém, outro ensaio clínico randomizado, controlado por placebo, demonstrou efeito superior da acupuntura verdadeira em relação à acupuntura falsa para tratar a dor lombar crônica (média de nove anos de duração de dor lombar, entre os pacientes estudados), produzindo, além de alívio da dor, melhora do sono, retorno ao trabalho mais precocemente e menor tomada de analgésicos21. Em relação à técnica utilizada, foi encontrado somente um estudo nessa revisão que comparou a acupuntura realizada intramuscular com aquela aplicada mais profundamente no nível periosteal. Esse estudo não mostrou diferença entre as duas técnicas no manejo da dor22. Em revisão sistemática da Cochrane Collaboration, ficou demonstrado que a massoterapia, quando associada à acupuntura, apresenta efeito superior em relação à massagem isoladamente23. Outra revisão sistemática da literatura também evidenciou benefício da acupuntura tradicional em relação ao tratamento convencional em pacientes com dor lombar persistente, contudo os estudos dessa revisão não contemplaram a comparação com placebo ou falsa acupuntura24. Outro estudo encontrou diferença de 54% entre a acupuntura falsa e a acupuntura verdadeira (IC 95% de 0,35 a 0,73), demonstrando um real benefício da acupuntura verdadeira25. Além desse, outros estudos também apontam para um benefício no tratamento da dor lombar com a acupuntura quando comparada à acupuntura falsa18,21. trada frequentemente. Isso se deve, principalmente, à dificuldade técnica e financeira para patrocinar a realização de ensaios clínicos randomizados controlados por placebo – condição essencial nas classificações da medicina baseada em evidências. Embora haja diversos estudos sobre a utilidade da acupuntura e documentação do seu efeito fisiológico, muitos levaram a resultados inconclusivos em virtude do desenho do estudo, do tamanho da amostra, do uso de controles inadequados, entre outros fatores. Além disso, um pré-requisito para reprodutibilidade seria o treinamento uniforme dos acupunturistas participantes de um estudo. A utilização da acupuntura sham é algo difícil de ser metodologicamente aplicado, pois envolve também o agulhamento, assim, invariavelmente, haverá estímulo neurológico e vascular, levando à liberação de endorfinas endógenas responsáveis por um efeito analgésico. Os estudos de base, realizados há mais de 30 anos, já documentaram os efeitos analgésicos da acupuntura. Atualmente, as evidências de ensaios clínicos randomizados são ainda controversas, mas demonstram que o agulhamento promove efeitos adicionais no tratamento convencional da dor lombar. Contudo, a dúvida na literatura atual é sobre a necessidade da utilização de pontos específicos de acupuntura para a obtenção dessa analgesia. CONFLITOS DE INTERESSE O potencial conflito de interesse é em relação a todos serem pós-graduandos ou especialistas em acupuntura. REFERÊNCIAS 1. Cassidy JD, Carroll LJ. The Saskatchewan health and back pain survey. The prevalence of low back pain and related disability in Saskatchewan adults. Spine (Phila Pa 1976). 1998;23(17):1860-6. 2. Deyo RA, Rainville J, Kent DL. What can the history and physical examination tell us about low back pain? JAMA. 1992;268(6):760-5. 3. Papageorgiou AC, Croft PR, Ferry S, Jayson MI, Silman AJ. Estimating the prevalence of low back pain in the general population. Evidence from the South Manchester Back Pain Survey. Spine (Phila Pa 1976). 1995;20(17):1889-94. 4. Freburger JK, Holmes GM, Agans RP, Jackman AM, Darter JD, Wallace AS, et al. The rising prevalence of chronic low back pain. Arch Intern Med. 2009;169(3):251-8. CONCLUSÃO 5. Katz JN. Lumbar disc disorders and low-back pain: socioeconomic factors and consequences. J Bone Joint Surg Am. 2006;88(Suppl 2):21-4. Quando se estuda a acupuntura na literatura ocidental, a frase “escassos estudos de qualidade” é encon- 6. Landsberg G. Acupuntura em Atenção Primária à Saúde: uma revisão. PROMEF – Programa de Atualização em Medicina de Família e Comunidade. 2011. Ciclo 5. Módulo 4. Acupuntura e dor lombar 7. Pomeranz B, Cheng R, Law P. Acupuncture reduces electrophysiological and behavioral responses to noxious stimuli: pituitary is implicated. Exp Neurol. 1977;54(1):172-8. 8. Han JS, Terenius L. Neurochemical basis of acupuncture analgesia. Annu Rev Pharmacol Toxicol. 1982;22:193-220. 9. Ulett GA, Han S, Han JS. Electroacupuncture: mechanisms and clinical application. Biol Psychiatry. 1998;44(2):129-38. 10. Carlsson C. Acupuncture mechanisms for clinically relevant long-term effects – reconsideration and a hypothesis. Acupunct Med. 2002;20(2-3):82-99. 11. Change in the medical science of acupuncture. World Federation of Acupuncture and Moxibustion Societies, Kyoto; 1993. 12. Cho ZH, Chung SC, Jones JP, Park JB, Park HJ, Lee HJ, et al. New findings of the correlation between acupoints and corresponding brain cortices using functional MRI. Proc Natl Acad Sci U S A. 1998;95(5):2670-3. 179 16. Langevin HM, Churchill DL, Wu J. Evidence of connective tissue involvement in acupuncture. FASEB J. 2002;16(8):872-4. 17. Lewis K, Abdi S. Acupuncture for lower back pain: a review. Clin J Pain. 2010;26(1):60-9. 18. Manheimer E, White A, Berman B. Meta-analysis: acupuncture for low back pain. Ann Intern Med. 2005;142(8):651-63. 19. Cherkin DC, Sherman KJ, Avins AL, Erro JH, Ichikawa L. A randomized trial comparing acupuncture, simulated acupuncture, and usual care for chronic low back pain. Arch Intern Med. 2009;169(9):858-66. 20. Brinkhaus B, Witt CM, Jena S. Acupuncture in patients with chronic low back pain: a randomized controlled trial. Arch Intern Med. 2006;166(4):45. 21. Christer PO, Carlsson, MD, Bengt HS. Acupuncture for chronic low back pain: a randomized placebo-controlled study with long-term follow-up. Clin J Pain. 2001;17:296-305. 13. Cho ZH, Chung SC, Jones JP, et al. New findings of the correlation between acupoints and corresponding brain cortices using functional MRI. Proc Natl Acad Sci U S A. 1998;95(5):2670-3. 22. Hansson Y, Carlsson C, Olsson E. Intramuscular and periosteal acupuncture in patients suffering from chronic musculoskeletal pain – a controlled trial. Acupunct Med. 2008;26(4):214-23. 14. Fang JL, Krings T, Weidemann J, Meister IG. Functional MRI in healthy subjects during acupuncture: different effects of needle rotation in real and false acupoints. Neuroradiology. 2004;46(5):359-62. 23. Furlan AD, Imamura M, Dryden T. Massage for low-back pain. Cochrane Database Syst Rev. 2008;(4):CD001929. 15. Langevin HM, Yandow JA Relationship of acupuncture points and meridians to connective tissue planes. Anat Rec. 2002;269(6):257-65. 25. Manheime E, White A, Berman B. Meta-analysis: acupuncture for low back pain. Ann Intern Med. 2005;142:651-63. 24. Yuan J, Purepong N, Kerr DP. Effectiveness of acupuncture for low back pain: a systematic review. Spine. 2008;33(23):E887-900. AGENDA DE EVENTOS Esta seção da revista está aberta para a divulgação de eventos nacionais e internacionais. O material pode ser enviado à coordenadora Sandra Santana, na Segmento Farma Editores, Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP, ou por e-mail: [email protected] Curso Introdução à Geriatria Data: 7 de Janeiro de 2012 Cidade: Lisboa Local: Hotel Sana Lisboa Organização: Núcleo de Estudos de Geriatria da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (GERMI) Informações: www.spmi.pt XVI Simpósio Internacional de Atualização em Psiquiatria Geriátrica Data: 23 e 24 de março de 2012 Cidade: São Paulo, SP Local: Centro de Convenções APAS Informações: http://www.blcongressoseventos.com.br XVIII Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia Realização: SBGG Data: 22 a 25 de maio de 2012 Cidade: Rio de Janeiro, RJ Local: Centro de Convenções Sul América Seccional: Nacional IAGG's 20th World Congress - "Digital Aging: New Horizon for All Age" Realização: IAGG Data: 23 a 28 de junho de 2013 Cidade: Seoul Local: Coreia XXIX Congresso Brasileiro de Reumatologia Data: 19 a 22 setembro de 2012 Cidade: Vitória, ES Local: Centro de Convenções de Vitória Informações: http://www.reumato2012.com.br Instruções aos autores Informações gerais Tipos de artigos publicados A revista Geriatria & Gerontologia – G&G é a publicação científica tri- A revista G&G aceita a submissão de: Editoriais e Comentários. Esta seção destina-se à publicação de artigos subscritos pelos editores ou aqueles encomendados a autoridades em áreas específicas, devendo ser prioritariamente relacionados a conteúdos dos artigos publicados na revista. Artigos Originais. Contribuições destinadas à divulgação de resultados de pesquisas inéditas tendo em vista a relevância do tema, o alcance e o conhecimento gerado para a área da pesquisa. Devem ter de 2.000 a 4.000 palavras, excluindo ilustrações (tabelas, figuras [máximo de cinco]) e referências [máximo de 30]. Artigos de Revisão. Avaliação crítica sistematizada da literatura sobre determinado assunto, de modo a conter uma análise comparativa dos trabalhos na área, que discuta os limites e alcances metodológicos, permitindo indicar perspectivas de continuidade de estudos naquela linha de pesquisa e devendo conter conclusões. Devem ser descritos os procedimentos adotados para a revisão, bem como as estratégias de busca, seleção e avaliação dos artigos, esclarecendo a delimitação e limites do tema. Sua extensão máxima deve ser de 5.000 palavras e o número máximo de referências bibliográficas de 50. Comunicações Breves. São artigos resumidos destinados à divulgação de resultados preliminares de pesquisa; resultados de estudos que envolvam metodologia de pequena complexidade; hipóteses inéditas de relevância na área de Geriatria e Gerontologia. Devem ter de 800 a 1.600 palavras (excluindo tabelas, figuras e referências [máximo de dez]). Deve ter a estrutura de um artigo original. Relatos de Caso. São manuscritos relatando casos clínicos inéditos e interessantes. Devem observar a estrutura de resumo com Introdução, Relato do caso (com descrição do paciente, resultados de exames clínicos, seguimento, diagnóstico), Discussão (com dados de semelhança na literatura) e Conclusão. Devem conter a bibliografia consultada e não devem ter mais de 1.500 palavras e 15 referências. Artigos Especiais. São manuscritos entendidos pelos editores como de especial relevância e que não se enquadram em nenhuma das categorias citadas. Sua revisão admite critérios próprios, não havendo limite de tamanho ou exigências prévias quanto às referências bibliográficas. Cartas ao Editor. Seção destinada à publicação de comentários, discussão ou críticas de artigos da revista. O tamanho máximo é de 1.000 palavras e até cinco referências. mestral da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia – SBGG, para veicular artigos que contribuam para a promoção do conhecimento na área de Geriatria e Gerontologia, em suas diversas subáreas e interfaces. A G&G aceita submissão de artigos em português, inglês e espanhol. Seu conteúdo encontra-se disponível em versão impressa, distribuída a todos os associados da SBGG, e em versão eletrônica acessada pelo site: www.sbgg.org.br. Instruções para o envio dos manuscritos Os trabalhos devem ser enviados por via eletrônica para o endereço: [email protected]; [email protected], ou por correio, em CD ou DVD, para: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. O autor para correspondência receberá mensagem acusando recebimento do trabalho; caso isto não aconteça até sete dias úteis do envio, deve-se entrar em contato. Concomitantemente, o autor deverá enviar, por via postal, uma declaração de que o manuscrito está sendo submetido apenas à revista Geriatria & Gerontologia e a concordância com a cessão de direitos autorais. Avaliação dos manuscritos por pareceristas (peer review) Os manuscritos que atenderem à política editorial e às Instruções aos autores serão encaminhados aos editores, que considerarão o mérito científico da contribuição. Aprovados nesta fase, os manuscritos serão encaminhados para pelo menos dois revisores de reconhecida competência na temática abordada. Os manuscritos aceitos poderão retornar aos autores para aprovação de eventuais alterações no processo de editoração e normalização, de acordo com o estilo da revista. Manuscritos não aceitos não serão devolvidos, a menos que sejam solicitados pelos respectivos autores no prazo de até três meses. Os manuscritos publicados são de propriedade da revista, sendo proibida tanto a reprodução, mesmo que parcial, em outros periódicos, como a tradução para outro idioma. Pesquisas envolvendo seres humanos Resultados de pesquisas relacionadas a seres humanos devem ser acompanhados de declaração de que todos os procedimentos tenham sido aprovados pelo comitê de ética em pesquisa da instituição de origem a que se vinculam os autores ou, na falta deste, por um outro comitê de ética em pesquisa credenciado junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde. Além disso, deverá constar, no último parágrafo do item Métodos, uma clara afirmação do cumprimento dos princípios éticos contidos na Declaração de Helsinki (2000), além do atendimento a legislações específicas do país no qual a pesquisa foi realizada. Os indivíduos incluídos em pesquisas devem ter assinado Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Orientações para a preparação dos manuscritos Os manuscritos devem ser digitados em Word for Windows [(inclusive tabelas); as figuras devem ser enviadas em arquivo JPG com no mínimo 300 dpi de resolução]. Devem ser apresentados na sequência: a) título completo do trabalho, em português e inglês, com até 90 caracteres; b) título abreviado do trabalho com até 40 caracteres (incluindo espaços), em português e inglês; c) nome de todos os autores por extenso, indicando a filiação institucional de cada um; d) dados de um dos autores para correspondência, incluindo o nome, endereço, telefone(s), fax e e-mail. Resumo: todos os artigos submetidos deverão ter resumo em português e em inglês (abstract), entre 150 e 250 palavras. Para os artigos originais e comunicações breves, os resumos devem ser estruturados incluindo objetivos, métodos, resultados e conclusões. Para as demais categorias, o formato dos resumos pode ser o narrativo, mas preferencialmente com as mesmas informações. Não devem conter citações e abreviaturas. Destacar no mínimo três e no máximo seis termos de indexação, extraídos do vocabulário “Descritores em Ciências da Saúde” (DeCS – www.bireme.br), quando acompanharem os resumos em português, e do Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/ mesh/), quando acompanharem os “Abstracts”. Se não forem encontrados descritores disponíveis para cobrirem a temática do manuscrito, poderão ser indicados termos ou expressões de uso conhecido. Texto: com exceção dos manuscritos apresentados como Artigos de Revisão os trabalhos deverão seguir a estrutura formal para trabalhos científicos: Introdução. Deve conter revisão da literatura atualizada e pertinente ao tema, adequada à apresentação do problema, e que destaque sua relevância. Não deve ser extensa, definindo o problema estudado, sintetizando sua importância e destacando as lacunas do conhecimento (estado da arte) que serão abordadas no artigo. Métodos. Devem conter descrição clara e sucinta dos procedimentos adotados; universo e amostra; fonte de dados e critérios de seleção; instrumentos de medida, tratamento estatístico, dentre outros. Resultados. Devem se limitar a descrever os resultados encontrados sem incluir interpretações e comparações. Sempre que possível, os resultados devem ser apresentados em tabelas ou figuras, elaboradas de forma a serem autoexplicativas e com análise estatística. Discussão. Deve explorar, adequada e objetivamente, os resultados, discutidos à luz de outras observações já registradas na literatura. É importante assinalar limitações do estudo. Deve culminar com as Conclusões, indicando caminhos para novas pesquisas ou implicações para a prática profissional. Agradecimentos: podem ser registrados agradecimentos, em parágrafo não superior a três linhas, dirigidos a instituições ou indivíduos que prestaram efetiva colaboração para o trabalho. Conflito de interesses Deve incluir relações com: a) conflitos financeiros, como empregos, vínculos profissionais, financiamentos, consultoria, propriedade, participação em lucros ou patentes relacionados a empresas, produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; b) conflitos pessoais: relação de parentesco próximo com proprietários e empregadores de empresas relacionadas a produtos comerciais ou tecnologias envolvidas no manuscrito; c) potenciais conflitos: situações ou circunstâncias que poderiam ser consideradas como capazes de influenciar a interpretação dos resultados. Referências bibliográficas As referências devem ser listadas ao final do artigo, numeradas consecutivamente, seguindo a ordem em que foram mencionadas a primeira vez no texto, baseadas no estilo Vancouver (consultar: “Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals: Writing and Editing for Medical Publication” [http://www. icmje.org]). Nas referências com até seis autores, citam-se todos os autores; acima de seis autores, citam-se os seis primeiros autores, seguido de et al. As abreviaturas dos títulos dos periódicos citados deverão estar de acordo com o MedLine. A exatidão e a adequação das referências a trabalhos que tenham sido consultados e mencionados no texto do artigo são de responsabilidade do autor. Livros Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Capítulos de livros Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Artigos de periódicos Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Dissertações e teses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de Doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Trabalhos apresentados em congressos, simpósios, encontros, seminários e outros Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Artigos em periódicos eletrônicos Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Textos em formato eletrônico Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Instructions for authors Background Geriatria & Gerontologia (Brazilian Geriatrics & Gerontology) – G&G is a quarterly scientific publication by Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) (Brazilian Geriatrics and Gerontology Society) aiming the publication of articles on Geriatrics and Gerontology, including their several subareas and interfaces. G&G accepts article submissions in Portuguese, English, and Spanish. The print content is available for SBGG members, and the online content can be accessed at: www.sbgg.org.br. Instructions for Manuscript Sending Papers should be sent either by e-mail to: [email protected]; [email protected] or by mail in CD or DVD to: Segmento Farma / Geriatria & Gerontologia – Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. The corresponding author will receive message acknowledging the paper receipt; should this do not occur up to seven working days from the sending, the author should get in touch with the journal. Concurrently, the author should send by mail a declaration stating that the manuscript is being submitted only to Geriatria & Gerontologia and that he(she) agrees with the cession of copyright. Manuscript Evaluation by Peer Review Manuscripts that regard the editorial policy and the instructions for authors will be referred to editors who will evaluate the their scientific merit. Manuscripts will be submitted to at least two reviewers with expertise in the addressed theme. Accepted manuscripts might return for authors’ approval of in case of changes made for editorial and standardization purposes, according to the journal style. Manuscripts not accepted will not be returned, unless they are requested by the respective authors within three months. Published manuscripts are journal ownership, so either reproduction, even partial, in other journals or translation into another language is unauthorized. Research Involving Human Subjects Articles related to research involving human subjects should indicate whether the procedures followed were in accordance with the ethical standards of the responsible committee on human experimentation (institutional or regional) accredited by the Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Ministério da Saúde (Health Ministry National Research Ethics Committee). In addition, a clear statement of compliance with ethical principles outlined in Helsinki Declaration (2000) shall appear in the last paragraph of Methods section, as well as fulfillment of specific law requirements of the nation the research was performed in. The subjects included in the research should have signed a Free and Informed Consent Term. Categories of Manuscripts G&G accepts the following submissions: Original Articles. Contributions aiming at release of unpublished research results considering the theme relevance, its range and the knowledge generated for research purposes. Original articles should contain 2,000 to 4,000 words, excluding illustrations (tables, figures [not exceeding 5]) and references [not exceeding 30]. Review Articles. Critical and systematic evaluation of literature on a certain subject containing a comparative review of papers in that area, discussing methodological limitations and ranges, indicating further study needs for that research area, and containing conclusions. The proceedings adopted for the review, as well as search, selection, and article evaluation strategies should be described, informing the limits of the theme. They should not exceed 5,000 words and 50 references. Brief Communications. These manuscripts are short articles aiming at release of preliminary results of research; study results involving low complexity methodology; relevant unpublished hypotheses in Geriatrics and Gerontology. They should not exceed 800 to 1,600 words (tables, figures and references [not exceeding 10] excluded). The structure should follow what is requested in an original article. Case Reports. These manuscripts report unpublished and interesting clinical cases. They should follow an abstract structure with Introduction, Case Report (describing the patient, clinical examination results, follow-up, diagnosis), Discussion (showing similar data in literature), and Conclusion. They should contain the bibliography consulted and should not exceed 1,500 words and 15 references. Letters to the Editor. Section designed for publication of comments, discussion or any article reviews. They should not exceed 1,000 words and 5 references. Instructions for Manuscript Preparation Manuscripts should be typed in Word for Windows [(including tables); figures should be supplied as JPG file and a minimum of 300 dpi resolution]. Manuscripts should be prepared according to the sequence below: a) paper full title in Portuguese and English not exceeding 90 characters; b) paper short title not exceeding 40 characters (spaces included) in Portuguese and English; c) authors’ and coauthors’ complete name, indicating institutional affiliations for each one of them; d) corresponding author data, including name, address, telephone and fax numbers, and e-mail. Abstract: all manuscripts should be submitted with an abstract in Portuguese and in English having no more than 150 to 250 words. For original articles and brief communications, abstracts should be structured to include objective, methods, results, and conclusions. For other manuscript categories, abstract models could be narrative, but rather carrying the same information. Abstracts should not contain quotations and abbreviations. At least three and at most six key words should accompany the Abstracts, being extracted from the vocabulary Descritores em Ciências da Saúde (DeCS – www.bireme.br) when accompanying abstracts in Portuguese and from Medical Subject Headings – MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/) when accompanying abstracts in English. If no descriptor is available to cover the manu script theme, words or expressions of known use might be indicated. Text: except for Review Articles, papers should assume formal structure of a scientific text: Introduction. The introduction should contain updated literature review, being appropriate to the theme, suitable to the problem introduced, and enhancing the theme relevance. The introduction should not be extensive, but define the problem studied, synthesizing its importance and stressing the knowledge gaps addressed in the article. Methods. This section should have clear and brief description of proceedings adopted; sampling; data source and selection criteria; measurement instruments; statistical analysis, among other features. Results. This section should be limited to describing the results found without including interpretation and comparison. Whenever possible, results should be displayed in tables or figures designed to be self-explanatory and having statistical analysis. Discussion. The discussion should properly and objectively explore the results, discussed in the light of further observation already registered in literature. It is important to point out the study limitations. The discussion should culminate by conclusions indicating avenues for new research or implications for professional practice. Acknowledgements: Acknowledgments may be written in a no more than 3-line paragraph towards institutes or individuals that effectively contributed to the paper. Conflict of Interest Conflict of interest includes: a) financial conflict, such as employment, professional liaisons, funding, consulting, ownership, profit or patent sharing related to marketed products or technology involved in the manu script; b) personal conflict: close relatedness to owners and employers in companies connected to marketed products or technology involved in the manuscript; c) potential conflict: situations or circumstances that could be considered capable of influencing the result interpretation. References Should be listed at the end of the manuscript and numbered in the order they are first mentioned in the text, following Vancouver style (v. Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals. Writing and Editing for Medical Publication [http://www.icmje.org]). List all authors up to 6; if more than six, list the first 6 followed by et al. The titles of journals should be abbreviated according to style used in MedLine. Authors are responsible for the accuracy and completeness of references consulted and cited in the text. Examples of reference style: Books Kane RL, Ouslander JG, Abrass IB. Essentials of clinical geriatrics. 5th ed. New York: McGraw Hill; 2004. Book chapters Sayeg MA. Breves considerações sobre planejamento em saúde do idoso. In: Menezes AK, editor. Caminhos do envelhecer. Rio de Janeiro: Revinter/SBGG; 1994. p. 25-8. Journal articles Ouslander JG. Urinary incontinence in the elderly. West J Med. 1981;135 (2):482-91. Essays and theses Marutinho AF. Alterações clínicas e eletrocardiográficas em pacientes idosos portadores de doença de Chagas [dissertação]. São Paulo: Universidade Federal da SBGG; 2003. Papers introduced in congresses, symposiums, meetings, seminars etc. Petersen R, Grundman M, Thomas R, Thal L. Donepezil and vitamin E as treatments for mild cognitive impairment. In: Annals of the 9th International Conference on Alzheimer´s Disease and Related Disorders; 2004 July; United States, Philadelphia; 2004. Abstract O1-05-05. Articles from electronic journals Boog MCF. Construção de uma proposta de ensino de nutrição para curso de enfermagem. Rev Nutr [periódico eletrônico] 2002 [citado em 2002 Jun 10];15(1). Disponível em: http://www.scielo.br/rn Texts in electronic format Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estatísticas da saúde: assistência médico-sanitária. http://www.ibge.gov.br (acessado em 05/Fev/2004). Morse SS. Factors in the emergence of infectious diseases. Available from URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm. Acesso em: Jun 5 1996. Rua Anseriz, 27, Campo Belo – 04618-050 – São Paulo, SP. Fone: 11 3093-3300 • www.segmentofarma.com.br • [email protected] Diretor-geral: Idelcio D. Patricio Diretor executivo: Jorge Rangel Gerente financeira: Andréa Rangel Gerente comercial: Rodrigo Mourão Editora-chefe: Daniela Barros MTb 39.311 Comunicações médicas: Cristiana Bravo Relações institucionais: Valeria Freitas Gerentes de negócios: Claudia Serrano, Marcela Crespi, Philipp Santos e Valeria Freitas Coordenadora comercial: Andrea Figueiro Gerente editorial: Cristiane Mezzari Coordenadora editorial: Sandra Regina Santana Assistente editorial: Camila Sáfadi Designer: Flávio Santana Revisoras: Glair Picolo Coimbra e Sandra Gasques Produtor gráfico: Fabio Rangel Cód. da publicação: 12104.12.11 Todos os anúncios devem respeitar rigorosamente o disposto na RDC nº 96/08. (1-4) (1-4) (1-4) (1-4) 1. Edington J, Barnes R, Bryan F, et al. A prospective randomised controlled trial of nutritional supplementation in malnourished elderly in the community: Clinical and health economic outcomes. Clin Nutr. 2004;23:195-204. - 2. Price R, Daly F, Pennington CR, McMurdo ME. Nutritional supplementation of very old people at hospital discharge increases muscle strength: A randomised controlled trial. Gerontology. 2005;51:179-185. - 3. Bischoff-Ferrari HA et al. BMJ. 2009; 339: b3692 - 4. Bischoff-Ferrari et al. Prevention of nonvertebral fractures with oral vitamin D and dose dependency. Arch Intern Med. 2009;169(6):551-561