O individualismo e a inteligência coletiva nas - grupo
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O individualismo e a inteligência coletiva nas - grupo
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES – ECA ANA MARIA PEREIRA O individualismo e a inteligência coletiva nas comunidades virtuais Um estudo sobre o grupo de Relações Públicas Digitais da Associação Brasileira das Agências de Comunicação - Abracom São Paulo 2011 ANA MARIA PEREIRA O individualismo e a inteligência coletiva nas comunidades virtuais Um estudo sobre o grupo de Relações Públicas Digitais da Associação Brasileira das Agências de Comunicação - Abracom Monografia apresentada à Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, para obtenção do título de pósgraduada em Comunicação Digital Ambientes Corporativos. Orientadora: Prof. Dra. Carolina Frazon Terra São Paulo 2011 para PEREIRA, Ana Maria. O individualismo e a inteligência coletiva nas comunidades virtuais. Um estudo sobre o grupo de Relações Públicas Digitais da Associação Brasileira das Agências de Comunicação – Abracom. São Paulo – SP 2011. [Monografia – Pós Graduação – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo]. BANCA EXAMINADORA: ______________________ ECA-USP ______________________ ECA- USP ______________________ ______________________ DEDICATÓRIA Às pessoas maravilhosas que Deus colocou em minha vida: minha família, meu amor Gláucio e sua família, pelo apoio, força e incentivo em cada passo que dou nesta caminhada. AGRADECIMENTO Agradeço primeiramente a Deus, que sempre, em todos os momentos da minha vida, sejam eles felizes ou tristes, NUNCA me deixa desamparada e SEMPRE está ao meu lado. Agradeço aos meus pais e à minha família, pela compreensão nos momentos em que não pude estar por ter que me dedicar ao projeto e pelo amor com que dedicam sua vida a mim. Também agradeço ao Gláucio pelo amor, paciência e apoio durante todo o trabalho. Sem esquecer-me da sua família, sempre pronta para me receber de braços abertos. Agradeço à minha orientadora multitarefa e nota 10 Carolina Terra (@carolterra) pela enorme dedicação, carinho e atenção que fizeram com que este projeto fosse possível. Por último agradeço a todos os amigos do Digicorp, pelo ombro amigo, principalmente à Karinna Schmidt, Karen Matos e Beatriz Saraiva. Ao meu querido chefe Carlos Henrique Carvalho, pela total liberdade para estudar o grupo e pela compreensão que me é oferecida sempre que preciso. À Marina da Abracom, pela força e paciência, ao Eduardo Vasquez, coordenador do grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom e a todos os moderadores de grupos virtuais que participaram deste projeto. RESUMO Este projeto tem como objeto os relacionamentos e a comunicação que se estabelecem em ambientes digitais de grupo, mais especificamente em comunidades virtuais, tendo como campo de análise o Grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação). O objetivo é verificar, por meio das metodologias de pesquisa bibliográfica, observação não participante, análise de conteúdo e questionário, se o individualismo ajuda ou atrapalha a construção de uma inteligência coletiva, tudo sobre a ótica da Comunicação Organizacional Digital e das Relações Públicas Digitais. Palavras chave: comunidades virtuais, comunicação organizacional, relações públicas digitais, individualismo, inteligência coletiva. ABSTRACT This project aims to study the relationship and the communication that are established in digital group environments, more specifically in virtual communities, using as field analysis the Abracom (Brazilian Association of Communication Agencies) Digital Public Relation Group. Its purpose is to verify, through methodologies such as bibliographic research, non-participant observation, content analysis and survey, whether individualism helps or hinders the construction of colletive inteligence, all from the perspective of Organizational Communication and Digital Public Relations. Keywords: virtual communities, organizational communication, digital public relations, individualism, colletive inteligence. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 12 2 COMUNIDADES VIRTUAIS .......................................................................... 16 2.1 História ....................................................................................................... 16 2.2 Conceito ..................................................................................................... 18 2.3 Inteligência Coletiva ................................................................................... 22 3 RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL.............. 27 3.1 História e evolução ..................................................................................... 28 3.2 Relações Públicas e Comunicação na era digital....................................... 29 4 ABRACOM.................................................................................................... 34 4.1 História ....................................................................................................... 34 4.2 Estrutura ..................................................................................................... 35 4.3 Objetivos .................................................................................................... 36 4.4 Linhas de trabalho ...................................................................................... 36 4.5 Grupos de trabalho ..................................................................................... 38 4.6 Capacitação ............................................................................................... 38 4.7 Cadernos de Comunicação Organizacional ............................................... 38 4.8 Atuação internacional ................................................................................. 39 4.9 Agências de Comunicação Corporativa - um panorama do setor .............. 39 5 GRUPO DE RELAÇÕES PÚBLICAS DIGITAIS ........................................... 40 5.1 Contextualização ........................................................................................ 40 5.2 Descrição do grupo no Google Groups ...................................................... 40 5.3 Situação atual ............................................................................................. 44 6 O INDIVIDUALISMO ..................................................................................... 45 7 METODOLOGIA E APLICAÇÃO. ................................................................. 51 7.1 Pesquisa bibliográfica................................................................................. 51 7.2 Observação não participante...................................................................... 51 7.3 Análise de conteúdo ................................................................................... 55 7.4 Questionário ............................................................................................... 74 8 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 93 APÊNDICE A - Índices .................................................................................... 98 ANEXO – Respostas do Questionário ........................................................ 104 LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Modelo de mensagem enviada por email ....................................... 53 Figura 2 – Página do grupo na internet ........................................................... 54 Figura 3 – Questionário enviado por email ...................................................... 75 Figura 4 – Pirâmide de interação e participação do usuário mídia .............. ....89 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Tópicos......................................................................................... 59 Tabela 2 – Categorização dos tópicos ........................................................... 61 Tabela 3 – Quantidade total de tópicos postados .......................................... 63 Tabela 4 – Índices.......................................................................................... 65 Tabela 5 – Quantidade de mensagens postadas........................................... 71 Tabela 6 – Distribuição de mensagens por participantes............................... 71 Tabela 7 – Quantidade de membros e participantes ativos ........................... 90 12 1. INTRODUÇÃO Estamos em um mundo globalizado e conectado. A cada nova pesquisa, novos números nos mostram que a internet chegou para ficar e, a cada dia, fazer mais parte das nossas vidas. Segundo pesquisa da comScore Media Metrix1, de fevereiro de 2011, o número de internautas no mundo chegou a mais de um bilhão em 2010, sendo contabilizados neste estudo apenas os acessos de casa e do trabalho. O Brasil é um dos grandes responsáveis pelo aumento da audiência da internet, passando dos 40 milhões, perfazendo 20% a mais do que em 2009, conforme a mesma pesquisa. Através da internet podemos fazer de tudo: ir ao banco, às compras, consultar mapas, trabalhar, estudar, marcar consultas, conhecer lugares que talvez nunca possamos conhecer fisicamente e, tudo isto, sem sair da frente do computador, celular ou até mesmo, de um tablet. As tecnologias avançam a passos largos e os produtos se tornam menores. Os celulares se transformam em minicomputadores com acesso à internet. Segundo pesquisa da International Telecomunication Union2 com o tema “The world in 2010”, cerca de 940 milhões de pessoas no mundo já têm acesso à internet pelo celular. No Brasil, já chegamos a mais de 200 milhões de celulares, sendo 82% pré-pagos, segundo a Teleco3. O número de celulares no país com acesso à internet cresceu 24% em um ano, chegando a mais 25 milhões de aparelhos 3G em abril de 2011, de acordo com a Anatel 4. Assim, o “estar conectado” hoje não quer dizer estar sentado em uma cadeira de um escritório ou em casa: mobilidade é a bola da vez. Desta forma, cada vez mais os relacionamentos são feitos por meio da internet. A quantidade de “amigos” que podemos ter em uma rede social supera tudo o que podíamos imaginar antes da rede. É possível conversar em tempo real com pessoas que estão do outro lado do mundo, independente de classe social, cor, sexo e outras limitações impostas pela convivência física. Avatares são comuns na rede e muitas pessoas os utilizam para talvez, esconder algo que não gostam ou os incomodam. Vivemos sempre com pressa, com muitas tarefas a serem realizadas ao mesmo tempo e a internet facilita a nossa vida por romper as barreiras de tempo, 1 Disponível em http://pt.scribd.com/doc/48622322/ComScore-SOI-Brazil-Webinar-Feb-2011. Acesso em 09 jun.2011. Disponível em http://www.itu.int/ITU-D/ict/material/FactsFigures2010.pdf. Acesso em 14 jun.2011. 3 Disponível em http://www.teleco.com.br/ncel.asp. Acesso em 14 jun.2011. 4 Disponível em http://www.mobilepedia.com.br/noticias/brasil-ultrapassa-25-milhoes-de-acessos-3g. Acesso em 14 jun.2011. 2 13 simultaneidade e espaço. Mas será que a internet é uma revolução, uma mudança de paradigma e esta globalização e conexão irão nos tornar melhores e diferentes do que fomos até hoje? Lévy (1998, p.29) acredita que sim. Para o autor, a rede pode tornar as pessoas melhores e mais inteligentes, pois permite que todos se conectem e se ajudem com seus conhecimentos. Cada um pode compartilhar com um pouco do que sabe, e ajudar ao próximo. Para ele, não existe quem não saiba nada e assim, juntos, é possível criar uma inteligência coletiva. A rede, para Lévy, tornará o mundo mais democrático. Com certeza as coisas ficaram bem mais acessíveis com o advento da internet. O Google, buscador número um no Brasil5, é muitas vezes página inicial de diversos computadores. Quem nunca ouviu a frase “joga no Google, se não estiver lá não existe”? Podemos ter contato com culturas diversas, vídeos, fotografias, trabalhos acadêmicos, tutoriais de tudo que se possa imaginar. A internet veio sim para democratizar muita coisa, mas até o próprio acesso, apesar dos números estrondosos, não é tão democrático assim. O Brasil possui mais de 190 milhões de habitantes e o número de usuários de internet, se contabilizado todos os possíveis locais de acesso, segundo a pesquisa já citada da comScore Media Metrix, chega a cerca de 77 milhões. Com estes dados podemos observar o abismo que o país ainda enfrenta, mas que pretende ser modificado com o Plano Nacional de Banda Larga, onde o governo prevê o aumento deste número para 90 milhões até 20146. Outras formas de relacionamento na internet são as comunidades virtuais, como exemplo, podemos citar as listas de discussões do Google (googlegroups) e Yahoo! (yahoogroups). Estas listas geralmente têm um tema central de discussão, em que há um ou vários moderadores e os participantes trocam mensagens através de email ou pela própria página do grupo na internet. Muitas destas listas, na área de comunicação, são voltadas para discutir temas atuais que afligem os comunicadores. As pessoas que participam destas listas não necessariamente se conhecem, podendo manter uma comunicação mediada apenas pelo computador. Neste projeto estudamos os relacionamentos e as comunicações que se estabelecem 5 Disponível em: http://www.administradores.com.br/informe-se/tecnologia/google-cai-mas-ainda-detem-89-das-buscas-nobrasil/45440/. Acesso em 14 jun. 2011. 6 Disponível em: http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/01/20/ministro-das-comunicacoes-quer-acelerar-oplano-de-banda-larga-nacional.jhtm. Acesso em 02 abr. 2011. 14 em uma comunidade virtual, o grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom, Associação Brasileira das Agências de Comunicação. Este grupo é formado por comunicadores, independente de fazerem parte de agências associadas ou não, e o tema do grupo é Relações Públicas Digitais. Este termo ainda é muito discutido, tanto no meio acadêmico quanto no mercadológico. Alguns autores como Carolina Frazon Terra e profissionais de mercado, como Todd Defren, fundador da Shift Communications, utilizam o termo Relações Públicas 2.0. Neste trabalho utilizamos o termo Relações Públicas Digitais, por ser o nome do grupo e também o termo utilizado pela associação até o fechamento deste trabalho (junho de 2011). Nossa intenção com este trabalho não é a de colocar o grupo como centro das atenções e sim, o ser humano atual, como ele se comporta dentro destas comunidades. O grupo é apenas o nosso campo de análise. O que buscamos entender é se o individualismo, característica do ser humano e que, segundo autores como Bauman, está cada vez mais latente em nossas vidas, atrapalha ou ajuda na construção de uma inteligência coletiva. Todos somos individualistas em maior ou menor grau, mas até que ponto isso pode ajudar ou atrapalhar nossa vida em comunidade? Começamos nosso projeto explicando sobre as comunidades virtuais, sua história e definições. O grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom é considerado uma comunidade virtual, por ser um “local” onde pessoas com interesses comuns encontram-se para “conversar”. Neste capítulo, contamos uma breve história da ARPANET, primeira rede de computadores do mundo, e também da WELL, uma comunidade virtual iniciada nos Estados Unidos e descrita por Howard Rheingold em seu livro “Comunidades Virtuais”. No livro, o autor descreve situações vividas por ele e pelo grupo participante da Well, suas tristezas e alegrias e a evolução da rede. Fechamos este capítulo com os conceitos de inteligência coletiva, de Pierre Lévy e inteligência conectiva, de Derrick de Kerckhove. No capítulo três, tratamos das Relações Públicas e Comunicação organizacional, suas definições, importância, um pouco de história, evolução e em seguida entramos no campo das Relações Públicas e Comunicação na era digital. Neste ponto, informamos alguns números relacionados à internet e falamos sobre as . 15 mudanças que ela ocasionou, principalmente no que diz respeito à comunicação organizacional e suas dificuldades. Esta parte do trabalho visa situar o leitor quanto ao tema que é discutido no grupo, as Relações Públicas Digitais. Em seguida, o capítulo quatro é sobre a Abracom, Associação Brasileira das Agências de Comunicação, que formalizou o Grupo de Relações Públicas Digitais, campo de análise do nosso estudo. Neste capítulo contamos um pouco da história da associação, estrutura, objetivos, entre outros e também fazemos um breve panorama do setor de agências de comunicação, visto que o grupo é formado principalmente por trabalhadores deste segmento. O capítulo cinco trata do grupo que estudamos, desde seu surgimento, sua descrição no Google Groups, sua missão, visão, valores, além de uma visão atual sobre ele. No capítulo seguinte, tratamos de um outro ponto importante no nosso estudo, o individualismo. Como autor principal desse capítulo utilizamos o sociólogo Zygmunt Bauman, seus conceitos de liquidez, rapidez e a busca contínua de realização dos interesses individuais, além de outros autores que falam sobre os laços fracos e o distanciamento que a comunicação mediada pelo computador pode causar. A metodologia utilizada é descrita no capítulo sete. Nele explicamos cada uma das metodologias escolhidas, como foram aplicadas e encerramos com uma breve conclusão do trabalho de pesquisa realizado. Por fim, o último capítulo refere-se às considerações finais, com a opinião da pesquisadora em relação a todo o estudo feito, tanto no que diz respeito às bibliografias utilizadas, quanto à pesquisa aplicada e seus resultados. Buscamos em todo o projeto utilizar autores que atendessem aos objetivos propostos, principalmente os que foram “inventores” dos termos, como Heinghold em comunidades virtuais e Pierre Levy em inteligência coletiva. Lembramos que devido ao escopo do trabalho e o período para sua realização não pudemos utilizar tantos quantos gostaríamos, com destaque para Massimo di Felice, Alex Primo, André Lemos, Beth Saad, entre outros. . 16 2. COMUNIDADES VIRTUAIS 2.1 História A primeira rede de computadores surgiu nos Estados Unidos, nos anos 70, para uso militar. Com ela os investigadores do Departamento de Defesa poderiam trabalhar com vários computadores, mesmo à distância. Esta rede era chamada ARPANET, uma adaptação do projeto anterior ARPA (Advanced Research Projects Agency), que era uma agência que desenvolvia projetos de investigações avançadas. A ARPANET não tinha como principal objetivo a troca de mensagens e sim a transmissão de dados, mas logo perceberam que ela poderia ser usada para este fim de forma fácil e prática. Desta forma, o correio eletrônico foi incorporado a ela. Assim surgia a conferência por computador, de forma “acidental”, mas muito utilizada pelo governo americano para tomar decisões em diversos locais em que a rede atuava. (Rheingold, 1996 p. 19,20). Com o surgimento da rede, os programadores utilizavam-na conforme necessidades de comunicação do momento, mesmo que estas adaptações não fossem o objetivo inicial do projeto. Este tipo de comportamento é verificado até os dias de hoje, visto que algumas tecnologias que foram criadas para um determinado propósito acabam adaptando- se às necessidades do ambiente e são absorvidas para outros propósitos, outras áreas. Um exemplo desta apropriação é o site de relacionamento Facebook, que foi criado com o intuito de promover uma votação sobre quem eram as garotas mais bonitas da Universidade de Harvard e que, segundo pesquisa da comScore Media Metrix, já ultrapassa os 650 milhões de usuários pelo mundo7. Com o tempo, amadores começaram a utilizar a rede de forma caseira, ligando os computadores às linhas telefônicas e comunicando-se através de quadros de mensagens eletrônicas, as chamadas BBS (Bulletin Board Systems), fazendo com que a tecnologia fosse liberada e acessada pelas massas. Estas BBS começaram com pequenas comunidades, limitadas geograficamente e as pessoas tinham que ligar para um número específico para poderem se conectar. 7 Disponível em http://pt.scribd.com/doc/48622322/ComScore-SOI-Brazil-Webinar-Feb-2011. Acesso em 09 jun.2011. 17 Em 1985, ainda nos Estados Unidos, foi criada a WELL (Whole Earth ‘Lectronic Link). A WELL era um sistema de teleconferência em que as pessoas poderiam se comunicar tanto particular (correio eletrônico) quanto publicamente (conferência) através de seus computadores, em qualquer lugar do planeta. Foram alugadas 12 linhas telefônicas, um minicomputador e modens para fazê-la funcionar. Howard Rheingold (1996) participou da WELL e publicou um livro sobre ela, dando a este tipo de rede a denominação de comunidade virtual, que hoje é utilizada por diversos autores. No livro ele fala sobre sua experiência com a rede, as emoções que sentiu ao resolver problemas pessoais, ajudar pessoas que ele nunca tinha visto e a possibilidade de se fazer amigos verdadeiros via comunicação mediada por computador. Rheingold participava de diversos fóruns de discussões sobre assuntos intelectuais, de estudos, de trabalho, mas também sobre coisas pessoais, como uma lista criada apenas para falar sobre os filhos. Esta lista unia ainda mais as pessoas ajudando-as a criar eventos especiais durante o decorrer do ano, se conhecer melhor, estreitar amizade e ajudar uns aos outros. Em 1992 a rede WELL já contava com 15 colaboradores e um computador mais potente do que o inicial. No ano seguinte, a Well já possuía aproximadamente 8.000 usuários interligados. De acordo com Rheingold (1996, p. 14): [...] apercebi-me claramente, desde os primeiros tempos, de que estava a participar na autoconstrução de uma nova cultura. Observei como os laços sociais da comunidade se estreitavam e modificavam à medida que aos primeiros fundadores da WELL se juntavam tantos outros e se iam estabelecendo normas, posteriormente desafiadas, alteradas, restabelecidas e novamente desafiadas, tudo numa espécie de evolução social acelerada. Espaço e tempo já não eram empecilhos para a comunicação. Com os avanços tecnológicos, a comunicação mediada pelo computador evoluía e novas ferramentas surgiam. Uma delas, que fez um enorme sucesso entre estudantes universitários, foi o IRC (Internet Relay Chat), que era uma mistura de escrita com fala direta. As comunidades online foram crescendo e se espalhando pelo mundo. Hoje elas existem de diversas formas, seja em fóruns de discussões, em sites de relacionamento, plataformas de trocas de email, entre outros. 18 Inúmeras ferramentas que permitem a comunicação mediada pelo computador estão disponíveis gratuitamente na rede, de forma a possibilitar milhares de interações e criações de comunidades de diversos tipos e interesses, tanto por indivíduos como por empresas e governo. Podemos citar alguns exemplos destas ferramentas: o Skype (www.skype.com), que permite tanto a troca de mensagens de texto quanto ligações gratuitas; o MSN (www.windowslive.com.br), que é um sistema de troca de mensagens de texto, envio de arquivos, vídeos, jogos, etc.; os Grupos do Google (groups.google.com.br) e do Yahoo! (br.groups.yahoo.com), ferramentas utilizadas para troca de mensagens por email em um grupo que pode ser fechado ou aberto ao público; o Twitter (www.twitter.com), serviço de microblogging em que se posta mensagens (tweets) e, através do qual se acompanha as mensagens das pessoas que o usuário segue; e as redes sociais de relacionamento como Orkut (www.orkut.com) e Facebook (www.facebook.com) que possuem lista de discussões, chats, compartilhamento de fotos, vídeos, entre outros. 2.2 Conceito O termo “comunidade virtual”, cunhado por Rheingold, muitas vezes é visto com maus olhos por alguns autores, já que para eles, o conceito de comunidade, que é muito antigo, acaba se “opondo” ao termo como hoje é aplicado. Costa (2005), em um artigo sobre comunidade, fala sobre o conceito apontado por Zygmunt Bauman, sociólogo que trata de temas como individualismo, comunidade, modernidade líquida, entre outros. Para Bauman, comunidade é algo que deve ser mantido em longo prazo, com compromissos, direitos e obrigações que não podem ser mudados e nem abalados. Perruzzo (apud Terra, 2010, p. 35) se baseia em autores clássicos como Weber, Comte e outros para estabelecer as condições básicas para a existência de uma comunidade. São elas: um processo de vida comum via relacionamentos e interações intensos entre seus membros; autossuficiência; cultura e objetivos comuns; identidade natural e espontânea entre os interesses de seus membros; consciência de suas singularidades identificativas; sentimento de pertencimento; participação ativa de seus membros na vida da comunidade; lugar específico; linguagem comum. 19 O que se percebe é que, o termo comunidade precisa ser atualizado e adaptado às mudanças tanto tecnológicas e de comunicação, quanto culturais. Hoje, com a facilidade de comunicação entre pessoas que estão do outro lado do mundo, independente de se conhecerem fisicamente ou não, a criação de comunidades no ciberespaço8 é geralmente desprendida dos laços e conceitos que as comunidades físicas e geográficas possuíam antigamente. De acordo com Costa (2005): Cobrar das comunidades virtuais aquilo que se entendia romanticamente por comunidade, tal como Baumann (2003) o faz, seria simplesmente se impedir de ver o que vem acontecendo nos movimentos coletivos de nossa época. Como afirma Pierre Lévy (2002), as comunidades virtuais são uma nova forma de se fazer sociedade. As relações que antes eram feitas com pessoas da família, amigos de infância e vizinhos, saíram da esfera limite de espaço e tempo para se tornarem virtuais. E não por isso, menos reais ou produtivas. Além disso, a possibilidade de criação de novas redes de relacionamentos é altamente potencializada no ciberespaço. Para Lévy (1999, p. 127), sociólogo francês entusiasta da rede e das tecnologias de informação e comunicação (TIC’s), uma comunidade virtual é formada por interesses comuns, em que há cooperação, troca e reciprocidade. Para o autor, as comunidades virtuais também possibilitam relacionamentos duráveis, encontros físicos, amizades verdadeiras, tanto quanto ocorre no mundo físico. Seus membros estão reunidos pelos mesmos núcleos de interesses, pelos mesmos problemas: a geografia, contingente, não é mais nem um ponto de partida, nem uma coerção. Apesar de “não-presente”, essa comunidade está repleta de paixões e de projetos, de conflitos e de amizades. (LÉVY, 1996). Terra (2010, p. 35) afirma que o termo comunidades virtuais tem sido utilizado para designar os “grupos interconectados pela internet com interesses comuns”. Para a autora, nestas comunidades não é necessário haver simultaneidade no tempo, e nem interação face a face. Ela acredita que apesar de o termo comunidade não ser exclusivo da internet, ele foi potencializado com sua chegada. De acordo com Rheingold (1996, p.13) as comunidades virtuais são grandes grupos sociais formados por intermédio do computador, em que as pessoas falam sobre negócios, recebem apoio emocional, relacionam-se com amigos, namoram, 8 Palavra citada por William Gibson no romance de ficção científica Neuromancer, significa universo das redes digitais. (TERRA, 2010 p. 16). 20 jogam, batem papo. Ou seja, tudo o que fazem na vida real. O autor ainda afirma que: As comunidades virtuais são agregados sociais surgidos na rede, quando os intervenientes de um debate o levam por diante em número e sentimento suficiente para formarem teias de relações pessoais no ciberespaço. (RHEINGOLD, 1996, p. 18) O autor ainda afirma que as comunidades virtuais evitam que, pessoas com dificuldades de fazer amizades em encontros físicos, enfrentem este tipo de problema, e permite, por exemplo, que um deficiente físico possa ser tratado de forma igual perante a comunidade, sendo ouvido pelo que ele possui para contribuir, seus sentimentos, sua racionalidade e não pela sua aparência. Neste caso, consideramos que isso não seja a solução para todos os problemas dos deficientes físicos, mas de acordo com o autor, é uma possibilidade de melhora da sua relação com as pessoas. Podemos inferir que os autores citados concordam entre si em vários aspectos. Para eles, as comunidades virtuais são “lugares” onde as pessoas mantêm relações e interações com os membros, com objetivos comuns. Um lugar em que há troca, ajuda mútua, reciprocidade e podem falar sobre tudo, abordando assuntos pessoais ou profissionais, em que a cooperação de cada um para o coletivo pode fazer com que o grupo se torne cada vez mais forte. Assim, as comunidades virtuais, são espaços virtuais em que são realizadas interações entre pessoas que possuem interesses em comum, partilham emoções, conhecimentos, fazem amizades duradouras ou não, solicitam e fornecem ajuda. É um local onde se conhecem pessoas novas, mesmo que nunca se encontrem fisicamente, participa-se de conferências sobre diversos assuntos, sejam eles públicos ou privados. Além disso, nas comunidades virtuais as pessoas podem encontrar grupos de referências e até mesmo criar e/ou participar de grandes causas de bem público. A força de uma comunidade virtual pode ser muito grande, quando os participantes estão engajados em interesses comuns. Quando Rheingold estava na WELL, a rede começou a crescer de forma avassaladora e os computadores começaram a ficar lentos, uma mensagem digitada demorava muito para aparecer na tela. A comunidade estava extremamente unida e participante na rede e logo se 21 frustrou ao perceber o que estava acontecendo. Resultado, os integrantes da rede se juntaram e acumularam dinheiro suficiente para trocar o computador da sede e a rede começou a funcionar mais rapidamente, além de adquirir novos membros. Apesar das características sobre comunidade virtual citadas anteriormente, não queremos dizer que seja um lugar onde apenas coisas positivas acontecem e que nelas não possam existir problemas como ocorrem em qualquer outra comunidade. Muitos críticos designam as comunidades virtuais como um espaço para laços fracos e sem calor humano. Para melhor ilustrar, veremos a definição de “laços” por Wellman (apud RECUERO 2009, p. 38): Laços consistem em uma ou mais relações específicas, tais como proximidade, contato freqüente, fluxos de informação, conflito ou suporte emocional. A interconexão destes laços canaliza recursos para localizações específicas na estrutura dos sistemas sociais. Os padrões destas relações – a estrutura da rede social – organizam os sistemas de troca, controle, dependência, cooperação e conflito. Estes laços podem ser divididos entre fracos e fortes. Granovetter (apud RECUERO, 2009, p.41) define: “[...] a força de um laço é uma combinação (provavelmente linear) da quantidade de tempo, intensidade emocional, intimidade (confiança mútua) e serviços recíprocos que caracterizam um laço”. Recuero (2009, p.41) descreve os laços fracos como aqueles que não expressam intimidade e proximidade e os laços fortes como abrangentes não só destas duas características, mas também da intenção entre as pessoas de se criar e manter uma conexão. Apesar disso, Granovetter (apud RECUERO, 2009 p. 41) acredita que os laços fracos são fundamentais na rede, visto que eles a estruturam e conectam os grupos que, para o autor, são formados por laços fortes. Castells (1999, p. 45) também partilha desta opinião, afirmando que: [...] tanto off line quanto on line, os laços fracos facilitam a ligação de pessoas com diversas características sociais, expandindo assim a sociabilidade para além dos limites socialmente definidos do autoreconhecimento. 22 Já para o sociólogo Bauman (2004) as relações virtuais foram substituídas pelas conexões, e por serem conexões, podem ser desfeitas a qualquer momento, sendo perfeitas para o atual cenário da modernidade líquida, em que tudo é passageiro e os relacionamentos duradouros de “antigamente” não são mais valorizados. Os autores que criticam os laços formados na rede não levam em conta uma ajuda recebida, como no caso de Rheingold com sua filha, quando foi auxiliado por pessoas que nunca encontrou fisicamente e de forma rápida e providencial. Naquela ocasião, sua filha tinha dois anos e surgiu um coágulo de sangue em sua cabeça, Rheingold tentou contatar o pediatra e, sem sucesso, buscou ajuda na WELL. Em minutos, o coágulo foi retirado pelo próprio Rheingold, através de instruções de um médico da rede. Mas é claro que os limites devem ser respeitados sempre e as pessoas precisam ficar atentas às armadilhas que podem encontrar na rede, já que: [...] as comunicações mediadas por computador originam novas formas de enganar o próximo, e as fraudes de identidade mais óbvias só desaparecerão quando um número suficiente de utentes9 aprender a usar o meio com espírito crítico. (RHEINGOLD, 1996, p. 44) Quando utilizada de forma consciente e construtiva, as comunidades virtuais podem servir tanto para soluções de problemas específicos, visto que podem ser formadas por diversos membros com diferentes tipos de conhecimento, quanto para filtrar a quantidade enorme de informações que permeiam o ciberespaço. Elas podem trazer para o grupo informações realmente importantes, fomentar discussões e buscar soluções sobre um determinado assunto, além de servir de berço para a inteligência coletiva, que abordaremos no próximo tópico. 2.3 Inteligência coletiva A “inteligência coletiva” é um termo do filósofo francês Pierre Lévy que é adotado por diversos estudiosos da comunicação mediada por computador. Para o autor inteligência coletiva: 9 Usuários.Disponível em http://pt.wiktionary.org/wiki/utente. Acesso em 16 abr.2011. 23 É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências. Acrescentemos à nossa definição este complemento indispensável: a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento e o enriquecimento mútuo das pessoas [...]. (LÉVY, 1998, p. 28-29) O autor define esta inteligência distribuída como o fato de que ninguém sabe tudo e todos sabem algo, podendo se completar. Quando ele fala “incessantemente valorizada”, refere-se à valorização desta inteligência, de modo a não ser desprezada, humilhada. E, por último, a coordenação em tempo real depende da comunicação baseada nas tecnologias digitais da informação, de modo a permitir que os membros de uma comunidade possam coordenar suas interações. Lévy acredita que as pessoas nunca pensam sozinhas e que só podem exercer suas faculdades mentais superiores aplicando-as em comunidades. Para o autor, a inteligência coletiva, termo amplamente abordado em seus livros, faz do ciberespaço um espaço mais democrático, um lugar para a troca de conhecimentos, participação em fóruns de discussões e respeito às desigualdades. Jenkis (2008, p. 30) define bem as características da inteligência coletiva: “nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades”. E ainda: Comunidades de conhecimento formam-se em torno de interesses intelectuais mútuos; seus membros trabalham juntos para forjar novos conhecimentos, muitas vezes em domínios em que não há especialistas tradicionais; a busca e a avaliação de conhecimento são relações ao mesmo tempo solidárias e antagônicas. (JENKINS, 2009, p. 48) Para Jenkins, a inteligência coletiva é a capacidade das comunidades virtuais de fazer com que cresça a expertise dos seus membros, juntando esforços individuais para se realizar o que não se pode fazer sozinho. É um processo social, dinâmico, participativo. Costa (2004) afirma que “[...] É importante notar que a inteligência coletiva deve ser entendida, antes de tudo, como um potencial de uma população, sua disponibilidade para a ação coletiva”. No ciberespaço, as pessoas têm hoje, o poder de serem não apenas receptoras, mas também emissoras, podendo se relacionar baseadas não em 24 localizações geográficas ou posições sociais e sim, por interesses comuns, como é o caso das comunidades virtuais. As relações no ciberespaço não são apenas trocas de mensagens através de uma ferramenta na rede e sim, um intercâmbio de vivências, experiências, sentimentos, reconhecimento mútuo, escuta. Para Lévy (1999), a moral implícita nas comunidades virtuais é a reciprocidade, visto que quando você é ajudado ou aprende algo, o ideal é que se faça o mesmo e contribua para o crescimento do outro. Assim, o indivíduo será reconhecido simbolicamente através da sua reputação na rede. Um grupo humano qualquer só se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado. O ciberespaço talvez não seja mais do que o indispensável desvio técnico para atingir a inteligência coletiva. (LÉVY, 1999, p. 130) Uma comunidade virtual participa da construção da inteligência coletiva a partir do momento em que os indivíduos não apenas informam, mas compartilham conhecimentos uns com os outros. Nesta interação, cada um colabora com o seu ponto de vista no que lhe é mais familiar, na troca de experiências, associando competências e fazendo com que o grupo aprenda mais e se torne cada vez mais inteligente. Em sua visita ao Brasil no Sesc Vila Mariana, em agosto de 2010, Lévy fez uma conferência e falou sobre a inteligência coletiva. O autor destacou que as pessoas estão cada vez mais buscando se organizar por meio de comunidades para a cooperação intelectual, não só apenas nas comunidades científicas, mas também na área dos negócios, sendo esta troca de idéias algo fundamental para o desenvolvimento tanto cultural quanto social. As ferramentas e a comunicação mediada por computador facilitam e potencializam a criação da inteligência coletiva e a internet favorece esta interação, esta conectividade. De acordo com Lévy, para existir a inteligência coletiva, é necessário que haja não só apenas a cooperação, mas também a competição, além de um equilíbrio entre as duas. A inteligência coletiva deve ser analisada sob três pólos, segundo Lévy (2010, p. 26,27): o físico, que seria o capital técnico (como o equipamento necessário para 25 uma conferência por computador, a internet, etc.); o dos signos, que seria o capital cultural (bibliotecas, web, conteúdo); e o do capital social, que são os vínculos entre as pessoas. Vamos nos ater ao pólo social, que é tema recorrente quando se fala de comunidade virtual. Costa (2005) define capital social como: [...] a capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que estão a sua volta, com seus parentes, amigos, colegas de trabalho, mas também com os que estão distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas comunidades pessoais. Assim, o capital social é extremamente importante em uma comunidade virtual para seu sucesso na construção da inteligência coletiva. Dependendo do nível em que estiver, pode-se verificar como a comunidade sabe negociar as diferenças e as preferências de cada participante. Para Matos (apud SAAD, SOUZA E RAMOS, 2009 p. 207): [...] a noção de capital social na Comunicação pode ser melhor definida a partir do momento que buscamos compreender como os atores sociais e as instituições podem, partindo de interesses conflitantes, atingir objetivos comuns, por meio de uma dinâmica conversacional em diferentes espaços e momentos do cotidiano. Além disso, para que o capital social exista é necessário que o indivíduo esteja participando de uma comunidade engajada e também de várias redes de interação. Outra autora que possui estudos sobre capital social é Raquel Recuero (2009, p. 37). Para ela, capital social é um conjunto de recursos de um grupo, baseado em reciprocidade, em que todos os membros podem participar, mesmo que possuam interesses individuais. Este capital está nas relações sociais e o conteúdo destas relações é que o determina, conteúdo este, existente nas trocas de mensagens entre os participantes do grupo. Para a inteligência coletiva fluir é necessário que este nível de capital social esteja ao ponto de os participantes da comunidade possuir confiança elevada nas pessoas que fazem parte do grupo. Assim, nos propomos observar se no Grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom existe capital social que permita a construção da inteligência coletiva. 26 2.3.1 Inteligência conectiva Derrick de Kerckhove, teórico das relações entre tecnologias digitais e sociedade e doutor em Língua e Literatura Francesas, em entrevista para a Revista Semiosfera10, da Universidade Federal do Rio de Janeiro em abril de 2010, utiliza o termo inteligência conectiva. Para o autor, a inteligência conectiva se difere da inteligência coletiva de Lévy, por ter aplicações reais. Kerckhove afirma que a inteligência coletiva é teoria. Para o autor, com relação à inteligência conectiva: “[...] eu compreendo o mundo, o mundo me compreende, sem exclusão, juntos. E cada indivíduo que compreende o mundo comigo partilha da minha inteligência, da minha consciência conectiva”. Para ele, um mutirão é uma aplicação de inteligência conectiva, é um trabalho que é feito junto, ao mesmo tempo, e cada um sabe o que outro está fazendo e quando. Conectar-se e trabalhar à distância pode ser feito da mesma maneira que face a face. A inteligência conectiva expressada pelo autor diz respeito à interação, a conexão em tudo, seja por celular, pela internet, com hipertextos, hipermídia. Todos conversam, interagem e compartilham. Kerckhove exemplifica a teoria conectiva quando fala sobre o instituto McLuhan. Segundo ele, o instituto reúne 300 dos melhores alunos todo ano e faz com que eles estudem o país, descubram problemas e façam mutirões para resolvêlos. Para o autor esta é a diferença entre a inteligência conectiva e a coletiva. Esta última, em sua opinião, teórica e não prática. Apesar das diferenças de nomenclaturas, teoria ou prática, o que estes estudos apontam é que os coletivos podem produzir juntos, de forma a melhorar e desenvolver uma comunidade, uma sociedade. Utilizamos o termo inteligência coletiva, mais abordado pelos autores que são descritos neste projeto. O grupo que estudamos neste trabalho é uma comunidade virtual, e tem como tema principal as Relações Públicas Digitais. No próximo capítulo, tratamos um pouco sobre a Comunicação e as Relações Públicas Digitais para melhor entendermos qual é o tipo de discussão proposta no grupo, além de conhecermos um pouco sobre o que eles procuram fazer no dia a dia do trabalho com comunicação organizacional. 10 Disponível em http://www.semiosfera.eco.ufrj.br/anteriores/semiosfera01/perfil/entrevis/txtentre.htmAceso em 22 abr.2011. 27 3. RELAÇÕES PÚBLICAS E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL O grupo que estudamos tem como objetivo a discussão sobre Relações Públicas Digitais. Os integrantes buscam discutir sobre o tema, suas dificuldades, ações realizadas na rede, etc. Assim, neste capítulo, buscamos situar o leitor no que diz respeito à Comunicação Organizacional e Relações públicas. As Relações Públicas são responsáveis pela boa administração dos relacionamentos de uma empresa com seus públicos de interesse. Quando bem utilizadas, atuam estrategicamente de acordo com a visão global das organizações, sua visão, seus valores e tornam-se fundamentais para o sucesso da mesma. O profissional de Relações Públicas é gestor da comunicação organizacional e tem em suas mãos a responsabilidade de manter todos os departamentos da empresa em sintonia. Ele atua tanto na comunicação interna quanto na mercadológica, institucional e administrativa, e deve fazer com que cada área “converse” com a outra, mantendo uma harmonia entre o discurso e as ações da organização. Além disso, o profissional tem que administrar o relacionamento com os outros públicos da organização, seja governo, consumidor, sociedade entre outros. A comunicação organizacional é entendida, como define TERRA (2010, p. 123) como: “[...] conjunto de atividades de comunicação promovidas pela organização com fins de relacionamento com seus públicos-chave”. Com relação à comunicação organizacional como objeto de pesquisa, Kunsch (2003, p. 149), afirma que: (...) é a disciplina que estuda como se processa o fenômeno comunicacional dentro das organizações no âmbito da sociedade global. Ela analisa o sistema, o funcionamento e o processo de comunicação entre a organização e seus diversos públicos. Independente de cada área na organização, Kunsch (2003) acredita que a comunicação deve ser integrada e atender a uma política global. Segundo a autora, desta forma, as ações estratégicas e táticas da comunicação serão mais eficazes. A autora ainda afirma que com a evolução da área de comunicação, a comunicação integrada foi ocupando um espaço mais estratégico nas 28 organizações. Assim, os profissionais devem estar cada vez mais preparados para poder atuar de forma a atender as demandas dos públicos da empresa. 3.1 História e evolução Apesar do primeiro curso de Relações Públicas no ensino superior ter sido criado em 196711, foi apenas na década de 80 que o tema começou a ganhar força no Brasil. Segundo Grunig (2009, p. 18), vários historiadores discordam com relação ao verdadeiro ponto de surgimento das Relações Públicas. A versão mais tradicional é de que surgiu nos Estados Unidos, mas há indícios de que imperadores da China já utilizavam as práticas de Relações Públicas há mais de cinco mil anos. Discussões à parte, sabe-se que a atividade de Relações Públicas só se tornou profissão há cerca de um século. O autor aponta ainda que, antigamente, Relações Públicas era apenas uma ocupação para se ganhar a vida e não era necessário ter uma formação específica para exercê-la. Os profissionais eram especialistas em técnicas da área, como produção de releases, jornais, entre outros. A maior parte das organizações (muitas delas até hoje) acreditava que a função das Relações Públicas na comunicação organizacional era fazer com que a empresa conseguisse uma “imagem positiva” na mídia, através de uma comunicação unidirecional e tradicional. Atualmente, a atividade de Relações Públicas é exercida por diversas pessoas em organizações de todo o mundo. Os profissionais trabalham em empresas, governos, ONGs (Organizações não Governamentais), agências de comunicação que prestam serviços para clientes de diversas áreas da economia como petrolífera, automotiva, telefonia móvel, entre outras. No cenário em que vivemos, o profissional de Relações Públicas precisa ter conhecimentos científicos e teóricos, e muitos deles atuam com estratégia e gerenciamento da comunicação organizacional. Com o surgimento da internet e das mídias digitais, os profissionais mais capacitados já percebem que é o indivíduo quem decide como utilizar a mídia e que as tecnologias digitais são grandes exemplos disso. 11 Disponível rodapé http://www.sinprorp.org.br/clipping/2007/091.htm. Acesso em 09 jun.2011. 29 Para Grunig (2009, p. 19) “[...] as pessoas usam a internet, a mídia social e os blogs para pesquisar e compartilhar informação tanto ou mais do que usam os meios de comunicação de massa”. Desta forma, não é possível ou viável tentar impor uma “imagem positiva”, visto que estas plataformas digitais permitem que as pessoas expressem o que realmente sentem e pensam sobre tudo que as cercam. Para Gasparetto (apud TERRA 2010, p. 98), a comunicação empresarial se divide em três fases: a primeira iniciada nos anos 60, destacando-se o pioneirismo de profissionais e organizações; a segunda nos anos 80, com destaque para a abertura política e crise econômica no Brasil; e a terceira iniciada na década de 90, que fez com que a comunicação fosse consolidada como parte estratégica na organização. A comunicação organizacional, antes feita para as massas, unidirecional, através de veículos específicos e que não permitia a interação do usuário, está tendo que se moldar para se adequar a este novo ambiente. Para Terra (2010, p. 10): [...] As organizações, assim como a mídia, deixam de ser emissoras exclusivas de informação e passam a compartilhar com usuário-mídia a produção, distribuição e disseminação de mensagens sobre marcas, produtos e serviços. É neste contexto que entram as Relações Públicas e a Comunicação na era digital. 3.2 Relações Públicas e Comunicação na era digital Estamos em uma seara comunicacional nova, em um novo meio cuja espinha dorsal é feita de redes de computadores e cuja linguagem é digital. Seus emissores estão globalmente distribuídos e interativos. Ainda assim o meio não determina o conteúdo e o efeito das mensagens, mas torna possível a diversidade sem limites e a autonomia dos fluxos de comunicação que constroem, reconstroem cada segundo da produção de significado global e local na mente pública. (TERRA, 2010 p. 20) A comunicação digital ocorre no ambiente tecnológico e faz parte do dia a dia das pessoas, seja por celular, redes sociais, comunidades virtuais, entre outros. Ainda segundo Terra (2010, p.127,128): 30 A comunicação digital é a forma comunicativa da sociedade da informação. [...] Institui uma nova forma de comunicação afetando o conjunto das relações sociais, não apenas as estritamente comunicacionais, mas em todos os níveis, na comunicação, relações pessoais, interpessoais, no trabalho, nas instituições, na indústria. De acordo com a pesquisa comScore Media Metrix, como já citamos em nossa introdução, o Brasil já possui a maior população online da América Latina. A tendência é que o número de usuários de internet aumente ainda mais caso sejam aprovadas as ações do Plano Nacional de Banda Larga12, que prevê barateamento e a triplicação do aumento da mesma. As tecnologias de comunicação e informação (TIC’s) fizeram uma revolução na sociedade. Ferramentas como o Twitter (microblogging), Facebook (rede social) e Youtube (serviço de vídeos) viraram febre no país. O Facebook, ainda de acordo com a pesquisa da comScore, cresceu 258% em 2010 em relação a 2009. No Twitter, o Brasil chegou a estar em segundo lugar na lista de mercado Global do microblogging em dezembro de 2010, e o Youtube alcançou a marca de 33,5 milhões de visitantes únicos. Plataformas gratuitas de mensagens instantâneas, como Skype e MSN são utilizadas não apenas para conversar com amigos, mas para o trabalho, servindo inclusive para baixar os custos de comunicação nas empresas. Sites de e-commerce, compra coletiva, publicação de fotos, são mais alguns exemplos das novidades que a internet proporciona todos os dias. Hoje, qualquer um que tenha acesso à rede pode criar um blog, perfis em diversas redes, produzir conteúdo, fazer reclamações em sites específicos, como o www.reclameaqui.com.br, pagar contas pela internet, tudo sem sair do lugar, bastando estar conectado. De acordo com Saad (2008, p. 145): [...] Cada vez mais, o usuário tem, em seus dispositivos eletrônicos, ferramentas que potencializam suas opções de escolha de conteúdos para compor sua cesta informativa e, assim, ampliar sua condição intelectual e de conhecimento sobre o ambiente. As pessoas estão “conversando” sobre vida pessoal, trabalho, marcas, produtos, política e as empresas não têm como fugir ou tentar se esconder, pois querendo ou não, suas “imagens” - negativas ou positivas - já estão na rede. Segundo Bueno (2010, p.210): 12 Disponível em http://tecnologia.uol.com.br/ultimas-noticias/redacao/2011/01/20/ministro-das-comunicacoes-quer-acelerar-oplano-de-banda-larga-nacional.jhtm Acesso em 08 jun.2011. 31 A revolução da comunicação na era digital muda a forma das pessoas se comportarem e se comunicarem. Uma vez que isto passa a atingir diretamente marcas e organizações, torna-se imprescindível que, de uma forma ou de outra, estas também se integrem à rede. Os públicos passaram a ter a possibilidade de serem produtores de conteúdo. Suas opiniões são publicadas na rede, multiplicadas ou não, podendo destruir ou alavancar marcas, imagens, ou simplesmente tornar visível o que estava escondido, às vezes causando grandes danos às organizações. Além disso, tudo o que acontece fora da rede, um mau atendimento, um pedido não atendido, pode ser publicado na internet, podendo destruir reputações. Como afirma Terra (2010, p. 123): “[...] A reputação é cada vez mais terceirizada nas percepções que os públicos têm dela e expressam por meio de diversas ferramentas tanto on quanto off line”. Schiavoni (2009, p. 67), sócio da agência de Comunicação S2 Publicom e expresidente da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação) define bem este cenário: É assim o mundo das comunicações hoje, um cruzamento entre o mundo real e o virtual, num descompasso contínuo, um interferindo no outro, se somando e se contradizendo. E tudo isso vai influenciar a nossa vida radicalmente, seja como seres humanos ou como profissionais, tenhamos internet ou não, gostemos ou não dela. Assim, com o advento das chamadas “tecnologias digitais”, várias empresas passaram a atuar também no mundo online, para manter e/ou criar relacionamentos com seus públicos estratégicos, ou seja, fazer Relações Públicas. Na web 2.013, definida por Marcelo Coutinho (apud Saad, 2008, p. 149) como sendo “[...] conjunto de inovações no software e no hardware que facilitam a troca de informações e mixagem de conteúdo na web”, a comunicação que era unidirecional e massiva passa por transformações e o receptor de ontem é o produtor de conteúdo de hoje, possibilitando uma troca social, uma interação. Neste contexto, Todd Defren, fundador da Shift Communications, agência que utiliza os recursos digitais em trabalhos para seus clientes, afirmou para a Revista Bites (2008) que o profissional de Relações Públicas precisa ter, como pontos fundamentais de suas ações estratégicas, a interação com os consumidores e transparência corporativa. Para ele, as marcas estão expostas e tudo o que diz respeito a elas está disperso pela rede, bastando apenas uma busca no Google para 13 Termo cunhado por Tim O’Reilly em 2004 ma conferência de brainstorming entre a O’Reilly e a MediaLive International. 32 poder alcançá-las. O empresário acredita que uma boa reputação na rede é fundamental para o sucesso da corporação. Acrescentamos aqui, que Relações Públicas não diz respeito apenas aos consumidores e sim, a todos os públicos envolvidos com a organização, sendo necessária uma atuação estratégica global. Assim, a relação entre públicos e organizações está mudando de forma drástica. As pessoas querem mais respostas, exigem mais das marcas, querem mais atenção e quando não são atendidas recorrem à rede. Seja postando em blogs, listas, redes sociais ou até mesmo em sites específicos para reclamações de marcas/produtos como o já citado reclameaqui.com.br, os usuários da internet se apoderam das ferramentas por ela disponibilizadas para fazerem valer seus direitos, suas opiniões, seus desejos. Desta forma, a comunicação organizacional deve ser planejada de acordo com a estratégia geral da empresa, buscando atuar em todos os lugares onde o público possa estar, de modo a minimizar a possibilidade de crise e fazer com que a marca/empresa faça parte deste universo chamado ciberespaço, de forma transparente e responsável. Neste sentido, de acordo com Saad (2009, p. 319): [...] a comunicação organizacional fica potencializada pelas tecnologias digitais, assumindo um importante papel estratégico de integração de discursos e de complexificação dos processos, exigindo-se uma postura planejada de forma sistemática para seu sucesso. Ainda com relação às potencialidades promovidas pelas tecnologias digitais às organizações, a revista Proxxima publicou, em novembro de 2010, um especial sobre os 15 Anos da Internet no Brasil14. No artigo denominado “Excelência: The Digital Quest”, diversos autores debatem sobre o desafio que estas comunicações mediadas por computador trazem às empresas. De acordo com o artigo, as oportunidades para as organizações são imensas, pois elas podem estar mais próximas dos seus consumidores e desta forma, melhor atender às suas expectativas. Apesar disso, elas ainda não conseguiram explorar todo o potencial da rede. O digital exige uma nova mentalidade, uma transformação no modo de operação das organizações e isso, às vezes, é muito difícil. No campo da comunicação digital, grande parte das organizações ainda está engatinhando, aprendendo, testando, atuando muitas vezes na forma de tentativa e erro. Diversos profissionais atuam neste mercado, como publicitários, relações 14 EDELMAN, David et al. Excelência: The Digital Quest. Revista Proxxima. São Paulo, p. 52-57, nov.2010. Número especial. 33 públicas, jornalistas, entre outros. Cursos, workshops e palestras que tratam da comunicação digital, redes sociais, internet e afins vivem repletos de participantes, discutindo, estudando e buscando a melhor forma de atuar neste novo cenário. Nas agências de comunicação que atuam com comunicação corporativa, o tema Relações Públicas Digitais é recorrente. Devido às dificuldades das agências com relação às mudanças ocorridas neste campo, foi criada uma comunidade virtual sobre o tema, formalizada pela Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), com o nome de Relações Públicas Digitais da Abracom, que é o campo de análise do nosso trabalho. 34 4. ABRACOM A Abracom é a Associação Brasileira das Agências de comunicação (www.abracom.org.br), entidade que representa as agências do setor de comunicação corporativa no Brasil. É uma associação sem fins lucrativos e tem como principal objetivo a representação do segmento econômico das agências de comunicação junto a entidades setoriais, poder público, meio acadêmico e organismos nacionais ou internacionais de comunicação empresarial. 4.1 História No ano de 2000, um grupo de donos de agências de comunicação começou a se reunir para tentar fortalecer o mercado e criar uma entidade que representasse seus interesses, profissionalizasse suas agências, lutasse por seus ideais e claro, fizesse com que os serviços por eles oferecidos ganhassem destaque. Aos poucos, o grupo foi crescendo e mais empresários começaram a participar das reuniões. Foram criadas comissões para se discutir ética, preços, organização, entre outros temas, e os profissionais foram percebendo que o mercado de comunicação organizacional precisava de uma entidade forte para sua consolidação. Em 16 de abril de 2002 surgia a Abracom – Associação Brasileira das Agências de Comunicação, uma entidade nacional, formada na época por 56 agências de cinco estados do Brasil. Estas empresas atuavam com eventos, assessoria de imprensa, relações públicas, publicidade institucional, gerenciamento de crise, entre outros. Eduardo Ribeiro, sócio da agência Mega Brasil e organizador do Congresso Brasileiro de Comunicação Corporativa, ajudou na formação do núcleo fundador da associação. A associação organizou uma estrutura para atendimento e articulação dos associados, com escritório e uma secretaria executiva, esta última, se transformou em uma diretoria executiva, comandada pelo jornalista Carlos Henrique Carvalho. O primeiro presidente da Abracom foi João Rodarte, sócio-presidente da CDN Comunicação. Com menos de um ano de existência a associação já contava com 35 mais de 100 associados, se consolidando nacionalmente. Um dos primeiros passos foi estabelecer um Código de Ética Empresarial. A cada ano a associação crescia e conforme o estatuto, a cada dois anos uma nova assembleia é realizada para eleição ou renovação da diretoria. A Abracom caminha para a primeira década de existência e contava com cerca de 340 associados em 21 estados, até junho de 2011. 4.2 Estrutura A diretoria é formada por 14 diretores nacionais e quatro diretores regionais, conselho fiscal, conselho consultivo e conselho de Ética. Os diretores são donos de agências, não são remunerados e participam de reuniões mensais para deliberações sobre o andamento da entidade. A eleição dos diretores pelos associados é feita a cada dois anos na assembleia geral da associação. A diretoria é responsável pela contratação de profissionais, coordenação do dia a dia da entidade e por colocar em prática o que é determinado em assembleia geral. O conselho fiscal, também eleito pela assembleia geral, analisa as contas da entidade e emite parecer sobre o balanço da associação, que é discutido e votado. Eles também participam dos grupos de trabalho da entidade e representam a associação institucionalmente. O conselho consultivo é composto por nomes representativos do setor de comunicação. O conselho de ética é formado por presidente indicado pela diretoria, além de cinco conselheiros convidados através de indicações de associados. Este conselho no momento está em reformulação. Outro departamento que faz parte da entidade, o lado físico da associação, é a diretoria executiva, situada no Itaim Bibi, em São Paulo. Essa diretoria tem como responsabilidades articular os grupos de trabalho, representar a associação, coordenar trabalhos diários e atender a diretoria geral. É formada por um diretor executivo, uma estagiária de jornalismo, uma coordenadora de comunicação e uma coordenadora administrativa. Todo o fluxo dos trabalhos da associação passa por eles. 36 Além das diretorias citadas a associação também possui comissões estaduais e regionais, que são formadas pela articulação entre os associados e que decidem seus objetivos de acordo com os objetivos gerais da entidade. A Abracom agrega as maiores agências do setor, com tendência a crescer nos próximos anos, devido principalmente aos eventos esportivos que serão realizados no país. Atualmente, quem preside a entidade é Ciro Dias dos Reis, sócio da agência Imagem Corporativa. 4.3 Objetivos Os principais objetivos da Abracom são: · Estabelecer padrões de qualidade e ética para o mercado de comunicação corporativa; · Aprofundar a profissionalização da gestão empresarial; · Divulgar o setor e ampliar as oportunidades de negócios para as agências nos segmentos público e privado; · Estabelecer diálogo e parceria com entidades empresariais; · Organizar informações e dados sobre o setor; · Criar parcerias com universidades e cursos de comunicação para o aperfeiçoamento da formação do profissional de comunicação corporativa. Para atender a estes objetivos, a associação possui diferentes grupos de atuação, os chamados grupos de trabalho, formados por associados que discutem diversos temas, todos relacionados às demandas das agências. 4.4 Linhas de trabalho · Ética Zelo para as boas práticas de comunicação: Conselho de Ética; palestras; debates. 37 · Ação institucional – Segmento privado Divulgação do Setor: presença em câmaras setoriais; comunicação dirigida. · Ação institucional – Segmento Público Ampliação do mercado junto a governos: audiências com governos legislativo e judiciário; apresentação do modelo de edital de licitação; divulgação do setor junto aos gestores públicos. · Capacitação Profissional Capacitação em Gestão e Comunicação: cursos de gestão – custos e preços, práticas contratuais, licitações, tributos e contabilidade; cursos de comunicação – pesquisa aplicada à comunicação, técnicas de venda e apresentação pessoal. · Formação Profissional: Parceria com Universidades: aperfeiçoamento de currículos; descoberta de talentos; palestras. · Reflexão e debate Promoção de eventos e debates com: · Profissionais do mercado: apresentação de cases; intercâmbio de práticas; conhecimento de novas tendências no mercado. · Profissionais da mídia: alinhamento de práticas anti-spam; divulgação do setor para jornalistas. 38 4.5 Grupos de trabalho Dentre os grupos de trabalho da Abracom encontram-se o grupo de Comunicação Interna, que é liderado pela diretora de comunicação da associação e sócia da agência Klaumonforma, Cláudia Cezaro Zanuzo. Este grupo se encontra mensalmente e já organizou eventos na área de comunicação interna, além de criar uma publicação chamada “Como entender a comunicação interna”, disponível no site da associação, no setor de cadernos de comunicação organizacional. Outro grupo que está trabalhando na associação no momento é o grupo de Recursos Humanos, que é liderado por Márcio Cavalieri, sócio da agência RMA Comunicação e diretor financeiro da entidade. Diversos outros grupos atuam na associação, como o de capacitação profissional, liderado por Gisele Lorenzetti, sócia da agência LVBA, o de licitações, coordenado por Moisés Gomes, da FSB, entre outros. Estes grupos atuam de forma aberta a todos os associados e buscam discutir entre si, as melhores práticas e necessidades do setor, para melhor atender ao mercado. 4.6 Capacitação Além destes grupos, a associação oferece workshops, cursos, palestras, e treinamentos. Os cursos em sua maioria são voltados não apenas para os associados, mas para o mercado em geral, e são muito bem avaliados em suas pesquisas sobre satisfação. 4.7 Cadernos de Comunicação Organizacional A associação publica, como citado anteriormente, cadernos de comunicação organizacional. No site da entidade é possível baixar gratuitamente o caderno de comunicação interna, o caderno “Comunicar é preciso” e o caderno “Como escolher uma agência de comunicação”. A ideia é que em 2011 novos cadernos sejam publicados. 39 4.8 Atuação internacional A Abracom é filiada ao ICCO (www.iccopr.com.br), uma entidade internacional que agrega as associações de agências de comunicação do mundo todo e que indica suas associadas, através do seu site, para possíveis parcerias com empresas estrangeiras. 4.9 Agências de Comunicação Corporativa - Um panorama do setor De acordo com a Abracom, o mercado de agências de comunicação corporativa abrange, até o fechamento deste trabalho (junho 2011), cerca de 1.400 agências operando no país, sendo aproximadamente 600 só na cidade de São Paulo e 120 no Rio de Janeiro. Segundo pesquisa publicada no Anuário Mega Brasil de Comunicação 2010/2011, com 337 agências em todo país, o setor emprega cerca de 8.000 colaboradores, possui em torno de 6.000 clientes de todos os setores da economia, e as agências que declararam faturamento bruto de 2009 somam juntas mais de R$ 465 milhões. A maior parte do setor é formada por micro e pequenas agências sendo elas 80% do total, com o faturamento de até R$ 2,4 milhões/ano. Outro dado importante da pesquisa é que 54,1% das agências são novas, criadas a partir do ano de 2000. Aproximadamente 21% das agências de médio e grande porte já possuem parcerias internacionais e 28,1% têm especialidade em algum setor da economia. O setor de comunicação no Brasil está se profissionalizando, crescendo e tomando o seu espaço no setor da economia do país. Apesar de toda essa evolução, a comunicação organizacional na rede ainda é algo muito novo e as agências buscam a participação em cursos, palestras, workshops, listas de discussões, fóruns, entre outros, para poderem se aprimorar e trocar conhecimentos nessa área. Como forma de criar um canal de relacionamento entre as agências para poder discutir a Comunicação e as Relações Públicas Digitais, a Abracom promove uma comunidade virtual em que, tanto associados quanto qualquer outra pessoa que tenha interesse no tema, possa ingressar e trocar conhecimentos. É o nosso grupo de estudos, o grupo de Relações Públicas Digitais, que explicaremos a seguir. 40 5. GRUPO DE RELAÇÕES PÚBLICAS DIGITAIS 5.1 Contextualização Neste contexto de comunicação digital surgem diferentes formas de comunicação e relacionamento entre as pessoas, além de novas plataformas, em que o estar presente não é fundamental, pois as barreiras geográficas, temporais e de espaço não configuram mais nenhum impedimento. As comunidades virtuais são uma nova forma de interagir e se relacionar, baseando-se em interesses comuns. Para estudar as mudanças nas comunicações mediadas por computador, suas nuances, aplicações e dificuldades, principalmente com relação à comunicação corporativa, foi criado com a chancela da Abracom, o grupo online chamado “Relações Públicas Digitais” (https://groups.google.com/group/rpdigital?hl=pt), que é uma comunidade virtual, como explicado anteriormente no capítulo sobre comunidades virtuais (capítulo dois, p. 18). O grupo foi iniciado em julho de 2008, em um encontro físico na terceira edição do Newscamp, evento que aborda temas de comunicação como mídias sociais, jornalismo online, entre outros. Em setembro de 2008, o grupo foi formalizado pela Abracom, tendo como fundadores diversos profissionais de comunicação e, como coordenador, o jornalista Eduardo Vasques, da agência TV1 RP. O grupo, em geral, é formado por profissionais da área de comunicação, de diversas modalidades e tem como foco principal o estudo das Relações Públicas no meio digital. Atua online, com raros encontros presenciais e utilizava até o fechamento deste trabalho uma plataforma digital do Google chamada Google Groups. 5.2 Descrição do Grupo no Google Groups Neste item, descrevemos a página do grupo na internet exatamente como estava quando foi criada, com a mesma linguagem utilizada. No próximo item, abordamos a situação atual do grupo, para fazer um comparativo de atuação. 41 5.2.1 Fundação “Criado durante o Newscamp, o grupo pretende discutir, trocar idéias e experiências e promover conceitos e ações em torno da utilização de meios e plataformas digitais para a prática de Relações Públicas, com apoio integral da Abracom”. 5.2.2 Objetivos · Debater, formar, divulgar e disseminar a cultura da gestão da comunicação corporativa a partir das mídias sociais; · Formar referências para a atuação das agências em Relações Públicas Digitais; · Influenciar positivamente a tomada de decisão dentro das organizações no que diz respeito ao trabalho de comunicação e Relações Públicas na web. 5.2.3 Missão, Visão e Valores Missão Promover a cultura, conceitos e a adoção de ferramentas digitais nos processos estratégicos de comunicação e relacionamentos das organizações com seus stakeholders. Visão Tornar a atividade de Relações Públicas, por meio da Abracom, referência positiva para o mercado em projetos de gestão de relacionamentos no ambiente digital. Valores Ética, Engajamento, Expertise, Inovação. 42 5.2.4 Plano de Trabalho Como forma de delimitar o escopo do grupo aos objetivos propostos, as ações a serem definidas no futuro deverão se enquadrar em alguma das categorias abaixo: 1) Educação e capacitação: a) o grupo deve visar a formação e a capacitação de profissionais de agências e empresas, podendo, para tanto, realizar parcerias com instituições reconhecidas pelo mercado; b) o grupo também deve preparar materiais (papers, estudos, guias) que possam colaborar para a ampliação do conhecimento do mercado, principalmente dos tomadores de decisão, a respeito das novas plataformas de comunicação proporcionadas pelas mídias digitais. 2) Divulgação O grupo deve promover a divulgação das atividades de RP Digital promovidas pelas agências de comunicação, de forma a criar uma representatividade sobre a área de atuação dentro do setor de relações públicas. 3) Estabelecimento de referências Estudo de métricas, ferramentas e melhores práticas para as agências de comunicação na área de mídias digitais. 4) Regras de funcionamento a) Associados e fundadores O grupo foi inicialmente formado por profissionais ligados a agências de comunicação e relações públicas que mantêm áreas de Relações Públicas Digitais. A idéia não é a de que os integrantes se sobreponham ao trabalho desenvolvido pelas agências de forma individual. O grupo pretende apenas promover conhecimento para ajudar a elucidar as dificuldades encontradas por 43 todas as empresas no mercado sobre a forma de atuação, criação e manutenção de marca e imagem institucional nessa nova fase da internet conhecida como web 2.0. Não será permitida a disseminação de autopromoção de qualquer membro integrante deste grupo. As reuniões serão realizadas para debater temas pertinentes ao mercado de maneira geral, bem como as ações serão definidas em conjunto por maioria. Os representantes do grupo na Abracom foram definidos por consenso entre os membros fundadores do grupo, e deverão exercer suas funções por um período de seis meses, a contar de novembro/2008. Após esse período e com a participação de outras agências interessadas, os representantes poderão ser reeleitos, e novos integrantes poderão se candidatar aos cargos. b) Novos integrantes O grupo está aberto a todo e qualquer tipo de colaboração de agências vinculadas ou associadas da Abracom para ampliar o leque de discussões e temas abordados. A participação, porém, precisa ser de forma transparente, objetiva e estruturada, para não causar concorrência ou competição desnecessária no ambiente do grupo. c) Regras para participação de representantes das agências Após a instalação oficial do grupo de trabalho, o funcionamento deverá seguir as seguintes regras: · Realização de assembleias mensais abertas a todos os associados Abracom, de forma a discutir os temas previstos por este regimento; As assembléias deverão ser convocadas por meio do blog do grupo no site da Abracom e por meio de aviso no próprio site da entidade, com pelo menos sete (7) dias corridos de antecedência em relação à data do evento; · Inscrição de representantes das agências para os subgrupos definidos no item "Ações", em número de até seis representantes por grupo. Caso o número de candidatos para quaisquer dos grupos ultrapasse cinco, será realizada eleição. 44 d) Critérios para participação no grupo · Ser comprometido com a missão, visão e valores do grupo; · Freqüência nas reuniões do grupo – mínimo de 70%; · Ter espírito colaborativo na divisão de tarefas e na proposição de idéias; · Trabalhar em favor dos interesses do grupo e da Abracom e não privilegiar aspectos individuais; 5.3 Situação atual O tópico anterior aborda todos os objetivos e regras do grupo quando foi criado em 2008 e sua descrição na internet. Devido às mudanças nas páginas do Google Groups, algumas informações citadas não podem mais ser visualizadas. Muito do que foi decidido pelo grupo no início de sua fundação hoje não está sendo realizado, como por exemplo, a preparação de materiais sobre o tema, realização de reuniões para encontros presenciais, reeleição dos cargos, realização de assembleias mensais, inscrições em subgrupos de ações, entre outros. O grupo teve pouquíssimos encontros presenciais e atua muito mais online, trocando informações sobre cases que surgem na internet, ferramentas, atuações de empresas nas mídias digitais, busca de colaboradores, entre outros temas. Hoje o grupo é aberto a qualquer pessoa que queira participar e colaborar, independente de ser associada ou não à Abracom e possuía 208 membros até o fechamento deste trabalho (junho de 2011). Após a nossa pesquisa ser finalizada, este grupo migrou da ferramenta do Google Groups para um grupo fechado no Facebook. O objetivo do nosso trabalho é verificar até que ponto o individualismo ajuda ou atrapalha a construção da inteligência coletiva em comunidades virtuais. Sendo assim, no próximo capítulo falamos um pouco sobre este “individualismo” que sabemos fazer parte da nossa moderna “sociedade líquida”. 45 6 O INDIVIDUALISMO A comunicação na era digital mudou completamente o modo como os indivíduos se relacionam. A facilidade da comunicação em tempo real, a rapidez de transmissão de mensagens, a “proximidade” e o enorme aparato tecnológico foram pontos importantes que contribuíram para esta transformação. Já afirmava Castells (1999, p. 414): [...] O surgimento de um novo sistema eletrônico de comunicação caracterizado pelo seu alcance global, integração de todos os meios de comunicação e interatividade potencial está mudando e mudará para sempre nossa cultura. Não é mais necessário estar perto para poder solucionar um problema, fazer amizades, reencontrar pessoas que ficaram para trás ou até mesmo, manter relações de trabalho ou estudo. Basta abrir um email, um sistema de mensagem instantânea, uma rede social ou qualquer outro tipo de plataforma existente, para poder se comunicar com qualquer pessoa que esteja conectada em qualquer lugar do planeta. O mundo ficou “menor” e há maior possibilidade de se relacionar com mais pessoas, mas será que as pessoas estão mais próximas umas das outras quando estão online? E será que esta “proximidade virtual” é algo positivo tanto para o indivíduo quanto para o coletivo ou esta distância física traz consigo consequências como o individualismo, a solidão, tristeza ou até mesmo depressão e perda da identidade? Segundo Wolton (2001, p. 25): [...] em algum momento, é preciso também aconselhar o internauta a sair da comunicação mediatizada e se confrontar com a comunicação natural humana e social. Daí a importância dos contatos, da voz, dos olhares, além da troca de signos. Atenção às solidões interativas! O autor acredita que a internet afasta as pessoas do convívio físico, além de formar comunidades que são compostas por interesses parecidos, e por pessoas parecidas, não dando oportunidades a heterogeneidade, e sim, criando segmentação. Para ele, é preciso resistir a esta segmentação para manter o 46 sentimento de coletividade e não deixar que, o individual seja contra o coletivo e a segmentação contra a sociedade e o diferente. Wolton (2001) afirma que as pessoas têm dificuldades para conviver com estas diferenças e por isso mantém certa distância uns dos outros para conseguir suportá-las. Além disso, aponta que estamos vivendo um momento de individualização da sociedade. Escrever, se corresponder, arquivar, apagar, sem limite, sem esforço, constituem o principal trunfo dos sistemas automatizados. É sem dúvida tanto a performance quanto a autonomia que seduzem. Cada um faz o que quer e quando quer: sem Deus, sem mestre. Está aí o âmago do ideal individualista liberal. O indivíduo é o único responsável por si mesmo, e fora de qualquer estrutura pode livremente desenvolver sua competência, assegurar seu destino, se cultivar, se corresponder, criar relações. (WOLTON, 2003, p. 86) Diversos autores divergem em suas considerações, alguns acreditam que a internet causou uma revolução positiva em que todos podem se ajudar, participar de comunidades, criar inteligência coletiva, estabelecer laços fortes e laços fracos, estes últimos indispensáveis para a convivência social, desenvolvimento pessoal, profissional, entre outros. Já os opostos acreditam que esse “novo mundo” faz com que as pessoas se tornem individualistas, não tendo mais amor ao próximo, não conseguindo mais manter relacionamentos duradouros, amizades verdadeiras e que possuem muito menos tempo para tudo, sempre apressadas à custa de um relógio que não para nunca. Aranha (2009, p. 27) afirma que “(...) mesmo mantendo o prazer de dialogar abertamente, as pessoas estão se tornando mais individualistas, portanto menos gregárias” e ainda: [...] paradoxalmente ao crescente só, e cresce o desejo de estar presencial ou virtual. As redes sentido de conexão on-line e individualismo, ninguém quer se sentir conectado, pertencer a algum grupo, sociais florescem proporcionando um nos botecos de esquina também. (ARANHA, 2009, p. 28) O fato é que muita coisa mudou e, positiva ou negativamente, tem afetado nosso modo de viver, agir, se relacionar e comunicar. Assim, novas formas de relacionamento surgem e aos poucos, a convivência é feita na maior parte do tempo, virtualmente. 47 Castells cita uma questão em seu livro “A Sociedade em Rede”, que já era uma preocupação nos fins da década de 90: [...] com relação à questão que dominou o debate sobre as dimensões sociais da internet durante a década de 1990: a internet favorece a criação de novas comunidades, comunidades virtuais, ou, pelo contrário, está induzindo ao isolamento pessoal, cortando os laços das pessoas com a sociedade e, por fim, com o mundo real? (CASTELLS, 1999, p. 442). Será que este isolamento e este distanciamento com os quais os estudiosos já se preocupavam em 1990, não tornam as pessoas muito mais individualistas e preocupadas apenas com seus problemas e não com o coletivo? Até que ponto o individualismo pode ajudar ou prejudicar a construção coletiva de uma comunidade virtual? Em uma comunidade virtual as pessoas buscam o bem comum, cooperam entre si, crescem e se desenvolvem juntas, criando inteligência coletiva ou apenas utilizam-se da plataforma e dos conhecimentos e cooperação para atender aos seus interesses pessoais? Um dos grandes sociólogos, estudioso do individualismo e dos conceitos de liquidez, em que tudo é fluido e nada é permanente, é o polonês Zygmunt Bauman. Para Bauman (2001 e 2004), as pessoas entram em relacionamentos como se estes fossem investimentos, esperando algo em troca. Na chamada modernidade líquida, os laços são temporários e relativos à satisfação da necessidade do indivíduo, conforme afirma: [...] A sociedade moderna existe em sua atividade incessante de “individualização”, assim como as atividades dos indivíduos consistem na reformulação e renegociação diárias da rede de entrelaçamentos chamada sociedade. (BAUMAN, 2001, p. 39) Aqui, Bauman trata dos laços fracos, já estudados neste trabalho, no capítulo dois (p. 21), mas que pode ser reforçado por Granovetter e Lin e Burt (apud MATOS, 2007, p. 60) em que: “Os laços fracos seriam ocasionais, esparsos, e, formais ou informais, não se baseariam em intimidade”. Apesar das facilidades que possuímos hoje, o tempo ainda é muito curto e a cada dia parece menor. As pessoas estão passando grande parte do tempo correndo, preocupadas, estressadas com o trânsito e os diversos problemas do dia a 48 dia. De acordo com estudo da ISMA15 (International Stress Management Association), o Brasil já ocupa um dos primeiros lugares no ranking de países em que mais se trabalha no planeta, causando um aumento elevado no estresse do trabalhador. Metas a cumprir e jornadas exaustivas são alguns dos motivos para esta situação. Estresse, correria, muitas coisas para se fazer ao mesmo tempo são características da modernidade líquida de Bauman, em que nada é sólido e duradouro. Com este tipo de vida, a internet veio para solucionar diversos problemas que nos causariam muitos transtornos para serem resolvidos de outra forma. Economizamos tempo e dinheiro com o que podemos resolver sem sair de casa, mas mesmo assim, muitas vezes as pessoas se sentem sozinhas, apesar de terem tantos “amigos” em suas redes sociais online. A comunicação mediada por computador possui, como tudo, pontos positivos e negativos, podendo influenciar nosso modo de vida, nossa relação com a família, amigos e trabalho. Para Recuero (2009, p. 37) “[...] a mediação pelo computador traz aspectos importantes para a relação social, como o distanciamento entre as pessoas envolvidas na construção dessa relação pode alterar a forma através da qual ela é estabelecida”. Ou seja, a comunicação digital é um facilitador na vida das pessoas, pode ser utilizada em prol do bem comum, da cooperação, da ajuda ao próximo, do desenvolvimento de um grupo, mas também tem problemas, tanto no que diz respeito ao relacionamento, quanto no que nos aprisiona. Chegamos a um ponto em que estes meios de comunicação nos tornam meio homem meio máquina, visto que muitas pessoas não conseguem ao menos dormir sem ter o celular debaixo do travesseiro? Milhares de indivíduos saem assim, celular à mão, correio eletrônico conectado e a secretária eletrônica ligada como última medida de segurança! Como se tudo fosse urgente e importante, como se fosse morrer caso não pudesse ser encontrado a qualquer instante. (WOLTON, 2003, p. 103) 15 Disponível em http://pensandogrande.com.br/brasil-e-um-dos-campeoes-em-stress-no-trabalho/ acesso em 09 jun.2011. 49 Para Wolton (2003) as solidões interativas, propiciadas pela internet, compreendem um mundo em que não há obrigações e regras e as pessoas têm uma enorme dificuldade em estar em contato com o outro. Sentindo-se sempre solitárias, elas têm a necessidade de estarem sempre conectadas para poderem ser encontradas. É preciso analisar se, e até que ponto, as tecnologias nos afastam das pessoas e se estamos nos isolando e nos tornando cada vez mais individualistas, voltando nossas atenções apenas para nossos problemas. Bauman (2004, p. 111) afirma que: O relacionamento puro tende a ser, nos dias de hoje, a forma predominante de convívio humano, na qual se entra pelo que cada um pode ganhar e se continua apenas enquanto ambas as partes imaginem que estão proporcionando a cada uma das satisfações suficientes para permanecerem na relação. Neste ponto, percebemos que o autor acredita que os relacionamentos de hoje se baseiam apenas em interesses próprios, individualistas. O que ele usa para afirmar estes pensamentos é o fato de que o termo conectar-se, está substituindo o relacionar-se: [...] em vez de relatar suas experiências e expectativas utilizando termos como relacionar-se e relacionamentos, as pessoas falam cada vez mais (auxiliadas e conduzidas pelos doutos especialistas) em conexões, ou conectar-se, e ser conectado. Em vez de parceiros, preferem falar em redes. (BAUMAN, 2004, p. 12) O individualismo faz parte das nossas vidas, isso é fato. Bauman é um grande estudioso deste tema, e um crítico também, mas é preciso analisar até que ponto este individualismo é forte e existente nas relações. Como pudemos ver até agora, as comunidades virtuais podem criar sim laços fortes, mesmo que estes sejam estabelecidos na rede e depois na vida real, mas também cria os chamados laços fracos, que são pontos importantes para o funcionamento da rede. O que buscamos estudar neste trabalho é como este individualismo presente no ser humano desde sempre e de acordo com alguns autores como Wolton e Bauman, mais forte do que nunca nos dias atuais - atua nas comunidades virtuais. Se ele é tão forte a ponto de prejudicar o desenvolvimento de uma inteligência coletiva ou é um ponto inicial de discussão, em que a ajuda a um 50 interesse primeiramente individual e cria um momento de compartilhamento de idéias que faz com que esta inteligência coletiva seja melhor desenvolvida. Bauman (2001, p. 45) coloca a questão: “Qual é o sentido de interesses comuns senão permitir que cada indivíduo satisfaça seus próprios interesses?” E ainda completa dizendo que, por mais que os indivíduos trabalhem juntos e mais benefícios possam trazer com este trabalho, logo eles irão perceber sua liberdade de buscar o que lhes parecer melhor fora do grupo e não irão mais ajudar. Castells (1999, p. 445) tem uma outra visão sobre o individualismo. Diferentemente de Bauman, ele acredita que a internet pode trazer benefícios a esta sociedade em rápida individualização, através da expansão dos vínculos sociais. Para ele, as comunidades virtuais são muito fortes, e há indícios substanciais de solidariedade recíproca e laços fortes. É o que pretendíamos avaliar ao estudar este grupo, através da metodologia que será explicitada no próximo capítulo. 51 7. METODOLOGIA E APLICAÇÃO As modalidades de pesquisa em que nos baseamos para a realização deste trabalho foram: pesquisa bibliográfica, observação não participante (como técnica de coletas de dados) e análise do conteúdo. Para verificar o comportamento de outras comunidades virtuais, também utilizamos um questionário, como técnica de investigação. Explicaremos a seguir, cada uma destas etapas. 7.1 Pesquisa bibliográfica A pesquisa bibliográfica é o planejamento inicial do projeto de pesquisa. Ela abrange a identificação, localização e obtenção de bibliografia sobre o assunto a ser trabalhado e, posteriormente, a leitura e elaboração de um texto com o que foi entendido das ideias dos autores, acrescido da opinião do pesquisador. Após isso, as anotações poderão ser usadas na redação do trabalho acadêmico. Após a leitura do material disponível, o pesquisador organiza uma seqüência de idéias lógicas para formar um quadro referencial teórico e conceitual que vai lhe oferecer elementos para o modelo de pesquisa escolhido. Este quadro deve conter um conjunto de conceitos preferidos pelo pesquisador para orientar sua pesquisa, buscando na literatura que teve acesso. (STUMPF, 2005, p. 54) A revisão da literatura foi feita durante todo o processo de desenvolvimento deste trabalho acadêmico e nos baseamos em autores como Castells, Bauman, Lévy, Recuero, Terra, Wolton, entre outros, que podem ser verificados em nossas referências bibliográficas (p. 93). Para a realização desta metodologia, o orientador e a pesquisadora atuaram juntos na busca de autores e materiais que tratassem do tema proposto no trabalho e adicionaram a este projeto os pontos considerados mais importantes e que melhor atendessem ao seu objetivo. 7.2 Observação não participante Outra modalidade de pesquisa que utilizamos foi a observação não participante, que foi aplicada como forma de coletar as mensagens a serem 52 estudadas através da análise de conteúdo. De acordo com BUY (2002) a pesquisa não participante: É uma técnica de coleta de dados, que não consiste em apenas ver ou ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se desejam estudar. É um elemento básico de investigação científica, utilizado na pesquisa de campo como abordagem qualitativa. Na observação não participante, o pesquisador não interage e nem interfere no ambiente a ser pesquisado, além disso, o grupo não sabe que está sendo observado16. Para fazer a coleta das mensagens a serem analisadas, nos pautamos por esta técnica, pois apesar da pesquisadora estar cadastrada como membro do grupo, não participava da troca de mensagens entre eles, não afetando o ambiente a ser estudado. As interações ocorriam em uma plataforma do Google chamada Google Groups. O grupo é aberto para quem quiser participar, mas é necessário solicitar participação para o orientador. As mensagens eram recebidas por email, mas podiam ser visualizadas na página do grupo pela internet. Segue modelo de interação no grupo: 16 Disponível em http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi1/AntonioMarisaPaulaObservacao.pdf. Acesso em 09 jun.2011. 53 Por email: Remetente Mensagem a ser enviada Figura 1 – Modelo de mensagem enviada por email 54 Diretamente na página do Grupo: Figura 2 – Página do grupo na internet Neste tipo de metodologia é necessário estabelecer a duração do período de observação e registro. Para isso, determinamos um tempo de estudo de seis meses de troca de mensagens, entre novembro de 2010 e abril de 2011. É um tempo suficiente tanto para possibilitar a análise de diversos períodos de trocas de mensagens, quanto para não atrapalhar o andamento do projeto e a possibilidade de sua realização. 55 Pelo fato de o campo de análise do nosso projeto ser um grupo virtual, as mensagens ficam armazenadas e a pesquisadora pôde fazer toda a coleta em apenas dois dias. Nesta etapa, todas as mensagens referentes ao período determinado (novembro de 2010 a abril de 2001) foram selecionadas, totalizando-se 457 mensagens. Em nosso trabalho, esta modalidade foi utilizada apenas para fazermos a coleta das mensagens no período estipulado e arquivá-las em um documento Word. A análise e classificação das mensagens foram feitas por meio do embasamento na metodologia de análise de conteúdo, que será explicitada no próximo tópico. 7.3 Análise de conteúdo Após a coleta das mensagens com a pesquisa não participante, começamos a avaliá-las a partir da metodologia de análise de conteúdo. Bardin (2000 p. 42) define a análise de conteúdo como: [...] conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. Para Bardin (2000), um dos pontos em que a análise de conteúdo pode ser aplicada é nas comunicações trocadas dentro de um grupo restrito, independente de sua natureza. Assim sendo, nos baseamos nesta metodologia para estudar o grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom. De acordo com Krippnedorff (apud JUNIOR, 2005, p. 287), na análise de conteúdo o pesquisador deve levar em conta os seguintes pontos: dados, contexto dos dados, conhecimento do pesquisador, objetivo da análise de conteúdo, inferência como tarefa intelectual básica, validade como critério de sucesso (critérios de validação dos dados). Utilizamos a análise de conteúdo no estudo dos tópicos e das mensagens trocadas entre os participantes do grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom, entre novembro de 2010 e abril de 2011. A seguir explicaremos um pouco do método e como foi aplicado. 56 7.3.1 O método Para realização da nossa pesquisa, baseamo-nos na metodologia de análise de conteúdo, proposta pela autora francesa Laurence Bardin (2000), e a complementamos com Junior (2005), facilitando a compreensão do método. Bardin (2000) divide o método de análise de conteúdo em cinco partes: organização da análise, codificação, categorização, inferência e tratamento informático. 1. Organização da análise A autora subdivide a organização da análise em três fases, conforme abaixo: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e interpretação. 1.1 Pré-análise É a fase considerada mais importante, já que é nesta fase que se escolhem os documentos a serem analisados, formulam hipóteses e objetivos, e elaboram-se índices qualitativos ou quantitativos que serão utilizados na interpretação final dos dados. 1.1.1 Leitura Flutuante Bardin (2000, p. 96) acredita que para início de um trabalho de análise de conteúdo a primeira coisa a se fazer é uma leitura flutuante sobre os documentos no nosso caso sobre as mensagens trocadas - com a intenção de conhecê-los melhor, deixando-se levar por impressões e orientações, mesmo quando já possuímos um problema a ser pesquisado. Assim, para a autora, aos poucos “[...] a leitura vai se tornando mais precisa, em função de hipóteses emergentes, da projeção de teorias adaptadas sobre o material e da possível aplicação de técnicas utilizadas sobre materiais análogos”. 57 Após unir tudo em um arquivo em Word, totalizando 457 mensagens a serem estudadas, iniciamos a leitura flutuante sobre todas as mensagens. As principais impressões que tivemos com esse procedimento foram: · Mensagens relativas ao oferecimento de vagas de emprego geralmente não são respondidas; · Algumas poucas pessoas, quando acham algo interessante quando estão navegando pela internet, compartilham com o grupo; · Algumas respostas acabam por serem formuladas aproveitando para divulgar algum trabalho pessoal, como um post em um blog; · O grupo era formado (até o fechamento deste trabalho) por 208 pessoas, mas as discussões são sempre feitas por um extrato menor, raramente entrando algum outro participante na discussão; · Existem vários tópicos que não são respondidos por ninguém; · Muitos dos participantes são observadores, lêem as mensagens, aprendem com elas, provavelmente tirando proveito do que é discutido e nunca se expressam; · Quando solicitada ajuda para algum trabalho específico, geralmente não se obtém resposta; · Quando postado algo sobre uma mudança de área, ou lançamento de um bom produto, há respostas de incentivo e parabenização; · Chamadas para eventos, parecidas com propagandas, não são respondidas; · Pessoas que nunca participaram ativamente acabam postando algo quando precisam de ajuda, e são bem atendidas pelo grupo; · Os tópicos de cases mal sucedidos ou assuntos polêmicos geram as maiores discussões no grupo; · Indicações de contatos ou agências são sempre respondidas; · Posts copiados de algum lugar e colados no email do grupo, sem nenhuma apresentação, são ignorados; · Vários tópicos são interrompidos no meio com assuntos totalmente diferentes, geralmente quando precisam de indicação de um profissional ou resolver algum problema com urgência; 58 · Algumas vezes, um tópico é postado com um tema e a resposta é outro tema, dando a impressão de ignorar o que o outro escreveu. 1.1.2 Escolha dos documentos Após a leitura flutuante o próximo passo é a escolha de documentos e muitas vezes, como em nosso caso, é necessário constituir um corpus, ou seja, os documentos que serão analisados, escolhidos dentro de um universo. Para se estabelecer este corpus, segundo Bardin (2000, p. 97-98), é necessário seguir algumas regras: a) Regra da exaustividade: devem-se pesquisar todos os documentos do período selecionado, sem exclusão; Coletamos e pesquisamos todas as mensagens trocadas entre o grupo no período de seis meses (novembro de 2010 a abril de 2011), totalizando 457 mensagens. b) Regra da representatividade: pode-se utilizar uma amostra para trabalho, desde que ela seja representativa do universo e possa ser generalizada a todo ele; Apesar de termos uma quantidade muito grande de mensagens, muitas delas são respostas pequenas, de poucas linhas, passíveis de análise. Mesmo assim, decidimos por excluir de nossa amostra os tópicos que se relacionavam com vagas de trabalho, indicações de contatos e agências, happy hour, piadas e dicas, além de pedidos para adicionar novos membros. Fizemos este corte visto que estas mensagens não serviriam para verificar o objetivo proposto pelo trabalho, já que são muito pontuais. Assim, ficamos com uma amostra de 364 mensagens a serem analisadas, distribuídas em 52 tópicos, conforme tabela a seguir: 59 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 Tópicos <jabá> Leitura de dissertação sobre profissionalização de blogs<jabá> Advogado Digital ajuda Até o Eike quer mais nas redes sociais Blogs Femininos Case Case Bis Limão Colheita Feliz Case de contratação de recursos humanos utilizando o ambiente on-line Cerimonial para audiência pública Clipping Como você acha que a Campus Party repercute o crescimento do mercado de rede... Compra coletiva Comunicação e Liderança Convite Lançamento Reality Books nesta quarta Convite Lançamento Reality Books, 15/12 na livraria Cultura da Villa Lobos Credenciamento - Imprensa - Fórum de Marketing Digital Nordeste Acontece em Recife Crise da Arezzo Dia das Relações Públicas Empregado pode falar mal da empresa nas redes sociais? ENC: Las redes sociales como oportunidad pedagógica y formativa Facebook - Desenvolvimento de Aplicativos Fórum Internacional de Comunicação Corporativa Fundador da Web afirma que redes sociais são uma ameaça Homens ficam mais tempo online, diz pesquisa Informação gerada pelo consumidor em guias locais e portais de reclamação Manual de conduta para blog corporativo Marketing Mobile Não toquem nos blogueiros O caso Renault O fenômeno das redes socias no Brasil Off Topic, mas nem tanto Onde estão os limites da web? Perfect PR pitches: NYT tech columnist picks his favorites Pesquisa Final Pesquisa Redes Sociais e Ti em Empresas Pesquisa sobre RP Digital ajuda Por que existimos? Post pago. Pode? Programa mala direta Publieditorial e jabá, ou tem algo mais? Quanto vale o trabalho em mídias sociais Rede Social de Voz Relações com a Imprensa "2.0"? #ARPO ROI SMW Sobre Nissan STF se desculpa por piada sobre Sarney e Ronaldo no Twitter Sugestão de cases de internet + moda Trending Topics Um novo evento Uso corporativo do Plaxo Vídeo corporativo no Youtube WSA: o maior prêmio de conteúdo digital do mundo! Tabela 1 – Tópicos 60 c) Regra da homogeneidade: os dados a serem analisados devem ser da mesma natureza, homogêneos. Atendemos a esta regra, pois as mensagens são originárias de um único grupo virtual e fechado, com tema de discussão específico, as Relações Públicas Digitais. d) Regra de pertinência: os dados devem ser adequados ao que se estabeleceu nos objetivos da pesquisa, objeto, tempo de estudo, processos. A intenção do projeto era analisar o próprio grupo e se suas ações contribuíam ou atrapalhavam a construção da inteligência coletiva, e observamos a troca de mensagens entre eles. 1.1.3 Hipóteses e objetivos Outro ponto sugerido pela autora, após seguir estas regras, é a formulação das hipóteses e objetivos do trabalho. Como hipótese sendo uma afirmação a ser verificada – e, portanto, podendo ser confirmada ou negada após a análise observamos que o individualismo atrapalha a construção da inteligência coletiva. O objetivo principal deste projeto é verificar se o individualismo interfere na construção desta inteligência nas comunidades virtuais. 1.2 Exploração do material A exploração do material citada por Bardin (2000) trata-se da análise em si, com a codificação do material em função de regras que serão explicitadas no tópico de codificação. 1.3 Tratamento dos resultados, inferência e interpretação. O tratamento dos resultados refere-se à transformação dos dados brutos, para torná-los válidos e significativos, e pode ser feito através de quadro de 61 resultados, diagramas, modelos, que são utilizados pelo analista para trabalhar suas inferências sobre estes resultados. (Bardin 2000, p. 101) Em nosso projeto, utilizamos planilhas de Excel para fazer uma primeira classificação do material coletado, separando os tópicos selecionados em: cases, discussões propostas, matérias compartilhadas, eventos e solicitações particulares. Segue abaixo o modelo: Cases Discussões Propostas Informação gerada pelo consumidor em guias Até o Eike quer mais nas loca is e p ortais de redes sociais reclamação Matérias compartilhada s Eventos C omo você acha que a C ampus Party repercute o crescimento do mercado Comu nicação e d e rede... Liderança Solicitaç ões particulares <jabá> Leitura de dissertação sobre profissionalização de blogs<jabá> Onde estão os limites da web? C ompra coletiva Por que existimos? Empregad o pode falar mal d a empresa n as redes sociais? Convite Lançamento Reality Books nesta quarta Advogad o Digital ajuda Convite Lançamento Reality Books, 15/12 na livraria Cultura da Blogs Femininos Crise da Arezzo Post pago. Po de? ENC: Las re des sociales como o portunidad pedagógica y forma tiva Cred encia mento Imprensa - Fó rum de Marketing D igital Nord este Acon tece em Recife O caso Renau lt Publieditorial e jab á, ou tem algo mais? Sobre Nissan ROI Case Case Bis Limão Colheita Feliz Fundador da W eb afirma q ue redes sociais são u ma a meaça H omens ficam mais tempo o nline, d iz pesquisa O fenômeno das rede s socias no Brasil Vídeo corpora tivo no Youtube Off Topic, mas n em tanto Fórum In ternacio nal de Comunica ção Cerimonial para audiência Corp orativa pública Não toquem nos blogueiros Clipping Um novo eve nto W SA: o maio r prêmio de conteúdo dig ital do mund o! Perfect PR pitches: NYT tech columnist picks h is favorite s Pesquisa Redes Sociais e Ti em Empresas Quanto vale o tra balh o em mídias sociais STF se de sculpa por piad a sobre Sarney e Ronaldo no Twitte r T rending Top ics Tópico s Cases Discussões propostas Matérias comp artilhadas Eventos Solicitações particulares Total Quantida de % em re lação ao total 6 7 13 8 18 52 Case de contratação d e re cursos humanos utilizando o ambiente o n-lin e 12% 13% 25% 15% 35% Tabela 2 – Categorização dos tópicos Dia das Relações Públicas Face book Desenvolvimento de Aplica tivos Manual d e condu ta pa ra blog corporativo Marketing Mobile Pesquisa Fina l Pesquisa sobre RP Digital ajuda Programa mala direta Rede Social de Voz Rela ções com a Impre nsa "2 .0"? #ARPO SMW Sugestão de case s de internet + moda Uso co rporativo d o Plaxo 62 Nesta primeira classificação, chegamos com 52 tópicos, que foram distribuídos da seguinte forma: · Cases – 12% – nesta categoria incluímos cases de empresas com repercussão (geralmente negativa) muito forte nas mídias sociais; · Discussões propostas – 13% – são as discussões propostas sobre um determinado assunto de comunicação digital, quase sempre sendo acompanhado por uma pergunta que busca gerar debate no grupo; · Matérias compartilhadas – 25% – são matérias publicadas na mídia, geralmente na internet, que o participante envia para o grupo, para discussão; · Eventos – 15% – nesta categoria, incluímos mensagens relativas à eventos em geral, seja um convite ou algum evento em que algum integrante do grupo está participando e dividindo informações. · Solicitações particulares – 35% – são os pedidos de ajuda para solucionar algum problema individual, geralmente relacionado ao trabalho do participante. As inferências e interpretação serão explicitadas mais adiante. 2. Codificação A codificação é o processo de transformação dos dados brutos de forma sistemática, segundo regras de enumeração, agregação e classificação, visando esclarecer o analista sobre as características do material selecionado. Sua principal função é servir de elo entre o material escolhido para a análise e a teoria do pesquisador [...]. Junior (2005, p. 294) De acordo com Bardin (2000, p. 104), para se fazer a codificação do material bruto coletado, é preciso escolher as unidades de registro e de contexto. As unidades de registro são as partes da amostragem delimitada na construção do corpus que, em nosso trabalho, corresponde aos tópicos e suas respectivas mensagens, que foram selecionadas para análise. As unidades de contexto se referem ao momento em que estas unidades de registro se situam, ou seja, se as mensagens foram trocadas em períodos de férias, natal, ou algum acontecimento especial, é preciso contextualizá-las para entender 63 quais tipos de unidades de registros estão sendo utilizadas e o porquê (Bardin, 2000). Neste projeto, a unidade de contexto mais percebida é o fato de que as Relações Públicas Digitais ainda estão em desenvolvimento no país, muitas empresas não sabem ao certo como utilizá-las e o grupo é uma forma de tentar entender este processo e poder aprender com os temas propostos no grupo. Outro ponto que achamos importante citar aqui é que, dependendo do mês, existe certa sazonalidade nas mensagens. De acordo com o fluxo de tópicos abaixo (referente ao total das mensagens antes da definição da amostra), podemos perceber que nos meses de dezembro e janeiro, quando geralmente as empresas fazem fechamento anual e possuem férias coletivas, a quantidade de tópicos propostos é bem menor. Mês Qt Tópicos Novembro 13 Dezembro 8 Janeiro 6 Fevereiro 19 Março 13 Abril 19 Total 78 Tabela 3 – Quantidade total de tópicos postados 2.1 Regras de enumeração As regras de enumeração é o modo como as unidades de registros são contadas. Assim, estabelecemos nossos índices de acordo com o teor das mensagens estudadas, e cada tópico de cada categoria já estabelecida foi testado nestes índices. Com esta classificação, buscamos responder em cada tópico se as mensagens tinham algo para compartilhar, se eram respondidas e quantas respostas tiveram, se foram ignoradas, se buscavam a autopromoção de quem escrevia, se eram completadas com novas informações e se fomentavam o debate. A categoria “solicitações” foi a única em que realizamos uma alteração. Incluímos um novo índice para saber se as solicitações seriam um pedido de um “modelo pronto”, separando-as dos demais pedidos. 64 Destacamos que nesta etapa do trabalho, a quantidade de mensagens (306) será inferior ao total de mensagens analisadas (364), pois nestas categorias não estão sendo contabilizadas as mensagens que geraram os tópicos e nem os agradecimentos da categoria “solicitações particulares”. Só estão inclusas as respostas aos tópicos. Após criarmos estes índices, acrescentamos mais dois tópicos em nossa planilha, e os classificamos como “matemática” e “destaques”. O tópico “matemática” analisa os índices de cada categoria e nos dá um valor em porcentagem de cada uma delas, desde que seja diferente de 0. O tópico “destaques” busca salientar informações que foram importantes para a criação da categorização final, que explicaremos a seguir. Segue exemplo da classificação das categorias nos índices17: 17 Esta classificação completa pode ser visualizada no apêncice A, p. 98 65 1 2 3 4 5 6 Tópico Até o Eike quer mais nas redes sociais Case Case Bis Limão Colheita Feliz Crise da Arezzo O caso Renault Sobre Nissan Total respostas Respondido Cases Qt. Resposta Ignorado Autopromoção Complementado X X X X X X 1 20 2 30 18 18 89 X X X X X X X X Matemática 6 tópicos 89 respostas média = 15 respostas por tópico 67% dos tópicos foram complementados e geraram debate Destaques Todos os tópicos respondidos Esta categoria tem uma média de quase 15 respostas, que corresponde à maior média entre todas as categorias 4 tópicos com complementações com relação ao assunto proposto 4 tópicos geraram debate Tabela 4 – Índices Gerou debate 66 3. Categorização Categorização é o “trabalho de classificação e reagrupamento das unidades de registro em número reduzido de categorias, com o objetivo de tornar inteligível a massa de dados e sua diversidade”. (JUNIOR, 2005, p. 298). Utilizamos o critério semântico de classificação de Bardin (2000) que são as categorias temáticas. A categorização foi a técnica utilizada em todo processo da análise dos tópicos e mensagens. Para atender ao que a autora entende como uma boa categorização, tomamos o cuidado de obedecer às características fundamentais por ela explicitadas, tais como: · Não incluir em uma categoria o que foi incluído em outra; · Classificar unidades de registro de acordo com sua natureza; · Categorizar de acordo com as nossas intenções; · Buscar a objetividade e fidelidade na classificação; · Criar categorias que forneçam resultados que possam atender às necessidades da pesquisa. Após separarmos os tópicos e suas mensagens de acordo com a primeira classificação estabelecida e criarmos nossas regras de enumeração, ou seja, os índices que os avaliaram, as porcentagens e os destaques de cada tema, iniciamos a categorização final. Para Bardin (2000, p. 118), “classificar elementos em categorias, impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com os outros”. Assim, analisamos as cinco planilhas (apêndice A) e as reagrupamos conforme a seguir: Categoria com mais respostas: · Cases – média de 15 respostas por tópico. Categoria com menos respostas: · Solicitações particulares – média de 3,3 respostas por tópico. 67 Categorias que mais promovem o debate, construção coletiva: · Cases – 67% dos tópicos. · .Discussões propostas – 57% dos tópicos. Categorias que promovem pouco debate: · Matérias compartilhadas – 23% dos tópicos. · Eventos – 12,5% dos tópicos. Categoria que não promove debate: · Solicitações particulares – nenhum tópico gerou debate. Categoria com mais mensagens ignoradas e busca de autopromoção: · Eventos – 62,5% dos tópicos ignorados, 62,5% buscam autopromoção. Categoria mais complementada com novas informações: · Discussões propostas – 86% dos tópicos. Após esta última categorização dos dados, iniciamos o processo de inferência. 4. Inferências As inferências são as deduções feitas de forma lógica pelo pesquisador, em relação ao tratamento dos dados. Para Junior (2009, p. 284), a inferência é “destinada a extrair conhecimentos sobre os aspectos latentes da mensagem analisada”. Elas são feitas por meio dos índices estabelecidos e o pesquisador tenta: 68 [...] compreender o sentido da comunicação (como se fosse o receptor normal), mas também e principalmente desviar o olhar para uma outra significação, uma outra mensagem entrevista através ou ao lado da mensagem primeira. A leitura efetuada pelo analista, do conteúdo das comunicações não é, ou não é unicamente uma leitura à letra, mas antes o realçar de um sentido que se encontra em segundo plano. BARDIN (2000, p. 41) Em nosso trabalho, utilizamos as inferências específicas, ou seja, que estão ligadas ao problema investigado. Assim, descrevemos as inferências que fizemos com relação à análise realizada, buscando atender ao nosso objetivo de descobrir se nos grupos virtuais, o individualismo ajuda ou atrapalha a construção da inteligência coletiva. Para isso, utilizamos duas variáveis de inferências, o individualismo e a construção coletiva: a) Individualismo As matérias compartilhadas algumas vezes chegam a promover algum debate, mas para isso tem que ser algo que esteja acontecendo no dia-a-dia, que esteja na mídia e provoque polêmica. Matérias que não fazem parte deste escopo são ignoradas e, quando respondidas, não trazem nenhuma contribuição, recebendo alguma piada de resposta ou um único agradecimento. Ou seja, se não fizer parte do interesse dos participantes, geralmente são descartadas e o receptor pode se sentir mal, pois, apesar de ter conseguido compartilhar uma matéria que achou interessante o grupo não deu retorno, podendo assim, fazer com que ele deixe de postar novas matérias. Como exemplo, no primeiro tópico18 abaixo, o retorno de respostas dos participantes chegou a 31 mensagens, já o segundo, não obteve nenhuma resposta. · Empregado pode falar mal da empresa nas redes sociais? 1. Lara Olá, pessoal, tudo bem? Vi esta matéria agora no G1, e gostaria de saber a opinião de vocês. Conselho diz que empregado pode falar mal de empresa no Facebook* Companhia americana demitiu funcionária que criticou 18 As mensagens transcritas neste trabalho contém nomes fictícios tanto de pessoas quanto das empresas que trabalham e seus respectivos sites 69 o chefe na rede social. Empresa infringiu direito de liberdade de expressão, diz conselho dos EUA. *Link:* *http://migre.me/3QnqA. E aí? Abs · Homens ficam mais tempo online, diz pesquisa 1. Emerson Pessoal, Boa tarde. Veja uma nova pesquisa sobre comportamento de homens e mulheres http://www.band.com.br/jornalismo/tecnologia/conteudo.asp?ID=10000040... Abraço, Emerson. na internet. As solicitações particulares correspondem à maior porcentagem de todos os tópicos, 35%. Daí se percebe o destaque dos interesses particulares no grupo. Este tipo de tópico possui menor quantidade de respostas, ou seja, apesar de ser maioria no montante analisado, os participantes não o recebem bem, chegando a ignorar 40% dos tópicos postados. Esse ponto é algo que pode atrapalhar o grupo, visto que ocupa muito espaço nos tópicos gerais e não trazem nenhum retorno para a construção coletiva, não promove nenhum tipo de debate, apenas atendendo aos interesses individuais. Abaixo, exemplo de tópico ignorado da categoria solicitações particulares: · <jabá> Leitura de dissertação sobre profissionalização de blogs<jabá> 1. Cristina Caros, Acabo de ler a dissertação de Ana Pereira sobre profissionalização de blogs e fazer minhas elucubrações...seria uma honra ter a presença de pelo menos um de vocês para uma conversa no blog. Segue o link: http://casasocial.wordpress.com/2011/04/17/o-que-virou-da-blogosfera... Algumas das novas inquietações que a leitura provocou: 1- alguém conhece pesquisador que investiga o reinado de lessig com creative commons? 2- alguém conhece pesquisador que investigou o histórico da publicidade na web brasileira? Abraços e inté! 70 Outra categoria que promove o individualismo no grupo é a categoria eventos. Além de ser a mais ignorada pelos participantes é a que mais aparenta uma intenção de autopromoção por parte do participante. Em sua maioria são eventos promovidos pela empresa em que o participante trabalha, por um cliente ou por ele mesmo e acabam sendo ignoradas pelo restante do grupo. Com relação aos tópicos mais respondidos desta categoria, um se relacionava à criação de um evento entre eles que nunca foi realizado e o outro, referia-se a um evento, em que todos gostariam de estar e um dos participantes estava, mas não conseguiu ou não quis dividir muita informação com o grupo, nem quando o evento foi finalizado. Esta categoria abrange 15% das respostas, sendo maior do que a categoria “cases” e “discussões propostas”. Segue exemplo de tópico da categoria eventos: · Comunicação e Liderança 1. Tatiane Olá pessoal Peço licença para convidá-los a participar do especial que a Projeto Comunicação (www.projetocomunicacao.com) está realizando a partir de hoje (até 6/12) sobre Comunicação e Liderança. Além de uma série de reportagens e artigos especiais sobre o tema, amanhã às 10h teremos um chat com o jornalista José Antônio, diretor de Relações Institucionais e Comunicação da Rede e autor do blog 'Na hora do janta'. Para participar, basta ter cadastro simples no Vida. E para quem está no Rio, na quarta teremos um encontro na ESPM, que reunirá Gláucio Cerqueira, diretor de Gente da RH; João Regis, diretor de Comunicação Corporativa da Sá Brasil, e Paulo José, diretor da agência Ace. A mediação será de José Roberto, diretor de Atendimento e Planejamento da Projeto e o evento terá como tema a 'Liderança no século XXI'. As inscrições são gratuitas (pelo e-mail [email protected]), mas as vagas são limitadas à capacidade do auditório. Mais informações aqui: http://www.projetocomunicacao.com/panorama_ciclo.asp Abraços a todos, Outro fato importante a ser citado em nossas inferências é que o grupo era formado por 208 participantes, mas apenas 68 participaram de alguma forma da troca de mensagens analisadas, lembrando que cobrimos um período de seis meses. Separamos a contagem das mensagens emitidas pelos participantes da seguinte forma: 71 Qt participantes 60 participantes 5 participantes 2 participantes 1 participante Total geral Qt mensagens individuais até 10 mensagens de 11 até 20 mensagens de 21 até 30 mensagens acima de 30 mensagens Qt mensagens total 198 71 57 38 364 Tabela 5 – Quantidade de mensagem postadas Assim temos: 68 participantes 60 correspondiam a 54% das mensagens, sendo uma média de menos de 1% para cada 5 correspondiam 20% das mensagens, sendo uma média de 4% para cada 2 correspondiam a 16% das mensagens, sendo uma média de 8% para cada 1 correspondia a 10% das mensagens Tabela 6 – Distribuição das mensagens por participantes Podemos inferir que a maioria das mensagens (46%) estava concentrada em apenas oito participantes, sendo que tivemos um total de 364 mensagens analisadas. Muitos dos que enviaram mensagens, só o faziam porque precisavam de alguma ajuda e, a grande parte do grupo, apenas lê e provavelmente tira proveito, não ajudando na construção coletiva do grupo, que é feita por poucos. b) Construção coletiva As categorias cases e discussões propostas são as que mais produzem o debate e a construção coletiva no grupo. Os cases são a menor fatia dos tópicos propostos, correspondendo apenas a 12%. Neles se encontram os tópicos mais respondidos, em que geralmente se discute sobre algo negativo que aconteceu nas mídias sociais com alguma empresa famosa, e que repercutiu em vários meios de comunicação. Neste tipo de discussão, os participantes do grupo procuram dar sua opinião sobre o assunto, incluir matérias que possam acrescentar informações ao conhecimento do grupo, chegando muitas vezes a fazerem um exercício, explicitando quais seriam as medidas a serem tomadas tanto antes quanto depois do acontecimento. Exemplo de mensagem de casos de êxito ou de insucesso: 72 · Crise da Arezzo 1. Bernardo Caros, tudo bem? Viram a repercussão negativa em torno da marca Arezzo? Pra quem não conseguiu acompanhar, a marca lançou peças de sua coleção com pele animal e começou a apagar posts negativos na página da empresa no Facebook. Depois, pararam. Mas a crise é grande. Agora pouco, a Arezzo recuou e decidiu recolher as peças de todas as lojas, vejam o comunicado: http://www.facebook.com/notes/arezzo/comunicado/208897042461847 Em minha modesta opinião, o comunicado piorou as coisas: não reconheceu o erro de usar pele animal e traduziu um erro de marketing gigantesco. Em pleno século 21, com todas as mídias sociais dando voz a protestos, a marca não pensou na reação contrária a uma ação politicamente incorreta. E vocês, o que acharam? _________________________________________________________________________________ 2. Lívia Pois é Bernardo. A emenda saiu mesmo pior que o soneto. Ou quase isso. O mesmo erro de marketing se converteu em falha de comunicação. Uma indicação pra mim seria reconhecer os problemas socioambientais e aderir a programa de proteção animal em médio prazo. Uma falha de comunicação precisa de retorno gerencial/administrativo a altura. Eu não acredito em mero pedido de desculpas. Ainda mais neste em fração. E vocês? As discussões propostas também são pouco aproveitadas dentro do grupo, correspondendo a 13% do total dos tópicos, começa geralmente por uma pergunta de um dos participantes e em seguida é respondida e debatida facilitando a construção coletiva. Abaixo, exemplo de mensagem sobre discussão proposta ao grupo: · Post pago. Pode? 1. Pietro Pessoal, tudo bem? Estou acompanhando a repercussão de um post do José Paulino no Twitter. Ele fez um jabazão pra Samsung e a repercussão não foi nada boa. Vejam o anexo que montei com alguns posts. Aproveito para pedir a opinião de vocês sobre esse tipo de ação nas redes sociais, eu, particularmente acho super arriscado para a marca. O que acham? Abraços, _________________________________________________________________________________ 2. Ilton Oi Pietro, trabalho em uma agência que faz uma quantia relativamente grande de posts e tweets pagos. Debatemos muito sobre isso constantemente e é inegável que é uma via perigosa, por isso tentamos ao máximo criar posts e tweets mais naturais e mesmo trabalhando com grandes ações nunca tivemos repercussões tão negativas. A Samsung é rainha em fazer ações equivocadas nas redes. Na cobertura do carnaval colocou as meninas do @pedreroonline para cobrir os circuitos Barra Ondina em Salvador. Qual a relação entre o produto, o perfil e a cobertura? 73 Não tem, esse é o problema. No geral a marca não possui uma curadoria nos seus representares, faz posts agressivos em suma acaba gerando esse buzz negativo em cima do produto. Acho que é isso! At As categorias “cases” e “discussões propostas” foram as que mais se destacaram com relação ao complemento, ou seja, nestes tópicos, os participantes incluíam novas informações, vídeos, matérias, fazendo com que aumentasse inteligência coletiva do grupo. Apesar de algumas pessoas nunca terem participado e algumas iniciarem um tópico por precisarem de uma ajuda, a impressão que tivemos é que o grupo acaba aceitando bem este participante. 4.2 Considerações Os grupos virtuais geralmente possuem um nome que refletem qual o tipo de assunto que nele será discutido. As pessoas participam destes grupos por indicações ou por achar o tema do grupo interessante, mas no fundo, o que elas querem é estar “perto” de pessoas que possuam interesses comuns, para compartilhar, observar, aprender e interagir. Notamos que as matérias que atendem ao objetivo do grupo são melhor aceitas por ele, mais debatidas, mais respondidas. Questões que buscam interesse próprio, autopromoção ou mesmo que estejam fora do escopo esperado pelos participantes, geralmente são colocadas de lado. Mesmo assim, são maioria. Apesar de ser um grupo relativamente grande, com 208 participantes, (até junho de 2011) a minoria do grupo é ativa e a grande parte dele apenas “assiste” às discussões, não colaborando para o debate. Já quando observamos as categorias que promovem o debate, como cases e discussões propostas, verificamos que os participantes discutem, dão opinião, colocam novos links, novos apontamentos. Alguns concordam, outras vezes discordam, sempre com muito respeito. 74 5. Tratamento informático Não utilizamos ordenadores ou softwares de análise de conteúdo para realizar este trabalho. Nosso tratamento informático foi feito através de planilhas de Excel, que facilitaram a categorização, a criação dos índices e os cálculos matemáticos utilizados para realizarmos nossas inferências. Todas as tabelas podem ser vistas no decorrer do trabalho e no apêndice A. 7.4 Questionário Pode-se definir questionário como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento das opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc. (GIL, 1999, p. 128). De forma a complementar nosso trabalho e conhecer um pouco sobre outras comunidades virtuais, também utilizamos um questionário com técnica de investigação. O mesmo foi elaborado em plataforma do Google Docs e enviado um link (http://migre.me/51DLI) por email aos respondentes. As questões buscavam verificar se os participantes de outras comunidades virtuais possuíam comportamento semelhante ao grupo estudado e foi realizado com coordenadores e/ou moderados de grupos de discussões na área de comunicação. O questionário possuía 14 questões e conseguimos respostas de nove moderadores19. Antes de enviar o questionário aos participantes, realizamos um pequeno préteste com cinco pessoas para verificar se teriam algum tipo de dificuldade ao respondê-lo. Segue exemplo do questionário enviado: 19 Anexo A, p. 104. 75 Figura 3 – Questionário enviado por email 7.4.1 Grupos Participantes Antes de iniciarmos a tabulação do questionário, apresentamos abaixo uma breve descrição dos grupos participantes, feitas por eles próprios. 1 Papos na rede O Papos na Rede é um chat quinzenal criado por Márcia Ceschini Especialista em Gerenciamento de Marketing e Consultora de Comunicação Digital, como um projeto para compartilhar conteúdo sobre comunicação digital nas redes sociais. O Papos na Rede é divulgado pelo Twitter, Facebook e email do grupo de discussão. 76 2 Webees A Webees é um espaço que reúne diversos profissionais, estudantes e entusiastas das áreas de comunicação, internet e publicidade. É um espaço para conversarmos sobre como estas três áreas funcionam e se relacionam, comentar inovações e principalmente trocar conhecimento e experiência. Webees é como uma mesa de bar. Haverá quem se sente só nela, e quem se sinta só nela. Quem fique um pouco em cada mesa, e em todas ao mesmo tempo. Há também a turma que ficará em pé, observando. A mesa é redonda, sem ninguém na ponta, e ninguém vai pagar a conta sozinho. 3 Relações Públicas Profissionais, estudantes e entusiastas da profissão se encontram e compartilham conteúdo aqui! 4 Mundo das Relações Públicas Mundo das Relações Públicas desvendado por profissionais da área registrados no CONRERP de seus estados, por acadêmicos e outros interessados no tema: cerimonial, protocolo, planejamento de comunicação, assessoria de divulgação, marketing editorial, webmercados e muito mais. A Comunicação e muito mais. 5 GestaoECAUSP2002 O e-group "GestaoECAUSP2002" foi criado em 8 de abril de 2002, e é gerenciado por Marcus Vinicius Bonfim (formado em Relações Públicas, morando em SP) e Fabiana Lopes (formada em Letras, morando hoje nos EUA). O grupo foi criado para circulação de informações de interesse dos alunos da então turma 10 do curso de especialização lato sensu em Gestão de Processos Comunicacionais da ECA-USP. 77 6 Horizonte RP O Horizonte RP é um grupo que se formou em 2006 para discutir e realizar ações para um maior reconhecimento da profissão de Relações Públicas na Região Metropolitana de Belo Horizonte e em Minas Gerais. 7 Rede Brasileira de Comunicação Pública Rede Brasileira de Comunicação Pública - Criada em fevereiro de 2002, é uma rede de profissionais de todas as áreas da comunicação e que estejam interessados em discutir a comunicação pública. É integrada tanto por profissionais que atuam em instituiçoes públicas brasileiras, quanto por aqueles que trabalham na área privada. O fórum discute, prioritariamente, a comunicação nas instituições públicas, bem como as funções a serem desempenhadas pelo comunicador público. Também discute a comunicação pública a partir de um conceito mais amplo, em que ela inclui o debate sobre concessões públicas, comunicação das ONGs, veículos comunitários e a comunicação de interesse público em geral. 8 Aberje Comitê de Comunicação Digital Ambiente para interação entre os integrantes do Comitê de Comunicação Digital da Aberje. Oportunidade para as empresas compartilharem experiências e boas práticas de comunicação corporativa nos meios digitais. 9 Jornalistas da Web A lista de discussão Jornalistas da Web foi criada em 2000 para servir de canal de comunicação não só para quem trabalha com jornalismo online e Internet em geral, mas também para qualquer interessado na relação entre o jornalismo e as novas mídias. No grupo, os membros discutem, por email, a evolução do cenário de jornalismo digital e assuntos relacionados. Hospedada no Yahoo! Groups - serviço de criação de grupos de discussão do portal Yahoo! -, a lista é considerada hoje a principal referência no país sobre jornalismo online e conta com mais de 1.700 membros entre estudantes de 78 Comunicação, blogueiros e profissionais vindos de alguns dos principais veículos online nacionais, como Estadão, Folha Online, Gazeta Esportiva, Globo Online, iBest, iG, Infoglobo, JB Online, Lancenet, O Dia, Reuters, Revista Imprensa, Terra, UOL e Webinsider. 7.4.2 Tabulação20 1) Qual é o nome do grupo que você coordena? Papos na Rede, Webees, Relações Públicas, Mundo das Relações Públicas, GestaoECAUSP2002, Horizonte RP, Rede Brasileira de Comunicação Pública, Aberje Comitê de Comunicação Digital e Jornalistas da Web. 2) Quando o grupo foi iniciado? 2 4 3 Menos de 5 anos De 5 a 10 anos Mais de 10 anos Apenas dois grupos têm mais de 10 anos de existência. 3) Em qual plataforma o grupo se relaciona? 3 5 1 Google Groups 20 Facebook Yahoo!Groups SAMARA, Beatriz Santos; BARROS, José Carlos. Pesquisa de marketing: Conceitos e metodologia. 4. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. 79 A maioria dos grupos respondentes se relaciona na plataforma do Yahoo! Groups. 4) Quantas pessoas fazem parte do seu grupo de discussões e quantas participam efetivamente? Participantes (relativos aos grupos) 2 2 1 1 1 2 até 100 de 101 a 300 de 701 a 900 mais de 900 de 301 a 500 de 501 a 700 A quantidade de participantes por grupo varia muito, sendo que dois deles possuem mais de 900. Ativos (relativos aos grupos) 1 2 1 3 2 Não sabe Até 5% Mais de 5% até 10% 24% 34% Dos nove grupos analisados, um moderador não soube mensurar quantas pessoas atuavam ativamente e em cinco grupos, a quantidade de ativos chega a no máximo 10%. 80 5) Quantos tópicos já foram postados pelo grupo? 1 2 2 1 1 2 Até 500 De 500 a 1.000 De 1.001a 3000 De 3001 a 5000 De 5001 a 7000 Acima de 7000 A quantidade de mensagens por grupo varia muito, mas a grande parte deles (oito grupos) já postou mais de 500 mensagens. 6) O grupo que você coordena promove ou já promoveu encontros presenciais? Se sim, quantos? Encontros presenciais 3 6 Sim Não Apenas três grupos não promoveram encontros presenciais. Quantidade de encontros 1 3 2 Até 5 De 6 a 10 De 11 a 15 81 Dos grupos que já promoveram encontros, a maioria promoveu menos que 10. 7) Dos temas abaixo, quais são mais abordados no grupo: *Pode escolher mais de uma opção Alternativa Bibliografias Cases Discussões propostas referentes a algum tema do momento Eventos Matérias da mídia Solicitações particulares (pedidos de ajuda) Troca de Experiências Total de respostas Total de entrevistas Respostas % 1 5 8 5 7 7 1 34 9 11% 56% 89% 56% 78% 78% 11% * Nas questões de múltipla escolha, a porcentagem das alternativas é obtida tendo por base o total de entrevistados/respondentes. Média de respostas por entrevistado = 34/9=3,8 Os temas mais abordados pelos grupos segundo 89% dos moderadores são as discussões propostas, referentes a algum tema do momento, na área de comunicação. Em seguida, as matérias da mídia e as solicitações particulares, citadas por 78% dos entrevistados. Cases vem em terceiro lugar, segundo 56% dos entrevistados. 8) Em quais temas abordados pelo grupo você percebe a construção de uma inteligência coletiva? Alternativa Respostas % Cibercultura 1 8,33% Comunicação pública e comunicação privada 2 16,67% Discussões propostas referentes a algum tema do momento 6 50% Diversos 1 8,33% Não percebe 1 8,33% Relações Públicas 1 8,33% Total de respostas 12 82 * Nas questões abertas a porcentagem é dada sobre o total de respostas e os resultados foram arredondados para evitarmos um número muito grande de caracteres. De acordo com os entrevistados, os temas que geram uma construção de inteligência coletiva são as discussões propostas referentes a algum tema do momento. 9) Existe algum tipo de tema discutido no grupo que você acredita atrapalhar esta construção? Se sim, qual seria? Algum tema atrapalha? 1 4 4 Não Sim Não busca inteligência coletiva Apenas um grupo não busca a inteligência coletiva, nos demais, quatro possuem temas que atrapalham essa construção e quatro não. Alternativa Associação de classe Autopromoção Diploma jornalístico Governos Pisos Salariais Problemas pessoais Propagandas Total de respostas Respostas 1 2 1 1 1 1 1 8 % 12,5% 25% 12,5% 12,5% 12,5% 12,5% 12,5% 100% * Nas questões abertas a porcentagem é dada sobre o total de respostas Foram poucos os temas citados que atrapalham a construção, apenas oito, sendo dois deles (25%), referentes à autopromoção. 83 10) Existe algum tipo de tema proposto que geralmente fica sem resposta? Se existe 2 7 Não Sim Apenas em dois grupos nenhum dos temas propostos fica sem resposta. Temas sem resposta Alternativa Demandas particulares Divulgações Eventos Temas fora do objetivo da lista Total de respostas Respostas 1 1 2 1 5 % 20% 20% 40% 20% 100% * Nas questões abertas a porcentagem é dada sobre o total de respostas Poucos foram os temas citados que não recebem respostas. Em dois grupos foi citado o tema Eventos. 11) Os temas que demonstram certo individualismo são menos respondidos que os demais? 84 2 3 4 Não Sim Depende do tema Para quatro dos nove moderadores, os temas que demonstram individualismo são menos respondidos e, para dois deles, depende do tipo de assunto abordado. 12) Na sua opinião, a maioria dos laços entre os participantes do grupo são fortes ou fracos? 3 5 1 Fracos Médios Fortes Para cinco moderadores, os laços entre os participantes são considerados fracos21. 13) Avaliando o grupo e as discussões que nele ocorre você acredita que o individualismo ou a coletividade é mais predominante? 1 3 5 Coletividade 21 Individualismo Ambos Sobre laços fracos, consultar capítulo dois sobre comunidades virtuais, p. 21. 85 Na maioria dos grupos (cinco), segundo seus moderadores, a coletividade é considerada predominante. 14) Com base na resposta anterior, você acredita que este grupo virtual é mais coletivo/individual do que grupos offline? Deixe seus comentários. 1 1 3 1 2 Depende Equilibrado Independe de ser virtual ou off line Mais coletivo Mais individual Três grupos são considerados mais individuais do que os offlines e dois mais coletivos. Comentários 1 3 3 Off line exige maior participação O que importa são os interesses comuns Online presença 24 horas Três moderadores acreditam que a interação offline exige uma maior participação e três acreditam que o que importa são os interesses em comum e não a plataforma. 86 7.4.3 Conclusão do questionário Todos os grupos que fizeram parte do questionário se reúnem online para discutir temas relacionados à área de comunicação. Utilizam plataformas da internet para dividir experiências, buscar ajuda, fazer divulgações, se relacionar. As plataformas online permitem a participação de muito mais pessoas neste tipo de comunidade, devido à possibilidade de serem acessados de qualquer lugar, desde que conectados à internet. Com relação às questões respondidas, verificamos que existem grupos que já estão online há muito tempo, mais de dez anos, evoluindo e buscando sempre se renovar, servindo de incentivo para o surgimento de novos grupos. Percebemos que as plataformas de email são bem requisitadas, dos nove grupos, oito atuam nelas. Estas plataformas têm várias vantagens, como a possibilidade de receber todos os emails trocados ou um resumo geral, de acordo com a necessidade do usuário, além de estes emails aparecerem diretamente na página do grupo na internet. Apesar das vantagens das listas de email, há uma tendência de mudança destes grupos para redes sociais, como é o caso do Grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom que, após nossa pesquisa, migrou para o Facebook e o grupo Relações Públicas, que participou de nosso questionário. Este último, antigamente, funcionava por email. Um ponto que notamos tanto no grupo estudado, o de Relações Públicas Digitais da Abracom, quanto nos grupos que responderam ao questionário é que, apesar de terem em geral um número grande de participantes, a parte ativa do grupo é muito pequena. O grande conteúdo que é gerado nestes grupos parte apenas de uma pequena parcela, sempre disposta a motivar, provocar, promover debates. A grande maioria apenas observa. Ainda verificamos que, apesar de serem poucos os ativos, não são poucas as mensagens postadas. Encontros presenciais não são muito comuns neste tipo de grupo e apenas um promoveu mais do que dez. Os temas mais abordados nos grupos são as discussões propostas referentes a algum tema do momento, matérias da mídia e solicitações particulares. Existe uma semelhança com o grupo que estudamos, visto que as discussões propostas ficaram em segundo lugar quanto à categoria que mais promove o debate no grupo, apesar da pequena quantidade de tópico proposto. Também as solicitações particulares são 87 temas bastante abordados nos grupos, correspondendo a 35% dos tópicos do grupo da Abracom. Com relação à construção da inteligência coletiva, os grupos elegeram a categoria “discussões propostas”, também uma das mais respondidas no Grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom. Nos grupos avaliados, de acordo com os moderadores, poucos temas atrapalham a construção de uma inteligência coletiva, mas em apenas dois grupos nenhum tópico fica sem resposta, portanto, podemos inferir que existe certa contradição neste ponto, visto que a construção coletiva é feita pela participação e cooperação. Quatro dos nove grupos acreditam que os temas que demonstram individualismo são menos respondidos, enquanto três acreditam que não. De acordo com a análise que fizemos do grupo da Abracom, as solicitações particulares fazem parte da categoria que menos tem resposta e não gera debate e que, temas individualistas geralmente são ignorados. Os moderadores em sua maioria acreditam que os laços existentes entre os participantes dos grupos são fracos e mesmo assim, consideram a coletividade predominante no grupo, ou seja, buscam os mesmos objetivos, mesmo não havendo relacionamentos fortes. Com relação a um grupo virtual ser mais coletivo ou individual que um grupo offline, percebemos certo equilíbrio nas respostas dos moderadores e em seus comentários, alguns acreditando que o que realmente interessa não é o offline ou online e sim os interesses comuns entre os participantes. Outros afirmam que a presença face a face exige uma participação e interação maiores. Lembramos que este questionário foi enviado ao moderador de cada grupo, portanto, as respostas podem não refletir 100% do que acontece e, para isso, teríamos que avaliar os grupos como fizemos com o grupo da Abracom. Este questionário é uma forma de termos um panorama mais abrangente dos relacionamentos que ocorrem em comunidades virtuais. 88 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS A internet trouxe consigo diversas mudanças, velocidade, quebra de barreiras de tempo e espaço, instantaneidade, possibilidade de “estar próximo” de pessoas que estão em qualquer parte do mundo e a oportunidade de se “conectar”. O mundo mudou, tudo ficou muito mais rápido e o que era novo, em segundos, se torna passado. A quantidade de informações disponíveis na internet chega muitas vezes a nos fazer mal, pois não temos filtros suficientes para separarmos tanta coisa, além disso, temos a necessidade de estar em comunidade. Assim, muitas vezes, acabamos por participar de comunidades virtuais, que acabam agindo como um “filtro” e também como um “local” para estabeler laços, sejam eles fortes ou fracos. Nestas comunidades, nos reunimos por interesses comuns, geralmente encontramos muita coisa interessante para ler, os participantes sempre estão com algo atualizado para fomentar a discussão e nos sentimos um pouco menos ansiosos. Seja em grupo de discussões, em redes sociais ou pelo celular, queremos estar conectados, precisamos nos relacionar. Isso não é nenhuma novidade. Comunidade também não. A diferença é que estas comunidades estão se tornando cada vez mais onlines e, muitas vezes, se transformando em redes sociais. Podemos verificar esta migração em dois grupos que estudamos, o de Relações Públicas Digitais da Abracom, que após concluirmos esta pesquisa passou a atuar no Facebook, e um dos grupos que participou do questionário. No grupo da Abracom, os integrantes gostaram muito da mudança, e a elogiaram. Redes sociais como o Facebook permitem criação de grupos fechados ou abertos, além de possibilitar a distribuição dos comentários um abaixo do outro, facilitando a visualização e também evitando a grande quantidade de emails que os grupos podem gerar. Esta mudança poderá ser campo de análise de uma próxima pesquisa, analisando se o comportamento dos participantes muda, a partir do momento em que suas fotos e/ou intimidade ficam expostas aos outros, visto que nas redes sociais o contato é mais “próximo”. As comunidades virtuais possuem diversas vantagens: poder discutir com pessoas que sabem coisas que você não sabe; pedir uma ajuda para um trabalho uma indicação de um livro; debater; aprender. Desvantagens também existem, como 89 em tudo que nos cerca. Os laços em sua maioria são fracos, os encontros físicos quase não acontecem e você pode passar anos em uma comunidade e nunca ter visto a maioria dos integrantes. Aliás, muitos deles você pode não conhecer nem por mensagem, pois muitos não participam das trocas, apenas observam, aprendem e não compartilham. Mas isso já faz parte do ser humano. Muitos fazem parte, mas poucos fazem a diferença. A pirâmide de interação e participação do usuário-mídia, da ComScore (apud Terra 2010 p. 94) pode ser aplicada não só para a mídia, mas também no caso das comunidades virtuais aqui estudadas. Figura 4 - Pirâmide de interação e participação do usuário-mídia A pequena parte no topo da pirâmide é a que cria o conteúdo, as pessoas que colocam os posts, incitam a discussão e o debate. São os participantes que buscam coisas interessantes para dividir com o grupo, e que gastam um pouco do seu tempo, geralmente muito complicado, para compartilhar. Na segunda parte da tabela estão pessoas que colaboram, que agregam conhecimento, que participam, ajudam, debatem. Na terceira, os participantes que concordam, replicam e na última e maior parte da pirâmide, as pessoas que consomem o conteúdo. Entre a primeira e a última percebemos uma grande distância, mas que reflete o comportamento das pessoas que ocorre tanto off quanto online. Para melhor ilustrar a diferença entre quem realmente atua e quem apenas consome o conteúdo, segue abaixo, em números reais, as quantidades de membros 90 e de participantes ativos tanto do grupo que estudamos quanto de cada grupo que participou do questionário. Grupo Relações Públicas Digitais Jornalistas da Web Relações Públicas Grupo de discussão do portal Mundo das Relações Públicas Webees Coordeno a Rede Brasileira de Comunicação Pública. Horizonte RP Papos na Rede Aberje Comitê de Comunicação Digital GestaoEcaUSP2002 Membros 208 1658 1373 747 544 500 328 148 43 41 Ativos % 8 165 100 10 20 não sabe 6 50 15 10 4% 10% 7% 1% 4% não sabe 2% 34% 35% 24% Tabela 7 – Quantidade de membros e participantes ativos O ser humano é individualista e disso não temos dúvida. Mas também não gosta de ficar sozinho, basta conferir a quantidade enorme de participantes nos grupos que analisamos. Podemos ver isso também nas redes sociais, que crescem a números significativos conforme falamos neste projeto. A pergunta é: o individualismo ajuda ou atrapalha a construção da inteligência coletiva, tão aclamada por Lévy e outros autores? Pela pesquisa feita com o grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom e o questionário aplicado, percebemos que ele atrapalha. Nos momentos em que ele mais se mostra, seja em solicitações particulares, autopromoção, divulgações, etc. ele não permite a construção e o debate. Podemos ver que no grupo da Abracom, a categoria de solicitações particulares não promoveu nenhuma discussão. Além disso, o individualismo existente nos grupos corresponde à maioria dos tópicos postados. Os tópicos que buscam a discussão e o debate geralmente se referem aos assuntos de interesses comuns. Estes assuntos sim promovem e facilitam uma construção coletiva, mas não a inteligência sonhada por Lévy, em que todos sabem um pouco e todos compartilham. É uma inteligência formada por poucos, pela ponta da pirâmide22, está longe de ser completa e provavelmente nunca será. A internet é considerada por muitos como uma revolução, uma nova era, mas é composta por máquina e por pessoas. Apesar das ferramentas que surgem a cada dia, sempre mais agregadoras, fornecendo maiores possibilidades de integração, conexão, 22 interação, compartilhamento, as Pirâmide de interação e participação do usuário-mídia (apud TERRA, 200, p. 94). pessoas continuam 91 individualistas. Os interesses particulares geralmente se sobrepõem aos interesses coletivos e plataformas que proporcionam as comunidades virtuais não são tão aproveitadas como poderiam ser. Com relação aos relacionamentos no mundo virtual, muitos são conexões, como Bauman (2004, p. 12) costuma definir, que podem ser desfeitos com um clique. Daí a necessidade de ficar atento aos vícios, à necessidade incessante que muitos têm de estar sempre conectados, à falta de contato físico com as pessoas. Claro que a internet veio para facilitar e muito nossas vidas, vide o questionário respondido por nove moderadores de grupos virtuais, que poderia nem ter sido concretizado caso a rede não possibilitasse. As vantagens da internet e da comunicação mediada por computador são incontáveis, mas é preciso ter em mente que são as pessoas que estão por trás delas e tentar fazer com que essa possibilidade de união seja cada vez mais em prol do bem comum. Uma inteligência coletiva como descreve Lévy, em toda a rede e em todo o mundo globalizado, é uma utopia, mas já evoluímos muito quando atuamos em grupos, mesmo havendo pouca participação. As comunidades virtuais são uma forma de coletividade, de estar junto, mesmo que seja apenas para observar. O trabalho buscou estudar os relacionamentos e a comunicação que se estabelecem em ambientes digitais de grupo, nas chamadas comunidades virtuais, para verificar se o individualismo ajudava ou atrapalhava a construção da inteligência coletiva e tínhamos como hipótese que ele prejudicava. Nossa hipótese foi confirmada, pois verificamos que muitos tópicos postados têm como principal objetivo os interesses individuais, e o individualismo atrapalha a construção coletiva, a troca e o compartilhamento. Mas podemos inferir que ele não impede esta construção. No grupo de Relações Públicas Digitais da Abracom este tipo de tópico, apesar de maioria, é ignorado. Ou seja, o próprio grupo de uma forma geral não aceita este tipo de atitude. Notamos que este grupo tem um capital social elevado, mas apenas no pequeno subgrupo que participa. Todos podem participar, independente dos interesses individuais ou não, todos são tratados com respeito, sabem discutir e negociar suas opiniões, considerando a opinião do outro, mas poucos o fazem. 92 Se analisarmos as respostas dadas pelos respondentes do questionário, também podemos perceber que no geral, os grupos também não compactuam com estas abordagens individualistas. Não pretendemos com este estudo finalizar o tema proposto, muito pelo contrário, apenas buscamos abrir novos caminhos para a análise dos comportamentos em comunidades virtuais, principalmente no que diz respeito ao ser humano e sua relação com o outro e com a máquina. Percebemos com este projeto que, como seres humanos, somos individualistas e muitas vezes deixamos de promover uma construção maior, perdemos grandes oportunidades de crescermos juntos, mas, apesar disso, quando estamos em grupo, não aceitamos este individualismo, mesmo praticando-o. É o contraditório. Uma inteligência coletiva global está longe de ser realizada, mas quem sabe agora, com a possibilidade muito maior de formarmos comunidades, aos poucos, o coletivo ocupe um maior espaço neste mundo conectado chamado ciberespaço. 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACSELRAD, Marcio; PEREIRA, Vinícius. Entrevista com Derrick de Kerckhove. Semiosfera. Revista de Comunicação e Cultura. Abril 2010. Disponível em http://www.semiosfera.eco.ufrj.br/anteriores/semiosfera01/perfil/entrevis/txtentre.htm acesso em 22 abr. 2011. ANUÁRIO Brasileiro das Agências de Comunicação e da Comunicação Corporativa. São Paulo: Mega Brasil, 2010/2011. ARANHA, Marcos de Souza. A era do autor 2.0. In FERNANDES, Manuel (org.). Do Broadcast ao Socialcast. São Paulo: W3 Editora, 2009. Disponível em < http://www.slideshare.net/idegasperi/do-broadcast-ao-socialcast-3009196> acesso em 05 fev. 2011. ASSOCIAÇÃO Brasileira de Relações Públicas. Definição de relações públicas. 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Resposta Ignorado Autopromoção Complementado X X X X X X 1 20 2 30 18 18 89 Gerou debate X X X X X X X X Matemática 6 tópicos 89 respostas média = 15 respostas por tópico 67% dos tópicos foram complementados e geraram debate Destaques Todos os tópicos respondidos Esta categoria tem uma média de quase 15 respostas, que corresponde à maior média entre todas as categorias 4 tópicos com complementações com relação ao assunto proposto 4 tópicos geraram debate 99 Discussões Propostas 1 2 3 4 5 6 7 Tópico Informação gerada pelo consumidor em guias locais e portais de reclamação Onde estão os limites da web? Por que existimos? Post pago. Pode? Publieditorial e jabá, ou tem algo mais? ROI Vídeo corporativo no Youtube Total respostas Respondido Qt. Resposta X X X X X X X 10 2 1 16 14 5 1 49 Matemática 7 tópicos 49 respostas média = 7 respostas por tópico 29% dos tópicos buscavam autopromoção 86% dos tópicos foram complementados 57% dos tópicos geraram debate Destaques Todos os tópicos respondidos Os dois tópicos mais debatidos são relacionados a situações cotidianas no trabalho de comunicação 6 tópicos com complementações com relação ao assunto proposto 4 tópicos geraram debate Ignorado Autopromoção Complementado X X Gerou debate X X X X X X X X X X 100 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Tópico Como você acha que a Campus Party repercute o crescimento do mercado de rede... Compra coletiva Empregado pode falar mal da empresa nas redes sociais? ENC: Las redes sociales como oportunidad pedagógica y formativa Fundador da Web afirma que redes sociais são uma ameaça Homens ficam mais tempo online, diz pesquisa O fenômeno das redes socias no Brasil Off Topic, mas nem tanto Perfect PR pitches: NYT tech columnist picks his favorites Pesquisa Redes Sociais e Ti em Empresas Quanto vale o trabalho em mídias sociais STF se desculpa por piada sobre Sarney e Ronaldo no Twitter Trending Topics Total respostas Matérias compartilhadas Respondido Qt. Resposta Ignorado Autopromoção Complementado Gerou debate X X X X X X X X 0 16 31 0 2 0 0 20 2 1 4 4 0 80 X X X X X X X X X X X X X X Matemática 13 tópicos 80 respostas média = 6 respostas por tópico 38% dos tópicos foram ignorados 8% dos tópicos buscavam autopromoção 46% dos tópicos foram complementados 23% dos tópicos geraram debate Destaques 8 tópicos respondidos Os 3 tópicos mais debatidos são relacionados a situações atuais vivenciadas no dia a dia de quem trabalha com comunicação digital - Estes tópicos correspondem a 83% de todas as mensagens trocadas nesta categoria 5 tópicos ignorados sendo 1 de autopromoção 6 tópicos com complementações com relação ao assunto proposto X 101 Eventos 1 2 3 4 5 6 7 8 Tópico Respondido Comunicação e Liderança Convite Lançamento Reality Books nesta quarta Convite Lançamento Reality Books, 15/12 na livraria Cultura da Villa Lobos X CREDENCIAMENTO - IMPRENSA - Fórum de Marketing Digital Nordeste acontece em Recife Fórum Internacional de Comunicação Corporativa X Não toquem nos blogueiros Um novo evento X WSA: o maior prêmio de conteúdo digital do mundo! Total respostas Qt. Resposta Ignorado Autopromoção Complementado 0 X X 0 X X 5 0 13 0 10 0 28 Gerou debate X X X X X X X Matemática 8 tópicos 28 respostas média = 3,5 respostas por tópico 62,5% dos tópicos foram ignorados 62,5% dos tópicos se referiam a auto promoção 25% dos tópicos foram complementados 12,5% dos tópicos geraram debate Destaques 3 tópicos respondidos Os dois tópicos mais debatidos são relacionados a enventos importantes para a área de comunicação digital 5 tópicos ignorados sendo 4 de autopromoção 5 tópicos de autopromoção X X 102 Solicitações particulares 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 Tópico <jabá> Leitura de dissertação sobre profissionalização de blogs<jabá> Advogado Digital ajuda Blogs Femininos Case de contratação de recursos humanos utilizando o ambiente on-line Cerimonial para audiência pública Clipping Dia das Relações Públicas Facebook - Desenvolvimento de Aplicativos Manual de conduta para blog corporativo Marketing Mobile Pesquisa Final Pesquisa sobre RP Digital ajuda Programa mala direta Rede Social de Voz Relações com a Imprensa "2.0"? #ARPO SMW Sugestão de cases de internet + moda Uso corporativo do Plaxo Total respostas Matemática 18 tópicos 60 respostas média = 3,3 respostas por tópico 40% dos tópicos foram ignorados 17% dos tópicos se referiam a auto promoção 40% dos tópicos foram complementados “Modelo Pronto" Respondido Qt. Resposta Ignorado Autopromoção Complementado Gerou debate X X X X X X X X X X X X X X 0 6 18 1 0 2 0 3 3 0 6 0 5 8 1 0 7 0 60 X X X X X X X X X X X X X X X X X 103 Destaques 3 tópicos solicitando modelos prontos 11 tópicos respondidos O único tópico mais comentado foi a indicação de blogs femininos 7 tópicos ignorados sendo apenas 1 de autopromoção 7 tópicos com complementações com relação ao assunto proposto não houve promoção de debate 104 ANEXO A – Respostas do questionário 1) Qual é o nome do grupo que você coordena? 2) Quando o grupo foi iniciado? 3) Em qual plataforma o grupo se relaciona? Papos na Rede maio de 2010 Google Groups Webees jun/2008 Google Groups Relações Públicas em maio de 2011 Facebook Grupo de discussão do portal Mundo das Relações Públicas dezembro de 1998 Yahoogrupos GestaoEcaUSP2002 8/4/2002 Utilizamos o Yahoo! Grupos. Horizonte RP 17 de agosto de 2006 Yahoo! Groups Coordeno a Rede Brasileira de Comunicação Pública. Em fevereiro de 2002. Na plataforma YahooGrupos. Aberje Comitê de Comunicação Digital Julho de 2009 Google Groups Jornalistas da Web Fevereiro de 2000 Yahoo! Groups 105 4) Quantas pessoas fazem parte do seu grupo de discussões 5) Quantos tópicos já foram postados pelo grupo? 148 membros, e creio quem uns 50 654 544 total, ~20 efetivas mais de 30.000 1373 compõem o grupo. É dificil definir número de participantes pois o FB é mto dinâmico. Mas diria que não chegam a 100 ativos! 683 747 integrantes, com participação efetiva atual de 10 pessoas, no máximo. Não tenho controle por tópicos, somente por mensagens. Foram 6990. Temos 41 membros cadastrados, mas efetivamente "conversam" entre si cerca de 10 ou 11 pessoas, com regularidade. Já circularam cerca de 2900 mensagens no e-group. 328 fazem parte, umas 5 ou 6 participam com frequencia e mais umas 10 esporadicamente Form 3415 mensagens até o momento. O nº de tópicos (assuntos aglutinando mensagens) eu não teria como quantificar rapidamente Estão inscritas cerca de 500 pessoas, mas é difícil mensurar quantas participam efetivamente. 43 pessoas são membros do grupo e 15 participam mais ativamente 1658 membros. Cerca de 10% trocam mensagens ativamente. Muitos entram para aprender. Até o dia 17 de junho de 2011, foram postadas 12.570 mensagens sobre os mais variados tópicos relacionados à comunicação. 117 Difícil contabilizar isso. Seguramente, mais de cinco mil tópicos. 106 6) O grupo que você coordena promove ou já promoveu encontros presenciais? Se sim, quantos? 7) Dos temas abaixo, quais são mais abordados no grupo: sim sim. uns 5 Cases, Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Solicitações particulares (pedidos de ajuda) Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Matérias da mídia Nenhum ainda Cases, Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Matérias da mídia, Eventos, Solicitações particulares (pedidos de ajuda) sim, um só no Social Media Brasil Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Sim, apenas um encontro presencial, no ano de 1999 no Rio Matérias da mídia, Eventos, Solicitações particulares Grande do Sul. (pedidos de ajuda) Cases, Matérias da mídia, Eventos, Solicitações Sim, promovemos encontros, em média, 1 por ano, pra rever a particulares turma mesmo (pedidos de ajuda) Sim, 6 encontros oficiais, fora diversos informais (na verdade começou como uma forma de organizar coisas discutidas em encontros presenciais, depois se tornou comunidade virtual) Não, há muita dificuldade em função dos custos para organização. Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Solicitações particulares (pedidos de ajuda) Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Matérias da mídia, Eventos, troca de experiências, bibliografias. Sim, promovemos encontros presenciais constantemente, bimestralmente (foram uns 15 encontros) Cases, Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Matérias da mídia, Eventos, Solicitações particulares (pedidos de ajuda) Não Cases, Discussões propostas referentes a algum tema do momento, Matérias da mídia, Solicitações particulares (pedidos de ajuda) 107 8) Em quais temas abordados pelo grupo você percebe a construção de uma inteligência coletiva? a proposta do grupo é de inteligência coletiva. Discutimos semanalmente a cibercultura com algum representante de áreas diversas da comunicação digital. 9) Existe algum tipo de tema discutido no grupo que você acredita atrapalhar esta construção? Se sim, qual seria? Não Não existe a intenção de construção de nenhum saber coletivo ou coisa semelhante. Pelo contrário, a ideia é manter as opiniões Não percebo uma inteligência coletiva, mas mais um consenso plurais e divergentes e do atrito sair alguma fagulha de de opiniões e saberes conheciemento. Em muitos deles. Tivemos um falando sobre a necessidade de se escrever bem, e fomos buscar de onde vem e como lidar com a defasagem. Em outro, opiniões sobre o case do Facebook X Google (Burson-Marsteller) e até discussões sobre o conselho federal e regionais de RP, suas atribuições, funcionamento. Em fim, há sim o desenvolvimento e criação de inteligência coletiva, mesmo sem que as pessoas compreendam, entendam ou vejam isso. Somente na discussão de "temas do momento" é possível perceber algum tipo de construção coletiva de conhecimento, até porque postagens sobre livros e eventos ou sobre pedidos específicos de integrantes não suscitam continuidade de conversa. Estes temas seriam todos relativos à profissão de relações públicas, assumidamente o assuntofoco do grupo, no sentido de questões de legitimidade/reconhecimento, conquistas da área, novidades de vagas de mercado ou de concursos públicos, polêmicas relativas ao uso da terminologia RP em matérias jornalísticas ou produtos ficcionais (filmes e novelas). Notadamente durante a época do curso de pós-graduação (entre os anos de 2002/2003), havia no e-group uma série de discussões sobre os temas debatidos em aula. Hoje em dia, quanto algum colega posta algo do trabalho, meio como que um desabafo, é que as pessoas também fazem reflexões pessoais a respeito de um assunto. 10) Existe algum tipo de tema proposto que geralmente fica sem resposta? Não Vários. Algumas pessoas jogam problemas pessoais, pontuais, ou as vezes divulgam o próprio blog, que não tem muito interesse geral. Isto não prejudica, mas polui o grupo! Dificilmente. Tema, não, mas perguntas sim. Estes dias tivemos uma menina perguntando se haviam RPs de Marília no grupo... ficou sem resposta.... Não existe um tema que atrapalhe a discussão, mas sim posturas de integrantes, que expõem seus pontos-de-vista de maneira muito incisiva ou agressiva e quase fazem interromper as postagens seguintes, parecendo estar colocando um "ponto final" no debate. Várias demandas particulares de integrantes ficam sem resposta. A lista de discussão é vista como um ponto de "salvamento" para diversos trabalhos universitários, então alguns integrantes estão sempre prontos para postar suas demandas, e quase nunca participam da formulação/proposição de resposta para demandas dos outros. Fica um uso muito utilitarista e egoísta da plataforma interativa, que subverte sua própria condição de existência. Não, o grupo é tão heterogêneo, que não existe tema ruim o que atrapalhe uma discussão, apenas focos de interesse mais ou menos próximos da realidade de cada um. Só quando há divulgação de eventos genéricos, que não tem relevância pessoal entre o grupo, como uma peça de teatro ou filme no cinema que todo mundo já sabe que está rolando na cidade, por exemplo. 108 Como o grupo pretende discutir a profissão de RP, os temas que geram mais discussão são geralmente os mais polêmicos dentro desse âmbito. Ex.: se RP é ferramente de marketing ou vice-versa, o papel dos Conselhos de RP, a imagem da profissão diante da sociedade e do mercado. Nas discussões sobre o que seja uma comunicação voltada para o interesse público, em como o interesse privado pode influir no desvios de objetivos da comunicação pública, na diferenciação entre as funções que cada área da comunicação desempenha e em pautas que estejam polemizando naquele momento. O que gera certa inteligência coletiva são os tópicos que se antecipam ou se precedem às discussões de um tema debatido nos encontros presenciais. Discussões sobre temas do momento. Em geral existe muita contribuição com temas como futuro do jornalismo ou exercício da profissão. Dos temas realmente discutidos nenhum costuma atrapalhar. Porém, existem duas políticas básicas que sigo diante de práticas 9e não temas) que atrapalhavam: 1) não permitir o envio de propagandas e divulgações que não tenham a ver com os membros do grupo (que são da área de RP e comunicação em geral e estão ali para discutir isso) e 2) não permitir que membros usem o grupo exclusivamente como mala-direta para suas prórpias divulgações, mesmo que sejam divulgações da a área de comunicação. No primeiro caso, as propagandas eram um ruído incômodo e muita gente já saiu do grupo após receber coisas que não tinham a ver com o espaço. Já no segundo, a intenção é evitar que o grupo se transforme num espaço de mera publicidade, numa "newsletter", criando a impressão de que ali não circulam assuntos a serem discutidos, você se inscreveria apenas para receber propagandas - e, infelizmente, com o tempo foi possível perceber que muita gente realmente se interessava nesse tipo de uso do grupo e não participava, queria apenas receber as divulgações. Raramente os temas ficam sem resposta (exceto, claro, as divulgaçoes). Mas também poucas vezes o assunto rende mais que 3 ou 4 réplicas. Isto ocorre, na maioria das vezes, com temas que fujam daquele proposto pela rede. O pessoal reclama quando alguém propõe algo fora do objetivo lista. sindicais e de associações de classe em geral, política partidária e sobre governos e quase nunca isto acontece, mas se evitam discussões sobreda eleições Convites para eventos. Algumas pessoas indicam eventos, mas às vezes, os outros membros apenas e não comentamaos sobre ele. em discussão ajudam a construir conhecimento entre os in Não. Todos os tópicos são construtivos, até a divulgação dosolham eventos relacionados temas Não me lembro de algum. Geralmente ninguém resposta. Em particular, no caso da nossa lista, questões relacionadasfica ao sem diploma jornalístico ou a pisos salariais geram muita polêmica. Por causa disso, procuram 109 11) Os temas que demonstram certo individualismo são menos respondidos que os demais? não, o pessoal é bem colaborativo Pelo contrário. Sim, com certeza. Se é um tema específico pelo qual a pessoa está passando ou tem dificuldades, mas outros já passaram por isso, aí sim existe debate e geração de conteúdo, caso contrário... Totalmente sim, como explicado na resposta anterior. Não. Nunca ocorreu nenhum tipo de crítica aberta dentro do e-group nesse sentido. 12) Na sua opinião, a maioria dos laços entre os participantes do grupo são fortes ou fracos? São médios, diria que tendendo para o forte. Fracos. São fracos. Percebe-se muito a divisão de "grupos" dentro do grupo, ou seja, aquelas pessoas que tem ou já tiveram relacionamento presencial e que, por isso, interagem mais! Entretanto existem também algumas poucas pessoas que começam a querer criar relações por meio da rede, lhe procuram para conversar e se aproximar. São laços absolutamente fracos na maioria dos casos. Se forem fortes, é porque foram estabelecidos e incrementados através de outros canais (digitais ou não). Pode acontecer de integrantes terem sido postos em contato pela primeira vez por causa da lista, mas o adensamento de suas relações privadas acontece fora da plataforma coletiva, por telefone, troca de emails, instant-messengers ou chats. São laços fortes, de amizade mesmo. Eu diria que são fracos. Poucos se conhecem pessoalmente, e muitos nunca sequer mandaram uma Depende. Pedidos de ajuda, por exemplo, são muito comuns, mensagem. Apenas uma parcela pequena, justamente no entanto quase sempre obtêm resposta. Poucas vezes não os que estão há mais tempo, têm laços que eu chamaria há pelo menos um retorno mas, como disse na resposta anterior, exceto os que de médios, e uns poucos fortes, por se conhecerem e têm um caráter mais polêmico, a maioria também não rende discussões longas. inclusive eventualmente se encontrarem pessoalmente Sim, os temas que geram mais debates são aqueles que sejam ou possam ser de interesse da maioria. Sim. Isso varia muito. Quando alguma pessoa posta mensagem sobre, por exemplo, uma conquista pessoal, às vezes tem muito retorno, às vezes não. Na medida em que poucos se conhecem pessoalmente, os laços são mais superficiais. Um encontro presencial ajudaria a firmar laços mais fortes. Acho que os laços entre os participantes ativos do grupo são fortes. Entre os usuários ativos os laços são fortes. 110 14) Com base na resposta anterior, você acredita que este 13) Avaliando o grupo e as discussões que nele ocorre, você acredita que grupo virtual é mais coletivo/individual do que grupos off line? o individualismo ou a coletividade é mais predominante? Deixe seus comentários. Eu só participo de grupos on line e tenho boas experiências. É através desse grupo que pratico conversas diferenciadas sobre Nos que participo, vejo a coletividade bem representada. comunicação digital. mais individual. há uma menor necessidade de colocar energia nas relações digitais, tornando-as mais fluidas, mais atrtivas e menos Individualismo, de certo. perenes. A coletividade é mais predominante. AS pessoas que tendem ao individualismo poucas vezes são respondidas e quase nunca voltam a publicar um tema individual. Comparar com o "offline" é mto difícil, principalmente por não termos um encontro off ainda. Acredito que haja um equilíbrio pelo simples fato de que pessoas gostam de se relacionar com pessoas que tem histórias/gostos/objetivos/valores parecidos com os nossos. Assim os assuntos viram coletivos e não individuais. Se não fosse assim, pq nos reuniríamos em grupos? O que precisamos saber ~e qual assunto levar para cada grupo :-) Nas discussões especificamente, claro que a predominância é do espírito coletivo e de compartilhamento. Ou seja, quando o tema instiga os integrantes, há participação e troca. Todavia, a maior parte dos conteúdos circulados são de perguntas individuais de integrantes para seus trabalhos acadêmicos ou eventuais necessidades no mercado de trabalho, que geram poucas ou nenhuma resposta, ou então simples postagens informativas unidirecionais - eventos, lançamento de livros, links de conteúdos digitais da área, que acabam não gerando nenhuma réplica e tréplica. O coletivo predomina, embora o fluxo de mensagens tema diminuído bastante. Penso que se este mesmo grupo de pessoas tivesse desenvolvendo encontros presenciais (offline, portanto), as respostas das demandas dos colegas seriam em maior número. Face-a-face, há um esforço maior de participar, de prestar um retorno à questão do colega, mas na virtualidade a participação só acontece em assunto de relevância para as duas partes - quem pergunta e quem responde. Este grupo virtual, portanto, sem dúvida nenhuma é mais individual, infelizmente. Depende. Teria que analisar um grupo muito específico offline, de Pelo número de participantes total e dos efetivamente ativos, eu diria que ele ainda é mais individual do que um grupo offline. Como Pelo tipo de discussão, a coletividade é mais comum se for se são raras as manifestações de outras pessoas, não é possível saber considerar os temas que renderam mais mensagens. Percebe-se a intenção de se realmente há um "consumo" e contribuição daquele conteúdo uma tentativa de debate público para fomentar mais debate, mesmo que os para os demais membros, ao passo que, se os mesmos assuntos argumentos e informações sejam mais centrados na experiência pessoal. forem discutidos num grupo offline, provavelmente haveria uma Porém, se for se considerar não a quantidade de mensagens, e sim a participação maior, mesmo que em "grupos interno" (grupos dentro quantidade de novos assuntos abertos, eu diria que o individualismo do grupo) e seria mais fácil adaptar o tom, a frequencia e o tipo de predomina, pois o mais comum são pedidos de ajuda para coisas específicas e informação baseando-se nas reações possíveis de observar sem a as divulgações (muitas vezes de projetos cujo divulgador está envolvido) necessidade de uma solicitação direta de feedback. Não creio que a questão coletivo/individual esteja tão relacionada ao fato do grupo ser virtual ou off-line. Acredito que isso esteja mais diretamente relacionado ao fato de o grupo ter ou não objetivos e temas comuns. Penso que a grande vantagem dos grupos virtuais é que facilita muito a interação entre pessoas que estão fisicamente distantes e que não teriam oportunidade de debater temas de interesse comum de outra forma.Com o advento das redes sociais e das comunidades virtuais, talvez as listas de discussão virtual estejam perdendo muito da importância que tinham até há alguns anos. Mas continua sendo um meio muito válido de propiciar um debate entre pessoas que tenham um interesse comum e estejam em locais diferentes. É uma forma de descobrirmos, em qualquer lugar do mundo, pessoas que enfrentam as mesmas dificuldades, Sem dúvida, a coletividade predomina. O que une as pessoas, no grupo, é o tem as mesmas indagações e interesses e que nunca teriam interesse comum pelo tema abordado. O individualismo não encontra muito possibilidade de debater entre si se não houvessem as redes espaço. virtuais. Acho que o grupo online é mais coletivo que o grupo off line, por estar disponível 24 horas por dia, todo o dia. Dessa maneira, os participantes, dentro das suas individualidades - dúvidas, críticas, dicas - podem postar e esperar uma resposta sobre determinado tema a qualquer momento. Eles sabem onde buscar uma informação ou onde podem obter ajuda sobre determinada questão. Acho que as pessoas entram em grupos online em busca da coletividade, para Assim eles fazem levantamentos de novos temas a serem compartilhar conhecimentos e construir inteligência. Mas por outro lado, elas discutidos nas reuniões presenciais e continuam a debatê-los após também entram em grupos para exercer a sua individualidade, transmitir os os encontros. O grupo online ajuda a manter os laços entre os seus pontos de vista. Não sei dizer qual predomina, porque acho que em integrantes, gerando a coletividade que eles buscaram ao entrar no qualquer grupo, o individualismo acaba gerando a coletividade e vice-versa. grupo. Existe uma coletividade muito forte no grupo. Não sei dizer se é mais do que grupos offline. Mas posso dizer que até por causa da idade do grupo (11 anos), muitas pessoas se conheceram primeiro nele e depois se conheceram no plano físico. Os membros vivem se A coletividade. Se a pessoa for muito individualista no grupo em questão, esbarrando nos eventos de Internet e às vezes relembram acaba naturalmente não sendo bem recebida. discussões que foram iniciadas na lista.