Crianças Que Atravessam Fronteiras na África Austral
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Crianças Que Atravessam Fronteiras na África Austral
Seminário Regional sobre as Crianças Que Atravessam Fronteiras na África Austral Joanesburgo, 2009 Convocado por Save the Children UK, em colaboração com a Universidade de Witwatersrand, Programa de Estudos sobre Migração Forçada 25 a 27 de Maio de 2009, em Joanesburgo, África do Sul Financiamento de Irish Aid com apoio adicional de USAID UK Lista de Acrónimos e Abreviaturas AU CSO DRC FIFA FMSP INGO ISS NGO OVC OVCY SABC SADC SAFM UK UN USAID União Africana Organização da Sociedade Civil República Democrática do Congo Fédération Internationale de Football Association Programa de Estudos sobre Migração Forçada Organização não governamental internacional Segurança Social Internacional Organização não governamental Crianças órfãs e vulneráveis Criança e jovem órfão e vulnerável Corporação Emissora de Rádio e Televisão da África do Sul Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral Rádio sul-africana FM Reino Unido Nações Unidas Agência Nor te-Americana para o Desenvolvimento Internacional Agradecimentos Save the Children UK e o programa de Estudos sobre Migração Forçada desejam expressar a sua gratidão às seguintes organizações, agências e indivíduos: Às crianças que par ticiparam no workshop e que tão aber ta e generosamente par tilharam as suas histórias e pensamentos com os par ticipantes e membros da comunicação social. Agradecemos ainda a Johanna Kistner, do Projecto Suitcase, e a Glynis Clacher ty, assim como aos facilitadores, tendo todos eles viabilizado a par ticipação das crianças num workshop marcante e esclarecedor. A Kaajal Ramjathan-Keogh, de Advogados para os Direitos Humanos, que presidiu ao seminário. Aos facilitadores e relatores dos grupos de trabalho, em especial a Chris Bjornestad, que foi responsável pela coordenação dos grupos de trabalho e facilitadores. A Ingrid Palmar y e Stanford Mahati, do Programa de Estudos sobre Migração Forçada, pela sua colaboração, contributo e apoio em muitas áreas. Ao comité consultivo do seminário: Kirk Felsman (USAID), Anne Anamela (Irish Aid), Ingrid Palmar y (FMSP) e Yukiko Kumashiro (IOM) pelo seu apoio técnico. A Irish Aid e Anne Anamela (Conselheira Regional para HIV e SIDA) pelo apoio financeiro e técnico. A USAID e Kirk Felsman (Conselheiro Técnico Superior da OVC, em Pretória) pelo apoio financeiro e apoio técnico adicionais. Revisão de Lucy Hillier, Save the Children UK Produção de Rodney Knotts, Save the Children UK Publicado por Save the Children UK www.savethechildren.org.uk © Save the Children 2009 Design e arranjo gráfico de PR/NS www.prinsdesign.co.za Conteúdos Introdução 4 Pontos Altos Do Workshop Das Crianças 5 - O Workshop Das Crianças - Declaração Das Crianças Em 25 De Maio De 2009 Estabeleber Novo Quadro De Referência Para As Crianças Que Se Deslocam 6 Processo Do Seminário 6 Observações Sobre Áreas De Preocupação E Áreas Em Foco, Resultantes Das Sessões Temáticas Dos Grupos De Trabalho 8 - Acesso Aos Serviços: Incluindo Saúde, Educação, Apoio Psicossocial, Serviços Jurídicos, Serviços Sociais E Assistência Advocacia: Incluindo A Sensibilização Da Comunidade, Políticas E Legislação, Obtenção De Informação 11 Prevenção De Formas De Trabalho Infantil E Explorador 14 Protecção De Crianças Que Se Deslocam, Incluindo Aspectos De Documentação, Registo De Nascimento, Abuso, Exclusão Social, Xenofobia 18 Conclusão E O Rumo A Seguir 19 Anexo 1 – Lista De Participantes 20 Anexo 2 – Relatório Sobre A Participação Das Crianças No Seminário Regional Sobre As Crianças Que Atravessam Fronteiras Na África Austral, Joanesburgo, De 25 A 27 De Maio De 2009 21 Anexo 3 – Seminário Regional Sobre Crianças Que Atravessam Fronteiras Na África Austral, Processo De Participação Da Criança. Apresentação Geral Do Workshop De Final De Semana “Conversas com crianças migrantes” 23 Anexo 4 – Informação Sobre As Organizações Anfitriãs 24 Informação Sobre Save The Children 24 Informação Sobre O Programa De Estudos Sobre Migração Forçada 24 Introdução De 25 a 27 de Maio de 2009, Save the Children UK, em colaboração com o Programa de Estudos sobre Migração Forçada (FMSP), da Universidade de Witwatersrand, promoveu um Seminário Regional da África Austral sobre Crianças Que Atravessam Fronteiras. O seminário foi motivado pela necessidade urgente de se reunirem intervenientes chave na região, para que estes pudessem partilhar e trocar conhecimentos, experiências e aprendizagens sobre as crianças que se deslocam. O seminário foi igualmente concebido para dar resposta à necessidade de melhor se estabelecerem mecanismos de coordenação extensivos a organizações e a agências, as quais muitas vezes se vêem confrontadas com informação inadequada sobre as crianças e se ressentem pela falta de compreensão em torno de questões relativas a crianças que migram nesta região. Estiveram presentes sessenta e oito pessoas, representando depar tamentos e agências governamentais, doadores, as INGO, Agências das Nações Unidas, Organizações não governamentais locais, redes nacionais e regionais, membros da comunicação social, académicos e crianças. Os par ticipantes eram provenientes de diversos países da região da SADC, incluindo Angola, Botsuana, Lesoto, Malawi, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Suazilândia, Zâmbia e Zimbabué. Também marcaram presença intervenientes e apresentadores de outras regiões, nomeadamente da África Ocidental e do Sudeste da Ásia. O Embaixador da Irlanda na África do Sul fez o discurso de aber tura, salientando o compromisso do governo irlandês em prestar apoio às crianças vulneráveis, tendo realçado as necessidades das crianças que estão em desvantagem por questões relacionadas com o género, as capacidades e a pobreza; e frisou a impor tância de se for talecer a família. Através da parceria com a Save the Children, a Irish Aid tem podido encorajar a par ticipação das crianças nos processos de tomada de decisões, assim como incentivado a revisão das políticas e da legislação que dizem respeito aos órfãos e às crianças vulneráveis. Para além do seminário, teve lugar um workshop de crianças migrantes, cuja duração foi de dois dias, no fim-de-semana que precedeu o evento. Esse workshop visou capacitar um grupo constituído por doze rapazes e raparigas, no sentido de estes poderem lidar com as mesmas questões temáticas, utilizando a sua ar te como meio de expressão. Desse modo, as crianças puderam contar as suas histórias de migração e também elaborar uma for te declaração, a qual viria a ser incorporada nas recomendações do seminário. No Anexo 3, encontrase descrito o processo que foi utilizado e que permitiu assegurar a valiosa par ticipação das crianças no seminário. O seminário culminou numa série de recomendações viradas para a acção, incidindo em quatro áreas que se cruzam, as quais são discutidas em pormenor mais adiante, neste relatório: - Acesso a Serviços - Advocacia e Informação - Prevenção do Trabalho Infantil - Protecção As recomendações gerais preliminares, assim como a declaração das crianças, foram distribuídas imediatamente após a conclusão do seminário. Este relatório tem por objectivo oferecer uma perspectiva mais dilatada da discussão e dos debates enriquecedores que se realizaram durante os três dias em que decorreu o seminário. Por forma a facilitar a disseminação das recomendações do seminário, foi instituído um comité director nas fases de planificação. As recomendações não só circularam na região, como devem ser ainda encaminhadas e incorporadas numa conferência global sobre as crianças que se deslocam, e cuja realização está prevista para Março de 2010, na cidade espanhola de Barcelona. Dia Um: A quem nos referimos, exactamente, quando falamos de crianças que atravessam fronteiras; e quais são as suas questões chave na região? Os grupos de trabalho produziram imensas observações sobre as crianças que se deslocam, ofereceram opiniões e, em cer tos casos, manifestaram discordâncias. Muito embora tenhamos envidado todos os esforços no sentido de apreender a totalidade das discussões, a par tir das sessões plenárias e dos relatórios sumários submetidos pelos diferentes grupos de trabalho, a Save the Children UK e o FMSP reconhecem que este relatório não é exaustivo, no que respeita todas as discussões e debates decorridos. Apesar disso, fez-se o possível por se incorporar o extenso leque de contributos dados pelos par ticipantes. Dia Dois: Que trabalho tem sido feito em torno das questões associadas às crianças migrantes na região; e que lacunas existem? Para os programas da Save the Children UK, relativos à região da África Austral, este relatório constituirá a base para as actividades futuras em torno das crianças Enquanto as sessões da manhã se centraram na apresentação de lições e experiências resultantes do trabalho sobre questões associadas às crianças que se deslocam, a maior parte do seminário foi dedicada a um trabalho intenso, no enquadramento de grupos de trabalho temático, sendo que o tema em discussão variou diariamente: 4 Dia Três: Quais são os obstáculos que se impõem quando se pretende oferecer apoio e assistência eficazes às crianças migrantes; e quais são as nossas recomendações chave? Os Pontos Altos do Workshop das Crianças que se deslocam. O relatório realça prioridades relacionadas com a prestação de serviços, advocacia, recolha de informação e a par ticipação das crianças. Do mesmo modo, encorajamos os intervenientes e os detentores de interesses a traduzirem estas recomendações em acções concretas no vosso trabalho de advocacia e nos vossos programas; e a distribuírem este relatório amplamente, junto de colegas que estejam associados a outras organizações. As opiniões que foram expressas pelos par ticipantes, no decurso do seminário, não reflectem, necessariamente, os posicionamentos oficiais e os pontos de vista da Save the Children UK, do Programa de Estudos sobre Migração Forçada, de Irish Aid ou da USAID. O Workshop das Crianças: Doze crianças que trabalham actualmente com os Serviços Psicológicos da Comunidade de Sophiatown (Sophiatown Community Psychological Services), em Joanesburgo, na África do Sul, par ticiparam num workshop de dois dias, realizado antes de o seminário ter tido início. Esses jovens são oriundos do Burundi, da República Democrática do Congo, de Moçambique e do Zimbabué e todos viveram diferentes experiências de migração. Uma criança migrante par ticipando no workshop determinante nas discussões e nas decisões. Cada uma das crianças criou uma ‘caixa de conversação’ que funcionou como um instrumento de apoio, enquanto relatavam as suas histórias sobre migração infantil a membros da comunicação social e a vários delegados presentes no seminário. O workshop culminou com uma declaração redigida pelas crianças e lida a todos os delegados presentes no final da exposição interactiva da sua ar te, realizada no Dia Um. As recomendações das crianças foram também incluídas nas recomendações do seminário final. Manifestou-se vivo interesse pelo trabalho das crianças e por aquilo que tinham para transmitir, não apenas por par te dos delegados, mas também dos órgãos de comunicação social. Foram feitas entrevistas às crianças e organizadores do seminário, emitidas pela Rádio e Televisão nacional sul-africana (SABC, SAFM, East Coast Radio), no continente (SABC Africa) e por alguns serviços de rádio estrangeiros (Rádio Suécia), e publicaram-se ar tigos em jornais sul-africanos (The Star). O interesse demonstrado pelo workshop das crianças, tanto por delegados como pela comunicação social, e a for te declaração apresentada pelas crianças, reafirmaram não só a necessidade de as crianças serem incluídas em discussões que lhes dizem respeito, mas também evidenciaram o potencial das crianças habitualmente marginalizadas para exercer uma influência mais Por sua vez, as crianças gostaram de ter par ticipado no processo e estavam dispostas a dar mais de si. O resultado directo reflectiu-se no desejo de Save the Children UK apoiar agora as crianças que par ticiparam no workshop, para que seja constituído um grupo de advocacia de crianças, o qual promoverá mudanças, a médio e a longo prazo, no sentido de se melhorar a situação das crianças que se deslocam. Para uma descrição minuciosa do workshop das crianças, por favor consulte o Anexo 3. Declaração das Crianças em 25 de Maio de 2009: Há organizações e algumas pessoas que nos ajudam. Também fazemos muitas coisas para nos ajudarmos a nós próprios. Mas há ainda muito mais que é importante e que é preciso fazer. Sair de casa: É a situação em casa que nos obriga a partir. Alguns de nós abandonamos as nossas casas por causa da guerra e alguns de nós escolhemos partir à procura de uma vida melhor. Alimentação e Abrigo: A alimentação e um lugar seguro onde viver são os maiores problemas para as crianças migrantes. 5 Estabelecer um novo quadro de referência para as crianças migrantes: Nós deslocamo-nos atravessando fronteiras e também temos de andar de casa em casa no próprio país para onde migramos. Estamos cansados de andar de lugar em lugar. Muitos de nós não temos comida suficiente todos os dias. Há outros ar tigos de que necessitamos como os ar tigos de higiene e os medicamentos para as ocasiões em que estamos doentes. A maior par te das crianças não tem dinheiro para pagar a renda, enquanto outras se vêem forçadas a dormir em lugares de risco. Os abrigos, ou lugares de acolhimento, ajudam-nos, mas torna-se difícil viver num lugar que não é verdadeiramente um lar. Uma forma de se ajudar as crianças neste campo seria arranjarem-nos emprego, no caso das crianças mais velhas, ou conseguirem dar emprego aos nossos pais. Os nossos pais também necessitam de lugares que ofereçam segurança e onde eles possam conduzir os seus negócios. É preciso que nos protejam de empregadores que nos pagam abaixo do normal e que nos obrigam a executar tarefas de risco. mos em segurança. Deveria ser mais fácil obter papéis de asilo e renová-los. Não deveríamos ter de dormir na rua, às por tas do Ministério do Interior, ou sermos obrigados a pagar subornos aos funcionários. Sabemos que existe uma lei que impede a polícia de depor tar crianças e essa lei deve ser respeitada. Adquirir uma cer tidão de nascimento e submeter um pedido para obter passapor te deveriam ser processos mais fáceis para as crianças, para que possamos usar pontos de entrada legais quando vamos para outros países. Assim sendo, estaremos mais seguros. Estar em segurança: Queremos sentir-nos em segurança, onde quer que seja, sem que as pessoas da terra nos magoem ou nos insultem. As pessoas que vivem nos países para onde viemos têm de ser ajudadas a compreender a razão pela qual estamos aqui, e a aceitar o facto de que somos todos iguais. Essa medida vai ajudar a evitar que os grandes ataques de xenofobia aconteçam de novo. Se as pessoas abusam de nós e nos atacam, a polícia deve dar-nos protecção, e a própria polícia também deve deixar de abusar de nós. Ajudarem-nos a enfrentar a situação: Muitos de nós temos memórias de coisas terríveis e actualmente temos vidas muito difíceis. Nós precisamos que as pessoas escutem as nossas histórias e compreendam os nossos sentimentos, para nos ajudarem a criar um sentido de valorização de nós próprios e, assim, podermos ter esperança nas nossas vidas. Família: Fazer parte de uma família é importante para nós. Queremos receber ajuda para podermos localizar os membros da nossa família, que se perderam, ou manter o contacto com a família que está longe. Se a nossa família já não existir, então queremos ser convidados a fazer par te de outras famílias. Escola: Aqueles de nós que queremos ter educação devemos estar autorizados a ir à escola. Deveria ser fácil para nós irmos para as escolas locais, mesmo chegando ao país a meio do ano lectivo, e mesmo que não tenhamos dinheiro para pagar as propinas. Talvez precisemos de ajuda com os uniformes da escola e o material escolar. Os professores e os alunos das escolas locais devem receber apoio no sentido de não nos insultarem e de nos tratarem com respeito. Saúde: Também necessitamos de cuidados de saúde. O pessoal das clínicas e dos hospitais deve tratar de nós e não nos atirar insultos só porque somos estrangeiros. Muitos de nós precisamos de obter medicamentos quando estamos doentes. Identidade: Precisamos de documentos para provar que quando migramos, como crianças, não estamos a agir contra a lei. Necessitamos de documentos para que seja possível fazer exames, ou arranjar emprego. Queremos documentos de carácter permanente para nos sentir6 Pessoas que deviam olhar por nós: Por vezes, as pessoas que deviam olhar por nós são as mesmas pessoas que abusam de nós. Os oficiais, incluindo a polícia, o pessoal do Ministério do Interior, os oficiais de fronteira, os funcionários das igrejas, os assistentes sociais e o pessoal dos lugares de acolhimento devem oferecer-nos protecção e não abusar de nós. Estabelecer um novo quadro de referência para as crianças migrantes: Um ponto consensual impor tante, resultante do seminário, prende-se com a necessidade de se estabelecer um quadro de referência mais alargado que possa descrever, com maior amplitude, as crianças que migram. Com vista a reconhecer as experiências complexas e multifacetadas das crianças que migram, e no sentido de se assegurar que as crianças que migram – mas que não se enquadram facilmente nas categorias existentes para crianças migrantes – não são excluídas, sugere-se que seja adoptado o seguinte quadro de referência: Reconhecemos que a migração nem sempre é um fenómeno negativo. A nossa preocupação incide sobre as crianças que são susceptíveis de se tornarem vulneráveis pela migração. Incluem-se neste grupo as crianças que se deslocaram, quer acompanhadas, quer não acompanhadas; que possuam documentação, ou não; que migram voluntária ou involuntariamente; e que: - migram dentro das fronteiras de um mesmo país - atravessam fronteiras internacionais - vivem e trabalham na rua - buscam asilo - atravessam fronteiras, acompanhadas por responsáveis - migrantes pobres e/ou sem documentação - vivem com provedores transitórios de cuidados, ou que são trabalhadores sazonais Processo do Seminário - são abandonadas quando os provedores de cuidados migram - são crianças sem pátria - tenham sido vítimas de tráfico, por qualquer razão. Também reconhecemos que estas categorias apresentam uma natureza dinâmica e fluida. Elas não se excluem mutuamente, e uma criança que se desloque pode enquadrar-se numa destas categorias, ou em várias delas, ou a sua situação pode evoluir de uma categoria para outra. Recomenda-se que seja dada preferência à terminologia ‘crianças que se deslocam’, quando pretendemos descrever crianças que migram, muitas vezes de modos complexos e variados. os cuidados e os serviços que contemplem as crianças que se deslocam. Embora este relatório se proponha oferecer um relato mais aprofundado destas áreas de preocupação actual, já nos dias imediatamente após a conclusão do seminário foram reunidas recomendações preliminares e mais generalizadas, que foram disponibilizadas aos delegados e ainda em reuniões paralelas relevantes. Processo do Seminário É de notar que as recomendações preliminares e este relatório foram remetidos para os Serviços Sociais Internacionais (ISS), que promoveram um encontro global ISS durante a semana após a realização do nosso seminário, tendo eles concordado em incorporar as recomendações do nosso seminário no seu subsequente relatório, sempre que possível. Durante os três dias em que o seminário decorreu, foi solicitado aos participantes que trabalhassem todos os dias em grupos de discussão temática. Em cada dia, o foco recaiu num tema geral, ou num conjunto de questões. Recomendações do seminário regional sobre crianças que atravessam fronteiras na África Austral Dia Um: A quem nos referimos, exactamente, quando falamos de crianças que atravessam fronteiras; e quais são as suas questões chave na região? Dia Dois: Que trabalho tem sido feito em torno das questões associadas às crianças migrantes na região; e que lacunas existem? Dia Três: Quais são os obstáculos que se impõem quando se pretende oferecer apoio e assistência eficazes às crianças migrantes; e quais são as nossas recomendações chave? Por sua vez, constituíram-se diariamente quatro grupos de trabalho, cujo propósito foi discutir o tema do dia, em relação a uma área específica de intervenção. Foram definidas as seguintes áreas de intervenção: - Acesso a Serviços, incluindo: saúde, educação, apoio psicossocial, serviços jurídicos e assistência - Advocacia e Informação, incluindo: sensibilização da comunidade, políticas e legislação, obtenção de informação - Prevenção do trabalho infantil - Protecção, incluindo: documentação/ abuso de registo de nascimento, exclusão social, xenofobia As discussões foram registadas e solicitou-se a apresentação diária das questões chave por par te dos diferentes grupos. Desse modo, o seminário esteve capaz de apreender as impor tantes discussões e debates sobre as várias áreas de preocupação, e de registar as recomendações que os intervenientes na região devem considerar, por forma a melhorarem os aspectos relacionados com a protecção, Em seguida, apresentam-se algumas recomendações preliminares chave. Embora endossadas pelo seminário, de um modo geral, por favor tenha em consideração o facto de elas não reflectirem necessariamente compromissos por par te das agências individuais, governos, doadores e outros par ticipantes. As crianças que se deslocam necessitam de fazer parte das agendas nacionais, regionais e internacionais: De uma forma geral, as crianças que se deslocam necessitam de estar incluídas nas agendas internacionais e regionais e noutras agendas relativas ao desenvolvimento, para que se possa garantir que a migração se torna mais segura para as crianças na região da África Austral, durante todas as fases do processo (origem-trânsito-destino). É necessário desenvolver abordagens regionais: Deve ser desenvolvida, urgentemente, uma abordagem regional relativamente às crianças que se deslocam, a qual deve servir-se dos actuais organismos regionais, tais como a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a União Africana (UA), assim como outros detentores de interesses e intervenientes a nível regional, incluindo os provedores de serviços da sociedade civil. O grau de vulnerabilidade das crianças deve ser reduzido na região: Deve ser feita uma conjugação de esforços, por par te de todos os intervenientes, com o objectivo de se reduzir o grau de vulnerabilidade das crianças que se deslocam, ou que são deslocadas dos seus locais de origem. Essa medida inclui considerar apoiar os programas de protecção social, a nível da comunidade, com o 7 Processo do Seminário objectivo de se reduzir a vulnerabilidade da criança, da família e da comunidade, e de minimizar a necessidade de se migrar. As intervenções paralelas a favor das crianças que se deslocam devem ser evitadas: Os governos na região necessitam de desenvolver programas socioeconómicos que lidem com a questão das crianças que se deslocam. Contudo, os programas paralelos que sejam direccionados apenas para as crianças que se deslocam devem ser desencorajados. É mais eficaz enfrentar as questões relacionadas com as crianças que se deslocam a par tir de quadros de referência já existentes e de quadros novos sobre crianças, imigração e outros aspectos relevantes. A participação das crianças é essencial: As próprias crianças necessitam de se envolver mais activamente em todos os estágios de planeamento e de implementação. É necessário edificar capacidades humanas e operacionais: Os governos e os doadores precisam igualmente de se cer tificar de que são efectuados investimentos apropriados na área da capacidade humana e operacional, através da inclusão efectiva da questão da migração de crianças no financiamento e nos recursos humanos. O governo local tem de estar mais activamente envolvido: É preciso que o governo local seja encarado mais activamente como alvo e seja usado como ponto de entrada no planeamento e programação eficazes no que toca as crianças que se deslocam. São as comunidades locais que dão guarida a estas crianças e, por conseguinte, os governos a nível distrital devem ser incluídos em discussões sobre aquilo que é necessário realizar para melhor se apoiar e proteger estas crianças. É ainda necessário desenvolver a legislação: Há ainda que criar legislação apropriada em muitos países da região, a qual possa ajudar a garantir assistência, cuidados e a protecção das crianças que se deslocam. Nos casos em que já exista alguma legislação relevante, a mesma deve ser simplificada e harmonizada no âmbito de outros quadros jurídicos e políticos, tanto a nível nacional, como em toda a região. É imperativo que os sistemas de monitorização e de avaliação sejam aperfeiçoados: Há necessidade de se melhorar, assim como de harmonizar, os sistemas de monitorização e de avaliação que possam ser usados para se proceder ao rastreio e à medição de mudanças relativas às crianças que se deslocam. Esta medida aplica-se aos esforços tanto a nível de país como a nível regional. Documentação de identidade, incluindo certidões de nascimento, documentos de viagem e de outro tipo que sejam necessários a todas as crianças: Muitas vezes, as crianças que se deslocam não possuem um registo de nascimento e documentação à qual têm direito, em conformidade com a lei internacional. Deve ser desenvolvido e implementado um sistema regional harmonizado, focado em lidar com estas necessidades, assim como devem ser melhorados os esforços por país que assegurem a existência do registo de nascimento e da documentação para todos. É necessário partilhar a informação de modo mais eficaz: É preciso que seja melhorada a par tilha de informação que diz respeito às crianças que se deslocam num mesmo país, de país para país e a nível regional. Aqui se incluem as redes melhoradas entre os países e os intervenientes, os sistemas de referência aperfeiçoados e a par tilha e utilização eficazes das bases de dados. As linhas orçamentais necessitam de incluir as crianças que se deslocam: É necessário que os doadores e os governos se assegurem de que as linhas orçamentais para as crianças que se deslocam são incorporadas nos recursos existentes e mais amplos para a protecção da criança. As questões em torno das crianças que se deslocam devem ser tratadas por uma perspectiva holística: Os desafios com que se deparam as crianças que se deslocam necessitam de ser enfrentados de um modo holístico, e não de forma isolada, fazendo-se ligações e incorporando outros sectores, ministérios, países, quadros de referência e planos de acção. 8 É necessário que exista melhor colaboração entre os diferentes sectores: Deve haver uma colaboração mais estreita entre sectores, especialmente entre as ONG e os governos, no sentido de melhor se resolverem as questões relacionadas com o apoio às crianças que migram e com a sua protecção. Planos que devem estar operacionais por ocasião da Copa Mundial de Futebol da FIFA, em 2010: Há necessidade urgente de se criarem quadros destinados à protecção eficaz das crianças que se deslocam, e que tal aconteça a tempo da Copa Mundial de Futebol da FIFA, que se realizará em 2010, na África do Sul. Antecipa-se um incremento no número de crianças que se deslocam, tanto na África do Sul como nos países vizinhos, prevendo-se que, nessa ocasião, esses países venham a ser destino de eleição de um maior número de turistas, o que leva a estimar-se um aumento nos níveis de exploração, de abuso e de tráfico de crianças. É necessário haver investigação adicional: Torna-se necessário realizar-se investigação adicional nos países e áreas da África Austral onde existe Observações sobre áreas de preocupação e áreas em foco, resultantes das sessões temáticas dos grupos de trabalho muito pouca informação a respeito das crianças que se deslocam. Ainda da maior urgência, salientase a necessidade de se conduzir investigação que diga especificamente respeito às vulnerabilidades das raparigas que se deslocam e à exploração laboral das crianças. A xenofobia está a colocar os direitos das crianças em risco: É preciso fazer frente à xenofobia e às atitudes negativas que se manifestam em relação às crianças que se deslocam, pois essas atitudes afectam negativamente os direitos das crianças de acesso a serviços, a cuidados e a apoio. É necessário desenvolver informação tendo em mente as comunidades locais e as crianças: É necessário que os materiais e os instrumentos de sensibilização e de consciencialização pública sejam traduzidos para as línguas locais e que também se apresentem numa linguagem apelativa às crianças. Há igualmente necessidade de se introduzir essa informação através dos canais comunitários apropriados, tais como líderes tradicionais, governos distritais e conselhos das escolas. Observações sobre áreas de preocupação e áreas em foco, resultantes das sessões temáticas dos grupos de trabalho Seguidamente, apresenta-se um sumário das principais áreas de discussão e das recomendações específicas que resultaram de cada um dos grupos de trabalho. Acesso a serviços: Incluindo saúde, educação, apoio psicossocial, serviços jurídicos, serviços sociais e assistência De uma forma geral, ficou estabelecido que, em vários países da África Austral, existem serviços que estão disponíveis para as crianças que se deslocam, serviços esses que são apoiados pelos governos e por organizações da sociedade civil e nos quais se incluem: provisão de alimentos, abrigo e agasalhos; reunificação e acompanhamento pós-reunificação; apoio psicossocial; apoio em meios de subsistência; apoio por perda ou falecimento; assistência médica; actividades lúdicas e recreativas; serviços jurídicos; apoio para viagens em segurança; apoio relativo à documentação; e advocacia. Todavia, também se registou que os serviços destinados a apoiar as crianças migrantes na África Austral estão fragmentados e são inconsistentes, estando ainda dificilmente acessíveis às crianças que se deslocam. Durante o seminário, foram debatidas várias formas de se poder melhorar a coordenação, como o desenvolvimento de uma base de dados respeitante aos provedores de serviços. Sobre os direitos jurídicos: Embora se reconheça que em cer tos países, como a África do Sul, existem quadros jurídicos e quadros de políticas operacionais, que foram concebidos para proteger todas as crianças que vivem em território sulafricano, verifica-se que há uma lacuna entre legislação, políticas e prática. Num exemplo específico que foi apresentado, repor tou-se que em Musina – cidade que faz fronteira com o Zimbabué – sempre que uma criança indocumentada e migrante do Zimbabué procura os cuidados de saúde, alegadamente as enfermeiras informam a polícia. Essa medida resulta frequentemente na detenção ilegal da criança e na sua também ilegal repatriação para o Zimbabué. Relativamente a este aspecto, observou-se ainda que os par ticipantes concordam que as comunidades locais e as estruturas tradicionais que contactam com as crianças migrantes devem estar envolvidas no processo de ofer ta de assistência, devendo os grupos comunitários beneficiar de formação adequada em áreas como a protecção de crianças. Exemplos deste tipo de violação de direitos fizeram realçar a necessidade de se garantir que os esforços de advocacia, através da região, não se concentrem somente nas questões legislativas. Em vez disso, há necessidade de, simultaneamente, se fazerem esforços no sentido de assegurar que a legislação pode, de facto, passar à prática no terreno, e de que existem protecção e provisão de serviços para as crianças que se deslocam. Esse objectivo poderia ser cumprido, em par te, através da identificação e do reconhecimento de estruturas, por exemplo os grupos da comunidade local que mais provavelmente teriam de apoiar e ajudar as crianças que se deslocam, providenciando, nesses casos, melhor formação e apoio. Sobre a educação: O grupo de trabalho determinou que a ausência de educação gratuita para as crianças, em cer tos países da África Austral, leva as crianças a abandonarem a escola e a migrarem, em busca de trabalho que lhes permita ajudar as suas famílias. Por outras palavras, a falta de provisão de serviços – neste caso, a educação – no país de origem, pode transformar-se em factor de “empurrão” que encoraja as crianças a migrarem além fronteiras. Este aspecto foi observado, por exemplo, na investigação efectuada pelo Programa de Estudos sobre a Migração Forçada, a qual se realizou ao longo da região fronteiriça África do Sul-Moçambique. Sobre a categorização das crianças migrantes: Os recursos disponíveis para os serviços na região tendem a favorecer os grupos de crianças que são vistos como tendo um “perfil mais saliente”, ou os grupos que são mais capazes de atrair a atenção da comunicação social e de outros decisores impor tantes. 9 Observações sobre áreas de preocupação e áreas em foco, resultantes das sessões temáticas dos grupos de trabalho Este grupo de trabalho discutiu a questão de as crianças refugiadas e aquelas que são vítimas de tráfico receberem mais assistência do que outras categorias de crianças que estão “escondidas” e de que são exemplo as crianças migrantes indocumentadas. Além disso, e de acordo com a investigação realizada pelo Programa de Estudos sobre Migração Forçada, a provisão das necessidades básicas para as crianças que se deslocam, por par te das organizações da sociedade civil na África Austral, apresentam a tendência para focar em contextos humanitários e menos inclinação para se centrarem em áreas de migração prolongada de crianças. Foi precisamente por estas razões que, durante o seminário, se estabeleceu e recomendou a existência de um quadro mais alargado sobre as crianças que se deslocam. Um quadro de referência mais amplo (tal como se descreveu anteriormente), que reconheça a vulnerabilidade comum a muitas crianças que migram em circunstâncias várias na região da África Austral, e que seja provavelmente mais passível de incluir as crianças que não se encaixam nas categorias mais habituais, em vez de as excluir. Sobre o apoio psicossocial: O grupo concluiu que na África Austral há falta de especialistas na área do apoio psicossocial, destinado a crianças vulneráveis, incluindo as crianças que se deslocam. O apoio psicossocial para as crianças que se deslocam é vital na ajuda às crianças para que estas possam ultrapassar experiências muitas vezes traumatizantes, as quais podem ser compostas pelo sentido de alienação, relativamente à vida, e a tentativa de se sobreviver num país que muitas vezes se revela hostil em relação aos migrantes. Sobre a documentação de identidade: Muitas vezes, os filhos dos trabalhadores migrantes, nascidos na maior par te dos países de acolhimento, não beneficiam de registos oficiais como o registo de nascimento, nem do subsequente estatuto legal como é o caso da cidadania. A falta de documentação e de estatuto de cidadania não só viola os direitos humanos de uma criança, como também contribui para o aumento do grau de dificuldade no acesso aos serviços, tanto no país de origem como no país destinatário. Sobre a protecção da criança: O grupo também salientou o facto de os serviços que protegem as crianças que se deslocam constituírem uma prioridade, a qual deve incluir a garantia da reunificação das crianças, processada em condições de segurança. De muitas formas, a totalidade de discussões havidas no seminário realçou a necessidade de existirem sistemas melhorados e eficazes para a protecção das crianças, os quais devem formar a base a par tir da qual se desenvolvam esforços que assegurem a melhoria dos cuidados, a protecção e o apoio às crianças que se deslocam. De um modo geral, concluiu-se que os sistemas melhorados para protecção das crianças devem beneficiar todas as crianças do país ou região, e não apenas as crianças que se deslocam. Essa medida é impor tante pois, para além de apontar para a necessidade generalizada de se oferecer protecção a todas as crianças da região da África Austral, ajuda a evitar, na medida do possível, as intervenções paralelas, direccionadas especificamente para as crianças que se deslocam, intervenções essas que podem contribuir para activar hostilidades relativamente a cidadãos estrangeiros. O projecto Suitcase (projecto Mala): Apoio psicossocial às crianças refugiadas em Joanesburgo, na África do Sul: Caso de Estudo O Projecto Suitcase é um projecto de apoio psicossocial assente nas artes, destinado a crianças refugiadas. O projecto é parte integrante de um projecto mais alargado, denominado Programa de Serviços Psicológicos da Comunidade de Sophiatown para as Famílias que se Deslocam (Community Psychological Services Families on the Move Programme). O programa Famílias que se Deslocam oferece um serviço integrado de saúde mental às famílias refugiadas na área do centro da cidade de Joanesburgo. O serviço compreende o aconselhamento individual e familiar e um número de grupos 10 terapêuticos que se encontram regularmente. As crianças são encaminhadas para dois grupos do Projecto Suitcase. O objectivo do Projecto Suitcase é ajudar as crianças a gerirem as experiências traumáticas do passado; a desenvolverem um sentido integrado de identidade pessoal que inclua tanto a sua história noutro país como a sua vida na África do Sul; e a construírem redes de apoio e estratégias positivas que as ajudem a fazer frente aos problemas. Trata-se de um programa a longo prazo, que assenta nas artes criati- vas destinadas a facilitar a expressão emocional e o desenvolvimento de coesão e de apoio do grupo. As crianças, com idades compreendidas entre os 9 e os 14 anos, encontram-se quinzenalmente. As actividades de criatividade são adaptadas às necessidades de desenvolvimento das crianças e incluem a execução de diários visuais, projectos imprimidos e trabalhos que envolvem vários meios e instrumentos de forma a poderem contar a sua história numa mala. Existe um ritual com o qual se dá início a cada sessão de grupo e que envolve a circulação de uma “vara de sentimentos”. A criança que tem a vara em sua posse partilha as experiências ditas “boas” e “más” que tenham sido vividas nas duas últimas semanas. Deste modo, somos alertados para questões que poderão depois ser tratadas em sessões de gestão individual de caso. Durante os últimos dois anos, este ritual tornou-se indispensável para as crianças. Enquanto no início elas resistiam à ideia de segurar a vara e de falar sobre as suas experiências e sentimentos pessoais, actualmente as crianças competem para tomar posse da vara e, por vezes, a vara tem de dar mais de uma volta ao grupo até todos os seus membros sentirem que estão prontos para prosseguir com outras actividades. Este confronto semanal com as questões que as afectam e o trabalho artístico que desenvolvem são complementados pelo facto de o grupo se poder reunir na Escola Secundária Feminina de Observatory, em Yeoville, onde nos é permitido utilizar os campos da escola, o que nos oferece um espaço verde e seguro onde as crianças podem brincar. Essa liberdade é extremamente importante porquanto a maior parte das crianças passa a sua vida confinada a espaços bastante reduzidos, onde não lhe cabe qualquer espaço próprio. Em recentes discussões com as crianças que fazem parte de um dos grupos sobre a possibilidade do seu encerramento, para que seja dada oportunidade de participação a outras crianças, foi manifestada forte oposição a essa ideia e tornouse evidente para nós que, perante as inseguranças constantes e os distúrbios nas suas vidas diárias, o grupo é o único ponto de referência estável, o único lugar “onde nós podemos falar dos nossos sentimentos e de tudo o mais”. Recomendações específicas sobre como melhorar o acesso aos serviços para as crianças migrantes Em resposta às questões apresentadas anteriormente, o grupo de trabalho avançou um número de recomendações que poderiam surtir efeito no que respeita a melhoria do acesso a serviços para as crianças que se deslocam. Essas recomendações estão direccionadas para diversos actores, provenientes de diferentes sectores. das crianças que se deslocam, e poderem fazer frente a esses problemas. Uma melhor cooperação entre a sociedade civil e o governo vai também requerer que as organizações da sociedade civil se façam munir de uma abordagem mais positiva e menos crítica relativamente ao seu envolvimento com os seus parceiros no governo. Para os governos e a sociedade civil: Disponibilizar informação nos pontos principais de migração para que as crianças que se deslocam tenham mais fácil acesso a essa informação: Os governos e as organizações da sociedade civil (OSC) necessitam de criar mais centros que ofereçam informação e ajuda no encaminhamento e ainda outros tipos de serviços às crianças que se deslocam. Esses centros devem estar situados nas áreas de fronteira e em zonas urbanas onde se registam elevados números de crianças que se deslocam. Embora algumas organizações desenvolvam esforços nesse sentido, a verdade é que tal acontece em escala limitada. Para a sociedade civil: É necessário intensificar a advocacia para se assegurar de que existem serviços suficientes para oferta às crianças que se deslocam: A sociedade civil, incluindo os grupos de advocacia, precisam de trabalhar com o objectivo de encorajar os governos e os doadores a apoiarem a provisão de serviços básicos para as crianças que se deslocam, tanto nas áreas de origem, como dos países destinatários. A sociedade civil e os governos necessitam de articular esforços e de trabalhar de forma mais estreita: As OSC e os governos devem envolver-se regularmente em diálogo, de modo a juntos poderem identificar os desafios e as barreiras ao acesso aos serviços por parte É urgente que os departamentos governamentais tenham mais consciência relativamente às crianças que se deslocam: Este aspecto inclui assegurar que os governos e os relevantes depar tamentos estão devidamente sensibilizados (ex.: saúde, educação, assuntos do interior, assistência social) no que toca as preocupações das crianças que se deslocam, e ainda a respeito de tipos de respostas que sejam apropriadas. 11 Advocacia: incluindo a sensibilização da comunidade, política e legislação, e a obtenção de informação Advocacia: incluindo a sensibilização da comunidade, política e legislação, e a obtenção de informação No decurso das discussões em torno da advocacia para crianças que se deslocam, os delegados identificaram várias formas de trabalho de advocacia que estão a decorrer na região, as quais incluem: - investigação e trabalho em rede; - diálogos a nível das comunidades; - campanhas de consciencialização para os provedores de serviços e para as crianças; - advocacia direccionada para os governos e organiza- ções locais no sentido de proverem serviços para crianças; - litigação relacionada com a detenção e depor tação de crianças; e - a sociedade civil oferece contributos no desenvolvimento jurídico e das políticas que incidem sobre a protecção das crianças (ex.: leis anti-tráfico, propostas de lei sobre crianças e sobre refugiados). Pese embora o reconhecimento da existência de esforços concretos na região, no sentido de se advogar em torno de questões relativas às crianças que se deslocam, a verdade é que se torna ainda necessário fazer muito mais, e muito daquilo que actualmente se efectua deve ser executado mais eficazmente. Foi observado que, na região, prevalece um desafio par ticular, o qual se prende com a ausência de vontade política para enfrentar questões relativas a crianças migrantes, sendo que essa atitude torna a advocacia simultaneamente mais desafiante e mais urgente. Os comentários que se apresentam seguidamente, assim como as recomendações específicas, apontam para as áreas chave de preocupação e para as áreas prioritárias de acção em esforços que assegurem que as crianças que se deslocam sejam assunto integrante na agenda da África Austral. Sobre as políticas versus a prática: O grupo de trabalho sublinhou que, actualmente, se está a focar demasiado nas mudanças de política em relação às questões das crianças migrantes e muito pouca enfâse é colocada nos serviços directos imediatos. Um dos par ticipantes afirmou que “as vidas das crianças foram suspensas enquanto se discutem políticas.” Tal como já fora determinado pelo grupo de trabalho que se debruçou sobre a área de acesso a serviços, a questão de se traduzirem políticas em acção concreta e eficaz para as crianças que se deslocam continua a ser um verdadeiro desafio na região. Este comentário sugere que as prioridades adicionais de advocacia devem concentrar-se em assegurar que os recursos e a formação adequados são disponibilizados às crianças que se deslocam, assim se garantindo que as políticas e a legislação se possam tornar realidade. 12 Sobre como fazer a advocacia correcta: O grupo de trabalho determinou ainda que, embora as organizações da sociedade civil estejam já envolvidas em medidas de advocacia nor teadas para a promoção da protecção e dos cuidados das crianças que se deslocam, facto é, porém, que muitas vezes tal se processa de forma isolada, sem o envolvimento de outros sectores e de factores relevantes ou interligados. Os trabalhos de advocacia nem sempre têm por alvo as instituições apropriadas, e não são suficientemente avaliados para que se possa determinar se esses esforços produzem uma diferença tangível. Por outras palavras, existem muitas OSC e outros factores na África Austral que não estão devidamente equipados com as relevantes competências para assegurarem que podem, de facto, efectuar a advocacia eficientemente. Embora se discuta imenso a questão da advocacia, há também uma necessidade clara de se oferecer e apoiar mais formação no seio das organizações da sociedade civil e junto de outros intervenientes, não apenas no que respeita o planeamento e a implementação de uma estratégia de advocacia, mas também sobre a forma como o seu impacto deve ser medido. Sobre trabalhar com as comunidades locais: Durante o período de discussões, reconheceu-se ser crucial que trabalhemos com as comunidades locais. Todavia, alguns par ticipantes observaram que cer tas comunidades, junto das quais aqueles exercem as suas actividades, se podem revelar desconfiadas ou indiferentes à sensibilização por par te das OSC sobre os riscos e os perigos associados à migração de crianças e ao seu tráfico. Foi apresentado um exemplo de reacção negativa de uma comunidade em Moçambique perante os esforços de sensibilização de uma organização da sociedade civil, relativamente ao tráfico de crianças. O principal ponto de discórdia centrou-se no envolvimento de membros da família no processo de tráfico, conforme revelou a OSC. Cer tos membros da comunidade recusaram aceitar a ideia de que a família pudesse estar associada ao tráfico das suas próprias crianças. Essa reacção prevaleceu, mesmo face aos argumentos apresentados pela organização da sociedade civil, assentes em investigações recentes, apontando para o indubitável envolvimento de membros da família no tráfico das suas crianças. A investigação revelara que as práticas tradicionais e as carências socioeconómicas de muitas famílias se combinavam para dar azo a um tipo de tráfico infantil clandestino que, embora muitos considerem ser uma forma de tráfico, na opinião da comunidade em nada se assemelha à ideia generalizada de que só se trata de tráfico quando bandos de criminosos estão envolvidos no processo. Ar te infantil no interior da ‘caixa de conversação’ Foi citado um exemplo de migração da força laboral masculina, de Moçambique para a África do Sul, como uma prática que pode ser interpretada como tráfico de crianças. Por um lado, há a expectativa tradicional de os rapazes e os homens migrarem para trabalhar e remeter as suas mensalidades para a família. Por outro lado, os rapazes jovens aparentam ter sido forçados pela família a par tir e a trabalhar além fronteiras, muitas vezes sem que tenham idade para tal e em circunstâncias de exploração. Como resultado das discussões em torno deste e de outros exemplos, o grupo de trabalho sugeriu serem necessários esforços sustentáveis e a longo prazo com vista a modificar essas práticas culturais. Também se requer uma maior colaboração interpaíses. Esta discussão e exemplo par ticulares lançaram questões e dilemas fundamentais sobre como definir o tráfico de crianças e como enfrentar o problema eficazmente, a par tir de um contexto de práticas tradicionais ou culturais. As práticas tradicionais existem por razões de ordem histórica e por outros motivos impor tantes e contribuem para a formação das identidades socioeconómica e cultural do grupo em causa, assim como para a sua sobrevivência. Contudo, as actuais pressões socioeconómicas, e a introdução de um novo conjunto de valores, tal como o conceito dos direitos das crianças, podem conduzir a um conflito nos sistemas de valores e também a que uma cer ta prática seja levada a formas extremas de modo a garantir a sua sobrevivência. Como ponto de par tida, recomenda-se que o processo consultivo e de consciencialização tenha início a nível da comunidade e que os líderes locais estejam for temente envolvidos na liderança dessas actividades. Além disso, não se pode depreender que a formação sobre os direitos das crianças e outros assuntos possa traduzir-se, instantaneamente, em acções no terreno por par te das comunidades. As comunidades necessitam de estar convencidas das vantagens que a mudança de prática representa, para que possam adoptar uma nova forma de pensar. Se não se lidar com os desafios subjacentes com que as comunidades se deparam, como o aumento do nível de pobreza, a doença e o desemprego, então os níveis de aceitação dos novos sistemas de valores e de novas práticas serão bastante limitados. Sobre legislação: O grupo identificou o facto de existir legislação de protecção de crianças na maior par te dos países da SADC. 13 Muitas vezes, porém, não há legislação que diga respeito especificamente a crianças que se deslocam, ou que as inclua. Por conseguinte, é necessário proceder-se à reforma legislativa e às alterações da lei. também devem ser incluídas mais eficazmente no processo de repor tar, sendo essencial mantê-las actualizadas, relativamente a desenvolvimentos e a assuntos que as afectam. Se bem que a legislação que foca nas crianças que se deslocam, ou que as inclui, seja vital, também se reconheceu, de um modo mais geral, durante o seminário, que a legislação só se pode tornar verdadeiramente eficaz se houver sistemas adequados que assegurem que a mesma é posta em prática. Esse esforço exige recursos e formação adequados, e requer ainda que a legislação seja desenvolvida em conjunção com a legislação e as políticas existentes e novas noutros sectores e noutras áreas. Em cer tos países, o tráfico de crianças (e talvez se pudesse argumentar que se trata, de uma forma mais geral, de crianças que se deslocam) não é ainda encarado como um problema. Consequentemente, deve haver uma concer tação de esforços que tenham em vista assegurar que esta questão é reconhecida por todos os países que integram a região da SADC. Por fim, a legislação deve ser harmonizada, não só a nível de sectores nacionais, mas também regionalmente. Se os países que integram a SADC forem capazes de harmonizar, e mesmo de simplificar as leis que dizem respeito às crianças que se deslocam, maior será a possibilidade de as crianças que se deslocam poderem ser mais bem protegidas, recebendo melhores cuidados e assistência. Para a sociedade civil e o governo: É necessário que, a nível local, haja um aumento no grau de consciencialização a respeito das crianças que se deslocam: Os governos e os seus parceiros da sociedade civil na África Austral devem desempenhar um papel de maior dimensão na sensibilização dos líderes tradicionais e religiosos, tanto nas comunidades de origem como nas comunidades destinatárias, sobre as muitas formas em que se apresentam as crianças que se deslocam. As comunidades locais devem ser sensibilizadas especificamente sobre os riscos e as vulnerabilidades que essas crianças enfrentam. Deve ser prestado apoio aos líderes, no sentido de estes apresentarem soluções locais e práticas em como dar assistência e proteger as crianças, devendo essa aproximação aos líderes servir de ponto de entrada nas comunidades, por forma a se maximizar a eficácia das mensagens de sensibilização. Sobre questões prioritárias para a advocacia: O grupo identificou haver um trabalho de rede e uma coordenação fracos entre os detentores de interesses ou intervenientes, no que toca as experiências e as melhores práticas à volta das crianças que atravessam fronteiras. Deve ser realizada advocacia nesta área particular. O grupo sublinhou igualmente que é necessário incluir as crianças, de uma forma mais relevante, na tomada de decisões e na provisão de informação. Elas Ar te infantil no interior da ‘caixa de conversação’ 14 Recomendações específicas sobre advocacia: Advocacia: incluindo a sensibilização da comunidade, política e legislação, e a obtenção de informação Os materiais de treino e formação necessitam de estar mais acessíveis às comunidades locais e às crianças para as quais estão direccionados: Os governos e as OSC devem cer tificar-se de que os materiais que têm por foco as crianças que se deslocam, e que se destinam a sensibilizar as comunidades e a fazer aumentar o grau de consciencialização, são traduzidos para as línguas locais; têm uma apresentação apelativa para as crianças; e correspondem ao nível de educação daqueles que os vão utilizar. Para além disso, não se deve subestimar ou minimizar o valor da sensibilização das comunidades que seja efectuada pela via oral, em oposição à forma escrita. Os governos devem atribuir recursos às crianças vulneráveis: Há necessidade de se exercer pressão ou de se proceder ao lóbi junto dos governos, para que estes orçamentem adequadamente com o propósito de responder às necessidades das crianças vulneráveis, incluindo as crianças que se deslocam. Para a sociedade civil e as agências das Nações Unidas É preciso que se proceda à análise dos orçamentos a nível de país, de maneira a monitorizar a despesa relativa às crianças que se deslocam: As ONG internacionais e locais e as Agências das Nações Unidas devem examinar cuidadosamente os orçamentos nacionais com o objectivo de se determinar qual a percentagem de fundos que está sendo atribuída aos programas relacionados com as crianças, e especificamente com intervenções que prestem assistência às crianças que se deslocam. Deve ser orçamentada mais assistência ao desenvolvimento por parte dos doadores e que se destine às crianças que se deslocam: As ONG internacionais e locais e também as Agências das Nações Unidas devem instar os doadores a atribuírem mais financiamento aos programas de assistência às crianças que se deslocam. Para a sociedade civil Os departamentos governamentais devem assumir a responsabilidade em relação às suas obrigações jurídicas em apoiar e proteger as crianças que se deslocam: A sociedade civil deve conduzir a advocacia em termos de lei a favor das crianças que se deslocam. Essas iniciativas de advocacia em nome das crianças torna-se mais eficaz já que os depar tamentos governamentais e as várias agências estariam mais cientes das suas obrigações perante a lei, em relação aos quadros jurídicos e aos quadros de políticas nacionais e regionais existentes. Para a SADC e a Sociedade Civil É necessário que as crianças que se deslocam façam parte das agendas regionais: A sociedade civil deve pressionar os organismos regionais, como a SADC e a União Africana, e ainda os governos, para que se proceda à inclusão das crianças que se deslocam nas agendas de trabalho de conferências nacionais de alto nível e as quais focam nos órfãos e nas crianças vulneráveis, no HIV e SIDA e noutras questões mais gerais sobre os direitos humanos e a protecção. De igual modo, a SADC deverá cer tificar-se de que estas questões são levadas à atenção dos Estados Membros e de outros organismos regionais. As OSC devem envolver a SADC na implementação do seu quadro para a Criança e jovem órfão e vulnerável (OVCY), o qual foi recentemente finalizado, e identificar pontos de entrada, assim assegurando que as questões relativas às crianças que se deslocam ganham proeminência. Prevenção de formas de trabalho infantil e explorador Aprender com as experiências de outras regiões: Caso de Estudo Exploração dos trabalhadores infantis migrantes na Costa do Marfim Foram conduzidas entrevistas a 200 crianças trabalhadoras, na região rural de Montagne, nas proximidades da fronteira com a Libéria, e no distrito urbano de Adame, na Costa do Marfim. As conclusões indicam que as crianças migrantes, tanto da Costa do Marfim como do exterior, estão envolvidas, prioritariamente, no trabalho doméstico e na agricultura, assim como na venda de produtos nos mercados. A investigação revelou que há um maior número de rapazes envolvidos em trabalho infantil nas zonas rurais; e mais raparigas trabalhando no contexto urbano. Em Abidjan, a capital do país, 75% das crianças entrevistadas e que estão ligadas ao trabalho infantil são raparigas. As conclusões da investigação indicam que raparigas com idades desde os nove anos estão envolvidas em trabalho sexual comercial. Um factor que contribui para o aumento do trabalho infantil e da exploração prende-se com a responsabilidade familiar tradicional de as crianças contribuírem para o rendimento do lar. Além disso, há um enorme movimento interno relativo às raparigas na Costa do Marfim, através da prática designada ‘confiage’, uma maneira informal de adopção em que os pais enviam os filhos para junto de pessoas em quem tenham confiança. 15 Prevenção de formas de trabalho infantil e explorador A troco de alojamento e de acesso à escola, esperase que a criança faça o trabalho doméstico. Contudo, em muitos casos, as crianças perdem completamente o contacto com os seus familiares, são forçadas a trabalhar a tempo inteiro, durante seis ou sete dias por semana, enquanto os filhos da família de acolhimento frequentam a escola. Sobre a falta de documentação de identidade: A falta de documentação para as crianças que se deslocam faz aumentar a sua vulnerabilidade à exploração nas mãos de empregadores sem escrúpulos. Eis alguns exemplos específicos: crianças com estatuto indocumentado (num país estrangeiro) que são forçadas a trabalhar durante vários meses sem qualquer remuneração; crianças que são vítimas de maus tratos, sem recurso à justiça ou a assistência devido ao seu estatuto indocumentado e ao receio de serem identificadas; empregadores que se recusam pagar uma criança pelo trabalho realizado e que, em vez disso, chamam as autoridades já depois de o trabalho ter sido completado, uma medida que conduz à depor tação da criança. Muitas das crianças que se deslocam mentem em relação à sua idade, e não possuem documentos que provem o contrário, o que dificulta a prevenção do contrato de pessoas com idades inferiores ao mínimo permitido pela lei, facto que também cria obstáculos à investigação. Também as entidades patronais que exploram as crianças tudo fazem no sentido de esconder as circunstâncias em torno do trabalho de crianças migrantes. Todavia, no decurso da conferência, fez-se salientar o facto que o emprego é uma área sobre a qual temos muito pouco conhecimento e, por consequência, esta secção dispõe de muito menos informação do que as outras secções. Sobre a pressão exercida pela família para se migrar a fim de trabalhar: Uma família pode exercer pressão no sentido de a criança sair de casa e procurar trabalho, sem ter ideia dos riscos e perigos inerentes. As crianças podem mesmo estar dispostas a cumprir essa missão sem terem consciência suficiente das dificuldades com que as crianças trabalhadoras se deparam. Muitas vezes, sendo as crianças migrantes responsáveis pelo rendimento familiar, é menos provável que elas repor tem à polícia o facto de estarem a ser exploradas, pois as crianças sentem-se mais pressionadas, ou têm um for te sentido de responsabilidade que as leva a quererem assegurar a remessa de fundos para a ‘família’ e também temem que a polícia abuse delas. 16 As crianças que se encontram em situações deste tipo são muitas vezes vítimas de ameaças, de violência e de discriminação. Em certos casos, as raparigas são enviadas para as cidades com o intuito de trabalhar e de conservar os recursos que vão permitir que os rapazes da casa possam beneficiar de educação. Sobre a legislação do trabalho infantil: Embora em muitos países da África Austral existam leis laborais destinadas a proteger as crianças, a sua implementação e aplicação ainda constituem for tes desafios. Um grupo par ticipante citou o exemplo da legislação da Namíbia e da dificuldade em se conseguir implementar essa legislação. Para além disso, o grupo concluiu que muitas pessoas na região da África Austral ainda desconhecem a existência de legislação relativa ao trabalho infantil e ignoram quais os direitos das crianças, de uma forma geral, ou, nos casos em que possuem conhecimento desses direitos, não compreendem a sua aplicação. Os par ticipantes concordaram que muitas das leis laborais actuais são dificilmente compreendidas e deveriam ser transmitidas às comunidades de forma muito mais simples e também nas línguas locais. Do ponto de vista regional, o grupo identificou a necessidade de, entre países, se harmonizarem as leis da imigração e as políticas em torno do trabalho infantil, desenvolvendo-se esforços que garantam que os direitos das crianças possam ser assegurados de uma forma padrão, em toda a região da SADC. Em geral, nestas discussões, e uma vez mais, é notório o desafio que surge em relação à transformação da legislação e das políticas em realidade. Tal como acontecera com o grupo de advocacia, foi colocada for te ênfase na impor tância de se direccionarem as atenções para as comunidades e de se trabalhar no seio delas, não descurando a necessidade de os materiais serem adequados aos grupos destinatários. Sobre as atitudes e práticas locais: O grupo determinou que cer tas atitudes e práticas, par ticularmente quando se trata de comunidades mais empobrecidas, podem levar as pessoas a crer que a exploração de crianças é aceitável, na perspectiva de que as crianças têm a obrigação de ganhar dinheiro para os seus pais e famílias alargadas, quando as circunstâncias o ditam e independentemente de o trabalho envolver exploração, ou não. Por forma a contrariar essa tendência, é preciso que as OSC incluam mais as comunidades e as crianças que Criança discutindo o seu trabalho com um par ticipante, no primeiro dia do seminário. se deslocam no desenvolvimento, na monitorização e na avaliação de programas e de projectos concebidos para impedir as formas prejudiciais de trabalho infantil, e que essa inclusão seja conseguida de um modo mais profundo e significativo. Uma vez mais, realçou-se o desafio que enfrentar essas práticas e atitudes profundamente enraizadas implica, face aos novos quadros de referência e de valores, tais como os direitos das crianças no que toca o trabalho e a exploração. À semelhança do que se registara com o grupo de advocacia, também este grupo sugeriu que a chave que vai permitir fazer face a esse desafio reside em trabalhar directamente com as comunidades locais e com os grupos destinatários, incluindo as crianças. Sobre a vulnerabilidade das crianças não cidadãs e das crianças rurais: O grupo constatou que, na África Austral, os trabalhadores domésticos, especialmente as crianças, oriundos das zonas rurais são mais facilmente manipulados e explorados do que os trabalhadores provenientes dos centros urbanos. Os trabalhadores domésticos rurais têm menos acesso à informação e educação sobre as leis laborais e estão, provavelmente, menos capacitados para negociar condições mais justas de trabalho. Essa vulnerabilidade é semelhante àquela a que se expõem as crianças que atravessam fronteiras. Não só ambos os grupos de crianças possuem um baixo nível de conhecimento, no que toca as leis existentes que regem a protecção das crianças e os direitos delas resultantes, mas os seus membros têm acesso reduzido aos grupos de apoio tradicionais. Também podemos depreender que, sendo os níveis de pobreza na maior par te das zonas rurais da África Austral mais elevados, e muitos migrantes transfronteiriços viajam para países mais ricos, há ainda que considerar a dimensão da pobreza relativa e, por tanto, do desespero. 17 Migração de Crianças, Deslocamento e Tráfico no Sudeste Asiático: Desafios e Respostas O tráfico de crianças é reconhecido como sendo um problema particular no Sudeste Asiático, enquanto a migração mais geral constitui uma forma de vida comum para muitas pessoas na região. Na Ásia, o tráfico e a migração laboral apresentam-se interligados e diz-se que os traficantes ‘pescam no rio da migração’. No Sudeste da Ásia, as crianças são frequentemente usadas como pagamento de dívidas aos empregadores e passam imensos anos nessas circunstâncias até que a dívida esteja saldada. As formas mais comuns de emprego para as crianças do Sudeste Asiático incluem: trabalho doméstico, trabalho sexual, trabalho na construção, agricultura, viagens marítimas, mendicidade e trabalho fabril. através de inspecções e de rusgas a fábricas. As crianças são muitas vezes traficadas pelos seus familiares. Num estudo realizado em 1995, no Camboja, 50% dos trabalhadores sexuais inquiridos, com idade inferior a 18 anos, tinham sido forçados a trabalhar nesse negócio. Cerca de metade desses trabalhadores tinham sido vendidos ou enganados por alguém que conheciam, como os seus pais, familiares e vizinhos. Os sindicatos de crime transnacional estão igualmente envolvidos no tráfico de crianças. - Migração aber ta controlada – controlos de fronteira aper tados; muitos trabalhadores indocumentados; tolerância relativamente alta em relação à acção colectiva; organizações que desafiam o estado e que providenciam ajuda jurídica/ cultural a migrantes (ex.: Japão, Coreia e Tailândia) Na Ásia, as crianças migrantes deslocam-se do Camboja para o Vietname, do Vietname para a China, Camboja, Mianmar, Laos e depois para a Tailândia, e da Tailândia para Singapura, Coreia do Nor te e Japão. Em alguns países do Sudeste da Ásia, o processo de identificação de crianças migrantes prende-se com os esforços nacionais que visam limitar o trabalho infantil, 18 Tipicamente, os governos do Sudeste Asiático apresentam três respostas para a questão da migração: - Migração repressiva controlada – políticas de imigração austeras; sistemas rígidos de contrato laboral; pouca tolerância do estado em relação aos movimentos civis (ex.: Singapura, Malásia); - Migração repressiva sem controlo – controlos de fronteira frouxos; muitos trabalhadores indocumentados; leis de trabalho migrante inconsistentes; acção civil limitada (ex.: China, Vietname); No Sudeste Asiático, a Tailândia é o país que mais migrantes e crianças traficadas recebe. O deslocamento das populações, resultante de conflito, conduziu a um elevado número de refugiados, de migrantes e de pessoas traficadas naquele país. O governo tailandês e as organizações da sociedade civil têm estado a colaborar em termos de identificação de crianças migrantes e traficadas; provendo cuidados e reabilitação; e fazendo aumentar os níveis de consciencialização pública relativamente à situação destas crianças. Recomendações específicas para a prevenção de formas de trabalho infantil e explorador Protecção de crianças que se deslocam, incluindo aspectos ligados à documentação, registo de nascimento, abuso, exclusão social, xenofobia Para o Governo: É necessário que as leis laborais sejam apresentadas em versões simplificadas: Os governos na região devem produzir versões simplificadas das leis laborais nacionais, especificamente no que respeita as secções que focam nas formas de trabalho prejudicial e explorativo. Sobre legislação e aplicação da lei: O grupo definiu que, embora em alguns países da África Austral existam leis para protecção de crianças, em alguns casos essas leis apenas se centram na protecção de crianças nacionais e não incluem as crianças não cidadãs. É ainda necessário haver uma reforma regional a nível jurídico e a nível das políticas, por forma a que a protecção de crianças estrangeiras seja incorporada nas leis existentes de protecção da criança, ou contemplada em novas leis. Deve ser incentivada a criação de parcerias entre governos e o sector privado: Os governos devem abordar o sector privado no sentido de encorajar mais desenvolvimento e investimento comunitários. As actividades que têm o apoio do sector privado poderiam ajudar a encorajar as crianças pobres e vulneráveis a permanecerem nas suas comunidades, podendo elas ser beneficiárias de formação profissional, por exemplo, e de pequenas subvenções ou doações para negócios, em oposição a tornarem-se vítimas de trabalho infantil nocivo. Torna-se essencial apoiar as políticas que oferecem mais oportunidades às crianças vulneráveis, tanto nos seus países de origem como nos países de destino: Os governos na região devem desenvolver políticas e programas socioeconómicos que promovam subvenções, bolsas, esquemas de saúde, transferências em dinheiro e actividades geradoras de rendimentos e que criem opor tunidades para as crianças vulneráveis. Esses tipos de actividades poderiam ajudar a minimizar o envolvimento das crianças nas piores formas de exploração laboral. É interessante notar que no caso particular da África do Sul ficou claro, numa série de ocasiões, que a Constituição e a existente legislação para protecção das crianças abrangem todas as crianças, incluindo as não cidadãs. Contudo, esse facto nem sempre se traduz na implementação da lei no terreno, facto que se impõe como mais um desafio associado à legislação. O grupo também observou que, enquanto presentes num país estrangeiro, as crianças indocumentadas que atingem a idade dos 18 anos deixam de estar abrangidas pela protecção de leis relativas a crianças e podem então ser apreendidas, detidas e deportadas. A discussão em torno deste assunto é mínima, tal como são mínimas as soluções adequadas. Sugere-se que sejam desenvolvidas políticas e legislação que assegurem que as crianças que façam 18 anos não sejam subitamente sujeitas às leis da imigração, sem recurso a assistência. Para a Sociedade Civil, Comunicação Social e o Governo: É preciso que as leis laborais já ultrapassadas sejam actualizadas: Os países que possuem leis laborais desactualizadas, as quais não reflectem os presentes desafios, devem proceder à sua actualização ou alteração, para que essas leis protejam os direitos das crianças trabalhadoras indocumentadas, em termos de horas de trabalho, salários, exploração sexual e abuso. As ONG, as redes nacionais e regionais, os grupos de pressão e a comunicação social podem todos desempenhar um impor tante papel na área da advocacia a favor da alteração dessas leis. Por forma a que os países possuam e defendam os mesmos padrões, relativamente ao trabalho infantil, urge proceder-se à coordenação de leis a nível regional. Caso contrário, as crianças poderão simplesmente deslocar-se para onde essas leis de protecção não existam, ou onde elas não sejam aplicadas. Criança discutindo o seu trabalho com um par ticipante, no primeiro dia do seminário. 19 Recomendações específicas para a protecção das crianças que se deslocam O grupo salientou ainda a ausência da implementação prática e com sentido das políticas e das leis que se propõem proteger as crianças migrantes. Os processos que foram estabelecidos com o objectivo de pôr as leis em prática pecam por morosidade e por falta de clareza. Discutiu-se também o facto de a polícia e os oficiais de fronteira muitas vezes focarem em demasia na detecção do crime, em vez de olharem para a prevenção do crime e para a protecção da vítima, especialmente no que toca os estrangeiros. As crianças que se deslocam estão muitas vezes expostas a situações de perigo que requerem protecção por parte das autoridades. Contudo, para as autoridades locais o foco pode continuar a incidir sobre a identificação e detenção das crianças migrantes, em lugar da protecção dessas crianças. Neste caso, a necessidade de se aceitar e de se trabalhar para uma migração mais segura, em vez de se tentar impedir a migração, foi fortemente salientada. Todavia, ficou a impressão de que os participantes tinham a ideia geral de que a prevenção e a contenção da migração ganham precedência sobre o objectivo de uma migração de crianças que seja gerida e segura. Sobre receber e partilhar informação: Embora existam bases de dados interagenciais sobre protecção de crianças na região da SADC, essas bases de dados não focam exclusivamente a sociedade civil e os provedores de serviços que dão assistência às crianças migrantes. Regista-se ainda a falta de manutenção e de actualização das bases de dados, e também alguma confusão relativamente ao modo como essas bases de dados devem ser utilizadas eficazmente. 20 comprometem muitas vezes os direitos das crianças, quando elas são, porventura, consideradas estrangeiras. Sobre a capacidade do governo: A capacidade em diversos departamentos do governo, tais como a Educação, Polícia, Justiça, Trabalho e Desenvolvimento Social, deve aumentar e ser mais bem coordenada. Por exemplo, na África Austral há falta de assistentes sociais devidamente treinados, o que significa que muitos dos casos relativos às crianças não são investigados e acompanhados adequadamente. Por consequência, ao se lidar com a questão da capacidade do governo para oferecer protecção, cuidados e assistência às crianças que se deslocam, não é suficiente partir do princípio de que a formação adicional da polícia na área da protecção da criança deva tomar prioridade. É também necessário que os recursos e a formação sejam igualmente encaminhados para outros departamentos, assegurando, paralelamente, que existe uma coordenação adequada entre os departamentos relevantes. Sobre a necessidade de se ser inclusivo: O grupo debateu a importância de, quando se consideram quadros de referência para a protecção das crianças que atravessam fronteiras, se dever assegurar que essas crianças são integradas em quadros mais alargados de protecção de crianças, assim se evitando que se criem novos quadros separados e em paralelo para as crianças que se deslocam. Recomendações específicas para a protecção das crianças que se deslocam Sobre atitudes em relação a não cidadãos: Em vários países da África Austral, muitas forças da polícia estão já treinadas na área da protecção de crianças e na forma como identificar crianças vítimas de abuso e de exploração. Porém, de uma forma geral, no seio das autoridades há ainda uma capacidade fraca e níveis de motivação baixos para se fazerem cumprir as leis existentes de protecção da criança, mormente no que toca crianças estrangeiras. Além disso, existe ainda uma falta de empatia por parte das populações locais em relação ao drama das crianças migrantes. Para a Sociedade Civil: Devem ser apoiados mais comités comunitários para a protecção das crianças: : A Sociedade Civil deve fazer aumentar o seu apoio aos comités de protecção das crianças, fazendo mesmo aumentar o número de comités comunitários na região da África Austral. Tais comités, integrados por crianças, chefes tradicionais, líderes locais eleitos, pais e professores, podem ajudar as crianças vulneráveis nas suas próprias comunidades, e ainda desempenhar um impor tante papel na identificação e apoio a crianças que se deslocam. É necessário compreender melhor as atitudes das quais os estrangeiros, incluindo as crianças, são alvo, e saber lidar com essas atitudes de modo mais eficaz. Em muitos casos, no âmbito da comunidade, subsiste a impressão de que é aceitável explorar essas crianças porque elas são estrangeiras. Há também o sentimento de que os escassos recursos destinados a proteger, apoiar e cuidar das crianças devem ser reservados para as crianças locais e não para as crianças estrangeiras. Por fim, em alguns países, as atitudes xenófobas prevalecentes entre as autoridades e as comunidades Para os governos e a sociedade civil: São necessárias mais políticas de protecção social: Os Governos e a Sociedade Civil devem centrar-se no desenvolvimento, a nível comunitário, de redes de segurança para as crianças vulneráveis e as quais ajudem a mitigar os principais factores causadores de migração para outras regiões do país e além fronteiras. Devem também ser concebidas políticas de protecção social por forma a darem resposta às questões da protecção da criança, relacionadas com a pobreza e com outros factores subjacentes. Conclusão e o rumo a seguir definir linhas orçamentais claras para os sistemas de protecção existentes e em desenvolvimento, destinados a todas as crianças, incluindo as crianças que se deslocam. Construir capacidades humanas e operacionais: Os governos e os doadores, assim como os detentores de interesses e intervenientes, devem trabalhar em conjunto e de forma ar ticulada para fazerem aumentar a capacidade humana e operacional dos provedores chave de serviços que existem para apoiar e proteger as crianças que se deslocam. Conclusão e o rumo a seguir: O seminário fez salientar, com êxito, as áreas chave de intervenção em torno das crianças que se deslocam. Essas áreas podem ser resumidas da seguinte forma: Mandla Mazibuko, de Save the Children Suazilândia, no seminário Para a SADC: Monitorização melhorada em torno da implementação da legislação e das políticas: Uma equipa de missão liderada pela SADC, a qual inclua representantes do governo e da sociedade civil da região, deve ser criada para monitorizar a implementação, execução e cumprimento das leis e políticas existentes à volta da migração e tráfico de crianças. Essa equipa de missão deverá operar a partir do contexto de leis e de estruturas mais alargadas para a protecção das crianças. Melhorar os quadros e as estruturas para protecção das crianças: No âmbito do desenvolvimento de quadros de referência para protecção das crianças, a longo prazo, implementar mecanismos de protecção da criança que incluam as crianças que se deslocam. Essas estruturas devem ter em conta os riscos específicos para as crianças, os quais estão associados à Copa Mundial da FIFA 2010, e em que estão incluídos a exploração sexual, o tráfico infantil e a exploração laboral. As estruturas e os sistemas devem incorporar a coordenação com a polícia, com os Depar tamentos de Imigração e do Interior, e com outras agências, no sentido de se conseguir estar pronto a actuar em casos de emergência que surjam durante a Copa Mundial. Recomenda-se a presença de unidades móveis de reacção para protecção das crianças, assim como a intensificação de campanhas de consciencialização junto das crianças. Para os doadores e os governos: Linhas orçamentais: Os doadores e os governos devem - Há necessidade de uma maior cooperação, em toda a região, entre os governos e a sociedade civil - Precisamos de centrar essas intervenções tanto nos países de origem das crianças como nos lugares de destino - Os serviços destinados a crianças migrantes devem ser incluídos nos serviços já existentes para crianças -É necessário proceder-se à monitorização e avaliação das intervenções e ainda à par tilha de boas práticas -Deve realizar-se a harmonização de leis em toda a região -Apoiar as crianças significa igualmente apoiar as suas famílias e as comunidades -Precisamos de advogar em relação às necessidades das crianças que se deslocam, através das actuais agendas da SADC e da UA -Devem ser atribuídos recursos para as crianças que se deslocam, pelos governos e por doadores. Além disso, o workshop das crianças é o testemunho do sucesso da sua par ticipação e a prova da sua capacidade de avaliação das suas próprias necessidades e de recomendação de medidas que visam melhorar as condições em que elas se encontram. Tendo conseguido ar ticular claramente as suas necessidades, as crianças conseguiram transmitir a mensagem ao público com confiança e deram um valioso contributo na área das recomendações que emergiram da conferência. Por fim, o seminário realçou os múltiplos actores que necessitam de se envolver no processo, se de facto se deseja que as intervenções em torno das crianças que se deslocam venham a ser bem sucedidas. Os par ticipantes sublinharam, em par ticular, a necessidade de haver coordenação regional no que respeita as respostas do governo e da sociedade civil, e de os recursos disponibilizados por doadores e pelos governos serem canalizados para as crianças vulneráveis, estando incluídas nesse grupo as crianças que se deslocam. 21 Anexo 1: Lista de participantes Marcaram presença no Seminário os seguintes participantes: Kaajal Ramjathan-Keogh Direitos dos Refugiados e Migrantes, Advogados pelos Direitos Humanos Duncan Breen Consórcio para os Refugiados e Migrantes na África do Sul Colin Wrafter Embaixador da Irlanda na África do Sul Ingrid Palmary Programa de Estudos sobre Migração Forçada, Universidade WITS Susan Le Roux Organização Internacional para as Migrações Anacleta Pereira Save the Children Angola Stanford Mahati Programa de Estudos sobre Migração Forçada, Universidade WITS Cindy Milford Saúde da Família Internacional - Camboja Alec Mhone Save the Children Noruega Manuel Finelli Save the Children UK Johanna Kistner Serviços Psicológicos Comunitários de Sophiatown Shelter A. Mushipe Médicos Sem Fronteiras (MSF) - África do Sul Vusi Ndukuya Centro Amazing Grace, Malelane - África do Sul Lucy Hillier Save the Children UK Rodney Knotts Save the Children UK Claudia Serra Organização de Ajuda a Refugiados - África do Sul Isidro Afonso Alberto Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Acção Social do Distrito da Moamba - Moçambique Martin Malama Serviço da Polícia da Zâmbia - Zâmbia Moses Nkono Comissão Legislativa do Malawi - Malawi Ilundi Cabral Save the Children em Moçambique Ndeshi Namupala Universidade da Namíbia Glynis Clacherty Clacher ty e Associados Kirk Felsman USAID Samantha Yates Depar tmento UK para o Desenvolvimento Internacional Stephen Blight UNICEF Daniela Reale Save the Children UK Carmel Gaillard Iniciativa de Apoio Psicossocial Regional Mandla Mazibukom Save the Children Suazilândia France Maphosa Universidade do Lesoto Leon Muwoni Ministério dos Serviços Públicos, Trabalho e Segurança Social – Zimbabué Timothy Bainbridge Save the Children Suécia Lynette Mudekunye Save the Children UK Thomas Winslow Save the Children UK Elizabeth Hughes Save the Children UK Glenda Caine Trust de Projectos Independentes Octavia Moneedi Child line – Moçambique Priscilla Molaudzi Child line – África do Sul Berta Fumo Rede Africana para a Prevenção e Protecção das Crianças Contra o Abuso e Maus Tratos Kedir Awol Omar Comité Internacional da Cruz Vermelha Angela Odiachi USAID Bridget Steffen Médicos Sem Fronteiras (MSF) Deidre Kleynhans Save the Children Suécia Karan Allan Save the Children UK Chris Bjornestad Consultor Khangelani Moyo Programa de Estudos sobre Migração Forçada Sarah Norton-Staal UNICEF Yoko Kobayashi UNICEF Shapestone Kazembe Clube das Crianças de Chisomo – Malawi Tinashe Chimbidzikai AIDS Trust Sul-africano Sipho Mfeya Umthombo Advocacia para as Crianças de Rua George Kalu Monitorização da Media em África Ronell Naidoo Monitorização da Media em África Barbara Kalima-Phiri Trust da África Austral Jorge Alberto Instituto Nacional para as Comunidades Moçambicanas no Exterior Nick vander Vyver Organização Internacional para as Migrações Malica de Melo Rede da África Austral Contra o Tráfico e Abuso de Crianças Unita Ndou Organização Internacional para as Migrações Monica Kiwanuka Programa de Estudos sobre Migração Forçada Ana van Eck Consultora Kathryn Takabvirwa Programa de Estudos sobre Migração Forçada Barbra Nyangain Programa de Estudos sobre Migração Forçada Katharina Obser Programa de Estudos sobre Migração Forçada Godfrey Maringira Programa de Estudos sobre Migração Forçada Tatenda Mukwedeya Universidade Wits Bertha Chigurare Projecto das Crianças Refugiadas Mumfaz Mia USAID Gift-Chipo Muponisi Programa de Estudos sobre Migração Forçada Heidi Loening-Voesey UNICEF Anne Anamela Irish Aid Yukiko Kumashiro Organização Internacional para a Migração Trevor Molife Projecto para as Crianças Refugiadas Lorena Núñez Programa de Estudos sobre Migração Forçada, Universidade WITS 22 Anexo 2: Relatório sobre a participação das crianças no seminário regional sobre as crianças que atravessam fronteiras na África Austral, Joanesburgo, de 25 a 27 de Maio de 2009 Conversas com as crianças migrantes Ber ta* é uma menina muito tímida de 11 anos, que veio de Moçambique, há alguns anos, acompanhada pela família que se fixou em Rhamaphosa, um bairro informal situado nos arredores de Joanesburgo. Durante os recentes ataques xenófobos, a família procurou refúgio nos campos provisórios que foram então criados. Aliciados pela promessa de a filha poder frequentar a escola, os pais deixaram-na ir para um abrigo informal nas proximidades, onde as condições não eram adequadas a uma menina daquela idade. Recentemente, Ber ta mudou-se para uma casa de acolhimento de crianças ali próxima e cujo pessoal está envolvido no processo de localizar a família. Ber ta foi uma das crianças que par ticipou no seminário que teve lugar recentemente e que visou debater questões de migração infantil na região. Quando nos despedíamos no final de segunda-feira, dia em que as crianças par ticiparam, Ber ta disse o seguinte: “Gostei tanto! Gostei de ter falado com todas aquelas pessoas. Foram simpáticas e queriam saber mais sobre mim. Posso cá vir em breve, outra vez?” Todas as fotografias que foram tiradas durante o processo confirmam isso mesmo sobre a Ber ta – a menina de sorriso aber to em todas elas! Para a Ber ta e para as outras 14 crianças, o processo teve início na sexta-feira à tarde, quando as fomos buscar a suas casas e as levámos para o acampamento de crianças ali per to, onde deveríamos passar juntos o fim-de-semana. Todas as crianças em causa tinham vindo de dois grupos de apoio que integram o Suitcase Project (Projecto Mala), com base em Sophiatown Community Counselling Service (Serviços Psicológicos Comunitários de Sophiatown), em Joanesburgo. Essas crianças representavam o vasto conjunto de crianças migrantes que vivem em Joanesburgo. Algumas eram refugiadas do Burundi e da RDC, outras eram migrantes informais do Zimbabué e de Moçambique – e todas tinham uma história para contar. A psicóloga do projecto seleccionara crianças que, durante algum tempo, tinham * O nome de Berta é fictício Criança executando o trabalho 23 Appendix 2: Continuação tomado par te no processo de terapia e que, segundo a especialista, poderiam agora beneficiar da par tilha das suas histórias. Durante a fase de planeamento, relativo à par ticipação das crianças no seminário, a equipa organizadora sentiu que era impor tante que essa experiência de par ticipação tivesse um significado especial, tanto para as crianças, como para os adultos. Um dos objectivos principais do seminário era transmitir aos par ticipantes adultos uma ideia e compreensão mais claras das questões com que as crianças migrantes se debatem. Tradicionalmente, a par ticipação de crianças num seminário desta natureza teria normalmente incluído uma apresentação feita pelas crianças durante uma sessão plenária. Esse contexto permite que as crianças mais confiantes falem e que os adultos as escutem. No entanto, pensámos que, desta vez, experimentaríamos algo diferente – a conversação entre crianças e adultos. Para que o processo de conversação se tornasse mais fácil, decidimos criar uma chamada caixa de conversação, com a ajuda da qual as crianças poderiam par tilhar as suas ideias. Foi precisamente nessas caixas que as crianças trabalharam durante a sua estada no campo de final de semana. Demos início ao processo na manhã de sábado, quando as crianças executaram um enorme desenho a carvão, retratando a história dos diferentes lugares onde elas haviam vivido. Seguidamente, e tendo escolhido uma dessas situações, as crianças serviram-se de pastel de óleo sobre tela para fazerem um desenho em pormenor. Cer tas crianças escolheram o momento em que, informalmente, atravessaram a fronteira; outras deram preferência ao campo de refugiados; algumas privilegiaram o seu país de origem, enquanto outras quiseram retratar os muitos lugares por onde já tinham passado na África do Sul. Depois de terem concluído o desenho, que fora realizado em pormenor, as crianças deram início aos seus ‘pedaços de conversação’, a par tir de peças tridimensionais que já tinham sido recor tadas. Essas peças eram símbolos vários como mãos, pessoas, sinais de adição e sinais de entrada proibida. Ao trabalharem com esses símbolos, por meio de colagem, lápis e tinta e material impresso, as crianças retrataram o seguinte: • Problemas que eu enfrentei nesta situação • Modos em que fui capaz de me ajudar a mim próprio/a • Pessoas/ coisas que me ajudaram • De que modo me poderiam ter ajudado mais Cada uma dessas peças serviu de ferramenta destinada a gerar conversação entre as crianças e os adultos. As peças foram todas colocadas numa caixa, a qual apresentava a situação e servia de pano de fundo para as diferentes peças. As crianças decidiram que todas as caixas deveriam ter um espaço onde colocar uma seta representando um passo apenas na sua viagem e que “mais estava para vir”. Um esboço do processo que seguimos está incluído neste relatório. 24 Na segunda-feira de manhã, num ambiente de enorme excitação e de antecipação, deixámos o acampamento para podermos preparar a nossa exposição de caixas de conversação no local onde decorria o seminário. Inicialmente, a comunicação social, e depois os par ticipantes do seminário, foram convidados a conhecer as crianças, que se apresentavam ao lado das suas respectivas caixas de conversação, prontas para falarem de si aos adultos. Seguidamente, as crianças apresentaram uma declaração que tinha sido preparada com base nas discussões que tínhamos tido durante o fim-de-semana. A referida declaração integra igualmente este relatório. A reacção dos par ticipantes adultos foi muito positiva. Tornou-se óbvio que, para alguns, era a primeira vez que interagiam directamente com crianças migrantes. Alguns manifestaram aber tamente as suas emoções e outros expressaram um sentimento de choque em relação ao que tinham acabado de ouvir contar. No decurso do seminário, durante as várias discussões, os par ticipantes repor taram-se às conversações que tinham tido com cer tas crianças. Ficou claro que o contacto pessoal tinha tido impacto. Volvida uma semana, encontrámo-nos com as crianças que tinham feito par te do processo, a fim de transmitirmos informação sobre o seminário e obtermos o retorno ou feedback das crianças, sobre o processo. O que elas tinham para dizer foi bastante esclarecedor. As crianças tinham gostado imenso do acampamento e adorado ter estado num local muito atraente, fora da cidade, gozando de boa alimentação e das actividades lúdicas que tinham decorrido – tinham-se diver tido! A diversão é uma par te impor tante de qualquer processo par ticipativo – tem de ser uma experiência positiva para as crianças! Também nos confessaram sentirem-se tristes por terem de deixar a casa e as suas famílias, transpor tando, dentro de si, um sentimento de culpa em relação às outras crianças da família que não tinham podido acompanhá-las na visita ao acampamento. Revelaram como tinha sido duro falarem das suas experiências durante o acampamento. Concordaram que, no domingo de manhã, todas se tinham sentido tristes, quando forçadas a meditar sobre as suas situações, com vista a posteriormente executarem os trabalhos de ar te. É impor tante não descurar este aspecto, pois, por mais bem preparadas que as crianças estejam, e por mais terapia que já tenham recebido, tarefas desta natureza suscitam emoções for tes nas crianças. O pessoal do Suitace Project, com larga experiência, acompanhou as crianças durante todo este processo. Muitas vezes os técnicos detiveram-se, ao longo das actividades, para questionarem as crianças sobre os seus sentimentos. Essa intervenção foi realizada através de jogos e de discussões. As crianças foram capazes de expressar o que sentiam e de identificarem esses sentimentos e o conselheiro ajudou-as a conterem as emoções. Este tipo de apoio emocional é fundamental. Durante as sessões de retorno, ou feedback, algumas das crianças revelaram ter-se sentido cansadas durante a exposição de segunda-feira. Aqueles de nós que tínhamos trabalhado com as crianças, detectámos esse cansaço e concordámos que produzir um trabalho de ar te no es- Appendix 2: Continuação paço de apenas um fim-de-semana tinha sido um desafio demasiado exigente para as crianças. Tínhamos passado o tempo a jogar jogos, a subir a montanha nas proximidades do acampamento e a saltar no trampolim para assegurar que todos se diver tiam entre as sessões de trabalho, mas parece-nos que o processo deveria antes ter decorrido durante três dias, em vez de dois. “Por vezes, quando conto a minha história a alguém, certas pessoas dizem ‘ooh e aaah’ e eu vejo os sinais (choque) nas suas caras. Às vezes, isso faz-me sentir como se a minha vida fosse um completo desastre. Eu também mostrei às pessoas algumas imagens que me retratam como uma rapariga corajosa e que é forte. Também gostei que tivéssemos feito aqueles desenhos.” A maior par te das crianças tinha gostado da experiência de par tilhar as suas histórias com os adultos. Algumas crianças comentaram a diferença entre falar com a comunicação social e falar com os par ticipantes. Os jornalistas tinham feito perguntas mais pessoais. Uma criança contou que o jornalista de uma rádio lhe tinha pedido que repetisse par tes da sua história usando um francês correcto. Ela sentiu que tinha sido um exercício difícil. Algumas crianças sentiram que os jornalistas tinham feito perguntas indiscretas. “Tive orgulho em contar a minha história.” “As pessoas foram simpáticas para mim e não me perguntaram nada que eu não fosse capaz de responder.” Algumas crianças confessaram que tinham achado cer tas perguntas difíceis de responder. O grupo concordou que tinha sido especialmente difícil quando as pessoas inquiriam sobre os pais. “Foi difícil quando perguntaram ‘onde estão os teus pais?’. Eu só fiz assim (ele coloca a mão no ar, à sua frente). Eu simplesmente não respondi e pensei: ‘A esta, eu não respondo.” Uma das meninas declarou que tinha sido possível relatar a sua história, mas que tinha sido difícil contá-la várias vezes … “Foi bom contar a história a primeira vez, mas quando tive de contar tudo outra vez, a outras pessoas, subitamente senti-me triste.” Uma rapariga do grupo referiu o modo como, muitas vezes, as pessoas reagem chocadas quando ela lhes conta a sua história. O grupo expressou a opinião de que tinha sido impor tante que, nas peças de conversação, tivéssemos incluído aspectos positivos da sua história. No entanto, as crianças também mencionaram o facto de os jornalistas terem respeitado o princípio de não revelarem nem caras, nem nomes. Um rapaz disse-nos, cheio de orgulho, que tinha visto a sua história no The Star, mas o responsável pelo ar tigo tinha referido apenas o seu pseudónimo. Ele sentia-se orgulhoso pelo facto de a sua história ter ajudado as pessoas a compreenderem melhor o que significa atravessar a fronteira, mas sem saberem que aquela era a sua história. Esses comentários relativos à comunicação social demonstram bem como é impor tante haver uma breve reunião de esclarecimento com os jornalistas, antes de eles interagirem com as crianças. Embora tivesse havido cer tos aspectos do processo que poderiam ter sido realizados de forma diferente, a par ticipação das crianças foi bem sucedida, permitindo que os adultos que tomam decisões em relação às crianças migrantes as ouvissem e, acima de tudo, o processo possibilitou que algumas das crianças mais marginalizadas (como Ber ta, a menina tímida) pudessem falar directamente, e na mesma plataforma, com os adultos e decisores. 25 Anexo 3 : Seminário Regional sobre Crianças Que Atravessam Fronteiras na África Austral, Processo de Participação da Criança. Apresentação geral do workshop de final de semana “Conversas com crianças migrantes” Actividade 1: Conversas com crianças migrantes – Uma introdução ao tema do seminário 1. Explicar quem vai estar presente no seminário e qual vai ser o papel das crianças. 2. Conduzir uma sessão de troca intensa ou chuva de ideias em pedaços de papel de vários tipos, colocados num grande pedaço de papel castanho, usando palavras e imagens ‘Coisas que gostaria de dizer sobre o que é ser uma criança migrante’. Ler essas palavras em voz alta e registá-las. Vamos usar essas palavras na ‘história digital’ (ver a seguir). 3. Discutir quem são as crianças migrantes. Explicar que vamos fazer uma caixa de ‘coisas sobre as quais falar com as pessoas e que lhes digam da vida de uma criança migrante’ – a caixa para as conversações. A caixa vai incluir, dentro e fora, vários tipos de trabalho ar tístico que vai contar as diferentes histórias das nossas vidas como crianças migrantes. Actividade 2: Os lugares onde vivi As crianças vão usar um longo pedaço de papel e carvão para mostrarem todos os lugares onde viveram. Falaremos brevemente sobre eles. Actividade 3: Escolher uma situação pela qual passei As crianças escolhem uma situação em que se encontraram e desenham-na num pedaço de tela, e depois colam esse pedaço numa caixa grande pré-construída. 26 Actividade 4: Questões (problemas) que enfrentei em cada um dos lugares Usando símbolos 3D, e utilizando colagem nos símbolos, etc., as crianças vão mostrar quais as questões/ problemas/ desafios que tiveram de enfrentar nessa situação. Actividade 5: A ‘ajuda’ que eu tive De novo usando símbolos diferentes, que representam diferentes organizações/ pessoas/ circunstâncias que as ajudaram no seu percurso – vamos incluir uma discussão sobre como os seus próprios atributos pessoais, os seus pontos for tes e acções também as ajudaram. Actividade 6: O que me podia ter ajudado mais Uma vez mais, usando diferentes meios num símbolo, vão agora apresentar as suas ideias em relação àquilo que as poderia ter ajudado, mas que não conseguiram obter naquela situação. Falaremos igualmente daquilo de que as crianças necessitam actualmente, sobre o que fazer, de como gostariam que fossem esses serviços, sobre o que sentem que não está a ser feito, sobre o que as crianças julgam poder elas próprias fazer - vamos focar em aspectos relacionados com pessoas/ organizações e também sobre aquilo que as ajudará a ajudarem-se a si mesmas. Lançamos essa questão para evitar a idea de que ‘as crianças migrantes são vítimas que precisam de ajuda’. Actividade 7: Sessão de reflexão As crianças observam atentamente o trabalho que produziram e reflectem sobre o seu significado, e sobre o seu potencial significado, e conversam entre elas, discutindo aquilo que fizeram. Anexo 4: Informação sobre as organizações anfitriãs Informação sobre Save the children UK Ainda morrem demasiadas crianças por não terem comida suficiente, ou porque não conseguem obter tratamento para doenças simples. Há milhões de crianças sem educação, crianças que estão sendo exploradas e que são vítimas de abusos, o que é lamentável. Estamos a mudar a situação, em par te através do trabalho que desenvolvemos directamente com as crianças, e também utilizando a nossa experiência e influência para persuadir os governos e outras entidades responsáveis pelas crianças a procederem correctamente em prol dos menores. Saímos à procura das crianças mais marginalizadas, onde quer que elas se encontrem no mundo, e isso significa que trabalhamos num vasto conjunto de países, desde os estados considerados frágeis, como o Afeganistão, aos países desenvolvidos, como o Reino Unido. Trabalhamos em estreita colaboração com os nossos colegas da Aliança Internacional Save the Children, tanto nos nossos programas com crianças como nas nossas campanhas internacionais e no trabalho de advocacia. Temos for tes ambições em relação ao que desejamos conquistar para as crianças – é nosso desígnio inspirar uma mudança dramática para as crianças, envolvendo-as na criação dessa mudança. Do mesmo modo que gostaríamos de o envolver a si. Os nossos valores - Sentimo-nos ultrajados pela exploração, pelos maus tratos e sofrimento das crianças. Exigimos justiça para as crianças mais pobres e mais vulneráveis do mundo. - Somos ambiciosos no que respeita alcançar uma mudança dramática para as crianças, e estamos determinados a consegui-la. Nunca nos deixamos intimidar por aqueles que pensam que as grandes mudanças são impossíveis. - Somos criativos. Procuramos novas e melhores formas de ajudar as crianças, extraindo exemplos de perspectivas diferentes e de experiências de todo o mundo - especialmente das próprias crianças. Não receamos provocar e surpreender as pessoas quando essa abordagem se traduz em realização do trabalho. - Cumprimos as promessas que fazemos às crianças, aos nossos apoiantes e parceiros, e uns aos outros. Trabalhamos muito no sentido de conquistar a sua confiança, e assumimos a responsabilidade por tudo o que afirmamos e fazemos. A nossa missão Save the Children luta pelos direitos das crianças; oferecemos melhorias imediatas e duradouras nas vidas das crianças em todo o mundo. Par tilhamos a nossa visão e missão com os nossos parceiros da Aliança Internacional Save the Children. Salvaguardar as crianças Visamos ser uma organização de ‘segurança para a criança’. Faremos tudo o que nos for possível para assegurar que a experiência que as crianças e os jovens têm da nossa organização seja livre de qualquer forma de exploração e de abuso e que elas se sintam respeitadas e em segurança. Informação sobre o Programa de Estudos sobre Migração Forçada (Forced Migration Studies Programme) Fundado em 1993 como o Programa de Investigação sobre os Refugiados, o Programa de Estudos sobre Migração Forçada (FMSP), na Universidade Wits, é a principal instituição da África Austral dedicada à investigação e à formação sobre migração, humanitarismo e transformação social. Com estudantes de toda a África e do mundo, o programa oferece formação académica de rigor, experiência de investigação prática, e acesso a uma rede de dedicados profissionais, académicos e activistas. Com base em Joanesburgo – o coração da cultura, da política e da economia da África Austral – o programa oferece um olhar atento sobre as causas e as consequências da migração em África, sob uma perspectiva global. Integrando a School of Social Sciences, o FMSP provê uma introdução para quem ainda é inexperiente neste campo, enquanto faculta opor tunidades para a reflexão crítica àqueles que sejam já detentores de experiência prática. Os graduados deste programa exercem actualmente funções em universidades, em agências governamentais e não governamentais, e em organizações internacionais em África, na Europa e na América do Nor te. 27 28
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