4 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
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4 Vol. XXII 2013 - Revista Nascer e Crescer
Vol. 22, nº 4, dezembro 2013 Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto 4 22| Associação para o Desenvolvimento e Ensino Materno Infantil Destaques Refluxo Vesical-Ureteral: Perspectivas Actuais A Unidade de Urologia Pediátrica e o Serviço de Nefrologia Pediátrica do Centro Hospitalar do Porto – Hospital de S. António vão realizar uma Reunião temática “Refluxo vesico-ureteral: Perspectivas Actuais”, na tarde de 28 de Fevereiro de 2014, no Anfiteatro do Instituto de Genética Médica Jacinto Magalhães. A inscrição é gratuita. No próximo dia 7 de Março realiza-se a Reunião “Espaço Jovem, 20 anos de estórias. Que futuro?”, no Auditório da biblioteca Almeida Garrett – Porto. Aceitam-se trabalhos sob a forma de Poster. O melhor trabalho será premiado. A inscrição é gratuita. O Serviço de Imunoalergologia do CHP vai realizar o "I Curso de Asma na Criança e no Adolescente", dia 21 de Março de 2014, no Anfiteatro do Instituto de Genética Médica Doutor Jacinto Magalhães. A experiência acumulada do Serviço, já há 20 anos a trabalhar no Grupo Etário Pediátrico, irá permitir uma melhor compreensão das necessidades de Formação por parte dos Internos de Pediatria, de Medicina Geral e Familiar e de Imunoalergologia, a que se destina este curso. A inscrição é gratuita. No próximo dia 28 de Março o Centro de Genética Médica Doutor Jacinto Magalhães e o CHP vão realizar as XLIII Conferências de Genética Doutor Jacinto Magalhães: "A Genética do X", que terão lugar no Auditório Prof. Alexandre Moreira, CHP. O prazo para submissão de resumos termina dia 9 de Março. Para mais informações visite-nos em www.ademi.pt Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto | Departamento de Ensino, Formação e Investigação Ano | 2013 Volume | XXII Número | 04 Diretora | Editor-in-Chief | Sílvia Álvares; Diretor Adjunto | Associated Editor | Rui Chorão; Diretora Executiva | Executive Editor | Luísa Lobato Presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Porto | Director | Fernando Sollari Allegro Corpo Redatorial | Editorial Board Ana Rita Araújo, ULSAM Armando Pinto, IPOPFG Artur Alegria, CHP Braga da Cunha, CHTS Carmen Carvalho, CHP Cláudia Pedrosa, CHVNG/E Cláudia Tavares, CHAA Conceição Mota, CHP Cristina Rocha, CHEDV Gabriela Soares, CGMJM Gustavo Rocha, CHSJ João Barreira, CHSJ Laura Marques, CHP Margarida Guedes, CHP Rui Almeida, HPH/ULSM Vasco Lavrador, CHP Editores especializados | Section Editors Artigo Recomendado – Helena Mansilha, CHP; Maria do Carmo Santos, CHP Perspetivas Atuais em Bioética – Natália Teles, CGMJM Pediatria Baseada na Evidência – Luís Filipe Azevedo, FMUP; Altamiro da Costa Pereira, FMUP A Cardiologia Pediátrica na Prática Clínica – António Marinho, CHUC; Fátima Pinto, HSM/CHLC; Maria Ana Sampaio, HCV, Maria João Baptista, CHSJ; Paula Martins, HPCM/CHUC, Rui Anjos, HSC/CHLO; Sílvia Álvares, CHP Ciclo de Pediatria Inter-Hospitalar do Norte – Armando Pinto, IPOPFG; Carla Moreira, HB/EB; Conceição Santos Silva, CHPVVC; Fátima Santos, CHVNG/E; Inês Azevedo, CHSJ; Isalita Moura, HSMM; Isolina Aguiar, CHAA; Joaquim Cunha, CHTS; Susana Tavares, CHEDV; Cármen Carvalho, CHP; Rosa Lima, CHP; Sofia Aroso, HPH/ULSM; Sónia Carvalho, CHMA Caso Dermatológico – Manuela Selores, CHP; Susana Machado, CHP Caso Eletroencefalográfico – Rui Chorão, CHP Caso Endoscópico – Fernando Pereira, CHP Caso Estomatológico – José Amorim, CHP Caso Radiológico – Filipe Macedo, CHAA Genes, Crianças e Pediatras – Esmeralda Martins, CHP; Gabriela Soares, CGMJM Educação Científica – Margarida Lima, CHP, ICBAS-UP Pequenas Histórias – Margarida Guedes, CHP Consultor Técnico | Consultant Gama de Sousa, Porto Consultora de Epidemiologia e de Bioestatistica | | Advisor of Epidemiology and Biostatistics Maria José Bento, IPOPFG Conselho Científico Nacional | | National Scientific Board Alberto Caldas Afonso, CHSJ, FMUP, Porto Almerinda Pereira, HB/EB, Braga Ana Maria Leitão, HSSM, Barcelos Ana Ramos, CHP, Porto António Martins da Silva, CHP e ICBAS/UP, Porto Arelo Manso, Porto Braga da Cunha, CHTS, Penafiel Cidade Rodrigues, CHP, Porto Conceição Casanova, CHPVVC, Póvoa de Varzim Eurico Gaspar, CHTMAD, Vila Real Fátima Praça, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia Gonçalves Oliveira, CHMA, Famalicão Helena Jardim, CHP, Porto Henedina Antunes, HB/EB, Braga Hercília Guimarães, CHSJ, FMUP, Porto Herculano Rocha, CHP, Porto Ines Lopes, CHVNG/E, Vila Nova de Gaia José Barbot, CHP, Porto José Carlos Areias, FMUP, Porto José Cidrais Rodrigues, HPN/ULSM, Matosinhos José Pombeiro, CHP, Porto Lopes dos Santos, HPH/ULSM, Matosinhos Luís Almeida Santos, CHSJ, FMUP, Porto Manuel Salgado, HPCM/CHUC, Coimbra Manuela Selores, CHP, Porto Marcelo Fonseca, ULSM, Matosinhos Margarida Lima, CHP, ICBAS/UP, Porto Maria Augusta Areias, HPBN, Porto Norberto Estevinho, HPP, Porto Óscar Vaz, ULSN, Mirandela Paula Cristina Ferreira, CHP, Porto Pedro Freitas, CHAA, Guimarães Rei Amorim, CHAM, Viana do Castelo Ricardo Costa, CHCB, Covilhã Rosa Amorim, CHP, Porto Rui Carrapato, CHEDV, Santa Maria da Feira Teresa Oliveira, CHP, Porto Teresa Temudo, CHP, Porto Conselho Científico Internacional | | International Scientific Board Alain de Broca, Centre Hospitalier Universitaire Amiens, Amiens Annabelle Azancot-Bergel, Hôpital Robert-Debré, Paris Francisco Alvarado Ortega, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid Francisco Ruza Tarrio, Hospital Materno Infantil Universitario La Paz, Madrid George R. Sutherland, St. George’s Hospital Medical School Cranmer Terrace, Londres José Boix Ochoa, Barcelona Jean-François Chateil, Hôpital Pellegrin, Bordéus José Quero, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Tovar Larrucea, Hospital Universitario La Paz, Madrid Juan Utrilla, Fundacion Pedro Borras, Madrid Luis Callís, Hospital Vall d’Hebron, Barcelona Peter M. Dunn, University of Bristol, Bristol Assessores Editoriais | Editorial Assistants Carolina Cortesão Paulo Silva Publicação trimestral resumida e indexada por Catálogo LATINDEX EMBASE / Excerpta Médica Index das Revistas Médicas Portuguesas SciELO Scopus Artigos disponíveis no Repositório Científico do CHP http://repositorio.chporto.pt Design gráfico bmais comunicação Execução gráfica e paginação Papelmunde, SMG, Lda Vila Nova de Famalicão ISSN 0872-0754 Depósito legal 4346/91 Tiragem 2.500 exemplares Autorização CTT DE 0005/2005 DCN Propriedade, Edição e Administração / Publisher Departamento de Ensino, Formação e Investigação Centro Hospitalar do Porto Largo do Prof. Abel Salazar – 4099-001 Porto Telefone: (+351) 222 077 500; fax: (+351) 222 082 166 Telemóvel: (+351) 915 676 516 [email protected] Condições de assinatura Anual Nacional (4 números) - 40 euros Anual Estrangeiro (4 números) - 80 euros Número avulso - 12 euros CGMJM, Centro de Genética Médica Dr. Jacinto Magalhães, CHAA, Centro Hospitalar do Alto Ave; CHAM, Centro Hospitalar do Alto Minho; CHCB, Centro Hospitalar da Cova da Beira; CHEDV, Centro Hospitalar de Entre Douro e Vouga; CHMA, Centro Hospitalar do Médio Ave; CHP, Centro Hospitalar do Porto; CHPVVC, Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim – Vila do Conde; CHSJ, Centro Hospitalar de São João; CHTMAD, Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro; CHTS, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa; CHUC, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; CHVNG/E, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho; DEFI, Departamento de Ensino, Formação e Investigação; FMUP, Faculdade de Medicina da Universidade do Porto; HB/EB, Hospital de Braga/Escala Braga; HCV, Hospital Cruz Vermelha; HPBN, Hospital Privado da Boa Nova; HPCM/CHUC, Hospital Pediátrico Carmona da Mota; HPH/ULSM, Hospital Pedro Hispano/Unidade Local de Saúde Matosinhos; HPP, Hospitais Privados de Portugal; HSC/CHLO, Hospital de Santa Cruz/Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; HSM/CHLC, Hospital de Santa Marta/Centro Hospitalar de Lisboa Central; HSMM, Hospital Santa Maria Maior; ICBAS/UP, Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto; IPOPFG, Instituto Português de Oncologia do Porto, Francisco Gentil; ULSN, Unidade Local de Saúde do Nordeste. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 índice número4.vol.XXII 209 Editorial 210 Artigos Originais Sílvia Álvares Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas Liliana Pinho, Joana Pinto, Ana Cristina Braga, Sónia Gouveia, Luísa Matos, José Pombeiro, Alexandra Almeida 216 Prescrição Antibiótica no Serviço de Urgência Pediátrica de um Hospital Nível II da Região Centro Fátima Ribeiro, Sónia Regina Silva, Inês Nunes Vicente, Sílvia Almeida 220 Internamentos por Linfadenite Cervical num Serviço de Pediatria Geral David Lito, Diana Pignatelli, Ana Sofia Simões, Alexandra Carvalho, Florbela Cunha 227 Artigo de Revisão Doença óssea relacionada com a fibrose quística: uma complicação recente Kátia Cardoso, Luísa Pereira, Celeste Barreto 234 Casos Clínicos Encefalomielite aguda disseminada – pós-infeção por Herpes Vírus 6 Joana Amorim, Isabel Couto Guerra, Rosa Lima, José Cunha, Inês Carrilho, Ana Ramos 238 Psiquiátrico, aditivo ou orgânico: um desafio nos adolescentes Maria Inês Monteiro, Augusto C Ferreira, Hans Peter Grebe, Lúcia Gomes, Miguel Costa 241 Infeção tardia por streptococcus agalactiae – um caso de artrite séptica neonatal Ângela Santos, Beatriz Sousa, Ana Paula Gama 244 Vestida de vermelho – um caso de reação medicamentosa Cláudia Melo, Filipa Almeida, Susana Lopes, Paulo Teixeira, Célia Barbosa, Ana Sequeira, Cristina Miguel NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 de Pediatria Inter-Hospitalar 248 Ciclo do Norte Encefalomielite Aguda Disseminada por Mycoplasma pneumoniae Diana Gonzaga, Marta Grilo, Amélia Bártolo, Vitor Cruz, Rui Carrapato 252 Perspetivas Atuais em Bioética Ética nas decisões sobre o fim da vida – a importância dos cuidados paliativos Ana Dias Neto 257 Qual o seu Diagnóstico? Caso dermatológico Maria Inês Monteiro, Ana Luísa Leite, Joana Rodrigues, Miguel Costa, Teresa Oliveira, Cristina Rocha 259 Caso hematológico Mariana Costa, Emília Costa, Isabel Guerra, Esmeralda Cleto, Inês Freitas, José Barbot 261 Caso radiológico Filipe Macedo 263 Educação Científica Conceção, redação e publicação de artigos científicos: Submissão de artigos para publicação Margarida Lima 269 Pequenas Histórias Homenagem Margarida Guedes 270 Índice de Autores 272 Índice de Assuntos 276 Agradecimentos 277 Normas de Publicação NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 summary number4.vol.XXII 209 Editorial 210 Original Articles Sílvia Álvares Healthcare-associated infections in a NICU: evaluation of the effectiveness of implemented prevention strategies Liliana Pinho, Joana Pinto, Ana Cristina Braga, Sónia Gouveia, Luísa Matos, José Pombeiro, Alexandra Almeida 216 Antibiotic prescription in a Paediatric Emergency Department from a level II Hospital in the Central Region Fátima Ribeiro, Sónia Regina Silva, Inês Nunes Vicente, Sílvia Almeida 220 Admissions for cervical lymphadenitis in a General Paediatrics Unit David Lito, Diana Pignatelli, Ana Sofia Simões, Alexandra Carvalho, Florbela Cunha 227 Review Articles Cystic fibrosis-related bone disease Kátia Cardoso, Luísa Pereira, Celeste Barreto 234 Case Reports Acute disseminated encephalomyelitis – herpes virus 6 post-infection Joana Amorim, Isabel Couto Guerra, Rosa Lima, José Cunha, Inês Carrilho, Ana Ramos 238 Psychiatric, additive or organic: a challenge in adolescence Maria Inês Monteiro, Augusto C Ferreira, Hans Peter Grebe, Lúcia Gomes, Miguel Costa 241 Late-onset streptoccus agalactiae disease – a neonatal septic arthritis case report Ângela Santos, Beatriz Sousa, Ana Paula Gama 244 Wearing red – a case of drug reaction Cláudia Melo, Filipa Almeida, Susana Lopes, Paulo Teixeira, Célia Barbosa, Ana Sequeira, Cristina Miguel NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 248 Paediatric Inter-Hospital Meeting Acute disseminated encephalomyelitis due to mycoplasma pneumonia Diana Gonzaga, Marta Grilo, Amélia Bártolo, Vitor Cruz, Rui Carrapato 252 Current Perspectives in Bioethics Ethics in decisions about the end of life - The importance of palliative care Ana Dias Neto 257 What is your Diagnosis? Dermatology case Maria Inês Monteiro, Ana Luísa Leite, Joana Rodrigues, Miguel Costa, Teresa Oliveira, Cristina Rocha 259 Hematology case Mariana Costa, Emília Costa, Isabel Guerra, Esmeralda Cleto, Inês Freitas, José Barbot 261 Radiological case Filipe Macedo 263 Scientific Education Design, writing and publication of scientific manuscripts – manuscript writing: size and form Margarida Lima 269 Short Stories A Tribute Margarida Guedes 270 Author Index 272 Subject Index 276 Acknowledgements 277 Instructions for Authors NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 editorial A Associação para o Desenvolvimento do Ensino Materno Infantil (ADEMI) é uma associação cientifica, constituída em Abril de 2013, dotada de personalidade jurídica própria e com sede no Porto, no Largo da Maternidade Júlio Dinis. Foi fundada por um grupo multidisciplinar de médicos da área da Pediatria, Especialidades Pediátricas, Obstetrícia e Ginecologia. Tem como finalidade a promoção da Saúde da Mulher e da Criança, da educação médica contínua, da formação pós graduada e da investigação científica. Com este objetivo pretendemos desenvolver o estudo e investigação de temáticas científicas relacionados com a saúde da mulher e da criança, fomentar o estreitamento de relações científicas entre os profissionais de saúde que se dedicam particularmente a este sector da Medicina e promover a cooperação com as associações portuguesas e estrangeiras criadas com idênticos fins. Durante o ano de 2013 organizamos, em colaboração com o Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto (CHP) e com o apoio dos ACeS Porto Ocidental e Gondomar e a coordenação do Internato Médico de Medicina Geral e Familiar, o I Curso de Atualização em Pediatria para Medicina Geral e Familiar. Esta reunião visou uma melhor articulação entre os diferentes níveis de cuidados de saúde da criança e a atualização de conhecimentos na área da pediatria. Em novembro decorreu, na continuidade de uma já longa tradição de colaboração entre os vários Serviços de Pediatria do Norte do país e em conjunto com os Serviços de Obstetrícia e Ginecologia do CHP, a I Reunião de Pediatria e Obstetrícia do CHP | Nascer e Crescer: os 25 anos, numa perspetiva multidisciplinar da prestação de cuidados de saúde. Para o ano de 2014 temos agendadas as seguintes reuniões científicas: • Refluxo vesico-ureteral – perspetivas atuais dia 28 de fevereiro, no auditório do Instituto de Genética Médica; • Espaço Jovem, 20 anos de estórias. Que futuro? dia 7 de março, na Biblioteca Almeida Garrett; • I Curso de Asma na Criança e Adolescente dia 21 de março, no auditório do Instituto de Genética Médica Doutor Jacinto Magalhães; • XLIII Conferências de Genética Doutor Jacinto Magalhães: A genética do X, dia 28 de Março, no Auditório Alexandre Moreira do CHP. A organização da II Reunião de Pediatria e Obstetrícia do CHP, programada para novembro de 2014, está também em curso, em colaboração com os serviços pediátricos do norte do país e serviços de obstetrícia e ginecologia do CHP. Contamos com a vossa presença para que estas reuniões possam ser uma oportunidade de encontro, de debate, de atualização de conhecimentos em benefício dos nossos doentes. Visitem o nosso site em www.ademi.pt e enviem-nos sugestões e propostas. Até breve. Sílvia ÁlvaresI __________ I Presidente da Associação para o Desenvolvimento do Ensino Materno Infantil editorial 209 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas Liliana PinhoI; Joana PintoI; Ana Cristina BragaI; Sónia GouveiaII,III; Luísa MatosI; José PombeiroI; Alexandra AlmeidaI RESUMO Introdução: Os recém-nascidos (RN) internados em unidades de cuidados intensivos (UCIN) apresentam um risco acrescido de infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS). Na Maternidade Júlio Dinis (MJD), após ter sido constatada uma incidência elevada de IACS, efetuaram-se alterações na prática clínica diária. Objetivos: Avaliar a eficácia das estratégias de prevenção de infeção implementadas na UCIN da MJD. Material e métodos: Estudo prospetivo incluindo os RN internados na UCIN da MJD nos 16 meses anteriores (grupo 1) e nos 16 meses subsequentes (grupo 2) às intervenções, comparando-se os índices de infeção nestes dois períodos temporais. Resultados: O grupo 1, com 528 RN, e o grupo 2, com 593 RN, não mostraram diferença em relação ao peso, idade gestacional, taxa de utilização de cateter vascular central (CVC) e duração da nutrição parentérica e da ventilação invasiva. Verificou-se uma diminuição da incidência global de infeção: densidade de incidência de IACS – sépsis, pneumonia, enterocolite necrotizante e meningite – (10,0vs.6,3, p=0,0007), densidade de incidência de sépsis clínica e confirmada bacteriologicamente (9,6vs.5,9, p=0,0007), densidade de incidência de sépsis confirmada bacteriologicamente (6,8vs.4,6, p=0,015), taxa de incidência de sépsis associada a CVC (30,3vs.22,4; p=0,021) e taxa de isolamento de Staphylococcus coagulase-negativo (85,7%vs.71,1%, p=0,041). Embora a taxa de incidência de sépsis associada a CVC confirmada bacteriologicamente tenha diminuído (22vs.19), a diferença não foi estatisticamente significativa. Foram observadas tendências semelhantes entre os RN de muito baixo peso. Conclusões: O estudo demonstrou que uma intervenção baseada na evidência foi eficaz, tendo proporcionado uma diminuição de 37% das IACS na UCIN da MJD. Palavras-chave: Cateter vascular central, infeções associadas aos cuidados de saúde, prevenção, sépsis, unidade de cuidados intensivos neonatais. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 210-215 __________ I S. Neonatologia, Dep. Criança e do Adolescente, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] II Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro, U Aveiro (IEETA/UA), 3810-193 Aveiro, Portugal. [email protected] III Centro I&D em Matemática e Aplicações (CIDMA/UA), Universidade de Aveiro, 3810 -193 Aveiro, Portugal. 210 artigo original original article INTRODUÇÃO As infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) aumentam a morbilidade e a mortalidade e prolongam os internamentos com consequente incremento dos custos.(1-3) Os recém-nascidos (RN) internados em unidades de cuidados intensivos apresentam um risco acrescido de IACS devido à sua imaturidade imunológica e exposição frequente a procedimentos e dispositivos invasivos, a antibióticos de amplo espectro e a múltiplos cuidadores.(1-4) Quanto menor a idade gestacional e o peso ao nascimento, maior o risco de infeção.(1,3) A prevenção das IACS baseia-se em estratégias que visam diminuir o risco de infeção através da evicção da transmissão dos microrganismos pelos profissionais de saúde (higiene das mãos), do uso criterioso dos antimicrobianos, de cuidados rigorosos de assepsia na colocação e manutenção dos cateteres vasculares e do aumento das defesas do hospedeiro.(2,3) A incidência de IACS varia significativamente entre as diferentes unidades de cuidados intensivos neonatais (UCIN).(4-7) A comparação de dados permite identificar as unidades com controlo mais eficiente da infeção cujas práticas possam ser partilhadas pelas restantes de forma a reduzir-se as respetivas taxas de incidência (benchmarking).(5-8) Na sequência de auditorias internas realizadas em 2008 e 2009, no contexto do Programa Nacional de Controle das Infeções (PNCI) nas UCIN, constatou-se que a incidência de IACS na UCIN da Maternidade Júlio Dinis (MJD) era elevada. Por conseguinte, foram efetuadas alterações na prática clínica diária, baseadas na evidência (revisão da literatura, benchmarking), envolvendo diversas áreas de intervenção, sendo dada formação específica aos vários grupos profissionais que cuidam do RN. De entre as medidas tomadas destacamos a higienização das mãos, aproveitando as campanhas nacionais que foram amplamente divulgadas. Foi implementado um novo protocolo de atuação em relação aos acessos vasculares centrais, focando a necessidade de assepsia rigorosa na sua colocação, manipulação e remoção. As portas de entrada dos sistemas endovenosos ligados a cateteres centrais passaram a ser colocadas no exterior das incubadoras e o horário da medicação foi programado de forma a minimizar as aberturas dos respetivos sistemas. A montagem das linhas endovenosas e a manipulação das suas torneiras passou a ser efetuada com assepsia rigorosa. O soro de lavagem dos sistemas passou a ser montado em circuito fechado, estando sempre pronto a utilizar após a administração da NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 medicação, sem necessidade de novo manuseio das portas de entrada, que passaram a ser desinfetadas com fricção vigorosa com clorohexidina, antes e depois das manipulações. As hemoculturas foram outro dos pontos abordados, insistindo-se na colheita mínima de 1 ml de sangue para identificação mais eficaz dos agentes bacterianos. O protocolo de isolamento dos doentes foi revisto, passando a haver normas escritas adequadas a cada situação. Finalmente, foi dada formação específica na área da higienização das incubadoras e do material de contacto com o doente. Assim, o presente estudo teve como objetivo avaliar a eficácia das intervenções efetuadas, comparando a incidência de IACS antes e após 1 de Agosto de 2010, data em que foram implementadas as novas estratégias de prevenção de infeção. MATERIAL E MÉTODOS Utilizando os dados colhidos para o PNCI nas UCIN, foi realizado um estudo prospetivo de efetividade das medidas adotadas que incluiu todos os RN internados na UCIN da MJD. O estudo foi dividido em dois períodos: 16 meses antes (grupo 1) e 16 meses depois (grupo 2) de 1 de Agosto de 2010, comparando-se os índices de infeção nestes dois períodos temporais. Recolheram-se os seguintes dados: idade gestacional, peso ao nascimento, data de internamento, data de alta, data de colocação e de remoção de cateter vascular central (epicutâneo-cava, da veia umbilical, da artéria umbilical e cateter venoso com túnel de tipo Broviac), número de dias de ventilação invasiva, número de dias de nutrição parentérica (NP), data de início da infeção e tipo de infeção – sépsis, meningite, pneumonia e enterocolite necrotizante (NEC). O tipo de infeção foi determinado de acordo com as definições que constam no PNCI nas UCIN, e que se baseiam nos critérios de diagnóstico da rede alemã NEOKISS(9): o diagnóstico de sépsis estabeleceu-se de acordo com critérios clínicos e laboratoriais; considerou-se sépsis clínica se não se obteve isolamento de um agente patogénico na hemocultura mas houve melhoria clínica após instituição de terapêutica antibiótica; assumiu-se sépsis confirmada bacteriologicamente na presença de agente patogénico identificado na hemocultura ou na cultura de líquido cefalorraquidiano; considerou-se infeção associada aos cuidados de saúde se o início ocorreu após 72 horas de internamento, e infeção associada a dispositivo se o início ocorreu durante a presença do mesmo ou até 48 horas após a sua remoção. Foram excluídos os RN com infeções adquiridas noutra instituição hospitalar e posteriormente transferidos para a UCIN da MJD para tratamento. Também não foram analisados os episódios de sépsis que ocorreram nas primeiras 48 horas após transferência de RN da UCIN da MJD para outras unidades. Para os dois grupos calcularam-se os seguintes índices de infeção: densidade de incidência de IACS (número de casos de IACS por 1000 dias de internamento, considerando sépsis, meningite, enterocolite necrotizante com e sem sépsis, pneumonia com e sem sépsis), densidade de incidência de sépsis (número de casos de sépsis por 1000 dias de internamento) e taxa de incidência de sépsis associada a cateter vascular central (CVC) (número de casos de sépsis associada a CVC por 1000 dias de CVC). A frequência de utilização de CVC, fator de risco para o desenvolvimento de infeções associadas a este dispositivo, calculou-se pela razão de utilização de CVC (número total de dias de utilização de CVC por 100 dias de internamento). Análise estatística As características intrínsecas das duas populações (por exemplo, idade gestacional e peso ao nascimento) foram comparadas por meio de um teste estatístico bilateral (comparações de médias e também de medianas, devido à assimetria das distribuições). As comparações restantes foram realizadas com teste unilateral para corroborar as alterações esperadas devido às mudanças de protocolo. Os índices de infeção antes e depois da implementação das estratégias de prevenção foram comparados pelo teste t com erros padrão estimados a partir de 10000 réplicas de bootstrap da amostra original. Foi considerada significância estatística para p<0.05. RESULTADOS Nos 16 meses que antecederam a implementação das estratégias de prevenção de IACS, foram admitidos na UCIN da MJD 528 RN (grupo 1), enquanto nos 16 meses seguintes foram internados 593 RN (grupo 2). Os resultados apresentados na Tabela 1 indicam que não houve evidência estatística de que as duas populações tivessem características diferentes. Em particular, o valor médio da idade gestacional (34,1 vs. 34,2 semanas, p=0,22) e do peso ao nascimento (2167g vs. 2172g, p=0,46) foi semelhante nos dois grupos. Ambos incluíram RN de muito baixo peso (MBP), nomeadamente 130 no grupo 1 e 132 no grupo 2. Tabela 1 – Caracterização da população do estudo quanto à idade gestacional e peso ao nascimento Grupo 1 (n=528) Grupo 2 (n=593) p1 Idade gestacional média (semanas) 34,1 34,2 0,22 Peso médio ao nascimento (g) 2167 2172 0,46 RN MBP (%) 24,6 22,3 - Peso médio dos RN MBP (g) 1104 1083 0,26 Legenda: 1p-valor para a comparação dos valores médios populacionais Abreviaturas: RN – recém -nascidos; MBP – muito baixo peso. O tempo médio de internamento foi significativamente mais curto no grupo 2 (19,4 vs. 16,4 dias, p=0,018). No entanto, considerando apenas os RN MBP, não se verificou diferença entre os grupos (44,7 vs. 40,2 dias, p=0,20) (Tabela 2). artigo original original article 211 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Tabela 2 – Caracterização da população do estudo quanto a fatores de risco Grupo 1 (n=528) Grupo 2 (n=593) p 10222 9714 - Tempo médio de internamento (dias) 19,4 16,4 0,018 Total de dias de CVC 2178 1786 - População total Total de dias de internamento N.º de RN com CVC 117 (22%) 107 (18%) - Taxa de utilização de CVC (/100 dias de internamento) 20,4 17,5 0,09 Duração média de NP (dias) 3,3 2,9 0,15 Duração média de ventilação invasiva (dias) 1,0 0,8 0,21 Total de dias de internamento 5808 5311 - Tempo médio de internamento (dias) 44,7 40,2 0,20 Total de dias de CVC 1805 1511 - N.º de RN com CVC 87 (67%) 83 (63%) - Figura 1 – Densidade de incidência de infeções associadas aos cuidados de saúde (sépsis, meningite, enterocolite necrotizante com e sem sépsis, pneumonia com e sem sépsis) Taxa de utilização de CVC (/100 dias de internamento) 31,1 28,5 0,20 Legenda: Densidade de incidência de sépsis representada em caixa de bigodes, onde a linha central da caixa representa a mediana da distribuição. Duração média de NP (dias) 10,5 11,5 0,23 Duração média de ventilação invasiva (dias) 3,5 2,7 0,22 RN MBP Abreviaturas: CVC – cateter vascular central; RN – recém-nascidos; NP – nutrição parentérica; MBP – muito baixo peso. O valor total de dias de CVC foi 2178 no grupo 1 e 1786 no grupo 2, sendo que 22% dos RN do grupo 1 e 18% dos RN do grupo 2 tiveram CVC colocados (Tabela 2). A taxa de utilização de CVC foi semelhante nos dois grupos, considerando tanto a população total (20,4 vs. 17,5, p=0,09) como os RN MBP (31,1 vs. 28,5, p=0,20) (Tabela 2). De referir que 74% dos RN com CVC no grupo 1 e 78% dos RN com CVC no grupo 2 eram MBP. A duração média da nutrição parentérica (3,3 vs. 2,9 dias, p=0,15) e da ventilação invasiva (1,0 vs. 0,8 dias, p=0,21) foi também semelhante nos dois grupos (Tabela 2). Na população total, 86 RN do grupo 1 (16%) e 51 RN do grupo 2 (9%) sofreram pelo menos um episódio de IACS enquanto, entre os RN MBP, 69 no grupo 1 (53%) e 39 no grupo 2 (30%) tiveram IACS. Do total de RN com IACS, 80% no grupo 1 e 76% no grupo 2 eram MBP. A densidade de incidência de IACS foi significativamente mais baixa no grupo 2, tanto na população total (10,0 vs. 6,3, p=0,0007) (Figura 1) como nos RN MBP (14,6 vs. 9,2, p=0,001) (Tabela 3). 212 artigo original original article Tabela 3 – Incidência de infeções associadas aos cuidados de saúde nos RN MBP RN MBP RN MBP Grupo 1 Grupo 2 (n=130) (n=132) p Densidade de incidência de IACS 14,6 9,2 0,001 Densidade de incidência de sépsis (clínica e confirmada bacteriologicamente) 14,3 8,7 0,0009 Densidade de incidência de sépsis (confirmada bacteriologicamente) 10,3 7,5 0,04 Taxa de incidência de sépsis associada a CVC (clínica e confirmada bacteriologicamente) 32,6 22,1 0,006 Taxa de incidência de sépsis associada a CVC (confirmada bacteriologicamente) 24,1 19,6 0,134 Abreviaturas: RN – recém -nascidos; MBP – muito baixo peso; IACS – infeções associadas aos cuidados de saúde; CVC – cateter vascular central. A sépsis, como diagnóstico isolado ou associada a pneumonia, enterocolite necrotizante (NEC) ou meningite, foi o tipo de infeção mais frequente em ambos os grupos, correspondendo a 96% das IACS no grupo 1 e 93% no grupo 2. Verificou-se uma diminuição estatisticamente significativa da densidade de inci- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 dência de sépsis (clínica e confirmada bacteriologicamente) no grupo 2, tanto na população total (9,6 vs. 5,9, p=0,0007; 6,8 vs. 4,6, p=0,015) (Figura 2 e Figura 3) como nos RN MBP (14,3 vs. 8,7, p=0,0009; 10,3 vs. 7,5, p=0,04) (Tabela 3). Relativamente à taxa de incidência de sépsis associada a CVC, constatou-se um valor significativamente mais baixo no grupo 2 (população total: 30,3 vs. 22,4, p=0,021; RN MBP: 32,6 vs. 22,1, p=0,006) (Figura 4 e Tabela 3). No entanto, o mesmo não se verificou quando se considerou isoladamente a sépsis associada a CVC confirmada bacteriologicamente, tanto na população total (22,0 vs. 19,0, p=0,211) (Figura 5) como nos RN MBP (24,1 vs. 19,6, p=0,134) (Tabela 3). Figura 2 – Densidade de incidência de sépsis (clínica e confirmada bacteriologicamente) Figura 4 - Taxa de incidência de sépsis associada a cateter vascular central (clinica e confirmada bacteriologicamente) Figura 3 – Densidade de incidência de sépsis confirmada bacteriologicamente Figura 5 – Taxa de incidência de sépsis associada a cateter vascular central confirmada bacteriologicamente artigo original original article 213 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 A percentagem de hemoculturas positivas foi semelhante nos dois grupos (71,4% vs. 78,9%, p=0,17). Pelo contrário, verificou-se uma diminuição significativa do número de isolamentos de Staphylococcus coagulase-negativo (SCN) (85,7% vs. 71,1%, p=0,041). Este foi o agente etiológico de sépsis mais frequente em ambos os grupos (61,2% vs. 56,1%), seguido do Staphylococcus aureus (4,1% vs. 12,3%), Enterococcus spp e Escherichia coli (ambos com 1,0% vs. 3,5%). As IACS foram causa de morte em quatro RN do grupo 1 (0,8%) e em seis RN do grupo 2 (1%), sendo que todos os óbitos por este tipo de infeção ocorreram em RN MBP (3% vs. 5%, p=0,27). As conclusões estatísticas tendo por base a comparação de medianas foram equivalentes às obtidas pelas comparações de médias, pelo que apresentámos apenas estes últimos valores. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES A população de RN que integrou o estudo nos dois períodos temporais é idêntica no que respeita à idade gestacional e ao peso ao nascimento. Verificou-se também que outros fatores de risco para IACS, nomeadamente a taxa de utilização de CVC, a duração média de NP e de ventilação invasiva foram similares nos dois grupos de RN. Pelo contrário, o tempo médio de internamento foi menor nos 16 meses subsequentes às intervenções efetuadas. No entanto, considerando apenas os RN MBP, que contribuíram para grande parte da incidência de IACS, o tempo médio de internamento foi semelhante nos dois períodos temporais. Desta forma, inferimos que não terá havido interferência destas variáveis nos resultados encontrados. As alterações efetuadas na prática clínica diária na UCIN da MJD conduziram a uma diminuição significativa da incidência global de IACS, inclusivamente entre os RN de maior risco, os MBP. À semelhança do que é descrito na literatura(3,8), a sépsis foi a IACS mais frequente. A incidência deste tipo de infeção, com e sem identificação de agente, diminuiu significativamente depois da implementação das medidas de controlo de infeção. Uma das áreas de intervenção relacionou-se com os cuidados na colocação e manutenção de cateteres vasculares centrais, assim como com a instituição de novas estratégias na montagem e arquitetura dos sistemas de fornecimento de soros e medicação a eles ligados, o que explicará, em parte, a considerável diminuição da incidência global de sépsis associada a CVC. A diminuição da incidência de sépsis associada a CVC com agente identificado, entre os dois períodos, não atingiu significância estatística, o que mostra a necessidade de maior intervenção futura nesta área. Assumimos sépsis associada a CVC quando se desenvolveu o referido quadro em RN com CVC colocado ou até 48 horas após a sua remoção, não podendo, pelo nosso estudo, atribuir com segurança a origem da infeção ao cateter, uma vez que não é nossa prática colher simultaneamente hemocultura periférica e hemocultura pelo cateter: para além do incremento da espoliação sanguínea, o uso preferencial de cateteres epicutâneo-cava em RN MBP impossibilita a colheita de sangue pelo cateter. Por outro lado, o facto da maioria dos agentes causais ter sido SCN, agen- 214 artigo original original article tes pouco agressivos, fez com que as respetivas infeções tenham sido tratadas evitando a remoção do cateter, o que impediu o estudo bacteriológico da ponta do cateter na maioria dos casos. Importa salientar a redução expressiva do número de isolamentos de SCN, o principal agente etiológico de sépsis nas UCIN.(1-3) Contudo, pode considerar-se que a taxa permanece elevada, pelo que é fundamental manter o cumprimento rigoroso das medidas de assepsia e higienização das mãos. O SCN pertence à flora comensal da pele, pelo que o seu isolamento na hemocultura pode ser difícil de interpretar. Neste estudo, foi considerado agente patogénico se simultaneamente existissem, para além da clínica, alterações analíticas sugestivas de infeção. Apesar dos elevados índices de infeção, a mortalidade associada foi baixa, não passando de 1% na população total e de 5% nos RN MBP, o que reflete a baixa agressividade da maioria dos agentes implicados. A confrontação dos nossos resultados com os descritos na literatura mostra, como anteriormente referido, índices elevados mesmo depois das intervenções efetuadas. No entanto é preciso cautela, uma vez que os métodos de vigilância e de recolha de dados, diferindo de estudo para estudo, impossibilitam uma comparação justa. Há muitos estudos que truncam a recolha de dados aos 28 dias de vida. Muitos outros terminam quando o RN atinge determinado peso. Poucos são os estudos que, como o nosso, englobam a totalidade do internamento, terminando com a saída do RN da UCIN. As definições e metodologias de diagnóstico das diferentes infeções também variam amplamente na literatura.(11-14) Optámos por englobar no nosso estudo não apenas as infeções confirmadas bacteriologicamente, como também as fortes suspeitas clínicas em RN doentes em quem foi impossível identificar um agente causal. Fizemo-lo, conscientes de que, se por um lado corremos o risco de valorizar como infeção algumas situações que poderiam não o ser, por outro não perdemos uma fatia significativa de doentes em que a hemocultura não mostrou crescimento na presença altamente provável de infeção bacteriana. O presente estudo demonstrou que uma intervenção baseada na evidência foi eficaz, tendo proporcionado uma diminuição de 37% das IACS na UCIN da MJD. O passo fundamental foi reconhecer o problema e procurar corrigi-lo. As medidas de prevenção de infeção instituídas são bem conhecidas e estão amplamente descritas na literatura (2, 3). No entanto, a sua implementação exigiu a participação ativa de toda a equipa que cuida dos RN. Para um controlo cada vez mais efetivo da infeção, é importante manter a motivação dos profissionais de saúde, o que poderá passar pelo feedback permanente dos resultados obtidos, por ações de formação frequentes e pelo empenho de todos os cuidadores do RN. HEALTHCARE-ASSOCIATED INFECTIONS IN A NICU: EVALUATION OF THE EFFECTIVENESS OF IMPLEMENTED PREVENTION STRATEGIES ABSTRACT Introduction: Neonates admitted to Neonatal Intensive Care Units (NICU) have a substantial risk for healthcare- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 -associated infections (HAI). A high incidence of HAI was found in Maternidade Júlio Dinis (MJD) NICU and led to changes in daily clinical practice. Objectives: To evaluate the effectiveness of new strategies for prevention of infection implemented in the NICU of MJD. Methods: We conducted a prospective study that included all infants admitted to the NICU of MJD during the 16 months before (group 1) and 16 months after (group 2) the protocol change, comparing the rates of infection in these two time periods. Results: 528 infants were included in group 1 and 593 in group 2, with no statistical evidence of different characteristics between them (weight, gestational age, CVC utilization rate, duration of parenteral nutrition and invasive ventilation). Overall mean infection indices decreased between the two periods: incidence-density of infection – sepsis, pneumonia, necrotizing enterocolitis and meningitis – (10,0 vs. 6,3; p=0,0007), incidence-density of clinical plus laboratory-confirmed sepsis (9,6 vs. 5,9; p=0,0007), incidence-density of laboratory-confirmed sepsis (6,8 vs. 4,6; p=0,015), incidence rate of central vascular catheter (CVC)-associated sepsis (30,3 vs. 22,4; p=0,021) and coagulase-negative Staphylococcus isolation rate (85,7% vs. 71,1%; p=0,041). Although incidence rate of laboratory-confirmed CVC-associated sepsis decreased (22 vs. 19), the difference was not significant. Similar tendencies were observed considering very low birth weight neonates. Conclusions: This study demonstrated that an evidence-based intervention was effective, resulting in a decrease of 37% of the HAI in the NICU of MJD. Key-words: Central venous catheter, healthcare-associated infections, neonatal intensive care unit, prevention, sepsis. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 210-215 FINANCIAMENTOS Este trabalho teve financiamento de fundos portugueses através da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), no âmbito do projecto com CIDMA/UA (Ref. PEst -OE/MAT/ UI4106/2014, www.cidma.mat.ua.pt) e do projecto com IEETA/ UA (Ref. PEst -OE/EEI/UI0127/2014, www.ieeta.pt ). AGRADECIMENTO S. Gouveia agradece o financiamento de Pós -doutoramento pela FCT (ref. BPD/87037/2012).” 3. Borghesi A, Stronati M. Strategies for the prevention of hospital-acquired infections in the neonatal intensive care unit. J Hosp Infect 2008; 68:293-300. 4. Geffers C, Baerwolff S, Schwab F, Gastmeier P. Incidence of healthcare-associated infections in high-risk neonates: results from the German surveillance system for very-low-birthweight infants. J Hosp Infect 2008; 68:214-21. 5. Aly H, Herson V, Duncan A, Herr J, Bender J, Patel K, et al. Is bloodstream infection preventable among premature infants? A tale of two cities. Pediatrics 2005; 115:1513-7. 6. Phillips P, Cortina-Borja M, Millar M, Gilbert R. Risk-adjusted surveillance of hospital-acquired infections in neonatal intensive care units: a systematic review. J Hosp Infect 2008; 70:203-11. 7. Kilbride HW, Wirtschafter DD, Powers RJ, Sheehan MB. Implementation of evidence-based potentially better practices to decrease nosocomial infections. Pediatrics 2003; 111: e519-e532. 8. Kilbride HW, Powers R, Wirtschafter DD, Sheehan MB, Charsha DS, LaCorte M, et al. Evaluation and Development of Potentially Better Practices to Prevent Neonatal Nosocomial Bacteremia. Pediatrics 2003; 111:e504-e512. 9. NEO-KISS (Nosocomial infection surveillance system for preterm infants on neonatology departments and ICUS). Disponível em: http://www.nrz-hygiene.de/en/surveillance/ hospital-infection-surveillance-system/neo-kiss/ 10. Payne NR, Barry J, Berg W, Brasel DE, Hagen EA, Matthews D, et al. Sustained Reduction in Neonatal Nosocomial Infections Through Quality Improvement Efforts. Pediatrics 2012; 129:e165-e171. 11. Schwab F, Gastmeier P, Piening B, Geffers C. The step from a voluntary to a mandatory national nosocomial infection surveillance system: the influence on infection rates and surveillance effect. Antimicrob Resist Infect Control 2012; 1:24. 12. Couto RC, Carvalho EAA, Pedrosa TMG, Pedroso ER, Neto MC, Biscione FM. A 10-year prospective surveillance of nosocomial infections in neonatal intensive care units. Am J Infect Control 2007; 35:183-9. 13. Gill AW. Analysis of neonatal nosocomial infection rates across the Australian and New Zealand Neonatal Network. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Liliana Pinho Centro Hospitalar do Porto Departamento da Criança e do Adolescente Serviço de Neonatologia 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 25.06.2013 | Aceite a 15.12.2013 artigo original original article 215 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Prescrição Antibiótica no Serviço de Urgência Pediátrica de um Hospital Nível II da Região Centro Fátima RibeiroI; Sónia Regina SilvaI; Inês Nunes VicenteII; Sílvia AlmeidaI RESUMO Introdução: A descoberta da penicilina, no final da década de 1920, revolucionou a ciência e trouxe a medicina para a era moderna. Desde então, muitos outros antibióticos surgiram no mercado. Atualmente, um dos maiores problemas da medicina é o uso indiscriminado dos antibióticos e, consequentemente o surgimento de bactérias resistentes. Neste contexto, a utilização adequada dos antibióticos é fundamental para a manutenção da sua própria eficácia. Não existem muitos estudos sobre a prescrição antibiótica nos Serviços de Urgência de Pediatria do nosso país. Objetivo: Caracterizar a prescrição de antibióticos orais no Serviço de Urgência Pediátrico de um hospital nível II da região centro. Material e Métodos: Estudo descritivo e retrospetivo. Foi realizada a análise dos registos médicos da base informática Alert® das crianças que recorreram ao Serviço de Urgência Pediátrico num dia por mês escolhido aleatoriamente (num total de 30 dias), de Janeiro de 2008 a Junho de 2010. Resultados: No período em estudo, foram observadas no Serviço de Urgência Pediátrico 4317 crianças (média de 144 crianças/dia). Foram prescritos antibióticos orais em 400 crianças (9,3%). A amoxicilina foi o antibiótico mais prescrito e a otite média aguda foi o diagnóstico mais frequente. Conclusões: Concluímos haver uma boa ponderação na prescrição de antibióticos orais no Serviço de Urgência Pediátrico do nosso hospital. Propomos algumas atitudes para melhorar essa prescrição. Palavras-chave: Antibióticos, pediatria, prescrição, serviço de urgência. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 216-219 INTRODUÇÃO A descoberta dos antibióticos (ATB) representou um dos maiores avanços na história da medicina, permitindo o tratamento de infeções até então potencialmente fatais. Apesar do progresso no conhecimento da etiologia, fisiopatologia e tratamento das principais doenças infeciosas, as infeções respiratórias agudas persistem como a principal causa de morbilidade e mortalidade em crianças com menos de cinco anos nos países desenvolvidos(1,2). Atualmente, a utilização dos ATB generalizou-se na prática clínica diária e o seu uso no tratamento de infeções respiratórias agudas de etiologia viral é muito comum, tanto em países desenvolvidos como em desenvolvimento(2-4). Esta prática pode resultar da dificuldade clínica em diferenciar infeções de etiologia vírica e bacteriana, da utilização abusiva dos ATB para fins profiláticos, do controlo deficiente na venda destes medicamentos e do desconhecimento dos efeitos adversos associados à utilização inadequada dos ATB por parte do doente/família, que pressionam frequentemente o médico para a sua prescrição. Esta utilização incorreta tem permitido o desenvolvimento crescente de resistências bacterianas e obriga a uma prescrição mais criteriosa e responsável no futuro, facto que assume particular importância na idade pediátrica(5-7). Este trabalho teve como objetivos documentar a prescrição de ATB orais num Serviço de Urgência Pediátrica (SUP) de um hospital de nível II, caracterizar os aspetos mais relevantes no perfil de prescrição e propor, caso necessário, algumas atitudes com vista a melhorar essa mesma prescrição. MATERIAL E MÉTODOS Estudo descritivo, retrospetivo, baseado na consulta dos registos informáticos (programa Alert®) dos episódios de urgência das crianças/adolescentes que recorreram ao SUP do nosso hospital, durante o período de Janeiro de 2008 a Junho de 2010, num dia por mês escolhido aleatoriamente (num total de 30 dias). No período em que decorreu o trabalho, este SUP recebia crianças/adolescentes com idade inferior a 15 anos e a equipa médica era constituída por internos de Pediatria, Pediatras e médicos de Medicina Geral e Familiar. Procedeu-se à análise de todos os episódios de urgência no período em estudo. Nos casos em que foram prescritos ATB por via oral, foram analisados os seguintes parâmetros: idade, sexo, motivo de consulta, investigação realizada, diagnóstico, antibiótico oral prescrito assim como outros medicamentos prescritos, especialidade prescritora e destino. __________ I II S. Urgência Pediátrica, H Infante D. Pedro – Aveiro, CH Baixo Vouga. 3814-501 Aveiro, Portugal. [email protected]; soniasilva81@sapo. pt; [email protected] S. Pediatria, H Pediátrico de Coimbra, CH e Universitário de Coimbra. 3000-602 Coimbra, Portugal. [email protected] 216 artigo original original article RESULTADOS No período em estudo, foram observadas no SUP do nosso hospital um total de 4317 crianças, correspondendo a uma média diária de 144 crianças/dia. Foram prescritos ATB orais a NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 400 crianças (9,3%), amostra esta que foi alvo da análise neste estudo. A maioria das crianças estudadas (95%) recorreu ao SUP sem referenciação prévia, 19 (4,8%) vinham orientadas pelo centro de saúde, uma de outro hospital e uma da consulta externa do nosso hospital. As idades estavam compreendidas entre dois meses e 14 anos, sendo que 62% tinham idade inferior a quatro anos. Verificou-se uma ligeira predominância do sexo feminino (53%). A febre, isolada ou associada a outras queixas, foi a principal causa de vinda ao SUP (39%), seguida dos sintomas otorrinolaringológicos (ORL) (27,5%) e respiratórios (18,8%). Em 252 casos (63%) não foi realizada qualquer investigação. Nos restantes 148 casos a investigação realizada está esquematizada na Figura 1. Desta análise salientam-se as amigdalites em que foram realizados exames microbiológicos em 46% dos casos. Tabela 1 – Diagnósticos que motivaram a prescrição de antibióticos, especialidade médica prescritora e antibióticos mais frequentemente prescritos. DIAGNÓSTICOS A otite média aguda (OMA) foi o diagnóstico que mais motivou a prescrição de ATB orais (31%), seguida da amigdalite aguda (20%). A infeção respiratória superior ocupava o terceiro lugar, sendo responsável por 12% dos casos e a pneumonia surgia em quarto lugar (11%). Neste estudo, a infeção urinária, condição frequente na prática clínica diária em idade pediátrica, foi responsável por 7% dos casos (dos quais 69% corresponderam a cistites) (Tabela 1). Verificou-se que houve prescrição de antibióticos em 13,4% das bronquiolites, 11,6% das rinofaringites agudas, 3,3% dos casos de febre sem foco e 1,2% dos diagnósticos de asma. Nenhuma gastroenterite aguda (GEA) foi medicada com antibiótico. A amoxicilina foi o antibiótico mais prescrito (65,5%), seguido da associação amoxicilina + ácido clavulânico (16,5%) e do N TOTAL ESPECIALIDADE PRESCRITORA PEDIATRIA MGF Otite média aguda (N =127) Amoxicilina Amoxicilina e ácido clavulânico Cefuroxime Macrólido Flucloxacilina 95 25 5 1 1 61 66 Amigdalite aguda (N =78) Amoxicilina Amoxicilina e ácido clavulânico Macrólido Cefuroxime 64 10 3 1 43 35 Pneumonia (N = 47) Amoxicilina Macrólido Amoxicilina e ácido clavulânico 32 11 4 39 8 Infeção respiratória superior (N=48) Amoxicilina Macrólido Amoxicilina e ácido clavulânico Cefuroxime 31 12 4 1 25 23 Infeção da pele e dos tecidos moles (N= 38) Flucloxacilina Amoxicilina e ácido clavulânico Amoxicilina Macrólido 18 12 7 1 25 13 Infeção urinária - Cistites (N=20) Amoxicilina e ácido clavulânico Cefuroxime 15 5 14 cistites 6 cistites - Pielonefrites (N=9) Cefuroxime 9 6 PNA 3 PNA Bronquiolite (N=23) Amoxicilina Macrólido Amoxicilina e ácido clavulânico 11 7 5 7 16 Febre sem foco (N=8) Amoxicilina Amoxicilina e ácido clavulânico Macrólido 4 2 2 7 1 Febre escaro-nodular Macrólido (N=1) 1 1 0 Asma (N=1) 1 0 1 Figura 1 – Investigação realizada (Outra: pesquisa de Vírus Sincicial Respiratório, Estreptococos B hemolítico do grupo A ou Vírus H1N1 nas secreções nasofaríngeas) ANTIBIÓTICOS PRESCRITOS Amoxicilina Abreviaturas: PNA – pielonefrite; MGF – Medicina Geral e Familiar. artigo original original article 217 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 grupo dos macrólidos (9,3%). Entre os antibióticos menos prescritos, encontrava-se a flucloxacilina (4,8%) e cefuroxima (4%) (Tabela 2). Tabela 2 – Percentagem de prescrição por antibiótico e diagnósticos mais comuns em cada caso. PERCENTAGEM DE PRESCRIÇÃO (%) DIAGNÓSTICOS MAIS COMUNS Amoxicilina 65,5% OMA, amigdalite estreptocócica, pneumonia Amoxicilina + ácido clavulânico 16,5% OMA, infeção da pele e tecidos moles Macrólidos 9,3% Infeção respiratória superior, pneumonia Flucloxacilina 4,8% Infeção da pele e tecidos moles ANTIBIÓTICO Cefuroxime axetil 4% IU Abreviaturas: OMA – otite média aguda; IU – infeção urinária. Em 49% das crianças, os ATB foram prescritos de forma isolada. Nos restantes casos, os antipiréticos e os analgésicos foram os medicamentos mais frequentemente prescritos em associação com os ATB. Verificou-se que 57,3% das prescrições de ATB orais foi da responsabilidade de pediatras ou internos de pediatria. Comparando os perfis prescritores, verifica-se uma concordância global entre os antibióticos mais frequentemente prescritos em ambas as especialidades, pediatria e medicina geral e familiar (MGF), salientando-se uma diferença em relação à associação de amoxicilina + ácido clavulânico, mais prescrita no segundo caso (13,1% versus 22,8%) (Tabela 3). Tabela 3 – Percentagem de prescrição por entidade prescritora, antibiótico e diagnósticos mais comuns. Especialidade prescritora Pediatria Medicina Geral e Familiar Antibióticos mais prescritos • Amoxicilina (70%) • Amoxicilina + ácido clavulânico (13,1%) • Macrólidos (8,7%) • Amoxicilina (57,3%) • Amoxicilina + ácido clavulânico (22,8%) • Macrólidos (9,3%) • OMA (26,6%) • Amigdalite (25,3%) Diagnósticos mais • Pneumonia (17%) comuns • Infeção Respiratória Superior (10,9%) Abreviatura: OMA – otite média aguda. 218 artigo original original article • OMA (37,4%) • Amigdalite (21%) • Infeção Respiratória Superior (15,7%) • Infeção pele e tecidos moles (8,1%) A maioria das crianças teve alta para o domicílio (382); doze crianças foram orientadas para a consulta externa e seis foram internadas na sala de observação do SUP para vigilância clínica (em três dos casos o motivo de vinda ao SU tinha sido uma primeira convulsão febril e nos outros três foi um internamento inferior a 24 horas para verificar a tolerância oral ao ATB). DISCUSSÃO A prescrição de ATB orais ocorreu em 9,3% dos episódios de urgência, o que revela, globalmente, uma prescrição adequada de ATB no SUP deste hospital. Num estudo semelhante realizado em 2005, num hospital pediátrico de referência, essa prescrição ocorreu em 9%. Comparando os resultados obtidos para cada um dos antibióticos estudados, foi encontrada uma concordância tanto na percentagem como nos principais motivos da prescrição, à exceção da associação amoxicilina + ácido clavulânico, em que o principal motivo no SUP do hospital pediátrico de referência foi a infeção urinária, enquanto no nosso foram a OMA e infeção da pele e tecidos moles. A prescrição de antibióticos nas bronquiolites, rinofaringites agudas, febres sem foco e asma, foi maior no nosso estudo, à exceção das GEA, em que não houve nenhum caso medicado com ATB (0% vs. 1,8%). O facto do ATB mais prescrito ser a amoxicilina é um aspeto muito importante e correto, uma vez que não dispomos de penicilina oral(8-10). Para justificar a escolha da amoxicilina temos a frequência de infeções respiratórias/ORL (a OMA foi o diagnóstico mais comum),o fato de bactérias como o S. pneumoniae, S pyogenes e H. influenzae serem os principais agentes bacterianos causais e a sua suscetibilidade aquele ATB(3-8). Salienta-se que em dez dos 78 casos de amigdalite aguda foi prescrita a associação amoxicilina + ácido clavulânico, o que foi inadequado, uma vez que o espectro desta associação é demasiado largo, tendo em atenção a etiologia bacteriana mais provável naquela situação ser a estreptocócica(6,7). Em relação à investigação realizada, salienta-se a realização de exames microbiológicos em 46% dos casos de amigdalite; o que é um percentagem baixa tendo em conta as recomendações da Direção Geral de Saúde (DGS) em que está aconselhada a realização de exames microbiológicos para determinar a presença do Streptococcus do grupo A na orofaringe exceto se presença de sintomatologia fortemente sugestiva de amigdalite aguda de etiologia vírica(2,10). Conclui-se assim que, na maioria dos casos, a clínica foi soberana, não sendo necessário recorrer a nenhum exame complementar de diagnóstico, apesar do que está recomendado. Comparando os dois perfis prescritores presentes no nosso SUP (pediatria e MGF), verifica-se uma maior utilização da associação amoxicilina + ácido clavulânico pela MGF. Este resultado pode ser justificado pelo maior número de casos de infeções respiratórias superiores e infeções dos tecidos moles diagnosticados e medicados com ATB por aquela especialidade. Tendo em conta o que foi dito anteriormente, este é um ponto a melhorar apostando numa formação continua e esclarecedora da utilização dos ATB uma vez que a maioria das infeções respiratórias é de etiologia vírica. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 CONCLUSÕES Os ATB constituem preciosas armas terapêuticas, no entanto a sua utilização deve ser muito criteriosa, atendendo a que a capacidade das bactérias desenvolverem resistências é maior do que a da indústria em desenvolver novos ATB(1). A prescrição de ATB de amplo espectro e em larga escala pode conduzir à destruição da flora fisiológica normal do organismo humano e à seleção progressiva de bactérias resistentes(6). Para uma boa utilização dos ATB é necessário um conhecimento dos agentes em causa e a monitorização das respetivas sensibilidades àqueles medicamentos(2,6). Apesar de haver uma adequada prescrição de ATB no nosso SUP, há ainda algumas atitudes que poderão contribuir para uma melhoria desse perfil. Apontamos uma atitude mais expectante no caso das OMA sem fatores de risco e com possibilidade de reavaliação, a não prescrição da associação amoxicilina + ácido clavulânico nas amigdalites de provável etiologia estreptocócica e a não prescrição de ATB nas bronquiolites e asmas não complicadas. Para melhorar esta prática propomos investir mais em atividades formativas nessa área, com discussão de casos e de normas orientadoras em cada situação clínica, cultivando uma atitude de atualização e de reflexão crítica. ANTIBIOTIC PRESCRIPTION IN A PAEDIATRIC EMERGENCY DEPARTMENT FROM A LEVEL II HOSPITAL IN THE CENTRAL REGION ABSTRACT Introduction: The discovery of penicillin, in the late 1920s, revolutionized science and brought medicine into the modern era. Since then, many other antibiotics appeared on the market. Nowadays, one of the biggest problems in medicine is the indiscriminated use of antibiotics, which has led to the emergence of resistant bacteria. In this context, an appropriate use of antibiotics is essential to the maintenance of their own effectiveness. There are very few studies on antibiotic prescription from Paediatric Emergency Services in Portugal. Objective: Characterize oral antibiotics prescription in our Paediatric Emergency Service Unit. Material and Methods: We performed a retrospective analysis of medical records from Alert ® computer database of children who attended the Paediatric Emergency Service Unit a randomly chosen day a month (a total of 30 days), from January 2008 to June 2010. Results: During the study period, 4317 children (meaning 144 children/day) were observed in the Paediatric Emergency Service Unit. Oral antibiotics were prescribed to 400 children (9,3%). The amoxicillin was the most prescribed antibiotic and acute otitis media was the most common diagnosis. Discussion: We concluded that there is a good balance in the prescription of oral antibiotics in our Paediatric Emergency Service Unit. Nonetheless, we propose some actions to improve oral antibiotic prescription. Key-words: Antibiotics, emergency department service, pediatrics, prescription. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 216-219 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Bricks LF. Uso judicioso de medicamentos em crianças. J Pediatr (Rio J) 2003; 79:S107-S114. 2. American Academy of Pediatrics, Committee on Infectious Diseases. Red Book: Report of the Committee on Infectious Diseases. 29th ed. Elk Grove Village, IL: American Academy of Pediatrics; 2012. 3. Rodrigues F, Calvino J, Januário L, Lemos L. Medicamentos prescritos num Serviço de Urgência Pediátrica. Acta Pediatr Port 2005; 36:273-6. 4. Lemos L, Rodrigues F. Medicamentos prescritos no Serviço de Urgência Pediátrico. Saúde Infantil 2003; 25: 57-9. 5. Melo-Cristino J, Serrano N, Grupo Português de Bactérias Patogénicas Respiratórias. Estudo Viriato: Actualização de dados de susceptibilidade aos antimicrobianos de bactérias responsáveis por infecções respiratórias adquiridas na comunidade em Portugal em 2001 e 2002. Rev Port Pneumol 2003; IX: 293-310. 6. Lemos L, Rocha, G. A utilização de antibióticos num serviço de urgência de pediatria. Saúde Infantil 1995; 17:5-16. 7. Caldeira L, Remísio E, António A, Aguair P, Fonseca A, Faria Vaz A, et al. Prescrição de antibióticos para infecções do tracto respiratório em Portugal Continental. Rev Port Clin Geral 2004; 20:417-48. 8. Lemos L. A utilização de antibióticos em crianças e jovens no ambulatório. É urgente prescrever menos e melhor. Mundo Médico 2003; 28:64-6. 9. Chiappini E, Principi N, Mansi N, Serra A, De Masi S, Camaioni A, et al. Italian Panel on the Management of Pharyngitis in Children. Management of acute pharyngitis in children: summary of the Italian National Institute of Health guidelines. Clin Ther 2012; 34:1442-58. 10. Norma da Direção Geral de Saúde – Diagnóstico e tratamento da amigdalite aguda em idade pediátrica, 26/12/2012 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Fátima Ribeiro Rua da Macieira, nº 362 4520-707 Souto – Santa Maria da Feira, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 18.07.2013 | Aceite a 26.12.2013 artigo original original article 219 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Internamentos por Linfadenite Cervical num Serviço de Pediatria Geral David LitoI; Diana PignatelliII; Ana Sofia SimõesI; Alexandra CarvalhoI; Florbela CunhaI RESUMO Introdução: A Linfadenite Cervical (LAC) é uma entidade comum na idade pediátrica. As formas agudas bilaterais são as mais frequentes, de etiologia viral e autolimitadas. As agudas unilaterais são habitualmente bacterianas, provocadas pelo Streptococcus pyogenes e Staphylococcus aureus. Nas subagudas/crónicas a Bartonella, as Mycobacteria e o Toxoplasma devem ser etiologias consideradas. Objetivos: Caracterização de população de crianças internadas numa enfermagem de Pediatria Geral por LAC. Material e métodos: Estudo comparativo retrospetivo de uma amostra de conveniência que inclui as crianças internadas, entre Março de 1999 e Fevereiro de 2010. Resultados e Discussão: Identificaram-se 61 crianças, 88,5% do sexo feminino. A LAC aguda correspondeu a 88,5% dos casos, das quais 57,4% foram unilaterais. A forma subaguda/crónica ocorreu em 11,5%. A idade nas formas agudas foi significativamente inferior à das subagudas/crónicas (p=0,034). A etiologia bacteriana equivaleu a 96,7% sendo as restantes, uma mononucleose infeciosa e uma toxoplasmose ganglionar. O S. aureus e S. pyogenes corresponderam a 66,6% dos agentes bacterianos isolados. Identificaram-se três casos de LAC por Mycobacterium tuberculosis, dois por Bartonella henselae e dois por Ricketsia conorii. As infeções prévias da cabeça e pescoço estiveram presentes em 27 (44,3%). Documentaram-se infeções virais predisponentes em cinco casos. As localizações cervical e submandibular foram as mais frequentes, 47,5% e 44,3%, respetivamente. Evidenciou-se febre em 85,2% das crianças, sintomas regionais (torcicolo e trismos) em 45% e flutuação em 29%. Houve necessidade de drenagem cirúrgica em 24,6% dos doentes, em seis (9,8%) realizou-se citologia aspirativa e em 45 exames de imagem. A leucocitose (>15000/μL) e a proteína C reativa positiva (>3,0 mg/dL) verificaram-se em 83,6% e 65,5% dos casos, respetivamente. O S. pyogenes e o S. aureus cursaram com mais sinais inflamatórios e maior necessidade de drenagem cirúrgica (p=0,01). Os antibióticos foram utilizados em todos os doentes sendo o mais frequente a amoxicilina/ácido clavulânico (57,3%). __________ I II S. Pediatria, H Vila Franca de Xira, 2600-009 Vila Franca de Xira, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Pediatria, CH Barreiro-Montijo, H Nossa Senhora do Rosário, 2830-094 Barreiro, Portugal. [email protected] 220 artigo original original article A flucloxacilina administrou-se em 19,7% dos casos. A evolução foi favorável em todos os casos. Conclusão: O diagnóstico etiológico da LAC não é fácil na maioria dos casos. Embora a grande maioria das crianças com LAC não seja internada, existem alguns casos que, pela necessidade de investigação complementar ou de tratamento o sejam. Portugal é um país de média incidência de Tuberculose pelo que esta doença deve ser considerada, com especial atenção para a emergência de M. tuberculosis multirresistentes. Palavras-chave: Abcesso, adenite, criança, linfadenite cervical, tuberculose. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 220-226 INTRODUÇÃO A linfadenite cervical (LAC) é uma entidade comum na idade pediátrica.(1-3) Na maioria dos casos corresponde a uma situação aguda de etiologia viral e de carácter benigno, que não requer tratamento.(4) Cerca de 40% dos lactentes e 55% das crianças com mais de um ano têm gânglios linfáticos palpáveis em alguma localização, maioritariamente no triângulo cervical anterior.(5) A LAC pode confundir-se com outras tumefações, nomeadamente malformações congénitas e vasculares, alterações da tiróide e glândulas salivares, lesões traumáticas e outras infeções de tecidos moles não linfáticos. As causas neoplásicas são menos frequentes. Num grupo de crianças internadas para avaliação de uma tumefação cervical persistente a etiologia oncológica foi diagnosticada em cerca de 15%.(1) Nos últimos anos, a LAC tem sido classificada segundo a lateralidade e o tempo de evolução permitindo uma aproximação etiológica e a atribuição de um significado prognóstico. Assim, pode subdividir-se em: aguda bilateral, aguda unilateral e subaguda/crónica.(1,2,4,5) As causas infeciosas de LAC encontram-se resumidas no Quadro I. A idade pode ser também um bom elemento preditivo da etiologia. O Streptococcus do Grupo B (SGB) é a causa mais frequente nos recém-nascidos, o Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes abaixo dos cinco anos e as Micobactérias, Toxoplasma gondii e bactérias anaeróbias nas crianças mais velhas.(1,2) Em algumas situações o diagnóstico pode ser feito apenas pela clínica e evolução. Os dados da história e do exame físico orientam na seleção dos exames complementares.(3,5) NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 A punção aspirativa e a biópsia excisional só raramente são necessárias.(3) As LAC com sintomas constitucionais, que sejam indolores, aderentes, de crescimento rápido ou de localização supraclavicular, sugerem malignidade e implicam a realização de uma biópsia.(1) A ecografia e a tomografia computorizada (TC) são úteis na confirmação do diagnóstico, para definir as dimensões e nos casos em que se suspeita de abcesso mas não existe flutuação.(3) O tratamento da LAC depende da causa subjacente. Uma grande parte das crianças evolui favoravelmente sem terapêutica, justificando-se apenas a reavaliação periódica.(1,3,5-7) Isto é particularmente válido nas pequenas adenopatias (<3 cm), sem sinais inflamatórios marcados.(1,3,6) Contudo se a observação inicial sugere causa bacteriana (unilateral, >2-3 cm, eritema cutâneo, dolorosa) a terapêutica antibiótica empírica deve ser prescrita.(1,4) Esta deve incluir 10 dias de antibióticos ativos para S. aureus e S. pyogenes. A amoxicilina/ácido clavulânico (AAC), a flucloxacilina ou a clindamicina são as opções terapêuticas iniciais.(1,3,5,7,8) Na LAC devida a estes agentes, uma rápida progressão da doença ou a não resposta à terapêutica pode resultar em celulite, septicemia ou sinais/sintomas relacionados com a ação da toxina estafilocócica.(1) Nalguns casos, é necessária a hospitalização para terapêutica parentérica.(3) Este trabalho tem o objetivo de caracterizar a população de crianças que foi internada numa enfermaria de pediatria geral por LAC. POPULAÇÃO E MÉTODOS Estudo comparativo retrospetivo de uma amostra de conveniência, baseada na consulta dos processos clínicos de todas as crianças internadas no Serviço de Pediatria devido a LAC. O período analisado foi de Março de 1999 a Fevereiro de 2010 (11 anos). O diagnóstico foi estabelecido com base na observação clínica e/ou imagiológica. Consideraram-se como agudos os casos com menos de 15 dias de evolução e subagudos/crónicos os restantes. A amostra foi dividida em três grupos: LAC aguda unilateral, aguda bilateral e subaguda/crónica. Sempre que disponível, considerou-se a dimensão dos gânglios avaliada ecograficamente ou por TC. Nos restantes utilizou-se a medição existente no processo clínico. Analisaram-se os dados sociodemográficos, resultados dos exames complementares de diagnóstico e terapêuticas efetuadas. Os agentes identificados foram isolados em exame cultural do pús (drenagem espontânea ou por punção/biópsia), do exsudado faríngeo, em hemocultura (BacTAlert® - BioMerrieux) ou por serologia compatível com infeção aguda (toxoplasmose, Rickettsia, Bartonella henselae, vírus). Quando realizada, a prova tuberculínica (Intradermoreacção de Mantoux) foi considerada reativa se induração acima de 15 mm, lidos às 72 horas. Nalgumas situações foi efetuado exame anátomo-patológico de material recolhido por punção aspirativa. Nos casos em que não foi possível determinar o agente etiológico, assumiu-se como LAC bacteriana os que verificaram pelo menos duas das seguintes condições: 1. mais de dois sinais inflamatórios (dor, rubor, edema, flutuação); 2. parâmetros analíticos compatíveis com infeção bacteriana (leucocitose >15000/ μL e PCR > 3,0 mg/dL); 3. achados imagiológicos compatíveis com abcesso; 4. infeção bacteriana ORL precedente, presumível ou comprovada. Quadro I – Causas infeciosas de Adenite Cervical. Adaptado de UpToDate(2) Aguda Bilateral Aguda Unilateral Subaguda/ Crónica Frequente Menos Frequente Raro Vírus Epstein-Barr Citomegalovírus Vírus Herpes Simplex Vírus Sincicial Respiratório Rinovírus Adenovírus Enterovirus Mycoplasma pneumoniae Vírus Influenza A e B Vírus Parainfluenza Herpes Vírus 6 Parvovírus B19 Coronavirus Reovírus Corynebacterium diphteriae Rubéola Sarampo Parotidite Staphylococcus aureus Streptococcus pyogenes Bactérias anaeróbias Streptococcus Grupo B Tularémia, outros estreptococos, Pasteurella multocida Yersinia pestis bacilos gram-negativo Yersinia enterocolítica, antraz. Bartonella henselae Mycobacterium tuberculosis Micobactérias não tuberculose Toxoplasmose Vírus da Imunodeficiência Humana Actinomicose Sífilis Nocardia brasiliensis Aspergilose, Sportichose Brucelose Histoplasmose Outros agentes não integrados nesta classificação (suspeitar quando há história de viagem a países não europeus e não americanos): Tripanossomiase (África) – mosca tsetse; Leishmaniose cutânea (África, Ásia e Bacia Mediterrânica); Ricketsia tsutsugamuchi (Ásia e Pacífico) artigo original original article 221 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 A análise estatística dos dados foi realizada com recurso ao programa Statistical Program for Social Sciences 16.0 for Windows®, SPSS Inc., Chicago, IL, EUA. As comparações entre as variáveis categóricas foram realizadas através do método do Qui-quadrado e do teste exato de Fisher quando apropriado. O padrão de distribuição das variáveis contínuas foi estudado pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Naquelas de distribuição normal foi utilizado o teste de t de Student e nas que não cumpriram esse pré-requisito o teste U de Mann-Whitney. Definiu-se um nível de significância de 95% (p<0,05). 222 artigo original original article Tabela 1 – Principais características clínicas e terapêuticas segundo a categoria clínica Categoria Clínica Aguda Bilateral (n=19) Aguda Unilateral (n= 35) Subaguda/Crónica (n=7) Mediana de Idade 3 anos (7 meses-10 anos) 2 anos (1 mês-11 anos) 4 anos (1-15 anos) Etiologia S. pyogenes (EBV - 1)* B. henselae Bactérias (n) Outros (n) Infeção prévia (n) Grupos Ganglionares (n) Terapêutica RESULTADOS Estiveram internadas 61 crianças com LAC (média 5/ano), nos 11 anos avaliados. Corresponderam a 0,6% dos internamentos, tendo ocorrido 70,5% na Primavera/Verão. As características clinicas, etiológicas e terapêuticas estão resumidas na Tabela 1. A maior parte manifestou-se como LAC aguda (n=54; 88,5%), unilateral (n=35; 57,4%), ou bilateral (n=19; 31,1%). As LAC subagudas/crónicas foram menos frequentes (n=7; 11,5%). Nas formas agudas, a mediana do tempo de evolução antes do internamento não variou nos dois grupos (uni e bilateral): quatro dias. Houve um ligeiro predomínio do sexo feminino (n=33, 54,1%) e verificou-se que a idade das crianças com LAC aguda foi significativamente inferior à daquelas com LAC crónica (p=0,034). Cinquenta e nove (96,7%) corresponderam a provável etiologia bacteriana. Das restantes, uma surgiu em contexto de mononucleose infeciosa e outra num quadro de toxoplasmose ganglionar. Em cerca de 2/3 dos casos (n=37; 60,7%) não foi possível identificar o agente etiológico. Nesta série, 14 das 21 bactérias isoladas (66,6 %) foram S. aureus e S. pyogenes. O S. pyogenes predominou na LAC bilateral aguda comparada com unilateral (100% vs 37,5%) não sendo esta diferença significativa. Dos oito casos de amigdalite com LAC, em seis identificou-se o S. pyogenes. O tempo médio de evolução antes do internamento não foi significativamente diferente entre S. aureus e S. pyogenes. (8,3 dias vs 5,3 dias, p=0,15). As LAC causadas pelo S. aureus e S. pyogenes, tiveram mais sinais inflamatórios (2,62 vs 1,61, p=0,01), mais flutuação (57,1% vs 19,1%, p=0,005) e necessitaram de drenagem cirúrgica mais frequentemente (57,1% vs 14,9%, p=0,001). Não houve diferença significativa no tamanho das adenomegálias. Identificaram-se três casos de Mycobacterium tuberculosis, dois de doença da arra- nhadela do gato (B. henselae) e dois de febre escaro-nodular (Ricketsia conorii). Em cinco crianças foi possível identificar uma infeção viral predisponente (2 Vírus Epstein-Barr (EBV), 2 Citomegalovirus (CMV) e 1 Adenovírus) (Tabela 1). Foi possível relacionar as LAC com 27 infeções prévias da cabeça e do pescoço. As mais importantes foram as infeções ORL (n=20 – otite média aguda, rinofaringite, amigdalite) seguidas das lesões cutâneas (n=4) e das infeções da cavidade oral e dentes (n=3). Nos dois casos particulares da LAC relacionados com a febre escaro-nodular foi possível identificar a “tache noir”. Dos sete doentes com LAC subaguda/crónica, em três identificaram-se lesões impetiginadas predisponentes. AB (n) Drenagem cirúrgica (n) Mediana do tempo de internamento 5 S. aureus (EBV - 1)* 1 SGA R. conorii SGB Desconhecido 12 Desconhecido (Adenovírus - 1)* (CMV - 1)* (CMV - 1)* 5 M. tuberculosis B. henselae 3 S. aureus 2 1 23 Desconhecido EBV 1 T. gondii 1 Amigdalite Lesão cutânea: (impétigo - 1) Rinofaringite: Estomatite: Celulite da face: OMA: 5 Rinofaringite: 2 Amigdalite: OMA: 2 Lesão cutânea: 1 (impétigo - 1) 1 (tache noir - 1) 1 Abcesso Dentário (osteíte - 1) 6 Lesão cutânea 3 3 3 9 4 2 2 8 2 3 2 Cervicais 12 Submandibulares 18 Cervicais Submandibulares 6 Cervicais 12 Submandibulares Retroauriculares 2 Occipiatais 3 Occipitais 1 Retroauriculares 3 Parotídeos 1 AAC Flucloxacilina Clindamicina Penicilina Outros 3 1 1 AAC 26 Flucloxacilina Flucloxacilina 7 Clindamicina Clindamicina 3 Penicilina Outros 13 Outros Doxiciclina 2 Tuberculostáticos Tuberculostáticos 1 9 4 2 7 dias (1-24 dias) 6 dias (1-27 dias) 10 dias (1-25 dias) 6 3 1 1 1 8 3 Legenda: * Infeção prévia Abreviaturas: EBV – Vírus Ebstein -Barr; SGA – Streptococcus Grupo A (S. pyogenes); SGB – Streptococcus Grupo B; CMV – Citomegalovirus; OMA – Otite média aguda; AB – Antibiótico; AAC - Amoxicilina/Ácido Clavulânico. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 A febre foi um achado quase constante nas LAC agudas estando presente em 51 das 54 crianças. Em três das sete LAC subagudas/crónicas não se objetivou febre. Verificou-se a existência de sintomas locais, tais como cervicalgia, torcicolo e trismus em 27 casos (44,4%). As cadeias ganglionares cervicais e submandibulares foram as mais atingidas, 46,7% e 45%, respetivamente. A evolução para abcesso com flutuação verificou-se em 17 casos (27,8%) dos quais três corresponderam a LAC crónica (B. henselae, S. aureus e M. tuberculosis). A prova tuberculínica foi reativa em três dos 29 (10,3%) doentes em que foi realizada e correspondeu aos casos de LAC por M. tuberculosis. Efetuaram-se exames de imagem em 45 doentes: ecografia em 40 casos e TC do pescoço em 10. Laboratorialmente, a leucocitose esteve presente em 40. Verificámos que a média do número total dos leucócitos não foi significativamente diferente entre as LAC agudas e as subagudas/crónicas (19446/μL vs 16028/μL; p=0,25) e que não esteve relacionado com a evolução para a supuração (19178/μL vs 19006/μL; p=0,94). A PCR foi positiva em 51 casos. O valor da PCR nas LAC agudas não foi significativamente diferente das subagudas/crónicas (p=0,57). Sete doentes fizeram punção aspirativa. Não se realizou biopsia excisional em nenhum. Metade das crianças foram submetidos a antibioticoterapia simples com boa resposta clínica. Nas restantes foi instituída associação de dois antibióticos ou houve necessidade de alterar a terapêutica inicial devido ao resultado do exame microbiológico ou pelo agravamento clínico. O antibiótico mais utilizado foi a AAC (n=35) tendo sido também o mais prescrito como monoterapia (n=20). A flucloxacilina e a gentamicina (em associação) foram utilizados em 12 e 13 casos, respetivamente. A terapêutica com clindamicina foi feita em oito doentes em associação. Três crianças foram medicadas com tuberculostáticos. Em 15 (25%) houve necessidade de drenagem cirúrgica. O tempo médio de internamento foi de 7,43 dias para as formas agudas e 10,71 dias para subagudas/crónicas mas essa diferença não foi significativa, p=0,12. A grande maioria dos casos evoluiu favoravelmente com regressão da adenopatia. Foram transferidas três crianças para drenagem cirúrgica ou punção aspirativa que não se efetuava no hospital. DISCUSSÃO Na série estudada, a LAC não foi uma causa frequente de internamento. Houve um predomínio discreto do sexo feminino e nos meses quentes do ano. A idade nas LAC agudas foi significativamente inferior às subagudas/crónicas, tal como descrito na literatura.(1,5) Existem numerosas causas para as LAC mas são poucos os estudos sistemáticos sobre esta entidade.(1,2) Na prática clínica, não é obrigatório identificar a etiologia em todos os casos pela sua evolução maioritariamente autolimitada.(3,5) A determinação dos agentes etiológicos tem sido ba- seada na análise das amostras colhidas através de punção com agulha, biopsia cirúrgica ou serologias. Dependendo de vários fatores, principalmente da terapêutica antibiótica prévia, é possível encontrar a causa em 41-75%.(1) Na maioria das crianças que estiveram internadas, justificou-se a investigação etiológica dado apresentarem uma situação clínica que, pela sua gravidade/evolução poderiam necessitar de um tratamento dirigido. Encontrámos um agente infecioso específico em 38,3% dos casos e a etiologia bacteriana foi a mais frequente. A divisão das LAC em três categorias clínicas parece-nos útil, principalmente no contexto de ambulatório. Essa classificação poderá orientar a terapêutica e o encaminhamento. Contudo, no internamento, esta divisão torna-se menos relevante e encontrámos agentes que, apesar de frequentemente descritos nas agudas, corresponderam a LAC subaguda/crónica, e vice-versa. Segundo vários autores, dentro das formas agudas a bilateral é a mais comum. São geralmente situações de evolução benigna que regridem com terapêutica sintomática, raramente com indicação de internamento. Correspondem habitualmente a adenites reativas e estão em relação com uma infeção respiratória superior de etiologia viral.(1,2,5) A LAC aguda unilateral é menos frequente e pode denominar-se por adenite aguda piogénica pois os principais agentes são bactérias. Numa grande parte estão também relacionadas com uma infeção respiratória alta prévia.(1,5) Neste estudo, a LAC unilateral foi a mais frequente, quase sempre de origem bacteriana. As agudas bilaterais foram também maioritariamente de etiologia bacteriana. De facto, são as situações bacterianas aquelas que têm mais risco de complicações, necessidade de antibioticoterapia endovenosa e/ou de drenagem cirúrgica e por isso de internamento. Verificámos que, nos casos unilaterais, a maioria (60%) ocorreu em crianças de 1-4 anos de idade e que em cerca de um terço houve uma infeção respiratória alta prévia, tal como habitualmente descrito.(5) Documentaram-se infeções virais predisponentes por EBV, CMV e Adenovírus (Tabela 1). O diagnóstico diferencial de LAC subaguda/crónica é extenso. Nas crianças corresponde maioritariamente a situações infeciosas.(5) Os agentes mais comuns são as Micobactérias (M. tuberculosis ou outras Micobactérias Não Tuberculosas), a B. henselae e o T. gondii.(1) É uma forma comum de apresentação da infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH).(5) Nesta série encontrámos três casos de adenite tuberculosa, um a B. henselae e dois de provável etiologia bacteriana sem agente isolado. Numa das situações, a evolução da adenomegália foi lenta e só tardiamente supurou, após mais de 15 dias de evolução, tendo-se isolado o S. aureus. Em 40-80% das LAC agudas unilaterais a etiologia corresponde a S. aureus e S. pyogenes.(1,2,4) Pode haver história recente de sintomas respiratórios altos ou de infeção cutânea.(1) Na amostra estudada estes dois agentes bacterianos foram os mais encontrados, relacionados principalmente com formas agudas unilaterais. Verificou-se um predomínio do S. pyogenes para as formas bilaterais e/ou com amigdalite concomitante, tal como noutras séries.(1) As características clínicas são sobreponíveis artigo original original article 223 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 pelo que não são úteis para a distinção entre os dois agentes. Até 25 a 30% a flutuação surge espontaneamente.(1,2,5) Contudo, o S. aureus tende a ter uma evolução mais prolongada antes do diagnóstico e uma maior probabilidade de supurar. Em algumas circunstâncias a periadenite é tão intensa que pode provocar um torcicolo e pode haver celulite associada.(1,5) Das LAC provocadas por S. aureus e S. pyogenes, não encontrámos diferenças significativas no tempo de evolução antes do internamento. Os gânglios submandibulares foram afetados em cerca de 36%, um pouco menos do que o descrito na literatura.(2,5) Apresentaram mais sinais inflamatórios, evoluíram para a flutuação mais frequentemente. Apesar de termos tido algumas infeções odontogénicas, não identificámos bactérias anaeróbias. Nestes casos o aspeto das adenites pode ser indistinguível das piogénicas.(1,2) Atendendo a que os antibióticos mais utilizados têm atividade sobre anaérobios e que pode ser difícil o seu isolamento laboratorial, admitimos que estas LAC se encontrem subdiagnosticadas. São mais frequentes em crianças acima dos cinco anos, com cáries e com formas unilaterais.(1,2) A LAC a Streptococcus agalactiae ou SGB ocorre em recém nascidos ou lactentes entre os sete e os 89 dias de idade no contexto de infeção tardia (celulite-adenite). Há um predomínio do sexo masculino. Os principais sinais e sintomas acompanhantes são a febre, irritabilidade e recusa alimentar. A bacteriémia é frequente.(1,2,5) O único caso na nossa série ocorreu num lactente de sexo feminino, com 56 dias de vida e com manifestações de LAC aguda unilateral, tal como descrito na literatura.(1,2,5) Não se identificaram fatores predisponentes perinatais. A criança apresentava febre alta, adenite cervical com sinais inflamatórios cutâneos e torcicolo. O SGB foi isolado em hemocultura. Encontrámos dois doentes com LAC aguda unilateral por R. conorii. Foi possível identificar “picada da carraça”. Ambos desenvolveram um quadro de febre e exantema maculo-pápulo-nodular sugestivo de febre escaro-nodular. A resposta à antibioterapia com doxiciclina foi excelente. Portugal é um país onde não é rara a infeção por R. conorii, sobretudo na Primavera e no Verão. A doença geralmente inicia-se pela febre e pela adenopatia inflamatória, sem o exantema característico o qual vai surgir alguns dias depois, como aconteceu nos doentes descritos.(9) Tal como na R. conorii, a LAC relacionada com a doença da arranhadela do gato ocorre após a inoculação do agente através da pele ou de uma mucosa.(1,2) A região cervical corresponde ao segundo local mais frequente da adenite (em 28%). Nalguns casos pode evidenciar-se uma pápula no local de inoculação.(6) Esta lesão aparece cerca de três a 10 dias após o arranhão e confunde-se com uma picada de um inseto.(7) A infeção por B. henselae é descrita principalmente nas LAC subagudas/crónicas, como sucedeu em um dos doentes que evoluiu para flutuação com necessidade de punção. Só num havia história recente de arranhadela por gato. A confirmação do diagnóstico foi feita mediante serologia. A doença da arranhadela do gato é geralmente autolimitada nos imunocompetentes. A terapêutica consiste em medidas sintomáticas e o prognóstico é bom com regressão com- 224 artigo original original article pleta, como aconteceu nos nossos doentes. A maioria dos estudos sobre a terapêutica antibiótica mostrou pouca ou nenhuma melhoria. Os antibióticos com maior atividade contra a B. henselae são os macrólidos, rifampicina e doxiciclina.(1,5) Só 10% dos doentes com toxoplasmose adquirida são sintomáticos. A adenopatia e a astenia sem febre são manifestações comuns.(1,5) Os gânglios linfáticos mais frequentemente envolvidos correspondem às cadeias cervicais, axilar e inguinal. Geralmente são pequenos, por vezes dolorosos, não supuram e podem persistir por vários meses.(5) A doença é, regra geral, benigna e autolimitada.(10) O único caso de LAC a T. gondii ocorreu numa criança saudável de 11 anos, que se apresentou de forma aguda unilateral com uma semana de evolução. Além da tumefação submaxilar direita única, com 2 cm de diâmetro e sem sinais inflamatórios, não surgiram outras manifestações. Os estudos analíticos não revelaram alterações. Fez punção com agulha que mostrou linfadenite granulomatosa sem necrose central. A serologia para a toxoplasmose foi compatível com infeção aguda vindo a confirmar o diagnóstico. A situação clínica evoluiu favoravelmente, durante cerca de dois meses sem supuração e sem necessidade de terapêutica, tal como descrito na literatura.(5) O hospedeiro do T. gondii é o gato e os oocistos são eliminados pelas fezes. O homem pode ser infetado pela ingestão de carne mal cozinhada ou de outros produtos contaminados.(10) Atualmente Portugal é considerado um país com média incidência de tuberculose.(11) A LAC é a forma mais comum de apresentação da tuberculose extra-pulmonar (5-10% na infância), dado o alto tropismo do M. tuberculosis para os nódulos linfáticos, principalmente em crianças pequenas.(12) Os sintomas constitucionais estão ausentes em 50% dos doentes. A radiografia do tórax revela alterações em 40-60%, contudo nem todos os doente têm tuberculose pulmonar ativa. Pode isolar-se o bacilo em 20% dos doentes. A punção com agulha mostra células epitelióides e multinucleadas identificando-se os bacilos ácido-álcool resistentes por exame direto (coloração de Ziehl-Neelson ou fluorescência) e cultural (em meio de Lowenstein). Na biopsia são visíveis granulomas com necrose central, consistentes com o diagnóstico. A prova tuberculínica continua a ser o método mais útil para detetar a infeção tuberculosa e uma ajuda valiosa para o diagnóstico.(12) Deve ser efetuada nas LAC de evolução subaguda/crónica ou sempre que exista história compatível. Os três casos a M. tuberculosis ocorreram de forma subaguda/crónica. Embora seja mais frequente em adolescentes, dois doentes tinham quatro anos. Havia história de contacto com familiares doentes em duas crianças. A prova tuberculínica foi reativa nos três casos. Todas tiveram uma evolução indolente com febre baixa e com poucas manifestações sistémicas. Não havia alterações na radiografia do tórax e não se encontraram bacilos no suco gástrico. As adenites eram volumosas, dolorosas e aderentes aos planos profundos e evoluíram para flutuação. A velocidade de sedimentação estava elevada e a serologia para VIH foi negativa nos três doentes. Foram medicadas com tuberculostáticos durante seis meses. Uma criança fez etambutol por se ter isolado um bacilo resistente à isoniazida num familiar direto. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Nalguns países, até 95% dos casos de LAC por micobactérias correspondem a micobactérias não-tuberculose. A distribuição das várias espécies destes organismos não é uniforme e parece estar dependente das condições geográficas e ambientais. Atingem habitualmente crianças entre um e cinco anos e evoluem de forma indolente tornando-se a pele violácea. Estas adenopatias têm tendência para fistulizar e manter uma drenagem crónica. O tratamento é a exérese cirúrgica do gânglio. O diagnóstico é difícil e obriga a um alto grau de suspeição com punção aspirativa e culturas em meios selecionados.(12) Na série estudada não identificámos nenhum caso. A única LAC atribuível exclusivamente ao EBV ocorreu numa criança de um ano que se complicou de paralisia facial periférica. Tratou-se de uma LAC aguda bilateral com adenopatias grandes, dolorosas, sem leucocitose nem neutrofilia e PCR negativa. A ecografia não foi compatível com abcesso. Os exames microbiológicos foram negativos. A pesquisa por Polymerase Chain Reaction no sangue foi positiva para EBV. A biopsia confirmou tratar-se de uma hiperplasia reativa. A evolução foi favorável, sem sequelas. O diagnóstico etiológico da LAC não é fácil na maioria dos casos. A progressão diagnóstica foi realizada de acordo com a história clínica, a evolução e a resposta à terapêutica. Ainda assim, foi possível encontrar uma grande diversidade de etiologias, tal como descrito na literatura.(1,2) Uma grande parte dos doentes internados com LAC foi submetida a exames de imagem, nomeadamente ecografia e TC. Estes exames constituem um valioso meio para confirmar o diagnóstico, avaliar a extensão do atingimento ganglionar e excluir complicações, tais como a invasão dos tecidos profundos ou a formação de abcessos, estando indicados nos casos de evolução mais grave ou duvidosa.(5) Num estudo sobre os fatores preditivos de drenagem cirúrgica, foram avaliadas 284 crianças com LAC.(6) Esta foi necessária em 21% dos casos em que se confirmou a existência de abcessos. Constituíram fatores preditivos para drenagem cirúrgica a idade inferior a 1 ano e alterações no gânglio com mais de 48 horas de evolução antes da admissão. A dimensão da adenopatia e o valor da leucocitose não estiveram significativamente associados à necessidade de drenagem.(6) Na nossa série, 15 (25%) das LAC foram drenadas. Apenas 31,6% ocorreram em crianças com menos de um ano e 1/3 tinha mais de 48 h de evolução, sendo que nem a idade nem o tempo de evolução constituíram um fator preditivo para a drenagem cirúrgica. As alterações laboratoriais como o número de leucócitos e o valor da PCR foram um dos critérios que utilizámos para identificar as LAC bacterianas. A maioria das crianças apresentou leucocitose e PCR elevada. Estes exames são usados sistematicamente e poderão ter importância, juntamente com os outros dados clínicos, na decisão terapêutica. Contudo, não encontrámos diferença significativa nos valores de PCR entre os grupos de LAC aguda e subaguda/crónica. A contagem de leucócitos também não esteve relacionada com a evolução para a supuração. Na maior parte dos doentes, os antibióticos utilizados como primeira linha incluíram propriedades anti-S. aureus e anti-S. pyogenes. No entanto, em 49,1% foi necessária associação ou alteração terapêutica. Nas LAC de evolução mais complexa e principalmente quando se suspeitou de etiologia anaeróbia ou S. aureus produtores de toxina, utilizou-se concomitantemente com outros antibióticos a clindamicina. Não se registaram complicações infeciosas. CONCLUSÃO Com esta revisão os autores pretendem salientar que, embora a grande maioria das crianças com LAC não necessite de internamento nem de cuidados especiais, existem alguns casos que têm necessidade de hospitalização e investigação complementar. A etiologia das LAC nos doentes internados é maioritariamente bacteriana sendo a sua evolução sobretudo aguda. No entanto, outras causas podem estar subjacentes e devem ser equacionadas. Portugal é um país onde a Tuberculose deve ser considerada, com especial atenção para a emergência de M. tuberculosis multirresistentes. ADMISSIONS FOR CERVICAL LYMPHADENITIS IN A GENERAL PAEDIATRICS UNIT ABSTRACT Introduction: Cervical lymphadenitis (CL) is a common condition in children. Acute bilateral CL is the most frequent presentation, usually self-limited and caused by virus. Acute unilateral CL is commonly bacterial, most frequently caused by Streptococcus pyogenes and Staphylococcus aureus. Bartonella, Mycobacteria and Toxoplasma must be considered when the CL is subacute/chronic. Objective: Characterization of children with CL hospitalized in a paediatric unit. Population and methods: Retrospective comparative study of a convenience sample that includes inpatient children, between March 1999 and February 2010. Results and Discussion: Sixty-one patients were identified, 88,5% female. All CL were infectious. Acute CL was observed in 88,5% of cases (57,4% unilateral and 31,1% bilateral). Subacute/chronic CL occurred in 11,5%. The average age in acute cases was significantly lower than in subacute /chronic ones (p=0,034). Bacterial CL occurred in 96,7% and the remaining cases included infectious mononucleosis (n=1) and ganglionar toxoplasmosis (n=1). S. aureus and S. pyogenes were isolated in 66,6% of the patients. In addition, Mycobacterium tuberculosis was identified in three cases, Bartonella henselae in two and Ricketsia conorii in two. Previous head and neck infections were found in 27 patients (44,3%) with CL. Preceding viral infections were found in five cases. Cervical and submandibular nodes were the most frequent involved, 47,5% and 44,3% respectively. Fever was present in 85,2% and regional complaints (torticollis and trismus) in 45%. In 29%, the nodes developed fluctuation and 24,6% needed surgical drainage. Six (9,8%) patients underwent fine-needle aspiration and 45 had image studies performed. artigo original original article 225 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Leukocyte count > 15000/μL and positive C Reactive Protein (>3 mg/dL) were present in 83,6% and 65,5% respectively. S. pyogenes and S. aureus infections were associated more frequently with skin inflammatory signs and need for surgical drainage (p=0,01). Antibiotics were used in all patients, most commonly amoxicillin-clavulanate (57,3%) and flucloxacillin (19,7%). The outcome was favourable in all patients. Conclusion: Aetiology identification for CL can be challenging. Although the majority of children with CL can be managed in an outpatient setting, there are cases that require in-hospital diagnostic investigation or intensive care. Since Portugal presents a medium incidence of tuberculosis, clinicians should maintain a high-level of suspicion for the emergence of multiresistant M. tuberculosis. Key-words: Abscess, adenitis, children, lymphadenitis, tuberculosis. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 220-226 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Thorell EA, Chesney PJ. Cervical Lymphadenitis and Neck Infections. In: Long SS, Pickering LK, Prober CG, eds. Principles and Practice of Pediatric Infectious Diseases. Churchill Livingstone 2008. (Versão electronic, CD). 2. Swanson DS. Etiology and clinical manifestations of cervical lymphadenitis in children. In: Basow DS, eds. UpToDate. Waltham, MA; 2010. 3. Swanson DS. Diagnostic approach to and initial treatment of cervical lymphadenitis in children. In: Basow DS, eds. UpToDate. Waltham, MA; 2010. 4. Leung AKC, Robson WLM. Childhood Cervical Lymphadenopathy. J Pediatr Health Care 2004; 18:3-7. 5. Peters TR, Edwards KM. Cervical Lymphadenopathy and Adenitis. Pediatr Rev 2000; 21:399-404. 226 artigo original original article 6. Luu TM, Chevalier I, Gauthier M, Carceller AM, Bensoussab A, Tapiero B. Acute adenitis in children: Clinical course and factors predictive of surgical drainage. J Pediatr Child health 2005; 41:273-7. 7. Dulin MF, Kennard TP, Leach LL, Williams R. Management of Cervical Lymphadenitis in Children. Am Fam Physician 2008; 78:1097-8. 8. Leung AK, Robson WL. Childhood cervical lymphadenopathy. J Pediatr Health Care 2004; 18:3-7. 9. Marques L, Mesquita S, Tavares E, Guedes M. Consensos em Infecciologia Pediátrica – Febre escaro-nodular. Acta Pediatr Port 2005; 36:257-63. 10. Heller HM. Toxoplasmosis in imunocompetent hosts. In: Basow DS, eds. UpToDate. Waltham, MA; 2010. 11. Fonseca-Antunes A. Programa Nacional de Luta Contra a Tuberculose - Ponto da situação epidemiológica e de desempenho. Relatório para o dia mundial da tuberculose. DGS, Março 2011. Disponível em: URL: www.dgs.pt 12. Timmerman MK, Morley AD, Buwalda J. Treatment of non-tuberculous mycobacterial cervicofacial lymphadenitis in children: critical appraisal of the literature. Clin Otolaryngol 2008; 33:546-52. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA David Lito Hospital de Vila Franca de Xira Serviço de Pediatria Estrada Nacional Nº1, Povos 2600-009 Vila Franca de Xira, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 26.03.2013 | Aceite a 15.12.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Doença óssea relacionada com a fibrose quística: uma complicação recente Kátia CardosoI; Luísa PereiraII,III; Celeste BarretoII,III RESUMO Introdução: Passaram mais de sete décadas desde a primeira descrição da fibrose quística enquanto doença fatal. Desde então, a assistência clínica destes doentes em Centros Especializados, assim como os progressos científicos na investigação, refletiram-se significativamente na melhoria da qualidade de vida e da esperança média de vida e como resultado os doentes atingem a idade adulta, o que inicialmente não era observado. Paradoxalmente, este aumento na sobrevida fez surgir novas complicações da doença bem como problemas decorrentes da terapêutica prolongada. A doença óssea relacionada com a fibrose quística surge assim como uma das complicações frequentes decorrente da maior sobrevida. Desde a sua primeira descrição em 1979 tem sido publicado um elevado número de artigos relativos a esta complicação secundária da fibrose quística. Objetivos: Neste artigo pretendemos rever a literatura relacionada com as várias áreas de investigação em torno da doença óssea associada à fibrose quística resumindo os aspetos mais relevantes sobre esta problemática. Desenvolvimento: Ao longo do artigo os autores salientam os conhecimentos sobre a epidemiologia, fisiopatologia e clínica, e descrevem as recomendações mais atuais relativas ao diagnóstico, prevenção, terapêutica e vigilância da doença óssea relacionada com a fibrose quística. Conclusões: A etiologia multifatorial e a interdependência e complexidade dos mecanismos patológicos subjacentes salientam a importância do acompanhamento dos doentes com doença óssea relacionada a fibrose quística em centros especializados que possibilitem um seguimento pluri e interdisciplinar integrado e diferenciado. Palavras-chave: Criança, doença óssea relacionada com a fibrose quística. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 227-233 __________ I S. Pediatria Médica, Dep. Pediatria, CH Lisboa Norte, H Santa Maria, 1649-035 Lisboa, Portugal. [email protected] II Centro Especializado de Fibrose Quística, U. Pneumologia Pediátrica, I S. Pediatria Médica, Dep. Pediatria, CH Lisboa Norte, H Santa Maria, 1649-035 Lisboa, Portugal. [email protected]; celeste. [email protected] III Clínica Universitária de Pediatria, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, 1649-035 Lisboa, Portugal INTRODUÇÃO A fibrose quística (FQ) é uma doença hereditária monogénica com expressão clínica multissistémica caracterizada por doença pulmonar crónica e má absorção devido à insuficiência pancreática, com consequente má nutrição. É a doença genética com transmissão autossómica recessiva mais frequente na população caucasiana(1). Um estudo recente compreendendo 24 centros europeus nacionais e regionais e baseado em dados resultantes do rastreio neonatal estima uma incidência média de FQ de 1:3500 novos casos por recém-nascidos rastreados por ano(2). Adicionalmente, outro estudo envolvendo 27 países europeus, incluindo Portugal, aponta para uma prevalência média calculada de 0.737 doentes com FQ por 10.000 habitantes, sendo a prevalência para Portugal de 0.271 e a incidência estimada de 1:6000 casos por nados vivos(3). Nos Estados Unidos a prevalência é de 0.797 doentes com FQ por 10.000 habitantes(4). Passaram mais de sete décadas desde a primeira descrição da FQ enquanto doença fatal e desde então doentes, prestadores de cuidados e cientistas de todo o mundo têm partilhado as suas experiências, conhecimentos e recursos num esforço conjunto para melhorar a sobrevida destes doentes. Como resultado, diversos progressos têm sido feitos e os doentes atingem a idade adulta com boa qualidade de vida, o que inicialmente não era possível. De acordo com dados da Cystic Fibrosis Foundation referentes a 2009, ao longo das últimas duas décadas a esperança média de vida para pessoas com FQ aumentou significativamente: em 1985 era de 27 anos e em 2009 de 35,9 anos(5). Este aumento na sobrevida fez surgir novas complicações da doença bem como problemas decorrentes da terapêutica prolongada. A doença óssea surge assim como uma das complicações frequentes decorrente da maior sobrevida. A doença óssea relacionada com a FQ foi inicialmente descrita em 1979 em dois estudos que documentaram menor densidade mineral óssea (DMO) em doentes com FQ comparativamente com controlos da mesma idade(6,7). Desde então, tem sido publicado um número elevado de trabalhos científicos sobre esta problemática(8-13). OBJETIVOS Neste artigo pretendemos sumarizar os conhecimentos mais atuais sobre a epidemiologia, fisiopatologia e clínica e estabelecer orientações relativas ao diagnóstico, prevenção, terapêutica e vigilância desta complicação secundária da FQ. artigo de revisão review articles 227 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 DESENVOLVIMENTO Definições A nomenclatura relacionada com o metabolismo e patologia óssea é por vezes confusa e incorretamente utilizada, pelo que se torna importante esclarecer alguns conceitos. Os doentes com FQ podem desenvolver baixa densidade mineral óssea (DMO) por osteoporose e/ou por osteomalácia por défice de vitamina D. A osteoporose é uma doença esquelética sistémica caracterizada por diminuição global da massa óssea e alterações da microarquitectura, ou seja rarefação do osso, com consequente aumento da fragilidade óssea e suscetibilidade para a ocorrência de fraturas. A osteomalácia desenvolve-se por diminuição do conteúdo mineral do osso e consequente aumento da proporção de osso não mineralizado(14). A definição de osteoporose da Organização Mundial de Saúde como um valor T-score de DMO na coluna lombar e/ou colo do fémur, medido por densitometria óssea, 2,5 SD abaixo da média para o adulto jovem, o qual se associa a um aumento do risco de fraturas, está apenas validado para a mulher pós-menopausa(15). Noutras situações a relação entre DMO e risco de fratura não foi ainda estabelecida. Por este motivo, na literatura sobre o tema, é utilizada a designação de doença óssea relacionada com a fibrose quística com um significado genérico. A expressão baixa DMO relacionada com a FQ refere-se a crianças ou adultos com FQ com um Z-score de DMO abaixo de -2 (ajustados para a idade e para o sexo) e o termo osteoporose no contexto da FQ fica reservado aos doentes com história de fraturas(12). A osteopénia define-se por um T-score ou Z-score superior ou igual a -2 e inferior a -1(12-15). Prevalência Depois da primeira descrição da doença óssea associada à FQ, dezenas de estudos procuraram determinar a prevalência de baixa DMO e fraturas nestes doentes, demonstrando que a baixa DMO é frequente e pode ocorrer em todas as idades(16) mas sobretudo em adolescentes pós-pubertários e adultos(13). A heterogeneidade destes estudos em relação às características demográficas e clínicas dos doentes dificulta a interpretação dos resultados, mas globalmente apontam para prevalências de baixa DMO de10-34% e de osteopénia até 85%, sendo a frequência em crianças de 17-24% e 28-47%, respetivamente(17-23). Por outro lado, outros estudos demonstram DMO normal em crianças pré-púberes(24-31). Os dados sobre a ocorrência de fraturas em doentes com FQ são contraditórios. Alguns demonstram uma prevalência aumentada (17-27%) de fraturas de costelas e vértebras (redução superior a 20% da altura anterior da vértebra em relação à altura posterior), assim como de fraturas de outras localizações associadas a história de traumatismo(24,32). No entanto, alguns estudos mais recentes demonstraram que nas crianças não parece haver um aumento do risco de fraturas(18,33). Etiologia e Fisiopatologia A doença óssea associada à FQ tem origem num conjunto de fatores que atuam de forma independente ou que se 228 artigo de revisão review articles potenciam entre si. Os fatores de risco atualmente identificados incluem: resposta inflamatória sistémica à infeção pulmonar, défices nutricionais, nomeadamente de cálcio e vitaminas D e K, inatividade física, uso de corticóides, atraso pubertário e hipogonadismo, insuficiência pancreática e diabetes mellitus relacionada com a FQ(10). O papel do gene da FQ, que codifica a síntese da proteína cystic fibrosis transmembrane condutance regulator (CFTR), enquanto fator de risco com efeito direto na fisiopatologia da doença óssea é controverso. Resposta inflamatória sistémica à infeção pulmonar Diversos estudos têm descrito a existência de correlação entre a DMO e função respiratória, exacerbação pulmonar com necessidade de antibioticoterapia endovenosa e parâmetros inflamatórios, nomeadamente proteína C reativa(23,31,34). Vários fatores, nomeadamente citocinas pró-inflamatórias [tumor necrosis factor-alpha (TNF ), fatores de crescimento como vascular endothelial growth factor (VEGF) e interleucinas (IL) 1, 6 e 11] e hormona paratiroideia (PTH), presentes no soro e vias aéreas, estimulam a reabsorção óssea, existindo evidência do aumento dos precursores osteoclásticos nos períodos de exacerbação pulmonar da doença(35-37). As infeções pulmonares e a baixa DMO desencadeiam um ciclo de agravamento recíproco. Com efeito, fraturas de vértebras e costelas podem limitar a drenagem eficaz das secreções das vias aéreas, conduzindo a uma maior deterioração da função pulmonar. Por este motivo, alguns centros de transplante pulmonar consideram a baixa DMO e/ou fraturas uma contraindicação para o transplante. No entanto, a DMO mantém-se mais estável após o transplante de pulmão, sugerindo que o benefício da eliminação do foco pulmonar infecioso ultrapassa o impacto adverso da terapêutica imunossupressora sobre o osso. Má nutrição Diversos estudos têm descrito a existência de correlação entre baixa DMO e má nutrição(24,25,38). Um dos mecanismos fundamentais é o défice de insulin-like growth factor-1 (IGF-1) desencadeado pelo estado de catabolismo e desnutrição que ocorre nos doentes com FQ. O IGF-1 é um fator de crescimento implicado no anabolismo proteico e na regulação endócrina e parácrina da proliferação e diferenciação osteoblástica. Paralelamente, modela de forma indireta a atividade octeoclástica de remodelação óssea. Assim, o seu défice influencia não só o incremento ósseo, condicionando por conseguinte um menor pico de massa óssea, como também interfere na qualidade do osso, deixando-o mais suscetível à ocorrência de fraturas(39). Défice de cálcio Os doentes com FQ têm geralmente um balanço de cálcio negativo. Embora não pareça haver um compromisso primário da absorção de cálcio, a sua excreção nas fezes está geralmente aumentada devido à insuficiência pancreática(40,41). Adicionalmente, a incorporação do cálcio no osso está diminuída devido ao défice de IGF-1 assim como de osteocalcina(43). NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Défice de vitamina D e K As vitaminas D e K são lipossolúveis, pelo que a sua absorção é inadequada devido à insuficiência pancreática(25,44). Além disso, a conversão para a forma ativa da vitamina D pode igualmente estar comprometida pela exposição solar limitada nos períodos de agudização da doença pulmonar(13). Os níveis frequentemente baixos da forma ativa de vitamina D estimulam a produção de PTH, diminuem a absorção intestinal de cálcio e induzem a reabsorção óssea(44). A vitamina K funciona como um co-fator na ativação da osteocalcina, pelo que o seu défice limita a atividade desta proteína envolvida na osteogénese(45,46). Inatividade física O exercício físico de carga promove a utilização de cálcio no processo de mineralização óssea explicitada na teoria “Mechanostat”, de acordo com a qual o osso se adapta às forças mecânicas através de um efeito anabólico esquelético(47). Devido sobretudo às agudizações e/ou à gravidade da doença pulmonar crónica, os doentes com FQ em estadios avançados de doença têm uma atividade física reduzida ou inexistente. Hipogonadismo e atraso pubertário A puberdade é uma fase importante no desenvolvimento ósseo normal dado que o pico de massa óssea ocorre durante o pico de velocidade de crescimento. O atraso pubertário é definido no sexo feminino pela ausência de telarca antes dos 12 anos de idade e no sexo masculino pela inexistência de aumento do volume testicular antes dos 14 anos. Nos doentes com FQ, o atraso pubertário tem sido classicamente atribuído à condição de doença crónica e à má nutrição(48), e mais recentemente mas ainda controverso a alterações da ação direta da proteína CFTR sobre o eixo hipotálamo-hipofisário gonadal(49). O pico de massa óssea mais baixo que se verifica nestes doentes coloca-os em maior risco de baixa DMO. Glucocorticóides A associação entre glucocorticóides orais e o risco de osteoporose está amplamente estudada e estabelecida na população em geral, sabendo-se que nas crianças diminui o crescimento linear e atrasa o início da puberdade comprometendo o pico de massa óssea(13). Alguns doentes com FQ necessitam de terapêutica com glucocorticóides orais, ainda que geralmente de forma intermitente, estando assim mais suscetíveis à doença óssea. Cystic Fibrosis Transmembrane Conductance Regulator (CFTR) Até há pouco tempo não parecia haver associação direta da mutação do gene CFTR com a doença óssea. No entanto, estudos em animais e mais recentemente em humanos mostram que a proteína CFTR é expressa tanto nos osteoclastos como nos osteoblastos, sugerindo que a mutação do gene afeta a biologia da célula óssea(50). Embora a fisiopatologia da doença óssea não esteja totalmente estabelecida, os fatores de risco, de forma independente ou sinérgica, parecem favorecer a reabsorção óssea e/ou reduzir a formação óssea, como sugerem os marcadores do metabolismo ósseo, nomeadamente aumento da hidroxiprolina, do propéptido do colagénio tipo I, da desoxiprolina e do N-telopeptido urinários, e a diminuição da osteocalcitonina(51). Este desequilíbrio no metabolismo ósseo impede que se atinja o pico máximo de crescimento ósseo linear e de incremento de massa óssea que em indivíduos saudáveis ocorre na puberdade. Não obstante, alguns estudos longitudinais demonstraram que o inadequado incremento de massa óssea tem início logo na infância(22,32). Porém, na maioria dos casos a baixa DMO é assintomática na fase inicial e agrava ou manifesta-se pela primeira vez no período peri-pubertário, continuando a deteriorar-se até à fase adulta em função da conjugação de fatores de risco descritos.(30) Diagnóstico A densitometria óssea é considerada o exame adequado na avaliação diagnóstica e vigilância da doença óssea associada à FQ, no entanto, a sua interpretação nas crianças e adolescentes é particularmente difícil devido ao efeito do tamanho do osso no valor obtido.(52) A densitometria óssea mede o conteúdo mineral ósseo e a área de secção transversal do osso e como tal calcula a densidade de área (g/cm2) em vez da verdadeira densidade volumétrica (g/cm3).( 53) Assim, a densitometria óssea pode subestimar a DMO em crianças com FQ que tenham um crescimento sub-ótimo e ossos pequenos e estreitos. Existem diversos métodos sugeridos para ajustar a DMO e o conteúdo mineral ósseo para fatores como tamanho corporal, estadio pubertário, maturidade óssea e composição corporal, mas atualmente ainda não existe consenso no melhor método a usar(54,55). Como inicialmente mencionado, a literatura sugere que o termo “baixa DMO relacionada com a FQ” seja aplicado a crianças ou adultos com FQ com um Z-score de DMO inferior a -2 (ajustados para a idade e para o sexo), com a ressalva de que os Z-score poderão não ser fidedignos em indivíduos de baixa estatura. Os dados de referência para crianças e adolescentes são escassos. Por estes motivos, a densitometria óssea deve ser realizada em centros com experiência para uma interpretação adequada dos resultados. As crianças com FQ devem ter uma medição da DMO por densitometria óssea na coluna lombar e no fémur proximal por volta dos oito anos de idade se não tiverem fatores de risco ou previamente se apresentarem algum dos fatores de risco. Posteriormente, a densitometria deve ser repetida a cada um a três anos em função da necessidade clínica, para confirmar que o incremento ósseo ocorre de forma adequada. As medições seriadas permitem a identificação do pico de massa óssea, permitindo, caso seja detetada uma perda prematura de osso, instituir atempadamente tratamentos que visem a recuperação óssea. Nas radiografias de tórax deve procurar-se a existência de fraturas vertebrais. A radiografia torácica de perfil e da coluna lombar não deverão ser realizadas por rotina mas deverão ser efetuadas em doentes que se pense estarem em risco de fraturas com base nos achados clínicos e da densitometria óssea. artigo de revisão review articles 229 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Prevenção e tratamento As recomendações relativas às medidas de prevenção e tratamento da doença óssea associada à FQ assentam nas guidelines europeias, de 2011(11), e nas americanas, de 2005(13). Os princípios básicos da prevenção da baixa DMO e das fraturas associadas assentam numa abordagem individualizada que contemple uma vigilância apertada através de um rastreio da baixa DMO e fraturas associadas e uma otimização dos fatores clínicos de risco modificáveis que estejam provavelmente a afetar a saúde óssea: 1) Os tratamentos para a prevenção da progressão da doença pulmonar devem ser otimizados devido ao provável impacto negativo da infeção pulmonar e inflamação sistémica na saúde óssea. 2) Os níveis séricos de vitamina D e K, a ingestão de cálcio e a massa corporal magra devem ser otimizados através de uma dieta adequada. Os níveis de cálcio e vitamina D devem ser avaliados pelo menos anualmente. Uma supervisão dietética especializada com intervenções pró-ativas e apropriadas com suplementações vitamínica e calórica é fundamental no tratamento destes défices. A avaliação dietética especializada deve ser efetuada a cada consulta, internamento ou avaliação anual programada. A suplementação com vitamina D deve ser individualizada com o objetivo de atingir níveis de 25-hidroxivitamina D sérica entre 30 e 60 ng/ml (75 a 150 nmol/L). A suplementação com vitamina K faz parte do tratamento base dos doentes com FQ e o seu benefício na prevenção da doença óssea foi demonstrado(56). Os doentes com FQ devem ter uma ingestão no mínimo igual à referência nutricional para a ingestão de cálcio e aportes de 1300 a 1500 mg/dia têm sido sugeridos nas crianças com mais de oito anos de idade. 3) Embora não haja evidência máxima em relação ao efeito do exercício físico na doença óssea associada à FQ(57), a atividade física de carga deve ser encorajada e o aconselhamento por fisioterapeuta especializado é desejável para se estabelecer um programa de exercícios apropriados às necessidades e capacidades individuais dos doentes. 4) O atraso pubertário ou hipogonadismo deve ser reconhecido e tratado. O desenvolvimento pubertário deve ser avaliado a partir dos oito/nove anos de idade nas raparigas e dez/ onze anos nos rapazes. Os níveis de testosterona sérica matinal devem ser doseados anualmente nos adolescentes do sexo masculino e a história menstrual deve ser realizada anualmente nas adolescentes do sexo feminino para rastreio do hipogonadismo. A referenciação para um endocrinologista deve ser considerada nos doentes com atraso pubertário, hipogonadismo ou atraso de crescimento. 5) O tratamento com corticóides orais deve ser minimizado. 6) Os adolescentes devem ser alertados para os efeitos nocivos do tabagismo e abuso de álcool sobre o osso. O tratamento com bifosfonatos não está licenciado em Portugal para uso em crianças com FQ. Noutras doenças ósseas pediátricas, esta terapêutica parece ser eficaz no aumento da 230 artigo de revisão review articles DMO e relativamente segura mesmo quando usado por longos períodos.(58) Em crianças com FQ a sua experiência é limitada mas a evidência existente demonstra uma melhoria na DMO embora não pareça haver diferença no risco de fraturas.(59) As recomendações internacionais propõem o uso de bifosfonatos para crianças que têm baixa DMO e perda óssea continuada apesar da implementação de medidas gerais para a otimização da saúde óssea. Além disso, sugerem que os bifosfonatos poderão ser benéficos em crianças com histórias de fraturas ou a aguardar transplante. Os doentes tratados com bifosfonatos devem ser inicialmente monitorizados com densitometria óssea repetida a cada seis a doze meses. No futuro poderá haver indicação para o uso de agentes anabólicos e hormona de crescimento humana recombinante.(60) CONCLUSÕES Os progressos científicos na investigação da FQ assim como a assistência clínica desses doentes em centros especializados com experiência e recursos adequados tiveram importantes reflexos na melhoria na qualidade de vida e na esperança média de vida, que é atualmente de 35,9 anos. A maior sobrevida veio permitir o desenvolvimento dos efeitos da terapêutica prolongada e de complicações da FQ de manifestação mais tardia, como é o caso da doença óssea associada à FQ. Desde a sua primeira descrição, têm-se conseguido importantes avanços na sua caracterização nosológica, existindo atualmente uma extensa literatura sobre o tema que inclui orientações clínicas publicadas por reconhecidos especialistas e grupos de consenso com experiência nesta área e baseadas em estudos com rigor científico. Embora a fisiopatologia não esteja ainda totalmente elucidada, vários fatores de risco são atualmente conhecidos, nomeadamente: resposta inflamatória sistémica à infeção pulmonar, défices nutricionais de cálcio e vitaminas D e K, inatividade física, uso de corticóides, atraso pubertário e hipogonadismo, insuficiência pancreática e diabetes mellitus relacionada com a FQ. O papel do gene CFTR enquanto fator de risco com mecanismo de ação direto na fisiopatologia da doença óssea é controverso. A densitometria óssea é o exame recomendado para o diagnóstico e monitorização da doença óssea. Dadas as particularidades técnicas deste exame na idade pediátrica, o mesmo deverá ser realizado em centros especializados com recurso a métodos que permitam ajustar os resultados, evitando a sobrevalorização da diminuição da DMO. De acordo com as guidelines europeias (2011) e americanas (2005), os princípios centrais da prevenção assentam no aumento da vigilância, particularmente no período peri-pubertário, na prática de exercício físico regular e adequado e na suplementação com cálcio e vitaminas D e K. Nos casos de baixa DMO já estabelecida os bifosfonatos poderão ter um papel importante mas a sua utilização nesta patologia é recente, devendo o seu uso ser ponderado de forma individualizada e os seus efeitos monitorizados regularmente. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 CYSTIC FIBROSIS-RELATED BONE DISEASE ABSTRACT Introduction: More than seven decades have passed since the first description of cystic fibrosis as a deadly childhood disease. Since then, progress has been made to extend the lives of these patients. As a consequence, children with cystic fibrosis are living into adulthood, which was once an unexpected outcome. Nevertheless, this increased survival brought new secondary complications as well as problems caused by the long-lasting medication. Cystic fibrosis-related bone disease is a recent but common complication in long-term survivors. Since its first description in 1979, a large number of papers have been published concerning the various areas of research around this secondary complication of cystic fibrosis. Aims: This article attempts to review the literature related to several research areas around the cystic fibrosis-related bone disease summarizing the most relevant aspects of this problem. Development: Throughout the article the authors emphasize knowledge about the epidemiology, pathophysiology and clinical aspects, and describe the most current recommendations for the diagnosis, prevention, treatment and monitoring of cystic fibrosis-related bone disease. Conclusions: Multifactorial aetiology and interdependence and complexity of underlying pathological mechanisms stress the need and importance of monitoring patients with cystic fibrosis-related bone disease in specialized centers that allow a multi-and interdisciplinary integrated and differentiated follow-up. Keywords: Children, cystic fibrosis related bone disease. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 227-233 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Barreto C. Fibrose quística. In: Sociedade Portuguesa de Pneumologia, eds. Tratado de Pneumologia. 1ª ed. Lisboa: Permanyer Portugal; 2003. p. 927-43. 2. Southern KW, Munck A, Pollitt R, Travert G, Zanolla L, Dankert-Roelse J, et al. A survey of newborn screening for cystic fibrosis in Europe. J Cyst Fibros 2007; 6:57-65. doi:10.1016/j.jcf.2006.05.008 3. Farrell P. The prevalence of cystic fibrosis in the European Union. J Cyst Fibros 2008; 7:450-3. doi:10.1016/j. jcf.2008.03.007 4. 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Prof. Egas Moniz 1649-035 Lisboa, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 13.01.2013 | Aceite a 25.11.2013 artigo de revisão review articles 233 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Encefalomielite aguda disseminada – pós-infecção por Herpes Vírus 6 Joana AmorimI; Isabel Couto GuerraI; Rosa LimaI; José CunhaI; Inês CarrilhoII; Ana RamosI RESUMO Introdução: A encefalomielite aguda disseminada (ADEM) é uma doença desmielinizante monofásica do sistema nervoso central (SNC) imunomediada. O quadro clínico inicial pode ser inespecífico, mas traduz geralmente envolvimento da substância branca em várias localizações do SNC, sendo a ressonância magnética (RM) do neuroeixo o exame complementar de diagnóstico de eleição. Caso clínico: Criança com 16 meses, internada por perda da capacidade de marcha de instalação aguda, recusa alimentar e irritabilidade. No exame neurológico salientava-se: períodos de irritabilidade alternando com sonolência, paraparésia flácida arrefléxica, ataxia axial e retenção urinária. O estudo do líquido cefalorraquidinano revelou pleocitose linfocitária e foi isolado o HHV-6 por técnica de Polymerase Chain Reaction. A RM revelou hipersinal medular na ponderação T2, em D2-D3 e desde D6 até ao cone medular. Iniciou terapêutica com corticoterapia e imunoglobulina humana com melhoria progressiva. Discussão: Trata-se de um caso clínico de ADEM com atingimento predominantemente medular, obrigando ao diagnóstico diferencial com outros quadros de paraparésia flácida de instalação aguda ou subaguada. Pretende-se alertar para a possibilidade de ocorrência deste tipo de manifestações neurológicas após infeção por herpes vírus 6. Palavras-chave: Encefalomielite aguda disseminada, herpes Vírus 6, paraparésia flácida arrefléxica. As manifestações clínicas iniciais são inespecíficas, tais como, febre, cefaleias, vómitos e anorexia, a que se seguem manifestações neurológicas, que incluem alteração do estado de consciência, crises epiléticas e défices focais(1). Do ponto de vista laboratorial não existem alterações patognomónicas, podendo o exame citoquímico do líquido cefalorraquidiano (LCR) revelar pleocitose linfocitária ligeira e proteinorraquia. Imagiologicamente a ressonância magnética (RM) é o exame complementar de diagnóstico de eleição, revelando lesões multifocais compatíveis com edema, inflamação e desmielinização(1,2). De entre as opções terapêuticas disponíveis salienta-se a corticoterapia em altas doses e a imunoglobulina humana endovenosa(1,3-5). O prognóstico é habitualmente favorável, havendo recuperação completa após seis meses em cerca de 60-70% das crianças. No entanto, a taxa de mortalidade é de 5%(1). O vírus herpes humano do tipo 6 (HHV-6) pertence à família herpesviridae. O HHV-6 apresenta tropismo pelos linfócitos T CD4+, podendo também infetar e destruir as células produtoras de mielina(3). A infeção pelo HHV-6 é geralmente benigna e autolimitada, sendo muito comum em crianças até aos dois ou três anos de idade (cerca de 90%). Nesta faixa etária manifesta-se habitualmente sob a forma de exantema súbito. Contudo, devido ao potencial neuroinvasivo deste vírus, este pode ser o agente responsável por convulsões febris, meningites, encefalites e outras infeções do SNC(3,5,6). Nascer e Crescer 2013; 22(4): 234-237 INTRODUÇÃO A encefalomielite aguda disseminada (ADEM) é uma doença desmielinizante do sistema nervoso central (SNC), monofásica, relativamente rara, com uma prevalência de 0.8: 100 000 indivíduos. Trata-se de uma doença imunomediada que geralmente surge após infeções (víricas ou bacterianas) ou certos tipos de vacinação(1-3). __________ I II S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. joanamsamorim@ gmail.com; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Neuropediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. icccarrilho@ gmail.com 234 casos clínicos case reports CASO CLÍNICO Criança de 16 meses, sexo feminino, caucasiana, internada por perda da capacidade de marcha de instalação em 24-48 h. Filha de pais saudáveis, não consanguíneos; sem história de doenças heredo-familiares. Gravidez, parto e período neonatal sem intercorrências. Plano Nacional de Vacinação atualizado, com três doses de vacina conjugada antipneumocócica heptavalente. Desenvolvimento estaturo-ponderal e psicomotor adequados, salientando-se marcha autónoma desde os 12 meses de idade. Sem antecedentes patológicos de relevo. Duas semanas antes do internamento tinha-se registado episódio febril autolimitado (quatro dias) associado a quadro de coriza. No dia anterior ao internamento recorreu ao serviço de urgência de hospital terciário (SUHT) por recusa em andar, clau- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 dicação e desequilíbrio na marcha com quedas frequentes; sem história de traumatismo. Observada por Pediatria e Ortopedia, verificando-se ao exame físico claudicação, sem aparente dor à mobilização das articulações coxo-femurais ou outros sinais inflamatórios articulares. Realizou telerradiografia da bacia e ecografia das ancas que foram normais, tendo tido alta com o diagnóstico provável de sinovite transitória da anca bilateral, com indicação de vigilância e medicada com anti-inflamatório durante três dias. No dia seguinte recorre novamente ao SUHT por perda total da marcha e incapacidade de se sentar. Sem febre ou outros sintomas. Apresentava-se apirética, com restantes sinais vitais normais para a idade, com exame articular dos membros inferiores sem alterações e sem dor aparente à palpação das massas musculares. No exame neurológico apresentava períodos de irritabilidade alternados com sonolência, paraparésia flácida arrefléxica, reflexo cutâneo-plantar em extensão bilateralmente, reflexos cutâneo-abdominais ausente bilateralmente e ataxia do tronco. De salientar ainda globo vesical palpável. O restante exame era irrelevante, nomeadamente com ausência de atingimento dos membros superiores ou envolvimento dos pares cranianos. Nos exames complementares de diagnóstico efetuados apresentava hemograma, proteína C reativa e bioquímica (ureia, creatinina, transaminases, creatininoquinase, desidrogenase láctica, ácido úrico e ionograma com fósforo, cálcio e magnésio) sem alterações. Foi realizada punção lombar, que evidenciou pleocitose (170 polimorfonucleares/μL) com glicorraquia e proteinorraquia normais. Efectuou RM encefálica e medular (Figuras 1 e 2) que revelou, na ponderação T2, hipersinal medular que se estendia desde D6 ao cone medular, sem tradução na pondera- 1 ção T1 ou realce após administração de gadolínio (Figura 3); em D2-D3 apresentava uma segunda lesão medular, de idênticas características de sinal e sem significativa expansão medular; o estudo encefálico foi considerado normal para a idade, com presença de áreas de hipersinal nas sequências de TR longo, bilaterais, e relativamente simétricas, compatíveis com áreas ainda não mielinizadas. Perante o quadro clínico, o estudo analítico e imagiológico a criança foi internada com o diagnóstico de mielite transversa no contexto de encefalomielite aguda disseminada (ADEM). Iniciou terapêutica anti-inflamatória (com metilprednisolona endovenosa, na dose de 23 mg/Kg/dia durante cinco dias, seguida de prednisolona oral na dose de 2 mg/Kg/dia) e imunossupressora (Imunoglobulina G Humana endovenosa, na dose de 1 g/Kg/dia, duas tomas). Foram ainda instituídas medidas gerais de suporte (monitorização cardio-respiratória contínua, cateterismo vesical, profilaxia de infeção urinária com cotrimoxazol oral e ranitidina oral). No estudo microbiológico realizado, foi isolado o HHV-6 por técnica de PCR (Polymerase Chain Reaction) no LCR, tendo o exame bacteriológico de LCR e a hemocultura sido estéreis. Durante o internamento a evolução clínica foi favorável, tendo readquirido capacidade para sentar sem apoio, micções espontâneas e movimentos espontâneos dos membros inferiores ao quinto dia de internamento. Teve alta ao décimo dia de internamento encontrando-se vigil, com bom estado geral, bem disposta, com movimentos espontâneos dos membros inferiores e melhoria da hipotonia, mas ainda sem capacidade em manter ortostatismo, com reflexos rotulianos presentes e aquilianos ausentes. Manteve prednisolona oral em esquema de redução gradual e cotrimoxazol profilático, tendo iniciado programa de reabilitação física diário. 2 Figuras 1 e 2 – Cortes sagitais em T2, mostrando hipersinal difuso da medula principalmente abaixo de D5/D6 até ao cone medular, embora com áreas mais focais (D2-D3). 3 Figuras 3 – Corte sagital em T1 da coluna cervical e dorsal com contraste (gadolínio), revelando ausência de alterações de sinal nesta ponderação, bem como claras captações de contraste. casos clínicos case reports 235 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Em ambulatório manteve reavaliação multidisciplinar (Pediatria, Neuropediatria, Urologia e Medicina Física e de Reabilitação), tendo-se constatado recuperação completa do quadro clínico e normalização imagiológica (RM encefálica e medular) ao terceiro mês de seguimento. DISCUSSÃO A criança descrita apresentava um quadro de paraparésia flácida arrefléxica de instalação subaguda com envolvimento esfincteriano. Face a este quadro clínico os principais diagnósticos diferenciais a colocar são: mielopatia aguda pós-infeciosa (ADEM e mielite transversa), mielite infeciosa, mielopatia aguda por lesão compressiva (tumoral, traumática) e polirradiculoneuropatia periférica (Síndrome de Guillain-Barré) (1). O principal exame de diagnóstico para auxiliar no diagnóstico diferencial é a RMN cerebral e medular, que evidencia lesão medular em todas as situações atrás descritas exceto no Síndrome de Guillain- Barré. No caso clínico descrito a sonolência e irritabilidade são sugestivas de envolvimento encefálico, que atualmente é considerado obrigatório para o diagnóstico de ADEM(7). O diagnóstico de encefalopatia poderá ser questionado, dado que numa criança de 16 meses múltiplos fatores poderiam justificar estas alterações comportamentais e flutuações da vigília (stress do internamento, dor, desregulação do sono...). Contudo, o facto de melhorar com o tratamento ainda em ambiente hospitalar apoia o diagnóstico. Questiona-se se a ausência de lesões na RM cerebral permite excluir ADEM, dado que há casos de ADEM descritos em crianças com lesões confinadas ao tronco cerebral(8,9) e casos em que as lesões na RM surgem meses após o início dos sintomas(10). Se neste caso clínico considerássemos que não havia encefalopatia, o caso seria rotulado de síndrome clínico solado(7). Esta separação não tem grandes implicações no tratamento inicial, mas é fundamental para o seguimento da criança. Assim, perante um novo episódio desmielinizante poderá classificar-se como ADEM recorrente ou esclerose múltipla, com diferentes implicações terapêuticas. No caso apresentado, face à gravidade e rápida progressão da sintomatologia, foi instituída terapêutica com corticoterapia em altas doses associada a imunoglobulina endovenosa. Esta última não tem eficácia clínica totalmente comprovada nesta patologia, embora alguns estudos documentem benefícios quando associada à corticoterapia(1,3,4). Nesta criança, quer a idade precoce de aparecimento, quer a extensão da lesão medular poderiam fazer prever um prognóstico mais reservado. Em vários estudos, foi documentada resolução total do quadro entre um a seis meses após o diagnóstico, embora também estejam descritos casos com recuperação mais tardia1. Neste caso, verificou-se resolução clínica e imagiológica completa ao terceiro mês de follow-up. O neurotropismo do HHV-6 está bem documentado, nomeadamente como agente etiológico de encefalites em adultos, sobretudo em doentes imunocomprometidos(3,5,6). A associação de ADEM com a infeção por HHV-6 está descrita em muito poucos 236 casos clínicos case reports casos(6). Na doente apresentada, a deteção do material genético do HHV-6 no LCR por técnica PCR, associada à ausência de isolamento de outros vírus ou bactérias, permite colocar este vírus como agente etiológico da mielite. Contudo, esta relação causal deve ser interpretada cautelosamente, não só porque não se verificou a apresentação clínica mais típica do HHV-6, mas também porque este pode permanecer em estado latente no SNC após a infeção primária, sobretudo durante a infância(7). Tendo em conta os diferentes aspetos discutidos e com base na bibliografia mais recente, pode-se concluir que este caso pode ser classificado como mielite transversa associada a ADEM pós-infeção pelo HHV6(11). ACUTE DISSEMINATED ENCEPHALOMYELITIS – HERPES VIRUS 6 POST-INFECTION ABSTRACT Background: Acute disseminated encephalomyelitis (ADEM) is a monophasic immune-mediated demyelinating disease of the central nervous system. The initial clinical presentation may be nonspecific, but is the result of involvement of different areas in white matter tracts of CNS and brain and spinal magnetic resonance imaging (MRI) is the gold standard complementary investigation for the diagnosis. Case report: A 16 month-old child, hospitalized for loss of walking ability of acute onset, irritability and refusal to eat. The neurological examination revealed: irritability alternating with periods of drowsiness, arreflexic flaccid paraplegia and trunkal ataxia, and urinary retention. Examination of cerebrospinal fluid showed lymphocytic pleocytosis, and herpes virus 6 were isolated by Polymerase Chain Reaction technic. The MRI revealed T2-weight hyperintense diffuse signal in D2-D3 and from D6 to the medullary connus also. She started therapy with steroids and human immunoglobulin with progressive improvement. Discussion: This is a case of ADEM of predominant spinal cord forcing the differential diagnosis with pictures of acute onset flaccid paraplegia. We highlight that herpesvirus 6 may be the agent of such a clinical picture. Key-words: Acute disseminated encephalomyelitis, arreflexic flaccid paraplegia, herpesvirus 6. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 234-237 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Menge T, Hemmer B, Nessler S, Wiendl H, Neuhaus O, Hartung H-P, et al. Acute disseminated encephalomyelitis: An Update. Arch Neurol 2005; 62:1673-80. 2. Lotze TE; Chadwick JD. Acute disseminated encephalomyelitis in children: Pathogenesis, clinical features, and diagnosis. (UpToDate web site). October, 2012. Disponível em: http://www.uptodate.com. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 3. Soto-Hernandez JL, Human herpesvirus 6 encephalomyelitis. Emerg Infect Dis 2004; 10:1700-1. 4. Timothy TE, Chadwick JD. Acute disseminated encephalomyelitis in children: Prognosis and treatment. (UpToDate web site). October, 2012. Disponível em: http://www.uptodate.com. 5. Denes E, Magy L, Pradeau K, Alain S, Weinbreck P, Ranger-Roguez S. Successful treatment of human herpesvirus 6 encephalomyelitis in an immunocompetent patient. Emerg Infect Dis 2004; 10:729-1. 6. Kamei A, Ichinohe S, Onuma R, Hiraga S, Fujiwara T. Acute disseminated demyelination due to primary human herpesvirus infection. Eur J Pediatr 1997; 156:709-12. 7. Krupp LB, Banwell B, Tenembaum S, International Pediatric MS Study Group. Consensus definitions proposed for pediatric multiple sclerosis and related disorders. Neurology. 2007; 68:S7-S12. 8. Alper G, Sreedher G, Zuccoli G. 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Serviço de Pediatria Largo do Professor Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 18.01.2013 | Aceite a 19.07.2013 casos clínicos case reports 237 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Psiquiátrico, aditivo ou orgânico: um desafio nos adolescentes Maria Inês MonteiroI; Augusto C FerreiraII; Hans Peter GrebeII; Lúcia GomesI; Miguel CostaI RESUMO Introdução: O alargamento da idade pediátrica até atingir os 18 anos de idade introduziu novos desafios pelo surgimento de quadros clínicos idênticos aos dos adultos no atendimento pediátrico. As alterações agudas do comportamento no adolescente são muitas vezes associadas ao consumo de drogas, álcool ou medicamentos. Estas podem, no entanto, ser a manifestação inaugural de uma psicose ou de uma doença neurológica de origem infeciosa ou autoimune. Caso clínico: Apresenta-se o caso de um adolescente com desajuste súbito do comportamento, de agravamento progressivo, semelhante a surto psicótico. A investigação permitiu o diagnóstico de meningoencefalite por Mycoplasma pneumoniae. Discussão / Conclusão: Este caso clínico vem reforçar a necessidade de uma abordagem alargada do adolescente com alterações agudas do comportamento. É fundamental manter a suspeita de patologia orgânica, investigando sempre a possibilidade de uma causa inflamatória, infeciosas ou imunológica. O Mycoplasma pneumoniae é um agente essencialmente respiratório, com potenciais complicações extrapulmonares, embora raras, sendo destas as neurológicas as mais frequentes. Realça-se com este caso o desafio que a avaliação de adolescentes nas unidades de agudos de Pediatria constitui. Palavras-chave: Adolescente, alteração comportamental, encefalite, Mycoplasma pneumoniae. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 238-240 INTRODUÇÃO O alargamento da idade pediátrica até atingir os 18 anos de idade introduziu novos desafios e novas patologias no atendimento pediátrico, que obrigatoriamente refletiram a necessidade de abordagens distintas e adequadas ao novo grupo etário. Tendo por base a mesma formação médica, sem a aquisição de conhecimento e técnicas especializadas a este grupo, esta es- __________ I II S. Pediatria, CH Entre o Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected] S. Neurologia, CH Entre o Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal. [email protected]; [email protected] 238 casos clínicos case reports tratégia de alargamento conduziu a dificuldades nos cuidados de saúde direcionados ao adolescente, que culmina numa eventual diminuição da qualidade assistencial. No adolescente, tal como noutras faixas etárias (o recém-nascido, a criança, o idoso), é necessário um cuidado de saúde especializado. Trata-se de um período de desenvolvimento psíquico, sexual, social e cognitivo, raramente em uníssono ou em harmonia completa. É uma época de autonomização, de descoberta e de desenvolvimento de identidade própria, numa dinâmica repleta de insegurança. A sensação de invencibilidade e a necessidade de agradar aos pares traduz-se em comportamentos de risco, agressividade, flutuações de humor e instabilidade comportamental. A habilidade do clínico em estabelecer uma relação médico-doente efetiva é crucial. É necessária uma interação confortável, respeitando o adolescente, e abordando-o sempre de forma não pejorativa, estabelecendo os limites da confidencialidade. Os pais ou responsáveis pelo doente devem dar a sua perceção sobre o problema. O pensamento clínico deve manter-se completo, objetivo e lógico. O diagnóstico diferencial continua a ser o desafio do Pediatra, nomeadamente em adolescentes com alteração do comportamento, problema cada vez mais frequente no nosso dia-a-dia. No topo de lista do diagnóstico diferencial para esta faixa etária têm presença constante as intoxicações alcoólicas, medicamentosas ou outras, as drogas de abuso e outros comportamentos de risco(1). O alerta para todas as hipóteses deve manter-se, valorizando as queixas do doente em toda a sua plenitude. CASO CLÍNICO Apresentamos o caso de um adolescente de 16 anos, do sexo masculino, previamente saudável. Recorreu ao serviço de urgência por um quadro com poucas horas de evolução, caracterizado por apatia, ligeira desorientação, défice de concentração, noção de alteração da personalidade e desajuste comportamental, com défice de concentração. Referiu episódio de trémulo dos membros superiores e parestesias do membro inferior direito, já revertidos. Negava traumatismo, consumo de drogas ou álcool ou intoxicação medicamentosa. Na semana prévia havia apresentado infeção respiratória ligeira e autolimitada das vias aéreas superiores. Ao exame neurológico, o doente estava vigil, algo confuso, com aparente afasia sensitiva; sem défices motores ou sensitivos, nem sinais meníngeos. Os sinais vitais eram normais, com apirexia e a glicemia normal. Optou-se por manter o doen- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 te em vigilância. Algumas horas depois, o doente desenvolveu um quadro alucinatório, com desadequação do comportamento, composto por verborreia e agressividade verbal e física, simulando um episódio psicótico. Foi necessária a administração de diazepam e haloperidol. As hipóteses diagnósticas colocadas foram: a intoxicação alcoólica ou medicamentosa, consumo de drogas, perturbação psiquiátrica primária ou patologia orgânica (nomeadamente de causa inflamatória ou infeciosa). Efetuou estudo analítico (hemograma, gasimetria e proteína C reativa), bem como radiografia de tórax, sem alterações. Prosseguiu-se o estudo com neuroimagem por tomografia axial computorizada: sem alterações. Realizou-se punção lombar, que demonstrou: pleiocitose (198 células/uL), com predomínio de mononucleares (99,5%), aumento da proteinorraquia (86 mg/dL) e glicorraquia normal (58 mg/ dL). No sentido de esclarecer a patologia efetuou posteriormente eletroencefalograma, que demonstrou traçado com assimetria a desfavor do hemisfério esquerdo e atividade lenta intermitente fronto-temporal esquerda traduzindo disfunção local assumindo por vezes forma de atividade paroxística interictal. A pesquisa de drogas e de álcool negativa, foram afastou a etiologia tóxica. Dado tratar-se de um quadro agudo foi iniciado terapêutica empírica com aciclovir perante a hipótese de meningoencefalite de causa vírica, nomeadamente herpética; e iniciou ceftriaxone, indicado para etiologia bacteriana mais comum, apesar da glicorraquia normal. O doente permaneceu internado com o diagnóstico de meningoencefalite, tendo realizado ressonância magnética cerebral, que foi relatada como normal. O líquido cefalorraquidiano (LCR) revelou-se amicrobiano, os antigénios capsulares e o estudo virulógico negativos, no entanto polymerase chain reaction (PCR) para Mycoplasma pneumoniae foi positiva. Dada a evolução favorável do estado clínico do doente, com total regressão das alterações comportamentais nas primeiras 24 horas, não se introduziu nova antibioterapia ou corticoterapia. Efetuou eletroencefalograma de controlo ao 5º dia, que foi normal. O doente teve alta, sem qualquer medicação. Já foi posteriormente reavaliado em consulta externa, estando assintomático. DISCUSSÃO / CONCLUSÃO No caso clínico apresentado, tendo como ponto de partida uma alteração grave do comportamento num adolescente, foi possível chegar ao diagnóstico de encefalite por Mycoplasma pneumoniae, cuja apresentação clínica foi apenas de alterações comportamentais agudas, não incluindo outras manifestações, nomeadamente neurológicas e sem atingimento respiratório. Perante um adolescente com alterações agudas do comportamento e sem história psiquiátrica prévia, é fundamental manter a suspeita de patologia orgânica, investigando-a sempre. O Mycoplasma pneumoniae é um agente essencialmente respiratório, com potenciais complicações extra-pulmonares, embora raras, sendo as neurológicas as mais frequentes na faixa etária pediátrica(2-5). Está associado a manifestações no sistema nervoso central muito diversas, desde cerebrite, ataxia cerebelosa, meningite de líquor claro, polirradiculopatia, mielite transversa, síndroma de Guillain-Barré, paralisia de nervos cranianos ou psicose aguda(6-8), podendo ocorrer por invasão direta do agente infecioso (como neste caso) ou por mecanismo imunológico. Não há evidência de que a encefalite por este agente seja clinicamente distinta da causada por outras etiologias. A existência prodrómica de sintomatologia respiratória pode ser um indício importante, mas pode não existir(1,9,10). A conexão causal entre infeção por Mycoplasma pneumoniae e doença psiquiátrica ou neurológica é posta em causa com base em casos clínicos como o apresentado, sendo a evidência serológica positiva para este agente fundamental, o que inevitavelmente conduz a um atraso no diagnóstico. A positividade para o Mycoplasma pneumoniae por reação PCR no LCR é um resultado raro, mas que faz um diagnóstico rápido. A existência de quadros neurológicos associados a micoplasma tem sido descrita com frequência(2,6,8,11–14). Contudo, o reconhecimento deste agente infecioso como causa de sintomas psiquiátricos agudos em idade pediátrica tem sido descrito muito raramente(7,15). São raros os casos com apresentação exclusiva com sintomas bizarros e floridos de alteração do comportamento como no caso apresentado. O mecanismo pelo qual o micoplasma se traduz em sintomatologia neurológica ou psiquiátrica permanece obscuro, existindo várias hipóteses, ainda sob investigação: mecanismo autoimune, produção de neurotoxinas ou invasão direta do cérebro e LCR(6,10,11). Este facto torna o tratamento difícil. Nenhum tratamento foi validado como standard. Os macrólidos permanecem o tratamento de escolha, apesar de não ser conhecido o seu real efeito no curso da sintomatologia neurológica. Os corticoesteróides são por vezes administrados, com base na hipótese de existência de componente imunológico, sem ter ainda confirmação de algum tipo de benefício major, podendo eventualmente acelerar o processo de recuperação(10). Concluímos que o Mycoplasma Pneumoniae deve ser considerado como possível agente responsável por encefalite em adolescentes, mesmo na ausência de sintomatologia respiratória. Este caso clínico vem reforçar a necessidade de uma abordagem pluridisciplinar do adolescente com alterações do comportamento. Realça ainda o desafio que constitui o alargamento da idade aos adolescentes nas unidades de agudos de Pediatria. PSYCHIATRIC, ADDITIVE OR ORGANIC: A CHALLENGE IN ADOLESCENCE ABSTRACT Introduction: The extension of paediatric age to the adolescents introduced new challenges in the paediatric health care. Acute behaviour disturbances are usually associated with drugs or alcohol abuse. Besides that, they can represent the onset of either psychiatric disorders or neurological diseases of both infectious or autoimmune origin. Clinical case: A teenager presented with sudden progressive behavioural disturbances. The investigation performed allowed the diagnosis of Mycoplasma pneumoniae meningoencephalitis. casos clínicos case reports 239 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Discussion / Conclusion: This case report underlines the need of a multidisciplinary approach to the adolescent with behaviour disturbances. The suspicion of an organic disease must always be kept in mind, and laboratory and imaging studies conducted to the possibility of a inflammatory neurological disorder, both infectious or immune. Mycoplasma pneumoniae is mainly a cause of respiratory disease but has the potential of extra pulmonary complications, being the neurological the most frequent of these. We highlight the challenging of evaluating teenagers in acute paediatric units. Key-words: Adolescents, behaviour disturbances, encephalitis, Mycoplasma pneumonia. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 238-240 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Daxboeck F, Blacky A, Seidl R, Krause R, Assadian O. Diagnosis, treatment and prognosis of Mycoplasma pneumoniae childhood encephalitis: systematic review of 58 cases. J Child Neurol 2004; 19:865-71. 2. Guleria R, Nisar N, Chawla TC, Biswas NR. Mycoplasma pneumoniae and central nervous system infections: a review. J Lab Clin Med 2005; 146:55-63. 3. Domenech C, Leveque N, Lina B, Najioullah F, Floret D. Role of Mycoplasma pneumoniae in pediatric encephalitis. Eur J Clin Microbiol Infect Dis 2009; 28:91-4. 4. Talkington DF, Waites KB, Schwartz SB, Besser R. Emerging from obscurity: Understanding pulmonary and extrapulmonary syndromes, pathogenesis, and epidemiology of human Mycoplasma pneumoniae infections. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Maria Inês Monteiro Rua do Crasto, 611 - 2 4150-247 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 19.12.2012 | 02.09.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Infeção tardia por streptococcus agalactiae – um caso de artrite séptica neonatal Ângela SantosI; Beatriz SousaII; Ana Paula GamaI RESUMO Introdução: A incidência da infeção neonatal precoce por Estreptococo do grupo B (EGB) tem diminuído substancialmente devido ao rastreio da colonização por EGB nas grávidas entre as 35 e as 37 semanas de gestação e à instituição da quimioprofilaxia intraparto. No entanto, a incidência da infeção tardia tem-se mantido constante na última década, não sendo afetada pela quimioprofilaxia materna intraparto. A infeção tardia afeta lactentes sem intercorrências obstétricas e com uma evolução neonatal precoce favorável. Outras vias de transmissão além da via vertical, tais como a via horizontal através dos contatos hospitalares ou familiares, poderão justificar a infeção tardia. Caso clínico: Este caso clínico relata uma infeção tardia por EGB que se manifestou como um artrite séptica num lactente caucasiano de termo, com via de transmissão desconhecida. A morbilidade associada é descrita. Discussão: Investigações adicionais sobre o mecanismo de transmissão da infeção tardia por EGB são imperativas para o desenvolvimento de medidas preventivas adequadas. Palavras-chave: Artrite séptica, gravidez, infeção tardia por Estreptococo grupo B, recém-nascido, rastreio pré-natal de Estreptococo grupo B. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 241-243 INTRODUÇÃO A infeção neonatal pelo estreptococo do grupo B de Lancefield (EGB) é classificada como precoce quando surge na primeira semana de vida, sendo que a maior parte dos casos ocorre nas primeiras 48-72 horas. É adquirida de forma ascendente a partir do trato genital materno. A infeção tardia ocorre após a primeira semana e até aos oitenta e nove dias de vida (1). A sua transmissão é vertical no momento do parto ou horizontal, através de infeção nosocomial ou adquirida na comunidade (1,4). As atuais medidas de rastreio universal da colonização materna por EGB às 35-37 semanas de gestação e a administra__________ I II S. Ginecologia e Obstetrícia, ULS Alto Minho, 4901-858 Viana do Castelo, Portugal. [email protected]; [email protected] U. Cuidados Intensivos Neonatais e Pediátricos, S. Pediatria, ULS Alto Minho, 4901-858 Viana do Castelo, Portugal. beatriz.sousa@ulsam. min-saude.pt ção de antibioterapia profilática intraparto diminuíram de forma acentuada a incidência da infeção neonatal precoce. No entanto, estas medidas não registaram qualquer impacto sobre a taxa de infeção neonatal tardia (1,2,4). No presente artigo, os autores descrevem o caso clínico de um recém-nascido admitido por sepsis tardia por EGB, com artrite associada. É discutida a via de transmissão do EGB, bem como a respetiva morbilidade neonatal. CASO CLÍNICO Recém-nascida com 12 dias de vida, levada ao Serviço de Urgência por mobilidade reduzida do membro inferior esquerdo e irritabilidade à manipulação, sem febre. Filha de caucasiana de 32 anos, antecedentes pessoais irrelevantes, gesta três para dois, dois partos eutócicos anteriores, admitida no Serviço de Urgência de Obstetrícia por rotura prematura de membranas às 39 semanas e seis dias de gestação. A gravidez decorreu sem intercorrências, com as rotinas analíticas maternas do 3º trimestre sem alterações (AgHbs negativo, VDRL negativo, VIH negativo, Rubéola imune, Toxoplasmose não imune). O rastreio da colonização por EGB, realizado às 36 semanas, foi negativo. O parto foi eutócico, após 24 horas de rotura de bolsa amniótica. O recém-nascido, de sexo feminino, apresentou um índice de Apgar 9 / 10 ao 1º e 5º minuto, respetivamente, e biometria adequada à idade gestacional. O período neonatal precoce decorreu normalmente. Ao exame objetivo, a recém-nascida apresentava choro vigoroso, limitação à extensão do membro inferior esquerdo e ligeira assimetria de volume a nível dos joelhos, sem sinais inflamatórios locais. A hipótese diagnóstica colocada foi de sepsis neonatal tardia com provável artrite do joelho associada. O estudo analítico revelou um leucograma com 17.600/mm3 células, das quais 45% de neutrófilos, uma proteína C reativa (PCR) de 7.29 mg/dl e uma citologia do líquido cefaloraquidiano normal. A radiografia do membro inferior esquerdo não evidenciou fratura. Na ecografia do joelho esquerdo detetou-se um mínimo derrame articular no recesso supra-patelar. Iniciou antibioterapia com ampicilina, gentamicina e vancomicina. Ao 3º dia de internamento, perante aumento do valor da PCR para 15 mg/dl e persistência da assimetria de volume a nível dos joelhos, foi realizada punção articular com drenagem de líquido purulento. A recém-nascida foi de imediato submetida casos clínicos case reports 241 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 a artrotomia do joelho esquerdo para drenagem e limpeza articular. Teve alta hospitalar aos 32 dias de vida, após completar 21 dias de antibioterapia dirigida com penicilina, clinicamente bem e sem limitação da mobilidade articular. Foi referenciada à Consulta de Pediatria e Ortopedia. O exame bacteriológico do líquido articular e as hemoculturas foram positivos para Streptococcus agalactiae sensível a penicilina. DISCUSSÃO O Streptococcus agalactiae é um coco encapsulado gram positivo do grupo B de Lancefield que coloniza o trato gastrointestinal e genital em 15 a 40% das grávidas(3) . A colonização materna, geralmente assintomática, é o principal fator de risco para uma infeção bacteriana neonatal (sepsis, pneumonia, meningite)(1,2,4). Menos frequentemente apresenta-se através de infeções focais, das quais mielite, artrite séptica ou celulite são exemplo(1,4). A infeção tardia por EGB tem uma incidência de 0.3-0.4 por 1000 nados vivos e tem-se mantido constante nos últimos 10 anos. O risco de infeção é superior na prematuridade e no recém-nascido de raça negra. Não se constatam diferenças estatisticamente significativas na prevalência por sexo(1,2,4,5). A bacteriémia sem foco é a manifestação clínica mais frequente, seguida pela meningite (65% e 25% dos casos, respetivamente). A artrite séptica manifesta-se em 2 a 3% dos casos, sendo a idade média no momento do diagnóstico os vinte dias de vida(1). Envolve com maior frequência os membros inferiores, originando uma diminuição dos movimentos e dor à manipulação da extremidade afetada (1). Embora exista bacteriémia associada em mais de 50% dos casos, a febre geralmente encontra-se ausente. O diagnóstico precoce cursa com um prognóstico favorável, reduzindo a probabilidade de sequelas articulares(1,7). A mortalidade é de 1-2% nos lactentes de termo(1,8). A via de transmissão da infeção no presente caso, tal como em vários casos documentados, é desconhecida. Poderá ter sido vertical, através da colonização materna com um resultado falso negativo no rastreio antenatal, por infeção nosocomial no berçário ou adquirida na comunidade, através de contatos familiares, embora a evidência direta sugira que este meio de transmissão oro-fecal seja muito infrequente(1,8,9,10). O EGB deve ser sempre considerado como um possível agente de infeção neonatal tardia, mesmo nos casos em que o rastreio pré-natal foi negativo, uma vez que o rastreio da colonização materna por EGB apresenta uma taxa de falsos negativos de 4% (2,10). Tendo em conta que as atuais medidas de rastreio universal da colonização materna por EGB e a profilaxia antibiótica intraparto não registaram qualquer impacto sobre a incidência de infeção tardia, a realização de investigações adicionais para o desenvolvimento de métodos preventivos eficazes da transmissão da infeção neonatal tardia é imperativa. 242 casos clínicos case reports LATE-ONSET STREPTOCCUS AGALACTIAE DISEASE – A NEONATAL SEPTIC ARTHRITIS CASE REPORT ABSTRACT Introduction: The incidence of early-onset group B streptococcus (GBS) disease has decreased substantially due to universal antenatal culture screening of pregnant women for GBS colonization at 35-37 weeks of gestation and the widespread use of intrapartum antibiotic prophylaxis. However, the incidence of late-onset GBS disease has remained constant in the past decade and it is unaffected by maternal intrapartum chemoprophylaxis. Late-onset GBS infection affects infants who had an unremarkable maternal obstetric and early neonatal history. Other sources rather than vertical route, like horizontal transmission from hospital or community, albeit less frequently proved, can justifies late onset GBS disease. Case report: This case report illustrates a late-onset GBS disease, presenting as neonatal septic arthritis on a caucasian term infant, with unknown route of transmission and highlights the morbidity associated. Discussion: Additional research pertaining to the transmission of late-onset GBS infections is required to develop effective preventive methods. Key-words: Group B streptococcus screening, late-onset group B streptococcus disease, newborn, pregnancy, septic arthritis. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 241-243 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Edwards MS, Nizet V, Baker C. Group B streptococcal infections. In: Remington JS, Klein JO, CB (eds), et al. Infectious Diseases of the Fetus and Newborne Infant. 7th Ed. 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NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 6. Phares CR, Lynfield R, Farley MM, Mohel-Boetani J, Harrison LH, Petit S, et al. Epidemiology of invasive group B streptococcal disease in the United States, 1999-2005. JAMA 2008; 299:2056-65. 7. Deshpaud SS, Taral N, Modi N, Singrakhia, M. Changing epidemiology of neonatal septic arthritis. J Orthop Surg 2004; 12:10-3. 8. Morinis J, Shah J, Murthy P, Fulford M. Horizontal transmission of group B streptococcus in a neonatal intensive care unit. Paediatr Child Health 2011; 16:e48-e50. 9. Cagno CK, Pettit JM, Weiss BD. Prevention of perinatal group B strptococcal disease: Updated CDC Guideline. Am Fam Physician 2012; 86:59-65. 10. Fernandez M, Rench MA, Albanyan EA, Edwards MS, Baker CJ. Failure of rifampin to eradicate group B streptococcal colonization in infants. Pediatr Infect Dis J 2001; 20:371-6. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ângela Santos Avenida Santo André, nº 241 Edifício Mira-Rio, Apartamento 1001 4755-281, Barcelinhos - Barcelos Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 20.12.2012 | Aceite a 22.11.2013 casos clínicos case reports 243 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Vestida de vermelho – um caso de reação medicamentosa Cláudia MeloI; Filipa AlmeidaI; Susana LopesI; Paulo TeixeiraI; Célia BarbosaII; Ana SequeiraI; Cristina MiguelI RESUMO Introdução: As reações de hipersensibilidade a fármacos podem limitar-se a um exantema cutâneo não específico, ou manifestar-se por um síndrome multissistémico, com prognóstico muito variável, como é o caso do síndrome DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms). Caso clínico: Os autores apresentam o caso clínico de uma menina admitida no Serviço de Urgência por um síndrome febril prolongado acompanhado de exantema generalizado e pruriginoso, edema exuberante da face e membros, com início seis semanas após início de tratamento com carbamazepina. Os exames laboratoriais revelaram eosinofilia e elevação das enzimas hepáticas. Após suspensão do fármaco assistiu-se a uma rápida melhoria clínica e analítica. Discussão: O reconhecimento precoce da hipersensibilidade medicamentosa, neste caso na forma do síndrome DRESS, e a suspensão do medicamento permitiu a evolução favorável de uma entidade potencialmente fatal. Palavras-chave: Anticonvulsivantes aromáticos, carbamazepina, hipersensibilidade medicamentosa. tipo III: tardia e causada por deposição de imunocomplexos e ativação do complemento; e tipo IV: tardia e mediada por células T.(1) Os fármacos causam mais frequentemente reações dos tipos I e IV. Os diferentes tipos de reação têm sinais ou sintomas caraterísticos, e o momento de inicio dos sintomas pode ajudar a distingui-los. É fundamental reconhecer o tipo de reação imunológica subjacente para otimizar o diagnóstico e abordagem terapêutica do doente. Nas reações mediadas por IgE (tipo I), os testes cutâneos e testes in vitro para determinados fármacos podem auxiliar no diagnóstico.(2) Em alguns casos, as reações tipo II, III e IV podem ser estudadas recorrendo a testes in vitro, no entanto, a maioria destes testes só existe a nível experimental.(2) O síndrome de hipersensibilidade a fármacos conhecido como DRESS é uma reação tardia mediada por células T (tipo IV).(1-3) Apresenta-se tipicamente por um exantema mucocutâneo extenso, febre e envolvimento de outros órgãos.(1,3) O atingimento multissistémico é o que distingue o DRESS de outras reações alérgicas medicamentosas.(1,3) A incidência estimada do DRESS é de 1:1.000-10.000.(3) O reconhecimento desta entidade é fundamental uma vez que 10 a 20% dos casos podem ser fatais. (3-6) A interrupção, o mais precoce possível, do medicamento é essencial, como se exemplifica no caso descrito. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 244-247 INTRODUÇÃO A hipersensibilidade medicamentosa define-se como uma reação adversa a um fármaco na sequência de uma resposta imunológica desencadeada pelo próprio fármaco.(1) Se for imediata e cutânea pode ser facilmente reconhecível, no entanto, quando tardia e com apresentação menos típica, pode ser difícil estabelecer a relação com o uso de um fármaco. De acordo com o sistema de classificação de Gell e Coombs as reações de hipersensibilidade medicamentosa podem dividir-se em quatro categorias: 1) tipo I: imediata e causada por ativação dos mastócitos e basófilos e mediada por IgE; tipo II: tardia e causada por destruição celular mediada por anticorpos (geralmente IgG); __________ I II S. Pediatria, CH Médio Ave, 4761-917 Vila Nova de Famalicão, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] U. Neuropediatria, S. Pediatria, H Braga, 4710-243 Braga, Portugal. [email protected] 244 casos clínicos case reports CASO CLÍNICO Criança do sexo feminino, oito anos, com antecedentes de epilepsia com pontas centro-temporais, diagnosticada aos sete anos de idade. Medicada inicialmente com valproato de sódio e posteriormente, por queixas de diminuição do apetite, com carbamazepina. Os antecedentes familiares eram irrelevantes. Seis semanas após a alteração da terapêutica anticonvulsivante inicia febre. No quarto dia associa-se um eritema pruriginoso da face, região cervical e tronco, odinofagia e otalgia. Por suspeita de infeção por Streptococcus grupo A, efetuou pesquisa na orofaringe que se revelou negativa. Medicada ao sexto dia de doença com amoxicilina e clavulanato oral por provável otite média aguda. Ao décimo dia de febre, recorreu ao serviço de urgência, apresentando um eritema e exantema macular difuso, queilite, orofaringe sem exsudados, adenomegalias cervicais e inguinais e edema da face e dos membros. Sem organomegalias ou outras alterações no exame objetivo, tendo sido decidida a suspensão da medicação (carbamazepina, amoxicilina e ácido clavulânico e ibuprofeno). Analiticamente, apresentava anemia, eosinofilia e elevação das enzimas hepáticas (Tabela 1). O sedimento urinário não revelou alterações. A ecografia abdominal NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 mostrou esplenomegalia (130 mm de maior diâmetro) e adenomegalias múltiplas ao nível do hilo hepático e inguinais bilateralmente, de provável natureza reativa. As serologias e marcadores víricos foram negativos (Tabela 2). Instituída terapêutica sintomática com anti-histamínico e antipirético, verificando-se apirexia após o décimo terceiro dia de doença e regressão gradual do edema e do exantema. Manteve-se hemodinamicamente estável e sem compromisso neurológico. Verificou-se também uma rápida melhoria analítica. Suspendeu-se a medicação anticonvulsivante dado o bom prognóstico da forma de epilepsia, do grupo das epilepsias consideradas benignas da infância, que a criança apresentava. Foi desaconselhado o uso futuro de outros anticonvulsivantes aromáticos. DISCUSSÃO As reações alérgicas medicamentosas do tipo IV podem apresentar-se de forma muito variável, desde um exantema morbiliforme, eritrodermia, eritema multiforme, até formas mais graves como o Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica, ou com atingimento multissistémico como o síndrome de hipersensibilidade a fármacos ou DRESS.(1,3) Perante um exantema exuberante generalizado, síndrome febril prolongado, atingimento multiorgânico, adenopatias, eosinofilia e a história de administração de um anticonvulsivante aromático, o diagnóstico de DRESS foi ponderado. Contudo, alguns destes sinais e sintomas são comuns a outras doenças, nomeadamente a infeções por vírus hepatotrópicos, outras cau- Tabela 1 – Evolução analítica no internamento (D11 a D16 de doença) e após alta (um mês depois do internamento) D1 int. D11 de doença Hb (g/dl) D12 de doença D13 de doença D16 de doença 1 mês após alta 10,8 10,3 10,8 10,6 11,3 Plaquetas (uL) 172 000 193 000 206 000 179 000 239 000 Leucócitos (uL) 10 800 12 400 13 200 15 600 8 100 Neutrófilos (uL) 2680 2120 2100 1820 3270 Linfócitos (uL) 5740 5760 5710 6590 5100 Eosinófilos (uL) 320 420 500 450 310 Monócitos (uL) 1230 1640 1550 1030 1250 Creatinina (mg/dl) 0,5 0,5 0,5 0,3 0,4 Ureia (mg/dl) 13 10 16 6 17 270/168 142/129 113/122 45/61 32/36 2,9 1,68 1,75 0,52 - Albumina (g/dl) - 2,5 2,7 3,0 - Proteínas totais (g/dl) - 4,4 4,5 5,1 - TGO/TGP (U/l) PCR (mg/dl) Abreviaturas: Hb – Hemoglobina; TGO – Transaminase glutâmico-oxalacética; TGP – transaminase glutâmico pirúvica; PCR – Proteína c-reativa. Tabela 2 – Serologias e marcadores víricos HBV – vírus da hepatite B AgHBs neg., Ac anti-HBs pos., Ac anti-HBc neg. HAV – vírus da hepatite A Ac anti-HAV (IgG) neg., Ac anti-HAV (IgM) neg. HCV – vírus da hepatite C Ac anti-HCV neg. HIV – vírus da imunodeficiência humana Ac HIV1 /HIV2 neg. CMV – citomegalovírus Ac anti-CMV IgG pos., Ac anti-CMV IgM neg. EBV – vírus Epstein Barr Ac Heter. 1 e 2 neg., Ac VCA IgM neg, Ac VCA IgG neg., EBNA neg. Parvovirus IgG neg., IgM neg. Mycoplasma Pneumoniae PCR (secreções respiratórias) negativo Abreviaturas: AgHBs – antigénio de superfície do vírus da hepatite B; Ac anti-HBs – anticorpo de superfície do vírus da hepatite B; Ac anti-HBc – Anticorpo contra antígeno core da hepatite B; Ig – Imunoglobulina; Ac Heter – anticorpo heterofilo; VCA – antigénios da cápsula viral; EBNA – antigénio nuclear do vírus Epstein Barr; PCR – reação em cadeia da polimerase. casos clínicos case reports 245 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 sas de exantemas difusos como as infeções estreptocócicas ou estafilocócicas, ou o síndrome de Kawasaki na idade pediátrica. Neste contexto estes diagnósticos diferenciais foram inicialmente colocados. Perante a hipótese de uma infeção vírica que justificasse o síndrome febril, a sintomatologia das vias aéreas superiores (odinofagia e otalgia), e o eritema pruriginoso foram efetuadas serologias e marcadores víricos que foram negativos. A pesquisa do Streptococcus grupo A foi também negativa. Por outro lado, colocou-se ainda a hipótese de um síndrome de Kawasaki, uma vez que para além da febre prolongada, apresentava queilite, adenopatias cervicais e edema das extremidades. No entanto, a distribuição da linfadenopatia não sugeria um síndrome de Kawasaki, que se apresenta tipicamente com linfadenopatia cervical. Também o edema não se restringia às mãos e pés, como habitualmente acontece neste síndrome, mas estendia-se à inserção dos membros e à face, achado consistente com o síndrome DRESS. Salienta-se que o exantema regrediu sem qualquer descamação nas extremidades, o que A não é a favor do Síndrome de Kawasaki, ou mesmo de uma infeção cutânea estreptocócica ou estafilocócica. Estes achados, bem como os sintomas sistémicos, a eosinofilia, e a ausência de sinal de Nikolsky, sugerem em conjunto o diagnóstico de DRESS. O síndrome DRESS foi descrito em 1950 num doente medicado com um anticonvulsivante.(6) Carateriza-se classicamente por febre, erupção cutânea, atingimento sistémico, disfunção hepática, eosinofilia e linfocitose com linfócitos atípicos.(1,3,4) Pode também ocorrer insuficiência renal aguda e infiltrados pulmonares ou cardíacos. O edema facial(4) e as adenopatias são também frequentemente descritos e estavam presentes nesta criança de forma exuberante. Tipicamente as manifestações clínicas surgem duas a seis semanas após inicio do fármaco mas podem surgir até três meses depois.(4) Os anticonvulsivantes aromáticos (carbamazepina, fenítoina, fenobarbital, oxcarbazepina, felbamato, eslicarbazepina, zonisamida e primidona) e as sulfonamidas são os agentes mais frequentemente implicados neste tipo de reação alérgica, haven- B C Figura 1 (A, B, C) – Primeiro dia de internamento, 10º dia do quadro de febre e 6º dia do exantema A B Figura 2 (A, B, C) – Quarto dia de internamento, quatro dias após suspensão da carbamazepina 246 casos clínicos case reports C NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 do, no entanto, múltiplos fármacos que podem estar associados. (4,6,7) Neste caso, foi iniciada a carbamazepina, em substituição de valproato de sódio, seis semanas antes do episódio. O uso concomitante de amoxicilina e ácido clavulânico foi considerado, no entanto, o início do quadro de febre e exantema, precedeu a administração deste antibiótico. O mecanismo fisiopatológico do DRESS permanece por esclarecer podendo, contudo, existir susceptibilidade individual e diversos autores defendem uma associação a um cofator, como uma infeção viral ativa ou mesmo a reativações de HHV-6, CMV e EBV.(3,4,6) No presente caso, não foi pesquisado o HHV-6 e não foi identificado nenhum vírus, mas parece ter coexistido uma infeção das vias aéreas superiores. A maioria dos casos de DRESS resolve com descontinuação do fármaco(3), o que se verificou no caso reportado, no entanto ocorre um evento fatal em 10–20% dos casos, pelo que o diagnóstico precoce é fundamental.(1,4-6) O tratamento consiste em suspender o agente causal, podendo ser benéfico o uso de anti-histamínicos e corticosteróides. A corticoterapia sistémica é normalmente reservada para casos graves, ou sem melhoria após descontinuação do agente desencadeante.(5-7) CONCLUSÕES O Síndrome DRESS é uma reação farmacológica adversa multissistémica potencialmente fatal, com grande variabilidade. A reexposição acidental e os testes de provocação devem ser evitados mas em alguns casos podem ser realizados testes cutâneos para diagnóstico (geralmente testes de contacto) particularmente úteis quando um diagnostico mais fundamentado é necessário (se há vários fármacos administrados ao mesmo tempo ou quando há poucas alternativas terapêuticas para substituição do fármaco suspeito).(8) É fundamental alertar para o risco de reatividade cruzada entre anti-epiléticos aromáticos, devendo os doentes, familiares e profissionais de saúde estar alerta para esta condição e para potenciais reações cruzadas com outros fármacos. WEARING RED – A CASE OF DRUG REACTION ABSTRACT Introduction: Drug reactions may be limited to a skin rash, or present as a multisystemic syndrome with a variable prognosis such as DRESS (Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms) syndrome. Case report: The authors report a case of a girl admitted to the Emergency Department due to prolonged fever with generalised rash and pruritus, and prominent soft tissue edema of face, legs and arms, six weeks after beginning treatment with carbamazepine. Laboratory results showed eosinophilia and elevated liver enzymes. After stopping the drug we assisted to both clinical and analytical normalization. Discussion: The early recognition of DRESS syndrome and drug withdrawal allowed a favourable evolution of a potentially fatal entity. Key-words: Aromatic anticonvulsants, carbamazepine, drug reaction. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 244-247 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Pichler WJ. Drug allergy: Classification and clinical features. Fevereiro, 2012. (Acedido em 20 de Março de 2012). Disponível em: http://www.uptodate.com. 2 Pichler WJ. An approach to the patient with drug allergy. Fevereiro, 2012. (Acedido em 20 de Março de 2012). Disponível em: http://www.uptodate.com. 3. Cacoub P, Musette P, Descamps V, Meyer O, Speirs C, Finzi L, et al. The DRESS syndrome: a literature review. Am J Med 2011; 124:588-97. 4. Milliken D, Roosinovich E, Wilton H, Lipworth AD, Moore D, Morris-Jones S, et al. Drug fever and DRESS syndrome. Br J Hosp Med (Lond) 2011; 72:224-8. 5. Walsh SD, Creamer D. Drug reaction with eosinophilia and systemic symptoms (DRESS): a clinical update and review of current thinking. Clin Exp Dermatol 2010; 36:6-11. 6. Criado PR, Avancini JM, Criado RF, Santi CG. Drug Reaction with Eosinophilia and Systemic Symptoms (DRESS) / Drug-Induced Hypersensitivity Syndrome (DIHS): a review of current concepts. An Bras Dermatol 2012; 87:435-49. 7. Tas S, Simonart T. 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Ocorre frequentemente após um quadro infecioso ou imunizações. O diagnóstico infere-se pelo quadro clínico de alterações do nível da consciência e do comportamento, sinais neurológicos multifocais e pelos achados típicos da ressonância magnética (RM). O tratamento de eleição são os corticoides e o prognóstico é, geralmente, favorável. Caso clínico: Este caso clínico refere-se a uma criança, com cinco anos de idade, internada por um quadro sugestivo de meningite de provável etiologia vírica, precedida por uma infeção das vias aéreas superiores umas semanas antes. No 2º dia de internamento, iniciou alterações do comportamento e apresentava sinais de envolvimento da via piramidal. A RM do neuroeixo revelou múltiplas lesões sugestivas de desmielinização com atingimento cerebral e medular, compatíveis com ADEM. Os exames serológicos foram sugestivos de infeção recente por Mycoplasma pneumoniae. Realizou tratamento com corticóides com evolução clínica favorável. Conclusão: Pretende-se com este caso alertar para uma entidade clínico-imagiológica de diagnóstico crescente e salientar a importância das manifestações extrapulmonares do Mycoplasma pneumoniae em idade pediátrica. Palavras-chave: Alteração do comportamento, corticoides, encefalomielite aguda disseminada, Mycoplasma pneumoniae, ressonância magnética. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 248-251 INTRODUÇÃO A encefalomielite aguda disseminada (ADEM) é uma doença inflamatória desmielinizante do sistema nervoso central (SNC), que atinge predominantemente a substância branca ce- CASO CLÍNICO Trata-se de uma criança do sexo masculino, raça caucasiana, de cinco anos de idade, com antecedentes familiares e pessoais irrelevantes. Foi admitido na sequência de quadro febril (temperatura axilar 38,6ºC) com 12 horas de evolução acompanhado de cefaleias holocranianas, letargia e vómitos. Cerca de três semanas antes teria apresentado uma infeção das vias aéreas superiores (IVAS), medicado com amoxicilina + ácido clavulânico e desloratadina. Nos dois dias anteriores ao internamento referia ainda dor abdominal na fossa ilíaca esquerda tipo cólica e obstipação. Não havia história de viagens ou imunizações recentes. À admissão apresentava-se prostrado e com rigidez da nuca. Por suspeita de meningite, de provável etiologia vírica, realizou __________ I S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. diana.gonzaga@ sapo.pt S. Pediatria, CH São João, 4200-319 Porto, Portugal. [email protected] III S. Pediatria, CH Entre o Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal. [email protected]; [email protected] IV S. Neurologia, CH Entre o Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal. [email protected] II 248 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting rebral e da medula espinal(1). De etiologia autoimune, surge geralmente dois dias a quatro semanas após um quadro infecioso ou imunização(2,3). Entre os vírus implicados destacam-se o grupo herpesviridae e os enterovírus, sendo o Mycoplasma pneumoniae (Mp) prevalente entre as bactérias(4,5). Trata-se de uma doença pouco frequente com uma incidência de cerca de 0,4/100.000 por ano(3), mais comum nos meses de Inverno e Primavera(4), no sexo masculino (1,3:1) e na raça caucasiana. Atualmente, o seu diagnóstico tem sido invocado de forma crescente em idade pediátrica, habitualmente entre os cinco e oito anos de idade. A ADEM manifesta-se por alterações neurológicas, geralmente polissintomáticas, que envolvem as vias motoras (piramidal, extrapiramidal, cerebelosa), sensitivas e/ou o tronco cerebral, podendo haver também atingimento medular (mielite)(6). A ressonância magnética (RM) é o exame imagiológico de eleição, revelando lesões desmielinizantes multifocais com atingimento da substância branca subcortical, núcleos da base, tronco cerebral e /ou medula espinal(5). A corticoterapia em doses elevadas, revela-se geralmente uma terapêutica eficaz com resolução completa da sintomatologia ou défices mínimos, ainda que, estejam descritas sequelas neurológicas sustentadas. Embora a ADEM geralmente apresente um curso monofásico, estão descritas formas recidivantes ou multifásicas, colocando-se o diagnóstico diferencial com a esclerose múltipla (EM), com importantes implicações terapêuticas e prognósticas(5,7), reforçando a importância do seguimento destes doentes a médio-longo prazo. I II S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. diana.gonzaga@ sapo.pt S. Pediatria, CH São João, 4200-319 Porto, Portugal. martacadi- NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 punção lombar que mostrou leucorraquia (134 leucócitos/μL, 91% mononucleares) e ligeira proteinorraquia (59,5 mg/dL), com glicorraquia normal; não foi possível fazer colheita para vírus neurotrópicos. O hemograma revelou leucocitose com neutrofilia (21.6 x109 leucócitos/L com 81% neutrófilos) e a proteína C reativa era de 7,2 mg/L. No 2º dia de internamento, já em apirexia, iniciou alterações do comportamento com períodos de agressividade e hipercinésia, alternando com apatia e letargia. Mantinha dor abdominal e obstipação, acrescidas de retenção vesical. Apresentava, para além da rigidez da nuca, tremor de ação bilateral, paraparésia com reflexos osteotendinosos (ROTs) dos membros inferiores exagerados e de área reflexogénea alargada nos, com clónus e Babinski bilaterais sensibilidades mantidas. Perante o quadro clínico foram colocadas como hipóteses diagnósticas a encefalomielite infeciosa primária ou pós-infeciosa pelos antecedentes prévios de IVAS. A RM cerebral e medular efetuada ao 4º dia de internamento mostrou múltiplas lesões hiperintensas, compatíveis com áreas de desmielinização, na substância branca cerebral com atingimento dos lobos frontal, parietal e occipital e também nos gânglios da base (Figura 1); lesão hiperintensa medular ao nível cervical C5-C7 (Figura 2), muito sugestivas de ADEM. Efetuou também eletroencefalograma que revelou lentificação cerebral difusa. Figura 1 – (A) T2 FLAIR - plano axial, revelando múltiplas lesões hiperintensas (áreas de desmielinização) na substância branca dos hemisférios cerebrais (frontal, parietal, occipital) e gânglios da base. (B) T2 - plano coronal , lesões hiperintensas a nível dos tálamos Figura 2 – (A) corte sagital e (B) corte axial do raquis medular, evidenciando lesão hiperintensa centro-medular, ao nível cervical C5-C7 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting 249 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 A punção lombar subsequente (7º dia de internamento) revelou leucorraquia em regressão (66 leucócitos/μL, predomínio de mononucleares), bioquímica normal e bacteriológico negativo. O líquido cefalorraquidiano (LCR) foi enviado para estudo virulógico (enterovírus, VHS 1 e 2, VH6, VHZ, EBV, CMV), Mp, coxiella burnetti e bandas oligloconais, foram negativos. Das serologias sanguíneas efetuadas verificou-se a presença de IgM positivo para o Mp (IgM 1,60 RU/ml, IgG 15 RU/ml), compatível infeção recente; hemoculturas negativas. Efetuou tratamento com metilprednisolona em bólus endovenosos 30 mg/Kg/dia durante três dias e posteriormente prednisolona oral 2 mg/Kg/dia. O quadro evoluiu favoravelmente com melhoria progressiva das alterações neurológicas. Teve alta ao 8º dia de internamento, mantendo apenas uma alteração da marcha residual (parética e de base alargada) e ROTs vivos nos membros inferiores. Completou tratamento com prednisolona oral até perfazer quatro semanas. As serologias às quatro semanas de evolução revelaram IgG positivo (76,5 RU/ml), sugerindo seroconversão e apontando o Mp como provável agente etiológico. Seis semanas após a alta, apresentava-se assintomático com exame físico e neurológico normais. O eletroencefalograma não apresentava alterações. A RM cerebral e medular de controlo aos seis meses evidenciou regressão completa das lesões cerebrais e medulares. Três anos após o início da doença mantém-se assintomático, sem recorrências. DISCUSSÃO A ADEM ainda que uma entidade clínica pouco frequente é, no entanto, a causa mais frequente de lesão da substância branca na criança(2). Enquanto na encefalite primária(9), o quadro clínico resulta da invasão direta do SNC pelo vírus, na ADEM, habitualmente precedida por infeção ou imunização, as alterações pressupõem uma resposta imunomediada(8). De fisiopatologia complexa e ainda não totalmente esclarecida invoca mecanismos inflamatórios e resposta autoimune secundária a antigénios (agentes infeciosos, imunizações) que num processo de “mimetismo molecular” se traduzem na desmielinização do SNC(4). Na ausência de um marcador biológico específico, o diagnóstico da ADEM é clínico- imagiológico. Implica diagnóstico diferencial com outras entidades como encefalites, encefalopatia metabólica ou tóxica, tumores. Ao contrário destas entidades, é frequentemente precedida por uma fase prodrómica, umas semanas antes (quadro infecioso, imunizações) e as manifestações neurológicas são geralmente polissintomáticas, envolvendo as vias motoras, sensitivas e o tronco cerebral, havendo também frequentemente atingimento medular(6). Os exames auxiliares de diagnóstico revelam elevação dos marcadores inflamatórios, LCR com citologia normal ou com pleiocitose (com predomínio de monócitos) e proteinorraquia, e não há geralmente isolamento do agente no LCR, como na encefalite primária. Do ponto de vista imagiológico, a RM cerebral e medular apoia o diagnóstico, revelando lesões desmielinizantes multifo- 250 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting cais com principal atingimento da substância branca subcortical e medular(5). Embora a ADEM geralmente apresente um curso monofásico, estão descritas formas recidivantes ou multifásicas, que colocam dúvidas diagnósticas na distinção entre esta entidade e outras doenças desmielinizantes, nomeadamente a EM. Ao contrário da ADEM, a EM é mais frequente no sexo feminino, manifesta-se geralmente após os 10 anos de idade, a clínica é monossintomática e sem síndrome febril associado e as bandas oligoclonais são persistentemente positivas no LCR. A RM revela alterações assimétricas da substância branca, tipicamente periventriculares com disseminação no tempo. No presente caso, os antecedentes de IVAS e a seroconversão com duas colheitas sanguíneas realizadas com intervalo de quatro semanas, apontam o Mp como o provável agente etiológico. O Mp, agente frequente nas infeções do trato respiratório na criança, tem sido implicado em manifestações extrapulmonares estimando-se que ocorram em 5 a 10% dos casos(10). Uma das manifestações extrapulmonares que se tem vindo a observar com frequência crescente é o atingimento do SNC, que parece estar afetado em cerca de 0,1% das infeções por Mp, mesmo na presença de manifestações respiratórias frustes, como no presente caso(10,11). O uso de antibióticos (macrólidos) na ADEM por Mp é ainda controverso(10), uma vez que as manifestações neurológicas não resultam de invasão direta do SNC por este agente, mas sim de uma resposta imunológica secundária, além da fraca penetrância destes antibióticos na barreira hemato-encefálica. Até ao momento não há estudos que suportem a sua administração(10). O tratamento de eleição são os corticoides, havendo porém necessidade de outras terapêuticas como a imunoglobulina endovenosa e plasmaferese nos casos refratários(4,5). Como no presente caso clínico o prognóstico, ainda que dependente da gravidade da doença, idade da criança e agente específico, é geralmente bom com recuperação completa ou défices mínimos com o tratamento correto. Contudo, estão descritas sequelas como alterações motoras, neurocomportamentais, cognitivas e epilepsia(5). ACUTE DISSEMINATED ENCEPHALOMYELITIS DUE TO MYCOPLASMA PNEUMONIA ABSTRACT Introduction: Acute Disseminated Encephalomyelitis (ADEM) is an immune-mediated inflammatory white matter demyelinating disease of the Central Nervous System involving the brain and spinal cord, often following, previous infections or immunizations. The diagnosis is infered by the clinical features of altered mental status, behavioral changes and multifocal neurological signs in association with typical findings on magnetic resonance imaging (MRI). Steroids are the first choice for treatment and prognosis is generally favorable. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Case report: The authors report a five-year old boy admitted with a clinical picture suggestive of viral meningitis, following an upper respiratory tract infection a couple of weeks previously. On the second day of admission, he developed behavioral changes, with neurological signs of pyramidal tract involvement. MRI showed multiple lesions, of white matter demyelination widespread to the brain and spinal cord, compatible with ADEM. Serological testing suggested recent Mycoplasma pneumoniae infection. He responded to steroids with favorable clinical outcome. Conclusion: The aim of this report’s to illustrate a clinical-imagiological entity, highlightening the importance of Mycoplasma pneumoniae involving extrapulmonary manifestations in childhood. Key-words: Acute disseminated encephalomyelitis, behavioural changes, magnetic resonance imaging, Mycoplasma pneumoniae, steroids. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 248-251 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Angelini L, Bardare M, Martini A. Mariani Foundation Paediatric Neurology. Immune-mediated disorders of the Central Nervous System in children. Eastleigh: John Libbey & Company; 2002. Vol. 10, Ch. 3, 4, 6. 2. Silvia MT, Licht DJ. Pediatric central nervous system infection and inflammatory white matter disease. Pediatr Clin North Am 2005; 52:1107-76. 3. Leakage JA, Albani S, Kao AS, Senac MO, Billman GF, Nespeca MP, et al. Acute Disseminated encephalomyelitis in childhood: epidemiologic, clinical and laboratory features. Pediatric Infect Dis J 2004; 23:756-64. 4. Erazo-Torricelli R. Encefalomielitis aguda disseminada en la niñez. Rev Neurol 2006; 42:S75-S82. 5. Tenembaum S, Chitnis T, Ness J, Hahn JS. International Pediatric MS Study Group Acute Disseminated Encephalomyelitis. Neurology 2007; 68:S23-S36. 6. Tenembaum S, Chamoles N, Fejerman N. 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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Diana Gonzaga Centro Hospitalar do Porto Serviço de Pediatria Largo do Prof. Abel Salazar 4099-001 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 16.08.2013 | Aceite a 27.11.2013 ciclo de pediatria inter hospitalar do norte paediatric inter-hospitalar meeting 251 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Ética nas decisões sobre o fim da vida – a importância dos cuidados paliativos Ana Dias Neto1 RESUMO Quando a Medicina Curativa já não produz qualquer alteração no quadro clínico de um paciente, cujo estado de irreversibilidade é definitivo, torna-se urgente dar assistência àqueles que se encontram em fase final de vida. E porque, não raras as vezes, são acompanhados de uma enorme dor e sofrimento que contribuem para a perda de qualidade de vida, a Medicina Paliativa procura travá-los. Os Cuidados Paliativos existem enquanto conjunto interdisciplinar direcionado para o acompanhamento continuado do doente terminal. São uma resposta ética, médica e psicológica face às necessidades últimas do estado do paciente. Mas não podem nunca ultrapassar o limite da dignidade do ser humano e as suas escolhas. Isto é, é admissível sim que se mantenha a qualidade de vida mas não quando os esforços são desproporcionais e inúteis e contrariam em absoluto o previsto, por exemplo no Testamento Vital do paciente. Em Portugal a Medicina Paliativa tem vindo progressivamente a ganhar espaço, físico (crescente número de unidades de cuidados paliativos espalhadas pelo país) mas também ao nível da consciencialização dos governantes (para assegurar a proliferação e assistência logística aos cuidados paliativos). Pretende-se que o doente terminal, independentemente das suas condições económicas e socias, possa aceder à Medicina Paliativa e ser sujeito pleno do direito à saúde. Os princípios bioéticos da Autonomia, Beneficência, Não-Maleficência e Justiça compadecem-se com os cuidados paliativos a que cada doente aceita submeter-se, a que tem o direito de aceder para maximizar os benefícios do tratamento e minimizar os danos. Palavras-chave: Cuidados paliativos, decisões sobre o fim de vida, dor, ética, medicina curativa, paciente, princípios bioéticos, sofrimento humano, testamento vital. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 252-256 O tema e a problematização do sofrimento humano, da dor humana e da morte nunca fizeram tanto sentido como nos dias de hoje. Em apenas um século a Medicina viu progredir o seu conhecimento científico e as suas aptidões técnicas, mais __________ 1 Jurista; Mestre em Medicina Legal 252 perspetivas atuais em bioética current perspectives in bioethics do que alguma vez se julgava possível, em tempos pretéritos. A crescente ânsia pela descoberta de novos tratamentos, a descontrolada medicalização e a necessidade desenfreada de experimentação do produto descoberto desumanizaram em larga medida a relação médico-paciente. Morrer em casa, fenómeno natural há umas décadas atrás, foi paulatinamente suplantado pela morte que “…ocorre no hospital…”(1) “Hoje, a morte já não é um fenómeno natural, sem sofrimento, com partilha de sentimentos, que acontece com simplicidade, na companhia da família e amigos. Significa o fracasso, a impotência e a limitação da ciência. Desta forma, ciência e tecnologia juntam esforços numa luta contínua e crescente contra a morte, encorajando o recurso a todos os meios para controlar e dominar a situação. Observa-se nos profissionais de saúde e familiares, e por vezes até mesmo nos próprios doentes, uma forte convicção de que se devem empregar todos os meios disponíveis para a conservação da vida. Mas esta deverá ser prolongada sempre e a qualquer preço? Não será por vezes sensato reconhecer os limites do organismo humano e as limitações da ciência e da técnica? Neste contexto torna-se imprescindível a reflexão sobre o prolongamento da vida e o afastamento da morte.”(2) “Parafraseando Spinoza, considero que a dignidade da morte começa com a dignidade da vida.”(3) A partir da leitura dos supra citados excertos um ponto em comum salta à vista, a necessidade de enfrentar o problema da morte e atuar com cautela, proporcionalidade e humanidade na cura da doença. Não ignorando pois, que “…os cuidados de saúde devem aceitar também o declínio, o envelhecimento(4) e a morte que, quer se queira quer não, fazem parte da condição humana: todos somos mortais, por mais que a ciência evolua.”(5) Especificamente, iremos abordar as situações limite, as situações de doença crónica e que, não raras as vezes, coloca o doente num estado vegetativo persistente ou PVS(6), nomenclatura internacional, e os cuidados que estão à sua disposição na sua vivência ou sobrevivência diária e até que ponto o paciente desejaria recebê-los ou não, preferindo a sua abstenção, àqueles. Paralelamente à Medicina Curativa, aparece-nos com importância de ímpar conexão com os doentes que já não mais irão recuperar e cujo estado exige especiais atenções, a Medicina Paliativa, a medicina de acompanhamento. Uma Medicina voltada para os cuidados de saúde continuados, onde a assistência espiritual, psicológica, de enfermagem e médica mesclam-se e unem-se num objetivo comum, manter o doente em final de vida o mais dignamente possível. NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 No ano de 2002 a Organização Mundial de Saúde definiu o que venham a ser os cuidados paliativos, que, segundo esta consistem numa “…abordagem que visa melhorar a qualidade de vida dos doentes que enfrentam problemas decorrentes de uma doença incurável com prognóstico limitado, e/ou doença grave (que ameaça a vida), e suas famílias, através da prevenção e alívio do sofrimento, com recurso à identificação precoce, avaliação adequada e tratamento rigoroso dos problemas não só físicos, como a dor, mas também dos psicossociais e espirituais.(7)” Ou seja, o acompanhamento no final de vida é absolutamente fundamental para a defesa e proteção do doente e dos seus direitos mais básicos. E pode muito bem funcionar como reflexo do progresso da sociedade em que se inserem. Do latim pallium-pallii que significa manto, ou um género de capa derivou a palavra paliativa, que protege, que cuida, que abarca, aqueles cuidados virados para o cuidar do doente em fim de vida. Desde 2004 a Organização Mundial de Saúde tem vindo a disponibilizar on-line uma série de guidelines para que os profissionais de saúde saibam lidar e tratar com pacientes em estado terminal da doença ou doentes crónicos.(8) Todavia, em Portugal, talvez explicado pelos parcos recursos económicos ou por “frouxidão política” direcionados para este setor de suma importância na sociedade cada vez mais envelhecida(9), só há relativamente seis anos é que o Governo se começou a preocupar com a cultura paliativa, de continuidade, e na implementação destas unidades de cuidados. Contrariamente ao Reino Unido, que conta já com quarenta anos de tradição paliativa, bem como o Canadá que conta com trinta anos de existência e “cultivo” da necessidade da existência de cuidados paliativos nas Unidades de Saúde, em Portugal o desenvolvimento tem sido moroso e pouco eficaz. Veja-se que até 2005 as regiões do Alentejo e do Algarve não possuíam qualquer unidade pública de internamento de Cuidados Paliativos(10), situação que foi alterada com o Decreto-Lei N.º 101/2006, de 6 de junho(11) que criou, pela 1ª vez em Portugal a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Com este decreto pretendia-se “dinamizar a implementação de unidades e equipas de cuidados, financeiramente sustentáveis, dirigidos às pessoas em situação de dependência, com base numa tipologia de respostas adequadas, assentes em parcerias públicas, sociais e privadas, visando contribuir para a melhoria do acesso do cidadão com perda de funcionalidade ou em situação de risco de a perder, através da prestação de cuidados técnica e humanamente adequados. Estas unidades e equipas devem assentar numa rede de respostas de cuidados continuados integrados em interligação com as redes nacionais de saúde e de segurança social” e consertar num mesmo objetivo a intervenção do ministério da saúde e do ministério da segurança social. Com o Plano Nacional de Saúde 2004-2010, até sensivelmente 2008, Portugal apresentou francos progressos quer na abrangência destes cuidados a um maior número de instituições de saúde, quer ao nível da disponibilização de camas e profissionais ao serviço dos pacientes. Em 2008, com o Decreto-Lei N.º 28/2008, de 22 de fevereiro, dá-se mais um passo na garantia de uma maior intervenção, ao nível da saúde, na população portuguesa no que diz respeito à prestação de cuidados de saúde primários. A criação dos ACeS (agrupamentos de centros de saúde) possibilitou que mais espaços geográficos ficassem munidos de instrumentos físicos e logísticos, por forma a responder às necessidades médicas dos utentes. Possibilitou que Misericórdias, Lares de Dia, Lares da 3ª Idade, Hospitais e Centros de Saúde unissem esforços e proporcionassem aos seus doentes uma resposta curativa e paliativa de internamento ou através de domiciliação. Todavia, a rede ainda é estreita e muitas zonas do país continuam desprovidas deste sistema. E a partir daqui estagnaram os seus desenvolvimentos. Por uns, explicado pela impossibilidade de maior afetação de recursos económicos neste setor da saúde, por outros justificada por uma total desresponsabilização do Estado pelos seus doentes crónicos, o novo plano de saúde para o desenvolvimento dos cuidados paliativos 2011-2013 pretende inverter esta situação. E só recentemente com a publicação da Lei de Bases dos Cuidados Paliativos, a Lei N.º 52/2012, de 5 de setembro de 2012 que na sua Base II definiu cuidados paliativos na sua alínea “a) «Cuidados paliativos» os cuidados ativos, coordenados e globais, prestados por unidades e equipas específicas, em internamento ou no domicílio, a doentes em situações de sofrimento decorrente de doença incurável ou grave, em fase avançada e progressiva, assim como às suas famílias, com o principal objetivo de promover o seu bem-estar e a sua qualidade de vida, através da prevenção e alívio do sofrimento físico, psicológico, social e espiritual, com base na identificação precoce e do tratamento rigoroso da dor e outros problemas físicos, mas também psicossociais e espirituais;” se voltaram a considerar, ao nível legislativo e político, a relevância da criação de mais infraestruturas que assegurassem o cuidado e bem-estar do crescente número de doentes crónicos e em fase terminal no país. Esta Medicina visa até ao ínfimo pormenor o melhor interesse do paciente que aceita a sua atuação e a ela se submete até ao último dos seus dias. Depositando o seu corpo nas mãos da ciência virada para o alívio da dor insuportável e da manutenção da qualidade mínima de vida (hidratação, alimentação, ventilação, mas simultaneamente suporte espiritual e psicológico por forma a afastar o eventual sentimento de solidão que esteja a acossar o paciente). Atualmente encontra-se em discussão europeia a Carta de Praga que resulta da aliança entre a Associação Europeia de Cuidados Paliativos, a Associação Internacional de Cuidados Paliativos, a Aliança Mundial de Cuidados Paliativos e o Observatório dos Direitos Humanos, no sentido de promover junto dos Estados Membros a importância dos Cuidados Paliativos à disposição do doente, da sua família e de toda a comunidade(12). Um passo mais no sentido de promoção e defesa da implementação destes cuidados nos sistemas europeus de saúde. E, sendo que apenas cerca de 10% dos doentes terminais(13) têm acesso real e efetivo à prestação destes cuidados, movimentos internacionais como a supra referenciada, a Carta de Praga, demonstram-se essenciais para o alargamento e melhoramento dos cuidados de saúde a um maior número de pacientes. E em que medida estes direitos interagem com a afirmação dos direitos das pessoas doentes? Talvez seja aqui pertinente perspetivas atuais em bioética current perspectives in bioethics 253 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 citar o Professor Rui Nunes, ativista nesta área e defensor acérrimo dos direitos das pessoas, em especial dos doentes incapazes, quando afirma numa das suas obras: “Julgo, e salvo o devido respeito por quem defende tese contrária, que quando a morte é “inevitável” e “iminente” e desde que respeitada a vontade do doente ou do seu representante legal, o recurso aos cuidados paliativos destinados a diminuir o sofrimento (mesmo que impliquem o risco de encurtar a vida do doente) e a renúncia a procedimentos desproporcionados ou escusados é a forma de assegurar dignidade no morrer.” Partindo deste excerto e estabelecendo uma ponte para a importância do Testamento Vital nesta matéria, convém esclarecer dois ou três pontos que julgamos absolutamente essenciais. Assim, quando falamos da importância dos cuidados paliativos na Medicina tecnicista de hoje estamos também a destacar a relevância que está em proteger os direitos dos doentes crónicos e em final de vida. Isto é, pese embora os cuidados paliativos estejam indicados para garantir um resto de vida com as melhores condições de saúde possíveis, não há um mínimo ou um máximo de sustentação da vida para além do eticamente aceitável. Às vezes coloca-se a questão “…será mais natural viver ligado a uma máquina, ou em sofrimento e agonia apenas porque a sua vida foi prolongada pela enorme capacidade da ciência médica contemporânea?” Ressalta aqui a questão da Futilidade Terapêutica que se encontra no limbo de uma terapêutica altamente mecanicista. The Medical Futility(14) que derivou da expressão médica francesa L’acharnement thérapeutique como o “…comportamento médico que consiste em utilizar processos terapêuticos cujo efeito é mais nocivo do que os efeitos do mal a curar, ou inútil, porque a cura é impossível e o benefício esperado, menor que os inconvenientes previsíveis,” e que hoje se encontra espalhada pela mais diversa literatura com as mais distintas definições(15), assume particular relevância neste estudo. Sobretudo, porque aqueles que são sujeitos a este perigo (de sujeição a tratamentos médicos arbitrários, supérfluos e inúteis(16)) são aqueles que se encontram em situação clínica terminal de prognóstico irreversível, isto é, não passíveis de cura e de desgaste físico e psíquicos galopantes e cujo poder decisório está definitivamente comprometido. É o caso daqueles doentes portadores de patologias severas congénitas mas, simultaneamente, aqueles portadores de patologias de evolução mais lenta e de prognóstico irreversível, por vezes dúbio, como é o caso de doentes com Alzheimer. Foi precisamente para acautelar estas situações que instrumentos como as Diretivas Antecipadas de Vontade sob a forma de Testamento Vital sob a forma de diretiva e/ou Nomeação de um Procurador de Cuidados de Saúde(17), se tornaram prementes. Se é certo que há quem, inserido nos movimentos pró-vida, defenda a sacralidade da vida e, portanto, a sujeição do doente a qualquer tipo de tratamento, independentemente da sua eficácia, o importante seria sempre manter vivo o doente. Para os defensores do Testamento Vital, no sentido da opção pela autonomia do doente nas suas escolhas, o pêndulo inclina-se para a manutenção da vida, mas segundo parâmetros exigentes de qualidade e dignidade daquela. Para tal, o doente pode aprioristicamente decidir elaborar um docu- 254 perspetivas atuais em bioética current perspectives in bioethics mento onde preveja minuciosamente todos aqueles tratamentos pelos quais, vendo-se numa situação de doença de prognóstico terminal e irreversível, desejaria ou não submeter-se, dando-se assim cumprimento à sua vontade. Respeitando-se a sua liberdade de escolha e a sua autonomia consciente e informada, num núcleo decisório pessoal, individual e livre nem tudo deverá ser admitido. Como confirmou o Papa João Paulo II, numa carta dirigida aos bispos, em 1991, “quando a morte inevitável é iminente, apesar dos meios usados, é permitido, em consciência, tomar a decisão de recusar formas de tratamento que apenas asseguram um precário e doloroso prolongamento da vida.(18)” A obstinação terapêutica enquanto “…emprego ou manutenção de procedimentos diagnósticos ou terapêuticos, sem que exista eficácia comprovada para evolução positiva e melhoramento das condições dos pacientes, seja em termos de sobrevida ou de qualidade de vida”, deve permanecer longe dos objetivos do médico que intervém no alívio da doença do paciente. Nem tudo é permitido e nem tudo será admitido pelo paciente que previu encontrar-se numa situação de doença em que métodos mais invasivos e de eficácia dúbia devem ser afastados caso seja essa a sua vontade escrita, tais como: a hidratação artificial(19), a ventilação assistida, a utilização de sondas por forma a alimentar o doente, entre outras. Entre estas encontram-se também as Ordens de Não-Reanimação. Todavia, estas ainda levantam inúmeras questões do foro médico e ético. A integridade individual e o respeito pela escolha do doente devem prevalecer face às tentativas desenfreadas do médico manter o paciente vivo e/ou sem dor. É importante salientar, finalmente, o Relatório de Belmont(20), sobretudo pelos princípios que subjazem àquele. Enquadra-se, historicamente, numa resposta política ao pedido de uma série de personalidades desde a Medicina, à Ética, à Ciência para que fossem criados uma série de guidelines por forma a proteger os seres humanos da investigação científica, até então desgovernada. Assim, em 1974 o Congresso Americano aprovou o supra referido relatório e influenciou, definitivamente, a investigação médica mas também a Bioética(21). Os princípios que se impõem como fundamentais relativamente à Bioética Clínica são: o da Autonomia, o da Beneficência, o da Não-Maleficência e o da Justiça. A Autonomia porque aglutina a ideia de respeito pelo indivíduo e dignidade do mesmo. O indivíduo, enquanto portador de faculdades psíquicas inatas, tem a liberdade de, em consciência e informado e ciente dos riscos e benefícios das suas escolhas, decidir quais, in casu, os tratamentos e as intervenções que pretende ou não submeter-se, que pretende ou não consentir(22). Ou seja, este princípio encontra-se mesclado e produz um enorme impacto no consentimento informado, na informação prestada, na compreensão, na voluntariedade, e na avaliação dos riscos e dos benefícios que inclui saber-se a sua natureza e objetivos. Essenciais na decisão do indivíduo/paciente e ainda mais importantes nas vontades que materializa no seu Testamento Vital e que devem vincular os profissionais de saúde, caso o doente já não se encontre autónomo, capaz e consciente do que à sua volta se passa. Evita-se desta forma eventuais abusos por parte dos NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 médicos ou de familiares que queiram decidir contra a vontade do doente. Um outro princípio que se relaciona intimamente com a Autonomia é o princípio da Beneficência(23). Este prevê por um lado, que não se faça mal, isto é, que não se prejudique e, por outro lado, que se tente maximizar os benefícios e se diminuam os danos. Para tal, é necessário uma vez mais conhecer riscos e benefícios de um tratamento, depois é preciso conhecer estudos que comprovem a eficácia dos mesmos, depois é preciso que o paciente, devidamente informado, os aceite e que seja respeitada a sua vontade, caso o tratamento não venha alterar o seu estado de doença. Ou seja, que não traga por isso mais ou menos benefícios. O princípio da Não-Maleficência que resumidamente significa não prejudicar e que sustenta o Juramento de Hipócrates, quando ao médico é exigido que jure abster-se causar quaisquer tipos de danos no seu paciente de forma intencional. É assumido como uma ação passiva, isto é, abster-se de causar danos e obter o maior benefício para o paciente, numa conjugação de princípios, Beneficência e Não-Maleficência. Finalmente, o princípio da Justiça. Este princípio perpassa todos os aspetos da vida em sociedade. Ou, pelo menos, assim o deveria ser. Todos os cidadãos, independentemente das suas condições pessoais, sociais e económicas, devem ter acesso e oportunidade de aceder aos mais desenvolvidos recursos de saúde(24). Questão que ganha particular relevo no âmbito da prestação de cuidados paliativos. O número de estabelecimentos que têm à sua disposição estes cuidados é muito inferior ao que seria aceitável. Além disso o número de camas e de meios humanos e físicos, instrumentos, aparelhos sofisticados exigíveis para o tratamento das patologias crónicas, é ainda ínfimo face às atuais necessidades. Segundo o princípio da Justiça todas as pessoas, qualquer que fosse a sua situação geográfica, deveriam poder usufruir e fruir dos seus direitos básicos à saúde. Independentemente do grau de literacia dos doentes, estes devem ser devidamente informados acerca dos tratamentos propostos, e evitar o abuso paternalista e dominante dos profissionais de saúde. Também aqueles que se encontram mais vulneráveis devem ver a sua vontade cumprida. Falamos aqui dos doentes incapazes e submersos num estado de inconsciência profunda e irreversível mas que deixaram escritas as suas vontades, as suas diretivas. A estes deve ser dada a máxima relevância e respeito. “…patient autonomy and right to consent to medical treatment are life-long; in particular, autonomy and the right to consent should exist even in the event of patient incompetence(25).” A omnipotência da ciência tecnicista e medicalizada não deve ocultar os princípios bioéticos que subjazem à Medicina e à atuação médica. A todos o que a todos lhes é devido, o direito à saúde, e a todos na exata medida da sua vontade consentida. Sempre no respeito pela dignidade humana e no respeito pela ação médica ponderada, numa confluência tolerável. ETHICS IN DECISIONS ABOUT THE END OF LIFE - THE IMPORTANCE OF PALLIATIVE CARE ABSTRACT When Curative Medicine no longer has any effect on a patient’s clinical picture because his state is definitely irreversible, it becomes urgent to give assistance to anyone who is in the final stage of living. And because, quite often, this phase is preceded by enormous pain and suffering, which contributes to the loss of quality of life, the aim of Palliative Medicine is to fight it. Palliative Care exists as an interdisciplinary set directed at accompanying the terminal patient. It is an ethic, medical and psychological response to the final needs of the terminal patient. But we should never overstep the boundaries of human dignity and the patient’s choices. That is to say, it is acceptable to maintain the quality of life, but not when the means are disproportional, useless or absolutely contradict what is contemplated, for example, in the patient’s Living Will. In Portugal, Palliative Medicine has progressively gained space, both physically (through an increasing number of palliative care units through the country) and in terms of government awareness (to assure the proliferation and logistic assistance to palliative care). The aim is that the terminal patient, regardless of his economic and social conditions, has access to Palliative Medicine and be fully entitled to his right to health. The bioethics principles of Autonomy, Beneficence, Nonmaleficence and Justice sympathize with the palliative care which each patient agrees to submit to and to which he is entitled in order to maximize the benefits of the treatment and minimize its damages. Key-words: Bioethics principles, curative medicine, end-of-life decision makers, ethic, human suffering, living will, pain, palliative care, patient. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 252-256 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Serrão D, Nunes R. Ética em Cuidados de Saúde: ética das atitudes médicas em relação ao processo de morrer. Autor; 2001. p. 86. 2. Moura C. A inevitabilidade da morte e o cuidar em fim de vida: entre a Filosofia e a Bioética. Coisas de Ler; 2011. p. 142-3. 3. Nunes R, Rego G, Duarte I (coord). Eutanásia e outras questões éticas no fim da vida. 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Disponível em: http://www.who.int/hiv/ pub/imai/genericpalliativecare082004.pdf 9. OECD Factbook 2009: Economic, Environmental and Social Statistics. OECD Publishing. 2009. Disponível em: http:// www.keepeek.com/Digital -Asset -Management/oecd/economics/oecd-factbook-2009/population-aged-65-and-over_ factbook-2009-table4-en 10. Estratégia para o Desenvolvimento do Programa Nacional de Cuidados Paliativos. Plano da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados 2011-2013. Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados. Dezembro, 2010. Disponível em: http://www.rncci.min-saude.pt/SiteCollectionDocuments/cuidadospaliativos_1-1-2011.pdf 11. Dec. Lei Nº 101/2006, de 6 de junho, in Drep nº 109. Série I –A de 6/6/2006. Disponível em: www.dre.pt 12. Cuidados Paliativos: um Direito Humano (Carta de Praga). Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos. Disponível em: http://www.apcp.com.pt/noticias/cuidados-paliativos-um-direito-humano-carta-de-praga.html. 13. SOL. 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Rio de Janeiro: Revinter; 2003. Cap. 55, p. 524. 19. Barbosa A. Bioética e Cuidados Paliativos. In: Barbosa A, Neto I (ed). Manual de Cuidados Paliativos. Núcleo de Cuidados Paliativos, Centro de Bioética da Faculdade de Medicina de Lisboa. 19ª Ed. Maiadouro; 2006. p. 44. 20. Jonsen AR. The Belmont Report: Ethical Principles and Guidelines for the Protection of Human Subjects of Research. In: Jonsen AR, Veatch RM, Walters LR (ed). Source Book in Bioethics: A Documentary History. Washington, DC: George Town University Press; 1998. p. 22-8. 21. Beauchamp TL, Childress JF. Principios de Ética Biomédica. Barcelona: Masson; 2002. 22. Beauchamp TL, Childress JF. El Respeto a la Autonomia. In: Beauchamp TL, Childress JF. Princípios de Ética Biomédica. Barcelona: Masson; 2002. p. 113-78. 23. Beauchamp TL, Childress JF. Beneficencia. In: Beauchamp TL, Childress JF. Principios de Ética Biomédica. Barcelona: Masson; 2002. p. 266-7. 24. Beauchamp TL, Childress JF. Justicia. In: Beauchamp TL, Childress JF. Principios de Ética Biomédica. Barcelona: Masson; 2002. p. 311-78. 25. Holland S. Advance Directives. In: Holland S. Bioethics: a philosophical introduction. Cambridge: Polity Press; 2003. Cap. 7, p. 127. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Ana Dias Neto Rua Pedro Álvares Cabral Bloco Nascente, Lote 99, 5º esquerdo. 4835-091 Guimarães, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 23.12.2013 | Aceite a 27.12.2013 256 perspetivas atuais em bioética current perspectives in bioethics NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Caso dermatológico Maria Inês MonteiroI; Ana Luísa LeiteI; Joana RodriguesI; Miguel CostaI; Teresa OliveiraI; Cristina RochaI Criança de três anos, previamente saudável, observada no serviço de urgência por apresentar desde há quatro semanas lesões em crosta no couro cabeludo, acompanhadas de febre intermitente. Ao 7º dia de doença tinha sido medicada com corticóide oral e tópico, sem melhoria. História de contacto esporádico com cão de rua. Ao exame objetivo apresentava massa inflamatória dolorosa no couro cabeludo com exsudado, associada a zonas de lesões descamativas com consequente alopécia. No tronco apresentava também lesões crostosas e pruriginosas. Sem outras alterações, nomeadamente adenopatias. Analiticamente apresentava hiperleucocitose de 47.5 x 10^9/L, 80% neutrófilos (com granulações tóxicas), plaquetas e restante hemograma normal, proteína C reativa 77.4 mg/L. Foi avaliada por Cirurgia Pediátrica, tendo-se procedido a tricotomia alargada do couro cabeludo, drenagem das lesões que apresentavam flutuação e limpeza local. Evolução clínica favorável após início de tratamento, com normalização dos parâmetros analíticos (Figura 1). Qual o seu diagnóstico? Figura 1 __________ I CH Entre o Douro e Vouga, 4520-211 Santa Maria da Feira, Portugal. [email protected]; ana.luisa20@gmail. com; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected] caso dermatológico dermatology case 257 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 DIAGNÓSTICO Kerion celsi. O exame cultural revelou-se positivo para Trichophyton mentagrophytes. COMENTÁRIOS O Kerion Celsi é uma forma inflamatória de tinea capitis causado por uma reação de hipersensibilidade mediada por células T do dermatófito nos folículos capilares. O reconhecimento clínico precoce evita procedimentos invasivos. A hiperleucocitose que pode resultar é um reflexo do processo inflamatório. Estas reações tipo leucemóide são uma alteração hematológica reacional benigna, que desaparece quando é corrigida a condição subjacente. Os agentes mais frequentemente envolvidos são o Trichophyton verrucosum, o Trichophyton mentagrophytes, o Microsporum canis e o Microsporum gypseum. O espectro clínico é muito variável. Esta forma exuberante de tinha do couro cabeludo que pode atingir a criança com lesão tipo “colmeia de abelha”, é muito dolorosa, com lesões supurativas profundas. O diagnóstico precoce e terapêutica adequada podem prevenir complicações a longo prazo. ABSTRACT Kerion Celsi is an inflammatory presentation of tinea capitis, caused by a hypersensitivity reaction mediated by T lymphocytes of the dermatophyte in hair follicles. The early clinical recognition avoids invasive procedures. Hyperleukocytosis/ leukemoid reactions are hematologic reactional responses that may result. The 258 caso dermatológico dermatology case most frequently involved agents are Trichophyton verrucosum, Trichophyton mentagrophytes, Microsporum canis and Microsporum gypseu. The clinical spectrum is widely variable. Key-words: Dermatophyte hypersensitivity reaction, Kerion Celsi, tinea capitis. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 257-258 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. 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O seu quadro hematológico de base revelava uma hemólise bem compensada com valor de hemoglobina normal (Hb 12,3 g/dl), com um MCHC (mean cell hemoglobin concentration) de 35 g/dl mas com reticulocitose (447500/ul) significativa (Figura 1a). Três meses depois recorre ao hospital por febre e odinofagia com um dia de evolução. Apresentava uma anemia ligeira (Hb 9,8g/dl), com MCHC de 37,3 g/dl e 78900/ul de reticulócitos (Figura 1b). Qual a atitude? - Alta com reavaliação nos dias seguintes? - Internamento? e Figura 1 – Histogramas ilustrando o quadro hematológico (basal, dia 1, 2, 8 e 10 de internamento). Legenda: Cada seta (↓) corresponde à transfusão de uma unidade de Concentrado de Eritrócitos. Abreviaturas: RDW: Red Cell Distribution Width. MCHC: Mean Cell Hemoglobin Concentration. T CE: Transfusão de Concentrado de Eritrócitos. RM: Reticulócitos maduros. RMI: Reticulócitos maturação intermédia; RI: Reticulócitos Imaturos. __________ I S. Pediatria, ULS Alto Minho, 4901-858 Viana do Castelo, Portugal. [email protected] II U. Hematologia Pediátrica, S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected]; [email protected]; III S. Hematologia Laboratorial, CH Porto, 4099-001 Porto, Portugal. [email protected]; [email protected] caso hematológico hematology case 259 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 COMENTÁRIOS O valor de hemoglobina no internamento era inferior em 2,7 g/dl relativamente ao valor de base. De qualquer forma tratava-se de uma anemia ligeira que em circunstâncias normais não condicionaria sinais e sintomas significativos e, como tal, não exigiria internamento. A causa mais frequente de uma queda da hemoglobina em contexto febril num doente com EH é a crise hemolítica. No entanto, à data de internamento, verifica-se uma diminuição acentuada da contagem de reticulócitos e uma observação mais cuidada do respectivo histograma revela uma depleção selectiva das suas formas mais imaturas. Este contexto coloca-nos fortemente a possibilidade de uma segunda etiologia, bastante mais grave, e merecedora de cuidados urgentes que é a crise aplásica por Parvovirus B19. Foi assim que apesar do carácter ligeiro a moderado da anemia se decidiu pelo internamento com cuidadosa vigilância clínica e analítica sendo que entretanto foi pedida a serologia para o Parvovirus B19. Vinte e quatro horas depois o seu valor de hemoglobina desceu para 7,7 g/dl e a contagem de reticulócitos era de 35800/ ul com evidência de depleção dos reticulócitos imaturos e de maturação intermédia (Figura 1c). Qual a atitude? - Transfusão de concentrado eritrocitário? - Continuação da atitude de vigilância com monitorização de hemograma no dia seguinte? COMENTÁRIOS Nesta data a perda de massa eritrocitária calculada relativamente ao valor de base era de 45%, valor extremamente elevado sobretudo porque apenas haviam decorrido 48 horas após o início do quadro febril. Para além disso tornava-se evidente a instalação de uma reticulocitopenia absoluta. Neste contexto a transfusão de concentrado eritrocitário assumia carácter de urgência apesar do valor ainda relativamente moderado de hemoglobina. Vinte e quatro horas após a transfusão o valor de hemoglobina era inferior ao valor pré-transfusional da véspera (Hb 7,1g/ dl). Este valor era justificado pelo facto de a percentagem de eritrócitos transfundidos ser ainda minoritária relativamente à massa eritrocitária total em circulação. Efectivamente, um cálculo aproximado, apontaria para uma relação eritrócitos transfundidos vs eritrócitos autónomos era de 0,25. Tornava-se claro que era ainda muito significativa a população susceptível de uma hemólise rápida e como tal se justificava transfusões adicionais. A decisão de não proceder a transfusões adicionais foi ao 9ª dia, altura em que era já evidente a re-emergência de reticulócitos 260 caso hematológico hematology case imaturos (Figura 1d) e a relação acima referida era 1,5. De referir que em D11de internamento, apesar do seu valor de hemoglobina ser de 6,5 g/dl, o doente não foi transfundido considerando a evidência da emergência de reticulocitose (Figura 1e). Crise aplásica por Parvovirus B19 num doente com esferocitose hereditária é susceptível de induzir uma anemia de instalação aguda que se pode revestir de gravidade extrema e mesmo colocar risco de vida, pelo que exige uma intervenção terapêutica rápida. Esta complicação da doença torna obrigatória a sua explicação aos pais no sentido de os instruir a recorrem a Cuidados de Saúde perante qualquer intercorrência febril. Este contexto obriga a patamares de hemoglobina pré-transfusionais superiores ao que é habitual noutro tipo de anemias. De referir que existem situações de EH não diagnosticadas até à data de uma crise aplásica por Parvovirus B19. Esta situação pode revestir-se de maior gravidade na medida em que é difícil evocar uma doença hemolítica numa anemia grave arregenerativa. Nestes casos a valorização de esferócitos no esfregaço de sangue periférico pode ser decisiva. Um valor elevado de MCHC assim como uma percentagem elevada de células hipercrómicas são indicadores não microscópicos da presença de esferócitos que também nos podem por na pista do diagnóstico. Palavras-chave: Anemia arregenerativa, esferocitose hereditária, histograma, Parvovirus B19. ABSTRACT Aplastic crisis by Parvovirus B19 in a patient with hereditary spherocytosis can produce an acute severe and eventually life-threatening anemia. The authors present a clinical case of a 14-year old boy, enhancing the importance of clinical evaluation for a prompt diagnosis and therapeutic approach. Key-words: Arregenerative anaemia, hereditary spherocytosis, histogram, Parvovirus B19. Nascer e Crescer 2013; 21(4): 259-260 ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Mariana Costa Unidade Local de Saúde do Alto Minho Serviço de Pediatria Estrada de Santa Luzia 4901-858 Viana do Castelo, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 06.11.2013 | Aceite a 30.11.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Caso radiológico Filipe Macedo1 Criança de seis anos e 10 meses do sexo feminino, que apresenta dor no punho direito na sequência de uma queda ocorrida na véspera. Realiza radiografia do punho (Figuras 1 e 2). Figura 1 – Incidência de face Qual o seu diagnóstico? Figura 2 – Incidência de perfil __________ 1 Especialista em Radiologia, Serviço Médico de Imagem Computorizada, 4250-367 Porto, Portugal. [email protected] caso radiológico radiological case 261 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 ACHADOS Observa-se depressão localizada do córtex da vertente dorsal da metadiáfise proximal do rádio, com ligeiro abaulamento cortical lateral e medial compatível com fratura de tipo torus. Não há deformidades relevantes nem outras alterações osteoarticulares na região. DIAGNÓSTICO Fratura do tipo torus do rádio distal direito. DISCUSSÃO Os ossos da criança são menos resistentes mas mais flexíveis que os do adulto, o que ajuda a explicar a existência de tipos específicos de fratura na idade pediátrica. As fraturas da metáfise e diáfise da criança englobam microfraturas do lado côncavo da lesão dando apenas um encurvamento; fraturas com ligeiro enrugamento da cortical dando a lesão do tipo torus; fraturas do lado convexo dando lesões de tipo ramo verde e fraturas completas com extensão aos dois lados do córtex(1). Há ainda as fraturas que atingem as epífises, com consequente risco de alteração do crescimento. IMAGIOLOGIA 1 – Radiografia convencional É o exame basilar no traumatismo do esqueleto apendicular, sendo geralmente suficiente para o diagnóstico(2). São necessárias pelo menos duas incidências perpendiculares da região em causa. Nos ossos longos deve incluir-se a articulação proximal e a distal. Pode ser útil repetir a radiografia nos casos de exame inicial normal e sintomatologia persistente, já que em certas fraturas de stress os sinais radiográficos podem demorar mais de cinco dias a surgir. Pode também ser aconselhável radiografar o membro contra-lateral para valorizar lesões subtis. 2 – Ecografia Pode ser útil para demonstrar uma discreta elevação do periósseo, avaliar epífises totalmente cartilagíneas, demonstrar derrame articular e avaliar as partes moles locais. 3 – Tomografia Computorizada Reservado para áreas anatomicamente complexas em que a radiografia pode ser pouco conclusiva (ex: carpo, tarso, tornozelo). 262 caso radiológico radiological case 4 – Ressonância magnética Tem aplicação mais limitada, podendo ser útil para avaliar edema medular ósseo (contusão), as epífises cartilagíneas, as estruturas músculo-ligamentares e tendinosas. Palavras chave: Fraturas da criança, fraturas do tipo torus. ABSTRACT We present a case of a six-year old child with wrist pain after sustaining trauma the previous day. The x-ray revealed a torus fracture of the distal radio metaphysis. The torus fracture is one of the fractures occurring in the immature skeleton. Some specific types of children fractures are described as well as the value of the imaging techniques for the diagnosis. Key-words: Fractures in children, torus fracture. Nascer e Crescer 2013; 22(4):261-262 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Williamson SL. Primary pediatric radiology. 1st Ed. Philadelphia: WB Saunders Company; 2002. p. 177-82. 2. Ramsden W. Fractures and musculoskeletal trauma. In: Carty H, ed. Emergency pediatric radiology. Berlin: Springer-Verlag; 2002. p. 317-9. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Filipe Macedo Serviço Médico de Imagem Computorizada Rua Pedro Hispano, 881 4250-367 Porto, Portugal e-mail: [email protected] Recebido a 23.12.2013 | Aceite a 27.12.2013 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Conceção, redação e publicação de artigos científicos: Submissão de artigos para publicação Margarida Lima, MD, PhD1,2 RESUMO Neste quarto e último artigo daqueles que integram a rubrica “CONCEÇÃO, REDAÇÃO E PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS” da secção “EDUCAÇÃO CIENTÍFICA”, salientamos a necessidade de verificação da versão final do artigo e apresentamos os aspetos mais relevantes do processo de publicação conducente à sua publicação, desde a sua submissão até à decisão final de recusa ou aceitação e, neste último caso, a correção das provas. Palavras-chave: Educação científica; publicação de artigos científicos. Neste trabalho debruçamo-nos sobre os aspetos mais relevantes do processo de publicação de um artigo científico, desde a verificação final do artigo e sua submissão para publicação, até à decisão de recusa ou aceitação e, neste último caso, à correção das respetivas provas. 2. VERIFICAÇÃO FINAL DO ARTIGO Imediatamente antes de submeter o artigo para publicação, deve ser feita a verificação final, preferencialmente usando uma check-list (Quadro 1)(1). Esta verificação deve ser feita preferencialmente numa versão impressa do artigo, para certificar que o texto, as tabelas e as figuras estão legíveis e com a formatação adequada. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 263-268 1. INTRODUÇÃO A publicação de um artigo numa revista científica de edição periódica é um processo complexo que envolve vários intervenientes: os autores, o secretariado da revista, o corpo editorial, os revisores e, finalmente o corpo redatorial. Decorre em várias etapas, que começam pelo processo de submissão propriamente dito e pela sua receção na revista, passam pela avaliação do artigo pelos editores e revisores e pelas eventuais alterações ao artigo feitas pelos autores em resposta às sugestões dos mesmos, e culminam com uma decisão final: a recusa ou aceitação do artigo. O processo que conduz à publicação de um artigo é com frequentemente demorado e raramente decorrem menos de seis meses entre a submissão e a sua aceitação para publicação, se for o caso, havendo ainda a considerar o tempo que decorre entre a aceitação do artigo e a sua publicação efetiva. Pela demora existente em todo este processo, muitas revistas mencionam, no artigo publicado, a data de submissão e de aceitação. Para além disso, é cada vez mais frequente disponibilizar on line a versão eletrónica do artigo, antes da sua publicação na versão impressa. __________ 1 2 Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Universidade do Porto, 4050-313 Porto, Portugal Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, 4099-001 Porto, Portugal 3. SUBMISSÃO DO ARTIGO PARA PUBLICAÇÃO A submissão do artigo para publicação deve ser feita de acordo com as orientações da revista(1). Algumas revistas continuam a exigir o envio de um número variável de cópias em papel, mas na maioria dos casos a submissão já é feita exclusivamente por via eletrónica, com grandes vantagens em termos de poupança de tempo e de recursos. A submissão eletrónica por ser feita através do envio dos ficheiros gravados em CD, através de e-mail, ou, o que é cada vez mais frequente, diretamente no website da revista, fazendo o upload dos respetivos documentos. Quando a submissão é feita através de um website, geralmente é oferecida aos autores a possibilidade de fazer o follow-up do processo, isto é de verificar, a todo o momento, em que fase se encontra. A submissão através de um website também tem a vantagem de permitir aos revisores fazer o download dos documentos, assim como emitir os pareceres on-line; finalmente, permite aos editores o acesso a todas as etapas e aos documentos associados. Entre os documentos solicitados aos autores constam, no mínimo, uma carta ao editor a solicitar a publicação do artigo, o artigo propriamente dito e ficheiros independentes com as respetivas figuras. O artigo é geralmente submetido na forma de ficheiro Word (.doc) e as figuras na forma de ficheiros eletrónicos tipo GIF (.gif), JPEG (.jpg) ou PDF (.pdf); deve ser evitada a submissão de figuras em formato Power Point (.ppt) devido à perda de qualidade. Algumas revistas solicitam o envio / upload de outros documentos, como declarações de conflitos de interesses e de transferência de direitos de propriedade (copyrights) e um documento educação científica scientific education 263 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Quadro 1. Lista de verificação final de artigos científicos Âmbito e secções Aspetos a verificar Continuação do Quadro 1 Âmbito e secções A abrangência dos artigos da revista corresponde ao seu trabalho? Está caraterizado o desenho do estudo? Estão indicadas as variáveis estudadas? O seu trabalho interessa ao público-alvo dessa revista? Escolha da revista Leu cuidadosamente as instruções aos autores? São referidos os materiais usados e é indicada a sua proveniência? Conhece a formatação determinada pela revista? Estão indicados os instrumentos de medida (questionários, equipamentos, etc.)? A qualidade do trabalho adequa-se ao fator de impacto da revista? Os instrumentos de medida (inquéritos, questionários) foram validados para a população e, quando aplicável foram usados com a permissão dos autores? O título é apropriado? Todos os métodos foram devidamente descritos ou referenciados? Atrai a atenção do leitor? Informa sobre o conteúdo do artigo? Título Estão devidamente indicados todos os locais geográficos mencionados? Não é demasiado longo? Contém palavras desnecessárias? Material e Métodos Tem abreviaturas? Os autores preenchem os critérios de autoria? Estão devidamente identificados? São mencionados os critérios de elegibilidade dos participantes, se aplicável? São indicadas as respetivas graduações académicas e profissionais? O desenho do estudo e a abordagem são adequados para testar as hipóteses? São indicadas as respetivas afiliações? Foram indicados os métodos de análise estatística usados? As instituições a que pertencem estão designadas de forma correta? A informação fornecida permite a outros investigadores repetir o estudo? É indicado o autor correspondente e os respetivos contatos? A informação fornecida permite aos leitores avaliar a qualidade do estudo? O resumo tem o tamanho adequado? A secção começa com uma descrição genérica dos resultados? Introduz o assunto? Os resultados são apresentados de forma estruturada? Menciona os objetivos? A sequência de apresentação dos resultados é lógica? Informa sobre o desenho e os métodos usados? Os resultados são apresentados de forma compreensiva? Descreve os principais resultados? Resumo São apresentados os resultados importantes e necessários para a discussão? Indica as principais contribuições e inovações? Não são apresentados resultados irrelevantes, que apesar de terem sido obtidos, não têm interesse no contexto do artigo? Desperta a curiosidade e o interesse do leitor? São evitadas as abreviaturas desnecessárias? Há repetição da informação (resultados apresentados em tabelas ou figuras repetidos no texto)? As abreviaturas usadas são pré-definidas? Palavraschave Atrai a atenção dos leitores? Resultados As palavras-chave identificam o conteúdo do artigo? Ilustrações (tabelas e figuras) Não repetem as palavras do título? São usadas palavras controladas? Permitem aos leitores interessados encontrar facilmente o artigo? Introduz o leitor ao assunto? Contextualiza o leitor no que respeita aos problemas em cause? Não é demasiado extensa? Introdução Apresenta as ideias com uma sequência lógica? Cita os principais trabalhos da área? Cita os trabalhos mais recentes? Identifica os problemas? Os objetivos são apresentados no final? 264 Quando aplicável, é caraterizada a amostra e a população para a qual se pretende generalizar os resultados (tamanho, dados demográficos)? São mencionados os métodos usados para selecionar a amostra, se aplicável? Contém palavras que usaria para procurar o artigo? Autores Aspetos a verificar educação científica scientific education Constam as unidades de medida, quando aplicável? Constam os valores de referência, quando aplicável? As ilustrações apresentam claramente os resultados? As ilustrações são auto-explicativas? O número de tabelas e figuras não excede o máximo permitido pela revista? Não existe informação repetida nas ilustrações (tabelas e figuras)? As ilustrações têm legendas adequadas? Constam as medidas de tendência central (média, mediana, etc.)? Constam as medidas de variação (desvio padrão, intervalo de confiança, etc.)? Constam as unidades de medida? NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Continuação do Quadro 1 Âmbito e secções Aspetos a verificar Há uma justificativa que comprove a hipótese? É feita a comparação dos resultados com outros previamente publicados? Estão identificados os pontos fortes e os pontos fracos do estudo? Discussão É claro quais são os resultados mais relevantes? É claro quais são os aspetos inovadores do trabalho? São referidos os aspetos a investigar no futuro, se isso for relevante? 3.1 Carta de submissão (cover letter) A carta ao editor deve ser simples, deve solicitar que o artigo seja considerado para publicação na revista e referir alguns aspetos relevantes (Quadro 2). Deve também mencionar que todos os autores leram e aprovaram a versão final do artigo que é submetida para publicação e se responsabilizam pelo seu conteúdo; assim como atestar que os resultados não foram publicados nem se encontram submetidos para publicação noutra revista. Deve ainda referir a inexistência de conflitos de interesses, ou especificá-los quando existam. No Quadro 3 são apresentados alguns exemplos de textos que podem ser usados na redação de uma carta de submissão. São apontadas potenciais aplicações futuras caso existam? Quadro 2. Informação que deve constar na carta de submissão São usadas referências dos estudos que fornecem o maior grau de evidência? As referências são apresentadas na configuração requerida pela revista? Todas as referências listadas foram citadas no texto? Referências Todas as referências citadas no texto constam na lista de referências? Existe concordância entre as citações e as respetivas referências? O número de referências é adequado? Foram consultados todos os artigos referenciados? Conflitos de interesse (se aplicável) Contribuições dos autores Glossários e listas de Abreviaturas (se aplicável) Questões éticas e legais São declarados os conflitos de interesse (financeiros ou outros)? Caso existam, são devidamente especificadas as medidas para os resolver? • • • • • Todos os autores preenchem critérios de autoria? • Na lista de abreviaturas constam todas as abreviaturas usadas no texto? É respeitada a ordem alfabética? • No glossário constam os termos técnicos relevantes? Os estudos foram autorizados nas instituições e, quando aplicável, foi obtida a aprovação das Comissões de Ética e o consentimento informado dos participantes / responsáveis legais? Os estudos foram implementados de acordo com as leis em vigor, com as normas regulamentares aplicáveis e com as boas práticas? Foi usado ponto decimal em vez de vírgula? O texto foi revisto do ponto de vista ortográfico e gramatical? Frase a solicitar que o artigo seja considerado para publicação na revista, indicando o título do artigo, o nome do primeiro autor, o nome da revista e o tipo de artigo. Dados para contato do autor correspondente: Nome, morada institucional, telefone, fax e e-mail. Informação desejável São referidas as contribuições individuais dos autores? Todas as abreviaturas estão pré-definidas e uma vez prédefinidas são usadas? Pontos para verificar no final Informação obrigatória • • Informação de que os resultados, no todo e em parte, não foram previamente publicados, nem se encontram submetidos para publicação noutra revista. Declaração de que todos os autores leram e aprovaram a versão final do artigo tal como é enviado para publicação e que se responsabilizam pelo seu conteúdo. Declaração de inexistência de conflitos de interesses ou sua menção, caso existam. Informação de que é enviada em anexo autorização de autores para o uso de material no artigo (exemplo, questionários, fotografias). Informação de que a investigação foi conduzida de acordo com os princípios éticos, após aprovação pela comissão de ética e pela direção da instituição (especialmente importante no caso de investigação com seres humanos, de caráter experimental). Sugestões de eventuais revisores, se tal for exigido pela revista ou se esta previr esta possibilidade e os autores assim desejarem. Informação sobre quem não deve ser convidado para rever o artigo por eventuais conflitos de interesses, se aplicável. Informação facultativa • • Uma ou duas frases a documentar o interesse da publicação para a comunidade científica e o enquadramento no âmbito de publicação da revista e do seu público-alvo. Outra informação que possa ser considerada relevante. O texto foi revisto por alguém que domine o assunto do ponto de vista técnico? O texto foi revisto por alguém cuja língua nativa é aquela em que o artigo foi redigido? Foi feita a última revisão global (versão impressa)? assinado por todos os autores, que frequentemente pode ser enviado à posteriori. O hábito de exigir ou permitir sugestões de possíveis revisores, embora controverso, é cada vez mais frequente. 3.2 Transferência de direitos autorais (copyrights transfer) As revistas exigem que os autores transfiram a propriedade dos direitos autorais para a editora, mediante a assinatura de um formulário próprio (Copyrights transfer form) que geralmente está disponível no site da revista(2). Ao fazê-lo, os autores devem estar conscientes dos direitos que retêm e daqueles que transferem. Em geral, ficam impedidos de fazer e distribuir cópias do artigo ou de partes dele sem obter a autorização do editor da revista, embora possam reter alguns direitos, como o direito de reproduzir os seus dados, as figuras, etc. educação científica scientific education 265 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 4. PROCESSAMENTO EDITORIAL A receção de um artigo submetido para publicação desencadeia uma sequência de atos de processamento editorial(3) que envolve o secretariado editorial, os editores chefe, os editores executivos e os autores dos artigos (Figura 1). Ao receber o artigo proposto para publicação, o secretariado editorial verifica o artigo e atribui-lhe um número identificador (este pode ser atribuído automaticamente se a submissão for eletrónica), que deve ser usado como referência em todas as comunicações futuras sobre o mesmo, entre os autores e os editores. Quando a submissão é bem sucedida, geralmente é enviado aos autores um comprovativo. A análise do artigo com vista à decisão de o aceitar ou não para publicação é um processo que envolve o trabalho conjunto de editores e revisores, ambos sujeitos ao sigilo profissional e à obrigatoriedade de declararem eventuais conflitos de interesses caso existam (Figura 1). 4.1 Revisão por pares A revisão por pares (peer review) consiste na apreciação do artigo por um número limitado (geralmente 1 a 3) de revi- sores (reviewers ou referees) que são nomeados pelo editor chefe ou pelos editores adjuntos. Normalmente a redação da revista verifica a disponibilidade dos revisores antes da nomeação, informando-os sobre as caraterísticas do artigo (por exemplo, fornecendo o respetivo resumo) e sobre os prazos a cumprir. Uma vez aceite o cargo, os revisores têm acesso ao texto integrar do artigo, que é enviado pelo correio ou por via eletrónica. O seu papel é de grande responsabilidade, pois da sua opinião fundamentada depende a publicação (ou não) do artigo e, portanto, a disponibilização (ou não) à comunidade científica da informação nele contida(4-6). O processo de revisão obedece geralmente a normas orientadoras fornecidas pela Redação da revista(7), mas existem alguns aspetos relativos ao conteúdo e forma que são sistematicamente avaliados (Quadro 4). Em geral este processo é duplamente cego, isto é, os autores não têm acesso à identificação dos revisores, e estes também não têm acesso à identificação dos autores. Os prazos para a conclusão da revisão variam de revista para revista, mas geralmente são dadas 2 a 6 semanas. Quadro 3. Exemplos de cartas de submissão Secção da carta Exemplos Dear Professor “X” Início Dear Sir, Dear Madam, Please find enclosed for review an original research article [Title of the article], by Lima M et al. we appreciate to be considered for publication as an (original article, case report, etc) in the journal of [“name of the Journal”] Solicitação de publicação I am sending a manuscript entitled [Title of the article], by Lima M et al, which I should like to submit for publication as an (original article, case report, etc) in the journal [“name of the Journal”] I should be grateful if you would consider the manuscript entitled [Title of the article], by Lima M et al. for publication as an (original article, case report, etc.) in the journal of [“name of the Journal” ]. The paper demonstrates [significant results and its significance]. As such this paper should be of interest to those interested in [research field, topic or technique]. Relevância, âmbito e público-alvo The major contribution of the current work is: firstly […]; secondly […]; and thirdly […]. We believe that our work would be very much of interest to […]. This work describes [relevant findings]. To our understanding, we are the first to [main contribution]. We therefore believe that our work would be of interest to scientists in the field of [type of research]. Aprovação e responsabilidade dos autores All authors have read and approved the final version of the article, and due care has been taken to ensure the integrity of the work. I state that all authors approved the final version of the article and assumed the responsibility for the work. All authors have seen and agree with the contents of the manuscript and assume the responsibility for the work. The manuscript has not been published in any language or format and has not been submitted elsewhere publication consideration. Informações adicionais Publicação dos resultados This paper contains original unpublished work and is not being submitted to any other journal. We certify that the submission is original work and is not under review at any other publication. No conflict of interest exits in the submission of this manuscript. Conflitos de interesses There is no conflict of interest, including financial interests, relationships, and/or affiliations relevant to the subject matter or materials included in this manuscript. The authors certify that all conflicts of interest are disclosed in the manuscript, under the acknowledgment section. Knowledgeable referees for this paper might include: Name [technical expertise] (e-mail) Informações adicionais Sugestões de revisores Possible referees for this paper might include: Name [technical expertise] (e-mail) Referees for this paper might include:Name [technical expertise] (e-mail) We believe that our findings could be of interest to the readers of [“name of the Journal”] and we hope that the editorial board agrees on its publication. Considerações finais We hope that the reviewers and the editorial board will agree on the interest of this manuscript. We appreciate your consideration of our manuscript, and we look forward to receiving comments. In case of any questions please do not hesitate to contact us anytime. Fim Yours sincerely Best wishes Name. Autor correspondente Institutional address. E-mail, phone number, fax number. 266 educação científica scientific education NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 revisor adicional ou toma uma decisão. No último caso, a decisão pode ser definitiva (aceitação ou recusa de publicação do artigo, tal como consta) ou condicional (pendente de modificações, de acordo com as solicitações dos revisores). Quando é tomada uma decisão, é enviada uma carta ao autor correspondente, indicando aceitação, recusa ou aceitação condicional (sujeita a nova apreciação pelos revisores, após modificação) (Quadro 5). Quadro 5. Decisões editoriais relativas aos artigos científicos Decisão editorial • • • Figura 1. Representação esquemática do processamento editorial. Em geral, os editores chefe atribuem os artigos aos editores executivos, que seleccionam os revisores. O secretariado editorial envia aos revisores o convite e, se o convite for aceite, o artigo é remetido aos mesmos. Os revisores analisam os artigos e remetem os pareceres fundamentados ao secretariado, que os direcciona para os editores executivos, a quem compete a analisar e fazer recomendações aos editores chefe. Os editores chefe decidem se os artigos devem ser aceites ou recusados. A decisão é enviada aos autores e, no caso da aceitação condicional, estes respondem aos comentários dos revisores e se assim desejarem, revêem os artigos, fazendo as modificações necessárias com vista à sua publicação. Os artigos são reapreciados pelos revisores, que de novo enviam os seus pareceres, repetindo-se o processo até aos editores chefe tomarem a decisão final. Quadro 4. O que os revisores avaliam ao analisar os artigos científicos • • • • • • • • Relevância Originalidade Mérito técnico-científico Apresentação Clareza de exposição Organização Legibilidade Citação e referenciação 4.2 Decisão editorial O editor chefe (ou os editores adjuntos, caso existam) são responsáveis pela supervisão do processo de revisão por pares, por avaliar as opiniões dadas pelos revisores e por tomar a decisão final. Uma vez terminada a avaliação feita pelos revisores podem ocorrer duas situações: o editor decide enviar o artigo para um Especificação Aceite Aceite tal como consta Aceite condicionalmente Sujeito a revisão com correções minor Sujeito a revisão com correções major Com possibilidade de nova submissão Rejeitado Sem outras considerações Os motivos pelos quais os artigos são recusados prendem-se com questões várias, desde a inadequação ao âmbito de publicação da revista e/ou às normas de publicação à má qualidade do artigo, passando pelo caráter não prioritário do assunto abordado (Quadro 6)(8, 9). Quadro 6. Principais motivos de recusa de artigos científicos • • • • • • • • • • • • • • • • O assunto não se adequa ao âmbito de publicação da revista. O assunto não interessa ao público-alvo da revista. A revista não publica esse tipo de artigos (ex. estudos de casos) O assunto não é importante e/ou não é atual. Os problemas que conduziram ao estudo não estão identificados. O estudo não é inédito (já foram publicados estudos similares). Os objetivos não estão claramente especificados. As hipóteses de trabalho não estão definidas. O desenho/abordagem experimental não são apropriados para testar as hipóteses. A amostra não é representativa da população. Os controles são inadequados. A análise estatística não é a apropriada. Os resultados foram interpretados de forma incorreta. Os resultados são inconclusivos. As conclusões são abusivas. O artigo está mal redigido. 4.3 Revisão do artigo Quando um artigo é aceite condicionalmente, a sua publicação fica pendente de modificações em conformidade com as sugestões dos revisores e do seu reenvio ao editor(10). O manuscrito revisto deve ser reenviado dentro de um prazo pré-definido. educação científica scientific education 267 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 3 Esse prazo é geralmente 3 meses ou menos, exceto quando os revisores sugerem a realização de procedimentos experimentais adicionais, situação em que pode ser concedido um prazo mais alargado. Os autores devem devolver o artigo revisto dentro do prazo previsto, acompanhado de uma carta onde se esclareçam as questões colocadas pelos revisores e onde se indiquem todas as alterações que daí resultaram(3). Todas as alterações devem ser devidamente indicadas no manuscrito, assinalando as partes alteradas com uma cor diferente ou fazendo a revisão com sinalização automática das modificações. 5. PROCESSAMENTO REDATORIAL, APÓS ACEITAÇÃO 5.1 Edição do artigo para publicação Quando o artigo é aceite, segue-se a edição do texto com vista à sua publicação. Este processo é da competência dos editores de texto (também designados editores de cópia ou copy editors), que são profissionais treinados para este fim, que atuam como um elo de ligação entre os autores e o editor de impressão. O seu papel principal é adaptar o artigo ao “estilo da revista”, verificar e corrigir a ortografia, a capitalização, a gramática e a pontuação, bem como clarificar junto do autor correspondente possíveis aspetos ambíguos. Também pode ser necessário reorganizar, reconstruir, redimensionar e/ou alterar as legendas das ilustrações. Se forem feitas alterações substanciais ou de conteúdo, estas são comunicadas aos autores, solicitando a sua permissão. 5.2 Correção da cópia editada do artigo e de provas Uma vez terminado o processo de edição, a cópia editada do artigo é enviada ao autor correspondente para revisão final. Nesta fase este ainda pode solicitar a correção de um ou mais aspetos, indicando quais e como devem ser corrigidos. De seguida, a cópia editada do artigo é enviada para o designer ou para a impressora que gera as provas. Por sua vez, estas são enviadas para os editores, autores, ou ambos (dependendo da revista) para revisão final. Em muitas revistas, os autores recebem apenas as provas, e não a cópia do manuscrito editado. Nesta fase só são permitidas pequenas alterações. Finalmente, as provas corrigidas são enviadas para impressão. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Quanto mais experiência se ganha a escrever artigos, mais fácil e rápido se torna redigir artigos de qualidade. Maior que a satisfação escrever um artigo que expresse as nossas ideias de uma forma clara, precisa, concisa e atraente, é o prazer de ver o artigo é aceite para publicação e, mais tarde, saber que foi reconhecido na comunidade científica e citado por outros autores. 268 educação científica scientific education DESIGN, WRITING AND PUBLICATION OF SCIENTIFIC MANUSCRIPTS: MANUSCRIPT SUBMISSION. ABSTRACT In this four and last manuscript, from the heading “DESIGN, WRITING AND PUBLISHING OF SCIENTIFIC MANUSCRIPTS”, as part of the “SCIENTIFIC EDUCATION” section of the journal “NASCER E CRESCER”, we emphasize the need for verification of the last version of the scientific paper and we present the most relevant aspects of the process of publishing, since its submission until the final decision of refusal or acceptance, and in the latter case, the correction of the proofs. Key-words: Scientific education; publication of scientific manuscripts. Nascer e Crescer 2013; 22(4): 263-268 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Peh WCG, Ng KH. Preparing a manuscript for submission. Singapore Med J 2009; 50:759-61; quiz 762. 2. Peh WC, Ng KH. Conflict-of-interest, copyright and other declarations. Singapore Med J 2010; 51:844-46; quiz 847. 3. Peh WCG, Ng KH. How a submitted manuscript is processed. Singapore Med J 2009; 50:853-5; quiz 856. 4. Peh WCG, Ng KH. Role of the manuscript reviewer. Singapore Med J 2009; 50:931-3; quiz 934. 5. Garmel GM. Reviewing manuscripts for biomedical journals. Perm J 2010;14:32-40. 6. Annesley TM. Seven reasons not to be a peer reviewer--and why these reasons are wrong. Clin Chem 2012; 58:677-9. 7. Marusi M, Sambunjak D, Marusi A. Guide for peer reviewers of scientific articles in the Croatian Medical Journal. Croat Med J 2005; 46:326-32. 8. Pierson DJ. The top 10 reasons why manuscripts are not accepted for publication. Respir Care 2004; 49:1246-52. 9. Peh WCG, Ng KH. Dealing with returned manuscripts. Singapore Med J 2009; 50:1050-2; quiz 1053. 10. Annesley TM. Top 10 tips for responding to reviewer and editor comments. Clin Chem 2011; 57:551-4. ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Margarida Lima Hospital de Santo António Centro Hospitalar do Porto Largo Professor Abel Salazar, 1 4099-001 Porto, Portugal Telefone: + 351 22 2077500 E-mails: [email protected]; [email protected] NASCER E CRESCER revista do hospital de crianças maria pia ano 2013, vol XXII, n.º 4 Uma homenagem… Margarida Guedes1 JO era a primeira de duas filhas, nascida numa aldeia para lá do Douro, onde o progresso teimava em tardar. Linda como todas as meninas da sua idade, de olhos castanhos, grandes de tão abertos, e cabelos apanhados no laçado rabo-de-cavalo. Aos 10 anos começou a ver aos pares e a andar baloiçada, nos murmúrios de uma aldeia que torcia o nariz ao caldo com “pinga” que devia estar provando. Mas a TAC da grande cidade revelou o pior e a operação ao tumor do cerebelo foi marcada, e tudo não correu bem….tudo não, porque sobreviveu, mas mal… Mal andava, mal falava, mal comia e até mal respirava, mas como lutava! Lutava com tal força, que até quem passava só via o sorriso, mas os olhos começaram a perder-se no corpo definhando. Só que o coração tamanho, tão grande, maior que tudo, quase exausto não queria parar. Ela precisava esperar pelas suas duas mães – sim, porque ela também tinha uma tia-mãe; precisava esperar pela irmãzinha dela – pois ela às vezes só parecia existir algures nuns intervalos da JO; e precisava esperar pelos médicos também, pois todos tinham que se apaziguar…e só assim é que numa 6ª feira de Outono, ela saiu devagarinho, como a fazer muito pouco barulho, e com todos já preparados para o amanhã. E eu, vi-a partir, sabendo que por a ter conhecido fui uma pessoa melhor….. __________ 1 S. Pediatria, CH Porto, 4099-001 Porto Portugal pequenas histórias short stories 269 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Índice de Autores Abreu L S33 Abreu M S13 Aguiar A S33 Aires S S29, S30 Alendouro P 75 Almeida C S12 Almeida D S39 Almeida E 171, S30 Almeida F S27 Almeida MC S3 Almeida R S13, S28 Álvares S 8, 178 Alves M S25 Amaral R S19 Amorim J 46, 111, S17, S30 Antunes A 174 Araújo A S32 Araújo L S20, S26 Bandeira A 162, 191 Barbosa T 189, S29, S34 Barbot J S14, S26 Barros A S14 Barroso P S40 Batista S S36, S40 Bicho A S18, S31 Borges 92 Braga A S22 Braga AC 104 Braga J S22 Branco C 12 Branco L S25 Branco M 33 Brandão C 30 Brandão P S37 Brito I 25 Cadilhe A S33 Caminha C S29 Candeias C S12 Cândido C S15 Cardoso P S11, S24, S31 Carmo O S37, S38 Carnide C 33 Carreira L S12 Carvalho C 101 Carvalho F S20, S31 Carvalho J S33 Carvalho M S15 Carvalho S 42, 109 270 índice de autores author Index Casanova J 101, 178 Castanheira J S32 Castedo S S39 Castro D S22, S38 Castro J S36, S40 Castro S S34 Cerveira I S39 Cleto E S14, S26 Coelho A S31 Coelho I S17 Conde C S21, S23, S38 Correia A S35 Correia F 75 Correia J 191 Costa A 75 Costa AM 25, S15 Costa C S11 Costa E S14, S26, S33 Costa M S24 Costa MJ S13, S18, S19 Costa T S16, S29, S30 Cruz ME S13 Cunha F 12 Delgado L S40 Deuchande S 174 Dias A 158, S16 Dias AI 171 Dias AL S15 Dias C 185 Dias C S21 Dias F 25 Dias L S18 Dinis MJ 109 Domingues S S20 Duarte J S24, S27 Enes C S20 Enes P S37 Esteves S S34 Estrada J 151 Fachada H S39 Faria C 158 Faria MS S16, S29, S30 Farrajota P 182 Fernandes E S20 Fernandes I 182 Fernandes M S32 Fernandes M S4, S21, S23, S38 Ferrão A 145 Ferraz C S19 Ferreira HN 87 Ferreira I S14 Ferreira L S37 Ferreira P 191 Ferreira R S27 Ferreira S S29 Ferreira V 140, 178, S38 Figueiredo CM S17, S30 Figueiredo M S27 Figueiredo O S37, S38 Figueiredo S S32 Flores M S18, S24 Fontes N S13 Fraga B S19 Fraga JC 25 Francisco T 151 Franco C S19 Freitas AC 189, S17 Freitas I S26 Freitas M 19, 178, S12 Galhano E 33 Garrido C S9 Gil B S33 Godinho C S8, S14, S30 Gomes A S37 Gomes F S19 Gomes L S24 Gomes R S11 Gonçalves I S18 Gonçalves J S22 Gonçalves M S40 Gonçalves N S26 Guedes A 101, 104, S14, S20 Guedes F S34 Guedes M 8, 130, 167 S15, S16 Guerra I S14, S26 Guimarães N S12, S26 Guimarães S 7 Guimarães TM 92 Inocêncio G S21, S35 João F S28 Karakus G S40 Laranjo G 158 Lavrador V S17 Lebre A S3, S39 Leitão F S35 Leite J S33 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Lima M 48, 50, 115, 193 Lima SB 87 Lima T S21, S22, S23, S38 Lira S 30 Lisboa L 72 Lopes A S25 Lopes L 104, S7, S20 Lopes M S32 Lopes S S27 Lourenço C S36, S40 Lourenço L 72 Luís A S40 Macedo F 113, 189 Macedo L 75 Machado L 30 Machado M S18, S31, S35 Machado R S13, S28 Machado S 109, 182 Maciel R 101, 178, S21, S35 Magalhães J S26, S29, S34 Maia A 185 Marinho A S15 Marinho C S38 Marques F 12 Marques L 8, S17 Martins AA S11, S19, S28 Martins AM 174 Martins AT S27 Martins C S40 Martins E 191 Martins M S27 Martins MM S11, S13, S19 Martins S S32 Matos A 75 Matos C 30, 109 Matos I 162 Matos P S16, S29, S30 Melo A S40 Mendes A S36, S37 Mendes MJ 140, 178 Mesquita J 33 Miranda V S15 Montalvão M S35 Monteiro G 158 Monteiro M S24 Morais L S17, S29, S30 Morais M S32 Morais S 33 Moreira A S38 Mota C S16, S29, S30 Mota CR S12 Mota TC 72 Moutinho O S38 Nascimento J S15 Neiva F S33 Neves E 8 Nóbrega S 151 Nordeste A S11 Nunes I S24 Oliva-Teles N 19, 38, 139, 178, S12 Oliveira A 104 Oliveira C S18 Oliveira D S6, S14 Oliveira F S27 Oliveira G S11 Oliveira L 101 Oliveira M 8 Oliveira M S35 Oliveira MJ 92 Oliveira N S35 Oliveira R S32 Oliveira T 101, S21, S23, S38, S39 Osório A 101 Paiva A S37 Paiva C S39 Paiva M 12 Paulo S S39 Peixoto S S15 Pereira A S33 Pereira B 95, S25 Pereira C 95 Pereira F 44, 113, 187, S16 Pereira G 151 Pereira J 158, S20, S31 Pereira M S13, S33 Pereira S S39 Pinheiro L 171, S33 Pinho A S29, S30 Pinto D S16 Pinto J 95 Pinto JC S33 Pinto M 113 Pio D S31 Popik E S17, S30 Quaresma M S15 Ramos A S34 Ramos L 33 Raposo F S30 Raposo L S39 Ratola A S14 Reis AP 101, 140 Reis MG S29 Resende C 145 Rezende D S33 Ribeiro A 72 Ribeiro I 19 Ribeiro L 104 Rios H 33 Rios M 191 Rocha A S36, S37 Rocha J S37 Rocha L S16, S29, S30 Rocha P 104 Rodrigues C S20, S36 Rodrigues C S28 Rodrigues G S37, S38 Rodrigues MC 101, 140, 178, S21, S35, S36, S37 Rodrigues S S21, S22, S35 Rosinhas J S26 Sá AS 25 Sá C S33 Santalha M 75 Santos A S35 Santos E 145, 158 Santos G S12 Santos J S21, S23, S38 Santos M 151 Santos M 95 Santos MC 36, 107 Santos P 145 Santos T 174 Saraiva J S35, S36 Selores M 42, 80, 109, 182, 185 Senra V S17, S34 Sequeira A S27 Serafim Z 151 Silva A 167 Silva A S33 Silva AM 71 Silva H S12, S16 Silva I 12 Silva M 72 Silva ML S12 Silva MT S21, S23 Silva R S26 Silva S S11, S13, S18, S19, S33 Silva T S36, S38, S39 Soares G S18 Soares J S15 Sousa C S20, S31 Sousa H S15, S16 Sousa L 92 Sousa R S17 Sousa S S27 Tavares M 80, 92, 162 Teixeira C 8 Teixeira E 158 Teixeira M S4, S21, S23, S38 Teles A 167 Valente R 151 Vasconcelos C S15, S22 Vasconcelos E 101 Vasconcelos J 8 Vaz I 140 Vaz S S19 Ventura L 151 Vidal R S11, S24, S27 Vieira B S21, S23, S38 Vilaça S 42 Zilhão C S15, S16 índice de autores author Index 271 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Índice de Assuntos Vol. 21 Adolescência - Depressão nos adolescentes – mito ou realidade, 145 - Espaço Jovem – um centro de atendimento a jovens, S38 - Mitos e realidades – jovens e contraceção, S3 - Psiquiátrico, aditivo ou orgânico: um desafio nos adolescentes, 238 Agenesia da traqueia - Agenesia da traqueia – caso clínico, S37 Agenesia radial - Agenesia radial bilateral – um caso a esclarecer, S18 Aleitamento materno - Suplementação com leite de fórmula: nem sempre nem nunca..., 104 Alergia alimentar - Abordagem da má evolução ponderal, 162 - Alergia alimentar em idade pediátrica, 75 Alterações da marcha - Alterações da marcha, S9 Alterações de comportamento - Encefalomielite aguda disseminada por Mycoplasma pneumoniae, 248 - Psiquiátrico, aditivo ou orgânico: um desafio nos adolescentes, 238 Anemia - Anemia hemolítica hereditária: a importância do diagnóstico, S26 - Caso endoscópico, 187 - Caso hematológico, 259 - Constrangimentos da terapêutica com ferro endovenoso, S14 Antibioterapia - Prescrição Antibiótica no Serviço de Urgência Pediátrica de um Hospital Nível II da Região Centro, 216 Artéria umbilical única - Deteção pré-natal de artéria umbilical única: qual o seu significado?, 140 272 índice de assuntos subject index Artigos científicos - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Conceção de artigos científicos, 50 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Nota introdutória, 48 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: estrutura e conteúdo, 115 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: tamanho e forma, 193 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – submissão de artigos para publicação, 263 Artrite idiopática juvenil - Terapêutica biológica na artrite idiopática juvenil (AIJ) – experiência do Centro Hospitalar do Porto (CHP), S15 Artrite séptica - Infeção tardia por streptococcus agalactiae – um caso de artrite séptica neonatal, 241 Atresia do esófago - Atresia do esófago: 3 cenários, uma patologia, S19 Atresia intestinal - Atresia ileal – uma etiologia pouco comum, S33 - Atrésia intestinal congénita, importância de diagnóstico pré-natal por ecografia obstétrica, S40 Autismo - As Perturbações do Espectro do Autismo – Avanços da Biologia Molecular, 19 Beta-lactamases de espectro alargado - Disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado em crianças, 87 Beta-lactamases multirresistentes - Disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado em crianças, 87 Bioética - Bioética e documentos nacionais e internacionais, 38 - Ética nas decisões sobre o fim da vida – a importância dos cuidados paliativos, 252 Biópsia renal - Biópsias renais em Pediatria – experiência de 16 anos do CHP, S29 Cardiopatia congénita - Abordagem da má evolução ponderal, 162 - Deleção intersticial 8p23.1-8p23.2 – Caso clínico de diagnóstico pósnatal, 178 Cateter vascular central - Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas, 210 Celulite orbitária - Celulite Periorbitária e Orbitária: casuística de 11 anos, 158 Cirurgia laparoscópica - Excisão laparoscópica de corno uterino em adolescente, S20 Cistos do cordão umbilical - Cistos do cordão umbilical – a propósito de um caso clínico, S37 Citogenética - Caracterização citogenética de cromossoma marcador complexo em lactente com microcefalia, má evolução estaturoponderal e dismorfia facial, S12 - Prematuridade tardia e morbilidade clínica: estudo caso-controlo, S12 Colecistite aguda - Colecistite aguda alitiásica na criança, 174 Compressão extrínseca duodenal - Caso endoscópico, 44 Contraceção de urgência - Contraceção de urgência – uma oportunidade, S3 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Contraceção na adolescência - Adolescer – que escolhas? As mudanças de uma década, S21 - Contraceção em adolescentes nos últimos 15 anos: perspetiva de um centro de atendimento a jovens, S23 - Hipertensão arterial e contraceção – um dilema da nova adolescência, S28 - Mitos e realidades – jovens e contraceção, S3 - Situações especiais – doenças crónica, deficits cognitivos, alterações do comportamento, S4 Convulsões afebris - Convulsões afebris benignas associadas a gastroenterite aguda ligeira, 30 Correção de artigos científicos - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Nota introdutória, 48 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Conceção de artigos científicos, 50 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: estrutura e conteúdo, 115 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: tamanho e forma, 193 Cromossomopatias - Deleção intersticial 8p23.1-8p23.2 – Caso clínico de diagnóstico pósnatal, 178 Cuidados Intensivos Pediátricos - Grande queimado numa unidade Cuidados Intensivos Pediátrico – experiência de 20 anos, 151 Cuidados paliativos - Ética nas decisões sobre o fim da vida – a importância dos cuidados paliativos, 252 Deformidade da tíbia - Deformidade postero-medial congénita da tíbia: a propósito de 2 casos clínicos, 171 Deleção 8p23.1 - Deleção intersticial 8p23.1-8p23.2 – Caso clínico de diagnóstico pósnatal, 178 Depressão - Artigo recomendado, 107 - Depressão nos adolescentes – mito ou realidade, 145 Discordância em gémeos - Discordância em gémeos, S7 - Discrepância ponderal em gémeos: morbilidade e mortalidade neonatal, S20 Dismenorreia membranosa - Dismenorreia membranosa: uma rara e desconhecida entidade, S35 Doença celíaca - Dor abdominal crónica na infância, S32 Doença de Addison - Desidratação hiponatrémica – um diagnóstico raro em idade pediátrica, S27 Doença de Coats - Doença de Coats – a propósito de um caso clínico, S26 Doença de Crohn - Caso endoscópico, 187 Doença de Fox-Fordyce - Caso dermatológico, 42 Doença de Menkes - Genes, crianças e pediatras, 191 Doente queimado - Grande queimado numa unidade Cuidados Intensivos Pediátrico – experiência de 20 anos, 151 Dor abdominal recorrente - Caso endoscópico, 44 Emergência psiquiátrica - Artigo recomendado, 36 Encefalomielite aguda disseminada - Encefalomielite aguda disseminada – pós-infeção por Herpes Vírus 6, 234 - Encefalomielite aguda disseminada por Mycoplasma pneumoniae, 248 Encefalopatia multiquística - Encefalopatia multiquística – a propósito de dois casos clínicos, 95 Eosinofilia - Vestida de vermelho – um caso de reação medicamentosa, 244 Epilepsia - Encefalopatia multiquística – a propósito de dois casos clínicos, 95 Eritema nodoso - Eritema nodoso associado a doença inflamatória intestinal, S27 Escabiose - Caso dermatológico, 109 - Escabiose – recomendações práticas para diagnóstico e tratamento, 80 Esferocitose hereditária - Caso hematológico, 259 Estreptococo grupo B - Infeção tardia por streptococcus agalactiae – um caso de artrite séptica neonatal, 241 - Osteomielite a streptococco do Grupo B (SGB) em recém-nascido: revisão do caso clínico, S30 Estridor - Má evolução ponderal e estridor, S34 Estudos poligráficos de sono - Estudos poligráficos de sono: porquê e para quê?, S29 Fibrose quística - Doença óssea relacionada com a fibrose quística: uma complicação recente, 227 Fratura femoral - O parto deixa marcas… também no recém-nascido, S31 Fraturas na criança - Caso radiológico, 261 Gastroenterite aguda - Convulsões afebris benignas associadas a gastroenterite aguda ligeira, 30 Glomangiomas - Caso dermatológico, 185 Glomerulonefrite - Apresentação em crescentes: um caso raro de glomerulonefrite C3, S30 - Biópsias renais em Pediatria – experiência de 16 anos do CHP, S29 Gravidez - Apendicite aguda na gravidez – a propósito de um caso clínico, S40 - Gravidez ectópica em cicatriz de cesariana anterior – a propósito de um caso clínico, S36 - Gravidez heterotópica – a propósito de um caso clínico, S40 Hamartomas - Caso dermatológico, 185 Hematomas subdurais - Genes, crianças e pediatras, 191 - Síndrome do bebé abanado – experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos, 72 Hemorragias retinianas - Síndrome do bebé abanado – experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos, 72 Hepatite C - Transmissão vertical do vírus da hepatite C – casuística de 13 anos de um Hospital Nível II, S19 Hérnia diafragmática congénita - Hérnia diafragmática congénita – a propósito de um caso clínico, S36 Herpes Vírus 6 - Encefalomielite aguda disseminada – pós-infeção por Herpes Vírus 6, 234 Hiperecogenecidade intestinal fetal - Hiperecogenecidade intestinal fetal, S21 índice de assuntos subject index 273 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Hipernatremia - Suplementação com leite de fórmula: nem sempre nem nunca..., 104 Hipersensibilidade alimentar - Alergia alimentar em idade pediátrica, 75 Hipersensibilidade medicamentosa - Vestida de vermelho – um caso de reação medicamentosa, 244 Hipertensão intracraniana - Cefaleia: quando uma queixa frequente é algo mais, S15 Hipogamaglobulinemia - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Imunodeficiência - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 - Parotidite recorrente juvenil… nem sempre é o que parece, 25 Infeção perinatal - Infeção perinatal, S8 Infeções associadas aos cuidados de saúde - Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas, 210 Insuficiência renal - Abordagem da má evolução ponderal, 163 - Suplementação com leite de fórmula: nem sempre nem nunca..., 104 Invaginação intestinal - “O que parece nem sempre é”, S32 Kerion Celsi - Caso dermatológico, 257 Leiomioma - Caso estomatológico, 111 Leishmaníase visceral - Febre prolongada em lactente, S33 Linfadenite cervical - Internamentos por Linfadenite Cervical num Serviço de Pediatria Geral, 220 Linfopenia T - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Lobo da veia ázigos - Caso radiológico, 189 274 índice de assuntos subject index Lúpus eritematoso sistémico - Gravidez e lúpus eritematoso sistémico – casuística da consulta de patologia autoimune e gravidez do Centro Hospitalar do Porto, S22 - Lúpus eritematoso sistémico juvenil: a expressão da doença no Centro Hospitalar do Porto (CHP), S16 - Lúpus neonatal, S6 - Lúpus neonatal – análise retrospetiva, S14 Má evolução ponderal - Abordagem da má evolução ponderal, 162 Malformação Arnold Chiari - Malformação Arnold Chiari em grávida – a propósito de um caso clínico, S38 Malformação congénita - Deformidade postero-medial congénita da tíbia: a propósito de 2 casos clínicos, 171 - Deteção pré-natal de artéria umbilical única: qual o seu significado?, 140 - Genes, crianças e pediatras, 191 Mastoidite aguda - Mastoidite aguda em idade pediátrica – Fatores de risco para complicações, 12 Medicamentos manipulados - Aprender com os erros – o risco dos medicamentos manipulados, S13 Megacólon - Caso radiológico, 113 Miliária apócrina - Caso dermatológico, 42 Miosite - Miosite aguda benigna da infância – casuística de 6 anos de um Serviço de Pediatria, S13 - Parotidite recorrente juvenil… nem sempre é o que parece, 25 Mortalidade perinatal - CH Tâmega e Sousa: mortalidade perinatal – 2007 a 2012, S38 Mycoplasma pneumoniae - Derrame pleural de evolução arrastada, S28 - Encefalomielite aguda disseminada por Mycoplasma pneumoniae, 248 - Psiquiátrico, aditivo ou orgânico: um desafio nos adolescentes, 238 Neofobias alimentares - Neofobias alimentares – importância na prática clínica, 167 Neonatologia (Cuidados Intensivos Neonatais) - Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas, 210 Obstrução duodenal - Pâncreas anular – um caso clínico, 101 Obstrução intestinal neonatal - Atresia ileal – uma etiologia pouco comum, S33 - Caso clínico – vólvulo jejunoileal em recém-nascido, S31 Ortopantomografia - Caso estomatológico, 46 Osteomielite - Osteomielite a streptococco do Grupo B (SGB) em recém-nascido: revisão do caso clínico, S30 Otite média aguda - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Pâncreas anular - Pâncreas anular – um caso clínico, 101 Paralisia cerebral - Paralisia cerebral – principais motivos de internamento em Pediatria, S11 Paraparésia flácida - Encefalomielite aguda disseminada – pós-infeção por Herpes Vírus 6, 234 Parotidite recorrente - Parotidite recorrente juvenil… nem sempre é o que parece, 25 Parto - Lacerações perineais do 3º e 4º graus – estudo retrospectivo, S39 - O parto deixa marcas… também no recém-nascido, S31 - Parto pré-termo antes das 28 semanas: estudo retrospetivo, S22 Parvovirus B19 - Caso hematológico, 259 Perturbações do espectro do autismo - As perturbações do espectro do autismo – avanços da biologia molecular, 19 Pitiríase liquenóide - Pitiríase liquenóide crónica na criança, 182 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Prematuridade - Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas, 210 - Prematuridade tardia e morbilidade clínica: estudo caso-controlo, S12 Pseudo-obstrução intestinal - Caso radiológico, 113 Puberdade precoce - Puberdade precoce secundária a quisto ovárico – caso clínico, 92 Publicação de artigos científicos - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Conceção de artigos científicos, 50 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Nota introdutória, 48 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: estrutura e conteúdo, 115 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: tamanho e forma, 193 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – submissão de artigos para publicação, 263 Quisto globo maxilar - Caso estomatológico, 46 - Errata do artigo “Caso estomatológico”, 129 Quisto ovárico - Puberdade precoce secundária a quisto ovárico – caso clínico, 92 Redação de artigos científicos - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Conceção de artigos científicos, 50 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Nota introdutória, 48 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: estrutura e conteúdo, 115 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – Redação de artigos: tamanho e forma, 193 - Conceção, redação e publicação de artigos científicos – submissão de artigos para publicação, 263 Resistência aos antibióticos - Disseminação de Enterobacteriaceae produtoras de beta-lactamases de espectro alargado em crianças, 87 Rim anómalo - Caso endoscópico, 44 Risco Social - Quando um problema não vem só…, S24 Rotavírus - Convulsões afebris benignas associadas a gastroenterite aguda ligeira, 30 Sarcoglicanopatia Sarcoglicanopatia: a importância da história clínica, S11 Sépsis - Infeções associadas aos cuidados de saúde numa Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais: avaliação da eficácia das estratégias de prevenção implementadas, 210 Serviço de Urgência - Prescrição Antibiótica no Serviço de Urgência Pediátrica de um Hospital Nível II da Região Centro, 216 Sífilis - Recém-nascidos de mãe VDRL positivo – casuística de 5 anos do Centro Hospitalar Baixo Vouga – Aveiro, S18 Sinal de dupla bolha - Pâncreas anular – um caso clínico, 101 Síndrome CATCH 22 - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Síndrome de deleção 22q11.2 - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Síndrome de DiGeorge - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 - Síndrome de Greig - Síndrome de Greig – caso clínico, S39 Síndrome de Hanhart - Síndrome de Hanhart – caso clínico, 33 Síndrome de Rett - As perturbações do espectro do autismo – avanços da biologia molecular, 19 Síndrome de Sjögren - Parotidite recorrente juvenil… nem sempre é o que parece, 25 Síndrome do bebé abanado - Síndrome do bebé abanado – experiência de 10 anos de um Serviço de Cuidados Intensivos Pediátricos, 72 Síndrome nefrótico - Biópsias renais em Pediatria – experiência de 16 anos do CHP, S29 - Infeção por Helicobacter pylori na criança com síndrome nefrótico: associação fortuita ou causal?, S16 Síndrome velocardiofacial - Caracterização das infeções em doentes com Síndrome de deleção 22q11.2, 8 Tinea capitis - Caso dermatológico, 257 Tuberculose - Internamentos por Linfadenite Cervical num Serviço de Pediatria Geral, 220 Tumefação cervical - Tumefação cervical: quando a causa é congénita, S24 - Tumefação cervical em recémnascido – relato de caso, S25 Vacina antipneumocócica - Falência vacinal – a propósito de 2 casos clínicos de empiema, S17 Vaginite - Corpo estranho vaginal: uma causa incomum de vaginite em idade pediátrica, S35 Ventilação domiciliária - Consulta de ventilação domiciliária – criação e implementação de um modelo integrado e multidisciplinar, S17 Vómitos incoercíveis recorrentes - Caso endoscópico, 44 índice de assuntos subject index 275 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 AGRADECIMENTOS 2013 Neste último número de 2013 temos a oportunidade agradecer a todos os colaboradores da Revista Nascer e Crescer: – Aos autores que nos enviaram os seus trabalhos científicos, contribuindo de modo inequívoco para a qualidade da revista, atualmente indexada no Catálogo LATINDEX, na EMBASE/Excerpta Médica, no Index das Revistas Médicas Portuguesas, na SciELO e na Scopus. – Aos nossos revisores convidados, abaixo nomeados, que compartilharam sua experiência e saber, de modo a assegurar a elevada qualidade e rigor científicos dos artigos publicados. Alda Mira Coelho (Porto) Ana Carriço (V. N. Gaia) Ana Garrido (Porto) Ana Isabel Dias (Lisboa) Ana Ramos (Porto) André Graça (Lisboa) Ângelo Encarnação (Porto) António Gomes (Almada) António Marques (Lisboa) Armando Pinto (Porto) Arminda Jorge (Covilhã) Artur Alegria (Porto) Augusto Magalhães (Porto) Carla Rêgo (Porto) Carla Teixeira (Porto) Carla Zilhão (Porto) Carmen Carvalho (Porto) Carolina Gouveia (Braga) Catarina Prior (Porto) Catarina Vilarinho (Lisboa) Cláudia Pedrosa (V. N. Gaia) Conceição Casanova (Póvoa de Varzim) Cristina Dias (Porto) Cristina Garrido (Porto) Cristina Rocha (S. M. Feira) Dora Simões (Porto) Eugénia Fernandes (Porto) Eulália Calado (Lisboa) Ermelinda Silva (Porto) 276 agradecimentos Acknowledgements Esmeralda Martins (Porto) Eva Gomes (Porto) Fátima Furtado (Beja) Fátima Menezes (S. M. Feira) Fátima Santos (V. N. Gaia) Gabriela Soares (Porto) Graça Rodrigues (Penafiel) Guilhermina Reis (Porto) Guiomar Oliveira (Coimbra) Gustavo Rocha (Porto) Helena Jardim (Porto) Helena Mansilha (Porto) Henrique Coelho (Porto) Hugo Tavares (V. N. Gaia) Ilídio Quelhas (Penafiel) Isabel Carvalho (V. N. Gaia) Isabel Ribeiro (Porto) João Barreira (Porto) Jorge Braga (Porto) José Amorim (Porto) José Banquart Leitão (Porto) José Farela Neves (Coimbra) José Manuel Pereira (Porto) Laura Marques (Porto) Leonor Bento (Lisboa) Luísa Guedes Vaz (Porto) Luísa Morais (Braga) Mafalda Ferreira (Lisboa) Mafalda Santos (V. N. Gaia) Manuel Salgado (Coimbra) Márcia Cordeiro (V. N. Gaia) Margarida Guedes (Porto) Maria do Céu Rodrigues (Porto) Maria Manuel Flores (Aveiro) Martins da Silva (Porto) Miguel Félix (Coimbra) Norberto Estevinho (Porto) Paula Correia (Covilhã) Paula Fonseca (V. N. Famalicão) Paula Matos (Porto) Pedro Monteiro (Porto) Rámon Salvado (Coimbra) Raquel Guedes (V. N. Gaia) Ricardo Araújo (S. M. Feira) Ricardo Costa (Covilhã) Rodrigo Alves (Ponta Delgada) Rui Almeida (Porto) Rui Chorão (Porto) Sandra Alves (V. N. Gaia) Sandra Soares (Porto) Sílvia Álvares (Porto) Sónia Carvalho (V. N. Famalicão) Susana Machado (Porto) Susana Sousa (Vila Real) Teresa Bandeira (Lisboa) Teresa Rezende (Leiria) Vânia Martins (Vila Real) Zulmira Correia (Porto) NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 INSTRUÇÕES AOS AUTORES A Revista NASCER E CRESCER dirige-se a todos os profissionais de saúde com interesse na área da Saúde Materno Fetal e Neonatal e publica artigos científicos relacionados com a Pediatria, Pediatria Baseada na Evidência, Saúde Mental da Infância e Adolescência, Bioética e Gestão Hospitalar. Poderão ser publicados artigos provenientes de todos os países de língua oficial portuguesa, bem como de outros países se redigidos em português, espanhol, inglês ou francês. Os Editoriais, os artigos de Homenagem e artigos de âmbito cultural são publicados a pedido da Direcção da Revista. A revista publica artigos originais de investigação, artigos de revisão, casos clínicos e artigos de opinião. Os artigos propostos não podem ter sido objecto de qualquer outro tipo de publicação. As opiniões expressas são da inteira responsabilidade dos autores. Os artigos publicados ficarão de inteira propriedade da Revista e não poderão ser reproduzidos, no todo ou em parte, sem prévia autorização dos editores. MANUSCRITO Os trabalhos devem ser endereçados ao Diretor da revista para o seguinte endereço eletrónico [email protected] como documento anexo em qualquer versão actual de Microsoft Word, acompanhados da declaração de autoria. Os artigos estão sujeitos a um processo de revisão e cabe ao Editor a responsabilidade de os: a) aceitar sem modificações, b) aceitar após alterações propostas, ou c) rejeitar, com base no parecer de pelo menos dois revisores que os analisarão de forma anónima. Os pareceres serão sempre comunicados aos autores. CONSENTIMENTO INFORMADO E APROVAÇÃO PELA COMISSÃO DE ÉTICA É da responsabilidade dos autores garantir que são respeitados os princípios éticos e deontológicos, bem como, a legislação e as normas aplicáveis, conforme recomendado na Declaração de Helsínquia. Nos estudos experimentais, é obrigatório que os autores mencionem a existência e aplicação de consentimento informado dos participantes, assim como a aprovação do protocolo pela Comissão de Ética. É obrigatória declaração de conflito de interesses ou financiamento. NORMAS DE PUBLICAÇÃO A Revista Nascer e Crescer subscreve os requisitos para apresentação de manuscritos a revistas biomédicas elaboradas pela Comissão Internacional de Editores de Revistas Médicas (Uniform Requirements for Manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). O trabalho deve ser apresentado na seguinte ordem: 1 – Título em português e em inglês; 2 – Autores; 3 – Resumo em português e inglês. Palavras-chave e Keywords; 4 – Corpo do artigo; 5 – Referências Bibliográficas; 6 – Figuras; 7 – Quadros; 8 – Legendas; 9 – Agradecimentos e esclarecimentos. As páginas devem ser numeradas segundo a sequência referida atrás. TÍTULOS E AUTORES – O título deve ser o mais conciso e explícito possível, escrito na primeira página, em português e em inglês, não mencionando a identificação da instituição onde decorreu o estudo. – A indicação dos autores deve ser feita pelo nome clínico ou com a(s) inicial(ais) do(s) primeiro(s) nome(s), seguida do apelido e devem constar as afiliações profissionais. – Os contactos de todos os autores devem incluir endereço postal, endereço eletrónico e telefone. RESUMO E PALAVRAS-CHAVE – O resumo deverá ser redigido na língua utilizada no texto e sempre em inglês, devendo evitar-se abreviaturas. – Nos artigos originais deverá compreender no máximo 250 palavras e ser elaborado segundo o seguinte formato: Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. – Nos artigos de revisão deverá compreender no máximo 250 palavras e ser estruturado da seguinte forma: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Nos casos clínicos, não deve exceder 150 palavras e deve ser estruturado em Introdução, Caso Clínico e Discussão/Conclusões. – Abaixo do resumo deverá constar uma lista de três a dez palavras-chave, em Português e Inglês, por ordem alfabética, que servirão de base à indexação do artigo. Os termos devem estar em concordância com o Medical Subject Headings (MeSH). TEXTO – O texto poderá ser apresentado em português, inglês, francês ou espanhol. – Os artigos originais de investigação devem ser elaborados com a seguinte organização: Introdução; Material e Métodos; Resultados; Discussão e Conclusões. – Os artigos de revisão devem obedecer à seguinte estrutura: Introdução, Objectivos, Desenvolvimento e Conclusões. – Os casos clínicos devem ser exemplares, devidamente estudados e discutidos e conter uma breve introdução, a descrição do(s) caso(s) e uma discussão sucinta que incluirá uma conclusão sumária. – As abreviaturas utilizadas devem ser objecto de especificação. Quando necessária a sua utilização, devem ser definidas na primeira vez que são mencionadas no texto. Quando usadas mais do que seis, recomenda-se a inclusão de um quadro onde todas serão especificadas. Não se aceitam abreviaturas nos títulos dos trabalhos. – Os parâmetros ou valores medidos devem ser expressos em unidades internacionais (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), utilizando para tal as respectivas abreviaturas adoptadas em Portugal. – Os números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso, excepto quando têm decimais ou se usam para unidades de medida. Números superiores a 10 são escritos em algarismos árabes, excepto se no início da frase. – Relativamente aos resultados, a informação não deverá ser referida em duplicado no texto e nos quadros / tabelas, bastando salientar no texto os principais citados na figura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS – As referências devem ser classificadas e numeradas por ordem de entrada no texto, com algarismos árabes, formatados sobrescritos. – Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). Serão no máximo 40 para artigos originais, 15 para casos clínicos e 80 para artigos de revisão. – Os autores devem verificar se todas as referências estão conformes aos Uniform Requirements for Manuscript submitted to biomedical journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html) e se utilizam normas de publicação instructions for authors 277 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 os nomes abreviados das publicações adoptadas pelo Índex Medicus. Os autores devem consultar a página NLM’s Citing Medicine relativamente às recomendações de formato para os vários tipos de referência. Seguem-se alguns exemplos: a) Revista médica: listar os primeiros seis autores, seguidos de et al (em itálico) se ultrapassar 6, título do artigo, nome da revista, ano, volume e páginas. Ex.: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Capítulo em livro: autor(es), título do capítulo, nome(s) do(s) Editor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação, primeira e última páginas do capítulo. Ex.: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Livro: autor(es), título do livro, número da edição, cidade e nome da casa editora, ano de publicação e número de página. Ex.: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Referência electrónica: artigo de revista em formato electrónico. Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. Janeiro, 2010. (Acedido em 8 de Maio de 2013). Disponível em: http://www.uptodate.com. – Todas as abreviaturas ou símbolos necessitam de legenda. – Se a figura ou quadro é cópia de uma publicação ou modificada, deve ser mencionada a sua origem e autorização para a sua utilização quando necessário. – Fotografias ou exames complementares de doentes deverão impedir a sua identificação devendo ser acompanhadas pela autorização para a sua publicação dada pelo doente ou seu responsável legal. – O total de figuras e quadros não deve ultrapassar os oito para os artigos originais e cinco para os casos clínicos. As figuras ou quadros coloridos, ou os que ultrapassam os números atrás referidos, serão publicados a expensas dos autores. FIGURAS E QUADROS – Todas as ilustrações deverão ser apresentadas em formato digital de boa qualidade. – Cada quadro e figura deverá ser numerado sequencialmente, em numeração árabe, por ordem de referência no texto, ser apresentado em página individual e acompanhado de título e legenda explicativa quando necessário. CARTAS AO EDITOR As Cartas ao Editor deverão constituir um comentário a um artigo da revista ou uma breve nota sobre uma importante nova prática clínica. Não devem exceder as 500 palavras e ter um máximo de 5 referências bibliográficas. AGRADECIMENTOS E ESCLARECIMENTOS Os agradecimentos e indicação de conflito de interesses de algum dos autores ou financiamento do estudo devem figurar na última página. MODIFICAÇÕES E REVISÕES No caso do artigo ser aceite mas sujeito a modificações, estas devem ser realizadas pelos autores no prazo de quinze dias. As provas tipográficas serão enviadas aos autores em formato electrónico, contendo a indicação do prazo de revisão em função das necessidades de publicação da Revista. O não respeito do prazo desobriga a aceitação da revisão dos autores, sendo a mesma efectuada exclusivamente pelos serviços da Revista. ESTRUTURA DOS ARTIGOS – NORMAS DE PUBLICAÇÃO Figuras e Quadros Bibliografia Número total máximo Número máximo de referências 5000 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Discussão . Conclusões 8 40 2500 . Introdução (breve) . Caso(s) Clínico(s) . Discussão (com conclusão) 5 15 3 a 10 5000 . Introdução . Métodos . Desenvolvimento . Discussão (com conclusões) 8 80 _ 500 _ _ Resumo Tipo de artigo Número máximo de palavras Texto Estrutura Artigos originais de investigação 250 . Introdução/Objectivo . Material e Métodos . Resultados . Conclusões Casos Clínicos 150 . Introdução . Caso(s) clínico(s) . Discussão/Conclusões Artigos de revisão 250 . Introdução . Objectivos . Desenvolvimento . Conclusões Carta ao Editor _ 278 normas de publicação instructions for authors _ Palavras-chave (Português e Inglês) Número máximo de palavras (excluindo Referências e Ilustrações) 3 a 10 3 a 10 Estrutura 5 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 INSTRUCTIONS FOR AUTHORS The Journal NASCER E CRESCER is addressed to all professionals of health with interest in the area of Maternal, Fetal and Child/Adolescent Health and publishes scientific articles related with Paediatrics, Evidence Based Paediatrics , Mental Health, Bioethics and Health Care Management. The journal accepts manuscripts from all countries of Portuguese language, as well as other countries written in Portuguese, English and Spanish. The Editorials, the articles of Homage and articles of cultural scope are published under request of the Direction of the journal. The Journal publishes original articles, review articles, case reports and opinion articles. The articles submitted must not have been published previously in any form. The opinions therein are the full responsibility of the authors. Published articles will remain the property of the Journal and may not be reproduced, in full or in part, without the prior consent of the editors. MANUSCRIPT Manuscripts for publication should be addressed to the editor of the journal: NASCER E CRESCER, Revista de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto to [email protected] Manuscripts should be saved in Word and must be accompanied by the declaration of authorship by all authors. Submitted articles should follow the instructions below, and are subject to an editorial screening process based on the opinion of at least two anonymous reviewers. Articles may be: a) accepted with no modifications, b) accepted with corrections or modifications, c) or rejected. This is based opinion of at least two reviewers who review anonymously. Authors will always be informed of the reasons for rejection and of the comments of the experts. INFORMED CONSENT AND APPROVAL BY THE ETHICS COMMITTEE It is responsibility of the authors to guarantee the respect of the ethical and deontological principles, as well as legislation and norms applicable, as recommended by the Helsinki Declaration. In research studies it is mandatory to have the written consent of the patient and the approval of the Ethics Committee, statement of conflict of interest and financial support. MANUSCRIPT PREPARATION Nascer e Crescer complies with the recommendations of the International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE) (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals. http://www.icmje.org. Updated July 2011). All the components of the paper, including images must be submitted in electronic form. The papers must be presented as following: 1 - Title in Portuguese and English; 2 - Authors; 3 - Abstract in Portuguese and English and keywords; 4 - Text; 5 - References; 6 - Figures; 7 - Tables; 8 - Legends; 9 – Acknowledgements and clarifications. Pages should be numbered according the above sequence. If a second version of the paper is submitted, this should also be sent in electronic format. TITLE AND AUTHORS - The title should be concise and revealing, written on the first page, in Portuguese and English, not mentioning the identification of the institution where the study was held. - The indication of the authors should be made by the clinical name (s) or with initial (s) (s) first (s) name (s), followed by the surname and should include professional affiliations. - At the end of the page must include: organizations, departments or hospital services of the author(s); the name of the Institutions where the study was performed; the contact details of all authors (postal address, electronic address and telephone). ABSTRACT AND KEYWORDS - The abstract should be written in the same language of the text and always in Portuguese and English. Do not use abbreviations. - Original articles should contain no more than 250 words and the abstract should consist of labelled Background, Material and Methods, Results and Conclusions. - Review articles should contain no more than 250 words and must be structured: Introduction, Objectives, Development and Conclusions. - Case Reports should contain no more than 150 words and the abstract should consist of labelled Introduction, Case report and Discussion/ Conclusions. - Each abstract should be followed by the proposed keywords in Portuguese and English in alphabetical order, minimum of three and maximum of ten, as a basis for indexing Article. Use terms from the Medical Subject Headings from Index Medicus (MeSH). TEXT - The text may be written in Portuguese, English, French or Spanish. - The original articles should contain the following sections: Introduction; Material and Methods; Results; Discussion and Conclusions. - The structure of review articles should include: Introduction; Objectives, Development and Conclusions. - The case reports should be unique cases duly studied and discussed. They should contain: a brief Introduction, Case description and a succinct discussion including a summary conclusion. - Any abbreviation used should be spelled out the first time they are used. When used more than six, it is recommended to include a table where all be specified. Abbreviations are not accepted in the titles of papers. - Parameters or values measured should be expressed in international (SI units, The SI for the Health Professions, WHO, 1977), using the corresponding abbreviations adopted in Portugal. - Numbers 1 to 10 should be written in full, except in the case of decimals or units of measurements. Numbers above 10 are written as figures except at the beginning of a sentence. - With regard to the results, the information should not be referred to in duplicate in the text and tables / charts, being enough emphasize the text cited in the main figure. REFERENCES - References should be noted in the text with subscript Arabic numbers, in order from the first citation. - Referências sequenciais devem ser feitas indicando apenas a primeira e a última, unidas por hífen (ex.: 4-7). They should be limited to 40 for original papers, 15 to case reports and 80 to review articles. - The journal complies with the reference style in the Uniform Requirements for Manuscripts Submitted to Biomedical Journals (www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html). Abbreviate journal titles according to the List of Journals Indexed in Index Medicus. Authors should consult NLM’s Citing Medicine for information on its recommended formats for a variety of reference types. Examples: a) Journal: list the first six authors followed by et al to surpass 6, title of the article, name of the journal, year, volume, pages. Ex: Haque KN, Zaidi MH, Haque SK, Bahakim H, el-Hazmi M, el-Swailam M, et al. normas de publicação instructions for authors 279 NASCER E CRESCER revista de pediatria do centro hospitalar do porto ano 2013, vol XXII, n.º 4 Intravenous Immunoglobulin for prevention of sepsis in preterm and low birth weight infants. Pediatr Infect Dis 1986; 5: 622-65. b) Chapters of books: author(s), title of the chapter or contribution, name and initials of the editors, title of book preceded by ‘In:’, number of edition, city and name of publisher, year of publication, first and last page of the chapter. Ex: Phillips SJ, Whisnant JP. Hypertension and stroke. In: Laragh JH, Brenner BM, editors. Hypertension: pathophysiology, diagnosis, and management. 2nd ed. New York: Raven Press; 1995. p. 465-78. c) Book: author(s), title of book, number of edition, city and name of publisher, year of publication, page. Ex: Jenkins PF. Making sense of the chest x-ray: a hands-on guide. 2nd. London: Taylor & Francis; 2013. p. 120. d) Online reference: Journal article on the Internet: Ex.: Jeha G, Kirkland J. Etiology of hypocalcemia in infants and children. January, 2010. (Accessed 8 May 2013). Available at: http://www.uptodate.com. TABLES AND FIGURES - All illustrations should be in digital format of high quality. - Each table and figure should be numbered in sequence, by Arabic numerals, in the order in which they are referenced in the text. They should each have their own page and bear an explanatory title and caption when necessary. - All abbreviations and symbols need a caption. - If the illustration has appeared in or has been adapted from copyrighted material, include full credit to the original source in the legend and provide an authorization if necessary. - Any patient photograph or complementary exam should have patients’ identities obscured and publication should have been authorized by the patient or legal guardian. - The total number of figures or tables must not exceed eight for original articles and five for case reports. Figures or tables in colour, or those in excess of the specified numbers, will be published at the authors’ expense in the paper version. ACKNOWLEDGMENTS AND CLARIFICATIONS The acknowledgments and the conflict of interests must be published at the last page. All authors are required to disclose all potential conflicts of interest. All financial and material support for the research and the work should be clearly and completely identified in an Acknowledgment section of the manuscript. MODIFICATIONS AND REVISIONS If the paper is accepted subject to modifications, these must be submitted within fifteen days of notification. Proof copies will be sent to the authors in electronic form together with an indication of the time limit for revisions, which will depend on the Journal’s publishing schedule. Failure to comply with this deadline will mean that the authors’ revisions may not be accepted, any further revisions being carried out by the Journal’s staff. LETTERS TO THE EDITOR Letters to the Editor should be a comment to scientific manuscript or a small note about an important new clinical practice. A letter should not exceed 500 words and have a maximum of 5 references. FORM OF MANUSCRIPTS Abstract Article Original articles Case Reports Review articles Letters to the Editor 280 Maximum words 250 150 250 Sections Keywords (Portuguese and English) Text Maximum words (excluding References and Tables) Sections Tables and Figures References Maximum Maximum 8 40 . Background . Methods . Results . Conclusions 3 a 10 5000 . Introduction/Aim . Methods . Results . Discussion . Conclusions . Introduction . Case report . Discussion/ Conclusions 3 a 10 2500 . Introduction (short) . Clinical Case . Discussion (including conclusions) 5 15 3 a 10 5000 . Introduction . Methods . Main text . Discussion (including conclusions) 8 80 _ 500 _ 5 . Introduction . Aim . Results . Conclusions _ normas de publicação instructions for authors _ _ " " !LGÏ !LG S0 0ORTU RTUGGAL GAL A s4E s LEFO EF NE NE s &AX & s#2#,X #OO TRIB #ON RIBUINT IN EN E N s# #AP A 3OCIIAL € #ØD #Ø #ØD ØD OS ESPECIALISTAS APROVAM... INFORMAÇÕES ESSENCIAIS COMPATÍVEIS COM O RCM: UL-250, 250 mg, cápsula e pó para suspensão oral. Cada saqueta/cápsula contém 250 mg de células liofilizadas de Saccharomyces boulardii. Indicações terapêuticas: Indicado, como normalizador da flora intestinal e antidiarreico microrgânico, nas situações em que existam alterações do ecossistema intestinal, designadamente: diarreias a rotavírus em crianças. Quando é possível determinar o agente etiológico e para o qual exista terapêutica específica, UL-250 como regularizador da flora intestinal, constituirá um adjuvante sintomático no tratamento da diarreia em associação com reidratação. O nível de reidratação com soluções orais ou intravenosas deve ser ajustada à gravidade da diarreia, idade e características especiais do doente (doenças concomitantes). Não indicado em crianças com idade inferior a 3 meses. Posologia e modo de administração: 1 cápsula ou 1 saqueta, 3 vezes por dia. Modo de administração: Pó para suspensão oral: Crianças com idade superior a 2 anos: Deitar o conteúdo de uma saqueta num copo de água ou de sumo de fruta. Lactentes (3 a 24 meses): Abrir a saqueta e misturar o pó no conteúdo do biberão, agitando bem. Cápsulas: Crianças com idade igual ou superior a 6 anos: Engolir a cápsula sem trincar, com um pouco de líquido. Lactentes (3 a 24meses) e crianças com idade inferior a 6 anos: Abrir a cápsula e misturar o pó no conteúdo do biberão, agitando bem. Contraindicações: Hipersensibilidade à substância ativa ou a qualquer dos excipientes. Doentes com catéter venoso central. Advertências e precauções especiais de utilização,Z[LTLKPJHTLU[VUqVKL]LZLY\[PSPaHKVJVTSxX\PKVZSL]HKVZH[LTWLYH[\YHZZ\WLYPVYLZH¢*8\HUKVWYLZJYP[VJVT\T TLKPJHTLU[VHU[PMUNPJVVYHSV\ZPZ[tTPJVWVKL]LYKPTPU\xKHHZ\HHsqV:HJJOHYVT`JLZIV\SHYKPPMVPHZZVJPHKVHVYPZJVKLM\UNtTPHZ,TJYPHUsHZLU[YLVZLVZHUVZKLPKHKLHYLPKYH[HsqV VYHStLZZLUJPHSUV[YH[HTLU[VKHKPHYYLPHHN\KH,TJHZVZNYH]LZLJVT]}TP[VZHZZVJPHKVZWVKLZLYULJLZZmYPVYLPKYH[HsqVPU[YH]LUVZH,Z[LTLKPJHTLU[VJVU[tTSHJ[VZLWLSVX\LKVLU[LZJVT WYVISLTHZOLYLKP[mYPVZYHYVZKLPU[VSLYoUJPHnNHSHJ[VZLKLMPJPvUJPHKLSHJ[HZLV\THSHIZVYsqVKLNS\JVZLNHSHJ[VZLUqVKL]LT[VTHY<3<3JmWZ\SHZJVU[tTZHJHYVZLWLSVX\LKVLU[LZ JVTWYVISLTHZOLYLKP[mYPVZYHYVZKLPU[VSLYoUJPHnMY\[VZLTHSHIZVYsqVKLNS\JVZLNHSHJ[VZLV\PUZ\MPJPvUJPHKHZHJHYHZLPZVTHS[HZLUqVVKL]LT[VTHY<3W}WHYHZ\ZWLUZqVVYHSJVU[tT frutose, pelo que doentes com problemas hereditários raros de intolerância à frutose não o devem tomar. Interações medicamentosas e outras formas de interação: Diminuição da sua ação quando é prescrito em associação com um medicamento antifúngico oral ou sistémico. Efeitos indesejáveis: Raros: fungémias. Reações de intolerância, principalmente na forma de prurido, pápulas (urticária, erupções, rash), rash cutâneo (localizado ou distribuído por todo o corpo: exantema local ou generalizado). Flatulência. Muito raros: reações alérgicas (pode ocorrer edema de Quincke). Titular da autorização de introdução no mercado:4LYJR:(,KPMxJPV+<64PYHMSVYLZ(SHTLKH-LYUqV3VWLZU¢¢) (SNtZ+H[HKHYL]PZqVKV[L_[V!Medicamento sujeito a receita médica. Escalão de comparticipação: C. Para mais informação deverá contactar o Titular de AIM. (1) GUARINO ET ALL; Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition 46:S81-S184 © 2008 I`,\YVWLHU:VJPL[`MVY7LKPH[YPJ.HZ[YVLU[LYVSVN`/LWH[VSVN`HUK5\[YP[PVUHUK5VY[O(TLYPJHU:VJPL[`MVY7LKPH[YPJ.HZ[YVLU[LYVSVN`/LWH[VSVN`HUK5\[YP[PVU:aHQL^ZRH/:RVYRH((SPTLU[7OHYTHJVS;OLY :^PKZPUZRP(L[HS)PVZ[Y\J[\YLVMMLJHSTPJYVIPV[HPUOLHS[O`Z\IQLJ[ZHUKWH[PLU[Z^P[OJOYVUPJPKPVWH[OPJKPHYYOLH.HZ[YVLU[LYVSVN`"! )LYNVNUL)LYLaPU,0TWHJ[LJVSVNPX\LKLS»HU[PIPV[OLYHWPL 7SHJLKLZTPJYVVYNHUPZTLZKLZ\IZ[P[\[PVUKHUZSLJVU[YVSLKLZKPHYYOLLZL[JVSP[LZHZZVJPLLZH\_HU[PIPV[PX\LZ7YLZZL4LK "!)\[Z17L[HS+PNLZ[P]L+PZLHZLZ(UK:JPLUJLZ "! Merck Serono é uma divisão da Merck.