Relatório de estágio - Projeto Ariranhas do Pantanal

Transcrição

Relatório de estágio - Projeto Ariranhas do Pantanal
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
Wildlife Conservation Society
Sociedade Civil Mamirauá
Centro de Conservação do Pantanal
Projeto Ariranhas do Pantanal
Relatório de estágio
Tarsila Ferreira Seara
Miranda, 2005
SUMÁRIO
Resumo
3
Introdução
4
Objetivo geral
6
Trabalho realizado em campo
7
Trabalho realizado em laboratório
17
Conclusão
21
Anexos
23
Referências bibliográficas
43
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RESUMO
Este relatório foi produzido como parte das atividades do estágio voluntário realizado no Projeto Ariranhas do Pantanal, do Centro de Conservação do Pantanal,
localizado na Fazenda Sete Pantanal Miranda-Aquidauana, município de Miranda (MS), de abril a junho de 2005. O projeto tem como principal objetivo o
monitoramento das populações de ariranhas da região, para o levantamento de
dados relevantes para a conservação da Pteronura brasiliensis.
O estágio consistiu no desenvolvimento de dois tipos de atividade, sob orientação da Dra. Miriam Marmontel, coordenadora do projeto. Em primeiro lugar, o
trabalho em campo nas áreas de estudo do projeto, incluindo expedições aos
rios Aquidauana, Miranda e corixos como Garrafa, Carrapatinho e Touro Morto.
As atividades desenvolvidas em campo têm como objetivo o melhor entendimento do comportamento e da biologia dos animais e de sua distribuição territorial. Esse trabalho, além da documentação, também proporciona um meio de
coleta de materiais importantes para a realização de investigações em laborário.
Em segundo lugar, foram realizadas atividades de processamento no laboratório
dos dados coletados em campo, para o entendimento de diversos aspectos relacionados à biologia das ariranhas. O processamento consistiu no trabalho com
fezes coletadas para o estudo da dieta dos animais, com a documentação escrita e com o resultado de filmagens realizadas.
Além disso, foram desenvolvidas atividades paralelas envolvendo o estudo da
espécie alvo do projeto e do ambiente em que se insere, assim como sua relação
com a comunidade local.
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INTRODUÇÃO
A Pteronura brasiliensis (Gmelin, 1788) é um mamífero de hábitos semi-aquáticos, diurno e social, da família dos mustelídeos. É a maior lontra de rio existente.
Segundo Duplaix, machos adultos atingem comprimento de 1,5 a 1,8m e pesam
de 26 a 32kg. As fêmeas, um pouco menores, medem de 1,5 a 1,7m e são mais
leves pesando em média de 22 a 26kg. Essas medidas, no entanto, chegam a até
2,4m em relatos sobre o comprimento de peles de animais caçados no Brasil.
As ariranhas, como são conhecidas no Brasil, possuem corpo fusiforme e longa
cauda que se torna achatada dorsoventralmente da metade para a extremidade
distal. As patas são relativamente grandes, e uma das muitas adaptações que
fazem desses animais exímios nadadores. Possuem olhos muito grandes e orelhas pequenas e redondas. Seu pêlo, curto, é marrom escuro e geralmente possui manchas brancas na região anterior do pescoço. Tais manchas podem ser
poucas e discretas ou formar uma grande área branca. Essa é uma característica
de extrema importância para o trabalho de identificação, uma vez que são
específicas para cada indivíduo, como uma impressão digital.
As ariranhas vivem em grupos que podem chegar a ter um pouco mais de dez
indivíduos e são compostos por um casal reprodutivo e prole de até dois anos
anteriores. Indivíduos solitários encontrados são, em sua maioria, sub adultos
que se desligam do grupo para iniciar nova família. O comportamento social dos
animais pode ser observado na realização de atividades em conjunto, como a
pesca e o uso de latrinas. As ariranhas são territorialistas e especificam seu território com patrulhas, marcações em barrancos e com o odor de suas fezes e
urina que são espalhadas no local onde se encontram as latrinas. Não é raro
haver brigas entre diferentes grupos por território. As latrinas, muitas vezes,
estão associadas às locas onde dormem os animais. As locas, buracos cavados
nos barrancos, podem ser bem extensos com mais de uma entrada e diversos
respiradouros. Em seu interior a prole é concebida e protegida. Ariranhas também possuem a peculiaridade de uma vocalização bastante característica e que
pode ser relacionada a diversos tipos de comportamento. Podem ser considera-
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dos animais muito curiosos e possuem comportamento investigativo, como
periscopar quando algo diferente se aproxima.
A distribuição da P. brasiliensis é originalmente extensa e se dava em rios e
corixos no Suriname, no centro-sul da Venezuela, no sul e leste da Colômbia, no
oeste do Equador, no leste do Peru, no centro-norte e leste da Bolívia, no norte
da Argentina, em quase todo o Paraguai, Uruguai e Brasil (exceto na região do
semi-árido da caatinga). Atualmente, essa distribuição está modificada e seriamente ameaçada devido à situação de alto risco de extinção em que se encontram as ariranhas. No Brasil, elas encontram-se oficialmente listadas e incluídas
no apêndice I da CITES (Convenção Internacional sobre o Comércio das Espécies
da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção), além de serem classificadas
como vulneráveis pela IUCN.
No Brasil, a P. brasiliensis não é encontrada em regiões fora da Amazônia e do
Pantanal. Mesmo nessas regiões, as informações sobre distribuição e abundância da espécie estão sendo ainda estudadas e não são totalmente conhecidas.
A maior causa da diminuição das populações de ariranhas foi o esforço de caça
pela comercialização de sua pele, que ocorreu intensamente nas décadas de
1960 e 1970 e que ocorre, em menor escala, até hoje. Atualmente, as principais
e mais preocupantes ameaças à conservação da espécie são a destruição de seu
habitat através da poluição dos rios, desmatamento da vegetação das margens
e assoreamento dos rios, além de possíveis conflitos com populações ribeirinhas
e o turismo mal intencionado.
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OBJETIVO GERAL
O trabalho de estágio no Projeto Ariranhas do Pantanal tem como objetivo o
estudo da distribuição e monitoramento das populações de ariranhas na região
das áreas em estudo, assim como todo o tipo de atividade que leve ao levantamento de dados importantes para a conservação da Pteronura brasiliensis.
Esses dados coletados poderão ser utilizados no futuro, na obtenção de mapas
de distribuição das populações de ariranhas e, juntamente com a investigação
de outros fatores importantes da biologia desses animais e da sua relação com
o meio em que se inserem, contribuir para que sejam adotadas as melhores técnicas de manejo para conservação da espécie.
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TRABALHO REALIZADO EM CAMPO
O trabalho de campo consiste no monitoramento e levantamento distribucional
de populações de Pteronura brasiliensis, além de ser um importante meio para
coleta de material biológico. É realizado percorrendo rios e corixos nas áreas de
estudo, com a utilização de um barco de alumínio com motor de popa de 15 ou
30hp, em baixa velocidade (em torno de 10km/h). Nesse percurso, busca-se indícios das ariranhas como latrinas, locas e marcações em barranco, assim como o
contato visual com os grupos.
Os indícios, quando encontrados, são georeferenciados em coordenadas UTM
com o auxilio de um aparelho de GPS e devidamente registrados em cadernos de
campo com data e hora da localização. Registros fotográficos dos indícios são
feitos com uma câmera digital. Os locais são submetidos a medições de profundidade e transparência da água e da distância entre as margens. Essas medidas
são realizadas com auxílio de uma corda com peso, um disco de Secchi e um distanciômetro, respectivamente.
Quando o indício é uma latrina, é realizada também a coleta de fezes. A coleta é
feita com o auxilio de uma colher. As fezes, quando secas, são armazenadas em
sacos plásticos tipo ziploc e, quando frescas, em potes plásticos com conservante álcool 70%. Em latrinas de uso recente, geralmente são coletados muco e,
muitas vezes, tecidos brandos armazenados em potes plásticos contendo álcool
70% e formol 10%. Latrinas e locas são também medidas com o auxilio de uma
trena ou fita métrica.
Além desses procedimentos, é feita breve descrição por escrito do local onde são
encontrados os indícios, com detalhes da vegetação presente e outras características, para posterior armazenamento de informações.
Quando uma avistagem é feita, a coordenada do local é registrada no caderno de
campo e inicia-se o registro visual com a utilização de uma vídeo-camêra digital
com o objetivo de se obter imagens para identificação dos animais e para o
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banco de dados do projeto. O comportamento dos animais durante o contato
visual é registrado de forma escrita, além de informações importantes como
horário e tempo de avistagem. Para facilitar a observação, um binóculo fica à disposição, sendo utilizado quando necessário.
Todos os registros feitos em campo são armazenados em planilhas de indícios e
avistagem e as informações são anotadas no diário do estagiário. Esse trabalho
é feito em laboratório e consiste na organização dos dados, que poderão ser utilizados como fonte de pesquisa, sempre que necessário.
Fotos e dados sobre o equipamento utilizado em campo estão incluídos nos
anexos 4 e 5 nas páginas 27, 28 e 29.
Áreas em estudo
As áreas em estudo no projeto, onde são realizadas as atividades de campo,
estão situadas na região do Pantanal do Mato Grosso do Sul e compreendem
rios e corixos desse território.
Um dos locais de monitoramento mais constante é o corixo Touro Morto, localizado no interior das terras da Fazenda Sete, sede do Centro de Conservação do
Pantanal. Sua extensão é de 20km e está compreendido entre os pontos
0537297/7812292 (coordenadas UTM).
O trabalho de campo se extendeu também aos rios Aquidauana, Miranda e
corixos como Garrafa e Carrapatinho. O trabalho feito nessas áreas foi dividido
em duas expedições de 4 e 7 dias.
Monitoramento de ariranhas no corixo Touro Morto
No corixo Touro Morto foi feita a maior parte das atividades de campo do estágio. Os grupos de ariranhas desse local são constantemente monitorados e
diversos já foram identificados.
Na época das cheias no Pantanal, o trabalho de monitoramento é dificultado,
pois as ariranhas tendem a se espalhar pela área alagada, não se concentrando
em rios e corixos que muitas vezes perdem sua forma original. Com o corixo
Touro Morto não é diferente.
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A época de cheia se dá no período entre os meses de dezembro e março. O início desse estágio coincidiu com o início do período de vazante e com o recomeço
da atividade de monitoramento. Portanto, não havia informações recentes sobre
os grupos de ariranhas que estariam ocupando o corixo.
Na primeira ida ao campo, dia 10 de abril, não foi encontrado nenhum indivíduo
e somente um indício, mais precisamente uma latrina, foi registado. No dia 14 de
abril, foram registrados vários indícios e foi feita a avistagem de 2 indivíduos. A
avistagem foi curta, os indivíduos não periscoparam e pareceram se assustar.
Saíram logo de vista, possivelmente se abrigando em uma baía adjacente.
Durante expedição do início do mês de maio, em que foram coletados muitos
registros de indícios e material biológico, foi avistado um indivíduo pescando na
barra do corixo com o rio Aquidauana. Era o dia 2 de maio e a avistagem foi igualmente breve, com o indivíduo desaparecendo, provavelmente se refugiando na
vegetação e atingindo uma baía. O trabalho de monitoramento mais constante
se deu nos dias 7, 9, 10 e 11 de maio, quando, com a diminuição do nível da água,
um grupo começou a ocupar o corixo.
A primeira avistagem, no dia 7, foi breve e não pudemos identificar o grupo que
possuía 4 indivíduos. Eles periscoparam ao perceber nossa presença e foram vistos nadando uma grande extensão, em nado rápido, como “golfinhos”.
Ao voltarmos ao corixo no dia 9, encontramos novamente o grupo e, dessa vez,
com mais sucesso, passamos todo o dia monitorando-os. Pudemos observar
atividades como a pesca, o descanso sob sarã, a patrulha de território e movimentos investigativos. Dada a extensão do corixo percorrida pelos indivíduos e
a falta de indícios presentes nas margens, acreditamos ser o único grupo a ocupar território no Touro Morto, até aquele momento. Durante o dia, captamos imagens satisfatórias para a identificação e localizamos a loca que estavam utilizando para passar a noite. A loca se encontra sob vegetação abundante e não pode
ser visualizada facilmente. O odor de fezes indicou que estava associada a uma
latrina.
Com base nos registros do dia anterior, fomos novamente a campo no dia 10,
desta vez com equipamento para passarmos a noite no rancho que há no corixo.
Durante esses dois dias, conseguimos avistar o grupo que estávamos monitorando e pudemos identificá-lo. Obtivemos imagens para registro dessa identificação e nomeamos os quatro indivíduos como Branca, Barbado, Unlado e
Bigode.
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Nesses dois últimos dias tivemos mais dificuldades para realizar o monitoramento, devido à capacidade do grupo de nos despistar. Diversas vezes, ao seguir um
dos indivíduos, que chamava mais a atenção, perdíamos contato visual e quando voltávamos a encontrá-los, estavam em direção oposta àquela que tinhamos
seguido. Nos momentos que pudemos avistá-los, observamos atividades de
pesca, patrulha e movimentos investigativos em resposta à nossa presença.
Observamos o grupo ao longo de grande extensão do corixo, reforçando a suspeita de que seriam o único grupo a ocupá-lo.
Percebemos que o grupo passava grande parte do seu tempo em atividades de
descanso sob a vegetação, permanecendo dessa forma por horas. Nesses
momentos ouvíamos muitas vocalizações de conforto (ronronar).
Ficamos cerca de 20 dias afastados do campo por motivo de viagem de integrantes da equipe e condições climáticas desfavoráveis. Voltamos ao Touro
Morto no dia 1º de junho, durante a segunda expedição realizada no período de
estágio. Constatamos grande diminuição do nível da água no corixo, que já possuia trechos bastante rasos.
Nesse dia não conseguimos avistar o grupo que estávamos monitorando no início do mês e não obtivemos registros de que estivessem ocupando recentemente o corixo. Fizemos coleta de fezes secas em latrinas que nos parecem
terem sido utilizadas durante o tempo em que estivemos afastados, porém não
coletamos nenhuma amostra fresca.
Como estávamos em atividade de levantamento populacional durante a expedição, percorremos o corixo rapidamente e não pudemos aguardar em frente à
loca que estavam utilizando para passar a noite durante o período de monitoramento mais intenso, para nos certificar de que ainda estavam utilizando o território.
Voltamos novamente ao Touro Morto no dia 16 de junho. Foi constatado um
aumento significativo do nível da água do corixo. Nesse dia foram encontrados
alguns indícios recentes, indicando que a utilização pelo grupo que estávamos
monitorando, está sendo freqüente. Foi feita uma avistagem rápida de dois indivíduos desse grupo que periscoparam para nos investigar debaixo de um sarã.
Obtivemos novo contato visual com esse grupo de ariranhas no dia 18 de junho,
quando pudemos passar duas horas monitorando-o. A avistagem feita nesse dia
reforçou o fato de que o comportamento dos animais diante de nossa presença
é fugir com o intuito de nos fazer perdê-los de vista. Foi constatado também que
um dos indivíduos do grupo, anteriormente de quatro indivíduos, se separou, e
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a avistagem nesse dia foi de apenas três deles. Encontramos muitos indícios de
utilização recente em grande extensão do corixo.
Após esses dias de monitoramento do grupo, acreditamos que seu comportamento é bastante peculiar, uma vez que, ao invés de se tornarem de fácil monitoramento com o passar dos dias, tornaram-se mais eficientes em nos fazer
perder contato visual.
O monitoramento do corixo Touro Morto no período do meu estágio foi satisfatório, resultando em grande quantidade de dados coletados. Apesar de não
terem sido feitas muitas avistagens, tive a oportunidade de poder monitorar um
grupo de ariranhas que utilizava exclusivamente o corixo, mesmo não sendo um
grupo muito fácil de trabalhar.
Levantamento distribucional de populações de ariranhas
O trabalho de campo realizado no período de estágio, se extendeu a outras áreas
como os rios Aquidauana, Miranda e os corixos Garrafa e Carrapatinho.
Nessas áreas, o trabalho foi realizado em duas pequenas expedições, durante as
quais pernoitamos acampados em pontos de apoio, como fazendas e portos ao
longo dos rios. Consistiu no levantamento distribucional de populações de ariranhas, adotando-se metodologia semelhante às relatadas anteriormente, com a
diferença de que foi estipulado o tempo de apenas 10 minutos de monitoramento para cada avistagem.
A primeira dessas expedições foi realizada por mim, com o auxílio de um piloteiro, durante os quatro primeiros dias do mês de maio. Foram percorridos
cerca de 300km do rio Aquidauana, cobrindo até 130km rio acima, a partir da foz
do Aquidauana com o corixo Touro Morto. Foram também percorridos os corixos
Touro Morto e Garrafa.
Durante os quatro dias de expedição, foram registrados diversos indícios de ariranhas ao longo do percurso, com exceção do corixo Garrafa, onde nenhum
vestígio foi encontrado. Entre os indícios destacam-se latrinas e locas, de uso
recente ou não, e marcações em barranco. Foi realizada coleta de material
biológico incluindo fezes secas e frescas, muco, tecidos brandos e ossos.
Numa das latrinas de uso recente do Touro Morto, visitada durante a expedição,
foram coletados ossos de ariranha adulta e tecido brando não identificado. O
tecido se encontrava em meio a fezes frescas e tinha aparência sanguinolenta,
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de cor vermelho vivo. Possuia formato cilíndrico, com uma das extremidades
mais espessa do que a outra. Media cerca de 5cm e foi coletado e armazenado
em formol 10% para posterior análise laboratorial.
Durante a expedição houve apenas o registro de avistagem de um indivíduo em
atividade de pesca na foz do Touro Morto com o rio Aquidauana. Nesse momento também pode ser ouvida a vocalização de, possivelmente, um filhote em meio
à vegetação da margem direita do corixo. O número reduzido de avistagens se
deu, provavelmente, pelo nível elevado da água devido a ação das chuvas.
Quando o rio se encontra cheio, as ariranhas tendem a procurar baías adjacentes
onde a pesca se torna mais fácil.
A segunda expedição foi realizada no período de 29 de maio a 3 de junho, desta
vez, com a participação de Carolina Vargas, médica veterinária e estagiária voluntária do CCP.
O objetivo da expedição era realizar o levantamento das populações de ariranhas ao longo dos rios Aquidauana e Miranda, incluindo também o monitoramento nas áreas visitadas na expedição anterior e no corixo Touro Morto. O
ponto de partida da expedição foi a ponte Nova no rio Aquidauana, região situada em meio à cidade. Levamos cinco dias para descer o rio Aquidauana até a foz
com o rio Miranda, incluída uma passagem pelo corixo Touro Morto e algumas
baías que se encontram no trajeto.
Foram encontrados diversos indícios de ariranhas como locas, latrinas e marcações, com maior abundância nas regiões mais afastadas da cidade. Fizemos
avistagem de duas famílias, ambas com 3 indivíduos, e de um filhote que se
encontrava sozinho próximo à margem esquerda do rio. A literatura afirma que
filhotes de ariranhas não são deixados sozinhos. Nessa avistagem, constatamos
que existe a possibilidade de que isso aconteça. O indíviduo tinha idade muito
precoce, os olhos ainda fechados. Seu comportamento em nossa presença foi
vocalizar bastante, provavelmente chamando pelos pais, e tentar se afastar
subindo no barranco. Ele se mostrou bastante incomodado conosco.
Nosso procedimento foi nos afastarmos, aguardando para ver se os pais voltariam para buscá-lo. Depois de algum tempo, as vocalizações do filhote cessaram
e ouvimos algumas outras em meio à vegetação. Isso nos levou a acreditar que
os pais carregaram consigo a cria para o local onde estavam realizando suas
atividades, provavelmente uma baía associada. O filhote se encontrava muito
próximo a uma latrina de uso bastante recente, que havia nos feito parar antes
de perceber sua presença.
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No trecho do rio Aquidauana percorrido durante a primeira expedição, foi realizado monitoramento das locas e latrinas que haviam sido registradas naquela
ocasião. Nesse monitoramento, feito no dia 30 de maio, foi constatada a utilização, ainda recente, de uma das locas com latrina, onde foi feita a avistagem de
um dos grupos de três indivíduos, em atividade de grooming. Uma loca com latrina que havia sido registrada como de uso recente em 4 de maio, encontravase sem utilização recente. Três das latrinas que haviam sido registradas como
sem uso recente na primeira expedição ainda encontram-se na mesma situação
e uma latrina que havia sido registrada como sem uso recente foi reativada apresentando muitas fezes frescas e poças de urina.
Após percorrermos 400km do rio Aquidauana e do corixo Touro Morto, iniciamos
a subida do rio Miranda. Nesse trecho foram percorridos 162km. Encontramos
poucos indicíos e fizemos uma rápida avistagem de um grupo de quatro indivíduos descendo o rio, em atividade não identificada. É importante ressaltar que,
durante esse período, os rios se encontravam com o nível da água bastante
aumentado devido a chuvas recentes, o que diminui a probabilidade de avistagens de famílias de ariranhas.
Foram encontrados, próximos a latrinas, muitos trilheiros utilizados por elas para
alcançarem baías adjacentes aos rios. Isso indica que estariam utilizando essas
áreas para pesca e passando grande parte do dia nesses locais.
Ao fim de sete dias de expedição, chegamos à cidade de Miranda, onde retiramos o barco da água. Voltamos à sede do projeto com grande quantidade de
material biológico (fezes secas, frescas e muco), além de registros fotográficos e
filmagens das avistagens e indícios.
Realização de entrevistas com pescadores para investigação
de possível conflito com ariranhas por sobreposição de nicho
Em alguns países da América do Sul, incluindo algumas regiões do Brasil, foi
relatada a existência de conflitos entre indivíduos da espécie Pteronura
brasiliensis e pescadores profissionais por sobreposição de nicho.
A sobreposição estaria baseada na captura das mesmas espécies alvo de peixes, por homens e por ariranhas, além da incompatibilidade entre ambos pela
utilização dos mesmos locais de pesca, devido à técnica indiscreta das ariranhas, que causa a fuga dos peixes e desagrada aos pescadores. Dessa forma, em
muitas dessas regiões, seriam utilizados meios para expulsar as ariranhas dos
locais de pesca, muitas vezes agredindo os animais ou até mesmo matando-os.
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Alguns estudos feitos na região do Pantanal Sul-Matogrossense constatam a
existência de conflitos na região. Os trabalhos apresentam dados que sugerem
haver desagrado por parte de pescadores com relação às ariranhas, porém não
revelam dados para uma avaliação quantitativa consistente de agressões e
mortes de animais por esse motivo.
Por ser um fator de extrema importância para a conservação da P. brasiliensis, a
possibilidade de conflito entre os animais e a população de pescadores ribeirinhos das áreas de atuação do projeto foi investigada através de entrevistas aplicadas aos pescadores.
As entrevistas tinham como objetivo, além de averiguar a possibilidade de conflito, obter informações sobre o ponto de vista dos pescadores ribeirinhos a
respeito dos impactos causados ao meio ambiente em que atuam, tanto por
fatores diversos relacionados ao meio em que é praticada a pesca, como em
relação à legislação, e o conhecimento sobre o animal alvo da pesquisa.
As entrevistas foram aplicadas em diferentes locais, a maioria delas nos rios
durante o trabalho de campo. Foram entrevistadas 32 pessoas. A partir da nona
entrevista, o questionário foi reformulado com o objetivo de atingir resultados
mais satisfatórios.
Grande parte da área de estudo do trabalho se sobrepõe à área percorrida na
expedição realizada entre os dias 28 de maio e 3 de junho, nos rios Miranda e
Aquidauana. Parte das entrevistas foram aplicadas na cidade de Miranda, principalmente em casas da região ribeirinha.
A recepção dos questionários pelos entrevistados foi boa, assim como a
aceitação e disposição de responder a todas as perguntas. Tivemos apenas quatro recusas.
Ao final dessa primeira etapa de entrevistas, não pode ser constatada a manifestação de conflito real entre os pescadores da área do estudo e as ariranhas que
habitam essas regiões. Poucos entrevistados demonstraram algum desagrado
em relação aos animais, apontando como causa a fuga de peixes causada pela
proximidade de ariranhas no local onde pescam. Mesmo nesses casos, não pode
ser percebida a disposição para confrontos e agresões por parte dessas pessoas.
Uma opinião muito presente nas respostas relacionadas à importância das ariranhas para a região, se destacou nas respostas ao questionário: o número de pessoas que apontam os animais como importantes para o turismo local foi considerável.
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Foi tratada também de forma bastante enfática a dificuldade que encontra o
pescador profissional atualmente para tirar seu sustento da pesca. As maiores
ameaças à atividade foram apontadas como sendo grandes impactos ao meio
ambiente, causando diminuição do número de peixes, e a pesca predatória realizada por grandes pesqueiros. Somado a isso e, muitas vezes, em consequência
disso, foi apontada a imposição de leis de pesca cada vez mais restritivas. As leis
citadas como mais prejudiciais são as que obrigam o fechamento do anzol de
galho (técnica utilizada para a pesca do pintado) e o aumento da medida dos
pacus liberados para a pesca. Os dois peixes talvez sejam, economicamente, os
mais importantes para a pesca na região do Pantanal.
Ao serem cruzados, os dados trazem à luz uma importante informação. Com as
dificuldades impostas à atividade da pesca e o incentivo crescente ao turismo,
há forte possibilidade de que pessoas que hoje vivem apenas da pesca, possam
vir a dividir sua fonte de renda com a atividade turística, como, por exemplo, o
trabalho de piloteiro. Isso já ocorre em pequena escala, mas ainda não representa um número muito significativo. A grande maioria dos entrevistados afirmaram
viver de renda integralmente obtida através da pesca. Não é possível saber,
porém, até que ponto essa informação está contaminada, devido à pressão exercida atualmente sobre os chamados “pescadores fantasmas”, pessoas que possuem carteira de profissional de pescador e, portanto, o direito de receber
seguro na época de pesca fechada, apesar de exercerem como principal fonte de
renda outra atividade profissional, o que os tornaria sujeitos à perda da carteira
profissional.
A possibilidade de aliar conservação do ambiente a uma atividade rentável como
o turismo, traz uma importante fonte de discussão. A partir do momento em que
se torna possível conciliar a atividade econômica a projetos como esses, a possibilidade de que se consiga incentivo e retorno da população para a causa da
preservação aumenta consideravelmente. No entanto, o turismo mal administrado, ou mal intencionado, pode vir a causar impactos irreversíveis em escala proporcional ao interesse econômico relacionado à atividade.
É muito importante, portanto, fazer um trabalho de conscientização das pessoas
envolvidas em todos essas atividades. É importante que o pescador saiba lidar
bem com essas questões, pois entre todos os envolvidos é aquele que possui
uma relação mais estreita com o ambiente. É importante trabalhar junto aos turistas, que, por não possuirem vínculos mais fortes com os lugares que visitam,
podem não saber agir no sentido da diminuição de impactos negativos que sua
presença pode causar. O turismo pode se tornar importante aliado dos projetos
de conservação de animais ameaçados, uma vez que seja introduzido com
cautela e com a prévia conscientização dos envolvidos na atividade.
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Com base nisso, foi proposta a aplicação do trabalho realizado com pescadores
profissionais aos pescadores turistas. As entrevistas seriam aplicadas no ambiente do rio, adotando-se metodologia semelhante à adotada para os pescadores
profissionais, durante a temporada de pesca turística no mês de julho. O objetivo principal do trabalho será investigar a relação do turista com o meio ambiente, as pessoas e os animais que habitam a região.
Outra proposta de trabalho bastante importante para os objetivos desse estudo
é a realização de reuniões com os pescadores das áreas de atuação, para a
exposição e discussão das informações coletadas. É importante, também, o
desenvolvimento de ações de educação ambiental junto à população.
A investigação de conflitos entre pescadores profissionais e ariranhas continuará a ser feita na região do projeto, com a finalidade de aumentar a abrangência dos dados. Futuramente, esse trabalho poderá ser aplicado a outras regiões
do Pantanal, para a obtenção de dados comparativos que possam complementar o projeto.
Os dados coletados serão cruzados com os resultados do estudo de dieta de ariranhas, que encontra-se em andamento no projeto Ariranhas do Pantanal, para
se ter evidências concretas sobre a existência ou não de sobreposição de nicho.
Além disso, as informações obtidas nesse primeiro levantamento, assim como
as que deverão ser coletados em pesquisas futuras, serão analisados estatisticamente e irão servir de fonte para um estudo mais elaborado.
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TRABALHO REALIZADO EM LABORATÓRIO
O trabalho que é realizado no ambiente de laboratório durante o estágio no projeto, em sua grande maioria, é uma complementação e organização de dados
coletados nas atividades de campo.
Todos os registros que são feitos em cadernos de campo são posteriormente
organizados em planilhas do Microsoft Excel e no diário do estagiário, que tem
como objetivo registrar todas as atividades realizadas no período de trabalho
para o projeto.
São realizadas também atividades de organização da coleção de fezes de ariranhas do CCP para armazenamento em caixas destinadas a esse fim. Foi proposta, durante o período do dado estágio, a criação de um controle numérico para
facilitar a confecção das etiquetas e posterior consulta.
A coleção de fezes é constituída por fezes secas, frescas e muco. As fezes secas
são armazenadas com o intuito de se analizar a composição da dieta de
Pteronura brasiliensis baseada na identificação de partes duras de peixes. Para
que esse trabalho possa se realizar, as fezes devem ser triadas, ou seja, as
partes de peixes devem ser separadas por tipo em diferentes potes para facilitar
sua identificação.
Após a lavagem das fezes em água corrente com o auxílio de um coador e potes
plásticos para deixá-las de molho, elas são postas para secar. Quando já estão
secas, o processo de triagem pode ter início. Esse processo é realizado manualmente com o auxilio de uma pinça. As fezes são postas em bacias plásticas
medindo 27 X 19 X 6cm e são separadas em potes plásticos de filme fotográfico
ou em sacos plásticos tipo ziploc.
O trabalho de identificação propriamente dito, deverá ter início em breve, apoiado pela aquisição recente de uma lupa . Vem sendo feita também uma coleção
ictiológica para consulta e identificação de grupos de peixes.
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Durante o período de estágio, foram triadas por mim cinco amostras de fezes
secas coletadas em diferentes locais, sendo uma no rio Mondego, duas no rio
Salobra, uma no corixo Carrapatinho e uma no rio Aquidauana.
As amostras de fezes frescas e muco, assim como tecidos brandos, são parte
constituinte da coleção do projeto ariranha e são armazenadas para que, posteriormente, sejam analisadas em laboratório para investigação genética e
histopatológica.
No laboratório também são feitas pesquisas importantes para o trabalho, com
acesso a grande quantidade de livros e artigos para consulta. Outras atividades
são também realizadas em laboratório, como a necropsia de animais encontrados mortos nos arredores da fazenda, para investigação de causa mortis e produção escrita, tanto para melhoria dos métodos de armazenamento de dados do
projeto como para publicações.
Necropsia em Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)
O Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766), conhecido no Pantanal como lobinho, é um
mamífero da ordem Carnivora e família dos canídeos. De hábitos crepusculares
e noturnos, podem ser observados como indivíduos solitários ou em casais.
Alimentam-se de pequenos vertebrados (roedores, rãs e répteis), invertebrados
(insetos e caranguejos) e frutas. Sua distribuição se dá por quase toda a América
do Sul, incluindo a Amazônia colombiana, Venezuela, Guianas, Brasil, Bolívia,
Paraguai, Argentina e Uruguai.
No dia 13 de abril de 2005, no CCP, foi realizada a necropsia em um indivíduo da
espécie C. thous, encontrado morto na estrada que liga a cidade de Miranda à
Fazenda Sete.
A necropsia foi realizada com o objetivo de se investigar a possível causa da
morte do animal. Foram realizadas coletas de tecidos para investigação laboratorial histopatológica e de DNA.
Os tecidos retirados para análise laboratorial foram: pulmão e fígado conservados em formol 10%; fígado e coração conservados em álcool 100%; ceco com
parasito, intestino com parasito e sem parasito (removido) conservados em formol 10%; parasito intestinal conservado em álcool 70% e conteúdo estomacal
conservado em álcool 70%.
relatório de estágio
19
Alguns dos tecidos possuíam cor e consistência duvidosas e foram coletados
para análise da possível causa das alterações.
O conteúdo estomacal revelou, a princípio, partes de pequenos vertebrados
(anfíbio anuro) e frutas.
A causa da morte do indivíduo não pode ser determinada com base apenas na
necropsia. O corpo do animal foi enterrado em saco de tela para posterior coleta dos ossos. A pele foi extraída e seca para, juntamente com os ossos, integrar
o acervo do laboratório do CCP.
Organização de fitas de campo
A produção de fitas com imagens da Pteronura brasiliensis em seu ambiente natural é de extrema importância para o trabalho de conservação realizado no CCP.
As imagens permitem a identificação dos indivíduos e constituem acervo para
trabalhos de pesquisa posteriores.
Durante o período de estágio, realizei o trabalho de organização de fitas contendo filmagens de campo produzidas em estágios anteriores, assim como
aquelas produzidas durante o meu.
O trabalho de organização tem como objetivo facilitar a formação de um banco
de dados de imagens de P. brasiliensis em ambiente natural e consistiu na criação de um padrão de roteiros a ser incluído no interior das caixas das fitas, com
breve descrição de cenas nelas gravadas e sua relação com o tempo marcado no
canto inferior esquerdo da imagem durante a exibição.
Foram classificadas um total de 11 fitas, sendo 5 produzidas por Sandra Romeiro,
1 por Danielle Lima, 1 por Danielle Lima e Carolina Vargas, 1 por Carolina Vargas
e 3 por Tarsila Seara e Carolina Vargas. Um exemplo de roteiro está incluído no
anexo 11 da página 40.
Preparo de relato para publicação no boletim Friends of the Giant Otter
No mês de maio, Jessica Groenendijk, presidente do grupo de especialistas em
Pteronura brasiliensis da IUCN, solicitou artigos para o boletim Friends of the
Giant Otter a diversos especialistas no estudo das ariranhas, entre os quais
Miriam Marmontel, coordenadora do Projeto Ariranhas do Pantanal .
relatório de estágio
20
Foi produzido um relato sobre aborto seguido de consumo dos fetos em P.
brasiliensis de vida livre, constatado por Carolina Vargas e Camila Penter em outubro de 2004, após serem encontrados, em fezes de ariranha, fragmentos de
indivíduos da mesma espécie em estágio precoce de desenvolvimento. O relato,
que encontra-se no Anexo 12 da página 41, foi publicado no número 12 do
Friends of the Giant Otter , edição de maio de 2005.
relatório de estágio
21
CONCLUSÃO
Meu estágio no Projeto Ariranhas do Pantanal foi extremamente satisfatório,
tanto no que diz respeito a aspectos da formação profissional, quanto no do
preparo pessoal para o campo de atuação a que pretendo me dedicar como
bióloga. A intenção de trabalhar com a conservação de biodiversidade sempre
foi muito clara para mim. O estágio me ofereceu a possibilidade de trazer essa
vontade para a prática, transformando a intenção em meta. Foi minha primeira
experiência de trabalho de campo e pesquisa com animais de vida livre, trazendo conhecimentos não só a respeito da biologia do animal estudado, como de
parte do Pantanal, além de ter sido muito importante para o entendimento do
funcionamento de um centro de pesquisas.
Todo o trabalho realizado durante os três meses de estágio foi bastante esclarecedor a respeito da situação delicada em que se encontra um dos mais importantes ecossistemas brasileiros e os seres vivos que nele se encontram. Os
impactos provocados pelo homem e sua relação com eles, nos leva a perceber
que o trabalho que objetiva conservar a biodiversidade deve ser aliado a atividades que integrem as comunidades locais a atividades economicamente rentáveis, como o turismo, com o objetivo de torná-las aliadas à causa ambiental,
antes de que se tornem apenas mais uma ameaça.
Ao trabalhar com animais aquáticos, nos relacionamos mais de perto com o
ambiente dos rios e, portanto, adquirimos mais conhecimento a respeito das
suas possibilidades e das ameaças que sofrem. Tive a oportunidade de conhecer
grande parte dos rios mais importantes da região e constatar que apresentam
claros indícios de impactos negativos da ação do homem como desmatamento,
assoreamento, poluição, retiradas sem controle das águas e despejo de venenos
de lavouras. Tudo isso reforça a necessidade de estudos de avaliação da situação de todos os componentes do ambiente, na tentativa de se conhecer mais a
respeito da biodiversidade que pode estar sendo perdida e o que fazer para tentar minimizar os danos já causados.
relatório de estágio
22
A proximidade com pescadores das regiões de atuação do projeto em trabalhos
de investigação de opinião e conflitos, reforçou a idéia de que o papel da comunidade em projetos que visam a integridade do meio ambiente em que está
inserida é indispensável, uma vez que as pessoas possuem relacionamento
estreito com o ambiente e necessitam diretamente dele para sua sobrevivência.
Também é importante ressaltar que a troca de informações com pessoas que
conhecem bem o ambiente pode ser de extrema ajuda na investigação de fatores
relacionados ao trabalho.
Projetos como o realizado no Centro de Conservação do Pantanal nos dão a
oportunidade de travar conhecimento com animais fascinantes como as ariranhas, além de conviver com pessoas que me proporcionaram uma experiência
de vida inesquecível no decorrer do trabalho.
Termino o estágio com a intenção de poder continuar colaborando com o projeto, ajudando a divulgar suas ações e tentando tornar a integridade das populações de ariranhas do Pantanal cada vez mais próxima da realidade.
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ANEXO 1
Pteronura brasiliensis
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ANEXO 1b
Grupo de Pteronura brasiliensis
24
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ANEXO 2
O Pantanal. Área de estudo.
25
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ANEXO 3
Coleta de fezes secas em latrina do corixo Touro Morto
Entrevista com pescador no rio Aquidauana
26
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ANEXO 4
Lista de materiais utilizados em campo
• Disco de Secchi (foto p. 27)
• Corda com peso (foto p. 27)
• Distanciômetro Bushnell Yardage Pro 1000
• Binóculo Leica 8X32 BA
• GPS Garmin 12XL
• Vídeo câmera digital JVC Mini DV GR-DX75
• Câmera fotográfica digital Nikon CoolPix 5700
• Trena Vonder 5m/16’
27
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28
ANEXO 5
Material para
coleta de fezes
Fezes secas em embalagem
Fezes frescas e muco em embalagem
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ANEXO 5b
Corda com peso
Disco de Secchi
29
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ANEXO 6
Planilha simplificada de indícios coletados em campo
30
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ANEXO 6b
Planilha simplificada de indícios coletados em campo
31
relatório de estágio
ANEXO 6c
Planilha simplificada de indícios coletados em campo
32
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33
ANEXO 7
Planilha de filmagens realizadas em campo
Filmagens
Local
Touro Morto
Touro Morto
Touro Morto
Touro Morto
Touro Morto
Touro Morto
Aquidauana
Aquidauana
Aquidauana
Miranda
Touro Morto
Registro Coord.X
TS09
0530098
TS38
0533526
TS40
0535564
TS41
0535574
TS45
0535675
TS45
0537860
TS52
0609164
TS62
0606279
TS84
0572174
TS86 0519157
TS101
0537844
Coord.Y
7811608
7813689
7812946
7812894
7812963
7813299
7781335
7786395
7819029
7802239
7813289
Data
14/04/05
5/7/05
5/7/05
5/9/05
5/10/05
5/10/05
29/05/05
30/05/05
31/05/05
6/2/05
6/18/05
Atividade
viajando/pescando
viajando/pescando
viajando
viajando
acordando
descans/pesc/viaj
filhote
marcação
grooming
viajando
descans/pesc/viaj
N° Indv. Fita
2
1e2
3
2
4
2
4
2
4
3
4
3
1
3
3
3
3
3
4
3
3
3
relatório de estágio
ANEXO 8
Entrevistas aplicadas aos pescadores
34
relatório de estágio
ANEXO 8b
Entrevistas aplicadas aos pescadores
35
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ANEXO 8c
Figura utilizada para ilustrar a pergunta 7 do questionário
36
relatório de estágio
ANEXO 9
Entrevistas para pescadores turistas
(Proposta de trabalho para julho de 2006)
37
relatório de estágio
ANEXO 9b
Entrevistas para pescadores turistas
(Proposta de trabalho para julho de 2006)
38
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ANEXO 10
Lavagem de fezes em laboratório
Triagem de fezes em laboratório
39
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ANEXO 11
Exemplo de roteiro para fitas com imagens de campo
40
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41
ANEXO 12
RELATO DE ABORTO SEGUIDO DE CONSUMO DOS FETOS
EM ARIRANHAS (Pteronura brasiliensis) DE VIDA LIVRE NA
REGIÃO DO PANTANAL SUL-MATOGROSSENSE
Carolina Espindola Romor Vargas1, Camila Duarte Penter2, Tarsila Ferreira Seara3,
Miriam Marmontel4
1. Médica Veterinária, 2. Bióloga, 3. Graduanda em Biologia Marinha/UFF,
4. Coordenadora do Centro de Conservação do Pantanal
O Projeto Ariranhas do Pantanal desenvolve desde 2000 estudos de levantamento e
monitoramento de populações de ariranhas na região do Pantanal brasileiro. Para o
desenvolvimento dessas atividades, são realizadas saídas de campo que incluem
registros de indícios, coleta de material biológico e filmagens de avistagens. Em outubro de 2004 foram percorridos trechos do rio Salobra, próximos à foz no rio Miranda,
para se fazer o levantamento populacional da região. Utilizando-se embarcação com
motor de popa de 15 HP, percorreu-se no total 91,6Km entre as coordenadas UTM 21K
0551711/7767359 e 0544437/7763710. Como parte da metodologia adotada neste
trabalho, foram realizadas coletas de fezes secas e frescas para determinação da
dieta e análise de DNA, respectivamente. Excepcionalmente, uma das amostras de
fezes frescas foi armazenada em saco plástico e processada da mesma maneira que
as amostras secas destinadas à determinação da dieta. Desta forma, em laboratório,
esta amostra foi lavada em água corrente e triada para investigação de seu conteúdo. Durante a triagem, foi encontrada a estrutura de uma pata, inicialmente julgada
como pertencendo a um réptil. Este fato, por ser incomum, levou à análise minuciosa
das demais amostras coletadas naquela ocasião. Essa análise revelou uma grande
quantidade de estruturas, como pequenos fragmentos ósseos em estágio inicial de
ossificação; tecidos brandos não identificados; epiderme contendo anexos, como
pavilhão auditivo externo, lábio e vibrissas; pontas de cauda e outros fragmentos de
patas contendo, inclusive, unhas. A presença de pêlos, membranas interdigitais e
relatório de estágio
42
pontas de cauda dorsoventralmente achatadas levou os pesquisadores a acreditar
que se tratava de fragmentos de ariranha. O tamanho diminuto dos ossos e o grau inicial de ossificação, características que definem um indivíduo prematuro, induzem à
hipótese de aborto. Acredita-se que o feto foi consumido após o aborto devido ao
fato de seus fragmentos terem sido encontrados nas fezes. Dentre as principais possíveis causas da indução do aborto em questão estão o estresse do grupo, doenças
infecciosas e disfunções reprodutivas. As hipóteses de contaminação da água por
agrotóxicos e influências antrópicas negativas como causadores de falhas reprodutivas são descartadas pois essa região do rio Salobra não está submetida a tais
fatores. Lançando mão das hipóteses levantadas como viáveis, o trabalho de pesquisa e levantamento de dados continua e, por não haver meios comprobatórios e
poucas informações específicas na literartura, o estudo caminha sem dados conclusivos com relação às causas do ocorrido. Análises genéticas serão feitas para confirmar a identidade dos resquícios.
Apoio
Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável
Wildlife Conservation Society
Sociedade Civil Mamirauá
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43
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUPLAIX, N. Observations on the ecology and behaviour of the giant river otter
Pteronura brasiliensis in Suriname. Revue Ecologique (Terre Vie), n. 34, 1980.
CARTER, S. K. e ROSAS, F. C. W. Biology and conservation of the giant otter
Pteronura brasiliensis. Mammal Revue, v. 27, n. 1, p. 1-26, 1997.
TOMAS, W. M. et al. Potencial dos rios Aquidauana e Miranda, no Pantanal do Mato
Grosso do Sul, para a conservação da ariranha (Pteronura brasiliensis). In III
SIMPÓSIO SOBRE RECURSOS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL.
Anais. Corumbá, 2000.
LACERDA, A. C. R. Ecologia comportamental de Pteronura brasiliensis no Pantanal
do Miranda-Abobral. PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO DO DEPARTAMENTO DE
ECOLOGIA, Universidade de Brasília, 2000.
EISENBERG, J. F. E REDFORD, K. H. Mammals of the neotropics. The University of
Chicago Press, Chicago and London, v. 3, 1999.
EMMONS, L. H. Neotropical rainforest mammals. A field guide. The University of
Chicago Press, Chicago and London, 2.ed, 1997.
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FIGURAS
Anexo 1
(Pteronura brasiliensis) EISENBERG, J. F. E REDFORD, K. H. Op.cit.
Anexo 2
(O Pantanal. Área de estudo) POTT, A. E POTT, V. J. Plantas do Pantanal. Embrapa, 1994.
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Agradeço ao apoio e estímulo de Ângelo Augusto dos Santos, da Fundação Brasileira
para o Desenvolvimento Sustentável, de Miriam Marmontel, coordenadora do Centro de Conservação do Pantanal, e de Carolina Vargas, veterinária e estagiária no
CCP. E, através deles, a todos os que participam direta ou indiretamente do Projeto
Ariranhas do Pantanal.