transtorno de personalidade borderline
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TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE: ESTRATÉGIAS NÃO MEDICAMENTOSAS EM UM CASO DE DIFÍCIL CONTROLE MARCELO NIEL TEIXEIRA *, MAURO ARANHA DE LIMA. **, MARSAL SANCHES. *** RESUMEN. Objetivo: Se describe el manejo de un paciente con diagnóstico de personalidad limítrofe (borderline), atendido en un servicio de hospitalización. Métodos: Se adoptaron como parámetros de respuesta, patrones de cambios conductuales tales como énfasis en actividades extra-hospitalarias, fomento de conductas saludables y de expresión emocional apropiada más que explosiones afectivas o acting out. Resultados: Las técnicas utilizadas fueron efectivas en el curso clínmico del paciente. Conclusión: Se propone el uso de técnicas similares en pacientes con el diagnóstico de personalidad limítrofe. Palabras clave: Personalidad limítrofe, tratamiento RESUMO: Objetivo: Os autores relatam a experiência de manejo em enfermaria de um caso de transtorno de personalidade borderline. Método: Foram adotados padrões de conduta no manejo da paciente durante a internação, tais como: (a) ênfase em atividades extrahospitalares visando estimular condutas saudáveis; (b) não supervalorização das atuações da paciente; (c) estimular a expressão das emoções da paciente em substituição às atuações. Resultados: As técnicas empregadas se demonstraram eficazes nta evolução da paciente. Conclusões: Diante dos resultados positivos, os autores propõem que tais técnicas de manejo possam ser utilizadas em outros pacientes semelhantes. * Médico Assistente do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Mestrando do Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Coordenador dos Setores de Prevenção e Assistência do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes (PROAD/UNIFESP). ** Mestre em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Professor assistente do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. *** Mestre em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Doutor em Psiquiatria pelo Departamento de Psiquiatria da UNIFESP. Professor assistente do Departamento de Psiquiatria e Psicologia Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Unitermos: personalidade borderline; tratamiento. Summary Objective: The authors describe the management of a patient with the diagnosis of borderline personality disorder (BPD) in a hospital unit. Method: Patterns of behavioral change were adopted, such as emphasis on extra-hospital activities, trying to stimulate healthy behaviours; not to overestimate her acting-out outbursts; fostering appropriate emotional expressiveness. Results: The techniques used were effective as reflected by the patient’s clinical course. Conclusion: The authors propose the appropriate use of these techniques in similar patients. Key words: Borderline personality disorder; treatment/management. Introdução A dificuldade de manejo de pacientes com diagnóstico de transtorno de personalidade borderline (TPB), bem como sua baixa resposta a intervenções medicamentosas, é assunto amplamente discutido na literatura psiquiátrica (Beck& Freeman,1993; Mays,1985). O presente artigo se propõe a relatar uma experiência de manejo de uma paciente com TPB durante sua internação em enfermaria psiquiátrica. 45 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE: ESTRATÉGIAS NÃO MEDICAMENTOSAS EM UM CASO DE DIFÍCIL CONTROLE Relato do caso Paciente de 25 anos, sexo feminino, raça amarela, segundo grau completo e com formação técnica em instrumentação cirúrgica, com diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline, segundo os critérios diagnósticos do DSM-IV. Embora houvesse relatos de padrões disfuncionais desde o início da adolescência, a mesma foi encaminhada para seguimento psiquiátrico apenas aos 18 anos, em razão de cefaléias crônicas sem etiologia orgânica explicável. Na época, foi submetida a exaustiva investigação diagnóstica, inclusive com realização de tomografia computadorizada de crânio e punção liquórica. Passado algum tempo, evoluiu com atitudes pueris, crises de choro freqüentes, dificuldade de deambulação (passando a engatinhar pelo chão constantemente) e ideação suicida constante. Sua primeira internação psiquiátrica se deu aos 19 anos, após episódio de intoxicação exógena auto infligida com ácido valpróico. A partir desse ponto seguiram-se várias internações psiquiátricas prolongadas, motivadas por atuações severas (acting-outs) caracterizadas por ingestão aguda de medicamentos, ingestão de objetos metálicos, auto-lesões pérfuro-cortantes (como cortar os pulsos) e inalação de substâncias químicas. Como fatores agravantes do quadro podemos acrescentar a difícil dinâmica familiar existente caracterizada por um pai bastante passivo, incapaz de estabelecer limites às atuações da paciente, e uma mãe com atitude agressiva e pouco continente em relação à mesma e a suas crises. Ao longo de sua evolução, a paciente apresentou quadros compatíveis com crises convulsivas , sendo por isso indicado por neurologista o uso de anti-convulsivante (fenitoína). Última internação Em outubro de 2000, a paciente foi trazida ao pronto-socorro de nosso serviço por policiais e pela família após auto-lesão intencional em punhos com objeto cortante. Apresentava aparência pessoal descuidada, higiene precária, discurso perseverante com idéias auto-agressivas, agitação psicomotora importante. Estava em uso de Fenitoína 300mg/dia (pela história pregressa de crises convulsivas), Carbonato. de Lítio 750mg/dia, Gabapentina 1200mg/dia e Clonazepam 1200mg/dia, essas três últimas introduzidas visando controle das atitudes impulsivas. Em razão dos achados acima, aliados à baixa continência familiar, optou-se por internação psiquiátrica em tempo integral . Tão logo a paciente foi internada, diversos 46 comportamentos disfuncionais passaram a ser observados pela equipe. No período da noite, a paciente sistematicamente acordava outros pacientes para que a auxiliassem a conseguir seu intento, que informava ser o de se enforcar utilizando o lençol. Uma postura de excessiva dependência da paciente às demais pessoas, particularmente à equipe, foi constatada, com a paciente se recusando a realizar atos de higiene pessoal (apenas tomava banho se auxiliada pela equipe de enfermagem) e se recusava a comer caso não lhe dessem a comida na boca. Além dessas atitudes, a paciente batia constantemente a cabeça contra a parede, e também engolia objetos metálicos. Em razão de tais crises de agitação, constantemente a paciente recebia medicações injetáveis (midazolan). Outro fator preocupante era a mimetização de diversas apresentações psicopatológicas que o convívio com outros pacientes psiquiátricos lhe proporcionava, que resultava em alguns períodos em que a paciente relatava alucinações auditivas e visuais, delírios de cunho persecutório e até um episódio de aceleração do discurso similar a um quadro maniforme, sendo que esses quadros apresentavam caráter transitório e possuíam pouca consistência do ponto de vista psicopatológico. Estratégia de Manejo. Nas reuniões clínicas com a equipe multidisciplinar, optou-se por adotar algumas condutas que facilitassem o manejo da paciente: (1) não supervalorizar as suas atuações no momento em que ocorressem e em momento oportuno interpretar o significado “oculto” dessas atuações;(2) estimular a sua autonomia, diminuindo sua dependência em relação às outras pessoas; (3) valorizar os aspectos positivos, saudáveis do seu comportamento e estimular a perpetuação desses, através de “reforço positivo”. Como forma de colocar em prática essas novas condutas de uma forma mais dinâmica com a paciente, optou-se por dar preferência a atividades externas ao hospital , procurando deslocar a paciente da posição de paciente psiquiátrico, estimulando atividades de uma pessoa normal, através de idas ao supermercado, realização de atividades culinárias, passeios em parques e avenidas, sempre valorizando os seus comportamentos saudáveis. Quando a paciente insistia com a temática das auto-lesões intencionais como forma de prazer, procurava-se ressaltar outras atividades prazerosas que estavam acontecendo naquele momento e que poderiam substituir as atitudes que a paciente sugeria. Outro fator importante foi a conduta de não supervalorizar suas atuações, pois percebia-se que, quanto mais importância a elas, mais ela atuava. MARCELO NIEL TEIXEIRA *, MAURO ARANHA DE LIMA. **, MARSAL SANCHES. *** Por exemplo, nas ocasiões em que a paciente batia a cabeça contra a parede, inicialmente a equipe e os outros pacientes ficavam muito angustiados, tentavam detê-la e tal atitude aparentemente acentuava as crises de auto-agressão da mesma. Quando foi dito a ela que não seria mais impedida de bater a cabeça, indicando-lhe concomitantemente outras formas mais saudáveis de se obter prazer, ela deixou de atuar dessa forma. Ao mesmo tempo, foi tomada a decisão de não mais medicar a paciente com dose extras de medicação em suas crises de agitação. A grande dificuldade em instituir essa conduta estava no receio de que a paciente interpretasse essa atitude como um abandono de cuidados ou descaso com seu sofrimento. Para atingir o objetivo proposto foi preciso padronizar tais abordagens e convencionar que só se mudariam tais atitudes frente a eventos graves, por exemplo, caso a paciente se ferisse. O resultado dessa conduta foi percebido como muito positivo, ao passo que a paciente ia progressivamente adotando novas formas menos agressivas e menos duradouras de atuações. Evolução e Resultados. Com as técnicas empregadas no manejo desse caso, pode-se verificar resultados excelentes da evolução da paciente: (a) a paciente não precisou mais receber medicação injetável; (b) foi possível a diminuição gradual das medicações em uso, como a suspensão da Gabapentina e do Clonazepam.; (c) houve diminuição da freqüência e da duração das atuações;(d) ocorreu aprimoramento na expressão verbal das suas emoções, dificuldades e angústias; (e) houve um progresso importante na participação da família, que foi a aproximação do pai da paciente, outrora ausente, que passou a realizar tais atividades junto da paciente, onde foi possível mostrar atitudes positivas e saudáveis da paciente, ressaltar a sua condição real de autonomia e fortalecer um vínculo saudável com alguém da sua família. Discussão De acordo com o DSM-IV (APA,1994), o Transtorno de Personalidade Borderline tem como característica essencial um padrão invasivo de instabilidade nos relacionamentos interpessoais, autoimagem e afetos, e acentuada impulsividade que começa no início da idade adulta sendo encontrado predominantemente em mulheres (cerca de 75%). Sabe-se que o TPB atinge cerca de 2% da população geral; entretanto estima-se que cerca de 10% dos pacientes atendidos em ambulatórios de saúde mental e 20% dos pacientes psiquiátricos internados apresentam diagnóstico de TPB. Vários autores (Kernberg,1995; Stone,2000;Goin,1998) têm ressaltado a dificuldade no manejo de pacientes com TPB. Segundo Goin (1998), tais pacientes apresentam, do ponto de vista psicodinâmico, um mecanismo de defesa primitivo denominado “splitting” (“divisão”), que pode ser definido como uma polarização entre bons e maus sentimentos, como amor e ódio, aproximação e rejeição, atuando como uma proteção do ego contra ansiedade ou afetos intensos. Porém, ao invés de promover uma proteção real, conduz a um comportamento destrutivo, tumultuando as relações com aqueles que se aproximam tentando ajudar. De acordo com a autora, esses pacientes precisam de um profissional que forneça constante, contínua e enérgica força em suas vidas; que possa se dispor a ouvir e ajudar sendo o “alvo” da sua agressividade e idealização enquanto impõe limites de forma firme e franca. Kernberg (1995) ressalta que tais pacientes tendem a evidenciar fortes elementos de inveja e ódio. Porém, o autor ressalta que o primeiro passo na aproximação terapêutica desses pacientes é ajudá-los a se tornarem conscientes da intensidade desses sentimentos, sendo esse passo um grande desafio na disposição da contratransferência do terapeuta. A capacidade criativa do terapeuta para fornecer o apoio emocional (“holding”) e contenção cognitiva (“containing”) do ódio do paciente durante o tratamento desses pacientes coincidem com o uso consciente dos elementos da contra-tranferência. Segundo Beck&Freeman, o TPB é um transtorno relativamente comum que resulta em considerável comprometimento da vida do indivíduo.A psicoterapia com indivíduos com tal diagnóstico é tipicamente muito complicada, existindo um significativo risco de resultados negativos, independentemente da abordagem terapêutica utilizada (Mays,1985). Os autores relatam que, ao trabalhar com clientes borderline, é particularmente importante manter uma abordagem cooperativa e estratégica, baseada mais no descobrimento guiado do que em preconcepções teóricas. Ressaltam também que a relação entre terapeuta e cliente desempenha um papel muito mais importante com clientes borderline do que com outros tipos de pacientes.Em seu esquema no tratamento cognitivo em paciente com transtornos de personalidade, os autores enumeram alguns passos das técnicas comportamentais utilizadas: (1) monitorização e planejamento de atividades; (2) 47 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE: ESTRATÉGIAS NÃO MEDICAMENTOSAS EM UM CASO DE DIFÍCIL CONTROLE desenvolvimento de atividades prazerosas; (3) ensaio comportamental, modelagem, treino da assertividade e dramatização; (4) treino de relaxamento e técnicas de distraimento comportamental; (5) exposição in vivo. De acordo com Gabbard (1994) o “padrãoouro” de tratamento de pacientes com TPB é a psicoterapia individual de longa duração. No entanto, em função da própria natureza no transtorno, muitos desses pacientes acabam fazendo uso de outras formas de tratamento além da psicoterapia, tais como a farmacoterapia e a hospitalização. Segundo ele, tais pacientes apresentam uma forma especial de apelo que inspira as pessoas a cuidarem deles, fazendo com que eles se tornem pacientes “especiais” e acabam por desenvolver certos tipos de comportamentos que podem levar à ruína os objetivos do tratamento. O autor propõe o estabelecimento de algumas estratégias terapêuticas com a finalidade de prevenir tais acontecimentos: (1) tornar claras as regras dos atendimentos e das terapêuticas utilizadas; (2) esclarecer as metas dos tratamentos instituídos; (3) minimizar a fragmentação do tratamento, procurando estabelecer um consenso nas informações e abordagens utilizadas; (4) reuniões dos principais profissionais envolvidos e com o paciente; (5) educar (informar) toda a equipe envolvida no tratamento. Conclusão. O caso descrito acima ilustra a importância de se elaborar uma estratégia terapêutica adequada para o paciente, procurando sempre conservar a clareza dos propósitos na instituição do tratamento. Sociedad Venezolana de Psiquiatría II Encuentro Interdisciplinario de Salud Mental 12 y 13 de Mayo de 2005 Caracas - Venezuela [email protected] APA Atlanta - Georgia - USA 21 - 25 Mayo 2005 www.psych.org WPA Conferencia Temática Valencia - España 17 - 20 de Junio 2005 www.wpa2005valencia.com Congreso Hispanoamericano de Psiquiatría Benidorm (Alicante) - España 21 - 25 Junio de 2005 www.cmn-alicante.com/congreso 48 O objetivo do presente artigo não foi o de esgotar o tema, mas sim o de ressaltar a importância das intervenções não-medicamen-tosas no manejo de pacientes com transtorno borderline, haja visto que, do ponto de vista psicofarmacológico, as medidas são ainda bastante limitadas. Referências Bibliográficas 1.American Psychiatric Association (APA) 1994 – Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – Fourth Edition. Washington DC, American Psychiatric Association. 2.Gabbard G.O. – Treatment of Borderline Personality Patients in a multiple treater setting. The Psychiatric Clinics of North America, XVII(4): 839-850, 1994. 3.Stone M.H. - Clinical guidelines for psychotherapy for patients with borderline personality disorder. The Psychiatric Clinics of North America, XII(1): 193210,2000 4.Beck A., Freeman A. - Terapia Cognitiva dos Transtornos de Personalidade ( Artes Médicas – Porto Alegre, 1993). 5. Goin, M. K. - Borderline Personality Disorder: Splitting Countertransference. Psychiatric Times, XV (11): 126,1998. 6. Kernberg, O.F. - Agression and Transference in Severe Personality Disorders. Psy Times, XII(2): 1-12, 1995. Primer Congreso Iberoamericano “Trastornos de Ansiedad” Quito - Ecuador 22 - 24 de Junio 2005 [email protected] VI Congreso Internacional de Neuropsiquiatría Sidney - Australia 10 14 de Septiembre de 2006 www.inacongress2006 WPA XIII Congreso Mundial de Psiquiatría Cairo - Egipto 10 - 15 de Septiembre 2005 www.wpa-cairo2005.com XXIII Congreso Brasilero de Psiquiatría Minas Centro - Belo Horizonte Minas Gerais 12 - 15 de Octubre 2005 www.abpbrasil.org/congreso XIX Congreso Nacional Asociación Psiquiátrica Mexicana Los Cabos - Baja California Sur México Octubre 29 a Noviembre 2 2005 www.psiquiatrasapm.org.mx XLIV Congreso Colombiano de Psiquiatría Cartagena - Colombia 13 al 17 de Octubre de 2005 www.psiquiatria.org.co