INTOLERÂNCIAS REVOLUCIONÁRIAS

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INTOLERÂNCIAS REVOLUCIONÁRIAS
ÁGORA Revista Eletrônica
Ano VII
nº 14
Junho de 2012.
P. 142 – 150
INTOLERÂNCIAS REVOLUCIONÁRIAS: A MORTE DE LAVOISIER1
Celso Luís Levada2
Huemerson Maceti3
Ivan José Lautenschleguer4
Resumo
Este trabalho apresenta algumas das contribuições feitas por Antoine Laurent Lavoisier para a
construção da Química Moderna, bem como aspectos de sua vida agitada. Alguns dos conceitos
discutidos por Lavoisier, como a lei de conservação da massa, podem ser relevantes para o ensino de
Ciências nos dias atuais. Ele foi muito homenageado durante as cerimônias do Ano Internacional da
Química (2011), promovido pela Unesco e pela União Internacional da Química Pura e Aplicada. Além
de cientista, Lavoisier foi um político liberal que muito contribuiu para os planos da Secretária do
Tesouro da França. Apesar de todas as contribuições para a ciência e para a França feita por Lavoisier,
devido a sua ligação com a política e a nobreza, foi denunciado por alguns fanáticos da revolução
francesa. Em novembro de 1793, foi preso e, depois de um julgamento feito por júri improvisado, foi
guilhotinado em 08 de maio de 1794.
Palavras-chave: Lavoisier. Guilhotinado. Conservação da massa.
Abstract
This paper presents some of the contributions made by Antoine Laurent Lavoisier for the
construction of Modern Chemistry, as well as aspects of his life. Some of the concepts discussed by
Lavoisier may be relevant for the Chemistry teaching in current days. He is one of those honored during
1Elaboração
textual a partir das discussões no Grupo de Estudos em Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias. Centro Universitário Hermínio Ometto – UNIAR ARAS – 13607-339 / Araras (SP) – Brasil.
2 Doutor em Ciência s (USP) – Professor de Prática de Ensin o de Física – UNIARARAS.
3 Mestre em Física Aplicada (UNESP) – Coordenador Pedagógico das Licencia turas (física, química e matemática) UNIARARAS / Coordenador Pedagógico – Colé gio Puríssimo Coração de Maria /Poliedro.
4 Doutor em Física (IFT – UNESP) – Professor de Física Moderna, Mecânica Analítica e Eletromagnetismo – UNIARARAS.
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ceremonies for the International Year of Chemistry (2011), sponsored by UNESCO and the I nternational
Union of Pure and Applied Chemistry. It was accepted for a priori reasons. Lavoisier was a political
liberal; he contributed to the plans for Secretary of the Treasury. Despite all of the contributions to
science made by Lavoisier, due to its link with politics and the nobility was terminated by some leaders
of the French Revolution. In November 1793, was imprisoned, and after a trial by jury, he was
guillotined on May 8, 1794.
Keywords: Lavoisier. Guillotined. Conservation of masses.
INTRODUÇÃO E CONTEXTO HISTÓRICO
Este texto apresenta um episódio que marcou a morte de um grande cientista logo após a
Revolução Francesa, período em que se configurou uma extrema perda de autonomia da atividade
científica. O aniquilamento das instituições científicas, em particular o fechamento da Academia de
Ciências em 1793, bem como a condenação e execução do químico Lavoisier, foram algumas das
intolerâncias revolucionárias do regime francês no final do século XVIII.
De certa maneira é até mesmo contraditório, pois, as atitudes tomadas desvirtuaram os
conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade pregados pelos revolucionários. O regime notabilizouse por uma extrema violência que condenou à morte nomes expressivos da Ciência e fechou
renomadas instituições.
IDÍGORAS (1983) exprime a fraternidade como o sentimento de afeição recíproca entre
irmãos. O Cristianismo fundamentou-a através do preceito da caridade, inculcando o amor a todos os
homens, mesmo aos inimigos, já que todos descendem, pela criação, de um mesmo pai, Deus.
Em 14 de julho de 1789 um exército popular tomou a Bastilha, principal prisão política de Paris.
O evento foi seguido de revoltas de camponeses em várias regiões da França, causando pânico entre
a nobreza e o clero.
Em Agosto de 1789 a Assembléia francesa aprovou leis que aboliam os privilégios e as
distinções hereditárias que caracterizavam o antigo regime francês. Também nesta data foi aprovada a
Declaração dos Direitos do Homem e do cidadão, sendo que no mês seguinte ficou pronta uma nova
Constituição (DREGUER e TOLEDO, 1995).
Conforme se deduz do livro de HOLANDA (1979), em 1791, a Assembléia Nacional
Constituinte francesa aprovou uma Constituição baseada nas doutrinas de Jean-Jacques Rousseau e
de Montesquieu. Desta maneira a França deixava de ser uma Monarquia absoluta, passando ao regime
de Monarquia Constitucional. O poder absoluto foi dividido em três novos poderes independentes: a) O
legislativo, para fazer as leis, centrado na Assembléia Nacional e composto por Deputados eleitos; b) O
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executivo, para aplicar as leis, que era incumbência do rei, assistido pelo Governo c) O judicial, para
fazer justiça, que foi atribuído aos Tribunais.
Em 1792 o rei foi deposto, a Assembléia dissolvida e, assim, a França passou a ser dirigida por
um Conselho Provisório. Em seguida, foi eleita, por voto, uma nova assembléia, denominada de a
Convenção, que preparou uma nova Constituição e estabeleceu a República como forma de Governo.
Finalmente, em 1794, com intuito de mobilizar todas as energias da Nação contra os inimigos
e, ao mesmo tempo, amedrontar todos os possíveis adversários do sistema foi instaurado uma espécie
de império do Terror. Comitês de Vigilância foram criados para denunciar suspeitos que, em geral, eram
julgados e decapitados. Entre as vítimas do terror revolucionário, encontram-se o químico Lavoisier e o
poeta André Chénier.
Mais tarde, com a morte de Robespierre, o principal líder do Terror, o poder legislativo foi
entregue a um grupo conservador, dito Governo do Diretório, que foi derrubado por um golpe de estado
promovido por Napoleão Bonaparte e seguidores (HOLANDA, 1979).
A FIGURA ILUSTRE DE LAVOISIER
Filho de família rica, Lavoisier nasceu a 26 de A gosto de 1743 em Paris e faleceu em 8 de Maio
1794, também em Paris. Depois de ficar órfão de mãe na primeira infância, recebeu educação familiar,
sendo educado pelo pai e por uma tia, que o aconselharam a
estudar Ciências Jurídicas.
Posteriormente, teve formação em matemática, astronomia, química, física, botânica e geologia,
concluídos em 1764.
No ano de 1768 foi admitido na Académie des Sciences, principalmente por seu trabalho
"Mémoire sur le meilleur système d'éclairage de Paris". Em 1776, seu projeto para iluminar as ruas da
França foi premiado, o que lhe rendeu o reconhecimento público de Luís XV, e reforçou a sua fidelidade
à monarquia.
Em 1779, tornou-se coletor de impostos e foi nomeado inspetor geral das pólvoras e salitres.
Em seguida, como membro do governo, foi responsável pela atualização das técnicas agrícolas e pela
implantação do sistema bancário. Membro da comissão de agricultura, deputado, político de renome,
Lavoisier alcançou o auge da fama e riqueza, mas optou por comprar ações da Ferme Générale,
decisão que viria a mudar completamente o rumo de sua vida.
A companhia em questão era uma sociedade que tinha o direito de cobrar os impostos, sendo
que apenas uma cota fixa era destinada ao rei. Os acionistas ficavam com uma boa quantia do
dinheiro, o que lhes permitia uma vida de luxo e amizades influentes.
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Por outro lado, contra ele e os demais acionistas pesava o ódio do povo. Apesar de ter tantos
afazeres, Lavoisier encontrou tempo para desenvolver seu brilhante trabalho, sendo até hoje uma
presença decisiva na nossa concepção de mundo. Um fato que não é divulgado nos livros de Química
é que Lavoisier contou com colaboradores para desenvolver seu brilhante trabalho. Um exemplo disso
é Marie Anne Pierrette Paulze, química e aristocrata francesa que se tornou conhecida por ter sido a
esposa de Lavoisier.
Alguns exemplos da colaboração de Marie-Anne com Lavoisier são as experiências sobre a
combustão de enxofre e de fósforo e ainda as experiências sobre respiração. Segundo EAGLE (1998),
Marie Anne Pierrette Paulze, era esposa e auxiliar de Lavosier quem fazia traduções para o marido e
para os intelectuais da época dos artigos que eram publicados em inglês, sueco e latim, línguas nas
quais era fluente.
Marie Anne foi responsável pela publicação de algumas obras do marido, especialmente, após
sua execução pelos lideres da Revolução Francesa. Provavelmente, sem a participação da esposa,
Lavosier teria tido dificuldades para elaborar as teorias que o consagraram, dada sua dificuldade
com línguas, notadamente o inglês. É importante lembrar que suas observações e hipóteses
baseavam-se em autores ingleses, como Richard Kirwan, um dos maiores defensores da teoria do
flogisto.
Marie-Anne também se tornou a ilustradora mais importante dos livros e ensaios escritos pelo
marido. Para tal teve lições de pintura com Jacques-Louis David, um dos pintores franceses mais
famosos na época. As ilustrações realizadas por Marie-Anne dos materiais e aparatos utilizados nas
experiências de Lavoisier ainda hoje são admiradas, e serviram de modelo para os ilustradores de
desenhos científicos da época.
Marie Anne preparava traduções e desenhos para os artigos
científicos, livros e demais publicações que ele redigia.
SOBRE A CONSERVAÇÃO DA MASSA
Os liv ros didáticos sugerem que a lei da conservação da massa teria sido induzida a partir de
uma série de observações experimentais. Por exemplo, num dos livros de Química para o ensino
médio, escrito por FELTRE (2000), lê-se:
“ No final do século XVIII, o cientista Antoine Lavoisie r realizou uma série de experiê ncia s em
recipie ntes fechados, efetuando pesagens com balanças mais precisas do que as dos
cientistas anterio res conclu iu: no interior de um recipiente fechado, a massa total não varia,
quaisquer que sejam as transfo rmações que venham a ocorrer nesse espaço. Tal afirmativa
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ficou conhecid a como lei de Lavoisier ou le i da conservação da massa” .
Conforme diz LAVOISIER, no seu Tratado elementar de química, em toda operação, há uma
quantidade igual de matéria, antes e depois da operação. Um enunciado simplificado desta lei se
encontra no Tratado elementar de química, no Capítulo XIII da Primeira Parte :”nada se cria, nem nas
operações da arte, nem nas operações da natureza”. E pode-se postular que em toda operação há
uma quantidade igual de matéria antes e depois da operação; que a qualidade e a quantidade dos
princípios é a mesma e que tudo que ocorre são apenas transformações e modificações (AMARAL
2003).
A leitura da obra de Lavoisier, entretanto, nos mostra um panorama bem diferente. Uma análise
detalhada do trabalho de Lavoisier mostra que ele aceitou e utilizou o princípio da conservação de
massa, mas ele não testou, experimentalmente, o princípio.
A conservação da massa não foi induzida, mas postulada: Podemos afirmar, como um axioma
incontestável, que, em todas as operações da arte e da natureza, nada é criado; uma quantidade igual
de matéria existe antes e depois do experimento; a qualidade e a quantidade dos elementos
permanecem precisamente as mesmas; e nada ocorre além de mudanças e modificações na
combinação desses elementos (MAAR, 1999).
Por outro lado, VANIN (1994) menciona em seu livro, como curiosidade, que não é de autoria
de Lavoisier o enunciado tantas vezes repetido de que “Na natureza, nada se perde, nada se cria, tudo
se transforma”, esse seria um resumo do Livro I do poema De rerum natura, do filósofo Lucrécio.
Também é importante salientar que Lavoisier não foi o primeiro a trabalhar com a idéia de que a massa
se conserva, pois outros filósofos naturais já haviam admitido isso implicitamente.
Entretanto, Lavoisier foi o primeiro a expressar a conservação das massas explicitamente
como um princípio e a tomar essa idéia como fundamental para o estabelecimento dos estudos em
Química.
Observa-se que alguns conceitos desenvolvidos por Lavoisier são relevantes para o ensino de
química atual, e sua discussão pode despertar reflexões úteis para os discentes e docentes do ensino
médio. Embora Lavoisier seja conhecido por muitos estudantes e professores de química, e mesmo
pelo público leigo, como um químico importante os livros didáticos são unânimes em associar o nome
de Lavoisier à conservação da massa. Entretanto, poucos avançam além disso ou de escassos dados
biográficos.
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CONTRIBUIÇÕES DE LAVOISIER PARA A QUÍMICA
Podemos dizer que seus trabalhos assinalam o início da Química moderna, tendo sido, entre
outras coisas, o primeiro cientista a enunciar o princípio da conservação da matéria. FILGUEIRAS
(2007) no livro “Lavoisier, o estabelecimento da química moderna”, da coleção "Imortais da Ciência", da
Odysseus Editora retrata a vida e a obra de Lavoisier, especialmente no que diz respeito às
transformações materiais que ocorrem na Natureza.
Entre as contribuições FILGUEIRAS destaca a elucidação dos mecanismos da combustão e da
respiração, a composição do ar e a geração de matéria orgânica no crescimento das plantas, e outro
trabalho que foi precursor da descoberta da fotossíntese. BARROS (2008) apresenta com detalhes a
obra e a biografia de Lavoisier de onde, pode ser extraída sua concepção de elemento químico: “Se,
pelo termo elemento quisermos expressar aqueles átomos simples e indivisíveis dos quais a matéria é
composta, é extremamente provável que nada saibamos sobre eles”.
No contexto de suas observações experimentais, água e ar, até então tidos como elementos,
são descartados desta categoria. A Lavoisier, considerado o pai da Química, cabe o mérito da
introdução do novo método na experimentação química. Uma de suas observações no início da
carreira foi que o oxigênio, em contacto com uma substância inflamável, produz a combustão. Mas sua
principal contribuição foi derrubar a teoria do flogístico, que fascinava os pesquisadores da época.
Para explicar muitas reações químicas cujo mecanismo não era bem conhecido, os químicos,
idealizaram uma substância hipotética, o flogístico. A crença da época era que toda substância
combustível possuía dentro de si esse componente invisível, flogístico, que era capaz de se desprender
com produção de luz.
Em 1781, Lavoisier indica o Oxigênio como o responsável pelo processo de combustão e da
respiração.
De acordo com ALMEIDA (2005), a formulação da noção de fotossíntese em bases modernas
foi influenciada pelos experimentos de Lavoisier sobre respiração animal. Lavoisier percebeu que a
respiração animal não envolvia simplesmente troca de gases, mas uma reação química análoga a uma
combustão.
A partir de seus estudos, o fenômeno da fotossíntese passou a ser interpretado não mais a
partir da experiência imediata e direta, mas levando em conta os vários elementos envolvidos no
fenômeno e seus relacionamentos. Uma experiência de Lavoisier que se tornou clássica foi o
confinamento de uma cobaia num ambiente rico em oxigênio durante 10 horas, com a medição o gás
carbônico produzido.
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Outra obra pioneira de Lavoisier foi a determinação da quantidade de oxigênio consumido por
um homem em atividade e em repouso.
Evidenciou-se que a origem da fonte de calor animal era proveniente da combustão de
compostos de carbono com oxigênio, gerando o dióxido de carbono e água. Determinou, também, que
o consumo de oxigênio aumenta durante o trabalho físico. Assim sendo, para Lavoisier, a respiração
consiste da combustão lenta de carbono e de hidrogênio, num mecanismo análogo ao que ocorre com
uma vela acesa. Lavoisier e Laplace colaboraram muito para a elucidação do princípio do calórico, até
então, um dos fundamentos da química, visando especialmente torná-lo mensurável.
O trabalho representou, também, o ponto de partida dos estudos sobre as forças
intermoleculares e sobre as afinidades químicas, concebidas por ele, como forças de atração
(MOCELLIN, 2006). Um conceito importante introduzido por Lavoisier diz respeito a quantidade de
calor necessária para decompor uma substância. Pela primeira vez concluiu que ela era exatamente
igual àquela liberada durante a formação da referida substância, fato que deu início a um capítulo da
físico-química, que estuda os calores de reação e fenômenos correlacionados.
Contudo, o trabalho de Lavoisier que mudou a história da Química foi “Tratado Elementar de
Química”, apresentando pela primeira vez a nomenclatura moderna, desvinculada totalmente da
herança da alquimia, no qual define e apresenta novas idéias e uma lista das chamadas substâncias
simples.
CONDENAÇÃO E MORTE DE LAVOISIER
O envolvimento de Lavoisier com o regime monárquico da França foi fatal, pois, tornou-se
suspeito perante as autoridades durante a Revolução Francesa. Depois da queda da Bastilha os
tribunais revolucionários o condenaram à guilhotina.
FAUQUE (1995) descreve o martírio de Lavoisier:
“ No dia 8 de maio de 1794, pouco depois das cinco horas da tarde, Lavoisie r subia os degraus
que o conduziam ao cadafa lso. Ele era o quarto dos vinte e oito condenados na manhã do
mesmo dia, numa paródia de processo. As intervenções ao seu favor não haviam tido êxito e
os poucos amigos que lhe restaram tornaram-se eles próprios suspeito s” .
Comenta-se que o famoso matemático Lagrange teria dito: "Não necessitaram senão de um
momento para fazer cair essa cabeça e cem anos não serão suficientes para reproduzir outra
semelhante".
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Para exemplificar o apreço que os escritores modernos têm por Lavoisier, MAAR (1999),
encerra um capítulo de seu livro “Pequena história da Química”, primeira parte, com o termo Revolução
Lavoisierana, mas que prefere considerar como uma evolução da Química desde a época dos gregos
até o “grande século de Lavoisier”.
O poeta português DE CASTILHO (1903), no livro “A chave do Enigma”, escreve:
“ ... Lavoisier, outro dos martirizados pelo materialismo descrente e brutal, depois de haver
testado ao mundo a mais opule nta herança cie ntífica, condenado in grata e cegamente à
guilh otina, o que é que pede aos verdugos revolucio nários, seus juízes? Uma dilação de
quinze dias. Só uma dilação! Para quê? Para concluir trabalh os úteis a humanidade, que
neste momento o desconhece; rematados eles, já não terá pena de morrer. Recusam-lha;
então caminha sereno a depor no cadafalso uma cabeça maior talvez que a de Archimedes
e, ainda na véspera, coroada de lo iros pelo Liceu. [...]” .
Como curiosidade, cabe comentar que, antes de Lavoisier ser executado, foi confiscado de seu
laboratório grandes quantidades de mercúrio e cerca de 300 instrumentos físicos e químicos, inclusive
o contador de gás com o qual ele poderia coletar os gases e medir o seu volume e peso em suas
experiências.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Um dos erros de alguns cientistas é a crença de que a ciência é neutra. De um modo geral,
pode-se dizer que na atividade científica reside a ação política, muitas vezes política não partidária,
mas política, envolvendo as diferentes visões sobre o ser humano, a finalidade do seu trabalho e seu
papel na sociedade. A atividade política do cientista pode ser destacada no exemplo extraído dos fatos
presenciados durante a revolução francesa.
Alguns cientistas participaram ativamente com opiniões favoráveis ou, em alguns casos,
desfavoráveis ao novo regime a ser implantado. Na ocasião de sua morte, Lavoisier foi saudado com a
absurda frase “a Revolução não precisa de sábios”. Entretanto, muitos outros preferem a frase “cem
anos seriam insuficientes para reproduzir outra cabeça semelhante àquela decapitada”.
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