Esquema capitular - Universidad Politécnica Salesiana

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Esquema capitular - Universidad Politécnica Salesiana
UNIVERSIDAD POLITÉCNICA SALESIANA
SEDE QUITO
FACULTAD DE CIENCIAS HUMANAS Y DE LA EDUCACIÓN
CARRERA:ANTROPOLOGIA APLICADA
Tesis previa a La obtención Del Título de linciada em Antropologia Aplicada
TEMA
PRÁTICAS DE CURA: COMO ALTERNATIVAS DE
POPULARES DA COMUNIDADE NAZARÉ
AUTORA
Maria do Carmo Leite Ferreira
Diretor: Luis Herrera Montero
Quito,Junio 2010
DECLARAÇÃO
Eu Maria do Carmo Leite Ferreira portadora da R.G Nº 660.343 declaro para
os devidos fins serem de minha responsabilidade as informações contidas neste
documento.
Pedro II, 18 /06 /2010
............................................................................
Maria do Carmo Leite Ferreira
Dedico este trabalho de forma geral a comunidade Nazaré por
sua abertura em prestar informações imprescindíveis para
realização deste meu sonho de reunir em um só documento
tanta sabedoria de um povo que busca estar presente de forma
visível no mundo.
AGRADECIMENTOS
Agradeço de forma muito especial a dona Maria Neri pessoa
que muito contribuiu com este produto ,me acolhendo em sua
casa, se disponibilizando a repassar sua sabedoria com
segurança e simplicidade. Dedico ainda a todos e todas aqueles
(as) que direto ou indiretamente somaram comigo para fazer
acontecer este projeto, como meus familiares e minha grande
amiga Adeodata Maria dos Anjos.
Desde tempos imemoriais, elas curavam mazelas e antes do
aparecimento de doutores e anatomistas praticavam
enfermagens, abortos, davam conselhos sobre enfermidades,
eram farmacêuticas, cultivaram ervas medicinais, trocavam
fórmulas e faziam partos. Foram por séculos doutores sem
títulos. (PRIORE, 2000, p. 108)
RESUMO
Essa pesquisa procura identificar as práticas de cura realizadas por diversos
praticantes conceituados por curandeiros, benzedeiros e rezadeiras na comunidade de
Nazaré, município de Lagoa de São Francisco (PI). A medicina popular, a medicina
do povo, demonstrada através dos benzimentos, rezas e simpatias esteve sempre
arraigada à cultura e, até, às tradições de comunidades. A busca pela cura é uma
constante no ser humano desde civilizações antigas. A preocupação com a saúde
definitivamente incorporou-se ao nosso cotidiano. Só que, ainda hoje nem sempre
todos os problemas de saúde são vistos dentro do sistema formal de cuidado à saúde.
Pelo contrário: calcula-se que 70 a 90% dos episódios de doença são manejados fora
desse sistema, por autocuidado ou busca de formas alternativas de cura. Ou seja, o
modelo biomédico é apenas um entre tantos sistemas disponíveis no ―mercado‖ da
saúde. A medicina popular ganhou no Brasil uma significação particular. Com a
junção de elementos trazidos pelas mais diversas culturas, as práticas de cura
brasileiras construíram um conhecimento único. Mesmo em uma sociedade que
prestigia tanto o conhecimento científico como a nossa, a presença da medicina
popular em Nazaré é muito intensa. Agindo por intermédio das benzedeiras, ela
mostra outra concepção sobre a doença e a cura, que não separa corpo e espírito. O
processo da cura é feito com a reza, a simpatia e o remédio. Só com a união de
elementos como esses é que a doença pode ser curada. Assim, é que este trabalho
tem como objetivo propor um debate acerca do estudo das práticas de saúde, doença
e cura como um espaço de relevante valor cultural. Pretendemos demonstrar que as
práticas e cura populares presentes nesta comunidade, são fortemente influenciadas
pela origem indígena que a comunidade busca resgatar, embora reconheçamos que a
tradição de cura mescle elementos de culturas diversas e seja predominantemente
influenciada pelo catolicismo, como a invocação do nome de santos. Para melhor
esclarecer o tema, realizou-se uma abordagem sobre saúde no Brasil, a cura na visão
antropológica e outros pontos temáticos relevantes.
PALAVRAS-CHAVE: cura- práticas alternativas- comunidade Nazaré
ABSTRACT
This research wants to identify the healing practices performed by various reputable
practitioners by traditional healers and community of prayers in Nazaré, Lagoa de
São Francisco (PI). The popular medicine, medicine of the people, demonstrated
through the blessings, prayers and sympathies were always rooted in the culture and
even traditions of communities. The search for cures is a constant in human beings
since ancient civilizations. The concern about the health finally became part of our
daily lives. Except that, even today not always all health problems are seen within
the formal system of health care. Rather, it is estimated that 70-90% of episodes of
illness are handled outside the system, for self-care or seek alternative forms of
healing. That is, the biomedical model is just one among many systems available on
the "market" for health. Popular medicine in Brazil won a special significance. With
the addition of elements brought by the most diverse cultures, healing practices in
Brazil have built a unique knowledge. Even in a society that honors both, scientific
knowledge as ours, the presence of popular medicine in Nazaré is very intense.
Acting through the quacks, it shows another view on the disease and healing, which
does not separate body and spirit. The healing process is done with the prayers,
sympathy and medicine. Only through the union of elements like these is that the
disease can be cured. So, is that this work aims to propose a discussion about the
study of the practices of health, illness and healing as an area of significant cultural
value. We intend to demonstrate that the healing practices and popular gifts this
community, are strongly influenced by the indigenous community that seeks to
rescue, although we recognize that the tradition of healing merge elements from
different cultures and is predominantly influenced by Catholicism, such as invoking
the name of saints . To better clarify the issue, It was realized an approach about
health in Brazil, the healing in anthropological and other relevant thematic points.
KEYWORDS: healing- alternative practices – Nazaré Community
RESUMEN
Esta investigación busca identificar las prácticas de sanación realizada por diferentes
profesionales conceptualizado por los curanderos, benzedeiros y rezadeiras en la
comunidad de Nazaret, la ciudad del lago de San Francisco (IP). La medicina
popular, la medicina del pueblo, demostrado a través de benzimentos, oraciones y
simpatía siempre se ha arraigado a la cultura e incluso las tradiciones de las
comunidades. La búsqueda de la cura es una constante en los seres humanos desde
las civilizaciones antiguas. La preocupación permanente con la salud es incorporado
en nuestra vida cotidiana. Sin embargo, incluso hoy en día no siempre todos los
problemas de salud se considera dentro del sistema formal de atención de la salud.
Por el contrario: se estima que el 70% de los 90 episodios de la enfermedad son
administradas fuera del sistema, por sí mismo o para la búsqueda de formas
alternativas de curación. Es decir, el modelo biomédico es sólo uno entre muchos
sistemas disponibles en el "mercado" de la salud. La medicina popular en el Brasil
tiene un significado particular. Con la combinación de los elementos presentados por
varias culturas, las prácticas curativas de Brasil construyó un conocimiento único.
Incluso en una sociedad que tanto el prestigio como nuestro conocimiento científico,
la presencia de la medicina popular en Nazaret es muy intensa. Actuando a través de
benzedeiras, muestra otro diseño sobre la enfermedad y la cura, que no separa el
cuerpo y el espíritu. El proceso de curación se hace con las oraciones, la simpatía y la
medicina. Sólo con una unión de elementos como estos es que la enfermedad puede
ser curada. Por lo tanto, es que este trabajo tiene por objeto proponer una discusión
sobre el estudio de las prácticas de la salud, la enfermedad y la curación como un
espacio de importante valor cultural. Queremos demostrar que las prácticas curativas
y popular en esta comunidad, están fuertemente influenciadas por origen indígena
que busca rescatar a la comunidad, aunque reconocemos que la tradición de fusionar
elementos de curación de las diferentes culturas y es predominantemente
influenciada por el catolicismo, y la invocación del nombre de los santos . Para
aclarar más la cuestión, nos acercamos a la salud en Brasil, la cura a la vista
antropológico y de otros puntos temáticos.
PALABRAS CLAVE: curación alternativa-prácticas comunidad Nazaret
ÍNDICE
INTRODUÇÃO.........................................................................................................01
1 SAÚDE, CURA E AS TRADIÇÕES POPULARES DENTRO DO
CONTEXTO
HISTÓRICO
–CULTURAL
DA
COMUNIDADE
NAZARÉ....................................................................................................................04
1.1 - Saúde: conceito de saúde e histórico das política de saúde pública no
Brasil..........................................................................................................................04
1.2 – A concepção de Cura na perspectiva antropológica....................................15
1.2.1 A cura na tradição indígena ..........................................................................28
1.2.2 Cura pelas terapias alternativas.....................................................................31
1.2.3 Tradição e religiosidade nos relatos de cura.................................................40
2 CONTEXTO HISTÓRICO, TRADIÇÃO POPULAR Y CURA ....................50
2.1 A cura na Comunidade Nazaré.........................................................................50
2.2Atuação dos agentes de medicina alternativa no marco cultural e econômico
da Comunidade Nazaré............................................................................................54
3 A MEDICINA ALTERNATIVA NA PERSPECTIVA DA NOVA GERAÇÃO
NA COMUNIDADE NAZARÉ...............................................................................65
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................67
INTRODUÇÃO
Os
trabalhos
antropológicos
na
área
de
saúde
tem
aumentado
progressivamente, existindo hoje vasta literatura sobre o assunto. Sabemos hoje que
noções, como as de saúde e doença, aparentemente simples referem-se, de fato, a
fenômenos complexos que conjugam fatores biológicos, sociológicos, econômicos,
ambientais e culturais. A complexidade do objeto, assim definido, transparece na
multiplicação de discursos sobre a saúde que coexistem atualmente, cada um
privilegiando diferentes fatores e sugerindo estratégias de intervenção e de pesquisa
também diversas.
Neste trabalho enfoca-se o tema saúde e cura a partir de uma experiência
junto a comunidade Nazaré, no município de Pedro II, interior do Estado do Piauí.
Esta pesquisa buscou analisar as relações entre os moradores da comunidade e os
agentes populares de cura. Além de entrevistas semi-estruturadas, uma observação
direta possibilitou a análise exaustiva dos dados e sua correlação com os
pressupostos teóricos. Constatou-se que as práticas da medicina convencional e da
medicina popular existem em uma mesma esfera de ação, porém são independentes e
não se relacionam. Após levantamento bibliográfico sobre o tema, optou-se por
focalizar os agentes produtores das ações curativas e não apenas os usuários dessas
ações, como tem sido abordado em vários trabalhos sócio-antropológicos.
De que forma as novas gerações convivem com estas práticas? Qual o papel
dos agentes de cura na construção da identidade local? Quem é a clientela que faz
parte desse universo de cura popular? Diante de tantas questões relevantes, procuro
através de leituras a cerca do tema da pesquisa, questionários e relatos orais,
compreender as práticas de curas populares.
Identifico que no decorrer dos anos, o saber popular conquistou o seu espaço,
fazendo com que a clientela pudesse escolher outras possibilidades de tratar a saúde e
doenças que afligiam as suas vidas, sejam elas de ordem física ou psicológica.
Atualmente, ganha especial destaque discussões sobre a utilização de produtos
naturais e fitoterápicos como meios de tratamento para as mais diversificadas
doenças. Conhecimento acumulado e validado por várias comunidades tradicionais
durante séculos em nosso país. Em Nazaré, comunidade rural, distante no mínimo
1
dez quilômetros do centro da cidade e onde não existem farmácias, encontramos uma
significativa quantidade de moradores que utilizam ervas medicinais como meio
bastante importante, e algumas vezes principal, de tratamento.
A comunidade de Nazaré sofreu forte influência indígena em termos de
práticas de curas, próprias de uma medicina popular que compõem o acervo cultural
do nordeste brasileiro. Tais práticas podem ser facilmente detectadas. Assim é que se
registra a atuação de rezadeiras e benzedores católicos, de benzedores umbandistas,
de médiuns espíritas, de pais-de-santo, de raizeiros, de ―garrafeiros‖ (pessoas que
fazem garrafadas de ervas para curar as mais diversas doenças) e, ainda, de pastores
pentecostais, que se dispõem a curar todos os males. Estes curadores populares podem
ser encontrados, com facilidade, tanto pelos moradores da comunidade, como por
pessoas de outras comunidades atraídas pela fama de cura de rezadoras como D. Maria
Néri.
O trabalho destes agentes retoma a tradição da cura através das ervas e rezas.
Ao longo da história dos povos, as ervas medicinais sempre foram utilizadas e
manipuladas por pessoas de reconhecimento e prestígio na sociedade. A magia das
plantas, historicamente ligada aos mitos, em diferentes culturas corroborou para a
compreensão da natureza humana. A diversidade cultural presente na história do
Brasil possibilitou no processo de constituição do povo brasileiro, que este saber,
principalmente do negro e do índio, chegasse aos dias atuais.
O conhecimento popular tomou vulto com o interesse e o intercâmbio entre as
culturas brasileiras, africanas e européias que resultou numa etnodiversidade de
plantas que passaram a ser usadas na medicina alternativa. No entanto, a
disseminação desse conhecimento generalizado até o século XIX, foi se perdendo à
medida que a indústria farmacêutica tomou conta. Hoje, principalmente nos
movimentos de saúde popular e também na academia, busca-se o resgate desse saber
acumulado em benefício da população.
Ao investigarmos a medicina popular em seus diferentes aspectos, importante
é nos atermos à cosmovisão médica que norteia o homem em seu meio social e
religioso, podendo estar aí, um dos pontos chaves para uma análise dos quadros
nosológicos que envolvem mente e corpo, as terapias adotadas e as curas. Assim,
partindo desta premissa, sabendo do papel da fé norteando os procedimentos
médicos, visto que sem fé não há cura, slogan comum entre curadores, podemos
admitir que a magia da medicina popular de poder curativo, repousa,
2
substancialmente, sobre as crenças religiosas daqueles que são curados e dos
curadores, estes, capazes de vasculhar os mistérios que circundam os poderes da
mente, adotando técnicas próprias de manipulá-la, a fim de atingir seus objetivos. Os
rezadores, benzedeiras e outros intitulados curadores, em seus rituais de cura,
geralmente, empunham elementos materiais de poderes mágicos como crucifixos,
óleos, água, instrumentos cortantes, ramos de plantas, entre outras coisas, para, em
atitudes propiciatórias, benzerem com o sinal da cruz, proferindo rezas e indicando
remédios. Sabe-se da importância que as plantas representam nas práticas médicas
populares em geral, principalmente na umbanda, visto estarem presentes em todos os
momentos da vida religiosa, tais como nos banhos de purificação, nas bebidas rituais,
nas comidas votivas, nos ritos de iniciação e, sobretudo nos remédios.
Não se pode pensar a cultura popular1 como algo estático, ela deve ser
entendida como um conjunto de saberes e costumes que são passados de geração a
geração, sendo continuamente acrescida de novos elementos, adaptáveis às
modificações do tempo e da História. Pensando em termos de Brasil, essa
constatação torna-se mais acentuada, pois se trata de um país de origem colonial:
seus costumes e saberes refletem um amálgama das diversas culturas presentes em
sua trajetória. É importante lembrar que houve uma tentativa constante de abafar
essa cultura popular e heterogênea em favor de um ideal de civilização específico.
Por mais que a historiografia tradicional analise o Brasil sob uma ótica eurocêntrica,
deve-se considerar seu riquíssimo manancial cultural e a forma dinâmica com que
esses saberes integraram-se e perpassaram gerações.
O tema proposto não pretende resgatar uma cultura esquecida, ao contrário,
visa entender que, embora geralmente esses ofícios sejam vistos com desdém por
uma sociedade baseada na experiência científica como a nossa, benzedeiras e
curandeiros estão intensamente presentes na vida cotidiana e no imaginário desta
comunidade.
3
1 SAÚDE, CURA E AS TRADIÇÕES POPULARES DENTRO DO
CONTEXTO HISTÓRICO - CULTURAL DA COMUNIDADE
NAZARÉ
1.1 Saúde: conceito de saúde e histórico das política de saúde pública no Brasil
A medicina é atualmente uma das áreas que mais vem inovando e se
transformando. As recentes descobertas da biogenética, o conhecimento acerca dos
agentes patológicos, os avanços nos processos de cura impõem uma reorganização de
tudo que se concebeu até então acerca do conhecimento do corpo.
Conseqüentemente, o conceito de saúde também vem sendo repensado, afinal
como afirma Amoroso:
O conceito de saúde reflete a conjuntura social, econômica, política e
cultural, ou seja, saúde não representa a mesma coisa para todas as
pessoas. Dependerá da época, do lugar, da classe social. Dependerá de
valores individuais, de concepções científicas, religiosas, filosóficas. O
mesmo, aliás, pode ser dito das doenças. Aquilo que é considerado
doença varia muito. Houve época em que masturbação era considerada
uma conduta patológica capaz de resultar em desnutrição (por perda da
proteína contida no esperma) e em distúrbios mentais. (AMOROSO,
2002, p. 34).
A saúde já foi definida, como sendo o estado de ausência de doença, tendo
o médico, como agente, atuando em um hospital. Neste modelo, o centro das
atenções era a patologia em si. O Controle de sua evolução e o retorno ao estado
de não doença eram os objetivos de todas as atividades.
Quando Christopher Boorse definiu, em 1977, a saúde como a simples
ausência de doença, pretendia apresentar uma definição "naturalista". Em 1981, Leon
Kass questionou que o bem-estar mental fosse parte do campo da saúde; sua
definição de saúde foi: "o bem-funcionar de um organismo como um todo", ou ainda
"uma atividade do organismo vivo de acordo com suas excelências específicas‖.
Lennart Nordenfelt definiu em 2001 a saúde como um estado físico e mental em que
é possível alcançar todas as metas vitais, dadas as circunstâncias.
4
Com o desenvolvimento de novas habilidades e conhecimentos a Medicina
foi se fragmentando, dando origem e espaço para outros profissionais de saúde. A
atividade ambulatorial se somou às desenvolvidas em ambientes hospitalares e
desta integração surge a noção de sistema de saúde. Aos aspectos físicos, ou
biológicos, foram sendo agregados os psicológicos e os sociais, igualmente
reconhecidos como causas de doenças. Desta forma, a saúde deixou de ser
entendida como um simples estado de ausência de doença para um estado de bem
estar físico, mental e social.
Não obstante, o grande avanço que esta nova definição trouxe para a
compreensão do fenômeno saúde, a visão ainda era estática. A noção de que a
saúde é um processo continuado e interdependente de preservação da vida, criou
uma nova dimensão social. A saúde passou a ser também um processo de
cidadania. Assim, todos cidadãos têm direitos, mas são igualmente responsáveis
pela manutenção.
A saúde, dentro deste enfoque, ocorre e é conseqüência de ações realizadas
em toda a sociedade. Isto não exime o Estado, o médico e outros profissionais de
saúde de suas responsabilidades, mas agrega uma variável fundamental de respeito
ao individuo, doente ou sadio, através do compromisso social solidário na
consecução do objeto maior de garantir condições dignas de vida a cada ser
humano. Este modo de entender a saúde abrange aspectos individuais e coletivos,
envolvendo questões ambientais e sociais.
Segundo a OMS-WHO (Organização Mundial da Saúde), uma pessoa
saudável deverá ter equilíbrio em quatro aspectos do ser humano:
1 – ESFERA FÍSICA – a saúde física é a primeira busca, porém a diferença
está se buscamos este equilíbrio denominado pelos fisiologistas de ―homeostase‖, de
dentro pra fora, ativando e mantendo íntegra nossa imunidade, ou se acreditamos que
intervenções externas com drogas muito potentes é que vão resolver nosso
desequilíbrio. Na MTC recomenda-se tratar os sintomas, mas também a causa,
evidenciando o princípio de tratar o ser humano como um todo.
2 – ESFERA MENTAL – há algum tempo atrás, nas sociedades ocidentais a
medida de valor de um ser, era o seu alto QI (quociente de inteligência), hoje
5
sabemos que este índice só mostrava a capacidade racional do indivíduo, sendo
atestado na atualidade no próprio mercado de trabalho, a valorização da inteligência
emocional, psíquica, espacial, social, lingüística, e tantas outras. Junto com estas
potencialidades residem as emoções, sentimentos estes capazes de alterar em
segundos toda nossa bioquímica fisiológica em reações que podem levar até a morte,
nos casos de paradas cardíacas ou derrames cerebrais, depois de vivências de
emoções muito fortes.
A era da informação que vivemos, também precisa ser a era do otimismo e do
pensamento positivo, cultivando valores nobres e emoções depuradas, evitando o
acúmulo dessas energias ou a falta delas, ocasionando as ditas doenças sociais, como
a depressão, ansiedade, distúrbios psíquicos, alcoolismo, tabagismo, obesidade e
tantos outros. No oriente há um adágio que diz ― uma pessoa é aquilo que ela
come‖,aqui fomos ensinados que uma pessoa é aquilo que ela pensa, mas com a alma
latina que predomina no Brasil, podemos dizer que uma pessoa é aquilo que ela sente
como queria Carl Jung.
3 – ESFERA SOCIAL – é sabido que o homem é um ser sociável, é um
princípio de nossa filosofia, sendo assim, como podemos considerar saudável os
―isolamentos‖ ou ―ausências‖, até mesmo quando percebemos que estamos no
trabalho, em casa, em família ou amigos, ou até mesmo numa prática religiosa, a
maioria ainda se sente solitária. A Saúde social é atingida à partir do momento que
entendemos que somos parte integrante de organizações, desde a primeira célula
social que é a família, amigos, colegas de trabalho, comunidades, escola, lazer. Em
resumo quem não se integra não se entrega para o exercício de sua socialização e
cidadania plena, com múltiplas atividades de diferentes aspectos, mas sempre
necessárias e complementares.
4 – ESFERA ESPIRITUAL – este ponto não tem nenhuma conotação
religiosa, porém trata da religiosidade e da necessidade do ser humano desenvolver
um sistema de crenças de acordo com sua cultura e influências, para cultivar sua
espiritualidade.
O conceito de saúde, para a OMS, divulgado na carta de princípios de 7 de
abril de 1948 (desde então o Dia Mundial da Saúde), implicando o reconhecimento
do direito à saúde e da obrigação do Estado na promoção e proteção da saúde, diz
6
que "Saúde é o estado do mais completo bem–estar físico, mental e social e não
apenas a ausência de enfermidade".
É necessário ressaltar que, quando a Organização Mundial da Saúde foi
criada, pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, havia uma preocupação em
traçar uma definição positiva de saúde, que incluiria fatores como alimentação,
atividade física, acesso ao sistema de saúde etc. O "bem-estar social" da definição
veio de uma preocupação com a devastação causada pela guerra, assim como de um
otimismo em relação à paz mundial — a Guerra Fria ainda não tinha começado. O
conceito da OMS, refletia, de um lado, uma aspiração nascida dos movimentos
sociais do pós–guerra em que saúde deveria expressar o direito a uma vida plena,
sem privações. A OMS foi ainda a primeira organização internacional de saúde a
considerar-se responsável pela saúde mental, e não apenas pela saúde do corpo.
No Brasil, com a Constituição de 1988, o direito à saúde foi elevado à
categoria de direito subjetivo público, num reconhecimento de que o sujeito é
detentor do direito e o Estado o seu devedor, além, é obvio, de uma responsabilidade
própria do sujeito que também deve cuidar de sua própria saúde e contribuir para a
saúde coletiva.
Hoje, compete ao Estado garantir a saúde do cidadão e da
coletividade. O texto constitucional, no artigo 196, diz:
Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL,1988).
Diante deste conceito abandonou-se um sistema que apenas considerava a
saúde pública como dever do Estado no sentido de coibir ou evitar a propagação de
doenças que colocavam em risco a saúde da coletividade e assumiu-se que o dever
do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas
econômicas e sociais, além da prestação de serviços públicos de promoção,
prevenção e recuperação.A visão epidemiológica da questão saúde-doença, que
privilegia o estudo de fatores sociais, ambientais, econômicos, educacionais que
podem gerar a enfermidade, passou a integrar o direito à saúde.
7
Esse novo conceito de saúde considera as suas determinantes e
condicionantes (alimentação, moradia, saneamento, meio ambiente, renda, trabalho,
educação, transporte etc.), e impõe aos órgãos que compõem o Sistema Único de
Saúde o dever de identificar esses fatos sociais e ambientais e ao Governo o de
formular políticas públicas condizentes com a elevação do modo de vida da
população.
Não se deve entender a saúde apenas como fenômeno puramente biológico,
uma vez que ela também é resultante de condições sócio-econômicas e ambientais,
devendo a doença ser considerada, no dizer de Giovanni Berlinguer, como:
Um sinal estatisticamente relevante e precocemente calculável, de
alterações do equilíbrio homem-ambiente, induzidas pelas transformações
produtivas, territoriais, demográficas e culturais, incontroláveis nas suas
conseqüências, além de sofrimento individual e de desvio duma
normalidade biológica ou social. (BERLINGUER, )
Atualmente, é aceito que os cuidados primários de saúde, adaptados às
condições econômicas, socioculturais e políticas de uma região deveriam incluir pelo
menos: educação em saúde, nutrição adequada, saneamento básico, cuidados
materno–infantis, planejamento familiar, imunizações, prevenção e controle de
doenças endêmicas e de outros freqüentes agravos à saúde, provisão de
medicamentos essenciais. Deveria haver uma integração entre o setor de saúde e os
demais, como agricultura e indústria.
Assim, não se pode mais considerar a saúde de forma isolada das condições
que cercam o indivíduo e a coletividade. Falar, hoje, em saúde sem levar em conta o
modo como o homem se relaciona com o seu meio social e ambiental é voltar à
época em que a doença era um fenômeno meramente biológico, desprovido de
qualquer outra interferência que não fosse tão somente o homem e seu corpo.
A crise do sistema de saúde no Brasil está presente no nosso dia a dia
podendo ser constatada através de fatos amplamente conhecidos e divulgados
pela mídia, como :
filas freqüentes de pacientes nos serviços de saúde;
falta de leitos hospitalares para atender a demanda da população;
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escassez de recursos financeiros, materiais e humanos para manter
os serviços de saúde operando com eficácia e eficiência;
atraso no repasse dos pagamentos do Ministério da Saúde para os serviços
conveniados;
baixos valores pagos pelo SUS aos diversos procedimentos médicoshospitalares;
aumento de incidência e o ressurgimento de diversas doenças
transmissíveis;
denúncias de abusos cometidos pelos planos privados e pelos seguros de
saúde .
Como analisar e compreender toda esta complexa realidade do setor de
saúde no país?
Para que possamos analisar a realidade hoje existente é necessário conhecer
os determinantes históricos envolvidos neste processo. Assim como nós somos frutos
do nosso passado e da nossa história, o setor saúde também sofreu as influências de
todo o contexto político-social pelo qual o Brasil passou ao longo do tempo.
Para analisarmos a história das políticas de saúde no país faz-se necessário a
definição de algumas premissas importantes, a saber:
1. A evolução histórica das políticas de saúde está relacionada diretamente a
evolução político-social e econômica da sociedade brasileira, não sendo possível
dissociá-los;
2. A lógica do processo evolutivo sempre obedeceu à ótica do avanço do
capitalismo na sociedade brasileira, sofrendo a forte determinação do capitalismo a
nível internacional;
3. A saúde nunca ocupou lugar central dentro da política do estado brasileiro,
sendo sempre deixada no periferia do sistema, como uma moldura de um quadro,
tanto no que diz respeito a solução dos grandes problemas de saúde que afligem a
população, quanto na destinação de recursos direcionados ao setor saúde.
Somente nos momentos em que determinadas endemias ou epidemias se
apresentam como importantes em termos de repercussão econômica ou social dentro
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do modelo capitalista proposto é que passam a ser alvo de uma maior atenção por
parte do governo, transformando-se pelo menos em discurso institucional, até serem
novamente destinadas a um plano secundário, quando deixam de ter importância.
Podemos afirmar que de um modo geral os problemas de saúde tornam-se
foco de atenção quando se apresentam como epidemias e deixam de ter importância
quando os mesmos se transformam em endemias.
4. As ações de saúde propostas pelo governo sempre procuram incorporar os
problemas de saúde que atingem grupos sociais importantes de regiões socioeconômicas igualmente importantes dentro da estrutura social vigente; e
preferencialmente tem sido direcionadas para os grupos organizados e aglomerados
urbanos em detrimento de grupos sociais dispersos e sem uma efetiva organização;
5.A conquista dos direitos sociais (saúde e previdência) tem sido sempre uma
resultante do poder de luta, de organização e de reivindicação dos trabalhadores
brasileiros e, nunca uma dádiva do estado, como alguns governos querem fazer
parecer.
6. Devido a uma falta de clareza e de uma definição em relação à política de
saúde, a história da saúde permeia e se confunde com a história da previdência
social no Brasil em determinados períodos.
7. A dualidade entre medicina preventiva e curativa sempre foi uma
constante nas diversas políticas de saúde implementadas pelos vários governos.
A constituinte de 1988 no capítulo VIII da Ordem social e na seção II
referente à Saúde define o SUS no artigo 198 que :
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada, e constituem um sistema único, organizado de acordo com as
seguintes diretrizes:
I.
Descentralização , com direção única em cada esfera de governo;
II. Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem
prejuízo dos serviços assistenciais;
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III. Participação da comunidade
Parágrafo único - o sistema único de saúde será financiado , com recursos do
orçamento da seguridade social, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, além de outras fontes‖.
O texto constitucional demonstra claramente que a concepção do SUS estava
baseado na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da
população, procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem-estar
social, especialmente no que refere a saúde coletiva, consolidando-o como um dos
direitos da CIDADANIA. Esta visão refletia o momento político porque passava a
sociedade brasileira, recém saída de uma ditadura militar onde a cidadania nunca foi
um princípio de governo. Embalada pelo movimento da diretas já , a sociedade
procurava garantir na nova constituição os direitos e os valores da democracia e da
cidadania.
Apesar do SUS ter sido definido pela Constituição de 1988 , ele somente foi
regulamentado em 19 de setembro de 1990 através da Lei 8.080.Esta lei define o
modelo operacional do SUS, propondo a sua forma de organização e de
funcionamento Algumas destas concepções serão expostas a seguir.
Primeiramente a saúde passa a ser definida de um forma mais abrangente:
A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a
alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e
serviços essenciais: os níveis de saúde da população expressam a
organização social e econômica do país. (BRASIL, 1988)
O SUS é concebido como o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados
por orgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração
direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. A iniciativa privada
poderá participar do SUS em caráter complementar.
Foram definidos como princípios doutrinários do SUS:
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UNIVERSALIDADE - o acesso às ações e serviços deve ser garantido a
todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação, ou outras
características sociais ou pessoais;
EQUIDADE - é um princípio de justiça social que garante a igualdade da
assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie .A rede de
serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser atendida;
INTEGRALIDADE - significa considerar a pessoa como um todo,
devendo as ações de saúde procurar atender à todas as suas necessidades.
Destes derivaram alguns princípios organizativos:
HIERARQUIZAÇÃO - Entendida
como um conjunto articulado e
contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos,
exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema; referência e
contra-refrência;
PARTICIPAÇÃO POPULAR - ou seja a democratização dos processos
decisórios consolidado na participação dos usuários dos serviços de saúde no
chamados Conselhos Municipais de Saúde;
DESENCENTRALIZAÇÃO POLÍTICA ADMINISTRATIVA
consolidada com a municipalização das ações de saúde, tornando o
município gestor administrativo e financeiro do SUS;
Os objetivos e as atribuições do SUS foram assim definidos:

Identificação e divulgação dos fatores condicionantes e determinantes
da saúde;

Formular as políticas de saúde;

Fornecer assistência às pessoas por intermédio de ações de promoção,
proteção e recuperação da saúde, com a realização integrada das ações
assistenciais e das atividades preventivas.

executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica ;

executar ações visando a saúde do trabalhador;

participar na formulação da política e na execução de ações de
saneamento básico;
12

participar da formulação da política de recursos humanos para a
saúde;

realizar atividades de vigilância nutricional e de orientação alimentar;

participar das ações direcionadas ao meio ambiente;

formular
políticas
referentes
a
medicamentos,
equipamentos,
imunobiológicos, e outros insumos de interesse para a saúde e a
participação na sua produção;

controle e fiscalização de serviços , produtos e substâncias de
interesse para a saúde;

fiscalização e a inspeção de alimentos , água e bebidas para consumo
humano;

participação no controle e fiscalização de produtos psicoativos, tóxicos
e radioativos;

incremento do desenvolvimento científico e tecnológico na área da
saúde;

formulação e execução da política de sangue e de seus derivados:
Pela abrangência dos objetivos propostos e pela existência de desequilíbrios
socio-econômicos regioniais, a implantação do SUS não tem sido uniforme em todos
os estados e municípios brasileiros, pois para que isto ocorra é necessário uma
grande disponibilidade de recursos financeiros, de pessoal qualificado e de um
efetiva política a nível federal, estadual e municipal para viabilizar o sistema.
A Lei 8.080 estabeleceu que os recursos destinados ao SUS seriam
provenientes do Orçamento da Seguridade Social .A mesma lei em outro artigo
estabelece a forma de repasse de recursos financeiros a serem transferidos para
estados e municípios, e que deveriam ser baseados nos seguintes critérios : perfil
demográfico ; perfil epidemiológico; rede de serviços instalada; desempenho técnico;
ressarcimento de serviços prestados. Este artigo foi substancialmente modificado
com a edição das NOBs que regulamentaram a aplicação desta lei.
NOB é a abreviatura de Norma Operacional Básica, que trata da edição de
normas operacionais para o funcionamento e operacionalização do SUS de
competência do Ministério da Saúde, tendo sido editadas até hoje: a NOB-SUS
13
01/91, NOB-SUS 01/93, NOB-SUS 01/96, e que serão mencionadas em outras
partes deste texto.
O SUS ao longo da sua existência sempre sofreu as consequências da
instabilidade institucional e da desarticulação organizacional na arena decisória
federal que aparecem para o senso comum como escassez de financiamento.
Independente da origem política e da respeitabilidade, os ministros da saúde
como será visto na seqüência deste texto, foram transformados em reféns das
indefinições e rupturas que sempre colocaram à deriva as instituições de saúde do
Brasil.
Apesar das dificuldades enfrentadas pode-se afirmar que ao nível da atenção
primária o SUS apresentou progressos significativos no setor público, mas enfrenta
problemas graves com o setor privado, que detém a maioria dos serviços de
complexidade e referência a nível secundário e terciário. Estes setores não se
interessam em integrar o modelo atualmente vigente em virtude da baixa
remuneração paga pelos procedimentos médicos executados, o que vem
inviabilizando a proposta de hierarquização dos serviços.
14
1.2 A concepção de Cura na perspectiva antropológica
Entendendo, portanto, o conceito de saúde como algo relacionado a condições
internas e externas, acredita-se que a experiência da doença é moldada culturalmente,
o que determina a maneira como percebemos e como buscamos superá-la. Podemos
dizer que nós literalmente ―aprendemos a ficar doentes‖, de acordo com o nosso
meio social, que influencia diretamente a forma como sentimos as doenças,
expressamos seus sintomas e utilizamos os recursos de cura à nossa disposição.
Importante lembrar que as doenças na medicina popular, dado ao seu vínculo
com credos religiosos, ganham dimensões que diferem dos meios médico-científicos.
De etiologias várias, as doenças podem ser divididas, em duas categorias: doenças
materiais provocadas por agentes naturais e doenças espirituais, que de maneira
simplificada correspondem àquelas em que a medicina oferecida pelas instituições
oficiais não procuram resolver e que, segundo crença popular, só reza cura. Exemplo
de ―males‖ como: doença-de-macaco, mal-de-sete-dias, espinhela-caída, mal-debofe, mau-olhado, quebranto, ―patologias‖ que poderão ser entendidas como
síndromes culturais, visto que os agentes ―patogênicos‖ prendem-se em sua maioria,
a idéias de caráter subjetivo, cujos significados ficam circunscritos em grupos sociais
que se articulam em campos semânticos próprios, cujas terapias adotadas são
essencialmente mágicas.
Segundo Kleinman et al. (1978) e Kleinman
(1980)
(citados em OLIVEIRA,
2002,p. 66) há, resumidamente, pelo menos cinco elementos envolvidos nesse
modelo explanatório sobre a doença:
1) etiologia do problema;
2) duração e características dos sinais e sintomas iniciais;
3) fisiopatologia do problema;
4) evolução natural e prognóstico; e
5) tratamento indicado para o problema.
15
Os antropólogos médicos têm contribuído para a compreensão deste
fenômeno no sentido de explicitar que todas as atividades relacionadas com o
cuidado à saúde estão
interrelacionadas, tendendo a constituir uma forma
socialmente organizada para enfrentar a doença, e formam, a exemplo da religião e
da linguagem, um sistema cultural próprio, que é o sistema de atenção à saúde
(Kleinman, 1980; Rhodes, 1996). Em cada cultura, a doença, a resposta a ela, os
indivíduos que a experienciam, os que se ocupam em tratá-la e as instituições
envolvidas estão interconectados mediante esse sistema, que também contempla,
entre outros elementos, as crenças sobre a origem das doenças, as formas de busca e
avaliação do tratamento, os papéis desempenhados e as relações de poder entre todos
os envolvidos (Calnan, 1988; Foucault, 1979; Boltanski, 1984). Os pacientes e os
agentes de cura são componentes básicos do sistema, estando imersos num contexto
de significados culturais e de relações, não podendo ser entendidos fora dele
(Bodstein, 1995).
Tanto as crenças quanto os padrões de comportamento dos indivíduos fazem
parte desse sistema de atenção à saúde e são, em grande parte, derivados de regras
culturais. Neste sentido, a inclusão do pensamento de Geertz (1978) torna-se
pertinente nesta discussão, pois esse autor defende a idéia da cultura como uma ―teia
de significados‖ e da importância de a analisarmos enquanto ação e como sistema
simbólico. Como ação, a forma de expressão da cultura é pública, pressupondo, no
discurso social, a existência de ―protagonistas‖ e ―assistentes‖ que se comunicam
entre si a partir de interpretações de códigos socialmente estabelecidos de modo
prévio. Ou seja, como diz o autor, ―a cultura é pública porque o significado o é‖. Isso
é importante especialmente em relação ao tema desta pesquisa, uma vez que parece
ser evidente que os aspectos relacionados à saúde/doença envolvem ações dos
indivíduos, expressos na forma como percebem a doença, estabelecem um
―diagnóstico‖ e buscam um tratamento.
A outra contribuição importante de Geertz é quanto ao próprio método para
desvendar a cultura e seus significados, que é, segundo o autor, essencialmente
interpretativo. Em outras palavras, é a realidade simbólica que permitiria ao paciente
atribuir significados a partir de sua experiência individual e segundo as normas
sociais e culturais do seu grupo.
16
E é por essa razão que, como qualquer outro sistema cultural, precisa ser
entendido em termos de sua atividade instrumental e simbólica. Como afirma
Kleinman (1980), estudos de nossa própria sociedade e investigações comparativas
devem iniciar contemplando a atenção à saúde como um sistema que é social e
cultural na sua origem, estrutura, função e significado.
E por isso é também importante a discussão sobre a construção social da
realidade, abordada por Berger & Luckman (1995), no sentido de tornar claras as
relações humanas estabelecidas pelo indivíduo com os outros e com o mundo que o
rodeia. São relações governadas por regras culturais específicas, incorporadas pelos
indivíduos, que as provêem de significado e as legitimam perante o grupo social.
Kleinman (1980, p.38) sustenta que
(...) a prática clínica (tradicional e moderna) ocorre em e cria mundos
sociais particulares. Crenças sobre doenças, os comportamentos exibidos
pelas pessoas doentes – inclusive as suas expectativas frente ao
tratamento – e o modo como as pessoas doentes reagem em relação à
família e aos profissionais de saúde são todos aspectos da realidade
social. Elas, como o próprio sistema de saúde, são construções culturais,
moldadas distintamente em diferentes sociedades e nos diferentes
contextos sociais dentro dessas mesmas sociedades. (KLEINMAN,
1980,p. 38)
Como pode ser observado, a relação que as comunidades estabelecem com os
seus serviços de saúde é complexa, pois envolve aspectos culturais de ambos os
lados. Ou seja, é uma questão da própria dinâmica da interação, em que está em jogo
a legitimação do serviço frente à comunidade, que de certa maneira outorga poder a
esse grupo de profissionais para lidar com alguns de seus problemas de saúde.
Mas, o sistema de atenção à saúde não se limita ao setor formal. Kleinman
(1980) sustenta que esse sistema é composto, de modo genérico, por três partes que
por vezes se sobrepõem: o setor popular, o setor profissional e o setor folk, que pode
ser traduzido como setor paraprofissional
O setor popular, em geral, o maior deles, é aquele em que a família e o grupo
social mais próximo desempenham papel importante. É um espaço eminentemente
―leigo‖, onde a doença começa a ser definida e onde são desencadeados os vários
processos terapêuticos de cura.
17
Já o setor profissional representa a organização formal da prática de saúde, na
maior parte dos casos, tendo a Biomedicina como referência. É o setor que, em certos
países, por ser mais desenvolvido, organizado e poderoso, acabou submetendo todas
as outras práticas de saúde à sua autoridade. Pela sua grande penetração e pelo poder
de que dispõe em algumas sociedades, como a brasileira, o setor profissional busca
impor-se sobre os demais setores, forçando ao que tem sido referido como um
processo de medicalização da sociedade, baseado num modelo ―científico‖ e
biológico (CAMARGO JR, 1995;LUZ, 1979).
E por fim, o setor paraprofissional, que abrange todas as demais práticas de
saúde ―não-profissionalizadas‖, como erveiros, benzedores, práticas religiosas e
outras formas alternativas de cura. Este modelo proposto é conveniente, pois pode
ser adaptado a diversas sociedades. Assim, os chamados países desenvolvidos
possuem um setor profissional muito vigoroso, ao passo que outros países podem
apresentar o setor para-profissional maior.
A cura envolve muito mais que os fatores mecânicos, processos e métodos ou
recursos utilizados. A cura é muito mais que extirpar tumores,suturar vasos, deter
hemorragias,substituir vasos e órgão, receitar medicamentos.‖A cura é o
reajustamento do individuo à divina ordem com a natureza‖.
Existem várias maneiras de se praticar a arte de curar e muitas são as terapias
que podemos utilizar para este fim como: água, ar puro, sol plantas, terra, massagens,
exercícios, deitas em jejum e tantos outros meios naturais que usados de forma
adequada irão proporcionar a cura de muitas doenças.
Oliveira estudou as benzedeiras na cidade de Campinas, a partir da oposição
entre medicina popular e medicina oficial. Para aquela autora, o propósito principal
da medicina oficial seria contribuir para o controle e opressão das classes
trabalhadoras por parte das classes dominantes. Já a medicina popular, baseada no
benzimento, seria uma alternativa construída pelas classes populares para resistir a
essa dominação e opressão. Em suas palavras,
18
Como resistência política, a medicina popular é um conjunto de formas de
cura e de concepções de vida que se colocam como alternativas àquelas
oferecidas pela ciência erudita. . . Se a medicina popular existe e resiste é
porque seus recursos de cura respondem aos interesses e necessidades de
alguns setores da nossa população. Se elas não tivessem uma eficácia, já
teriam sido sufocadas pelas outras formas de cura realizadas em nome da
ciência e do saber legítimo. . . Como uma forma específica de produzir
curas, a medicina popular é parte da história concreta de determinados
grupos sociais, sobretudo migrandes. Ela se constitui numa das
expressões vivas, do ponto de vista político e cultural, da sua
sobrevivência na cidade e da luta constante entre dominantes e
dominados. (Oliveira, 2003,p. 10-12)
Assim como existe a cura existe também a autocura e autocura significa a
cura de si mesmo. É um processo natural de regeneração do organismo, utilizado
tanto pelos homens que praticam terapias alternativas quanto pelos médicos que
utilizam a alopatia (medicina convencional). Todos os processos, incluindo as
cirurgias, utilizam-se de meios para neutralizar ou amenizar o processo destrutivo em
curso, para que o organismo restabeleça a harmonia.
Trate das suas feridas físicas com a ajuda do seu médico e elimine, você
mesmo, as feridas emocionais com o otimismo e com sentimentos nobres
e elevados. Em pouco tempo as melhoras aparecerão e as suas
defesas naturais voltarão a reorganizar as moléculas em uma harmonia
que extirpa definitivamente os males que o afligem. Embora você não
perceba, poderosas energias emocionais positivas estarão agindo nas
instâncias não-físicas do seu ser gerando a "saúde global".
Convém salientar aqui que o processo de autocura permite aplicar outras
técnicas alternativas, além da utilização da imaginação positiva. Comer alimentos
que contenham nutrientes e princípios ativos favoráveis ao processo de cura, praticar
exercícios físicos regulares, fazer caminhadas, freqüentar aulas de ioga, praticar
relaxamento e meditação, cultivar fé em si mesmo e em algo de transcendental que
supera a limitação do mundo material etc. Tudo isso é válido, desde que não
substitua o papel fundamental do médico e o tratamento em si.
Falar de cura e tradições populares remete ao papel do curandeiro. Segundo
Ferreira (1993, p.157), curandeiro é ―o que cura por meio de rezas e feitiçarias‖, e
curandeirismo é ―a atividade ou conjunto das práticas dos curandeiros.‖ Considerouse curandeiro aquele que diz curar por meio de rezas e/ou benzeduras, feitiçarias,
chás, raízes e garrafadas e curandeirismo todas essas práticas.
19
Com relação a essas práticas, a Conferência Internacional sobre Cuidados de
Primários de Saúde de Alma – Ata (1978) afirma que:
Na maioria das sociedades, existem médicos e parteiras tradicionais.
Sendo muitas vezes parte integrante da comunidade, da cultura e das
tradições locais, em muitas localidades continuam a manter alta posição
social, exercendo considerável influência sobre as práticas sanitárias
locais. Com apoio do sistema formal de saúde, esses praticantes
autóctones podem transformar-se em importantes aliados na organização
de medidas para aprimorar a saúde da comunidade. Certas comunidades
poderão escolhê-los como agentes de saúde da comunidade. Logo, vale a
pena explorar as possibilidades de fazê-los participar dos cuidados
primários de saúde e de lhes proporcionar treinamento apropriado
(ALMA-ATA, 1978, p. 51) .
No que diz respeito à relação entre o sistema formal e informal de cuidados
da saúde, esta conferência propõe:
Os cuidados primários de saúde serão mais eficazes se empregarem meios
que,compreendidos e aceitos pela comunidade, sejam aplicados por
pessoal de saúde da comunidade a um custo que esteja ao alcance da
comunidade e do país. Esse pessoal de saúde da comunidade, entre os
quais se incluem, onde pertinente, os praticantes da medicina tradicional,
melhor se desempenharão se residirem na comunidade a que servem e se
receberem treinamento social e tecnicamente adequado para atender as
necessidades de saúde que a própria comunidade considera relevantes
(ALMA-ATA,1978, p.29).
Como afirma Laplantine, o curandeiro raramente possui um conhecimento,
mas sim um conjunto de habilidades que se enriquecem no decorrer de sua
experiência. E, principalmente, exerce um poder fundamentado no reconhecimento
de parte do grupo social (LAPLANTINE, 1989).
Levi-Strauss (1970) disse sobre a eficácia da magia, que o processo da cura
não acontece somente a partir do doente, mas sim da percepção coletiva de como
ocorre a cura:
A eficácia da magia implica na crença da magia, e que esta se apresenta
sob três aspectos complementares: existe, inicialmente, a crença do
feiticeiro na eficácia de suas técnicas; em seguida, a crença do doente que
ele cura, ou da vítima que ele persegue, no poder do próprio feiticeiro;
finalmente, a confiança e as exigências da opinião coletiva, que forma a
cada instante uma espécie de campo de gravitação no seio do qual se
define e se situam as relações entre o feiticeiro e aqueles que ele
enfeitiça(LEVI-STRAUSS,1970, p.184).
20
E, sobre o poder do feiticeiro, afirma, esse antropólogo que: o feiticeiro não
se torna grande por curar seus doentes, mas sim só cura os doentes por ter se tornado
um grande feiticeiro. O que mostra que a relação do indivíduo com o grupo e suas
exigências é que o faz eficaz ou ineficaz como feiticeiro. Podendo desconstituir ou
reconstituir de acordo com o consensus social (LEVI-STRAUSS, 1970, p. 198).
Márcia Moisés Ribeiro afirma que no Brasil colonial não existia uma
distinção rígida entre o conhecimento erudito sobre magia, alquimia, crenças
religiosas e aquilo que era o saber popular. A autora explica que, parecia que as
práticas de curandeiros eram muito diferentes daquelas realizadas pelos médicos
diplomados, medicina considerada a oficial. Mas, na verdade, a denúncia era sempre
contra quem praticava a cura e não a forma como esta se dava. O processo de cura
era semelhante entre as duas práticas (a popular e a oficial), a fronteira entre o lícito e
o ilícito é que era tênue.
Vividas cotidianamente de forma semelhante por todos os extratos da
sociedade, as diversas concepções terapêuticas difundidas no Brasil
colonial se entrecruzaram num ambiente extremamente conflituoso. Em
ampla variedade de aspectos, o saber médico erudito e o popular eram
indissociáveis, no entanto, os representantes da arte oficial lutavam
ferrenhamente contra os que praticavam curas na informalidade.
Reivindicando para si o controle do corpo, a medicina esvaziava o sentido
dos conhecimentos terapêuticos populares e reinterpretava-os à luz do
saber erudito (RIBEIRO,1997,.89)
Alves (1997) citando Montero (1985), disse que os casos em que a medicina
acadêmica não consegue resolver, a medicina popular se coloca como sendo uma
prática complementar e/ou alternativa na solução dos problemas, enquanto a
medicina acadêmica, não reconhece a existência de outra medicina que não ela
própria.
Loyola (1984), comenta que as doenças podem ser de caráter material e
espiritual, o que faz com que os tratamentos sejam distintos e determine qual será o
tipo de tratamento a ser procurado. As doenças materiais são aquelas que apresentam
perturbações orgânicas cujas causas parecem evidentes e, principalmente, aquelas em
que o doente apresenta sintomas considerados graves. Neste caso eles são enviados
ao médico; em caso contrário, são tratados com a farmacopéia popular (Loyola,
1984, p. 63). Sob o ponto de vista das técnicas de cura, a doença espiritual é a que o
21
médico desconhece e não compreende, e a que ele não cura (LOYOLA, 1984, p.
165).
Percebe-se que as pessoas utilizam tanto as práticas de cura populares quanto
as científicas. Sobre essa questão, Nunes (1989), em sua pesquisa concluiu, que
As pessoas utilizam essas práticas por terem noções diversas do que é ou
não saúde e de como lidar com a doença. Isto porque coexistem, no
mesmo indivíduo, noções científicas e não científicas, que ele usa
paralelamente para distintos tipos de doença, de tal modo que algumas
caem no âmbito da terapia médica e outras no âmbito da terapia não
médica. Por isso é que se vê o indivíduo recorrer, em alguns casos, ao
médico e, em outros, a pessoas fora da profissão (NUNES, 1989, p.45).
Segundo Laplantine (1989, p. 50) a magia é um ato de fé em um princípio de
harmonia: o equilíbrio do homem, da natureza e da cultura que se opõe à tendência
de dissociação do homem, da natureza e da cultura, cujo corolário é a especialização.
No contexto das relações entre a medicina científica e as práticas de
curandeirismo, M. A. Loyola afirma que como as práticas de curandeirismo e a
medicina tradicional sobrevivem no mesmo espaço, caracterizam-se tanto pela
complementaridade quanto pela oposição (LOYOLA, 1984, p.194).
A medicina tradicional dentro do seu poder de conhecimento esconde suas
imperfeições ao compreender de forma equivocada as manifestações da medicina
popular, que muitas vezes suprem as necessidades do indivíduo que ela não consegue
atender.
É necessário destacarmos que a atividade dos curandeiros é algo que está
enraizado há tempos na cultura popular. Podemos citar sua existência desde a
Antiguidade, passando pela Idade Média, quando muitos destes tiverem sua
existência interrompida por serem considerados pela Inquisição como bruxos e
malfeitores. Posteriormente, eles passaram e ser objetos do controle social exercido
por interesses políticos e econômicos na sociedade ocidental, inclusive na brasileira.
Neste sentido, como bem o lembra a autora Elda Rizzo de Oliveira, o ―oficio
da benzeção‖ deve ser compreendido sob dois enfoques:
22
(...) como um modo de curas, (...) como um instrumento de intervenção
no processo histórico social, ainda que ela não o faça de forma consciente
e critica. Tal oficio é produzido e reinventado nas estreitas brechas do
saber erudito e á sua revelia, quando este tenta impor-lhe a sua visão de
mundo como se ela expressassem as necessidades da sociedade em seu
conjunto.( OLIVEIRA, 2002,p. 64)
Não podemos deixar de consideramos o fato de que a benzeção está
correlacionada à religião, até porque durante o ritual dos curandeiros, estes sempre se
utilizam de uma oração, das imagens de santos, água benta, rosário, etc. No entanto
isso não significa que esteja vinculada única e exclusivamente ao catolicismo. Muito
pelo contrario existem relações outros simbolismo do Umbanda, Candomblé. Elda
Rizzo Oliveira, destaca:
O modo como cada profissional encaminha a sua benção releva a sua
formação religiosa e sua visão de mundo, da qual a sua benção é uma das
expressões. No ato da benção, cada pessoa que benze revitaliza
determinados símbolos sagrados. Esse símbolos passam uma dada, visão
do aprendido que pode ser reconstruído não como símbolos soltos e
dispersos, mas como símbolos que permeiam a produção social da vida e
as
relações
entre
as
pessoas,dando
significado
as
ambas.(OLIVEIRA,2002,p. 70)
Dessa maneira, percebemos a que diversidade envolve a pratica dos
curandeiros, seu campo de atuação e sua legitimidade. Assim também são variáveis
as modalidades religiosas de profissionais populares da benzeção e significativos os
modos como se apresentam é como posicionam frente à utilização de recursos
terapêuticos, financeiros, necessários ou de decorrentes de suas praticas.
É notório perceber que esses profissionais populares de cura construíram uma
relação direta com os oprimidos ao longo de suas vidas e no contexto social que
envolve esses seguimentos – O Curandeirismo e o seu cliente – por atuarem
justamente num campo de saúde que dantes era considerado próprio da medicina
formal.
Justamente por fazer parte da cultura popular das pessoas é que ocorre maior
identificação por partes das mesmas com essa prática que foi se estendendo cada vez
mais, ampliando seu campo de atuação.
O curandeirismo é uma prática de existência longínqua, visto que desde a
Antiguidade, o conflito saúde / enfermidade já existia para toda espécie de ser vivo.
23
Na pré-história, o homem parecia agir muitas vezes, instintivamente, como os
animais no tratamento de suas doenças.
Durante o período medieval, o ofício de curar as pessoas, por meios que não
se enquadravam nos preceitos da Igreja, foi muito combatido pelo Tribunal do Santo
Ofício.
Podemos citar que essa forma de controle social realizada pela inquisição foi
uma maneira encontrada para frear essa atividade desenvolvida por pessoas
consideradas social e economicamente fora dos padrões exigidos na época. Essa
situação era interpretada como uma afronta aos valores definidos pela Igreja, que em
contrapartida criaram medidas drásticas como prisões, torturas e mortes, para excluir
essas pessoas do convívio social.
Na Época Moderna, muitas correntes populares existentes, viram-se
soterradas pelas fogueiras que queimavam feiticeiras, judeus, heréticos. Foi um
período que marcou a ruptura violenta entre o universo popular e o erudito
transformando a feiticeira de aldeia – a quem todos recorriam e com a qual
conviviam diariamente sem temores –em um inimigo a exterminar.
Podemos perceber então que o curandeiro era uma pessoa respeitada pela vila
ou comunidade onde morava. Sua presença era requisitada em diversos casos,
inclusive nos de enfermidades, A crença nessas pessoas decorria do ―valor moral‖
que possuíam, e também das qualidades especiais que adquiriam com o tempo.
A procura de profissionais populares de cura, estava relacionada também com
a praticidade dos remédios que receitavam. Eles sabiam identificar doenças comuns e
receitar remédios para elas, recorrendo ao vasto conhecimento acumulado ao longo
do tempo sobre as plantas. Sua forma de tratamento deixaria as feridas livres de
ungüentos prejudiciais, permitindo-lhes uma recuperação natural.
Dentre os fatores que davam sustentação à prática dos curandeiros, em
especial a sua fama, estavam articulados os apelos, os ―métodos‖ e a
―espiritualidade‖ do próprio cliente.
Como ressalta Keith Tomas:
Muitos curandeiros são capazes de obter grande êxito ao tratarem de
pacientes com sintomas somáticos, sem qualquer patologia orgânica. Ele
curava seus pacientes mais pela mente do que pelo corpo e seus métodos
antecipavam estudiosos dos males psicossomáticos. (THOMAS,1991)
24
É importante destacar que os curandeiros, os benzedeiros, ou as pessoas que
se dedicam à medicina popular, tem uma relação muito significativa com a
população, obtendo uma aceitação estritamente favorável, pois estão mais próximas
das pessoas, de seus males muitas vezes não só do ―corpo‖, mas da ―alma‖. Esse tipo
de medicina parece contar com grande prestígio junto às populações de baixa renda,
tanto no que se refere ao diagnóstico quanto no tratamento das doenças.
Em muitas ocasiões não é exclusivamente a falta de recursos econômicos do
paciente que esta por trás dessa prática, mas uma crença popular, uma visão do
mundo, do organismo e da saúde em parte incompatível com a medicina legitimada
pelos cânones da ciência.
É certo que a persistência da ―medicina popular‖ em grandes centros urbanos,
assim como em cidades interioranas demonstra – que ela não é exclusivamente fruto
do isolamento geográfico ou da falta de atenção médica. Ela é também uma
alternativa possível às longas filas de hospitais a espera de atendimento e às receitas
inacessíveis dos médicos.
Deve-se destacar que a crença na eficácia das técnicas utilizadas pelo
curandeiro não tem como conseqüência uma rejeição da medicina oficial,
bem como as práticas exercidas pelo médico e pelo o ―benzedor‖ são
vistas como absolutamente antagônicas. ―A desconfiança que as classes
populares muitas vezes apresentam não recai sobre o saber médico
propriamente dito, mas talvez na maneira como se dá o atendimento da
medicina científica‖.(OLIVEIRA, 2002,p. 79)
Além do mais, aos olhos dos membros das camadas de baixa renda que
normalmente recorrem aos seus serviços, o ―curandeiro‖ não é somente o ―médico‖
que pertence a sua classe social, fala sua linguagem e compartilha com ele sua visão
do mundo e suas representações sobre a doença e a saúde, mas é sobretudo aquele
que o aborda em sua totalidade,ou seja, aquele que procura acalentar, além de seu
corpo,também sua alma.
De uma forma ou de outra a benzeção é veiculada por meio de um profundo
respeito pela vida, de uma forte valorização da solidariedade, da defesa da natureza
ao recuperar as plantas saudáveis para reproduzir curas e pela proximidade nas
25
longas e calorosas conversas. Com o partilhar dessas experiências, ela multiplica o
seu saber, reduzindo a angustia de seu cliente.
Extraindo algumas idéias de Levy-Strauss (1975), podemos admitir que, a
eficácia das terapias adotadas pelos detentores da arte de curar, podem estar em 4
elementos básicos:
1. . na palavra do curador, dono de profundo conhecimento humano e da
arte da perspicácia (Camargo, 2003,p.49), capaz de formular
perguntas de forma a corrigir a estrutura semântica das respostas, a
fim de esclarecer as relações de causa e efeito pressupostos e outras
distorções semânticas (França, 1999:49) a fim de conduzir o doente à
crença na cura almejada;
2. na crença do curador na eficácia das técnicas por ele adotadas,
assentadas em sua experiência pessoal, deixando transparecer a total
segurança no que faz;
3. .na sincera crença do doente quanto aos poderes sobrenaturais do
curador, capaz de atos mágicos, que provêm de dons divinos, fazendonos lembrar, ainda, que a magia é, por definição, objeto de crença,
pois só se procura o mágico porque se crê nele.
4. .no consenso, ou seja, na confiança expressa por todo o grupo
familiar, social e religioso, sobre os reais poderes do curador,
transmitindo total confiança ao doente quanto a certeza da cura
desejada.
Neste sentido, temos que ter em conta, como a relação da linguagem com a
produção de imagens mentais e reações comportamentais, podem causar transtornos
emocionais com sintomas patológicos e como a palavra pode se tornar remédio
potente para curar, principalmente se forem feridas simbólicas (Quintana, 1999) que
estão ao nível das representações mentais (França (op.cit.:2002,p.68-70).
Resumido, dentro desta pratica popular conhecida como ―Curandeirismo‖,
muitas vezes sem o saber, esses especialistas de cura definem dentro da sociedade
em que vivem, umas posições respeitadas através da atividade concreta do oficio que
exercem, revelando aos seus clientes que no campo da saúde, por mais que os
26
médicos os hostilizem, não há uma única e ideal forma de lidar com as doenças, as
angústias e as aflições. A benzeção, de certa forma, também pode constituir uma
delas.
Enfatizando o ponto de que não há possibilidade das classes populares
criarem uma cultura isolada das condições de existência que lhes foram impostas,
Boltanski entende a ''medicina popular" como um conjunto de conhecimentos e
práticas científicas de outrora coexistindo com um conjunto de conhecimentos e
práticas difundidas pelos médicos e farmacêuticos de hoje. Assim, não há lugar para
autonomia e nem para criação cultural espontânea de classes sociais que se definem
pelo seu aspecto de subordinação.
Aspecto importante levantado por Loyola explica que a concorrência que a
medicina popular faz à medicina oficial não se situa tanto no plano intelectual do
saber, como no da solidariedade emocional da classe. Assim, um paciente
encontraria num curandeiro, ao contrário do que poderia encontrar num médico,
alguém que teria uma experiência de vida semelhante, que falaria a mesma língua e
que poderia, portanto, compreendê-lo. A doença não seria assim observada como
algo estritamente biológico e sintomático, mas envolveria aspectos sociais e
psicológicos, ou seja, a pessoa numa dimensão muito mais global. Esse aspecto
também foi dimensionado por Magnani (1980) na Umbanda e por muitos outros
autores que pesquisaram medicina popular na América Latina e na África.
Loyola também mostra como um conjunto de práticas e de agentes de cura
populares se constituem em alternativas em concorrência à medicina oficial
dominante num ambiente urbanos complexo. Nesse contexto, é mostrado como os
consumidores valem-se dessas diferentes medicinas nas suas estratégias de consumo.
No plano das representações, Loyola opõe os dois sistemas de cura (oficial e
não-oficial) de modo a traduzirem oposição de classe, que se determinam pelas
noções de "habitus letrado" e "habitus corporal". Ao mesmo tempo, as práticas de
consumo mostram a interpenetração e complementariedade entre os sistemas oficial
e não oficial, o que leva a autora a admitir a possibilidade das classes subalternas
defenderem parcialmente a sua visão de mundo do "ethos" dominante presente na
medicina erudita.
27
1.2.1 A cura na tradição indígena
É impossível resumir num breve espaço de tempo como o desta exposição a
amplitude, profundidade e importância das experiências milenares dos povos
indígenas da Ameríndia com respeito ao binômio saúde-doença. Séculos de história e
massacres destruíram estes povos e modificaram de tal forma a vida dos
sobreviventes que hoje o que resta de antigos rituais e visões tradicionais é muito
diferente do que foi no passado longínquo. Ainda assim, chama a atenção que
estudos antropológicos recentes acabem constatando a atualidade das representações
propriamente culturais e indígenas de doença e cura.
Acolho aqui a definição de doença de LANGDON( 1994,p. 115)
Doença faz parte dos processos simbólicos e é uma entidade percebida e
vivenciada universalmente. A doença é um processo ‗experiencial‘ – suas
manifestações dependem de fatores culturais, sociais, psicológicos,
operando conjuntamente com processos psicobiológicos. (LANGDON,
1994p. 57)
A antropóloga LANGDON, que estudou o que ela denominou ―sistema
médico siona‖, dos Siona do alto rio Putumayo, na Colômbia (um grupo dos Tucano
ocidentais), assim escreveu:
A abertura dos Siona a novas alternativas não indica uma mudança nas
representações das doenças ou na importância da cura xamânica nos casos
de doenças graves. Apesar do aumento no uso de especialistas de cura
não-indígena, a maneira pela qual os Siona entendem e interpretam
doença continua a expressar fundamentalmente preocupações derivadas
de sua visão do mundo e dos poderes operantes no mundo invisível.
(LANGDON, 1994p. 57)
Em vista da tragédia que significou a conquista e colonização destes povos
como também sua resistência heróica, há que se aproximar de suas culturas e, nelas,
de seus métodos de cura com uma nova atitude. Não apenas de respeito e tolerância.
Isto é ainda pouco. Penso que o desafio maior é abrir-se à possibilidade de uma
verdadeira aprendizagem, que pode ser mutuamente proveitosa e saudável, do mesmo
modo como os indígenas se mostram curiosos e interessados pelos métodos e técnicas
28
ocidentais de cura enquanto possibilidades de ajuda em meio aos seus sofrimentos e
doenças desconhecidas.
Já faz tempo que se discute na antropologia a eficácia dos métodos de cura
indígena. O antropólogo francês Claude Lévi-Strauss escreveu, em 1949, um artigo
clássico intitulado A eficácia simbólica, no qual estabelece as conexões entre os
métodos indígenas de cura, como o xamanismo, e a psicanálise.
Lévi-Strauss adverte que o método terapêutico indígena não é de fácil
interpretação. Assim mesmo, acrescenta que é muito cômodo desembaraçar-se dessas
dificuldades declarando que se trata de curas psicológicas.
Claro está que, no método xamânico, o especialista trabalha com a psicologia
do enfermo. De certa forma, ele procede a uma manipulação psicológica de tal modo
que a cura seja esperada. Porém, há que aprofundar as operações que se dão e a
relação que se estabelece entre o paciente, o xamã e a comunidade. Na terapêutica
indígena, mobiliza-se uma cosmovisão distinta da realidade, do corpo humano e da
vida, na qual o componente mágico da realidade faz sentido uma vez que seus fios
têm suporte no consensus coletivo da comunidade. O autor fala de uma tríplice
experiência: do xamã, que, por vocação, experimenta estados específicos, de natureza
psicossomática; do enfermo, que experimenta ou não uma melhora em suas
condições físicas; por fim, a da comunidade, que, de uma ou outra forma, sempre
participa da cura.
Correlacionando os dois tipos de terapêutica, Lévi-Strauss afirma:
tratar-se-ia em ambos os casos de induzir uma transformação orgânica,
que se constituiria essencialmente numa reorganização estrutural, que
conduzisse o doente a viver intensamente um mito, ora recebido, ora
produzido, e cuja estrutura seria, no nível do psiquismo, análoga àquela
da qual se quereria determinar a formação no nível do corpo. A eficácia
simbólica consistiria precisamente nesta ‗propriedade indutora‘ que
possuiriam, umas em relação às outras, estruturas formalmente
homólogas, que se podem edificar, com materiais diferentes, nos
diferentes níveis do vivente: processos orgânicos, psiquismo inconsciente,
pensamento refletido. A metáfora poética fornece um exemplo familiar
deste processo indutor; mas seu uso corrente não lhe permite ultrapassar o
psíquico. (LEVI-STRAUSS,1970, p. 233).
29
Assim, pode-se dizer que vigora nestes povos uma verdadeira comunidade
terapêutica. O valor de tal experiência se pode medir com mais segurança quando
esta comunidade terapêutica está em crise.
Uma das disciplinas científicas que mais contribuiu ao estudo dos povos
indígenas, depois da etnografia e da antropologia, é a etnobiologia e de maneira
especial a etnobotânica. Nos últimos cem anos existe um crescente interesse pelo
conhecimento que os povos indígenas têm de seus recursos naturais e sobretudo de
suas plantas.
Com efeito, a etnobotânica põe em evidência o imenso arsenal de plantas
medicinais, psicotrópicas e estimulantes, dentre outras, ademais do singular valor das
práticas da chamada medicina tradicional e dos sistemas xamânicos.
Há, pois, uma relação estreita entre etnobotânica, plantas medicinais,
medicina tradicional e xamanismo. Os próprios estudos do xamanismo descobrem
que o caráter médico predomina na maioria dos anciãos e sábios e que as práticas
rituais têm um evidente papel terapêutico.
Entretanto, insistimos em estudar e analisar o efeito das plantas
medicinais utilizadas pelos povos indígenas sob categorias restritas da farmacologia
moderna e quase sempre com fins exclusivos de produção de medicamentos de
síntese química. Também insistimos em descrever a medicina tradicional com
critérios próprios da medicina moderna.
Mas, nem as plantas medicinais, nem a medicina tradicional, coincidem
com critérios biomédicos. Mais ainda, tampouco existe coincidência com o conceito
de saúde próprio do pensamento racional ocidental.
Para a medicina tradicional indígena, a saúde implica numa harmonia ou
equilíbrio da realidade. A pessoa humana não é apenas corpo, mas também
pensamentos, lembranças, emoções e espiritualidade. Mas também se fala de
harmonia nas relações sociais: família, vizinhança, comunidade. E finalmente
significa também harmonia do homem com a natureza e dentro dela, a harmonia dos
seres vegetais e animais com a gente invisível e com os espaços ou lugares sagrados.
Poderíamos afirmar que o conceito de saúde, próprio da medicina
tradicional indígena, aponta para a tríade pessoa-sociedade-natureza, que rebaseia
com ganhos a atual definição de saúde da medicina moderna.
30
1.2.2 Cura pelas terapias alternativas
Terapia alternativa é um termo impreciso e pouco técnico que surgiu para
designar uma ampla variedade de métodos que se afirmam curativos ou de
diagnóstico. Para entendê-lo completamente, convém conhecer um pouco de sua
história. Sua popularidade se deve em grande parte à contra-cultura e ao movimento
hippie que floresceram nos anos 60 e 70, cuja temática central era o desafio à
autoridade, qualquer que fosse.
Esse desafio acabou também se estendendo ao próprio conhecimento
científico, pois se buscava um novo estilo de vida -- a sociedade alternativa -- não só
com os seus próprios valores e regras, mas com um alimentação e uma medicina
próprias. Vem dessa época a popularidade do vegetarianismo, da alimentação natural
e da macrobiótica, supostamente sob pretextos de que seriam mais saudáveis, apesar
do paradoxal interesse do movimento pelas drogas, notadamente a maconha e o LSD.
A negação sistemática dos valores ocidentais levou não só ao interesse pela
cultura oriental com suas práticas médicas, como a uma explosão de novos métodos
que careciam de qualquer comprovação. No espírito do 'é proibido proibir', a
liberdade social e total também significava que não era preciso que um prática
médica fosse segura ou eficaz: sua marginalidade era característica suficiente. O que
importava era a filosofia.
A contra-cultura e o movimento hippie acabaram perdendo sua força, mas
deixaram um importante herdeiro, o movimento new age, ou nova era. O movimento
new age não só abraça e aprofunda o gosto pelo místico e pelo metafísico, como
menospreza e nega sistematicamente o conhecimento e o método científicos. Mais do
que nunca, ele prega que a opinião tem prevalência sobre o fato.
Seu valor central é o relativismo irrestrito, ou seja, crê-se que 'tudo é verdade',
e que a imaginação e a mente equivalem ao universo, pois a realidade seria o que
quisermos que ela seja. Por esse sistema de pensamento, qualquer afirmação tem
tanto valor com qualquer outra e portanto tudo se pode afirmar, nada se pode negar
que é versão atual e filosófica do 'é proibido proibir'. O resultado é que existem as
mais variadas crenças e sistemas especulativos de fundo sobrenatural que incluem
muitos sistemas que afirmam efetuar diagnóstico e cura.
31
Nesse universo de procedimento pretensamente médicos, entendemos como
práticas "alternativas" todas aquelas que não possuam comprovação de eficácia bem
aceita pela comunidade científica, especialmente aquelas cujos princípios contrariem
o conhecimento científico estabelecido.
É importante esclarecer que enquanto um método terapêutico ou de
diagnóstico está sendo desenvolvido e testado, às vezes se faz uso dele em caráter
experimental, seja como método de pesquisa, seja como último recurso em casos
difíceis. Contudo, existem restrições técnicas e éticas muito claras que se aplicam
nessas situações, em que se deve informar muito claramente o paciente sobre os
riscos que ele corre e o entendimento corrente dos métodos a que ele irá se submeter.
Além disso, a classificação de experimental vale por poucos anos, até que se aceite
ou rejeite de maneira mais ou menos definitiva o método que está sendo estudado.
Enquanto isso, os pacientes que aceitam se submeter aos métodos
experimentais são cuidadosamente monitorados por juntas médicas, pois constituem
importantes instrumentos de avaliação e pesquisa, e estão correndo riscos
desconhecidos. Por outro lado, as terapias ditas alternativas em nada se parecem com
os métodos experimentais, portanto não podem e não devem ser confundidas com
eles.
Eis algumas diferenças: nas terapias "alternativas" tipicamente não há
nenhum controle especial sobre os pacientes e o desenvolvimento dos casos; essas
terapias são oferecidas com um mínimo de informação ao paciente; afirma-se uma
eficácia que elas não têm; e por fim, mesmo na ausência de boas evidências a seu
favor, elas costumam durar décadas. Isso acontece porque elas são regidas pelo gosto
do mercado e pelas benesses da imprensa e das políticas do governo e dos órgãos
reguladores, ao invés de seguirem o consenso da comunidade científica.
A palavra alternativa está ligada a dois significados principais. Alternativo
pode ser aquilo que não pertence a instituições ou sistemas estabelecidos, e esse
sentido certamente se aplica às práticas ditas alternativas, pois elas ficam, ou pelo
menos deveriam ficar, à margem da medicina. No entanto, alternativa também
significa uma escolha entre diversas opções, e não acreditamos que as práticas
chamadas alternativas sejam de fato uma alternativa à boa medicina. Acreditamos
32
que a denominação de alternativa dá a essas práticas um mérito que elas não têm e
confunde os pacientes ao deturpar a natureza da escolha sobre cuidados médicos.
Por exemplo, quando uma mulher se informa com seu ginecologista sobre
toda as práticas contraceptivas existentes, deverá então decidir qual delas é mais
conveniente segundo suas vantagens e desvantagens, sabendo que todas elas são
eficazes e qual o exato grau de eficácia de cada uma. A paciente pode fazer a escolha
com a certeza de que todos esses métodos foram rigorosamente testados em um
grande número de mulheres para que se chegasse a essas conclusões, e que todas as
opções são boas alternativas, medicamente seguras e comprovadas.
Por outro lado, se alguém pretende escolher entre um tratamento médico e
uma prática dita alternativa, precisa saber que irá optar entre um método que já
demonstrou sua eficácia em teste rigorosos, e outro que não só não demonstrou,
como é muito improvável que o faça, segundo tudo que sabemos. E não podemos
dizer que um método que não consegue comprovar sua eficácia é alternativa a um
que consegue.
Alguns estudiosos preferem o termo ―Terapia complementar‖.
Terapia
complementar é aquela que deve ser usada simultaneamente a outro tratamento.
Muitas vezes se fala em "medicina alternativa e complementar" pois dependendo da
técnica e do praticante, afirma-se que esses métodos não excluem a necessidade dos
tratamentos com eficácia comprovada, a chamada Medicina Baseada em Evidências
ou MBE.
Contudo, essa nomenclatura pode visar somente a suavização das alegações
de cura algo como "não curamos sozinhos, mas auxiliamos a cura". No entanto, a
imensa maioria dessas práticas alega efetuar curas sem a necessidade de outras
técnicas. Além disso, a menos de situações excepcionais, é antiético oferecer, em
quaisquer condições e sob quaisquer pretextos, um método cuja segurança e eficácia
não se pode comprovar, especialmente em troca de dinheiro.
Ainda que se defina medicina como arte de curar ou expressão similar, dizer
que os métodos "alternativos" são pseudomedicinas é somente deixar clara sua
incapacidade de comprovar de maneira satisfatória as alegações que fazem. Outras
possibilidades seriam "terapias metafísicas", "terapias místicas", "terapias religiosas"
ou "terapias filosóficas".
33
Na maior parte da sua existência, a medicina baseou-se quase exclusivamente
em concepções metafísicas a respeito da vida e na crença em lendas e supostos
relatos de cura. Com o surgimento do método científico, e conseqüente explosão do
entendimento de todos os processos biológicos, aquelas práticas foram dando lugar à
experimentação cuidadosa e à análise sistemática e criteriosa dos fatos como fontes
de conhecimento. Essa é a essência da medicina moderna, que baseia-se
fundamentalmente nas evidências ou indícios disponíveis e portanto também na
concordância com o restante do conhecimento científico estabelecido -- que também
faz uso de um enorme conjunto de evidências. Daí vem o nome Medicina Baseada
em Evidências. No entanto, a expressão MBE estaria restrita ao uso acadêmico, não
fosse a enorme variedade de doutrinas e sistemas metafísicos que se autodenominam
medicinas baseados nas alegações que eles mesmos fazem a respeito de suas
capacidades de diagnóstico e cura.
Já que qualquer prática pode se autodenominar medicina, independentemente
das evidências contra ela ou a seu favor, o conceito de MBE também é útil no dia-adia para distinguir com clareza os métodos ditos alternativos do restante da medicina.
Na verdade, pode-se dizer que MBE é, por excelência, o oposto das terapias ditas
alternativas. A primeira prima pela sua forte ênfase na comprovação experimental e
na análise cuidadosa de todos os dados da maneira mais cientificamente rigorosa
possível, enquanto a segunda é caracterizada por seus elementos metafísicos ou
simplesmente pela ausência de comprovação consistente de suas alegações.
É importante ressaltar a experiência clínica e a "intuição" profissional
também têm seu lugar na prática médica e seu uso está longe de ser "alternativo". O
que se costuma chamar de medicina 'tradicional', 'padrão', científica ou mainstream é
a consolidação de procedimentos baseados nas melhores evidências. Portanto, os
profissionais que recebem essa formação e agem de acordo com ela também estão,
em última análise, exercendo a MBE, ainda que nem sempre com todo o rigor. Mas
de um jeito ou de outro, essa prática ainda está muito mais próxima da MBE do que
das terapias alternativas. A experiência clínica é sem dúvida muito importante na boa
prática médica, mas é certo que devido à subjetividade, variedade e até contradição
das diferentes experiências e intuições médicas, essa ferramenta deve ser usadas com
muita cautela e critério, sempre condicionada às evidências. As práticas
"alternativas" estão no outro extremo da escala, pois exigem que se negue ou ignore
34
grandes quantidades de evidências, ou que se utilizem relatos mal verificados. Em
outras palavras, o julgamento de um terapeuta "alternativo" é determinado pela sua
percepção individual e os supostos relatos de cura, por mais que eles contrariem as
evidências disponíveis (ou ausência delas). Em suma, um profissional de MBE
condiciona sua experiência clínica e seus julgamentos às evidências, enquanto o
profissional alternativo condiciona as evidências à sua experiência clínica e
julgamentos.
Além dos indivíduos que atuam na área, muitos dos quais não são médicos,
existe um número significativo de profissionais de saúde que vêem essas práticas
com bons olhos: médicos, psiquiatras, biólogos, biomédicos, psicólogos,
fisioterapeutas, etc. O grau de afinidade pode variar bastante, desde a prática corrente
até o ceticismo moderado e restrito. Por isso, é importante destacar que existem
profissionais que não utilizam as práticas ditas alternativas, mas as recomendam,
ainda que para casos específicos.
Existem também aqueles que as praticam, mas somente em algumas
situações. Contudo, em qualquer um desses casos os danos potenciais resultantes
pertencem quase exclusivamente ao paciente, em especial se ele estiver pouco ou mal
informado. Os "terapeutas" e médicos são protegidos pela desorientação do paciente,
o desconhecimento dos seus direitos e recursos, sistemas pouco eficazes de denúncia,
fiscalização e punição, corporativismo, e muitas vezes pelos próprios organismos
reguladores da saúde.
Essa situação força os pacientes a se informarem, e a incluir pelo menos um
profissional com uma postura científica -- e atuante -- no seu rol de fontes. É
importante salientar que é preciso haver uma postura científica atuante porque com
muita freqüência os terapeutas "alternativos" receberam formação científica, mas se
desiludiram, acham que podem conciliar os opostos ou até mesmo vêem
superioridade nas práticas anticientíficas e/ou não comprovadas.
Observa-se que são raras as críticas aos métodos "alternativos"? Isso se deve
a vários motivos. Um deles é a disseminação do pensamento nova era em todas as
camadas da sociedade, incluindo uma pequena mas organizada fração do setor
acadêmico. A pobreza do ensino básico de ciência em quase todo o mundo permite o
agravamento da situação, em especial através da mídia, que não cumpre sua vocação
35
crítica nessa área como faz em tantas outras. Além disso, a comunidade científica
não tem estrutura, vocação nem organização orientada para relações públicas,
características marcantes dos "alternativos", que têm sua própria sobrevivência em
jogo. Existe ainda uma enorme apatia profissional quanto à ação efetiva e
informativa, apesar dos danos potenciais das práticas pretensamente médicas.
Infelizmente, somente uma pequena minoria encara a sério e ativamente sua missão
de informar a população de maneira cuidadosa, sistemática e detalhada sobre esse
tema, principalmente para o grande público.
Como fator agravante, os códigos de ética de muitas áreas, em especial na
medicina, praticamente impedem a crítica entre pares, impondo punições rigorosas
independentemente do mérito da crítica. Infelizmente, esse controle nem sempre é
tão rígido no que diz respeito à proteção da população contra as práticas
"alternativas".
O que distingue a MBE são critérios puramente científicos. Por outro lado, a
decisão de dar status oficial a qualquer prática profissional na sociedade é política, e
portanto está sujeita às mesmas influências que qualquer outra decisão política:
lobby, pressões econômicas ou populares, burocracia, corrupção, etc.
Profissionais com títulos de medicina, psicologia ou qualquer outro também
aplicam terapias "alternativas", apesar da formação científica que tiveram, ou
deveriam ter. Essa é uma escolha profissional, mas também pessoal e mercadológica.
Os conselhos regulamentadores da profissão têm como função nobre, entre outras,
proteger os cidadãos do exercício irresponsável ou negligente de atividades que
ponham em risco a saúde e a vida, como por exemplo na engenharia, na medicina e
na psicologia. Por isso só podem exercer a profissão quem for devidamente
credenciado por essas entidades, e o diploma de curso superior é condição necessária
para isso.
Por outro lado, se mal aplicada, essa regulamentação pode levar à reserva de
mercado, pura e simples, mesmo de procedimentos e técnicas "alternativas". Quando
isso acontece, ao invés de se proteger a população extinguindo ou controlando
cuidadosamente as práticas sem eficácia comprovada, o resultado é que essas
práticas se tornam institucionalizadas e correntes, e são exercidas exatamente pela
classe que deveria bani-las. É isso que ocorre com a homeopatia e a acupuntura no
36
Brasil. Hoje, somente médicos podem obter registros para a prática de homeopatia e
acupuntura no país, o que é comparável a permitir a prática de astrologia somente a
astrônomos.
A fitoterapia é uma ―terapêutica caracterizada pelo uso de plantas medicinais
em suas diferentes formas farmacêuticas, sem a utilização de substâncias ativas
isoladas, ainda que de origem vegetal‖. O uso de plantas medicinais na arte de curar
é uma forma de tratamento de origens muito antigas, relacionada aos primórdios da
medicina e fundamentada no acúmulo de informações por sucessivas gerações. Ao
longo dos séculos, produtos de origem vegetal constituíram as bases para tratamento
de diferentes doenças.
Desde a Declaração de Alma-Ata, em 1978, a OMS tem expressado a sua
posição a respeito da necessidade de valorizar a utilização de plantas medicinais no
âmbito sanitário, tendo em conta que 80% da população mundial utiliza essas plantas
ou preparações destas no que se refere à atenção primária de saúde. Ao lado disso,
destaca-se a participação dos países em desenvolvimento nesse processo, já que
possuem 67% das espécies vegetais do mundo.
O Brasil possui grande potencial para o desenvolvimento dessa terapêutica,
como a maior diversidade vegetal do mundo, ampla sociodiversidade, uso de plantas
medicinais vinculado ao conhecimento tradicional e tecnologia para validar
cientificamente esse conhecimento.
O interesse popular e institucional vem crescendo no sentido de fortalecer a
fitoterapia no SUS. A partir da década de 80, diversos documentos foram elaborados,
enfatizando a introdução de plantas medicinais e fitoterápicos na atenção básica no
sistema público,entre os quais se destacam:
a Resolução Ciplan nº 8/88, que regulamenta a implantação da
fitoterapia nos serviços de saúde e cria procedimentos e rotinas relativas
a sua prática nas unidades assistenciais médicas;
o Relatório da 10 a Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1996,
que aponta no item 286.12: ―incorporar no SUS, em todo o País, as
práticas de saúde como a fitoterapia, acupuntura e homeopatia,
contemplando as terapias alternativas e práticas populares‖ e, no item
37
351.10: ―o Ministério da Saúde deve incentivar a fitoterapia na
assistência farmacêutica pública e elaborar normas para sua utilização,
amplamente discutidas com os trabalhadores em saúde e especialistas,
nas cidades onde existir maior participação popular, com gestores mais
empenhados com a questão da cidadania e dos movimentos populares‖;
a Portaria nº 3916/98, que aprova a Política Nacional de Medicamentos,
a qual estabelece, no âmbito de suas diretrizes para o desenvolvimento
científico e tecnológico: ―…deverá ser continuado e expandido o apoio
às pesquisas que visem ao aproveitamento do potencial terapêutico da
flora e fauna nacionais, enfatizando a certificação de suas propriedades
medicamentosas‖;
o Relatório do Seminário Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos
e Assistência Farmacêutica, realizado em 2003, que entre as suas
recomendações, contempla: ―integrar o Sistema Único de Saúde o uso
de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos‖;
o Relatório da 12ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 2003,
que aponta a necessidade de se ―investir na pesquisa e desenvolvimento
de tecnologia para produção de medicamentos homeopáticos e da flora
brasileira, favorecendo a produção nacional e a implantação de
programas para uso de medicamentos fitoterápicos nos serviços de
saúde, de acordo com as recomendações da 1ª Conferência Nacional de
Medicamentos e Assistência Farmacêutica‖.
a Resolução nº 338/04, do Conselho Nacional de Saúde que aprova a
Política Nacional de Assistência Farmacêutica, a qual contempla, em
seus eixos estratégicos, a ―definição e pactuação de ações intersetoriais
que visem à utilização das plantas medicinais e de medicamentos
fitoterápicos no processo de atenção à saúde, com respeito aos
conhecimentos tradicionais incorporados, com embasamento científico,
com adoção de políticas de geração de emprego e renda, com
qualificação e fixação de produtores, envolvimento dos trabalhadores
em saúde no processo de incorporação dessa opção terapêutica e
38
baseada no incentivo à produção nacional, com a utilização da
biodiversidade existente no País‖;
2005 - Decreto Presidencial de 17 de fevereiro de 2005, que cria o
Grupo de Trabalho para elaboração da Política Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos.
Atualmente, existem programas estaduais e municipais de fitoterapia, desde
aqueles com memento terapêutico e regulamentação específica para o serviço,
implementados há mais de 10 anos, até aqueles com início recente ou com pretensão
de implantação.
Em levantamento realizado pelo Ministério da Saúde no ano de 2004,
verificou-se, em todos os municípios brasileiros, que a fitoterapia está presente em
116 municípios, contemplando 22 unidades federadas.
No âmbito federal, cabe assinalar, ainda, que o Ministério da Saúde realizou,
em 2001, o Fórum para formulação de uma proposta de Política Nacional de Plantas
Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos, do qual participaram diferentes segmentos
tendo em conta, em especial, a intersetorialidade envolvida na cadeia produtiva de
plantas medicinais e fitoterápicos. Em 2003, o Ministério promoveu o Seminário
Nacional de Plantas Medicinais, Fitoterápicos e Assistência Farmacêutica. Ambas as
iniciativas aportaram contribuições importantes para a formulação desta Política
Nacional, como concretização de uma etapa para elaboração da Política Nacional de
Plantas Medicinais e Fitoterápicos.
1.2.3 Tradição e religiosidade nos relatos de cura
39
A relação da fé religiosa com a saúde é mencionada por autores (Saad et al
2001) quando comentam que os profissionais da saúde já contam com indicações
científicas do benefício da exploração da espiritualidade, na programação terapêutica
de virtualmente qualquer doença. Estes autores lembram, Gunderson (2000), que é
plenamente reconhecido que a saúde é determinada pela interação de fatores físicos,
mentais, sociais e espirituais. Marino Jr. (op.cit. 2005), faz referência à trindade na
constituição do homem completo: corpo, alma e espírito, este atuando sobre a alma,
que fornece ao homem o intelecto, constituindo seu eu, que habita o corpo. Diz da
importância de se admitir que há duas ordens de conhecimento: razão natural, que é o
princípio pelo qual, inicialmente, conhecemos alguma coisa e fé divina, o ―objeto‖
pelo qual, podemos atingir os chamados mistérios da Criação.
Apesar da opinião dos autores citados, é marcante a influência exercida pelo
etnocentrismo de, ainda, alguns segmentos das áreas médicas, norteados pelo
pensamento
rigorosamente
científico
e
racional
e,
também,
presos
ao
desenvolvimento tecnológico, os quais abolir da consciência do homem, a busca do
sobrenatural para a solução de problemas de saúde mental e física. Porém, tal
pressão tem sido em vão, visto estar arraigado na cultura do brasileiro, a crença nas
forças divinas para a solução de seus problemas, sejam eles médicos ou não. A fé é a
ausência da dúvida, é uma abertura para o sobrenatural enquanto a razão se fecha,
apenas, em torno do natural, como diz Marino Jr. (op.cit. 2005)
Curar, em latim, significa literalmente ―cuidar‖. Muitos termos do português
conservaram esse sentido literal: curador, curatela, curioso. Outros termos há, como
procurar, descurar,segurar (de se-curus, sem cuidado), que literalmente significam
cuidar de alguma coisa ou estar dela descuidado.
Sem dúvida, no caso da saúde e da doença o verbo curar/cuidar é muito
apropriado. Cuidar da saúde, por exemplo, sugere atenção com a saúde antes da
instalação da doença. Cuidar da doença, ou do doente, significa ter cuidado para a
saúde não se deteriorar ou o doente não piorar.
Como o resultado do cuidado é muitas vezes o retrocesso da doença e a
melhora do organismo, curar, curar-se, passou, por metonímia, a significar sarar. ―Eu
40
me curei‖atualmente não quer dizer ―eu me cuidei‖,mas ―eu sarei‖.Quando se diz
que o médico cura, geralmente se entende que ele consegue fazer a pessoa sarar. O
remédio cura porque contribui para que o organismo reaja e se recupere. Aplica-se
um curativo não simplesmente porque se cuida de uma ferida, mas porque se aplica
um elemento ativo que contribui para a reação restauradora do organismo. A cura,
então, pode ser entendida como cuidado e como resultado desse cuidado, a
recuperação da saúde.
O conhecimento moderno aí está para esclarecer que a saúde se recupera com
os cuidados higiênicos, alimentares e outros que se prestam ao enfermo, e que a
doença é impedida com os cuidados que se prestam à saúde. Nesse sentido, tanto a
remediação como a prevenção são formas de cuidar ou de curar.
Há um estudo notável do sociólogo da religião Rodney Stark,―O crescimento
do cristianismo‖(The rise of Christianity) (Stark, 1997), com o subtítulo ―como o
obscuro e marginal movimento de Jesus tornou-se, dentro de poucos séculos, a força
religiosa dominante no mundo ocidental‖. Segundo Stark, uma poderosa razão da
mortalidade dos pagãos, da sobrevivência dos cristãos e da conversão dos pagãos ao
cristianismo foi a maneira de os cristãos e os pagãos, respectivamente,cuidarem ou
deixarem de cuidar de seus doentes por ocasião das grandes epidemias que assolaram
o império romano nos primeiros séculos da era cristã.
A caridade, ou seja, o amor ao próximo induziu os cristãos, diferentemente
dos pagãos, a providenciar para os irmãos de fé cuidados elementares, como
―simples provisão de comida e água que permitem aos temporariamente
enfraquecidos lutar por si mesmos pela recuperação em vez de perecer
miseravelmente‖ (MCNEILL, 1976,citado em STARK, 1997, p.88). Esse cuidado,
segundo Stark, não só preservou proporcionalmente muito mais vidas de cristãos do
que de pagãos como encaminhou conversões de pagãos ao cristianismo.
Como cuidado, a cura pode suscitar a indagação do porquê e pode ser
encarada pela Psicologia como um comportamento motivado. A variável motivadora
ora é a pressão grupal para a coesão e a sobrevivência do pequeno grupo, ora o
altruísmo que leva alguém a se sacrificar pelo bem do outro, ora um senso de dívida
e retribuição, como o gerado pelas relações parentais e outras mais. Para a Psicologia
41
da religião, no caso do cristianismo, a motivação é impregnada pelo valor da
caridade e da fraternidade.
Não há dúvida de que na história do cristianismo, ontem e hoje, o cuidado
pelos enfermos é uma das manifestações mais patentes de sua presença no mundo.
Se, muito em função do desconhecimento geral no campo da saúde, esse cuidado foi,
no passado, mais remediativo do que preventivo, hoje, em razão dos novos
conhecimentos e de novas sensibilidades, a psicologia em geral e a psicologia da
religião
apontarão
novos
ou
renovados
elementos
motivacionais,
como
responsabilidade social, senso de justiça, direitos da pessoa, respeito ecológico,
elementos que adquirem uma dimensão religiosa caso incluam uma intencionalidade
religiosa. É, com efeito, a relação com o objeto religioso que torna religiosa uma
variável, e não sua categorização em alguma classe especial de comportamentos.
Este modelo de catolicismo sobrevive, ainda, nas práticas dos curadores,
principalmente, nas zonas rurais de certas cidades do interior, com a introdução,
mesmo, de palavras latinas já bastante adaptadas ao linguajar dos rezadores, quando
em suas rezas, quase sempre louvando a Deus, a Virgem Maria, Jesus e aos santos
católicos. Portando um, dois ou três ramos verdes, segundo o número de dias de
benzimento, vai o rezador dizendo, por exemplo: (fulana)...sua mãe te teve,/sua mãe
te há de criá, /quem quebranto te pois/eu tiro com um, com dois/com três hei de tirá/
o quebranto ou mau olhado/e a menina...fica sarada./Si fô nos olhos da menina/Santa
Luzia é quem vai tirá./Si fô na cabeça da menina,/é São Pedro que vai tirá... ou,
ainda, São Bento/água benta/Jesus Cristo no altar/abri esses caminhos/que neles
quero passar...(ARAÚJO, 1981,p. 65) e assim por diante, buscando nos santos a
intercessão junto a Deus todo poderoso.
O papel da religião tem muito haver com a cura no que diz respeito a fé que as
pessoas tem, que muitas vezes é na pessoa que faz a reza ou é na divindade a qual a
pessoa se apega para que esta interceda na cura de sua enfermidades.
Verificamos que nos processos de cura narrados pelos evangelhos, Jesus toca
a pessoa doente com as mãos e de suas mãos, como das mãos de Deus,sai uma força
que põe em pé quem esta caído no chão, quem é incapaz de mexer-se,quem esta
paralisado por enfermidades (Mc 1,29-31;Lc4,38-39;Jo 5,5-9)
42
A participação do doente no processo de cura é fundamental e imprescindível,
pois a vontade e o empenho em querer estar bem têm enorme influencia no seu
estado de saúde física, emocional e social.É ela que expressa todo desejo de vida
plena na direção da plenitude da vida. A saúde é uma conquista que depende muito
de quem a deseja. Não é Jesus quem toma iniciativa nos processos de cura, mas
sempre a pessoa doente, ou pessoas que acreditam em seu poder. É a fé que faz as
pessoas doentes buscarem a cura, mas ela não é uma fé mágica; é uma fé que se
expressa no grito de súplica, que assume atitudes de ousadia e coragem, que vence o
medo.
Observando com cuidado próprias Escrituras, talvez se tenha uma luz em
favor de uma abordagem mais favorável da questão da religiosidade no processo de
cura. O teólogo Eugen Biser defende a tese da teologia como terapia. Em seu estudo,
ele afirma que o ―cristianismo não é uma religião ascética, mas uma religião
terapêutica‖. Um de seus argumentos mais fortes está baseado nos estudos de
Ferdinand Hahn sobre os títulos de soberania de Jesus. De todos os títulos que
aparecem no Novo Testamento, é possível que Jesus tenha aceitado apenas o título
invocado na igreja antiga, na seguinte oração: ―Ajuda-nos, ó Cristo, que és nosso
único médico!‖. Esta tese seria confirmada pela palavra de Cristo: ―Os sãos não
precisam de médico, e sim, os doentes; não vim chamar justos, e sim, pecadores‖
(Marcos 2.17). Uma outra palavra muito forte neste sentido aparece em Lucas 4.23.
Na discussão com os freqüentadores do templo, em Nazaré, quando ele cita o famoso
texto de Isaías, ele também lembra outro provérbio: ―Médico, cura-te a ti mesmo!‖.
A dimensão terapêutica está presente quando Jesus dialoga com as pessoas e afirma:
―Vai, a tua fé te salvou!‖.
Certamente Jesus curou. Este é um fato que não se põe em dúvida. E estas
curas serviam para anunciar o amor de Deus. Jesus assim apontava para além de si,
para o reino que se aproximava em seu anúncio e ações. Olhando mais de perto
alguns relatos de cura, percebe-se também que suas ações de cura admitiram o
imaginário das pessoas de seu povo que o procuravam aflitas. Ele não rechaçou as
idéias mágico-religiosas que as pessoas tinham. Pelo contrário, ele agia com
sensibilidade, cuidado e muito amor.
43
Jesus agia com misericórdia. Por isso, não rejeitou a mulher que lhe tocou a
veste crendo que assim ficaria curada (Marcos 5.24-34). Quando depois Jesus fala
com ela, a cura se consuma. Gesto e palavra. Palavra que vence o medo, cura e
liberta. Palavra antes retida e agora libertada. Palavra santa que muda a história de
uma pobre mulher. Palavra criadora de um mundo novo.
Jesus costumava tocar as pessoas enfermas. Quando, certa vez, encontrou um
grupo de deficientes visuais, eles gritavam: ―Filho de Davi, tem compaixão de nós!‖
Jesus os recebe na casa onde estava hospedado e lhes pergunta: ―Crêem que eu possa
curá-los?‖ Os homens respondem: ―Sim, Senhor‖. Diante da afirmativa, diz o texto
de Mateus 9.29, Jesus lhes tocou os olhos, dizendo: ―Faça-se com vocês conforme a
sua fé‖. E eles passaram a ver novamente.
Em outra ocasião, Jesus trabalha com argila (João 9.1-7). A pergunta dos
discípulos é dogmática: ―Mestre, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse
cego?‖ Jesus não aceita a armadilha da pergunta.
Havia uma velha teoria em Israel de que a enfermidade era castigo de Deus.
A pessoa enferma seria alguém culpável, pecador, que, em algum momento,
transgredira a lei de Deus. A enfermidade era um sinal de morte.
Uma pessoa enferma era considerada alguém que quase já pertencia ao
mundo dos mortos. A única saída para estas pessoas era voltar a Deus, confessar os
pecados e rezar para que Deus as tirasse do poder maligno da morte.
No caso de Jó, temos um limite desta teoria, pois Jó é um exemplo do
sofrimento de um homem justo. Ao final do drama, ele se arrepende, pois
compreende a distância que há entre o Criador e sua criatura. Fica curado.
Porém o sentido da enfermidade não pode mais se relacionar com o esquema
da culpa. O sentido da enfermidade e do sofrimento fica como um enigma para nós.
Consolador é descobrir um Deus que não abandona a seus amados na enfermidade ou
em qualquer situação. Pelo contrário, ele é um Deus que acompanha, que sofre
conosco, que estende a mão, acolhe e luta conosco até a cura ou em meio dela até o
final.
Na história do cego de nascença, esta nova atitude de Jesus se combina com
gestos. Jesus disse a seus discípulos: ―Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para
que se manifestem nele as obras de Deus‖. Jesus é luz para o mundo. E a luz ajuda os
44
cegos a verem novamente. Ele fez um pouco de lodo com terra e saliva. Untou com a
mistura os olhos do cego e lhe disse: ―Vai, lava-te no tanque de Siloé. Ele foi, lavouse, e voltou vendo‖.
Temos aí um texto em que evidentemente Jesus atua como curador igual a
muitos de nossos companheiros e companheiras especialistas em cura na América
Latina. Ele compartilha o mesmo imaginário das pessoas, porém dá um passo mais:
ele não chama a glória para si, mas aponta para o amor de Deus. Não fica no ato em
si, vai mais adiante.
Esta é uma característica da fé cristã. Por um lado, não nega a realidade da
morte, a enfermidade e o sofrimento. A fé cristã é fé de olhos abertos, claros, porém
compassivos. Alegra-se com os que se alegram. Chora com quem chora. A partir da
cruz de Jesus, encontramos força e coragem para viver o sofrimento, mesmo quando
não o entendemos e o consideramos absurdo. É o teste mais duro para a fé. Crer contra
toda esperança. Por outro lado, paradoxalmente, alegramo-nos porque confiamos na
presença de Deus conosco, como Jesus o prometeu, ele que permanece solidário,
gritando, protestando e consolando os que sofrem.
A verdadeira experiência religiosa, aquela em que a pessoa se envolve de
corpo, mente e espírito, onde a alma abraça a fé numa dependência da divindade, na
sedução pelo sagrado, na paixão divina e no zelo do serviço de devoção, consegue
produzir mudança interior e exterior.
Há um verdadeiro equilíbrio psíquico na pessoa que tem uma fé genuína.
Ela não cai com facilidade, pois encontra na fé uma âncora forte na qual
pode se debruçar, renovar suas forças, se encher de novas esperanças e
partir até para o impossível limitado tão somente pela vontade divina. (
GEERTZ,1989,p. 129 )
Hans-Jurgen, em seu livro A Religiosidade Humana, diz que é do
conhecimento
da
maioria
que
a
religiosidade
saudável
cura
a
personalidade enferma. A cura acontece, na verdade, pela aproximação
maior
de
cotidiana
Deus,
no
eterna
fonte
relacionamento
com
de
saúde
pessoas
e
vida,
saudáveis,
e
pela participação
santas
Esta comunhão dupla é capaz de romper muitos distúrbios emocionais.
45
e
amáveis.
Até alguns anos atrás, nenhum cientista de prestígio admitiria a
relação entre espiritualidade e cura física. Muitos menos pensaria em
desenvolver
pesquisas
credibilidade
e
a
nessa
área,
carreira.
com
Hoje,
o
há
risco
muitos
de
comprometer
estudos
sérios
sua
em
andamento sobre o assunto.
Uma religiosidade saudável promove a fé e a fé cura. Pesquisadores da
Universidade de Georgetown, em Washington, constataram que a fé e a
espiritualidade têm se mostrado uma eficiente arma no tratamento de
doentes crônicos. Cinco anos de pesquisas e estudos médicos sobre o
assunto
fizeram
o
pesquisador
Dale
Matthews
concluir
que
a
fé
espiritual parece ser a diferença que leva pessoas a superarem mais
rapidamente as doenças, convivam melhor com males crônicos e sejam
menos
propensas
ao
suicídio.
Um
dos
exemplos
que
traduzem
estas
conclusões em números é a que afirma que homens que freqüentam
regularmente cultos religiosos têm 40% menos possibilidades de ter um
ataque cardíaco.
A espiritualidade faz bem e milhões de pessoas têm descoberto isso
ao longo dos séculos. O encontro com o sagrado produz
e é importante por muito motivos. Vejamos alguns:
1 - A religião nos assegura que Deus está no controle.
2 - A religião nos eleva para além de nós mesmos.
3 - A religião reduz o peso da solidão.
4 - a religião oferece um ambiente menos estressante.
5 - A religião mostra que somos especiais.
6 - A religião garante que o bem vencerá o mal. Ela estabelece um
referencial absoluto para o ser humano.
7 - A religião têm uma solução para a culpa: o perdão.
8 - A religião proporciona conforto nos momentos difíceis.
9 - A religião oferece a terapia da oração.
10 - A religião dá sentido e coerência à vida. Ela é um modo de ver.
46
vida espiritual
Quanto maior o contato social de uma pessoa, mais alta é a sua
resistência
às
doenças.
Esse
foi
o
resultado
de
um
estudo
da
universidade americana Carnegie Mellon com 276 pessoas, de 18 a 55
anos.
A
equipe
sociais,
como
trabalho,
e
efetivos,
têm
de
os
Cohen
existentes
descobriu
mais
identificou
que
alívio
entre
as
para
12
irmãos,
pessoas
o
tipos
estresse,
diferentes
amigos
e
de
laços
colegas
que
possuem mais
e
consequentemente
de
canais
uma
resistência maior às doenças.
Vários estudos têm-se voltado para uma análise das diferentes estratégias
pelas quais as religiões reinterpretam a experiência da doença e modificam a maneira
pela qual doente e comunidade percebem o problema (Turner,1967; Levi-Strauss,
1967, 1975; Kapferer, 1979; Comaroff, 1980; Kleinman, 1980; Csordas,1983).
Perpassando tais estudos está o argumento central de que as terapias religiosas curam
ao impor ordem sobre a experiência caótica do sofredor e daqueles diretamente
responsáveis por ele. Na maioria dos casos, as terapias religiosas são abordadas sob a
perspectiva do culto enquanto campo organizado de práticas e representações, ao
interior do qual o especialista religioso manipula um conjunto dado de símbolos para
produzir a cura.
Para que os símbolos religiosos funcionem, isto é produzam cura, é preciso
que sejam compartilhados pelo curador, o doente e sua comunidade de referência;
usualmente, toma-se como pressuposto este compartilhar de símbolos e significados
entre os participantes do processo de cura. Aqui pretende-se examinar os tratamentos
religiosos sob a perspectiva do paciente e daqueles diretamente responsáveis por ele.
Muitas das histórias que contam sobre casos de doença revelam um percurso
complexo entre diferentes serviços terapêuticos, tentativas — nem sempre bem
sucedidas — de lidar com visões conflitantes do problema e incertezas, quanto à
causa da doença e o resultado dos vários tratamentos procurados.
Segundo Fish (1988), a potência da cura está na própria fé, e não em Deus.
Portanto, a atuação dos curadores seria idêntica à sugestão dada por um médico que
prescreve um placebo (substância na qual os pacientes acreditam haver potência para
curá-los de suas enfermidades, mas, quimicamente, não passível de comprovação).
47
Segundo Quintana (1999), a causa das curas religiosas pode ser explicada
como o de um processo muito semelhante ao da Psicanálise. A benzedeira, a
exemplo do terapeuta, oferece a seu paciente uma explicação consistente com as suas
crenças. Ao atribuir a causa de um resfriado constante ou da perda do emprego a um
―mau-olhado‖, o que faz é dar ao cliente a possibilidade de lutar contra um inimigo
definido, no qual ele acredita. ―Ao dizer que há inveja sobre o cliente, a benzedeira o
integra em uma história que torna sua situação compreensível dentro da sua ótica‖
(Revista Isto É, 1997, ed. eletrônica). Tais explicações, no entanto, nem sempre são
assimiladas pelo cliente, mas podem gerar novas crenças.
Segundo Neves (1984), as curas sobrenaturais só podem ser entendidas
enquanto atos ritualizados, que expressam a relação dos homens com o mundo por
eles sobrenaturalizado ou com os poderes que atribuem às divindades. Tais curas têm
um caráter de medicina popular ou passam a ter que suportar expectativas de
ocorrências espetaculares ou de mudanças não explicadas em nível racional: os
milagres, o que, de certa forma, passa a ser um consenso e é corroborado pela
divulgação nos órgãos de imprensa. Estes notificam como espetáculos os
acontecimentos ―milagreiros‖ e legitimam padroeiros e santuários que oferecem tais
serviços sacralizados.
Convêm, aqui, ressaltar a idéia de Laplantine e Rabeyron (1991) de que a
medicina popular consiste em um certo número de práticas de prevenção e de cura
fundadas em uma visão coerente do ser humano e do cosmos, presentes não só nas
sociedades agrárias, mas em sociedades ―tecnificadas‖ como a nossa. O que ele
caracteriza como uma visão mágica do mundo, para nós, pode ser simplesmente uma
visão propiciadora de um sentido.
A especialização da medicina científica aponta para um caráter de
fragmentação e afastamento de uma concepção mais integrada do homem, em
referência ao caráter totalizante dos sistemas de representações sociais que orientam
as práticas curativas não-científicas ou populares (Neves, 1984). A relação médicopaciente põe em destaque a assimetria dessa relação, a oferta de informações
descontextualizadas e a posição submissa, por isso mesmo angustiante, enfrentada
pelo usuário, o que também pode ocorrer na relação pastor-fiel. Quanto maior a
distância social entre médico e paciente, menos este tem capacidade de contraargumentar ou de impor outros discursos sobre saúde, doença e outros meios de
48
tratamento. Para Boltanski (s.d., citado por Neves, 1984), o médico procura, no seu
discurso, preservar o monopólio do seu saber e a autoridade que a sociedade lhe
outorga para dispor da doença, e até mesmo do corpo do doente.
Porém, alguns médicos, especialmente católicos, parecem resguardar certo
espaço para a divindade explicar o que eles não podem, quando nomeiam clínicas
homenageando santos ou tomando-os como padroeiros (Neves, 1984).
Outra ocasião em que as práticas médicas apelam para a religião é aquela em
que há fracassos médicos ou morte, colocando a ―vontade de Deus‖ como causa dos
fatos, o que, de certa forma, conforta os médicos e os familiares. A religião surge,
então, como resposta à necessidade de explicar e justificar fatos naturais e nãocontroláveis como a morte, e, às vezes, a doença. É feito um apelo a explicações
religiosas, o que mostra que, mesmo orientados por um ―saber científico‖, este não é
suficiente quando transcende o humano.
Dessa forma, é aberta uma lacuna para aqueles que oferecem uma medicina‖
popular fundada em práticas religiosas enfatizando a correlação entre suas práticas e
o discurso da medicina científica.
Para Houtart (1994), a religião faz parte das representações que os seres
humanos fazem do seu mundo e de si mesmos. As pessoas constroem uma realidade
que é perpassada por suas crenças religiosas, ou seja, é realizado um trabalho
intelectual sobre a realidade para interpretá-la, trabalho esse que é permeado pelas
condições concretas e históricas dos atores sociais.
49
2 CONTEXTO HISTÓRICO, TRADIÇÃO POPULAR Y CURA
2.1 A cura na Comunidade Nazaré
A comunidade Nazaré encontra-se situada no Município de lagoa de São
Francisco, Pedro II, Piauí, Brasil. O município de Lagoa de São Francisco é uma
cidade da região Centro-Norte Piauiense, microrregião de Campo Maior. Antes
chamava-se Lagoa dos Claudios, tem autonomia política desde 1997, está a 368m de
altitude e em 2007 o IBGE estima a sua população em 6.520 habitantes. O IDH
0,537(segundo o PNUD/2000), com um PIB R$ 8.303.883,00 (IBGE/2003) e PIB
per capita R$ 1.377,55 (IBGE/2003).
Mapa desenhado pelos moradores da comunidade
50
Chamava-se Lagoa dos Cláudios, posteriormente, o seu nome foi modificado
para Lagoa de São Francisco por causa da devoção ao santo católico. Esta devoção
foi especialmente alimentada pelo Padre Lotário, alemão, que ainda exerce seu
ministério sacerdotal na diocese de Parnaíba. Em 26 de Janeiro 1994 conforme lei nº
4.680/94 através do Governador do Estado do Piauí Freitas Neto, decretou a
localidade Município de Lagoa de São Francisco-PI.
A partir de 1995 os frades capuchinhos assumiram a missão neste município.
O Convento foi inaugurado no ano de 1997 como casa do noviciado, tendo como
Construtor:Frei Moisés Siqueira de Morais E, desde então, eles procuram estimular e
trabalhar com o povo nas mais básicas necessidades da vida, procurando levar a cada
um, uma vida mais digna. Sua população estimada em 2004 era de 6.094 habitantes.
A origem do nome Nazaré se dá por ter semelhanças com Nazaré da Galiléia,
segundo um pároco que ali viveu. Atualmente a comunidade tem 1.115 habitantes e
223 famílias, Nazaré fica a 8 km da cidade de Lagoa de São Francisco e faz fronteira
com as comunidades Palmeira dos Soares e Mato Fino. seu clima é Semiarido. A
comunidade se identifica como indígena dos Grupos Cadois e Cabeludos que eram
fugitivos da seca no estado vizinho, Ceará. Esta suposição é corroborada pela
existência da etnia Jenipapo-Kanindé,no Ceará,
conhecida há décadas pela
população circundante como os cabeludos da Encantada. De acordo com relatos
orais, seus antepassados viviam em várias comunidades do município de
Aquiraz(CE), como a Lagoa do Tapuio, Córrego de Galinhas, Córrego de Bacias,
entre outras. Os mais antigos da comunidade localizam no século XIX a chegada de
seus ancestrais na lagoa, sendo a chamada seca dos três oitos ou três oitavos,
lembrada como data de referência na memória da comunidade.
Os Cadois e Cabeludos chegaram a Nazaré pelas margens dos rios Curralinho
e Cedro que atravessam a comunidade. Quando os Cadois e Cabeludos ali chegaram
já existiam nativos de outros grupos os quais não se sabe o nome, estes então foram
se identificando com o novo território por ter água e comida em abundancia,ali
fixaram moradia foram aos poucos formando o povoado. E hoje, as principais
famílias são: Jacinta,Sinésio,Sales e Gomes. Os casamentos aconteciam dentro da
própria comunidade como uma forma de manter o grupo coeso e preservar assim o
patrimônio que era própria terra.
51
O que também é tradição na comunidade é a cura através da medicina
alternativa onde as pessoas tratam muitas de suas doenças, com base nas terapias
feitas com plantas e rezas para todos os tipos de doenças.
O processo de cura na comunidade Nazaré se dá de forma muito variada
envolvendo uma diversidade muito grande de métodos curativos que vão desde os
cuidados mais simples aos mais sofisticados.
Um dos métodos utilizados na comunidade é a fitoterapia. Pois a mesma tem
se tornado cada vez mais popular entre os povos de todo mundo. Sua prática consiste
no conjunto das técnicas de utilização de ervas, sementes e frutas no tratamento das
doenças e na recuperação da saúde. Apesar do avanço da tecnologia, que diariamente
cria novos compostos e substancia sintéticas com poderes medicinais, mais de 40%
de toda a matéria prima dos remédios encontrados hoje nas farmácias continua sendo
de origem vegetal.
Os medicamentos à base de plantas são usados na comunidade para os mais
diferentes fins: acalmar,cicatrizar,expectorar,engordar, emagrecer e outros. Além
disso, muitas pessoas procuram chás e compostos naturais para tratar os mais
diferentes males.
Existe na comunidade um grupo de aproximadamente 10 pessoas que
trabalham com a medicina caseira, mais especificamente com a fabricação de
remédios naturais e orações curativas para vários tipos de doenças, esse trabalho é
feito de forma individual. Quem trabalha com fabricação de remédios naturais às
vezes faz somente para seu uso pessoal, têm outras que fazem com o objetivo de
comercializar dentro e fora da própria comunidade. No caso das orações há também
uma comercialização, pois muitos rezadores cobram por cada oração feita, já outros
rezam somente visando ajudar ao próximo através do seu dom de curar através da
reza. As ervas mais utilizadas para tais fins são:
Alecrim
Alho
Alfavaca
Cavalinha
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Babosa
Chapéu de couro
Dente de leão
Endro
Eucalipto
Hortelã
Malva
Quebra pedra
Pata de vaca
Tansagem
Aroeira
Jucá
Pau ferro
Angico
Marmeleiro
Ameixa
Coronha
Outro método curativo existente na comunidade é o xamanismo, ou feitiçaria
como muitos chamam, é um trabalho muito sigiloso porém muito procurado e
também criticado por muitas pessoas da comunidade por ser considerado feitiçaria
ou coisa do diabo.
Segundo as pessoas que fazem esse trabalho a doença é causada por um
espírito ou encosto mau que acompanha a vítima e o tratamento é feito em várias
seções de trabalhos que só podem ser feitos nas casas de orações e nos dias de sextas
feiras ou em outro dia determinado pela entidade que tem o poder de curar, para isso
tem todo um ritual a ser seguido e respeitado são coisas muito ocultas e restritas
apenas as pessoas que trabalham nesse ramo entendem realmente essa prática de
cura.
Existe ainda uma terceira forma de cura usada na comunidade que são
chamados mais especificamente os/as rezadores/as ou curandeiros /as que curam
somente através da reza. São orações feitas para quase todas as doenças como:
53
quebranto e mau olhado, dores de cabeça,vento caído, dor de garganta e tantas
outras,nas formas de orações.
Cada rezador tem o seu próprio ritual: alguns utilizam água na hora da reza
outros usam galhos de plantas, cordões, outros fazem suas orações só com palavras e
assim são várias formas e cada rezador, rezadeira tem a sua maneira individual.
2.2 Atuação dos agentes de medicina alternativa no marco cultural e econômico
da Comunidade Nazaré
D. Maria Neri, erveira e rezadeira da Comunidade Nazaré.
54
Dona Maria Neri Pereira, embora tenha apenas 57 anos, é a mais requisitada
agente de cura de Nazaré. Ela é filha de João Luis da Silva e Joana Candida de Jesus.
A experiência da reza para dona Maria Neri nasceu da necessidade em virtude
de uma doença chamada Pré-eclampsia que ocorreu durante a gravidez de seu
segundo filho, Raimundo Nonato Pereira, que nasceu com graves seqüelas em
01/01/1982.
As orações aprendidas foram ensinadas por seu tio, o senhor José Gonçalo de
Sousa, mas a rezadeira afirma que muitas coisas ela aprendeu através dos sonhos. As
orações serviam para as seguintes categorias de doenças: Ramo, moléstia,
epilepsia,dor de cabeça, espinhela caída,má circulação do sangue,dor de
barriga,quebranto,
mau
olhado
e
as
infecções
de
modo
geral,
garganta,ouvido,nariz,boca, costurar as carnes ( carne quebrada,carne rasgada,nervo
torto,osso rendido,veia rota, sangue preso e parado).
Os santos de sua devoção são: Divino Espírito Santo,Senhor São Romão,São
Lazaro, São Furtuoso, Nossa Mãe Aparecida, Santo Expedito,Coração de Maria. O
oferecimento de cada oração é feito para o pai e a mãe do seu e depois para a o
santo do nome da pessoa.E os seus sete santos que ela tem em devoção.
Em seu ritual de cura estão presentes orações com fins específicos, de acordo
com o santo invocado:
:―eu rezo meu senhor são Furtuoso:
pancada.
reza em carne quebrada e de
Oração a São Romão e Divino Espírito santo: para Ramo e má
circulação do Sangue; (Se o caso for muito grave dá o efeito rápido)
Oração de são Lazaro e São Romão e Santo Expedido: para Moléstia,
ferida;
Oração de Santa Luzia e São Roque: mau olhado e quebranto;
Oração dos santos Cosme e Damião e o divino espírito Santo: é rezada
para infecções;
Oração de Nossa senhora das cabeças é para dor de cabeça;
Oração a nosso senhor Jesus Cristo: para as dores de barriga.
55
Segundo ela, o senhor Padre Cícero Romão é o dono das meizinhas ou seja
das ervas. De acordo com a própria rezadeira e várias pessoas da comunidade, as
curas de D. Maria Neri são comprovadas, conforme os relatos abaixo:
1º Experiência vivida por ela mesma
No ano de 1983 dona Maria Neri passou por uma experiência muito difícil
no período de nove meses ela passou perdendo sangue.Três meses depois colocou a
mãe do corpo para fora e esse sofrimento durou três anos. No ano de 1986 foi ao
Canindé se confessou e contou ao padre Capuchinho e ele aconselhou que ela
trocasse dois santos: São Lazaro e são Furtuoso e levasse-os para casa e se tornasse
devota deles,muito curiosa lembrou das rezas de sua mãe que rezava costurando e
rezando e costurando e assim ela atendeu ao pedido do padre e nos dias atuais ela se
encontra curada graças as orações feitas por ela mesma e ―a fé que ela tem em Deus
e nossa senhora e em todos os santos”. Por causa dessa experiência de cura foi se
espalhando sua fama como rezadeira, pois até então ela rezava às escondidas, pois
temia que o povo não acreditasse em suas orações.
2ª Experiência foi realizada 1993 com um rapaz de aproximadamente 15 anos,
Marcelo.
56
O rapaz apresentou uma dor na perna sem ter sido de pancada ou seja do nada
e isso resultou no apodrecimento ―da carne da frente da canela e rachou o osso que
se enxergava o tutano mexendo”. O mesmo já havia feito tratamento na medicina
convencional por mais de 3 anos onde tirava a carne estragada da perna e colocava
uma nova e nada adiantava. Certo dia a tia do rapaz (Marcelo) foi mandar rezar da
cabeça dela na casa da dona Maria, no dia seguinte ela falou para dona Maria que
tinha um sobrinho que estava nessa situação triste sem ter cura do médico, ela
indagou: será Maria Neri se você rezasse nele ela ficava bom? Dona Maria
respondeu que ―só Deus e o senhor são Lazaro é que sabe, mas ela não‖.A tia do
rapaz disse: pois amanhã eu trago ele aqui para você olhar e a dona Maria disse que
iria rezar durante três dias se ele tiver melhora a gente continua se não podemos
parar. E nas três vezes que tinha sido rezado ele apresentou uma melhora
considerável, o tratamento foi durante três meses consecutivos sendo todo dia que
Deus dava.Hoje ele se encontra curado e em perfeito estado de saúde. Um fato
interessante a ser observado é que ele estava com uma cirurgia marcada e 8 dias
antes ele começou o tratamento das rezas e graças a esse tratamento ele ficou
curado. Ele tinha um colega que também tinha o mesmo problema e que também
estava com a cirurgia marcada para o mesmo dia,mas este preferiu optar pelo
tratamento cirúrgico, infelizmente não teve a mesma sorte de Marcelo vindo a falecer
três meses após a cirurgia. Após mais essa experiência de cura, dona Maria tornouse ainda mais conhecida por suas orações e hoje em dia ela reza até em 70 pessoas
por dia. A notícia se espalhou por todos os cantos e é gente de vários lugares que
vem a procura das suas orações.
3º Experiência: criança de 3 meses
57
Foi realizada com uma criança de três meses de idade chamado Cleiton este
sofria de moléstia que se manifestava de cinco formas. Ele chorava 24 horas sem se
calar. Como morava no Rio de Janeiro, a criança veio de avião a procura das rezas
de dona Maria para ver se conseguia ficar curado. Foram 25 dias rezando todo dia.
Ele ficou quase curado porque a mãe não esperou para fazer o tratamento completo,
mas levou consigo cinco orações e os remédios caseiros e depois já retornou duas
vezes, no entanto continua usando os remédios caseiros. E graças a Deus no que diz
respeito as orações ele se encontra curado, pois agora só chora o normal.
4ª Experiência: criança
Francisco Givelson dos Santos, filho de Francisca das chagas Oliveira e
Gilson José dos Santos, residentes na comunidade Palmeira dos Soares. Foi uma
criança muito desejada por seus pais, nasceu no hospital santa Cruz em Pedro II –
Piauí, pesando 4kg e meio e 53 cm. Aparentemente era uma criança saudável, mas
aos três dias de nascido começou-se a notar algumas deficiências, por exemplo: ele
58
tinha a barriga muito grande, uma forte quentura na cabeça e chorava dia e noite.
Começou a crescer o umbigo, então a mãe o levou ao médico e ele disse que na
barriga eram gases
e que a quentura da cabeça era norma,
passou então uns
antibióticos e não fizeram efeito. Então a mãe começou a ficar preocupada e foi
procurar dona Maria Neri em Nazaré, por ser uma rezadeira procurada por muita
gente. E ela disse ―se você garantir trazer seu filho mais vezes pra mim rezar e fizer
tudo que eu lhe indicar seu filho
ficará bom‖, então a mãe prometeu
que iria cumprir com todas as
recomendações
propostas,
e
acreditou no poder de Deus e nas
orações de dona Maria Neri e graças
a
Deus
seu
filho
ficou
completamente bom. Segundo a
mãe do garoto ―a senhora Maria
Neri é uma mulher simples caridosa
e tem um coração enorme,ela
acolhe todos que a procuram, ela é
uma pessoa iluminada por Deus,e
esse dom que Deus lhe deu é para
ajudar todos aqueles lhe procuram
e
através
dela
Deus
faz
a
cura.Quero agradecer em primeiro
lugar a Deus e depois a dona Maria
e pela saúde de meu filho que hoje tem 3 anos e é um menino saudável”.
5ª Experiência: Ivo Francisco de Araújo Sousa.
“ Tudo começou com um acidente uma segunda feira do mês de outubro do
ano de 1996, por volta do meio dia. Terminado de almoçar fui a uma serraria para
ver as pessoas trabalhando chegando lá fiquei em pé na porta quando de repente me
atingiu na cabeça acertando em cima do meu olho esquerdo, cai no chão desmaiado
fui levado as presas para Teresina, passei por uma cirurgia, fiquei 4 dias em coma e
20 dias internado quando tive alta me encaminharam logo para uma consulta com o
59
oculista tive que voltar 2 vezes a Teresina e era sempre a mesma coisa o médico
passava colírio e não servia. Passados 2 anos fiz uma nova consulta, isso em Pedro
II, ai veio mais uma operação agora tinha que fazer uma raspagem no olho isso na
cidade de Sobral no Ceará. Após a operação tive que usar óculos o resultado foi que
nem a cirurgia nem os óculos serviam de nada, eu sentia forte dores de cabeça e
nos olhos meu rosto inchava. No ano de 2008, fui derrubar um caju este caiu em
cima do meu olho direito, passados 3 dias meu olho começou doer, arder e ficar
bastante vermelho, fui ao médico ele receitou vários medicamentos, eu tomei todos
e nada de melhora, cada vez piorava a situação.Porém no dia 29 de outubro de 2008
eu já não estava mais enxergando nada, aí então surgiu a dona Maria Neri na
minha vida, rezadeira de Nazaré, fui levado 2 vezes em sua casa para ela rezar em
mim. Na terceira vez já com uma grande melhora consegui ir sozinho e a cada dia
eu melhorava cada vez mais. Pra mim o mais importante nisso tudo é o fato de eu
ter chegado a casa de dona Maria cego e ter saído de lá enxergando tudo, isso eu
nunca vou me esquecer, pois ela me devolveu a alegria de enxergar novamente.
Hoje posso dizer que devo minha saúde, abaixo de Deus, as suas orações e os
remédios caseiros feitos por
dona Maria Neri. Muito obrigado que Deus lhe
abençoe lhe dê força e coragem. Dona Maria Neri um anjo que resgatou”.
6ª experiência de cura: João Victor Nascimento Araújo
60
Dia 09/04/2000 as 6:10 da manhã nasceu João Victor Nascimento Araújo. Por
ter passado da hora de nascer apresentou alguns problemas de saúde. Foi um parto
difícil tiveram que usar foscéps, por isso o bebê nasceu com a cabecinha toda cheia
de hematomas e tendo convulsões de minuto em minuto no dia seguinte já fomos
para Teresina a procura de um tratamento mais adequado para o caso. Fomos a vários
hospitais, mas não havia vagas. No quinto hospital procuramos socorro fomos
atendidos. João Victor ficou internado por uma semana, como estava com
dificuldades para mamar foi sondado, ao dar alta
ainda precisava tomar
medicamentos por um mês e teríamos que voltar com o João para fazer uma consulta
com o neurologista,mesmo tomando os medicamentos diariamente ele não
apresentava melhoras, pois o mesmo chorava o dia todo. Eu como mãe já estava
desesperada.Só então resolvi levá-lo para dona Maria Neri rezar chegando lá ela
examinou ele todo e disse ―eu rezo e lhe garanto que ele fica curado mas você tem
que ter fé e cumprir direitinho com tudo que for pedido 1º você tem que suspender o
gardenal e não vá para Teresina com ele caso você resolva ir me avise que eu não
rezo, a decisão é sua‖, disse dona Maria. Confesso que fiquei confusa e a pensar
voltei para casa conversei com o pai dele e juntos resolvemos confiar na dona
Maria.Joguei o remédio fora e comecei o tratamento com as rezas e chás medicinais,
foram 90 dias o tratamento no início ele ainda chorava muito, mas com a continuação
ele foi apresentando melhoras a cada dia ele ficava bem melhor e graças a Deus e o
tratamento feito com a dona Maria Neri meu filho ficou bom. Gosto muito de contar
essa história porque os médicos me falaram que ele poderia ficar com algumas
seqüelas e eu temia muito por isso. Por isso eu repito graças a Deus e nossa senhora e
a dona Maria Neri meu filho hoje tem 8 anos é super saudável, está na segunda série
e é muito inteligente. Aqui termino essa história dando graças pela saúde de meu
filho e desejando que a dona Maria Neri tenha muitos anos de vida e saúde e possa
ajudar a todos lhe procuram
61
7ª Experiência: Lucas Renan de Araújo Oliveira
Aos 20/11/2005 nasceu de nove meses um menino de nome Lucas,
as
10:horas da noite no hospital Josefina Getirana Neta na cidade Pedro II- PI,pesando
3.500Kg e 53 cm. No dia 21/11/2005com apenas um dia de vida ele chorava sem
parar,não conseguiu pegar no peito e de vez enquanto tinha fortes convulsões. Ainda
no dia 21 a noite foi levado às presas para Teresina. No hospital, a criança foi
examinada e internada por três dias no berçário, depois veio para enfermaria, ai
tivemos uma surpresa ruim ainda voltou as presas para o berçário sem respirar e
completamente sem sinais de vida e na madrugada piorou ainda mais tendo que ficar
na UTI, respirando e se alimentando por meio de aparelhos nessas condições ele
permaneceu 12 dias em coma direto só no 13º dia ele conseguiu abrir os olhos, mexer
os membros.
Através destes relatos observa-se que muito mais do que a ausência de
médicos ou de recursos financeiros para a procura da medicina científica, a medicina
popular está presente na comunidade Nazaré como uma opção de cura que não visa
a separação entre corpo e espírito. ―Os elementos sobrenaturais do mundo, por sua
longa presença no dia-a-dia e no imaginário de cada um, podiam ser muitas vezes
mais compreensíveis que o desequilíbrio dos humores ou a auscultação do coração.‖
(MORAES,2001p. 90)
62
A doença é entendida como uma desordem entre o corpo e o espírito, entre o
natural e o sobrenatural. Portanto, um dos processos da cura deve ser tratado com
uma reza. Podemos ver isso em várias benzedura relatadas acima.
Mesmo com todo o desenvolvimento da medicina científica esta percepção de
cura ligada aos elementos da natureza e ao sobrenatural continua existindo. Em uma
época em que o acesso à medicina científica era raro se torna fácil afirmar que a
medicina popular era uma alternativa para aqueles que não tinham condições, porém
essa afirmação também não justifica a presença destas práticas de cura em nossa
sociedade. Elas devem ser percebidas como uma forma de entender a doença e o
processo de cura diferente da científica, pois o fato de nossa sociedade ser embasada
em explicações científicas não significa que outras explicações não sejam possíveis,
ou sejam menos certas que as primeiras.
Com um riquíssimo conhecimento, que mistura elementos oriundos das mais
diversas crenças e culturas, a benzedeira ajuda a população a curar suas doenças do
corpo e do espírito, contribuindo significativamente para o bem-estar social.
O termo curandeirismo abarca múltiplas formas de cura, fruto de diversos
saberes. E o no caso de Nazaré, o conhecimento a cerca das plantas e alguns rituais
contribuem para a identificação do elemento indígena.
As curandeiras, assim como os pajés, são geralmente respeitadas pelo povo e
procuradas para ajudar as pessoas, ao contrário da imagem muitas vezes passada por
alguns médicos oficiais e autoridades. Ao contrário do que se esperava com o
desenvolvimento da medicina científica, existe ainda hoje uma procura, um crescente
interesse pelo conhecimento da ervas, plantas, rezas e receitas de cura. Os remédios
de manipulação vendidos nas farmácias, que têm suas origens no saber popular,
gradativamente ganham mais prestígio e aceitação, inclusive entre conceituados
profissionais da área de saúde.
Os rezadores seguem um ritual próprio, dependendo da forma como
aprendem as orações. No entanto, têm algumas coisas em comum: a simplicidade e a
fé, por exemplo. Invocam o nome de Deus o tempo todo. Na hora de rezar, misturam
orações como o Pai-Nosso, Ave-Maria e o Credo com truques da magia. Em sua
maioria, são católicos.
63
OUTROS/AS REZADORES/AS
Nome: Maria Vieira de Sousa 50 anos iniciou seu trabalho por volta dos anos
92 ,93 e aprendeu o oficio da reza fazendo observações com os mais velhos da
família como seus avós.
Reza para: vermelha e entrosada,quebranto e mau olhado,usa como instrumento de
trabalho galhos de plantas.
Tem como santos de sua devoção:São Francisco,Pai e Mãe do céu e o divino
Espírito Santo.Em seus relatos dona Maria Vieira de Sousa a firma ter como
experiência de cura a recuperação dos movimentos do corpo ou seja a cura da
trombose de alguns de seus clientes e também já curou cegueira.
Nome:Luis Meocides 78 anos iniciou seu trabalho de rezador muito jovem já aos 18
anos aprendeu o oficio com o senhor Raimundo Vicente.
Tem como santos de sua devoção:São Francisco,Nossa Senhora do Bom Parto e
nossa Senhora de Fátima.Reza para os seguintes males:reumatismo,constipação, dor
no corpo,pressão alta,dor de encruzidade,quebranto e mau olhado.
Tem como experiência três casos, a cura de uma pessoa com dor no estomago,outra
com dores nas pernas e uma terceira com dor nas costas.
Nome:Joana Rosa da Silva 75 anos reza desde de seus quarenta anos e prendeu
com os idosos de sua família seus instrumentos de trabalho são galhos de plantas e o
rosário.
Reza para as categorias engasgo,vermelha quebranto. Tem como santos de sua
devoção e auxilio no caso de engasgo recebe auxilio de Jesus Cristo e São Braz,para
tratar entrosada ou vermelha seus auxiliadores são:Nossa Senhora do Desterro e do
Livramento e nosso Senhor Jesus Cristo,e para afastar o quebranto ela invoca Nossa
Senhora do Livramento,do desterro,Nosso Senhor Jesus Cristo e Santa Luísa.
64
3 A MEDICINA ALTERNATIVA NA PERSPECTIVA DA NOVA
GERAÇÃO NA COMUNIDADE NAZARÉ
Os jovens da comunidade conhecem os agentes de cura, citam os nomes de
Maria Nery, Lídia, Luis Pires, Francisca Cândido, Dona Zeca, Dona Moça. 80 % já
procurou os serviços dos rezadores, em grande parte levados pela mãe. A maioria
diz acreditar e ter muita fé. Acredita em seu poder de cura. No entanto, percebe-se
que há pouca valorização e alguns afirmam que não acreditam e não gostam. Uma
média de 70 % não aprenderam nenhum tipo de reza ou cura ensinada por seus pais
ou por pessoas mais velhas da comunidade.
A transmissão dos conhecimentos é dificultada pela crença, dos próprios
agentes de cura de que se ensinarem as rezas elas ―não servem mais para eles‖.
Como afirma a D. Maria da Luz, de 48 anos: ―se a gente ensinar não serve mais para
nós‖. No entanto, ela própria aprendeu com a avó.
Como todas as mulheres brasileiras as mulheres de Nazaré são culturalmente
responsáveis pela saúde dos membros da casa. As mulheres são, de fato, os sujeito de
preservação desta cultura, tanto como usuárias como exercendo as funções de
erveiras e benzedeiras. As construções de gênero dão continuidade ao trabalho de
reprodução implicado nos cuidados corporais dispensados aos parentes, crianças e
pessoas dependentes, como são os doentes, os velhos e certos deficientes. Essas
construções fazem com que as mulheres se incubam dos cuidados quando a doença
aparece.Estes vão desde os cuidados domésticos como, como a administração de
remédios caseiro, bastante valorizado até o compromisso com os itinerários
terapêuticos através dos vários pontos do espaço terapêutico.
Neste sentido, um certo conhecimento é atribuído às mulheres, porque deve
ser aprendido no contexto de codificação cultural dos papéis de gênero nessa
sociedade. No norte e nordeste do Brasil, em particular ―a tradição‖ permanece forte
e não se transgridem facilmente essas construções, como o reconhecem as mulheres
de Nazaré e de outras partes do Brasil. Esse conhecimento é naturalizado; ele faz
65
parte do bem comum conhecer, como mulher, na vida quotidiana, ele pertence à
identidade de gênero e não tem outro estatuto além desse.
Embora exista manifestado interesse de moradoras da comunidade, como a
vereadora e educadora Lucinete Maria do Nascimento, de reconhecer a identidade
indígena dos moradores, ainda não há uma identificação das práticas de cura com
essa origem.
Não podemos deixar de notar que as benzedeiras ainda
têm um papel
destacado na comunidade, no entanto a falta de pessoas interessadas em aprender
seus conhecimentos é um fator que vem aumentando nos últimos anos. Por outro
lado, a procura por ervas e remédios naturais está em constante crescimento, as
pessoas estão entendendo que a medicina industrializada não é a única alternativa, a
busca por uma espiritualidade a concepção de que as energias da natureza e do corpo
possam interferir na saúde mostra que a medicina popular não está acabando, pelo
contrário está ganhando novos moldes, está sendo adaptada à mentalidade do sujeito
pós-moderno, que não vê na ciência a única explicação possível para as questões da
vida.
66
CONCLUSÃO
Este estudo nasce de um interesse em investigar o universo das crenças
populares relacionadas às curas presentes na comunidade Nazaré, município de
Lagoa de São Francisco (PI), que busca através das orações por santos de devoções
e toda uma experiência obtida no dia-a-dia o conhecimento das doenças que atingem
a população de um modo geral. Parte da percepção de que os diversos praticantes da
cura popular se fazem na nesta comunidade, disputando os mesmos espaços com a
medicina cientifica.
Este trabalho a cerca da cura popular na comundiade Nazaré é fruto de
pesquisa sobre os agentes da cura, que procuram através dos saberes sobre o corpo
mecanismo de curar as enfermidades que atingem a população de um modo geral.Ao
tentarmos repertoriar as diversas práticas de medicina popular encontradas na
comunidade é importante compreender que estas manifestações não são coisas do
passado, totalmente esquecidas ou em vias de extinção. Elas estão presentesno dia a
dia da população local e constituem, com frequência, o único recurso ao qual o
povo tem acesso
Doutra parte, é importante assinalar que a busca destes recursos não está
condicionada apenas a questões de ordem econômica - a pobreza. Cremos que o
povo procura estas propostas de cura porque encontram nelas uma maior
sintonia/ressonância cultural. Elas calam mais fundo no imaginário ao povo.
Enquanto que, as práticas oficiais são destituídas de qualquer senso para os mais
simples. Na realidade, as manifestações populares estão ligadas à cultura. Elas fazem
parte do todo cultural.
A noção de que a oração, a intervenção divina ou os serviços de um
curandeiro individual possa curar doenças tem sido popular por toda a história.
Recuperações milagrosas têm sido atribuídas a uma miríade de técnicas comumente
reunidas no termo "cura pela fé". Durante os últimos quarenta anos, diversos
investigadores têm estudado atentamente este assunto e escrito a respeito de seus
achados.
67
É muito difícil precisar onde terminaria a Medicina Oficial e onde começaria
a Medicina Popular, sobretudo aqui no Brasil. Muitas das práticas populares são
recuperadas pelo saber instruído, enquanto outras formas são abandonadas. Com o
passar do tempo outras práticas vão surgindo e os fenômenos de acumulação e
sincretismo são extremamente importantes para a compreensão da nossa realidade
cultural.
Como parte fundamental da cultura e considerando que a nossa é
multifacetada, fica fácil imaginar que as "medicinas" sejam as mais variadas
possíveis e com apelos a diferentes recursos. Temos a fitoterapia, as orações, tanto as
católicas, como as tradicionais e modernas, as manifestações espíritas, umbandistas,
pentecostais, as romarias, os santos protetores, etc.
O questionamento que se levanta a respeito das práticas populares deve
permitir um enriquecimento das partes em confrontação. Não podemos esquecer, por
exemplo, o aspecto do equipamento linguístico das práticas populares que,
geralmente, é mais consentâneo com a realidade popular. O nome da doença, a
descrição dos sintomas adquirem para o paciente uma compreensão mais clara.
A duração mesma da consulta não se limita a uma rápida descrição de queixas
com a subsequente prescrição medicamentosa. Procuram conhecer a realidade
familiar e social do paciente. Aliás, o terapeuta vive na mesma comunidade e do
mesmo modo que o cliente. Estes elementos são, sem dúvidas, aspectos muito
significativos para tentar justificar o relativo sucesso que estas manifestações
possuem, além delas questionarem, de forma direta, algumas condutas,
lamentavelmente comuns, entre os que praticam e defendem a medicina oficial.
Doutra parte, devemos assinalar a grande ligação existente entre os diversos
sistemas de curas populares e as crenças religiosas. Religião e saúde estão
intimamente ligadas. Corpo e fé são entidades contíguas e em muitos casos a cura
passa pela resolução do conflito espiritual existente. A rigor, não existiria a
separação clara de instâncias a estudar. Tudo funciona como um só universo. O
esforço é concentrado, na maioria dos casos, em procurar estabelecer uma lógica
única que possa integrar o sagrado e o profano.
É interessante observar que, no Brasil, de um modo geral, todos estes anos de
dominação cultural não conseguiram impor um modelo único de concepção e prática
68
da medicinal. As formas alternativas, locais, continuam presentes até como uma
maneira de resistência e de identidade cultural. Se no passado a rejeição era a atitude
mais freqüente, hoje, cada vez mais, se coloca a questão de como a medicina
científica pode se articular com as diversas manifestações e práticas populares.
A benzeção está relacionada a uma religião, uma vez que os agentes de cura,
em geral, utilizam orações, imagens de santos, rosário. No entanto, é preciso ressaltar
que isso não significa que estejam vinculadas exclusivamente ao catolicismo, mas
há manifestações de simbologias de outras religiões, como da Umbanda e
Candomblé.
Essa crença sobre esses agentes de cura foi o que fizeram com que esses
métodos de cura sobrevivessem e a sua clientela permanecesse ao longo dos anos.
Porém esse dom de curar vem perdendo agentes ao longo dos anos, devido a falta de
perpetuação dessa prática de cura e se faz necessário um estudo acerca desses
agentes de cura para a manutenção e preservação dessas práticas.
69
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72
APÊNDICE
XAROPE DO SUCO DAS FRUTAS (ABACAXI, CAJÁ, MANGA, UVA,
LIMÃO, CAJU E OUTROS)
XAROPE DE UVA
Ingredientes
Uvas
Açúcar
Água
1kg
½ kg
½ Litro
Preparação:
Esmague as uvas e coe num coador de tecido fino, faça uma calda em ponto
de pasta. Junte o suco à calda e deixe ferver por cinco minutos. Deixe esfriar e
engarrafe o xarope.
XAROPE DE LIMÃO
Ingredientes:
Limão
Açúcar
Água
10
1kg e 200g
½ de água fervente
Preparação:
Lave e enxágüe os limões, exprema-os e coe o caldo. Junte ao suco dos
limões o açúcar e a água fervente, leve a ferver, mexendo sempre com uma colher de
pau até o ponto de xarope. Engarrafe e arrolhe bem as garrafas, deixe repousar
durante pelo menos 3 dias, antes de consumir.
XAROPE DE CAJÚ
Ingredientes:
Cajus
Caldo de limão
Açúcar
Água
PREPARAÇÃO
Com as mãos esprema os cajus, junte um pouco de caldo de limão. Meça a
quantidade de suco obtida. Com uma colher de pau, misture tudo, meça ma
quantidade de açúcar que corresponda ao dobro de do suco de caju, com o açúcar e
água faça a calda grossa.
XAROPE DE CAJÁ-MANGA
Ingredientes:
Cajás-Manga
caldo de limão
Açúcar
Água
Preparação
Esprema os cajás e junte um pouco de caldo de limão. Meça a quantidade de
suco obtida. Meça também uma quantidade de açúcar que corresponda o dobro do
suco de cajás, com o açúcar e água prepare uma calda grossa. Retire a calda do fogo.
Misture-lhe o suco de cajá com a colher de pau. Leve o preparado ao fogo. Retire do
fogo, assim que levantar fervura. Tire a espuma e deixe repousar um pouco.
Coe o xarope num coador de tecido fino. Engarrafe o xarope ainda quente e enrole a
garrafa depois de frio.
Preparação:
Coloque meio medida de açúcar para cada medida de água numa panela. Leve
a panela ao fogo e deixe ferver.
Com a espumadeira, vá retirando a espuma que se forma na superfície da
calda. Mexa a calda até ficar espessa.
Misture 1 litro de calda para cada meio litro de suco de fruta. Mexa a mistura
e leve ao fogo. Espere atingir o ponto de xarope.
XAROPE DA BANANEIRA
Ingredientes:
Fio da bananeira sem raiz
Açúcar
01 fio com 30cm
03 xícaras de chá
Preparo:
Cortar o fio da bananeira e coloca numa vasilha alternando o açúcar e o fio da
bananeira. Deixar uma noite em repouso. No dia seguinte colocar o copo com água,
coar todo o liquido e levar ao fogo até formar o xarope.
Indicação: Asma crônica, gripe.
Uso: Adulto: 01 colher de sopa 3 vezes ao dia
Criança: 01 colher de sobremesa 03 vezes ao dia.
Menos de 1 ano: uma colher de café 3 vezes ao dia.
XAROPE DE MEL
Ingredientes:
Mel
Limão (suco)
½ garrafa
02
Dentes de alho
03
Cebola branca
01
Preparo:
Picar tudo e passar no liquidificador ou socar no pilão o alho e a cebola e
misturar com o mel e o suco do limão, guardar em vidros limpos.
Indicação: gripe, resfriado e tosse.
Adulto: 01 colher de sopa 3 vezes ao dia.
Criança: 01 colher de chá de 3 em 3 horas.
XAROPE PARA INFLAMAÇÕES (1)
Ingredientes:
Algodão
Aroeira
Ameixa
Açoita cavalo
Folha santa
Mastruz
Álcool
Água
Raiz de carnaúba
Açúcar
6 xícaras (chá) folhas
3 xícaras (chá) cascas
3 xícaras (chá) cascas
3 xícaras (chá) cascas
3 xícaras (chá) cascas
3 xícaras
4 colheres (Sopa)
4 litros
3 xícaras (chá)
3 kg
Preparo:
Conforme receita básica de xaropes da apostilha.
Modo de usar:
Adultos: 1 colher (sopa) 3 vezes ao dia
Crianças: 1 colher (chá) 3 vezes ao dia
Obs: para um tratamento eficaz, tomar 1 litro consecutivo
XAROPE ANTI-ANÊMICO
Ingredientes:
Jucá
Jatobá
Folhas de algodão
Embuaba
Açúcar
Água
Álcool
4 xícaras de cascas ou vagens
4 xícaras de cascas
4 xícaras de folhas
4 xícaras de folhas
3 kg
4 litros
4 colheres (sopa)
Preparo:
Conforme a receita básica de xaropes.
Modo de usar
Adultos: 1 colher (sopa) 3 vezes ao dia
Crianças: 1 colher (chá) 3 vezes ao dia
Obs: fazer o tratamento durante um mês
XAROPE PARA REUMATISMO.
Ingredientes:
Tipí
Três xícaras de raízes
Alho Bravo
3 xícaras de raízes
Japeganga
3 xícaras raízes
Umburana de Cheiro
3 xícaras cascas
Gonçalo Alves
3 xícaras cascas
Malva do Reino
3 xícaras de folhas picadas
Malva Branca
3 xícaras de folhas picadas
Açúcar
3kg
Água
4 litros
Álcool
4 colheres
Obs.: Se não tiver alho bravo usar duas xícaras de alhos comum
XAROPE PARA ASMA. (1)
Ingredientes:
Manteiga de nata
2 colheres de Sopa
Mel de abelha
4 Colheres de Sopa
Modo de preparar
Aquecer a manteiga e misturar com o mel de abelha, colocar em vidros esterilizados
e guardar.
Modo de usar
Adulto: 1 colher e sopa
Criança: 1 colher de sobremesa (de chá)
Tomar 3 vezes ao dia.
XAROPE PARA BRONQUITE (1)
Ingredientes:
Mel de Abelha
Alho Roxo
1 Litro
1 Cabeça
Modo de preparar
Descascar o alho (a casca de parte de cima da Cabeça) Ponha a cabeça inteira
dentro do litro de mel. Colocar pó três dias no sereno.
Modo de usar
Criança: Acima de um ano 1 colher de sobremesa
Adulto: 1 colher de sobremesa. Tomar antes do café da manhã.
XAROPE DE ALHO
Integrantes:
Dentes de alho
Vinagre a água
Glicerina
Mel
225g
1/4 de litro de vinagre e água em partes
iguais
300g
700 ml
Preparo
Depois de descasçar o alhos, despeje sobre ele a solução de vinagre e água
destilada em volume suficiente para cobri-lo, dentro de uma vaso de tampa
hermétrica. Agite bem e deixe repousar em algum lugar fresco durante quatro dias,
agitando duas vezes ao dia.
Findo esse prazo, adicione e glicerina e torne a deixar mais um dia. Coloque em uma
peneira para escorrer, junte o mel, misture, ponha novamente no vaso e tampe bem.
Com serve em lugar fresco.
Indicação
Crises de asma em momento que não é possível levar ao médico.
Modo de usar
Tome 1 colherinha dissolvida ou não em água de 15 em 15 minutos até passar
a crise de empasmo. Depois dê ao paciente 1 colherinha de duas em duas horas. No
dia seguinte, a dose é uma colheria a cada 4 horas.
XAROPE PARA TOSSE
Ingredientes:
Folhas de hortelã miúda
Água
Açúcar
250g
100ml
350g
Preparo
Pisar as folhas até formar uma massa, depois acrescente 100ml de água, em
pano esprema o sumo. Junte o açúcar leve ao fogo mexendo sempre. Deixando ferver
até ficar xarope, tire do fogo e retire a espuma, guardar em vidros bem fechados.
Indicação
Gripe, tosse, rouquidão, catarro e elimina gases.
Modo de usar
Três a quatro colheres de sopa ao dia
Criança: 1 Colher Média.
XAROPE BRONQUITE (2)
Ingredientes
Um mangará, meio quilo de açúcar, três gotas de limão .
Modo de preparar
Corta o mangará em rodelas, coloca em uma vasilha, ponha uma camada de
mangará e outras de açúcar e assim sucessivamente, acrescenta três gotas de limão,
deixe em repouso por 24 horas, côa-se.
Adulto: 1 colher de sopa
Criança: 1 colher de chá
Tomar: 3 vezes ao dia
XAROPE PARA GRIPE
Ingredientes
Raízes de velame
Angico seco ou verde
Aroeira seca ou verde
Hortelã verde
Malva do reino verde
Água
Rapadura ou açúcar
200 gramas
Seco 50g verde 100g
Seco 50g verde 100g
100 gramas
100 gramas
4 litros
3 rapaduras ou 3 kg de açúcar
Preparo
Colocar em 4 litros de água as cascas para ferver contar 30 minutos após a
fervura, coar e colocar a rapadura (3) ou 3 kg de açúcar, colocar novamente no fogo
quando estiver quase no ponto de xarope colocar as folhas.
OBS: Para um litro de xarope, colocar-se 1 litro e meio de água.
XAROPE PARA INFLAMAÇÃO (2)
Folhas de algodão ..........................................
Ameixa ..........................................................
Carnaúba ........................................................
Aroeira ...........................................................
Açoita Cavalo ................................................
Angico escuro ................................................
Folhas Santa ...................................................
Mastruço .........................................................
Açúcar ............................................................
Álcool de cereal ..............................................
Água ................................................................
3 xícaras de folhas
3 xícaras
3 xícaras
3 xícaras
3 xícaras
3 xícaras
3 xícaras
3 xícaras
4 quilos
3 gotas
4 litros
Modo de Preparar
Cozinha as cascas, até ficar apenas 3 litros do xarope, retire do fogo e tire as
cascas e côa-se num pano bem limpo, ponha o açúcar no xarope, mexer até dissolver
bem. Leve ao fogo novamente até ficar igual a calda de um doce, quando estiver frio
ponha o álcool, coloque o conteúdo em vidros esterilizados. Leve ao fogo novamente
em processo de banho Maria.
Modo de usar
Adulto: 1 colher de sopa
Criança: 1 colher de chá
Tomar: 3 vezes ao dia
XAROPE PARA ASMA (2)
Algodão...........................................................
10 folhas
Urucum...........................................................
10 folhas
Mel de Abelha.................................................
Meio litro
Modo de Preparar 1 Pouco de Alho
Liquidificador as folhas com o mel, côa-se num pano fino.
Modo de usar
Adulto: 1 colher de sopa
Criança: 1 Colher de Chá
Tomar: 3 vezes ao dia
Agitar antes de Tomar.
VINHO COM MOSTARDA
Ingredientes:
Semente de mostardas em pó
Vinho branco
30 gramas
1 litro
Preparo:
Deixe as sementes em pó no vinho durante oito dias e coe a seguir.
Modo de usar:
Tome duas colheres de manhã
Indicação:
Contra fermentações gastrintestinais, diuréticos.
VINHO COM ALECRIM
Ingredientes:
Folhas de alecrim esmagadas
Vinho branco
50 gramas
1 litro
Preparo:
Deixe o alecrim de molho durante sete dias e coe a seguir.
Modo de usar:
Tome três copinhos por dia
Indicação:
Contra flatulência
VINHOS
VINHO DE ALECRIM
Ingredientes:
Folhas secas de alecrim
Folhas secas de cidreira
Vinho branco
2 Colheres
2 colheres
1 garrafa
Preparo:
Deixe as folhas de molho no vinho. De uma semana a dez dias coe as ervas.
Modo de usar:
1 Colher de sopa
Indicação:
Bom como calmante dos nervos e contra depressões ligeiras do espírito.
VINHO COM GENGIBRE
Ingredientes:
Vinho
Raiz de Gengibre fresca e Esmagada
1 garrafa
2 colheres
PREPARO:
Deixe duas colheres de gengibre curtirem no vinho durante uma semana. Coe e
guarde.
Modo de usar:
1 colherinha 4 vezes ao dia ao perceber que está como resfriado. Para
prevenir uma só colherinha.
Indicação:
Desintoxica e estimula a transpiração, uma ótima ajuda contra o resfriado.
VINHO COM CAMOMILA
Ingredientes:
Flores de camomila
Vinho branco
1 punhado
1 garrafa
Preparo:
Despeje um pouco de vinho para dar espaço à garrafa. Deixe as flores de molho no
vinho durante dez dias.
Modo de usar:
1 colher de sopa para aliviar o mal estar
INDICAÇÃO: Mal estar estomacal ou cólica.
VINHO COM ERVA – DOCE
Integrantes:
Sementes de erva doce em pó
150 gramas
Vinho branco
1 litro
Preparo.
Deixe e erva doce de molho durante dez dias e filtre.
Modo de usar:
Tomar um copinho cinco minutos depois de cada refeição.
COMPOSTO I
Ingredientes:
Romãs médias
Folhas de malva
2 romãs
5 folhas
Raízes médias de açafrão
2 raízes
Mel
½ kg de mel
Preparo:
Lavar tudo muito bem, enxugar depois juntar ao mel e passar no liquidificador. Coar
em tecido fino, guardar em vidros limpos e esterilizados e bem tampados.
Indicação:
Garganta, gripe, inflamação.
Adulto: 01 colher de sopa 3 vezes ao dia
Criança: 01 colher de chá 3 vezes ao dia. Crianças até 5 anos.
COMPOSTO II
Ingrediente:
Mel
Folhas de 30 cm de babosa
½ kg de mel
2 folhas
Folha santa média
2 folhas
Colheres de mesocarpo (babaçu)
2 colheres de sopa
Folhas de malva
2 folhas
Pó de jucá
1 colher
cachaça
½ xícara
Preparo:
Lavar bem as folhas e enxuga-las, retirar os espinhos da babosa e cortar em
pedaços. Junte ao mel e as outras folhas, passar no liquidificador, coar em uma
peneira fina, por ultimo juntar os pós e misturar bem. Guardar em vidros limpos e
esterilizados.
Indicação:
Úlcera, gastrite, folípoles, útero, ovário, reumatismo, ajuda no combate ao câncer.
Modo de usar:
Tomar uma colher de opa 3 vezes ao dia 1 hora ante das refeições.
COMPOSTO III
Ingredientes:
Mel
Folhas de malva
1 litro
5 folhas
Viki
5 folhas
Limão
2 (o suco)
Algodão
5 folhas
Hortelã
Açafrão
Gengibre
Folha santa
Maço
2 raízes
2 raízes
2 folhas médias
Alho
2 dentes
Agrião
Folhas
Preparo:
Macerar tudo e juntar ao mel em uma vasilha de louça ou esmalte deixar 24
horas, depois côa e guarda em vidros esterilizados.
Adulto: 1 colher de sopa 3 a 4 vezes o dia
Criança: até 5 anos 1 colher de chá 3 vezes ao dia.
Indicação:
Gripe, tosse, resfriado
COMPOSTO IV
Ingredientes:
Mel
Pó de jatobá
1 litro
5 colheres de pó
Preparo:
Mistura tudo e deixa por dois dias agitando sempre. Guardar em vidros esterilizados.
Indicação:
Vitaminas para fortalecer o organismo. Cura anemia.
Modo de usar:
Adulto: 1 colher de chá 3 vezes ao dia
Criança: 01 colher de chá três vezes ao dia.
Obs: crianças até 5 anos
COMPOSTO V
Ingredientes:
Mel
Pó de jucá
1 litro
1 colher
Pó de cajui
1 colher
Pó de jatobá
1 colher
Pó de ameixa
1 colher
Preparo:
Mistura tudo em uma vasilha de louça ou esmalte, deixa em repouso por dois
dias, depois guardar em vidros limpos esterilizados.
Modo de usar:
Adulto: 1 de sopa 3 vezes ao dia
Criança: 1 colher de chá 3 vezes ao dia.
Indicação: antiflamatório (útero e ovário) e afecções pulmonares.
COMPOSTOS VI
Ingredientes:
Alho picado
Extrato de Própolis
Mel
1 colher
1 quarteirão
1 litro
Preparo
Mistura tudo em uma vasilha com tampa. Deixa curtir por 15 dias, coar e
tecido fino, guardar em vidros limpos e esterilizados.
Indicação
Fortalece o sistema imunológico memória, concentração, pneumonia aftas,
amidalite, gripe.
Modo de usar
Adulto: 1 Colher de sopa duas vezes ao dia ao levantar e ao deitar
Criança: 1 colher de chá duas vezes ao dia.
COMPOSTO VII
Ingredientes
Polém
Mel
Colheres de Sopa
1 Litro
Preparo:
Misture o Polém amassado e aguarde em vidros esterilizados.
Indicação
Complemento alimentar, com para o celebro, para os nervos, vitamina,
tonificante, desintoxicante geral do organismo, estimulante, reequilibrante funcional,
harmoniza organismos débeis, aumenta globalmente a energia vital.
Modo de Usar
Adulto: 1 Colher de sopa 3 vezes ao dia antes das refeições.
Criança: 1 colher de chá 3 vezes ao dia antes das refeições OBS: Bom para mulheres
na menopausa para crianças raquíticas e anêmicas e desnutridas e pessoas idosas.
TINTURAS
Como preparar uma tintura
Ingredientes: uma parte da planta, para duas partes de álcool e uma parte de água.
Preparo:
Deixar 15 dias dentro de frasco fechado
Indicação:
Tratar feridas, golpes, raladuras, impingem panos brancos
Obs: para assepsia da boca, axilas pés, usa-se diluído em partes iguais de água.
TINTURAS DE ALECRIM
Ingredientes
Folhas de alecrim
25 gramas
Álcool de cereais ou cachaça
100 ml
Preparo:
Deixe o alecrim de molho no álcool durante oito dias e coe a seguir
Indicação:
Contra menstruação deficiente
Modo de usar:
Tomar 15 gotas diluídas em um quinto de água três vezes ao dia.
TINTURA DE HORTELÃ PIMENTA
Ingredientes:
Folhas de hortelã pimenta
Álcool de cereal ou cachaça
10 gramas
100 ml
Preparo:
Deixe a hortelã d molho no álcool durante dez dias e então filtre
Modo de usar:
Tome 60 gotas diluídas em um quarto de copo de água depois das principais
refeições.
Indicação: Para insuficiência de secreção biliar.
TINTURA DE CONFREI
Ingredientes:
Folhas de confrei verdes adultas (30 cm) 200 gramas
Cachaça ao álcool
1 litro
Preparo:
Cortar em pedaços, macerar num pilão e colocar em vidros com litro de cachaça ou
álcool. Deixar no mínimo 15 dias, depois coar.
Modo de usar:
Usar sobre cortes, feridas (cicatrizantes).
TINTURA COM QUEBRA PEDRAS
Ingredientes:
Folhas secas de quebra pedra
Álcool ou cachaça
5 colheres
2 xícaras ‗
Preparo:
Mistura tudo e deixar cinco dias em infusão, coar e colocar m vidros esterilizados.
Modo de usar:
Tomar 20 gotas pela manha e 20 à noite em mio copo de água
TINTURA PARA GASTRITE
100 g de cascas de aroeira;
02 xícaras (chá) de vodka, vinho branco ou whisky
1 ½ litros de água
Obs: Se for álcool de cereais ponha uma xícara de chá.
Preparo:
Em uma panela, ponha a aroeira para cozinhar por uns 15 minutos. Retire as
cascas e ponha para cozinhar novamente com metade de água, também por 15
minutos. Retire do fogo e coe em pano limpo e deixe esfriar, ponha a vodka (vinho
branco ou álcool de cereal). Ponha a tintura em vidros limpos e esterilizados, tampe
bem.
Modo de usar:
01 xícara pequena uma vez pela manha em jejum, durante 30 dias, sem interrupção.
TINTURA PARA DORES MUSCULARES, BURSISTES, ENTORSE, ETC.
Meio litro de álcool;
08 pedras de cânfora
1 punhado de cravo da índia, sendo a metade moída;
½ caroço de abacate ralado.
Preparo:
Colocar todos os ingredientes em um vidro e deixar em infusão. Usar após 24
horas em forma de ficção ou compressas.
TINTURA PARA DIABETES
100 g de folhas secas de mororó (pata de vaca), ou 200 g de folhas secas;
01 litro de álcool de cereais, vinho branco ou whisky .
Deixar em infusão por 10 dias, agitando diariamente.
Tomar 30 gostas por dia diluído em água em jejum.
Obs: a casca em decocção é empregada também no tratamento de diabetes.
A semente do mororó é usada para combater catarata (como café) e para dormência.
POMADAS I
POMADA I
Ingredientes:
Própolis
Azeite de gergelim
Gordura de porco ou cera de abelha
½ quarteirão
2 ml
1 ½ quarteirão
Preparo:
Misturar tudo em uma vasilha limpa, até ficar bem misturado, depois é só
guardar em vidro.
Indicação: Ferimentos, problemas na pele.
POMADA II
Ingredientes:
Sebo de carneiro ou banha de galinha
Pó ou sumo de confrei ou qualquer outra planta cicatrizante
Preparo:
Dissolver o sebo ou a banha. Tirar o sumo de confrei e junte mexa bem pra
ficar homogênea. Deixe esfriar e guarde m vidros limpos.
Indicação: cicatrizes, feridas e queimaduras.
POMADA III
Ingredientes
Azeite de oliva ou sebo
1 lata
Vala branca média
01
Tabletes de cânfora
Folhas de banana confrei, vargens de jucá 02
Preparo:
Colocar óleo com as folhas no fogo, até secarem, retire as folhas colocando as
velas picadas, mexendo até dissolver acrescentando a cânfora. Deixe esfriar um
pouco e guardar em vidros limpos.
Indicação: Contusões
Modo de usar: 03 aplicações por dia.
ÓLEO DE MASSAGEM
Ingredientes:
Óleo de amêndoas, uva
Pedaços de gengibre
Preparo:
Colocar em banho Maria durante uma hora o óleo e os pedaços de gengibres
socados. Coar e filtrar.
Indicações: massagem na coluna e dores musculares.
ÓLEO DE CAMOMILA
Ingredientes:
Óleo de amêndoas
Flores secas de camomila
100 ml
50 gramas
Preparo:
Deixar em banho Maria por duas horas, cor e experimentar o resíduo.
Indicação: massagens para a pele ficar macia e para limpeza de bebês.
ÓLEO PARA REUMATISMO
01 parte de gengibre;
01 parte de alho;
01 parte de pimenta malagueta;
02 partes de óleo de cozinha.
Preparo:
A massa-se todos os ingredientes, levar ao fogo baixo até parar de chiar.
Deixar esfriar, coar e guardar em vidro esterilizado.
Modo de usar:
Colocar direto no local 01 vez por dia
GELÉIA PARA VERME
Ingredientes
Hortelã
Mastruz
Bananas
Dentes de alho
Água
01 mão cheia
01 mão cheia
06
02
3 copos americanos
Preparo:
Lavar os ingredientes, tirar os talos grossos das folhas, pisar no pilão até obter
uma substancia macia. Acrescente dois copos de raspa de rapadura ou açúcar,
cozinhar até ponto de mel.
Indicação: Giárdia, lombrigas e amebas
Uso:
Adulto: 1 colher de sopa em jejum durante uma semana, depois repetir com 15 dias.
GELÉIA DE BETERRABA
Ingredientes:
Beterraba
Açúcar
Limão
Água
½ kg
½ kg
2 (sumo)
2 copos
Preparo:
Cozinhar a beterraba inteira, depois cortar em pedaços miúdos passando no
liquidificador ou amassado no pilão. Colocar o açúcar e levar ao fogo até o ponto de
geléia.
Indicação: anemia
Uso:
Adulto: 1 colher de sopa 3 vezes ao dia
Criança: 1 colher de sobremesa 3 vezes ao dia
Obs: Pode ser colocado em biscoito ou pão
ELIXIR INTESTINAL OU AGUARDENTE INGREDIENTES
Casca de Laranja..............................................
Folhas de boldo................................................
Flor de marcela................................................
Chapada............................................................
Caatinga de porco.............................................
Cachaça branca.................................................
20 pedaços pequenos
12 folhas
12 flores
12 pedaços de casca
10 pedaços da casca
½ (meio) litro
Modo de preparar
Coloca todos os ingredientes em infusão na cachaça por no mínimo 24 horas.
Modo de usar
Adulto: tomar uma colher (sopa) em ½ como d‘água. tomar 2 vezes ao dia conforme
a situação
Criança: metade da dose.
ELIXIR PARA DORES INTESTINAIS, MÁ DIGESTÃO, ACIDEZ.
12 colheres de boldo amargo ---------------------------- Imbiriba
12 pedaços de cascas de laranja; ------------------------ Catingueira
03 pedaços de cascas de chapada ----------------------- flor de Artemísia
200 ml de cachaça
Modo de usar:
Adultos: 35 gotas em meio copo d‘agua
Crianças: 10 gotas em meio copo d‘agua
FORTIFICANTE PARA CRIANÇAS.
Ingredientes:
Tomate
Mel
¼ kg
01 copo
Preparo:
Ferver o tomate, passar na peneira fina e bater com mel. Colocar na garrafa enxuta.
Uso: ½ colher de sopa 3 vezes ao dia.
Indicação: fortalece o organismo.
MERTIOLATE CASEIRO
01 xícara de cascas de ameixa;
01 xícara de cascas de quina-quina ou jucá
Preparo:
Colocar as cascas bem limpas e secas em vidros grandes, de boca larga.
Encher com cachaça de boa qualidade. Deixar em infusão por 48 horas. Depois coar
em pano limpo e esterilizado, rotular, datar, e guardar.
Validade: 1 ano
GARRAFADA DEPURATIVA DO SANGUE
100 g de casca de inharé
100 g de casca de cajueiro roxo;
50 g de pega pinto;
50 g de xanana (arranca estepe ou pusteneira)
Preparo:
Pica-se as cascas em pedaços pequenos e finos. Coloca-se numa panela com 3
litros de água para ferver bem, coar, depois de frio acrescentar 01 (uma) colher de
álcool.
Modo de usar:
Tomar uma xícara pequena em jejum.
INFUSÃO DE ERVAS PARA COLUNA
Ingredientes
Aroeira
Canela
Podoia
Imbiriba
Água filtrada
Pequena porção de casca
Pequena porção de casca
Pequena porção de casca
11 sementes
01 litro
Preparo: colocar em infusão por três dias no sol e no sereno
Modo de usar: tomar uma xícara (café) pela manhã e a noite.
REMÉDIO PARA SINUSITE
08 sementes de embirila
10 folhas de laranjeira;
12 folhas de eucalipto verde
10 cravos da Índia, metade de 1 cânfora
05 pedacinhos de quina
Preparo
Colocar os ingredientes em vidro com álcool e deixar no mínimo 24 horas
para usar como inalação (cheirar) ou compressas na testa.
MEL DA BABOSA PARA CURA E PREVENÇÃO DE CANCER,
REUMATISMO, GASTRITE ÚLCERA.
Ingredientes
Duas folhas de babosa do tipo médio mais ou menos 4 CM de largura da
base, por mais ou menos 30 CM de comprimento. Nem muito velhas, nem muito
Novas. Tirar do meio da planta, tirando só os espinhos e joga-los fora.
Meio quilo de mel de abelha puro.
Três xícaras das pequenas de vinho branco, wisk ou conhaque para conservar e
neutralizar o gosto.
Modo de Preparar
Passar todos os ingredientes no liquidificador bem passado côa-se.
Modo de usar
Adulto: 1 colher de sopa
Criança: 1 colher de chá
Tomar: 3 vezes ao dia
OBS: Tomar uma hora antes das principais refeições (Café, almoço e jantar) Tomar
durante dez dias seguidos.
PILULA DE BABOSA
Ingredientes
Três dentes de alho
Trigo em fermento
Geléia da babosa
Modo de preparar
Tritura, o alho mistura a geléia da babosa e coloca o trigo. Faz uma massa
semelhante a de pastel. Pega um carretel de linha e coloca na massa e faz as pílulas,
coloca para secar. Tomar durante cinco dias, 2 comprimento em jejum e 2 ao deitar
criança diminuir a dosagem.
MUCILON CASEIRO
Ingredientes
Leite ..................................................................
Massa de milho .................................................
Massa dona Benta s/ Fermento .........................
Farelo ................................................................
Pó do ovo ..........................................................
Pó da Macaxeira ................................................
Pó do mesocarpo/Babaçu ..................................
3 pacotes
3 pacotes
1 quilo
1 quilo
2 colheres
2 colheres
2 colheres
Modo de preparar
Penera o farelo, massa de milho o trigo, todos separados, torra e mistura
Modo de preparar o mingau
Coloca 2 colheres de sopa do mucilon para 2 copos de água, adoça e faz o
mingau, tomar uma vez ao dia.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES NA PREPARAÇÃO DE REMÉDIOS
NATURAIS.
FAZENDO O REMÉDIO.
Para se preparar o Remédio ás medidas são importantes para 1 litro, usamos 200g de
folhas ou cascas verdes. Usa-se apenas 100g se as cascas forem secas.
Para 1 xícara, usa-se 20g. Se for verde (Fresca) e 10 g se for seca.
Na falta de balança, temos outras medidas mais práticas
- 200g – Uma mão cheia bem aberta
- 100g – Uma mão semi-aberta cheia
- 50g – Uma mão fechada
- 20g - 04 colheres de sopa de erva cheia
OBS: As plantas quando secas se tornam mais fortes, por que as águas contidas nelas
se evaporam (Acabam) e se concentram só as substancias medicinais, por exemplos:
20g de folhas verdes e no caso de secas usa-se 10g então 04 colheres de folhas
verdes para duas de folhas secas
,
USANDO O REMÉDIO
Para uso em gotas:
Adulto – 20 a 30 gotas
Criança – 15 a 20 gotas de acordo com a idade
Na falta de conta-gotas pode-se dois dedos do remédio em meio copo d‘água.
Gargarejar 3x ao dia.
CHÁS – Usa-se 3 xícaras por dia, é melhor não usar o melhor é o mel ou a rapadura.
XAROPES E OUTROS MEDICAMENTOS COM COLHERES.
Adulto: 3 colheres de sopa 3x por dia
Crianças: 3 colheres de chá por dia (a é 5 anos).
Plantas secas necessitam mais tempo de infusão.
OBS: O processo de cura pelas ervas é mais lento, suave e ao mesmo tempo seguro,
elém de oferecer menores conseqüências negativas. Não é recomendável usar durante
muito tempo à mesma erva. É bom trocar por outra com as mesmas propriedades.
Não para derrepente o tratamento, mas desacostumar o corpo com uma dose fraca.
Começar com a dose fraca e ir aumentando o corpo até atingir 10 dias, e depois
diminuir gradualmente.
REMÉDIO
QUANDO TOMAR
Os remédios à base de plantas devem ser tomados com regularidade para que possa
ter uma maior eficiência.
EM JEJUM.
Purgantes, depurativos, diuréticos e vermífugos
REFEIÇÕES
1º) Duas horas antes ou depois – Os remédios para reumatismo, tosse, fígado,
febre, prevenção de câncer.
2º) Meia hora ates das refeições – Remédios para acidez no estomago, e
estimulantes.
3º) Depois das refeições – Remédios que ajudam na digestão e evitam os gases.
4º) Antes de deitar – Remédios para ervas e soníferos:
REMÉDIOS MAIS USADOS NO MEIO POPULAR E COMO PREPARÁLOS.
XAROPES
Receita básica a ser seguida para todos os xaropes, mudando apenas a
composição conforme a receita. Para fazer xaropes com cascas secas ponha num
pilão e soque bem, sendo frescas rasgue com as mãos.
Antes de cortar qualquer casca ou folhas lave-as bem.
Ponha as cascas e folhas numa panela contendo 4 litros de água, quando
começar a fervura conte 30 minutos, retire do fogo, coe em uma peneira ou em um
tecido próprio, limpo e esterilizado. Acrescente o açúcar que será 3kg. Em seguida
mexer até dissolver, leve novamente ao fogo, deixe apurar até ficar igual à calda de
um doce.
Deixe também esfria e coloque quatro colheres de álcool de cereais.
Colocar em vidros esterilizados, retirar o ar, tampar e levar ao fogo
novamente por 15 minutos em banho Maria.
FONTES DE PESQUISA
LIVRO: Medicina Popular, FREI CÍCERO
Santuário São Francisco. Juazeiro do Norte – Ceará
LIVRO: Cure-se com remédios Caseiros de JAIME BRUNIG
Caixa postal 628
CEP: 85.800 – Cascavel – PR
LIVRO: Alquimia Vegetal
VERA LÚCIA FROES e ANTONIO ROCHA
Caixa postal 23.052
CEP: 20922-970 Rio de Janeiro
LIVRO: A saúde brota da natureza
Prof.: JAIME BRUNING
Universidade Católica do Paraná
Apostila do CEFAS
COMO USAR OS PRODUTOS DO MEL
ERVAS QUE CURAM
Roberto WELL
FARMACOLOGIA NATURAL