sérgio luiz pereira variabilidade genética em cracídeos e
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sérgio luiz pereira variabilidade genética em cracídeos e
SÉRGIO LUIZ PEREIRA VARIABILIDADE GENÉTICA EM CRACÍDEOS E MONITORAMENTO DE POPULAÇÕES REINTRODUZIDAS EM ÁREAS REFLORESTADAS Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de MESTRE EM CIÊNCIAS, Área de Biologia/Genética São Paulo 1996 SÉRGIO LUIZ PEREIRA VARIABILIDADE GENÉTICA EM CRACÍDEOS E MONITORAMENTO DE POPULAÇÕES REINTRODUZIDAS EM ÁREAS REFLORESTADAS Dissertação apresentada ao Departamento de Biologia do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, para obtenção do título de MESTRE EM CIÊNCIAS, Área de Biologia/Genética Orientador: Dra. Anita Wajntal São Paulo 1996 Agradecimentos À Dra. Anita Wajntal, pela orientação, confiança e ensinamentos dispendidos durante a realização deste trabalho. À Dra. Célia P. Koiffmann, chefe da Unidade de Aconselhamento Genético deste Instituto, onde esse trabalho foi realizado. Aos Drs. Carlos F. M. Menck, Mayana Zatz e Maria Rita de P. Bueno pela pemissão do uso de seus laboratórios e equipamentos, e a seus técnicos e pósgranduados. Ao Dr. Paulo A. Otto pela discussão de algumas fórmulas aqui aplicadas. À Bióloga Cristina Y. Miyaki por me ensinar as técnicas de Biologia Molecular aqui usadas e pelo apoio constante em todos os momentos. À CESP pelo permissão dos estudos de suas aves cativas e de vida livre, na pessoa do Engenheiro Florestal Eduardo Guilherme Santarelli, do Biólogo Wagner T. V. Santiago e do Zootecnista José Gustavo Tonhasca. Aos criadores Carlos Keller e Victor Fasano do Criadouro Tropicus, Maurício dos Santos do Criadouro Científico Chaparral, e aos Parque Zoológico de Sorocaba (Dr. Adauto L.V. Nunes) e de Americana (Dr. Avelino Estevan Filho), por permitir o estudo de suas aves. À médica veterinária Iara Biasia e equipe técnica da CESP (Companhia Energética de São Paulo) pela coleta de sangue das aves aqui estudadas. Ao biólogo Luiz F. Sanfilippo, chefe da Secção de Aves da Fundação Parque Zoológico de São Paulo pelas fotos de cracídeos, algumas usadas aqui como figuras ilustrativas. Aos amigos Aldrin, Joca e Porfírio pelo incentivo de sempre. Aos amigos da Unidade de Aconselhamento Genético (Alessandra, Cíntia (Z), Claudia Regina, Cris Miyaki, Cristiani, Felipe, Humberto, Luceleni, D. Lurdes, Marcelo, Maria, Maria Cris, Mônica, Pat, Renato, Rosana, Roseli, Sílvia, e tantos outros que por aqui passaram), do CRUSP e pós-graduandos do IBUSP. Ao amigo Paulo C. Maiorka pela leitura e correção gramatical desta dissertação. Aos meus pais José e Cida por sempre acreditarem em mim. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa de Mestrado (processo no: 130017/94-9). Ao CNPq e à Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento dos projetos de pesquisa da Unidade de Aconselhamento Genético. Aos meus irmãos Silvio José, que me foi tirado pela Vida, e Marco Antônio, que me foi tirado pela Morte. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 1 - Variabilidade Genética e Conservação 2 - Estratégias para se Estabelecer Novas Populações 3 - Exemplos de Estabelecimentos de Novas Populações 4 - Cracídeos 5 - Técnicas de Identificação Individual através do DNA 6 - Origem e Função dos Minissatélites 7 - Aplicações do “DNA Fingerprinting” 8 - “DNA Fingerprinting” em Estudos Populacionais 9 - Identificação Individual Através do DNA e Conservação 1 1 3 7 10 12 14 17 19 21 OBJETIVOS 25 MATERIAL E MÉTODOS 1 - Caracterização da Amostra Estudada 1.1 - Programa de Reintrodução de Aves da CESP, Paraibuna 1.2 - Aves de Zoológicos e Criadouros Particulares 1.3 - Casuística Estudada 2 - Contenção das Aves e Coleta de Sangue 3 - Técnica de Identificação Individual Através do DNA 3.1 - Extração de DNA 3.2 - Digestão do DNA com Enzimas de Restrição 3.3 - Transferência Capilar 3.4 - Sondas de Minissatélites 3.5 - Hibridação com Sonda Radioativa 3.6 - Lavagem das Membranas e Exposição a Filmes de Raio-X 3.7 - Dehibridação das Membranas 3.8 - Análise dos Padrões de Bandas 4 - Estimativa do Número Mínimo de Locos de Segregação Independente 5 - Estratégias de Comparação dos Padrões Multilocos entre Populações de Cativeiro e de Vida Livre 26 26 26 27 29 29 30 30 31 31 32 32 32 33 33 34 RESULTADOS 1 - Determinação de Padrões Multiloco 2 - Variabilidade Genética de Várias Espécies de Cracídeos 2.1 - Crax blumenbachii 2.2 - Crax fasciolata 2.3 - Nothocrax urumutum 2.4 - Penelope obscura bronzina 2.5 - Penelope superciliaris jacupemba 2.6 - Pipile jacutinga 36 36 36 38 38 40 40 41 41 35 3. Determinação de Filiação 3.1 - Crax blumenbachii 3.2 - Nothocrax urumutum 3.3 - Penelope obscura bronzina 3.4 - Pipile jacutinga 42 42 43 43 44 4 - Estudo de Segregação de Bandas 4.1 - Estudo de Segregação em Penelope obscura bronzina 4.2 - Estudo de Segregação em Pipile jacutinga 5 - Estimativa da Heterozigosidade Média em Cracídeos 6 - Orientação Genética para um Programa de Reprodução em Cativeiro 6.1 - Orientação Genética em Crax blumenbachii 6.2 - Orientação Genética em Penelope obscura bronzina 6.3 - Orientação Genética em Penelope superciliaris jacupemba 7 - Programa de Reintrodução de Cracídeos na Natureza 7.1 - Programa de Reintrodução de Penelope obscura bronzina 7.2 - Programa de Reintrodução de Penelope superciliaris jacupemba 45 45 48 50 51 52 53 55 57 57 59 DISCUSSÃO 1 - Técnicas de Identificação Individual Através do DNA em Cracidae e em Outras Espécies 2 - Estimativa da Variabilidade Genética das Espécies de Cracídeos Estudadas e sua Distribuição Geográfica Histórica 3 - Aplicação da Técnica de Identificação Individual Através do DNA em Programas de Criação em Cativeiro 3.1 - Comprovação de Paternidade 3.2 - Orientação de Acasalamentos 4 - Estimativa do Número Mínimo de Locos de Segregação Independente Detectados com as Sondas Utilizadas 5 - Programa de Reintrodução na Natureza 61 81 83 RESUMO 88 SUMMARY 89 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 90 61 66 74 74 76 Genética e Conservação de Cracídeos VARIABILIDADE GENÉTICA EM CRACÍDEOS E MONITORAMENTO DE POPULAÇÕES REINTRODUZIDAS EM ÁREAS REFLORESTADAS INTRODUÇÃO 1 - Variabilidade Genética e Conservação Mudanças climáticas, sucessão ecológica, doenças e vários outros eventos modificam as populações animais e vegetais, podendo levá-las às extinção. Atividades humanas, como por exemplo desmatamento de florestas para consumo madeireiro e desenvolvimento agropecuário e caça indiscriminada de certos animais para finalidades esportiva ou processamento de produtos para consumo humano, produzem sobre as populações um efeito devastador maior que os das catástrofes naturais. As espécies nem sempre conseguem se recuperar, especialmente as que apresentam maior intervalo de tempo entre duas gerações e menor número de descendentes produzidos a cada geração. As extinções atuais são causadas principalmente devido à ação do homem, e podem ser comparadas às ocorridas durante a última glaciação. Muitas vezes mudanças ambientais impõem novas pressões seletivas: uma população que use recursos limitados para sua sobrevivência, por exemplo, pode não conseguir adaptar-se às novas condições simplesmente devido à insuficiência de recursos e à perda de variabilidade genética característica de população de tamanho reduzido. Nestas condições a evolução de novas espécies fica comprometida e a taxa de extinção supera em muito o surgimento de novas espécies que venham a ocupar o papel biológico das que se extinguiram. Populações maiores têm maior probabilidade de sobrevivência ao longo do tempo do que populações menores, colonizando habitats desocupados e formando novas populações. Várias populações de uma mesma espécie que permutam ao menos alguns indivíduos entre si, fenômeno denominado 1 Genética e Conservação de Cracídeos metapopulação, vem diminuindo devido à interferência humana, chegando a um ponto onde a população não sobrevive por si só. Isso deve se ao fato de que estas populações se tornam cada vez mais isoladas e a migração de indivíduos torna-se mais rara. Uma vez que uma população é diminuída a um certo número de indivíduos por perda, degradação ou fragmentação de habitat ou por superexploração humana, ela tende rapidamente à extinção. Pequenas populações estão sujeitas a declínio rápido em números e extinções locais devido a fatores genéticos (perda de variabilidade genética por deriva genética e endocruzamento), demográficos (flutuações devido a variações aleatórias nas taxas de natalidade e mortalidade) e ambientais (flutuações nas taxas de predação, competição, doenças e suprimento de alimento) e catástrofes naturais (fogo, inundações, erupções vulcânicas, tempestades e estiagem). A perda da variabilidade genética em populações pequenas tende a ocorrer aleatoriamente, causando mudanças nas freqüências alélicas e genotípicas, fixando alguns alelos e eliminando outros, processo este denominado deriva genética. Isto resulta em falta de flexibilidade evolutiva e níveis maiores de endocruzamento, principalmente em populações com número efetivo pequeno. Estratégias de conservação ex-situ (manutenção de indivíduos em condições artificiais sob supervisão humana) são recomendadas para espécies que não apresentam boas chances de sobreviver ou aumentar em números ao longo do tempo. Várias espécies consideradas extintas na natureza são mantidas em cativeiro, como no caso do cervídeo Elaphurus davidianus (Primack, 1993; Mallinson, 1995), cavalo-de-Przewalski Equus caballus przewalski (Primack, 1993: Mallinson, 1995), mutum-de-Alagoas Mitu mitu (Nardelli, 1993), bisão europeu Bison bonasu (Mallinson, 1995), oryx árabe Oryx leucoryx (Mallinson, 1995), furão-de-pés-pretos Mustela nigripes (Cohn, 1991; Mallinson, 1995) e condor-da-Califórnia Gymnogyps californianus (Mallinson, 1995). Métodos de conservação ex-situ podem ajudar a preservar as espécie de várias formas: 2 Genética e Conservação de Cracídeos a) indivíduos de populações cativas podem ser liberados periodicamente na natureza para manter o número e a variabilidade genética de populações naturais; b) pesquisas sobre a biologia da espécie e novas estratégias de reprodução podem ser feitas e testadas em populações cativas; c) reprodução em cativeiro evita a necessidade de se retirar mais animais da natureza; d) uma campanha educacional pode ser desenvolvida com o público para mostrar a necessidade de se proteger a espécie e seu habitat natural. 2 - Estratégias para se Estabelecer Novas Populações O estabelecimento de novas populações silvestres de animais raros, ou ameaçados, além do aumento em número de indivíduos em populações silvestres existentes, fazem parte das estratégias de conservação ex-situ. Sua necessidade se faz quando existem ameaças geográficas (declínio populacional ocorrido no passado ou atualmente, tamanho reduzido a níveis críticos, desvio na razão sexual ou estrutura etária da população) e/ou genéticas (perda de variabilidade genética potencialmente adaptativa, depressão por endocruzamento). Catástrofes naturais também podem levar populações à extinção, especialmente populações de tamanho reduzido. Populações silvestres têm maiores probabilidade de sobrevivência após catástrofes naturais do que populações cativas. Isto se deve ao fato de haver maior carga genética em populações cativas, que não sofrem um efeito seletivo tão forte quanto à carga genética de população nativas. Programas de reintrodução, de introdução e de aumento populacional são as estratégias básicas para estabelecer novas populações animais (Primack, 1993), contudo, diferentes habitats contém uma composição faunística e florística próprias, e a introdução de animais e vegetais exóticos podem resultar na perda da diversidade de espécies existentes. Exemplos de extermínio de espécies 3 Genética e Conservação de Cracídeos nativas através da introdução antropomórfica de espécies exóticas são numerosos e documentados cientificamente. Savidge (1987) relata que em uma ilha do Pacífico 10 espécies endêmicas de aves chegaram ao ponto de extinção devido à introdução de Boiga irregularis, uma espécie de cobra arborícola. Os programas de recuperação de espécies envolvem a soltura de animais em populações que devem ter aumento no número de indivíduos ou em áreas onde novas populações podem ser estabelecidas. Um programa de reintrodução (ou translocação) envolve a liberação de animais nas áreas de sua distribuição histórica, onde a espécie não mais ocorre. O principal objetivo destes programas é criar uma população nova no ambiente original. Freqüentemente os animais são liberados nos locais onde seus ancestrais foram coletados para garantir sua adaptação genética ao ambiente. Quando a área de ocorrência da espécie está depauperada a ponto da espécie não ter mais capacidade de sobreviver, ou se dentro de sua área de ocorrência a espécie estiver extinta, ou em grande declínio, os programas de reintrodução podem ser ineficientes se o fator principal do declínio ainda estiver presente (Conant, 1988). Então a liberação de animais em áreas fora de sua distribuição histórica pode ser a única solução para se estabelecer uma nova população. Esse tipo de estratégia é denominada introdução. Programas de aumento populacional (“restocking”) envolvem a soltura de animais em populações já existentes com a finalidade de aumentar o número de indivíduos e a variabilidade genética populacional. Efeitos negativos podem surgir nos programas que objetivam recuperar espécies em extinção ou que apresentem declínio populacional: a) homogeneização da composição genética em uma população se ocorrer diminuição de diferenças interpopulacionais; b) perda irrecuperável da informação genética nas histórias evolutivas intraespecíficas das populações; c) perda da capacidade de adaptação local através da introdução de material genético que produz quebra de complexos gênicos co-adaptados; 4 Genética e Conservação de Cracídeos d) surgimento de dificuldades reprodutivas se os indivíduos translocados diferem cariotipicamente dos indivíduos da população receptora ou se apresentam características genéticas diferentes, diminuindo a aptidão de seus descendentes; e) modificação na estrutura social e estabilidade populacional da população receptora; f) espalhamento subsequente das formas introduzidas em áreas adjacentes onde a população receptora não ocorre; g) introdução não intencional ou espalhamento de parasitas e vetores de doenças; h) criação de um falso senso de manejo monitorado em situações onde repetidas translocações a partir de uma fonte demograficamente forte são perdidas numa população receptora que não se auto-sustenta e representa um sumidouro geográfico (IUCN/SSC/CBSG, 1991). Manipulações humanas em populações naturais podem ser a principal fonte de mudanças na freqüência gênica e nos níveis de variabilidade genética dentro e entre populações. Em poucas gerações os efeitos podem ser pronunciados especialmente em populações muito pequenas de espécies ameaçadas, ou após novas populações serem fundadas por reintrodução ou translocação. Novas populações de ibex alpino Capra ibex ibex estabelecidas na Europa foram analisadas geneticamente por Scribner & Stüwe (1994), onde verificou-se que as freqüências alélicas de vários locos divergiram grandemente em poucas gerações após as translocações ou dispersão natural terem ocorrido a partir de uma fonte ancestral comum. As populações fundadas por dispersão natural divergiram em menor grau da população fonte do que as populações fundadas por translocação o fizeram. Subespécies que evoluíram recentemente, mas que já se encontram ameaçadas, podem ser eliminadas pelos programas de translocação se ocorrer hibridação com outras subespécies, diminuindo as diferenças genéticas entre elas e revertendo o processo de diferenciação (Arano et al., 1995). 5 Genética e Conservação de Cracídeos Aves e mamíferos mantidos em cativeiro podem não ter os requisitos necessários para sobreviver na natureza. Algumas espécies requerem treinamento social e comportamental antes de serem liberadas na natureza, e freqüentemente algum tipo de monitoramento posterior ainda se faz necessário. O estabelecimento de novas populações de aves e mamíferos raros é intensificado quando a soltura ocorre em habitats excelentes dentro de sua área de distribuição histórica. Populações cativas não manejadas podem apresentar maior coeficiente de endocruzamento do que as que são manejadas (Frankham, 1995). Griffith et al. (1989) analisaram detalhadamente 193 programas de estabelecimento de novas populações de aves e mamíferos conduzidos entre 1973 e 1986. Nesse estudo foi verificado que: a) espécies menos ameaçadas se recuperam melhor do que espécies mais ameaçadas; b) habitat de melhor qualidade suportaram melhor novas populações do que habitats depauperados; c) solturas no centro da área de distribuição histórica tiveram maior sucesso do que solturas realizadas na periferia da área histórica de distribuição ou fora dela; d) animais capturados na natureza se adaptaram melhor à nova área do que animais mantidos em cativeiro; e) herbívoros se adaptaram melhor ao local de soltura do que carnívoros. Cade & Temple (1995) analisaram 30 programas de manipulações intensivas em espécies raras de aves, apresentadas em um Simpósio sobre Técnicas de Manejo para a Preservação de Aves Ameaçadas realizado em 1977. Os autores agruparam as técnicas de manejo em sete categorias e estabeleceram uma escala de quatro categorias para avaliar o grau de sucesso do programa. Foi verificado neste levantamento que 43% dos programas contribuíram para melhorar a viabilidade da população, aumentando o número de nascimentos, 23% ajudaram a estabilizar o número populacional ou diminuir a taxa de declínio, 17% foram não conclusivos, e outros 17% não obtiveram êxito. A 6 Genética e Conservação de Cracídeos manipulação humana tem se mostrado útil para evitar a extinção de espécies ameaçadas, reintroduzir a espécie em sua área de distribuição histórica e aumentar o número de indivíduos de populações já existentes. 3 - Exemplos de Estabelecimento de Novas Populações Diversos programas de recuperação de espécies ameaçadas vem sendo realizados mundialmente. O Grupo de Especialistas em Reintrodução da IUCN (“International Union for Conservation of Nature”) publicou um guia para reintrodução de espécies ameaçadas (IUCN/SSC/RSG, 1992), onde propõe em linhas gerais os aspectos que devem ser verificados antes que um programa de reintrodução seja montado, incluindo o planejamento, preparação e estágios de solturas e atividades pós-solturas. Uma espécie de mustelídeos, o furão-de-pés-pretos Mustela nigrepes, sofreu grande declínio populacional na primeira metade deste século, presumivelmente devido ao desenvolvimento agrícola nas pradarias da América do Norte onde a espécie ocorria, e devido à redução populacional em sua principal presa. A espécie foi considerada extinta na natureza (Cohn, 1991; Mallinson, 1995; Primack, 1993). Recentemente doenças como a cinomose levaram a espécie a um maior declínio populacional. Em meados dos anos 70, um programa de reprodução em cativeiro começou a ser realizado com animais capturados na Dakota do Sul, e em 1981 uma colônia de Mustela nigripes foi descoberta no noroeste do estado de Wyoming. Entre 1987 e 1991, após várias falhas na tentativa de recuperar a espécie a população subiu para 311 indivíduos, e 49 animais foram liberados na natureza em 1991, e mais 90 animais em 1992 quando a população cativa estava em 347 indivíduos (Primack, 1993). O condor-da-Califórnia Gymnogyps californianus é outro exemplo bem estudado de espécie praticamente extinta que vem sendo recuperada (Snyder & Snyder, 1989). A causa aparente de sua extinção é a perda de habitat (O’Brien, 7 Genética e Conservação de Cracídeos 1994). Em 1986 a população de condores consistia de seis aves silvestres e 21 cativas. As aves silvestres foram capturadas na natureza e levadas para cativeiro para se iniciar um programa de reprodução em cativeiro. Não havia certezas de que a espécie se reproduziria em cativeiro e várias medidas foram tomadas, inclusive privação de contato direto com a espécie humana. Em 1992, a população cativa dobrou seu tamanho, e um casal foi liberado na natureza. Ainda é necessário monitoramento deste casal para averiguar sua adaptação ao ambiente (Primack, 1993). O dano causado aos ovos e embriões do falcão peregrino Falco peregrinus pelo uso de inseticidas agrícolas é a principal causa de redução das populações desta espécie. A sua reprodução em cativeiro iniciada no início dos anos 70 foi um sucesso. O contato com humanos foi minimizado ao máximo e até hoje mais de 3500 aves já foram liberadas na natureza (Luoma, 1992). Os jovens foram alimentados até aprenderem a voar e capturar seu próprio alimento. Excluindo-se as populações mexicanas e canadenses, estima-se que as populações americanas do falcão peregrino atinjam 1200 pares reprodutores, e o governo americano está estudando a possibilidade de retirar essa espécie das listas de espécies ameaçadas uma vez que os objetivos de recuperação foram atingidos. Atualmente existe apenas uma população de ibis Geronticus eremita vivendo no noroeste da África, que teve uma redução populacional de 87% em 50 anos, e outra na Turquia e leste da África, onde a redução populacional chegou a 99% num período de 30-35 anos. As principais causas da diminuição populacional desta aves são mudanças climáticas, caça e, mais recentemente, contaminação por inseticidas agrícolas (Akçakaya, 1990). Um projeto de reprodução destas aves em cativeiro foi iniciado no final dos anos 70. Em 1981 iniciou-se a reintrodução delas na natureza. Até 1990 67 aves haviam sido liberadas (Akçakaya, 1990). A falha no aumento da população de Geronticus eremita pode ser atribuída ao baixo sucesso reprodutivo desta espécie, principalmente em cativeiro, à não migração dos espécimens reintroduzidos juntamente com as aves silvestres, e à alta mortalidade durante o 8 Genética e Conservação de Cracídeos inverno (Akçakaya, 1990). Várias possibilidades de soluções para estas falhas de recuperação da espécie são levantadas nesse estudo. As tartarugas angonoka Geochelone yniphora e a gigante-de-Aldabra Geochelone gigantea são duas espécies ameaçadas nas ilhas africanas do Oceano Índico, apresentando tamanho populacional e história natural diferentes e então requerem medidas conservacionistas diferentes. Para a primeira espécie a baixa variabilidade genética e pequeno número populacional são os maiores problemas a serem resolvidos, enquanto para a segunda, a distribuição geográfica limitada é que deve ser ampliada (Primack, 1993). Geochelone yniphora apresenta menor tamanho populacional que G. gigantea. Cerca de 400 indivíduos de G. yniphora vivem na natureza, em Madagascar, e aproximadamente 50 em cativeiro. A reprodução em cativeiro não obteve êxito. Uma colônia de G. gigantea foi estabelecida entre 1978 e 1982, e recenseada em 1986. Menos da metade dos indivíduos reintroduzidos estavam presentes, ao contrário do que ocorria nos primeiros anos do programa. Colecionadores continuaram a coletar ambas as espécies na natureza para tê-las como animais de estimação. Para a mesma carga genética e mesmo nível de endocruzamento, a probabilidade de sobrevivência de um indivíduo em cativeiro é maior do que na natureza (Frankham, 1995), uma vez que ele fica protegido de acidentes naturais e predadores além de ser sempre alimentado. Contudo, isso não ajuda a preservar a espécie, principalmente no caso da angonoka que tem distribuição mais restrita e quanto menor o número de indivíduos presentes, menor a probabilidade de encontrar um parceiro para acasalar, uma vez que estas tartarugas têm hábitos solitários (Primack, 1993). No Brasil o mico-leão-dourado Leontopithecus rosalia sofreu uma drástica redução em seu tamanho populacional devido à destruição progressiva da Mata Atlântica e ao comércio ilegal. Como a espécie reproduz bem em cativeiro, um programa de reintrodução de animais na natureza foi estabelecido nas últimas duas décadas. Entretanto, acostumados às condições de cativeiro, os micos são 9 Genética e Conservação de Cracídeos incapazes de sobreviver na natureza e um programa de readaptação às condições naturais deve ser realizado para se obter sucesso no estabelecimento de novas populações de mico (Primack, 1993). Essa não é uma tarefa fácil de ser realizada. Uma série de métodos para promover comportamentos semelhantes aos naturais foram tentadas. A efetividade desses métodos ainda é incerta nessa espécie. Atualmente os micos estão sendo liberados na natureza sem um prétreinamento, mas é dado alimento em estações de alimentação nos 18 primeiros meses após a soltura. A captura de animais silvestres para acasalar com animais de cativeiro também é efetiva nas interações sociais. Os micos cativos adquirem o comportamento dos micos silvestres mais facilmente do que os micos que não tiveram contato com micos retirados da natureza, podendo sobreviver melhor quando forem liberados. Entre 1984 e 1991, 91 micos-leão-dourado foram soltos na Reserva Biológica de Poço das Antas, e um terço estava sobrevivendo em meados de 1991. Um total de 51 filhotes nasceram de animais liberados, e 38 sobreviviam em 1991 (Primack, 1993), aparentemente sem problemas etológicos resultantes da descendência de pais mantidos em cativeiro (Luoma, 1992). A capacidade de suporte da Reserva Biológica Poço das Antas foi atingida e pretende-se liberar os micos em áreas adjacentes à Reserva na tentativa de se estabelecer uma população geneticamente viável para os próximos 50 a 100 anos. 4 - Cracídeos A ordem Galliformes (Classe Aves) compreende sete famílias, incluindo Cracidae. Esta família conta com 11 gêneros, 50 espécies e cerca de 60 subespécies. Recentemente Nardelli (1993) revisou a taxonomia dos cracídeos, verificando que há forte necessidade de se padronizar sistematicamente este grupo, especialmente devido à condição de ameaça de extinção em que eles se encontram. Sibley et al., (1988) propõem a separação do grupo em uma ordem 10 Genética e Conservação de Cracídeos diferente dos Galliformes, a ordem Craciformes, composta de duas subordens, que incluiria os cracídeos (Craci) e os megapodídeos (Megapodii). Entre ameaçadas de extinção e possivelmente ameaçadas, são incluídas cerca de 20 espécies de cracídeos no livro vermelho de aves ameaçadas de extinção (The ICBP/IUCN Red Data Book) publicado pelo Smithsonian Institution e pelo Conselho Internacional de Preservação de Aves (Collar et al., 1992). Fósseis do Terciário (50 milhões de anos) da América do Norte e Pleistoceno (20 mil anos) do Brasil indicam que os cracídeos pertencem à avifauna entre as mais antigas do Hemisfério Sul. Atualmente distribuem-se do Texas, sul do Estados Unidos da América, ao Uruguai e Norte da Argentina (Sick, 1993). Algumas espécies como o mutum-de-penacho Crax fasciolata, o jacupemba Penelope superciliaris, apresentam ampla distribuição geográfica, enquanto outras espécies, como o mutum-do-sudeste Crax blumenmbachii, o mutum-de-Alagoas Mitu mitu, estão restritas a pequenas áreas. Muitas espécies de cracídeos apresentam distribuição distinta de outras espécies, mas algumas espécies de gêneros diferentes coexistem numa mesma região geográfica (Delacour & Amadon, 1973; Sick, 1993). De hábito arborícola, as espécies brasileiras podem ser reconhecidas em quatro biótipos distintos, aracuãs, jacus, jacutingas e mutuns. Alimentam-se basicamente de folhas e frutos, completando a alimentação com ovos, larvas, insetos, moluscos, pequenos mamíferos e aves ninhegas. Formam pequenos grupos de indivíduos, em geral um casal e seus filhotes (Delacour & Amadon, 1973). O grupo é monogâmico e defende seu território, na época da reprodução, contra a invasão de outros indivíduos da espécie. Constroem ninhos em galhos de árvores e arbustos, onde depositam, geralmente, dois ovos. O tempo de eclosão varia entre 21 e 32 dias, dependendo da espécie e os filhotes acompanham os pais por alguns meses (Sick, 1993). No Brasil merídio-oriental o desmatamento e a caça indiscriminada reduziram drasticamente as populações de várias espécies de cracídeos, como o jacu-guaçu Penelope obscura, a jacutinga Pipile jacutinga, o mutum-de-alagoas 11 Genética e Conservação de Cracídeos Mitu mitu, este último considerado extinto na natureza, o mutum-do-sudeste Crax blumenbachii, e outras. As penas são utilizadas pelos índios como guarnição de flechas e confecção de tangas. A população rural da Amazônia utiliza algumas espécies na alimentação (Sick, 1984). A submersão de matas ciliares e várzeas, causadas pela construção de barragens hidrelétricas provoca a redução ou desaparecimento do habitat de diversas espécies (CESP, 1992). Medidas de conservação da biodiversidade das áreas afetadas por esses empreendimentos devem ser tomadas, como por exemplo, a realização de um programa de reintrodução de animais na natureza. Os cracídeos apresentam boa potencialidade de reprodução em cativeiro, e essa atividade vem sendo realizada desde o início deste século (Nogueira-Neto, 1973). A reprodução intergenérica também vem sendo obtida em cativeiro, como por exemplo entre Crax fasciolata x Penelope sp e Pipile pipile cumanensis x Ortalis canicollis. A produção de híbridos apóia a idéia de parentesco próximo dos cracídeos entre si. Contudo, do ponto de vista da conservação de espécies, a formação de híbridos não é muito desejada devido a redução na fertilidade dos descendentes (Sick, 1984). Vários exemplos de populações de diversas aves que vem sofrendo redução devido à hibridação com espécies congenéricas são conhecidos (Simberloff, 1995). A Seção de Animais Silvestres da Companhia Energética de São Paulo (CESP) tem reproduzido em cativeiro algumas espécies de Cracidae e Tinamidae, e reintroduzido os descendentes em áreas reflorestadas ou em matas remanescentes em sua área de influência na Usina Hidrelétrica no município de Paraibuna, SP. Este programa conta com um criadouro de aves dispersoras de sementes em Paraibuna, com 77 viveiros de reprodução, 21 de recria, 5 de quarentena e 5 de pré-soltura. Além da produção de exemplares para repovoamento experimental, outros objetivos deste programa são a formação de banco genético de aves silvestres ameaçadas, o desenvolvimento e divulgação de técnicas de conservação ex situ, e a coleta de dados biológicos das espécies (CESP, 1992). 12 Genética e Conservação de Cracídeos Desde 1986 foram reintroduzidos cerca de 812 indivíduos entre cracídeos (Penelope superciliaris e P. obscura) e tinamídeos (Tinamus solitarius solitarius, Crypturellus o. obsoletus, C. parvirostris e C. t. tataupa)(CESP, 1992). 5 - Técnicas de Identificação Individual Através do DNA Jeffreys et al. (1985a) desenvolveram a técnica de identificação individual através do DNA (ii-DNA ou "DNA fingerprinting multilocus") possibilitando a comprovação da identidade e da paternidade em seres humanos. O princípio básico desta técnica é a detecção de seqüências espalhadas pelo genoma, compostas de repetições em tandem ("VNTR - variable number of tandem repeats")(Nakamura et al., 1987), também denominadas minissatélites. Estas repetições possuem uma seqüência básica (“core”), de cerca de 9 a 100 pares de bases, rica em guanina e citosina. Ao se digerir o genoma de um indivíduo com uma enzima cujo sítio de restrição não esteja incluído nas regiões minissatélites, e utilizando-se uma sonda baseada na seqüência "core" da repetição em tandem, que pode ser marcada por métodos radioativos (Feinberg & Volgestein, 1983) ou não (Schäfer et al., 1988), o padrão de bandas obtido é altamente polimórfico. O polimorfismo deve-se à variação existente no número de repetições destas seqüências entre locos e mesmo entre alelos de um mesmo loco. As bandas detectadas são herdadas mendelianamente em espécies de reprodução cruzada, isto é, um indivíduo apresenta cerca de 50% de suas bandas em comum com o pai e 50% em comum com a mãe; os fragmentos são heterozigotos na maioria dos locos e, na espécie humana, não são ligados ao sexo. Excluindo-se o caso de gêmeos monozigóticos e populações de extremo endocruzamento, o padrão de bandas obtido é específico para cada indivíduo, tanto em humanos (Jeffreys et al. 1985a, 1985b), quanto em outras espécies (Jeffreys et al. 1987; Vassart et al. 1987; Miyaki et al. 1993) devido à baixa probabilidade de se encontrar entre dois indivíduos padrões de bandas idênticos (da ordem de 10-6 a 10-30) considerandose as bandas como locos independentes. 13 Genética e Conservação de Cracídeos O estudo de ligação de famílias grandes, usando-se uma combinação de sondas/endonucleases adequada, pode trazer informações úteis à respeito da segregação das bandas, conforme já demonstrado em humanos (Jeffreys et al., 1986; Wayne & Fourney, 1990), Mus (Jeffreys et al., 1987), Prunella modularis (Burke et al., 1989), Taeniopygia guttata (Birkhead et al., 1990), Amazona ventralis (Brock & White, 1991), Salmo trutta (Prodöhl et al., 1994) e Aratinga aurea (Miyaki et al., 1995). É importante se testar a independência das bandas sempre que houver disponibilidade de famílias grandes. Isso pode ser mais facilmente averiguado em peixes, que apresentam maior número de descendentes por geração do que em aves e mamíferos. Também pode ser útil em estudos de paternidade e identificação o uso de um grupo de cerca de 6 “locos de minissatélite” através de sondas loco-específicas (“single-locus”) (Wong et al., 1986, 1987; Nakamura et al., 1987). Geralmente sondas multilocos hibridam seqüências de DNA em uma série de espécies além da que a sonda foi originada, enquanto as sondas de loco único o fazem raramente (Hanotte et al., 1991a, b, 1992b). 6 - Origem e Função dos Minissatélites A origem e a função dos minissatélites não foi elucidada. A região repetitiva do gene da mioglobina apresenta seqüências diretas repetidas (“direct repeats”) que podem ter surgido através de uma transposição de uma seqüência ancestral. Porém, a falta dessas seqüências diretas nos minissatélites e o fato de diferentes famílias repetitivas terem seqüências “core” muito variáveis, descartam esta hipótese (Jeffreys et al., 1985a). As repetições poderiam surgir: a) durante a duplicação ao acaso de uma das fitas do DNA, o que levaria ao aumento do número de repetições através de alinhamento incorreto e permuta desigual; b) permuta desigual durante a meiose originando um novo alelo; 14 Genética e Conservação de Cracídeos c) ou ainda, alinhamento incorreto das fitas de DNA durante a replicação (“DNA replication slippage”) que levaria à uma modificação no número de repetições (Jeffreys et al., 1985a). Armour et al. (1989) analisando mutações somáticas em linhagens celulares normais e tumorais, propuseram que os minissatélites podem advir de vários mecanismos, incluindo alinhamento incorreto na replicação, conversão gênica (veja também: Wolff et al., 1991 e Jeffreys et al., 1994), recombinação mitótica desigual, troca desigual entre cromátides irmãs e recombinação intramolecular. Este último mecanismo tem como efeito a diminuição do tamanho dos alelos, então não pode ser considerado como um mecanismo predominante (Armour et al., 1989). A sequência “core” presumivelmente parece estar envolvida na geração dos minissatélites e/ou na manutenção da variabilidade do número de cópias destas repetições. Krowczynska et al. (1990) sugerem que certas regiões próximas a oncogenes, que possuem uma sequência octâmérica semelhante à sequência Chi [GC(A/T)GG(A/T)GG] de Escherichia coli, já conhecida por favorecer a recombinação, podem ser sítios de translocação preferenciais se elas forem capazes de ligar-se aos fatores regulatórios transcricionais tecidoespecíficos. Essas seqüências também estão presentes em minissatélites, alguns dos quais ligados ou próximos aos oncogenes, sugerindo que os minissatélites possam agir como sítios preferenciais de recombinação (“hotspots”). Vários autores descobriram diferentes proteínas que, in vitro, se ligam com alta afinidade às seqüências dos minissatélites repetidas em tandem (Collick & Jeffreys, 1990; Collick et al., 1991; Wahls et al., 1990; Yamazaki et al., 1992) e isso poderá ser um passo a mais na compreensão dos processos envolvendo os minissatélites. Outras evidências sugerem serem as regiões minissatélites locais preferenciais de recombinação: a) demonstração, através de hibridação in situ, de maior concentração de minissatélites em quiasmas ou regiões próximas (Chandley & Mitchel, 1988); 15 Genética e Conservação de Cracídeos b) taxa de troca desigual para manter o nível de variabilidade estimada em 10-4 por kb de minissatélite humanos (Jeffreys et al., 1985a) é maior que a taxa de recombinação do DNA como um todo (cerca de 10-5 por kb)(Botstein et al., 1980); c) demonstração de ligação de uma proteína em apenas uma das fitas, em seqüências ricas em G (guanina) e que poderia agir como estabilizadora para conformação de fita simples nos minissatélites (Collick et al., 1991); d) presença de minissatélites próximos a pontos de recombinação no complexo principal de histocompatibilidade de camundongo (Steinmetz et al., 1986). Contudo alguns argumentos de desequilíbrio de ligação entre marcadores moleculares são contrários a hipótese de que os minissatélites sejam pontos de recombinação. Higgs et al.(1986) não encontraram evidências concretas de que houvesse taxas maiores de recombinação numa região altamente variável, o complexo da α-globina. Cox et al. (1988) também encontraram desequilíbrio de ligação na região dos genes da insulina e Fator de Crescimento Semelhante à Insulina, que se estendia para a região hipervariável (HVR). O desequilíbrio entre HVR e os fragmentos de restrição (RLFPs) de duas endonucleases localizados a 15 kb de cada lado eram similares, não apoiando a idéia de maior freqüência de recombinação nesta região. Mais recentemente, foi demonstrado in vitro que um dos primeiros minissatélites de mamíferos descoberto, a região polimórfica ligada à insulina (ILPR, “insulin-linked polymorphic region”), pode se ligar e ativar fatores de transcrição (Kennedy et al., 1995). O loco IDDM2, que promove susceptibilidade para diabetes mellitus dependente de insulina foi mapeado no interior de um minissatélite, após outros polimorfismos terem sido excluídos sistematicamente como determinantes da doença, e o nível de transcrição in vivo está correlacionado com a variação alélica dentro do minissatélite (Bennett el al., 1995). As seqüências repetitivas são agrupadas em famílias de acordo com a região “core” e as sequências detectadas pelas sondas de Jeffreys estão 16 Genética e Conservação de Cracídeos espalhadas nas regiões teloméricas, em mais de 80 a 90% dos casos (Royle et al, 1988). Mais evidências surgem demonstrando ser esse o caso dos minissatélites (Inglehearn & Cooke, 1989). A proposição de que seriam autossômicos e espalhados pelo genoma deve-se ao fato de que sítios cromossômicos internos em ou ao redor de genes eram mais estudados do que o genoma como um todo. Contudo as regiões teloméricas não são igualmente representadas por sequências minissatélites, como por exemplo o cromossomo 1 humano, que possui minissatélites na banda 1p36.3, mas não no braço longo. Telômeros apresentam aspectos peculiares como taxa aumentada de recombinação, pareamento inicial preferencial na meiose e alta densidade de minissatélites (Vergnaud et al., 1993). No entanto, Christmann et al. (1991) demonstraram que as sequências detectadas pela sonda M13 distribuem-se aleatoriamente nos cromossomos humanos. Conforme previsto na teoria do neutralismo, onde um alelo de valor adaptativo nulo não é selecionado, o polimorfismo em um loco de minissatélite vai depender da taxa de mutação (Jeffreys et al., 1988). Uma vez que a maioria dos minissatélites são não-codificantes a seleção natural não vai influenciá-los significativamente (Burke et al., 1991). Haverá uma dramática mudança no nível de variação de heterozigosidade em um loco homólogo mesmo entre espécies proximamente relacionadas, havendo mesmo ganho e perda freqüente de um loco (Gray & Jeffreys, 1991). 7 - Aplicações do “DNA Fingerprinting” As primeiras sondas multiloco desenvolvidas são denominadas 33.6 e 33.15 (Jeffreys et al. 1985a,b), e foram empregadas inicialmente em estudos forenses (Jeffreys et al 1985,a,b,c; Gill et al. 1985). Novas sondas igualmente 17 Genética e Conservação de Cracídeos úteis na detecção de padrões polimórficos foram desenvolvidas (Ali et al, 1986; Vassart et al., 1987; Fowler et al., 1988; Pena et al., 1990; Benkel & Gavora, 1993). De alguma forma, qualquer sequência baseada numa repetição em tandem pode detectar um certo grau variável de polimorfismo (Vergnaud, 1989). Contudo, são raros os estudos que tentam estabelecer em que extensão há independência do grupo de locos detectados por diferentes sondas multiloco, embora Armour et al (1990) e Julier et al (1990) demostraram haver sobreposição significante entre algumas sondas testadas. As técnicas de identificação individual através do DNA são aplicadas atualmente em todos os grupos de organismos, dos mais simples aos mais complexos e sob vários pontos de vista: - em diagnóstico médico (Schwartz et al., 1991); - monitoramento nos transplantes de medula óssea (Thein et al., 1986); - análises de relações de parentesco em humanos (Pena et al, 1993; Chakraborty & Jin, 1993) e outros seres (Blanchetot, 1991, 1992; Brookfield & Parkin, 1993; Bischof & Duffield, 1994; Lang et al., 1993); - programas de reprodução em espécies em extinção (Bruford & Burke, 1991; Brock & White, 1992; Geyer et al., 1993) e de importância econômica (Kuhnlein et al, 1991); - detecção de estruturas clonais de corais (Coffroth et al., 1992), afídios (Carvalho et al., 1991) e peixes (Turner et al., 1990). - diferenciação populacional em raposas (Gilbert et al, 1990), em pseudoescorpiões neotropicais (Zeh et al., 1992) e em amoras pretas e framboesas (Nybom & Schall, 1990); - determinação de padrões de dispersão populacional em corruíras (Rabenold et al., 1991b); - cálculo de distância genética entre populações em humanos (Jin & Chakraborty, 1994) e em aves domésticas (Kuhnlein et al., 1989); - mapas de ligação em carneiros (Crawford et al, 1993); - análise filogenética em crocodilianos (Aggarwal et al., 1994); 18 Genética e Conservação de Cracídeos - determinação de utilização de esperma em fêmeas artrópodas inseminadas por diferentes machos (Corley et al, 1993); - estudos do comportamento reprodutivo em primatas não-humanos (Dixson et al., 1993; Wickings et al., 1993), em roedores, onde se comprovou a monogamia, condição rara entre os mamíferos (Ribble, 1991), e em várias espécies de aves comprovando a ocorrência de paternidade extra-casal (Quinn et al., 1994; Westneat, 1990), parasitismo intraninhada (Birkhead et al., 1990; Choudhury et al., 1993), ou ambos, ou comprovando-se a monogamia em alguns casos (Haig et al., 1993; Decker et al., 1993 ;Warketin et al., 1994); - sexagem em espécies sem dimorfismo sexual (Rabenold et al., 1991a; Longmire et al. 1991; Miyaki et al., 1992; Graves et al., 1993); - controle de tráfico ilegal (Mathé et al., 1993). 8 - “DNA Fingerprinting” em Estudos Populacionais Estudos de biologia e evolução de populações requerem a quantificação da variabilidade genética existente dentro, e entre, estas populações. Regiões minissatélites têm sido utilizadas para esse propósito, através das técnicas de identificação individual através do DNA, tanto usando-se sondas de multiloco, quanto de loco único. Padrões multiloco são úteis na determinação de filiação, análise da variabilidade genética da população e em estudos de sistemas reprodutivos. Em estudos de biologia da conservação geralmente se analisam espécies onde os métodos tradicionais como alozimas, proteínas falharam em encontrar um certo nível de variabilidade génetica. Nesses casos os padrões multiloco são mais informativos (Ellegren et al., 1993; Gilbert et al., 1991; Menotti-Raymond & O’Brien, 1993; Roelke et al., 1993). Apesar da vantagem da disponibilidade de várias sondas multiloco, e do fato delas hibridarem com o DNA de espécies pertencentes a diferentes grupos animais e vegetais, a complexidade dos padrões multiloco e a dificuldade de se 19 Genética e Conservação de Cracídeos obter o mesmo padrão eletreforético de migração entre géis e hibridações subseqüentes torna difícil a estocagem dos padrões em bancos de dados. Porém, Kalnin et al. (1995) aplicaram o método de análise de correspondência de fatores (FCA, “factor correspondence analysis”) em populações humanas asiáticas. Este método codifica numericamente dados não quantitativos em um matriz binária, permitindo a comparação entre géis diferentes. Existem dificuldades técnicas, além das teóricas e estatísticas que tornam difícil ou inapropriado o uso de padrões multiloco em estudos de sistemas complexos de acasalamentos ou em algumas tentativas de revelar a estrutura genética dentro e entre populações como por exemplo, maior tempo de levantamento de dados em amostras grandes, maiores gastos financeiros, dificuldade de se comparar indivíduos em posições não adjacentes em um gel e mais ainda entre géis diferentes (Bruford et al., 1992). Métodos apropriados de análise estatística são necessários em alguns casos (Tokarskaya et al., 1994) e análises estatísticas teóricas vem sendo aplicadas nos cálculos de similaridade obtidos através das técnicas de identificação individual através do DNA (Lynch 1988, 1990, 1991; Groen, 1993; Chakraborty & Jin, 1993; Yassouridis & Epplen, 1993; Jin & Chakraborty, 1994). O uso de sondas de loco único também pode permitir a solução destes problemas. Padrões multiloco são eficientes na detecção de relações de parentesco de primeira ordem, mas não em relações mais distantes, onde sondas que identificam locos únicos também podem ser mais úteis para esses casos (Brookfield & Parkin, 1993). Mesmo relações de parentesco de primeira ordem podem não ser detectadas em populações com baixa variabilidade genética (Rave et al., 1994). A obtenção de sondas de loco único pode ser feita à partir de: a) clonagem de minissatélites específicos da espécies em estudo, sendo este um processo oneroso, e necessita um grande tempo para ser desenvolvido; b) aplicação de sondas desenvolvidas para espécies relacionadas à espécie em estudo, que em muitos casos tem revelado resultados satisfatórios (Gray & Jeffreys, 1991; Benzten et al., 1991; Hanotte et al., 1991a, b, 1992b); 20 Genética e Conservação de Cracídeos c) testes com sondas minissatélites de espécies não relacionadas (Saccheri & Bruford, 1993; Robinson et al., 1993; Signer et al., 1994; Lambert et al., 1994; Dixon et al., 1994); d) identificação de sequências de minissatélites pertencentes a um loco específico dentro de um padrão multiloco. O isolamento de sondas que detectassem minissatélites de um único loco foi difícil de se realizar, somente se justificando em estudos com humanos e organismos de importância econômica, até que Armour et al. (1990) desenvolveram uma técnica de clonagem mais eficiente para a obtenção de sondas loco-específicas (Hanotte et al., 1991a, b; Bruford & Burke, 1991). 9 - Identificação Individual Através do DNA e Conservação As técnicas de identificação individual através DNA (ii-DNA ou “DNA fingerpriting”) têm contribuído para o monitoramento da variabilidade genética de espécies ameaçadas de extinção e no estabelecimento de programas para sua recuperação na natureza. Através de padrões multilocos produzidos pela sonda M13 (Vassart et al., 1987), Tokarskaya et al. (1994) desenvolveram um método de análise de estrutura populacional que possibilitou demonstrar diferenças genéticas entre várias populações cativas do grou siberiano Grus leucogeranus e entre híbridos dessa espécie com outra congenérica (G. canadensis pratensis). As técnicas de identificação individual através do DNA não somente foram capazes de estabelecer relações diretas entre aves do mesmo grupo, mas também foram aplicadas na diferenciação de indivíduos e grupos, classificando-os em uma população ou espécie particular. Esse método permite o uso de pequenas amostras para se obter a informação necessária da população ou espécie em interesse. Isso pode ser útil em estudos de populações silvestres de espécies ameaçadas em que amostras de DNA são limitadas pelo número de indivíduos 21 Genética e Conservação de Cracídeos disponíveis ou pela dificuldade em se obter sondas biológicas úteis (Tokarskaya et al., 1994). Rave et al. (1994) analisaram duas populações de ganso havaiano Branta sandvicensis através das técnicas de identificação individual através do DNA. Neste trabalho foi demostrado que a população fundada por um número maior de aves e manipulada para a formação de casais evitando acasalamentos consangüíneos apresentava maior variabilidade genética que a população fundada por um número menor de indivíduos, e deixada livre para a formação de casais. Alelos únicos foram encontrados, e as aves que os possuíam eram liberadas na natureza para aumentar a variabilidade genética de populações reintroduzidas após ter-se coletado o sêmen (Rave et al., 1994), embora Miller (1995) argumenta que este tipo de estratégia pode reduzir ainda mais a variabilidade genética em uma espécie. Como uma das finalidades dos programas de reprodução em cativeiro é manter ou aumentar a variabilidade genética entre os indivíduos, a utilidade das técnicas de identificação individual através do DNA se tornaram evidente na tentativa de aumentar o sucesso dos programas de reintrodução e manutenção de populações silvestres deste ganso havaiano (Rave et al., 1994). A população reintroduzida possui cerca de 400 a 450 aves atualmente (Cade & Temple, 1995). Não eram conhecidas as relações de parentesco em uma população africana cativa de coelhos endêmicos e ameaçados (Bunolagus monticularis) e o uso do “DNA fingerprinting” para o estabelecimento delas não foi possível (Dippenaar & Ferguson, 1994). O nível de similaridade encontrado entre os 16 coelhos cativos foi alto (68%), e quatro deles que apresentaram menor índice de similaridade quando comparados com os demais da amostra podem ser úteis para iniciar um programa de reprodução em cativeiro com a finalidade de reintroduzir uma população na natureza. Coelhos capturados na natureza também podem aumentar a variabilidade do estoque cativo, porém sua similaridade com os coelhos cativos deve ser estabelecida para avaliar a sua utilidade em tais programas (Dippenaar & Ferguson, 1994). 22 Genética e Conservação de Cracídeos Uma população cativa de condores-da-Califórnia Gymnogyps californianus teve sua estrutura de relações inferidas a partir de padrões multilocos produzidos pela técnica de identificação individual através do DNA. Os resultados estavam de acordo com o que se conhecia da estrutura geográfica da população antes da população total estar em cativeiro. A população pode ser subdividida em três grupos. Aconselha-se acasalamento entre aves de subgrupos diferentes ao invés de acasalamentos entre aves do mesmo subgrupo (Geyer et al., 1993) na tentativa de reproduzir a espécie em cativeiro. Este projeto faz parte de uma grande esforço de restabelecer os condores-da-Califórnia na natureza (Snyder & Snyder, 1989). O habitat dos ursos, incluindo o urso marrom de Hokkaido Ursus arctos yesoensis, vem diminuindo mundialmente, assim como as populações de ursos vem sofrendo declínio. Tsuruga et al. (1994) estudaram minissatélites de uma população cativa de ursos marrons de Hokkaido para avaliar a utilidade das técnicas de identificação individual através do DNA em um futuro programa de manejo desta espécie. A baixa variabilidade encontrada não permitiu a comprovação da paternidade em alguns casos, mas pode ser útil para comparar outras populações desta espécie e estimar o grau de endocruzamento nesta população. Fleischer et al (1995) analisaram minissatélites, DNA mitocondrial e polimorfismos de DNA amplificados aleatoriamente (RAPD do inglês “Random Amplified Polymorphic DNA”), em várias populações com baixa densidade demográfica de algumas subespécies de uma ave da família Rallidae, que se encontram isoladas geograficamente. Os autores verificaram que a variabilidade genética encontrada é similar àquela de outras populações exocruzadas de aves. As populações de Rallus longirostris levipes apresentam muita similaridade genética entre si e translocações de alguns indivíduos a cada geração entre essas populações podem auxiliar a aumentar a sua variabilidade genética. Possivelmente não deve ocorrer depressão por endocruzamento devido a alta similaridade interpopulacional encontrada (Fleischer et al., 1995). 23 Genética e Conservação de Cracídeos Populações de uma tartaruga da costa oeste americana, Clemmis marmorata, vêm apresentando declínio rápido devido a alteração de seu habitat, distúrbios humanos, além de doenças e introdução de predadores. Baixa variabilidade foi encontrada nas regiões minissatélites nas populações mais ao norte em relação as do sul, indicando divisão genética entre as duas populações, baixo fluxo gênico em direção ao norte e possível efeito do fundador (Gray, 1995). Programas de recuperação desta espécie devem considerar estas diferenças para evitar efeitos de erosão genética por exocruzamento e quebra de adaptações ecológicas (Gray, 1995). 24 Genética e Conservação de Cracídeos OBJETIVOS Os objetivos deste trabalho são: - Determinar as condições ideais de estudo de Cracidae com as técnicas de identificação individual pelo DNA. - Comparar a variabilidade genética de regiões minissatélites em diferentes espécies de cracídeos. - Comprovar a paternidade e maternidade nos casos alegados, e estudar o grau de similaridade genética encontrado em parentes de primeiro grau. - Estudar a segregação de bandas de padrões multilocos em famílias com pelo menos cinco descendentes de um mesmo casal, para estimar o número de locos de segregação independente que estão sendo analisados. - Comparar a variabilidade genética de populações de P. obscura bonzina e P. superciliaris jacupemba, mantidas em cativeiro e populações reintroduzidas em matas remanescentes e reflorestadas pela Companhia Energética de São Paulo - CESP (Reservatório de Paraibuna). - Avaliar o programa de reintrodução de Penelope obscura e Penelope superciliaris na natureza, realizada pela CESP, e auxiliar a empresa a melhorar o programa de manejo destas espécies com base em dados genéticos. - Analisar a população de Crax blumenbachii, espécie ameaçada de extinção, mantida em cativeiro, bem como uma de Pipile jacutinga e orientar os criadores para evitar acasalamentos entre matrizes que possuem os maiores índices de similaridade genética. 25 Genética e Conservação de Cracídeos MATERIAL E MÉTODOS 1 - Caracterização da Amostra Estudada 1.1 - Programa de Reintrodução de Aves da CESP, Paraibuna A Companhia Energética de São Paulo - CESP, vem desde 1984 desenvolvendo um programa de reprodução de aves silvestres (cracídeos e tinamídeos) em cativeiro com a finalidade de reintroduzir os descendentes em áreas reflorestadas e remanescentes florestais no Reservatório de Paraibuna, SP. Em relação aos cracídeos, a CESP mantém em cativeiro três espécies: jacu-guaçu Penelope obscura bronzina (24 aves) (Fig. 1d), jacupemba P. superciliaris jacupemba (20 aves) (Fig. 1e) ambas com descendentes reintroduzidos desde 1986, e jacutinga Pipile jacutinga (2 aves) (Fig. 1f), ainda em fase de formação do plantel. Todas as aves cativas destas três espécies foram amostradas. A maioria dos indivíduos de cativeiro mantidos pela CESP são provenientes da Zoobotânica Mário Nardelli, Nilópolis, RJ. As aves nascidas em cativeiro foram incubadas artificialmente após a postura até a eclosão, exceto em alguns casos em que foi permitido que o ovo fosse incubado pela fêmea normalmente. Cada ave recebeu uma anilha da CESP e foi mantida por alguns meses em viveiros de adaptação, para serem reintroduzidas na natureza. As anilhas da CESP foram substituídas por anilhas do CEMAVE (Centro de Pesquisas para a Conservação de Aves Silvestres) antes das aves serem liberadas nas áreas de soltura. A equipe técnica da CESP ficou encarregada da captura das aves nos locais onde haviam sido reintroduzidas anteriormente, assim como também foram responsáveis pela contenção das aves e coleta de sangue, em trabalho colaborativo com a Unidade de Aconselhamento Genético do Departamento de Biologia do IBUSP, a partir de dezembro de 1993. Denomina-se aqui “aves de vida livre” aquelas que foram capturadas nas áreas de reintrodução pertencentes 26 Genética e Conservação de Cracídeos a CESP. Foram capturadas 56 Penelope obscura bronzina, entre os quais 4 tinham anilha, indicando que estas aves haviam sido reintroduzidas anteriormente e 9 Penelope superciliaris jacupemba, entre os quais apenas uma ave estava anilhada. Foi comunicado pela equipe técnica da CESP que as duas espécies de cracídeos reintroduzidas são igualmente freqüentes, porém o maior número de Penelope obscura bronzina capturado deve se à diferenças comportamentais emtre essas espécies. Na amostra de P. obscura bronzina mantida em cativeiro havia uma família com 5 filhotes, e dois casos de aves anilhadas capturadas nos locais de reintrodução em que a paternidade era atribuída a uma das matrizes de cativeiro. 1.2 - Aves de Zoológicos e Criadouros Particulares Foram estudadas aves pertencentes aos Parques Zoológicos de Americana e de Sorocaba, ambos no estado de São Paulo, e de dois criadouros particulares, Criadouro Chaparral localizado em Recife, PE, e Criadouro Tropicus, localizado em Pirassununga, SP. Foi estudada uma população de mutum-do-sudeste ou mutum-de-bicovermelho Crax blumenbachii (Fig. 1a), proveniente do Criadouro Chaparral, composta de 16 indivíduos, sendo indicado que existia um possível casal com filhote. Um dos indivíduos não foi considerado na análise devido a erro de concentração de DNA digerido, impedindo a visualização acurada dos fragmentos; dois indivíduos de mutum-de-penacho Crax fasciolata (Fig. 1b) provenientes do Zoológico de Sorocaba; 14 jacutingas Pipile jacutinga provenientes do Criadouro Tropicus localizado em Pirassununga, SP, incluindo um casal com possíveis sete filhotes, 2 indivíduos pertencentes à CESP de Paraibuna, SP além de 2 pertencentes ao Zoológico de Sorocaba, SP; um casal de urumutum Nothocrax urumutum (Fig. 1c) e seu possível filhote e um indivíduo 27 Genética e Conservação de Cracídeos a b c e d f Figura 1. Espécies de Cracidae estudadas. a) Crax blumenbachii; b) Crax fasciolata; c)Nothocrax urumutum; d)Penelope obscura bronzina; e) Penelope superciliaris jacupemba; f) Pipile jacutinga. 28 Genética e Conservação de Cracídeos supostamente não relacionado, provenientes do Criadouro Tropicus localizado em Pirassununga, SP. 1.3 - Casuística Estudada A tabela 1 indica para cada espécie o número e a procedência das aves que foram estudadas neste trabalho. Tabela 1. Número (N) e procedência das aves amostradas para cada uma das seis espécies de cracídeos estudadas. Espécie Crax blumenbachii Crax fasciolata Penelope superciliaris Penelope superciliaris (natureza) Penelope superciliaris Penelope obscura Penelope obscura (natureza) Pipile jacutinga Pipile jacutinga Pipile jacutinga Nothocrax urumutum N 15 2 20 9 2 24 56 2 14 2 4 Procedência Criadouro Chaparral, Recife - PE Parque Zoológico de Americana - SP CESP, Paraibuna - SP CESP, Paraibuna - SP Parque Zoológico de Americana - SP CESP, Paraibuna - SP CESP, Paraibuna - SP CESP, Paraibuna - SP Criadouro Tropicus, Pirassununga - SP Parque Zoológico de Sorocaba - SP Criadouro Tropicus, Pirassununga - SP Observação: Quando não especificado, as aves são de cativeiro. N = número de indivíduos amostrados 2 - Contenção das Aves e Coleta de Sangue As aves de cativeiro foram contidas com uma rede tipo puçá. Para a captura das aves de vida livre, uma rede foi amarrada em uma árvore e no solo sob ela foi depositado alimento para atraí-las. Uma pessoa permaneceu escondida em silêncio em uma cabana montada na mata, e soltava a corda que segurava a rede presa à árvore sobre as aves quando estas estavam se alimentando da isca. Após exame, coleta de sangue e anilhamento as aves foram liberadas no mesmo local em que foram capturadas. A coleta de sangue foi realizada da seguinte maneira: o pescoço, pés, cauda e uma das asas eram imobilizados por uma pessoa. Uma segunda pessoa segurava a outra asa aberta, firmando-a contra a mesa para evitar que essa asa 29 Genética e Conservação de Cracídeos se fraturasse. Essa mesma pessoa fazia um garrote na veia braquial. Uma terceira pessoa esterilizava com álcool o local onde seria introduzida a agulha e retirava o excesso de penas. As amostras de sangue (0,1 ml) foram coletadas com seringa de insulina. Após pressão da região puncionada com algodão e álcool, para estancar eventual sangramento, as aves foram liberadas. As amostras de sangue coletadas até abril de 1994 (aves de cativeiro e algumas de vida livre da CESP, e aves do Criadouro Tropicus) foram colocadas em frascos eppendorfs contendo uma solução de SSC 20x e EDTA 10 mM e congeladas ou mantidos em etanol absoluto em temperatura ambiente (demais amostras) a partir desta data. A preservação em etanol não altera a qualidade do DNA extraído ou dos padrões de bandas produzidos, mas reduz em cerca de 50% a quantidade de DNA extraído (Zeh et al., 1993), porém como não há necessidade de refrigeração das amostras de sangue, isso facilita as coletas em campo, transporte e estocagem das amostras. 3 - Técnicas de Identificação Individual Através DNA Os procedimentos técnicos utilizados no presente trabalho são descritos por Sambrook et al. (1989) modificados conforme as necessidades dos experimentos. 3.1 - Extração de DNA A extração de DNA foi realizada após incubação a 37oC durante a noite ou a 55oC por 4 horas, em uma solução de TNE 1x (Tris-HCl 50 mM, NaCl 100 mM, EDTA 6,3 mM, pH 7,5), Tris-HCl 1M pH 7,5, SDS 25% e Proteinase K (0,5 U/ul). Após a incubação, foi adicionado NaCl 6M ou Fenol:clorofórmio (1:1) e misturado vigorosamente para separar o DNA dos restos celulares e da proteinase K. Centrifugou-se por 10 minutos a 9 krpm. O sobrenadante foi coletado e adicionou-se 2 volumes de etanol absoluto para precipitar o DNA. Seguiu-se 30 Genética e Conservação de Cracídeos nova centrifugação e o DNA foi lavado em etanol 70% e novamente centrifugado. O DNA precipitado foi submetido a secagem durante a noite a temperatura ambiente ou por 2 horas em bomba de vácuo. Acrescentou- se cerca de 300-500 ul de TE para diluir o DNA. A qualidade do DNA foi avaliada em gel de agarose 0,8% cerca de 2 semanas após a extração,assim como também estimou-se a sua concentração comparando se com DNA de fago λ de concentração conhecida. 3.2 - Digestão do DNA com Enzimas de Restrição Uma amostra de 5 a 10 ug de DNA genômico de cada indivíduo foi digerido por completo a 37oC durante a noite com excesso de MboI (15 a 30 U), conforme indicação do fabricante. O DNA digerido foi purificado com fenol, precipitado em etanol absoluto e lavado em etanol 70%. O DNA digerido precipitado foi ressuspenso a 37oC por 30 minutos em 21 ul de água milli Q. O sucesso da digestão foi verificado em gel de agarose 0,8% e a concentração de DNA digerido foi medida em espectrofotômetro GeneQuant (Pharmacia). 3.3 - Transferência Capilar Carregou-se cerca de 5 ug de DNA digerido em um gel de agarose (Pharmacia) 1% de 20x30cm a 40V por cerca de 60-70 horas, com recirculação do tampão (TBE 1x) na maioria das vezes, juntamente com uma amostra de marcador de peso molecular de DNA de fago lambda digerido com HindIII. O fragmento de 2,3 kb do DNA do fago lambda deve estar no final do gel ou mesmo ter saído dele. A seguir o gel foi preparado para a transferência capilar (Southern Blotting) para uma membrana de nylon (Hybond-Nfp, Amersham). Tratou-se o gel com uma solução de HCl 0,25 M por 7 minutos, por 2 vezes, para depurinar o DNA. A seguir o DNA foi denaturado com uma solução de NaOH 0,5 M, NaCl 1 31 Genética e Conservação de Cracídeos M, por 15 minutos, por 2 vezes e neutralizado em Tris-HCl 1 M, pH 7,4, NaCl 3M, por 15 minutos, por 2 vezes. A montagem da transferência capilar foi realizada conforme Southern (1975) em SSC 20x, durante a noite. Após a transferência, os fragmentos de DNA foram fixados à membrana por 2 horas a 80oC. 3.4 - Sondas de Minissatélites As sondas de minissatélites humanos 33.6 e 33.15 de Jeffreys foram marcadas através do método de “random priming” (Sambrook et al., 1989) , uma por vez, com nucleotídeo radioativo (α-P32 dCTP) a uma atividade maior que 105 cpm. 3.5 - Hibridação com Sonda Radioativa A membrana foi pré-hibridada por 1 a 4 horas em Na2HPO4 1M, EDTA 0,5 M, SDS 25%, BSA 1% em tubos de hibridação. Então a sonda marcada é adicionada à solução de pré-hibridação, agindo por cerca de 16 horas, em forno de hibridação a 65oC. 3.6 - Lavagem das Membranas e Exposição a Filmes de Raio - X As membranas são lavadas para se retirar as ligações de menor homologia em Na2HPO4 0,25 M, SDS 1%, em SSC 2x, SDS 1% e uma lavagem final em SSC 1x, SDS 0,1% por cerca de 5-10 minutos, até que o monitor de radiotividade (Mini-Monitor Geiger) indicasse níveis entre 5 e 20 cps (contagens por segundo). As membranas foram expostas a filmes autorradiográficos (Kodak X-Omat), permanecendo em cassetes com um ou dois intensificadores, em freezer a -70oC, ou a -20oC por 1 a 14 dias, caso a radioatividade permanecesse maior do que 20 cps após as lavagens. 32 Genética e Conservação de Cracídeos 3.7 - Dehibridação das Membranas Efetuou-se a dehibridação das membranas para a hibridação com outra sonda em NaOH 0,4 M a 45oC por 10 minutos e SSC 0,1%, SDS 1% por 30 minutos. O procedimento de hibridação com a segunda sonda foi repetido da forma descrita. 3.8 - Análise dos Padrões de Bandas Para a análise do padrão de bandas, o centro de cada banda na radiografia é marcado em folha de acetato de retroprojetor, colocado sobre a autorradiografia, usando-se um transiluminador de luz fluorescente. Apenas a região de melhor definição da radiografia foi considerada na análise. São consideradas bandas iguais em diferentes indivíduos quando elas tiveram migração eletroforética e intensidade semelhantes (considerando uma margem de menos de 0,5 cm). Somente houve comparação entre indivíduos amostrados no mesmo gel. O Coeficiente de Bandas em Comum (CBC) ou índice de similaridade entre dois indivíduos foi calculado pela fórmula: x=2Nab / Na + Nb (Wetton et al., 1987) onde x é o coeficiente de bandas em comum entre os indivíduos a e b, Nab é o número de bandas em comum entre a e b e Na e Nb são os totais de bandas em a e b. Esse índice varia de 0, quando não há nenhum fragmento em comum, a 1, quando todos os fragmentos detectados estão presentes nos dois indivíduos analisados. A probabilidade de encontrar, ao acaso, o mesmo padrão de bandas em comum em dois indivíduos não aparentados é xn onde n é o número médio de bandas detectadas (Jeffreys et al., 1985a). A probabilidade (I) de por acaso, as bandas de um indivíduo estarem todas presentes em um casal com o qual este indivíduo não tem nenhum parentesco foi estimada por Jeffreys et al. (1985b) como sendo: 33 Genética e Conservação de Cracídeos I=(1-(1-x)2)n onde n é o número de bandas do filho em comum com os pais atribuídos. A frequência média de cada banda (q), que reflete a frequência de cada alelo dos vários locos estudados se relaciona ao CBC pela seguinte fórmula: x=2q-q2 <-> q=1-(1-x)1/2 (Jeffreys et al., 1985c). Assumindo que as bandas em comum representam o mesmo alelo e que todos os alelos tenham frequência média q, o CBC esperado, conforme Jeffreys et al. (1985b), foi calculado como: (1+q-q2)/(2-q) entre pais e filhos e; (4+5q-6q2-q3)/4(2-q) entre irmãos. A heterozigosidade média (H) das espécies de Cracídeos foi estimada segundo a fórmula: H = 2q(1-q)/(2q-q2) = 2(1-q)/(2-q) (Sundt et al., 1994). 4 - Estimativa do Número Mínimo de Locos de Segregação Independente Em uma família de Penelope obscura com 5 descendentes e uma de Pipile jacutinga com 7 descendentes realizou-se o estudo da independência dos fragmentos detectados para cada uma das sondas de minissatélites. Foi averiguado para cada par possível de bandas na região considerada do gel se elas segregavam em repulsão (alelos) ou em atração (ligação). Cada grupo de bandas que apresentavam co-segregação foi considerado como um único loco assim como também as bandas que se comportaram como alélicas. Bandas comuns entre ambos os progenitores e presentes em todos os filhotes foram consideradas como homozigotas e não informativas. Através dessa informação pode-se estabelecer o número mínimo de locos independentes detectados para cada uma das sondas. Os locos em comum detectados por ambas as sondas foram estimados por sobreposição das bandas nas autorradiografias resultantes da hibridação da mesma membrana pelas duas sondas utilizadas. 34 Genética e Conservação de Cracídeos 5 - Estratégias de Comparação dos Padrões Multilocos entre Populações de Cativeiro e de Vida Livre A análise dos padrões multiloco para Penelope obscura e Penelope superciliaris foi efetuada da seguinte maneira: a) Inicialmente todos os indivíduos das duas espécies mantidos em cativeiro foram comparados quanto ao seu índice de similaridade em um mesmo gel. b) Tendo conhecimento prévio através de registros das duas espécies de Penelope fornecidos pela CESP - Paraibuna, escolheu-se os 5 indivíduos cativos ainda vivos que tiveram maior contribuição para o programa de reintrodução (72% de todos os descendentes reintroduzidos de Penelope obscura bronzina, e cerca de 50% de todos os descendentes liberados na natureza para P. superciliaris jacupemba), isto é, os indivíduos que apresentaram maior número de descendentes reintroduzidos, denominados aqui de “fundadores”, para que fossem simultaneamente comparados com indivíduos de vida livre capturados na área de reintrodução. Como o número de aves de vida livre para P. obscura bronzina era grande (56) e a capacidade de um gel é de 20 amostras, eles foram comparados em 4 diferentes géis juntamente com o grupo de fundadores. Cerca de 13 aves de vida livre foram amostradas em cada gel. c) Também foi comparado o CBC entre a população de vida livre e cinco indivíduos de cativeiro que não contribuíram (“não fundadores”) para a reintrodução em outra série 3 de géis e os cálculos foram efetuados da mesma forma como nas comparações efetuadas com os “fundadores”. d) Para Penelope superciliaris jacupemba o número de animais de vida livre capturados era baixo e foi possível a análise com os “fundadores” e “não fundadores” em um mesmo gel. Para as demais espécies de cracídeos estudadas, os CBC referem-se apenas a comparações feitas entre indivíduos de cativeiro e em um mesmo gel. 35 Genética e Conservação de Cracídeos RESULTADOS 1 - Determinação de Padrões Multiloco No início do trabalho foi necessário determinar as condições que melhor evidenciam a variabilidade genética em cracídeos pela técnica de identificação individual através do DNA (ii-DNA ou “DNA fingerprinting”), uma vez que não era conhecido nenhum trabalho prévio com este grupo de Aves. Para isto digeriu-se o DNA de três indivíduos de jacupemba Penelope superciliaris jacupemba supostamente não relacionados com quatro diferentes enzimas de restrição (AluI, HaeIII, HinfI e MboI), em que o sítio de restrição não se encontrava internamente na região minissatélite de interesse, para montar uma membrana “multienzimas”. Essa membrana foi hibridada com as sondas multiloco de minissatélites humanos 33.6 e 33.15 de Jeffreys et al. (1985) e o padrão produzido pela combinação das sondas utilizadas com a enzima MboI foi escolhido para a realização das membranas desta espécie, apresentando um número adequado de bandas polimórficas de boa resolução. Considerou-se que para as demais espécies a combinação entre MboI e sondas de minissatélites de Jeffreys também seria adequada, não sendo realizado membranas multienzimas para elas, uma vez que a reprodução intergenérica é comum entre os cracídeos, como por exemplo entre Crax fasciolata e Penelope sp ou Pipile pipile cumanensis e Ortalis canicollis (Sick, 1984), sugerindo parentesco próximo entre as espécies do grupo. 2 - Variabilidade Genética de Várias Espécies de Cracídeos O coeficiente de banda em comum (CBC) tem sido utilizado para estimar a similaridade genética e o coeficiente complementar (1-CBC), como uma medida da variabilidade genética. Nesse trabalho optou-se pela utilização do CBC, que tem sido mais utilizado em trabalhos com aves publicados na literatura científica. 36 Genética e Conservação de Cracídeos A tabela 2 resume os dados obtidos para espécimens não aparentados das seis espécies de Cracidae estudadas. São mostrados o número médio de bandas detectadas, o coeficiente médio de similaridade, a probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem ao acaso o mesmo padrão de bandas e a freqüência média dos alelos para as sondas 33.6 e 33.15. São mostrados também o número de indivíduos analisados em cada grupo e a variação de tamanho dos fragmentos analisados. Tabela 2. Resultados da hibridação do DNA de espécimens sem relação de parentesco conhecido em diferentes espécies de Cracidae, digeridos com MboI, com sondas multilocus de minissatélites humanos. Espécie Crax blumenbachii Crax fasciolata Nothocrax urumutum Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) Pipile jacutinga Crax blumenbachii Crax fasciolata Nothocrax urumutum Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) Pipile jacutinga sonda 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 N 15 2 3 14 42 22 33.6 8 33.6 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 11 15 2 3 22 44 19 33.15 33.15 xn 6,09x10-9 2,65x10-21 3,59x10-11 2,50x10-14 5,78x10-10 4,34x10-15 q 0,075 0,081 0,129 0,086 0,178 0,146 kb 5,0-23,0 3,2-18,0 7,0-20,0 4,5-23,0 2,9-23,0* 3,8-23,0 -12 0,191 24,5±2,8 0,347±0,13 5,47x10 4,8-18,0 n±sd 9,80±3.1 25.5 18,0±5,5 17,4±4,5 22,7±6,6 25,4±3,4 x±sd 0,145±0,10 0,156 0,243±0,16 0,165±0,09 0,324±0,09 0,272±0,09 1,05x10-21 4,07x10-14 2,68x10-28 1,49x10-10 5,03x10-14 3,01x10-12 2,93x10-15 0,096 0,088 0,066 0,180 0,145 0,187 0,147 6,2-23,0 2,9-6,0 3,5-17,0 6,5-19,0 6,2-23,0 3,0-23,0* 3,8-21,0 7 -11 0,172 21,4±2,5 0,315±0,10 1,83x10 5,2-15,0 11 -17 0,126 27,1±3,3 0,237±0,07 1,12x10 6,0-19,0 28,4±5,7 17,4±2,8 31,0 20,6±2,5 23,3±3,8 24,9±4,6 24,0±5,2 0,183±0,06 0,170±0,09 0,129 0,328±0,14 0,269±0,09 0,340±0,26 0,273±0,09 N - número de indivíduos analisados; n - número médio de bandas, sd - desvio padrão; x - coeficiente médio de bandas em comum; xn - probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão de bandas; q freqüência média das bandas. kb - Tamanho dos fragmentos considerados na análise, em pares de bases (* - indica a menor e maior variação dos fragmentos considerados em 4 géis para a sonda 33.6 e 3 géis para a sonda 33.15). Em Penelope obscura e P. superciliaris, os dados se referem a: (1) - Indivíduos de cativeiro; (2) - Indivíduos de vida livre capturados no local da reintrodução; Nas demais espécies, todas os dados são de aves mantidas em cativeiro. Para as seis espécies de cracídeos analisadas, foi verificada a sobreposição de bandas detectadas pelas sondas 33.6 e 33.15. Encontrou-se sobreposição de fragmentos de 16,87% para Crax fasciolata, 9,95% para 37 Genética e Conservação de Cracídeos Penelope obscura, 10,00% para P. superciliaris, 14,11% para Pipile jacutinga e 9,03% para Nothocrax urumutum. Para Crax blumenbachii, a região analisável do gel variou entre 5,0 e 23,0 kb para a sonda 33.6 e entre 2,9 e 6,0 kb para a sonda 33.15, portanto havendo apenas fragmentos entre 5,0 e 6,0 kb que poderiam se sobrepor. Considerando apenas essa região, houve apenas 0,84% de sobreposição. 2.1 - Crax blumenbachii Para indivíduos não relacionados de Crax blumenbachii foram detectados em média menos fragmentos com a sonda 33.6 (9,80 bandas) (Fig. 2a) do que com a 33.15 (17,4 bandas) (Fig. 2b). O coeficiente de similaridade foi de 0,145 para a sonda 33.6 e 0,170 para a sonda 33.15. A probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem ao acaso o mesmo padrão de bandas foi da ordem de 10-9 com a sonda 33.6, e da ordem de 10-14 para a sonda 33.15. A freqüência média das bandas foi de 0,075 e 0,088, respectivamente para as sondas 33.6 e 33.15 (Tab. 2). Estimou-se a similaridade esperada entre pais e filho como sendo de 0,555 para a sonda 33.6 e de 0,564 para a sonda 33.15. 2.2 - Crax fasciolata O padrão multiloco obtido a partir de dois indivíduos estudados utilizandose sondas de minissatélites humanas 33.6 e 33.15 mostrou-se polimórfico. Detectou-se 25,5 bandas com a sonda 33.6 e 31,0 bandas com a sonda 33.15. As aves apresentaram coeficiente de similaridade de 0,156 e 0,129, respectivamente para as sondas 33.6 e 33.15 (Tab. 2). Para a sonda 33.6, a probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão multiloco foi da ordem de 10-21 e a freqüência média dos alelos foi de 0,081. Com a sonda 33.15, a probabilidade de aves não relacionadas 38 Genética e Conservação de Cracídeos apresentarem o mesmo padrão de fragmentos ao acaso foi da ordem de 10-28 e a freqüência média dos alelos foi igual a 0,066. 39 Genética e Conservação de Cracídeos a b 119 120 121 122 123 124 133 125 126 127 128 129 130 c 118 119 120 121 122 123 124 133 125 126 127 128 129 130 131 d 26 25 30 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 47 45 46 48 49 59 57 50 51 53 54 55 52 56 58 99 100 86 47 Figura 2. Exemplos de hibridações do DNA de algumas espécies de Cracidae com sondas de minissatélites 33.6 (a e c) e 33.15 (b e d). a) Crax blumenbachii: 119-130 são aves não relacionadas. A ave 133 não teve filiação comprovada como filhote do casal 124 e 125. b) Crax blumenbachii: 119-131 são aves não relacionadas. A ave 133 não teve filiação comprovada para o casal 124 e 125. c) Penelope obscura bronzina: 25, 26 e 30 são aves de cativeiro. As aves 104-113 são de vida livre. d) Pipile jacutinga: aves 4549 e 59 são descendentes de 50 e 51. Demais são aves não relacionadas. 40 Genética e Conservação de Cracídeos 2.3 - Nothocrax urumutum Utilizando a sonda 33.6, 3 indivíduos não relacionados apresentaram 18,0 fragmentos em média e o índice de similaridade médio foi de 0,243, resultando em uma probabilidade da ordem de 10-11 de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão de bandas ao acaso (Tab. 2). Para a sonda 33.15, 20,6 fragmentos em média foram detectados e o índice médio de similaridade foi de 0,328. A probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão multiloco foi da ordem de 10-10. A freqüência média dos alelos foi de 0,129 e de 0,180, respectivamente para as sondas 33.6 e 33.15, originando índices de similaridade esperado entre pais e filhos de 0,594 (33.6) e 0,630 (33.15). 2.4 - Penelope obscura bronzina A população cativa de Penelope obscura bronzina apresentou em média 17,4 fragmentos com a sonda 33.6 (Fig. 2c) e 23,3 fragmentos com a sonda 33.15. A sonda 33.6 revelou um índice médio de similaridade de 0,165 e a 33.15, 0,269. A probabilidade de dois indivíduos apresentarem ao acaso o mesmo padrão multibandas foi menor que 10-14 para ambas as sondas. A freqüência média dos fragmentos foi de 0,086 para a sonda 33.6 e de 0,145 para a sonda 33.15 (Tab. 2). A similaridade esperada entre pais e filhos foi estimada para as sondas 33.6 (0,563) e 33.15 (0,605). Entre irmãos os valores esperados para a sonda 33.6 foi igual a 0,572 e para a sonda 33.15 foi igual a 0,619. A população de vida livre analisada apresentou, para a sonda 33.6, 22,7 fragmentos em média e índice médio de similaridade de 0,324, resultando em uma probabilidade da ordem de 10-10 de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão de bandas ao acaso. Para a sonda 33.15, foram detectados 24,9 bandas em média e índice médio de similaridade de 0,340, fornecendo uma probabilidade da ordem de 10-12 de ao acaso dois indivíduos 41 Genética e Conservação de Cracídeos apresentarem o mesmo padrão multibandas. Os fragmentos tiveram freqüência média de 0,178 e de 0,187, respectivamente para as sondas 33.6 e 33.15 (Tab. 2). 2.5 - Penelope superciliaris jacupemba Para os 20 indivíduos mantidos em cativeiro detectou-se, em média, 25,4 bandas para a sonda 33.6 e 24,0 bandas para a sonda 33.15. O índice de similaridade médio encontrado foi de 0,272 e 0,273 para as sondas 33.6 e 33.15, respectivamente. Para cada uma das sondas utilizadas, a probabilidade de dois indivíduos apresentarem ao acaso o mesmo padrão de bandas foi da ordem de 10-15 e a freqüência média dos fragmentos foi de 0,14 (Tab. 2). A população de vida livre de Penelope superciliaris jacupemba apresentou em média, 24,5 fragmentos e índice de similaridade médio entre indivíduos não relacionados igual 0,347, com a sonda 33.6. Então, para esta mesma sonda, a probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem ao acaso o mesmo padrão multiloco foi da ordem de 10-12 e a freqüência média dos alelos foi estimada em 0,191. Para a sonda 33.15, foram detectados 21,4 fragmentos em média. A similaridade média desta população foi de 0,315, resultando numa probabilidade da ordem de 10-11 de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão de bandas ao acaso. A freqüência média dos alelos para a sonda 33.15 foi de 0,172. 2.6 - Pipile jacutinga Para os 11 indivíduos não relacionados de Pipile jacutinga os dados são apresentados na tabela 2. Detectou-se, em média, 28,4 e 27,1 fragmentos, respectivamente com as sondas 33.6 e 33.15 (Fig. 2d). O índice de similaridade foi menor para a sonda 33.6 (0,183) do que para a sonda 33.15 (0,237). Com a sonda 33.6 a probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão multibandas foi da ordem de 10-21. Para a sonda 33.15, esse valor 42 Genética e Conservação de Cracídeos foi estimado em 10-17, assumindo-se que as bandas se segregam independentemente. A freqüência média dos fragmentos foi da ordem de 0,096 para a sonda 33.6 e de 0,126 para a sonda 33.15. Com essas freqüência médias pode-se estimar os valores esperados de similaridade entre pais e filhos como sendo de 0,567 para a sonda 33.6 e de 0,593 para a sonda 33.15, assumindo que bandas de mesma migração representam alelos idênticos, e que todas as bandas tenham a mesma freqüência. Entre irmãos o índice de similaridade esperado foi estimado em 0,580 e 0,605, respectivamente, para as sondas 33.6 e 33.15. 3 - Determinação de Filiação A partir dos dados de similaridade obtidos entre indivíduos supostamente não relacionados, foi estimado as similaridades esperadas entre pais-filhos e entre irmãos. Com base nos padrões de bandas dos filhotes e dos pais e nos cálculos da similaridade esperada, a filiação em alguns casos constantes da amostra de cracídeos deste estudo foi testada. 3.1 - Crax blumenbachii Não foi possível a confirmação da paternidade indicada na amostra de mutum-do-sudeste Crax blumenbachii. A fêmea número C133 que foi dada como filha das aves C124 e C125 e que deveria ter herdado todas as suas bandas de um ou outro progenitor não apresentou nenhuma banda em comum com seus supostos progenitores na hibridação com a sonda 33.6. Para a sonda 33.15, algumas bandas eram compartilhadas, resultando em índices de similaridade de 0,074 com C124 e 0,068 com C125. Nenhum dos outros animais em nossa amostra teve índice de similaridade próximo ao esperado para relações de primeiro grau (>0,550) estimados para essa espécie, indicando que nenhum outro casal entre os estudados poderia ser o casal progenitor do filhote C133. 43 Genética e Conservação de Cracídeos Desta forma esse filhote foi considerado na análise como sendo um indivíduo não relacionado a todos os demais indivíduos da amostra. 3.2 - Nothocrax urumutum A paternidade foi confirmada com ambas as sondas para o filhote de urumutum Nothocrax urumutum, apresentando com a sonda 33.6 índice de similaridade igual a 0,538 comparado com o macho e 0,545 com a fêmea. Para a sonda 33.15 esses valores foram de 0,700 comparado com o macho e 0,756 com a fêmea. Todas as bandas do filhote puderam ser atribuídas a um dos pais, tanto para a sonda 33.6, quanto para a sonda 33.15. 3.3 - Penelope obscura bronzina Em Penelope obscura, dois indivíduos anilhados e capturados nas áreas de soltura da CESP foram testados como possíveis filhotes de dois machos ainda mantidos em cativeiro (Tab. 3). A ave C64 teve similaridade próxima à esperada para a relação pais-filhos estimada para esta espécie com cada uma das sonda e cerca de 50% de suas bandas puderam ser atribuídas ao seu progenitor. A paternidade não foi confirmada com nenhuma das sondas para a ave C65, que não apresentou aproximadamente 50% de suas bandas em comum com seu possível pai e ainda apresentou índice de similaridade com seu suposto progenitor de 0,382 com a sonda 33.6 (índice de similaridade esperado foi de 0,563) e de 0,292 com a sonda 33.15 (similaridade esperada igual a 0,605). Tabela 3. Averiguação da paternidade em Penelope obscura bronzina. Filhote Pai Similaridade Sonda C64 C33 0,512 33.6 C65 C34 0,382 33.6 C64 C33 0,470 33.15 C65 C34 0,292 33.15 44 Genética e Conservação de Cracídeos Em uma família de Penelope obscura analisada, composta dos dois progenitores e cinco descendentes, proveniente do criadouro da CESP de Paraibuna, a paternidade e a maternidade foram comprovadas em todos os casos. Todas as bandas presentes nos cinco filhotes puderam ser atribuídas a um dos progenitores, não sendo encontradas bandas nos filhotes que pudessem ter surgido devido à mutação. O índice médio de similaridade entre pais e filhos foi igual a 0,603 e entre irmãos, de 0,598 para a sonda 33.6 (Tab. 4). Para a sonda 33.15 a similaridade média entre pais e filhos foi de 0,631 e entre irmãos, de 0,643. As bandas foram herdadas de forma mendeliana: cerca de 54% delas são de origem paterna e 46% de origem materna, segundo dados obtidos a partir da hibridação com a sonda 33.6 (χ2=0,42; P>0,50); a sonda 33.15 detectou cerca de 47% de bandas de origem paterna e 53% de origem materna (χ2=0,36; P>0,50). Os irmãos compartilharam entre si 11,20 fragmentos em média com a sonda 33.6 e 15.30 com a sonda 33.15. Tabela 4. Número médio de fragmentos paternos e maternos, coeficiente médio de bandas em comum (índice de similaridade) entre pais-filhos e entre irmãos em Penelope obscura bronzina obtidos a partir da hibridação com sondas multilocus de minissatélites humanas 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 Xp-o ±sd 0,603±0,12 33.15 0,631±0,10 nf±sd 12,00±3,93 (53,57%) 13,60±1,81 (46,57%) nm±sd 10,40±2,30 (46,43%) 15,60±2,19 (53,43%) Xs±sd 0,598±0,10 ns±sd 11,20±2,53 0,643±0,08 15,30±3,30 Xp-o - índice médio de similaridade entre pais e filhos, sd - desvio padrão; nf- número médio de bandas paternas; nm - número médio de bandas maternas; Xs - índice médio de similaridade entre irmãos; ns - número médio de bandas compartilhadas entre os irmãos. 3.4 - Pipile jacutinga A filiação dos setes filhotes de jacutinga Pipile jacutinga provenientes do Criadouro Tropicus foi confirmada e os dados são resumidos na tabela 5. Todas as bandas de cada filhote puderam ser atribuída a um dos pais e nenhum fragmento novo surgido devido a mutação foi detectado. Para a sonda 33.6, o índice de similaridade médio observado entre pais e filho foi de 0,594 e entre 45 Genética e Conservação de Cracídeos irmãos, 0,542, próximo ao esperado (0,567 para pais-filhos e 0,580 para irmãos). A sonda 33.15 revelou um índice médio de similaridade entre pais e filhos igual a 0,485 e de 0,625 entre irmãos, também próximo aos valores esperados (0,583 entre pais e filhos e 0,605 entre irmãos). Detectou-se 55% de fragmentos paternos e 45% maternos em média entre os irmãos com a sonda 33.6 e 44% de bandas paternas e 56% maternas para a sonda 33.15, indicando que os fragmentos são herdados de forma mendeliana (χ2=0,42 para a sonda 33.6 e χ2=0,36 para a sonda 33.15, ambas com P>0,50). Considerando os valores para as sondas 33.6 e 33.15 usadas nesse estudo, os irmãos compartilharam 22 e 23 bandas, respectivamente. Tabela 5. Número médio de fragmentos paternos e maternos, coeficiente médio de bandas em comum (índice de similaridade) entre pais-filhos e entre irmãos em Pipile jacutinga obtidos a partir da hibridação com sondas multilocus de minissatélites humanas 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 Xp-o ±sd 0.594±0.10 33.15 0.485±0.08 nf±sd 25,00±6,19 (55.38%) 15.71±2,28 (43.65%) nm±sd 20.14±2,47 (44.62%) 20.28±2,92 (56.35%) Xs±sd 0.542±0.09 ns±sd 22.29±5,13 0.625±0.09 23.28±4,45 Xp-o - índice médio de similaridade entre pais e filhos, sd - desvio padrão; nf- número médio de bandas paternas; nm - número médio de bandas maternas; Xs - índice médio de similaridade entre irmãos; ns - número médio de bandas compartilhadas entre os irmãos. 4 - Estudo de Segregação de Bandas Na amostra da família de Penelope obscura bronzina e de Pipile jacutinga estudada, foi possível determinar o número de locos de segregação independente para cada uma das sondas. 4.1 - Estudo de Segregação em Penelope obscura bronzina Os fragmentos paternos e maternos detectados em uma família de Penelope obscura bronzina composta pelo casal e cinco descendentes são 46 Genética e Conservação de Cracídeos esquematizados na tabela 6, onde são indicados também os grupos de ligação e os fragmentos alélicos detectados por cada uma das sondas usadas neste estudo. Três fragmentos detectados com a sonda 33.6 e cinco fragmentos detectados com a sonda 33.15 eram comuns a ambos os pais e estavam presentes em todos os filhotes e portanto não foram considerados neste estudo por não serem informativos quanto ao número de locos independentes envolvidos. Tabela 6. Bandas paternas e maternas detectadas com sondas multilocos de minissatélites 33.6 e 33.15 em cinco irmãos de Penelope obscura bronzina*. ______Sonda 33.6 __ _____ _ ________ Pai 33.6 Mãe 33.6 Pai 33.15 01111 00100 01110 01100 11110 01000 10000 11110 00011 10001 10000 01111 00011 11010 11111 00011 11001 10100 01011 11001 01110 00011 10001 11110 01010 00111 10100 01011 11000 11011 10011 10001 11101 10011 01111 01101 01101 10001 11001 11011 11110 11011 11111 10001 01111 10000 11000 01001 11011 00001 01110 00001 10011 11110 Sonda 33.15______________ Mãe 33.15 01100 10101 01100 10000 10010 01011 01011 01101 01011 11000 10011 01011 10100 11001 01110 11111 00011 * - Presença ou ausência de cada uma das bandas nos cinco filhotes são dadas pelos números 1 e 0 respectivamente. Barras cheias indicam grupos de co-segregação e barras pontilhadas, pares de alelos. 47 Genética e Conservação de Cracídeos Nenhum dos cinco descendentes nesta família apresentou banda que não fosse atribuída a um dos pais. A tabela 7 resume os dados do estudo de segregação. Para a sonda 33.6 detectou-se três pares de alelos de origem paterna, dos quais apenas um não estava envolvido com um grupo de bandas co-segregantes, e dois pares de alelos de origem materna, envolvidos em grupos de co-segregação. Para a sonda 33.6 foi encontrado o mesmo número de grupos co-segregantes de origem paterna (três grupos envolvendo 7 bandas) e materna (três grupos envolvendo 10 bandas). A partir da análise da hibridação com a sonda 33.15 não foram detectados pares de alelos de origem paterna e encontrou-se três pares de origem materna, sendo dois deles envolvidos com grupos co-segregantes. Os quatro grupos co-segregantes paternos detectados envolviam 9 bandas e os dois grupos co-segregantes maternos envolviam 5 bandas. Tabela 7. Sumário do estudo de segregação dos diferentes fragmentos dos 5 filhotes de Penelope obscura *. Sonda Número de fragmentos detectados Número de pares alélicos Número de grupos co-segregantes Número de bandas homozigotas Número de locos independentes Pai 33.6 33.15 19 18 3 0 3 4 1 1 12 13 Mãe 33.6 33.15 17 17 2 3 3 2 0 1 9 11 * - Dois dos pares alélicos de origem paterna e os dois de origem materna detectados pela sonda de minissatélite 33.6 era composto de um grupo de bandas co-segregantes e uma única banda. Para a sonda 33.15, os grupos co-segregantes detectados eram alélicos a uma outra bandas. Apenas uma banda de origem paterna se mostrou homozigota na hibridação com a sonda 33.6. Para a sonda 33.15, uma banda paterna e uma materna eram homozigotas. Excluíndo-se os grupos de co-segregação, os pares de alelos e as bandas homozigotas detectadas, pode-se estimar o número mínimo de locos independentes detectados. Para a sonda 33.6, 12 locos paternos e 9 maternos eram independentes e para a sonda 33.15 encontrou-se 48 Genética e Conservação de Cracídeos 13 locos paternos e 11 locos maternos de segregação independente. As sondas 33.6 e 33.15 apresentam então número equivalente de locos de segregação independente. Com base no cálculo do número de locos de segregação independente, a probabilidade de que dois indivíduos não relacionados apresentem ao acaso o mesmo padrão de bandas foi estimado em 3,69x10-17 (sonda 33.6) e 2,06x10-14 (sonda 33.15). 4.2 - Estudo de Segregação em Pipile jacutinga A tabela 8 demonstra esquematicamente os fragmentos paternos e maternos detectados em uma família de Pipile jacutinga composta pelo casal e sete filhotes, com cada uma das sondas humanas de minissatélites estudadas, sendo indicado os alelos e os grupos de co-segregação. Esses dados são resumidos numericamente na tabela 9. Seis fragmentos detectados com a sonda 33.6 e cinco detectados com a sonda 33.15 que eram comuns entre os pais e que estavam presentes em todos os filhotes não foram considerados na determinação do número de locos de segregação independente. Fragmentos mutantes não foram detectados em nenhum dos filhos e encontrou-se apenas um par de bandas alélicas paternos, para cada uma das sondas. Com a sonda 33.6, um grupo de 3 bandas co-segregantes mostrou-se alélico a uma outra banda. Com a sonda 33.15 não foi detectado nenhum par de fragmentos alélicos maternos. Detectou-se mais fragmentos paternos herdados em atração (4 grupos envolvendo 12 bandas) do que maternos (2 grupos incluindo 6 bandas) a partir da hibridação com a sonda 33.6. Para a sonda 33.15, detectou-se um único grupo de co-segregação de origem paterna, composto por dois fragmentos, e três maternos, cada um incluindo duas bandas. 49 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 8. Bandas paternas e maternas detectadas com sondas multilocos de minissatélites 33.6 e 33.15 em sete irmãos de Pipile jacutinga*. _______Sonda 33.6 ____ _______ _ ____ ______ Sonda 33.15___________ Pai Mãe Pai Mãe 1001110 0011110 0101010 1010100 1101011 0100001 0101010 1010001 0011100 0000101 1111111 1111111 1101011 1010110 1111111 1111111 0011110 0110101 1011110 0011111 1100011 1010100 0010110 1001101 1101010 1111111 0000101 1000010 1101010 1011110 0010001 0000001 0101010 1111111 0010100 1111111 1111111 1101010 1111010 0001011 1111111 0010100 1000010 1111100 1101011 1101110 1111111 1011110 1101011 1111111 0011111 0011010 1011001 0010000 1110110 1110110 0000110 0010111 1010110 0101000 1001000 0001101 0100101 1111111 1001011 1111111 1001110 1111010 1110100 1011110 1111111 0111010 1101010 1101010 0101000 1001110 1101000 0000010 0010000 1111111 1111111 1010101 0011011 1111111 1111111 0000110 1001010 0001011 1101011 0011011 1111111 1101100 1011110 1101010 0101110 0010101 0101010 1011110 1010100 0011110 0010001 1111111 0100011 1111111 1000001 1011111 0001110 1001101 1001011 1011110 1111111 1010110 1010000 1111111 * - Presença ou ausência de cada uma das bandas nos sete filhotes são dadas pelos números 1 e 0 respectivamente. Barras cheias indicam grupos de co-segregação e barras pontilhadas, pares de alelos. 50 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 9. Sumário do estudo de segregação em uma família de Pipile jacutinga com 7 filhotes. Sonda Número de fragmentos detectados Número de pares alélicos Número de grupos co-segregantes Número de homozigotas Número de loci independentes 33.6 32 1 4 6 17 Pai 33.15 26 1 1 5 19 Mãe 33.6 33.15 26 30 1* 0 2 3 5 7 16 20 * - O par alélico de origem materna detectado pela sonda de minissatélite 33.6 era composto de um grupo de bandas co-segregantes e uma única banda. Seis diferentes fragmentos paternos e cinco maternos mostraram se homozigotos na hibridação com a sonda 33.6, e cinco paternos e sete maternos, para a sonda 33.15. Considerando cada um dos grupos de ligação e cada um dos pares de alelos como um loco e desprezando-se as bandas homozigotas, o número de locos independentes detectados com a sonda 33.6 foi de 17 locos paternos e 16 maternos. Para a sonda 33.15 encontrou-se 19 locos paternos e 20 maternos de segregação independente. A probabilidade de que dois indivíduos não relacionados apresentem ao acaso o mesmo padrão multibandas é de7,40x10-13 para a sonda 33.6 e de 6,97x10-13 para a sonda 33.15. 5 - Estimativa da Heterozigosidade Média em Cracídeos A heterozigosidade média das seis espécies de cracídeos estudadas foi estimada e os resultados para ambas as sondas são demonstrados na tabela 10. Com a sonda 33.6, a população cativa de Crax blumenbachii apresentou a maior heterozigosidade média (96,10%) e a população de Penelope superciliaris de vida livre da CESP a menor (89,44%). Crax fasciolata apresentou o maior índice de heterozigosidade com a sonda 33.15 (98,59%), mas na amostra havia apenas dois indivíduos não relacionados, e portanto esta estimativa deve ser vista com reserva. A segunda maior heterozigosidade detectada com a sonda 33.15 foi de 95,40% para Crax blumenbachii. A menor heterozigosidade 51 Genética e Conservação de Cracídeos detectada com a sonda de minissatélites 33.15 foi de 89,69% para a população de Penelope obscura bronzina de vida livre da CESP. Tabela 10. Estimativa da Heterozigosidade média (H%) em seis espécies de Cracídeos estimada a partir da freqüência média das bandas (q). Espécie Crax blumenbachii Crax fasciolata Nothocrax urumutum Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) Pipile jacutinga Crax blumenbachii Crax fasciolata Nothocrax urumutum Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) Pipile jacutinga sonda 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 33.6 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 33.15 N 15 2 3 14 42 22 8 11 15 2 3 22 44 19 7 11 q 0,075 0,081 0,129 0,086 0,178 0,146 0,191 0,096 0,088 0,066 0,180 0,145 0,187 0,147 0,172 0,126 H% 96,10 95,78 93,10 95,51 90,23 92,13 89,44 94,96 95,40 96,59 90,10 92,18 89,69 92,07 90,59 93,28 N - número de indivíduos analisados; q - freqüência média das bandas; H% - heterozigosidade média percentual, (1) Indivíduos de cativeiro; (2) Indivíduos de vida livre. Demais dados referem-se a indivíduos de cativeiro. 6 - Orientação Genética para um Programa de Reprodução em Cativeiro Realizou-se a comparação dos índices de similaridade para todos os possíveis casais do mutum-de-bico-vermelho Crax blumenbachii. Um programa de criação em cativeiro para essa espécie pode ser sugerido a partir dos dados indicados na tabela 11, considerando-se 0,400 como limite máximo de similaridade para a formação de um possível casal, eliminando assim a formação de casais com índices de similaridade próximos as relações de parentesco de primeiro grau. Os resultados práticos desta orientação deverão ser avaliados posteriormente. Através das técnicas de identificação individual pelo DNA, pode-se monitorar a variabilidade genética da população cativa de Penelope obscura bronzina, composta por 12 casais, e de Penelope superciliaris jacupemba, 52 Genética e Conservação de Cracídeos composta por 10 casais, mantidos pela CESP e cujos descendentes são usados em um programa de reintrodução na natureza. 6.1 - Orientação Genética em Crax blumenbachii A variabilidade genética encontrada na amostra de Crax blumenbachii é grande e há um número alto de casais com pouca similaridade (Tab. 11). Nove possíveis combinações de casais não possuem nenhum fragmento em comum (0,000) e apenas quatro possíveis combinações apresentam similaridade maior do que 0,300, segundo informações obtidas com a sonda 33.6. A hibridação com a sonda 33.15 revelou apenas seis possíveis acasalamentos com similaridade maior do que 0,300. Esses dados podem se revelar importantes no planejamento de um programa de reprodução em cativeiro para o mutum-do-bico-vermelho Crax blumenbachii. Tabela 11. Índices de similaridade entre os possíveis casais de Crax blumenbachii mantidos em cativeiro no Criadouro Chaparral, Recife, PE, obtidos com as sondas de minissatélites 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 f\m C118 C119 0,400 C121 0,083 C122 0,074 C124 0,091 C127 0,174 C129 0,160 C131 0,000 C133 0,250 C120 0,000 0,235 0,100 0,133 0,250 0,111 0,125 0,000 C123 0,095 0,320 0,429 0,348 0,167 0,154 0,167 0,160 C125 0,000 0,133 0,111 0,154 0,143 0,250 0,000 0,000 C126 0,000 0,273 0,160 0,154 0,190 0,174 0,095 0,000 C128 0,267 0,105 0,091 0,118 0,174 0,100 0,111 0,105 Sonda 33.15 f\m C118 C119 0,250 C121 0,162 C122 0,108 C124 0,352 C127 0,108 C129 0,157 C131 0,157 C133 0,129 C120 0,129 0,062 0,166 0,181 0,167 0,162 0,054 0,133 C123 0,363 0,157 0,210 0,285 0,105 0,205 0,153 0,125 C125 0,133 0,114 0,171 0,187 0,057 0,388 0,167 0,068 C126 0,114 0,150 0,050 0,000 0,015 0,243 0,048 0,352 C128 0,222 0,250 0,250 0,137 0,125 0,121 0,303 0,384 C130 0,000 0,100 0,261 0,000 0,167 0,286 0,316 0,200 C130 0,060 0,263 0,157 0,171 0,052 0,256 0,263 0,129 53 Genética e Conservação de Cracídeos 6.2 - Orientação Genética em Penelope obscura bronzina Para cada possível casal de jacu-guaçu Penelope obscura bronzina mantido em cativeiro pela CESP, é apresentado o índice de similaridade na tabela 12 para a sonda 33.6 e tabela 13 para a sonda 33.15. Casais que apresentam menor índice de similaridade são supostamente menos aparentados e portanto são indicados para evitar endogamia da população. Com bases nos resultados destas tabelas, sugeriu-se à equipe técnica da CESP que procurasse formar casais que apresentassem os menores índices possíveis com estas sondas, considerando-se 0,400 como um valor limite para a formação de casais. Os resultados desta orientação ainda não estão disponíveis. Com as sondas 33.6 e 33.15, encontrou-se, respectivamente, um e 12 possíveis casais com índices maiores do que 0,400 (Tab. 14). Na maioria dos casos, ambos as aves são provenientes da Zoobotânica Mário Nardelli. Conforme indica a tabela 15, casais que vem reproduzindo bem apresentam uma grande variação de índices de similaridades (entre 0,100 e 0,400) para sonda 33.15. Tabela 12. Índices de similaridade entre os possíveis casais de Penelope obscura mantidos em cativeiro na CESP de Paraibuna, obtidos com a sonda de minissatélites humana 33.6*. f\m C27 C30 C33 C36 C39 C41 C31 0,068 0,062 0,000 0,250 C35 0,250 0,074 0,090 0,222 0,129 0,000 C37 0,105 0,145 0,222 0,243 0,222 0,192 C38 0,250 0,171 0,133 0,400 0,205 0,064 C40 0,057 0,210 0,242 0,263 0,238 0,171 C42 0,114 0,315 0,121 0,210 0,238 0,235 C44 0,205 0,142 0,000 0,238 0,260 0,157 0,277 0,142 * - Os indivíduos C21, C22, C23, C24, C25, C26, C28, C29, C32, C34, C43 não foram considerados nesta análise devido ao fraco padrão de bandas produzido com esta sonda. 54 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 13. Índices de similaridade entre os possíveis casais de Penelope obscura mantidos em cativeiro na CESP de Paraibuna, obtidos com a sonda de minissatélites humana 33.15*. f\m C23 C25 C27 C29 C30 C33 C34 C36 C39 C41 C43 C22 0,243 0,243 0,208 0,142 0,311 0,250 0,212 0,326 0,377 0,352 0,153 C26 0,190 0,142 0,408 0,232 0,478 0,367 0,458 0,440 0,296 0,269 0,127 C28 0,296 0,054 0,227 0,052 0,195 0,318 0,372 0,133 0,204 0,340 0,238 C31 0,210 0,315 0,133 0,153 0,238 0,311 0,363 0,260 0,320 0,416 0,279 C32 0,250 0,250 0,425 0,341 0,318 0,170 0,304 0,208 0,307 0,280 0,222 C35 0,102 0,256 0,347 0,250 0,325 0,391 0,622 0,382 0,235 0,163 0,136 C37 0,217 0,260 0,415 0,297 0,400 0,339 0,230 0,185 0,344 0,178 0,352 C38 0,114 0,171 0,285 0,222 0,512 0,375 0,390 0,418 0,085 0,266 0,150 C40 0,083 0,333 0,327 0,285 0,346 0,363 0,222 0,250 0,334 0,241 0,339 C42 0,133 0,177 0,192 0,260 0,244 0,192 0,196 0,415 0,385 0,254 0,240 C44 0,238 0,142 0,367 0,232 0,217 0,244 0,208 0,320 0,173 0,269 0,340 * - Os indivíduos C21 e C24 não foram considerados nesta análise devido ao fraco padrão de bandas produzidos. Tabela 14. Casais com índices de similaridade aumentados (>0,400) em Penelope obscura com as sondas 33.6 e 33.5. Sonda 33.6 Macho Procedência C36 Rio de Janeiro Sonda 33.15 Macho Procedência C27 Pindamonhangaba, SP C27 Pindamonhangaba, SP C27 Pindamonhangaba, SP C30 Rio de Janeiro C30 Rio de Janeiro C30 Rio de Janeiro C34 Rio de Janeiro C34 Rio de Janeiro C36 Rio de Janeiro C36 Rio de Janeiro C36 Rio de Janeiro C41 Paraibuna, SP Fêmea C38 Fêmea C26 C32 C37 C26 C37 C38 C26 C35 C26 C38 C42 C31 Procedência Setor - Pais RJ Procedência Rio de Janeiro Pindamonhangaba, SP Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Setor - Pais RJ Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Setor - Pais RJ Ubatuba, SP Paraibuna, SP CBC 0,400 CBC 0,408 0,425 0,415 0,478 0,400 0,512 0,458 0,622 0,440 0,418 0,415 0,416 Setor - Pais RJ: indica que as aves nasceram na Seção de Animais Silvestres da CESP, porém, seus pais são de procedência do Rio de Janeiro. 55 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 15. Coeficientes de Bandas em Comum (CBC) de casais de Penelope obscura com sucesso reprodutivo, obtidos com as sondas 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 Casal CBC C30xC37 0,145 Sonda 33.15 Casal CBC C22xC36 0,326 C26xC25 0,140 C29xC35 0,250 C30xC37 0,400 6.3 - Orientação Genética em Penelope superciliaris jacupemba Também para os jacupembas Penelope superciliaris jacupemba cativos da CESP realizou-se o cálculo do índice de similaridade para cada possível casal (Tab. 16 e 17) para cada uma das sondas, com a finalidade de verificar se os indivíduos com menor índice de similaridade apresentam um bom desempenho reprodutivo. Admitindo o mesmo valor limite para o índice de similaridade (0,400) que para Penelope obscura bronzina, 10 possíveis formações de casais foram desaconselhadas baseados nos dados da sonda de minissatélites 33.6 e 6 possíveis casais com a sonda 33.15 (Tab. 18). Para a sonda 33.6, casais com sucesso reprodutivo tiveram índices de similaridade entre 0,100 e 0,450 (Tab. 19). Contudo para a sonda 33.15, não encontrou-se casal com sucesso reprodutivo com índice menor do que 0,250 (Tab. 19). Tabela 16. Índices de similaridade entre os possíveis casais de Penelope superciliaris mantidos em cativeiro na CESP de Paraibuna, obtidos com a sonda de minissatélite humano 33.6. C01 C04 C05 C07 C09 C11 C14 C16 C17 C20 f\m C02 0,290 0,285 0,266 0,385 0,339 0,363 0,354 0,269 0,235 0,113 C03 0,208 0,204 0,217 0,160 0,086 0,208 0,145 0,044 0,136 0,173 C06 0,510 0,166 0,133 0,489 0,134 0,255 0,344 0,181 0,139 0,250 C08 0,285 0,140 0,259 0,172 0,334 0,285 0,190 0,301 0,269 0,370 C10 0,250 0,244 0,304 0,320 0,217 0,250 0,334 0,400 0,454 0,260 C12 0,150 0,259 0,392 0,363 0,117 0,264 0,400 0,340 0,122 0,274 C13 0,188 0,333 0,509 0,436 0,196 0,226 0,334 0,360 0,285 0,196 C18 0,214 0,350 0,333 0,310 0,222 0,392 0,444 0,226 0,346 0,370 C15 0,156 0,230 0,367 0,226 0,285 0,431 0,241 0,208 0,340 0,285 C19 0,088 0,260 0,558 0,212 0,232 0,266 0,192 0,333 0,097 0,046 56 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 17. Índices de similaridade entre os possíveis casais de Penelope superciliaris mantidos em cativeiro na CESP de Paraibuna, obtidos com a sonda de minissatélite humana 33.15*. f\m C02 C03 C06 C08 C10 C12 C13 C15 C18 C01 0,244 0,113 0,334 0,230 0,146 0,291 0,174 0,143 0,296 C04 0,226 0,350 0,174 0,259 0,177 0,346 0,360 0,434 0,379 C05 0,275 0,322 0,235 0,524 0,240 0,280 0,218 0,274 0,444 C07 0,315 0,459 0,280 0,310 0,326 0,357 0,407 0,280 0,354 C09 0,272 0,208 0,108 0,340 0,111 0,372 0,146 0,216 0,367 C11 0,182 0,250 0,162 0,297 0,166 0,232 0,195 0,324 0,244 C14 0,222 0,367 0,052 0,334 0,162 0,227 0,333 0,105 0,280 C16 0,208 0,346 0,146 0,431 0,300 0,212 0,311 0,292 0,301 * - Os indivíduos C17, C19 e C20 não foram considerados na análise devido ao fraco padrão de bandas produzidas. Tabela 18. Casais com índices de similaridade aumentados (>0,400) em Penelope superciliaris, demonstrados com a sonda 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 Macho Procedência C01 Agudos, SP C05 Setor - Pais RJ C07 Rio de Janeiro C07 Rio de Janeiro C11 Rio de Janeiro C14 Setor - Pais RJ C15 Setor - Pais RJ C16 Setor - Pais RJ C17 Setor - Pais RJ C14 Setor - Pais RJ Fêmea C06 C19 C06 C13 C15 C12 C10 C10 C10 C18 Procedência Agudos, SP Setor - Pais RJ Agudos, SP Setor - Pais RJ Setor - Pais RJ Rio de Janeiro Setor - Pais RJ Setor - Pais RJ Setor - Pais RJ Setor - Pais RJ CBC 0,510 0,558 0,489 0,436 0,431 0,400 0,400 0,400 0,454 0,444 Sonda 33.15 Macho Procedência C04 Setor- pais RJ C05 Setor- pais RJ C05 Setor- pais RJ C07 Rio de Janeiro C07 Rio de Janeiro C16 Setor- pais RJ Fêmea C15 C08 C18 C03 C13 C08 Procedência Setor- Pais RJ Ilha Solteira, SP Setor- pais RJ* Agudos, SP Setor- pais RJ Ilha Solteira, SP CBC 0,434 0,524 0,444 0,459 0,407 0,431 Setor - Pais RJ: indica que as aves nasceram na Seção de Animais Silvestres da CESP, porém, seus pais são de procedência do Rio de Janeiro. 57 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 19. Coeficientes de Bandas em Comum (CBC) de casais de Penelope superciliaris com sucesso reprodutivo, obtidos com as sondas 33.6 e 33.15. Sonda 33.6 Casal CBC C08xC11 0,285 C10xC05 0,304 C12xC09 0,117 C13xC07 0,436 Sonda 33.15 Casal CBC C08xC11 0,297 C10xC07 0,407 C12xC09 0,372 C13xC07 0,436 7 - Programa de Reintrodução de Cracídeos na Natureza Desde o início do programa de reprodução de jacu-guaçu Penelope obscura e jacupemba Penelope superciliaris em cativeiro e reintrodução em áreas reflorestadas, realizado pela CESP, em Paraibuna, foram soltos 118 indivíduos da primeira espécie (Tab. 20) e 148 da última (Tab. 23). Pela análise das tabelas 20 e 23, verifica-se que a contribuição de cada casal para a reintrodução de indivíduos é muito diferente em termos numéricos, em ambas as espécies. Isto permitiu que se construísse uma estratégia para averiguar se as aves reintroduzidas foram responsáveis pela formação da população de vida livre na região, estabelecendo uma população local com capacidades reprodutivas ou se as aves encontradas na região estavam sendo atraídas para os locais de reintrodução devido às condições de reflorestamento e proteção. 7.1 - Programa de Reintrodução de Penelope obscura bronzina Para Penelope obscura bronzina, os cinco indivíduos escolhidos para compor o grupo de fundadores foram responsáveis pela geração de 85 indivíduos dos que foram liberados em Paraibuna, SP (Tab. 20). Essa amostra compreendeu 72% de todos os indivíduos liberados. 58 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 20. Casais que contribuíram efetivamente com o programa de solturas de Penelope obscura nas áreas de reflorestamento da CESP de Paraibuna. É indicada a procedência dos casais. Macho C36 C34 C30* C33* C25* C29 C36 Procedência Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Paraibuna Rio de Janeiro Fêmea C22 C44 C37* 007** C26* C35 C37 Procedência Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Total Descendentes 17 12 42 26 17 02 02 118 * - Indivíduos escolhidos para a comparação entre os que mais contribuíram para a reintrodução e os de vida livre. ** - Fêmea falecida antes da coleta de sangue ser realizada. O grupo de fundadores de Penelope obscura bronzina apresentou índice médio de similaridade de 0,183 para a sonda 33.6 e de 0,312 para a sonda 33.15. O índice de similaridade médio para o grupo de não fundadores foi de 0,195 para a sonda 33.6 e de 0,256 para a sonda 33.15 (Tab. 21). Tabela 21. Índice médio de similaridade no grupo de fundadores e de não fundadores para cada uma das espécies de Penelope mantidas em cativeiro pelo CESP de Paraibuna. Espécie Penelope obscura Penelope superciliaris Grupo x±sd 33.6 33.15 Fundadores 0,183±0,04 0,312±0,11 Não Fundadores 0,195±0,05 0,256±0,09 Fundadores 0,295±0,10 0,299±0.12 Não Fundadores 0,247±0.10 0,266±0.13 x = índice médio de similaridade; sd = desvio padrão Para a sonda 33.6, a população de vida livre comparada com os fundadores apresentou índice de similaridade médio de 0,248 (Tab. 22). Quando 59 Genética e Conservação de Cracídeos comparados com o grupo de não fundadores, a população de vida livre apresentou índice de similaridade médio de 0,194 (Tab. 22). Também nos dados obtidos com a sonda 33.15 o índice de similaridade médio foi maior quando a população de vida livre é comparada com os fundadores (0,299) do que com os não fundadores (0,179) (Tab. 22). Tabela 22. Comparação entre aves recapturadas na natureza com indivíduos que contribuíram efetivamente para o programa de reintrodução na natureza (1) e com indivíduos que não contribuíram para o programa (2) em Penelope obscura bronzina e P. superciliaris jacupemba. Espécie Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope obscura (1) Penelope obscura (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) Penelope superciliaris (1) Penelope superciliaris (2) sonda 33,6 33,6 33,15 33,15 33,6 33,6 33,15 33,15 N 48 43 50 42 12 13 11 12 n±sd 20,0±2,4 22,0±3,0 25,5±4,0 23,2±2,8 24,5±2,5 24,8±2,9 21,5±2,2 22,5±2,6 x±sd 0,248±0,09 0,194±0,05 0,299±0,09 0,179±0,07 0,297±0,08 0,188±0,06 0,328±0,08 0,209±0,09 xn 7,74x10-13 2,14x10-16 5,89x10-14 4,25x10-18 1,20x10-13 9,97x10-19 3,90x10-11 5,05x10-16 q 0,132 0,102 0,162 0,093 0,161 0,098 0,180 0,110 kb 2,9-23,0* 2,7-19,0* 3,0-23,0* 3,5-21,0* 4,8-18,0 4,8-18,0 5,2-15,0 5,2-15,0 N - número de indivíduos analisados; n - número médio de bandas, sd - desvio padrão; x - coeficiente médio de bandas em comum; xn - probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem o mesmo padrão de bandas; q - freqüência média das bandas (Jeffreys et al, 1985a). kb - Tamanho dos fragmentos considerados na análise, em pares de bases (* - indica a menor e maior variação dos fragmentos considerados em 4 géis para a sonda 33.6 e 3 géis para a sonda 33.15). 7.2 - Programa de Reintrodução de Penelope superciliaris jacupemba As cinco aves cativas que formaram o grupo de fundadores de Penelope superciliaris jacupemba foram progenitoras de 85 animais (57%) dos que foram liberados nas áreas de reflorestamento da CESP (Tab. 23). Entre si, os fundadores apresentaram índice médio de similaridade de 0,195 (sonda 33.6) e de 0,256 (sonda 33.15). Os não fundadores apresentaram menor índice de similaridade para a sonda 33.6 (0,247) do que para a sonda 33.15 ( 0,266)(Tab. 21). Comparados com os fundadores, os indivíduos de vida livre apresentaram índice de similaridade de 0,297 (Tab. 22) para a sonda 33.6, e para a sonda 60 Genética e Conservação de Cracídeos 33.15, de 0,328. A comparação dos indivíduos de vida livre com os não fundadores revelou índice médio de similaridade de 0,188 para a sonda 33.6 e de 0,209 para a sonda 33.15. Tabela 23. Casais que contribuíram efetivamente com o programa e solturas de Penelope superciliaris nas áreas de reflorestamento da CESP de Paraibuna. É indicada a procedência dos casais. Macho 485 013** C11* C09* C07 C17 1640** 001** 004** C07 Procedência Paraibuna Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Rio de Janeiro Paraibuna Paraibuna Rio de Janeiro Ilha Solteira Rio de Janeiro Fêmea C02 014** C08* C12* C13* 011** 1586 C02 007** C08 Procedência Rio de Janeiro Rio de Janeiro Ilha Solteira Rio de Janeiro Paraibuna Paraibuna Paraibuna Rio de Janeiro Rio de Janeiro Ilha Solteira Total Descendentes 15 28 27 21 21 13 16 02 04 01 148 * - Indivíduos escolhidos para a comparação entre os que mais contribuíram para a reintrodução e os de vida livre. ** - Indivíduos falecidos antes da coleta de sangue ser realizada. 61 Genética e Conservação de Cracídeos DISCUSSÃO 1 - Técnicas de Identificação Individual Através do DNA em Cracidae e em Outras Espécies As técnicas de identificação individual através do DNA (ii-DNA ou “DNA Fingerpriting”) foram aqui padronizadas e aplicadas em Cracidae na identificação individual das aves, comprovação de filiação e monitoramento da variabilidade genética dos indivíduos cativos e de vida livre. A digestão do DNA genômico das espécies aqui estudadas com a enzima MboI mostrou os melhores padrões polimórficos de hibridação com as sondas humanas de minissatélites 33.6 e 33.15 de Jeffreys. Hanotte et al. (1992) mostrou a importância da escolha da enzima de restrição utilizada em diversas espécies de galiformes naturais e mantidas em cativeiro, por uma única geração. Os valores de similaridade variaram, por exemplo, de 0,06 a 0,29 no galo-selvagem-vermelho Lagopus lagopus e de 0,11 a 0,73 no faisão Phasianus colchicus, dependendo da sonda e da enzima utilizadas (Tab. 24). Os autores concluíram que a escolha da enzima de restrição influencia grandemente o número de bandas e o índice de similaridade. Por esse motivo é desejável que sempre sejam realizados testes de escolha da combinação sonda/enzima que forneça um número razoável de bandas, e que detecte o máximo de variabilidade entre os indivíduos. Para o mutum-do-sudeste Crax blumenbachii, o urumutum Nothocrax urumutum, o jacu-guaçu Penelope obscura bronzina e a jacutinga Pipile jacutinga, a sonda 33.6 revelou maior variabilidade do que a 33.15, enquanto que no jacupemba Penelope superciliaris jacupemba e no mutum-de-penacho Crax fasciolata, os resultados de ambas as sondas são equivalentes. O perfil de bandas produzidos nas espécies estudadas de Cracidae é polimórfico, apresentando, em média, entre 9,80 e 28,4 bandas, e índices de similaridade média entre 0,145 e 0,347, semelhante aos produzidos em outros vertebrados e em humanos (Tabs. 25 e 26). 62 Genética e Conservação de Cracídeos Tabela 24. Resultados de várias hibridações feitas em várias espécies de galiformes por Hanotte et al. (1992a), utilizando as sondas 33.6 e 33.15 e quatro diferentes enzimas de restrição. Espécie Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Lagopus lagopus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Phasianus colchicus Gallus gallus Gallus gallus Gallus gallus Gallus gallus Pavo cristatus Pavo cristatus Pavo cristatus Pavo cristatus Sonda/Enzima 33.6/AluI 33.6/DdeI 33.6/HaeIII 33.6/HinfI 33.15/AluI 33.15/DdeI 33.15/HaeIII 33.15/HinfI 33.6/AluI 33.6/DdeI 33.6/HaeIII 33.6/HinfI 33.15/AluI 33.15/DdeI 33.15/HaeIII 33.15/HinfI 33.6/AluI 33.6/DdeI 33.6/HaeIII 33.6/HinfI 33.15/AluI 33.15/DdeI 33.15/HaeIII 33.15/HinfI n±sd 12,2±1,7 12,0±1,4 14,2±3,2 11,0±2,4 34,2±3,6 35,0±2,2 30,7±2,1 32,2±2,2 19,0±3,5 25,3±2,1 12,3±2,5 24,6±3,0 34,6±2,1 24,7±0,6 33,7±4,0 31,3±5,5 14,7±3,2 11,3±2,5 15,0±2,0 29,3±0,5 34,0±1,0 33,0±2,6 33,7±1,5 38,7±3,5 x±sd 0,06±0,04 0,17±0,11 0,21±0,09 0,16±0,08 0,28±0,04 0,29±0,04 0,22±0,07 0,26±0,08 0,11±0,06 0,13±0,09 0,25±0,14 0,23±0,10 0,63±0,03 0,73±0,06 0,73±0,06 0,71±0,10 0,29±0,07 0,29±0,03 0,15±0,07 0,21±0,05 0,48±0,10 0,39±0,05 0,34±0,04 0,42±0,02 n - número de bandas detectadas; sd - desvio padrão. x - índice de similaridade. A técnica se mostrou útil na identificação individual das aves analisadas. A probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem, ao acaso, o mesmo padrão de bandas variou entre 10-9 a 10-21, semelhante à encontrada para outras espécies de galiformes (Hanotte et al., 1992a) e pistacídeos (Miyaki et al., 1993, 1995). Degnan (1993) encontrou valores superiores aos observados em cracídeos (da ordem de 10-3) em diversas populações naturais de Zosterops lateralis, uma espécie não ameaçada. Algumas de suas populações amostradas colonizaram ilhas em um período recente. Isto pode explicar a ocorrência de 63 Genética e Conservação de Cracídeos baixa variabilidade genética. As menores variações foram encontradas em ilhas mais isoladas, onde a taxa de imigração é mais limitada. No entanto, é possível que a combinação de sonda M13 com a enzima HaeIII usada por Degnan et al. (1993) não seja a mais apropriada, visto que uma de suas populações, conhecida por ser grande e exocruzada, apresentou índice médio de similaridade de 0,31. Tabela 25. Dados obtidos da hibridação de várias sondas minissatélites com o DNA de diferentes espécies ou populações de aves**. Espécie Zosterops lateralis (1) Zosterops lateralis (2) Zosterops lateralis (3) Zosterops lateralis (4) Zosterops lateralis (5) Loxioides bailleui (1)* Loxioides bailleui (2)* Loxioides bailleui (1)* Loxioides bailleui (2)* Sturnus vulgaris Sturnus vulgaris Falco columbarius Falco columbarius Guira guira Ara ararauna Ara chloroptera* Ara macao* Ara nobilis Parus atricullus Merops apiaster Merops apiaster Merops apiaster sonda/enzima M13/HaeIII M13/HaeIII M13/HaeIII M13/HaeIII M13/HaeIII M13/HaeIII M13/HaeIII 33.15/HaeIII 33.15/HaeIII 33.6/AluI 33.15/AluI 33.6/HaeIII 33.15/HaeIII 33.6 e 15 /HaeIII 33.6/HaeIII 33.6/HaeIII 33.6/HaeIII 33.6/HaeIII Per/HaeIII 33.15/HaeIII 33.6/HaeIII M13/HaeIII n±sd 6,3±1,2 6,3±1,1 6,5±1,5 6,0±1,8 6,9±1,5 12,2±2,9 12,2±2,9 17,9±5,1 17,9±5,1 31,6±4,4 30,9±5,8 19,4±0,5 17,2±0,6 43,2±1,0 28,3±4,2 27,7±3,6 25,2±4,5 21,5±2,9 20,3±0,4 23,7±2,8 24,2±0,8 18,9±1,1 x±sd 0,52±0,15 0,53±0,21 0,48±0,14 0,67±0,13 0,31±0,15 0,17±0,10 0,25±0,11 0,26±0,10 0,30±0,11 0,11±0,05 0,13±0,05 0,38±0,03 0,26±0,03 0,27±0,06 0,21±0,06 0,19±0,07 0,25±0,06 0,16±0,07 0,10±0,02 0,19±0,07 0,20±0,07 0,16±0,08 Referência Degnan et al., 1993 Degnan et al., 1993 Degnan et al., 1993 Degnan et al., 1993 Degnan et al., 1993 Fleischer et al., 1994 Fleischer et al., 1994 Fleischer et al., 1994 Fleischer et al., 1994 Pinxten et al., 1993 Pinxten et al., 1993 Warketin et al., 1994 Warketin et al., 1994 Quinn et al., 1994 Miyaki et al., 1993 Miyaki et al., 1993 Miyaki et al., 1993 Miyaki et al., 1993 Otter et al., 1994 Jones et al., 1991 Jones et al., 1991 Jones et al., 1991 n - número de bandas detectadas; sd - desvio padrão. x - índice de similaridade. * - Representa espécie ameaçada ou em extinção. ** - Os números entre parêntesis indicam populações de localidades diferentes. Os valores de similaridade correspondem a indivíduos supostamente não relacionados. Apenas as espécies analisadas por Miyaki et al. (1993) são de cativeiro; as demais correspondem a animais da natureza. Em algumas espécies de mamíferos e répteis estudadas pela técnica de identificação individual através do DNA, os valores do índice de similaridade são semelhantes aos encontrados em aves. Foram encontradas índices menores que 0,19 nos roedores Microtus montanus e Peromyscus maniculatus (Cummings & Hallet, 1991) e na serpente Vipera berus (Tegelström & Höggren, 1994), e índices 64 Genética e Conservação de Cracídeos elevados (>0,74) em muitos dos casos relatados, como na foca Phoca vitulina (Kappe et al., 1995) e no urso Phascolarctos cinereus (Timms et al., 1993), sendo estas duas espécies ameaçadas de extinção. Também em grupos de leões africanos Panthera leo leo e em populações da pantera-da-Flórida Felis concolor coryi menos do que 50% de heterozigosidade foi detectada nos minissatélites (Gilbert et al., 1991; Roelke et al., 1993), sendo estas duas espécies também ameaçadas. Tabela 26. Dados obtidos da hibridação de sondas minissatélites com o DNA de algumas espécies de mamíferos, répteis e no Homem**. Espécie Helogale parvula sonda/enzima 33.6/AluI Helogale parvula 33.15/AluI Pipistrellus pipistrellus 33.6/HaeIII Pipistrellus pipistrellus 33.15/HaeIII Phascolarctos cinereus* Canis lupus (matilha 1) Canis lupus (matilha 2) Microtus montanus Microtus montanus Perognathus parvus Peromyscus maniculatus Phoca vitulina (1)* Phoca vitulina (2)* Phoca vitulina (1x2)* Phoca vitulina (1)* Phoca vitulina (2)* Phoca vitulina (1x2)* Halichoerus grypus Halichoerus grypus Chelydra serpentina Chelydra serpentina Vipera berus Homo sapiens Homo sapiens M13/MspI 33.6/HinfI 33.6/HinfI Mouse/HaeIII (CAC)5/HaeIII SNAP/HaeIII SNAP/HaeIII 33.6/HinfI 33.6/HinfI 33.6/HinfI 33.15/HinfI 33.15/HinfI 33.15/HinfI 33.6/HinfI 33.15/HinfI 33.6/HaeIII 33.15/HaeIII (TG)n/AluI 33.6/HinfI F10/BspRI n±sd 16,5±3, 9 16,1±4, 0 27,3±2, 8 36,5±5, 1 24,7 6 17 14 22 25 25 25 40 40 40 28 39 26,4 30,6 20,5 15 17,6 x±sd 0,36±0,08 Referência Keane et al., 1994 0,37±0,08 Keane et al., 1994 0,30±0,04 Bishop et al., 1992 0,30±0,05 Bishop et al., 1992 0,74±0,06 0,36±0,12 0,55±0,12 0,17±0,10 0,31±0,08 0,38±0,07 0,19±0,05 0,82±0,02 0,83±0,01 0,80±0,05 0,87±0,01 0,79±0,01 0,81±0,04 0,49±0,01 0,50±0,01 0,324 0,506 0,18±0,07 0,25 0,26 Timms et al., 1993 Lehman et al., 1992 Lehman et al., 1992 Cummings & Hallet, 1991 Cummings & Hallet, 1991 Cummings & Hallet, 1991 Cummings & Hallet, 1991 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Kappe et al., 1995 Galbraith et al., 1993 Galbraith et al., 1993 Tegelström & Höggren, 1994 Jeffreys et al., 1985c Pena et al., 1993 n - número de bandas detectadas; sd - desvio padrão. x - índice de similaridade. * - Representa espécie ameaçada ou em extinção. ** - Os números entre parêntesis indicam populações de localidades diferentes. Os valores de similaridade correspondem a indivíduos supostamente não relacionados. Todas os espécimens analisados são da natureza, exceto para Microtus montanus que são originados de uma população cativa. 65 Genética e Conservação de Cracídeos Populações naturais do estorninho europeu Sturnus vulgaris (Pinxten et al., 1993), do chapim Parus atricullus (Otter et al., 1994) e do abelhuraco Merops apiaster (Jones et al., 1991), apresentaram índices de similaridade menores que 0,200. No entanto, em populações naturais da cambacica ameaçada Loxioides bailleui do Hawai (Fleischer et al., 1994), do anu-branco Guira guira do Brasil Central (Quinn et al., 1994) e do falconiforme canadense Falco columbarius (Warketin et al., 1994) foram detectados índices de similaridade maiores que os encontrados neste estudo com cracídeos. A população do anu-branco, amostrada por Quinn et al. (1994) numa área de estudo de 3000 hectares consistia de cerca de 120-170 aves e mais da metade da população foi amostrada. Os autores concluíram que muitos indivíduos podem ser relacionados a outros da população, explicando a baixa variabilidade genética encontrada. Fleischer et al. (1994) concluíram que as populações de Loxioides bailleui por eles estudadas provavelmente não se mantiveram fragmentadas por muito tempo e/ou pode ter ocorrido um intenso fluxo gênico, reduzindo os efeitos da deriva genética, tendo em vista que as populações apresentaram estrutura genética típica de populações exocruzadas, como nos estudos feitos por Burke & Bruford (1987), Westneat (1990) e Brock & White (1992). Em populações naturais da cambacica havaiana, Loxioides bailleui, ameaçada de extinção (Fleischer et al., 1994), no trigueirão Miliaria calandra (Hartley et al., 1993), em psitacídeos (Miyaki et al., 1995) e na foca cinza Halichoerus grypus (Amos et al., 1995), o índice médio de similaridade foi maior entre indivíduos relacionados (>0,590) do que entre não relacionados (<0,270). Desta forma, o índice de bandas em comum tem se revelado um bom indicador de parentesco entre indivíduos de uma população. Nas amostras analisadas de cracídeos, o índice de similaridade médio entre pais-filhos foi maior do que 0,480 e entre irmãos, maior do que 0,540. Entre indivíduos sem informação sobre relações de parentesco este parâmetro foi menor do que 0,340. Cerca de 10% das bandas detectadas com a sonda 33.6 também são detectadas com a sonda 33.15, nas espécies de cracídeos analisadas, com 66 Genética e Conservação de Cracídeos exceção de Crax blumenbachii, onde a sonda 33.6 detectou fragmentos de peso molecular maior do que para a sonda 33.15. Nesta espécie apenas os fragmentos aproximadamente entre 5 e 6 kb são detectados por ambas as sondas. Não foi possível determinar se as sobreposições encontradas entre os fragmentos detectados pelas duas sondas correspondem a um mesmo fragmento, sendo hibridado com ambas as sondas, ou se fragmentos específicos para a sonda 33.6 migraram para a mesma posição eletroforética que fragmentos específicos para a sonda 33.15. Em humanos Jeffreys et al. (1986, 1991) demostraram haver muito pouca sobreposição entre essas duas sondas (<1%), mas em cães cerca de 23% dos fragmentos detectados pela sonda 33.6 também são detectados pela sonda 33.15 (Jeffreys & Morton, 1987). Considerando a alta taxa de sobreposição de bandas entre os padrões detectados pelas sondas 33.6 e 33.15 nos cracídeos estudados, e o número suficiente de locos independentes estimado para cada uma das sondas estudadas em duas irmandades, cada qual pertencente a um gênero diferente (Penelope obscura bronzina e Pipile jacutinga), concluíu-se que não seria adequado considerar as informações das duas sondas em conjunto como realizado por Jeffreys et al. (1991) em humanos, Bruford & Burke (1994) em galinhas, Choudhury et al. (1993) em gansos, Pinxten et al. (1993) em estorninhos europeus, Baker et al. (1993) em baleias e Galbraith et al. (1993) em tartarugas. Desta forma preferiu-se considerar cada uma das sondas independentemente. Os dados mostram que tanto a sonda 33.6, quanto a sonda 33.15 podem ser utilizadas para estudos de variabilidade de cracídeos, embora a sonda 33.6 detecte maior variabilidade em algumas das espécies estudadas, e por este motivo seria mais adequada. 2 - Estimativa da Variabilidade Genética das Espécies de Cracídeos Estudadas e Sua Distribuição Geográfica Histórica 67 Genética e Conservação de Cracídeos Diversos estudos têm mostrado que há maior variabilidade genética em minissatélites do que em proteínas. Por serem seletivamente neutras (Burke et al., 1991) e por apresentarem taxas elevadas de mutação, as regiões minissatélites diferem mais entre si ao longo do tempo do que as proteínas o fazem. Portanto em espécies onde os sistemas protéicos analisados se mostraram monomórficos ou apresentaram baixa heterozigosidade (Barrowclough & Gutiérrez, 1990; Ellegren et al., 1993; Roelke et al., 1993; Sundt et al., 1994) estudos com sondas que detectam um padrão de multiloco ou com as de loco único podem ser úteis na obtenção de dados relativos à variabilidade genética da espécie (Gilbert et al., 1991; Ellegren et al., 1993; Menotti-Raymond & O’Brien, 1993; Roelke et al., 1993; Sundt et al., 1994). Uma vez que a taxa de mutação de minissatélites é cerca de 100 a 1000 vezes maior do que a taxa de outros locos genômicos, esta técnica tem se mostrado útil para revelar histórias evolutivas recentes em mamíferos e aves, principalmente em casos de perda de habitat ocorridos nos últimos 100 anos, como mostram os exemplos a seguir. Gilbert et al. (1990) avaliando a variabilidade genética através da utilização de minissatélites de uma espécie de raposa, Urocyon litoralis, verificaram o padrão de colonização de várias ilhas californianas na região de Los Angeles. Os dados obtidos com os padrões de minissatélites são concordantes com o registro fóssil e com a história geológica da separação das ilhas. Os dados indicam que a colonização iniciou cerca de 16500 anos atrás, partindo do continente para as ilhas mais ao norte, e ocorreu a cerca de 3800 a 800 anos nas ilhas mais ao sul, geograficamente mais distantes do continente. Uma população de 100 leões africanos foi fundada por oito indivíduos sobreviventes de uma epidemia ocorrida em 1962 e sete outros leões provenientes de outra população. O nível de variação em minissatélites encontrado nesta população foi baixo (CBC=0,48), mas maior do que o encontrado em uma população asiática (CBC=0,96) que atualmente é composta por 250 indivíduos, descendentes de uma população fundada na última virada de 68 Genética e Conservação de Cracídeos século por menos de 20 leões, e de uma população africana exocruzada (CBC=0,51) com cerca de 3000 indivíduos (Gilbert et al., 1991). A cheetah africana Acinonyx jubatus, conhecida como o animal terrestre mais rápido do mundo, está em risco de extinção devido a perda de habitat e caça. Esta espécie apresenta níveis altos de erosão genética de locos codificantes. O gargalo evolutivo por que passou foi estimado em ter ocorrido a cerca de 12 mil anos atrás, sendo apoiado por dados de minissatélites e de DNA mitocondrial (Menotti-Raymond & O’Brien, 1993). Os resultados obtidos pelos autores indicaram ainda que a redução da variabilidade genética verificada na cheetah não foi completa e permanente. Um nível moderado de variação ocorreu ao longo do tempo, e alguma variação genética adaptativa residual permanece nas cheetahs atuais. A variabilidade detectada pela utilização de sondas de minissatélites é importante para a escolha dos casais em programas de recuperação desta espécie em cativeiro. Comparando algumas populações de gansos de três espécies diferentes, Tegelström & Sjöberg (1995) estabeleceram que índices de similaridade próximos de 0,200, estimados a partir de minissatélites, podem ser típicos de população não afetadas por gargalos evolutivos. Uma população canadense de Branta canadensis apresentou índices de similaridades menores que 0,17, similar ao de populações exocruzadas. Outra população desta espécie, fundada por apenas cinco aves na década de 30, e introduzida na Suécia, Finlândia e Noruega na década de 60, teve índices de 0,76. Atualmente a população conta com cerca de 30 a 50 mil indivíduos. Duas outras espécies, Branta leucopis mantidos em cativeiro e Anser erythropus, de vida livre, apresentaram índice de similaridade entre 0,32 e 0,38. A população desta última espécie contém mais de 1000 pares reprodutores. O nível de variabilidade encontrado neste caso foi atribuído ao rápido aumento populacional e ao fluxo gênico ocorrido com outras duas grandes populações asiáticas. Triggs et al. (1992) analisaram a estrutura populacional de uma espécie de patos neozelandeses, Hymenolaimus malacorhynchos, através das regiões 69 Genética e Conservação de Cracídeos minissatélites, e verificaram um certo grau de endocruzamento. Além da baixa taxa de dispersão geográfica que esta espécie apresenta, os níveis de endocruzamento também foram atribuídos à recente perda de habitat devido ao desenvolvimento agrícola e aproveitamento dos rios. A perda de habitat e caça esportiva ou alimentar são as maiores causas da redução das populações de cracídeos. A distribuição histórica no Brasil das seis espécies estudadas pode ser vista na figura 3. Crax blumenbachii apresenta a menor área de distribuição, restrita ao Sudeste brasileiro. Crax fasciolata era encontrado do sul do Brasil Central até região Norte e Nordeste. Nothocrax urumutum era restrito à Floresta Amazônica, ao oeste da Região Norte. Penelope obscura bronzina distribuía-se em áreas de Mata Atlântica, na região Sudeste do Brasil, sobrepondo-se nessa região com Penelope superciliaris jacupemba, que apresentava ampla distribuição, presente na região Sul, Sudeste, Centro-Oeste e área ocidental da região Nordeste. Pipile jacutinga ocupava áreas de Mata Atlântica do Sudeste e Sul do Brasil. Atualmente estas espécies se encontram distribuídas, em maior ou menor grau, em pequenos isolados. Figura 3. Distribuição geográfica histórica das seis espécies de Cracidae estudadas aqui. 1 - Nothocrax urumutum. 2 - Crax fasciolata. 3 - Crax blumenbachii. 4 - Pipile jacutinga. 5 e 6 - Penelope superciliaris jacupemba. 6 - Penelope obscura bronzina. Segundo Sick (1993) e Delacour & Amadon (1973). 70 Genética e Conservação de Cracídeos O desmatamento da Floresta Amazônica no estado de Rondônia chegou a um total de 13% (Fearnside, 1991) e a Amazônia Legal a 5,12% segundo dados de sensoriamento remoto obtidos até 1988 (INPE, 1989). A cobertura vegetal dos estados de Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina foram estimadas em percentuais de 8,34, 1,49, 7,16 e 15,96 até 1990 (INPE, 1993). Sick (1993) relata que existem fotografias das décadas de 30 e 40 que mostram caçadores ao lado de “pirâmides” de jacutingas mortas na região de Londrina, PR. Nesta mesma época esta espécie era encontrada à venda em mercados de Porto Alegre, RS. Em uma carta a Charles Darwin, Fritz Müller conta que chegou a ver meia dúzia de jacutingas serem mortas em uma mesma árvore e relata ainda que durante o inverno de 1866, aproximadamente 50000 delas foram mortas nas várzeas do rio Itajaí, estado de Santa Catarina (Sick, 1993). Das espécies aqui analisadas, Crax blumenbachii e Pipile jacutinga são as mais ameaçadas, especialmente a primeira espécie, que sempre teve uma pequena área de distribuição. As espécies de Penelope aqui estudadas ainda não se encontram tão ameaçadas quanto as duas espécies de cracídeos citadas anteriormente, porém Penelope obscura bronzina é considerada pelo IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis) como uma subespécie ameaçada (Portaria no 1522 publicada no Diário Oficial da União em 19 de dezembro de 1989). A variabilidade genética estimada através do índice de similaridade (CBC) nas espécies aqui estudadas variou de 0,145 no mutum-do-sudeste Crax blumenbachii (sonda 33.6) a 0,347 na população de jacupemba Penelope superciliaris jacupemba (sonda 33.6) que se estabeleceu após reintrodução em Paraibuna. As estimativas da variabilidade encontradas através da heterozigosidade média (H%) revelaram uma variação de 96,10% em Crax blumenbachii (sonda 33.6) a 89,44% para Penelope superciliaris jacupemba (sonda 33.6). Os valores da H% e do CBC estão evidentemente correlacionados 71 Genética e Conservação de Cracídeos uma vez que o valor da H% é estimado através da freqüência média das bandas que por sua vez é estimado a partir do coeficiente de bandas em comum. As espécies de cracídeos estudadas não são representativas de nenhuma população natural uma vez que as amostras de sangue foram coletadas em aves de cativeiro e em populações que se estabeleceram após reintrodução. Por este motivo não é possível saber se são informativas sobre a variabilidade de populações naturais, uma vez que não estão disponíveis os dados relativos à procedência das matrizes das aves aqui estudadas. Para as espécies onde encontrou-se uma variabilidade elevada, tais como em Crax blumenbachii, Crax fasciolata, Penelope obscura bronzina e em Pipile jacutinga mantidos em cativeiro, isso tanto pode representar a alta variabilidade presente em alguma população ancestral, quanto a variabilidade global da espécie representada por matrizes originárias de diferentes subpopulações isoladas, cada qual com uma variabilidade diminuída e com fixação de diferentes alelos. A quebra do isolamento aumenta a freqüência de heterozigotos (Wahlund, 1928), e a criação em cativeiro a partir de matrizes provenientes de diferentes populações isoladas poderia resultar em uma prole com variabilidade equivalente à uma quebra de isolados. Da mesma forma, nas espécies com menor variabilidade genética entre os indivíduos estudados, como os três espécimens de Nothocrax urumutum considerados como não relacionados e em Penelope superciliaris jacupemba, a variabilidade encontrada pode estar reduzida por parentesco entre os indivíduos estudados, por deriva genética ocorrida em cativeiro ou por matrizes originadas de uma população natural com pouca variabilidade. De modo geral, os índices médios de similaridade obtidos a partir da hibridação com a sonda humana de minissatélite 33.6 apresentaram valores menores do que os obtidos com a sonda 33.15, possivelmente indicando maior número de fragmentos ligados detectados com esta última sonda. Fragmentos ligados ao cromossomo W de aves já foram detectados para as sondas 33.6 (Graves et al., 1993) e 33.15 (Miyaki et al., 1992; Rabenold et al., 72 Genética e Conservação de Cracídeos 1991a), assim como também para uma outra sonda de minissatélite (Longmire et al., 1991). Nesses casos seus tamanhos são constantes para cada espécie estudada (Miyaki et al., 1992, 1993, 1995; Graves et al., 1993; Rabenold et al., 1991; Longmire et al., 1991). Não foi possível identificar fragmentos sexoespecíficos em cracídeos uma vez que nem sempre havia um número suficiente de machos e fêmeas conhecidos que permitisse uma investigação mais acurada deste tipo de fragmentos. Pode haver também polimorfismo de tamanho destes fragmentos, o que torna ainda mais difícil sua detecção. Como a maior parte das espécies de cracídeos apresenta dimorfismo sexual, a identificação de fragmentos sexo-específicos não foi objetivo do presente trabalho. Os índices médios de similaridade nos cracídeos aqui analisados podem ser considerados relativamente altos, levantando a suspeita de que várias aves possam ser aparentadas. De fato não há informações o bastante acuradas da procedência e relações de parentesco dos animais estudados, a não ser seu criadouro de origem. Por exemplo, muitos dos jacus mantidos em cativeiro pela CESP de Paraibuna são provenientes de um mesmo criadouro particular no Rio de Janeiro (Pedro Nardelli). A maior parte dos criadores de jacus no Brasil tem recebido as suas matrizes de dois ou três criadores tradicionais que têm conseguido um alto desempenho reprodutivo e, então, espécimens provenientes de diversos criadores podem ser aparentados. Então, a menor variabilidade genética encontrada em Penelope obscura bronzina poderia ser atribuída a esse fato. Como se trata ainda de uma espécie ameaçada de extinção ela pode ter perdido grande parte da variabilidade ancestral. No entanto, os índices de similaridade encontrados para cracídeos são menores que de algumas populações naturais. Dada a pequena amostra de Nothocrax urumutum (3 indivíduos) não relacionados deste estudo e principalmente pelo fato de as fêmeas supostamente não relacionadas apresentarem índice de similaridade de 0,428 com a sonda 33.6, próximo ao da relação pai-filho (0,538) e mãe-filho (0,545), os dados referentes a esta espécie devem ser considerados com cautela até que se tenha 73 Genética e Conservação de Cracídeos a possibilidade de estudar mais espécimens. Contudo, Hanotte et al. (1992) analisaram apenas 3 ou 4 espécimens não relacionados em cada espécie de galiformes estudada. De fato, em populações com heterozigosidade média alta, o estudo de poucos indivíduos não relacionados é suficiente para demonstrar a alta variabilidade entre os indivíduos. No caso do mutum-de-penacho Crax fasciolata com apenas duas aves estudadas, detectou-se uma grande variabilidade que tanto pode representar uma variabilidade da espécie como um todo, uma vez que trata-se de espécie não ameaçada, ou alternativamente, os dois indivíduos são originados de populações diferentes, cada uma delas com variabilidade menor. Nas espécies aqui analisadas, Crax blumenbachii apresentou a maior probabilidade de dois indivíduos não relacionados apresentarem, ao acaso, o mesmo padrão de bandas (da ordem de 10-9 para a sonda 33.6) devido ao fato de ter apresentado menor número médio de bandas. Quanto maior o número de bandas detectadas, menor será a probabilidade de que dois indivíduos tenham, ao acaso, o mesmo padrão de bandas. Apesar de terem sido detectadas apenas 9 bandas em média nessa espécie, o polimorfismo detectado pela sonda 33.6 foi dos mais altos (CBC=0,14±0,10; q=0,075). Isto é um aspecto notável, uma vez que esta espécie é ameaçada de extinção (Collar et al., 1992; Sick, 1993). Possivelmente a alta variabilidade genética encontrada nesta espécie deve se ao fato de que os animais analisados neste estudo descendem de aves da natureza em uma época em que a espécie não era ameaçada, refletindo a variabilidade genética característica de uma população grande e que ainda não havia sofrido declínio rápido. Alternativamente, a alta variabilidade pode refletir aves retiradas de diversas populações isoladas, onde cada população apresentava uma baixa variabilidade, mas que no conjunto da espécie, indicam a variabilidade existente no passado. Esta interpretação da variabilidade aqui constatada é compatível com a distribuição atual desta espécie, restrita a pequenos grupos em quatro reservas florestais (Monte Pascal, BA; Rio Doce, MG; Sooretama e Linhares, ES) (Collar et al., 1992). 74 Genética e Conservação de Cracídeos O bom desempenho reprodutivo em cativeiro obtido por criadores como por exemplo Roberto Azeredo da Fundação Crax (Azeredo, 1996, comunicação pessoal), que vem acompanhando o desenvolvimento dos filhotes há mais de 30 anos, mostra que apesar de ter iniciado a criação com sete aves fundadoras, a população cativa mantida atualmente não apresenta nenhuma depressão por endocruzamento. Esta situação pode ser devida à alta variabilidade genética das aves fundadoras ou alternativamente à domesticação por seleção, caso em que se esperaria uma variabilidade diminuída. Não há informação a respeito da origem dos espécimens de Crax blumenbachii aqui estudados, a não ser que alguns foram doados ao Criadouro Chaparral pela Fundação Crax. 3 - Aplicação da Técnica de Identificação Individual Através do DNA em Programas de Criação em Cativeiro 3.1 - Comprovação de Paternidade As técnicas de identificação individual através do DNA vêm sendo utilizadas com sucesso em casos de simples determinação de filiação ou estudos de comportamento reprodutivo em diversas espécies (Pena et al., 1993; Westneat, 1990; Birkhead et al., 1990; Haig et al., 1993; Warketin et al., 1994; Wickings et al., 1993; Bischoff & Duffield, 1994). No entanto, um nível mínimo de variabilidade é necessária para que se possa obter resultados confiáveis. Em populações com baixa variabilidade genética a técnica pode falhar na determinação de filiação. Em uma população européia silvestre de gansos, fundada por apenas cinco indivíduos, o índice médio de similaridade obtido entre indivíduos não relacionados foi de 0,76, não sendo possível a determinação segura da paternidade (Tegelström & Sjöberg, 1995). Em outro estudo realizado em coalas australianos Phascolarctus cinereus, a variabilidade genética encontrada utilizando diversas sondas de minissatélites foi muito baixa (similaridade entre 75 e 100% dependendo da combinação sonda/enzima 75 Genética e Conservação de Cracídeos utilizada)(Taylor et al., 1991), o que também não permitiria a definição da paternidade suspeita. Esse não é caso das populações de Cracidae estudadas, em que os valores esperados de similaridade entre pais e filhos e entre irmãos são maiores que os encontrados para indivíduos não relacionados. A confirmação de filiação foi dada como certa se os prováveis progenitores e seus descendentes apresentassem índices de similaridade próximo ao esperado, e se não houvesse mais do que duas bandas não atribuíveis aos progenitores. As menores variabilidades encontradas (CBC>0,340) foram para as populações reintroduzidas de jacu-guaçu Penelope obscura bronzina e de jacupemba Penelope superciliaris jacupemba, amostradas nas áreas de reflorestamento da CESP, porém suficiente para se realizar a determinação segura da paternidade nos casos alegados. No filhote de mutum-do-sudeste Crax blumenbachii várias bandas não puderam ser atribuídas aos supostos progenitores, não sendo confirmada a paternidade e a maternidade. Conseqüentemente os coeficientes de bandas em comum também se revelaram menores do que o esperado para pais e filhos. Em um dos dois casos de paternidade alegados para o jacu-guaçu Penelope obscura capturado na região de reintrodução pela CESP e portador de anilha, não foi possível a confirmação da paternidade. A ave em questão não teve índice de similaridade próximo ao esperado para a relação pai-filho estimada para cada uma das sondas de minissatélites usadas e a análise das bandas mostrou que muitas bandas do filhote não eram atribuídas a esse suposto progenitor. Possivelmente houve algum engano nas anotações relativas aos pais em relação a estas aves. Nas famílias de jacu-guaçu Penelope obscura composta pelo casal e cinco filhotes, e de jacutinga Pipile jacutinga composta pelo casal e sete descendentes, todos os fragmentos presentes nos filhos puderam ser atribuídos a um dos pais e nenhuma nova mutação foi detectada. Para ambas as sondas, a similaridade média observada entre pais-filhos e entre irmãos foi muito próxima ao esperado. 76 Genética e Conservação de Cracídeos Esse também foi o caso do urumutum Nothocrax urumutum para a sonda 33.6. No entanto, os índices observados com a sonda 33.15 foram superiores ao esperado. Possivelmente locos ligados que não se segregam independentemente ou ainda um grande loco com sítios de restrição internos podem ser responsáveis pelo aumento dos índices de similaridade observados entre pais e filhos. Não foi possível estudar o padrão de segregação das bandas nesta espécie por falta de disponibilidade de famílias com diversos filhos. Maior similaridade com um dos progenitores pode ocorrer se esse progenitor apresentar maior número de bandas ligadas que o outro. Esse parece ser o caso encontrado nas famílias Penelope obscura bronzina e de Pipile jacutinga, onde alguns filhotes apresentaram índices mais elevados para o esperado entre pais-filhos. Contudo, a maior similaridade com um dos pais mostrou-se independente do número de bandas detectadas em cada um dos progenitores. Com a sonda 33.6 em Nothocrax urumutum, a fêmea apresentou 19 bandas, e o macho apenas 12, mas os índices de similaridade entre mãe-filho e pai-filho foram semelhantes entre si e próximo ao esperado. Contudo, para a sonda 33.15, os coeficientes de bandas em comum encontrados entre cada progenitor e seu filho foram superiores ao esperado, embora o número de bandas de cada progenitor seja semelhante. 3.2 - Orientação de Acasalamentos A formação de casais com baixos índices de similaridade pode ser útil para a manutenção do patrimônio genético da espécie. Evitando se o endocruzamento impede-se que genes deletérios em heterosigosidade, presentes em populações que não estão adaptadas à condição de consangüinidade, venham a se tornar homozigotos, aumentando as taxas de mortalidade na fase juvenil e infertilidade, além de problemas de malformações congênitas. Efeitos do endocruzamento já foram analisados em diversas espécies silvestres em cativeiro, naturais, ou de laboratório (DeBois et al., 1990; Roelke et al., 1993; Backus et al., 1995; 77 Genética e Conservação de Cracídeos Frankham, 1995). Em espécie não endocruzadas os índices de similaridade estimados pelas técnicas de identificação individual através do DNA podem ser úteis para se inferir a existência de consanguinidade entre dois indivíduos, uma vez que estas técnicas são úteis na determinação de relações de parentesco de primeira ordem (Burke & Bruford, 1987; Wetton et al., 1987; Morton et al., 1990; Westneat, 1990; Kempenaers et al., 1992; Brock & White, 1992; Piper & Rabenold, 1992; Miyaki et al., 1995). A escolha de casais com menores índices de similaridade evita o endocruzamento, aumenta a variabilidade genética da progênie, e possibilita a manutenção da variabilidade existente nos fundadores. O estabelecimento de populações cativas pode produzir uma série de efeitos genéticos. Se o tamanho populacional tiver número efetivo reduzido, o conjunto gênico da população cativa irá diferir da população silvestre da qual foi originada. Nesse caso, alelos raros podem ser perdidos aleatoriamente devido à deriva genética. A redução na heterozigosidade e variação alélica resulta, em geral, na diminuição da aptidão média dos indivíduos e no potencial evolutivo da população a longo termo (Lande, 1988). Características comportamentais, fisiológicas e de desenvolvimento parecem ser muito sensíveis às condições de cativeiro e muitas delas podem apresentar alta herdabilidade e ser selecionadas facilmente em cativeiro. A população pode, então, tornar se cada vez menos adaptada a voltar à condição de vida silvestre (Derrickson & Snyder, 1992). Devido à sua complexidade, as características comportamentais estão sujeitas a perda ou rápida alteração a não ser que o ambiente de cativeiro contenha alguns requisitos básicos que permita que os animais tenham experiências físicas e sociais durante período críticos de seu desenvolvimento. Tais modificações comportamentais podem afetar posteriormente a reprodução em cativeiro e a sobrevivência na natureza. Exemplos da utilização de minissatélites em programas de recuperação em catveiro de espécies ameaçadas são dados a seguir. Butler et al. (1994) analisaram duas amostra cativas (uma de um zoológico norte-americano e outra de um criador particular no Qatar) da gazela de Speke 78 Genética e Conservação de Cracídeos Gazella spekei, uma espécie africana altamente ameaçada. Duas fêmeas da população de Qatar foram doadas ao Zoológico de Saint Louis. Para testar a possível contribuição destas fêmeas para o plantel norte-americano, os autores aplicaram as técnicas de identificação individual através do DNA e verificaram que elas representavam uma fonte de variação genética distinta daquela presente na amostra norte-americana. Foi sugerido também pelos autores que os genomas dos fundadores devem ser representados igualmente na população fundada, para que o máximo de variabilidade genética esteja presente na descendência, contribuindo para a sobrevivência da população a longo tempo. Rave et al. (1994) propõe que indivíduos que possuem alelos raros devem ser favorecidos em programas de reprodução na tentativa de manter esses alelos, estratégia esta conhecida como “manejo de parentesco raro”. No entanto, Miller (1995) usando informações do pedigree do cavalo-de-Przewalski Equus przewalski, considerado extinto na natureza, e do condor-da-Califórnia Gymnogyps californianus, uma espécie altamente ameaçada de extinção, demonstrou que a estratégia de manejo do parentesco raro pode, em alguns casos, reduzir ainda mais a variabilidade genética do restante do genoma e aumentar a relação média de parentesco em populações pequenas, tendo pouco efeito em populações grandes. Lacy (1987) desenvolveu um programa de simulação populacional computadorizada para estimar a perda da variabilidade genética com base no tamanho efetivo de uma população e outras variáveis estocásticas. Quanto maior o tamanho efetivo de uma população, menor a perda da variabilidade genética a cada geração. A deriva genética é um dos fatores que mais atuam sobre as populações de tamanho efetivo reduzido. Contudo, a deriva é um fenômeno de amostragem e seus efeitos podem ser sobrepostos por outros fatores, demográficos e ambientais, que sob condições adversas penalizam populações naturais ou de cativeiro. Desta forma a manutenção de populações com tamanho efetivo grande é desejável em programas de reprodução em cativeiro. Como esta situação é difícil de ser realizada na prática e diante da possibilidade do programa 79 Genética e Conservação de Cracídeos fracassar por exemplo por alguma epidemia afetando grande parte dos indivíduos, existe a necessidade da interação entre diversas instituições que em conjunto abrigam o número máximo possível de fundadores que são eventualmente intercambiados. Para o mutum-do-sudeste Crax blumenbachii, a variabilidade genética estimada entre indivíduos não relacionados foi alta, sendo isto de grande importância para programas de reprodução em cativeiro. Se os indivíduos nascidos em cativeiro serão usados em programas de conservação da espécie, então a variabilidade genética presente em animais cativos deve ser maximizada para garantir que os animais reintroduzidos na natureza possam ser heterogêneos, aumentando as possibilidades de recuperação da espécie. Crax blumenbachii é uma espécie citada como rara desde 1969 (Sick, 1969), estando incluída no Livro Vermelho das Espécies Ameaçadas de Extinção (Collar et al., 1992). Sua caça já era proibida no estado do Espírito Santo em 1947 (Sick, 1969) e atualmente está protegida sob a lei federal no 5197 de 03 de janeiro de 1967 (Portaria no 1522 publicada no Diário Oficial da União de 19 de dezembro de 1989). Entre os possíveis casais que podem ser formados a partir do plantel estudado, cada uma das sondas humanas de minissatélites usadas neste trabalho demonstrou haver várias possibilidades de formação de casais com baixos índices de similaridade. Casais que apresentaram baixos índices de similaridade são mais indicados para serem mantidos juntos, na tentativa de evitar associações entre machos e fêmeas que tenham relações de parentesco de primeiro grau. No entanto a eficiência reprodutiva dos casais assim constituídos necessita de comprovação. A CESP vem reproduzindo Penelope obscura bronzina e P. superciliaris jacupemba em cativeiro desde 1986. Dados reprodutivos fornecidos pela CESP aliados com os dados de minissatélites aqui obtidos indicam que os reais significados dos índices de similaridade não estão claros. Casais que vêm reproduzindo bem em cativeiro tiveram índices de similaridade de 0,100 a 0,400. 80 Genética e Conservação de Cracídeos Em Penelope obscura e P. superciliaris, altos índices de similaridades aliados com bom potencial reprodutivo em cativeiro não indica necessariamente melhor sobrevivência de seus descendentes, após reintrodução na natureza. Essas aves têm um alto potencial de adaptação às condições de cativeiro e a domesticação permite maior viabilidade das espécies, mesmo em linhagens com alto endocruzamento. É bem conhecido que as condições presentes em cativeiro são bem diferentes das encontradas em vida silvestre, e dessa forma indivíduos que seriam inviáveis quando em vida livre facilmente se mantém e podem chegar a se reproduzir quando em cativeiro. Na maioria dos casos as aves destas espécies são provenientes da Zoobotânica Mário Nardelli, Rio de Janeiro, ou nasceram no Setor de Aves Silvestres da CESP em Paraibuna, porém com pais oriundos da Zoobotânica Mário Nardelli. Com a intenção de aumentar o número de casais reprodutores que efetivamente contribuem para as solturas, e desta forma uniformizar a contribuição de cada fundador, foram estimados os índices de similaridade entre todos os possíveis casais de ambas as espécies de Penelope (alguns indivíduos não foram considerados na análise por não apresentarem padrões de bandas bem definidos, devido à problemas técnicos). Ainda serão avaliados os resultados da orientação genética feita por este estudo. Brock & White (1992) analisaram dados de similaridade genética e dados reprodutivos de um grupo cativo de Amazona vittata, resultante de uma população silvestre que sofreu vários declínios populacionais desde o século XVIII e encontraram as maiores taxas reprodutivas em casais com menores índices de similaridade. Os autores sugerem ainda que a falta de sucesso reprodutivo em alguns casais com similaridade menor do que 0,400 pode ser devido à incompatibilidade comportamental. Delacour & Amadon (1973) relatam que em cracídeos é difícil induzir um macho ou uma fêmea a aceitar um novo parceiro, sendo necessário algumas vezes colocá-los em compartimentos separados e adjacentes, até que demonstrem sinais de aceitação. Segundo informações fornecidas pela equipe técnica da CESP, alguns casais de Penelope 81 Genética e Conservação de Cracídeos com baixos índices de similaridade foram formados por dados indicados neste estudo e foi verificado que houve casos de incompatibilidade entre alguns casais, chegando a haver agressões físicas entre eles; os dados numéricos referentes a tais tentativas não foram fornecidos. 4 - Estimativa do Número Mínimo de Locos de Segregação Independente Detectados com as Sondas Utilizadas Famílias com diversos descendentes são úteis em estudos de segregação de bandas, conforme já demonstrado em humanos (Jeffreys et al., 1986; Wayne & Fourney, 1990), camundongos Mus (Jeffreys et al., 1987), Prunella modularis (Burke et al., 1989), no fringilídeo Taeniopygia guttata (Birkhead et al., 1990), em papagaios Amazona ventralis (Brock & White, 1991), em trutas Salmo trutta (Prodöhl et al., 1994) e em Aratinga (Miyaki et al., 1995). Através deste estudo é possível verificar se as bandas são herdadas em atração (grupos cosegregantes), em repulsão (alelos) ou independentemente e estimar o número mínimo de locos de segregação independente. Na falta deste tipo de análise para uma dada espécie, considera-se que todos os fragmentos segregam-se independentemente e que todas as bandas apresentam a mesma frequência de transmissão, e os diferentes parâmetros são estimados com base nessa hipótese. Na questão de independência de bandas cabe esclarecer que o termo “ligação” vem sendo usado de maneira ampla de modo a englobar uma série de associações entre as bandas. Além da possibilidade destas associações ocorrerem ao acaso, elas também podem resultar de dois fenômenos distintos: ligação devido a dois ou mais locos estarem localizados no mesmo cromossomo, havendo influência da distância entre eles na frequência de genótipos recombinante; e desequilíbrio de ligação, onde há associação permanente ou transiente entre alelos de locos diferentes, devido a vários fatores como seleção, endocruzamento, subdivisão populacional, efeito de fundador e acasalamento preferencial (Amos et al., 1992). 82 Genética e Conservação de Cracídeos Sítios internos de restrição em um minissatélite também podem resultar em uma série de sub-fragmentos que se comportam como alelos ligados, produzindo sub-fragmentos de baixo peso molecular que migram para uma região não analisável do gel. Um efeito ao contrário pode ocorrer: sítios internos de restrição podem resultar em fragmentos de tamanho adequado para a análise, aumentando os índices de similaridade A hipótese de desequilíbrio de ligação é extremamente difícil de ser analisada diretamente devido à dificuldade de se comparar os padrões polimórficos de géis diferentes e de se saber exatamente que locos estão sendo analisados. O estudo de segregação de bandas foi realizado em uma família de jacuguaçu Penelope obscura bronzina composta pelo casal e cinco descendentes e em uma família de jacutingas Pipile jacutinga composta de um casal e sete descendentes. Foi demostrado que os fragmentos são herdados em padrão mendeliano, isto é, cerca de 50% das bandas são de origem paternas e 50%, materna. Nenhum fragmento novo, surgido devido a mutação foi detectado nas duas famílias estudadas. O número de grupos de ligação e de pares de alelos foi estimado e, para ambas as sondas, o número de locos independentes paternos e maternos foi semelhante. Na família de Penelope obscura bronzina estudada, o número mínimo de locos de segregação independente estimado foi de pelo menos 9 e na de Pipile jacutinga, de pelo menos 16. Esses valores são uma subestimativa já que a probabilidade de encontrar dois fragmentos que cosegregam ao acaso é de 0,26 para um total de 23 bandas em uma família com cinco descendentes e de 0,02 para um total de 28 bandas em uma família com sete descendentes. Os números de locos de segregação independente encontrados são semelhantes aos estimados em humanos (de 16 a 43)(Jeffreys et al., 1986), cães (13 locos) (Jeffreys & Morton, 1987), gatos (10 locos)(Jeffreys & Morton, 1987), pardais domésticos (de 7 a 21 locos)(Burke & Bruford, 1987), tilápias (12 locos)(Brookfield et al., 1993) e psitacídeos (14 locos)(Miyaki et al., 1995). Contudo, Brock & White (1991) estimaram que a sonda 33.15 detecta 83 Genética e Conservação de Cracídeos apenas de 2 a 6 locos de segregação independentes em Amazona ventralis. Jeffreys & Morton (1987), Burke & Bruford (1987) e Brock & White (1991) consideram que os grupos de ligação encontrados nas famílias por eles estudadas correspondem na verdade a um único bloco de minissatélite que apresenta sítios internos de restrição. Os grupos de co-segregação encontrados aqui também podem representar um único bloco de minissatélites que possuem sítios internos de restrição. Brock & White (1991) encontraram em 18 espécimens de Amazona ventralis cativos, compondo 3 gerações, os mais complexos padrões de ligação entre os fragmentos. Para um dos locos, 11 bandas co-segregantes foram detectadas e um outro loco apresentou 19 bandas co-segregantes. No jacu-guaçu Penelope obscura bronzina e na jacutinga Pipile jacutinga, as sondas humanas de minissatélites 33.6 e 33.15 detectam um número equivalente de locos independentes, conforme demonstrado também em cães e gatos (Jeffreys & Morton, 1987), e no fringilídeo Taeniopygia guttata (Birkhead et al., 1990), mas ao contrário de psitacídeos do gênero Aratinga (Miyaki et al., 1995), onde um número menor de fragmentos independentes é detectado para a sonda 33.15 e fragmentos ligados ao cromossomo W estão presentes. O pequeno número de pares de alelos encontrados em ambas as espécies aqui analisadas indica que eles variam muito em tamanho e provavelmente se encontravam na região não considerada do gel (>25,0 e <3,0 kb) da mesma forma como encontrado nos diferentes trabalhos sobre padrões de segregação com sondas de minissatélites. 5 - Programa de Reintrodução na Natureza A literatura científica é relativamente pobre em trabalhos que analisam programas de reintrodução desde a implantação do plantel até o monitoramento intensivo em populações que foram estabelecidas a partir de reintroduções realizadas por intervenção humana, especialmente em relação ao monitoramento genético. 84 Genética e Conservação de Cracídeos Métodos de conservação em cativeiro também apresentam vantagens, especialmente para espécies com populações pequenas e fragmentadas que apresentam alta probabilidade de se extinguir. Para espécies que se reproduzem facilmente em cativeiro o aumento da taxa de reprodução pode ser significativo, permitindo que os animais possam ser usados em programas de soltura na natureza, aumentando a densidade demográfica das populações silvestres ainda existentes, corrigindo desbalanceamento de razões sexuais, aumentando a variabilidade genética, restabelecendo populações extirpadas e estabelecendo novas populações em habitats naturais ou alterados. Métodos de criação e reprodução em cativeiro devem ser iniciados preferencialmente quando a espécie ainda retém muito de sua variabilidade genética para assegurar que a falta de variação não vai ser uma das principais causas do insucesso a que tais programas podem estar sujeitos. Contudo, iniciar precocemente um programa de recuperação para uma espécie que não está ameaçada pode representar gastos financeiros desnecessários. A necessidade de se iniciar um programa de criação e reprodução em cativeiro é decorrente de dados coletados em campo. Estas investigações podem dar idéia do grau de degradação ambiental e/ou demográfica a que a espécie está submetida, e a partir dos dados obtidos pode-se estabelecer que tipo de atitude deve ser tomada. Em outras palavras, dados obtidos em campo podem auxiliar a decidir se medidas de criação e reprodução em cativeiro devem ser tomadas paralelamente às medidas como preservação de habitats, através do estabelecimento de uma reserva, manejo através de suplementação de alimentos, aumento de disponibilidades de ninhos e modificação da legislação. Recentemente a reintrodução de animais nascidos em cativeiro tem sido efetuada mundialmente em uma série de grupos animais e pode ser útil em muitas situações. As causas que levam uma determinada população à extinção são muitas vezes especulativas mas mesmo assim esforços conservacionistas devem ser realizados evitando que a possível causa da extinção volte a atuar sobre as populações reintroduzidas (Bunin & Jamieson, 1995). A rápida perda e 85 Genética e Conservação de Cracídeos degradação de habitat pode levar as populações a níveis demográficos críticos ao ponto da espécie não mais se auto-sustentar, ou tornar-se vulnerável à catástrofes. Tentativas de reintroduções podem suprir essas deficiências demográficas, e até mesmo genéticas, desde que elas ocorram em áreas protegidas que tenham uma capacidade de suporte para o estabelecimento de uma nova população ou em uma área que possua uma população pequena mas que pode ser aumentada. Contudo a introdução de espécies exóticas fora de seu habitat natural pode ter efeitos negativos sobre as populações locais (Bertram, 1995; Bunin & Jamieson, 1995; Houston & Schreiner, 1995). Arano et al. (1995) discutem o efeito da hibridogênese em espécies do complexo Rana esculenta e atentam para o problema de redução de diversidade de espécies que os programas de translocação podem causar. Também pode ocorrer a depressão por exocruzamento quando os indivíduos introduzidos estão adaptados a uma situação diferente da que ocorre na população residente. Pelo estudo de minissatélites, as populações de jacus Penelope obscura bronzina e P. superciliaris jacupemba de vida livre, resultantes das reintroduções realizadas pela CESP, apresentaram menor variabilidade genética que as populações mantidas em cativeiro. Essas aves de vida livre supostamente se estabeleceram na região a partir das solturas realizadas pela CESP e a menor variabilidade encontrada reflete o pequeno número de fundadores e a contribuição desigual destes para as solturas. Poucos casais são responsáveis pela maior contribuição para o programa e alguns casais não contribuíram para a reintrodução desde o início do programa. No jacu-guaçu Penelope obscura bronzina, 75% dos indivíduos liberados são descendentes de 3 dos 12 casais cativos, e no jacupemba P. superciliaris jacupemba, 57% dos animais liberados são descendentes de 3 dos 10 casais mantidos em cativeiro. Vale a pena ressaltar que a similaridade genética avaliada com a sonda mais informativa (33.6) foi menor entre os fundadores para Penelope obscura bronzina do que entre os não fundadores. No caso de Penelope superciliaris jacupemba ocorreu o 86 Genética e Conservação de Cracídeos oposto. Infelizmente não existem informações precisas a respeito do desempenho reprodutivo destas espécies após reintrodução. Como a maioria das aves capturadas nas áreas de solturas não apresentavam anilha, duas hipóteses alternativas foram levantadas: essas aves são descendentes das aves liberadas, ou essas aves estão sendo atraídas para a região do Reservatório de Paraibuna, advindas de regiões adjacentes ao reservatório. Para averiguar essas hipóteses, as populações de vida livre das duas espécies de Penelope foram comparadas a cinco indivíduos da população cativa que efetivamente contribuíram para as solturas (denominados fundadores) e à cinco aves que não contribuíram para as solturas (não-fundadores). Verificouse que a população de vida livre das duas espécies de Penelope apresentaram maior similaridade quando comparada com os fundadores do que com os não fundadores. Esse fato, aliado também à informação de que a grande maioria das aves capturadas nas áreas de reintrodução não apresentavam anilha também são indicativos de que a população das duas espécies de Penelope que se estabeleceram na região do Reservatório de Paraibuna é descendente das aves reintroduzidas pela CESP. No total foram liberados 266 aves de ambas as espécies. Apesar dos responsáveis pelo programa não terem se preocupado em igualar a contribuição dos diferentes indivíduos existentes em cativeiro, o programa pode ser considerado um sucesso uma vez que a população que se estabeleceu está se reproduzindo normalmente, como pode ser observado na região da reintrodução pela presença de ninhos e nascimentos de filhotes. É interessante lembrar que a população de gansos que se estabeleceu na Suécia, Finlândia e Noruega, que hoje conta com 30 a 50 mil aves, foi estabelecida a partir de cinco fundadores (Tegelström & Sjöberg, 1995). As espécies liberadas na natureza na região do reservatório de Paraibuna, SP, são importantes para a manutenção do ecossistema, uma vez que são grande dispersoras de sementes. Desta forma essas aves podem auxiliar a recuperar o ecossitema que foi degrado durante a construção da barragem do 87 Genética e Conservação de Cracídeos Reservatório de Paraibuna. Essa região é protegida e é difícil o acesso de pessoas que poderiam representar uma ameaça à recuperação das espécies reintroduzidas e ao ecossistema como um todo. Antes da liberação das aves na natureza, elas passam por um processo de readaptação ao ambiente, sendo treinadas a procurar seu próprio alimento. A alimentação fornecida às aves cativas do programa da CESP de reintrodução na natureza é composta de alimentos nativos da região, que constitui a base alimentar das populações silvestres aí estabelecidas. O sucesso deste programa pode estar associado também ao fato de que as áreas de soltura correpondem a áreas de distribuição histórica destas espécies. Um projeto semelhante a este vem sendo realizado na região do Vale do Aço, Minas Gerais, com Crax blumembachii. Neste projeto, as aves nascidas em cativeiro vem sendo reintroduzidas numa reserva florestal de Mata Atlântica pertencente à uma companhia particular, permanecendo protegida de distúrbios causados por humanos. O projeto está sendo executado com financiamento de duas entidades privadas, a Fundação Crax e a CENIBRA (Celulose Nipo Brasileira), mostrando a potencial importância de entidades privadas que podem ser envolvidas com programas de recuperação das espécies ameaçadas. Para as demais espécies de cracídeos, incluindo também as não analisadas aqui, a reprodução em cativeiro com finalidades de recuperação da espécie pode ser facilmente atingida, visto que este grupo apresenta bom potencial reprodutivo em cativeiro (Nogueira-Neto, 1973), e que não requerem recursos de sobrevivência muito específicos, aumentando as possibilidades de se obter sucesso em programas de repovoamento. As técnicas de DNA como as utilizadas no presente trabalho podem contribuir no monitoramento de programas de criação em cativeiro e monitoramento de populações naturais e introduzidas. 88 Genética e Conservação de Cracídeos RESUMO No presente trabalho, foi estudada a variabilidade genética de seis espécies de cracídeos (Crax blumenbachii, C. fasciolata, Nothocrax urumutum, Penelope obscura bronzina, P. superciliaris jacupemba e Pipile jacutinga) utilizando sondas de minissatélites humanos 33.6 e 33.15 desenvolvidas por Jeffreys et al. (1985a). As amostras de sangue foram coletadas de espécimens em cativeiro e de populações de Penelope sp que se estabeleceram em áreas reflorestadas em Paraibuna, SP, onde houve reintrodução destas espécies a partir de 1986 pela CESP. A variabilidade genética foi estimada a partir dos coeficientes de bandas em comum (CBC) e através da heterozigosidade média detectada. Os padrões obtidos mostraram-se altamente variáveis e específicos para cada indivíduos em todas as espécies estudadas com qualquer uma das sondas utilizadas, porém a sonda 33.6 revelou maior variabilidade para quatro das espécies. Duas das espécies estudadas (Crax blumenbachii e Pipile jacutinga) são consideradas como ameaçadas de extinção. A variabilidade genética estimada a partir de indivíduos não aparentados em cativeiro revelou-se semelhante à encontrada em populações naturais de aves não ameaçadas. Em cinco das espécies estudadas, cerca de 10% das bandas detectadas por uma das sondas também foi detectada pela segunda e por este motivo a análise foi realizada separadamente para cada uma das sondas. O coeficiente de bandas em comum foi maior entre indivíduos com parentesco conhecido do que entre indivíduos considerados como não aparentados, conforme esperado. O estudo de segregação de bandas paternas e maternas em irmandades de cinco (Penelope obscura bronzina) e sete filhotes (Pipile jacutinga) revelou que cada uma das sondas detectou pelo menos nove locos de segregação independente, número este considerado como adequado para estudos populacionais e de identificação individual. Houve possibilidade de confirmar a filiação alegada de 14 filhotes e rejeitar a filiação em dois casos nos quais provavelmente houve um engano de registros. Para a análise das populações que se estabeleceram na área reflorestada pela CESP comparou-se os índices de similaridade genética dos indivíduos de vida livre com cinco matrizes que contribuíram com mais de 50% dos descendentes que foram liberados e com cinco indivíduos que não tiveram nenhuma contribuição para estas solturas. Os índices estimados revelaram que as populações das aves reflorestadas das duas espécies são resultantes das reintroduções realizadas. Apesar da menor variabilidade genética detectada nestas populações, atribuída ao pequeno número de fundadores, estas populações vem se estabelecendo e repovoando a região, indicando até o momento, o sucesso do programa de reintrodução realizado. Os resultados deste trabalho mostraram que as técnicas utilizadas são apropriadas para o monitoramento da variabilidade genética de programas de criação em cativeiro e de populações que se estabeleceram após solturas. São também apropriadas para estimar a variabilidade genética de populações ameaçadas da natureza. 89 Genética e Conservação de Cracídeos SUMMARY We analysed the genetic variability of six cracidae species (Crax blumenbachii, C. fasciolata, Nothocrax urumutum, Penelope obscura bronzina, P. superciliaris jacupemba e Pipile jacutinga) using human minisatellite probes 33.6 and 33.15 developed by Jeffreys et al (1985a). Blood samples were obtained from captive birds and from Penelope sp populations reintroduced in reforested areas in Paraibuna, SP, by CESP. The genetic variability was estimated using the band-sharing coefficient and mean heterozigosity. The profiles obtained were highly polymorphic and individual-specific in all six species for both probes, and probe 33.6 revealed a higher variability in four of the species. Two of the species studied (Crax blumenbachii and Pipile jacutinga) are considered as endangered. The genetic variability estimated for captive, unrelated birds was similar to that of natural, non-threatened species of birds. The analysis was done separately for each probe because we detected around 10% of band overlap between both probes in five of the species. Mean band-sharing coefficient was higher for known related birds than for birds believed to be unrelated, as expected. Segregation analysis of paternal and maternal fragments in sibships with five (Penelope obscura bronzina) and seven descendents (Pipile jacutinga) revealed that each probe detected at least nine independent loci, a number considered useful for population studies and for individual indentification. Parenthood was confirmed for 14 birds and rejected in two cases where there was probably a mistake in the studbooks. To analyse the populations that were settled in the CESP’s reforested areas, we compared their genetic similarity indexes with five captive birds that are the parents of more than 50% of all reintroduced youngs and with five captive birds that didn’t contribute to the reintroduction program. The similarity indexes revealed that the populations of the reforested areas are descendents of the released birds, and showed until now the success of the program, in spite of the low genetic variability. Our results showed that the techniques here applied are useful for genetic variability management of captive programs and reintroduced populations. They are also useful to estimate genetic variability of endangered populations in the wild. 90 Genética e Conservação de Cracídeos REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGGARWAL RK, MAJUDAR KC, LANG JW, SINGH L (1994). Genetic affinities among crocodilians as revealed by DNA fingerprinting with Bkm-derived probe. Proceedings of the National Academy of Science USA 91: 10601-10605. AKÇAKAYA HR (1990). Bald ibis Geronticus eremita population in Turkey: an evaluation of the captive breeding project for reintroduction. Biological Conservation 51: 225-237 ALI S, MULLER CR, EPPLEN JT (1986). DNA fingerprinting by oligonucleotide probes specific for simple repeats. Human Genetics 74: 239-243. AMOS W, BARRET JA, PEMBERTON JM (1992). DNA fingerprinting: parentage studies in natural populations and the importance of linkage analysis. 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