Manejo integrado de cupins - Departamento de Entomologia

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Manejo integrado de cupins - Departamento de Entomologia
Notas de Aula de ENT 115 – Manejo Integrado de Pragas Florestais
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MANEJO INTEGRADO DE CUPINS
Os cupins ou térmitas são insetos da ordem Isoptera, que contêm cerca de 2.750 espécies
descritas no mundo. Mais conhecidos por sua importância econômica como pragas; estes insetos
também têm atraído a atenção de cientistas devido ao seu singular sistema social. Além dos
consideráveis danos econômicos provocados em áreas urbanas e rurais, os cupins também são
importantes componentes da fauna do solo de regiões tropicais, exercendo papel essencial nos
processos de decomposição e de ciclagem de nutrientes.
Existem vários nomes atribuídos popularmente a esses insetos em certas regiões do Brasil,
tais como, cupins, termitas ou térmitas, formigas -brancas, formigas de asas, aleluias, sarassará,
siriri, siriluia e siri-siri. Vários nomes também são atribuídos aos termiteiros, que são pequenas
elevações de terra produzidas pelos cupins, como, por exemplo, aterroada ou itapecuim (na
Amazônia), munduru (no Ceará), murundu, tacuri ou tacuru (no Rio Grande do Sul) e cupim, este
último mais conhecido por ser o nome do inseto que também é atribuído ao montículo de terra por ele
produzido.
O desenvolvimento deste inseto é por paurometabolia (ovo-ninfa-adulto). As espécies dos
cupins, sem exceção, são sociais. Vivem em sociedades ou colônias mais ou menos populosas, nas
quais há uma divisão de tarefas (reprodução, segurança, cuidados com a rainha, com a limpeza e
com os “jardins” de fungos etc.), realizada por determinado grupo de indivíduos, denominados castas,
representadas por cupins ápteros ou alados, que vivem alojados em ninhos chamados normalmente
de cupinzeiros ou termiteiros.
Os cupins são insetos mastigadores, constituindo importante grupo de insetos
daninhos às florestas. Os indivíduos alados (reprodutores) possuem dois pares de asas
membranosas semelhantes, daí o nome da ordem (iso = igual; ptera = asa). As asas possuem uma
sutura basal característica, a qual favorece a sua queda, após a revoada, sobrando, adjacente ao
corpo do inseto, uma escama, importante na taxonomia dos cupins.
Os operários e soldados dos cupins possuem uma depressão com poro frontal na cabeça,
denominada fontanela, que é ligada a uma glândula cefálica, e expele um líquido viscoso e espesso,
com função de defesa. Outra característica importante de insetos dessa ordem é a associação
mutualística existente entre o inseto e protozoário (Filo Mastigophora, Classe Hypomastigina) ou
bactérias, que se localizam no intestino do mesmo, responsável pela digestão do material celulósico
ingerido pelo inseto.
A. Princiapis espécies
No Brasil ocorrem quatro famílias de cupins:
• Kalotermitidae: cupins considerados primitivos que não possuem fontanela. Atacam
madeira seca e nunca constroem ninhos; não apresentam operárias; alimentam-se exclusivamente
de madeira; possuem simbiontes (protozoários flagelados) no interior do intestino. Os principais
gêneros são Cryptotermes, Neotermes e Rugitermes, que são mais importantes como pragas de
madeira processada.
• Rhinotermitidae: cupins com fontanela; alados possuem asas com as escamas alares
anteriores longas, cobrindo ou pelo menos tocando a base das escamas posteriores; as formas
ápteras têm o pronoto plano, sem lobo ou projeção anterior no tórax; soldados não apresentam
dentes basais nas mandíbulas; constroem ninhos subterrâneos, atacando plantas vivas e madeira
morta. Os principais gêneros são Coptotermes e Heterotermes, que são conhecidos por cupins de
cerne, pois atacam preferencialmente essa parte da madeira.
• Termitidae: é a principal família dos cupins; presença de fontanela; asas com as
escamas alares anteriores curtas ou do mesmo tamanho das posteriores; soldados com projeção ou
lobo anterior no pronoto em forma de “sela”; apresentam dentes mandibulares basais desenvolvidos;
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constroem diferentes tipos de ninhos e possuem hábitos alimentares variados, como, por exemplo,
madeira, folhas, húmus etc. Existem espécies que são cultivadores de fungos; no entanto, em
condições brasileiras isto não ocorre. Os principais gêneros são Cornitermes, Nasutitermes,
Syntermes e Anoplotermes, que são as principais pragas de mudas no campo.
• Serritermitidae: até recentemente continha uma única espécie, Serritermes serrifer, que
ocorre apenas no Brasil. Novas evidências indicam que Glossotermes oculatus, espécie da Amazônia
previamente incluída em Rhinotermitidae, também pertence a Serritermitidae.
Estas famílias podem ser agrupadas em três grupos:
Xilófagos: são os cupins que vivem no interior do tronco das árvores ou de madeiras tratadas
(móveis, mourões de cercas etc.) e não entram em contato com o solo. Todos os cupins deste grupo
pertencem à família Kalotermitidae.
Arborícolas: esse grupo refere-se aos cupins que constroem ninhos nos troncos das árvores ou em
paus podres, mas se comunicam com o solo através de galerias superficiais, de onde saem para
buscar o alimento, voltando depois para o ninho. Além da madeira, eles se alimentam de húmus,
sendo que no intestino há presença de microorganismos bacterianos. A família Rhynotermitidae é a
família mais comumente encontrada nesse grupo, seguida pela Serritermitidae.
Humívoros: são aqueles cupins que vivem em ninhos feitos no chão e nunca em cima de árvores, os
quais se alimentam de húmus. No intestino também há a presença de microorganismos do grupo das
bactérias. A principal família é a Termitidae, encontrada em todo o Brasil, construindo ninhos grandes
e complexos. Essa família é bastante diversificada e compreende cerca de 85% das espécies de
cupins conhecidas do Brasil.
Os cupins podem consumir vários tipos de alimento, como húmus, madeira, vegetais vivos,
couro, lã, matéria orgânica etc., graças à simbiose que apresentam com bactérias e protozoários,
que excretam enzimas capazes de transformar esses produtos em substâncias que podem ser
assimiladas pelos cupins. Esses simbiontes vivem junto à membrana do intestino posterior
(proctódeo). Como essa membrana é eliminada durante o processo de ecdise ou troca de tegumento,
os cupins perdem parte de sua fauna intestinal. Para repor os simbiontes, os cupins desenvolveram o
comportamento de trofalaxia anal, que corresponde à troca de alimento proctodéico entre indivíduos.
Outra forma de troca de alimento é através da boca, conhecida como alimento estomodéico, que é
um líquido claro, usado para alimentar as formas reprodutoras e os soldados.
Além disso, há um comportamento típico, conhecido como "grooming" (limpeza), através do
qual os indivíduos lambem-se uns aos outros. Isso parece funcionar como forma de comunicação,
mas, principalmente, age na eliminação de partículas estranhas ou de patógenos que podem causar
doenças em indivíduos de uma colônia. A trofalaxia, o “grooming” e o acentuado canibalismo são
muito importantes quando se introduz algum agente de controle desses insetos, pois irão
potencializar a ação controladora entre os indivíduos da colônia.
As principais espécies de importância florestal são:
Cupins subterrâneos
Heterotermes tenuis (Hagen, 1858) e Heterotermes longiceps (Snyder, 1858) (Rhinotermitidae).
Características: ninhos subterrâneos e difusos; operárias pequenas, esbranquiçadas e de aspecto
vermiforme;
Prejuízos: provocam dano às raízes, colo e caule, causando perda do poder germinativo e
prejudicando o desenvolvimento das plantas. Também atacam o cerne da planta, provocando perda de
material lenhoso.
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Syntermes molestus (Burmeister, 1839), Syntermes obtusus Holmgren, 1911 e Syntermes insidians
Silvestri, 1945 (Termitidae).
Características: ninhos subterrâneos com pequenas câmaras semelhantes às das formigas "lava pés"; há comunicação entre as câmaras, e entre estas e o exterior, por meio de canais estreitos e
tortuosos, que se abrem na superfície do solo como "olheiros", com diâmetro de 5 a 8 cm,
principalmente à noite;
Prejuízos: exercem o forrageamento das folhas e roletamento do caule na altura do coleto,
prejudicando o seu crescimento.
Cupins de montículo
Cornitermes cumulans (Kollar, 1832) e Cornitermes bequaerti Emerson, 1952 (Termitidae).
Características: ninhos em montículos; formato variado; 50 a 100 cm de altura; câmara externa de
terra, de 6 a 10 cm de espessura, cimentada com saliva; parte interna de celulose e terra, menos
dura, com galerias horizontais superpostas e separadas por paredes verticais, revestidas por camada
escura;
Prejuízos: dificultam os tratos culturais e o manejo, dependendo do nível de tecnologia adotado. Com
relação ao consumo de plantas, é mais importante na fase inicial da cultura, quando pode reduzir o
estande. Quando a cultura já está estabelecida, o cupim-de-montículo causa pouco dano às plantas.
Cupins do cerne
Coptoterme testaceus (Linnaeus)
Características: ninhos subterrâneos; geralmente com alguma conecção com a madeira.
Prejuízos: atacam as árvores vivas, instalando suas colônias no interior do cerne da planta cultivada.
Provocam perda direta do material lenhoso. Além disso, as plantas perdem sua resistência e se
quebram quando ocorrem ventos fortes.
B. Formação da colônia de cupins
As formas aladas são produzidas em grandes quantidades e ficam no cupinzeiro durante
algum tempo, às vezes até três meses. Anualmente, no início do período chuvoso ocorre nas
colônias de cupins um fenômeno conhecido como enxamagem ou enxameagem, caracterizado pelo
surgimento desses reprodutores alados (siriris ou aleluias) em grande número.
Os adultos alados voam do ninho preferencialmente no crepúsculo de dias claros e tardes
nubladas e com alta umidade do ar, sendo que durante o vôo não há o acasalamento, diferente do
que acontece com formigas e abelhas. Ao caírem no solo, livram-se de suas asas membranosas e só
então estarão aptos para realizarem a primeira cópula após a procura por um parceiro sexual. Após a
formação do casal real, eles encontram um local adequado e iniciam a escavação do cupinzeiro, que
se inicia com uma galeria e termina na “câmara nupcial”, onde o casal copula e a fêmea inicia as
posturas. Cerca de um mês após, aparecem as primeiras formas jovens, que serão criadas pelo
casal real. Após algum tempo estas formas jovens começam a se locomover e, no último estágio
ninfal, se diferenciam e passam a desempenhar todas as funções da colônia, exceto a procriação. O
cupinzeiro cresce rapidamente, podendo ter milhões de indivíduos, e inicia o processo de revoada,
fechando o ciclo (Figura 31). A rainha pode viver 10 anos e as rainhas de substituição por 25 anos.
A rainha, quando completamente desenvolvida, possui o abdome muito volumoso, chegando
a ter duzentas vezes o volume do resto do corpo, sendo esse processo conhecido por fisogastria ou
fisiogastria. O número de ovos postos depende da espécie, da idade e condições do meio em que
vivem; em média as rainhas ovipositam cerca de 50 mil ovos durante aproximadamente 6 a 10 anos
de vida.
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Reprodutores alados ou imagos
Reprodutores após perda das
asas
Soldado
O
p
e
r
á
r
i
o
Ninfa
Rei
R
a
i
n
h
a
Ovos
Jovem
Jovem
Reprodutores de substituição
FIGURA 31. Ciclo de vida de cupim. Fonte: Berti Filho (1993).
A colônia pode ser formada também através da fragmentação de uma colônia adulta, por
quebra natural ou provocada por animais ou o homem. Isso ocorre porque em uma colônia adulta
existem os reis e rainhas de substituição que servem para tomar o lugar do rei ou rainha quando
estes morrem, por isso que não se deve quebrar um cupinzeiro antes de matá-lo, pois isso irá
multiplicá-los.
C. Castas de cupins
Assim como em todos os insetos sociais (formigas, abelhas etc.), existem divisões morfofisiológicas de indivíduos dentro de uma colônia de cupins, na qual existem grupos responsáveis por
desempenharem determinadas tarefas, como por exemplo, reprodução, segurança da colônia,
cuidados com a prole, com a limpeza, com o forrageamento etc., sendo esses grupos denominados
castas (Figura 32).
A origem das castas pode ser explicada por duas teorias ainda não comprovadas. A
primeira recorre a uma questão hereditária, ou seja, na fase embrionária da blastogênese se daria a
definição da casta a que pertenceria o indivíduo. A segunda teoria baseia-se em questões
nutricionais, ou seja, insetos que, na fase de ninfa, recebem alimento proctodeal contendo saliva, têm
uma inibição na permanência de protozoários no intestino, o que daria espaço para o desenvolvimento
normal do aparelho reprodutor, originando as formas reprodutoras (aleluias).
Nas colônias, além das formas jovens mencionadas anteriormente, nos vários estágios de
desenvolvimento, há sempre duas categorias de indivíduos adultos formadas por castas bem
distintas. A primeira compreende os indivíduos reprodutores, sexuados alados, machos e fêmeas,
que propagarão a espécie. A segunda é constituída pelas formas ápteras de ambos os sexos, férteis
ou estéreis. Estes últimos constituem a categoria de indivíduos que apresentam os seus órgãos
reprodutores não completamente desenvolvidos. Nesta categoria há indivíduos de duas castas, a dos
obreiros ou operários e a dos soldados.
Estas duas formas são as mais conhecidas pelo nome de cupins, devido à sua presença
constante no termiteiro. São ninfas e adultos de ambos os sexos que realizam a maior parte do
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trabalho de uma colônia. Desempenham todas as funções na comunidade, menos a de procriação,
uma vez que essas duas castas são, em regra, completamente estéreis.
Castas
Temporárias
(alados e
sexuados)
Permanentes
(ápteros sexuados)
Fêmeas e
Machos
(aleluias)
Reprodução
sexuada da
colônia
Reprodução
sexuada da
colônia
Férteis
Rainha e
rei
Rainhas e
reis de
substituição
Produção
de ovos
Substituem
o casal real
quando
morrem
Estéreis
Soldados
Operários
Defendem
a colônia
Cuidam da
prole,
forrageiam
alimento e
constroem o
ninho
FIGURA 32. Castas da colônia de acordo com a função na sociedade.
Os operários, também conhecidos por obreiros, geralmente são esbranquiçados ou de cor
amarelo-pálida, ápteros, possuem mandíbulas pequenas e, normalmente, são desprovidos de olhos
compostos e ocelos. Pelo fato de não possuírem olhos compostos e de serem fototrópicos negativos,
desenvolvem as suas atividades sempre na obscuridade, sendo que ao forragearem um material mais
ou menos longe do ninho, estabelecem comunicações mediante galerias ou túneis construídos de
partículas de terra e dejeções cimentadas pela saliva.
Geralmente, os operários são responsáveis por buscar o alimento, alimentar as rainhas e os
soldados jovens, construir ninhos, túneis e galerias. Desta forma, são eles os responsáveis pelos
danos às culturas. Além disso, eles cooperam com os soldados na defesa da comunidade.
Os soldados são bem semelhantes aos operários por serem, na maioria das espécies,
ápteros e cegos, diferindo daqueles essencialmente por apresentarem a cabeça muito mais volumosa
e esclerotizada, de cor amarelo- pálida; apresentam mandíbulas bastante desenvolvidas, porém
incapazes de servir na mastigação. Assim, exercem a função de defenderem a comunidade contra
qualquer intruso, além de proteger o trabalho dos operários, podendo agarrar-se ao inimigo durante o
ataque, quando possuem mandíbulas robustas.
Os operários e os soldados ocasionalmente podem apresentar órgãos reprodutores
funcionais, podendo excepcionalmente colocar ovos. Uma mesma espécie pode ter somente
soldados grandes ou pequenos, sendo que em outras espécies pode haver grandes e pequenos
soldados e um só tipo de operário, ou, então, grandes e pequenos operários e um só tipo de soldado.
Quando em um cupinzeiro falta um dos representantes do casal real, a proliferação da
colônia é mantida à custa de indivíduos que, embora se apresentem como formas jovens providas de
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tecas alares, são sexualmente bem desenvolvidos, constituindo, assim, uma outra casta de
reprodutores chamados reis e rainhas de reserva, de substituição, de complemento ou
complementares. Em geral, são indivíduos que se originam de um tipo especial de jovens, diferentes
dos que dão origem às formas aladas. Tais indivíduos distinguem-se das ninfas que originarão os
reprodutores alados por apresentarem o tegumento menos esclerotizado e pigmentado, além de
possuírem tecas alares mais curtas. Existem casos em que podem ser encontrados indivíduos
reprodutores de substituição oriundos de jovens de operários e até mesmo de soldados.
A existência de indivíduos de substituição só ocorre após o desaparecimento de um ou de
ambos os representantes do par real. Mas em algumas espécies, também pode ocorrer normalmente
a substituição por indivíduos sexuados complementares.
Além da reprodução sexuada, novas colônias de cupins podem também ser formadas
assexuadamente, através da fragmentação de uma colônia adulta por quebra natural ou provocada por
animais ou pelo homem. Isso ocorre porque os reis e rainhas de substituição tomam o lugar do casal
real na parte fragmentada, formando nova colônia. Por essa razão não se deve fragmentar um
cupinzeiro antes de controlá-lo, pois isso poderá multiplicá-lo.
D. Estrutura da colônia
Um cupinzeiro típico é constituído das seguintes partes:
• Camada externa: camada de terra endurecida pela saliva dos cupins e de consistência
quase pétrea, que protege a colônia do meio externo e dá forma ao cupinzeiro.
• Endoécia ou câmara nupcial: é a câmara onde vive o casal real e onde são depositados
os ovos.
• Periécia ou canais de comunicação: são as galerias periféricas que se comunicam com
o exterior e com as fontes de alimento.
• Paraécia ou bolsas de manutenção climática: é o espaço que existe entre o cupinzeiro
e o solo que o circunda, destinado à manutenção de umidade e temperatura constantes no interior do
ninho.
• Câmara de celulose: é o local onde é depositada matéria orgânica e criadas as formas
jovens, constituindo a maior parte do ninho.
Os cupins podem construir vários tipos de ninhos, como galerias e câmaras simples
(cupins de madeira seca), ninhos subterrâneos (cupim-de-terra-solta), ninhos arborícolas (túneis
cobertos) ou de montículos ("murunduns") (Figura 33).
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Coptotermes
sp.
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Nasutitermes
Heterotermes
Nasutitermes
Cornitermes
Anoplotermes
Amitermes
Syntermes
FIGURA 33. Tipos de ninhos de cupins. Fonte: Berti Filho (1993).
E. Monitoramento de cupins
Amostragem pré -plantio: a amostragem prévia pode ser realizada dividindo toda a área de plantio
em parcelas de 50x50 m (2500 m 2). No centro de cada parcela é enterrado um rolo de papelão
corrugado (termitrap) pelo menos 30 dias antes do plantio. A avaliação é feita pouco antes do plantio,
contando-se os ninhos do cupim subterrâneo Syntermes spp. (montículos de terra solta) em cada
parcela e o número de cupins nos tremitrap. As parcelas que tiverem densidade maior que 1 ninho de
Syntermes ou mais de 10 cupins por termitrap devem receber nota 1 e as demais recebem nota 0.
Com isso obtem-se um mapa de infestação de cupinzeiros do talhão. As parcelas que receberam
nota 1 devem receber mudas tratadas previamente com calda inseticida. As demais recebem mudas
não tratadas.
Amostragem pós-plantio: essa amostragem é feita durante as operações de ronda pós-plantio, com
o lançamento de transectos ao acaso, correspondentes às linhas de plantio (Figura 34). Selecionamse 3% das linhas de plantio, com no mínimo duas linhas por talhão. Em cada linha, conta-se o
número total de mudas e o número de mudas atacadas, anotando-se a informação na ficha de
amostragem e calculando-se a percentagem de mudas atacadas (Figura 35). O nível de controle é de
2 a 5% de mudas atacadas.
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Contar o número total de mudas e o
número de mudas danificadas
Linha de plantio selecionada
Talhão
FIGURA 34. Esquema de amostragem de cupins por transectos em linhas de plantio.
Ficha de Monitoramento de Cupins e Avaliação de Mudas Atacadas
Região:
Talhão:
Espécie Planta:
Amostra
Total
Fazenda:
Área:
Idade:
Projeto:
Data:
Monitor:
Número de mudas
Totais
Danificadas
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% Mudas atacadas:
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Ação:
FIGURA 35. Ficha de monitoramento e avaliação de mudas atacadas por cupins.
F. Estratégias e táticas do manejo de cupins
- Táticas de controle cultural
Estudos mostram que adubação adequada das plantas propicia maior resistência ao ataque
de cupins. Alem disso, recomenda-se fazer o plantio em época chuvosa para acelerar o
desenvolvimento das plantas e escapar da fase de danos por cupins, que geralmente ocorre após 6
meses após o plantio.
Recomenda-se, também, não fazer aração nem arrancar os cupinzeiros antes de matá-los,
pois irá multiplicar os ninhos, devido à possibilidade de haver reprodução da colônia por
fragmentação, quando são formados reis e rainhas nas partes do ninho que ficaram sem eles.
- Táticas de controle biológico
A utilização de fungos entomopatogênicos no controle de cupins, tem-se mostrado
altamente promissora. A estratégia utilizada é aplicar grande quantidade de fungos sobre os insetos,
através de polvilhadeira, adaptada com uma câmara na mangueira de descarga para melhorar a
distribuição do fungo dentro do ninho (Figura 36), ou através da impregnação em iscas de material
celulósico.
FIGURA 36.
Polvilhadeira manual utilizada na aplicação de fungos em cupinzeiros. A - câmara
adaptada à mangueira; B - orifício de aplicação no cupinzeiro; C - câmara de celulose;
D - camada externa. Fonte: Moino Júnior (1998).
Essas iscas ou armadilhas atrativas são impregnadas com conídios de entomopatógenos
ou a associação destes com inseticidas para controlar os cupins subterrâneos. Essa técnica
consiste na ação lenta do material impregnado sobre a população de cupim quando eles se
alimentam das iscas. Além do controle, podem-se usar essas iscas, sem os agentes impregnantes,
para o monitoramento das populações desses insetos.
Vários tipos de materiais de origem celulósica têm demonstrado eficiência na atratividade
dos cupins, como, por exemplo, blocos de madeira de baixa densidade, papel toalha, papel-filtro, rolo
de papel higiênico e papelão ondulado. Outros estudos demonstraram que a atratividade intensifica-se
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quando esses materiais celulósicos foram associados com outros produtos, como, por exemplo,
bagaço de cana-de-açúcar “in natura”, rolão de milho, fezes secas e frescas de bovinos e folhas de
celulose picadas.
É importante salientar que essa técnica de monitoramento e controle encontra-se em fase
experimental, não sendo ainda comercializada.
- Táticas de controle químico
Tratamento do cupinzeiro: no caso de cupins de montículo, que são facilmente encontrados, podese fazer o combate diretamente nos ninhos, bastando perfurar o montículo com uma lança de ferro
até atingir a câmara de celulose e aplicar o inseticida com auxílio de uma mangueira acoplada a um
funil. Fazer o combate dos cupins de montículo de 30 a 60 dias antes do preparo do solo,
independente de amostragem (Figura 37). Não é necessário tampar o orifício após a aplicação do
produto, que são listados na Quadro 22.
combate
cupim
montículo
tratamento
pré-plantio +
plantio
ronda
J
F
M
ronda
A
M
J
J
A
S
O
N
D
monitoramento
pré-plantio
FIGURA 37. Planejamento das operações de controle químico contra cupins em reflorestamentos.
QUADRO 22. Produtos químicos recomendados para o tratamento de cupinzeiros.
Nome Técnico
fention
imidacloprid
fipronil
Nome Comercial
Lebaycid 500 CE
Confidor 700 GrDA
Regent 20 G
Dosagem
300 ml/100 l água - 1 l calda/ninho
30 g/100 l água - 1 l calda/ninho
5 g/ninho
Se forem encontrados cupinzeiros do gênero Syntermes (cupim subterrâneo) pode-se
combatê-los diretamente através da aplicação de inseticidas em pó ou termonebulização, semelhante
à aplicação de formicidas. Porém, existem poucos produtos registrados e os ninhos são profundos e
difíceis de serem localizados, o que dificulta esse tipo de combate.
Tratamento das mudas: no caso de cupins subterrâneos, que são dificilmente encontrados, podese fazer o combate através do tratamento das plantas antes ou após o plantio (Figura 37).
Tratamento pré-plantio: o tratamento pré-plantio consiste na imersão das mudas em calda
inseticida (Quadro 23) imediatamente antes do plantio, conforme Figura 38.
QUADRO 23.Recomendação para tratamento de mudas pré-plantio contra cupins.
Nome Técnico
fipronil
Nome Comercial
Tuit NA
Dosagem
500g/100 l água (para tratar 8000
mudas) – imersão das mudas até o
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imidacloprid
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coleto durante 20 segundos e deixar
escorrer por 2 minutos.
400g/100 l água (para tratar 8000
mudas) – imersão das mudas até o
coleto durante 20 segundos e deixar
escorrer por 2 minutos.
Confidor 700 WG
Tratamento pós-plantio: é realizado quando a amostragem pós -plantio indicar necessidade
de combate (Figura 37). Nesse caso, basta pulverizar as mudas na altura do coleto com calda
inseticida (Quadro 24), usando bico de jato cônico, conforme Figura 38.
QUADRO 24. Recomendação para tratamento de mudas pós-plantio contra cupins.
Nome Técnico
fipronil
Nome Comercial
Tuit NA
imidacloprid
Confidor 700 WG
Dosagem
125g/ha - pulverizar as mudas no coleto
com 20 ml calda/planta
150g/ha - pulverizar as mudas no coleto
com 20 ml calda/planta
Fipronil 0,5%
Tratamento préplantio
Tratamento pós-plantio
FIGURA 38. Esquemas dos tipos de tratamentos de mudas contra cupins realizados nas fases de
pré-plantio e pós-plantio.
Tratamento com iscas atrativas: podem-se usar iscas atrativas (papel cartonado ou outro material
celulósico) impregnadas com fungos entomopatogênicos e inseticidas estressores (imidacloprid) em
concentrações subletais. Esse tipo de tratamento encontra-se em fase experimental, não sendo
utlizado ainda comercialmente.
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