Pictures of the Future
Transcrição
Pictures of the Future
5/7/08 6:10 PM Page 1 Pictures of the Future | 1/2008 BR 52-01_lombada compensada.qxd:PoF Titel_1_2007_end.qxd www.siemens.com/pof Pictures of the Future A Revista de Pesquisa e Inovação | 1/2008 www.siemens.com/pof Publisher: Siemens AG Corporate Communications (CC) and Corporate Technology (CT) Wittelsbacherplatz 2, 80333 Munich For the publisher: Dr. Ulrich Eberl (CC), Arthur F. Pease (CT) [email protected] (Tel. +49 89 636 33246) [email protected] (Tel. +49 89 636 48824) Escritório Editorial: Dr. Ulrich Eberl (ue) (Redator-Chefe) Arthur F. Pease (afp) (Redator Executivo, Edição em inglês) Dr. Norbert Aschenbrenner (na) (Diretor Superintendente) Sebastian Webel (sw) Ulrike Zechbauer (uz) Outros autores neste número: Bernhard Bartsch, Dr. Dagmar Braun, Bernhard Gerl, Harald Hassenmüller, Andrea Hoferichter, Ute Kehse, Andreas Kleinschmidt, Michael Lang, Katrin Nikolaus, Bernd Müller, Werner Pluta, Gitta Rohling, Dr. Jeanne Rubner, Tim Schröder, Rolf Sterbak, Dr. Sylvia Trage, Dr. Evdoxia Tsakiridou, Harald Weiss, Nikola Wohllaib Edição de fotos: Judith Egelhof, Irene Kern, Jürgen Winzeck, Publicis Munich Fotos: Kurt Bauer, Natalie Behring, Thomas Langer, Andreas Messner, Bernd Müller, Norbert Michalke, Ruppert Oberhäuser, Andreas Pohlmann, Karsten Schöne, Marc Steinmetz, Volker Steger, Jürgen Winzeck Internet (www.siemens.com/pof): Volkmar Dimpfl Informações Históricas: Dr. Frank Wittendorfer, Siemens Corporate Archives Endereço da Base de Dados: Susan Süß, Publicis Erlangen Layout / Litografia: Rigo Ratschke, Büro Seufferle, Stuttgart Ilustrações: Natascha Römer, Stuttgart Gráficos: Jochen Haller, Büro Seufferle, Stuttgart Traduções do alemão para o inglês: TransForm GmbH, Colônia Traduções do inglês para o alemão: Karin Hofmann, Heiner Weidler, Publicis Munique Impressão: Bechtle Druck&Service, Esslingen Materiais para o meio ambiente Novos materiais são a chave para o fornecimento eficaz de energia Pictures of the Future, syngo, PlantCalc, NX, Teamcenter, Tecnomatix e outros nomes são marcas registradas da Siemens AG. ICE é marca registrada do Deutsche Bahn AG. Second Life é marca registrada da Linden Research, Inc. Outros produtos e nomes de empresas mencionados nesta revista poderão ser marcas registradas de suas respectivas empresas. O conteúdo editorial dos relatórios nesta publicação não reflete necessariamente as opiniões da publisher. Esta revista contém projeções para o futuro, cuja precisão a Siemens não pode garantir de nenhuma forma. Pictures of the Future é publicada duas vezes ao ano. Impresso na Alemanha. A reprodução dos artigos no todo ou em parte só será permitida com a autorização do escritório editorial, o que também se aplica ao armazenamento em bases de dados eletrônicas ou na Internet. Edição em português: Comunicação Corporativa (CC) da Siemens no Brasil Fotos: Divulgação Siemens/Única Editoração: 2:d Comunicação e design Impresso no Brasil pela Margraf Editora e Indústrias Gráficas Ltda. Tiragem desta edição: 3 mil exemplares © 2008 por Siemens AG. Todos os direitos reservados. Siemens Aktiengesellschaft Número do pedido: A19100-F-P113-X-7600 ISSN 1618-5498 Fábricas do Futuro / Materiais para o Meio Ambiente Crédito das fotos: Universitätsklinikum Heidelberg (18 l., 19), Airbus S.A.S. (26, t., 47 l.b.), F1online / Fancy (37 b.), Toho Tenax Europe (47 b.r.). Todas as outras imagens: Copyright Siemens AG. Energia verde para o mundo Tecnologia Siemens é aplicada na produção do etanol de cana Produção virtual Testando produtos e seus processos de produção antes que eles sejam realidade BR 002-003.qxd:PoF 002-003.qxd 5/6/08 5:38 PM Page 2 Pictures of the Future | Editorial Prezado leitor, T razemos a você a versão em português de “Pictures of the Future”, uma das mais importantes publicações corporativas da Siemens. Sua versão em Inglês é distribuída em todos os países onde estamos presentes. Como bem sugere o título, esta revista aborda as tecnologias que irão moldar a nossa vida dentro de dez a vinte anos, a partir de pesquisas e estudos desenvolvidos pela Siemens, seja em parceria com universidades ou participando de projetos de renomados centros mundiais de pesquisa. exemplo, um dos grandes desafios deste século é encontrar o equilíbrio entre fornecer energia elétrica e minimizar os impactos negativos sobre o meio ambiente. As respostas podem ser encontradas na seção “Materiais para o Meio Ambiente” (páginas 22 a 50), que mostra novas tecnologias aplicadas nos revestimentos especiais de enormes turbinas a gás, em novos sistemas de acionamento para trens e em fontes altamente eficientes de iluminação. Destacamos também a contribuição do Brasil na produção do etanol de Nossas respostas às questões globais Adilson Primo Presidente da Siemens no Brasil Capa: A fábrica inteligente combina o mundo virtual do desenvolvimento de produtos e processos — neste caso, o projeto de um trem de alta velocidade, em uma fábrica da Siemens na Alemanha — com o mundo real da fabricação automatizada. Os clientes se beneficiam com produção mais rápida e flexível a custos mais baixos. 2 Pictures of the Future | 1/2008 Qualquer descoberta científica ou produto inovador é resultado de muitos meses ou anos dedicados a estudos e experimentos. E a história de nossa empresa, desde seu início, é marcada pela pesquisa e inovação nos três grandes setores em que atuamos: Industry, Energy e Healthcare. Há mais de 160 anos, Werner von Siemens apresentou ao mundo o telégrafo de ponteiro, construído com simples materiais numa pequena oficina, em Berlim. Simples, mas inovador, o invento exigia que seu operador fosse apenas alfabetizado sem a necessidade de conhecer o Código Morse. Alguns anos depois, Werner von Siemens promoveu uma verdadeira revolução na história da engenharia elétrica com a invenção do dínamo, o que tornou possível converter energia mecânica em elétrica e, assim, tornar a eletricidade amplamente disponível, tanto para iluminação quanto para novos tipos de motores. Ao longo de todos esses anos, a Siemens vem participando ativamente da extraordinária revolução tecnológica ocorrida no mundo. Para se manter sempre à frente de seu tempo e dar respostas às grandes questões da humanidade, nossos engenheiros, físicos e pesquisadores se dedicam à descoberta de novos e eficientes produtos que visam melhorar a vida das pessoas e, ao mesmo tempo, proteger o mundo. Por cana-de-açúcar e na produção de bioeletricidade, energia obtida com a queima do bagaço da cana. Um fato importante: a Siemens participa de todo o processo produtivo das usinas sucroalcooleiras, fornecendo soluções integradas de automação, além de um modelo específico de turbina desenvolvido na nossa fábrica de Jundiaí (SP). Contamos também com um centro de referência e de competência tecnológica em soluções de automação para as usinas. Isto muito nos orgulha, pois estamos falando de tecnologia nacional que está ajudando a suprir o mundo de combustível e energia, a partir de uma fonte limpa e renovável. Outras questões apresentadas pela sociedade estão embasadas no fenômeno decorrente das megatendências de urbanização e mudanças demográficas. A concentração da população nas grandes cidades apresenta desafios sem precedentes na história do mundo e exige respostas urgentes aos instigantes problemas apresentados nas áreas de saúde, saneamento e transportes de massa. Você poderá conhecer nas páginas seguintes algumas de nossas respostas para questões cruciais e as soluções que certamente impactarão positivamente o nosso modo de vida nos próximos anos. Boa leitura! BR 002-003.qxd:PoF 002-003.qxd 5/6/08 5:38 PM Page 3 Pictures of the Future | Destaques Destaques Materiais para o Meio Ambiente Fábricas do Futuro 6 Cenário em 2020 Surpreendentemente realista 22 Cenário em 2020 Revolucionários invisíveis 38 Turbinas Eólicas Pegando vento 8 Tendências Renascimento no universo virtual 28 Otimizando as Lâminas das Turbinas Agüentando o calor 41 Iluminação Progressos na área de emissores de luz 12 Planejamento da Fábrica Mesclando realidades 42 31 Blindagem de Cerâmica Contra o Calor Proteção feita com precisão Etanol de Cana-de-Açúcar Energia verde para o mundo 46 Transportes O caminho para um futuro mais leve A Maior Turbina a Gás do Mundo Eficiência inigualável 48 Demanda de Energia Identificando custos 50 Armazenamento de Energia Cofrinhos para economizar energia 15 Sistemas sobre Trilhos Trens de bits e bytes 18 Simulação das Instalações Otimizando a produção 32 35 36 Reciclando Placas de circuito se tornam ecológicas Materiais Renováveis Plásticos: um ramo em crescimento Reportagens 4 Curtas Soluções inteligentes / Lendo as mãos / Nova era da energia na China / Missão com visão / Tomografia computadorizada com maior resolução 20 Acelerador de partículas em CERN Resolvendo os mistérios do mundo 51 Prévia da próxima edição Pictures of the Future | Outono 2008 3 BR 004-005.qxd:PoF 004-005.qxd 5/6/08 5:35 PM Page 4 Pictures of the Future | Curtas Solução Inteligente U m protótipo de tomógrafo para fins médicos da Siemens combina tomografia por ressonância magnética (RM) e processo de imageamento da medicina nuclear, proporcionando conhecimentos inteiramente novos do interior do cérebro humano. Os especialistas acreditam que esta ferramenta exclusiva aperfeiçoará o diagnóstico do mal de Alzheimer em seus estágios iniciais e permitirá que os médicos avaliem com maior rapidez o estado dos pacientes que sofreram AVCs e proponham tratamentos. O dispositivo combina RM (imagem superior) e tomografia por emissão de positrons (imagem inferior). A RM contribui emitindo imagens dos tecidos moles em alta resolução e contraste nítido, enquanto o PET destaca as regiões que apresentam atividade metabólica aumentada, em detalhes muito precisos. Até hoje, os neurologistas que utilizam o PET não podiam diferenciar de maneira conclusiva entre distúrbios cognitivos de baixa intensidade e os estágios iniciais do mal de Alzheimer. Eles também estavam impossibilitados de medir simultaneamente a redução do volume do cérebro associada a Alzheimer. Com a ressonância magnética combinada com o PET (RM-PET) (imagem do centro), o exame pode ser feito agora em uma única etapa. Os médicos também podem usar o protótipo do tomógrafo para melhor monitorar e investigar o processo de outros distúrbios neurológicos, inclusive Mal de Parkinson, epilepsia, depressão e esquizofrenia. Os engenheiros do setor Healthcare da Siemens utilizaram diodos de fotos tipo avalanche, muito rápidos e sensíveis (APD), para servir como detectores de PET. Estes diodos não são afetados pelo campo magnético gerado pelo sistema de Ressonância Magnética, que funciona também com a unidade PET a uma intensidade de campo de três teslas, permitindo fornecer uma resolução de aproximadamente 0,2 milímetros. As imagens criadas pelos dois sistemas são então superpostas, uma sobre a outra, por computador, para produzir imagens contendo um nível de informações na sem precedentes. Um digitalizador manual complementa o software de autorização de acesso biométrico. Lendo as Mãos A Siemens agora oferece um dispositivo para leitura da palma da mão para autorização de acesso biométrico. A nova versão do software biométrico ID Center da Siemens suporta o leitor de superfície da palma das mãos PalmSecure, produzido pela Fujitsu, bem como todos os principais digitalizadores de impressões digitais do mercado e, é claro, SmartCards. O sistema está equipado com digitalizador infravermelho que lê a palma da mão em segundos, quando a mão da pessoa é mantida a uma distância de poucos centímetros. A unidade digitaliza o padrão das veias sob a pele e, em seguida, o computador compara os dados com amostras de palmas armazenadas. O dispositivo para leitura das palmas das mãos é geralmente utilizado em conjunto com um SmartCard. De maneira diferente das técnicas de leitura de impressões digitais, que exigem que o dedo seja pressionado ou arrastado sobre uma superfície especial, a confiabilidade do leitor de palmas da mão não é afetada pela sujeira ou lesões na pele. O sistema na pode até “ver” através de luvas. Identificação sem contato. O scanner é adequado para ambientes hospitalares estéreis. 4 Pictures of the Future | 1/2008 BR 004-005.qxd:PoF 004-005.qxd 5/6/08 5:35 PM Page 5 Nova Era para a Energia A O satélite-radar TerraSAR-X oferece uma resolução de um metro a 514 km da Terra. Missão com visão D esde junho de 2007, o satélite TerraSAR-X tem fornecido imagens com resolução de até um metro conforme órbita em torno da Terra. Durante sua missão de cinco anos, o satélite alemão digitalizará o planeta inteiro com radar, de uma altitude de 514 km, sem ser afetado por nuvens, condições meteorológicas ou de iluminação. O TerraSAR-X aumentará os detalhes do mapeamento de estradas, rodovias, estradas de ferro e edifícios, fornecendo importantes informações para o planejamento de infra-estruturas. Além disso, o satélite medirá as alterações nas calotas de gelo da Terra, fornecendo dados sobre as mudanças climáticas. A Siemens desenvolveu componentes-chave para o centro de controle da missão do satélite, em Oberpfaffenhofen, na Alemanha. O sistema de controle, que foi originalmente desenvolvido para a Agência Espacial Européia (ESA), foi adaptado e expandido para a missão TerraSAR pela Siemens. O sistema controla e monitora um satélite de cinco metros de comprimento, pesando 1.200 quilos. Como parte da modificação do sistema, os especialistas da Siemens IT Solutions and Services, PSE, na Áustria, instalaram uma solução especial de base de dados, que documenta a história completa do satélite e compila todos os dados relativos a controle, propulsão, posicionamento e configuração do satélite. A base de dados está programada para crescer até sete tera-bytes ao longo dos próximos cinco anos, o que é equivalente às informações contidas em na cerca de 1000 DVDs. Siemens está construindo a linha de energia de corrente contínua de longa distância com a maior capacidade do mundo. A ligação transportará energia por 1.400 quilômetros para o delta do Rio Pérola, na província de Guangdong, onde abastecerá Hong Kong, Shenzen e Guangzhou, megacidades com uma população total de aproxiLinha HVDC transfere energia das áreas rurais para os centros madamente 30 milhões de urbanos. habitantes. O sistema de transmissão em corrente contínua de alta tensão (HVDC) que a Siemens e seus parceiros chineses estão construindo trará uma nova era de transmissão de energia. Será o primeiro sistema a atingir a capacidade de 5.000 megawatts e alcançar 800 quilovolts. A alta tensão permite transmitir mais energia com menores perdas. As linhas HVDC que a Siemens instalou anteriormente funcionam a 500 quilovolts e fornecem até 3.000 megawatts. Como a energia para a linha HVDC é gerada por usinas hidrelétricas na província de Yunnan, não na haverá emissão de gás carbônico (CO2). CT de Alta Resolução E ngenheiros no centro de pesquisas Roke Manor da Siemens, em Romsey, no Reino Unido, desenvolveram um novo método que permite que os tomógrafos computadorizados (em inglês, CT) gerem dados muito mais rapidamente. O processo possibilita que uma unidade de transmissão óptica na parte rotatória do tomógrafo transfira os valores das medições Imagens para diagnósticos médicos mais nítidas, graças à contidos nessa seção para um rápida transmissão óptica. receptor óptico estacionário sem fazer contato. A Siemens planeja usar o novo método em sua próxima geração de tomógrafos, que atingirão uma taxa de dados de 8,5 gigabits por segundo, em comparação com a taxa atual de cinco gigabits por segundo. “Esta inovação torna possível transmitir maiores quantidades de dados no mesmo período, possibilitando a geração de resoluções mais elevadas de seções transversais e, em última análise, melhorando a qualidade dos dados”, diz o diretor de Marketing de Roke Manor, Paul Smith. As instalações de pesquisa de Roke Manor foram criadas há 50 anos e pertencem à Siemens na há 17 anos. Pictures of the Future | 1/2008 5 BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM Page 6 F á b r i c a s d o f u t u r o | Cenário para 2020 Destaques 8 Renascimento no Universo Virtual Ainda é um desafio transformar produtos virtuais em peças ou produtos equivalentes no mundo real. No entanto, a Siemens está fechando essa lacuna: um universo de possibilidades está se materializando. 12 Mesclando Realidades Fábricas simuladas contêm milhares de parâmetros de máquinas reais. Estes modelos estão sendo utilizados para calcular layouts e aspectos de ergonomia otimizados. 15 Trem de Bits e Bytes A Siemens e seus parceiros internacionais estão usando a realidade virtual para projetar, montar e testar trens completos. 18 Otimizando a Produção Como o funcionamento de um hospital pode se beneficiar de soluções criadas para processos industriais? A Siemens explica, com um projeto em Heidelberg. 2020 Uma empresa especializada em produzir protótipos virtuais de produtos e seus processos de produção associados é solicitada a projetar um assento de carro que pode funcionar também como veículo independente e autônomo. Trabalhando em conjunto com o cliente e com fabricantes e fornecedores de máquinas, os engenheiros projetam e testam cada aspecto do novo produto e de sua linha de produção no mundo virtual. 6 Pictures of the Future | 1/2008 BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM Page 7 Surpreendentemente realista! você pode descrevê-lo, nós podemos proPor volta de 2020, os fabricantes serão capazes de passar da ” ejetá-lo.” Esse é o nosso lema. Somos uma idéia para o produto acabado em uma fração do tempo empresa de médio porte especializada em sinecessário atualmente. O motivo: mesmo os produtos mais mulações industriais. Exemplo: há dois meses, um importante fabricante do setor automocomplexos, e seus processos de produção associados, serão bilístico fez uma solicitação que nos forçou a colocar nosso “Chapéu-Pensador” de professor projetados e testados no mundo virtual até a perfeição. S Pictures of the Future | 1/2008 7 BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM Page 8 Fábricas do futuro | Cenário em 2020 Pardal para trabalhar. Eles queriam que desenvolvêssemos um assento de carro robótico que pudesse se liberar do veículo com o usuário sentado nele, seguisse um percurso em um shopping center ou em um aeroporto, fosse operado por comandos de voz ou via internet e/ou por controles tipo joystick, fosse capaz de se deslocar até dez milhas e, se necessário, fosse capaz de voltar sozinho ao veículo-base ou pudesse ser enviado em missões independentes. Prazo: 60 dias para criar um protótipo virtual compatível para produção. Quando meu chefe me pediu para tomar conta do projeto, tudo que eu pude dizer foi “Uau!” Nossos engenheiros estavam viajando a trabalho – Dubai, Paris. Todo lugar. Mas isso não é nenhuma novidade. Então, eu montei uma equipe de especialistas e informei a todos sobre o novo arquivo que havia aberto na nossa base de dados de projetos online. O arquivo, que eu chamei de “XtraSit,” tinha todas as especificações do cliente e também modelos interativos em 3D de veículos, nos quais o protótipo poderia ser um item opcional. Assim que o arquivo foi ativado, um programa começou a procurar automaticamente tudo nas bases de dados de nossos fornecedores, desde pneus auto-infláveis e luminescentes a sistemas de freios do tipo cunha para motonetas, fabricados sob encomenda. Após alguns minutos, tinha sido montada uma lista completa de componentes potencialmente aplicáveis, com as especificações, preços, disponibilidade, possíveis datas de entrega e modelos interativos em 3D. Essas informações, junto com tudo que cada equipe havia desenvolvido, estavam disponíveis instantaneamente para todos, de forma interativa, utilizando um backbone (rede de alta velocidade) seguro de dados. O projeto foi dividido de maneira convencional: engenheiros mecânicos, engenheiros elétricos e especialistas em software e automação e, é claro, planejadores de produção. À medida que o projeto foi tomando forma, um programa mecatrônico integrou os dados desses especialistas em um objeto funcional holístico. Quando algumas linhas de software eram alteradas, por exemplo, as pessoas trabalhando em sistemas mecânicos e elétricos relacionados podiam ver como a mudança afetava seu trabalho. Naturalmente, muita coisa foi encontrada facilmente, pois se tratava de material de prateleira. Os componentes de visão, radar e de navegação, por exemplo, foram problemas comuns para qualquer carrinho de compras no mundo. Afinal, por que ter o trabalho de empurrar um carrinho pesado se você pode ter um que pode segui-lo? Em aeroportos, no entanto, a coisa é mais complicada. O cliente desejava que o XtraSit fosse capaz de levar usuários através de 8 Pictures of the Future | 1/2008 inspeções de segurança por ondas milimétricas sem sequer parar, ou seja, cada peça tinha que ser transparente às ondas de inspeção – em outras palavras: as peças deveriam ser fabricadas em materiais bioplásticos, materiais compostos, etc. À medida que o projeto do protótipo virtual avançava, os programas montavam automaticamente um protótipo virtual correspondente ao processo de produção que poderia produzi-lo. Modelos digitais funcionais, fotograficamente realistas, de braços robóticos e pistolas de soldagem completos, com especificações de hardware e software, podiam ser chamados e interconectados na estação de trabalho do engenheiro. Um grande número de empresas otimizou peças ou programas, valendo-se de nosso arquivo centralizado, realizando simulações e atualizando seus respectivos dados até o ponto em que o protótipo pudesse ser reproduzido perfeitamente no mundo real. Além disso, cada peça foi projetada para ser reciclada e cada alteração foi documentada automaticamente. Os protótipos virtuais de conjuntos mecânicos foram testados, assim como os passos de usinagem necessários para produzi-los. Nada foi deixado ao acaso. Depois de 60 dias – exatamente como o cliente havia solicitado – protótipos virtuais do assento, do processo de produção e de sua cadeia de suprimentos, incluindo embalagem e programação de entrega, estavam prontos para a simulação. O gerente de projeto do cliente, um sujeito de fala mansa, de nome Carson, que esteve envolvido no processo de desenvolvimento do produto e da produção desde o início, visitou nosso walk-in website – um serviço de protótipo que utiliza software de presença virtual em 3D para criar a ilusão de interatividade em tempo real em um ambiente simulado. Já no “site,” Carson examinou a aparência do assento em um dos carros top-de-linha de sua empresa. Ele andou pela linha de produção estudando os movimentos ágeis dos braços robóticos, ouvindo o ruído das correias transportadoras e o som vívido dos componentes sendo encaixados pelos avatares à distância. Parado ao lado de uma blindagem de proteção de acrílico de uma prensa de grande porte, ele deslizou distraidamente sua mão pela borda da prensa enquanto observava o braço da máquina descer impetuosamente, emitindo um ligeiro chiado pneumático. Uma fina película vermelha apareceu onde sua mão havia passado sobre a superfície transparente do acrílico. “Ai,” ele exclamou, olhando subitamente para baixo, para seu dedo indicador onde estava se formando uma gota de sangue. “Surpreendentemente realista” ele murmurou, praticamente para si mesmo. “Sim,” eu disse, “muito mais do que uma pessoa poderia esperar.” Arthur F. Pease | Tendências Renasci m BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM Page 9 Mundos virtuais permitem que planejadores visualizem e testem processos de produção futuros. O mesmo vale para produtos individuais – como o relé de sobrecarga da Siemens (imagem menor). Interligando Ciclos de Vida e Cadeias de Suprimento. A avançada tecnologia que está permitindo a fábricas, como a de Amberg, fazer a transição de ultrapassados diagramas em papel, documentos em Excel e soluções CAD para bancos de dados globais que permitem o uso interativo de imagens funcionais em 3D, em diversas fábricas, está baseada em um conceito chamado Gerenciamento do Ciclo de Vida de Produto (PLM, na sigla em inglês). O PLM envolve a integração e a documentação de todas as informações associadas a um produto – desde matérias-primas e fornecedores ao projeto e fabricação, e da entrega para o cliente à manutenção e descarte do produto – em uma base de dados única e coesa. Hoje, este processo está "ganhando gás". De acordo com o antigo presidente da unidade A&D (hoje desmembrada em Industry Automation & Drives Technologies), Helmut Gierse, “soluções independentes antigamente isoladas em projeto de produto, produção e software de manutenção estão sendo moldadas naquilo i mento no Universo Virtual Produtos e Products and processos manufacturing de fabricação processes já estão are sendo already desenvolvidos being developed e testados and tested em in virtual environments. ambientes virtuais. Porém, But transformar translatingprodutos them into virtuais their real-world em peças ou counterparts produtos is still a challenge. equivalentes no mundo As Siemens real ainda drawsé closer um desafio. to bridging À medida this que gap,anew Siemens possibilities chega are materializing, perto de preencherincluding essa lacuna, factories novasthat possibilidades design themselves estão se materializando, and walk-in Websites in incluindo fábricas whichque consumers se autoprojetam build their e websites own products. interativos (walk-in) nos quais os clientes montam seus próprios produtos. C omponentes minúsculos prosseguem indefinidamente em linhas de produção automatizadas. Uma linha monta placas de circuito impresso para sistemas de automação. Outra produz os contatores que irão ligar e desligar motores. Uma terceira produz o mais emblemático dos dispositivos de automação: uma botoeira. Os dispositivos são produzidos ininterruptamente em três turnos em uma fábrica operada pelas divisões de Industrial Automation & Drives Technologies, próxima a Amberg, uma cidade há uma hora a leste de Nuremberg. A fábrica é uma das 23 instalações similares da Siemens ao redor do mundo, que produzem componentes para um mercado de automação de 121 bilhões de euros por ano. É um mercado que – graças à sua capacidade em economizar tempo, dinheiro e energia – é praticamente insaciável. Para atender à demanda de produtos atuais e futuros, a fábrica de Amberg está criando uma cópia digital de si mesma. Dez engenheiros liderados pelo gerente de Projeto Holgerg Griesenauer estão usando um processo sofisticado e ferramentas de simulação e otimização de fábrica da UGS – agora uma divisão da A&D conhecida como Siemens PLM Software – para entender as especificações de cada produto produzido na fábrica, cada máquina usada na produção e cada ligação entre essas máquinas. que será, na realidade, um sistema integrado.” Porém, para ser abrangente, a visão do PLM de um produto deve ser complementada pela sua visão de Gerenciamento da Cadeia de Suprimento (SCM). O SCM fornece uma visão geral correspondente de dados logísticos e financeiros de um produto. A visão da Siemens – de acordo com Gierse – é que até 2020 o software necessário para produzir a visão PLM-SCM do produto estará tão holisticamente integrado que “cada faceta de seu ciclo de vida poderá ser simulada, levando assim ao comissionamento virtual e à geração automática de uma solução de produção no mundo real.” Embora a tecnologia de simulação baseada em PLM-SCM ainda esteja em seu início, ela Pictures of the Future | 1/2008 9 BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM Page 10 Fábricas do futuro | Tendências está alterando profundamente a maneira como as empresas conduzem seus negócios. No momento, de acordo com a AMR Research, empresa líder em consultoria para a otimização de cadeias de suprimento, cerca de 20% de todas as alterações em produto e produção são realizadas no mundo virtual. E com um bom motivo. Estudos realizados pelo instituto alemão Fraunhofer indicam que tecnologias de simulação avançadas, como as que estão sendo implementadas em Amberg e nas instalações de Mobility (antiga Transportation Systems), em Krefeld, Alemanha, resultam em uma redução de 15% no tempo de desenvolvimento de produto, melhoria de 10% em produtividade, corte de 20% nos custos de planejamento de novas instalações de produção e melhoria de 15% na qualidade do produto. locomotivas e turbinas para moinhos de vento, produzidos em lotes relativamente pequenos. “Como cada pedido de projeto é específico, a simulação tem um papel importante em termos de minimizar o tempo de desenvolvimento,” comenta Robert Neuhauser, que chefia setoreschave na Cadeia de Suprimento e Compras Corporativas da Siemens e é um dos líderes da Iniciativa Conjunta de Inovação e Fabricação da empresa (veja o box ao lado). À medida que essas tendências tomam forma, a Siemens vislumbra que as fábricas atuais vão evoluir para fábricas digitais inteligentes. “As representações digitais de fábricas vão permitir a modernização de suas instalações físicas necessária uma alteração no mundo real, nós poderemos simular uma solução tão precisa que ela gerará automaticamente o software para alterar o comportamento da máquina para atender à nova especificação. Atender ao Desafio da Mecatrônica. Entretanto, antes que a visão coletiva da Siemens de um cenário de informações de produção virtual / real totalmente integrado possa ser concretizada, terá que ser superado o que os especialistas chamam de “o desafio mecatrônico” – um tipo de Monte Everest tecnológico no qual os dados relativos às características mecânicas e físicas de objetos são combinados com suas Atualmente, cerca de 20% de todas as alterações de produto e de produção ocorrem no mundo virtual. Seja aplicada para visualizar linhas de produção automotivas (à esquerda) ou para planejar fábricas completas (à direita), a simulação pode otimizar praticamente todos os aspectos da produção. A simulação é atrativa não apenas devido às vantagens econômicas, mas também porque representa a única resposta realista às principais tendências que afetam a maioria das empresas. Essas tendências incluem maior individualização do produto, cadeias crescentes de valor distribuído, aumento na complexidade e funcionalidade do produto e pressão interminável para passar da idéia do produto à introdução no mercado no menor intervalo possível. Fábricas Autoconfiguráveis. Além disso, à medida que a empresa se afastou dos negócios com commodities em componentes para comunicações e peças automotivas, a Siemens testemunhou outra tendência que exige o uso intensivo de simulação: um forte aumento em negócios relacionados a projetos — itens como 10 Pictures of the Future | 1/2008 muito mais rapidamente e com maior precisão do que é possível no momento”, diz Ralf-Michael Franke, da Divisão de Sistemas de Automação Industrial. “Assim, quando os componentes forem instalados na fábrica física, eles irão se autoconfigurar e estabelecer a comunicação entre si, eliminando desta forma o tempo de partida. Uma vez em operação, os processos de produção se otimizarão e até se corrigirão entre si. O ponto-chave é que os mundos virtual e real estarão cada vez mais entrelaçados.” Gerd Ulrich Spohr, diretor de Tecnologia Estratégica, explica exatamente como o grau de entrelaçamento desses mundos pode vir a se concretizar: “Queremos que as máquinas e os processos no chão-de-fábrica gerem informações que irão ajustar com precisão suas contrapartes no mundo virtual. Então, quando for funções elétricas e de software em protótipos virtuais, dinâmicos e em tempo real. Alcançar isto envolverá a superação do fato de que as engenharias mecânica, elétrica e de software “cresceram como disciplinas separadas, cada qual com seu próprio conjunto de ferramentas de projeto”, destaca Bernhard Nottbeck, diretor da divisão de Processos de Produção da Siemens Corporate Research and Technology (CT). “Se pudermos combinar essas três disciplinas, será uma grande conquista”, diz. Além dos desafios de combinar os sistemas em um protótipo holístico, os desenvolvedores devem lidar com interações em tempo real de diversos parâmetros físicos, como temperatura, pressão e campos magnéticos no mundo virtual. “O resultado das interações entre tais forças é uma explosão de complexidade,” co- BR 06-11.qxd:PoF 078-083.qxd 5/6/08 5:51 PM menta Albert Gilg, diretor do Departamento de Projeto Virtual da Siemens CT. A Siemens será capaz de enfrentar esses desafios? No momento, partes importantes da visão integrada da empresa estão trabalhando em conjunto. Sem dúvida, a maior delas é a recente adição da Siemens PLM Software às divisões Industry Automation & Drives Technologies. A ampla oferta de produtos nessas divisões será complementada em breve pelo Simatic Automation Designer, uma suíte de ferramentas multifacetadas que, de acordo com o Líder do Projeto, Wolfgang Schlögl, “permitirá que engenheiros mecânicos, elétricos e de automação trabalhem em conjunto nas mesmas atividades de planejamento e de engenharia”. Quando adicionada às ferramentas de simulação da Siemens PLM Software, esta tecnologia poderá resultar em uma nova maneira de desenvolver produtos nos quais as informações de fabricação são geradas automaticamente a partir das suas especificações. Respostas na Fabricação. Muitas outras partes estão se juntando para montar a visão da Siemens. Na Divisão de Software e Engenharia (SE) da CT, por exemplo, os pesquisadores estão explorando como as informações relacionadas à fabricação podem ser estruturadas, para que possam ser transferidas sem problemas, sem precisarem ser digitadas/informadas mais de uma vez. “Em função da nossa pesquisa, podemos determinar agora como ferramentas de software distintas poderão trabalhar bem em conjunto,” diz Ulrich Löwen, diretor do Departamento de Engenharia de Sistemas da SE. E na Siemens Corporate Research (SCR), em Princeton, Nova Jersey, George Lo e colaboradores estão examinando como hierarquias de software centralizadas em sistemas de fabricação podem ser reconceitualizadas para tornálas imunes a panes. “O que estamos desenvolvendo,” diz Lo, “é um sistema caracterizado por controladores altamente distribuídos, capazes de se auto-reconfigurarem após um evento catastrófico para manter operações críticas.” Além disso, com o objetivo de criar ambientes de informação abertos, porém também inteiramente compatíveis, nos quais simulações e máquinas reais possam interagir, a SCR e as divisões de Automation & Drives estão testando uma plataforma de software baseada em modelos semânticos comuns. “Imagine que todas as pessoas em uma sala fossem solicitadas a desenhar uma casa, você teria tantos modelos quanto pessoas presentes. Bem, isso também ocorre com o software utilizado por nossas unidades de negócio. Entretanto, se pudermos padronizar a semântica, então a comunicação será muito mais eficiente”, diz Lo. Page 11 As simulações se tornarão cópias precisas da realidade – mas com uma flexibilidade de produção virtualmente sem limites. Onde todos esses desenvolvimentos nos levarão nos próximos vinte anos? “Estamos nos direcionando para uma representação virtual da cadeia de valor completa – tudo, desde matérias-primas à manutenção permanente, atendimento remoto e planejamento de produto e de produção em um ambiente holístico, coeso, de gerenciamento do ciclo de vida do produto e da cadeia de suprimentos,” informa Paul Camuti, CEO da Siemens Corporate Research. “Em vinte anos, os mundos real e virtual estarão integrados coesamente. Nossas simulações replicarão a realidade até o último detalhe. O resultado será uma flexibilidade de fabricação praticamente sem limites.” O resultado também poderá ser uma revolução no varejo e nas compras do consumidor. No momento, algumas lojas de roupas fornecem itens personalizados e “customizados em massa”. Entretanto, à medida que a tecnologia de simulação amadurece, quiosques de alta tecnologia e “websites interativos (walk-in)”, que nos conectam aos fabricantes e seus fornecedores, poderão nos permitir individualizar, testar e mesmo experimentar de forma profunda e realista a aparência e as "personalidades" de tudo, desde telefones e motonetas a roupas e o projeto e decoração de nossos lares. Nós poderemos até mesmo nos aventurar nos Arthur F. Pease mundos virtuais. A fabricação é importante na Siemens Com mais de 300 grandes fábricas, cada uma com vendas acima de 50 milhões de euros, a Siemens é um dos maiores fabricantes do mundo. De fato, na Siemens, mais de 150.000 pessoas (55% na Europa, 22% na América do Norte e 23% na Ásia) estão envolvidas em produzir de tudo, de LEDs a litotriptores. Em vista disso, a empresa estabeleceu recentemente uma “Iniciativa Conjunta de Inovação e Fabricação”, que faz a interface com representantes de todos as suas divisões. “Ao trabalhar com as divisões, estamos identificando os temas importantes, as melhores práticas e as melhores maneiras de compartilhar resultados”, diz Reinhold Achatz (foto), diretor de Pesquisa e Tecnologias Corporativas, que lidera a iniciativa. “Nossa meta é direcionar para a fabricação inovações relacionadas com tecnologia e relacionadas ao processo.” Isso faz sentido, considerando o fato de que melhorias na produtividade da fabricação na Siemens se traduzem em cerca de um bilhão de euros em economia por ano, de acordo com Robert Neuhauser, que trabalha em conjunto com Achatz na Iniciativa e lidera partes importantes das atividades da Cadeia de Suprimento e de Compras Corporativas da Siemens. “A fabricação mudou radicalmente nos últimos anos”, comentou. “Há dez anos, o planejamento a longo prazo era tudo. Hoje, o segredo do sucesso é flexibilidade. Em função disso, estamos treinando uma nova geração de gerentes de fábrica que entendam de P&D, de gerenciamento da cadeia de suprimento e, naturalmente, de fabricação.” Pictures of the Future | 1/2008 11 BR 012-014.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:23 AM Page 12 Fábricas do futuro | Planejamento de Fábrica Uma representação virtual de um local de produção futuro permite que os planejadores otimizem os processos e a ergonomia de fabricação. A fábrica de motores da Siemens em Tianjin, China, está ilustrada aqui. Mesclando realidades Os especialistas da Siemens simulam fábricas novas em computadores bem antes de qualquer coisa ser construída. Esses modelos 3D virtuais contêm milhares de parâmetros, a maioria deles de máquinas reais. Os modelos são usados para calcular layouts ideais de máquinas, rotas de movimentação de componentes, os riscos associados com a transferência da produção para outro local e, até mesmo, os esforços exigidos dos trabalhadores. C om oito galpões de fabricação, cada um tão grande quanto um campo de futebol e tão alto quanto um prédio de cinco andares, a unidade de produção de motores da Siemens Electrical Drives Ltd. (SEDL) em Tianjin, China (a duas horas de carro de Pequim), é extremamente imponente. São construídos aqui motores elétricos do tamanho de um homem adulto, e também turbinas eólicas do tamanho 12 Pictures of the Future | 1/2008 de um caminhão pequeno, painéis de seccionamento e unidades de controle. Os planos exigem que a fábrica de Tianjin seja expandida ainda mais e assuma seu lugar como a unidade líder de produção de motores elétricos na China. No entanto, quando a unidade foi originalmente construída, ela apresentou um grande desafio porque tinha que ser planejada e construída desde as fundações em apenas dois anos e meio. E, é claro, não é possível projetar simplesmente uma unidade de produção de tal magnitude em pranchetas de desenho. Devido ao escopo muito abrangente do projeto, o Departamento de Processos de Produção (PP) da Siemens Corporate Technology (CT), em Munique, foi chamado para auxiliar nessa empreitada. O departamento é espe- BR 012-014.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:23 AM cializado em criar modelos tridimensionais computadorizados de fábricas. Bem antes de o primeiro trator começar a escavar o solo, os componentes estavam se movimentando ao longo de linhas de montagem virtuais. O objetivo era claro: quanto mais realisticamente uma fábrica pode ser detalhada na fase de planejamento, mais rapidamente os erros podem ser detectados e evitados quando a construção real começar. Os especialistas da Siemens já estão produzindo versões digitais de fábricas há 20 anos, e se eles aprenderam algo nesse período foi que as melhores ferramentas digitais são inúteis se os planejadores não entenderem os processos da fábrica em detalhes. “Você precisa primeiro analisar detalhadamente o processo de planejamento completo antes de poder começar a usar as ferramentas virtuais,” diz Bernd Korves, diretor do Centro de Competência em Redes de Produção e Planejamento de Fábrica na CT PP. O fator-chave aqui é entender totalmente o ciclo de vida completo, desde o projeto até os fornecedores e a produção. Os especialistas chamam isto de Gerenciamento do Ciclo de Vida do Produto (PLM). O resultado do processo de projeto – um produto digital – é a ponte para a fábrica digital. “Uma ampla interligação desses dois blocos de processo oferece um potencial enorme,” diz Page 13 As melhores ferramentas 3D são inúteis se você não entender os processos de fábrica em detalhes. e a seqüência e velocidade ideais dessas etapas. Eles determinam os tipos de estações de trabalho necessários para cada etapa e como o layout da fábrica deve ser disposto. Os planejadores trabalham em seguida com as divisões Siemens pertinentes, chegando, em geral, a diversas alternativas. Cada proposta é ilustrada em um computador, como uma fábrica em 3D cujas operações, incluindo o fluxo do material, são simuladas em detalhes. Ao longo desse processo, os planejadores fazem uso intensivo de bibliotecas digitais para visualizar estações de trabalho, máquinas e processos individuais. Na fábrica de Tianjin, os modelos virtuais permitiram que equipes de planejamento em todo o mundo “voassem/circulassem” pelos átrios das fábricas ao simples toque de um botão. Grandes tubos cinzas podem ser vistos nesses locais – os estatores dos motores. Próximos deles estão os avatares – humanos simulados que apanham e inserem fios de cobre nos tubos. Os vôos virtuais permitem que os empregados da SEDL identifiquem rapidamente se cada posto de trabalho tem espaço suficiente para mover grandes motores ao seu redor, por exemplo. Alterações podem ser introduzidas em qualquer momento e seus impactos são mostrados imediatamente na simulação. Um desafio especial no projeto de Tianjin foi o fato de que a unidade virtual passou por um desenvolvimento simulado de mais de cinco anos, e isso significa que as capacidades de produção tiveram que ser expandidas com o passar do tempo e a demanda variável de produtos precisou ser considerada. Graus de Abstração. A arte de simulação envolve principalmente ser capaz de imaginar quais locais exigem informações detalhadas a partir do mundo real. “Muitos iniciantes tentam reproduzir a realidade com precisão, o que é um erro”, diz Korves. Isso também é contraprodutivo porque exige muito esforço e despesa. O sucesso aqui depende em determinar o grau de abstração adequado. “Se você estiver simulando fluxos de material para chegar a um layout, você não precisa de tudo muito detalhado até o menor parafuso – mas precisa desse tipo de informação para simulações de montagens complexas”, explica. O sistema SmartAutomation da Siemens permite que novos componentes e todos os Albert Gilg, diretor do Centro de Competência de Projeto Virtual. “Isto porque o projeto do produto determina em última instância se você cria obstáculos para a produção ou melhora a eficiência do processo de fabricação.” Os dados de projeto são, portanto, o ponto de partida para uma análise exaustiva de um futuro sistema de produção. Os especialistas determinam quais etapas de produção serão necessárias seus parâmetros sejam testados em um modelo virtual (à esquerda). Os dados ideais resultantes são descarregados em seguida em uma cópia no mundo real do modelo (à direita), que inclui um braço robótico (centro), para ser usado para o controle de qualidade em uma unidade de envasamento futura. Korves precisou de fato entrar em muitos detalhes em outro projeto em que trabalhou com a Siemens VDO, envolvendo a produção de um painel de instrumento de um novo veículo. A tarefa exigiu ilustrações detalhadas de células de fabricação como um meio de simular suas propriedades ergonômicas. Aqui, a CT usou o software da UGS, que agora faz parte do setor Industry e é conhecida como Siemens PLM Soft- Pictures of the Future | 1/2008 13 BR 012-014.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:23 AM Page 14 Fábricas do futuro | Planejamento de Fábrica ware. A ferramenta utiliza valores padrão para registrar o tamanho e a estatura de um trabalhador e o número de vezes que ele ou ela repete determinados movimentos. Isto permitiu otimizar as estações de trabalho, ajustando itens como alturas das bancadas e distâncias ao alcance do comprimento do braço para máquinas vizinhas. A maioria dos modelos virtuais hoje é criada usando objetos de bibliotecas digitais. Por exemplo, em conjunto com a Universidade Técnica de Munique, a equipe decidiu usar o Plant Calc, uma ferramenta de planejamento sofisticada. O software Plant Calc pode comparar locais de produção usando uma avaliação sistemática entre diversas alternativas, que também leva em conta planejar incertezas. Em um estudo realizado pelo CT para uma fábrica da Siemens no norte da Alemanha, o Plant Calc determinou que, sob determinadas condições, expandir a produção na Alemanha seria melhor do que transferi-la para a Europa Oriental. O estudo descobriu que, embora os custos de salários na Alemanha fossem maiores, o potencial para otimização no país tornou-a um local de produção mais econômico. Testes Virtuais tão Verdadeiros como a Vida Real . A realidade e o mundo virtual estão se aproximando nas áreas de automação da Siemens, que operam dois centros de pesquisa “SmartAutomation”, em Nuremberg e Karlsruhe, que serão usados para desenvolver soluções de automação virtualmente e na vida real. Os pesquisadores configuraram uma instalação de envasamento em Nuremberg e uma unidade de A fábrica que vem até você O planejamento de uma fábrica não termina de forma alguma quando as chaves são entregues ao cliente – afinal, novas gerações de produtos substituem os mais antigos e as máquinas devem ser atualizadas ou substituídas em algum momento. Com o passar do tempo, os galpões das fábricas assumem, em geral, uma aparência diferente, pois novos cabos são lançados e máquinas são reposicionadas. Portanto, é difícil para os planejadores ter uma visão geral, como forma de comparar a situação real com um modelo virtual, especialmente quando as instalações estão localizadas longe dos centros de pesquisa. O sistema Suporte de Serviço Visual (VSS) desenvolvido pela Siemens Corporate Technology (CT), em Munique, pode simplificar muito o processo de modernização de fábrica. O VSS é um sistema de transmissão de dados remoto móvel que envia imagens e som ao vivo para centros de serviço via telefonia móvel. Para esta finalidade, um trabalhador em uma fábrica usa um fone de ouvido equipado com uma câmera e um microfone. O centro de manutenção da fábrica é capaz de visualizar a unidade ao vivo se uma máquina falhar e técnicos de manutenção especialmente treinados podem, em seguida, usando o fone de ouvido, guiar um trabalhador para o melhor local para visualizar a máquina. É como se você estivesse lá – e o técnico pode até tirar uma foto da máquina, marcar áreas para onde o trabalhador deve se deslocar e, em seguida, enviar a foto para o PC portátil do trabalhador. “Nossa experiência tem mostrado que após vários anos, você não pode mais depender cegamente dos desenhos originais de uma fábrica”, comenta Joachim Häberlein, responsável pelo desenvolvimento de soluções VSS específicas para clientes na Industry Automation, em Erlangen. O modelo virtual não ajuda muito aqui de qualquer forma. “Ele é tão bom quanto a informação original”, explica Häberlein. “Porém, o VSS torna possível validar rapidamente o modelo no local e registrar qualquer alteração feita nesse meio tempo.” O sistema funciona com o padrão internacional de telefonia móvel GSM e testes realizados no Egito, China, e em outros países mostraram que o VSS funciona de modo confiável em diversas regiões. Os especialistas, portanto, não têm mais que fazer longas viagens para fábricas distantes. Graças ao VSS, a fábrica vem até eles. 14 Pictures of the Future | 1/2008 processamento químico em Karlsruhe; ambas permitem que novas idéias sejam implementadas rapidamente em equipamentos reais pela primeira vez. Entre outras coisas, os pesquisadores estão construindo agora um robô que pega garrafas à medida que passam por ele, leva-as para a estação de controle de qualidade, examina-as e devolve-as exatamente no ponto correto na linha de produção. Tudo isso foi planejado e testado no mundo virtual. Para fazer isso, os desenvolvedores da Siemens inseriram o robô virtual em sua posição real futura em uma imagem da unidade existente. Todos os parafusos, sistemas de medição, ligações elétricas, comunicação de dados e sistemas de pressão foram verificados antes da implementação real. Os pesquisadores executaram até mesmo uma simulação em tempo real dos parâmetros de operação do robô. Por outro lado, os dados iniciais digitados no sistema para simular este robô vieram da unidade física de envasamento. Lego para Fábricas. Uma abordagem similar é empregada pelo projeto “SmartFactoryKL”, gerenciado pelo Centro de Pesquisa Alemão para Inteligência Artificial (DFKI), em Saarbrücken. O centro é um consórcio de empresas e institutos de pesquisa que também está trabalhando em uma versão miniatura de uma unidade de produção real. A Siemens, um dos membros fundadores do consórcio, também fornece fundos para a SmartFactory, que, assim como a SmartAutomation, simula produção no mundo virtual. Um dos objetivos da fábrica é demonstrar como componentes de diferentes fabricantes podem ser combinados. É uma idéia visionária que prevê fábricas construídas a partir de módulos padrões, como blocos gigantes de Lego. Isto poderia exigir que cada módulo do produtor fosse equipado com interfaces padrão. Além disso, todos os componentes da fábrica SmartFactory para a unidade de produção miniatura serão equipados com etiquetas de identificação por radiofreqüência, tornando possível assim automatizar o registro de estoque e indicar com precisão as posições das máquinas. Isto, por sua vez, facilitará a ampliação ou transformação de fábricas existentes. Os locais das máquinas podem ser alimentados em modelos virtuais para permitir aos planejadores determinar exatamente onde os equipamentos novos devem ser instalados. “Muito trabalho – e muita informação – são necessários nos modelos de fábrica virtual”, diz o coordenador do projeto DFKI Eric Pohlmann. “Portanto, faz sentido usar essa grande variedade de dados mais e mais novamente.” Tim Schröder BR 015-19.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:26 AM Page 15 Simulações abrangentes em 3D. Na Siemens, novos | Sistemas Sobre Trilhos trens são desenvolvidos e testados até o último detalhe por equipes internacionais em realidade virtual, antes da montagem de um único componente físico. Trens de Bits e Bytes Para fabricar produtos de alta tecnologia, você precisa de um ambiente de desenvolvimento de alta tecnologia. É por isso que a Siemens, em Krefeld, Alemanha, confia em um produto e em um sistema de desenvolvimento de produção puramente virtuais, que permitem projetar trens inteiros nos computadores. E ainda mais, ela espera digitalizar o processo completo de produção até 2009. O maquinista que opera o trem de alta velocidade Velaro ajusta os controles no seu painel de instrumentos. De repente, abre-se um dispositivo (flap) no piso do trem, o ângulo de visão volta-se para o espaço sob o trem e os componentes voam para todos os lados. Milagrosamente, no entanto, o trem se recompõe sozinho. Bem-vindo ao laboratório de realidade virtual da Divisão Mobility, em Krefeld, na Alemanha. Nem o trem nem o maquinista são verdadeiros. Eles são objetos virtuais animados. Não há flipcharts na sala de conferências. Em vez disso, há uma parede energizada na qual protótipos em escala fiel, e em ambiente espacial, gerados por computador podem ser observados com o auxílio de óculos de 3D e discutidos. “Esta é uma grande ajuda, por exemplo, quando estamos planejando instalações, analisando a facilidade da manutenção e realizando estudos ergonômicos”, comenta Reinhard Belker, chefe de Gerenciamento do Processo de Engenharia na Mobility. O sistema de Realidade Virtual (VR) é parte integrante do processo de desenvolvimento na Mobility. Aqui, os projetistas se reúnem com regularidade para estudar novos trens no espaço virtual, conforme eles vão sendo desenvolvidos, e discutem com seus colegas das unidades contíguas. Eles também fazem “reuniões de colaboração” com a sua fábrica de produção irmã em Praga, na República Tcheca, onde o mesmo sistema é utilizado. No momento, os sistemas são os únicos do seu tipo no mundo. Mas o sistema VR é somente uma das ferramentas inovadoras que dão apoio ao produto e ao processo de desenvolvimento de produção Pictures of the Future | 1/2008 15 BR 015-19.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:26 AM Page 16 Fábricas do futuro | Sistemas Sobre Trilhos puramente virtuais na Mobility. Hoje, o projeto de veículos sobre trilhos começa e termina em uma cadeia de processo ininterrupta em CAD (Computer Aided Design) de 3D. Cada etapa, do conceito inicial, desenvolvimento, preparo da produção, fabricação, montagem e documentação, é trabalhada em três dimensões utilizando os sistemas CAD. Todos os envolvidos trabalham juntos nesse ambiente virtual. Isso torna possível alinhar, em tempo real, os estágios do desenvolvimento alcançados na principal fábrica de produção, em Krefeld, com aquelas em Erlangen e em Kassel (na Alemanha), Graz e Viena (na Áustria), e Praga e Ostrava (na República Checa). Além disso, os fornecedores de suprimentos e serviços estão integrados no processo de desenvolvimento de veículos sobre trilhos de todos os tipos. Ferramentas de alta tecnologia são absolutamente essenciais em Krefeld porque as demandas do mercado crescem cada vez mais. Clientes de todo o mundo estão exigindo prazos de desenvolvimento mais curtos, com igual qualidade de produto ou ainda melhor, e alto grau de sofisticação tecnológica. “Alguns anos atrás, desenvolveríamos e produziríamos um trem de alta velocidade em três anos. Agora, nossos clientes estão nos pedindo a mesma coisa em dois anos e meio”, diz Martin Olbrich, chefe da unidade de Preparo do Processo de Montagem da Mobility. Trens de alta velocidade podem agora ser desenvolvidos e produzidos em dois anos e meio. 3D do começo ao fim. Em 2006, a empresa pôs para funcionar em todos os seus locais uma cadeia de processo abrangente em 3D que cria animações digitais durante a fase inicial do projeto, com base em dados do CAD em 3D, e realiza simulações iniciais. Os desenvolvedores montam em 3D, o que então é disponibilizado para os parceiros no mundo inteiro. Isto é feito utilizando um sistema de gerenciamento de dados uniformes para produtos – antes mesmo de pegarem uma única chave de fenda do mundo real. Até hoje, as peças desses processos correm em paralelo, permitindo que os passos do desenvolvimento inicial possam ser imediatamente incluídos nos processos de planejamento de outras unidades. Reuniões em Realidade Virtual. Como o CAD em 3D necessita de muita memória, ele não é usado em todas as áreas de processo. Alguns desenvolvedores trabalham com “dados visualizados”, o que requer muito menos memória e é mais barato e simples de utilizar. Aqui, todos os dados são automaticamente con- vertidos para o formato visualizar. Este recurso permite aos projetistas praticamente ter reuniões mundiais virtuais, nas quais podem compartilhar suas idéias sobre o estado atual do projeto. Essas reuniões eliminam a necessidade de viagens que consomem tempo. E ainda mais, tornam todo o processo de desenvolvimento mais rápido e menos sujeito a erros, porque cada desenvolvedor sabe exatamente o que seus colegas estão fazendo. É claro que os dados fornecidos pelos fornecedores e parceiros externos do projeto têm de ser revistos, convertidos e integrados, porque em alguns casos, os parceiros trabalham com sistemas diferentes. Mas aqui, também os especialistas em tecnologia estão trabalhando nas soluções. Com base nos dados tridimensionais da equipe de desenvolvimento, os especialistas na preparação da produção podem planejar e simular os processos de fabricação e montagem, por exemplo, visualizando as diferentes seqüências da montagem. Por sua vez, as unidades de produção utilizam os dados em 3D como base para várias etapas do trabalho. Apesar da utilização abrangente de dados A simulação dos processos de desenvolvimento e produção vale muito a pena, Além disso, os preços caíram muito, em conseqüência da acirrada concorrência no mercado de veículos para trilhos. “Essas demandas não podem mais ser atendidas utilizando métodos convencionais. O que nós trabalhadores precisamos agora são inovações, não só em termos de produtos, mas também em nossos processos de produção e desenvolvimento”, diz Belker. Passo a passo, os engenheiros na Mobility alcançaram um nível inigualável de sofisticação técnica. Desde 1999, os desenvolvedores têm projetado seus produtos utilizando a tecnologia 16 Pictures of the Future | 1/2008 especialmente para veículos sobre trilhos, que geralmente são produzidos em pequenas quantidades. Utilizando simulações, os especialistas em tecnologia sobre trilhos da Siemens podem passar por todas as possibilidades de otimização no mundo digital em um estágio inicial do processo de desenvolvimento, quer estejam trabalhando na seção da extremidade frontal do trem (à esquerda) ou a ergonomia da cabine do maquinista (à direita). em 3D em todas as unidades, desenhos em 2D ainda são necessários nas áreas de produção e montagem. Isto ocorre porque, em alguns casos, os desenhos contêm informações que são muito complexas para serem incorporadas nos modelos 3D sem despender muito tempo e esforço. De acordo com Belker, “provamos que, em princípio, podemos viver sem desenhos em 2D, mas ainda não há uma ferramenta de TI que apóie este processo de maneira eficaz. Agora, estamos trabalhando para reduzir o tempo e o esforço necessários BR 015-19.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:26 AM Page 17 Simulações substituem o papel nas instruções de montagem. Imagens em 3D tornam a tarefa mais simples, rápida e precisa (à esq.). À direita: Trens Velaro, na área de montagem. A partir de 2009, a vida útil dos produtos será simulada – do projeto aos reparos e à manutenção. para criar os modelos em 3D”. Montagens com animação tornam mais fácil para os colaboradores a execução de suas tarefas, “porque eles podem intuitivamente entendê-las muito mais rapidamente que em desenhos de 2D, com seus incontáveis números de posicionamento”, diz Olbrich. Os dados em 3D servem como instruções de montagem virtual. Os trabalhadores da montagem têm uma visão geral rápida da situação inteira, bem como informações mais precisas sobre como integrar os componentes a serem montados. Com menos tempo para aprender os passos da montagem, são necessárias menos perguntas e há menos erros. Os dados em 3D também são muito valiosos para as descrições de produto e instruções de manutenção no final da cadeia de processo. Mas os desenhos em 2D são utilizados aqui também, primeiro porque a documentação do veículo em 2D é costumeira e, segundo, porque ainda não há formato reconhecido que torne a implantação de dados em 3D possível no longo prazo. No entanto, uma das prioridades na Mobility é convencer os envolvidos das vantagens da documentação do veículo em 3D. Em conjunto, o sistema permite que a cadeia inteira de processo seja representada de forma virtual. “Nossos clientes estão impressionados com a maneira como integramos essas tecnologias inovadoras em nossos processos de desenvolvimento”, diz Belker. Andy Neuschulz, da empresa regional Deutsche Regionalbahn GmbH, concorda. “O desenvolvimento de produtos por meios virtuais torna o processo mais fácil de reconstituir e monitorar. Conseqüentemente, na apresentação inicial de um veículo, podemos oferecer aos políticos visitantes um retrato bas- tante realista e muito impressionante de nossos trens bem no início da produção”, diz ele. Atualmente, a empresa opera 20 trens que correm em três linhas na Alemanha. Depois da próxima mudança na programação ferroviária, ela começará a operar ao longo da rota de Colônia para Mainz, via Kolenz, para o qual utilizará um total de 16 trens Desiro ML fabricados pela Siemens. De volta a Krefeld, Reinhard Belker anda pela ala de produção da Mobility e passa por filas de vagões ferroviários adornados com cabos. Tudo na ala está limpo e em ordem. “Agora que dominamos o produto e o desenvolvimento da produção de maneira virtual”, diz ele, “o próximo passo é o que chamamos de fábrica digital. Já estamos trabalhando nela desde abril de 2007”. Está planejado que ela ficará pronta até o final de 2009. Simulando Ciclos de Vida Inteiros. A fábrica digital é um conceito de instalações de produção nas quais não só a fábrica física é visualizada e simulada no computador, mas também seus processos. O conceito inclui a vida útil inteira do produto, desde o planejamento, desenvolvimento e produção, até serviço, manutenção, vendas e marketing. Diferentemente do setor automotivo, que abraçou o conceito de fábrica digital, outros setores em geral o evitam devido a seus baixos volumes de produção, que não parecem justificar os grandes investimentos que são necessários para simular processos de maneira realista. Mas, neste setor em particular, a simulação abrangente da vida útil do produto é crucial. Este ponto é muito bem esclarecido por Robert Neuhauser, diretor de Fabricação e SCM na Corporate Supply Chain and Procurement da Siemens, que lidera o programa sobre fabricação no futuro que abrange a empresa inteira. “Para produtos que são fabricados em grandes quantidades durante um período de anos, podemos melhorar e otimizar constantemente a produção durante longos prazos. Em contraste, o projeto e negócio de pequenas quantidades é caracterizado por curtos prazos de início de produção e volumes menores de fabricação. Isso significa que tudo tem de funcionar de maneira ótima na primeira vez, porque o processo de fabricação terminará antes que qualquer otimização significativa possa ocorrer. A simulação torna viável passar por todas as medidas possíveis de otimização digitalmente antes da produção. Assim, podemos detectar problemas bem antes de eles alcançarem o mundo real”. A simulação também beneficia a fábrica de Krefeld, que produz em média 450 veículos ferroviários por ano. Um estudo preliminar e uma análise da eficiência realizada pela divisão Mobility em cooperação com o Fraunhofer Institute for Manufacturing Engineering and Automation (IPA) demonstraram as vantagens da fábrica digital. Seus benefícios potenciais incluem planejamento mais rápido e de melhor qualidade, além de ferramentas integradas que aliviam os planejadores das atividades de rotina e lhes dão mais tempo para planejar produtos menos dispendiosos e qualitativamente mais sofisticados e fazer com que eles apresentem a melhor relação custo-benefício possível desde o início. Belker está ansioso pela chegada da fábrica digital. Pesquisando uma longa fileira de trens reluzentes que estão prontos para serem despachados, ele prevê que, “no futuro, poderemos entregá-los aos nossos clientes ainda mais rapidamente”. Gitta Rohling Pictures of the Future | 1/2008 17 BR 015-19.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:26 AM Page 18 Fábricas do Futuro | Simulação de Instalações Uma instalação de terapia de partícula (à direita) é um sistema complexo, projetado para destruir tumores com alta precisão. A configuração e os fluxos de trabalho são simulados. Otimizando a produção Neste ano, o centro de terapia de íon pesado em Heidelberg começará a tratar pacientes com câncer. A Siemens configurou as instalações e otimizou seus fluxos de trabalho usando a especialização em simulação obtida ao projetar processos de produção para fábricas. P or definição, fábricas e hospitais não têm muito em comum. Mas ambos são sistemas complexos que precisam funcionar de maneira rápida e eficiente. Levando isto em conta, a Siemens direcionou sua especialização em simular e otimizar sistemas de automação e aplicou este conhecimento para visualizar a configuração e o fluxo de trabalho – e em última análise realizando – um novo centro de terapia de íons pesados no Centro Médico da Universidade de Heidelberg (Alemanha). O centro será especializado no tratamento de pacientes com tumores que são muito difíceis ou muito arriscados para um cirurgião retirar. Os tumores serão bombardeados com íons de carbono – os núcleos atômicos do carbono – de um acelerador de partículas. As partículas penetram no corpo do paciente e destroem os tumores com extraordinária precisão e sem causar danos importantes aos tecidos ao redor (Pictures of the Future, primavera de 2004, página 36) www.siemens.com/pof. A terapia por íons pesados foi desenvolvida e testada pela Sociedade para a Pesquisa com Íons Pesados ou GSI (Gesellschaft für Schwerionenforschung), em Darmstadt. A missão da GSI é a pesquisa básica, 18 Pictures of the Future | 1/2008 não a comercialização. Portanto, ela buscava uma parceira no setor e encontrou a Siemens. Em 2003, a Siemens comprou as patentes principais de terapia com íons pesados da GSI e do Centro de Pesquisa de Câncer da Alemanha, em Heidelberg, e fez um esforço significativo para trazer o método para o mercado. A Siemens está fornecendo todas as tecnologias relacionadas com o paciente para o centro de Heidelberg, inclusive equipamento para direcionar o feixe de íons para o paciente, posicionamento do paciente e controle do tratamento, segundo explicações de Klaus Staab, gerente de projeto do centro de terapia com íons de Heidelberg, que vê com bons olhos a estreita cooperação com a Siemens. Em outro centro de terapia, o Rhön-Klinikum, em Marburg, a Siemens está fornecendo tudo, exceto o prédio, inclusive o acelerador de partículas. A cerimônia de inauguração foi realizada em agosto de 2007. Visualizando um Novo Terreno. Os pesquisadores da GSI já comprovaram que a nova terapia funciona conforme se pretende. “Mas o que está nos faltando é a experiência de como a projeção das etapas dos tratamentos individuais afetará o desempenho do centro como um todo”, disse Thomas Lepel, da Siemens Corporate Technology (CT). A terapia por partículas é um elemento em funcionamento totalmente novo em clínicas. É por isso que Lepel e seus colegas desenvolveram uma simulação que representa todo o fluxo de trabalho do centro de terapia, o que torna possível analisar os efeitos que as exigências específicas dos clientes podem ter na produtividade operacional de pacientes – e nos custos operacionais das instalações. Com um preço avaliado em cerca de €150 milhões – com pelo menos €100 milhões para a unidade de radiação e aproximadamente mais €50 milhões para o prédio, dependendo de como for equipado – a produção operacional dos clientes deve ter um papel fundamental na saúde econômica das instalações. As projeções atuais prevêem cerca de 1.300 pacientes por ano, com tratamentos financiados igualmente pelos governos estadual e federal. Mas um hospital ou instalação de saúde típico, que confie exclusivamente em financiamentos privados, terá de tratar pelo menos 2.000 pacientes ao ano para cobrir os custos de capital BR 015-19.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:26 AM Page 19 Os íons são acelerados para até 60 por cento da veloci- | Simulação de Fluxo de Trabalho dade da luz, armazenados em um sincroton (à esquerda) e fornecidos aos pacientes por meio de um complexo sistema de direcionamento do feixe (à direita). estimados da instalação. E esta equação teria de incluir pagamentos de cerca de €20,000 por paciente de fornecedores de seguros de saúde, o que corresponde ao acordo entre as seguradoras e o Centro Médico de Heidelberg. Em comparação, as empresas de seguro de saúde pagam somente €8.000 por terapia de radiação convencional. De qualquer forma, o custo mais elevado do tratamento com íons pelo centro de terapia é justificado, tendo em vista que os custos totais do tratamento de câncer, inclusive cirurgia, quimioterapia e terapia de radiação, com freqüência, vão além de €100.000 por paciente. componentes que precisam ser manuseados de maneira diferente, há uma variedade de processos diferentes funcionando em um hospital”. A simulação distingue entre os tipos de tumor, por exemplo, e leva em conta os diferentes tempos de preparo necessários. Na frente de cada uma das três salas de radiação, há uma sala onde o paciente é preparado para o tratamento e imobilizado em uma mesa, enquanto outro paciente está sendo submetido a radiação na área de tratamento. Alimentada com dados do paciente de um sistema de informações oncológicas, o sofisticado Otimizador de Programa da Eficiência econômica não é o único critério; os médicos agora terão mais tempo para seus pacientes. E mais: estudos clínicos demonstraram que a nova terapia parece estar ligada a recorrências muito menores de alguns tumores. Para Dr. Konstanze Gunzert-Marx, diretor de vendas do setor Healthcare da Siemens, em Erlangen, a terapia particulada tem tudo para ser um sucesso. “Extrapolando o número de diagnósticos de novos cânceres demonstram que este tipo de centro se paga para uma área demográfica entre oito e dez milhões de pessoas”, diz ele. Simulação do Tratamento. A conclusão é confirmada pelo plano de negócio do centro de tratamento, que leva em conta em seu investimento e custos operacionais os pagamentos a empresas fornecedoras de seguros de saúde. Para calcular a relação custo-benefício, o número de pacientes atendidos é simulado e automaticamente otimizado. “Essencialmente, aplicamos o know-how que obtivemos da análise dos processos de produção”, diz Lepel. “Como nas fábricas, onde você tem milhares de Siemens otimiza a ocupação dos quartos e também o uso do feixe de íon para garantir o mínimo de interrupção possível. Isto reduz os custos e diminui os tempos de espera para os pacientes. Se ficar claro que os preparativos do paciente irão demorar mais do que o planejado, outro paciente poderá ser informado a tempo e passado à frente na programação do tratamento. A preparação e o tratamento estão uniformemente integrados, além de encurtar o processo todo de cada paciente para uma média de menos de 30 minutos. Como a simulação de Lepel indica, este processo – e, portanto, a produtividade operacional para o paciente – está otimizado com a configuração compreendendo três ou quatro salas de tratamento. Robôs Trabalhando. Uma fábrica de produção somente poderá funcionar de maneira eficiente se os processos de trabalho forem coordenados. O mesmo é verdade para os hos- pitais. Com isto em mente, o setor de Healthcare da Siemens desenvolveu uma mesa de tratamento de alta tecnologia em fibra de carbono que é, ao mesmo tempo, forte e leve. A mesa é adequada tanto para o planejamento de tratamentos com tomógrafo computadorizado como para o próprio tratamento com íons. Uma vez que o paciente esteja imobilizado na mesa, um braço de robô agarra a mesa e automaticamente a movimenta para a posição correta. A mesa viabiliza o preparo dos pacientes fora da sala de tratamento. Os desenvolvedores da Siemens em Erlangen ganharam percepção quanto às necessidades dos hospitais e clínicas ao entrevistarem médicos e administradores de instituições de saúde. Funcionários da Healthcare visitaram o Harvard Medical Cyclotron, em Boston, por exemplo, e o Midwest Proton Radiotherapy Institute em Bloomington, Indiana – sempre fazendo a mesma pergunta: do que os médicos e seus pacientes realmente precisam? As respostas revelaram que a simulação desenvolvida pela CT estava muito próxima do que eles queriam. “Quando se trata de levar em conta o sistema inteiro e a análise do fluxo de trabalho associado, a Siemens está anos à frente de todos”, diz Gunzert-Marx. Outros fornecedores estão tentando desenvolver componentes semelhantes e um processo integrado de trabalho para terapia com partículas, mas nenhum deles oferece a flexibilidade, combinada com os processos de diagnóstico por imagem e integração de TI. É por isso que o sistema da Siemens – que é único em todo o mundo – foi projetado para diversos tipos de íons. Além de carbono, oxigênio, íons e prótons, os núcleos de hidrogênio podem também ser utilizados alternativamente no sistema no centro de Heidelberg. Este é um recurso muito atraente para os investidores em todo o mundo. Os planos são abrir muito mais centros de terapia de partícula nos próximos anos. Bernd Müller Pictures of the Future | 1/2008 19 BR 020-021.qxd:PoF 046-047.qxd 5/7/08 10:32 AM Page 20 Cooperação em Pesquisa | Acelerador de partículas CERN Detector ATLAS, 25 m de altura e 50 m de comprimento, o maior experimento da física de partículas (foto maior). Controladores Siemens mantêm a temperatura dos magnetos de supercondução (fotos menores). Resolvendo os mistérios do mundo O Laboratório Europeu para a Física de Partículas (CERN) está construindo um acelerador que foi projetado para resolver alguns dos grandes mistérios do universo. Os componentes da Siemens desempenham um papel-chave em garantir que os magnetos supercondutores do acelerador sejam mantidos abaixo de 271ºC. 20 Pictures of the Future | 1/2008 Q uando os físicos de partículas vão caçar, eles levam grandes espingardas que disparam balas invisíveis. Em meados de 2008, eles abrirão a temporada de caça bem abaixo do solo na fronteira entre a França e a Suíça, perto de Genebra, de uma forma nunca vista antes. Mais especificamente, eles farão com que as partículas colidam em um túnel em anel (tunnel ring) de 27 quilômetros, a níveis de energia anteriormente inalcançáveis, em uma tentativa de resolver alguns dos grandes mistérios do Universo. Por exemplo: por que as partículas têm massa? E o chamado bóson de Higgs é responsável por essa massa, como o Modelo Padrão da física de partículas afirma? Os cientistas estão trabalhando para concluir o Large Hadron Collider (LHC) em um local a 100 metros de profundidade. O túnel é dominado por uma tubulação de aço com 1,2 metro de es- pessura, que contém magnetos supercondutores e tem uma ligeira curvatura conforme se distancia. Vários cabos e tubulações menores estão montados nas paredes, enquanto um túnel anexo aloja um enorme número de gabinetes de chaves para sistemas eletrônicos de alta tensão e sistemas de controle para as unidades de ventilação. Duas tubulações com a espessura de braços humanos correm paralelamente dentro de uma grande tubulação de aço. Dentro das tubulações, prótons ou íons de chumbo serão acelerados quase à velocidade da luz. Há quatro áreas separadas nas quais os feixes de partículas colidirão frontalmente. Estas colisões de partículas – que ocorrerão 600 milhões de vezes por segundo – permitirão que o Large Hadron Collider recrie as condições que prevaleceram a menos de um bilionésimo de segundo após o Big Bang (a “grande explosão”). BR 020-021.qxd:PoF 046-047.qxd 5/7/08 10:32 AM Page 21 A instalação do LHC poderá gerar energia muito mais elevada do que seu predecessor, o acelerador LEP, era capaz de produzir. Também criará um feixe com 100 vezes a densidade de partículas. Esta alta “luminosidade” é muito importante, porque aumenta a probabilidade de uma colisão e, portanto, as chances de descobrir o bóson de Higgs, que deve ser pelo menos 100 vezes mais pesado do que um próton. Quatro grandes detectores colocados nos pontos em que os feixes se cruzam registrarão a matéria e a chuva de partículas criadas pelas colisões. Os experimentos deverão resultar em cerca de 15 milhões de gigabytes de dados por ano. Os dados serão analisados pelos físicos em uma nova rede de computadores dedicados. Além de descobrir o bóson de Higgs, os cientistas do CERN esperam que o novo acelerador forneça percepções para dentro do buraco negro, que constitui cerca de 25% do Universo. grande de líquido superfrio será transportado por longas distâncias ao redor do anel, enquanto a temperatura em todo o sistema de refrigeração não poderá desviar mais do que 0,1ºC. Essas exigências colocam demandas exclusivas nos materiais utilizados. As unidades de magneto com 15 metros de comprimento, por exemplo, que são uniformemente conectadas uma à outra, encolherão 4,5 centímetros devido ao resfriamento. Amortecedores especiais (buffers) garantirão que o sistema permaneça selado. Uma vez que as temperaturas ultrabaixas sejam atingidas, elas terão de ser mantidas por meses. Controladores Especiais Mantêm Componentes Refrigerados. A distribuição de hélio é regulada por válvulas especialmente projetadas para uso nas temperaturas mais baixas. O sistema requer mais de 1.000 elementos com tu- ocasionalmente falhar”. Em outra parte da instalação LHC, mais precisamente no Ponto de Acesso 1, um corredor estreito, fortemente iluminado, termina em uma porta de aço azul. Localizado atrás desta porta está o detector ATLAS – uma máquina de quase 50 metros de comprimento e 25 metros de altura (correspondendo aproximadamente a um prédio de cinco andares). Nas paredes da sala de 53.000 pés cúbicos que aloja esta máquina, estão plataformas ascendentes de metal que permitem que os técnicos possam ter acesso aos vários níveis do detector, que consiste de vários milhões de componentes, muitos dos quais têm de se encaixar com a precisão de um centésimo de milímetro. A zona interna do detector contém cerca de dez bilhões de transistores. O detector ATLAS é o maior arranjo de componentes experimentais já construído por físicos de partículas. Ele é basi- Para manter os feixes de partículas exatamente no curso, o LHC conta com os magnetos de supercondução, que precisam ser esfriados com hélio superfluido a uma temperatura de menos 271ºC. “Se não usássemos esses magnetos, a instalação teria de ter 120 quilômetros de circunferência e exigiria 30 vezes mais energia”, diz Laurent Tavian, que é responsável pelos sistemas criogênicos do CERN. Ele explicou que enquanto os magnetos convencionais alcançam intensidade de campo de aproximadamente dois teslas, as bobinas/molas magnéticas supercondutoras alcançam oito teslas e, assim, podem dobrar bruscamente os feixes de partículas. No entanto, mais de 1.600 magnetos superfrios são necessários para alcançar este resultado. “Basicamente, estamos construindo o maior refrigerador do mundo”, brinca Tavian, acrescentando que a “Siemens tem um importante papel no projeto”. A maior instalação até hoje necessitou de 3.600 litros de hélio superfluido pressurizado; o LHC precisará de aproximadamente 600.000 litros. É a primeira vez que um volume tão bos de comunicação de suprimento e retorno, que controlam o resfriamento dos magnetos e de outros componentes. As válvulas serão movimentadas por unidades impulsionadas por ar comprimido, cuja posição será regulada pelos controladores de posição da Siemens. “Não podemos usar controladores normais Sipart PS2 diretamente no anel”, diz o gerente de produto Klaus-Peter Heer, do setor Industry, em Karlsruhe, na Alemanha. “Isso ocorre porque a radiação é muito intensa, a ponto de afetar ou destruir os sensíveis sistemas eletrônicos”. Para resolver esse problema, os desenvolvedores criaram uma versão dividida do controlador de posição Sipart PS2, que tem todos os microprocessadores localizados em um túnel separado, próximo à prova de radiação. “Os componentes da Siemens são cruciais para o controle do processo de resfriamento”, diz Tavian. “Se um dos controladores de posição parar de funcionar, é possível em alguns casos fazer com que outros assumam seu lugar. Mas, na maioria dos casos, a maquinaria toda de refrigeração poderia camente feito de três sistemas de detecção. O ATLAS também tem oito magnetos supercondutores. “Mais 130 de nossos controladores de posição na versão dividida serão utilizados aqui também”, diz Heer. A Siemens entregou 1.400 controladores de posição Sipart na versão dividida e 400 convencionais. Os complexos controladores de posição não são as únicas soluções que a Siemens forneceu ao LHC ou ao CERN. Nos últimos dez anos, a empresa também entregou diversos produtos, como dispositivos de controle Simatic, componentes para fornecimento de energia, computadores e laptops. Conforme se aproxima a conclusão do projeto, milhares de cientistas de todo o mundo mal podem esperar para a instalação ser ligada em maio de 2008. Laurent Tavian é um deles. “Uma coisa é certa”, ele diz, “se há uma partícula Higgs, vamos achá-la muito rapidamente”. E se não houver bóson de Higgs? “Aí é que as coisas vão ficar muito emocionantes. Poderemos acabar descobrindo algo inesperado, que poderá mudar a face da física de partículas como nós a conhecemos”. Norbert Aschenbrenner Pictures of the Future | 1/2008 21 BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd 5/7/08 10:33 AM Page 22 Materiais para o Meio Ambiente | Cenário 2020 Destaques 28 Agüentando o Calor O conteúdo energético de um combustível pode ser explorado de maneira mais eficiente a temperaturas de combustão mais elevadas. Novos tipos de revestimentos fazem as lâminas de muitas turbinas mais resistentes ao calor e à corrosão. 31 Proteção Feita com Precisão Blindagem de cerâmica contra calor desenvolvida e produzida pela Siemens protege as câmaras de combustão de turbinas a gás. 36 Plásticos: Um Mercado em Crescimento Bactérias que crescem no campo podem produzir plásticos orgânicos. Estes novos materiais podem ser utilizados para fabricar produtos eletrônicos que respeitam o meio ambiente. 38 42 Pegando Vento Pás de rotor com até 52 metros de comprimento podem produzir até 3,6 megawatts. Em 2007, a Siemens instalou 1500 megawatts. Energia Verde para o Mundo A produção de combustível a partir da cana-de-açúcar é uma alternativa aos derivados do petróleo. A Siemens fornece soluções para este setor que também está gerando bioeletricidade. Nanopartículas na fachada do Hotel Retro 2020 high tech substituem os aparelhos de ar condicionado (1). Os pisos do hotel são repelentes à água e à sujeira (2). Fibras luminosas são tecidas nas roupas (3), revestimentos de cerâmica nas lâminas das turbinas (4) garantem alta eficiência energética. Supercaps (5) armazenam a energia dos freios de um sistema ferroviário; e as partículas nano nas tintas dos carros consertam os pequenos arranhões (6). 22 Pictures of the Future | 1/2008 1 4 2 5 3 6 BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd 5/7/08 10:33 AM Page 23 Revolucionários Invisíveis Outubro de 2020. Na inauguração de um hotel de luxo, representantes do setor de hotelaria chegam para admirar suas inovações: o edifício pode gerar quase toda a energia de que necessita, graças em parte aos materiais empregados na construção. E stá quente lá fora – o que combina com o tema “Roma Antiga”. Tenho de correr ou chegarei atrasado. É ótimo que a administração do novo hotel tenha organizado um evento de informações como este para os gerentes de hotel como eu. E estou realmente entusiasmado com o que vou ver aqui, especialmente, porque nosso próprio hotel precisa muito de uma reforma. Uma coisa que precisamos fazer é baixar o nosso consumo de energia. Bem, este prédio fica ótimo brilhando difusamente à luz do sol. É iridescente! Ora fica vermelho, ora fica azul, agora está roxo... “Bem-vindos, senhoras e senhores, ao nosso novo Retro Hotel high-tech. Tenho o prazer de lhes contar tudo sobre nossa nova jóia atual”, diz a gerente do hotel com orgulho. Oh, não! Parece um longo tour. “Mas, primeiro, vou lhes oferecer alguns refrescos”, ela continua. Suco gostoso, supergelado, em um cálice romano – muito refrescante. Porém, esperem: o que são essas togas? Eles não esperam que eu vá usar uma toga, ou será que sim? “Tudo aqui se enquadra perfeitamente com nosso tema. Vá em frente, experimente as roupas feitas por uma de nossas empresas parceiras. Unidades de armazenamento de energia flexível são integradas ao tecido e fornecem energia para iluminar os diodos tecidos no pano. Essas pequenas luzes spot são também etiquetas com nomes”. “Agora, por favor, me acompanhem. A fachada externa do prédio é realmente fantástica. A tinta das paredes contém nano partículas metálicas que funcionam como um ar condicionado, deixando entrar somente o calor do sol quando os quartos no prédio não estão suficientemente aquecidos. Quando a temperatura externa cai abaixo de 23ºC, as nano partículas são retidas em um tipo Pictures of the Future | 1/2008 23 BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd 5/7/08 10:33 AM Page 24 Materiais para o Meio Ambiente | Cenário em 2020 de invólucro protetor, o que significa que os raios de calor podem penetrar no prédio. Quando a temperatura sobe acima de 23ºC, as propriedades materiais do invólucro protetor mudam e as nano partículas são liberadas, por assim dizer, e recomeçam a sua tarefa de refletir o calor. Em dias quentes como hoje, elas agem como um isolante”. “E o que acham da própria fachada”? Pergunta a charmosa gerente do hotel. “Dependendo da temperatura e do ângulo da luz do sol, nosso hotel reluz em cores diferentes. Há também nano partículas na tinta externa que tornam a fachada repelente à água e à sujeira”. Não há diversão para grafiteiros aqui. “No telhado, vocês podem ver nossa grande unidade de energia solar, que fornece água quente. Também temos outras células solares de última geração, com uma seqüência de camadas que fornecem utilização otimizada da luz solar. Estas células fornecem eletricidade para as paredes iluminadas em 3D que mostram esculturas, templos e cenas cotidianas romanas. “Além disso, temos energia eólica e instalações geotermais na área, portanto nosso saldo em CO2 é muito impressionante, como devem imaginar. De fato, em vez de termos de comprar créditos de carbono, estamos capacitados a vendê-los. Falando em abastecimento de energia, se tiverem tempo mais tarde, vocês devem ver a termelétrica de ciclo combinado, bem próxima daqui. Como amante da arte, devo dizer que a arquitetura das instalações é fantástica – mas para aqueles de vocês que estão mais interessados na tecnologia, vão achá-la fascinante também.” “Agora, por favor, me acompanhem até o lobby. Como vocês vêem, o lobby é o paraíso da iluminação e tenho certeza de que usa muita eletricidade. Temos um sistema sofisticado e extremamente eficiente em termos de energia que consiste em lâmpadas que poupam energia, diodos emissores de luz, sensores e eletrônica high-tech. Tudo isto reduziu o consumo de energia em quase 80% em comparação ao que é considerado normal. Todos os corredores e apartamentos têm detectores de movimento e também misturam luz natural com artificial, o que não só contribui para um ambiente de iluminação mais natural, como também conserva energia”. Qualquer um que sofra de jet lag (desconforto com viagens longas) – e quase todos sofrem atualmente – pode se recuperar com um chuveiro que funciona ao impulso da luz em nossas termas romanas. E eles até têm quedas de água, luzes baixas, jarras com vinho, óleos aromatizados e mesa de massagem – Oh! quase tropecei na fonte ali. O que é esta estranha vibração sob os meus pés? A gerente do hotel, sorri. “Você tem sorte! Qual- 24 Pictures of the Future | 1/2008 quer um que chegue perto de nossa fonte da juventude, como a chamamos, recebe um alerta de sensores vibratórios integrados ao piso”. Olho para baixo e vejo um maravilhoso piso de mosaico romano antigo. “O mosaico no lobby, bem como a mobília, são selados com revestimento que repele a sujeira”, a gerente continua. “A recepção e a mobília dos apartamentos são feitas de plásticos orgânicos – é difícil acreditar que a cadeira de aspecto antigo ali é feita de goma ou açúcar, você não acha?” Gostamos de usar materiais que respeitam o meio ambiente porque eles geralmente mudam o tema de nosso hotel duas vezes ao ano, inclusive toda a mobília interior. Não são necessários combustíveis fósseis para fabricar a mobília. E quando a jogamos fora, a mobília emana não mais dióxido de carbono do que as plantas das quais são feitas absorviam do ar enquanto estavam vivas. Todos os produtos da decomposição também são atóxicos. Ah, um momento! Acabo de receber uma mensagem urgente de nosso serviço de segurança. Com licença, alguém aqui é o dono de um sedan com portas retráteis de placa M-UZ-2000?” Sim, é meu... “Parece que um de nossos hóspedes bateu em seu carro ao estacionar, mas não aparenta ser nada sério”. Ele teve sorte, parece ser apenas um pequeno arranhão que se consertará sozinho, porque em apenas poucas horas, a tinta da carroceria regenerará a pintura. Portanto, não precisarei levá-lo à oficina. “Para concluir, senhoras e senhores, gostaria de lhes mostrar o serviço sobre trilhos. O Retro Hotel high tech patrocinou a construção de um novo sistema de trem de curto percurso que respeita o meio ambiente e também compartilha os seus custos de funcionamento. Este sistema sobre trilhos, que recebeu recentemente um prêmio ecológico, tem vagões equipados com motores elétricos e capacitores de dupla camada, chamados de supercaps. Ao aproveitar a energia cinética liberada quando o trem freia, os motores servem como geradores”. Assim, a energia ganha é armazenada nos supercaps e reutilizada quando o trem entra em movimento de novo. “Este sistema de recuperação de energia sozinho reduz o consumo energético em cerca de 25%. Eu bem que gostaria de ter mostrado a vocês os apartamentos do hotel, que receberam um prêmio de design. Mas como estamos lotados, espero que vocês entendam que não poderei fazer isso. Como prêmio de consolação, vamos dar a cada um de vocês uma toga romana e um certificado de presente do hotel para estada de uma noite. Espero poder dar boas-vindas a vocês novamente aqui, no ano que vem, quando o nosso tema será “na Corte do Rei Sol”. Ulrike Zechbauer | Tendências BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd 5/7/08 10:33 AM Page 25 O Nanolab da Siemens está investigando como as nanopartículas se comportam em solução, para evitar que elas se amontoem e sejam aplicadas de maneira homogênea nas superfícies. A s conseqüências serão dramáticas, salvo se a velocidade da mudança climática puder ser reduzida: seca, enchentes, fome, extinção de espécies e migração em massa. Ainda assim, há tempo de evitar que o pior aconteça – se uma substancial redução nas emissões globais de gases de efeito estufa, tais como o dióxido de carbono (CO2), puder ser obtida. “Graças ao uso de novos materiais, podemos melhorar a eficiência na geração, na transmissão e no consumo de energia, tanto na parte dos serviços de utilidade pública quanto dos consumidores”, diz Thomas Grandke, chefe do departamento de Materiais & Micro-sistemas na Siemens Corporate Technology (CT). Atualmente, a pesquisa de materiais está partícula de uma substância específica, suas características físicas e químicas, tais como condutividade elétrica, dureza, magnetismo e reatividade química permanecem as mesmas. Porém, tão logo entramos no mundo nano, essas propriedades mudam de uma forma fantástica”, explica Grandke. “Partículas na escala nano têm uma ampla área de superfície em proporção ao seu volume, e sofrem efeitos quantum-mecânicos”. O resultado desta diferença básica é uma diversidade de materiais totalmente novos. Abaixo de 150 nanômetros, por exemplo, o pigmento branco do dióxido de titânio se torna um eficaz absorvedor de luz UV, e é o motivo pelo qual a nanotecnologia está causando impacto até em produtos como cosméticos (loções para Partículas promissoras Materiais especiais aumentam a eficiência das termelétricas, mantêm o ar puro e limpam a água. Quanto menores as partículas, mais efetivo o combate às substâncias prejudiciais e maior a qualidade do meio ambiente. passando por uma verdadeira revolução. No entanto, os próprios revolucionários são com freqüência invisíveis a olho nu. Muitos deles são menores do que 100 nanômetros – um nanômetro é um bilionésimo de um metro. Cinco anos atrás, os institutos de pesquisa estavam orgulhosos quando produziam alguns poucos gramas das chamadas nanopartículas; hoje, cada vez mais produtores estão comercializando essas substâncias. O palco está montado para o advento das aplicações industriais em grande escala. Mas isto exigirá mais do que apenas nanopartículas de metal ou óxidos de metal que estão atualmente disponíveis no mercado. Suas propriedades especiais não se desenvolvem completamente até que as nanopartículas tenham sido dotadas de determinadas funções e firmadas em um meio estabilizado. É somente então que elas de fato abrem a porta para propriedades de materiais aperfeiçoadas ou completamente novas – e, portanto, também para materiais que podem reduzir ainda mais o peso para o ambiente. “Não importa se você pega um bloco maciço ou uma pequena bronzear). Outro exemplo é o ouro. Embora conhecido como extremamente inerte e, portanto, um agente anticorrosão preferencial, o ouro, como uma nanopartícula, é de fato extremamente reativo – uma nova propriedade do material que está agora sendo explorada no desenvolvimento de novos catalisadores. Mais uma vez, o motivo para isto é a diferença entre uma área de superfície da nanopartícula e o seu volume. Enquanto um cubo sólido de um centímetro cúbico tem uma área de superfície de seis centímetros quadrados, um cubo do mesmo tamanho preenchido de partículas, cada uma com 10 nanômetros de diâmetro, tem uma área de superfície de aproximadamente 450 m2 – 740.000 vezes mais. “O que é importante é que cada elemento e cada estrutura, em princípio, podem ser reduzidos à nanoescala, onde exibirá propriedades completamente diferentes”, diz Grandke. Dr. Jens Dahl Jensen tem uma comparação que causa impacto para explicar o tamanho do mundo nano. “Imagine a Terra próxima a uma bola de futebol, e a bola de futebol próxima a Pictures of the Future | 1/2008 25 BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd 5/7/08 10:33 AM Page 26 Materiais para o Meio Ambiente | Tendências Revestimentos de compostos nano do ar condicionado podem fornecer uma forma eficiente, do ponto de vista energético, para limpar o ozônio antes que ele entre na cabine de aviões, como o Airbus A380. uma nanopartícula: esta é a escala de magnitude de que estamos falando”. Jensen dirige o campo de competência em nanopartículas na Siemens CT em Berlim e lidera o NanoBase, um projeto patrocinado pelo Ministério de Educação e Pesquisa (BMBF) da Alemanha, que envolve a Siemens bem como outras empresas e estabelecimentos de pesquisa. O objetivo do projeto é desenvolver novos tipos de revestimento na base de nanopartículas funcionalizadas, as quais melhorarão as tecnologias existentes e também possibilitarão novas aplicações de maneira total. No Nanolab, Jensen e seus colegas estão atualmente investigando como terão de modificar as nanopartículas, a fim de lhes conferir propriedades especiais. São considerações primordiais aqui a segurança no trabalho e a proteção ambiental. No laboratório, são aplicados regulamentos rigorosos. Os pesquisadores realizam experiências em ambientes contra Melhor Qualidade de Ar na Cabine. A pesquisa da Siemens para o projeto NanoBase também está focando em revestimentos catalíticos altamente ativos – quando incorporados em um conversor catalítico apropriado poderá, por exemplo, decompor o ozônio no ar ao redor. “Estes conversores de ozônio poderiam ser utilizados em unidades de ar condicionado de aeronaves”, explica Jensen. A uma altitude de 10.000 metros, o ar contém até 550 ppb (partes por bilhão) de ozônio por metro cúbico, o que significa que precisa ser tratado antes de ser alimentado para a cabine. Isso ocorre porque o ozônio é um gás agressivo e nocivo. Os regulamentos estipulam um volume máximo permitido de 100 ppb em um período de três horas. Os atuais sistemas de ar condicionado das aeronaves transformam o ozônio em oxigênio, mas somente a temperaturas entre 150 e 200ºC antes de resfriá-lo para a temperatura da cabine. A estas altas tem- A nanotecnologia abre as portas para vários materiais com novas propriedades. vapores (fume hood) e usam roupas de proteção. Da mesma forma, o ar condicionado do laboratório é separado do sistema utilizado para o restante do prédio. Tanto o ar que entra quanto o que sai é especialmente filtrado, a fim de evitar que qualquer nanopartícula escape para a atmosfera. “Os futuros produtos contendo nanopartículas terão de fixar estas substâncias em tinta de proteção ou revestimento de superfície. Temos de garantir que estas substâncias não possam escapar para o meio ambiente”, explica Jensen. “Quaisquer riscos potenciais à saúde desta fonte também estão sujeitos à discussão no atual debate sobre particulados de diesel”. 26 Pictures of the Future | 1/2008 peraturas, os conversores catalíticos usando metais preciosos podem decompor o ozônio de maneira eficiente em oxigênio. O objetivo do projeto NanoBase da Alemanha é desenvolver materiais que suportarão a transformação do ozônio em oxigênio sem a utilização de metais preciosos e a temperaturas bem abaixo de 100ºC, o que poderia dar mais flexibilidade aos projetistas dos sistemas de ar condicionado das aeronaves, tendo em vista que os conversores não seriam mais dependentes do uso de altas temperaturas. Isto será especialmente importante para aviões que, por exemplo, usam compressores elétricos para chegar à pressão da cabine utilizando ar ex- terno. Esses aviões não mais precisarão usar ar que tenha sido aquecido pelos motores, a fim de alcançar temperaturas catalíticas. Embora este objetivo esteja longe de ser plenamente alcançado, um modelo inicial para demonstração deverá estar pronto dentro de dois anos. Isto permitirá converter ozônio a temperaturas bem abaixo de 100ºC. “Agora, estamos desenvolvendo este protótipo para o projeto NanoBase em cooperação com EADS e outros parceiros”, diz Jensen. “Estamos combinando um método apresentado no final da década de 1960 – o chamado processo químico de níquel – com nanotecnologia”. Como regra, estes revestimentos químicos de liga de níquelfósforo estão sendo depositados em um material de base – principalmente materiais metálicos, mas cada vez mais plásticos e vidros também – para protegê-los contra desgaste e corrosão. Este processo envolve mergulhar o material-base em um tanque de imersão. Sozinha, no entanto, a liga de níquel é má catalisadora. “Mas, se penetrarmos/embutirmos de maneira uniforme nanopartículas de metal ou óxido de metal na camada mais superior da liga, isto cria os chamados revestimentos de compos- 5/7/08 10:33 AM tos nano, com altas propriedades catalíticas”, explica Jensen. Estes revestimentos modificados decompõem ozônio a temperaturas muito mais baixas e também funcionam muito mais depressa do que acontece com conversores convencionais. Os pesquisadores da Siemens estão atualmente refinando o processo de deposição e testando uma variedade de nanopartículas, o que é uma tarefa que consome muito tempo. “Apenas manter as nanopartículas estáveis e verificar que elas não se amontoem em um tanque de imersão e afundem até a parte inferior do tanque já é uma ciência em si”, diz Jensen. “Outro grande desafio é garantir que elas estejam embutidas de maneira uniforme na liga de níquel. Utiliza todo o nosso know-how e nós ainda aprendemos algo de novo todos os dias”. Porém não é só o setor aeroespacial que está interessado nesses catalisadores de alta tecnologia. “Em apenas alguns anos, poderemos muito bem ver nossos revestimentos de nanocompostos em trens e em carros de alta velocidade. É um mercado enorme”, diz Jensen. “Em vagões, por exemplo, eles poderiam ser usados não só para ar condicionado, mas também para manter limpas as carrocerias dos veículos. Isso ocorre porque as superfícies cataliticamente ativas e autolimpantes também seriam impenetráveis a grafite”. Isto representaria um grande benefício para as empresas de transportes sobre trilho, que gastam atualmente uma grande quantidade de tempo e dinheiro para remover a tinta em aerosol. São necessários dois a três funcionários trabalhando um dia útil inteiro para limpar um trem suburbano, por exemplo. Com freqüência, o grafite só pode ser removido com o auxílio de poderosos produtos químicos que não só dão sumiço aos rabiscos e garatujas como também à pintura e aos revestimentos por baixo. “Somente a Deutsche Bahn, empresa responsável pelas rodovias alemãs, poderia poupar Page 27 dezenas de milhões de euros nesta área todos os anos”, diz Jensen. “Outra alternativa: revestimentos de nanocompostos também podem ser utilizados nos elementos de filtração para sistemas de tratamento de água. Além disso, eles podem aumentar a sensibilidade dos sensores químicos utilizados para detectar rápida e facilmente drogas e explosivos”. Resistindo aos Elementos. Além do desenvolvimento de revestimentos catalíticos altamente ativos, o projeto NanoBase também está examinando revestimentos de proteção aprimorados para produtos e sistemas utilizados em engenharia elétrica e transportes. Atual- sivos nano que oferecem o efeito de uma barreira radicalmente melhorada. “Em nossos laboratórios em Erlangen, estamos sintetizando nanocompostos na base de silicatos modificados em lâmina (modified sheet silicates). Estes consistem de nanopartículas com a espessura de um nanômetro e comprimento e largura de 500 nanômetros. Estas dimensões geram o efeito de barreira desejado. Só para dar um exemplo, as moléculas de água levam cerca de dez vezes mais tempo para penetrar neste revestimento em comparação com as tintas convencionais de proteção”, explica Gröppel E, mais ainda, as tintas protetoras convencionais têm uma desvantagem adicional. Em Catalisadores do futuro funcionarão com mais rapidez e mais eficiência, usando menos energia. mente, invólucros de plástico são normalmente utilizados para proteger componentes e sistemas eletrônicos contra os elementos. Ainda assim, isso nem sempre é suficiente, especialmente quando os componentes são expostos a condições severas, tais como aquelas nos compartimentos do motor do veículo e em maquinaria industrial. As moléculas de água, ar ou gases prejudiciais podem penetrar no plástico e fazer com que os componentes eletrônicos dentro dele comecem a falhar. “Isto pode até fazer parar fábricas industriais completas ou sistema de controle de tráfego, algumas vezes com conseqüências muito sérias para a segurança humana e o meio ambiente, sem deixar de mencionar o impacto financeiro”, diz Peter Gröppel, químico na Siemens CT, em Erlangen. Da mesma forma, a vida útil dos LEDs orgânicos diminui acentuadamente quando eles são expostos à umidade e ao oxigênio. Por isso, Gröppel trabalha em novas tintas e ade- Sai Entra Catalisador O ar flui por um canal especializado preparado com nanopartículas catalíticas que oxidam as substâncias gasosas. muitos casos, elas contêm solventes orgânicos que são prejudiciais ao meio ambiente. “No projeto NanoBase, nossa meta para 2009 é desenvolver uma nanotinta protetora sem solventes e baseada em água que também possui propriedades de produto muitíssimo aperfeiçoadas”, declara Gröppel. Os visionários do campo da nanotecnologia já estão sonhando com o desenvolvimento de uma tinta que se conserta sozinha. As pessoas nunca mais precisariam se preocupar sobre pequenos arranhões em seus carros. Em vez disso, as nano cápsulas na tinta abririam na extremidade de um arranhão, liberando um catalisador que reagiria com os outros componentes na tinta. Tais componentes poderão conter pequenas gotas de polímero menor funcionalizado. Estes preencheriam e selariam o arranhão antes que o metal por baixo pudesse começar a corroer, com o resultado de que o veículo teria novamente a aparência de novo em folha. Ulrike Zechbauer Source: DCL International BR 022-027.qxd:PoF 078-083.qxd Nanopartículas embutidas em metal (pontos turquesa) aumentam significativamente a eficácia catalítica do revestimento (à esquerda). Esses catalisadores poderão decompor substâncias, como o ozônio, com mais rapidez e usando menos energia (acima). No Nanolab de Siemens, em Berlim, uma amostra é revestida de nanopartículas (à direita). Pictures of the Future | 1/2008 27 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 28 Materiais para o Meio Ambiente | Otimizando Palhetas de Turbinas Um revestimento de 300 micrometros desenvolvido por Werner Stamm (abaixo) aumenta a vida útil das lâminas da turbina, incluindo as da maior turbina a gás do mundo (na extrema direita). Agüentando o calor Novos materiais estão tornando as palhetas das turbinas a gás e vapor ainda mais resistentes ao calor e à corrosão. Isto resulta em maior eficiência e menor consumo de combustível, ajudando a diminuir a poluição ambiental. C omo é do conhecimento de todo cozinheiro, uma pitada de sal pode transformar um prato sem gosto em algo muito apreciado. Mas o tamanho da pitada é sempre uma questão de experiência, e algumas vezes ela tem de ser misturada com outros condimentos para se conseguir o paladar certo. A lição não se 28 Pictures of the Future | 1/2008 perde com Werner Stamm – o principal chefe de pesquisa de materiais da divisão Fossil Power Generation, em Mülheim an der Ruhr, na Alemanha. Stamm está sempre pensando em novas “receitas” para as quais jamais recebeu prêmios de culinária, mas em vez disso, 52 patentes e o título de “Inventor do Ano de 2006”. Isso porque suas receitas ajudam a tornar as palhetas das turbinas a gás mais resistentes ao calor e à corrosão. O último tempero na cozinha de Stamm é o rênio, um metal raro, caracterizado por ponto de fusão muito elevado e alta densidade. Adicionar 1 a 2% de rênio a uma mistura de BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM cobalto, níquel, cromo, alumínio e ítrio (os chamados revestimentos MCrAlY) impregna a mistura complexa de propriedades extraordinárias. A elevadas temperaturas, a mistura forma uma barreira de óxido de alumínio na superfície MCrAlY que protege as palhetas das turbinas do oxigênio em um gás de combustão. O rênio melhora as propriedades mecânicas do revestimento protetor e simultaneamente evita que o alumínio difunda no material da base. “O revestimento faz com que o material da base pare de oxidar”, diz Stamm. Sem ele, a base de liga de níquel na lâmina sobreviveria somente 4.000 horas em funcionamento a temperaturas máximas. No entanto, com o revestimento, a liga pode agüentar contra o oxigênio mais de 25.000 horas, mais do que as operadoras de termelétricas exigem como um mínimo. O revestimento de Stamm, com somente 300 micrometros de espessura, tem também outra função – servir como agente para as camadas de isolamento térmico de cerâmica. Tendo em vista a temperatura do gás de aproximadamente 1.500ºC, este sistema composto de agente adesivo e cerâmica – em conjunto com um sistema especial de resfriamento, que sopra o ar em pequenos jatos estreitos para as palhetas – reduz a temperatura da superfície de metal na primeira fileira de palhetas de 1.200 para cerca de 950ºC. Os sistemas de revestimento isolante térmico mais novos podem acomodar temperaturas de superfície cerâmica de até 1.350ºC. Vale a pena lutar pelos pontos percentuais. Mas Stamm e seus colegas ainda não estão satisfeitos, porque conforme a temperatura aumenta, a eficiência do sistema (a quota de ener- gia útil obtida da combustão) melhora. E com o preço das matérias-primas subindo, as operadoras e os projetistas de termelétricas estão lutando para obter ganhos de apenas décimos de um ponto percentual. Esta foi a fundamentação lógica por trás do desenvolvimento da mais moderna e também maior – com saída de 340 Page 29 megawatts – turbina a gás do mundo, que a Siemens entregou à usina da E.ON, em Irsching, em 2007. Os planos são de que a gigantesca usina será usada em conjunto com uma turbina a vapor a partir de 2011 – um sistema que deverá ultrapassar a marca de 60% de eficiência (veja página 32). “Isto nos impulsiona para uma nova região da tecnologia”, diz Johannes Teyssen, diretor de operações da E.ON AG, em Dusseldorf. “E esperamos que a maior eficiência resulte em custos menores de geração de energia.” Mais eficiência poderia ser obtida reduzindo o resfriamento do ar nas palhetas da turbina, pois o ar usado aqui é levado através da turbina, assim baixando a eficiência. No entanto, menos resfriamento de ar aumentaria a temperatura da primeira fileira de lâminas em mais de 100ºC cerâmica completa, que não necessitará ser resfriada. “Isto, porém, ainda demorará alguns anos, mas as pessoas diziam isso há 15 anos”, diz Stamm. A aquisição da Westinghouse pela Siemens trouxe nova vida para o desenvolvimento da cerâmica e os engenheiros estão agora tentando aumentar as temperaturas – e com elas, a eficiência – utilizando óxido de cerâmica. Outras empresas no setor estão optando por um material-base de carboneto de silício, cuja estrutura e propriedades se assemelham à dos diamantes. O carboneto de silício é um material de alta resistência que tem uma importante desvantagem. Ele oxida quando em contato com o oxigênio em altas temperaturas – e o oxigênio é algo que as turbinas a gás têm em grande quantidade. Os pesquisadores da Termelétricas a vapor movidas a carvão com mais de 50% de eficiência deverão estar funcionando em 2014. – o que é demais para os materiais usados atualmente. A turbina a gás em Irsching já tem um sistema de refrigeração ótimo – graças ao revestimento de proteção MCrAlY de Werner Stamm. Entretanto, conforme Stamm chama a atenção, não será possível determinar exatamente como a turbina gerenciará o esforço até depois que ela estiver operando normalmente por diversos anos. “Os laboratórios e as máquinas de verdade são duas coisas diferentes”, diz ele. Os revestimentos de proteção resistentes e isolantes de calor, como o de Stamm, oferecem um potencial enorme ainda não explorado. Se, por exemplo, os pesquisadores pu- Siemens estão, portanto, focando no desenvolvimento de óxido de cerâmica que já reagiu com oxigênio. A rigidez mais baixa do material não é um empecilho, tendo em vista que o mais importante é sua expansão útil real, que é maior do que a do carboneto de silício. Ainda assim, as palhetas de cerâmica terão de ser reforçadas se tiverem de sobreviver às 25.000 horas de funcionamento que os clientes exigem delas. Isso acontece porque a cerâmica é quebradiça. Por isso, Ulrich Bast, da Siemens Corporate Technology, em Munique, junto com seus colegas em Orlando, na Flórida, estão desenvolvendo e testando cerâmica de fibra reforçada. derem aumentar as temperaturas da superfície do material de cerâmica e reduzir a formação de óxidos na camada McrAlY, tanto a eficiência como a vida útil da turbina poderiam ser aumentadas significativamente. E, em última análise, as cerâmicas especiais são apenas um passo intermediário no caminho para a Generation 50plus. A E.ON planeja começar a construir a nova geração de termelétricas de vapor movidas a carvão em 2014, que alcançará uma eficiência de mais de 50%. Diversos projetos preliminares estão em andamento para o “Generation 50plus”, com a Siemens trabalhando no desenvolvimento de componentes para a termelétrica. No centro de geração de energia de Scholven, próximo a Gelsenkirchen, Alemanha, por exemplo, o projeto COMTES700 está testando materiais para usar em caldeiras, tubulação e turbinas que estarão expostas a temperaturas do vapor a 700ºC. Esta alta temperatura permitirá que as novas usinas dêem um salto em eficiência do máximo de hoje, que é 46%, para 50%. Mas temperaturas mais elevadas não serão suficientes, de acordo com Ernst-Wilhelm Pfitzinger, gerente de projeto para a turbina de 700º, em Mülheim. Pfitzinger diz que atingir o ponto percentual final dependerá Pictures of the Future | 1/2008 29 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 30 Materiais para o Meio Ambiente | Otimizando Palhetas de Turbinas de achar um local favorável com boas condições de resfriamento – como o Mar Báltico. No estudo conhecido como NRWPP700, diversos parceiros, incluindo a Siemens, já estão projetando uma usina de demonstração cujos componentes agüentaram temperaturas de vapor a 720ºC. Embora 720º possam parecer quase refrescantes em comparação com as temperaturas infernais na turbina de gás, as exigências feitas em turbinas de alta e média pressão são, apesar de tudo, enormes. Além do calor, há também a resistência de 250 bares de pressão; na usina da E.ON 50plus, isso possivelmente deverá aumentar para 350 bares. Em comparação, uma turbina normal a gás está sujeita a uma pressão de somente cerca de 25 bares. Os engenheiros que constroem a turbina a va- mentos com raios-X e ultra-som não conseguem penetrar com profundidade suficiente no metal. O processamento de ligas nos componentes forjados e fundidos nas paredes espessas também necessita de um recálculo complicado dos dados dos materiais que levam em conta a atmosfera do vapor escaldante. Este esforço aumenta os custos – e a nova liga também é cinco vezes mais cara do que aço de alta qualidade para as turbinas. Maior Palh eta de Turbina do Mundo. Jörn Bettentrup não precisa se preocupar muito com o calor. Gerente de projeto para desenvolvi- palheta do mundo – 16 m2. A turbina também deverá ser utilizada na usina da E.ON, em Irsching. Nem os motores a jato do Airbus A380 chegam perto disso. Há um motivo simples para a gigantesca roda ser tão atraente para os clientes. Uma turbina de 16 m2 pode substituir duas de oito, o que economiza muito dinheiro em termos de espaço, rolamentos e tubulação. Ela é um grande desafio para desenvolvedores, no entanto, já que as forças centrífugas associadas causam grandes resistências às lâminas. A 3.000 rotações por minuto, várias centenas de Alguns componentes pesam 20 toneladas, mas têm tolerâncias de poucas centenas de milímetros. toneladas atuam nas bases das Palhetas e nas ranhuras que as unem ao rotor. O aço convencional das palhetas não é suficientemente forte Ano 1981 2001 2004 2015 para agüentar isso, o que faz com que os en>50% 47% 42% genheiros necessitem de um material muito Eficiência 37.5% Planta a vapor rígido e também leve, assim reduzindo a força Planta a vapor centrífuga. Eles agora decidiram usar o titânio, Planta a vapor Planta a vapor Planta de referência 50plus (E.ON), de Bergkamen Isogo 1 em NRW 500 MW um metal caro, com acabamento opaco acetinado, que também é popular com os joaLinha base -20.2% -25% Redução na -11% (projetada para lheiros. O titânio pesa perto da metade do que emissão de CO2 500 MW) o aço normal para turbinas, é mais forte e apresenta boas propriedades de resistência à corDesenvolvimento da tecnologia de turbina a gás rosão. A capacidade do titânio de amortecer as Ano 1992 1996 2001 2010 oscilações, no entanto, é ligeiramente menor do que a do aço, e por estes motivos, as lâmiEficiência 60% 58% 56% 52% Planta de ciclo nas de titânio são equipadas com ligas especicombinado ais para suportar os elementos. A estrutura Planta de ciclo Planta de ciclo Planta de ciclo Planta de ciclo deste sistema de palhetas é extremamente combinado combinado combinado combinado Mainz-Wiesbaden Irsching 4, 530 MW Killinghone Didcot complexa. Linha base A maioria dos fabricantes agora oferece -7.1% Redução na -10.3% (projetada para -13.3% emissão de CO2 palhetas de titânio para os estágios finais de 530 MW) suas turbinas de baixa pressão, mas nenhum ousou construir uma tão grande quanto a que a Siemens está planejando. Os testes e expepor na fábrica de Mülheim podem contar com a mento na Siemens PG, Bettentrup projeta novas riências projetados para superar as dificulprofunda experiência de seus colegas de desen- palhetas de movimentação para o último está- dades ainda precisam ser realizados antes de volvimento de turbinas a gás, mas o processa- gio das turbinas a vapor de baixa pressão, que o projeto ser aprovado. Mas todos os mento dos materiais é extremamente difícil. En- são geralmente utilizadas em conjunto com as parâmetros operacionais já foram testados quanto os receptáculos e invólucros, palhetas e turbinas de alta e média pressão. O vapor nas por cerca de dois anos, usando uma turbina eixos na turbina a gás têm um design de filigrana e três turbinas expande gradualmente e depois pequena como modelo. A tarefa da equipe de são formados de placas e palhetas finas, os eixos enfraquece no final, resfriando para 30ºC a uma desenvolvimento da palheta, agora, é empreforjados das grandes turbinas a vapor podem ter pressão de 45 milibares. A expansão aumenta gar o material no projeto ideal, a custos faaté um metro de espessura e seus componentes rapidamente o volume do fluxo, no entanto, o voráveis, pois a produção de palhetas de individuais podem pesar mais de 20 toneladas. que significa que a última roda tem de ser a titânio é complicada – e, conseqüentemente, Além disso, depois de processados, todos os com- maior. A maior roda de palheta feita pela mais dispendiosa – do que o processo convenponentes não podem desviar dos formatos pré- Siemens para funcionamento em estágio final cional de palhetas de aço. Outros custos adicalculados mais do que poucos centésimos de tem uma superfície de fluxo de 12,5 m2. “A cionais são gerados pelos preços altos e cada milímetro. As costuras soldadas com 20 centíme- tendência é no sentido de áreas cada vez vez mais voláteis das matérias-primas. Apesar tros de largura exigem o uso de técnicas de sol- maiores”, diz Bettentrup, motivo pelo qual ele e disso, os cálculos de Bettentrup demonstram dagem totalmente novas e, acima de tudo, novos sua equipe estão buscando construir uma que “ela realmente se pagará para nossos métodos de teste, da mesma forma como procedi- turbina a vapor com a maior área de roda de clientes”. Bernd Müller Desenvolvimento da tecnologia de turbina a vapor 30 Pictures of the Future | 1/2008 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 31 | Blindagens de Cerâmica Contra Calor Blindagens de cerâmica contra calor, feitas sob encomenda (à dir), são a alma da câmara de combustão (à esq). Materiais otimizados para blindagem são testados em instalação especial (parte inferior). Proteção Feita com Precisão A cerâmica protege as turbinas a gás de gases de combustão que “uivam”. Desenvolvendo materiais e processos de produção de proteção, a Siemens obteve vantagem competitiva. N o centro da chama de uma vela, onde as partículas emitem fuligem com mais intensidade, a temperatura chega a alcançar entre 1.000 e 1.200ºC. No entanto, para uma Blindagem de Calor feita de Cerâmica da Siemens Ceramic Heat Shield (CHS), o calor sibilante da chama da vela seria pouco mais do que uma brisa fresca. Essas blindagens de calor têm de ser capazes de agüentar temperaturas de 1.500ºC. Essa é a temperatura alcançada no interior de uma câmara de combustão anular de uma turbina a gás – e, portanto, no lado quente do revestimento cerâmico, que consiste de até 500 azulejos CHS. No lado inverso “frio”, em contraste, a temperatura cai para aproximadamente 600ºC. “Portanto, o efeito isolante fornecido por este isolamento em cerâmica, de quatro centímetros de espessura, chega a 900º,” explica Vassilios Papadopoulos, gerente de Produto CHS da Siemens, em Berlim. “Sem essa proteção, as paredes de metal da câmara de combustão se derreteriam muito rápido e a máquina seria destruída instantaneamente.” Além do calor, a resistência mecânica dentro da câmara de combustão da turbina a gás é também extrema. O gás, correndo a veloci- dades de até 100 metros por segundo e parecendo um tornado da categoria F4 – o segundo mais forte – ruge dentro da câmara de combustão, constantemente atacando a cerâmica. No entanto, a CHS pode agüentar tudo – embora suas condições de funcionamento sejam mais duras do que aquelas enfrentadas por uma espaçonave. “As blindagens ao calor feitas com cerâmica de uma espaçonave são inspecionadas detalhadamente após cada lançamento e aterrissagem”, diz Holger Grote, especialista em materiais e líder da equipe da CHS, em Mülheim an der Ruhr. “Em contraste, nossas máquinas têm de passar por muitas milhares de horas de funcionamento antes que seus componentes possam ser inspecionados.” Produção interna. Ao longo dos anos, o desempenho das turbinas a gás aumentou continuamente (página 28). Isto foi alcançado principalmente fazendo subir as temperaturas da câmara de combustão. Como regra geral, quanto mais elevada a temperatura, melhores o desempenho e a eficiência da turbina. Para a mesma energia elétrica, é necessário menos gás natural e, conseqüentemente, é produzido menos dióxido de carbono. “É claro que, conse- qüentemente, as exigências para a blindagem de calor também aumentam”, diz Papadopoulos. “Antes de 2006, ainda estávamos comprando nossas unidades da CHS de empresas externas. No entanto, os prazos de desenvolvimento de nossos fornecedores eram relativamente longos. Eles não tinham como acompanhar a velocidade da inovação de nossas turbinas a gás. Naquela época, comparamos nossa própria competitividade com a de empresas como a General Electric e, diferentemente de nossos concorrentes, decidimos nos envolver em toda a cadeia de valor associada com os componentes totalmente cerâmicos”, diz Grote. Os planos consideraram que as blindagens ao calor em material cerâmico deveriam ser produzidas e otimizadas internamente. Para concretizar este alvo, a Siemens montou um centro de testes de materiais, em Mülheim. “O cerne da instalação são áreas de teste especiais para caracterização térmica ou termomecânica da cerâmica. Entre 2003 e 2005, estudamos uma grande variedade de diferentes combinações de materiais”, disse Grote. “Testamos qual o desempenho do material de cerâmica a 1500ºC, por exemplo. Depois de dois anos de Pictures of the Future | 1/2008 31 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Materiais para o Meio Ambiente Page 32 | A Maior Turbina a Gás do Mundo pesquisa, surgiu claramente o material que era o melhor candidato. Mais robusto do que o material utilizado anteriormente, com melhor resistência às mudanças de temperatura – e ao mesmo tempo tendo uma vida útil mais longa. Eram características muito atraentes para o cliente, porque uma CHS que permanece intacta por mais tempo também não precisa ser substituída com freqüência, o que reduz os custos de manutenção da usina”. Mas a CHS não foi o único desenvolvimento. Todo o processo de produção também foi modernizado. A produção nas instalações de Berlim começou em março de 2006, depois de um prazo de construção recorde de 12 meses. “Usamos um processo exclusivo no mundo”, que inclui produzir material CHS de matérias-primas em quantidades com precisão de uma grama, processando o material e usando equipamento especial para enformar, e queimando as blindagens cerâmicas contra o calor. O resultado é CHS elaborado com precisão – com o máximo de variações em comprimento e largura a precisão é de quatro décimos de milímetro”, diz Papadopoulos. “Trata-se de uma importante vantagem porque os fornecedores externos utilizam processos diferentes para produzir suas blindagens de calor, que então necessitam ser retrabalhadas – e qualquer pessoa que já retrabalhou cerâmica sabe o quanto de trabalho está envolvido”. Cada blindagem de calor é inspecionada individual e detalhadamente antes da entrega, e a blindagem que apresentar a menor das fissuras, por exemplo, é rejeitada. “A Siemens também criou um Sistema de Gerenciamento da Qualidade Total para essa linha de produção”, relata Grote. Produção Feita sob Medida. Se uma CHS demonstrar danos, a causa pode ser descoberta rapidamente, porque as blindagens de calor levam um número designado durante seu processo de produção, que também garante a rastreabilidade da blindagem. Além disso, cada blindagem individual de calor é também documentada na PG, em Berlim, durante o “stoning” (revestimento com os azujelos refratários) que é como os especialistas chamam o processo de cuidadosamente encaminhar a CHS na câmara de combustão anular. O espaço especificado entre duas placas é de cerca de 1,4 milímetro, com tolerância máxima de um décimo de milímetro. “Aqui, podemos ver com clareza os benefícios do processo de produção de alta precisão”, diz Papadopoulos. Porém a maior vantagem da nova blindagem de calor – as inovadoras geometrias de CHS – ainda está por chegar. Ulrike Zechbauer 32 Pictures of the Future | 1/2008 Eficiência inigualável A maior turbina do mundo, com saída de 340 megawatts, entrou em funcionamento experimental em novembro de 2007. Em combinação com uma turbina a vapor downstream, ela ajudará a garantir que a nova termelétrica de ciclo combinado alcance eficiência recorde de mais de 60% quando entrar em funcionamento, em 2011. BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 33 Após montagem na fábrica de turbinas a gás da Siemens, em Berlim (acima), a maior turbina a gás do mundo viaja. Abaixo: a turbina chega ao seu destino, em um gigantesco caminhão especial. H abitantes da cidade de Irsching, na Baviera, saíram às ruas para testemunhar o levantar do mastro enfeitado de branco e azul. Três semanas mais tarde, apareceram em grande número novamente – desta vez, preocupados com o mastro, pois um caminhão gigantesco apareceu carregando uma nova turbina para a termelétrica da cidade. Os habitantes estavam preocupados com o fato de que a turbina – que mede 13 metros de comprimento, cinco metros de altura e pesa 444 toneladas, pudesse causar uma ameaça ao seu bem-amado mastro. Não foi o caso, no entanto; os especialistas que supervisionavam o transporte estavam de fato mais preocupados com a ponte na entrada da cidade, que eles reforçaram como medida preventiva, antes da chegada da turbina. A maior turbina do mundo, que foi construída pela fábrica da Siemens, em Berlim, viajou 1.500 quilômetros para chegar a Irsching – inicialmente na água, ao longo do rio Havel, vários canais, o Reno e o Main. Em seguida, entrou no Canal Main-Danúbio para Kelheim, onde foi carregada em um caminhão nos últimos 40 quilômetros. Esta odisséia foi realizada porque a única maneira de testá-la seria pô-la em funcionamento na termelétrica. “Foi uma ótima coincidência que a empresa E.ON estivesse planejando expandir a termelétrica em Irsching”, disse Hans-Otto Rohwer, gerente de projeto da Siemens em Irsching. A Siemens agora construirá uma usina de ciclo combinado na instalação da Baviera (Bloco 5) para a E.ON Kraftwerke GmbH. A usina, que deverá estar concluída em 2009, alojará duas pequenas turbinas a gás e uma turbina a vapor. A Siemens também construirá o novo Bloco 4 da usina, onde a gigantesca turbina será instalada. A saída da nova turbina é de 340 megawatts, o que é igual à de 13 motores a jato das aeronaves jumbo, e suficiente para fornecer energia para a população de uma cidade do tamanho de Hamburgo. “O Bloco 4 é nosso projeto no momento”, diz Rohwer. A Siemens utilizará a infra-estrutura existente aqui, comprará gás da E.ONRuhrgas e venderá a eletricidade que produzir na usina. Isso não é assim tão importante agora, pois a turbina primeiro precisa ser testada nos próximos 18 meses. Para isso, a unidade foi equipada com 3.000 sensores que medem praticamente tudo que a moderna tecnologia pode registrar – desde temperatura e pressão até resistência mecânica e deformação do material. Se um componente está defeituoso, ou falha, os computadores ligados aos sensores chamam a atenção para o problema imediatamente. O componente é então retirado e substituído ou reformulado. A maior parte da tecnologia de medição está embutida, o que se vê na instalação é uma seção de 21 trailers de escritório abrigando as estações de medição. Os trailers parecem pequenos perto da ala onde está a turbina, que tem 30 metros de altura. Apesar de seu tamanho gigantesco, a fachada de metal da nova instalação faz com que ela pareça leve e moderna quando comparada com as três torres de concreto antigas, das décadas de 1960 e 1970, cada uma com 200 metros de altura. “Falta muito para a ala ser terminada”, diz Rohwer, enquanto aponta para um grande buraco no chão entre a turbina e o gerador. “É aqui que vamos instalar os sistemas de óleo para manter todas as partes móveis da montagem do eixo lubrificadas. É também onde a maior parte das chaminés se acumula, e onde quase todo o equipamento elétrico e os tanques de gás estão localizados.” Recorde de Eficiência. Rohwer aponta para uma abertura na parede e explica que é a conexão para a unidade de tomada de ar, que puxará ar fresco de fora. Equipada com abrigo especial, filtros e absorvedores de ruído, a unidade canalizará 800 quilogramas de ar por segundo quando a instalação estiver funcionando a plena capacidade – um volume que esgotaria o ar dentro da ala em apenas poucos minutos. Mas valerá o esforço porque a turbina de gás e a turbina a vapor auxiliar estabelecerão um novo recorde mundial com um índice de eficiência de mais de 60%, dois pontos percentuais acima da detentora do recorde anterior, a termelétrica de Mainz-Wiesbaden. Portanto, falando relativamente, menos combustível será queimado e menos 40.000 toneladas de dióxido de carbono (CO2) serão emitidas por ano para a atmosfera do que no caso da termelétrica de Mainz-Wiesbaden. E em compara- Pictures of the Future | 1/2008 33 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 34 Materiais para o Meio Ambiente | A Maior Turbina a Gás do Mundo ção com a média das termelétricas movidas a carvão, que têm uma eficiência de 42%, a nova instalação em Irsching emitirá aproximadamente 2,3 milhões de toneladas de CO2 a menos por ano, e produzirá a mesma quantidade de eletricidade. Haverá ainda muito que fazer mesmo depois que a usina for construída, pois os técnicos terão de testar todos os sistemas para garantir que as linhas de gás estão vedadas para agüentar a pressão, os cabos elétricos estão adequadamente firmados e todas as válvulas fecham e abrem de maneira rápida e confiável. É a verificação final antes de uma missão espacial. Há bons motivos para a decisão da Siemens de usar uma turbina gigantesca em vez de duas as perdas na turbina, e aumentaram a temperatura dos gases de combustão, o que aumenta a eficiência. “É complicado quando você envia gás aquecido a 1.200/1.500ºC pelas lâminas da turbina”, diz Fischer. “Isso ocorre porque a temperatura mais elevada a que as superfícies da lâmina podem ser expostas é 950º, ponto em que elas começam a incandescer e ficar vermelhas. Se ficar mais quente, o material começa a perder a estabilidade e se oxida.” Revestimento Cerâmico. Os engenheiros de 10.000 vezes o esforço gravitacional da Terra, que seria o equivalente a cada centímetro cúbico de tal lâmina pesar tanto quanto um ser humano adulto. As lâminas são feitas de liga de níquel. Elas costumavam ser fundidas e depois deixadas para esfriar e endurecer. Mais tarde, eram feitos crescer cristalitos na mesma direção das forças centrífugas. Mas, agora, as lâminas da turbina gigante, em Irsching, contêm ligas que foram criadas como cristais únicos através da utilização de processos especiais de resfria- A turbina pode produzir eletricidade suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Hamburgo. mento. São, portanto, extremamente resistentes à quebra, pois não há mais limites granulados entre os cristalitos na liga que podem romper. Os engenheiros também otimizaram o formato das lâminas com a ajuda de programas de simulação em 3D, nos quais as extremidades foram projetadas para manter um intervalo, o menor possível, entre as lâminas e a parede da turbina. Dessa forma, praticamente todos os gases passam pelas lâminas e são utilizados. O intervalo parede-lâmina torna-se ainda menor devido ao funcionamento em cone da turbina. Isto significa que o eixo pode ser deslocado milímetros durante o funcionamento até que as lâminas quase toquem a carcaça – uma prática conhecida como “otimização do intervalo hidráulico”. Pesando 444 toneladas, a maior turbina do mundo é cuidadosamente posicionada. menores que a E.ON irá operar na unidade ao lado. “O preço do megawatt (MW) de saída e a eficiência estão correlacionados com o tamanho da turbina. Em outras palavras, quanto maior ela for, mais econômica será”, explica Willibald Fischer, responsável pelo desenvolvimento da família de turbinas 8000H. “Em 1990, a maior turbina a gás produzia 150 MW e, em conjunto com uma turbina de 75 MW a vapor, tinha uma eficiência de 52%. “Nossa turbina a gás tem uma saída de 340 MW. Em combinação com uma turbina a vapor de 190 MW, ela utiliza mais de 60% do conteúdo energético do combustível gás.” Os engenheiros superaram dois desafios enquanto projetavam a turbina. Eles aumentaram a quantidade de ar e os gases de combustão que fluem através da turbina a cada segundo, que causa o aumento na produção mais do que 34 Pictures of the Future | 1/2008 da Siemens foram criativos na solução do problema. Uma coisa que fizeram foi baixar a transferência de calor do gás de combustão para o metal, aplicando revestimento térmico consistindo de duas camadas de mão de fundo: uma de 300 micrometros de espessura diretamente no metal e uma camada fina de cerâmica sobre ela, que produz isolamento de calor (ver página 28). As lâminas também são resfriadas de maneira ativa, pois são ocas por dentro e expostas a fluxos de ar frio gerados pelo compressor. As lâminas bem na frente (a parte mais quente da turbina) também têm furos finos, por onde o ar é liberado, e aí flui através das lâminas, cobrindo-as com um filme fino de isolamento, como uma blindagem protetora. Conforme as lâminas giram, forças centrífugas maciças entram em ação. A extremidade de cada lâmina é exposta à força máxima Corrida Piloto. Cada uma das medidas mencionadas produz somente uma fração de aumento de eficiência ou saída. Mas se considerados em conjunto, levam a um novo recorde. Se tudo vai funcionar como planejado será revelado nos 18 meses de funcionamento experimental, iniciado em novembro de 2007. Se os resultados dos testes preliminares forem satisfatórios, os engenheiros anunciarão o término dos testes e o início de funcionamento da megaturbina em agosto de 2008, permitindo que a Siemens comece a comercializá-la. “Se a turbina a gás se comprovar durante o período de experiência, assumiremos o controle da usina em 2011”, disse Alfred Beck, da E.ON Kraftwerke GmbH. “Sua elevada eficiência a tornará lucrativa para uso em funcionamento a meia carga, apesar do preço ligeiramente mais caro do gás”. A instalação gerará eletricidade durante 3.000 a 7.000 horas a cada ano, e será de fato uma termelétrica verdadeiramente superior. Bernhard Gerl BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 35 | Eliminando Materiais Perigosos — Reciclagem Solda sem chumbo se junta aos mais diversos componentes em placas de circuito (na parte superior da página). O processo inteiro de solda (pastas inclusive) é otimizado no laboratório da Siemens em Berlim (abaixo). A s placas de circuito parecem modelos em miniatura das grandes cidades. Os caminhos cinza dos condutores poderiam ser as ruas e os capacitores no formato de torres, os arranha-céus. A cor da superfície da placa é verde. “Mas até recentemente, as placas de circuito eram verdes somente em termos da cor de sua superfície”, diz Peter Demmer, da Siemens Corporate Technology (CT). No entanto, as coisas estão mudando, enquanto os pesquisadores da Siemens lutam para tornar as placas verdes no sentido figurativo ecológico também. Trata-se de uma questão importante, pois as placas de circuito podem ser encontradas em praticamente todos os produtos que contêm componentes eletrônicos. As placas põem máquinas de fazer café, tomógrafos computadorizados, motores elétricos e termelétricas inteiras para funcionar. O chumbo – metal tóxico pesado freqüentemente encontrado em soldas – é uma sustância que a Siemens sempre evita usar. Placas de circuito tornam-se ecológicas Pesquisadores da Siemens estão tornando os componentes eletrônicos menos nocivos ao meio ambiente, eliminando o chumbo das pastas de solda e os retardadores de chama à base de bromo de algumas das placas. A Fujitsu Siemens Computers já está vendendo PCs que contêm placas de circuito “ecológicas” em todo o mundo. De fato, a empresa tem sido mais restritiva do que o exigido pela legislação. Na metade de 2006, o chumbo foi proibido e não pode ser utilizado em muitos dispositivos e aparelhos elétricos e eletrônicos na União Européia. “No longo prazo, também queremos substituir os retardadores de chama que contêm bromo, embora ainda não haja legislação a respeito”, diz Demmer, que gerencia o projeto de Placas de Circuito Ecológicas na CT. Os compostos de bromo são perigosos porque podem liberar produtos cancerígenos em caso de incêndios. Por isso, algumas placas de circuito verde da Siemens já contêm compostos organofosforados, que são, no momento, considerados menos prejudiciais. Os retardadores de chama evitam os incêndios de rescaldo, como os causados por curtos circuitos. Um excelente exemplo de proteção ambiental ativa é o PC Ecológico da Fujitsu Siemens Computers (FSC). Todos os componentes deste computador fabricados internamente ou especialmente encomendados fora não contêm chumbo nem bromo, de acordo com Hans-Georg Riegler-Rittner, chefe de Proteção Ambiental e Gerente da Qualidade na FSC em Augsburg, na Alemanha. “Os únicos componentes no PC Ecológico que podem conter retardadores de chama com bromo são os discos rígidos ou a LAN ou os sticks do modem adquiridos de fontes externas”, explica RieglerRittner. Os PCs Ecológicos da FSC também consomem muito pouca energia. Sob condições ideais, eles precisam de não mais do que a energia necessária para acender uma lâmpada de 60 watts e, além disso, são fáceis de reciclar. Um Sucesso na Escandinávia. “Os computadores que respeitam o meio ambiente não custam para nossos principais clientes nada mais do que um PC convencional”, diz Riegler- Rittner. Apesar de os PCs Ecológicos serem ligeiramente mais caros para produzir, eles só são usados comercialmente, o que significa que o custo adicional pode ser recuperado nos sistemas de logística de fornecimento. “Nós não mais embalamos cada PC individualmente para nossos grandes clientes; em vez disso, entregamos uma embalagem completa contendo centenas de computadores”, explica Riegler-Rittner. Os PCs que respeitam o meio ambiente despachados para o mundo inteiro são um grande sucesso, especialmente na Escandinávia, não apenas porque o novo certificado ambiental Nordic Swan exige o cumprimento de normas muito rígidas, mas porque os PCs Ecológicos são atualmente os únicos computadores a terem recebido o certificado. A FSC vendeu mais de 1,3 milhão de PCs Ecológicos em todo o mundo, no ano passado, embora os clientes particulares ainda não o Pictures of the Future | 1/2008 35 BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 36 Materiais para o Meio Ambiente | Reciclagem | Materiais Renováveis possam comprar. “Nossos PCs normais podem concorrer em preços no varejo porque muitos elementos são adquiridos fora. Mas, infelizmente, esses componentes ainda contêm bromo”, explica Riegler-Rittner. A questão dos materiais é também o foco do trabalho realizado pelo Dr. Klaus Peter Galuschki. Há anos, Galuschki e sua equipe na Siemens CT, em Berlim, têm avaliado a qualidade das placas de circuito soldadas sem chumbo e otimizado os processos para fabricá-las. “As características, tais como vida útil, estabilidade e propriedades elétricas não devem ser afetadas negativamente pela mudança para soldas sem chumbo”, diz Galuschki. O problema é que praticamente não existem dados históricos sobre o desempenho das novas soldas, a maioria das quais são feitas de ligas de estanho, prata e cobre. A solda com chumbo, por outro lado, é um procedimento de longa tradição – e até recentemente, todos os processos da fabricação de equipamentos eletrônicos eram projetados para ela. “Um dos principais problemas com a conversão do chumbo eram as altas temperaturas de fusão das novas soldas, que muitos componentes eletrônicos comuns não conseguiam agüentar”, explica Galuschki. Os materiais para solda sem chumbo não fundem até aproximadamente 220ºC, cerca de 40º a mais do que o ponto de fusão das soldas convencionais de estanho e chumbo. O advento de componentes mais resistentes ao calor tornou a conversão viável. Plásticos: Compostos Estáveis. Os materiais utilizados nas pastas de solda foram analisados, pois a técnica da arte em solda atualmente não mais envolve soldar ferros e fios. “Compramos pasta de solda e a passamos por um instrumento de moldagem em direção às placas de circuito”, diz Galuschki. As pastas contêm glóbulos de tamanho micrométricos da liga de metal selecionada, agentes de fundição que evitam que o ponto de solda oxide e agentes tixotrópicos – substâncias que fazem com que a mistura fique pegajosa, garantindo que os glóbulos possam aderir às placas. Uma vez que a pasta tenha sido aplicada, uma máquina SIPLACE coloca os componentes nas superfícies da placa. Depois disso, as placas vão para um forno, onde os contatos dos componentes e o material de solda são fundidos juntos. “A chave aqui é a regulagem sofisticada da temperatura para garantir que os solventes na pasta da solda sejam vaporizados antes que o material da solda funda”, diz Galuschki. As placas de circuito deverão se tornar ainda mais ecológicas no futuro e, em alguns casos, serão até produzidas utilizando matérias-primas renováveis, tais como cana-de-açúcar, resíduos da indústria de papel ou processos de fabricação de biodiesel. “As verdadeiras placas ecológicas verdes são de fato amarelas”, diz Galuschki, enquanto aponta para um protótipo feito de bioplástico em cor clara. Embora a produção de placas de circuito “verdes” em amarelo ainda levará um bom tempo, as primeiras amostras do laboratório já chegaram à bancada de testes de Galuschki. Andrea Hoferichter Reutilização e Reciclagem de TI 7.0 % Embalagens 5.5 % Concreto (cofres) 11.5% Metais não-ferrosos (alumínio, cobre, etc.) 42.1% Metais ferrosos Não-recicláveis Recicláveis termicamente Reutilizáveis 11.7% Plásticos 1.4 % Cofres 6.4 % vidros (tubos de raio de catódio-CRT) 2.1 % Outros 0.6 % Plásticos 2.7 % Embalagem mista 1.1 % Resíduos perigosos 7.9 % Grupos de componentes As figuras representam percentuais de peso Pouco menos de 99% de todos os equipamentos antigos de TI da Fujitsu Siemens Computers aceitos para descarte – inclusive PCs e sistemas de caixas registradoras – podem ser reciclados ou reutilizados diretamente. 36 Pictures of the Future | 1/2008 Fonte: Fujitsu Siemens Computers, 2007 Materiais recicláveis Os plásticos produzidos por bactérias farão com que muitos produtos eletrônicos respeitem mais o meio ambiente no futuro. Os cientistas estão estudando as propriedades destes polímeros e identificando suas possíveis aplicações. A vida é boa. Tome, por exemplo, o Paracoccus denitrificans. Este organismo redondo, roxo e de uma única célula tem uma existência sossegada, que consiste em desintegrar os resíduos orgânicos das águas servidas ou do solo. Mas em épocas de tensão, ele pode responder empilhando reservas feitas de plástico. Ele faz isso convertendo o excesso de carboidratos em ácidos graxos, que ele combina em longas moléculas, criando, em última análise, o poliácido 3-hidroxibutírico (PHB), que coleta células bacterianas como glóbulos pequenos duros. O PHB é um polímero semelhante ao polipropileno plástico sólido utilizado em muitas áreas, de embalagens para alimentos a produtos têxteis. O PHB, produzido por muitos tipos de bactérias, é biodegradável e uma matéria-prima muito cobiçada. É por isso que os pesquisadores de materiais da Siemens Corporate Technology (CT) e da BASF AG estão tão interessados nele. As duas organizações estão trabalhando em conjunto com outros parceiros nos projetos “BioFun” e “BioPro” financiados pelo Ministério de Alimentos, Agricultura e Proteção ao Consumidor da Alemanha. Seu objetivo é desenvolver plásticos de alta qualidade a partir de matérias-primas renováveis e identificar as possibilidades mais promissoras para sua aplicação. Até recentemente, bioplásticos têm sido utilizados principalmente como embalagem e em produtos não-duráveis, tais como pratos descartáveis, pois muitos desses plásticos são biodegradáveis. Em 2006, ocorreu um grande crescimento na demanda por esses materiais, de acordo com a Associação Européia de Bioplásticos. A popularidade crescente é decorrente da maior conscientização ambiental da parte dos consumidores, um interesse maior BR 028-037.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 10:34 AM Page 37 Um Ramo em Crescimento PHB Bactérias (em vermelho) produzem PHB, um Grânulos biodegradáveis de PHB (na frente) podem polímero semelhante a plástico sólido, que elas ser utilizados para produzir um receptáculo empilham como alimento. (à esquerda) e uma placa de circuito (à direita). pelo desenvolvimento sustentável entre as empresas e os preços mais elevados das matérias-primas e da energia. A Associação acredita que os bioplásticos têm o potencial para responder por 5 a 10% do mercado de plásticos no futuro próximo; no momento, eles são responsáveis por cerca de 0.1%. de P. denitrificans, geradas em tanques no instituto de pesquisas SIAB, em Leipzig, estão sendo alimentadas com glicerina, um líquido que se assemelha a uma cera, subproduto da semente do óleo de colza para fabricação do biodiesel. Somente na Europa, espera-se que, até 2010, sejam produzidas 300.000 toneladas de glicerina a mais do que as indústrias de cosméticos, alimentos e indústrias farmacêuticas mundiais poderão utilizar. Se os pesquisadores do projeto BioFun conseguirem o que pretendem, o excesso de glicerina será utilizado para fazer plásticos. Quantidades Ilimitadas. O principal benefício oferecido pelos “ecoplásticos” é que sua produção praticamente não necessita de combustíveis fósseis. Além disso, seu descarte libera mais ou menos a mesma quantidade de CO2 absorvida pelas plantas que são consumidas pelas bactérias que produzem os plásticos, em primeiro lugar. Os bioplásticos também são interessantes de uma perspectiva econômica, porque os produtos-base para sua produção – açúcar e amido – estão disponíveis em praticamente quantidades ilimitadas. Além disso, os elevados preços do petróleo estreitaram de maneira significativa a diferença de preços entre os bioplásticos e os plásticos de petroquímicos. Durante anos, as empresas eletrônicas japonesas, especialmente, têm tentado fabricar produtos duráveis feitos de bioplásticos. O projeto BioFun se concentra nos produtos eletrônicos, nos quais os aspectos mais importantes envolvem as propriedades mecânicas, tais como flexibilidade, resistência a impacto e aderência à superfície. “Como fabricante de eletrônicos, sabemos exatamente o que esses materiais devem ter a capacidade de fazer”, explica Kleinert. “Nosso envolvimento no BioFun nos possibilita garantir, numa etapa inicial, que os novos materiais que estão sendo desenvolvidos tenham as propriedades certas”. Matériasprimas específicas de determinadas regiões poderão ser utilizadas. Por exemplo, as culturas Firme e Elástico. Antes que esses plásticos possam ser fabricados em grandes quantidades, seus processos de produção, que incluem tudo desde glicerina bruta de limpeza e fermentação em um bio-reator à extração do PHB das células bacterianas, terão de ser simplificados. “Até agora, muita energia foi despendida nessas etapas”, comentou a engenheira ambiental Cornelia Petermann, da Siemens CT, cuja tarefa é levantar balanços ecológicos que levem em conta a energia consumida durante a produção e a compatibilidade ambiental dos aditivos. Petermann acredita que muita energia poderá ser economizada pela reciclagem de materiais e calor. Os químicos também estão trabalhando em uma composição ótima para esses plásticos. As demandas colocadas nos produtos eletrônicos que associam misturas de PHB precisam ser examinadas em detalhe. Por exemplo, os pesquisadores na Siemens CT estão examinando por quanto tempo diferentes variações de PHB permanecem firmes e elásticas e se os revestimentos de proteção ou aditivos especiais evitam ou não a sua decomposição em ambientes quentes e úmidos – um problema com- partilhado por todos os poliésteres. Os pesquisadores do BioFun conseguiram agora melhorar a elasticidade do PHB, misturando-o com um plástico biodegradável baseado em petróleo produzido pela BASF. Os cientistas também estão examinando até que ponto o PHB poderá ser adequado para ser utilizado com sistemas da mecatrônica, visto que as superfícies de PHB poderiam ser metalizadas e, assim, poderiam desempenhar as funções realizadas pelos caminhos condutores normais. “Você poderia então montar componentes eletrônicos diretamente no revestimento de metal do receptáculo em PHB”, diz Kleinert. Isto eliminaria a necessidade das placas de circuito convencionais, conservando espaço e materiais. Naturalmente, um dos critérios mais importantes aqui é o preço. “Para nossos plásticos terem uma chance no mercado, eles não podem ser mais caros do que os produtos estabelecidos”, explica Kleinert. Ao realizar pesquisas para sua dissertação de Mestrado no setor de Healthcare da Siemens, o engenheiro ambiental Stefan König descobriu que as fibras feitas de matérias-primas renováveis poderiam ser utilizadas para reforçar plásticos convencionais, pois as fibras naturais melhoram de maneira significativa as propriedades mecânicas destas últimas. Além disso, os testes com plásticos contendo uma porção de matérias-primas renováveis revelaram que estes eram capazes de atender às mais rigorosas demandas por resistência a chamas, tais como aquelas exigidas para os componentes de painéis em equipamentos médicos de grande porte. “A situação ideal seria reforçar os biopolímeros com fibras naturais", diz König. “Já existem materiais reforçados hoje que contêm somente poucas matérias-primas petroquímicas”. Obviamente, os resultados do projeto BioFun deverão produzir fantásticas descobertas nos próximos anos. Ute Kehse Pictures of the Future | 1/2008 37 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/8/08 5:14 PM Page 38 Materiais para o Meio Ambiente | Turbinas Eólicas Pás prontas esperam embarque (abaixo) enquanto as novas já estão sendo produzidas (à direita). Aqui, moldes enormes estão sendo retirados (centro) das pás sem acabamento (à esquerda). Pegando o vento A divisão de Renewable Energy da Siemens é líder mundial no mercado para turbinas eólicas oceânicas. Na Dinamarca, com um processo exclusivo, de estágio único, a empresa produz as pás do rotor com até 52 m de comprimento. Ela também fabrica as maiores turbinas eólicas feitas em série no mundo, que produzem 3,6 megawatts. N uvens carregadas e vento muito frio sobre o Mar do Norte. Pelos padrões da maioria das pessoas, isto não tem nada a ver com bom tempo. Mas para Claus Burchardt, chefe de pesquisa e desenvolvimento de pás na divisão Renewable Energy da Siemens, não poderia ser melhor. “Para nós, bom tempo significa vento forte, sem ele estaríamos lutando para achar clientes.” Em vez de estar em pé na praia, Burchardt está sentado em um pequeno escritório, nos arredores de Aalborg, a terceira maior cidade da Dinamarca. Em conjunto com 3.200 colaboradores da Renewable Energy, Burchardt constrói enormes usinas de energia eólica, cada uma podendo gerar eletricidade suficiente para aquecer uma banheira cheia de água gelada em 38 Pictures of the Future | 1/2008 apenas 30 segundos. De fato, os componentes individuais dessa turbina eólica são tão grandes que, por motivos logísticos, algumas são construídas longe da Dinamarca. Um desses locais é Fort Madison, no estado de Iowa, nos EUA, onde uma nova fábrica de pás de rotor foi inaugurada em setembro de 2007. A infra-estrutura também tem um importante papel na escolha dos locais. Assim, Aalborg, por exemplo, foi selecionada devido à sua proximidade a um porto, com um cais favorável ao manuseio de pás de rotor, algumas das quais com mais de 50 metros de comprimento. “O grande desafio em Aalborg”, diz Burchardt, “é garantir que todas as pás de rotor produzidas, algumas das quais pesando 16 toneladas métricas, sejam fabricadas em níveis BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/8/08 elevadíssimos de precisão para que tenham desempenhado exatamente conforme exigido, sem a necessidade de atualizá-las ou ajustá-las durante 20 anos”. Para realizar isto, as pás de rotor – apesar de seu enorme tamanho e força – devem ter um formato aerodinâmico ótimo até o menor ângulo possível e, mais ainda, elas têm de ser robustas, porque muitas delas são destinadas a usinas eólicas oceânicas, onde os custos dos reparos e consertos são extremamente elevados. “Os custos para o fabricante de realizar consertos em mar aberto são cerca de dez vezes maiores do que numa instalação em terra firme”, diz Burchardt. “Em grandes turbinas, velocidades diárias do vento a 10 metros por segundo forçam 100 toneladas de ar através do rotor a cada segundo, o que exige pás robustas”. Exigências extremas de qualidade como essas já levaram muitos fabricantes a desistir do setor oceânico. Nesse meio tempo, a Siemens se tornou não só a empresa com mais experiência, mas também a maior fornecedora de turbinas eólicas para instalações oceânicas. 5:14 PM Page 39 Por meio de um processo patenteado, as pás de usinas eólicas são produzidas como uma só peça - sem emendas. evitam que a pá entre em colapso durante a produção. Produzindo as Pás. Na ala de produção das instalações de Aalborg, que tem cerca de 250 fundida e, portanto, sem nenhuma costura, o que a torna muito mais forte do que as outras pás”, explica. No final da ala, Burchardt se detém próximo a um dos moldes da pá que um colaborador está revestindo com o que parecem ser quilômetros de tecido branco. Ele tem a aparência de um tapete delicadamente tecido, mas no toque dá a impressão de plástico. “Fibra de vidro”, explica Burchardt, “e uma vez que tenha sido injetada com resina de epóxi, ela se torna um composto de fibra de plástico reforçado. Diferentemente dos produtos de fabricantes concorrentes, nossas pás de rotor não contêm cloreto de polivinil, que tem sido associado à dioxina. Isto significa que não são um problema na hora de serem jogadas fora no final de sua vida útil de 20 anos, porque são principalmente feitas de fibra de vidro reciclável”. Como pode um tecido deste comprimento dar a uma pá de rotor sua fantástica força? metros de comprimento, há enormes moldes do formato das pás, como fôrmas de assar bolos, dispostas ao longo do piso e mesmo penduradas de cabeça para baixo no teto. Não há nenhum vestígio de cheiro de produtos químicos e a maioria dos colaboradores não precisa usar roupa especial de proteção. “Alguns anos atrás, desenvolvemos um método de fabricação de pás em uma peça, com tudo incluído”, diz Burchardt. “Usando esse processo de pá integral – ou técnica de estágio único (one shot), como também a chamamos – pudemos nos desfazer dos adesivos. Conseqüentemente, os colaboradores não estão sujeitos a vapores tóxicos. Ao mesmo tempo, não há componentes individuais para atravancar a ala e, no final, temos uma pá de rotor que é produzida em uma única peça “O molde é inicialmente revestido com muitas camadas de fibra de vidro. De fato, há sete toneladas métricas deste material em uma pá de 45 metros e 12 toneladas em uma de 52 metros. Para melhorar a rigidez, uma camada de madeira é colocada entre as camadas de fibra de vidro”, diz Burchardt. Enquanto Burchardt fala, um molde é baixado do teto e uniformemente contém os dois lados de uma pá. Somente agora as formas das enormes unidades nas costas dos moldes se tornam evidentes. Quando estão fechados, os moldes agem como uma enorme fôrma de bolo com um forno integrado e, uma vez que a resina de epóxi tenha sido injetada, elas são aquecidas para assar a pá em um todo sólido. Os bolsões dentro da pá desafiam o calor e eólica estão situados na Dinamarca. “Há motivos históricos,” diz Henrik Stiesdal, diretor de Tecnologia da Siemens, em Brande. “Tudo começou com a crise energética de 1973/1974. Em um movimento para reduzir sua dependência do petróleo, a Dinamarca examinou a possibilidade de construir usinas de energia nuclear. Como resposta, engenheiros talentosos projetaram as primeiras turbinas eólicas. Em meados da década de 1980, vários países criaram incentivos fiscais para a energia eólica, tornando-a um negócio lucrativo. Sendo o único país com know-how para construir turbinas eólicas totalmente funcionais, a Dinamarca passou por um crescimento que continua até hoje”, explica. Embora o tempo esteja bom lá fora – no Boas Vibrações. Antes da instalação, as pás de rotor passam por uma série de testes estáticos e dinâmicos. No primeiro deles, elas são sujeitas a 1,3 vezes a carga de funcionamento máximo. Para simular 20 anos de fadiga de material, as pás são montadas em bancas especiais de teste e submetidas a cerca de dois milhões de vezes de vibrações, antes que a resistência do material seja novamente testada no teste estático final. Em Brande, uma cidade de 6.000 habitantes, cerca de 150 quilômetros ao sul de Aalborg, 2.000 colaboradores da Siemens fabricam a alma de toda usina de energia eólica: as nacelles (invólucros) de suas turbinas. Durante a viagem pelo interior dinamarquês, passando por seus campos e fazendas e 3.500 das turbinas eólicas do país, pergunto por que os maiores fabricantes de usinas de energia Pictures of the Future | 1/2008 39 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/8/08 5:14 PM Page 40 Materiais para o Meio Ambiente | Turbinas Eólicas Antes da instalação no mar (abaixo), Henrik Stiesdal (à direita) verifica se tudo está em ordem – inclusive a montagem da turbina (centro) e o teste final de resistência (à esquerda). sentido dinamarquês – Stiesdal evidentemente está satisfeito em continuar em seu agradável escritório. De uma gaveta ele retira a cronologia da tecnologia de energia eólica e coloca sobre sua mesa. “As primeiras turbinas eólicas foram construídas no início da década de 1980 e produziam somente 22 quilowatts. Desde então, a produção dobrou a cada quatro anos. A 2,3 e 3,6 megawatts, nossas modernas usinas produzem mais de cem vezes a energia eólica de então. Pelo menos por enquanto, as pequenas usinas ainda são responsáveis por cerca de 80% de nossos negócios.” Stiesdal mostra um grande mapa da Europa. “Acabamos de finalizar a instalação da Usina de Energia Eólica de Burbo – nossa primeira instalação oceânica baseada na nova turbina de 3,6 megawatts. A usina está localizada no mar na área de Liverpool, no Reino Unido, e tem uma produção total de 90 megawatts. Precisamos de apenas um mês e meio para concluir o trabalho. Já em 2008, a instalação fornecerá eletricidade a mais de 80.000 residências. Neste mesmo ano, temos Gigantes de 500 Toneladas. Aqui, nacelles enormes de metal, contendo uma máquina de 2,3 megawatts, estão sendo preparadas. Chegamos perto de uma das estruturas arredondadas, cujo topo está aberto em um dos lados, oferecendo uma visão do interior. “Estamos em pé, na frente do eixo motor. É aqui que o rotor e suas três pás serão montadas pelo lado de fora. Para uma turbina oceânica, é um trabalho que ocorre no mar aberto. As torres são montadas em terra. Um navio especialmente projetado, completado com guindaste, é utilizado para transportá-las, bem como as nacelles e as pás do rotor para o local em mar aberto. Então, leva menos de meio dia para instalar uma única turbina pesando 500 toneladas. Uma vez que o rotor começa a funcionar, seus movimentos são transmitidos pelo eixo motor para uma unidade de engrenagem. Esta, por sua vez, transfere o torque para o gerador, o que varia dependendo da força do vento. O resultado é energia elétrica.” Stiesdal, um marinheiro amador, mostra que um sistema desta magnitude requer muito mais do que apenas peças mecânicas. “Hoje, uma As primeiras turbinas eólicas produziam 22 kilowatts, menos de um centésimo do que produzem hoje. outro projeto com 54 turbinas para aquela que será a maior usina de energia eólica do mundo instalada no oceano, no leste da costa da Inglaterra. “Como a única empresa capaz de fornecer turbinas eólicas deste porte, já recebemos outros pedidos para nosso produto principal”. Os olhos de Stiesdal brilham com entusiasmo. “Este ano, construiremos turbinas eólicas com uma produção total de 1.500 megawatts. É o suficiente para produzir quatro bilhões de quilowatts hora por ano – aproximadamente 12% das necessidades de eletricidade da Dinamarca.” 40 Pictures of the Future | 1/2008 turbina de 2,3 megawatts como esta contém muitos níveis de processadores e eletrônica. Pode parecer simples e fácil de entender, mas quanto mais perto você a examina, mais complicada ela se torna”. Isto também se aplica à turbina topo de linha de 3,6 megawatts. A caminho para inspecionar esta gigante, passamos pela área de armazenamento. Como a caixa de brinquedos de uma criança, todos os componentes para as turbinas eólicas estão arrumados esperando instalação. À esquerda, há as enormes coberturas do bico, que mais tarde adornarão o receptáculo da turbina, no meio das nacelles da máquina, e à direita os eixos (hubs) gigantescos dos rotores, cada um pesando cerca de 35 toneladas. As pás para Aalborg são entregues diretamente ao local da instalação. Os vários componentes para as torres, que tem 120 metros de altura, vêm de fornecedores externos na Dinamarca, Alemanha, EUA e Coréia, dependendo da localização da usina de energia eólica. Uma vez na ala, a nacelle branca da turbina de 3,6 megawatts é inconfundível. Diferente de sua parenta menor, ela tem formato angular. Medindo aproximadamente 13 metros de comprimento, quatro de largura e quatro de altura, ela é também maior: a parte interna da turbina é alcançada por uma escada. Diversos sistemas estão espalhados em dois andares, como se fosse uma pequena casa. “Tudo é maior nesta turbina”, diz Stiesdal, falando com modéstia típica. “Mas já estamos trabalhando em turbinas ainda maiores. De fato, em breve, as pás do rotor de nossas turbinas poderão ter mais de 60 metros de comprimento.” Sebastian Webel BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:01 PM Page 41 | Iluminação O s diodos emissores de luz (LEDs) são tão pequenos quanto uma partícula de pó, mas são gigantes quando se trata de respeitar o meio ambiente. Os LEDs brancos não só necessitam somente de um quinto da energia utilizada por lâmpadas tradicionais, mas têm uma vida útil 50 vezes mais longa. E, mais ainda, diferentemente das lâmpadas convencionais que economizam energia, eles não contêm mercúrio. De fato, a história de sucesso do LED branco já vem ocorrendo ao longo dos anos. confiante de que mesmo chips mais eficientes e maiores podem ser produzidos. “Sabemos que 2.000 lumens é um objetivo viável”, diz ele. Outro fator importante quando se trata de LEDs eficientes envolve os corantes amarelo e vermelho-laranja que são aplicadas na fonte de luz original em camadas para transformar os chips de luz azul de LED em luz branca. O pesquisador da Osram, Dr. Martin Zachau, é um especialista neste campo. Ele e sua equipe usam corantes do tamanho de grãos para controlar as propriedades de dispersão das partícu- Progressos na Área de Emissores de luz Diminuir o consumo de energia, proibir os poluentes e expandir a vida útil das lâmpadas – essa é a missão dos desenvolvedores de lâmpadas da Osram. Em breve, LEDs brancos e brilhantes, com uma vida útil de 90.000 horas. Luminosidade de longa durabilidade. O Dulux EL LongLife (acima) é uma lâmpada fluorescente compacta altamente duradoura, com vida útil de 15.000 horas. Abaixo: materiais para LEDs sendo testados em uma biblioteca com luzes fluorescentes. Mais abaixo: o LED branco do Ostar Lighting ilumina mais que uma lâmpada halógena de 50 watts. Oferecendo 1.000 lumens, o que é mais brilhante do que uma lâmpada de halogênio de 50 watts, a estrela no firmamento LED é sem dúvida a “Ostar Lighting”. Com sua eficiência de cerca de 70 lumens por watt, ela literalmente relega as lâmpadas incandescentes (15 lm/W) para as sombras. A lâmpada contém seis chips de LED de alta eficiência, cada um medindo um milímetro quadrado. “Com a Ostar, criamos uma área iluminada muito grande”, diz o líder do projeto, Steffen Köhler, da Osram, divisão do setor Industry. Em contraste com a tendência na direção da miniaturização na indústria eletrônica, os LEDs para iluminação geral devem ser as maiores possíveis, para que possam suprir grandes quantidades de luz. Alcançar este objetivo é qualquer coisa menos fácil, embora seja importante levar em consideração que os LEDs são uma combinação de cristais semicondutores potencializados de maneira diferente. Em outras palavras, átomos potencializadores foram introduzidos nas retículas do cristal, que deve ser puro e estruturado de maneira regular no nível atômico. Quanto maiores os cristais, no entanto, mais elevada é a probabilidade de que ocorrerão impurezas e irregularidades. E quanto maior o número de impurezas, menos eficiente é a conversão da energia elétrica em luz. Apesar disso, Köhler está las, o que permite que variem a luz emitida. A eficiência é otimizada por meio de composição de produtos químicos. A estabilidade do fósforo é aumentada por meio de um revestimento protetor. Não obstante, os LEDs ainda não reproduzem as cores naturais com precisão, porque, diferente da luz solar ou luz das lâmpadas incandescentes, eles produzem somente comprimentos de onda azuis e amarelos. Levando isto em consideração, a equipe de Zachau apresentou um novo sistema que transformará partes da luz azul do LED não só em amarelo, mas também em luz verde e vermelha. “Assim, o espectro do LED estará completo – como a luz solar – e as cores serão magnificamente reproduzidas”, explicou Zachau. Lâmpadas sem Mercúrio. Uma pequena quantidade de mercúrio, que se transforma em gás na temperatura de funcionamento da lâmpada, é geralmente adicionada nos faróis de xenon dos automóveis. Graças a seu tamanho maior, os átomos de mercúrio são mais facilmente acertados pelos elétrons no plasma dessas lâmpadas que liberam gás. Como elas emitem luz que está próxima do espectro visível, a perda ocorrida durante a conversão para luz branca é muito pequena. O mercúrio Pictures of the Future | 1/2008 41 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:01 PM Page 42 Materiais para o Meio Ambiente | Etanol de cana-de-açúcar também serve como um amortecedor químico e térmico, evitando os indesejados processos de oxidação e ajudando a dissipar o calor. Porém, o mercúrio também é venenoso e pode se acumular no meio ambiente. Por isso, um regulamento da UE especifica que ele deve ser evitado sempre que possível no setor automotivo, motivo pelo qual os pesquisadores estão à procura de alternativas. Há pouco mais de um ano, a Osram lançou a lâmpada “Xenarc Hg-free,” que substitui o mercúrio pelo iodeto de zinco, um gás não-nocivo. “O desenvolvimento do produto foi difícil”, diz Christian Wittig, chefe de Marketing da Xenarc Systems. “Tivemos de adaptar o ambiente inteiro eletrônico e óptico à nova tecnologia”. Por exemplo, as correntes mais elevadas na lâmpada de xenon sujeitam os componentes e eletrônicos a maior resistência, assim a Osram teve de utilizar eletrodos mais espessos e vidro de quartzo fundido. “A produção é um pouco mais complicada, mas é mais um passo em favor do meio ambiente”, disse Wittig. Os fabricantes de automóveis, inclusive Audi, Ford e Toyota, já usam as novas lâmpadas. Perspectivas Prazerosas. As lâmpadas fluorescentes compactas da Osram ainda usam mercúrio, mas menos de três miligramas por lâmpada. “É quase impossível dispensar essa quantidade tão pequena deste material em forma de gota”, diz Ralf Criens, especialista ambiental da Osram. “Assim, o mercúrio é fixado com pó de ferro, o que nos deixa pôr a quantidade certa em cada lâmpada”. Vida útil longa é especialmente crítica por razões ambientais. Em última análise, vida útil mais longa significa menos lâmpadas substituídas – e menos mercúrio. É por isso que os pesquisadores da Osram desenvolveram a lâmpada compacta florescente extra-duradoura Dulux EL LongLife, que pode funcionar por 15.000 horas. “A vida útil é um fator-chave quando se trabalha no conceito de novas lâmpadas, como é a necessidade de pensar em termos de sistemas”, diz Criens. Ele prevê a preferência por lâmpadas de alta duração como LEDs brancas, que fornecem até 90.000 horas de luz. Um desenvolvimento que se espera em breve estará presente em novos tipos de luminárias de pé, luminárias de mesa e outras aplicações usando LEDs como componente fixo a preços competitivos. Conseqüentemente, muitos clientes poderão em breve estar prazerosamente entusiasmados ao ver suas lâmpadas brilhantes, duradouras e que respeitam o meio ambiente. Andrea Hoferichter 42 Pictures of the Future | 1/2008 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:01 PM Page 43 Além de produzir combustível para automóveis, surgindo como alternativa aos derivados de petróleo, a cana-de-açúcar também gera energia elétrica a partir de seu bagaço. U m estudante do Ensino Fundamental, mergulhado em dados e fatos sobre o descobrimento do Brasil, poderia considerar a frase um paradoxo: a cana-de-açúcar é a novidade que pode equilibrar o fornecimento de energia no país. A estranheza estaria no conceito de novidade, afinal, as primeiras mudas de cana chegaram ao Brasil praticamente na bagagem dos colonizadores pioneiros. Segundo a União da Indústria de Canade-Açúcar (Unica), o Brasil deve produzir 487 milhões de toneladas de cana-de-açúcar na safra 2007/2008. O plantio de cana hoje cobre 7,8 milhões de hectares no Brasil, correspondentes a 2,3% do total de terras cultiváveis do país. A tradição do Brasil nesse tipo de cultura atravessa séculos. Energia verde para o mundo Do solo brasileiro nasce uma alternativa para suprir a crescente demanda de energia no mundo. Além do álcool combustível, ampliam-se as perspectivas para geração de energia elétrica a partir da cana-de-açúcar. No entanto, o terceiro milênio trouxe novas perspectivas para o segmento, graças a um panorama modificado por tendências globais, que projetam o aumento da população mundial, sua concentração em megacidades, a demanda crescente por energia, entre outros. Ao mesmo tempo em que crescem a população e sua necessidade de energia, as fontes tradicionais, ligadas às reservas fósseis, tendem ao esgotamento. Mais que isso: a utilização ampliada de combustíveis derivados do petróleo aumenta a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, intensificando o chamado efeito estufa e contribuindo para o aquecimento global. Seja com o objetivo de aumentar a oferta de combustíveis para uma população crescente ou como alternativa amigável ao meio ambiente, a produção de etanol, o álcool de cana, deve crescer de forma exponencial nos próximos anos. “O etanol hoje substitui quase a metade das necessidades do Brasil por gasolina, graças Pictures of the Future | 1/2008 43 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:01 PM Page 44 Materiais para o Meio Ambiente | Etanol de cana-de-açúcar ao crescimento da produção de veículos equipados com motores flexíveis”, afirma Marcos Sawaya Jank, presidente da Unica. “Além de ser substancialmente mais barato que a gasolina, o álcool reduz em 90% a emissão de gases poluentes”, acrescenta Jank. O potencial de geração de energia a partir da cana não se esgota na produção de álcool. As usinas concebidas no presente processam a cana com vistas a três derivados: açúcar, álcool e eletricidade. O bagaço da cana-de-açúcar é hoje a mais importante fonte de biomassa do Brasil. Aquilo que, antigamente, era tido como um incômodo resíduo dos engenhos, hoje é gerador de energia elétrica. Nas projeções da Associação Paulista de Cogeração de Energia (Cogen–SP), a produção de energia elétrica a partir dessa fonte vegetal deve se tornar, em 2012, o segundo negócio mais importante para uma usina de cana no Brasil, respondendo por cerca de 30% a 45% do faturamento. Em primeiro lugar, virá o etanol. A proporção é bem diferente da a tual, na qual o primeiro lugar do setor ainda é ocupado pela produção do açúcar, seguido dades brasileiras passaram a regulamentar a colheita automatizada, que permite a retirada da cana verde do solo. Por iniciativa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, estado que lidera a produção de cana no Brasil, a queimada será extinta até 2014 nesta unidade da federação. Nesse modelo de colheita da cana verde, o processo deixa de desperdiçar um terço da lavoura, que era queimado. Isso, naturalmente, se traduz em maior rentabilidade, especialmente no que se refere ao aproveitamento da palha ou bagaço de cana. Some-se a isso a questão ambiental. Em vez de emitir poluentes para a atmosfera, o sistema passa a gerar energia a partir de uma fonte limpa e renovável. “A utilização dessa biomassa torna o cultivo de cana ainda mais rentável e aumenta seu potencial como gerador de energia elétrica”, diz Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente executivo da Cogen. Atualmente, o Estado de São Paulo tem 146 usinas de cogeração em operação no setor sucro-alcooleiro, com uma potência instalada total de mais de 1.700 MW, o que corresponde a 70% do setor de cogeração A Siemens desenvolveu soluções especiais para o setor de cana-de-açúcar. pelo etanol, tendo a chamada bioletricidade em terceiro. Transformando fumaça em energia. Esse crescimento da bioeletricidade no negócio está fundamentalmente ligado ao tripé responsabilidade ambiental-tecnologia-rentabilidade. Tradicionalmente, a colheita da cana era feita utilizando-se o recurso da queimada, pois a retirada da cana ainda verde torna-se inviável pelo processo manual. Para evitar a emissão de poluentes advindas da queimada, as autori- do Brasil. Do total de energia produzida, parte é utilizada para suprir a necessidade das próprias usinas e o excedente é vendido. “Com o aumento da produção, a eliminação da queima da palha e o aumento da capacidade de geração das usinas, o potencial de produção de energia elétrica a partir da cana, apenas no Estado de São Paulo, pode superar os 10 mil MW até 2015”, afirma a professora Suani Teixeira Coelho, secretária executiva do Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio). O crescimento estimado da economia brasileira para os próximos anos faz prever uma nova escassez de energia elétrica, como a que rondou o país no início deste século. Com a atual capacidade de produção de energia, baseada principalmente nas usinas hidrelétricas, o Brasil seguramente enfrentará novas ameaças de “apagão”. A bioeletricidade tem se mostrado uma alternativa viável para evitar essa má perspectiva, incentivando os investimentos no setor, inclusive de grupos estrangeiros. Apoiados, de um lado, no crescimento do etanol como combustível alternativo aos derivados de petróleo, e, de outro, nas perspectivas da bioeletricidade, tradicionais grupos empresariais brasileiros e novos players estão investindo como nunca no setor sucroalcooleiro do Brasil. Dados da Cogen apontam que atualmente existem pelo menos 1.800 máquinas colheitadeiras em operação na indústria da cana-deaçúcar no Brasil. Até 2014, prazo previsto para eliminar o uso do fogo na colheita da cana, serão somadas a este número mais três mil unidades. A demanda por novos caminhões de grande porte também crescerá para realizar o transporte da cana verde e de palha. Essa demanda poderá atingir a soma de dez mil unidades, além de mais de 6 mil tratores e outros equipamentos. Com a eliminação das queimadas, em vez de emitir poluentes para a atmosfera, o sistema passará a cogerar mais energia limpa e renovável. “Estamos transformando fuligem e fumaça em energia elétrica”, resume Carlos Roberto Silvestrin, vice-presidente executivo da Cogen-SP. Investimentos crescentes. Aquele estudante do Ensino Fundamental, do começo da história, certamente já leu a respeito dos engenhos de cana, que contribuíram para a colonização e para o desenvolvimento do Brasil. Seus métodos e equipamentos artesanais, Processo Ilustrativo de Produção de Açúcar e Álcool 44 Pictures of the Future | 1/2008 BR 038-045 A.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:01 PM Page 45 Turbina SST 300 da Siemens, produzida na fábrica de Jundiaí (SP): com a cogeração a partir da cana, a usina garante o próprio abastecimento de energia elétrica, além de fornecer para a rede pública. porém, tornaram-se marcos do passado. A usina de cana-de-açúcar do presente apóia-se em alta tecnologia. A Siemens é uma importante fornecedora de soluções para o setor, atuando tradicionalmente nas áreas de automação, geração e transmissão de energia (leia mais no box ao lado). Em janeiro de 2007, diante do crescimento do mercado de açúcar e álcool, a Siemens criou no Brasil um grupo de trabalho especialmente dedicado ao tema. Conhecido internamente como CMDB (Country Market Development Board), esse grupo congrega representantes das várias divisões da empresa, que se reúnem para analisar as necessidades do setor e oferecer soluções aos clientes, sob a liderança de um account manager. Nos primeiros meses de atuação do CMDB Sugar & Ethanol, as vendas da Siemens a esse mercado alcançaram R$ 200 milhões. As estimativas para o ano comercial de 2008 (de outubro de 2007 a setembro de 2008) apontam vendas em torno de R$ 280 milhões. O coordenador desta área na Siemens, Hélcio Aunhão, acredita no forte potencial de crescimento desse setor. “As usinas do futuro deverão processar no mínimo três milhões de toneladas de cana por ano, para se manterem competitivas”, explica. As novas usinas do setor estão sendo projetadas segundo esses valores. Usinas já instaladas, com possibilidade de upgrade, forçosamente deverão investir em seus processos. Única fornecedora com portfólio completo de soluções, a Siemens intensificou sua participação no mercado, especialmente por vislumbrar nele uma alternativa que reúne os quesitos de inovação e de resposta às demandas da sociedade, conceitos presentes nos 160 anos de história da empresa. E para que este estudante de hoje conte no futuro com uma fonte de energia que garanta sua mobilidade e respeite o meio ambiente. Alessandra Alves Alta tecnologia para o segmento A atuação da Siemens no mercado sucro-alcooleiro é extensa, em função de seu amplo portfólio. Na concepção de uma usina moderna, a utilização de soluções de automação está na base do projeto. A Siemens já dispõe de dois produtos patenteados voltados para o setor – o Split Feed, solução que reduz o vapor no processo de destilação do álcool, e a Peneira Molecular, que permite a redução do consumo de energia do processo de desidratação do álcool. Ambos foram desenvolvidos em parceria com a Dedini, tradicional fornecedor de equipamentos para o setor. A divisão Industry Automation da Siemens no Brasil é um dos centros de competência mundial da empresa na pesquisa e desenvolvimento de soluções para usinas de cana. Outra presença de destaque, ligada à cogeração de energia, é o fornecimento de turbinas SST 300 (foto superior), produzidas no complexo industrial de Jundiaí, ampliado pela Siemens em 2007. O produto, customizado para essa utilização, permite que o bagaço da cana gere energia elétrica, tanto para consumo da própria usina quanto para venda à rede local. Pictures of the Future | 1/2008 45 BR 046-049.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 4:32 PM Page 46 Materiais para o Meio Ambiente | Transportes O Caminho para um Futuro Mais Leve Aeronaves, navios e trens consomem muita energia. Entretanto, com a implementação das mais recentes tecnologias de materiais, suas demandas por energia podem ser consideravelmente reduzidas. Os pesquisadores da Siemens estão desenvolvendo um pacote de soluções neste sentido, inclusive trens ultraleves para metrôs, acionadores compactos para vagões e motores supercondutores de alta temperatura para navios. 46 Pictures of the Future | 1/2008 A s serras escandinavas se estendem pelas regiões polares como uma espinha dorsal sem fim. Acima delas, o céu é uma massa de nuvens pesadas impulsionadas do Atlântico pelos ventos vindos do oeste. Obviamente, aqui na Noruega não há escassez de água. Talvez esse seja o motivo pelo qual os noruegueses não a usem apenas para beber, mas também para gerar energia. Eles lhe dirão com orgulho que 99% de sua eletricidade vêm de hidrelétricas. Até o Metrô de Oslo funciona com esta forma de eletricidade limpa. No entanto, na tentativa de tornar o Metrô ainda mais respeitador do meio ambiente, a AS Oslo Sporveier, empresa de transportes da cidade, foi à procura de um novo trem há quatro anos. A busca terminou na Siemens Mobility (antiga divisão Transportation Systems) que já havia fornecido trens muito econômicos para o Metrô de Viena. Embora os noruegueses quisessem basear o seu Metrô na versão vienense, eles também estavam determinados a torná-lo ainda mais ecológico. De lá para cá, os primeiros trens MX começaram a funcionar em Oslo. Ao todo, 63 unidades foram encomendadas. Além de utilizar um terço a menos de eletricidade do que seus antecessores, ele não contêm substâncias tóxicas. E mais, 94% de seus componentes poderão ser reciclados dentro de 30 anos, quando os trens saírem do serviço. Fica claro com este exemplo que a alta tecnologia pode contribuir muito para o progresso na área ambiental. Isto se aplica a todos os tipos de transporte, sejam eles metroviários, ferroviários intermunicipais, aéreos ou marítimos. Vários grupos da Siemens vêm trabalhando há muito tempo para aperfeiçoar veículos – por exemplo, reduzindo seu peso, melhorando seus sistemas de acionamento e acrescentando novos materiais. Hoje em dia, eles não olham apenas o produto final, mas avaliam toda a vida útil dele, desde fabricação até funcionamento e descarte. Os desenvolvedores de produtos da Mobility aplicaram este tipo de avaliação da vida útil (LCA) ao Metrô de Oslo, trabalhando com especialistas do programa de estudos do Ecodesign na Universidade Técnica de Viena (TU Wien). "Para identificar economias potenciais importantes, primeiro tivemos de identificar qual a fase que despendia mais energia", diz Joachim Pargfrieder, responsável pelo LCA em Viena. A equipe da universidade levou milhares de detalhes em consideração para suas auditorias ecológicas – itens como energia consumida durante a mineração da bauxita e a produção do alumínio ou as necessidades de aquecimento dos trens do metrô nos dias de inverno. "Para este tipo de análise, foram necessários diversos softwares sofisticados como os desenvolvidos na TU", diz Pargfrieder. De maneira rápida, ficou BR 046-049.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 4:32 PM Page 47 Graças ao motor de supercondução (à esq.), o consumo de combustível em navios deverá cair de maneira relevante. E graças aos metais mais leves, o metrô de Oslo já necessita de 30% a menos de energia. Mais 10% podem ser incinerados sem danos, para gerar eletricidade, elevando o total de materiais recicláveis a 94%. "É difícil alcançar 100% porque, devido à segurança contra incêndio, é necessário utilizar determinados compostos que realmente não podem ser fracionados ou decompostos", explica Pargfrieder. Seu objetivo é reduzir mais estes componentes e cortar ainda mais o consumo de energia. claro que a principal tarefa era alcançar as mais elevadas economias de energia ao custo mais baixo possível. Ficou claro que se poderia economizar no peso usando alumínio, porém o alumínio não tem as propriedades de isolamento necessárias para enfrentar o clima frio de Oslo. Para resolver o problema em relação à carroceria dos vagões, os especialistas na Mobility desenvolveram um perfil de câmara oca de alumínio com bolsões de ar e isolamento. Os trens do metrô também economizam energia através de um sistema de manuseio sofisticado de freios e acionadores que alimentam a energia gerada durante a frenagem de volta para a rede como eletricidade. Pargfrieder e seus colegas tomaram especial cuidado para garantir que os materiais recicláveis, tais como madeira, plástico, metal e cerâmica, constituam 84% do total dos materiais utilizados. Acionamento direto que poupa energia. Os truques Syntegra, desenvolvidos pelos colegas de Pargfrieder na divisão Mobility, em Erlangen, na Alemanha, e em Graz, na Áustria, podem ajudá-lo a atingir este objetivo. O Syntegra é um sistema de acionamento ferroviário altamente integrado, no qual a tecnologia de acionamento está acoplada sob o piso do veículo, no qual a energia do motor é transferida para os eixos através de uma caixa de marchas, o que causa ruído, desgaste e redução de eficiência. O sistema Syntegra emprega motores montados diretamente no truque. Para ser mais preciso, um motor elétrico cilíndrico fica situado diretamente no eixo do acionamento como um anel no dedo, mas sem o tocar. O motor utilizar um campo magnético permanente, produzido por materiais magnéticos de terras raras para poder girar o eixo. "Esses materiais de alto desempenho estão na alma do acionador", diz Lars Löwenstein, líder de projeto da Syntegra. "Até recentemente, eles teriam sido considerados muito caros". No entanto, o preço caiu. E devido ao novo conceito, dispensa a necessidade de uma caixa de marchas. O truque da Syntegra é cerca de um metro mais curto do que os modelos tradicionais. Resultado: economias no peso de cerca de duas toneladas, enquanto a energia é reduzida em 20%. O protótipo da Syntegra está sendo testado atualmente nos Serviços de Transporte Munici- pal de Munique – no momento, à noite e sem passageiros. Durante o teste, 200 sensores monitoram como a nova tecnologia está funcionando. Em alguns meses, os trens deverão transportar seus primeiros passageiros. Baseados nos 10.000 quilômetros que o trem já percorreu na via férrea de testes da Siemens em Wegberg-Wildenrath, na Alemanha, já está confirmado que a Syntegra está cumprindo sua promessa. Temperaturas mais baixas melhoram o desempenho. Os desenvolvedores do Syntegra não foram os únicos que tiveram de esperar um longo tempo por seus materiais. Os especialistas da divisão Siemens Industry Automation em Nuremberg, que se especializam em outro tipo de material, supercondutores, também tiveram. Esses materiais são feitos de compostos que de repente perdem sua resistência elétrica quando são resfriados a temperaturas muito baixas. O problema, pelo menos no início, era que, na maioria dos casos, este tipo de resfriamento necessitaria do uso do hélio líquido a menos 269ºC – um produto caro. Mas, em 1987, os pesquisadores descobriram substâncias que se tornam supercondutoras a temperaturas muito mais elevadas. Infelizmente, esses supercondutores a temperaturas mais elevadas (HTS) ainda eram muito caros para a maioria das aplicações. De cinco anos para cá, porém, eles se tornaram bem mais baratos. Assim sendo, em 2003, a Siemens decidiu desenvolver seu primeiro gerador HTS. Seu rotor é equipado não com as molas de cobre usuais, mas com enrolamentos HTS que podem levar e agüentar 100 vezes mais corrente. A máquina de 400 quilowatts foi projetada para ser um terço menor e mais leve do que as unidades tradicionais com a mesma capacidade. Este tipo de equipamento é especialmente adequado para geração de energia em navios, Um quilo a menos economiza várias toneladas de combustível ao longo da vida de uma aeronave. As fibras de carbono leve (à dir.) são procuradas não só para o A380. Pictures of the Future | 1/2008 47 BR 046-049.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 4:32 PM Materiais para o Meio Ambiente Page 48 | Demanda de energia Aparelhos médicos de imagem por ressonância magnética MAGNETOM Avanto preparados para serem despachados. A área de transporte é uma das áreas em que se pode poupar energia. pois economiza espaço em um casco estreito. Ao mesmo tempo, a Industry Automation desenvolveu o protótipo de uma máquina de 4 megawatts (MW) que foi testada durante um ano no Centro de Testes de Sistemas em Nuremberg, funcionando tanto como gerador quanto como motor. O próximo passo é girar vagarosamente o motor HTS de 4 MW para acionamento direto da hélice do navio. "Ainda estamos na fase de desenvolvimento", diz o líder do projeto, Klemens Kahlen. Importantes economias. Economias nos custos do combustível, em especial por meio da redução do peso, são importantes na aviação. Cada quilograma de massa economizado representa poupar diversas toneladas de combustível durante a vida útil de uma aeronave. Ao lado do alumínio, os engenheiros aeronáuticos estão cada vez mais se voltando para os compostos de fibra de carbono (CFRP), que podem reduzir o peso do avião em até 30%. "Devido à nossa especialização em várias áreas de negócio, pudemos oferecer uma solução total", diz Klaus Vierbuchen, engenheiro de vendas em Colônia. Atuando como uma fornecedora de fonte única, a Siemens forneceu engenharia básica e detalhada, monitoramento de montagem, coordenou as medidas de segurança e forneceu processo de medição e unidades de controle, sistemas de acionamento, mecanismo de ligação do motor, fornecimento de energia sem interrupções e transformadores para a fábrica. Em um complexo processo na fábrica, blanks de fibras com um quilômetro de extensão são cozidos para produzir os produtos acabados. Várias centenas de fibras correm em paralelo em cilindros através de estágios individuais do processo automatizado. Vários parâmetros – temperatura do forno, velocidade do transporte e tempos de pausas regulares e momentâneas das máquinas – são processados pelo sistema de controle de processo Simatic PCS 7 para garantir que as fibras atendam às exigências de qualidade estipuladas pelos engenheiros aeronáuticos. A solução a partir de uma única fonte não só foi mais barata do que as oferecidas pelos concorrentes, mas também a mais rápida de montar. "O fabricante pôde iniciar a produção semanas antes do prazo real", diz Vierbuchen. A nova unidade de fabricação de fibras ilustra que podemos ajudar a tornar o transporte sustentável de diversas formas. Por exemplo, construindo um metrô que respeita o meio ambiente ou fornecendo especialização para ajudar os operadores a construírem fábricas de produção para produtos que respeitam a ecologia. Tim Schröder 48 Pictures of the Future | 1/2008 Identificando Custos A Siemens utiliza o método de demanda cumulativa de energia (CED) para descobrir formas de reduzir o consumo de energia dos aparelhos médicos. Esta abordagem trata de toda a vida útil do produto, desde materiais e produção até funcionamento e reciclagem. Q uando se trata de sistemas médicos, a tecnologia ecologicamente responsável é um dos itens-chave na venda. Por exemplo, os hospitais que têm sistemas de gerenciamento ambiental querem que os principais produtos que adquirem venham com uma Declaração de Produto Ecológico, porque querem saber exatamente o quanto seus métodos de produção são saudáveis e confiáveis, e o quanto seus aparelhos respeitarão a ecologia quando em uso. Esses fatos são fornecidos por Franz Bömmel, chefe do Group Environmental no setor de Healthcare da Siemens, bem como pelos engenheiros de desenvolvimento de produtos. Bömmel e outros contam como o método de "demanda cumulativa de energia" ou CED foi desenvolvido principalmente pelo Instituto de Pesquisa Energética de Munique, Alemanha, há cerca de dez anos. "A demanda de energia cumulativa é a quantidade total da energia primária necessária para produzir, utilizar e dispor de um instrumento/meio, inclusive trans- porte", diz Bömmel. Este valor reflete a demanda de energia relacionada a um equipamento durante toda a sua vida útil, e torna possível determinar qual a fase que consome mais energia. Quando a equipe de Bömmel somou as demandas de energia do sistema de imagem por ressonância magnética (MRI) do MAGNETOM Avanto, ela chegou a uma surpreendente descoberta. O fornecimento do equipamento para o cliente consome quase a mesma quantidade de energia que a fabricação dos componentes – aproximadamente um terço da energia total utilizada na produção. Nos EUA, especificamente, estes equipamentos são freqüentemente transportados por via aérea porque seu magneto supercondutor é resfriado com hélio líquido e não pode aquecer. "Sem uma fonte de energia, todo o hélio evapora em aproximadamente 28 dias", diz Bömmel. "E resfriar o magneto novamente custa caro. Assim, descobrimos que o transporte marítimo pode BR 046-049.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 4:32 PM ser suficientemente rápido, pelo menos na Costa Leste dos EUA. Vários sistemas de MRI já foram entregues dessa forma." De fato, acrescenta ele, a rota costeira precisa de somente um sexto da energia do transporte aéreo”. "Isto faz uma diferença significativa na linha de lucro do CED", diz Bömmel. Mas houve algum trabalho preliminar a fazer antes que ele pudesse utilizar este método. Aqui, os pesquisadores na Siemens Corporate Technology (CT) apresentaram dados demonstrando os valores específicos da demanda de energia para 75 categorias de material que são geralmente utilizados para fazer equipamentos médicos. Os valores definem a quantidade de energia que é consumida no fornecimento de um material industrial, tal como uma chapa em aço - levando em consideração toda a cadeia de valor, desde a manipulação do minério até o material acabado. Como a Healthcare, em geral, apenas monta componentes e fabrica poucas peças internamente, a CT também determinou os valores CED para uma lista de componentes-padrão, como ventiladores, computadores, monitores e teclados. Ao juntarem todas essas peças do quebracabeça, os cientistas podem por fim calcular o total de energia necessária para fornecer os materiais que compõem um produto. No MAGNETOM Avanto, por exemplo, isso chega a 4% da energia total – levando-se em conta a vida útil completa. Neste contexto, também, Bömmel vê oportunidades de melhoria: 45% da massa de oito toneladas do sistema MRI consiste de diferentes ligas de ferro e aço, enquanto aproximadamente 34 por cento são de metais não-ferrosos e ligas. Quando considerados no contexto CED, no entanto, os metais não-ferrosos, tais como alumínio e cobre, são responsáveis pelo uso maior de energia do que os metais ferrosos. Esta descoberta sugere que, em um futuro sis- Page 49 tema MRI, o alumínio deverá ser substituído pelo aço sempre que possível para reduzir o consumo de energia associado com o fornecimento dos materiais. Embora a demanda de energia relacionada à fabricação do Avanto tenha sido examinada, analisar cada etapa deste processo seria simplesmente muito dispendioso. Em vez disso, o consumo de energia da ala inteira de produção seria determinado utilizando medidores elétricos e de calor. Se este valor for dividido pela quantidade total em quilogramas dos produtos fabricados, obteríamos o valor CED específico para aquela ala de produção em quilowattshora por quilograma. Estes valores podem ser somados para determinar o CED para o processo de produção inteiro do equipamento. Um valor de CED adicional tem de ser determinado para o transporte entre as diferentes fábricas e até o cliente. Em relação ao MAGNETOM Avanto, cerca de 10% da demanda total de energia corresponde a esta etapa. Encolhendo as perdas em stand-by. A maior parcela da energia na vida útil do equipamento é consumida durante sua utilização. Calculada para um período de dez anos, isto corresponde a 86% do total de quilowatts-hora – ou aproximadamente 460 megawatts-hora por ano no MAGNETOM Avanto. Novamente aqui, Bömmel prevê medidas adicionais de redução de energia. Uma área promissora envolve os diferentes modos de funcionamento dos equipamentos médicos. Um alvo principal serão as perdas de reserva (stand-by). No MAGNETOM Avanto, não menos do que 38% da energia é utilizada em um estado não produtivo. Durante o desligamento, o resfriamento essencial do hélio consome cerca de 20% da energia, enquanto 18% são usados na fase de aquecimento que precede um exame. A reciclagem é a etapa final da análise CED. Com base no peso total, 85% do material nos equipamentos médicos podem ser reciclados. Aproximadamente 9% – a maior parte, plásticos – podem ser reutilizados termicamente. Com base na vida útil, cerca de 2% da energia pode ser creditada à linha de resultado final de CED. Assim, a abordagem CED pode ser utilizada para calcular a demanda total de energia para cada equipamento ou aparelho e, não menos importante, o impacto ambiental resultante de um equipamento ou aparelho. Por exemplo, se a fonte principal de energia for conhecida – o que em equipamentos médicos é energia elétrica – sua contribuição para os gases do efeito estufa pode ser estimada. Como o cálculo de todo os valores de energia no método CED é baseado na demanda de energia primária, ou seja, no conteúdo energético de combustíveis fósseis, tais como carvão e petróleo, o conteúdo energético é primeiro recalculado em termos de energia secundária – neste caso, energia elétrica. O consumo anual médio de energia primária do MAGNETOM Avanto corresponde a cerca de 150 megawatts-hora de energia elétrica. Hoje, cada quilowatt-hora de eletricidade produzida na Alemanha gera aproximadamente 600 gramas de dióxido de carbono. Assim, o funcionamento do MAGNETOM Avanto produz cerca de 90 toneladas de dióxido de carbono anualmente. Os valores para outros poluentes, como óxidos de nitrogênio, também podem ser estimados com base no consumo de energia – usando as tabelas de conversão do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha. O método CED, portanto, fornece uma estimativa simplificada e barata do impacto ambiental de um determinado equipamento ou aparelho. Rolf Sterbak Quanta energia representa um Avanto? Consumo de energia em MWh 5,000 Utilização (86% = 459 MWh / ano) Disposição (-68 MWh) Materiais Desligamento do sistema e aquecimento antes da ressonância (38%) (4% = 192 MWh) 4,000 Produção (10% = 507 MWh) 3,000 2,000 Produção de Componentes (37%) Entrega ao cliente (35%) Outros (28%) Total: 5.221 MW Aquisição de imagem (62%) 1,000 Anos 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Análise da vida útil. Durante seus dez anos de vida útil, somente 62% da energia gasta por um MAGNETOM Avanto está associada com a utilização nesse período. Pictures of the Future | 1/2008 49 BR 050-051.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:12 PM Page 50 Condensadores de dupla camada, chamados supercaps Materiais para o Meio Ambiente | Armazenagem de Energia (à dir.) são utilizados em bondes como o Combino Plus (abaixo). Eles liberam energia armazenada dos freios com rapidez, quando o veículo acelera. "Cofrinhos" para Economizar Energia Dispositivos de alto desempenho para armazenagem de energia e sistemas inteligentes garantem ótimo desempenho no forncedimento de veículos, em carga normal ou no pico. S e for para a energia elétrica ser usada de maneira otimizada, ela precisa ser temporariamente armazenada, quer estejamos falando de automóveis, sistemas de ônibus, bondes, metrô ou redes de distribuição de energia. Em veículos de estrada, os componentes assumem cada vez mais funções, em parte como sistemas de assistência ao motorista e em parte para economizar energia – especialmente em veículos híbridos que combinam motor elétrico e motor de combustão. O motor elétrico serve como um completo segundo acionador (em um veículo totalmente híbrido), como um acionador auxiliar para fornecer um impulso ao acelerar e passar (em um híbrido leve) ou como um assistente quando o veículo tem de parar e dar partida novamente com freqüência (em um híbrido partida-parar). Para atender às necessidades de um número crescente de funções, os veículos necessitam de dispositivos de alto desempenho para o armazenamento de energia. As baterias, no entanto, são pesadas, e a densidade de sua energia é baixa. Um quilograma de diesel contém 10.000 watts-hora, enquanto o acumulador de chumbo contém somente 30 a 50 Wh/kg. A densidade da energia das baterias é baixa também, alcançando um máximo de 300 Wh/kg. Para um carro elétrico acelerar com rapidez como um veículo com motor a gasolina 90 kW, Químico x Eletrostático Os acumuladores, como as baterias de chumbo, hidreto metal-níquel e lítio-íon têm uma vida útil entre três a dez anos, em média. Elas funcionam de acordo com princípios eletroquímicos. Carregar a bateria converte energia elétrica em energia química. Quando um equipamento ou aparelho elétrico é conectado, a energia química é convertida novamente em energia elétrica. O armazenamento de energia como em condensadores de duas camadas, em contraste, armazena energia de maneira eletrostática. Eles duram quase que indefinidamente e apresentam densidades de alta potência. No entanto, as suas densidades de energia são baixas. Por este motivo, seu uso principal é para cobrir cargas de pico. Comparação de Sistemas de Bateria Densidade da energia em watts-hora por quilograma (Wh/kg) 1,000 10,000 s 1,000 s 100 s 100 Baterias 10 Li-ion NiMH 10 s NiCd Pb 1s 1 Condensadores de duas camadas 0.1 s Capacitores eletrolíticos 0.1 0.01 10 100 Densidade de energia em watts/hora por quilograma (W/kg) 1,000 10,000 Tipo de bateria Densidade energética Wh/kg Densidade de energia W/kg Via útil em ciclos / anos Bateria de chumbo 30 - 50 150 - 300 Bateria de hidreto de níquel-metal 60 - 80 200 - 300 >1,000 / >5 90 - 150 500 - >2,000 >2,000 / 5 - 10 3-5 2,000 - 10,000 1,000,000 / ilimitado Bateria de lítio-íon Supercaps (cond. de dupla camada) 50 Pictures of the Future | 1/2008 300 -1,000 / 3 - 5 precisaria de uma bateria de chumbo de 300 quilogramas sob o capô. É por isso que a maioria dos veículos híbridos atualmente emprega baterias de hidreto de metal-níquel com capacidade de 60 a 80 Wh/kg. Baterias de lítio-íon ou lítio-polímero são ainda mais poderosas, com 90 a 150 Wh/kg. Além da capacidade de armazenamento, a vida útil do acumulador também é limitada. Uma bateria de chumbo é boa para, no máximo, 1.000 ciclos de carregamento-descarregamento. Baterias de hidreto de metal-níquel ou de lítio-íon duram consideravelmente mais. Os acumuladores precisam ser carregados vagarosamente para evitar danos. Mas os veículos, por serem associados a muitas aplicações, precisam ter a capacidade de carregar rapidamente – por exemplo, quando a energia dos freios é aproveitada em carros ou bondes. Com isto em mente, a Siemens está promovendo o uso de condensadores de dupla camada, os chamados supercaps – dispositivos que acumulam energia elétrica separando as cargas assim que a tensão é aplicada. Os supercaps oferecem capacitâncias de 300 a 10.000 farads. Os supercaps têm densidades de energia muito baixas – três a cinco Wh/kg – mas densidades de potência extremamente altas de 2.000 a 10.000 W/kg. Podem ser trocados em poucos segundos e, com cerca de um milhão de ciclos de carregamento-descarregamento, sua vida útil é muito longa. Isto acontece devido ao fato de que os processos de separação das cargas que ocorrem dentro deles são puramente de natureza física. Eles podem armazenar e liberar grandes quantidades de energia de maneira extremamente rápida, o que torna possível utilizar um motor elétrico em veículo híbrido, bonde ou locomotiva como gerador que recupera a energia das frenagens. Esta energia regenerada é armazenada em supercaps e reutilizada quando o veículo acelera novamente. A vantagem resultante é economia de combustível e energia entre 5 e 25%, dependendo do ciclo de acionamento. Este tipo de montagem já foi testado em diversos sistemas de metrô – por exemplo, em Madri, Colônia, Dresden, Bochum e Beijing. Os supercaps também podem ser utilizados em aplicações de distribuição de energia, pois as redes de abastecimento são constantemente sujeitas a variações de carga para as quais as turbinas pe- BR 050-051.qxd:PoF 023-026.qxd 5/7/08 5:12 PM Page 51 Edição 2/2008 Prévia do próximo número sadas não podem reagir de maneira suficientemente rápida. As empresas de serviços de eletricidade poderão usar o armazenamento flexível de energia como os supercaps para equilibrar as cargas de pico e as baixas. "Em dez anos, veículos com esses novos sistemas de armazenamento serão comuns, como os de hoje, com suas baterias confiáveis de chumbo", diz Manfred Waidhas, líder de projeto para Armazenamento de Energia Eletroquímica na Siemens Corporate Technology. "Está se tornando cada vez mais importante garantir o abastecimento de energia elétrica", diz Horst Gering, chefe do departamento de Gerenciamento de Baterias e Energia da antiga Siemens VDO. "Isto é especialmente verdadeiro quando envolve segurança, por exemplo, com frenagem ou direção elétrica". Em tais sistemas, é necessário monitorar constantemente o estado do armazenamento da energia. Com isto em mente, a Siemens desenvolveu o BMS (Sistema de Monitoramento de Bateria). Aqui, utilizando supercaps, a resistência e capacitância internas são determinadas a fim de avaliar quanta corrente o armazenamento de energia pode fornecer para tarefas específicas. O sistema de gerenciamento da energia então determina quando o armazenamento deve ser cobrado, para que permaneça sempre dentro dos parâmetros ótimos de funcionamento, e quanta corrente poderá ser disponibilizada para quais aparelhos e equipamentos. No final das contas, em alguns casos, poderá não haver energia suficiente disponível se muitos equipamentos e aparelhos estiverem funcionando simultaneamente. A Siemens batizou o algoritmo para este processo de "Negociante de Energia". "É como ter um mercado de estoques regulando o uso de energia", diz Gering. "O Negociante de Energia calcula a oferta – neste caso, a quantidade de energia disponível do gerador – e estabelece o preço da eletricidade de acordo com a demanda. Se a demanda aumentar, o preço também subirá. Sistemas pertinentes à segurança, tais como freios elétricos, são estabelecidos para que nenhum preço seja caro demais. Os sistemas de conforto, por outro lado, compram menos energia até que o preço caia a um determinado nível. Em alguns casos, eles poderão até ser desligados.” Bernhard Gerl Energia para bilhões Até 2020, oito bilhões de pessoas viverão na Terra. Graças às melhorias no padrão de vida, esta enorme população terá um grande apetite por eletricidade. Como suas necessidades de energia poderão ser atendidas e ao mesmo tempo seu impacto no meio ambiente ser minimizado? Até que ponto as fontes de energia renovável apresentam uma solução sustentável? Quais são as perspectivas de separar com sucesso o dióxido de carbono produzido em termelétricas movidas a combustível fóssil e mantê-lo com segurança? Qual é a melhor maneira de armazenar energia? As redes inteligentes e usinas elétricas virtuais serão suficientemente desenvolvidas para garantir fornecimento de energia confiável e seguro? Soluções "sob medida" Todo cliente tem seus desejos especiais. Isto é verdade tanto para fabricantes de transportes sobre trilhos e aeronaves, operadoras de usinas elétricas, setor de serviços e organizações de saúde, como para pessoas físicas. Em resposta, os fabricantes têm de incorporar um elevado grau de flexibilidade nos seus processos, ao mesmo tempo em que mantêm a produção de maneira econômica. Em muitos casos, a capacidade de inovar é a chave do sucesso. Assistentes invisíveis Algumas questões são simplesmente muito difíceis para as pessoas resolverem. Onde, por exemplo, em centenas de imagens anatômicas do corpo de um paciente, poderá estar escondido um pequeno tumor? Quais mensagens são realmente importantes, de uma enorme quantidade de dados que invadem um centro de controle durante uma emergência? Quando é que a quantidade de valores de medições adquiridas por um vasto número de sensores indica que uma máquina específica está prestes a falhar? Qual o tamanho do risco associado a uma determinada decisão financeira? No futuro, a inteligência dos computadores desempenhará um papel crucial em ajudar a responder a estas perguntas e a uma grande variedade de outras. Pictures of the Future | 1/2008 51
Documentos relacionados
Pictures of the Future
Dr. Christine Rüth, Tim Schröder, Helen Sedlmeier, Karen Stelzner, Rolf
Sterbak, Dr. Sylvia Trage, Nikola Wohllaib.
Edição de fotos: Judith Egelhof, Irene Kern, Stephanie Rahn, Jürgen
Winzeck, Publ...