Revista Faculdades do Saber - Faculdade Mogiana do Estado de
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Revista Faculdades do Saber - Faculdade Mogiana do Estado de
Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - FMG Diretoria Geral Fredy Rodrigues Julio Guilherme Martinelli Rodrigues Marcelo Martinelli Rodrigues Diretoria Acadêmica Sergio Fernando Zavarize Secretaria Acadêmica Verônica Costa Nunes Revista Faculdades do Saber Publicação Semestral Editor chefe Sergio Fernando Zavarize Editores Associados Marcelo Martinelli Rodrigues Julio Guilherme Martinelli Rodrigues Lidiane Cristina Teixeira Verônica Costa Nunes Conselho Editorial Carlos Saiz Sanches – Universidad de Salamanca – Espanha Anderson Martelli – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Airton José Martins – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Cássio José Silva Almeida – Centro Universitário das Fac. Associadas de Ensino Dagmar Aparecida Cynthia França Hunger - Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – Bauru Ediano Dionisio do Prado – Instituto de Ensino Superior de Itapira Érica Franco de Souza Fini – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Erica Passos Baciuk – Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino Fernando Celso Ribeiro da Silva – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo João Paulo Barbosa – Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro Karina Antero Rosa Ribeiro – Faculdade Jaguariúna Lucas Rissetti Delbim – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Marcelo Studart Hunger – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Mário Augusto Paschoal – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Miriam Pavani – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Noel Teodoro de Castilho – Faculdades XV de Agosto Roberta Elisabete de Mello Francatto – Fac. Mogiana do Estado de São Paulo Solange Muglia Wechsler – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Tatiana de Cassia Nakano – Pontifícia Universidade Católica de Campinas Os textos publicados na revista são de inteira responsabilidade de seus autores. Permite-se a reprodução desde que citada a fonte e o autor. Pede-se permuta. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Revista Faculdades do Saber Volume 01 / Número 02 / Jan/Jun de 2014 ISSN 2317-0867 Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo – FMG Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 151 FICHA CATALOGRÁFICA Revista Faculdades do Saber: Artigos Acadêmicos e Científicos. – Vol. 01 n.02 (jan./jun. 2014). – Mogi Guaçu: FMG – Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo, 2014. Semestral. ISSN 2317-0867 1. Artigos Científicos. 2. Iniciação Científica. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 152 SUMÁRIO Editorial ............................................................................................................ 154 INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FISICA SISTEMATIZADA EM IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER .................................................................................................................. Tamires Diniz FERRI, Lucas Delbim RISSETI, Luciana DIOGO, Anderson MARTELLI 156 CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO: UMA REVISÃO DA PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO BRASIL ...... Carolina Rosa CAMPOS, Tatiana de Cássia NAKANO, Walquiria de Jesus RIBEIRO, Talita Fernanda da SILVA INCIDÊNCIA DE LESÕES MUSCULOESQUELÉTICAS EM PRATICANTES DE BALLET CLÁSSICO EM ACADEMIAS DOS MUNICÍPIOS DE PEDREIRA E JAGUARIÚNA – SP............. Sergio Fernando ZAVARIZE, Elizângela Almeida da SILVA, Haydée Benatti COMPARIM, Anderson MARTELLI MAX WEBER: DELINEAMENTOS SOCIOLÓGICOS ............................................................ Ediano Dionísio do PRADO GESTÃO DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS: UMA PROPOSTA PARA A INFORMATIZAÇÃO DA COLETA ........................................................................................................................ José Tarcísio Franco de CAMARGO, João Paulo BARBOSA, Adriano Aparecido LOPES, Tainá Ângela Vedovello BIMBATI CONCEPCIÓN DE CUERPO EN LA MIRADA DEL PROFESOR DE EDUCACIÓN FÍSICA DE NÍVEL SUPERIOR ..................................................................................................... André Luiz s BASTOS, Lucy MORCHIO 168 180 188 202 210 Ponto de vista A SOCIEDADE DIANTE DA POLÊMICA DA EUTANÁSIA: O DIREITO DE MORRER SOB O ENFOQUE JURÍDICO ...................................................................................................... Miriam PAVANI 220 INSTRUÇÕES E DIRETRIZES PARA PUBLICAÇÃO ............................................................ 234 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 153 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 154 EDITORIAL É com imensa satisfação que lançamos o segundo número da Revista Faculdades do Saber. Este periódico organizado pela Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo (FMG) pretende estimular a produção científica e o debate acadêmico discente e docente tornando-se de um meio importante de comunicação no âmbito educacional e da pesquisa, além de se tornar um veículo de informação científica de natureza internacional. Em sua continuidade, traz artigos científicos em diversas áreas, contribuindo assim, para o desenvolvimento científico-cultural de forma enriquecedora com caráter de transdisciplinaridade. Este volume está composto por diferentes produções científicas, sendo quatro artigos originais, dois artigos de revisão de literatura e um artigo de ponto de vista. A reflexão sobre os temas abordados, atendendo às áreas da Saúde, Educação, Administração e Direito, visa enriquecer conceitos e desenvolver o conhecimento de forma ética, apresentando ineditismo, inovação, reflexão e compartilhamento de experiências. Convido a todos a participarem e desejo uma ótima leitura! Sergio Fernando Zavarize Editor Chefe Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 155 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 156 INFLUÊNCIA DA ATIVIDADE FISICA SISTEMATIZADA EM IDOSOS COM DOENÇA DE ALZHEIMER INFLUENCE OF PHYSICAL ACTIVITY IN OLDER SYSTEMATIC WITH ALZHEIMER'S DISEASE Tamires Diniz FERRI¹, Lucas Delbim RISSETI², Luciana DIOGO³, Anderson MARTELLI 4 RESUMO Introdução: A doença de Alzheimer (DA) é uma doença neurodegenerativa caracterizada pela morte neuronal, devido ao acúmulo de proteínas beta-amilóide e emaranhados neurofibrilares em várias regiões do cérebro. Atinge pessoas com idade igual ou superior a 65 anos e estima-se que no mundo todo 15 milhões de pessoas sofrem da demência. Objetivo: A presente revisão faz uma descrição sobre a DA abordando as principais alterações cerebrais e a influência da atividade física sistematizada nos portadores desta patologia. Métodos: A pesquisa foi realizada a partir de uma revisão bibliográfica da literatura especializada, sendo consultado artigos científicos localizados nas bases de dados Medline, Scielo, Lilacs e o portal de Periódicos CAPES publicados até 2012, e adicionalmente consulta de livros acadêmicos para complementação da pesquisa, além de referências cruzadas dos artigos selecionados. Conclusão: A DA é a principal manifestação das demências nos idosos. Histologicamente ocorre o aparecimento das placas senis e dos emaranhados neurofibrilares considerado hoje o marcador neurofisiopatológico mais conhecido da DA. A atividade física tem sido considerada um importante tratamento não farmacológico de diversas patologias, dentre elas a DA. Estudos mostram que a atividade física pode prevenir e retardar a doença, além de trazer benefícios físicos como a melhora do estado psicológico, distúrbios de comportamento, melhora da capacidade de realizar as atividades de vida diária e a relação social do paciente. Palavras-chave: Atividade Motora; Idoso; Cognição; Doença de Alzheimer. ABSTRACT Introduction: Alzheimer's disease (AD) is a neurodegenerative disorder characterized by neuronal death due to accumulation of beta-amyloid protein and neurofibrillary tangles in several regions of the brain. Affects people aged over 65 years and it is estimated that worldwide 15 million people suffer with this dementia. Objective: This review presents a description of the AD addressing major brain changes and influences of systematized physical activity in patients with this pathology. Methods: The study was conducted from a scientific review of the literature, using scientific articles found in Medline, SciELO, Lilacs and CAPES´s portal using journals published by 2012 plus academic books to complement the research beyond cross references of selected articles. Conclusion: AD is the main manifestation of dementia in the elderly. Histologically, there is the appearance of senile plaques and neurofibrillary tangles, considered the best known marker of AD. Physical activity has been considered an important non-pharmacological treatment of various pathologies such AD. Studies show that physical activity can prevent and slow the disease, besides bringing physical benefits such as improved psychological state, behavioral disorders, improved ability to perform activities of daily living and social relationship of the patient. Keywords: Motor Activity, Aged, Cognition, Alzheimer Disease. ******** 1 Graduada em Educação Física pela Faculdade FMG - Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo – Mogi Guaçu – SP. 2 Mestre em Sustentabilidade e Qualidade de Vida – (UNIFAE). Docente do Curso de Educação Física da FMG Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - Município de Mogi Guaçu – SP, Brasil. Docente do Curso de Educação Física da FAJ – Faculdade de Jaguariúna – SP. 3 Doutoranda em Ciências da Saúde pela Faculdade de Enfermagem, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Mestre em Biotecnologia, pelo departamento de Biotecnologia na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Docente do Curso de Educação Física da FAJ – Faculdade de Jaguariúna – SP, Brasil. Docente do Curso de Educação Física da FMG - Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - Município de Mogi Guaçu – SP, Brasil. Docente dos cursos de Fisioterapia e Farmácia do UNIPINHAL - Centro Regional Universitário de Espírito Santo do Pinhal - SP, Brasil. 4 Especialista em Laboratório Clínico – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Docente do Curso de Educação Física da FMG - Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - Município de Mogi Guaçu – SP, Brasil. Endereço: Rua Duque de Caxias, 229 – Centro, Cep: 13974-345 - Itapira – SP. E-mail: [email protected] Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 157 1. INTRODUÇÃO Sabe-se que o envelhecimento é um processo normal do desenvolvimento humano, e nesta fase da vida fica mais evidente a prevalência de doenças. Uma das doenças mais devastadoras que atinge os idosos com idade igual ou superior a 65 anos, é a doença de Alzheimer (DA). A DA, também conhecida como demência de Alzheimer é uma doença neurodegenerativa, descoberta em 1906 pelo psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer, que ao fazer uma necropsia em uma mulher de 51 anos (Frau August D.), percebeu que o cérebro apresentava lesões estranhas nunca vistas antes, as células cerebrais apareciam atrofiadas em várias regiões e ainda continham placas estranhas de fibras retorcidas e emaranhadas umas nas outras, considerado um tipo de degeneração dos neurônios (CAMARGO, 2003). A DA é a principal causa de declínio cognitivo em adultos, sobretudo nos idosos (FORLENZA, 2005; PAULA et al., 2009), representando mais da metade dos casos de demência. A idade é o principal fator de risco e sua prevalência passa de 0,7% dos 60 a 64 anos de idade para cerca de 40% nos grupos etários de 90 a 95 anos (PAULA et al., 2009). Isso revela a magnitude do problema, que em 1950 havia 214 milhões de idosos com mais de 60 anos no mundo. Estima-se que esta cifra subirá para 1 bilhão de pessoas em 2025 (HAMDAN, 2008). No ano 2000, o grupo maior de 65 anos representava 5% da população; em 2010, este número representa 7,4% (IBGE, 2010). Para o ano de 2050, a perspectiva desse grupo etário representará 18% da população brasileira (IBGE, 2010). Sendo a idade o principal fator de risco, a DA constitui um problema crescente em países com alta expectativa de vida, não apenas pelo aumento de pessoas acometidas por esta patologia, mas também por sua repercussão individual, familiar e social (TRENTINI; GONÇALVES, 2009; TAYLOR; DELLAROSA, 2010). Alterações psíquicas e comportamentais, tais como psicose, alterações do humor e do sono, agitação psicomotora e agressividade, estão presentes em até 75% dos casos em algum estágio da evolução da demência, causando grande desgaste para os cuidadores, necessitando de intervenções farmacológicas pontuais (FORLENZA, 2005). O óbito só acontece mais ou menos 10 a 15 anos após o aparecimento da doença, mediante complicações clínicas ou quadros infecciosos (ABREU et al., 2005). Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 As alterações cerebrais características da DA são as placas senis ou neuríticas e os emaranhados neurofibrilares (HAMDAN, 2008). As placas senis resultam do metabolismo anormal da proteína precursora do amiloide (APP), conduzindo à formação de agregados do peptídeo beta-amiloide. Os emaranhados neurofibrilares formam-se a partir do colapso do citoesqueleto neuronal, decorrente da hiperfosforilação da proteína TAU (FORLENZA, 2005; PAULA et al., 2009; HOGLUND; BLENNOW, 2007). Pesquisadores citam que um programa de atividade física pode diminuir o risco de desenvolvimento da DA, bem como os efeitos agressivos da doença. Estudos revelam que idosos que praticam atividade física regularmente podem obter uma redução de 40% no risco de comprometimento da cognição e 50% de desenvolver DA (BUSSE, 2008). Estudos demonstram os efeitos positivos que um programa de atividade física pode proporcionar para pacientes com DA com melhora da função cognitiva, melhora nos aspectos comportamental, motor e social (NOBREGA et al., 1999; LIMA, 2008; MATSUDO, 2006), além de trazer benefícios em aspectos neurofisiológicos (COTMAN; BERCHTOLD, 2002; ANNUNCIATO, 1995) Considerando que a DA é uma doença crônico-degenerativa que atinge principalmente os idosos, cuja síndrome principal é caracterizada por declínio cognitivo progressivo, o presente estudo apresentou como objetivo realizar uma revisão da literatura especializada abordando as alterações morfológicas cerebrais dos portadores desta patologia, descrevendo a formação das placas senis devido aos depósitos extracelulares de proteína beta-amiloide e os emaranhados neurofibrilares, considerado hoje um dos marcadores neurofiopatológico mais conhecidos desta patologia, e relacionar os efeitos de um programa de atividade física como método não farmacológico na melhora da função cognitiva e qualidade de vida de pacientes com DA. 2. DESENVOLVIMENTO Para a composição da presente revisão foi realizado um levantamento bibliográfico nas bases de dados Medline, Scielo, Lilacs, Portal de Periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), bibliotecas e a busca de dados no Google Acadêmico de artigos científicos nacionais e internacionais publicados até 2012 utilizando como 158 descritores isolados ou em associação: Doença de Alzheimer, Alzheimer’s disease, Emaranhados Neurofibrilares, Neurofibrillary tangles, Cognição, Cognition, Exercícios Físicos, Physical Exercises, Idoso e adicionalmente consulta de livros acadêmicos para complementação das informações sobre a DA e a melhora cognitiva com a prática regular de exercícios físicos. Dos artigos selecionados e incluídos na pesquisa constituíram ensaios clínicos, artigos originais, revisões e revisões sistemáticas. Os critérios de elegibilidade foram estudos que apresentassem dados referentes aos distúrbios cognitivos causados pela DA e as alterações cerebrais como as placas senis ou neuríticas, e os emaranhados neurofibrilares que se formam a partir do colapso do citoesqueleto neuronal decorrente da fosforilação anormal da proteína Tau, e os relatos da prática regular de atividade física nos portadores desta patologia preconizados entre os anos de 1985 até o mais atual, 2012. 3. ALTERAÇÕES CEREBRAIS NO ALZHEIMER A fisiopatologia da DA é caracterizada pela degeneração sináptica e pela morte neuronal, que ocorre pela grande redução de acetilcolina, redução da colinaacetiltransferase e pela alteração na sensibilidade e no número de receptores nicotínicos e muscarínicos (ALMEIDA, 1998; INOUYE, 2008). Se tratando dos aspectos macroscópicos de um cérebro de paciente com DA, Hamdan (2008) relata duas situações: a atrofia dos bulbos e tratos olfatórios e o encolhimento do hipocampo, neste caso, em especial, com aumento do corno temporal dos ventrículos laterais. Ao exame macroscópico do cérebro é observado um grau variável de atrofia cortical com aumento do volume ventricular com alargamento dos sulcos cerebrais que é mais pronunciado nos lobos frontais, temporais e parietais. Figura 1 (KUMAR et al., 2005; CHAI, 2007). Figura 1. Cérebro de um portador da Doença de Alzheimer evidenciando atrofia cortical e alargamento dos sulcos. Extraído e modificado de Vcu Department of Pathology Neuropathology for Medical Students Nos casos de início precoce da doença, abaixo de 65 anos, a atrofia cortical apresentase mais pronunciada do que a atrofia central em oposição aos casos de início tardio, acima de 65 anos, que apresentam atrofia central mais proeminente que a atrofia cortical (PENDLEBURY & SALOMON, 1996). Em relação aos aspectos histológicos e neuropatológicos, a DA caracteriza-se pela Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 maciça perda sináptica e pela morte neuronal observada nas regiões cerebrais responsáveis pelas funções cognitivas (TRENTINI; GONÇALVES, 2009; SERENIKII; VITAL, 2008). Estudos sugerem que a morte neuronal procede após a ruptura do citoesqueleto celular (ALMEIDA, 1997). Com a progressão da doença ocorre o aparecimento de lesões típicas que se 159 manifestam pelo aparecimento de placas senis contendo depósitos extracelulares de proteína beta-amiloide e fusos ou emaranhados neurofibrilares localizado normalmente no citoplasma perinuclear, composto de proteínas Tau hiperfosforiladas (PENDLEBURY; SOLOMON, 1996; CHAI, 2007; SERENIKI; VITAL, 2008, COELHO et al., 2009), sendo possível descrever essas duas manifestações na DA a partir da década de 1960, com o advento da microscopia eletrônica (FRIDMAN et al., 2004). Os fusos ou emaranhados neurofibrilares (Figura 2) são estruturas intraneuronais compostas por filamentos pareados de característica helicoidal, contendo diversos elementos do citoesqueleto neuronal (SERENIKI & VITAL, 2008; HAMDAN, 2008). Esses feixes de filamentos no citoplasma dos neurônios deslocam ou circundam o núcleo celular. Nos neurônios piramidais, os filamentos que formam os emaranhados neurofibrilares apresentam frequentemente uma forma alongada, conforme observado na figura 2b e c (KUMAR et al., 2005). Figura 2. Histologia dos emaranhados neurofibrilares na DA. Em A, Secção do córtex temporal superior mostrando abundantes emaranhados neurofibrilares (Bielschowsky prata x300) David et al., 2003. B mostra um emaranhado neurofibrilar (ponta seta) e longos filamentos presentes no interior dos neurônios compostos de filamentos intermediários do citoesqueleto (HE). C mostra emaranhados neurofibrilares em maior aumento visto com uma coloração de prata (Neuro Pathology). Segundo Dourado (2006), a DA se diferencia das outras demências principalmente pelo distúrbio de comportamento que causa no paciente. Em relação à doença, cada pessoa responderá de forma diferente a cada fase. Isso ocorre devido a cada indivíduo ser único, cujos traços Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 genéticos não são iguais aos de outro. A DA é progressiva e seus sintomas se tornam cada vez mais agressivos, e pode ser dividido em três fases: fase inicial, intermediária e avançada ou terminal, como demonstra o Quadro 1. 160 Quadro1: Evolução da doença de Alzheimer. Fonte: Criado pelos autores. Em relação ao diagnóstico, torna-se muito difícil prever a doença no paciente antes que ela já tenha progredido, mas existem alguns testes que podem determinar se uma pessoa tem DA através do processo de diagnóstico de exclusão, com exames minuciosos do estado físico e mental do paciente, eliminando a possibilidade de outros tipos de demência cujo alguns sintomas são parecidos. Um teste muito utilizado é o “Mini Exame do Estado Mental” (MEEM), adaptado do original “Mini Mental State Examination” (MMSE), um teste de fácil compreensão e de rápida aplicação. Esse teste favorece que a DA seja descoberta na sua fase inicial (ALMEIDA, 2006). O diagnóstico definitivo de DA só pode ser feito mediante a análise histopatológica do tecido cerebral post-mortem (HARTMANN et al., 2004; GALLUCCI NETO et al., 2005; SILVA et al., 2010). Os exames de imagem também são muito utilizados, como ressonância Magnética Nuclear, Tomografia Axial Computadorizada, Tomografia por Emissão de Fótons Únicos Computadorizada, Tomografia por Emissão de Pósitrons, entre outros (NITRINI, 2005). Segundo Martelli (2013), o diagnóstico precoce da DA continua a representar um importante desafio na prática médica, e o maior desafio no século XXI será cuidar de uma população de mais de 32 milhões de idosos, a maioria com níveis sócio-econômico e educacional baixos e uma alta prevalência de doenças crônico-degenerativas e incapacitantes. Nos últimos anos, importantes Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 avanços metodológicos e tecnológicos permitiram a abertura de uma nova área de pesquisa da DA, com o uso da biologia molecular, referente aos emaranhados neurofibrilares e à formação das placas senis. 4. PRÁTICA DE ATIVIDADES FÍSICAS NOS PORTADORES DA DOENÇA DE ALZHEIMER Segundo Pitanga (2002), a importância da prática de atividade física vem aumentando, e sua origem retorna dos primórdios da humanidade em um período denominado pré-história, onde o homem dependia de suas capacidades físicas para sobreviver, ou seja, o homem era um ser extremamente ativo fisicamente. Nos dias atuais, a atividade física, de acordo com Caspersen et al. (1985), pode ser definida como qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto de energia. No processo de desenvolvimento dos homens são marcadas épocas em que o ser humano vinha a óbito no auge de sua existência. Então, nos dias atuais, pode-se dizer que envelhecer é um privilégio, visto que ainda há lugares em que muitas crianças não ultrapassam o primeiro ano de vida. Porém, a inteligência e evolução do homem permitiu que essa realidade fosse mudada, e um dos fatores que contribuem para um envelhecimento saudável é a atividade física (NETTO, 2005). A prática regular de exercício tem sido apontada como intervenção não 161 medicamentosa com amplos benefícios sobre sistemas fisiológicos que exibem deterioração funcional e estrutural com o curso do envelhecimento (VITAL et al., 2010; BRITO et al., 2011; HERNANDEZ et al., 2011), sinais estes acelerados na DA. Além da redução de massa óssea e massa muscular esquelética observada no idoso, ocorre também redução significativa da função cardíaca que pode ser compensada com programas direcionados de atividades físicas (NÓBREGA et al, 1999). Estudos recentes indicam que a atividade física pode ter um impacto positivo no desempenho mental e psicológico do indivíduo fisicamente ativo, com isso eles tendem a se sentir mais saudáveis e, consequentemente, visitam um médico com menos frequência, reduzem o risco de internações e perdem menos dias de trabalho (HEPA, 2006). Resultados de pesquisas apresentados na segunda metade do século XX defendiam a inclusão da prática de atividade física regular como novo estilo de vida para terceira idade. A partir desse momento, passou a ser vista como tratamento alternativo para o envelhecimento, tornando-o saudável, contribuindo também para o retardo dos efeitos da idade avançada (BUSSE, 2008). Filho (2006) diz que a prevalência de sedentarismo na população idosa ainda é o maior responsável pela limitação e agravamento da saúde do idoso, e o tratamento com atividade física regular pode evitar a progressão e corrigir as disfunções decorrentes do envelhecimento. Seguindo essa mesma premissa, um estudo longitudinal realizado por Sundquist et al (2004), analisou uma amostra aleatória de 3.206 homens e mulheres com idade igual e superior a 65 anos para verificar o risco de mortalidade de todas as causas. Para idosos que realizavam atividades físicas eventualmente, o risco de mortalidade por qualquer causa foi 28% menor do que para os idosos sedentários. Para os que praticavam atividade física uma vez ou mais por semana, o risco de mortalidade por qualquer causa foi 40% menor do que para aqueles fisicamente inativos. Esse estudo ressalta que mesmo a atividade física irregular está associada à redução do risco de morte em idosos. A preposição de que a prática de atividade física relacionada ao processo de envelhecimento possa trazer benefícios tem sido amplamente estudada nas últimas décadas (MATSUDO, 2006; MATSUDO; MARIN, 2008) e envolvem vários efeitos relacionados à saúde como: efeitos Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 antropométricos, efeitos motores, efeitos metabólicos, efeitos cognitivos e psicossociais e efeitos terapêuticos. Outro aspecto que pode ser observado da prática da atividade física relacionada ao processo de envelhecimento são os efeitos cognitivos e psicossociais. Matsudo (2006) e Matsudo e Marin (2008) relatam que a atividade física influenciou na melhora do autoconceito, autoestima, imagem corporal, estado de humor e insônia, na prevenção ou retardo do declínio das funções cognitivas (memória e atenção), diminuição do risco de estresse, ansiedade e depressão, de consumo de medicamentos e incremento na socialização. Matsudo (2006) ainda faz associação entre atividade física e menor risco de demência, demência senil, e DA. Segundo Larson et al. (2006), um estudo foi feito com 1740 pessoas com mais de 65 anos sem incidência de demência, verificando a frequência com que eles realizavam exercícios físicos, e também a função cognitiva, função física, depressão, condições de saúde e estilo de vida, sendo avaliados a cada dois anos. Durante um acompanhamento médio de seis anos, identificou-se que 158 participantes desenvolveram demência, e desses 107 desenvolveram DA. A incidência de demência para as pessoas que se exercitavam três vezes ou mais na semana foi de 13 por 1.000 pessoas no ano, e para as que se exercitavam menos de três vezes na semana foi de 19 por 1.000 pessoas no ano; os riscos de desenvolver demência foram menores para os que se exercitavam mais. Diversos estudos relatam que a realização de atividade física regular está associada a uma menor incidência e prevalência de demência e declínio cognitivo, e seus efeitos podem retardar o início das manifestações dos sintomas da doença (ARCOVERDE, 2008). O declínio cognitivo é caracterizado pela hipoperfusão na DA. Uma das possíveis causas seria uma disfunção do óxido nítrico que resulta em uma alteração da hemodinâmica e disfunção dos neurotransmissores. A atividade física atuaria na melhora da perfusão cerebral, com aumento da produção de óxido nítrico, aumento da atividade anti-inflamatória e aumento da produção de acetilcolina. Os efeitos positivos do exercício no aumento da perfusão cerebral dependem da condição cardíaca do paciente, devendo ser realizada uma avaliação mais profunda, verificando suas condições cardiovasculares (VITAL et al., 2010). 162 A atividade física tem sido um importante agente neuroprotetor contra os aspectos neurodegenerativos do sistema nervoso central. Ela aumenta a circulação sanguínea do cérebro e favorece a síntese do fator neurotrófico derivado do cérebro (BNDF) estimulando a neogênese. O exercício também reforça a estrutura neuronal e facilita a transmissão sináptica, aumentando a resistência às agressões cerebrais causadas pela doença, obtendo uma melhora no aprendizado e estado mental. A literatura clínica reconheceu durante anos que o exercício afeta a saúde geral e funções do cérebro. Estudos científicos já reforçam a premissa de que o exercício pode beneficiar o funcionamento do cérebro, assim, incentivando pesquisa clínica adicional (COTMAN; BERCHTOLD, 2002; ANNUNCIATO, 1995). A atividade física também pode proporcionar um aumento da atividade mitocondrial citocromo oxidase (enzima COX) que tem como característica o transporte de elétrons e produção de energia para célula (ATP), que previnem neuropatologias como a DA e também pode estar relacionado à capacidade de induzir a síntese de antioxidantes, reparação de DNA e enzimas que degradam proteínas específicas, o que resulta na diminuição de incidência da doença (FERREIRA, 2007). Scherder et al (2007) relatam que na fase intermediária da DA as alterações motoras ficam mais evidentes, e nessa fase os idosos tendem a sofrer mais quedas devido ao déficit de atenção, de agilidade e das estratégias de equilíbrio. O programa de cinesioterapia funcional e cognitiva em idosos com DA (PROCDA) da UNESP é oferecido aos idosos com DA e seus cuidadores. O programa conta, atualmente, com três protocolos de intervenção: convívio social, treinamento com pesos e atividade física para cuidadores. Essas atividades são realizadas três dias por semana com duração de 60 minutos cada sessão e constituem uma importante contribuição ao tratamento médico com o propósito de mitigar os sintomas motores e de comportamento dos pacientes, contribuindo também na redução do estresse de familiares e cuidadores (GARUFFI, 2011). Acompanhando resultados da pesquisa citada por Sosa et al. (2008), onde 16 pacientes com DA e idade superior a 70 anos foram submetidos a um programa de treinamento de 12 semanas que combinou Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 resistência, mobilidade articular e coordenação, observou-se melhora significativa na capacidade funcional global, ou seja, força muscular, flexibilidade, agilidade e coordenação, que por sua vez reduz o risco de quedas. Observou-se também melhora associada a sua capacidade de realizar atividades da vida diária de forma independente. Existem inúmeras pesquisas afirmando a hipótese de que um programa de atividade física proporciona influências importantes na função cognitiva do paciente com DA. Uma pesquisa realizada por Hernandez (2010) analisou que pacientes com DA que participaram de um programa de atividade física sistematizada mostraram melhora das funções cognitivas, no equilíbrio e risco de quedas, enquanto os pacientes que não participaram do programa de atividade física apresentaram declínio das funções cognitivas e aumento do risco de quedas. Seguindo a mesma proposta, Christofoletti et al (2006) apontaram como um dos efeitos da atividade física sistematizada a redução do risco de quedas em idosos. Por outro lado, um estudo realizado por Hernandez (2011) de treinamento com pesos, na apatia, funções cognitivas frontais e funcionalidade motora em pacientes com DA, não mostrou resultados significantes na melhora da sintomatologia de apatia e das funções cognitivas frontais dos pacientes. No entanto, foi efetiva para melhora da resistência de membro superior, flexibilidade, diminuição dos níveis sérico da glicemia e diminuição dos níveis de colesterol total dos pacientes. O treinamento com pesos ainda foi efetivo para manutenção das variáveis: relato do cuidador em relação à realização das atividades de vida diária dos pacientes e níveis séricos de homocisteína. Em outros dois estudos, seguindo a mesma linha de pesquisa, Stein (2010) e Stein et al. (2012) relacionam o treinamento com pesos e o nível de atividade física, no sono e na qualidade de vida de pacientes com DA. No primeiro estudo de treinamento com pesos verificou-se que não houve melhoras significativas nos distúrbios do sono e qualidade de vida em pacientes. Entretanto, pacientes com DA que praticam treinamento com pesos ou atividades de convívio social são beneficiados por uma manutenção do sono e qualidade de vida. Outro estudo de Stein et al. (2012) mostra que não foram encontradas relações significativas entre nível de atividade física e distúrbios do sono, nem entre nível de 163 atividade física e qualidade de vida do paciente. Apenas foi encontrada relação positiva e significativa entre nível de atividade física do paciente e qualidade de vida do cuidador, sendo observado que os cuidadores de pacientes com DA mais ativos possuem melhor qualidade de vida. Mesmo não tendo informações claras e objetivas sobre o tipo de treino, intensidade e volume do treino realizado, Schmitz (2011) cita que os exercícios físicos, de forma geral, podem proporcionar aos idosos com demência melhora da capacidade funcional mantendo-o independente por mais tempo, desenvolvimento das valências físicas, melhora do seu perfil lipídico prevenindo doenças adjacentes, diminuição da rigidez muscular, recuperação de mobilidade articular, estabilização da pressão arterial, ativação da circulação sanguínea e melhora do VO2, diminuição da depressão e melhora na cognição e favorecimento dos fatores neuroquímicos. Estudos de Castilho (2006), Nobrega (1999), Arcoverde (2008), Rolland (2008) e Matsudo (2006) relatam que a atividade física é um fator que atua positivamente na qualidade de vida de pacientes com DA, e seus efeitos benéficos incluem a melhora do equilíbrio e marcha, coordenação motora, força muscular e flexibilidade, capacidade cardiorrespiratória, melhora nos distúrbios de comportamento e do sono, sintomas de depressão, ansiedade, agressividade, autoestima, autoimagem e autoconceito, contribui para aprendizagem, memória e atenção e a menor dependência para realização de atividades diárias. Kato (2007) diz que depois da identificação dos principais déficits e implicações funcionais, a elaboração do treinamento irá depender do estágio em que a doença se encontra, dos distúrbios comportamentais do paciente, aparecimento ou não de depressão, risco de quedas e outros. Observou-se que vários estudos têm sido realizados para analisar os efeitos do exercício físico em idosos portadores de demência, porém alguns dados podem ser falhos, e outros estudos avaliam apenas os benefícios do exercício no aspecto cognitivo e emocional sem avaliar o aspecto funcional (SCHMITZ, 2011). E poucos estudos não encontraram melhorias significativas após um programa de atividade física sistematizada. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo não pretendeu abordar um perfil negativo do processo de Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 envelhecimento, mas mostrar que esta fase da vida exige uma atenção a mais da família do idoso e da sociedade, e atenção redobrada quando se trata da DA. A pesquisa mostra uma fase do envelhecimento marcado por uma patologia devastadora, cujo resultado final é passar por um processo de involução que gera dependência, cobranças, mágoas e conflitos, mas que pode ser minimizado com tratamento farmacológico e atividade física que retarda e diminui os efeitos agressivos da doença. A atividade física é indispensável a todo indivíduo, porém, quando aplicada em paciente com doenças neurodegenerativas como a DA, provou ser eficaz na melhora da qualidade de vida e bem estar do paciente. É importante enfatizar que atividade física não age como substituta para o tratamento farmacológico, e sim como tratamento alternativo para o paciente, e sua aplicação deve ser feita sem que haja interrupção do tratamento com medicamentos. Assim, um programa de atividade física pode ser eficiente tanto na prevenção, quanto no retardo da DA, pois a atividade física sistematizada está associada à diminuição do risco de desenvolver a DA. E para pacientes que já desenvolveram a doença, a atividade física age proporcionando melhora da função cognitiva, melhora no aspecto comportamental, funcional, motor e social, além de ser um importante agente neuroprotetor contra os aspectos neurodegenerativos do sistema nervoso central, e seus efeitos podem retardar o início das manifestações dos sintomas da doença. As evidências epidemiológicas apresentadas permitem concluir que atividade física regular e a adoção de estilo de vida ativo são necessárias para promoção da saúde e qualidade de vida de pacientes com DA. No entanto, tão importante quanto estimular a prática regular da atividade física aeróbica ou de fortalecimento muscular nessa população, enfatiza-se a elaboração de programas de intervenção motora e formulação de políticas públicas a fim de se buscar benefícios para saúde do indivíduo. Novos estudos são necessários a fim de viabilizar qual o melhor protocolo de treinamento para esses indivíduos. 6. REFERÊNCIAS ABREU I. 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Um total de 285 trabalhos foram encontrados e analisados, categorizados quanto à modalidade de trabalho, região a que pertence o pesquisador, área de conhecimento e tema. Os resultados demonstraram a predominância de trabalhos na modalidade pôster (41,9%) apresentados no evento considerado, provenientes de participantes da região Norte do país (43,2%), tendo, principalmente, a Psicologia e Educação como áreas de conhecimento destacadas (42,3% e 10,8%, respectivamente), nas quais a ênfase recai sob o estudo da criatividade e inovação no contexto de aprendizagem. Palavras-chave: Criatividade; Inovação; Pesquisa científica. ABSTRACT Considering the creativity and innovation as two characteristics currently highly valued, as well as the important relationship between the two constructs, this study aimed to evaluate the scientific production in this area. Publications on the subject were held in the annals of the First International Conference on Creativity and Innovation and in scientific journals available in electronic database of SCIELO, PEPSIC and CAPES. The combination of the key words "creativity" and "innovation" was used in the search. 285 papers were found and analyzed, categorized as to type of studies, Brazilian region that researchers belong and knowledge areas. The results demonstrated the predominance of studies in poster form presented at the event considered (41.9%), from researchers from North region of Brazil (43.2%) and, especially, Psychology and Education as the major areas of knowledge (42.3% and 10.8%, respectively), with emphasis is on the study of creativity and innovation in the context of learning. Keywords: Creativity; Innovation; Scientific research. ******** 1 Doutoranda em Psicologia pela PUC-Campinas. 2 Docente do curso de pós-graduação stricto sensu em Psicologia da PUC-Campinas. 3 Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, Mestre em Psicologia pela PUC-Campinas. 4 Mestre em Psicologia pela PUC-Campinas. Endereço de Correspondência com o primeiro autor: Rua Ferreira Penteado, 960, 2B, Centro, Campinas/São Paulo. CEP:13010041. E-mail para Contato: [email protected]. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 169 A criatividade é um fenômeno cujo foco de estudo vem se modificando ao longo das últimas décadas (AMABILE, 1998; MORAIS, 2001), ainda que atualmente suas tendências tenham apontado para as características descritoras da pessoa criativa, do produto e do processo criativo (ALENCAR, BRUNO-FARIA & FLEITH, 2010; DAVID, NAKANO, MORAIS & PRIMI, 2011; RHODES, 1961; WECHSLER, 2008), bem como a investigação de estratégias de favorecimento e estimulação desta habilidade (ALENCAR, 2001; ALENCAR & FLEITH, 2003; CROPLEY, 1999; DE LA TORRE, 2008; FERNÁNDEZ & LÓPEZ, 1998; OLIVEIRA, 2007; SÁNCHEZ, MARTINEZ, GARCIA, RENZULLI & COSTA, 2002), considerando-se ainda a influência de fatores históricos, sociais e culturais na sua expressão (FERREIRA & CANDEIAS, 2007; FLEITH, 2001; HAN, 2010; NOGUEIRA & BAHIA, 2007; STERNBERG & LUBART, 1995; STERZI & HERNÁNDEZ, 2010). Desse modo, pode-se dizer ainda que o estudo da criatividade não busca apenas conhecimento do indivíduo criativo, mas também sobre os fenômenos e contextos que influenciam sua expressão. Considerando a sociedade atual e seu momento histórico, marcado por intensas mudanças, inclusive pela agilidade dos avanços tecnológicos, os quais, por sua vez, provocam mudanças diárias na vida das pessoas (FLEITH, 2011; OLIVEIRA, 2007), o que se tem visto é a urgência na busca por novas soluções para os velhos e novos problemas, e, também, a necessidade de adaptação às constantes mudanças advindas de uma sociedade cada vez mais exigente (SOUSA FILHO & ALENCAR, 2003). Para que essa demanda seja alcançada, as pessoas têm sido desafiadas a fazer uso da criatividade, de modo que tal característica vem sendo reconhecida e valorizada nos mais diferentes contextos sociais (escola, família e/ou trabalho) devido à sua capacidade de promover a compreensão e desenvolvimento do ser humano. Tais fatos têm tornado a criatividade um fator chave para a inovação e sucesso a longo prazo, principalmente nas organizações (FELDMAN, RUTHES & CUNHA, 2008), ainda que sua importância também venha sendo ressaltada em outros contextos, tais como gestão, economia e desenvolvimento comunitário, conforme destacado por STEIN E HARPER (2012). Por esse motivo, essa característica tem assumido, nos dias de hoje, uma importância crescente no estudo dos processos de inovação (CANDEIAS, 2008), sendo considerada, inclusive, um de seus Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 determinantes (AMABILE, 1998). Por tal motivo e principalmente em decorrência do processo de globalização e da competição, a inovação se tem feito importante enquanto elemento capaz de ampliar a “competitividade e o desenvolvimento de nações, regiões, setores, empresas e até indivíduos” (CASSIOLATO & LASTRES, 2000, P.237). Por este motivo, recentemente, muitas empresas têm feito esforços consideráveis para aumentar a sua produtividade e estimular a inovação empresarial por meio da valorização da criatividade individual e organizacional, conforme exposto por SOHN E JUNG (2010). De acordo com os autores, uma pesquisa junto a 135 companhias coreanas mostrou que 40% delas apontaram um interesse significativo na criatividade e na implementação de métodos educacionais para aumentar a criatividade entre os executivos, ainda que 54% realize treinamento somente para diretores e somente 16% como parte de um processo sistemático. No entanto, um grande desafio se faz presente na tentativa de abordar a relação entre os dois conceitos, o qual resulta do fato de que, tanto a criatividade quanto a inovação, tem se mostrado, historicamente, fenômenos complexos, sujeitos a inúmeras influências contextuais e sociais (FULAN, 2000). Como consequência, a própria falta de consenso acerca de qual seria a relação entre eles também se faz presente, tomados algumas vezes como sinônimos (ALENCAR, 1996), como semelhantes, considerados a partir de uma perspectiva relacionada ao produto final (DE BREU, NIJSTAD, BECHTOLDT & BAAS, 2011) ou ainda como conceitos distintos (CERNE, JAKLIC & SKERLAVAJ, 2013; REITERPALMON, 2011; STEIN & HARPER, 2012; ZENG, PROCTOR & SALVENDY, 2011). Ainda que a maior parte dos autores seja adepto da linha que considera os dois conceitos como relacionados, convém destacar que essa aproximação não indica que ambas podem ser consideradas sinônimas, conforme alerta BARBIERI (2004). Isso porque, apesar de algumas similaridades entre os dois conceitos ser observada, de modo a provocar uma confusão entre os termos, deve ser enfatizada a concepção de que nem toda ideia criativa pode ser considerada uma inovação. Enquanto a criatividade é caracterizada pela geração de ideias e novos produtos, a inovação visa a implantação efetiva de ideias criativas que trazem benefícios práticos. Dessa forma, a inovação torna-se dependente de uma condição: ser uma ideia criativa aplicável no 170 mundo real (VALENTIM, 2008; MUNDIM & WECHSLER, 2007), de modo que a criatividade poderia ser assim visualizada como um dos elementos necessários à inovação, mas não o único. Nesse sentido, ARBIX (2010) destaca que entre a invenção e a inovação há certo espaço de transformação, que não ocorre de maneira rápida, mas requer conhecimentos variados, dependendo de tipos de habilidades, capacidades e recursos diferenciados para cada contexto e condição de inovação. Assim, podese ver como semelhanças o fato de que tanto a criatividade quanto a inovação tem sido definidas dentro de uma visão multidimensional, sendo ainda considerados fenômenos complexos. Desse modo, alguns aspectos, responsáveis tanto pelo desenvolvimento do potencial criativo quanto pelo desenvolvimento do potencial inovador, podem ser ressaltados, principalmente nos ambientes organizacionais, tais como: o estímulo à participação, estrutura do contexto que o sujeito está inserido, menor número de níveis hierárquicos, entre outros (BRUNOFARIA, VEIGA & MACEDO, 2008). Isso porque, um ambiente coerente com as características básicas associadas às empresas criativas, mostra-se capaz de estimular comportamentos de independência, autoconfiança, autonomia e autoestima de seus funcionários, de modo a contribuir e aumentar a probabilidade de realização inovadora (MUMFORD & GUSTAFSON, 1988). Desse modo, nesses locais, a prática permanente da criatividade e inovação tem se mostrado, sem dúvida, indispensável (ALENCAR, 1996), ainda que o estudo da dinâmica do contexto e das variáveis que podem exercer impacto frente à criação de algo inovador precisem ser mais bem investigadas (SUZIGAN, CERRÓN & JUNIOR, 2005), da mesma forma que a contribuição de investimentos na área por parte do governo faz-se relevante na criação de oportunidades para que ambos os fenômenos possam ocorrer (VILLASCHI, 2005). Especificamente no contexto organizacional, inovar é estar preparado para situações constantes de incertezas e complexidades, visto que esse cenário é repleto de problemas que exigem soluções imediatas e originais, nos quais os processos tradicionais de resolução não serão efetivos. A empresa que deseja obter melhores vantagens competitivas deve reconhecer a criatividade como passível de desenvolvimento, conforme salientado por RODRIGUES E SILVA (1998). No entanto, FARIA E ALENCAR (1996) chamam a Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 atenção para o fato de que dentro das organizações podem existir fatores que sejam facilitadores ou bloqueadores da expressão e do desenvolvimento da capacidade criativa e inovadora. Segundo as autoras, dentre os fatores facilitadores encontram-se estrutura e suporte organizacional, suporte da chefia e do grupo de trabalho, liberdade e autonomia, salário e benefícios, sendo que, dentre os fatores bloqueadores estariam a estrutura organizacional, características da chefia, relações interpessoais, cultura organizacional e comunicação. Nesse contexto, muitas vezes a criatividade e inovação podem ser entendidas como exclusivas aos setores de marketing e pesquisa de desenvolvimento, mas devem envolver toda a organização. Os líderes de uma empresa devem estabelecer procedimentos e criar estratégias que incentivem a criatividade, não somente por incentivos financeiros, mas valorizando ideias como um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento da organização (AMABILE, 1998). Assim, HIRAYAMA (2003) afirma que a inovação exige mudanças que alteram atividades rotineiras, redefinição das relações de trabalho, novas perspectivas na cultura organizacional, e que o insucesso de tais mudanças é decorrente da insegurança e falta de conhecimento do processo de inovar. Dessa forma, SOUZA E SILVA (2011) sugerem cinco aspectos gerais que provavelmente influenciam no potencial criativo e inovador nas organizações: 1) deve existir uma rica e ampla base de informações e conhecimentos em todo ambiente organizacional, que pode favorecer o cruzamento de ideias e consequente melhora na resolução de problemas; 2) investigar novas maneiras de pensar em atividades cotidianas; 3) entender que a criatividade se manifesta diferentemente em cada pessoa e que isso deve ser usado em favor do grupo/empresa; 4) reconhecer a criatividade de cada pessoa; e 5) o ambiente deve favorecer as características individuais de cada integrante, deve-se encarar o erro como processo de aprendizagem. Assim, as pesquisas identificam diversos conceitos e estratégias responsáveis pelo desenvolvimento desse potencial que devem ser considerados e implementados a fim de que haja o desenvolvimento empresarial e também pessoal do trabalhador (BRUNO-FARIA et al., 2008). Nesses contextos, tanto a criatividade quanto a inovação tem sido valorizadas dada a possibilidade de serem utilizadas como 171 recursos que poderiam favorecer a resposta às exigências do mercado, capacitando tanto os indivíduos quanto as empresas a lidar com os desafios que se fazem presentes (MORAIS & LIMA, 2010). Em nível individual, tais habilidades possibilitariam um uso mais eficaz de seus recursos, capacitando-os a inovar e solucionar novos problemas (MARTINEZ, 2002) ao passo que, em nível organizacional, permitiria o aperfeiçoamento constante dos produtos e revisão da eficácia de processos (ALENCAR, 1996), de modo a justificar a importância de estudos que foquem a relação entre os dois conceitos. Diante do exposto e da importância reconhecida da criatividade e da inovação e dos benefícios que podem ser resultantes de seu incentivo, bem como se considerando as diferentes perspectivas sobre os construtos e também as relações entre os mesmos, este artigo buscou compreender como a temática da criatividade e inovação vem sendo explorada no meio científico por meio da análise dos trabalhos apresentados em um congresso multidisciplinar cujo tema foi “Criatividade e Inovação: visão e prática em diferentes contextos”, assim como nas publicações científicas nacionais em importantes base de dados eletrônicas. A opção por se trabalhar com a análise dos estudos presentes nessas bases consultadas deu-se em função da constatação de que, segundo a literatura científica, a maior parte dos estudos de metaciência e estado da arte no Brasil tem utilizado como fontes de pesquisa os resumos de congressos, bases de dados virtuais e periódicos impressos, além de dissertações e teses (BARIANI, BUIN, BARROS & ESCHER, 2004; BARROSO, 2010; SANTOS, OLIVEIRA, JOLY & SUEHIRO, 2003; WITTER, 2003). A importância de estudos do tipo estado da arte ampara-se no fato, segundo WITTER (1999), de que quanto mais rápido e diversificado o desenvolvimento de uma área, maior a necessidade de pesquisas de análise de produção científica, uma vez que o próprio progresso da ciência se relaciona ou depende de análises sistemáticas desta produção e do trabalho dos pesquisadores (JOLY, MARTINS, ABREU, SOUZA & COZZA, 2004). Ainda segundo as autoras, a análise constante dessa produção mostra-se como uma necessidade para a tomada de decisão quanto aos rumos da própria ciência e das políticas científicas e tecnológicas, áreas a merecerem maior atenção e generalização dos resultados produzidos, justificando, no caso da temática Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 da criatividade e inovação, a condução de estudos dessa natureza, dado o recente e intenso interesse pelo tema e a ausência de estudos do tipo estado da arte. MÉTODO Material Para este estudo foram analisados 285 trabalhos científicos sendo que, desse total, 222 consistiram em trabalhos apresentados no I Congresso Internacional de Criatividade e Inovação, que ocorreu em 2011 na cidade de Manaus/AM-Brasil, assim como 63 artigos científicos, sendo cinco provenientes da base de dados eletrônica Pepsic (http://pepsic.bvsalud.org/), 23 da Scielo (http://www.scielo.br) e ainda 35 do banco de dados da CAPES (http://www.periodicos.capes.gov.br). Os trabalhos foram selecionados por meio das palavras chaves “criatividade” e “inovação”, combinadas, em todas as bases citadas. Procedimentos Após o levantamento inicial dos diferentes tipos de trabalhos sobre criatividade e inovação disponíveis no CD dos anais do evento e dos artigos científicos das três diferentes bases, 285 trabalhos foram analisados em relação à modalidade de trabalho (curso, oficina, mesa redonda, pôster, comunicação oral, conferência nacional e conferência internacional); área de conhecimento (Psicologia, Artes, Educação, entre outras); instituição a que pertenciam os autores; região do Brasil que está localizada a instituição dos autores; tema estudado; tipo de pesquisa (teórico, empírico, estado da arte, resenha, entre outros). RESULTADOS E DISCUSSÃO Com a finalidade de se obter dados acerca do tipo de trabalho apresentado no I Congresso Internacional de Criatividade e Inovação, um levantamento da frequência de cada modalidade apresentada no evento foi realizado, a partir do qual foi possível notar, que dos 222 estudos avaliados, a maior parte (N=93; 41,9%) foi apresentada sob a forma de pôster. Outros estudos foram nomeados como comunicação oral (N=67, 30,2%), seguidos de oficinas (N=21; 9,5%), cursos (N=15; 6,8%), mesa redonda (N=13; 5,8%), conferências internacionais (N=8; 3,6%) e conferências nacionais (N=5; 2,2%). Diante das diversas modalidades de trabalhos apresentados, bem como, da amplitude da temática trabalhada no evento, 172 um segundo levantamento consistiu na classificação dos trabalhos de acordo com as áreas de conhecimentos, com o objetivo de verificar os diversos focos nos quais o tema vem sendo investigado, bem como a predominância ou não de alguma área específica. Nesse levantamento também foram incluídos os artigos, visando ampliar a compreensão das áreas nas quais a criatividade e a inovação vêm sendo estudadas. Os dados encontram-se fornecidos na Tabela 1. Vale ainda ressaltar que não foi possível classificar a área de conhecimento de 38 trabalhos apresentados no congresso, pois nos resumos presentes nos anais do evento não havia dados suficientes para que os mesmos pudessem ser categorizados em alguma área do conhecimento específica. Tabela 1. Áreas do conhecimento a que pertencem os trabalhos analisados. Trabalhos do I Congresso Internacional de Criatividade e Inovação Artigos Científicos SCIELO e PEPSIC Artigos Científicos CAPES Área de Conhecimento Psicologia Administração N % N % N % 94 30 42,3 13,5 10 35,7 2 5,7 6 21,5 17 48,7 Educação 24 10,8 4 14,3 6 17,2 Biologia 11 4,9 0 0,0 0 0,0 Artes /Moda 7 3,1 2 7,1 1 2,8 Tecn. Informação 5 2,2 2 7,1 2 5,7 Comunicação 4 1,8 1 3,6 2 5,7 Enfermagem 0 0,0 2 7,1 0 0,0 Engenharia 3 1,4 0 0,0 0 0,0 Pedagogia 2 0,9 0 0,0 0 0,0 Economia 1 0,5 0 0,0 0 0,0 Fisioterapia 1 0,5 0 0,0 0 0,0 Farmácia 0 0,0 1 3,6 0 0,0 Arquitetura 1 0,5 0 0,0 0 0,0 Serviço Social 1 0,5 0 0,0 0 0,0 Não identificado 38 17,1 0 0,0 1 2,8 Saúde 0 0,0 0 0,0 4 11,4 TOTAL 222 100,0 28 100,0 35 100,0 A partir da Tabela 1 pode-se notar que 15 diferentes áreas de conhecimento apresentaram trabalhos na temática de criatividade e inovação, ainda que se faça notar uma predominância daqueles relacionados à área da Psicologia, tanto nos trabalhos apresentados em congresso relacionado à área (N=94; 42,3%) como nos artigos científicos da Pepsic e Scielo (N=10; 35,7%). A exceção ocorre em relação aos artigos presentes no banco da CAPES, os quais apresentaram maior predominância na área de Administração (N=17; 48,7%). Outras áreas relacionadas às Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 ciências humanas também se fizeram presentes (Educação, Pedagogia, Serviço Social, Artes, Comunicação), bem como às ciências biológicas / saúde (Biologia, Fisioterapia) e ciências exatas (Tecnologia da Informação, Engenharia, Economia, Arquitetura), de modo a se poder afirmar que o interesse pela temática tem se mostrado bastante abrangente. Tal quadro reflete a situação apontada por VALENTIM (2008), segundo o qual tem sido possível perceber, na literatura, uma atenção cada vez maior ao conceito de 173 inovação e seu enfoque multidisciplinar, de modo que pesquisas acerca desse fenômeno têm sido desenvolvidas em diversas áreas de conhecimento, incluindo, por exemplo, administração, educação, economia, psicologia e sociologia, dentre outras. A mesma situação tem sido notada em relação à investigação da criatividade, visto que, devido à importância dessa característica para o desenvolvimento pessoal, a mesma vem se constituindo em tema de interesse de pesquisadores em diferentes áreas, podendo-se citar, dentre elas a Psicologia, Administração, Educação, Filosofia, Economia, Engenharia e Artes (AMABILE, 1983; WECHSLER, 2008). Desse modo pode-se visualizar que a área vem se constituído em um tema que tem atraído a atenção de profissionais dos mais diversos setores. A relação entre criatividade e inovação também tem sido abordada por pesquisadores provenientes de diversas áreas de conhecimento dado o fato, apontado por GIGLIO, WECHSLER E BRAGOTTO (2009), de que “tanto a criatividade quanto a inovação são fenômenos complexos, que merecem múltiplos olhares para que possam ser conhecidos e compreendidos nos diferentes campos do conhecimento” (p.7). Assim, podese dizer que o estudo destes constructos pode receber contribuições de diversas áreas do saber, como a filosofia, psicologia, sociologia e administração, conforme destacado por AMORIM E FREDERICO (2008). O segundo dado analisado consistiu no levantamento da região do país a que pertenciam os autores dos estudos avaliados. Especificamente em relação aos que foram apresentados no evento, os resultados apontaram para a existência de trabalhos apresentados por participantes provenientes das cinco regiões do Brasil, ainda que um maior número seja proveniente de participantes da região Norte do país (responsável por 96 trabalhos, os quais perfazem 43,2% do total), seguido daqueles da região Sudeste (n=48; 21,6%). Já em menor número, puderam ser encontrados trabalhos de participantes da região Centro-Oeste, Sul e Nordeste. Destacase também a presença de trabalhos apresentados por participantes oriundos de outros países (responsáveis por 7,7% do total), ainda que deva ser salientado que, provavelmente, tais trabalhos constituíram-se, quase que em sua totalidade, por apresentações de conferências internacionais ministradas por palestrantes convidados pela organização do evento. Nota-se ainda que Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 7,2% dos trabalhos (n=16) não puderam ser classificados nessa categoria devido ao fato de não trazerem essa informação ao longo dos resumos. Quanto aos artigos, encontrados nos bancos de dados eletrônicos Scielo e Pepsic, a grande maioria dos trabalhos mostrou-se proveniente das regiões Sudeste (n=9; 32,2%) e Sul (n=8; 28,6%). Em terceiro lugar, registramse, com 14,3% (n=4) das publicações, pesquisas desenvolvidas em outros países. Dentre as publicações nacionais, temos ainda a região Nordeste com 10,7% (n=3) seguida à região Centro-Oeste, com 7,1% (n=2) dos trabalhos. Novamente não foi possível identificar, nos resumos, a origem de 7,1% dos artigos analisados. Em relação ao banco de dados da Capes, a maioria dos trabalhos não pode ser categorizado, uma vez que a maioria dos trabalhos não apresentava informação nos seus resumos sobre região do país a que pertenciam os autores dos trabalhos (n=20; 57,30%). Dentre aqueles nos quais a identificação foi possível, as regiões Sudeste (n=4; 11,4%) e Sul (n=4; 11,4%) foram as que mais se destacaram, seguidas de outros países (n=3; 8,6%); e também das regiões CentroOeste (n=2; 5,7%); Norte (n=1; 2,8%) e Nordeste (n=1; 2,8%). Os dados acerca da predominância de determinadas regiões sobre as demais concordam com aqueles relatados em revisão feita por ZANELLA E TITON (2005), especificamente focando as pesquisas em criatividade, as quais também contataram uma concentração de trabalhos realizados nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Uma possível hipótese explicativa está no fato de que os pesquisadores que trabalham diretamente nessa temática são autores que encontram-se vinculados e centralizados em instituições localizadas em tais regiões, notadamente a PUC-Campinas na região sudeste e a Universidade de Brasília na região centro-oeste. Saliente-se, ainda, a constatação de que são essas mesmas instituições que concentram a maior parte dos autores de testes psicológicos para avaliação da criatividade. No entanto, atenção deve ser dada à predominância, nesse levantamento, de um importante número de trabalhos oriundos da região norte, devendo-se ressaltar que o evento científico aqui investigado foi realizado nessa região (na cidade de Manaus/AM), de modo que tal fato justifica a grande quantidade de trabalhos encontrados, quadro não comumente relatado na literatura. 174 Ainda em relação à localidade do trabalho é interessante mencionar a presença de trabalhos internacionais provenientes de pesquisadores da Espanha, Portugal, Estados Unidos, Ilhas Canárias e Itália, os quais representaram 7,7% dos trabalhos apresentados no evento. Embora essa representatividade possa ser considerada baixa em relação às demais, deve ser vista como de suma importância, uma vez que permitiram que o objetivo do evento, constituir-se em um congresso internacional na temática da criatividade e inovação, pudesse ser atingido. A análise a seguir, dos enfoques e temas presentes nos trabalhos, visou verificar como essa temática vem sendo investigada. Para isso, um agrupamento dos trabalhos por semelhança foi realizado, tendo-se, posteriormente, estimado a ocorrência de cada tema, cujos resultados encontram-se disponibilizados na Tabela 2. Tabela 2. Temas enfocados nos trabalhos analisados. Temas abordados Trabalhos do I Artigos Artigos Congresso Científicos Científicos Internacional de SCIELO e PEPSIC CAPES Criatividade e Inovação N % N % N % Criatividade / inovação no contexto da 35 15,8 3 10,7 9 51,2 aprendizagem (metodologia de ensino, práticas pedagógicas Desenvolvimento / expressão da 17 7,7 2 7,1 2 5,7 criatividade , Criação e desenvolvimento de produtos 16 7,2 1 3,6 Uso de recursos naturais 15 6,8 Tecnologia e inovação 15 6,8 2 7,1 2 5,7 Criatividade / inovação nas Organizações 15 6,8 4 14,3 8 23,1 Criatividade e formação / qualificação 13 5,8 1 3,6 2 5,7 profissional Altas habilidades / superdotação e 12 5,4 Educação especial Criatividade e artes 11 5 2 7,1 Criatividade e saúde (técnicas, terapias e 10 4,5 3 10,7 4 11,4 modelos terapêuticos aplicados à área da saúde Criatividade e relação com outros 9 4 constructos (ex.: inteligência, liderança) Desenvolvimento sustentável 8 3,5 2 7,1 Avaliação psicológica (construção, 7 3,2 1 3,6 validação e aplicação de testes psicométricos) Reciclagem 5 2,3 Educação ambiental 5 2,3 Criatividade e cultura 5 2,3 2 5,7 Criatividade e inovação 4 1,8 1 3,6 2 5,7 Criatividade, inovação e meio ambiente 4 1,8 2 5,7 Utilização de passivos laboratoriais e 4 1,8 químicos Criatividade na formação e prática de 3 1,3 profissionais da educação Criatividade e questões sociais 3 1,3 1 2,8 Logística e inovação 3 1,3 Criatividade, mídia e marketing 3 1,3 1 3,6 1 2,8 Criatividade e Gestão Organizacional 4 14,3 Barreiras à criatividade no ambiente organizacional 1 3,60 TOTAL 222 100,0 28 100,0 35 100,0 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 175 De acordo com a Tabela 2, pode-se notar um total de 24 temáticas encontradas nos trabalhos apresentados, voltadas à (1) formação e atuação profissional (criatividade e formação / qualificação profissional; criatividade na formação e prática de profissionais da educação), (2) questões relacionadas ao ambiente (uso de recursos naturais; desenvolvimento sustentável; reciclagem; educação ambiental; criatividade, inovação e meio ambiente), (3) aplicadas especificamente a algum contexto organizacional (utilização de passivos laboratoriais e químicos; logística e inovação; criatividade, mídia e marketing; criação e desenvolvimento de produtos; criatividade / inovação nas organizações; criatividade e gestão organizacional; barreiras à criatividade no ambiente organizacional), (4) à saúde (técnicas, terapias e modelos terapêuticos), (5) à Psicologia (relação da criatividade com outros constructos; avaliação psicológica), (6) às questões sociais (criatividade e questões sociais), (7) às artes (criatividade e artes), (8) ao desenvolvimento e expressão criativa e (9) à investigação das altas habilidades no contexto da educação especial. Considerando a criatividade em suas diferentes concepções, pode-se observar que o enfoque mais encontrado nos trabalhos referese aos que trazem a criatividade e a inovação no contexto educacional, investigadas em termos de metodologia de ensino e práticas pedagógicas (n=35; 15,8%). Nesta perspectiva encontram-se trabalhos que envolvem planejamento de aula e aqueles voltados às atividades de estimulação docente visando o oferecimento de aulas criativas e motivadoras. Em segundo lugar aparecem os estudos que abordam o desenvolvimento e a expressão da criatividade (n=17; 7,7%) nos mais variados contextos. É de grande valia enfatizar ainda a presença de trabalhos que envolvem a criatividade no desenvolvimento de produtos em áreas diversas (n=16; 7,2%), no uso de recursos naturais, na inovação aliada à tecnologia e na aplicabilidade da criatividade e inovação nas organizações (n=15; 6,8% cada), de modo a indicar a diversidade de áreas e possibilidades de estudo da temática. De modo específico, considerando a criatividade, o que se pode verificar é que essa diversidade pode refletir, na realidade, a compreensão atual desse fenômeno, uma vez que ele tem sido mais recentemente estudado considerando-se as influências do contexto social, histórico e cultural que afetam sua expressão (FLEITH, 2001; HAN, 2010; Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 PLUCKER & BEGHETTO, 2004). Isso porque, segundo HERNÁNDEZ (2011), a criatividade seria, em partes, uma construção social, já que para ser reconhecida torna-se necessário que pessoas concordem e compartilhem as mesmas normas, regras, aproximações e conceitos de criatividade, ainda que reconhecendo suas diferentes formas de expressão, de acordo com o domínio considerado (educação, trabalho, música, etc.). Por esse motivo vem, de acordo com ALENCAR (1996), mobilizando um interesse crescente de instituições e profissionais das mais diversas áreas, situação que pode ser verificada diante da grande quantidade de temáticas e áreas de conhecimento encontradas no presente estudo. Do mesmo modo, fatores humanos, sociais e culturais têm se mostrado cruciais para uma operação eficaz da inovação (VERÍSSIMO, 2009). Sob essa ótica, percebe-se na literatura uma atenção crescente ao enfoque multidisciplinar da inovação, considerando estudos apoiados, predominantemente, em postulados da ciência administrativa, da psicologia e da economia, de modo que tal enfoque possibilita, assim, a investigação do fenômeno da inovação à luz de perspectivas distintas e, por vezes, complementares, conforme colocado por SOUSA (2006). Dessa maneira, as abordagens desenvolvidas de forma multidisciplinar contribuem, cada uma a seu modo, para que se aprofundassem os conhecimentos sobre o processo de inovação, de modo que hoje se faz notar inúmeros campos de pesquisa para investigação desse fenômeno (BRUNO-FARIA, 2004). Tais constatações e a amplitude e complexidade dos dois fenômenos tornaramse visíveis perante a grande quantidade de focos encontrados nos trabalhos apresentados, de modo a apontar para inúmeras possibilidades de estudo, isoladas ou combinadas, dos dois construtos, por diversas áreas do conhecimento. Nos trabalhos analisados a partir das bases Scielo e Pepsic, ganha destaque, aparecendo em 32,2% das pesquisas, o tema criatividade/inovação na área organizacional, dentro das quais se identifica a discussão da criatividade no contexto de gestão organizacional (14,3%, n=4), outras 14,3% focalizando o fenômeno da criatividade e da inovação dentro das organizações e ainda, em número menor, 3,6% dos trabalhos abordando questões acerca das barreiras à criatividade no ambiente das organizações. Presente se faz também discussão envolvendo a criatividade 176 no contexto educacional e no contexto da saúde, cada uma com frequência de 10,7% (n=3) no conjunto dos trabalhos analisados. Tal ênfase confirma os apontamentos da literatura científica nacional e internacional, de que ambos os fenômenos vêm sendo investigados, prioritariamente no contexto organizacional (ALENCAR, 1998; AMABILE, 1998; BRUNOFARIA, VEIGA & MACEDO, 2008; FARIA & ALENCAR, 1996; FELDMAN, RUTHES & CUNHA, 2008; HIRAYAMA, 2003; MORAIS & LIMA, 2010; MUMFORD & GUSTAFSON, 1988; RODRIGUES & SILVA, 1998; SOHN & JUNG, 2010; SOUZA & SILVA, 2011). CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho pretendeu investigar as tendências encontradas nos trabalhos apresentados na literatura científica nacional, tendo como tema a relação entre criatividade e inovação. A partir dos trabalhos analisados foi possível observar o interesse pela temática nas diferentes áreas de conhecimento, identificando-se uma diversidade de temáticas e focos. Ainda que o levantamento possa ser usado no sentido de sanar uma lacuna existente, marcada pela ausência de estudos do tipo estado da arte para a relação entre os dois conceitos investigados, algumas limitações do estudo devem ser salientadas. Certa cautela é recomendada na interpretação dos resultados, dado o fato de que parte dos resultados apresentados refere-se apenas aos trabalhos apresentados em um único evento, de modo que podem não refletir a real situação da área. Entretanto, ainda que JOLY, SILVA, NUNES E SOUZA (2007) salientem que o tipo de literatura presente nos anais de congresso possua baixa visibilidade e fluxo restrito de informação, tendo sido, durante muito tempo, marcado pela dificuldade de acesso (JOLY, BERBERIAN, ANDRADE & TEIXEIRA, 2010), a importância desse tipo de análise justifica-se perante essa lacuna deixada nos trabalhos do tipo estado da arte. Considerando-se que a maior parte dos estudos dessa natureza tem, prioritariamente, realizado revisões baseadas na produção científica sob a forma de artigos e trabalhos acadêmicos, grande parte dessa produção (por exemplo, aquelas constantes nos congressos) acaba sendo ignorada, de modo a não serem consideradas. Alia-se a esse quadro o fato de que, atualmente, além do crescimento na quantidade e tamanho dos eventos que vêm sendo realizados, a maior parte deles tem se preocupado com a divulgação dos trabalhos Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 apresentados, disponibilizando, para isso, os anais sob a forma eletrônica, muitas vezes contemplando não só os resumos, mas também os trabalhos completos, de modo que essa fonte tem se constituído bastante rica. Assim, um dos principais problemas relacionados ao acesso completo ao trabalho, visto que nem sempre as informações dos resumos são suficientes para a condução de análises mais aprofundadas, conforme apontado por YAMAMOTO, SOUZA E YAMAMOTO (1999), parece estar sendo parcialmente resolvida com essas novas tendências. Do mesmo modo, as bases de dados eletrônicas consultadas, ainda que as mesmas possam ser consideradas as mais utilizadas e amplas, podem não ter apontado a totalidade de trabalhos existentes na área, dado principalmente o fato de que a modalidade de busca selecionada pelos autores baseou-se somente no formato eletrônico das mesmas. Assim, estudos mais antigos que não se encontram disponibilizados sob essa forma de consulta não se tornaram acessíveis, sendo que seu acesso poderia alterar os parâmetros aqui encontrados. Ainda que diante das limitações apresentadas, espera-se que o presente trabalho possa contribuir para o conhecimento do estado da arte na temática, de modo a inspirar outros pesquisadores a contribuir para a expansão do conhecimento na área da criatividade e da inovação. Deseja-se que estudos futuros possam não só suprir as lacunas apontadas, mas também contribuir, sob a forma de discussões teóricas e resultados empíricos, para o estudo da relação entre os dois constructos. REFERÊNCIAS ALENCAR, E.M.L.S. Criatividade. 2. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília; 1995.·. ALENCAR, E.M.L.S. A gerência da criatividade: abrindo as janelas para a criatividade pessoal e nas organizações. 1. ed. São Paulo: Makron Books; 1996. ALENCAR, E.M.L.S. Promovendo um ambiente favorável à criatividade nas organizações. Revista de Administração de Empresas, v. 38 n.2, p. 18-25, 1998. ALENCAR, E.M.L.S. Criatividade e a educação do superdotado. 1. ed. Petrópolis, RJ: Vozes; 177 2001. 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A pesquisa foi constituída por uma entrevista estruturada com 50 atletas do sexo feminino, idade variando entre 12 e 21 anos, que regularmente cursam por, no mínimo, seis meses a modalidade de ballet clássico. A duração média das aulas de ballet clássico foi de 2 horas por semana. Dentre as 50 participantes da pesquisa, 39 sofreram uma ou mais lesões, representando 78% da amostra. As lesões mais observadas foram bolha, calos, hematomas e tendinites, perfazendo 65% do total das lesões. Em relação à localização das lesões, a pesquisa indicou que houve 10 locais lesionados, sendo o pé, tornozelo, coxa e joelho os mais acometidos, respectivamente. Espera-se que este estudo possa proporcionar aos profissionais desta modalidade um conhecimento ampliado para que eles possam atuar de forma preventiva, analisando o ambiente de trabalho, reduzindo a exposição do praticante a acidentes e, concomitantemente, o índice de lesões ocorridas com a prática de ballet clássico. Palavras chave: Ballet; Lesões; Dança. ABSTRACT The Classic Ballet, as well as other physical activities, may favor some types of musculoskeletal injury due to the efforts and overload characteristic of the dance. The objective of this research was the investigation of musculoskeletal injuries found in practitioners of classical ballet academies in the municipalities of Pedreira and Jaguariuna, interior of São Paulo between the months of September to November 2012. The survey consisted of a structured interview with 50 female athletes, aged between 12 and 21, who attend regularly for at least six months to method of classical ballet. The average length classical ballet classes was 2 hours per week, among the 50 participants, 39 experienced one or more injuries, representing 78% of the sample and the most common injury was a bubble, calluses, bruising and tendonitis making up 65% of the total injuries. Regarding the location of the lesions, the research indicated that there were 10 local injured, and the foot, ankle, thigh, and knee most affected respectively. It is hoped that this study will provide practitioners of this embodiment, an expanded knowledge so that they can take preventive actions, analyzing the environment by reducing the exposure of the practitioner to accidents and concomitantly the rate of injuries resulting from the practice of classical ballet. Keywords: Ballet; Lesions; Dance. ******** 1 Doutor em Psicologia, Docente dos cursos de Graduação em Fisioterapia e Educação Física na Faculdade de Jaguariúna - FAJ e na Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - FMG. 2 Graduada em Educação Física pela Faculdade de Jaguariúna - FAJ. 3 Especialização Lato Sensu em Dança e Consciência Corporal – Metrocamp – Campinas, SP. Graduada em Educação Física pela Faculdade de Jaguariúna - FAJ. 4 Pós Graduado em Laboratório Clínico (Patologia Clínica) – Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas. Docente do Curso de Graduação em Educação Física da FMG - Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo - Município de Mogi Guaçu – SP, Brasil. E-mail para correspondência: [email protected] Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 181 1. INTRODUÇÃO Para todos os povos, independentemente da época histórica ou espaço, a dança sempre foi a representação de suas manifestações por meio de emoções, sequências de movimentos do corpo, expressões do ser e das suas características culturais, sendo uma das artes mais antigas criada pelo homem (BARSA, 1999). Segundo dados decorrentes da antropologia, podemos observar o homem dançante desde a pré-história, a partir dos relatos das pinturas nas cavernas, em que o mesmo aparecia dançando instintivamente em rituais mágicos religiosos como, por exemplo, para solicitar o bom tempo ou a chuva, agradecer vitórias, curar doenças ou, simplesmente, festejar. Enfim, o homem dançava em cada momento de sua vida (LAGOAS, 1984; BARSA, 1999). Uma das primeiras formas de expressão do ballet deu-se em bailes nobres, apresentada pelos cortesãos como forma de divertimento para os visitantes da corte. O primeiro registro de um ballet organizado foi em 1489 para comemorar o casamento do Duque de Milão. Posteriormente, chegou à corte francesa obtendo sucesso devido às grandes produções, que envolviam trajes e cenários aprimorados, os quais enriqueciam ainda mais os espetáculos (LAGOAS, 1984). O Rei Luiz XIV, devido a sua paixão pela dança, tornou-se um grande bailarino e incentivador da mesma. Participou de várias apresentações de ballet e ficou historicamente conhecido como o Rei Sol, devido à sua atuação em “Ballet da Noite”. Este rei fundou a Academia de Ballet, música e a Escola Nacional de Ballet. A partir desta fundação, o ballet deixou de ser divertimento da corte para se transformar em uma profissão, expandindo-se assim para o mundo (BARSA, 1999). O ballet chegou ao Brasil através da bailarina russa Maria Olenewa em 1927, quando trabalhou sem que houvesse apoio direto do governo ou qualquer infra-estrutura adequada para as aulas de ballet, diferentemente do que ocorria na corte durante o reinado de Luiz XIV que financiava a dança. Devido ao seu grande sucesso e conquista de espaço, Olenewa fundou a Escola de Danças do Teatro Municipal na cidade do Rio de Janeiro (CERBINO, 2008). O desenvolvimento e a transformação da dança primitiva originou o ballet clássico que evidencia a sensibilidade artística através de uma manifestação estética do movimento (BARSA, 1999). Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 O ballet clássico tornou-se uma modalidade que possui muitos adeptos, pois é visto como uma dança expressiva, na qual envolve movimentos harmônicos e precisos. Para o praticante, o ballet clássico proporciona autoconfiança, aprimoramento de personalidade, elevação na autoestima, superação de desafios, enfim, enriquece as qualidades internas e externas do indivíduo (MALANGA, 1985). É a essência do ensino do ballet clássico, segundo Achcar (1998), a beleza corporal, a visão, a precisão, a coordenação, a flexibilidade, a tenacidade, a imaginação e a expressão. Apesar de tantos benefícios, o ballet clássico é caracterizado pela busca constante de padrões estéticos de movimentos precisos e controlados, a qual requer uma exigência corporal intensa e complexa, impondo um conceito de perfeccionismo, distante da realidade anatômica e fisiológica do indivíduo, predispondo-o a ocorrência de inúmeras lesões mediante os fatores intrínsecos e extrínsecos (MACEDO, 2007). No final do século XVII, Pierre Beauchamp criou as cinco posições básicas dos pés nesta modalidade de dança, as quais, segundo Agostini (2010) se tornaram a base de todo o aprendizado acadêmico do ballet clássico. A programação da aula de ballet, de acordo com Haas (2011), é formada por exercícios na barra e centro da sala, onde são realizados exercícios que desenvolvem o equilíbrio, o controle muscular, a flexibilidade, o ritmo e a agilidade. Leal (1998) cita que é necessário um elevado nível técnico associado à constante melhora do desempenho para o alcance da perfeição do movimento. É devido a esses fatores, que segundo Agostini (2009), se faz necessário uma constante aliança entre a preparação física, expressões artísticas dramáticas e o contraste do desenvolvimento de força e da leveza com que o bailarino tem que incansavelmente equilibrar. Todos os exercícios do ballet clássico são realizados em en dehors, do francês, para fora. Os exercícios são feitos de modo a desenvolver e maximizar o nível de en dehors, que consiste na rotação externa dos membros inferiores (AGOSTINI, 2009). Os exercícios do ballet, de acordo com Caminada (2008), trabalham a busca da verticalidade, o alongamento, a extensão, a flexão, a impulsão, o controle, a coordenação e 182 tem o sentido estético e artístico como objetivo final. Considerando então que o ballet clássico é uma modalidade que compõem padrões de movimentos não anatômicos, esses movimentos, de acordo com Kadel, et al. (1992), estão associados a características musculoesqueléticas e características fisiológicas variadas, que diferenciam o ballet clássico das práticas desportivas, conduzindo assim, a bailarina clássica que regularmente executa esses movimentos a um grupo peculiar de lesões associadas. Existe a exigência de uma performance perfeita para que a bailarina seja considerada perfeita, ou quase, já que chegar à perfeição dentro do ballet é humanamente impossível. Para que possa chegar o mais perto possível desta perfeição existe uma dedicação da bailarina, fazendo com que ela ultrapasse, muitas vezes, o seu limite, acarretando lesões, causadas, algumas vezes, por quedas, erros de execução devido ao treinamento intenso, aumento da adrenalina na hora de uma apresentação, dentre outros fatores (VILAS BÔAS; GHIROTTO, 2006). De acordo com o Sistema de Registro Nacional de Lesões Atléticas dos Estados Unidos (NAIRS), lesões é o acontecimento que limita a participação do atleta por, no mínimo, um dia após sua ocorrência. Para obter um desempenho adequado no ballet clássico, é necessário desenvolver amplamente habilidades físicas como: força, amplitude articular, flexibilidade, resistência, coordenação, velocidade e equilíbrio. Sendo assim, é preciso que o dançarino desta modalidade realize os exercícios propostos repetitivamente. Essa repetição leva a alterações na biomecânica do sistema musculoesquelético ligamentar, comprometendo sua função e aumentando sua predisposição a lesões, devido à sobrecarga, principalmente nos membros inferiores (pés, tornozelos, joelhos e quadris), gerando um desequilíbrio entre os grupos musculares. Estudos demonstram que o aparecimento de lesões no ballet clássico está diretamente relacionado a treinamentos e instruções incorretas, excesso de exercícios e estresse (GUIMARÃES; SIMAS, 2001; PALAZZI et al., 1992). Sendo assim, a informação sobre a elaboração de um trabalho preventivo é de extrema importância, a fim de diminuir os riscos de lesões e consequências futuras. Dessa forma, as pessoas poderão tomar decisões mais corretas, com maior consciência, como qual a hora certa de parar um ensaio ou o momento de voltar a eles após uma lesão (FITT, 1996). De acordo com Solomon (1991), problemas ortopédicos como, por exemplo, pé chato, calosidades, joanetes, pés de garra (dedos encolhidos) e bolhas aparecem fortemente com a prática do ballet. Segundo Achcar (1998), isso ocorre principalmente devido o uso das sapatilhas de ponta. Schafle (1996) descreve que a falta de força no pé e no tornozelo pode resultar em entorses agudas do tornozelo ou lesões por uso excessivo, tais como tendinite peroneira, tendinite do Aquiles e tendinite tibial posterior. Segundo Palazzi et al. (1992), as lesões que mais acontecem são as de pé e tornozelo, seguidas das de joelho e quadril, e as menos comuns são as de membros superiores. A fim de evitar lesões, os bailarinos devem seguir um programa de exercícios para extremidades inferiores, composto por fortalecimento, alongamento, conscientização corporal e propriocepção. Os exercícios de fortalecimento podem ser feitos de forma variada, fazendo uso de theraband (figura 1), caneleiras, aparelhos apropriados para fortalecimento muscular e descarga de peso (SALLES, 2008). Figura 1. Exercício de fortalecimento, com resistência de theraband. Extraído e modificado de Foot Strengthening Exercises – Ballet, 2013. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 183 Muitas vezes essas lesões poderiam ser evitadas. Miller et al. (1992) relata que muitas dessas lesões ocorrem pela orientação incorreta por parte dos instrutores. Diante desta situação, o objetivo desta pesquisa foi a análise da incidência e os tipos de lesões musculoesqueléticas em atletas praticantes de ballet clássico em academias dos municípios de Pedreira e Jaguariúna – SP, entre os meses de março a novembro de 2012, com a descrição do local corpóreo afetado, o momento da ocorrência da lesão - durante a aula, ensaio, ou apresentação - e a descrição das possíveis causas das ocorrências dessas lesões. Outro ponto que justifica o interesse para realização desse estudo é o reduzido número de publicações que abordam este assunto no contexto regional e local. 2. METODOLOGIA O trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Jaguariúna (FAJ), nº 027/2012. Todos os indivíduos da presente pesquisa foram estudados respeitando as normas de pesquisa envolvendo seres humanos (Res. CNS 196/96) do Conselho Nacional de Saúde. A amostra utilizada para esta pesquisa foi constituída por 50 atletas do sexo feminino, com idade variando entre 12 e 21 anos, que cursavam regularmente a modalidade de ballet clássico, por no mínimo seis meses, em academias dos municípios de Pedreira e Jaguariúna, localizados no interior do Estado de São Paulo. Posteriormente à aprovação do CEP da FAJ, foi solicitada a autorização da direção das escolas e/ou academias de Ballet mediante termo de consentimento para a realização da pesquisa nos próprios estabelecimentos de ensino. Após autorização da direção das escolas de dança, solicitou-se aos participantes que concordassem em participar da pesquisa, mediante o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE. Como critérios de inclusão da amostra no estudo foi levado em consideração o fato das participantes estarem regularmente Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 inscritas nas escolas de dança para a modalidade de ballet clássico por no mínimo seis meses, sendo selecionadas de forma não probabilística intencional e independentemente da raça. Desta forma, após assinatura do TCLE, os dados foram coletados no período de 1º de março a 30 de novembro do ano de 2012, onde cada integrante da amostra passou por uma entrevista estruturada, pré-agendada e fora dos horários de aula, nas academias onde as alunas praticavam o ballet clássico. Os encontros duraram cerca de 30 minutos. Para o estudo, foi considerada lesão desportiva aquela em que o atleta permanece até 24 horas sem poder atuar em sua prática esportiva após o acontecimento que trouxe a lesão, segundo a classificação da NAIRS (Sistema de Registro Nacional de Lesão Atlética). Após a coleta de dados, as informações foram digitadas e tabuladas em banco de dados do programa Microsoft Excel 2010 para as análises estatísticas de frequência e média. A finalização deste trabalho ocorreu com a comparação dos dados observados com os resultados descritos na literatura. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa contou com a participação de 50 dançarinas de ballet clássico, com idade mínima de 12 e máxima de 21 anos com uma média de idade geral de 15,9 anos com um desvio padrão de 2,33 e uma média de periodicidade semanal de treino de 2,02 vezes com duração de 2 horas (120 minutos). Da amostra estudada, 39 atletas (78%) sofreram um ou mais tipos de lesões com a prática de ballet clássico, totalizando 100 lesões que podem ser observadas na Tabela 1. Quanto ao tipo de lesão, a bolha representou 22 casos dentre as atletas investigadas, respondendo por 22% da incidência das lesões; o calo 17 (17%); hematomas 15 (15%); e tendinite 11 casos (11%), sendo essas lesões responsáveis por 65% do total das lesões relatadas figura 2. 184 Tabela 1. Tipo de lesão, incidência e percentual na amostra. Tipo de lesão Nº de lesões Freq. (%) Bolha 22 22,0 Calo 17 17,0 Hematoma 15 15,0 Tendinite 11 11,0 Entorse 09 9,0 Distensão/Estiramento Muscular (tendão) 09 08 9,0 8,0 Fratura 03 3,0 Luxação 03 3,0 Contusão 01 1,0 Abrasão 01 1,0 Outros 01 1,0 100 100% Total Figura 2. Gráfico da incidência das lesões segundo o tipo de lesão. Monteiro e Grego (2003) descrevem que, na dança, o uso de sapatilha nova, exercícios prolongados, locais inadequados de prática, uso de sapatos apertados, atividades que solicitem paradas e mudanças repentinas de direção favorecem a ocorrência de bolhas. A profilaxia consiste em usar calçado confortável na região do hálux e dos demais dedos. A bailarina deve retornar de forma gradual à atividade após um período de afastamento para regeneração dos tecidos comprometidos. Grego (2002) descreve que a falta de técnica e o uso excessivo da articulação tornam esse grupo mais suscetível ao surgimento de lesões musculoesqueléticas e desalinhamentos Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 articulares. Outros fatores predisponentes são o uso de calçados inadequados, solo irregular, inadequada força muscular e longas horas de práticas. Em relação à localização da lesão, a pesquisa indicou que houve 10 locais lesionados num total de 100 lesões, sendo que os mais acometidos foram os pés com uma incidência de 35 casos, representando 35%; seguido do tornozelo e coxa, com 15 casos cada (15%); joelho 13 (13%); e panturrilha 10 casos (10%), como mostra a Tabela 2. Hardaker et al. (1985), desenvolveu uma pesquisa de três anos com 200 bailarinas participantes do American Dance Festival. 185 Durante essa pesquisa foram encontrados diversos tipos de lesões, totalizando um valor de 211 lesões, sendo constatado que 38% das mesmas localizavam-se nos pés e tornozelos, corroborando com os dados deste estudo. Tabela 2. Localização das lesões, incidência e percentual na amostra. Local da lesão Nº Lesões/local Freq. (%) Pé 35 35,0 Tornozelo 15 15,0 Coxa 15 15,0 Joelho 13 13,0 Panturrilha 10 10,0 Braço 06 6,0 Virilha 03 3,0 Costas 01 1,0 Ombro 01 1,0 Mão 01 1,0 Total 100 100% A Tabela 2 mostra que os locais mais lesionados com a prática de ballet clássico foram os pés, tornozelo, coxa e joelho, respectivamente, representando 68% das lesões. Estes resultados demonstram que a sobrecarga oferecida aos membros inferiores é intensa neste tipo de dança. Os dados apresentados corroboram com o estudo de Solomon et al (1995), que investigando o Boston Ballet, observou que em um único ano ocorreram 137 lesões em 70 bailarinos do corpo de baile, dentre as quais, 73% se concentram nos membros inferiores. Simpson e Danter (1997) também apontam que cerca de 86% das lesões reportadas por bailarinas são na porção inferior do aparelho locomotor, mais especificamente nos pés e tornozelos. Em relação ao momento de ocorrência das lesões, pôde-se constatar que 56,9% aconteceram durante a aula, 31,4% nos ensaios e 11,8% nas apresentações, visto que estas se deram em sua grande parte por execução durante sessões de exercícios (45,1%), seguida das lesões identificadas depois de um prazo mais longo (27,5%), lesões ocasionadas por quedas (13,7%), geradas por colisões (9,8%), e por fim, as lesões justificadas como outras (3,9%). Quanto aos motivos que proporcionaram as lesões, as participantes associaram sua ocorrência principalmente quanto à técnica da modalidade, representando 60,8%; em relação ao ambiente Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 de desenvolvimento da técnica 23,1% das lesões; método de ensino utilizado pelo professor 10,3%; e 5,8% descritos como outros motivos que levaram a ocorrência de lesões. 4. CONCLUSÃO Mediante a análise dos resultados obtidos é possível observar que a prática do ballet clássico é um tanto quanto agressiva ao corpo de seus praticantes, pois os índices de acometimento de algumas lesões foram significativos e em sua maioria aconteceram devido à técnica exigida da modalidade como a execução de movimentos que ultrapassem as amplitudes articulares normais, acarretando, com isso, o surgimento de diversas lesões em diferentes partes do corpo. As participantes desta pesquisa associaram a existência da lesão à qualidade da aula, pois esses fatores seguem de maneira diretamente proporcional, onde quanto maior o número de lesões sofridas pelas entrevistadas, melhor era a qualificação da aula dada pelo professor. Espera-se que este estudo possa proporcionar aos professores desta modalidade um conhecimento ampliado para que eles possam atuar de forma preventiva analisando o ambiente, reduzindo a exposição do praticante a acidentes, podendo este utilizar uma metodologia de ensino coerente, e ao mesmo tempo, orientar as bailarinas e as demais pessoas envolvidas a terem uma consciência sobre as causas das lesões e os 186 meios de lidar com elas, a fim de diminuir a sua incidência pela prática do ballet clássico. Por fim, vale apontar a necessidade de estudos que venham confirmar e evidenciar que as lesões podem e devem ser evitadas a partir de amostras significativas e modelos de prevenção e conhecimento das realidades de práticas dessa modalidade. theatrical dancers. Foot & Ankle. v. 6, n. 2, 1985. HASS, J. G. Anatomia da Dança. São Paulo: Manole, 2011. KADEL, N. J.; TIETZ, C. C; KRONMAL, R. A. Stress fractures in ballet dancers. Am j Sports, v. 20, n. 4, p. 445-449, 1992. 5. REFERÊNCIAS ACHCAR, D. Ballet: uma arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 1998. AGOSTINI, B. R. Ballet Clássico preparação física, aspectos cinesiológicos, metodologia e desenvolvimento motor. Jundiaí: Fontoura, 2010. AGOSTINI, B. R. Adaptação do método Vaganova de Ballet clássico na ginástica rítmica: uma experiência em meninas de 09-11 anos. Fortaleza: 2009. 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A dimensão compreensiva de sua sociologia, a vinculação entre ética protestante e o espírito do capitalismo, a racionalização da modernidade e a organização burocrática são elencadas de modo meramente descritivo, sem pretensões críticas ou aprofundamentos teóricos. Palavras-chave: sociologia compreensiva; ética protestante; espírito do capitalismo; racionalização da modernidade; ação social. ABSTRACT The objective of this work is to present, briefly, some points of the thought of Max Weber. Of fundamental importance for the understanding of modern society, the weberian work is vast and deeply rich. Their analysis guide interpretations sociological, anthropological, economic, epistemological and philosophical indispensable for learners, teachers and professionals in the most diverse backgrounds. The comprehensive dimension of its sociology, the linking of Protestant ethic and the spirit of capitalism, the rationalisation of modernity and the bureaucratic organization are listed so purely descriptive, without pretensions or critical theoretical reflection. Keywords: comprehensive sociology; Protestant ethic; spirit of capitalism; rationalisation of modernity; social action. ******** 8 Mestre em Ciências Sociais, docente do Instituto de Ensino Superior de Itapira e Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo. E-mail: [email protected] Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 189 1. METODOLOGIA Na realização deste artigo descritivo foi efetuado o levantamento de obras de autores estrangeiros e nacionais que abordaram o pensamento e a vida de Weber. A seleção das obras se baseou nos seguintes critérios: a) a pertinência e a possibilidade de dados para um contato primário, geral, com as ideias do autor em questão; b) a existência das mesmas no idioma português. Além das obras de comentaristas, foram pesquisadas e citadas obras do próprio autor, todas com tradução em português. O universo de pesquisa, leitura e citação consta de dezesseis (16) obras. Teoricamente, o presente trabalho pouco apresenta às discussões do pensamento weberiano. O objetivo, acima referido, foi delinear de forma geral alguns pontos do vasto sistema de ideias de Weber, possibilitando, a alunos de graduação dos primeiros anos dos cursos de Administração e Direito, além de outros, um primeiro contato com os conceitos desta vertente clássica da sociologia. 2. ASPECTOS BIOGRÁFICOS Filho da Alemanha, Max Weber nasceu em 1864 e faleceu em 1920. Inserido num ambiente doméstico estimulante de debates e reflexões, desde criança desenvolveu uma aplicação sistemática pelos estudos. Brilhante estudante se transforma num excelente acadêmico. Todavia, sua carreira como professor universitário sofre reveses decorrentes de agravamentos em seu estado de saúde. Vivencia períodos de esgotamento nervoso com períodos de intensa atividade 1 intelectual . Residindo até os 30 anos na companhia dos pais, num ambiente que oscilava entre as reuniões políticas do pai e o 2 retraimento devocional materno , Weber apresentaria, por toda a vida, um duplo impulso ao isolamento e à participação. Essa 1 Em 1894 assume a Cátedra de Economia da Universidade de Freiburg. No ano de 1896, aceitou um cargo na Universidade de Heidelberg. Não obstante o brilhantismo de sua carreira, ocupou um cargo acadêmico regular por apenas cinco anos (1893 – 1897). Seu grave estado psicopatológico o forçou a abandonar o trabalho aos 33 anos. Em 1918, após a capitulação alemã, torna-se consultor junto à delegação alemã em Versalhes e membro da comissão que redigiu a Constituição de Weimar. 2 Seu pai, descendente de uma família de fabricantes de tecidos do Oeste da Alemanha, era um advogado abastado, parlamentar nacional-liberal na época de Bismarck. Sua mãe era uma mulher culta e devota, cujos interesses humanitários e religiosos não eram compartilhados por seu marido. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 ambivalência entre retraimento e ação enérgica norteou aspectos importantes de sua obra. Provavelmente, suas crises nervosas foram devidas a essa ambiguidade. No papel de professor, Weber optou pela objetividade da ciência, por explanações despidas de juízos de valor, porém, emprestava às suas aulas uma intensa paixão. Em seu parecer “numa sala de aula, nenhuma virtude excede, em valor, a da probidade intelectual” 3 (WEBER, 1970, p. 51) . Na esfera da vida pública, embora nunca tenha sido um político, Weber jamais deixou de sonhar com essa possibilidade. Em seu peito debatiam-se, ferozmente, a objetividade do cientista com o anseio prático do político. Ele continuamente empreendeu esforços simultâneos para ser um homem de ciências com vigor enérgico mais comum em um homem de ação, e para ser um homem de ação com todo o rigor ético e distanciamento pessoal mais comum em um homem de ciência (BENDIX, 1986, p. 35). “A sobriedade de seu ensino só encontrava paralelo na paixão com que defendia suas posições pessoais em público” (FREUND, 2000; p. 19). 3. SOCIOLOGIA COMPREENSIVA Na perspectiva weberiana a sociologia é uma ciência da conduta humana, na medida em que esta conduta mostra-se social. Cabelhe, portanto, compreender a ação social. A compreensão implica a percepção do sentido que cada ator atribui à sua conduta; supondo que a ação humana possui uma inteligibilidade intrínseca, que vem do fato de que os homens são dotados de consciência. A sociologia de Weber, “trata da ação social apenas na medida em que esta tem algum significado subjetivo para as pessoas envolvidas” (BENDIX, 1986, p. 229). Devido a esse propósito, sua sociologia é conhecida como “sociologia compreensiva”. A ação é social quando encerra certa possibilidade de ser compreendida. “A ação social (incluindo tolerância ou omissão) orienta-se pelas ações de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa 3 “O verdadeiro professor se impedirá de impor, do alto de sua cátedra, uma tomada de posição qualquer, seja abertamente, seja por sugestão – pois a maneira mais desleal é evidentemente a que consiste em ‘deixar os fatos falarem’”. Para o professor “uma coisa é tomar uma posição política prática, e outra coisa é analisar cientificamente as estruturas políticas e as doutrinas de partidos” (WEBER, 1970, p.p. 38, 39). 190 diante de ataques futuros). Os ‘outros’ podem ser individualizados e conhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos indeterminados e completamente desconhecidos” (WEBER, 2002, p. 117). A relação social se “refere à conduta de múltiplos agentes que se orientam reciprocamente em conformidade com um conteúdo específico do próprio sentido das suas ações” (COHN, 2003, p. 30). Na interpretação de Aron (1990, p. 509), os termos fundamentais da sociologia weberiana são “compreender (verstehen), interpretar (deuten) e explicar (erklären), respectivamente, apreender a significação, organizar o sentido subjetivo em conceitos e evidenciar as regularidades das condutas”. A compreensão da ação envolve a possibilidade de que o outro seja capaz de reconstruir a articulação dos fins, meios e consequências da ação. A maior probabilidade de compreender as motivações da ação social recai sobre o sociólogo. A sociologia compreensiva weberiana apresenta diferenças em relação às de 4 Durkheim e Marx . A sociologia compreensiva se apresenta como contrapartida da reificação da sociedade, entendida como entidade transcendente, realizada por Durkheim, e como crítica ao mundo objetivo, construída por Marx em sua referência à sociedade global. A sociologia da compreensão retoma o polo recusado pela sociologia de Durkheim e define os fenômenos sociais a partir das 5 condutas individuais ; contestando, também, a 4 Karl Marx (1818 – 1883) é considerado um dos grandes nomes do pensamento social. Desenvolveu uma teoria da história conhecida como materialismo dialético, onde afirma ser a luta de classes o motor das transformações sociais. Apresenta a sociedade capitalista do século XIX cindida em duas classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. É autor de profunda análise da economia e da sociedade capitalistas – a obra “O Capital”. Émile Durkheim (1858 – 1917) desenvolveu as regras do método sociológico em continuidade à tradição positivista de Augusto Comte (1798 – 1857). Afirma a irredutibilidade do social ao individual, expressando a impossibilidade de considerar o sujeito individual como agente da história. . O indivíduo interioriza o social, a saber, modos de agir, sentir e pensar mediante a moral, a educação, o direito, etc.. Nesse sentido, a coerção exercida pelo social é positiva, pois integradora do individual. As leituras de Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber são consideradas as matrizes clássicas do pensamento sociológico. 5 Nos dizeres de Martins (1994, p. 65) “a sociologia por ele desenvolvida considerava o indivíduo e a sua ação como ponto chave da investigação. No parecer de Freund (2000, p. 73), “sendo uma disciplina empírica, a sociologia não Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 tese marxista de que a consciência do indivíduo é determinada por sua classe social. Os valores, segundo Weber, não estão, no essencial, atrelados às classes sociais, aos interesses econômicos, mas a culturas, nações ou religiões distintas e/ ou opostas. Weber emprega a denominação de sociologia compreensiva não com a intenção de privilegiar a compreensão relativamente à explicação, “nem tampouco de condenar as outras orientações da sociologia, mas pretende apenas marcar suas insuficiências, por vezes deliberadas, e acentuar a estreiteza de certos pontos de vista. Ela é compreensiva no sentido em que abre novas perspectivas à sociologia tradicional”. “A questão weberiana é, pois, a seguinte: em que medida a compreensão é um processo capaz de elaborar, em sociologia, verdades válidas para todos os que querem a verdade?” (FREUND, 2000, p.p. 70, 72). Com base nas motivações da ação social, Weber constrói uma tipologia. Faz a distinção entre quatro tipos de ação: A. Ação racional com relação a um objetivo (fins): é “determinada por expectativas no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros homens, e utilizando essas expectativas como ‘condições’ ou ‘meios’ para alcançar fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos”. “Age racionalmente com relação a fins aquele que orienta sua ação conforme o fim, meios e consequências implicadas nela e nisso avalia racionalmente os meios relativamente aos fins, os fins com relação às consequências implicados e os diferentes fins possíveis entre si” (WEBER, 2002, p.p.118, 119). A ação é definida pelo fato de que o ator concebe claramente seu objetivo e combina os meios disponíveis para atingi-lo: o engenheiro que constrói uma ponte; o general que quer ganhar uma batalha. A racionalidade com relação a um objetivo é definida em função dos conhecimentos do ator e não do observador. B. Ação racional com relação a um valor: é “determinada pela crença consciente no valor interpretado como ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma – próprio e absoluto de uma determinada conduta, considerada de per si e independente de êxito”. “Age de modo estritamente racional com relação a valores quem, sem considerar as consequências previsíveis, se comporta segundo suas conhece outra compreensão além da do sentido visado subjetivamente por agentes, no curso de uma atividade concreta”. 191 convicções sobre o que o dever, a dignidade, a beleza, a sabedoria religiosa, a piedade ou a importância de uma ‘causa’, qualquer que seja seu gênero, parecem lhe ordenar. Uma ação racional com relação a valores é sempre (...) uma ação segundo ‘mandatos’ ou de acordo com exigências’ que o agente acredita serem dirigidos para ele” (WEBER, 2002, p.p. 118, 119). A ação é racional não porque tende a alcançar um objetivo definido e exterior. O ator age racionalmente, aceitando todos os riscos, para permanecer fiel a um valor. C. Ação afetiva: é a ação especialmente emotiva, determinada por afetos e estados sentimentais atuais. “Age afetivamente quem satisfaz sua necessidade atual de vingança, de gozo ou de entrega, de beatitude contemplativa ou de dar vazão a suas paixões de momento (sejam toscas ou sublimes)” (WEBER, 2002, p. 119). É a ação ditada imediatamente pelo estado de consciência ou o humor do sujeito. A ação é definida por uma reação emocional do ator, em determinadas circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valores. D. Ação tradicional: é aquela ditada pelos hábitos, costumes, e crenças, transformada numa segunda natureza. Para agir de conformidade com a tradição, o ator não precisa conceber um objetivo, ou um valor, nem ser impelido por uma emoção; obedece simplesmente a reflexos enraizados por longa prática. O autor ressalta que a tipologia, acima referida, não corresponde a uma classificação exaustiva, mas a tipos 6 conceituais construídos para fins da pesquisa sociológica. No cotidiano, raras vezes a ação está exclusivamente orientada por um ou outro desses tipos. O mais comum é a ação resultar de uma mescla desses tipos. Através dessa tipologia, percebe-se que os valores estão relacionados com a ação social dos indivíduos como agentes históricos. Nesta perspectiva, Weber adota uma posição singular, visto que os valores vinculados à ação 6 Weber emprega “tipos ideais”: na sua tipologia da ação social, na definição da individualidade do capitalismo ocidental e na apresentação das formas de dominação. A concepção do “tipo ideal” é, “de certo modo, o centro da doutrina epistemológica de Max Weber” (ARON, 1990, p. 482). É “um instrumento de orientação na realidade empírica e meio para a elaboração de hipóteses” (COHN, 2003, p. 29). O tipo ideal não existe, de forma pura, na realidade. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 individual não são decorrentes de um determinismo econômico, sugerido por Marx, e, tampouco, impostos pela transcendentalidade do todo social, apregoada pela escola de Durkheim. No prisma weberiano, as condutas sociais têm uma textura inteligível que as ciências da realidade humana são capazes de apreender. A compreensão dos sentidos subjetivos resulta numa classificação dos tipos de conduta e leva à percepção de sua estrutura inteligível. Cabe ressaltar que, obviamente, a compreensão sociológica não se confunde com a compreensão psicológica. “A esfera autônoma da inteligibilidade social não abrange a da inteligibilidade psicológica” (ARON, 1990, p. 469). 4. RACIONALIZAÇÃO: RACIONALIDADE IRRACIONAL DO NOSSO MUNDO A questão dos valores, na sociologia weberiana, é salutar para a compreensão de sua interpretação da época contemporânea. Afirma que o traço característico do mundo em que vivemos é a racionalização. A sociedade moderna corresponde a uma ampliação da esfera das ações racionais com relação a um objetivo: o empreendimento econômico é racional; a gestão do Estado pela burocracia é racional. A sociedade moderna tende toda ela à organização racional, e o problema filosófico do nosso tempo consiste em delimitar o setor da sociedade onde subsiste e deve subsistir uma ação de outro tipo. O desenvolvimento do racionalismo na civilização ocidental ocupou toda a sua produção acadêmica. Esboçaremos alguns aspectos desse processo ao abordarmos, nos tópicos 6 e 7, o desenvolvimento do espírito do capitalismo e da dominação burocrática. Weber interpreta a racionalização como fenômeno peculiar ao ocidente. “A racionalização, como ele a compreende, que ele por vezes associava à noção de intelectualização, é o resultado da especialização científica e da diferenciação técnica peculiar à civilização ocidental” (FREUND, 2000, p. 19). Weber assume o processo de racionalização da civilização ocidental como “desencantamento do mundo”. Essa racionalização que não se limita a um setor determinado ou privilegiado da atividade humana, penetrou em todo o conjunto da vida e se propagou pelo mundo inteiro. Racionalização interpretada como intelectualização progressiva da vida, despojando o mundo de seus encantos e de sua 192 poesia, desencantando-o. A realidade desencantada tornou-se monótona, plena e prosaica. A sociedade definida pelos seguintes traços: planejamento calculado, ordem, estabilidade, controle, segurança, especialização compartimentada em todas as instituições políticas, sociais, econômicas e científicas. Sociedade aparelhada que subjugou o indivíduo, promovendo a compartimentação do homem através de sua especialização, limitando, extremamente sua liberdade e espontaneidade. Contudo, Weber visualiza a irracionalidade característica que se forma no processo de racionalização. “Tal como aquele que era originalmente um mero meio (...) tornou-se um fim ou um fim em si mesmo, as ações pretendidas como um meio tornam-se independentes ao invés de orientadas para um fim e precisamente assim perdem seu ‘sentido’ ou fim original, isto é, sua racionalidade orientada para um fim, baseado no homem e suas necessidades. Esse oposto, entretanto, marca toda a cultura moderna: seus establishments, instituições e empreendimentos são racionalizados de tal maneira que essas estruturas, originalmente preparadas pelo homem, agora, por sua vez, o envolvem e determinam como uma ‘prisão’. (...) O próprio Weber declara que é aqui que repousa o problema cultural da racionalização para o irracional” (LOEWITH, 2002, p. 130, grifo nosso) Como conclusão deste módulo, mostra-se plausível a afirmação de que o padrão verdadeiramente valioso, pelo qual Weber julga o fato histórico da racionalização é seu inverso aparente: a irracionalidade. Mais “precisamente a liberdade do indivíduo, dependente e responsável apenas por si mesmo, o ‘herói humano’ em relação ao domínio das ‘ordens’, ‘instalações’ e establishments da vida moderna que vieram existir através da racionalização” (LOEWITH, 2002, p.p. 126, 127). “Ao mesmo tempo que aceitava a racionalização como um dado, bem como suas consequências, como a especialização, o legalismo jurídico, etc., ele reivindicava (...) a liberdade de escolha (...). Atemorizava-se ante a ideia de que a racionalização que controla a esfera das relações externas entre os homens pudesse subjugar a alma à burocratização e ao puro utilitarismo técnico” (FREUND, 2000, p. 110). 5. “NEUTRALIDADE AXIOLÓGICA” OU O PRIMADO DA OBJETIVIDADE DA CIÊNCIA Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Na opinião abalizada de Freund (2000, p.p. 13, 25), Weber “foi certamente o primeiro a ter implantado na prática a sociologia sobre bases rigorosamente científicas”, “com ausência de qualquer doutrina pré-concebida e de qualquer síntese a priori. Ele é um puro analista, preocupado apenas em conhecer bem os dados históricos e em interpretá-los dentro dos limites controláveis”. Segundo Weber, a ciência faz parte do processo de racionalização característico das sociedades ocidentais modernas e a ação do cientista é racional com referência a um objetivo: analisar e compreender a ação do indivíduo. A racionalidade resulta do respeito pelas regras da lógica e da pesquisa: sob todos os aspectos, o cientista deve esforçar-se em fornecer ao interlocutor a possibilidade de controlar a precisão de seu raciocínio e a solidez de suas considerações. A ciência apresenta duas características: I) o não acabamento essencial: refuta a posição (de Comte e Durkheim) de uma ciência social acabada. A ciência moderna é por essência um devenir. Seu traço substantivo é a contínua superação (ARON, 1990, p. 467). A obsolescência é o destino de todo trabalho científico (WEBER, 1979, p. 29). II) objetividade: fundamenta a validade da ciência para todos os que procuram esse tipo de verdade, e se caracteriza pela rejeição aos juízos de valor. A validade universal da ciência exige que o cientista não projete seus próprios juízos de valor na investigação em que está empenhado; que não a contamine com suas preferências estéticas ou políticas (ARON, 1990, p. 467). Weber assevera que a escolha do tema de trabalho e dos pressupostos teóricos envolve valores. Todavia, aponta uma diferença entre relações com valores e manifestação de valores (LOEWITH, 2002).. A “neutralidade axiológica” é definida, em Weber, pela busca de objetividade e pela posição de que a ciência não deve e não pode dizer aos homens como devem viver, ou ensinar às sociedades como devem se organizar. Weber refuta a possibilidade de a ciência indicar à humanidade qual é o seu futuro (ARON, 1990, p. 473). A ciência contribui com “certo número de conhecimentos que nos permitem dominar tecnicamente a vida por meio da previsão”. Proporciona métodos de pensamento, instrumentos e uma disciplina que colaboram para avaliar a adequação ou inadequação dos meios empregados para alcançar os fins estipulados. Porém, ela não proporciona resposta alguma em relação ao sentido e finalidade que os indivíduos e a 193 sociedade devem adotar (WEBER, 1979, p.p. 36, 46). Envergando a bandeira da “neutralidade axiológica”, Weber hostilizou as “vastas construções que, sob o pretexto de racionalizar as previsões se perdem em um conjunto de profecias de caráter divinatório” (FREUND, 2000, p. 16). Combateu as sociologias do século XIX que se prenderam ao determinismo de um único fator, como o econômico, em Marx. Na propositura weberiana, toda ciência histórica e cultural representa um ponto de vista parcial. É possível focalizar um objeto através de várias perspectivas de análise. Todos os pontos de vista são válidos desde que o sociólogo submeta sua análise a regras objetivas de verificação, de modo a se livrar dos julgamentos de valor e empreender a neutralidade da análise. O desenvolvimento da leitura sociológica weberiana recusa um único enfoque absoluto. Ele erigiu a premissa de uma pluralidade de esferas de valor como mediação de uma realidade multifacetada. Weber interpretava toda generalização como uma vitória precária sobre a infinita complexidade dos fatos. Censurou a busca de “fatos últimos” e “leis gerais” (LOEWITH, 2002, p. 122). A diversidade do real é infinita do ponto de vista extensivo e intensivo. Essa diversidade não pode ser captada na sua totalidade. Quanto maior o número de pontos de vista assumidos na análise, maior a probabilidade de um entendimento mais amplo, porém, não total. “Nenhuma ciência particular, nem o conjunto das ciências, tem condições para satisfazer nosso saber, porque o entendimento não é capaz de reproduzir ou copiar o real, mas unicamente de elaborá-lo por força de conceitos. Entre o real e o conceito a distância é infinita.” (FREUND, 2000, p. 12). As variadas perspectivas de abordagem e análise da realidade são as esferas de valor. As diversas ordens de valores se defrontam no mundo, em luta incessante. Essas esferas se apresentam como deuses que se combatem (a religião, a ética, a ciência, a estética, a política, o direito, etc.). A compreensão da realidade varia de acordo com a esfera adotada como referencial. Além dessa diversidade, Weber demonstrou a 7 independência entre as esferas . Por vezes 7 Sua apresentação desconstrói algumas falsas noções ou lugares comuns que alimentamos em função de nossa submissão a mecanismos ideológicos. Através da leitura weberiana podemos perceber que a beleza não é Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 essas esferas podem desenvolver afinidades, mas não obrigatoriamente. O conceito de “afinidades eletivas” é utilizado para indicar a possibilidade de uma relação causal entre dois fenômenos ou elementos. Não é uma relação causal determinista, mas de causalidade sociológica, indicando uma probabilidade: o evento A pode favorecer mais ou menos fortemente o evento B. 6. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO 6.1. A ética protestante É no sentido das “afinidades eletivas” que Weber realiza primorosa análise dos valores da ação social capitalista. Apresentou conexões históricas entre a ética protestante e a economia. Neste enfoque do capitalismo do ponto de vista da moral religiosa, a sociologia weberiana não estabelece a causalidade entre o protestantismo e o capitalismo, mas elucida a existência de probabilidades entre eles. A hipótese avançada é que “certa interpretação do protestantismo criou algumas das motivações que favoreceram a formação do 8 regime capitalista” (ARON, 1990, p. 496) . A pergunta norteante da obra “A Ética 9 Protestante e o Espírito do Capitalismo” , pode ser expressa nas seguintes inquirições: “qual a combinação de fatores a que se pode atribuir o fato de na Civilização Ocidental, e somente na Civilização Ocidental, haverem aparecido fenômenos culturais dotados (...) de um necessariamente um atributo do bem, assim como a fealdade não é intrínseca ao mal. Uma “coisa pode ser santa não apenas sem ser bela, mas porque e na medida em que não é bela” (WEBER, 1979, p. 41). Podemos perceber, assim, que a lei não é integralmente moral e que a imoralidade não está excluída daquilo que é legal. Os dualismos e maniqueísmos se mostram infundados. 8 Freund (2000, p. 149) também elucida essa relação: “A fim de evitar qualquer mal-entendido, Weber acentua que não se deve dar à relação causal entre protestantismo e capitalismo o sentido de uma relação mecânica. O ethos protestante foi uma das fontes da racionalização da vida que contribuiu para formar o que ele chama o ‘espírito do capitalismo’. Não foi a causa única, nem mesmo bastante do próprio capitalismo”. 9 Essa obra é parcela integrante de um conjunto mais vasto de sua sociologia da religião. O interesse de Weber no desenvolvimento do capitalismo ocidental levou-o a desenvolver estudos comparativos sobre o confucionismo, o hinduísmo e o judaísmo. A pergunta basilar, desses estudos, consistiu nos motivos pelos quais o capitalismo se desenvolveu no Ocidente puritano e não em outras civilizações orientadas por outros conjuntos de valores e crenças religiosas. 194 desenvolvimento universal em seu valor e significado”? (WEBER, 1981, p. 1). Quais as origens desse sóbrio capitalismo burguês, com sua organização social do trabalho? Qual a origem da classe burguesa ocidental e de suas peculiaridades? Essas indagações encadeadas conduzem ao problema da peculiaridade do racionalismo ocidental. Ao abordar, minuciosamente, os traços dessa peculiaridade, a análise sociológica e histórica decifra a existência de afinidades eletivas entre a esfera da religião e a esfera da economia. O problema central da obra é deslindar o quanto as forças mágicas e religiosas, e os ideais éticos de dever delas decorrentes, favorecem os elementos formativos da conduta capitalista. A problemática weberiana trata das “relações entre o moderno ethos econômico e a ética do protestantismo ascético” (WEBER, 1981, p. 12). Parte da constatação de dois fenômenos: 1) “o fato de os líderes do mundo dos negócios e proprietários do capital, assim como dos níveis mais altos da mão-de-obra qualificada das grandes empresas” “serem preponderantemente protestantes” (WEBER, 1981, p. 19); 2) os países mais desenvolvidos economicamente adotaram no seu passado o puritanismo (calvinismo, anglicanismo, pietismo, metodismo). Em sua leitura, havia alguma razão intrínseca ou elemento particular no protestantismo que explicaria o fato dessa religião ter obrado no sentido de desenvolvimento do espírito do capitalismo. A razão seria a tendência específica para o racionalismo econômico que fora demonstrado pelos protestantes. Assim, “a religião reformada, mais do que outras parece ter promovido o desenvolvimento do espírito do capitalismo” (WEBER, 1981, p. 23). A religião reformada promovia a combinação de intensa religiosidade com um igualmente desenvolvido espírito mercantil: “um extraordinário senso comercial e capitalístico se mistura, nas mesmas pessoas e grupos, com as formas mais intensas de uma religiosidade que penetra em todos os setores e domina todas as suas vidas. Essa combinação é especialmente manifesta no calvinismo” (WEBER, 1981, p. 25). No protestantismo, o alheamento da vida “mundana” se tornou tão proverbial quanto a 10 sua riqueza . Plasmou-se uma afinidade entre 10 Weber (1981, p. 26) salienta que “nem todos os ramos do protestantismo, contudo, parecem ter tido forte influência nesse sentido”. O próprio Lutero teria, sem dúvida, repudiado violentamente qualquer parentesco com uma mentalidade capitalista. O calvinismo e outras camadas Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 certa visão religiosa do mundo e determinado estilo de atividade econômica. A elucidação nítida desse ponto solicita uma atenção mais prolongada de alguns dos pressupostos do calvinismo. Calvino defendia a tese da predestinação: a palavra de Deus e a 11 salvação são acessíveis somente aos eleitos . Certos indivíduos nasciam predestinados à salvação e outros à danação eterna. O que estava em questão não é a salvação, uma vez que todos estão desde sempre ou eleitos ou condenados, mas a glorificação de Deus. A glorificação não deveria ficar restrita a alguns e tampouco à esfera religiosa. Deveria ser realizada por todos (uma vez que não era possível ter certeza da salvação ou condenação prévia) e em todas as atividades do cotidiano. Na moralidade calvinista, cada homem deve executar seus afazeres – não apenas os religiosos – de modo laborioso, para a glória de Deus, de quem é um instrumento. A glorificação de Deus deve ser uma atividade sistemática, permanente e metódica. A doutrina da predestinação, como fundamento dogmático da moralidade puritana no sentido de uma conduta, favoreceu a ordenação racional sistemática da vida moral global e o desenvolvimento de uma racionalização econômica. De que modo isso pode ser verificado? Primeiramente através da valorização do trabalho sistemático. A doutrina da predestinação, com sua crença na irrevogabilidade dos desígnios divinos, gerava, no indivíduo, o sentimento de uma inacreditável solidão interna. Incerto de seu pertencimento ao grupo dos eleitos, o homem, por uma inclinação não lógica, mas psicológica, procurará no mundo os sinais de sua escolha. “Max Weber sugere que é assim que certas seitas calvinistas terminaram por ver no êxito econômico uma prova dessa escolha de Deus. O indivíduo se dedica ao trabalho para vencer a angústia provocada pela incerteza da salvação” (ARON, 1990, p. 498). O calvinismo atribuiu um significado religioso ao trabalho secular cotidiano, ao asseverar “que o próprio Deus abençoava seus escolhidos através do sucesso em seu trabalho” protestantes calvinistas (pietistas, metodistas e batistas) constituem a fé em torno da qual giraram os países capitalisticamente desenvolvidos (WEBER, 1981, p. 67). 11 Quando Weber fala do Calvinismo, pensa unicamente na área particular a certos meios calvinistas do fim do século XVII, e não na própria doutrina de Calvino (FREUND, 2000, p. 150). “Naquela época (...) a doutrina da predestinação era considerado seu dogma mais característico”. (WEBER, 1981, p. 71). 195 (WEBER, 1981, p. 93). Não se trata de buscar a salvação pelo trabalho, uma vez que a salvação é de antemão dada pelos desígnios divinos. Mas há quem trabalhe sistematicamente e seja bem sucedido, outros não. Para os calvinistas, isso deve ser sinal de que o bem sucedido é um dos eleitos, pois é por intermédio destes que Deus se glorifica melhor. O trabalho não é a causa da salvação, mas, se um homem se torna rico pelo trabalho é porque a riqueza conquistada é um sinal da eleição na vida levada asceticamente. O trabalho sistemático, metódico, perseverante e bem sucedido, além de sinal de graça e eleição, alicerçava a manutenção da autoconfiança, dirimindo as dúvidas sopradas pelo demônio. A valorização religiosa do trabalho despojou a conduta moral do homem de seu caráter não planejado e assistemático, sujeitando-a, como um todo, a um método consistente. O Deus dos calvinistas requeria de seus fiéis não apenas obras isoladas, mas coordenadas em um sistema unificado. O trabalho disciplinado passou a constituir a própria finalidade da vida. Na vida terrena, o “homem deve, para estar seguro do seu estado de graça, ‘trabalhar o dia todo em favor do que lhe foi destinado’. Não é, pois, o ócio e o prazer, mas apenas a atividade que serve para aumentar a glória de Deus de acordo com a inequívoca manifestação da Sua vontade”. “A perda de tempo, portanto, é o primeiro e o principal de todos os pecados (...), pois, de toda hora perdida no trabalho redunda uma perda de trabalho para a glorificação de Deus” (WEBER, 1981, p.p. 112). Weber pondera que a valorização religiosa do trabalho, como mais alto instrumento de ascese, e, ao mesmo tempo, como o mais seguro meio de preservação e redenção da fé, deve ter sido presumivelmente a mais poderosa alavanca da expressão dessa concepção de vida, que apontamos como espírito do capitalismo. Outro valor fundamental da ética protestante que, em consonância com a valorização do trabalho sistemático, favoreceu a acumulação capitalista, foi a restrição ao consumo, ao uso do dinheiro. Diferentemente da ética católica tradicional, as vertentes calvinistas justificavam eticamente a riqueza. A aquisição e acúmulo de capital são eticamente condenáveis somente na medida em que constituírem uma tentação para a vadiagem e para o aproveitamento pecaminoso da vida. Na ética dos calvinistas, deve-se evitar o mau uso da riqueza, como o consumo perdulário, dissipador, que afasta o homem do Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 trabalho. A riqueza acumulada pelo árduo esforço não deve ser canalizada para o desfrute dos prazeres mundanos, em termos consumistas. “A luta contra as tentações da carne e a dependência dos bens materiais era (...) não uma campanha contra o enriquecimento, mas contra o uso irracional da riqueza” (WEBER, 1981, p. 122). Esses pilares da ética protestante, a valorização do trabalho metódico e a recusa ao mau uso da riqueza são conceituados, por Weber, como ascetismo. No entanto, o ascetismo protestante é diverso do ascetismo do monge católico. Este último foge do mundo, rompe com a família e com a sociedade, renuncia a toda a posse pessoal, a todo interesse político, artístico e erótico, para se pôr unicamente a serviço de Deus. É uma ascese que recusa o mundo. O ascetismo protestante, ao contrário, é praticado no mundo, para glorificação de Deus. Procura glorificar através de uma vida em família exemplar, pelo rigor da conduta em todos os domínios da existência, cumprindo todas as tarefas como deveres desejados por Deus (FREUND, 2000, p. 145). O resultado da ascese protestante (trabalho sistemático e restrição ao consumo) foi a acumulação capitalista através da compulsão à poupança. Na conclusão de Weber: “De fato, o summum bonum desta ‘ética’, a obtenção de mais e mais dinheiro, combinada com o estrito afastamento de todo gozo espontâneo da vida é, acima de tudo, completamente destituída de qualquer caráter eudemonista (felicidade do homem) ou mesmo hedonista (prazer como felicidade da vida), pois é pensado tão puramente como uma finalidade em si, que chega a parecer algo de superior à felicidade ou utilidade do indivíduo, de qualquer forma algo de totalmente transcendental e simplesmente irracional. O homem é dominado pela produção de dinheiro, pela aquisição encarada como finalidade última de sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais. Esta inversão do que poderíamos chamar de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é evidentemente um princípio orientador do capitalismo, tão seguramente quanto ela é estranha a todos os povos fora da influência capitalista. Mas, ao mesmo tempo, ela expressa um tipo de sentimento que está inteiramente ligado a certas ideias religiosas” (WEBER, 1981, p. 32). 196 6.2. O espírito do capitalismo O capitalismo é concebido como uma individualidade histórica surgida no ocidente. Uma individualidade formada por um complexo de elementos associados na realidade, unidos conceitualmente pela sociologia para conformar um significado 12 cultural . É um fenômeno significativo por sua característica: o cálculo racional. A perspectiva weberiana define o capitalismo pela existência de empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção. O capitalismo é a conjunção do desejo de lucro e da disciplina racional. No entendimento de Aron (1990, p. 493), para Weber, o que constitui o capitalismo “não é tanto o lucro máximo, quanto a acumulação indefinida”. A diferença entre o capitalismo e os demais sistemas econômicos não é, desta forma, a sagrada fome de ouro. A discrepância não repousa no grau de desenvolvimento de qualquer impulso de ganhar dinheiro, mas na racionalização da atividade econômica: “A auri sacra fames é tão velha quanto à história do homem (...) aqueles que se submeteram a ela sem reservas, num impulso incontrolado (...) não são absolutamente os representantes daquela atitude mental da qual deriva o espírito do capitalista especificamente como um fenômeno de massa”. (WEBER, 1981, p. 36). A característica primordial desse sistema, o trabalho planejado racionalmente e exercido como um dever se originou na ética protestante. Esse elemento do capitalismo estava presente, antes de seu desenvolvimento, como um modo de vida comum a grupos inteiros de homens. Primeiro havia se consolidado o ideário protestante, para, a posteriori, se desenvolver o espírito do capitalismo. Nesse ponto das influências de valores religiosos sobre o comportamento econômico, Weber faz uma crítica “à doutrina do mais ingênuo materialismo histórico, de que ‘tais ideias’ se originam como um ‘reflexo’ ou como ‘superestruturas’ de situações econômicas” (WEBER, 1981, p. 34). 13 Diversamente de Marx , que dividiu a esfera social nos níveis da base (economia), estrutura (instituições) e superestrutura (ideias), sugerindo a mediação das relações econômicas como preponderante na construção dos outros níveis, Weber inverte a correlação e aponta os valores religiosos como mediadores importantes na consolidação das 14 relações econômicas capitalistas . O capitalismo se consolida por intermédio desta ética que prima pelo trabalho sistemático e pelo acúmulo de riquezas. Disso resulta encontrarmos uma concomitância entre a frugalidade, a dedicação ao trabalho, o ascetismo no mundo dos primeiros protestantes e o espírito da acumulação que moveu os primeiros capitalistas. O capitalismo consiste na racionalização das atividades. Nesse sentido da racionalização, favorecida pela ética protestante, o autor sublinha dois importantes fatores do desenvolvimento da moderna organização da empresa capitalista: a separação da empresa da economia doméstica e a criação de uma contabilidade racional. Indica, também, outros fatores que contribuíram para a forma peculiar do moderno capitalismo ocidental: as possibilidades técnicas ampliando a precisão e a calculabilidade, sobretudo, com o desenvolvimento das ciências matemáticas; e desenvolvimento de estruturas racionais do direito e da administração. Para finalizar, Weber enfatiza que a relação de afinidade entre a ética protestante e o espírito do capitalismo, foi evidente no início do desenvolvimento desse sistema. Acima de tudo, deve-se frisar que o capitalismo plenamente desenvolvido do presente tornou- 12 Aron (1990, p.p. 483, 484) explica essa abordagem do capitalismo como individualidade histórica nos seguintes termos: “Neste caso, o tipo ideal é uma reconstrução inteligível de uma realidade histórica global e singular; global porque o conjunto de um regime econômico é chamado de capitalismo; singular porque, para Weber, o capitalismo, segundo sentido em que se define este termo, só se realizou plenamente nas sociedades ocidentais modernas. O tipo ideal de um indivíduo histórico é uma reconstrução parcial: o sociólogo seleciona, no conjunto histórico, certo número de características, para constituir um todo inteligível. A reconstrução é uma entre várias outras que são possíveis e a realidade toda não entra na imagem mental do sociólogo”. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 13 Ver nota 4. Para um entendimento mais aprofundado dessa crítica de Weber a uma interpretação vulgar do materialismo histórico de Marx é conveniente apresentarmos as considerações de Aron (1990, p. 501): “com relação ao materialismo histórico, o pensamento weberiano não representa uma inversão total. Nada mais falso do que imaginar que Max Weber sustentou tese exatamente oposta à de Marx, explicando a economia pela religião em lugar de explicar a religião pela economia. Ele não pretendeu derrubar a doutrina do materialismo histórico, para substituir a causalidade das forças econômicas pela causalidade das forças religiosas”. 14 197 se independente de qualquer influência que a religião pudesse ter tido no passado. “Hoje, não há mais necessidade de motivação metafísica ou moral para que os indivíduos se conformem com a lei do capitalismo” (ARON, 1990, p. 496). O capitalismo vitorioso não tem mais necessidade desse apoio, uma vez que se sustenta sobre uma base mecânica. Depois de superado o entusiasmo inicial, puramente religioso, “quando a intensidade da procura do reino de Deus gradualmente começa a transformar-se em sóbria virtude econômica, quando lentamente desfalecem as raízes religiosas, dando lugar à secularidade utilitária”, “uma ética profissional especificamente burguesa surgiu em seu lugar” (WEBER, 1981, p. 127). Em suma, a obrigação ao trabalho sistemático, o acúmulo de riquezas, e o investimento contínuo que hoje não têm nenhuma preocupação com propósitos transcendentais e superiores, tiveram, originalmente, um significado religioso profundo e se constituíram em elementos importantes na formação do moderno capitalismo ocidental: “À medida que se foi estendendo a influência da concepção de vida puritana – e isto, naturalmente, é muito mais importante do que o simples fomento da acumulação do capital – ela favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Era a sua mais importante e antes de mais nada, a sua única orientação consistente, nisto tendo sido o berço do moderno ‘homem econômico’” (WEBER, 1981, p. 125). 7. OS TIPOS PUROS DE DOMINAÇÃO LEGÍTIMA Weber realiza uma análise dos conceitos de poder e dominação. Ele define a dominação como “a probabilidade de encontrar obediência a um determinado mandato”. Se dominação envolve obediência, isto implica numa assimetria de poder. A obediência pode fundar-se em variados motivos. Com base nesses motivos, ele elabora 15 uma tipologia das formas da dominação 15 No parecer de Bendix (1986, p. 235), Aron (1990, p. 516) e Freund (2000) ao analisar as formas de dominação Weber novamente trabalha com “tipos ideais”. Embora, na história, esses “tipos puros” de dominação sempre se encontrem em combinação, Weber insistia na necessidade de conceitos claros para analisar tais cruzamentos em termos de seus elementos legais, tradicionais ou carismáticos. As modalidades da dominação tradicional e carismática, na perspectiva weberiana, dominaram o Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 legítima, correspondendo cada qual a uma estrutura sociológica fundamentalmente diversa do quadro e dos meios administrativos: 1. Dominação tradicional ocorre “em virtude da crença na santidade das ordenações e dos poderes senhoriais de há muito existentes” (WEBER, 1979, p. 131). Seu tipo mais puro é o da dominação patriarcal. “Obedece-se à pessoa em virtude de sua dignidade própria, santificada pela tradição: por fidelidade”. O conteúdo das ordens está fixado pela tradição. A dominação tradicional se justifica pelo passado e o costume. No quadro administrativo as relações são dominadas não pelo dever ou disciplina objetivamente ligado ao cargo, mas pela fidelidade pessoal do servidor. “Ele consta de dependentes pessoais do senhor (familiares ou funcionários domésticos) ou de parentes, ou de amigos pessoais (favoritos) ou de pessoas que lhe estejam ligadas por vínculos de fidelidade (vassalos, príncipes tributários)” (WEBER, 1979, p. 131). Falta aqui o conceito burocrático de 16 competência . 2. Dominação carismática corresponde “a autoridade que se funda em dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma)”. A devoção e a confiança daqueles que obedecem são depositadas em alguém que se singulariza por qualidades prodigiosas, de chefe religioso, político ou militar (WEBER, 1970, p. 57). O poder carismático está fundamentado na dedicação afetiva à pessoa do chefe, ao seu caráter sacro, à sua força heroica e ao seu valor exemplar ou ao poder de espírito e da palavra que o distinguem de modo especial. A fonte do poder é o sempre novo, o extraordinário, o inaudito e o arrebatamento emotivo que provocam. “Seus tipos mais puros são a dominação do profeta, do herói guerreiro passado antigo. Nesse sentido, com finalidade didática, inverto, em minha exposição, a ordem relacionada por Weber: primeiramente a dominação burocrática, posteriormente, a tradicional e, finalmente, a carismática. Assim procedo com o objetivo de seguir, hipoteticamente, uma linha histórica. 16 O autor (WEBER, 1979) procede a uma diferenciação em duas formas distintas do quadro administrativo na modalidade da dominação tradicional: 1. Estrutura puramente patriarcal da administração: caracterizada pelo sultanato; 2. A estrutura estamental: representada na sua forma mais pura pelo feudalismo: a administração pela nobreza. As diferenças entre estas formas, embora salutares, não cabem nas limitações deste trabalho. 198 e o do grande demagogo” (WEBER, 1979, p. 135). O quadro administrativo é escolhido segundo carisma e vocação pessoais, e não devido à sua qualificação profissional. “Não constitui, por isso, nem uma burocracia, nem um corpo de servidores” (STOPPINO, 1982, p. 23). O tipo que manda é o líder e aqueles que prestam obediência são os discípulos. ”O líder carismático é um homem que exige obediência com base na missão que ele acredita seja seu dever desempenhar” (BENDIX, 1986, p.239). Obedece-se exclusivamente à pessoa do líder por suas qualidades excepcionais. A fé e o reconhecimento do carisma são considerados dever, cujo descumprimento e negligência são castigados. Os discípulos eleitos por suas qualificações constituem “uma aristocracia carismática dentro do grupo maior de seguidores” (BENDIX, 1986, p.256). Sua manutenção material decorre da partilha, pelo líder, dos bens doados ou tomados junto à comunidade. A autoridade carismática aparece com grande força revolucionária: uma ruptura com 17 o passado, as leis e as instituições . Todavia, Weber aponta a improbabilidade da contínua excepcionalidade da dominação. Ocorre uma tendência de transformação da autoridade carismática em autoridade tradicional. Ocorre uma “despersonalização” ou “declínio do carisma” com a rotinização do exercício da dominação, um fenômeno que sempre se repete (BENDIX, 1986, p.241). Além de que, o seguidor obedece enquanto subsistir o carisma do líder. Uma vez que as qualidades extraordinárias deixem de ser atribuídas ao chefe religioso, militar ou político, sua legitimidade conhece um processo de esboroamento. 3. Dominação legal “em virtude de estatuto. Seu tipo mais puro é o da dominação 18 burocrática .(...) A associação dominante é 17 A dominação carismática, medida com a escala das ordenações estatuídas, é caracterizada pela revelação e criação momentâneas, pela ação ou exemplo, pelas decisões particulares, a saber, pelo irracional. Mostra-se salutar sublinharmos que em sua forma pura, a dominação carismática demonstra caráter eminentemente autoritário e dominador. 18 Segundo Weber, a burocracia “constitui o tipo tecnicamente mais puro de dominação legal. Nenhuma dominação, todavia, é exclusivamente burocrática, já que nenhuma é exercida unicamente por funcionários contratados” (WEBER, 1979, p. 130). Geralmente, o ápice de toda estrutura administrativa é ocupada por elementos de natureza carismática ou tradicional. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 eleita ou nomeada, e ela própria e todas as suas partes são empresas” (WEBER; 1979, p.128). Obedece-se não à pessoa em virtude de seu direito próprio, mas à regra estatuída, que estabelece ao mesmo tempo a quem e em que medida se deve obedecer. Também quem ordena obedece à lei, a uma norma formalmente abstrata. O tipo daquele que ordena é o superior, cujo direito de mando está legitimado pela lei no âmbito de uma competência O tipo que obedece é o funcionário, cujas condições de serviço se baseiam num contrato, com um pagamento fixo, graduado segundo a hierarquia do cargo e direito de ascensão conforme regras fixas. O dever de obediência está graduado numa hierarquia de cargos, com subordinação dos inferiores aos superiores e dispõe de um direito de queixa regulamentado. A base do funcionamento técnico é a disciplina do serviço. Vigora o princípio da competência. O ideal do funcionário é proceder sem a menor influência de motivos pessoais e sem influências sentimentais de espécie alguma, livre de arbítrio e capricho e “sem consideração da pessoa”. “Essa impessoalidade é essencial à natureza da burocracia, onde, teoricamente, todos conhecem as leis, e agem em função das ordens abstratas de uma regulamentação estrita. E, por último, a burocracia assegura a todos os que trabalham no seu seio uma remuneração determinada segundo certas normas” (ARON; 1990, p. 494). A burocratização é um fenômeno crescente e dominante na modernidade. “O desenvolvimento da moderna forma de organização coincide em todos os setores com o desenvolvimento e contínua expansão da administração burocrática. Isso é válido para a Igreja, Estado, Exército, partidos políticos, empresas econômicas, organizações promocionais de toda espécie, associações particulares, clubes e muitas outras. Seu desenvolvimento é, para tomar apenas o caso mais penetrante, o mais crucial fenômeno do moderno Estado Ocidental” (WEBER, 1976, p. 31). É um processo horizontal que avança sobre os modos tradicionais de administração de todas as organizações e associações. A dominação burocrática da empresa capitalista, do sindicato, da universidade, por exemplo, é heterônoma: sua ordenação se acha prescrita em parte pelo Estado. O quadro coercitivo é heterocéfalo: são os quadros judicial e policial do Estado que cumprem a função. Todavia, no tocante à organização interna, a administração é autocéfala. Os recursos administrativos são 199 alheios aos funcionários, pertencendo à instituição, ao Estado, à empresa, etc.. É, desse modo, a forma racional legal de dominação 19 moderna . 8. CONCLUSÃO À guisa de conclusão, cabe o alinhamento com as palavras de Aron (1990, p. 527) a respeito da grandiosidade da obra weberiana: Weber “pertence à família dos grandes pensadores, cuja obra é tão rica e ambígua que cada nova geração a lê, interroga e interpreta à sua maneira”. Nas palavras do 20 sociólogo brasileiro Gabriel Cohn , grande estudioso do pensamento weberiano, Weber apresenta múltiplas dimensões – o economista, o historiador, o analista político, o cientista social, o estudioso da religião, o teórico do direito – que o tornam imprescindível na leitura e compreensão da sociedade na qual vivemos. Weber enuncia, de forma lógica, a experiência espontânea e autêntica do homem histórico, daquele que vive a história antes de reconstrui-la. Tem o mérito de devolver às pessoas e aos acontecimentos sua eficácia; de mostrar que o curso da história não está determinado antecipadamente, e que os homens podem alterá-lo. Assim, Weber recupera o papel histórico do indivíduo. Resgata o indivíduo como categoria sociológica. 9. BIBLIOGRAFIA ARON, Raymond. As Etapas do Pensamento Sociológico. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1990. BENDIX, Reinhard. Max Weber: um perfil intelectual. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1986. CHINOY, Ely. Sociedade: Uma Introdução à Sociologia. São Paulo: Cultrix, 1982. COHN, Gabriel (org). Sociologia de Max Weber. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2003. FREUND, Julien. Sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. HUNT, E. K. & SHERMAN, J. Howard. História do Pensamento Econômico. Petrópolis: Editora Vozes, 1977. LOEWITH, Karl. “Racionalização e Liberdade: O Sentido da Ação Social”. In FORACCHI, M. Mencarini & MARTINS, J. de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 2002. MARTINS, Carlos Benedito. O que é Sociologia. 38 ed. São Paulo: Brasiliense, 1994. 19 Seria interessante descrevermos os elementos característicos da organização burocrática. Porém, a limitação de nossos propósitos nos permite apenas listar, sem fundamentar, esses componentes. 1) Obediência e legalidade das normas; 2) Direito: conjunto de normas; 3) Impessoalidade do cargo; 4) Obediência à lei; 5) Obediência à lei e não à pessoa; 6) Cargos; 7) Competência; 8) Hierarquia; 9) Especialização dos “funcionários” / Qualificação técnica; 10) Separação entre a propriedade da organização e a do funcionário; 11) Ausência de apropriação do cargo; 12) Documentação e registro das decisões e normas; 13) Burocrata; 14) Contrato; 15) Remuneração em dinheiro / salário; 16) Exclusividade da ocupação; 17) Plano de carreira e 18) Disciplina. 20 Exposição de palestras em cinco módulos sobre o pensamento weberiano, intitulada “Adeus, Weber”, produzida pela UNIVESPTV e coordenada e apresentada pelo sociólogo Gabriel Cohn, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da USP e especialista na obra de Max Weber. Série disponível no YOUTUBE.br. Publicado em 31\03\2012. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 MOTTA, F. C. Prestes. O que é Burocracia. São Paulo: Brasiliense, 1981. STOPPINO, Mario. “Autoridade e Poder”. In Curso de Introdução à Ciência Política. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1982. WEBER, Max. Ciência e Política: Duas Vocações. São Paulo: Editora Cultrix, 1970. WEBER, Max. “Os Fundamentos da Organização Burocrática: Uma Construção de Tipo Ideal”. In CAMPOS, Edmundo. Sociologia da Burocracia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1976. WEBER, Max. “Os Três Tipos Puros de Dominação Legítima”. In COHN, Gabriel. Sociologia de Max Weber. São Paulo: Editora Ática, 1979. WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1981. 200 WEBER, Max. “Ação Social e Relação Social”. In FORACCHI, M. Mencarini & MARTINS, J. de Souza. Sociologia e Sociedade. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos, 2002. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 202 GESTÃO DE RESÍDUOS RECICLÁVEIS: UMA PROPOSTA PARA A INFORMATIZAÇÃO DA COLETA WASTE MANAGEMENT RECYCLABLES: A PROPOSAL FOR COMPUTING TO COLLECT José Tarcísio Franco de CAMARGO¹, João Paulo BARBOSA², Adriano Aparecido LOPES³, Tainá 4 Ângela Vedovello BIMBATI , RESUMO Este trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta para a informatização de uma das etapas do processo de reciclagem de resíduos: a coleta e a destinação de materiais considerados recicláveis. Esta proposta é materializada através do software iCARE (instrumentação para a Coleta Assistida de Resíduos Recicláveis), desenvolvido por estes autores, que é um programa de computador criado para dar auxílio à comunidade empresarial, moradores, catadores e recicladores no processo de coleta seletiva e destinação adequada de resíduos recicláveis. Através do programa pode-se enviar mensagens manifestando a intenção de disponibilizar algum tipo de material destinado à reciclagem. O mesmo software também permite o recebimento destas mensagens, onde alguém que se mostre interessado pelo material possa entrar em contato com quem esteja disponibilizando, e assim formalizar a retirada. Outra funcionalidade do iCARE é a determinação de rotas de coleta. Através deste recurso o usuário pode determinar rotas otimizadas para a coleta dos materiais recicláveis disponíveis. Palavras-Chave: gestão, coleta seletiva, reciclagem, software. ABSTRACT This work intends to present a proposal for the automation of one step of the recycling process of materials: the collection and disposal of materials considered recyclable. This proposal is materialized through the software iCARE, developed by the authors, which is a computer program designed to give assistance to the business community , common people, collectors and recyclers in the process of selective collection of recyclable waste and its proper disposal. Through the program, the user can send messages expressing the intention of providing some type of material for recycling. The same software also allows receiving these messages, where someone who show interest in the material may come in contact with suppliers, and thus formalizing the withdrawal. Another feature of the iCARE is the determination of collection routes. Through this feature, the user can determine the optimal routes for the collection of the recyclable materials. Key words: management, selective collection, recycling, software. ******** 1 Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM); Centro Regional Universitário de E. S. do Pinhal (UNIPINHAL); Centro Guaçuano de Educação Profissional “Gov. Mario Covas” (CEGEP). E-mail: [email protected] 2 Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM); Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo (FMG); Centro Paula Souza – ETEC Euro Albino de Souza (ETEC Mogi Guaçu); Fundação Educacional Guaçuana (FEG) 3 Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM). 4 Faculdade Municipal “Prof. Franco Montoro” (FMPFM). Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 203 1. INTRODUÇÃO O planejamento e a implantação de um programa de coleta seletiva de materiais recicláveis podem contribuir para a solução de vários problemas socioambientais e econômicos. Sob o ponto de vista econômico, a coleta seletiva realizada de forma eficaz promove a solução de problemas relevantes, uma vez que materiais descartados podem voltar ao ciclo de consumo, reduzindo assim, o uso de recursos naturais na fabricação de novos produtos. Sob o ponto de vista ambiental, o reaproveitamento e a reciclagem de materiais que provavelmente seriam desprezados tem impacto direto na preservação dos recursos naturais, economizando matéria prima, água e energia nos processos produtivos e, consequentemente, uma diminuição no volume de lixo enviado aos aterros sanitários, aumentando assim, sua vida útil (Prefeitura Municipal de Mogi Guaçu, 2010). No aspecto social, este projeto tem impacto positivo nas condições socioeconômicas dos catadores de materiais recicláveis, os quais são os primeiros atores na cadeia de coleta seletiva e reciclagem e que tem sobrevivido unicamente desta atividade, de acordo com Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR, 2012). O catador é o individuo mais importante no reaproveitamento de materiais recicláveis, estando na ponta deste processo, fazendo aproximadamente 89% de todo o trabalho, coletando em média 600 kg de material por dia, gerando uma renda mensal de aproximadamente de R$ 140,00 em média (MNCR, 2012). Neste contexto, o software iCARE (Figura 1), é um espaço virtual desenvolvido para possibilitar a interação entre a comunidade empresarial, moradores, catadores e recicladores, de forma a contribuir com a qualidade de vida e a saúde coletiva e Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 ambiental, a partir do envolvimento de todos na coleta seletiva e reciclagem. O iCARE foi desenvolvido em parceria com a “Associação dos Catadores de Mogi Guaçu”, que está desde 2004 com um grupo de catadores pleiteando políticas públicas para a formalização da Coleta Seletiva no município. A Associação é constituída estritamente por catadores e catadoras, e atualmente a Central de Triagem de Resíduos Sólidos vem sendo estruturada por incentivo da aprovação de seu projeto junto à Fundação Nacional da Saúde – FUNASA. O iCARE vem oferecer a possibilidade de comunicação e troca de informações que favoreça a destinação adequada dos materiais recicláveis, dividindo esta responsabilidade entre todos os envolvidos, viabilizando a coleta seletiva e a sua organização através dos trajetos estipulados, pontos de coleta e dias de trabalho. Com a utilização do iCARE, espera-se uma participação mais ativa da comunidade, aumentando a destinação adequada dos materiais recicláveis para a Central de Triagem de Resíduos Sólidos, onde poderão ser enfardados e comercializados, gerando renda e obtendo melhores resultados econômicos sociais e ambientais. Em seu estágio atual, o software dispõe dos módulos “Quadro de Avisos” e “Rota de Coleta”, caracterizando-se como uma ferramenta social, podendo ser utilizada por qualquer pessoa, mantendo um espírito democrático no sentido de que seu uso e compartilhamento são livres para qualquer pessoa, tanto para destinar, quanto para coletar materiais recicláveis ou reaproveitáveis. Como quadro de avisos, o iCARE oferece uma interface para enviar e receber mensagens referentes à disponibilização dos materiais para reciclagem, onde o gerador do resíduo informa o tipo e a quantidade de material que deseja destinar para a coleta. Por outro lado, se alguém estiver interessado em retirar estes materiais, poderá receber estas 204 mensagens, entrar em contato com quem esteja destinando e negociar a retirada do material. Como rota de coleta, o iCARE, através de um formulário, recebe os endereços que se pretende visitar, gerando um mapa com a rota a ser seguida, auxiliando no processo de retirada dos materiais. As próximas seções irão descrever o funcionamento e a forma de utilização do iCARE, a fim de apresentar sua interface amigável e mostrar o quão simples é o seu uso. Figura 1: Tela de apresentação do iCARE. 2. Iniciando o uso do quadro de avisos. 2.1 Endereço para conexão. Antes de iniciar a utilização do iCARE, é necessário fazer uma conexão com o servidor do sistema, como pode ser visto através da Figura 2. Um servidor pode ser qualquer computador que tenha hospedado um quadro de avisos. O iCARE pode dispor de diversos servidores (ou quadros de avisos) e cada um destes deve possuir um endereço próprio que o identifique entre os demais. Isto é importante, pois podemos ter servidores em diversas Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 cidades atendendo a seus consumidores e/ou coletores locais. Este endereço é dividido entre “IP” e “Porta”. O “IP” Identifica o computador/servidor entre os demais. Uma “Porta” identifica um canal de comunicação especifico para o servidor. Está anexado ao instalador do iCARE um arquivo contendo a relação de todos os endereços públicos para a conexão com servidores de quadros de avisos do iCARE. A digitação deste endereço será necessária somente na primeira vez de utilização ou quando houver uma mudança de servidor, pois o iCARE salva estas configurações no computador do usuário. 205 Figura 2: Conexão com um servidor. 3. Utilização do quadro de avisos. Após efetuar a conexão ao servidor desejado é apresentada a tela indicada na Figura 1. Este módulo apresenta os recursos de “Enviar mensagens”, “Receber mensagens” e “Rota de coleta”. Através do recurso “Enviar mensagens”, o usuário pode enviar para o quadro de avisos uma relação dos materiais recicláveis que deseja destinar para a coleta. Por sua vez, o recurso “Receber mensagem”, permite que catadores possam receber estas mensagens em seus computadores e, desta forma, selecionar os materiais que lhes interessam e entrar em contato com os respectivos destinadores para agendar a coleta. 3.1 Enviar mensagem. Para enviar uma mensagem dos materiais recicláveis disponíveis para destinação (Figura 3), o usuário deste software deve, inicialmente, pressionar o botão “Novo” para que uma nova mensagem seja gerada. No Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 campo “Data” desta tela será gerada a data, a hora e o endereço IP do usuário. A seguir, o usuário pode selecionar, a partir de uma lista, os materiais que pretende disponibilizar, indicando a quantidade disponível e a unidade de medida dos materiais (quilogramas, litros, unidades). O usuário pode inserir mais de um tipo de material para destinar. Após indicar o 1º item de sua lista, uma mensagem questiona se há mais itens para disponibilização. Sempre após o usuário inserir um novo item esta mensagem será apresentada. Quando o usuário responder “Não”, a mensagem estará praticamente concluída, restando apenas ao usuário indicar seu nome e uma forma de contato. Finalmente, basta pressionar o botão “Enviar” para que a mensagem seja encaminhada ao quadro de avisos. 206 Figura 3: Tela de enviar mensagem. 3.2 Receber mensagens. A Figura 4 apresenta uma visão geral da interface para recepção de mensagens. À esquerda desta interface pode ser visto o quadro de mensagens, onde será apresentado um resumo de cada uma das mensagens disponíveis. Para receber este quadro do servidor ao qual está conectado, basta pressionar o botão “Receber” desta interface. Se preferir receber apenas mensagens filtradas por material especifico, basta digitar o nome ou uma parte do nome no campo “Filtrar” e em seguida clicar sobre “Receber”. Para verificar o conteúdo de uma mensagem basta clicar sobre ela e serão apresentadas, à direita do quadro, todas as informações sobre a mesma: data, hora e endereço IP de origem da mensagem; materiais disponíveis para coleta; nome do usuário gerador e a forma de contato. Figura 4: Visualizando uma mensagem. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 207 3.3 Salvar e imprimir uma mensagem. Uma mensagem selecionada pode ser impressa ou salva. Para tanto, basta pressionar o botão “Salvar” da interface. Em seguida será gerado um arquivo com opções para salvar ou imprimir um relatório com as informações da mensagem selecionada. 4. Rotas de coleta O último recurso atualmente disponível neste módulo do iCARE é a interface para a criação de rotas de coleta. Uma vez que um determinado catador tenha agendado a coleta de materiais recicláveis de vários geradores, o problema passa a ser a definição da melhor forma para realização da coleta e destinação dos materiais. A interface para criação de rotas permite que o usuário indique vários endereços para coleta e, a partir de um Sistema de Informações Geográficas, uma rota otimizada pode ser calculada. A Figura 5 apresenta a interface do recurso de cálculo de rotas. Neste formulário o usuário pode indicar um conjunto de endereços pelos quais pretende passar. Após preencher o formulário com as informações necessárias, se os endereços forem considerados válidos, a rota desejada será gerada. Figura 5: Formulário para indicação de endereços de coleta e janela de rota. 5. Resultados O iCARE vem sendo utilizado e testado, quanto ao seu desempenho, pela Associação de Catadores Mogi Guaçu. É necessário confirmar se a interface atende às necessidades de seus usuários e se a mesma apresenta a facilidade de uso desejada. Sob o ponto de vista técnico, é importante verificar se o servidor do módulo “Quadro de Avisos” é capaz de suportar um número relativamente grande de conexões e registros. Para tanto, é importante que este módulo seja divulgado e utilizado por uma parte considerável da população na região Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 onde o projeto está sendo desenvolvido e testado. Paralelamente a estas questões, os autores estão utilizando o iCARE como veículo de divulgação dos benefícios da coleta seletiva junto à comunidade regional, sob as ópticas social, econômica e ambiental, conforme apresentado nas seções anteriores. A divulgação do projeto e de seus benefícios tem contado com o apoio de diversos veículos de comunicação, através da internet, televisão e jornalismo impresso. Atualmente, o iCARE pode ser obtido a partir da área de projetos do site da Faculdade Municipal “Professor Franco Montoro”, em 208 http://www.fmpfm.edu.br/interciencia esociedade/projetos.html 6. Considerações finais Observa-se que o iCARE contribui com a Coleta Seletiva e a destinação adequada dos resíduos sólidos para prolongar a vida útil dos aterros sanitários e diminuir os impactos em corpos d’água, solos e vias públicas, que acarretam a contaminação do solo, ar e água (Política Nacional de Resíduos Sólidos, 2012), a proliferação de vetores e doenças, entupimento de redes de drenagem urbana, enchentes, degradação de ambientes e depreciação de imóveis (Ministério do Meio Ambiente, 2012). A utilização deste software possibilita o funcionamento da estrutura que vem sendo organizada na Central de Triagem, garantindo a entrada de matéria-prima para o trabalho coletivo. A proposta de uma logística programada oferecida pelo iCARE torna a própria atividade da coleta seletiva menos impactante devido à redução de consumo de combustível e de emissão de gases de efeito estufa na coleta dos materiais com o planejamento das rotas. O iCARE também serve de instrumento para que os engenheiros ambientais que assessoram as associações, cooperativas e empresas, tomem conhecimento da problemática dos resíduos gerados nas diversas atividades, de modo a possibilitar análises, apresentação de soluções e planos de diminuição do consumo e reaproveitamento das matérias-primas, visando à diminuição de passivos ambientais. Atendendo à Política Nacional de Resíduos Sólidos, conforme a Lei nº 12.305/2010, no que se refere à coleta seletiva, reciclagem, logística reversa e ao fortalecimento do conceito de responsabilidade compartilhada, o software vem interagir com empresas e organizações na área de Responsabilidade Social e Ambiental para a destinação correta dos resíduos produzidos pelas suas atividades, com as Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 obrigações de todos os elos da cadeia produtiva. Há uma reformulação do conceito de resíduo, pois passa a ser encarado pela sociedade como um material de valor, e de que o gerador é o responsável pela sua destinação final adequada. REFERÊNCIAS PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA CASA CIVIL, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato200 7-2010/2010/lei/l12305.htm>; Acessado em 15/09/2012. 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Disponível em: <http://www.mncr.org.br/box_2/instrumentosjuridicos/classificacao-brasileira-de-ocupacoescbo > Acessado em 22/09/2012. 209 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 210 CONCEPCIÓN DE CUERPO EN LA MIRADA DEL PROFESOR DE EDUCACIÓN FÍSICA DE NÍVEL SUPERIOR THE CONCEPTION OF THE BODY IN VIEW OF THE PHYSICAL EDUCATION TEACHER OF SENIOR LEVEL André Luiz s BASTOS¹, Lucy MORCHIO² RESUMEN En esta investigación el objeto de estudio es la concepción del cuerpo en la visión de los profesores de educación física de nivel superior de la red privada y pública del interior de San Pablo. Se analizan diferentes formas de entender la corporeidad, cómo han influido en el pensamiento y el comportamiento de la sociedad occidental a partir del siglo XVI (1537). Las mismas responden a perspectivas de corte dualista y humanístico, a las que se agregan algunas combinaciones que podrían entenderse como una perspectiva intermedia. El objetivo es comprender cómo estas miradas influyen hoy en la conceptualización de cuerpo de los profesores de educación física. Para ello, se utilizan las planificaciones didácticas de los profesores, que fundamentan y organizan sus prácticas. Se realiza un análisis documental y un análisis del discurso. La hipótesis es que la conceptualización del cuerpo que sostienen las planificaciones didácticas de los profesores priorizan una perspectiva de corte dualista. Metodológicamente, es una investigación de profundidad descriptiva y según la finalidad es en un aspecto teórica y en otro aplicada. El tratamiento de los datos es cuantitativo-cualitativo y la perspectiva temporal, sincrónica. Se considera el contenido de los documentos en sus términos y en sus connotaciones, recogiendo la información en los Diseños Curriculares Institucionales Oficiales de Instituciones de Formación de docentes de Educación Física de Brasil. Se ha formado una muestra probabilística de 50 planificaciones, obtenida de 5 profesores de 10 instituciones. El resultado es la obtención de variables, categorías y tipologías que facilitarían el abordaje del discurso de la planificación de estudios de grado en educación física por parte de los profesores. Se considera que el curso de graduación es un espacio importante y privilegiado para la construcción de la fundamentación teórico-práctica del movimiento y del cuerpo como materias primas de la carrera de educación física. Palabras-clave: Educación superior, filosofía, educación física, cuerpo. ABSTRACT The objective of this research study is about the conception of the body in the view of physical education teacher of senior level of public and private network from São Paulo. Analyzes different ways of understanding embodiment, as they have influenced the thinking and behavior of Western society from the sixteenth century (1537). Responding to the same dualistic and humanistic perspectives of court, those add up to some combinations that could be construed as an intermediate perspective. The aim was to understand how these looks affects today’s conception of body for the physical education teachers. For this, the educational plans of teachers, that underlie and organize their practices are used. An approach document analysis and discourse analysis. The hypothesis is that the design of the body lying in the teaching plans teachers prioritize the perspective of dualistic cut. Methodologically, is a survey of depth descriptive and second order is on the theoretical and applied aspects. The data is quantitative–qualitative and temporal synchronic perspective. Content of the documents on their terms and their connotations considered, gathering information on the Institutional Official Curriculum Plans of Training Institutions teachers of Physical Education of Brazil. If there formed a random sample of 50 syllabi obtained from 5 teachers from 10 institutions. The result was to obtain variables, categories and typologies that facilitate the approach of discourse plans graduate studies in physical education from teachers. It is considered that the undergraduate program is important and privileged for the construction of the theoretical- practical movement and body as raw materials in the career of physical education space. Key words: Higher education, philosophy, physical education, body. ******** 1 Licenciado em Educação Física pela - UNESP Bauru e Pedagogia pela UNIFRAN - Universidade de Franca; Licenciado em Filosofia pela UNIFRAN ; Especialista em Educação Física Escolar pela – UNESP e Especialista em Educacional pelo ISEB Barretos; Mestrado em Educação “Ciências e Práticas Educativas” pela - UNIFRAN ; Doutorado em Ciências da Educação pela UNiniversidad Nacional de Cuyo – Facultad Filosofia y Letras Mendoza Argentina. E-mail: [email protected] 2 Orientadora: Profª. Drª. do curso de Doctorado em Ciências da Educação pela UNiniversida Ncinal de Cuyo – Facultad Filosofia y Letras Mendoza Argentina. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 211 INTRODUCIÓN Desde los primordios de la civilización hasta los días actuales, el hombre y la ciencia pasa por grandes transformaciones (CHAUI, 2002). La visión del mundo dominante en Europa antes del siglo XVI estaba vuelta hacia una concepción orgánica, sostenida por Aristóteles y por la Iglesia, donde su estructura científica fue establecida por Tomás de Aquino (siglo XIII), pues había una interdependencia de los fenómenos materiales y espirituales, y las necesidades individuales eran subordinadas a las de la comunidad (CAPRA, 1982; CHAUI, 2002). A partir del siglo XVII, ocurrió una transformación, donde la concepción orgánica del mundo pasa a ser sustituida por la metáfora del mundo como máquina, destacando como precursores Descartes y Newton. Esta forma de pensar el mundo y de tratar de comprenderlo como un complejo mecánico fue reflejado también en relación a los seres vivos y nos ha llevado a la división entre espíritu y materia (mente y cuerpo) (DAMASIO, 1996). Y fue a través de esa forma de raciocinio que, Descartes privilegió la mente en relación a la materia (cuerpo), y llegó a la conclusión de que las dos eran separadas y diferentes afirmando: “no hay nada en el concepto de cuerpo que pertenezca a la mente, y nada en la idea de mente que pertenezca al cuerpo” (CAPRA, 1982: 55). De esta forma, Capra (1982: 158) llegó a la conclusión, que según Descartes, mente y cuerpo pertenecían a dos dominios paralelos, pero fundamentalmente diferentes, cada uno de los cuales podía ser estudiado sin hacer referencia al otro. El cuerpo era gobernado por leyes mecánicas, pero la mente - o alma - era libre e inmortal (GAARDNER, 1995). Esta división de la mente y de la materia, elaborada por Descartes, influyó todo el pensamiento occidental causando una influencia decisiva en el desarrollo de las ciencias humanas como nos demuestra Capra (1982: 55): [...] la división cartesiana entre materia y mente tuvo un efecto profundo sobre el pensamiento occidental. Ella nos enseñó a conocernos a nosotros mismos con egos aislados existentes dentro de nuestros cuerpos; nos llevó a atribuir al trabajo mental un valor superior al trabajo manual; habilitó industrias gigantescas a vender productos - especialmente para las mujeres - que nos proporcionen el cuerpo ideal; impidió a los médicos de considerar seriamente la dimensión psicológica Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 de las enfermedades y los psicoterapeutas de trabajar con el cuerpo de sus pacientes. En las ciencias humanas la división cartesiana redundó en interminable confusión a cerca de la relación entre mente y cerebro; y, en la física, se volvió extremamente difícil a los fundadores de la teoría cuántica interpretar sus observaciones de los fenómenos atómicos. Capra (1982), apud Heisinberg (1998: 56) aún afirmando que: [...] esa división penetró profundamente en el espíritu humano en los tres siglos que se seguirán a Descartes, y llevará mucho tiempo para que sea sustituida por una actitud realmente diferente frente al problema de la realidad. El reduccionismo de Descartes influyó también las conceptos del cuerpo y la educación física en algunos países de América Latina y los Estados Unidos, Paraguay, Cuba, Argentina, Brasil. En la Argentina bajo el gobierno de Perón, la práctica de la educación física comienza a ser de mayor importancia en comparación con gobiernos anteriores, porque era considerado como uno de los responsables de la mejora de las cualidades físicas e morales del hombre y uno instrumento eficaz en la cooptación de las masas y disciplinamiento de los ciudadanos, con vistas en lo controle de la mente y del cuerpo. En Brasil por ejemplo muchos médicos asumirán una visón higienista e intentó cambiar los hábitos de salud e higiene de la población. La práctica da educación física, entonces, favorecía la educación del cuerpo, tiendo como meta la constitución de un físico con salud e equilibrado orgánicamente, menos susceptible las enfermedades. Además, había el pensamiento político y intelectual brasileño del momento una fuerte preocupación por la eugenesia y la formación militar (sarados órganos y fuerte). Predomino entonces la creença de que sólo un cuerpo "físicamente sanos y bien dotados, o sea higiénico podría sentirse libre y seguro, y esto sólo ocurrirá con el desarrollo del deporte y la educación física. Lo mismo ocurrió en Europa en la Alemania nazista porque Hitler también planteó la formación intelectual en segundo plano, dando prioridad a la cultura física y moral. El modelo sueco, francés también tuve su parte en este diseño. Hitler apud Dupeux (1992: 233): dice que: El Estado no cree que su tarea en la educación se limita a penetrar en la ciencia del cerebro. Buscar, a través de una educación apropiada, obtener cuerpos absolutamente 212 saludable. El cultivo de las facultades intelectuales vira solamente en según plano. La Educación Física, entonces, favorecería la educación del cuerpo con el objetivo de una forma físicamente sana y equilibrada. Tanto en lo gobierno Peronista como el gobierno de Getulio Vargas, así como en algunos países de América Latina como Estados Unidos, Cuba e Paraguay la práctica de la actividad física, por tanto, era fundamental para este control hacer efecto. En Argentina, por ejemplo, las actividades físicas y deportivas realizadas durante el gobierno Peronista constituyan un poderoso medio de transmisión de la idea de unanimidad, la armonía y la hermandad a todos los participantes. La forma de hacerlo era adestrando el cuerpo de los ciudadanos, principalmente a través de la práctica de la educación física y de las otras formas decurrentes dela como lo escotismo, clubes para menores, entre otros, que controlaban la vida de los ciudadanos desde la más temprana edad. Cualquier forma de libertad (del espacio, del cuerpo, la mente) sería una amenaza, pues, estaría fuera del controle oficial, por lo tanto, de la libertad de expresarse, até contra el régimen. Aunque las limitaciones que la visión cartesiana de mundo nos impone hoy, no se puede negar su importancia en el avance del pensamiento científico, y la claridad en la exposición de ideas. Esto porque, a través de su perfeccionamiento, el modelo mecanicista obtuvo un enorme éxito, y los fenómenos físicos, químicos (y biológicos) podían ser comprendidos de acuerdo con las leyes de Newton, llegando a la conclusión de que sus leyes mecánicas eran la teoría definitiva de los fenómenos naturales (VAZ ET AL., 2002). Para Capra (1982: 53): [...] la creencia en la certidumbre del conocimiento científico está en la propia base de la filosofía cartesiana y en la visión de mundo de ella derivada, y fue ahí en esa premisa esencial, que Descartes se equivocó. La física del siglo XX nos mostró de forma convincente que no existe verdad absoluta en ciencia, que todos los conceptos y teorías son limitados y aproximados. Con respeto a los profesionales en el área de educación física, tal filosofía influyó y aún influye sus trabajos y actividades donde los profesores, en su mayoría de la red pública Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 escolar, contribuyeron para la dicotomía cuerpo y mente (VAZ ET AL., 2002; VIANA, ET AL., 1997). Entre tanto, actualmente ha desarrollado una nueva concepción de cuerpo basada en la interrelación e interdependencia de los fenómenos que lo componen (aspectos físicos, biológicos, psicológicos, sociales y culturales) (LIBÂNEO, 2001; TAVAREZ, 2007). Así, la educación física debería, segundo esta tendencia, no sólo explicar el cuerpo como un fin en sí propio, pero, comprenderlo y entender su relación con el medio educándole a través de una consciencia corporal, que le permita percibir el mundo en que vive y de pose de esa consciencia, interferir críticamente en el proceso de construcción de la sociedad y, por consiguiente, de su bienestar (BRUEL, 1990; GUIRALDELLI, 1991). Bruel (1990: 11) afirma, aún, que: [...] no es solamente el cuerpo que entra en acción por el fenómeno del movimiento, pero es el hombre todo que actúa, que se mueve [...] La Educación Física no debe prenderse en la comprensión restricta del movimiento, pero entender su significado en la relación dinámica entre el ser humano y el medio ambiente. Hay una extrema coherencia entre que somos, pensamos, creemos o sentimos, y aquello que expresamos a través de pequeños gestos, actitudes, posturas o movimientos más amplios. Después del término del Master, fue constatado que la dicotomía cuerpo y mente así como, la concepción cartesiana aún se hace fuertemente presente en la actuación de los profesionales de educación física, que están inseridos en la red escolar de enseñanza (pública y privada) y consecuentemente en la formación de sus alumnos, “que cuerpo es sinónimo de mercadería y placer”. Pero en contrapartida, fueron encontrados también pocos indicios de profesionales y corrientes filosóficas en busca de una reflexión holística del cuerpo, sistémica de vida y de una educación física de cuerpo entero. En este sentido, como profesional y ciudadano perteneciente a una sociedad, como profesor universitario, investigador, Master en Educación y apoyado en una concepción integral de cuerpo, sistémica de educación física y holística de vida, se percibe la gran necesidad de se seguir investigando sobre esta cuestión corporal, y de profundizar las investigaciones realizadas en la graduación y en el curso de Master, realizando un estudio a rigor de la academia con respeto al cuerpo, 213 educación, educación física y formación de profesores, como nos afirma Bruel (1990: 13): el movimiento y, consecuentemente, el cuerpo, constituyen por excelencia la materia-prima de la Educación Física. Trabajar con el ser humano implica en considerarlo a partir de variados aspectos, entenderlo como un proceso constante de construcción sociocultural. En otros términos, los contenidos de la Educación Física implican en ideologías, valores y representaciones histórico-culturales que deben ser cuidadosamente considerados y discutidos. Según dados estadísticos de el INEP – Instituto Nacional de Estudios e Pesquisas Educacionales actualmente en Brasil tenemos cadastradas 843 instituciones de educación superior (Universidad, institutos, centros universitarios, universidades, fundaciones) que oferecem cursos de licenciatura e bacharelado siendo, 438 en la región sudeste de brasil , 224 el estado de san pablo e 10 en la region nordeste del interior de estado de san pablo y deseas 10 instituciones sólo el 25% se preocupan por la cuestiones corporales en su signaturas. Lo MEC – Ministerio da Educación e Cultura de Brasil embasada en la LDB – Ley de Directrices e Bases de la Educación Nacional, La Asociación de Profesores e Pesquisidores en el Cursos Pos Grado e de Grado como también pesquisidores renomados en la área recomienda que cada universidad seja privada o publica cuente con estándares nacionales para fundamentar, desarrollar, estructurar e evaluar o crecimiento de la formación académica de los profesores. Surge entonces la necesidad de realizar un estudio regional en respecto al objeto cuerpo medido a través de indicadores históricos/bibliográficos y empíricos pero, cada región posee sus características específicas. Por ello, y alojado también en mi historia de vida, ell propósito de este estudio es obtener dados que podrirá usarse como referentes del objeto de estudio propuesto (cuerpo) y relacionar-los con la formación académica particular de cada profesor. Se cree que el profesor de educación física en su asignatura debería ofrecer una mayor relación entre el equilibrio cuerpo, mente y espíritu y, aún como educador, estar consciente de su papel en la formación de individuos que puedan actuar participativamente en la sociedad (TAVAREZ, 2007; LIBÂNEO, 2001). Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Normalmente, el área biomédica ha tratado el cuerpo a partir de parámetros de la técnica, de la racionalidad y de la fragmentación, en sentido de proyectar el cuerpo perfecto y saludable, prototipo de la sociedad capitalista contemporánea. Entre tanto, es necesario tratarlo además de la perspectiva de objeto como dice Leite (2002, p.17), “entenderlo como sujeto y como totalidad es uno de los grandes desafíos que las ciencias humanas y sociales nos imponen”. La educación física, aunque posea interfaces con las áreas biológica y exacta, debe resaltar que tiene su base en la educación (ciencias humanas), en lo que dice respeto al acto pedagógico (VAZ ET AL., 2002). Trabaja, sobre todo, en interacción constante con el cuerpo que, a la vez, es expresión de la cultura. Bracht (1989) argumenta que el movimiento que confiere especificidad a la educación física es aquel con determinado sentido y significado, que, por su vez, es determinado por el contexto social. Se entiende que el curso de graduación es un espacio importante y privilegiado para la construcción de la fundamentación teórico-práctica, que subsidiará la actuación y la formación del profesor/educador crítico, pues, allí son depositadas las semillas que constituirán la base de su práctica para trabajar con el cuerpo (LUDORF, 2002; SILVA, 2001). Hace tiempo que, algunos autores sugieren haber una cierta reducción en el área de educación física que se refleje en el proceso de formación de profesores y en la producción científica (SOARES, 1990; FARIA JR, 1999; LÜDORF, 2002; SILVA, 2001). Muniz (1996: 28) argumenta que “algunos discursos aún están limitados a los muros académicos”. FORMULACIÓN Y FUNDAMENTACIÓN DEL PROBLEMA A INVESTIGAR REFERENCIAL TEÓRICO El referencial teórico en el que se basa este estudio, defiende la idea de que somos construidos en las relaciones concretas de la vida social, y que nuestras concepciones se forman a lo largo de nuestras vidas, articulando teoría y práctica, pensar y hacer, revelando nuestras creencias mientras actuamos en el cotidiano. Los aprendizajes y experiencias que tuvimos y tenemos durante la vida son relacionados con nuestro hacer profesional (ECO, 1996). Se asume una perspectiva integral de cuerpo y una concepción sistémica de 214 educación física en que, cuerpo y mente pertenecen a una única esfera. Actualmente ha surgido algunas corrientes filosóficas que se oponen al mecanicismo de Descartes llamados de Vitalistas y Existencialismo (DAOLIO, 1999). Este primero dice que el cuerpo no es una máquina insensible, pero un ser dotado de sensibilidad, emociones, afecciones y que la inteligibilidad es imante a la materia. El segundo nos muestra que la única forma de conocer a nuestro cuerpo es vivenciarlo, vivir sus pasiones y dramas, captar y fluir con él en su existencia que se levanta ante todo el mundo, o sea: Cuerpo en la relación del mundo y con el mundo y cuerpo sujeto de una relación afectiva (DAOLIO, 1999). PROBLEMA Analizando toda una trayectoria de vida y de investigación me pregunto y hago de esta pregunta mi instrumento de investigación: “¿Cuál es la comprensión de cuerpo hoy existente y dominante entre los profesores de educación física que prioritariamente se encuentra en la enseñanza superior en los cursos de licenciatura? ¿Cómo estos profesores trabajan con el cuerpo y, hasta donde sus comprensiones y concepciones influyen en la formación de sus alumnos en sus clases?”, una vez que, estos profesionales tienen el privilegio de construir y formar una concepción diferente de cuerpo, con el intuito de contribuir con la sociedad en general y en particular con las instituciones de enseñanza superior con respeto a la formación de profesores. Por fin, llevar al conocimiento de los investigados los resultados y conclusiones para posibles reformulaciones de conceptos. OBJETIVOS La presente investigación científica tiene como objetivo general: El objetivo general es analizar la concepción de cuerpo en la visión del profesor de educación física de nivel superior a través de las planificaciones didácticas que elabora. La presente investigación científica tiene como objetivos específicos: • Obtener diseños curriculares institucionales como fuentes para acceder al objeto de estudio propuesto. • Evaluar la concepción de cuerpo que se sostiene en los planes de estudio. • Comprender la conceptualización implícita de cuerpo a través del análisis del discurso explícito. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 • Discutir la concepción de cuerpo en tanto factor que incide en las planificaciones didácticas del profesor de educación física de nivel superior. • Proponer una tipología respecto de los tipos de planificaciones desde el ángulo de la visión de cuerpo que se sostiene. • Generar un núcleo de contenidos curriculares que sirva de referencia para los cursos y para los profesores respecto del impacto de la mirada de corporeidad en el ejercicio profesional de la educación física. HIPÓTESIS DEL TRABAJO La hipótesis que orienta este trabajo es que la conceptualización del cuerpo que sostiene las planificaciones didácticas que elaboran los profesores de educación física de nivel superior prioriza una perspectiva de corte dualista. METODOLOGÍA La metodología a utilizar se basa en el análisis documental y en el análisis de contenido. Se considerará el contenido de los documentos en sus términos y en sus connotaciones, recogiendo la información a partir del material obrante en los Diseños Curriculares Institucionales Oficiales de Instituciones de Formación de docentes de Educación Física de Brasil. Es una investigación de profundidad descriptiva y según la perspectiva temporal, es sincrónica. El tratamiento de los datos se hará en forma mixta, cuantitativa- cualitativa. En cuanto a la finalidad de la Investigación es teórica y Investigación aplicada. El aporte de este trabajo se inscribe en un doble plano: teórico, y aplicado. Siguiendo el el método de análisis documental de contenido y realizando el registro de los datos a partir del material obrante en los Diseños Curriculares Institucionales oficiales de Instituciones superiores de Formación de docentes de Educación Física de Brasil se espera, al final de esta investigación, obtener variables, categorías y tipologías que sirvan de referenciales que facilite la abordaje de los discursos por parte de los profesores de educación física de nivel superior respecto de la planificación de estudios. Se ha formado una muestra probabilística de 50 planificaciones, obtenida de 5 profesores de 10 instituciones. El resultado es la obtención de variables, categorías y tipologías que facilitarían el abordaje del discurso de la planificación de estudios de 215 grado en educación física por parte de los profesores. Se considera que el curso de graduación es un espacio importante y privilegiado para la construcción de la fundamentación teórico-práctica del movimiento y del cuerpo como materias primas de la carrera de educación física. PRESENTACIÓN DE LOS RESULTADOS GRÁFICO I Como podemos notar este gráfico apunta la cantidad de universidades investigadas, o sea, de las 10 universidades investigadas 8 son privadas, 1 púlbica federal y 1 pública provincial investigadas 8 son de universidades privadas, 1 es de universidades publica federal y 1 es de universidades publica provincial totalizando 10 planificaciones. GRÁFICO II Este gráfico apunta las planificaciones investigadas. De las 10 universidades. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 216 GRÁFICO III Este gráfico apunta las categorías investigadas a partir de los análisis de los planes de estudio o sea, de las 10 universidades investigadas 70% se caracteriza por el área de la salud y solamente 30% por el área de la educación GRÁFICO IV Con la intención de hacer las primeras aproximaciones sobre como los profesores tratan/lidam con el cuerpo. Para presentar y analizar los datos obtenidos, optamos por elaborar una especie de continuum, en el cual los profesores se situarían, visualizado de la siguiente forma: El cuerpo "fragmentado" sería la comprensión del cuerpo de forma reducionista, visando primordialmente aspectos técnicos o biológicos. El cuerpo "sociocultural o político" comprendería una visión crítica del cuerpo y de su papel en la sociedad. Ambos estarían en las extremidades del continuum. En las posiciones intermediarias cuerpo "intermediario" ), el cuerpo es visto como uno todo integrado (cuerpo-miente), sin embargo, desconsiderando los aspectos socioculturales que lo marcan e influéncian Con relación a las concepciones de cuerpo, los sentidos a la él atribuidos por los profesores podrían ser así distribuidos: de la Educación Física, obtuvimos las siguientes respuestas este movimiento puede En cuanto a la forma como cada profesor ve o entiende el cuerpo en el ámbito Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 217 señalar un juicio fundamental para sostener esta concepción. DICUSIÓN Se percibe también que hay una diferencia con respecto a estas categorías criadas. Después del análisis de los plan de estúdios de 5 facultades hay una diferencia entre los cursos de bachillerato y de licenciatura en sus disciplina, plan de estudio estructuras curriculares. En los curso de Bachillerato tiene una visión más Ha tratado el cuerpo a partir de parámetros de la técnica, de la racionalidad y de la fragmentación, en sentido de proyectar el cuerpo perfecto y saludable, prototipo de la sociedad y en los curso de licenciatura em conversa com algunos profesores hablaran que trabajar en la área licenciatura, sobre todo, es estar en interacción constante con el cuerpo, y argumentaran que el movimiento que confiere especificidad a la educación física es aquel con determinado sentido y significado, que, a su vez, es condicionado por el contexto social. Após la segunda análsies de los restante de las facultades elijadas Se percibe aun que hay una diferencia con respecto a estas categorías criadas. Después del análisis de los plan de estúdios de 5 facultades hay una diferencia entre los cursos de bachillerato y de licenciatura en sus disciplina, plan de estudio estructuras curriculares. En los curso de Bachillerato tiene una visión más como algo separado despregado es uma decotomía com propuesto por Descartes em sus estúdios o sea ha tratado el cuerpo a partir de parámetros de la técnica, de la racionalidad y de la fragmentación, en sentido de proyectar el cuerpo perfecto y saludable, prototipo de la trabajar sociedad y en los curso de licenciatura em conversa com algunos profesores hablaran queen la área licenciatura, sobre todo, es estar en interacción constante con el cuerpo, y argumentaran que el movimiento que confiere especificidad a la educación física es aquel con determinado sentido y significado, que, a su vez, es condicionado por el contexto social. Solamente en la universidad Publica (Ufscar-Univesidad Federal de São Carlos) que tiene una visón de los dos categorías junta e bien equilibradas debido a las exigencias académicas con relación titulación de los profesores, la áreas de pesquisa, ofrecimiento de beca para alumnos, ofrecimiento de curso de pos grado Doctotados y de Maestria o sea esta universidad preocupa-se con la formación de los alumnos de una forma integral. Y dan suporte para los profesores trabajaren y desenrollar sus pesquisas. Por lo tanto las planificações presentados en la íntegra, revelan la crisis de la Educación Física Superior, o mejor, del sistema educacional brasileño. Sin embargo se constata la dificultad de comprensión de este profesional, en el que se refiere al cuerpo humano, el cual se utiliza diariamente. La actuación profesional se encuentra distante de una armonía corporal a la luz del abordaje sistémico de vida. Se observa sin embargo, que los Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 218 profesores hasta poseen conciencia de que la sociedad resume el cuerpo como una simple mercancía. Sin embargo, no consiguen definir claramente objetivos para superar esta situación. Lo enseñaza supeior, aún, se caracteriza como una actividad eminentemente práctica, con poca fundamentação teórica donde, se reduce la práctica de juegos, brincadeiras y actividades relacionadas el área de la salud preocupándose sólo con el cuerpo saludable, bonito, atlético, etc. Finalmente, la dicotomia cuerpo-mente, aún, se encuentra presente!!!!! Buscamos dejar bien claro que sus nombres, así como lo de suyas Instituciones no serían mencionados/citadas, para que posteriormente pudiéramos finalmente relacionar las palnificações recolectados con la investigación bibliográfica realizada para, principalmente, detectemos las posibles contradicciones inherentes al objeto de estudio propuesto: Cuerpo. Se constató hasta el presente momento la dificultad de comprensión de este profesional, en el que se refiere al cuerpo humano, del cual se utiliza diariamente. La actuación profesional se encuentra distante de una armonía corporal a la luz del abordaje sistémico de vida. Se observó, sin embargo, que los profesores en sus hablas hasta poseen conciencia de que la sociedad resume el cuerpo como una simple mercancía. Sin embargo, no consiguen definir claramente objetivos para superar esta situación. La Educación Física Escolar, aún, se caracteriza como una actividad eminentemente práctica, con poca fundamentação teórica donde, se reduce la práctica de actividades deportivas visando competitividad, preocupándose sólo con el cuerpo saludable, bonito, atlético. El hecho es que el dualismo cuerpo y mente viene, durante gran parte de la historia humana, recibiendo de las más variadas culturas y pueblos, diferentes significados. Sin embargo, nunca perdiendo este estigma de división de nuestro cuerpo. Finalmente, la dicotomia; cuerpo-mente, aún se encuentra presente. o sea, la concepción cartesiana de cuerpo esteja embasada en la desorganización de la estructura curricular del cursos y en la mala formación académica de los profesores. Se CONCLUSIONES Creemos que podemos analizar el hecho de que el dualismo cuerpo y mente viene, durante gran parte de la historia Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 humana, recibiendo de las más variadas culturas y pueblos, diferentes significados. Sin embargo, nunca perdiendo este estigma de división de nuestro cuerpo. Tal vez este interés por el cuerpo venga de una necesidad íntima e intrínseca del hombre conocerse mejor. Estas tentativas de comprensión, por más contrarias que sean nuestras ideas y conceptos sobre el cuerpo, y los problemas que hoy enfrentamos causados por estas tentativas de comprenderse el hombre, deben ser respetados, pues el cuerpo se hace presente en nuestros medios (sea educacional o no pues cada época y cultura posee determinados valores para determinadas aspectos Actualmente, aún con la concepción sistémica de cuerpo, en que miente y materia ya no parecen pertenecer a dos categorías fundamentalmente distinguidas, estando presente en muchos discursos científicos, aún, la dicotomia). Sin embargo, la sociedad moderna reproduce nuestro cuerpo como una mercancía y, así, nodos no somos capaces de entender que, ni siempre aquello que es bueno para el logro sea bueno para el cuerpo Es en ese tocante que Educación Física debe, en nuestro punto de vista, dar su contribución para la tentativa de aclaración y reflexión sobre el cuerpo. Estamos, de una manera o de otra, compromissados y comprometidos con el hombre y su desarrollo en la sociedad y en especial, como educador comprometido con un análisis de las áreas del conocimiento de sí y del mundo, que es la Educación Física De ahí, nuestra importancia en empeñarnos sobre este asunto, reflejando seriamente sobre él, levantando cuestiones y llevando nuestras conclusiones a la comunidad. Sin embargo, en contraposición como ya citado anteriormente y confirmado después de análisis de las planificações , se verifica también, indicios profesionales a la busca de una reflexión holística de cuerpo de un abordaje sistémico de vida, o aún, de una concepción de cuerpo integral y de un ser crítico su realidad social. Se recomienda que las IES se atualizem enviando su cuerpo docente para congresos y que a través del del NDE(Núcleo docente estrurante) reformulen sus PPC enfatizando las cuestiones corporais en el que se refiere la concepción sistémica de educación física. 219 BIBLIOGRAFÍA BRACHT, Valter. Educação física: a busca da autonomia pedagógica. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 1, n. 1, p. 12-18, 1989. BRACHT, Valter; MELLO, Rosângela A. Educação física: revisão crítica e perspectiva. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 3, n.1, p. 03-12, 1992. BRUEL, Maria Rita. O corpo em movimento. In: Revista Motrivivência. Departamento de Educação Física. Sergipe, UFS, 1990. CAPRA, F. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 2001. CHAUI, Maria Helena. Convite a filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2001. DAOLIO, Jocimar. Da cultura do corpo. 4. ed. Campinas: Papirus, 1999. ECO, Umberto. Com se faz uma tese. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. GAARDER, Jostein. 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Mas se cabe à medicina salvar vidas, lutar pelo indivíduo enquanto houver vida no mesmo, cabe ao legislativo redigir leis que olhem para esse fato. A eutanásia é uma realidade. Há pessoas que a praticam e há pessoas que lutam a seu favor e contra ela. As civilizações sofrem transformações com o decorrer do tempo e adaptam-se à realidade que melhor lhes convêm, pois a estagnação apenas contribui para o atraso social, sem possibilidade de crescimento. O Direito segue pari pássu com tais transformações. Nesse contexto, urge promover reflexões sobre o tema para que possamos ter subsídios para tomarmos a decisão mais correta aos olhos da lei. Para tanto, por meio de levantamento bibliográfico das áreas afins, busca-se, no decorrer desse trabalho, compreender os pontos mais relevantes que envolvem o tema. Palavras-chave: eutanásia; morte, ortotanásia, distanásia ABSTRACT The issue that is addressed in this paper covers both the medical field as a legal as well, some thoughts should be mentioned before discussing the act is legally typical euthanasia. Technological advances in medicine have saved many lives, however, up to save a life, one might think to answer questions such as: “What life are wanting this guy has? How to live without a body? What these individuals want for it? ...". But if it is the medicine to save lives, fight for the individual as there is life in it; it is up to the legislative drafting laws to look at this. Euthanasia is a reality. There are people who practice it and there are people who struggle in their favor and against it. Civilizations undergo transformation with the passage of time and adapt to the reality that best suits them, because stagnation only contributes to social backwardness, without the possibility of growth. The law follows pari pássu with such transformations. In this context, it is urgent to promote reflection on the subject, so we can get subsidies to make the decision more correct in the eyes of the law. Therefore, by using literature from related fields, looking up, in the course of this work, understand the most important issues surrounding the topic. Keywords: euthanasia, death, orthotanasia, dysthanasia ******** 1 Advogada, Procuradora do Município, especialista em Direito Constitucional (PUC/Camp.), Mestre em Direito (SI/FMU), Enfermeira (UEM), especialista em Cardiologia (INCOR/SP). E-mail: [email protected] Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 221 O tema que é abordado no presente trabalho abrange, principalmente, a área médica, assim, algumas reflexões devem ser apontadas antes de discutir-se juridicamente o ato típico, Eutanásia. Destaque-se que os avanços tecnológicos na área médica têm salvado muitas vidas, no entanto, acima de salvar uma vida, se poderia pensar em responder perguntas, tais como: "Qual vida estamos querendo que esse indivíduo tenha? Como viver sem um corpo? O que esse indivíduo quer para ele?...". Não há como não sentir inquietação ao imaginar-se deitado em uma cama de hospital sem poder ao menos coçar seu próprio nariz. Mas se cabe à medicina salvar vidas, lutar pelo indivíduo enquanto houver vida no mesmo, cabe ao legislativo redigir leis que olhem para esse fato. A eutanásia é uma realidade. Há pessoas que a praticam e há pessoas que lutam a seu favor e contra ela. As civilizações sofrem transformações com o decorrer do tempo e adaptam-se à realidade que melhor lhes convêm, pois a estagnação apenas contribui para o atraso social, sem possibilidade de crescimento. O Direito segue pari pássu com tais transformações. Nesse contexto, urge promover reflexões sobre o tema para que possamos ter subsídios para tomarmos a decisão mais correta aos olhos da lei. Para tanto, por meio de levantamento bibliográfico das áreas afins, busca-se, no decorrer desse trabalho, compreender os pontos mais relevantes que envolvem o tema. Para o Direito Penal, a eutanásia voluntária (cujo conceito desenvolver-se-á adiante) não passa de um "suicídio impossível". Ressalta-se que suicídio não é crime, ao contrário do auxílio, induzimento e instigação. A Eutanásia pode ser entendida como auxílio ao suicídio, a (art. 122, caput, 2 parte, CP), no entanto, é necessário ressaltar que o auxílio ao suicídio deve ser provido a alguém que tem plenas capacidades de tirar a própria vida, contrariamente à eutanásia. O Direito regula a vida harmônica em sociedade, não supri a dor ou sofrimento, tanto é a negativa constitucional no tangente à tortura. O médico, ao provocar a eutanásia, ameniza, senão liberta da dor sofrida por outrem. Não há que se falar em ato típico quando de suicídio, portanto não há que se falar em crime quando da vontade de morrer por ser humano incapaz de praticar suicídio, pois se capaz fosse, esse certamente o cometeria, quando não há mais perspectivas de vida sã. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Poderíamos também falar em excludente de ilicitude quando, ao praticar a eutanásia, o dolo do médico, ainda que notório, não está manifestando vontade própria, vez que, pode sim estar exprimindo a vontade do paciente. Relembremos que o dolo, definido pelo artigo 18, inciso I do Código Penal, é a vontade do agente de produzir o resultado ou assumir o risco de produzi-lo. O médico, quando da prática da eutanásia, não quer o resultado, tampouco assume o risco de produzi-lo, mas não dispõe de meio bastante para modificar o resultado morte, apenas intervém de modo a acelerar um processo inevitável. No primeiro capítulo, o enfoque está na eutanásia, apresentando sua conceituação, seu histórico, tipos e exposição de casos divulgados na imprensa. O aspecto jurídico é abordado no decorrer do capítulo 2, iniciando pela questão jurídica da eutanásia no mundo, no contexto brasileiro e, por fim, a exposição da reformulação do Código Penal, que envolve o tema. Aspectos históricos da Eutanásia Diversos povos, como os celtas, por exemplo, tinham por hábito que os filhos atassem os seus pais quando estes estivessem velhos e doentes. Na Índia, os doentes incuráveis eram levados até a beira do rio Ganges, onde tinham as suas narinas e a boca obstruídas com o barro. Uma vez feito isto eram atirados ao rio para morrerem. A Bíblia também menciona uma situação que evoca a eutanásia, no segundo livro de Samuel. A discussão acerca dos valores sociais, culturais e religiosos envolvidos na questão da eutanásia vem desde a Grécia antiga. Por exemplo, Platão, Sócrates e Epicuro defendiam a ideia de que o sofrimento resultante de uma doença dolorosa justificava o suicídio. Em Marselha, neste período, havia um depósito público de cicuta a disposição de todos. Aristóteles, Pitágoras e Hipócrates, ao contrário, condenavam o suicídio. No juramento de Hipócrates consta: "eu não darei qualquer droga fatal a uma pessoa, se me for solicitado, nem sugerirei o uso de qualquer uma desse tipo". Desta forma, a escola hipocrática já se posicionava contra ao que hoje denominamos de eutanásia e de suicídio assistido (Ariés, 1977). Tais discussões não ficaram restritas apenas à Grécia. Cleópatra VII (69 a.C.-30 a.C.) criou no Egito uma "Academia" para estudar formas de 222 morte menos dolorosas. A discussão sobre o tema prosseguiu o longo da história da humanidade, com a participação de Lutero, Thomas Morus (Utopia), David Hume (On suicide), Karl Marx (Medicai Euthanasia) e Schopenhauer. No século passado, o apogeu de tal discussão se deu em 1895, na então Prússia, durante a discussão do plano nacional de saúde. Desse modo, foi proposto que o Estado deveria prover os meios para a realização de eutanásia em pessoas que se tornaram incompetentes para solicitá-la. No século XX, esta discussão teve um de seus momentos mais acalorados entre as décadas de 1920 e 1940. Foi enorme o número de exemplos de relatos de situações que foram caracterizadas como eutanásia, pela imprensa, neste período. O Prof. Jiménez de Asúa catalogou mais de 34 casos. O Dr. Jiménez de Asúa foi um importante advogado espanhol, na área do Direito Penal, no início do século XX, político, maçom, eugenista e defendia o direito da eutanásia, caracterizando-a como "homicídio piedoso". Em junho de 1925 proferiu palestras em Montevidéu – Uruguai –, sobre o tema do direito de morrer. O impacto dessas conferências foi tão grande que a sua doutrina serviu de base para o estabelecimento do "Homicídio Piedoso" incorporado ao Código Penal Uruguaio de 1934. Posteriormente, na Holanda, esse mesmo princípio jurídico da inimputabilidade e do perdão foi aplicado na legislação de 1993, quando a eutanásia começou a ser tolerada naquele país, apesar de não ser legalizada como procedimento em si. Em 1997, na Colômbia, foi aplicada novamente a sua proposta quando a Corte Constitucional aprovou uma demanda neste sentido (Ziegler, 1977). O Dr. Jiménez teve grandes problemas com a Corte Espanhola em 1925, sendo que em 13 de outubro a Real Ordem Espanhola obrigou o Reitor da Universidade de Murcia a suspender as atividades do professor e a reduzir seu salário à metade, por entender as suas posições como antissociais. Ele defendia a eugenia e a separação entre o casamento religioso e a união civil, entre outras posições polêmicas para a época. Todas as cátedras de Direito da Espanha se solidarizaram com ele, alegando a liberdade de cátedra que professores deveriam poder exercer. Da mesma forma, recebeu cartas de apoio de diferentes sociedades defensoras da eugenia, com destaque para a Eugenics Society, de Londres, parabenizando-o pelos sacrifícios assumidos em defesa da causa. Em 9 de fevereiro de 1928 proferiu palestra para 4000 Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 pessoas na Faculdade de Medicina de Madrid, sobre o tema "O aspecto jurídico da Eugenia e a Maternidade Consciente". O seu livro "Liberdade para amar e direito a morrer" teve oficialmente inúmeras edições, na Espanha e na Argentina. Esse livro chegou a ser encarado como pornográfico, tendo tido várias edições clandestinas, vendidas em bancas de jornal, às quais foram acrescidas de desenhos ilustrativos que não constavam na obra original. O Prof. Jiménez de Asúa pode ser considerado como sendo o precursor do atual debate sobre eutanásia (Ziegler, 1977). No Brasil, na Faculdade de Medicina da Bahia, também no Rio de Janeiro e em São Paulo, inúmeras teses foram desenvolvidas neste assunto entre 1914 e 1935. Na Europa, especialmente, muito se falou de eutanásia associando-a com eugenia. Essa proposta buscava justificar a eliminação de deficientes, pacientes terminais e portadores de doenças consideradas indesejáveis. Nestes casos, a eutanásia era, na realidade, um instrumento de "higienização social" cuja finalidade era a de buscar a perfeição ou o aprimoramento de uma "raça", nada tendo a ver com compaixão, piedade ou direito para terminar com a própria vida. Em 1931, na Inglaterra, o Dr. Millard propôs uma Lei para Legalização da Eutanásia Voluntária, que foi discutida até 1936, quando a Câmara dos Lordes a rejeitou. Essa sua proposta serviu, posteriormente, de base para o modelo holandês. Durante os debates, em 1936, o médico real, Lord Dawson, revelou que tinha ''facilitado'' a morte do Rei George V, utilizando morfina e cocaína (Ariés, 1977). O Uruguai, em 1934, incluiu a possibilidade da eutanásia no seu Código Penal admitindo a possibilidade do "homicídio piedoso". Esta legislação uruguaia possivelmente seja a primeira regulamentação nacional sobre o tema. Vale salientar que esta legislação continua em vigor até o presente. A doutrina do Prof. Jiménez de Asúa, penalista espanhol, proposta em 1925, serviu de base para a legislação uruguaia. Historicamente destaque-se, em outubro de 1939, foi iniciado o programa nazista de eutanásia sob o código "Aktion T 4". O objetivo inicial era o de eliminar as pessoas que tinham uma "vida que não merecia ser vivida". Este programa materializou a proposta teórica da "higienização social". O teólogo episcopal Joseph Fletcher, em 1954, publicou um livro denominado "Morais and Medicine", no qual havia um capítulo com título "Euthanasia: our rigth to die". A Igreja Católica, em 1956, 223 posicionou-se de forma contrária a eutanásia por ser contra a "lei de Deus". O Papa Pio XII, numa alocução a médicos, em 1957, aceitou, contudo, a possibilidade de que a vida possa ser encurtada como efeito secundário a utilização de drogas para diminuir o sofrimento de pacientes com dores insuportáveis, por exemplo. Desta forma, utilizando o princípio do duplo efeito, a intenção é diminuir a dor, porém o efeito, sem vínculo causal, pode ser a morte do paciente. Em 1968, a Associação Mundial de Medicina adotou uma resolução contrária à eutanásia. Já em 1973, na Holanda, uma médica geral, Dra. Geertruida Postma foi julgada por eutanásia, praticada em sua mãe, com uma dose letal de morfina. A mãe havia feito reiterados pedidos para morrer. Foi processada e condenada por homicídio, com uma pena de prisão de uma semana e liberdade condicional por um ano. Neste julgamento foram estabelecidos os critérios para ação do médico. Nos idos de 1980, o Vaticano divulgou uma Declaração sobre Eutanásia, onde existe a proposta do duplo efeito e a da descontinuação de tratamento considerado fútil. Em 1981, a Corte de Rotterdam revisou e estabeleceu os critérios para o auxílio à morte. Por volta de 1990, a Real Sociedade Médica dos Países Baixos e o Ministério da Justiça estabeleceram uma rotina de notificação para os casos de eutanásia sem torná-la legal, apenas isentando o profissional de procedimentos criminais. Em 1991 houve uma tentativa frustrada de introduzir a eutanásia no Código Civil da Califórnia - EUA. Neste mesmo ano a Igreja Católica, por meio de uma carta dirigida aos bispos, o Papa João Paulo II reiterou a sua posição contrária ao aborto e a eutanásia, destacando a vigilância que as escolas e hospitais católicos deveriam exercer na discussão destes temas (Ziegler, 1977). Os Territórios do Norte da Austrália, em 1996, aprovaram uma lei que possibilita formalmente a eutanásia. Meses após, essa lei foi revogada, possibilitando a realização da eutanásia na Austrália. Foi proposto, em 1996, um projeto de lei no Senado Federal (projeto de lei 25/96), instituindo a possibilidade de realização de procedimentos de eutanásia no Brasil. A sua avaliação nas comissões especializadas não prosperou. Em maio de 1997 a Corte Constitucional da Colômbia estabeleceu que “ninguém poderia ser responsabilizado criminalmente por tirar a vida de um paciente terminal que tenha dado seu claro consentimento". Essa posição estabeleceu um grande debate nacional entre Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 as correntes favoráveis e contrárias. Vale destacar que a Colômbia foi o primeiro país sulamericano a constituir um Movimento de Direito à Morte, criado em 1979. O Estado do Oregon, nos Estados Unidos, em outubro de 1997, legalizou o suicídio assistido, que foi interpretado erroneamente, por muitas pessoas e meios de comunicação, como tendo sido autorizada a prática da eutanásia. Em novembro de 2000 a Câmara de Representantes dos Países Baixos aprovou, com uma parte do plenário se manifestando contra, uma legislação sobre morte assistida. Essa lei prevê que para menores de idade, crianças entre 12 anos e 16 anos, é obrigatória autorização dos pais para que possam solicitar este procedimento. A lei holandesa que prevê a eutanásia foi promulgada no país em 2002. Essa lei apenas tornou legal um procedimento que já era consentido pelo Poder Judiciário holandês. A repercussão mundial foi muito grande com forte posicionamento do Vaticano afirmando que esta lei atenta contra a dignidade humana (Diniz, 1998). Casos Relatados de Prática de Eutanásia Karen Ann Quinlan, de 21 anos de idade, que em abril de 1975, por razões nunca totalmente conhecidas, deixou de ventilar durante dois longos períodos de tempo. Em consequência desses períodos de apneia sofreu lesões cerebrais irreversíveis, permanecendo em estado vegetativo persistente. A ausência de funções cognitivas privou-a de qualquer tipo de relação exterior e tornou-a dependente de suporte ventilatório, o que levou o pai de Karen a pedir ao médico para suspender o suporte de vida e permitir que a filha morresse. Frustrado com a recusa do médico em suspender o suporte de vida, sob a alegação de que se tal viesse a acontecer seria considerado homicídio, o Sr. Quinlan recorreu aos tribunais e pediu para ser nomeado tutor da sua filha de forma a poder legalmente representá-la. Após ser reconhecido como tutor invocou o direito de Karen à privacidade e à integridade física para interromper o suporte de vida. Destaque-se que o Supremo Tribunal de New Jersey aceitou a petição proposta, o tribunal postulou que Karen, se pudesse exprimir seu consentimento, poderia exercer seu direito constitucional de resistir a intervenção da prática médica de suporte de vida. À luz da incompetência de Karen, seu amoroso pai deve ser autorizado a exercer esse direito de liberdade em nome da filha, pois, de acordo com o tribunal, a recusa de tratamento médico 224 não é considerada homicídio. Possíveis interferências com a ética biomédica foram repudiadas pelo tribunal, uma vez que é reconhecido às pessoas o direito de decidir sobre cuidados de saúde e, caso no momento sejam incapazes de se autodeterminar, deverá ser garantida a possibilidade de as decisões serem tomadas por um representante. O caso de Karen Ann Quinlan é significativo porque pela primeira vez foi abordada a problemática da retirada de suporte ventilatório em doentes inconscientes. Outro caso, Nancy Cruzan, em 1983 ficou gravemente ferida num acidente de automóvel que a fez permanecer durante vários anos em estado vegetativo persistente. Embora ventilasse espontaneamente, era incapaz de comunicar-se, bem como de qualquer tipo de vida e dependia de um tubo para se alimentar e hidratar, pois tinha perdido o reflexo de deglutição. Confrontados com o estado da filha, os pais de Nancy apresentaram no tribunal uma petição para que fosse autorizada a retirada do tubo e a consequente suspensão da alimentação e da hidratação artificiais. O tribunal condicionou o diferimento do pedido à prova convincente e irrefutável de que esse era o desejo de Nancy antes do acidente. Finalmente, e após vários debates judiciais e a demonstração cabal (por via de testemunho de amigos) da vontade previamente manifestada por Nancy, um tribunal permitiu a retirada do tubo que a mantinha artificialmente viva. Nancy Cruzan faleceu a 26 de dezembro de 1990. O conhecido caso de Terri Schiavo também merece destaque. Em 2005 faleceu Terri Schiavo, depois de 15 anos em estado vegetativo, alimentada e hidratada por uma sonda. A sua morte encerrou a trágica batalha judicial que se desenhou entre o marido e os pais, e que culminou numa ordem judicial para retirar a sonda que a alimentava artificialmente, dando-se assim origem ao processo de morte natural. Casos relatados em Vera Lúcia Raposo, Directivas Antecipadas de Vontade: em busca da lei perdida. Conceito de Eutanásia Eutanásia é um vocábulo grego formado de eu (bem, bom) e thánatos (morte), e tem como significado boa morte, a morte sem sofrimento, morte doce, tranquila, serena, bondosa. Criada pelo filósofo inglês Francis Bacon em 1963, que trouxe o conceito quando expressou que o médico deve acalmar os sofrimentos e as dores não apenas quando este Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 alívio possa trazer a cura, mas também quando pode servir para procurar uma morte doce e tranquila. De acordo com Figueiredo, é a morte, provocada por outrem, de uma pessoa que sofre enfermidade incurável, para abreviar a agonia grande ou dolorosa. De maneira geral, entende-se por eutanásia quando uma pessoa causa deliberadamente a morte de outra que está mais fraca, debilitada ou em sofrimento. Neste último caso, a eutanásia seria utilizada para evitar a distanásia. No conceito atual, a eutanásia é dada a uma pessoa que sofre uma enfermidade incurável ou muito penosa, para suprimir a agonia demasiadamente longa e dolorosa. Ela é feita através de aplicação ou interrupção de medicamentos, além disso, alguns escritores acrescentam que para sua aplicação se exija o consentimento do paciente, ao contrário de outros que não veem essa necessidade (Penna, 1996). Importantes fatores também devem ser citados neste conceito que traz grandes polêmicas; um destes deve ser representado pela intenção de quem produz ou omite prevenir a morte. Interesse também reveste o meio empregado, que deve ser indolor, sendo pressuposto do ato eutanásico a cessação do sofrimento. A eutanásia, muitas vezes, é confundida com homicídio por compaixão. É claro que eles estão estreitamente ligados, mas a eutanásia é praticada cientificamente, por médicos quando autorizado, com métodos precisos e estudados para que não venha à pessoa ter sofrimento; já o homicídio por compaixão é praticado de forma rude, sem recursos e conhecimentos (França, 1984). Resumidamente, se pode trazer uma simples conceituação de eutanásia como sendo a ocisão indolor como prevenção da morte por causas naturais no curso de doenças terminais e que pode corresponder ao conceito de eutanásia comissiva, ou positiva, ou ativa. Atualmente a eutanásia pode ser classificada de várias formas, de acordo com o critério considerado (Santos, 1992). Quanto ao tipo de ação: a Eutanásia ativa: o ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente, por fins misericordiosos. Eutanásia passiva ou indireta: quando a morte do paciente ocorre, dentro de uma situação de terminalidade, ou porque não se inicia uma ação médica ou pela interrupção de uma medida extraordinária, com o objetivo de minorar o sofrimento. Eutanásia de duplo efeito: quando a morte é acelerada como uma consequência indireta das 225 ações médicas que são executadas visando o alívio do sofrimento de um paciente terminal. Também pode ser classificada segundo o consentimento do paciente. Eutanásia voluntária: quando a morte é provocada atendendo a uma vontade do paciente. Eutanásia involuntária: quando a morte é provocada contra a vontade do paciente. Eutanásia não voluntária: quando a morte é provocada sem que o paciente tivesse manifestado sua posição em relação a ela. Essa classificação, quanto ao consentimento, visa estabelecer, em última análise, a responsabilidade do agente, no caso o médico. Esta discussão foi proposta por Neukamp, em 1937. Historicamente, a palavra eutanásia admitiu vários significados. Destacamos, a título de curiosidade, a classificação proposta na Espanha, por Ricardo Royo-Villanova, em 1928, “Consentimento ou autorização é a escolha voluntária feita pelo indivíduo, livre de coerção do médico, do pesquisador, de outros profissionais de saúde, de seus familiares, amigos ou da própria sociedade”. Alguns autores enfatizam que consentimento é uma autorização ativa e não uma simples concordância passiva. No Brasil, também em 1928, o Prof. Ruy Santos, na Bahia, propôs que a eutanásia fosse classificada em dois tipos, de acordo com quem executa a ação. Assim, a eutanásiahomicídio se dá quando alguém realiza um procedimento para terminar com a vida de um paciente. Eutanásia homicídio é realizada por médico ou por um familiar. Eutanásia suicídio quando o próprio paciente é o executante, esta talvez seja a ideia precursora do suicídio assistido. Finalmente, o Prof. Jiménez de Asúa propôs que existem, a rigor, apenas três tipos: “eutanásia libertadora, realizada por solicitação de um paciente portador de doença incurável; eutanásia eliminadora, realizada em pessoas portadoras de distúrbios mentais; e eutanásia econômica, realizada em pessoas que ficam inconscientes e que poderiam, ao recobrar os sentidos, sofrer em função da doença”. Essas ideias bem demonstram a interligação que havia nesta época entre a eutanásia e a eugenia, isto é, na utilização daquele procedimento para a seleção de ainda aptos ou capazes e na eliminação dos deficientes e portadores de doenças incuráveis. Definindo o termo Morte Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Segundo Lock (2004), citado por Gomes e Menezes, até a segunda metade do século XX, o paradigma que regeu a definição da morte centrava-se na parada dos batimentos cardíacos e da respiração. Consequentemente, a condição de pessoa viva era definida pelo funcionamento de seu sistema cardíaco e respiratório. No final do século XIX e início do XX, médicos descreveram casos de pacientes que apresentavam um quadro neurológico, denominado em 1959, por Mollaret e Goulon, de coma irreverssível (coma depassé), um quadro clínico caracterizado por ausência de funcionamento cerebral e manutenção das funções dos outros órgãos e sistemas. A partir dos avanços tecnológicos foi necessário estabelecer novos critérios de definição de morte, pois já não é mais possível referir-se apenas à parada cardiorrespiratória. A morte, antes identificada como a cessação da atividade espontânea da função cardíaca e respiratória, com a paralisação circulatória irreversível, passou a ser determinada com a paralisação das funções cerebrais. A fixação de critérios na determinação da morte denominada "cerebral" foi estabelecida de acordo com as normas que foram criadas visando à realização dos transplantes. Em 1968, o Conselho das Organizações Internacionais de Ciências Médicas (CIOMS), vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS) e à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), reuniu-se em Genebra e estabeleceu critérios sobre morte cerebral, aprovadas por unanimidade, em declaração conjunta por todos os países que ali compareceram fundada sobre "o que se deve entender por morte do doador", em casos de transplantes: "1) perda de todo sentido ambiente; 2) debilidade total dos músculos; 3) paralisação espontânea da respiração; 4) colapso da pressão sanguínea no momento em que deixa de ser mantida artificialmente; 5) traçado absolutamente linear de eletroencefalograma". (Segre; Cohen, 1995). Objetivando a caracterização da morte "cerebral" foram também realizados inúmeros simpósios e congressos os quais produziram documentos como a “Declaração de Sidney", a do "Comitê de Harvard" e a declaração contida na The Human Tissue Act, de 1961, da Inglaterra. Antes de entrar no enfoque jurídico da eutanásia, cabem algumas considerações. Ariés (1977) falou da morte no século XX como interdita, invertida, vergonhosa, fracasso, erro médico, como se o homem pudesse ou devesse 226 derrotar a morte. O ser humano é o único ser sobre a terra que tem consciência da sua finitude, ou seja, é o único que sabe ser sua passagem neste mundo transitória e que deve terminar um dia. Sob o prisma da humanidade, trata-se da extinção biológica de um ser de relação, ser corpóreo que interage com seu meio, uma morte globalizada socialmente, e o seu vazio é sentido como um vazio interacional. Desta maneira, o estudo da morte e do morrer deu ensejo à criação de um novo ramo do conhecimento científico, a Tanotologia (ciência do estudo da morte), que mergulha na pesquisa filosófica e antropológica das diversas formas de representação ritualística da extinção da vida entre diferentes povos e culturas. Sob este aspecto, a morte é um evento público, coletivo, psicossocial em que ele se insere. Até o século XVII, o homem somente se sentia senhor de sua vida na medida em que se sentisse também senhor da sua morte. Com o desenvolvimento científico, encontrou-se a saída para o dilema. Tal fato se traduziu na medicalização da morte que seguiu à dessacralização desta mesma morte, o que ocorreu por volta do século XVIII ou XIX, quando passou a se determinar que os doentes fossem levados e morressem nos hospitais. Antes, pelos desígnios de Deus inacessíveis aos homens, havia a boa e a má morte que governava os destinos humanos. A morte tomava-se laica, não mais religiosa. Neste novo contexto, a morte se transforma em fenômeno técnico que o médico decreta quando resolve interromper todo e qualquer tipo de tratamento: passa a ser um processo regulável, que ocorre por etapas sucessivas e bem compreendidas de frustrações (estágios de Kubler-Ross para pacientes terminais). Nem a família, nem o indivíduo são senhores de sua própria morte. Tal poder lhes foi negado, foi lhes retirado em nome da ciência, mesmo porque com a desagregação da chamada família nuclear esta se aliena da morte, ignoraa por completo. Kovács aponta que uma das situações que geram agonia nos profissionais de saúde é quando o paciente declara o seu desejo de morrer e quando pede que o profissional faça alguma coisa para apressar sua morte. Após uma escuta mais atenta, o profissional pode compartilhar a situação com o paciente e perceber que se não puder fazer outras coisas para aliviar o seu sofrimento saberá, ao menos, dividir o sentimento de impotência por não poder fazer nada, o que é diferente de Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 abandoná-lo à própria sorte porque não se pode fazer nada. Pessini e Barchifontaine (1994) apontam uma distinção importante entre os conceitos deixar morrer em paz e eutanásia, citando o especialista em ética Javier Gafo. O conceito de eutanásia envolve tirar a vida do ser humano por considerações humanitárias, para aliviar o sofrimento e a dor. Hoje, não se concebe mais a divisão entre eutanásia ativa e passiva. Atualmente, em alguns países existe a proposição de se substituir o termo eutanásia pelo direito de morrer com dignidade ou em paz. Morrer em paz se refere "àquelas situações em que se toma a decisão de não continuar mantendo a vida, suprimindo determinadas terapias ou não as aplicando a um enfermo aos quais não existem possibilidades de sobrevivência, seja porque ele próprio expressou sua vontade explicitamente ou porque se pode pressupor”. Para Kovács (1994) se trata de conceitos de fronteira, pontos polêmicos que exigem profundos debates, envolvendo discussões sobre direito individual e lei, os quais envolvem desejos, anseios, decisões e escolhas, conflito e, portanto, além de questões morais, se relacionam com aspectos éticos. Os argumentos variam: para os que são favoráveis à vida a todo custo, o desligamento dos aparelhos, mesmo em pacientes com condições irreversíveis, é visto como eutanásia. Os que são favoráveis a um processo de morte com dignidade veem o prolongamento dos tratamentos em situações irreversíveis como um atentado à vida. A EUTANÁSIA À LUZ DO DIREITO Aspectos Jurídicos da Eutanásia A discussão sobre a questão da eutanásia também apresenta divergências entre os doutrinadores. Segundo Chaves existem argumentos favoráveis e contrários à liberalização da prática da eutanásia, assim, “os que advogam tal prática prendem-se ao argumento de que, na medicina, existem quadros clínicos irreversíveis onde o paciente, muitas vezes passando por terríveis dores e sofrimentos, almeja a antecipação da morte como forma de se livrar do padecimento que se toma o viver.” Jorge Figueiredo Dias (1983), por exemplo, defende que o aniquilamento das vidas indignas de serem vividas (p. ex., a morte dada a doentes mentais incuráveis), é em todo e qualquer caso proibida no sentido do crime de 227 homicídio, mesmo sendo levada a cabo por um médico. Aqueles casos em que o médico dá a morte a um doente incurável em estado de sofrimento, mas por forma diferente da do seu abandono ao processo natural, dê ou não o seu consentimento, o comportamento do médico é punível por homicídio. Acrescenta ainda o autor que “as disposições antecipadas de vontade, sobretudo se periodicamente reiteradas, constituem, bem pelo contrário, o mais forte indício da vontade presumida do declarante e só podem ser desobedecidas se forem conhecidas as razões que definitivamente as contrariem” Da hipótese considerada acima, há, porém, que distinguir cuidadosamente casos éticos, juridicamente muito diferentes e muito diferentes ainda quando para ambos se propugne identidade de solução, em face do Direito Penal, o caso do auxílio médico à morte, em sentido estrito. Maria Celeste C. L. Santos (1992) faz a seguinte colocação: “Parece-me seguro por um lado que o auxílio médico à morte é incondicionalmente lícito sempre que operado sem encurtamento do período natural de vida: por outro, que o mesmo auxílio com encurtamento do período natural de vida é um princípio ilícito no sentido do crime de homicídio (...)”. Nelson Hungria (1942) aponta que: “(...) o novo Código (1940) não cuida explicitamente do crime por piedade, mas este pode aconselharse à sombra da atenuante geral do "motivo de relevante valor moral, e, quando se trate de homicídio ou de lesões corporais, terá ingresso para a redução de pena (...)”. Os doutrinadores que se opõem à eutanásia afirmam ser inegável o acerto de decisão do novo Código ao enjeitar a completa isenção de pena no caso de homicídio por piedade, ainda que sem remédio, o sofrimento da vítima e preceda a súplica ou aprovação desta. Para eles o indivíduo que autoriza a própria morte não pode estar na integridade do seu entendimento. O apego à vida é um sentimento tão forte que o homem, no seu estado psíquico normal, prefere as dores e todos os calvários à mais suave das mortes. Dessa forma, tais doutrinadores apontam que a licença para a eutanásia deve ser repelida, principalmente, em nome do Direito. Mesmo admitindo-se que o assentimento da vítima pudesse anular a criminalidade do fato, não seria ele jamais o produto de uma vontade consciente ou de uma inteligência integral. Defender a eutanásia é, sem mais nem menos, fazer apologia de um crime. Não desmoralizemos a civilização contemporânea Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 com o preconício do homicídio. Uma existência humana, embora irremissivelmente empolgada pela dor e socialmente inútil, é sagrada. A vida de cada homem, até seu último momento, é a contribuição para a harmonia suprema do Universo e nenhum artifício humano, por isso mesmo, deve truncá-la. Não nos acumpliciemos com a morte" (Hungria, 1942). Arivaldo Alves de Figueiredo (1986) esclarece também um pouco do posicionamento do Código a respeito do assunto: “A eutanásia tem gerado grandes controvérsias, com prós e contras. O Código Penal de 1940 desaconselha e desacolhe a tese da imputabilidade do homicídio eutanásico. Apenas, em tais casos, o considera como um homicídio privilegiado (...)”. Flávio Gomes (2000) questiona a eutanásia da seguinte forma: “(...) a eutanásia, qualquer que seja a modalidade, desde que esgotados todos os recursos terapêuticos e cercada de regramentos detalhados e razoáveis, não pode ser concebida como um fato punível, porque não é um ato contra a dignidade humana senão, todo o contrário, em favor dela (...)” O Posicionamento no Mundo Realizado estudo comparado nota-se que os ordenamentos jurídicos estrangeiros enfrentam o tema de formas distintas, alguns penalizam a eutanásia, outros não fazem referência à sua prática e, apenas três Estados, o Estado de Oregon nos Estados Unidos da América (desde 1997), a Holanda (desde 2001) e a Bélgica (desde 2003), não a consideram crime. Conforme Roberti, há notícias, ainda, de que nos Territórios do Norte da Austrália, de 1º de julho de 1996 a 24 de março de 1997, esteve em vigor a primeira lei que autorizou a prática da eutanásia ativa, a qual recebeu a denominação de “Lei dos Direitos dos Pacientes Terminais”. Deste modo, observa-se que as legislações dos Estados que permitem a prática da eutanásia possuem pontos em comum, ou seja, todas determinam que a decisão parta do paciente que deve expressar sua vontade de por fim à própria vida; exigem a necessidade de que a enfermidade seja incurável e atestada por dois médicos; e que o sofrimento do paciente seja insuportável. De outro modo, Bolívia, Paraguai e Peru possuem legislações que penalizam expressamente a prática da eutanásia. Ressalte-se que, em alguns casos, a previsão da eutanásia se apresenta como uma causa de 228 redução de pena, como no ordenamento jurídico da Costa Rica. Em uma breve retrospectiva do tratamento que a lei tem dado à eutanásia, em alguns países e em determinadas épocas, temos que, na Alemanha, 1903, tentou-se legitimar a eutanásia no Parlamento da Saxônia, que a repudiou. Recentemente, a Corte de Justiça alemã decretou a legalidade da eutanásia passiva em casos específicos de pacientes terminais que requisitarem a interrupção do tratamento. Num Comitê Municipal da Inglaterra, 1922, foi apresentada uma moção propondo que o Parlamento aprovasse um projeto de lei que criaria um tribunal médico com autoridade e poder para apressar o fim rápido e calmo daqueles que sofriam de mal incurável. Atualmente, o governo britânico se aproximou da autorização ao suicídio assistido quando o procurador-geral do país delineou regras nas quais pessoas que auxiliam outras a cometer suicídio poderiam escapar de punições legais. O projeto tcheco de Código Penal, 1925, preceituava a eutanásia atribuindo ao Tribunal à faculdade de atenuar excepcionalmente a pena ou eximir o castigo. Em 1922, no caso de doença incurável ou de grave acidente, os dinamarqueses podem fazer um "testamento médico". A Justiça da Grã-Bretanha, 1993 e 1994, autorizou médicos a abreviarem a vida de doentes mantidos artificialmente. Em 1994, o Estado do Oregon (EUA) autoriza a eutanásia para doentes declarados em fase terminal e que fazem o pedido formalmente a um tribunal do Estado, mas nunca foi aplicado. O tribunal federal de apelações de New York, 1996, que tem competência em Vermont e Connecticut, autorizou a eutanásia médica. Na Escócia, 1996, pela primeira vez, uma paciente foi autorizada a morrer. Em 1997, a Corte Constitucional da Colômbia admitiu a prática da eutanásia para doentes em fase terminal. O governo da China, 1998, autorizou os hospitais a praticarem a eutanásia em pacientes terminais de doença incurável. Em 2000, a Holanda é o primeiro país a autorizar oficialmente a prática da eutanásia. A nova legislação permite aos médicos recorrerem à eutanásia em condições muito restritas. O enfermo deve estar sem qualquer esperança de sobrevivência e desejar pôr fim a sua vida. É relevante ressaltar que algumas leis penais contemplaram com a impunidade a prática da eutanásia, tais como: Código Penal Soviético (1922) isenta de pena o homicídio cometido por compaixão, a pedido de quem é morto; Código Penal Peruano (1942) estabelece que, Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 sendo o homicídio guiado por móvel altruísta e de compaixão, a penalidade não recai sobre o autor. Em geral, as leis penais têm-se ocupado da questão, quer estabelecendo a idade do autor do fato quer atenuando-lhe a pena, quer fixando o perdão judicial. No Brasil, o legislador não se referiu diretamente à eutanásia. Porém, o §1° do art. 121 do Código Penal atribui ao juiz a faculdade de diante do caso concreto atenuar a pena se o crime for cometido por motivo de relevante valor moral (homicídio privilegiado). Figura ainda no rol das circunstâncias que atenuam a pena (art.65, inciso III, alínea "a”). O homicídio eutanásico parece ter sido previsto pela primeira vez no Direito da Prússia que castigava como responsável de homicídio culposo àquele que "com boa intenção encurtasse a vida de um enfermo ou ferido mortalmente". Em 1902, o Penal da Noruega autorizou redução da pena para a morte por piedade do enfermo em estado desesperado. O Código Penal russo de 1922, hoje revogado, autorizou a eutanásia. Algumas leis quando não declaram sua licitude permitem sua possível impunidade, como no Uruguai e na Colômbia. Nesses países o que na verdade existe é um perdão judicial para o homicídio comissivo quando da morte antecipada pelo médico nos casos de morte certa do paciente. Nos Estados Unidos da América, cada estado a concebe de uma maneira particular, apelando na maioria dos casos para a jurisprudência. No Missouri, por exemplo, se é em parte contra; já no Minnesota se admite com uma relativa liberdade que a família possa intervir em nome do paciente. Apesar da contrariedade por parte de alguns estados, pode-se considerar que a eutanásia é aplicada com frequência neste país. Na Holanda, apesar da sua ilicitude, ela é largamente aplicada. Em muitos hospitais os médicos com uma desenvoltura ética crescente, estão aprimorando as técnicas de abreviar as penas de um paciente incurável, o que significa abreviar-lhe a vida, isto é, provocar a sua morte. A opinião dos holandeses é favorável em 80% à prática da eutanásia. O que demonstra que o povo está sentindo de perto a necessidade desse instituto legal. A resistência persiste apenas na aplicação da eutanásia ativa, pois a passiva já está incorporada à prática médica. Em 28 de novembro de 2000 o parlamento holandês aprovou um projeto de lei legalizando a eutanásia e o suicídio assistido por um médico, com isso a Holanda tornou-se o 229 primeiro país do mundo a legalizar a prática. Na Alemanha, o debate também toma corpo dia após dia, mas num itinerário vagaroso, pois que Adolf Hitler lhe deturpou o sentido na busca de uma "raça-ariana", em que milhares de enfermos mentais e outras pessoas por eles denominadas "raça-inferior" foram privados da vida. A Comissão de Ética Médica da França, em 1990, suspendeu por um ano a licença do exministro da Saúde, devido à sua declaração de que ajudou um doente incurável a morrer. No entanto, poucos anos atrás, havia um projeto de lei no Parlamento que permitiria aos pais suspender medidas de manutenção da vida de recém-nascidos defeituosos de menos de três dias. Destaque-se que em fevereiro de 2014, o Parlamento belga aprovou lei que permite eutanásia para crianças e que faz do país o primeiro do mundo a permitir a prática para crianças, sem restrição de idade. Ressalte-se que o país europeu ampliou a abrangência de lei que legalizou a prática, em 2002. Apreciada pelo Senado Belga em dezembro de 2013, a nova legislação foi aprovada em fevereiro de 2014 com 86 votos a favor, 44 contra e 12 abstenções. Vale ressaltar que os responsáveis legais e o próprio paciente, por meio de pedido expresso, desde que ele tenha capacidade de discernimento, uma doença incurável, um sofrimento físico impossível de suavizar e se encontre em fase terminal, deverão autorizar a prática. Bastante debatido no país, a questão em torno do discernimento – ter ou não –, o texto legal determina uma avaliação do médico responsável e também de um psicólogo infantil para atestar a maturidade do paciente. Porém, a aprovação da lei Belga autorizando a prática da eutanásia em crianças, líderes da igreja no país têm reiterado sua oposição à lei, temendo a banalização da prática. Nesse mesmo sentido, um grupo de mais de 160 pediatras chegou a enviar uma carta aberta ao Parlamento argumentando que não havia uma demanda da população pela ampliação da eutanásia, porém, segundo pesquisa realizada indicou que 74% da população declara ser favorável a aprovação da lei. Um dos estudos apresentados no Senado revelou que em 40% das mortes de menores com doenças incuráveis, os médicos decidiram interromper o tratamento que mantinha o paciente com vida. Esse procedimento não é considerado eutanásia, mas também requer autorização do paciente ou dos responsáveis. Vale ressaltar que a Holanda também legalizou Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 a eutanásia para menores, mas somente pacientes entre 12 e 18 anos podem pedi-la. Houve cinco casos de eutanásia nessa faixa etária desde que a lei entrou em vigor, em 2002. Luxemburgo é o terceiro país do mundo onde a prática é legal. Na Bélgica, foram 1.432 casos de eutanásia em 2012. O Direito Brasileiro A eutanásia no Brasil é considerada crime de homicídio. Deste modo, se um médico ou familiar do doente terminal provocar a sua morte, poderá ser condenado à pena de reclusão. O que avançou no país na última década foi o conceito de morte digna, ou ortotanásia, que é a suspensão de tratamentos invasivos que prolonguem a vida de pacientes terminais, sem chances de cura. Baseia na ideia de evitar o sofrimento do paciente, ou seja, o mesmo recebe cuidados paliativos (como analgésicos), mas não é reanimado ou entubado caso sofra parada cardíaca, segundo Collucci no jornal Folha de São Paulo. Ofertar-se cuidados paliativos quando se trata de paciente infantil, há muita resistência quando se trata de crianças terminais. Os médicos querem investir em tratamentos inúteis até o fim, deixá-las na unidade de terapia intensiva, prolongando muitas vezes o sofrimento das crianças e suas famílias, segundo Maria Goretti Maciel, presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos. O primeiro Código Criminal Brasileiro (1830), assim como os demais que seguiram, não cuidou especificamente do homicídio eutanásico. No entanto, ele disciplina o auxílio ao suicídio. O Código de 1890 manteve a mesma diretriz. O Código atual não cuida explicitamente da eutanásia, mas esta pode ser acolhida à sombra de atenuante geral do "motivo relevante valor moral". Porém, tal motivo não pode ser aplicado à eutanásia eugênica ou econômica, e mesmo tratando- se da eutanásia voluntária, que nesta deverá ser reconhecido em casos especialíssimos, depois afastada a hipótese, por mais leve que seja, de uma simulação. O Projeto da Parte Especial do Código Penal, em sua parte especial, no parágrafo terceiro do Art. 121 diz a respeito que “Não constitui crime deixar de manter a vida de alguém, por meio artificial, se previamente atestada, por dois médicos, a morte como iminente e inevitável, e desde que haja o consentimento do doente ou na sua impossibilidade, de ascendente, cônjuge ou irmão". 230 O novo Código Brasileiro de Ética Médica, RESOLUÇÃO CFM Nº 1.931, de 17 de setembro de 2009, publicado no Diário Oficial da União; em 3 out. 2009, em vigor a partir de 13/04/2010, entrou em consonância com a Legislação Penal em vigor para legitimar a ortotanásia, respeitando-se a dignidade da pessoa humana. Por consequência, condenou a distanásia, ou seja, a perpetuação artificial e dolorosa da vida humana, gerando sofrimento ao doente, com a finalidade exclusiva de assegurar a sobrevivência, independentemente das circunstâncias. Desta forma, segundo o inciso XXII, no capítulo dos Princípios Fundamentais, o novo Código de Ética Médica dispõe que “Nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o médico evitará a realização de procedimentos diagnósticos e terapêuticos desnecessários e propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os cuidados paliativos apropriados”. No atual Código Penal Brasileiro não há referência explícita à eutanásia, essa considerada um homicídio simples, com pena de seis a vinte anos de reclusão (Art. 121). A proposta para novo Código Penal inclui artigo que permite a eutanásia passiva ou morte por compaixão, tal situação está prevista no artigo 121. A proposta se enquadra na categoria de "exclusão de ilicitude", significando que não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial se a morte for iminente e inevitável e dois médicos atestarem isso previamente. Além disso, é preciso que haja consentimento do paciente ou, em sua impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge, companheiro ou irmão. A aprovação do artigo 121 permitirá que a eutanásia passiva seja feita, conforme a lei, evitando, assim, o prolongamento indevido da vida de um paciente terminal e encurtando o seu sofrimento. A eutanásia será incluída no Código Penal e deixará de ter o mesmo tratamento dado aos casos de homicídio. A eutanásia é a morte piedosa. Será punida menos severamente porque há solidariedade humana - segundo consideração do falecido Min. Vicente Cernicchiaro que presidiu a Comissão que revisou o código penal brasileiro. O novo projeto traz uma nítida distinção entre dois tipos de abreviação da vida, a ativa e a passiva: "a ativa é quando uma pessoa promove a morte de um doente para cessar seu sofrimento", destacou Cernicchiaro. Nesse caso, a morte provocada de paciente com doença grave e em estado terminal devidamente diagnosticada será punida com Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 três a seis anos de reclusão. A pena é menor do que a prevista hoje: de 6 a 20 anos, a mesma de homicídio. A eutanásia chamada de passiva é aquela em que um familiar ou conhecido de um paciente terminal, que sobrevive por meio de aparelhos, deixa de manter a sua vida artificial. Assim podemos inferir que não constitui crime deixar de manter a vida de alguém por meio artificial, se previamente atestada por dois médicos, a morte de alguém como iminente e inevitável. CONCLUSÃO Ante o exposto, verifica-se a eutanásia como sendo o homicídio por compaixão, hoje considerado fato típico e antijurídico perante a legislação penal pátria em vigor. Mundial e atualmente não se observa aceitação plena do instituto eutanásia, verificando-se que há países cuja eutanásia não é prevista na legislação (como no Brasil), mas tendo subsídios legais para a não culpabilidade do agente, outros em que a eutanásia é considerada como ilícito penal, e ainda em outros onde é legalizada. Atualmente, no âmbito legal brasileiro, se verifica duas correntes pertinentes à eutanásia; na primeira pune-se a eutanásia por considerar-se a vida o maior bem jurídico defendido e por supor-se que ninguém deseja a morte, mesmo ante o maior sofrimento e compadecimento sofrido; já a segunda corrente considera a eutanásia fato típico, antijurídico, porém não culpável, desde que o médico, ou seja, pessoa capacitada intelectual e cientificamente para tal, não antecipe a morte, apenas não prolongue a vida. Dessa forma, o médico tão e somente deixa que ocorra a ordem natural dos fatores, assim, permite a morte, não a antecipa, não a distancia. Pela corrente que exclui a culpabilidade da eutanásia não a preceitua como excludente de ilicitude, havendo divergência conceitual entre ambos os termos. Na culpabi1idade julga-se o agente não apto de apenação, mantém-se a ilicitude do ato, bem como sua antijuridicidade. Em contrapartida, no tangente à excludente de ilicitude, como o próprio vocábulo enumera, o ato deixa de ser ilícito, excluindo-se o crime e, portanto, neste caso, a culpa do agente existe, porém ante os fatos, o ato deixa de ser ilegal, permanece antijurídico, obstante atípico (pressupostos do crime). Juridicamente, o agente que comete eutanásia configura o homicídio simples privilegiado (art. 231 121, § 1°, CPB), se condenado, será apenado por reclusão de 6 a 20 anos, tendo a pena in concreto diminuída de 1/6 a 1/3. Ainda que controverso ao juramento hipocrático, pela segunda linha doutrinária, não prolongar, ou até mesmo, deixar de provocar a dor em paciente em fase terminal de moléstia grave, é considerado excludente de ilicitude perante o Projeto do Novo Código Penal, descrito em seu artigo 121, parágrafo terceiro. Nesse diapasão, ressalta-se a preservação do direito do enfermo haver “morte digna", sem sofrimentos mais intensos, desgastes emocionais e físicos, tanto deste quanto de familiares. Bem como é legal o suicídio, dá-se o direito de morrer àquele que sofre, não mais vive, vegeta. CÓDIGO BRASILEIRO DE DEONTOLOGIA MÉDICA. Jornal do CRMESP, 1984. COLLUCCI, Claudia. No Brasil, facilitar morte de doente é crime de homicídio. Jornal Folha de São Paulo, Caderno Mundo, 15 de fevereiro de 2014. COSTA JÚNIOR, Paulo José da. Comentários ao Código Penal. São Paulo: Saraiva, 1988. DIAS, Jorge Figueiredo. Liberdade, Culpa, Direito Penal. Coimbra: Coimbra, 1983. 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II.2 - Os artigos enviados devem ser originais, isto é, não terem sido publicados em outro periódico ou coletânea no país. O procedimento adotado para aceitação definitiva será o seguinte: Primeira Etapa: seleção dos artigos segundo critério de relevância e adequação às diretrizes editoriais. Segunda Etapa: parecer a ser elaborado por no mínimo dois consultores “ad hoc”, de forma cega, isto é, sem o conhecimento dos nomes por parte dos pareceristas e dos autores. No caso dos pareceres não serem conclusivos, ou divergentes, o artigo será enviados a novos pareceristas. Sendo que a aceitação final é de responsabilidade do Conselho Editorial e do Conselho Consultivo. III - Línguas: Serão aceitos trabalhos redigidos em inglês, português ou espanhol. IV - Tipos de Colaborações Aceitas pela Revista: serão aceitos trabalhos originais que se enquadrem nas seguintes categorias: IV.1 - Artigos Científicos: Apresentam, geralmente, estudos teóricos ou práticos referentes à pesquisa e desenvolvimento que Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 atingiram resultados conclusivos significativos. As publicações de caráter científico devem conter os seguintes tópicos: Título (Português e Inglês ou Espanhol e Inglês); Resumo; Palavras-chave; Abstract, Key words, Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão, Agradecimentos (quando necessários), Menção de Conflito de Interesses e Referências. IV.2 - Artigos de Revisão: Apresentam um breve resumo de trabalhos existentes, seguidos de uma avaliação das novas idéias, métodos, resultados e conclusões, e bibliografia relacionando as publicações significativas sobre o assunto. Devem conter os seguintes tópicos: Título (Português ou Espanhol e Inglês), Resumo, Palavras-chave, Abstract, Keywords, Introdução, Desenvolvimento (incluir os procedimentos de busca e seleção dos artigos utilizados na revisão), Conclusão, Menção de Conflito de Interesses e Referências. IV.3 - Casos Clínicos: Apresentam a descrição de casos clínicos, seguido de avaliação dos procedimentos, métodos, resultados e conclusões, e uma bibliografia relacionando as publicações significativas sobre o assunto. Devem conter os seguintes tópicos: Título (Português ou Espanhol e Inglês), Resumo, Palavras-chave, Abstract, Key words, Introdução, Relato e desenvolvimento do caso, Conclusão, Menção de Conflito de Interesses, e Referências. V - Forma de Apresentação dos Artigos V.I- Os artigos devem ser encaminhados via email para [email protected] ou [email protected] digitadas em editor de texto Word no formato.doc, em espaço 1,5 linha, em fonte tipo Times New Roman, tamanho 12. A página deverá ser em formato A4, com formatação de margens (3 cm), Os textos não devem exceder 20 páginas (atentar para o tamanho do arquivo que não deverá ultrapassar 3 Mb (Megabytes). As citações bibliográficas no texto devem seguir o sistema autor-data, conforme normas ABNT 10520/2002. V.II. A apresentação dos trabalhos deve seguir a seguinte ordem: 235 V.II.1. Folha de rosto sem identificação dos autores contendo apenas: • Título em português ou espanhol • Título em inglês V.II.2. Folha de rosto personalizada contendo: • Título em português ou espanhol • Título em inglês • Nome de cada autor, seguido por afiliação institucional e titulação por ocasião da submissão do trabalho. • Indicação do endereço completo dos autores, telefone e endereço eletrônico. Incluir também CPF e RG de todos os autores, à exceção dos autores estrangeiros. V.II.3. Folha contendo Resumo em português ou espanhol (mínimo de 150 e máximo de 250 palavras), redigido em parágrafo único, espaço simples e alinhamento justificado e Palavraschave (mínimo 3 e máximo 5). O resumo deve iniciar com a problematização, seguido dos objetivos, metodologia, resultados e finalização com a conclusão. Entre as palavraschave coloca-se ponto e vírgula para separálas. Cada palavra-chave deve ser grafada com o primeiro caractere em maiúsculo e os demais minúsculos. O item palavras-chave deve estar espaçado de duas linhas em branco do corpo do resumo; V.II.4. Folha contendo Abstract e Key words. O Abstract deve obedecer às mesmas especificações para a versão em português, seguido de Key words, compatíveis com as palavras-chave. V.II..5. Texto de acordo com as especificações recomendadas para cada tipo de colaboração. VI - Citações Bibliográficas devem ser de acordo com as normas da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas 6023. A responsabilidade pela edição e adequação dos manuscritos é de responsabilidade do autor, assim como pelos dados referenciais da obra. Segue abaixo modelos de referências. ARTIGOS CIENTÍFICOS HERNANDEZ, S.S.S.; VITAL, T.M.; GOBBI, S.; COSTA, J.L.R.; STELLA, F. Atividade física e sintomas neuropsiquiátricos em pacientes com demência de Alzheimer. Motriz, Rio Claro, v.17 n.3, p.533-543, jul./set. 2011. OLIVEIRA, E.M.; AGUIAR, R.C.; ALMEIDA, M.T.O.; ELOIA, S.C.; LIRA, T.Q. Benefícios da Atividade Física para Saúde Mental. Saúde Coletiva, v.8, n.50, p.126-130, 2011. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 ROCHA, R.T.; LELES, P.S.S.; OLIVEIRA NETO, S. Arborização de vias públicas em Nova Iguaçu, RJ: o caso dos bairros rancho novo e centro. Revista Árvore, Viçosa, MG, v.28, n.4, p.599-607, 2004. PARA ARTIGOS DA INTERNET: QUEIROZ, M.C. O direito como sistema autopoiético: contribuições para a sociologia jurídica. Disponível em: http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/o%20d ireito%20como%20sistema.pdf. [Acesso em: 02 jul. 2010]. Manual Merck para a família. Disponível em: http://www.manualmerck.net/images/thumbn ail/p_116.gif [Acesso em: 14 dez. 2009]. LIVROS ACADÊMICOS KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N. Robbins e Cotran Patologia. Bases Patológicas das Doenças. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2005. GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. 11. ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2006. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. Metodologia do trabalho científico. 2.ed. São Paulo: Atlas; 1986. TESES E DISSERTAÇÕES MIYAMOTO, S. O Pensamento geopolítico brasileiro: 1920-1980. 1981. 287f. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1981. FAGIOLI, M. Relação entre a condutividade elétrica de sementes e a emergência de plântulas de milho em campo. 1997. 74f. Dissertação (Mestrado em Agronomia) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Jaboticabal, 1997. NERY, R.M. Questões sobre questões leitura. 2001. 326f. Tese (Doutorado Lingüística) – Instituto de Estudos Linguagem, Universidade Estadual Campinas, Campinas, 2002. de em da de EVENTO (CONGRESSO, SIMPÓSIO, REUNIÃO, ENCONTRO, WORK SHOP) FESSEL, S.A.; FAGIOLI, M.; VIEIRA, R.D. Tratamento químico e uso de corante em sementes de amendoim e sua influência na qualidade fisiológica. In: SIMPÓSIO DE 236 PATOLOGIA DE SEMENTES, 5., 1998, Ponta Grossa. Anais... Ponta Grossa, 1998. p.29. MOREIRA, A.F.B. Multiculturalismo, Currículo e Formação de Professores. In: SEMINÁRIO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO BÁSICA, 2., 1998, Santa Cruz do Sul. Anais... Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1998. p. 15-30. OBS. Trabalhos com autorias múltiplas e idênticas deverão ser ordenados na ordem crescente de data. VII - Gráficos devem ser acompanhados dos parâmetros quantitativos utilizados em sua elaboração, na forma de tabela. VIII - Ilustrações até 5 (cinco) ilustrações (entre figuras, mapas, imagens, desenhos, fotografias, gravuras, tabelas e gráficos), dispostas o mais próximas possível do texto aos quais se referirem e acompanhadas das respectivas legendas, gravados em extensão *.JPEG, com resolução de 300dpi. IX - Observações importantes para a qualidade do artigo: 1. Título: deve ser sucinto e refletir o assunto discutido no texto. Título e subtítulo (se houver) devem estar na página de abertura do artigo na língua do texto e em inglês. O autor deve evitar sobrecarregá-lo com informação expressa em forma de abreviatura (salvo casos em que são universalmente conhecidas ou nomes de projetos) e entre parênteses. 2. Resumo: texto com quantidade predefinida de até 250 palavras, onde se expõe o objetivo do texto, a metodologia aplicada, e as soluções encontradas. O abstract é o resumo traduzido para a língua inglesa. 3. Palavras-chave: são palavras características que devem identificar o artigo em bases de indexação. Constituem item obrigatório e devem estar abaixo do resumo, antecedidas da expressão palavras-chave separadas entre si por vírgula. 4. Introdução: deve situar o leitor no contexto do tema estudado, oferecendo uma visão global da pesquisa realizada, situando o problema e a metodologia empregada. 5. Desenvolvimento e explanação dos resultados: é a fundamentação lógica do trabalho, onde o autor deve fazer uma exposição e uma discussão das teorias que foram utilizadas para o entendimento e o esclarecimento do problema pesquisado e que devem apresentar um estreita ligação com a dúvida investigada. Dependendo do assunto Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 tratado no manuscrito, há a necessidade de subdivisão em etapas que seguem em seções e subseções. A divisão do desenvolvimento deve apresentar a seguinte estrutura: a) Metodologia: descrição precisa dos materiais, métodos, técnicas, equipamentos e outros itens utilizados no decorrer da pesquisa, devendo estar apresentados com a maior clareza possível de modo que outros autores possam contextualizar e empregar em suas pesquisas. b) Resultados: apresentação da obtenção dos dados experimentais, que podem ser demonstrados através de tabelas, gráficos, fotografias, dentre outros recursos utilizados. c) Discussão: comentários cientificamente fundamentados, restritos apenas aos dados do trabalho confrontados com os dados da literatura da área na qual se encontra inserido o trabalho. 6. Conclusão: apresenta os resultados obtidos ao longo do manuscrito que foram extraídos da pesquisa ou apontados por ela, sendo relacionadas às diversas questões desenvolvidas ao longo do trabalho, sintetizando os resultados fundamentais, com comentários do autor e as contribuições resultantes da pesquisa. É importante a observação de que trata-se do encerramento do trabalho estudado, devendo responder às hipóteses propostas e aos objetivos apresentados na introdução, não devendo, sob condição alguma, que sejam apresentadas informações novas, que já não tenham sido apresentadas no desenvolvimento do trabalho. 7. Referências: Conjunto de informações que devem permitir identificar, no todo ou em parte, documentos impressos ou produzidos em diferentes materiais que foram citados no decorrer do texto, devendo seguir as normas da ABNT que estão explicadas e demonstradas no documento de orientação da apresentação gráfica do artigo. 8. Linguagem do artigo: O artigo é um texto condensado, é importante que sejam observados a correção e precisão da linguagem, coerência das idéias apresentadas, inteligibilidade, objetividade e fidelidade às fontes citadas. A análise destas questões inclui a análise de: a) impessoalidade: O trabalho é resultado da investigação cientificamente fundamentada do autor sobre determinado assunto, não cabendo um relato pessoal sobre o trabalho, haja vista que o estudo deverá ser acessível à comunidade científica sempre que outro estudioso necessitar explorar o assunto em questão, logo deve ser redigido em terceira 237 pessoa, caracterizando o teor universal da pesquisa desenvolvida; b) objetividade: deve ser direto, preciso, sem expressões que possibilitem interpretações medíocres, sem valor científico. Sendo assim, termos como “eu penso”, “eu acho”, “pareceme”, e outros que denotem dúvida ou desconhecimento de causa devem ser abolidos do texto; c) vocabulário técnico: a comunicação científica deve ser feita com termos comuns, que garantam a objetividade da comunicação, sendo, porém que cada área possui seu vocabulário técnico próprio que deve ser observado; d) correção gramatical: a observação da correção do texto deve ser feita com cuidado, evitando-se o uso excessivo de orações subordinadas em único parágrafo, o excesso de parágrafos, lembrando que cada parágrafo encerra uma pequena idéia defendida no texto, logo, encerrada a idéia, muda-se o parágrafo; e) ilustrações: a Revista Faculdades do Saber considera gráficos, mapas, fotografias, desenhos e tabelas como elementos ilustrativos devendo seguir as normas da ABNT que estão explicadas e demonstradas no documento de orientação da apresentação gráfica do artigo. X - Comitê de Ética Em toda matéria relacionada com pesquisa humana e pesquisa animal, os autores devem incluir no corpo do artigo, o número do processo de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, na qual a pesquisa foi realizada. XI - Conflito de Interesse Os autores devem preencher e assinar o formulário de Conflito de Interesse (Anexo A). XII - Direitos Autorais XII.1 - Artigos publicados na revista FACULDADES DO SABER Os direitos autorais dos artigos publicados pertencem à revista FACULDADES DO SABER. A reprodução total dos artigos desta revista em outras publicações, ou para qualquer outra utilidade, está condicionada à autorização escrita do(s) Editor(es). Pessoas interessadas em reproduzir parcialmente os artigos desta revista (partes do texto que excedam a 500 palavras, tabelas e ilustrações) deverão ter permissão escrita do(s) autor(es). O(s) autor(es) deverão encaminhar por e-mail o Formulário de conflito de interesse Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 (Anexo A), a Carta de Autorização para Publicação, juntamente com o artigo (Anexo B) e Concessão de Direitos Autorais (Anexo C). O processo de submissão é feito via email, pelo endereço [email protected] ou [email protected] . XIII - Endereço da revista FACULDADES DO SABER: FMG - Faculdade Mogiana do Estado de São Paulo Endereço: Av. Padre Jaime, 2600 – Jardim Serra Dourada – Mogi Guaçu – SP Site: http://www.fmg.edu.br/ E-mail: [email protected] / [email protected] Maiores informações: (19) 3831-3080 ou (19) 3831-3079 XIV - Princípios Éticos a serem Seguidos pelos Autores: É importante que os autores que desejam publicar nesta revista tenham em mente que o desenvolvimento científico e doutrinário deve estar baseado em princípios éticos fundamentais que contribuem para a própria qualificação das obras publicadas e servem como referencial de boa conduta. Pesquisas com seres humanos devem passar obrigatoriamente por um comitê de ética. Por isso, é importante que: a) Descrição clara e concisa da pesquisa e de sua importância; b) Detalhamento da pesquisa, para permitir a repetição por outros cientistas; c) Créditos a trabalhos anteriores. Citar fontes da atual pesquisa; d) Os originais devem vir com carta de autorização à revista; e) Proibida a publicação e submissão múltipla; f) Co-autoria: todos os autores devem assinar. É responsabilidade do autor principal: incluir todos que participaram e excluir os que não participaram; estabelecer a comunicação entre editor e demais autores; O encaminhamento de um original implica em que os autores aceitam a autoridade final do editor quanto à avaliação e edição do texto; Quem envia um artigo, está fazendo um contrato com a revista e aceita as regras impostas. 238 ANEXO A DIVULGAÇÃO DE POTENCIAL CONFLITO DE INTERESSE Título do artigo: Autor Correspondente: E-mail: Em conformidade com a lei do direito civil vigente no Brasil o autor declara não haver (em relação ao artigo) qualquer conflito de interesse. Nome por extenso Assinatura Caso existam conflitos de interesses, essa condição deve ser redigida no espaço abaixo: _____________________________________ ASSINATURA do Autor Responsável Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 Data 239 ANEXO B MODELO DE CARTA DE AUTORIZAÇÃO PARA PUBLICAÇÃO Ao Conselho Editorial da revista FACULDADES DO SABER Área: Título do Artigo: Nome(s) do(s) autor(es): O(s) autor(es) do presente trabalho se compromete(m) a cumprir as seguintes normas: 1) Todos os autores relacionados acima participaram do trabalho e responsabilizam-se publicamente por ele. 2) Todos os autores revisaram a forma final do trabalho e o aprovam para publicação na revista FACULDADES DO SABER. 3) Este trabalho, ou outro substancialmente semelhante em conteúdo, não foi publicado, nem está sendo submetido a outro periódico ou foi publicado como parte de livro. 4) O(s) autor(es) concordam em ceder os direitos autorais do artigo à revista FACULDADES DO SABER e a reprodução total ou parcial do mesmo em outras publicações requer a autorização por escrito . _________________,______/______/__________. Local / Data _____________________________ Assinatura do Autor Responsável Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 240 ANEXO C CONCESSÃO DE DIREITOS AUTORAIS (Modelo de Autorização) Esta autorização, devidamente preenchida, datada, assinada pelo autor principal, deverá ser entregue e, quando necessário, cópia da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e cópia do Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelo paciente no caso de utilização de sua imagem. ............................................................................................................................................................... [(nome, endereço, RG e CPF do(s) autor(es)], doravante denominado(s) Autor (es), elaborou(aram) o original do artigo “...............................................................................................................................” (nome do artigo), e por ser(em) titular(es) da propriedade literária do mesmo e em condições de autorizar(em) a edição de seu trabalho, concede(m) à REVISTA FACULDADES DO SABER a permissão para comercializar, editar e publicar o citado artigo impresso em papel ou on line na Internet, na “REVISTA FACULDADES DO SABER”, em número e volume ainda a serem definidos pelo Conselho Editorial da revista. Essa concessão não terá caráter de ônus algum para o Conselho Editorial da “REVISTA FACULDADES DO SABER”, ou seja, não será necessário o pagamento em espécie alguma pela utilização do referido material, tendo o mesmo o caráter de colaboração. O(s) Autor(es) compromete(m)-se a assegurar o uso e gozo da obra à revista REVISTA FACULDADES DO SABER, que poderá explorá-la com exclusividade nas edições que fizer e compromete(m)-se também a não autorizar(em) terceiros a transcreverem ou traduzirem parte ou totalidade da obra sem expressa autorização do Conselho Editorial da REVISTA FACULDADES DO SABER, cabendo ao infrator as penas da legislação em vigor. O Conselho Editorial da REVISTA FACULDADES DO SABER compromete-se a entregar uma revista ao Autor Principal, caso o artigo seja publicado. O Autor tem ciência de que: 1. A publicação desta obra poderá ser recusada caso o Corpo Editorial da REVISTA FACULDADES DO SABER, responsável pela seleção dos artigos, não ache conveniente sua publicação, seja qual for o motivo, sendo que este cancelamento não acarretará responsabilidade de espécie alguma e nem a qualquer título por parte do Conselho Editorial da REVISTA FACULDADES DO SABER; 2. Os Editores da REVISTA FACULDADES DO SABER, reservam-se o direito de modificar o texto, quando necessário, sem prejudicar seu conteúdo, com o objetivo de uniformizar a apresentação. Data: ______/______/____________ Nome do(s) Autor(es) e assinatura: Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014 241 ANEXO D CHECKLIST Faça uma revisão cuidadosa do texto com relação ao uso correto do idioma e à digitação. Revise, cuidadosamente, o texto, no que diz respeito às NORMAS de publicação da revista. Verifique os seguintes itens e ordem de aparecimento: ( ) Folha de rosto identificada ( ) Folha de rosto sem identificação ( ) Resumo (nº de palavras) ( ) Palavras-chave ( ) Abstract ( ) Key words ( ) Texto ( ) Documento comprovando a aprovação do trabalho por Comissão de Ética em Pesquisa (quando aplicável) ( ) Referências ( ) Ilustrações com resolução de 300 dpi ( ) Tabelas ( ) Gráficos ( ) Menção de conflito de interesse ( ) Carta de autorização para publicação ( ) Concessão dos direitos autorais para a revista. Revista Faculdades do Saber, Mogi Guaçu, 01(2): 151-244, jan-jun, 2014