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Copyright © - EDITORA UNIMONTES - 2010 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela Prof. Humberto Guido - Filosofia - UFU Prof. José Geraldo de Freitas Drumond - Unimontes Prof. Luis Jobim – UERJ Prof. Manuel Sarmento - Portugal Profª Maisa Tavares de Souza Leite - Enfermagem - Unimontes Profª Maria Geralda Almeida - UFG Prof. Manuel Sarmento - Minho - Portugal Profª Rita de Cássia S. Dionísio - Letras - Unimontes Prof. Silvio Guimarães - Medicina - Unimontes Profª Siomara A. Silva - Educação Física - UFOP VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Humberto Velloso Reis DIRETORA DA IMPRENSA UNIVERSITÁRIA Eliane Ferreira da Silva REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ivana Murta EDITORA UNIMONTES Conselho Editorial Prof. Antônio Alvimar Souza - Unimontes Prof. César Henrique de Queiroz Porto - Unimontes Prof. Duarte Nuno Pessoa Vieira - Portugal Prof. Fernando Verdú Pascoal - Valencia - Espanha Prof. Fernando Lolas Stepke - Univ. Chile Prof. Hercílio Martelli Júnior - Odontologia - Unimontes PRODUÇÃO GRÁFICA Imprensa Universitária/Unimontes EDITORAÇÃO, DIAGRAMAÇÃO E CAPA Sanzio Mendonça Henriques CATALOGADO PELA BIBLIOTECA CENTRAL PROFESSOR ANTÔNIO JORGE - UNIMONTES Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Título - Anais do 2º Encontro Internacional de Pesquisadores: esporte, saúde, psicologia e bem-estar Edição 1 - Ano Edição - 2014 Tipo de Suporte - INTERNET - Editor(a) EDITORA UNIMONTES Participações Maria de Fatima de Matos Maia et al. (ORGANIZADOR) 421 p. : il. ; 14 x 21 cm. Evento realizado no período de 27 a 31 de maio de 2014, organização de Maria de Fatima de Matos Maia, Maria Christina Soares Gomes, Berenilde Valéria de Oliveira Sousa, Fernanda Maia Tolentino. ISBN 978-85-7739-527-9 1. Ciências da saúde. 2. Psicologia do exercício e saúde. 3. Atividade física. 4. Bioética. 5. Bem-estar. 6. Esportes de rendimento humano. I. Maia, Maria de Fatima de Matos. II. Gomes, Maria Christina Soares. III. Sousa , Berenilde Valéria de Oliveira. IV. Tolentino , Fernanda Maia. V. Universidade Estadual de Montes Claros. Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia - GIPESOM. VI. Título. VII. Título: Esporte, saúde, psicologia e bem-estar Esta revista ou parte dela não pode ser reproduzida por qualquer meio, sem autorização escrita do Editor. 2014 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: [email protected] - Telefone: (38) 3229-8214 Filiada à Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Anais 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte, Saúde, Psicologia e Bem-Estar Direção Geral Prof. João dos Reis Canela - Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Maria de Fátima Turano - Diretora das Faculdades Integradas Pitágoras - FIPMoc Dr. Heli de Oliveira Penido - Provedor da Santa Casa de Montes Claros Coordenação Geral do Evento Prof. Dr. Jaime Tolentino Miranda Neto - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Maria de Fatima de Matos Maia - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Maurício Sérgio Sousa e Silva – Superintendente da Santa Casa de Montes Claros Rafael Silva Gontijo - Faculdades Integradas Pitágoras - FIPMoc João Paulo Ribeiro Gomes - Santa Casa de Montes Claros Coordenação das Áreas Tématica Esporte e Desempenho Humano Prof. Dr. Geraldo Magela Durães - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Alexandre Sérgio Silva - Universidade Federal da Paraíba - UFPB Prof. Dr. Marco Pereira dos Santos - Universidade Federal do Piauí - UFPI Prof. MSc. Ytalo Mota Soares - Universidade Federal da Paraíba - UFPB Psicologia do Esporte E Saúde Profª. Drª. Maria de Fatima Matos Maia - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Gislane Ferreira de Melo - Universidade Católica de Brasília - UCB Prof. Dr. Franco Noce - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Prof. Dr. Nilton Soares Formiga - UNINASSAU Profª. MSc. Maria Christina Soares Gomes - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Berenilde Valéria de Oliveira Sousa - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Thatiana Tolentino Maia - Faculdade Santo Agostinho - Sete Lagoas Profª. Fernanda Maia Tolentino Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Atividade Física E Saúde Prof. Dr. Paulo Roberto Amorim - Universidade Federal de Viçosa - UFV Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes - Universidade Norte do Paraná - UNOPAR Prof. Dr. António José Rocha Martins da Silva - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD Prof. Dr. Jean Claude Lafetá - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Severino Leão de Albuquerque Neto - Universidade Católica de Brasília - UCB Profª. MSc. Mônica Vieira de Souza - Universidade Católica de Brasília - UCB Bioética Prof. Dr. José Geraldo de Freitas Drumond - Faculdades Integradas Pitágoras - FIPMoc Prof. João dos Reis Canela - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Ciências da Saúde Prof. Dr. Prof. André Luiz Sena Guimarães - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Sergio Henrique Sousa Santos - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Profª. Drª. Lucia Helena Rodrigues Costa - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Amário Lessa Junior - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Comissão Editorial Profª. Drª. Maria de Fatima de Matos Maia - Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Profª. MSc. Maria Christina Soares Gomes - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Berenilde Valéria de Oliveira Sousa - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Fernanda Maia Tolentino - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Sanzio Mendonça Henriques - Designer gráfico - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Comissão de Divulgação Profª. MSc. Mônica Vieira de Souza - Universidade Católica de Brasília - UCB Profª. MSc. Claudiana Donato Bauman - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Adelson Fernandes da Silva - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Hermenegildo Giovanoni Neto - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Andréa Rodrigues Fróes - Assessoria de Imprensa e Marketing Diogo de Azevedo Rocha Dourado - Assessoria de tecnologia de informação 3 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores Comissão de Secretaria Profª. MSc. Maria Christina Soares Gomes - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Thatiana Maia Tolentino - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Msc. Amário Lessa Junior - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Celina Aparecida Gonçalves Lima - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Comissão Científica Profª. Drª. Maria de Fatima de Matos Maia - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES - Presidente Profª. MSc. Maria Christina Soares Gomes - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Berenilde Valéria de Oliveira Sousa - GIPESOM - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Gislane Ferreira de Melo - Universidade Católica de Brasília - UCB Prof. Dr. Nilton Soares Formiga - UNINASSAU Prof. Dr. Jaime Tolentino Miranda Neto - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Jean Claude Lafetá - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Orlene Veloso Dias - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Geraldo Magela Durães - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Carlo Baldari - Università di Roma - Foro Italico Prof. Dr. José Jacinto Branco Vasconcelos Raposo - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD Prof. Dr. Levi Leonido Fernandes da Silva - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD Prof. Dr. Alexandre Sérgio Silva - Universidade Federal da Paraíba - UFPB Profª. MSc. Ana Augusta Maciel de Souza - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Beatriz Rezende Marinho da Silveira - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Bruno Pena Couto - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Profª. Carla Fátima Di Pierro - NAR -GPA Núcleo de Alto Rendimento - Grupo Pão de Açúcar Profª. MSc. Clara de Cássia Versiani - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Danusa Dias Soares - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG Prof. Dr. Dartagnan Pinto Guedes - Centro de Pesquisa em Ciências da Saúde - Universidade Norte do Paraná - UNOPAR Prof. Dr. Davyson de Lima Moreira - Farmanguinhos / FIOCRUZ Profª. Drª. Fabiana da Silva Vieira Matrangolo - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. MSc. Fernanda Alves Maia - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Irineu de Sousa Júnior - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI / Campus Oeiras Prof. MSc. James Silva Moura Buchmeier - Universidade Federal da Paraíba - UFPB Profª. MSc. Karine Suene Mendes Almeida - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Karla Helena Coelho Vilaça - Universidade Católica de Brasília - UCB Profª. Drª. Lúcia Helena Rodrigues Costa - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Lucinéia de Pinho - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Marcos Antonio Pereira dos Santos - Universidade Federal do Piauí - UFPI Profª. MSc. Maria Tereza Carvalho Almeida - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Profª. Drª. Marise Fagundes Silveira - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Noriberto Barbosa da Silva - Universidade Católica de Brasília - UCB Prof. MSc. Ricardo Rodrigues Bacchi - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. Dr. Roberto Moraes Cruz - Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Prof. MSc. Ytalo Mota Soares - Universidade Federal da Paraíba – UFPB Profª. MSc. Claudiana Donato Bauman - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES Prof. MSc. Adelson Fernandes da Silva - Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES 4 Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Sumário EDITORIAL.......................................................................................................................................................................................................... 11 ÁREA - ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE....................................................................................................................... 13 PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E FATORES ASSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG..............13 PRÁTICA DE ATIVIDADE FÍSICA E FATORES ASSOCIADOS EM ADOLESCENTES DA CIDADE DE MONTES CLAROS-MG.......17 A GESTÃO DA CARREIRA ESPORTIVA: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA NO FUTEBOL BRASILEIRO..................................21 A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA NOS ANOS INICIAIS DA REDE PÚBLICA DE ENSINO: ESTUDOS COM PROFESSORES REGENTES DE TURMA.......................................................................................................................23 UTILIZAÇÃO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES POR PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO........................................................27 INFLUÊNCIA DA PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO COM OS SINTOMAS CLIMATÉRICOS............................................................31 O MARTELO COMO POSSIBILIDADE DE ABORDAGEM DESCONTRAÍDA DO ATLETISMO NA ESCOLA..............................35 ANÁLISE DE PREFERÊNCIA DE INCLUSÃO DE MODALIDADES ESPORTIVAS NO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA NA CIDADE JANUÁRIA - MG........................................................................................................................................................39 ÁREA - PSICOLOGIA DO EXERCÍCIO E SAÚDE....................................................................................................... 41 NÍVEL MOTIVACIONAL DOS ADOLESCENTES DE 10 A 14 ANOS QUE FREQUENTAM O PROGRAMA SEGUNDO TEMPO....41 TRANSTORNOS MENTAIS MENORES EM MULHERES DE UMA EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA..........................................45 VERIFICAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS DE RISCO ACERCA DAS RELAÇÕES SEXUAIS DE ACADÊMICOS DOS CURSOS DE FÍSICA E QUÍMICA ..................................................................................................................................................................49 DIÁLOGOS ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA E A PSICOLOGIA: POSSÍVEIS INTERLOCUÇÕES.......................................................53 AFASIAS FLUENTES E NÃO FLUENTES: ABORDAGEM TERAPÊUTICA.............................................................................................57 CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PARA O PARADESPORTO AQUÁTICO ....................................................................................61 ÁREA - BEM-ESTAR.................................................................................................................................................63 COMPORTAMENTO DE RISCO RELACIONADO AO USO DE TABACO EM CURSO DA ÁREA DE SAÚDE..............................63 A PERCEPÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA ESPORTIVA NA SAÚDE MENTAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA PROVENIENTE DE LESÃO MEDULAR...........................................................................................................................................67 USO DE CANNABIS SATIVA POR UNIVERSITÁRIOS DE UM CURSO DO CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS...............................................................................................................................................................................................71 CULTURA DE PAZ: TRABALHANDO A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ATENÇÃO PRIMÁRIA........................................................75 ACURÁCIA DA ESTRUTURA FATORIAL DA ESCALA DAS ATIVIDADES DE HÁBITOS DE LAZER EM FUNÇÃO DE VARIÁVEIS DESENVOLVIMENTISTAS..........................................................................................................................................................79 5 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores QUALIDADE DE VIDA DOS DOCENTES DA ÁREA DA SAÚDE DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA NO NORTE DE MINAS GERAIS............................................................................................................................................................................................83 PERCEPÇÃO DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS SOBRE A INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO NA QUALIDADE DE VIDA .......87 SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ÁREA DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA...............................................91 ÁREA - ESPORTE E RENDIMENTO HUMANO.........................................................................................................95 AVALIAÇÃO DA FLEXIBILIDADE EM ESCOLARES DE JANUÁRIA-MG..............................................................................................95 ANÁLISE DO EQUÍLIBRIO DINÂMICO E ESTÁTICO DE PRÉ-ESCOLARES DA CIDADE DE JANUÁRIA-MG............................99 CULTURA DE GÊNERO DAS MODALIDADES DE ACADEMIA.......................................................................................................... 103 COMPARAÇÃO DO DESEMPENHO OBTIDO NO DROP JUMP E NO SALTO SOBRE BARREIRA ........................................... 109 EFEITOS DO TREINAMENTO RESISTIDO COMBINADO COM TREINAMENTO FUNCIONAL NA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS............................................................................................................................................................................................113 FLEXIBILIDADE, FORÇA ABDOMINAL E COMPOSIÇÃO CORPORAL DE MULHERES SOBREVIVENTES DE CÂNCER DE MAMA.......................................................................................................................................................................................117 ACADEMIAS DE GINÁSTICA: UM OLHAR ACERCA DA ATUAÇÃO PROFISSIONAL NO MERCADO FITNESS.....................121 ÁREA - BIOÉTICA...................................................................................................................................................125 A PERCEPÇÃO DA POPULAÇÃO QUANTO À DOAÇÃO DE ÓRGÃOS............................................................................................125 A BIOÉTICA NOS CUIDADOS PALIATIVOS DE PACIENTES PEDIÁTRICOS: REVISÃO DA LITERATURA................................129 A PRIVACIDADE E A ACONFIDENCIALIDADE DAS INFORMAÇÕES NA SAÚDE À LUZ DA BIOÉTICA.................................133 ATUAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DE MINAS GERAIS.........................137 INSERÇÃO DO CONTEÚDO PLANTAS MEDICINAIS EM CURSOS DA ÁREA DE SAÚDE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS, MINAS GERAIS, BRASIL..............................................................................................................141 PONDERAÇÕES DO ENSINO DE BIOLOGIA NA ESCOLA ESTADUAL MONSENHOR GUSTAVO.........................................145 DOAÇÃO E TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS NA CONCEPÇÃO BIOÉTICA..........................................................................................149 ÁREA - CIÊNCIAS DA SAÚDE................................................................................................................................ 153 A IMPORTÂNCIA DO SONO NOTURNO NA SINCRONIZAÇÃO DOS RITMOS CIRCADIANO E DIA/NOITE.......................153 ACIDENTE OCUPACIONAL COM MATERIAL BIOLÓGICO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO..............................................157 O MANEJO DO PACIENTE COM DOR TORÁCICA NA SALA DE EMERGÊNCIA...........................................................................161 ALEITAMENTO MATERNO E PROFISSIONAIS DE SAÚDE: CONHECIMENTO E FORMA DE ABORDAGEM DURANTE O PRÉ-NATAL............................................................................................................................................................................. 165 ANÁLISE DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL NO ÂMBITO DA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA.......... 169 ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO PLANEJAMENTO FAMILIAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.....................................173 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA PERSPECTIVA DOS ENFERMEIROS........................177 AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DAS MULHERES DE MONTES CLAROS ACERCA DO ALEITAMENTO MATERNO..............181 6 Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar AVALIAÇÃO DOS SERVIÇOS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE: A PERSPECTIVA DO USUÁRIO.......................................... 185 AVALIAÇÃO DOS VINTE E DOIS PRIMEIROS TRANSPLANTADOS DE FÍGADO DE UM HOSPITAL DO NORTE DE MINAS.... 189 ANÁLISE DE PRÁTICAS E CONHECIMENTOS RELACIONADOS À SAÚDE BUCAL DOS PAIS/RESPONSÁVEIS PELAS CRIANÇAS ATENDIDAS NA CLÍNICA INFANTIL DA UNIMONTES: RESULTADOS PARCIAIS......................................193 CONHECIMENTO DE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS EM RELAÇÃO À ABORDAGEM DA CRIANÇA VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA..............................................................................................................................................................................197 EFEITOS DA DESNUTRIÇÃO E DO CONSUMO CRÔNICO DO SUCO DE UVA EM RATOS WISTAR ADULTOS................... 201 EFEITOS FISIOLÓGICOS DA FARINHA DE BANANA VERDE (Musa canvendish)........................................................................ 205 EVOLUÇÃO DA MORTALIDADE INFANTIL EM PIRAPORA............................................................................................................... 209 MÃES QUE CUIDAM DE FILHO(A) S COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPECTIVA DE GÊNERO..............................213 PERFIL CLÍNICOS SOCIAL E HÁBITOS DE HIGIENE BUCAL DE PUÉRPERAS ATENDIDAS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO......217 PERFIL DE USUÁRIOS HIPERTENSOS CADASTRADOS EM UMA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.................................. 221 PERFIL E PRODUÇÃO CIENTÍFICA DOS PESQUISADORES BRASILEIROS DO CNPq EM PERIODONTIA........................... 225 RESVERATROL AUMENTA A TERMOGÊNESE NO TECIDO ADIPOSO MARROM, AUMENTANDO SIRT1, GASTO DE ENERGIA E DIMINUINDO O ACÚMULO DE GORDURA NO TECIDO ADIPOSO DE CAMUNDONGOS ALIMENTADOS COM DIETA PADRÃO..................................................................................................................................................... 229 VIOLÊNCIA URBANA: UMA ANÁLISE DOS CASOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS, MINAS GERAIS – BRASIL........................................................................................................................................................................................... 233 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES NO CLIMATÉRIO..................................................................................................................................................................... 237 A ESTRATEGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E SEU IMPACTO SOBRE AS MORBIDADES HOSPITALARES NO NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS..................................................................................................................................................241 PROTÓTIPO DE UM SOFTWARE PARA APOIO À SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM....................... 245 PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇAS COM ANEMIA FALCIFORME INTERNADAS NA PEDIATRIA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ................................................................................................................................................................ 249 PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CAPACIDADE FUNCIONAL DE MULHERES INSTITUCIONALIZADAS NO MUNICÍPIO DE MONTES CLAROS, MG.................................................................................................................................................. 253 PREVENÇÃO E CONTROLE DAS INFECÇÕES HOSPITALARES EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA.............................. 257 PERFIL DAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL EM UMA CIDADE DO NORTE DE MINAS GERAIS-BRASIL.........................261 PERCEPÇÃO MATERNA SOBRE A CRIANÇA INTERNADA EM UTI COM DIAGNÓSTICO DE MALFORMAÇÃO CONGÊNITA.................................................................................................................................................................................................... 265 INTENSIDADE DE COLONIZAÇÃO DO TRATOGASTROINTESTINAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS POR LACTOBACILOS E ENTEROBACTÉRIAS GRAM NEGATIVAS............................................................................................................. 269 O PET- SAÚDE E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A COMUNIDADE E ACADÊMICOS................................................................. 273 INFLUÊNCIA DA RENDA NO CONTROLE DA PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS HIPERTENSOS DE JOÃO PESSOA.......... 277 AVALIAÇÃO DO ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE EM UM MUNICÍPIO NO NORTE DO ESTADO DE MINAS GERAIS..... 281 CUIDADOS BUCAIS: HIGIENIZAÇÃO DE LÍNGUA NA PRÁTICA DA ENFERMAGEM................................................................. 285 7 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO ENDOTELIAL E MARCADORES LABORATORIAIS DE ESTRESSE OXIDATIVO NO DIABETES.........289 ANÁLISE DA PROPORÇÃO 2D:4D EM PACIENTES COM FISSURA LABIAL E/OU PALATINA NÃO SINDRÔMICA........... 293 A EDUCAÇÃO EM SAÚDE COMO ESTRATÉGIA DE PREVENÇÃO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA.................................................................................................................................................................................................. 297 EFEITOS METABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE ABACATE, COCO E PEQUI NA RAÇÃO DE RATOS WISTAR.............................................................................................................................................................................................................. 301 EFEITOS METABÓLICOS DA SUPLEMENTAÇÃO COM BANHA DE PORCO, GORDURA VEGETAL HIDROGENADA E ÓLEO DE LINHAÇA NA RAÇÃO DE RATOS WISTAR....................................................................................................................... 305 A IMPORTÂNCIA DA DETECÇÃO PRECOCE FRENTE AO DESAFIO DO CÂNCER DE MAMA................................................. 309 A INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E DA RELIGIOSIDADE NO TRATAMENTO ONCOLÓGICO: A PERCEPÇÃO DA PESSOA COM CÂNCER.................................................................................................................................................................................313 DETERMINAÇÃO DA PRESENÇA DE HELICOBACTER PYLORI EM CÂNCER GÁSTRICO.............................................................317 CONHECIMENTO DOS FATORES DE RISCO E DETECÇÃO PRECOCE DO CÂNCER DE MAMA ENTRE USUÁRIAS DA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA.............................................................................................................................................................321 DIVERSIDADE DE ENTEROBACTERIACEAE E LACTOBACILLUS SP EM TRATO GASTROINTESTINAL DE ANIMAIS SUBMETIDOS À INGESTÃO ALCOÓLICA E TERAPÊUTICA COM BACTÉRIA PRESUNTIVAMENTE PROBIÓTICA............. 325 INCIDÊNCIA DE INFECÇÕES HOSPITALARES EM UM SERVIÇO DE NEFROLOGIA EM MONTES CLAROS-MG................ 329 AVALIAÇÃO DO RISCO DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS ..................................................... 333 DESEQUILÍBRIO E INCOORDENAÇÃO MOTORA: A ATAXIA............................................................................................................ 337 O ENFRENTAMENTO DO (A) IDOSO (A) EM PROCESSO DE LUTO SOB O ENFOQUE DE GÊNERO..................................... 341 PREVALÊNCIA DA ESQUISTOSMOSE MANSÔNICA EM UMA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA DO NORTE DE MINAS, MG, BRASIL................................................................................................................................................................ 345 PREVALÊNCIA E COMPLICAÇÕES DA OBESIDADE ENTRE IDOSOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA............................... 349 GERENCIAMENTO DA ASSISTÊNCIA PRESTADA EM UM SERVIÇO DE PRONTO ATENDIMENTO....................................... 353 CARACTERIZAÇÃO DE MULHERES QUE SOFRERAM ABORTO, ATENDIDAS EM UMA MATERNIDADE PÚBLICA........ 357 CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL ANTROPOMÉTRICO E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES NO CLIMATÉRIO............................................................................................................................................................................................ 361 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE AUTOCUIDADO DAS MULHERES CLIMATÉRICAS PORTADORAS DE DIABETES MELLITUS TIPO 2 ..................................................................................................................................................................... 365 OBESIDADE NO CLIMATÉRIO: FATOR DE RISCO PARA O DESENVOLVIMENTO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES.................................................................................................................................................................369 SOBREPESO E OBESIDADE EM MULHERES CLIMATÉRICAS PORTADORAS DE DM2 ASSISTIDAS NAS ESFS DA CIDADE DE MONTES CLAROS................................................................................................................................................................... 373 INTEGRALIDADE DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM COMUNIDADE QUILOMBOLA NO NORTE DE MINAS GERAIS........ 377 EFEITO DO ENVELHECIMENTO FISIOLÓGICO NA FUNÇÃO PULMONAR: ANÁLISE COMPARATIVA DA MEDIDA DO PICO DE FLUXO EXPIRATÓRIO ENTRE ADULTOS E IDOSOS .......................................................................................................... 381 PROPOSTA DA UTILIZAÇÃO DE UMA NOVA TECNOLOGIA PARA O APRENDIZADO EM MORFOLOGIA MICROSCÓPICA............................................................................................................................................................................................. 387 8 Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar PERCEPÇÃO DOS PACIENTES SOBRE SERVIÇOS ODONTOLÓGICOS PRESTADOS POR ACADÊMICOS........................... 391 DOENÇA COMO PUNIÇÃO OU SAÚDE COMO DIREITO: O DISCURSO DA PESSOA PRIVADA DE LIBERDADE SOBRE O CUIDADO À SAÚDE NO CÁRCERE EM MONTES CLAROS/ MG E AS RECOMENDAÇÕES DO PLANO NACIONAL DE SAÚDE NO SISTEMA PENITENCIÁRIO.................................................................................................................................................... 395 AVALIAÇÃO DA POSIÇÃO CONDILAR EM PACIENTES COM DTM ANTES E APÓS TERAPIA COM PLACA INTEROCLUSAL ESTABILIZADORA POR MEIO DE TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA..................................................... 399 LEPTINA NA GÊNESE E MANUTENÇÃO DA OBESIDADE................................................................................................................. 403 PÉ TORTO CONGÊNITO: OS SENTIMENTOS DAS MÃES DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE UM FILHO................................. 407 A VIGILÃNCIA EM SAÚDE COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM: RELATO DE EXPERIÊNCIA................................................ 409 IMPLANTE INSTALADO APÓS EXODONTIA E SUBMETIDO A ESTÉTICA IMEDIATA................................................................413 AVALIAÇÃO DA ADESÃO AO AUTOCUIDADO DE PACIENTES DIABÉTICOS ..............................................................................417 9 Área - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar E D ITO R IAL A ciência ao serviço da causa humanitária José Vasconcelos-Raposo e Jaime Tolentino Miranda Neto Na sequência do que foi o I Encontro de Pesquisadores em Esporte,Saúde, Psicologia e Bem-Estar, por várias razões, tornou-se natural a organização da segunda Edição deste evento Científico. Antes de mais, importa realçar o compromisso das instituições e das personalidades envolvidas para com a ciência, tal como esta, nos tempos modernos tende a tipificar-se: prática multidisciplinar. É uma evidência incontornável que a pesquisa de carácter monodisciplinar tem maiores resistências quer a nível dos grandes financiamentos quer na divulgação dos resultados obtidos em fóruns de referência. Este motivo, por si só, quase justificaria a organização deste evento. Porém a experiência acumulada e a praxis de gestão de projetos científicos leva a que os organizadores reconheçam a necessidade de criar caminhos para o que se deseja ser a construção de uma nova cultura científica para uma comunidade profissional em que um dos seus pilares fundamentais seja a partilha, construída num diálogo aberto e intelectualmente íntegro. A realidade do mundo atual dita que o tempo para uma visão romântica da Educação e, consequentemente, da Investigação científica se esgota, rapidamente, e que é da maior importância repensar os paradigmas que estiveram na base do todo que nos trouxe ao que de bom e de mau se instalou na sociedade moderna e em particular nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil e Portugal. A nova geração de Educadores deverá continuar a procurar os saberes a transmitir na pesquisa científica. No entanto, mais do que nunca está instalada nas massas populares o sentimento do direito à indignação e que nos tempos que correm assume forma no protesto, na reivindicação por soluções para os problemas mais prementes que como membros da sociedade vivenciam. A ciência, não poderá continuar a estar ao serviço exclusivo dos interesses económicos concentrados numa pequena parcela da população. A ciência é, na sua vasta maioria, financiada por fundos públicos e por esse motivo tem alguma razão aqueles que argumentam que esta deve priorizar a resolução dos problemas básicos do Povo. Pretende-se que em substituição de uma ciência instrumentalizada por quem deseja controlar ou minimizar os direitos humanos, ao abrigo de uma ideologia subjetiva, traduzida na defesa da objetividade científica, o desenvolvimento de uma ciência comprometida e íntegra no processo e na forma. A defesa de uma dita prática de ciência objectiva desfaz-se face às evidências. Ao nível metodológico requerem-se novas formas de relatar dados. Antes, perante os valores de p obtidos nos estudos avançavam-se argumentos e teorizações. Hoje, esse critério é claramente insuficiente. As decisões com base nos testes estatísticos devem estar alicerçados em outros parâmetros complementares, nomeadamente a dimensão dos efeitos e os intervalos de confiança. O trabalho multidisciplinar, ao promover o diálogo entre paradigmas e perspetivas filosóficas, contribuiu para o processo ativo de repensar a forma como as estatísticas têm sido usadas na construção do conhecimento. Tornou-se evidente que os critérios absolutos da matemática são incompatíveis com a noção de erro que consolida o pensamento científico. Estas constatações resultam, em parte, do processo de democratização do pensamento científico. Deixou de ser possível defender a existência de uma só realidade: esgotou-se um dos elementos centrais do positivismo lógico. Agora, a experiência de se ser mulher permitiu avanços expressivos na forma de entender fenómenos e de resolver problemas. Os fatos são vistos pelos olhos de quem já viveu a pobreza e outro tipo de experiências marcantes. A ciência deixou de ser propriedade de uma classe social privilegiada. Hoje espera-se de cada cada homem e de cada mulher que procurem fazer no imediato aquilo que lhes permita serem melhores amanhã do que hoje e que estejam conscientes que devem ser tolerantes face à diferença na virtude e na opinião dos outros, desde que não sejam ofensivas para com os valores maiores, em torno dos quais se constrói uma sociedade que se quer mais conhecedora, mais humanista e mais justa. Resultante dos debates académicos e políticos nasce a necessidade de “apaziguar” as revoltas sociais e os homens e mulheres que se dedicam à pesquisa científica deverão procurar formas para inten11 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores sificar a utilidade prática do seu trabalho. É desta necessidade que emerge a da construção de “pontes” multidisciplinares e de construção de projetos que contribuam ativamente para a construção de uma sociedade mais justa, mais solidária e fraterna entre indivíduos, sociedades e povos. Com a organização deste evento, procuramos estabelecer condições para que num contexto fraterno e despido de rivalidades “Banais” seja possível a aproximação afetiva e intelectual entre os seus participantes que assim, mais facilmente, se encontrarão em torno de valores e causas comuns que se espera sejam transformados em projetos de pesquisa científica, mas também em relações humanas saudáveis e duradouras e fundamentalmente ao serviço do bem-estar da Humanidade. 12 Área - Atividade Física e Saúde ÁREA - ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE PR ÁTIC A DE ATIVIDADE FÍSIC A E FATORES ASSOCIADOS ENTRE ADULTOS DA CIDADE DE MONTES CL AROS - MG Marcela Oliveira Nepomuceno Rafael Silveira Freire Fernanda Iully de Oliveira Lélis José Alair da Fonseca Filho Andrea Maria Eleutério de Barros Lima Martins Marise Fagundes Silveira [email protected] Introdução A atividade física é qualquer movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos, que resulte em gastos energéticos maiores que os níveis de repouso (CASPERSEN, 1985). A prática de atividade física, adequada às condições individuais e com a devida instrução, traz benefícios físicos, psicológicos e sociais na idade adulta, contribuindo para manutenção das funções físicas e cognitivas, e consequentemente promovendo uma maior independência na velhice (SANTOS,2006). A atividade física tem sido um meio de preservar e melhorar a saúde e a qualidade de vida do ser humano (BAPTISTA, 2000). As principais melhorias à saúde advinda da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Na dimensão psicológica, a atividade física atua na melhoria da autoestima, do autoconceito da imagem corporal, das funções cognitivas e de socialização, na diminuição do stress e da ansiedade e na diminuição do uso de medicamentos (MATSUDO, 2000). No entanto, como resultados da mudança de vida e de trabalho, o número de praticantes de atividades físicas na idade adulta é pequeno e a maioria das ocupações requer baixo gasto energético (SÁVIO et al., 2008). Sendo assim, o sedentarismo está associado às mudanças no estilo de vida das pessoas, advindas da revolução tecnológica, como a utilização maciça de automóveis, escadas rolantes e elevadores, bem como assistir à televisão e usar computadores (JESUS, 2012). Estudos têm apontado prevalências importantes de obesidade, diabetes e hipertensão arterial na população adulta brasileira (MOREIRA et al., 2013). Sabe-se que esses agravos estão significantemente associados ao sedentarismo; além disso, recentemente tem-se demonstrado uma importante relação entre a intensidade de exercícios físicos e a resposta imunológica, pois estudos evidenciaram menor prevalência de alguns tipos de câncer em grupos de pessoas mais ativas. Nesse contexto, o objetivo da presente investigação foi estimar a prevalência da prática regular de atividade física e fatores associados entre adultos residentes no município de Montes Claros-MG. Material e métodos Estudo transversal de base populacional no qual foram utilizados dados coletados durante o levantamento epidemiológico das condições de saúde bucal da população de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil (Projeto SBMOC) (MARTINS et al., 2012), conduzido nos anos de 2008 e 2009 e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (Parecer 318/06). A amostra foi constituída por 841 indivíduos com idade entre 35 e 44 anos. Adotou-se a amostragem probabilística por conglomerado em dois estágios. No primeiro estágio, foram sorteados, por amostragem aleatória simples 13 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar (AAS), 52 setores censitários; e, no segundo, também por AAS selecionaram-se, em média, seis quadras em cada um dos 52 setores previamente selecionados. Todos os domicílios das quadras foram visitados e seus residentes com idade entre 35 e 44 anos, foram convidados a participar desse inquérito. Foram realizadas entrevistas com profissionais treinados que utilizaram um computador de mão (palmtop) para o registro das informações coletadas. As entrevistas foram realizadas mediante a autorização dos participantes, através de termos de consentimento livre e esclarecido. Para a presente investigação, consideraram-se as seguintes variáveis: prática de atividade física (ativo e não ativo); cor de pele autodeclarada (branca, parda, negra e outras); sexo (masculino e feminino); idade (abaixo de 40 anos e 40 anos ou mais); estado civil (casado/união estável, solteiro, viúvo/divorciado); escolaridade (acima de oito anos de estudo e até oito anos de estudo); trabalha (sim e não); presença de alguma doença crônica (sim e não); uso de medicamentos (sim e não); hábitos tabagistas e etilistas (sim e não) e qualidade de vida (satisfatória e insatisfatória). A classificação dos indivíduos como ativo ou não ativo foi avaliada através da pergunta “Com que frequência você pratica atividade física?” Aqueles que responderam “sempre” ou “frequentemente” foram considerados ativos, e aqueles que responderam “às vezes”, “raramente” ou “nunca” foram classificados como não ativos. A qualidade de vida foi avaliada por meio do instrumento 12-Item Short-Form Health Survey (SF12) (SILVEIRA et al., 2013), no qual foram calculados os escores de dois domínios, o físico (Physical Component Summary ou PCS) e o mental (Mental Component Summary ou MCS), que podem assumir valores em uma escala que varia de zero a cem. Os indivíduos com escores superiores à mediana da distribuição foram considerados com qualidade de vida satisfatória, caso contrário, insatisfatória. Todas as variáveis foram descritas pelas frequências simples e relativas, e a associação entre o desfecho “prática regular de atividade física com as demais variáveis” foi estimada pela razão de prevalência (RP), através do modelo de regressão múltipla de Poisson, com variância robusta. Inicialmente foram realizadas análises bivariadas por meio do teste do Qui-quadrado, e as variáveis que apresentaram nível descritivo (valor-p) até 0,20 foram selecionadas para o modelo múltiplo. Na análise múltipla foi adotado nível de significância de 0,05 e o teste da Deviance para avaliar a qualidade de ajuste do modelo.Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando-se o programa PASW 17.0. Resultados e Discussão A amostra foi constituída por 841 indivíduos com média de idade de 39,5 anos, dos quais 461 (54,8%) eram mulheres e 407 (48,4%) encontravam-se na faixa etária entre 40 e 44 anos. Apenas 20,7% declararam praticar atividade física regularmente. A distribuição dos adultos segundo as demais variáveis investigadas estão apresentada na Tabela 1. Tabela 1: Distribuição dos adultos segundo características sociodemográficas, comportamentais e de saúde geral. Montes Claros, MG- 2008/2009. Variáveis n* % Variáveis Atividade física Idade Não ativo Ativo < 40 anos ≥ 40 anos Sexo Feminino Masculino Cor de pele Branco autodeclarada Pardo Negro Outro 666 174 434 407 461 380 236 433 132 40 79,3 20,7 51,6 48,4 54,8 45,2 28,1 51,5 15,7 4,8 Trabalha Estado civil 149 615 77 472 369 17,7 73,1 9,2 56,1 43,9 Escolaridade Solteiro Casado Viúvo/divorciado > 8 anos ≤ 8 anos *Os totais variam devido às perdas de informações. 14 n* % Sim Não Não Sim Não Sim Não Sim 612 225 433 404 628 213 635 206 73,1 26,9 51,7 48,3 74,7 25,3 75,5 24,5 Consome bebida alcoólica Não Sim 486 355 57,8 42,2 QV Domínio físico QV domínio mental Satisfatório Insatisfatório Satisfatório Insatisfatório 413 411 423 415 50,1 49,9 50,5 49,5 Doença crônica Uso de medicamentos Fuma Área - Atividade Física e Saúde Através da regressão de Poisson, verificaram-se as seguintes variáveis associadas à prática regular de atividade física entre adultos: ser do sexo masculino (RP=1,77), ter maior escolaridade (RP=1,40) e apresentar maiores níveis de qualidade de vida relacionada aos aspectos mentais (RP=1,43) (Tabela 2). Tabela 2: Modelo de regressão múltipla de Poisson: fatores associados à prática regular de atividade física entre adultos. Montes Claros, MG- 2008/2009. Variáveis Sexo Escolaridade QV domínio mental Masculino Feminino > 8 anos ≤ 8 anos Satisfatório Insatisfatório Ativo n 105 69 110 64 104 68 % 27,6 15,0 23,4 17,3 24,6 16,4 RP (IC95%)) Valor-p 1,77(1,33-2,35) 1,00 1,40(1,07-1,84) 1,00 1,43(1,09-1,87) 1,00 0,000 0,016 0,011 RPa(IC95%): Razão de prevalência ajustada (intervalo de 95% de confiança); QV: qualidade de vida;Teste de Deviance: valor-p=0,610. A prevalência de inatividade física encontrada (79,3%) foi maior que as observadas em vários estudos entre adultos em outros municípios brasileiros, no entanto, as metodologias empregadas nesses estudos adotaram o instrumento IPAQ (Questionário Internacional de Atividade Física) para avaliar o nível de atividade física dos indivíduos. Em um estudo realizado em Ribeirão Preto (SP), também foi observada baixa prevalência de prática de atividade física entre adultos de ambos os sexos; destacou-se ainda que trabalho, renda per capita, escolaridade, uso de medicamentos foram os principais fatores associados à inatividade física (SUZUKI, 2011). Em outro estudo, realizado na cidade de Joaçaba (SC), foi observado que a inatividade física apresentou-se associada positivamente aos indivíduos com oito anos ou mais de estudos, àqueles que não trabalhavam ou não eram aposentados, indivíduos com renda mensal superior a mil reais, e ainda se verificou uma proporção maior de indivíduos inativos entre aqueles com o IMC maior do que 29,9 kg/m² e menor do que 18,5 kg/m² (BARETTA, 2007). No presente estudo, foram identificadas maiores prevalências de prática regular de atividade física entre adultos do sexo masculino em comparação ao feminino, esse resultado pode ser explicado por diferenças biológicas, socioculturais, de percepção de corpo e atributos de gênero, pois, desde a infância, são atribuídos papéis sociais segundo gênero que influenciam as escolhas de prática de atividade física (JUNIOR et al., 2012) Um resultado importante observado na presente investigação refere-se à maior prevalência de atividade física entre adultos com maior escolaridade, revelando desigualdade social no acesso a espaços físicos e na disponibilidade de tempo para a prática de atividade física. A percepção positiva do estado mental da saúde também se apresentou associada à prática regular de atividade física, confirmando a hipótese de que a atividade física tem impacto positivo sobre a autopercepção da saúde dos indivíduos. Conclusões Diante da constatação da baixa prevalência de prática regular de atividade física (20,8%) no grupo etário estudado, é fundamental que sejam desenvolvidas ações entre a população adulta de Montes Claros, especialmente entre as mulheres, visando a estimular a prática de atividade física e a conscientizar essa população sobre os seus benefícios físicos, psicológicos e sociais, que poderão contribuir para maior independência na velhice. Referências BAPTISTA, P. B. Epidemiologia da atividade física. Revista SOCERJ, v. 8, p. 173-174, 2000. BARETTA, E.; BARETTA, M.; PERES, K. G. Nível de atividade física e fatores associados em adultos do município de Joaçaba, Santa Catarina, Brasil. Cad Saúde Pública, v.23, n.7, p.1595-1602, 2007. CASPERSEN, C. J. MATHHEW, M. Z. Physical activity, exercise, and physical fitness: definitions and distinction for 15 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar health- relates research. 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Ela aumenta a autoestima, diminui o excesso de peso, promove o relacionamento social, melhora a postura e a disciplina, além de auxiliar na composição corporal. A prática de AF também está associada ao aumento da força, da agilidade, da flexibilidade, da resistência muscular e da condição cardiorrespiratória e à redução do estresse, do risco de acidente vascular cerebral, da ansiedade, da depressão, além de melhorias na qualidade do sono (FERMINO, 2002). O crescimento da inatividade física está relacionado com as mudanças no estilo de vida das pessoas, associadas às facilidades advindas da revolução tecnológica, como a utilização de automóveis, escadas rolan- tes e elevadores e pelo lazer hipocinético, como assistir televisão, usar computadores e vídeo games (JESUS, 2012). O baixo nível AF tem sido considerado importante fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis. A carga de doenças crônicas não-transmissíveis atingiu um patamar preocupante para a saúde pública e com isso, doenças como a obesidade e a hipertensão arterial, que há poucas décadas figuravam apenas entre grupos restritos da população adulta, agora atingem também crianças e adolescentes de forma semelhante (FERREIRA, 2010). Embora seja considerado o grupo populacional fisicamente mais ativo, a adolescência é um período em que a proporção de indivíduos inativos é elevada (ROMAM et al.,2008). Além dos efeitos diretos sobre a saúde, a AF na adolescência está relacionada com maior probabilidade de prática de AF na idade seguinte, pois os hábitos de AF adquiridos na adolescência podem predizer o nível de prática de AF na idade adulta (HALLAL et al., 2006). O presente estudo objetivou estimar a prevalência de prática regular de AF e seus determinantes entre adolescentes da cidade de Montes Claros-MG. Material e métodos Estudo transversal de base populacional que utilizou os dados coletados no Levantamento Epidemiológico das Condições de Saúde Bucal da População de Montes Claros ou Projeto SBMOC (MARTINS et al., 2012), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claro (Parecer 318/06). O tamanho amostral para a faixa etária de 15 a 19 anos, de 761 indivíduos, foi definido considerando a prevalência estimada em 0,50 do evento estudado, nível de confiança (95%) e erro amostral (5,5%). As unidades amos- trais foram selecionadas por amostragem probabilística por conglomerados em dois estágios. Profissionais treinados conduziram as entrevistas, cujas informações foram registradas por anotadores instruídos, utilizando um computador de mão. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido. As características sociodemográficas,comportamentais e de saúde geral investigadas foram: idade, sexo, cor de pele autodeclarada, estado civil, escolaridade, estuda atualmente, trabalha atualmente, con17 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar sumo de bebida alcoólica, consumo de tabaco, uso de medicamento, relato de alguma doença crônica e prática de atividade física. A classificação dos indivíduos como ativo ou não ativo foi avaliada através da pergunta “Com que frequência você praticou atividade física nas últimas quatro semanas?” Aqueles que responderam “sempre” ou “frequentemente” foram considerados ativos, e aqueles que responderam “às vezes”, “raramente” ou “nunca” foram classificados como não ativos. A qualidade de vida (QV) foi avaliada pelo instrumento 12-Item Short-Form Health Survey (SF-12) sendo calculados dois domínios: o físico (Physical Component Summary ou PCS) e o mental (Mental Component Summary ou MCS) (GUEDES, 2001). Os indivíduos com escores superiores à mediana da distribuição (igual a 54,8 para o domínio físico e 55,5 para o domínio mental) foram considerados com QV satisfatória, caso con- trário, insatisfatória. Para descrever os adolescentes quanto às suas características foram utilizadas frequências simples e relativas. A associação da variável desfecho “prática regular de atividade física” com as demais características investigadas foi verificada por meio da razão de prevalência (RP), estimada através do modelo de regressão de Poisson, com variância robusta. Inicialmente foram realizadas análises bivariadas por meio do teste do Qui-quadrado e as variáveis que apresentaram nível descritivo (valor-p) até 0,20 foram selecionadas para o modelo múltiplo, cujo nível de significância adotado foi de 0,05. Utilizou-se o teste da Deviance para avaliar a qualidade de ajuste do modelo final. As análises estatísticas foram realizadas utilizando-se Predictive Analytics Software (PASW)® versão 17.0 para Windows®. Resultados e discussão Foram entrevistados 759 adolescentes com média de idade de 17,1 anos, sendo que 48,2% eram do sexo masculino e 45,2% declararam praticar regularmente atividade física. A distribuição dos adolescentes segundo as demais variáveis investigadas estão apresentadas na Tabela 1. Tabela 1: Distribuição dos adolescentes segundo características sociodemográficas, comportamentais e de saúde geral. Montes Claros, MG 2008/2009. Variáveis Atividade física Idade Sexo Cor de pele Estado civil Escolaridade n % Variáveis Ativo Não ativo 15 anos 16 anos 17 anos 18 anos 19 anos Feminino Masculino Branco Pardo Negro Outros 342 415 157 124 132 162 184 393 363 207 400 106 45 45,2 54,8 20,7 16,3 17,4 21,3 24,2 51,8 48,2 27,3 52,8 14 5,9 Estudante n % Sim Não Não Sim 575 184 561 196 75,8 24,2 74,1 25,9 Não Sim Não Sim Não Sim 718 40 718 40 612 146 94,7 5,3 94,7 5,3 80,7 19,3 QV:domínio físico Satisfatório 379 Insatisfatório 375 50,3 49,7 Solteiro Casado 39 720 5,1 94,9 QV:domínio mental Satisfatório 371 Insatisfatório 384 40,1 50,9 > 8 anos ≤ 8 anos Total 594 165 759 78,3 21,7 100,0 Doença crônica Uso medicamento Tabagismo Bebida alcoólica *Os totais variam devido às perdas de informações A prática regular de atividade física entre adolescentes apresentou associação estatisticamente significativa com: idade, sexo, ser estudante e qualidade de vida/domínio mental. Observaram-se maiores prevalências de adolescentes ativos entre aqueles com 18 menor idade (RP=0,94), do sexo masculino (RP=2,22), que estavam estudando (RP=1,30), que não fumavam (RP=1,76) e com maiores níveis de qualidade de vida/ domínio mental (RP=1,17) (Tabela 2). Área - Atividade Física e Saúde Tabela 2: Modelo de regressão múltipla de Poisson: Fatores associados à prática de atividade física entre adolescentes. Montes Claros, MG,2008/2009. Variáveis Idade Sexo Estudante Fuma QV:domínio mental em anos Masculino Feminino Sim Não Não Sim Satisfatório Insatisfatório Ativo n 236 106 289 53 331 11 198 141 % 64,7 27,0 50,3 29,0 23,4 17,3 53,4 36,9 RPa (IC95%)) Valor-p 0,94(0,89-0,93) 2,22(1,85-2,66) 1,00 1,30(1,01-1,67) 1,00 1,76(1,08-2,86) 1,00 1,17(1,01-1,30) 1,00 0,030 0,000 0,047 0,023 0,049 Teste de Deviance: valor-p=0,617. RPa(IC95%): razão de prevalência ajustada (Intervalo de 95% de confiança). A prevalência de prática regular de AF (45,2%) observada entre os adolescentes do presente estudo foi superior ao relatado por adolescentes dos Estados Unidos (34,7%) (EATON et al., 2008), similar aos jovens das capitais brasileira (43,1%) (HALLAL et al., 2011) e inferior aos do Nordeste brasileiro (50,2%) (JÚNIOR et al., 2012). Com relação aos fatores associados à prática regular de AF nesse grupo etário, foi identificada maior prevalência de adolescentes ativos entre aqueles do sexo masculino em comparação ao feminino, conforme previamente descrito em outro estudo realizado em São Paulo (SP) (MARTINS et al.,2012). Com relação à idade, os adolescentes mostraram uma tendência a apresentar maior sedentarismo à medida que a idade aumenta, associação também observada em estudo realizado em Pelotas (RS)(OEHLSCHLAEGER et al., 2004). Observou-se maior prevalência de jovens ativos entre aqueles que não fumavam (RP=1,76), quando comparados com os que fumavam. Essa associação já era esperada, pois o tabagismo é descrito como mais prevalente em indivíduos sedentários e o exercício físico é considerado fator protetor contra seu início. Outro resultado importante foi a maior proporção de jovens fisicamente ativos entre aqueles que estavam estudando. Esse resultado pode ser atribuído à atuação da educação física escolar, provavelmente os jovens que estudam estejam também participando das aulas de educação física. Por outro lado, pode ser atribuído à relação da escolaridade com a classe social, uma vez que o estado de pobreza representa um complicador na luta contra o sedentarismo (OEHLSCHLAEGER et al., 2004). Outro importante resultado desse estudo foi a associação positiva observada entre a percepção do aspecto mental da QV e prática regular de AF nesse grupo etário. Os adolescentes fisicamente ativos se mostraram mais propensos a perceber sua qualidade de vida de forma satisfatória. Esse resultado confirma a hipótese de que praticar AF pode trazer benefícios psicológicos nessa fase da vida. Conclusão A prática regular de atividade física foi observada em 45,2% dos adolescentes de Montes Claros e se apresentou associada a fatores como idade, sexo, ser estudante, tabagismo e qualidade de vida (aspecto mental). Observaram-se maiores prevalências de adolescentes ativos entre aqueles com menor idade, do sexo masculino, que estavam estudando, que não fu- mavam (RP=1,76) e com maiores níveis de qualidade de vida/domínio mental. Sendo assim, recomenda-se a implantação de políticas públicas que estimulem a prática regular de AF nos subgrupos populacionais mais afetados pelo sedentarismo, especialmente as mulheres e aqueles adolescentes que não estudam. Referências: EATON, D. K.; KANN, L.; KINCHEN, S.; SHANKLIN, S.; ROSS, J.; HAWKINS, J. Youth risk behavior surveillance - United States, 2007. MMWR Surveill Summ., v. 4, p. 1-131, 2008. FERREIRA, J. S.; AYDOS, R. D. 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How many children and adolescents in Spain comply with the recommendations on physical activity? J. Sports Med. Phys Fitness, v. 3, p. 380387, 2008. 20 Área - Atividade Física e Saúde A GESTÃO DA C ARREIR A ESPOR TIVA: UMA HISTÓRIA A SER CONTADA NO FUTEBOL BR ASILEIRO Luciana Ferreira Angelo Kátia Rúbio [email protected] ou [email protected] O Brasil tem, como um dos principais “produtos de exportação”, os jogadores de futebol - em torno de oitocentos jogadores profissionais deixam o país ao ano – e, mesmo assim, mantém uma gama de dezenas de times com capacidade de competir não só em campeonatos nacionais como internacionais. Atualmente, esta situação tem sua lógica minimamente invertida quando da valorização da moeda nacional (real) frente a outras divisas. Este fato poderia ser interpretado como um sinal de superioridade em relação aos centros de formação de futebolistas, mas, na realidade, a nem sempre conhecida trajetória destes jogadores que se tornaram profissionais evidencia uma preparação qualitativa dos jovens para os desafios da profissão e, muito menos, para os prováveis insucessos. Segundo Damo (2007), no Brasil, são gastas em torno de 5.000 horas de treinamento em um período de 10 anos, focando o aprendizado corporal e quase nada no aprendizado intelectual. Ao avaliar o mercado de trabalho existente para os atletas profissionais da modalidade, não é possível encontrar inúmeras opções, já que o mercado não se expande. Avaliando o mercado de trabalho formal, alterações paulatinas da estrutura etária brasileira possibilitam oportunidades para a economia nacional nos próximos anos, tendo em vista que o país começa a atravessar um período de maximização da sua população em idade ativa (dos 15 aos 64 anos) – embora a consequência natural seja a reversão desse mesmo fenômeno a partir do momento seguinte, transformando em riscos as oportunidades que ora se abrem. Este fato ocorre dado que o sistema educacional brasileiro ainda forma menos jovens do que poderia em seu nível básico e que, possivelmente, até por isso, permaneça matriculando-os em baixa proporção no ensino superior. Estes dados podem sofrer alteração nas próximas décadas, mas não altera consideravelmente o quadro de desemprego no país onde a população em idade ativa ainda apresenta baixa qualificação. Assim, os atletas que optaram pela atividade profissional futebolística buscam o reconhecimento social, pois a brevidade da carreira atlética pode acarretar dificuldades na inserção posterior no mercado de trabalho formal. Se, no início da carreira esportiva, a criança ou jovem carrega não apenas o desejo de uma prática que envolve prazer e esforço, mas também o referencial de outros que, antes deles, criaram uma imagem gloriosa de si mesmos por meio do êxito, em competições espera-se que a carreira deixe registrada no imaginário marcas que servirão de exemplo para muita outras gerações. Se a prática esportiva promove o desenvolvimento da identidade do atleta, o final de sua carreira representará a necessidade de mudança de um papel social, construído desde a infância, para o desenvolvimento de uma nova identidade. Da mesma forma que a identidade de atleta necessitou de alguns anos para se consolidar, a transição para um novo papel social também se dá como processo, o que demanda do sujeito tempo e recursos emocionais e materiais para sua concretização (RUBIO, 2012). Diante disso, entende-se que a construção da identidade atlética passa pela construção do próprio eu e da autoafirmação que dá ao sujeito consciência de si e um lugar no mundo. A identificação faz com que o indivíduo não só se aproprie, mas se torne parte daquilo com o qual está identificado. Em contrapartida, deixar de ser atleta representaria o que Hall (2001) entende como um momento de ruptura ou de descentração do sujeito. Modificam-se as primeiras concepções acerca de si mesmo, de crenças, valores e conceitos, configurando o que o autor vai entender por crise de identidade, ou seja, quando aquilo que acreditamos ser fixo e inflexível passa a se fragmentar e perder sua preponderância central. Considerando que o futebol surge como caminho para ascensão social, este estudo propõe discutir a profissão e suas fases de transição como fatores a serem considerados no decorrer da carreira atlética, bem como na finalização da mesma, considerando como agravante que o próprio trabalhador pode ser produzido como uma mercadoria que nem sempre tem um valor reconhecido pelo mercado, podendo ser descartado a qualquer momento no meio do percurso. Este trabalho analisou a gestão da carreira esportiva de quatro atletas olímpicos brasileiros, do sexo masculino, da modalidade futebol. Estes atletas fazem parte da amostra do projeto “Memórias olímpicas por atletas olímpicos brasileiros”, pesquisa qualitativa elaborada a partir das histórias de vida de atletas olímpi21 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar cos de diferentes modalidades. Nesta pesquisa, foi utilizada a metodologia de histórias de vida, que, de acordo com Meihy e Holanda (2007), se constitui dos procedimentos de registro de narrativas colhidas em entrevistas mediante intrumentos eletrônicos - que no caso desta pesquisa se valerá da câmera de vídeo e uso de tecnologias virtuais como skype - com fins a dar corpo ao processo histórico ou sociocultural a ser analisado. A(s) experiência(s) de aposentadoria do esporte de um grupo que obteve certo sucesso em dada modalidade, ao mesmo tempo em que viveu sob o regime de amadorismo da prática esportiva, constituem a rede comunitária à qual o estudo destinará análise. As narrativas dos sujeitos contribuíram na concepção das formas de gestão da carreira esportiva, apontando características da história da modalidade, história do país e mutações do sentido da carreira atlética. As conclusões sugerem que a gestão da carreira esportiva é tema pouco desenvolvido nas instituições ligadas ao âmbito esportivo, tendo importância relativa nas discussões dos grupos de atletas profissionais. Discussões sobre projetos de lei ou programas oficiais são raros nas instituições esportivas, por isso o tema suscita estudos e colaborações das diversas instâncias participantes do contexto esportivo. Se a carreira atlética é composta por, no mínimo, três fases: iniciação, competição e aposentadoria, e, até pouco tempo, era considerada pelas ciências da gestão como não-carreira (MARTINI, 2012), é por ser assunto de tão pouco interesse a necessidade de desenvolver o tema nas instituições ligadas ao âmbito esportivo, criando a importância do mesmo nas discussões dos grupos de atletas profissionais. Referências DAMO, A. S. Do dom à profissão. A formação de futebolistas no Brasil e na França. São Paulo: Aderaldo & Rothschild Ed.; Anpocs, 2007. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. MARTINI, L. Transições de carreira e suas implicações no esporte. In: RUBIO, K. (org). Destreinamento e transição de carreira no esporte. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012, p. 15-46. MEIHY, J. C. S. B; HOLANDA, F. História Oral: Como fazer, como pensar. São Paulo: Contexto, 2007. RUBIO, K. Destreinamento e transição de carreira no esporte. (org.) RUBIO, K. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012. 22 Área - Atividade Física e Saúde A IMPOR TÂNCIA DO PROFISSIONAL DE EDUC AÇ ÃO FÍSIC A NOS ANOS INICIAIS DA REDE PÚBLIC A DE ENSINO: ES TUDOS COM PROFESSORES REGENTES DE TURMA Josimar Cardoso da silva2 Josisney Pereira de Castro2 Rafaela Costa Leite2 Onelia Rodrigues Mota2 Cristiane Martins Lisboa2 Ana Cláudia Mendes de Matos2 Adelson Fernandes da Silva1 jocardoso36@hotmailcom Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM 2 Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a 1 Introdução A educação física tem um papel importante na construção da cidadania, pois, de forma indireta ou direta, ela cria possibilidades para que os cidadãos vivenciem a sua cultura social (Sorbara, 2002). Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), o trabalho de educação física nas séries iniciais do ensino fundamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, a oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de ativi- dades culturais como jogos, esportes, lutas, ginásticas e dança com a finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. A LDB (1996) denomina a Educação Física como obrigatória na educação básica, não delimitando o profissional responsável. Esta pesquisa tem por objetivo analisar a importância da atuação do profissional de educação física nos anos iniciais da rede pública de ensino de Januária - MG. Materiais e Métodos O presente estudo foi estruturado sobre os pilares de uma pesquisa qualitativa e descritiva, fundamentada na análise documental e em entrevistas com questionários semiestruturados. Os participantes da pesquisa foram 36 professores regentes de turma, atuantes nos anos iniciais da rede pública de ensino da cidade de Januária - MG. Após a apresentação dos objetivos da pesquisa e das informações de como seria o procedimento utilizado para a investigação e execução da mesma, os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), concordando com a realização da pesquisa. Os dados coletados foram analisados através de modo esquemático, que consiste em uma explicação da realidade que se encontra hoje nas escolas da rede pública de ensino onde o profissional de educação física não atua nos anos iniciais. Esses dados serviram como fonte de discussão para análise da importância do profissional de educação física nos anos iniciais. 23 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Análise das opiniões dos professores regentes de turma em relação a ministrar aulas de educação física nos anos iniciais QUESTÕES Você se sente segura para ministrar as aulas de educação física a partir dos conteúdos da educação física abordados em sua formação acadêmica? Você considera sua prática pedagógica eficaz, atingindo os objetivos do conteúdo de educação física em suas aulas? Os regentes de turma, em sua opinião, têm didática correta, conhecimento pedagógico, para atuarem nas aulas de educação física? Em sua opinião, o profissional de educação física deve voltar para os anos iniciais? Questão 1 Pode-se perceber que grande parte dos professores regentes responderam “não” ao quesito “sentir-se seguro para ministrar aulas de educação física a partir dos conteúdos abordados em sua formação”. De outro modo, 22% dos entrevistados responderam que “sim”. Como visto a maioria dos entrevistados tiveram apenas uma disciplina relacionada à educação física na formação superior; vivenciaram mais conteúdos específicos durante sua formação. Assim, torna-se imprescindível o levantamento da reflexão: de que forma tais profissionais, formados somente em curso superior de pedagogia, irão oportunizar um ensino integrador, se não se sentem seguros para ministrar as aulas de educação física? Freire (1997) destaca que o mais importante é que a criança não seja privada da educação física a que tem direito, que se entenda o aluno como um ser integral, sem uma separação entre corpo e mente. Por este motivo, o que se deve defender é um ensino competente, que dê conta de preparar essas crianças a partir de uma vivência plural. Questão 2 Foi perguntado aos professores regentes se sua prática é eficaz em relação à educação física. Vinte e oito por cento afirmam considerar sua prática pedagógica eficaz, enquanto 72% dos entrevistados não consideram sua prática pedagógica eficaz. Através da resposta dos professores, podemos constatar que a maioria dos professores regentes se sente insegura na sua prática pedagógica em relação às aulas de educação física, não sendo eficaz para que haja um maior resultado. Reconhecendo a importância, o valor e as devidas contribuições da educação física para o desenvol- 24 SIM % NÃO % 22 78 28 72 11 89 89 11 vimento social, afetivo, cognitivo e motor dos alunos, não haverá mais lacunas sobre o profissional mais adequado para ministrar as aulas de educação física (FRAGA, 2005). Questão 3 Para os professores regentes que ministram as aulas de educação física, foi questionado se eles têm didática correta para ministrar aula de educação física. Oitenta e nove por cento afirmam que não possuem didática correta e conhecimento pedagógico para atuar nas aulas de educação física, enquanto 11% dos entrevistados consideram seu conhecimento pedagógico eficaz para atuar na área. Nos anos iniciais do ensino fundamental, as aulas de educação física, com algumas exceções, são ministradas por docentes formados em curso de Magistério e Pedagogia. Novamente afastando-se de uma concepção valorativa, que julgue posições e, muito menos, profissionais, estudos têm demonstrado que estes professores não se sentem preparados e motivados para trabalhar com Educação Física no processo escolar (DARIDO, 2008). Questão 4 Quando foi perguntado sobre quem deve ministrar as aulas de educação física, constatamos que 89% dos entrevistados responderam que o profissional de educação física deve voltar a ministrar as aulas, ao passo que 11% responderam que não precisam. A maioria dos entrevistados da pesquisa nos afirma que é de suma importância a presença do profissional de educação física nos anos iniciais. Para Freire (2001, p. 79) “Se a pessoa mais competente para cumprir a tarefa for o profissional de Educação Física, então deve ser ele o indicado pelo poder público para realizar essa tarefa”. Área - Atividade Física e Saúde Análise da importância do profissional de educação física nos anos iniciais Os resultados do gráfico apontam que 3% dos professores regentes de turma acham que devem sim ministrar as aulas de educação física e se sentem preparados para atuar, enquanto 97% consideram importante a presença de um profissional especializado em educação física. Observamos que o professor regente reconhece que o mais capacitado é o profissional de educação física para ministrar as aulas de educação física. A educação física nas séries iniciais há muito tempo vem ocorrendo debates acerca do papel desse componente curricular. De um lado, um setor corporativista da Educação Física Brasileira defende a inclusão de um especialista na área, e, do outro, há os que defendem a permanência da atual estrutura com os professores de sala de aula, alegando ser melhor para o aluno o contato com um único professor (FREIRE, 1997). Conclusões Perante a análise e discussão acerca do trabalho, há a necessidade de uma melhora no processo de ensino aprendizagem no sentido de repensar a importância do professor de educação física nos anos iniciais do ensino fundamental. O professor com formação em educação física poderá conduzir as atividades atendendo às particularidades dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental, proporcionando uma prática condizente com as necessidades das séries iniciais, o que contribuirá de maneira significativa para o desenvolvimento integral dos escolares. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL. Lei de Diretrizes e Base da Educação Brasileira, nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. DARIDO, S. C. Educação Física: questões e reflexões na escola. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. FRAGA, A. B. Educação física nos primeiros anos do ensino fundamental brasileiro. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Educação Física. v. 7 Brasília: 1997 Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Noviembre de 2005. FREIRE, P. Políticas e educação. 5. ed. v. 23. São Paulo: Cortez, 2001. SILVA, J. B. F. Educação de Corpo Inteiro: Teoria e Prática da Educação Física. São Paulo: Scipione, 1997. SORBARA, L. C. A importância e a necessidade da obrigatoriedade do profissional de educação física para alunos de escolas municipais da educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental do município de Cascavel. Monografia. Graduação Educação Física, Faculdade Dom Bosco, Cascavel. 2002. Disponível em <http://boletimef. org/biblioteca/63/Sorbara-Monografia>. Acesso em 05 out. 2011. 25 Área - Atividade Física e Saúde UTILIZ AÇ ÃO DE SUPLEMENTOS ALIMENTARES POR PR ATIC ANTES DE MUSCUL AÇ ÃO Ronaldo Angelo Dias da Silva João Luiz Fernandes Lopes Bruno Pena Couto Leszek Antoni Szmuc Marcos Daniel Motta Drummond. [email protected] Introdução Os suplementos alimentares podem ser utilizados nas atividades físicas, em especial na musculação, com objetivo de melhoria do desempenho e alcance de objetivos específicos (JESUS et al., 2008). O consumo de suplementos alimentares vem se tornando cada vez mais constante, uma vez que os praticantes de musculação, geralmente, querem resultados em curto prazo (MOYA et al., 2009; FUJITA et al., 2010). Entretanto, Domingues et al. (2007) apontam que praticantes de atividade física em academias geralmente fazem uso indiscriminado de suplementos alimentares, pois constantemente a prescrição ou seleção dos produtos não é realizada por nutricionistas. Ainda, profissionais ligados à nutrição e atividade física geralmente possuem conhecimentos restritos sobre o tema (MIARKA et al., 2007). Frente ao exposto, torna-se imprescindível a avaliação do perfil de consumo de suplementos alimentares por praticantes de musculação, para direcionar ações de conscientização e orientação sobre o tema. Portanto, o presente estudo objetivou analisar o consumo de suplementos alimentares em jovens e adultos praticantes de musculação. Métodos Neste estudo foi aplicado um questionário, adaptado de Cantori et al. (2009), com questões de múltiplas escolhas, na região metropolitana de Belo Horizonte - MG. A amostra foi composta por 150 praticantes de musculação de ambos os gêneros, sendo 105 do gênero masculino e 45 do gênero feminino. A média de idade da amostra foi de 23,1±2,8 anos. De- pois de serem fornecidos devidos esclarecimentos, os voluntários assinaram um termo de consentimento livre esclarecido. Todos os procedimentos adotados no presente estudo estão de acordo com os padrões éticos da investigação científica do esporte e do exercício, sugeridos por Harris e Atkinson (2011). Resultados Em relação aos objetivos dos entrevistados na prática da musculação, 66,7% objetivam o ganho de massa muscular, enquanto que 33,3% relataram o objetivo de melhoria e/ou manutenção da saúde. Do total de entrevistados, 49,33% consomem suplementos, sendo que 81,08% destes, o fazem com a finalidade de ganho de massa muscular (Figura 1). 27 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Figura 1. Objetivo dos entrevistados ao consumir suplementos Os suplementos mais consumidos foram: proteína do soro do leite (51,35%), maltodextrina (35,18%), BCAA e creatina (32,35%, ambos). Em relação à orientação e o que levou ao consumo dos suplementos, 64,87% dos consumidores de suplementos não fazem acompanhamento com nutricionista e 50% afirmam ter iniciativa própria para consumo (Figura 2). Figura 2. Motivo pelo qual os entrevistados iniciaram o uso do suplemento. Discussão Semelhantemente aos resultados do presente estudo, Hallak et al. (2007) e Cantori et al. (2009) identificaram que 72% e 75% respectivamente de sua amostra praticam musculação com objetivo de ganho de massa muscular. Cantori et al. (2009) encontraram que a maior parcela dos consumidores de suplementos o fazem com objetivo de ganho de massa muscular, o que é semelhante ao resultado do presente estudo. Assim, o objetivo de aumento da massa muscular pode direcionar os indivíduos ao consumo de suplementos. Fujita et al. (2010) encontraram que 54,4% da 28 sua amostra consumiam algum tipo de suplemento, sendo semelhante aos resultados do presente estudo. Também semelhantemente aos resultados do presente estudo, Cantori et al. (2007) encontraram que os suplementos mais consumidos foram proteína do soro do leite (80,6%), maltodextrina e creatina (28%). No estudo de Hallak et al. (2007) os mais consumidos foram os concentrados proteicos (61,3%). Em relação à orientação e o que levou ao consumo dos suplementos, os resultados do presente estudo foram semelhantes aos de Moya et al. (2009), Cantori et al. (2007), Fujita et al. (2010) e Domingues Área - Atividade Física e Saúde et al. (2007), que encontraram um elevado índice de iniciativa própria para o consumo, sem a orientação de nutricionistas. Tais resultados sugerem que o uso de suplementos ocorre possivelmente de forma indiscriminada, devido à falta de orientação especializada. Conclusão Os resultados do presente estudo permitem concluir que aproximadamente metade dos praticantes de musculação utiliza algum tipo de suplemento. Os produtos mais consumidos foram: proteína do soro do leite, maltodextrina, BCAA e creatina. Ainda, metade dos voluntários consumidores de suplementos alimentares deu início a tal prática por vontade própria, sen- do que mais de dois terços destes não fazem acompanhamento com um nutricionista. Tal comportamento pode contribuir para o consumo inadequado de suplementos. Novos estudos são necessários para analisar o consumo de suplementos em diferentes regiões, para determinar o perfil dos consumidores e assim permitir a prescrição e o consumo seguro destes produtos. Referências CANTORI, A. M. SORDI, M. F. NAVARRO, A. C. Conhecimentos sobre ingestão de suplementos por frequentadores de academias em duas cidades diferentes no sul do Brasil. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 3, n. 15, p.172-181, 2009. DOMINGUES, S. F. MARINS, J. C. B. Utilização de recursos ergogênicos e suplementos alimentares por praticantes de musculação em Belo Horizontes – MG. Fitness & Performance Journal. RJ, v. 6, n. 4, p. 218-226, 2007. FUJITA, A. G. SILVA, U. S. G.; NAVARRO, A. C. Consumo de suplementos alimentares entre educadores físicos da cidade de São Paulo. Revista brasileira de nutrição esportiva, v. 4, n. 20, p. 130-138, 2010. HALLAK, A. FABRINI, S. PELUZIO, M. C. G. Avaliação do consumo de suplementos nutricionais em academias da zona sul de Belo Horizonte, MG, Brasil. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, São Paulo v. 1, n. 2, p. 55-60, 2007. HARRISS, D.J., ATKINSON, G. Update - ethical standards in sport and exercise science research. International Journal of Sports Medicine, v. 32, p. 819-821, 2011. JESUS, E. V.; SILVA, M. D. B. Suplementos alimentares como recurso ergogênico por praticantes de musculação em academias. ANAIS. 3º Encontro de Educação Física e Áreas Afins, Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Física (NEPEF) / Departamento de Educação Física / UFPI, Outubro de 2008. MIARKA, B.; JUNIOR, C. C. L.; INTERDONATO, G. C.; VECCHIO, F. B. D. Características da suplementação alimentar por amostra representativa de acadêmicos da área de educação física. Movimento e Percepção. v. 8, n. 11, 2007. MOYA, R.N.; SERAPHIM, R. V.; CALVANO, J. C.; ALONSO, D. O. Utilização de suplementos alimentares por adultos jovens, praticantes de musculação. Revista brasileira de ciências da saúde, ano VII, n. 19, 2009. 29 Área - Atividade Física e Saúde INFLUÊNCIA DA PR ÁTIC A DE E XERCÍCIO FÍSICO COM OS SINTOMAS CLIMATÉRICOS Jaqueline Teixeira Teles Lúcia Helena Rodrigues Costa Marise Fagundes Silveira Maria Cecília Costa Campos Maria Clara Lélis Ramos Cardoso Laura Havilland de Sousa Ruas [email protected] Introdução Ao longo do século XX houve um crescimento da expectativa de vida no mundo, o que tem sido uma realidade também no Brasil (ZANOTELLI, 2012). A Organização Mundial da Saúde (2005) define o climatério como sendo uma fase biológica da vida da mulher, que ocorre por volta dos 35 e 65 anos, caracterizada pela transição do período reprodutivo para o não reprodutivo. Nessa fase ocorre a diminuição da atividade ovariana e consequente redução na produção de estrogênios com o aparecimento de sintomas vasomotores, psicológicos e urogenitais necessitando muitas vezes de intervenções (SILVA, 2008). Para além da sintomatologia característica da transição climatérica, podem surgir outras mudanças decorrentes de condicionantes sociodemográficos, econômicos e culturais podendo agravar mais ainda o estado geral das mulheres que vivenciam essa fase (VALENÇA, 2010). Exercício físico quando realizado três vezes por semana com duração de 30 min./dia beneficia mulheres na meia idade proporcionando melhora dos sintomas, sociabilidade com consequente melhora na qualidade de vida (GUIMARÃES, 2011). Sabe-se que existe possibilidade de melhora de sintomas com a prática de atividade física regular e que existem poucos estudos registrando estratégias de formação para esse público. O presente estudo objetivou avaliar a influência da prática regular de atividade física na sintomatologia climatérica de um grupo de mulheres na meia idade. Materiais e Métodos Trata-se de estudo exploratório, transversal de base populacional e natureza quantitativa. A seleção da amostra foi intencional, formada por 67 mulheres, com idade entre 40 e 60 anos, participantes de um evento de agendamento de mamografia promovido pela Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros MG, Brasil, no mês de agosto de 2013. A identificação da amostra baseou-se nas definições de climatério propostas pelo Ministério da Saúde (MS) (BRASIL, 2013). Os aspectos éticos foram respeitados sendo que a presente pesquisa foi submetida à apreciação do Conselho de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, sendo aprovada sob o nº CAAE 17846513.0.0000.5146. Previamente à coleta de dados, houve treinamento das pesquisadoras visando padronização. Foi utilizado um questionário semiestruturado para avaliar variáveis sóciodemográficas, e história de atividade física (sedentária ou não sedentária), no qual as mulheres reportaram frequência e duração da realização de atividades físicas (caminhada e atividades físicas moderadas e vigorosas). Foram classificadas como sedentárias aquelas que não praticavam atividade física regular ou quando esta foi realizada com uma frequência inferior a três vezes por semana e/ou uma duração inferior a 30 minutos, independentemente da modalidade do exercício realizado (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2007). Para avaliação dos sintomas climatéricos, foi utilizada a versão brasileira da Menopause Rating Scale (MRS), um instrumento validado internacionalmente, composto por onze questões que referem sintomas que são divididos em domínios somatovegetativos, psicológicos e urogenitais. A pessoa dá o seu parecer relativo a cada sintoma podendo ser este classificado como ausente, leve, moderado, severo e muito severo. A resposta de cada questão é classificada em uma escala de severidade que varia de zero a quatro, sendo 0=ausente; 1= leve; 2= moderado; 3= severo; 4= mui31 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar to severo. Para cada mulher o escore total de cada domínio resulta da soma da pontuação de cada item da mesma (HEINEMANN, 2004). A análise estatística dos dados foi feita com o SPSS versão 18.0 for Windows. As variáveis foram descritas em frequências, médias e desvios-padrão. Para a comparação dos níveis de sintomas climatéricos (três domínios) com relação às características sociodemográficas e antropométricas foram usados os testes de Mann-Whitney e Kruskall-wallis, ao nível de significância de 0,05. Resultados e Discussão Os resultados mostraram uma média de idade de 49,30 anos ± 5.8 anos; 62,7% das mulheres possuíam renda familiar superior a 678 reais. A distribuição, de acordo com a faixa etária, demonstrou que a maioria dos indivíduos (59.8%) se encontrava na faixa etária entre 45 a 54 anos. Quanto ao grau de instrução, a maior parte da amostra (47,8%) possuía ensino fundamental incompleto, a grande maioria relatou habitar em casa própria (83,6%). Existe nesta amostra um maior número de mulheres que não tem companheiro fixo (67,2%). Em relação à cor, a maioria declarou-se parda/morena (62,7%). Na amostra, 68,7% foram classificadas como sedentária. Ao correlacionar as variáveis descritas acima e os domínios da Menopause Rating Scale (MRS), verificou-se relevância apenas da atividade física. Com relação à intensidade dos sintomas climatéricos conforme a escala de MRS, a maioria das mulheres, correspondendo a um percentual de 52.2%, considerou os sintomas severos a muito severos, no entanto conforme mostra o gráfico 1, ao correlacionar os mesmos parâmetros à prática de exercício físico, percebe-se claramente que os sintomas climatéricos são menores ou menos perceptíveis nas mulheres que praticam algum tipo de exercício físico. Tairova e De Lorenzi (2011) realizaram um estudo de caso controle, observando a diferença entre os domínios do MRS, em dois grupos distintos, sedentárias e não sedentárias. Constatou que 63,6% das mulheres sedentárias apresentavam sintomas climatéricos de intensidade moderada a severa, comparado com 33,4% do grupo fisicamente ativo. Outro estudo com o mesmo objetivo, realizado com 1011 mulheres na pré e pós-menopausa, utilizando o Índice de Kupperman e o Questionário Internacional de Atividade Física, constatou que as mulheres com mais sintomas eram aquelas que relataram menor atividade física total (GUIMARAES, 2011). Um artigo de revisão relata que a inatividade física é classificada como uma das principais causas de problemas de saúde perdendo apenas para o tabagismo (STOJANOVSKA, 2014). Gráfico 1: Frequência dos sintomas de acordo com intensidade a partir da classificação da MRS e prática de exercício físico 32 Área - Atividade Física e Saúde Conclusões Pode-se concluir que, em relação às mulheres que estão na fase do climatério, é alta a proporção de sintomas verificadas pela MRS. Tal resultado demonstra que a sintomatologia climatérica pode impactar negativamente na qualidade de vida. Atividade física regular está associada a uma redução dos sintomas. Assim, ainda que esses resultados não possam servir de base para a totalidade da população feminina do Brasil, uma intervenção visando à prática de atividade física poderá resultar em benefícios consideráveis ao bem estar das mulheres que vivenciam o climatério. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Climatério. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=33924&janela=1. HEINEMANN, K.; RUEBIG, A.; POTTHOFF, P.; SCHNEIDER, H. P.; STRELOW, F.; HEINEMANN, L. The Menopause Rating Scale (MRS) scale: a methodological review. Health Qual Life Outcomes. v. 2, n. 45, 2004. SILVA FILHO, E. A.; COSTA, A. M. Avaliação da qualidade de vida de mulheres no climatério atendidas em hospital -escola na cidade do Recife, Brasil. Rev. 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Há muito já se tem proposto a adaptação/alternativa de materiais, equipamentos e espaços regulamentares/convencionais das diferentes modalidades do atletismo, mas ainda com o foco no aprendizado das técnicas, e o aspecto competitivo individual – melhoria de minutos, segundos e centímetros, também veio se mantendo. Mais recentemente, tem sido possível se deparar com trabalhos de pesquisa com expressões: atletismo jogado, atletismo jogado, atletismo lúdico, que apresentam uma nova forma de se trabalhar o atletismo, especialmente, no âmbito escolar. O objetivo deste trabalho é socializar o processo de construção de um martelo alternativo ao regulamentar um brinquedo, feito por licenciandos(as) de um curso de educação física, para ser utilizado de diferentes maneiras em aulas de educação física escolar, para abordagem de conteúdos referentes a uma das provas do atletismo. Materiais e Métodos Trata-se de uma pesquisa descritiva, na qual se faz um relato das etapas ou fases de construção de um martelo – implemento vinculado a uma das provas de lançamento do atletismo, bem como os materiais utilizados e também as formas de uso deste “brinquedo” para se aprender conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais relacionados à prova convencional, mas de maneira descontraída e divertida. Com relação aos meios, lançou-se mão de material bibliográfico, de registro de imagens e documentos. Resultados e Discussão De acordo com Rolim, Colaço e Garcia (2004), são cinco os motivos geradores do que se convencionou como uma fuga do atletismo na escola. Aqui, vale destacar a concepção de ensino do atletismo, por parte dos (as) professores (as) de educação física e a complexidade das diferentes técnicas ou estilos de se correr, saltar e arremessar/lançar somados às demandas de materiais, equipamentos e espaços do atletismo regulamentar/convencional. O reflexo disso, pensando no Brasil, é a pouca difusão do atletismo no país. Um exemplo disso é que [...] dos 56 alunos [universitários] matriculados na disciplina “Fundamentos do Atletismo [na UNESP – Rio Claro / SP] em 2002 (27 do curso de Bacharelado e 29 do curso de Licenciatura em Educação Física), apenas 15 (27%) tiveram contato com o atletismo no período escolar que antecedeu a Universidade, enquanto os 41 restantes (73%) não tiveram contato com essa modalidade esportiva no mesmo período (MATTHIESEN, 2007, p.1). 35 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Para Matthiesen (2007, p.17), “a situação é tão alarmante que [...] é comum identificarmos um grande números de universitários tendo seu primeiro contato com o atletismo no Ensino Superior”. Ainda conforme esta autora, o atletismo, quando trabalhado na escola, dá ênfase apenas às corridas – modalidades de velocidade, e aos saltos em altura e em distância. Os lançamentos, mesmo dentro da escassa presença do atletismo na escola, são ainda mais negligenciados “e para exagerar bem: é na Universidade que [...] [o universitário] aprenderá que o martelo é um implemento totalmente diferente da ferramenta em si e que o disco não toca” (MATTHIESEN, 2007, p.17). Trazendo para a realidade deste trabalho de pesquisa – Licenciandos(as) do curso de educação física do Centro Universitário de Sete Lagoas – UNIFEMM, diante da tarefa: Construção de jogo ou brinquedo, destina- FIGURA 1 – Orientando a confecção do martelo de jornal. Fonte: Arquivo pessoal. FIGURA 2 – O martelo de jornal. Fonte: Arquivo pessoal. 36 do ao ensino de modalidade(s) do atletismo no campo escolar – Ensino Fundamental, sem um dispêndio financeiro, optou-se por desenvolver algo que pudesse favorecer o ensino de uma das provas de lançamento, no caso o martelo. Para tanto, lançou-se mão de: três folhas de jornal; dois pedaços de barbante, com aproximadamente um metro e cinquenta cada; um rolo de fita adesiva; uma garrafa pet e uma tesoura. Com as três folhas de jornais enroladas e amassadas, faz-se uma bola – a cabeça do martelo, e, em seguida, passa-se a fita adesiva para manter o formato, a estrutura esférica (FIG. 1). Em seguida, amarra-se uma das pontas junta dos dois pedaços de barbante na bola feita com jornal e as outras pontas em um círculo, que funcionará como empunhadura ou alça, retirado do corpo da garrafa pet (FIG. 2). Área - Atividade Física e Saúde Pensou-se na possibilidade de utilização do martelo ora apresentado incorporando-se duas ações mobilizadoras da participação de alunos da educação básica: envolvendo-os em todas as fases ou etapas de construção do martelo de jornal, inclusive no levantamento dos materiais necessários; a utilização do martelo construído em atividades envolvendo pequenos grupos e de forma divertida, lúdica. Além disso, acredita-se que “a Educação Física [...], ao longo de sua história, priorizou os conteúdos numa dimensão quase que exclusivamente procedimental, o saber fazer e não o saber sobre a cultura corporal ou como se deve ser, embora esta última categoria aparecesse na forma de currículo oculto” (DARIDO, 2005, p. 67). Conclusões A construção do martelo de jornal possibilitou a articulação do ensino com a pesquisa na formação inicial para a docência em educação física perante um problema concreto, vinculado ao ensino do atletismo, sua pouca difusão ou presença na escola de educação básica. A um só tempo pôde-se refletir sobre uma concepção de ensino que coloca os alunos no centro do processo de ensino e também sobre a necessidade de uma ação docente intencional focada em outros saberes/conteúdos que extrapolam as técnicas das modalidades do atletismo, que tanto dificultam a presença do mesmo na educação física escolar, pela complexidade dessas técnicas e também pelas correspondentes demandas de instalações e materiais indisponíveis no sistema escolar. Referências ANDRADE, A. L.; HUBER, M. P. Atletismo como esporte-base nas aulas de Educação Física. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd187/atletismo-como-esporte-base.htm. Acesso em: 14 mai. 2014. CALVO, A. P.; MATTHIESEN, S. Q. 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O futsal é uma das modalidades esportivas e vem sendo muito usado atualmente nas aulas de educação física em escolas de todo Brasil. Trata-se de uma modalidade que ajuda no desenvolvimento de escolares, porém, para um melhor desenvolvimento motor dos alunos, e até mesmo para ser uma aula diferenciada, devem ser praticadas outras modalidades com mais frequência nessas aulas. Segundo Baseggio (2011), as atividades realizadas em aulas, principalmente os jogos desportivos, são instrumentos facilitadores do desenvolvimento global da criança e do adolescente. As atividades físico-desportivas, entendidas como atividades naturais de movimento, jogo e confraternização, são elementos básicos para a educação das pessoas e possuem funções altamente pedagógicas, que podem incidir no desenvolvimento equilibrado e harmônico do ser humano (BASEGGIO, 2011, p.10 apud VARGAS NETO, 1995). Segundo Matveev (1997, p.63), “A aula de Educação Física é a forma básica e obrigatória de desenvolvimento físico, a nível escolar. Durante a aula, os alunos adquirem conhecimentos, habilidades e experiências [...], aumentando o nível de seu conhecimento físico”. Para Santin (1989 apud SOLER, 2003, p. 14), falar de educação física como uma atividade educativa implica defender a ideia da totalidade do ser humano. Não apenas como uma totalidade individual, mas como uma totalidade social. Não se trata de somar partes, até hoje antropologicamente separadas, nem perseguir modelos a priori definidos, mas embrenharse no desconhecido para viver, e, vivendo, fazer emergir a imagem de cada ser humano. Assim, é de suma importância trabalhar a maior gama possível de modalidades esportivas dentro das aulas de educação física. Esta pesquisa tem como propósito analisar a preferência dos escolares da Escola Estadual Princesa Januária do ensino fundamental de Januária - MG com relação à inclusão de novas modalidades esportivas. Materiais e métodos Este estudo teve característica descritiva, quantitativa e transversal. O questionário foi aplicado a cem alunos do 9º ano do ensino fundamental da Escola Estadual Princesa Januária, sendo que uma turma é do turno matutino e outro do vespertino. Foi entregue à diretoria da escola uma carta de solicitação para a per- missão da pesquisa, o questionário foi semiestruturado, sendo direto para a obtenção dos resultados. 39 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Os resultados coletados na tabela 01 mostram que o esporte mais realizado na escola durante as aulas de educação física é o futsal, com uma porcentagem de 90%. Com relação à preferência dos alunos, dentre os esportes realizados dentro da escola, o handebol ficou com a maior porcentagem, 41% da preferência. Tabela 01- Resultado dos esportes mais realizados e de preferência dos alunos Questões Q1 Q2 Futsal Handebol Vôlei Basquete Outros 90% 7% 1% 0% 2% 25% 41% 18% 6% 10% Com relação ao objetivo proposto neste trabalho, apesar de o futsal ser a modalidade esportiva mais praticada nas aulas de educação física, os alunos escolheram modalidades diferenciadas daquelas típicas das aulas. Analisando a tabela 02, podemos observar que a dança, seguida das lutas, são as modalidades que apresentam uma maior porcentagem para serem incluídas nas aulas de educação física. Tabela 02- Resultado da preferência de inclusão das modalidades esportivas nas aulas de Educação Física Questões Q3 Ginástica 10% Dança 50% Lutas 27% Natação 10% Outras 3% Conclusão De acordo com a pesquisa realizada e com os resultados coletados e analisados, foi possível observar que o futsal é a modalidade esportiva mais realizada na Escola Estadual Princesa Januária, e, dentre as várias modalidades apresentadas no questionário, os alunos gostariam que fossem incluídas nas aulas de educação física danças e lutas. Sem dúvidas, os esportes trazem muitos benefícios para a criança e o adolescente, assim, é interessante usar a diversidade e flexibilidade que a educação física oferece aos professores para inserir novas modalidades nas aulas, fazendo assim com que sejam mais proveitosas e interessantes. Referências BASEGGIO, T. S. Oficinas sócio-educativas de futsal como ações complementares no processo educacional. Ebookbrowse, 2011. MATVEEVV, A. P. Educação Física Escolar: teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Grupo Palestra Sport, 1997. 139p. SOLER, R. Educação Física Escolar. Rio de Janeiro: Editora Sprint,2003. 188p. 40 Área - Psicologia do Exercício e Saúde ÁREA - PSICOLOGIA DO EXERCÍCIO E SAÚDE NÍVEL MOTIVACIONAL DOS ADOLESCENTES DE 10 A 14 ANOS QUE FREQUENTAM O PROGR AMA SEGUNDO TEMPO Ana Flavia Muniz Vieira Berenilde Valéria de Oliveira Sousa Maria de Fatima de Matos Maia Maria Christina Soares Gomes Celina Aparecida Gonçalves Lima Jaime Tolentino Miranda Neto Fernanda Maia Tolentino [email protected] Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil. Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM. Resumo Motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional, dirigido a uma meta, que depende da interação de fatores pessoais (intensivos) e ambientais (extrínsecos). Os motivos são fundamentais para a prática desportiva. O estudo tem como objetivo comparar a motivação dos adolescentes integrantes de dois núcleos do Programa Segundo Tempo. A população alvo desta pesquisa foi adolescentes de 10 a 14 anos participantes de dois núcleos do Programa Segundo Tempo da cidade de Montes Claros, sendo a amostra composta por 100 adolescentes de ambos os sexos. Foram adotadas, como variáveis independentes, o sexo e núcleo do Programa Segundo Tempo; e, como variáveis dependentes, as motivações geral, intrínseca e extrínseca. Os resultados quanto à motivação geral entre os dois núcleos apresentaram diferença significativa, com p= .05, o que significa que os alunos do núcleo 2 se mostraram mais motivados. Quando comparadas as motivações extrínseca e intrínseca entre os dois núcleos, foi encontrada diferença significativa na motivação intrínseca, com p= .01, em que o núcleo 2 teve níveis mais elevados. Não foram encontradas diferenças significativas ao nível de p quando comparadas a variável sexo. O sexo feminino mostrou-se com níveis médios mais elevados tanto na motivação geral quanto na motivação extrínseca e intrínseca. Palavras-chave: Motivação, Adolescentes, Atividade Física. Introdução A motivação é caracterizada como um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, a qual depende da interação de fatores pessoais (intensivos) e ambientais (extrínsecos) (SAMULSKI, 2002). De acordo com Sage (1977), a motivação pode ser definida como a direção e intensidade de nossos esforços, na qual a direção do esforço se refere à capacidade de um indivíduo de procurar aproximar-se ou ser atraído a certas situações, já a intensidade do esforço referese a quanto uma pessoa coloca em uma determinada situação. Segundo Ryan e Deci (2000), os motivos caracterizam-se como ponto de partida para que se en41 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar tenda a motivação dos indivíduos para a prática desportiva, entendida como fundamental na busca de seus objetivos. Berganimi (1997) cita que, em relação ao estudo da motivação, criou-se uma enormidade de teorias e hipóteses que foram se acumulando no decorrer dessas últimas décadas. O caráter motivacional do psiquismo humano abrange, portanto, os diferentes aspectos que são inerentes ao processo, por meio dos quais os comportamentos das pessoas podem ser ativados. Samulski (2002) ressalta ainda que a motivação intrínseca e extrínseca tem uma determinada orientação para a tarefa ou para o resultado. Além disso, o nível de ansiedade exerce uma grande influência nas sensações de autoestima, competência e autocontrole.Vários são os caminhos seguidos no aspecto motivacional, mas que neste estudo serão direcionados a uma base teórica dividida em: motivações intrínsecas (fatores pessoais) e extrínsecas (fatores ambientais), que foram expostas por Deci e vem so- frendo muitas variações com o passar dos anos.O projeto social cumpre a função de retirada das crianças e jovens da rua, uma das consequências das desigualdades sociais brasileiras, cotidianamente sendo vivenciadas devido a muitas limitações nos espaços de ir e vir de lazer e aos perigos e riscos a eles associados. Nesse sentido, o Segundo Tempo é um programa do Ministério do Esporte, destinado a democratizar o acesso à prática e à cultura do esporte, de forma a promover o desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens como fator de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida, prioritariamente em áreas de vulnerabilidade social. Portanto, o presente estudo tem como objetivo comparar a motivação dos adolescentes integrantes de dois núcleos do Programa Segundo Tempo inseridos em diferentes contextos, assim como também as diferenças de motivação entre meninos e meninas. Material e métodos O presente estudo é descritivo do tipo comparativo e de corte transversal, com abordagem quantitativa. Gil (1999) descreve que a pesquisa descritiva tem como principal objetivo descrever características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre as variáveis. A população alvo desta pesquisa foi em adolescentes de 10 a 14 anos participantes de dois núcleos do Programa Segundo Tempo da cidade de Montes Claros, sendo a amostra composta por 100 adolescentes de ambos os sexos. Destes, 50 eram do núcleo do Clube do Ferroviário (núcleo 1) e 50 do Jardim Primavera (núcleo 2).Neste estudo, foram adotadas as seguintes variáveis independentes: sexo e núcleo do Programa Segundo Tempo. As variáveis dependentes foram as motivações geral, intrínseca e extrínseca.O instrumento utilizado foi o questionário adaptado de Kobal (1996). Este é composto por 32 questões, sendo 16 referentes à motivação intrínseca e 16 referentes à motivação extrínseca em uma escala de Likert, com cinco opções de resposta. Na análise dos dados, foi utilizado o programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 13.0, recorrendo-se ao uso do teste t para amostras independentes. Todos os responsáveis pelos sujeitos do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, o qual continha os objetivos desta investigação, conforme prevê a resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde. Resultados e Discussão Tabela 1 - Teste t da Motivação e variável independente núcleo do Programa Segundo Tempo. Tipo Motivação M Dp p Motivação geral Núcleo 1 Núcleo 2 90.68 93.20 4.00 8.03 .05 Motivação extrínseca Núcleo 1 Núcleo 2 42.34 42.68 2.95 6.26 .73 Motivação intrínseca Núcleo 1 Núcleo 2 48.34 50.52 2.82 3.82 .01 *P≤ .05 Ao observar os dados apresentados na tabela 1, constatou-se que, quando comparada a motivação geral entre os dois núcleos, foi encontrada diferença significativa com p = 0.05, mostrando que os alunos do 42 núcleo 2 apresentaram-se mais motivados. Quando comparadas as motivações extrínsecas e intrínsecas entre os dois núcleos, foi encontrada diferença significativa na motivação intrínseca, com Área - Psicologia do Exercício e Saúde p=0.01, em que o núcleo 2 apresentou-se com níveis mais elevados. Para Deci e Ryan (2000), a motivação intrínseca parece diminuir à medida que um indivíduo envelhece, corroborando os dados encontrados nesta pesquisa, já que o núcleo 2 apresentou maior motivação intrínseca e são mais novos que o núcleo 1. Menoncim (2003) acredita ser mais importante que adultos e crianças estejam mais motivados intrinsecamente do que dependentes de gratificações externas, pois assim tornam-se persistentes e executam tarefas de maior complexidade. Deci e Ryan (2000) relatam que os comportamentos internamente motivados (intrínsecos) são comportamentos nos quais as pessoas se empenham em sentir-se competentes e autodeterminada. Esse comportamento foi apresentado pelo núcleo 2, em que os envolvidos sentiam-se com maior desejo de aprender novas habilidades esportivas, podendo se justificar em função do núcleo 2 estar inserido em uma comunidade carente com poucas possibilidades de acesso à prática esportiva ou de lazer. No que diz respeito à motivação extrínseca, não foi encontrada diferença significativa, apenas uma média mais elevada para o núcleo 2. Em pesquisa realizada por Martinelli et al. (2009) sobre desempenho escolar relacionado à motivação, foi constatado também uma motivação intrínseca mais elevada em alunos com melhores escores na avaliação escolar. Segundo Guimarães (2003), um indivíduo que se apresenta intrinsecamente motivado determina metas pessoais, manifesta seus acertos e dificuldades, programa suas ações necessárias para viabilizar seus objetivos e avalia adequadamente seu progresso. Esse mesmo autor ressalta que um indivíduo que se sentecomandado por fatores externos e assim apresentando fatores extrínsecos, promove sentimentos de fraqueza e ineficácia, promovendo seu afastamento do desempenho da atividade. Porém, Araújo (2008) faz uma ressalva a respeito da motivação extrínseca, chegando à conclusão de que as recompensas extrínsecas podem influenciar negativamente na motivação interna, exceto quando ela está elevada. Tabela 2 - Test t da motivação e variável independente sexo Tipo Motivação Sexo M Dp p Motivação M F 91.71 92.38 6.24 6.37 0.62 Motivação extrínseca M F 42.48 42.56 4.90 4.89 0.60 Motivação intrínseca M F 49.23 49.82 3.29 3.94 0.40 *P≤ .05 Na tabela 2 são apresentados os resultados obtidos na comparação entre as motivações geral, a intrínseca e a extrínseca de acordo com o sexo. Não foram encontradas diferenças significativas ao nível de p quando comparada as motivações de meninos e meninas. De acordo com os valores apresentados, o sexo feminino mostrou-se com níveis médios mais elevados tanto na motivação geral quanto nas motivações extrínseca e intrínseca. Alves et al. (2010) constataram em sua pesquisa realizada no âmbito escolar que o sexo feminino também se encontrava mais motivado que o masculino, embora acreditassem que o gênero masculino se encontrava mais motivado para a prática de atividade físi- ca. Marzinek (2004) relata no seu estudo, também realizado no ambiente escolar, resultados contrários aos de Alves et al. (2010), em que o sexo masculino se encontrou mais motivado. Marzinek (2004) encontrou ainda níveis mais elevados de motivação extrínseca para os meninos. Faz-se necessário ressaltar que a pesquisa foi feita em um ambiente totalmente diferente do contexto escolar, com objetivos, metodologias e forma de avaliações totalmente diferentes. O programa trabalha normalmente com adolescentes e crianças que vivem em áreas de risco social, com modelos de vida e convivência muitas vezes diferentes do âmbito escolar. Conclusão Conclui-se que ao comparar a motivação entre os dois núcleos, foi constatado que o núcleo 2 é mais motivado de forma geral e também na motivação intrínseca. Quando comparada a motivação de meninos e meninas não foram encontradas dife- renças significativas. A motivação mais elevada no núcleo 2 dá sustentação à filosofia do programa, no sentido de atender crianças em condições de vulnerabilidade social, característica mais evidente na comunidade em que esse núcleo está inserido. 43 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALVES, P. I. B. Satisfação, insatisfação no trabalho dos professores do 1º. Ciclo do ensino básico. Estudo do Concelho de Caldas da Rainha. Dissertação. Mestrado em Supervisão Pedagógica. Universidade Aberta. 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Os transtornos mentais em geral, atingem cerca de 450 milhões de pessoas no mundo, sendo resultante de múltiplas associações, tanto de fatores genéticos quanto de fatores comportamentais (VOLCAN et al., 2003). Os serviços de atenção primária à saúde têm um papel importante a desempenhar na mudança desse panorama, a ser ainda melhor explorado, uma vez que a estratégia de Saúde da Família (ESF) visa desenvolver a prevenção e a promoção da saúde na comunidade (FIOROTTI; TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009). Os transtornos mentais menores (TMM) se referem aos estados de saúde envolvendo sintomas psiquiátricos não psicóticos, e incluem sintomas como: insônia, fadiga, irritabilidade, distúrbios (depressão, ansiedade e transtornos somatoformes), esquecimento, dificuldade de concentração e problemas somáticos (COSTA et al., 2010). Heterogêneos quanto à diversidade de queixas, têm em comum a característica de não envolverem comprometimento de senso-percepção e de pensamento (FIOROTTI; TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009). Para Pinho e Araújo (2012) esses transtornos alteram o funcionamento normal dos indivíduos, prejudicando seu desempenho na vida familiar, social, pessoal e no trabalho. Com o propósito de detectar esses sintomas, Goldberg propôs um instrumento denominado Questionário de Saúde Geral (QSG). Este é um dos principais instrumentos para avaliar diferentes dimensões da saúde e é utilizado em diversas populações, nos mais variados contextos, sejam eles clínicos ou não clínicos (GOUVEIA, 2012). Os quadros depressivos têm representado o terceiro problema de saúde em mulheres nos países desenvolvidos e o quinto em países subdesenvolvidos, depois de causas maternas e de algumas doenças transmissíveis. Essas têm apresentado consideravelmente mais sintomas de angústia psicológica e desordens depressivas do que os homens (SENICATO; BARROS, 2012). A monotonia da rotina doméstica, associada à pouca possibilidade de mudança, traz frustrações para as mulheres que almejam realização profissional e não buscam formas de realizar o que desejam, seja por ter filhos ou por pressão de seus maridos, podendo ser um determinante para a ocorrência de distúrbios mentais. Assim, estando ou não inseridas no mercado de trabalho, em geral as mulheres são donas de casa e realizam tarefas que, mesmo sendo indispensáveis para a sobrevivência e o bem-estar de todos os indivíduos, são socialmente desvalorizadas e desconsideradas (LUDEMIR; MELO FILHO, 2002). Dessa forma, o presente estudo objetiva avaliar a ocorrência de transtornos mentais menores em mulheres usuárias de uma estratégia de Saúde da Família. Material e métodos Este trabalho refere-se aos resultados parciais da presente pesquisa, tratando-se de um estudo descri- tivo e transversal com abordagem quantitativa; aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade 45 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Estadual de Montes Claros (CEP/UNIMONTES) com o parecer consubstanciado nº 203.080/2012. Foi obtida da ESF uma lista com os nomes e endereços das 414 mulheres de 20 a 39 anos cadastradas na área de abrangência da ESF do Bairro Vila Telma do Munícipio de Montes Claros-MG. Os acadêmicos envolvidos neste estudo percorreram os domicílios das mulheres cadastradas para aplicação dos questionários. Até então foram entrevistadas 111 mulheres. O QSG é composto por 12 itens que investigam se o indivíduo experimentou recentemente um sinto- ma ou comportamento específico. Cada item possui quatro opções de respostas. As opções um e dois são interpretadas como pontuação zero, e as opções três e quatro como um ponto, indicando ausência e presença do sintoma, respectivamente. Procede-se o somatório de pontos e define-se TMM quando apresentar escores maiores ou iguais a quatro pontos em uma escala de até 12 pontos possíveis (GOUVEIA, 2012). Os dados foram analisados no programa Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 18.0. Resultados As características sociodemográficas da população em estudo encontram-se descritas na tabela 1. . A tabela 2 apresenta dados sobre a distribuição de frequência para cada uma das doze perguntas que com- põem o QSG-12. Após a análise dos escores, observouse que, entre as 111 mulheres, 44 (39,6%) obtiveram índices maiores ou iguais a quatro pontos, ou seja, apresentaram algum nível de TMM. Tabela 1. Características sociodemográficas das mulheres estudadas. Montes Claros, MG, 2013. Variável Cor da pele Branca Amarela Negra Parda Anos de estudo Nunca estudou 1–6 7 – 11 ≥ 12 Trabalho atual Empregada Autônoma Estagiária remunerada Desempregada Renda per capta* 0,00 – 300,00 301,00 – 600,00 601,00 – 900,00 >901,00 * Uma participante não respondeu a esta questão. 46 n (111) % 14 4 15 78 12,6 3,6 13,5 70,3 3 10 22 76 2,7 9,0 19,8 68,5 36 21 2 52 32,4 18,9 1,8 46,8 76 22 7 5 69,1 20,0 6,4 4,5 Área - Psicologia do Exercício e Saúde Tabela 2. Distribuição de frequência das perguntas do Questionário de Saúde Geral-12. Montes claros, MG, 2013. Questões Opções de resposta % Muito menos Não mais do do que de que de costume costume n % n % 45,9 10 9,0 9 8,1 41 36,9 30,6 22 19,8 10 9,0 45 40,5 59,5 9 8,1 7 6,3 29 26,1 76 68,5 10 9,0 5 4,5 20 18,0 92 82,9 5 4,5 4 3,6 10 9,0 60 54,1 8 7,2 4 3,6 39 35,1 De jeito nenhum n Você tem perdido o sono frequente51 mente por preocupação? Você tem notado que está difícil superar 34 as dificuldades? Você tem se sentido infeliz e deprimida? 66 Você tem perdido a confiança em si mesma? Você tem se sentido inútil? Você tem se sentido esgotada e sob pressão? Você tem conseguido se concentrar bem naquilo que faz? Você tem sentido que está desempenhando um papel útil na vida? Você tem sentido capaz de tomar decisões? Você tem realizado com satisfação suas atividades normais do dia a dia? Você tem sido capaz de enfrentar seus problemas adequadamente? Você se sente razoavelmente feliz, considerando todas as circunstâncias? Um pouco mais do que de costume n % Melhor do que de costume n % O mesmo de sempre n % Menos do que de costume n % Muito menos do que de costume n % 14 12,6 58 52,3 29 26,1 10 9,0 42 37,8 48 43,2 17 15,3 4 3,6 49 44,1 45 40,5 12 10,8 5 4,5 35 31,5 49 44,1 21 18,9 6 5,4 41 36,9 44 39,6 19 17,1 7 6,3 51 45,9 40 36,0 11 9,9 9 8,1 Discussão No Brasil, ainda é pequeno o número de investigações epidemiológicas de base populacional, na área de saúde mental, entretanto isto vem se modificando. Para Bandeira, Freitas e Carvalho Filho (2007), os transtornos mentais ou sintomas psicológicos são frequentes na população geral, porém tendem a ser subestimados por profissionais de saúde, resultando em que apenas os casos de natureza psicótica, mais graves, já cronificados ou com múltiplas complicações, passem a receber alguma atenção em âmbito de atenção especializada em saúde mental (FIOROTTI; TOMAZELLI; MALAGRIS, 2009). Ludemir e Melo Filho (2002) realizaram um estudo transversal em Olinda, PE, envolvendo 621 adultos de 15 ou mais anos; a população estudada apresentou prevalência global de 35% de TMM para adultos de ambos os sexos. Outra pesquisa, realizada em dois distritos do município de São Paulo, mostrou a prevalência de 24,95% de pessoas com indicativos de TMM, avaliando populações que se situavam dentro e fora da área de cobertura da ESF (MARAGNO et al., 2006). Estudos conduzi- dos por Lopes, Faerstein e Chor (2003) em populações ocidentais têm mostrado que as prevalências de TMM são mais elevadas no sexo feminino (20,0%) do que no masculino (12,5%). Para Menil et al., (2012) os homens são mais propensos a ser levados para o hospital psiquiátrico para tratamento, porque são percebidos como uma ameaça, enquanto as mulheres com problemas de saúde mental procuram tratamento mais comumente em santuários, igrejas ou com os prestadores de cuidados de saúde primários para queixas somáticas. Na presente pesquisa, 70,3% das mulheres se autodeclararam pardas, semelhantemente ao estudo de Araújo et al., (2006) (63,2%). Porém, na variável anos de estudo, os trabalhos revelaram resultados bastante diferentes, 68,5% estudaram 12 anos ou mais em contrapartida a 24,3%, respectivamente. Quanto ao trabalho atual, 46,8% se encontravam desempregadas, enquanto 53,2% tinham algum tipo de trabalho remunerado, concordando como o estudo de Senicato e Barros (2005), em que mais da metade 47 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar das Mulheres, 60,8%, também tinha algum tipo de remuneração e 39,2% eram desempregadas. Em concordância com a pesquisa realizada em Feira de Santana, Bahia, na qual foram entrevistadas 2055 mulheres e dessas 39,4% apresentaram o TMM (ARAÚJO et al.,2006), o presente trabalho teve também uma predominância de 39,6%. A prevalência de TMM entre mulheres reflete-se no alto consumo de ações em saúde. Alguns fatores relacionados às condições existenciais da mulher e a seu papel de gênero têm sido descritos como agravantes, tais como o número de filhos, o papel de cuidadora de crianças, contar ou não com rede de apoio social, e estrutura ocupacional, em que a sobrecarga de trabalhar dentro e fora de casa e o trabalho doméstico aparecem como propiciadores à produção dos sintomas de TMM. Frequentemente encontrados na comunidade, esses transtornos representam um alto custo social e econômico, pois são incapacitantes e constituem causa importante de dias perdidos de trabalho, além de elevarem a demanda nos serviços de saúde (LUDEMIR; MELO FILHO, 2002). Dessa forma, é de grande importância detectar esse problema precocemente, sendo a atenção primária a melhor opção para desempenhar esse papel, contribuindo assim para melhora da qualidade de vida dessas mulheres. Conclusão Conclui-se que a ocorrência de transtorno mental menor nas mulheres estudadas foi semelhante à média encontrada em outros estudos. É importante ressaltar que este trabalho apresenta resultados parciais, que podem modificar-se ao final do estudo. Referências ARAÚJO, T. M. et al. Transtornos mentais comuns em mulheres: estudo comparativo entre donas-de-casa e trabalhadoras. Rev. Enferm. UERJ. Rio de Janeiro, v. 14, n. 2, abr/jun., p. 260-9, 2006. BANDEIRA, M.; FREITAS, L. C.; CARVALHO FILHO, J. G. T. Avaliação da ocorrência de transtornos mentais comuns em usuários do Programa de Saúde da Família. J. bras. psiquiatr. Rio de Janeiro, v. 56, n. 1, 2007. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atenção básica saúde da família. Disponível em <http://dab.saude.gov.br/atencaobasica.php> acesso em 26 de novembro de 2012. COSTA, E. F. O. et al. Common mental disorders among medical students at Universidade Federal de Sergipe: a cross-sectional study. Rev. Bras. Psiquiatr. 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Os adolescentes estão iniciando sua vida sexual cada vez mais cedo e parece que sem o devido conhecimento para que possam se proteger adequadamente. Esse comportamento pode causar certos transtornos como uma gravidez indesejável ou Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). Tais acontecimentos ocorrem com uma maior frequência dos 14 anos para o sexo masculino e de 15 anos para o sexo feminino (BORGES, 2005). Segundo Pinho (2002), muitos jovens não têm acesso a informações e serviços adequados que atendam as suas necessidades em relação à saúde sexual e que os estimulem a tomar as decisões certas. Pessoas com idades acima dos 20 anos, de acordo com Papalia (2000), fazem parte dos jovens adultos, e os comportamentos relativos aos comportamentos sexuais vão sendo melhorados em decorrência de diversos fatores, entre os quais preocupação com gravidez indesejada. A idade adulta é constituída por uma série de alterações tanto fisiológicas quanto físicas que afetam nos- so comportamento (GALLAHUE; OZMUN, 2005). A relação sexual é considerada segura quando são tomadas medidas de precaução, tais como o uso de anticoncepcional e preservativo (SHRIER, 1996). Os indivíduos não estão se preocupando em fazer sexo com segurança. Apesar de haver muitas campanhas de prevenção, ainda há jovens desinformados (PINHO, 2002). O conhecimento impróprio sobre qualquer método-anticonceptivo pode ser um fator de resistência à aceitabilidade e uso desse método, assim como alto nível de informação não influencia em seu comportamento (MARTINS, 2006). Os preservativos se apresentam como um dos métodos anticonceptivos mais adequados para adolescentes, levando em consideração o envolvimento do companheiro na iniciativa da anticoncepção, a prevenção de gravidez indesejada, a prevenção de DSTs, por não ter, praticamente, efeitos colaterais, facilidade de adquirir e de ter baixo custo (SCHOR, 1990). Portanto, foi objetivo deste estudo verificar os comportamentos de risco relativos às relações sexuais de indivíduos na faixa etária dos 19 aos 24 anos de idade, acadêmicos do curso de física e química de uma universidade pública. 49 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Metodologia Estudo descritivo de corte transversal. A amostra foi composta por acadêmicos de curso superior em Física (27,0%) e do curso de Química (73,0%). Foram entrevistados 37 indivíduos, dos quais de 19 a 24 anos (83,8%), de 25 a 34 anos (13,5%) e de 35 a 44 anos (2,7%). Desses, (83,8%) eram do do sexo feminino e (16,2%) do sexo masculino. Quanto à etnia, (48,6%) se consideram-se brancos, (32,4%) negros, (18,9%) se consideram-se de outra etnia. Em relação ao estado civil, solteiro(a) (78,4%), casado(a) ou vivendo com companheiro(a) (18,9%) e viúvos (2,7%). A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer N° 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas as informações sobre o estudo, e os indivíduos que concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPESOM), entre os meses de março e junho do ano de 2013, mediante a aplicação de um questionário de forma individual e anônima em sala de aula. As informações associadas aos comportamentos de risco para a saúde foram obtidas mediante a aplicação do questionário Youth Risk Behavior Survey – College (YRBS-C), traduzido para o idioma português. Foi realizada uma estatística descritiva observando a frequência e porcentagem das respostas. Foi utilizado o software Statistical Package for the Sciences (SPSS) versão 20.0 para o Windows na tabulação dos dados. Resultados Tabela 1 Variável Categoria N % Idade da primeira relação sexual Nunca teve 13 a 14 anos 15 a 16 anos 17 a 18 anos 19 a 20 anos 21 a 24 anos Nenhuma vez Uma vez 2 a 3 vezes 4 a 9 vezes 10 a 19 vezes 20 ou mais vezes Não teve Nunca Raramente Algumas vezes Na maioria das vezes Sempre Sim Não 17 1 9 5 3 2 21 2 6 4 3 1 21 6 3 2 1 4 2 35 45,9 2,7 24,3 13,5 8,1 5,4 56,8 5,4 16,2 10,8 8,1 2,7 56,8 16,2 8,1 5,4 2,7 10,8 5,4 94,6 Relação sexual nos últimos 30 dias Uso de preservativo nos últimos 30 dias Relação contra sua vontade A tabela 1 nos mostra questões ligadas à atividade sexual. Quanto à idade da primeira relação sexual, 45,9%, nunca tiveram relação sexual; 2,7% tiveram sua primeira relação sexual de 13 a 14 anos; 24,3% deram início à vida sexual de 15 a 16 anos; 13,5% afirmaram ter sua primeira relação de 17 a 18 anos; 8,1% deram início à vida sexual de 19 a 20 anos; 5,4% tiveram sua primeira relação sexual de 21 a 24 anos. No que diz respeito à relação sexual nos últimos trinta dias, 56,8% não tiveram 50 relação nos últimos 30 dias; 5,4% uma relação sexual; 16,2% tiveram de 2 a 3 relações sexuais, 10,8% tiveram de 4 a 9 relações sexuais; 8,1% de 10 a 19 relações sexuais e 2,7% 20 ou mais vezes. Quanto ao uso de preservativo nos últimos 30 dias, 56,8% não tiveram relação sexual nos últimos 30 dias; 16,2% nunca tiveram relação sexual; 8,1% disseram usar preservativo raramente; 5,4% usaram preservativo algumas vezes; 2,7% fizeram uso de preser- Área - Psicologia do Exercício e Saúde vativo na maioria das relações; 10,8% afirmaram usar preservativo em todas as relações. Das pessoas entrevistadas, 5,4% afirmaram já ter feito relação sexual contra a vontade e 94,6% disseram que nunca foi ter sido forçada a fazer relação sexual. O presente estudo verificou que a maioria dos entrevistados nunca teve relação sexual 45,9%; 24,3%) deram início à vida sexual de 15 a 16 anos. Uma pesquisa realizada na cidade de São Paulo, entre jovens de 15 a 19 anos mostrou que 46,1% já tinham iniciação sexual (BORGES, 2005). A maioria dos adolescentes que já teve relação sexual não usa preservativo ou usa raramente. Quanto mais tardio for o início da vida sexual do indivíduo, mais ele terá chance de se prevenir melhor. Segundo Béria (1998), em um estudo com jovens, descobriu que o risco de não usar preservativo na última relação se reduzia em 18% para cada ano a mais de idade na primeira relação sexual. Da amostra total, 5,4% já tiveram relação sexual contra a própria vontade. Tabela 2 Variável Categoria N % Uso de álcool ou drogas em relação sexual Nunca teve relação sexual Não Nunca teve relação sexual Nenhum método foi usado Pílula anticoncepcional Preservativo Anticoncepcional injetável Coito interrompido Nenhuma vez 1 vez 2 ou mais vezes Sexo masculino Sim Não 15 20 16 4 9 6 1 1 28 3 1 5 5 32 40,5 59,5 43,2 10,8 24,3 16,2 2,7 2,7 75,7 8,1 2,7 13,5 13,5 86,5 Método anticonceptivo usado Interrupção de gravidez Exame de HIV A tabela acima nos mostra que 40,5% nunca tiveram relação sexual acompanhada do uso de álcool ou drogas; 59,5% nunca tiveram relação sexual. Em relação ao método anticonceptivo usado 43,2% nunca tiveram relação sexual; 10,8% não usam nenhum método; 24,3% usam pílula; 16,2% usam preservativo; 2,7% usam anticoncepcional injetável; 2,7% usam coito interrompido. Sobre interrupção de gravidez 75,7% nunca interromperam; 8,1% interromperam uma vez; 2,7% interromperam duas ou mais vezes; 13,5% são do sexo masculino. Exame de HIV 13,5% já fizeram e 86,5% nunca fizeram. Dentre os entrevistados ninguém diz ter feito relação sexual com uso de álcool ou drogas. Segundo Vieira (2002) é muito importante conhecer os métodos anticoncepcionais, pois cada um tem sua peculiaridade, e o mesmo deve ser escolhido visando ao melhor atendimento das suas necessidades. Ainda que os métodos mais usados sejam o anticoncepcional oral, preservativo masculino, esterilização feminina, dispositivo intra-uterino (DIU) e abstinência periódica, a contracepção se reduz ao uso do anticoncepcional oral e da esterilização feminina (Schor, 2000). Das jovens entrevistadas todas que já tiveram relação sexual já fizeram aborto alguma vez. Segundo Diniz (2010) uma em cada cinco mulheres de até 40 anos de idade fazem um ou mais abortos durante a vida. Conclusão A vida sexual está começando muito cedo e sem o conhecimento necessário para tal, o que implica que em não se prevenirem adequadamente podendo causar futuros transtornos como gravidez indesejável ou alguma DST. Foi observado que o número de pessoas que nunca tiveram relação sexual não se manteve durante a pesquisa variando de 15 a 17 pessoas. 51 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências BÉRIA, J. Ficar, transar. A sexualidade do adolescente em tempos de AIDS. Porto Alegre: Tomo Editorial, 1998. BORGES, A. L. V.; SCHOR, N. Início da vida sexual na adolescência e relações de gênero: um estudo transversal em São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública, 2005. DINIZ, D.; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil. Uma pesquisa domiciliar com a técnica de urna. Cien. Saude Colet. 2010. GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. L. Compreendendo o desenvolvimento motor bebês, crianças e adolescentes. 3.ed. São Paulo: Phorte editora, 2005. MARTINS, L. B. 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Esse estudo propõe analisar as disciplinas de Psicologia, presentes nos cursos de licenciatura em EF, as quais estão contempladas na Formação Ampliada, na dimensão Relação Ser Humano e Sociedade, na intenção de observar quais as questões psicológicas poderão suscitar como interface entre as duas áreas de saberes: Educação Física e Psicologia. No estudo de Moreira (2011), a EF, pode usufruir dos constructos das disciplinas de Psicologia, quando a dinâmica dos processos subjetivos entre docentes de Ensino Superior e graduandos, favorecem uma interlocução entre os mesmos, ocorrendo um maior entendimento sobre as questões da singularidade. Para isso, é necessário então entender o conceito de subjetividade, o qual configura-se como um conjunto de condições que torna possível que instâncias individuais e/ou coletivas estejam em posição de emergir como território existencial autorreferencial, em adjacência ou em relação de delimitação com uma alteridade. Em consonância a esse raciocínio, seguem as palavras de Bock (2007): [...] como subjetividade, concebida como algo que se constituiu na relação com o mundo material e social, mundo este que só existe pela atividade humana. Subjetividade e objetividade se constituem uma à outra sem se confundirem. A linguagem é mediação para a internalização da objetividade, permitindo a construção de sentidos pessoais que constituem a subjetividade (BOCK, 2007, pag 67). As disciplinas de Psicologia não oferecem apenas contributos em torno de processos da subjetividade humana, como também podem fornecer um conjunto de informações a ser empregado pelo educador em sua prática pedagógica na escola. O que acontece na realidade com relação ao conhecimento adquirido por meio das disciplinas de Psicologia, são alguns pressupostos específicos que subsidiam reflexões sobre princípios primordiais, tanto do ponto de vista biológico, como linguagem, pensamento, inteligência, afetividade, socialização, moralidade, comportamentos, dentre outras que podem ser incluídas como essência de uma disciplina desse conteúdo (MOREIRA, 2011). Na busca da compreensão sobre as bases psicológicas que a área da Educação Física tem formado seus futuros professores, procura-se, por meio das matrizes curriculares (ementas e bibliografias) se nos cursos de Licenciatura em EF nas Instituições Ensino Superior (IES) públicas do estado de Minas Gerias (MG), se há disciplinas de Psicologia, quais são elas e por quem são ministradas. Partindo dessa premissa inicial, o objetivo geral deste estudo é compreender quais e como as discipli- nas da área da Psicologia podem contribuir com a formação do professor de Educação Física nas Instituições de Ensino Superior públicas do estado de MG. O estudo corresponde a um recorte de uma pesquisa que compreende todas as IES do estado de MG que oferecem cursos de Graduação em EF, presencial e em atividade. Segundo dados do Portal do MEC (Brasil, 2014), atualmente MG, conta com 97 IES ofertando cursos de EF. Dessas, 92 IES oferecem o curso na modalidade Licenciatura, sendo que, desse total, treze IES são públicas. Nas IES públicas de MG, encontraram-se quatorze cursos, em andamento. Especificamente, a pesquisa deu-se em torno das disciplinas pertencentes à área da Psicologia ministradas nesses cursos. Este estudo obteve previamente a aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM – processo Nº 2565/2013, o qual permitiu o início à coleta dos dados da pesquisa. Foram enviados e-mails aos coordenadores dos cursos com a explicação minuciosa sobre a pesquisa, bem como dos contatos dos pesquisadores envolvidos, para esclarecimentos de possíveis dúvidas a respeito do estudo. 53 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Como procedimento metodológico, o estudo corresponde a uma pesquisa qualitativa descritiva. O primeiro procedimento adotado uma análise documental de todos os Projetos Políticos Pedagógicos (PPP) dos 14 cursos de Licenciatura da Educação Física no estado de MG, investigando-se as Matrizes Curriculares (ementas e bibliografias) dos respectivos cursos, para identificar quais são as disciplina de Psicologia que compõem as estruturas curriculares desses cursos. Para análise documental das estruturas curriculares, foi realizado um levantamento acerca de todas as disciplinas de Psicologia ministradas nesses cursos. Diante dos primeiros resultados encontrados, no intuito de compreender como se dão esses amálgamas dos saberes, procedemos, então com a análise das Matrizes Curriculares dos PPP dos cursos de licenciatura em EF, identificando quais são as disciplinas de Psicologia que compões a estrutura curricular de cada IES. Conforme o Quadro 1, pode-se verificar quais são as disciplinas de Psicologia ministradas nas IES públicas de MG, nos cursos de licenciatura em EF. Quadro 1: Nomes das Disciplinas nas IES Investigadas Disciplinas Curso Psicologia da Educação Psicologia do Esporte Psicologia da EF e Esporte 01 02 X 03 04 05 X X* 06 07 X X X X X Psicologia da Educação, Aprendizagem e Ensino 08 09 I0 11 12 13 X X X 14 X X X X X Psicologia Psicologia do Desenvolvimento e da Apren. X X X Psicologia Aplicada a EF Escolar Psicologia da Aprendizagem X X X X X* Disciplina Eletiva Partindo da leitura das ementas e bibliografias de todas as disciplinas de Psicologia encontradas, levantamos os pontos comuns entre essas disciplinas ministradas relacionados ao ementário e ao referencial bibliográfico encontrado. Desse material, conseguimos elencar quatro dimensões ou eixos (Quadro 2) do que foi apontado como comum, nas disciplinas de Psicologia ministrados nos cursos de EF, citadas no quadro anterior. Quadro 2: Disciplinas de Psicologia: Quatro Eixos DISCIPLINA (EIXOS) IES Psicologia da Educação 01, 03, 04, 05, 06, 07, 09, 14 Psicologia da Aprendizagem Psicologia do Desenvolvimento Humano 08, 13, 12 11, 12 Psicologia do Esporte 02, 03, 04, 05, 07, 09, 11, 12, 10,14 Na segunda fase do estudo, serão realizadas entrevistas presenciais com professores que ministram todas as disciplinas de Psicologia desses respectivos cursos, (licenciatura em EF), entrevistas essas que serão semi dirigidas, compostas por perguntas norteadoras, em que também aproveitaremos o momento para solicitar os Planos de Ensino das disciplinas de Psicologia. No momento posterior, para não concluir: verificaremos as possíveis convergências e divergências entre as análises das informações obtidas por meio das entrevistas dos professores de Psicologia, confrontan54 do as mesmas com as análises dos Planos de Ensino, Ementas e Bibliografias dos cursos de licenciatura em EF. Toda pesquisa passa por três grandes momentos em sua análise, que são: a descrição dos dados, a redução dos mesmos e a interpretação do que foi selecionado. Dessa forma, também ao findar desta pesquisa, pretendemos desenvolver a análise de todos os dados coletados. Área - Psicologia do Exercício e Saúde Referências BOCK, A. M. B. Adolescence as a social construction: a research on the concept on books applied to parents and educators. Psicología Escolar e Educacional. v. 11, n. 1, p. 63-76, 2007. MOREIRA, C. R. P. Educação Física e Psicologia: em busca de novos diálogos. Tese. Doutorado, Instituto de Psicologia. Universidade de São Paulo: São Paulo, 2011. 55 Área - Psicologia do Exercício e Saúde AFASIAS FLUENTES E NÃO FLUENTES: ABORDAGEM TER APÊUTIC A Manuela Pierotte Luz Gondim João Pedro Paulino Ruas Molyana Kelly Pereira Dias Lucas Mendes Nobre Olivia Abreu Versiani Fernando Fernandes Gonçalves da Silva Ana Carine Gomes dos Santos [email protected] Introdução Segundo Kunst (2013), afasia é descrita como um distúrbio adquirido da linguagem, podendo estar associado ou não a outras alterações cognitivas, caracterizado por perda da compreensão ou da capacidade de expressão da linguagem. As diferentes formas de afasia relacionam-se com a área lesionada. Normalmente, descrevem-se três aréas cerebrais relacionadas à linguagem: área de Wernick (parte posterior do sulco lateral (Sylvius), área de Heschl (giro temporal transverso anterior) e área de Broca (giro frontal inferior). A área de Broca é uma região de associação, importante no componente motor da fala, e as áreas de Heschl e de Wernick estão interligadas não só anatomicamente, como funcionalmente também, possuindo importância na composição da audição e compreensão da linguagem falada (Brandão, 2011). No entanto, de acordo com Vieira (2011), ainda existem muitas controvérsias quanto à localização das lesões e as consequências nas alterações na linguagem; alguns autores destacam a importância da região cortical Sylviana para a função da linguagem. Atualmente, a classificação mais utilizada é a de Boston, que divide os principais quadros afásicos em dois grupos: afasias fluentes e afasias não fluentes. São consideradas afasias não fluentes: a afasia de Broca, a afasia transcortical motora e a afasia global. Enquanto a afasia de Wernicke, a afasia de condução, a afasia transcortical sensorial e a afasia anômica pertencem ao grupo das afasias fluentes. Essa clasifficação foi realizada avaliando-se, principalmente, a fluência e a repetição de palavras dos pacientes. As afasias são consideradas uma das disfunções neurológicas mais comuns após lesão focal adquirida no sistema nervoso central em áreas relacionadas à linguagem (KNUST, 2013). São mais comumente causadas por traumas cranioencefálicos (TCE) em crianças e acidente vascular encefálico (AVE) em adultos. Em 20% dos casos, não há explicação do ponto de vista anatomoclínico (DUARTE, 2011). Devido à complexidade e importância da compreensão das afasias e suas particularidades, o presente estudo tem por objetivo realizar uma revisão na literatura sobre afasias fluentes e não fluentes, destacando sua abordagem terapêutica. Materiais e Métodos Para a realização da presente revisão de literatura, foram feitas pesquisas sobre o tema “afasias fluentes e não fluentes: abordagens terapêuticas” na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), SciELO (Scientific Electronic Library Online) e PubMed (U. S. National Library of Medicine), uti- lizando os descritores “afasia”,”afasia de Wernick”, “afasia de Broca”, “tratamentos afasia”, “afasia de expressão” e “afasia de compreensão”. A busca resultou em 7 artigos elegíveis, entre os anos de 2006 e 2014, para compor este estudo. Resultados e Discussão A literatura descreve as diferentes formas de afa- sia, sendo assim: a afasia de Broca é caracterizada por 57 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar fala espontânea não fluente, variando entre ausência total de emissão oral até dificuldades de verbalizar frases gramaticalmente corretas. Geralmente está associada à disartria ou apraxia da fala, e também à hemiplegia ou hemiparesia direita. A compreensão oral encontra-se preservada para materiais simples e prejudicada para contruções mais complexas. A escrita geralmente apresenta deficiência similar à da fala. A afasia transcortical motora assemelha-se com a afasia de Broca, mas sem prejuízo na capacidade de repetição (FONTOURA, 2011). Na afasia de Wernicke, a fluência não está prejudicada, mas há perturbação na compreensão e na repetição de palavras (DUARTE, 2011). Segundo Spezzano (2010), nesse tipo de afasia, parafasias verbais e neologismos são frequentes, tanto na fala espontânea quanto em testes formais de nomeação oral. Tabela 1: demonstra didaticamente essas diferenças. Fonte: DUARTE, 2012 Tendo em vista as questões relacionadas à afasia, destaca-se primeiramente o tratamento fonodialógico, que objetiva a recuperação da comunicação do paciente afásico, levando-se em consideração seus limites e sua condição física e mental. O tratamento fonodialógico deve ser humano, sistemático e plástico, compreendendo o paciente como um todo. Na afasia não fluente, há um grau de recuperação espontânea - mais rápida nos primeiros três meses, tornando-se mais lenta a partir dos seis meses. Porém, as melhoras são mínimas sem o tratamento adequado. A melhora inicial é, em sua maioria, devida aos processos neurofisiológicos, principalmente com a atuação do hemisfério direito. As estratégias de exposição à linguagem e as práticas desenvolvidas pelo paciente são responsáveis por grande parte da recuperação tardia. O tratamento fonoaudiológico nesta situação consiste de avaliações e terapia. A avaliação busca identificar os sintomas linguísticos presentes no paciente, enquanto a terapia busca auxílio na superação das dificuldades de comunicação, tornando-a funcional e tendo como metas manter o paciente verbalmente ativo, orientar a familia a comunicar-se com o paciente e admnistrar estratégias para melhorar a linguagem. As variáveis clínicas e psicossociais devem ser levadas em consideração durante o tratamento, sendo a localização da lesão o fator que mais influi no 58 prognóstico de recuperação da afasia. A etiologia da afasia também é um importante fator na determinação do prognóstico, sendo que afasias decorrentes de AVE ou de tumores intracranianos possuem pior prognóstico (KUNST, 2013). Segundo Campos (2006), as afasias requerem uma abordagem multidisciplinar especializada, com um plano de tratamento holístico, integrado e personalizado, formado por especialistas em neurologia, neuropsicologia, fisioterapia, terapia ocupacional e psicologia e demais especialistas de que o paciente necessite. Há também a terapia de linguagem, que exerce um efeito positivo sobre a recuperação. Quanto mais cedo é iniciada e mais jovem é o paciente, melhores são os resultados. Os resultados obtidos sempre dependem da etiologia da afasia, e podem-se esperar resultados melhores se o paciente não possuir complicações associadas. É importante ainda ressaltar a importância dos fatores sociais, emocionais e familiares. O progresso do tratamento sofre influência das atitudes, valores e relações sociais do paciente. Cabe ressaltar que, em alguns casos, as terapias fonoaudiológas não produzem efeitos, mas a terapia da linguagem é a considerada a mais efetiva na maiora dos casos. Área - Psicologia do Exercício e Saúde Conclusões Após devida revisão na literatura, conclui-se que são diversos os tipos de afasias e suas classificações, sendo a mais comumente utilizada a de Boston, que as classifica de acordo com a manifestação clínica: presença de fluência na linguagem ou não. Nas afasias fluentes, o paciente consegue formular palavras, no entanto, sua capacidade de compreensão da linguagem falada está comprometida, não havendo, portanto, uma comunicação adequada; enquandram-se nessa classificação a afasia de Wernicke, a afasia de condução, a afasia transcortical sensorial e a afasia anômica. As afasias não fluentes são caracterizadas pela dificuldade em formular palavras, ainda que haja compreensão da linguagem falada; são consideradas afasias não fluentes a afasia de Broca, a afasia transcortical motora e a afasia global. As afasias possuem etiologias diversas, relacionadas a lesões no encéfalo (tumores, traumas, acidentes vaculares encefálicos) e vão se caracterizar de acordo com a localização destas lesões, sendo a área de Broca relacionada com afasias não fluentes e a área de Wer- nicke com afasias fluentes. Após um diagnóstico bem elucidado, é importante a realização de um tratamento adequado para cada paciente. As terapias para esse tipo de deficiência devem ser do tipo multidisciplinares, sempre visando ao bem-estar biopsicossocial do paciente. A abordagem terapêutica inclui tratamentos fonoaudiológicos que visam à recuperação da fala ou de parte dela, de modo a ressocializar o paciente, instruir a família e criar novas formas de comunicação. Podem ser solicitados psicólogos, linguistas, neurologistas e outros especialistas a depender das necessidades do paciente. Tanto na afasia fluente como na não fluente, o tratamento precoce e bem realizado é de fundamental importância para um bom prognóstico na recuperação do paciente. Outros fatores como tipo e extensão da lesão, etiologia da afasia, idade do paciente e adesão ao tratamento também determinam um melhor prognóstico. Referências BRANDÃO, M. V. T.; MENDES, P. D.; MACIEL, M. S.; RIBEIRO, C. P. S.; ANTONIO, V. E. Distúrbios da fala: conceitos atuais. Revista Ciências & Ideias. v. 3, n. 1, 2011. CAMPOS, R. V.; GIMENO, A. M. Intervención multidisciplinar en afasias. Actas del Primer. Congreso Nacional de Lingüística Clínica. v. 1, 2011. DUARTE, N.; VASCONCELOS, M. A.; BATALHA, I. Alterações adquiridas da linguagem na infância. Revista da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação. v. 20, n. 1, 2011. FONTOURA, D. R. D. et al. Rehabilitation of language in expressive aphasias - A literature review; reabilitação da linguagem nas afasias expressivas - uma revisão da literatura. Dement. neuropsychol. v. 6, n. 4, 2012. FONTOURA, D. R. et al. Adaptação do Instrumento de Avaliação Neuropsicológica Breve NEUPSILIN para avaliar pacientes com afasia expressiva: NEUPSILIN-Af. Ciências & Cognição. v. 16, n. 3, p. 78-94, 2011. KUNST, L. R.; OLVEIRA, L. D.; COSTA, V. P.; WIETHAN, F. M.; MOTA, H. B. Eficácia da fonoterapia em um caso de afasia expressiva decorrente de acidente vascular encefálico. Rev. CEFAC. v. 15, n. 6, p. 1712-1717, 2013. SPEZZANO, L. C.; RADANOVIC, M. Habilidade de nomeação: diferenciação entre objetos e verbos na afasia; Naming abilities: differentiation between objects and verbs in aphasia. Dement. neuropsychol. v. 4, n. 4, 2010. VIEIRA, A. C. C.; ROAZZI, A.; QUEIROGA, B. M.; ASFORA, R.; VALENÇA, M. M. Afasias e áreas cerebrais: argumentos prós e contras à perspectiva localizacionista. Psicologia: Reflexão e Crítica. v. 24, n. 3, p. 588-596, 2011. 59 Área - Psicologia do Exercício e Saúde CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA PAR A O PAR ADESPOR TO AQUÁTICO Yghor Queiroz Gomes Claudia Furtado Borges [email protected] Introdução A Psicologia do Esporte busca, em sua ciência, a investigação dos processos psíquicos do ser humano frente à prática esportiva, seja ela por lazer ou não (MACHADO, 2006). É papel do psicólogo do esporte entender todo o funcionamento do ser humano, que possui uma relação com a atividade física, o efeito que essa prática apresenta sobre cada um. Dessa forma, quando houver a necessidade de intervir sobre aspectos emocionais e psicopatológicos, o psicólogo, por meio da participação no esporte, poderá desenvolver não só uma boa performance, mas a personalidade, a satisfação pessoal, a qualidade de vida e o desenvolvimento socioeducativo do indivíduo. Dentro deste contexto, temos o esporte adaptado, que pode ser definido como esporte modificado ou especialmente criado para ir ao encontro das necessidades únicas de indivíduos com algum tipo de deficiência (GORGATTI; GORGATTI, 2005). Dados fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000) contabilizam um percentual em média de 14,5% da população brasileira com necessidades especiais, ou seja, 24,5 bilhões de pessoas, aproximadamente. Diante desse aporte populacional que se destaca na sociedade, o desempenho dos atletas paraolímpicos, ou seja, pessoas com deficiência (PCD), que inicialmente buscaram no esporte uma possibilidade de recuperação e integração social e que recentemente passaram a dar outra conotação ao esporte adaptado, buscando o profissionalismo e o alto rendimento esportivo, é um tema que vem ocupando grande espaço na mídia atualmente. Essa profissionalização dentro do esporte tem permitido a estes atletas com deficiência alcançar níveis expressivos de resultados tanto na sociedade nacional, quanto internacional (SAMULSKI, 2004). Dentre esses esportes, a natação adaptada é um dos esportes aquáticos mais praticados por PCD, sendo este ambiente um dos locais mais importantes onde são realizados os primeiros movimentos estimuladores para a reabilitação motora no uso da psicomotricidade (YATSUDA, 2010). Com o aprendizado do nado e a melhora na deficiência, é possível despertar o interesse em participar de eventos esportivos competitivos, até mesmo para conhecer os resultados dessa incansável busca pela melhora. Frente a isso, a importância do psicólogo na área esportiva delimita-se ao enfoque em que se relaciona a atividade esportiva adaptada - natação - a indivíduos portadores de deficiências. O objetivo deste projeto de intervenção foi trabalhar a ansiedade e a motivação, buscando um melhor rendimento e desempenho dos paratletas. Materiais e Métodos Após os primeiros contatos com a comissão técnica e com o grupo de atletas do CDDU, foi possível identificar as principais demandas, a ansiedade précompetição e a baixa motivação, sendo a ansiedade uma preocupação constante da equipe técnica, por se apresentar como um desafio enfrentado por todos. Foram marcados 11 encontros sequenciais, um por semana, com duração de 1h e 20min cada, nos quais foram aplicadas técnicas vivenciais, dessensibilizadoras e otimizadoras de habilidades cognitivas e comportamentais que pudessem ser contingenciadas no rendimento ou na significação frente à atuação durante o comportamento de nadar, trabalhando as questões motivacionais e de controle da ansiedade. A amostra foi composta por 13 atletas portadores de diferentes deficiências, com idade entre 12 e 42 anos, filiados ao Clube Desportivo para Deficientes de Uberlândia (CDDU). A metodologia utilizada foi planejada pensando na qualidade das atividades e na participação de todos os integrantes. Utilizaram-se dinâmicas de grupos e grupos operativos e intervenções individuais. O objetivo do grupo operativo foi ensinar e instruir os participantes sobre um determinado tema, mais do que trazer 61 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar as respostas prontas, mas privilegiando a construção no coletivo. A automotivação foi trabalhada em três tipos de técnicas: motora, cognitiva e emocional. E essas três técnicas englobaram trabalho de determinação de metas, imaginação das próprias capacidades, autorreforço verbal, exercícios motores e controle da respiração. Resultados e Discussão Cabe ao psicólogo do esporte entender como os fatores psicológicos afetam o desempenho físico, a saúde psicológica e o controle da ansiedade, trabalhando a comunicação e a organização de planejamentos pré-competição, treinando atenção e sentimentos relacionados a vitórias e derrotas entre os atletas. Diante disso, o trabalho desenvolvido buscou melhorar a qualidade dos rendimentos e o desempenho dos atletas, analisando e modificando processos psíquicos e ações esportivas, como o planejamento, o relaxamento e a concentração. O trabalho de concentração procurou ensinar ao atleta focalizar a atenção no que é relevante, para isso o atleta é treinado a identificar o que é relevante no seu esporte. Como fatores mais relevantes, a maioria destacou a ansiedade, o nervosismo excessivo e os medos de cometer erros, de se expor, dos resultados, de decepcionar pessoas (técnico e torcida). As questões envolvendo pensamentos, sentimentos e comportamentos, como cada fator é interligado com o outro e influencia de maneira significativa no resultado foram trabalhadas, tendo em vista que o que realmente importa não é o fato (ganhar ou perder), mas a interpretação que cada indivíduo faz dele. Para redução de ansiedade, utilizaram-se o con- trole da respiração e a técnica de relaxamento progressivo de Jacobson, que consistem em tencionar e relaxar seguidamente determinados grupos musculares por um determinado tempo, possibilitando o aperfeiçoamento da percepção sensória e consequente controle consciente sobre eles. Um resultado significante foi a avaliação positiva feita de forma subjetiva por parte dos participantes do projeto, tanto treinadores quanto atletas. A cada encontro, buscávamos, junto com os integrantes do grupo, novas possibilidades de trabalho, e, a cada novo encontro que passava, a mudança na interação e exposição de cada um era notável. O modo como falavam e expunham suas ideias em relação ao grupo, às adversidades, ao técnico e ao próprio programa de intervenção foi evoluindo a cada sessão. Os atletas demonstraram, ao final do trabalho, vontade de continuar trabalhando com o grupo e de forma individual, ressaltando que o trabalho havia lhes proporcionado aprendizagem e apoio nas questões que permeiam suas vidas. A intervenção descrita teve a duração de apenas quatro meses, sendo difícil, neste curto período, falar em termos de resultados obtidos em função do trabalho, mas os que existiram foram positivos. Conclusões Verificou-se que as intervenções utilizadas no presente estudo influenciaram, de maneira positiva, no desempenho dos paratletas, melhorando suas habilidades funcionais, cognitivas, sociais e, principalmente, suas condições de treinamento enquanto esportistas. Diante disso, consideramos que a psicologia do esporte pode atuar como instrumento de socialização e manutenção da saúde física e psicológica de paratletas e deve ser desenvolvida, de maneira interdisciplinar, com profissionais como assistente social, nutricionista, médico fisiologista, técnico, preparador físico, dentre outros, a fim de desenvolver um programa de treinamento de habilidades psicológicas que auxilie o atleta. Referências GORGATTI, M. G.; GORGATTI, T. O esporte para pessoas com necessidades especiais. In: GORGATTI, M. G. (org.), DA COSTA, R. F. Atividade Física Adaptada: Qualidade de Vida para Pessoas com Necessidades Especiais. Barueri, SP: Manole, 2005. MACHADO, A. A. Psicologia do esporte: da educação física escolar ao esporte de alto nível. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. SAMULSKI, D.; NOCE, F.; ANJOS, D.; LOPES, M. Avaliação psicológica. In: MELLO, M. T. (Org.). Avaliação clínica e da aptidão dos atletas paraolímpicos brasileiros: conceitos, métodos e resultados. São Paulo: Atheneu, 2004. YATSUDA, A. G. A natação adaptada como esporte de inclusão em um ambiente excludente. Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco - UCB, 2010. 62 Área - Bem-Estar ÁREA - BEM-ESTAR COMPOR TAMENTO DE RISCO REL ACIONADO AO USO DE TABACO EM CURSO DA ÁRE A DE SAÚDE Norberto Gorayéb Prates, Maria de Fátima de Matos Maia, Celina Aparecida Gonçalves Lima, Jeilson Antunes de Freitas, Thatiana Maia Tolentino Hugo Barbosa da Silva Montalvão Jaime Tolentino Miranda Neto [email protected] Universidade Estadual de Montes Claros, Montes Claros, MG, Brasil. Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM Introdução O tabagismo é considerado uma pandemia, responsável pelo maior problema de saúde pública e a principal causa evitável de morte. Causa a morte de um em cada 10 adultos no mundo, 5 (cinco) milhões de pessoas por ano (INCA, 2011). O hábito de fumar é considerado o principal fator de risco para o desenvolvimento de doenças tais como câncer de pulmão, de coração, de todo o tubo digestivo, doenças coronárias e respiratórias, impotência sexual, entre outras. Além disso, está relacionado também a transtornos psiquiátricos, como depressão e esquizofrenia, transtornos do desenvolvimento neurocomportamental, como déficit de atenção e hiperatividade (GRANVILE-GARCIA; SARMENTO; SANTOS et al., 2012). Assim como os baixos índices de participação em atividades físicas e desportivas e os hábitos alimentares inadequados, o consumo de tabaco é um motivo de preocupação permanente na sociedade em que vivemos (LEAL; CALVO; MIGUEL, 2013). A substância contida no tabaco responsável pelo grande índice de dependência é, entre outras, a nicotina (INCA, 2011). Essa dependência tem três aspectos básicos: dependência física, responsável pelos sintomas da síndrome de abstinência; dependência psicológica, responsável pela sensação de suporte em momentos de estresse, solidão; e a dependência condicionada, devido às associações habituais (fumar e beber café, fumar juntamente com bebidas alcoólicas, fumar após as refeições, entre outras condições). O tabagismo várias vezes inicia-se nos Ensinos Fundamental e médio, período em que está sendo formada a personalidade e o indivíduo é bastante suscetível à influência do meio. No ensino superior, a tendência é aumentar o número de pessoas que fazem uso do tabaco, uma vez que os indivíduos já se tornaram maiores de idade e podem adquirir cigarros com maior facilidade. Essa facilidade aliada ao consumo de álcool, ao sedentarismo, ao stresses da rotina de estudos e trabalho, coloca grande parte dos universitários em um grupo bastante propenso a desenvolver doenças. Portanto o objetivo do presente estudo é verificar os acadêmicos do curso de Odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros que fazem uso regular de tabaco, a idade em que começaram a fumar e se já tentaram parar de fumar. Materiais e métodos Esta é uma pesquisa descritiva e quantitativa com abordagem qualitativa, de natureza exploratória. A amostra foi composta de 32 estudantes universi- tários da Universidade Estadual de Montes Claros, que cursam o ensino superior na área de saúde, mais especificamente no curso de odontologia. 63 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer Nº 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas as informações sobre o estudo, e os indivíduos que concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPESOM), entre os meses de março e junho do ano de 2013, mediante a aplicação de um questionário de forma individual e anônima em sala de aula. O referido questionário foi estruturado contendo perguntas relacionadas ao hábito de fumar e fatores associados ao referido hábito: o uso de tabaco, a idade em que começou a fumar, a quantidade de cigarros fumados por dia, o curso em que estão matriculados, o sexo e a idade. Foi realizada uma estatística descritiva observando-se a frequência e a porcentagem das respostas. Foi utilizado o software StatisticalPackage for theSciences (SPSS) versão 20.0 para Windows na tabulação dos dados. Resultados e Discussões Tabela 1 - Frequência de respostas às variáveis do questionário estruturado Variáveis Categoria N Percentual Sexo Masc. Fem. 18 a 20 anos 21 a 24 anos 25 a 34 anos Sim Não Nunca fumou 13-14 anos 15-16 anos 17-18 anos 19-20 anos 21-24 anos Nenhum dia 1 ou 2 dias 10 a 19 dias Não fumou 1 cigarro por dia 2 a 5 cigarros por dia Sim Não Nunca fumou 15-16 anos Sim Não 23 09 17 13 02 6 26 26 01 02 01 01 01 30 01 01 30 01 01 01 31 31 01 01 31 71.9% 28.1% 53.0% 40.7% 6.3% 18.8% 81.2% 81.2% 3.1% 6.3% 3.1% 3.1% 3.1% 93.8% 3.1% 3.1% 93.8% 3.1% 3.1% 3.1% 96.9% 96.9% 3.1% 3.1% 96.9% Idade Tentou fumar cigarro? Idade em que fumou pela primeira vez Fumou nos últimos 30 dias Nos últimos 30 dias, quantos cigarros fumou por dia? Fuma diariamente, pelo menos 1 cigarro por dia Idade em que começou a fumar regularmente Tentou parar de fumar cigarros? No processo de coleta de dados, trinta e dois acadêmicos do curso de odontologia da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), com idade entre dezoito e trinta e quatro anos participaram desta pesquisa. Destes trinta e dois universitários, vinte e três são do sexo masculino e apenas nove são do sexo feminino. Essa tabela mostra que 18% dos indivíduos pesquisados já tentaram fumar pelo menos uma vez na vida, sendo que 3.1% deles experimentaram o cigarro pela primeira vez entre 13 e 14 anos, 6.3% tiveram contato com o tabaco pela primeira vez entre 15 e 16 anos, 3.1% entre 17 e 18 anos, 3.1% entre 19 e 20 anos e 3.1% entre 21 e 24 anos. Apenas 6.3% das pessoas fumaram nos últimos 64 trinta dias. Somente uma pessoa fuma regularmente, tendo iniciado tal hábito entre 15 e 16 anos, e já tentou parar de fumar, sem obter, contudo, sucesso. A Organização Mundial da Saúde - OMS (2008) considera que os profissionais da área de saúde devem ser o principal alvo de ações antitabagismo, pois estes profissionais são agentes cuidadores e multiplicadores da saúde, capazes de exercer grande poder de persuasão em seus pacientes. O tabaco é o maior fator de risco na prevalência, extensão e gravidade das doenças periodontais. O abandono deste vício por meio de estratégias empregadas por profissionais da área da saúde é considerado uma ação extremamente efetiva. Geralmente, são utilizadas três abordagens: o aconselhamento, a terapia de Área - Bem-Estar reposição de nicotina e a terapia medicamentosa, por serem práticas, seguras e possuírem um bom grau de eficiência (ROSA et. al, 2009). Além disso, conhecer os fatores comportamentais e sóciodemográficos de hábitos do tabagismo possibilita fornecer subsídios para orientar o desenvolvimento da pesquisa, bem como as medidas educativas e preventivas sobre o assunto. No presente estudo, dentre os trinta e dois acadêmicos analisados, a prevalência de indivíduos que já tentaram fumar pelo menos uma vez na vida foi de 18%. No entanto, a quantidade de fumantes regulares no presente estudo foi de apenas 3.1%, estatística menor que a apresentada em estudos semelhantes (COLARES; FRANCA; GONZÁLES, 2000; PEDROSA, 2009), sendo que a parcela que consome tabaco com regularidade já tentou parar de fumar, sem obter, contudo, êxito em tal tentativa. Os dentistas que são fumantes regulares são menos predispostos a indagar os hábitos de risco de seus pacientes. O papel do dentista na manutenção da saú- de bucal é vital e não está limitado ao tratamento dentário, uma vez que os pacientes costumam visitar com mais frequência seus dentistas que seus médicos, o que dá aos dentistas a oportunidade de fornecer aconselhamento em relação à saúde como um todo com maior frequência. Portanto, torna-se extremamente necessária a conscientização e a preparação dos acadêmicos de odontologia acerca dos malefícios causados pelo tabagismo, assim como a possibilidade de tratamento dos indivíduos que já são fumantes, visto que os profissionais da área da saúde, inclusive os dentistas, ainda passam pela graduação sem receber informações sobre as reais implicações causadas pelo cigarro. Os odontólogos ainda têm que ser convencidos da necessidade vital para a saúde que a prevenção do uso do tabaco e o abandono do tabagismo representam. Os dentistas que são fumantes necessitam de ajuda para abandonar o vício, além de terem o dever cívico e moral de dar um bom exemplo aos seus pacientes. Conclusões O conhecimento dos fatores relacionados ao tabagismo é necessário para a realização de programas institucionais adequados que visam reduzir o número de fumantes. O ingresso no ensino superior tem um papel fundamental nas ações preventivas do tabagismo, pois os universitários têm condições de influenciar a comunidade onde atuam. Pode-se concluir que dos 32 estudantes universitários analisados, a maioria é do sexo masculino, jovem adulta e nunca experimentou um cigarro na vida. Aproximadamente 1/5 dos indivíduos já experimentou cigarros. Uma parcela mínima de pessoas faz uso regular de tabaco, começou a fumar regularmente entre os 15 e 16 anos e já tentou parar de fumar. Com base nos resultados apresentados, pretendese realizar uma pesquisa mais aprofundada a respeito do presente assunto, incluindo um paralelo da odontologia e dos outros cursos de graduação na área da saúde da Universidade Estadual de Montes Claros, com relação ao tabagismo. Referências COLARES, V.; DA FRANCA, C.; GONZALES, E. Condutas de saúde entre universitários: diferenças entre gêneros. Rio de Janeiro, RJ: XXV, 03, 2009. GRANVILLE-GARCIA, A. F. et al. 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XXIX, p. 4, 2009. 65 Área - Bem-Estar A PERCEPÇ ÃO DA IMPOR TÂNCIA DA PR ÁTIC A ESPOR TIVA NA SAÚDE MENTAL DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSIC A PROVENIENTE DE LESÃO MEDUL AR Bianca Dantas Anacleto Paula Ângela de Figueiredo e Paula [email protected] Introdução A deficiência tem sido um tema de bastante relevância em nossa sociedade, devido a sua íntima relação com o aumento da violência e acidentes automobilísticos. De acordo com os resultados do Censo 2000, “aproximadamente, 24,6 milhões de pessoas, ou 14,5% da população total, apresentam algum tipo de incapacidade ou deficiência” seja ela de ordem física ou mental, demonstrando a importância da discussão desse tema pela sociedade e pelos órgãos públicos. Segundo o Ministério da Saúde, é considerada deficiente toda pessoa que apresente “em caráter permanente, perdas ou reduções de sua estrutura, ou função anatômica, fisiológica, psicológica ou mental, que gerem incapacidade para certas atividades, dentro do padrão considerado normal para o ser humano” (BRASIL, 2011). A lesão medular congênita ou adquirida, deficiência abordada nesse trabalho, pode ser entendida como o comprometimento da “vértebra e/ou dos nervos da coluna vertebral” por decorrência de traumatismo ou tumores, hemorragias e infecções viróticas, que podem levar a perda ou a redução das funções do sistema motor, senso- rial (sensações) e autônomo, responsável pelo batimento cardíaco, pressão arterial, regulação da temperatura, circulação, digestão, funções intestinais, urinárias e sexuais. Após sofrer uma lesão, a medula espinhal não se regenera, e as funções motoras e sensitivas permanecem comprometidas (GORGATTI; BÖHME, 2008). Apesar de ser um comprometimento de ordem física, suas consequências interferem no aparato psicológico, podendo levar a depressão. O presente trabalho visa verificar como a prática esportiva regular contribui para a reabilitação e manutenção da saúde mental de pessoas com deficiência física congênita ou adquirida, proveniente de lesão medular, a partir de relatos a respeito do benefício da prática esportiva. O teste psicológico “Inventário Beck de Depressão” foi utilizado com o objetivo de mensurar o nível de depressão dos sujeitos envolvidos na pesquisa, uma vez que, de acordo com a Rede Sarah, o transtorno de humor, principalmente a depressão acometem as pessoas com lesão medular (REDE SARAH DE HOSPITAL DE REABILITAÇÃO, 2011 s/p). Materiais e Métodos Esta pesquisa tem caráter exploratório com o objetivo de aprofundar os conhecimentos acerca da importância da prática esportiva regular na reabilitação e manutenção da saúde mental de pessoas com deficiência, assim como a importância da prática para o bem estar. Foram entrevistadas dez pessoas de ambos os sexos com comprometimento motor devido a lesão medular, com idade entre 27 a 46 anos, em dois centros esportivos que se dedicam ao fomento da prática esportiva adaptada, sendo estas: Centro de Referência Esportiva para Pessoa Portadora de Deficiência da Prefeitura de Belo Horizonte – CRE-PPD e Esgrima do Barroca Tênis Clube – Esgrima BTC. Os entrevistados foram selecionados aleatoriamente, obedecendo aos seguintes critérios: (a) ser maior de 18 anos; (b) exercer atividade regular; (c) ter adquirido de maneira traumática ou congênita a lesão. A proposta de trabalho foi apresentada para o grupo, que se dispôs livremente a participar da pesquisa. As entrevistas seguiram o formato semiestruturado sobre os temas referentes à interferência da lesão medular na rotina e nos laços sociais estabelecidos com a família e amigos após a reabilitação, a influência do humor ao lidar com as dificuldades causadas pelos acometimentos proporcionados pela lesão, e os aspectos relacionados à prática esportiva regular, assim como os seus benefícios. 67 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar O procedimento para entrevista incluiu a explicação dos objetivos da pesquisa, o destaque da importância da participação, o comprometimento ao sigilo da identidade e a leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As entrevistas foram realizadas individualmente, gravadas e transcritas, servindo como material para análise qualitativa. Os dados nos permitiram ter uma visão ampla do significado que as pessoas dão à prática esportiva regular como meio de reabilitação e manutenção da saúde mental. Pudemos também saber sobre qual o papel que essas práticas têm na construção da realidade subjetiva, afastando os sintomas da depressão. Esse método busca visualizar o contexto, além de proporcionar uma interação empática com o sujeito através de uma melhor compreensão do fenômeno. Para avaliar se nossos sujeitos da pesquisa sofriam de algum nível de depressão, utilizamos o “Inventário Beck de Depressão” com nove dos dez participantes. Um dos entrevistados não se submeteu ao teste, pois não dispu- nha de tempo hábil para a realização do mesmo. O Inventário é um instrumento destinado a mensurar a gravidade da doença avaliada a partir da soma de 21 afirmações referentes aos seguintes aspectos: tristeza, pessimismo, sentimento de fracasso, insatisfação, culpa, punição, autoaversão, autoacusações, ideias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança autoimagem, dificuldade de trabalhar, insônia, fatigabilidade, perda de apetite, perda de peso, preocupação somática e perda da libido. Para identificação do nível da doença são utilizados pontos de corte tais como: depressão mínima (0 – 9), depressão leve (12 – 19), depressão moderada (20 – 35) e depressão grave (36 – 63). A aplicação do Inventário foi realizada individualmente, após contato com a psicóloga responsável pela pesquisa que explicou os objetivos da mesma, coletou a assinatura do termo de consentimento esclarecido do participante e agendou a entrevista para dar inicio à coleta de dados. Resultados e Discussão De acordo com a pesquisa, é possível observar que a prática esportiva ocupa um importante espaço na vida destas pessoas. Ela proporciona uma maior qualidade de vida ao desenvolver habilidades motoras que foram comprometidas pela lesão, além de garantir um ambiente favorável para as trocas sociais. O fortalecimento muscular influencia diretamente na saúde psicológica, uma vez que seu desenvolvimento contribui para a autonomia do sujeito, que muitas vezes se encontra impossibilitado de exercer as funções mais básicas de sua vida. É possível observar em alguns entrevistados, a resistência em falar das dificuldades geradas pela lesão. Isso pode ser um mecanismo de defesa utilizado para resguardar a pessoa que sofreu ou nasceu com a lesão, uma vez que admitir as dificuldades pode representar uma negativa no enfrentamento do problema. Esperávamos encontrar mais indícios de depressão, já que a doença é considerada na literatura como um dos mais importantes acometimentos da pessoa com essa deficiência. De acordo com a Rede Sarah, a prática esportiva regular melhora a saúde psíquica e física das pessoas com deficiência, além de permitir a interação social, aspectos que foram confirmados em nossa pesquisa. Não encontramos interferência direta da depressão entre os entrevistados, talvez pelo fato de se encontrarem bem resolvidos perante a realidade imposta pela lesão. O fato de procurar uma prática esportiva, ou até mesmo outra atividade que vá proporcionar ganhos na amplitude de sua esfera, já representa um movimento de maior aceitação da realidade e enfrentamento das dificuldades, não caracterizando o comportamento de entrega ao sofrimento ou a insatisfação. É possível que os indícios depressivos sejam mais constantemente encontrados em pessoas que estão ainda na fase de reabilitação, o que não é o caso da nossa pesquisa. Com o desenvolvimento desta pesquisa, foi possível observar a interferência que os obstáculos arquitetônicos proporcionam na vida das pessoas com deficiência, que necessitam de cadeira de rodas para se locomover. Os obstáculos, assim como as limitações geradas pela lesão, os fazem lembrar-se, a todo o momento, da condição imposta pela deficiência, que é entendida, mas não intimamente aceita, uma vez que a maioria das pessoas entrevistadas já compartilhou de uma vida antes da lesão. O cadeirante sempre se encontra na situação de espera quando se vê obrigado a funcionar no tempo da outra pessoa, que nem sempre está disposta a atender as suas necessidades no ritmo de seu desejo. Estar sempre na posição de espera, na posição submissa da realização de seus desejos, pode gerar ansiedade e instabilidade emocional, o que é mais observado neste trabalho, em detrimento da depressão. Conclusão A prática esportiva beneficia a saúde psicológica das pessoas com deficiência física, uma vez que elas 68 desenvolvem a confiança necessária para a aquisição de uma vida mais saudável e autônoma. Investir em Área - Bem-Estar novos desafios é fundamental e a prática esportiva ajuda nesse aspecto ao inserir dificuldades que serão superadas ao longo do tempo com o desenvolvimento das habilidades específicas relacionadas à modalidade e com o fortalecimento da musculatura residual comprometida pela lesão. Não foi identificado entre os entrevistados o comportamento de entrega ao sofrimento ou à insatisfa- ção, característicos da depressão. Foi possível constatar relatos que remetem à ansiedade e à instabilidade emocional, na medida em que os entrevistados se veem obrigados a funcionar no tempo do outro, principalmente quando os mesmos estão entre aqueles que fazem uso de cadeira de rodas. Os obstáculos e a situação de espera podem ser as causas dessa variação do humor. Referências BRASIL. IBGE. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=438&id_pagina=1> Acesso em: 21 de março de 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Saúde da Pessoa Portadora de Deficiência. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/manual2.pdf> Acesso em: 18 de set 2011. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portal da saúde. Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/saude/visualizar_ texto.cfm?idtxt=19108> Acesso em: 09 de abril de 2013. CHEIK, N. C. et al. Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. Rev. Bras. 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A maconha, assim como o álcool e o tabaco, é considerada uma das primeiras drogas a serem experimentadas, e após certo tempo, os usuários passam a consumir drogas mais pesadas como o craque. O estudo do OBID (Observatório Brasileiro de informações sobre Drogas-2005) mostra que a droga ilícita mais consumida no Brasil é a maconha e, de todas as pessoas que já usaram drogas ilícitas 8,8% usam maconha, o estudo mostra ainda que a prevalência do consumo da maconha por parte de indivíduos do sexo masculino é superior em todas as faixas etárias da pesquisa sendo em média três vezes maior que em indivíduos do sexo feminino. O uso de drogas lícitas e ilícitas é comum entre universitários. No estudo de Fiorini e Alves (1999), dentre os universitários pesquisados 17% usavam maconha, sendo que estes além de usarem maconha usavam ou álcool, ou tabaco, ou os três. Ferreira e Sousa Filho (2007) consideram o uso da maconha como um fator psicossocial marcante, em que os jovens que são considerados o maior público consumidor da droga vivem em um conflito entre influências dos amigos e parceiros, que muitas vezes se opõem a influência dos familiares, sendo que os pares possuem maior influência sobre o uso da maconha. Outro fator que contribui é a questão de que muitos jovens vivem em uma busca pela independência e pela personalidade própria, na busca por essa independência os jovens descobrem o poder da liberdade que antes era controlada pelos pais e ou familiares, e assim usam-na da forma como acreditam ser correta, eles querem ser livres para usar sua liberdade (FERREIRA; SOUSA FILHO, 2007) De acordo com Rodrigues (2008) os jovens tentam fugir daquilo que a sociedade já tem pré-estabelecido, eles não se identificam com o que é padrão, sendo assim acabam buscando viver sensações e emoções novas. Como a droga é algo novo, a curiosidade e a ânsia por novas experiências levam o jovem a se drogar. Os jovens do sexo masculino muitas das vezes usam a maconha pela primeira vez para obter prazer físico e os do sexo feminino para se libertar das pressões sociais. O consumo da maconha vem aumentando principalmente entre os jovens, que usam a droga de forma inconsequente, sem saber que ela pode causar taquicardia, tontura, retardo psicomotor, letargia, depressão, dificuldade de memória de curto prazo, alterações no raciocínio e concentração (ALMEIDA, 2008). De acordo com Almeida (2008) estudos recentes comprovam que as consequências do uso da maconha sobre o cognitivo são reversíveis, de modo que o uso da maconha não traz malefícios que pioram proporcionalmente com o tempo de consumo (MARQUES; RIBEIRO, 2006). Rodrigues (2008) em sua pesquisa, analisou a opinião dos universitários sobre o uso da maconha, baseando-se em um questionário no qual dentre as alternativas sobre a atitude de prometer o não uso aos pais e usar, a maioria dos acadêmicos consideraram a 71 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar atitude errada ou compreensível e classificaram a atitude dos pais como correta, mas, apesar disso ,acham que os pais não devem proibir, e sim aconselhar. Muitos acreditam que o indivíduo usou a droga porque gostava ou por influência dos amigos. O objetivo do estudo foi descrever as prevalências de comportamentos de risco para a saúde relacionado ao uso de maconha em uma amostra representativa de estudantes universitários da Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes de um curso de graduação no Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas. Materiais e Métodos O presente estudo é descritivo e de corte transversal. A amostra foi composta por 32 acadêmicos de curso superior matemática, sendo que dentre estes, doze universitários tinham idade de 18 a 20 anos (37,5%), quinze tinham de 21 a 24 anos (41,9%); um acadêmico de 25 a 34 anos (3%), dois tinham de 35 a 44 (6,3%) e dois tinham 45 anos ou mais (6,3%) . Desses, dezoito (56,3%) são do sexo feminino e quatorze (43,8%) do sexo masculino. A pesquisa foi feita baseada em três perguntas: “Durante sua vida, quantas vezes você usou maconha?”, “Que idade tinha que usou maconha pela primeira vez?” e “Durante os últimos trinta dias, quantas vezes você usou maconha?”. (100%) dos pesquisados responderam que nunca consumiram maconha. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética Parecer N° 306/79, datado de 22 de junho de 2012. Antes da aplicação dos instrumentos, foram repassadas todas as informações sobre o estudo, e os indivíduos que e os indivíduos que concordaram em participar do mesmo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada pelo Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia (GIPECOM), entre os meses de março e junho do ano de 2013, mediante a aplicação de um questionário de forma individual e anônima em sala de aula. As informações associadas aos comportamentos de risco para a saúde foram obtidas mediante a aplicação do questionário Youth Risk Behavior Survey – College (YRBS-C), traduzido para o indioma português. Foi realizada uma estatística descritiva observando a freqüência e porcentagem das respostas. Foi utilizado o software Statistical Package for the Sciences (SPSS) versão 20.0para o Windows na tabulação dos dados. Tabela 1 - Descrição dos resultados da análise descritiva Variável Idade Sexo Durante sua vida, quantas vezes você usou maconha? Que idade você tinha quando usou maconha pela primeira vez? Durante os últimos 30 dias, quantas vezes você usou maconha? 18 a 20 anos 21 a 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 anos ou mais Feminino Masculino Nenhum dia Eu nunca fumei maconha Nenhuma vez N 12 15 1 2 2 18 14 32 32 32 % 37,5 41,9 3 6,3 6,3 56,3 43,8 100 100 100 Discussão Percebeu-se, que com os resultados obtidos neste estudo que os universitários possuem conhecimento sobre a maconha em seu contexto e que a mesma é prejudicial à saúde. Embora não tenha sido questionado na presente pesquisa, a cannabis sativa vem sendo investigada pelos seus atributos medicinais. De acordo com os números expressos na Tabela 1, compreendese que eles não demonstraram sequer curiosidade em experimentar a droga, sabendo que a maioria dos pes72 quisados tinham idade de 21 a 24 anos, sendo que, de acordo com o estudo de Fiorini e Alves (1999) a menor porcentagem do uso de drogas ilícitas se deu acima dos 18 anos. Sendo assim fica a hipótese de que a possibilidade de inserção de pessoas no mundo das drogas, após a maioridade, é menor. Esse comportamento pode ocorrer devido à maioridade trazer maior responsabilidade e por uma questão de maturidade. Segundo a pesquisa de Coutinho, Araújo e Gontiés (2004), Área - Bem-Estar os acadêmicos da área de ciências tecnológicas dizem ser favoráveis aos usuários de maconha, pois acreditam que estes são vítimas da realidade social em que estão inseridos, idealizando que os usuários de maconha experimentam a droga, influenciados por fatores psicossociais ou buscando fugir dos problemas ou por curiosidade e por busca do prazer Devido à Universidade de Montes Claros possuir os cursos das áreas tecnológicas e exatas em conjunto supõe-se que estes últimos possuam uma ideologia embasada na mesma dos acadêmicos das áreas tecnológicas da pesquisa de Coutinho, Araújo e Gontiés (2004). Subtende-se que os universitários pesquisados possuem uma boa estrutura social e psicológica, possivelmente fatores culturais dos acadêmicos desse curso não influenciam na fundamentação da escolha por não usar drogas e isso independe da faixa etária. A maioria dos investigados se encontra entre os 18 e 24 anos e embora sejam jovens, nunca fizeram uso da maconha. Tendo o conhecimento de que, nesta pesquisa, a área de abrangência no contexto faixa etária é extensa, e que a maioria dos pesquisados têm de 18 a 24 anos, o OBID (Observatório Brasileiro de informações sobre Drogas-2005) discorre que a população nessa faixa etária é a que possui maior índice de consumo da maconha, em que do sexo masculino 21,8% e feminino 12,6% da população que consome essa droga no Brasil tem de 18 a 24 anos. A Universidade Estadual de Montes Claros se situa no estado de Minas Gerais, região sudeste, e os números do OBID (Observatório Brasileiro de informações sobre Drogas-2005) apontam que a região sudeste é a que possui maior número de dependentes da maconha, sendo que esses correspondem a 1,5% da população da região, resultado esse que supera a média nacional que é de 1,2%. Conclusões A pesquisa revelou que os estudantes de um determinado curso da área de Ciências Exatas e Tecnológicas, nunca usaram maconha e que, independentemente da idade estes aparentam nunca terem se interessado em experimentar a droga. Tendo como base outras pesquisas que dizem que a maconha é uma droga de fácil acesso, acredita-se que os universitários pesquisados possuem uma posição resistente ao consumo da maconha. De acordo com o referencial teórico a posição dos pais é importante na prevenção do uso de drogas, mas foi atestado que, entre a formas de repressão à atitude do filho o diálogo baseado em conselhos é mais eficaz. Percebeu-se que, dentro das literaturas pesquisadas não foram encontradas pesquisas que teorizam especificamente sobre o uso da maconha por universitários das áreas tecnológicas e exatas. Referências FIORINI, J. E.; ALVES, A. L.. Uso de drogas lícitas e ilícitas no meio universitário de Alfenas. R. Un. Alfenas, Alfenas, n. 5, p. 263-267, 1999. Disponível em : http://www.unifenas.br/PESQUISA/revistas/download/ArtigosRev2_99/pag263267.pdf Acesso em 30 jun 2013. COUTINHO, M. P. L.; ARAÚJO, L. F.; GONTIÈS, B. Uso da maconha e suas representações sociais: estudo comparativo entre universitários. Psicol. estud. Maringá, v. 9, n. 3, Sept./Dec., 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000300015 Acesso: 30 jun 2013. RODRIGUES, V. A. 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Aos primeiros, competia a responsabilidade de desenvolver os conhecimentos científicos para intervir nas patologias e tratá-las. Quanto ao educador, incumbia desenvolver ações capazes de transformar comportamentos. No entanto, essa forma de trabalho não incluía os problemas cotidianos da população. Sendo assim, em 1996, o tema da X Conferência Nacional de Saúde incluiu a formulação de propostas que ressaltassem a importância de atender as necessidades sociais em saúde e mudar o vínculo entre profissionais e usuários, de maneira que houvesse um diálogo permanente incluindo todas as formas de conhecimento, em especial com a cultura popular (ALVES; AERTS, 2011). A educação popular está inserida nas teorias sociais, pois se acredita que a educação pode contribuir para o processo de mudança social, desempenhando importante tarefa na reconstrução da sociedade (BERTRAND, 2001). Na atenção primária no Brasil, a educação em saúde é uma das principais ações capazes de promover a promoção da saúde da comunidade. É uma prática social que deve ser centrada na problematização do cotidiano, na valorização da experiência de indivíduos e grupos sociais e na leitura das diferentes realidades. Sendo assim, as ações educativas precisam estar voltadas para a melhoria dos determinantes da saúde. Dessa forma, essas práticas vêm sendo consideradas como um processo que visa prover aos indivíduos conhecimentos e experiências culturais que os tornem capazes de atuar no meio social e transformá-lo. Nessa perspectiva, a educação em saúde na atenção primária é vista como uma estratégia que tem como objetivo trabalhar o enfretamento dos problemas sociais vivenciado pela população (ALVES; AERTS, 2011). Por meio das práticas educativas, o indivíduo pode fortalecer e/ou adquirir autonomia tornando-se capaz de conduzir a sua própria vida (PEREIRA, 2003). Além disso, o diálogo durante as ações educativas é uma forma de exercício de autonomia, pois há um incentivo mútuo entre o profissional e o usuário. Tal exercício é capaz de promover invenções e reinvenções diárias que possibilitam um leque de decisões que vão permeando ao longo da vida. Assim, é de suma importância que, na atenção primária à saúde, haja um vínculo entre os mesmo,s considerando o usuário em toda a sua singularidade, complexidade e contexto sociocultural. Dessa maneira, poderá haver um processo deliberativo entre profissional e usuário (STARFIELD, 2002). Como facilitadora do processo de educação em saúde, por intermédio da articulação entre a Universidade e a comunidade como um todo, a extensão universitária objetiva alinhar as atividades de ensino e pesquisa desenvolvidas no âmbito acadêmico às reais demandas da sociedade, contribuindo, sobretudo, no desenvolvimento de hábitos que promovam a mudança da realidade. Este estudo objetiva relatar uma experiência vivenciada por acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Odontologia e Serviço Social da Universidade Estadual de Montes Claros-UNIMONTES durante o cumprimento de oficinas educativas de um projeto de pesquisa-extensão em uma unidade de saúde de Montes Claros/MG. Material e Métodos Trata-se de pesquisa-ação que consiste em um tipo de pesquisa social concebida e realizada em es- treita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os 75 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar participantes representativos da situação ou problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2008). A metodologia utilizada tem como eixo a educação popular que parte do pressuposto que os educandos são sujeitos construtores de seus conhecimentos e que essas construções partem, necessariamente, de suas vidas e da realidade em que estão inseridos (FREIRE, 1994). Este estudo consiste em um relato de experiência acerca da execução de estratégias de educação em Saúde, focadas na realização de Oficinas Educativas sobre o tema Violência contra a Mulher e a instalação de uma Cultura da Paz. O planejamento e a execução da estratégia de educação em saúde se deram através de dez oficinas educativas acerca do tema “violência contra a mulher e cultura de paz”. Os sujeitos do estudo foram dez mulheres cadastradas na Estratégia de Saúde da Família (ESF) de um bairro de Montes Claros/MG que foram previamente convidadas a participar das atividades. As atividades aconteceram no período de abril a junho de 2013. A autorização para divulgação dos dados por parte dos sujeitos está formalizada atendendo ao preconizado pela Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que trata da pesquisa que envolve seres humanos. A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da Universidade Estadual de Montes Claros- Unimontes com o número do parecer 2008/2010. Resultados e Discussão Optou-se pelo bairro Cintra a partir da pesquisa documental na qual se identificaram a incidência, prevalência e principais áreas de risco no município de Montes Claros nos anos de 2009-2010. A região onde está localizada a referida ESF possui elevados índices de violência contra a mulher. Um dos grandes desafios nas ações de prevenção e combate à violência contra as mulheres é a visibilidade do fenômeno, dessa forma, é essencial disseminar a informação para prevenir e publicizar a violência, alicerçada em profundas desigualdades de gênero na sociedade (CÔRTES; LUCIANO; DIAS, 2012). Nas oficinas foram trabalhados temas relacionados à violência em diferentes contextos. Nas discussões, as mesmas referiam-se à violência doméstica cometida principalmente pelos parceiros e filhos. As mulheres corroboraram com a existência de diversas situações de maus-tratos e desigualdade de gênero na comunidade. Relacionaram a questão do gênero como um processo sócio-histórico. Na realidade, comumente sofremos influências de instituições como a família, a escola e a igreja durante a nossa vida. Somos ensinados sobre normas e valores culturais, de modo que meninos e meninas são educados a diferenciar o que é próprio do sexo feminino daquilo que é peculiar do masculino, distinguindo assim os papéis de cada sexo. Aprendemos desde cedo a representar os papéis atribuídos aos gêneros, influenciando assim diretamente na construção da identidade de gênero (GOMES; FREIRE, 2005). Para iniciar os encontros com as mulheres, aqui denominadas como “As Marias”, foi dramatizada a história de Maria da Penha e o surgimento da Lei n° 11.340, de 7 de agosto de 2006. A lei recebeu esse nome em uma homenagem a Maria da Penha Maia, vítima de violência doméstica durante seis anos pelo esposo. No ano de 1983, o mesmo tentou assassiná-la por duas vezes, sendo que a primeira foi por meio de arma de fogo, na qual a deixou paraplégica e, na segunda 76 por eletrocução e afogamento. Ele foi punido depois de 19 anos de julgamento (WILLIAMS et al; 2008). Debatemos se existem situações semelhantes em nossa cidade e como tratar esse assunto junto à família e à comunidade. As mulheres identificaram situações similares em suas famílias e/ou de conhecidos. Por meio das discussões e informações disseminadas ao longo da oficina, elas se dispuseram a propagar o conhecimento adquirido sobre os direitos da mulher vítima de violência doméstica, além de se comprometerem a trazer mais mulheres nas próximas oficinas. A violência doméstica e os tipos de violência foram abordados por meio de dinâmicas. Elas relataram episódios ocorridos na comunidade e apontaram o déficit de informações relacionadas à resolutividade e aos direitos da mulher. De acordo com Pedrosa (2009), quando as mulheres desconhecem os seus direitos, os companheiros, muitas vezes, fazem uso dessa deficiência para mantê-las vinculadas à relação, mesmo com sofrimento intenso, caracterizando-se uma violência psicológica. As participantes relataram que, devido à falta de suporte familiar e econômico, as mulheres vitimizadas se submetem a essa modalidade de violência. A permanência das mulheres nos relacionamentos com violência comumente é atribuída ao temor, tremor e receio de perder a guarda dos filhos e de não conseguir sobreviver financeiramente. Para aprimorar as discussões, a promotora da vara de famílias do município foi convidada para esclarecer as dúvidas das participantes. Discutiu-se como o conhecimento acerca da atuação dos serviços de enfrentamento da violência pode estimular a postura ativa da mulher na quebra do ciclo da violência e quais são as formas que os serviços de enfrentamento da violência poderiam atuar no estímulo ao combate dos atos violentos contra a mulher. Enfatizou-se que a delegacia da mulher é uma instituição apropriada para resolver as principais políticas de enfrentamento em situações de violência, pois a mesma é a porta de entrada para Área - Bem-Estar se ter acesso aos demais órgãos de auxílio às vítimas, como assistências médicas, psicológicas e judiciais. Algumas participantes desconheciam a existência da delegacia da mulher no município. Nas oficinas também foi discutido o tema Bullying, algumas mulheres desconheciam essa nomenclatura, no entanto, ao assistirem a um vídeo explicativo demonstrando o que é e os seus tipos, todas conseguiram compreender e associá-lo nas suas próprias vidas ou de alguém próximo. As adolescentes presentes na roda descreveram situações vivenciadas na escola e como isso influi negativamente nos estudos, pois relataram falta de interesse de frequentar as aulas devido ao constrangimento e baixa autoestima provocada pelos colegas. Afirmaram que hoje conseguiram superar isso, mas, infelizmente, conhecem vários colegas vivenciando situações semelhantes ou piores que as suas. O bullying é descrito como atos de intimidação, ameaças, violência física e psicológica impostos frequentemente a indivíduos mais vulneráveis e incapazes de se defenderem, levando-os a um estado de sujeição, isolamento, marginalização e sofrimento psicológico (CONSTANTINI, 2004). Na perspectiva de englobar os diversos tipos de violência nas nossas oficinas, levamos para “as Marias” um estudo de caso verídico sobre violência virtual ocorrido na cidade que teve repercussão nacional. Procurando esclarecer para as mulheres, principalmente para asadolescentes que utilizam com maior frequência esse meio de comunicação, abordamos estratégias de prevenção e identificação da mesma, pois ultimamente vem crescendo esse número de casos devido à maior acessibilidade a internet. Em continuidade ao leque de informações relacionado à violência, levamos o nosso olhar para os idosos, crianças e adolescentes, que mesmo assegurados por direitos conforme as políticas públicas preconizados pelo Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e Adolescente sofrem continuamente algum tipo de violência. Discutimos esses temas por meio de vídeos ilustrativos que demonstravam diversos idosos, crianças e adolescentes vitimizados pelos próprios familiares ou cuidadores. Discutiu-se como a família pode agir diante da situação tendo em vista o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma vez que tais documentos promovem a garantia dos direitos e estrutura a atenção a sua saúde. Enfatizamos às mulheres, os seus deveres como cidadãs e o poder que lhes cabe de denunciar os agressores. Na última oficina trabalhada com o grupo de mulheres trouxemos o tema “Cultura de Paz”, na qualrealizamos dinâmicas com a finalidade de empoderar as participantes, além disso, realizou-se uma reflexão acerca das ações que visam prevenir a violência. Foram apresentados vídeos que reforçavam a temática abordada. As mulheres fizeram uma retrospectiva de tudo que aprenderam durante esses dez encontros demonstrando satisfação pelo conhecimento adquirido e se comprometendo a se tornarem disseminadoras da cultura de paz. Conclusão O empoderamento comunitário almeja a formação crítica-cidadã das pessoas, de modo que estas se tornem aptas a intervir de forma autônoma na realidade social. Para tanto, a constante reflexão crítica do profissional acerca de sua prática educativa cotidiana, a fim de torná-la aplicável ao contexto dinâmico no qual está inserido, faz-se necessária. O profissional pode levar seus clientes a intervirem nos ambientes que o cercam de forma crítico-reflexiva e transformadora, além de considerar que a informações transmitidas sempre se apresentam como peças de elaboração do conhecimento, e não o conhecimento propriamente acabado (SILVA; DIAS; RODRIGUES, 2009). As oficinas realizadas tiveram o intuito de promover o conhecimento e de torná-las multiplicadoras do mesmo, a fim de provocar uma mudança da realidade na qual estão inseridas, pois a prática de educação em saúde direcionada ao cuidado integral constitui um espaço de reflexão-ação, alicerçada nos saberes técnicocientíficos e populares capazes de levar a mudanças individuais e destreza para agir na família e comunidade, contribuindo dessa maneira para uma transformação social (CATRIB, 2003). Durante as atividades educativas houve comunicação interpessoal e intercâmbio de experiências, despertando motivação das mulheres, sendo este aspecto observado diante das narrativas das mesmas. Elas puderam expressar os seus sentimentos com relação ao tema violência e paz. Os professores, os estudantes e as usuárias participantes concluíram as oficinas fomentando a consciência da necessidade de viver e disseminar a cultura de paz. Por isso, é imprescindível que haja conhecimento para que as mulheres possam prevenir ou buscar ajuda, bem como entender seus direitos em relação à violência. 77 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALVES, G. G; AERTS, D. As práticas educativas em saúde e a Estratégia Saúde da Família. Ciênc. saúde coletiva. Rio de Janeiro, v. 16, n. 1, jan., 2011. BERTRAND, Y. Teorias sociais. In: Bertrand Y. Teorias contemporâneas da educação. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. p. 151-197. CATRIB, A. M. 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Disponível em www. ufscar.br/laprev. 78 Área - Bem-Estar ACUR ÁCIA DA ES TRUTUR A FATORIAL DA ESC AL A DAS ATIVIDADES DE HÁBITOS DE L A ZER EM FUNÇ ÃO DE VARIÁVEIS DESENVOLVIMENTISTAS Nilton Soares Formiga Gislane Ferreira de Melo [email protected] Introdução Pesquisadores e a sociedade em geral tem se preocupado com dinâmica juvenil em relação aos motivos e consequências das condutas socialmente desejáveis destes na construção e organização de fatores psicológicos, sociais e interpessoais no entorno da diversão. Com isso, muito tem chamado à atenção são as formas e tipos de diversão que os jovens vêm aderindo atualmente, as quais, associadas aos traços de personalidade da busca de sensação, valores individualistas e a conduta desviante (FORMIGA, 2010; FORMIGA, 2011; MELO, 2013). A literatura em geral, apresentam reflexões em relação ao que, como e onde fazer com o espaço, tempo e as pessoas que querem se divertir, porém, pouco se encontra um instrumento de medida que facilite o reconhecimento e avaliação de um construto, especificamente, que mensure os hábitos de lazer entre os jovens. Tal condição é importante quanto observação antecedente, pois, o lazer além de necessário, exige um investimento e dedicação pessoal, que inclua objetivos comuns de grupalidade, soluções de conflitos, maturidade etc.; isto é, cada pessoa, mesmo com diferentes maneiras de passar o seu tempo livre, principalmente, quando já se cumpriu os afazeres e compromissos cotidianos, deverá ter a forma do lazer como uma meta, atendendo as suas necessidades básicas fomentadoras da saúde e organização psicossocial (FORMIGA; AYROZA; DIAS, 2005; FORMIGA, BONATO SARRIERA, 2011). Sendo assim, Formiga, Ayroza e Dias (2005), desenvolveram uma escala, composta por vinte quatro itens que avaliavam as atividades de lazer assumidas pelos jovens quando estes haviam cumprido todas as atividades consideradas importantes e obrigatórias exigidas pela família, escola, etc. (por exemplo, estudar, visitar familiares, etc.). Através de uma análise fatorial exploratória observaram a existência de três fatores: o primeiro deles descrito como Hábito de Lazer Hedonista (este fator, diz respeito aos hábitos de consumo que enfatizam o prazer individual e imediato como único bem possível do indi- víduo; por exemplo, Ir a shows, teatro, etc; Ir ao cinema; Navegar na internet, etc.); o segundo fator, Hábito Lúdico (Refere-se a utilização de jogos, brinquedos, passeio e divertimentos em geral, apresentando um caráter instrumental do lazer e de envolvimento emocional positivo; por exemplo, Praticar esportes; Assistir programas de televisão; Jogar vídeo games, jogos de ação ou aventura etc.); o terceiro, Hábito Instrutivo (Enfatizando a experiência de aperfeiçoamento e crescimento desenvolvido pelos sujeitos tornando-os capaz de certas escolhas de lazer diferenciadas e exclusivas para eles, como também, pode assumir uma atividade quanto a transmissão, habilitação e ensino de conhecimentos; por exemplo, Ler livros; Ler revistas; Visitar familiares etc.). Partindo dessa organização fatorial, Formiga, Bonato e Sarriera (2011) e Formiga (2012), comprovaram tanto a perspectiva conceitual apresentada pelos autores supracitados, quanto a dimensão estrutural dessa medida, pois, em seus estudos observaram-se que a escala foi consistente e fidedigna em amostras de diferentes estados brasileiros; buscando corroborar a estrutura psicométrica salientada acima, Formiga, Melo e Lima (2013) realizaram um estudo com jovens atletas (esportes de competição nas modalidades de basquetebol, voleibol, handebol e futsal) e não atletas, respectivamente, na cidade de Teresina-PI e João Pessoa-PB, com mesmo instrumento de hábitos de lazer e observaram estrutura fatorial semelhante a encontra em outros estudos. Apesar dos resultados acima serem consistentes, observou-se um limite avaliativo neles: mesmo que em todos os estudos a escala revele indicadores psicométricos que garantiram a estrutura dessa medida em jovens, não se encontra uma análise, em relação ao segurança desse instrumento, em amostras seccionadas de variáveis que contemplem o desenvolvimento psicológico do respondente [por exemplo, idade, sexo, tipo de escola]. Neste estudo, pretende-se comprovar a organização e a estrutura fatorial do construto hábitos de lazer em relação as variáveis idade, sexo e tipo de escola. 79 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Método Participantes O estudo foi composto por 609 estudantes, homens (49%) e mulheres (51%), de 12 a 18 anos de idade, de escola pública (62%) e particular (38%) da cidade de João Pessoa-PB. Esta amostra foi intencional, pois, considerouse a pessoa, quando consultada, dispusera-se a colaborar em responder o questionário a ela apresentado. Instrumento Os participantes responderam um instrumento que constava: • Escala das Atividades de Hábitos de Lazer - EAHL. Elaborado originalmente em português por Formiga, Ayroza e Dias (2005), o instrumento é composto por 24 itens que avaliam as atividades de lazer assumido por cada sujeito a respeito da sua ocupação quando não se está fazendo nada (por exemplo, Ler livros, Ler revistas, Ir a igreja, Navegar na internet, Comprar roupas, etc.), eles deveriam ler cada item e indicar com que freqüência ocupa seu tempo quando está sem fazer nada, depois de todas suas obrigações cumpridas, para isso, utilizou uma escala de seis pontos (0 = Nunca a 5 = Sempre). Três fatores foram observados: Instrutivo, Lúdico e Hedonismo. Formiga, Bonato e Sarriera (2011), através de uma análise de modelagem estrutural observaram uma consistência estrutural desta escala em diferentes Estados brasileiros (João Pessoa-PB, Porto Alegre-RS, PalmasTO) com indicadores psicométricos aceitáveis pela literatura sobre o tema (HAIR; ANDERSON; TATHAM; BLACK, 2005; VAN DE VIJVER; LEUNG, 1997). Uma folha separada foi anexada ao instrumento onde eram solicitadas informações de caráter sóciodemográfico (por exemplo, idade, sexo, estado civil e classe social). Procedimentos e administração Todos os procedimentos adotados nesta pesquisa seguiram as orientações previstas na Resolução 196/96 do CNS e na Resolução 016/2000 do Conselho Federal de Psicologia para as pesquisas com seres humanos (CNS, 1996; ANPEPP, 2000). Definiu-se um procedimento padrão científico e ético para aplicação do instrumento em sala de aula. Quanto à análise dos dados, efetuou-se uma análise de modelagem estrutural, pretendendo testar a adequação do modelo multidimensional já encontrada em outras amostras, mas, objetivando avaliar semelhante estrutura com amostra de sujeitos esportistas e não esportistas. Resultados e Discussão Ao avaliar a consistência interna do instrumento considerou-se a relação entre item-fator e item-pontuação total tanto para a amostra total, sexo, idade e tipo de escola, bem como os alfas de Crombach (a). Em relação às correlações itens-fator-pontuação total, os escores variaram de 0.37 a 0.72, todos significativos. Quanto aos alfas, estes estiveram de 0.62 a 0.77. Todos os escores estatísticos (correlação e alfa) não somente estiveram no intervalo esperado, mas, convergente ao que esperava, com todas relações significativas e acima do limite de moderação. Na análise de modelagem estrutural comparou-se o modelo alternativo (unifatorial) com modelo esperado (trifatorial); no AMOS GRAFICS, versão 21.0, efetuou-se o cálculo e os resultados revelaram que o modelo trifatorial é o mais adequado para mensurar os hábitos de lazer em jovens na amostra total e nas respectivas secções amostrais, pois, os resultados estavam dentro do intervalo exigido na literatura (BYRNE, 1989; HAIR; ANDERSON; TATHAM; BLACK, 2005; VAN DE VIJVER; LEUNG, 1997). De forma geral, as associações entre as dimensões dos hábitos de lazer foram positivas, o que significa dizer que na existência de uma dessas formas de lazer, possivelmente, as demais influenciarão as outras formas. Tabela 2: Indicadores psicométricos da estrutura fatorial da escala das atividades de hábitos. Modelos Fatoriais c²/gl RMR GFI AGFI CFI TLI RMSEACAIC ECVI (intervalo) (intervalo) Unifatorial* Amostra 6.12 0.14 0.92 0.84 0.78 0.63 0.09 811.94 0.80 Total (0.08-0.11) (0.71-0.97) Amostra 12 a 14 anos 3.30 0.19 0.88 0.76 0.74 0.56 0.11 577.67 1.54 (0.07-0.09) (0.75-0.98) Idade Amostra 80 Área - Bem-Estar 15 a 18 anos Amostra Homens Sexo Amostra Mulheres Escola Publica Escola Escola Privada 3.72 0.13 0.92 0.86 0.82 0.69 0.08 643.05 0.86 (0.09-0.12) (1.35-1.76) 4.42 0.18 0.87 0.79 0.70 0.59 0.11 626.98 1.40 (0.10-0.12) (1.22-1.61) 2.73 0.15 0.90 0.85 0.79 0.71 0.08 494.71 0.98 (0.06-0.09) (0.85-1.14) 2.16 0.15 0.92 0.90 0.91 0.85 0.06 517.00 0.67 (0.04-0.04) (0.58-0.77) 3.78 0.20 0.88 0.78 0.72 0.55 0.11 590.74 1.52 (0.09-0.12) (1.32-1.74) Trifatorial** Amostra 2.27 0.05 0.98 0.97 0.99 0.95 0.02 545.80 0.33 Total (0.01-0.04) (0.30-0.37) Amostra 12 a 14 anos 1.50 0.06 0.96 0.94 0.99 0.96 Idade Amostra 15 a 18 anos 1.21 0.07 0.98 0.95 0.99 0.97 Amostra Homens 1.33 0.09 0.97 0.94 0.98 0.96 Sexo Amostra Mulheres 1.07 0.08 0.97 0.95 0.99 0.99 Escola Privada 1.10 0.07 0.98 0.94 0.99 0.99 Escola Escola Publica 1.30 0.09 0.97 0.95 0.98 0.96 0.01 349.72 0.79 (0.01-0.03) (0.78-0.91) 0.02 509.78 0.49 (0.01-0.04) (0.46-0.55) 0.03 494.23 0.66 (0.01-0.05) (0.60-0.75) 0.01 385.50 0.57 (0.01-0.04) (0.55-0.64) 0.02 379.50 0.62 (0.01-0.05) (0.58-0.71) 0.03 477.18 0.52 (0.01-0.04) (0.47-0.60) Notas. * p > 0,05. A partir destes resultados, esse construto, poderá ser assumido como representação das atividades de hábitos de lazer em jovens, pois, as atividades avaliadas no instrumento referem-se à disposição que o jovem tem ao repetir uma atitude com fins de distração ou entretenimento, quando já se cumpriu com todas as suas responsabilidades familiares ou escolares, disposições estas, influenciadas seja por ordem de alguém - pais ou responsáveis - ou por sua própria iniciativa, representada por três fatores, de acordo com o que teoricamente se esperava, a saber: Hedonismo, Lúdico e Instrutivo. Conclusão Os achados no presente estudo não apenas garante a organização estrutural da escala de hábi- tos de lazer na associação específica entre item-fator, mas, também, que ao insistir na qualidade e testagem 81 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar do modelo previamente observado, na sua trifatorialidade, em outros estudos no Brasil com distintas perspectivas metodológicas, estatísticas, demográficas e de grupos sociais, busca-se com isso, apresentar rele- vância na mensuração dos hábitos de lazer, já que, não são muito os instrumentos sobre a mensuração desse construto. Referências ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA - ANPEPP. Contribuições para a discussão das Resoluções CNS nº. 196/96 e CFP Nº 016/2000. 2000. Recuperado em 02 de Setembro de 2011, da WEB (página da WEB): http://www.anpepp.org.br/XIISimposio/Rel_ComissaoEticasobre_Res_CNS_e_CFP.pdf. BYRNE, B. M. 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Tal compreensão também abrange diversos cenários, entre os quais a universidade, a qual possui um papel determinante no desenvolvimento dos seus futuros profissionais, não só por demonstrar resolubilidade em comparação com instituições de outra natureza, mas também por seu papel singular na definição da ética de desenvolvimento nacional e por ser um lócus especial para crítica e transformação social (KOIFMAN, 2011). Nesse panorama, o docente assume função de destaque como agente de saúde, considerando que coloca em prática não apenas a comunicação do seu saber, mas é um agente de transformações que possui singularidades nos seus conhecimentos. A sua prática produz efeitos na formação dos novos profissionais, pois este passa a ser um vetor importante nos processos de subjetivação do sujeito para formação profissio- nal e pessoal, tornando essa profissão uma atividade enriquecedora, que proporciona diversas habilidades ligadas ao campo da saúde. Para satisfazer às necessidades da população, é fundamental que tanto o docente quanto os acadêmicos compreendam o significado de qualidade de vida e o valor que tem para os sujeitos, com os quais interagem no cotidiano, pois é a forma e a quantidade de processamento das suas atividades que irão proporcionar ou não a qualidade de vida desses educadores (GARCIA; OLIVEIRA; BARROS, 2008). Sabe-se que a má qualidade de vida interfere no desempenho da saúde física e mental do trabalhador, influencia no desenvolvimento do planejamento e de realização das atividades, e pode estar associada ao estresse, à tensão nervosa, à fadiga muscular, às lesões por esforço repetitivo, ou atualmente, aos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DÁVILA; CASAGRANDE; PEREIRA, 2010). Diante do exposto, torna-se necessário investigar a temática, em prol do fomento de novos conhecimentos e para subsidiar mais efetivas de promoção da saúde e da qualidade de vida dos educadores. Assim, o estudo objetivou descrever a qualidade de vida dos docentes dos cursos de graduação da área da saúde de uma universidade pública do Estado de Minas Gerais - Brasil, e as associações com suas características sociodemográficas. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo exploratório, descritivo, de abordagem quantitativa. Teve como cenário o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde do campus universitário sede, de uma universidade pública, situada em uma cidade de porte médio no Estado de Minas Ge- rais – Brasil, que oferece os seguintes cursos: Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Medicina e Odontologia. Havia, no cenário do estudo: 43 docentes do curso de graduação em Ciências Biológicas, 43 de Educa83 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar ção Física, 65 de Enfermagem, 165 de Medicina e 63 de Odontologia, um total de 379 docentes. Utilizou-se a amostragem probabilística estratificada para definição da amostra e a seleção dos participantes ocorreu de forma aleatória. A estratégia utilizada para a coleta foi a aplicação de um questionário sociodemográfico e o Whoqol -bref, instrumento criado pelo Grupo de Qualidade de Vida da Organização Mundial da Saúde (OMS), abreviado a partir do Whoqol – 100 (W-100). É constituído por 26 questões fechadas, sendo duas perguntas gerais de qualidade de vida e outras 24 representantes de cada uma das 24 facetas que constituem o instrumento original. Essas 24 questões são agrupadas em 4 domínios: físico - 7 itens, psicológico - 6 itens, relações sociais - 3 itens e meio ambiente - 8 itens (FRANÇA; AGUIAR et al., 2011). A coleta ocorreu de junho a setembro de 2013 em salas de aulas, campos de estágios e consultórios particulares dos professores. Os dados foram organizados e analisados com a utilização do programa estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 17.0. Para a análise de dados, utilizou-se a estatística descritiva. A fim de investigar associações entre variáveis sociodemográficas e acadêmicas e os domínios da qualidade de vida procedeu-se a checagem da normalidade dos dados por meio do teste de Klomogorov-Smirnov. Em seguida, realizou-se a analise bivariada empregando a comparação de médicas pelo teste t de students para amostras independentes. Em todas as análises foi utilizado o nível de significância de 5% (p ≤ 0,05). De acordo com as normas da Resolução nº 466/2012, o Comitê de Ética em Pesquisa analisou, aprovou e expediu o parecer favorável por meio do Parecer Consubstanciado n.º173.395/2012. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados e Discussão Quanto às características sociodemográficas dos 221 docentes, pode-se observar que maioria é do sexo feminino (62%); faixa etária até os 43 anos (58,8%); casados (71,9%); afirmaram ser da raça branca (56,6%); residem na cidade de Montes Claros (98,2%); moram com a família (85,1%); possuem outro vínculo empregatício (63,8%); tempo de atuação na docência até 12 anos (60,6%); possuem renda bruta mensal até 11 salários mínimos (58,8%). Em sua maioria, possuem nível máximo de formação universitária com mestrado (58,8%); lêem acima de 2 livros, excetuando os acadêmicos (58,4%); não são fumantes (92,8%); possuem outras fontes de informações, exceto a internet (63,3%) e têm como lazer, atividades culturais (59,7%). De acordo com a classificação proposta pela OMS, pode-se verificar que para o domínio físico – dor, ener- gia, sono, mobilidade, atividades diárias, dependência de medicação e capacidade de trabalho, os docentes apresentaram qualidade de vida regular. Já para os domínios meio ambiente – que engloba segurança, moradia, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais, lazer, transporte e ambiente físico; relações sociais – relações pessoais, suporte social e atividade sexual; e psicológico – sentimentos positivos e negativos, aprendizagem, memória, autoestima, imagem corporal e espiritualidade; os docentes apresentaram qualidade de vida boa. Para o domínio físico apresentou-se o menor escore 57,9 (DP=9,6), ou seja, qualidade de vida abaixo dos demais domínios, enquanto que para o domínio relações sociais houve o maior escore 73,7 (DP=17,2), o que equivale a melhor qualidade de vida nesse aspecto (TABELA 1). Tabela 1: Média e desvio-padrão dos escores dos domínios de qualidade de vida (WHOQOL/breve) de docentes, 2014 Domínio N Físico Psicológico Relações Sociais Ambiental Houve associação estatisticamente significativa (p=0,037) entre o domínio físico e a idade, com menores escores 56,8 (DP=9,8) para os docentes com até 43 anos e maiores escores 59,5 (DP=9,1) para os que tem 44 anos ou mais, ou seja, nesse domínio, os mais velhos possuem qualidade de vida melhor que os mais novos. Também houve associação significativa do estado civil com os domínios psicológico (p=0,009), relações sociais (p=0,041) e meio ambiente (p=0,034); e dentre os 84 Média + dp 221 57,9 + 9,6 66,6 + 11,1 73,7 + 17,2 70,4 + 13,9 domínios e escore, o que obteve melhore escore médio de qualidade de vida 75,1 (DP=16,4) foi o domínio relações sociais em que os docentes têm companheiro e o escore inferior 63,3 (DP=13,4) o domínio meio ambiente com os docentes sem companheiro. Entre o domínio relações sociais e com quem mora ocorreu associação estatisticamente significativa (p=0,046), com maiores escores 74,6 (DP=16,4) para os professores que moram com a própria família e menores 68,2 (DP=20,6) Área - Bem-Estar para os que estão em outra situação, o que corresponde a melhor qualidade de vida no aspecto relações sociais para os que moram com a própria família. Houve também associação quanto ao tempo de atuação na docência nos domínios físico (p=0,033), psicológico (p=0,023) e ambiente (p=0,044), com maior escore no domínio meio ambiente 72,8 (DP=12,9) para os professores com até 12 anos de atuação na docência, e menor escore no domínio físico 56,8 (DP=10,1) para os professores acima de 12 anos de atuação, assim professores com menos tempo de docência apresentam maior qualidade de vida. A maior renda esteve associada a maiores escores de qualidade de vida 72,9 (DP 13,2) no domínio ambiente. Também houve associação estatisticamente significativa com a quantidade de livros lidos anualmente, excetuados os acadêmicos, com os domínios físico (p=0,002) e psicológico (p=0,013), com maiores escores 59,6 (DP=9,3) no físico e 68,2 (DP=11,1) no psicológico para os que lêem até 2 livros anualmente. Em relação ao lazer houve associação estatisticamente significativa com os domínios relações sociais (p=0,039) e meio ambiente (p=0,045), com maiores escores, respectivamente, 76,6 (DP=16,2); 72,7 (DP=13,4) para aqueles que dedicam mais tempo às atividades sociais, indicando melhor qualidade de vida para esses indivíduos se comparados aos que dedicam mais tempo a atividades culturais. Quanto às demais características - sexo, raça, onde reside, outro vínculo empregatício, renda bruta, nível máximo de formação universitária, fumante, fonte de informação não foram encontradas associações significativas. Em relação à qualidade de vida, esta investigação mostrou qualidade de vida boa no domínio psicológico, relações socias e meio ambiente. Porém, o domínio físico apresentou qualidade de vida regular. Estudo similar, realizado em Instituição de Ensino Superior no Sul do Brasil, utilizando o WHOQOL-Bref, também verificou que houve o maior escore para o domínio das relações sociais, psicológico e meio ambiente, apresentando escores semelhantes ao encontrado no presente estudo (FILHO; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2012). Estudo similar a este, realizado com 242 docentes em Natal (RN), verificou que o maior escore médio foi para o domínio relações sociais, dados semelhantes aos achados desta investigação. Entretanto, há um estudo realizado na Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), em Santa Catarina, com 15 professores, o qual avaliou a qualidade de vida desses docentes, mostrou que o domínio meio ambiente obteve o segundo menor escore (COGO et al., 2011), diferente dos dados encontrados nesta investigação. Neste estudo, na correlação dos domínios com as variáveis sociodemográficas, a idade obteve maior escore médio no domínio físico para os docentes com idade superior a 40 anos. Dados semelhantes foram encontrados em pesquisa realizada com 203 professores de universidades do Rio Grande do Sul (FILHO; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2012). A variável estado civil, na presente pesquisa, obteve dados significativos nos domínios psicológicos, relações sociais e ambiente, com maiores escores para os docentes que possuem companheiro. O estudo feito em Natal (RN) corrobora os dados desta pesquisa, em que os docentes casados possuem melhor qualidade de vida (FERNANDES et al., 2011). Na presente pesquisa, a renda bruta mensal acima de 11 salários mínimos obteve o maior escore no domínio meio ambiente, o que confirma as semelhanças entre os achados. Nessa perspectiva, a questão salarial e a valorização profissional são fatores que proporcionam melhores condições a uma melhor qualidade de vida (DÁVILA; CASAGRANDE; PEREIRA, 2011). Os educadores que exercem a carreira docente até 12 anos alcançaram menores escores no domínio físico, psicológico e meio ambiente. Entretanto, na avaliação da qualidade de vida de 73 discentes, por meio do WHOQOL-Bref, em Maceió (AL), com o objetivo de analisar a qualidade vocal, autoavaliação e a qualidade de vida em voz em professores, verificou-se que a carreira docente tivera menor escore no domínio físico, semelhante ao encontrado na presente pesquisa (MORAIS; AZEVEDO; CHIARI, 2012). Identificou-se que quem mora com a própria família apresenta menor escore médio de qualidade de vida no domínio relações sociais. Dados semelhantes foram encontrados em investigação realizada com 349 docentes em Florianópolis (SC), por meio do WHOQOL-Bref (PEREIRA; TEIXEIRA; LOPES, 2013). Conclusão A boa qualidade de vida encontrada na maioria dos domínios pode oportunizar momentos positivos aos docentes da área da saúde. Todavia, como os professores que participaram deste estudo obtiveram qualidade de vida regular no domínio físico, esse aspecto demanda atenção, uma vez que, a associação boa de todos os domínios influencia para uma melhor qualidade de vida. As associações das características sociodemográficas com a qualidade de vida mostram a necessidade de maior cuidado aos docentes que estão no início da carreira e com quem mora com a própria família, evidenciando maior intervenção. 85 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências AGUIAR, M. I. F.; FARIAS, D. R.; PINHEIRO, M. L.; CHAVES, E. S.; ROLIM, I. L. T. P.; ALMEIDA, P. C. 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As elevadas estatísticas de morbidade e mortalidade, incapacidade física e interferência na qualidade de vida dos indivíduos acometidos por agravos da HAS são uma das preocupações dos trabalhadores em saúde (BORGES; PINHEIRO; SOUZA, 2012). Um dos grandes obstáculos no atendimento da HAS baseia-se em avaliar o impacto da doença e da terapêutica na vida do indivíduo, especialmente suas consequências na qualidade de vida (QV). Em virtude da dificuldade em conceituar a saúde, que não se limita apenas à ausência de sintomatologia, a avaliação da QV se torna preponderante à medida que facilita uma avaliação do cuidado e do tratamento empregado (SOUTELLO, 2010). Este estudo teve como objetivos: identificar o perfil da população hipertensa segundo as variáveis sociodemográficas e discutir a percepção dos indivíduos hipertensos atendidos pela equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF) do bairro Morrinhos II na cidade de Montes Claros – MG sobre a influência da doença e do tratamento sobre a sua qualidade de vida. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo descritivo, quantitativo, do tipo transversal e exploratório. A presente pesquisa foi desenvolvida com adultos e idosos hipertensos cadastrados no programa HIPERDIA da ESF do bairro Morrinhos II na cidade de Montes Claros – MG. Trata-se de uma pesquisa censitária, ou seja, trabalhou com o universo de sujeitos, no total de 256 participantes, sendo excluídos apenas aqueles não encontrados após três tentativas para a realização da coleta dos dados ou aqueles que se recusaram a participar do estudo. O instrumento de coleta de dados foi o Mini-Questionário de Qualidade de Vida em Hipertensão Arterial (MINICHAl), que consiste em um questionário fechado, anônimo, validado e adaptado, integrado por 17 questões e dois domínios. As respostas dos domínios estão distribuídas em uma escala de frequência do tipo Likert e têm quatro opções de respostas. Nessa escala, quanto mais próximo a 0 estiver o resultado, melhor a qualidade de vida. O domínio Estado Mental compreende as questões de 1 a 9, sendo a pontuação máxima de 27 pontos. O domínio Manifestações Somáticas compreende as questões de 10 a 16 e tem pontuação máxima de 21 pontos. A questão 17 avalia a percepção geral de saúde do cliente e se o seu tratamento tem influenciado na sua qualidade de vida, sendo pontuada na mesma escala. Também foram utilizados um questionário sóciodemográfico e um questionário de dados clínicos elaborados pela pesquisadora, que apresentaram aspectos relevantes para a pesquisa e que foram prétestados antes de iniciar a coleta definitiva dos dados. Este estudo encontra-se conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde em Pesquisa. Foi en87 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar caminhada ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES, através do sistema da Plataforma Brasil, previamente à sua execução, para processo de apreciação, sendo que o mesmo foi aprovado pelo Parecer Consubstanciado – Processo nº 311.654. Neste estudo optou-se por uma análise de correlação empregando o teste qui quadrado. As questões do questionário MINICHAL foram subdivididas em 2 domínios: estado mental e manifestações somáticas, avaliando também a última questão referente a QV, apresentadas como média, desvio padrão e mediana. Resultados e Discussão Foram estudados 253 hipertensos que se encontravam cadastrados no programa HIPERDIA na ESF Morrinhos II, no período compreendido entre julho a setembro de 2013, principalmente em visitas domiciliares. Dos hipertensos pesquisados, a maior parte (71,1%) pertence ao sexo feminino, (50,2%), com idade igual ou superior a 66 anos; (71,1 %) declararam ser de cor parda ou negra; (43,5%) com estado civil casado e (32,4%) viúvos; (53,8%) relataram ser de outras cidades que não Montes Claros. Quanto à escolaridade, (47,8%) estudaram até o ensino fundamental e (39,2%) até o ensino médio. Em relação à profissão, (70%), a maioria, declarou-se como não economicamente ativa. A maior parte (81,4%) reside em casa própria, (85%) com a própria família e (77,9%) têm renda familiar de até dois salários mínimos. Tabela 2 - Distribuição dos hipertensos conforme as características clínicas. Montes Claros, 2013. Variáveis Classificação PA Ótima Normal Limítrofe Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Hipertensão Sistólica Isolada Pressão arterial Ótima e Limítrofe Alterado RCQ Adequado Não adequado IMC Peso adequado Sobrepeso e Obesidade n % 71 62 33 41 6 1 39 28.1 24,5 13 16,2 2,4 0,4 15,4 106 147 41,9 58,1 43 210 17 83 86 167 34 66 Fonte - Coleta de dados, 2013. Quando feita a aferição da pressão arterial, observou-se que (65,6%) dos hipertensos apresentam valores classificados como ótimo, normal ou limítrofe; (16,2%) no estágio 1; (2,4%) no estágio 2; (0,4 %) no estágio 3 e (15,4%) hipertensão sistólica isolada. Em relação à classificação da pressão arterial dicotomizada, a 88 maior parte dos hipertensos (65,6%) apresentam pressão arterial controlada, enquanto que (34,4%) deles apresentam pressão controlada. A maioria dos sujeitos (83%) apresenta valores de relação cintura quadril alterada. Quanto ao índice de massa corporal, a maior proporção (66%) apresenta pré-obesidade e obesidade. Área - Bem-Estar Tabela 5- Percepção da influência da HAS e de seu tratamento na QV: ‘Você diria que sua hipertensão e o tratamento da mesma têm afetado sua qualidade de vida?’ Resposta n % Não, absolutamente Sim, um pouco Sim, bastante Sim, muito 164 58 15 16 64,8 22,9 5,9 6,3 Fonte - Coleta de dados, 2013. Em relação à QV, para o instrumento MINICHAL, a média da pontuação no domínio mental (pontuação máxima = 27 pontos) foi de 4,6 e a mediana 4,0, com valores variando entre 0 a 10 pontos. Com relação a manifestações somáticas (pontuação máxima =21 pontos), a média da pontuação foi 3,5, com mediana de 3,3. A média global de QV (pontuação máxima = 48 pon- tos), considerando as duas dimensões, foi de 26,1, com valores da mediana de 24 pontos. A avaliação da última pergunta, ‘Você diria que sua hipertensão e o tratamento da mesma têm afetado sua qualidade de vida?’ indicou que 164 participantes (64,8%) consideram que a HAS e o tratamento da mesma não afetam a sua QV, enquanto 35,2% responderam afetar de alguma forma. Conclusões A melhor qualidade de vida nos indivíduos hipertensos pode estar associada à postura frente à doença e aos cuidados tomados para o controle da PA, mas isso não significou que a condição crônica afetou de alguma forma a QV. Este estudo demonstrou que a percepção da QV não está condicionada à doença. Nos domínios do instrumento MINICHAL, o estado mental obteve impacto maior na QV do que as manifestações somáticas. Isso pode demonstrar que a qualidade de vida decorre de ações que causam conforto e segurança tanto psíquicas como físicas. Referências BORGES, J. W. 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Brunner e Suddarth: Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. v. 1. 1133p. SOUTELLO, A. L. S. Qualidade de vida e hipertensão: avaliação ampliada do desempenho psicométrico da versão brasileira do “Mini-Cuestionario de Calidad de vida enlaHipertensión Arterial - Minichal”. Dissertação. Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, Campinas, SP, 2010. Disponível em: http://www.academicoo.com/minichal/. Acesso em: 20 out. 2012. 89 Área - Bem-Estar SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA ÁRE A DA SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA Olívia Abreu Versiani Lucas Mendes Nobre Manuela Pierotte Luz Gondim Ana Carine Gomes dos Santos Fernando Fernandes Gonçalves da Silva Theresa Cristina Abreu Versiani Molyana Kelly Pereira Dias [email protected] Introdução Burnout é uma síndrome que acomete profissionais e estudantes de diversas áreas e é causada pela exposição frequente ao estresse, trazendo desesperança, desilusão e cargas emocionais negativas na vida social, familiar ou profissional da pessoa. A Síndrome de Burnout (SB) é definida em três dimensões: exaustão emocional, explicitada pelo cansaço físico e carência de energia; despersonalização, representando a insensibilidade emocional; e baixa realização profissional, que se caracteriza pela autoavaliação negativa do profissional. Alguns estudos mostram que os profissionais da área da saúde precisam ter um maior controle emocional em relação ao trabalho, visto que compartilham com o enfermo e seus familiares os sentimentos angustiantes da morte, além de estarem sempre em contato com pacientes em estado terminal. Por esse motivo, aqueles que não atingem esse controle têm uma maior predisposição a apresentarem essa síndrome. Associado a isso, a qualidade de vida no trabalho é um fator de extrema importância, pois é capaz de aliviar as tensões geradas ali e garantir um clima mais agradável entre os colegas de profissão. O tratamento para tal síndrome é baseado no individual, levando em consideração as particularidades de cada enfermo, além do incentivo à prática de exercício físico com essa finalidade. A presente revisão tem por objetivo fazer uma abordagem teórica sobre o efeito positivo da qualidade de vida dos profissionais da área da saúde sobre a Síndrome de Burnout. Materiais e Métodos Trata-se de uma revisão de literatura, com pesquisa bibliográfica cujas publicações estão entre os anos de 2010 e 2014 nas bases de dados do Scielo e Lilacs, utilizando os descritores ‘‘Síndrome de Burnout”, ‘’Qua- lidade de Vida’’ e ‘’Profissionais da Área da Saúde’’, resultando em cinco artigos elegíveis para compor a revisão. Resultados e Discussão O estresse é considerado uma causa de inúmeros problemas que afetam o cotidiano humano. Quando relacionado ao ambiente de trabalho, é causa determinante do processo saúde-doença que acomete os trabalhadores. As preocupações com o estresse têm sido cada vez maiores com os profissionais da área da saúde, devido às cobranças e às responsabilidades com o próximo, como a falha e o óbito dos pacientes. Em Burnout, o termo “burn” significa queima e “out” significa exterior, indicando que a pessoa com essa síndrome se esgota e se consome física e emocionalmente, passando a apresentar um comportamento agressivo. A SB tem etiologias multifatoriais, e seu diagnóstico pode ser muitas vezes confundido com depressão e estresse. As três dimensões definidas no Burnout são exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. 91 A exaustão emocional é marcada pela ausência de entusiasmo, a qual pode agregar-se ao sentimento de frustração pelo sentimento da falta de disposição em realizar as mesmas tarefas que realizavam antes. A despersonalização caracteriza-se pela insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate os demais de maneira impiedosa. A baixa realização profissional é caracterizada pela avaliação de si mesmo ser negativa, tornando-se descontente com seu desenvolvimento profissional. O ápice do esgotamento é atingido quando, não suportando mais, os profissionais optam pelo abandono do trabalho. Mesmo que às vezes seja necessária, essa é uma decisão difícil, pois significa a desistência de um trabalho que um dia já foi fonte de orgulho, prestígio e identidade pessoal. Com relação ao ambiente de trabalho do médico em particular, estudos destacam alguns agentes estressores que elevariam a possibilidade da ocorrência da Síndrome de Burnout: demandas exacerbadas que diminuem a qualidade do atendimento, grandes jornadas de trabalho, numerosos plantões, baixa remuneração, necessidade de lidar com sofrimento e morte e exposição constante ao risco. Além disso, a maioria dos médicos é perfeccionista, aumentando a cobrança de si mesmos, somando com a pressão por parte da sociedade de um profissional infalível. O portador da SB mede a autoestima pela capacidade de realização e sucesso profissional; o que tem início com satisfação e prazer, termina quando esse desempenho não é reconhecido. A SB pode ser influenciada nos profissionais da área da saúde por variáveis como idade, carga horária, quantidade de pacientes, tempo de experiência profissional, satisfação e desistência da profissão. Estudos mostram que, quanto menor a idade, menor a carga horária dos sujeitos e, quanto maior o número de pessoas atendidas, maior é a exaustão emocional. Também se verifica que, quanto maior a frequência em considerar a possibilidade de desistir da profissão, maior é a exaustão emocional. Já à medida que aumenta o índice de satisfação com o trabalho, diminui o sentimento de desgaste emo- cional. Com relação à despersonalização, foi identificado distanciamento com relação aos pacientes. A realização profissional demonstrou elevar-se à medida que aumenta a carga horária e a satisfação com relação ao trabalho. Considera-se que a SB não é só um problema individual, mas principalmente dos lugares onde eles atuam. Desta maneira, a qualidade de vida no trabalho tem um efeito muito importante sobre esses profissionais. Qualidade de vida representa bem-estar e eficácia no ambiente de trabalho e garante um clima agradável entre os colegas de profissão. A atividade física é um dos principais fatores que podem influenciar na qualidade de vida no trabalho, prevenindo a saúde e as doenças oportunas do estresse, como a SB. Existem três tipos de classificação quanto à síndrome de Burnout. O Burnout frenético é aquele em que o indivíduo sacrifica a saúde e a vida pessoal pelo trabalho; geralmente associado a trabalho com mais de 40 horas semanais e menos que 35 anos. O Burnout subdesafiado é aquele em que o indivíduo se torna indiferente no trabalho, sem chance de ascensão no trabalho; geralmente associado ao trabalho no setor administrativo ou de serviços. E o Burnout desgastado, aquele em que o indivíduo tem pouco controle do seu sucesso ou seus esforços passam despercebidos; geralmente, o enfermo está na empresa há mais de quatro anos e não tem uma boa vida social. As estratégias para o tratamento da SB variam em intervenções focadas no indivíduo, baseadas em habilidades comportamentais e cognitivas e atividade física. Essas propostas de enfrentamento devem ser individuais e relacionadas com cada portador individualmente, levando em conta os fatores biopsicossociais. Por apresentar um alto grau de incidência e sérias consequências para o indivíduo e para a empresa, a Síndrome de Burnout tem sido bastante estudada, entretanto ainda necessita de mais pesquisas para que os profissionais de saúde estejam qualificados para o melhor tratamento. Conclusões Na análise bibliográfica, pode-se concluir que a Síndrome de Burnout é uma patologia nova, que é causada devido aos altos níveis de estresse no ambiente de trabalho. Os profissionais da área da saúde são os mais acometidos por essa síndrome, visto que estão continuamente expostos a problemas alheios e a cenas angustiantes e de sofrimento. Dentro dessa síndrome, existem três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização profissional. O estresse e a síndrome de Burnout vêm sendo considerados as principais problemáticas atuais no âmbito ocupacional. Pode-se inferir também que a qualidade de vida é um ótimo método para aliviar esse estresse gerado no serviço, pois, além de aproximar os colegas, torna o ambiente mais agradável. Área - Bem-Estar Referências CORNELIUS, A.; CARLOTTO, M. S. Síndrome de Burnout em profissionais de atendimento de urgência. Revista Psicologia em Foco. v. 1, n. 1, p. 15-27, 2014. FERNANDES, T. R. et al. Qualidade de vida no trabalho. Mostra de Iniciação Científica do CESUCA. 2317-5915, n. 7, 2013. LOURENÇÃO, L. G.; MOSCARDINI, A. C.; SOLER, Z. A. S. G. Saúde e qualidade de vida de médicos residentes. Rev. 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Rev. bras. educ. méd. v. 36, n. 4, p. 536-540, 2012. 93 Área - Esporte e Rendimento Humano ÁREA - ESPORTE E RENDIMENTO HUMANO AVALIAÇ ÃO DA FLE XIBILIDADE EM ESCOL ARES DE JANUÁRIA- MG Hendrick Mendes Vieira2 Chrysthian Jhosep Antônio Dias Ferreira2 Emerson Wellens Moreira Gomes2 Samuel Mendes Rodrigues2 Farley Oliveira Gomes2 Adelson Fernandes da Silva1 [email protected] Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes; Grupo Integrado de Pesquisa em Psicologia do Esporte, Exercício e Saúde, Saúde Ocupacional e Mídia – GIPESOM 2 Universidade Estadual de Montes Claros – Acadêmico/a 1 Introdução O termo flexibilidade, conhecido como mobilidade articular, compreende as propriedades morfofuncionais do aparato locomotor, que determinam a amplitude de distintos movimentos do educando (PLATONOV, 2003). Sua magnitude é de suma importância tanto para a promoção quanto parara a manutenção da saúde (GHEDIN et al., 2007). Esta, por sua vez, comporta-se de formas diferentes emcrianças, adolescentes e adultos e tende a diminuir com o aumento da idade (GRAHAME R,2001), A flexibilidade, especificamente, até a puberdade diminui e tende a aumentar posteriormente e na idade adulta tende diminuir (CONTE MET al., 2000). Difere ainda em função do sexo, sendo que as mulheres possuem maior flexibilidade se comparada com os homens (FELDMAN DET al., 2009). A flexibilidade é reconhecida como uns dos mais importantes componentes da aptidão física e alguns testes de flexibilidade estão inseridos nas principais baterias de avaliação da aptidão física. O método de avaliação da flexibilidade por meio do banco de Wells é comumente utilizado por professores de educação física nas escolas, buscando identificar características mecânicas e funcionais da flexibilidade (WELLS; DILLON, 1952). Sendo assim, torna-se importante a identificação dos índices em escolares, no sentido de melhor compreender os fatores intervenientes na flexibilidade, principalmente, durante o estirão de crescimento. Este presente estudotem como objetivo avaliar a flexibilidade de adolescentes de ambos os sexos. Materiais e Métodos Este estudo é caracterizado por uma pesquisa descritiva, e de caráter quantitativo segundo Thomas e Nelson (2007). A população foi composta de120 alunos matriculados nas escolas da rede públicade Januária-MG, sendo 60 meninas e 60 meninos, com idade entre 11 e 14 anos. A participação foi voluntária. Para mensurar o peso corporal foi utilizada uma balança portátil Dig. Bld-560 até 180Kg escala 100g. Para a mensuração da altura foi utilizada uma fita métrica da marca ADC, fita em fibra de vidro de 200 cm. Para a flexibilidade foi utilizado o Banco de Wells (WELLS; DILLON, 1952). O peso corporal foi medido com o sujeito em pé, de costas para o painel de resultados. A altura foi mensurada com fita métrica com o avaliado em pé, de costas para a fita fixada na parede e descalço a altura foi coletada depois da respiração máxima. O sujeito 95 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar vestia o mínimo de roupa possível e seus pés estavam descalços. O banco de Wells é utilizado para medir a flexibilidade da parte posterior do tronco e pernas. O indivíduo senta-se de frente para o banco, colocando os pés no apoio com os joelhos estendidos. Ergue os braços com as mãos sobrepostas, levando ambas para frente e empurrando o marcador para o mais distante possível na régua. Foi feita uma análise descritiva da amostragem da média e do desvio padrão dos participantes. Para elaboração das tabelas, foi utilizado o pacote do Windows Microsoft Excel 2007. Critérios de inclusão: • Ter idade entre 11 a 14 anos; • Estar matriculado na rede publica; Resultados e Discussão Tabela 1. Média e desvio-padrão (DP), de todas as variáveis estudadas, nos dois grupos. VARIÁVEIS MASCULINO FEMININO MÉDIA DP ± MÉDIA DP± IDADE 12,73 1,08 12,53 0,96 ALTURA 1,48 0,08 1,47 0,08 PESO 47,21 6,4 46,91 7 FLEXIBILIDADE 20,51 7 23,21 6 Os sujeitos foram classificados da seguinte forma 5% dos meninos e 3,33% das meninas foram classificados como fraco; 13,33% dos meninos e 6,66% das meninas foram classificados como regular; 30% dos meninos e 16,66%das meninas foram classificados como médio; 16,66% dos meninos e 6,66% das meninas foram classificados como bom; 35% dos meninos e 66,66% das meninas foram classificados como excelentes, conforme na tabela 2. Os índices de flexibilidade dos indivíduos do sexo feminino são melhores quando comparados ao masculino. Silva e Rodrigues dos Santos (2002), ao estudarem a influência de algumas medidas antropométricas no resultado do teste de «sentar e alcançar» em adolescentes de ambos os sexos, concluíram que existe independência do resultado em face de eventuais desproporções anatômicas. Os dados obtidos pela pesquisa vão de encontro com os autores citados abaixo, mostrando que as mulheres possuem melhor flexibilidade se comparadas aos homens. Kravitz L, Heyward VH (95) referiram que os dados disponíveis na literatura levam a concluir que fatores como o comprimento dos membros superiores e inferiores, a envergadura, o peso e a estatura não afetam significativamente a amplitude dos movimentos. Ainda que os elementos do sexo feminino sejam mais flexíveis do que os do sexo masculino em todas as idades, pela maior capacidade de estiramento e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos do sexo feminino. Segundo Achour (2006) para desenvolver a flexibilidade e conquistar ótimas amplitudes de movimento, 96 existem vários métodos. Para isso é preciso analisar vários aspectos que atendam aos objetivos do praticante, e não escolher somente o método mais rápido para desenvolver essa variável. Tendo como análise as condições de adaptação a um dos métodos, a facilidade em realizar o alongamento ea sua idade, só depois disso é que se faz a escolha do método e do programa de flexibilidade. Apesar de haver muitas informações sobre ser possível a perda dos níveis de flexibilidade com o decorrer da idade, Neves (2002) constatou que ocorre aumento significativo nos níveis de rendimento, da flexibilidade dos 12 aos 15 anos; para as meninas o aumento é dos 12 aos 15 anos, existindo uma curva crescente e nos meninos é dos 12 aos 16 anos no que se refere à amplitude de movimento na flexão do quadril. Segundo Marins (1998), o trabalho de flexibilidade está relacionado com o de força, pois, quanto mais fortalecido estiver um grupo muscular, mais alongado ele precisa estar após esse fortalecimento. Weineck (1991) considera que essas diferenças são provenientes de uma maior capacidade de estiramento e elasticidade da musculatura e dos tecidos conectivos no sexo feminino. Vários fatores, incluindo diferenças anatômicas e fisiológicas, podem ser responsáveis pela diferença na flexibilidade entre os sexos, dentre eles o formato da região pélvica das mulheres e também a curva superior do processo do olécrano do cotovelo, que é menor nas mulheres, possibilitando maior amplitude de extensão nessa articulação (ALTER, 1999). Área - Esporte e Rendimento Humano Tabela 2 –Classificação dos escolares na avaliação da Flexibilidade CLASSIFICAÇÃO DA FLEXIBILIDADE FRACO REGULAR MÉDIO BOM EXCELENTE MASCULINO% 5 13,33 30 16,66 35 FEMININO% 3,33 6,66 16,66 6,66 66,66 Conclusões Neste presente estudo, conclui-se que os resultados obtidos vão de encontro com o dito pela literatura, mostrando que as meninas se encontram com melhor flexibilidade na classificação de excelente. Verifica-se neste estudo que muitos adolescentes estão nazona de fraco e regular da flexibilidade, sendo que 5% dos meninos e 3,33% das meninas foram fracos; 13,33% dos meninos e das 6,66% meninas foram regular, o que mostra que estão abaixo da classificação normativa. Referências ACHOUR, J. R. A. Bases para Exercícios de Alongamento Relacionado com a Saúde e no Desempenho Atlético. 2. ed. Londrina: Phorte, 1999. ALTER, M. J. Ciência da Flexibilidade. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999. BARBANTI, V. Treinamento físico: bases científicas. 3 ed. 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Na infância, o desenvolvimento motor se caracteriza por ampla aquisição de habilidades motoras, que possibilita à criança ter um domínio do seu corpo em diferentes posturas, se locomover-se no ambiente de várias formas e também interagir com objetos de várias formas (SANTOS et al., 2004). A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, formas de movimento e primeiras combinações de movimento, que possibilitam à criança dominar seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas) e locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.). Segundo Gallahue et al., (2003), tais habilidades podem ser classificadas de acordo com sua intenção, nas quais todas as tarefas motoras envolvam o elemento equilíbrio. “Equilíbrio” é a habilidade de um indivíduo manter a postura de seu corpo inalterada, mesmo quando este é colocado em várias posições. O equilíbrio é básico para todo movimento e é influenciado por estímulos visuais, táteis, cinéticos e vestibulares. Para Rosa Neto (2002), o equilíbrio é a base primordial de toda ação diferenciada dos segmentos corporais. Quanto mais defeituoso é o movimento, mais energia consome; tal gasto energético poderia ser canalizado para outros trabalhos neuromusculares. A importância do presente estudo justifica-se pelo fato de que o equilíbrio está incluso nos fatores psicomotores do desenvolvimento da criança, sendo de fundamental relevância a avaliação do mesmo para identificação de possíveis atrasos no DM de cada criança. O objetivo do presente trabalho é analisar o equilíbrio dinâmico e estático das crianças entre quatro e cinco anos de idade da cidade de Januária (MG) diagnosticando possíveis atrasos no desenvolvimento por meio da aplicação da escala de Berg. Materiais e Métodos Esta pesquisa caracteriza-se como quantitativa descritiva e de corte transversal. A amostra foi composta por 50 crianças de ambos os sexos com idade entre 4 e 5 anos matriculadas na Pré Escola Municipal Dona Judith Jacques da cidade de Januária-MG. Os critérios de inclusão foram: estar matriculado na escola, apresentar frequência regular e estar presente no dia do teste. Os de exclusão foram: apresentar idade inferior ou superior 4 e 5 anos e não estar regularmente matriculado na escola. Foi utilizada a escala de Berg para avaliação do equilíbrio estático e dinâmico. A escala de Berg é constituída de 14 tarefas bem como: sentado para em pé, em pé sem apoio, sentado sem apoio, em pé para sentado; transferências; em pé com olhos fechados; em pé com os pés juntos; reclinar à frente com os braços estendidos; apanhar objeto do chão; 99 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar virando-se para olhar para trás; girando 360 graus; colocar os pés alternadamente sobre um banco; em pé com um pé em frente ao outro; e em pé apoiado em um dos pés. A pontuação de cada teste varia de 0 a 4 pontos, tendo um valor total de 56 pontos. De acordo com Shumway- Cook e Woollacott (2003), na amplitude de 56 a 54, cada ponto a menos é associado a um aumento de 3 a 4% abaixo no risco de quedas, de 54 a 46 a alteração de um ponto é associada a um aumento de 6 a 8% de chances, sendo que abaixo de 36 pontos o risco de quedas é quase de 100%. A coleta de dados foi realizada em uma das salas de aula da escola por 3 acadêmicas do curso de Educação Física da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), de modo que a primeira demonstrava a tarefa para a criança, a segunda avaliava a execução e a terceira anotava os respectivos dados. Resultados e Discussão Os resultados mostraram que 50% da amostra com quatro anos de idade totalizaram uma média de acertos no teste entre 43 a 52 pontos e 50% com cinco anos de idade totalizaram média de acertos entre 51 a 52 pontos. Pode-se observar que o desenvolvimento biomecânico em relação ao equilíbrio não apresentou índices muito inferiores ao padrão estabelecido por Berg em sua escala, pois houve uma variação de 43 a 55 pontos nas crianças avaliadas e Berg aponta como fator de risco um somatório abaixo de 36 pontos, o que não aconteceu com nenhum dos indivíduos testados. O item idade parece não ter sido o fator que influenciou no resultado do teste, pois apenas 20% da amos- tra que tinham quatro anos obtiveram pontuação abaixo de 50. A idade pré-escolar é uma fase de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras, primeiras formas e combinações do movimento que possibilitam à criança dominar seu corpo em diferentes posturas (estáticas e dinâmicas) e locomover-se pelo meio ambiente de variadas formas (andar, correr, saltar, etc.). Diante disso, vale ressaltar que de acordo com Bessa e Pereira (2002), o atraso no desenvolvimento do equilíbrio e da coordenação motora pode afetar toda a vida da criança e causar consequências irreversíveis na vida adulta. Gráfico 1- Desempenho dos pré-escolares no equilíbrio estático e dinâmico, utilizando a escala de Berg. 60 50 40 43 à 52 30 52 20 10 0 Feminino 4 100 Feminino 5 Masculino 4 Masculino 5 Área - Esporte e Rendimento Humano Conclusão De acordo com os resultados a aplicação da escala de Berg possibilitou avaliar o desenvolvimento do equilíbrio do grupo amostra, evidenciando resultados satisfatórios. É muito importante considerar o desenvolvimento do equilíbrio estático e dinâmico infantil, pois atrasos nesta área acarretam prejuízos que podem se estender até a fase adulta. Fica aberta a possibilidade de explorar futuramente, de maneira minuciosa, o assunto, enriquecendo o campo fisioterapêutico. Com a identificação precoce de distúrbios no desenvolvimento motor, realizada através de uma avaliação criteriosa nos primeiros anos de vida, é possível determinar uma intervenção adequada, a fim de que as crianças com diagnóstico de atraso possam seguir a mesma sequência que as crianças com desenvolvimento normal. Referências BESSA, M. F. S.; PEREIRA, J. S.. Equilíbrio e coordenação motora em pré-escolares: um estudo comparativo. Revista Brasileira de Ciência e Movimento. Brasília, v. 10, n. 4, p. 57-62, 2002. GALLAHUE, D. L. et al. Compreendendo o desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte Editora, 2003. SANTOS, S.; DANTAS, L. E. P. B. T.; OLIVEIRA, J. A. Desenvolvimento motor de crianças, de idosos e de pessoas com transtornos de coordenação. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, v. 18, p. 33-44, ago. 2004. SHUMWAY-COOK, A.; WOOLLACOTT, M. Controle motor: teoria e aplicações práticas. 2 ed. São Paulo: Manole; 2003. WILLRICH, A. et al. Desenvolvimento motor na infância: influência dos fatores de risco e programas de intervenção. Rev. Neurocienc. v. 17, n. 1, p. 51-56, 2008. 101 Área - Esporte e Rendimento Humano CULTUR A DE GÊNERO DAS MODALIDADES DE AC ADEMIA Amanda Alves da Silva Gislane Ferreira de Melo Universidade Católica de Brasília - UCB Introdução No início do século XX, os conceitos de masculinidade e feminilidade foram concebidos a partir de um plano unidimensional que difere homens de mulheres, ou seja, ser homem é não ser mulher e vice-versa (GIAVONI, 2000). Ainda segundo a autora, foi em 1974, que Sandra Bem (1974) propõe uma nova visão destes conceitos, concebendo-os como bidimensionais e, portanto, independentes entre si. Para Barberá (1998), esta nova concepção rompe com a relação entre “os componentes biológicos do sexo e os componentes psicológicos da identidade de gênero” (p.56-57), ou seja, os traços de masculinidade e feminilidade, enquanto manifestações de gênero, não ficam limitados ao fato de ser homem ou mulher. Por serem conceitos universais e estarem presentes nas mais diversas culturas, Giavoni (2000) afirma que todos os indivíduos possuem, em maior ou menor proporção, traços da masculinidade e da feminilidade em sua psique. Isso acontece ao nível do autoconceito, tornando-se traços de personalidade que geram um sentido de identidade nos indivíduos. Estas estruturas são concebidas como lentes que filtram as percepções influenciando na forma de pensar, sentir e agir (GIAVONI; TAMAYO, 2010). A influência que os construtos de masculinidade e feminilidade exercem sobre diferentes componentes psicológicos e sociais, permite inferir que os mesmos encontram-se diretamente relacionados com diversas dimensões, inclusive na área esportiva. Apesar de amplamente estudadas as diferenças fisiológicas entre atletas do sexo masculino e feminino, poucos são os estudos brasileiros que investigaram traços de personalidade de atletas e praticantes de atividade física, relacionando-os aos seus perfis psicológicos de gênero (LEITE, 2009; GOMESSOTERO; GIAVONI; MELO, 2011; LUZ, 2011; VASCONCELOS, 2011; CUSTÓDIO; GIAVONI; MELO, 2012). Em um estudo desenvolvido para avaliar a cultura de gênero de brincadeiras infantis, Marques, Silva e Melo (2012, no prelo) observaram que ama- relinha, casinha, pular corda, foram avaliadas como culturalmente femininas e que bolinha de gude, carrinho, aviãozinho foram concebidas por masculinas. Melo (2012, no prelo) avaliaram os esportes de rendimento e descrevem que esportes como surf, halterofilismo, boxe, karatê, arremesso de peso, arremesso de martelo, automobilismo, remo, skate, tiro, vela, futsal e futebol de campo, apesar de praticados por homens e mulheres, apresentam cultura de gênero masculina. Esportes como ginástica artística, ginástica rítmica, nado sincronizado, patinação, são percebidos como culturalmente femininos e, voleibol, marcha atlética, natação, handebol, basquetebol, judô, karatê, windsurfe, atletismo (corridas), são tidos como neutros, não carregando nenhuma característica predominante. De acordo com Koivula (2001), essa divisão entre atividades tipicamente masculinas ou femininas é fruto de uma construção histórica, baseada em representações culturais e em relações sociais estabelecidas entre os gêneros. A partir desta caracterização cultural dos esportes, pode-se perceber que indivíduos do sexo feminino que se interessam por atividades culturalmente masculinas tendem a ser estereotipadas pela população em geral, já que seu sexo não condiz com a cultura daquele esporte (GIAVONI, 2000; KOIVULA, 2001; MELO; GIAVONI; TROCCOLI, 2004; TSUKAMOTO; KNIJNIK, 2008). Assim, percebe-se que mulheres que praticam futsal, futebol ou halterofilismo são estereotipadas como masculinas trazendo para si imagens geralmente ligadas a este perfil. Da mesma forma, homens que praticam esporte com cultura de gênero feminino são estereotipados como sendo delicados, sensíveis, frágeis, características estas culturalmente femininas (MELO; GIAVONI; TROCCOLI, 2004). Assim sendo, este estudo tem como objetivo investigar qual a cultura de gênero das modalidades de academia com o intuito de, no futuro, indicar modalidades mais adequadas ao perfil psicológico de gênero de cada participante. 103 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e métodos a) Amostra Participaram da amostra 201 estudantes dos cursos de Licenciatura (44,8%), Bacharelado (15,4%) de Educação Física e 38,3% estavam cursando os dois conjuntamente. Estes possuíam média de idade de 23,78 ± 5,39 anos, sendo 64,2% do sexo masculino. A maioria (52,8%) encontravam-se entre o quarto e o quinto períodos. Para participar da amostra deste deveriam estar regularmente matriculados no segundo semestre de 2012, ter idade igual ou superior a dezoito anos e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. b) Instrumento Foi construído um instrumento com quarenta nomes em ordem alfabética das modalidades de academia para avaliar a cultura de gênero de cada uma. Para tanto, utilizou-se uma escala de Likert de cinco pontos (Muito Feminina, Feminina, Neutra, Masculina e Muito masculina). c) Procedimento Inicialmente foi explicado aos alunos o objetivo da pesquisa. Aqueles que concordaram assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Apósa assinatura do termo, o instrumento foi distribuído em sala de aula, onde foi solicitado que não houvesse conversa durante o preenchimento do mesmo. As instruções verbais dadas pelas aplicadoras aos respondentes informavam que se tratava de um estudo sobre a Cultura de Gênero das modalidades de academia, para isso seria necessário marcar um X na resposta correspondente à cultura de gênero de cada modalidade e não em relação a quem (homens ou mulheres) poderia praticar a modalidade. O instrumento foi aplicado pelas próprias pesquisadoras, com duração média de 10 minutos. d) Análises Estatísticas Para a análise dos dados foram utilizadas medidas descritivas como médias, desvios-padrão e frequência. Todos os testes foram realizados por meio do software SPSS versão 19.0 for Windows (com licença da Universidade). Resultados e discussão A partir das análises das frequências, pôde-se observar que das quarenta modalidades investigadas, treze foram definidas como predominantemente femini- nas (Tabela 1), cinco como masculinas (Tabela 2) e vinte e duas como neutras (Tabela 3). Tabela 1. Modalidades de academia culturalmente femininas. Modalidades % Dança do Ventre GinásticaRítmica Ballet Clássico GinásticaLocalizada Aero Dance Pilates Yoga GinásticaArtística Step Ritmos Aero Jump/Jump Axé- Bahia Jazz 96,5 92,0 88,1 78,6 78,1 64,7 63,7 64,2 64,2 58,7 60,2 52,7 51,2 Pode-se observar que as atividades avaliadas como culturalmente femininas, são aquelas relacionadas aos gestos e movimentos da dança e apresentam variáveis de feminilidade, como, coordenação, agilidade, suavidade, flexibilidade e sensualidade. Estes resultados condizem com resultados encontrados no estudo de Melo (2012, no prelo), no qual a autora avalia a cultura de gênero de es104 portes de rendimento e observaram que esportes como Ginástica Artística, Saltos Ornamentais, Marcha atlética, são avaliados como femininos por envolver característica de gênero relacionada à feminilidade. Estas características são percebidas desde os anos 70 e 80 quando, em sua maioria, as academias estavam relacionadas a danças e ginásticas, com o maior pú- Área - Esporte e Rendimento Humano blico de mulheres. Os locais de treinamento de força eram conhecidos como “Institutos de Modelação Física”, “Centros de Fisiculturismo”, “Clubes de Calistenia” com a participação do público masculino que visava trabalhar o aumento da massa magra (FURTADO, 2009). Assim, eram divididas atividades específicas para mulheres e outras para homens o que desencadeou a aplicação da cultura de cada modalidade. A tabela 2 traz os dados das modalidades tidas como masculinas. Tabela 2. Modalidades de academia culturalmente masculinas Modalidades % Boxe Jiu-Jitsu MMA MuayThai Judô 70,1 74,6 83,1 68,7 52,7 Apesar do número pequeno de modalidades avaliadas como culturalmente masculinas, observa-se que estas modalidades apresentam-se relacionadas com variáveis como força, potência, agressividade e contato físico, o que caracteriza o ser masculino. Segundo Ferretti e Knijnik (2007), as lutas ainda são identificadas como um esporte violento, capaz de aumentar a virilidade, assim como desprezar a dor, tornando seu praticante mais capaz e masculino. Ainda, segundo os mesmos autores, as mulheres que praticam lutas se sentem discriminadas tanto pelo público como pela mídia. Giavoni (2002) e Melo, Giavoni e Troccoli (2004) corroboram este pensamento quando descrevem que esportes com predomínio de características instrumentais (força, agressividade, violência) quando praticados por mulheres, desencadeiam a aplicação de estereótipos sexuais. Isto porque as características do desporto versus o sexo do praticante contrariam a desejabilidade social, a qual se coaduna com as construções sociais de masculinidade e feminilidade (p. 28). A seguir são apresentadas as modalidades avaliadas como neutras (Tabela 3). Tabela 3. Modalidades de academia culturalmente neutras Modalidades % Natação TreinamentoFuncional AcquaTreino CondicionamentoFísico ABS – Abdominais Running-Class Rubber Ball Circuito Musculação Ciclismo Indoor Flex-Ball Alongamento Dança de Salão Hip-Hop Tae-Fight Kangoo Jump Hidroginástica Taekwondo Capoeira Aero-boxe Ginástica Natural Karatê 92.5 88.6 86.1 85.6 85.1 82.6 82.1 81.6 80.1 79.1 78.6 75.6 72.1 61,7 66.7 65.2 63.7 62.7 61.2 53.7 51,2 51,2 105 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Pelos resultados encontrados, infere-se que a maioria das atividades de academia são atualmente percebidas como não apresentando uma característica específica de gênero. Modalidades como a natação, a hidroginástica, o ciclismo indoor, a ginástica natural, a dança de salão, axé-bahia, o circuito já foram atividades concebidas como neutras, não tendenciando para nenhum público específico, já que não apresentavam características específicas da masculinidade ou da feminilidade. Porém, esperava-se que modalidades como flex-ball e alongamento fossem avaliadas como femininas, já que apresentam características da feminilidade. E ainda, modalidades como aero-boxe, tae-fight, eram esperadas como masculinas, o que não aconteceu também. Possivelmente isto se dê pelo fato de que estas modalidades de luta estejam sendo utilizadas como meio de defesa pessoal, para o aumento do condicionamento físico, diminuição do estresse, de modo que, dentro das academias, não são realizadas como forma de competição ou mesmo de contato físico. Para os profissionais de educação física, este resultado é importante, já que estas atividades, em nenhum momento, acarretaram o estereótipo de gênero aos seus praticantes. Considerações finais Assim, pôde-se concluir que as modalidades de academia, em sua maioria, caracterizam-se por neutras, porém há aquelas que são julgadas como femininas e masculinas, seguindo o mesmo padrão de percepção das modalidades esportivas e das brincadeiras infantis. Talvez, as alterações atuais nos conceitos da cultura de gênero das atividades físicas e desportivas, estejam sendo mais influenciadas pelos traços de personalidade dos indivíduos ao fazerem a sua escolha, do que pela cultura de gênero desta. Ou seja, algumas atividades começaram a se descaracterizar do que é ser masculina e feminina, já que homens e mulheres participam daquelas condizentes com seus esquemas de gênero, mesmo que isso venha acarretar um estereótipo, principalmente por indivíduos não associados ao meio da atividade físico e do desporto. Outro fator que pode ter interferido no julgamento mais neutro das modalidades é a aproximação do público investigado com estas modalidades, pois sabe-se que, quanto maior a distância do grupo (modalidade) praticado, maior o estereótipo aplicada àquele. Será que se a amostra for de pessoas não ligadas a esportes e atividades físicas, essa avaliação seria diferente? Sugere-se que outra investigação seja realizada com um público sem contato com atividade de academias e esportes. Cabe ressaltar que os profissionais de Educação Física necessitam levar em conta o perfil psicológico de gênero de seus alunos, já que este indivíduo tenderá a buscar atividades coerentes com seus esquemas de gênero, ou seja, indivíduos esquemáticos masculinos tenderão a buscar atividades condizentes com seus esquemas, aderindo a esta. O mesmo acontecerá com indivíduos esquemáticos femininos, os quais vão aderir melhor a atividades condizentes com seus esquemas. Isso porque os traços (masculinos e femininos) das modalidades praticadas tendem a desencadear estereótipos, consequentemente provocando desistência da modalidade em questão. Isso pode ser real, uma vez que quase sempre a escolha das modalidades de academia é sugerida pela recepcionista, a qual orienta o aluno a se matricular na modalidade que está na moda ou naquela condizente com a sua percepção. Esta nem sempre é a mesma do futuro aluno, o que o levará a não aderência à atividade física. Deve-se então levar sempre em consideração os traços de personalidade do futuro aluno e conhecer a cultura de gênero de cada modalidade indicada. Referências BARBERÁ, E. Psicología del Género. Barcelona: Editorial Ariel, 1998. BEM, S.L. The meansurement of psychological androgyny. Journal of Consulting and Clinical Psychology. v. 42, p. 155-162, 1974. FERRETTI, M. A. C; KNIJNIK, J. D. Mulheres podem praticar lutas? Um estudo sobre as representações sociais de lutadoras universitárias. Revista Movimento. Porto Alegre, v. 13, n. 1, 2007. FURTADO, R. P. Do fitness ao wellnes: Os três estágios de desenvolvimento das academias de ginástica. Pensar a prática. v. 12, n. 1, p. 1-11, 2009. GIAVONI, A. A interação entre os esquemas masculino e feminino do autoconceito: modelo interativo. Tese. Dou106 Área - Esporte e Rendimento Humano torado. Psicologia. Universidade de Brasília. Brasília - DF, 2000. GIAVONI, A. Estereótipos sexuais aplicados a nadadoras. 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Brasília, DF: Universidade Católica de Brasília, 2011. 107 Área - Esporte e Rendimento Humano COMPAR AÇ ÃO DO DESEMPENHO OBTIDO NO DROP JUMP E NO SALTO SOBRE BARREIR A Ronaldo Rodrigues Borges Marcelino Silva Duarte Ytalo Mota Soares Bruno Pena Couto Leszek Antoni Szmuchrowski [email protected] Introdução O treinamento pliométrico (TP) é um dos métodos mais utilizados para o desenvolvimento das capacidades físicas que requerem ações de alta velocidade e curta duração, como a força explosiva e a velocidade (THOMAS; FRENCH; HAYES, 2009; MARKOVIC; MIKULIC, 2010). Um exercício muito utilizado no TP é a transposição de barreiras, similares àquelas utilizadas nas provas de atletismo (SANTOS; JANEIRA, 2008; POTACH; CHU, 2008). Apesar de ser um tipo de exercício muito utilizado, são escassas as recomendações que possam avaliar o desempenho específico nesse tipo de atividade. Por sua vez, o Drop Jump (DJ) é um teste desenvolvido para avaliar o desempenho nos saltos em profundidade, mas também é largamente utilizado como meio de treinamento. Em ambas as situações, a altura de 40 cm vem sendo bastante utilizada (KELLIS et al., 1999; SANTOS; JANEIRA, 2011; CHEN et al., 2013). O objetivo do presente estudo é comparar o desempenho obtido no DJ, com o desempenho obtido no salto sobre barreira. Palavras-Chave: Força muscular; salto; desempenho. Materiais e Métodos Sujeitos Participaram 20 sujeitos, homens, adultos e universitários, com idade de 22.5 ±3.0 anos; estatura 178 ±10 cm e massa corporal de 72.3 ±9.3 quilogramas. Foram estabelecidos os seguintes critérios de inclusão: ser considerado sadio com base no questionário PAR-Q, não apresentar ocorrência ou antecedentes de lesão articular em membros inferiores e ter experiência sistemática em pliometria (mínimo de seis semanas), com experiência em saltos verticais. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Federal da Paraíba, protocolo CEP 812/10. Instrumentos e Variáveis • Antropômetro CESCORF® (estadiômetro vertical) para mensurar a estatura dos voluntários, com precisão de 0,05 cm; • Balança digital FILIZOLA® MF Standard para mensurar a massa corporal, com precisão de 0,02 kg; • Plataforma de força - PLA3-1D-7KN/JBA Zb, Sta- niak®, (Polônia) para mensurar os saltos (altura de voo e tempo de contato com o solo); a plataforma é composta por duas superfícies de 40cmx40cm que possuem células de força compostas por sensores strain gauge, sensíveis à pressão, conectadas a um conversor analógico-digital e um amplificador de sinal; • Amplificador - WTM 005-2T/2P JD Jaroslaw®, (Polônia): fornecer ao software (MVJ versão 3.4 - Zb.Staniak® – Polônia) para valores de força e tempo; • Steps de madeira (dois de 20 cm, permitindo uma altura total de 40cm) para realização do Drop Jump; • Barreira de PVC (uma barreira de 40 cm) para o salto sobre barreira. Delineamento Experimental Este estudo foi executado em cinco dias não consecutivos (ver figura 1). 109 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Figura 1- Representação esquemática do delineamento experimental. Procedimentos Inicialmente, os voluntários compareceram ao Laboratório de Avaliação da Carga (LAC/UFMG), onde foram explicados os procedimentos da pesquisa. Após a explicação, assinaram o TCLE e preencheram o questionário PAR-Q. No mesmo dia, para caracterização antropométrica da amostra, a estatura e a massa corporal foram mensuradas. No segundo e terceiro dias, sessões de familiarização com duas técnicas de saltos verticais foram realizadas, de forma aleatória, em ambos os dias, sendo precedidas de aquecimento padrão para cada situação. No quarto e quinto dias (de forma aleatória), ocorreu a aferição do desempenho obtido no DP e no SB, sempre precedida do aquecimento padrão correspondente. Aquecimento: Os voluntários realizaram 6 DJ ou 6 SB, sobre a plataforma de força, para cada uma das seguintes alturas: 20, 40 e 60 centímetros (steps ou barreiras). Um intervalo de 30 segundos entre cada salto foi respeitado. Familiarização: Iniciava-se logo após o aquecimento e consistia na execução aleatória das duas técnicas de saltos verticais (DJ ou SB), sendo que a metade da amostra iniciou com o DJ e a outra com o SB. Os voluntários realizaram, aproximadamente, 16 saltos Drop Jump (DJ): Foram realizados três saltos com o maior valor registrado. O salto que ultrapassou o tempo de contato de 250 milissegundos foi descartado. Inicialmente, o indivíduo posicionava-se sobre o step, na extremidade mais próxima da plataforma de força. O voluntário ficava em posição ortostática, com as mãos fixas próximas ao quadril, na região supra-ilíaca. O pé direito do voluntário ficou suspenso e projetado à frente, a partir de uma pequena flexão de quadril. O pé esquerdo era mantido em contato com a borda do step e na posição anatômica. No entanto, apenas a metade posterior da planta do pé mantinha contato com o step. A metade anterior do pé esquerdo ficou suspensa, em direção à plataforma de força. Os voluntários não podiam realizar um salto vertical para sair do caixote. Como o pé direito já se encontrava em suspensão e apenas a metade posterior do pé esquerdo era mantida em contato com o step, o voluntário realizava uma flexão plantar com o pé esquerdo para permitir que o mesmo deslizasse sobre o caixote, permitindo que o voluntário caísse em direção à plataforma de força. 110 Depois de perder o contato com o step, o indivíduo se encontrava em fase de queda, durante a qual mantinha os pés paralelos, com um afastamento semelhante ao dos quadris, assim como os joelhos, os quais permaneceriam estendidos. O contato com a plataforma de força era iniciado com o terço anterior dos pés. Durante o primeiro contato com a plataforma, o voluntário realizou um contra-movimento, ou seja, uma ação excêntrica seguida por uma concêntrica. Para tal, foi realizada uma flexão de quadris e joelhos até a angulação em que o voluntário julgasse mais eficiente e, logo após, ocorria a extensão de quadris e joelhos. Assim, o voluntário encontrar-se-ia na fase de voo. Como na fase de queda, os joelhos e os quadris permaneciam em extensão até o novo contato com a plataforma de força. O contato com a plataforma era realizado novamente com o terço anterior dos pés e, após esse contato, os quadris e os joelhos eram flexionados com o intuito de amortecer o impacto. O tronco era mantido ereto, na vertical e sem um adiantamento excessivo durante todo o DJ. Os voluntários foram orientados a, após a fase de queda, manter o menor tempo de contato possível com a plataforma de força e atingir o maior desempenho, ou seja, a maior altura de voo possível. Salto sobre Barreira (SB) O voluntário posicionava-se à frente da barreira, em posição ortostática, com as mãos fixas próximas ao quadril, na região supra-ilíaca. Os pés ficavam paralelos e com um afastamento semelhante ao afastamento dos quadris. O salto era iniciado com um contra-movimento, ou seja, uma ação excêntrica seguida por uma concêntrica. Para tal, ele deveria realizar uma flexão de quadris e joelhos até a angulação em que julgasse mais eficiente e, em seguida, realizaria a extensão de quadris e joelhos. Assim, o voluntário encontrar-se-ia na fase de voo. Após superar a barreira, o voluntário começava a fase de queda, até o primeiro contato com a plataforma. O contato com a plataforma de força deveria se iniciar com a ponta dos pés e, durante esse primeiro contato, o voluntário realizava um contra-movimento. Para tal, ele fazia uma flexão de quadris e joelhos até a angulação em que julgasse mais eficiente e, em seguida, ocorria a extensão de quadris e joelhos. Assim, o indivíduo encontrava-se na segunda fase de voo, em que Área - Esporte e Rendimento Humano os joelhos e os quadris permaneciam em extensão até o novo contato com a plataforma de força. Este contato ocorria novamente com a ponta dos pés e, logo após, os quadris e os joelhos seriam flexionados com o intuito de amortecer o impacto. O tronco era mantido ereto, na vertical e sem um adiantamento excessivo durante todo o protocolo. Os voluntários foram orientados a manter o me- Figura 2.1 – Salto sobre barreira Análise Estatística A normalidade dos dados foi verificada por meio do teste Kolmogorov-Smirnov, com nível de significância p<0,05. O Teste Z com Intervalo de Confiança de nor tempo de contato possível com a plataforma de força, para que atingissem o maior desempenho (altura de voo possível) após a primeira fase de queda. Igualmente ao DJ, os saltos que atingissem até 250 milissegundos de tempo de contato (obtidos após a transposição da barreira) foram considerados válidos, e o melhor desempenho (entre as três tentativas) na altura do voo foi registrado. Figura 2.2 - Drop Jump 95% foi utilizado para verificar o nível de estabilização do desempenho em cada técnica, nas sessões de familiarização. Para a análise estatística dos dados, foi utilizado software SPSS for Windows versão 17. Resultados e Discussão Com relação à comparação do desempenho obtido nas diferentes modalidades de salto, foi encontrada diferença significativa (p= 0,005); quando comparados os tempos de contato, não foram constatadas diferenças com significado estatístico (p= 0, 552). Tabela 1 – Valores de desempenho dos protocolos e tempo de contato Variável Desempenho DJ (cm) Desempenho SB (cm) Tempo de Contato DJ (ms) Tempo de Contato SB (ms) Os valores encontrados na comparação entre os desempenhos evidenciam uma resposta diferenciada do organismo para diferentes estímulos e indicam a importância de investigar o exercício de transposição sobre barreiras de forma específica. O deslocamento diferenciado do centro de massa nesses exercícios pode ter influenciado a diferença encontrada. A altura de queda do centro de massa é diferente, pois, no DJ, o indivíduo iniciou o movimento com o joelho estendido Valores 31,76 ±5,92 35,28 ± 3,51 0,172 ±0,281 0,168 ±0,033 Valor de p 0,005 0,552 e na fase aérea até aterrissar manteve o joelho em extensão, o que não acontece no SB, em que, geralmente, há uma flexão dos joelhos no ato de transpor a barreira. Vale destacar que, mesmo com tempo de contato semelhante, o desempenho foi diferente, o que leva a inferir que outras variáveis podem ter influenciado no resultado, a exemplo do melhor aproveitamento da energia potencial elástica na execução do SB. Conclusão Conforme o objetivo proposto foi possível perceber, no grupo estudado, uma vantagem no desem- penho para o SB na altura de obstáculo estudada. O tempo de contato permaneceu inalterado nas duas si111 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar tuações, ou seja, não se pode atribuir, ao mesmo, um elemento diferenciador no resultado proposto. Indicam-se estudos que possam esclarecer a caracterização do SB, tendo em vista sua vasta utiliza- ção na prática do treinamento esportivo, favorecendo o monitoramento e a regulação do treinamento pliométrico. Referências CHEN, Z. R.; WANG, Y. H.; PENG, H. T.; YU, C. F.; WANG, M. H. 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Este é um processo progressivo e inevitável, caracterizado pela diminuição das funções fisiológicas e de todas as capacidades físicas (MORAES et al., 2012; SILVA, 2005; MURRAY,1997). Uma das formas de intervenção que tem demonstrado grande eficiência na manutenção e aumento da massa muscular e, consequentemente, na melhoria da aptidão física e independência de idosos, é a prática de Treinamento Resistido (TR), também chamado de treinamento com pesos. Sua prática sistemática em idosos pode promover aumento da força, da massa muscular e da flexibilidade (ACSM, 2002; CASTRO et al., 2003). Com o avanço dos benefí- cios do TR, foram surgindo algumas variações para tentar atender à demanda de determinados grupos e especificidades. Uma atividade oriunda do TR que vem atendendo a essa demanda, chamado de Treinamento Funcional (TF), além de estimular agilidade, coordenação motora, força muscular e flexibilidade, possibilita, ainda, a aplicação de padrões de movimentos mais elaborados, quando comparado com o treinamento TR convencional (TEXEIRA, 2008; D’ELIA et al., 2005), além de atender às necessidades da vida diária. O objetivo desta pesquisa foi verificar os benefícios na hemodinâmica e na qualidade de vida do treinamento resistido combinado com treinamento funcional, principalmente relacionada a atividades da vida diária de idosos. Materiais e Métodos A amostra foi composta de dois grupos, divididos por meio de sorteio aleatório: Grupo Treinamento Resistido (GTR) (n=7) e Grupo Treinamento Resistido Funcional (GTRF) (n=7). Ambos realizavam atividade duas vezes na semana, com aulas de 60 minutos. Foi aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36 e uma ficha de anamnese, a fim de verificar o efeito do treinamento resistido combinado com treinamento resistido funcional. Todos os procedimentos éticos que envolvem pesquisa com seres humanos foram adotados, e as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Trata-se de estudo experimental realizado no Laboratório de Estudos de Forças (LABEF) da Universidade Católica de Brasília, submetido ao comitê de ética CEP- UCB (Protocolo nª 1056/ CEP/UCB). Os critérios de exclusão adotados foram: falta de capacidade para responder à ficha avaliativa e ao questionário de qualidade de vida e frequência inferior a 85% no programa, além de alguma restrição osteomuscular. Resultados e Discussão O O presente estudo centrou-se em identificar os efeitos de treinamento resistido combinado ao treinamento funcional na qualidade de vida dos idosos com relação à melhora da qualidade de vida dos idosos submetidos ao treinamento resistido e ao treinamento resistido funcional por 6 semanas. Os resultados mostram que houve uma pequena melhora das categorias: Saúde Geral de Saúde, Vitalidade, Saúde Mental no GTR, e no GTRF uma melhora no Estado Geral de Saúde no pós-intervenção do treinamento. E, quando comparado um grupo com outro, não houve diferença significativa intragrupos. Tais resultados podem ser pelo pouco tempo de intervenção do treinamento com estes idosos, e também a quantidade de dias (apenas 2 vezes na semana) de prática do treinamento resistido e treinamento resistido funcional. 113 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar A amostra da pesquisa foi dividida em dois grupos: GTR (n=7), mulheres (85,71%) e homens (14,28%) com idade média 69,14 ± 4,4; e GTRF (n=7), mulheres (85,71%) e homens (14,28%) com idade média 68,14 ± 7,33. Não houve diferença significativa intergrupos; porém, existiu uma diferença significativa comparando o pré e pós-intervenção do treino em relação a algumas categorias do questionário de qualidade de vida SF-36. Outra hipótese levantada durante a coleta de dados do presente estudo, é que através de uma entrevista informal realizada durante os treinamentos dos grupos. O GTRF era questionado quanto à melhora de propriocepção, equilíbrio, melhora da funcionalidade no cotidiano, e todos relataram melhora deste quesito em relação a suas AVD’s. Já o GTR foi questionado quanto à melhora da qualidade de vida, e todos foram favoráveis. Portanto, faz-se importante a elaboração de questionário padrão para avaliação e aplicação de outros testes para avaliar equilíbrio, flexibilização, quesitos psicológicos, postura, autonomia funcional, entre outros. Durante a aplicação do treinamento resistido e do treinamento resistido funcional, foi utilizada a escala BORG e escala de OMNI-RES para avaliar a intensidade do treinamento. No GTR, os resultados apresentados foram: Muito fácil 14,28%; Moderado 57,14 e pouco difícil 28,57. Já no GTRF, 71,43% avaliaram a intensidade como Moderada e 28,57% Pouco Difícil. Corroborando o estudo que avaliou a existência de diferenças na aptidão cardiorrespiratória entre idosas praticantes e não praticantes das atividades físicas oferecidas pelo Centro de Convivência dos Idosos, por meio da aplicação do teste de caminhada de 6 minutos, utilizou como instrumento de avaliação, além dos sinais vitais a escala de BORG, a conclusão do estudo foi que atividade física oferecida no centro de convivência dos idosos pode ter melhorado ou ajudado a manter a resistência cardiorrespiratória das idosas investigadas (NASCIMENTO, et al., 2011). Devido à praticidade da aplicação de fácil entendimento, essas escalas se tornam tão usuais e são de fundamental importância para uma padronização da intensidade a ser aplicada no treinamento resistido e treinamento resistido funcional. Com relação aos sinais vitais pré e pós-treinamento, houve uma diminuição da PAS e PAD e FC no GTR e aumento da SpO pós exercício. No GTRF houve um aumento da PAS e PAD, FC e SpO. A literatura ainda é escassa em relação ao comportamento da PA após uma sessão de treinamento resistido e resistido funcional. O estudo de Mutti et al. 2010 demonstrou reduções da PAS e PAD após uma sessão de treinamento resistido por idosos treinado. Estes achados demonstram que existe uma resposta hipotensiva ao treinamento resisto por pelo menos 60 minutos em idosos treinados.. Conclusões Os resultados do presente estudo evidenciam que os idosos do CCI da Universidade Católica de Brasília são todos ativos, não fumantes, parte da amostra possui HAS, e, devido ao tempo curto de coleta dos dados, os resultados em relação à questão de qualidade de vida não apresentaram tanta significância. O treinamento funcional não obteve diferença significativa na qualidade de vida dos idosos em relação ao treinamento resistido, mas, de modo informal, foi possível observar uma melhora das questões psicos- sociais, equilíbrio, propriocepção, estabilização postural, coordenação motora no grupo em que foi aplicado o treinamento resistido funcional, em relação ao grupo que apenas realizou o treinamento resistido. Vale ressaltar que a melhora no grupo do treinamento resistido foi significativa. Com relação à PA, foi observada a presença da hipotensão pós-exercício, mas há a necessidade de haver um monitoramento no mínimo por 60 minutos, para observar a duração deste efeito em idosos. Referências AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE POSITION STAND. Exercise and physic activity for older adults. Med Sci Sports Exerc, v. 30, n. 6, p. 992-1008, 2002. CASTRO, J. F.; MACHALA, C. C.; DIAS, R. C. et.al. 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As estatísticas indicam o aumento de sua frequência tanto nos países desenvolvidos quanto nos emergentes (DANAEI; VANDER HOORN; LOPEZ; MURRAY; EZZATI, 2005). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2008), nas décadas de 60 e 70 registrou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência ajustadas por idade nos Registros de Câncer de Base Populacional de diversos continentes. No Brasil, a incidência de casos de câncer de mama em 2010 foi de 49.240 mil, com um risco estimado de 49 casos a cada 100 mil mulheres (INCA, 2012). As altas taxas de mortalidade se devem a um conjunto de fatores, entre eles a realização de diagnósticos tardios da lesão maligna primária, problemas de comportamento do indivíduo com câncer, além de questões relacionadas com dificuldades de acesso ao serviço de saúde e à qualidade do tratamento multiprofissional na área (DANAEI et al., 2005). Um importante fator prognóstico do câncer de mama é o diagnóstico precoce, uma vez que apresenta altos índices de cura quando o tumor é detectado em estágio inicial (DA ROSA; RADÜNZ, 2012). A cirurgia, conhecida como mastectomia – redução completa da mama - somada à quimioterapia e radioterapia, pode determinar complicações físicas imediatas ou tardiamente à cirurgia, tais como limitação e diminuição de movimentos de ombro e braço, linfedema e variados graus de fibrose da articulação escápulo-umeral (PRADO; MAMEDE; ALMEIDA; CLAPIS, 2004). A prática de exercícios físicos relacionados com a reabilitação pós-mastectomia, bem como a orientação destes, são intervenções importantes na assistência pós-operatória à mulher, pois têm como finalidade prevenir ou minimizar o linfedema ou a perda de mobilidade da articulação do ombro (PRADO et al., 2004). Um programa de atividade física regular pode influenciar na melhora da capacidade cardiovascular, na diminuição da gordura corporal, no aumento da resistência muscular, da força e da flexibilidade (PEDROSO; ARAÚJO; STEVANATO, 2005). Todos esses fatores associados diminuem as alterações deletérias causadas no metabolismo, melhorando a saúde e qualidade de vida dos pacientes, e criam uma melhor expectativa no combate à doença (BATTAGLINI; BOTTARO; CAMPBELL; NOVAES; SIMÃO, 2004). Uma vez que a aptidão física expressa a capacidade funcional direcionada à realização de esforços físicos associados às atividades de vida diária e níveis satisfatórios estão associados com um baixo risco do desenvolvimento prematuro de doenças hipocinéticas, é importante estudar e verificar os níveis de componentes da aptidão física relacionada à saúde em pacientes diagnosticadas com câncer de mama que participam de um programa de exercício físico regular (CARDOSO; FERREIRA, 2010). Diante do exposto, este estudo tem como objetivo verificar o nível de flexibilidade, força abdominal e percentual de gordura corporal (%G) de mulheres acometidas por câncer de mama participantes do Projeto de Extensão Vida Presente (PEVIP) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). 117 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos A presente pesquisa caracteriza-se como exploratória, de corte transversal e abordagem quantitativa, sendo a amostra composta por 42 mulheres (55,11 ± 8,51 anos) diagnosticadas com câncer de mama, participantes do PEVIP da UNIMONTES. Foram incluídas na amostra mulheres voluntárias, autorizadas pelo médico oncologista responsável, sem limitação física que pudesse prejudicar a realização dos testes, e com participação efetiva acima de seis meses nas atividades propostas pelo PEVIP. Os protocolos de intervenção no estudo foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes sob RESOLUÇÃO Nº 009 - CEPEX/2010 e Parecer Nº 136/2009 da Câmara de Pesquisa, e acompanham normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos, sendo o anonimato preservado e todos os participantes informados previamente sobre os procedimentos empregados no estudo. Os instrumentos utilizados foram uma balança da marca Filizola com estadiômetro, para mensuração da estatura e massa corporal; Banco de Wells da marca Sanny no teste de flexibilidade; e adipômetro da marca Sanny para a mensuração das pregas cutâneas. Ainda, foi realizada uma entrevista estruturada, a fim de conhecer as características de hábitos de vida da amostra (apêndice). No tratamento dos dados, utilizou-se o programa SPSS versão 18.0 para análise descritiva e frequência dos dados. Resultados e Discussão Para caracterização da amostra, foram coletados dados de hábitos de vida. A tabela 1 apresenta as ca- racterísticas antropométricas e variáveis dependentes do estudo. Tabela 1: Caracterização da amostra quanto às variáveis antropométricas e variáveis dependentes. Idade (anos) n 42 Mínima 41,00 Máxima 82,00 Média 55,11 DP 8,51 Peso (kg) Estatura (m) IMC (kg/m²) %G Flexibilidade (cm) Abdominal (rep) 42 42 42 42 42 42 36 1,44 14,40 21,38 0,00 0,00 105,0 1,68 41,20 44,08 39,00 55,00 65,34 1,56 26,61 31,91 23,92 15,59 16,37 0,05 5,91 5,14 9,61 15,75 Rep: repetições O IMC encontrado (tabela 2) é classificado como sobrepeso (EVELETH et al., 1998). É importante ressaltar que 71,43% das mulheres do presente estudo fazem uso do tamoxifeno - modulador seletivo do receptor de estrógeno oral , o qual propicia um acúmulo de gordura corporal (KUSAMA et al., 2004; THANGARAJU; KUMAR; GANDHIRAJAN; SACHDANANDAM, 1994). Outro fator que pode ter contribuído para os valores de IMC encontrados foi a baixa frequência semanal do programa de exercícios, que ocorreram apenas 2 vezes por semana. O mesmo pode ter ocorrido para os valores do percentual de gordura, cuja média foi de 31,91 ± 5,14 %. Um estudo (BATTAGLINI et al., 2004) avaliou a aptidão física de pessoas com câncer, incluindo 22 mulheres com câncer de mama, e encontrou média de 28,69 ± 7,85 %. Um valor semelhante, 28,04 ± 4,17 %, foi encontrado em outro trabalho (OKADA; AQUINO 118 JUNIOR; BARRETO; DUARTE; SILVA, 2008), quando os autores avaliaram a composição corporal em mulheres pré-menopausais entre 30 a 50 anos. Os resultados apontaram valores de percentual de gordura inferiores ao presente estudo. Embora a diminuição da massa muscular seja característica da caquexia no câncer, a proximidade dos valores encontrados pode acarretar ainda uma piora na qualidade de vida, principalmente na diminuição da força muscular, o que contribui para a diminuição da autonomia da pessoa acometida por tal situação (PRADO et al., 2007). Na tabela 2 é apresentada a frequência e percentual de acordo com os pontos de corte para classificação da composição corporal (%G). A classificação foi de acordo Jackson, Pollock, e Ward (1980). Área - Esporte e Rendimento Humano Tabela 2: Frequência (F) e Percentual (%) da composição corporal (%G) Normal Moderadamente obesa Excessivamente obesa Total F 15 18 9 42 As mulheres desta amostra apresentam alguns fatores que se relacionam com os níveis de massa gorda elevados, relacionados ao estágios pré-menopáusicos e menopáusicos, tipo de tratamento, idade e uso do tamoxifeno. Vários problemas estão associados aos efeitos da referida medicação, dentre os quais incluem as alterações no metabolismo das lipoproteínas. Apesar de vários estudos descreverem pequenas mudanças na concentração de lipoproteínas plasmáticas, alguns relatos têm demonstrado que o tamoxifeno é capaz de induz hipertrigliceridemia em portadoras de câncer de mama (KUSAMA et al., 2004). Com relação à flexibilidade, alguns autores (OLIVEIRA; MATSUDO; ANDRADE; MATSUDO, 2001) avaliaram a aptidão física de mulheres sedentárias e encontraram o escore de 29,0 ± 8,5 cm, valor superior ao do presente trabalho. Em outro estudo (SILVA; RABELO, 2006), o nível de flexibilidade foi de 22,71 ± 8,29 cm em mulheres que não praticavam atividade física, e 30 ± 6,46 cm em mulheres praticantes. Assim, a literatura apontou mulheres sedentárias com melhor desempenho no teste de sentar e alcançar, além de mulheres praticantes de atividade física com desempenho superior às mulheres ativas da presente amostra. De acordo com Cardoso e Ferreira (2010), o planejamento do exercício físico contribui para melhora da aptidão física relacionada à saúde da mulher. No entanto, em relação à flexibilidade, parece que a baixa frequência semanal e % 35,71 42,86 21,43 100 a quantidade de exercícios de alongamento realizados não foram suficientes para garantir um bom desempenho no teste. Quando somamos os valores equivalentes aos escores bom e excelente, obtemos o equivalente a 54,8%, o que se revela extremamente satisfatório, levando em consideração a presença da patologia. Em um estudo (BATTAGLINI et al., 2006), um grupo de mulheres (57,5 ± 23,0 anos) acometidas com câncer de mama, que realizavam treinamento de força, foi comparado com mulheres (56,6 ± 16,0 anos) que não treinavam, mas possuíam a patologia. O grupo experimental exercitou-se após a cirurgia, durante 60 minutos, de forma moderada, duas vezes por semana, durante 21semanas, e teve a força muscular total avaliada antes e após o tratamento. Foram encontradas diferenças significativas na força muscular total entre os grupos após o treinamento. Isso sugere que o treinamento resistido pode colaborar positivamente para o desenvolvimento de força, assim contribuindo para uma melhor qualidade de vida da paciente com câncer de mama. Não foi possível obter os dados de flexibilidade, força muscular e %G previamente ao início do programa de exercícios, o que proporcionaria uma interessante comparação com os valores encontrados após seis meses de prática. Outro fator limitante foi a ausência de controle sobre importantes variáveis intervenientes, como a dieta. Conclusões Os resultados não se mostraram satisfatórios com relação aos componentes da aptidão física relacionados à saúde (flexibilidade, força abdominal e %G) em mulheres sobreviventes ao câncer de mama que participavam de um programa de exercício físico. Tal fato pode estar relacionado à baixa frequência semanal do programa e o tipo de exercícios realizados. Não se pretende afirmar que programas de exercícios promovem ou não a melhora dessa situação patológica específica, mas as alterações advindas desse quadro da doença podem ser subsídios para entender melhor o comportamento da aptidão física e sua relação com o câncer de mama. Portanto, evidencia-se a necessidade de novos estudos que abordem a inserção de programas de atividades físicas com protocolos específicos para elucidar a influência na aptidão física dessa população, com acompanhamento das variáveis intervenientes, como condição nutricional, uso de medicamentos, estado de sono/vigília e frequência. Referências BATTAGLINI, C.; BOTTARO, M.; DENNEHY, C.; BARFOOT, D.; SHIELDS, E.; KIRK, D.; HACKNEY, A. Efeitos do treinamento de resistência na força muscular e níveis de fadiga em pacientes com câncer de mama. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 12, n. 3, p. 153-158, 2006. 119 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar BERTOLLA, F.; BARONI, B. M.; LEAL JUNIOR, E. C. P.; OLTRAMARI, J. D. Efeito de um programa de treinamento utilizando o método Pilates® na flexibilidade de atletas juvenis de futsal; Effects of a training program using the Pilates method in flexibility of sub-20 indoor soccer athletes. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. v. 13, n. 4, p. 222-226, 2007. CARDOSO, F. S., FERREIRA, E. L. Um Olhar sobre o Câncer de Mama: a atividade física e seu significado para mulheres participantes de grupo de apoio. Revista Rua. v. 1, n. 16, p. 193-220, 2010. DANAEI, G.; VANDER HOORN, S.; LOPEZ, A. D.; MURRAY, C. J.; EZZATI, M. Causes of cancer in the world: comparative risk assessment of nine behavioural and environmental risk factors. The Lancet. v. 366, n. 9499, p. 1784-1793, 2005. DA ROSA, L. M.; RADÜNZ, V. 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Neste sentido, a instrução na prática de exercícios, a educação corporal, o conhecimento acerca dos benefícios da atividade física e suas implicações para a saúde vêm sendo ressaltadas como responsabilidade profissional tanto pelo código de ética quanto nas resoluções para atuação e formação acadêmica nesta área (BARROS, 2006; BRASIL, 2002, 2004; CONFEF, 2002, 2003; OLIVEIRA, 2000, 2006). Ao pensarmos no profissional responsável pela atividade física nos diversos espaços de atuação desse profissional, deparamo-nos com uma série de investigações acerca das exigências, competências, condições e conhecimentos profissionais necessários à boa atuação nesses diferentes cenários (COELHO FILHO, 2000/1; COELHO FILHO; VÔTRE, 2010; FONSECA et al., 2009; ROSSI; HUGER, 2008; SORIANO, 2003, 2010; SORIANO; WINTERSTEIN, 2004; VERENGUER, 2003, 2008). Temos visto um crescente número de academias de ginásticas em solo nacional. O Instituto IHRSA Latin America afirma que, em dez anos, o Brasil passou de 16.952 academias de ginástica para 23.400 estabelecimentos. Logo, as demandas sociais corroboraram o aumento no número destas instalações, porém, apesar de o país ser o segundo no mundo em número de academias de ginástica, é apenas o quinto em número de praticantes regulares de atividades físicas nestes espaços, revelando uma provável lacuna, evidência que nos permite problematizar acerca do papel da atuação profissional nesses espaços (IHRSA, 2012). É, pois, a partir da intervenção profissional de qualidade, dentre outros fatores, que poderá refletir numa prática segura, dotada de objetivos, com melhora no desempenho e condicionamento físico, podendo aprimorar o bem -estar e a qualidade de vida daqueles que se envolvem com a prática regular de atividade física, e o fazem com a orientação de profissionais competentes para tal (CONFEF, 2002). Diante do exposto, os objetivos deste estudo são identificar e analisar quais são as exigências do mercado de trabalho para uma atuação profissional de qualidade no mercado fitness, em especial, nas academias de ginástica, tendo os próprios profissionais que atuam nesse campo como protagonistas. Materiais e métodos Trata-se de uma pesquisa de campo do tipo descritiva, com abordagem qualitativa de análise, que adotou como técnica de coleta de dados a entrevista semiestruturada (THOMAS; NELSON, 2002). Este estudo contou com a participação de 12 profissionais de educação física, atuantes na área de ginástica em academias, sendo classificados da seguinte maneira: a) Profissional expert (FREIDSON, 1998) - aquele que possui notório reconhecimento nacional e internacional por sua contribuição histórica e de formação na área da ginástica de academia no Brasil. Contribuíram com vídeos, livros e material didático para ascensão das diferentes modalidades como: aeróbica, step, cycle, jump e suas vertentes. A denominação expert se dá uma vez que é um especialista com conhecimento e competência acerca deste mercado profissional. Neste estudo, cada profissional pertencente a essa classe recebeu a codificação de PR1, PR2, PR3; b) Profissional experiente – possui mais de cinco anos de experiência, segundo o “ciclo de vida profissional” proposto por Huberman (2000). Nessa classificação estão: PE1, PE2 e PE3; c) Profissional iniciante – aquele com menos de cinco anos de atuação profissional (HUBERMAN, 2000, p.39), ora classificados como PI1, PI2 e PI3. Finalmente, o Professor formador – profissional que atua na formação universitária para o trabalho nas academias de ginástica, classificados como PF1, PF2 e PF3. Os PR foram selecionados mediante contato prévio e disponibilidade. Os PE e PI, em sua maioria, são profissionais atuantes em academias do interior pau121 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar lista, e os PF são docentes de graduação que lecionam matérias relacionadas à atuação nas academias de ginástica. Utilizamos um roteiro de entrevista semiestruturado, que, num primeiro momento, aferiu questões relacionadas às informações pessoais e, posteriormente, sobre as questões específicas ligadas aos objetivos do estudo, entre elas: “O que é necessário/essencial, que o mercado de trabalho exige, para que você atue com qualidade nesse mercado, mais especificamente, com o ensino da ginástica?”. Todos os participantes assina- ram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os dados foram gravados, transcritos e analisados por meio de técnicas de análise ligadas às abordagens qualitativas de investigação. A amostra foi do tipo não probabilístico, sendo a escolha e o número de participantes adequados mediante as características de uma pesquisa com abordagem qualitativa de análise. O estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Taubaté (CEP Nº353/10). Resultados e Discussão Diante destes resultados, identificamos algumas características exigidas em uma atuação profissional de qualidade: Quadro 1- Exigências para uma atuação de qualidade ASPECTOS CITADOS PROFISSIONAIS QUE CITARAM Experiência PI2; PF2; PF3; PR1; PR2 Conhecimento específico PI2; PF2; PF3; PR1; PR2 Atualização PE1; PI1; PI3; PR3 Saber sobre o comportamento humano PI2; PF1; PF3; PR1 Ter uma boa postura PF1; PR1; PR3 Prazer pelo que faz PF2; PR1 Criatividade, inovação e comunicação PE3; PR3 Qualidade da formação (graduação) PE1 Conhecimento geral PR2 Organização e planejamento PR3 Quanto à experiência prática e ao conhecimento específico, citados mais nas respostas dos PR e PF, inferimos que pode haver na voz destes profissionais uma crítica à formação inicial, percebendo uma dissociação entre conhecimento teórico e prática profissional. Tais falas corroboram os estudos de Verenguer (2003, 2008) e Soriano (2003, 2010), que percebem as academias de ginástica como espaços de intervenção profissional, entendendo que a universidade tem falhado no que diz respeito ao conhecimento para atuação no mercado de trabalho. As autoras ainda afirmam que as propostas das diretrizes curriculares quanto à prática como componente curricular e os estágios supervisionados não têm promovido associação entre conhecimento formal e mundo de trabalho, o que tem apontado tanto para consequências na organização deste mercado profissional, quanto na qualidade dos serviços prestados, podendo refletir também na aderência às atividades físicas nas academias de ginástica. Nos apontamentos supracitados, o interessante é perceber que esta indicação só poderia aparecer dos 122 profissionais formadores e experts, pois os mesmos lidam diretamente com a formação, seja ela inicial ou continuada, para atuação nestes espaços. Há que se entender, neste caso, que a especificidade da função dos profissionais entrevistados apontou para aspectos da intervenção que estão intimamente ligados à formação. No que diz respeito à atualização, Soriano (2003) afirma que, após a formação inicial, os profissionais tendem a ir atrás destes recursos. Embora isto se deva, em partes, a dificuldades na relação teoria e prática descritas acima, esta busca também marca um ajustamento à rotina da prática profissional, característico dos PI (HUBERMAN, 2000). Face às respostas sobre o conhecimento humano, os PI reconhecem que a experiência profissional vai além do domínio da técnica, pois existem vários fatores comportamentais, emocionais e sociais que permeiam as ações humanas, sendo manifestas nas aulas das modalidades de fitness. Uma atuação profissional de qualidade deve levar em consideração todas estas vertentes que atuam na prática profissional (IAOCHITE, 2006). Área - Esporte e Rendimento Humano Com relação à postura profissional descrita por um PF e um PR, alguns estudos têm questionado a imagem de profissionais que atuam nas academias de ginástica, mas que agem contrariamente às recomendações do código de ética. Tais perfis reforçam um descrédito social acerca da capacidade dos profissionais que atuam nestes espaços (FREITAS et al., 2011; HANSEN; VAZ, 2004, 2006). Oliveira (2000) afirma que a sociedade ainda não tem clara a profundidade da responsabilidade da profissão Educação Física, e que o tipo de profissional supracitado só corrobora para uma visão errônea da prática profissional. Quanto ao prazer por atuar nestes espaços, a criatividade, inovação e comunicação, cremos não ser somente exigências de uma atuação de qualidade, mas características de um bom profissional. Feitosa e Nascimento (2003), ao descreverem os conhecimentos, habilidades e atitudes desta área, apontaram para a habilidade de comunicação, já que, além de motivar, instruir e corrigir movimentos, o profissional tem que ser entendido não só pelo movimento que faz, mas por como orienta esta ação. Em relação à qualidade da formação, citada por PE1, ao verificarmos as diretrizes curriculares nacionais, entendemos que as mesmas assumem uma função generalista, propondo uma formação multidisciplinar, com aspectos éticos, biológicos, comportamentais, apontando para a fala do PR2 acerca do conhecimento geral. Embora aparentemente isso beneficie os profissionais frente às novas demandas sociais, em contrapartida interfere na especificidade da prática profissional, o que pode comprometer a atuação nas diversas áreas de atuação que o profissional de educação física poderá atuar, incluindo o mercado fitness (BRASIL, 2002, 2004). Por fim, ao apontar para a organização e planejamento, PR3 corrobora os escritos de Feitosa e Nascimento (2003) sobre as habilidades de planejamento, indicando que, em uma atuação profissional de qualidade, o “professor/instrutor/orientador” antecipa as ações, planejando as aulas, lidando melhor com as respostas dos “alunos/clientes”, resultando em uma prática profissional competente, com consequências que atuam também sobre os alunos. Conclusões Por meio desta pesquisa, identificamos que os profissionais que atuam na área de fitness como um dos vários espaços de atuação profissional no campo da educação física entendem que a qualidade da atuação está mais relacionada com a experiência pessoal e com o conhecimento específico nessa área, dentre outros aspectos mencionados, por diferentes profissionais. Entretanto, a literatura nos indica que a formação na área é de natureza generalista, o que, de alguma forma, pode ocasionar o aparecimento de uma lacuna que necessita de outras investigações acerca das relações entre a formação e a atuação em áreas específicas, como a investigada nesse estudo. É necessário investigar, ainda, as consequências dessa lacuna tanto para o processo de formação inicial, como também para a própria atuação profissional, uma vez que o mercado de trabalho ligado a essa área se expande exponencialmente ao longo dos anos. Considerando que esse mercado está diretamente ligado à promoção e manutenção da saúde da população, há que se buscar caminhos que promovam a aproximação entre formação e atuação profissional. Necessária atenção deve ser dada ao considerar os resultados desta investigação, uma vez que o número de participantes é reduzido e a coleta foi restrita a uma determinada região do interior paulista. Referências BARROS, J. M. C. Profissão, regulamentação profissional e campo de trabalho. In: SOUZANETO, S.; HUNGER, D. (Org.) Formação profissional em Educação Física: estudos e pesquisas. Rio Claro: Biblioética, 2006, p. 245-250. BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Educação Física. Resolução nº 0138, de 03 de Abril de 2002. Diário Oficial da União: Brasília, 2002. ______. Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física Resolução nº 07, de 31 de Março de 2004. Diário Oficial da União: Brasília, 2004. CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Dispõe sobre a Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional. Resolução nº 046, de 18 de Fevereiro de 2002. Diário Oficial da União: Brasília, 2002. ______. Dispõe sobre o Código de Ética dos Profissionais de Educação Física no Sistema CONFEF/CREFs. Resolução nº 53, de 18 de Agosto 2003. Diário Oficial da União: Brasília, 2003. 123 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar COELHO FILHO, C. A. A. O discurso do profissional de ginástica em academia no Rio de Janeiro. Movimento, Porto Alegre, v. 5, n. 12, p. 14-25, 2000/1. COELHO FILHO, C. A. A.; VÔTRE, S. J. Imagens da prática profissional em academias de ginástica na cidade do Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 31, n. 3, p. 95-110, maio, 2010. FEITOSA, W. N.; NASCIMENTO, J. V. As competências específicas dos profissionais de Educação Física que atuam na orientação de atividades físicas: um estudo delphi. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Brasília, v. 11, n.4, p. 19-26, 2003. FONSECA, R. G. et al. O conhecimento profissional na intervenção em Educação Física: um estudo etnográfico. Revista da Educação Física /UEM, Maringá, v. 20, n. 3, p. 367-380, jul/set, 2009. 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Nos últimos vinte anos, os avanços da medicina e o aumento no número de transplantes bem sucedidos que refletem em melhoras significativas na qualidade de vida de pacientes transplantados, fez com que a busca por essa terapia crescesse e fosse vista como uma esperança de vida para pacientes com patologias crônicas, mas as dificuldades para se efetivar um doador interferem diretamente no processo de captação de órgãos (AGNOLO et al., 2009). O processo de doação de órgãos envolve as seguintes etapas: a detecção; avaliação e manutenção de um potencial doador; diagnóstico de morte encefálica, consentimento familiar, documentação, remoção e distribuição de órgãos e tecidos, transplante e acompanhamento (CICOLO et al., 2009). No Brasil, para se efetivar a doação de órgãos, é necessária a autorização da família, conforme prevê o artigo 4° da lei n° 10.211 de vinte e três de março de 2001, que diz somente poder ser realizada a retirada de órgãos para transplante ou qualquer outra atividade terapêutica mediante a autorização do cônjuge ou parente, maior de idade, sendo respeitada a linha sucessória. A autorização deve ser assinada por duas testemunhas que estiveram presen- tes durante a verificação de morte encefálica (DALBEM; CAREGNATO, 2010). Para o consentimento da família quanto a captação de órgãos é importante que ela entenda sobre a morte encefálica, fator de extrema importância e determinante para que aceite ou não que seja realizada a doação de órgãos (BITTENCOURT et al., 2011). A apresentação de uma postura cordial e adequada do entrevistador para com a família é essencial para que a família se sinta segura ao tomar essa decisão (RECH; FILHO, 2007). A falta de esclarecimento, o noticiário sensacionalista sobre tráfico de órgãos, a ausência de programas voltados à conscientização e incentivo à captação de órgãos contribuem para alimentar mitos e preconceitos (MORAES et al., 2006). A opinião e o conhecimento da população acerca do assunto são de suma importância e têm grande influência para a realização do processo de captação de órgãos. A realização de programas educativos frequentemente é importante para aumentar o interesse e o conhecimento da população sobre os assuntos que envolvem a doação de órgão (COELHO et al., 2007). A carência de órgãos e tecidos tem motivado muitos estudos sobre doação de órgãos, mas, destes, poucos trazem a opinião da população sobre o tema. O objetivo do estudo foi identificar o significado da doação de órgãos para a população. Materiais e Métodos Para atingir o objetivo do estudo realizou-se uma pesquisa de cunho qualitativo e de caráter des- critivo e exploratório. Este tipo de estudo permite uma análise do tema através da compreensão dos 125 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar significados, crenças e valores propostos pelos sujeitos do tema de estudo (MONTEIRO et al., 2011). O público alvo desta pesquisa foi a população da cidade de Montes Claros, MG, que atendesse aos seguintes critérios de inclusão: ter mais de 18 anos, residir na cidade de Montes Claros, estar presente no Shopping Popular Mário Ribeiro da Silveira na data e horário da coleta de dados e concordar em participar da pesquisa, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Por se tratar então de um local frequentado por um grande número de pessoas, com idade, grau de escolaridade e níveis socioeconômicos variados, além de apresentarem fluxo de pessoas provenientes de todas as áreas da cidade, este cenário permitiu uma maior abrangência da pesquisa à população. Foi realizada uma pesquisa de campo e utilizada uma entrevista semiestruturada, composta de perguntas pré-elaboradas de forma simples e objetiva como instrumento de pesquisa. A coleta de dados desta pesquisa foi realizada no primeiro semestre de 2013, após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Funorte, parecer n °278.826/2013. Os entrevistados concordaram em participar da pesquisa por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, após leitura conjunta do mesmo com as entrevistadoras. Resultados e Discussão Após as idas e vindas da leitura, por meio da análise de conteúdo quatro categorias temáticas submergiram: O significado da doação de órgãos, O desejo de ser um doador, Doação de órgãos dos familiares, Fatores que interferem no processo de doação. O significado da doação de órgãos: Para muitas pessoas, a doação de órgão representa a continuidade da vida de alguém, ainda que em outro corpo (ALENCAR, 2006). Podemos perceber essa abstração no seguinte depoimento: “(...) Quando a gente morre o corpo deixa de existir, mas ai quando a gente doa pode viver em outra pessoa” (E-14). O findar de uma vida que por vez se ata à esperança de continuidade de outra, é uma construção imaginária que se relaciona à doação de órgãos, já que o indivíduo entende que mesmo com a morte de uma pessoa, existe a perspectiva de que seu órgão continue vivo, possibilitando a ideia de que a vida do mesmo continue, em outro alguém (QUINTANA; ARPINI, 2009). Para outros, a doação de órgãos representa um gesto solidário, que suscita um sentimento de recompensa por poder ajudar outra pessoa. “(...) Eu acho que é fraternidade” (E-18). Essa concepção sobre o que representa a doação de órgãos foi expressa pela maioria dos entrevistados. Porém, mesmo cientes dos benefícios que a doação traria para outras pessoas e conhecendo a importância da mesma, alguns entrevistados relataram que não doariam os seus órgãos, como podemos observar na seguinte fala: “(...) Para mim é importante, né. Mas só que eu não tenho coragem de doar (risos) eu não doaria!” (E-13). Desejo de ser um doador: Em geral, existe uma atitude positiva da população acerca da doação de órgãos, podendo variar entre 52% a 82%, dependendo do estudo (TRAIBER; LOPES, 2006). Essa teoria se confirma no discurso do entrevistado: “(...) Eu falo que sim. Eu deixo claro pra minha família que quero doar sim” (E-18). Familiares afirmam que quando a pessoa manifesta em vida o seu desejo de ser doador, a decisão, quando tem que ser tomada 126 por eles, se torna mais fácil (ALENCAR, 2006). Muitas pessoas enfrentam um dilema quando surge a necessidade de optar ou não por ser doador de órgãos, como ocorre nas emissões de documentos. Essas situações, muitas vezes, geram conflitos de crenças, de valores e de princípios religiosos, além de esbarrar com desinformação, mitos e crendices populares sobre o assunto (MORAES et al., 2006). “(...) Aham! Eu sou doadora. Eu tenho na carteira de identidade” (E-23). Com a atualização da lei que dispõe sobre doação de órgãos e tecidos, ocorrida em 2001, a doação presumida pelo consentimento informado em carteira de identidade ou de habilitação perdeu sua validade, passando a ser necessária a autorização da família para efetivar a doação (TRAIBER; LOPES, 2006). A maioria dos entrevistados demonstrou pouco conhecimento acerca do processo de doação de órgãos. “(...) Não sei muito (risos)... só sei que tem q ser morte cerebral, mas aprofundar mesmo eu não sei. (E14). Diante desses depoimentos, percebe-se que há a necessidade da melhoria das informações prestadas para as pessoas, visando so aumento da captação e dos transplantes, garantindo o bem-estar do familiar que passa por um momento difícil antes de tomar a importante decisão, fazendo-o lidar com esta situação com o máximo de informações, menos sofrimento e menores chances de arrependimentos. (AGNOLO et al., 2009). Concepção frente à doação de órgãos de um familiar: O desconhecimento da condição de doador de seu familiar é alegado pelas famílias como sendo um dos principais determinantes da não doação (AGNOLO et al., 2009). “(...) A não ser que eles queiram né? Mas pra mim tomar a decisão, eu não doaria também” (E-3). A recusa das famílias representa um problema grave que impede o crescimento no número de transplantes realizados (DALBEM; CAREGNATO, 2010). Os pacientes e as famílias têm o livre arbítrio de escolha sobre doar ou não seus órgãos, mas infelizmente, a maior Área - Bioética parte das pessoas não realiza esta escolha em vida ou, se a faz, não comunica sua decisão a seus familiares (AGNOLO, 2009). De acordo com estudos realizados, percebeu-se que diversos fatores intervêm no processo de doação de órgão e, destes, a decisão da família é a principal etapa para dar continuidade ao processo, por isso é necessário que todos os pontos referentes ao processo sejam explicados à família (SANTOS; MASSAROLO, 2011). Fatores que dificultam o processo de doação: São muitos os fatores apontados como causas da não efetivação da doação (SANTOS; MASSAROLO, 2011). Entre os fatores que impedem a doação podemos citar o conhecimento limitado do conceito de morte encefálica e doação de órgãos (DALBEM; CAREGNATO, 2010). A religião é outro fator considerado como motivacional para a recusa da doação. Por vezes a família apresenta dificuldade para aceitar a manipulação do corpo de seu parente em razão da doação de órgãos, por acreditar que o corpo é o templo do espírito de Deus e que por isso é intocável (MORAES et al., 2006). Devido às polêmicas que envolvem o tema, a doação de órgãos é por vezes prejudicada pela falta de conhecimento, pelos programas de conscientização que não atingem seus objetivos e pelo medo da venda ilegal dos órgãos. Esses fatores favorecem o surgimento de preconceito e ideias errôneas quanto ao processo de doação (MORAES et al., 2006). Conclusões A análise nos permitiu compreender que para grande parte das pessoas, a doação de órgãos e tecidos está ligada diretamente ao desejo altruísta de salvar vidas, sendo compreendida como um ato solidário, bonito e de grande relevância. Encontrar na recuperação do outro um significado nobre para uma perda, pensar na possibilidade de fazer o bem a alguém, mesmo que desconhecido, sentir que alguém a quem tanto se estima continua a viver, ainda que em outro corpo, amenizar uma dor oferecendo alegria a outros, tudo isso faz parte da compreensão das pessoas quanto à doação de órgãos, embora não tenham muito conhecimento no que se diz respeito ao assunto e formem opiniões baseadas em informações superficiais transmitidas pelos meios de comunicação ou em crenças existentes em seu meio de convívio. Mesmo aqueles que se declaram contrários à doa- ção reconhecem-na como um ato importante, mas as incertezas, a insegurança e os tabus que rondam o tema contribuem para que as pessoas sintam-se amedrontadas, além disso, o sensacionalismo com o qual alguns assuntos são tratados, o receio da morte propositada e a desconfiança das pessoas para com as equipes médicas, o medo de pensar em sua própria morte e mais ainda na daqueles a quem se ama são fatores que prejudicam a obtenção de doadores. Nesse sentido, percebe-se que o conhecimento é deficiente e que há uma grande carência de informações precisas, que além de comover, possam explicar como se dá e o que é preciso para que se efetive uma doação e a partir disso permita que a vontade de ajudar ao próximo se torne real e que as longas filas de espera por órgãos possam diminuir. Isso traria para muitos a esperança da continuidade de suas vidas. Referências AGNOLO, C. M. D.; BELETANI, L. M.; ZURITA, R. C. M.; COIMBRA, J. A. H.; MARCON, S. 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O binômio paciente-família precisa receber uma assistência humanizada proveniente dos cuidados paliativos, baseados na filosofia de melhorar a qualidade de vida, aliviando o sofrimento do paciente, principalmente pelo controle dos sintomas, que comumente são anorexia, perda de peso, xerostomia, dificuldade respiratória, deterioração do comportamento, diminuição da continência, higiene e mobilidade. A Bioética surgiu da necessidade ética em defesa do homem, acompanhando o avanço da ciência e tecnologia, que abriu espaço para métodos que prologam a vida e a entronização dos cuidados paliativos. A bioética principialista envolve quatro princípios: beneficência, não-maleficência, justiça e autonomia, que, no paciente pediátrico, suscita a questão do desenvolvimento cognitivo e psicossocial da criança e as decisões dos progenitores e do pediatra. Os pais, muitas vezes compreendendo a vulnerabilidade da criança, protegem-na minimizando ao máximo o efeito da doença, enquanto o médico se responsabiliza pelo seu bem-estar geral, utilizando diversos meios disponíveis. Havendo conflito de interesses na relação médicofamília e visando garantir um bom cuidado à saúde baseado no princípio da beneficência médica, esta deve prevalecer independentemente das vontades dos pais e, se for necessário, deve-se recorrer à orientação das comissões de ética e até a decisões judiciais. Devem ser evitadas situações conflituosas, já que nestes casos a autonomia da criança não é valorizada, pois os cuidados finais buscam aliviar dores e propiciar uma morte digna, respeitando efetivamente as necessidades do paciente nesse momento delicado. Além da família e do médico, os cuidados paliativos envolvem enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, assistentes sociais, psicólogos, consultores espirituais, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, estendendo-se até o momento do luto e tornando-se uma prática multidisciplinar, muitas vezes exigindo atenção integral para ser efetiva e menos dolorosa possível para aqueles que dele necessitam. De acordo com Chaves (2011) o cuidado paliativo deve abranger toda população com o princípio de equidade e de forma igualitária, porém é negligenciado em muitos países, tornando necessária ação social e política com intenção de promover até o fim bem estar e vida digna. As categorias de doenças que colocam a criança em estado final da vida são as malignas e crônicas, com ênfase para o câncer, pois o seu diagnóstico tardio afeta diretamente a taxa de sobrevida, que pode estar ainda mais prejudicada pelo atraso da procura por assistência à saúde e a precariedade dos serviços prestados. Conforme Piva (2011) o local onde ocorre o maior número de óbitos hospitalares em pediatria é na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal, seguido pelo centro cirúrgico, sala de emergência, unidade de oncologia e enfermarias pediátricas. É grande a importância do sofrimento enfrentado pelas crianças em situações de prognósticos incertos, negação da proximidade da morte, esgotamento das possibilidades de cura e a rapidez da evolução entre os sinais de incurabilidade e a morte. Este estudo se destina a revisar na literatura a importância da bioética nos cuidados paliativos de pacientes pediátricos. 129 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos Para identificar as publicações que compuseram este estudo, realizou-se pesquisa on-line no período de fevereiro a abril de 2014 por meio das bases de dados Bireme, Pubmed e Scielo, utilizando os descritores “bioética nos cuidados paliativos”, “bioethics in palliative care”, “cuidados paliativos na pediatria” e “palliative care in pediatrics”. Foram utilizadas 19 publicações datadas de 2007 a 2014, sendo a maioria revisões de literatura. Na base de dados Bireme foram encontradas 157 publicações, na Pubmed 385 trabalhos e na Scielo obtivemos o número de 18 artigos. Os critérios de inclusão definidos para selecionar os estudos consistem em, ser artigos datados do período de 2007 à 2014, disponíveis na íntegra e portadores dos descritores supracitados. Os critérios de exclusão foram artigos em duplicidade, e aqueles que, apesar de apresentarem os descritores selecionados, não abordavam diretamente a temática proposta. Resultados e Discussão O vocábulo paliativo deriva do termo em latim pallium, que significa coberta ou manta, traduzindo sua função de proteção, que Cecily Saunders inspirou quando criou os cuidados paliativos no movimento dos hospices em plena década de 1960. Esses cuidados ganharam espaço com o avanço da ciência juntamente com a bioética que lhe deu contornos, até sobressair o conceito instituído pela Organização Mundial da Saúde em 2002, como uma abordagem que age na melhoria da qualidade de vida dos pacientes que enfrentam doenças incuráveis, aliviando o sofrimento não apenas físico, mas psicossocial e espiritual também. Segundo Chaves et.al., (2011) a bioética por sua vez pode ser definida como estudo sistemático das dimensões morais que inclui decisões, normas da ciência da vida e dos cuidados da saúde. Essa nova interdisciplina do conhecimento humano definiu cinco princípios relevantes para a medicina paliativa Da veracidade, da proporcionalidade terapêutica, do duplo efeito, da prevenção e do não abandono, que trazem consigo uma característica importante: a violação de um só princípio não significa apenas transgressão da norma, mas sim, ofensa a todo sistema de comandos. Em 1998, a Organização Mundial de Saúde elaborou um conceito específico para cuidados paliativos pediátricos, baseado no cuidar ativo, total e em amplas dimensões, inserindo a família e os recursos da comunidade na assistência infantil. Porém, a dimensão biopsicossocial progride com o avanço da patologia, direcionando o cuidado ao processo de morte, enfatiza os obstáculos enfrentados pela família e criança, mostrando a necessidade de serem executadas práticas que amenizam essa dor e sofrimento. Os campos de cuidados paliativos pediátricos e de ética médica pediátrica se sobrepõem substancialmente. Devido a fatores históricos e culturais, essa relação próxima oferece oportunidades para alavancar a comunicação de ambos os campos, compartilhamento de recursos e colaboração de pesquisas. A realidade brasileira dessa temática é pouco conhecida. Mesmo com o crescimento do interesse nessa área a partir dos anos 1990, acredita-se que fatores como heterogeneidade da população, o prognóstico incerto, projetos 130 de pesquisa inadequados, carência de conhecimento, vulnerabilidade da criança, falta de suporte institucional e financeiro sejam um desafio para pesquisas científicas. Em contrapartida, o volume populacional que necessita desse tipo de atendimento é enormemente relevante, não só para os casos de câncer, mas, ainda, nas diversas situações clínicas em que ele é imprescindível. Os cuidados devem ser humanizados e são distribuídos em físicos, gerais, psicossociais e espirituais. Além do imperativo moral, o médico assume responsabilidade legal pelo seu paciente, o que lhe faz refletir diretamente os dilemas bioéticos envolvidos com o bem-estar do pequeno enfermo. Dos cuidados citados, a criança usualmente requer intervenção psicológica em situações que envolvem lembranças dos hábitos diários perdidos e situações prazerosas. O brincar aparece como recurso terapêutico, pois ultrapassa as barreiras criadas pela doença, possibilita a expressão de sentimentos e deixa a situação atual mais próxima da rotina anterior ao tratamento. Já o aspecto espiritual, ainda que relacionado à melhor qualidade de vida, maior adesão ao tratamento, melhor resposta imunológica, maior praticidade para lidar com problemas, menor depressão e estresse não é aprofundado, por ser complicada sua abordagem no final da vida, além do desconhecimento do pediatra. Contudo são observados erros como entender que a criança não possui necessidades especiais por estar iniciando a vida. Isso afeta diretamente a autonomia, a dignidade e o tempo de sobrevida infantil, além de tornar a morte um processo doloroso. O não apoio à família é outro equívoco cometido, gerando sobrecarga material, emocional e física, culminando em comorbidades relacionadas à perturbação do sono, depressão e ansiedade, além dos sentimentos negativos perante a impotência humana. A equipe deve possuir conhecimento, atitudes e habilidades para que não ocorra desgaste físico e emocional. Tais fatores podem levar ao estresse profissional ou até à síndrome de Burnout, demonstrando que a capacitação e cursos de cuidados paliativos são boas alternativas. Esse preparo, confirmado pela Academia Americana de Pediatria, engloba o atendimento em equipe Área - Bioética e individual que abrange todos cenários da atenção. A classificação das necessidades paliativas na infância foi elaborada pela “Association for children with life threatening conditions and their families” e pode ser resumida em uma tabela baseada nos tipos de enfermidades. As classificações das necessidades paliativas acrescentam muito ao tratamento e evitam que o paciente não tenha uma morte digna, que em muitos países é um direito constitucional, além do cumprimento dos princípios éticos profissionais. As escalas como a de Mentem, direcionada ao diagnóstico de agonia nos momentos finais, devem ser utilizadas com cautela para não se criarem pacientes padrões em vez de tratar cada um de forma única e subjetiva, pois apesar de apresentar uma doença parecida com outrem, cada criança possui um histórico de relações, traumas e experiências vividas. Os cuidados paliativos foram eleitos pela Organização Mundial da Saúde como prioridade há mais de 10 anos e, mesmo sendo enfatizada a sua importância em diversos estudos juntamente com fundamentos bioéticos, habilidades de comunicação e estratégias assistenciais, na grande maioria das universidades e residências médicas não são temas apresentados aos futuros profissionais da saúde. Dessa for- ma, situações como tomadas de decisões unilaterais pelo médico, falta de informações precisas acerca da doença, ambientes com excesso de tecnologia e falta de solidariedade humana, além do absolutismo de rotinas rigorosas, são recorrentes em estudos ao redor do mundo. Destaca-se Meyer et. al. (2006), que descreveram situações encontradas em 56 Unidades de Tratamento Intensivo Pediátricas (UTPIs) nos Estados Unidos, citaram a falta de informação honesta e precisa, o acesso fácil e regular aos médicos, o envolvimento emocional e solidário da equipe, a coordenação na comunicação, o suporte espiritual e a preservação da relação pais-filhos. Os cuidados simples do contato físico, quando for viável, possibilitar aos pais terem seus filhos no colo, o cuidado pelo conforto da posição do paciente, ambiente com a temperatura agradável, o uso de linguagem e tom de voz adequados, a permissão para a expressão de sentimentos pela criança e a manutenção da analgesia, são considerados como procedimentos solidários, emocionais e de grande magnitude para a vida de quem necessita. Hilmelstein (2011) sintetiza, então, os princípios dos cuidados paliativos infantis em ações focadas na criança, orientadas para toda a família e baseadas numa boa relação equipe-família. Conclusões A bagagem teórica dos profissionais é essencial para aplicação da bioética em cuidados paliativos pediátricos que, quando bem executada, evita padecimento e flagelos para a criança e seus familiares, além de garantir conforto para a equipe. Porém, o curso de graduação dos profissionais da saúde não traz em seu currículo matérias relacionadas a esse tema, deixando deficitária a qualidade do atendimento. Em consequência, de um lado pacientes vivenciam os seus últimos momentos ansiando por mais compaixão e ,de outro, médicos olvidam os princípios éticos e legais de sua profissão. É um tema com enfoque crescente nas últimas décadas, que tem obtido atenção da Organização Mundial da Saúde e de organizações pediátricas ao redor do mundo. No Brasil, pesquisas científicas enfrentam desafios como falta de suporte e vulnerabilidade da amostra; mesmo com algum aumento no número de trabalhos, a bibliografia não tem acompanhado os avanços dessa área, como ocorre no resto do mundo. Diferentemente dos adultos, as crianças requerem um atendimento diferenciado, não podendo ser entendidas como um “adulto pequeno”. Há diversas circunstâncias encontradas somente na infância e que envolvem princípios legais, como a autonomia do paciente, os seus aspectos emocionais, psicossociais e o espectro da dor e as complicações enfrentados pela criança. Equívocos como entender que a criança não tem necessidades especiais, por não ter vivido o suficiente, a falta de auxílio à família e a falta de preparo físico e emocional para amparar o necessitado geram consequências que atingem todos os envolvidos e são problemas derivados principalmente do estresse como síndromes e comorbidades. Os médicos desempenham grande papel para garantir os direitos dos pacientes e respondem legalmente por eles; entretanto, é necessário estabelecer um consenso com os familiares a fim de não existirem conflitos que afetem a saúde da criança num momento crítico. Além dos médicos, atuam neste tipo de atenção desde terapeutas ocupacionais até enfermeiros, ou seja, uma equipe multiprofissional e multidisciplinar, com intuito de prover uma assistência humanizada que deverá se estender do diagnóstico até a fase do luto. Abrir espaço para decisões compartilhadas entre profissionais e familiares, valorizando a comunicação, é uma característica decisiva para evitar conflitos que podem chegar até disputas judiciais, que prejudicam a saúde da criança e causam transtornos psicológicos para o binômio família-equipe. A abordagem correta desses profissionais é dinâmica, no sentido de atender às necessidades com subjetividade e equidade, e garantir qualidade e valorização da vida, controle e alívio da dor e outros sintomas, culminando com a morte digna do paciente. Portanto, atuar bioeticamente na área paliativa pediátrica exige conhecimentos essenciais e práticas muitas vezes simples, como adequar a temperatura do ar condicionado, acarretando impactos positivos à criança, além das orientações para toda família, complementando uma relação harmoniosa entres os que cuidam e os que recebem os cuidados. 131 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências AVANCI, B. S. et al. Cuidados paliativos à criança oncológica na situação do viver/morrer: a ótica do cuidar em enfermagem. Esc Anna Nery. Rev Enferm, v. 13, n. 4, p. 708-16, 2009. BERNADÁ, M. et al. Cuidados paliativos pediátricos. Archivos de Pediatría del Uruguay, v. 83, n. 3, p. 203-210, 2012. CHAVES, J. H. B. et al. Cuidados paliativos na prática médica: contexto bioético. Rev dor, v. 12, n. 3, p. 250-255, 2011. DA SILVA, E. P.; SUDIGURSKY, D. Concepções sobre cuidados paliativos: revisão bibliográfica. 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Revista Bioética, v. 21, n. 3, 2013. 132 Área - Bioética A PRIVACIDADE E A ACONFIDENCIALIDADE DAS INFORMAÇÕES NA SAÚDE À LUZ DA BIOÉTICA Luiz Eduardo Silveira Leite Patrícia Alves Paiva Fabrícia Ramos Magalhães Virgínia Ruas Santos Patrick Leonardo Nogueira da Silva Bruno Pereira de Paula Priscilla Karoline Rodrigues Cruz [email protected] Introdução A bioética surgiu em 1971, tornando-se ciência inigualável na reflexão ética no campo das ciências humanas e concretizando-se como ética aplicada às situações que envolvam tomar decisões a respeito de conflitos morais em que seja preciso compreender os acontecimentos para se fazer escolhas corretas (PINHEIRO et al. 2005). A informação é um direito do cidadão, pois é o meio de que ele dispõe para tomar conhecimento de sua situação de saúde. Sem o acesso à informação, o paciente não é capaz de reivindicar ou lutar pelos seus direitos nem tem argumentos para questionar, dificultando assim o exercício de sua autonomia. A ausência de informação imprime sentimento de ignorância ao paciente, permitindo ações abusivas, de exploração, subjugação e dominação. Constantemente exige-se dos profissionais de saúde habilidades e competências para trabalharem com as dificuldades que envolvem as necessidades individuais e coletivas dos sujeitos e as crescentes demandas de cuidados e da defesa de seus direitos. É neste palco que o profissional de saúde desenvolve suas atividades tendo como objeto de cuidado o ser humano e como desafio a capacidade de articular de forma sábia seus valores éticos, morais e sociais e conflitos que possam vir a surgir em seu contexto de trabalho (SANTOS et al., 2011). A privacidade requer proteção da intimidade dos sujeitos, respeito à dignidade, limitação de acesso ao corpo, aos relacionamentos familiares e sociais, e a objetos íntimos. Já a confidencialidade se deve à responsabilidade e ao dever dos profissionais de saúde em resguardar as informações de seus pacientes em todos os ambientes do cuidado (SANTOS et al., 2011). O vínculo produzido pela comunicação eficaz entre usuários e profissionais é um dos eixos que norteia a Bioética. Assim, essa revisão teve por objetivo proporcionar reflexões acerca da importância das informações transmitidas aos pacientes e da aplicabilidade dos conceitos de privacidade e confidencialidade na saúde. Metodologia No tocante à metodologia, optou-se pela revisão de literatura como norteamento desta pesquisa, visto que a mesma para Galvão, Sawada e Trevizan (2004), é uma síntese rigorosa de pesquisas relacionadas a um determinado assunto em que a pergunta pode ser sobre causa, diagnóstico ou prognóstico de um problema de saúde e, frequentemente, exige eficácia em seus resultados de modo a favorecer uma intervenção satisfatória. O estudo bibliográfico foi realizado na base de dados da Biblioteca Virtual da Saúde – BVS nas fontes: Scientific Eletronic Library Online (ScIELO), Literatura Internacional em Ciências da Saúde (MEDLINE), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e a Base de Dados da Enfermagem (BDENF), utilizando descritores: bioética no cuidado ao paciente, confidencialidade na saúde e respeito aos direitos do paciente. Para seleção das publicações foram utilizados como critérios de inclusão e exclusão os seguintes aspectos, inclusão: artigos publicados a partir de 2002, disponibilizados na íntegra, e como critérios de exclusão: artigos publicados somente em formato de resumo. Dos encontrados foram selecionados aqueles relacionados ao tema proposto, três artigos relacionados à bioética no cuidado ao paciente, quatro artigos sobre a confidencialidade na saúde e cinco relacionados ao respeito aos direitos do paciente. 133 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados Todo paciente tem direito a ser atendido de forma atenciosa e respeitosa, tem direito à sua dignidade preservada, ao sigilo ou segredo profissional, direito de conhecer a identidade dos profissionais envolvidos em seu tratamento, à informação de maneira concisa e clara, numa linguagem acessível. Possui também o direito de recusar tratamento e de ser informado sobre as consequências de sua escolha, sem que seus desejos alterem a qualidade dos serviços que lhe devam ser prestados (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005). O código de ética da saúde reúne em seu conteúdo normas, princípios, direitos e deveres, condizentes ao comportamento ético do profissional que deve ser assumido por todos os trabalhadores da área da saúde, considerando os interesses do profissional e de sua instituição, bem como o objetivo de fornecer uma assistência de qualidade, sem discriminação, acessível a todos. A assistência prestada deve ser dotada de humanização, respeito e justiça beneficiando a comunicação e a integração entre os profissionais e os pacientes de modo que seus direitos como cidadãos sejam assegurados. Os conflitos advindos da divergência de expectativa de resultados entre paciente e equipe de saúde ocorrem por diferenças em seus objetivos individuais. A possibilidade de união desses objetivos poderá resultar numa experiência conciliadora que faz surgir algo interessante e mais complexo à consciência da necessidade de respeito mútuo dos direitos e deveres de ambos (SANTOS et al., 2011). O Código de Ética da Saúde alerta para a responsabilidade e o dever do profissional no sentido de oferecer informações completas a fim de assegurar a continuidade da assistência prestada. Neste sentido espera-se que o profissional de saúde se sinta capacitado a prestar informações aos usuários de saúde como um todo (SANTOS et al., 2011). O princípio ético da confidencialidade está incluso na formação dos profissionais de saúde, princípio este que provém da autonomia, que respeita a intimidade e a vida privada dos pacientes, dando-lhes o direito de controlar suas informações pessoais. Várias vezes há a necessidade de rompimento desta confidencialidade entre os elementos da equipe de saúde envolvida no cuidado ao paciente, a fim de utilizar destas informações em benefício do próprio paciente. Esta troca de informações entre os elementos da equipe de saúde é entendida como necessária, mas deve ser limitada àquelas informações que cada profissional precisa para desempenhar suas atividades em benefício do paciente (FERREIRA et al., 2009). Os problemas éticos vivenciados na atenção básica são, em geral, preocupações do cotidiano da atenção à saúde, uma vez que os encontros com os usuários da atenção básica se caracterizam como 134 episódios rotineiros, comuns, aparentemente simples, diferentes daquelas situações estressantes observadas na atenção terciária. Desta forma, o modo como esses problemas surgem pode dificultar o seu entendimento. A falha em compreender tais conflitos, pode trazer consequências desastrosas tanto para o usuário quanto para o serviço, pois problemas simples podem se transformar em problemas de difíceis soluções se não manejados de forma correta (SILVA; ZOBOLI; BORGES, 2006). Para que os clientes possam cuidar de si mesmos, administrar seus próprios corpos é necessário mantê-los informados para que os mesmos saibam lutar pelos seus ideais e crenças. A informação é um critério essencial para que o cliente possa consentir ou recusar-se aos procedimentos de saúde propostos. Sendo assim todos os procedimentos desde o mais simples até o mais complexo necessitam ser realizados com o consentimento livre e esclarecido do paciente, a partir da informação e esclarecimento do mesmo. A ética requer escolha de comportamentos por parte do profissional além de exigir senso crítico, adoção de valores, princípios e normas. A ética é ligada à noção de autonomia individual, pois representa também a interioridade do ser humano. Uma vez que a mesma não pode ser imposta por outros indivíduos, cada ser humano necessita entender os percalços desta ciência para definição e exercício de sua própria ética (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005). A preservação de segredos está associada tanto com a questão da privacidade quanto da confidencialidade. A privacidade, mesmo quando não há vínculo direto, impõe ao profissional os deveres de resguardar as informações com que teve contato e de preservar a própria pessoa do paciente, pode ser considerada como sendo um dever institucional e necessitam ser reservados adequadamente. A exceção de confidencialidade pode ser eticamente aceitável desde que o paciente dê a sua permissão; que a lei obrigue a revelação; que haja risco de vida ou possibilidade de dano físico ou psicológico para uma ou mais pessoas identificadas (PUGINA, 2009). A confidencialidade apresenta várias vertentes, enquanto característica principal da relação entre profissional de saúde e paciente. Objetiva evitar discriminação, preservar a intimidade do cliente, o direito do paciente de saber e conhecer quem são os profissionais envolvidos em seus cuidados e o direito do cliente de consentir ou recusar procedimentos. Dentro dessas vertentes, deve-se levar em conta a preservação da individualidade, o respeito à autonomia do paciente, identificação pessoal e a informação sobre as decisões tomadas (ALVES et al., 2008). A partir do instante em que os profissionais de saúde percebem a importância da manutenção da confidencialidade dos pacientes, eles se tornam capa- Área - Bioética zes de fornecer adequadamente as informações, e se mobilizam de modo a contribuir para a compreensão do que está sendo revelado aos pacientes sobre o seu corpo, sobre seu cuidado e sobre si próprios (CHAVES; COSTA; LUNARDI, 2005). O princípio da autonomia confere o direito à autodeterminação. O indivíduo tem a autoridade moral para determinar o que deverá ser feito consigo. A relação profissional de saúde-paciente deve estar baseada na comunicação, nos processos de informar e comunicar o paciente, procurando-se chegar a um entendimento. A qualidade da comunicação entre profissional de saúde e paciente, a preservação da privacidade, do caráter sigiloso, é fundamental para que ambos estejam comprometidos com um conjunto de objetivos comuns, especialmente “na defesa contra as forças cegas da doença” (FABRI, 2003). Os valores de privacidade, confidencialidade e comunicação privilegiada estão vinculados a uma obrigação de discrição profissional e aos direitos individuais e de autodeterminação do indivíduo, incluindo a liberdade de escolher o que considera privado. O respeito à confidencialidade está fundamento num direito natural de intimidade, sendo este derivado do princípio fundamental de respeito pela pessoa em si mesma, tendo como finalidade proporcionar o desenvolvimento pessoal para a criação e manutenção de relações sociais íntimas e para expressão da liberdade de uma pessoa (LOCH, 2003). Nas sociedades modernas os indivíduos conhecem os seus direitos porque possuem acesso à informação, portanto acredita-se que, quanto maior o acesso à informação maior é o exercício da cidadania. Assim, a informação, constitui-se como um direito básico na construção de uma sociedade mais democrática. Para que as ações de saúde tenham o sentido que merecem, é preciso que o atual modelo de saúde inclua uma equipe multiprofissional capacitada e competente para prestar um cuidado de boa qualidade (SANTOS et al., 2011). Para os profissionais de saúde, o respeito ao direito dos pacientes de serem informados acerca do processo de saúde-doença, tratamento e cuidados, é essencial para que os pacientes possam participar dos processos de decisão sobre si próprios. Isso se faz necessário para o profissional contribuir ativamente para o esclarecimento do direito dos pacientes sobre as informações, quanto à aceitação informada e livre, prévia à concretização de qualquer procedimento diagnóstico, terapêutico e de cuidado em si (CHAVES; COSTA; LUNARDI). Os profissionais perceberam os direitos dos clientes sob a ótica de quatro grupos: Preservação da individualidade, Respeito à autonomia do cliente, Identificação pessoal como parte da preservação da individualidade e a Informação para o cliente como pré-condição para a sua tomada de decisão (ALVES et al., 2008). O direito do usuário à privacidade deriva do dever da manutenção do segredo por todos os elementos da equipe, lembrando que são sigilosas não somente as informações divulgadas confidencialmente, mas todas aquelas que a equipe de saúde se torna a par no exercício de sua atividade, mesmo havendo desconhecimento do usuário. Assim, o dever de manter o segredo das informações constitui-se em obrigação ética dos profissionais, dos técnicos, dos auxiliares e de corpo técnico e administrativo (FORTES; SPINETTI, 2004). Enfim, qualquer pessoa, independentemente de seu agravo de saúde, diagnóstico ou prognóstico, tendo condições intelectuais e psicológicas para considerar, analisar e sustentar as consequências de uma atitude ou proposta de assistência à sua saúde, deve ter a oportunidade de tomar decisões a ela relacionadas. Isto prescinde, entretanto, que as informações sobre as diversas possibilidades, riscos e consequências das ações em saúde sejam dadas pelos profissionais, para que a escolha do paciente seja efetivamente autônoma e consciente (FABRI, 2003). Considerações finais Este estudo demonstrou a importância de se avançar quanto ao papel dos profissionais de saúde no oferecimento de informações e orientações a seus pacientes, bem como de seus direitos, objetivando alcançar a humanização do cuidado. Os serviços de saúde no Brasil precisam ir além de prevenir, curar e reabilitar; devem contribuir para o aumento da capacidade reflexiva dos usuários, tornando-os sujeito social, conscientes de seus direitos e do “direito a ter direitos”. Desta forma, evidenciam-se a importância e a responsabilidade dos profissionais de saúde, na incorporação de uma postura que seja reflexiva e ética, que vislumbre adotar novos conhecimentos e novas habilidades necessárias para uma comunicação de boa qualidade com os usuários dos serviços de saúde. Diante dessas reflexões, faz-se imprescindível a inclusão da ética no cotidiano, guiando as atividades, seja realizando ações, seja no ensino ou nas pesquisas, pois a consciência ética na sociedade torna as pessoas e os trabalhadores melhores profissionais. 135 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALVES, P. C.; LUNARDI, V. L.; LUNARDI, G. L.; LUNARDI FILHO, W. D. A percepção das enfermeiras acerca da sua atuação ante os direitos dos clientes. Rev. esc. enferm. USP. Online. v. 42, n. 2, p. 242-248, 2008. Disponível em: http:// dx.doi.org/10.1590/S0080-62342008000200005. CHAVES, P. L.; COSTA, V. T.; LUNARDI, V. L. A enfermagem frente aos direitos de pacientes hospitalizados. Texto contexto - enferm. Online. v. 14, n. 1, p. 38-43, 2005. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072005000100005. FABRI, M. Desafios para a Preservação da Privacidade no Contexto da Saúde. Rev. Temas em Debate. Rio de Janeiro, v. 1, n. 1, p. 306-322, 2003. FERREIRA, R. C.; SILVA, R. F.; ZANOLLI, M. B.; VARGA, C. R. R. Relações éticas na Atenção Básica em Saúde: a vivência dos estudantes de medicina. Ciênc. saúde coletiva. Online. v. 14, supl. 1, p. 1533-1540, 2009. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232009000800027. FORTES, P. A. C.; SPINETTI, S. R. O agente comunitário de saúde e a privacidade das informações dos usuários. Cad. Saúde Pública. 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A proteção dos sujeitos pesquisados é uma das grandes preocupações dos Comitês de Ética. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Ciência e Tecnologia (DECIT) e Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP), cria subsídios para fortalecer os comitês de ética locais. A CONEP foi criada por meio da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, com a função de implantar as normas e diretrizes regulamentadoras de pesquisa em seres humanos. A CONEP tem função consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de Comitês de Ética em Pesquisa, organizados nas instituições em que as pesquisas se realizam (BRASIL, 1996). O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) é uma instância colegiada, constituída pela instituição em respeito às normas da Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996). Ele foi registrado pela CONEP em 14 de setembro de 1999, possui autonomia e é independente no exercício de suas funções, multidisciplinar e investido de múnus público. A aprovação de comitês locais nas instituições trata-se da melhor forma de se obter proteção aos sujeitos de pesquisa, que podem acessar esclarecimentos sobre os estudos de que participam ou até mesmo levar queixas (EDGAR; ROTHMAN, 1995; GRAF; COLE, 1995). O CEP tem caráter multi e transdisciplinar. Ele conta com a participação de profissionais da área da saúde, das ciências sociais e humanas, e representantes da comunidade. O CEP foi constituído como instância independente, manifestando-se em nome da sociedade para dar o aval de que a participação na pesquisa não acarreta prejuízo ou dano ao sujeito. Neste sentido, o CEP assegura o respeito às pessoas, e considera suas necessidades e direitos. Trata-se de uma forma organizada de controle social sobre as práticas da ciência. Os Comitês foram criados não para isentar o pesquisador de responsabilidade, mas para contribuir no desenvolvimento da pesquisa dentro de padrões éticos. Contudo, ao aprovar o projeto de pesquisa, o Comitê passa a ser co-responsável pelos aspectos éticos sem, contudo, eximir o pesquisador de sua responsabilidade ética, a qual é “indelegável e intransferível” (FREITAS; HOSSNE, 2002). Assim, este trabalho tem como objetivo descrever a experiência do CEP da Unimontes no período compreendido entre 2000 a 2009. Material e métodos Este estudo foi conduzido no Comitê de ética em pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros -Unimontes, situada em Montes Claros, cidade polo do norte de Minas Gerais, Brasil. O desenho do estudo é o transversal e documental, na modalidade estudo de caso. O estudo foi desen- volvido por meio da avaliação de documentos arquivados no CEP da Unimontes, pareceres consubstanciados e folhas de rosto dos protocolos de projetos de pesquisa submetidos à apreciação do CEP de janeiro de 2000 a dezembro de 2009. Os pareceres dos projetos de pesquisa foram avaliados para identificar o percen137 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar tual de projetos aprovados e de reprovados, além de conhecer os motivos da reprovação da pesquisa. Pelas folhas de rosto foi possível identificar a área e a subárea de conhecimento dos estudos. A avaliação dos dois documentos permitiu identificar o local proposto para realização do estudo (cenário de prática) e o tempo demandado, em dias, entre a submissão da proposta ao CEP e a avaliação ética concluída. Para a coleta dos dados, foi desenvolvido um formulário próprio previamente testado em estudo piloto com dez documentos de pesquisa. O estudo foi conduzido de acordo com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, parecer nº 1661/2009. Resultados e discussão Foram analisados 1757 documentos do Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, arquivados no período de 2000 a 2009. O tempo decorrido entre a submissão e apreciação ética foi em média 11,07 (±5,413) dias, a mediana e moda igual a 11 dias, o percentil 25% igual a 9 dias e o percentil 75% igual a 14 dias. O período máximo constatado foi de 26 dias. A grande maioria dos pareceres consubstanciados (95,8%) informava a aprovação ética para a condução do estudo. Isso porque o método científico não feria os preceitos éticos da pesquisa em seres humanos. Desse modo apenas uma pequena parcela de projetos (4,2%) foi reprovada pelo CEP da Unimontes. Os motivos de reprovação estavam relacionados a diferentes problemas. Entre eles destacam-se os problemas na elaboração do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (1,4%), problemas nas informações do cronograma da pesquisa (1,7%), no TCLE e cronograma simultaneamente (0,3%), no TCLE e na metodologia simultaneamente (0,2%), na folha de ros- to (0,3%), e na metodologia (0,2%) dos projetos de pesquisa. Os projetos avaliados no CEP correspondiam a diversificadas áreas do conhecimento: ciências exatas e da terra, ciências biológicas, engenharias, ciências da saúde, ciências sociais aplicadas, ciências humanas e linguística, letras e artes. A área mais destacada foi ciências da saúde (60,8%). A condição de aprovação dos projetos não foi associada às áreas de conhecimento agrupadas em três categorias: ciências exatas, ciências da saúde e ciências humanas (p=0,415). Quando as três categorias das áreas de conhecimento foram associadas ao tempo demandado entre submissão e avaliação do projeto verificou-se que a média de tempo para ciências exatas foi de 13,00(± 4,83) dias, das ciências da saúde foi igual a 10,91(±5,18) dias e a média de tempo das ciências humanas foi igual a 11,69(±5,99) dias, com diferença significativa no tempo decorrido para análise dos projetos conforme a área de conhecimento (p=0,001) (TABELA 1). Tabela 1: Média, desvio padrão e intervalo de confiança de 95% (IC95%) do tempo entre submissão e avaliação conforme área de conhecimento do estudo. CEP, 2000-2009. Unimontes. Tempo entre submissão e avaliação ética Área de conhecimento Média Exatas 13,00 Saúde 10,91 Humanas 11,68 Desvio padrão 4,83 5,18 5,99 IC95% 5,31-20,69 10,61-11,21 11,14-12,25 p* 0,001 ... ... Fonte: Elaborada pelas autoras, 2013. *Teste Kruskal-Wallis Entre as 40 subáreas destacadas na documentação avaliada, as mais frequentes foram a enfermagem (25,4%), o serviço social (13,1%), a odontologia (9%), a saúde coletiva (6,5%), a educação física (8,0%) e a medicina (3,6%). Quanto ao local de realização do estudo o hospital foi o mais relatado, representando 414(23,6%) pesquisas científicas, a Estratégia Saúde da Família-ESF foi o cenário de prática para 187(10,6%) projetos, as instituições de ensino foram contempladas em 139(7,9%) estudos e a Instituição de Ensino Superior- Unimontes foi o local de coleta de dados para 139 (7,9%) estudos. Não houve diferença significativa (p=0,089) entre as médias de dias equivalentes ao período de submissão e avalia138 ção ética dos projetos conforme o local proposto para a realização do estudo (cenário de pesquisa). A condição de aprovação dos projetos de pesquisa junto ao CEP foi associada com o cenário proposto para a pesquisa assim como associada à área de conhecimento do estudo. Foi constatado que a aprovação dos estudos não esteve associada ao local nem a área de conhecimento (p>0,05) conforme demonstrado na Tabela 2. Área - Bioética Tabela 2: Associação bivariada entre condição de aprovação do projeto de pesquisa e cenário de prática e área de conhecimento. CEP, 2000-2009. Unimontes. Aprovação Variáveis Cenário Hospital Outros Total Sim N(%) 401(97,3%) 1261(95,2%) 1662(95,7%) Área Exatas Saúde Humanas Total 4(100%) 1081(96,1%) 428(94,8%) 1513(95,8%) Não N(%) 11(2,7%) 63(4,8%) 74(4,3%) Teste Total N(%) 412(100%) 1324(100%) 1736(100%) 0(0%) 44(3,9%) 23(5,1%) 67(4,2%) 4(100%) 1125(100%) 451(100%) 1580(100%) p 0,067* ... 0,490** ... ... *Teste de Pearson ** Likelihood Ratio O número substancial de projetos analisados pelo CEP da Unimontes retrata a importância do Comitê local no sentido de preservar os princípios éticos e referenciais fundamentais para a pesquisa em seres humanos. O pequeno prazo decorrido da submissão do projeto de pesquisa à apreciação demonstra o compromisso do comitê local em avaliar todos os documentos recebidos nessa instância. As reuniões do CEP estudado são mensais e agendadas previamente a cada ano. As datas são divulgadas no site da Unimontes. Também são disponibilizados para os pesquisadores os prazos limites para a entrega dos documentos necessários à submissão de um projeto de pesquisa para a avaliação do comitê local. Desse modo, os pesquisadores podem se organizar para a entrega de todo o material necessário em tempo hábil para a análise ética na reunião subseqüente do comitê. Quanto ao fato de a maior média de tempo ser dos projetos vinculados à área das ciências exatas, tem-se como hipótese que é devido à menor representatividade dessa área junto ao comitê local, o que demanda um maior tempo de análise do projeto por parte de profissionais com formação em outras áreas do conhecimento. A maioria dos projetos de pesquisa apresentou parecer favorável à execução da proposta, o que significa que eles respeitavam os princípios éticos da pesquisa envolvendo seres humanos. Esse é um resultado correspondente ao encontrado no estudo do CEP/SES/ DF, que apresentou um percentual de aprovação igual a 90,4% dos projetos avaliados (NOVAES; GUILHEM; LOLAS, 2009). Neste estudo, a reprovação dos projetos foi por diferentes motivos, entre eles, as falhas na elaboração do TCLE. Observou-se também que a reprovação ocorreu, em alguns projetos, por mais de um problema detectado no mesmo projeto, como falhas no TCLE e no cronograma ou falhas no TCLE e na metodologia. No geral, a falha mais destacada foi a relacionada com o TCLE. Então, os problemas relacionados ao TCLE foram uma das razões para reprovação de projetos de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes. O número de projetos da área de conhecimento das ciências da saúde foi o maior, sendo os oriundos da enfermagem os mais frequentes, o que talvez explique o maior número de pesquisas realizadas em hospitais. Pode-se afirmar que a avaliação ética de um projeto de pesquisa na área da saúde, e em outras áreas, baseia-se, pelo menos, em quatro pontos fundamentais: na qualificação da equipe de pesquisadores e do próprio projeto; na avaliação da relação risco-benefício; no consentimento informado e na avaliação prévia por um comitê de ética (CLOTET, 1995). A avaliação prévia dos projetos de pesquisa realizada por um comitê visa assegurar a adequação dos aspectos éticos e metodológicos do estudo. O Comitê, devido a sua independência e representatividade acadêmica e social, garantirá que os estudos tenham um aval institucional, além da responsabilidade assegurada pelos pesquisadores (GOLDIM; FRANCISCONI, 1995). Considerações finais Concluiu-se com este estudo que o Comitê local da Unimontes, ao reprovar projetos de pesquisa por falhas no TCLE, metodologia e cronograma, fundamentou -se na resolução 196/96. A avaliação ética foi respaldada nos princípios fundamentais da Bioética: autonomia, beneficência, não maleficência e justiça. Portanto, o comitê local cumpriu, com competência, o seu papel de resguardar a ética e o sujeito da pesquisa. Ademais os resultados deste estudo demonstram que o CEP da Unimontes foi resolutivo na avaliação de projetos de pesquisa, uma vez que demandou pouco tempo entre a submissão e o parecer final da proposta de estudo. 139 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 196/96 Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: Ministério da Saúde, 1996. 24p. CLOTET, J. O consentimento informado nos Comitês de Ética em pesquisa e na prática médica: conceituação, origens e atualidade. Bioética. v. 3, n. 1, p. 51-59, 1995. EDGAR, H.; ROTHMAN, D. J. The institutional review board and beyond: future challenges to the ethics of human experimentation. 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Arq Med. v. 23, n. 4, p. 145–150, 2009. 140 Área - Bioética INSERÇ ÃO DO CONTEÚDO PL ANTAS MEDICINAIS EM CURSOS DA ÁRE A DE SAÚDE DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CL AROS, MINAS GER AIS, BR ASIL Maria Helena Alves Feitosa Letícia Lopes Soares Guilherme Almeida Borges Isabelle Ramalho Ferreira Simone de Melo Costa [email protected] Introdução O uso terapêutico das plantas medicinais na saúde constitui-se prática milenar, baseada na sabedoria do senso comum que articula cultura e saúde. As plantas como medicamentos caracterizam, muitas vezes, o único recurso de terapia para as comunidades. Ademais, todas as classes socioeconômicas brasileiras utilizam plantas medicinais devido a fatores como preferência cultural, baixo custo e ação das plantas no organismo humano (LÓPEZ, 2006). Contudo, no início do século XX, com a Revolução Científica e a Revolução Industrial, práticas terapêuticas que não detinham evidências científicas, a partir de métodos experimentais e fenômenos matemáticos quantificáveis, passaram a ser marginalizadas. Outro fator que colaborou para o abandono das práticas terapêuticas alternativas como um todo foi a estruturação das graduações em saúde na perspectiva do modelo biomédico. Tal modelo tem como base o método reducionista cartesiano, que desconsidera as implicações socioeconômicas, culturais e psicológicas do processo saúde-doença. O modelo foca o fator biológico, que financia a medicalização e negligencia o saber popular (ALVIM et al., 2006). Na década de 80, após a vasta experiência com os medicamentos alopáticos, a população se mostrou insatisfeita face aos efeitos adversos desses. Além disso, o alto custo dificultava o acesso aos mesmos (BATISTA et al., 2012). Assim, o uso de medicamentos fitoterápicos foi resgatado, no meio científico, para se juntar aos convencionais, tendo como propósito ampliar o acesso a opções de tratamento com produtos seguros, eficazes e de qualidade de forma integrativa. Entretanto, não ti- nha o objetivo de substituir o modelo convencional, mas atuar como uma prática complementar, principalmente no âmbito da atenção básica à saúde (BATISTA et al., 2012). Em 2006, o Ministério da Saúde, através da Portaria 971, aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), com o objetivo de promover e recuperar a saúde com qualidade e eficiência. Essa política incorpora práticas alternativas que já vêm sendo desenvolvidas em algumas áreas, entre elas a fitoterapia. Além disso, tal política legitima o uso de plantas medicinais na atenção primária em saúde, enfatizando a necessidade de uma medicina humanizada e holística. Além do mais, estabelece um crescimento no uso das práticas terapêuticas, contribuindo para validação científica das espécies de fitoterápicos (BRASIL, 2006). Diante dos avanços percorridos e concretizados através de decretos e portarias, o Ministério da Saúde estimula e incentiva a pesquisa na área dos fitoterápicos e inclui o tema como prioridade na rede de pesquisas em atenção primária à saúde. Medida importante quanto ao aspecto ético, uma vez que proporciona aos usuários, dos serviços de saúde, a possibilidade de escolha diante das diferentes práticas terapêuticas, preservando o princípio da autonomia. O objetivo do estudo foi conhecer a opinião dos acadêmicos da área de saúde da Universidade Estadual de Montes Claros acerca da inserção do conteúdo plantas medicinais na graduação. 141 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos Trata-se de estudo transversal, quantitativo e analítico realizado com estudantes de enfermagem, medicina e odontologia, em 2011. Participaram acadêmicos do primeiro ano e último ano dos cursos de enfermagem (1º, 2º, 6º e 7º períodos), medicina (1º, 2º, 10º e 11º períodos) e odontologia (1º, 2º, 8º e 9º períodos). A escolha dos períodos deu-se devido a corresponder ao início e ao final da graduação. Todos os alunos matriculados nos períodos acima citados foram convidados a participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Participaram 248 estudantes. Utilizou-se um questionário semiestruturado e autoaplicado, após estudo piloto. O tratamento estatístico foi no Programa Statistical Package for the So- cial Sciences, versão 18.0. Para a análise descritiva das variáveis, utilizaranse medidas de tendência central e de dispersão como: média aritmética, desvio padrão, valores mínimo e máximo e quartis, bem como o cálculo de proporções. Para a associação entre as variáveis categóricas, adotou-se o teste do Qui-quadrado de Pearson, e para a comparação de médias, o teste t Student, com nível de significância de p<0,05 (HOSMER; LEMESHOW, 2000). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, parecer 2906/2011, de acordo com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, Ministério da Saúde (BRASIL, 2012). Resultados e Discussão O presente estudo aborda aspectos sobre o interesse e aceitação dos estudantes da área da saúde na introdução do conteúdo Plantas Medicinais e Fitoterapia no currículo de graduação. A maioria dos estudantes é do sexo feminino (69.8%), com idade entre 17 a 45 anos, média igual a 22.2 anos. A feminilização nas universidades no Brasil, na década de setenta, representa um marco das mudanças na sociedade, que considerava essas instituições como um espaço masculino. Costa et al. (2010), observaram que no curso de odontologia da Unimontes há uma superação do contingente feminino, desde a implantação do curso, na década de noventa. Os estudantes (70.8%) se mostraram favoráveis à inserção do conteúdo planta medicinais na graduação, sem diferença estatística entre os sexos (p= .757). O maior interesse foi detectado na enfermagem (83.1%), com diferença significativa entre os outros cursos (p= .019). Gráfico 1. Gráfico 1: Distribuição dos estudantes quanto ao interesse na inclusão do conteúdo plantas medicinais na graduação. Outros estudos demonstraram o interesse de acadêmicos da saúde pelo tema práticas não convencionais em saúde, como o de Kulkamp et al. (2007), que entrevistou estudantes de medicina, e o de Trovo et al. (2003) com estudantes de enfermagem. Os principais motivos para introdução do conteúdo na grade curricular foram: ampliar o campo de co142 nhecimento (35.6%), conhecer a evidência científica das plantas medicinais (16.5%) e saber sobre a eficácia no tratamento e na cura (11.4%). A introdução da fitoterapia no currículo acadêmico pode oferecer maior segurança ao profissional, uma vez que o mesmo, a partir desta medida, terá conhecimento específico sobre o assunto, com base em evidências Área - Bioética científicas. Sendo assim, haverá uma maior qualificação profissional para atuar com fitoterápicos junto ao Sistema Único de Saúde, preservando o direito de escolha dos usuários que preferem a fitoterapia como opção de tratamento. Isso vai ao encontro da política nacional que contempla o SUS como cenário de prática para instituição de fitoterápicos por meio da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (BRASIL, 2006). Conclusão Conclui-se que os estudantes são favoráveis à inserção do conteúdo fitoterápico no currículo da graduação. Constatou-se um maior interesse pelo tema junto aos estudantes de enfermagem, sendo a ampliação do conhecimento o motivo mais destacado. Considera-se que a capacitação profissional sobre plantas medicinais possa contribuir na garantia do direito de escolha dos usuários ao tratamento fitoterápico, resguardando, assim, o princípio da autonomia e contrapondo o paternalismo profissional ao adotar medicamentos alopáticos como o único recurso terapêutico. Referências ALVIM, N. A. T.; FERREIRA, M. A.; CABRAL, I. E.; ALMEIDA FILHO, A. J. O uso de plantas medicinais como recurso terapêutico: das influências da formação profissional às implicações éticas e legais de sua aplicabilidade como extensão da prática de cuidar realizada pela enfermeira. Revista Latino-americana de Enfermagem. Rio de Janeiro, v.14, n. 3, p. 316-323, 2006. BATISTA, L. M.; VALENÇA, A. M. G. A fitoterapia no âmbito da atenção básica do SUS: realidade e perspectivas. Pesq Bras Odontoped Clin Integr. João Pessoa, v. 12, n. 2, p. 293-296, 2012. BRANDÃO, M. G. L.; MOREIRA, R. A.; ACÚRCIO, F. A. Interesse dos estudantes de Farmácia e Biologia por plantas medicinais e Fitoterapia. Revista Brasileira de Farmacognosia, v. 11, n. 2, p. 71-76, 2001. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria 971. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília, 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Resolução nº 466/12. Sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília, 2012. COSTA, S. M.; DURÃES, S. J. 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Enfermagem. v. 11, n. 4, p. 483-489, 2003. 143 Área - Bioética PONDER AÇÕES DO ENSINO DE BIOLOGIA NA ESCOL A ES TADUAL MONSENHOR GUSTAVO Ricardo Rodrigues Bacchi Renata Lafetá Rabelo Bruna Dias Alves e Silva Ludiane Cordeiro Ribeiro Léia Adriane Araújo Santos Isabela Lorrany Oliveira Melo Anna Caroline Pimenta Ferreira [email protected] Introdução A escola atual contém uma série de conhecimentos constituídos e formulados a partir do desenvolvimento de muitas ciências acadêmicas que se estruturam em disciplinas escolares que compõem os currículos do ensino fundamental e do ensino médio. Dentre essas disciplinas encontra-se a biologia que nas duas últimas décadas tem fundamental importância para a preparação de indivíduos com uma postura mais crítica tanto na forma de pensar quanto na forma de agir em relação aos problemas éticos da medicina e das ciências biológicas, tais como a clonagem e a utilização de células tronco. Um bom plano de ensino da disciplina biologia dentro dos projetos politicopedagógicos do ensino fundamental e médio é o instrumento necessário para se iniciar o estudo sistemático na área das ciências da vida e cuidados da saúde, sendo de fun- damental importância para contribuir para o exercício e a consolidação da cidadania, contribuindo para auxiliar um padrão moral comum para a solução das controvérsias provenientes das ciências biomédicas e das altas tecnologias aplicadas à saúde. A ciência da biologia foi influenciada por diversas correntes de pensamento, que influenciaram a nossa formação profissional causando uma inquietude presente em discussões que se refere a sua importância e/ou relevância para a sociedade. Sendo assim a comunidade acadêmica da Universidade Estadual de Montes Claros - UNIMONTES e professores supervisores da Escola Estadual Monsenhor Gustavo através do sub projeto do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) do curso de biologia licenciatura/2014, avaliou aspectos da prática pedagógica do ensino em biologia. Materiais e métodos Em um primeiro momento analisamos o projeto político pedagógico da escola e os Conteúdos Básicos Comuns de Ciências (ensino fundamental) e Biologia (ensino médio) (CBCs), formamos os grupos focais e organizamos entrevistas. Foram coletadas informações dos alunos e professores da escola a respeito de sua concepção do ensino de biologia e o que poderia ser feito para melhorá-lo. Durante as entrevistas, surgiram vários questionamentos, como a real necessidade de se planejar bem as aulas e como as questões bioéticas presentes nos livros didáticos são trabalhadas, bem como foram abordadas as principais causas de interesse e/ou desinteresse pela disciplina. Os relatos das entrevistas se tornaram objeto de investigação e melhoria para ensinar a biologia. Após o período de realização do diagnóstico, foram observadas muitas inquietações em relação ao livro didático e sua explicação, sendo relatado pelos alunos que as aulas expositivas não agradavam e não envolviam os estudantes, acreditando-se que a falta de estímulo da turma não era devido à incompetência dos professores, e sim pela falta de aulas práticas e Modelos Anatômicos que ilustrariam melhor as aulas. 145 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e discussão Percebemos que o cotidiano do estudante é muito pouco explorado, e os alunos quando questionados em situações comuns que envolvem a bioética, ficam truncados e sem linearidade com o que estava sendo trabalhado nas aulas. Com esta pouca ou deficitária exploração do cotidiano durante as aulas, o estudante não consegue correlacionar os conteúdos que são estudados com a sua vida e como esse conteúdo poderá ser importante para o exercício da sua cidadania. Apesar de sua relevância para o estudante, uma vez que o estudo da biologia tenta explicar os fenômenos ligados à vida e à sua origem, o que se observou, durante este primeiro momento, foi o pouco interesse e envolvimento dos alunos com a matéria e cuidados com a saúde. Amaral (1997) e Bachelar (1996) enfatizam que nos modelos mais atuais, discute-se serem necessários os conhecimentos prévios dos alunos, para poder trabalhar e vivenciar conjuntamente a eles a construção do saber. Porém, percebeu-se que a maioria dos alunos não possuíam uma boa base na alfabetização gerando dificuldades na aprendizagem. Coube-nos então realizar alguns questionamentos pensando na função social da escola. Perguntamos para os alunos o motivo pelo qual eles interessavamse e/ou desinteressavam-se pela biologia e se o interesse/desinteresse dos estudantes estaria relacionado com as práticas pedagógicas dos professores ou se- riam os conteúdos ministrados. Devido aos questionamentos, notou-se a necessidade de investigarem-se as causas do interesse e/ou desinteresse dos estudantes pela disciplina biologia e questionarmos o estudante com perguntas simples como se ele gosta ou não de Biologia e o porquê, o que mais gostou e menos gostou de estudar e qual é a importância de estudar a Biologia. Essas perguntas serviram para fomentar a discussão entre os acadêmicos para as limitações pedagógicas encontradas nas aulas. Um ponto importante discutido após a observação dos acadêmicos analisando as entrevistas com os estudantes foi a necessidade de se planejar a aula que será ministrada para melhor estimular os alunos. Muitas vezes o professor planeja muito bem a sua aula escolhendo filmes e técnicas pedagógicas diversas para serem trabalhadas com diferentes conteúdos, que não são realmente efetivados por uma série de razões como o desinteresse do estudante pelos estudos e a obrigatoriedade de “frequentar” a escola e deixar um mundo mais estimulante lá fora. Além disso ministrar aulas diferenciadas, nem sempre seria ou é fácil, pois há um conteúdo a ser cumprido e terminado, além de um tempo muito curto para realizá-las. Outro fator que merece ser mais bem discutido seria a falta de uma sólida educação do ensino fundamental, o que gera problemas futuros em anos posteriores. Conclusões O que se constatou na escola através dos grupos focais com os estudantes foi a dificuldade em compreender o que foi questionado e em responder às perguntas que se referiam ao ensino de biologia em relação à deficitária compreensão do que é lido, ou seja, o problema que está relacionado à leitura e interpretação textual são bem comuns na escola. Assim, constatamos que um dos aspectos que leva ao desinteresse pela disciplina Biologia foi a falta de uma boa base na alfabetização, sendo que o processo de alfabetização, ou a falta dele, irá repercutir em anos posteriores do ensino médio levando a um desinteresse pelos estudos. Obtivemos respostas muitas vezes vagas e percebeu-se que os estudantes não conseguem internalizar a importância da Biologia para a sua atuação enquanto cidadãos, devido ao pouco esclarecimento a este fato. Contudo, quando observamos as respostas das 146 entrevistas verificamos que a maioria dos estudantes gosta da disciplina e também do professor, mas não compreendem a importância da disciplina para a sua vida. Eles também não conseguiram relacionar este fato com a prática pedagógica do professor, ou seja, ao trabalho didático do professor, apresentando dificuldades em entender formas de comunicação textuais, de imagens e debates. Essas práticas pedagógicas apesar de possuírem como objetivo tornar as aulas mais agradáveis, não conseguem chegar ao objetivo final que é promover um conhecimento sólido e reflexivo sobre assuntos relacionados à ciência da vida. Acreditamos que esta é uma pesquisa importante para o processo de formação do profissional que irá atuar em sala de aula ministrando a disciplina biologia, para que cotidianamente reveja a sua prática e postura, e reavalie a sua posição perante seus alunos. Área - Bioética Referências AMARAL, I. 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Depois de uma longa história de fracassos, o transplante de órgãos e tecidos passou a ser aceito como método terapêutico lídimo graças aos avanços das técnicas cirúrgicas e da introdução de fármacos imunomoduladores (ROCHA, 2010). O transplante permitiu manter com vida um grande número de pessoas vítimas de doenças que outrora não tinham possibilidade de sobreviver aos episódios de agudização (SANTOS, 1998). Para o desenvolvimento técnico-científico dos transplantes e o consequente sucesso dessa modalidade terapêutica, é necessária a obtenção de órgãos. O incremento da realização de transplantes acarretou, além da cura de pacientes anteriormente desenganados, a valorização do ser humano como reserva de órgãos e tecidos, suscitando objeções bioéticas e jurídicas em razão da inviolabilidade e inalienabilidade do corpo, as quais moldaram a normatização de condutas capazes de equilibrar um caráter aceitável de rompimento da integridade do corpo humano com a possibilidade de remoção se estruturas para fins terapêuticos. Embora o número de transplantes tenha aumentado, a escassez de órgãos continua sendo um dos maiores obstáculos às equipes transplantadoras em todos os países, pois a demanda por transplantes vem aumentando em escala maior que a efetivação de doações, fazendo com que as listas de espera se ampliem (CAMPOS, 2001). As transformações da década de sessenta, especialmente nos contextos sociopolítico e tecnológico, impulsionaram o nascimento da bioética, que se origina para relacionar os avanços tecnológicos e a qualidade/ condição da vida. Desta forma, a bioética seria uma forma de trazer “limite” aos avanços técnico-científicos para preservar a vida no planeta. Em 1971, Potter propõe a constituição de uma ética aplicada à situação de vida, compreendendo que este seria o caminho à sobrevivência da espécie humana. Considera que, para garantir a sobrevivência da espécie, seria preciso respeito aos valores humanos, pressupondo prudência na relação entre o conhecimento biológico e os valores humanos (DINIZ, 2002). As novas práticas de atenção à saúde são cada vez mais exercidas por equipes de profissionais, pressupondo a integração dos mesmos em um fazer comum. Os avanços biotécnicos modificaram o paradigma do conhecido de morte, enquanto acontecimento pontual decorrente da parada simultânea da consciência, respiração, batimentos cardíacos, circulação e falência de outros órgãos, para o de morte encefálica, quando há constatação de coma não reativo, apneia, abolição de reflexos do tronco encefálico e os espinhais (SANTOS, 1998; CAMPOS, 2001; DINIZ; GUILHEM, 2002). Os profissionais que lidam com famílias que demostrem interesse em doar os órgãos têm uma ação relevante na obtenção de órgãos, e isso se confirma na atuação da Organização Nacional de Transplantes da Espanha, que apresenta o maior número de doadores por milhão de habitantes do mundo Tão grande êxito foi possível apoiando-se na função dos coordenadores de transplantes, que são profissionais treinados para a detecção dos doadores e com habilidades para manejar o complexo processo de doação de órgãos (LIMA, 2012). Diante do exposto, o estudo objetiva identificar os principais indicadores de resultado do processo de doação e transplantes de órgãos no Brasil por meio de uma revisão integrativa da literatura. 149 Métodos Trata-se de um estudo com análise descritiva do tipo revisão integrativa da literatura, que, segundo Mendes, Silveira e Galvão (2008), é um método de pesquisa que permite a busca, a avaliação crítica e a síntese das evidências disponíveis do tema estudado, de forma a ter como produto final o estado atual do conhecimento investigado e a identificação de lacunas que direcionam para o desenvolvimento de pesquisas futuras. O levantamento bibliográfico foi realizado na rede de acesso da Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) na qual o período da coleta dos artigos compreendeu os meses de setembro a outubro de 2013. Os mesmos foram selecionados nas seguintes bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências de Saúde (LILACS) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF). Foram utilizados os seguintes descritores: bioética; transplante de órgãos; família; e obtenção de tecidos e órgãos. Para a captação dos artigos, foram considerados os seguintes critérios de inclusão: estudos na íntegra, no idioma português, no período de 2005 a 2013 e que respondessem a questão norteadora da pesquisa. Excluíram-se os artigos encontrados em mais de uma fonte de informação ou duplicados, período de publicação anterior a 2005 e aqueles não relacionados ao tema. Na busca inicial foram encontradas 30 publicações nas bases de dados SCIELO, LILACS e BDENF. Desses, 22 foram excluídos e oito foram selecionados por atenderem aos critérios de inclusão propostos, constituindo-se na amostra deste estudo. Resultados e discussões Todos os oitos artigos selecionadas atenderam aos critérios de inclusão e estão assim distribuídos: cinco na base SCIELO; uma na LILACS e duas na BDENF. No ano de 2010, 2011 e 2012 houve o maior número de publicações, seguido dos anos de 2009 e 2005. Quanto ao objetivo das publicações, os autores buscaram, em sua maioria, descrever o ato de doação de órgãos relacionados ao estado emocional familiar; os aspectos geradores de sofrimento e prazer no processo da aceitação do ente querido ter falecido e a possibilidade da doação dos seus órgãos; os conflitos de interesses profissionais e a abordagem aos familiares; os fatores facilitadores e os impeditivos para doação de órgãos. Verificou-se que o município de São Paulo foi o cenário de maioria das publicações, seguido de Recife e São Carlos. Em relação aos tipos de estudos, as publicações referem-se a Artigo Original e de Pesquisa. Quanto à abordagem encontrou-se: estudos descritivos, e estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa, estudo descritivo, exploratório, de abordagem quantitativa, estudo qualitativo-fenomenológica e estudo descritivo-exploratório. Revelou-se que as internações ocorrem de forma inesperada e decorrem, principalmente, de causas traumáticas, podendo ser, também, devido a doenças congênitas ou adquiridas. Com a internação, a família é informada sobre a ocorrência do fato, a gravidade do quadro clínico e o risco de morte do paciente. Antes mesmo da informação médica, a família, muitas vezes, percebe a gravidade da situação e a proximidade da morte do paciente. A família considera a assistência prestada durante a internação do paciente satisfatória, quando observa que o atendimento é adequado e que os profissionais estão empenhados no tratamento do paciente. Imediatamente após a informação da morte do paciente, um profissional coloca a possibilidade da doa- ção de órgãos, averigua o conhecimento e o preparo da família sobre a questão, explica o processo de doação e aconselha que os familiares sejam consultados para a tomada de decisão. Um dos motivos que contribuem para a dificuldade na compreensão e/ou não aceitação do diagnóstico de morte encefálica advém do fato do paciente apresentar batimentos cardíacos, movimentos respiratórios e temperatura corpórea. A família não percebe o paciente como morto e crê na possibilidade de reversão do quadro, evidenciando a necessidade de esclarecimentos à população sobre o conceito de morte encefálica e sua irreversibilidade, antes da realização de campanhas publicitárias em prol da doação de órgãos. A assistência dispensada ao paciente e à família também influi na decisão quanto à doação de órgãos. Quanto à liberação do corpo, a família é informada sobre a possibilidade de atrasos e intercorrências na realização dos exames para o diagnóstico de morte encefálica, sobre o tempo de cirurgia necessário para a extração dos órgãos e sobre o encaminhamento do corpo ao Instituto Médico Legal (IML), nos casos de morte traumática. Há famílias que não consideram a liberação do corpo complicada, entendendo a demora como normal e decorrente da burocracia existente. O processo de doação é burocrático, desorganizado, demorado, desgastante e cansativo. Embora a situação vivenciada seja sofrida e estressante, não há arrependimento quanto à doação dos órgãos, havendo, inclusive, a crença de que, se ocorrer novamente à situação, à família concordará com a doação. São mencionados como fatores dificultadores do processo de doação a não compreensão do conceito de morte encefálica, o aspecto religioso envolvido e a demora na liberação do corpo pelo IML (SANTOS, 2005). Um estudo apontou como fatores determinantes para a doação de órgãos, Área - Bioética pela família, questões socioculturais tais como: etnia, crenças religiosas, níveis socioeconômico e de informação sobre a doação e transplantes, conhecimento do status de doador do morto, experiência prévia da família com doação ou transplante, credibilidade no sistema de transplante e distribuição de órgãos, grau de satisfação com o atendimento médico e de entendimento sobre morte encefálica, condições e o momento de abordagem da família, grau de treinamento do entrevistador, explicações sobre custos e o funeral, legislação de consentimento presumido e campanhas educacionais. Segundo as Diretrizes básicas para a captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o sucesso da entrevista familiar depende basicamente de três fatores: predisposição à doação, qualidade do atendimento hospitalar recebido, habilidade e conhecimento do entrevistador (BRASIL, 2009). Além disso, destaca-se ainda que as condições para a entrevista familiar envolvam vasta compreensão, por parte do entrevistador, da situação ao qual a família vivencia em período difícil como o luto, terá que decidir pela doação dos órgãos de seu ente ciente de que a mesma poderá repercutir em nova vida para outro indivíduo. Outras condições importantes da entrevista envolvem a conversa com o médico que assistiu ao paciente, a identificação da melhor pessoa para oferecer a opção de doação e, também, um ambiente tranquilo e confortável. A família deve também saber que a responsabilidade não precisa ser dada no exato momento da entrevista, que pode se reunir e discutir o assunto a fim de obter a melhor decisão. Essa decisão deve ser respeitada, seja qual for. Não é recomendável tentar convencer os familiares sobre o bem da doação ou tentar influenciá-los com argumentos religiosos ou morais. Expor estatísticas não apresenta qualquer validade neste momento. O entrevistador deve, sim, explicar que alguns órgãos podem não ser doados e orientar que a decisão de doação pode ser revogada a qualquer momento, mesmo após a assinatura do termo de consentimento. A literatura registra que explicar pontos específicos pode estar associado a maior taxa de consentimento,aspecto também relacionado ao tempo que o entrevistador passa com a família. A morte é um consentimento biológico que encerra uma vida, sendo capaz de suscitar nos indivíduos que a vivenciam e naqueles que estão à sua volta intensas reações emocionais. Morrer é um processo inexorável, que expõe a nossa condição humana de vulnerabilidade e caracteriza tanto o que temos de universal quanto o que nos é singular. Atualmente, encara-se o morrer como um processo construído socialmente, que não se distingue das outras dimensões do universo das relações sociais. Sendo assim, está presente em nosso cotidiano e, independente de suas causas ou formas, seu grande palco continua sendo os hospitais e instituições de saúde. Por isso, a morte ainda pode ser considerada como algo institucionalizado e medicalizado, principalmente hoje,quando os hospitais possuem aparelhos com alta tecnologia que permitem a manutenção do corpo do paciente em funcionamento,independentemente da condição de qualidade de vida. No Brasil, o termo morte encefálica foi oficialmente aceito a partir da publicação da Resolução 1.346/91 do Conselho Federal de Medicina (CFM), atualizada pela Resolução 1.480/97, que propõe uma mescla de protocolos, destacando-se como critérios clínicos o coma profundo não reativo e imperceptível, apneia, midríase paralítica bilateral e o reflexo óculo motor ausente. Esses parâmetros devem ser mantidos inalterados por período superior a seis horas, além da obrigatoriedade da realização de testes de confirmação. Só então poderá considerar o indivíduo como potencial doador. Segundo preconiza esta resolução, o potencial doador deverá ser submetido a uma avaliação clínica e a um exame complementar por dois médicos não participantes das equipes de transplante, e pelo menos um deles deverá ser neurologista, neurocirurgião ou neuropediatra com título de especialista devidamente registrado. Portanto, a morte encefálica pode ser caracterizada pela perda definitiva e irreversível das funções do encéfalo (hemisférios cerebral e tronco cerebral), de causa conhecida e determinada de forma inequívoca, sendo que a especificidade do diagnóstico deve ser de 100%. Um aspecto importante a ser considerado na definição de morte são as várias nuances que envolvem todo o processo de morrer. É fato que familiares e pessoas leigas questionam os critérios de definição de morte encefálica. Embora a mesma seja caracterizada como morte clínica, para os familiares ela só é evidenciada pela parada cardiopulmonar. A morte individual do cérebro não faz com que os indivíduos a encarem como morte, pois o coração continua batendo e dá a impressão de que o indivíduo está apenas dormindo. Infelizmente, essa situação dificulta a distinção entre a vida e a morte e provoca intensa emoção e ansiedade para a família (PESSALACIA, 2011). A possibilidade de alegrar pessoas que esperam por um transplante, através da doação de órgãos, consola e recompensa a família, embora a dor não termine. Há a manifestação do desejo da família de ajudar a incentivar a doação para possibilitar que aqueles que necessitam de um transplante continuem a viver (SANTOS, 2005). Adicionalmente, percebemos que o aumento da taxa de doadores depende de um olhar que extrapole as questões técnicas do processo de doação de órgãos e tecidos. Vários países trabalham sistematicamente nesse processo, há longo tempo, incorporando a abordagem social e a perspectiva ética, baseadas no voluntarismo das famílias e no respeito ao direito de autonomia dos potenciais doadores. Esta visão precisa ser parte integrante de quem sonha ter neste processo a certeza de desenvolver um trabalho justo e benéfico à comunidade. Além da priorização no contexto sani151 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar tário brasileiro, um dos compromissos que se deve esperar do Estado é o estabelecimento de uma legislação adequada, acompanhada de infraestrutura sanitária pertinente que estimule e facilite o controle de todo o conjunto de um novo Sistema Nacional de Transplante (ROZA, 2010). Considerações finais A alocação dos órgãos para transplante deve ser feita em dois estágios, o primeiro deve ser realizado pela própria equipe de saúde, contemplando os critérios de elegibilidade, de probabilidade de sucesso e de progresso à ciência, visando à beneficência ampla. O segundo estágio, a ser realizada por um Comitê de Bioética, pode utilizar os critérios de igualdade de acesso, das probabilidades estatísticas envolvidas no caso, da necessidade de tratamento futuro, do valor social do indivíduo receptor, da dependência de outras pessoas, entre outros critérios. Para a Equipe de Saúde trabalhar com o transplante de órgãos deve ser, e é considerado gratificante, além de poder ajudar a salvar vidas o mesmo proporciona maiores oportunidades no campo de trabalho e desenvolvimento profissional aumentando seu conhecimento e tendo uma melhor in- teração com a família do potencial doador. Portanto, é primordial ressaltar a responsabilidade de fortalecer a compreensão de que eticamente, doar é uma opção generosa, um gesto de amor para com o próximo, e uma expressão de solidariedade humana. Perante o exposto, a Bioética torna-se indispensável ao ser humano nos dias atuais, devido aos constantes e acelerados avanços da Biociência, necessitando contar com uma presença maior da sociedade, para a promoção da reflexão em torno do transplante de órgãos e tecidos, através da qual cada pessoa poderá estabelecer uma postura frente a esta problemática contribuindo para mais estudos e discussões entre a população científica, e sociedade para um conhecimento mais aprofundado sobre esses aspectos. Referências BRASIL. Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Diretrizes básicas para captação e retirada de múltiplos órgãos e tecidos da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. São Paulo: ABTO; 2009. CARVALHO, F. I.; MIZIARA, C. S. M. G. Crianças anencefálicas e doações de órgãos: questões legais e éticas no Brasil. Saúde, Ética & Justiça. São Paulo, v. 17, n. 1, p. 3-11, 2012. CAMPOS, H. H. Aumento do número de transplantes e da doação de órgãos e tecidos: processo de construção coletiva. São Paulo: Associação Brasileira de Transplante de Órgãos; 2001. DINIZ, D.; GUILHEM, D. O que é bioética? São Paulo: Brasiliense; 2002. LIMA, A. A. F. Doação de órgãos para transplante: conflitos éticos na percepção do profissional. O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 36, n. 1, p. 27-33, 2012. MENDES, K. D. S.; SILVEIRA, R. C. C. P.; GALVÃO, C. M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto & Contexto de Enfermagem. Florianópolis, v. 17, n. 4, p. 758764, 2008. PESSALACIA, J. D. R.; CORTES, V. F.; OTTONI, A. Bioética e doação de órgãos no Brasil: aspectos éticos na abordagem à família do potencial doador. Revista Bioética. Impressa. Brasília, v. 19, n. 3, p. 671-682, 2011. ROCHA, R. F. O anencéfalo como doador de órgãos e tecidos para transplante: possibilidades legais, morais e práticas. 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São Paulo, v. 13, n. 3, p. 382-387, 2005. 152 Área - Ciências da Saúde ÁREA - CIÊNCIAS DA SAÚDE A IMPOR TÂNCIA DO SONO NOTURNO NA SINCRONIZ AÇ ÃO DOS RITMOS CIRC ADIANO E DIA / NOITE Molyana Kelly Pereira Dias Olivia Abreu Versiani Manuela Pierotte Luz Gondimw Fernando Fernandes Gonçalves da Silva João Pedro Paulino Ruas Lucas Mendes Nobre Ana Carine Gomes dos Santos [email protected] Introdução O nosso organismo é adaptado a sofrer diversas oscilações nos parâmetros metabólicos, fisiológicos ou mesmo comportamentais que se repetem no período de 24 horas. A esses processos, damos o nome de ritmos circadianos, donde o termo circadiano, do latim circa (=cerca) e dies (=dia), ou seja, aproximadamente cerca de um dia. Isso é observado na temperatura corporal, no nível circulante de eosinófilos, de vários hormônios, glicose e várias outras substâncias, ou mesmo nos padrões de atividade motora e de sono e vigília (MACHADO, 2009). O sono noturno possui um papel fundamental na sincronização dos ritmos circadianos biológicos com o ritmo externo dia/noite, pois durante a noite, e orientado pela ausência de luminosidade, ocorre a liberação do hormônio do crescimento e da prolactina, substâncias fundamentais às funções vitais, e duas horas antes de acordar, ocorre a queda da temperatura central das pessoas aos seus valores mais baixos, aumentando, gradativamente, devido à concentração de cortisol no sangue, perto do momento em que elas despertam (XAVIER; VAGHETTI, 2012). Sendo assim, entende-se por sincronia desses ritmos quando, durante a noite, o sono proporciona o funcionamento que é ideal para o organismo naquele momento, da mesma forma que, durante o dia, a vigília proporcione o funcionamento que é ideal para o organismo naquele momento. Para que ocorra essa sincronia, diversas estruturas e sistemas estão envolvidos. A começar pela visão, a qual é responsável por captar a luminosidade ou ausência desta. A falta de luminosidade, proporcionada durante o sono noturno, ativa um núcleo hipotalâmico, chamado supraquiasmático, através do tracto retino-hipotalâmico (feixe de fibras). Essa ativação proporciona a excitação de fibras simpáticas que saem deste núcleo para a glândula pineal, a qual também se torna ativada. Esta, por sua vez, inicia a produção da indolamina melatonina, que tem função na regulação dos ritmos circadianos durante o ciclo dia/noite e inibição sobre as gônadas. A melatonina, portanto, é estimulada pela ausência de luz, o que representa que, durante o dia, as quantidades dessa substância são mínimas na pineal e na circulação, tendo, então, nessa fase, pouco efeito na sincronização dos ciclos biológicos com o claro/escuro (MACHADO, 2009). O sono tem se tornado um tema de relevância no meio científico e social, não só pelo maior surgimento de transtornos do sono, mas também porque aumentaram as investigações sobre o assunto, além das perturbações da saúde mental provocadas pela falta dele (PINTO et al., 2012). Em tempos de primitivismo, o ser humano já possuía uma organização das funções em ciclos que obedeciam ao sol, à lua e aos movimentos das estrelas. Em tempos de idade média, as tarefas deveriam ser feitas durante o dia, pois os equipamentos luminosos não garantiam luz suficiente durante a noite. Com a invenção da lâmpada incandescente, muitas atividades começaram a ser feitas no período noturno, para aumento de produtividade e lucro. Em tempos atuais de capitalismo, já não se diferencia dia e noite para o trabalho. Essa perda de organização do trabalho obedecendo ao ciclo dia/noite faz com que o organismo perca a sincronização dos 153 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar ritmos circadianos com o claro/escuro, pois ao trabalhar em turnos, principalmente no noturno e secundariamente no matutino, os indivíduos podem ter algumas de suas funções orgânicas alteradas devido à modificação da ritmicidade dos eventos bioquímicos, fisiológicos e comportamentais (XAVIER; VAGHETTI, 2012). As pessoas, atualmente, iludidas pelos valores da sociedade industrial, acreditam que, ao reduzir as horas dormidas durante a noite, produzam um corpo “treinado” para dormir menos e, assim, ampliar o número de horas úteis do dia, mantendo o mesmo desempenho. Quando os trabalhadores apresentam os ritmos circadianos não sincronizados com o turno de trabalho, podem apresentar um desequilíbrio em seu ritmo biológico, obrigando o organismo a esforços de adaptação que conduzirão a situações de desgaste, com repercussões orgânicas e perturbações na dinâmica social e familiar (XAVIER; VAGHETTI, 2012). Isso ocorre uma vez que o sono diurno não possui as mesmas características e qualidade do sono noturno justamente devido à necessidade da falta de luminosidade para a realização de diversos processos fisiológicos do organismo. (MARTINO; SILVA, 2009) A cronobiologia é uma ciência que estuda as oscilações das variáveis biológicas decorrentes dessas alterações dos ciclos circadianos. Outra causa para a falta de sincronização dos ritmos relacionada ao sono noturno seria a fase da adolescência, pois, nesta, parece existir uma tendência para a privação de sono crônica, o que gera uma enorme dívida de sono. Socialmente, aumentam as exigências nos diferentes contextos de vida dos adolescentes (escola, família, grupos de pares, etc.), o que permite compreender a sobrevalorização de outras atividades que não o sono. Pessoalmente, o jovem experimenta uma maior autonomia e domínio dos hábitos cotidianos, e por falta de interesse ou de conhecimento sobre o assunto, os jovens não valorizam muito os comportamentos relacionados com o sono. Dessa forma, nos adolescentes, evidenciam-se grandes alterações do ciclo sono/vigília (PINTO et al., 2012). Ainda segundo Pinto et al. (2012), um outro fator que contribui para a diminuição das horas de sono à noite é uma vida excessivamente potenciadora de estresse e ansiedade, que, ao perturbar o ciclo circadiano vigília-sono, perturba também a sincronia deste com o ciclo claro/escuro. Em uma relação recíproca, a ansiedade provoca insônia, e a insônia provoca ansiedade (RAMSHAWH et al., 2009). Existem evidências da influência dos transtornos de sono também em distúrbios emocionais, no desempenho acadêmico e nos comportamentos violentos (MANHAES, 2009). Ao referirem-se a dificuldades de sono, os programas educacionais de prevenção (primária ou secundária) possuem um papel mais importante e eficiente do que as intervenções a longo prazo e os tratamentos farmacológicos, pois a educação psíquica tem como finalidade auxiliar os participantes a incorporar a nova informação sobre o sono nas suas rotinas, enfatizar a responsabilidade individual nos comportamentos que promovam a saúde e promover os benefícios de um sono de qualidade (BUBOLTZ et al., 2009). Isso significa conscientizar um adolescente sobre as ocorrências naturais de sua fase e como vivenciá-las sem prejuízo do sono, informar ao adulto que o trabalho é importante, porém deve-se sempre procurar uma conciliação deste com o ritmo biológico e o ritmo dia/noite, e explicitar a todos os indivíduos o quão o estresse e a ansiedade fazem mal ao funcionamento normal do corpo, por prejudicar um momento tão especial pra vida: o sono noturno. Ainda que limitadas, as literaturas evidenciam que na universidade devem ser trabalhados conhecimentos sobre o sono, para uma prevenção efetiva de futuros problemas relacionados com esta temática (BUBOLTZ et al., 2009). Dessa forma, o objetivo deste estudo é salientar a importância do sono noturno na sincronização entre os ritmos biológico e dia/noite para um melhor funcionamento do organismo e qualidade de vida. Metodologia Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se uma revisão integrativa sobre a influência do sono noturno na sincronização dos ciclos circadianos e dia/noite com o intuito de reunir e sintetizar o conhecimento pré -existente sobre a temática proposta. A seleção das publicações se deu a partir da base de dados de literatura escrita, o livro de Neuroanatomia de 2009 do Ângelo Machado, e literatura virtual, o Google Acadêmico, utilizando como descritores: “sono noturno”, “ritmos circadianos” e “ritmo dia/noite”. Os critérios de inclusão dos estudos foram: artigos, publicados em língua portuguesa e no período entre 2009 e 2014, disponíveis na íntegra, realizados com hu154 manos e que possuíssem temática condizente com o objetivo. O material obtido foi, então, submetido à nova seleção, identificando-se os títulos e os resumos e elegendo aqueles que se enquadravam ao objetivo da pesquisa. Para a análise dos dados, utilizou-se a sistematização das informações, estruturada a partir de dois momentos: no primeiro momento, identificação os dados relacionados ao perfil das publicações. No segundo momento, o processo de análise se fundamentou em leitura interpretativa dos artigos, destacando as similaridades e diferenças dos conteúdos e relacionando o que os autores apresentam sobre o assunto considerado. Área - Ciências da Saúde Resultados Constatou-se que há um variado número de publicações referentes ao sono, a ciclo circadiano e ciclo dia/noite, porém de uma forma mais isolada ou relacionada com outra atividade/função do que ambos inter-relacionados. Após o cruzamento dos descritores e a utilização dos filtros, obteve-se o total de 14 referências, das quais 6 foram descartadas por não se enquadrarem ao objetivo proposto. Dessa forma, a amostra de estudo foi composta por 8 referências. Entre os objetivos, os estudos correlacionam sono noturno e trabalho em turnos; hábitos de sono e depressão/estresse/ansiedade; adolescência e período de sono; funções orgânicas e ritmo dia/noite. No estudo realizado por Xavier e Vaghetti (2012) com enfermeiros, verificou-se que muitos possuíam um turno em desacordo com o ciclo biológico. Neste estudo, os autores utilizaram o Questionário de Identificação de Indivíduos Matutinos e Vespertinos de Horne e Ostberg, o qual identifica o cronotipo dos indivíduos, classificando-os em defi- nitivamente vespertinos, moderadamente vespertinos, indiferentes, moderadamente matutinos ou definitivamente matutinos. Por conseguinte, pessoas com hábitos vespertinos acentuados são indicadas para o trabalho noturno, enquanto aquelas com cronotipos matutinos possuem dificuldade em ficarem acordadas durante a noite. Ainda no estudo realizado por Xavier e Vaghetti, 2012, verificou-se que o trabalho em turnos causa prejuízos à qualidade e duração do sono dos enfermeiros dos períodos matutino e noturno e que o cansaço e o sono estão presentes já no início da jornada de trabalho destes profissionais. No estudo realizado por Pinto et al. (2012) com adolescentes estudantes, verificou-se que os mais ansiosos apresentaram maiores dificuldades no sono, através de despertares precoces, além de corroborar que a experiência de um sono perturbado aumenta a probabilidade de desenvolver excessivamente a agressividade. Discussão Constatou-se que os próprios trabalhadores aceitam turnos de trabalhos em desacordo com o ritmo biológico, pois necessitam do emprego para proporcionar uma boa condição de vida para si e para seus familiares, ou porque desenvolvem outras atividades no restante do dia, como tarefas domésticas, maternais, entre outras. Os classificados como matutinos apresentam períodos de ritmos circadianos mais curtos, e os vespertinos períodos mais longos, o que pode constituir uma explicação para o fato da tendência para os primeiros adormecerem e acordarem mais cedo, o que é chamado como avanço da fase por Vieira (2012) e a disposição contrária nos segundos (atraso da fase). Com os adolescentes estudantes também ocorre o mesmo, pois dormem menos por substituir o sono noturno por outra atividade ou por apresentaram maiores sintomas de ansiedade e estresse. Dessa forma, todos esses fatores constituem agravos prejudiciais à saúde, por refletir na qualidade de vida, no desempenho das atividades assistenciais e, principalmente, na falta de sincronia entre os ritmos, o que altera os horários de liberações de hormônios e outras substâncias no organismo. Conclusão A limitação do sono, assim como corroboram todas as referências, em qualquer fase da vida e por qualquer que seja o motivo como, no casso em estudo, a adolescência e sua complicação natural, os períodos e turnos de trabalhos e os sentimentos frequentes nos dias atuais – estresse e ansiedade – gera prejuízos na qualidade de vida, na saúde, no desempenho das ativi- dades cotidianas e, especialmente, na falta de sincronia entre os ritmos, o que altera os horários de liberações de hormônios e outras substâncias no organismo, sendo necessário para as dificuldades no sono, além da medicação e procedimentos a longo prazo, a participação em programas educacionais preventivos. Referências BUBOLTZ, W. et al. Sleep habits and patterns of college students: an expanded study. Journal of College Counseling, n. 12, p. 113-124, 2009. 155 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar MACHADO, A. Neuroanatomia Funcional. 2.ed. São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro: Ed Atheneu, 2009. MANHAES, V. M. S. Cronotipo e privação do sono nos trabalhadores do serviço noturno hospitalar de enfermagem. Rio de Janeiro. Dissertação. Mestrado em Enfermagem. Faculdade de Enfermagem. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2009. MARTINO, M. M. F.; SILVA, C. A. R. Aspectos do ciclo vigília-sono e estados emocionais em enfermeiros dos diferentes turnos de trabalho. Rev. Ciênc. Méd. Campinas, v. 18, n. 1, p. 21-33, jan./fev., 2009. PINTO, T. R. et al. Hábitos de sono e ansiedade, depressão e stresse: Que relação? ISPA - Instituto Universitário. UIPS - Actas de reuniões científicas, 2012. RAMSAWH, H. et al. Relationship of anxiety disorders, sleep quality, and functional impairment in a community sample. Journal of Psychiatric Research, n. 43, p. 926-933, 2009. VIEIRA, A. F. R. Implementação de um Programa de Educação do Sono em Universitários. Dissertação. Mestrado em Psicologia. 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Materiais e Métodos Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e transversal. A amostra foi constituída por 50 profissionais da equipe de enfermagem. Para identificar os acidentes biológicos, utilizou-se um questionário semies- truturadoaplicado nos meses de outubro e novembro de 2012. Os dados foram tabulados no Microsoft Office Excel 2007. Resultados e Discussão A maior parte dos acidentes notificados (77%) ocorreu entre o sexo feminino com formação técnica. A maioria de origem percutânea (53,8%), envolvendo sangue e com pacientes fontes sorologicamente conhecidos, ocorrendo frequentemente em punções venosas e coletas de sangue, sendo que 69% não utilizavam o equipamento de proteção individual (EPI). A topografia da lesão predominante foram os dedos das mãos, parte do corpo onde comumente ocorre, devido aos inúmeros procedimentos realizados; 85% dos trabalhadores apresentaram esquema vacinal completo para Hepatite B; 69% realizaram exames para HIV, com sorologia negativa. Metade dos profissionais não notificaram os acidentes ocorridos, sendo uma prática usual entre os trabalhadores brasileiros. Conclusão Evidenciou-se que os profissionais se deparam com diversos fatores que os levam à imperícia na utilização dos equipamentos adequados nos procedimentos. É importante a participação dos profissionais em capacitações sobre as normas de Biossegurança e o uso dos EPI’s, para a prevenção desses acidentes. 157 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALMEIDA, C. A. F.; BENATTI, M. C. C. Exposições ocupacionais por fluidos corpóreos entre trabalhadores da saúde e sua adesão à quimioprofilaxia. Rev. Esc. Enferm USP, v. 41, n. 1, p. 120-6, 2007. BENATTI, M. C. C. Acidentes de trabalho entre trabalhadores de enfermagem de um hospital universitário. Rev. Esc. Enferm USP, v. 35, p. 155-62, 2001. BERNAL, S. B. B.; RIBEIRO, S. L.; FORTALEZA, C. M. C. B. 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Nos EUA, dos 8 milhões de atendimentos anuais, 1,2 milhões recebem o diagnóstico de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM), e o mesmo número recebe o diagnóstico de angina instável. Ademais, em 2/3 dos pacientes o diagnóstico não é confirmado (ARAÚJO; MARQUES, 2007). A variedade e a provável gravidade das condições clínicas que se manifestam com dor torácica faz com que seja essencial um diagnóstico rápido e preciso das suas causas. Dessa forma, o estabelecimento de um manejo sistematizado no atendimento a esses pacientes contribuirá positivamente na tomada de decisão, como também na redução da morbimortalidade por doenças manifestadas através de dor torácica. Nesse sentido, a problemática do presente estudo decorre da análise das lacunas existentes na literatura latino-americana e entre os conhecimentos teórico-práticos vivenciados pelos profissionais de saúde, o que torna esse tema de suma relevância, pois, através do conhecimento das dificuldades presentes no ambiente de trabalho, é possível abrir uma perspectiva de mudanças. Nesse contexto, este estudo teve como objetivo analisar o manejo da dor torácica na sala de emergência em publicações latino-americanas. Materiais e Métodos Trata-se de uma revisão integrativa da literatura sobre o manejo de pacientes com dor torácica na sala de emergência. Percorreram-se as seguintes etapas propostas por Ganong (1987): elaboração da pergunta norteadora: “Qual a situação do manejo da dor torácica na sala de emergência?”; investigação e seleção dos descritores por meio da consulta aos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS); estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão para a seleção dos artigos científicos; seleção dos artigos; análise e leitura crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados e divulgação da revisão integrativa. Adotaram-se os seguintes critérios de inclusão: pertinência à questão norteadora, estudos envolvendo somente adultos, publicações no período de 2000 a 2012, disponibilidade nos idiomas português ou espanhol e acesso na íntegra. Foram excluídos os materiais que não atenderam aos citados critérios de inclusão e os que não eram artigos científicos. Após a delimitação dos descritores, fez-se a busca nas bases de dados Base de Dados de Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Foram utilizados os descritores dor no peito, serviços médicos de emergência e infarto do miocárdio. O Quadro 1 descreve o caminho percorrido no levantamento de artigos. Foi realizada a análise criteriosa do material selecionado por meio da leitura exaustiva de cada artigo científico. A partir da discussão dos resultados alcançados, foram extraídas e sintetizadas as informações sobre o assunto em questão, culminando na presente revisão integrativa. 161 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Foram selecionados 13 artigos que atenderam aos critérios de inclusão descritos na metodologia, sendo estabelecido um panorama geral da literatura analisada. Dos artigos avaliados, 3 foram desenvolvidos em hospitais gerais, 6 em hospitais especializados em cardiologia e, em 4 artigos de revisão, não houve identificação do local de busca da literatura. Ao analisar o delineamento das pesquisas, constataram-se na amostra 4 estudos de coorte prospectivo, 2 estudos clínicos, 3 estudos descritivos e 4 revisões. Em relação ao tipo de revista em que foram publicados os artigos incluídos na revisão, todos foram publicados em revistas médicas, sendo 8 em revistas de cardiologia. A dor torácica é um sintoma comum, sendo necessária a diferenciação daquela de origem coronariana das demais. A apresentação clínica mais frequente desse tipo de dor é um desconforto difuso, retroesternal, em região de hemitórax esquerdo, podendo irradiar para pescoço, membros superiores, ombros e mandíbula. Frequentemente pode ser acompanhada por náuseas, vômitos, sudorese ou dispneia (GRANEL, 2008). Além da avaliação do quadro clínico e da estabilização da dor, é necessária a realização de eletrocardiograma e exames laboratoriais como troponina, mioglobina, CPK Total e CPK – MB tendo como referência padrão os marcadores de necrose miocárdica. A análise desses marcadores oferece estratégias relevantes para a avaliação dos pacientes com dor torácica, pois medidas seriadas de CK total e CKMB têm demonstrado uma sensibilidade e especificidade em torno de 95%, porém seus resultados são tardios quando comparados a outros métodos diagnósticos (SANTOS et al., 2006; GRANEL, 2008; SANTOS; PELLANDA; CASTO, 2005). Em algumas situações, é preciso o uso de testes provocativos de isquemias – teste ergométrico, ecocardiografia de estresse, entre outros (ESPORCATTE et al., 2007). Estudos realizados utilizam as diretrizes de classificação em rotas na conduta dos pacientes com dor torácica nas salas de emergência. Os pacientes são avaliados e classificados quanto à característica da dor torácica e a interpretação do eletrocardiograma, sendo posteriormente categorizados em quatro rotas, ou seja, estratégias diagnósticas para estratificação dos pacientes admitidos com dor no peito (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002; OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006). A rota 1 corresponde aos pacientes com dor torácica e eletrocardiograma fortemente indicativos de IAM, com elevação do segmento ST ou bloqueio de ramo esquerdo recente. Esses pacientes são encaminhados para a realização de Intervenção Coronariana Percutânea (ICP) ou são submetidos à terapia de fibrinolíticos (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002; OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006). Na rota 2 encontram-se os pacientes com clí162 nica sugestiva de Síndrome Coronariana Aguda (SCA) e com alterações eletrocardiográficas, infradesnivelamento de ST ou inversão de onda T, sendo necessária a avaliação de marcadores de necrose miocárdica e eletrocardiograma com repetição periódica nas próximas 9 horas. Os pacientes alocados nessa rota necessitam de um exame complementar, sendo indicado o ecocardiograma ou um teste de esforço, caso o cliente permaneça assintomático e sem evidência de isquemia (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002). Pacientes com dor torácica atípica, com eletrocardiograma sem alterações e clínica compatível de SCA, são incluídos na rota 3. Esses são acompanhados durante 6 horas para realização de exames de marcadores de necrose miocárdica e eletrocardiograma. Reforça-se a necessidade de que sejam feitos testes provocativos de isquemia durante o período de observação (BASSAN et al., 2000a; BASSAN et al., 2000b; BASSAN, 2002; OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006). Na rota 4 consideram-se os pacientes com possível doença vascular torácica, dissecção de aorta e embolia pulmonar e que deverão ser submetidos a exames de imagens. Em tal rota estão os pacientes com dor torácica, definitivamente não compatíveis com SCA (OLIVEIRA; SPIANDORELLO, 2001; DONOSO, 2006). Atualmente, estudos revelam novos exames laboratoriais que podem auxiliar no diagnóstico diferencial de dor torácica. Pesquisas realizadas sobre a importância da dosagem da Proteína C-Reativa no diagnóstico e prognóstico demonstraram que o nível de PCR apresentava-se notadamente aumentado nos pacientes com diagnóstico confirmado de IAM quando comparados aos que não tiveram a referida patologia. Apesar de a PCR não ser utilizada como padrão-ouro para o diagnóstico de IAM, seu valor representa um dado seguro no momento da alta hospitalar, pois seu parâmetro normal praticamente exclui eventos cardiovasculares (POTSCH et al., 2006). Pesquisas referem ainda a utilização da enzima mieloperoxidase (MPO) na identificação de pacientes de alto risco admitidos por dor torácica aguda, visto que essa enzima é densamente expressa em situações de ativação leucocitária, como, por exemplo, no processo de instabilização da placa aterosclerótica em cardiopatias isquêmicas. A MPO pode ser considerada como novo marcador para avaliação de pacientes com dor torácica, já que possibilita a presença de necrose ou isquemia, como também a existência de placas em estágios iniciais de vulnerabilidade (ESPORCATTE et al., 2007). Outro método descrito na literatura também utilizado para a tomada de decisão nos setores de emergência cardiológica é a cintilografia de perfusão miocárdica (CPM). Esse procedimento é um dos métodos diagnósticos não invasivos considerados importantes na investigação e manejo de pacientes com dor toráci- Área - Ciências da Saúde ca, além de ser utilizado na estratificação de risco cardiovascular. Destaca-se que, atualmente, a CPM vem sendo utilizada para acelerar a avaliação de clientes com dor torácica típica ou atípica e ECG de admissão sem alterações (BARBIRATO et al., 2009; MERLANO et al., 2000; MERLANO, 2004). Investigações realizadas com o objetivo de avaliar o uso da CPM em repouso durante dor torácica para descartar IAM evidenciaram que esse exame sugere afastar com segurança o diagnóstico de IAM, reduzindo hospitalizações desnecessárias e melhorando a efetividade do processo de triagem na sala de emergência (POTSCH et al., 2010). Quando se avaliaram pacientes com cintilografia miocárdica de repouso positiva, foram detectados ca- sos de doença arterial coronária significativa confirmada por angiografia. A implementação do uso da cintilografia miocárdica demonstrou uma alta sensibilidade e especificidade no diagnóstico e prognóstico, uma vez que nenhum dos pacientes com resultados negativos teve um evento cardíaco durante os seis meses de acompanhamento ambulatorial (MERLANO, 2000; BARBIRATO, 2009). Evidenciou-se que cerca de metade dos clientes que são internados não evoluem com diagnóstico de SCA. A CPM parece ser um teste confiável para descartar IAM e angina, além de contribuir para a redução do uso de recursos financeiros com internações desnecessárias e reforçar a tomada de decisão para o acompanhamento ambulatorial (MERLANO, 2004). Conclusões O diagnóstico de eventos isquêmicos em pacientes com dor torácica e eletrocardiograma inconclusivo na sala de emergência é problemático. Estabelecer um diagnóstico etiológico correto tem sido um desafio aos profissionais que atuam em serviços de emergências, já que uma diversidade de condições clínicas se manifesta através da dor no peito. Nesse contexto, este estudo evidenciou a necessidade de publicações sobre a assistência de enfermagem aos pacientes com dor no peito nos serviços de emergência, uma vez que a maioria das pesquisas se restringe à assistência médica. Adicionalmente, a geração de maior conhecimento acerca da temática pode fomentar melhorias para tais pacientes, assim como para o trabalho da equipe multiprofissional e a instituição. Referências ARAÚJO, R. D.; MARQUES, I. R. Compreendendo o significado da dor torácica isquêmica de pacientes admitidos na sala de emergência. Rev Bras Enferm, v. 60, n. 6, p. 676-80, 2007. BARBIRATO, G. B.; AZEVEDO, J. C.; FELIX, R. C. M.; CORREA, P. L.; VOLSCHAN, A.; VIEGAS, M.; PIMENTA, L.; DOHMANN, H. F. R.; MESQUITA, E. T.; MESQUITA, C. T. Uso da cintilografia miocárdica em repouso durante dor torácica para descartar infarto agudo do miocárdio. Arq Bras Cardiol. v. 92, n. 4, p. 269-274, 2009. BASSAN, R. Unidades de dor torácica. 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A despeito de todas as evidências científicas provarem a superioridade da amamentação sobre outras formas de alimentar o recém-nascido, e apesar dos esforços de vários organismos nacionais e internacionais, as taxas de aleitamento materno no Brasil, em especial as de amamentação exclusiva, estão bastante aquém do preconizado (BRASIL, 2009). Entretanto, estudos realizados em mulheres no alojamento conjunto mostram que 78% delas apesar de terem recebido orientações sobre aleitamento materno exclusivo durante o pré-natal, não tinham conhecimento correto sobre higiene das mamas, complementação alimentar e ingurgitamento mamário e seus cuidados (FONSECA et al., 2011). Nos últimos 30 anos, as políticas nacionais de apoio ao aleitamento materno se basearam eminentemente na perspectiva hospitalar ou no apoio legal, mas houve pouco e incipiente estímulo para estabelecer essas ações no âmbito da Atenção Básica (BRASIL, 2009). Dessa forma a Iniciativa Unidade Básica Amiga da Amamentação sugere treinamento das equipes de Saúde da Família, o que parece ser uma tática efetiva e de baixo custo para sensibilizar esses profissionais, padronizando as informações e proporcionado o apoio necessário para as mães com problemas para amamentarem seus filhos (CALDEIRA et al., 2008). Bonilha et al (2010) afirmam que profissionais bem especializados e orientados promovem melhor a prática do aleitamento materno como rotina no cotidiano de cada pré-natalista. Além disso, por conduzir bem esta prática, acolhem psicologicamente essas gestantes, estabelecendo um vínculo e facilitando a aproximação destas as suas unidades de referência bem como sua adesão às ações dos profissionais. A técnica da amamentação precisa de suporte apropriado e continuado para algumas mães. Se esse suporte não é disponível nas unidades básicas de saúde, inicia-se um processo de sofrimento materno baseado no ingurgitamento, nas fissuras e na percepção de fome através do desempenho do recém-nascido (CALDEIRA et al., 2007). Nota-se que a amamentação precisa ser um comportamento aprendido e exercitado e que mulheres e profissionais de saúde precisam ser estimulados, encorajados e apoiados a fim de manter os indicadores de amamentação em níveis ótimos (BONILHA et al., 2010). Assim, o objetivo desse trabalho é avaliar o conhecimento e a abordagem do aleitamento materno durante o pré-natal pelos profissionais inseridos nas equipes de saúde da família do município de Montes Claros-MG. Materiais e Métodos Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa, transversal e analítica. A população dessa pesquisa consiste em profissionais atuantes nas equipes da estratégia de Saúde da Família do município de Montes Claros-MG. O município de Montes Claros possui hoje 76 equipes de saúde da família, o que corresponde a 68% da cobertura total da cidade. O cálculo do tamanho da amostra levou em consideração o número total de 165 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar equipes e, consequentemente, de profissionais médicos e enfermeiros que as compõem: 76 equipes (76 médicos + 76 enfermeiros = 152 profissionais). Considerando um erro amostral de 5%, uma significância estatística de 95% e um acréscimo de 10% para prevenir a falta de adesão dos profissionais à pesquisa, um total de 120 profissionais (60 médicos + 60 enfermeiros) foram entrevistados. Os critérios de inclusão foram: estar vinculado, como médico ou enfermeiro, nas equipes de saúde da família, atender gestantes durante o pré-natal, ser encontrado em sua unidade de saúde até a segunda tentativa e concordar em parti- cipar da pesquisa por meio de assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A coleta de dados foi realizada após aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa através do parecer nº 407.478, e autorização dos pesquisados quanto à realização deste estudo nos serviços de saúde por meio do Termo de Consentimento e Compromisso. Os instrumentos de coleta foram aplicados pelo pesquisador e seu colaborador após visitas aos profissionais nas unidades. Foi utilizado um questionário validado por Becker (2001). Resultados e Discussão Para caracterização dos profissionais entrevistados, utilizaram-se 4 (quatro) variáveis: sexo, idade, profissão e número de pacientes atendidos por turno de trabalho. Dos profissionais entrevistados, 37 (33,6%) foram do sexo masculino e 73 (66,4%) do sexo feminino. A média de idade entre estes profissionais foi de 31,5 anos. Foram entrevistados 50 (45,5%) médicos, compreendidos entre, clínicos gerais e generalistas de família; enquanto 60 (54,5%) foram enfermeiros. A média de atendimentos por turno de trabalho foi de 10,7. Quando os profissionais foram questionados se realizaram algum curso ou treinamento sobre amamentação, 38 (34,5%) responderam nunca ter participado, 29 (26,4%) participaram 1 vez, 20 (18,2%) participaram 2 vezes, 23 (20,9%) já participaram 3 vezes ou mais de cursos desse tipo. Para verificar se os profissionais entrevistados orientam as gestantes durante o pré-natal em relação ao aleitamento materno, foram feitas perguntas específicas, descritas na tabela 1. O conhecimento dos entrevistados em relação ao aleitamento materno foi avaliado por meio de questionário validado e encontra-se representado na tabela 2. Tabela 1: Orientação dos profissionais em relação ao aleitamento materno. Perguntas Nas consultas e pré-natal você fala em vantagens ou importância da amamentação? Você orienta gestantes prestes a dar à luz sobre amamentação? Em quase todos Em alguns os encontros encontros 85 (77,3%) 24 (21,4%) Muito raramente 1 (0,9%) 87 (79,1%) 2 (1,8%) 21 (19,1%) Tabela 2: Conhecimento dos profissionais acerca do aleitamento materno. Perguntas Erraram Acertaram 1.Cuidado com os seios após cada mamada 2.Tempo de troca de seio após cada mamada 3.Uso de chupetas na amamentação 4.Atitude em caso de ingurgitamento 5. Atitude em caso de não haver apojadura 6. Cuidado diário do seio 7. Tempo de amamentação 8. Em caso de mostras de diminuição da produção de leite 9. Em relação a composição do leite ao longo da mamada 10. Fatores que influenciam a amamentação 30(27,3%) 30(27.3%) 4(3,6%) 46(41,8%) 50(45,5%) 0 60(54,5%) 22(20%) 4(3,6%) 10(9,1%) 80(72,7%) 80(72,7%) 106(96,4%) 64(58,2%) 60(54,5) 110(100%) 50(45,5%) 88(80%) 106(96,45) 100(90,9%) De acordo com Azeredo et al. (2008), a participação em capacitação sobre aleitamento materno por parte dos integrantes da equipe de saúde é relativamente baixa, o que pode ter um impacto negativo no 166 cuidado materno-infantil. Entretanto, nesse estudo, a maior parte dos profissionais participantes da pesquisa, 65,5%, relatou ter realizado curso de aperfeiçoamento nesta área. Apesar disso, a proporção dos que Área - Ciências da Saúde não receberam nenhum tipo de capacitação ainda é grande. Caldeira et al (2007), em um estudo realizado em Montes Claros, revelaram que a maioria dos entrevistados referiu nunca ter realizado capacitação específica sobre amamentação. Estes dados podem indicar uma melhora nesse aspecto, já que a necessidade constante de atualização e de melhora do conhecimento é fundamental para um bom incentivo ao aleitamento. Quanto ao conhecimento, os profissionais entrevistados tiveram desenvolvimento superior a 70% em todos as perguntas relacionadas ao cuidado com o seio, tempo de amamentação em cada seio, questões que influenciam no aleitamento materno, queixas sobre diminuição do leite e composição do mesmo. Entretanto, tiveram desenvolvimento menor que 60% no que diz respeito ao tempo de cada mamada, falta de apojadura e em relação ao ingurgitamento. O bom desempenho dos profissionais no que diz respeito ao conhecimento acerca do aleitamento materno pode ser comprovado por Caldeira et al (2007), que ressalta que, muitas vezes, os profissionais de saúde têm o conhecimento teórico das vantagens do aleitamento materno. Entretanto, o desempenho abaixo de 50% em relação à técnica da amamentação e ao manejo dos principais problemas da amamentação (ingurgitamento e fissura) mostra que esses profissionais não têm sustentação científica para abordar questões mais complexas. Frota et al (2009) afirma que, apesar do conhecimento materno em relação aos benefícios do leite mater no e da importância de amamentação exclusiva durante os seis meses de vida, as mães vivenciam algumas dificuldades, nas quais se percebem contradições entre posicionamentos favoráveis e desfavoráveis, dúvidas e dificuldades à prática do aleitamento materno. Isso pode ser visto nesta pesquisa ao observarmos que, apesar de muitos profissionais incentivarem o aleitamento materno durante o pré-natal, o conhecimento deles e a transmissão deste conhecimento não são uniformes para todos os profissionais. Conclusões O aleitamento materno é fundamental no desenvolvimento da criança e no binômio mãe e filho. O conhecimento acerca desse assunto deve ser renovado e exercitado a todo momento pelas mães para que as dúvidas sejam esclarecidas e não interfiram no bom andamento dessa prática. Para isso, é preciso informação desde o pré-natal, para que, quando chegar o momento da amamentação, ela seja feita de forma adequada. Os profissionais da saúde devem caminhar junto com as mães para esse objetivo. Nesta pesquisa, notaram-se entre os profissionais de saúde uma melhoria da capacitação dos profissionais em relação às pesquisas anteriores sobre o tema, e uma pequena melhora no conhecimento dos profissionais sobre as práticas de aleitamento materno. A carência de um conhecimento mais amplo das questões que envolvem o aleitamento materno ainda existe, e devem ser elaboradas maneiras eficazes para saná-las. Apesar de os profissionais informarem sobre a importância do aleitamento materno e conhecerem bem sobre cuidados e técnicas com as mamas para as gestantes durante o pré-natal, é necessário que tenham mais firmeza e compreensão em relação a questões mais complexas que surgem com o decorrer da prática da amamentação, para que as mães sintam-se mais seguras em cumprir com o objetivo da amamentação. Por isso, esta pesquisa contribui para mostrar que os esforços, tanto pelos profissionais como pelo governo, estão melhorando o quadro sobre o conhecimento dos profissionais de saúde em relação à prática da amamentação embora ainda existam algumas falhas que precisam ser mais trabalhadas e expandidas. Referências: AZEREDO, C. M. et al. Percepção de mães e profissionais de saúde sobre o aleitamento materno: encontros e desencontros. Rev. Paul. Pediatr. Viçosa, v. 26, n. 4, p. 336-344, 2008. BECKER, D. No seio da família: amamentação e promoção da saúde no programa de saúde da família [tese de mestrado]. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, 2001, BONILHA, A. L. L; SCHMALFUSS, J.M; MORETTO,V.L; LIPINSK,J.M, PORCIUNCULA;M.B. Capacitação participativa de pré-natalistas para a promoção do aleitamento materno. Revista Brasileira de Enfermagem, Porto Alegre, v. 63, n. 5, p. 811-816, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da criança: nutrição infantil. Caderno de Atenção Básica, Brasília, n. 23, 2009. CALDEIRA, A. P.; AGUIAR, G. N.; MAGALHÂES, W. A. C.; FAGUNDES, G. C. Conhecimentos e práticas de promoção do 167 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar aleitamento materno em Equipes de Saúde da Família em Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 8, Aug, 2007. CALDEIRA, A. P.; FAGUNDES, G. C.; AGUIAR, G. N. Intervenção educacional em equipes do Programa de Saúde da Família para promoção da amamentação. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 6, Dec-Oct, 2008. FONSECA, M. O. et al. Aleitamento materno: conhecimento de mães admitidas no alojamento conjunto de um hospital universitário. Cienc. Cuid. Saúde, Uberaba, v. 10, n. 1, p. 141-149, 2011. FROTA, M. A. et al. Fatores que interferem no aleitamento materno. Rev. Rene. Fortaleza, v. 10, n. 3, p. 61-67, jul./ set., 2009. 168 Área - Ciências da Saúde ANÁLISE DA QUALIDADE DA ASSISTÊNCIA PRÉ- NATAL NO ÂMBITO DA ES TR ATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA Cristiano Leonardo de Oliveira Dias Sônia Maria de Oliveira Barros [email protected] [email protected] Introdução A mortalidade materna é um bom indicador para avaliar as condições de saúde de uma população. Quando se analisam as condições em que e como morreram as mulheres, pode-se avaliar o grau de desenvolvimento de uma sociedade. Razões de mortalidade elevadas são indicativas de precárias condições socioeconômicas, escolaridade, dinâmicas familiares onde impera a violência, sobretudo, na dificuldade de acesso a serviços de saúde de boa qualidade, principalmente, durante o ciclo gravídico-puerperal. A importância da avaliação dos serviços de saúde é notória, assim como a discussão das políticas de saúde e a praticabilidade dos serviços (COSTA; COTTA; SIQUEIRA-BATISTA, 2006, p. 121-125). Nesse contexto, a avaliação da assistência pré-natal ocupa importante espaço na atenção à saúde da população. As ações programáticas inerentes ao pré-natal permitem o acompanhamento durante o ciclo gravídico, o que torna possível identificar situações de risco para o binômio mãe-feto e permitem agir de forma precoce para que se façam intervenções necessárias (MENDOZA-SASSI et al., 2011, p. 787). A assistência pré-natal norteada pela qualidade tem como um dos seus objetivos primordiais minimizar a ocorrência de desfechos negativos, como crescimento uterino retardado, prematuridade, baixo peso ao nascer, que impactam diretamente na mortalidade infantil, indicador da condição de vida e saúde de uma população (MENDOZA-SASSI et al., 2011, p. 787-796; NASCIMENTO; PAIVA; RODRIGUES, 2007, p. 191.; BRASIL, 2006.; LANSKY;FRANÇA; LEAL, 2002, p. 759). No contexto da Estratégia de Saúde da Família (ESF), são atribuídos à equipe interdisciplinar a receptividade e o acolhimento aos usuários da atenção primária, especialmente à mulher grávida. A atenção direcionada à gravidez inclui a prevenção de doenças e agravos, a promoção da saúde e o tratamento dos problemas ocorridos durante o ciclo gravídico-puerperal, tanto na mulher quanto no recém-nascido (DUARTE; OLIVIERIA DE ANDRADE, 2006, p. 121; GONÇALVES et al., 2008, p. 349). Norteada por estes pressupostos, a ESF objetiva orientar e esclarecer sobre pré-natal, parto e cuidados com o recém-nascido, visando à redução das taxas de morbimortalidade materno-infantil, visto que as causas são evitáveis e dependentes da qualidade da assistência prestada durante a gestação (BRASIL, 2000; SERRUYA; CECATTI; LAGO, 2004, p. 1281). Objetivou-se analisar a assistência prestada no período gravídico pelos enfermeiros (as) e médicos (as) da Estratégia de Saúde da Família de Montes Claros utilizando informações registradas nos cartões de pré-natal em consoante com o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN). Materiais e Métodos Foi realizado um estudo observacional, transversal descritivo. Em um estudo transversal, todas as medições são feitas em único momento, sem período de acompanhamento. A coleta de dados ocorreu no Serviço de Obstetrícia do Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF), hospital-escola da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, localizado no município de Montes Claros (MG), por ocasião da resolução da gravidez, no período de janeiro de 2010 a junho de 2010. A população do estudo foi constituída por 200 gestantes (cartões das gestantes) atendidas no serviço de obstetrícia do referido hospital, por ocasião da resolução da gravidez. O critério de inclusão para análise considerou as gestantes atendidas no serviço de obstetrícia do HUCF que tenham realizado a assistência prénatal exclusivamente na Estratégia de Saúde da Família do município de Montes Claros (MG), cujo pré-natal tenha sido classificado como de risco habitual, segundo classificação do Ministério da Saúde. As gestantes que realizaram o pré-natal em Centros de Saúde ou consultórios particulares e cujo pré-natal tenha sido clas169 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar sificado como de alto risco segundo classificação do Ministério da Saúde foram excluídas da coleta e análise dos dados. Elaborou-se um formulário baseado no Índice de Kessner modificado, contemplando as variáveis do índice e associando às variáveis extraídas do PHPN. A coleta de dados foi efetuada em forma de check-list a partir das informações registradas no cartão da gestante, uma vez que este é o último meio de comunicação entre as gestantes atendidas pelas equipes da Estratégia de Saúde da Família e profissionais da maternidade. A partir dele, foi elaborada uma planilha do programa Excel com base nas variáveis, posteriormente transferida para o programa Statistical Package for Social Science (SPSS) 18.0. Ressaltamos que todos os aspectos éticos e legais preconizados pela Resolução nº 196/1996 do Conselho Nacional de Saúde, a qual trata das diretrizes e normas que regulamentam a realização de pesquisa envolvendo seres humanos, foram totalmente respeitados durante a realização deste estudo. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes (Parecer consubstanciado nº 1075). Resultados e Discussão Na adequação do pré-natal, considerando os três índices adotados, observa-se que 67,6% e 68,5% dos pré-natais acompanhados por médicos (as) e enfermeiros (as), respectivamente, são classificados como adequados, sem o critério de inadequação para ambos os grupos. Quando se aplica o teste Qui-quadrado com nível de significância de 5%, não se constata diferença estatisticamente significante entre os índices avaliados para cada grupo, pois o teste não apresenta p-valor menor que 0,05, conforme mostrado na Tabela 1. Tabela 1: Classificação do Pré-Natal realizado por enfermeiros(as) e médicos(as) aplicando o Índice Kessner modificado por Takeda, realizados na Estratégia de Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2011. adequado Intermediário Índice Kessner mais adequado exames** laboratoIntermediário riais Inadequado adequado Índice Kessner mais procedimentos*** rea- Intermediário lizados no pré-natal Inadequado Índice Kessner Profissionais que registram os dados no cartão pré-natal Médico (a) Enfermeiro (a) n % n % 75 67,6% 61 68,5% 36 32,4% 28 31,5% 74 66,7% 60 67,4% 36 32,4% 27 30,3% 1 0,9% 2 2,2% 74 66,7% 60 67,4% 36 32,4% 28 31,5% 1 0,9% 1 1,1% p-valor* 0,884 0,715 0,979 * Valor de p estatisticamente significante: p<0,05 **Exames laboratoriais de rotina segundo os indicadores do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde ***Procedimentos de rotina realizados durante o pré-natal no município de Montes Claros (MG) A Tabela 2 apresenta resultados obtidos pela avaliação do Índice de Kessner modificado, separadamente para cada pré-natalistas. Desta forma, o pré-natal realizado pelo (a) médico(a) apresentou-se adequado em 67,6% para o Índice Kessner, 66,7% para o mesmo índice, adicionados exames laboratoriais e procedimentos realizados durante o pré-natal; para os outros critérios, os valores apresentam-se semelhantes, nos quais não se constatou diferença estatisticamente significante entre os critérios de adequação estabeleci- 170 dos de acordo com p-valor menor que 0,05. O mesmo acontece com os resultados apresentados para os critérios de adequação do pré-natal assistido pelo(a) enfermeiro(a), com 67,4 % classificados como adequados para o Índice Kessner, adicionados os exames laboratoriais e procedimentos realizados durante o pré-natal; e 68,5% classificados como adequados para o Índice Kessner com mesmo resultado de significância estatística adotada. Área - Ciências da Saúde Tabela 2: Classificação do Pré-Natal realizado por enfermeiros(as) e médicos(as) aplicando o Índice Kessner modificado por Takeda, por grupos específicos na Estratégia de Saúde da Família no município de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2011. Médico(a) Índice Kessner Índice Kessner mais exames** laboratoriais adequado Intermediário Inadequado n 75 36 0 n 74 36 1 % 67,6% 32,4% 0% % 66,7% 32,4% ,9% Índice Kessner mais procedimentos*** p-valor* realizados no pré-natal n % 74 66,7% 36 32,4% 0,368 1 0,9% Enfermeiro (a) Índice Kessner n adequado 61 Intermediário 28 Inadequado 0 % 68,5% 31,5% 0% Índice Kessner mais exames laboratoriais n 60 27 2 % 67,4% 30,3% 2,2% Índice Kessner mais procedimentos p-valor realizados no pré-natal n % 60 67,4% 28 31,5% 0,223 1 1,1% * Valor de p estatisticamente significante: p<0,05 **Exames laboratoriais de rotina segundo os indicadores do Programa de Humanização do Pré-Natal e Nascimento do Ministério da Saúde ***Procedimentos de rotina realizados durante o pré-natal no município de Montes Claros (MG) Conclusões Quanto à adequacão do pré-natal realizado por enfermeiros(as) e médicos(as), tendo em vista identificar a semelhança entre os grupos estudados estatisticamente significantes, constatou-se que não houve diferenças de adequação do pré-natal entre os grupos estudados. Ressalte-se que, dentre os resultados obtidos pela avaliacão dos três Índices de Kessner (Kessner Modificado) (TAKEDA, 1993), a inadequacão não está presente nos dois grupos, considerando-se apenas o Índice Kessner; ficou evidente que a classificacão foi semelhante não importando o índice. Foi possível, ainda, por meio deste estudo, verificar a existência de uma homogeneidade entre assistência realizada por enfermeiros(as) e médicos(as), na qual se constata que as gestantes iniciaram o pré-natal no primeiro trimestre de gestação e realizaram número de consultas superiores ao preconizado pelo Ministério da Saúde, tendo acesso aos exames laboratoriais preconizados pelo PHPN; além disso, os procedimentos técnicos estão presentes durante a assistência prestada. Salienta-se que, ao avaliar o serviço de assistência ao pré-natal, o estudo não teve como objetivo avaliar a estrutura, mas, sim, o processo e o resultado como propõe Donabedian (DONABEDIAN, 1988). Dessa forma, não se pode negar a necessidade de avaliar a inter-relação e interdependência entre todos os componentes como estrutura, processo e resultado, por meio de estudos específicos. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Pré-Natal e Puerpério Atenção Qualificada e Humanizada. Brasília: Ministério da Saúde; 2006. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento. Brasília: Ministério da Saúde; 2000. COSTA, G. D.; COTTA, R. M. M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Avaliação do cuidado da gestante no contexto do Programa de Saúde da Família. Rev Ciência & Saúde Coletiva, v. 14, n. 1, p. 1347-1357, 2009. DUARTE, S. J. H.; OLIVEIRA DE ANDRADE, S. M. Assistência Pré-Natal no Programa de Saúde da Família. Escola Anna Nery. Revista de Enfermagem. v. 10, n. 1, p. 121-125, 2006. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em 171 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar 20 jan 2012. DONABEDIAN, A. The quality of care: how can it be assessed? JAMA, 1988; 260: 1743. GONÇALVES, R.; URASAKI, M. B. M.; MERIGHI, M. A. B.; D’AVILA, C. G. Avaliação da efetividade da assistência pré-natal de uma Unidade de Saúde da Família em um município de São Paulo. Rev Bras Enferm., v. 61, n. 3, p. 349-353, 2008. LANSKY, S.; FRANCA, E.; LEAL, M. C. Mortalidade perinatal e evitabilidade: revisão da literatura. Rev. Saúde Pública. v. 6, n. 36, p. 759-772, 2002. Disponível em: http://www.scielo.br Acesso em 11 jun 2009. MENDOZA-SASSI, R. A.; CESAR, J. A.; TEIXEIRA, T. P.; RAVACHE, C.; ARAÚJO, G. D.; SILVA, T. C. Diferenças no processo de atenção ao pré-natal entre unidades da Estratégia de Saúde da Família e unidades tradicionais em um município da Região Sul do Brasil. Cad Saúde Pública. v. 27, n. 4, p. 787-796, 2011. NASCIMENTO, E. R.; PAIVA, M. S.; RODRIGUES, Q. P. Avaliação da cobertura e indicadores do Programa de Humanização do Pré-natal e Nascimento no município de Salvador, Bahia, Brasil. Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. v. 7, n. 2, p. 191-197, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br Acesso em 11 jun 2010. SERRUYA, S. J.; CECATTI, J. G.; LAGO, T. G. O Programa de Humanização no Pré-Natal e Nascimento (PHPN) do Ministério da Saúde no Brasil: resultados iniciais. Cad Saúde Pública. v. 20, n. 5, p. 1281-1289, 2004. TAKEDA, S. Avaliação de unidade de atenção primária: modificação dos indicadores de saúde e qualidade da atenção. Dissertação. Pelotas: Universidade Federal de Pelotas; 1993. 172 Área - Ciências da Saúde ASSISTÊNCIA DA ENFERMAGEM NO PL ANE JAMENTO FAMILIAR: UM REL ATO DE E XPERIÊNCIA Mariany Santos Cardoso Sarah Martins Souza Luciana Leite Pinheiro Gomes Lyssa Esteves Souza Souto Bruna Mariane Nogueira Ruas Fabíola Afonso Fagundes Pereira [email protected] Introdução O planejamento familiar consiste em um conjunto de ações que visa expandir o acesso das mulheres, homens e casais às informações sobre os métodos anticonceptivos e a técnica de utilização dos mesmos, além de prevenir a gravidez indesejada e os abortamentos que levam muitas mulheres ao processo de adoecimento, resultando em tratamentos de alto custo, causando com isto um impacto na economia do país (BRASIL, 2002). A assistência em planejamento familiar é proporcionada atualmente no Brasil pelas equipes de Estratégia Saúde da Família (ESF), um modelo de política pública de saúde que oferece proposta de trabalho em equipe, e corresponde a uma das sete áreas prioritárias de intervenção na atenção básica (MOURA et al., 2007). Essa assistência procura levar de forma educativa, interativa e dinâmica, conhecimentos e informações, que possibilitem um processo contínuo de descobertas, visando à melhoria na qualidade de vida das famílias contempladas. Prevê também a liberdade de escolha, a utilização voluntária e responsável de métodos anticonceptivos por parte do casal, conforme orientações do Ministério da Saúde. Inclui também a estratégia de acolhimento, educação em saúde, acompanhamento dos usuários e o relacionamento interpessoal, consultas médicas e de enfermagem e a prescrição do método anticonceptivo (BRASIL, 1996). Ao visualizar o papel do enfermeiro, observa-se a importância de suas ações na implantação e manutenção das políticas nas ESF’s. O enfermeiro é considerado um agente provedor das políticas e programas voltados para a saúde da população, é articulador das informações de enfermagem, em geral possui facilidade de comunicação e interação com cliente, família e a comunidade, desenvolvendo práticas alicerçadas na proposta da ESF. Assim, verifica-se que o exercício profissional da Enfermagem, regulamentado na lei nº 7.498/86, confere atribuições privativas ao enfermeiro como, planejamento e a programação das instituições e serviços de saúde incluem planejamento e programação de enfermagem; prescrição da assistência de enfermagem; cuidados de enfermagem; planejamento, organização, coordenação, execução e avaliação dos serviços da assistência de enfermagem. E como integrante da equipe de saúde, dentre as ações desenvolvidas, é permitida a prescrição de medicamentos, desde que estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde (CONFEN, 1986; MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2007). Em Montes Claros, existe um protocolo de assistência à saúde na Atenção Básica do município que normatiza as ações a serem desenvolvidas pelo profissional enfermeiro, enquanto profissional inserido nas unidades de saúde, possibilitando maior autonomia durante as consultas de enfermagem na assistência à população em geral, incluindo assim as ações no planejamento familiar. Essa assistência ao planejamento familiar foi vivenciada durante as atividades práticas da disciplina do 4º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), que previa a integração da comunidade universitária com as famílias atendidas pela ESF, na prestação de assistência de enfermagem, realizando a consulta e aplicando a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) à mulher em relação à saúde sexual e reprodutiva e prestando assistência de enfermagem ao Planejamento Familiar. Este estudo teve como objetivo relatar as experiências acadêmicas sobre a assistência de enfermagem no planejamento familiar aplicada à comunidade assistida por uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) em Montes Claros - MG. 173 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos Estudo descritivo, tipo relato de experiência, realizado durante o estágio curricular de Atividades Práticas em Atenção Primária à Saúde, pelas acadêmicas do 4º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros, sobre a assistência de enfermagem no Planejamento Familiar aplicada à comunidade assistida por uma equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) em Montes Claros - MG. O estágio ocorreu no período de 10/09/2013 a 13/11/2013 e dentre as atividades propostas, foi prevista a realização de uma educação em saúde sobre planejamento familiar, bem como a realização da consulta de enfer- magem individual para os participantes do grupo da educação em saúde. Para o desenvolvimento da educação em saúde, inicialmente buscaram-se na literatura informações sobre o tema a fim de um melhor aprendizado e, em seguida, planejou-se como seria realizada, considerando a realidade e demanda local. Foram divulgados na comunidade a data e horário da reunião através de um cartaz na unidade de saúde e distribuídos vários convites individuais. Foi realizada no dia 31 de outubro de 2013 na parte da tarde, utilizando datashow, vídeo, caixa de perguntas e houve a participação de 5 mulheres da comunidade. Resultados e Discussão A reunião educativa sobre o planejamento familiar teve início com a apresentação dos acadêmicos do 4º período do curso de graduação em Enfermagem da UNIMONTES, juntamente com a preceptora de campo, e em seguida pelo grupo das participantes, composto por cinco mulheres, dentre as quais 4 (quatro) casadas e 1 (uma) solteira. A idade das casadas era de 22 a 35 anos e a solteira, 17 anos, as casadas duas tinham dois filhos, uma tinha 4 filhos e a outra não tinha filhos; a solteira também não tinha filhos. A reunião teve uma duração de 50 minutos e o atendimento individual das participantes durou em média 30 minutos. Segundo o protocolo da assistência de Montes Claros, a prática educativa do planejamento familiar deveria ser realizada em duas etapas, com datas diferentes, sendo a primeira etapa seria realizada por um profissional da equipe multiprofissional formada por: psicólogo, médico ou enfermeiro e deveria abordar os temas como: anatomia e fisiologia do aparelho reprodutor feminino e masculino, sexualidade e reprodução humana. Já a segunda etapa deveria ser realizada pelo médico ou enfermeiro quando seria feita a apresentação dos métodos contraceptivos e discussão dos mesmos. Ao final do planejamento familiar, há entrega de um certificado que tem validade de um ano. Após o vencimento deste, o usuário deve renovar o planejamento familiar, participando apenas da segunda reunião sobre os métodos contraceptivos quando receberá outro certificado atualizado (DIONÍSIO et al., 2006). No entanto, devido à baixa ou a não adesão da população em comparecer às duas reuniões, as duas etapas são realizadas em um único dia. As mulheres foram orientadas quanto ao modo de uso e a eficácia de cada método, à assistência especializada e acesso aos recursos que permitam a elas optarem livre e conscientemente por ter ou não filhos, o número, o espaçamento entre eles e a escolha do método anticoncepcional mais adequado, sem coação. 174 Em se tratando de planejamento familiar, as atividades de informação são extremamente relevantes, diríamos indispensáveis, ao alcance dos objetivos de serviços e usuários, exigindo da equipe de enfermagem atitude de empenharem-se em bem informar para que a clientela conheça as alternativas de concepção e anticoncepção disponíveis e, assim, possam participar ativamente da definição e do alcance de suas metas reprodutivas. (MOURA e SILVA, 2004). Coube salientar que não há um método de contracepção ideal, que todos têm vantagens e desvantagens e por isso é preciso, através desta orientação profissional, conhecer bem todos os métodos, a fim de saber qual o mais conveniente, de modo que o mais aconselhável será aquele que não tenha tantas contraindicações ao seu uso.Para tratar do assunto, procurou-se desenvolvê-lo com maior naturalidade possível, levando em conta que para falar em Planejamento Familiar, a questão da sexualidade vem à tona, sendo este um assunto considerado ainda muito constrangedor dentro de muitas famílias. Findando as explanações, através de uma dinâmica, as participantes puderam expor suas dificuldades sobre o tema, onde foi aplicada uma caixa de sugestões, a fim de relatarem suas principais dúvidas. Porém, foi observado que a utilização da mesma não seria necessária, uma vez que as dúvidas foram surgindo de forma oral, sendo estas sanadas com sucesso. A partir dessa técnica, foi possível identificar os conhecimentos que as integrantes do grupo tinham sobre os métodos apresentados. Durante a reunião, observou-se que as mulheres estavam atentas e interessadas em esclarecer dúvidas sobre informações que as mesmas tinham sobre a veracidade da eficácia dos métodos e prejuízos causados pelos mesmos, mitos em relação ao uso de alguns métodos contraceptivos, entre eles o Dispositivo Intra Uterino (DIU) sendo o vilão da história. Elas mostraram interesse e se envolveram com a exposição de alguns dos méto- Área - Ciências da Saúde dos contraceptivos como o uso do DIU, anel vaginal e o diafragma. Nessa experiência acadêmica, foi de muita valia a atenção das mesmas, uma vez que se criou um sentimento de valorização em poder contribuir para o conhecimento das mulheres que participaram do planejamento. Foi perceptível a curiosidade e interesse das integrantes, porém ainda existe uma grande barreira por parte delas para a abordagem do tema, seja por timidez, medo, preconceito, dentre outras questões. Ao término da atividade educativa, foi entregue uma cartilha a cada participante a qual continha informações sobre os diversos tipos de métodos contraceptivos e ressaltando a disponibilidade dos métodos e de profissionais da saúde dispostos a atendê-las na Estratégia Saúde da Família do bairro, encorajando-as a procurar o serviço sempre que necessário. Disponibilizou-se o certificado de participação do planejamento familiar às participantes que optaram pela inserção do DIU. A consulta individual de enfermagem ocorreu logo após a finalização da reunião educativa, por opção das próprias participantes. Essa avaliação clínica, seguida da orientação de todos os métodos, é de grande importância, pois a oferta de anticoncepcionais deve ser livre, porém, esclarecida e aconselhada. Desse modo, os clientes devem saber quais os métodos que podem usar e quais não podem; a escolha pelos mesmos deve ocorrer de acordo com características, necessidades e condições de vida de cada mulher (MOURA, 2003). O Ministério da Saúde também determina dentro das funções do enfermeiro na prestação da assistência em planejamento familiar fornecer o método anticoncepcional de acordo com a rotina do serviço (BRASIL, 2002). Conforme a Lei do Exercício Profissional (Lei nº. 7.498), de 25 de junho de 1986, regulamentada pelo Decreto nº. 94.406, de 8 de junho de 1987, compete ao enfermeiro realizar a “prescrição de medicamentos estabelecidos em programas de saúde pública e em rotina aprovada pela instituição de saúde”. No planejamento familiar, a enfermeira faz orientação individual, consulta de enfermagem com prescrição de métodos, prevenção de câncer de colo e mamas, atende retornos e revisões de DIU, laqueadura e de outros métodos. O Ministério de Saúde ainda salienta que, ao realizar o atendimento individual de mulheres, a enfermeira fornece-lhes o método escolhido (pílula ou preservativo); faz a revisão de DIU; coleta material para prevenção de câncer do colo de útero, orienta sobre a importância do controle (BRASIL, 1986). Em Montes Claros, no entanto, a essa assistência no Planejamento Familiar compete ao enfermeiro, além da consulta de enfermagem, a prescrição dos métodos anticoncepcionais hormonais orais, como a pílulas combinadas, monofásicas e trifásicas, a minipílula, a contracepção de emergência, o condom, geleia espermicida e o diafragma. E no caso de anticoncepção na adolescência apenas a prescrição do condom. Já a prescrição de métodos anticoncepcionais hormonais injetáveis e o DIU não são permitidos (DIONÍSIO et al., 2006). Durante a consulta individual, foi prescrito para as mulheres, de acordo com cada caso, uso de anticoncepcional oral e de barreira usando como apoio o Instrumento “Critérios Médicos de elegibilidade” do Manual Global para Profissional de saúde, o que permite definir com segurança o uso do método através de critérios clínicos que contraindicam indicam o uso (OMS, 2007). Houve ainda mulheres que optaram pela inserção do DIU e o hormônio injetável, sendo encaminhadas para a avaliação médica na ESF, em outro momento. Todas foram orientadas quanto à dupla proteção, pois teriam direito e acesso ao condom, se assim o desejassem, para prevenir contra as doenças sexualmente transmissíveis. À prescrição do método levou-se em conta a escolha da cliente, os critérios clínicos de elegibilidade do método e as normatizações protocoladas na instituição. Aproveitou-se o momento ainda para orientar e encaminhar para a prevenção de câncer de colo uterino e mama. Conclusões A cada pessoa atendida, principalmente a cada mulher, percebemos a relevância e a importância de levar a informação e contribuir, de alguma forma, com sua autonomia. Mesmo sendo um lento processo, essa foi a forma que encontramos, de buscar a igualdade nas relações através do empoderamento feminino; e o aprendizado para trabalhar as particularidades dos indivíduos, uma vez que valoriza, anima e motiva a comunidade assistida, embora não se pôde obter a participação de toda a população, mas os que participaram demonstraram ter apreciado cada co- nhecimento compartilhado. Enquanto acadêmicas e palestrantes, nos sentimo-nos muito motivadas com a atividade, devido à necessidade de transmitirmos um conhecimento útil e obtermos o reconhecimento compartilhado sobre a temática com os envolvidos que nos acompanharam. Logo, essa junção colabora para fortalecer e estabelecer o vínculo entre instituição e usuários, favorecendo a organização da assistência prestada ao paciente, melhorando a qualidade dos serviços. 175 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências BECHELLI, L. P.; SANTOS, M. A. Psicoterapia de grupo e considerações sobre o paciente como agente da própria mudança. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 10, n. 3, p. 383-391, 2002. BRASIL, Ministério da Saúde. Planejamento familiar: manual para o gestor. Brasília, p. 1-80, 2002. BRASIL, Lei nº 9.263, de 12 de janeiro de 1996. Regula o § 7º do art. 226 da Constituição Federal, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 12 jan. 1996. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9263.htm >. Acessado em: 17 set. 2013. BRASIL. Lei n.º 7.498, de 25 de Junho de 1986. Dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 25 de jun. 1986. Disponível em: http://corensp.org. br/072005/. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: Plano de Ação 20042007/Ministério da Saúde. 1.ed. Brasília: Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, 2004. DIONÍSIO, A. A. S. et al. Protocolo de Assistência à Saúde na Rede Municipal de Montes Claros Atenção Básica. Montes Claros, MG, 2006. Disponível em: < http://pt.scribd.com/doc/17483242/Livro-Protocolo-Atencao-Basica -Enfermagem-Montes-Claros> Acesso em: 23 nov. 2013 ELUF, M. L. Métodos Contraceptivos: Vantagens e Desvantagens. São Paulo, 2002. 37p. LAVINAS, L. Programas de Garantia de Renda Mínima: Perspectivas Brasileiras. Texto para Discussão nº 596. Rio de Janeiro: IPEA, 1998. MOURA, E. R. F. 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Agência para o Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos Divisão de Saúde Global, Escritório de População e Saúde Reprodutiva. Planejamento Familiar: Um Manual Global para Prestadores de Serviços de Saúde. Baltimore e Genebra: CPC e OMS, 200 176 Área - Ciências da Saúde AVALIAÇ ÃO DA QUALIDADE DA ATENÇ ÃO PRIMÁRIA À SAÚDE NA PERSPEC TIVA DOS ENFERMEIROS Patrycya Yhanny de Souza Assis Cássio de Almeida Lima Laura Mota Marinho Luana Castro Caetite Claudia Danyella Alves Leão [email protected] Introdução Desde a Conferência Internacional de cuidados primários em saúde, na cidade de Alma Ata (1978), a Atenção Primária à Saúde (APS) se consolidou como uma das formas mais eficientes e equitativas de se organizar os serviços de saúde e se fortalece, no Brasil, como eixo estruturante dos sistemas de saúde municipais, se apresentando-se nas mais diferentes formas e concepções, segundo as diversidades culturais, ambientais e territoriais do país (CHOMATAS, 2008). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as experiências desenvolvidas desde Alma-Ata modificaram a perspectiva dos movimentos em prol da APS. O papel dos prestadores de Atenção Primária como coordenadora do acesso aos demais níveis envolve responsabilização pela saúde da população e reconhece a essencialidade das funções exercidas pelas equipes de saúde (COHEN et al., 2004).Em 1992, em uma releitura da Carta de Alma Ata, Starfield define atributos que vão caracterizar um serviço quanto à orientação para a APS. Dessa forma, a APS possui como atributos a acessibilidade, a longitudinalidade, a integralidade da atenção e a coordenação da assistência centrada na família e na comunidade (STARFIELD; XU; SHI, 2001). Para alguns autores, é o grau de comprometimento do sistema e dos serviços de saúde com os princípios da APS que asseguram maior efetividade da atenção oferecida (MACINKO; HARZHEIM, 2007). Um sistema de saúde com forte referencial na APS é mais efetivo, mais satisfatório para a população, tem menores custos e é mais equitativo, mesmo em contextos de grande iniquidade social (HARZHEIM; STEIN; ÁLVAREZ-DARDET, 2004). Os atributos, conforme Chomatas (2008), estão relacionados com pesquisas internacionais quanto à equidade e efetividade da atenção à saúde. Essa operacionalização do conceito permite identificar o grau de orientação da APS, comparar os tipos de serviços e a associação entre a presença dos atributos e a efetividade da atenção tanto em nível individual como populacional. Dessa forma, a avaliação da APS oferece resultados que podem ser aplicados na melhoria da qualidade dos cuidados de saúde. Nesse contexto, este estudo teve como objetivos avaliar a qualidade da atenção à saúde por meio dos atributos essenciais da APS e caracterizar os enfermeiros da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Montes Claros – MG, Brasil. Materiais e Métodos O presente estudo seguiu um delineamento transversal, quantitativo, exploratório e descritivo. Foi realizado no município de Montes Claros, localizado na região Norte do Estado de Minas Gerais, com população local de 361.915 habitantes. No período da coleta de dados, foi identificada na cidade uma rede de serviços de Atenção Primária dotada de 15 Centros de Saúde (Zona Urbana), 08 equipes de Estratégia de Agentes Comunitários de Saúde (EACS), 23 equipes daESF e 42 equipes de Estratégia Saúde da Família com Saúde Bucal (ESFSB).Foram incluídas apenas as equipes de saúde localizadas na zona urbana, por limitações logísticas, e as que estavam em funcionamento por no mínimo há um ano do início da coleta de dados. Foram utilizados como critérios de inclusão os profissionais de saúde presentes no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES) e que aceitaram assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido; e como critério de exclusão os profissionais que não estavam cadastrados no CNES e que não aceitaram, por livre arbítrio, participar do estudo. A amostra deste estudo foi composta pelos profissionais enfermeiros que compunham as equipes da ESF de Montes Claros. Foi realizada uma pesquisa censitária, ou seja, com o universo de sujeitos, totalizando 56 enfermeiros, uma vez que houve a perda de entre177 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar vistas devido à recusa de profissionais em participar da pesquisa e à falta de enfermeiros contratados que formavam uma equipe completa. A coleta de dados ocorreu do mês de novembro de 2011 a maio de 2012 por pesquisadores previamente treinados. Como instrumentos de coleta de dados, foram utilizados um questionário para descrever o perfil do enfermeiro e o PCATool, criado por Starfield e validado no Brasil por Haezheim et al. (2006). Esse instrumento afere a presença e a extensão dos 4 atributos essenciais e dos 2 atributos derivados da APS e se baseia na mensuração de aspectos de estrutura, processo e resultados dos serviços de saúde. É composto por 77 itens divididos em 8 componentes da seguinte maneira em relação aos atributos da APS: 9 para a acessibilidade, 13 para longitudinalidade, 6 para coordenação – integração de cuidados, 3 para coordenação – sistema de informações, 22 para integralidade – serviços disponíveis, 15 para integralidade – serviços prestados, 3 para orientação familiar e 6 para orientação comunitária. As respostas são do tipo Likert, com intervalo de um a quatro para cada atributo. No entanto, foi aplicada somente uma parte do questionário, referente aos atributos essenciais da APS: acessibilidade, longitudina- lidade, coordenação e integralidade. Os dados foram processados no programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) 16.0 for Windows, que viabilizou a análise descritiva. Para aferição da qualidade da APS foram calculados os escores de cada atributo e o escore essencial - obtido pela média dos atributos essenciais e do grau de afiliação. Após a consolidação dos dados relativos a cada atributo, os valores foram transformados em uma escala contínua. Valores maior ou igual 6,6 foram considerados altos escores e equivalem a um ajustamento dos escores apontados na escala de Likert original a uma escala entre zero e 10, para cada um dos atributos avaliados. Valores menores ou iguais a 6,6 foram considerados baixos. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), que emitiu o Parecer Consubstanciado n° 2968/2011. À Gerência da Secretaria Municipal de Saúde também foi solicitada e obtida autorização para a realização desta pesquisa. Antecedendo a aplicação dos questionários, os participantes do estudo assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados e Discussão Verificou-se que a maioria dos entrevistados era do sexo feminino (80,4%; 45), com idade média de 28,79 anos e desvio padrão de 3,93. Com relação à equipe de saúde da família, 50% (n=28) dos enfermeiros responderam que trabalhavam em equipe completa e os outros 50% (n=28) afirmaram fazer parte de uma equipe incompleta. Quanto à variável qualificação do profissional, 62,5% (n=35) dos enfermeiros afirmaram possuir especialização em Saúde da Família, seguidos de 14,3% (n=8) com Residência Multiprofissional em Saúde da Família e 14,3% (n=8) com outra especialização. Somente 5,4% (n=3) dos entrevistados relataram não possuir nenhuma especialização. No que se refere ao treinamento para atuar na ESF, 64,3% (n=36) dos profissionais não receberam o treinamento introdutório que deve ser disponibilizado pela Secretaria Municipal de Saúde. Somente 35,7% (n=20) receberam esse treinamento. Verificou-se também que a maioria dos enfermeiros não trabalha em outros locais, representando 64,3% (n=36) da amostra. O tempo médio de serviço na mesma equipe foi de 3 anos. No tocante ao perfil dos participantes deste estudo, em relação ao sexo, é perceptível a predominância do sexo feminino, não se diferenciando do que se verificou em algumas pesquisas (SANTOS; SOARES; CAMPOS, 2007; GONÇALVES et al., 2014). Os resultados desses estudos revelam a feminização das profissões como uma tendência do trabalho em saúde e dos profissionais da ESF. No entanto, embora a enfermagem figure como predominantemente feminina, a quan178 tidade de homens parece estar aumentando nessa profissão (GONÇALVES et al., 2014). A maioria dos enfermeiros possui Especialização em Saúde da Família, seguida da Residência em Saúde da Família, diferentemente do estudo realizado por Escorell et al. (2007), no qual constataram que a formação específica dos profissionais de nível superior das equipes para atuação na APS foi baixa. Em seis municípios pesquisados, o percentual de profissionais de nível superior com especialização nas áreas de saúde pública e coletiva ou com formação voltada para a saúde da família foi inferior a 30%. Em estudo realizado na cidade de Teixeiras, com relação ao treinamento introdutório oferecido pela Secretaria Municipal de Saúde, os profissionais de nível superior relataram não receber qualquer tipo de treinamento ou capacitação, discordando da presente pesquisa, na qual 35,7% dos entrevistados receberam tal treinamento (COTTA et al., 2006). Embora o treinamento introdutório seja apontado como um fator facilitador para o trabalho, uma vez que a capacitação dos profissionais é de relevância para o aprendizado e aperfeiçoamento das relações sociais no cotidiano do serviço de saúde, em decorrência do contato com o usuário no atendimento e da necessidade de trabalhar em grupo (COTTA et al., 2006), grande parte dos profissionais deste estudo não recebeu tal capacitação. Quanto ao tempo médio de serviço, foi identificado um tempo de 3 anos na mesma equipe de ESF, concordando com pesquisa realizada por Rocha et al. Área - Ciências da Saúde (2009) na cidade de Goiânia - GO, no ano de 2007, cujo objetivo foi caracterizar o perfil profissional dos enfermeiros da ESF que atuaram na coordenação da equipe, verificando-se que 46,8% (n=44) dos 10 enfermeiros atuaram na área entre 5 - 7 anos. Porém, a maioria, 55 (58,5%), estava entre 2 e 4 anos na equipe atual. Estudo semelhante, realizado em João Pessoa - PB, mostrou que 7 anos era o tempo máximo de trabalho dos enfer- meiros na ESF (TAVARES; SANTOS, 2006) discordando da realidade aqui detectada. Na TAB. 1 observa-se que as médias dos escores dos atributos da APS expressam valores satisfatórios (≥6,6) para os atributos da longitudinalidade, coordenação, integralidade e integralidade. Os atributos primeiro contato e coordenação não atingiram os valores desejados. Tabela 1 – Média dos escores dos atributos da APS, segundo os enfermeiros. Montes Claros(MG), 2012. Atributos da APS ESF - Média (DP) Primeiro Contato 6,30 Longitudinalidade 7,15 Coordenação - Integração de Cuidados 6,41 Coordenação – Sistemas de Informações 8,49 Integralidade – Serviços Disponíveis 7,56 Integralidade – Serviços Prestados 8,5 Essencial 7,08 Fonte: Elaboração Própria. No que tange aos escores de cada atributo da APS na ESF em estudo, na análise da acessibilidade, os resultados apontaram para as dificuldades e barreiras de acesso rápido aos serviços de APS. Embora as unidades de APS devessem ser acessíveis aos pacientes em horários fora do atendimento normal das Unidades de Saúde, com períodos noturnos e finais de semana, e facilitar, assim, o acesso aos serviços de saúde como porta de entrada preferencial, os resultados ainda revelam dificuldades consideráveis. Tal realidade pode ter como consequência o redirecionamento da demanda para unidades que trabalham com pronto-atendimento. Em um estudo realizado com o objetivo de investigar a presença e a extensão dos atributos da APS no município de Curitiba, foi encontrado também um baixo escore médio para a acessibilidade (CHOMATAS, 2008).Quanto à integralidade das ações, que implica que as unidades de ESF devem promover arranjos para que o usuário receba todos os tipos de serviços de atenção à saúde, mesmo que alguns não possam ser oferecidos dentro dela (STARFIELD, 2004), são necessárias mudanças efetivas no modelo assistencial de saúde no país, uma vez que a dimensão das ações de promoção e prevenção recebidas deve estar realmente sendo executada pelos serviços de saúde (CAMPOS, 2003). Conclusões O presente estudo permitiu avaliar a atenção prestada pela ESF na perspectiva dos enfermeiros, evidenciando o seu perfil e uma avaliação satisfatória. Por outro lado, ocorre ainda uma dificuldade de acesso ao atendimento da unidade. Dessa forma, devem ser tomadas medidas de melhorias em relação à acessibilidade, tanto por parte das equipes de saúde da família quanto pelos gestores. Verifica-se, assim, a importância de estudos consistentes para a construção de subsídios para o fortalecimento e avanço da APS. Ademais, a investigação identificou o contexto laboral e a perspectiva dos enfermeiros, profissionais que vêm demonstrando relevante imersão na busca da concretização dos atributos da APS e princípios da ESF, contribuindo para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados no panorama do SUS. Nesse contexto, os resultados obtidos podem colaborar para a atuação dos gestores da saúde e oportunizar subsídios para avanços na qualidade da atenção à saúde. Referências CAMPOS, C. E. A. O desafio da integralidade segundo as perspectivas da vigilância da saúde e da saúde da família. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, p. 569-584, abr-jun., 2003. 179 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar CHOMATAS, E. R. V. Avaliação da presença e extensão dos atributos da Atenção Primária da rede básica de saúde no município de Curitiba no ano de 2008. 2008. Dissertação. Mestrado em Epidemiologia. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Rio Grande do Sul, 2008. COHEN, S. C. et al. Habitações saudáveis no SUS, uma estratégia de ação para o PSF: uma incorporação do conceito de habitação saudável na política pública de saúde e ambiente. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 3, p. 807-813, 2004. COTTA, R. M. M. et al.Organização do trabalho e o perfil dos profissionais do Programa Saúde da Família: um desafio na reestruturação da atenção básica em saúde. Epidemiologia e Serviços de Saúde,Brasília, v. 15, n. 3, p. 7-18, 2006. ESCOREL, S. et al. 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Os resultados da pesquisa sobre o tempo de amamentação se mostraram satisfatórios, visto que 57,23% realizaram a amamentação exclusiva por mais de seis meses. 91,19% declararam ter conhecimento sobre os benefícios do aleitamento materno para o bebê; 8,81% responderam que não possuíam este conhecimento. Conclui-se que o aleitamento materno depende de fatores que podem influir positiva ou negativamente no seu sucesso e relacionam-se à mãe, como escolaridade, renda, personalidade e sua atitude frente à situação de amamentar; outros se referem à criança, ao ambiente e a fatores circunstanciais. O desmame precoce tem sido um fato comum detectado em nossa realidade e confirmado por esta pesquisa. Palavras-chaves: amamentação materna, Montes Claros, mulheres, aleitamento. Introdução O ato de amamentar representa algo natural e constitui a melhor forma de alimentar, proteger e amar o lactente. As vantagens da amamentação são hoje reconhecidas, comprovadas e justificadas cientificamente. O uso do leite materno para recém-nascidos e lactentes leva a maiores índices de inteligência, acuidade visual, além do valor nutricional e imunológico do leite materno. São inúmeras as consequências do não aleitamento materno, consequências fisiológicas, anatômicas e emocionais que levam à maior morbimortalidade de bebês. O objetivo geral foiavaliar o nível de conhecimento das mulheres de Montes Claros-MG sobre o aleitamento materno, bem como verificar o perfil das mulheres que já praticaram o aleitamento materno; identificar o tempo de duração do aleitamento materno; determinar os fatores que levaram ao desmame precoce ou a não prática do aleitamento materno; analisar o nível de instrução e a motivação das mulheres quanto ao aleitamento materno. Método É um estudo descritivo com abordagem quantitativa de caráter exploratório. Amostra O presente estudo teve como universo de pesquisa mulheres frequentadoras do NASPP (Núcleo de Atenção à Saúde e Práticas Profissionalizantes) e das ESFs (Estratégia de Saúde da Família), locais de atuação 181 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar dos estudantes das FIP-Moc.Este estudo foi por amostra de conveniência, sendo entrevistadas 159 mulheres. As entrevistas foram realizadas pelos pesquisadores. Informações sobre a proposta da pesquisa foram da- das às entrevistadas para que tivessem condições de optar ou não pela participação na pesquisa e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Instrumentos Para obtenção dos dados, foi utilizado um formulário estruturado com 34questões norteadoras. Os da- dos foram obtidos a partir de uma entrevista. Procedimentos Inicialmente o projeto de pesquisa foi submetido e posteriormente aprovado pelo CEP FIP-Moc (Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas Pitágoras). Após a coleta, os dados foram analisados e interpretados, estabelecendo-se uma análise entre os dados obtidos e a literatura. Posteriormente foram apresentados graficamente. Resultados Foram entrevistadas através deste estudo 159 mulheres, e constatou-se, na distribuição por faixa etária, que o grupo abaixo de 20 anos representou 3,77% (n = 6 mulheres) das entrevistadas; o grupo entre 20 e 25 anos representou 8,18% (n = 13 mulheres); o grupo entre 25 e 30 anos representou 19,50% (n = 31mulheres); e que a maioria encontrou-se no grupo de acima de 30 anos com 68,55% (n = 109 mulheres). Em relação ao período de amamentação exclusiva do último filho, 22,6% (n=36 mulheres) das entrevistadas amamentaram menos que 3 meses; 20,1% (n=32 mulheres) entre 3 e 5 meses; 33,9% (n=54 mulheres) entre 5 e 7 meses; e 23,2% (n=37 mulheres) acima de 7 meses. No estudo, das 159 mulheres entrevistadas, 91,19% (145) declararam ter conhecimento sobre os benefícios do aleitamento materno para o bebê; 8,81% (14) responderam que não possuíam este conhecimento. Discussão Clonclui-se que a grande maioria das mulheres tem conhecimento sobre a importância do aleitamento materno assim como demonstrado nos trabalhos de Volpato et al. (2009), em que 66,2% das entrevistadas relataram saber pelo menos uma função. Em nosso estudo, os resultados sobre o tempo de amamentação se mostraram satisfatórios, visto que mais da metade das entrevistadas (57,23%) realizaram a amamentação exclusiva por mais de seis meses. Esta porcentagem foi acima da média das capitais brasi- leiras e DF, cujos dados do Ministério da Saúde (2009) desmonstram que a prevalência do aleitamento materno exclusivo em menores de 6 meses foi de 41,0% nestas localidades. O universo de nossa pesquisa foram o NASPP e ESFs frequentados pelos alunos das FIP-Moc, apenas um tipo de ambiente (saúde primária). Posteriores pesquisas poderiam ser realizadas em hospitais, e ambientes de saúde mais especializados para realização de estudos comparativos. Conclusões O aleitamento materno depende de fatores que podem influir positiva ou negativamente no seu sucesso. Alguns se relacionam à mãe, como sua escolaridade, renda, aspectos da personalidade e sua atitude frente à situação de amamentar; outros se referem à criança e ao ambiente, como, por exemplo, as suas condições de nascimento e o período 182 pós-parto. O desmame precoce tem sido um fato comum detectado em nossa realidade e confirmado por esta pesquisa. Embora muitos dos fatores citados pareçam explicar as causas do desmame precoce, é possível sugerir que os principais fatores são os relacionados à personalidade. Foi demonstrado que uma minoria realizou o desmame devido a altera- Área - Ciências da Saúde ções do leite nas mamas ou insegurança. Cabe, principalmente, aos profissionais de saúde a tarefa de orientar a mãe desde o pré-natal até nas consultas de acompanhamento da criança. Deve garantir seu entendimento não só da parte técnica, mas também seu esclarecimento sobre suas crenças e tabus, de modo a tornar a amamentação uma experiência duradoura e prazerosa. Referências MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas e Estratégicas. II Pesquisa de prevalência de aleitamento materno nas capitais brasileiras e Distrito Federal. Brasília; 2009. VOLPATO, S. E. et al. Avaliação do conhecimento da mãe em relação ao aleitamento materno durante o período pré-natal em gestantes atendidas no Ambulatório Materno Infantil em Tubarão, (SC). Arquivos Catarinenses de Medicina, Santa Catarina, v. 38, n. 1, p. 49-55, jan./mar. 2009. 183 Área - Ciências da Saúde AVALIAÇ ÃO DOS SERVIÇOS DA UNIDADE BÁSIC A DE SAÚDE: A PERSPEC TIVA DO USUÁRIO Cássio de Almeida Lima Amanda Fonseca Moura Lafetá Aline Grace Oliveira Cynthia Antunes Barbosa Fernanda Marques da Costa Renata Patrícia Fonseca Gonçalves Orlene Veloso Dias [email protected] Introdução A qualidade da atenção à saúde tem sido preocupação dos vários níveis de assistência, pois sinaliza a necessidade de adequação dos serviços na implementação de ações efetivas de promoção, prevenção e recuperação da saúde que visem a privilegiar e garantir a integralidade. Entretanto, a diversidade de serviços prestados na Atenção Primária à Saúde (APS) varia conforme as demandas de cada comunidade (STARFIELD, 2002). Sendo assim, um aspecto relevante é a perspectiva do usuário e a forma como avalia a atenção que recebe e se esta se direciona à satisfação das suas necessidades e expectativas (BORGES; CARVALHO; SILVA, 2010). A participação do usuário, conforme Pinheiro e Silva Junior (2009), auxilia nas transformações das prá- ticas dos gestores, trabalhadores e avaliadores, contribuindo no processo de produção do cuidado à saúde e de melhoria do desempenho do Sistema Único de Saúde (SUS) e da APS. Nesse contexto, a busca da qualidade nos serviços de saúde vem crescendo, ancorada nos usuários como protagonistas (DIAS et al., 2011). Tornase necessária para que se possa também articular um processo colaborativo nas tomadas de decisões e aplicação dos resultados das investigações (CAMARGO JÚNIOR et al., 2008). É preciso organizar a APS através de informações epidemiológicas da população e da avaliação dos serviços pelos usuários. Assim, objetivou-se avaliar os serviços oferecidos por uma Unidade Básica de Saúde através da percepção dos usuários. Materiais e Métodos Trata-se de pesquisa quantitativa, de cunho transversal. O cenário foi uma UBS do município de Fruta de Leite, situado ao Norte do Estado de Minas Gerais – Brasil, cuja população em 2010 era de 5940 habitantes conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (BRASIL, 2010). Neste trabalho foi avaliada a UBS onde atua a Equipe de Saúde da Família denominada “Sede”, responsável por 583 famílias cadastradas, representando 2101 usuários. A seleção dos usuários foi feita através da amostragem probabilística, resultando em 208 sujeitos. Os critérios de inclusão foram: estar cadastrado na Equipe de Saúde da Família da UBS de Fruta de Leite; aceitar participar da pesquisa; estar apto a responder o questionário; preencher o questionário na UBS; ter recebido atendimento da equipe e ser maior de 18 anos. O critério de exclusão foi a condição de ser funcionário da equipe pesquisada. O instrumento de coleta de dados se baseou no modelo SERVQUAL. Consistiu num questionário de 22 declarações afirmativas, as quais se referem à percepção da qualidade do serviço prestado. As afirmativas são definidas numa escala Lickert de cinco pontos, variando de “discordo totalmente” a “concordo totalmente”. A coleta de dados foi realizada aleatoriamente com os usuários que a frequentavam entre março e maio de 2010. Os dados foram analisados no Statistical Package for Social Sciences (SPSS) versão Windows 15.0. Realizou-se o teste do qui-quadrado (x2), adotando-se o nível de significância de 5%. Atendendo à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, o Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIMONTES através do Parecer Consubstanciado nº 1782/2009. 185 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Na população estudada, houve predominância significativa do sexo feminino, sendo 75% (155) mulheres e 25 % (53) homens. Os usuários são predominantemente jovens, estando 46% (96) compreendidos na faixa etária de 18 a 30 anos. Em relação à escolaridade, nota-se uma concentração na categoria ensino médio, 32,2% (67). Ao analisar a renda familiar dos en- trevistados, verificou-se que a maioria deles, 54% (112), possuem renda familiar entre 1 e 3 salários mínimos. A maioria, 71% (147), mora no território da UBS há mais de 10 anos. A percepção dos entrevistados quanto aos serviços oferecidos pela Equipe de Saúde da Família é exibida na Tabela 1. Tabela 1. Percepção dos usuários quanto à qualidade dos serviços prestados pela UBS. Fruta de Leite – MG, 2010. Percepção Serviço Prestado Discorda Integral. Discorda Parcial. nº nº % nº % nº % nº % Ambiente físico Promete/cumpre Interesse Acerta na 1ª vez Tarefa sem erro Presteza Boa Vontade Disponibilidade Confiança Segurança Cortesia Conhecimento Atenção Melhor serviço Entendimento 8 17 24 15 17 1 1 13 19 1 14 9 14 9 12 18 30 25 26 28 16 13 23 15 20 14 21 17 26 23 9 14 12 13 13 8 6 11 7 10 7 10 8 13 11 60 61 56 62 69 51 49 54 64 58 46 63 62 59 63 29 30 27 30 33 25 24 26 31 28 22 31 30 28 30 67 54 45 52 54 62 55 58 46 52 65 57 51 58 56 32 26 22 25 26 30 26 28 22 25 31 27 25 28 27 55 46 58 53 41 69 75 60 64 65 69 58 64 56 54 26 22 27 25 20 32 36 29 31 31 33 28 30 27 26 % 4 8 12 7 8 5 8 6 9 6 7 4 7 4 6 Nem concorda, Concorda nem discorda Parcial. Quanto maior o grau de escolaridade, menos favorável é a percepção dos usuários quanto à afirmativa: os servidores da ESF possuem os conhecimentos necessários para responder às suas necessidades (p=0,047). Não houve mais associações estatísticas. As características sociodemográficas dos usuários estão em consonância com as observadas em outras pesquisas (DIAS et al., 2011; DIAS et al., 2011; SANTIAGO et al., 2013). Entretanto, neste estudo, a maioria dos sujeitos possuía ensino médio completo, diferentemente de pesquisas realizadas em Recife (PE) (SANTIAGO et al., 2013) e em Montes Claros (MG) (DIAS et al., 2011), nas quais os usuários, em sua maioria, tinham baixo nível de escolaridade. A predominância de mulheres encontrada nesta investigação, demonstra a importância delas como usuárias da UBS e cuidadoras da saúde de sua família (SANTIAGO et al., 2013; STARFIELD, 2002). Por outro lado, a menor participação dos homens deve ser decorrente por um lado, de um maior vínculo com o trabalho nesta faixa etária produtiva, buscando, assim, outras alternativas para a assistência, ou pela não priorização desses usuários (SANTIAGO et al., 2013). Para Campos (2007), o tempo de moradia há mais de 186 Concorda Total. Total nº % 208 208 208 208 208 208 208 208 208 208 208 208 208 208 % 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 208 100 dez anos no território é fator essencial para a criação de vínculo entre o usuário e os funcionários da Estratégia Saúde da Família (ESF). Após ser estabelecido, esse vínculo aumenta a eficácia das ações de saúde e favorece a participação do usuário durante a prestação do serviço Quanto ao ambiente físico, a maior parte o avaliou bem, assim como em outro estudo sobre o assunto (DIAS et al., 2011). Porém, 29% afirmaram nem concordar nem discordar e, em outras pesquisas, verificou-se alta insatisfação, evidenciando condições inadequadas (SANTIAGO et al., 2013). As condições físicas são fundamentais para a implementação das ações. Apesar de a ESF demonstrar melhora na eficiência e qualidade dos serviços prestados na APS, constata-se um número significativo de unidades com estrutura física inapropriada (BRASIL, 2009; SANTIAGO et al., 2013). Quanto à afirmação de que quando a equipe da ESF promete fazer algo em certo tempo, ela cumpre, os sujeitos, majoritariamente, nem discordam nem concordam. Entretanto, foram observadas respostas nos dois extremos: 28,8% dos participantes discordaram integralmente e 31,3% concordaram integralmente Área - Ciências da Saúde em pesquisa sobre a confiabilidade e empatia na ESF, discordando do achado do presente estudo (DIAS et al., 2011). A responsabilização do profissional para com o estado de saúde do usuário constitui-se um dos elementos essenciais de uma efetiva assistência, assim como desperta a confiança no paciente (LIMA et al., 2007). A satisfação dos pacientes está ligada à qualidade e ao planejamento do atendimento. O atendimento deve ter um sistema de retorno eficiente, simples e prático, com intervalos regulares. Além disso, a qualidade técnica significa satisfazer exigências e expectativas concretas, respeitando o tempo, a qualidade, a segurança e a garantia (MENDES et al., 2010). Constatou-se que os usuários da UBS se sentem integralmente satisfeitos com o interesse dos profissionais. Ressalta-se que, nesse aspecto, inserem-se a satisfação com o trabalho dos profissionais e a escuta atentiva, relevante para a criação de laços e resolutividade (DAMASCENO et al., 2012; MEDEIROS et al., 2010; SANTIAGO et al., 2013). A ESF tem no trabalho da equipe e na sua relação com a população o elemento nuclear de sua legitimação na organização do SUS (SANTIAGO et al., 2013; COTA et al., 2005). Os usuários nem concordam nem discordam com o fato de que o comportamento da equipe inspira confiança e com a afirmativa de que os servidores possuem os conhecimentos necessários para responder às suas questões. Esses achados divergem dos encontrados em outro estudo, no qual a maioria dos sujeitos concordava integralmente com essas questões (DIAS et al., 2011). Por outro lado, os participantes de ambas as pesquisas concordaram integralmente que os profissionais da ESF oferecem atenção individual, um aspecto positivo para o relacionamento entre profissional e usuário, e responderam que nem concordam nem discordam que os profis- sionais estão centrados no melhor serviço (DIAS et al., 2011). Quanto ao entendimento das necessidades específicas, nesta investigação, os sujeitos, predominantemente, nem concordam nem discordam que a equipe entende as suas necessidades. Contrastando com esse resultado, em outra pesquisa a maioria dos usuários concordou integralmente com tal afirmativa e outra parcela significativa discordou integralmente (DIAS et al., 2011). Segundo Santiago et al. (2013), a satisfação com a assistência, a confiança e o direito a informações, atributos relacionados à relação profissional-usuário, são determinantes na qualidade da assistência. Tais dimensões fortalecem a humanização e a corresponsabilidade, premissas determinantes da qualidade da ESF (JORGE et al., 2007). Adicionalmente, se expandem para a relação da equipe com a díade família-comunidade. Quanto maior o grau de escolaridade, menos favorável é a percepção dos usuários quanto à afirmativa: os servidores da ESF possuem os conhecimentos necessários para responder as suas questões. Corroborando esse resultado, observou-se a mesma associação em outras investigações (COTA et al., 2005; DIAS et al., 2011; SANTIAGO et al., 2013). As pessoas com menor grau de escolaridade tendem a emitir menos juízos de valor e a serem mais condescendentes com os serviços de saúde que lhes são prestados (COTA et al., 2005; SANTIAGO et al., 2013). Porém, quanto mais jovem e com mais escolaridade, maior a exigência e insatisfação (SANTIAGO et al., 2013). Dessa forma, os trabalhadores da APS devem considerar o grau de satisfação da clientela de todos os ciclos vitais, a fim de avaliar a sua atuação e os serviços prestados. Conclusões A avaliação dos serviços da UBS na perspectiva do usuário,evidenciou que tais serviços são adequados e atendem às suas necessidades. Os resultados revelam informações valiosas para os gestores e equipes de saúde, permitem o conhecimento da percepção dos usuários quanto à atenção à saúde ofertada e possibilitam o aperfeiçoamento da gestão e do cotidiano da Estratégia Saúde da Família para melhor atender às demandas do cidadão e do SUS. Referências BORGES, J. B. C.; CARVALHO, S. M. R.; SILVA, M. A. M. Qualidade do serviço prestado aos pacientes de cirurgia cardíaca do Sistema Único de Saúde (SUS). Rev Bras Cir Cardiovasc, v. 25, n. 2, p. 172-82, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual de estrutura física das unidades básicas de saúde: saúde da família. 2ª Edição. Brasília: MS; 2009. CAMARGO JÚNIOR, K. R.; CAMPOS, S. E. M.; BUSTAMANTE-TEIXEIRA, M. T.; MASCARENHAS, M. T. M.; MAUAD, N. M.; FRANCO, T. B; RIBEIRO, L. C.; ALVES, M. J. M. Avaliação da atenção básica pela ótica político-institucional e da organização da atenção com ênfase na integralidade. Cad Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, supl. 1, p. 58-68, 2008. 187 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar CAMPOS, G. W. S. Há pedras no meio do caminho do SUS. Ciênc Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 2, p. 298, 2007. COTTA, R. M. M.; MARQUES, E. S.; MAIA, T. M.; AZEREDO, C. M.; SCHOTT, M.; FRANCESCHINI, S. C. C.; PRIORE, S. E. A satisfação dos usuários do Programa de Saúde da Família: avaliando o cuidado em saúde. Sci Med, v. 15, n. 4, p. 227-234, 2005. DAMASCENO, R. F.; SOUZA E SOUZA, L. P; RUAS, M. F. L.; BRITO, P. A.; ANDRADE E SILVA, E.; SILVA, J. L. S. O acolhimento no contexto da Estratégia Saúde da Família. Rev Inst Ciênc Saúde, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 37-40, 2012. DIAS, O. V.; LOPES, J. A. S.; VIEIRA, M. A.; RAMOS, L. H. Tangibilidade no Programa Saúde da Família: percepção dos usuários. Rev APS, Juiz de Fora, v. 14, n. 3, p. 327-335, 2011. DIAS, O. V.; VIEIRA, M. A.; DIAS, J. P.; RAMOS, L. H. 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Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde; 2002. 188 Área - Ciências da Saúde AVALIAÇ ÃO DOS VINTE E DOIS PRIMEIROS TR ANSPL ANTADOS DE FÍGADO DE UM HOSPITAL DO NOR TE DE MINAS Lucinéia de Pinho Fabiana Soares Rocha Sauélia Souza Costa Wanessa Casteluber Lopes Carla Silvana de Oliveira e Silva [email protected] Introdução O Brasil possui hoje o maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo, sendo 95% dos procedimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde, SUS, de forma totalmente gratuita à população, e com assistência integral ao paciente transplantado, incluídos desde exames preparatórios para cirurgia até o pagamento dos medicamentos pós-transplante (MINAS GERAIS, 2012). O transplante hepático é um procedimento indicado na presença de hepatopatia aguda ou crônica com sério comprometimento do paciente cuja solução não seja possível com tratamento clínico, desde que não haja contraindicação (MASSAROLLO; KURCGANT, 2000). O transplante de fígado é o procedimento mais complexo da cirurgia moderna. Seu sucesso depende de uma completa infraestrutura hospitalar e de uma equipe multiprofissional altamente treinada no procedimento e no acompanhamento de pacientes gravemente debilitados e já imunodeprimidos pela doença causa do transplante (MIES, 2011). Os conflitos e dramas vividos na área dos trans- plantes são ao mesmo tempo tristes e desafiadores; podem demonstrar os aspectos mais diversos e distantes da alma e do comportamento humano. Buscar mitigar o sofrimento de todos os envolvidos nesse processo deve ser objetivo dos profissionais que atuam nessa área (PAULINO; TEIXEIRA, 2009). Este estudo se justifica pela alta carga da doença hepática, pelo sofrimento do indivíduo e seus familiares, pela dor física, pelos anos de vida perdidos, pelos anos de vida com incapacidade, pelo desconforto do tratamento e seu custo, pelo impacto gerado na sociedade, observado pela mortalidade e morbidade em idade produtiva, pelos gastos em aposentadorias e pensões, o uso de tecnologia, recursos humanos especializados e equipamentos de alto custo nos serviços de saúde (MASSAROLLO; KURCGANT, 2000). O objetivo do estudo foi avaliar os pacientes submetidos ao transplante hepático em um hospital referência do norte de Minas Gerais, e identificar as principais patologias e agravos de base que levaram esses pacientes a passar por este procedimento. Materiais e Métodos O estudo foi do tipo epidemiológico, retrospectivo, transversal e descritivo, com a população representada por pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico de transplante hepático em um hospital referência no município de Montes Claros – MG. Foram pesquisados a todos os pacientes submetidos ao procedimento cirúrgico de transplante hepático no período de fevereiro de 2011, quando foi inaugurado o serviço, a outubro de 2012, quando foi feita a coleta dos dados. O critério de inclusão utilizado foi paciente submetido ao transplante hepático no referido hospital independentemente do gênero, e que tivesse o prontuário comple- to. Os dados foram coletados nas dependências do Serviço de Arquivo Médico (SAME) da instituição sob a supervisão do funcionário responsável, para evitar danos ou extravio dos prontuários. Para coleta de dados, utilizou-se a técnica de observação direta intensiva, realizada em duas etapas: 1) levantamento e seleção de prontuários; 2) coleta de dados propriamente dita. Foi feita análise documental, a partir dos prontuários dos pacientes submetidos a transplante hepático, por meio de um questionário estruturado que contemplou as seguintes variáveis para fins de análise: sexo, idade 189 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar (anos),cor, escolaridade, religião, estado conjugal, procedência, escore MELD e etiologia da injúria hepática. Os dados foram compilados e estruturados em gráficos e tabelas utilizando o software Excel 2003 da Microsoft Office®. Em seguida procedeu-se à análise dos mesmos, realizada por meio da estatística descritiva. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE) no qual foi feita a apreciação e a aprovação do mesmo, segundo o protocolo de número 134.628/2012. Resultados e Discussão No período de fevereiro de 2011 a outubro de 2012, 22 pacientes foram submetidos a transplante hepático na unidade pesquisada, constituindo a população em estudo. Destes, 81,8% eram do sexo masculino, a idade variou entre 14 e 69 anos e a raça autoreferida predominante foi parda (50%). Trata-se de uma população com baixo nível de escolaridade, uma vez que aproximadamente 60% possuíam até oito anos de estudo. Com relação à religião, grande parte dos transplantados eram católicos (86,3%), casados (59%) e 81,8% procedentes da zona urbana (Tabela 1). Tabela 1: Perfil sociodemográfico dos pacientes submetidos a transplante hepático em um hospital do Norte de Minas Variáveis Sociodemográficas Sexo Masculino Feminino Cor Branco Pardo Negro Escolaridade Menor que 8 anos de estudo 8 ou mais anos de estudo Religião Católica Evangélica Estado Conjugal Casado Solteiro Divorciado Viúvo Procedência Zona urbana Zona rural N % 18 04 81,8 18,2 08 11 03 36,3 50 13,6 13 09 59,1 40,9 19 03 86,3 13,6 13 05 03 01 59,0 22,7 13,6 4,5 18 04 81,8 18,1 Fonte: SAME.Pesquisa realizada em outubro de 2012. Quanto à origem dos pacientes, 40,9% (n=9) foram encaminhados aos ambulatórios via rede pública e 59,1% (n=13) foram encaminhados ao serviço por consultórios particulares. A predominância etiológica da injúria hepática foi cirrose etanólica presente em 50% (n=11) dos pacientes, seguida de cirrose criptogênica apresentada 190 por 22,7% (n=5). Quanto às demais patologias, a saber, amiloidose portuguesa, hepatocarcinoma, cirrose descompensada por hepatite B, cirrose por hepatite C e cirrose autoimune, estas estavam presentes em um paciente cada (Tabela 2). Área - Ciências da Saúde Tabela 2 - Distribuição por grupo diagnóstico de pacientes submetidos a transplante hepático em um hospital do Norte de Minas. Etiologia N % Carcinoma hepato celular Cirrose auto imune Cirrose criptogênica + hepatocarcinoma Cirrose etanólica Cirrose amiloidose familiar portuguesa Cirrose criptogênica Cirrose descompensada por hepatite B Cirrose por hepatite C 01 01 01 11 01 05 01 01 4,5 4,5 4,5 50 4,5 22,7 4,5 4,5 Fonte: SAME.Pesquisa realizada em outubro de 2012. A causa mais prevalente de indicação para transplante hepático em um estudo realizado por Nogara (2006) foi cirrose, representando 66,2% das causas. Um dado que chamou atenção foi o número de esquistossomose relacionado a cirrose alcoólica e cirrose criptogênica; dos 22 pacientes estudados, 6 eram portadores de esquistossomose, o que representa 27,27% da população estudada, sendo um fator relevante e que demonstra a necessidade de investigação e controle da verminose nos pacientes acometidos, pela rede de atenção primaria à saúde. A esquistossomose no Brasil tem perdido nos últimos anos seu caráter eminentemente rural, passando a ocorrer também em centros urbanos. Isso demonstra que a falta de infraestrutura, a migração e o deslocamento de pessoas de áreas endêmicas para não endêmicas, são fatores determinantes do surgimento de novos focos da doença. Particularmente em Minas Gerais, um dos fatores que influencia nesse fenômeno é o crescimento da prática do turismo de aventura ou turismo ecológico direcionado ao ambiente rural, onde a falta de saneamento adequado favorece a proliferação dos moluscos transmissores da doença em lagoas, rios e cachoeiras, ocasionando o surgimento de casos agudos de esquistossomose (POURDES et al.; 2008). O escore MELD pré-transplante é avaliado pelo valor <18 ou ≥18, pois estudos comprovam que, com pontuação acima de 18, o paciente possui hepatopatia grave e o transplante trará ganho na sobrevida (NOGARA, 2006). Observou-se que, por essa avaliação, 13 pacientes (59,1%) foram classificados com MELD menor que 18 e 9 pacientes (40,9%) com MELD maior ou igual a 18. A porcentagem de óbito pós-transplante foi de 18,18%, quatro dos 22 pacientes estudados, sendo que 3 se deram por infecção pós-operatória e um caso não há registro da causa do óbito no prontuário, apenas relata óbito domiciliar; a paciente apresentava problema de ordem genética. A infecção permanece como a principal causa de morte após transplante hepático, sendo que a maioria dos casos ocorre no primeiro mês após a operação. Entretanto, morte devido à infecção pode ocorrer em qualquer período após o transplante. A infecção após o 6º mês de transplante hepático ocorre geralmente em pacientes com rejeição celular ou ductopênica e que, portanto, necessitam de doses elevadas de imunossupressores (COELHO; PAROLIN; REA, 2001). Conclusões O transplante hepático constitui-se um serviço inovador no norte de Minas Gerais. Desde a inauguração do serviço, em fevereiro de 2011, a metade dos pacientes submetidos ao procedimento eram portadora de cirrose etanólica, o que demonstra a necessidade de políticas públicas de saúde voltadas à prevenção e ao tratamento do alcoolismo. Além disso, observou-se alto índice de associação das hepatopatias com verminoses, a saber a esquistossomose, o que por sua vez reforça a necessidade de se intensificar as campanhas de conscientização da população sobre as medidas preventivas da doença, bem como melhorias das condições sanitárias tanto em área urbana quanto rural, devido ao fato de a região ser uma área endêmica para este agravo. Observou-se que os pacientes são em sua maioria encaminhados pelos consultórios particulares, levando a concluir que os usuários do Sistema Único de Saúde ainda encontram barreiras para o acesso ao transplante, no sentido de ser referenciado adequadamente e em tempo hábil, o que permite inferir ainda sobre a falta de profissionais habilitados para promover este referenciamento na atenção primária à saúde. Por tratar-se de um serviço recente, os pacientes submetidos ao transplante de fígado em Montes Claros necessitam ser acompanhados em longo prazo para que seja avaliada a sobrevida e a qualidade de vida pós-transplante. 191 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências COELHO, J. C. U.; PAROLIN, M. B.; RÉA NETO, A. Complicações pós-operatórias no transplante hepático. Cl Bras Med Int, v. 10, p. 357-90, 2001. MASSAROLLO, M. C. K. B.; KURCGANT, P. 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Quando envolvem criança, as ações de promoção de saúde requerem uma participação mais ativa, não só dos indivíduos, mas também de seus familiares. É preciso que ações educativopreventivas sejam construídas em bases sólidas, a fim de que o conhecimento repassado aos responsáveis e seus filhos possibilite o estabelecimento de práticas de forma constante e segura para a manutenção e/ou aquisição de saúde bucal (SANTOS et al., 2011). No entanto, antes de qualquer implantação de programas de promoção da saúde, é necessário ter noções prévias do conhecimento da família com relação aos cuidados com a saúde bucal de seus filhos, a fim de se formular propostas viáveis e adequar os programas preventivo-educativos (NADANOVSKY, 2000). Mastrantônio e Garcia (2002), afirmam que antes da elaboração de qualquer programa educativo preventivo, é recomendável a aplicação de questionários ou entrevistas a fim de identificar o nível de conhecimento odontológico dos indivíduos, adaptar o programa às reais necessidades educacionais dos pacientes e estabelecer estratégia de ação em função das deficiências observadas na população alvo. Baseado no exposto, e considerando que é usual um prolongado tempo de permanência do usuário na sala de espera dos serviços de saúde, vem sendo levantada a possibilidade de realizações de atividades de acolhimento em prol da educação em saúde e de atividades com o cuidado à saúde neste espaço (FRANCO et al.,1999). Sabendo da importância dessas atividades educativas nas salas de espera foi elaborado o Projeto de Extensão “Sala de espera: Educação complementar em saúde bucal dos pais/responsáveis pelas crianças atendidas na disciplina de Clínica Infantil do curso de Odontologia da UNIMONTES”, com objetivo de desenvolver ações educativas complementares em saúde bucal para os responsáveis pelas crianças da Clínica Infantil da UNIMONTES, através de atividades na sala de espera. O presente trabalho trata-se da análise dos resultados parciais coletados a partir dos questionários aplicados a esses pais/responsáveis como parte integrante da pesquisa em questão, para avaliar as práticas e conhecimentos prévios dos pais/responsáveis quanto à saúde bucal, de modo a direcionar as atividades que posteriormente serão realizadas. Materiais e Métodos A pesquisa foi aprovada através do parecer n º 025/2012 da Câmara de Extensão, da UNIMONTES. A população consiste dos responsáveis pelas crianças em atendimento odontológico na Clínica Infantil do 193 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar curso de Odontologia da UNIMONTES. Após esclarecimento do motivo da pesquisa e distribuição do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, foram aplicados questionários a 20 pais/responsáveis, escolhidos de forma aleatória. O questionário contém 27 questões sobre condições socioeconômicas da família, informações relacionadas à saúde bucal (cárie dentária, dentições decídua e permanente, práticas de higiene, etc.) e quais informações os participantes gostariam que fossem abordadas nas ações educativas. As questões objetivas do questionário foram analisadas pela estatística descritiva, através do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 18.0), e a questão subjetiva, onde o participante expressou o tema que gostaria que fosse abordado foi interpretada de forma a compreender o significado da percepção do indivíduo. A aplicação dos questionários foi realizada pelos alunos envolvidos no projeto nos horários de atendimento clínico da disciplina de Clínica Infantil. Para evidenciar possíveis dificuldades na compreensão do questionário, foi realizado um estudo-piloto com cinco pais/responsáveis, e as questões de difícil compreensão foram reestruturadas. Foi feito também contato com a Instituição privada Colgate do Brasil, solicitando e conseguindo a doação de materiais educativos como: Kit macro modelo, folders, cartazes, creme dental, escova dental e outros. Após análise dos dados coletados e de acordo com o resultado da aplicação do questionário quanto às práticas e conhecimentos dos pais/responsáveis relacionados à saúde bucal, foram realizados encontros (professores e alunos envolvidos) para traçar o perfil dos pais/responsáveis e escolher dos temas educativos mais adequados para desenvolver no projeto. Resultados e Discussão Verificou-se que 75,0% dos responsáveis entrevistados pertenciam ao sexo feminino, 60% tinham o ensino médio e 95% possuíam renda familiar entre um a três salários mínimos. Quanto ao grau de parentesco, 65,0 % relataram ser mãe das crianças. Sugerindo ser a mãe a principal cuidadora das crianças, a mesma possui grande influência nos hábitos adquiridos pelas crianças em relação aos cuidados com a saúde bucal (CASTILHO et al., 2013). Quando questionados a respeito da higiene bucal dos filhos, 95% relataram que os filhos sempre realizam sozinhos a sua escovação dentária. Demonstrando a importância de abordar esse assunto, uma vez que a supervisão dos pais é essencial para uma boa escovação, já que a criança pode não ter domínio da técnica e nem coordenação motora suficiente para realizar uma escovação ideal sozinha (FERREIRA et al., 2011). Os resultados indicaram que o acesso às informações sobre saúde bucal foi principalmente através do cirurgião-dentista (25%) Porém, 40% relataram não ter recebido nenhum tipo de informação, ficando, portanto evidente neste estudo uma limitação dos responsáveis com relação ao acesso a informações sobre saúde bucal. Este resultado corrobora a afirmativa de ALVES et al. (2004). A maioria dos entrevistados, 90%, considerou falsa a informação de que os dentes decíduos não precisam ser tratados porque seriam substituídos pelos permanentes. Silva e Forte (2009) verificaram que muitas mães não consideram os dentes decíduos importantes e que não precisam ser tratados, pois serão substituídos. Conhecimento esse fundamental, uma vez que esses dentes, apesar de serem temporários, devem ser 194 tratados com os mesmos cuidados que os permanentes (OLIVEIRA et al., 1999). A maioria dos responsáveis (80%) acredita que para cada dente definitivo erupcionado um dente decíduo deve cair. Essa informação tem grande relevância principalmente no que se refere aos primeiros molares permanentes. O fato de irromper muito cedo faz com que, muitas vezes, esses dentes sejam confundidos com os dentes decíduos vistos que ainda não houve nenhuma esfoliação e erroneamente recebem menor atenção em relação à escovação dentária e cuidados odontológicos. A displicência em relação ao tratamento adequado desses dentes por considerá-los como decíduos pode resultar até mesmo na sua perda (OLIVEIRA et al., 1999). Com relação à informação sobre o flúor, 55% dos pesquisados responderam ter este conhecimento e apenas 35% souberam informar que a sua função é relacionada com a prevenção contra a cárie. Isto constitui um fator preocupante, pois 45% dos entrevistados desconhecem a função do flúor e, daqueles que responderam que já receberam alguma informação sobre o mesmo, (20%) responderam que era para deixar os dentes mais brancos ou que não sabiam a sua função. A grande maioria (95%) considerou a cárie uma doença. Porém, 60% dos entrevistados mostraram não ter conhecimento se a cárie dentária é uma doença que pode ser transmitida pelos pais. Mãe é elementochave na transmissibilidade da cárie, sendo as principais fontes de transmissão dos estreptococos mutans para seus filhos através do contato direto da saliva da mãe com a saliva do filho (RODRIGUES et al., 2008). Área - Ciências da Saúde Conclusões Os pais/responsáveis pelas crianças atendidas nas Clínica de Infantil da UNIMONTES possuem conhecimentos parciais acerca de informações sobre saúde bucal. É necessária a introdução de atividades educativas mais abrangentes, principalmente nas áreas de maiores desconhecimentos por parte dos responsáveis, que proporcionem uma maior promoção e prevenção de saúde bucal a esse públicoalvo em questão, tendo em vista que são agentes multiplicadores de conhecimento e que possuem participação ativa nos cuidados bucais dos seus filhos. As questões em que os resultados foram mais preocupantes foram em relação à escovação, já que a grande maioria das crianças escova os dentes sozinha; ao flúor, em que a maioria desconhecia a sua função e importância; à falta de informação sobre a troca de dentição, uma das possíveis causas da grande presença de cáries/restaurações nos primeiros molares; ao desconhecimento da importância dos dentes decíduos e à falta de conhecimento sobre a doença cárie e sua transmissibilidade. Referências ALVES, M. U.; VOLSCHAN, B. C. G.; HAAS, N. A. T. 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O estresse e a ansiedade subsequentes podem criar traumas psicológicos, desenvolvendo nos jovens traços de personalidade ou atitudes de hostilidade, desconfiança e medo (MARLE, 2010). O conceito de violência abrange violência física, negligência, violência psicológica e violência sexual (MAGALHÃES et al., 2009). A violência doméstica é um fenômeno multicausal, constituído por muitas variáveis que afetam todos os níveis da sociedade e que exige intervenções de uma equipe multidisciplinar para possibilitar um atendimento integral à vítima. Constitui ainda uma realidade dolorosa e traz prejuízos de ordem física e psicossocial, pois as experiências vividas na infância refletem na vida adulta (RAMOS; SILVA, 2011). Normalmente, os profissionais de saúde são os primeiros a detectar a situação de violência e, considerando esse fato, devem notificá-la imediatamente. Quando o profissional de saúde não se reconhece nesse papel, isso se torna um fator impeditivo para o encaminhamento e tratamento oportuno das vítimas de violência doméstica (ANDRADE et al., 2011). Entende-se que as discussões relacionadas à violência doméstica contra a criança nas instituições de ensino superior ainda são escassas, e a maioria dos profissionais de saúde não tiveram em sua formação conteúdos relacionados ao tema. Essa falta de conhecimento pode comprometer a identificação e notificação de casos de violência. Compreender o processo que envolve a abordagem dos profissionais de saúde em relação à violência doméstica contra a criança é de suma relevância para os dias atuais devido à proporção de problemas físicos e psicossociais que são gerados a partir de atitudes violentas. É importante que professores universitários desenvolvam atividades que ampliem o conhecimento sobre o tema da violência doméstica para oferecer subsídios, de forma que os futuros profissionais possuam maior percepção desse fenômeno no seu cotidiano (ALGERI, 2005). O professor do ensino superior talvez deva ter uma visão ampliada da sociedade em que vive e atua. Conhecendo metodologias e formas de abordagem da violência doméstica contra criança, espera-se que o professor auxilie o aluno do ensino superior, a construir conhecimentos para definir violência, entendê-la e minimizá-la, pois, tendo consciência deste problema, poderá atuar na prevenção de sua ocorrência (ALGERI, 2005). Este estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento da abordagem da violência doméstica contra a criança dos professores que ministram conteúdos relacionados à saúde da criança em instituições de educação superior no norte de Minas Gerais. Materiais e Métodos Tipo de pesquisa Este trabalho constitui-se em um estudo exploratório, descritivo e de abordagem quantitativa. Participantes Participaram deste estudo professores de gradua- ção e pós graduação da área da saúde de instituições de educação superior da cidade de Montes Claros – MG que ministram disciplinas relacionadas à saúde da criança, totalizando 27 profissionais. O município de Montes Claros atualmente é considerado polo univer197 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar sitário na região do norte de Minas Gerais, contando com a presença de duas universidades públicas e seis faculdades privadas que oferecem cursos nas diversas áreas do conhecimento, em níveis técnico, de graduação, pós graduação Lato Sensu (especialização) e Stricto Sensu (mestrado e doutorado). O levantamento dos sujeitos do estudo ocorreu por meio de consulta aos coordenadores de instituições de ensino na cidade. Os critérios de inclusão dos professores foram: Ser professor das instituições de ensino, ministrar disciplina relacionada à saúde da criança, ser encontrado na instituição de ensino até a segunda tentativa, aceitar participar da pesquisa mediante consentimento. Instrumento de coleta de dados Elaborou-se um questionário com abordagem aos principais tópicos envolvendo a temática estudada, a partir de revisão da literatura. Para a busca, foram utilizados os descritores saúde da criança, violência doméstica, pessoal de saúde e saúde da família. Os artigos foram selecionados por meio de busca realizada de março a maio de 2013, na Biblioteca Virtual de Saúde, nas bases de dados: Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem Online (MEDLINE) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), para textos publicados nos últimos cinco anos. Utilizou-se ainda a linha Guia de Saúde da Criança da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais. Coleta de Dados Foi realizado um contato prévio aos profissionais professores com objetivo de divulgação e convite para participação na pesquisa. A coleta de dados foi realizada mediante visitas aos profissionais professores em horário previamente agendado. Foram garantidos a privacidade e o livre arbítrio dos entrevistados, bem como respeitadas as suas rotinas de trabalho. Além do questionário, foram coletados dados demográficos de gênero, idade, escolaridade e tempo de formação, por meio de um cabeçalho de identificação. Análise dos dados A análise dos dados foi realizada por meio do Software Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS). Aspectos éticos A coleta de dados foi realizada após aprovação deste projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), sob o parecer Nº 401.241. Foram asseguradaS aos entrevistados a autonomia individual, o direito à informação, a privacidade, a confidencialidade das informações, sendo estas utilizadas exclusivamente para fins científicos, e foi garantido o direito de revogar a decisão de participação da pesquisa a qualquer momento, pelo termo de consentimento livre e esclarecido. Resultados e Discussão Dos docentes entrevistados, 22 (81,5%) eram do sexo feminino. Quanto à graduação,13 (48,2%) eram médicos, 9 (33,3%) enfermeiros, 3 (1,1%) dentistas e 2 (7,4%) psicólogos. Onze (40,7%) dos entrevistados possuíam de 5 a 10 anos de atuação profissional, 10 (37,1%) possuíam de 10 a 20 anos e 6 (22,2%) mais de vinte anos. Questionados acerca da maior titulação que possuíam, 18 (66,7%) dos profissionais afirmaram ter curso de especialização, 8 (29,6%) mestrado e 1 (3,7%) doutorado. Treze professores (48,2%) relataram que durante sua formação acadêmica foram ministrados conteúdos sobre a abordagem do atendimento à criança vítima de violência, enquanto 14 (51,8%) deram uma resposta negativa a esta questão. O questionário era constituído por 85 assertivas direcionadas a cada um dos 27 profissionais. Dentre as assertivas contempladas no questionário foram selecionadas 11, as quais estão descritas Tabela 1. Para um total de 2.295 assertivas, 376 (23%) os professores não souberam responder, 1398 (61%) foram assinaladas de 198 forma correta e 521 (23%) foram assinaladas de forma incorreta. O acolhimento da criança e da família em situação de violência deve permear todos os locais e momentos do processo de produção de saúde, como uma ação contínua em todo o percurso da atenção na rede de cuidado e de proteção social. Todos os membros da equipe devem receber as crianças e suas famílias de forma empática e respeitosa. Devem acolher a criança e a família em lugar específico, acompanhar o caso e proceder aos encaminhamentos desde a entrada da criança e de sua família no setor de saúde até o seguimento deles para a rede de cuidado e de proteção social (BRASIL, 2012). Devido a esses fatores, a violência na infância não deve continuar sendo vista como uma responsabilidade policial e é necessária a participação das instituições de saúde no enfrentamento desse problema, criando um elo fundamental para desencadear os mecanismos de proteção e tratamento (MAGALHÃES et al., 2009). Área - Ciências da Saúde Tabela 1 – Análise do conhecimento dos docentes universitários na abordagem da criança vítima de violência. Montes Claros, 2014. Status da Assertiva Descrição das Assertivas Corretas Não Sabe s O profissional de saúde deverá fazer a identificação das vítimas de violência somente em um serviço de saúde. Falsa 22 1 4 Não é necessário dar atenção aos dados aparentemente sem importância, a menos que tenham relação com as lesões encontradas. Falsa 21 3 3 O profissional deve focar o atendimento somente no que estiver diretamente relacionado com violência. Falsa 24 2 1 Os casos de suspeita ou confirmação de maus-tratos contra criança deverão ser obrigatoriamente comunicados a Polícia Civil. Falsa 10 5 12 Notificar maus-tratos às autoridades é obrigação, após confirmação da violência. Falsa 2 1 24 Identificada a violência pelo enfermeiro, ele deve encaminhar ao médico, para notificação. Falsa 8 8 11 A intervenção do Conselho Tutelar exige a interrupção do atendimento iniciado pelo profissional de saúde que encaminhou o caso. Falsa 22 5 0 Os profissionais de saúde devem notificar os casos de violência no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Verdadeira 12 14 1 Notificações sobre violência infantil deverão ser feitas somente nas localidades onde existir o Conselho Tutelar. Falsa 25 2 0 O trabalho do profissional de saúde deve ser continuado, e a intervenção deve ser planejada e avaliada em conjunto pelos profissionais envolvidos. Verdadeira 27 0 0 O Estatuto da Criança e do Adolescente contém determinações que protegem contra a violência doméstica. Verdadeira 26 0 1 Os profissionais não têm certeza de como lidar frente a um caso concreto de violência, e talvez isso se deva à falta de discussões em instituições de ensino superior sobre o tema e ao fato de muitos não terem em sua formação acadêmica conteúdos relacionados à violência (ALGERI, 2005). Gabatz et al. (2013), recomenda um investimento na formação do profissional para atuar, buscando identificar os casos de violência precocemente. É atribuição dos profissionais de saúde, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, atuar nos diagnósticos de maus tratos e nos procedimentos de notificação (MAGALHÃES et al., 2009). A notificação da violência contra a criança e o adolescente não é apenas um ato pessoal, mas uma obrigação legal. O não cumprimento desse papel ocorre por falta de conhecimento da legislação ou pelo fato de os profissionais não estarem convictos de que devem exercer essa responsabilidade (MAGALHÃES et al., 2009). De acordo com os resultados, observa-se que parte dos profissionais ainda desconhecem a obrigação da notificação nos casos suspeitos, e que os mesmos só serão notificados após confirmação e concretização dos atos, contrariando as medidas de prevenção à violência, como citado por Garbin et al., (2011): a notificação é considerada uma importante estratégia de prevenção de violência, pois, além de identificar, permite o levantamento de novos casos de violência que muitas vezes acontecem na mesma família. Também há dificuldade em identificar os casos com exatidão, e existe falta de preparo dos profissionais para lidar com a questão da violência doméstica, o que acaba atrapalhando o ato de notificação (SILVA; FERRIANI, 2007). Neste sentido, o aluno do ensino superior deve estar preparado, habilitado e ter conhecimentos para definir violência, entender como ocorre, saber ouvir antes de intervir, e o seu professor talvez tenha uma visão mais real e ampliada da sociedade e que conhece novas metodologias e formas de abordagem. Ao verificar o conhecimento dos professores, neste estudo observou-se um número considerável de respostas onde a alternativa escolhida foi “não sei”, o que nas quais evidenciar um possível desconhecimento dos professores acerca de parte dos conteúdos importantes na formação do profissional sobre a abordagem da violência doméstica contra a criança (ALGERI, 2005). 199 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Conclusões A partir da avaliação do objetivo proposto, observou-se que a abordagem de conteúdos relacionados ao atendimento à criança vítima de violência doméstica ainda é insuficiente no ensino superior, de forma que os professores necessitam de uma formação mais abrangente em relação a este conteúdo. Este fato impossibilita a transmissão de novas in- formações e de novos conhecimentos aos futuros profissionais em formação. Tal despreparo dos professores talvez se justifica na não abordagem durante a sua formação em relação ao assunto e ainda do número reduzido de cursos de especialização, capacitação e extensão sobre a violência doméstica contra a criança. Referências ALGERI, S. DIETER, C. S. A violência no contexto da saúde e da educação. Rev. Educação. Porto Alegre, v. 28, n. 55, p. 117-131, 2005. ANDRADE, E. M. et al. A Visão dos Profissionais de Saúde em Relação à Violência Doméstica Contra Crianças e Adolescentes: um estudo qualitativo. Rev. Saúde Soc. São Paulo, v.20, n.1, p.147-155, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica. Saúde da Criança: Crescimento e Desenvolvimento. Brasília: Editora MS, 2012. GABATZ, R. I. B. A violência intrafamiliar contra a criança e o mito do amor materno: contribuições da enfermagem. Rev Enferm UFSM. v. 3, p. 563-572, 2013. GARBIN, C. A. S. et al. 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A composição química do suco de uva é caracteristicamente marcada pela presença de compostos fenólicos, sendo os principais: flavonoides (antocianinas, flavonóis e flavanóis), estilbenos (resveratrol), ácidos fenólicos (derivados dos ácidos cinâmicos e benzoicos) e taninos, muitos dos quais com propriedades antioxidantes (FRANCIS, 2000). As atividades antioxidantes da uva, suco de uva e vinho tinto mostraram ações efetivas na prevenção, intervenção e tratamento das lesões ateroscleróticas; que o consumo diário do suco de uva atenuou a hipercolesterolemia, reduzindo a iniciação da aterosclerose (SHANMUGANAYAGAM et al., 2007). Segundo Stein et al. (1999), o consumo de suco de uva tinto melhora a função endotelial, aumentando a vasodilatação da artéria braquial e o fluxo médio de vasodilatação (FMD), reduz a suscetibilidade de oxida- ção do colesterol LDL. A desnutrição pode interferir em processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção de alimentos e medicamentos, acarretando prejuízos terapêuticos e tornando-se um problema de grande relevância na prática clínica. Além disso, a absorção dos nutrientes e de alguns fármacos ocorre por mecanismos semelhantes, frequentemente competitivos, e apresentam como principal sítio de interação o trato digestório, uma vez que a principal via de administração de nutrientes é a oral (MOURA; REYES, 2002). As alterações biológicas produzidas sobre os distintos órgãos normalmente não são consideradas na escolha da farmacoterapia, aumentando a probabilidade da interação fármaco-nutriente (HERNANDEZ; VILÁ, 2008) e nutriente-nutriente. Apesar de amplamente utilizado pela população e recomendado por profissionais de saúde, existem poucos estudos com uso crônico do suco de uva em sujeitos em estado de carência nutricional e ainda apresentamos índices elevados de desnutrição no Brasil (BRASIL, 2003). Desta forma, os objetivos do presente estudo foram avaliar os efeitos da desnutrição e do consumo crônico do suco de uva em ratos Wistar adultos. Materiais e Métodos Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, com 70 dias de idade, provenientes do biotério do Laboratório de Nutrição Experimental da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Os ratos foram distribuídos aleatoriamente em 4 grupos: Nutrido (N) - receberam ração e água ad libitum (n=6); Nutrido Uva (NU) - receberam ração e suco de uva a 10% ad libitum (n=6); Desnutridos (D) - receberam 50% da ração ingerida pelos animais N e água ad libitum (n=6); Desnutrido Uva (DU) - receberam 50% da ração ingerida pelos animais NU e suco de uva a 10% ad libitum (n=6). O peso dos animais foi aferido semanalmente, a ração e os líquidos foram pesados/medidos diariamente. Do 88° ao 91º dias de tratamento, os animais ficaram na gaiola metabólica para coleta das fezes das últimas 24 horas para análise do peso fecal. No 91° dia de tratamento, os animais foram colocados em jejum 201 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar de 12 horas, quando foram anestesiados e retirada uma amostra de sangue por pulsão cardíaca (2mL) para a realização dos testes bioquímicos (glicose, colesterol total e frações e triglicérides). Os animais foram eutanasiados e tiveram seus órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) retirados, limpos e pesados. Foi avaliado o comprimento e teor de minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p<0,05). A manipulação e eutanásia foram realizadas de acordo com os princípios éticos para uso de animais de laboratório (BRASIL, 2008), e o projeto foi aprovado pela CEUA/UFVJM (protocolo 019/13). Resultados e Discussão No início do tratamento (dia 0), não houve diferença no peso corporal dos animais, entretanto, no final, a ANOVA apontou efeito de dieta (F(1, 166267) = 122,22, p < 0,0001), os animais desnutridos pesaram menos do que os nutridos (Tabela 1). Tabela 1: Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia), peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos) e análise das fezes (frescas, secas e umidade). Diamantina, 2014. N NU D DU Peso inicial 335,72±19,60 333,48±21,95 362,70±32,84 347,63±21,90 Peso final 460,32±51,12 493,53±39,21 303,23±26,82 317,68±23,92 Ganho de peso 124,60±35,08 160,05±28,43 -59,47±32,51 -29,95±20,77 Gordura 25,73±5,84 35,57±8,51 7,19±1,71 10,42±1,76 Ração Total 2.284,46±189,50 2.415,12±119,86 1.156,42±82,51 1.217,23±53,80 CEA 5,39±1,19 6,59±0,88 -5,31±3,30 -2,50±1,76 Naso-anal 26,92±0,66 27,58±0,74 25,25±0,42 25,08±0,86 Fêmur 3,99±0,07 3,99±0,10 3,72±0,03 3,74±0,09 Tíbia 4,34±0,08 4,35±0,13 4,18±0,05 4,21±0,07 Baço 0,89±0,19 0,91±0,04 0,57±0,15 0,59±0,22 Coração 0,99±0,12 1,11±0,08 0,74±0,07 0,73±0,07 Fígado 10,12±1,51 12,22±1,11 7,16±0,87 8,24±1,21 Rins 1,33±0,14 1,37±0,10 1,03±0,12 1,02±0,06 Suprarrenais 0,026±0,008 0,036±0,006 0,028±0,007 0,031±0,01 Testículos 1,62±0,18 1,73±0,20 1,38±0,31 1,54±0,17 Frescas 4,99±2,40 9,12±3,57 5,25±3,67 7,32±5,47 Secas 3,45±1,36 5,62±1,87 3,71±2,67 4,28±3,38 Umidade 1,54±1,12 3,50±1,77 1,54±1,01 3,03±2,18 Comprimento Órgãos Fezes Comparando o peso corporal nos dias 0 e 91, a ANOVA apontou efeito de dieta (F(1, 63860) = 41,86, p < 0,0001), com os animais desnutridos pesando menos que os nutridos; de dia (F(1, 28587) = 0,0001), os animais pesaram mais no final do que no início do tratamento; de interação entre dieta e dia (F(1, 104944) = 237,99, p < 0,0001), os nutridos pesaram mais no final, os desnutridos no início e os desnutridos pesaram menos que os nutridos no dia 91, e de interação entre tratamento dia (F(1,3166) = 7,18, p < 0,05, tanto os animais que receberam 202 água como os que receberam suco de uva, o peso foi maior no dia 91 que 0 (Tabela 1). Houve efeito de dieta (F(1, 209889) = 237,99, p < 0,0001), e de tratamento (F(1, 6331) = 7,18, p < 0,05) no ganho de peso. Os ratos desnutridos ganharam menos peso que os nutridos, e os que receberam uva mais do que os que receberam água (Tabela 1). Uma possível justificativa consiste na hipótese da capacidade dos poliferóis da uva inibirem a ação de enzimas envolvidas no metabolismo de gorduras. Segundo Moreno et Área - Ciências da Saúde al. (2003), o extrato de semente de uva inibe a atividade das enzimas lipase pancreática e lipase lipoproteica, reduzindo a absorção de gordura e o acúmulo no tecido adiposo. A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(1, 1337) = 26,06, p < 0,0005) e de interação entre tratamento e dieta (F(1, 883) = 17,20, p < 0,001) nas gorduras (abdominal epididimal e visceral). Os animais que receberam uva (NU e DU) ganharam mais gordura do que os que receberam água (N e D) (Tabela 1). Houve efeito de dieta no consumo de ração (F(1, ) = 541,18, p < 0,0001 e CEA (F(1, 587,84) = 145,50, p < 8115012 0,0001), os nutridos comeram mais e apresentaram CEA maior do que os desnutridos e efeito de tratamento (F(1, = 5,98, p < 0,05) no CEA, os que receberam suco de 24,17) uva apresentaram maiores valores do que os que receberam água (Tabela 1). Os comprimentos naso-anal (F(1, 26,04) = 54,82, p < 0,0001), do fêmur (F(1, 0,41) = 65,51, p < 0,0001) e da tíbia (F(1, 0,14) = 17,56, p < 0,0005) e peso do baço (F(1, 0,62) = 22,57, p < 0,0005), coração (F(1, 0,59) = 76,15, p < 0,0001), fígado (F(1, 72,34) = 50,53, p < 0,0001), rins (F(1, 1,28) = 108,47, p < 0,0001) e testículos (F(1, 0,53) = 10,88, p < 0,0005) dos animais desnutridos foram menores do que os nutridos. Nas suprarrenais (F(1, 0) = 7,94, p < 0,01) e testículos (F(1, 0,21) = 4,31, p < 0,05) houve efeito de tratamento, os ratos que tomaram suco apresentaram maiores pesos do que os que tomaram água (Tabela 1). O menor comprimento dos animais desnutridos pode ter ocorrido devido à desnutrição reduzir o crescimento corporal, diminuindo também o peso dos órgãos. Os animais desnutridos apresentaram menores valores de triglicérides do que os nutridos (F(1, 4235) = 5,53, p < 0,05) e os que receberam uva maior teor de umidade do que os que receberam água (F(1, 17,93) = 7,08, p < 0,05) (Tabela 2). Tal diferença deve-se ao fato de que um dos fatores que contribuem para elevação do teor de triglicérides sanguíneo é a quantidade de carboidratos na dieta, notadamente superior no grupo nutrido. Segundo Martin-Carron et al. (1997), a presença de alguns polifenóis na uva favorece a excreção de lipídios por mecanismos de adsorção, consequentemente, há uma melhora do perfil lipídico e da função intestinal. Tabela 2: Bioquímica do soro (colesterol total, HDL, glicemia e triglicérides) de ratos desnutridos e eutróficos após 91 dias de tratamento com suco de uva. Diamantina, 2014. Colesterol Total HDL Glicemia Triglicérides N 24,54±2,68 10,15±0,89 144,17±16,89 75,15±16,39 NU 28,84±8,98 9,35±0,74 157,20±19,19 97,94±43,77 D 31,76±5,38 10,70±1,43 147,19±30,71 57,51±24,44 DU 30,78±5,45 10,08±0,34 135,55±13,29 62,44±16,81 Conclusões A ingestão crônica de suco de uva a 10% por ratos adultos e saudáveis não apresentou efeito benéfico, uma vez que aumentou o ganho de peso e de gordu- ras (abdominal, epididimal e visceral) e não melhorou o perfil lipídico nem a função intestinal. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. 2. ed. rev. Brasília. Ministério da Saúde, 2003. Brasil. Lei nº 11.794, de 08.10.2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Brasília, DF, 2008. DEL BAS, J. M. et al. Grape seed procyanidins improve atherosclerotic risk index and induce liver CYP7A1 and SHP expression in healthy rats. FASEB J., v. 19, n. 3, p. 479-481, 2005. FRANCIS, F. J. Anthocyanins and betalains: composition and applications. Cereal Foods World, v. 45, n. 5, p.208-213, 2000. HERNÁNDEZ; M. V. C.; VILÁ, M. P. Interrelación entre fármacos y nutrientes em situaciones fisiopatológicas determinadas: como abordar el tratameinto farmacológico y nutricional. Barcelona: Glosa, 2008. 203 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar MARTÍN-CARRÓN, N. et al. Reduction in serum total and LDL colesterol concentrations by a dietary fiber and polyphenol-rich grape product in hypercholesterolemic rats. Nutr. Res. v. 19, p. 1371-1381, 1999. MORENO, D. A. Inhibitory effects of grape seed extract on lipases. Nutr., v. 19, p. 876-879, 2003. MOURA, M. R. L; REYES F. G. R. Interação fármaco nutriente: uma revisão. Rev. 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Food Chemistry, v. 119, p. 1557-1565, 2010. 204 Área - Ciências da Saúde EFEITOS FISIOLÓGICOS DA FARINHA DE BANANA VERDE ( Musa canvendish ) Clarisse Giovana Maciel dos Reis Kiara Núbia Silva Herrera Luiz Otávio Campos de Oliveir Ítala Kariny Barroso Lopes Nísia Andrade Villela Dessimoni Pinto Alexandre Alves da Silva Tania Regina Riul [email protected] Introdução O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de banana, encontrando-se na 5ª colocação entre os produtores da fruta; produziu cerca de 7,3 milhões de toneladas em 2011 (FAO, 2013). Em seu estádio verde de maturação, a banana é altamente rica em fibras, especialmente hemicelulose. Contém grandes quantidades de minerais essenciais, sendo diferenciada pelo alto teor de amido resistente à ação das enzimas α-amilase e glucoamilase devido a seu grau de estrutura intrínseca cristalina (ZHANG et al., 2005). O amido resistente promove efeitos na saúde humana semelhantes aos causados pelas fibras solúveis e insolúveis. Em cada 100g de farinha de banana verde é encontrado 4,54±0,20g de proteína; 1,89±0,11g de lipídios; 73,28±0,95g de amido; 2,62±0,06g de cinzas e 7,55±0,13g de umidade. Os minerais mais abundantes na farinha de banana verde são o fósforo (190,00 mg.100g -1), o potássio (185,90 mg.100g -1), o cálcio (157,67 mg.100g -1) e o ferro (3,08mg.100g -1) (FASOLIN et al., 2007). O consumo de banana verde e, consequentemente, seus subprodutos ajuda no funcionamento adequado do intestino e na prevenção de doenças crônicas como câncer, doenças do cólon, diabetes tipo 2, dislipidemias e obesidade, sendo um importante alimento funcional (IZIDORO, 2007). A farinha de banana pode ser obtida por secagem natural ou artificial, através de bananas verdes ou semiverdes das variedades Prata, Terra, Cavendish, Nanica ou Nanicão. Sua qualidade depende de vários fatores, incluindo matéria-prima, método de secagem e forma de armazenamento (SBRT, 2005). O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos do tratamento subcrônico com farinha da banana verde em ratos Wistar. Material e Métodos Foram utilizados 18 ratos machos Wistar distribuídos em 3 grupos: Controle (C) - receberam ração e água ad libitum (n=6); Farinha de Banana Verde 10% (B10) - ração com 10% de farinha de banana verde e água ad libitum (n=6); Farinha de Banana Verde 20% (B20) - receberam ração com de 20% de farinha de banana verde e água ad libitum (n=6). Para obtenção da farinha de banana verde foi utilizada a variedade caturra (Musa canvendish) em seu estádio verde de maturação. As bananas foram lavadas com água corrente, imersas em solução clorada a 1,5% por 15 minutos, fatiadas, imersas em solução de metabissulfito de sódio a 2% por 15 minutos e desidratadas em estufa a 70°C por 72 horas. Após a secagem, foram trituradas e adicionada à ração. A manipulação e eutanásia foram realizadas de acordo com os princípios éticos para uso de animais de laboratório (BRASIL, 2008) e o projeto foi aprovado pela CEUA/UFVJM (protocolo 019/13). Os animais foram pesados semanalmente e a ração e líquidos diariamente durante os 49 dias de tratamento. Na última semana, os animais ficaram na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina das últimas 24 horas para análise do peso/volume, teores de gordura e umidade das fezes. No 49º dia, os animais foram colocados em jejum de 12 horas e no 50 o dia foram anestesiados e retirou-se uma amostra de 2mL de sangue que foi centrifugada para obtenção do soro e posterior avaliação bioquímica (colesterol total e frações, triglicé205 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar rides e glicemia). Após a eutanásia, os órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes, o comprimento e teor de minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05). Resultados e Discussão A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(2,267) = 71,621, p ≤ 0,0001), com relação aos triglicérides (Figura 1). Os animais que receberam ração com 20% de farinha de banana verde apresentaram maior índice de triglicérides do que o grupo farinha de banana verde a 10%, que por sua vez foi maior do que o grupo controle. Figura 1: Análise bioquímica dos animais, ao final de sete semanas de tratamento. Diamantina, 2014. Segundo a ANOVA, não houve diferença estatisticamente significativa quanto aos valores de glicemia, HDL e colesterol total. No que se refere ao peso corporal, houve efeito de dias (F(7, 19252) = 82,31, p ≤ 0,0001), com aumento crescente de peso até o dia 35. Houve efeito de se- manas (F(6, 735,6) = 10,2191, p ≤ 0,0001), em relação ao consumo de ração, sendo que na semana 1 todos os grupos consumiram menor quantidade de ração do que nas semanas 2, 3, 4, 5, 6 e 7; na semana 2 tiveram menor consumo do que nas semanas 4, 5 e 7; na semana 4 consumiram menor quantidade de ração que na 6. Houve efeito de semana no consumo de líquidos (F(6, 76) = 7,27, p ≤ 0,0001), nas semanas 1 e 3 o consumo foi maior do que nas semanas 2, 4, 5, 6 e 7. Não houve diferença estatisticamente significativa no peso dos órgãos, comprimento ósseo e corporal, bem como volume urinário, peso e umidade das fezes, percentual de cinzas e peso das gorduras (tabela 1) quanto ao tratamento. Tabela 1- Peso de órgãos (fígado, coração, baço, rins, suprarrenais e testículos), medidas de comprimento ósseo (cm) e corporal (cm), peso e umidade das fezes e volume urinário, após sete semanas de tratamento. Diamantina, 2014. Órgãos C B10 B20 Comprimento C B10 B20 Fezes/urina C B10 B20 Baço (g) 0,82 ± 0,37 0,96 ± 0,10 0,98 ± 0,5 Cauda (cm) 19,47 ± 0,46 19,27 ± 0,43 19,50 ± 0,91 Coração (g) Fígado (g) 1,01 ± 0,07 13,96±1,33 1,05 ± 0,04 15,15±2,67 1,09 ± 0,14 13,71±0,63 Total (cm) Ano-anal (cm) 45,47 ± 0,95 26,00 ± 0,55 45,10 ± 0,57 25,83 ± 0,41 45,50 ± 1,05 26,00 ± 0,32 1,54±0,18 1,55±0,10 1,55±0,13 Fêmur (cm) 3,81±0,11 3,82±0,06 3,81±0,09 Suprarrenais (g) 0,003±0,001 0,004±0,001 0,004±0,001 Tíbia (cm) 4,18 ± 0,12 4,11 ± 0,10 4,11 ± 0,11 Testículos (g) 1,79 ± 0,10 1,71 ± 0,11 1,78 ± 0,10 Frescas(g) secas (g) Umidade (%) Urina (ml) 7,64 ± 6,27 4,93 ± 3,23 2,72 ± 3,25 3,48 ± 3,85 6,41 ± 4,65 4,10 ± 2,87 2,32 ± 1,83 7,74 ± 5,24 5,28 ± 5,21 3,28 ± 2,50 1,99 ± 2,78 4,88 ± 5,89 O acréscimo de farinha de banana verde não apresentou diferenças de tratamento no consumo em ratos Wistar adultos quanto ao colesterol total e HDL, porém elevou os valores de triglicérides. Uma justificativa para estes resultados foi o tempo reduzido de tratamento (49 dias), seguido da presença de amido resistente na farinha que reduz o índice glicêmico, pois, por ser uma fibra insolúvel, esse carreia moléculas de gordura e de açúcar que serão absorvidas pelo organismo mais lentamente (PEREIRA, 2007). O aumento gradual do peso dos ratos Wistar adultos pode estar relacionado ao consumo de ração diferente ao longo das semanas. O tratamento com farinha de banana verde não 206 Rins (g) produziu efeito no peso dos órgãos, o que pode ser explicado pelo uso de animais adultos e saudáveis. O mesmo ocorreu em relação às medidas de comprimento dos animais e teor de cinzas dos ossos, apesar de a farinha de banana verde possuir alto teor de matéria mineral (2,62±0,06g) (FASOLIN et al., 2007). Não houve efeito de tratamento no volume de urina, peso e umidade das fezes. O volume de urina condiz com o consumo de líquidos, entretanto, no que se refere às fezes, seu volume deveria estar aumentado, uma vez que o amido resistente da farinha de banana verde age como fibra alimentar, aumentando o bolo fecal. Área - Ciências da Saúde Não houve diferença quanto à quantidade de gorduras (abdominal, epididimal e visceral), gorduras nas fezes e fígado dos animais, o que pode ser explicado pelo baixo teor de lipídeos (1,89±0,11g) encontrado na banana (FASOLIN, 2007). Conclusão A farinha de banana verde não trouxe benefícios quando testada sub cronicamente em ratos adultos e saudáveis, ao contrário, observou-se um aumento da taxa de triglicérides. Contudo, é necessário que mais estudos sejam realizados, inclusive testando o tratamento crônico e outras concentrações de farinha, vi- sando elucidar os mecanismos pelos quais esta pode interferir no metabolismo de seres vivos. A intensificação desses estudos está embasada em uma maior aceitação e indicação para a introdução deste produto na alimentação de seres humanos. Referência BRASIL. Lei nº 11.794, de 08.10.2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Brasília, DF, 2008. FAO - Food and Agriculture Organization. Faostat, 2013. Disponível em: <http://faostat.fao.org/site/339/default. aspx>. Acesso em: 21 jul. 2013. FASOLIN, L. H. et al. Biscoitos produzidos com farinha de banana: avaliações química, física e sensorial. Rev. Ciênc. Tecnol. Aliment. Campinas, v. 27, n. 3, p. 524-529, 2007. IZIDORO, D. R. Influência da polpa de banana (Musa cavendishi) verde no comportamento reológico, sensorial e físico-químico de emulsão. Dissertação. Mestrado em Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2007. 167f. Disponível em: <http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/handle/1884/8456/disserta%c3%a7%c3%a3o%20final.pdf?sequence=1>. Acesso em: 12 jul. 2013. PEREIRA, K. D. Amido resistente, a última geração no controle de energia e digestão saudável. Rev. Ciênc. Tecnol. Aliment., Campinas, v. 27, p. 88-92, 2007. SBRT - Sistema Brasileiro de Respostas Técnicas - SBRT. Rio de Janeiro: Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005. Disponível em: <http://sbrt.ibict.br/upload/sbrt 424.pdf>. Acesso em: 22 ago. 2013. ZHANG, R. L. et al. Banana starch: production, physicochemical properties, and digestibility: a review. Carbohydrate Polymers, [online], v. 59, n. 4, p. 443-458, 2005. Disponível em: <www. sciencedirect.com/science/article/pii/S0144861704004023>. Acesso em: 21 jul. 2013. 207 Área - Ciências da Saúde E VOLUÇ ÃO DA MOR TALIDADE INFANTIL EM PIR APOR A Beatriz Rezende Marinho da Silveira Eunice Francisca Martins Ecila Campos Mota Sabrina Leite Gitirana [email protected] Introdução O perfil de morbimortalidade pode ser considerado um indicador relativamente sensível das condições de vida e do modelo de desenvolvimento de uma população, sendo o resultado da interação de diversos fatores interdependentes, não sendo possível, portanto, separar o nível de mortalidade de sua estrutura e de sua relação com fatores históricos, sócioeconômicos, demográficos e ambientais (PRATA, 1992). Durante o século XX, o Brasil e o mundo passaram por profundas alterações em seus perfis epidemiológico e demográfico. A mortalidade no Brasil apresentou, nas últimas décadas, mudanças importantes, tanto no perfil etário quanto na distribuição dos grupos de causas (BOING, 2007). Mortalidade infantil é a terminologia utilizada para designar todos os óbitos de crianças menores de 1 ano ocorridos em determinada área em dado período de tempo. Seu instrumento de medida, utilizado como indicador de saúde, é o coeficiente de mortalidade infantil (ROUQUAYROL, 2003). O coeficiente de mortalidade infantil é o indicador mais empregado para medir o nível de saúde e de desenvolvimento social de uma região. Refere-se aos óbitos de crianças nascidas vivas e falecidas antes de completarem um ano de idade. A mortalidade infantil mede o risco de um nascido vivo morrer no seu primeiro ano de vida. A mortalidade infantil deveria ser nula, em termos ideais, pois todo óbito, na infância, é uma morte prematura (PEREIRA, 2000). Para melhor compreensão da sua ocorrência, de- sagrega-se a taxa de mortalidade infantil em dois componentes, diferenciados segundo seus determinantes: a mortalidade neonatal (óbitos ocorridos até 27 dias de vida) e a pós-neonatal (de 28 dias a um ano). A mortalidade neonatal, por sua vez, é subdividida nos componentes neonatal precoce (de 1 a 6 dias) e neonatal tardio (de 7 a 27 dias). O componente pós-neonatal predominou no Brasil até 1990; a partir de então prevalece o componente neonatal, que corresponde a cerca de 70% da mortalidade infantil atual. Uma tendência importante é o aumento relativo da mortalidade neonatal precoce (0-6 dias de vida), que em 2003-2005 correspondeu a cerca de 50% dos óbitos infantis, em todas as regiões do país (RIPSA, 2009). Os coeficientes de mortalidade infantil são classificados em baixos, médios ou altos, em função da proximidade ou distância de valores já alcançados em sociedades mais desenvolvidas. Para o século XXI, os coeficientes de mortalidade infantil abaixo de 20 por 1.000 nascidos vivos são considerados baixos, constituindo-se meta a ser alcançada pelos países europeus. Quando os coeficientes são de 50 óbitos ou mais por 1.000 nascidos vivos, a mortalidade infantil deve ser considerada elevada: ficar abaixo deste patamar é meta para os povos da América Latina, a ser alcançada neste final de século (PEREIRA, 2000). Compreender como se dá a evolução de mortalidade infantil no município de Pirapora/MG representa um passo importante na análise da saúde infantil com vistas à definição de políticas públicas prioritárias. Métodos Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório, descritivo e documental. O cenário da pesquisa foi o município de Pirapora, sendo incluídos no estudo os óbitos de crianças residentes em Pirapora, menores de 1 ano e ocorridos no período de 2000 a 2010. Os dados foram obtidos por meio do Sistema de Mortalidade Infantil (SIM) e de Nascidos Vivos (SINASC), acessados junto ao banco de dados do Sistema Único de Saúde do Ministério da Saúde. Foram analisadas as variáveis: ano do óbito, idade, sexo, peso ao nascer, tipo de óbito, idade gestacional, número de consultas de pré-natal, escolaridade da mãe, estado civil, idade da mãe, tipo de gravidez e tipo de parto. Para a organização e apresentação dos resultados parciais, foram utilizados 209 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar gráficos e tabelas sendo analisada a mortalidade infantil geral e desdobrada nos períodos neonatal precoce (menores de 7 dias), neonatal tardio (7 a 27 dias) e pós- neonatal (28 dias a menos de 12 meses). O Projeto de Pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, aprovado segundo o Parecer consubstanciado nº 2779. Resultados E Discussão Durante o período de 2000 a 2010 a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI) no município de Pirapora foi de 15,8/1000 nascidos vivos. Observam-se taxas elevadas no período de 2003 a 2005, com declínio nos anos subsequentes, conforme demonstrado na Tabela 1. Tabela 1: Taxa de mortalidade infantil, Pirapora, 2000-2010 Ano do nascimento Nascimento por residência da mãe Nº de óbitos TMI/1000 2000 2001 2002 2003 1341 1156 1261 1186 22 13 10 30 16,4 11,2 7,9 25,3 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 TOTAL 1139 1176 1099 1151 1105 1010 1043 12667 26 28 16 13 16 16 10 200 22,8 23,8 14,6 11,3 14,5 15,8 9,6 15,8 Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos - SINASC Apesar do declínio da mortalidade infantil, o nível atual é ainda elevado se comparado com taxas de países desenvolvidos como o Japão, que vem man- tendo índices de mortalidade entre quatro e cinco por mil nascidos vivos, há mais de 20 anos (MINAS GERAIS, 2004). Fonte: MS/SVS/DASIS - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC 210 Área - Ciências da Saúde Analisando a mortalidade infantil no período pesquisado, segundo seus componentes neonatal precoce, tardio e pós-neonatal, o estudo revelou um coeficiente de mortalidade neonatal precoce de 9,0/1000 nascidos vivos. O componente neonatal tardio apre- sentou uma taxa de 2,2/1000 nascidos vivos, e o pósneonatal foi de 4,6/1000 nascidos vivos. Observa-se preponderância dos óbitos no período neonatal precoce, indicando um risco de um nascido vivo morrer durante a primeira semana de vida. Conclusão O conhecimento do perfil epidemiológico da população é base fundamental para os processos de planejamento e de gestão no âmbito do município. Os indicadores devem ser utilizados e analisados com suas limitações e agregados a outras fontes de informações para indicar tendências e diferenciais nas condições de saúde da população. O estudo da mortalidade de menores de um ano de idade constitui um importante sinalizador das condições de saúde, ambientais e socioeconômicas da população. Referências BOING, A. F.; VARGAS, S. A.; LÓPEZ, A. C. A carga das neoplasias no Brasil: mortalidade e morbidade hospitalar entre 2002-2004. Rev. Assoc. Med. Bras. Online. 2007, v. 53, n. 4, p. 317-322. ISSN 0104-4230. MINAS GERAIS, Secretaria de Estado de Saúde. Análise da Mortalidade Materna e Infantil no Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2004,47p. PEREIRA, M. G. Epidemiologia: Teoria e Prática. 1 ed. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2000. PRATA, P. R. A transição epidemiológica no Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 8, n. 2, Junho, 1992. REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÃO PARA SAÚDE. RIPSA. Informe de Situação e Tendências: demografia e saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2009. ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia & Saúde. 7 ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2013. 211 Área - Ciências da Saúde MÃES QUE CUIDAM DE FILHO(A) S COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPEC TIVA DE GÊNERO Juliana Pereira Alves Lúcia Helena Rodrigues Costa [email protected] Introdução Grandes desafios surgem para os pais, sobretudo para as mães, quando recebem o diagnóstico de um filho (a) com necessidades especiais, o que vai demandar o envolvimento de indivíduos além da família, uma equipe multidisciplinar de profissionais para acompanhamento e apoio, a fim de que haja um melhor desenvolvimento físico, social e intelectual dessa criança. Há um discurso dominante de que a sensibilidade materna no cuidar é um aspecto central do processo interativo entre mãe-filho (a) em etapas do desenvolvimento humano, que favorece a formação do vínculo entre eles e é indissociável do contexto sociocultural. No contexto familiar, sociedade e cultura se entrelaçam, sustentando a ideologia dominante em nosso meio de que a mulher é a provedora dos cuidados às crianças, sobretudo quando o(a) filho(a) possui uma necessidade especial, levando-a a se dedicar, na maioria das vezes, integralmente ao cuidado do(a) filho(a) (NEVES; CABRAL, 2008; SILVEIRA, 2010). Na manutenção dos estereótipos de gênero determinados pelas construções sociais de masculinidades e feminilidades, o cuidado é historicamente um atributo de feminilidade, visto que inúmeras regras sociais foram calcadas numa suposta determinação biológica diferencial dos sexos usadas nos exemplos mais corriqueiros, como mulher não pode levantar peso ou homem não tem jeito para cuidar de criança (GROSSI, 2010).Nesse sentido, a divisão sexual do trabalho levou a uma construção social das diferenças, em que tarefas que envolvem sensibilidade, carinho, afetuosidade são historicamente consideradas femininas. Observa-se assim a predominância feminina no cuidado até nos dias atuais, sustentado por um discurso hegemônico em relação ao sexo e aos papéis de gênero, reforçando que o cuidar é parte integrante do universo feminino (AMORIM, 2009). Essa realidade feminina despertou interesse e indagações ao conceber a mãe como a figura central nos cuidados da criança com necessidade especial no contexto social e familiar, estimulando aprofundar nessa temática, surgindo a seguinte questão norteadora: Em que medida as diferenças de gênero influenciam a vivência das mães em relação ao cuidado com filhos (a) que apresentam necessidades especiais? A partir dessa perspectiva, o presente estudo objetivou compreender como as diferenças de gênero influenciam a vivência das mães em relação ao cuidado de filhos (as) com necessidades especiais, identificando as principais dificuldades diárias encontradas por elas nas vivências do(a) filho (a). Materiais e Métodos Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa. Foi realizado na cidade de Montes Claros no norte de Minas Gerais, no período de agosto a setembro de 2013, sendo as participantes da pesquisa quinze mães de filho (as) com necessidades especiais matriculados regularmente em uma escola especial. Os dados foram obtidos por meio da técnica de grupo focal, a qual é um método em grupo que valoriza a comunicação entre os participantes da pesquisa a fim de gerar dados. As pessoas são estimuladas a falar, perguntar, trocar histórias e a comentar sobre experiências e os pontos de vista umas das outras através de perguntas abertas que estimulem os participantes a explorar aspectos importantes com o próprio voca- bulário, gerando perguntas e estabelecendo suas próprias prioridades (POPE, 2009). Foram realizados dois grupos focais em horários alternados, matutino e vespertino, com duração de aproximadamente 60 minutos, sendo conduzidos por três questões norteadoras. Os resultados foram analisados por meio da análise de conversação, fundamentada na premissa de que a interação social é construída com alternância, por meio de sucessivas ações verbais e não-verbais, indo desde uma saudação inicial até gestos corporais. Foram registradas por meio de notas de campo efetuadas por uma observadora e gravações consentidas pelas participantes para seguir os passos de análise e identificação de aspectos dignos de nota, como intensidade do 213 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar som, ritmo, intervalos marcados na conversa e detalhes na postura do olhar. Assim havia a familiarização com os dados para elaboração da transcrição do estudo e, em seguida, organização deles em categorias. Em observância aos aspectos éticos, o projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros-MG (Unimontes), com o parecer nº 226.758. Às participantes da pesqui- sa foi apresentado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, informando sobre os objetivos do estudo, o caráter voluntário da participação e o direito de desistir da pesquisa a qualquer etapa do estudo. Para manter o anonimato, foram sugeridos nomes fictícios de flores em suas enunciações. Antes de iniciar os grupos focais, foi realizada a “dinâmica dos palitos” para uma reflexão da importância do trabalho em grupo. Resultados e Discussão A faixa etária das mães participantes variou de 24 a 71 anos de idade; nove delas eram casadas, duas solteiras, duas divorciadas e duas viúvas. A renda familiar variou de dois a cinco salários mínimos com maior concentração na faixa de até dois salários mínimos. Cinco das mães se declararam brancas; nove, pardas e uma manifestou-se negra. Da religião, dez responderam ser católicas e cinco evangélicas. Sobre a escolaridade, apenas duas possuíam ensino superior completo; uma cursou o superior incompleto; uma havia cursado o ensino médio completo; três, o ensino médio incompleto; uma cursou o fundamental completo; seis, o fundamental incompleto e uma mãe não possuía nenhuma escolaridade. Sobre a profissão, uma respondeu ser professora; uma, funcionária pública; uma, autônoma; duas, salgadeiras; uma, cozinheira; outra trabalhava com reciclagem; sete responderam ser do lar e uma, aposentada. Em relação ao desenvolvimento do (a) filho (a), nove mães responderam estar satisfeitas uma insatisfeita e cinco preocupadas. Sobre quem é mais responsável nos cuidados diários, todas as quinze res- ponderam que eram elas. Seus (suas) filho (as) deficientes tinham de 2 a 29 anos de idade; sendo cinco portadores de deficiência mental; dois, síndrome de Down; um, paralisia cerebral; um, hemiparesia cerebral; um, autismo; um, portador de síndrome de Lennox e um, de Disritmia cerebral. Definiram-se três categorias de análise: Mães como figura central no cuidar do(a) filho(a); as mudanças das relações sociais e interpessoais causadas pela situação do(a) filho (a) e falta de informações sobre o diagnóstico do(a) filho/ filha pelo profissional, que gerou a sub categoria dificuldade de lidar com uma situação nova. Pode-se observar na principal categoria do estudo: Mães como figura central no cuidar do(a) filho (a) que a prática do cuidar, historicamente, tem sido reconhecida como inerente à natureza feminina. Nessa perspectiva, atividades derivadas do ato de cuidar tendem a ser atribuídas às mulheres e naturalizadas de forma a aparecerem como exclusivas e constitutivas da condição feminina (GUEDES,2009). Os resultados deste estudo corroboram com essa premissa conforme as seguintes falas: [... ]No geral, quem cuida é a mãe, ainda mais quando a criança é especial [...] (DÁLIA VERMELHA, 47 anos). Toda criança especial precisa de mais carinho, mais atenção: isso só a mãe para dar, sabe! (CAMÉLIA, 50anos). Toda mãe de criança especial tem medo de morrer, porque se morrer quem vai cuidar da criança? ( DÁLIA VERMELHA, 47anos). Pra mim o meu amor passou tudo pra ela, eu não fiquei preocupada não, sabe, tinha que aceitar aquilo...É diferente o cuidado, é dobrado [...] (AZÁLEA BRANCA, 71 anos). Esses relatos reforçam o papel da mulher/ mãe como a principal responsável dos cuidados ao (à)filho (a) com necessidade especial. Conclusão O estudo oportunizou observar que existe uma grande representatividade da mulher/mãe como a principal cuidadora familiar, de filho(a) com necessidades especiais. Possibilitou, ainda, conhecer as vivências, experiências e dificuldades nas representações maternas sobre as deficiências a partir do diagnóstico. Em relação às questões de gênero, é nítida a manutenção dos papéis tradicionais de mães cuidadoras, figuras centrais no cuidado do(as) filho(as) com necessidades 214 especiais, aumentando a carga de compromisso e atividades destinadas, ao cuidado. Percebe-se a permanência do contexto socio-histórico, que deposita na condição materna toda a responsabilidade do cuidado no âmbito familiar, quando verdadeiramente podemse dividir papéis/funções dos pais, já que cuidado pode ser realizado por qualquer indivíduo social. Nesse sentido, o empoderamento individual e coletivo das mães cuidadoras deve ser reforçado não somente na condi- Área - Ciências da Saúde ção materna, mas também na condição feminina. Outro aspecto destacado no estudo trata da conduta dos profissionais da área da saúde ao transmitir as informações e orientações do diagnóstico à família, especialmente para as mães. Podemos dizer, pelos resultados obtidos neste estudo, que há uma necessidade de formação dos profissionais no sentido de que sejam mais sensíveis aos dilemas da família e das mães, quando o que está posto é a insegurança gerada pelo fato de que terão que cuidar de uma criança com necessidades especiais. Por conseguinte, a enfermagem, como uma profissão do cuidado, tem uma grande responsabilidade no repasse das informações, orientações e acompanhamento, não somente nas instituições de saúde, mas especialmente nas escolas e domicílios. Referências AMORIM, R. C. A. Questão do gênero no ensinar em Enfermagem. Revista enfermagem. UERJ, Rio de Janeiro. v.17, n. 1, p. 64-8, 2009. GUEDES, O. S.; DAROS, M. A. O cuidado como atribuição feminina: contribuições para um debate ético. Rev. Londrina, v. 12, n. 1, p. 122‐134, 2009. 122p. GROSSI, M. P. Identidade de Gênero e Sexualidade. Antropologia em Primeira Mão. Florianópolis, p. 1-18, 1998. Versão revisada, 2010. NEVES, E. T.; CABRAL, I. E. Empoderamento da mulher cuidadora de crianças com necessidades especiais de saúde. Revista Texto contexto Enfermagem. Florianópolis, v. 17, n. 3, July/Sept., 2008. POPE, C. Pesquisa qualitativa na atenção a saúde. Nicholas Mays. Tradução Anany Porto farjado.3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. SILVEIRA, J. O. Família e educação: um olhar sobre as relações entre o especialista e a mãe/cuidadora especial. Dissertação. Mestrado. Santa Maria. RS, 2010. 215 Área - Ciências da Saúde PERFIL CLÍNICOS SOCIAL E HÁBITOS DE HIGIENE BUC AL DE PUÉRPER AS ATENDIDAS EM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Verônica Oliveira Dias Soraya Mameluque Edwaldo de Souza Barbosa-Júnior Eduardo Brandão Lima Jéssica Bianca Rodrigues Caio Cesar Borges de Oliveira Edson Jose Carpintero [email protected] Introdução A gestação é um período em que ocorrem várias modificações metabólicas e psíquicas na mulher, a fim de responder à demanda de um novo ser presente no organismo e da própria gestante, podendo repercutir na cavidade bucal e, por isso, o atendimento odontológico deve ser cauteloso e diferenciado (MAMELUQUE et al., 2005). Mendonça Júnior (2010) relata que nesse período deve-se valorizar o trabalho de educação e promoção de saúde, para esclarecer e desmistificar todos os medos existentes por parte da mãe e explicar-lhe que os problemas bucais, se não tratados, poderão gerar alterações em sua gestação. Segundo Alves et al. (2007), o aumento da vascularização e da permeabilidade vascular dos tecidos gengivais são as principais alterações bucais da gravidez. Os níveis elevados de estrógeno e progesterona presentes nesse período causam um aumento da mobilidade dentária, do fluido gengival, da profundidade do sulco gengival e da resposta inflamatória à ação de irritantes locais, podendo instalar um quadro de doença periodontal que, segundo Louro et al. (2001), pela sua magnitude e prevalência na gestação, é considerado como um problema de saúde pública. Alguns estudos têm sido realizados correlacionando essa enfermidade com o período gestacional, encontrando uma direta relação com o parto prematuro e bebês de baixo peso ao nascer (ALVES et al., 2007). Diante disso, conhecer o perfil clínicossocial, condição periodontal e hábitos de higiene bucal de puérperas atendidas no Hospital Universitário Clemente de Faria no município de Montes Claros – MG proporciona melhorias na atenção, através da identificação das reais necessidades e da possibilidade de se programar ações baseadas nessas necessidades locais, uma vez que, para Pimentel et al., (2011), estudar o perfil de uma população é a forma mais pontual de se promover saúde. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo descritivo, observacional e transversal realizado com puérperas do Hospital Universitário Clemente de Faria (HU), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) entre o período de setembro/2011 a maio/2012. Os dados foram coletados por meio de um questionário semiestruturado com informações sobre condições sócioeconômicas, nível de escolaridade do parceiro, saúde geral e hábitos de higiene bucal durante a gestação, seguido de exame clínico. Após a entrevista, três pesquisadores previamente calibrados realizaram o exame periodontal (Teste de concordância Kappa 0, 82 intra e 0,63 inter-examinadores). O poder de compra das pessoas e famílias urbanas foi estimado de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil, proposto pela ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa). A doença periodontal foi diagnosticada quando 4 ou mais dentes mostraram um ou mais locais com profundidade de sondagem de 4 mm ou mais, e com perda de inserção clínica de 3 mm ou mais no mesmo sítio (GOMES-FILHO, 2009). As variáveis relacionadas ao bebê foram o peso e a idade gestacional. O estudo foi executado de acordo com a Resolução nº 466/12, do Ministério da Saúde, sobre pesquisa envolvendo seres humanos e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros, número 1978/2010. O banco de dados e as análises foram realizados no programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 18.0. 217 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Foram analisados os dados de 71 puérperas e seus recém-nascidos. Em relação às características sóciodemográficas das puérperas, prevaleceram as feodermas (54,1%), com renda de um salário mínimo (43,3%), união consensual (44,3%), pertencentes à classe econômica C (71%); 55,2% com apenas um filho ( média de 2,01 filhos). A média de idade foi 26,7 anos, sendo que a maioria (74,7 %) encontrava-se na faixa etária de 20 a 40 anos; 60% eram naturais de Montes Claros e as demais de cidades da região. Em relação à escolaridade, destaca-se que 42,2% das puérperas possuíam o ensino médio completo. Quanto ao histórico gestacional, as condições mais relatadas foram: infecção urinária (25,7%), hipertensão (24,3%), pré-eclâmpsia (11,1%), eclâmpsia e diabetes, ambas com 4,3%. De acordo com Simões e Soarde (2006), dentre as enfermidades crônicas na fase adulta, destaca-se a hipertensão arterial como a complicação clínica mais freqüente na gravidez, ocorrendo em torno de 12% a 22% das gestações, o que condiz com os achados deste estudo. Segundo o tipo de parto na última gestação, 57,8% tiveram partos cesarianos e 42,2%, partos normais. O uso de álcool foi relatado por 17,5% das mães, e o tabaco teve frequência de 10,2%, com média de 4,17 cigarros por dia. Já o uso de drogas ilícitas não foi citado por nenhuma participante. Em um estudo realizado por Silva et al. (2010) com 260 gestantes, encontrou-se prevalência de 24,6% de consumo de álcool durante a gestação. Segundo esses autores, a quantidade segura de álcool que uma gestante pode consumir não está definida na literatura, por isso se recomenda abstinência total durante toda a gravidez. Estudos citam que o abuso do álcool está associado, de maneira dose-dependente, à restrição do crescimento fetal, às deficiências cognitivas e ao aumento da morbimortalidade (HALMESMAKI, 1988; LUNDSBERG et al., 1997; KAUP et al., 2001). Já o tabagismo materno, também encontrado nesta pesquisa, pode afetar o crescimento intrauterino de pelo menos três maneiras diferentes: hipóxia fetal decorrente do aumento dos níveis de carboxihemoglobina, vasoconstrição uterina e interferência no metabolismo fetal (ZAMBONATO et al., 2004). Neste trabalho, 99,6% das mulheres realizaram o pré-natal, com média de início de 7,7 semanas, sendo que 14,7 % relataram gravidez de risco, sendo o motivo mais comum a hipertensão (10%). Desde 2000, a recomendação do Ministério da Saúde é de que a mãe realize, no mínimo, seis consultas de pré-natal e as inicie tão logo comece a gravidez (IBGE, 2009). A média de peso dos recémnascidos foi 2,73Kg (± 0,73kg) com 32,3% apresentando baixo peso ao nascer. A média da idade gestacional foi 36,78 semanas (± 3,81), sendo 43,6% prematuros e 46,4% com idade gestacional normal. A proporção de recém-nascidos com peso inferior a 2,5 Kg foi de 50%, em mulheres com renda inferior a um salário mínimo e, nas mães que possuíam uma renda superior a um salário mínimo, a frequência caiu para 26,9%. Dessa maneira, os resultados demonstraram que, quanto menor a renda entre as participantes, maior a frequência de bebês com baixo peso ao nascer, corroborando os estudos de Almeida (2002) e Nascimento (1997). Nos dados referentes à saúde bucal, mais da metade das entrevistadas responderam que escovavam os dentes três vezes ao dia e que, pelo menos uma vez ao dia, faziam uso do fio dental. Moimaz et al. (2011) relataram que, durante a gravidez, com muita frequência, têm ocorrido mudanças no aspecto gengival das pacientes, com uma tendência ao agravamento da gengivite. Dentre as gestantes por eles examinadas, 40,03% relataram ter observado alterações na sua gengiva durante a gravidez, como edema e vermelhidão, e 40,75% apresentaram bolsas periodontais. De acordo com os critérios de diagnóstico utilizados no presente estudo, 9,8% das puérperas apresentaram doença periodontal. Apesar de esse percentual ser relativamente baixo, segundo Offenbacher et al. (1998), a doença periodontal implicaria risco na proporção de 4 a 7 vezes maior de parto prematuro em relação a outros fatores, como idade da gestante e fumo. Portanto, concordando com Sartório e Machado (2004), é importante tratar prontamente as alterações periodontais de mulheres em idade de procriação com vistas à redução da incidência de bebês prematuros e de baixo peso. Conclusões Conhecer o perfil clínicossocial das puérperas proporciona melhorias na atenção à saúde, através da identificação das reais necessidades e da possibilidade de se instituir ações visando à promoção de saúde das mesmas. Apesar de a maioria das participantes deste estudo relatarem bons hábitos de higiene bucal, observou-se a presença de doença periodontal, fator re- 218 levante em decorrência da associação encontrada na literatura com o parto prematuro e baixo peso ao nascer. Percebe-se que a implementação e manutenção de orientações sobre os cuidados com a saúde bucal são indispensáveis no período gestacional, refletindo em melhores condições de saúde para ambos, mãe e bebê. Área - Ciências da Saúde Referências 1. ALVES, R. T. et al. Associação entre doença periodontal em gestantes e nascimentos prematuros e/ou de baixo peso: um estudo de revisão. HU Rev., Juiz de Fora, v.33, n.1, p.29-36, jan./mar., 2007. 2. ALMEIDA, M. F.; NOVAES, H. M. D.; ALENCAR, G. P.; RODRIGUES, L. C. 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A garantia de acesso dos profissionais de saúde às famílias dos hipertensos cadastrados resulta na garantia de esforços na prevenção. Ressalta-se que uma das técnicas utilizadas pelas equipes da ESF para controle da PA é a prática educativa dos grupos de hipertensos, que tem como característica principal a centralização em uma tarefa, constituindo-se como um instrumento de trabalho e um método de investigação (MANO; PIERIN, 2005). Brasil (2006) afirma que o grupo pode, assim, cumprir uma função terapêutica, uma vez que está centrado em uma tarefa que pode ser o aprendizado, a cura, o diagnóstico de dificuldades, caracterizando-se como educativos, terapêuticos, dentre outras finalidades. Assim, este artigo objetivou descrever o perfil de hipertensos participantes dos grupos educativos cadastrados em uma ESF de Montes Claros – MG. Materiais e Métodos Realizou-se um estudo de corte transversal do tipo descritivo. A pesquisa foi realizada junto a 92 hipertensos cadastrados na ESF do bairro Novo Delfino, em Montes Claros, Brasil. Para coleta na pesquisa de campo ,utilizou-se entrevista estruturada contendo perguntas objetivas sobre as características dos hipertensos, frequência e participação ao grupo educativo, além de conhecimento de fatores relacionados ao controle da PA. Como critérios de inclusão dos participantes do grupo tiveram-se: ter os seus registros de cadastro de acompanhamento referente a setembro de 2008 disponíveis; ter idade maior ou igual a dezoito anos de idade no mês de setembro de 2008; e ter registro de no mínimo uma frequência ao grupo educativo conforme livro de ata da ESF, no período de setembro de 2007 a setembro de 2008. A análise dos dados prosseguiu após a aplicação do instrumento de coleta de dados e se deu pela organização destes em um banco de dados, o que favoreceu a construção das tabelas, através do programa do Microsoft Word for Windows XP. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, por meio do parecer 1273/08. Além disso, utilizou-se para cada entrevistado, por envolver seres humanos, um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em duas vias. Resultados e Discussão Ressalta-se que, para alcançar os objetivos deste estudo, faz-se necessário conhecer o perfil desses hipertensos, conforme mostra a Tabela 1. 221 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Tabela 1 - Perfil dos Hipertensos que frequentam o grupo educativo da ESF em Montes Claros no período de set2007 a set- 2008. Variáveis N % SEXO Masculino Feminino 24 68 26,1 73,9 05 42 45 5,4 45,7 48,9 05 51 03 33 5,4 55,4 3,3 35,9 35 39 12 06 38 42,3 13,04 6,5 IDADE 18-40 40-60 > 60 ESTADO CIVIL Solteiro Casado/União Consensual Separado/Divorciado Viúvo ESCOLARIDADE Analfabeto Primário completo/Incompleto Fundamental/Completo/Incompleto Médio Completo/Incompleto Fonte: Coleta de dados no período de set.2007 a set.2008. Percebe-se que, dos 92 hipertensos participantes, 73,9% são do sexo feminino; o que, segundo Araújo e Garcia (2006), deve-se ao fato de as mulheres aderirem mais ao seguimento anti-hipertensivo do que os homens, podendo ser comprovado já que estão em maior número nos grupos educativos em relação aos homens. Em relação à faixa etária, constataram-se mais pessoas com idade acima de 60 anos (48,9%). Nosso estudo corrobora Araújo e Garcia (2006), que afirmam que os indivíduos de idade mais avançada são mais frequentes em práticas educativas de saúde e mais propensos a ter uma melhor adesão às orientações propostas do que os adultos jovens. Quanto ao estado civil dos hipertensos, encontrou-se que indivíduos casados são os que mais frequentam os grupos educativos, totalizando 55,4%, seguido por viúvos (35,9%), solteiros e separados (5,4%). Tratando-se da escolaridade dos entrevistados, 62% são classificados como alfabetizados e 38% são analfabetos. Recorre-se ao Sistema de Informação da Atenção Básica (2003), do Ministério da Saúde, para des- 222 crever que foram considerados alfabetizados todos os indivíduos que sabiam ler e escrever pelo menos um bilhete, mesmo que tenham tido pouco contato com o ensino escolar. Araújo e Garcia (2006) afirmam que quanto maior o nível de instrução da pessoa, melhores são suas condições de vida e mais apta ela se encontra para cuidar de sua saúde, possibilitando modificação em seus hábitos de vida, como a implementação de dietas, atividades e físicas e redução do tabagismo. De acordo com definições da Sociedade Brasileira de Cardiologia (2006), a HAS é considerada uma síndrome, isto é, uma entidade clínica multifatorial, caracterizada pela presença de níveis tensionais elevados, associados às alterações metabólicas e hormonais, e a fenômenos tróficos. Assim, para se tratar e controlar a hipertensão, é necessário adotar medidas diversas para alcançar um objetivo único, que é manter os níveis tensionais em padrão adequado. A Tabela 2 retrata os fatores diretamente ligados ao controle e tratamento da hipertensão. Área - Ciências da Saúde Tabela 2 - Distribuição dos fatores presentes para o controle da pressão entre os hipertensos que frequentam o grupo educativo da ESF de Montes Claros, no período de setembro 2007 - 2008. Variáveis USO DE MEDICAMENTO Sim Não FUMA Sim Não FAZ DIETA Sim Não PRÁTICA DE EXERCICIO FÍSICO Sim Não Total N % 85 07 92,3 7,7 05 87 5,4 94,6 66 26 71,7 28,3 42 50 92 45,7 54,3 100 Fonte: Coleta de dados no período de set.2007 a set.2008. Quando questionados sobre o uso correto da medicação anti-hipertensiva, uma parcela expressiva dos entrevistados (92,3%) disse fazer uso da medicação, enquanto que uma minoria (7,7%) informou que não usava. Tal achado corrobora Mion Junior et al. (1995), que verificaram, em seu estudos, que 56% dos hipertensos usavam medicamentos e tinham preferência por este tipo de tratamento. Quanto ao tabagismo, encontrou-se que, dos entrevistados, a parte fumante é mínima (5,4%). Riella (1996) descreve que a redução do fumo é um tratamento não farmacológico comprovadamente eficaz para reduzir a PA de indivíduo tabagista. A distribuição dos hipertensos que seguem uma dieta neste estudo foi de 66 hipertensos (71,7%), enquanto que 26 disseram não fazer nenhuma dieta (28,3%). Araújo e Garcia (2006) relatam que seguir uma dieta controlada é um fator essencial, pois o controle da HAS requer alterações alimentares, destacando a redução de ingestão calórica, sal e gorduras saturadas e aumentar a ingesta de alimentos ricos em fibras. Quanto à prática de exercício físico, encontrou-se que os hipertensos adeptos a tais atividades correspondem a 45,7% dos entrevistados, contra 54,3% que disseram não realizar nenhuma atividade física. De acordo com Brasil (2006), o exercício físico, além de reduzir a PA, proporciona uma considerável baixa nos riscos de surgimento de doença arterial coronária, acidentes vasculares cerebrais e mortalidade geral. Deve ser instituído de forma gradativa e constante, respeitando os limites do individuo e após avaliação clínica. Conclusões Pôde-se constatar que o perfil dos usuários pesquisados assemelha-se ao encontrado na literatura. Maior parte era mulheres, tinha idade acima de 60 anos, era casada, alfabetizada, fazia uso da medicação anti-hipertensiva, fazia dieta recomendada nos grupos e não fazia atividade física. Esta pesquisa permite destacar, também, que os grupos educativos de hipertensos na atenção primária à saúde são uma proposta bastante relevante no âmbito da saúde coletiva, pois são importantes ferramen- tas no controle da hipertensão arterial sistêmica. E, ao analisar os fatores presentes para o controle da pressão entre os hipertensos que frequentavam os grupos educativos (fumo, medicação, atividade física e dieta), nota-se que a maior parte dos hipertensos seguiam as recomendações. No entanto, faz-se necessário desenvolver maiores estudos sobre o tema para que se obtenham resultados mais específicos diante das propostas educativas do grupo de hipertensos Referências ARAÚJO, G. B. S.; GARCIA, T. R. Adesão ao tratamento anti-hipertensivo: uma análise conceitual. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 8, n. 2, p. 259-272, 2006. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Hipertensão arterial sistêmica para o Sistema Único de Saúde. Brasília: Ministério da Saúde 2006. 58 p. 223 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar MANO, G. M. P.; PIERIN, A. M. G. Avaliação de pacientes hipertensos acompanhados pelo Programa Saúde da Família de um Centro de Saúde Escola. Rev. Acta Paul. Enferm. São Paulo, 2005. MION JUNIOR, D. et al. Conhecimento, preferências e perfil dos hipertensos quanto ao tratamento farmacológico e não-farmacológico. Jornal Brasileiro de Nefrologia, v. 17, p. 229-36, 1995. RIELLA, M. C. 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Indicadores bibliométricos apontam para mudanças no panorama da pesquisa científica, evidenciando a expansão da produção internacional e brasileira (GUIMARÃES, 2004; VOLPATO; FREITAS, 2003; SANTOS et al., 2009). A expansão na produção científica internacional e brasileira desencadeia um aumento considerável na disputa por recursos para pesquisa. Uma parcela representativa da produção científica brasileira é oriunda dos pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de outros órgãos de fomento à pesquisa, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) (SANTOS et al., 2009). O aumento quantitativo da produtividade de pesquisadores brasileiros, possivelmente, reflete os vários mecanismos de incentivo implementados por órgãos de pesquisa nacionais. Entre estes mecanismos destaca-se o desenvolvimento da pós-graduação nacional e a concessão de bolsas de produtividade em pesquisa concedidas pelo CNPq, como forma de motivar os pesquisadores com grau de doutor (SOUZA, 2002; SANTOS et al., 2012). No âmbito da produção científica brasileira, no que diz respeito à área da saúde, destaca-se o crescimento da produção científica odontológica (NADA- NOVSKY, 2006; CAVALCANTE, 2008). Estudos prévios objetivaram avaliar a produção científica em Odontologia entre pesquisadores brasileiros (CAVALCANTE et al., 2008; CAVALCANTI; PEREIRA, 2008; DIAS; NARVAI; REGO, 2008), além da avaliação de suas subáreas (SANTOS et al., 2012; POPOFF et al., 2012; MOROSSONI et al., 2012). No entanto, não foram encontrados estudos avaliando a produção científica nacional na área de Periodontia. Em comum com todas as demais áreas da saúde, a investigação científica em Periodontia está aumentando exponencialmente. Um número expressivo de trabalhos abordando aspectos relevantes à Periodontia é publicado a cada ano, objetivando melhorar a compreensão sobre a doença periodontal – uma doença inflamatória de impacto significativo na qualidade de vida, além de outros aspectos relacionados a esta especialidade da Odontologia (PRESHAW, 2000). Portanto, é cada vez mais relevante entender as características relacionadas à produção científica e aos sistemas de regulação e incentivo à pesquisa em diferentes partes do mundo (COOLEY; CASTELLION, 1997). Nesse contexto, a presente investigação propõe avaliar o perfil e a produção científica de pesquisadores brasileiros na área de Periodontia do CNPq. Devido à contribuição notável dos pesquisadores da área de Odontologia na produção científica nacional, acreditase que dentre estes, os pesquisadores da Periodontia representem uma das principais áreas de atuação dentro da Odontologia e, portanto, um importante contingente científico a ser analisado. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo de caráter transversal, observacional e descritivo que utilizou dados secundários. Para obtenção da amostra em estudo, ou seja, pesquisadores da área de Periodontia, primeiramente foram 225 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar identificados os pesquisadores bolsistas de produtividade do CNPq, na área de Odontologia, com bolsas ativas em fevereiro de 2013 (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2013). A partir da identificação dos pesquisadores bolsistas, foram analisadas as informações quanto à área de atuação dos mesmos em consonância com seus currículos Lattes, acessados na plataforma Lattes do CNPq (CONSELHO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, 2013). Foram consideradas as informações constantes do item “Área de atuação” e/ou a área de experiência informada no texto de descrição do perfil do pesquisador. Para aqueles que relataram atuar em mais de uma área, foi considerada a de maior produção nos anos em avaliação. A amostra de trabalho foi constituída por pesquisadores que, a partir dos critérios estabelecidos anteriormente, foram considerados da área de Periodontia. As informações coletadas foram referentes a: sexo, categoria da bolsa, localização geográfica, instituição de afiliação, instituição de graduação, tempo de conclusão de doutorado, conclusão de pós-doutorado e especialização, local de realização do doutorado e pós-doutorado, membro de corpo editorial, revisor de periódico, artigos publicados em periódicos internacionais (Qualis – A, B e C) e nacionais (Qualis – A, B e C), autoria de livro ou capítulo de livro, orientação de iniciação científica, mestrado e doutorado, supervisão de pós-doutorado e participação em grupo de pesquisa. Para avaliação do Qualis dos periódicos, foi utilizado como parâmetro o portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o WebQualis (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2013). O Qualis é o conjunto de procedimentos utilizados pela Capes para estratificação da qualidade da produção intelectual, realizando a classificação dos periódicos em áreas de avaliação, sendo atualizado anualmente (COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR, 2013). Para consulta do Qualis, foi utilizado o nome ou ISSN dos periódicos. Adotou-se como critério de avaliação o estrato na área de Odontologia; em caso de não existência deste estrato levou-se em consideração o estrato, em Interdisciplinar, sendo excluídos aqueles que não possuíam estrato nestas áreas de avaliação e que não obtiveram resultados a partir da busca. As informações investigadas corresponderam aos anos de 2011 e 2012, sendo estas coletadas entre fevereiro e abril de 2013. As análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se o programa estatístico Statiscal Package Social Sciences (SPSS) versão 17.0. A análise descritiva incluiu a frequência absoluta (n), a frequência relativa (%), além de medidas de média (M) e desvio padrão (DP). Resultados e Discussão Dentre os 209 pesquisadores bolsistas de produtividade na área de Odontologia, 32 (15,3%) foram considerados da área de Periodontia e avaliados na presente investigação. A maioria dos pesquisadores era do sexo masculino (65,6%), sendo a proporção entre homens e mulheres de 1,9:1. Os pesquisadores investigados estão distribuídos em seis estados brasileiros, sendo a maioria pertencente à categoria 2 de bolsa (75%), especialista (56,3%), membro de corpo editorial (84,4%) e revisor de periódico (93,8%). Quanto ao tempo de conclusão de doutorado dos pesquisadores, este foi realizado, pela maioria, entre 11 e 20 anos atrás (71,9%). Metade dos pesquisadores analisados possui o título de pós-doutorado (50,0%). Com relação ao local de realização da pós-graduação, constatou-se que a maioria concluiu o doutorado em instituições brasileiras (84,4%), contrariamente ao local de realização do pós-doutorado, sendo realizado no 226 exterior pela maioria dos investigados (81,3%). Quanto à distribuição dos pesquisadores entre as instituições de ensino, destaca-se a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP) como as principais instituições de afiliação e graduação dos pesquisadores investigados. No que diz respeito à produção científica dos pesquisadores em Periodontia, foram publicados 675 artigos científicos em periódicos nos anos de 2011 e 2012. Identificou-se maior média de artigos publicados em periódicos de Qualis A internacional (M:10,31/DP:5,28). Observou-se maior média de publicação de capítulo de livro (M:2,31/DP:3,02) do que livros completos (M:0,12/DP:0,42). Na formação de recursos humanos, houve maior participação dos pesquisadores na orientação de mestrado (M:3,50/DP:3,24) (Tabela 4). Área - Ciências da Saúde Tabela 4 – Média e caracterização da produção científica e formação de recursos humanos dos pesquisadores nos anos de 2011 e 2012. Variáveis Média Desvio Padrão Mínimo Máximo Produção Científica Artigo A internacional Artigo B internacional Artigo C internacional Artigo A nacional Artigo B nacional Artigo C nacional Capitulo de livro Livro publicado 10,31 3,65 0,03 0,00 6,53 0,00 2,31 0,12 5,28 2,67 0,17 0,00 5,64 0,00 3,02 0,42 4 0 0 0 0 0 0 0 23 9 1 0 25 0 16 2 2,62 3,50 2,31 0,62 2,53 3,24 2,03 1,03 0 0 0 0 10 13 9 4 Formação de recursos humanos Iniciação científica Mestrado Doutorado Supervisão pós-doutorado Os indicadores de produção científica vêm ganhando importância crescente como instrumentos para análise da atividade científica. Os achados da presente investigação indicam a relevante contribuição dos pesquisadores de Periodontia para ciência odontológica brasileira, favorecendo a expansão da produção nacional. Ressalta-se que 15,3% dos bolsistas de produtividade em Odontologia do CNPq pertencem à área de Periodontia, constituindo-se um grupo repre- sentativo na Odontologia nacional. Tal grupo destacase quanto à relevante contribuição na publicação de artigos em periódicos internacionais, principalmente aqueles de Qualis A, além da formação de novos pesquisadores, tendo a maioria deles contribuído na orientação de mestrado. Porém, ressalta-se o fato de estes estarem distribuídos em apenas seis estados brasileiros. Conclusões Os resultados encontrados indicam a relevante contribuição dos pesquisadores bolsistas de produtividade em Periodontia na produção odontológica nacional. Os resultados podem indicar a qualidade da produção destes, devido a um maior número de publicações em periódicos Qualis A internacional, além da contribuição deles na formação de recursos humanos, com destaque para orientações de mestrado. Os achados da presente investigação permitem melhor compreensão da dinâmica relacionada à ciência odontológica nacional, a fim de propiciar a implementação de políticas científicas e avaliar seus resultados. Referências GUIMARAES, J. A. 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Disponível em: http://qualis.capes.gov.br/webqualis/principal.seam. 228 Área - Ciências da Saúde RESVER ATROL AUMENTA A TERMOGÊNESE NO TECIDO ADIPOSO MARROM , AUMENTANDO SIR T1, GASTO DE ENERGIA E DIMINUINDO O ACÚMULO DE GORDUR A NO TECIDO ADIPOSO DE C AMUNDONGOS ALIMENTADOS COM DIE TA PADR ÃO Carlos Rafael Affonso Jaciara Neves Sousa Pablo Vinicyus Ferreira Chagas João Marcus Oliveira Andrade Miriam Teresa Paz Lopes Cândido Celso Coimbra Sérgio Henrique Sousa Santos [email protected] Introdução O tecido adiposo é um órgão fundamental na regulação do equilíbrio energético. Dois tipos diferentes de tecido adiposo estão presentes nos mamíferos: o tecido adiposo branco (WAT), responsável pelo armazenamento energético de triglicerídeos, e o tecido adiposo marrom (BAT), especializado em gasto energético e termogênese (GESTA et al., 2007). A termogênese adaptativa, para a manutenção de equilíbrio energético de temperatura corporal básica e calor, é uma função importante do BAT. Essa função é mediada por proteínas de desacoplamento (UCPs), localizadas na membrana interna das mitocôndrias. Essas proteínas atuam como desacopladores de fosforilação oxidativa, dissipando o gradiente de prótons através da membrana e produzindo calor, em vez de produzir ATP, evitando, dessa maneira, balanço energético positivo e obesidade (ALBERDI et al. 2013). Baur e Sinclair (2006) caracterizam o Resveratrol (3,5,4’-trihidroxiestilbeno) como um composto polifenólico, natural, encontrado na uva e no vinho tinto, que tem demonstrado efeito prolongador da expectativa de vida em muitos organismos. É um ativador da família das sirtuínas (SIRT), família altamente conserva- da de proteínas, presentes em praticamente todas as espécies de bactérias a mamíferos, segundo (CARAFA et al., 2012). Em relatórios recentes de Qiang et al. (2012) e Canto et al. (2009), foi demonstrado que a remodelação marrom de WAT e a termogênese são dependentes de SIRT1. A ativação da desacetilase dependente de NAD+, SIRT1, seja por meio de um composto natural, restrição calórica ou exercício, promove a atividade e biogênese mitocondrial, aumentando a possibilidade de que a SIRT1 regule o funcionamento de BAT. Alberdi et al. (2013) demonstraram que o resveratrol aumenta os níveis de UCPs em dois tecidos importantes para a termogênese, o BAT e o músculo esquelético, sugerindo que o resveratrol pode contribuir para a dissipação energética e, consequentemente, gasto energético. Com base nesses dados, temos a hipótese de que a administração de resveratrol via oral em camundongos alimentados com uma dieta padrão pode modular a termogênese, aumentando expressão genética relacionada. Esse mecanismo poderia contribuir para alteração na eficiência energética, lipídica e perfil glicêmico, bem como perda de massa adiposa. Materiais e Métodos Animais, dietas e coleta de tecidos. O experimento foi realizado com dezesseis camundongos machos (quatro semanas de idade), divididos aleatoriamente em dois grupos (n = oito em cada) e alimentados com as respectivas dietas experimentais durante oito semanas: dieta padrão (ST) e dieta padrão com resveratrol (ST+RSV, concentração de 4 g/kg de dieta). O peso corporal e a ingestão alimentar foram 229 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar mensuradas duas vezes por semana. Após uma noite de jejum, os camundongos foram decapitados. Amostras de tecido adiposo branco epididimal, mesentérico e retroperitoneal; tecido adiposo marrom interescapular e músculo gastrocnêmico foram coletadas, pesadas, congeladas imediatamente em nitrogênio e armazenadas a -80º C, para análise subsequente de adiposidade e marcadores de termogênese. Todos os procedimentos experimentais foram aprovados pelo Comitê de Ética da Universidade Federal de Minas Gerais número 023/2012 e em conformidade com os regulamentos descritos no Manual do Comitê de Princípios Orientadores. Medição do consumo de oxigênio. Após quatro semanas de tratamento, os animais foram submetidos à medição de consumo de oxigênio (VO²) para avaliar os efeitos termogênicos. O VO² foi medido por um calorímetro indireto de fluxo aberto (PANLAB, Apparatus LE405, Gas Analyzer). Os animais descansaram por pelo menos uma hora, após o estresse da movimentação, registrando-se continuamente o VO2. Apenas os últimos vinte minutos de leitura, quando os animais já haviam retornado ao descanso, foram utilizados para análise. Determinação de parâmetros bioquímicos na circulação. O soro foi obtido após centrifugação (3200 Rpm, durante 10 min, a 4 º C). Colesterol total, triglicérides, HDL e glicose foram analisados utilizando-se kits enzimáticos específicos. As medições foram realizadas em Wiener BT-3000 plus Chemistry Analyzer (Wiener, Argentina). Reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa quantitativa. (qRT-PCR) O RNA total do BAT foi preparado usando reagente Trizol, tratado com Dnase e transcrito reversamente com M-MLV (Invitrogen Corp.) utilizando primers específicos. Os níveis de expressão dos genes UCP1, UCP3, Cidea, adiponectina, PTEN, BMP -7, PRDM16 e mRNA de SIRT1 foram determinadas por qRT-PCR. Análise estatística. Todos os dados foram transferidos para o software GraphPad Prism e analisados com 95% de confiança ( P<0,05). A significância estatística de diferenças foi avaliada por teste t. Resultados e Discussão Observou-se redução significativa no tecido adiposo epididimal (ST 0.0075 ± 0.0051 vs. ST+RSV 0.0022 ± 0.0019 g/peso corporal) e adiposo retroperitoneal (ST 0.0012 ± 0.0006 vs. ST+RSV 0.0006 ± 0.0003 g/peso corporal) no grupo tratado com resveratrol. Camundongos alimentados com ST+RSV mostraram diminuição no colesterol total (ST 139.6 ± 9.39 vs. ST+RSV 110.8 ± 11.52 mg/dL) e glicose (ST 133.4 ± 22.19 vs. ST+RSV 96.4 ± 15.13 mg/dL) (Figura 1). O consumo de O² foi aumentado em camundon- 230 gos com alimentação ST+RSV (ST 36.59 ± 2.77 mLO²/ Kg/min vs. ST+RSV 42.33 ± 1.35 mLO²/Kg/min). A análise da expressão de mRNA de genes relacionados à termogênese mostrou aumento significativo para UCP1 (ST 0.448 ± 0.15 vs. ST+RSV 0.85 ± 0.22). Ainda observouse um aumento significativo na expressão de SIRT1 (ST 0.65 ± 0.19 vs. ST+RSV 1.07 ± 0.19), PTEN (ST 0.30 ± 0.12 vs. ST+RSV 0.51 ± 0.08) e BMP-7 (ST 0.32 ± 0.08 vs. ST+RSV 0.51 ± 0.074). (Figura 2) Área - Ciências da Saúde Sugerimos que a alta expressão dos marcadores SIRT1, PTEN e BMP7 pode estar associada com a alta expressão de UCP1. Recentemente, um novo processo foi descrito e nomeado como escurecimento de WAT. Esses adipócitos marrons podem aparecer após estímulos termogênicos em pontos anatômicos correspondentes a WAT. Giralt e Villarroya (2013) inferem que as UCPs estão diretamente relacionadas a esse processo de escurecimento do WAT. Estudos anteriores de Liu et al. (2003) descobriram que os níveis de UCP1 estão associados com mudanças no índice de adiposidade e contribuem de forma significativa para a termogênese e gasto energético. Além disso, a UCP1 induz um aumento no consumo de oxigênio e gasto de energia, levando à perda de peso. Na verdade, o nosso estudo demonstrou que o resveratrol produziu uma diminuição da adiposidade corporal, possivelmente, aumentando os níveis UCP1 em BAT. Um relatório recente de Ortega-Molina et al. (2012) indica que a superexpressão de PTEN em camundongos está associada com altos níveis de UCP1, acompanhados pela redução do tamanho corporal, redução dos níveis de IGF1 e melhora da sensibilidade à insulina, bem como aumento do gasto energético. Um novo estudo, segundo Tseng et al. (2008), mostrarou que o BMP7 promove a diferenciação de pré-adipócitos marrons e é responsável pela ativação de um programa completo de adipogênese de BAT. Lagouge et al. (2006) mostraram que os camundongos tratados com resveratrol associado à dieta com alto teor de gordura aumentaram o gasto energético e consumo de oxigênio, mediado pela atividade de PGC-1α a SIRT1. Juntos, estes resultados confirmam nossos dados mostrando que o resveratrol, através da ativação da SIRT1, pode induzir a termorregulação e melhora na homeostase metabólica. Conclusões As principais conclusões deste estudo são que o tratamento de camundongos alimentados com dieta padrão acrescidas de resveratrol aumenta a termogênese e melhora o perfil lipídico e glicêmico. Essas alte- rações foram associadas com o aumento da expressão de UCP1 no BAT. Sugerimos que a alta expressão dos marcadores SIRT1, PTEN e BMP-7 pode ser associada com a alta expressão de UCP1. 231 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALBERDI, G. et al. Thermogenesis is involved in the body-fat lowering effects of resveratrol in rats. Food Chem, v. 141, n. 2, p. 1530-5, Nov 15, 2013. BAUR, J. A.; SINCLAIR, D. A. Therapeutic potential of resveratrol: the in vivo evidence. Nat Rev Drug Discov, v.5, n. 6, p. 493-506, Jun., 2006. CANTO, C. et al. AMPK regulates energy expenditure by modulating NAD+ metabolism and SIRT1 activity. Nature, v. 458, n. 7241, p. 1056-60, Apr 23, 2009. CARAFA, V.; NEBBIOSO, A.; ALTUCCI, L. Sirtuins and disease: the road ahead. Front Pharmacol, v. 3, p. 4, 2012. GESTA, S.; TSENG, Y. H.; KAHN, C. R. Developmental origin of fat: tracking obesity to its source. Cell, v. 131, n. 2, p. 242-56, Oct 19, 2007. GIRALT, M.; VILLARROYA, F. 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Nature, v. 454, n. 7207, p. 1000-4, Aug 21, 2008. 232 Área - Ciências da Saúde VIOLÊNCIA URBANA: UMA ANÁLISE DOS C ASOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE MONTES CL AROS, MINAS GER AIS – BR ASIL Daniella Fagundes Souto Carla Silvana de Oliveira e Silva Luís Paulo Souza e Souza Orlene Veloso Dias Antônia Gonçalves de Souza Kéury Guimarães Pereira Tamara Figueiredo [email protected] Introdução Define-se violência como “uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação”. Destaca a intencionalidade do ato violento, excluindo os incidentes não intencionais; inclui o uso do poder, exemplificado por ameaças de agressões ou intimidações e por negligências e omissões (SCHRAIBER et al., 2006). A Organização Mundial da Saúde considera que a ocorrência da violência doméstica acontece em todos os países e não se restringe a classes sociais e, por sua magnitude, tornou-se uma questão de saúde pública. Pode ocasionar consequências graves, constituindo um problema que compete tanto à esfera jurídica, pois resulta de ações criminosas, quanto aos setores de saúde, pelos agravos que acometem suas vítimas (DOSSI et al., 2008). A maior prevalência de comportamentos violentos em algumas comunidades não pode ser explicada por um fator isoladamente. Sendo assim, compreender a maneira como esses determinantes estão vinculados à violência é um dos passos importantes no enfoque da Saúde Pública para que este fenômeno seja prevenido. Considerando esse contexto, o objetivo geral deste estudo foi identificar o perfil epidemiológico dos casos de violência doméstica notificados no ano de 2010, na cidade de Montes Claros, Minas Gerais, Brasil. Materiais e Métodos Trata-se de estudo documental, descritivo, transversal e de cunho quantitativo. A coleta de dados foi realizada no site do DATASUS, no Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), em março de 2011. Este banco de dados é de livre acesso ao público, sendo assim, este estudo encontra-se em conformidade com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta a pesquisa com seres humanos, desta forma não requerendo parecer do Comitê de Ética em Pesquisa. Os dados se referem a todos os casos de violência doméstica e sexual notificados de janeiro a dezembro do ano de 2010 pelos profissionais dos hospitais e equipes da Atenção Primária à Saúde do município de Montes Claros. As características analisadas foram: sexo, faixa etária, tipos de violência, raça, ocupação, local de ocorrência, situação conjugal e zona urbana ou rural de ocorrência. Os dados foram digitados e tabulados em planilha eletrônica Excel 2003 para análise e posteriormente confronto com a literatura vigente. Resultados e Discussão Ao analisar o número de casos de violência notificados no SINAN, em Montes Claros, no ano de 2010, encontraram-se 131 casos. Do total de casos notifica- dos, notou-se que 82% das vítimas foram mulheres e 18% foram homens, o que reafirma a desigualdade de gênero. A desigualdade tem como uma de suas extre233 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar mas formas de manifestação a violência contra as mulheres, a qual é resultado de uma diferença de poder que se traduz em relações dominação e força. Assim, a violência baseada no gênero tem se constituído em um fenômeno social que influencia sobremaneira o modo de viver, adoecer e morrer das mulheres (GUEDES et al., 2009). Os maus tratos infligidos à mulher repercutem em perdas significativas na saúde física, sexual, psicológica e nos componentes sociais, este último como rede de apoio para a qualidade de vida (MONTEIRO; SOUZA, 2007). Quanto à idade, observou-se que a maioria das vítimas possuía idade entre 20 a 39 anos, seguida da faixa etária entre 10-19 anos. Encontraram-se, ainda, notificações de casos de violência contra crianças e idosos. Schraiber et. al, (2006), ao analisar o Relatório Mundial, descreve que a violência juvenil (10 a 29 anos) possui uma grande representatividade social, sendo a mais visível das violências, que também é peculiar, pois os jovens são os principais agressores e vítimas. Em se tratando dos tipos de violência, Minayo e Souza (2010) definem violência física como uso da força física para ferir, provocar dor, incapacidade ou morte ou para compelir o idoso a fazer o que não deseja; violência psicológica como agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, humilhar, restringir a liberdade ou isolar o idoso do convívio social; violência sexual como atos ou jogos sexuais de caráter homo ou heterorrelacional que utilizam pessoas idosas visando obter excitação, relação sexual ou práticas eróticas por meio de aliciamento, violência física ou ameaças. Houve constatação de que as marcas físicas são as mais relatadas neste estudo, tendo predomínio de violência física (74%), psicológica e moral (43,5%) e sexual (29%). Lembrando que, em muitas vezes, uma vítima pode sofrer mais de um tipo de violência. Os casos das violências domésticas e intrafamiliares, com agressões físicas, sexuais e psicológicas, além da privação e negligência, geralmente acometem, sobretudo, mulheres, crianças e idosos. Uma grande superposição das violências física, sexual e psicológica tem sido encontrada, o que também se deve esperar das violências contra crianças e idosos. (SCHRAIBER et. al, 2006). Outra característica encontrada foram casos de violência por raça, encontrando que 53% dos agredidos eram pardos, 21% diziam ser brancos, 16% ignorado-branco, 8% pretos e 2% relataram ser amarelos. Os negros (pretos e pardos) predominaram em todos os tipos de eventos violentos, confirmando as estatísticas encontradas no Brasil (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2006). Quanto à ocupação das vítimas, foi predominante o número que se declarou “estudante” (19); “dona de casa” (13); “aposentado ou pensionista” (3); manicure (2); desempregado crônico ou cuja ocupação habitual não foi possível obter (1); secretário/executivo (1); comerciante atacadista (1); comerciante varejista (1); fisioterapeuta (1); supervisor de ensino (1); jornalista (1); professor de nível médio no ensino fundamental 234 (1); inspetor de alunos de escola privada (1); consultor contábil (técnico) (1); auxiliar de escritório em geral (1); caixa de banco (1); empregado doméstico diarista (1); cozinheiro geral (1); babá (1); auxiliar de lavadeira (1); vendedor em comércio atacadista (1); atendente de farmácia – balconista (1). Tais achados estão em consonância com a pesquisa realizada por Dossi et al., (2008), quanto à ocupação dos agredidos, na qual encontrou predominância do número que se declarou “do lar”, “estudante”, “aposentada ou pensionista”, e “economia informal”. Em se tratando do local de residência, obtiveram-se 82 casos ocorridos na residência, 22 em via pública, 04 na escola, 04 em outros locais não determinados, 02 em habitação coletiva, 01 em comércioserviço e 01 caso em indústrias-construção. Costa et al. (2007) relatam que o domicílio, espaço onde os eventos violentos tomaram lugar, favorece a ocorrência de agressões e abusos contra crianças, adolescentes e mulheres. Ao permanecer mais tempo em seus lares, essas pessoas acabam sendo violentadas, mais frequentemente, nesse ambiente privado. Deslandes et al. (2000) apontam que a família é uma instituição social que organiza as relações sexuais entre gêneros, exercendo de forma direta um controle social sobre a identidade e sobre o corpo da mulher. Tal controle pode legitimar direitos dos maridos sobre suas esposas, dando-lhes prerrogativa de exercerem até mesmo a força física contra elas. Nesse cenário, destacam-se os casos de mães que colaboram ativamente no “endurecimento” de seus filhos, transformando-os em “machos agressivos”. Os espaços públicos (ruas, bares e outros locais) são os principais cenários para a ocorrência de eventos violentos, especialmente quando envolvem agressores e vítimas do sexo masculino (SOUZA, 2005). No espaço privado do lar, ocorre a maioria das violências contra o sexo feminino. Encontrou-se, ainda, que a maior parte dos agredidos eram solteiros (37%), seguidos por opção “não se aplica” (24%), casado/ união consensual (19%), ignorado (15%), separados (4%) e viúvos (1%). Nota-se que houve porcentagem considerável da opção “não se aplica” e ignorado, mostrando que, durante o preenchimento, tais campos não são tratados com devida atenção. Tais achados tornam-se diferentes do estudo de Jong e Tavares, o qual apresentou a maioria de vítimas casadas. Comparando-se esse dado à realidade de que o companheiro é na maior parte dos casos o agressor, pode-se concluir que muitas ditas “solteiras”, na realidade vivem em união informal. Este tipo de relação tende a ser mais conflituosa e instável (TAVARES, 2000). A zona de ocorrência dos casos de violência predominante no presente estudo foi a zona urbana (84%), seguida por ignorado (11%), zona rural (4%) e periurbana (1%). Minayo e Souza (2003) informam que a violência apresenta-se de forma mais dramática nas áreas metropolitanas, atingindo especialmente as populações com piores condições de vida e jovens das periferias urbanas. Área - Ciências da Saúde Conclusões Conclui-se que a violência origina sentimentos adversos à liberdade e atinge a integridade física, moral e social das famílias, dificultando da busca de soluções para os problemas. Pelo fato de a violência constituir um conjugado de complexos agravos e se manter entre as principais causas de morbimortalidade mundial, faz diferença ter uma comunidade organizada e parti- cipativa com vistas à redução de tal da violência. Desvelar esse contexto, na trajetória do cuidado de pessoas vitimadas pela violência, possibilita debates nos espaços de participação social do Sistema Único de Saúde (SUS), movimentando as pessoas, no alcance da promoção da saúde e no exercício de uma cidadania responsável. Referências COSTA, C. O. M; CARVALHO, R. C.; SANTA BÁRBARA, J. F. R.; SANTOS, C. A. S. T.; GOMES, W. A.; SOUSA, H. L. O perfil da violência contra crianças e adolescentes, segundo registros de Conselhos Tutelares: vítimas, agressores e manifestações de violência. Ciência & Saúde Coletiva. v. 12, p. 1129-1141, 2007. DESLANDES, S. F, et al. Caracterização dos casos de violência doméstica contra a mulher atendidos em dois hospitais públicos do Rio de Janeiro. Cad. Saúde Pública. 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São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo; 2000. 235 Área - Ciências da Saúde C AR AC TERIZ AÇ ÃO DO PERFIL ANTROPOMÉ TRICO E CLÍNICO ASSOCIADOS QUALIDADE DE VIDA EM MULHERES NO CLIMATÉRIO Rafael Dourado Borges Frederico Raelmi Lopes Nobre Carolina Ruas Freire Santos Jéssica Oliveira Aguiar Karina Rocha Henriques Magela Pedro Guido Soares Andrade Diogo Oliveira Morais [email protected] Resumo Trata-se de um resumo expandido enquadrado na modalidade Ciências da Saúde, que caracteriza o estudo do perfil antropométrico e clínico associado à qualidade de vida em mulheres no climatério, realizado nas ESF’s do município de Montes Claros no ano de 2013, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unimontes, nº 311.628/2012. Dentre os fatores estudados, destacam-se ansiedade, depressão e obesidade em mulheres na fase pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, bem como sua relação com a qualidade de vida das mesmas. A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas estruturadas a partir de formulários sociodemográficos e clínicos, e, para a avaliação da qualidade de vida, foi utilizado o Menopause Rating Scale (MRS), que é um instrumento validado para o português brasileiro composto por questões que relatam sintomas derivados em domínios somatovegetativos. Dentre as mulheres avaliadas, 14,4% se encontravam na faixa de idade entre 40 a 44 anos; 22,6% entre 45 a 49 anos; 22,9% entre 50 a 54 anos; 16,8% entre 55 a 59 anos; e 23,2% entre 59 a 65 anos. A relação observada entre ansiedade e qualidade de vida, tendo como referência os estudos paramétricos comparativos entre as variáveis, foi significativa. De acordo com o MRS, a ansiedade apresentou uma média de 2,05 ±1,55, sendo estas mulheres enquadradas em escala de pouco severo a moderado. De acordo com o MRS, a depressão apresentou média de 1,44 ±1,42, em que estas mulheres demonstraram estado de ânimo depressivo em escala de pouco severo a moderado. Quanto ao IMC, 36,2% estavam com sobrepeso e 29,4% eram obesas. A qualidade de vida mostrou-se comprometida neste estudo, sendo influenciada por fatores psicossociais e antropométricos. Ao avaliar as associações encontradas, observamos que, quanto maior o IMC, os estados de ansiedade e depressão, menor a qualidade de vida das mesmas. Palavras-chave: Menopausa, Ansiedade, Depressão, IMC. Introdução O aumento na sobrevida da população feminina é uma realidade tanto em países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, alterando assim a pirâmide populacional no mundo (CARVALHO; RODRIGUES-WONG, 2008). De acordo com o IBGE, as mulheres já representam a maior porcentagem da população idosa no Brasil, com vida média de oito anos a mais que os homens (IBGE, 2007). A longevidade da sociedade moderna revela uma nova situação, em que as mulheres vivem um tempo suficiente para vivenciar enfermidades ou afecções ao longo da vida, que gerações anteriores não experimentaram (CARVALHO; RODRIGUES-WONG, 2008). O climatério representa uma fase de transição entre o estado reprodutivo e o não reprodutivo, sendo que este se inicia segundo a literatura aos 35 anos e tem o seu término aos 65 (PAIXÃO et al., 2009) . Devido à diminuição da função ovariana, presencia-se nessa etapa uma deficiência hormonal, caracterizada principalmente pela baixa na produção do estrógeno e também da progesterona, resultando em sintomas e alterações do sistema nervoso central, trato geniturinário, sistema cardiovascular, pele e ossos (LOVEJOY, 2001). Dentre os sintomas que permeiam este período, a ansiedade é uma constante e manifesta-se pela presença de irritabilidade, taquicardia, sudorese, fadiga e preo237 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar cupação excessiva com pequenos problemas. Desse modo, a presença da ansiedade é considerada um fator que altera a qualidade de vida da mulher climatérica, sendo influenciada tanto por fatores biológicos, quanto por fatores culturais e psicossociais (PAIXÃO et al., 2009). Uma leva de autores acredita que a perimenopausa esteja fortemente associada ao aparecimento de sintomas de ansiedade e depressão em mulheres sem história prévia de doença mental, quando estão também presentes outros fatores de risco, como elevado índice de massa corpórea, antecedentes de síndrome de tensão pré-menstrual (TPM), ondas de calor (FREEMAN et al., 2005). Segundo Nievas et al. (2006) a depressão pode ser tida também como uma constante do climatério, manifestando-se pela presença de sentimentos de inutilidade, medo de envelhecer e até carência afetiva. Essa associação pode ser feita em decorrência das flutuações hormonais que ocorrem nessa fase de vida como sendo responsáveis pelas alterações do humor, sendo que a perimenopausa é o período de maior vulnerabilidade para os transtornos psíquicos (POLISSENI et al., 2009). Outro fator que compromete a qualidade de vida dessas mulheres é o ganho de peso, medido pelo IMC (Índice de Massa Corporal), que parece não estar linear- mente relacionado ao envelhecimento, mas aumenta especificamente nos anos pós-menopausa. Por conseguinte, este estudo mostra-se importante, pois a maioria das mulheres climatéricas apresenta grande propensão a ser obesa, e consequentemente, a apresentar sintomas relacionados a essa comorbidade, como a dispneia e também a desenvolver doenças cardiovasculares. Entretanto, não está claro na literatura, se o ganho ponderal está relacionado ao envelhecimento, às variações hormonais inerentes ao climatério ou a uma combinação de ambos os fatos (LOVEJOY, 2001). O IMC elevado está associado à diminuição do bem-estar psíquico, com dificuldade de integração social, baixa autoestima e estigmatização social (RODRIGUES et al., 2009). A associação entre o climatério e a instalação de ansiedade, depressão e obesidade continua sendo foco de controvérsias. Essa divergência reflete o aparecimento de diversas teorias que têm estimulado uma série de pesquisas nesse campo. Uma delas enfatiza as flutuações hormonais que ocorrem nessa fase de vida como sendo responsáveis por tais alterações (LOVEJOY, 2001). Neste contexto, o objetivo do estudo foi destacar a incidência de ansiedade, depressão e obesidade em mulheres climatéricas bem como relacionar possível comprometimento da qualidade de vida das mesmas. Metodologia O estudo realizado é quantitativo, do tipo transversal e descritivo, realizado no período de 1° de abril a 31 de maio de 2013. A amostra foi selecionada aleatoriamente, baseada na história menstrual no último ano e nas definições de menopausa proposta pela Sociedade Internacional de Menopausa (SOBRAC, 2003). Constitui-se por 340 mulheres climatéricas de idade entre 40 e 65 anos, cadastradas e acompanhadas em Estratégias de Saúde da Família (ESFs) do Município de Montes Claros - MG. Foram excluídas mulheres que apresentavam transtorno mental ou algum comprometimento que as dificultava de responder às avaliações propostas. Após a amostra assinar o termo de consentimento, foi realizada a avaliação das condições antropométricas. Utilizou-se o índice de massa corporal (IMC) de posse do peso (em Kg) e da altura (em m) da entrevistada. O IMC foi calculado de acordo com a seguinte fórmula IMC = peso (kg) / altura² (m). Os pontos de corte de IMC adotados foram os preconizados pela WHO (1997), ou seja, baixo peso (IMC < 18,5); eutrofia (IMC 18,5-24,99); sobrepeso (IMC 25-29,99) e obesidade (IMC ≥ 30,00). O peso foi aferido em balança digital com capacidade máxima de 150 kg e divisão de 100 g, segundo as normas preconizadas. A estatura foi aferida com 238 fita métrica aderida a uma parede sem rodapé, com extensão de 2,00 m, dividida em centímetro e subdividida em milímetros, com visor de plástico e esquadro acoplado a uma das extremidades, segundo as normas preconizadas. A coleta de dados foi realizada mediante entrevistas estruturadas a partir de formulários sociodemográficos e clínicos, e, para a avaliação da qualidade de vida, foi utilizado o Menopause Rating Scale (MRS), que é um instrumento validado para o português brasileiro composto por questões que relatam sintomas derivados em domínios somatovegetativos. A paciente dá um parecer relativo a cada sintoma, podendo este ser classificado como ausente, leve, moderado, severo ou muito severo. Para análise estatística dos dados, utilizou-se Programa SPSS, na versão 20.0 para o Windows. Realizou-se análise descritiva das variáveis, e as mesmas foram expressas em valores médios e porcentagem. Os estudos estatísticos não paramétricos aplicados para comparação entre duas variáveis foram a Análise Mann-Whitney e, para comparação entre mais de dois grupos de variáveis em análise, foi utilizado o teste não paramétrico de Kruskal-Wallis. Adotou-se como nível de significância estatística o valor de p<0,05. Área - Ciências da Saúde Resultados e Discussão Dentre as mulheres avaliadas, 14,4% se encontravam na faixa de idade entre 40 a 44 anos; 22,6% entre 45 a 49 anos; 22,9% entre 50 a 54 anos; 16,8% entre 55 a 59 anos; e 23,2% entre 59 a 65 anos. A relação observada entre ansiedade e qualidade de vida, tendo como referência os estudos paramétricos comparativos entre as variáveis, foi significativa. De acordo com o MRS, a ansiedade apresentou uma média de 2,05 ±1,55, sendo estas mulheres enquadradas em escala de pouco severo a moderado. Relacionando o fator ansiedade com o IMC calculado, mulheres normais com N=105, sobrepeso com N=123 e obesas com N=100 apresentaram o “Mean Rank” com valor de 159,61, 172,64 e 180,39, respectivamente para tais classificações, evidenciando que mulheres obesas são mais acometidas por quadros de ansiedade do que o restante das mulheres. Pode- se inferir, ainda, que o fator ansiedade decresce à medida que o IMC também diminui, sugerindo uma certa relação diretamente proporcional entre esses dois fatores. Ao relacionar ansiedade com atividade remunerada dessas mulheres, foi revelado que 189 das 340 mulheres não exerciam nenhuma atividade e colocação no “Mean Rank” 176,15, enquanto que 151 mulheres exerciam, com “Mean Rank” 163,43 e p=0,224. O tipo de menopausa também teve influência na variável ansiedade, sendo que a natural teve N=232 e, assim, a mais significativa em número, porém a induzida foi o tipo mais significativo no “Mean Rank”, com valor 224,40. Na comparação entre mais de 2 grupos de variáveis em análise, pode-se sugerir que a relação entre o tipo de menopausa e a ansiedade apresentou grau de significância com p=0,002, indicando, inclu- sive, que mulheres com menopausa induzida tendem a ser mais ansiosas do que a menopausa de evolução normal. De acordo com o MRS, a depressão apresentou uma média de 1,44 ±1,42, em que estas mulheres demonstraram estado de ânimo depressivo em escala de pouco severo a moderado. Aproximadamente 55,6% das mulheres não exerciam nenhuma atividade remunerada, e este fator evidenciou forte influência no estado de ânimo depressivo das pesquisadas (p=0,01). A atividade remunerada exerceu uma influência direta no determinismo da depressão, sendo que mulheres desempregadas mostraram-se com estado de ânimo depressivo presente, sinalizando que o emprego e a renda, nos dias atuais, representam importantes fatores de proteção contra esta patologia. Quanto ao IMC, 36,2% estavam com sobrepeso e 29,4% eram obesas. Ao compararmos a variável falta de ar com o IMC, não foram obtidos dados com expressiva significância (p<0,05). Entretanto, ao se comparar a falta de ar com classificação de risco da mulher de desenvolver doenças cardiovasculares, observou-se que as mulheres que apresentavam risco muito alto mostraram maior tendência a apresentar falta de ar. Os resultados das classificações de IMC são preocupantes, uma vez que a maioria das mulheres caracteriza-se por serem obesas, percebendo-se uma associação significativa entre essa variável e a falta de ar das pacientes, visto que indivíduos que apresentam sobrepeso equivalem a um risco elevado para doenças cardiovasculares, estas apresentando a dispneia com um dos seus principais sintomas. Conclusões A qualidade de vida mostrou-se comprometida neste estudo, sendo influenciada por fatores psicossociais e antropométricos visto que, ao avaliar as associações encontradas, observamos que, quanto maiores o IMC, os estados de ansiedade e depressão, menor a de qualidade de vida das mesmas. Ademais, a análise que estimou a prevalência de ansiedade em mulheres climatéricas, destacou-se como fator protetor à ansiedade o IMC normal (PEREIRA et al., 2009). Além disso, verifica-se que a ausência de uma atividade remunerada pode afetar a mulher em sua identidade e relações, também influenciando na existência de quadros de ansiedade e depressão. Esse achado concorda com os constatados por Melby, Lock e Caufert (2005) em estudos realizados em serviços públicos de saúde ,ressaltando ainda que a condição de gênero e o nível socioeconômico exerçam influência direta no determinismo de estados ansiolíticos e depressivos, sinalizando que o emprego e a renda, nos dias atuais, representam importantes fatores de proteção para tais fatores. A prática regular da atividade física resulta em menor prevalência de sintomas apresentados em decorrência do aumento na secreção de beta endorfinas hipotalâmicas, que ainda melhoram o humor (BOSSEMEYER, 2003). Dessa forma, a ocorrência de depressão e ansiedade no estágio climatérico demonstra que a mulher apresenta-se mais sensível aos estados depressivos e ansiolíticos em decorrência da redução progressiva dos estrogênios, mas também em relação à sua condição sociodemográfica e clínica, afetando diretamente sua qualidade de vida. Em relação ao IMC, o aumento de peso das pacientes está associado à falta de ar. Desse modo, uma intervenção que vise corrigir ou melhorar o padrão antropométrico das mulheres por meio de ações de proteção e promoção à saúde pela Atenção Básica, poderá 239 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar resultar na prevenção da obesidade e, consequentemente, de doenças cardiovasculares em mulheres cli- matéricas ao oferecer a elas uma melhoria na qualidade de vida (SOBRAC, 2003). Referências BOSSEMEYER, R. P. Atividade física no climatério. In: Fernandes CE. Menopausa e tratamento. São Paulo, 2003. p.201-9. 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São Paulo, 2003. WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO. Obesity: preventing and managing the global epidemic: report of a WHO Consultation on Obesity. Geneva, 1997. 240 Área - Ciências da Saúde A ESTR ATEGIA SAÚDE DA FAMÍLIA – ESF E SEU IMPAC TO SOBRE AS MORBIDADES HOSPITAL ARES NO NOR TE DO ES TADO DE MINAS GER AIS Mariângela Aparecida Pereira Gonçalves Maria Ivanilde Pereira Antônio Gonçalves Maciel Tatiana Froes Nascimento mariâ[email protected] Resumo A estruturação da atenção básica por meio da Estratégia de Saúde da Família trouxe consigo uma nova forma de enxergar e de trabalhar a saúde, contemplando as diretrizes do SUS. A presente pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de avaliar a potencialidade da Estratégia Saúde da Família em reduzir as morbidades hospitalares por condições sensíveis á atenção primária na macrorregião norte do estado de Minas Gerais. Trata-se de um estudo ecológico espacial, de análise longitudinal, retrospectivo, em uma serie histórica entre 2000 e 2012, em que foi aplicado o modelo de regressão e,a partir do estimador encontrado, observou o percentual de cobertura capaz de impactar a redução das taxas de morbidades hospitalares. Ficou demonstrada a redução de -38,53 pontos nas taxas de internações sensíveis ao cuidado primário, contra um aumento de 4,58 nas taxas de hospitalizações por causas não sensíveis. Os resultados inferem que o estudo tem implicações para a gestão da saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais. Descritores: Avaliação em Saúde; Indicadores de morbimortalidade; Nível de saúde; Morbidade hospitalar; Gestão de serviços de saúde. Introdução No Brasil, o Sistema Único de Saúde tem a Atenção Básica em Saúde como eixo prioritário para a mudança do modelo assistencial e a consolidação da Estratégia Saúde da família (ESF), visando à implementação de ações básicas custo-efetivas (CARDOSO et al., 2013). A ESF é operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades (BRASIL, 2011). Para avaliar a efetividade da rede de assistência, são utilizados indicadores de saúde a fim de identificar características de difícil investigação direta, que possibilitam descrever, por exemplo, o perfil epi demiológico de uma região, de modo a promover melhor adequação entre gestão, uso de recursos e qualidade do atendimento (COSTA; KALE; VERMELHO et al., 2009). Desta forma, foi proposto um indicador indireto da qualidade da atenção primária, conhecido no Brasil como Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária (ICSAP) publicado por meio da PORTARIA Nº 221, DE 17 DE ABRIL DE 2008, o qual representa um conjunto de problemas de saúde para os quais a efetiva ação da atenção primária diminuiria o risco de internações ( ALFRADIQUE, 2009). Por meio deste indicador, o presente trabalho tem o propósito de buscar a avaliação do impacto da atenção primária na macrorregião norte do estado de Minas Gerais frente às morbidades hospitalares. Metodologia Trata-se de um estudo espacial, de análise longitudinal retrospectiva, que usa dados documentais de fontes oficiais. O universo do estudo compreende o norte de Minas Gerais no período entre 2000 e 2012. As fontes de informações estão disponibilizados pelo Departamento de Informática do Ministério da Saúde 241 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar (DATASUS), Departamento de Atenção Básica (DAB), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para tratamento preliminar, utilizou-se o programa Tab para Windows (tabwin 3.5) e Microsoft Excel,versão 972003 e, para análise estatística, utilizou o modelo de regressão linear executando procedimentos do Progra- ma Statistical Package Social Science (SPSS), versão 18.0. Para comparar a magnitude dos efeitos da cobertura sobre as ICSAP, apresentamos os seus efeitos marginais. O SPSS dispõe de uma rotina que permite o ajustamento de vários modelos pré-definidos de regressão a uma amostra de valores bivariados (x, y). Discussões e Resultados Na Tabela 1 estão representadas as taxas de internações das ICSAP’s por 10 mil habitantes e os percentuais da cobertura de ESF na macrorregião norte do estado de Minas Gerais, entre 2000 e 2012. Quanto à cobertura, observa-se uma tendência de aumento gradual ao longo dos anos, passando de 35,05 em 2000 para 86,86 em 2012, um crescimento de 51,81 na serie histórica, em média 3,98% ao ano. As taxas de ICSAP sofreram redução; em 2000, apresentava a taxa de internação de 166,62 por 10 mil habitantes passando para 128,09 por 10 mil habitantes em 2012. Porém, mas taxas de não-ICSAP, observa-se aumento, de (310,44) em 2000 para (315,01) em 2012. Tabela 1. Porcentagem de cobertura de ESF e taxa de internação por 10 mil habitantes – Norte de Minas Gerais, 2000 a 2012 *ESF – Estratégia Saúde da Família / **ICSAP – Internações por Condições sensíveis a Atenção Primária Fonte: Ministério da Saúde/Sistema de informação Hospitalar (SIH/SUS) e Departamento de Atenção Básica (DAB) Os resultados encontrados pela análise estatística mostram uma existência de relação de dependência entre a cobertura de ESF com a morbidade hospitalar, sendo o valor de (F) 45,3 (significativo) para (P. valor = 0,003) medidas pelas taxas de ICSAP. A estatística (F) traduz um valor mais alto do que o desvio padrão da variável dependente (23,86). A média da soma dos quadrados dos resíduos fornecida pela análise de variância mostrou uma equação bem ajustada aos dados pela 242 distância do erro padrão da estimativa de cobertura de ESF (11,01), comparativamente com o desvio padrão (24,34) da taxa de ICSAP. O resultado apontou um perfeito ajustamento da reta, Y=325,15 + (-2,919x) em que x é a cobertura percentual do ESF e Y é a Taxa de ICSAP. O valor do coeficiente de determinação R2 (80,5%) indica uma forte relação linear das ICSAP’s com a cobertura de ESF, e o restante da variação (19,5%) não é explicado por essa relação (Tabela 2). Área - Ciências da Saúde Tabela 2. Modelo de Regressão Linear: Cobertura e ICSAP - Norte de Minas Gerais, 2000 a 2012 ICSAP – Internações por Condições sensíveis a Atenção Primária / COB - Cobertura Assim, pode-se observar que houve redução (-38,53) das taxas de ICSAP na macrorregião norte do estado de Minas Gerais no período estudado, passando de 166,62 por 10 mil habitantes em 2000 para 128,09 por 10 mil habitantes em 2012. Percebese também aumento da cobertura de ESF; a população coberta em 2000 era de 35%, atingindo, em 2012, 86,9% da população. A análise estatística nos possibilitou inferir que há uma relação inversamente proporcional entre as variáveis: quanto maior a cobertura de ESF, menor é a taxa de ICSAP. O coeficiente estimado para cada variável indica variações da morbidade hospitalar, medida pela taxa de ICSAP. O coeficiente da cobertura de ESF para a macrorregião norte do estado de Minas Gerais (-1,10) indica que a variação positiva na cobertura de ESF de 1 ponto percentual representa uma redução de 1,10 na taxa de ICSAP (tabela 2). A redução de 38,53 nas taxas de internações por ICSAP em 13 anos, no período entre 2000 e 2012, em média 3,98 pontos ao ano, representou um grande avanço para as ações de promoção e prevenção de saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais. Considerações Finais Os resultados desta pesquisa mostram que o modelo do cuidado primário implantado por meio da Estratégia Saúde da Família na macrorregião norte é de boa resolutividade e demonstraram, por análise dos últimos 13 anos, a redução das hospitalizações por condições sensíveis à atenção primária. Isso significa que o ICSAP como indicador indireto de avaliação, com algumas resalvas, pode ser usado como uma ferramenta de gestão para monitorar e identificar possíveis problemas na cobertura, acesso e qualidade dos cuidados de saúde na macrorregião norte do estado de Minas Gerais. Este tem implicações importantes para o norte de Minas Gerais e para o país que orientam que o seu modelo de saúde na atenção básica. Para pesquisadores e gestores, estas informações podem funcionar como indicador da qualidade do sistema estadual de saúde, e podem contribuir para avaliação da gestão, reorientação e implantação de políticas de saúde. Referências ALFRADIQUE, M. E. et al . Internações por condições sensíveis à atenção primária: a construção da lista brasileira como ferramenta para medir o desempenho do sistema de saúde (Projeto ICSAP - Brasil). Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 25, n. 6, jun., 2009. BRASIL. Ministério da Saúde. Publica em forma do anexo a Lista Brasileira de Internações por Condições Sensíveis à Atenção Primária. Portaria n. 221, 17 abril 2008. Diário Oficial da União nº 183, de 21 de setembro, p. 50, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011: Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia 243 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Diário Oficial da União. Disponível em: < http://www.brasilsus.com.br/l egislacoes/gm/110154-2488.html>. Acesso em: 21 Dez 2013. DATASUS. Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde. Assistência a saúde – Internações por especialidade e local de internação, 2000 a 2012. Disponível em:< http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2012/a11. htm.>. Acesso em: 15 Jan. 2014 CARDOSO, C. S. et al. Contribuição das internações por condições sensíveis à atenção primária no perfil das admissões pelo sistema público de saúde. Rev Panam Salud Publica, n. 34, v. 4, 2013. COSTA, A.; KALE, P.; VERMELHO, L. Indicadores de saúde. In: MEDRONHO, R. A.; BLOCH, K. V.; LUIZ, R. R.; WERNECK, G. L. eds. Epidemiologia. São Paulo: Atheneu, 2009. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Series estatísticas e serie históricas. Disponível em < http:// tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?ibge/cnv/popmg.def>. Acesso em: 21 Jan. 2014 244 Área - Ciências da Saúde PROTÓTIPO DE UM SOF T WARE PAR A APOIO À SIS TEMATIZ AÇ ÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM Cleiane Gonçalves Oliveira Kátia Adriana Alves Leite Ariane Gonçalves de Oliveira [email protected] Introdução Todas as áreas de estudos possuem a tecnologia de informação como importante aliada no desenvolvimento de suas atividades. A enfermagem, tendo como principal papel o cuidado com o paciente, não pode colocar em segundo plano a importância que os recursos tecnológicos podem lhe conferir: auxiliando seu desempenho, colaborando nas tarefas, incrementando a qualidade de assistência aos pacientes. Armazenamento, processamento e recuperação de informações, atividades básicas da informática servem de auxilio para o enfermeiro em toda a sua rotina de trabalho e cuidado com o paciente (MARIN, 1995). A falta de informação correta para o profissional da saúde implica fracasso do atendimento ao paciente. A tecnologia da informação adequa-se, então, perfeitamente à realidade presente da enfermagem, buscando um aprimoramento da qualidade dos cuidados de saúde, uma vez que pode facilitar o planejamento, a tomada de decisão, a comunicação, o controle gerencial, as mudanças na estrutura organizacional. Permite, ainda, que seja coletada uma maior quantidade de informações, sem o risco de perda de informações (esquecimento); a continuação da assistência seja mais eficaz através de uma comunicação padronizada dentro da equipe de saúde; e a avaliação da qualidade da assistência seja verificada (EVORA, 1995). A sistematização da assistência de enfermagem, que é a metodologia utilizada para prestação da assistência de enfermagem, permite que seus processos sejam informatizados por apresentar fases definidas e o uso de uma linguagem padronizada. Para o desenvolvimento de um software de qualidade, conta-se com a Engenharia de Software que busca gerar valores através de recursos de processamento de informação, utilizando de técnicas específicas para que o produto final atenda às necessidades dos usuários; e a Engenharia de Usabilidade que estuda como a interação com o software pode trazer mais benefícios tanto para o usuário como para o desenvolvedor (FILHO, 2001). O uso destas engenharias permite o desenvolvimento de softwares que seguem um padrão de qualidade, facilitando a aceitação do software pelo usuário, sua efetiva utilização, além de ser uma vantagem competitiva. O presente trabalho tem, portanto, como objetivo desenvolver um protótipo de software para apoio à sistematização da assistência de enfermagem a ser testado em um hospital universitário, a fim de avaliar as vantagens da utilização da informática na área da saúde, e da aplicação de técnicas de engenharia de software e de usabilidade. Materiais e Métodos O processo de desenvolvimento de software utilizado foi o Praxis, com fluxo de atividades específicas, visando à usabilidade. O processo foi composto por quatro fases, sendo que cada fase foi subdividida em várias iterações. Essas iterações passaram por todos os fluxos de trabalhos do processo: análise de requisitos, análise, projeto, implementação e teste. 1ª Fase - Concepção: Fase na qual foi definido o escopo do software, que é a prestação de apoio informatizado à realização da SAE no Hospital Universitário Clemente de Faria, provendo recursos para todas as suas etapas. Além disso, foram identificadas as funções mínimas e iniciais que o software deveria atender. 2ª Fase - Elaboração: Nessa etapa, os requisitos do software foram minuciosamente detalhados, através da geração do Modelo de Caso de Usos, o Modelo de Classes e Diagramas de sequência. Além disso, para traçar o perfil dos usuários, foram aplicados questionários a 27 (vinte e sete) enfermeiros. 3ª Fase - Construção: Tendo informações sobre o usuário final e os requisitos de software, deu-se início efetivamente à construção do protótipo. Como foi verificado que os enfermeiros possuíam uma familiaridade com a Internet, optou-se por desenvolver o protótipo 245 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar em ambiente web, utilizando as tecnologias: Html, JavaScript, Css e o editor web Adobe Dreamweaver 8. Foi acrescentado aos fluxos de trabalho das fases e o fluxo de usabilidade. Após a primeira versão do protótipo, foi realizada uma avaliação de usabilidade desta versão. O método usado foi o Percurso Cognitivo. O Percurso Cognitivo, segundo Rocha e Baranauskas (2000), é um método preditivo, que visa avaliar, principalmente, a facilidade de aprendizagem do software. Os problemas identificados foram corrigidos e elaborou-se uma nova versão do protótipo. Nessa nova versão, foi realizada uma avaliação utilizando usuários reais, através do teste de usabilidade. 4ª Fase - Teste de usabilidade: O teste contou com cinco enfermeiros do hospital universitário. As tarefas escolhidas foram: incluir um usuário, incluir um diagnóstico, incluir um novo paciente e realizar SAE. Foi cronometrado o tempo gasto para realização de cada tarefa, além da observação das dificuldades encontradas. Após a realização das tarefas, os enfermeiros responderam a um questionário de satisfação em relação ao protótipo e a outro sobre o seu perfil. Resultados e Discussão O primeiro questionário aplicado aos enfermeiros do hospital universitário Clemente de Faria obteve os seguintes resultados: • Média de idade: 27 anos; • 44% exercem a profissão há menos de 2 anos, e 33% há mais de 5 anos; • 70% já fizeram algum curso de informática; • 67% nunca fizeram um curso de digitação; • Na habilidade de digitação, 48% se consideraram bons e 44% se consideraram razoáveis; • 89% necessitam do computador para trabalhar; • Entre as funções em que o computador poderia ser aplicado, em destaque estão: pesquisa (100%), SAE (96%), controle de materiais (96%) e escala de trabalho (96%); • O que poderia prejudicar a realização da SAE seria principalmente: falta de padronização (85%), falta de conhecimento (70%); • O tempo ideal para a realização de uma sistematização seria entre 10 até 30 minutos; • E entre quais das fases seria a mais difícil, a fase do diagnóstico, com 59%, é a primeira, seguida do exame físico, com 44%. Pelos resultados, pode-se perceber que os entrevistados são usuários de conhecimento básico em informática, que possuem um constante contato com o computador, principalmente para acesso à internet e pela necessidade do computador para o trabalho. Além do conhecimento em informática, a idade e a escolaridade média dos entrevistados favorecem a redução da resistência à informatização, além de a grande maioria concordar que o computador pode ser utilizado na SAE. Outro interessante resultado é a percepção de que a falta de padronização pode prejudicar a SAE, favorecendo a informatização do processo, que traz como uma das vantagens a padronização da informação. Évora (1995) afirma que o computador aplicado na administração da assistência em enfermagem vem aliviar o enfermeiro das tarefas manuais e evita possíveis erros de transcrição ou processamento. Estes sistemas 246 oferecem subsídios à tomada de decisão do enfermeiro. O profissional de enfermagem já conta com uma importante ferramenta de trabalho: a sistematização da assistência de enfermagem. A implementação da SAE permite a melhoria da assistência, a melhora da comunicação dentro da equipe de trabalho, entre outros benefícios (ALVARO-LEVRERE, 2000; COFEN, 2010). O uso de um software para auxilio à sistematização da assistência de enfermagem (SAE) permite, além de outros benefícios, que o processo seja feito de forma padronizada, coleta de uma maior quantidade de informações, padronização da informação dentro da instituição, valorização do conhecimento gerado dentro da mesma, facilitação da comunicação entre a equipe de saúde, melhoria da continuidade da assistência, apoio à tomada de decisão e disseminação de novos conhecimentos (MARIN, 1995; EVORA, 1995). Marin (1995) ressalta, ainda, que o uso de computadores pode ser visto de duas maneiras: o computador como instrumento e como fim de ensino, de modo que o responsável pela formação deve oferecer indicações básicas para que saibam manipular e, com isso, tirar melhor proveito dos aplicativos desenvolvidos. O ensino do uso do computador evita a resistência futura ao seu uso, muitas vezes provocada pelo desconhecimento da ferramenta. A Tabela 1 apresenta o resultado do teste de usabilidade realizado. Área - Ciências da Saúde O resultado do questionário de satisfação foi muito positivo. Dos itens avaliados, os que receberam maior pontuação: • Satisfação em relação ao uso do sistema; • Satisfação em relação à expectativa ao que o sistema propôs fazer; • Facilidade de utilização; • Tempo para aprender a usar o sistema; • Layout das telas. Pádua (2007) ressalta que a prototipação promove a participação e o comprometimento do usuário e permite que os desenvolvedores observem o comportamento dos usuários e suas reações de forma semelhante ao que seria com o produto final, assim como observado no acompanhamento do teste de usabilidade do protótipo desenvolvido. A figura 1 apresenta uma tela do protótipo testado. Figura 1 – Tela de gestão da informação Conclusões Percebeu-se, com o desenvolvimento deste trabalho que o uso das técnicas de Engenharia de Software auxilia na identificação dos requisitos e em uma maior análise sobre cada um deles. O detalhamento exigido na fase de elaboração permite a identificação de requisitos ainda não percebidos, o que diminui o custo de alterações. Outro ponto importante é a personalização do software. Mesmo que o processo seja o mesmo para qualquer enfermeiro, cada instituição apresenta peculiaridades que, talvez, não fossem atendidas por um software genérico. A personalização do software traz outro benefício: o usuário é um co-autor do software. A participação do usuário é essencial para que o produto final seja de qualidade, ou seja, atenda aos requisitos do cliente. Esta participação colabora também para a aceitação do produto e menor resistência pelos usuários finais. O uso de protótipos para a construção do software traz algumas vantagens como a identificação de novos requisitos, o que diminui o custo das alterações no produto final. O protótipo permite, também, que o usuário avalie a qualidade da interface desenvolvida, uma vez que o comportamento humano é muito variável e algumas características precisem ser alteradas. Assim, o produto final é construído através de um processo interativo com os usuários. Avaliações da interface também são importantes para verificar a sua usabilidade. O percurso cognitivo permitiu identificar problemas na interface que poderiam dificultar o aprendizado do usuário. Através do teste de usabilidade, foi possível identificar outros itens da interface que podem ser melhorados. Além disso, ele mostrou a boa aceitação do produto por parte de seus usuários, que declararam estar satisfeitos. Um dos benefícios que o protótipo tenta buscar é a padronização da informação dentro da instituição, facilitando a comunicação dentro da equipe de enfermagem. A maneira que foi sugerida tenta valorizar o conhecimento gerado na instituição, uma vez que toda a informação contida no sistema é produzida pelos enfermeiros. A implantação de um software de apoio à sistematização da assistência de enfermagem auxiliaria a implantação da SAE na instituição, trazendo vários benefícios já citados tanto pela implementação da SAE, quanto pela utilização da informática na área da saúde. 247 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências ALFARO-LEFEVRE, R. Aplicação do processo de enfermagem: um guia passo a passo. Tradução Ana Maria Vasconcellos Thorell. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. COFEN. Resolução nº 358/2009. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem. Disponivel em < http://novo.portalcofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html >. Acesso em: 23 de novembro de 2010. EVORA, Y. D. M. Processo de informatização em enfermagem: Orientações básicas. São Paulo: EPU, 1995. FILHO, W. P. P. Engenharia de software : fundamentos, métodos e padrões. Rio de Janeiro: LTC, 2001. MARIN, H. F. Informática em enfermagem. São Paulo: EPU, 1995. PADUA, C. I. P. S. Engenharia de Usabilidade material suplementar. Disponível em http://homepages.dcc. ufmg.br/~clarindo/disciplinas/eu/material/index.htm. Acesso em: 23 de novembro de 2007. ROCHA, H. V.; BARANAUSKAS, M. C. C. Design e Avaliação de interfaces humano-computador. São Paulo: Escola de Computação, 2000. 248 Área - Ciências da Saúde PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DE CRIANÇ AS COM ANEMIA FALCIFORME INTERNADAS NA PEDIATRIA DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO Francinne Possidônio Leão Viviane de Souza Mendes Patrícia Fernandes do Prado Helder Leone Alves de Carvalho Ernestina Dourado Sobrinha Corrêa Machado Lays Viana Freitas Ana Augusta Maciel de Souza [email protected] Introdução Doença hereditária, autossômica recessiva, a anemia falciforme (AF), também conhecida por depranocitose ou hemogloninopatia S, é um tipo de anemia hemolítica secundária a uma mutação estrutural da hemoglobina, com alterações morfológicas dos eritrócitos, sendo a doença genética (hereditária) mais comum na nossa população (GARCÍA; YOLANDA, 2006; BRASIL, 2009). Em Minas Gerais, a incidência do traço falciforme é de 3,3%, e a da AF é de, aproximadamente, 1:1.400 recém-nascidos triados, tendo como base o Programa Estadual de Triagem Neonatal (PETN-MG), que implantou a triagem para hemoglobinopatias em março de 1998 (FERNANDES et al., 2010). Para a CEHMOB (2005), a incidência para a AF é significativa nas regiões Norte e Nordeste de Minas Gerais, cuja relação está associada à migração da população negra oriunda do tráfico de escravos, evidenciando que a mesma é um dos principais problemas de saúde pública do estado. Segundo o estudo de Martins, Moraes-Souza e Silveira (2010), o perfil epidemiológico mostra predomínio de crianças e adultos jovens, sexo feminino e genótipo SS e as taxas de internação no HC-U, de atendimento no HR e a baixa média de idade ao óbito confirmam a alta morbidade e mortalidade da AF. A detecção precoce da anemia falciforme, feita pela triagem neonatal (Teste do Pezinho), é primordial para se iniciar a linha de cuidado da pessoa com essa doença (SILVA; MARQUES, 2007). Quanto ao tratamento, pode-se dizer que embora a AF não tenha cura, suas manifestações e complicações são passíveis de tratamento e de prevenção, ga- rantindo às pessoas com DF melhor qualidade de vida e maior longevidade (BRAGA, 2007). Guimarães e Coelho (2010) ressaltam que a maioria das políticas de saúde tem um caráter preventivo, pois direciona suas ações educativas às pessoas portadoras do traço falciforme mais do que aos doentes da anemia falciforme. Essa preferência pela prevenção vai ao encontro do reconhecimento das limitações das terapias gênicas, pois ainda não há cura para a AF. Apesar do crescente envolvimento e investimento do MS, poucos estudos sobre crianças portadoras de AF foram identificados em nosso meio, especialmente em Minas Gerais, onde a implantação do programa de diagnóstico neonatal se iniciou há mais de dez anos. Considerando-se que o Brasil apresenta grupos populacionais com grande quantidade de portadores do traço falciforme e com alta incidência de AF, é de suma importância avaliar o perfil epidemiológico de crianças internadas em um hospital escola do Norte de Minas para que estes dados repassem informações importantes para a estruturação de sistemas de saúde capacitados, a fim de melhorar a qualidade de vida e aumentar a longevidade das pessoas com esse tipo de herança. Portanto, o presente estudo se propõe a caracterizar o perfil epidemiológico das crianças com anemia falciforme internadas em um Hospital Universitário, no Norte de Minas Gerais; analisar as causas dos atendimentos e/ou internações e as causas dos óbitos, no período de 2001 a 2011; e favorecer o planejamento de políticas públicas e outras ações que possam contribuir para reduzir a morbimortalidade das pessoas com AF. 249 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos Para o desenvolvimento deste estudo, optou-se por uma abordagem quantitativa, descritiva, exploratória, além de retrospectiva e documental, uma vez que utilizará prontuários de todos os pacientes com diagnóstico de AF internados na pediatria do Hospital Universitário Clemente de Farias (HUCF) no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2011. Essa escolha permitiu à pesquisadora determinar o perfil das crianças com anemia falciforme internadas na Pediatria do HUCF por meio da quantificação dos dados e da análise estatística. O cenário onde se coletaram os dados foi o Serviço de Arquivo Médico e Estatístico (SAME) do Hospital Universitário Clemente Faria (HUCF), localizado no município de Montes Claros, região norte de Minas Gerais. Trata-se de uma instituição pública, sendo administrada exclusivamente com recursos do Estado de Minas Gerais e do SUS, embora conte também com a colaboração de projetos sociais, doações e subvenções sociais. O público deste estudo foi constituído pelos prontuários das crianças de 0 a 12 anos atendidas na Pediatria do HUCF, com o diagnóstico de anemia falciforme, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2011. Os critérios de inclusão foram: Prontuários de pacientes com diagnóstico de anemia falciforme, pelo Código Internacional de Doenças- CID (D-57.0 e D-57.1); Prontuários de crianças com idade de 0 a 12 anos atendidas de janeiro de 2001 a dezembro de 2011. O instrumento de coleta de dados utilizado foi uma planilha pré-estabelecida, na qual foram catalogadas informações sobre idade, gênero, cor da pele, cidade de origem (zona rural/urbana), sintomas/sinais clínicos na admissão, causa e tempo de internação no HUCF, número de internações anteriores e a causa e a idade, em caso de óbito. Após autorização concedida, o projeto foi enviado à Comissão de Ética em Pesquisa – CEP, através da Plataforma Brasil, para apreciação. Com a aprovação, através do parecer consubstanciado-n° 110.417 de 28 de setembro de 2012, iniciou-se a coleta de dados no SAME. A técnica de coleta de dados constitui-se em coleta manual realizada pela pesquisadora, durante 15 dias, com período médio de 4 horas diárias no SAME. A princípio, o responsável pelo setor catalogou em uma lista todos os pacientes internados no hospital, no período de janeiro de 2001 a dezembro de 2011, com o diagnóstico de anemia falciforme, por meio do CID 10. D-57.0 (anemia falciforme com crise) e D-57.1 (anemia falciforme sem crise). Resultados e Discussão De acordo com as características das crianças com AF internadas na pediatria do Hospital Universitário Clemente de Faria, representados na TAB. 1, verifica-se que a média de idade foi de 6 anos, com idade mínima dos pesquisados de 7 meses e máxima de 12 anos. Esses resultados divergem do estudo de Araújo (2010) desenvolvido em um Hospital Público de Teresina-Piauí, em que o perfil de crianças portadoras de AF hospitalizadas, em sua maioria, estavam na faixa de 2 a 5 anos. Quanto ao gênero, 55,7% (34) são do sexo masculino e 44,3% (27) do sexo feminino; tais resultados não corroboram alguns achados na literatura como no estudo de Martins et al. (2010), que avaliaram o perfil epidemiológico e respectivas intercorrências clínicas dos pacientes atendidos no Hemocentro Regional (HR) e Hospital de Clínicas da Universidade (HC-U), sendo que neste estudo houve uma ligeira prevalência do sexo feminino (52,4%). No que se refere à distribuição dos pacientes por cor da pele, pode-se observar que 24,6% são pardos, seguidos de 4,9% brancos, 3,3% amarelos e 1% negro. Percebe-se ainda que há um grande descaso na coleta de informação da mesma, já que em 65,6% (40) não havia informação/ registro no prontuário. Para Backes et 250 al. (2005), há uma grande deficiência nos critérios usados para a avaliação das etnias nos serviços de saúde, uma vez, que em seu estudo, das 359 crianças portadoras de hemoglobina S, 92% eram brancas, 7% negras e 1% amarela, resultado que contradiz a literatura, a qual relata que a maior prevalência da HbS ocorre em pessoas de cor negra. O maior contingente de crianças mora na zona urbana (72%). Mas, segundo Kikuchi (2007), não podemos deixar de enfatizar que a dificuldade de acesso e adesão ao tratamento muitas vezes está relacionada à dificuldade de acesso aos locais de assistência à criança com AF. Verificou-se que 46% permaneceram no hospital de 1 a 5 dias e 37,8% de 6 a 10 dias. O tempo médio de internação foi de 8,1 dias (TAB.4), sendo o mínimo 1 dia e o máximo 54 dias, dados próximos aos do estudo de Martins et al. (2010), em que o tempo de internação variou de um a 51 dias, com média de 6,2 dias. Observa-se que o ano com maior prevalência de internação de crianças com anemia falciforme foi o de 2011, com 16,3%, seguido por 2008 com 12,5% e 2006 com 12%; e o ano com menor número de internações foi o de 2003, com 5%. No presente estudo, a crise dolorosa foi responsável por mais da metade das internações (56%), lem- Área - Ciências da Saúde brando que, em alguns pacientes, além da crise dolorosa, houve algum outro motivo de internação como, por exemplo, pneumonia. Verificou-se que 98,4% das crianças obtiveram alta por ter “melhorado”, e apenas 1,6% abandonou o tratamento. Em um estudo realizado em Uberaba, observou-se que a causa mais frequente de atendimento e/ou internação foi a crise dolorosa afebril (25,3%) (MARTINS et al., 2010). Número de internações de crianças com AF por ano, no período de 2001 a 2011, Montes Claros- dezembro/2012 Fonte: Coleta de dados, Hospital Universitário Clemente de Faria, 2012. 251 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Conclusões Os resultados deste estudo poderão subsidiar reflexões por parte dos profissionais de saúde da pediatria do HUCF, bem como das localidades onde as crianças são oriundas quanto à compreensão dos diversos determinantes da internação de crianças homozigotas para a hemoglobina S; proporcionando, assim, ações de promoção e prevenção da saúde, com o objetivo de propiciar a essas crianças um atendimento humanizado e integral, de acordo com suas necessidades físicas, psíquicas e sociais. Além disso, o presente estudo pode favorecer o planejamento de políticas públicas e outras ações que possam contribuir para reduzir a morbimortalidade e melhorar a qualidade de vida das pessoas com AF. Referências ARAÚJO, A. Complicações e expectativa de vida na doença falciforme: o maior desafio. Rev Bras Hematol Hemoter. v. 32, n. 5, p. 347-347, 2010. BACKES, C. E. et al. Triagem neonatal como um problema de saúde pública. Rev. Bras. Hematol. Hemoter. Online. v. 27, n. 1, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Especializada. Manual de educação em saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. – Brasília : Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto. cfm?idtxt=27777&janela=1 Acesso em 02 de julho de 2012. BRAGA, J. A. P. Medidas gerais no tratamento das doenças falciformes. Rev.Bras. Hematol. Hemoter. v. 29, n. 3, p.233-238, 2007. CENTRO DE EDUCAÇÃO E APOIO PARA HEMOGLOBINOPATIAS. CEHMOB. Protocolo de atendimento aos eventos agudos da doença falciforme. Belo Horizonte: CEHMOB; 2005. FERNANDES, A. P. P. C. et al. 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Fisiopatologia da doença falciforme: da mutação genética à insuficiência de múltiplos órgãos. Rev Bras Hematol Hemoter. Internet. v. 29, n. 3, p. 207-14, 2007 [citado 2009 Mar 19]. Disponivel em: http://www.scielo.br/pdf/rbhh/v29n3/v29n3a03.pdf. Acesso em: 05 de julho de 2012. 252 Área - Ciências da Saúde PERFIL ANTROPOMÉ TRICO E C APACIDADE FUNCIONAL DE MULHERES INSTITUCIONALIZ ADAS NO MUNICÍPIO DE MONTES CL AROS, MG Víctor Mendes Ferreira Larissa Maria Oliveira Gonzaga Isabelle Gomes Soares Vanessa Lopes Pinto Ana Isabel Nobre Maia Paula Maria Silveira Soares Moura [email protected] Introdução O envelhecimento é conceituado como um processo sistêmico, dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam a redução da capacidade de manutenção da homeostasia (MENEZES et al., 2011). É considerada idosa a população na faixa etária igual ou superior a sessenta anos (Lei n° 10741 de 1° de outubro de 2003). Segundo a ONU, a transição do processo demográfico é única e irreversível e resultará no envelhecimento da população em geral. À medida que as taxas de fertilidade diminuem, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais deve duplicar entre 2007 e 2050, e seu número atual deve mais que triplicar, alcançando dois bilhões em 2050. Na maioria dos países, o número de pessoas acima dos 80 anos deve quadruplicar para quase 400 milhões até lá. Segundo Silva et al. (2008), o Brasil também passa por essa transição demográfica. Isso é confirmado a nível local pelo trabalho de Oliveira-Campos, Cerqueira e Rodrigues Netto (2011), e a nível nacional pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a partir do censo 2010 e dos Indicadores e Dados Básicos, nos quais se pode observar um crescimento da população com 65 anos ou mais, que, em Minas Gerais, equivale a 10,1% e, em Montes Claros (em que no ano 2000 era de 6,6%), 9,3% em 2011. Porém, a expectativa de vida das mulheres ultrapassa a dos homens, sendo a população feminina idosa maior que a do homem (IBGE, 2009). O aumento da longevidade tem sido acompanhado de um declínio do estado de saúde físico e mental consequente do aumento dos problemas de saúde crônicos e degenerativos, o que reflete em uma maior procura de idosos aos serviços públicos de saúde. Além de perda da independência e autonomia, limitações socioeconômicas e ambientais transformam o envelhecimento populacional em problema de saúde pública que deve ser priorizado pelo Brasil, tanto nos serviços de promoção à saúde, quanto nos de tratamento (SILVA et al., 2010; ARAÚJO, 2011; ALENCAR et al., 2012; VALCARENGHI et al., 2011). Para Oliveira e Mattos (2010), a condição funcional de um indivíduo refere-se à capacidade que ele tem para realizar atividades habituais. Ou seja, a capacidade funcional (CF) é definida como a habilidade física e mental para manter uma vida de forma independente e autônoma, com plena realização de uma tarefa pelo indivíduo, bem como da necessidade de instituir medidas preventivas e de intervenções terapêuticas, que visam reduzir os mecanismos que afetam o declínio da habilidade do sujeito exercer diversas funções físicas e mentais cotidianas (MARCHON; CORDEIRO; NAKANO, 2010; DEL DUCA; SILVA; HALLAL, 2009). Giacomin et al. (2008) esclarecem que a incapacidade funcional pode ser mensurada de acordo as dificuldades para realizar atividades cotidianas, que são subdivididas em atividades de vida diária (AVD), grupo que compreende atividades do autocuidado; e atividades instrumentais de vida diária (AIVD), grupo que compreende atividades de interação comunitária. Um instrumento utilizado para avaliar o desempenho nas atividades da vida diária do idoso é a Escala de Independência em Atividades da Vida Diária (EIAVD), ou Escala de Katz, embora tenha sido publicado pela primeira vez em 1963. Essa escala é composta por seis itens que mensuram o desempenho do indivíduo nas atividades de autocuidado, as quais obedecem a uma hierarquia de complexidade, da seguinte forma: alimentação, controle de esfíncteres, transferência, higiene pessoal, capacidade para se vestir e tomar banho (LINO et al., 2008). Aires, Paz e Perosa (2009) descrevem as instituições de longa permanência para idosos como sendo instituições residenciais, destinadas ao domicílio coletivo de idosos com ou sem suporte familiar ou governa253 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar mental, de modo a preservar a liberdade e a cidadania dos usuários. Watanabe e Di Giovannill (2009) explicam que os problemas da assistência familiar se baseiam nas mudanças da estrutura familiar e na saída da mulher, que, culturalmente, se responsabilizava pelos cuidados com os mais velhos, para o mercado de trabalho. Somado a isso, para Mello, Haddad e Dellarosa (2012), são as alterações do estado cognitivo os principais motivos da institucionalização dos idosos. Na visão de Vellozo e Banhato (2011), a finalidade dessas ILPIs não seria somente a assistência, mas também o cuidado integral do idoso que não possui condições familiares ou domiciliares para sua permanência na comunidade, de modo a garantir-lhe qualidade de vida e um envelhecimento dotado de dignidade e cidadania. Porém, segundo Gonçalves et al. (2010), a institucionalização não constitui ainda uma prática comum em nossa sociedade, já que, conforme o Censo Demográfico de 2000, havia 103 mil idosos residentes em ILPIs, representando em torno de 0,8% da população idosa. Faz-se necessária uma ação integrada em se tratando da mudança de comportamentos e atitudes da população em geral e da formação dos profissionais de saúde e de outros campos de intervenção social, uma adequação dos serviços de saúde e de apoio social às novas realidades sociais e familiares que acompanham o envelhecimento individual e demográfico e um ajustamento do ambiente às fragilidades que, mais frequentemente, acompanham a idade avançada (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). O objetivo do presente estudo foi avaliar o perfil antropométrico e o grau de capacidade funcional em idosas institucionalizadas no município de Montes Claros, MG. Materiais e Métodos Trata-se de estudo do tipo descritivo transversal e de caráter quantitativo e explorativo. Foram entrevistados e clinicamente avaliados 32 indivíduos do sexo feminino que, no momento da coleta, residiam no Lar das Velhinhas, através de questionário sociodemográfico e de questionário validado que engloba as variáveis abordadas na escala de Katz, após a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme preconizado na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A avaliação baseou-se na obtenção de valores antropométricos (altura, peso, IMC, circunferência abdominal e RCQ), sendo os resultados do IMC clas- sificados em magreza (menor que 18,5), normal (18,5 a 24,9), sobrepeso (25 a 29,9), obesidade (30 a 39,9) e obesidade grave (maior que 40), e na aplicação da escala de Katz, direcionada à capacidade funcional. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros sob o código 30821014.0.0000.5109, e os dados coletados foram digitados em planilha do Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 16.0, com procedimento de dupla digitação para avaliação da consistência do banco de dados. Resultados e Discussão A amostra era composta principalmente por mulheres com conhecimento da linguagem escrita (59,3%) e média de idade de 71,8, sem escolaridade (50%), viúvas ou que nunca se casaram (75%). De acordo com dados do IBGE, em 1991, 55,8% dos idosos declararam saber ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Em 2000, esse percentual passou para 64,8%, representando um crescimento de 16,1% nesse período. Os dados estão, porém, em concordância com os achados de Oliveira (2012) e Santos et al. (2012), segundo os quais, respectivamente, 46,6% e 32,5% dos idosos institucionalizados eram analfabetos. A maioria, dentre as mulheres que puderam responder, considerava ter bom estado de saúde (46,8%), sendo este melhor em relação ao período que precedeu a institucionalização (43,7%) e em relação ao de outras pessoas da mesma idade (46,8%). Além disso, dentre as que relataram usufruir dos serviços médicos prestados na instituição, 75% se consideravam satisfei254 tas. Isso sugere boa qualidade do serviço prestado na instituição em questão. Setenta e cinco por cento apresentavam problemas de saúde, sendo os principais a hipertensão arterial e o diabetes mellitus tipo 2 (ambos em 18,35%), seguidos pela labirintite (12,5%). Os valores obtidos pelas medidas de circunferência abdominal (CA) e relação cintura-quadril (RCQ) evidenciaram, em maioria (82,65% e 84,2%, respectivamente), risco metabólico muito alto, sendo a média da CA igual a 98,4. Isso reflete situação ainda mais grave que aquela encontrada por Silva Júnior e Miranda (2008), em que as médias foram de 90,3 e 90,4, respectivamente, em dois grupos de idosas. Em 52,24% daquelas em que se mediu o IMC, foi demonstrado sobrepeso, enquanto, em 15,8%, demonstrou-se baixo peso. Esses dados discordam daqueles relatados por Colembergue (2011), que revelam uma maior tendência à desnutrição nos idosos institucionalizados do Brasil decorrente de alterações do pró- Área - Ciências da Saúde prio envelhecimento, doenças sistêmicas e/ou situação socioeconômica, que condicionam o seu estado nutricional. Ainda segundo o referido autor, 12,5% das mulheres se enquadram como desnutridas e 18,75% se encontram em risco de desnutrição. Por fim, no tocante à capacidade funcional, em todas as atividades de vida diária pesquisadas, a independência foi encontrada na maioria das mulheres: alimentação (90,62%), continência (59,37%), transferência (71,87%), ir ao banheiro (62,5%), vestir-se (59,37%) e banhar-se (59,37%). A maior parte foi classificada, segundo o índice de Katz, como independente (56,3%), en- quanto 15,6% e 28,1% mostraram-se moderadamente dependentes e dependentes, respectivamente. Os resultados discordam daqueles encontrados por Marinho et al. (2013) em três instituições de Montes Claros, em que quase 60% dos idosos demonstravam algum grau de dependência. Isso pode estar associado à qualidade do serviço prestado na instituição de longa permanência em questão, bem como ao fato de a amostra ser composta exclusivamente por mulheres, visto que o estudo realizado anteriormente abrangia todas as instituições de longa permanência do município, sem discriminação de sexo. Conclusões O aumento da longevidade, advindo da transição demográfica pela qual passa o Brasil, é acompanhado do declínio do estado de saúde físico e mental, do aumento de problemas crônicos e degenerativos, tornando crescente a procura pelos serviços de saúde. Porém, envelhecer não é um problema, é parte natural do ciclo de vida, sendo desejável que constitua uma oportunidade para viver de forma saudável e autônoma pelo maior tempo possível. Dessa forma, justifica-se que o sistema de saúde pública priorize o cuidado da população idosa, garantindo um envelhecimento digno. De acordo com o perfil das idosas institucionalizadas no Lar das Velhinhas, revelou-se grande prevalência de hipertensão arterial sistêmica e diabetes mellitus, o que se relaciona ao perfil antropométrico indesejável observado (CA, RCQ e IMC), que evidenciou alto risco de desenvolvimento de síndrome metabólica e outros agravos. Isso pode estar fortemente associado ao baixo grau de escolaridade encontrado. Em relação à capacidade funcional, avaliada pelo índice de Katz, conclui-se que a maioria das idosas é considerada independente, achado mais favorável que aqueles obtidos por estudo anterior realizado também em Montes Claros. Levando em consideração o envelhecimento da população e a consequente necessidade de dar um suporte maior à mesma, observa-se a demanda por uma maior geração de conhecimento sobre o assunto e realização de projetos que possam aumentar a qualidade de vida proporcionada pelas instituições de longa permanência para idosos (ILPIs), cada vez mais procuradas. A finalidade dessas ILPIs não se restringe à assistência, mas visa também ao cuidado integral do idoso, de modo a garantir qualidade de vida e um envelhecimento dotado de dignidade e cidadania. Referências AIRES, M.; PAZ, A. A.; PEROSA, C. T. Situação da saúde e grau de dependência de pessoas idosas institucionalizadas. Revista Gaúcha de Enfermagem. Porto Alegre, v. 30, n. 3, p. 492-499, 2009. ALENCAR, M. 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Leite e Vila (2005) afirmam que os serviços de terapia intensiva ficam situados em áreas hospitalares destinadas ao atendimento de pacientes críticos que necessitem de cuidados complexos e especializados. Esses serviços têm como objetivos concentrar recursos humanos e materiais para o atendimento de pacientes graves que exigem assistência permanente, além da utilização de recursos tecnológicos apropriados para a observação e monitorização contínua das condições vitais do paciente e para a intervenção em situações de descompensações. Para Pereira et al. (2000), a tecnologia aplicada à assistência hospitalar em unidade de terapia intensiva viabiliza o prolongamento da sobrevida do enfermo em situações muito adversas. Conforme Mussi-Pinhata e Nascimento (2001), a tendência à infecção em pacientes internados em UTI é devido à combinação de vários fatores de risco em consequência da redução das defesas imunes e do sistema de suporte de vida, que promove ruptura de suas barreiras de defesa. A ocorrência das infecções hospitalares (IH) varia com as características do doente, consideradas como determinantes na suscetibilidade às infecções. Contribuem também para este fato as características do hospital, os serviços oferecidos, o tipo de paciente atendido, ou seja, a gravidade e complexidade dos pacientes, e o sistema de vigilância epidemiológica e o serviço de controle de infecções hospitalares adotados pela instituição (TURRINI, 2000). Na maioria das vezes, pouco pode se fazer em relação ao agente infeccioso ou a um hospedeiro susceptível, mas podemos interromper a cadeia de transmissão e prevenir as infecções, baseado nas medidas de controle das infecções hospitalares (GONÇALVES; FONSECA, 2004). Sendo assim, este estudo objetivou identificar, através da literatura, a importância das medidas de prevenção e controle das infecções hospitalares na unidade de terapia intensiva (UTI). Materiais e métodos Para o desenvolvimento deste estudo e alcance dos objetivos desejados, optou-se por um estudo descritivo do tipo revisão da literatura que, segundo Traldi e Dias (2011), busca mostrar a evolução do conhecimento sobre um determinado tema, aponta falhas e acertos dos diversos estudos com a finalidade de encontrar pontos convergentes e divergentes, destacando o que é importante para o objetivo da pesquisa em questão. Foi realizado o levantamento das informações por meio de artigos científicos disponíveis nas bases de dados: SCIELO (Scientific Electronic Library Online), LILACS (Literatura Latino-Americana de Ciências da Saúde), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), utilizando os descritores do assunto: Unidade de Terapia Intensiva, Infecção Hospitalar, Prevenção. Foram selecionados 20 artigos, nas bases de dados e em revistas, porém apenas 10 foram utilizados, pois os mesmos se aproximaram do tema proposto. Também foram realizadas consultas literárias em livros. Após a seleção, todos os textos e artigos foram lidos e analisados. Em seguida, foi iniciada a discussão entre os autores. 257 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e discussão Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Até a década passada, existiam poucas UTIs no Brasil, situadas apenas nas capitais dos estados e nas cidades onde ficavam as faculdades de medicina. Atualmente, grande número dos municípios com mais de 150 mil habitantes já possuem esses importantes serviços de saúde (TELAROLLI JUNIOR, 1997). As primeiras UTI ssurgiram a partir da necessidade de atendimento do paciente cujo estado grave exigia assistência e observação contínua de médicos e da equipe de enfermagem. Esta preocupação começou com Florence Nightingale, durante a Guerra da Criméia no século XIX, que procurou selecionar soldados atingidos mais graves, acomodando-os de forma a favorecer o cuidado imediato (LINO; SILVA, 2011). Infecções Hospitalares em UTI A definição de infecção hospitalar segundo o Centers for Disease Control (1996) – Atlanta – EUA, refere-se a todas as infecções contraídas durante a hospitalização e que se manifeste no período da internação ou posteriormente à alta (BRASIL, 2008). Para Basso e Abreu (2004), a IH é conceituada como aquela infecção adquirida após a admissão do paciente e que se manifeste durante a internação ou após a alta, quando puder ser relacionada com hospitalização ou aos procedimentos hospitalares. Quando for desconhecido o período de incubação do microorganismo e não houver evidência clínica e/ou dado laboratorial de infecção no momento da admissão, também se considera infecção hospitalar toda manifestação clínica de infecção que se apresentar a partir de 72 horas após a admissão. Para Fernandes et al. (2000), a maioria das IH ocorrem por um desequilíbrio da relação existente entre a microbiota humana normal e os mecanismos de defesa do paciente. Isto pode ser devido a patologia de base do paciente, procedimentos invasivos e alterações microbianas, geralmente induzidas pelo uso dos antibióticos. O paciente poderá ser infectado após sua chegada a UTI por várias vias, incluído a equpipe de saúde, o contato direto e indireto, as gotículas e os materiais e equipamentos infectados. A infecção hospitalar acontecerá através do contato direto (transmissão física direta de micro-organismo de uma pessoa colonizada ou infectada para o hospedeiro, por meio das mãos ou secreções), ou pelo contato indireto (transmissão por objetos inanimados) e também através da transmissão aérea por gotículas. (FERNANDES et al., 2000). Segundo estatísticas do Governo Federal, atualmente 15% dos pacientes hospitalizados no país contraem algum tipo de infecção hospitalar, mas existem casos em que 30% das infecções hospitalares podem ser prevenidas. Pneumonia, infecções cirúrgicas, sepses e infecções urinárias são as principais infecções mais presentes (RODRIGUES et al., 1997). 258 Medidas de prevenção e controle das infecções hospitalares em UTI Ações e medidas de prevenção às infecções hospitalares devem ser rotina em todas as instituições que se preocupam com a satisfação da sua clientela e que têm responsabilidade com a saúde. E no ambiente de terapia intensiva, é indicado que essas ações de prevenção ao controle de infecções sejam mais rigorosas, em decorrência do tipo de paciente, do ambiente e da intensidade dos procedimentos invasivos. São inúmeras as medidas de prevenção às infecções hospitalares, porém as mesmas devem ser conhecidas e praticadas por todos aqueles que irão lidar direta ou indiretamente com o paciente. Martins (2001) afirma que as medidas de prevenção às infecções a serem adotadas pelos serviços hospitalares são as de precauções padrão e precauções baseadas na transmissão. As precauções padrão são constituídas pela lavagem das mãos; uso correto das luvas, máscaras, protetor facial e de olhos, utilização de roupas de proteção, manuseio adequado dos materias perfurocortantes e cuidado com os equipamentos e demais matérias. Mercedes (2002) relata que o objetivo das precauções padronizadas é buscar a redução da transmissão de patógenos a partir de fontes de infecção conhecidas ou desconhecidas. As precauções padrão enfatizam condutas como higienização das mãos, uso de luvas, máscaras, protetor facial e de olhos, roupas de proteção, manuseio cuidadoso dos instrumentos perfurocortantes e cuidado com materias e equipamentos. Os antimicrobianos também possuem importante papel no contexto das infecções hospitalares. Com a evolução da tecnologia, os antimicrobianos foram aperfeiçoados, técnicas de assistência foram se desenvolvendo e o tratamento das patologias assumiu um grau de alta complexidade. Por outro lado, a invasão das bactérias multirresistentes, a inserção de novas formas de micro-organismo e a luta contra a resistência bacteriana surgiram nesse contexto, fragilizando o ambiente do cuidado das pessoas e desafiando as ações do cotidiano dos profissionais de saúde, no que se refere à prevenção das infecções hospitalares (BRASIL, 2000). A Comissão de Controle de Infecção Hospitalar e o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH-SCIH) Desde 1983 o controle das IH é regido por ações governamentais, porém, somente em 1997 a existência de um Programa de Controle das Infecções Hospitalares (PCIH), em todas as instituições hospitalares do país, passou a ser obrigatória pela Lei nº 9.431/97. Em 1998 foi editada a portaria nº 2.616, que recomenda o processo de trabalho a ser realizado pelo PCIH, devendo a instituição constituir a CCIH como um órgão deliberativo de ações de controle e prevenção de IH e o Serviço Área - Ciências da Saúde de Controle de Infecção Hospitalar, denominado SCIH, órgão executivo, que encarrega de realizar as ações deliberadas pela CCIH (BRASIL, 2000). A Comissão de Controle das Infecções Hospitalares é responsável por realizar a vigilância epidemiológica de todos os pacientes, principalmente daqueles que apresentam um risco maior para infecção. A vigilância é um processo que ocorre por meio de métodos prospectivos, como a busca ativa, sistemática e contínua das infecções, bem como sua propagação (BRASIL, 2000). As instituições hospitalares, através das CCIH e dos SCIH, devem criar, implantar e supervisionar normas e rotinas técnicas operacionais com o objetivo de reduzir e minimizar a disseminação dos agentes infecciosos (COUTO, 2003). Mesmo com a legislação vigente, os dados sobre a IH são pouco divulgados, já que nem sempre são consolidados por muitas instituições hospitalares, o que tem dificultado a aquisição de um diagnóstico que retrate a dimensão desse agravo (TURRINI, 2000). Além disso, considera-se mais um agravante o fato de as instituições publicas possuírem a maior taxa de prevalência de infecção hospitalar, de 18,4% (LACERDA, 2002). Portanto, é imprescindível a vigilância epidemiológica das infecções hospitalares através da observação ativa, sistemática e contínua de sua frequência e distribuição entre os pacientes e dos eventos e condições que afetam o risco de seu surgimento, com vistas à execução oportuna das ações de prevenção e controle. Trata-se de um processo que compreende a coleta, consolidação, análise e interpretação dos dados observados, gerando informações essenciais para planejamento, implementação de ações e avaliação de medidas de intervenção através da supervisão da assistência dos profissionais de saúde (MARTINS, 2005). É pertinente enfatizar a importância da educação continuada, pois a organização e execução de atividades educativas contribuirão para a melhoria e controle da qualidade da assistência, pois, no processo da prevenção da IH, os recursos humanos são a base para o sucesso. Considerações finais A partir da literatura, científica, foi possível conhecer historicamente o início dos primeiros atendimentos intensivos que surgiram desde a época da pioneira Florence Nightingale durante a Guerra da Criméia no século XIX. Pode-se constatar que o grande avanço da tecnologia voltada para a assistência hospitalar em unidade de terapia intensiva tem proporcionado o prolongamento da sobrevida dos pacientes em estado grave e crítico. A infecção hospitalar é compreendida como toda infecção adquirida após o ato da admissão do paciente e que se manifeste durante o período de hospitalização ou após a alta (e que esteja relacionada com hospitalização ou com os procedimentos). Também só será considerada infecção hospitalar se as manifestações clínicas se apresentarem a partir das 72 horas da internação. Portanto, ações de prevenção e de controle das infecções hospitalares são requisitos indispensáveis na assistência ao paciente de unidades de terapia intensiva. Essas ações devem buscar a redução da transmissão de micro-organismos a partir de fontes de infecção conhecidas ou desconhecidas. Além da realização efetiva das medidas de controle de prevenção da infecção hospitalar, deve ser realizada a vigilância epidemiológica de todos os pacientes, principalmente daqueles que apresentam um risco maior para infecção. Referências BASSO, M.; ABREU, E. S. Limpeza, desinfecção de artigos e áreas hospitalares e anti-sepsia. 2 ed. São Paulo: Associação Paulista de Estudos e Controle de Infecção Hospitalar, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Programa de Controle de Infecção Hospitalar. Relatório 2008. Brasília, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 196 de 24/07/1983. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de controle de infecção hospitalar. Brasília: Centro de Documentação do Ministério da Saúde, 2000. CDC. Centers for Disease Control and Prevention. National Center for Health Statistics. Growth Charts: United States. Hyaltsville; 1996. COUTO, R. C. et al. Infecção hospitalar – epidemiologia e controle. 3 ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. FERNANDES, A. T. et al. 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Num primeiro momento, a preocupação de pesquisadore(a)s de diversas áreas do conhecimento foi dar visibilidade e criminalizar este tipo de violência, entender seus motivos, suas raízes históricas e culturais, as formas em que ela ocorre, traçar perfis de vítimas e agressores, avaliar programas e políticas públicas e, especialmente, conceituar esta violência tendo em vista sua especificidade no que concerne às construções de gênero (CHAUÍ, 1985; BRANDÃO, 1998; IZUMINO, 2004; SUAREZ; BANDEIRA, 1999; SAFFIOTI, 2002; SANTOS; ISUMINO, 2005; NADER; LIMA, 2007; etc.). Entendemos que agora se torna urgente entender e analisar as implicações dessa violência sob os diversos aspectos da vida social e individual das mulheres vítimas e para a sociedade como um todo. Assim, estudos têm sido direcionados para evidenciar que a violência contra mulheres não é apenas um problema pessoal e privado que traz “custos” (sociais, psicológicos e econômicos) somente às vítimas e sua família, mas também a toda a sociedade; pois, conforme argumenta Lisboa, (2006, p.13) a violência contra as mulheres “é um fenómeno de género com uma dimensão histórica, multifacetado do ponto de vista económico, político, social e cultural, e, por isso, irredutível a uma mera intervenção jurídica ou policial.” Na tentativa de somar aos esforços de entender este fenômeno diverso e multifacetado, a partir de 2007, alguns estudos procuraram discutir a violência de gênero no norte de Minas. Estes estudos consistiram em um amplo levantamento de dados, referente ao período de 1970 a 2007, em jornais, processos criminais das comarcas de Montes Claros e Janaúba no norte de Minas, em que as mulheres figuraram como vítimas ou como rés em crimes considerados como violência de gênero; e análises de depoimentos de história oral e de vida com mulheres vítimas de violência conjugal e com agentes de segurança pública que atuaram nas Delegacias Especializadas de Repressão aos Crimes Contra a Mulher destas duas comarcas (MAIA; CALEIRO, 2012). Em um nível mais micro, procurou-se entender as vivências e permanências de mulheres em relações conjugais violentas através de narrativas de histórias de vidas (MAIA, 2012). Ao narrar suas experiências de violência sobre suas vidas e seus corpos, as mulheres entrevistadas apontaram para efeitos visíveis destas sobre a saúde física, como lesões corporais, hematomas, membros quebrados, abortos espontâneos, dentes arrancados, deficiências físicas, mas, também, deixaram entrever outros problemas relacionados à sua saúde física e psicológica. Isso chamou nossa atenção para a necessidade de problematizar a relação entre a violência de gênero e a saúde das mulheres. Quando interpretamos as consequências da violência contra a mulher, observamos uma lacuna na aplicabilidade das políticas públicas voltadas para essas vítimas, pois são pouco notórias as iniciativas de acolhimento e atenção a esse grupo social que sofre algum tipo de violência, especialmente na área da saúde. O atendimento é mecânico e protocolar, caso a vítima não apresente uma alteração anatomopatológica como base de sua queixa, e o sofrimento da mulher em situação de violência ainda não é percebido como elemento que mereça intervenção dos profissionais da saúde. Neste contexto, sua queixa é desqualificada como social ou psicológica, e não é acolhida pelo serviço de saúde, pois onde não há alterações anato261 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar mopatológicas não há violência, seguindo uma lógica protocolar e biomédica de intervenção, o que não gera registros nos prontuários. O presente estudo teve como objetivo construir o perfil das vítimas de violência sexual atendidas em um hospital universitário. Materiais e Métodos A pesquisa envolveu uma dimensão descritiva de abordagem quantitativa, que consistiu no levantamento das fichas de notificação de violência doméstica, sexual e/ou violências interpessoais. Esta ficha considera violência o uso intencional de força física ou do poder real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou tenha possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. A ficha atende ao Decreto-Lei nº 5.099 de 03/06/2004, que regulamenta a Lei nº 10.741/2003, que institui o serviço de notificação compulsória de violência contra a mulher. Todas as mulheres vítimas de violência são atendidas no Hospital Universitário Clemente de Faria – HUCF, localizado no município de Montes Claros, norte de Minas Gerais, sendo que as vítimas de violência sexual são conduzidas à Maternidade Maria Barbosa do mesmo hospital para o primeiro atendimento e toda a propedêutica necessária. A população estudada constituiu-se por mulheres que foram atendidas na referida maternidade, no período de janeiro de 2008 a julho de 2013. O número total de fichas de notificação, que corresponde a todas as vítimas de violência sexual levantadas neste período, foi de 600 (seiscentas). Para organização e análise estatísticas dos dados, foi utilizado o programa Statistical Package for Social Science (SPSS) 18.0, que, em primeiro momento, foi realizada apenas uma análise descritiva dos dados. As variáveis analisadas permitiram a construção do perfil das vítimas de violência sexual. Como se trata de pesquisa que envolve seres humanos atendidos em instituições de saúde, o projeto passou pelos trâmites legais para as pesquisas na área de saúde adotados pela resolução 466/2012. Sendo assim, o projeto foi submetido à Plataforma Brasil para analise pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros/UNIMONTES, sendo aprovado pelo parecer de número 249.973. Resultados e Discussão Foram analisadas as fichas de notificação de vítimas de violência sexual atendidas na maternidade Maria Babosa do HUCF, sendo possível construir o perfil dessas vítimas. O perfil das vítimas de violência foi construído com dados preliminares a partir das variáveis: idade, sexo, raça/cor, escolaridade, situação conjugal/estado civil. Em relação à idade (gráfico 1), podemos constatar maior prevalência dos casos de violência sexual na faixa etária de 0 a 11 anos e de 12 a 19 anos de idade, sendo que, no ano de 2012, 44,4% dos casos foram registrados na faixa etária de 0 a 11 anos de idade. As vítimas mais prevalentes nos casos de violência sexual, presentes neste estudo e nas pesquisas sobre violência de gêneros, foi o sexo feminino, com 89, 3% dos casos no ano de 2013, enquanto 10,7 % foram do gênero masculino no mesmo ano (gráfico 2). A raça/cor mais prevalente são as vítimas da cor parda, totalizando 45,8% das vítimas de violência sexual no ano de 2008. Em estudo realizado em Salvador 2007, no que diz respeito à variável cor, a considerem 262 relevantes a este assunto, porque, apesar de distinção entre a cor da pele, critérios de classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE) afirmam que o termo “negros” abrange tanto populações negras e marrons como um todo, de acordo com os termos adotados para nomear as raças/grupos étnicos que compõem a população brasileira. Com base nestes critérios, verificou-se que 77,3% (39,5% de negros, 37,8% das mulheres marrom) violados pertenciam à raça negra. (DINIZ et al., 2007). Em relação à escolaridade, pode-se observar uma limitação na coleta de dados, pois este campo na ficha de notificação não era preenchido no momento do atendimento, o que se confirma no período de 2010 , em que 50,6% da escolaridade das vítimas de violência é ignorada. No período de 2008, a escolaridade de 5ª a 8ª séries incompleta está presente em 21,7% dos casos das vítimas de violência sexual. A situação conjugal/estado civil é compatível com a faixa etária das vítimas apresentado anteriormente, 76,8%, 57,5%, 51,9% são solteiras nos períodos de 2011, 2012 e 2013 respectivamente. Área - Ciências da Saúde GRÁFICO1: Percentual da população estudada de acordo com a idade nos anos de ocorrência do estudo. MontesClaros/MG,2014. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da Pesquisa. GRÁFICO2: Percentual da população estudada de acordo com o sexo nos anos de ocorrência do estudo. Montes Claros/MG, 2014. Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da Pesquisa. Conclusão O presente estudo, ainda com dados parciais, é parte do projeto em andamento intitulado “ Violência de gênero e saúde das mulheres”, desenvolvido por um grupo de pesquisadora(e)s de Montes Claros e Uberlândia com a participação de pesquisadores/as da Universidade Nova de Lisboa/ Portugal. Os dados preliminares demonstram a gravidade do problema apontado pela faixa etária das vítimas, majoritaria263 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar mente menores de 19 anos, o que indica que a violência doméstica tem implicações profundas com a violência de gênero perpetrada sob a forma de violência sexual. A continuidade do estudo permitirá construir associações entre a ocorrência da violência e o perfil sociodemográfico e de saúde das mulheres. Os dados apresentados, mesmo que preliminares, apresentam a dimensão do problema e a necessidade de continuar e aprofundar o conhecimento para criar, apoiar melhores estratégias de prevenção e assistência imediata e a longo prazo e amenizar problemas futuros. Referências BRANDÃO, E. R. Violência conjugal e o recurso feminino à polícia. In: BRUSCHINI, C.; HOLANDA, H. B. Horizontes plurais: novos estudos de gênero no Brasil. São Paulo: Ed. 34, 1998. CHAUÍ, M. 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Em 2004, já representavam a segunda causa de óbito infantil no país, sendo considerada uma questão prioritária para a saúde pública (GOMES; COSTA, 2012). As anomalias congênitas, ou defeitos de nascença, podem surgir em qualquer estágio do desenvolvimento pré-natal e mostram uma ampla variedade de fatores etiológicos bem como tipo, extensão e frequência dos defeitos. Cerca de 2 a 3% de todos os nascimentos estão associados com uma anomalia importante, retardo mental ou doença genética. Um número ainda maior de crianças irá começar a demonstrar manifestações de um distúrbio genético em estágios posteriores do desenvolvimento. Contudo, muitos dos defeitos mais comuns (por ex., estenose pilórica, mal formação do sistema nervoso central e doença cardíaca congênita) parecem ser relacionados com herança multifatorial. Portanto, é importante reconhecer que, enquanto alguns defeitos são estritamente hereditários, em muitos casos eventos específicos da gravidez são os responsáveis (WHALEY; WONG, 1999). Durante os nove meses de gestação, a mãe alimenta dúvidas, receios e ambivalências a respeito do filho, assim como também a fantasia de uma criança perfeita. A gestação de um filho envolve diversos sentimentos, entre os quais a alegria e idealização de um filho perfeito, surgindo assim, expectativas e ansieda- des. Nesse sentido, são formadas imagens, sonhos e esperanças ao redor do “ser” que se imagina; porém, o fantasma da malformação assombra o casal durante esse período gestacional (CARVALHO et. al., 2006) Quando nasce um bebê saudável, o vínculo, que foi se estabelecendo na medida em que o feto se desenvolvia ainda no útero da mãe, se fortalece a cada dia. Já quando ocorre alguma intercorrência, seja por prematuridade, como por algum tipo de malformação congênita ou uma doença grave, e este bebê tem que ficar sob os cuidados de uma Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTI Neo), é como se, para a mãe, se confirmassem todos os temores presentes no período de gestação. Neste momento, é preciso que a mãe trabalhe o luto pela perda do filho idealizado (BALDISSARELLA; DELL’AGLIO, 2009). O diagnóstico de anomalia congênita no bebê tem um impacto significativo na saúde pública, pelo seu efeito negativo na qualidade de vida das crianças afetadas e dos seus familiares, e pelos serviços médicos, sociais e educacionais requeridos para melhorar o seu bem-estar. O impacto do diagnóstico de anomalia congênita no bebê é também visível em vários domínios familiares (financeiro, social, profissional); o confronto com esta notícia é, para os pais, um período particularmente desafiante e exigente, com possíveis implicações emocionais (FONSECA; CANAVARRO, 2010). Assim, a notícia de um filho com malformação repercute em muitos sentidos da vida de um casal,podendo prejudicar o vínculo destes pais com seu filho e, consequentemente,os primeiros cuidados básicos para com este (BALDISSARELLA; DELL’AGLIO, 2009). O reconhecimento deste impacto coloca em aberto a necessidade de os profissionais de saúde considerarem como foco da sua intervenção, quer a criança com anomalia congênita, quer o bem-estar e as ne265 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar cessidades individuais dos seus pais, adequando, para isso, diferentes aspectos da prestação de cuidados a estas famílias. Para isso, necessitam de reconhecer a diversidade de reações parentais à notícia de um diagnóstico de anomalia congênita do bebê, bem como a sua variabilidade em função, por exemplo, do momento em que o diagnóstico é conhecido (FONSECA; CANAVARRO, 2010). As principais reações emocionais referenciadas nos diversos estudos realizados incluem tristeza, depressão, raiva, culpa, vergonha e sensação de fracasso (SOUSA; PEREIRA, 2010). O presente estudo tem por objetivo conhecer a percepção materna frente ao diagnóstico de malformação congênita do recém nascido nas UTI’S neonatais de Montes Claros. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo qualitativo com abordagem fenomenológica, realizado na UTI neonatal do Hospital Universitário Clemente Faria do município de Montes Claros, Norte do Estado de Minas Gerais. O Hospital Universitário Clemente Faria possui 171 leitos e dispõe de outros 10 leitos do Serviço de Internação Domiciliar. Conta com UTI Neonatal e Pediátrica, uma Unidade de Cuidados Intensivos para Adulto e Pronto-Socorro 24 horas. Único genuinamente público em Montes Claros e em vasta região geográfica do Estado, que atende exclusivamente através do Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa está sendo realizada com as mães de recém nascidos com diagnóstico de malformação congênita que estejam retidos na UTI neonatal e que aceitarem sua inserção na pesquisa, formalizando sua concordância através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A coleta de dados ocorre por gravação das entrevistas e, posteriormente, transcrição das falas, que permite avaliar a percepção materna diante do diagnóstico de malformação congênita do recém-nascido. As entrevistas são norteadas por duas perguntas: a primeira, que investiga a reação materna ao receber o diagnóstico de malformação congênita, e a segunda, que averigua a percepção materna em ter seu filho retido na UTI neonatal com esse diagnóstico. As mães entrevistadas são nominadas com o título de flores com o intuito de preservar o sigilo das participantes. Os aspectos éticos da pesquisa serão considerados de acordo com a Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, que estipula normas éticas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Todas as informações são coletadas preservando o sigilo para os participantes, e os benefícios estão relacionados aos resultados obtidos. Vale ressaltar que o projeto deste estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com parecer consubstanciado do CEP/SOEBRAS: 418.188/2013. Resultados e Discussão Os resultados foram parcialmente obtidos através de revisão da literatura, bem como realização de sete entrevistas e posterior transcrição das falas com mães de recém nascidos retidos em UTI na cidade de Montes Claros, no período de novembro de 2013 a abril de2014. Os sujeitos da pesquisa estão na faixa etária entre 17 e 37 anos, sendo a maioria primíparas e vivem com o pai do recém nascido. Realizaram as consultas de prénatal e residem em cidades da região do norte de Minas, sendo referenciadas para a cidade de Montes Claros devido à necessidade de UTI Neonatal. De acordo com a análise dos dados coletados, podemos perceber que as principais reações relatadas são medo, tristeza e impotência, considerando que a maioria das mães conta com o apoio da família e/ou do companheiro. Como expresso na fala de uma das entrevistadas: Foi difícil né. Porque eu esperava uma bebê saudável que não tivesse nada né, quando você engravida, igual você falou, você espera né, então você fica ansiosa pra ver na hora que ela nasce né, pra levar pra casa né. Igual ele nasceu com problema, eu já sabia, nos últimos meses eu já sabia o que ela tinha, só que eu não achava que era esse processo todo né, cirurgia, que ela precisava ficar entubada esse tempo todo aqui, e depois apareceu mais outros problemas né (Margarida). Muito triste, é uma coisa assim que eu nunca pensava passar por isso sabe, eu tive dois filhos, e sempre eu ganhava meus filhos e ia embora (Margarida) O sentimento percebido através da falas é de intensa angústia em relação à vida futura do filho, medo do preconceito e das dificuldades no desenvolvimento da criança. Eu fiquei assim assustada porque eu pensei logo nos ultrassons que eu fiz, porque eles falaram que tava perfeitinho, a mãozinha dele tava perfeitinha, os dedinhos tava tudo perfeito, então na hora que ela me deu a notícia, eu tomei um susto, ahh eu preocupei. Porque a hora que ela me 266 Área - Ciências da Saúde falou ela não tinha falado que era do dedim não, e ela tinha falado que era do primeiro dedo, o dedão, só que eu não sabia que era dos dois não, tanto que eu fui saber no outro dia, hora que eu fui visitar ele depois que eu ganhei ele (Hortênsia). Em contrapartida, a preocupação demonstrada pelas mães acaba por se transformar em esperança ao longo da entrevista, devido ao grande amor e positivi- dade adquirida pelo fato de o filho estar vivo e sendo cuidado. Aí quando foi na terça feira que o pai veio viu ele certinho, mas tá tudo bem, mas a sensação de ir embora sem o filho é horrível, eu não desejo isso pra ninguém, principalmente porque é o primeiro filho, nunca imaginei que ele ía nascer com esse probleminha, mas só dele ser saudável, forte eu dou graças a Deus. Nossa quando eu cheguei aqui que a moça falou que ele já foi pro berçário nossa mas eu fiquei tão feliz, só de ver meu neném lá na UTI e só um poquinho de gente lá, nossa é horrível(Hortênsia). Conclusões Para uma mãe, a expectativa de ter um filho costuma gerar felicidade e a expectativa de que o mesmo nasça saudável. Após o nascimento, o desejo é levar seu filho para casa, entretanto, nem sempre isso é possível, como no caso dos recém-nascidos diagnosticados com malformação congênita. Através das entrevistas, temos percebido a dificuldade que as mães possuem de aceitarem o diagnóstico, bem como o sofrimento em acompanhar o recém-nascido na UTI neonatal. Assim, no momento da coleta de dados, percebe-se a oportunidade que essas mães têm de relatar a experiência de estar vivendo essa situação. Os temores e angústias são expressos pelas mães através de diversas formas, incluindo a linguagem verbal e não-verbal. Notou-se na execução das entrevistas, que as mães têm receio de falar sobre a malformação congênita, e o discurso mostra-se muitas vezes repleto de eufemismos típicos. A ideia do projeto da gestação e de seu resultado com um concepto perfeito são anulados com a recepção do diagnóstico, colocando para a mãe uma nova realidade de vida que pode atingir toda a família. É notória a relação do fenômeno vivenciado com a concepção da fé e o apego à prática religiosa quando da recepção do diagnóstico, muitas falas são permeadas de elementos religiosos e de expressões tipicamente ligadas ao místico ou ao divino. Referências CARVALHO, Q. C. M. et. al. MALFORMAÇÃO CONGÊNITA: SIGNIFICADO DA EXPERIÊNCIA PARA OS PAIS. Ciência, Cuidado e Saúde Maringá, v. 5, n. 3, p. 389-397, set./dez., 2006 BALDISSARELLA, L.; DELL’AGLIO, D. D. No limite entre a vida e a morte: um estudo de caso sobre a relação pais/ bebê em uma uti neonatal. Estilos clin.[online]. v. 14, n. 26, p. 68-89, 2009. ISSN 1415-7128. FONSECA, A.; CANAVARRO, M. C. Reações parentais ao diagnóstico perinatal de anomalia congénita do bebé Implicações para a intervenção dos profissionais de saúde. Psic. Saúde & Doenças [online]. v. 11, n. 2, p. 283-297, 2010. ISSN 1645-0086. GOMES, M. R. R.; COSTA, J. S. D. Mortalidade infantil e as malformações congênitas no Município de Pelotas, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil: estudo ecológico no período 1996-2008. Epidemiol. Serv. Saúde [online]. v. 21, n. 1, p. 119-128, 2012. ISSN 1679-4974.http://dx.doi.org/10.5123/S1679-49742012000100012. SOUSA, L.; PEREIRA, M. Graça. Interrupção da gravidez por malformação congénitica: a perspectiva da mulher. Psic. Saúde & Doenças [online]. v. 11, n. 2, p. 229-242, 2010. ISSN 1645-0086. WONG, D. L. Enfermagem pediátrica. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,1999. 267 Área - Ciências da Saúde INTENSIDADE DE COLONIZ AÇ ÃO DO TR ATOGASTROINTESTINAL DE IDOSOS INSTITUCIONALIZ ADOS POR L AC TOBACILOS E ENTEROBAC TÉRIAS GR AM NEGATIVAS Maria Thereza Gomes Caldeira Túllio Novaes Silva Jaqueline D’Paula Ribeiro Vieira Torres Ronize Viviane Jorge de Faria Mariléia Chaves Andrade Sérgio Avelino Mota Nobre [email protected] Introdução O intestino humano do adulto é o lar de um número quase inconcebível de micro-organismos. O tamanho da população – chegando até a 100 trilhões (CAMP, 2009), com cerca de 1000 espécies (CANI, 2007), é superior ao de todas as outras comunidades microbianas associadas à superfície corporal, sendo também dez vezes maior do que o número total de nossas células somáticas e germinativas (BACKHED, 2005). Com mais ou menos 100 vezes mais genes como o nosso, 2,85 bilhões de pares de bases do genoma humano, o genoma coletivo de nossos micro-organismos intestinais simbióticos (microbioma) nos dota com características fisiológicas importantes que não evoluíram por conta própria (CANDELA, 2010). Estima-se que as células microbianas que residem no corpo humano adulto superam em quantidade as células somáticas e germinativas desse corpo. Desde a primeira observação documentada por Antonie van Leeuwenhoek no final de 1600 sobre bactérias associadas ao corpo humano, pesquisas sobre microbiota têm sido centradas nos organismos capazes de serem cultivados no meio não-vivo (CAMP, 2009). A microbiota intestinal é importantíssima para o nosso corpo, desempenhando papel na defesa contra patógenos, participando da estimulação do sistema imune, da síntese de vitaminas e nutrientes, e tem um papel importante para o desenvolvimento e manutenção das funções do intestino sensorial e motor (DEFILIPPI, 2010). No envelhecimento, mudanças no trato gastrointestinal, bem como a modificação da dieta e do sistema imunológico do hospedeiro, afetam, inevitavelmente, a microbiota do cólon, permitindo assim que ocorram mudanças em populações bacterianas (WOODMANSEY, 2007). A diminuição da motilidade intestinal resulta em um trânsito lento, o que afeta a defecação e leva à constipação. A subsequente redução da excreção bacteriana altera o processo de fermentação intestinal de forma desfavorável. Inevitavelmente, isso afeta a homeostase do ecossistema bacteriano no trato intestinal (BIAGI, 2010). O objetivo deste trabalho foi mensurar populações de Lactobacillus sp., enterobactérias mesófilas aeróbias gram negativas (EMAGN) fermentadoras ou não da lactose na microbiota intestinal de indivíduos idosos na faixa etária de 60 a 102 anos, institucionalizados em asilo. Metodologia Utilizou-se uma metodologia de contagem direta de células viáveis de bactérias presuntivamente pertencentes à família Enterobacteriaceae e de Lactobacillus presuntivos. Os procedimentos referidos foram desenvolvidos no laboratório de Epidemiologia e Biocontrole de Microrganismos da UNIMONTES, Montes Claros-MG. O trabalho teve apoio financeiro da FAPE- MIG (Processo CBB-APQ 01398-12) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros/Unimontes, Nº 3037/11. O trabalho foi realizado no período de julho de 2012 a março de 2013, sendo que os sujeitos do estudo foram idosos institucionalizados, residentes no Asilo São Vicente de Paulo, na cidade de Montes Claros-MG. 269 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar O trabalho foi conduzido com a participação voluntária dos sujeitos, respeitando o código de ética na pesquisa envolvendo seres humanos, ou cuidadores, bem como previa autorização da ILPI. Foram feitos todos os esclarecimentos que se fizeram necessários, e a autonomia dos participantes foi respeitada. Foi realizado um estudo de caráter transversal, no qual foi realizada uma coleta de amostras de fezes (250 mg de cada participante) que foram suspendidas em 250 mL de solução salina (0,9%) e resfriadas para transporte e análise. As amostras foram coletadas conforme prescrito pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, considerando os rigores da esterilidade dos utensílios e viabilidade das células amostradas (WINN JR., 2010). Foram efetuados procedimentos quantitativos a partir das colônias evidenciadas durante as análises microbiológicas. As quantificações foram feitas a partir de diluições seriadas decimais (10 -1 a 10 -5) em placas de petri contendo o meio nutritivo específico para cada grupo de microrganismos em análise. Os procedimentos para quantificação das populações de Enterobacteriaceae foram feitos em Agar MacConkey (AMc), sob aerobiose a 37ºC após 24 horas de incubação. Para a mensuração de Lactobacillus foi usado Agar Rogosa (Difco ou Merck). O cultivo das alíquotas de amostras para prospecção destas bactérias foi feito em jarras de anaerobiose (Anaerogen®- gerador de anaerobiose - Oxoid) e incubação por 72 horas a 37ºC. Os dados de contagem direta foram expressos em ufc por grama de amostra e, posteriormente, foram convertidos em log10 para análise estatística. Resultados e Discussão O envelhecimento é definido como ‘’a regressão das funções fisiológicas acompanhada pelo desenvolvimento de idade’’. Considerado um impacto sobre a fisiologia do trato intestinal, o processo de envelhecimento pode afetar seriamente a composição da microbiota intestinal humana (BIAGI, 2010). No ser humano, a concentração bacteriana varia ao longo do trato gastrointestinal. Devido à presença de ácido, há uma quantidade limitada de bactérias ao nível gástrico; já no intestino delgado, a quantidade aumenta gradualmente, atingindo valores próximos de 10³ unidades formadoras de colónias (UFC) por ml. Quando a válvula ileocecal é ultrapassada, esse valor aumenta significativamente, atingindo valores de 1014 UFC / ml no cólon (DEFILIPPI, 2010). O trabalho realizado proporcionou quantificar significativa expressão de populações gram-negativas anaeróbias estritas, correspondentes ao gênero Lactobacillus sp e de bactérias do Enterobacteriaceae. Os sujeitos do estudo foram divididos de acordo com a idade. Foram criados dois grupos para maior didaticidade da apresentação dos resultados. No primeiro grupo, concentra-se a faixa etária de 60 a 80 anos; no segundo grupo, a faixa etária acima de 80 anos. A análise estatística de Lactobacillus presuntivos revelou que, entre os indivíduos de 60 a 80 anos, a média de células foi igual a 7,02 (Log10), com desvio padrão equivalente a 0,10. O Intervalo de Confiança 270 (α= 0,05) teve como LI 6,99 e como LS 7,06. No segundo grupo, composto de idosos com mais de 80 anos, a média do logaritmo foi 7,28, apresentando média logarítmica de desvio padrão igual a 0,0895. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LI 7,24 e como LS7,32. A análise estatística de enterobactérias totais dos pacientes na faixa etária de 60 a 80 anos evidenciou uma média logarítmica de 6,00 na contagem de colônias de enterobactérias totais, com média logarítmica de desvio padrão equivalente a 0,1269. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como Limite Superior (LS) 6,03 e como Limite Inferior (LI) 5,96. Os pacientes com mais de 80 anos apresentaram uma média logarítmica de 6,26 na contagem de enterobactérias totais, apresentando média logarítmica de desvio padrão igual a 0,1116. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LS 6,30 e como LI 6,22. Observou-se que, para enterobactérias fermentadoras de lactose em idosos de 60 a 80 anos de idade, a média do logaritmo da contagem de colônias foi 5,89, ao passo que a média do desvio padrão foi 0,1330. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LS 5,92 e como LI 5,85. No grupo dos idosos acima de 80 anos, a média logarítmica da contagem de colônias de enterobactérias fermentadoras de lactose foi 6,24, enquanto a média do logaritmo do desvio padrão para o grupo foi 0,1486. O Intervalo de Confiança (α= 0,05) teve como LS 6,30 e como LI 6,19. Área - Ciências da Saúde Figura 1: Contagem média representada em logaritmo de Lactobacillussp. (logLP), enterobactérias totais (Log ET), enterobactérias fermentadoras de lactose (Log EPL) no TGI de indivíduos idosos institucionalizados. Montes Claros 2014. Mudanças de acordo com a idade em gêneros e espécies de bactérias específicas foram identificadas, sendo que há ocorrência de extensas variações interindividuais. As médias das contagens do número total de anaeróbios a partir de material fecal têm relatado uma permanência relativamente estável em populações idosas (WOODMANSEY, 2007). Numerosos estudos têm demonstrado um declínio na contagem viável de bacteroides com o aumento da idade. Além disso, a diversidade de espécies dentro do gênero Bacteroides teria sido reduzida em idosos, quando comparada aos voluntários jovens e saudáveis (WOODMANSEY, 2007). Em relação aos Lactobacillus presuntivos, em estudos anteriores, entre as mudanças do perfil microbiológico do TGI de idosos, houve o aumento do número de anaeróbias facultativas, substituições em espécies dominantes nos grupos bacterianos e não foram relatadas significativas mudanças no número total de bactérias anaeróbias (BIAGI, 2010). Conclusões A avaliação da coprocultura demonstrou um aumento quantitativo de colônias de enterobactérias totais, enterobactérias fermentadoras da lactose e Lactobacillus presuntivos, ao se comparar a microbiota dos idosos de 60 a 80 anos com os idosos de 80 anos ou mais. O aumento de Lactobacillus presuntivos não foi evidenciado pela literatura revisada. Acreditase que outros fatores estejam envolvidos com esse resultado, desde os fatores orgânicos e ambientais dos idosos envolvidos até as diversidades de métodos de realização das pesquisas. Referências CAMP, J. G.; KANTHER, M.; SEMOVA, I.; RAWLS, J. F. Patterns and Scales in Gastrointestinal Microbial Ecology. Gastroenterology. v. 136, n. 6, p. 1989-2002, 2009. CANI, P. D.; DELZENNE, N. M. Gut microflora as a target for energy and metabolic homeostasis. Current opinion in clinical nutrition and metabolic care. v. 10, n. 6, p. 729-34, nov., 2007. 271 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar BACKHED, F.; LEY, R. E.; SONNENBURG, J. L.; PETERSON, D. A.; GORDON, J. I. Host-bacterial mutualism in the human intestine. Science (New York, NY). v. 307, n. 5717, p. 1915-20, Mar 25, 2005. CANDELA, M.; MACCAFERRI, S.; TURRONI, S.; CARNAVALI, P.; BRIGIDI, P. Functional intestinal microbiome, new frontiers in prebiotic design. 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Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. 1565p. 272 Área - Ciências da Saúde O PE T- SAÚDE E SUAS CONTRIBUIÇÕES PAR A A COMUNIDADE E AC ADÊMICOS Gabriela Crusoé Lopes Leite de Souza Ariadna Janice Drumond Morais Michelle Pimenta Oliveira Kênia Souto Moreira Carlos Alberto Quintão Rodrigues Maria Rita Lima Lopes Maisa Tavares de Souza Leite [email protected] Introdução O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) foi instituído pela Portaria Interministerial MS/MEC nº 421, de 03 de março de 2010, sendo destinado a fomentar grupos de aprendizagem tutorial em áreas estratégicas para o Sistema Único de Saúde (SUS) (Brasil, 2010). Oferece aos acadêmicos da graduação a inserção nos serviços públicos de saúde, por meio de estágios e vivências proporcionados pelas instituições de ensino superior em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde (Brasil, 2008). A articulação entre ensino-serviço-comunidade proporciona simultaneamente oportunidade de uma aprendizagem significativa aos graduandos, inclusão de profissionais da rede de atenção à saúde no processo de ensino-aprendizagem e produção de conhecimento científico, e melhoria nos determinantes do processo saúde-doença nas comunidades assistidas (ASSEGA et al., 2010). Nessa perspectiva, a interação ensino e serviço traz possibilidades e desafios aos sujeitos envolvidos, contribuindo para re-significação do papel dos profissionais, co-protagonistas na construção do sistema de saúde (RODRIGUES, 2011). Essa articulação favorece que a academia integre, durante todo o processo de ensino-aprendizagem, a orientação teórica com as práticas de atenção nos serviços públicos de saúde, em sintonia com as reais necessidades dos usuários do SUS (BRASIL, 2007). Assim, o PET-Saúde visa à formação de profissionais de saúde de elevada qualificação técnica, científica e acadêmica, pautada pelo espírito crítico, pela cidadania e pela função social da educação superior, orientada pelo princípio de que não se é possível separar ensino, pesquisa e extensão, levando o acadêmico a experiências extramuros, aprimorando seu olhar, fazendo-o entender o processo de trabalho em equipe, reconhecendo a realidade social, além de desenvolver e participar de estudos científicos e outras formas de produção de conhecimento que possam qualificar a prática profissional (BRASIL, 2008; RODRIGUES, 2011; GONÇALVES, 2011). No município de Montes Claros/MG é desenvolvido o Pró-Saúde/PET-Saúde – Redes de Atenção à Saúde, uma parceria entre a Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes – e a Secretaria Municipal de Saúde de Montes Claros. Esse programa conta com a participação de alunos dos cursos de odontologia, medicina, enfermagem, ciências biológicas, educação física e serviço social. Diante do amplo cenário ofertado pela Rede de Atenção à Saúde, os acadêmicos são incentivados a realizar diversas ações não só no campo clínico, mas também no campo comunitário. Portanto, o objetivo deste trabalho é descrever as contribuições do PET-Saúde para os acadêmicos e a comunidade assistida. Materiais e Métodos O trabalho em questão é um relato de experiência de caráter descritivo de acadêmicos do curso de odontologia Unimontes inseridos no Pró-Saúde/ PET-Saúde – Redes de Atenção à Saúde. As ativida- des descritas foram desenvolvidas em dois cenários da Atenção Primária à Saúde, envolvendo duas equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF) da Rede de Atenção à Saúde do município de Montes 273 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Claros – MG no período de agosto de 2012 a agosto de 2013. As atividades acadêmicas desenvolvidas no Programa compreenderam estratégias e metodologias ativas de ensino-aprendizagem. Resultados Os Centros Municipais de Educação Infantil foram locais escolhidos para o desenvolvimento de atividades educativas, locais esses que se mostraram excelentes multiplicadores de conhecimento. Ações educativas por meio de palestras, teatros, vídeos foram realizadas com sucesso, sendo abordados temas como alimentação saudável, higiene oral, cuidados com a dengue, entre outros. Foi desenvolvido na semana da criança o “Cinema Divertido”, na sala de eventos da paróquia do bairro. O cinema foi feito com a escolha de filmes interativos, e aproveitou-se o momento para o acompanhamento infantil, fizeram pesagens, mediu-se o comprimento e promoveu saúde geral, através de diversas ações dinâmicas. Um dos principais objetivos do PET- Saúde Unimontes foi possibilitar uma atenção integral às crianças da área de abrangência e influência da ESF. Assim, diversas ações foram desenvolvidas nesse contexto nas sedes das ESF’s e na comunidade. Um exemplo disso são as Consultas de Crescimento e Desenvolvimento Infantil (CD). São consultas multiprofissionais com a inserção inédita do profissional cirurgião-dentista. Essas foram agendadas pelos agentes comunitários, através da visita domiciliar e/ou puerperal e pela livre demanda da unidade. As consultas multiprofissionais ocorreram sob a preceptoria de profissional enfermeiro, médico e cirurgião-dentista e acompanhados de acadêmicos de cursos de graduação em enfermagem, medicina, odontologia e serviço social, integrantes do PET-Saúde. A consulta de Crescimento e Desenvolvimento das crianças, realizada de forma multiprofissional, favoreceu de modo geral a troca de experiências dentro da equipe de saúde, melhorou a qualidade de vida das crianças adscritas, promoveu a saúde, possibilitou o fortalecimento do trabalho multiprofissional, garantiu uma adesão precoce e atraumática das crianças ao tratamento odontológico, além de atingir os princípios básicos do Sistema Único de Saúde. Outro exemplo da interdisciplinaridade proposta pelo PET-Saúde foi uma atividade que marcou a comunidade, os profissionais e os acadêmicos, momento único e de grande contribuição para a formação profissional. A ação foi realizada na Unidade Básica de Saúde, sendo que cada microárea foi atendida em um sábado do mês. O público alvo foram as crianças de 2 a 5 anos acompanhadas pelos pais. Primeiramente foi feito um teatro intitulado “A Estrelinha Azul”, que falava sobre os cuidados com a higiene; em seguida, foi realizada uma palestra sobre alimentação saudável, hábitos de higiene corporal e saúde bucal. Após esse momento de educação em saúde, na sala de espera foi exibido um vídeo educativo, enquanto se aguardava o atendimento multiprofissional, e os pais receberam informações sobre o que era o Centro de Referência de Assistência Social - CRAS e os seus benefícios para a comunidade. As crianças foram pesadas e medidas, em seguida passaram por uma consulta médica, odontológica e de enfermagem, em que esses profissionais atenderam juntos, um contribuindo para a construção do conhecimento do outro. Foi feito o levantamento de necessidades bucais, e as crianças que tinham mais demanda foram atendidas imediatamente após a consulta multiprofissional e as demais agendadas para outra data. Ao final da atividade, foi servida uma deliciosa salada de fruta para todos. Um exemplo de atividades realizadas na comunidade foi um evento de Natal em que a ESF, em parceria com o PET, levou as crianças de alguns Centros Municipais de Educação para o evento “Natal no aeroporto”. Nessa oportunidade, as crianças foram levadas ao aeroclube da cidade de Montes Claros para presenciarem a descida do Papai Noel Saudável no seu avião. Foram distribuídos presentes e desenvolvidas ações saudáveis para as crianças (teatro, brincadeiras, lanches) com o objetivo de fazer a alegria da criançada e levar conhecimento aos pequeninos, além de possibilitar um dinamismo de atividades e aguçar a fantasia das crianças pela presença do Papai Noel. O PET-Saúde tem se mostrado um ótimo meio para a disseminação dos princípios do modelo de Produção Social da Saúde, de forma que os acadêmicos são incentivados a todo momento a desenvolverem ações preventivas, promocionais e curativas direcionadas a todos os ciclos de vida. Grupos operativos, com hipertensos, diabéticos, idosos, gestantes e grupo de planejamento familiar foram também meios de disseminar conhecimento e aperfeiçoar a prática dos acadêmicos na ESF. Discussão O PET-Saúde tem se mostrado um excelente meio de aplicar essa nova visão que se tem dado aos cursos 274 de graduação, sendo um programa que leva o acadêmico a vivências extramuros, propiciando um maior Área - Ciências da Saúde conhecimento, por parte dos alunos das estruturas dos serviços públicos de saúde (MOIMAZ et al., 2008; ASSEGA et al., 2010) Um dos eixos que norteia o PET-Saúde é a interdisciplinaridade, isso talvez seja um dos maiores ganhos desse programa, poder compartilhar experiências, conhecimentos e realmente aplicar a visão holística e integrada do ser humano. Para Sales et al. (2011), a interdisciplinaridade implica uma consciência dos limites e das potencialidades de cada campo de saber para que possa haver uma abertura em direção de um fazer coletivo. Sendo o objetivo das ações interdisciplinares no âmbito da atenção básica contemplar o tênue equilíbrio entre as demandas de saúde da população e as possibilidades do Sistema de Saúde de atendê-las (RO- DRIGUES, 2012). O processo ensino-pesquisa-extensão, vivenciado pelos acadêmicos do PET-Saúde, amplia a inserção destes no contexto social. Para Rodrigues et al. (2011), isso é importante, uma vez que a reforma do setor saúde torna a capacitação de recursos humanos um desafio mediante a transitoriedade do saber e das mudanças no mundo do trabalho. Rodrigues et al. (2012) afirmam que o PET-Saúde prenuncia ser uma grande promessa para o aprimoramento da Atenção Básica, visto que traz propostas inovadoras para a ESF, fundamentadas nos princípios e diretrizes do SUS, além de possibilitar a construção de uma nova alternativa de educação e extensão, quebrando o modelo tradicional de ensino. Conclusão O PET- Saúde, em toda a sua essência, é uma projeto que tem marcado a vida de várias pessoas; ele proporciona a troca mútua entre profissionais do serviço, professores, acadêmicos e comunidade. As atividades de ensino, pesquisa e extensão contribuem para um crescimento integrado dos acadêmicos, que aprendem fundamentos essenciais para sua vida profissional, sendo preparados para atuar na comunidade, sobretudo em serviços de saúde. O programa tem contribuído para a disseminação do conhecimento, prevenção de doenças e promoção da saúde para a comunidade. A interdisciplinaridade eleva o PET a um estado de excelência, criando a oportunidade de construção do conhecimento sob diversas visões não só humanas, mas também profissionais. Referências ASSEGA, M.L.; LOPES JUNIOR, L.C.; SANTOS, E. V.; ANTONIASS, R. S.; PADULA, M. G. C.; PIROLO, S. M. A interdisciplinaridade vivenciada no PET-Saúde. Revista Ciência & Saúde, Porto Alegre, v. 3, n. 1, p. 29-33, 2010. BRASIL. 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O principal fator das doenças cardiovasculares é a hipertensão arterial sistêmica (HAS). A HAS é conceituada como uma enfermidade que se caracteriza pelos níveis elevados e sustentados da pressão arterial (PA), que em geral estão associadas a alterações funcionais e estruturais dos órgãos-alvo, somado a modificações metabólicas (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2010). Os fatores de risco relacionados à hipertensão podem ser classificados em fatores não modificáveis (sexo, idade, cor da pele, antecedentes familiares) e modificáveis (diabetes mellitus, tabagismo, etilismo, sedentarismo, obesidade/sobrepeso, consumo de sal, hipercolesterolemia, escolaridade, estado civil e renda familiar) (HARTMANN et al., 2007; LESSA et al., 2004). A literatura atual já mostra vários estudos que procuraram associar a relação entre o menor nível socioeconômico e a maior prevalência de doenças crônicas, em especial a hipertensão arterial (BRAVEMAN et al., 2010; DANAEI et al., 2011). Contudo, trabalhos realizados no Brasil que exploraram a renda como um componente diferenciador no controle da PA são escassos, particularmente para o Nordeste brasileiro (OLIVEIRA, 2010). Segundo Fonseca e Viana (2007), o Brasil efetivou um dos maiores programas assistenciais de transferência de renda da América Latina e Caribe, o Programa Bolsa Família (PBF). Desta forma, o objetivo deste trabalho foi analisar a influência da renda e do PBF no controle da PA. Materiais e Métodos Neste trabalho foi feito um estudo observacional, de corte, transversal, baseado nos dados primários do projeto de Paes (2009) intitulado “Desempenho do Programa de Saúde da Família comparado com o das Unidades Básicas de Saúde no controle da Hipertensão Arterial Sistêmica e fatores associados em Municípios do Estado da Paraíba: Um estudo de coorte longitudinal”. A amostra foi constituída de usuários cadastrados no Programa HIPERDIA entre os anos 2006 e 2007, maiores de 19 anos, de ambos os sexos da cidade de João Pessoa. A amostragem foi por conglomerado em dois estágios. No primeiro estágio foram selecionadas 36 Unidades de Saúde da Família (USF) em João Pessoa, com probabilidade proporcional ao tamanho de cada Distrito Sanitário e de forma sistemática. No segundo estágio, foi realizada a seleção de hipertensos de forma aleatória e ponderada. Foi calculado um tamanho amostral representativo do município de João Pessoa, com base no processo de amostragem casual simples, considerando uma população de hipertensos cadastrados N=43.953. O parâmetro de sucesso foi com prevalência p=0,119, nível de confiança de 95% e margem de erro amostral 277 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar máximo ε = 0,035 (3,5%), resultando em uma amostra de 327 usuários. Por questão de ajuste na divisão das USF selecionadas, foram acrescentados na amostra total 33 (9,17%) indivíduos. A amostra final foi de 360 hipertensos, sendo divididos 10 hipertensos para cada USF. Contudo, houve desistências, resultando em uma amostra final de 343 hipertensos. A amostra foi estratificada por renda per capita em quatro grupos: os indivíduos que receberam o bolsa família foram agrupados no grupo G1, os indivíduos com renda ≤R$140,00 no grupo G2, os que tiveram renda entre R$140,01 a R$519,29 no grupo G3 e os que tiveram renda ≥ R$519,30 no grupo G4. Para coleta da renda, número de moradores na residência e idade, foi utilizado um questionário sociodemográfico. Para medida da PA, foi utilizado esfigmomanômetro aneroide da marca Missouri® (Embu-SP, Brasil), e foi seguido rigorosamente o procedimento descrito pela VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA; SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO; SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2010). Para medida da massa corporal, foi utilizada uma balança portátil da marca Plenna®, modelo HON00823. Na medição da altura, da circunferência de cintura e de quadril foi utilizada uma trena flexível da marca Cescorf®. Todos os instrumentos foram previamente calibrados. O estudo atendeu às exigências do Conselho Nacional de Saúde (Resolução 196/96) para pesquisas envolvendo seres humanos, sendo aprovado pelo Comitê de Ética de Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba sob Protocolo nº 0101/2009. Os usuários do programa HIPERDIA foram informados quanto aos objetivos da pesquisa e que a mesma não envolveria risco à saúde e, para aderir ao estudo, foi solicitada a assinatura do termo livre esclarecido. Foram utilizados os testes de Kolmogorov-Smirnov e de Levene para análise de normalidade e homocedasticidade dos dados, respectivamente. Também foi utilizado para analisar a normalidade dos dados o gráfico quantil-quantil (Q-Q plot). Para as variáveis que apresentaram valores normais e homocedásticos, foi utilizado teste de ANOVA one-way. Havendo diferenças estatísticas, era realizado o teste post hoc de Tukey HSD. Para as variáveis não normais e/ou heterocedásticas foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis. Ocorrendo diferenças estatísticas, foi usado o teste post hoc de Mann-Whitney. Todos os testes foram analisados no software Statistical Package for Social Sciences (SPSS®) versão 20.0 (SPSS Inc., Chicago, IL, USA). Resultados e Discussão Para testar a qualidade das informações coletadas foi realizado o confrontamento das bases de dados digitalizadas por dois digitadores, pois é frequente a adulteração dos dados durante a sua digitalização. Também foi realizada a análise de consistência dos dados pelo gráfico de Boxplot, para descartar qualquer valor outlier. As únicas variáveis que assumiram a hipótese nula para os testes de normalidade e homocedasticidade foram: idade, massa corporal e relação cintura/quadril. Portanto, somente estas variáveis foram analisadas pelos testes paramétricos. O grupo G1 apresentou a menor média de idade, porém IMC, circunferência de cintura, circunferência de quadril, PAS, PAD foram os maiores, conforme Tabela 1. Isto representa a relação inversa entre renda e medidas antropométricas e PA. No teste da ANOVA resultou que a massa corporal e a relação cintura/quadril não apresentou diferença estatística entre os grupos, com p-valor 0,521 e 0,173, respectivamente. A idade apresentou diferença estatística com p-valor de 0,015. No teste post hoc de Tukey 278 HSD para idade, foi demonstrado que há diferença estatística entre o grupo que recebe bolsa família (G1) e os grupos G3 e G4, pois o p-valor foi < 0,05. No teste de Kruskal-Wallis foi observado que IMC, a circunferência de cintura, circunferência de quadril e o PAD não apresentaram diferenças estatísticas, com p-valor de 0,200, 0,581, 0,384 e, 0,184 respectivamente. Apenas a variável PAS apresentou diferença estatística com p-valor 0,027. O teste post hoc de Mann-Whitney, para a variável PAS não foi capaz de observar as diferenças estatísticas, com p-valor de 0,256, 0,645 e 0,152 para a diferença entre o G1 e os grupos G2, G3 e G4, respectivamente. De acordo com os resultados deste estudo, a renda disponibilizada pela bolsa família não foi suficiente para controlar a PA e diferenciar as médias de PAS e PAD entre os grupos. Nota-se que o grupo que recebe bolsa família apresenta média de PAS de 159,37, enquanto que o grupo com maior renda (G4) apresenta média de 136,74, passando pelo grupo G3 com média de 142,37. Área - Ciências da Saúde Tabela 1- Média e desvio-padrão de indivíduos hipertensos segundo variáveis demográficas, antropométricas, pressão arterial e renda familiar, João Pessoa, 2009. Variáveis G1 Média±DP G2 G3 G4 Média±DP Média±DP Média±DP Idade 54,34±13,69#† 59,03±13,57#† 60,22±13,80#† 63±12,00#† Massa Corporal 71,77±17,24 69,35±15,07 70,41±13,49 67,76±13,41#† Estatura 153,24±8,30 155,16±7,69# 154,11±10,64# 154,56±7,17 IMC 30,47±6,65 28,69±5,77 30,26±11,54 28,35±5,31 Circ. Cintura 100,59±14,17 Circ. Quadril 106,58±15,42 RCQ #† #† #† 96,86±13,80 # 99,19±11,28 98,79±11,33 103,58±11,48 102,84±10,44 104,45±11,98† 0,946±0,81#† 0,9456±0,12#† 0,9713±0,11#† 0,9502±0,09#† PAS 145,91±26,45 150,15±25,14# 142,37±23,66# 136,74±17,52 PAD 89,19±15,97 87,01±15,86 85,17±13,59 83,04±11,13 Bolsa Família 83,40±39,57 † † † # # - - - Renda Total 715,04±433,47 † 438,61±188,49 1124,61±585,99 3024,85±1719,59† Renda per capita 177,33±118,45† 199,23±34,64#† 317,46±114,77#† 913,5±441,38#† #† #† Fonte dos dados básicos: Paes (2009) # Teste de Normalidade de Kolmogorov-Smirnov com p-valor >0,05 † Teste de Homocedasticidade de Levene com p-valor >0,05 Nota: G1 – grupo de indivíduos que recebem bolsa família; G2 – grupo com renda ≤R$140,00; G3 – grupo com renda entre R$140,01 a R$519,29; G4 – grupo com renda ≥R$519,30. IMC- índice de massa corporal; Circ.– Circunferência; RCQ- elação cintura/quadril. PAS- pressão arterial sistólica; PAD- pressão arterial diastólica. O trabalho de Kaplan et al. (2010) mostrou que as pessoas socialmente menos favorecidas eram aquelas que possuíam os maiores valores de média da PA. Nosso estudo, apesar de não ter obtido diferenças estatísticas entre os grupos de diferentes rendas, mostrou que os indivíduos socioeconomicamente menos favorecidos eram aqueles que estavam inseridos no grupo com a maior média de PA (Tabela 1). Esta situação já foi observada por Danaei et al. (2011) que concluíram que a pressão arterial sistólica é maior nos países classifica- dos como de baixa e média renda. O aumento da PA pode ser justificado pela modificação nos hábitos alimentares disponibilizado pela renda do PBF. Lignani et al. (2011) mostraram que indivíduos beneficiados pelo PBF tiveram um aumento no consumo de açúcar, café, gorduras, feijão e bebidas doces, como refrigerantes. Isto resultou em um perfil antropométrico desfavorável, favorecendo um maior surgimento de doenças crônicas nesta população (BRAVEMAN et al., 2010). Conclusões Apesar do grande benefício à saúde das crianças e lactente dedicadas ao auxílio do PBF, ele não foi suficiente para controlar a PA no grupo G1. Isso representa uma limitação do valor do recurso, pois o resultado deste estudo e da literatura mostra a relação inversa entre renda familiar e PA, com fatores de risco elevados na população que recebe o auxílio do PBF. Uma medida que poderia ser tomada seria o aumento no valor do benefício do PBF. Desta forma, a fa- mília atendida pelo Programa teria maiores opções de aquisição de bens e serviços, além de melhores medidas de autocuidado de saúde. Outra forma de atenuar valores da PA seria por meio de campanhas educativas promovidas pela equipe de saúde da família, com foco no uso racional do recurso do PBF para um direcionamento de gastos com hábitos saudáveis. Referências BRAVEMAN, P. A.; CUBBIN, C.; EGERTER, S.; WILLIAMS, D. R.; PAMUK, E. Socioeconomic disparities in health in the United States: what the patterns tell us. Am. J. 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Geneva: WHO, 2011. 280 Área - Ciências da Saúde AVALIAÇ ÃO DO ACESSO AOS CUIDADOS DE SAÚDE EM UM MUNICÍPIO NO NOR TE DO ESTADO DE MINAS GER AIS Orlene Veloso Dias Patrícia Alves Paiva Rosângela Barbosa Chagas Lais Helena Ramos Ludmila Pereira Macedo Rogério Gonçalves da Rocha Tatiana Carvalho Reis [email protected] Introdução O sistema institucional de saúde avançou muito com a promulgação da Constituição Federal, garantindo a saúde como direito de todos e dever do Estado; porém; na prática, apresenta obstáculos no atendimento das necessidades de saúde da população. Acesso é um conceito complexo, muitas vezes empregado de forma imprecisa e pouco claro na sua relação com o uso de serviços de saúde. Enquanto Donabedian (1973) utiliza o substantivo acessibilidade como caráter ou qualidade do que é acessível, outros autores preferem o substantivo acesso como ato de ingressar, de dar entrada, ou ambos os termos para indicar o grau de facilidade com que as pessoas obtêm cuidados de saúde (MINAS GERAIS, 2008). A Organização Mundial de Saúde (OMS) (1981) recomenda que a definição do que seja “acessível” deva ser adaptada a cada realidade e a cada região. O primeiro ponto de contato do indivíduo com o sistema de saúde, a atenção primária, deve ser de fácil acesso para a população, sendo a porta de entrada ao sistema de saúde (STARFIELD, 2002). No Brasil, foi instituído o Sistema Único de Saúde (SUS) que assegura a todos os cidadãos o acesso aos serviços de saúde organizados por meio de redes de atenção, coordenado pela atenção primária (MENDES, 2007). A incorporação da prática de avaliação dos serviços de saúde busca cumprir os objetivos básicos de subsidiar o planejamento e instrumentalizar a gerência dos serviços de saúde. A epidemiologia fornece informações essenciais para a tomada de decisões na gestão em saúde e formulação de políticas públicas. Os inquéritos de base populacional possibilitam compreender melhor o modelo de utilização dos serviços e a caracterização dos seus usuários, permitindo conhecer e aplicar, de forma efetiva, os seus resultados na prática de saúde. O presente estudo objetivou analisar o acesso aos serviços de saúde na população de Montes Claros, Minas Gerais. Metodologia Trata-se de um estudo transversal, exploratório, de base populacional, desenvolvido na cidade de Montes Claros, ao Norte do Estado de Minas Gerais. A população alvo foi definida pelos indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos no momento da pesquisa. Foram considerados elegíveis para o estudo os indivíduos residentes nos domicílios selecionados, que aceitaram participar da pesquisa. Para a definição do tamanho da amostra, considerou-se uma população de 360.000 habitantes (IBGE, 2010). O nível de confiança utilizado foi de 95% e a margem de erro amostral de 3%. Assim, o tamanho da amostra final foi de 2.150 indivíduos. No processo de alocação da amostra, primeiramente houve a seleção dos setores censitários, de forma proporcional entre setores rurais e urbanos, com sorteio de 43 setores censitários. Em seguida, definiu-se aleatoriamente um ponto inicial para coleta dos dados, a partir do qual foram visitados 50 domicílios, em sentido horário. Em cada domicílio visitado sorteava-se o nome de um dos moradores para a coleta dos dados. Caso a pessoa sorteada não estivesse presente no momento, duas 281 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar novas visitas eram conduzidas. As entrevistas foram realizadas entre agosto de 2010 e julho de 2011. O instrumento de coleta de dados foi o questionário de monitoramento de fatores de risco para doenças crônicas proposto pelo Ministério da Saúde, já validado e aplicado em 15 diferentes capitais brasileiras (BRASIL, 2008). O questionário foi adaptado, mantendo a maioria das variáveis utilizadas em outros inquéritos. A variável resposta foi acesso. As variáveis independentes foram: sexo (dicotômica), idade (em anos completos), cor, estado civil (casado, solteiro, divorciado e viúvo) e escolaridade. Os dados foram processados em arquivos digitalizados por meio do software SPSS® for Windows versão 19.0. Os aspectos éticos da pesquisa foram considerados conforme a Resolução nº 196/96 da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. A pesquisa foi autorizada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros, sob o nº1728/2009. Resultados Participaram do estudo 2150 indivíduos. Foram registradas 380 recusas. Dos indivíduos estudados, 1367 (63,3%) eram mulheres. A média de idade foi de 43,58 anos (desvio padrão = 16,85). A amostra foi composta por 1251 (58,2%) pessoas que se autoreferiram pardas e 1250 (55,8%) que tinham mais de oito anos de estudo. Houve predomínio de indivíduos solteiros (1811; 84,2%) (Tabela 1). Tabela 1: Distribuição das características da população adulta, de acordo com as variáveis de estudo. Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2010/2011(n= 2150). Variável N % 1367 783 36,4 Sexo Feminino Masculino Idade 18-29 30-39 40-49 50-59 Igual ou > 60 Raça/Cor Branco (a) Preto (a) Amarelo (a) Pardo (a) Indígena Situação Conjugal Sem companheiro Com companheiro Escolaridade < de 8 anos >de 8 anos 547 434 394 334 441 63,6 25,5 20,2 18,3 15,5 20,5 562 277 54 1251 6 26,1 12,9 2,5 58,2 0,3 1811 339 15,8 900 1250 55,8 84,2 44,2 Fonte: Dados primários. Pode-se observar, na Tabela 2, que 779 (36,2 %) dos entrevistados responderam que possuem plano de saúde. Quando questionados “Você procurou algum 282 profissional de saúde ou serviço público de saúde para atendimento nas últimas 02 semanas?”, 1730 (80,5%) dos entrevistados disseram que não. Área - Ciências da Saúde Tabela 2. Distribuição dos entrevistados em relação ao acesso e uso dos serviços de saúde (n= 2150). Montes Claros, Minas Gerais, Brasil, 2010/2011(n= 2150). Variáveis Categorias n (%) Plano de Saúde Sim Não Sim Não 779 1371 420 1730 36,2 63,8 Procurou profissional de saúde/serviço público de saúde nas últimas duas semanas 19,5 80,5 Fonte: Dados primários Discussão Observou-se que 779 participantes têm plano de saúde, perfazendo um percentual de 36,2%. Em 2008, o VIGITEL apontou 41,8% de cobertura nas capitais (BRASIL, 2008), enquanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) evidenciou 25,9% de cobertura de planos no Brasil, o que cobre cerca de 49,1 milhões de usuários (IBGE, 2010). Em estudo realizado no Brasil, foi observado que 38% dos residentes na Região metropolitana de São Paulo procuraram atendimento; no país este valor foi de 29% (estimativa com base na informação para os últimos 15 dias) (BARATA, 2008). Neste estudo observouse um percentual menor de procura do serviço público de 19,5%. Tal fato pode estar associado à prevalência de jovens e adultos jovens na amostra da pesquisa. Destaca-se que a prevenção tem sido negligenciada, considerando que a maior procura pelos serviços de saúde relatada pelos entrevistados foi o tratamento ou reabilitação de doenças. Considerando este resultado, cabe aos profissionais intensificar as ações de educação em saúde, a fim de promover hábitos saudáveis e prevenção de doenças. A Atenção Primária a Saúde (APS) tem sido a porta de entrada da população de Montes Claros ao SUS, como preconizado pela pesquisadora Starfield, que afirma que a Atenção Primária à Saúde deve ser orientada pelos seguintes princípios: primeiro contato; longitudinalidade; integralidade; coordenação; abordagem familiar; enfoque comunitário (STARFIELD, 2002). Em pesquisa realizada na cidade de São Paulo, os autores observaram que 46% dos usuários consideraram fácil conseguir uma consulta na unidade. Na mesma pesquisa, foi identificado que, quando foram questionados se recomendariam a unidade para um conhecido ou amigo, 77% referiram que sempre recomendariam a unidade que utilizam (SALA et al., 2011). Estes achados assemelham-se com os resultados do presente estudo, evidenciando satisfação dos usuários com os serviços utilizados. Foi identificado que as mulheres usam mais do que os homens os serviços de saúde, independentemente de este ser público ou privado. Segundo Schraiber (2005), na Estratégia Saúde da Família de Recife, Pernambuco, é atribuída à mulher a condição de usuária privilegiada; pelo fato de usar mais os serviços, como por ser alvo preferencial de intervenções. Em relação aos anos de estudo, a distribuição observada para os usuários de planos de saúde foi a esperada, ou seja, menor proporção nas faixas de escolaridade mais baixa e concentração dos indivíduos nas mais altas. Em estudo realizado em São Paulo, a proporção de usuários de serviços pagos com 08 a 10 anos de escolaridade foi semelhante à deste estudo (BARATA, 2008). Comparando-se as taxas de utilização dos serviços de saúde entre usuários do SUS e clientes de planos de saúde, com a distribuição da população segundo anos de estudo, observa-se que, entre os usuários do SUS, há maior proporção de indivíduos nas faixas de menor escolaridade do que os do plano de saúde. Resultado semelhante foi encontrado em estudo realizado na região metropolitana de São Paulo (BARATA, 2008). Desigualdades no acesso à atenção em saúde relacionam-se a fatores socioculturais, como classe ou estrato social (SILVA; PAIM; COSTA, 1999), gênero (SCHRAIBER, 2005) e cor, que interferem na organização dos sistemas e serviço de saúde e na forma como são travadas relações entre usuários e trabalhadores nas unidades de saúde (SCHRAIBER, 2005). A universalidade da atenção, prevista na Lei 8080 (1990), presume a formulação de um modelo social ético e equânime balizado pela inclusão da participação social. O impasse vivenciado com a concretização do acesso universal aos serviços de saúde exige um esforço permanente na defesa da saúde como um bem público, tendo a saúde como direito individual e coletivo (ASSIS; VILLA; NASCIMENTO, 2003). Conclusão Os resultados deste estudo reforçam a ideia de que a operacionalização de políticas de acesso uni283 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar versal a cuidados de saúde demanda monitoramento que busque identificar diferenças no acesso e na continuidade do uso de serviço de saúde; adequar o atendimento às especificidades dos cidadãos e plane- jar ações voltadas à promoção da saúde e prevenção de doenças, por meio da diminuição das condições de vulnerabilidade de pessoas ao adoecimento e morte. Referências ASSIS, M. M. A.; VILLA, T. C. S.; NASCIMENTO, M. A. A. Acesso aos serviços de saúde: uma possibilidade a ser construída na prática. Ciência & Saúde Coletiva. v. 8, n. 3, p. 815-823, 2003. BARATA, R. B. Acesso e uso de serviços de saúde: considerações sobre os resultados da Pesquisa de condições de vida 2006. São Paulo em Perceptiva. v. 22, n. 2, p. 19-29, 2008. BRASIL. 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A fragilidade manifestada pelo paciente no ambiente hospitalar torna prejudicada a capacidade do autocuidado, e nesta etapa se insere a enfermagem, que atua considerando o tripé “bem-estar, conforto e equilíbrio” para o cliente e auxilia no processo de reabilitação (KAHLOW; OLIVEIRA, 2012). O corpo exige uma rotina de cuidados que integra cada membro como único e como parte de um conjunto. Observa-se que um tema bastante destacado na enfermagem é a higiene corporal e quando discutido, esta é uma profissão sempre lembrada, pois realiza essa atividade rotineiramente na prática assistencial. A higiene e, de modo especial, a higiene corporal têm apresentado conceitos valorizados pela enfermagem ao longo do tempo e têm se apoiado em fundamentos científicos para desenvolver sua prática profissional. Em relação à higiene, destaca-se a limpeza da cavidade oral na assistência de enfermagem. Caldeira e Cobucci (2011) dizem que, no momento da internação, é importante a avaliação da cavidade oral dos pacientes para que a equipe de enfermagem planejar a assistência, estabelecendo metas. Porém, percebe-se que, na prática, a assistência de higiene do corpo através do banho é bastante observada com muitas discussões e trabalhos, mas, em alguns momentos, não se destaca a higiene oral, incluindo a higiene dos dentes e da língua. Jerónimo (2013) afirma que a cavidade oral humana é composta por diversas bactérias que se encontram nos dentes, língua, gengivas, sulcos gengivais e mucosa bucal. Estes microrganismos podem se formar pelos restos alimentares que podem ser depositados no dorso da língua, onde se associam com células descamadas e micro-organismos formando a saburra lingual. Num período de 24 horas sem higienização da cavidade bucal pode-se observar a formação de placa bacteriana. Manter a cavidade bucal saudável, ou seja, limpa, é um cuidado imprescindível da equipe de enfermagem (ARAÚJO et al., 2009). A higiene oral é importante para que essa colonização seja controlada. Não somente a escovação, mas também a correta higienização com limpador de língua. O paciente que está acamado é vulnerável a problemas bucais, incluindo qualidade de vida afetada pela higienização ineficaz da língua. Em alguns momentos durante a internação, os cuidadores/acompanhantes participam do processo de ajuda aos cuidados pessoais do paciente. Zagabria et al. (2008) acrescenta que acompanhantes auxiliam na execução dos cuidados que vão dos mais simples aos mais complexos, dos esporádicos aos mais frequentes. Sem dúvida, a higiene bucal está inserida nesse processo de cuidados. A equipe de enfermagem é parte integrante deste processo, oferecendo a promoção de melhorias na saúde e prevenção de doenças através de orientações quanto à prática de higiene bucal para pacientes internados, divulgando o uso correto de limpadores de língua, e principalmente proporcionando qualidade de vida para os pacientes acamados. Para tanto, ressalta-se a importância de discussões na prática profissional de enfermagem e no âmbito acadêmico referente à higiene bucal. Esta pesquisa foi produzida a partir da realização de um projeto de extensão universitária que foi realizado por discentes do curso de enfermagem da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no qual desenvolviam atividades voltadas para a prática educativa de higiene bucal. Portanto, este trabalho apresenta como objetivo principal realizar discussões para facilitação da prática de higiene bucal 285 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar e reflexões referentes a essa técnica, e apresentar os resultados da pesquisa realizada com o limpador de língua de baixo custo, enfatizando a sua eficácia na prática diária para remoção da saburra lingual, bem como seu impacto na melhora da saúde bucal dos indivíduos e consequente qualidade de vida. Material e Método Este é um estudo do tipo experimental de caráter quantitativo. Apresentou como população pacientes internados em um hospital público do município de Guanambi, do estado da Bahia. A amostra foi composta de pacientes que estavam internados no setor de clínica médica e cirúrgica e seus acompanhantes/ cuidadores no período de agosto a dezembro de 2013. Utilizou como critérios de inclusão pacientes maiores de 18 anos, que apresentavam o dorso da língua íntegro e que assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Quanto aos pacientes que não poderiam assinar o TCLE foi realizado assinatura e liberação para o trabalho pelo seu acompanhante/cuidador e foram incluídos na pesquisa os que apresentavam mais de 18 anos. Para a realização deste trabalho, foi proposta a criação de limpadores de língua que foram confeccionados a partir de tampas de galões de água de 20 litros. A tampa de galão de água é de plástico pouco rígido, mas maleável, que possibilita o recorte com tesouras manuais simples de cerca de 0,7 cm de largura. É liso (no recorte não há rebarbas) não possibilitan- do ferimentos, e o formato já é redondo, permitindo, quando recortados em forma ovalada, ideal para limpeza da língua. Posteriormente este limpador foi esterilizado no Centro de Material Esterilizado (CME) do referido hospital e foi utilizado um equipamento de esterilização de termossensíveis. Como instrumento para coleta de dados foram utilizados questionários semiestruturados, antes e após as intervenções do uso do limpador de língua, sendo o primeiro para analisar o nível de conhecimento que o público-alvo possui sobre o assunto, utilizando-se de perguntas acerca do material utilizado para realização da higiene bucal, forma de realização da higiene de língua e conhecimento sobre o limpador de língua; e o segundo, para avaliar a eficácia do limpador de língua. Todo o trabalho foi avaliado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) conforme parecer de número CAAE 23032613.4.0000.0057. Para avaliação dos dados foi utilizado o programa estatístico StatisticalPackage for Social Science for Windows (SPSS ®). Resultados e Discussão Para a higienização bucal, os participantes informaram que utilizavam principalmente o uso de escova dental (96,8%). Destaca-se que houve também a referência do uso de gaze e espátula (3,2%) para a realização da higiene oral, em pacientes que estavam acamados e inconscientes. Esse resultado demonstra que o uso do dispositivo limpador de língua não é utilizado rotineiramente na prática da higiene bucal. Ressaltamos que esta higienização pode ser realizada com o uso da escova dental, porém, quando afirmado o uso apenas da gaze com espátula, é um dado negativo, pois esse dispositivo não é ideal para limpeza de língua. Corroborando Santos et al. (2011), a utilização de recursos providos de espuma ou de espátulas envoltas em gaze para higiene bucal, caracterizada por intervenção mecânica, não é efetiva na remoção de placa dentária já desenvolvida. Em relação à higienização de língua, apenas 61,3 % realizam a limpeza nesse local e utilizam como dispositivo a escova dental. Nenhum participante referiu a utilização do limpador de língua. Santos et al (2013), realizaram um estudo com grupo experimental (usando limpador lingual) e grupo controle (sem higienização da língua), em pacientes sob ventilação mecânica. 286 Foi realizada cultura de secreção oral e traqueal do grupo experimental (inicialmente e após 5 dias) e do grupo controle (em momento único) para avaliar as modificações na flora bacteriana. Eles concluíram que o uso do limpador de língua é um mecanismo efetivo na redução do biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica, além de facilitar a ação dos cuidadores para ações de higiene bucal. Essa efetividade se aplica também à pacientes de outros setores hospitalares, que não seja a UTI, evidenciado pela vivência dos pesquisadores deste estudo. Outro dado relevante é a informação que a maioria dos indivíduos (77,4%) não conhecia um limpador de língua e também não sabia a maneira correta de utilizá-lo (83,9%). Segundo Navas et al. (2009), pode-se relacionar essa falta de informação à questão cultural, pois a prática de higienização da língua com o limpador não constitui hábito da população em geral. Após o uso por três dias do limpador de língua confeccionado pelas autoras, foi realizada a etapa de avaliação do limpador de língua com impacto na saúde bucal. Conforme abaixo: Área - Ciências da Saúde Tabela 1. Avaliação do limpador de língua pelos participantes da pesquisa realizada em um Hospital Público no período de agosto a dezembro de 2013. Variável N % OPINIÃO SOBRE O LIMPADOR Excelente Bom Ruim Total 19 10 29 65,5 34,5 100 O LIMPADOR FUNCIONA? Sim Parcialmente Não Total 29 29 100 100 A SAÚDE BUCAL MELHOROU? Sim Parcialmente Não Total 26 03 29 89,7 10,3 100 PRETENDE USAR O LIMPADOR EM CASA? Sim Talvez Não Total 29 29 100 100 O limpador de língua foi bem aceito pela população, pois foi classificado como excelente para a retirada da saburra. Este dispositivo tem essa característica e funcionalidade, permitir a retirada da saburra lingual. Na língua, o biofilme é também conhecido como saburra. Santos et al. (2013, p. 45) definem a língua saburrosa como “(...) alteração relativamente comum, é formada basicamente por restos alimentares, células descamadas, fungos, bactérias e enzimas ativas que participam do processo da digestão”. Se o indivíduo fica um longo período sem realizar a limpeza da língua, essa saburra começa a se formar e se agrava quanto à sua consistência, localização e coloração, refletindo na saúde bucal. Os benefícios de uma boca saudável foram outro dado positivo para o limpador de língua confeccionado, promovendo a melhoria da saúde bucal, pois, segundo os participantes, a boca tornou-se mais saudável. Em relação à manutenção do uso do limpador de língua oferecido, todos os participantes declararam que pretendem utilizar o limpador de língua em seu domicílio. Este é um bom reflexo, pois possibilitará o acréscimo deste dispositivo na prática da higiene de língua, consequentemente melhoria na qualidade de vida. Uma boa ou má higiene bucal também interfere diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Pereira (2010) pronuncia em sua dissertação que a saúde bucal está integrada à saúde geral, que é considerada essencial para a qualidade de vida. Conclusões As considerações finais apontam que esta pesquisa é de relevância social, científica e ambiental. No âmbito social, configurou como uma iniciativa de grande valor, pois promoveu melhorias no que se refere à saúde com as discussões da higiene bucal, permitindo a criação de um dispositivo para a limpeza da língua que melhora a saúde bucal dos clientes e que seja de fácil aquisição e baixo custo. No aspecto científico, permitiu a criação de trabalhos nessa área, pois foi observada dificuldade de disponibilidade de materiais científicos no contexto da enfermagem no cuidado à saúde bucal. De cunho ambiental, sobressai a viabilização de criação de um limpador de língua a partir de tampas de galão de água mineral, material este que seria descartado, proporcionando um novo uso. 287 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências SANTOS, L. M. et al. Higiene oral em crianças ventiladas mecanicamente na unidade de cuidados intensivos: análise de uma prática. Revista de Pesquisa:Cuidado fundamental online. Rio de Janeiro, v. 3, n. 3, p. 2320-28, 2011. SANTOS, P. S. S. et al. Impacto da remoção de biofilme lingual em pacientes sob ventilação mecânica. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. São Paulo, v. 25, n. 1, p. 44-48, 2013. NAVAS, E. A. F. et al. 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A função endotelial, por sua vez, avalia a integridade vascular, a fim de rastrear possíveis injúrias, que no paciente diabético são típicas (FORGIARINI et al. 2009) Segundo Barbosa et al. (2010), a produção de radicais livres constitui um processo contínuo e fisiológico, cumprindo funções biológicas relevantes quando em proporções adequadas; porém, a produção excessiva destes pode conduzir a danos oxidativos. O problema no paciente diabético, portanto, seria exatamente uma hiperprodução de tais compostos. Assim, para se evitar esta produção excessiva de radicais livres e os danos decorrentes do aumento destes, o organismo biológico desenvolveu mecanismos de defesa antioxidantes que objetivam limitar os níveis intracelulares de tais espécies reativas produzidas continuamente para cumprir suas principais funções biológicas, que são: possibilitar a geração de ATP (energia) por meio da cadeia transportadora de elétrons e atuar como mediador para a transferência de elétrons nas várias reações bioquímicas que ocorrem durante os processos metabólicos (HALLIWELL, 2004). Ainda para Barbosa et al. (2010), quando ocorre um desequilíbrio entre compostos oxidantes e antioxidantes instala-se um processo de estresse oxidativo que conduz à oxidação de biomoléculas, com consequente perda de suas funções biológicas e/ou desequilíbrio ho- meostático, gerando dano oxidativo potencial em células e tecidos. Esse desequilíbrio ocorre como resultado da geração excessiva de radicais livres ou em detrimento da ineficácia da velocidade de remoção desses (VELLOSA, 2013). A cronicidade do estresse oxidativo implica processo etiológico de numerosas enfermidades crônicas não transmissíveis, entre elas o diabetes (HALLIWELL, 2004). Com este desbalanço, temos alterações conformacionais em proteínas, carboidratos, lipídios e sobretudo no DNA celular. No diabetes, os compostos instáveis de oxigênio estão aumentados desde as fases mais iniciais da doença, havendo ainda agravamento dos seus efeitos deletérios e aumento dos seus níveis séricos com a progressão clínica da patologia. O aumento do desbalanço de glicose intracelular é um fator determinante ao dano tecidual gerado pelo diabetes, tendo o estresse oxidativo uma importância significativa neste processo. A glicose, ainda, sofre uma auto-oxidação, sendo este fato um agente também responsável pela formação de radicais livres (FORGIARINI et al., 2009). Assim, tem sido apontado que o ânion superóxido mitocondrial tenha por função iniciar uma série de eventos em sequência que tem como mediador final uma maior produção de compostos reativos de oxigênio, além de espécies reativas de nitrogênio sob a ativação do NFKB, com a produção, ainda, de citocinas inflamatórias, além da ativação do PKC (proteinoquinase C) e do nicotinamida adenina dinucleotídeo NADPH oxidase. A PKC ativada tem por função desempenhar papéis de regulação vascular, tais como permeabilidade vascular, proliferação celular, contratilidade, produção de matriz extracelular e transdução de sinais para a produção de citocinas. De modo análogo, os principais mediadores das complicações crônicas do diabetes podem gerar um estado de desequilíbrio 289 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar entre os mecanismos epigenéticos, o que acaba por afetar a estrutura da cromatina e a expressão gênica. Sob persistência desta desregulação, poder-se-ia explicar o mecanismo de memória metabólica (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004). O ânion superóxido tende ainda a inativar o NO (óxido nítrico) que é derivado do endotélio. Consequentemente, gera-se um estado de disfunção endotelial; alteração esta a mais precocemente detectável dentre as doenças vasculares. Complementarmente, no endotélio de pacientes com diabetes, o óxido nítrico sintase, enzima responsável pela formação do NO, pode direcionar a produção de superóxido em detrimento à produção de NO sob condições de deficiênia de arginina ou tetraidropterina. Quando ambos os compostos estão sintetizados, ocorre formação de peroxinitrito, um elemento formador de dano a estruturas celulares (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004). Os compostos instáveis de oxigênio são estabilizados através de um sistema antioxidante que inclui uma série de enzimas reguladoras, a saber: superóxido dismutase, glutationa peroxidade e catalase. De modo quantitativo, a albumina e o ácido úrico são os principais compostos antioxidantes (BARBOSA, 2010). Atualmente, uma série de fatores plasmáticos e urinários são tidos como marcadores de disfunção endotelial, podendo ser aplicados à rotina clínica como preditores de doença cardiovascular. Tem-se FVW (Fator de Von Willebrand), PAI-1 (Inibidor do ativador do plasminogênio), albimunúria, endotelina 1, PCR, homocisteína e outros compostos relacionados à coagulação: fibrinólise, inflamação e regulação do tônus vascular. Assim sendo, uma predição do aumento de compostos reativos de oxigênio seria um indício molecular bastante interessante para se estimar precocemente um dano celular antes mesmo que se instalem clinicamente nos pacientes diabéticos em questão (HALLIWELL; WHITEMAN, 2004). Para Comenetti (2010), atualmente não há consenso sobre qual o método mais útil, mais confiável, mais acurado ou específico para os diferentes tipos de dano oxidativo. Segundo o autor, enquanto os trabalhos de sistematização prosseguem, é útil conhecer os principais marcadores e os métodos mais utilizados para sua quantificação. Sabemos que esta quantificação e utilização como critérios clínicos diretos ainda têm uma perspectiva futura de aplicabilidade. No entanto, faz-se necessário conhecer tais recursos por se tratar de critérios preditivos de alto valor avaliativo. Considerado um marcador com grande potencial, o malondialdeido (MDA) é usado na reação com o ácido iobarbitúrico (TBA); apesar de sua simplicidade e facilidade de execução, o teste do TBA não é específico para o MDA, já que o TBA reage com uma ampla variedade de compostos como açúcares, aminoácidos, proteína, aminas e bilirrubina, e, devido a essa ampla variabilidade, o teste com o MDA é denominado teste das substâncias que reagem com o ácido tiobarbitúrico 290 (Thiobarbituric Acid- Reactive Substances –TBARS), como foi explanado por Grotto et al (2007). Pode-se utilizar também a detecção dos isoprostanos (8-epi-prostaglandina 2alfa,8-epi-PGF2alfa). Para Labaer (2005), os isoprostanos pertencem à família dos eicosanoides, de origem não enzimática, e são resultados da oxidação do ácido araquidônico; formados nos fosfolipídios da membrana celular e pela fosfolipase são liberados no sangue. Conforme Labaer J (2005), os isoprostanos são estáveis na corrente sanguínea e, por esse motivo, são também bons candidatos na avaliação do dano oxidativo, dosados no soro, plasma e urina; este último é o meio mais usado nos testes. Entre as técnicas empregadas para detecção de isoprostanos, destacam-se os radioimunoensaios (radioimmunoeassays - RIA), os imunoensaios enzimáticos (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay --- ELISA). A razão GSH/GSSG é um modo também avaliativo. Para Karen et al. (2007) a glutationa, um tripeptídeo contendo cisteína, desempenha importantes funções em células humanas, especialmente como agente antioxidante. A forma reduzida da glutationa (GSH) mantém os grupos tióis (-SH) das proteínas, reduz ligações dissulfetos (-S-S-) induzidas pelo estresse oxidativo, neutraliza radical livre e detoxifica eletrófilos. Na presença de peróxidos, a GSH intracelular é convertida a glutationa oxidada (GSSG) pela glutationa peroxidase, a qual catalisa a redução destes peróxidos. Por isso, a concentração intracelular da GSH é um indicador da capacidade da célula em manter sua homeostase. Porém, é importante destacar que interferentes analíticos na quantificação de GSH também têm influência em medidas de GSSG e, consequentemente, na determinação da razão GSH/ GSSG como índice de estresse oxidativo (LABAER, 2005). A disfunção endotelial aparece como um denominador comum na fisiopatologia das complicações crônicas no diabetes. Além disso, ainda carece de uma definição precisa pelo fato de a célula endotelial apresentar múltiplas funções. A integridade na produção de NO, que evidencia a vasodilatação dependente do endotélio, pode ser avaliada, principalmente, por estímulos fisiológicos, tais como a hiperemia reativa pós -oclusíva e a hiperemia térmica e, ainda, por estímulos farmacológicos, tais como a resposta vasodilatora após a administração transcutânea de acetilcolina. Por sua vez, a vasodilatação produzida pela admínistração de nitroprussiato de sódio (NPS) ou derivados (doador de NO) reflete a integridade estrutural do vaso, ou seja, a resposta independendo endotélio (LABAER, 2005). O método padrão-ouro e com maior acurácia diagnóstica para a avaliação do fluxo sanguíneo é a mensuração através de cateter intravascular do fluxo coronariano por angiografia por Doppler (TURNER et al., 2008). De uma maneira geral, o custo, a subjetividade, a alta variabilidade e a ausência de validação têm reduzido a confiabilidade de outros métodos funcionais como o ultrassom, a pletismografia e a tomografia com emissão de pósitrons (LABAER, 2005). Área - Ciências da Saúde Em razão da crescente relevância da predição do risco cardiovascular a longo prazo nos pacientes avaliados, vem aumentando o interesse nas técnicas não invasivas de avaliação da função endotelial, uma tentativa de não expor o paciente a efeitos deletérios. Uma série de técnicas podem ser aplicadas, dentre as quais se pode citar a fluxometria por Laser Doppler, a tonometria da artéria periférica (Endo--PAT) e o laser speckle além da imagem de contraste (LSCI), que despontam como técnicas não invasivas promissoras que possuem elevada acurácia diagnóstica e elevado efeito presunti- vo de lesão vascular (TURNER et al., 2008). Hoje, as técnicas de imagens mais desenvolvidas para o estudo da função endotelial, tais como a tomografia com emissão de pósitrons em três dimensões, a ressonância magnética e a ecografia contrastada, apresentam, como principal limitação à sua aplicabilidade, os elevados custos envolvidos. No entanto, tem-se que estas técnicas de imagem possam ser usadas no futuro como critérios presuntivos de avaliação mais presentes à prática clínica (TURNER et al., 2008). Referências BARBOSA, K.; B. F. et al. Estresse oxidativo: conceito, implicações e fatores modulatórios. Rev. Nutr: Campinas, v.23, n. 4, Aug., 2010 . COMENETTI C. Efeitos da suplementação com castanha do Brasil (Bertholletia excelsa H.B.K) sobre o estresse oxidativo em mulheres obesas e sua relação com o polimorfismo Pro198. Universidade de São Paulo; 2010. FORGIARINI JUNIOR, L. A. et al. Estresse oxidativo e alterações estruturais pulmonares no diabetes mellitus experimental. J. bras. pneumol., São Paulo , v. 35, n. 8, Aug., 2009 GROTTO, D. et al. Rapid quantification of malondialdehyde in plasma by high performance liquid chromatography-visible detection. J Pharm Biomed Anal. n. 4, v. 6, p. 619-624, 2007. HALIWELL, B.; WHITEMAN, M. Measuring reactive species and oxidative damage in vivo and in cell culture: how should you do it and what do the results mean? Br J Pharmacol. v. 142, n. 2, p. 231-55, 2004. LABAER, J. Introduction to the special biomarkers issue. Proteome Res, 4. Harvard Institute of Proteomics. p.1053-1059, 2005 VELLOSA, J. C. R. et al. Alterações metabólicas e inflamatórias em condições de estresse oxidativo. Rev. ciênc. farm. básica apl. v. 34, n. 3, set., 2013. 291 Área - Ciências da Saúde ANÁLISE DA PROPORÇ ÃO 2D:4D EM PACIENTES COM FISSUR A L ABIAL E /OU PAL ATINA NÃO SINDRÔMIC A Patrícia Helena Costa Mendes Camila Reis Barbosa Myriam Thatyana Miranda Esteves Clayton Paraíso Macedo Marise Fagundes Silveira Lívia Máris Ribeiro Paranaíba Hercílio Martelli Júnior [email protected] Introdução A proporção entre os dedos indicador e anelar, também chamada 2D:4D ou comprimento digital tem sido considerada como um marcador relacionado a características comportamentais e psicológicas e até mesmo a suscetibilidade de indivíduos a uma série de doenças (HOPP; JORGE, 2011). A diferença entre o segundo e o quarto dedo das mãos é estabelecida na vida intrauterina e sofre pouca ou nenhuma alteração pós-natal. Tal diferença reflete um fator importante – a exposição intrauterina a hormônios sexuais, ao estrógeno, à progesterona e à testosterona (MANNING et al., 2002). Indivíduos que apresentam baixa relação 2D:4D, ou seja, que possuem o dedo indicador menor do que o dedo anelar, apresentam alta exposição à testosterona no útero. Em homens, o segundo dedo tende a ser menor que o quarto. Já em mulheres, o segundo dedo tende a ser do mesmo comprimento ou levemente maior que o quarto, indicando uma exposição intrauterina mais baixa de testosterona e mais alta a estrógenos. Desta forma, a proporção 2D:4D é negativamente correlacionada aos níveis pré-natais de testosterona e positivamente correlacionada aos níveis pré-natais de estrógenos (MANNING et al., 2003). Acredita-se que o comprimento digital seja influenciado pelos genes da família Homeobox ou Hox, que são responsáveis pelo desenvolvimento e diferenciação dos dedos, além do controle do crescimento celular de vários sistemas (MANNING et al., 2003). Além disso, genes HOX são importantes na embriologia do crânio e da face (GARIB et al., 2010). Destacase que a presença de mutações em genes da família HOX tem sido associada ao aparecimento de deformidades craniofaciais, incluindo as fissuras labiais e/ou palatinas (VAN DEN BOOGAARD et al., 2000). Fissuras labiais e/ou palatinas (FL/P) representam as anomalias congênitas mais comuns da face, correspondendo a aproximadamente 65% de todas as malformações da região craniofacial (MITCHELL et al., 2003). As FL/P ocorrem em aproximadamente 70% dos indivíduos na forma não-sindrômica (FL/PNS), ou seja, sem associação com outras malformações e sem alterações comportamentais e/ou cognitivas (LIDRAL et al., 2008). Diante da influência concomitante de genes da família HOX na diferenciação dos dedos como no aparecimento de FL/PNS, surge uma hipótese: haveria um padrão de proporção 2D:4D em indivíduos afetados pelas FL/PNS? O objetivo deste estudo foi investigar a relação entre a proporção 2D:4D em pacientes com FL/ PNS e em indivíduos clinicamente normais. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo de delineamento epidemiológico transversal e descritivo. Participaram deste estudo um grupo formado por 74 indivíduos de ambos os gêneros afetados pelas FL/PNS assistidos pelo Centro de Reabilitação Pró-Sorriso (Centrinho) da Universidade de Alfenas, Minas Gerais, Brasil, que atendiam aos seguintes critérios de inclusão: possuir qualquer tipo de fissura labial e/ou palatina não relacionada à síndrome e ter recebido suplementação vitamínica no primeiro trimestre de gestação. Os critérios de exclusão deste grupo envolveram possuir alterações hormonais (dados obtidos através de relato do paciente e de prontuários), assim como histórico de fraturas nos dedos anelar e indicador da mão direita e esquerda. Partici293 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar pou, adicionalmente, um grupo controle, formado por 74 indivíduos não afetados por FL/P ou outra deformidade congênita e que apresentavam características demográficas e socioeconômicas semelhantes ao grupo com FL/PNS. Esses indivíduos foram pareados com o grupo caso por idade e gênero. A coleta de dados para ambos os grupos envolveu a realização de medições dos comprimentos dos dedos indicadores e anelares da mão direita e esquerda com a utilização de um paquímetro digital em dois momentos. Posteriormente, foi calculada a razão 2D:4D, ou seja, dividindo-se o comprimento do dedo indicador (2D) pelo comprimento do dedo anelar (4D). A segunda medição ocorreu 30 minutos após a primeira, e depois de concluídas, foi utilizada a média dos dois valores obtidos, com finalidade estatística. As medições foram realizadas por três examinadores, obtendo-se concordância intra e inter-examinadores com valor de Coeficiente de Correlação Intraclasse (ICC) significante. Foi realizada análise descritiva e analítica a partir do teste t de Student utilizando-se o Programa SPSS® versão 18.0. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade José Rosário Vellano - UNIFENAS - Protocolo CEP-UNIFENAS 163.293/2012. Resultados e Discussão A amostra foi composta por 148 indivíduos divididos em dois grupos pareados por sexo e idade. Assim, dos 74 indivíduos de ambos os grupos, 40 (54%) eram do sexo feminino e 34 (46%) do sexo masculino. A idade dos participantes em cada grupo variou de 3 a 54 anos, com idade média de 20 anos (± 12,72). Em relação à distribuição dos pacientes com FL/PNS por tipo de fissura orofacial, este estudo apresentou 27 (36%) pacientes com fissura labial (FL), 33 (45%) com fissura labiopalatina (FLP) e 14 (19%) apresentavam fissura palatina (FP). A Tabela 1 apresenta a média das proporções 2D:4D das mãos direita e esquerda dos grupos com FL/ PNS e controle, bem como a distribuição por tipo de fissura orofacial e gênero. Observou-se que não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos com FL/PNS e controle em nenhuma das análises realizadas. Tabela 1 - Média e desvio padrão das proporções 2D:4D das mãos direita e esquerda dos grupos FL/PNS e controle, bem como a distribuição por tipo de fissura e gênero. Todos os participantes (n:74) Mão direita Mão esquerda Distribuição por tipo de fissura Fissura labial (n:27) Mão direita Mão esquerda Fissura labiopalatina (n:33) Mão direita Mão esquerda Fissura palatina (n:14) Mão direita Mão esquerda Distribuição por gênero Feminino (n:40) Mão direita Mão esquerda Masculino (n:34) Mão direita Mão esquerda *Teste t de Student para amostras pareadas 294 Grupo FL/PNS Média (desvio-padrão) Grupo Controle Média (desvio-padrão) valor p* 0,9760 (±0,0389) 0,9756 (±0,0377) 0,9799 (±0,0394) 0,9740 (±0,0317) 0,334 0,947 0,9903 (±0,0402) 0,9800 (±0,0370) 0,9713 (±0,0373) 0,9759 (±0,0388) 0,092 0,658 0,9710 (±0,0391) 0,9700 (±0,0422) 0,9737 (±0,0274) 0,9710 (±0,0376) 0,758 0,925 0,9811 (±0,0362) 0,9825 (±0,0352) 0,9802 (±0,0433) 0,9856 (±0,0377) 0,942 0,816 0,9815 (±0,0374) 0,9818 (±0,0381) 0,9735 (±0,0362) 0,9750 (±0,0355) 0,363 0,449 0,9781 (±0,0421) 0,9692 (±0,0396) 0,9747 (±0,0321) 0,9763 (±0,0408) 0,690 0,451 Área - Ciências da Saúde A Figura 1 mostra os intervalos de confiança das médias das proporções 2D:4D das mãos direita e es- querda entre os grupos FL/PNS e controle, ressaltando a proximidade entre as mesmas. A hipótese de trabalho foi que a influência concomitante de genes, especialmente da família Homeobox, que atuam tanto na diferenciação dos dedos, bem como na ocorrência de fissuras orofaciais, poderia resultar num padrão específico de 2D:4D em indivíduos afetados por esta desordem. No entanto, os resultados obtidos neste estudo não confirmaram essa hipótese, uma vez que a diferença entre as médias 2D:4D de ambos os grupos não foi estatisticamente significativa. Assim, parece que os níveis de andrógenos perinatais em pacientes com fissuras orofaciais não diferem de indivíduos clinicamente normais. Ambos os grupos com FL/PNS e controle tiveram 2D:4D baixos, com valores inferiores a um, indicando que, em geral, estes indiví- duos possuem o dedo anelar maior do que o dedo indicador. Segundo Manning et al. (2002), esta proporção está associada à exposição a altas concentrações de testosterona pré-natal em relação ao estradiol. A falta de correlação observada neste estudo enfatiza a etiologia multifatorial das fissuras orofaciais não-sindrômicas. Estas derivam da interação entre fatores genéticos e ambientais, tais como o fumo, álcool, deficiência de vitaminas, uso de drogas, ingestão de ácido fólico, idade dos pais, consanguinidade (STUPPIA et al., 2011). Além disso, não está totalmente elucidado como os riscos ambientais interagem com fatores genéticos (DIXON et al., 2011). Conclusões Este estudo não observou diferenças entre as proporções 2D:4D entre pacientes com fissuras labiais e/ou palatinas e indivíduos clinicamente normais, o que sugere que a exposição intrauterina a hormônios sexuais sejam semelhantes entre os grupos. Uma vez que a prevalência de fissuras orofaciais possui varia- bilidade geográfica, de grupos raciais e étnicos, bem como a exposições ambientais e status socioeconômico, sugere-se a realização de novos estudos em diferentes populações para que outros resultados sejam comparados aos deste estudo. Referências HOPP, N.; JORGE, J. Right hand digit ratio (2D:4D) is associated with oral cancer. American Journal of Human Biology, v. 23, n 3, p. 423-425, 2011. MANNING, J. T.; BUNDRED, P. E.; FLANAGAN, B. F. The ratio of 2nd to 4th digit length: a proxy for transactivation activity of the androgen receptor gene? Medical Hypotheses, v. 59, p. 334–336, 2002. MANNING, J. T.; BUNDRED, P. E.; NEWTON, D. J.; FLANAGAN, B. F. The second to fourth digit ratio and variation in the androgen receptor gene. Evolution and Human Behavior, v. 24, p. 399–405, 2003. 295 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar GARIB, D. G.; SILVA FILHO, O.; JANSON, G.; PINTO, J. H. N. Etiologia das más oclusões: perspectiva clínica (parte III) – fissuras labiopalatinas. Revista Clinica de Ortodontia Dental Press, v. 10, n. 9, p.30-36, 2010. VAN DEN BOOGAARD, M. J. H.; DORLAND, M.; BEEMER, F. A.; VAN AMSTEL, H. K. P. MSX1 mutation is associated with orofacial clefting and tooth agenesis in humans. Nature Genetics, v. 24, n. 1, p. 342-343, 2000. MITCHELL, L. E.; BEATY, T. H.; LIDRAl, A. C.; MUNGER, R. G.; MURRAY, J. C.; SAAL, H. M. Guidelines for the design and analysis of studies on nonsyndromic cleft lip and cleft palate in humans: summary report from a Workshop of the International Consortium for Oral Clefts Genetics. Cleft Palate Craniofacial Journal, v. 39, n.1, p. 93-100, 2002. LIDRAL, A. C.; MORENO, L. M.; BULLARD, A. S. Genetic factors and orofacial clefting. Seminars in Orthodontics, v. 14, n. 2, p. 103-114, 2008. STUPPIA, L.; CAPOGRECO, M.; MARZO, G.; ROVERE, D. L.; ANTONUCCI, I.; GATTA, V.; PALKA, G.; MORTELLARO, C.; TETÈ, S. Genetics of syndromic and nonsyndromic cleft lip and palate. Journal Craniofacial Surgery, v. 22, n. 5, p. 1722-1726, 2011. DIXON, M. J.; MARAZITA, M. L.; BEATY, T. H.; MURRAY, J. C. Cleft lip and palate: understanding genetic and environmental influences. Nature Reviews Genetics, v. 12, n. 3, p. 167-178, 2011. 296 Área - Ciências da Saúde A EDUC AÇ ÃO EM SAÚDE COMO ESTR ATÉGIA DE PRE VENÇ ÃO À VIOLÊNCIA CONTR A A MULHER: UM REL ATO DE E XPERIÊNCIA Patrícia Alves Paiva Danilo Cangussu Mendes Maisa Tavares de Souza Leite Weslley Ribeiro Carvalho Pimenta Maria Rita Lima Lopes Lara Lanusa Santos Nascimento Kátia Tatiane de Oliveira Brito [email protected] Introdução A abordagem da violência nos serviços de saúde necessita de que o profissional se estabeleça como colaborador do processo terapêutico elaborando estratégias com as usuárias do serviço, estratégias estas que considerem e respeitem seu contexto social e suas peculiaridades. Para tanto, é necessário alcançar essas realidades e visualizar os conflitos que estão subentendidos nas queixas (PEDROSA; SPINK, 2011). A violência vivenciada pela mulher deixa marcas não apenas físicas, mas também psicológicas e sociais. Desta forma, o atendimento a essas mulheres requer uma abordagem multiprofissional que possa contemplar todos os aspectos de sua vida (MOREIRA et al., 2008). No campo da saúde, o profissional tem importante papel no combate à violência por meio do desenvolvimento de pesquisas, notificação de casos e organização de serviços de referência para as mulheres vítimas ,com propostas de intervenção (AUDI et al., 2008). O exercício da prática educativa crítica compõe uma intervenção comprometida com a democracia que rejeita qualquer forma de discriminação e dominação, buscando integrar uma atitude de inovação a fim de potencializar a mudança esperada (MACHADO et al., 2007). Ao buscar a criação de um espaço de reflexão-ação ,a educação em saúde apresenta-se como uma estratégia pautada no processo de transformação de comportamentos através de ações educativas que exaltem a autonomia dos sujeitos envolvidos no processo na condução de suas vidas. Desta forma, este relato torna-se relevante, considerando que as ações educativas podem contribuir tanto para formação dos acadêmicos, quanto para o fortalecimento da cidadania das mulheres, capacitando-as para serem agentes de difusão de uma cultura de paz. Assim, este estudo objetiva descrever a experiência de acadêmicos dos cursos de graduação em enfermagem, odontologia e serviço social do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) da Universidade Estadual de Montes Claros, como mediadores em oficinas educativas de grupos de mulheres, com abordagem do tema Violência contra a Mulher, desenvolvidas em uma equipe de Estratégia Saúde da Família, em Montes Claros – Minas Gerais – Brasil, em 2013. Metodologia Trata-se de um relato de experiência a partir da realização de oficinas com mulheres com vistas à promoção de saúde-cidadania em uma Unidade Estratégia Saúde da Família. Os acadêmicos do Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) contribuíram como mediadores nas oficinas, bem como elaboraram material educativo, abordando formas de promoção e proteção à saúde e à vida, instituindo a cultura da paz e prevenção da violência. Foi utilizado como método o desenvolvimento de oficinas, ancoradas na metodologia participativa. A população foi constituída por mulheres líderes e influentes na comunidade, cadastradas na Estratégia Saúde da Família, previamente convidadas a participar das oficinas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) e pelos acadêmicos da graduação. Realizarm-se 10 oficinas educativas em uma Unidade de Estratégia Saúde da Família no município de Montes Claros - MG 297 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar - Brasil, no período de agosto à outubro de 2013. As oficinas aconteciam semanalmente, com a participação de uma média de 10 mulheres de todas as idades. Nesse sentido, foram realizados dez encontros que aborda- ram o assunto de forma dramática por meio de dinâmicas grupais. Em cada um dos encontros discutiu-se um tipo de violência. Resultados e discussão Ao se trabalhar com a população, não há outro trajeto senão a “travessia entre a subjetividade e a objetividade”. O conhecimento envolve uma correlação direta entre a ação e a reflexão da realidade. Os seres humanos são entendidos como corpos conscientes, e desta maneira, têm a possibilidade de analisar criticamente, ultrapassando desta forma uma compreensão puramente ingênua da realidade (FREIRE, 1982). A experiência com oficinas educativas de educação popular foi de grande relevância para os acadêmicos envolvidos. Foi um importante desafio abordar a violência contra a mulher em uma Estratégia de Saúde da Família, situada em uma localidade onde os índices de violência contra a mulher são expressivos. As oficinas educativas possibilitam aproximar profissionais da saúde, discentes, docentes e usuárias, favorecendo a concretização de práticas baseadas na humanização e na integralidade do cuidado (VIEIRA et al., 2013). Neste trabalho é apresentada uma reflexão acerca dos pontos positivos e negativos desta experiência, evidenciando o aprendizado adquirido nesta vivência. No percurso das oficinas educativas foi possível construir um espaço de diálogo e respeito mútuo com as mulheres, sendo que as mesmas tiveram oportunidade de colocar os seus posicionamentos sobre os temas discutidos no cotidiano das oficinas. Este espaço de diálogo propiciou uma relação dialética de troca de conhecimento entre os profissionais e acadêmicos com as mulheres participantes, potencializando ainda as ações desenvolvidas. A metodologia utilizada propiciou a construção de um caminho de ações muito mais dinâmico e democrático. Colocar os profissionais e acadêmicos numa posição de facilitadores das discussões foi um grande acerto, na medida em que as próprias mulheres dialogaram e conduziram as situações-problemas apresentadas. As mulheres envolvidas foram construtoras do seu próprio saber, tendo como referência o seu próprio cotidiano. Desta maneira, a metodologia alcançou as diretrizes da educação popular disseminada por Freire (1994), que pontua justamente esta necessidade de os sujeitos construírem o seu saber a partir da realidade vivida. O grupo educativo se configurou como um importante espaço de expressão da diversidade social e cultural das mulheres participantes e também dos facilitadores envolvidos. O vínculo estabelecido propiciou que cada participante expressasse os seus valores culturais e sociais, os seus conhecimentos de vida, as suas limitações, os seus preconceitos e as suas dúvidas. Desta forma, o presente grupo educativo tornou-se um re298 levante espaço democrático, em que o caráter popular das oficinas educativas foi contemplado. As situações apresentadas durante os encontros propiciaram que diferentes saberes e experiências de vida dialogassem, excluindo assim as diferenças econômicas, sociais e culturais, encontrando-se, portanto, numa unidade, a de ser mulher. Outro ponto significante a ser destacado é a interação da equipe de facilitadores envolvidos. O compromisso firmado em equipe foi fundamental para a efetivação e plenitude dos resultados alcançados pelo grupo educativo. A construção dos encontros e a própria execução dos mesmos se deram de forma coletiva e integrada, o que potencializou ainda mais cada ação desenvolvida. A organicidade e a unidade vivenciada pela equipe subsidiaram os trabalhos desenvolvidos e contribuíram diretamente para que o fim planejado fosse atingido. Desenvolvendo o trabalho com grupos, o profissional tem como princípio estimular os participantes a buscarem estratégias de enfrentamento dos entraves vividos pela comunidade. Cada indivíduo tem a possibilidade de se expressar, imprimindo seu ponto de vista. O trabalho em grupo é visto como forma de libertação do homem, que, sozinho, encontra-se alienado. Enquanto profissionais, temos a possibilidade de promover a conscientização dos indivíduos sobre os aspectos da realidade vivida por eles para que, desta maneira os mesmos possam fazer suas escolhas em prol da transformação social e da melhoria de sua qualidade de vida (SOUZA et al., 2005). Alguns desafios foram evidenciados no decorrer das oficinas, e um desses se remete à dificuldade de adesão de mais mulheres nos grupos montados na unidade de Estratégia de Saúde da Família, e não só isso, mas também a permanência delas nos dez encontros. Os docentes e acadêmicos envolvidos puderam contar com o apoio irrestrito de todos os profissionais da unidade, para que os convites pudessem ser feitos às mulheres do território de abrangência da unidade, uma vez que já havia um vínculo maior da comunidade com esses profissionais referidos. Além disso, teve que haver um esforço da equipe envolvida no projeto de buscar estratégias que possibilitassem uma maior dinamização das oficinas em um menor tempo de duração, a fim de não tornar os encontros cansativos, nem ser motivo de justificativas de ausências. A apropriação de uma linguagem mais simples também foi atribuída como uma necessidade, tendo, com isso, o intuito de tornar o corpo técnico o mais próximo Área - Ciências da Saúde possível das mulheres, mas, ao mesmo tempo, não deixando recair no reducionismo do senso comum. É importante salientar o cuidado que os profissionais envolvidos com esse tipo de trabalho devem tomar quanto ao seu posicionamento frente às discussões travadas durante o processo de construção de “um novo saber”, não fazendo da sua opinião uma imposição, uma verdade absoluta, nem desmerecendo o vivido e as subjetividades apresentadas pelos participantes, mas sim possibilitando a cada cidadão comum, em especifico o público neste trabalho referido, as mulheres, denominadas no grupo de “Marias”, uma autoanálise e autogestão de suas próprias vidas, sendo sujeitos de suas trajetórias. Desta forma, buscou-se possibilitar aos participantes uma análise das condições nas quais estão in- seridos, fazendo com que repensassem os seus valores e seus reais desejos, sem a figura de uma centralidade dominante de um saber; mas, conforme afirma Baremblitt (1996), foi preciso que os técnicos dispusessem de instrumentos que favorecessem a organização dos saberes desses sujeitos, permitindo que eles próprios buscassem soluções para seus problemas, e não o contrário. Compreendemos a educação em saúde sob a luz dos pensamentos de Freire (2000) como competente e coerente, pois atesta sua capacidade de luta e deve expressar seu respeito às diferenças, a maneira concisa com que expressa e legitima sua presença no mundo real. Portanto, para educar em saúde, é preciso estar aberto às especificidades geográficas, sociais, políticas e culturais dos usuários e das comunidades. Considerações finais As oficinas educativas possibilitaram reflexões acerca das relações intra e intergrupais estabelecidas, proporcionando um processo transformador de visões de mundo ao possibilitar uma releitura do mesmo por meio de vivências compartilhadas pela ação dos próprios participantes do grupo. Dessa forma, a estratégia grupal subsidiou a aproximação entre profissionais e usuárias, propiciando a concretização de práticas baseadas na promoção da saúde, na humanização e na integralidade do cuidado. Considera-se que as ações realizadas nas oficinas contribuíram tanto para formação dos acadêmicos quanto para o fortalecimento da cidadania das mulheres, capacitando-as para serem agentes de difusão de uma cultura de paz. Essa estratégia de cuidado possibilitou às mulheres a construção coletiva, o acesso à informação libertadora que faz emergir a autoestima, a capacidade de resiliência e o empoderamento, tornando-as pessoas mais seguras e decididas. No sentido de contribuir para repensar o modo de cuidar das mulheres, é fundamental que os profissionais apropriemse das diversas áreas do conhecimento, sobretudo nas ciências sociais, para que o princípio da integralidade da assistência à saúde do SUS possa ser um produto a ser alcançado também pelas mulheres que vivenciam violência. Concluímos que este estudo contribui porque não se encerra no conhecimento puramente acadêmico, mas trata-se de uma perspectiva ética e política que pressupõe compreender a realidade a partir de uma perspectiva emancipatória. Nesse sentido, promover atividades de educação em saúde direcionadas a esse público é imprescindível para se compreender a dinâmica da violência e fortalecer as políticas públicas de prevenção e a garantia dos direitos humanos. Referências AUDI, C. A. F.; SEGALL-CORRÊA, A. M.; SANTIAGO, S. M.; ANDRADE, M. G. G.; PÈREZ-ESCAMILA, R. Violência doméstica na gravidez: prevalência e fatores associados. 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Acesso em: 24 Jan. 2014. 299 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar MOREIRA, S. N. T.; GALVÃO, L. L. L. F.; MELO, C. O. M.; AZEVEDO, G. D. Violência física contra a mulher na perspectiva de profissionais de saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 42, n. 6, dez. 2008. Disponível em: < http:// www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034-89102008005000058&script=sci_arttext>. Acesso em: 24 Jan. 2014. PEDROSA, C. M.; SPINK, M. J. P. A violência contra mulher no cotidiano dos serviços de saúde: desafios para a formação médica. Saúde e Sociedade, São Paulo, v. 20, n. 1, jan./mar. 2011. Disponível em: < http://www.scielo. br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-12902011000100015&lng=en&nrm=iso&tlng=pt>. Acesso em: 24 Jan. 2014. SOUZA, A. C.; COLOMÉ, I. C. S.; COSTA, L. E. D.; OLIVEIRA, D. L. L. C. A educação em saúde com grupos na comunidade: uma estratégia facilitadora da promoção da saúde. 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Há um crescente interesse nas características de lipídios de óleos vegetais, pois eles são fonte de componentes bioativos e nutrientes funcionais, tais como vitaminas e ácidos graxos insaturados essenciais, com propriedades químicas únicas e com benefícios para saúde (OLIVEIRA, 2013). O pequi (Caryocar brasiliense) é uma árvore originária do Brasil de onde é extraído o óleo. Na composição do óleo de pequi, verifica-se a presença da vitamina A e de diversos ácidos graxos insaturados, como o palmítico, oleico, mirístico, palmitoléico, esteárico, linoléico e linolênico (AZEVEDO; RODRIGUEZ, 2004; PIANOVSKI et al., 2008). O ácido oleico é um ácido graxo monoinsaturado que é considerado fundamental pelas propriedades benéficas na redução da oxidação do LDL-c (Low Density Lipoprotein – Colesterol), na forma aterogênica, contribuindo assim na prevenção do desenvolvimento de doenças cardíacas. O óleo extraído do pequi tem várias aplicações na indústria alimentícia e cosmética, além de aplicação terapêutica, sendo usado contra gripe e doenças pulmonares (ARAÚJO, 1995). O abacate é um fruto que se destaca por sua qualidade nutricional. É rico em ácido oleico e b-sitosterol, uma gordura insaturada (SOUZA et al., 2013, TANGO; CARVALHO; SOARES, 2004). Os frutos que apresentam altos teores de lipídeos em sua polpa tornam-se importantes para a extração do óleo. Esse se assemelha com o óleo de oliva, o qual é muito consumido no país e gera altos custos de importação. Tal semelhança deve-se pelo processo de extração da polpa dos frutos e por ter similaridade em suas propriedades físico-químicas, destacando-se a composição de ácidos graxos, principalmente o ácido graxo oleico (TANGO; CARVALHO; SOARES, 2004). O beta-sitosterol participa do controle da glicemia e dos níveis de insulina em pacientes diabéticos, sendo um coadjuvante no controle da doença. Seu consumo pode melhorar a imunidade, aumentando a atividade de células que agem matando micro-organismos invasores, sendo auxiliar no tratamento de infecções e doenças como câncer e HIV, também devido ao beta-sitosterol (TANGO; CARVALHO; LIMONTA, 2004). O óleo de coco, obtido a partir da polpa do coco fresco maduro (Cocos nucifera L.), é composto por ácidos graxos saturados (mais de 80%) e ácidos graxos insaturados. Os ácidos graxos saturados presentes no óleo de coco são: caproico, caprílico, cáprico, láurico, mirístico, palmítico e esteárico, e os insaturados são: oleico e linoleico. As gorduras láuricas são resistentes à oxidação não enzimática e, ao contrário de outros óleos e gorduras, apresentam temperatura de fusão baixa e bem definida (24,4 - 25,6 ºC). São usadas na indústria cosmética e alimentícia, nas quais em virtude de suas propriedades físicas e resistência à oxidação, são empregadas no preparo de gorduras especiais para confeitaria, sorvetes, margarinas e substitutos de manteiga de cacau (MACHADO; CHAVES; ANTONIASSI, 2006). O óleo de coco é frequentemente utilizado no tratamento da obesidade, em virtude do seu elevado teor de ácidos graxos de cadeia média, uma vez que tais lipídeos são facilmente oxidados e não são normalmente armazenados no tecido adiposo, diminuindo, assim, a taxa metabólica basal (TMB). No entanto, o uso de óleo de coco na dieta permanece controverso devido aos possíveis efeitos prejudiciais dos ácidos graxos saturados e sua associação com dislipidemias e doenças cardiovasculares (ASSUNÇÃO et al., 2009). O presente trabalho teve como objetivos avaliar os efeitos do tratamento crônico com óleo de pequi, abacate e coco no peso corporal, dos órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gordura 301 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar visceral e abdominal, comprimento e teor de minerais totais dos ossos (fêmur e tíbia), análise de urina 24 ho- ras e teor de umidade das fezes em ratos I. Materiais e Métodos Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, com 70 dias de idade. Os animais foram distribuídos em 4 grupos: Controle (C) – receberam durante 91 dias ração e água ad libitum (n=6); Óleo de Abacate (A) – receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de óleo de abacate e água ad libitum (n=6); Óleo de Coco (CO) – receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de óleo de Coco e água ad libitum (n=6); Óleo de Pequi (P) – receberam durante 91 dias ração acrescida de 10% de óleo de Pequi e água ad libitum (n=6). A ração foi triturada e, para realizar a mistura com os óleos, armazenada sob refrigeração até o fornecimento aos animais. Os animais foram pesados semanalmente, a ração e líquidos diariamente e, através destas medidas, foi calculado o ganho de peso (= peso final – peso inicial) e o Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA = ganho de peso/consumo total de ração). Na última semana, os animais ficaram na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina das últimas 24 horas para análise do peso/ volume, teores de gordura e umidade das fezes. Após 91 dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e retirados 2mL de sangue para avaliação bioquímica (colesterol total, HDL, glicemia e triglicérides). Após a eutanásia, os órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes, o comprimento e teor de minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05). A manipulação e eutanásia foram realizadas de acordo com os princípios éticos para uso de animais de laboratório (BRASIL, 2008), e o projeto foi aprovado pela CEUA/UFVJM (protocolo 020/13). Resultados e discussão No peso corporal a ANOVA apontou efeito de dia (F(1, 273657) = 453,45, p < 0,0001); o peso final dos animais de todos os grupos foi maior do que o peso inicial. Em relação à ingestão de ração (F(3, 1112876) = 15,23, p < 0,0001) e CEA (F(3, 8,5562) = 3,18, p < 0,05), houve efeito de tratamento, os animais CO comeram mais ração do que os C, A e P e os A apresentaram maior CEA do que os C (Tabela 1). Tabela 1: Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia) e peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos). Diamantina, 2014. Peso inicial Peso final Ganho peso Gordura Ração total CEA Naso-anal Fêmur Tíbia Minerais Totais Cálcio Baço Coração Fígado Rins Suprarrenais Testículos 302 C 343,73±25,37 459,42±34,72 115,68±31,82 33,28±4,70 2.529,14±134,46 4,82±0,90 23,83±3,36 3,72±0,21 4,21±0,11 68,05±59,79 0,023±0,004 1,03±0,71 1,14±0,25 12,62±1,39 1,46±0,07 0,051±0,050 1,83±0,13 A 334,20±23,20 494,93±34,19 160,73±32,97 45,12±11,19 2.186,76±156,65 7,45±1,84 20,68±0,56 3,65±0,14 4,15±0,07 49,65±10,87 0,022±0,006 1,01±0,08 1,08±0,09 13,49±1,30 1,44±0,12 0,034±0,006 1,73±0,08 CO 347,82±12,95 519,27±45,37 171,45±37,84 49,89±16,55 3.129,73±482,87 5,69±2,01 20,57±0,75 3,68±0,08 4,19±0,07 44,84±2,42 0,020±0,005 1,00±0,10 1,15±0,08 13,76±1,34 1,42±0,10 0,031±0,005 1,76±0,08 P 317,37±14,30 473,55±41,17 156,18±36,01 40,01±5,75 2.248,74±128,76 6,95±1,58 20,08±0,74 3,60±0,04 4,15±0,12 44,97±2,79 0,021±0,006 1,02±0,11 1,12±0,08 13,25±0,96 1,67±0,44 0,032±0,003 1,86±0,13 Área - Ciências da Saúde Os animais A, CO e P apresentaram menor comprimento corporal do que os C (F(3, 17,63) = 5,56, p < 0,01); os ratos P apresentaram testículos (F(3, 0,0458) = 3,99, p < 0,05) mais pesados do que os A (Tabela 1). A ANOVA apontou efeito de tratamento nos níveis de triglicérides presentes nas fezes (F(3, 214,18) = 4,11, p < 0,05), os animais P apresentaram menores teores do que os C, entretanto, nas demais análises bioquímicas do soro e fígado, não houve diferença estatisticamente significativa (Tabela 2). Tabela 2: Bioquímica do soro, fezes e fígado de ratos tratados por 91 dias com óleo de abacate, coco ou pequi. Diamantina, 2014. Soro Colesterol HDL Glicemia Triglicérides Fezes Lipídios Colesterol Triglicérides pH Frescas Secas Umidade Fígado Lipídios Colesterol Triglicérides C A CO P 70,47±26,98 16,00±6,04 211,30±76,77 63,51±31,95 59,53±12,38 11,65±3,72 169,19±67,60 73,07±37,85 68,00±12,21 11,22±4,68 183,57±46,76 87,68±46,08 68,96±13,57 12,32±5,44 166,25±53,54 64,53±27,15 8,67±6,39 12,72±7,15 36,44±11,65 6,51±0,18 5,77±4,32 3,72±2,30 2,05±2,07 4,42±1,90 12,96±7,54 26,77±2,55 6,67±0,16 3,69±3,15 2,68±2,08 1,01±1,08 3,83±1,18 14,15±3,41 31,07±7,40 6,77±0,24 2,68±1,89 2,03±1,53 0,65±0,37 3,60±1,18 10,22±5,35 22,47±3,40 6,77±0,23 1,93±1,54 1,54±1,17 0,39±0,41 13,70±4,63 22,67±8,68 50,15±21,16 12,77±4,42 51,06±35,22 54,90±19,99 16,51±4,98 36,14±18,45 62,19±28,99 12,72±2,77 39,65±22,01 51,34±7,89 Discussão O aumento no peso corporal com o passar do tempo está de acordo com o que a literatura preconizada (LEVIN et al., 1999). Essa diferença pode ser explicada devido aos óleos terem tornado a ração comercial mais palatável (NASCIMENTO, 2006) e a ausência de efeito no ganho de peso está de acordo com Almeida et al. (2011) e Duarte et al. (2006). O consumo de doses elevadas de óleo de pequi por 7, 15 ou 30 dias, não alterou o peso corporal e transaminases, porém com 30 dias aumentou as taxas de glicose, causou esteatose hepática, diminuiu colesterol e triglicerídios e aumentou HDL. Este resultado se manteve mesmo quando os animais tiveram dislipidemia induzida por medicamento (FIGUEIREDO, 2012). Animais que receberam uma dieta rica em colesterol suplementada com óleo de pequi mantiveram o peso corporal, ingestão de ração, glicose plasmática, HDL e colesterol hepático e aumentaram o colesterol plasmático, triglicérides e lipídios totais (AGUILAR et al., 2012). Uma dieta suplementada com farinha de abacate foi capaz de reduzir o colesterol sanguíneo, hepático e LDL, aumentar o colesterol excretado e manter HDL e triglicérides (SALGADO et al., 2008). Apesar de o estudo de Dittrich et al. (2000) demonstrar que potros tratados com ração acrescida de 10% de gordura de coco ou 5% de óleo de milho e 5% de gordura de coco não tiveram alteração nos níveis de glicose plasmática e HDL, a I Diretriz sobre o consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular (2013) não recomenda o uso de óleo de coco para o tratamento de hipercolesterolinemia e sugere a necessidade de mais estudos para orientar seu uso em demais alterações metabólicas. Conclusões As três fontes de lipídios aumentaram o peso corporal e reduziram o comprimento dos animais. O óleo de coco aumentou o consumo de ração e o de abacate o CEA, já o óleo de pequi aumentou o peso dos testículos e reduziu os níveis de triglicérides. 303 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências AGUILAR, E. C. et al. Paradoxal effects osf a pequi oil-rich diet on the development of aterosclerosis: balance between antioxidant and hyperlipidemic properties. Bras. J. Med. Biol. Res. v. 45, n. 7, p. 601-9, 2012. ARAÚJO, F. D. A review of Caryocar brasiliense (Caryocaraceae): an economically valuable of central Brazilian cerrados. Economy Botany, Bronx., v. 49, n. 1, p.40-48, 1995. ASSUNÇÃO, M. L. et al. Effects of dietary coconut oil on the Biochemical and Anthropometric profiles of women Presenting Abdominal Obesity. AOCS, Maceió, n. 44, p. 593-601, maio, 2009. AZEVEDO, M. C. H.; RODRIGUEZ, A. D. B. Confirmation of the identity of the carotenoids of tropical fruits by HPLCDAD and HPLC-MS. 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Com o objetivo de avaliar os efeitos do consumo de banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e óleo de linhaça, foram utilizados 24 ratos Wistar distribuídos em 4 grupos: Controle (C) – receberam ração e água ad libitum (n=6); Banha de Porco (B) – receberam ração com 10% de banha e água ad libitum (n=6). Gordura Vegetal Hidrogenada (G) - receberam ração com 10% de gordura e água ad libitum (n=6); Óleo de Linhaça (L) - receberam ração com 10% de óleo de linhaça e água ad libitum (n=6). Os animais foram pesados semanalmente, a ração e os líquidos, diariamente. Foram analisadas as fezes e a urina de 24 horas. Após 91 dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e foram retirados 2mL de sangue para avaliação bioquímica (colesterol total, HDL, glicemia e triglicérides). Após a eutanásia, os órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e fezes, o comprimento e teor de minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguida do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05). As diferentes fontes de lipídios alteraram de maneira diferente a fisiologia dos ratos; todas as fontes aumentaram o ganho de peso, entretanto, a banha de porco e a gordura vegetal hidrogenada promoveram aumento nos níveis de HDL, crescimento corporal e ósseo e menores níveis de glicose e peso renal. E o óleo de linhaça apresentou aumento no acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral). Introdução Os lipídios desempenham funções importantes no organismo, como reserva de energia e combustível alternativo à glicose através da oxidação de ácidos graxos (1g de gordura fornece 9 kcal); compõem a estrutura das membranas biológicas e camada de mielina; oferecem isolamento térmico e mecânico protegendo células, órgãos e o organismo como um todo; dão origem a moléculas mensageiras, como hormônios, prostaglandinas, entre outras (ALMEIDA et al., 2011). Hábitos de vida inadequados (com aumento na ingestão de gorduras saturadas) têm aumentado a prevalência de doenças crônico-degenerativas como as doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes. As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte no mundo, entretanto, podem ser prevenidas com a adoção de uma alimentação balanceada (I DIRETRIZ SOBRE O CONSUMO DE GORDURAS E SAÚDE CARDIOVASCULAR, 2013). As gorduras insaturadas, como o óleo de linhaça, têm sido apontadas como benéficas à saúde (PRASAL, 2009). Assim sendo, os objetivos deste trabalho foram avaliar fisiologicamente os efeitos do consumo crônico de banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e óleo de linhaça por ratos Wistar adultos e saudáveis. 305 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Materiais e Métodos Foram utilizados 24 ratos Wistar, machos, adultos, distribuídos em 4 grupos: Controle (C) - receberam ração e água ad libitum (n=6); Banha de Porco (B) – receberam ração com 10% de banha de porco e água ad libitum (n=6); Gordura Vegetal Hidrogenada (G) - receberam ração com 10% de gordura vegetal hidrogenada e água ad libitum (n=6); Óleo de Linhaça (L) - receberam ração com 10% de óleo de linhaça e água ad libitum (n=6). A ração foi triturada e, para realizar a mistura com os óleos, armazenada sob refrigeração até o fornecimento aos animais. Os animais foram pesados semanalmente, a ração e os líquidos, diariamente e, através destas medidas, foi calculado o ganho de peso (= peso final – peso inicial) e o Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA = ganho de peso/consumo total de ração). Na última semana, os animais ficaram na gaiola metabólica para coleta de fezes e urina das últimas 24 horas para análise do peso/ volume, teores de gordura e umidade das fezes. Após 91 dias de tratamento, os animais foram colocados em jejum de 12 horas, anestesiados e foram retirados 2mL de sangue para avaliação bioquímica (colesterol total, HDL, glicemia e triacilglicerol). Após a eutanásia, os órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos), gorduras (abdominal, epididimal e visceral) e ossos (fêmur e tíbia) foram retirados, limpos e mensurados. Foi avaliado o teor de gordura do fígado e das fezes, o comprimento e teor de minerais totais dos ossos. Os dados foram submetidos à ANOVA, seguido do teste de Newman Keuls, quando apropriado (p ≤ 0,05). A manipulação e a eutanásia foram realizadas de acordo com os princípios éticos para uso de animais de laboratório (BRASIL, 2008) e o projeto foi aprovado pela CEUA/UFVJM (protocolo 020/13). Resultados e Discussão No primeiro dia, a ANOVA apontou efeito de tratamento (F(3,1828) = 4,731, p < 0,05) no peso corporal, os animais do grupo G apresentaram menor peso que os do grupo C e os do grupo B e do grupo G menor que os do grupo L. Comparando a variação de peso corporal nos dias 0 e 91, houve efeito de dia (F(1, 286768) = 539,21, p < 0,0001), os animais de todos os grupos pesaram mais no dia 91 que no 0. Houve também efeito de interação entre tratamento e dias (F(3, 2038) = 3,83, p < 0,05), todos os grupos (C, B, G e L) pesaram mais no dia 91 que no 0, e no dia 91 os do grupo L pesaram mais que os do grupo C (Tabela 1). Os animais dos grupos B,G e L apresentaram maior ganho de peso que o grupo C (F(3, 4076,7) = 3,83, 306 p < 0,05) e os L maior acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral) que os do grupo C (F(3, 278,87) = 3,33, p< 0,05) (Tabela 1). Os ratos dos grupos B e G apresentaram maior crescimento corporal (comprimento naso-anal) do que os do grupo C, que sua vez foram maiores que os do grupo L (F(3, 46,64) = 14,48, p < 0,0001). Os animais dos grupos B e G apresentaram maiores comprimentos do fêmur do que os dos grupos C e L (F(3, 0,1782) = 13,71, p < 0,0001) e os dos grupos B e G maiores comprimentos da tíbia que os do grupo L (F(3, 0,0528) = 5,56, p < 0,01) (Tabela 1). A ANOVA apontou efeito de tratamento (F(3, 0,04959) = 5,92, p < 0,005) no peso dos rins, os animais dos grupos B e G apresentaram menor peso do que os dos grupos C e L (Tabela 1). Área - Ciências da Saúde Tabela 1- Peso corporal, gorduras (abdominal, epididimal e visceral), ingestão de ração, Coeficiente de Eficácia Alimentar (CEA), comprimento corporal e dos ossos (fêmur e tíbia), peso dos órgãos (baço, coração, fígado, rins, suprarrenais e testículos) e análise das fezes (frescas, secas e umidade). Diamantina, 2014. C 343,73±25,37 459,42±34,72 115,68±31,82 33,28±4,70 2.529,14±134,46 4,82±0,90 23,83±3,36 3,72±0,21 4,21±0,11 68,05±59,79 0,023±0,004 1,03±0,71 1,14±0,25 12,62±1,39 1,46±0,07 0,051±0,050 1,83±0,13 B G L Peso inicial 312,92±18,22 313,48±16,65 343,12±17,09 Peso final 483,72±37,78 477,92±26,28 510,55±29,36 Ganho peso 170,80±30,41 164,43±39,37 167,43±27,70 Gordura 43,68±6,72 40,93±12,97 49,71±9,97 Ração Total 2.509,35±704,08 5.486,33±2.896,64 2.378,87±395,09 CEA 7,24±2,05 3,97±2,59 7,07±0,90 Naso-anal 26,78±0,64 26,58±1,07 20,85±0,24 Fêmur 3,97±0,03 3,91±0,04 3,60±0,008 Tíbia 4,33±0,12 4,33±0,08 4,13±0,07 Minerais Totais 38,59±1,12 39,63±2,06 40,21±12,85 Cálcio 0,018±0,003 0,020±0,004 0,025±0,007 Baço 0,81±0,14 0,82±0,11 1,06±0,08 Coração 1,24±0,25 1,34±0,13 1,11±0,04 Fígado 12,46±1,53 13,57±1,86 13,68±1,31 Rins 1,35±0,11 1,37±0,09 1,48±0,09 Suprarrenais 0,027±0,012 0,025±0,007 0,032±0,004 Testículos 1,86±0,10 1,81±0,12 1,83±0,15 corporal e a ingestão de ração, já os que foram alimentados com óleo de linhaça diminuíram o colesterol séEm relação à análise bioquímica do soro sanguí- rico e HDL, e os que receberam óleo de linhaça, gergeneo (Tabela 2), as análises apresentaram efeito de tra- lim e banha de porco aumentaram os níveis de glicose. tamento para a glicose (F(3, 9525) = 3,26, p < 0,05), os Estes dados sugerem que o óleo de linhaça possui ratos do grupo L foram maiores do que os dos grupos propriedades cardioprotetoras e pode ser consumido B e G e para o HDL (F(3, 139,18) = 6,51, p < 0,005), os do como um alimento funcional (GUIMARÃES et al., 2013). O consumo de ácidos graxos insaturados reduz o grupo L foram menores que os dos grupos B e G. risco de eventos cardiovasculares e mortalidade. EstuOs animais dos grupos B e G apresentaram maiodos feitos com óleo de linhaça em animais de experires teores de triacilglicerol no fígado do que os do mentação levaram a um efeito nulo a discreto da regrupo C (F(3, 5440,1) = 3,94, p < 0,05) e os do grupo L dução lipídica ou até mesmo uma redução dos níveis maiores teores de colesterol total do que os dos grude triacilglicerol quando consumido em grande escala. pos C, B e G (F(3, 3745,94) = 9,59, p < 0,0005) (Tabela 2). Discussões atuais questionam que a indicação de dimiNo que se refere às analises das fezes (Tabela 2), nuição de gordura saturada acarreta um aumento de o grupo B apresentou maior teor de lipídios totais do consumo de outros nutrientes, tais como carboidratos que o grupo L (F(3, 44,579) = 3,26, p < 0,05). O grupo L refinados, o que provoca grande impacto no aumento maior pH do que os grupos C, B e G (F(3, 0,217) = 11,59, do risco de doença cardiovascular e diabetes (I DIREp < 0,0005). TRIZ SOBRE O CONSUMO DE GORDURAS E SAÚDE CARO grupo L apresentou menor peso de fezes fresDIOVASCULAR, 2013). cas do que o grupo C (F(3, 25,5641) = 3,91, p < 0,05), o A banha de porco não alterou o coeficiente de digrupo L menor peso de fezes secas que os grupos C e B gestibilidade nem o peso hepático de ratos (ALMEIDA (F(3, 9,9352) = 3,77, p < 0,05) e o grupo L menor teor de et al., 2009) e a linhaça não alterou o colesterol, HDL umidade que o grupo C (F(3, 3,91535) = 3,31, p < 0,05) e triacilgliceróis (ROSA et al., 2010). Entretanto, no es(Tabela 2). tudo de Silva (2013), a banha aumentou a ingestão de O tratamento com banha de porco não alterou alimentos, o peso corporal, o depósito de gordura epiganho de peso, CEA, glicemia, triacilglicerol, colesterol didimária, a leptina, a glicemia e a insulina, sem modifie peso hepático, mas aumentou a lipase lipoproteica e car os níveis de triacilgliceróis, testosterona e peso dos reduziu o HDL de ratos tratados por 28 dias (ALMEIDA testículos de ratos. et al., 2011). Ratos Wistar recém-desmamados que receberam óleo de linhaça e banha de porco aumentaram o peso 307 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Tabela 2: Bioquímica do soro, fezes e fígado de ratos tratados por 91 dias com banha de porco, gordura vegetal hidrogenada e óleo de linhaça. Diamantina, 2014. Soro Colesterol HDL Glicemia Triacilglicerol Fezes Lipídios Colesterol Triacilglicerol pH Frescas Secas Umidade Fígado Lipídios Colesterol Triacilglicerol C 70,47±26,98 16,00±6,04 211,30±76,77 63,51±31,95 B 63,58±10,09 22,39±3,99 262,14±33,85 123,90±48,68 G 64,09±14,44 21,43±2,41 251,07±29,89 115,07±51,23 L 56,05±21,21 12,12±21,21 174,84±61,36 77,03±27,71 8,67±6,39 12,72±7,15 36,44±11,65 6,51±0,18 5,77±4,32 3,72±2,30 2,05±2,07 14,44±2,42 9,08±5,46 51,21±12,41 6,36±0,11 4,53±2,42 3,32±2,09 1,21±0,57 11,75±1,60 11,40±6,44 69,40±47,78 6,62±0,11 2,46±1,05 1,93±0,78 0,53±0,31 8,86±2,34 12,48±2,93 29,36±7,97 6,81±0,13 1,16±0,73 0,92±0,55 0,24±0,21 13,70±4,63 22,67±8,68 50,15±21,16 17,43±6,64 27,47±10,09 114,52±32,61 20,47±8,77 33,31±8,26 108,48±45,74 13,78±2,91 77,03±36,29 75,00±43,80 Conclusões As diferentes fontes de lipídios alteraram de maneira diferente a fisiologia dos ratos; todas as fontes aumentaram o ganho de peso, entretanto, a banha de porco e a gordura vegetal hidrogenada promoveram aumento nos níveis de HDL, crescimento corporal e ósseo e menores níveis de glicose e peso renal. E o óleo de linhaça apresentou aumento no acúmulo de gorduras (abdominal, epididimal e visceral). Faz-se necessário que se desenvolvam mais pesquisas a fim de melhor definir o nível médio de consumo de gorduras saturadas e insaturadas de acordo com as funções que desempenham no organismo, pois há divergências de opiniões baseadas em dados ainda insuficientes para um maior respaldo sobre a ingestão adequada desses tão importantes ácidos graxos. Referências ALMEIDA, M. E. F. et al. Lipídios séricos e morfologia hepática de ratos alimentados com diferentes fontes lipídicas (óleo de soja, gordura de peixe e porco, margarina e manteiga). Rev. Nutr., v. 24, n. 1, p. 143-52, 2011. ALMEIDA, M. E. F. et al. Perfil lipídico tecidual de ratos alimentados com diferentes fontes lipídicas. Rev. Nutr., v.22, n. 1, p. 51-60, 2009. GUIMARÃES, R. C. A. et al. Sesame and flaxseed oil: nutritional quality effects on serum lipids and glucose in rats. Food Sci. Technol., v. 33, n. 1, p. 209-17, 2013. 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Faculdade de Ciências Médicas, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013. 308 Área - Ciências da Saúde A IMPOR TÂNCIA DA DE TECÇ ÃO PRECOCE FRENTE AO DESAFIO DO C ÂNCER DE MAMA Lúcia Helena Rodrigues Costa Renata Costa Miziara Sílvia Aparecida Copati Loschi Danúbya Cruz Carvalho Isabela Rodrigues Costa Edna de Freitas Gomes Ruas [email protected] Introdução As doenças crônico-degenerativas como o câncer vêm se apresentando com altos índices de morbimortalidade na população brasileira. Atualmente, o câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete as mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos (INCA, 2014). No Brasil, a maior causa de morte entre as mulheres é a neoplasia da mama e, mundialmente, somente dá lugar ao câncer de pulmão. Desta maneira, tornou-se um problema de saúde pública, tendo em vista que cada vez mais aumenta as taxas de mortalidade, diferentemente das medidas de controle e detecção precoce da doença, que não sofrem o mesmo aumento (SILVA E RIUL, 2011) As dificuldades encontradas na atenção primária em orientar quanto aos fatores de risco e realização da detecção precoce da doença contribuem significativamente para que as taxas de mortalidade por câncer de mama no Brasil continuem altas e, consequentemente, seu diagnóstico e tratamento ocorram muitas vezes em estágios avançados, fato este que comprova o quão necessária é uma equipe da atenção primária em saúde treinada e capacitada para melhor atender as demandas populacionais acometidas pela doença, especialmente nos programas de atenção primária à saúde (MACHADO; PINHO; LEITE, 2009) Diante desta perspectiva, estudos relatam que, no Brasil, a estimativa para o ano de 2014, que também será válida para o ano de 2015, aponta para 576 mil novos casos de câncer, e o câncer de mama será o terceiro tipo mais incidente na população brasileira, dando lugar ao câncer de pele não melanoma e aos tumores de próstata. Para o ano de 2014, são esperados no Brasil 57.120 casos novos de câncer de mama, com um risco estimado de 56,09 casos a cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2014). O Instituto Nacional do câncer (INCA) recomenda e propõe as seguintes estratégias para a detecção precoce do CA de mama: Rastreamento por meio do exame clínico de mama (ECM) para todas as mulheres a partir dos 40 anos, anualmente; Mamografia (MMG) para mulheres com idade entre 50 a 69 anos, com no máximo dois anos de intervalo; Exame clínico da mama e mamografia anual, a partir dos 35 anos, para mulheres pertencentes ao grupo de risco (BRASIL,2009). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), o controle dos fatores de risco seria uma forma de prevenção. Uma maneira de controle do câncer de mama é promover ações que orientem, de forma clara e consistente, quanto à importância de hábitos saudáveis, devendo esta ser uma iniciativa em especial na atenção básica. Nesse sentido, o estudo teve como objetivo delinear o perfil epidemiológico do câncer de mama em mulheres atendidas em um serviço de referência. Os objetivos específicos foram analisar o perfil sociodemográfico das mulheres acometidas pelo CA de mama e correlacionar a detecção precoce da neoplasia da mama com a remissão da doença ao final do primeiro tratamento. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo epidemiológico, de caráter descritivo, quantitativo e retrospectivo sobre a incidência do câncer de mama. Segundo Rodrigues e Ferreira (2010, p.432), “Tais estudos avaliam a situação da população em um determinado momento, são de fácil rea- lização e, em saúde pública, tornam-se linha de base para planejamento em saúde”. Os dados foram coletados em um hospital de médio porte, conhecido como referência macrorregional em tratamento oncológico, localizado na cidade 309 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar de Barbacena, no interior de Minas Gerais, a 170 km da capital, com uma população de aproximadamente 130.000 habitantes. O projeto foi aprovado pelos órgãos responsáveis pelo serviço no hospital de referência e passou pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, através da submissão na Plataforma Brasil, parecer número 453.797. A coleta de dados foi realizada no mês de janeiro de 2014, e o universo amostrado pela pesquisa constitui-se de 247 fichas de registro de tumor de clientes cadastradas com CID: C50 – Câncer de Mama, no período de 2008 a 2011. A análise das fichas cadastrais faz-se importante, pois fornece informações de extrema relevância sobre a doença em determinadas populações, possibilitando associar sua ocorrência com o perfil sociodemográfico, além de informar sobre estadiamento da doença, tratamentos realizados, recidivas, etc. Das 54 variáveis encontradas nas fichas de registro de tumor, entraram no critério de exclusão 43, pois não continham informação suficiente ou não faziam parte do assunto tratado na pesquisa, podendo interferir na análise dos dados. Os dados foram analisados através do estudo de variáveis que possibilitaram traçar o perfil epidemiológico dos casos de câncer de mama em mulheres registrados no período de 2008 a 2011. Após a coleta dos dados necessários para o estudo, os resultados foram lançados no programa planilhas de Excel® e tabulados. Para a análise dos resultados, os dados coletados nesta pesquisa foram confrontados com a literatura nacional que trata do assunto e com os dados disponíveis sobre o nível de ocorrência do CA de mama feminino em território nacional e estadual, disponíveis pelo Ministério da Saúde. As variáveis do estudo foram: procedência, origem do encaminhamento, idade, raça/cor, escolaridade, estado conjugal atual, lateralidade do tumor, estadiamento do tumor, diagnóstico e tratamento anteriores, primeiro tratamento recebido no hospital e estado da doença ao final do 1° tratamento no hospital. Resultados e Discussão Neste estudo foram analisadas 247 fichas de registro de tumor de clientes cadastradas com CID: C50 no período de 2008 a 2011. Quanto ao perfil sociodemográfico das mulheres acometidas pelo CA de mama, foram explicitados idade, raça/ cor, escolaridade, procedência e estado civil (Tabela 1). Em se tratando da idade, a faixa etária predominante dos casos foi entre 50 a 71 anos de idade (71 casos, 29%). Estudo coloca que idade avançada, história familiar (mulheres que apresentam mutação nos genes BRCA1 e BRCA2), especialmente se um ou mais parentes de primeiro grau foram acometidas antes dos 50 anos, características reprodutivas e hábitos de vida podem ser considerados os principais fatores de risco para adquirir esta patologia (SILVA E RIUL, 2011). A raça branca foi a mais acometida, 184 (74,4%). A maioria das mulheres procedeu do meio urbano, 153 (62%). Também pode ser relacionado com o câncer de mama o processo de urbanização da sociedade, evi- 310 denciando maior risco da doença em mulheres com um elevado nível socioeconômico, ao contrário do câncer do colo do útero (BRASIL, 2014). A maioria das mulheres eram casadas, 111 (45%), e 125 (51%) foram atendidas pelo SUS. Grande parte dessas mulheres chegou ao serviço sem diagnóstico e sem tratamento anteriores, 139 (56%). A detecção precoce significa diagnosticar a anormalidade clínica em primeira instância, pois identificar a doença precocemente é fundamental para minimizar os agravos relacionados à mama (BRASIL, 2011). Quanto ao tratamento, a maior parte das mulheres, 56 (63,21%), recebeu tratamento combinado que incluiu cirurgia, quimioterapia, dentre outros. Das 247 mulheres analisadas pelo estudo, 88 (36%) tiveram remissão completa da doença ao final do primeiro tratamento, enquanto 20 (8%) foram a óbito. As variáveis sociodemográficas estão descritas na tabela 1. Área - Ciências da Saúde TABELA 1 – Caracterização das participantes do estudo quanto aos dados sociodemográficos. Barbacena-MG, 2014. Variáveis Faixa etária 20 a 29 anos 30 a 39 anos 40 a 49 anos 50 a 59 anos 60 a 69 anos 70 a 79 anos 80 a 89 anos 90 a 99 anos Raça/cor Branca Preta Parda Amarela Sem informação Escolaridade Nenhuma Fundamental incompleto Fundamental completo Nível médio Nível superior completo Superior incompleto Sem informação Procedência Barbacena Demais regiões Estado civil Solteiro Casado Viúvo Separado judicialmente Sem informação Frequência Porcentagem(%) 02 19 57 71 52 28 15 03 0,8 7,7 23 29 21 11,3 6 1,2 184 19 31 01 12 74,4 7,7 12,5 0,4 5 21 65 37 25 17 01 81 8,5 26,3 15 10 6,8 0,4 33 153 94 62 38 54 111 65 16 01 21,9 45 26,3 6,4 0,4 Fonte: Elaborada pela autora com base nos dados da pesquisa Conclusão Salientamos que o presente estudo apresenta dados parciais de análise, embora seja possível fazer algumas inferências preliminares dos dados obtidos com a importância da detecção precoce pelos serviços de atenção primária em saúde. Países europeus têm apresentado resultados de diminuição da mortalidade por câncer em mulheres depois de efetivo rastreamento a partir dos 50 anos de idade. Neste estudo, observamos que mais de 50% das mulheres chegaram ao serviço de oncologia sem um diagnóstico prévio, e houve concentração do número dos casos ente 50 e 70 anos. Esses resultados apontam na direção de que o rastreamento do câncer de mama proposto pelo INCA para estados e municípios não está sendo colocado em prática em plenitude pelos serviços de atenção primária em saúde. Nesse sentido, os serviços de saúde precisam treinar profissionais da atenção primária para sensibilizá-los sobre a importância do controle dos fatores de risco. E, fundamentalmente, é preciso criar estratégias que facilitem o acesso aos serviços do SUS a todas as mulheres, para garantir a efetividade do rastreamento para a detecção precoce do CA de mama. 311 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Referências INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. INCA. Coordenação Geral de Ações Estratégicas. Coordenação de Prevenção e Vigilância. Estimativa 2014: incidência do câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2014. 124 p. Disponível em:< http://www.inca.gov.br/estimativa/2014/estimativa-24042014.pdf>. Acesso em: 10 maio 2014. MACHADO, F. S.; PINHO, I. G.; LEITE, C. V. A Prevenção Do Câncer De Mama Pela Atenção Primária Sob A Ótica De Mulheres Com Esta Patologia. Revista Enfermagem Integrada, Ipatinga, v. 2, n. 2, p. 271-283, nov./ dez. 2009. 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Acesso em: 27 ago. 2013. 312 Área - Ciências da Saúde A INFLUÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE E DA RELIGIOSIDADE NO TR ATAMENTO ONCOLÓGICO: A PERCEPÇ ÃO DA PESSOA COM C ÂNCER Pollyane Teixeira Rocha Orlene Veloso Dias [email protected] Introdução O termo câncer (neoplasias malignas) é empregado para indicar um grupo de doenças que se caracterizam pela perda do controle da divisão celular e pela habilidade de invadir outras estruturas orgânicas. O câncer pode acometer pessoas de todas as idades, contudo há associação entre envelhecimento e pluralidade dos tipos de câncer (BRASIL, 2010). O diagnóstico de câncer e todo o processo de tratamento têm considerável impacto no funcionamento físico, na saúde mental e no bem-estar do paciente. Acarreta ruptura na qualidade de vida, angústias, ansiedades, medos, frustrações e sensações de isolamento. Nessas situações de dor e sofrimento, muitos clientes procuram significados e explicações que vão muito além das percepções do aqui e agora, da dimensão terrena de entender o que se passa. O envolvimento religioso e espiritual tem sido afiliado de forma positiva ao enfrentamento do paciente à doença crônica, na medida em que possibilita menos sintomas depressivos, maior adesão ao tratamento, diminuição do estresse e maior qualidade de vida. Estudos apontam que é comum o uso das crenças religiosas por parte do paciente para suportar as doenças (COSTA, 2010). O fenômeno religioso cumpre papel de facilitador para as pessoas sobre a compreensão do inexplicável e a aceitação do que nunca fora imaginado, em caso de situações-limite, como no caso do câncer. A doença leva o ser humano a deparar-se com seus valores e com questões como a existência e a proximidade da morte. De forma positiva, a religiosidade está associada a estratégias de enfrentamento ativo, planejamento, reinterpretação positiva e suporte social instrumental e emocional. Assim, constitui-se como uma estratégia de enfrentamento importante diante de situações consi- deradas difíceis, como é o caso do diagnóstico do câncer, que produz um forte impacto na vida do indivíduo e cujo tratamento é permeado de eventos estressores (FORNAZARI; FERREIRA, 2010). Religiosidade e espiritualidade, apesar de se associarem, não coincidem. A religiosidade abrange um sistema de crenças e doutrinas que é compartilhado por um grupo e tem atributos comportamentais, sociais e morais próprios. A espiritualidade pauta com a construção do significado da vida pelo sujeito. É, portanto, individual e parte da concepção de que há mais na vida do que aquilo que pode ser visto ou plenamente entendido (COSTA, 2010). A religiosidade e a espiritualidade têm sido identificadas como possíveis fatores de prevenção ao desenvolvimento do impacto negativo de doenças e eventual redução de óbitos. Um estudo concluiu que a prática regular de atividades religiosas pode reduzir o risco de óbito em cerca de 30%. É necessário considerar a dimensão espiritual do paciente, para abordar a esperança e o enfrentamento da doença no planejamento da assistência, e, para isso, é fundamental conhecer a visão de mundo e a cultura à qual ele pertence (GUIMARÃES; AVEZUM, 2007; GUERRERO; et al., 2011). Nesse contexto, verifica-se a importância de se analisar a temática apresentada, levando em questão a seguinte questão norteadora: Qual a interface entre espiritualidade e religiosidade no processo de recuperação e enfrentamento da neoplasia sob a ótica do portador? Assim, o objetivo deste trabalho é descrever a influência que a religiosidade e a espiritualidade têm no processo de enfretamento e recuperação, na percepção dos pacientes oncológicos, de uma instituição hospitalar situada em Montes Claros - MG. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo de campo de caráter qualitativo descritivo, que foi desenvolvido com seis indivíduos com neoplasia submetidos a alguma modalidade de tratamento para o câncer. A meto- dologia qualitativa preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada sobre investigações, hábi313 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar tos, atitudes e tendências de comportamento. Essa abordagem tem como fundamento teórico, além de permitir desvelar processos sociais ainda pouco conhecidos referentes a grupos particulares, propiciar a construção de novas abordagens, a revisão e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação (MINAYO, 2008). As pesquisas descritivas têm como objetivo a descrição das características de determinada população, podendo ser elaboradas também com a finalidade de identificar possíveis relações entre variáveis. Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, e pretendem determinar a natureza dessa relação. Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa (GIL, 2010). O estudo foi realizado em uma instituição de atenção hospitalar localizada no município de Montes Claros – MG, referência no tratamento do câncer. Atualmente são 117 leitos instalados, sendo que 77,6% são destinados ao Sistema Único de Saúde. Na instituição, são oferecidos serviços de oncologia clínica, oncologia infantil, hematologia, equipe de cirurgia oncológica, quimioterapia e radioterapia, além de serviços de alta complexidade nas mais variadas especializações médicas, tais como: Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Nefrologia e Unidade de Terapia Intensiva Adulto, credenciadas como tipo II pelo Ministério da Saúde; Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Cardiovascular, Vascular e Procedimentos da Cardiologia Intervencionista; Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Terapia Nutricional e Oncologia (UNACON I), composta dos serviços de Quimioterapia, Radioterapia, Cirurgia Oncológica e Hematologia. Mais recentemente, foi credenciada pelo Ministério da Saúde para realizar procedimentos de Alta Complexidade em Implante Coclear. O trabalho teve como instrumento entrevistas semiestruturadas, que foram realizadas no período de 01 a 08 de abril. A coleta de dados foi realizada após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNIMONTES, n° 435.899, e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação em pesquisa e também do Termo de Concordância da Instituição para participação em pesquisa. Os dados levantados através das entrevistas foram avaliados e discutidos de acordo com os procedimentos de Análise Categorial Temática de Conteúdo, proposta por Bardin (1977). Já quanto à discussão dos resultados, esta foi realizada com base na revisão da literatura e dos critérios previamente determinados cientificamente. Utilizou-se parte do trabalho, pois este está em fase de construção, assim, aqui serão apresentados resultados parciais da pesquisa, expondo uma categoria de análise. Resultados e Discussão A partir dos relatos obtidos pelas entrevistas, foi observado o valor dado pelos entrevistados ao se referirem à esperança de possibilidade de cura frente ao diagnóstico recebido, a nova luta que estão vivenciando baseados na força da religião e espiritualidade que possuem nesse enfrentamento. Enfrentamento após o diagnóstico de câncer Ao indagar os entrevistados a respeito do enfrentamento, como que cada um se preparou emocional e psicologicamente para enfrentar, a partir do dia do diagnóstico, aquela nova situação, todos eles tiveram como ponto base de adaptação de vida a fé, Deus, a religião e o pensamento positivo: E2- “Em Jesus, (hahaha- risos). Porque Jesus é força, para enfrentar com a fé muitos dias de minha vida”. E3- “Baseio plenamente em Deus porque ele é os médicos dos médicos, eu to aqui pela força dele, e isso que to passando é uma provação para fortalecer ainda mais, mais sei que ele vai me curar”. E4-“ Baseio na fé, creio em Jesus em Nossa Senhora, eu vejo o programa Novena do Pepeto Socorro, Novena do Pai Eterno, to rezando para isso, tomando água benta e pedindo a Nossa Senhora e a Jesus Cristo e ao Pai Eterno para mim ajudar.” E5- “Ai eu tive fé sabe! Acreditei em Deus também, 314 porque quando a gente fica desse jeito todo mundo fica preocupado. Além disso, eu tenho uma irmã que mora lá em Brasília, e ela me disse para não ficar preocupada que ela também teve essa doença, se tratou e está bem agora, que é só ter fé que tudo vai dar certo”. Nessas situações de dor e sofrimento, muitos clientes procuram significados e explicações que vão muito além das percepções do aqui e agora, da dimensão terrena de entender o que se passa. O envolvimento religioso e espiritual tem sido afiliado de forma positiva ao enfrentamento do paciente à doença crônica, na medida em que possibilita menos sintomas depressivos, maior adesão ao tratamento, diminuição do estresse e maior qualidade de vida (COSTA, 2010). O fenômeno religioso cumpre papel de facilitador para as pessoas sobre a compreensão do inexplicável e a aceitação do que nunca fora imaginado, em caso de situações-limite, como no caso do câncer. A doença leva o ser humano a deparar-se com seus valores e com questões como a existência e a proximidade da morte. De forma positiva, a religiosidade está associada a estratégias de enfrentamento ativo, planejamento, reinterpretação positiva e suporte social instrumental e emocional. Assim, constitui-se Área - Ciências da Saúde como uma estratégia de enfrentamento importante diante de situações consideradas difíceis, como é o caso do diagnóstico do câncer, que produz um forte impacto na vida do indivíduo e cujo tratamento é permeado de eventos estressores (FORNAZARI; FERREIRA, 2010). A religião e a espiritualidade constituem um importante apoio no enfrentamento da doença e na manutenção e recuperação da saúde, uma vez que a fé e a esperança podem ajudar a aliviar a dor e o sofrimento causados pela presença da doença em seu cotidiano, além de representar esperança em relação à cura (CORREIA, 2006). As pessoas religiosas podem encontrar certo significado em situações ameaçadoras de vida e até em situações com resultados fatais prováveis. A religiosidade e a espiritualidade sempre foram consideradas importantes aliadas das pessoas que sofrem e/ou estão doentes. Os possíveis benefícios da espiritualidade sobre a saúde podem estar associados desde as reações fisiológicas mais simples-redução da tensão muscular, da frequência cardíaca e da pressão arterial - até o controle da dor e do sofrimento, com diminuição das reações ao estresse, levando a um maior equilíbrio das respostas imunologicamente moduladas. Isso pode ser devido, em parte, ao fato de que as atitudes de fé e esperança implicam um acordo de controle interno e, na sequência, um caminho ético que envolve a realização, cujo significado pode conduzir a uma melhoria de autoestima e um senso de conexão com o próprio e outros (FLECK, et al.,2003; FILHO, 2007). Considerações Finais Com este estudo, apesar de estar analisando resultados parciais de uma categoria, é possível compreender os significados de espiritualidade e religiosidade no enfrentamento do câncer, a visão do indivíduo frente a uma temática tão subjetiva e ampla para o mesmo, considerando que esse se mostra em um posicionamento afirmativo na possibilidade de bons resultados acerca do tratamento. Os resultados demonstraram que a espiritualidade pode ser uma forma de estratégia de enfrentamento do paciente perante o câncer, considerando que o próprio paciente poderá atribuir significado ao processo saúde-doença, em busca da sobrevivência e com apego à fé, para minimizar o seu sofrimento ou obter maior esperança de cura durante o tra- tamento, enfrentamentos estes adquiridos na vida social. A importância do reconhecimento da espiritualidade como estratégia de enfrentamento e a identificação das carências espirituais do paciente fazem com que os profissionais possam planejar e fornecer uma assistência da forma mais integral possível. O presente estudo envolve um número pequeno de pacientes oncológicos e, de maneira alguma, esta é uma compreensão definitiva sobre a relação espiritualidade e câncer, pois a realidade sociocultural é dinâmica e multidimensional, o que nos restringe a abordá-la sempre parcialmente e de modo superável no espaço e no tempo. Referências BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70. 1977. CORREA, D. A. M. Religião e saúde: um estudo sobre as representações do fiel carismático sobre os processos de recuperação de enfermidades no grupo de oração da RCC em Maringá, PR. Cienc. cuid. Saúde, v. 5, p. 134-141, 2006. COSTA, D. S. Espiritualidade: Um recurso importante na terapêutica do paciente oncológico. 2010. Disponível em: http://dspace.universia.net/bitstream/2024/725/1/Espiritualidade+-+um+recurso+importante+na+terapeutica+do+paciente+oncologico.pdf FILHO, V. P. D.; SÁ, F. C. Ensino médio e espiritualidade. Mundo saúde, v. 31, n. 2, p. 273-80, Abr-jun., 2007. FLECK, M. P. A. B.; NEWLANDS, Z.; BOLOGNESI, G.; ROCHA, N. S. Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. Rev Saúde Pública, v. 37, n. 4, p. 446-455, 2003. FORNAZARI, S. A.; FERREIRA, R. R. Religiosidade/Espiritualidade em Pacientes Oncológicos: Qualidade de Vida e Saúde. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 26, n. 2, p. 265-272, 2010. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2010. 315 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar GUERRERO, G. P.; ZAGO, M. M. F.; SAWADA, N. O.; PINTO, M. H. Relação entre espiritualidade e câncer: perspectiva do paciente. Rev. bras.enferm, v. 64, n. 1, p. 53-59, 2011. GUIMARÃES, H. 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Disponível em: http://www.inca.gov.br/estimativa/2010/ 316 Área - Ciências da Saúde DE TERMINAÇ ÃO DA PRESENÇ A DE HELICOBAC TER PYLORI EM C ÂNCER GÁSTRICO Thaisa Crespo Lorenna Rabelo Oliveira Leal Juliana Antunes Alves João Marcus Oliveira Andrade Alanna Fernandes Paraíso Antônio Sérgio Barcala Jorge Sérgio Henrique Sousa Santos [email protected] Introdução O câncer de estômago refere-se a qualquer neoplasia maligna que surja entre a região que se estende da junção gastroesofágica ao piloro, sendo que cerca de 95% são de origem epitelial e designados de adenocarcinomas, enquanto os adenoescamosos, carcinomas escamosos e não diferenciados são, raros (SARBIA; BECKER; HOFLER, 2004). A Organização Mundial de Saúde (OMS) e o sistema de classificação de Lauren descrevem dois tipos histológicos de câncer gástrico, que são clínica e epidemiologicamente distintos: intestinal e difuso (NAGINI, 2012). O câncer de estômago do tipo intestinal revela a presença de metaplasia, que substitui o epitélio gástrico por elementos histológicos que reproduzem o epitélio duodenal, e é caracterizado pela presença de células neoplásicas coesas que formam estruturas tubulares e uma massa discreta, ao passo que, no tipo difuso, as células cancerosas infiltram-se difusamente na parede do estômago (HOWSON; HIYAMA; WYNDER, 1986). Assim, o tipo intestinal apresenta uma estrutura globular definida, às vezes com papila ou componentes sólidos, enquanto o tipo difuso é composto por células separadas ou pequenos agrupamentos de células com secreção mucinosa distribuída por todo o citoplasma das células ou, se extracelular, dispersa no estroma (AMOROSI et al., 1988). O tipo intestinal é mais comum no sexo masculino, em negros em grupos etários mais velhos, enquanto o tipo difuso tem uma relação homem-mulher semelhante e é mais frequente em indivíduos mais jovens (LAUREN, 1965). Seu pico de incidência ocorre em homens, por volta dos 70 anos, porém, cerca de 65% dos pacientes diagnosticados com câncer de estômago têm mais de 50 anos. No Brasil, esses tumores aparecem em terceiro lugar na incidência entre homens e em quinto, entre as mulheres. Alta mortalidade é registrada atualmente na América Latina, principalmente na Costa Rica, no Chile e na Colômbia. Porém, o maior nú- mero de casos ocorre no Japão, onde são encontrados 780 doentes por 100.000 habitantes. A estimativa de novos casos no ano de 2012 foi de 20.090, sendo 12.670 homens e 7.420 mulheres. O número de mortes no ano de 2020 corresponderá a, aproximadamente, 22.035, sendo 8.633 homens e 13.402 mulheres (INCA, 2011). Apesar da etiologia multifatorial, mais de 80% dos casos são atribuídos a infecção por Helicobacter pylori (HP), que infecta cerca de 50% da população mundial. Outros fatores, como dieta, estilo de vida, genética, socioeconômicos e outros, podem contribuir para a carcinogênese gástrica (NAGINI, 2012). O Helicobacter pylori é uma bactéria de forma espiral, Gram-negativa, microaerófila, que desempenha um papel importante na patogênese da gastrite crônica, da úlcera péptica e, com evidências a partir de dados recentes, do câncer gástrico (BLASER; PARSONNET, 1994). Sua distribuição mundial, a alta prevalência e a importância de patologias associadas fazem da eliminação do H. pylori uma maneira bastante útil para controlar e tratar estas doenças gastrointestinais, já que sua erradicação resulta em redução comprovada no índice de recorrência de úlceras duodenais e gástricas (HENTSCHEL et al., 1993). O desenvolvimento de carcinoma gástrico invasivo envolve uma evolução progressiva a partir de lesões pré-cancerosas. A OMS classificou HP como agente carcinogênico do grupo I para a ocorrência de neoplasias gástricas. Essa bactéria secreta vários produtos que causam danos à mucosa gástrica, como urease, protease, fosfolipase, amônia e acetaldeído, desorganizando a função de barreira gástrica via urease mediada pela ativação da miosina II (WROBLEWSKI et al., 2009), o que promove a progressão sequencial do epitélio gástrico normal para gastrite atrófica, metaplasia intestinal e displasia para carcinoma (KIM; RUIZ; CARROLL; MOSS, 2011). A sequência metaplasia / displasia / carcinoma é mais relevante para o câncer gástrico do tipo intestinal, 317 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar que se desenvolve através de uma série de alterações genéticas cumulativas semelhantes aos do câncer colorretal (CORREA; PIAZUELO, 2012). A cirurgia ainda é o único procedimento capaz de curar esse tipo de doença, sendo a gastrectomia total reconhecida como padrão-ouro no tratamento da neoplasia gástrica localizada no terço proximal do estômago (MACHI; TAKEDA; KAKEGAWA; COELHO, 2006) e a gastrectomia subtotal sendo utilizada para tratamento das lesões localizadas nos terços médio e distal. Nesse procedimento, deve-se respeitar margem de segurança de cinco a seis centímetros nos casos de neoplasia avançada e de dois nos de neoplasia precoce (MACHI et al., 2006; BOZ- ZETTI et al., 1999; FREITAS; DIAS; OKAWA; COELHO, 2008). A demonstração direta de HP em amostras de biópsia gástrica é possível através da utilização de cultura, exame histológico com várias colorações e ensaios para a atividade da urease. Recentemente, os ensaios com base em tecnologia de PCR foram utilizados para detectar a presença de HP DNA usando vários genes alvos (LAGE et al., 1995). Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar, em amostras histológicas a correlação de análise de HP por meio da técnica de PCR e de histologia em pacientes portadores de câncer gástrico que se submeteram a tratamento cirúrgico. Materiais e Métodos Estudo descritivo e transversal, realizado através da análise de 39 casos de pacientes de ambos os sexos, na faixa etária de 40 a 81 anos, com câncer gástrico diagnosticado, tratados cirurgicamente e cujas peças anatomopatológicas foram enviadas ao Departamento de Patologia da Fundação Dilson Godinho, no período de 2003 a 2011. Posteriormente, cortes histológicos do material fixado em formalina, incluído em parafina, foram acondicionados no Laboratório de Pesquisa em Saúde do Hospital Universitário Clemente de Faria da Universidade Estadual de Montes Claros – MG (Unimontes) para realização da PCR. As informações clínicas foram obtidas nos prontuários médicos destes pacientes. Realizaram-se cortes histológicos de 10μm, corados por hematoxilina-eosina e posteriormente submetidos a exame histopatológico para caracterização de tipo histológico e estadiamento das neoplasias, com posterior extração do DNA genômico dos tumores e respectivos tecidos normais de cada paciente. A pesquisa de HP foi feita pelo exame histológico, na mucosa gástrica adjacente à neoplasia, em cortes corados pelo método de Giemsa, com caracterização dos genótipos feita por PCR revelada no gel de acrilamida a 10%, com modelo do primer 342 pares de base. Todas as informações coletadas foram codificadas, digitadas e processadas no programa SPSS versão 19.0. Em todas as etapas da coleta de dados, foram assegurados o sigilo e a confidencialidade das informações por envolver pesquisa com seres humanos. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes): Parecer CONEP – BIOBANCO nº. 008/2013 / Registro CONEP B-013 / Processo nº 25000.001815/2013-60, obtendo parecer favorável para sua execução e respeitando os parâmetros contidos na resolução nº196/096 do Conselho Nacional de Saúde/ Ministério da Saúde, que dispõe sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Resultados e Discussão Este estudo descreve a análise da presença de DNA do HP por PCR na mucosa gástrica de 39 pacientes com câncer gástrico. A investigação foi retrospectiva, em amostras de tecido fixado em formalina e incluído em parafina. O exame patológico foi revisto em todos os casos, a fim de determinar a presença de infecção pelo HP, a metaplasia intestinal e a confirmação do tipo histológico (classificação de Lauren) por hematoxilina-eosina. Dos 39 pacientes elegíveis para o estudo, 28 (74,4%) eram do sexo masculino e 11 (25,6%) do sexo feminino, com idade média de 61,4, variando de 40 a 84 anos. Quanto ao tipo histológico encontrado, 16 (41,0%) foram do tipo intestinal, 11 (28,2%) difuso e 12 (30,8%) misto. Em relação à abordagem cirúrgica, 26 (66,7%) foram submetidos à gastrectomia total e 13 (33,3%) à gastrectomia subtotal. Sete pacientes (17,9%) 318 tiveram seus tumores localizados no terço proximal; 9 (23%), no terço médio; 20 (51,3%), no terço distal do estômago; 3 (7,7%) não foi especificado local de acometimento. A presença de infecção pelo HP foi determinada por visualização direta da bactéria na mucosa normal adjacente de câncer gástrico. A análise histológica permitiu a visualização direta da bactéria em 5,1% dos casos, e, pela PCR, para o gene urease C, demonstrou -se a presença de DNA da bactéria em 69,2% dos casos. A análise pelo método de PCR demonstrou a presença da bactéria em 27 (69,2%) casos. Doze pacientes tiveram o exame PCR negativo, dentre os quais apenas 01 (8,3%) apresentou histologia positiva para HP. Área - Ciências da Saúde Tabela 1 - Características demográficas e patológicas dos 39 casos de câncer gástrico. Variável Gênero Local Tipo histológico Categoria Masculino Feminino Antro Corpo Piloro Fundo Não especificado Intestinal Misto Difuso Total A proporção entre homens (29 – 74,4%) e mulheres (10 – 25,6%) foi condizente com a literatura, que indica uma maior proporção de homens em relação às mulheres, com variações de 1,8 a 2,56 (BANI-HANI et al., 2004; WU et al., 1997). A média de idade encontrada, 61,4 anos, é corroborada por outros estudos, que mostram o aumento da incidência em idade mais avançada, com média de idade de 61,2 anos. Os pacientes com menos de 40 anos representam 8,5% do total (BANI-HANI et al., 2004). Considerando os tipos intestinal e difuso, o primeiro apresentou o número de 16 (59,3%) pacientes, enquanto o segundo, 11 (40,7%) pacientes. Foram encontrados na literatura dados semelhantes: o intestinal 53,3%, enquanto o difuso representa 46,7% dos casos (HUSCHER et al., 2005). O método histológico adiciona dados sobre a mucosa gástrica, como grau de inflamação, atividade inflamatória, atrofia, identificação de metaplasia intestinal e outras informações úteis no cuidado ao paciente, porém é um método no qual a acurácia na identificação da bactéria sofre influências devido à dependência Nº casos (%) 29 10 16 09 04 07 03 16 12 11 39 74,4 25,6 41,0 23,1 10,3 17,9 7,7 41,0 30,8 28,2 100% do número de fragmentos de biópsias (KHULUSI et al., 1995). Apesar do baixo custo e da eficiência, a visualização direta ao microscópio apresenta menor sensibilidade quando comparada a outros métodos. Já a PCR, apesar do custo, apresenta maior sensibilidade, visto que identificou a presença do HP em 26 (66,7%) amostras que haviam sido negativas ao exame histológico. A molécula de DNA é quimicamente estável e pode sobreviver no ambiente por períodos longos (DATTA et al., 2005), de forma que PCR pode ser útil em detectar a presença de HP, mesmo com quantidades muito pequenas de DNA ou quando o organismo se encontra num estado não cultivável. Já o teste da urease é empregado para se detectar, indiretamente, a presença de HP no estômago de pacientes submetidos à endoscopia digestiva, porém pode advir a incerteza do local mais adequado para se coletar material para o teste (TENÓRIO; MELO JUNIOR, 2010). Esses resultados destacam a alta prevalência de infecção por HP no estômago de pacientes com câncer gástrico e confirmam a relevância da bactéria na patogênese do câncer gástrico. Conclusões O estudo mostrou dados epidemiológicos similares aos encontrados na literatura. Destaca-se a alta prevalência de infecção por Helicobacter pylori no estômago de pacientes com câncer gástrico na região norte de Minas Gerais, reforçando a participação dessa bactéria na cadeia de eventos da oncogênese gástrica. Mostrou-se que a presença da infecção por Heli- cobacter pylori avaliada por PCR possui maior sensibilidade em comparação à análise histológica, e a PCR, apesar dos custos, apresenta grande sensibilidade, especificidade e rapidez na obtenção de resultados. Espera-se, portanto, que a PCR seja incluída como método diagnóstico de doenças infecciosas e consequente prevenção de neoplasias a elas associadas. Referências AMOROSI, A.; BIANCHI, S.; BUIATTI, E.; CIPRIANI, F.; PALLI, D.; Zampi, G. Gastric cancer in a high‐risk area in Italy: Histopathologic patterns according to Lauren’s classification. Cancer, v. 62, n. 10, p. 2191-2196, 1988. BANI-HANI, K. E.; YAGHAN, R. J.; HEIS, H. A.; SHATNAWI, N. J.; MATALKA, I. I.; BANI-HANI, A. M.; GHARAIBEH, K. A. 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Dessa forma, averiguar o conhecimento das mulheres sobre os fatores de risco, principalmente aqueles relacionados ao estilo de vida, é importante para implementar políticas públicas voltadas para a prevenção primária e, consequentemente, minimizar a incidência da doença na população feminina. Borges et al. (2010) revelam que as dificuldades na prevenção primária contribuem para o aumento da incidência e mortalidade por câncer de mama. De acordo com Linard et al. (2008), esse tipo de neoplasia denuncia a vulnerabilidade da atenção primária à saú- de da mulher no que se refere ao controle dos fatores de risco, assim como os procedimentos a serem implementados ante à instalação da referida doença. Atualmente, existe consenso na literatura científica de que uma das medidas mais efetivas para reduzir a mortalidade do câncer de mama é a prevenção secundária. A detecção precoce e o diagnóstico em estágios iniciais melhoram o prognóstico da enfermidade (GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010). Portanto, é relevante detectar se as mulheres assistidas pela rede de atenção básica do SUS possuem informações relativas à prevenção secundária do câncer de mama, bem como acesso ao exame de mamografia. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi averiguar o conhecimento das usuárias cadastradas em uma equipe da Estratégia Saúde da Família de Januária – MG sobre fatores de risco e medidas de detecção precoce do câncer de mama. Materiais e Métodos Trata-se de um estudo transversal tipo descritivo, com abordagem quantitativa. A amostra foi composta por usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS), devidamente cadastradas em uma unidade de ESF da zona urbana do município de Januária. Como critério de inclusão na amostra, as usuárias deveriam possuir uma faixa etária entre 40 e 69 anos de idade, uma vez que compreende os intervalos de idade de maior incidência do câncer de mama na população feminina, conforme o Instituto Nacional do Câncer (INCA). Foi considerado nível de confiança de 95% e um erro amostral de 5%. Foram acrescidos 10% à amostra, para substituição de possíveis perdas. O instrumento utilizado foi um questionário estruturado utilizado na pesquisa de Batiston et al. (2011), que objetivou avaliar o conhecimento e a prática sobre os fatores de risco para o câncer de mama entre usuárias da Estratégia de Saúde da Família do município de Dourados, no estado de Mato Grosso do Sul. Os dados foram tabulados e processados em banco de dados eletrônico no programa Microsoft® Excel 97 (Sistema Operacional Windows98, Microsoft Corporation, Inc.). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa das Faculdades Unidas do Norte de Minas (FUNORTE), sob o parecer nº 152.889. 321 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Resultados e Discussão Em relação às características sociodemográficas, a maioria das entrevistadas possuíam idade entre 50 a 69 anos de idade (64%), eram de cor parda (69%), casadas (59%) e alfabetizadas (89%). Sobre o conhecimento dos fatores de risco para o câncer de mama, 71% (n=78) das mulheres disseram não os conhecer (Gráfico 01). A despeito da grande quantidade de pesquisas já conduzidas sobre a doença, a etiologia do câncer de mama ainda não está totalmente esclarecida, sendo a mesma atribuída a uma interação de fatores que, de certa forma, são considerados determinantes no desenvolvimento da doença (PINHO e COUTINHO, 2007). Pinho e Coutinho (2005) afirmam ainda que, por ser uma doença com uma base multifatorial, o conhecimento dos fatores de risco, especialmente os hábitos que podem ser alterados, é importante na redução do número de casos. É recomendado que alguns fatores de risco, especialmente a obesidade e o tabagismo, sejam alvo de ações visando à promoção à saúde e à prevenção das doenças crônicas não transmissíveis, em geral (INCA, 2004). Sobre isso, Matos et al. (2010) afirmam que, em termos científicos, não há estratégias específicas que permitam a prevenção primária do câncer de mama, embora sua incidência possa ser diminuída através de ações voltadas para a promoção da saúde, enfatizando a atenção aos fatores de risco, incluindo obesidade e tabagismo. Gráfico 1 – Conhecimento sobre os fatores de risco relacionados ao câncer de mama Embora cerca de 49% (n=54) das entrevistadas tenham dito que as suas mamas foram avaliadas de 01 até 03 vezes nos últimos 03 anos por um profissional na ESF, um número significativo de mulheres (n=45) afirmaram que, no mesmo período, as suas mamas não foram examinadas por nenhum profissional (Gráfico 02). Borges et al. (2010) revelam que as dificuldades na prevenção primária contribuem para o aumento da incidência e mortalidade por câncer de mama. Em seus estudos, Jacome et al. (2011) observaram uma valorização da prática do exame clínico das mamas por parte dos médicos e enfermeiros na abordagem de mulheres jovens assintomáticas e sintomáticas, pertencentes ou não a grupo de risco para o câncer de mama. Fato realmente importante, uma vez que alguns estudos científicos mostram que 5% dos cânceres da mama são detectados através do exame clínico das mamas em pacientes com mamografia negativa, benigna ou provavelmente benigna (BRASIL, 2006). Gráfico 2 – Frequência de mulheres nas quais foi realizado exame das mamas por um profissional de saúde da equipe da Estratégia Saúde da Família nos últimos 3 anos 322 Área - Ciências da Saúde De acordo com Linard et al. (2008), esse tipo de neoplasia denuncia a vulnerabilidade da atenção primária à saúde da mulher no que se refere ao controle dos fatores de risco, assim como os procedimentos a serem implementados ante à instalação da referida doença. Portanto, a recomendação do INCA (2004) para o rastreamento do câncer de mama inclui exame das mamas anual para mulheres a partir dos 40 anos e realização de mamografia pelo menos a cada dois anos entre 50 e 69 anos; para mulheres pertencentes a grupos populacionais com risco elevado de desenvolver câncer de mama, exame clínico e mamografia anuais a partir dos 35 anos. Para Bim et al. (2010), o bom prognóstico do câncer de mama, quando detectado precocemente, incentiva a elaboração de estudos que identifiquem ca- racterísticas da população feminina e sua relação com condutas positivas quanto a essas práticas preventivas. Tal conhecimento pode fundamentar ações dos profissionais de saúde e contribuir efetivamente para a melhoria da qualidade de saúde da mulher. Ainda foi possível identificar com a pesquisa que cerca de 69% (n=75) das participantes responderam que já realizaram a mamografia pelo menos uma vez, 33 nunca realizaram e 1 não lembra. Vários estudos recomendam o desenvolvimento de programas de triagem mamográfica para reduzir significativamente a morbidade e a mortalidade do câncer de mama, uma vez que o exame viabiliza o diagnóstico em estágios nos quais ainda não há manifestações de sinais e sintomas, melhorando significativamente o prognóstico da doença (GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010). Conclusões O presente trabalho revelou que a maioria das usuárias da equipe Saúde da Família estudada desconhecem os fatores de risco relacionados ao câncer de mama. Observou-se, ainda, que aproximadamente metade das mulheres entrevistadas não realizam o exame de mama através de um profissional de saúde, e pouco mais da metade já realizou o exame de mamografia, o que demonstra que as ações de detecção precoce do câncer de mama da unidade básica de saúde ainda são incipientes. Tais resultados demonstram a importância de ações educativas e também de políticas públicas de saúde que busquem conscientizar a população de risco sobre a prevenção do câncer de mama através do exame clínico das mamas e mamografias, e que melhorem a oferta dos serviços e o acesso desse público a recursos que possibilitem diagnóstico precoce. Ainda, tendo em vista o grande número de mulheres entrevistadas que desconhecem os fatores que aumentam a chance de desenvolvimento desse tipo de neoplasia, é imprescindível que ocorra a expansão do conhecimento sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da doença na população feminina. Sugerem-se ações educativas enfáticas a respeito de fatores modificáveis, como aqueles relacionados aos hábitos de vida, uma vez que a adoção de hábitos saudáveis contribui não só para a prevenção do câncer como melhora significativamente a qualidade de vida e previne outras patologias. Referências BATISTON, A. P.; TAMAKI, E. M.; SOUZA, L. A.; SANTOS, M. L. 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Utilizaram-se camundongos fêmeas, que foram aleatoriamente separados em 4 grupos, contendo 6 animais/grupo em cada gaiola. O grupo 1 foi representado por animais tratados com salina + meio de cultura Caldo BHI (SAL + BHI); o grupo 2 por animais tratados com salina + Bactéria Acido Láctica (SAL + BAL); o grupo 3 tratado com etanol + Caldo BHI (EtOH + BHI); e o grupo 4 tratado com etanol + Bactéria Acido Láctica (EtOH + BAL). Após um espaço de 7 dias pós tratamento, os animais foram submetidos à necropsia, sendo retirados os seguintes órgãos: estômago, intestino delgado e intestino grosso. Estes foram lavados com salina fisiológica, e, de cada órgão, foi retirada uma porção de tecidos que foi inserida em tubo contendo 900µL de salina + 100µL de Tween, centrifugados e o sobrenadante foi utilizado para análise microbiológica. Os resultados apontam que o álcool inibiu a presença de EMAGN no estômago, sendo que, no tratamento com a presença da BAL, sem a injúria alcoólica, houve redução da diversidade de EMAGN. No intestino grosso, o tratamento com a BAL inibiu a presença das EMAGN. Quando analisadas as frequências de isolamento de Lactobacillus presuntivos, o álcool teve um efeito estressante sobre as populações destas bactérias. Expressão mais acentuada foi observada no estômago, tanto na amostragem do lavado, quanto na amostragem do tecido. Este fenômeno não foi evidente no intestino delgado, e, no intestino grosso, houve um incremento da diversidade destas bactérias no tratamento em que se induziu a injúria com álcool, sem, contudo, aplicar a BAL. Introdução O trato gastrointestinal (TGI) é um ecossistema complexo gerado pela aliança do epitélio, pelas células do sistema imunológico e pela microbiota residente (COCHETIÈRE, 2007). A concentração bacteriana varia ao longo do trato gastrointestinal. Devido à presença de ácido, há uma quantidade limitada de bactérias ao nível gástrico; já ao nível do intestino delgado, a quantidade aumenta gradualmente, atingindo valores próximos de 10³ ufc.ml -1. Quando a válvula ileocecal é ultrapassada, esse valor aumenta significativamente, atingindo valores de 1014ufc.ml -1 no cólon (DEFILIPPI, 2010). A microbiota intestinal é constituída predominantemente por poucos gêneros bacterianos, altamente diversos quanto às espécies. Os gêneros comumente encontrados são: Bacteroides, Eubacterium, Bifidobacterium, Peptostreptococcus, Fusobacterium, Ruminococcus, Clostridium, Streptococcus, Lactobacillus e Escherichia, que podem viver em simbiose com o hospedeiro ou possuir um comportamento comensal, que, ao alterar o equilíbrio do meio em que vivem, se tornam patogênicas para o hospedeiro. Essa interação micróbio-hospedeiro traz diversas funções positivas para o equilíbro intestinal, em que esses microrganismos agem impe325 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar dindo o estabelecimento de bactérias patogênicas, estimulam o sistema imunológico, contribuem para nutrição e metabolismo do hospedeiro (BRANDT, 2006). As bactérias ácido-lácticas (BAL) são encontradas na natureza e no trato gastrointestinal, possuem atributos probióticos, ou seja, produzem efeitos benéficos no hospedeiro, e são usadas para prevenir e tratar doenças, como promotores de crescimento e como imunoestimulantes (COPOLLA, et al., 2004). Dentre as bactérias lácticas, as do gênero Lactobacillus spp são bactérias que possuem ação antagonista contra uma importante série de patógenos como Escherichia coli e Salmonella thypimurium, que fazem parte da família Enterobacteriaceae, um grande grupo de bactérias gramnegativas o qual inclui bactérias patogênicas do trato gastrointestinal (PUERTA-GARCIA, 2010). O uso de bactérias ácido-lácticas como probióticos se deve à sua capacidade de inibir o crescimento de bactérias patogênicas pela produção de compostos antibacterianos, como: bacteriocinas, peróxido de hidrogênio, ácido láctico e reuterim (FULLER, 1989). Os agentes antimicrobianos introduzidos pela ação exógena são capazes de causar as mais rápidas e drásticas mudanças na microbiota normal, podem ocorrer quando os mecanismos de defesa da mucosa são quebrados por agentes infecciosos e irritantes, doenças autoimunes, fumo, estresse, uso prolongado de anti-inflamatórios não esteroidais (NSAIDs) e ingestão de álcool (NAITO, 2001; WU, 2004). Uma alternativa inovadora de tratamento de doenças que acometem o trato gastrointestinal, ainda em fase experimental, é a administração oral de microrganismos produtores de imunomoduladores. Neste caso, microrganismos que fossem bons produtores de proteínas heterólogas, capazes de resistir às intempéries do trato gastrointestinal, transientes, e pouco imunogênicos, seriam candidatos ideais neste estudo. Baseado nestes requisitos, as bactérias lácticas poderiam, perfeitamente, desempenhar tal função. Este trabalho teve como objetivo avaliar os reflexos ecológicos, a partir da diversidade cultural de Enterobactérias Mesófilas Aeróbias Gram Negativas (EMAGN) e Lactobacillus (LB) isoladas do trato gastrointestinal (TGI) de camundongos após ingestão injuriante de álcool etílico (EtOH), tendo como medida terapêutica a ingestão de bactérias do acido lático (BAL). Material e Métodos Camundongos fêmeas (entre 8-10 semanas de idade) da linhagem C57BL/6 selvagens, mantidos em gaiolas com água e ração (Labina) ad libitum, a uma temperatura aproximada de 25±2°C e em ciclo claro-escuro de 12 horas foram aleatoriamente separados em 4 grupos, contendo 6 animais/grupo em cada gaiola. O grupo 1 foi representado pelos animais tratados com salina + meio de cultura Caldo BHI (SAL + BHI); o grupo 2 foi representado pelos animais tratados com salina + Bactéria Acido Láctica (SAL + BAL); o grupo 3 foi representado pelos animais tratados com etanol + Caldo BHI (EtOH + BHI); e o grupo 4 foi representado pelos animais tratados com etanol + Bactéria Acido Láctica (EtOH + BAL). Durante 4 dias consecutivos, foi realizada a administração intragástrica (i.g.) de 0,2 mL de etanol (EtOH) 50%/animal ou salina, e vinte e quatro horas após a última administração i.g. (EtOH ou salina), os animais foram tratados com 0,2 mL de Bactéria Acido Láctica (BAL) em Caldo BHI ou somente o meio de cultura Caldo BHI, por via intragástrica, durante 4 dias consecutivos. Após um intervalo de 7 dias, foram realizadas as intervenções experimentais. Durante a necropsia, foram retirados os seguintes órgãos: estômago, intestino delgado e intestino grosso. Os órgãos foram lavados com auxílio de uma seringa com 5mL, 10mL e 5mL de salina fisiológica gelada, respectivamente, e, após, foi retirada uma porção dos tecidos do estômago, intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) e intestino grosso. Estas porções foram inseri326 das em tubo de poliestireno contendo 900µL de salina + 100µL de Tween; os tubos foram centrifugados e o sobrenadante foi utilizado para análise microbiológica. Para as análises microbiológicas, realizaram-se diluições seriadas das amostras (10 -2 e 10 -4), tanto dos lavados quanto dos tecidos. Alíquotas das diluições foram distribuídas superficialmente nos meios de cultura: Agar MacConkey e Agar Rogosa, utilizando alça calibrada de 10µL. As placas contendo Agar Rogosa foram incubadas a 37ºC em microaerofilia, e as placas contendo Agar MacConkey foram incubadas a 37ºC, por 24 horas (overnight). As colônias desenvolvidas a partir das amostras foram selecionadas utilizando microscópio estereoscópico, conforme características morfológicas. Para confirmar a distinção entre as colônias, procedeu-se a bacterioscopia a partir da coloração de Gram. Colônias distintas foram então multiplicadas e conservadas a -20 o C, com aporte de crioprotetor. O projeto foi submetido à Comissão de Ética em Experimentação e Bem-estar Animal (CEEBEA) da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), sob processo de nº 043/2013 para análise e apreciação. Resultados parciais Observou-se que, dentre as enterobactérias mesófilas aeróbias gram negativas (EMAGN) isoladas, 63,6% apresentaram metabolismo positivo para lactose (Lac+), sendo as demais incapazes de fermentar este açúcar. Não foram feitos isolamentos de EMAGN em nenhuma das amostras de tecido do trato gastrointestinal Área - Ciências da Saúde dos animais submetidos à injúria alcoólica, o mesmo ocorrendo com aqueles tratados com a BAL, supostamente probiótica. A lavagem do TGI com solução salina propiciou maior recuperação dessas bactérias, fato que foi mais expressivo no estômago e intestino grosso. O álcool inibiu a presença de EMAGN no estômago, sendo que no tratamento envolvendo a presença da BAL, sem a injúria alcoólica, houve uma aparente redução da diversidade de EMAGN, fenômeno este que se manteve mesmo após a agressão gástrica com o álcool. Contudo, no intestino grosso observou-se um efeito contrário, onde houve um acréscimo da recuperação de microrganismos distintos, sugerindo maior estresse neste sítio, decorrente do uso do álcool. Neste sítio, o tratamento com a BAL inibiu a presença das EMAGN (Tabela 1). Estes resultados apontam para um potencial efeito probiótico da BAL em estudo, sendo capaz de inibir ou suprimir populações de bactérias potencialmente patogênicas, em todo trato gastrointestinal. Tabela 1. Frequência de isolamento de bactérias mesófilas aeróbias gram negativas em trato gastrointestinal (TGI) de camundongos C57BL/6 submetidos à ingestão de álcool etílico (EtOH) e bactérias do acido lático (BAL). Sítios Amostrados Tecido ND Intestino delgado Tecido Lavado Duodeno Jejuno + (4) ND ND Íleo ND Lavado + (2) ND + (2) ND ND ND ND ND + (1) ND EtOH - BHI ND ND + (1) ND ND ND + (4) ND EtOH - BAL + (3) ND ND ND ND ND ND ND Tratamento Estômago Salina - BHI Lavado + (5) Salina - BAL Intestino grosso Tecido ND: não detectado - BHI: Caldo Infuso Cérebro Coração Quando analisadas as frequências de isolamento de Lactobacillus presuntivos, observou-se que as populações destas bactérias estavam mais intimamente ligadas ao trato gastrointestinal, considerando que se encontravam adsorvidas às mucosas. O tecido estomacal foi o mais receptivo para o estabelecimento deste grupo de bactérias, sendo que a colonização se deu também na região do íleo e intestino grosso. Os maiores índices de recuperação se deram através do procedimento de lavagem com solução salina, sugerindo que grande parte das populações encontrava-se em associações transientes (Tabela 2). Contudo, não é per- tinente afirmar a efetividade do envolvimento destes microrganismos com os tecidos em estudo. O álcool teve um efeito estressante sobre as populações destas bactérias de modo distinto em cada uma das partes estudadas do TGI. Expressão mais acentuada foi observada no estômago, tanto na amostragem do lavado, quanto na amostragem do tecido. Este fenômeno não foi evidente no intestino delgado, e, no intestino grosso, houve um incremento da diversidade destas bactérias no tratamento em que se induziu a injúria com álcool, sem, contudo, aplicar a BAL (Tabela 2). Tabela 2. Frequência de isolamento de Lactobacilos presuntivos em trato gastrointestinal (TGI) de camundongos C57BL/6 submetidos à ingestão de álcool etílico e bactérias do acido lático (BAL). Sítios Amostrados Tecido + (3) Intestino delgado Tecido Lavado Duodeno Jejuno + (3) ND ND Íleo + (1) Lavado + (6) + (2) + (1) + (4) + (1) ND ND ND + (5) + (1) ETOH - BHI + (3) + (1) + (3) +(1) ND + (3) + (12) ND ETOH - BAL + (2) + (1) ND +(2) ND ND + (3) ND Tratamento Estômago Salina - BHI Lavado + (7) Salina - BAL Intestino grosso Tecido ND: não detectado - BHI: Caldo Infuso Cérebro Coração 327 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Conclusão As populações bacterianas em estudo variaram em diversidade para os sítios amostrados no trato gastro-intestinal dos animais experimentais, sugerindo níveis de adaptação diferenciados. De modo complementar, estas informações iniciais sugerem que a BAL introduzida como probiótico alterou expressivamente a estrutura das comunidades microbianas presentes no TGI destes animais. As informações, até então observadas, sugerem que a BAL em estudo possui um potencial efeito probiótico, sendo capaz de inibir ou suprimir populações de bactérias potencialmente patogênicas, em todo trato gastrointestinal. O mecanismo de ação desta bactéria deverá ser melhor compreendida em estudos posteriores. Referências DEFILIPPI, C. G. Sobre crescimento bacteriano intestinal. Gastroenterologia Latino americana, v. 2, n. 21, abr., 2010. COCHETIÈRE, M. F. L. et al. Resilience of the Dominant Human Fecal Microbiota upon Short-Course Antibiotic Challenge. Jornal of clinical microbiology, v. 43, n. 11, nov., 2005. BRANDT, K. G.; SAMPAIO, M. M. S. C. S.; MIUKI, C. J. Importância da microflora intestinal, Reviews and Essays, Pediatria. São Paulo, v. 28, n. 2, p. 117-27, 2006. COPPOLA, M. M.; TURNES, C. G. Probióticos e Resposta Imune, Ciência Rural, v. 34, n. 4, p. 1297-1303, 2004. PUERTA-GARCÍA, A.; MATEOS-RODRÍGUEZ, F. Enterobacterias. Medicine, v. 51, n. 11, 2010. FULLER, R. 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Probióticos – microrganismos a favor da vida, Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 11, n. 1, 2011. 328 Área - Ciências da Saúde INCIDÊNCIA DE INFECÇÕES HOSPITAL ARES EM UM SERVIÇO DE NEFROLOGIA EM MONTES CL AROS - MG Bruno Pereira fe Paula Beatriz Rezende Marinho fa Silveira [email protected] Introdução As doenças crônicas são representadas por um grupo que, de modo geral, apresenta uma história natural prolongada. Caracterizam-se por período longo de latência e curso assintomático demorado, envolvimento de múltiplos fatores de risco com participação importante do ambiente. Entre estas, encontra-se a Insuficiência Renal Crônica (IRC), que pode ser referida como um diagnóstico sindrômico de perda progressiva e irreversível da função renal de depuração (BARBOSA et al., 2006). Devido ao seu caráter irreversível, a grande maioria dos pacientes evolui para estágios mais avançados, nos quais se faz necessário o emprego de uma terapia substitutiva dos rins (KIRCHNER; STUMM, 2011). De acordo com o Censo Nacional da Sociedade Brasileira de Nefrologia, o número de pacientes em tratamento dialítico no Brasil em 2011 era de 91.314, e, destes, 90,6% realizavam hemodiálise (SESSO et al., 2012). As infecções da corrente sanguínea (ICS) constituem um dos mais sérios problemas de saúde pública, são responsáveis pela alta morbidade e representam a maior causa de internação entre os pacientes em tra- tamento hemodialítico, elevando, dessa maneira, o custo do tratamento (SOUZA et al., 2011). A infecção é a segunda causa de mortalidade entre pacientes portadores de insuficiência renal crônica terminal (IRCT) e representa aproximadamente 14% dos óbitos entre os mesmos, precedida somente por distúrbios cardiovasculares. Esse fato pode estar relacionado às alterações imunológicas que acometem os pacientes com insuficiência renal crônica como: deficiência na imunidade celular devido à deficiência de aminoácidos, vitamina B, C, D, E e zinco; aumento da atividade supressora celular; anorexia devido à retenção de produtos nitrogenados e anemia significativa, secundária à deficiência de eritropoietina (FRAM et al., 2009). Perdas acidentais de ferro durante as diálises, diminuição de sobrevida de eritrócitos na uremia e também o aumento do risco de processos infecciosos são fatores prognósticos de mortalidade (GROTHE et al., 2010). Nesta perspectiva, este estudo tem como questão norteadora: qual a incidência de infecções hospitalares em um serviço de nefrologia em Montes Claros-MG? Materiais e Métodos Trata-se de um estudo quantitativo, exploratório, descritivo e documental. O cenário desta pesquisa foi o serviço de nefrologia do Hospital Dílson de Quadros Godinho, com uma média de 122 pacientes portadores de insuficiência renal crônica, submetidos ao tratamento de hemodiálise e diálise peritoneal que desenvolveram infecção da corrente sanguínea no período de agosto de 2011 a dezembro de 2013. Foram incluídos todos os pacientes que realizaram hemocultura durante o período estudado. O instrumento de coletas de dados utilizado para realização do presente estudo foi uma planilha elaborada contendo registro da ficha epidemiológica, resultados de exames laboratoriais e dados do prontuário. Os dados coletados no levantamento documental foram lançados em um banco de dados, utilizando Epi Info versão 7, que viabilizou a construção de tabelas e gráficos, subsidiando a análise de incidência de infecções hospitalares bem como os fatores de risco para infecção da corrente sanguínea. A coleta de dados realizou-se após a aprovação deste projeto de pesquisa pela diretoria do hospital e pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade estadual de Montes Claros, com parecer nº: 311.738, aprovado em 21/06/2013. Resultados e Discussão Durante o período de agosto de 2011 a dezembro de 2013, obteve-se uma média de 122 pacientes submetidos à hemodiálise e diálise peritoneal. Foram analisadas 171 hemoculturas, sendo que 78 deram 329 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar positivas, que estão assim distribuídas: 2011- 10 casos, 2012- 38 casos e no ano de 2013 encontram-se registrados 30 casos de infecção da corrente sanguínea. A taxa de infecção relacionada à corrente sanguínea foi de 63,7%, como mostra a tabela 1. TABELA 1: Distribuição das infecções de corrente sanguínea de pacientes submetidos à hemodiálise no Hospital Dílson Godinho no período de agosto de 2011 a dezembro de 2013 Ano 2011 agosto/dezembro 2012 janeiro/dezembro 2013 janeiro/dezembro Total Nº pacientes submetidos à Hemodiálise e Diálise peritoneal 120 118 129 122 Pacientes com ICS % 10 38 30 78 8,3 32,2 23,2 63,7 Fonte: coleta de dados no HDG e Laboratório Santa Clara, 2014. A distribuição das frequências dos 78 micro-organismos identificados nas ICS durante o período de estudo é listada na tabela 2 abaixo. A proporção de bacilos Gram-negativos foi maior que a dos cocos Gram-positivos (67,8% e 31,9%, respectivamente). Entretanto, isoladamente o Staphylococcus aureus foi o micro-organismo mais encontrado na cultura de sangue (19 vezes; 24,3%). TABELA 2: Micro-organismos isolados nas infecções da corrente sanguínea em pacientes submetidos à hemodiálise e diálise peritoneal no Hospital Dílson Godinho de agosto de 2011 a dezembro de 2013 Micro-organismos isolados (N=78) Bacilos Gram-negativos fermentadores Bacilos Gram-negativos não fermentadores Estafilococos coagulase negativa Staphylococcus aureus Enterococcus Estreptococos Total Nº (%) 20 (25,6%) 23 (29,4%) 10 (12,8%) 19 (24,3%) 3 (3,8%) 3 (3,8%) 78 Fonte: Coleta de dados Laboratório Santa Clara, 2014. As infecções da corrente sanguínea (ICS) podem ser divididas naquelas com hemocultura positiva e naquelas somente com critérios clínicos. As ICS com hemocultura positiva têm critério diagnóstico mais objetivo e permitem comparações mais fidedignas entre hospitais. Já as infecções diagnosticadas clinicamente são de definição mais simples, mas apresentam grande teor de subjetividade, dificultando, de modo substancial, a comparação interinstitucional (BRASIL, 2009). Por estas razões, o presente estudo objetivou analisar a incidência de infecções hospitalares somente com pacientes com ICS laboratorialmente confirmados que preenchessem um dos seguintes critérios: Critério 1: paciente com uma ou mais hemoculturas positivas, coletadas preferencialmente de sangue periférico, e o patógeno não estar relacionado com infecção em outro sitio. Critério 2: pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38ºC), tremores, oligúria (volume urinário < 20 ml/h), hipotensão (pressão sistólica < 90mmhg), e esses sintomas não estarem relacionados com infecção em outro sitio; E duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48 h) com contaminantes comuns de pele (ex.: difteroi330 des, bacilos spp, propionibacterium spp, estafilococos coagulase negativo, micrococos). Critério 3: para crianças > 30 dias e < 1 ano: pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38ºC), hipotermia (<36ºC), bradicardia ou taquicardia (não relacionados com infecções em outro sítio) e duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48 h) com contaminantes comuns de pele (ex.: difteroides, bacilos spp, propionibacterium spp, estafilococos coagulase negativo, micrococos) (BRASIL, 2009). As precauções padrão consistem na estratégia primária de prevenção da transmissão de infecções relacionadas à assistência à saúde entre pacientes e profissionais, e estas devem ser utilizadas nos cuidados prestados aos pacientes: higiene das mãos antes e após o contato; utilização de luvas, máscaras, óculos de proteção e aventais quando houver risco de contato com material biológico; cuidados com perfurocortantes; limpeza ambiental; processamento adequado de materiais e equipamentos ( FRAM, 2009). Área - Ciências da Saúde Conclusão A redução das infecções da corrente sanguínea é possível quando o conjunto de medidas de prevenção é aplicado adequadamente, bem como a utilização de novas tecnologias. Por se tratar de uma população com alto risco de infecção, a emergência de micro-organismos na corrente sanguínea deve ser considerada, e a ocorrência de algum caso deve desencadear medidas adicionais de prevenção de transmissão, evitando, assim, a ocorrência de um surto entre esta população. Dessa forma, toda equipe de saúde deve ser orientada e capacitada constantemente sobre a importância da prevenção e do controle das infecções hospitalares, de forma a prestar uma assistência de qualidade aos seus usuários. Referências BARBOSA, D. A.; GUNJI, C. K.; BITTENCOURT, A. R. C.; BELASCO, A. G. S.; DICCINI, S.; VATTIMO, F.; VIANNA, L. A. C. Comorbidade e mortalidade de pacientes em início de diálise. Acta paul. enferm., São Paulo, v. 19, n. 3, set. 2006. 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Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-28002011000400006>. Acesso em: 05/05/2014. 331 Área - Ciências da Saúde AVALIAÇ ÃO DO RISCO DE DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL POR JOVENS UNIVERSITÁRIOS Jéssica Benevides Mota de Oliveira Lucianne Vanelle Sales Freitas Paula Maria Silveira Soares Moura [email protected] Introdução Segundo Nickfarjam (2014), o álcool é uma das três maiores prioridades na área da saúde pública e, de acordo com Alchiere et al. (2014), o consumo dessa substância tem aumentado nas últimas décadas, com predominância de avanço nos países em desenvolvimento, nos quais cerca de 15% das pessoas que ingerem o etanol desenvolvem o alcoolismo. A Organização Mundial de Saúde (2011) descreve os jovens universitários como um grupo da população em que esse consumo é prevalente. Segundo De Oliveira et al. (2011), é provável que as condições de vida, o desenvolvimento da autonomia e as demandas universitárias sejam situações ansiogênicas e estimuladoras da prática, ou seja, os universitários buscam o consumo de álcool como válvula de escape ou como forma de relaxar, geralmente devido à pressão a que são submetidos diante das muitas atividades acadêmicas. Para Pedrosa et al. (2011), o consumo do álcool, associado a fatores desejáveis como prazer, beleza, sucesso financeiro e sexual e poder, de forma explícita ou implícita, configuram como um importante fator de risco para a sua ingestão abusiva, principalmente entre os acadêmicos, suscetíveis a um consumo de álcool cada vez mais frequente, associado ao desenvolvimento de dependência a esta substância. Segundo Rozin e Zagonel (2012), a dependência é definida pela perda do controle de decisão sobre o ato de beber e está associada ao sofrimento, com os sintomas de abstinência da droga. Quanto mais precocemente a bebida alcoólica for consumida, maior a probabilidade de dependência. Isso ocorre, uma vez que seu uso contínuo gera tolerância ao organismo, havendo a necessidade de aumentar cada vez mais as doses. A ingestão de bebidas alcoólicas, de acordo com Almeida et al. (2011), tem sido recorrente em idades precoces, o que antecipa e agrava os riscos ao organismo e a dependência do álcool. Dessa forma, Chainey e Stephens (2014) avaliam que o consumo excessivo de álcool na adolescência é um problema significativo de saúde. Diante disso, estudos que avaliem esse consumo e seus fatores associados são importantes. Em decorrência dos fatores apresentados, este estudo busca determinar a prevalência do consumo de álcool entre estudantes das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros, Minas Gerais, com o intuito de avaliar o possível risco de dependência a esta droga psicoativa diante da qual os jovens universitários estão expostos. Material e Métodos Trata-se de um estudo de caráter transversal, descritivo e quantitativo, ocorrido na cidade de Montes Claros-MG no ano de 2014. Utilizou-se uma amostra parcial de 311 acadêmicos, do quinto período, distribuídos nos cursos de administração, arquitetura, enfermagem, engenharia civil, engenharia de produção, direito, medicina e psicologia e quarto período de fisioterapia, matriculados nas Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros-MG. Os estudantes acima citados estavam presentes em sala de aula no momento da coleta de dados e, após a explanação dos objetivos, procedimentos, benefícios e confidencialidade das informações cole- tadas, aceitaram participar da pesquisa sob a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para o rastreamento de problemas relacionados ao uso do álcool, assim como o padrão de consumo de bebidas alcoólicas, uso nocivo e risco de dependência do álcool, utilizou-se o questionário AUDIT, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por Babor et al. (1992), traduzido e validado no Brasil por Lima e colaboradores (2005), sendo que o mesmo é composto por dez questões com alternativas de resposta em categorias fixas e pré-estabelecidas. 333 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar Para avaliação do perfil sociodemográfico, foram avaliadas as seguintes variáveis: sexo, idade, estado civil, atividade remunerada e área do curso superior. Para caracterizar o universo amostral pesquisado, foi utilizada uma análise descritiva através de porcentagem. Para identificação do perfil sociodemográfico, foram utilizados frequência, porcentagem, média e des- vio padrão, e, para comparação entre as variáveis do estudo, foi empregada a ferramenta estatística Software Statistical Package for Social Sciences 18.0 (SPSS) por meio de testes paramétricos e não paramétricos. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sob o nº576.795/2014. Resultados e discussão Dentre os acadêmicos avaliados, 59,2% (184) eram do sexo feminino e 40,8% (127) do sexo masculino. A maioria dos estudantes que relatou já ter consumido bebidas alcoólicas não exerce atividade remunerada, não vive com a família, está matriculada nos cursos da área de ciências exatas e possui mais de trinta anos de idade. Em relação à distribuição dos universitários de acordo com o consumo de bebida alcoólica e gênero, prevaleceram os homens com 76,4% (97) que alegaram ter ingerido algum tipo de bebida alcoólica, enquanto que, nas mulheres, esse número caiu para 60,9% (112). O presente estudo revelou que 32,8% dos entrevistados nunca consumiram bebidas alcoólicas; 22,8% consomem uma vez por mês ou menos; 26,4% de 2 a 4 vezes por mês; 16,1% de 2 a 3 vezes por semana; e 1,9% faz uso de bebidas alcoólicas 4 ou mais vezes por semana (Tabela 1). A prevalência dos acadêmicos que consomem bebidas alcoólicas é de 67,2%, número esse que se apresenta elevado e que está de acordo com o estudo realizado com estudantes universitários por Rocha et al. (2011), em que 63,6% dos acadêmicos consomem o etanol. Este consumo elevado é preocupante, uma vez que, segundo Ferreira et al. (2013), essa droga psicoativa está relacionada, direta ou indiretamente, a acidentes de trânsito e de trabalho, envolvimento em brigas, criminalidade, violência doméstica, violência sexual e diversas doenças, dentre elas distúrbios neurológicos desencadeados por lesão do Sistema Nervoso Periférico (SNP) e do Sistema Nervoso Central (SNC). Estudos de Fein e Greenstein (2014) também mostraram que o álcool provoca degeneração da sustância branca e danos nas fibras do corpo caloso, o que acarretaria em uma instabilidade postural e marcha atáxica. Percebe-se, então, que os danos causados pelo álcool são graves, e que o controle do alcoolismo faz-se necessário em vista de diminuir suas consequências. Em relação ao número de doses de bebida alcoólica consumidas por universitários em um dia normal, observou-se que 72,0% dos entrevistados ingerem 0 ou 1 dose de bebida alcoólica; 9,6% ingerem 2 ou 3 do- 334 ses; 9,3% ingerem 4 ou 5 doses; 3,9% ingerem 6 ou 7 doses; e 5,1% ingerem 8 ou mais doses (Tabela 1). Arnauts e Oliveira (2012) afirmam que a quantidade de bebida consumida é mensurada pela quantidade de doses ingeridas. Uma dose corresponde à presença de 8 a 13 gramas de etanol, o que é equivalente a uma lata de cerveja, um cálice de vinho ou 30 mililitros de bebida destilada. O consumo moderado é caracterizado pela ingestão de até 15 doses semanais para homens e 10 doses semanais para mulheres. Sendo assim, o consumo, em relação ao número de doses ingeridas pela maioria dos acadêmicos, apresenta-se regular. Além disso, dos 311 entrevistados, 51,4% nunca consumiram 5 ou mais doses de álcool de uma vez, 16,1% consumiram menos de uma dose uma vez ao mês, 16,1% consumiram uma vez por mês, 15,8% consumiram uma vez por semana e apenas 0,6% consumiram álcool quase todos os dias (Tabela 1). Segundo Swann, Sheran e Phelps (2014), o binge drinking é definido como o consumo de cinco ou mais doses por homens e quatro ou mais doses de bebidas alcoólicas por mulheres em uma ocasião. Desta forma, o fenômeno denominado binge drinking não pode ser observado como um comportamento padrão dessa população; todavia, há uma expressiva taxa de ocorrência na amostra estudada, e, como o consumidor de etanol traz riscos não só para a sociedade, como também para si mesmo, a taxa de álcool consumida de uma vez precisa ser diminuída. Também foi verificado, quando questionados sobre quantas vezes, ao longo dos 12 últimos meses, acharam que não conseguiriam parar de beber uma vez tendo começado, que 85,48% dos universitários negaram qualquer perda de controle; 7,09% deles responderam ter tido a perda do controle menos de uma vez ao mês; 3,87 relataram essa perda mensalmente; 2,58% semanalmente; e 0,96% todos os dias (Gráfico 1). Segundo Rozin e Zagonel (2012), a perda de controle ao beber trata-se de um agravante por estar associada à dependência. Área - Ciências da Saúde Tabela 1. Consumo de álcool Fatores Variáveis (n) % Frequência do consumo de bebida alcoólica Nunca consumiu Uma vez por mês ou menos De duas a quatro vezes por mês De duas a três vezes por semana Quatro ou mais vezes por semana 102 71 82 50 6 32,8 22,8 26,4 16,1 1,9 Número de doses de bebidas alcoólicas consumidas em um dia normal 0 ou 1 dose 2 ou 3 doses 4 ou 5 doses 6 ou 7 doses 8 ou mais doses 224 30 29 12 16 72 9,6 9,3 3,9 5,1 Frequência do consumo de cinco doses ou mais de bebida alcoólica em uma única vez Nunca Menos de uma vez ao mês Uma vez por mês Uma vez por semana Quase todos os dias 160 50 50 49 2 51,4 16,1 16,1 15,8 0,6 (n)- Amostra; %- Porcentagem observada. Fonte: Pesquisa de campo, 2014. Gráfico 1: Perfil da perda de controle para bebida 90,00% 85,48% 80,00% 70,00% Nunca 60,00% 50,00% Menos que uma vez ao mês 40,00% Mensalmente 30,00% Semanalmente 20,00% 10,00% Todos ou quase todos os dias 7,09% 0,00% 3,87% 2,58% 0,96% Fonte: Pesquisa de campo, 2014. Conclusão Os resultados encontrados indicam que a maior parte dos estudantes foi classificada como grupo de baixo risco, no entanto, eles apresentaram uma elevada frequência de ingestão do álcool. Dessa forma, infe- re-se que programas educativos sejam incluídos nesse meio acadêmico, a fim de alertar e prevenir danos ocorridos em virtude do consumo abusivo de bebidas alcoólicas. Referências ALCHIERI, C. C. et al. Percepções de alcoolistas residentes no meio rural sobre o alcoolismo: suas causas e consequências. Revista de Enfermagem, v. 9, n. 9, p. 14-29, 2014. ALMEIDA, J. C.; CAMPOS, J. A. D. B.; FARIA, J. B.; GARCIA, P. P. N. S. Consumo de álcool entre estudantes do ensino médio do município de Passos-MG. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 12, p. 475-474, 2011. 335 Anais do 2° Encontro Internacional de Pesquisadores - Esporte , Saúde, Psicologia e Bem-Estar ARNAUTS, I.; OLIVEIRA, M. L. F. Padrão de consumo do álcool por jovens vítimas de trauma e usuários de álcool. 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Através dele, o SNC gera os padrões de atividade muscular necessários para regular a relação entre centro de massa e base de sustentação (LEONARDI et al., 2009). Dessa forma, é caracterizado como a manutenção de uma postura individual do corpo com o mínimo de oscilação (equilíbrio estático) ou a manutenção da postura durante o desempenho de uma habilidade motora que venha a perturbar a orientação do corpo (equilíbrio dinâmico) (BORGES, 2013). A coordenação motora é a capacidade do cérebro de equilibrar os movimentos do corpo, mais especificamente dos músculos e das articulações, permitindo que haja monitoração da progressão de qualquer sequenciamento de movimento e possibilitando movimentos posteriores (OLTRAMARI, 2011). A conexão entre equilíbrio e coordenação motora envolve vias aferentes (visual, vestibular e cerebelar) e vias eferentes (força muscular e flexibilidade articular) (LEONARDI et al., 2009). A manutenção do equilíbrio e dos movimentos coordenados não requer um esforço consciente, no entanto, o cont