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estrutura e desenvolvimento letras de luz.indd 1 29.11.10 16:53:24 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Letras de luz.indd 1 29/11/10 17:30 Sumário 1. Histórico e sistematização..................................................................................................................7 . 1.1. Definição.e.histórico...................................................................................................................7 . 1.2. Eixos...........................................................................................................................................8 . 1.3. Público-alvo................................................................................................................................9 . 1.4.Tecnologia.social:.metodologia.e.replicação...............................................................................10 . . 1.4.1. Diagnóstico.inicial.e.instrumentos.de.acompanhamento.do.projeto.............................10 . . 1.4.2. Implantação...................................................................................................................11 2. . . . As oficinas de leitura.......................................................................................................................17 2.1. Objetivos.e.conteúdos...............................................................................................................17 2.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................18 2.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................22 3. . . . . . . Capacitação e apresentações teatrais...............................................................................................23 3.1. Objetivos.e.conteúdos.trabalhados............................................................................................23 3.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................23 3.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................24 3.4. Apresentações.teatrais...............................................................................................................25 . 3.4.1. Seleção.de.textos.e.montagem.......................................................................................25 . 3.4.2. Produção.......................................................................................................................25 4. Renovação do acervo de livros literários.........................................................................................27 . 4.1. Objetivos.e.critérios.de.seleção.do.acervo.................................................................................27 . 4.2. Doação......................................................................................................................................33 Apostilas das oficinas de leitura...........................................................................................................35 Apostilas das oficinas de teatro..........................................................................................................157 Guia de produção teatral....................................................................................................................165 Letras de luz.indd 3 29/11/10 17:30 Sejam.bem-vindos.ao.Projeto.Letras.de.Luz! Se.você.ou.seu.município.tem.essa.apostila,.é.porque.certamente.já.ouviram.falar.dessa.iniciativa,.que. vem.formando.leitores.apaixonados.por.livros,.por.leitura.e.por.teatro.nos.últimos.quatro.anos. Desde.2007,.o.projeto.já.passou.por.algumas.cidades.brasileiras,.capacitando.professores,.coordenadores,. diretores,.agentes.de.leitura,.bibliotecários.e.demais.pessoas,.espalhando.suas.ideias.sobre.leitura.e.teatro. com.o.intuito.de.contribuir.para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora.nessas.localidades. Nesse.material,.você.e.seu.município.irão.encontrar.um.pouco.da.história.dessa.iniciativa.e.orientações. precisas.sobre.como.iniciar.ou.dar.continuidade.a.um.trabalho.como.o.realizado.pelo.Letras.de.Luz.em.sua. cidade. Essa.apostila.apresenta,.detalhadamente,.cada.uma.das.vertentes.dessa.proposta,.com.o.objetivo.de.que.a. metodologia.do.projeto.possa.ser.replicada.em.Secretarias,.Centros.Culturais,.Escolas,.Bibliotecas.e.outras. instâncias.culturais.e.educativas,.ampliando.ainda.mais.o.alcance.das.ideias.veiculadas.pelo.Letras.nos.últimos.anos..Com.o.apoio.dessa.sistematização,.esperamos.ajudá-lo.a.desenvolver.uma.intensa.atividade.em. favor.da.magia.e.da.necessidade.da.leitura.e.do.teatro.para.que.você.e.seu.município.possam.tornar-se.ainda. mais.comprometidos.com.a.formação.de.um.número.cada.vez.maior.de.cidadãos.leitores. Boas.leituras.e.bom.trabalho! Letras de luz.indd 5 29/11/10 17:30 1. histórico e sistematização 1.1 Definição e hiStórico O.Letras.de.Luz.é.uma.iniciativa.realizada.pela.Fundação.Victor.Civita1.com.patrocínio.da.EDP2,.com. apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura3.e.apoio.do.Instituto.EDP4. O.projeto.tem.por.principal.objetivo.promover.o.incentivo.à.cultura,.contribuindo.com.as.atividades. teatrais.da.região,.colaborando.para.que.o.gosto.pela.leitura.cresça.cada.vez.mais.e.estimulando.o.hábito.de.ler.como.parte.do.cotidiano.dos.educadores.brasileiros. Em. duas. edições. o. projeto. passou. por. quatro. Estados. (São. Paulo,. Espírito. Santo,.Tocantins. e. Mato. Grosso.do.Sul)..Ao.longo.da.história.do.projeto,.já.foram.realizados.mais.de.480.oficinas.de.leitura.e.mais. de.850.apresentações.teatrais..Cerca.de.6.mil.pessoas.participaram.do.projeto.e.mais.de.550.mil.foram.beneficiados.pelo.desdobramento.das.ações..Aproximadamente.56.mil.novos.livros.foram.doados.para.complementação.do.acervo.das.bibliotecas.públicas.dessas.localidades. 1..Oficinas.de.leitura. 2..Capacitação.e.apresentações.teatrais. 3..Renovação.do.acervo.das.cidades.participantes. História.da.leitura,.leitura.de.imagens,.trabalho.em.bibliotecas,.clássicos.da.literatura.e.contação.de.história.foram.os.temas.discutidos.nos.dois.primeiros.anos..Além.deles,.trabalhamos.com.alguns.projetos.de. leitura.que.foram.desenvolvidos.nos.mais.diversos.locais..Muitos.cartões-postais.foram.trocados.pelo.Brasil,. muitos. clássicos. foram. lidos,. discutidos. e. dramatizados,. inúmeras. pessoas. se. reuniram. para. ler,. contar. e. apreciar.textos.literários.em.diferentes.espaços,.dentro.e.fora.da.escola. Os.atores.capacitados.para.a.criação.de.espetáculos.teatrais.levaram.aos.palcos,.às.praças.e.às.ruas.peças.baseadas.em.textos.de.alguns.autores.brasileiros.consagrados,.como.Machado.de.Assis.(A cartomante e Vidros quebrados),.Lima.Barreto.(Nova califórnia e.O homem que sabia javanês),.Alcântara.Machado.(Um apólogo brasileiro sem véu de alegoria e.Tiro de guerra número 5),.Artur.Azevedo.(Como me diverti e.A polêmica),. 1. www.fvc.org.br 2. www.edp.com.br 3. www.cultura.gov.br 4. www.institutoedp.com.br Letras de luz.indd 7 29/11/10 17:30 8 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Sylvio.Romero.(Maria Borralheira).e.João.do.Rio.(Dona Joaquina)..Os.grupos.também.foram.desafiados. a.interpretar.textos.contemporâneos.mais.voltados.para.o.universo.infantil,.como.os.de.Eva.Furnari. (Cacoete).e.Ricardo.Azevedo.(O rei que ficou cego). Nos.dois.últimos.anos,.o.trabalho.das.oficinas.de.leitura.concentrou-se.em.dois.eixos.norteadores:.os. gêneros.da.literatura.e.a.formação.do.leitor..O.primeiro.eixo.buscou.evidenciar.algumas.particularidades.do. estudo.da.Língua.e.da.Literatura.por.meio.da.forma.pelas.quais.os.textos.são.escritos,.lidos.e.contados..Já.a. formação.do.leitor.procurou.organizar.momentos.nos.quais.os.participantes.pudessem.apreciar.diferentes. gêneros,.evidenciando.propósitos.e.procedimentos.necessários.ao.ato.de.ler..Perceber.as.diferenças.e.nuances. das.atividades.que.envolvem.a.leitura.–.individual.e.coletiva.–.mostrou-se.fundamental.para.a.formação. eficiente.de.uma.comunidade.leitora. A.integração.entre.as.ações.dos.grupos.de.teatro.e.das.oficinas.de.leitura.foi.mais.um.dos.pontos.que. evoluíram. ao. longo. da. história. do. projeto.. Os. atores. começaram. também. a. participar. desses. encontros,. compartilhando.suas.experiências.leitoras.e.os.textos.encenados.passaram.a.integrar.o.conteúdo.das.apostilas.e.as.discussões.literárias.com.todos.os.participantes.do.projeto. Novas.obras.foram.postas.em.cena.e.muitos.desafios.propostos.aos.grupos..Manteve-se.a.aposta.na.adaptação.de.autores.clássicos,.como.Machado.de.Assis.(Um homem célebre.e.O enfermeiro).e.a.ousadia.de.criar. com.fase.na.diversidade.de.textos.contemporâneos,.como.Ricardo.Azevedo.(A quase morte de Zé Malandro e. Contos de adivinhação),.Heloísa.Prieto.(Raça pura),.Fernanda.Lopes.de.Almeida.(A curiosidade premiada),. Michelle.Iacocca.(Bambolina).e.Qorpo.Santo.(Um credor da Fazenda Nacional). Durante.todo.esse.trabalho,.a.circulação.de.livros.de.qualidade.foi.fundamental..Os.participantes.puderam.conhecer.e.apreciar.obras.de.autores.consagrados,.renovando.o.acervo.literário.já.conhecido.pela.comunidade.e.compartilhando.suas.impressões.sobre.as.novas.experiências.leitoras.para.as.quais.foram.convidados. Enfim,.nessa.curta.e.intensa.história,.podemos.dizer.que.o.Letras.de.Luz.fez.realmente.diferença.nas. cidades.onde.esteve.presente,.iniciando.o.traçado.de.um.diferente.panorama.cultural,.consequentemente. educativo,.em.cada.uma.das.comunidades.atendidas. Esse.material.traz,.com.o.intuito.de.contribuir.ainda.mais.para.o.incentivo.à.formação.artística.e.cultural. em.municípios.fora.do.circuito.cultural.dos.grandes.centros.urbanos.do.país.por.meio.de.apresentações.de. peças.teatrais.e.de.oficinas.literárias,.a.metodologia.do.projeto.e.os.materiais.de.formação.utilizados.a.fim.de. apoiar.a.continuidade.e.a.implantação.das.iniciativas.em.sua.localidade. 1.2 eixoS A.proposta.do.projeto.Letras.de.Luz.é.promover.a.cultura.e.levar.a.leitura.aos.moradores.das.cidades.por. onde.passa.e.foi.inspirado.no.ideal.das.cidades.educadoras5.e.nos.vários.projetos.de.leitura.levados.ao.país,. 5 Entenda o que são cidades educadoras – “A.cidade.será.educadora.quando.reconheça,.exercite.e.desenvolva,.além.de.suas.funções.tradicionais. (econômica,.social,.política.e.de.prestação.de.serviços),.uma.função.educadora,.quando.assuma.a.intencionalidade.e.responsabilidade.cujo.objetivo. seja.a.formação,.promoção.e.desenvolvimento.de.todos.seus.habitantes,.começando.pelas.crianças.e.pelos.jovens.”.(Fragmento.da.Introdução da Carta das Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona,.1990.).Essa.definição.da.Declaração.de.Barcelona.revela.o.papel.das.cidades.educadoras.–.movimento.iniciado.na.Espanha,.em.1990,.durante.o.1º.Congresso.Internacional.de.Cidades.Educadoras..http://www.cidadeseducadorasdobrasil.palegre. com.br/template/template.asp?proj=43&secao=104 Letras de luz.indd 8 29/11/10 17:30 1. Histórico e sistematização 9 iniciados.especialmente.no.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura6,.em.2005..Para.isso,.procura.garantir.o.acesso. a.bens.culturais.(livro.e.teatro),.a.circulação.de.conhecimentos.e.a.troca.de.experiências.leitoras.comuns.por. meio.de.três.vertentes.articuladas.entre.si: 1. oficinas de leitura: (oficinas para professores e outros agentes literários para a multiplicação do hábito pela leitura): as oficinas de leitura têm como principal objetivo formar comunidades leitoras nas localidades onde atua. Seus grupos são formados por amantes da literatura, entre eles, professores, coordenadores pedagógicos, diretores, agentes de leitura e bibliotecários. As atividades são planejadas de forma que os participantes ampliem seu repertório leitor: conheçam novos autores, gêneros e coleções de qualidade. Também que atuem como multiplicadores de leitores, levando os livros para escolas, praças, saraus e outros ambientes de apreciação literária; 2. capacitação e apresentações teatrais: os grupos de teatro são, primeiramente, formados e capacitados. Depois se comprometem com apresentações que levem à comunidade a encenação de obras literárias. O objetivo das capacitações e do acompanhamento das atividades teatrais é também o de preparar o grupo para conduzir suas próprias produções e também, incentivá-los, ao longo do processo a tornarem-se autônomos para buscar de textos, produzir espetáculos e até negociar patrocínios e outros apoios. Depois da primeira formação, a proposta é de que esses novos atores criem peças baseados na adaptação de textos literários, os quais são previamente selecionados pela equipe do projeto. As montagens circulam pelas cidades participantes, promovendo não só o contato com essa linguagem artística como também com a obra literária que lhe serve de base. É literatura nos palcos, praças, no dia a dia da escola e ao alcance em bibliotecas próximas; 3. renovação do acervo das cidades participantes: variadas obras literárias, infantis, juvenis e adultas foram doadas a bibliotecas e escolas públicas da região para fomentar o hábito da leitura e garantir que a comunidade tenha acesso a títulos de qualidade. Os livros utilizados pelos grupos de teatro e pelos participantes das oficinas de leitura também compõem esse acervo: alguns títulos disponibilizados no decorrer do ano, ao final dos trabalhos, devem ser repassados, em bom estado de conservação, a uma biblioteca pública local indicada pela prefeitura. 1.3 PúbLico-ALvo Por.meio.de.suas.três.vertentes,.o.trabalho.do.Projeto.está.organizado,.de.modo.complementar,.em.torno. de.diferentes.públicos: 1. as escolas e seus atores: professores, orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos, diretores, alunos, funcionários e pais, aproximando-os por meio da leitura e da arte, na elaboração de atividades que possam ser desenvolvidas conjuntamente e em benefício da comunidade; 2. os agentes culturais: atores, músicos, artistas plásticos, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos, profissionais liberais ou não, estudantes, funcionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado em um trabalho de aproximação entre a literatura e a cena teatral; 6. Entenda o que foi o Ano Ibero-Americano da Leitura.–.O.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura.foi.comemorado.em.21.países.da.Europa.e.das. Américas.em.2005..Aprovado,.em.2003,.pela.Cúpula.dos.Chefes.de.Estado.dos.países.ibero-americanos,.foi.coordenado.pela.OEI.(Organização. dos.Estados.Ibero-americanos),.Cerlalc.(Centro.Regional.para.o.Fomento.do.Livro.na.América.Latina.e.Caribe),.Unesco.e.governos.dos.países.da. região..No.caso.do.Brasil,.pelo.Governo.Federal,.através.dos.ministérios.da.Cultura.e.Educação.e.pela.Assessoria.Especial.da.Presidência.da.República..http://www.vivaleitura.com.br/inicial.asp Letras de luz.indd 9 29/11/10 17:30 10 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento 3. a comunidade: desde o início do projeto, sugere-se convidar para participar das oficinas demais cidadãos, e não só os membros do universo escolar. O Projeto Letras de Luz opta por incluir a comunidade (grupos de jovens, de terceira idade, de clubes, associações, bibliotecas, etc.), pois acredita que os leitores estejam presentes nos mais diversos segmentos da sociedade e não apenas na escola. Para tanto, é preciso que ele se estenda aos diferentes ambientes para contribuir, efetivamente, na formação de uma sociedade leitora. 1.4 tecnoLogiA SociAL: metoDoLogiA e rePLicAção Uma.Tecnologia.Social.como.a.do.Letras.de.Luz.pode.ser.aplicada.em.qualquer.lugar.onde.a.leitura.quer. ser.considerada.uma.prioridade,.um.direito.e.uma.necessidade.social..A.implementação.de.um.projeto.para. incentivar.a.cultura.local.ou.para.formar.comunidades.leitoras.depende.basicamente.da.capacitação.da.equipe.que.irá.aplicar.a.metodologia.no.local,.da.seleção.do.acervo.a.ser.doado.e.do.interesse.pela.literatura.e. pelo.teatro.como.instrumentos.para.a.construção.da.cidadania. Para.a.condução.de.um.projeto.de.formação.de.comunidades.leitoras,.recomenda-se.atenção.aos.aspectos. abaixo.enumerados. 1.4.1 Diagnóstico inicial e instrumentos de acompanhamento do projeto Recomenda-se.que.seja.feito.um.diagnóstico.das.especificidades.locais,.no.que.se.refere,.principalmente,.aos.projetos.de.incentivo.à.cultura.e.leitura.em.andamento.(nas.escolas.e.em.outras.instituições.educativas),. a. presença. de. livros. (qual. o. atual. acervo),. aos. espaços. de. circulação. de. livros. da. comunidade. (bibliotecas,.bancas,.livrarias),.ao.acesso.a.esses.materiais.(perfil.do.público.frequentador.desses.espaços),. às.entidades.e.atividades.culturais.atuantes.no.município.(associações,.ONGs,.clubes,.grupos.locais.de. teatro).e.à.tradição.literária.e.teatral.local.(presença.de.grupos,.espaços,.festivais.etc). Todo.projeto.deve.ser.monitorado.e.avaliado.a.fim.de.rever.processos.que.não.estejam.atendendo.às.expectativas.iniciais.e.de.analisar.os.resultados.encontrados.em.função.da.proposta.inicial..Nesse.sentido,.o. diagnóstico.inicial.torna-se.uma.importante.ferramenta,.pois.ele.ajudará.à.equipe.de.coordenação.do.projeto.definir.quais.serão.os.instrumentos.de.acompanhamento.das.atividades.e.os.indicadores.que.possibilitarão. avaliar.o.resultado.do.trabalho.desenvolvido. Os.instrumentos.de.acompanhamento.utilizados.pelo.Letras.de.Luz.que.permitem.à.coordenação.avaliar. as.atividades.são: Leitura: listas de presenças das oficinas de leitura, de responsabilidade das formadoras e da coordenação do projeto; avaliação dos participantes sobre os encontros realizados; registros dos participantes sobre as iniciativas de multiplicação nascidas das atividades propostas conduzidas por eles, constando deste documento o número de pessoas que essas iniciativas abrangeram; relatórios dos coordenadores de oficina com registro das atividades realizadas, avaliação da participação dos formandos e avaliação do formador; Letras de luz.indd 10 29/11/10 17:30 1. Histórico e sistematização 11 reuniões periódicas com a equipe de formadores no início e no final de cada ciclo de oficina para planejamento e avaliação; acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: projetos de leituras em andamento, acesso a bibliotecas e acompanhamento da inserção de atividades culturais locais, derivadas de atividades do projeto. Teatro: listas de presenças das capacitações teatrais, de responsabilidade dos capacitadores e da coordenação do projeto; listas de presenças dos ensaios e das apresentações, de responsabilidade do produtor teatral; relatórios das capacitações teatrais com registro das atividades realizadas e das tarefas deixadas pelos formadores para serem realizadas entre cada uma das apresentações teatrais, de responsabilidade do capacitador; relatórios parciais e finais feitos pelos grupos teatrais das apresentações teatrais, explicados no guia de produção teatral anexo, com: • • • registro do perfil do público (escolar, docentes, comunitário...) e quantidade de pessoas presentes; apoios locais obtidos e forma de apoio (financeiro, material/cenário, espaço, divulgação...); presença dos atores e autoavaliação do grupo em reunião posterior à apresentação apontado: dificuldades encontradas, resultado final percebido e retorno obtido do público; relatórios parciais da coordenação teatral e da produção teatral do acompanhamento pontual, das vitórias e dificuldades do grupo de teatro; reuniões periódicas com a equipe de capacitadores no final de cada uma das duas capacitações e ao final das terceira e quarta apresentações teatrais; acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: novos projetos de teatro e acompanhamento da inserção de atividades de cultura locais derivadas de atividades do projeto. Acervo: registro e acompanhamento, feito pelos formadores, da utilização e exploração dos acervos locais e pessoas por meio dos relatos e relatórios dos participantes das oficinas; acompanhamento dos números locais de acesso às bibliotecas, livrarias ou outros pontos com acervo disponível à comunidade. O.processo.de.avaliação.anual.deve.sempre.considerar.a.conquista.da.autonomia.dos.agentes.locais.formados.para.multiplicação.ou.reedição.das.atividades. 1.4.2 implantação Para.implantar.o.projeto,.é.preciso.considerar.os.aspectos.abaixo: Cronograma O.projeto.tem.um.ciclo.de.vida.mínimo.de.um.ano,.em.que.se.propõe.o.cronograma.a.seguir..Recomendamos.ainda.que.as.oficinas.de.leitura.e.as.capacitações.teatrais.sejam.programadas.de.forma.alternada.a.fim.de. que.o.projeto.possa.correr.o.ano.todo.e.que.se.mantenha.o.interesse.da.comunidade.por.todo.o.ciclo. Letras de luz.indd 11 29/11/10 17:30 12 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Planejamento e diagnóstico Capacitação teatral capacitação reforço da inicial capacitação conto 1 Apresentação teatral conto 2 conto 3 conto 4 Avaliação das atividades teatrais Oficinas de leitura oficina 1 oficina 2 oficina 3 oficina 4 oficina 5 Avaliação das oficinas de leitura Renovação do acervo local Avaliação final do projeto Inscrições e renovações É.importante.considerar.um.prazo.no.planejamento.do.projeto.em.que.os.interessados.inscrevam-se. Modelos.de.fichas.de.inscrição.devem.ser.elaborados.tanto.para.as.capacitações.teatrais.como.para.as.oficinas.de.leitura..Essas.fichas.devem.não.só.ser.assinadas.pelos.participantes.com.o.intuito.de.comprometê-los.às. atividades.e.regras.propostas,.como.também.devem.ser.instrumentos.de.conhecer.um.pouco.sobre.eles. Sugerimos.que.as.fichas.de.inscrição.de.leitura.abordem: informações cadastrais; atuação profissional; escolaridade; experiências pessoais com trabalhos comunitários; expectativas de aprendizado e formas de multiplicação. Para.as.fichas.de.inscrição.para.a.capacitação.teatral,.sugerimos.os.pontos: informações cadastrais; atuação profissional; escolaridade; experiências pessoais com trabalhos comunitários; experiências anteriores com teatro amador ou profissional; atividades culturais que costuma buscar em seus momentos de lazer: teatro, cinema, televisão e leitura, entre outros; últimas peças e filme que viu; últimos livros e periódicos que leu; percepções sobre: teatro estimulando a leitura; oportunidades culturais de seu município; expectativas de aprendizado e formas de multiplicação. Letras de luz.indd 12 29/11/10 17:30 1. Histórico e sistematização 13 É.preciso.que.fique.claro.aos.participantes.que.a.inscrição.é.para.o.ciclo.todo:.um.ano.de.atividade..E.é. importante.que.a.coordenação.do.projeto.busque.anualmente.renovar.os.participantes.a.fim.de.aumentar.o. potencial.de.disseminação.e.multiplicação.do.projeto. Recursos humanos e materiais Para.a.replicação,.será.necessário.o.uso.do.material.teórico.do.projeto.(apostilas,.vídeos.e.bibliografia.indicada),.duas.equipes.distintas.de.formadores.para.as.oficinas.de.leitura.e.para.os.grupos.de.teatro,.um.coordenador.para.cada.uma.das.equipes.e.um.produtor.para.propiciar.a.concretização.dos.espetáculos.teatrais. Como.equipe,.propõe-se:.1.coordenador.geral.do.projeto,.dois.coordenadores.(um.para.as.oficinas.de.leitura. e.outro.para.as.oficinas.de.teatro),.1.educador.para.cada.grupo.de.50.participantes.das.oficinas.de.leitura,.1.educador.para.cada.grupo.de.9.participantes.dos.grupos.de.teatro,.1.produtor.para.gerenciamento.dos.espetáculos. Lembra-se.aqui.que.o.trânsito.de.materiais.e.equipe.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do. projeto,.bem.como.a.estruturação.e.viabilização.de.espaço.físico.para.a.condução.das.atividades. A.equipe.das.oficinas.de.leitura.realizará.cinco.encontros.bimestrais.com.duração.prevista.de.6.horas. Os.formadores.da.equipe.de.teatro.realizarão.duas.oficinas.semestrais:.a.primeira.com.duração.de.24. horas,.divididas.em.4.dias.de.trabalho.para.apresentação.da.proposta,.formação.dos.atores.e.orientações.para. a.montagem.do.primeiro.espetáculo,.e.a.segunda.(no.meio.do.semestre).para.reforço.e.acompanhamento.dos. trabalhos. Para. cada. oficina. de. leitura. e. capacitação. teatral. realizadas,. será. necessário. providenciar:. espaço. com. iluminação.e.ventilação.adequadas,.cadeiras.para.todos.os.participantes,.cópias.das.apostilas.do.encontro,. quadro.para.anotações,.papel.em.branco.ou.bloco/caderno.em.quantidade.suficiente.para.todos,.canetas,. lápis,.aparelho.de.som,.TV.ou.tela.de.projeção,.DVD.ou.data-show,.microcomputador,.cerca.de.50.livros.de. literatura.previamente.selecionados.para.o.acervo.circulante.(distribuídos.em.10.títulos.diferentes,.com.5. volumes.cada.um),.cerca.de.15.livros.relacionados.à.formação.de.atores.e.ao.teatro.e.a.definição.de.livros.de. literatura.para.doação.às.bibliotecas.selecionadas.(contemplando.diferentes.gêneros.e.interesses.de.públicos. diversos),.vídeos.relacionados.aos.temas.das.oficinas. É. importante. pontuar. que. nas. reuniões. iniciais. de. planejamento,. esses. materiais. sejam. programados. pelos.formadores..E.que.é.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto.observar.e.viabilizar.o.transporte. dos.formadores.e.dos.materiais.necessários. Recursos financeiros As.despesas.de.implantação.envolvem:.remuneração.da.equipe.de.coordenadores.e.formadores,.aquisição. de.acervo.literário.para.os.participantes.das.oficinas.(de.teatro.e.de.leitura).e.para.as.bibliotecas.previamente.selecionadas.pelo.município,.reprodução.do.material.de.apoio.do.projeto.(apostilas.e.cadernos).em.quantidade. suficiente. para. todos. os. participantes,. a. produção. e. manutenção. dos. grupos. de. teatro. e. das. apresentações,.disponibilização.de.espaço.adequado.para.a.realização.das.oficinas,.transporte,.alimentação.e. estadia.dos.formadores.(quando.vindos.de.outras.localidades),.materiais.de.apoio.do.projeto.e.divulgação. Como.um.dos.objetivos.do.projeto.é.de.formar.grupos.de.teatro.que.ganhem.caráter.profissional.e.autonomia.no.decorrer.do.ano,.recomendamos.à.coordenação.do.projeto.considerar.recursos.financeiros.para.a. remunerar.o.grupo.de.teatro.por.suas.atividades.realizadas..Conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.o.Letras.de.Luz.considerou.como.apoio.ao.grupo.de.teatro:..valores.de.cachê.por.apresentação..Incentivo.mensal. Letras de luz.indd 13 29/11/10 17:30 14 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento ao.produtor.para.auxiliar.o.investimento.em.cenário,.figurino.e.outras.necessidades,.pago.com.um.valor.fixo. por.produção.com.até.30.dias.antes.do.início.dos.espetáculos. Comunicação e imprensa O.Projeto.Letras.de.Luz.tem.demonstrado.em.sua.história.ser.de.muito.interesse.da.mídia.por.seu.impacto.na.vida.cultural.das.cidades..Recomendamos,.portanto,.que.a.coordenação.do.projeto.produza.um.guia. de.comunicação.com.a.imprensa.em.que.se.descrevam.as.características.do.projeto,.seu.histórico.e.contato. da.coordenação.do.projeto. Reproduzimos,.abaixo,.algumas.dicas.de.contato.com.a.imprensa.para.os.porta-vozes.do.projeto: Algumas regras básicas para uma comunicação eficiente: • Assessoria de imprensa – Sempre encaminhe os pedidos de entrevistas e de informa- • retorno rápido – Atender a imprensa o mais rápido que puder é procedimento indis- • Prepare-se para a entrevista – Em caso de entrevista, levante informações sobre o ções de jornalistas para a assessoria de imprensa mesmo que já tenha fornecido os dados solicitados. pensável no bom relacionamento com a mídia e na conquista de espaços nos veículos de comunicação. veículo/programa e perfil do jornalista. Consulte ainda as informações a serem passadas para a imprensa (as assessorias podem auxiliar nesse trabalho). • o canal com o seu público-alvo – Tenha em mente que toda entrevista é uma oportunidade que o veículo de comunicação oferece para que a mensagem do projeto chegue ao público de interesse. • Quanto mais o jornalista entender, melhor vai explicar para o leitor – Seja claro em • tenha em mãos o material de apoio para possíveis consultas – Quando necessário, • não responda sobre aquilo que não domina – A função do repórter é perguntar. A suas respostas e, sempre que preciso, explique o fato. consulte as informações sobre o projeto para passar os dados corretos ao jornalista. do entrevistado é responder o que está ao seu alcance. Você não é obrigado a responder tudo para satisfazer ao jornalista. Se alguma pergunta lhe pegar de surpresa e você não souber a resposta, não hesite em dizer que não possui a informação e que poderá apurá-la com os responsáveis pelo projeto. • • não emita opiniões pessoais em nome do projeto. • • • não use gírias e jargões. • não se frustre – O jornalista pode gastar horas em uma entrevista, escrever tudo o • erro na matéria – Se for algo sem grande impacto, ignore e deixe para comentar o Seja claro e breve nas explicações. não use metáforas – Do contrário, você poderá gerar interpretações dúbias e comprometer a matéria. nunca peça para ler o texto antes de ser publicado. tenha em mente que tudo o que for citado é passível de ser publicado, não diga nada em “off” para o jornalista. que você falou e não citar seu nome. fato numa próxima vez. Se o erro for grave, peça para o assessor contatar o repórter antes de qualquer atitude. Letras de luz.indd 14 29/11/10 17:30 1. Histórico e sistematização 15 Essas.dicas.são.importantes.nos.contatos.e.nas.entrevistas.com.todo.tipo.de.mídia:.impressa,.rádio.e.TV.. No.entanto,.as.duas.últimas.demandam.maior.cuidado. No.caso.de.entrevistas.para.rádios,.fale.devagar.para.que.os.ouvintes.acompanhem.o.seu.discurso..Seja. claro.e.objetivo.e.evite.utilizar.termos.rebuscados,.técnicos.e.frases.muito.longas..Procure.saber.se.a.entrevista.será.gravada.ou.ao.vivo.e.o.tempo.que.você.terá.para.falar.sobre.o.assunto. Normalmente,. os. espaços. na. TV. são. mais. curtos,. por. isso,. seja objetivo. e. conciso.. Procure. passar. a. mensagem-chave.logo.no.início.da.entrevista..Não.decore.um.texto,.tampouco.leia.algo.diante.das.câmeras. Além.dos.cuidados.com.as.respostas,.atente.para.sua.aparência..Seja.discreto.para.transmitir.credibilidade..Procure.não.usar.roupas.chamativas.para.não.desviar.a.atenção.do.público. E.lembre:.cuidado.com.o.português..Nunca.é.demais.repetir:.evite.a.linguagem.muito.formal..Escolha.as. palavras.mais.cotidianas.e,.de.preferência,.as.menores. Lembramos.que.o.projeto.social.Letras.de.Luz.foi.realizado.pela.Fundação.Victor.Civita.com.patrocínio. da.EDP,.com.o.apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura.e.apoio.do.Instituto.EDP..Recomendamos,.portanto,.sempre.a.citação.da.fonte.na.replicação.do.projeto.e.o.cuidado.de.avisar.essas.instituições.na.sua.replicação..Para.a.utilização.do.nome.do.proponente.e.patrocinadores,.ou.falar.em.nome.deles,. deve.-se.sempre.solicitar.autorização.aos.mesmos. Parceiros O.projeto.geralmente.é.conduzido.de.forma.a.agregar.parceiros..Em.geral,.os.parceiros.encontrados.localmente.são:.Secretarias.Municipais.de.Educação,.Secretarias.Municipais.de.Cultura,.escolas.da.rede.pública.ou.particular,.centros.culturais,.universidades.e.teatros.locais,.clubes,.organizações.da.sociedade.civil,. patrocinadores.locais.e.bibliotecas,.entre.outros. Letras de luz.indd 15 29/11/10 17:30 2. As oficinas de leitura 2.1 objetivoS e conteúDoS Tendo.como.foco.principal.a.formação.de.comunidades.leitoras,.as.oficinas.de.leitura.privilegiam.o.contato.com.diferentes.gêneros.e.a.reflexão.sobre.os.propósitos.e.procedimentos.posto.em.ação.frente.aos.mais. diversos. portadores. de. texto.. O. objetivo. é. que,. ao. experimentar. o. prazer. de. ler,. os. participantes. possam. multiplicar.as.experiências.vividas,.levando-as.aos.diferentes.espaços.em.que.atuam. As.oficinas.acontecem.em.cinco.encontros,.cada.um.com.um.tema.diferente..São.eles: 1. mil e uma leituras – Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas. Nesse primeiro encontro, o objetivo é apresentar o projeto ou retomar o histórico e os conteúdos dos anos anteriores, reconhecendo a importância de projetos de leitura e dos espaços das bibliotecas para as comunidades, sensibilizando e organizando os grupos para algumas das atividades sugeridas, como os Diários de Leitura. A proposta é que os participantes possam refletir sobre as diferenças entre o leitor individual e o leitor público, iniciando uma discussão sobre gêneros e sobre a necessidade de valorizar as atividades de leitura na vida e na comunidade. conteúdos: • • • • a literatura e seus primórdios: do mito à literatura; os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores; a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural; apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura. 2. crônica: a prosa cotidiana – instantâneos da vida se transformam em textos que entretêm e fazem pensar. Na segunda oficina, os participantes são convidados a serem apreciadores da leitura de crônicas, se ainda não o forem. Mas o convite não para aí. Ele se estende para que sejam autores das suas próprias crônicas. Dessa forma, as atividades desse encontro foram planejadas para atender a estes dois propósitos: ler e produzir crônica. conteúdos: • • • Letras de luz.indd 17 leitura de crônicas; breve história do gênero textual crônica; o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores; 29/11/10 17:30 18 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento • • a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação entre crônica e notícia; a estrutura narrativa da crônica. 3. vozes em cena – A arte de atuar. O terceiro encontro do projeto tem como foco oferecer informações sobre o teatro e as possibilidades de atuação envolvendo essa linguagem por meio da experimentação da leitura e discussão de textos dramáticos. A ideia é, que com base nessa oficina, os participantes mergulhem no tema tratado e voltem para suas comunidades pensando nas atividades que poderão desenvolver como multiplicadores do projeto. conteúdos: • • • o teatro e suas formas dramáticas; a leitura dramática; características do texto teatral. 4. Uma imagem, mil palavras – Leitura de imagens. A quarta oficina tem como foco o estudo da cultura visual, estabelecendo relações entre dois elementos centrais do processo de comunicação em nossa sociedade: a imagem e a palavra. Por meio desse encontro, os participantes descobrem que toda imagem tem uma história para contar. E que são as nossas percepções visuais e experiências pessoais que nos tornam capazes de lê-las e interpretá-las para compreender e dar cada vez mais sentido ao mundo em que vivemos. conteúdos: • • • • breve história da leitura de imagens; procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens; relações entre palavra e imagem; a ilustração na literatura. 5. Luz que vem de longe – o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia. O quinto e último encontro celebra a poesia. A ideia é que os participantes possam apreciar a leitura de poemas, compartilhar relações entre esse gênero e as cantigas, brincadeiras populares e músicas conhecidas pelo grupo. É também um encontro de despedida e celebração do projeto, com a organização e realização de um sarau para leitura e troca de livros e poemas. conteúdos: • • • • • a poesia e sua história; o gênero poesia e suas curiosidades; a poesia e a intertextualidade; a poesia infantil; os saraus poéticos. 2.2 estratégias formativas A.concepção.do.trabalho.das.oficinas.prioriza.a.vivência.de.experiências.leitoras.significativas..Sendo.assim,.as. atividades.desenvolvidas.em.cada.encontro,.assim.como.a.atuação.dos.educadores.responsáveis.pelo.grupo,.devem. configurar-se.como.um.bom.modelo.a.ser.seguido.por.aqueles.que.desejarem.multiplicar.as.ações.do.projeto. Letras de luz.indd 18 29/11/10 17:30 2. As oficinas de leitura 19 Em.todos.os.encontros,.prioriza-se.a.leitura.dos.gêneros.escolhidos.como.tema..A.proposta.é.que.os. participantes. entrem. em. contato. com. os. textos,. socializem. suas. impressões,. percebam. seus. usos. sociais,. discutam.os.propósitos.e.experimentem.diferentes.procedimentos.leitores. Todas.as.oficinas.se.iniciam.com.uma.leitura.feita.pelo.formador..Ler.ou.contar.histórias.para.o.grupo. cumpre.importantes.funções:.é.modelo.para.os.participantes,.cria.um.clima.de.cumplicidade.entre.todos.e. amplia.o.leque.de.textos.conhecidos..A.seleção.do.que.vai.ser.lido.deve.obdecer.a.alguns.critérios,.tais.como:. qualidade.literária,.pertinência.em.relação.ao.tema.da.oficina,.afinidade.do.leitor.e.perfil.do.grupo.que.acompanhará.a.leitura..Há.também.sempre.um.resgate.do.encontro.anterior,.das.tarefas.que.foram.solicitadas.e. das.ideias.que.foram.multiplicadas.entre.uma.oficina.e.outra. As.apostilas.são.compostas.por.vários.Textos-farol:.uma.seleção.de.trechos.de.obras.de.referência,.algumas.matérias.da.revista.Nova Escola7.e.de.alguns.periódicos.relacionados.ao.tema.e.outros.materiais.escritos. especialmente.para.cada.um.dos.encontros..Eles.têm.por.objetivo.“iluminar”.as.discussões.e.trazer.novos. conhecimentos.aos.participantes..Cada.formador.elege.quais.textos.abordar.e.quais.deseja.indicar.para.a. leitura.em.outro.momento,.conforme.a.afinidade.apresentada.com.relação.ao.tema.e.a.pertinência.da.discussão.para.o.grupo..Todas.as.apostilas,.que.se.encontram.ao.final.desta.sitematização,.contêm.um.roteiro.para. o.desenvolvimento.de.cada.encontro,.o.qual.poderá.ser.adequado.à.realidade.local.e.aos.propósitos.do.trabalho,.dando.abertura.a.outras.possibilidades.de.exploração.dos.temas. Outra.marca.que.caracteriza.as.oficinas.é.a.realização.do.Mar.de.Histórias. Mar.de.Histórias.foi.o.nome.escolhido.para.uma.atividade.apreciada.por.alunos.e.professores.de. todas.as.idades..Mar.de.Histórias.é.uma.maneira.de.falar.de.literatura.e.de.livros,.de.leituras,.indicar. títulos,.autores.e.temas.e.ainda.escolher.livros.que.serão.lidos.pela.turma.ou.socializados.de.alguma. outra.maneira. A.atividade.consiste.em.colocar.no.chão.um.grande.tecido.que.pode.ser.escolhido.com.as.cores.que. lembram.mar.–.azul.e.verde.–.ou.que.seja.feito.pela.comunidade,.como.bordado,.uma.colcha.de.retalhos.ou. outra.solução..Porém.a.beleza.ou.singularidade.do.tecido.não.é.indispensável.à.atividade..O.que.mais.importa.é.que.exista.um.tecido.sobre.o.qual.sejam.dispostos.muitos.títulos.e.que.os.ouvintes.possam.aprender. sobre.eles.e.desejar.lê-los..Começa-se.a.atividade.com.uma.conversa.sobre.leitura,.ou.uma.leitura.propriamente.dita,.ou.sobre.uma.narrativa.apreciada.pelo.formador,.que.a.escolheu.por.determinado.motivo..Sobre. o.tecido,.dispõem-se.os.títulos.que.farão.parte.da.“roda”.daquele.dia..Em.volta.dele,.reúne-se.o.grupo.que. fará.parte.da.roda:.a.sala.de.aula,.o.grupo.de.professores,.o.grupo.de.pais,.etc..Após.a.leitura.e.a.conversa. sobre.a.narrativa,.que.pode.ou.não.ser.conduzida,.pode-se.optar.por.uma.leitura.sem.discussão.posterior,.já. que,.algumas.vezes,.o.desejo.é.apenas.ler.e.ouvir.a.narrativa.sem.se.preocupar.com.nenhuma.discussão.sobre. ela..Os.títulos.colocados.no.Mar.devem.ser.variados.e.obedecer.a.algum.pressuposto.que.se.tenha.estabelecido.para.aquela.roda..Pode.ser.temática.(um.tema.que.se.queira.aprofundar.ou.trazer.a.tona:.África,.Mitologia,.Ciência,.Astronomia,.Guerra),.pode.ser.por.autores,.por.gêneros,.comemorativas.de.alguma.data.ou. evento.especial.e.tantas.outras.ideias.podem.surgir. Em.cada.encontro,.além.do.acervo.exposto.do.Mar.de.Histórias,.dois.livros.pertencentes.aos.gêneros. discutidos.serão.trazidos.para.leitura.em.sistema.de.rodízio..As.obras.escolhidas.devem.ser.lidas.para.a.oficina.seguinte.com.vistas.à.troca.de.comentários.e.impressões.entre.leitores.de.um.mesmo.título..O.acervo. das.bibliotecas.locais.também.pode.(e.deve).ser.trazido.para.leitura.do.grupo,.especialmente.os.títulos.pertencentes.aos.gêneros.estudados.em.cada.oficina..O.investimento.nesse.acervo.circulante.composto.por.um. 7. Os.conteúdos.da.Fundação.Victor.Civita,.sejam.eles.matérias.das.revistas.Nova Escola.e.Gestão Escolar,.conteúdos.de.projetos.ou.estudos.e.pesquisas.educacionais.estão.disponíveis.para.leitura.em.www.ne.org.br.e.www.fvc.org.br Letras de luz.indd 19 29/11/10 17:30 20 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento pequeno.número.de.títulos.(10).e.uma.maior.quantidade.de.exemplares.de.cada.obra.(em.média,.6.de.cada). tem.por.objetivo.gerar.uma.maior.discussão.entre.os.leitores,.motivando-os.a.expressar.suas.percepções,. impressões.e.sensações.sobre.a.obra.lida..Assim.os.participantes.terão.contato.com.vários.textos.literários.de. qualidade,.compartilhando.leituras.comuns.e,.aos.poucos,.experimentando,.na.prática,.o.funcionamento.de. uma.verdadeira.comunidade.de.leitores.. Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.ser.lidos.durante.o.projeto: oficinA 1 A sociedade literária e a torta de casca de batata mary Ann Shaffer e Annie barrows editora rocco – rio de janeiro Tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e as dificuldades sofridas pela população da Ilha Britânica de Guernsey, os livros aparecem como companheiros, refúgio, elo entre os moradores. Cada qual vai descobrir autores e livros amados e como tais obras vão influenciar sua vida. Escrito de forma epistolar, é um deleite para aqueles que sabem e que buscam o valor da leitura. A biblioteca mágica de bibbi bokken jostein gardner e Klaus hagerup editora companhia das Letras – São Paulo Como é apresentado pela Livraria Cultura, o garoto Nils e sua prima Berit moram em cidades diferentes e, para manter contato, decidem escrever um diário a quatro mãos, enviando-o de uma cidade a outra por correio. Ao longo da história, eles investigam a vida de Bibbi Bokken e descobrem uma biblioteca mágica. Uma obra que celebra a magia de um objeto muito especial – o livro. oficinA 2 boa companhia – crônicas organização de humberto Werneck editora companhia das Letras – São Paulo Quarenta e dois cronistas foram selecionados para essa bela e excelente coletânea de crônicas brasileiras. Humor, política, amor, sociedade, um pastel, uma verdureira, o jornal dobrado no sofá... Tudo é matéria para o escritor que busca no cotidiano a sua razão para escrever, denunciar, louvar, entreter. Exercício diário nascido no jornal, a crônica brasileira é um dos mais vigorosos gêneros de nossa literatura. o imaginário cotidiano moacyr Scliar editora global – São Paulo O escritor gaúcho Moacyr Scliar reúne em O imaginário cotidiano as crônicas que publica semanalmente no jornal Folha de S.Paulo. Todos os textos são, na melhor essência da palavra e do gênero crônica, baseados em fatos reais! O autor cria suas crônicas depois de escolher uma notícia no jornal. Notícia vira literatura. Esporte, obituário, política, economia, artes e até classificados. Nada escapa ao olhar apurado de Scliar, que faz aquilo que bem cabe ao cronista: olhar para aquilo que ninguém notou. Letras de luz.indd 20 29/11/10 17:30 2. As oficinas de leitura 21 oficinA 3 tronodocrono josé rubens Siqueira e gabriela rabelo editora companhia das Letras – São Paulo Duas deliciosas peças de teatro para o público infantil-juvenil escritas por quem conhece muito do assunto. Retomando temas gregos e árabes, com Sherazade e Cronos, e misturando histórias de diversas culturas e épocas, os textos tratam com delicadeza e humor de assuntos sérios, como a memória, a razão, a intuição. Para ler e representar. A falecida nelson rodrigues É impossível não delirar com a vida da protagonista Zulmira, que, depois de tantos dissabores da vida, só espera ter um enterro luxuoso. Para esse enterro é que a personagem vai dedicar toda sua energia e sonho. Desde 1953, o texto vem sendo lido e relido, montado sob as mais diversas leituras teatrais. Uma obra-prima do teatro brasileiro. oficinA 4 o que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador organização de ieda de oliveira editora DcL – São Paulo Definir o que é qualidade em ilustração de livros de literatura infantil e juvenil não é tarefa fácil. No entanto, Ieda de Oliveira, doutora em Letras e especialista em literatura infantil e juvenil, reuniu um time de conceituados ilustradores brasileiros e portugueses para discorrer sobre o assunto por meio de artigos e depoimentos. Uma obra-prima ilustrada pelas palavras dos artistas. As aventuras de bambolina michelle Lacocca editora Ática – São Paulo O texto está escrito, mas não está lá, não está visível. Quantas aventuras aguardam essa boneca de pano! Por quantas mãos passará? O que seus donos farão com ela? Um livro só de imagens para o leitor compor sua história dentro de um enredo que parece estar pronto, mas que reserva muitas surpresas. Para quem já teve e para quem nunca imaginou ter uma boneca. oficinA 5 Poesia fora da estante volume 2 vários autores editora Projeto – Porto Alegre Deliciosa antologia de poesia brasileira dirigida para adolescentes, na qual a regra é nenhuma regra. São 31 poetas e 61 poemas, que mesclam passado e presente, literatura consagrada e letra de música, folclore e reescrita. Dentre os autores, constam Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Mário Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Vinicius de Moraes, Chico Buarque e Cazuza. Letras de luz.indd 21 29/11/10 17:30 22 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento os cem melhores poemas brasileiros do século organização de Ítalo moriconi editora objetiva – rio de janeiro Como escolher 100 poemas que traduzam o século 20? Essa foi a árdua tarefa assumida pelo professor Ítalo Moriconi. Ao final, uma coletânea de belos, estranhos, ácidos, vibrantes, românticos, vertiginosos poemas está à disposição dos leitores. Dentre os critérios usados, pode-se destacar o desejo de que cada poema fosse inesquecível. Com.base.em.leituras.realizadas.entre.as.oficinas,.os.participantes.são.convidados,.desde.o.primeiro.encontro,.a.elaborar.Diários.de.Leitura:.espaço.privilegiado.para.anotar.os.livros.lidos,.as.emoções,.as.surpresas. e.até.as.tristezas.ou.as.leituras.que.não.trouxeram.prazer..A.proposta.é.escrever.em.torno.do.literário..Cada. grupo,.junto.com.seu.formador,.decide.o.formato.desse.registro.e.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores. Os.Diários.dialogam.com.a.possibilidade.de.uma.atividade.de.escrita.que.é.bastante.intimista,.mas,.que. pode.se.tornar.altamente.coletiva.e.auxiliar.a.espalhar.ideias.sobre.livros.e.leituras.por.meio.não.só.da.oralidade,.mas.da.escrita..Em.cada.oficina,.os.participantes.se.reúnem,.compartilham.seus.registros.sobre.os.livros. lidos,.fazendo.indicações,.lendo.trechos.que.anotaram,.mostrando.imagens.que.selecionaram,.etc. Ao.final.de.cada.encontro,.sugere-se.que.seja.realizada.uma.avaliação.para.identificar.se.os.objetivos.foram. cumpridos,.o.que.deve.ser.melhorado.para.as.próximas.oficinas.e.se.há.novas.sugestões..A.possibilidade.de.que. todos.se.pronunciem.é.fundamental.para.que.uma.atividade.de.longa.duração,.como.essa,.atinja.os.resultados. esperados..Sempre.que.possível,.a.avaliação.deve.ser.feita.por.escrito.pelos.formadores.e.pelos.participantes. 2.3 A eQUiPe De formADoreS A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.leitura.deve.ser.composta,.essencialmente,.por.amantes.da.literatura.e.leitores.experientes..Em.sua.maioria.specialistas.na.área.de.Literatura.e.Pedagogia,.o.fundamental. é.que.esses.educadores.conheçam.muitos.textos.literários.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para. conduzir.discussões.em.torno.da.leitura.e.indicar.materiais.de.qualidade.para.o.grupo. Durante.os.encontros,.esses.profissionais.devem.organizar.um.trabalho.sistemático.que.possibilite.aos. participantes.muitas.leituras,.de.várias.maneiras,.sozinhos,.em.grupos.ou.com.a.mediação.de.um.leitor.mais. experiente..Para.isso,.é.necessário.que.conheçam.autores.e.gêneros,.temas.e.personagens,.propiciando.reflexões.que.auxiliem.na.construção.de.sentidos.para.as.leituras.realizadas.e.no.traçado.de.um.novo.percurso. leitor.para.cada.um.dos.multiplicadores. Letras de luz.indd 22 29/11/10 17:30 3. capacitação e apresentações teatrais 3.1 objetivoS e conteúDoS trAbALhADoS É.parte.da.proposta.do.projeto.oferecer.ao.município.a.capacitação.de.grupos.de.teatro.locais.ou.a. formação.de.um.novo.grupo.por.meio.de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área. teatral..O.objetivo.é.incentivar.a.formação.artística.e.cultural,.possibilitando.a.adaptação.de.obras.literárias.para.o.teatro..Os.participantes.são.instruídos.a.empregar.as.técnicas.e.os.conhecimentos.adquiridos. para.a.montagem.dos.espetáculos,.selecionando.textos.literários.brasileiros.infanto-juvenis.ou.de.interesse.geral.dos.municípios.envolvidos. O.projeto.prevê.a.concretização.das.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.fundamental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço. No.primeiro.dia.de.encontro,.os.participantes.conhecem.as.diretrizes.do.projeto,.a.proposta.que.terão. pela.frente.e.a.rotina.de.trabalho.com.o.grupo..No.segundo.e.no.terceiro.dia,.vivenciam.jogos.teatrais.e. exercícios.de.improvisação.baseados.em.temáticas.abordadas.no.texto.a.ser.encenado..No.quarto.e.último. dia,.conhecem.o.conto.que.irão.apresentar.e.dão.início.ao.trabalho.de.montagem.do.mesmo. Conteúdos: • • • • • • • histórico do projeto; estrutura de trabalho dos grupos de teatro; jogos teatrais; exercícios de improvisação; características das adaptações de textos literários para a encenação; teatro dramático x teatro épico; produção teatral. 3.2 eStrAtégiAS formAtivAS Durante.os.quatro.dias.de.encontro,.o.grupo.formado.utilizará.o.modelo.aprendido.para.a.montagem. de.pequenas.peças.teatrais.de.textos.curtos.de.diferentes.autores.e.estilos.para.apresentação.nas.cidades. Letras de luz.indd 23 29/11/10 17:30 24 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento abrangidas.pelo.projeto..Ao.longo.do.trabalho.com.o.capacitador,.os.participantes.terão.indicações.fundamentais.e.um.esboço.da.primeira.montagem..A.partir.daí,.terão.aproximadamente.30.dias.para.–.através. de. encontros,. ensaios. e. produções. –. dar. um. acabamento. compatível. que. permita. a. apresentação. pública.da.peça. Como.parte.do.trabalho.desenvolvido,.o.grupo.também.é.convidado.a.participar.das.oficinas.de.leitura,. buscando.uma.maior.integração.entre.as.duas.vertentes.do.projeto..Além.disso,.são.estimulados.a.realizar. um.Diário.de.Bordo,.registrando.o.processo.criativo,.as.descobertas.e.os.impasses.vividos.durante.a.montagem.e.a.apresentação.dos.espetáculos. A.apostila.das.oficinas.do.teatro,.disponível.ao.final.dessa.sistematização,.contém.orientações.precisas. sobre.a.formação.e.a.rotina.dos.grupos,.relações.entre.o.trabalho.das.oficinas.de.teatro.e.de.leitura,..indicações.bibliográficas.sobre.o.tema.e.alguns.textos.teóricos.de.apoio..Os.participantes.recebem.também.algumas.instruções.para.as.fases: pré-produção (escrita e organização de um projeto; elaboração de release para apoiadores culturais e para divulgação das apresentações); produção (definição de datas e locais para apresentação; organização e necessidades do espetáculo; verbas e orçamentos; apoios culturais, empréstimos de itens e parcerias; imprevistos durante o percurso; temporadas e apresentações esporádicas; administração); pós-produção (desmontagem; devolução de itens, agradecimentos e retorno a apoiadores e parceiros; clipping; relatório; apresentações fora do projeto). Além.da.literatura.específica.para.a.área.teatral.doada.pelo.projeto,.o.grupo.teatral.recebe,.por.ocasião.da. oficina.de.capacitação,.uma.pequena.biblioteca.técnica.de.títulos,.que.permanecem.sob.sua.responsabilidade. no.decorrer.do.ano. A.coordenação.das.atividades.teatrais.estabelece.um.elo.permanente.de.apoio.para.as.questões.inerentes. à.montagem.e.produção,.uma.espécie.de.supervisão.a.distância.–.por.contatos.telefônicos.e.correio.eletrônico,.além.do.envio.de.material.didático.e.leituras. Cada.grupo.escolhe.o.interlocutor.que.fará.a.ponte.entre.grupo,.produção.e.coordenação.do.projeto.. Esse.participante.(que.chamamos.de.“produtor.local”).necessariamente.integra.também.a.parte.artística. do.projeto. 3.3 A eQUiPe De formADoreS A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.teatro.deve.ser.composta,.essencialmente,.de.atores.e.amantes.da. arte.de.representar..Em.sua.maioria,.profissionais.da.área.de.Teatro.e.Arte-Educação,.o.fundamental.é.que. saibam.administrar.a.criação.e.a.gestão.de.um.grupo.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para.conduzir.discussões.em.torno.da.dramaturgia.e.da.encenação,.além.da.adaptação.de.textos.literários.para.o.teatro.. Para.isso,.devem.estar.em.contato.permanente.com.as.temáticas.abordadas.pelo.projeto.e.buscar.constantemente.novos.materiais.relacionados.aos.temas. Letras de luz.indd 24 29/11/10 17:30 3. Capacitação e apresentações teatrais 25 3.4 APreSentAçõeS teAtrAiS O.grupo.tem.a.responsabilidade.de. montar. (ensaiar. e. produzir). e. apresentar. quatro. diferentes. peças,. sendo.duas.montagens.no.1o.semestre.e.outras.duas.no.2o.semestre,.conforme.cronograma.proposto.no.início.deste.material. O.ciclo.de.cada.peça.é.de.aproximadamente.2.meses:.no.primeiro.mês.o.grupo.ensaia.e.produz.a.peça. (cenário,.figurino,.iluminação,.etc).e.no.segundo.mês.apresenta.nos.diferentes.espaços.da.cidade. É.fundamental.que.o.grupo.organize.um.cronograma.mais.detalhado.das.épocas.de.ensaios.e.produção. e.dos.espetáculos. 3.4.1 Seleção de textos e montagem As.obras.para.montagens.serão.contos.da.literatura.brasileira,.escolhidos.segundo.sua.qualidade.artística. e.possibilidades.cênicas..Serão.apresentados.sob.forma.de.texto.ou,.eventualmente,.como.livro,.em.especial,. no.caso.da.literatura.infantil,.em.que.as.ilustrações.ajudam.a.narrar.o.conto.pretendido. É.importante.que.a.coordenação.do.projeto.cuide.da.disponibilização.desses.textos.e.livros.para.os.atores,. bem.como.cuide.da.autorização.de.utilização.do.obra.com.o.autor. A.seleção.do.texto.a.ser.encenado.deve.respeitar.as.leis.de.direito.autoral..No.caso.dos.autores.de.domínio. público,.não.é.necessário.solicitar.autorização.para.o.uso.do.texto..Para.as.obras.dos.escritores.contemporâneos,.o.grupo.deverá.recorrer.às.editoras.que.detêm.os.direitos.desses.autores.(consultar.se.a.obra.é.de.dominio. público.em.www.dominiopublico.gov.br).ou.à.SBAT.–.Sociedade.Brasileira.de.Autores.(www.sbat.com.br).. Durante. o. processo. de. montagem,. os. atores. serão. orientados. a. realizar. uma. transposição. do. conto. à. linguagem.teatral,.preservando.em.sua.medida.a.originalidade.do.escrito..A.proposta.é.que.possam.ler.e. aprofundar. diferentes. interpretações. sobre. o. texto,. discutindo. e. experimentando. formas. de. trazê-lo. aos. palcos.e.outros.espaços. Os.dois.primeiros.contos.já.lhes.serão.entregues.por.ocasião.da.oficina.de.capacitação..Os.outros.dois. restantes.serão.apresentados.à.medida.que.o.projeto.avance.para.um.bom.processo.de.criação.cênica. 3.4.2 Produção Desde.a.oficina.de.capacitação,.os.grupos.são.encorajados.e.estimulados.a.desenvolverem.seus.trabalhos. contando.com.recursos.próprios.e.adaptando-se.às.realidades.locais. A.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.é.um.bom.caminho.para.produzir.um. espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados.apoiadores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produtos..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material.de. divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade.da. logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo..Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release. em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao.futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um. .release.curto,.de.fácil.leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que.chamem.a.atenção.para.a.peça..Nesse. Letras de luz.indd 25 29/11/10 17:30 26 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento material,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha.técnica.e. locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários. Os.custos.inerentes.aos.deslocamentos.(e.eventuais.alimentação.e.estadia).nos.espaços.de.apresentação. serão.responsabilidade.dos.organizadores.do.projeto.e.parceiros,.conforme.o.caso,.mediante.a.aprovação.da. coordenação.do.projeto. Letras de luz.indd 26 29/11/10 17:30 4. renovação do acervo de livros literários 4.1 objetivoS e critérioS De SeLeção Do Acervo A.renovação.do.acervo.literário.das.bibliotecas.dos.municípios.participantes.do.projeto.tem.o.objetivo.de. ampliar.o.acesso.a.títulos.de.qualidade.e.o.repertório.dos.leitores.locais,.alimentando.a.formação.de.comunidades.leitoras. Os.livros.selecionados.buscam.atender.a.alguns.critérios: contemplar interesses de leitores em diferentes estágios de aprendizagem da leitura (iniciantes, em processo, fluentes e críticos); possibilitar variadas experiências literárias por meio da diversidade de gêneros: poesia, contos, novelas, romances, textos dramáticos, crônicas, histórias em quadrinhos, textos visuais etc.; expressar a produção cultural de determinada língua, nação, comunidade (lendas, mitos e obras clássicas); possibilitar a experimentação de variadas modalidades de leitura; ampliar o contato com diferentes autores e estilos; contemplar obras consagradas e textos contemporâneos. O.processo.de.escolha.do.acervo.é.realizado.pelos.formadores.das.oficinas.de.leitura,.supervisionados. pelo.coordenador..Por.meio.da.consulta.aos.catálogos.das.editoras,.visitas.às.livrarias.e.feiras.e.resgate.de. algumas.obras.do.acervo.pessoal.dos.selecionadores,.uma.lista.de.títulos.é.criada.e.submetida.a.um.intenso. trabalho.de.pesquisa.com.livreiros.a.fim.de.verificar.a.disponibilidade.dos.mesmos.nos.estoques.para.posterior.aquisição..É.importante.considerar.a.necessidade.de.adquirir.vários.volumes.de.uma.mesma.obra.para. garantir.o.diálogo.entre.um.número.maior.de.leitores.de.um.mesmo.livro. O.fundamental.é.que.os.títulos.escolhidos.sejam.conhecidos.pelos.formadores,.já.que.esses.serão.os. responsáveis. por. essa. seleção. e. durante. as. oficinas. deverão. apresentar. parte. desse. material. no. Mar. de. Histórias. Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.compor.o.acervo.literário.e.que.foram.títulos.componentes. da.doação.de.acervo.feita.nas.edições.do.projeto.Letras.de.Luz.para.os.municípios.participantes: Letras de luz.indd 27 29/11/10 17:30 28 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento tÍtULo Letras de luz.indd 28 AUtor eDitorA 1 12 Fábulas de Esopo Hans Gartner Ática 2 20.000 Léguas Submarinas Julio Verne Cia. das Letras 3 A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken Gaarder, Josteins, Hagerup, Klaus, Bertoul e Sonali Cia. das Letras 4 A Bruxa do Armário de Limpeza Pierre Gripari Martins Fontes 5 A Cabana Will P. Young Sextante 6 A Causa Secreta (literatura brasileira em quadrinhos) Machado de Assis Escala Educacional 7 A Celestina Fernando de Rojas L&PM 8 A Curiosidade Premiada Fernanda Lopes de Almeida Ática 9 A Dobradura do Samurai Ilan Brenman Cia. das Letras 10 A Falecida Nelson Rodrigues Nova Fronteira 11 A Formiga Aurélia e Outros Contos Regina Machado Cia. das Letras 12 A Lei do Mais Forte e Outros Males que Assolam o Mundo Fernanda Lopes de Almeida Ática 13 A Loira do Banheiro Heloisa Prieto Ática 14 A Maldição da Moleira Índigo Girafinha 15 A Palavra Feia de Alberto Audrey Wood Ática 16 A Pedra do Meio Dia ou Artur e Isadora Bráulio Tavares Editora 34 17 A Porta Aberta Peter Brook Civilização Brasileira 18 A Professora de Desenho Marcelo Coelho Cia. das Letras 9 1 A Redação Antonio Skarmeta Record 20 A Santa Joana dos Matadouros Bertolt Brecht Paz & Terra 21 A Sociedade Literária e a Torta da Casca de Batata Annie Barrows Rocco 22 A Vassoura Encantada Chris Allsburg Cia. das Letras 23 A Volta ao Mundo em 52 Histórias Neil Philip Cia. das Letras 24 Abrindo Caminho Ana Maria Machado Cia. das Letras 25 Álbum de Figurinhas Fanny Abramovich Cia. das Letras 26 Alexandre e Outros Heróis Graciliano Ramos Globo 27 Amigos Helme Heine Cia. das Letras 28 Ana Z, Onde Vai Você? Nélida Piñon Cia. das Letras 9 2 Anjinho Eva Furnari Cia. das Letras 30 Antígona Sófocles L&PM 31 Arsene Lupin, Ladrão de Casaca Maurice Leblanc Ática 32 As 100 Melhores Crônicas Joaquim Ferreira dos Santos Objetiva 33 As 14 Pérolas da Índia ILan Brenman Brique-Book 34 As Aventuras de Bambolina Michele Iacocca Moderna 35 As Bruxas Roald Dahl Martins Fontes 36 As Eruditas Molière L&PM 29/11/10 17:30 4. Renovação do acervo de livros literários 29 tÍtULo Letras de luz.indd 29 AUtor eDitorA 37 As Fenícias Eurípides L&PM 38 As Grandes Aventuras - 30 Histórias Reais de Coragem e Ousadia Richard Plat Cia. das Letras 9 3 As Mentiras de Paulinho Fernanda Lopes de Almeida Ática 40 Asas! Jane Yolen Ática 41 Até as Princesas Soltam Pum Ilan Brenman e Ionit Zillberman Brinque Book 42 Auto da Barca do Inferno Gil Vicente L&PM 43 Auto da Compadecida Ariano Suassuna Agir 44 Beijo Roald Dahl Record 45 Belinda Bailarina Amy Young Ática 46 Bertolt Brecht - Teatro Completo, Vol. 3 Bertolt Brecht Paz & Terra 47 Boa Companhia: Haicai Rodolfo Witzig Guttilla Cia. das Letras 48 Bruxa Zelda e os 80 Docinhos Eva Furnari Ática 9 4 Buracos Louis Sachar Martins Fontes 50 Caixa Especial Shakespeare - Vol. 7 Shakespeare L&PM 51 Cara Sra. Leroy Mark Teague Ática 52 Casa Sonolenta Audrey Wood Ática 53 Casamento do Porcolino Helme Heine Ática 54 Coisas Frágeis Neil Gaiman Conrad Editora 55 Como Papai e Mamãe Se Apaixonaram Katharina Grossman-Hensell Scipione 56 Contos de Adivinhação Ricardo Azevedo Ática 57 Contos de Bichos do Mato Ricardo Azevedo Ática 58 Contos de Enganar a Morte Ricardo Azevedo Ática 9 5 Contos de Grimm - Vol. 1 Irmão Grimm Ática 60 Contos de Grimm - Vol. 2 Irmãos Grimm Ática 61 Cordel Patativa do Assaré Edras 62 Dia Brinquedo Fernando Paixão Ática 63 Dom Quixote em Quadrinhos Caco Galhardo Peirópolis 64 Doze Contos Peregrinos Gabriel García Márquez Record 65 Édipo Rei Sófocles L&PM 66 Entre o Mediterrâneo e o Atlântico Uma Aventura Teatral Maria Lúcia Pupo Perspectiva 67 Escolas como a Sua Penny Smith Ática 68 Essa História Está Diferente Xico Sá, Luis Fernando Verissimo, Cadao Volpato, Rodrigo Fresan, Mia Couto, Alan Pauls, Mario Bellatin, Carola Saavedra, Andre Sant’Anna e João Gilberto Noll Cia. das Letras 9 6 Eu Nunca Vou Comer Tomate Lauren Child Ática 70 Faca sem Ponta, Galinha sem Pé Ruth Rocha Ática 29/11/10 17:30 30 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento tÍtULo AUtor eDitorA 71 Fedra Racine L&PM 72 Feliz por Obrigação Chris Wormell Ática 73 Felpo Filva Eva Furnari Moderna 74 História do Lobo Marco Antonio Carvalho Ática 75 Histórias à Brasileira - Vol. 1 Ana Maria Machado Cia. das Letras 76 Histórias à Brasileira - Vol. 2 Ana Maria Machado Cia. das Letras 77 Histórias à Brasileira - Vol. 3 Ana Maria Machado Cia. das Letras 78 Histórias de Encantamento Hugh Lupton Martins Fontes 9 7 Histórias do Cisne Hans Christian Andersen Cia. das Letras 80 Histórias do Encantado Miriam Portela Moderna 81 Histórias para Acordar Diléa Frate Cia. das Letras 82 Histórias para Aprender a Sonhar Oscar Wilde Cia. das Letras 83 Ilíada e Odisséia de Homero - Uma Biografia Alberto Manguel Jorge Zahar 84 Ilíada e Odisséia em Quadrinhos Márcia Williams Ática 85 Improvisação para o Teatro Viola Spolin Perspectiva 86 Jogos para Atores e Não Atores Augusto Boal Civilização Brasileira 87 Lé com Crê José Paulo Paes Ática 88 Liberdade, Liberdade Millôr Fernandes e Flávio Rangel L&PM 9 8 Liga-Desliga Camila Franco, Jarbas Agnelli e Marcelo Pires Cia. das Letras 90 Lisístrata - A Greve Do Sexo Aristófanes L&PM 91 Lolo Barnabé Eva Furnari Moderna 92 Luas e Luas James Thurber Ática 93 Malasaventuras - Safadezas do Malasarte Pedro Bandeira Editora Moderna 94 Mania de explicação Adriana Falcão Salamandra 95 Maria Borralheira Silvio Romero Scipione 96 Matilda Roald Dahl Martins Fontes 97 Meu Livro de Folclore Ricardo Azevedo Ática 98 Meu Primeiro Livro de Contos de Fadas Mary Hoffman Cia. das Letras 99 Mitos, o Folclore do Mestre André Marcelo Xavier Formato 100 No Meio da Noite Escura tem um Pé de Maravilha Ricardo Azevedo Ática 101 Nossa Rua Tem um Problema Ricardo Azevedo Ática 102 Novas Velhas histórias Rosane Pamplona Brinque Book 103 O Careca Silvio Romero Scipione 104 O Carteiro Chegou Eduardo Brandão Cia. das Letras 105 O Casamento Suspeitoso Ariano Suassuna José Olympio Letras de luz.indd 30 29/11/10 17:30 4. Renovação do acervo de livros literários 31 tÍtULo AUtor eDitorA 106 O Caso da Borboleta Atíria Lúcia Machado de Almeida Ática 107 O Cavalinho Azul Maria Clara Machado Cia. das Letras 108 O Clube do Livro - Ser Leitor: Que Diferença Faz? Luzia de Maria Globo 10 9 O Diário de Zlata Zlata Filipovic, Heloisa Jahn e Antonio de Macedo Soares Cia. das Letras 110 O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá Jorge Amado Cia. das Letras 111 O Gênio do Crime João Carlos Marinho Editora Global 112 O Gigante de Meias Vermelhas Pierre Gripari Martins Fontes 113 O Grande Livro do Medo Adaptação de Xavier Valls Girafinha 114 O Homem do Princípio ao Fim Millôr Fernandes L&PM 115 O Imaginário Cotidiano Moacyr Scliar Global Editora 116 O Livro dos Pontos de Vista Ricardo Azevedo Editora Ática 117 O Livro Inclinado Peter Newell Cosac Naify 118 O Mensageiro das Estrelas Peter Sis Ática 11 9 O Noviço Martins Pena L&PM 120 O Outro Lado Istvan Banya Cosac Naify 121 O Presente da Vovó Sara Ghazi Abdel Qadir Edições S.M. 122 O Santo e a Porca Ariano Suassuna José Olympio 123 O Último Cavaleiro Andante: Uma Adaptação de Dom Quixote Will Eisner Cia. das Letras 124 Odisséia Ruth Rocha Cia. das Letras 125 Onda Suzy Lee Cosac Naify 126 Os Cem Melhores Poemas do Século Italo Moriconi Objetiva 127 Os Livros e os Dias Alberto Manguel Cia. das Letras 128 Os Pestes Roald Dahl Editora 34 12 9 Os Saltimbancos Ziraldo e Chico Buarque José Olympio 130 Outra Vez Ângela Lago Moderna 131 Papagaio do Limo Verde Silvio Romero Scipione 132 Para Gostar de Ler - Vol. 1 - Crônicas Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga Ática 133 Para Gostar de ler - Vol. 2 - Crônicas Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga Ática 134 Para Gostar de Ler - Vol. 8 - Contos Brasileiros Graciliano Ramos, Ignácio de Loyola Brandão, José J. Veiga, Lima Barreto, Luiz Vilela, Marcos Rey e Stanislaw Ponte Preta Ática 135 Para Gostar de Ler - Vol. 11 - Contos Universais Anton Tchekhov, Edgar Allan Poe, Franz Kafka, Guy de Maupassant, Jack London, Miguel de Cervantes e Voltaire Ática Letras de luz.indd 31 29/11/10 17:30 32 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento tÍtULo AUtor Para Gostar De Ler - Vol. 36 - Feira de Versos João Melquíades F. da Silva, Leandro Gomes de Barros e Patativa do Assaré Ática 137 Para Gostar de Ler - Vol. 38 - Histórias de Ficção Cientfica André Carneiro, Arthur C. Clarke, Bruce Sterling, Edgar Allan Poe, Eduardo Goligorsky, H. G. Wells, Isaac Asimov, Jean-Louis Trudel, Jorge Luiz Calife, Miguel de Unamuno, Millôr Fernandes e Rubens Teixeira Ática 138 Pequeno Dicionário Poético Humorístico Elias Jos Paulinas 13 9 Persépolis Marjane Satrap Cia. das Letras 140 Poemas 1913-1956 Bertolt Brecht Editora 34 141 Poesia Fora da Estante - Vol. 2 Vera Aguiar Editora Projeto 142 Ponte para Terabítia Katherine Paterson Editora Salamandra 143 Que História é Essa? - Vol. 1 Flávio de Souza Cia. das Letras 144 Que História é Essa? - Vol. 2 Flávio de Souza Cia. das Letras 145 Raposa Margaret Wild Brinque Book 146 Rei Gilgamesh Ludmila Zeman Projeto 147 Robin Hood Neil Philip Cia. das Letras 148 Rosa Maria no Castelo Encantado Érico Verissimo Cia. das Letras 14 9 Sapatinhos Vermelhos Imme Ross Ática 150 Sete Histórias para Contar Adriana Falcão Salamandra 151 Sete Histórias para Sacudir o Esqueleto Ângela Lago Cia. das Letras 152 Sumri Amós Oz Ática 153 Teatro de Sombras de Ofélia Michael Ende Ática 154 Teatro IV Maria Clara Machado Agir 155 Teatro V Maria Clara Machado Agir 156 Toda Nudez Será Castigada Nelson Rodrigues Nova Fronteira 157 Totó Michael Rosen e Neal Layton Cia. das Letras 158 Trem de Alagoas Ascenso Ferreira WMF Martins Fontes 15 9 Tronodocrono Gabriela Rabelo e José Rubens Siqueira Cia. das Letras 160 Um Bonde Chamado Desejo Tennessee Williams L&PM 161 Um Contrato com Deus Will Eisner Livraria Devir 162 Viagem ao Brasil em 52 Histórias Silvana Salerno Cia. das Letras 163 Viagem ao Céu Monteiro Lobato Globo 164 Vice-Versa ao Contrário Heloisa Prieto Cia. das Letras 165 Zé Diferente Lúcia Pimentel Góes Melhoramentos 166 Zoo João Guimarães Rosa Nova Fronteira 136 Letras de luz.indd 32 eDitorA 29/11/10 17:30 4. Renovação do acervo de livros literários 33 4.2 DoAção É.parte.da.proposta.do.projeto,.quando.conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.a.doação.de.acervo.literário.para.uma.biblioteca.previamente.selecionada.pelo.município. A.doação.ou.renovação.do.acervo.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto,.que.pode. viabilizá-la.por.meio.de.parcerias.ou.investimentos.públicos. A.escolha.deve.privilegiar.os.espaços.que.possam.garantir.maior.acesso.da.comunidade.a.esse.material.. por.isso,.o.Letras.de.Luz.prioriza.a.doação.às.bibliotecas.públicas.municipais. A.etapa.de.entrega.do.acervo.deve.ser.prevista.para.ocorrer.juntamente.com.a.terceira.oficina.de.leitura. do.projeto..Essa.opção.justifica-se.pelo.fato.de.que,.nesse.momento,.os.grupos.de.participantes.já.se.constituíram.como.uma.comunidade.leitora.e,.de.alguma.forma,.já.tiveram.contato.com.as.outras.vertentes.do. projeto(oficinas.e.apresentações.teatrais). A.proposta.é.de.que.organize-se.um.evento,.convidando.os.principais.envolvidos.com.o.trabalho.(participantes.das.oficinas,.grupo.de.teatro,.formadores,.autoridades.locais,.representantes.da.comunidade.e.dos. parceiros).e.nesta.ocasião.fazer.a.entrega.do.acervo.à(s).biblioteca(s).previamente.selecionada(s)..Pode-se,. tornar.esse.momento.ainda.mais.rico,.convidando.o.grupo.de.teatro.para.apresentar-se..É.um.dia.de.festa,. no.qual.o.município.celebra.o.investimento.na.formação.de.leitores.e.compartilha.a.experiência.de.fazer. parte.de.um.projeto.que.vê.a.leitura.como.prioridade. Letras de luz.indd 33 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura AnexoS APoStiLA 1 oficinA 1 – mil e uma Leituras Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas QUeStionÁrio De chegADA Ouvi falar do Projeto Letras de Luz ........................................................................... Estou chegando e espero que .................................................................................... Já participava do Projeto e espero que ...................................................................... Eu atuo com.............................................................................................................. Penso que participar das oficinas me ajudará a ......................................................... Na minha participação anterior, aprendi ................................................................... Meu último livro lido foi ........................................................................................... Minhas leituras amadas são ...................................................................................... O que tenho feito para a formação de uma comunidade leitora ................................ objetivos: • apresentar ou retomar histórico, conteúdos e objetivos do projeto; • Letras de luz.indd 35 reconhecer a importância de projetos de leitura para as comunidades, sensibilizando e organizando o grupo para as atividades propostas; 29/11/10 17:30 36 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento • • • • • • refletir sobre as diferenças entre o leitor individual e o leitor público; refletir sobre os diferentes propósitos e comportamentos leitores; iniciar uma discussão sobre gêneros literários; compreender e iniciar atividades ligadas ao projeto; reconhecer a importância da biblioteca como um centro de leitura e difusão cultural; promover gestos de aproximação e cumplicidade com o espaço da biblioteca. conteúdos: • • • • a literatura e seus primórdios: do mito à literatura; os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores; a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural; apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura. Desenvolvimento 1. Abertura: boas-vindas e reconhecimento do grupo. O formador pode começar com uma contação de história ou uma leitura. Ler ou contar histórias na abertura de oficinas cumpre importantes funções: é modelo para os participantes, cria um clima de cumplicidade entre todos e aumenta o leque de textos conhecidos. Invariavelmente, as pessoas começam a trazer, com o decorrer da formação, seus textos para ler na abertura e fechamento das oficinas. É importante que o formador conheça o público participante, o que deseja, o que faz, seus anseios e sonhos. Ao conhecer essas motivações é possível obter um breve panorama da realidade local e dos desafios que se tem pela frente. Acima há um Questionário de Chegada, que pode servir de guia para essa apresentação. É importante lembrar que precisamos recolher informação sobre o leitor na vida e leitor na escola/comunidade desde esse primeiro contato, pois essa discussão norteará todo o projeto. 2. Apresentação do projeto: caso seja a primeira vez que o projeto acontece na cidade, esse é o momento de apresentar a iniciativa, sensibilizando o grupo para a proposta. Caso o município já tenha participado da iniciativa, a conversa deve ser útil e prazerosa para que os participantes consigam perceber a abrangência do projeto e o quanto já foi realizado. O diálogo sobre leitura é indispensável: o que apreciam e costumam ler, as leituras inesquecíveis, as que deixaram gosto amargo, as obrigatórias, as feitas para outros públicos. Aqui também é importante lembrar, e instigar, que os participantes de edições anteriores possam falar dos livros lidos durante o projeto nos anos anteriores, os livros que foram procurados da doação do acervo, aqueles que foram mais queridos. Enfim, é momento importante de sabermos um pouco como esse projeto está interferindo na comunidade de leitores. 3. Apresentação dos conteúdos: fazer a leitura dos conteúdos e objetivos, questionando o que esperam e o que sabem sobre eles. Para aqueles que já estavam no projeto, é importante investigar se conseguem visualizar as mudanças introduzidas e no que elas contribuem na formação de uma comunidade leitora. Nesta apresentação de conteúdos, as questões-chave do projeto devem ser lembradas: o trabalho cada vez mais intenso na Letras de luz.indd 36 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 37 formação de um leitor que se aprimore na sua leitura individual e na coletiva; que enfrente leituras diversificadas e que consiga falar delas e reconhecê-las dentro de um leque grande de produções; que saiba, cada vez mais e melhor, escolher suas leituras dentro de parâmetros, necessidades e desejos bem definidos. Não se pode, também, esquecer que nossa escolha pelo trabalho com gêneros em função da riqueza linguística e literária e da preocupação com o conhecimento das diversas manifestações literárias que um acervo pode conter e do qual não podemos manter alunos e demais leitores afastados. 4. Por que gêneros: o primeiro texto-farol da apostila, Narrativas iluminam, retoma um tema querido e já bastante trabalhado pelo projeto, que é o da necessidade de contar histórias, porém agora traz novas considerações, quais sejam, o nascimento da própria literatura e os gêneros literários. Quando leio um texto, estou lendo um gênero específico. Acreditamos que diferentes gêneros e propósitos leitores solicitam diferentes comportamentos leitores. Lê-se um poema de maneira diferente de uma crônica. Assim como a epopeia e o cordel exigem leituras distintas. Reconhecer e trabalhar com essa diversidade é também pensarmos em autores, estilos e épocas que fazem parte da rica história da literatura. Cabe aqui uma rodada de conversa que instigue os participantes a pensarem sobre esse tema, o que lembram de ter aprendido e lido. Quais livros leram, como leram? Quais gêneros são conhecidos? O que sabem sobre eles? 5. Discussão sobre os propósitos leitores: hora de estudar e discutir como lemos, para que e para quem. O texto Ler na vida, ler na escola/comunidade, que está no final desta apostila, trata dos propósitos leitores que desejamos que os participantes discutam. O formador pode dividir os participantes em vários grupos e propor a leitura de diferentes gêneros (contos, manuais, artigos, mapas, notícias, etc.), com diferentes objetivos (ler para localizar uma informação precisa, ler para estabelecer relações entre diferentes textos, ler para apreciar, ler para se informar, etc.). Em seguida, o grupo pode discutir as atividades leitoras que são individuais ou coletivas e a maneira como o leitor se comporta diante de cada uma delas. O objetivo é que os participantes percebam que não existe uma única forma de ler e que, no caso do nosso projeto, ao longo de todas as oficinas, exercitaremos diferentes propósitos e comportamentos leitores, focando alguns gêneros literários. 6. espaço biblioteca: à segunda parte da oficina é dedicada à Biblioteca e se possível realizada na Biblioteca, espaço tão privilegiado de fomento à leitura. Pode-se começar a discussão com a leitura do texto A Sala dos Livros Mortos, de Inácio de Loyola Brandão (O Estado de S.Paulo, 4/7/2008) ou de outro belo conto que aborde o amor pelos livros e, após a leitura, os participantes podem responder ao questionário inspirador, ambos ao final da apostila. Por tratar-se de um questionário mais afetivo que aferidor de dados, as respostas podem ser dadas coletivamente, em voz alta, por aqueles que o desejarem; porém é muito importante que todos o respondam para que cumpram essa breve análise do uso das bibliotecas de sua cidade. Uma atenção especial deve ser dada ao responsável pela biblioteca local, que é convidado a falar do lugar, da quantidade de livros, do funcionamento e outros dados que julgar importantes. Ele é nosso anfitrião! É importante questionar quais os livros mais queridos, mais retirados e lidos, quais os esquecidos. 7. o trabalho nas bibliotecas: a apostila propõe uma reflexão sobre bibliotecas a partir do texto Manifesto da UNESCO, o qual pode ser lido coletivamente e “inspirar” uma boa conversa. O importante é pensar no espaço – afetiva e funcionalmente; – social e pedagogicamente. O objetivo maior dessa leitura e discussão é refletir sobre o papel de cada um na valorização das bibliotecas escolares, públicas, particulares e daquelas que se formam nos mais distintos lugares sob as também mais distintas condições. Letras de luz.indd 37 29/11/10 17:30 38 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Algumas sugestões de atividades a serem desenvolvidas, caso a oficina seja realizada em uma biblioteca: • • Organizar um sebo e feira de trocas em todas as oficinas; Selecionar do acervo os livros, gêneros, autores e temas que serão tratados na próxima oficina para possibilitar uma maior aproximação do participante com o conteúdo; • Trabalhar na formação de um canal de comunicação entre todos os trabalhadores • • Discutir o acervo, as oficinas, as possibilidades de troca; • Convidar participantes a fazer carteirinha de usuário, caso seja possível. de bibliotecas e salas de leitura do projeto; Manter um painel com notícias do projeto e das atividades literárias e culturais da cidade; 8. Apresentação do projeto diários de leitura: como última parte do encontro, apresentamos atividades nas quais possamos exercitar alguns conhecimentos e saberes discutidos na oficina e que complementem os objetivos centrais do projeto. Nessa oficina, apresentamos os Diários de Leitura: proposta que dialoga justamente com essa possibilidade de uma atividade que é bastante intimista e particular (como é, em essência, esse tipo de escrita), mas que pode se tornar altamente coletiva e auxiliar a espalhar ideias sobre livros e leitura por meio não só da oralidade, mas da escrita. Por que é importante fazer anotações em diários? Eles são individuais ou coletivos? O que é possível aprender com os registros feitos pelos diários que estão na apostila? Por onde circularam e circulam tais diários? Qual contribuição dos diários para as atividades de leitura? Ao responder coletivamente tais questões, o grupo pode eleger quais diários deseja fazer, se com o grupo, se com os alunos, se com os pais. Importante não esquecer que o formador é sempre modelo e, portanto, pode inaugurar uma página de um diário que ele fará do projeto ou das oficinas ou ainda levar algumas outras sugestões de trabalho com diários que partam de sua própria experiência. Nesse primeiro encontro, os participantes poderão iniciar seus diários escrevendo suas memórias leitoras, contando seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita, os primeiros livros lidos, experiências marcantes, livros inesquecíveis, etc. Poderão também optar por iniciar seus diários redigindo uma Carta de intenções sobre o seu papel leitor, basedos em algumas reflexões, como: de que forma pretendo avançar como leitor individual? De que forma posso melhorar minha atuação como leitor coletivo? Muitos outros combinados podem ser feitos com e para essa atividade. Como circularão os diários? Como serão preenchidos? Como se dará um uso social e coletivo a eles? São exemplos de questões importantes. Uma dica que pode funcionar, caso se deseje fazer o diário do grupo, é que ele também contenha trechos dos livros lidos ao longo do ano e que, assim, seja uma pequena antologia de textos a ser compartilhada por muitos leitores. 9. Atividade final – mar de histórias: nosso encontro termina com o Mar de Histórias. Nesse primeiro dia, estarão navegando no Mar os livros doados pela coordenação do projeto para esse encontro e outros títulos que o formador levou para ilustrar a oficina. Letras de luz.indd 38 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 39 Se o espaço da oficina for uma biblioteca pública e for possível retirar livros, os participantes podem colocar os livros que levarão para leitura e fazer comentários dos motivos que os levaram à escolha daquele título. É importante recomendar que os participantes procurem em casa e nos acervos que lhe são disponíveis livros de crônicas para a próxima oficina. A atividade do Mar de Histórias deve servir de modelo para que os professores e demais participantes sintam-se inspirados a reproduzir em suas comunidades, sejam salas de aula ou não. É importante lembrá-los de que os livros deverão ser lidos até o próximo encontro para que os participantes possam circular por todos os gêneros que serão abordados. Cabe aqui pensar em como essa leitura pode ser estimulada com cada grupo. Podem retirar outros títulos na biblioteca? Podem se valer do acervo dos anos anteriores? Podem trocar com amigos e colegas de trabalho ao longo do ano? Como farão a socialização das leituras? 10. conto do grupo de teatro: procurando aproximar ainda mais as relações entre o trabalho dos grupos de teatro e as oficinas de leitura, as apostilas trarão os contos que serão encenados ao longo do ano. Nesse momento, o formador pode solicitar que alguém do grupo de teatro comente sobre o trabalho que está sendo desenvolvido com o texto e convidar o grupo a ler o conto escolhido. Nesse caso, como exemplo de proposta, encontra-se ao final da apostila o texto O enfermeiro, de Machado de Assis, coletivamente como despedida da oficina. 11. Anexo: o formador pode indicar para o próximo encontro a leitura do material produzido por outro projeto da Fundação Victor Civita, o Projeto Entorno8. Essa leitura é a do texto da Ana Flávia Castanho Biblioteca de sala:espaço de formação de leitores, que apresenta várias propostas de atividades (projeto, sequência, atividade permanente) de leituras que podem ser realizadas em bibliotecas. 12. Avaliação: é importante fazer uma avaliação do encontro para identificar se os objetivos foram cumpridos, o que deve ser melhorado para os próximos encontros e se há novas sugestões. Vale incluir na avaliação questões voltadas para as ações de fomento à leitura, como leitor individual ou público, desenvolvidas pelos participantes ou que estiveram presentes. A possibilidade de que todos se pronunciem é fundamental para que sejam atingidos bons resultados. Sempre que possível, a avaliação deve ser feita por escrito. 13. Preparando o próximo encontro: prepara-se a turma para a segunda oficina, anunciando o tema que será trabalhado (veja conteúdos no começo da apostila) e solicitando que tragam contribuições, orientando-os para a socialização das reflexões dos diários de leitura que serão apresentadas para o grupo. recomendações de bibliografia básica e sites interessantes COELHO,.Nelly.Novaes..O conto de fada..2ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1991 Nelly.é.a.grande.especialista.de.Literatura.Infantil.e.Juvenil.da.USP.e.construiu.uma.pequena.obra.prima.sobre.o. conto.de.fadas.e.o.conto.maravilhoso..Um.livro-pesquisa.fundamental.que.deu.origem.a.muitos.outros.estudos.posteriores..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora. MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997 O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..Neste.seu.livro.inaugural.sobre.o.tema,.Manguel.fala.dos. movimentos.políticos,.sociais.e.culturais.nos.quais.o.livro,.ou.a.sua.falta,.exerceu.um.papel.fundamental..Como.ele.diz:. “...a.leitura.é.a.mais.civilizada.das.paixões...” 8. http://www.fvc.org.br/projeto-entorno.shtml Letras de luz.indd 39 29/11/10 17:30 40 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento ____A cidade das palavras. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.2008 Mais.um.belíssimo.livro.de.Manguel,.agora.investigando.o.motivo.pelo.qual.a.humanidade.continua.junta..É.a.literatura.que.vai.dar.algumas.respostas:.nas.histórias.que.contamos.para.saber.quem.somos..Uma.leitura.absolutamente.encantadora. MATOS,.Gislayne.Avelar.e.SORSY,.Inno..O ofício do contador de histórias. 2ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.2007 Gislayne,.arte.terapeuta.brasileira.de.Minas.Gerais.e.Inno,.contadora.de.histórias.africana.se.juntaram.na.tarefa.de. fazer.um.delicioso.e.importante.livro.sobre.a.arte.(e.necessidade).de.contar.histórias..Livro.traz.teoria.e.muitas....muitas....histórias. SILVEIRA,.Julio.(org.)..A Paixão pelos livros..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.Casa.da.Palavra,.2004 Antologia.de.diversos.textos.e.autores,.em.diversas.épocas..Exemplos.singulares.de.manifestações.de.amor.aos.livros,.testemunhos.dos.prazeres.escondidos.nas.bibliotecas,.casos.de.paixão.explicita.pelo.livro.e.pela.leitura. SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005 A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num. esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos.textos. literários..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora. STALLONI,.Yves..Os Gêneros literários..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.DIFEL,.2001 Yves,.da.Universidade.de.Toulon.na.França,.discute.a.questão.dos.gêneros.e.pretende.que.o.leitor.reconheça-os. dentro.de.uma.perspectiva.histórica.literária.e.também.da.crítica.analítica. www.leiabrasil.com.br Programa.de.bibliotecas.volantes.e.formação.pedagógica. http://virtualbooks.terra.com.br Livros.grátis.–.downloads.para.vestibular A.versão.on-line.da.biblioteca.apresenta.o.acervo.digital.dos.Tesouros.da.Cidade.de.São.Paulo. http://www.lol.pro.br/ Excelente.ponto.de.partida.para.quem.quer.se.aprofundar.nas.literaturas.brasileira.e.portuguesa..O.site.é.bem.desenhado,.o.que.convida.à.navegação.e.faz.o.leitor.se.deliciar.com.as.mais.diversas.obras.literárias. http://www.biblio.com.br/. Mais.de.trezentas.obras.de.domínio.público.de.autores.brasileiros.e.portugueses..O.site.possui.um.serviço.bastante. eficiente.para.quem.está.disposto.a.ler.na.tela.do.computador:.um.dicionário.on-line,.que.fica.o.tempo.todo.ao.lado.do. texto. http://www.bibvirt.futuro.usp.br/. A.iniciativa.é.da.Escola.do.Futuro,.ligada.à.Universidade.de.São.Paulo,.e.coloca.os.principais.clássicos.à.sua.disposição. www.bn.br Maravilhoso.site.da.Fundação.Biblioteca.Nacional..É.possível.ler.documentos.históricos.e.obras.raras.que.foram. digitalizadas. Letras de luz.indd 40 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 41 www.wdl.org Maravilhosa.biblioteca.digital.mundial..Você.escolhe.o.idioma! Dezenas.de.milhares.de.livros,.imagens,.manuscritos,.mapas,.filmes.e.gravações.de.bibliotecas.em.todo.o.mundo. foram.digitalizados.e.traduzidos.em.diversas.línguas. www.blogdogaleno.com.br Galeno.Amorim.é.diretor.do.Observatório.do.Livro.e.da.Leitura.e.do.Instituto.de.Desenvolvimento.de.Estudos. Avançados.do.Livro.e.da.Leitura,.mantém.uma.excelente.conversa.sobre.livros.e.literatura.em.seu.blog www.brasilquele.com.br www.observatoriodolivro.com.br www.vivaleitura.com.br www.pnll.gov.br São.quatro.sites.governamentais.que.trazem.notícias,.editais,.concursos.e.programação.variada.do.mundo.do.livro. e.da.literatura. www.amigosdolivro.com.br www.republicadolivro.com.br São.dois.sites.que.trazem.noticias,.resenhas,.concursos.e.muitos.links.interessantes. www.biblivre.org.br Excelente.para.quem.trabalha.em.bibliotecas..Trata-se.de.um.projeto.patrocinado.pelo.Itaú.Cultural.que.dispõe. sistemas.de.gerenciamento.para.bibliotecas.e.projetos. www.alexandria.com.br É.uma.multiplataforma.que.trabalha.em.conjunto.com.os.mais.importantes.bancos.de.dados,.mantendo.organiza- do.livros,.documentos,.imagens,.mapas.e.tudo.mais.que.necessite.ser.localizado..Totalmente.modular,.seus.recursos. integram.e.automatizam.todas.as.funções.básicas.de.uma.biblioteca.como:.catalogação,.pesquisa,.reserva,.empréstimo. e.aquisição. textos citados na apostila da oficina 01 texto-farol: Narrativas iluminam, de celinha nascimento Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e trata da importância das histórias na maneira como a humanidade foi se constituindo e se compreendendo. Você.certamente.já.ouviu.muitas.histórias.na.vida..O.tempo.todo.estamos.contando.histórias,.mesmo.que. não.saibamos..Quando.dizemos.bom.dia,.como.vai.e.logo.começamos.a.contar.como.foi.nossa.manhã,.nos- Letras de luz.indd 41 29/11/10 17:30 42 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento so.dia.de.trabalho,.nosso.dia.em.casa,.o.que.fizemos.para.o.jantar,.o.que.compramos.no.mercado,.o.que. disse.o.chefe,.o.que.ouvimos.no.rádio,.enfim,.nossa.existência.é.uma.extensa.e.ininterrupta.narrativa..É.praticamente.impossível.viver.sem.narrativas. Antes.de.começar.a.ler.este.primeiro.texto.da.apostila.de.2009,.certamente.o.formador.já.contou.alguma. história.para.começar.o.curso,.contou.a.história.do.Letras.de.Luz.nos.dois.anos.que.ele.aconteceu.e.contou. alguma.história.de.si.mesma,.talvez.vocês.também.já.tenham.contado.o.que.estão.fazendo.aqui,.o.que.esperam.do.curso.e.tantas.outras.pequenas.histórias. A.humanidade.sempre.precisou.de.histórias..Melhor.dizendo,.sempre.se.constitui.através.e.com.as.histórias.. Desde. que. começou. a. pintar. em. cavernas,. e. muito. provavelmente. antes. disso,. precisava. contar. e. narrar..Nas.belas.palavras.do.escritor.Daniel.Pennac.em.seu.livro Como um romance:.“O.homem.escreve.livros.porque.se.sabe.mortal”..Precisa,.portanto,.guardá-las.bem,.gravá-las.para.posteridade. Provavelmente.a.maneira.mais.ancestral.de.criar.e.cultivar.histórias.nos.chegue.através.dos.mitos,.das. narrativas.mitológicas..Os.mitos.ocuparam.um.espaço.fundamental.na.vida.do.homem:.era.preciso.dar.respostas.para.o.cotidiano.e.as.narrativas.foram.um.caminho.de.beleza.e.confiança.para.solução.das.dúvidas,. medos,.preocupações.e.curiosidades.do.homem..Os.mitos.cumpriam.uma.função.delirante.para.a.humanidade.que.não.conseguia.entender.as.maravilhas.e.sustos.que.os.cercavam..A.grandiosidade.e.a.hostilidade,.a. exuberância.e.o.surpreendentemente.apavorante.conviviam.diária.e.cotidianamente.de.maneira.fascinante.. Como.entender.aquele.mundo.todo? Os.mitos.sobreviveram.durante.séculos.e.séculos,.contados,.recriados,.explicavam.e.davam.beleza.ao. mundo,.davam.harmonia.e.compreensão.a.um.caos.aparente..Num.indeterminado.tempo,.o.homem.começou,.em.especial.o.homem.grego,.a.filosofar..Começou.a.colocar.ciência.nas.coisas.que.via.e.desejava.entender.de.maneira.mais.ampla.e.complexa..A.ciência.começa.a.tomar.o.lugar.do.mito..Evidente.que.isso. não.aconteceu.num.estalar.de.dedos,.nem.ocupou.de.maneira.rápida.toda.uma.existência.ditada.pelos.mitos..Mas.tem.início.uma.migração.de.ideias,.sentimentos.e.crenças..Talvez.possamos.dizer.que.nasce.a. partir.dessa.nova.postura.do.homem.diante.do.mundo,.numa.mistura.bonita.e.infinita.de.realidade.e.ficção,. de.verdade.e.não.verdade,.de.história.narrada,.contada,.vivida.e.desejada..Num.momento.precioso,.perdido. no.tempo.que.pesquisadores.tentam.alcançar,.mas.que.reserva.seu.fascínio.e.seu.segredo,.surge.uma.nova. forma.de.se.comunicar.e.acreditar.no.mundo:.começam.a.surgir.os.contos..Que.se.diferencia.do.que.então. havia..Narrar.passa.a.ter.outra.função..A.divisão.entre.realidade.e.ficção.se.torna.mais.profunda..Narrar. ainda.ilumina,.mas.com.outras.luzes,.com.outros.formatos.e.maneiras..Outras.narrativas.aparecem,.agora. sim.completamente.inventadas.e.não.se.colocam.dúvidas.que.assim.sejam..É.a.passagem.do mito a razão. que.deu.uma.nova.perspectiva.para.a.narrativa..Nascedouro.do.que.seria.a.literatura.propriamente.dita..Nas. palavras.de.Gislayne.Avelar,.em.seu.livro.O oficio do contador de histórias: “como.nos.mitos,.os.contos.revelam.um.mundo.que.não.é.o.da.realidade.e.que.tem.sua.representação.no.inconsciente.coletivo.dos.povos.. Seu.conteúdo.é.arquetípico,.ou.seja,.formado.pelas.imagens.primordiais.ou.símbolos.comuns.a.toda.humanidade”. Histórias.míticas,.vividas.ou.inventadas.tinham.(e.têm).objetivos.iguais..Preenchem.o.mundo.e.o.deixam. mais.bonito,.mais.iluminado..Surgem.o.que.chamaríamos.depois.Conto.Maravilhoso.e.Conto.de.Fadas.. Junto.deles.já.se.ouviam.os.cantos,.a.poesia..E.nunca.mais.a.humanidade.deixou.de.contar.as.mais.diferentes. histórias.e.também.foi.criando.maneiras.de.dizer.tais.narrativas..Jamais.abandonaram.a.ideia.de.poder.dizer. tudo.que.viam.e.tudo.aquilo.que.não.viam,.mas.que.imaginavam. Letras de luz.indd 42 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 43 Esta.prática.de.contar,.que.depois.se.torna.a.prática.de.escrever,.depois.de.publicar,.depois.de.estudar. sofreu.tantas.e.tamanhas.mudanças.que.se.mistura,.evidentemente,.com.a.história.cultural.da.humanidade.. A.necessidade.de.dizer.coisas,.não.era.somente.a.necessidade.de.dizer.coisas,.mas.como.dizer.essas.coisas.. Forma.e.conteúdo.têm.um.casamento.antigo..Nasciam.assim.os.gêneros..Sua.importância.vem.sendo.discutida.desde.Platão.e.Aristóteles,.os.primeiros.a.catalogar.e.a.experimentar.uma.divisão.e.um.estudo..400.anos. antes.de.Cristo! Não.a.toa,.gênero.–.do.latim.genus-eris.–.significa.tempo.de.nascimento,.origem,.classe,.espécie,.geração. Para.iluminar.nossa.discussão,.citamos.Nelly.Coelho,.especialista.na.história.das.histórias.em.seu.livro.O Conto de Fadas..“Desde sempre o homem vem sendo seduzido pelas narrativas que, de maneira simbólica ou realista, direta ou indiretamente, lhe falam da vida a ser vivida ou da própria condição humana, seja relacionada aos deuses, seja limitada aos próprios homens. Entre as múltiplas causas capazes de explicar esse fascínio estaria o fato de que provavelmente, desde as origens do tempo, o homem deve ter sentido a presença (ou a força) de poderes muito maiores do que sua própria vontade e poder pessoal ou de mistérios que o atingiam, sem que sua mente conseguisse explicar, conhecer ou compreender. Mas, como sabemos, nenhum obstáculo consegue deter o ser humano. O desconhecido exerce sobre ele um desafio constante. Assim, como a História nos mostra, desde os primórdios, os homens lançaram-se no encalço do conhecimento e tentaram vencer os poderes e mistérios que ultrapassavam os limites daquilo que, neles, era simplesmente humano..A literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas dessa ânsia permanente de saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as épocas. Ânsia que permanece latente nas narrativas populares legadas pelo passado remoto. Fábulas, apólogos, parábolas, contos exemplares, mitos, lendas, sagas, contos jocosos, romances, contos maravilhosos, contos de fadas...fazem parte dessa heterogênea matéria narrativa que está na origem das literaturas modernas e guarda um determinado saber fundamental. Todas essas formas de narrar pertencem ao caudal de narrativas nascidas entre os povos da Antiguidade, que, fundidas, confundidas, transformadas...se espalharam por toda parte e permanecem até hoje como uma rede, cobrindo todas as regiões do globo: o caudal de literatura folclórica e de velhos textos novelescos que, apesar de terem origens comuns, assumem em cada nação um caráter diferente”. Fonte: O texto Narrativas iluminam foi escrito especialmente para esta apostila. texto-farol: Ler na vida, ler na escola/comunidade, de celinha nascimento Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute o papel dos leitores em diferentes espaços. Muito.se.tem.escrito,.falado.e.discutido.sobre.os.prazeres.da.leitura,.sobre.as.conquistas.sociais.proporcionadas.pelos.livros,.por.tudo.que.podemos.aprender.e.nos.maravilhar.com.as.narrativas.e.com.os.mais. diversos.mundos.que.as.histórias.fazem.chegar.até.nós. Letras de luz.indd 43 29/11/10 17:30 44 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Muito.também.se.tem.discutido.sobre.a.liberdade.de.ler,.quesito.que.para.muitos.é.considerado.fundamental.quando.se.fala.em.escolha.de.livros..Especialistas,.professores.e.mesmo.pais.e.leigos.em.literatura.discutem.se.a.leitura.deve.ser.obrigatória,.se.cobrar.resultados.ou.quantidades.ajuda.ou.não.a.formar. leitores..Sabemos.não.ter.a.resposta.pronta,.mesmo.porque.não.se.trata.de.uma.resposta.única.para.contextos.tão.variados.de.leitura,.que.dialogam.com.os.variados.grupos.sociais.e.culturais.como.a.escola.e.as. famílias. Apesar.de.não.adotarmos.ou.defendermos.uma.resposta.acabada,.acreditamos.num.formato.de.trabalho. que,.sem.abandonar.a.liberdade.e.o.alto.grau.de.encantamento,.ou.seja,.nada.palpável.ou.mensurável,.se. preocupa.com.a.qualidade.do.que.é.lido.e.com.os.espaços.diferentes.nos.quais.acontecem.as.leituras..Daí. pensarmos.numa.diferença.entre.ler.na.vida.e.ler.na.escola/comunidade. Escolher.livremente.as.leituras.está.na.esfera.do.ler na vida. Esta.sim,.leitura.sem.nenhum.compromisso,.que.a.ninguém.deve.ser.dado.nenhum.tipo.de.devolutiva,.ler.no.tempo.e.com.a.qualidade.que.é. natural. desse. leitor.. Leitura. feita. para. nós. mesmos,. para. a. qual. podemos. escolher. apenas. biografias,. apenas.um.autor,.um.tema,.um.gênero,.leituras.complexas.ou.as.mais.simples,.se.é.que.podemos.classificar.de.maneira.tão.breve.assim..Alguns.leitores.afirmam.que.esta.é.a.mais.prazerosa.de.todas,.já.que. livre.de.qualquer.cobrança..Também.é.aquela.que.se.reserva.a.todo.público,.a.todas.as.idades.e.em.qualquer.situação. Porém.quando.lemos.para.alguém.que.não.nós.mesmos,.precisamos.de.outro.conjunto.de.atitudes.e.experiências..Num.dizer.mais.científico,.uma.nova.postura.e.estética. A.responsabilidade.de.uma.leitura.que.se.faz.para.um.outro.não.é.só.de.ler.por.prazer.e.se.deixar.encantar.pelas.narrativas..Ainda.que.sem.esta.finalidade,.talvez.não.valha.a.pena.ler.para.outro..Ler.na.escola/comunidade.representa.também.formar.leitores.que.possam,.dentro.de.um.leque.variado.e.amplo,. escolher.seus.próprios.caminhos.e.também.reproduzir.atitudes.leitoras..Todos.sabemos.que.ensinamos. bem.quando.sabemos.do.que.estamos.falando,.conhecemos.nosso.assunto..É.uma.tarefa.não.fácil,.pois. precisamos.abrir.mão.de.nossos.gostos.pessoais,.de.nossas.escolhas.e.nos.manter.absolutamente.abertos. para.outras.leituras,.que.nem.nos.pareçam.prazerosas..Não.podemos.ensinar.apenas.aquilo.que.gostamos,. é.preciso.ler.também.o.que.não.gostamos,.o.que.criticamos,.o.que.não.nos.agrada..Nossos.alunos.precisam. ter.contato.com.todo.tipo.de.texto.e.seus.gostos.podem.ser.bastante.distintos.dos.nossos..Além.disso,.é. tarefa.do.professor.oferecer.uma.grande.diversidade.de.opções.na.qual.os.alunos.se.sintam.livres.e,.ao. mesmo.tempo,.tentados..Mas.ainda.não.é.só:.é.preciso.aprender.a.ler.diferentes.tipos.de.texto.e.para.tal.o. professor.precisa.se.preparar.cada.vez.mais,.tornar-se.um.aficionado.real.pela.leitura,.procurar.os.textos. que.não.conhece.e.não.se.acostumar.num.único.tipo.de.texto..Como.dito.acima,.não.é.tarefa.fácil,.já.que. nossa.tendência.primeira.é.seguir.em.busca.de.nossas.escolhas.e.dos.títulos.que.mais.gostamos,.que.mais. nos.fazem.sentir.bem. Esse.desafio.produz,.geral.e.inevitavelmente,.um.encontro.com.o.inusitado..Não.é.raro.ouvir.comentários.de.professores.e.demais.leitores.públicos.que.agregam.um.tanto.a.mais.na.sua.lista.de.livros.preferidos. quando.se.lançam.a.uma.busca.por.novos.e.inusitados.títulos..O.leitor.coletivo,.o.leitor.público,.o.professor. tem.a.responsabilidade.de.ser.um.leitor.mais.preparado.que.seus.ouvintes,.pode.e.sempre.aprende.com.eles,. mas.deve.pesquisar.e.levar.a.cada.encontro.com.o.ouvinte,.um.conjunto.de.narrativas.que.se.distingam,.que. formem.uma.lista.e.uma.coletânea.aberta.a.muitas.tendências..Diante.de.um.acervo.de.uma.sala.de.leitura,. ou.de.uma.biblioteca.é.comum.procurarmos.por.aquilo.que.já.conhecemos.ou.nos.guiarmos.por.alguns. Letras de luz.indd 44 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 45 critérios.como.nome.do.autor,.ilustrações,.imagens.que.constituem.o.livro,.até.mesmo.somente.a.capa,.o. tema,.a.espessura.do.livro,.a.quantidade.de.páginas..Tais.práticas.são.muito.comuns.e.acabam.por.repetir.as. mesmas.práticas.de.nossos.alunos.quando.buscam.suas.leituras..Quem.procura.algo.absolutamente.inusitado?.Algo.que.nunca.imaginou.que.um.dia.pudesse.ler?.Assim.é.a.escolha.de.muitos.leitores..Esse.receio. é.absolutamente.compreensível.e.legítimo,.pois.não.costumamos.nos.aproximar.do.desconhecido,.mas.a. leitura.exige.essa.nova.postura..Não.gosto.de.biografia?.É.preciso.buscar.e.ler..Nunca.ouvi.falar.de.ensaio,. que.gênero.será.esse?.É.para.lá.que.eu.vou..Histórias.em.Quadrinhos,.oh.não,.é.para.pequenos!.Será.que. tenho.certeza.disso? Podemos.também.colocar.nessa.discussão,o.item.da.qualidade.do.que.se.lê..Se.é.verdade.que.podemos. aliar.liberdade.de.escolha.com.uma.boa.dose.de.ajuda.na.escolha,.também.podemos.e.devemos.(na.leitura. na.escola/comunidade).nos.esforçarmos.para.atingir.cada.vez.graus.maiores.de.qualidade.daquilo.que.é.lido.. A.palavra.qualidade.assume.aqui.dois.significados.ou.duas.dimensões..A.primeira.delas.se.refere.ao.grau.de. compreensão.e.apreensão.do.texto.lido..Nesta.dimensão,.queremos.indagar.não.apenas.se.a.leitura.é.autônoma,.se.é.rápida,.se.é.integral,.mas.questionamos.se.o.leitor.foi.capaz.de.mergulhar.com.intensidade.na.narrativa. e. consegue. extrair. dela. o. máximo. que. o. autor. escreveu.. Nunca. mergulhamos. numa. única. obra,. a. leitura.sempre.nos.indica.novos.mundos.e.novas.leituras.e.é.isso.que.chamamos.de.extrair.o.máximo!.Outra. dimensão.da.palavra.qualidade.se.refere.a.escolha.de.bons.textos..Dimensão.difícil.de.se.avaliar,.pois.chegamos.até.ela.não.só.com.um.bom.conhecimento.de.livros,.mas.com.o.exercício.constante.e.apaixonado.da. leitura..Quanto.mais.se.lê.e.se.busca.novos.autores,.gêneros,.estilos.e.épocas;.quanto.menos.se.conforma.com. que.já.foi.lido,.mais.se.ganha.experiência.para.qualificar.os.textos..A.opinião.e.julgamento.sobre.as.duas. dimensões.da.qualidade.é.bastante.difícil.pois.necessita.de.um.alinhamento.entre.gostos.e.atividades.pessoais.e.coletivas. Neste.ano,.vamos.exercitar.e.discutir.nossas.tarefas.como.leitor.na.vida.e.na.escola/comunidade. Como.estou.me.saindo.nas.duas.atividades?.O.que.tenho.escolhido.para.ler.para.meus.alunos?.Tenho.me. esforçado.para.pesquisar.títulos,.editoras,.gêneros.e.temas.que.desconheço?.Tenho.exigido.de.meus.alunos. uma.postura.leitora.que.seja.exigente.consigo.mesma,.ou.seja,.que.persiga.uma.grande.abrangência.de.títulos. e.que.perceba.a.riqueza.dessa.atividade?.Tenho.lembrado.que.posso.descobrir.outros.mundos.de.que.nem. suspeitava? Antes.de.fazer.uma.leitura.coletiva,.ou.seja,.uma.leitura.escolhida.para.um.grupo,.que.não.seja.apenas. para.o.leitor-solitário,.podemos.tentar.esse.auto-questionário. Preparei a leitura antes de fazê-la? Conheço meu público? Sei como me comportar com ele e o que pedir em troca? Sei a qual gênero pertence o livro escolhido, que ideias traz, que temas discute? Já li algo sobre o autor, ilustrador, tradutor? Esta leitura me lembra outras narrativas? Por que escolhi este texto e não outro? Fiz comparações, procurei outros títulos que dialoguem com este escolhido? Posso e consigo falar do livro escolhido? Explorei suas imagens, li a apresentação, o prefácio, as orelhas, explorei-o como um objeto e com “um todo” de informações? Procurei outras versões, outras traduções ou adaptações (se acaso existem)? Letras de luz.indd 45 29/11/10 17:30 46 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Conformei-me com a ideia de ler as mesmas leituras de todos os anos ou fui em busca de mais títulos para deixar meu grupo mais sábio? Não descansei enquanto não tive certeza de reunir e procurar um elevado grau de excelência com a leitura feita e com o que pude aprender lendo para mim e depois levando esta leitura para um outro público? Procurei o que não conhecia e mergulhei no seu conhecimento? A cada encontro existe um convite para que sua performance leitora fique ainda melhor. O que você poderia dizer de suas leituras experimentadas no dia de hoje? Fonte: O texto foi escrito especialmente para esta apostila. texto-farol: Leituras e leitores públicos, de celinha nascimento Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute a importância das leituras públicas na formação social e estética. O.que.é.um.leitor.público? É.um.leitor.muito.especial,.que.contraiu.um.vírus.terrível! Esse.vírus.se.instala.no.leitor.e.faz.com.que.ele.não.consiga.guardar.só.para.si.as.emoções.e.conhecimentos.que.adquiriu.com.as.leituras.feitas,.com.os.livros.lidos..Ele.precisa,.urgente.e.ardentemente,.espalhar.para. todos..E.faz.isso.através.de.leituras.coletivas,.diários,.cartas,.postais,.blogs,.e-mails. A.figura.do.leitor.público.existe.desde.a.Idade.Média,.era.uma.necessidade.e.um.entretenimento..Nas. palavras.de.Alberto.Manguel,.em.seu.maravilhoso.Uma história da.leitura.“Nas.cortes.e.nas.casas.mais.humildes,.os.livros.eram.lidos.em.voz.alta.para.familiares.e.amigos,.tanto.com.a.finalidade.de.instrução.quanto. de.entretenimento..Leituras.públicas.informais. em. reuniões. não. programadas.eram. ocorrências.bastante. comuns.no.século.XVII..Parando.numa.estalagem.durante.sua.busca.do.errante.Dom.Quixote,.o.padre.que. queimou.tão.diligentemente.os.livros.da.biblioteca.do.cavaleiro.explica.aos.circunstantes.como.a.leitura.de. novelas.de.cavalaria.afetou.a.mente.de.dom.Quixote..O.estalajadeiro.não.concorda.com.tal.afirmação,.confessando.que.gosta.muito.de.escutar.essas.histórias.em.que.o.herói.luta.valentemente.contra.gigantes,.estrangula.serpentes.monstruosas.e.derrota.sozinho.exércitos.enormes..Diz.ele:.na.época.da.colheita,.durante.as. festividades,.muitos.trabalhadores.reúnem-se.aqui.e.há.sempre.uns.poucos.que.sabem.ler,.e.um.deles.pega. um.desses.livros.nas.mãos.e.mais.de.trinta.amontoam-se.em.torno.dele,.e.ouvem-no.com.tanto.prazer.que. nossos.cabelos.brancos.ficam.jovens.de.novo”. Leituras.públicas.nunca.deixaram.de.existir..Professores.e.pais.são.leitores.públicos.e.qualquer.leitor. que.o.desejar.pode.assumir.esta.tarefa.que.reúne.conhecimento.e.prazer..Ainda.nas.palavras.de.Manguel:. Letras de luz.indd 46 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 47 “Porque.ler.em.voz.alta.é.um.ato.privado,.a.escolha.do.material.de.leitura.deve.ser.socialmente.aceitável. tanto.para.o.leitor.como.para.o.público..Ler.em.público.dá.ao.texto.versátil.uma.identidade.respeitável,. um.sentido.de.unidade.no.tempo.e.uma.existência.no.espaço.que.ele.raramente.tem.nas.mãos.de.um. leitor.solitário”. O.projeto.Letras.de.luz.promove.intensamente.a.ideia.do.leitor.público.e.seu.objetivo.é.espalhar.atividades.de.leitura..Em.cada.encontro,.veremos.uma.proposta.de.atividade.dessa.leitura.que.estamos.chamando. de.pública,.pois.se.espalha,.saindo.da.solidão.do.leitor.em.sua.casa.e.desejando.atingir.muitos.outros.leitores. e.ouvintes. São.essas.as.atividades.que.teremos.ao.longo.do.ano. 1ª. Oficina – Os diários de leitura. 2ª. Oficina – O leitor cronista. 3ª. Oficina – A oralidade, o teatro e a leitura. 4ª. Oficina – A leitura de imagens. 5ª. Oficina – Os saraus poéticos. Livros se espalham, sem sair do lugar... é a voz do leitor... texto-farol: Os diários de leitura, de celinha nascimento Querido Diário... Como.já.foram.importantes.as.anotações.particulares.quase.secretas.que.gerações.e.gerações.fizeram.em. cadernos.escolhidos.e.escritos-preenchidos.como.um.amuleto!.A.importância.de.muitos.diários.foi.tamanha,.que.eles.se.tornaram.públicos,.lidos.por.milhares.de.leitores.e.trouxeram.a.tona.questões.das.quais.a. história.oficial.viria.a.se.alimentar. Como.não.lembrar.dos.diários.de.Anne.Frank.e.Zlata.Filipovic.para.entender.a.guerra.numa.perspectiva.juvenil?.Ou.não.valorar.a.contribuição.do.texto.febril.e.vivaz.de.Helena.Morley.no.final.do.século.XIX,. único.documento.juvenil.desta.época?O.que.seria.das.pesquisas.cientificas.sem.os.diários.de.Darwin,.Einstein. e. todos. os. viajantes. naturalistas?. Recentemente. a. descoberta. dos. diários. de. Guimarães. Rosa. nos. trouxe.a.figura.admirável.de.sua.esposa.Aracy.de.Carvalho.Guimarães.Rosa.que.ajudou.judeus.na.Segunda. Guerra,.tornando-se.uma.heroína.para.eles..Nada.saberíamos.sem.as.anotações.preciosas.do.escritor..E. tantos,.tantos.outros.diários.que.generosa.e.pacientemente.foram.escritos.para.nos.ajudar.a.entender.ainda. mais.o.mundo. Nossos.diários.serão.de.Leitura..Espaço.privilegiado.para.anotar.sobre. os.livros.lidos,. as. emoções,. as. surpresas.e.até.as.tristezas.ou.os.livros.que.não.deram.prazer..Vamos.escrever.sobre.literatura. Reunimos.aqui.alguns.exemplos.de.diários.para.inspirar.os.participantes..Muitas.outras.possibilidades. podem.ser.pensadas. Cabe.ao.grupo.decidir.que.formato.terá,.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores. Letras de luz.indd 47 29/11/10 17:30 48 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento 1. Diários da cidade de Lorena – São Paulo transcrição: Nesse recesso em julho fui conhecer Parati-RJ. Entre as ruas do Centro Histórico, ouvi histórias sobre a cidade. Em um momento encontrei um artista vestido de escravo e que contava histórias sobre os escravos que trabalhavam em Parati na época da escravidão. Adorei e aproveitei. Espero voltar lá. 2. Páginas de diário coletivo do Projeto Letras de Luz 2008 – escrito pelos professores Hamilson, Anizete, Silvana, Margarida, Janete, Vanessa e Sirley, da cidade de Paranaíba, Mato Grosso do Sul, Escola Municipal Major Francisco D. Dias. Os professores registravam suas atividades de contadores de histórias. Letras de luz.indd 48 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 49 3. Diário da professora rosana Sandrini da cidade de cachoeiro do itapemirim – espírito Santo Obs: não.é.possível.fazer.toda.a.transcrição..Trata-se.de.alegre.texto.sobre.viagem.de.férias.e.as.leituras. feitas.nos.lugares.visitados..Na.página.da.direita,.o.livro.comentado.é.Sociedade.Literária.e.a.Torta.de.Casca.de.Batata,.já.citado. 4. Diário coletivo – professores e alunos – da cidade de Ponta Porã – mato grosso do Sul transcrição: Texto 1 – Acima da foto: “A leitura promove o desenvolvimento cognitivo da criança, que constitui o eixo fundamental para a aquisição de escrita e o aprimoramento da capacidade simbólica”. Texto 2 – Ao lado da foto: “O instante da leitura é revestido de uma mágica que não se repete”. Texto 3 – Abaixo da foto: “Formar um bom leitor é mais que pôr um bom livro nas mãos de alguém. Há que despertar, em quem lê, o prazer da leitura, prazer que resulta em encantamento, da emoção da descoberta, da adesão a um ”mundo de papel” que nos ajuda a conceber e compreender o nosso próprio mundo”. Letras de luz.indd 49 29/11/10 17:30 50 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento QUeStionÁrio inSPirADor 1. Qual foi a última vez em que estive nessa biblioteca?............................................ 2. Qual atividade realizei? ......................................................................................... 3. Retirei livros para leitura ou pesquisa? ................................................................... 4. Com qual frequência venho à biblioteca? .............................................................. 5. O que sei sobre a história e o acervo dessa biblioteca? .......................................... 6. O que é, para mim, uma boa biblioteca? ............................................................... 7. Quais lembranças tenho de bibliotecas? Cheiros, cores, sensações, pessoas. ......... texto-farol: O Manifesto UNESCO IFLA O MANIFESTO UNESCO PARA.BIBLIOTECAS.ESCOLARES International.Federation.of.Librarians.Association/UNESCO (FederaçãoInternacional.de.Associações.de.Bibliotecários/UNESCO), A biblioteca escolar no ensino e aprendizagem para todos A.biblioteca.escolar.(BE).propicia.informação.e.ideias.fundamentais.para.o.sucesso.de.seu.funcionamento.na.atual.sociedade,.baseada.na.informação.e.no.conhecimento..A.BE.habilita.os.estudantes.para.a.aprendizagem.ao.longo.da.vida.e.desenvolve.sua.imaginação,.preparando-os.para.viver.como.cidadãos.responsáveis. A missão da biblioteca escolar A.biblioteca.escolar.promove.serviços.de.apoio.à.aprendizagem.e.livros.aos.membros.da.comunidade. escolar,.oferecendo-lhes.a.possibilidade.de.se.tornarem.pensadores.críticos.e.efetivos.usuários.da.informação,. em.todos.os.formatos.e.meios..As.bibliotecas.escolares.ligam-se.às.mais.extensas.redes.de.bibliotecas.e.de. informação,.em.observância.aos.princípios.do.Manifesto.Unesco.para.Biblioteca.Pública. O.quadro.de.pessoal.da.biblioteca.constitui-se.em.suporte.ao.uso.de.livros.e.outras.fontes.de.informação,. desde.obras.de.ficção.até.outros.tipos.de.documentos,.tanto.impressos.quanto.eletrônicos,.destinados.à.consulta.presencial.ou.remota..Este.acervo.se.complementa.e.se.enriquece.com.manuais,.obras.didáticas.e.metodológicas. Está.comprovado.que.bibliotecários.e.professores,.ao.trabalharem.em.conjunto,.influenciam.o.desempenho.dos.estudantes.para.o.alcance.de.maior.nível.de.literacia.na.leitura.e.escrita,.aprendizagem,.resolução.de. problemas,.uso.da.informação.e.das.tecnologias.de.comunicação.e.informação. Letras de luz.indd 50 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 51 Os.serviços.das.bibliotecas.escolares.devem.ser.oferecidos.igualmente.a.todos.os.membros.da.comunidade.escolar,.a.despeito.de.idade,.raça,.sexo,.religião,.nacionalidade,.língua.e.status.profissional.e.social..Serviços. e.materiais.específicos.devem.ser.disponibilizados.a.pessoas.não.aptas.ao.uso.dos.materiais.comuns.da.biblioteca. O.acesso.às.coleções.e.aos.serviços.deve.orientar-se.nos.preceitos.da.Declaração.Universal.de.direitos.e. liberdade.do.homem,.das.Nações.Unidas,.e.não.deve.estar.sujeito.a.nenhuma.forma.de.censura.ideológica,. política,.religiosa,.ou.a.pressões.comerciais. financiamento, legislação e redes A.biblioteca.escolar.é.essencial.a.qualquer.tipo.de.estratégia.de.longo.prazo.no.que.respeita.a.competências.a.leitura.e.escrita,.educação.e.informação.e.desenvolvimento.econômico,.social.e.cultural..A.responsabilidade.sobre.a.biblioteca.escolar.cabe.às.autoridades.locais,.regionais.e.nacionais,.portanto.deve.essa.agência. ser.apoiada.por.política.e.legislação.específicas..Deve.também.contar.com.fundos.apropriados.e.substanciais. para.pessoal.treinado,.materiais,.tecnologias.e.instalações..A.BE.deve.ser.grtauita. A.biblioteca.escolar.é.parceira.imprescindível.para.atuação.em.redes.de.biblioteca.e.informação.tanto.em. nível.local,.regional.como.nacional. Os.objetivos.próprios.da.biblioteca.escolar.devem.ser.devidamente.reconhecidos.e.mantidos,.sempre.que. ela.estiver.compartilhando.instalações.e.recursos.com.outros.tipos.de.biblioteca,.em.particular.com.a.biblioteca.pública. os objetivos da biblioteca escolar A.biblioteca.escolar.é.parte.integral.do.processo.educativo. Para.o.desenvolvimento.da.literacia.e/ou.competência.na.leitura.e.escrita.e.no.uso.da.informação,.no. ensino.e.aprendizagem,.na.cultura.e.nos.serviços.básicos.da.biblioteca.escolar,.é.essencial.o.cumprimento.dos. seguintes.objetivos: apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais definidos na missão e no currículo da escola; desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida; oferecer oportunidade de vivências destinadas à produção e ao uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, à imaginação e ao entretenimento; apoiar todos os estudantes na aprendizagem e na prática da habilidades para avaliar e usar a informação, em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos; prover acesso em nível local, regional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões; organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade; trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance final da missão e dos objetivos da escola; Letras de luz.indd 51 29/11/10 17:30 52 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia; promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar na comunidade escolar e ao seu derredor. À.biblioteca.escolar.cumpre.exercer.todas.essas.funções,.por.meio.de.políticas.e.serviços;.seleção.e.aquisição.de.recursos;.provimento.do.acesso.físico.e.intelectual.a.fontes.adequadas.de.informação;.fornecimento. de.instalações.voltadas.à.instrução;.contratação.de.pessoal.treinado. O.presente.manifesto.foi.preparado.pela.IFLA.e.aprovado.pela.UNESCO.em.sua.Conferência.Geral.de. novembro.de.1999..Edição.em.língua.portuguesa.para.o.Brasil,.de.autoria.da.professora.doutora.Neusa.Dias. de.Macedo. conto já encenado por grupos de teatro do Projeto Letras de Luz O enfermeiro (machado de Assis) O texto a seguir foi escolhido para ser o primeiro conto encenado pelo grupo de teatro formado pelo Projeto em 2010. Trata-se de um dos contos mais famosos do célebre escritor brasileiro Machado de Assis. Narrado em primeira pessoa a um interlocutor imaginário, o texto trata da conflituosa relação entre um coronel rabugento e seu último enfermeiro. Parece-lhe.então.que.o.que.se.deu.comigo.em.1860,.pode.entrar.numa.página.de.livro?.Vá.que.seja,.com. a.condição.única.de.que.não.há.de.divulgar.nada.antes.da.minha.morte..Não.esperará.muito,.pode.ser.que. oito.dias,.se.não.for.menos;.estou.desenganado. Olhe,.eu.podia.mesmo.contar-lhe.a.minha.vida.inteira,.em.que.há.outras.cousas.interessantes,.mas.para. isso.era.preciso.tempo,.ânimo.e.papel,.e.eu.só.tenho.papel;.o.ânimo.é.frouxo,.e.o.tempo.assemelha-se.à.lamparina.de.madrugada..Não.tarda.o.sol.do.outro.dia,.um.sol.dos.diabos,.impenetrável.como.a.vida..Adeus,. meu.caro.senhor,.leia.isto.e.queira-me.bem;.perdoe-me.o.que.lhe.parecer.mau,.e.não.maltrate.muito.a.arruda,.se.lhe.não.cheira.a.rosas..Pediu-me.um.documento.humano,.ei-lo.aqui..Não.me.peça.também.o.império. do.Grão-Mogol..nem.a.fotografia.dos.Macabeus;.peça,.porém,.os.meus.sapatos.de.defunto.e.não.os.dou.a. ninguém.mais. Já.sabe.que.foi.em.l860..No.ano.anterior,.ali.pelo.mês.de.agosto,.tendo.eu.quarenta.e.dois.anos,.fiz-me. teólogo..–.quero.dizer,.copiava.os.estudos.de.teologia.de.um.padre.de.Niterói,.antigo.companheiro.de.colégio,.que.assim.me.dava,.delicadamente,.casa,.cama.e.mesa..Naquele.mês.de.agosto.de.1859,.recebeu.ele.uma. carta.de.um.vigário.de.certa.vila.do.interior,.perguntando.se.conhecia.pessoa.entendida,.discreta.e.paciente,. que.quisesse.ir.servir.de.enfermeiro.ao.Coronel.Felisberto,.mediante.um.bom.ordenado..O.padre.falou-me,. Letras de luz.indd 52 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 53 aceitei.com.ambas.as.mãos,.estava.já.enfarado.de.copiar.citações.latinas.e.fórmulas.eclesiásticas..Vim.à.corte. despedir-me.de.um.irmão,.e.segui.para.a.vila. Chegando.à.vila,.tive.más.notícias.do.coronel..Era.homem.insuportável,.estúrdio,.exigente,.ninguém.o. aturava,. nem. os. próprios. amigos.. Gastava. mais. enfermeiros. que. remédios.. A. dous. deles. quebrou. a. cara.. Respondi.que.não.tinha.medo.de.gente.sã,.menos.ainda.de.doentes;.e.depois.de.entender-me.com.o.vigário,. que.me.confirmou.as.notícias.recebidas,.e.me.recomendou.mansidão.e.caridade,.segui.para.a.residência.do. coronel. Achei-o.na.varanda.da.casa.estirado.numa.cadeira,.bufando.muito..Não.me.recebeu.mal..Começou.por. não.dizer.nada;.pôs.em.mim.dous.olhos.de.gato.que.observa;.depois,.uma.espécie.de.riso.maligno.alumino-lhe.as.feições,.que.eram.duras..Afinal,.disse-me.que.nenhum.dos.enfermeiros.que.tivera,.prestava.para.nada,. dormiam.muito,.eram.respondões.e.andavam.ao.faro.das.escravas;.dous.eram.até.gatunos! –.Você.é.gatuno? –.Não,.senhor. Em.seguida,.perguntou-me.pelo.nome:.disse-lho.e.ele.fez.um.gesto.de.espanto..Colombo?.Não,.senhor:. Procópio.José.Gomes.Valongo..Valongo?.achou.que.não.era.nome.de.gente,.e.propôs.chamar-me.tão-somente.Procópio,.ao.que.respondi.que.estaria.pelo.que.fosse.de.seu.agrado..Conto-lhe.esta.particularidade,. não.só.porque.me.parece.pintá-lo.bem,.como.porque.a.minha.resposta.deu.de.mim.a.melhor.ideia.ao.coronel..Ele.mesmo.o.declarou.ao.vigário,.acrescentando.que.eu.era.o.mais.simpático.dos.enfermeiros.que.tivera. A.verdade.é.que.vivemos.uma.lua-de-mel.de.sete.dias..No.oitavo.dia,.entrei.na.vida.dos.meus.predecessores,.uma.vida.de.cão,.não.dormir,.não.pensar.em.mais.nada,.recolher.injúrias,.e,.às.vezes,.rir.delas,.com.um. ar.de.resignação.e.conformidade;.reparei.que.era.um.modo.de.lhe.fazer.corte..Tudo.impertinências.de.moléstia.e.do.temperamento..A.moléstia.era.um.rosário.delas,.padecia.de.aneurisma,.de.reumatismo.e.de.três. ou.quatro.afeições.menores..Tinha.perto.de.sessenta.anos,.e.desde.os.cinco.toda.a.gente.lhe.fazia.a.vontade.. Se.fosse.só.rabugento,.vá;.mas.ele.era.também.mau,.deleitava-se.com.a.dor.e.a.humilhação.dos.outros..No. fim.de.três.meses.estava.farto.de.o.aturar;.determinei.vir.embora;.só.esperei.ocasião. Não.tardou.a.ocasião..Um.dia,.como.lhe.não.desse.a.tempo.uma.fomentação,.pegou.da.bengala.e.atirou-me.dous.ou.três.golpes..Não.era.preciso.mais;.despedi-me.imediatamente,.e.fui.aprontar.a.mala..Ele.foi.ter. comigo,.ao.quarto,.pediu-me.que.ficasse,.que.não.valia.a.pena.zangar.por.uma.rabugice.de.velho..Instou. tanto.que.fiquei. –.Estou.na.dependura,.Procópio,.dizia-me.ele.à.noite;.não.posso.viver.muito.tempo..Estou.aqui,.estou.na. cova..Você.há.de.ir.ao.meu.enterro,.Procópio;.não.o.dispenso.por.nada..Há.de.ir,.há.de.rezar.ao.pé.da.minha. sepultura..Se.não.for,.acrescentou.rindo,.eu.voltarei.de.noite.para.lhe.puxar.as.pernas..Você.crê.em.almas.de. outro.mundo..Procópio? –.Qual.o.quê! –.E.por.que.é.que.não.há.de.crer,.seu.burro?.redargüiu.vivamente,.arregalando.os.olhos. Eram.assim.as.pazes;.imagine.a.guerra..Coibiu-se.das.bengaladas;.mas.as.injúrias.ficaram.as.mesmas,.se. não.piores..Eu,.com.o.tempo,.fui.calejando,.e.não.dava.mais.por.nada;.era.burro,.camelo,.pedaço.d’asno,. idiota,.moleirão,.era.tudo..Nem,.ao.menos,.havia.mais.gente.que.recolhesse.uma.parte.desses.nomes..Não. tinha.parentes;.tinha.um.sobrinho.que.morreu.tísico,.em.fins.de.maio.ou.princípios.de.julho,.em.Minas..Os. Letras de luz.indd 53 29/11/10 17:30 54 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento amigos.iam.por.lá.às.vezes.aprová-lo,.aplaudi-lo,.e.nada.mais;.cinco,.dez.minutos.de.visita..Restava.eu;.era. eu.sozinho.para.um.dicionário.inteiro..Mais.de.uma.vez.resolvi.sair;.mas,.instado.pelo.vigário,.ia.ficando. Não.só.as.relações.foram-se.tornando.melindrosas,.mas.eu.estava.ansioso.por.tornar.à.Corte..Aos.quarenta. e.dous.anos.não.é.que.havia.de.acostumar-me.à.reclusão.constante,.ao.pé.de.um.doente.bravio,.no.interior..Para. avaliar.o.meu.isolamento,.basta.saber.que.eu.nem.lia.os.jornais;.salvo.alguma.notícia.mais.importante.que.levavam.ao.coronel,.eu.nada.sabia.do.resto.do.mundo..Entendi,.portanto,.voltar.para.a.Corte,.na.primeira.ocasião,. ainda.que.tivesse.de.brigar.com.o.vigário..Bom.é.dizer.(visto.que.faço.uma.confissão.geral).que,.nada.gastando. e.tendo.guardado.integralmente.os.ordenados,.estava.ansioso.por.vir.dissipá-los.aqui. Era.provável.que.a.ocasião.aparecesse..O.coronel.estava.pior,.fez.testamento,.descompondo.o.tabelião,. quase.tanto.como.a.mim..O.trato.era.mais.duro,.os.breves.lapsos.de.sossego.e.brandura.faziam-se.raros..Já.por. esse.tempo.tinha.eu.perdido.a.escassa.dose.de.piedade.que.me.fazia.esquecer.os.excessos.do.doente;.trazia. dentro.de.mim.um.fermento.de.ódio.e.aversão..No.princípio.de.agosto.resolvi.definitivamente.sair;.o.vigário. e.o.médico,.aceitando.as.razões,.pediram-meque.ficasse.algum.tempo.mais..Concedi-lhes.um.mês;.no.fim.de. um.mês.viria.embora,.qualquer.que.fosse.o.estado.do.doente..O.vigário.tratou.de.procurar.-me.substituto. Vai.ver.o.que.aconteceu..Na.noite.de.vinte.e.quatro.de.agosto,.o.coronel.teve.um.acesso.de.raiva,.atropelou-me,.disse-me.muito.nome.cru,.ameaçou-me.de.um.tiro,.e.acabou.atirando-me.um.prato.de.mingau,.que. achou.frio;.o.prato.foi.cair.na.parede,.onde.se.fez.em.pedaços. –.Hás.de.pagá-lo,.ladrão!.bradou.ele. Resmungou.ainda.muito.tempo..Às.onze.horas.passou.pelo.sono..Enquanto.ele.dormia,.saquei.um.livro. do.bolso,.um.velho.romance.de.d’Arlincourt,.traduzido,.que.lá.achei,.e.pus-me.a.lê-lo,.no.mesmo.quarto,.a. pequena.distância.da.cama;.tinha.de.acordá-lo.à.meia-noite.para.lhe.dar.o.remédio..Ou.fosse.de.cansaço,.ou. do.livro,.antes.de.chegar.ao.fim.da.segunda.página.adormeci.também..Acordei.aos.gritos.do.coronel,.e.levantei-me.estremunhado..Ele,.que.parecia.delirar,.continuou.nos.mesmos.gritos,.e.acabou.por.lançar.mão.da. moringa.e.arremessá-la.contra.mim..Não.tive.tempo.de.desviar-me;.a.moringa.bateu-me.na.face.esquerda,. e.tal.foi.a.dor.que.não.vi.mais.nada;.atirei-me.ao.doente,.pus-lhe.as.mãos.ao.pescoço,.lutamos,.e.esganei-o. Quando.percebi.que.o.doente.expirava,.recuei.aterrado,.e.dei.um.grito;.mas.ninguém.me.ouviu..Voltei.à. cama,.agitei-o.para.chamá-lo.à.vida,.era.tarde;.arrebentara.o.aneurisma,.e.o.coronel.morreu..Passei.à.sala.contígua,.e.durante.duas.horas.não.ousei.voltar.ao.quarto..Não.posso.mesmo.dizer.tudo.o.que.passei,.durante.esse. tempo..Era.um.atordoamento,.um.delírio.vago.e.estúpido..Parecia-me.que.as.paredes.tinham.vultos;.escutava. uma.vozes.surdas..Os.gritos.da.vítima,.antes.da.luta.e.durante.aluta,.continuavam.a.repercutir.dentro.de.mim,. e.o.ar,.para.onde.quer.que.me.voltasse,.aparecia.recortado.de.convulsões..Não.creia.que.esteja.fazendo.imagens. nem.estilo;.digo-lhe.que.eu.ouvia.distintamente.umas.vozes.que.me.bradavam:.assassino!.assassino! Tudo.o.mais.estava.calado..O.mesmo.som.do.relógio,.lento,.igual.e.seco,.sublinhava.o.silêncio.e.a.solidão.. Colava.a.orelha.à.porta.do.quarto.na.esperança.de.ouvir.um.gemido,.uma.palavra,.uma.injúria,.qualquer. cousa.que.significasse.a.vida,.e.me.restituísse.a.paz.à.consciência..Estaria.pronto.a.apanhar.das.mãos.do. coronel,.dez,.vinte,.cem.vezes..Mas.nada,.nada;.tudo.calado..Voltava.a.andar.à.toa,.na.sala,.sentava-me,.punha. as.mãos.na.cabeça;.arrependia-me.de.ter.vindo..–”Maldita.a.hora.em.que.aceitei.semelhante.cousa!”.exclamava..E.descompunha.o.padre.de.Niterói,.o.médico,.o.vigário,.os.que.me.arranjaram.um.lugar,.e.os.que.me. pediram.para.ficar.mais.algum.tempo..Agarrava-me.à.cumplicidade.dos.outros.homens. Como.o.silêncio.acabasse.por.aterrar-me,.abri.uma.das.janelas,.para.escutar.o.som.do.vento,.se.ventasse.. Não.ventava..A.noite.ia.tranqüila,.as.estrelas.fulguravam,.com.a.indiferença.de.pessoas.que.tiram.o.chapéu.a. Letras de luz.indd 54 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 55 um.enterro.que.passa,.e.continuam.a.falar.de.outra.cousa..Encostei-me.ali.por.algum.tempo,.fitando.a.noite,. deixando-me.ir.a.urna.recapitulação.da.vida,.a.ver.se.descansava.da.dor.presente..Só.então.posso.dizer.que. pensei.claramente.no.castigo..Achei-me.com.um.crime.às.costas.e.vi.a.punição.certa..Aqui.o.temor.complicou. o.remorso..Senti.que.os.cabelos.me.ficavam.de.pé..Minutos.depois,.vi.três.ou.quatro.vultos.de.pessoas,.no. terreiro,.espiando,.com.um.ar.de.emboscada;.recuei,.os.vultos.esvaíram-se.no.ar;.era.uma.alucinação. Antes.do.alvorecer.curei.a.contusão.da.face..Só.então.ousei.voltar.ao.quarto..Recuei.duas.vezes,.mas.era. preciso.e.entrei;.ainda.assim,.não.cheguei.logo.à.cama..Tremiam-me.as.pernas,.o.coração.batia-me;.cheguei. a.pensar.na.fuga;.mas.era.confessar.o.crime,.e,.ao.contrário,.urgia.fazer.desaparecer.os.vestígios.dele..Fui.até. a.cama;.vi.o.cadáver,.com.os.olhos.arregalados.e.a.boca.aberta,.como.deixando.passar.a.eterna.palavra.dos. séculos:.“Caim,.que.fizeste.de.teu.irmão?”.Vi.no.pescoço.o.sinal.das.minhas.unhas;.abotoei.alto.a.camisa.e. cheguei.ao.queixo.a.ponta.do.lençol..Em.seguida,.chamei.um.escravo,.disse-lhe.que.o.coronel.amanhecera. morto;.mandei.recado.ao.vigário.e.ao.médico. A.primeira.ideia.foi.retirar-me.logo.cedo,.a.pretexto.de.ter.meu.irmão.doente,.e,.na.verdade,.recebera. carta.dele,.alguns.dias.antes,.dizendo-me.que.se.sentia.mal..Mas.adverti.que.a.retirada.imediata.poderia. fazer.despertar.suspeitas,.e.fiquei..Eu.mesmo.amortalhei.o.cadáver,.com.o.auxílio.de.um.preto.velho.e.míope..Não.saí.da.sala.mortuária;.tinha.medo.de.que.descobrissem.alguma.cousa..Queria.ver.no.rosto.dos.outros. se.desconfiavam;.mas.não.ousava.fitar.ninguém..Tudo.me.dava.impaciências:.os.passos.de.ladrão.com.que. entravam.na.sala,.os.cochichos,.as.cerimônias.e.as.rezas.do.vigário..Vindo.a.hora,.fechei.o.caixão,.com.as. mãos.trêmulas,.tão.trêmulas.que.uma.pessoa,.que.reparou.nelas,.disse.a.outra.com.piedade: –.Coitado.do.Procópio!.apesar.do.que.padeceu,.está.muito.sentido. Pareceu-me.ironia;.estava.ansioso.por.ver.tudo.acabado..Saímos.à.rua..A.passagem.da.meia-escuridão.da. casa.para.a.claridade.da.rua.deu-me.grande.abalo;.receei.que.fosse.então.impossível.ocultar.o.crime..Meti.os. olhos.no.chão,.e.fui.andando..Quando.tudo.acabou,.respirei..Estava.em.paz.com.os.homens..Não.o.estava. com.a.consciência,.e.as.primeiras.noites.foram.naturalmente.de.desassossego.e.aflição..Não.é.preciso.dizer. que.vim.logo.para.o.Rio.de.Janeiro,.nem.que..vivi.aqui.aterrado,.embora.longe.do.crime;.não.ria,.falava.pouco,.mal.comia,.tinha.alucinações,.pesadelos... –.Deixa.lá.o.outro.que.morreu,.diziam-me..Não.é.caso.para.tanta.melancolia. E.eu.aproveitava.a.ilusão,.fazendo.muitos.elogios.ao.morto,.chamando-lhe.boa.criatura,.impertinente,.é. verdade,.mas.um.coração.de.ouro..E,.elogiando,.convencia-me.também,.ao.menos.por.alguns.instantes..Outro.fenômeno.interessante,.e.que.talvez.lhe.possa.aproveitar,.é.que,.não.sendo.religioso,.mandei.dizer.uma. missa.pelo.eterno.descanso.do.coronel,.na.igreja.do.Sacramento..Não.fiz.convites,.não.disse.nada.a.ninguém;. fui.ouvi-la,.sozinho,.e.estive.de.joelhos.todo.o.tempo,.persignando-me.a.miúdo..Dobrei.a.espórtula.do.padre,. e.distribuí.esmolas.à.porta,.tudo.por.intenção.do.finado..Não.queria.embair.os.homens;.a.prova.é.que.fui.só.. Para. completar. este. ponto,. acrescentarei. que. nunca. aludia. ao. coronel,. que. não. dissesse:. “Deus. lhe. fale. n’alma!”.E.contava.dele.algumas.anedotas.alegres,.rompantes.engraçados... Sete.dias.depois.de.chegar.ao.Rio.de.Janeiro,.recebi.a.carta.do.vigário,.que.lhe.mostrei,.dizendo-me.que. fora.achado.o.testamento.do.coronel,.e.que.eu.era.o.herdeiro.universal..Imagine.o.meu.pasmo. Pareceu-me.que.lia.mal,.fui.a.meu.irmão,.fui.aos.amigos;.todos.leram.a.mesma.cousa..Estava.escrito;.era. eu.o.herdeiro.universal.do.coronel..Cheguei.a.supor.que.fosse.uma.cilada;.mas.adverti.logo.que.havia.outros. meios.de.capturar-me,.se.o.crime.estivesse.descoberto..Demais,.eu.conhecia.a.probidade.do.vigário,.que.não. se.prestaria.a.ser.instrumento..Reli.a.carta,.cinco,.dez,.muitas.vezes;.lá.estava.a.notícia. Letras de luz.indd 55 29/11/10 17:30 56 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento –.Quanto.tinha.ele?.perguntava-me.meu.irmão. –.Não.sei,.mas.era.rico. –.Realmente,.provou.que.era.teu.amigo. –.Era....Era... Assim,.por.uma.ironia.da.sorte,.os.bens.do.coronel.vinham.parar.às.minhas.mãos..Cogitei.em.recusar.a. herança..Parecia-me.odioso.receber.um.vintém.do.tal.espólio;.era.pior.do.que.fazer-me.esbirro.alugado,. Pensei.nisso.três.dias,.e.esbarrava.sempre.na.consideração.de.que.a.recusa.podia.fazer.desconfiar.alguma. cousa..No.fim.dos.três.dias,.assentei.num.meio-termo;.receberia.a.herança.e.dá-la-ia.toda,.aos.bocados.e.às. escondidas..Não.era.só.escrúpulo;.era.também.o.modo.de.resgatar.o.crime.por.um.ato.de.virtude;.pareceu-me.que.ficava.assim.de.contas.saldas. Preparei-me.e.segui.para.a.vila..Em.caminho,.à.proporção.que.me.ia.aproximando,.recordava.o.triste. sucesso;.as.cercanias.da.vila.tinham.um.aspecto.de.tragédia,.e.a.sombra.do.coronel.parecia-me.surgir.de.cada. lado..A.imaginação.ia.reproduzindo.as.palavras,.os.gestos,.toda.a.noite.horrenda.do.crime... Crime.ou.luta?.Realmente,.foi.uma.luta.em.que.eu,.atacado,.defendi-me,.e.na.defesa....Foi.uma.luta.desgraçada,.uma.fatalidade..Fixei-me.nessa.ideia..E.balanceava.os.agravos,.punha.no.ativo.as pancadas,.as.injúrias....Não.era.culpa.do.coronel,.bem.o.sabia,.era.da.moléstia,.que.o.tornava.assim.rabugento.e.até.mau....Mas.eu.perdoava.tudo,.tudo....O.pior.foi.a.fatalidade.daquela.noite....Considerei.também. que.o.coronel.não.podia.viver.muito.mais;.estava.por.pouco;.ele.mesmo.o.sentia.e.dizia..Viveria.quanto?. Duas.semanas,.ou.uma;.pode.ser.até.que.menos..Já.não.era.vida,.era.um.molambo.de.vida,.se.isto.mesmo.se. podia.chamar.ao.padecer.contínuo.do.pobre.homem....E.quem.sabe.mesmo.se.a.luta.e.a.morte.não.foram. apenas.coincidentes?.Podia.ser,.era.até.o.mais.provável;.não.foi.outra.cousa..Fixei-me.também.nessa.ideia... Perto.da.vila.apertou-se-me.o.coração,.e.quis.recuar;.mas.dominei-me.e.fui..Receberam-me.com.parabéns..O.vigário.disse-me.as.disposições.do.testamento,.os.legados.pios,.e.de.caminho.ia.louvando.a.mansidão.cristã.e.o.zelo.com.que.eu.servira.ao.coronel,.que,.apesar.de.áspero.e.duro,.souber.ser.grato. –.Sem.dúvida,.dizia.eu.olhando.para.outra.parte. Estava.atordoado..Toda.a.gente.me.elogiava.a.dedicação.e.a.paciência..As.primeiras.necessidades.do.inventário.detiveram-me.algum.tempo.na.vila..Constituí.advogado;.as.cousas.correram.placidamente..Durante.esse.tempo,.falava.muita.vez.do.coronel..Vinham.contar-me.cousas.dele,.mas.sem.a.moderação.do.padre;. eu.defendia-o,.apontava.algumas.virtudes,.era.austero... –.Qual.austero!.Já.morreu,.acabou;.mas.era.o.diabo. E.referiam-me.casos.duros,.ações.perversas,.algumas.extraordinárias..Quer.que.lhe.diga?.Eu,.a.princípio,. ia.ouvindo.cheio.de.curiosidade;.depois,.entrou-me.no.coração.um.singular.prazer,.que.eu,.sinceramente. buscava.expelir..E.defendia.o.coronel,.explicava-o,.atribuía.alguma.cousa.às.rivalidades.locais;.confessava,. sim,.que.era.um.pouco.violento....Um.pouco?.Era.uma.cobra.assanhada,.interrompia-me.o.barbeiro;.e.todos,. o.coletor,.o.boticário,.o.escrivão,.todos.diziam.a.mesma.cousa;.e.vinham.outras.anedotas,.vinha.toda.a.vida. do.defunto..Os.velhos.lembravam-se.das.crueldades.dele,.em.menino..E.o.prazer.íntimo,.calado,.insidioso,. crescia.dentro.de.mim,.espécie.de.tênia.moral,.que.por.mais.que.a.arrancasse.aos.pedaços,.recomponha-se. logo.e.ia.ficando. As.obrigações.do.inventário.distraíram-me;.e.por.outro.lado.a.opinião.da.vila.era.tão.contrária.ao.coronel,. que.a.vista.dos.lugares.foi.perdendo.para.mim.a.feição.tenebrosa.que.a.princípio.achei.neles..Entrando.na. posse.da.herança,.converti-a.em.títulos.e.dinheiro..Eram.então.passados.muitos.meses,.e.a.ideia.de.distribuí- Letras de luz.indd 56 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 57 -la.toda.em.esmolas.e.donativos.pios.não.me.dominou.como.da.primeira.vez;.achei.mesmo.que.era.afetação.. Restringi.o.plano.primitivo;.distribuí.alguma.cousa.aos.pobres,.dei.à.matriz.da.vila.uns.paramentos.novos,. fiz.uma.esmola.à.Santa.Casa.da.Misericórdia,.etc.:.ao.todo.trinta.e.dous.contos..Mandei.também.levantar. um.túmulo.ao.coronel,.todo.de.mármore,.obra.de.um.napolitano,.que.aqui.esteve.até.1866,.e.foi.morrer,.creio. eu,.no.Paraguai. Os.anos.foram.andando,.a.memória.tornou-se.cinzenta.e.desmaiada..Penso.às.vezes.no.coronel,.mas. sem.os.terrores.dos.primeiros.dias..Todos.os.médicos.a.quem.contei.as.moléstias.dele,.foram.acordes.em. que.a.morte.era.certa,.e.só.se.admiravam.de.ter.resistido.tanto.tempo..Pode.ser.que.eu,.involuntariamente,.exagerasse.a.descrição.que.então.lhes.fiz;.mas.a.verdade.é.que.ele.devia.morrer,.ainda.que.não.fosse. aquela.fatalidade... Adeus,.meu.caro.senhor..Se.achar.que.esses.apontamentos.valem.alguma.cousa,.pague-me.também.com. um.túmulo.de.mármore,.ao.qual.dará.por.epitáfio.esta.emenda.que.faço.aqui.ao.divino.sermão.da.montanha:. “Bem-aventurados.os.que.possuem,.porque.eles.serão.consolados.” Anexo: Biblioteca de sala: espaço de formação de leitores, de Ana flávia castanho Ana Flávia Castanho é educadora, formadora de professores, coordenadores pedagógicos e diretores e atua também no Projeto Entorno, da Fundação Victor Civita. A atividade permanente e a sequência de atividades apresentadas abaixo são parte do cardápio de projetos institucionais de leitura, produzido em 2010, para uso nas formações de educadores do Entorno. biblioteca de sala9: espaço de formação de leitores Para.que.uma.criança.possa.constituir-se.enquanto.leitora,.de.forma.a.fazer.da.leitura.uma.parte.querida. e.importante.de.sua.vida,.é.preciso.que.ela.tenha.a.oportunidade.de.conviver.com.livros.e.leitores,.compartilhando.práticas.de.leitura..Algumas.das.crianças.têm.essa.convivência.assegurada.na.sua.vida.familiar,.mas. muitas.dependem.da.escola.para.ter.acesso.a.ela..Esse.projeto.institucional.de.leitura.é.pensado.para.garantir.as.condições.para.que.essa.convivência.ocorra. Para.isso,.ele.se.divide.em.duas.partes:.a.primeira.trata.de.como.instituir.atividades.habituais.de.leitura.a. fim.de.que.a.biblioteca.de.sala.efetivamente.se.constitua.como.um.espaço.de.convivência.entre.leitores: “organizando a biblioteca de sala”; “instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa”; “preparando-se para atuar como modelo de leitor”. 9. Ou.biblioteca.da.escola..Nesse.caso,.é.interessante.consulta.à.Cartilha Biblioteca Ativa,.do.Instituto.Avisa.Lá,.que.traz.orientações.importantes. para.a.organização.e.instituição.do.trabalho.com.leitura.na.biblioteca.escolar. Letras de luz.indd 57 29/11/10 17:30 58 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento E.uma.segunda.parte.com.propostas.de.rodas.de.comentários.e.indicação.de.leituras.e.de.círculos.de. leitura: “conversando sobre livros: as rodas de biblioteca”; “trabalhando com círculos de leitura”. organizando a biblioteca de sala 1. Seleção dos livros: Sendo a biblioteca de sala o espaço privilegiado em que as crianças poderão conviver com livros e leitores, a escolha do acervo é um passo importantíssimo. No contexto da escola pública, esse acervo é parte de um conjunto maior: o dos livros da escola ou o dos livros da biblioteca escolar. Por isso é fundamental que o professor os conheça bem, para fazer suas escolhas. Também é importante que a equipe de professores da escola explore coletivamente esse acervo e troque ideias sobre boas escolhas de livros tendo em vista o que conhece sobre as preferências leitoras da faixa etária com a qual trabalha. Tendo em mente que novos leitores são formados na interação com leitores experientes e materiais de leitura de qualidade, os livros escolhidos para a biblioteca de sala devem ter o potencial de ampliar o universo leitor das crianças: ou seja, devem contemplar diferentes gêneros, conter livros de variada extensão, de autores nacionais e estrangeiros, clássicos e contemporâneos, pensados para o público infantil e pensados para o público em geral, apresentados em variados portadores. Além disso, sempre que possível é interessante que alguns livros desse acervo sejam escolhidos pelas crianças. 2. organização do acervo: Selecionado o acervo, a próxima etapa é apresentar esses livros para as crianças para organizá-lo. A organização e o cuidado com o acervo devem ser tarefas compartilhadas com as crianças: estabelecendo coletivamente critérios para classificação dos livros (ex: etiquetas vermelhas para livros de contos, verdes para livros que falem sobre curiosidades dos animais, ou separar livros de uma mesma coleção etc.). Também devem ser compartilhados os cuidados e o compromisso com a conservação dos livros. É importante ressaltar que quanto mais as crianças estão envolvidas com a organização do acervo e apresentadas a leituras que as encantam, maior é o compromisso que elas passam a ter com a conservação dos livros, já que lhes foi possível atribuir sentido a práticas de leitura e ao uso desse objeto tão especial que é o livro. 3. escolha do espaço: O espaço onde ficam os livros deve ser organizado de forma a convidar a leitura: livros acessíveis, visíveis, num espaço da sala onde as crianças possam se sentar para ler, compartilhar a leitura de um livro com um amigo. 4. renovação do acervo: É importante que o acervo da biblioteca de sala seja periodicamente renovado, a fim de que as crianças possam encontrar novas histórias, novos autores e gêneros. A oportunidade de se defrontar com o novo, de se surpreender, de fazer novas descobertas é algo fundamental para criar o hábito da leitura. Uma boa solução para isso é rodiziar o acervo entre as salas da escola, a cada dois ou três meses. Letras de luz.indd 58 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 59 Preparando-se para atuar como modelo de leitor Mas.não.basta.o.acesso.aos.livros,.o.essencial.é.conviver.com.leitores.e.poder.compartilhar.de.suas.práticas..Delia.Lerner10,.nos.coloca.que:.realmente, para comunicar às crianças os comportamentos que são típicos do leitor, é necessário que o professor os encarne em sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de participarem em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com eles uma relação ‘de leitor para leitor. Assim,.por.meio.da.mediação.do.professor11,.a.criança.atribui.significado.às.diferentes.práticas.de.leitura,. desenvolve.gostos.e.preferências.quanto.a.autores.e.gêneros,.cria.laços.afetivos.com.livros.e.histórias.e.vai. começando.a.ver.a.si.mesma.como.uma.leitora. E.o.professor.é.aquele.que,.ao.compartilhar.motivos,.estratégias.e.interesses,.abre.para.as.crianças,.as. portas.do.mundo.maravilhoso.da.literatura.e.da.poesia.e.mostra.como.ler.e.escrever.são.instrumentos.importantíssimos.para.interagir.em.sociedades.como.a.nossa..Ele.faz.isso.quando.compartilha.com.as.crianças,. lendo.para.elas,.uma.notícia.que.o.espantou.ou.lhe.despertou.a.curiosidade;.quando.procura.junto.com.as. crianças,.em.livros.ou.enciclopédias,.respostas.para.temas.que.interessam.sua.turma;.quando.lê.um.poema. que.o.emocionou;.quando.apresenta.um.livro.de.um.autor.que.considera.especial.e.divide.a.leitura.dele.com. seus.alunos... Esse.papel.do.professor.como.um.leitor.experiente.que.compartilha.sua.prática.com.as.crianças.é.tão. mais.essencial.quanto.menores.elas.sejam,.mas.nunca.deixa.de.ser.importante,.mesmo.quando.os.alunos.já. sabem.ler,.o.professor.é.aquele.que.apresenta.para.eles.novos.gêneros,.livros.mais.extensos,.novos.autores,. pois.esses.momentos.de.leitura.compartilhados.com.o.professor.são.um.dos.grandes.trunfos.que.temos.à. mão.para.evitar.que.o.fascínio.que.os.pequenos.tinham.pela.leitura.e.seu.desejo.de.ler.não.desapareça.ao. longo.da.escolarização,.como,.infelizmente,.muitas.vezes.vemos.acontecer. Assim,.é.fundamental.que.o.professor.se.prepare.para.exercer.esse.papel,.lendo.previamente.os.livros.cuja. leitura.irá.compartilhar.com.as.crianças,.pensando.em.que.comentários.e.relações.ele.pode.compartilhar,. planejando.como.irá.apresentar.o.livro,.que.boas.questões.podem.animar.uma.conversa.coletiva.sobre.a.leitura.(a.esse.respeito,.ver.o.próximo.item). instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa A.pesquisadora.espanhola,.Tereza.Colomer,.certa.vez,.em.uma.de.suas.palestras.em.São.Paulo,.fez.a.seguinte.analogia.para.tratar.da.formação.do.leitor:.para.ser.leitor.é.preciso.muitas.horas.de.leitura,.da.mesma. forma.que.para.ser.um.piloto.de.avião.é.necessário.muitas.horas.de.vôo.antes.de.se.tirar.o.brevê..Explicou. que.são.necessárias.variadas.experiências.de.leitura,.continuadas.ao.longo.do.tempo,.para.que.se.desenvolvam.preferências,.para.que.a.leitura.se.torne.crítica,.e.para.que.ela.se.torne.uma.parte.importante.da.vida.de. uma.deter.‘minada.pessoa..Assim,.o.empréstimo.de.livros.da.biblioteca.da.escola.ou.de.sala,.é.essencial.para. multiplicar. as. oportunidades. de. leitura. possíveis. para. cada. uma. das. crianças:. pois. além. das. situações. de. leitura.propostas.na.escola,.um.novo.espaço.se.abre:.ler.livros.de.sua.própria.escolha.em.casa,.compartilhando.essa.leitura.com.a.família. 10. Lerner,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002,.p..85. 11. Seja.o.professor.titular.da.turma.ou.o.professor.responsável.pela.biblioteca.da.escola. Letras de luz.indd 59 29/11/10 17:30 60 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Atividade permanente – conversando sobre livros e indicando leituras: as rodas de biblioteca12 As.rodas.de.biblioteca.devem.ser.realizadas.como.uma.atividade.planejada.e.permanente.de.leitura.na. escola.(semanal.ou.quinzenal),.em.que.se.conversa.sobre.as.leituras.que.as.crianças.realizaram.em.casa.(com. o.empréstimo.de.livros).e.abre-se.um.espaço.para.que.as.crianças.indiquem.o.livro.que.leram.para.um.(ou. alguns).colega(s),.levando.em.conta.características.do.livro.e.preferências.leitoras.do(s).amigo(s). Essa.atividade,.ao.ser.inserida.no.cotidiano.da.classe,.traz.em.si.o.potencial.de.ajudar.a.construir,.na.escola,. uma.comunidade.de.leitores.e.escritores,.onde.as.crianças.tenham.múltiplas.oportunidades.de.explorar.novos. livros,.escolher.suas.leituras,.apreciar.os.efeitos.que.cada.uma.delas.lhes.trazem,.falar.sobre.essas.sensações,.recomendar.leituras.e.analisar.as.recomendações.recebidas.dos.colegas.a.fim.de.seguir.aquelas.que.parecem.mais. interessantes,.desenvolvendo,.ao.longo.desse.processo,.gostos.e.preferências.por.livros,.gêneros.e.autores. objetivos: • • ampliar o repertório literário; • • • • compartilhar experiências leitoras; interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento; confrontar interpretações; estabelecer relações com outros textos; ampliar os conhecimentos acerca de um determinado autor, utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e interpretações; • ampliar os conhecimentos acerca de determinado gênero, utilizando-os como critério de seleção/indicação na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e interpretações; • conhecer diferentes ilustradores e ilustrações, compartilhando o efeito que uma ilustração produz, confron- • conhecer diferentes coleções, ampliando os conhecimentos acerca das características deste tipo de publi- tando interpretações e considerando tais conhecimentos na seleção/indicação de livros; cação e utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados ou em sua indicação. conteúdos: • • • • valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento; interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos; desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos; desenvolvimento de critérios de escolha e de indicação de livros. 12. In: Dime –.Aidan.Chambers..México,.FCE,.2007..Capítulo.13. Letras de luz.indd 60 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 61 Ano:.Educação.Infantil.e.Ensino.Fundamental.I. Tempo estimado:.atividade.permanente.ao.longo.do.ano.ou.do.semestre,.com.uma.frequência.quinzenal. ou.semanal. encaminhamentos: As.perguntas.abaixo,.retiradas.do.livro.Dime,.de.Aidan.Chambers,.são.um.repertório.importante.para.o. professor.criar.um.movimento.de.troca.de.ideias,.considerações,.indicações.entre.os.pequenos,.usando,.quando.necessário.uma.pergunta.ou.outra.com.cada.criança.na.roda13..Com.o.tempo,.as.crianças.vão.construindo. uma.autonomia.cada.vez.maior.para.compartilhar.essas.impressões.sobre.as.leituras.realizadas.e.com.isso. assumindo.um.protagonismo.cada.vez.maior.nessa.troca. Teve alguma coisa que vocês gostaram nesse livro? O que te chamou especialmente a atenção? Você gostaria que algo tivesse acontecido de forma diferente? Teve alguma coisa que você não gostou? Teve parte que você achou cansativa? Você pulou alguma parte? Qual? Se você parou de ler, em que parte isso aconteceu? Teve alguma coisa que te causou espanto? Houve algo que você achou maravilhoso? Encontrou alguma coisa que você nunca havia visto em um livro? Você se surpreendeu com alguma coisa? Alguma coisa não combinava, ou não ficou bem explicada? A primeira vez que você viu esse livro, antes de ler, como você pensava que ele seria? O que te fez esperar isso? E depois de ler, foi o que você esperava? Você já leu livros como este? Você já leu esse livro antes? Se sim, foi diferente dessa vez? O que você diria a seus amigos sobre esse livro? Há quanto tempo vocês acham que aconteceu essa história? Sobre quem é essa história? Que personagem você achou mais interessante? Em que lugar se passa a história? Ao.final.da.roda,.novos.empréstimos.de.livros.são.feitos.e.é.combinada.a.data.da.próxima.roda. 13. Não.há.nenhum.sentido.em.transformar.essas.perguntas.num.questionário,.pois.isso.afastaria.as.crianças.da.leitura,.em.vez.de.aproximá-las..A. ideia.é.dar.ao.professor.um.repertório.que.o.ajude.a.animar.uma.discussão.sobre.livros.e.leituras. Letras de luz.indd 61 29/11/10 17:30 62 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Avaliação: Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,. observe.se.elas: demonstram interesse em selecionar livros para levar para ler em casa; compartilham impressões, opiniões e passagens preferidas sobre os livros e as situações de leitura em casa; recomendam a leitura do livro que leram levando em conta suas características e os gostos da pessoa para quem a recomendação é feita; estabelecem relações entre a história lida em casa e outras histórias conhecidas. Além.disso,.o.acompanhamento.dos.avanços.das.crianças.deve.orientar.o.professor.no.planejamento. de.intervenções.individualizadas,.quando.necessário,.criando.condições.e.demandas.para.que.todos.tenham.a.oportunidade.e.o.espaço.de.participar.das.conversas.sobre.a.leitura,.ajudando-as.na.escolha.de. títulos.para.o.empréstimo,.a.fim.de.criar.condições.para.que.todos.avancem.nos.seus.comportamentos. leitores. Sequência de atividades – trabalhando com círculos de leitura Enquanto.a.roda.de.biblioteca.se.articula.com.as.leituras.realizadas.em.casa.(empréstimos.de.livros),.a. proposta.dos.círculos.de.leitura.é.criar.momentos.no.cotidiano.escolar.em.que.todos.param.para.ler.e.depois. comentam.essa.leitura.com.os.colegas.que.leram.o.mesmo.livro.e.posteriormente.com.toda.a.sala..Essa.proposta,.apresentada.por.Harvey.Daniels,.um.especialista.norte-americano.em.formação.de.leitores,.se.estrutura.da.seguinte.forma14: 1. os alunos escolhem o que irão ler; 2. pequenos grupos temporários são formados, de acordo com a escolha do livro que cada aluno fez; 3. diferentes grupos leem diferentes livros; 4. os grupos se reúnem de forma regular e pré-planejada para discutir as leituras que estão realizando; 5. as crianças escrevem ou desenham notas para guiar tanto a leitura como a discussão; 6. os tópicos da discussão são levantados pelos próprios alunos; 7. os encontros do grupo devem funcionar como reais conversas entre leitores, portanto, apresentação de pontos de vista pessoais, questionamento sobre pontos da história que permitem várias interpretações e digressões são práticas bem vindas; 8. o professor funciona como facilitador, não como instrutor; 9. a avaliação é feita a partir da observação do professor e da auto avaliação realizada pelos alunos; 10. o prazer de ler e compartilhar impressões sobre livros deve dar o tom dos encontros; 11. quando a leitura do livro lido pelo grupo acaba, as crianças compartilham com toda a sala os pontos altos dessa leitura e, com isso, novos grupos são formados. 14. Excerto.do.capítulo.2:.A closer look: literature cicles defined,.do.livro:. Literature Circles: voice and choice in book clubs and reading groups,.de.Harvey. Daniels,.Stenhouse.Publishers,.2001 Letras de luz.indd 62 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 63 objetivos: • • ampliar o repertório literário; • • • • compartilhar experiências leitoras; interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento; estabelecer relações com outros livros, outras épocas/lugares e autores diferentes; confrontar interpretações e saber articular argumentos que sustentem seu ponto de vista; engajar-se em “discussões” sobre leituras realizadas, levando em conta o ponto de vista dos colegas e usando as questões trazidas por eles para rever suas próprias ideias e impressões. conteúdos: • • • valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento; • desenvolvimento de procedimentos do leitor como estabelecer relações entre o livro que se está lendo e interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos; desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos; outros livros conhecidos ou acontecimentos vividos, selecionar passagens preferidas, pensar em outros desfechos possíveis, levantar hipóteses para explicar a motivação por traz de atos dos personagens etc. Ano:.Ensino.Fundamental.I. Tempo estimado:.cada.círculo.de.leitura.leva.em.torno.de.um.mês.para.ser.realizado,.o.ideal.é.que.o. trabalho.se.repita.algumas.vezes.para.que.cada.criança.tenha.a.oportunidade.de.explorar.a.leitura.de.alguns. títulos.nesse.contexto.privilegiado.que.o.círculo.de.leitura.proporciona. Materiais necessários: Diversos.títulos.de.livros,.cada.um.com.vários.exemplares. encaminhamentos15: 1. apresentação da ideia de trabalhar com círculos de leitura, trazendo crianças ou adultos leitores para dar seu depoimento sobre seus livros preferidos; 2. providencie uma ampla gama de bons livros e convide as crianças a escolherem um16 livro que elas desejam ler. A partir dessas escolhas, forme grupos de 4 ou 5 crianças que querem ler o mesmo título. Isso vai levar alguns minutos de negociação; 3. discutir coletivamente o que as crianças acham que vale a pena anotar17, retomando o depoimento do leitor que elas tiveram a oportunidade de ouvir, registrar as ideias das crianças e, se necessário, chamar a atenção 15. Idem,.baseado.em.propostas.do.capítulo.5. 16. No.caso.de.alguma.criança.escolher.um.livro.que.mais.ninguém.escolheu,.é.necessário.ajudá-la.a.fazer.uma.nova.escolha. 17. As.crianças.pequenas.também.fazem.anotações,.desenhando.personagens.preferidos,.marcando.páginas.que.tenham.os.“pontos.altos”.da.história,.etc.. Letras de luz.indd 63 29/11/10 17:30 64 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento para outras possibilidades (sentimentos, relações, palavras em que se têm dúvidas, trechos que se deseja guardar, questionamentos, comentários, relações entre a história e a vida delas; perguntas que vierem à mente; como imaginam uma determinada cena; “truques” do autor, boas ideias ao longo da escrita; palavras interessantes, etc.); 4. peça que o grupo combine a leitura do trecho inicial (que possa ser lido em 20 ou 30 minutos); 5. quando todos terminarem a leitura e fizerem suas anotações, convide os grupos a conversarem o que leram, compartilhando suas anotações (por 10 a 15 minutos); 6. durante essas conversações, visite cada um dos grupos, como observador. Anote exemplos e comentários para compartilhar na discussão geral; 7. terminado esse momento de troca inter-grupos, organize a sala num grupo só e fale sobre os livros. Peça que cada grupo dê um exemplo, conte algo interessante que compartilharam durante a conversa após a leitura. Depois reflita com as crianças sobre o processo de conversar sobre a leitura, listando os procedimentos que ajudaram a discussão. Organize essas informações num cartaz; 8. peça que os grupos decidam por um novo trecho do grupo para o próximo encontro. Avaliação: Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,. observe.se.elas: demonstram interesse em participar dos círculos de leitura; compartilham suas anotações sobre o livro que estão lendo, sabendo que é possível falar dos sentimentos que a leitura despertou, das relações que estabeleceram com outros livros e situações, perguntar sobre palavras em que se tem dúvida, mostrar trechos preferidos, levantar questões sobre a história, fazer comentários sobre as ações dos personagens, contar como imaginam uma determinada cena, etc. O.professor.deve.acompanhar.os.grupos.(círculos.de.leitura),.anotando.questões.para.discutir.no.coletivo. a.fim.de.ampliar.o.rol.de.procedimentos.e.relações.que.as.crianças.põem.em.ação.durante.a.leitura. Letras de luz.indd 64 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 65 APoStiLA 2 oficinA 2 – crÔnicA – A prosa cotidiana instantâneos da vida se transformam em textos que entretêm e fazem pensar objetivos: Espera-se que os participantes como leitores particulares: • apreciem ler crônicas; • conheçam alguns dos importantes cronistas brasileiros; • compreendam a relação que a crônica tem com os fatos do cotidiano, tomando como inspiração as notícias da imprensa falada e escrita, tanto quanto os acontecimentos vividos ou observados; • estabeleçam relação entre as crônicas lidas e o fato que as inspirou; • percebam o jornal como rico material de leitura; • experienciem a produção escrita de uma crônica. Espera-se que os participantes como leitores públicos: • compreendam a crônica como gênero da literatura para ser lida e apreciada individualmente, na escola e em outros espaços públicos; • percebam o jornal como valioso material didático: portador de diferentes gêneros textuais, em especial, as crônicas. conteúdos: • leitura de crônicas; • breve história do gênero textual crônica; • o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores; • a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação crônica e notícia; • a estrutura narrativa da crônica. material necessário: A.inspiração.das.crônicas.são.os.acontecimentos.cotidianos.vividos.ou.estampados.em.fotos.e.notícias.. Elas.podem.ser.encontradas.em.diferentes.suportes:.em.jornais,.revistas,.blogs.e.livros..Em.muitos.casos,.os. livros.são.compilações.de.crônicas.publicadas.nos.jornais..É.importante.que.o.formador.reúna.para.levar. Letras de luz.indd 65 29/11/10 17:30 66 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento para.a.oficina:.jornais.nacionais.e.locais;.revistas.de.notícias;.fotos.jornalísticas;.recortes.de.notícias.e.crônicas;.livros.de.diferentes.autores.e.épocas.que.abordem.o.gênero.trabalhado.e.indicação.de.blogs,.entre.outros.. O.formador.deve.ter.o.cuidado.de.selecionar.os.textos.com.antecedência..Se.houver.cronistas.da.região,. deve-se.procurar.dar.destaque.a.eles..Esses.certamente.falarão.de.temas.familiares.aos.participantes,.aproximando-os.da.leitura.de.crônicas. Desenvolvimento: O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo. à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema. 1. mar de crônicas: ele tem a função de inspirar e seduzir os participantes da oficina para a leitura desses textos. O Mar de Crônicas será composto do material levado para a oficina pelo formador e pelos participantes e exposto sobre um belo tecido, de preferência no chão. Pode estar pronto antes do início da oficina ou ser montado em outro momento. O importante é que o material seja conhecido do formador e fique à mostra para manuseio e leitura. 2. Abertura: o formador apresenta suas reflexões sobre as aprendizagens do grupo, com relação à oficina 1. Depois retoma as atividades sugeridas para o presente encontro: que os participantes mostrem e comentem o registro da experiência no Diário de Leitura. Esse breve momento pode ser realizado em duplas e depois aqueles que assim desejarem poderão socializar no grupo maior, contando se praticaram alguma atividade relacionada à leitura e aos espaços de biblioteca e como isso se deu e apresentando as crônicas e seus autores trazidos para enriquecer a oficina. Ao socializar os registros dos diários, os participantes também comentam as leituras das obras do acervo circulante: quais suas impressões sobre os livros sugeridos? Foi possível concluir a leitura? Houve dificuldades em compreender o texto? Quais? Se fossem indicar o título para outros participantes, quais aspectos ressaltariam? Nesse momento, o formador poderá propor uma nova troca de títulos entre os participantes, acrescentando ao acervo doado outros livros trazidos pelo grupo de seus acervos pessoais. Sugerimos que em todas as oficinas os participantes tragam outras obras para emprestar entre si, organizando como atividade permanente uma “Feira de troca de livros”. 3. Apresentação da apostila: o formador faz a leitura das páginas iniciais da apostila, ressaltando os objetivos e os conteúdos que serão desenvolvidos na oficina 2, que tem como título Crônica – a prosa cotidiana. 4. A leitura de uma bela crônica dará início à oficina: o formador iniciará a oficina com uma conversa sobre as crônicas queridas e os cronistas preferidos da turma. Em seguida, lê para o grupo uma crônica escolhida por ele. A escolha poderá tomar como base um fato de conhecimento da turma, um autor conhecido da região ou de reconhecimento nacional, uma crônica antológica, uma crônica muito querida do formador etc. É importante que o formador tenha objetivos claros quando for selecionar o texto que dará início à oficina e que apresente seus motivos para o grupo, pois esse é o momento da sensibilização para o tema do encontro. É uma leitura para escutar e se deliciar. A apostila sugere vários textos que podem ser lidos na abertura do encontro. A crônica Conversinha mineira (do livro A mulher do vizinho, Editora Sabiá Rio de Janeiro, 1962, p. 144) é uma sugestão para esse momento. Letras de luz.indd 66 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 67 Escrita por Fernando Sabino, ela está estruturada apenas em diálogos bem-humorados e pode ser uma excelente oportunidade para que os participantes identifiquem a prosa cotidiana presente no texto que será o tema dessa oficina. Outra sugestão de leitura para este momento é a crônica de Luis Fernando Verissimo.” Crônica e Ovo” disponível em Para Gostar de Ler (O nariz e outras crônicas). São paulo: Ática:1995 5. cronistas explicam seu ofício: não são poucos os cronistas que escreveram sobre o seu próprio fazer literário. Ler o que escreveram é uma forma de conhecer e apreciar mais este gênero textual. Nesse momento, o formador apresenta duas crônicas que se encaixam nesse caso. Seus autores são dois importantes escritores brasileiros: Machado de Assis, em O nascimento da crônica (1/11/1877), disponível na apostila, e Vinicius de Moraes, em O exercício da crônica disponível na obra Para Viver um Grande Amor (crônicas e poemas, 1962, Ed. do Autor, RJ). Orientação para a leitura dessas crônicas: • a turma é dividida em dois grupos. Cada grupo lê uma crônica; • depois da leitura, cada grupo expõe o que leu levantando as características do fazer literário dos cronistas apontados pelos dois autores; • enquanto os grupos apresentam suas conclusões, o formador poderá organizar o registro para sistematizar as conclusões dos participantes. 6. Leitura dos textos-farol disponíveis ao final desta apostila: o Texto-farol I Crônica: a prosa cotidiana aborda o conceito e a origem da crônica. Já Texto-farol II, A relação crônica & notícia, propõe o exercício de transposição de um fato noticiado nos jornais em tema para a produção de crônicas. O formador pode propor a leitura dos textos em voz alta, discutindo seus temas e utilizando as crônicas para exemplificar os conceitos que serão abordados durante a oficina. 7. Atividades de Leitura: nesse momento da oficina, serão realizadas atividades de leitura que exigem comportamentos leitores que implicam interações com outras pessoas acerca dos textos lidos. O objetivo é que os participantes saboreiem a leitura de uma crônica em parceria com um colega. A seguir, sugerimos uma atividade a partir da leitura da crônica A outra noite ,de Rubem Braga (publicada no livro Ai de ti, Copacabana, editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1969, p. 183-184.), escritor considerado por muitos o maior cronista brasileiro, desde Machado de Assis. A proposta é ler para o outro, escutar a leitura feita por outra pessoa e dialogar sobre o que se leu. O formador propõe que se formem duplas e que um leia para o outro. O objetivo é que a leitura e a apreciação do texto sejam realizadas de modo interativo. Após a leitura, a dupla conversa sobre o ponto de vista do cronista a respeito do que ele chama de “presente de rei” e sobre o que a crônica fez cada leitor pensar. Em seguida, abre-se uma discussão coletiva para o confronto com outros leitores das interpretações geradas pela crônica lida. O formador, nesse momento, pode ampliar a discussão, propondo a reflexão sobre outros elementos do texto, dizendo que A outra noite é uma crônica de beleza singela. Seus ingredientes são os mais corriqueiros e tudo dito de modo coloquial. Há um jogo de sentidos com as expressões: a outra noite; uma noite de vento sul e chuva; acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra – pura, perfeita e linda. Ficam as perguntas: o cronista fala de uma noite só, ou de mais de uma noite? Como é que uma noite pode ser, ao mesmo tempo, chuvosa e enluarada? O motorista do táxi, ouvindo o passageiro contar a história para o amigo, fica surpreso com as declarações. Diz o texto que Ele chegou a pôr a cabeça para fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Além disso, que frases disse o motorista? O que elas revelam? Letras de luz.indd 67 29/11/10 17:30 68 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento No último parágrafo, o narrador diz: “(...) como se eu lhe tivesse feito um presente de rei”. O que o narrador está chamando de presente de rei? Para concluir a leitura e apreciação da crônica, os participantes podem contar se já ganharam ou se já deram um presente de rei para alguém. E como foi isso? O formador poderá também propor um círculo de leitura do gênero utilizando os textos que estão no anexo da apostila. Divididos em grupos, os participantes fazem a leitura de uma mesma crônica, primeiro individualmente, anotando suas impressões sobre o texto (palavras que não entenderam, trechos que consideram bem escritos, relações entre as situações abordadas no texto e suas vidas, etc.). Em seguida, trocam suas anotações com outros participantes que leram o mesmo texto e, juntos, escrevem uma recomendação para os demais colegas. Para finalizar a atividade, o formador organiza a socialização das indicações. 8. texto dramático do grupo Qorpo-Santo: o formador apresenta outro texto que já foi encenado por grupos de teatro do Letras de Luz: Um credor da Fazenda Nacional, anexo. 9. tarefas: a) de leitor a escritor – Como foi dito no início, um dos objetivos da oficina 2 é que o participante escreva sua própria crônica. De posse dos conhecimentos que já tinham e com os que adquiriram nessa oficina, os participantes deverão elaborar uma crônica, que será levada na oficina 3 para ser apresentada e lida. É preciso que se lembre que o cronista, por meio de uma história, transmite ao leitor uma visão pessoal dos acontecimentos que o cercam. A crônica pode ser elaborada a partir de: • • • uma foto significativa; uma notícia que esteja nas páginas dos jornais ou revistas; um acontecimento vivido ou presenciado. Tudo pode ser assunto para uma crônica. É importante que o tema escolhido cause no autor alguma sensação: entusiasmo, surpresa, indignação, alegria, etc. Também é fundamental que o ponto de vista esteja presente na crônica de forma implícita ou explícita; b) ir a uma biblioteca pública e retirar um livro de crônicas para ler. Registrar as impressões da leitura no Diário de Leitura; c) escolher o local e realizar a leitura de uma crônica em situação pública. Registrar a atuação de contador e a reação dos ouvintes numa página do Diário de Leitura. 10. Avaliação: os participantes e o formador avaliam se os objetivos da oficina foram atingidos, comentam os aspectos positivos e negativos e dão sugestões, preferencialmente por escrito. 11. Preparando o próximo encontro: para a terceira oficina, Vozes em cena ficam propostas as atividades: registrar suas leituras no Diário de Leitura, ler um texto teatral – o formador dará sugestões de títulos para serem pesquisados no acervo doado pelo projeto – e vir com roupas confortáveis e que permitam movimento. Letras de luz.indd 68 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 69 bibliografia básica CANDIDO,.Antônio.[et..al.]..A.Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil..São.Paulo:.Editora.da. UNICAMP;.Rio.de.Janeiro:.Fundação.Casa.de.Rui.Barbosa,.1992. A.obra.reúne.estudos.e.artigos.apresentados.em.outubro.de.1988.em.seminário.sobre.a.crônica.realizado.na.Fundação. Casa.de.Rui.Barbosa..Retoma.as.discussões.a.respeito.das.origens,.fontes.e.traços.característicos.do.gênero,.de.sua.popularização.e.de.suas.transformações.no.Brasil.do.século.XIX.e.do.início.do.século.XX,.do.seu.meio.de.veiculação.(a.imprensa),.além.de.aproximações.a.outros.gêneros.(o.relato.de.viagem,.a.crônica.histórica),.à.charge.e.à.fotografia. ____.A.vida.ao.rés-do-chão..In:.Para gostar de ler: crônicas..4..Editora.São.Paulo:.Ática,.1984..v..5. Texto.introdutório.do.volume.5,.da.Coleção.Para Gostar de Ler:.crônicas,.em.que.o.autor.expõe.sua.teoria.sobre.crônica. DIONISIO,.Ângela;.MACHADO,.Anna.Rachel.&.BEZERRA,.M..Auxiliadora.(Orgs.)..(2002)..Gêneros textuais & ensino. Rio.de.Janeiro:.Lucerna. O.que.são.exatamente.gêneros.textuais.e.de.que.forma.utilizá-los.no.cotidiano.das.escolas?.Essas.perguntas,.e.várias. outras,.estão.respondidas.em.Gêneros textuais e ensino,.coletânea.de.estudos.de.linguística.aplicada.organizada.pelas. professoras.Ângela.Paiva.Dionísio,.Anna.Rachel.Machado.e.Maria.Auxiliadora.Bezerra..A.obra.divide-se.em.dois. momentos:.no.primeiro,.estão.os.estudos.relacionados.à.definição.do.conceito.de.gêneros.textuais.e,.na.segunda.parte,. estão.trabalhos.desenvolvidos.a.partir.dos.vários.gêneros.textuais,.incluindo.aqueles.surgidos.com.a.internet,.como.o. correio.eletrônico.(e-mail).e.os.bate-papos.virtuais.(chats)..Trata-se.de.obra.dedicada.a.instrumentalizar.os.profissionais.de.ensino.de.línguas. DOLZ,.J;.NOVERRAZ,.M.&.SCHNEUWLY,.B..Gêneros orais e escritos na escola. Campinas,.SP:.Mercado.de. Letras,.2004. A.obra.discute.as.questões:.por.que.trabalhar.com.gêneros.e.não.com.tipos.de.textos?.Em.que.esses.trabalhos.e. esses.conceitos.são.diferentes?.O.que.é.gênero.de.texto?.Como.entender.a.noção?.Que.gêneros.selecionar.para.ensino. e.como.organizá-los.ao.longo.do.currículo?.Como.pensar.progressões.curriculares?.Deve-se.trabalhar.somente.com.os. gêneros.de.circulação.escolar?.De.circulação.extraescolar?.Ambos?.Quais.são.os.mais.relevantes.em.cada.caso?.O.livro. oferece.encaminhamentos.e.procedimentos.possíveis.para.o.ensino.de.gêneros.na.escola. JAFFE,.Noemi.&.BIGNOTTO,.Cilza..Crônica na sala de aula..2..ed..São.Paulo:.Itaú.Cultural,.2004. Publicação.elaborada.especialmente.para.professores,.com.o.objetivo.de.auxiliá-los.no.trabalho.com.esse.gênero. literário..Organizado.em.módulos.aos.quais.se.integram.análises.originais,.simples.e.instigantes.de.textos.de.autores. consagrados. LERNER,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002. Segundo.Regina.Scarpa.em.resenha.publicada.na.revista.Nova Escola.(ago/2008),.nesse.livro,.partindo.de.um.embasamento.teórico.consistente,.a.autora.“ajuda.os.educadores.na.compreensão.do.que.precisa.ser.ensinado.quando.se. quer.formar.leitores.e.escritores.de.fato..Delia.também.explicita.a.importância.de.o.professor.criar.condições.para.que. os.alunos.participem.ativamente.da.cultura.escrita.desde.a.alfabetização.inicial,.uma.vez.que.constroem.simultaneamente.conhecimentos.sobre.o.sistema.de.escrita.e.a.linguagem.que.usamos.para.escrever”. SOLE,.Isabel..Estratégias de leitura..6..ed..Porto.Alegre:.Artmed,.1998. O.livro.escrito.por.Isabel.Solé.aborda.diferentes.formas.de.trabalhar.com.o.ensino.da.leitura..Seu.propósito.principal.é.promover.nos.alunos.a.utilização.de.estratégias.que.permitam.interpretar.e.compreender.de.forma.autônoma.os. textos.lidos..Enfatizando.sempre.que.o.ato.de.ler.é.um.processo.complexo,.a.autora,.utilizando.um.texto.simples.e. agradável.de.ser.lido,.explicita-o.dentro.de.uma.perspectiva.construtivista.da.aprendizagem. Letras de luz.indd 69 29/11/10 17:30 70 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Para saber mais http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/galeria.htm TV.Cultura.–.Alô escola – Sabor crônicas:.apresenta.o.conceito.de.crônicas.e.tem.uma.galeria.com.textos.de.alguns. cronistas.brasileiros. http://vejasp.abril.com.br/revista/cronicas Crônicas.da.Revista.Veja:.crônicas.publicadas.na.revista.Veja. http://www.dominiopublico.gov.br Domínio.Público.–.Site.com.obras.completas.de.alguns.dos.principais.cronistas.brasileiros. http://www.itaucultural.org.br.. O.Instituto.Cultural.Itaú.possui.uma.videoteca.com.documentários.e.depoimentos.que.podem.ser.acessados.no. computador.ou.retirados.em.sua.sede..Sobre.crônicas,.indicamos.o.vídeo:.Moacyr Scliar com Luís Fernando Verissimo.–.A. opção.pela.crônica.–.Duração:.4min.e.32seg. http://www.museudapessoa.org.br Museu.da.Pessoa.também.garante.acesso.a.vários.depoimentos..Lá.é.possível.ver.e.ouvir.Heloisa.Seixas.falando. sobre.a.crônica,.gênero.textual.que.transita.entre.jornalismo.e.literatura.e.assistir.ao.vídeo.sobre.a.leitura.de.crônicas. para.e.com.cegos Livros além da Visão. http://www.cronistas.com.br. Site.em.que.é.possível.postar.uma.crônica.pessoal.e.ler.outras.dos.mais.variados.autores. http://www.tvbrasil.org.br. Pode-se.procurar.os.textos.da.antiga.Rádio.MEC..Lá,.Paulo.Autran.leu.por.muitos.anos.crônicas.diárias.de.nossos. maiores.cronistas.num.programa.que.se.tornou.lendário:.Quadrante! http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata.. Página.do.cronista.Antonio.Prata,.nascido.em.São.Paulo,.em.1977..O.autor.publica.seus.textos.uma.segunda.sim,. outra.não,.na.última.página.do.caderno.Metrópole,.do.jornal.O Estado de S.Paulo. Livros:.Além.da.coleção.Para gostar de ler,.da.editora.Ática,.várias.editoras.possuem.coleções.desse.gênero.literário,.como.a.Global,.com.a.sua.As melhores crônicas,.a.Record,.que.publica.cronistas.de.todo.o.Brasil,.a.Cosac.&. Naify,.que.recentemente.publicou.crônicas.antigas.e.históricas.de.Manuel.Bandeira,.a.Cia..das.Letras.e.Objetiva,. que. têm,. respectivamente,. as. excelentes. edições. Em boa companhia. –. Crônicas. e. as. 100 melhores crônicas do século,. entre.tantas.outras. CD: da.Editora.Luz.da.Cidade: Rubem.Braga.–.Crônicas.escolhidas,.interpretadas.por.Edson.Celulari. Machado.de.Assis.–.Poesias,.crônicas.e.contos,.interpretadas.por.Othon.Bastos. Muitas.crônicas,.de.tão.famosas.e.significativas,.foram.adaptadas.para.teatro,.cinema.e.televisão..Veja.algumas.delas: Letras de luz.indd 70 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 71 TV: a.mais.famosa.adaptação.foi.Comédia da Via Privada,.da.TV.Globo,.escrita.por.Jorge.Furtado.e.Carlos.Gervase..Apresentada.de.1995.a.1997,.tem.como.enredo.acontecimentos.do.cotidiano.de.pessoas.da.classe.média.brasileira.. As.histórias.eram.baseadas.em.crônicas.de.Luís.Fernando.Verissimo.publicadas.na.revista.Domingo do Jornal do Brasil.. Em.1994,.elas.foram.reunidas.em.livro,.que.ficou.meses.entre.os.mais.vendidos.na.lista.das.livrarias. Cinema: a.adaptação.mais.famosa.é.a.crônica.O homem nu,.de.Fernando.Sabino,.que.já.teve.duas.filmagens.diferentes..A.primeira.é.de.1968,.direção.de.Roberto.Santos,.tendo.no.elenco.Paulo.José.e.Leila.Diniz,.com.música.do. famoso.maestro.Rogério.Duprat..Em.1997,.nova.adaptação,.com.Cláudio.Marzo.e.Lúcia.Veríssimo.nos.papéis.principais.e.Hugo.Carvana.na.direção. O.filme.O homem nu,.nas.duas.versões,.é.uma.comédia.que.narra.as.confusões.causadas.por.um.homem.que.fica. acidentalmente.trancado.pelo.lado.de.fora.do.apartamento.completamente.nu..A.partir.daí,.o.homem.–.do.jeito.como. veio.ao.mundo.–.passa.por.uma.série.de.situações.inusitadas,.fugindo.de.um.lado.para.outro.para.se.proteger.de.uma. população.inteiramente.escandalizada. SANTOS,.Roberto..O homem nu..Brasil,.Cinematográfica.Pelimex.e.Wallfilmes,.1968..181.min. CARVANA,.Hugo..O homem nu..Brasil,.Europa.Filmes,.1997..75.min. Outra.importante.adaptação.é.Crônica da cidade amada.de.1965,.dirigido.por.Carlos.Hugo.Christensen..É.o. primeiro.filme.brasileiro.colorido,.em.cinemascope..O.Rio.de.Janeiro.é.visto.pelo.olhar.dos.cronistas.Paulo.Mendes. Campos,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Dinah.Silveira.de.Queiroz,.Fernando.Sabino,.Paulo.Rodrigues,.Orígenes. Lessa,.entre.outros..O.roteiro.foi.escrito.por.Millor.Fernandes,.Manuel.Bandeira,.Pedro.Bloch,.Carlos.Hugo.Christensen,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Orígenes.Lessa,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando.Sabino,.Dinah.Silveira. de.Queiroz,.Paulo.Rodrigues..O.filme.relata.11.situações.e.histórias.inspiradas.na.vida.carioca,.com.narração.de. Paulo.Autran,.que.recita.trechos.de.textos.de.cronistas.como.Carlos.Drummond,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando. Sabino,.Orígenes.Lessa,.Dinah.Silveira.de.Queiroz.e.Paulo.Rodrigues. cronistas explicam seu ofício o nascimento da crônica (1/11/1877), de machado de Assis Machado de Assis (1839-1908), nosso maior escritor, foi cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Suas obras mais conhecidas: Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro (1899). Há.um.meio.certo.de.começar.a.crônica.por.uma.trivialidade..É.dizer:.Que.calor!.Que.desenfreado. calor!.Diz-se.isto,.agitando.as.pontas.do.lenço,.bufando.como.um.touro,.ou.simplesmente.sacudindo.a. sobrecasaca..Resvala-se.do.calor.aos.fenômenos.atmosféricos,.fazem-se.algumas.conjeturas.acerca.do.sol. e.da.lua,.outras.sobre.a.febre.amarela,.manda-se.um.suspiro.a.Petrópolis,.e.la glace est rompue; está.começada.a.crônica. Mas,.leitor.amigo,.esse.meio.é.mais.velho.ainda.do.que.as.crônicas.que.apenas.datam.de.Esdras..Antes. de.Esdras,.antes.de.Moisés,.antes.de.Abraão,.Isaque.e.Jacó,.antes.mesmo.de.Noé,.houve.calor.e.crônicas..No. Letras de luz.indd 71 29/11/10 17:30 72 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento paraíso.é.provável,.é.certo.que.o.calor.era.mediano,.e.não.é.prova.do.contrário.o.fato.de.Adão.andar.nu..Adão. andava.nu.por.duas.razões,.uma.capital.e.outra.provincial..A.primeira.é.que.não.havia.alfaiates,.não.havia. sequer.casimiras;.a.segunda.é.que,.ainda.havendo-os,.Adão.andava.baldo.ao.naipe..Digo.que.esta.razão.é. provincial,.porque.as.nossas.províncias.estão.nas.circunstâncias.do.primeiro.homem. Quando.a.fatal.curiosidade.de.Eva.fez-lhes.perder.o.paraíso,.cessou,.com.essa.degradação,.a.vantagem.de. uma.temperatura.igual.e.agradável..Nasceu.o.calor.e.o.inverno;.vieram.as.neves,.os.tufões,.as.secas,.todo.o. cortejo.de.males,.distribuídos.pelos.doze.meses.do.ano. Não.posso.dizer.positivamente.em.que.ano.nasceu.a.crônica;.mas.há.toda.a.probabilidade.de.crer.que.foi. coetânea.das.primeiras.duas.vizinhas..Essas.vizinhas,.entre.o.jantar.e.a.merenda,.sentaram-se.à.porta,.para. debicar.os.sucessos.do.dia..Provavelmente.começaram.a.lastimar-se.do.calor..Uma.dizia.que.não.pudera. comer.ao.jantar,.outra.que.tinha.a.camisa.mais.ensopada.do.que.as.ervas.que.comera..Passar.das.ervas.às. plantações.do.morador.fronteiro,.e.logo.às.tropelias.amatórias.do.dito.morador,.e.ao.resto,.era.a.coisa.mais. fácil,.natural.e.possível.do.mundo..Eis.a.origem.da.crônica. Que.eu,.sabedor.ou.conjeturador.de.tão.alta.prosápia,.queira.repetir.o.meio.de.que.lançaram.mãos.as.duas. avós.do.cronista,.é.realmente.cometer.uma.trivialidade:.e.contudo,.leitor,.seria.difícil.falar.desta.quinzena. sem.dar.à.canícula.o.lugar.de.honra.que.lhe.compete..Seria;.mas.eu.dispensarei.esse.meio.quase.tão.velho. como.o.mundo,.para.somente.dizer.que.a.verdade.mais.incontestável.que.achei.debaixo.do.sol,.é.que.ninguém.se.deve.queixar,.porque.cada.pessoa.é.sempre.mais.feliz.do.que.outra. Não.afirmo.sem.prova. Fui.há.dias.a.um.cemitério,.a.um.enterro,.logo.de.manhã,.num.dia.ardente.como.todos.os.diabos.e.suas. respectivas.habitações..Em.volta.de.mim.ouvia.o.estribilho.geral:.–.Que.calor!.Que.sol!.É.de.rachar.passarinho!.É.de.fazer.um.homem.doido! Íamos.em.carros;.apeamo-nos.à.porta.do.cemitério.e.caminhamos.um.longo.pedaço..O.sol.das.onze. horas.batia.de.chapa.em.todos.nós;.mas.sem.tirarmos.os.chapéus,.abríamos.os.de.sol.e.seguíamos.a.suar.até. o.lugar.onde.devia.verificar-se.o.enterramento..Naquele.lugar.esbarramos.com.seis.ou.oito.homens.ocupados. em.abrir.covas:.estavam.de.cabeça.descoberta,.a.erguer.e.fazer.cair.a.enxada..Nós.enterramos.o.morto,.voltamos.nos.carros,.e.daí.às.nossas.casas.ou.repartições..E.eles?.Lá.os.achamos,.lá.os.deixamos,.ao.sol,.de.cabeça. descoberta,. a. trabalhar. com. a. enxada.. Se. o. sol. nos. fazia. mal,. que. não. faria. àqueles. pobres-diabos,. durante.todas.as.horas.quentes.do.dia? Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994. Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938. Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro. Na crônica de Machado de Assis, algumas expressões antigas podem trazer dificuldade para o entendimento: La glace est rompue, expressão francesa que significa “o gelo está quebrado”. No texto, o sentido é metafórico. Adão andava baldo ao naipe, isto é, Adão não tinha o que fazer; coetânea, é o mesmo que contemporânea; debicar significa comentar zombando; tropelias, o mesmo que estripulias; alta prosápia, significa importante origem; canícula, o mesmo que intenso calor. Letras de luz.indd 72 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 73 texto-farol 1: crônica – A prosa cotidiana, de heloisa ramos Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portuguesa, pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz. Sabe da última?.Deu no jornal. Abrimos.o.jornal.e.lá.estão.elas.–.as.notícias..Notícias.boas,.notícias.más,. notícias.daqui,.notícias.de.lá,.notícias.de.todo.lugar... O jornal é um rico veículo de informação – Com.textos.de.gêneros.variados,.fotografia.e.recursos.gráficos,.os.jornais.são.uma.fonte.de.pesquisa.e.de.obtenção.de.informação.sobre.o.mundo.atual..São.vendidos. por.assinatura.ou.em.bancas.de.jornal,.lojas,.livrarias,.supermercados.etc..Também.podem.ser.lidos.gratuitamente.em.bibliotecas.e.acessados.na.internet..Vários.são.os.gêneros.textuais.que.compõem.os.jornais:.notícia,.editorial,.crônica,.entrevista,.reportagem,.artigo.de.opinião,.carta.do.leitor,.resenha,.artigo.de.divulgação. científica,.horóscopo,.HQ/tira,.previsão.do.tempo,.charge,.cartum,.anúncio,.propaganda,.palavra.cruzada,. previsão.do.tempo,.programação.de.lazer.(tv,.rádio,.cinema,.teatro,.shows,.museus...).etc. Leitura de jornal e a formação do cidadão crítico – A.leitura.frequente.dos.jornais.nos.leva.a.conhecer.os. principais.fatos.que.estão.acontecendo.no.mundo.e.nos.ajuda.a.compreender.melhor.a.realidade.que.nos.cerca.. A.imprensa.não.apenas.relata,.mas.também.comenta.e.interpreta.os.fatos..As.notícias.contam.os.acontecimentos.e.os.artigos.de.opinião,.os.editoriais,.as.crônicas.e.as.entrevistas.nos.auxiliam.a.refletir.sobre.eles..É.comum. um.jornal.publicar.mais.de.um.ponto.de.vista.sobre.um.mesmo.fato..Os.textos.jornalísticos.conversam.entre.si,. não.só.no.mesmo.exemplar.como.de.um.dia.para.o.outro..Um.fato.é.notícia.num.dia,.nos.outros.dias.pode.ser. tema.de.editorial,.de.artigos.de.opinião,.de.reportagem,.de.entrevista.ou.de.uma.crônica. A notícia, a crônica e o leitor –.Em.meio.a.tanta.notícia,.a.crônica.surge.na.página.do.jornal.ou.da.revista.como.para.arejar.o.peso.das.manchetes.diárias..Sua.leitura.ajuda.a.aliviar.a.tensão.que.as.notícias.graves. podem.causar. Notícia & crônica – Assim.como.acontece.com.a.notícia,.a.crônica.também.se.alimenta.dos.fatos.do. cotidiano..Onde,.então,.está.a.diferença.entre.estes.dois.gêneros?.A.diferença.principal.está.na.intencionalidade.de.cada.um.deles..As.notícias.são.escritas.para.informar.o.leitor.de.jornais.e.revistas.dos.principais. acontecimentos.políticos,.esportivos,.culturais,.científicos,.econômicos.etc.,.nacionais.e.internacionais..E.as. crônicas.são.escritas,.sobretudo,.para.entreter.esse.mesmo.leitor. Linguagem – Outra.diferença.é.a.linguagem..Um.texto.escrito.para.informar.não.pode.ter.a.mesma. linguagem.de.um.texto.que.pretende.entreter.o.leitor..A.linguagem.de.um.texto.que.tem.o.compromisso.de. dar.informações.precisa.ser.objetiva.e.fornecer.dados.com.precisão..De.outro.lado,.o.texto.que.não.tem.esse. mesmo.compromisso.com.a.realidade.permite.ao.escritor.ter.mais.liberdade.no.uso.da.linguagem..O.escritor,. neste.caso,.tem.que.ser.criativo..Ele.deve.encontrar.novas.formas.para.dizer.coisas.corriqueiras..Para.isso,.ele. Letras de luz.indd 73 29/11/10 17:30 74 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento precisa.dar.novos.sentidos.às.palavras,.diferentes.dos.sentidos.conhecidos..Por.meio.de.suas.crônicas,.com. lirismo,.humor,.ironia.ou.sarcasmo,.o.cronista.reflete.sobre.a.realidade.que.nos.rodeia.e.a.critica.de.forma. explícita.ou.implícita,.ajudando.a.ampliar.nossa.visão.das.coisas. O que diz Antonio Cândido – Escritor,.ensaísta,.professor.universitário.e.o.mais.importante.crítico.literário.brasileiro,.Antônio.Cândido.(1918).diz.que.na.crônica,.“Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida...”..(Antonio.Cândido,.em.A vida ao rés-do-chão,.prefácio.do.livro.Para gostar de ler, volume 5, Crônicas,.Ática,.1984) Para exemplificar – Vamos.exemplificar.o.que.dissemos.até.agora.com.uma.crônica.de.Fernando.Bonassi..No.final.dos.anos.90,.os.ônibus.urbanos.da.cidade.de.São.Paulo.foram.equipados.com.bancos.que.ficam. de.frente.um.para.o.outro..Bonassi,.paulistano,.nascido.em.1962,.traduziu.numa.crônica.o.que.ele.pensava. sobre.esses.bancos..O.texto.foi.publicado.na.coluna.Da rua,.no.caderno.Ilustrada,.do.jornal.Folha.de.São. Paulo,.em.abril.de.2000. bAnco DoS boboS Fernando Bonassi Moura não consegue entender o que leva a indústria a construir esses ônibus, que podem fazer três idiotas chegar a passar algumas horas olhando pra cara de outros três imbecis, conforme a duração da viagem. Não há livro, videogame ou walkman que distraia todo o tempo. Logo estão olhares enviesados se cruzando, escapando, rebatendo nas vidraças, que ainda teimam em refletir. Aqueles engenheiros devem estar acreditando que a raça humana é um troço geneticamente dotado de simpatia. Parecem não imaginar o quanto um mísero contato é difícil por aqui. A.crônica.nos.faz.refletir.sobre.o.comportamento.humano:.Como.nos.sentimos.andando.de.ônibus.sentados.de.frente.para.pessoas.que.não.conhecemos?.Ficamos.à.vontade.ou.nos.sentimos.constrangidos?.Puxamos.conversa.com.o.vizinho.da.frente.ou.desviamos.nossos.olhos.dos.olhos.dele?.Todas.as.pessoas.reagem. do.mesmo.jeito,.ou.depende.de.pessoa.para.pessoa,.ou.ainda.de.cultura.para.cultura?.A.simpatia.não.faz. parte.da.natureza.humana.e.estabelecer.contato.com.seu.semelhante.é.difícil.para.o.ser.humano? Outro.ponto.a.observar.nessa.crônica.é.a.linguagem..O.autor.faz.uso.de.linguagem.informal,.de.expressões.bastante.populares.como.“imbecil”,.“idiota”.e.“troço”..Ele.inventa.um.personagem.chamado.“Moura”.e. é.por.intermédio.do.“Moura”.que.podemos.perceber.o.que.o.cronista.pensa.da.raça.humana. A fonte de inspiração dos cronistas – Alguns.cronistas.se.baseiam.nos.fatos.noticiados.na.imprensa.. Outros.vão.buscar.inspiração.nos.temas.mais.banais.e.comuns.da.vida.de.qualquer.pessoa..Crônicas.são. dirigidas.a.um.público.específico.–.o.leitor.dos.jornais.ou.revistas..São.escritas.para.colunas.mantidas.nos. periódicos..Não.é.um.gênero.textual.simples.de.definir,.como.bem.disse.Luiz.Fernando.Veríssimo.no.texto. Crônica e Ovo. Letras de luz.indd 74 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 75 Definição da palavra crônica –. Encontramos. no. Novo. Dicionário. da. Língua. Portuguesa,. de. Aurélio. Buarque.de.Holanda,.editora.Nova.Fronteira,.em.edição.de.1999,.a.seguinte.definição: Crônica. [Do.lat..chronica.].S.f..1..Narração.histórica,.ou.registro.de.fatos.comuns,.feitos.por.ordem.cronológica..[...].4..Texto.jornalístico.redigido.de.forma.livre.e.pessoal,.e.que.tem.como.temas.fatos.ou.ideias.da. atualidade,.de.teor.artístico,.político,.esportivo,.etc.,.ou.simplesmente.relativos.à.vida.cotidiana. Origem da palavra crônica.–.A.palavra.crônica.deriva.do.Latim chronica,.que,.por.sua.vez,.deriva.do. grego.chronos,.que.significa.“tempo”..A.relação.com.o.“tempo”,.que.desde.sua.origem.existe,.mantém-se. até.hoje. Um pouco de História –.No.início.da.era.cristã,.significava.o.relato.de.acontecimentos.em.ordem. cronológica..Era.um.registro.de.eventos,.a.chamada.crônica histórica..Na.Europa,.no.século.XIX,.com.o. desenvolvimento.da.imprensa,.a.crônica.passou.a.fazer.parte.dos.jornais..Eram.textos.que.comentavam,. de.forma.crítica,.os.acontecimentos.da.época..Tinham,.portanto,.um.sentido.histórico.e.serviam,.assim. como.outros.textos.do.jornal,.para.informar.o.leitor..Essa.prática.foi.trazida.para.o.Brasil.na.segunda. metade.do.século.XIX..Com.o.passar.do.tempo,.a.crônica.brasileira.foi,.pouco.a.pouco,.distanciando-se. daquela.crônica.com.sentido.de.documento.histórico..Ela.ficou.mais.leve,.fazendo.uso.de.linguagem. literária..Mas.não.perdeu.a.ligação.com.o.“tempo”,.sua.característica.definidora,.que.é.a.relação.com.os. fatos.contemporâneos. A primeira crônica brasileira – A.carta.que.Pero.Vaz.de.Caminha.escreveu.a.D..Manuel,.rei.de.Portugal,. contando.o.descobrimento.do.Brasil,.é.considerada.a.primeira.crônica.brasileira..Ela.se.inicia.assim: Senhor: Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar –, o saiba fazer pior que todos. [...] Beijo as mãos de Vossa Alteza. Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de Maio de 1500. Pero Vaz de Caminha É.possível.ler.A.Carta.na.íntegra.em.www.dominiopublico.gov.br. Pedro.Vaz.de.Caminha.lendo.a.Pedro.Álvares.Cabral.e.frei.Henrique.Coimbra.a.carta.que.escreveu.a. El-Rei.D..Manuel.e.de.que.Gaspar.de.Lemos,.comandante.do.navio.dos.mantimentos,.era.portador,.(quadro. do.pintor.brasileiro.Aurélio.de.Figueiredo)»,.reproduzido.em.Carlos.Malheiro.Dias.(org.),.História da Colonização Portuguesa do Brasil,.1923,.vol..II..Reprodução.fotográfica.de.Isabel.Rochinha. Letras de luz.indd 75 29/11/10 17:30 76 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Na.época.de.Caminha,.século.XVI,.crônica significava.registro.de.acontecimentos.históricos..É.isto.que. sua.carta.é..No.século.XVIII,.o.termo.com.esta.significação.foi.substituído.pela.palavra.história. Desde.então,. história.é.o.registro.e.a.interpretação.de.acontecimentos.históricos. Folhetins ocupam o espaço menos nobre do jornal: o rodapé – Entre.o.final.do.século.XIX.e.o.início. do.século.XX,.escritores.já.consagrados.ocupavam.o.rodapé,.a.parte.inferior.das.páginas.dos.jornais.com. pequenos.textos:.contos,.artigos,.ensaios.etc..Eram.os.chamados.folhetins, destinados.ao.entretenimento.do. leitor.e.muito.apreciados.na.época. Machado.de.Assis.e.José.de.Alencar.são.alguns.dos.grandes.nomes.da. literatura.brasileira.que.foram.folhetinistas..Às.vezes,.escreviam.romances.em.capítulos,.que.eram.acompanhados.com.tanto.interesse.como.o.são.as.novelas.de.televisão.de.hoje;.às.vezes,.escreviam.crônicas..Assim,. a.crônica.atual.nasceu.dos.folhetins. Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora. texto-farol 2 A relação crônica & notícia, de heloisa ramos Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portuguesa, pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz. Antes.mesmo.de.ler.um.texto,.sabendo.apenas.que.se.trata.de.uma.notícia,.uma.carta,.uma.propaganda.ou.um.conto,.já.antecipamos.alguns.de.seus.significados..Por.exemplo,.sabendo.que.se.vai.ler.uma. notícia,.o.que.se.espera.encontrar?.Uma.provável.resposta.será:.um.texto.publicado.em.jornal.ou.revista,.que.relata.um.acontecimento.notável.que.tem.alguma.importância.para.o.leitor.da.publicação,.segundo.seu.editor. Letras de luz.indd 76 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 77 Os.títulos.também.são.reveladores..A.notícia.que.vem.a.seguir.foi.publicada.no.jornal.Folha de S.Paulo,. no.dia.16.de.outubro.de.2006,.no.caderno.Cotidiano,.e.foi.escrita.pela.repórter.Daniela.Tófoli. O.título.é. Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo. Antes.de.ler.uma.notícia.com.tal.título,.o.leitor.provavelmente.começará.a.imaginar.quem.são.esses.ladrões.e.o.que.roubam.nas.igrejas..Serão.imagens.antigas.de.santos.ou.objetos.de.valor.histórico?.O.que.eles. fazem.com.o.material.roubado? Só.mesmo.lendo.o.texto.para.saber: igrejAS São ALvoS De LADrõeS em São PAULo Só a proteção divina não está mais dando conta. Os assaltos a igrejas tornaram-se tão freqüentes que padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos santos e passaram a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é suficiente. Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul) constatarem que, pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas do ladrão. Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local identificaram um assaltante. “A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses”, diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. “Ainda não temos câmeras, mas a segurança se tornou preocupação nas paróquias. Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja, 65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete assaltos. “Não tem ano que a gente não seja roubado, mas agora está demais”, diz o padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se respeita mais nem a igreja.” Letras de luz.indd 77 29/11/10 17:30 78 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento fUrtoS De PÁrA-rAioS Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca (zona leste). “A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam e só a guarda de Deus não dá conta de tudo.” A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o pára-raios. “Como era de cobre, levaram para vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a igreja da Consolação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu pára-raios furtados. O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida, furtada há um mês. Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista (centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro. Repórter Daniela Tófoli – Folha de S.Paulo/Caderno Cotidiano – 16/10/2006 Notícia inspira crônica – O.mesmo.jornal.que.publicou.a.notícia.acima,.poucos.dias.depois,.publicou.a. crônica.abaixo..Este.é.um.caso.de.crônica.cujo.autor.toma.como.base.uma.notícia..O.autor.Moacyr.Scliar. todas.as.segundas-feiras,.no.caderno.“Cotidiano”,.da.Folha.de.São.Paulo,.escreve.uma.crônica..Ele.parte.do. tema.de.uma.notícia.e.cria.um.texto.de.ficção..A.crônica,.publicada.em.23/10/2006,.foi.inspirada.na.notícia. “Igrejas.são.alvos.de.ladrões.em.São.Paulo”. O autor – Moacyr.Jaime.Scliar.nasceu.em.23/3/1937,.em.Porto.Alegre.(RS)..É.um.dos.mais.produtivos. escritores.brasileiros,.com.mais.de.setenta.títulos.publicados. Para pensar antes de ler a crônica – O.que.será.que.passa.na.cabeça.de.um.ladrão,.antes.de.decidir.se.vai. ou.não.roubar.uma.igreja?.Scliar.diverte.o.leitor,.contando.o.que.aconteceu.com.um.ladrão.de.igreja. O.título.da.crônica.é.um.dos.dez.mandamentos.do.cristianismo:.“Não.roubarás”. A.influência.da.temática.bíblica.é.marcante.nas.obras.de.Moacyr.Scliar..O.título.Não roubarás.é.uma.ordem?.É.o.desejo.de.alguém?.É.um.artigo.de.um.código.moral? Intertextualidade – Textos.conversam.com.textos,.sejam.verbais.ou.não..Quanto.mais.um.leitor.conhece. outros.textos.mais.ele.amplia.sua.compreensão.leitora..Um.exemplo.disto.é.que.para.compreender.melhor. esta.crônica,.o.leitor.precisa.saber.que.existe.um.filme.americano.chamado.O diabo veste Prada..Prada.é.o. nome.de.uma.centenária.e.famosa.marca.italiana.de.moda.de.luxo..No.filme.de.2006,.a.atriz.Meryl.Streep,. sob.a.direção.de.David.Frankel,.faz.o.papel.de.uma.exigente.executiva.de.uma.importante.revista.de.moda.. Ela.é.o.“diabo”.que.veste.Prada. Letras de luz.indd 78 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 79 não roUbArÁS Moacyr Scliar Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, apesar de já ter assaltado gente em bares, em restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera numa igreja. Um amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem usar arma. A ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação. Não era religioso, mas acreditava em Deus e na justiça divina. Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado. Mas então teve um sonho, um sonho que foi decisivo. Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. Sem saber o que fazer, olhava ao redor, desorientado, quando de repente avistou um homem. Uma figura exótica, sinistra mesmo: vestia uma espécie de fraque, usava cavanhaque e exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, disse o estranho, você não sabe se assalta uma igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: é a coisa mais fácil do mundo. Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria o assalto. E, para a estréia, escolheu uma pequena e modesta igreja de bairro. O que se revelou uma verdadeira decepção. Quando lá chegou, estava começando a chover e, talvez por causa disso, o lugar estava deserto. Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher, ninguém para ser assaltado. E na igreja propriamente dita, nada que aparentemente valesse à pena carregar; apenas algumas modestas imagens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o: nada, estava vazio. Uma violenta trovoada fez estremecer o templo, o que lhe deu uma ideia: o pára-raios. Sempre podia render alguma coisa, afinal era de cobre, e ele conhecia um ferro-velho que pagaria uma boa grana. Sem muito esforço, retirou o pára-raios, uma haste com o seu fio, e foi embora sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo que sempre pode ocorrer com quem carrega pára-raios: foi atingido por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa que viu foi o homem que aparecera em seu sonho, mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava bem abrigado da chuva. Porque, em ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada. O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta. Folha de S.Paulo – Caderno Cotidiano, 23/10/2006 Letras de luz.indd 79 29/11/10 17:30 80 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Uma conversa com a crônica Não roubarás – Todo.leitor,.mesmo.diante.de.um.texto.que.está.lendo.pela. primeira.vez,.reconhece.nele.algum.traço..São.os.traços.e.vestígios.conhecidos.que.permitem.o.entendimento.de.um.texto.lido.pela.primeira.vez..Quanto.mais.elementos.são.familiares.ao.leitor,.mais.fácil.será.sua. interpretação. Reconhecer.o.gênero.do.texto,.por.exemplo,.é.um.traço.importante.para.a.sua.compreensão..Saber.que.o. texto.é.uma.crônica.já.permite.antecipar.algumas.informações..O.leitor.de.crônicas.sabe,.por.exemplo,.que: esse gênero é ficcional; o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presencia no seu cotidiano ou que está nos noticiários; em geral, são críticas bem-humoradas; por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época. Títulos e subtítulos podem dar pistas do que vai acontecer numa narrativa –.O.texto.tem.um.subtítulo:.“Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado”. A.certeza. do.castigo.se.confirmou?.O.assaltante.foi.castigado?.Como? Crônica e humor – Em.geral, os.cronistas.tratam.com.humor.os.assuntos.das.notícias.do.jornal.e.os.fatos. comuns.do.cotidiano.das.pessoas..A.crônica.Não roubarás.é.um.exemplo.disto..Uma.das.formas.de.criar. humor.é.quebrar.a.expectativa.do.leitor.ou.do.ouvinte..As.quebras.de.expectativa.dessa.crônica.estão,.por. exemplo,.em: a figura do ladrão é diferente da imagem que se tem de um criminoso. Espera-se que um ladrão não tenha valores morais, seja seguro, descrente e destemido. No texto, o assaltante não corresponde a essa imagem. Ele acredita em Deus e teme ser castigado, se assaltar uma igreja; o local escolhido para ser assaltado foge dos padrões. Espera-se que um ladrão queira roubar lugares que tenham objetos de valor. No entanto, a igreja escolhida para o assalto é modesta, as imagens dos santos não têm valor comercial e até o ofertório está vazio; a tentativa de roubo se transforma numa seqüência desastrosa para o ladrão: começa a chover; a igreja está vazia, sem ninguém para ser assaltado; uma trovoada violenta estremece o templo; ele rouba e leva embora o pára-raios sob temporal; uma descarga elétrica fulminante o atinge. Essa seqüência lembra o humor das comédias tipo pastelão do cinema e de alguns programas humorísticos da televisão, com heróis trapalhões, como nos seriados Chaves (SBT), A Grande Família (GLOBO) e Os Trapalhões (GLOBO); o fato de o personagem estar correndo num descampado, sob forte chuva, carregando um objeto inusitado – um pára-raios – e ser atingido por uma descarga elétrica pode provocar o riso do leitor; o jogo de palavras o diabo não veste Prada, em que o autor brinca com o nome do filme O diabo veste Prada, cria a imagem de um diabo que se veste bem; Intertextualidade – Já.dissemos.que.intertextualidade.é.a.referência.explícita.ou.implícita.que.um.texto. faz.a.outro(s).texto(s)..Na.crônica.que.estamos.analisando,.a.intertextualidade.está.presente.em.diferentes. momentos: ela faz referências implícitas à Bíblia. O autor usa como título um dos dez mandamentos do Antigo Testamento: “Não roubarás” (Êxodo 20-15). Também cita a figura do diabo e fala em castigo, em Deus e na justiça divina; Letras de luz.indd 80 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 81 Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não veste Prada”. Ao fazer esta citação, ele está fazendo referência ao filme “O diabo veste Prada”. explorando o universo textual da crônica Não roubarás Ao.contrário.da.notícia,.a.crônica.é.um.texto.ficcional..Isto.significa.que.o.escritor.não.tem.compromisso.com.a.realidade.e.pode.inventar.todos.os.elementos.da.sua.história..Assim.fez.Moacyr.Scliar.no. texto.Não roubarás. Essa. crônica. apresenta. as. características. essenciais. de. qualquer. texto. narrativo:. um. narrador,. enredo. numa.seqüência.de.fatos,.personagens,.espaço.e.tempo. Narrador –.Toda.história.precisa.ser.contada.por.“alguém”;.esse.“alguém”.que.conta.a.história.é.o.narrador..É.através.dele.que.tomamos.conhecimento.do.enredo,.das.características.das.personagens,.da.descrição. dos.cenários.etc..Nessa.crônica,.o.narrador.conta.a.história.de.um.assalto.a.uma.igreja.praticado.por.um. homem..O.narrador.não.participa.da.história. Enredo numa sequência de fatos –.O.enredo.é.a.própria.história.que.se.desenrola.em.fatos.numa.sequência. temporal..A.sequência.dos.fatos.na.crônica.Não roubarás.está.assim.encadeada: 1º o narrador explica por que o criminoso ainda não tinha assaltado uma igreja; 2º o assaltante tem um sonho decisivo; 3º o ladrão assalta uma igreja; 4º o assaltante é atingido por uma descarga elétrica. Personagens –.Os.três.personagens.da.crônica.são:.o.assaltante,.um.amigo.e.o.homem.elegante.do.sonho. Espaço –. São. os. cenários,. espaços. físicos. naturais,. ambientais,. geográficos.. Na. crônica,. aparecem. três.espaços:.o.lugar.do.sonho.é.um deserto distante,.desolado,.perdido.entre.dunas.de.areia;.o.assalto. acontece.numa.igreja.de.bairro.pequena.e.modesta;.uma.descarga.elétrica.atinge.o.assaltante.num.descampado. Tempo –.Os.fatos,.acontecimentos.e.ações.das.personagens.se.articulam.no.plano.temporal;.eles.têm,. necessariamente,.uma.duração..Na.crônica.de.Scliar,.tudo.acontece.num.curto.espaço.de.tempo,.entre.uma. noite.e.um.dia. Personagem e pessoa – Nas.notícias,.é.obrigatório.dizer.o.nome.completo.das.pessoas.citadas..Já.nas. crônicas,.o.autor.inventa.uma.história.com.personagens.imaginados.por.ele,.que.podem.ter.nome.ou.não..Na. crônica.que.estamos.analisando os.personagens.não.têm.nome..O.personagem.principal.é.chamado.simplesmente.de.“ele”. Linguagem formal e linguagem coloquial – O.personagem.principal.do.texto.Não roubarás.é.um.assaltante..Quando.ele.está.em.dúvida,.sem.saber.se.vai.ou.não.assaltar.uma.igreja,.um.amigo,.também.assaltante,.tenta.convencê-lo.a.praticar.o.crime..Neste.trecho,.o.autor.abandona.o.padrão.culto.da.língua.para.adotar. uma.linguagem.com.gíria:.“....é.mole,.cara,...” Mais. adiante,. outro. personagem,. um. homem. elegante,. vestindo. uma. espécie. de. fraque,. aparece. num. sonho.e.também.tenta.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja..Neste.caso,.a.linguagem.é.mais.formal:.“Você. está.indeciso,.disse.o.estranho,.você.não.sabe.se.assalta.uma.igreja.ou.não,.mas.você.está.perdendo.tempo:.é. a.coisa.mais.fácil.do.mundo.” Letras de luz.indd 81 29/11/10 17:30 82 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Para.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja,.o.amigo.assaltante.e.o.homem.elegante.do.sonho.usaram.o. mesmo.argumento:.roubar.igreja.é.fácil..No.entanto,.a.linguagem.usada.por.cada.um.não.é.igual..O.assaltante.diz:.“....é.mole,.cara,...”..E.o.homem.bem.vestido.fala:.“....é.a.coisa.mais.fácil.do.mundo.” As palavras são selecionadas para criar os efeitos de sentido desejados pelo autor –.Para.criar.o.clima. de.uma.história,.o.autor.seleciona.palavras.que.criam.o.efeito.desejado..Para.um.bom.escritor.não.serve. qualquer.palavra..As.palavras.são.selecionadas.para.criar.os.efeitos.de.sentido.desejados.pelo.autor..As.passagens.abaixo.mostram.as.escolhas.que.Scliar.fez: referindo-se à insegurança do assaltante: “Verdade seja dita, ele hesitou muito.” / “Você está indeciso, disse o estranho (...)”; o homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra; na primeira vez em que o homem aparece no sonho ele exibe um sorriso malicioso. Na segunda vez, mostra os caninos num sorriso irônico. O tempo verbal na notícia e nas histórias – Títulos.de.notícia.geralmente.têm.verbo.no.presente.e.no. corpo.da.notícia,.o.verbo,.quase.sempre,.está.no.passado. Nos.textos.narrativos,.os.verbos.em.geral.são.usados. no.passado..Isto.ocorre.por.uma.necessidade.do.próprio.ato.de.contar.histórias..Escritores.ou.contadores. orais.contam.histórias.acontecidas.num.tempo.anterior.ao.tempo.da.leitura.ou.da.audição.da.história..Assim. acontece.não.só.com.as.crônicas,.mas.também.com.as.lendas,.as.fábulas,.os.mitos,.os.contos.e.os.romances.. O.passado.é.o.tempo.verbal.predominante.nas.narrativas,.mas.não.é.o.único..Na.crônica.Não roubarás, o. verbo.roubar.do.título,.por.exemplo,.está.no.futuro. A pontuação serve para criar efeitos de sentido desejados pelo autor –. A. crônica. jornalística. é. um. texto.breve..Isto.porque.o.espaço.reservado.no.jornal.para.a.crônica.é.pequeno.e.o.autor.não.pode.ultrapassar.um.número.limitado.de.linhas..Nesta.situação,.um.cronista.precisa.saber.dizer.o.que.quer.em.poucas. palavras..Um.dos.recursos.de.síntese.é.a.pontuação..Na.crônica,.podemos.perceber.a.competência.de.Moacyr. Scliar.no.uso.da.pontuação..Seu.grande.recurso.neste.texto.são.os.dois.pontos: no lugar de aspas ou travessão, o autor usa os dois pontos como uma forma de ocupar menos espaço para introduzir uma fala: Um amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem usar arma; o cronista sintetiza uma explicação, usando os dois pontos para substituí-la. É um recurso usado diversas vezes no texto. Por exemplo: Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora. outras leituras recomendadas 1. A outra noite: Esta.crônica.foi.escrita.por.Rubem.Braga.(1913-1990),.escritor considerado.por.muitos. o.maior.cronista.brasileiro,.desde.Machado.de.Assis. Foi.publicada.no.livro.Ai de ti, Copacabana, editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1969,.p..183-184..A.obra.reúne. crônicas.publicadas.entre.1955.e.1960,.nos.jornais.Correio da Manhã, Diário de Notícias e O Globo e.nas.revistas.Manchete e.Mundo Ilustrado. Letras de luz.indd 82 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 83 2. A última crônica: O.texto.é.de.autoria.do.grande.escritor.Fernando.Sabino..Mineiro.de.Belo.Horizonte,.ele.nasceu.em.12.de.outubro.de.1923.e.morreu.em.11.de.outubro.de.2004..Essa.crônica.foi.publicada.no. livro.A Companheira de viagem, pela.Editora.Record,.em.1965..É.uma.narração.em.primeira.pessoa,.em.que. o.autor.conta.como.ele.gostaria.que.fosse.sua.última.crônica. 3. 15 de setembro de 1876: Nessa.crônica,.Machado.de.Assis.comenta.as.comemorações.do.Dia.da.Independência.daquele.ano..É.interessante.saber,.e.a.crônica.nos.conta,.quantas.pessoas.viviam.na.cidade.do.Rio. de.Janeiro,.em.1876. 15 de setembro de 1876 Machado de Assis Este ano parece que remoçou o aniversário da Independência. Também os aniversários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem. O dia 7 por ora está muito criança. Houve realmente mais entusiasmo este ano. Uma sociedade nova veio festejar a data memorável; e da emulação que houver entre as duas só teremos que lucrar todos nós. Nós temos fibra patriótica; mas um estimulante de longe em longe não faz mal a ninguém. Há anos em que as províncias nos levam vantagem nesse particular; e eu creio que isso vem de haver por lá mais pureza de costumes ou não sei que outro motivo. Algum há de haver. Folgo de dizer que este ano não foi assim. As iluminações foram brilhantes; e quanto povo nas ruas, suponho que todos os dez ou doze milhões que nos dá a Repartição de Estatística estavam concentrados nos largos de São Francisco e da Constituição e ruas adjacentes. Não morreu, nem pode morrer a lembrança do grito do Ipiranga. Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994. Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938. Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro. 4. A crônica como gênero da literatura e do jornalismo:.O.autor.Carlos.Heitor.Cony nasceu.no.dia.14. de.março.de.1926.na.cidade.do.Rio.de.Janeiro..O.jornalista,.romancista.e.cronista,.em.6/12/2002,.neste. texto.publicado.no.caderno.“Ilustrada”,.da.Folha de S.Paulo,.explica.o.que.para.ele.é.jornal,.jornalismo.e. literatura. A.crônica.do.Cony.está.repleta.de.comparações..O.leitor.deve.observá-las..O.escritor.inicia.dizendo.que. alunos.de.curso.de.comunicação.pediram.a.ele.uma.definição.do.jornalismo.literário.e,.em.complemento,.o. papel.da.crônica.nesse.tipo.de.jornalismo..Afirma,.ainda,.que,.embora.não.se.considere.a.pessoa.indicada. para.falar.sobre.o.tema,.tentará.dar.uma.resposta..Cita.Franz.Kafka,.João.do.Rio.e.Humberto.de.Campos.. Sugere-se.que.aos.que.escolherem.este.texto.para.ler,.o.formador,.se.for.necessário,.explique.quem.foram. essas.personalidades: Letras de luz.indd 83 29/11/10 17:30 84 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã, nasceu em Praga. É considerado um dos principais escritores de literatura moderna. Sua obra retrata as ansiedades e a alienação do homem do século XX. Seu livro mais conhecido é “Metamorfose”; João do Rio (1881-1921) foi o pseudônimo mais constante do carioca João Paulo Emílio Coelho Barreto, jornalista, contista, romancista, autor teatral. Entre outros livros deixou Dentro da noite, A mulher e os espelhos, Crônicas e frases de Godofredo de Alencar, A alma encantadora das ruas, Vida vertiginosa, Os dias passam, As religiões no Rio e Rosário da ilusão; Humberto de Campos Veras (1886-1934) nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, estado do Maranhão. Deixou obra extensa e variada, incluindo crônicas e contos humorísticos, além de sonetos refinados, que o tornaram um dos autores mais populares em sua época. Suas Memórias são apontadas como seu livro mais importante. 5. A tua presença:.Crônica.de.Fernando.Bonassi,.publicada.na.Folha.de.São.Paulo.(07/03/1998.-.Seção. DA.RUA)..Sugere-se.que.a.leitura.da.crônica.seguinte.seja.feita.em.dupla.e.que.o.leitor.diga.ao.seu.ouvinte. que.escute.a.narração.e.tente.responder,.antes.do.final,.a.quem.o.narrador.se.dirige,.quando.diz:.“Sei.que.é. você.”. 6. Conversinha mineira: Sugere-se.que.seja.feita.uma.leitura.dramática.da.crônica.de.Fernando.Sabino,. publicada.no.livro A mulher do vizinho,.Editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1962,.p..144..O.jeito.dito.mineiro.de.não. se.pronunciar,.de.“esconder.o.leite”,.é.revelado.com.muito.humor.na.crônica.do.também.mineiro.Sabino. 7. Felicidade instantânea: Martha.Medeiros,.natural.de.Porto.Alegre,.é.cronista.e.poeta..Atualmente.é. colunista.do.jornal.O.Globo.(RJ)..A.crônica.Felicidade instantânea.faz.parte.do.livro.de.crônicas.Non stop. lançado.pela.L&PM.em.2001..Nela,.a.autora.faz.um.apelo.bem.humorado.ao.resgate.da.literatura,.em.detrimento.dos.livros.dos.livros.de.auto-ajuda.frequentemente.presentes.nas.listas.dos.mais.vendidos. o leitor torna-se autor Os.participantes.do.ano.de.2009.do.Projeto.Letras.de.Luz.de.municípios.de.São.Paulo,.Mato.Grosso.do. Sul,.Espírito.Santo.e.Tocantins.foram.convidados.a.produzir.crônicas..O.resultado.foi.um.conjunto.significativo.de.textos.bem.variados..Variam.o.tema,.o.estilo,.os.lugares,.os.personagens..Alguns.cheios.de.humor,. outros.introspectivos,.nostálgicos,.singelos,.mas.todos,.de.um.jeito.ou.de.outro.provocam.o.leitor.e.fazem. pensar..Reproduzimos.abaixo.uma.dessas.crônicas.que.passam.a.compor.a.antologia.desta.apostila. Letras de luz.indd 84 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 85 StreSS Maria do Carmo Berthoud Oliveira – Alô... – Severino?! Como vai?... – Tudo bem, mas... – Eu sabia!... sempre tem um “mas”... – É que... – Não precisa nem falar, eu já soube o que aconteceu no HTPC. – HTPC?... – Não precisa disfarçar, mas eu sei que a Leontina, a professora de Geografia, não conseguiu terminar o projeto de meio ambiente com os alunos e, por isso, não fez a inscrição na Câmara Municipal. – Leontina? De Geografia?!... – É! Ela mesma!... E o Tibúrcio de Inglês? Já sei que ele trocou os pés pelas mãos, ou seja, “feet” por “hands”. Nem tente negar, que eu já sei de tudo! – Como?... – É!... Não negue!... E os outros professores? Se desentenderam no meio da dinâmica? Que baixaria foi aquela?... Meu Deus!... E você? Não conseguiu esclarecer tudo?... É a coisa está mesmo feia!... Só resta fazer um relatório para o DEC. – DEC? Que vem a ser isso? – Você está brincando, não é?... – Não estou, não! É só você me deixar falar que eu explico! – Fale, então!... – Em primeiro lugar, eu não me chamo Severino. Meu nome é Ribamar. Sou corretor de imóveis, não entendo nada de aulas, muito menos de escola. Você discou o número errado. – Aí não é 3537 3940? – Não. É 3537 3640. – Des-des-desculpe. Tchau! Taubaté (SP) – 24/11/2009 Letras de luz.indd 85 29/11/10 17:30 86 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento conto já encenado por grupos de teatro do projeto Letras de Luz Um credor da fazenda nacional Qorpo-Santo Personagens: Credor Porteiro Um.Major Um.Contínuo Empregados.da.repartição Outros.credor Leopoldino,.Contador Chefe.de.secção Sr. Barbosa Ato primeiro UM CREDOR –.(entrando em uma repartição pública; para o Porteiro).–.Está.o.Sr..Inspetor? PORTEIRO –.Está;.mas.não.se.lhe.pode.agora.falar. CREDOR –.Por.quê? PORTEIRO –.Está.muito.ocupado! CREDOR –.Em.quê? PORTEIRO –.Tem.gente.aí.com.ele. CREDOR –.Quem.é? PORTEIRO –.Um.Major! CREDOR –.Demorar-se-á.muito? PORTEIRO –.Ignoro. CREDOR –.Pois.diga-lhe.que.lhe.quero.falar! PORTEIRO –.Não.posso.ir.lá.agora. CREDOR –.Quantas.horas.estarei.eu.aqui.à.espera.que.o.Sr..Major.saia.para.que.eu.entre! (Passeia). (O MAJOR, saindo e encontrando-se com o Credor.) CREDOR (para o MAJOR) –.Oh!.O.Sr..por.aqui!.Julgava-o.quem.sabe.onde!.Disseram.-me.que.tinha.ido. para.Rio.Pardo.há.dias! MAJOR –.Tenho.tido.aqui.numerosos.afazeres,.por.isso.não.sei.quando.irei. CREDOR –.Fique.certo.que.sinto.o.mais.vivo.prazer.em.vê-lo.no.gozo.da.mais.perfeita.saúde. MAJOR –.Onde.é.aqui.a.tesouraria? CREDOR –.Na.Tesouraria.estamos;.mas.o.Tesoureiro.está.lá.embaixo. Letras de luz.indd 86 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 87 PORTEIRO –.Lá,.não;.lá.está.o.pagador! CREDOR –.Ah!.Então.é.cá.em.cima;.porém.nos.fundos;.creio.que.na.última.sala. MAJOR –.Então.para.lá.vou..(Segue.) CREDOR –.Agora.entro.eu..(Dirigindo-se à repartição.) PORTEIRO –.Está.lá.o.Sr..Leopoldino.Contador! CREDOR –.É.célebre!.Então.vou.à.secção.respectiva.saber.se.foi.informado.o.meu.requerimento!.(Caminha, e entra.) PORTEIRO –.Que.diabo.de.homem.este!.Tem.vindo.mais.de.um.cento.de.vezes.à.repartição....se.há.de... CONTÍNUO –.Faz.ele.muito.bem.[em].vir.cá!.Deve-se.lhe,.por.que.não.se.lhe.há.de.pagar? CONTÍNUO –.Homem;.isso.é.verdade!.Qual.a.razão.por.que.esta.repartição.há.de.paliar.meses.e.anos!? PORTEIRO –.Custa.a.crer.a.retardação.de.pagamento.ou.a.preguinha,.segundo.dizem.alguns.empregados! CONTÍNUO –.O.caso.é.que.ele.tem.procedido.sempre.com.a.maior.prudência! PORTEIRO –.Isso.é.verdade..Mas.quantos.terão.sofrido.pela.falta.de.cumprimento.de.deveres.de.alguns. funcionários.públicos? CONTÍNUO –.Ë.verdade!.Tem.havido.tantos.males,.que.enumerá-los.talvez.fosse.impossível. PORTEIRO –.Mas.tu.sabes.o.que.os.empregados.querem?.Talvez.não.saibas..Pois.eu.te.digo: 1º.–.Acabar.com.a.Monarquia.Constitucional.e.Representativa! 2º.–.Pôr.termo.às.repartições.públicas;.isto.é,.acabarem.com.todas.estas.imposturas! 3º.–.Mudar.a.forma.de.governo.para.República. 4º.–.Fazerem.uma.liga.entre.todos.que... CONTÍNUO –.(pondo as mãos na cabeça e puxando as orelhas) –.Estás.louco!.Homem! . D’onde.vieram-te.esses.pensamentos!?.Se.não.mudas.de.modo.de.pensar,.vais.parar.à.Caridade. PORTEIRO –.Ah!.Tu.não.ouves!.És.surdo!.Não.vês..Tens.olhos.e.não.enxergas! . Ouvidos,.e.não.ouves!.Só.falas!.Tu.verás.a.revolução.que.em.breve.se.há.de.operar!.Olha;.eu.estou. vendo.o.dia.em.que.entra.por.aqui.uma.força.armada;.vai.aos.cofres,.papéis..e.rouba.quanto.neles. se.acha..Acende.um.facho,.e.laça.fogo.em.tudo.quanto.é.papéis. CONTÍNUO –.(A correr) –.Ih!.Ih!.Ih!.Parece.que.já.estou.ouvindo.o.tinir.das.espadas!.A.voz.do.canhão. troar..Deus.meu!.Acudi-me!.Ai!.Que.eu.morro! (Cai sentado.) Ai!.Ai!.Estou.cansado!.Fadigado!. Quase....Meu.Deus!.Quantas.mortes.vos.aprazerá.ainda.fazer!?.Quando.vos.compadecereis.de. vossos.entes.ainda.que.maus!?.Quando.se.aplacará.a.vossa.ira!?.Quando.se.saciará.a.vossa.vingança!.Céus!.Que.vejo!.(Como amparado com as mãos; pondo o corpo de lado; ao ouvir o som da trovoada que em cima se faz.) Ah!... PORTEIRO –.(querendo acudi-lo).–.Não.é.nada,.companheiro.e.amigo!.São.os.primeiros preparativos.para.a.estralada.que.logo.mais.terá.de.ver.e.ouvir..Tranqüiliza.o.teu.coração..Ainda.não.desceram.raios,.fogo,.e.tudo.o.mais.que.se.há.preparando.para.grande.revolução!.Começará.de.cima;.e. descerá.à.terra,.como.a.saraiva.em.certos.dias.chuvosos. (Ouve-se nova trovoada; relâmpagos.) CONTÍNUO –.(melhorando pouco; e levantado-se) – Acho-me.um.pouco.mais.animado? . Parece-me.que.isto.não.é.comigo..Que.dizes?.Hem?.(batendo no ombro do porteiro.) Que.diabo,.pois. eu.nada.fiz,.o.que.devo.temer!?.Sou.muito.pusilânime. PORTEIRO –.Tu.sempre.foste.um.poltrão..De.tudo.te.assustas;.de.tudo.tens.medo!.Diabo! . (Empurra-o) Toma.juízo!.Deixa-te.de... Letras de luz.indd 87 29/11/10 17:30 88 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento CONTÍNUO –.Ora,.ora!.E.não.entendo.o.que.é.ter.juízo,.pelo.que.vejo,.e.pelo.que.ouço. . Vivo.em.minha.casa..Trabalho.incessantemente.em.proveito.meu,.e.da.minha.família..Não.ofendo. a.pessoa.alguma!.Sucede-me.isto!.Dizei-me:.–.O.que.é.ter.juízo? PORTEIRO –.Ter.juízo.é.cometer....e....ai!ai!.(pondo as mãos no rosto) que.também.estou.ficando.doente! CREDOR (voltando) –.Ainda.hoje.não.recebo.dinheiro!.Prometeu-me.um.Empregado,.e.a.mais.um.indivíduo.que.espera....Como.de....(Sai.).Veremos.se.se.pode.receber.segunda-feira! UM DOS EMPREGADOS – Por.que.razão.não.se.há.de.pagar.a.este.homem!? OUTRO – Eu.sei.disso!? CREDOR – (voltando) – Não.tenho.melhor.resolução.a.tomar,.que.a.de.sentar-me.em.uma.das.cadeiras. desta.repartição.e.nela.esperar.até.que.se.me.pague. CERTO INDIVÍDUO –.Então,.por.quê? CREDOR –.Ora,.porque!?.Porque.não.dou.um.passo.que.não.encontre.um,.que.não.me.peça.o.aluguel.da. casa..Outro,.que.não.me.peça....que.não.me.fale!... O INDIVÍDUO –.Tudo.isso.é.bom! CREDOR –.É;.é;.para.certos.indivíduos;.para.mim.é.péssimo!.Nunca.gostei.de.ser.atacado.em.casa,.quanto.mais.pelas.ruas.da.cidade!.Todos.os.que.compelem.a.honra,.ou.aos.que.desejam.viver.com.seriedade,.–.a.essas.cenas,.–.deveriam.em.minha.opinião.ficar.condenados.a.idênticos;.ou.a.outros. procederes.piores,.contrários.à.sua.vontade,.ou.desejos. O INDIVÍDUO (com a mão querendo fazer uma cruz) – Resquié.d’impace!.Resquié.d’impassere;.Amem!. Amem!.N’amem!.N’amem! (Saindo). E.vou.m’embora.(Sai) Ato segundo Salão em que trabalham diversas secções CREDOR (entrando) – É.a.vigésima....não.me.lembro.se.quinta.ou.sétima.vez.que.venho.a.esta.casa.haver. aluguéis.de.casa!.E.talvez.ainda.hoje.saia.sem.dinheiro!.(À parte:) Mas.eles.hão.de.se.arranjar!.(A um dos empregados, o Contador) Vossa.Senhoria.faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.está.despachando. o.conteúdo,.ou.quer.que.seja,.quando.a.um.requerimento.que.aqui.tenho? CONTADOR –.Será....(lendo) Castro....Car....Cirilo,.Dilermando!? CREDOR –.Não!.É.um.requerimento.meu,.assinado.–.José.Joaqim.de.Qampos.Leão,.Qorpo-Santo. CONTADOR –.Ah!.Esse.está.no.chefe.da.quarta.secção. CREDOR –.Bem,.então.lá.irei..(Dirigindo-se ao chefe:) Faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.já.está.despachado. um.requerimento.que.aqui.tenho? CHEFE (apontado) – Fale.ali.com.o.Sr..Barbosa. CREDOR (dirigindo-se a este) –.Ainda.não.encontrou.o.que.procurava.a.meu.respeito? BARBOSA –.Ainda.não!.Há.aqui.tantos.papéis! CREDOR –.Ora,.com.efeito!.Pois.tanto.custa.ver.um.ofício.da.Presidência,.ou.ver.o.assentamento.que.em. virtude.desse.ofício.deve.existir.no.livro.competente?.Isto.é,.no.mesmo.em.que.se.acham.debitados. tais.aluguéis!?.(Senta-se.) Letras de luz.indd 88 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 89 CHEFE –.V..Exa..Não.adianta.nada.em.esperar.aqui!.Antes.atrasa.o.serviço.para.conseguir.o.que.quer;. deixe.estar.que.está.se.trabalhando! CREDOR –.Eu,.nem.venho.interromper,.nem.venho.adiantar!.Mas.apenas.saber!.Parece-me.cousa.tão. simples;.tão.fácil... BARBOSA –.São.três.ofícios.da.Presidência.que.o.Sr..Inspetor.quer.ver!.Não.é.um.só. CREDOR –.Srs.,.eu.já.sei.o.que.hei.de.fazer,.o.que.os.Srs..querem!.Voltarei.em.tempo! (Ao sair, encontra-se com outro.) O OUTRO –.Então,.não!?.(Dá-lhe uma caixa de fósforos.) CREDOR –.Estou.doente;.e.assim.fico.todas.as.vezes.que.venho.a.esta.casa,.e.dela.saio.sem.dinheiro! O OUTRO –.Então.fico.eu.pelo.Sr.!.(O Credor sai; e o Outro entra.) O OUTRO –.Muito.custa.esta.casa.pagar.a.quem.deve!.Faz-se.uma.dúzia.de.requerimentos.para.se.obter. um.despacho!.Cada.requerimento.leva.outra.dúzia.de.informações!.O.despacho.definitivo.obtém-se.por.milagre!.E.a.paga.ou.dinheiro.que.a.alguém.se.deve.–.quase.à.força,.ou.pela.força! UM DOS EMPREGADOS –.(para esse Indivíduo) –.Com.efeito!.O.Sr..é.audaz.de.mais! O OUTRO –.Não!.Não.é.por.audácia!.É.apenas.referir.o.que.se.passa....o.que.é.verídico! EMPREGADO –.Sim;.mas.nós.não.temos.culpa! O OUTRO –.Nem.eu.inculpo.a.alguém!.Mas.receio,.Srs.,.que.os.numerosos.incômodos.que.tenho.sofrimento,.pelo.procedimento.que.esta.repartição.para.comigo.–.vai.tendo;.os.vexames;.as.faltas;.as. privações;.e.até.as.enfermidades.que.tem.me.causado.e.numerosos.outros.transtornos,.farão.de. repente.com.que.se.espalhe.fogo.nestes.papéis.–.e.tudo.se.incendie.(Toca uma caixa de fósforos numa mesa; esta incendeia-se; ele a atira para as mesas de um dos lados; faz o mesmo à outra, e atira para outro lado; enquanto os empregados trabalham para apagar o fogo em alguns papéis que começam a incendiar-se, ele sai.) . (Já se vê que há descompostura; repreensões; atropelamento, carreiras em busca d’ água; ligeireza para seapagar; aparecimento de alguns outros empregados, ao ouvirem o grito de fogo, etc.) . Pode.acabar.assim;.ou.com.a.cena.da.entrada.do.Inspector,.repreendendo.a.todos.pelo.mal.que. cumprem.seus.deveres;.e.terminando.por.atirarem.com.livros.e.penas;.atracações.e.descomposturas,.etc. José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo. Em Porto Alegre, de 26 a 27 de Maio de 1866. Letras de luz.indd 89 29/11/10 17:30 90 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento APoStiLA 3 oficinA 3 – vozes em cena A arte de atuar Tragédia e Comédia objetivos: Máscaras símbolo do teatro. • • • realizar leituras dramáticas; • conhecer algumas curiosidades da história do teatro. conhecer especificidades do texto dramático; compreender o que é necessário para realizar uma leitura dramática, uma improvisação e a encenação de uma peça teatral; conteúdos: • • • o teatro e suas formas dramáticas; a leitura dramática; características do texto teatral. Desenvolvimento: O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo. à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema. 1. Abertura: a)..para.sensibilizar.para.o.gênero.abordado.nesse.encontro,.o.formador.pode.iniciar.a.oficina.com.a.leitura.de.um.texto.dramático.de.sua.escolha..De.preferência,.ele.deve.apresentar.os.motivos.de.sua.escolha,. as. razões. pelas. quais. o. texto. merece. ser. partilhado,. trechos. de. que. mais. gosta,. etc.. Há. na. apostila.alguns.exemplos.de.textos.que.podem.ser.lidos.nesse.momento; b) o. formador. apresenta. suas. considerações. sobre. as. aprendizagens. do. grupo,. com. relação. à. segunda. oficina:.Crônica.–.A.prosa.cotidiana; c)..em.seguida,.pode.realizar.uma.conversa.sobre.a.produção.dos.Diários.de.Leitura.para.garantir.a.socialização.dos.encaminhamentos.dados.por.cada.leitor.–.O.que.foi.lido.pelo.participante?.O.que.escreveu. sobre.as.leituras.realizadas,.os.cronistas.favoritos?.Quais.são.suas.impressões.sobre.a.produção.do.diá- Letras de luz.indd 90 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 91 rio?.Ele.foi.apresentado.para.alguém?.Em.algum.diário.foi.colada.uma.imagem.ou.outro.tipo.de.texto?. Por.fim,.o.formador.também.pode.fazer.a.leitura.de.um.trecho.de.seu.diário,.pois.ele.é.sempre.um. modelo.para.o.grupo; d) ao.socializar.os.registros.dos.diários,.os.participantes.também.comentam.as.leituras.das.obras.do.acervo.circulante:.quais.suas.impressões.sobre.os.livros.sugeridos?.Foi.possível.concluir.a.leitura?.Houve. dificuldades.em.compreender.o.texto?.Quais?.Se.fossem.indicar.o.título.para.outros.participantes,. quais.aspectos.ressaltariam?.Alguém.seguiu.alguma.recomendação.feita.no.encontro.anterior? Nesse.momento,.o.formador.poderá.retomar.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros.e.propor.uma.nova. troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.livros.trazidos.pelo.grupo.nessa.oficina. 2. Apresentação da apostila e conteúdos do encontro:.a.apresentação.da.apostila.com.a.leitura.e.realização.de.comentários.sobre:.título,.tema,.objetivos.e.conteúdos,.bibliografia.e.filmografia.utilizadas.possibilita.ao.grupo.a.aproximação.e.sensibilização.com.as.propostas.da.oficina. 3. O que é teatro?: o.formador.seleciona.apenas.um.trecho.do.vídeo.do.site.www.teatroparaalguem.com.br,. do.texto.Anúncio,.de.Richard..C.Haber.com.Heitor.Goldflus,.Antônio.Petrin,.Miriam.Mehler.e.Lulu. Pavarin..Para.isso,.ele.deve.assistir.ao.vídeo.com.antecedência,.selecionar.o.trecho.a.ser.reproduzido.e.planejar.como.o.mesmo.deve.ser.abordado. Em.seguida,.abre.uma.conversa.com.as.seguintes.questões:.o.que.é.o.teatro?.O.que.é.preciso.para.fazer. teatro?.É.importante.que.as.respostas.sejam.registradas.e.possam.ser.retomadas.ao.final.da.oficina. Teatro grego Na Grécia antiga o público se espalhava nas arquibancadas do teatro. Muitas foram as festas anuais em honra a Dionísio, deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer. Os festivais duravam quase uma semana e o povo podia apreciar os poe‑ tas, autores de tragédias ou de comédias. O público passava muitas horas assistindo as apresentações e lá fazia suas refei‑ ções. Muitos eram os aplausos quando apreciavam uma apre‑ sentação, mas, o protesto também se fazia grande com muito barulho (que chegava a interromper o espetáculo) ou até mes‑ mo com alimentos atirados nos atores. 4. Preparando o corpo: a)..O.corpo.é.o.instrumento.de.trabalho.do.ator..Para.isso,.ele.deve.investir.no.seu.preparo..O.formador. pode.propor.alguns.exercícios.para.o.aquecimento.do.corpo.e.da.voz. Todos.em.círculo: soltar mãos e pés; girar pescoço; soltar ombros; Letras de luz.indd 91 29/11/10 17:30 92 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento massagear o próprio rosto; fazer exercícios de voz: • pronunciar com exagero: FAÇAXÁ, FECEXÉ, FICIXI, FOÇOXÓ, FUÇUXU. O mesmo deve se repetir com • • • vibrar lábios; MANANHÁ e PATACÁ, BADAGÁ; estalar língua; e outros que souber ou pesquisar. b) Jogo: O porto – Nesse.exercício,.algumas.pessoas.participam.e.outras.observam,.para.depois.fazerem. comentários.sobre.as.expressões.utilizadas,.as.informações.e.os.sentimentos.transmitidos..A.proposta. que.o.formador.fará.é.a.seguinte:.você.está.em.um.porto.aguardando.a.chegada.de.alguém.muito.querido.que.não.vê.há.muito.tempo..Não.vale.falar,.apenas.expressar-se.corporalmente,.por.meio.do.olhar. e.dos.gestos.–.o.corpo.fala!.Passados.dois.ou.três.minutos,.o.exercício.é.encerrado.e.os.colegas.observadores.falarão.de.suas.impressões,.sentimentos.e.quais.foram.as.ações.realizadas.que.provocaram.isso. 5. Leitura e discussão – Texto-farol. Corpo e texto,. de. Celinha. Nascimento,. disponível. ao. final. desta. apostila..Para.realizar.a.atividade,.o.formador.pode.apresentar.o.conteúdo.do.texto.e.selecionar.trechos.para. a.leitura..Desse.modo,.poderá.contextualizar.a.experiência.vivida.na.atividade.anterior.(O.porto). 6. Vamos criar uma cena? O.formador.divide.a.sala.em.grupos.de.no.máximo.oito.pessoas.e.oferece.uma. situação.do.cotidiano.para.a.criação.de.uma.cena:.sala.de.espera,.fila.de.ônibus,.no.telefone.público,.no.supermercado,.etc. Os.grupos.se.dividem.e.em.15.minutos.planejam.e.ensaiam.a.cena..Depois.os.grupos.se.apresentam.e. fazem.uma.conversa.sobre.atuações,.ideias,.criações,.improvisos,.etc. Máscaras do teatro grego Para serem vistos das arquibancadas, os atores usavam grandes máscaras feitas com pedaços de tecidos engomados, sa‑ patos de sola alta e roupas acolchoadas. As vozes eram projetadas com o auxílio das máscaras. 7. A mesma frase com várias intenções: no.teatro,.o.texto.é.um.pretexto,.o.que.interessa.também.é.o. subtexto..Qual.a.intenção.do.ator?.O.que.ele.quer.transmitir?.Para.compreender.melhor.esse.fundamento. do.teatro,.o.formador.pede.aos.participantes.que.falem.a.frase: MAS.O.QUE.VOCÊ.QUER.QUE.EU.FAÇA? A.frase.será.dita.com.diferentes.intenções:.de.alguém.aflito,.nervoso,.com.raiva,.sedutor,.provocativo,. compreensivo,.cansado,.etc. Letras de luz.indd 92 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 93 Idade Média A princípio são encenados dramas litúrgicos em la‑ tim, escritos e representados por membros do clero. Os fiéis participam como figurantes e, mais tarde, como atores e misturam ao latim a língua falada no país. As peças, sobre o ciclo da Páscoa ou da Paixão, são longas, podendo durar vários dias. Na Idade Média também surgem os trovadores que contam lendas em canções. Trovadores Por volta de 1300 nasce o teatro Nô no Japão. 8. Leitura dramática: a.leitura.dramática.é.a.leitura.em.voz.alta.de.um.texto.teatral.para.um.público.. Uma.leitura.que.exige.interpretação.por.meio.da.entonação,.expressões.faciais.e.poucos.gestos..A.leitura. dramática.também.precisa.de.uma.direção,.da.mesma.forma.que.uma.peça.teatral,.e.pode.fazer.uso.de.iluminação,.trilha.sonora,.figurino.e.até.mesmo.cenário.ou.alguns.objetos.de.cena. Antes. de. iniciar. a. atividade,. o. formador. deve. apresentar. o.Texto-farol:. Traços e formas dramáticas,. de. Angélica.Soares,.disponível.nesta.apostila..Se.tiver.tempo,.pode.comentar.as.características.de.algumas.das. formas.dramáticas,.como.a.comédia.e.o.drama. Algumas.propostas.para.realizar.esta.atividade: a)..“ leitura.branca”.de.um.trecho.da.obra.selecionado.previamente.pelo.formador..Chama-se.de.leitura. branca.quando.não.há.a.preocupação.em.trabalhar.com.entonações.e.interpretações,.apenas.entrar.em. contato.com.o.que.diz.o.texto..Para.essa.atividade,.o.formador.pode.propor.os.textos.teatrais.anexados. a.esta.apostila; b)..assistir.à.mesma.cena.em.duas.versões.diferentes..A.ideia.aqui.é.que.os.participantes.observem.as. atuações.dos.atores.(voz,.corpo,.olhar,.pausas,.jogo.entre.os.atores.durante.a.cena)..Sugerimos.que.assistam.às.duas.adaptações.para.o.cinema.do.texto.O auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna,.indicadas.na.filmografia.desse.material; c)..realizar.leituras.dramáticas.da.mesma.cena.e.de.outras.(veja trechos de textos teatrais em anexo)..É.necessário.que.o.formador.possa.oferecer.alguns.instantes.para.a.leitura.silenciosa.do.texto..A.cada.leitura,.são.comentadas.as.interpretações,.possibilitando.que.o.grupo.perceba.as.diferenças.interpretativas. e.de.expressão. A leitura em voz alta Ao.ler.uma.história.em.voz.alta,.os.ouvintes.não.se.inteiram.apenas.do.conteúdo,.mas.também.entram. em.contato.com.a.linguagem.escrita.e.suas.características. Esta.atividade.tem.uma.grande.importância.para.o.desenvolvimento.da.competência.na.leitura.e.na.escrita,.pois,.além.de.o.leitor.público.colocá-los.em.contato.com.textos.escritos,.oferece.um.modelo.de.como.se.lê. Letras de luz.indd 93 29/11/10 17:30 94 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Commedia dell’arte – Forma teatral única no mundo desenvolveu‑se na Itália no século XVI e difundiu‑se em toda Europa nos séculos sucessivos, contribuiu na construção do teatro moderno. Teatro espe‑ tacular baseado na improvisação e no uso de máscaras e personagens estereotipados. O ator na commedia dell’arte, tinha um papel funda‑ mental cabendo‑lhe não só a interpretação do texto, mas também a contínua improvisação e inovação do mesmo. Malabarismo canto e outros feitos eram exigidos continuamente ao atorO uso das máscaras (exclusivamente para os homens) caracterizava os personagens geral‑ mente de origem popular: os zanni, entre os mais famosos vale a pena citar Arlequim, Pantaleão e Briguela. A enorme responsabilidade que tinha o ator em desenvolver o seu papel, com o passar do tempo, por‑ tou a uma especialização do mesmo, limitando‑o a desenvolver uma só personagem e a mantê‑la até a morte. 9. Conversa e leitura: retomar.a.conversa.sobre.a.questão:.o.que.é.teatro?.e.verificar.se.os.participantes. gostariam.de.acrescentar.algo.em.suas.respostas..Oferecer.outra.questão:.por.que.trabalhar.com.textos.teatrais?.O.que.podemos.aprender.com.eles?.Leitura.de.trechos.do.texto.O que os textos de diálogos escondem,.de. Priscila.Ramalho,.disponível.ao.final.desta.apostila. 10. Planejamento da tarefa:.nesta.atividade,.o.objetivo.é.planejar.uma.atividade.de.teatro.para.ser.realizada.com.um.grupo.da.escola,.comunidade.ou.pessoal..O.formador.apresenta.os.textos.da.revista.Nova Escola.em. anexo.e.pede.que.a.turma.se.divida.em.pequenos.grupos,.de.acordo.com.o.texto/proposta.de.sua.preferência. 11. Para o próximo encontro:.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.atividade.realizada. Os.participantes.deverão.trazer.ou.colar.em.seus.Diários.de.Leitura.uma.imagem.(fotografia,.quadro,. desenho,.filme).que.consideram.significativa,.justificando,.por.meio.de.um.pequeno.texto,.o.porquê.da.escolha.dessa.imagem. 12. Avaliação:.é.importante.fazer.uma.avaliação.do.encontro.para.identificar.se.os.objetivos.foram.cumpridos.e.o.que.deve.ser.melhorado.para.os.próximos.encontros..A.possibilidade.de.que.todos.se.pronunciem. é.fundamental.para.que.um.trabalho.de.longa.duração.atinja.os.resultados.esperados..O.formador.dará.retorno.dessa.avaliação.no.quarto.encontro. bibliografia básica BALL,.David Para trás e para frente: um guia para leitura de peças teatrais..Ed..Perspectiva Segundo.o.site.da.Livraria.da.Travessa,.esse.livro.é.um.guia.universal.para.a.leitura.de.roteiros.teatrais.e,.como.tal,. complementa.e.retifica.os.métodos.tradicionais.de.análise.literária.de.scripts..O.autor.ilustra.seu.método.com.excertos. do.Hamlet,.de.Shakespeare,.utilizando.uma.obra.de.importância.e.exemplaridade.mundialmente.reconhecida.e.oferece. grande.riqueza.de.elementos.para.a.abordagem.analítica. MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997 O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..O.capítulo.A leitura ouvida.fala.do.impacto.da.leitura.realizada.em.voz.alta.para.os.ouvintes.e.leitores.em.diferentes.épocas.e.lugares. Letras de luz.indd 94 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 95 REVERBEL,.Olga..Jogos teatrais na escola. 1ª.ed..São.Paulo,.Scipione,.1993. Obra.que.apresenta.vários.jogos.teatrais.e.dramáticos.adaptados.às.diferentes.faixas.etárias,.os.quais.favorecem,. entre.outros.aspectos,.o.relacionamento,.a.espontaneidade,.a.imaginação.e.a.percepção.das.crianças.de.ensino.fundamental. SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005 A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num. esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.os.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos. textos.literários..Pertence.à.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora. ____.O teatro no mundo. São.Paulo:.Melhoramentos,.1995. Um.livro.lindo.para.ler.e.explorar.e.que.fala.sobre.as.origens.do.teatro.e.suas.manifestações.no.mundo. filmografia A compadecida,.de.George.Jonas,.Alpha.Filmes,.Brasil,.1967. O auto da compadecida,.de.Guel.Arraes,.Globo.Filmes,.Brasil,.2000. Os.dois.filmes,.um.produzido.em.1967.e.o.outro.em.2000,.foram.baseados.na.peça.teatral.de.Ariano.Suassuna..A. história.se.passa.em.Taperoá,.sertão.da.Paraíba..Chico.e.João.Grilo.são.amigos.e.andam.pelas.ruas.anunciando.a.Paixão de Cristo..Eles.se.metem.em.muitas.confusões,.que.são.solucionadas.com.artimanhas.e.trazem.novos.problemas..Com. a.chegada.do.cangaceiro.Severino,.João.Grilo.e.outros.personagens.morrem.e.se.encontram.no.Juízo.Final,.onde.serão. julgados.por.um.Jesus.negro.e.pelo.diabo..Nossa.senhora,.a.compadecida,.intercederá.por.cada.um.deles.e.em.especial. por.João.Grilo..No.primeiro.filme,.a.personagem.de.Nossa.Senhora.é.interpretada.por.Regina.Duarte.e.no.segundo. por.Fernanda.Montenegro. Mais estranho que a ficção, de.Marc.Foster,.Columbia.Pictures,.EUA,.2006. A.comédia.conta.a.história.de.um.homem.que.um.dia.passa.a.ouvir.uma.voz.feminina,.que.narra.exatamente.seus. pensamentos,.atos.e.sentimentos..Apenas.ele.pode.ouvir.a.voz..Quando.ela.diz.que.ele.está.prestes.a.morrer,.ele.busca. algum.meio.de.evitar.que.isso.ocorra..Com.Dustin.Hoffman,.Emma.Thompson.e.outros. Sites interessantes www.cbtij.org.br. O.CBTIJ.–.Centro.Brasileiro.de.Teatro.para.a.Infância.e.Juventude.criado,.em.dezembro.de.1995,.por.profissionais. da.área.de.teatro.para.crianças..Uma.entidade.sem.fins.lucrativos.que.visa.à.união.dos.profissionais.da.área.e.a.expansão. de.um.teatro.de.qualidade.que.contribua.para.a.formação.da.infância.e.da.juventude.brasileira..Entre.os.objetivos.da. entidade.está.o.de.promover.ações.para.a.divulgação,.a.difusão.e.o.desenvolvimento.do.teatro,.defendendo.a.profissionalização.da.classe. www.ctac.gov.br.. Site.do.Centro.Técnico.de.Artes.Cênicas.–.Programas.de.ação,.estilos.de.teatro,.pesquisa.bibliográfica. www.teatroparaalguem.com.br.. Uma.casa.transformada.em.teatro.para.assistir.a.peças.pela.internet..Dica:.Assistam.no.sótão.da.casa:.Anúncio,.de. Richard.C..Haber,.com.Heitor.Goldflus,.Antônio.Petrin,.Miriam.Mehler.e.Lulu.Pavarin. Letras de luz.indd 95 29/11/10 17:30 96 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento www.canalkids.com.br/arte/teatro/historia.htm.. Site.para.as.crianças..Dentre.outras.atrações,.conta.de.uma.maneira.muito.gostosa.e.divertida.a.história.do.teatro. www.teatrocompleto.hpg.ig.com.br/cultura_e_curiosidades/53/index_pri_1.html.. Site.com.a.História.do.teatro.–.Textos.didáticos.e.peças.teatrais.de.João.Pedro.Roriz. www.sbat.com.br.. Sociedade.Brasileira.de.Autores,.criada.em.1917.em.defesa.do.direito.autoral. Willian Shakespeare (1564‑1616) Comediante e poeta dramático inglês, um dos maiores nomes do teatro mundial de todos os tempos. Maria Clara Machado (1921‑2001) Escritora e dramaturga brasileira, autora de famosas peças infantis, dentre elas: Pluft, o fantasminha. Fundadora do Tablado, escola de teatro do Rio de Janeiro Eugène Ionesco (1912‑1994) Nasceu na Romênia e viveu na França até os 13 anos. Em 1959, tornou‑se o líder do “teatro do absurdo”. Sua primeira peça – A cantora careca – desconcertou os espectadores da época. Nelson Rodrigues (1912-1980) Importante jornalista, cronista de futebol, escritor e dramaturgo. Vestido de noiva é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro Letras de luz.indd 96 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 97 texto-farol 1 Corpo e texto, de celinha nascimento Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto Letras de Luz. O texto apresentado é um trecho da Palestra Corpo e Texto, durante 15º COLE – Unicamp – 2005. “Atravessando.as.chamas.do.Purgatório,.sobem.Virgílio,.Estácio.e.Dante.uma.escada.onde.o.sono.vence. o.florentino..Despertando,.ouve.Virgílio.anunciar.terminada.a.missão.que.Beatriz.lhe.confiara..Nada.mais. terá.a.dizer-lhe.pela.voz.ou.pelo.aceno:.–.Non aspettar mio dir piu né mio cenno..E.não.fala.mais..Admira-se. das.maravilhas.vistas.e,.quando.Dante.procura-o,.não.mais.o.vê..A.grande.alma.pagã.regressara.ao.nobile castello,.afastando-se.das.proximidades.da.Redenção.paradisíaca..A.Voz.e.a.Gesto.valiam,.para.ele,.a.mesma. função.transmissora..O.Povo.concorda.” Debatemos.a.origem.da.voz.articulada.e.a.época.do.seu.aparecimento..Falaria.o.Homem.Musteriano,.o. infra-homem.de.Neandertal?.A.maioria.dos.etnólogos.é.pela.afirmativa,.concedendo-lhes.rudimentos.de. linguagem..Nenhum.fundamento.anatômico.evidenciará.a.decisão..Teria,.provavelmente,.a sua.linguagem,. meio.de.convívio.do.pensamento,.que.não.é.privativo.da.espécie.humana..Indiscutível.é.que.falava.o.Homo sapiens.do.Paleolítico.superior,.o.alto,.robusto.e.equilibrado.povoador.do.Aurnacense..Pintando,.esculpindo,. gravando..Não.podia.evidentemente.ser.o.Homo aladus..E.houve.época.no.Mundo.em.que.o.Homem,.em. qualquer.escala.anterior.à.sua.mutação,.fosse.incomunicado,.mudo,.silencioso?.O.Gesto,.antes.das.interjeições.e.onomatopéias,.supriria.essa.deficiência.oral..Dante,.há.sete.séculos,.proclamava.a.comunicação.tátil. entre.as.formigas..Traduz.Xavier.Pinheiro: Assim.da.negra.legião.saída, Em.marcha,.toca.em.uma.outra.formiga, Por.saber.do.caminho.ou.sorte.havida. Toda.a.bibliografia.sobre.o.Gesto,.tradutor.da.ideia.e.primeira.linguagem.humana,.demonstra.a.universalidade.de.alguns.acenos.sobre.os.próprios.vocábulos.mais.essenciais.e.vivos..Há.gestos.cobrindo.áreas.demarcadas. de. uso,. jamais. correspondentes. à. equivalência. verbal.. De. sua. valorização. como. documento. psicológico,.anormal.e.normal.da.sinergia.nervosa,.potência.de.evocação,.indispensabilidade.como.fórmula. complementar.da.voz,.elemento.excitador.do.desenvolvimento.cerebral..Pai.da.Inteligência,.todas.as.pesquisas.ainda.não.fixaram.os.justos.limites.da.grandeza.positiva.no.alcance.da.repercussão.comunicante..A.geografia. de. determinados. ademanes,. antiguidade. de. uns. e. modificações. de. outros,. os. instintivos. e. os. convencionais.com.ampla.franja.intermediária.dos.gestos.interdependentes,.de.novas.atitudes.provocadoras. de.sua.utilização,.os.processos.mecânicos.e.renovadores.da.significação,.levam.os.problemas.da.investigação. e.da.análise.a.um.nível.distinto.de.exame.e.de.cultura.especializada..O.estudo.do.Gesto,.o.gesto.popular.e. geral.e.o.gesto.dos.profissionais,.característicos.como.uma.“permanente”.etnografia,.os.típicos.ligados.a.uma. ação.e.os.indefinidos,.tendentes.à.abstração.negaceante.consistiriam.uma.sistemática.tão.preciosa.quanto,.no. campo.filológico,.é.a.Semântica. Letras de luz.indd 97 29/11/10 17:30 98 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento O.Gesto.é.anterior.à.Palavra..Dedos.e.braços.falaram.milênios.antes.da.Voz..As.áreas.do.Entendimento. mímico.são.infinitamente.superiores.às.da.comunicação.verbal..A.Mímica.não.é.complementar,.mas.uma. provocação.ao.exercício.da.oralidade..Sem.gestos,.a.Palavra.é.precária.e.pobre.para.o.entendimento.temático..Antes.das.interjeições.primárias,.a.Mão.traduzia.a.mensagem.útil. O.Gesto.é.a.comunicação.essencial,.nítida,.positiva..Não.há.retórica.mímica,.apenas.reiteração.da.mensagem..Essa.limitação.recorda.o.inicial.uso.entre.seres.humanos,.quando.o.metal.era.pedra.e.a.caverna.abrigava.a.família.nas.horas.da.noite.misteriosa..“Aprende.com.os.mudos.o.segredo.dos.gestos.expressivos”,. aconselhava.Leonardo.da.Vinci..A.Palavra.muda..O.Gesto.não”. Tomamos.emprestadas.as.sábias.palavras.de.Câmara.Cascudo.na.apresentação.do.seu.livro-documento. “História.dos.Nossos.Gestos”,.para.alinhavar.nosso.começo.de.conversa.sobre.a.viagem.da.palavra..Palavra. que.nasce.no.corpo,.via.gesto,.via.ideia,.via.dança,.via.canto,.via.grito,.via.choro,.via.gargalhada..Depois.de.ser. corpo,.virou.e.vira.palavra.escrita.e.precisa.novamente.de.um.corpo.para.ser.compreendida.e.para.isso.volta. a.ser.gesto,.dança,.canto,.grito,.choro,.gargalhada.e.pode.ser.lida,.dita,.cantada,.na.quietude.do.colo.de.leitores.solitários.ou.na.multidão.dos.teatros.e.apresentações.públicas. Nessa.viagem,.a.palavra.se.encontra.com.alguns.de.seus.trabalhadores:.o.escritor,.o.leitor.e.o.ouvinte,.cada. qual.contribuindo.para.que.ela.ganhe.sentido.e.carregue.emoções. Cada.qual.a.sua.maneira.e.dentro.de.sua.especialidade:.leitores,.contadores.de.história,.cantores,.bailarinos,.atores,.tradutores.em.braile.e.em.libras.emprestam.seu.corpo.para.que.as.palavras.sejam.compreendidas. E.acontece.agora.uma.viagem.da.multiplicação..A.flor.que.foi.ideia.do.escritor.e.virou.palavra.escrita.e. depois.virou.palavra.viva.lida.e.interpretada,.se.transforma.em.muitas.flores.nas.vozes.e.gestos.dos.seus.tradutores.e.no.corpo.que.as.vê,.ouve,.ou.sente.de.alguma.maneira. Daí.dizermos.que.a.palavra.escrita.ou.falada.possui.muitas.vozes,.tantas.quantas.são.seus.leitores.e.ouvintes. Saber.dizê-la.bem.é.contribuir.para.que.ela.cumpra.o.destino.de.ser.compreendida.em.inúmeros.contextos.diferentes.por.ouvintes.que.nunca.tiveram.nenhuma.experiência.com.o.que.está.sendo.dito,.podendo. nesse.esforço.perder.ou.ganhar.características,.sem,.porém,.abandonar.o.desejo.e.necessidade.de.ser.fiel.com. quem.a.criou. texto-farol 2 Traços e formas dramáticas, de Angélica Soares Angélica Soares é doutora em Letras e professora da universidade Federal do Rio de janeiro. Publicou entre outros títulos, o poema, construção às avessas e A celebração da poesia. JOÃO.GRILO.–.Padre.João!.Padre.João! PADRE.(aparecendo na Igreja).–.Que.há?Que.gritaria.é.essa? (Fala afetadamente com aquela pronúncia e aquele estilo que Leon Bloy chamava “sacerdotais”.) Letras de luz.indd 98 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 99 CHICÓ.–.Mandaram.avisar.para.o.senhor.não.sair,.porque.vem.uma.pessoa.aqui.trazer.um.cachorro.que. está.se.ultimando.para.o.senhor.benzer. PADRE.–.Para.eu.benzer? CHICÓ.–.Sim. PADRE.–.(Com desprezo).–.Um.Cachorro? CHICÓ.–.Sim. PADRE.–.Que.maluquice!.Que.besteira! JOÃO.GRILO.–.Cansei.de.dizer.a.ele.que.o.senhor.não.benzia..Benze.porque.benze,.vim.com.ele. PADRE.–.Não.benzo.de.jeito.nenhum. CHICÓ.–.Mas,.padre,.não.vejo.nada.de.mal.em.se.benzer.o.bicho. JOÃO.GRILO.–.No.dia.em.que.chegou.o.motor.novo.do.Major.Antonio.Morais.o.senhor.não.benzeu? PADRE.–.Motor.é.diferente,.é.uma.coisa.que.todo.mundo.benze..Cachorro.é.que.eu.nunca.ouvi.falar. CHICÓ.–.Eu.acho.cachorro.uma.coisa.melhor.do.que.motor. PADRE.–.É,.mas.quem.vai.ficar.engraçado.sou.eu,.benzendo.o.cachorro..Benzer.motor.é.fácil,.todo.mundo. faz.isso,.mas.benzer.cachorro? JOÃO.GRILO.–.É.Chico,.o.padre.tem.razão....Quem.vai.ficar.engraçado.é.ele.e.uma.coisa.é.benzer.o.motor.do.Major.Antônio.Morais.e.outra.é.benzer.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais. PADRE.–.(Mão em concha no ouvido?) Como? JOÃO.GRILO.–.Eu.disse.que.uma.coisa.era.o.motor.e.outra.é.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais. PADRE.–.E.o.dono.do.cachorro.de.quem.vocês.estão.falando.é.Antonio.Morais? JOÃO.GRILO.–.É,.eu.não.queria.vir,.com.medo.de.que.o.senhor.se.zangasse,.mas.o.Major.é.rico.e.poderoso.e.eu.trabalho.na.mina.dele..Com.medo.de.perder.meu.emprego,.fui.forçado.a.obedecer,. mas.disse.a.Chico:.o.padre.vai.se.zangar. PADRE.–.(desfazendo em sorrisos) –.Zangar.nada,.João!.Quem.é.um.ministro.de.Deus.para.ter.direito.de.se. zangar?.Falei.por.falar,.mas.também.vocês.não.tinham.dito.de.quem.era.o.cachorro. Citamos,.acima,.um.trecho.do.Auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna..Auto.é.uma.modalidade.do.gênero.dramático.ligada.aos.mistérios.e.às.moralidades.e,.na.Idade.Média,.designou.toda.peça.curta.de.tema. religioso.ou.profano..Ele.equivaleria.a.um.ato.que.viesse.a.integrar.um.espetáculo.maior.e.completo,.daí.o. nome.de.auto. Os.mistérios.são.peças.teatrais,.cujos.temas.são.retirados.das.sagradas.escrituras.para.transmitir.ao.povo,.de.forma.acessível.e.concreta,.a.história.da.religião,.os.dogmas.e.os.artigos.da.fé. Nas moralidades,. os.temas.histórico-concretos.dos.mistérios.são.substituídos.por.argumentos.abstrato-típicos,.que.mostram. o.conflito.do.homem,.em.face.do.Bem.e.do.Mal. Suassuna.traz.para.os.nossos.dias.aquela.forma.dramática,.que.teve.com.Gil.Vicente,.um.dos.maiores. escritores.portugueses.do.século.XVI,.seu.apogeu.em.língua.portuguesa..O.auto.vicentino.era.de.temática. religiosa..A.designação.de.farsa.era.dada.às.peças.de.assunto.profano. No.nosso.exemplo,.podemos.observar.que.o.dramático,.como.indica.a.própria.origem.da.palavra.(drama. vem.do.verbo.grego.dráo.=.fazer),.é.ação..Por.isso,.o.mundo.nele.representado.(pois.o.texto.dramático.se. completa.na.representação).apresenta-se.como.se.existisse.por.si.mesmo,.sem a interferência de um narrador.. Importante.é.notarmos.que.o.objetivo.do.escritor.não.é.cada.passagem.por.si,.como.na.epopéia,.nem.o. modo.especial.de.transmitir.emocionalmente.um.tema,.como.no.poema.lírico,.mas.a meta a alcançar. Assim. Letras de luz.indd 99 29/11/10 17:30 100 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento é.que.tudo.se.projeta.para.o.final,.através.da.manutenção.de.uma.forte expectativa,.que.desemboca.no.desfecho.ou.solução. Arlecchino, personagem da Commedia dell’ Arte – semelhanças com os personagens Chicó e João Grilo. O.curto.trecho.do.Auto da compadecida.nos.leva.a.querer.saber.o.que.acontecerá.depois.que.o.padre,.levado. pela. cobiça,. começa. a. admitir. a. possibilidade. de. benzer. o. cachorro,. cujo. dono. ele. pensava. que. era. o. Major..Isto.porque.cada.parte.de.uma.peça.dramática.se.liga.a.outras,.de.tal.forma.que.é.sempre.consequência.da.anterior.e.causa.da.seguinte..Essa.interdependência.das.partes.é.responsável.pela.tensão.que,.por.sua. vez,.exige.a.concentração.no.essencial.e.a.aceleração.do.tempo,.para.que.nada.se.perca,.nem.se.veja.prejudicado.o.sentido.do.todo..É.o.que.Aristóteles.chamou.de.unidade.de.ação. O.diálogo.é.a.forma.própria.para.que.as.personagens.ajam.sem.qualquer.mediação,.dando-nos.sempre.a. impressão,.até.mesmo.nos.dramas.históricos,.de.que.tudo.está.acontecendo.pela.primeira.vez. Segundo.Emil.Staiger,.o.dramático.reúne.o.pathos.e.o.problema..Conceitua.pathos.como.o.tom.da.linguagem.que.comove,.que.provoca.paixão,.envolvendo.o.espectador.que.passa.a.vivenciar,.com.o.ator,.a.dor.ou.o. prazer..Já.o.problema.seria.a.proposição,.aquilo.que.o.autor.do.texto.dramático.se.propõe.a.resolver..Assim,. unem-se.o.querer.do.patético.e.o.questionar.do.problemático,.conduzindo.sempre.a.ação.para.adiante,.para.o. futuro,.que.equivale.ao.desfecho..As.perguntas.do.problema.vão.sendo.respondidas.pela.força.progressiva.do. pathos.que,.eliminando.as.distâncias.entre.ator.e.espectador,.leva.este,.obrigatoriamente,.à.simpatia. (...) Pathos é uma palavra grega que significa “paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento e assujeitamento”. Obtido em “http://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos” Letras de luz.indd 100 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 101 A tragédia É.forma.dramática.surgida.no.século.V.a.c..no.mundo.grego,.época.de.crise.de.valores,.de.choque.entre. o.racional.e.o.mítico..E,.segundo.Aristóteles,.teria.origem.no.ditirambo.(canto.em.louvor.a.Dionísio),.passando.por.uma.fase.satírica,.até.fixar-se.com.todas.as.suas.características..A.proposta.aristotélica.liga-se.à. etimologia.da.palavra.tragédia:.de.tragos.(bode).+.oide.(canto)..O.coro.dionísico.era.formado.por.coreutas. que.cantavam.e.dançavam.usando.máscaras.de.sátiros. No.capítulo.VI.de.sua.Poética,.Aristóteles.conceitua.a.tragédia.como.a.mímesis.de.uma.ação.de.caráter. elevado.(importante.e.completa),.num.estilo.agradável,.executada.por.atores.que.representam.os.homens.de. mais.forte.psique,.tendo.por.finalidade.suscitar.terror.e.piedade.e.obter.a.catarse.(libertação).dessas.emoções. O.herói.trágico.vê-se.sempre.entre.duas.forças.opostas:.o.ethos,.seu.próprio.caráter,.e.o.dáimon.(destino),. e.se.movimenta.em.um.mundo.também.trágico,.no.qual.se.encontram.em.tensão.a.organização.social.e.jurídica,.caracterizadora.da.época,.e.a.tradição.mítica.e.heróica..(...) Ainda.hoje.temos.o.sentido.do.trágico.toda.vez.que.vemos.destruída.a.razão.de.uma.existência,.toda.vez. que.o.homem.se.vê.impelido.a.uma.fatalidade..No.entanto,.a.tragédia,.tal.como.a.conceituamos,.não.é.mais. possível.em.nossos.tempos.de.valores.tão.relativos,.quando.não.mais.podemos.responder.qual.é.a.medida.do. homem. A comédia Para.conceituar.a.comédia.podemos.recorrer.ainda.a.Aristóteles..Segundo.ele,.essa.forma.dramática.se. volta.para.os.homens.de.mais.fraca.psique,.através.da.mímesis.daqueles.vícios.que,.não.causando.sofrimento,. caem.no.ridículo.e.produzem.o.riso..A.etimologia.do.vocábulo.“comédia”.(komoidía).nos.permite.ligar.a. origem.dessa.forma.dramática.ao.festejo.popular.(komos).ou.a.kómas.(aldeia),.pois.os.atores.cômicos.andavam.de.uma.aldeia.para.outra,.por.não.serem.prestigiados.na.cidade. Na.comédia,.a.tensão.própria.do.gênero.dramático.é.extravasada.com.o.riso..O.problema.apresentado,. cuja.resposta.deve.ser.conseguida.através.da.linguagem.do.pathos,.resolve-se.em.etapas.sucessivas.e.se.dispersa. em. tiradas. ridículas.. Há,. assim,. uma. acomodação. no. cômico,. que. impede. o. desmoronamento. do. mundo.da.personagem..Alguns.teóricos.acentuam,.na.comédia,.o.sentido.do.insólito,.do.imprevisível.ou. da.surpresa,.bem.como.o.aspecto.de.sátira.de.situações.sociais.ou.individuais,.como.um.efeito.de.correção.de. costumes..Costuma-se.destacar.ainda.o.fato.de.que.o.cômico.e.o.riso.incluem.uma.contradição.ou.incongruência,.manifestada.na.reunião.de.objetos,.acontecimentos.ou.significados.que,.em.geral,.não.são.vivenciados.conjuntamente. (...) o drama A.palavra.drama.se.emprega:.1º).para.designar.o.gênero.dramático.em.geral;.2º).como.sinônimo.de.peça. teatral;.3º).como.uma.forma.dramática.específica,.que.resulta.do.hibridismo.da.tragédia.com.a.comédia. Com.essa.terceira.acepção,.surge.o.drama,.na.primeira.metade.do.século.XVIII,.como.criação.do.dramaturgo.francês.Nivelle.de.La.Chaussée,.que.o.designou.“comedie.larmoyante”.(comédia.lacrimejante),. Letras de luz.indd 101 29/11/10 17:30 102 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento sendo.acompanhado.pelo.drama.burguês.de.Diderot,.que.substitui.personagens.da.história.greco-romana. por.cidadãos.burgueses.de.seu.tempo,.localizados.em.seu.espaço.próprio.e.em.condições.específicas.de.sua. classe.social. Com. o. Romantismo,. caracterizado,. sobretudo,. pela. oposição. às. regras. clássicas. de. produção. literária,. propõe-se.a.mistura.de.gêneros,.fervorosamente.defendida.por.Victor.Hugo,.em.seu.famoso.“Prefácio“.de. Cromwell.(1827),.onde.apresenta.o.drama.romântico.como.resultado.da.fusão.entre.o.grotesco.e.o.sublime,. o.terrível.e.a.bufonaria,.a.tragédia.e.a.comédia. Em.meados.do.século.XIX,.o.drama.vai.abandonando.os.temas.históricos.(“drama.de.capa.e.espada”).e. volta-se.para.a.produção.de.um.teatro.de.atualidade.(“drama.de.casaca”).iniciado.pela.célebre.Dama.das. Camélias,.de.Alexandre.Dumas.Filho..Essa.modalidade.do.drama.atravessaria.o.Realismo.e.o.Naturalismo. Contemporaneamente.chamamos.de.drama,.em.oposição.à.comédia,.a.peça.teatral.construída.com.base. em.tensões.sociais.ou.individuais,.que.recebem.um.tratamento.sério.e.até.solene. Dois.designativos.são.ainda,.de.alguma.forma,.ligados.ao.drama:.a.tragicomédia.(peça.que.mesclava.o. cômico.e.o.trágico,.do.século.XVI.ao.XVIII,.quando.se.defendia.a.pureza.dos.gêneros).e.o.melodrama.(peça. que,.explorando.um.sentimentalismo.exagerado,.não.raro.desemboca.no.patético,.em.mistérios,.cenas.de. medo,.comicidade.e.enganos,.que.se.desfazem.milagrosamente). Fonte: Texto extraído do livro Gêneros literários, de Angélica Soares. Editora Ática, São Paulo, 2005 páginas 57 a 64 AnexoS DA APoStiLA 3 O que os textos de diálogos escondem “Não.basta.ler.as.falas..É.preciso.dominar.o.contexto.para.compreender. plenamente.um.texto.de.teatro.ou.uma.entrevista.” Priscila Ramalho Textos.em.forma.de.diálogo.costumam.atrair.o.leitor.iniciante..Por.dois.motivos:.porque.em.geral.são. mais.leves.e.porque.a.conversação.é.uma.das.práticas.mais.comuns.no.dia-a-dia..As.pessoas.se.cumprimentam,.dão.orientação,.argumentam,.expressam.ideias.e.opiniões....“Pelo.que.dizemos.é.possível.identificar. crenças,.valores.e.posições.ideológicas”,.explica.a.consultora.Maria.José.Nóbrega..Na.literatura.não.é.muito. diferente.. As. declarações. dos. personagens. complementam,. esclarecem,. trazem. informações. novas. e. importantes.que.se.juntam.ao.que.é.relatado.pelo.narrador..“Essa.pluralidade.de.vozes.abre.espaço.para.a. polêmica.” O.problema.é.que.muitas.vezes.o.aluno.aborda.o.diálogo.de.forma.ingênua..Ele.tende.a.se.fixar.no.conteúdo.das.falas.e.não.percebe.que.o.modo.como.são.enunciadas.também.revela.muito..As.expressões.usadas,. o.vocabulário,.a.estrutura.sintática,.o.trecho.em.que.foram.encaixadas.num.texto.bem.elaborado,.nada.está. ali.à.toa. É.exatamente.nesse.“conteúdo.oculto”.que.você.deve.focar.seu.trabalho..Parta.do.pressuposto.de.que.o. autor.se.preocupou.com.cada.detalhe.durante.a.construção.das.conversações..E.que,.portanto,.existem,.escondidas.nas.entrelinhas,.informações.riquíssimas..É.preciso.inferi-las.por.meio.de.uma.análise.cuidadosa. Letras de luz.indd 102 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 103 Outra.dificuldade.dos.jovens,.segundo.Maria.José,.é.perceber.as.relações.entre.o.trecho.dialogado.e.o. restante.do.texto..Para.ajudá-los.a.integrar.as.partes,.chame.a.atenção.para.as.técnicas.usadas.pelo.autor.. Conheça.alguns.mecanismos.usados.na.redação.de.uma.entrevista.e.de.uma.peça.de.teatro,.dois.gêneros.em. que.há.o.predomínio.do.diálogo,.e.confira.dois.planos.de.aula.para.trabalhar.esse.conteúdo.com.turmas.de. 5ª.a.8ª.série.. A leitura do teatro Os.diálogos.teatrais.são.os.que.mais.bem.imitam.as.situações.reais..Neles.os.personagens.conversam.entre. si.para.dar.ao.espectador.a.sensação.de.estar.dentro.da.cena..Na.peça.de.teatro.não.existe.a.figura.do.narrador,. apenas.os.diálogos.e.as.rubricas.que.orientam.o.leitor.ou.o.diretor.sobre.a.montagem.da.cena,.o.figurino.usado. pelos.personagens.e.a.entonação.da.voz,.por.exemplo..A.maneira.como.as.coisas.são.ditas.permite.ao.leitor. fazer.inferências.sobre.as.características.de.cada.personagem.e.compreender.os.conflitos.da.trama. Veja,.abaixo,.um.trecho.extraído.da.peça.O beijo no asfalto,.de.Nelson.Rodrigues..Nele.não.são.as.palavras. em.si,.mas.a.estrutura.das.frases,.as.observações.das.rubricas.e.a.pontuação.que.revelam.a.insegurança.do. personagem..“Explicar.o.processo.de.construção.de.uma.peça.de.teatro,.o.que.são.as.rubricas.e.como.são. divididas.as.cenas.também.facilita.muito.a.leitura”,.afirma.o.professor.Alexandre.Mate,.mestre.em.teatro. pela.Universidade.de.São.Paulo. CUNHA.(rápido e incisivo) Gosta.de.sua.mulher,.rapaz?. (Arandir, por um momento, acompanha o movimento do fotógrafo que se prepara para bater uma nova fotografia). ARANDIR.Naturalmente!. CUNHA (com agressividade policial).E.não.usa.nada.no.dedo.por.quê?. ARANDIR (atarantado).Um.dia,.no.banheiro,.caiu..Caiu.a.aliança..No.ralo.do.banheiro.. AMADO Casado.há.quanto.tempo?. ARANDIR Eu?. CUNHA Gosta.de.mulher,.rapaz?. ARANDIR (desesperado).Quase.um.ano!. Plano de aula Quando.trabalhar.a.leitura.de.peças.de.teatro.em.sala.de.aula,.procure.levar.os.estudantes.a.enxergar.além. do.conteúdo.explícito.no.texto..Sugira.que.os.jovens.descrevam.os.traços.que.caracterizam.os.personagens. que.participam.da.ação..É.preciso.chamar.a.atenção.para.a.relação.entre.essas.características.e.o.modo.como. eles.se.expressam.e.para.as.alterações.no.discurso.quando.conversam.uns.com.os.outros. Num.segundo.momento,.peça.à.turma.que.transforme.alguns.contos.e.crônicas.em.peças.teatrais..O. exercício.permite.adquirir.maior.clareza.da.história.e.dominar.os.mecanismos.usados.no.processo.de.construção.desse.gênero. Escolha.um.autor..Convide.os.alunos.a.selecionar.um.conto.ou.uma.crônica.desse.escritor.para.transformar.em.peça.de.teatro..Repare.que.para.encontrar.o.melhor.texto.eles.vão.precisar.ler.muito. Letras de luz.indd 103 29/11/10 17:30 104 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Selecione.algumas.peças.de.teatro.e.leve.para.a.classe..Esses.textos.são.essenciais.para.a.turma.ter.como. parâmetro..Todos.devem.ler.vários.deles.para.se.apropriar.das.características.específicas.do.gênero. Solicite.que.os.estudantes.passem.a.obra.selecionada.para.a.forma.dramática..O.trabalho.inclui.a.elaboração.dos.diálogos.e.a.redação.de.várias.rubricas.com.as.indicações.sobre.os.cenários,.as.movimentações,.a. entonação.da.voz.dos.diferentes.personagens... Para. finalizar. a. tarefa,. convide. os. estudantes. a. ensaiar. a. leitura. dramática.. Se. houver. possibilidade,. o. melhor.é.montar.o.espetáculo.e.apresentá-lo.às.demais.turmas. (...) Um pouco de história Os primeiros e mais conhecidos diálogos são atribuídos ao filósofo grego Platão (429-347). Apesar de ter aprendido a importância da conversação com Sócrates, de quem era discípulo, foi Platão o primeiro a adotar esse método para escrever textos filosóficos. As ideias têm de ser deduzidas com base no que dizem os personagens criados por ele. O personagem principal dos primeiros diálogos de sua autoria é Sócrates. Foi a forma encontrada por Platão para eternizar as ideias do mestre, que não deixou nada escrito. À medida que vai amadurecendo as próprias concepções, no entanto, ele passa a criar personagens para exprimi-las. Eles discutem assuntos complexos como a natureza humana, a virtude, a sabedoria, a justiça e, principalmente, a política seu tema preferido. Os diálogos, enriquecidos com exemplos da vida cotidiana, contribuíram para que as ideias platônicas atingissem mais facilmente o grande público. Veja o trecho abaixo, extraído de O Banquete, em que os personagens Sócrates e Diotima discutem sobre o amor: – Que seria então o amor, ó Diotima? Um mortal? – Como nos casos anteriores, algo entre mortal e imortal. – O que, então, ó Diotima? – Um grande gênio, ó Sócrates. E, com efeito, tudo o que é gênio está entre um deus e um mortal. – E com que poder? O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens o que vem dos deuses, de um as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo. Fonte: revista Nova Escola – ed. 163 – junho/2003. Letras de luz.indd 104 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 105 Dramaturgia e memória A produção de uma peça sobre o poeta e ator mário Lago ensina a turma a interpretar e a cantar antigos sucessos Paulo Araújo ([email protected]) Apaixonada.por.teatro.e.literatura,.a.professora.Maria.Lúcia.Peres,.da.EM.Raymundo.Corrêa,.no.Rio.de. Janeiro,.levou.seus.alunos.da.4a.série.para.visitar.uma.exposição.de.fotos.e.vídeos.sobre.o.século.19.no.Instituto.Moreira.Salles..Lá,.ela.mostrou.aos.pequenos.como.eram.a.cidade.e.os.personagens.daquela.época.e. encerrou.a.visita.contando.o.enredo.de.Memórias.Póstumas.de.Brás.Cubas,.de.Machado.de.Assis..“O.aspecto.misterioso.da.narrativa.não.saiu.da.cabeça.da.garotada.durante.várias.semanas”,.conta.Maria.Lúcia.. Na.mesma.época,.a.Secretaria.Municipal.de.Educação.propôs.às.escolas.da.rede.a.realização.de.um.projeto. de.dramaturgia.para.resgatar.a.memória.de.artistas.cariocas.falecidos..Bingo!.Essa.era.uma.ótima.chance.de. reviver.a.história.do.defunto.que.volta.para.contar.a.própria.vida..Decidiram.então.fazer.um.musical.com.o. mesmo.argumento.para.retratar.a.trajetória.do.ator,.poeta.e.ativista.político.Mário.Lago.(1911-2002)..“Os. alunos.aprenderam.ao.longo.de.três.meses.a.decorar.textos,.interpretar,.coreografar,.combinar.figurinos.e. cenários.e.desenvolver.um.script”,.enumera.Mirian.Bittencourt,.professora.da.3a.série.convidada.por.Maria. Lúcia.a.participar.do.projeto.O.Corpo.Fala..A.experiência,.que.envolveu.também.a.disciplina.de.Língua. Portuguesa,.resultou.num.bonito.espetáculo..P.A.. Sequência de atividades 1. Pesquisa e adaptação Produzir.um.musical.exige.organização..Ao.montar.um.cronograma,.o.ideal.é.reservar,.todos.os.dias,.pelo. menos.50.minutos.para.as.atividades,.que.começam.com.as.pesquisas..Divididos.em.grupos,.os.alunos.do. Rio.buscaram.em.jornais,.revistas.e.internet.informações.sobre.Mário.Lago.e.descobriram.que.o.simpático. ator.de.novelas.era.também.compositor.de.canções.famosas,.como.Amélia.e.Nada.Além..Nas.aulas.de.Língua.Portuguesa,.foram.exploradas.paródias.e.paráfrases.na.criação.de.músicas.e.poemas. 2. Elenco e busca de referências Para.a.escolha.do.elenco,.que.não.deve.privilegiar.só.os.que.têm.mais.facilidade,.uma.saída.é.promover. audições.em.que.os.alunos.façam.leituras.em.voz.alta,.cantem.e.dancem.para.que.todos.possam.avançar.. O.júri.é.formado.pela.própria.garotada..Durante.uma.das.reuniões.do.grupo,.os.alunos.lembraram.dos. Letras de luz.indd 105 29/11/10 17:30 106 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento programas.de.entrevistas.exibidos.na.TV.e.decidiram,.junto.com.as.professoras,.montar.o.roteiro.nesse.formato..Todos.assistiram.a.atrações.do.gênero.na.TV.e,.para.enriquecer.a.parte.musical,.trechos.de.desenhos. animados..Quatro.estudantes.que.tocavam.cavaquinho.e.pandeiro.ficaram.responsáveis.pela.trilha.sonora.. 3. Criação visual e de roteiro Quando.a.peça.toma.corpo,.é.hora.de.pensar.nos.cenários.e.figurinos..É.tarefa.dos.estudantes.trazer. acessórios.e.adereços..Na.Raymundo.Corrêa,.as.professoras.orientaram.a.escolha.das.roupas,.da.cortina.e.do. sofá.que.compuseram.a.cena.Enquanto.isso,.Maria.Lúcia.escrevia.o.roteiro.junto.com.as.crianças,.mostrando.modelos.para.elas.conhecerem.as.marcações.de.cena.feitas.pelo.autor.ou.diretor.. 4. Apresentação A.produção.se.completa.com.a.exibição.para.a.comunidade.escolar.e.o.público.externo..Os.15.alunos. subiram.ao.palco.e.Charles.Alli,.10.anos,.intérprete.de.Mário.Lago,.apareceu.para.conversar.sobre.sua.vida. com.o.entrevistador.vivido.por.Igor.Bial,.9.anos..Entre.uma.revelação.e.outra,.a.platéia.se.deliciou.com.as. poesias.e.as.canções.mais.conhecidas..Depois.da.estréia,.as.crianças.experimentaram.o.que.é.uma.turnê.e. levaram.a.peça.para.uma.escola.municipal.e.uma.faculdade. Fonte: revista Nova Escola, Edição Especial, abril/2007 O teatro ensina a viver A turma perde a timidez, amplia os horizontes culturais e trabalha bem em grupo quando a arte cênica faz parte do currículo Paulo Araújo Mesmo.sem.se.dar.conta,.todos.os.dias.ao.entrar.na.sala.de.aula.você.e.seus.alunos.tomam.emprestados. alguns.recursos.da.linguagem.teatral..Ao.ler.um.conto.em.voz.alta,.os.estudantes.naturalmente.impostam. a.voz.e.mudam.a.entonação.marcando.os.diferentes.personagens..Para.manter.a.atenção.da.turma.em.suas. explicações.é.bem.provável.que.você.imponha.ao.corpo.uma.postura.mais.rígida,.abuse.dos.gestos.e.capriche.nas.expressões.faciais..Mas.o.teatro.pode.ser.usado.também.como.uma.ferramenta.pedagógica.. “Uma.das.grandes.riquezas.dessa.atividade.na.escola.é.a.possibilidade.do.aluno.se.colocar.no.lugar.do. outro.e.experimentar.o.mundo.sem.correr.riscos”,.avalia.Maria.Lúcia.Puppo,.professora.de.licenciatura. em.Artes.Cênicas.da.Universidade.de.São.Paulo.(USP)..E.são.muitas.as.habilidades.desenvolvidas.com. essa.prática. O.contato.com.a.linguagem.teatral.ajuda.crianças.e.adolescentes.a.perder.continuamente.a.timidez,.a. desenvolver.e.priorizar.a.noção.do.trabalho.em.grupo,.a.se.sair.bem.de.situações.onde.é.exigido.o.improviso. e.a.se.interessar.mais.por.textos.e.autores.variados..“O.teatro.é.um.exercício.de.cidadania.e.um.meio.de. ampliar.o.repertório.cultural.de.qualquer.estudante”,.argumenta.Ingrid.Dormien.Koudela,.consultora.do. Ministério.da.Educação.na.elaboração.dos.Parâmetros.Curriculares.Nacionais.(PCN).na.área.. Letras de luz.indd 106 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 107 A criatividade é o único recurso indispensável “A.escola.não.precisa.de.um.espaço.com.poltronas.confortáveis.ou.ricos.figurinos.para.montar.uma.peça”,. avisa.a.atriz.e.orientadora.pedagógica.Beth.Zalcman,.da.Escola.Eliezer.Steinbarg-Max.Nordau,.do.Rio.de. Janeiro.. O.professor.Leandro.Karnal,.da.Universidade.de.Campinas,.vai.no.mesmo.caminho.que.Beth..Ele.lembra.que.ainda.durante.a.época.colonial.os.jesuítas.já.utilizavam.o.teatro.como.exercício.escolar.com.bons. resultados.e.sem.grandes.recursos..“Cabe.a.cada.professor.descobrir.os.recursos.necessários.para.o.trabalho. que.pretende.desenvolver..Mas.o.principal.é.sempre.a.criatividade”,.alerta.. A.linguagem.lúdica,.multifacetada.e.pouco.dependente.da.escrita.é.ideal.para.colocar.em.cartaz.com.a. garotada.espetáculos.sobre.a.cultura.local.ou.os.acontecimentos.cotidianos,.por.exemplo..A.atividade.desenvolve.a.oralidade,.os.gestos,.a.linguagem.musical.e,.principalmente,.a.corporal.. contato com companhias profissionais é valioso A.presença.efetiva.da.arte.de.representar.na.educação.brasileira.é.um.fenômeno.recente..O.ensino.de. Educação.Artística,.regulamentado.em.1971,.sempre.priorizou.as.artes.plásticas..Com.o.passar.do.tempo,.a. aproximação.entre.escolas.e.grupos.teatrais.e.o.crescimento.dos.cursos.de.graduação.em.Artes.Cênicas.pelo. país.contribuíram.para.o.aumento.e.a.valorização.do.teatro.em.sala.de.aula.. Você.pode.incluir.atividades.baseadas.nessa.linguagem.em.seu.planejamento.e.ir.além..Uma.forma.é. fazer.parcerias.com.grupos.de.teatro.da.região..O.contato.com.atores.profissionais.é.muito.rico..Ele.possibilita.a.discussão.sobre.o.aproveitamento.dos.espaços.físicos.da.escola.e.o.intercâmbio.de.ideias.e.experiências.. Vale.a.pena.também.ficar.atento.à.programação.cultural.da.cidade..Entre.em.contato.com.companhias. teatrais.e.veja.a.possibilidade.de.trazê-las.para.a.escola..E,.se.possível,.leve.a.turma.a.uma.sala.de.espetáculos. para.assistir.a.montagens.profissionais..“O.hábito.de.ir.ao.teatro.também.deve.ser.desenvolvido.nas.aulas.de. Artes”,.conclui.Ingrid. os cuidados para montar um bom projeto . Fazer teatro na escola não é simplesmente encenar uma passagem da nossa história ou levar para o palco os personagens e a trama do livro lido pela turma no encerramento do semestre. De acordo com Tuna Serzedelo e Maíra Silveira, professores do Colégio São Luís, de São Paulo, trabalhar com a arte da representação exige conhecimento técnico. Por isso, para desenvolver um trabalho que introduza crianças e jovens nessa linguagem, os professores das diversas disciplinas devem se associar ao de Artes. Aprenda com a experiência da dupla. . Coloque a classe em contato com diversos livros de autores com estilos variados e observe o tipo de texto (tragédia, comédia, situações do cotidiano, mistério etc.) que mais chama a atenção do grupo. . Em uma encenação, podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos, científicos ou morais, por exemplo, mas eles não devem ser vistos como objetivo, e sim como conseqüência. O ideal é que os alunos se envolvam com a trama e os personagens e sintam prazer em representar. Letras de luz.indd 107 29/11/10 17:30 108 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento . Peça que os estudantes façam um mapeamento dos folguedos populares, festas, autos e outras manifestações folclóricas que possam ser representadas na escola. . Evite montar um espetáculo que já esteja pronto e não busque se aproximar do que foi encenado por alguma companhia famosa. Incentive o grupo a criar suas próprias encenações. “Cada montagem é única”, apregoa Serzedelo. O professor dirigiu uma adaptação feita pelos próprios alunos do Ensino Médio de O Caso dos Dez Negrinhos, da escritora inglesa Agatha Christie. . Deixe as crianças ousarem. Maíra já trabalhou com a garotada na montagem de uma peça que uniu elementos dos clássicos Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O resultado foi o espetáculo Auto da Barca da Paulista, numa referência à famosa avenida da capital paulista, que passa próxima ao colégio. Ações como essas, sugeridas pelos adolescentes, têm maior chance de fazer sucesso. . Estimule a participação de todos os estudantes, sem exigir profissionalismo. Há os que falam baixo ou os que ficam de costas para a platéia. Mas todos podem aprender. . Fotografe e filme as encenações. Depois, convide a classe para analisar a montagem. Esse exercício de auto-avaliação serve para afinar as próximas apresentações. Fonte: revista Nova Escola, edição 170, Março/2004 Anexo 4 vai começar o teatro de bonecos – monte uma oficina de fantoches e inicie a turma na arte de representar Com.um.fantoche.na.mão,.até.adultos.mudam.o.tom.de.voz.para.dar.vida.aos.personagens..Gente.pequena,.então,.se.diverte.à.beça.com.esses.bonecos.feitos.de.retalhos.de.feltro.e.linha.e.agulha.de.bordar..A. turma.solta.a.criatividade.rapidamente,.mas,.para.a.atividade.ganhar.um.contexto.maior,.é.preciso.dar.alguns. pontos. Primeiro.combine.com.as.crianças.uma.história.que.queiram.encenar..Com.base.nela,.defina.quem.vai. construir.os.fantoches,.quem.vai.interpretar.os.personagens.e.quem.vai.assistir.à.apresentação..A.professora. de. artes. plásticas. Maria. Silvia. Monteiro. Machado,. da. Escola. Municipal. de. Iniciação. Artística,. em. São. Paulo,.faz.um.alerta.em.relação.às.expectativas.do.professor:.“As.crianças.fazem.o.trabalho.segundo.a.própria. capacidade,.ou.seja,.cortam.o.pano,.colam.os.acessórios.e.costuram.o.fantoche.do.jeito.que.conseguem,.e.não. de.acordo.com.o.que.o.educador.quer”.. Ainda.nessa.linha,.é.importante.afastar.estereótipos.e.não.direcionar.a.produção.da.turma.com.falas.do. tipo.“o.leão.é.sempre.dessa.cor”.ou.“o.palhaço.não.é.assim”..Isso.inibe.a.expressão..“Às.vezes,.o.adulto.não. reconhece.a.figura,.mas.a.criança.sabe.cada.detalhe.de.seu.boneco”,.conta.Ana.Tatit,.também.professora.da. Escola.de.Iniciação.Artística..Se.necessário,.pergunte.onde.está.o.olho.e.a.boca,.por.exemplo,.para.começar. a.entender.as.representações.de.cada.um.. Outro.cuidado.é.sobre.o.material.apresentado.à.garotada..Apesar.de.ser.uma.atividade.indicada.para. turmas.a.partir.de.4.anos,.é.preciso.adequá-la.a.cada.faixa.etária..Ana.sugere.tecidos,.meias.e.sucatas.para.os. menores..Com.os.maiores,.é.possível.explorar.técnicas.como.a.do.papel.machê.. Letras de luz.indd 108 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 109 ensino médio Subo nesse palco... bases legais Linguagens e códigos conteúdo • Teatro objetivos • Conhecer a história do teatro e dos métodos de preparação de atores através dos tempos. introdução A.reportagem.de.VEJA.sobre.Fátima.Toledo.é.bastante.esclarecedora.sobre.os.métodos.de.preparação.de. atores.para.o.cinema.e.o.teatro.brasileiros.na.atualidade..O.texto.nos.conta.que.essa.profissional.realiza.uma. tarefa.bastante.valorizada.na.indústria.cinematográfica.em.todo.o.mundo..Os.especialistas.acreditam.que. Fátima.criou.um.método.e.está.por.trás.de.filmes.nacionais.de.grande.sucesso.de.bilheteria.como.Cidade de Deus.e.Tropa de Elite..Aproveite.a.oportunidade.e.analise.com.seus.alunos.um.pouco.da.história.do.teatro.e. das.técnicas.que.consagraram.atores.de.Hollywood.. Atividades 1ª aula.–.Solicite.aos.jovens.uma.pesquisa.sobre.o.nascimento.do.teatro.na.Grécia.antiga..Eles.descobrirão.que.a.arte.teria.surgido.naquela.civilização.em.função.das.manifestações.em.homenagem.ao.deus.do. vinho,.Dionísio..A.cada.nova.safra.de.uva,.era.realizada.uma.festa.em.agradecimento.ao.deus,.marcada.por. procissões..Com.o.passar.do.tempo,.elas.ficaram.conhecidas.como.“Ditirambos”.e.tornaram-se.cada.vez.mais. elaboradas..Até.que.apareceram.os.“diretores.de.coro”.–.os.organizadores.da.festança..Nelas,.os.participantes. cantavam,.dançavam.e.apresentavam.diversas.cenas.da.vida.e.das.peripécias.de.Dionísio..Reuniam-se.de.20. mil.a.30.mil.pessoas.nas.cidades,.enquanto,.em.manifestações.rurais,.o.número.de.pessoas.era.menor..O. primeiro.diretor.de.coro.foi.Téspis,.que.desenvolveu.o.uso.de.máscaras.no.palco..Por.causa.da.imensa.platéia,. era.impossível.que.todos.escutassem.os.relatos..Mas.com.os.apetrechos.os.espectadores.podiam.visualizar.o. sentimento.da.cena.e.dos.personagens.representados.. O.coro,.por.sua.vez,.narrava.a.história.com.o.auxílio.de.música.e.balé..Ele.era.o.intermediário.entre.o.ator. e.os.espectadores.e.trazia.os.pensamentos.e.sentimentos.à.tona,.além.de.revelar.a.conclusão.e.a.moral.da. peça..Também.podia.haver.o.“corifeu”,.um.representante.do.coro.que.se.comunicava.com.a.platéia..Em.uma. dessas.procissões,.Téspis.inovou.ao.subir.em.um.tablado.e,.assim,.tornou-se.o.primeiro.respondedor.de.coro.. Em.razão.disso,.originaram-se.os.diálogos.e.Téspis.foi.considerado.o.primeiro.ator.grego.. Letras de luz.indd 109 29/11/10 17:30 110 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento 2ª aula –.Encomende.aos.meninos.uma.pesquisa.na.internet.sobre.os.métodos.de.preparação.de.atores.. Eles. encontrarão. vários. –. um. dos. mais. conhecidos. foi. desenvolvido. pelo. russo. Constantin. Stanislavsky. (1863-1938)..Nascido.em.uma.família.rica,.decidiu.ser.ator.a.partir.dos.14.anos.e.ajudou.a.fundar.o.Teatro. de.Arte.de.Moscou..Quando.começou.a.atuar,.ele.estava.às.voltas.com.duas.formas.distintas.de.representação.que.marcaram.a.evolução.dessa.arte.no.século.XIX:.o.teatro.tradicional.(bastante.estilizado,.em.que.o. ator.exibia.gestos.“quase.falsos”).e.a.técnica.recém-surgida.de.representação.realista.. O.diretor.observou,.então,.os.atores.consagrados.de.seu.tempo,.além.de.contar.com.sua.própria.experiência..Constatou.que.alguns.intérpretes.agiam.de.forma.natural.e.intuitiva.–.mas.também.percebeu.que.não. havia.nada.escrito.sobre.esse.tipo.de.atuação..Resolveu,.portanto,.criar.um.sistema.batizado.com.seu.nome,. que.passou.a.ser.reconhecido.pelas.gerações.futuras.como.O.Método.e.ainda.hoje.serve.de.base.para.a.formação.de.todo.bom.ator.. O.núcleo.desse.sistema.está.na.chamada.“atuação. verossímil”,. uma. série. de. técnicas. e. princípios. que. atualmente.são.considerados.fundamentais.para.o.desempenho.do.ator..Ao.contrário.da.percepção.de.naturalidade.que.observara,.descobriu.que.a.atuação.realista.era,.na.verdade,.muito.artificial.e.difícil.–.e.que.somente.seria.desenvolvida.mediante.estudos.e.práticas,.que.ele.fez.questão.de.organizar..Desde.o.lendário. Actor.s.Studio,.de.Nova.York,.uma.das.instituições.mais.reconhecidas.no.meio.artístico,.até.as.escolas.de. atuação.brasileiras,.esse.método.tem.sido.amplamente.utilizado.na.preparação.de.atores..Alguns.famosos. que.o.adotaram.são:.Jack.Nicholson,.Marilyn.Monroe,.James.Dean,.Marlon.Brando,.Paul.Newman,.Dustin. Hoffman,.Robert.de.Niro.e.Al.Pacino..Entre.os.mais.novos,.o.talentoso.e.carismático.Johnny.Depp.. 3ª aula.–.Convoque.os.alunos.para.que.assistam.a.um.trecho.de.um.filme.com.um.desses.atores,.como,. por.exemplo,.James.Dean,.em.Assim caminha a humanidade.ou.Juventude transviada..Da.carreira.de.Jack. Nicholson,.há.Um estranho no ninho ou.O iluminado..E,.de.Al.Pacino,.não.dá.para.ficar.de.fora.da.trilogia.de. O poderoso chefão.ou.Perfume de mulher..Peça.que.analisem.a.atuação.dos.artistas..Após.a.exibição.do.trecho. do.filme,.leia.para.a.classe.a.definição.de.Stanislavsky.sobre.seu.sistema.de.atuação:.“Todos.os.nossos.atos,. mesmo.os.mais.simples,.aqueles.que.estamos.acostumados.em.nosso.cotidiano,.são.desligados.quando.surgimos.na.ribalta,.diante.de.uma.platéia.de.mil.pessoas..Isso.é.por.que.é.necessário.se.corrigir.e.aprender. novamente.a.andar,.sentar,.ou.deitar..É.necessário.a.auto-reeducação.para,.no.palco,.olhar.e.ver,.escutar.e. ouvir.”.Proponha.aos.adolescentes.que.escolham.uma.cena.de.algum.dos.filmes.listados.neste.plano.de.aula. para.que.a.reproduzam.na.sala.de.aula. Veja.também: filmografia Gata em teto de zinco quente,.Richard.Brooks,.1959,.Warner.Home.Video Quanto mais quente melhor,.Billy.Wilder,.1959,.Fox.Home.Video Consultoria.Ricardo Barros Professor.de.História.do.Colégio.Paulista,.de.São.Paulo Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/subo-nesse-palco-427983.shtml Letras de luz.indd 110 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 111 trechoS De PeçAS teAtrAiS DA APoStiLA 3 A lição Eugène Ionesco.(trad..Paulo.Neves) ATO.ÚNICO (...) A.ALUNA.–.Não.sei,.senhor. O.PROFESSOR.–.Vamos,.reflita..Não.é.fácil,.admito..No.entanto,.você.é.bastante.culta.para.poder.fazer. o.esforço.intelectual.exigido.e.chegar.a.compreender..E.então? A.ALUNA.–.Não.consigo,.senhor..Não.sei. O.PROFESSOR.–.Tomemos.exemplos.mais.simples..Se.você.tivesse.dois.narizes.e.eu.lhe.arrancasse.um. deles,.com.quantos.estaria.agora? A.ALUNA.–.Nenhum. O.PROFESSOR.–.Como.nenhum? A.ALUNA.–.Sim,.é.justamente.porque.o.senhor.não.me.arrancou.nenhum.que.eu.tenho.um.agora..Se. o.tivesse.arrancado,.eu.não.o.teria.mais. O.PROFESSOR.–.Você.não.compreendeu.meu.exemplo..Suponha.que.tivesse.só.uma.orelha. A.ALUNA.–.Sim,.e.então? O.PROFESSOR.–.Eu.lhe.acrescento.uma,.quantas.teria? A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Certo..Acrescento-lhe.mais.uma..Quantas.teriam? A.ALUNA.–.Três.orelhas. O.PROFESSOR.–.Eu.retiro.uma.delas....Você.fica...,.com.quantas.orelhas? A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Certo..Eu.retiro.mais.uma,.com.quantas.ficaria? A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Não..Você.tem.duas,.eu.pego.uma.delas,.eu.como.uma.delas,.quantas.orelhas.lhe. restam? A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Eu.como.uma.delas....uma. A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Uma. A.ALUNA.–.Duas. O.PROFESSOR.–.Uma! A.ALUNA.–.Duas! O.PROFESSOR.–.Uma!!! A.ALUNA.–.Duas!!! O.PROFESSOR.–.Uma!!! A.ALUNA.–.Duas!!! O.PROFESSOR.–.Uma!!! Letras de luz.indd 111 29/11/10 17:30 112 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento A.ALUNA.–.Duas!!! O.PROFESSOR.–.Não,.não..Não.é.isso,.O.exemplo.não.é....não.é.convincente..Escute-me..(...).Vamos. proceder.de.outro.modo....Limitemo-nos.aos.números.de.um.a.cinco,.para.a.subtração....Espere,.senhorita,. você.vai.ver..Vou.fazê-la.compreender..(O Professor põe-se a escrever numa lousa imaginária. Ele se aproxima da Aluna, que se vira para olhar.).Veja,.senhorita..(Ele finge desenhar, na lousa, um bastão; finge escrever abaixo o número 1; depois, dois bastões, sob os quais escreve o número 2; faz o mesmo com 3 e o 4.) Veja... A.ALUNA.–.Sim,.senhor. O.PROFESSOR.–.São.bastões,.senhorita,.bastões..Isso.aqui.é.um.bastão;.aqui.são.dois.bastões;.ali,.três. bastões;.depois,.quatro.bastões;.depois,.cinco.bastões..Um.bastão,.dois.bastões,.três.bastões,.quatro.e.cinco. bastões....são.números..Quando.contamos.bastões,.cada.bastão.é.uma.unidade,.senhorita....O.que.acabo.de. dizer? A.ALUNA.–.“Uma.unidade,.senhorita!.O.que.acabo.de.dizer?” O.PROFESSOR.–.Ou.algarismos!.Ou.números!.Um,.dois,.três,.quatro,.cinco,.são.elementos.da.numeração,.senhorita. A.ALUNA.–.(Hesitante.).Sim,.senhor..Elementos,.algarismos,.que.são.bastões,.unidades.e.números... O.PROFESSOR.–.Ao.mesmo.tempo....Ou.seja,.em.suma,.toda.a.aritmética.consiste.nisso. A.ALUNA.–.Sim,.senhor..Certo,.senhor..Obrigada,.senhor. (...) Fonte: A lição e as cadeiras. Eugène Ionesco. Trad. Paulo Neves. Editora Peixoto Neto, 2004. Pluft, o fantasminha Maria Clara Machado PRÓLOGO O prólogo se passa à frente da cortina. Pela esquerda surgem os 3 marinheiros amigos, meio bêbados, cantando. O da frente é Sebastião, o mais corajoso. Leva um toco de vela aceso ou um lampião. Segue-se Julião, segurando um mapa. Deve-se ouvir a canção antes de avistá-los. Ainda.era.uma.criança, Quando.saiu.para.o.mar A.aprender.a.navegar O.Capitão.Bonança! Depois.morreu.no.mar, Deixou.de.navegar. Onde.está.a.herança Do.Capitão.Bonança!? Quando aparecem no palco, devem estar acabando o canto. Letras de luz.indd 112 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 113 SEBASTIÃO Deve.ser.aqui!.Veja.o.mapa,.Julião! JULIÃO Veja.você,.Sebastião..(Troca o mapa pela vela do Sebastião.) SEBASTIÃO É.melhor.o.João.ver;.João.é.o.encarregado.do.mapa..(Troca a garrafa com João e bebe um traguinho. Fazem várias vezes este jogo de trocar.) JOÃO (Com o mapa).Uma.casa.perdida.na.areia.branca.perto.do.mar.verde....Deve.estar.por.perto....Pega.na. luneta,.Julião. JULIÃO (Olhando pelo gargalo da garrafa) Estou.vendo.um.mar.calmo.com.algumas.ondinhas.brancas. SEBASTIÃO Então.vamos! JOÃO (Desanimado).Já.andamos.muito!.Pobre.Maribel! JULIÃO Pobre.Maribel! SEBASTIÃO Pobre.Maribel! (Os três se abraçam e sentam-se no chão.) SEBASTIÃO (Levantando-se).Precisamos.salvar.a.neta.do.nosso.grande.capitão.Bonança! JOÃO (Mesmo) Precisamos.achar.o.tesouro.da.neta.do.grande.Capitão.Bonança! JULIÃO Precisamos.pegar.o.ladrão.do.tesouro.da.neta.do.grande.capitão.Bonança! SEBASTIÃO Viva.o.grande.capitão.Bonança! TODOS Vivaaaa! SEBASTIÃO (Para Julião) Vamos! JULIÃO (Para João).Vamos! JOÃO (Para alguém imaginário que o segue) Vamos! (Os três recomeçam a cantar e saem pela direita, descendo o proscênio.) Fim.do.prólogo Fonte: Pluft, o fantasminha. Maria Clara Machado. Nova Fronteira, 2009. Letras de luz.indd 113 29/11/10 17:30 114 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento O beijo no asfalto Nelson Rodrigues TERCEIRO.ATO (Trevas. Luz na casa de Selminha. Dália vai entrando. Sente-se em tudo o que Selminha diz ou faz, o trauma da polícia. Ela, que está lendo um jornal, ergue-se ao ver Dália.) SELMINHA (sempre em tensão).–.Quem.era? DÁLIA.(sôfrega).–.Arandir! SELMINHA (frenética e esganiçando).–.E.só.telefona.agora? DÁLIA.(querendo acalmá-la) –.Selminha,.você.está.nervosa. SELMINHA (anda de um lado para outro numa angústia de insana e na sua cólera).–.Passa.uma.noite.e.um. dia.sem.telefonar! DÁLIA.(gritando também) –.O.telefone.aqui.está.desligado! SELMINHA (mais contida).–.Fala! DALIA.–.Arandir.telefonou. SELMINHA (varada de arrepios) –.Arandir. DALIA.–.Escuta..Está.num.hotel. SELMINHA (repetindo por um mecanismo de angústia).–.Hotel? DALIA.(sôfrega).–.Mandou.dizer.que. SELMINHA (com brusca irritação).–.Mas.que.hotel? DALIA.–.E.te.espera.lá..Disse.que. SELMINHA.–.Onde? DALIA.–.O.endereço..Eu.tomei.nota..É.no... (Sente-se pouco a pouco e de uma maneira cada vez mais nítida, que Selminha não quer ir.) SELMINHA.(para si mesma com voz surda).–.E.quer.que.eu.vá.lá! DÁLIA.–.Arandir.pediu..Olha,.Selminha,.pediu.que.você.fosse.imediatamente..Agora..Fosse.agora..O. endereço..Está.escondido.num.hotel..A.rua.é... SELMINHA.(cortando).–.Dália,.escuta..É.claro.que.eu..Mas.todo.o.mundo!.Todo.o.mundo.acha,.tem. certeza..Certeza!.Que.os.dois.eram.amantes! DÁLIA.(com desprezo) –.É.uma.gente.que.nem.sei! SELMINHA.(na sua obsessão) –.Amantes! DÁLIA.–.Mas,.o.Arandir.mandou.dizer.que.o.hotel..O.hotel.é.pertinho.do.largo.de.São.Francisco..Olha.. Escolheu,.de.propósito,.está.ouvindo,.Selminha?.Selminha,.ouve,.escolheu.um.hotel.ordinário,.porque.dá. menos.na.vista..Agora.vai,.Selminha,.vai. SELMINHA.–.Vou. DÁLIA.(sôfrega) –.Apanha.um.táxi. (Selminha não se mexe.) SELMINHA.(com súbita revolta) –.E.se.a.polícia.me.seguir? DÁLIA (com irritação).–.Arandir.está.esperando! SELMINHA.(com certa malignidade) –.E.daí? DÁLIA.–.Você.é.a.mulher! Letras de luz.indd 114 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 115 SELMINHA (gritando) –.Mas.se.eu.for.presa. (desatando a chorar) Você.quer.que.eu.seja.presa..(com desespero) E.que.façam.outra.vez.aquilo.comigo,.outra.vez? DÁLIA (conciliatória).–.Selminha! SELMJNHA.(trincando os dentes).–.Nunca.pensei.que..Me.puseram.nua!.Fiquei.nua.pra.dois.sujeitos! DÁLIA.–.Mas.não.vá.contar.isso.pra.o.Arandir! SELMINHA.–.E.o.miserável,.o.cachorro.ainda.me.disse.que.me.queimava.o.seio.com.o.cigarro! (soluçando).Nua!.Nua! (Dália agarra a irmã pelos dois braços com súbita energia.) DÁLIA.–.Você.vai? SELMINHA (ofegante e caindo em si).–.Vou..Claro.que.vou..Eu.disse.que.ia.e.vou..Mas.olha. (muda de tom).E.se.ele.quiser.me.beijar? DÁLIA.(sem entender) –.Ora,.Selminha! SELMINHA (com angústia) –.Vai.me.beijar.e.eu!.(continua sem coerência) Quando.a.viúva.disse,.cara.a. cara.comigo,.que.tinham.tomado.banho.juntos. DÁLIA (com violência) –.Nem.se.conheciam! SELMINHA.(sem ouvi-la e só escutando a própria voz interior) –.Uma.coisa.que.me.dá.vontade.de.morrer.. Como.é.que.um.homem.pode.desejar.outro.homem. (veemente e voltando-se para a irmã) Dália,.você.entende?.Entende,.eu?.Sei.que,.agora,.quando.um.homem.olhar.para.o.meu.marido..Vou.desconfiar.de.qualquer. um,.Dália!.(com uma brusca irritação) Aliás,.Arandir.tem.certas.coisas..Certas.delicadezas!.E.outra.que.eu. nunca.disse.a.ninguém..Não.disse.por.vergonha..(com mais veemência).Mas.você.sabe.que.a.primeira.mulher. que.Arandir.conheceu.fui.eu..Acho.isso.tão!.Casou-se.tão.virgem.como.eu,.Dália! DÁLIA.–.Arandir.só.tem.você! SELMINHA.(numa explosão) –.Se.eu.for,.já.sei..Ele.vai.querer.beijar..Na.certa..Eu.não.quero.um.beijo. sabendo.que..(hirta de nojo) O.beijo.do.meu.marido.ainda.tem.a.saliva.de.outro.homem! (Trevas.) Fonte: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária e O beijo no asfalto. Nelson Rodrigues. Nova Fronteira, 2006. Romeu e Julieta Ato.II.–.Cena.II. (...) JULIETA Ai.de.mim! ROMEU Fale!.Fale,.anjo,.outra.vez,.pois.você.brilha Na.glória.desta.noite,.sobre.a.terra, Como.o.celeste.mensageiro.alado Letras de luz.indd 115 29/11/10 17:30 116 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Sobre.os.olhos.mortais.que,.deslumbrados, Se.voltam.para.o.alto,.para.olhá-lo, Quando.ele.chega,.cavalgando.as.nuvens, E.vaga.sobre.o.seio.desse.espaço. JULIETA Romeu,.Romeu,.por.que.há.de.ser.Romeu? Negue.o.seu.pai,.recuse-se.esse.nome; Ou.se.não.quer,.jure.só.que.me.ama E.eu.não.serei.mais.dos.Capuletos. ROMEU (A.parte).Devo.ouvir.mais,.ou.falarei.com.ela? JULIETA É.só.seu.nome.que.é.meu.inimigo: Mas.você.é.você,.não.é.Montéquio! Que.é.Montéquio?.Não.é.pé,.nem.mão, Nem.braço,.nem.feição,.nem.parte.alguma De.homem.algum..Oh,.chame-se.outra.coisa! Que.é.que.há.num.nome?.O.que.chamamos.rosa Teria.o.mesmo.cheiro.com.outro.nome; E.assim.Romeu,.chamado.de.outra.coisa, Continuaria.sempre.a.ser.perfeito, Com.outro.nome..Mude-o,.Romeu, E.em.troca.dele,.que.não.é.você, Fique.comigo. ROMEU Eu.cobro.essa.palavra! Se.me.chamar.de.amor,.me.rebatizo: E.de.hoje.em.diante.eu.não.sou.mais.Romeu. JULIETA Quem.é.que,.assim,.oculto.pela.noite, Descobre.o.meu.segredo? ROMEU Pelo.nome, Não.sei.como.dizer-lhe.quem.eu.sou, Meu.nome,.cara.santa,.me.traz.ódio, Porque,.para.você,.é.de.inimigo. Fonte: Romeu e Julieta. Willian Shakespeare. Trad. de Bárbara Heliodora. Nova Fronteira, 1997. Letras de luz.indd 116 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 117 APoStiLA 4 oficinA 4 – Uma imagem, mil palavras A leitura de imagens objetivos: • • • • • experienciar a leitura de imagens; evidenciar os procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens; conhecer um pouco mais sobre a história das imagens; compreender as relações entre a palavra e a imagem; ter clareza da importância da exploração das imagens na literatura para a produção de sentido, estabelecendo diálogos com base nas interações entre a imagem e a palavra. conteúdos: • • • • procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens; breve história da leitura de imagens; relações entre palavra e imagem; a ilustração na literatura infantil e juvenil. Desenvolvimento: O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo. à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema. 1. Abertura: a)..Nessa.oficina,.o.formador.deve.começar.retomando.o.encontro.anterior,.conversando.com.os.participantes.sobre.as.atividades.desenvolvidas,.em.especial.a.leitura.do.texto.teatral.ou.as.outras.propostas. sugeridas..Como.foi.a.seleção.do.texto?.O.que.foi.lido.pelos.participantes?.Fizeram.leituras.dramáticas?.De.que.forma.abordaram.os.textos.teatrais.com.seus.alunos?.Quais.os.principais.desafios.enfrentados?.Alguém.registrou.a.leitura.dramática.no.diário?.Como.foi.realizado.esse.registro? . .Pode-se.formar.duplas.ou.trios.para.que.compartilhem.suas.histórias.e.seus.diários.com.o(s).companheiro(s),.narrando.como.foi.o.trabalho,.lendo.ou.apresentando.os.registros.que.gostariam.de.socializar,.trocando.dicas.de.livros.lidos.e.filmes.assistidos. b)..Em.seguida,.retomar.a.conversa.coletiva.e.deixar.que.alguns.participantes.falem.livremente.sobre.suas. impressões.acerca.da.atividade,.envolvendo.textos.dramáticos.e.dos.diários..O.objetivo.é.verificar.de. que.forma.o.grupo.se.apropriou.dos.conteúdos.abordados.e.criar.um.ambiente.acolhedor.para.a.dis- Letras de luz.indd 117 29/11/10 17:30 118 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento cussão.sobre.a.leitura.e.formação.de.uma.comunidade.leitora..O.formador.também.pode.aproveitar. esse.momento.para.retomar.a.discussão.da.terceira.oficina.e.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros,. propondo.uma.nova.troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.livros.trazidos.pelo.grupo.nessa.oficina. 2. Apresentação da apostila e dos conteúdos da oficina: para.aproximá-los.e.sensibilizá-los.com.relação.ao.tema.do.encontro,.fazer.uma.leitura.dos.conteúdos.e.objetivos.dessa.oficina,.questionando.quais.as. expectativas.e.o.que.já.sabem.sobre.tais.conteúdos..Essa.pode.ser.uma.oportunidade.para.levantar.as.hipóteses.sobre.o.que.será.discutido.e.também.para.que.os.participantes.de.anos.anteriores.comentem.o.que. aprenderam.sobre.a.leitura.de.imagens.e.de.que.forma.as.atividades.realizadas.nas.oficinas.foram.incorporadas.à.sua.prática. 3. Provocando o olhar:.a.primeira.parte.da.oficina.terá.como.foco.as.imagens.e.os.diferentes.comportamentos.e.propósitos.leitores.sugeridos.por.elas..O.formador.poderá.iniciar.com.a.leitura.de.uma.imagem.significativa,.em.vez.de.um.conto.ou.poema..A.escolha.pode.ser.desde.uma.fotografia.pessoal.ou. profissional,.uma.gravura,.uma.pintura,.uma.escultura.ou,.até.mesmo,.um.curta-metragem.ou.o.trecho.de. um.filme.cujas.imagens.possam.suscitar.uma.reflexão.para.o.grupo..Sugerimos.algum.curta-metragem.da. Pixar.ou.o.curta.de.animação.indicado.ao.Oscar.2009.La maison en petit cubes,.os.primeiros.capítulos.do. longa.metragem.de.animação.Persépolis,.os.livros.Onda.e.Espelho,.de.Suzy.Lee,.ou.qualquer.outra.obra.que. trabalhe.a.narrativa.com.base.em.imagens..O.importante.é.que.o.material.apresentado.já.tenha.sido.explorado. anteriormente. pelo. formador. e. que. essa. leitura. possa. servir. de. modelo,. oferecendo. elementos. para.ampliar.a.visão.dos.participantes.sobre.alguns.aspectos.constitutivos.da.mesma,.tais.como:.o.que.ela. narra,.como.narra,.as.cores.utilizadas,.o.enquadramento,.seus.aspectos.expressivos,.lúdicos,.descritivos,.a. composição,.o.tema,.etc. 4. Por que lemos imagens? Para que lemos imagens?: retomar.a.tarefa.solicitada.na.oficina.anterior,. propondo.aos.participantes.que.exponham.as.imagens.que.trouxeram.e.justifiquem.a.escolha.das.mesmas.. O.formador.poderá.organizar.um.Mar.de.Imagens,.dispondo.o.material.trazido.em.um.pano.colorido.e. convidando.o.grupo.para.observá-las.atentamente..Se.for.possível,.as.imagens.também.poderiam.ser.colocadas.em.um.varal..Em.seguida,.pedir.que.escolham.uma.delas,.formem.pequenos.grupos.(de.quatro.ou. cinco.componentes).e.discutam:.o.que.a.imagem.escolhida.apresenta?.Como.apresenta?.Quem.ou.o.quê.está. retratado?.Há.sugestão.de.movimento?.Emoções?.É.possível.identificar.a.que.tempo.ela.pertence?.Em.seguida,.pedir.que.formem.grupos.elegendo.uma.das.imagens.para.uma.análise.mais.detalhada,.abrindo.espaço.para.a.discussão.dos.propósitos.de.leitura.desse.tipo.de.texto..Por.que.lemos.imagens?.Para.que.lemos. imagens?.O.formador.poderá.selecionar.anteriormente.quais.imagens.serão.analisadas.pelo.grupo.(mapas,. fotografias,.quadros,.desenhos,.tirinhas,.charges,.etc.).de.acordo.com.diferentes.propósitos:.ler.por.prazer,.ler. para.apreciar.qualidades.estéticas,.ler.para.acompanhar.uma.sequência.de.fatos,.ler.para.reconstituir.costumes.de.determinado.tempo,.ler.para.identificar.comportamentos.e.valores.sociais,.ler.para.conhecer/aprender. algo,. ler. para. localizar. um. ponto. no. espaço,. ler. para. traçar. uma. rota,. ler. para. identificar. diferentes. elementos.de.uma.composição,.etc..O.objetivo.é.retomar.um.dos.eixos.de.nosso.projeto,.discutindo.as.diferentes.possibilidades.de.leitura.que.um.texto.nos.oferece.com.base.nos.propósitos.que.temos.durante.a.atividade.. Nesse. caso,. por. exemplo,. um. mapa. pode. ser. lido. para. localizarmos. um. país. para. aprendermos. aspectos.geográficos.de.um.território,.para.traçar.uma.rota.até.determinada.localidade,.para.identificarmos. o.conhecimento.geográfico.de.um.período,.etc..E,.para.cada.um.desses.propósitos,.poderemos.acionar.dife- Letras de luz.indd 118 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 119 rentes.procedimentos..O.formador.poderá.sistematizar.as.conclusões.do.grupo,.registrando-as.em.um.quadro.para.que.todos.possam.organizar.as.ideias.experimentadas.com.base.nesse.exercício. Para que lemos imagens? Como lemos imagens? 5. Imagem e narrativa: realizar. a. leitura. compartilhada. do. texto. farol. Lendo imagens,. de. Alberto. Manguel,.disponível.nesta.apostila..Pode-se.optar.pela.leitura.de.trechos.relevantes,.previamente.selecionados.pelo.formador..O.objetivo.é.ampliar.o.que.foi.discutido.até.o.momento..Nesse.texto,.o.autor.defende.a.ideia.de.que.a.leitura.de.imagens.é.feita.com.nossas.próprias.experiências.e.questiona.a.necessidade. de.existência.de.uma.“gramática”.do.olhar.para.a.compreensão.desse.tipo.de.texto..Para.ele,.toda.imagem. tem.uma.história.para.contar..Se,.como.Manguel.afirma,.“cada.imagem.é.um.mundo”.e.só.conseguimos. enxergar.o.que.faz.parte.do.nosso.universo.de.conhecimento,.é.impossível.nos.prendermos.a.único.roteiro.para.o.olhar..Todas.elas.podem.ser.lidas.e.traduzidas.em.palavras.pelo.público,.ainda.que.ele.não.seja. especialista.em.leitura.de.imagens..Sendo.assim,.todo.leitor.da.palavra.é.também.leitor.da.imagem,.e.vice-versa. 6. Estabelecendo outras relações entre imagem e texto: após.exercitarem.o.olhar.para.apreender.diferentes. sentidos. nas. imagens,. os. participantes. serão. convidados. a. estabelecer. relações. entre. as. imagens. e. outros.tipos.de.texto..O.objetivo.é.mostrar.que,.mesmo.estando.imersos.em.uma.sociedade.cercada.de.inúmeros.estímulos.visuais,.as.palavras.produzem.imagens,.e.as.imagens.geram.textos,.ampliando.mutuamente. seus.sentidos..Para.isso,.o.formador.pode.conduzir.o.exercício.proposto.no.texto-farol.Palavra e imagem:. leituras cruzadas,.de.Ivete.Lara.Camargos.Walty,.Maria.Nazareth.Soares.Fonseca.e.Maria.Zilda.Ferreira. Cury,.apresentando.aos.participantes.a.fotografia.de.Sebastião.Salgado.e.propondo.que.observem.o.que.ela. retrata.e.troquem.impressões.com.o.restante.da.turma..Deixar.que.falem.livremente.sobre.a.imagem.e.o. impacto.causado..Em.seguida,.dividi-los.em.sete.grupos:.para.cada.um.deles,.entregar.um.dos.outros.textos. sugeridos.pelas.autoras.(legenda.da.foto.escrita.por.Sebastião.Salgado,.a.letra.da.música.Brejo da Cruz,.o. poema.O bicho,.o.cartaz.da.LBV,.as.outras.duas.imagens.publicadas.no.jornal,.o.trecho.do.texto.publicado. referente.às.imagens.e.o.poema.Fim de feira,.de.Drummond)..Pedir.a.cada.grupo.para.ler.o.texto.que.lhe.foi. entregue.e.discutir.se.as.informações.apresentadas.ampliam/atribuem.mais.sentido.às.fotografias..Em.caso. afirmativo,.de.que.forma.essas.diferentes.linguagens.conversam?.Por.fim,.assistir.ao.curta.-metragem.Ilha das Flores.ou.a.trechos.do.documentário.Estamira.e.deixar.que.o.grupo.apresente.suas.impressões.sobre.o.que. conseguiram.observar.ao.longo.da.atividade. 7. Muitas imagens, infinitas palavras: para.iniciar.a.discussão.sobre.as.relações.entre.imagem.e.palavra. na.literatura,.apresentaremos.o.livro.que.sugerimos.compor.o.acervo.do.projeto,.cujo.texto.poderá.ser.abordado. pelo. grupo. de. teatro. na. próxima. montagem:. As aventuras de Bambolina,. de. Michele. Iacocca. (São. Paulo:.Ática,.2006)..Sob.a.orientação.do.formador,.a.dinâmica.de.leitura.e.análise.do.livro.pode.ser.realizada. coletivamente.. Entretanto,. as. atividades. propostas. devem. ser. desenvolvidas. em. grupos. menores. para. garantir.a.participação.e.a.agilidade.de.todos. Depois.da.realização.da.atividade,.é.preciso.que.se.faça.uma. reflexão.sobre.elas,.se.contribuem.para.ampliar.a.compreensão.sobre.a.leitura.de.imagens.e,.em.caso.afirmativo,.por.qual.motivo..Nesse.momento,.os.grupos.podem.socializar.suas.atividades.e.descobertas..O.objetivo. é.experimentar.a.análise.de.uma.obra,.desconstruindo-a.para.ampliar.o.seu.sentido,.apontando.diferentes. caminhos.para.a.compreensão.das.imagens. Letras de luz.indd 119 29/11/10 17:30 120 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento 8. A ilustração na literatura infantil: a.partir.desse.momento.da.oficina,.nos.dedicaremos.a.discutir.um. pouco.mais.a.ilustração.na.literatura.e.sua.importância.para.a.construção.de.sentido.dos.textos.escritos..Para. isso,.o.formador.deverá.realizar.uma.leitura.compartilhada.de.textos,.para.a.qual.sugerimos.O que é uma imagem narrativa?,.de.Ciça.Fittipaldi.(O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil ,.São.Paulo,.DCL,.2008. –.título.que.faz.parte.do.acervo.circulante).e.Um casamento perfeito,.de.Maria.Ligia.Pagenoto.(revista.Leituras,. março.de.2007,.ano.II,.vol..2)..Caso.considere.relevante,.ao.longo.da.leitura.o.formador.poderá.utilizar.alguns. dos.livros.citados.pelos.autores.para.exemplificar.os.conceitos.trazidos.em.seus.textos. 9. Representações visuais das bruxas na literatura infantil – Um estudo de caso do conto: talvez.nenhum.outro.personagem.seja.tão.presente.no.imaginário.coletivo.construído.por.meio.das.histórias.de.tradição.oral.como.as.bruxas..No.texto-farol.4,.disponível.ao.final.da.apostila,.os.participantes.serão.convidados. a.observar.algumas.ilustrações.e.descrições.literárias.de.bruxas.de.vários.contos,.procurando.refletir.sobre.a. maneira.como.elas.foram.representadas.por.diferentes.ilustradores.da.literatura.infantil.nacional.e.internacional..O.formador.pode.dividir.a.turma.em.grupos.e.entregar.cópias.de.alguns.contos.tradicionais.para.cada. um.deles.( João.e.Maria,.Rapunzel,.Branca.de.Neve.e.Baba-Yaga,.entre.outros)..Os.participantes.devem.fazer. a.leitura.dos.mesmos,.observando.os.comportamentos,.estados.mentais.(o.que.pensam,.como.pensam).e. características.das.bruxas.retratadas.(como.são.vistas,.como.se.vestem,.o.que.fazem.e.sentem,.que.sentimentos.causam.naqueles.que.encontram)..Em.seguida,.os.grupos.socializam.suas.impressões..Se.quiser,.o.formador.poderá.anotá-las.em.um.quadro,.registrando.o.título.do.conto,.o.nome.da.bruxa.e.os.principais.aspectos. observados.pelo.grupo..Para.finalizar.a.atividade,.o.formador.apresenta.imagens.dessa.personagem.nos.vários.contos.abordados.para.que.os.grupos.possam.responder.à.pergunta: de.que.forma.os.ilustradores.se. apropriaram.em.suas.representações.das.diferentes.informações.sobre.a.personagem.apresentadas.nos.contos?.Caso.sinta-se.mais.à.vontade.em.abordar.outro.personagem,.o.formador.poderá.selecionar.outras.imagens.e.seguir.o.mesmo.encaminhamento.proposto.nessa.atividade. 10. Texto já encenado por grupos de teatro do Projeto letras de Luz: os.grupos.de.teatro.do.projeto,. em.2010,.foram.convidados.a.eleger,.para.a.última.apresentação.do.ano,.os.contos.do.livro.Contos de adivinhação,.de.Ricardo.Azevedo.(Ática,.2008). 11. Atividade final – Mar de histórias: nosso.encontro.termina.com.o.Mar.de.Histórias..Nele.estarão. expostas.as.várias.imagens.exploradas.ao.longo.do.encontro,.além.dos.livros.do.acervo.e.outros.levados.pelo. formador..É.importante.que.o.formador.atue.como.mediador,.apresentando.as.obras,.os.autores.e.seu.contexto,.incentivando.o.grupo.a.pesquisar.outros.títulos.que.explorem.o.uso.de.imagens.e.suas.inúmeras.possibilidades.de.leitura. 12. Tarefa:.a) Organizar.a.leitura.de.um.livro.de.imagens.ou.de.um.vídeo.em.um.espaço.público..Os. participantes.poderão,.inclusive,.reproduzir.as.atividades.realizadas.na.oficina,.adaptando-as.aos.seus.grupos.. b) Fazer.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.seleção.do.livro.ou.da.imagem.utilizada,.preparação.para.o. trabalho,.da.própria.atuação.e.do.retorno.dos.ouvintes. 13. Avaliação: como.nas.oficinas.anteriores,.avaliar.o.encontro.para.identificar.se.os.objetivos.foram. cumpridos,.quais.aspectos.podem.ser.aprimorados.e.sugestões.do.grupo..Sempre.que.possível,.a.avaliação. deverá.ser.feita.por.escrito. 14. Para o próximo encontro: prepara-se.a.turma.para.o.próximo.encontro,.anunciando.o.tema.que.será. trabalhado.e.solicitando.aos.participantes.algumas.tarefas:.a) Trazer.um.livro.de.literatura.para.dar.de.presente. para.um.colega,.seja.comprado.ou.de.seu.acervo.pessoal;.b).Escolher.um.poema.para.ser.lido.no.sarau..Importante:.a.escolha.deve.ser.feita.em.livro.(e.não.na.internet)..Esse.livro.deverá.também.ser.apresentado.no.sarau. Letras de luz.indd 120 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 121 bibliografia básica BANYAI,.Istvan..O outro lado..São.Paulo:.Cosac.Naify,.2007. Este.é.um.livro.que.diz.muito.–.sem.usar.uma.palavra.sequer..O.autor,.Istvan.Banyai,.é.artista.gráfico.dos.bons,. perito.em.narrativas.com.imagens..Logo.na.primeira.página,.uma.menina.observa.da.janela.um.aviãozinho.de.papel. voando.lá.fora..De.onde.ele.vem?.Ao.virar.a.página,.um.garoto.do.apartamento.de.cima.se.diverte.arremessando.as. dobraduras..Assim.o.livro.segue,.sempre.com.uma.cena.que.se.transforma.na.próxima.página,.despertando.nossa.curiosidade.para.folhar.este.livro-imagem.em.busca.de.outro.ponto.de.vista. BERGER,.John..Modos de ver..Rio.de.Janeiro:.Rocco,.1999. Modos de ver.é.composto.de.sete.ensaios,.que.podem.ser.lidos.em.qualquer.ordem,.sendo.que.três.deles.usam.apenas. imagens..Ao.todo,.são.utilizadas.155.reproduções.de.obras.que.hoje.pertencem.a.acervos.de.importantes.museus.da. Europa..Apesar.de.ser.estruturado.com.base.em.ponderações.sobre.a.história.da.arte,.o.livro.transcende.a.sua.função. de.pensar.a.questão.estética.e.acaba.fazendo.o.leitor.refletir.sobre.a.sua.visão.de.mundo. EISNER,.Will..Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos..São.Paulo:.Devir,.2008. A.obra.discute.os.princípios.da.narrativa.com.a.combinação.sofisticada.de.texto.e.imagem..Apresentando.exemplos. utilizados. na. prática. pelo. próprio. autor,. além. de. artistas. como. Art. Spieglman,. All. Capp,. Milton. Caniff. e. Robert. Crumb,.entre.outros,.esse.tratado.abrange.as.etapas.da.narrativa.gráfica.até.uma.visão.mais.ampla.de.suas.aplicações.. Embora.as.histórias.em.quadrinhos.sejam.o.seu.alvo.principal,.Narrativas gráficas.também.revela.e.ensina.métodos.que. podem.ser.aplicados.no.cinema,.na.TV.e.na.internet. GUIMARÃES,.Luciano..A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores..São. Paulo:.Annablume,.2000. O.livro.apresenta.capítulos.que.abordam.o.tema.em.sua.complexidade,.mostrando.considerações.que.esclarecem.e. enriquecem.o.repertório.de.todos.aqueles.que.utilizam.a.cor.na.comunicação..Desde.a.exata.delimitação.da.cor.como. informação.cultural.e.suporte.para.a.expressão.simbólica.na.comunicação.humana.até.a.investigação.dos.processos.de. percepção.e.seus.‘comportamentos’.para.a.geração.de.sentido,.o.autor.expõe.um.universo.interdisciplinar,.ancorado.no. que.há.de.mais.recente.na.bibliografia.da.semiótica.da.cultura.e.das.ciências.da.cultura. MANGUEL,.Alberto..Lendo imagens..São.Paulo:.Cia..das.Letras,.2001. Nesse.livro,.Manguel.passa.ao.largo.do.vocabulário.árduo.da.crítica.e.defende.a.ideia.de.que.os.não-especialistas. têm.o.direito.de.ler.imagens.como.quem.lê.um.texto..O.autor.narra.histórias.que.se.ocultam.em.pinturas,.esculturas,. fotografias.e.projetos.arquitetônicos.desde.a.Roma.antiga.até.as.arrojadas.experiências.da.arte.do.século.XX. OLIVEIRA,.Ieda..O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador..São.Paulo:. DCL,.2008. Definir.o.que.é.qualidade.em.ilustração.de.livros.de.literatura.infantil.e.juvenil.não.é.tarefa.fácil..No.entanto,.Ieda. de.Oliveira,.doutora.em.Letras.e.especialista.em.literatura.infantil.e.juvenil,.reuniu.um.time.de.conceituados.ilustradores.brasileiros.e.portugueses.para.discorrer.sobre.o.assunto.por.meio.de.artigos.e.depoimentos..Uma.obra-prima.ilustrada.pelas.palavras.dos.artistas. WALTY,. Ivete. Lara. Camargos,. FONSECA,. Maria. Nazareth. Soares. e. CURY,. Maria. Zilda. Ferreira.. Palavra e imagem: leituras cruzadas..Belo.Horizonte:.Autêntica,.2006. As.palavras.gerando.imagens.e.as.imagens.gerando.textos.verbais,.num.processo.de.deslocamentos.e.condensações,. metonímias.e.metáforas.são,.pois,.o.objeto.desse.livro,.que.se.propõe.a.instigar.leituras.críticas,.em.tempos.e.espaços. diversos..Tradição.e.ruptura.se.articulam.na.prática.de.leitura.tematizada.na.casa.e.na.terra,.com.que.as.autoras.ilustram. suas.reflexões.teóricas,.associando.poemas,.crônicas,.notícias.de.jornal,.letras.de.músicas,.fotos,.propagandas.ilustrações. Letras de luz.indd 121 29/11/10 17:30 122 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento filmografia: Estamira. Marcos Prado, 2004. Estamira que dá nome ao documentário tem 63 anos. Com problemas mentais, ela trabalha há mais de duas décadas no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. O filme traça um perfil dessa interes‑ sante mulher, colocando em pauta assuntos como a saúde pública, a vida nos aterros cariocas e a miséria brasileira. Ilha das Flores. Jorge Furtado, 1989. Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompa‑ nhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho. La maison en petit cubes. Kunio Kato, 2008. Curta indicado ao Oscar em 2009, o filme narra a história de um velhinho solitário que mora em uma casa no meio do mar, formada por vários andares em forma de cubos. Quando seu cachimbo cai por um buraco no assoalho da casa, o protagonista sai à sua procura, evocando, em cada andar submerso, a memória de outros tempos vividos. Persépolis. Vincent Parranoud e Marjane Satrapi, 2007. Animação baseada nos quadrinhos (autobiográficos) de Marjane Satrapi que conta a história de jovem iraniana muito precoce e sincera. Durante a Revolução Islâmica, ela começa a desco‑ brir que está chegando à maturidade e deve lidar com mais responsabildades não só de seus atos, mas no modo de pensar. Letras de luz.indd 122 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 123 Sites interessantes http://www.houseofillustration.org.uk/ Casa.das.ilustrações.-.Primeiro.site.do.mundo.inteiramente.dedicado.aos.mais.variados.tipos.de.ilustração..Organizado.pelo.ilustrador.inglês.Quentin.Blake. http://www.childrensillustrators.com/. Site.que.reúne.material.disponível.na.web.sobre.ilustradores.de.livros.infantis.de.todo.o.mundo. www.magnumphotos.com MAGNUM.-.Maior.e.mais.famosa.cooperativa.de.fotógrafos.do.mundo..O.site.disponibiliza.algumas.imagens.e. informações.bibliográficas.de.seus.membros. http://www.masp.art.br MASP.-.Site.do.Museu.de.Arte.de.São.Paulo..Disponibiliza.parte.de.seu.acervo.digitalizado,.com.imagens.das. obras.e.informações.básicas.sobre.as.peças.e.seus.autores. http://www.metmuseum.org/ METROPOLITAN. -.Também. chamado. de.“Met”,. é. um. dos. maiores. e. mais. importantes. museus. do. mundo.. Possui.mais.de.2.milhões.de.obras.de.arte.que.abrangem.5.000.anos.de.história.e.recebe.mais.de.5.milhões.de.visitantes.por.ano..Pelo.site,.é.possível.conhecer.algumas.das.obras.que.estão.disponíveis.em.seu.acervo. http://www.louvre.fr MUSEU.DO.LOUVR.-.Site.de.um.dos.maiores.museus.do.mundo,.responsável.por.algumas.das.obras.de.arte. mais.famosas.da.história.da.humanidade. http://www.pinacoteca.org.br/ PINACOTECA.DO.ESTADO.DE.SÃO.PAULO.-.Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as. obras.em.exposição. www.ruideoliveira.com.br Rui. de. Oliveira. -. Site. oficial. do. premiado. ilustrador. brasileiro.. Navegando,. é. possível. visualizar. alguns. de. seus. maravilhosos.livros.de.imagens. http://www.sib.org.br/ Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil.-.Dispõe.de.uma.galeria.com.imagens.de.ilustradores.de.todo.o.país,.além.de. algumas.informações.sobre.o.seu.trabalho. www.surlalunesfairytailes.com. Site,.em.inglês,.com.rico.material.sobre.os.contos.de.fadas.tradicionais..Repleto.de.imagens,.com.a.história.das. histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto.. PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO http://www.pinacoteca.org.br/ Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as.obras.em.exposição. Rui.de.Oliveira www.ruideoliveira.com.br Letras de luz.indd 123 29/11/10 17:30 124 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Site.oficial.do.premiado.ilustrador.brasileiro..Navegando,.é.possível.visualizar.alguns.de.seus.maravilhosos.livros.de. imagens. Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil http://www.sib.org.br/ Dispõe.de.uma.galeria.com.imagens.de.ilustradores.de.todo.o.país,.além.de.algumas.informações.sobre.o.seu.trabalho. www.surlalunesfairytailes.com Site,.em.inglês,.com.rico.material.sobre.os.contos.de.fadas.tradicionais..Repleto.de.imagens,.com.a.história.das. histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto. texto-farol 1 Lendo imagens, de Alberto manguel Alberto Manguel é argentino, naturalizado canadense. É escritor, tradutor e antologista conhecido mundialmente, com diversos livros publicados. O texto, a seguir, corresponde à introdução de sua obra Lendo imagens e propõe algumas reflexões sobre o tema proposto nessa oficina. Uma.das.primeiras.imagens.de.que.me.lembro,.com.plena.cons.ciência.de.ter.sido.criada.sobre.a.tela.e. pintada.por.mão.huma.na,.foi.um.quadro.de.Vincent.Van.Gogh,.de.barcos.de.pesca.so.bre.a.praia.de.Saintes-Maries..Eu.tinha.nove.ou.dez.anos,.e.uma.tia,.que.era.pintora,.me.convidara.para.ir.ao.seu.ateliê.para.conhecer.o.local.onde.ela.trabalhava..Era.verão.em.Buenos.Aires,.quente.e.úmido..O.pe.queno.aposento.estava. frio.e.tinha.um.cheiro.maravilhoso.de.terebinti.na.e.óleo;.as.telas.armazenadas,.apoiadas.umas.nas.outras,.me. pareciam.livros.deformados.no.sonho.de.alguém.que.soubesse.vagamente.o.que.eram.livros.e.os.houvesse. imaginado.enormes,.feitos.de.uma.única.pági.na,.dura.e.grossa;.os.esboços.e.os.recortes.de.jornal.que.minha. tia.havia.pendurado.na.parede.sugeriam.um.local.de.pensamentos.particulares,.fragmentados.e.livres..Em. uma.estante.de.livros.baixa,.havia.volumes.grandes.de.reproduções.coloridas,.a.maioria.publicada.pela.firma. suíça.Skira,.um.nome.que,.para.ela,.era.sinônimo.de.excelência..Minha.tia.puxou.o.volume.dedicado.a.Van. Gogh,.acomodou-me.em.uma.poltrona.e.pôs.o.livro.sobre.os.meus.joelhos..Em.seguida,.deixou-me.só. A.maioria.dos.meus.livros.tinha.ilustrações.que.repetiam.ou.explica.vam.a.história..Algumas,.eu.sentia,. eram.melhores.do.que.outras:.eu.preferia.as.reproduções.de.aquarelas,.da.minha.edição.alemã.dos.Contos de fada de.Grimm,.às.ilustrações.a.nanquim.da.minha.edição.ingle.sa..Creio.que,.a.meu.juízo,.aquelas.ilustrações. condiziam.melhor.com.a.forma.como.eu.imaginava.um.personagem.ou.um.lugar,.ou.forneciam.mais.detalhes.para.completar.minha.visão.daquilo.que.a.página.me.dizia.estar.acontecendo,.realçando.ou.corrigindo. as.palavras..Gustave.Flaubert.opunha-se.de.forma.intransigente.à.ideia.de.ilustrações.acom.panharem.as. palavras..Ao.longo.da.sua.vida,.recusou-se.a.admitir.que.qualquer.ilustração.acompanhasse.uma.obra.sua. porque.achava.que.imagens.pictóricas.reduziam.o.universal.ao.singular..“Ninguém.jamais.vai.me.ilustrar. enquanto.eu.estiver.vivo”,.escreveu.ele,.“porque.a.des.crição.literária.mais.bela.é.devorada.pelo.mais.reles. desenho..Assim.que.um.personagem.é.definido.pelo.lápis,.perde.seu.caráter.geral,.aquela.concordância.com. Letras de luz.indd 124 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 125 milhares.de.outros.objetos.conhecidos.que.le.va.o.leitor.a.dizer:.‘eu.já.vi.isso’,.ou.‘isso.deve.ser.assim.ou.assado’..Uma.mulher.desenhada.a.lápis.parece.uma.mulher,.e.só.isso..A.ideia,.portan.to,.está.encerrada,.completa,. e.todas.as.palavras,.então,.se.tornam.inú.teis,.ao.passo.que.uma.mulher.apresentada.por.escrito.evoca.milhares.de.mulheres.diferentes..Por.conseguinte,.uma.vez.que.se.trata.de.uma.questão.de.estética,.eu.formalmente.rejeito.todo.tipo.de.ilustração.”.Nunca.concordei.com.essas.segregações.inflexíveis. Mas.as.imagens.que.minha.tia.me.apresentou.naquela.tarde.não.ilustravam.nenhuma.história..Havia.um. texto:.a.vida.do.pintor,.fragmen.tos.das.cartas.ao.seu.irmão,.que.não.li.senão.muito.mais.tarde,.o.título.das.pinturas,.sua.data.e.local..Mas,.em.um.sentido.muito.categórico,.aquelas.imagens.se.mantinham.isoladas,.desafiadoras,.me.aliciando.para.uma.leitura..Nada.havia.para.eu.fazer.exceto.olhar.para.aquelas.ima.gens:.a.praia.cor. de.cobre,.o.barco.vermelho,.o.mastro.azul..Olhei.para.elas.demorada.e.atentamente..Nunca.as.esqueci. A.praia.multicolorida.de.Van.Gogh.vinha.à.tona.com.frequência.na.imaginação.da.minha.infância..Em. algum.momento.do.século.XVI,.o.eminente.ensaísta.Francis.Bacon.observou.que,.para.os.antigos,.todas.as. imagens.que.o.mundo.dispõe.diante.de.nós.já.se.acham.encerradas.em.nossa.memória.desde.o.nascimento.. “Desse.modo,.Platão.tinha.a.concepção”,.escreveu.ele,.“de que todo conhecimento não passava de recordação; do. mesmo.modo,.Salomão.proferiu.sua.conclusão.de que toda novidade não passa de esquecimento.” Se.isso.for. verdade,.esta.mos.todos.refletidos.de.algum.modo.nas.numerosas.e.distintas.imagens.que.nos.rodeiam,.uma. vez.que.elas.já.são.parte.daquilo.que.somos:.ima.gens.que.criamos.e.imagens.que.emolduramos;.imagens.que. compo.mos.fisicamente,.à.mão,.e.imagens.que.se.formam.espontaneamente.na.imaginação;.imagens.de.rostos,.árvores,.prédios,.nuvens,.paisagens,.ins.trumentos,.água,.fogo,.e.imagens.daquelas.imagens.–.pintadas,. escul.pidas,. encenadas,. fotografadas,. impressas,. filmadas.. Quer. descubramos. nessas. imagens. circundantes. lembranças.desbotadas.de.uma.beleza.que,.em.outros.tempos,.foi.nossa.(como.sugeriu.Platão),.quer.elas. exi.jam.de.nós.uma.interpretação.nova.e.original,.por.meio.de.todas.as.pos.sibilidades.que.nossa.linguagem. tenha.a.oferecer.(como.Salomão.in.tuiu),.somos.essencialmente.criaturas.de.imagens,.de.figuras. As.imagens,.assim.como.as.histórias,.nos.informam..Aristóteles.su.geriu.que.todo.processo.de.pensamento.requeria.imagens..“Ora,.no.que.concerne.à.alma.pensante,.as.imagens.tomam.o.lugar.das.percepções.diretas;.e,.quando.a.alma.afirma.ou.nega.que.essas.imagens.são.boas.ou.más,.ela.igualmente.as.evita.ou.as. persegue..Portanto.a.alma.nunca.pen.sa.sem.uma.imagem.mental.”.Sem.dúvida,.para.o.cego,.outras.formas. de.percepção,.sobretudo.por.meio.do.som.e.do.tato,.suprem.a.imagem.mental.a.ser.decifrada..Mas,.para. aqueles.que.podem.ver,.a.existência.se.passa.em.um.rolo.de.imagens.que.se.desdobra.continuamente,.imagens.capturadas.pela.visão.e.realçadas.ou.moderadas.pelos.outros.senti.dos,.imagens.cujo.significado.(ou. suposição.de.significado).varia.constantemente,.configurando.uma.linguagem.feita.de.imagens.traduzidas. em.palavras.e.de.palavras.traduzidas.em.imagens,.por.meio.das.quais.tentamos.abarcar.e.compreender.nossa.própria.existência..As.imagens.que.formam.nosso.mundo.são.sím.bolos,.sinais,.mensagens.e.alegorias..Ou. talvez.sejam.apenas.presenças.vazias.que.completamos.com.o.nosso.desejo,.experiência,.questionamento.e. remorso..Qualquer.que.seja.o.caso,.as.imagens,.assim.como.as.palavras,.são.a.matéria.de.que.somos.feitos. Mas.qualquer.imagem.pode.ser.lida?.Ou,.pelo.menos,.podemos.criar.uma.leitura.para.qualquer.imagem?. E,.se.for.assim,.toda.ima.gem.encerra.uma.cifra.simples.mente.porque.ela.parece.a.nós,.seus.espectadores,.um. sistema.auto-suficiente.de.signos.e.regras?.Qualquer.imagem.admite.tradução.em.uma.linguagem.compreensível,.revelando.ao.espectador.aquilo.que.po.demos.chamar.de.Narrativa.da.imagem,.com.N.maiúsculo? As.sombras.na.parede.da.caverna.de.Platão,.os.letreiros.de.néon.em.um.país.estrangeiro.cuja.língua.não. falamos,.o.formato.de.uma.nuvem.que.Hamlet.e.Polônio.vêem.no.céu,.certa.tarde,.o.letreiro.Bois-Char-bons Letras de luz.indd 125 29/11/10 17:30 126 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento que.(segundo.André.Breton).se.lê.Police quando.visto.de.determi.nado.ângulo,.a.escrita.que.os.antigos.sumérios.acreditavam.poder.ler.nas.pegadas.dos.pássaros.sobre.a.lama.do.rio.Eufrates,.as.figuras.mito.lógicas.que. os.astrônomos.gregos.identificavam.na.concatenação.dos.pontos.assinalados.por.estrelas.distantes,.o.nome. de.Alá.que.o.fiel.vis.lumbrou.num.abacate.aberto.e.no.logotipo.dos.artigos.esportivos.da.Ni.ke,.a.escrita.ardente.de.Deus.na.parede.do.palácio.de.Baltazar,.sermões.e.livros.que.Shakespeare.encontrou.em.pedras.e. em.regatos,.as.cartas.do.tarô.por.meio.das.quais.o.viajante.de.Calvino.lia.narrativas.universais.em.O castelo dos destinos cruzados, paisagens.e.imagens.identificadas.por.viajantes.do.século.XVIII.nos.veios.de.pedras.de. mármore,.o.bilhete.rasgado.de.um.quadro.de.avisos.e.realojado.em.uma.pintura.de.Tàpies,.o.rio.de.Heráclito.que.é.também.o.fluxo.do.tempo,.as.folhas.de.chá.no.fundo.de.uma.xícara.na.qual.os.sábios.chineses. acreditam.poder.ler.nos.sas.vidas,.o.vaso.estilhaçado.do.Sahib Lurgan.que.quase.se.recompõe.por.inteiro. diante.dos.olhos.incrédulos.de.Kim,.a.flor.de.Tennyson.na.parede.gretada,.os.olhos.do.cão.de.Neruda.nos. quais.o.poeta.descrente.via.Deus,.o.He kohau rongorongo, ou.“pau.que.fala”,.da.ilha.da.Páscoa,.que.sabemos. guardar.uma.mensagem.indecifrada.até.hoje,.a.cidade.de.Buenos.Aires.que,.para.o.cego.Jorge.Luis.Borges,. era.“um.mapa.de.mi.nhas.iluminações.e.de.meus.fracassos”,.os.pontos.de.costura.na.roupa.de.Kisima.Kamala,.alfaiate.de.Serra.Leoa,.nos.quais.ele.viu.o.futuro.al.fabeto.da.escrita.mande,.a.baleia.errante.que.são.Brendan.tomou.por.uma.ilha,.os.três.picos.das.Montanhas.Rochosas.que.delineiam.o.perfil.de.três.irmãs.contra. o.céu.ocidental.do.Canadá,.a.geografia.filosófica.de.um.jardim.japonês,.os.cisnes.selvagens.em.Coole,.nos. quais.Yeats.deci.frou.nossa.transitoriedade.–.tudo.isso.oferece.ou.sugere,.ou.simples.mente.comporta,.uma. leitura.limitada.apenas.pelas.nossas.aptidões..“Como.saber.se.cada.pássaro.que.cruza.os.caminhos.do.ar/.não. é.um.imenso.mundo.de.prazer,.vedado.por.nossos.cinco.sentidos?”,.indagou.William.Blake. Se.a.natureza.e.os.frutos.do.acaso.são.passíveis.de.interpretação,.de.tradução.em.palavras.comuns,.no. vocabulário.absolutamente.artificial.que.construímos.a.partir.de.vários.sons.e.rabiscos,.então.talvez.esses. sons.e.rabiscos.permitam,.em.troca,.a.construção.de.um.acaso.ecoado.e.de.uma.natureza.espelhada,.um. mundo.paralelo.de.palavras.e.imagens.mediante.o.qual.podemos.reconhecer.a.experiência.do.mundo.que. cha.mamos.de.real..“Pode.ser.chocante.falar.da.Divina comédia ou.da.Mona Lisa como.uma.‘réplica’”,.diz. Elaine.Scarry,.autora.de.um.livro.incomum.sobre.o.significado.da.beleza,.“visto.serem.eles.tão.desprovidos. de.antecedentes,.porém.o.mundo.recorda.o.fato.de.que.algo,.ou.alguém,.deu.origem.à.criação.dessas.obras.e. permanece.silenciosamente.presente.no.objeto.recém-nascido.”.Ao.que.podemos.acrescentar.que.o.objeto. recém-nascido.pode,.por.sua.vez,.dar.origem.a.uma.miríade.de.objetos.recém-nascidos.–.as.experiências. receptivas.do.espectador.ou.do.leitor.–.que,.todos.e.cada.um.deles,.também.o.contêm. Quando.eu.tinha.catorze.ou.quinze.anos,.nosso.professor.de.histó.ria,.que.nos.mostrava.slides de.arte. pré-histórica,.nos.pediu.que.imagi.nássemos.o.seguinte:.durante.toda.a.sua.vida,.um.homem.vê.o.sol.se.pôr,. ciente.de.que.isso.assinala.o.fim.cíclico.de.um.deus.cujo.nome.sua.tribo.não.pronuncia..Certo.dia,.pela. primeira.vez,.o.homem.ergue.a.ca.beça.e,.subitamente,.com.toda.a.clareza,.vê.o.sol.de.fato.mergulhar.em. um.lago.de.chamas..Em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.expli.car),.o.homem.afunda.as.mãos.na. lama.vermelha.e.pressiona.a.palma.das.mãos.de.encontro.à.parede.da.sua.caverna..Após.um.tempo,.outro. homem.vê.as.marcas.da.palma.das.mãos.e.sente-se.atemorizado,.ou.co.movido,.ou.simplesmente.curioso.e,. em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.explicar),.se.põe.a.contar.uma.história..Em.algum.local.dessa. narrativa,.não.mencionado,.mas.presente,.encontra-se.antes.de.tudo.o.pôr-do-sol.contemplado.e.o.deus. que.morre.todo.dia,.antes.do.cair.da.noite,.e.o.sangue.desse.deus.derramado.pelo.céu.ocidental..A.imagem. dá.origem.a.uma.história,.que,.por.sua.vez,.dá.origem.a.uma.imagem..“O.consolo.do.discurso”,.disse.o. Letras de luz.indd 126 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 127 melancólico.filósofo.Soren.Kierkegaard.(e.poderia.ter.acrescentado,.“e.de.criar.imagens”),.“é.que.ele.me. traduz.para.o.universal.” Formalmente,.as.narrativas.existem.no.tempo,.e.as.imagens,.no.es.paço..Durante.a.Idade.Média,.um.único.painel.pintado.poderia.repre.sentar.uma.sequência.narrativa,.incorporando.o.fluxo.do.tempo.nos.limites. de. um. quadro. espacial,. co.mo. ocorre. nas. modernas. histórias. em. quadrinhos,. com. o. mesmo. per.sonagem. aparecendo.várias.vezes.em.uma.paisagem.unificadora,.à.medida.que.ele.avança.pelo.enre.do.da.pintura.. Com.o.desenvolvi.mento.da.perspectiva,.na.Renas.cença,.os.quadros.se.congelam.em.um.instante.único:.o. momento.da.visão.tal.como.percebida.do.ponto.de.vista.do.espectador..A.narrativa,.então,.passou.a.ser.transmitida.por.outros.meios:.mediante.“simbolismo,.poses.dramáticas,.alusões.à.li.teratura,.títulos”.–.ou.seja,.por. meio.daquilo.que.o.espectador,.por.ou.tras.fontes,.sabia.estar.ocorrendo. Ao.contrário.das.imagens,.as.palavras.escritas.fluem.constantemente.para.além.dos.limites.da.página:.a. capa.e.a.quarta.capa.de.um.livro.não.estabelecem.os.limites.de.um.texto,.que.nunca.existe.integralmente. co.mo.um.todo.físico,.mas.apenas.em.frações.ou.resumos..Podemos,.com.um.rápido.esforço.do.pensamento,. evocar.um.verso.de.“The.Rime.of.the.Ancient.Mariner”.ou.um.resumo.de.vinte.palavras.de.Crime e castigo, mas.não.os.livros.inteiros:.sua.existência.repousa.na.estável.corrente.de.palavras.que.os.encerra,.a.qual.flui. do.início.até.o.fim,.da.capa.até.a.quarta.capa,.no.tempo.que.concedemos.à.leitura.desses.livros. As.imagens,.porém,.se.apresentam.à.nossa.consciência.instantanea.mente,.encerradas.pela.sua.moldura.–.a. parede.de.uma.caverna.ou.de.um.museu.–.em.uma.superfície.específica..Os.botes.de.pesca.de.Van.Gogh,.por. exemplo,.foram.para.mim,.naquela.primeira.tarde,.pronta.mente.reais.e.definitivos..Com.o.correr.do.tempo,. podemos.ver.mais.ou.menos.coisas.em.uma.imagem,.sondar.mais.fundo.e.descobrir.mais.de.talhes,.associar.e. combinar.outras.imagens,.emprestar-lhe.palavras.para.contar.o.que.vemos.mas,.em.si.mesma,.uma.imagem. existe.no.espaço.que.ocupa,.independente.do.tempo.que.reservamos.para.contemplá.-la:.só.vários.anos.mais. tarde.fui.notar.que.um.dos.botes.tinha.o.nome.Ami-tié pintado.no.casco..Mais.tarde,.também,.vim.a.saber.que,. em.junho.de.1888,.Van.Gogh,.que.estava.em.Aries,.caminhara.o.longo.percurso.até.Saintes-Maries-de-la-Mer,. uma.aldeia.de.pescadores.à.qual.ciganos.de.toda.a.Europa.ainda.hoje.fazem.uma.peregrinação.anual..Em.Saintes-Maries,.ele.fez.desenhos.de.botes.e.de.casas,.e.depois.transformou.esses.desenhos.em.pinturas..Foi.a.primeira.vez.que.viu.o.Mediterrâneo..Tinha.35.anos..Seis.meses.depois,.cortaria.sua.orelha.esquerda.para.dar.de. presente,.embrulhada.em.uma.folha.de.jornal,.para.uma.prostituta.de.um.bordel.próximo..Para.mim,.todas. essas.informações.vieram.mais.tarde.–.os.pormenores,.os.detalhes.geográficos,.a.cronologia,.o.inci.dente.da. orelha.amputada,.que,.a.exemplo.do.círculo.à.mão.livre.traça.do.por.Giotto.ou.do.pincel.que.o.rei.Carlos.V. apanhou.para.Ticiano,.fa.zia.parte.da.história.convencional.da.arte.que.nos.era.ensinada.na.escola.de.forma. graciosa.–.e.elas.apoiaram.ou.questionaram.a.validade.da.mi.nha.primeira.leitura..Mas.no.início.não.havia.nada,. exceto.a.própria.pin.tura..É.desse.ponto.fixo.no.espaço.que.partimos. Histórias.e.comentários,.legendas.e.catálogos,.museus.temáticos.e.livros.de.arte.tentam.guiar-nos.através. de.escolas.distintas,.de.épocas.distintas.e.de.países.distintos..Mas.aquilo.que.vemos.quando.percorre.mos.as. salas.de.uma.galeria,.ou.quando.contemplamos.imagens.em.uma.tela,.ou.quando.seguimos.as.páginas.sucessivas.de.um.volume.de.repro.duções,.termina.por.escapar.de.tais.inibições..Vemos.uma.pintura.como.algo. definido.por.seu.contexto;.podemos.saber.algo.sobre.o.pintor.e.so.bre.o.seu.mundo;.podemos.ter.alguma. ideia.das.influências.que.molda.ram.sua.visão;.se.tivermos.consciência.do.anacronismo,.podemos.ter.o.cuidado.de.não.traduzir.essa.visão.pela.nossa.–.mas,.no.fim,.o.que.ve.mos.não.é.nem.a.pintura.em.seu.estado. fixo,.nem.uma.obra.de.arte.aprisionada.nas.coordenadas.estabelecidas.pelo.museu.para.nos.guiar. Letras de luz.indd 127 29/11/10 17:30 128 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento O.que.vemos.é.a.pintura.traduzida.nos.termos.da.nossa.própria.ex.periência..Conforme.Bacon.sugeriu,. infelizmente.(ou.felizmente).só.podemos.ver.aquilo.que,.em.algum.feitio.ou.forma,.nós.já.vimos.antes..Só. podemos.ver.as.coisas.para.as.quais.já.possuímos.imagens.identificá.veis,.assim.como.só.podemos.ler.em.uma. língua.cuja.sintaxe,.gramática.e.vocabulário.já.conhecemos..Na.primeira.vez.em.que.vi.os.botes.de.pesca.de. Van.Gogh,.coloridos.de.forma.radiante,.algo.em.mim.reconhe.ceu.algo.espelhado.neles..Misteriosamente,. toda.imagem.supõe.que.eu.a.veja. Quando. lemos. imagens. –. de. qualquer. tipo,. sejam. pintadas,. escul.pidas,. fotografadas,. edificadas. ou. encenadas.–,.atribuímos.a.elas.o.caráter.temporal.da.narrativa..Ampliamos.o.que.é.limitado.por.uma.moldura.para.um.antes.e.um.depois.e,.por.meio.da.arte.de.narrar.histórias.(sejam.de.amor.ou.de.ódio),.conferimos. à. imagem. imutável. uma. vida. infinita. e. inesgotável.. André. Malraux,. que. participou. tão. ativamente.da.vida.cultural.e.da.vida.política.francesa.no.século.XX.(como.soldado,.ro.mancista.e.ministro. da.Cultura.pioneiro.na.França),.argumentou.com.lucidez.que,.ao.situarmos.uma.obra.de.arte.entre.as. obras.de.arte.cria.das.antes.e.depois.dela,.nós,.os.espectadores.modernos,.tornávamo-nos.os.primeiros.a. ouvir.aquilo.que.ele.chamou.de.“canto.da.metamorfo.se”–.quer.dizer,.o.diálogo.que.uma.pintura.ou.uma. escultura.trava.com.outras.pinturas.e.esculturas,.de.outras.culturas.e.de.outros.tempos..No.passado,.diz. Malraux,.quem.contemplava.o.portal.esculpido.de.uma.igreja.gótica.só.poderia.fazer.comparações.com. outros.portais.esculpi.dos,.dentro.da.mesma.área.cultural;.nós,.ao.contrário,.temos.à.nossa.disposição.incontáveis. imagens. de. esculturas. do. mundo. inteiro. (desde. as. estátuas. da. Suméria. àquelas. de. Elefanta,. desde.os.frisos.da.Acrópole.até.os.tesouros.de.mármore.de.Florença).que.falam.para.nós.em.uma.língua. comum,.de.feitios.e.formas,.o.que.permite.que.nossa.reação.ao.portal.gótico.seja.retomada.em.mil.outras. obras. esculpidas.. A. esse. pre.cioso. patrimônio. de. imagens. reproduzidas,. que. está. à. nossa. disposição. na. página.e.na.tela,.Malraux.chamou.“museu.imaginário”. E,.no.entanto,.os.elementos.da.nossa.resposta,.o.vocabulário.que.em.pregamos.para.desentranhar.a.narrativa.que.uma.imagem.encerra.(se.jam.os.botes.de.Van.Gogh.ou.o.portal.da.Catedral.de.Chartres),.são. de.terminados.não.só.pela.iconografia.mundial,.mas.também.por.um.amplo.espectro.de.circunstâncias,.sociais.ou.privadas,.fortuitas.ou.obrigatórias..Construímos.nossa.narrativa.por.meio.de.ecos.de.outras.narrativas,.por.meio.da.ilusão.do.auto-reflexo,.por.meio.do.conhecimento.técnico.e.histórico,.por.meio.da.fofoca,. dos.devaneios,.dos.preconceitos,.da.ilu.minação,.dos.escrúpulos,.da.ingenuidade,.da.compaixão,.do.engenho.. Nenhuma.narrativa.suscitada.por.uma.imagem.é.definitiva.ou.exclusiva..E.as.medidas.para.aferir.a.sua.justeza.variam.segundo.as.mesmas.cir.cunstâncias.que.dão.origem.à.própria.narrativa..Ao.percorrer.um.mu.seu. no.século.I.d.C.,.o.amante.rejeitado.Encolpius.vê.as.numerosas.ima.gens.de.deuses.pintadas.pelos.grandes. artistas.do.passado.–.Zêuxis,.Protógenes,.Apeles.–.e.exclama,.em.sua.angústia.solitária:.“Então.mes.mo.os. deuses.nos.céus.são.abalados.pelo.amor!”..Encolpius.reconhece.nas.cenas.mitológicas.que.o.cercam,.e.que. representam.as.aventuras.amorosas.do.Olimpo,.reflexos.das.suas.próprias.emoções..As.pinturas.o.comovem. porque.parecem,.metaforicamente,.falar.dele..As.pinturas.são.emolduradas.pela.sua.apreensão.e.pelas.circunstâncias;.elas.agora.exis.tem.no.tempo.de.Encolpius.e.compartilham.o.passado,.o.presente.e.o.futuro.dele.. As.obras.tornaram-se.autobiográficas. Stendhal,.em.seu.relato.de.uma.visita.a.Florença.em.1817,.descre.veu.os.efeitos.do.seu.encontro.com.a. arte.italiana.em.termos.que,.mais.tarde,.tornaram-se.sintomáticos.de.uma.doença.psicossomática.diagnosticável..“Ao.sair.da.igreja.de.Santa.Croce”,.escreveu.ele,.“senti.uma.pal.pitação.no.coração..A.vida.se.esvaía.de. mim.enquanto.eu.caminhava,.e.tive.medo.de.cair.”.A.chamada.síndrome.de.Stendhal.afeta.visitantes.(sobre- Letras de luz.indd 128 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 129 tudo.de.países.da.América.do.Norte.e.da.Europa,.exceto.a.Itália).que.vêem.as.obras-primas.da.Renascença. pela.primeira.vez..Algo.nes.sas.obras.de.arte.colossais.as.assombra,.e.a.experiência.estética,.em.lu.gar.de.ser. uma.experiência.de.revelação.e.de.conhecimento,.torna-se.caótica.e.simplesmente.desnorteante,.a.autobiografia.como.pesadelo. A.imagem.de.uma.obra.de.arte.existe.em.algum.local.entre.percep.ções:.entre.aquela.que.o.pintor.imaginou.e.aquela.que.o.pintor.pôs.na.tela;.entra.aquela.que.podemos.nomear.e.aquela.que.os.contemporâ.neos. do.pintor.podiam.nomear;.entre.aquilo.que.lembramos.e.aquilo.que.aprendemos;.entre.o.vocabulário.comum,.adquirido,.de.um.mundo.social,.e.um.vocabulário.mais.profundo,.de.símbolos.ancestrais.e.secre.tos.. Quando.tentamos.ler.uma.pintura,.ela.pode.nos.parecer.perdida.em.um.abismo.de.incompreensão.ou,.se. preferirmos,.em.um.vasto.abis.mo.que.é.uma.terra.de.ninguém,.feito.de.interpretações.múltiplas..O.crítico. pode.resgatar.uma.obra.de.arte.até.o.ponto.da.reencarnação;.o.artista.pode.repudiar.uma.obra.de.arte.ate.o. ponto.da.destruição..Auguste.Renoir.conta.como,.por.ocasião.do.seu.regresso.da.Itália,.em.companhia.de. um.amigo,.foi.visitar.Paul.Cézanne,.que.trabalhava.no.Midi..O.amigo.de.Renoir.teve.um.violento.ataque.de. diarréia.e.pediu.algumas.folhas.para.se.limpar..Cézanne.lhe.ofereceu.uma.folha.de.pa.pel..“Era.uma.das. aquarelas.mais.perfeitas.de.Cézanne;.ele.a.havia.jo.gado.no.meio.das.pedras.depois.de.ter.trabalhado.nela. como.um.escra.vo,.durante.vinte.sessões.” Leituras. críticas. acompanham. imagens. desde. o. início. dos. tempos,. mas. nunca. efetivamente. copiam,. substituem.ou.assimilam.as.imagens..“Não.explicamos.as.imagens”,.comentou.com.sagacidade.o.historiador. da.arte.Michael.Baxandall,.“explicamos.comentários.a.respeito.de.ima.gens.”.Se.o.mundo.revelado.em.uma. obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito.dessa.obra,.a.obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito. da.sua.apreciação.crítica..“A.forma”,.escreve.Balzac,.“em.suas.representações,.é.aquilo.que.ela.é.em.nós:.apenas.um.artifício.para.co.municar.ideias,.sensações,.uma.vasta.poesia..Toda.imagem.é.um.mun.do,.um.retrato. cujo.modelo.apareceu.em.uma.visão.sublime,.banhada.de.luz,.facultada.por.uma.voz.interior,.posta.a.nu.por. um.dedo.celestial.que.aponta,.no.passado.de.uma.vida.inteira,.para.as.próprias.fontes.de.expressão.”.Nossas. imagens.mais.antigas.são.simples.linhas.e.cores.borradas..Antes.das.figuras.de.antílopes.e.de.mamutes,.de. homens.correndo.e.de.mulheres.férteis,.riscamos.traços.ou.estampamos.a.palma,.das.mãos.nas.paredes.de. nossas.cavernas.para.assinalar.nossa.presença.para.preencher.um.espaço.vazio,.para.comunicar.uma.memória.ou.um.aviso,.para.sermos.humanos.pela.primeira.vez. Por.“mais.antigas”,.é.claro,.queremos.dizer.“mais.novas”:.aquilo.que.foi.visto.pela.primeira.vez,.no.alvorecer.mais.remoto.em.nossa.memória,.quando.essas.imagens.surgiram.para.nossos.ancestrais.puras.e.portentosas,. incontaminadas. pelo. hábito. ou. pela. experiência,. livres. da. vigilância. da. crítica.. Ou,. talvez,. não. completamente.livres,.como.sugeriu.Rudyard Kipling: Quando o rubor de um sol nascente caiu pela primeira vez no verde [e no dourado do Éden, Nosso pai Adão sentou-se sob a Árvore e, com um graveto, riscou [na argila; E o primeiro e tosco desenho que o mundo viu foi um júbilo para o [coração vigoroso desse homem, Até o Diabo cochichar, por trás da folhagem: “É bonito, mas será Arte?” Letras de luz.indd 129 29/11/10 17:30 130 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Para.o.bem.ou.para.o.mal,.toda.obra.de.arte.é.acompanhada.por.sua.apreciação.crítica,.a.qual,.por.sua.vez,. dá.origem.a.outras.apreciações.críticas..Algumas.destas.transformam-se,.elas.mesmas,.em.obras.de.arte,.por. seus.próprios.méritos:.a.interpretação.que.Stephen.Sondheim.fez.da.pintura.La Grande Jatte, de.Georges. Seurat,.os.comentários.de.Samuel.Beckett.sobre.a.Divina comédia, de.Dante,.os.comentários.musicais.de. Mussorgsky.sobre.as.pinturas.de.Viktor.Gartman,.as.leituras.pictóricas.que.Henry.Fuseli.fez.de.Shakespeare,.as.traduções.que.Marianne.Moore.fez.de.La.Fontaine,.a.versão.de.Thomas.Mann.da.oeuvre musical.de. Gustav.Mahler..O.romancista.argentino.Adolfo.Bioy.Casares.sugeriu,.certa.vez,.uma.cadeia.infinita.de.obras. de.arte.e.de.seus.comentários,.a.começar.por.um.único.poema.do.século.XV,.do.poeta.espanhol.Jorge.Manrique..Bioy.sugeriu.a.construção.de.uma.estátua.para.o.compositor.de.uma.sinfonia.baseada.em.uma.peça. sugerida.pelo.retrato.de.um.tra.dutor.dos.“Dísticos.sobre.a.morte.de.seu.pai”,.de.Manrique..Cada.obra.de. arte.se.expande.mediante.incontáveis.camadas.de.leituras,.e.cada.lei.tor.remove.essas.camadas.a.fim.de.ter. acesso.à.obra.nos.termos.do.pró.prio.leitor..Nessa.última.(e.primeira).leitura,.nós.estamos.sós. Ser.capaz.(e.ter.disposição).de.ler.uma.obra.de.arte.é.crucial..Em.1864,.o.crítico.de.arte.inglês.John. Ruskin,.reagindo.com.ira.esclarecida.contra.o.conformismo.da.sua.época,.proferiu.uma.palestra.no.Rusholme.Town.Hall,.perto.de.Manchester,.na.qual.repreendeu.a.platéia.por.não.dar.bastante.valor.à.arte.e.atribuir. demasiada.importância.ao.di.nheiro..O.propósito.da.palestra.era.convencer.as.pessoas.eminentes.de.Rusholme.da.necessidade.de.uma.boa.biblioteca.pública,.coisa.que.Ruskin.considerava.um.serviço.público.essencial. em.qualquer.cidade.digna,.no.Reino.Unido..Mas,.no.decorrer.da.sua.argumentação,.Ruskin.ficou.cada.vez. mais.inflamado.e.censurou.violentamente.as.pessoas.ilus.tres.do.local.por.haverem.“desprezado.a.Ciência”,. “desprezado.a.Arte”,.“desprezado.a.Natureza”..“Eu.afirmo.que.os.senhores.desprezaram.a.Arte!.‘Como?’,.os. senhores.vão.me.retrucar..Pois.não.temos.exposições.de.arte.com.milhas.de.extensão?.E.não.pagamos.milhares. de. libras. por. simples. pinturas?. E. não. temos. escolas. de. Arte. e. instituições. artísticas,. mais. do. que. qualquer.nação.jamais.teve?’.Sim,.é.verdade,.mas.tudo.isso.existe.em.proveito.do.comércio..Os.senhores.se. contentariam.em.ven.der.quadros.assim.como.vendem.carvão,.e.porcelana.assim.como.ferro;.os.senhores. tomariam.o. pão. da. boca. de. todas.as. nações,. se. pudessem;. como. não. podem. fazê-lo,. seu. ideal. de. vida. é. postar-se.nas.avenidas,.co.mo.aprendizes.de.Ludgate,.e.berrar.para.todos.os.passantes:.‘O.que.lhe.falta?’.”.E. como.eles.não.davam.a.mínima.para.as.obras.da.humanida.de.e.atribuíam.todo.o.valor.ao.lucro.financeiro.e. ao.estímulo.da.ganân.cia,.Ruskin.lhes.disse.que.haviam.se.transformado.em.criaturas.que.“desprezam.a.compaixão”,.broncos.incapazes.de.se.importar.com.os.se.melhantes..Como.eram.incapazes.de.ler.as.imagens.que. a. arte. tinha. a. lhes. oferecer,. ele. acusou. seus. contemporâneos. de. serem. também. mo.ralmente. analfabetos.. Ruskin.nutria.esperanças.elevadas.quanto.à.utili.dade.da.arte. Não.sei.se.é.possível.algo.como.um.sistema.coerente.para.ler.as.ima.gens,.similar.àquele.que.criamos.para. ler.a.escrita.(um.sistema.implícito.no.próprio.código.que.estamos.decifrando)..Talvez,.em.contraste.com.um. texto.escrito.no.qual.o.significado.dos.signos.deve.ser.estabelecido.antes.que.eles.possam.ser.gravados.na. argila,.ou.no.papel,.ou.atrás.de.uma.tela.eletrônica,.o.código.que.nos.habilita.a.ler.uma.imagem,.conquanto. impregnado.por.nossos.conhecimentos.anteriores,.é.criado.após a.imagem.se.constituir.–.de.um.modo.muito.semelhante.àquele.com.que.criamos.ou.imaginamos.significados.para.o.mundo.à.nossa.volta,.construindo. com.audácia,.a.partir.desses.significados,.um.senso.moral.e.ético,.para.vivermos..Nos.últimos.anos.do.século. XIX,.o.pintor.James.McNeill.Whistler,.esposando.essa.ideia.de.uma.criação.inexplicável,.re.sumiu.seu.ofício. em.poucas.palavras:.“A.arte.acontece”..Não.sei.se.ele.o.disse.com.um.sentimento.de.resignação.ou.de.alegria. Fonte: Lendo imagens, de Alberto Manguel, págs. 19-33. Letras de luz.indd 130 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 131 texto-farol 2 orientações didáticas para o livro As aventuras de Bambolina, de michele iacocca Denise Silva Denise Silva é educadora, mestre em Educação pela PUC-SP e formadora do projeto Letras de Luz. As orientações propostas neste texto foram escritas especialmente para esta apostila e pretendem contribuir com algumas ideias para o trabalho com a leitura de imagens. “Perceber.é.um.processo.tão.dinâmico.que.uma.mesma.imagem.vista.e.compreendida.por.um.observa- dor.pode.ter.seu.sentido.alterado,.colocando.outra.imagem.ao.seu.lado..A.percepção.de.uma.imagem.depende.de.quem.olha.e.do.que.está.em.seu.entorno.” Cristina Biazetto Antes da leitura detalhada do texto Comece.explorando,.o.autor,.o.título,.a.ilustração.da.capa..Será.que.as.crianças.já.conhecem.alguma.outra. obra.de.Michele.Iacocca?.Eleja.alguns.aspectos.para.que.levantem.hipóteses.sobre.o.conteúdo.do.livro..Leia. o.título.e.pergunte.se.ele.oferece.alguma.ideia.sobre.o.assunto:.Quem.seria.Bambolina?.Que.aventuras.ela. poderia.viver.ao.longo.dessa.história? A.capas.de.um.livro.pode.oferecer.muitas.pistas.sobre.o.conteúdo.da.obra..Muitas.vezes,.ela.é.quem.seduz. o.leitor.para.aproximar-se.e.sentir-se.atraído.pela.história..Por.isso,.explore.essas.pistas,.chamando.a.atenção. para.o.tipo.de.letras.que.compõe.o.nome.da.boneca..O.padrão.imita.tecidos.e.há.um.botão.no.lugar.da.letra. “o”..Alguém.saberia.explicar.o.por.quê? Explore.o.texto.do.canto.inferior.direito.da.capa:.“uma.história.sem.palavras”.É.possível.contar.uma. história.sem.palavras? Letras de luz.indd 131 29/11/10 17:30 132 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Direcione.o.foco.para.a.imagem.da.capa:.Que.sentimentos.são.transmitidos.pela.personagem.retratada?. Que.detalhes.da.ilustração.nos.ajudam.a.perceber.esses.sentimentos?.Por.que.só.é.possível.ver.a.cabeça.e. uma.pequena.parte.do.corpo.(a.mão).de.Bambolina?.Onde.está.escondido.o.restante?.E.o.que.seria.esse. fundo.vermelho?.Deixe.que.as.crianças.apresentem.suas.hipóteses.e,.não.se.esqueça.de.retomá-las.ao.final. da.leitura. Durante a leitura extensiva do texto Leia.o.texto.da.quarta.capa.e.discuta.com.o.grupo.se.as.informações.trazidas.por.ele.estão.ou.não.de. acordo.com.as.ideias.levantadas.pela.turma. Mostre.a.folha.de.rosto..Nela.aparece.a.boneca.inteira..Ajude-os.a.observar.que.a.mesma.não.está.em.pé. ou.sentada.porque.é.feita.de.pano.e.por.isso,.sua.estrutura.não.permite.que.ela.possa.apoiar.seu.corpo.de. maneira.rígida. Explore.a.sequência.de.imagens.da.primeira.página.da.história..Ela.representa.um.tipo.de.ilustração.de. função.predominantemente.narrativa..A.cada.“quadro”,.novas.ações.são.introduzidas.e,.com.isso,.é.possível. contar.o.que.está.acontecendo..Deixe.que.as.crianças.“acrescentem”.palavras.às.imagens. A.cena.toda.mostra.a.relação.de.uma.criança.com.a.boneca..No.entanto,.um.elemento.novo.no.fim.da. página.muda.o.foco.de.quem.está.com.a.boneca:.um.pacote..O.que.será.que.a.criança.ganhou.de.presente? Continue.lendo.o.livro.para.as.crianças..Mostre.os.desenhos.página.por.página..O.livro.todo.é.repleto.de. imagens. seqüenciadas,. nas. quais. o. cenário. permanece. o. mesmo. em. alguns. quadros,. mudando. apenas. as. ações.dos.personagens..Explore.essas.mudanças..Ajude-os.a.observar.a.função.expressiva.das.ilustrações.ao. transmitir.as.emoções.das.personagens:.posição.do.rosto,.língua.de.fora,.gestos,.traçado.dos.lábios..O.autor-ilustrador.emprega.alguns.recursos.comuns.às.histórias.em.quadrinhos.para.demonstrar.movimento,.falas. e.emoções..Desafie.as.crianças.a.encontrarem.essas.marcas. Peça-lhes.que.argumentem..Ponha.em.discussão.as.respostas..Não.hesite.em.deixar.que.as.crianças.retomem.a.página.anterior.para.resgatar.algum.elemento.que.não.tenha.sido.observado.na.primeira.leitura. Ao.retirar.a.boneca.do.portão,.o.mendigo.tem.uma.ideia..De.que.forma.a.ilustração.nos.demonstra.isso?. Na.série.de.imagens.que.se.segue,.como.o.autor.nos.faz.perceber.que,.mais.uma.vez,.Bambolina.parece.ter. sido.encontrada.por.outra.pessoa?.Ajude-os.a.notar.que.esse.mesmo.recurso.também.aparece.em.outros. momentos.da.história..Convide.a.sala.a.reproduzir.o.diálogo.entre.o.policial.que.encontrou.a.boneca.e.seu. colega.de.trabalho..O.que.eles.esperavam.encontrar.dentro.da.boneca? Mostre.como.o.autor.ilustra.a.passagem.do.tempo.depois.que.Bambolina.é.abandonada.pelos.policiais.. Explore.a.forma.como.as.cenas.desenhadas.quadro.a.quadro.apresentam.pequenas.variações.nos.gestos.e.nos. detalhes.que.demonstram.as.ações.dos.personagens..Ajude-os.a.perceber.quantos.papeis.Bambolina.pôde. interpretar.depois.que.foi.encontrada.pelo.bonequeiro.(princesa,.anjo,.fada,.bruxa,.soldado,.Chapeuzinho. Vermelho,.onça.etc.)..De.quais.histórias.conhecidas.pelas.crianças.esses.personagens.poderiam.fazer.parte? Por.fim,.apresente-lhes.a.última.cena.e.retome.as.hipóteses.levantadas.pelo.grupo.no.início.da.leitura:.o. que.era.o.pano.vermelho.que.cobria.parte.do.corpo.de.Bambolina.no.começo.da.história? Letras de luz.indd 132 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 133 Depois da leitura do texto Atividade 1: Objetivo: trabalhar.a.seqüência.temporal.de.algumas.cenas. Eleger.um.conjunto.de.cenas.e.escrever.(ou.contar.oralmente).uma.narrativa.estabelecendo.relações.entre. as.ações.e.transformações.dos.personagens,.acompanhando.as.ilustrações. Atividade 2: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.narrativas,.com.base.na.história.original. Selecionar.uma.seqüência.de.imagens.do.livro.e.substituir.a.personagem.principal.(Bambolina).por.outro. brinquedo,.fazendo.as.alterações.necessárias.na.narrativa.buscando.manter.a.coerência.do.texto. Atividade 3: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.aventuras.de.Bambolina. Produzir.narrativas.com.imagens.(desenhos,.fotografias,.pinturas,.colagens.ou.gravuras).novas.aventuras. de.Bambolina.imaginadas.pelas.crianças.(no.circo,.na.televisão,.na.escola,.viajando.para.uma.paisagem.diferente.etc.). Atividade 4:.Objetivo: ampliar.o.repertório.das.crianças.oferecendo.outras.histórias.contadas.apenas.por. ilustrações,.sem.uso.do.texto.verbal. Cada.vez.mais.o.mercado.dispões.de.excelentes.livros.que.fazem.uso.dessa.proposta:.Onda.e.Espelho.de. Suzi.Lee.(Cosac.Naify),.A flor do lado de lá,.de.Roger.Melo.(Global),.Chapeuzinho Vermelho.e outros contos por imagens,.de.Rui.de.Oliveira.(Cia.das.Letrinhas).são.alguns.deles. Proponha.a.leitura.dos.mesmos.e.discuta.com.a.sala.as.semelhanças.e.diferenças.entre.os.recursos.empregados.pelos.autores.ao.narrarem.suas.histórias.a.partir.de.imagens. Fonte: Texto escrito especialmente para esse material. texto-farol 3 Palavra e imagem: leituras cruzadas, de ivete Lara camargos Walty, maria nazareth Soares fonseca e maria Zilda ferreira cury Ivete Lara Camargos Walty, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury são professoras de graduação e pós-graduação de Teoria da Literatura na PUC-Minas e UFMG. Neste texto, as autoras se propõem a instigar leituras críticas, associando poemas, notícias de jornal, fotografias, filmes e propagandas em tempos e espaços diversos. Ler.a.imagem,.construindo.um.texto.verbal?.Ou.ler.um.texto.verbal,.construindo.imagens?.Eis.um.desafio.que.se.corporifica.neste.mundo,.marcado.pela.proliferação.das.ima.gens,.que.continuamente.nos.bombardeiam:. outdoors, no.ticiários,. propagandas,. multimídia.. Da. fotografia. que. se. pretende. fiel. ao. fato. que. busca.documentar,.à.realidade.vir.tual.criada.pelos.computadores,.tudo.se.faz.imagem. Há.uma.anedota.reveladora.da.hipertrofia.que.adqui.riu.a.imagem.no.mundo.contemporâneo..A.jovem. mãe,.dian.te.das.amigas.que.vêm.visitar-lhe.a.filha.recém-nascida.e.que.lhe.elogiam.a.beleza,.responde,.orgulhosa:.–Vocês.acham.a.criança.bonita.porque.não.viram.ainda.o.vídeo!.Como.se.vê,.a.imagem.sobrepuja. o.real,.ou.melhor,.é.mais.real.que.o.próprio.real..Félix.Guattari.(1993).constata,.porém,.que.a.diver.sidade.de. Letras de luz.indd 133 29/11/10 17:30 134 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento imagens.não.significa.por.si.só.riqueza.de.senti.dos,.já.que,.num.mundo.globalizado,.as.imagens,.embora. sendo.muitas,.podem.tornar-se.iguais,.repetitivas,.previsí.veis..A.repetição.homogeneizadora.pode.levar.ao. seu.es.vaziamento.e.consequente.amortecimento.da.consciência.crítica.do.receptor. Em.razão.disso,.os.educadores.se.perguntam.se.a.su.premacia.da.imagem,.por.seu.caráter.facilitador,.prejudica.a.leitura.do.texto.verbal..Importa.refletir.mais.detidamente.sobre.essa.questão.uma.vez.que.a.escrita. é.um.parâmetro.norteador.de.nossa.cultura. Como.se.viu,.os.bens.simbólicos.produzidos.pelo.ho.mem.em.sociedade.codificam-se.de.diversas.formas. que.mantêm.uma.relação.estreita.entre.si.e.se.expressam.no.que.se.convencionou.chamar.semiose.cultural,. rede.ampla.de.sig.nificações..Imagens,.sons,.gestos,.cores,.expressões.corpo.rais.tornam-se.signos.abertos.à. decodificação..Nesse.sentido,.reitere-se,.a.recepção.desses.bens.simbólicos.pode.ser.vista.como.leitura,.na. medida.em.que.todo.recorte.na.rede.de.significações.é.considerado.um.texto..Pode-se,.pois,.ler.o.traçado.de. uma.cidade,.a.moda,.o.corpo.humano.em.suas.várias.posturas,.um.filme,.um.livro..Colocar.imagem.e.escrita. em.campos.opostos.e.excludentes.é,.no.mínimo,.ingenuidade,.já.que,.mesmo.à.nossa.revelia,.tais.códigos.se. encontram.em.constante.interação. Dominando.o.maior.número.possível.de.códigos,.o.cida.dão.pode.interferir.ativamente.na.rede.de.significação.cultural.tanto.como.receptor,.quanto.como.produtor..Na.escola.ou.na.sociedade,.o.processamento.de. relações.que.se.dá.no.nível.da.produção.também.pode.ocorrer.no.nível.da.recepção. A.escola.pode.ser,.pois,.um.espaço.privilegiado.para.a.recepção.crítica.dos.diferentes.códigos.e,.sobretudo,. deve.proporcionar,.de.forma.democrática,.acesso.mais.amplo.a.eles..Estabelecer.relações,.inclusive.interdisciplinares,.é.fator.fundamental.de.inserção.político-social. De terra A.relação.entre.o.curta-metragem.Ilha das Flores, filme.de.Jorge.Furtado,.fotografias.do.livro.Terra, de. Sebastião.Sal.gado,.uma.música.de.Chico.Buarque.e.poemas.de.Manuel.Bandeira.e.Drummond,.aqui.proposta.por.nós,.pode.exem.plificar.o.processo.de.articulação.intersemiótica.feito.pela.lei.tura..Nós,.leitoras,. estabelecemos,.num.universo.amplo.de.produções,.algumas.conexões.temáticas.que.não.esgotam.as.possibilidades.desses.textos.e.de.sua.ligação.com.outros. O.filme.Ilha das Flores por si.só.já.propõe.relações.várias.entre.imagem.e.palavra,.integrando.discursos. diversos:.his.tórico,.técnico-científico,.bíblico,.mítico,.literário,.sociológico..A.partir.de.uma.classificação. do. que. seria. o. ser. humano. –. animal. com. o. telencéfalo. altamente. desenvolvido. e. polegar. opositor. –. constrói-se.uma.denúncia.das.aviltantes.condi.ções.de.vida.de.parcelas.da.população,.cujas.necessidades. básicas.são.colocadas.abaixo.daquelas.dos.porcos..A.enfáti.ca.repetição.de.características.que.definiriam. o.homem,.ao.lado.de.episódios.e.percalços.de.sua.história.no.mundo.–.a.criação,.as.invenções,.a.construção.do.patrimônio.cultural,.o.domínio.da.natureza,.as.relações.de.trabalho.e.produção,.mas.também.o. nazismo,.a.bomba.atômica,.a.exploração.do.homem.pelo.homem.–.desconstroem.ironicamente.a.pró.pria. definição.de.homem..O.discurso.técnico-científico,.cari.caturado,.vai,.pouco.a.pouco,.transformando-se. em.discurso.artístico,.ao.caminhar.de.uma.função.estritamente.informati.va.para.a.função.estético-reflexiva..Por.meio.dos.deslocamen.tos.operados.na.produção.do.homem.na.História,.seja.no.plano.das.imagens,.seja.no.das.palavras,.estabe.lecem-se.crí.ticas.a.regimes.sociopolíticos.que.sobrepõem.os.interesses. econômicos.aos.humanos. Letras de luz.indd 134 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 135 O.acompanhamento.da.trajetória.de.um.tomate,.des.de.a.plantação.até.seu.destino.final.num.depósito.de. lixo,.ironicamente.situado.na.chamada.Ilha.das.Flores,.evidencia.a.superioridade.do.animal.sobre.o.homem,. já.que.este.só.tem.acesso.àquilo.que.é.considerado.inadequado.para.a.ali.mentação.dos.porcos..O.filme.termina.com.a.imagem.de.um.caminhão,.com.imensa.pá,.revolvendo.e.recolhendo.auto.maticamente.o.lixo.. Depois,.em.câmera.lenta,.aparece.a.figu.ra.de.um.homem.colocando.nos.ombros.o.saco.de.lixo.recolhido..O. narrador.finaliza.recuperando.a.definição.de.homem.mencionada.reiteradas.vezes.no.decorrer.de.todo.o. filme,.acrescentando.a.ela.a.ideia.de.liberdade: O.ser.humano.se.diferencia.dos.outros.animais.pelo.telencéfaio.altamente.desenvolvido,. polegar.opositor.e.por.ser.li.vre..Livre.é.o.estado.daquele.que.tem.liberdade. Finalmente,.um.filme.tão.rico.em.imagens,.cuja.força.tan.tas.vezes.até.dispensou.a.palavra,.fecha-se.com.uma. defini.ção,.agora.tirada.ao.discurso.poético.de.Cecília.Meireles.(1972): Liberdade.é.uma.palavra.que.o.sonho.humano.alimenta, que.não.há.ninguém.que.explique. e.ninguém.que.não.entenda. É.significativa.a.presença.do.verbo.alimentar.na.consti.tuição.da.imagem..O.alimento.do.sonho.liga-se. ao.alimento.do.corpo,.ambos.fundamentais.à.condição.humana. No.livro.Terra (1997),.Sebastião.Salgado.expõe.fotogra.fias.de.pessoas.em.sua.difícil.relação.com.a.terra.. Dedicado.aos.brasileiros.despossuídos,.o.livro.denuncia.a.luta.pela.sobrevivência.daqueles.que.não.têm.“um. pedaço.de.terra.para.produzir.e.viver.com.dignidade”..Numa.das.fotos,.per.tencente.ao.conjunto.denominado.“A.força.da.vida”,.adultos.e.crianças.disputam.o.lixo.com.urubus: Para.sobreviver,.esta.gente.se.entrega.às.mais.variadas.atividades.ou.expedientes,.às.vezes. inimagináveis,.que.se.des.dobram.indefinidamente. No.grande.depósito.de.lixo.de.Fortaleza,.foi.criada.toda.uma.estratificação.social..Existe.o. grupo.que.trabalha.ape.nas.na.busca.de.objetos.metálicos.a.serem.vendidos.às.pequenas. indústrias.locais,.que.os.reciclam.nas.fundições;.outros.grupos.se.ocupam.de,.respectivamente,.materiais.de.plástico,.restos.de.madeiras,.papéis.usados,.etc.,.tendo.cada.um.seu. próprio.circuito.de.comercialização..Na.base.dessa.subescala.social,.encontram-se.as.pessoas.que,.recém-expulsas.do.ventre.do.sertão.pelo.latifúndio.e.ou.pela.seca,.disputam.com. os.urubus.os.restos.de.alimentos..Ceará,.1983..(salgado,.1997,.p..140) Este.texto.se.encontra.na.parte.final.do.livro.–.“Legen.das”.–.com.o.objetivo.de.contextualizar.a.foto. Homens e bichos no lixão Letras de luz.indd 135 29/11/10 17:30 136 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento A.imagem.fotográfica.a.que.ele.se.refere.é.por.si.só.significativa,.podendo.até.prescindir.do.texto,.embora.o.diálogo.entre.ambos.se.reforce.em.outro.tipo.de.ima.gem,.a.verbal:.“recém.expulsos.do.ventre.do.sertão. pelo.latifúndio.ou.pela.seca”..A.expressão.“ventre.do.sertão”.aponta.para.a.ideia.de.útero.protetor,.de.origem. da.vida.e.da.forte.interação.homem-terra..A.expulsão,.símbolo.de.um.parto,.denuncia.a.violência.das.relações.sociais.que.privilegiam.a.posse..Paradoxalmente,.o.retorno.do.homem.à.terra.faz-se.através.do.lixo,. aquilo.que.é.rejeitado.por.outros..E.mesmo.aí,.reduplicam-se.as.hierarquias.de.posse..A.atmosfera.da.foto.é. difusa,.não.se.vêem.os.rostos.das.pessoas,.curvadas.e.diminuídas.sob.o.peso.dos.latões.que.trazem.aos.ombros..Em.perspectiva,.os.urubus.são.maiores.que.os.homens. Interessante.relacionar.essa.fotografia.com.outra.veicu.lada.pelo.Jornal.Hoje em dia, na.reportagem.“Vida. brota.das.sobras.encontradas.em.lixões”,.escrita.por.estudantes.de.Comunicação.Social.da.PUC-Minas. Que mundo o nosso! Homens disputando os restos. Além.da.fotografia,.documental,.observe-se.a.semelhan.ça.da.situação.descrita.nos.textos. Homens.disputando.restos.de.alimentos.com.porcos,.urubus,.ratos,.moscas.e.até.cavalos.. Essa.cena.parece.ser.de.um.fil.me.de.ficção.sobre.como.seria.a.vida.na.terra.depois.de.um. acidente.nuclear..Mas,.é.a.realidade.de.dezenas.de.famílias.pobres.da.região.metropolitana. de.Belo.Horizonte,.que.so.brevivem.de.restos,.transformando.lixões.em.supermerca.dos.. (Hoje em dia, 7/11/96,.p..3) O.enfoque.jornalístico.não.difere.do.artístico.na.medi.da.em.que.opera.uma.denúncia,.focalizando.cenas. já.impres.sas.no.quotidiano.das.grandes.cidades..O.texto.impactual.obriga.o.leitor.a.prestar.atenção.naquilo. que,.muitas.vezes,.não.quer.ver. Urubus,.na.foto.de.Sebastião.Salgado,.porcos,.no.filme.de.Jorge.Furtado,.ou.moscas.e.ratos,.na.reportagem,.sobre.põem-se.ao.“bicho.homem”..E.é.deste.bicho.que.fala.Manuel.Bandeira.no.poema.denominado. “O.Bicho”: Letras de luz.indd 136 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 137 O BICHO Vi.ontem.um.bicho Na.imundície.do.pátio Catando.comida.entre.os.detritos. Quando.achava.alguma.coisa, Não.examinava.nem.cheirava: Engolia.com.voracidade. O.bicho.não.era.um.cão, Não.era.um.gato, Não.era.u.m.rato. O.bicho,.meu.Deus,.era.um.homem..(bandeira,1974,.p..196) Mais.uma.vez,.pelo.consumo.de.detritos,.o.homem.se.iguala.ao.bicho..O.paralelismo.dos.versos.“não.era. um.cão,.não.era.um.gato,.não.era.um.rato”.expressa.a.perplexidade.do.poeta.diante.da.situação.desumana. imposta.pela.fome,.traduzida.ainda.no.uso.reiterado.do.advérbio.de.negação..De.forma.semelhante.ao.que. se.deu.em.Ilha das Flores, a.definição.de.homem.se.dá.pela.contradição..A.metáfora.–.o.bicho.–.indiciada. desde.o.título,.desdobra-se.em.frases.des.critivas.que.só.alcançam.seu.efeito.de.denúncia.no.último.verso:.“O. bicho,.meu.Deus,.era.um.homem”..Observe-se.que.o.poema,.pequeno.e.de.versos.curtos,.constrói-se.como. um.quadro,.atingindo.o.leitor.pela.força.de.suas.imagens..As.palavras,.como.se.viu,.também.se.condensam. em.imagens,.enredando.o.leitor. Como.um.quadro.em.movimento.é.que.também.se.constrói.um.poema.de.Drummond.sobre.a.mesma. temática: FIM DE FEIRA No.hipersupermercado.aberto.de.detritos, ao.barulhar.de.caixotes.em.pressa.de.suor, mulheres.magras.e.crianças.rápidas catam.a.maior.laranja.podre,.a.mais.bela batata.refugada,.juntam.no.passeio seu.estoque.de.riquezas,.entre.risos.e.gritos. (andrade,.1978,.p..113) A.crítica.à.sociedade.de.consumo.se.faz.desde.o.nível.do.significante,.como.na.repetição.dos.prefixos.–. hiper.e.super–.na.formação.da.palavra.que.caracteriza.o.depósito.de.lixo.onde.pessoas.buscam.alimentos,. catando.o.que.foi.refugado..O.uso.de.advérbios.de.intensidade,.ao.lado.de.adjetivos.que.indicariam.a.qualidade.dos.alimentos,.esva.zia-se,.ironicamente,.na.adição.de.outros.adjetivos.como.podre.e.refugada..A.alegria. e.o.movimento.das.pessoas.acen.tuam.a.ironia.da.ideia.de.acúmulo.antevista.na.expressão.“estoque.de.riquezas”,.numa.alusão.desconstrutora.da.ga.nância.consumista..Como.no.filme.já.citado.e.na.fotografia.de.Sebastião.Salgado,.até.o.lixo.se.disputa,.até.nele.se.seleciona.e.escolhe..A.imagem.visual,.cena.de.palavras,.opera.a. denúncia.social. É.também.pela.força.da.imagem.que.uma.propaganda.da.Legião.da.Boa.Vontade.busca.atrair.o.leitor,. persuadindo-o.a.contribuir.com.uma.campanha.de.auxílio.ao.menor.abandonado..Aí.a.imagem.visual.de.uma. criança,.deitada.na.calçada.em.situação.de.desamparo,.une-se.a.imagem.verbal.que.aproxima.gente.e.bicho. Letras de luz.indd 137 29/11/10 17:30 138 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento De.forma.agressiva,.inverte-se.a.proposta.dos.outros.tex.tos.já.que.se.invoca.para.o.homem.um.tratamento.semelhan.te.ao.dispensado.ao.animal..O.discurso.ecológico.de.proteção.e.preservação.de.animais.em.extinção.é.deslocado,.ironica.mente,.para.o.apelo.de.salvação.da.criança:.“Gente.também.é.bicho..Preserve.a. criança.brasileira”..Originalmente.na.cor.verde,.relacionada.à.ecologia,.a.propaganda.destaca,.pelo.tama.nho. das.letras,.as.palavras:.gente,.bicho,.criança..A.força.deste.recurso.tipográfico.intensifica.a.denúncia.de.animalização.do.ser.humano,.ou,.mais.do.que.isso,.da.humanização/enobreci.mento.de.alguns.animais.em.detrimento.do.homem. Num.outro.tom,.a.fome.é.tema.da.letra.da.música.“Brejo.da.Cruz”,.de.Chico.Buarque,.que.integra.o.livro. Terra, anterior.mente.citado..De.forma.curiosa,.o.lixo.é.substituído,.metafori.camente,.pela.luz,.imagem.liricamente.construída.da.ausência.de.alimento,.sugerindo.carência.absoluta.de.um.povo. BREJO DA CRUZ A.novidade Que.tem.no.brejo.da.cruz É.a.criançada Se.alimentar.de.luz Alucinados Meninos.ficando.azuis E.desencarnando Lá.no.brejo.da.cruz Letras de luz.indd 138 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 139 Eletrizados Cruzam.os.céus.do.Brasil Na.rodoviária Assumem.formas.mil Uns.vendem.fumo Tem.uns.que.viram.Jesus Muito.sanfoneiro Cego.tocando.blues Uns.têm.saudade E.dançam.maracatus Uns.atiram.pedra Outros.passeiam.nus Mas.há.milhões.desses.seres Que.se.disfarçam.tão.bem Que.ninguém.pergunta De.onde.essa.gente.vem São.jardineiros Guardas.noturnos,.casais São.passageiros Bombeiros.e.babás Já.nem.se.lembram Que.existe.um.Brejo.da.Cruz Que.eram.crianças E.que.comiam.luz São.faxineiros Balançam.nas.construções São.bilheteiras Saleiros.e.garçons Já.nem.se.lembram Que.existe.um.Brejo.da.Cruz Que.eram.crianças E.que.comiam.luz (holanda,.In: salgado,.1997,.p..97-98) No.tratamento.dado.à.questão,.o.compositor,.mesmo.falando.da.degradação.do.ser.humano,.não.lhe. retira.sua.con.dição.superior,.na.medida.em.que.o.dignifica.pelo.sofrimento.e.pela.morte..Isto.não.anula. o. tom. de. denúncia. do. texto,. an.tes. o. intensifica:.“É. a. criançada/Se. alimentar. de. luz/Alucina.dos/ Meninos. ficando. azuis/E. desencarnando/Lá. no. Brejo. da. Cruz”.. Crianças,. quase. anjos,. metamorfo- Letras de luz.indd 139 29/11/10 17:30 140 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento seiam-se.em.Jesus,.metonímia,.juntamente.com.o.nome.do.lugar,.Brejo.da.Cruz,.do.sofrimento.e.do. sacrifício..A.metamorfose.continua.na.represen.tação.de.outros.marginalizados.e.oprimidos:.babás,.baleiros,.bombeiros,.bilheteiros.e.garçons,.massa.de.subempregados.vin.dos.das.rodoviárias.das.grandes. cidades.do.país..Contrapõem-se-.no.texto,.pelo.menos,.dois.espaços:.o.Nordeste.e.o.Sul,.mesclados.nos. deslocamentos.dos.migrantes..Tal.mescla.se.reforça.na.fusão.das.duas.culturas,.como.se.pode.observar. na.referência.ao.maracatu.e.na.figura.do.“sanfoneiro.cego.tocando.blues”..Presença.comum.nas.feiras. nordestinas,.o.sanfoneiro.cego.urbaniza-se,.adotando.a.música.norte-americana..No.plano.da.música. propriamente.dita,.essa.imagem.é.reiterada.com.uso.de.instrumentos.nordestinos,.como.o.triângulo,.ao. lado.dos.convencionalmente.usados.pela.música.popular.produzi.da.no.sul..Na.descrição.das.figuras,. adaptadas.ao.novo.siste.ma.de.vida.ou.enlouquecidas,.percebe-se.a.voz.do.autor.implícito.que.questiona. os.conceitos.do.senso-comum.sobre.essa.gente:.Mas há milhões desses seres/Que se disfarçam tão bem/Que ninguém pergunta/De onde essa gente vem. Dessa.forma,.evidencia-se.a.indiferença.por.essa.gente.e.sua. vida.de.risco.–.balançam nas construções–ou.quase.morte,.na.cidade.grande.que.reproduz.seu.lugar.de. origem:.a.cruz.continua.sendo.a.marca.de.sua.vida. Como.se.viu,.a.linguagem.literária.constrói.imagens.e é construída.por.elas.num.jogo.de.deslocamentos. e.conden.sações..A.força.de.tais.imagens,.embora.de.natureza.diferen.te.da.imagem.visual,.continua.atingindo.o.leitor,.mesmo.num.tempo.em.que.o.visual.ganha.dimensões.hipertrofiadas. Seja.na.fotografia.de.Sebastião.Salgado,.numa.propa.ganda,.num.poema.de.Drummond,.numa.montagem.fílmica.ou.numa.letra.de.música,.a.imagem.é.mais.do.que.uma.repre.sentação.de.um.referente,.do.que. habitualmente.costuma.mos.chamar.de.real..Antes,.ela.é.parte.integrante.da.produção.simbólica.e.como. tal.também.constrói.o.real..Sem.querer.isen.tar.a.arte.de.um.caráter.ideológico.e.da.possibilidade.de.manipulação. política,. reiteramos. que,. nos. textos. analisados,. o. papel. da. imagem. foi. deslocar. significados. instituídos. Fonte: Palavra e imagem: leituras cruzadas, de Ivete Lara Camargos Wally, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury, p. 89-100. texto-farol 4 Representações visuais das bruxas na literatura infantil – Um estudo de caso Denise Silva Denise.Silva.é.educadora,.mestre.em.Educação.pela.PUC-SP.e.formadora.do.projeto.Letras.de.Luz..O. estudo.de.caso.a.seguir.foi.organizado.especialmente.para.essa.apostila.e.pretende.contribuir.com.algumas. ideias.para.o.trabalho.com.a.leitura.de.imagens.na.literatura.infantil. Letras de luz.indd 140 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 141 joão e maria . 1.. . 3.. . 2.. . 4.. 1. Lang, Andrew, ed. The blue fairy book. New York: Dover, 1965. (Original published 1889.) 2. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham, illustrator. Londo: Constable & Company Ltd, 1909. 3. Jacobs, Joseph, ed. European folk and fairy tales. John Batten, illustrator. New York: G. P. Putnam’s Sons, 1916. 4. Anne Anderson, illustrator. Anne Anderson’s old, old fairy tales. Racine, Wisconsin: Whitman Publishing Company, 1935. Letras de luz.indd 141 29/11/10 17:30 142 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento rapunzel . 1.. .. 2.. . 3.. . 4.. 1. Anne Anderson, illustrator. Old, old fairy tales. New York: Thomas Nelson & Sons, n.d. 2 e 3. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham, illustrator. London: Constable & Company Ltd, 1909. 4. Grimm, Jacob and Wilhelm. Hansel and Gretel and other stories by the brothers Grimm. Kay Nielsen, illustrator. Lon‑ don: Hodder and Stoughton, 1925. Letras de luz.indd 142 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 143 branca de neve . 1.. . . 3.. 2.. . 4.. 1. Van Der Hoeven, G. Snowdrop. W. C. Drupsteen, illustrator. London: S. W. Partridge & Co., 1909. 2. Lang, Andrew, ed. The red fairy book. New York: Dover, 1966. (Original published 1890.) 3. Golding, Harry, editor. Fairy Tales. Margaret Tarrant, illustrator. London: Ward, Lock & Co., 1915. 4. Vredenburg, Eric, editor. My book of favourite fairy tales. Jennie Harbour, illustrator. London: Raphael Tuck & Sons, 1921. Letras de luz.indd 143 29/11/10 17:30 144 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento baba-Yaga . 1.. . 2.. 3.. 1. Bilibin, Ivan, illustrator. Vassilisa the Beautiful. Moscow: Department for the Production of State Documents, 1900. 2. NIADA: ART DOLLS 3. https://allencentre.wikispaces.com/file/view/BabaYaga2.jpg/82297043/BabaYaga2.jpg Letras de luz.indd 144 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 145 APoStiLA 5 oficinA 5 – Luz que vem de Longe o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia objetivos: • • • • • ler, ouvir e se emocionar com a leitura de muitos poemas; conhecer um pouco mais do gênero poesia; trabalhar a palavra poética pela análise e pela escrita de poemas; fazer um balanço do projeto; criar um clima de despedida e de união pela leitura e de amor pelos livros com o fortalecimento dos laços estreitados pelo projeto. conteúdos: • • • • • a poesia e sua história; o gênero poesia e suas curiosidades; a poesia e a intertextualidade; a poesia infantil; os saraus poéticos. Desenvolvimento: O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo. à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema. 1. Abertura:.a.poesia.ocupa.todo.o.conteúdo.da.apostila.cinco..É.um.verdadeiro.mergulho.na.arte.poética.e.no.convite.a.leitura.desses.textos,.que.tão.profundamente.marcaram.a.humanidade..O.formador.pode. convidar.o.grupo.para.se.sentar.em.volta.do.Mar.de.Histórias.preenchido.pelos.livros.de.poesia.trazidos.por. ele.e.pelo.grupo.e.abrir.o.encontro.com.a.leitura.de.um.belo.poema...Aviso.importante:.por.tratar-se.de. nosso.último.encontro,.esse.é.um.dia.afetivamente.singular.e.que.também.necessita.de.um.alinhavo.especial. sobre.a.oficina.e.sobre.o.futuro.leitor.das.pessoas.envolvidas..É.dia.de.festa.e.trabalho:.verdadeiramente.um. dia.de.poesia..No.momento.de.leitura.sugerimos.os.poemas: Emergência, de Mario Quintana; Parem, de Paulo Leminski; Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade; Se o poeta falar num gato, de Mario Quintana. Letras de luz.indd 145 29/11/10 17:30 146 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento 2. Apresentação dos conteúdos :.Luz.que.Vem.de.Muito.Longe.é.o.título.dessa.oficina,.pois.nos.remete.ao.passado.remoto.da.poesia,.que.nasce.junto.dos.mitos.e.dos.contos..O.gênero.que.mais.sofreu.mudanças. em.todo.seu.percurso!.O.que.mais.admitiu.mudanças.de.forma.e.conteúdo,.o.mais.dilacerado.por.autores.e. leitores,.que.mais.de.perto.seguiu.as.transformações.culturais.ao.longo.dos.séculos.e,.ainda.assim,.conservou-se.o.mais.popular..Por.isso,.um.bom.começo.depois.da.leitura.do.poema.escolhido.para.abertura.é.sem. dúvida.questionar.o.grupo.sobre.seus.poetas.preferidos,.seus.poemas.inesquecíveis..Difícil.imaginar.alguém. que.passou.pela.vida.escolar.sem.ter.lido.um.poema.em.voz.alta,.sem.ter.estudado.rimas.e.estrofes,.sem.ter. passado.pelos.poetas.e.poemas.canônicos. Nesta.oficina,.além.de.conheceremos.um.pouco.mais.sobre.poesia,. faremos.um.balanço.do.projeto..Os.participantes.serão.convidados.a.falar.sobre.seu.ano.leitor,.sobre.suas. conquistas,.sobre.os.projetos.que.realizaram.e.ainda.haverá.um.sarau.de.despedida. 3. Poesia – Histórias e curiosidades:.vários.caminhos.são.possíveis.na.aproximação.com.a.poesia..Nossas.escolhas.recaíram.sobre.a.intertextualidade.e.as.formas.poéticas..Essa.escolha.permite.que.os.participantes.tenham.uma.relação.mais.complexa.com.o.gênero.e.percebam.o.quanto.a.poesia.se.alimenta.dela.mesma,. diferentemente.de.todos.os.outros.gêneros..Depois.da.conversa.inicial.sobre.poetas.e.poemas.preferidos,.o. formador.encaminha.a.leitura.dos.textos.Luz que vem de muito longe.e.Como e por que ler poesia,.disponíveis. ao.final.desta.apostila..Além.de.boas-vindas.e.poética.abertura.de.discussão,.abre.para.a.reflexão.sobre.a. poesia.e.o.papel.dos.autores.e.seus.leitores..O.formador.pode.ler.em.voz.alta.ou.pedir.que.leiam.em.pequenos.grupos.para.depois.fazerem.uma.socialização.coletiva..O.texto Poemas de forma fixa – Formas e gêneros tradicionais,.de.Norma.Goldstein,.é.indicado.para.leitura.em.casa..Esse.texto.foi.escolhido.pela.sua.curiosidade.acadêmica:.ele.nos.apresenta.a.riqueza.das.formas.poéticas,.com.suas.variações,.nomes.estranhos.e. características.tão.próprias..Um.poema.para.casamento.não.é.tão somente um poema:.é.um.epitalâmio!.Cabe. aqui.ressaltar.a.beleza.dessa.classificação.e.o.quanto.a.poesia.é.intrinsecamente.dominada.pela.procura.da. perfeição.entre.forma.e.conteúdo,.mais.que.em.qualquer.outro.gênero. 4. Poesia.se alimenta de poemas:.a.intertextualidade.é.um.prazer.à.parte.na.leitura.da.poesia..Descobrir. poemas.dentro.de.poemas.e.poemas.filhos.de.outros.poemas.constitui-se.num.exercício.de.linguagem.fabuloso..A.dinâmica.pensada.para.este.momento.inaugura.nossa.tarefa.de.ler.poemas.em.voz.alta:.é.um.comecinho.bem.tímido.de.nosso.sarau. Para.esta.atividade.sugerimos.o.texto.A poesia se alimenta de poesia,.de.José.de.Nicola.e.Ulisses.Infante,.o. qual.pode.ser.encontrado.no.livro.Análise e interpretação de poesia.(Scipione,.1995)..O.formador.lê.o.poema. original.(que.deu.origem.aos.outros).de.Gonçalves.Dias.e.divide.o.grupo,.solicitando.que.leia.e.discuta.o. poema.que.lhe.for.determinado..Espera-se.que.o.grupo.perceba.a.“brincadeira.séria”.que.os.autores.fizeram. com.o.original..O.formador.pode.se.valer.de.seus.conhecimentos.de.poesia,.a.métrica,.o.ritmo,.as.figuras.de. linguagem.para.enriquecer.a.reflexão..Não.se.trata.de.analisar.com.profunda.complexidade,.mas.de.enxergar. os.exercícios.de.linguagem.–.forma.e.conteúdo.–.feitos.em.cada.poema..Importante.perceber.que.cada.poema.retrata.uma.época,.um.período.histórico.e.que,.portanto,.a.ideia.original.de.Gonçalves.Dias.vai.sofrendo. alterações.conforme.a.sociedade.vai.se.transformando.política,.social.e.literariamente,.tudo.isso.sem.esquecer.o.próprio.estilo.de.cada.poeta..No.momento.de.socialização.das.reflexões,.os.participantes.devem.ler.os. poemas.em.voz.alta..Aqueles.que.quiserem.podem.produzir.a.sua.própria.Canção do exílio. 5. Exercício poético:.hora.de.convidar.o.grupo.para.fazer.poesia..Cabe.aqui.uma.pequena.rodada.de. conversa:.quem.já.escreveu.poesia?.Quem.sente.necessidade?.Quem.rabisca.seus.versos.na.solidão.ou.na. algazarra?.Para.a.leitura.do.jogo.poético.pode-se.dividir.o.grupo.em.subgrupos.para.que.se.tenha.variados. Letras de luz.indd 146 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 147 exemplos.de.leitores-poetas..Os.textos.produzidos.podem.compor.um.grande.varal.poético.que.ficará.exposto.no.sarau.de.despedida..Podem.ser.escolhidos.alguns.poemas.para.leitura.coletiva,.pois.não.haverá.tempo. para.apreciação.de.todos..O.essencial.nesse.momento.é.que.as.pessoas.se.sintam.inspiradas.a.escrever.sem. medo.de.censura,.pois,.antes.de.tudo,.é.um.exercício.de.escrita..A.socialização.dos.poemas.é.fundamental. para.valorizar.a.produção.dos.participantes. 6. Apreciação de poemas infantis: a.escolha.desse.panorama.da.poesia.infantil.deve-se.ao.fato.de.que. muito.provavelmente.o.grupo.tenha.professores.que.trabalhem.com.poesia.dentro.de.sala.de.aula.e,.mais.que. isso,.a.poesia.infantil.é.extremamente.prazerosa.para.o.público.adulto.também..Possui.todos.os.elementos. da.poesia.para.adultos,.valoriza.incrivelmente.o.ritmo,.a.métrica,.a.metáfora.e.as.repetições.e,.como.não. poderia.deixar.de.fazer.mesmo.que.quisesse,.traz.as.marcas.de.seu.tempo,.reconstitui.épocas.e.seus.pensamentos.. Os. estilos. e. as. linguagens. são. deliciosamente. observáveis.. Recomendamos. para. essa. atividade. a. leitura.de.Breve (brevíssimo) panorama da poesia infantil brasileira,.de.Luis.Camargo.(Cadernos de Poesia Brasileira,.Instituto.Cultural.Itaú,.São.Paulo,.1996). O.formador.pode.sugerir.os.tópicos.que.deseja.que.o.grupo.valorize.em.sua.análise:.estilo.e.época.do. autor,.valores.sociais.colocados.no.texto,.elementos.da.poesia:.rima,.versos.em.estrofes,.eleger.alguns.versos. para.um.debruçar.mais.apurado,.a.linguagem.de.cada.poema,.entre.outros..Se.for.possível.ouvir.os.poemas.de. Arca.de.Noé.e.“assistir”.aos.poemas.de.Sérgio.Capparelli.em.sua.página.na.internet.(www.caparelli.com.br),. teremos.um.complemento.importante.daquilo.que.o.texto.diz:.as.crianças.estão.imersas.em.diversas.linguagens.que.se.os.desafia..Sentir.um.poema.lido,.cantado.e.“escrito.e.idealizado”.no.e.para.o.computador.será. perfeito.para.o.entendimento.dessas.diversas.linguagens. 7. As oficinas estão acabando!: Como.se.trata.de.um.último.encontro.é.importante.fazer.um.balanço. de.como.foi.o.ano,.dos.desafios.enfrentados,.das.conquistas.e.descobertas.feitas.com.as.leituras.e,.em.especial,.retomar:.o.que.fizeram.para.a.formação.de.uma.comunidade.de.leitores?.Por.se.tratar.de.um.leque. grande.de.questões,.o.formador.decide.com.o.grupo.qual.a.melhor.forma.de.fazer.esse.balanço:.cada.participante.ganha.“um.minuto”.para.falar,.fala-se.em.blocos,.por.atividade.desenvolvida,.entre.outras.opções.. Como.o.diário.foi.nosso.amigo.fiel.desde.o.primeiro.encontro,.o.grupo.pode.trocar.seus.diários.para.que. um.colega.escreva.uma.despedida.em.suas.páginas..Apesar.da.liberdade.extrema.desse.momento.de.avaliação,.algumas.perguntas.se.fazem.importantes:.algum.dos.gêneros.estudados.foi.mais.significativo?.A. apreciação.dos.textos.fez.sentido.para.você?.Como.avalia.seu.desempenho.leitor.no.ano.que.passou?.O. que.pretende.fazer.(ou.continuar.fazendo).para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora?.O.que.conseguiu. ensinar. de. tudo. que. aprendeu?. Além. dos. questionários,. o. grupo. decide. que. outras. atividades. podem. ocorrer.nesse.momento.e.se.tais.atividades.não.podem.acontecer.juntamente.com.o.sarau,.com.a.troca.de. livros,.de.textos.e.exposição.dos.diários. 8. Sentindo poesia: hora.de.começar.o.sarau!.O.objetivo.não.é.ensinar.a.fazer,.mas.viver.um.sarau verdadeiramente.. O. formador. pode. comentar. o. texto. Receitinha de sarau,. de. Celinha. Nascimento,. ou. lê.-los,. destacando.aspectos.que.considerar.mais.importante..Lida.a.receitinha,.pode-se.começar.com.o.pedido.de. bênção.e.a.escolha.dos.mestres.de.cerimônia..Antes.de.passar.a.condução.do.sarau.para.os.mestres,.o.formador.faz.o.aquecimento.proposto.na.“receitinha”..O.formador.pode.ainda.cantar.músicas.e.levar.CDs.para. esse.encontro..Se.as.letras.estiverem.disponíveis,.fica.fácil.para.a.turma.acompanhar.e.fazer.o.exercício.de. aquecimento..Depois.do.aquecimento,.e.antes.de.passar.a.palavra.aos.mestres,.o.formador.pode.utilizar.poesia.em.cinema.com.trechos.do.filme.O carteiro e o poeta.e.pedir.que.o.grupo.rapidamente.faça.uma.frase. Letras de luz.indd 147 29/11/10 17:30 148 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento poética.para.abrir.o.sarau,.inspirados.na.descoberta.da.poesia.que.acontece.na.vida.do.carteiro..Então,.passa. a.palavra.aos.mestres.de.cerimônia.que,.ajudados.pela.receitinha.e.por.sua.própria.inspiração,.conduzirão.o. sarau.até.seu.final. 9. Despedida: salve,.salve.todos.participantes.do.projeto!.Que.a.gente.possa.continuar.espalhando.narrativas.por.onde.passamos.E.que.a.poesia.nos.salve,.já.que.Vinicius.de.Moraes.assim.declamava:.“A.esse. mundo,.só.a.poesia.poderá.salvar”. bibliografia básica BACHELARD,.Gaston..A poética do espaço..1ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.1998. O.autor.faz.um.intenso.trabalho.sobre.a.poesia.espalhada.por.todo.o.mundo,.muito.além.das.palavras..Considerado. uma.verdadeira.tese.da.filosofia.de.poesia,.os.títulos.dos.capítulos.não.deixam.dúvida.sobre.o.mergulho.do.autor.na. intimidade.da.poesia:.“A.gaveta”,.“O.ninho”,.“A.concha”,.“A.imensidão.íntima”.e.outros,.todos.dedicados.a.uma.ideia. de.poesia.que.toma.toda.o.existir.humano. BERALDO,.Alda..Trabalhando com poesia..1ª.ed..São.Paulo..Ática,.1990. Sem.pretender.impor.modelos.e.técnicas.de.composição,.o.livro.objetiva.despertar.a.sensibilidade.para.o.mundo. poético.das.palavras..Feito.especialmente.para.escolas,.traz.muitos.exercícios.realizados.por.alunos. BOSI,.Alfredo..Reflexões sobre a arte..7ª.ed..São.Paulo..Ática..2000. Reconhecido.autor,.professor.de.Literatura.da.USP-SP,.Bosi.faz.importantes.reflexões.sobre.as.três.dimensões.da. arte:.um fazer, um conhecer e um exprimir. Em.seu.trabalho,.a.poesia.é.tratada.como.uma.forma.de.arte.que.engloba.todas. as.dimensões. GOLDSTEIN,.Norma..Versos, sons, ritmos..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1990. Da.importante.Coleção.Princípios,.o.livro.trata.da.análise.de.poemas:.ele.mergulha.em.sua.interpretação,.unindo. metrificação,.rimas,.versos,.estrofes..O.ritmo.poético.e.a.sensibilidade.própria.de.cada.leitor.de.poesia.são.as.bandeiras. levantadas.pela.autora. INSTITUTO. CULTURAL. ITAÚ. (editor).. Cadernos Poesia Brasileira – Poesia Infantil –1ª. ed.. São. Paulo.. ICI,. 1996. Publicação.do.Instituto.que.faz.uma.pequena.retrospectiva.da.poesia.infantil.de.Olavo.Bilac.a.Arnaldo.Antunes. MORAIS,.Vinícius.de..A arca de Noé..Cia..das.Letras..São.Paulo,.2001. O.site.da.Livraria.Cultura.diz.que.crianças.e.adultos.sabem.de.cor.alguns.dos.poemas.infantis.de.Vinicius.de.Moraes.graças.ao.ritmo.inteligente.e.bem-humorado.dos.seus.versos..As.deliciosas.versões.musicais.de.A arca de Noé.são. exemplo.dessa.simpatia.que.o.poeta.conquistou.entre.pequenos.e.grandes.leitores. MORICONI,.Ítalo..Como e por que ler a poesia brasileira do século XX..1ª.ed..Rio.de.Janeiro..Objetiva,.2002. O.livro.traz.um.roteiro.precioso.de.tempos.e.espaços.da.poesia..O.melhor.de.Drummond,.o.melhor.de.Bandeira.e. outros.estão.ali.com.comentários.saborosos.do.autor,.que.também.organizou.a.antologia.Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. NICOLA,.José.e.INFANTE,.Ulisses..Análise e interpretação de poesia..1ª.ed..São.Paulo..Scipione,.1995. Especialmente.escrito.para.alunos.de.Ensino.Médio,.o.livro.foi.dividido.em.dois.capítulos.teóricos.e.outros.dois.de. mergulho.intenso.e.livre.na.obra.de.autores.brasileiros.e.estrangeiros. Letras de luz.indd 148 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 149 PAIXÃO,.Fernando..O que é poesia..6ª.ed..São.Paulo..Brasiliense,.1991. Da.importante.coleção.Primeiros.Passos,.o.texto.busca.amarrar.as.tantas.faces.e.definições.da.poesia.ao.longo.do. tempo.e.da.história..Mais.que.complexa.teoria,.o.autor.defende.a.leitura.da.poesia.com.os.ouvidos,.o.nariz,.a.boca,.a.pele. SOARES,.Angélica. Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo..Ática..2005. A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea.num. esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.textos.literários. texto-farol 1 Luz que vem de muito longe, de fernando Paixão Fernando Paixão é poeta. Nasceu em Portugal e veio para o Brasil ainda menino. Foi editor da Editora Ática e tem se dedicado a muitos projetos ligados à poesia. Gosta de se apresentar como um militante da palavra e um defensor implacável do valor da poesia. O trecho faz parte do livro O que é poesia, escrito para uma importante coleção. Do grito à poesia eletrônica? Na.Grécia.lendária,.quando.era.o.início.da.primavera,.os.habitantes.se.dirigiam.aos.oráculos,.geralmente. pequenas.grutas.ou.abismos.de.montanhas,.considerados.sagrados,.e.se.reuniam.em.torno.da.pitonisa,.que. se.acreditava.na.época.ter.o.poder.e.a.capacidade.de.predizer.o.futuro..Ao.acompanhar.o.ritual.da.sacerdotisa,.todos.os.homens.se.punham.a.gritar,.fazer.seus.lamentos.e.dançar,.enquanto.ela.declamava.suas.profecias,.inspirada.nos.deuses. Concebidos.para.estabelecer.contato.com.as.forças.das.divindades,.esses.rituais.se.transformavam,.pelo. seu.brilho.e.encanto,.na.expressão.de.grandes.emoções.coletivas..Era.a.oportunidade.que.o.homem.tinha.de. se.reunir.e.reconhecer.com.outros.homens.e,.dessa.maneira,.se.estabelecia.uma.comunhão.de.todos.no.mesmo.ritmo..Recebiam,.através.da.pitonisa,.a.luz.e.a.orientação.dos.deuses. Mas,.por.que.isso.acontecia? Afirmam.alguns.autores.que,.na.luta.pela.sobrevivência,.o.homem.primitivo.entendia.os.fenômenos.da. natureza.predominantemente.de.acordo.com.as.concepções.religiosas..Isso.quer.dizer.que.os.mitos.eram. criados.a.partir.da.própria.necessidade.de.se.explicar.a.causa.de.acontecimentos.que.o.homem.não.compreendia:.como.era.o.caso.da.chuva,.o.trovão,.a.morte,.a.seqüência.das.estações.etc..Por.causa.disso,.era. muito.grande.a.importância.que.os.rituais.desempenhavam.dentro.da.vida.dessas.sociedades. Em.tais.ocasiões.de.caráter.sagrado,.a.vontade.de.se.exprimir.aparecia.com.maior.vigor.entre.esses.homens..Pode-se.inclusive.imaginar.que,.para.se.aproximar.dos.deuses,.eles.faziam.da.linguagem.um.ato.puro.. Na.dança,.no.canto.e.na.poesia.oral..Cada.gesto.e.cada.palavra.tinham.para.eles.um.significado.vital,.em. íntima.relação.com.os.mecanismos.da.vida.e,.na.magia.desses.momentos,.eles.reviviam.as.lendas.antigas..A. linguagem.poética.acabava.tendo.um.sentido.purificador,.original. Letras de luz.indd 149 29/11/10 17:30 150 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Com.o.passar.do.tempo,.os.dizeres.foram.se.repetindo.e.a.declamação.de.versos.se.tornou.predominante. nos.ritos..(...)..A.abordagem.desses.costumes.ancestrais.gregos.não.nos.interessa.aqui.pelo.seu.aspecto.histórico,.já.que.não.pretendo.remontar.à.origem.e.à.evolução.da.poesia.através.dos.tempos,.mas.sim.pelo.seu. valor.intrínseco..Isto.é,.o.que.se.deseja.enfatizar.é.que.nas.sociedades.primitivas.(assim.chamadas.na.falta.de. outro.nome),.o.ser.humano.mantinha.uma.relação.muito.mais.criativa,.mágica.e.umbilical.com.a.linguagem. do.que.temos.entre.nós. Enquanto.naquele.tempo.a.expressão.poética.era.um.ato.de.criação,.praticado.por.todos.os.homens.que. participavam.dos.rituais.–.e.a.condição.humana.assim.o.determinava.–,.atualmente.nas.sociedades.tecnológicas,.e.divididas.em.classes,.a.criação.e.a.convivência.com.a.poesia.ficou.sendo.o.privilégio.(ou.o.sacrifício?). de.alguns.poucos.considerados.malucos. E.não.foi.só.na.Grécia.que.a.poesia.teve.uma.importância.fundamental..São.inúmeros.os.poemas.egípcios.antigos.que.manifestam.poeticamente.uma.estreita.relação.com.a.experiência.da.cultura.do.povo,.intimamente.ligada.à.agricultura..Com.os.chineses.a.mesma.coisa,.e.também.com.boa.parte.dos.povos.orientais.. A.poesia,.em.alguns.casos,.quase.confunde.com.a.função.religiosa..E.alguns.filósofos,.o.italiano.Vicio.é.um. deles,.consideram.que.a.poesia.constitui.a.própria.origem.das.línguas. Isto.não.quer.dizer.que.as.sociedades.tecnológicas.e.modernas.não.produzem.poesia..É.claro.que.produzem,.e.até.de.ótima.qualidade,.como.nos.Estados.Unidos.da.América,.que.é.um.país.moderno.por.excelência,.e.onde.surgiram.alguns.dos.melhores.poetas.ocidentais.do.ultimo.século..De.maneira.radical,.podemos. pensar.que.não.existe.sociedade.em.que.não.se.desenvolva.a.expressão.poética. Mudou,.no.entanto,.a.função.que.a.poesia.desempenha.socialmente..Deixou.de.ser.a.expressão.coletiva. de.religiosidade.para.ser.a.manifestação.dos.poetas.que.se.revoltam.contra.o.caráter.desumano.e.pouco.solidário.de.seu.tempo..Da.atividade.poética.já.não.participam.todos.os.homens,.em.conjunto,.mas.apenas. aqueles.que,.expressando.seus.sentimentos.em.versos,.tentam.responder.à.pergunta.que.em.todos.desperta:. o.que.é.viver.neste.lugar.e.nesta.hora? Escrever.poemas.é.estar.constantemente.a.dar.respostas.a.essa.questão..Octavio.Paz,.notável.crítico.e. poeta.mexicano,.é.um.dos.escritores.contemporâneos.que.têm.desenvolvido.fecundas.ideias.sobre.esse.tema.. No.seu.livro.“O.arco.e.a.Lira”,.ele.escreve:.“o.poeta.moderno.não.fala.a.linguagem.da.sociedade.nem.comunga.os.valores.da.atual.civilização..A.poesia.de.nosso.tempo.não.pode.escapar.da.solidão.e.da.rebelião,.a.não. ser.através.de.uma.mudança.da.sociedade.e.do.próprio.homem”. (...).Com.a.firme.intenção.de.resistir.à.massificação,.o.poeta.insiste.em.falar.dos.valores.fundamentais.do. ser.humano:.o.amor,.a.solidariedade,.a.importância.da.morte,.etc. E.enquanto.na.política.tradicional.e.nos.jornais,.quase.sempre.a.linguagem.é.usada.para.repetir.mensagens. sem. novidade,. apelando. muitas. vezes. para. o. sensacionalismo. ou. para. a. demagogia,. nos. livros. dos. grandes.poetas.a.linguagem.permanece.viva.e.sua.leitura.é.fascinante..E.mais:.a.experiência.transmitida.nas. palavras.desses.poetas.não.é.apenas.a.experiência.de.uma.só.pessoa,.mas.de.todos,.pois.o.seu.tema.continua. a.ser.coletivo..Refere-se.à.minha,.à.tua,.à.nossa.existência. A.poesia.continua.viva.entre.nós,.resistindo.a.todas.as.tempestades. Fonte: Coleção Primeiros Passos – número 63 – O que é poesia Editora Brasiliense – São Paulo – 6ª Edição – 1991 Letras de luz.indd 150 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 151 texto-farol 2 Como e por que ler poesia, de Ítalo moriconi Ítalo Moriconi é doutor em Letras e professor de literatura brasileira e comparada na universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenou duas grandes obras Os Cem Melhores Contos Brasileiros e Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século. Em seu livro Como e por que ler poesia, o autor mostra que é possível entender poesia e descobrir o prazer de buscar suas próprias interpretações. A.palavra.poesia.apresenta.certa.flutuação.de.sentidos..Para.alguns,.soa.ameaçadora,.sugerindo.ou.lembrando.exercícios.difíceis.dos.tempos.de.escola..No.universo.literário,.é.tida.como.a.mais.refinada.das.paixões.. Em. princípio,. imagina-se. que. poetas,. assim. como. leitores. de. poesia,. sejam. indivíduos. singulares,. atacados.por.uma.espécie.de.mania,.dizem.que.rara.e.inatural:.a.mania.de.ler.literatura,.mania.de.cultivar.as. letras..Cultivar.as.letras.é.querer.saber.das.coisas,.é.cultivar.o.intelecto,.a.força.de.entendimento..Alguém. deseja.enveredar.por.esse.caminho,.recomenda-se.leia.os.bons.romances,.descubra.os.filósofos.sérios,.aprenda.a.amar.poesia..Na.cama,.na.rede,.na.poltrona,.na.mesa.de.trabalho..Sempre.foi.assim..É.como.nasce.a. tribo.dos.letrados..Para.a.tribo.dos.leitores,.a.poesia.traz,.sobretudo,.promessa.de.prazer..É.gostoso.ler.poesia.. Poesia.respira,.joga.com.pausas,.alterna.silêncios.e.frases.(os.versos)..Poesia.é.bonito.na.página,.é.festa.tipográfica..Festa.para.os.olhos..Ritmo.visual.que.vira.sonoro,.quando.lemos.o.poema.em.voz.alta..Imaginação.e. sabedoria.combinadas.numa.certa.vertigem,.a.velocidade.das.estrofes..Linguagem.concentrada.que,.no.entanto,. pode. distender-se,. estender-se..Todos. os. cinco. sentidos. traduzidos,. por. meio. da. palavra,. em. coisa. mental..Coisa.mental.que.se.pode.comunicar.pela.fala,.guardar.na.página.ou.na.memória,.que.nem.talismã. Toda.linguagem.tem.seu.quê.de.poesia..Mas.a.poesia.é.onde.o.“quê”.da.linguagem.está.mais.em.pauta..A. poesia.brinca.com.a.linguagem..Chama.atenção.para.possibilidades.de.sentido..Explora.significativamente. coincidências.sonoras.entre.palavras..Fabrica.identidade.por.analogias,.através.das.imagens.ou.metáforas:. mulher.é.flor,.rapaz.é.rocha,.amor.é.tocha..Nuvem.é.pluma..Pedra.é.sono. Ocorre.que.a.palavra.poesia.abrange.sentidos.que.vão.além.da.linguagem.verbal,.oral.ou.escrita..Ela. também.se.refere.a.um.universo.muito.mais.amplo.e.menos.exclusivo.ou.especializado.que.o.do.livro.e. da.leitura..É.o.lado.além,.que.tem.a.ver.com.o.universo.todo.da.cultura,.tem.a.ver.com.o.ar.que.nos. envolve..Um.filme.pode.ter.poesia..Um.gesto,.comum.ou.excepcional,.pode.ter.poesia..A.poesia.está.no. ar..A.poesia.é.popular..A.poesia.está.na.boca.do.povo,.vem.da.boca.do.povo..Espera-se.que.a.poesia. enquanto.arte.específica.das.palavras.de.algum.modo.revele.ou.esteja.articulada.com.essa.poesia.além-livro,.essa.poesia.da.vida. Aliás,.a.poesia.da.vida.pode.ser.bem.rude..Nem.sempre,.ou.quase.nunca,.confunde-se.com.romantismos,. delicadezas,.águas-de-cheiro..Descobrir.a.poesia.da.vida.tem.mais.a.ver.com.realismo.que.com.idealismos. de.Polyanna..Brutalidade.jardim..Por.outro.lado,.aquilo.que.consideramos.“poético”.na.vida.está.menos.na. própria.vida.que.nas.convenções.de.linguagem,.de.pensamento.e.sentimentos.que.nos.regem.enquanto.seres. sociais..A.realidade,.tal.como.a.conhecemos,.é.produto.dinâmico.da.linguagem.humana.e.não.vice-versa.. Este.é.um.princípio.filosófico.fundamental.na.civilização.moderna. Letras de luz.indd 151 29/11/10 17:30 152 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento O.mundo.é.um.ato.de.criação.poética..Nós.todos.o.herdamos,.compartilhamos,.interferimos.mesmo.que. não.queiramos..Interferimos.em.qualquer.perspectiva..Seja.como.religiosos.ou.místicos,.devotos.de.um.ou. de.muitos.deuses..Seja.como.céticos,.devotos.da.ciência,.conformados.ao.fato.de.estarmos.limitados.ao.apenas.humano,.demasiadamente.humano. O.poema,.ao.ser.lido.sobre.a.página,.ou.ouvido.com.atenção,.aproxima.o.leitor.do.poeta..Todo.leitor.ou. leitora.de.poesia.é.um.pouco.poeta.também,.mesmo.que.não.profissional..O.ato.criador.do.poema.sobre.a. linguagem.evoca.a.criação.poética.do.mundo.implícita.na.própria.existência.dela,.linguagem,.que.é.de.todos.. Por.isso.a.leitura.do.poema.ativa.o.poeta.que.somos,.o.criador.ou.a.criadora.que.somos,.nesse.sentido.amplo. da.palavra..Daí.por.que.a.poesia.pede.tanto.para.ser.decorada..Mesmo.no.caso.de.poemas.mais.longos,.somos.levados.a.memorizar.os.trechos.que.mais.amamos..Quando.o.poeta.e.a.poeta.profissionais.escrevem.um. poema,.sonham.em.transformá-lo.em.parte.integrante.da.intimidade.psíquica.de.seus.leitores..Como.disse. o.poeta.anglo-americano.T.S..Eliot,.a.leitura.é.em.si.uma.experiência.de.vida..Somos.feitos.daquilo.que.vivemos.e.daquilo.que.lemos. Fonte: Como e por que ler a poesia brasileira do século XX Editora Objetiva, Rio de Janeiro, p. 7, 8, 9 e 10. texto-farol 3 Poemas de forma fixa – Formas e gêneros tradicionais, de norma goldstein A autora é professora da Universidade de São Paulo e autora de diversas obras de estudo da literatura. Em seus livros, busca aliar a teoria com muita liberdade de análise poética. Algumas.composições.em.verso.têm.um.padrão.fixo.determinante.de.sua.estrutura..O.mais.conhecido,. dentre.os.poemas.de.forma.fixa,.é.o.soneto,.formado.por.dois.quartetos.e.dois.tercetos,.querido.dos.poetas. de.todas.as.épocas..O.mais.popular.é.a.quadrinha,.o.quarteto.de.sentido.completo..Há.muitos.outros,.dentre. os.quais.destaco.alguns,.em.rápida.descrição. Balada:.feita.para.ser.cantada,.baseia-se.no.princípio.da.repetição.que.facilita.gravar.o.texto.na.memória.. A.mesma.ideia.ou.a.mesma.frase.repete-se.ao.término.de.cada.estrofe..Costuma.apresentar.três.oitavas.(estrofes.de.oito.versos),.geralmente.com.versos.de.oito.sílabas. Vilancete: começa.com.um.“mote”.ou.motivo,.tema.a.ser.desenvolvido..O.mote.está.contido.numa.estrofe.curta.inicial..A.seguir,.vêm.as.voltas,.três.ou.mais.estrofes.maiores.que.desenvolvem.e.glosam.o.mote..Nas. estrofes.da.volta.repete-se.um.dos.versos.do.mote. Letras de luz.indd 152 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 153 Ode:.entre.os.antigos.gregos.e.romanos,.ligava-se.à.música,.passando.depois.a.um.poema.lírico.em.que. se.exprimem.os.grandes.sentimentos.da.alma.humana..Pode.celebrar.fatos.heróicos,.religiosos,.o.amor.ou.os. prazeres..Sem.obedecer.a.regras.rígidas,.a.ode.costuma.ser.dividida.em.estrofes.iguais.pela.natureza.e.pelo. número.de.versos. Canção:.é.uma.composição.curta,.cujo.teor.pode.ser.ora.melancólico,.ora.satírico..Permite.todos.os.temas. e.nem.sempre.se.destina.a.ser.cantada..Pode,.ou.não,.apresentar.estribilho.ou.refrão..As.“canções.nacionais”. incorporam-se.à.tradição.de.todos.os.povos. Madrigal:.composição.curta,.destinada.a.homenagear.alguém,.ora.com.galanteio,.ora.com.uma.confissão. de.amor..Pode.ser.estruturado.em.qualquer.metro,.mas.geralmente.emprega.a.redondilha,.ou.mescla.versos. de.6.e.de.10.sílabas. Elegia:.composição.destinada.a.exprimir.tristeza.ou.sentimentos.melancólicos Idílio: égloga ou pastoral:.composições.que.celebram.a.vida.no.campo,.a.natureza,.a.atividade.agrícola.e. pastoril,.ou.seja:.o.bucolismo. Rondó ou rondel:.sucedem-se.tipos.iguais.de.quadras.ou.estrofes.maiores,.em.versos.de.sete.sílabas..Os. dois.primeiros.versos.de.uma.estrofe.são.retomados.adiante,.em.outra.estrofe. Epitalâmio:.poema.composto.para.celebrar.um.casamento. Triolé:.compõe-se.de.uma.ou.mais.oitavas.em.versos.de.sete.ou.oito.sílabas..Aparecem.dois.tipos.de. rima..O.quarto.verso.repete.o.primeiro,.e.os.dois.versos.finais.da.estrofe.retomam.os.dois.primeiros. Sextina:.compõe-se.de.seis.sextilhas,.geralmente.em.versos.decassílabos,.seguidos.de.um.terceto.final..Os. versos.devem.terminar.com.palavras.de.duas.sílabas..As.palavras.finais.dos.versos.da.primeira.estrofe.devem. reaparecer.em.versos.das.outras.estrofes. Haicai:.tipo.de.poema.japonês,.composto.de.17.sílabas,.distribuídas.em.três.versos.apenas:.o.primeiro.de. cinco,.o.segundo.de.sete,.e.o.terceiro.de.cinco.sílabas..Originalmente.sem.rima,.no.Brasil.vem.sendo.retomado.de.maneira.rimada..Consiste.na.anotação.poética.e.espontânea.de.um.momento.especial.. Fonte: Versos, sons, ritmos. Editora Ática, São Paulo, 6ª Edição, 1990, p. 55, 56 e 57. texto-farol 4 Receitinha de sarau, de celinha nascimento Celinha Nascimento é educadora, participa e organiza saraus em São Paulo. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila. Esta.“receita”.é.apenas.uma.possibilidade.de.acontecer.de.um.sarau,.já.que.não.existem.(felizmente).modelos.oficiais.a.serem.seguidos.rigorosamente. Resultado.de.muitos.saraus.realizados.em.várias.e.distintas.localidades.brasileiras,.é.como.uma.receita.de. bolo.que.a.vovó.faz.com.maior.carinho.e,.mesmo.sem.saber.as.quantidades.exatas.ou.tempo.de.forno,.fica. sempre.gostoso! Letras de luz.indd 153 29/11/10 17:30 154 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Nesta.receita,.o.sarau.começa.sempre.com.a.escolha.de.um.casal.de.mestre.de.cerimônia,.um.homem.e. uma.mulher.escolhidos.sem.antecedência..Essa.é.uma.pitada.especial..O.casal.é.escolhido.pelo.padrinho.ou. madrinha.do.sarau,.(padrinho.ou.madrinha.é.a.pessoa.que.oferece.o.sarau,.aquele.que.é.dono.da.casa.ou. responsável.pelo.espaço.ou.atividade).e.referendado.pelos.participantes.através.de.uma.salva.de.palmas.ou. outra.aclamação..Depois.de.aclamados,.o.casal.recebe.uma.flor.ou.buquê.–.para.a.mulher.–.e.um.chapéu.–. para.o.homem..Flor.e.chapéu.embelezam.o.sarau.e.identificam.o.casal.que.cuidará.para.que.tudo.saia.bem.. Os.mestres.precisam.ser.bem.escolhidos.entre.os.presentes,.pois.levarão.as.atividades.até.o.fim.e.têm.a.tarefa.de.animar.a.todos.fazendo.com.que.participem.e.se.apresentem. Depois.da.escolha,.o.padrinho.se.junta.ao.restante.do.grupo.e.os.mestres.iniciam.o.pedido.de.bênçãos. que.servem.para.iluminar.filosófica.e.poeticamente.a.atividade.do.sarau. O.primeiro.pedido.é.dos.mestres.de.cerimônia. –.Nós,.Rodolpho.e.Lúcia,.mestres.dedicados.deste.encontro.de.sexta-feira,.pedimos.a.benção.para.Manuel.Bandeira.para.iluminar.nosso.sarau.e.colocar.ainda.mais.poesia.na.nossa.tão.poética.noite!.–(exemplo) Cada.participante.vai.pedindo.a.benção.a.quem.deseja:.um.poeta,.um.músico,.alguém.querido.da.comunidade,.alguém.a.que.se.ama,.etc..A.benção.é.individual,.sem.censura.e.não.é.necessário.que.cada.participante. faça. sua. benção. isoladamente.. Os. pedidos. podem. acontecer. simultaneamente,. ecoando. em. todos. os. espaços.do.salão.do.sarau..O.ambiente.fica.bonito.e.sonoro.com.cada.participante.fazendo.sua.evocação.sem. ter.de.esperar.sua.vez. Terminadas.as.bênçãos,.é.hora.de.aquecer.voz.e.coração..Todos.são.convidados.a.cantar.alguns.versos.de. canções.conhecidas..Quem.começa.são.os.mestres.de.cerimônia.que.iniciam.(puxam).uma.canção.sem.necessidade.de.acompanhamento.instrumental..Não.é.preciso,.nem.recomendável,.que.se.cante.toda.a.canção,. apenas.alguns.versos..Também.é.bom.que.a.música.escolhida.seja.conhecida.para.favorecer.que.os.participantes.acompanhem.com.alegria.e.realmente.possam.se.aquecer..Depois.de.alguns.versos,.passa-se a música pra frente, ou.seja,.a.mestre.joga.a.flor.ou.buquê.para.alguém.escolhido..A.pessoa.que.recebe.o.buquê.começa.(puxa).–.imediatamente.–,.outra.música.e.também.canta.apenas.alguns.versos.e.também.passa.pra.frente. e.assim.sucessivamente. O. aquecimento. é. sempre. muito. gostoso,. pois. os. participantes. precisam. lembrar-se. de. uma. canção. e. tentar.ser.acompanhado..Caso.o.sarau.tenha.muitos.participantes,.o.aquecimento.pode.ser.feito.em.duplas. ou.trios,.o.importante.é.que.todos.cantem.um.pouquinho.para.realmente.aquecer.e.colocar.sua.memória. poético-musical.em.alerta. Todos.devidamente.aquecidos,.os.mestres.preparam.o.enredo-programação.do.sarau..Trata-se.agora.de. anotar. nomes. das. pessoas. que. se. apresentarão. e. suas. atividades:. Música,. poesia,. contação. de. história,. anedota,.dança..Os.mestres.devem.fazer.uma.programação.bem.organizada.buscando.alternar.as.atividades..Caso.aconteça.de.poucos.se.inscreverem,.cabe.aos.mestres.incentivar.o.grupo,.chamando.para.a.atividade. Enquanto.os.mestres.organizam.as.apresentações,.pode-se.colocar.música.para.dançar,.poetas.declamando.em.CDs.ou.vídeos.ou.outra.programação.que.os.mestres.criarem. Os.participantes.vão.se.apresentando.de.acordo.com.a.programação.feita.pelos.mestres.até.o.fim.da.lista. Letras de luz.indd 154 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de leitura 155 Dicas: Levar.para.o.sarau.livros.ou.textos.soltos.de.poesia..Alguns.participantes.podem.ficar.com.desejo.de.declamar,.mas.talvez.não.se.lembrem.de.nenhum.verso,.então.poderão.recorrer.ao.arsenal.trazido..Quanto.mais. contagiante.forem.os.mestres.de.cerimônia.e.as.apresentações,.mais.pessoas.ficarão.com.desejo.de.participar. Dança.combina.muito.com.sarau,.e,.em.geral,.as.pessoas.têm.pouca.oportunidade.de.dançarem.juntas.em. tempos.modernos..Valsas,.maxixes,.lundus.e.modinhas.que.relembram.os.saraus.antigos.dão.um.toque.de. leveza.e.cadência.aos.encontros.poéticos. Aproveitar.o.espaço.para.outras.atividades.literárias:.a.troca.e.empréstimo.de.livros,.o.varal.de.textos. inéditos,.homenagem.a.algum.poeta.especial,.etc. Procurar.fazer.saraus.rotineiros:.o.grupo.estará.sempre.mais.à.vontade.e.cada.vez.aprendendo.e.participando.com.mais.energia,.levando.seus.textos.e.se.esmerando.na.atividade. Os.saraus.estão.voltando!.Muitos.leitores.e.amantes.da.poesia.estão.reunindo.amigos,.alunos.e.público. em.geral.para.essa.atividade.que.já.estava.sendo.esquecida..Veja.o.exemplo.abaixo..Não.é.inspirador? Um exemplo a ser seguido – o Sarau da cooperifa em São Paulo Há.certo.brilho.no.olhar.dos.que.se.amam..O.sinal.de.uma.estima.mútua,.uma.segurança,.uma.sensação. de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,.quebrar.barreiras,.contestar.obstáculos..Esse.brilho. anda.raro.por.aí..Vez.por.outra.o.encontramos.num.casal.apaixonado.que.passa.abraçadinho.distraidamente. pela.rua..Na.troca.de.olhares.entre.uma.mãe.e.um.filho..Na.gratidão.do.amigo,.cujos.olhos.sorriem.pelo. simples.fato.de.ter.sido.assim.escolhido. Em.um.lugar.muito.especial,.um.boteco,.como.alguns.o.chamam,.esse.brilho,.de.tão.abundante,.se.torna. intenso,.beirando.o.ofuscante..Lá,.pessoas.se.abraçam,.se.ouvem.e.se.aplaudem.ao.compartilhar.sentimentos,. emoções,.angústias.e.prazeres.destilados.em.forma.de.poesia..Toda.quarta-feira,.das.oito.à.meia.noite,.no.bar. do.Zé.Batidão,.no.chamado.Sarau.da.Cooperifa.(Cooperativa.de.Cultura.da.Periferia).pode-se.ver.pessoas,. em. espírito. comunitário,. valorizando. o. outro,. mas,. principalmente. sentindo. e. demonstrando. aquilo. que. cantava.a.música.The greatest love of all.(o.maior.amor.de.todos):.“aprender.a.amar.a.si.mesmo.é.o.maior.amor. de.todos”..Isso.pode.não.ser.nenhuma.novidade.e.parecer.até.um.clichê,.porém,.nunca.foi.tão.difícil,.nem. tão.necessário,.promover.esse.tipo.de.estima.nas.pessoas. Longe.de.ser.um.lugar.comum,.este.sarau.abriga.exemplos.de.pessoas.que.saíram.de.uma.situação.de. maus.tratos.e.desesperança,.e.hoje.caminham.confiantes.e.seguros.para.frente.do.palco.improvisado.do. bar.e.recitam.orgulhosamente.seus.poemas..“Adolescentes.antes.envolvidos.com.drogas,.sem.muito.rumo. na.vida,.hoje.procuram.ler.cada.vez.mais.para.aprender.palavras.novas.e.bonitas.para.seus.poemas”..Através.do.Sarau.da.Cooperifa,.a.comunidade.descobriu.que.pode.produzir.cultura.de.boa.qualidade.e,.principalmente,.que.fale.na.sua.linguagem,.dos.seus.sentimentos.e.de.suas.necessidades.e.vontades..Tanto.os. poetas.quanto.as.poetisas.da.Cooperifa,.quanto.todos.que.ali.pertencem,.compartilham.da.mesma.opinião. sobre.a.importância.do.sarau:.com.o.peito.inflado.e.o.eterno.brilho.no.olhar,.aprender.o.amor.maior.de. todos,.a.auto-estima..E.é.esse.amor.a.si.mesmo,.essa.dignidade,.esse.respeito.por.si.e.pelo.próximo,.que. poderá.gerar.cidadãos.seguros,.com.uma.sensação.de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,. de.quebrar.barreiras.e.de.contestar.obstáculos..Se.isso.não.for.cidadania,.o.que.mais.será? Fonte: Revista Eletrônica do Centro de Estudos da Cidade – diverCIDADE Boletim abril-maio de 2009 Letras de luz.indd 155 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de teatro cAPAcitAção DoS grUPoS LocAiS De teAtro capacitação e apresentações teatrais É.parte.da.proposta.do.projeto.trazer.para.promover.a.capacitação.de.um.grupo.de.teatro.local,.por.meio. de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área.teatral,.o.que.possibilitará.a.adaptação.de. obras.literárias.para.o.teatro.no.decorrer.do.ano.do.projeto. O.projeto.prevê.a.concretização.de.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.funda- mental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço. De.acordo.com.o.cronograma.estabelecido,.a.capacitação.dos.atores.acontecerá.nos.meses.de.fevereiro.e. março.e.já.a.partir.do.mês.de.março.alguns.dos.grupos.teatrais.começarão.as.apresentações.nas.suas.cidades. e,.se.possível,.em.cidades.vizinhas. Diretrizes do projeto na área de teatro: 1. serão quatro os contos montados durante o ano; 2. é importante que a montagem de um dos contos vise especificamente o público infantil; 3. o projeto deve contemplar a programação de reforços de capacitação; 4. é importante promover a integração mais efetiva entre as oficinas de leitura oferecidas aos municípios e as apresentações teatrais, por meio de uma gama de ações das quais participarão os grupos teatrais; 5. a renovação do acervo local, bem como a antecipação de títulos para as oficinas, devem também contemplar as capacitações teatrais. Uma pequena biblioteca técnica de títulos, que permanecem sob sua responsabilidade do produtor local no decorrer do ano deve circular entre os atores e devem ser repassados à uma biblioteca pública municipal indicada pela prefeitura ao final do ano. Letras de luz.indd 157 29/11/10 17:30 158 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Algumas perguntas e respostas 1. Quem são os agentes locais (atores) que participam dessa oficina? Quais as tarefas após a sua conclusão? São atores, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos, profissionais liberais ou não, estudantes, funcionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado em um trabalho de aproximação entre a literatura e a cena teatral. O grupo de atuação tem entre 6 (mínimo) e 10 (máximo) vagas, sendo destinado a pessoas com o ensino médio completo. Após a oficina de quatro dias, o grupo formado utilizará o modelo aprendido para a montagem de pequenas peças teatrais baseadas outros textos curtos de diferentes autores e estilos para apresentação em diferentes espaços no município. 2. como será a atuação do grupo formado? Que responsabilidades terá? Após a oficina, o grupo terá as indicações fundamentais e um esboço de uma primeira montagem. A partir daí, terá aproximadamente 30 dias para – por meio de encontros, ensaios, produções – dar um acabamento compatível, que possibilite a apresentação pública da peça. Caberá ao grupo criar sua divisão interna (quem dirige, quem presta assistência, quem cuida do cenário, figurino, luz, etc.), bem como estipular seu cronograma de trabalho (ensaios e produção). Pronta a peça (após os 30 dias de ensaio), o grupo inicia uma série de apresentações em seu próprio município e naqueles indicados pelo projeto. As datas de apresentações nas devidas cidades serão definidas pelo produtor e pela coordenação do projeto. (veja mais detalhes no Guia de Produção Teatral) 3. Quantas peças serão montadas? e quando e onde serão apresentadas? O grupo tem a responsabilidade de montar (ensaiar e produzir) e apresentar quatro diferentes peças em sua cidade em um ano, sendo duas montagens no primeiro semestre (entre março e junho) e outras duas no segundo semestre (entre agosto e novembro); durante o mês de julho – férias – não haverá apresentações teatrais. O projeto ocupa um período total de nove meses. Explicando melhor: o ciclo de cada peça é de aproximadamente dois meses: no primeiro mês o grupo ensaia e produz a peça (cenário, figurino, iluminação, etc.) e no segundo mês apresenta. 4. como será a relação com a coordenação do projeto após os quatro dias de oficinas? O projeto estabelece um elo permanente de apoio para as questões inerentes à montagem e à produção, uma espécie de supervisão à distância – por meio de contatos telefônicos e correio eletrônico, além do envio de material didático e leituras. Cada grupo estabelecerá o seu interlocutor que fará a ponte grupo – produção – coordenação do projeto. Esse interlocutor (que chamamos de “produtor local”) necessariamente participa também da parte artística do projeto. O próprio Diário de Bordo, que começará a ser produzido durante a Oficina, será um guia importante sobre a história do processo do grupo, seus produtos e suas consequências. E a qualquer momento, fonte de consulta para dúvidas e procedimentos. Além disso, o Grupo receberá, por ocasião da Oficina de Capacitação, um conjunto de livros significativos de apoio ao cotidiano dos ensaios e exercícios do grupo. Ao final do ano, esses livros – em bom estado de Letras de luz.indd 158 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de teatro 159 conservação deverão ser doados a uma biblioteca pública municipal para que outros cidadãos possam fazer uso desse material. 5. existe algum evento de reforço nessa capacitação? Quando? O projeto prevê um segundo momento de Capacitação para os atores do projeto, ainda no primeiro semestre. Esse reforço consistirá de Oficina de Capacitação de três dias. Ressaltamos que, no decorrer do programa e da supervisão permanente, serão disponibilizados pela coordenação do teatro materiais para reciclagem, leitura e reflexão, sempre que necessário. 6. como se dá a participação do músico no grupo? Além dos atores e produtor(a) (que também participa artisticamente no grupo), o projeto propõe que tenhamos a participação de um músico. Com isso, proporcionamos um acréscimo na qualidade artística das montagens e ganhamos um gama enorme de possibilidades a serem exploradas para cada conto. Pode ser um músico profissional ou amador – ou mesmo algum ator participante que domine algum instrumento musical. Proposta para continuidade do trabalho Sobre o coletivo O.grupo.deve.ter.a.consciência.de.que.a.montagem.de.uma.peça.–.por.menor.que.seja.seu.“tamanho”.–. exige.dos.participantes.determinada.dedicação..Apresentamos.abaixo.uma.proposta.sobre.a.sequência.do. trabalho,.que.deve.ser.adaptada.à.realidade.do.grupo,.do.local.e.dos.participantes: marcar pelo menos dois ensaios por semana. Esse número poderá ser intensificado na medida em que se aproxima a data de estreia; ter claro o que foi combinado (o “contrato” do grupo) sobre as questões de disciplina de trabalho, principalmente no que se refere ao horário e à presença. Não relativizar a indisciplina de quaisquer participantes: o Teatro é uma arte coletiva e faltas e atrasos são nocivas ao todo, mas não é por isso que o trabalho deve parar; . coletivizar telefones e/ou e-mails. E utilizá-los como instrumentos efetivos para a solução de problemas que não dependam da reunião coletiva; . realizar coletivamente uma proposta de cronograma de produção e da estrutura dramática; . a qualquer momento, o grupo pode sentir necessidade de rediscutir o seu “contrato” de conduta grupal. Da mesma forma que “limpar a casa” é saudável (e sempre urgente), essa atividade não pode ocupar o espaço dos ensaios artísticos. Procurem reservar tempos extraensaios para discussões sobre as relações grupais e pessoais; . colocar as metas de realização passo a passo. Letras de luz.indd 159 29/11/10 17:30 160 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento exemplo: mês X dia 2 Início dos ensaios dia 4 Levar figurinos para visualização de possibilidades 9 dia Primeira análise geral da estrutura trabalhada dia 15 Divisão das tarefas do grupo (sonoplastia, figurino etc) dia 28 Apresentação da peça para o próprio grupo . estar sempre em comunicação com o responsável do local de ensaio e/ou pelo projeto na região (diretor do departamento, professor designado pela prefeitura, chefe do equipamento, etc.); . ter certeza da disponibilidade do espaço de ensaio durante os horários e períodos de trabalho e, caso contrário, prever opções. Zelar pelo espaço de trabalho cedido – isso interfere diretamente na qualidade dos ensaios; . iniciar todos os dias de ensaio com um aquecimento (realizado em círculo) e um jogo (cantiga de roda, pega-pega...) para harmonizar as qualidades de energia do coletivo. Importante: escolher uma pessoa diferente para propor o aquecimento e jogo todos os dias; . realizar exercícios de relação e confiança entre os atores. Isso ajuda a consolidar um pensamento em comum e um agradável ambiente de trabalho; . dar continuidade e aprofundar as possibilidades de registros do Diário de Bordo (Manual da Experiência) – a qualquer momento, os seus registros podem ser os indicadores de soluções que muitas vezes esquecemos. Além do caderno coletivo, cultive o hábito de registrar seu próprio Diário Pessoal; . buscar um resultado concreto em cada dia de ensaio; . realizar uma avaliação em círculo no final de cada ensaio. Importante: preservar esse tempo para que não haja pressa na avaliação; . finalizar cada ensaio com uma canção ou jogo para harmonizar as energias do coletivo; . exercitar o aprendizado da “escuta”. Quando nos propomos a deixar o outro terminar a sua fala, para daí então podermos falar, essa relação aos poucos se torna orgânica. Ao contrário disso, o formato orgânico que o grupo vai estabelecendo é do atropelo e do caos; . respeito e sabedoria em relação às diferenças do outro. Sempre. Sobre a estrutura dramática . Aprofundar o entendimento das orientações dadas durante a capacitação. . Trazer para o grupo material que complemente, enriqueça, aprofunde o conteúdo com que estamos trabalhando. Ex: outro texto literário que fale sobre o tema, matéria de jornal sobre um caso semelhante, uma história semelhante que alguém lembrou, fotos da época em que se passa a história ou imagens que lhe venham a mente sobre o clima onde se passa a ação (pode ser um quadro, uma escultura, uma fotografia...). Assim, aos poucos, todos irão buscando o mesmo clima para a cena; Letras de luz.indd 160 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de teatro 161 . Levantar exercícios que contribuam para o aprofundamento da matéria. . Exercitar as possibilidades do espaço (ex: onde pode ser feita cada cena). Isso é fundamental nesse projeto, onde nem sempre contaremos com locais convencionais para apresentação e realizaremos o trabalho em praças e locais abertos, sujeitos a todo tipo de intempérie e de interferências externas. . Exercitar as possibilidades das narrações e dos diálogos, experimentando vários narradores e tendo em vista que uma história é sempre contada baseada em um ponto de vista. . Buscar sempre a melhor visualização e compreensão do público do que está sendo dito ou acontecendo. . A dinâmica da peça: cada acontecimento tem um ritmo próprio. As sequências desses acontecimentos resultam em uma dinâmica específica. É necessário buscar uma dinâmica que cause interesse ao público. . Lembrar que sempre deve haver ações. O texto deve ser dito em consequência da ação. Mesmo uma cena narrativa deve ser feita de narrativa de ações. Sem ação o teatro se enfraquece. . Não mostrem tudo, não contem tudo, não deem todas as imagens prontas para o público, devemos sempre, mantendo a clareza da história que estamos contando, deixar um espaço para o público trabalhar com a imaginação também. . Buscar o equilíbrio entre prazer/diversão e o comprometimento/concentração (Importante: essas duas partes são essenciais para a realização de qualquer obra artística!). Pequena bibliografia sugerida Anatol.Rosenfeld,.O teatro épico,.ed..Perspectiva Augusto.Boal,.Jogos para atores e não-atores,.ed..Civilização.Brasileira Teatro do oprimido e outras poéticas políticas,.ed..Civilização.Brasileira Elie.Bajard,.Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito,.ed..Cortez. Fernando.Peixoto,.Brecht.–.Vida e obra,.ed..Paz.e.Terra Walter.Benjamin,.Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política,.ed.Brasiliense.–.“O.Narrador” lngrid.Dourmien.Koudela,.Brecht: um jogo de aprendizagem,.ed..Perspectiva Jogos teatrais,.ed..Perspectiva Texto e jogo,.ed..Perspectiva Um vôo brechtiano,.ed..Perspectiva J.Guinsburg,.João.Roberto.Faria.e.Mariângela.Alves.de.Lima,.Dicionário do teatro brasileiro,.ed..Perspectiva. José.Antonio.Pasta.Jr.,.–.Trabalhos de Brecht,.ed..Atica Maria.Lúcia.de.Barros.Pupo,.Entre o mediterrâneo e o atlântico, uma aventura teatral,.ed..Perspectiva Manfred.Werkwerth,.Diálogo sobre a encenação,.ed..Hucitec Patrice.Pavis,.Dicionário de teatro,.ed..Perspectiva Paulo.Freire,.Pedagogia da autonomia,.ed..Paz.&.Terra Peter.Brook,.O espaço vazio,.ed..Civilização.Brasileira Letras de luz.indd 161 29/11/10 17:30 162 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento A porta aberta,.ed..Civilização.Brasileira Viola.Spolin,.Improvisação para o teatro,.ed..Perspectiva Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin,.ed..Perspectiva Jogos teatrais no livro do diretor,.ed..Perspectiva Relação de títulos afins ao nosso trabalho e que podem ser doados às bibliotecas dos municípios: teoria e estudos teatrais Arte.poética.–.Aristóteles.(Martin.Claret) Construção.da.personagem,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira) Criação.do.papel,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira) Diário.de.trabalho.–.Volume.II.–.Brecht,.Bertolt.(Rocco) Entre.o.mediterrâneo.e.o.Atlântico.–.Pupo,.Maria.Lúcia.(Perspectiva) Estudos.sobre.teatro.–.Brecht,.Bertolt.(Nova.Fronteira) História.concisa.do.teatro.brasileiro.–.Prado,.Décio.de.Almeida.(Edusp) Improvisação.para.o.teatro.–.Spolin,.Viola.(Perspectiva) Jogos.para.atores.e.não-atores.–.Boal,.Augusto.(Civilização.Brasileira) Jogos.teatrais.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva) Jogos.teatrais.–.O.fichário.de.Viola.Spolin.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva) Manual.do.ator.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira) Porta.aberta,.A.–.Brook,.Peter.(Civilização.Brasileira) Preparação.do.ator,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira) Shakespeare.–.biografia.(L&PM.Pocket) Dramaturgia Adultérios.–.Allen,.Woody.(L&PM.Pocket) Alegres matronas de Windsor, As.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Antígona.–.Sófocles.(L&PM.Pocket) Antônio e Cleópatra –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Auto da barca do inferno.–.Vicente,.Gil.(L&PM.Pocket) Auto da compadecida.–.Suassuna,.Ariano Bandoleiros, Os.–.Schiller.(L&PM.Pocket) Bem está o que bem acaba –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Letras de luz.indd 162 29/11/10 17:30 Apostilas das oficinas de teatro 163 Bonde chamado desejo, Um –.Williams,.Tennessee.(L&PM.Pocket) Bruxinha que era boa e O rapto das cebolinhas, A.–.Machado,.Maria.Clara Celestina, A.–.Rojas,.Fernando.de.(L&PM.Pocket) Comédia dos erros, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Don Juan.–.Molière.(L&PM.Pocket) Édipo Rei.–.Sófocles.(L&PM.Pocket) Eruditas, As.–.Molière.(L&PM.Pocket) Falecida, A.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira) Fedra.–.Racine.(L&PM.Pocket) Fenícias, As –.Eurípides.(L&PM.Pocket) Flávia, cabeça, tronco e membros.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket) Hamlet.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Henrique V –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Histórias de Shakespeare.–.Charles.e.Mary.Lambe.(Ática) Homem do princípio ao fim, O.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket) Inimigo do povo, Um.–.Ibsen.(L&PM.Pocket) Jardim das cerejeiras, O –.Tchekhov,.Anton.(L&PM.Pocket) Júlio César.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Liberdade, liberdade.–.Fernandes,.M..E.Rangel,.F..(L&PM.Pocket) Lisístrata – A Greve Do Sexo,.Aristófanes.(L&PM.Pocket) Macário.–.Azevedo,.Álvares.(L&PM.Pocket) Macbeth.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Mercador de Veneza, O.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Megera domada, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Muito barulho por nada –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Noite de Reis.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Noviço, O.–.Pena,.Martins.(L&PM.Pocket) Otelo.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Pigmaleão.–.Shaw,.G..Bernard.(L&PM.Pocket) Pluft, o fantasminha –.Machado,.Maria.Clara Rei Lear –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Ricardo III –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Romeu e Julieta.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Santa Joana dos matadouros, A.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra) Santo e a porca, O.–.Suassuna,.Ariano.( José.Olympio) Sete contra tebas, Os –.Ésquilo.(L&PM.Pocket) Letras de luz.indd 163 29/11/10 17:30 164 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Sonho de uma noite de verão.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Tempestade, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket) Teatro completo.–.diversos.volumes.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra) Tragédias cariocas –.vol..2.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira) Vestido de noiva.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira) outros títulos de interesse Contadores de histórias – Acordais.–.Regina.Machado.(DCL) Do mundo da leitura para a leitura do mundo –.Marisa.Lajolo.(Ática) O ofício do contador de histórias (Martins.Fontes) Procure-os e estude-os na biblioteca de sua cidade! Letras de luz.indd 164 29/11/10 17:30 guia de produção teatral introdução Este.guia.tem.o.intuito.de.sistematizar.a.condução.das.produções.teatrais.do.projeto..Isso.nos.ajudará.a. pautar.o.número.de.apresentações.que.o.projeto.coordenará.durante.o.ano. Além.disso,.visamos.com.esse.documento.partilhar.informações.acerca.da.produção.teatral..Dicas.que. podem.servir.como.ajuda.em.um.campo.tão.amplo.e.muitas.vezes.imprevisível.como.esse. Produzir.um.espetáculo.teatral.requer.muito.jogo.de.cintura.para.lidar.com.o.inesperado..E,.exatamente. por.isso,.a.criatividade.para.resolver.problemas.e.a.capacidade.de.vislumbrar.o.que.pode.ou.não.ser.realizado. é.fundamental! Pré-produção 1. Projeto – Organizar um projeto O.primeiro.passo.da.etapa.de.pré-produção.é.organizar.no.papel.as.ideias.artísticas..Qualquer.parceiro. que.o.grupo.busque.precisa.saber.quais.são.os.passos.artísticos.desejados.pelo.grupo,.qual.o.texto.escolhido,. a.proposta.de.encenação,.etc. O projeto pode conter os seguintes itens: a. histórico do grupo – Como foi formado e outras informações relevantes; b. histórico da peça – Porque da escolha do texto e outras informações relevantes sobre autor, data em que o texto foi escrito, etc; c. sinopse; d. ficha técnica; e. currículos breves dos integrantes: atores e demais artistas envolvidos; f. necessidades técnicas (se o projeto se destinar a pedido de espaço para apresentações) ou necessidades materiais; g. contato do grupo (contendo e-mail, telefones e nome do responsável); h. anexos – Fotos e material de imprensa, caso o grupo possua. Letras de luz.indd 165 29/11/10 17:30 166 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento Release para apoiadores culturais A.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.pode.ser.um.bom.caminho.para.produzir.um.espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados. apoiadores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produto..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material. de.divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade. da.logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo. Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release.em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao. futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um.release.curto,.de.fácil.leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que. chamem.a.atenção.para.a.peça,.no.intuito.de.consolidar.parcerias. Nesse.release,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como:.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha. técnica.e.locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários. Release para a divulgação da apresentação O.release.para.a.divulgação.deverá.conter: a. apresentação do projeto Letras de Luz (fornecido pela coordenação do projeto); b. dados específicos de cada grupo: nome do espetáculo, autor, diretor, sinopse, datas, locais e horários de apresentação, destacando que é uma apresentação com entrada franca, e contato do responsável pela assessoria de comunicação ou imprensa; c. outras informações, como fotos da peça e currículos (em formato texto, contando somente as informações mais relevantes) de alguns dos participantes, podem ser incluídas, caso seja necessário. Produção 1. Datas e os locais para a apresentação: necessidades do espetáculo e possibilidades As.datas.e.os.locais.para.apresentações.deverão.ser.organizados.pelos.produtores.depois.de.consultar.os. integrantes.do.grupo. Porém.o.grupo.deverá.seguir.o.cronograma.de.trabalho.estipulado.pela.coordenação.do.projeto..Os.períodos.destinados.aos.ensaios.e.às.apresentações.teatrais.deverão.ser.cumpridos.pontualmente. IMPORTANTE:.uma.data.agendada.para.a.apresentação.não.deverá.ser.desmarcada.ou.modificada..Além. de.atrapalhar.o.andamento.geral.do.projeto.(que.contém.outras.ações.simultâneas,.como.oficinas.de.leitura),.o. cancelamento.de.uma.data.pré-agendada.prejudica.o.trabalho.de.divulgação.realizado.anteriormente. As.informações.completas.sobre.as.apresentações.deverão.ser.enviadas.pelo.produtor.do.grupo.para.a. coordenação.do.projeto.na.data.prevista.em.cronograma..O.não-cumprimento.dessa.data.também.prejudica.o.andamento.do.projeto,.bem.como.sua.divulgação..As.informações.que.deverão.ser.enviadas.são: a. data e horário das apresentações; b. local da apresentação com endereço completo, instalações – Se a apresentação será feita em teatro, sala, biblioteca, rua, etc.; c. quantidade de público previsto, duração da peça e status da apresentação – Confirmada ou a confirmar. Se houver alguma informação pendente, o produtor deverá marcar a confirmar. Se as informações estiverem completas o produtor deverá considerar a apresentação confirmada e, nesse caso, a data não poderá ser alterada. Letras de luz.indd 166 29/11/10 17:30 Guia de produção teatral 167 Todas.as.informações.deverão.ser.repassadas.à.coordenação.para.a.aprovação.geral.dos.calendários..O. quanto.antes.esses.locais.e.datas.de.apresentações.forem.definidos.e.confirmados,.melhor.serão.o.trabalho. de.divulgação,.a.adaptação.dos.atores.ao.espaço,.a.organização.de.um.evento.que.faça.a.diferença.no.dia.a. dia.da.cidade. O.produtor.do.grupo.poderá.procurar.junto.às.prefeituras.e.aos.demais.parceiros.as.datas.mais.expressivas.no.calendário.da.cidade..Ou.seja,.unir.as.apresentações.do.projeto.aos.eventos.festivos.da.cidade,.às.festas.já.previstas.no.calendário.cultural..Dessa.forma,.aproveitamos.de.um.evento.que.já.será. amplamente.divulgado.para.incluirmos.as.apresentações.teatrais,.facilitando.a.divulgação.da.peça.e.do.projeto,.acrescentando.mais.público.e.tornando.a.apresentação.teatral.mais.rica. As.datas.escolhidas.e.os.horários.para.as.apresentações.devem.ter.como.prioridade.facilitar.o.acesso.do. público.ao.evento..Cada.cidade.tem.uma.realidade.que.deverá.ser.analisada.pelo.produtor.no.intuito.de. atingir.o.maior.número.possível.de.espectadores..Cada.produtor.local.deverá.analisar.a.especificidade.de.sua. região.ao.agendar.datas.e.horários..As.apresentações.também.poderão.ser.agendadas.em.escolas.para.um. público.predeterminado,.mas.recomenda-se.um.maior.número.de.apresentações.abertas.ao.público.em.geral,. ou.seja,.as.apresentações.devem.ser.realizadas.preferencialmente.em.locais.públicos. Lembramos. que. os. locais. normalmente. tidos. como.“ideais”. para. apresentações. teatrais,. os. palcos. italianos,.podem.ser.utilizados..Porém.um.dos.conceitos.do.Projeto.Letras.de.Luz.é.a.apresentação.em. espaços.não.convencionais..Essa.escolha.não.deve.ser.tida.como.uma.possibilidade.menor,.e.sim.um. enriquecedor.da.apresentação.teatral..O.espaço.cênico.é.um.dos.grandes.responsáveis.pelo.sucesso.de. uma.montagem.teatral..Ele.pode.transportar.o.espectador,.criando.climas,.potencializando.a.comunicação.entre.interlocutor.e.texto,.ajudando.o.ator.a.criar.imagens.para.a.sua.ação..Logo,.um.espaço.cê- nico.não.convencional.desperta.no.público.um.interesse.maior,.aumentando.as.chances.de.comunicação. entre.ator.e.público. Dependendo.da.proposta.da.encenação.e.do.próprio.texto,.as.apresentações.podem.ser.agendadas.em. locais.alternativos,.como.salas,.arenas,.casarões,.ruas,.praças,.bibliotecas,.escolas,.coretos,.etc..O.espaço.cênico.escolhido.poderá.potencializar.o.texto.literário. Observação:.em.caso.de.programação.ao.ar.livre,.o.produtor.deve.prever.junto.à.municipalidade.um.local. alternativo.para.apresentação.em.caso.de.intempérie. 2. Organização das necessidades do espetáculo Todo.o.material.necessário.para.a.realização.de.um.espetáculo.deve.ser.listado.pelo.grupo..Com.base. nessa.lista.de.necessidades,.integrantes.do.grupo.e.produtor.deverão.verificar.a.melhor.maneira.de.disponibilizar.materiais.e.objetos.cênicos..A.produção.do.espetáculo.deverá.ser.simples.e.adaptada.à.verba.que.os. grupos.terão.para.realizá-lo. Soluções.criativas.e.baratas.agregam.mais.ao.espetáculo.do.que.buscar.grandes.realizações,.difíceis.de. viabilizar. O.trabalho.em.grupo.requer.o.envolvimento.de.todos.os.seus.integrantes..Muitas.vezes,.temos.um.objeto.difícil.de.encontrar,.portanto,.quanto.maior.o.número.de.pessoas.envolvidas.nessa.busca,.maior.a.chance. de.encontrá-lo..O.produtor.poderá.distribuir.tarefas.no.grupo.para.que.todos.os.seus.integrantes.estejam. envolvidos.na.produção. Letras de luz.indd 167 29/11/10 17:30 168 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento A.figura.do.produtor.organiza.as.necessidades,.faz.os.contatos.com.a.equipe.do.projeto,.contata.os.parceiros.nas.prefeituras,.agenda.datas,.pensa.em.estratégias.de.divulgação,.etc..Porém.os.membros.do.grupo. devem.saber.que.o.sucesso.desse.projeto.é.de.responsabilidade.de.todos. Orçamento Sempre.que.for.possível,.procure.encontrar.uma.parceria.que.viabilize.materiais.a.custo.zero.(tecidos.para. figurinos.e.cenários,.madeiras,.móveis,.impressão.gráfica,.etc.)..Façam.sempre.uma.previsão.de.gastos.para. não.terem.problemas.depois. Apoios culturais/empréstimos de itens/parcerias Os.apoiadores.culturais.serão.parceiros.fundamentais.nesse.percurso,.para.o.empréstimo.ou.a.doação.de. materiais.necessários. Para.os.itens.emprestados,.é.necessário.devolvê-lo.em.perfeitas.condições. Parcerias.com.gráficas.e.órgãos.públicos,.como.prefeituras,.etc..são.muito.bem-vindos.para.a.realização. de.outras.necessidades,.mas.não.se.esqueça.de.aprovar.com.a.coordenação.do.projeto. 3. Divulgação A.divulgação.deverá.ser.feita.de.acordo.com.o.calendário.de.cada.cidade..Depende.da.demanda.de.jornais. e.revistas.e.do.tempo.de.antecedência.necessário.para.o.envio.de.material..Outros.tipos.de.publicidade,.como. flyers.distribuídos.em.bares,.cabeleireiros,.escolas,.faculdades,.lojas,.restaurantes,.carros.de.som,.etc.,.podem. funcionar.de.acordo.com.o.público-alvo.e.com.a.cidade. 4. Temporada/apresentações extras A.quantidade.de.apresentações.de.cada.conto.será.definida.pela.coordenação.do.projeto.de.acordo.com. o.orçamento.e.o.cronograma.previstos.no.início.dos.trabalhos..Ao.final.de.cada.apresentação,.o.grupo.poderá.divulgar.para.o.público.presente.a.próxima.apresentação.do.projeto. Sugerimos.também.que.cada.grupo.tenha.um.caderno,.que.fique.à.disposição.do.público.na.saída.para. que.os.espectadores.possam.registrar.sua.opinião.sobre.a.peça..Os.cadernos.podem.conter.ainda.as.seguintes. informações:.nome,.idade,.impressões.e.como.ficou.sabendo.da.peça. Em.apresentações.fechadas,.para.escolas.e.associações,.pode.ser.feito.um.bate-papo.ao.final.com.o.público.presente,.que.deverá.também.ser.registrado.no.Diário.de.Bordo. Sugerimos.no.início.deste.guia.a.tentativa.de.unir.as.apresentações.do.grupo.a.eventos.importantes.da. cidade..Buscar.parceiros.nas.prefeituras.que.ajudem.na.divulgação.do.espetáculo.e.do.projeto.é.fundamental. Qualquer.apresentação.extra.agendada.pelo.grupo.fora.do.calendário.oficial.do.projeto.deverá.ser.comunicada.e.validada.pela.coordenação..Essas.apresentações.não.poderão,.em.hipótese.nenhuma,.ter.cobrança. de.ingressos.dos.espectadores. 5. Administração É.função.do.produtor,.com.apoio.da.coordenação.do.projeto,.administrar.as.viagens.para.os.espaços.nos. quais.ocorrerão.as.apresentações..Isso.inclui:.checar.transporte,.contato.com.o.local.nos.dias.que.antecedem. a.viagem.para.confirmar.detalhes,.organizar.a.agenda.e.a.alimentação.do.grupo,.checar.a.limpeza.e.salubridade.do.local,.acomodação.dos.artistas,.etc. Letras de luz.indd 168 29/11/10 17:30 Guia de produção teatral 169 O.produtor.acompanha.e.organiza.a.entrada.e.a.saída.do.público.e.fica.atento.se.há.alguma.necessidade. emergencial..Como.o.espetáculo.é.entrada.franca,.ele.checa.o.número.de.pessoas.antes.de.abrir.para.ver.se. a.quantidade.de.cadeiras.colocadas.é.suficiente.e.organiza.a.distribuição.de.senhas.por.ordem.de.chegada. Os.produtores.dos.grupos.também.atuam.nos.espetáculos..Nesse.caso,.é.necessário.que.todas.as.funções. a.ele.designadas.sejam.distribuídas.entre.os.participantes. Pós-produção 1. Desmontagem Da.mesma.forma.que.o.produtor.deve.organizar.uma.tabela.com.os.responsáveis.pela.montagem.do. espetáculo.(montar.cenários,.afinar.a.luz,.passar.os.figurinos),.a.desmontagem.deverá.ser.cumprida.com.o. mesmo.rigor. Alguém.ou.um.grupo.de.pessoas.deve.se.responsabilizar.pela.desmontagem.do.cenário,.outros.integrantes.ficam.responsáveis.para.conferir.os.figurinos.e.adereços.e.outras.ficam.responsáveis.para.checar.o.espaço. (limpeza.do.espaço.utilizado,.recolhimento.de.todos.os.materiais). Lembramos.que.a.boa.imagem.do.grupo.está.diretamente.relacionada.com.a.qualidade.dos.contatos.e. relações.humanas.criadas.e.desenvolvidas,.bem.como.com.o.cuidado.em.relação.aos.espaços.utilizados.e.bens. materiais.disponibilizados..Num.projeto.em.que.o.grupo.retornará.mais.vezes.ao.mesmo.local.de.apresentação,.esse.é.um.“cartão.de.visita”.fundamental. 2. Devolução de itens Os.itens.emprestados,.ao.final.de.todas.as.apresentações.daquele.texto,.são.devolvidos.aos.parceiros..O. grupo.poderá.escrever.uma.carta.agradecendo.o.apoio. 3. Agradecimentos e retorno a apoiadores/parceiros Para.poder.contar.sempre.com.o.apoio.de.empresas.parceiras,.é.necessário.ao.final.da.temporada.não.só. agradecer.a.parceria.mas.também.divulgar.como.foi.a.realização.do.evento:.o.número.de.pessoas.que.estiveram.presentes,.como.foi.a.recepção.da.peça,.o.público.atingido,.etc. 4. Clipping O.grupo.deverá.procurar.(via.internet,.em.jornais.locais,.revistas,.rádios.ou.TVs.locais,.agendas.culturais. das.cidades,.etc.).por.fotos.e.toda.e.qualquer.matéria.de.divulgação.que.fale.sobre.o.espetáculo.e.sobre.o. projeto. O.produtor.deverá.recolher.todo.o.material.publicado.e.enviá-lo.à.coordenação.do.projeto.via.e-mail.ou. correio..A.entrega.desses.materiais.deverá.ser.concomitante.à.entrega.do.relatório. 5. Relatórios e listas de presença O.projeto.prevê.dois.relatórios.por.grupo: 1) um relatório parcial – Após as apresentações de cada montagem; 2) um relatório final – Com data de entrega ao final do ano e a ser definida pela equipe do projeto e comunicada aos grupos no decorrer do ano. Letras de luz.indd 169 29/11/10 17:30 170 Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento E.dois.tipos.de.listas.de.presença: 1) lista de presença de ensaios – Contendo datas e horários dos ensaios realizados; 2) listas de presença de apresentações – Contendo datas e horários das apresentações realizadas. Relatório parcial.–.O.grupo,.juntamente.com.o.produtor,.deverá.analisar.as.apresentações.feitas.baseada. em.três.vértices: as condições de produção – Agendamento das apresentações/datas/locais de apresentação, realização do espetáculo/material conseguido gratuitamente/gastos, grau de parceria das cidades, condição das apresentações e da recepção do grupo, identificação do parceiro na prefeitura de cada cidade; a recepção do espetáculo – O retorno do público, o impacto da realização na cidade, se houve a presença de autoridades, cobertura da mídia, que tipo de repercussão foi registrada; a divulgação do espetáculo – Número de espectadores, engajamento da prefeitura local na divulgação, quantidade de material feito pelo grupo, estratégias utilizadas. O.modelo.do.relatório.parcial.será.enviado.pela.coordenação.do.projeto Tudo.isso.deverá.ter.um.olhar.do.grupo.e.sua.análise,.no.intuito.de.melhorar.as.condições.das.apresentações,.os.contatos.com.as.prefeituras.e.a.comunicação.com.a.equipe.do.projeto. A.data.de.entrega.do.relatório.parcial.constará.no.cronograma.de.trabalho.estabalecido.pela.coordenação. do.projeto.e.deverá.ser.cumprida.pontualmente..Todo.o.tipo.de.material.coletado.deverá.ser.enviado,.juntamente.com.o.relatório.(fotos,.matérias.de.jornal,.sites,.etc.),.também.via.e-mail.ou.correio. Relatório final.–.O.grupo.deverá.fazer.um.relatório.contando.sua.experiência.com.o.projeto.desde.a. capacitação.até.a.fase.de.produção.do.espetáculo.e.as.apresentações. O.relatório.deverá.analisar.pontos.positivos.e.negativos.do.percurso.e.conter.uma.apreciação.do.trabalho. do.grupo..Uma.apreciação.do.projeto.e.suas.reverberações.positivas.no.dia.a.dia.do.grupo,.das.cidades.e.dos. espectadores.envolvidos.também.é.fundamental. O.número.de.pessoas.presentes.nas.apresentações,.público-alvo.atingido,.a.recepção.da.peça,.como.foi. feita.a.divulgação,.quem.do.grupo.esteve.presente.nas.apresentações,.quais.os.resultados.das.parcerias.entre. grupos.e.municípios,.outros.parceiros.que.contribuíram.e.cópia.do.material.de.imprensa.divulgando.o.espetáculo,.são.itens.necessários.para.o.conteúdo.do.relatório. Listas.de.presença.de.ensaios.e.listas.de.presença.de.apresentações.–.Os.modelos.das.listas.serão.elaborados.e.disponibilizados.pela.coordenação.do.projeto. A.lista.de.presença.de.apresentações.deverá.ser.entregue.juntamente.com.o.relatório.parcial..A.lista.de. presença.de.ensaios.deverá.ser.entregue.em.data.que.constará.no.cronograma.de.trabalho.e.deverá.ser.cumprida.pontualmente. 6. Apresentações fora do projeto a. Os grupos podem realizar apresentações extras desde que não prejudiquem o andamento das atividades planejadas para o projeto. b. Estamos lidando com um projeto educativo cujo objetivo é o fomento à leitura. Assim, com exceção do cachê negociado com a instituição que solicitou a(s) apresentação(ões) extra(s), é absolutamente proibida qualquer cobrança de ingresso de espectadores, sob pena de desligamento do projeto. Letras de luz.indd 170 29/11/10 17:30 eQUiPe fUnDAção victor civitA Diretores executivos Angela Dannemann David Saad coorDenação PeDagógica Regina Scarpa Maria Slemenson estuDos, Pesquisas e Projetos Mauro Morellato Adriana Deróbio Simone Lozano Artur Teixeira coorDenação Do Letras De Luz José Luiz Goldfarb coorDenaDor De ativiDaDes teatrais Heitor Goldflus coorDenaDora De ProDução teatraL e caPacitação teatraL Erica Montanheiro concePção Do Programa De caPacitação teatraL Naum Alves de Souza equiPe De caPacitação teatraL Cris Rocha Luciano Gentile Marcelo Klabin Cátia Pires Dedé Pacheco Paulo Barcellos Renata Jesion Tatiana Schunck Letras de luz.indd 171 29/11/10 17:30 equiPe De Formação De Leitores Celinha Nascimento Denise Silva Edilene Fonseca Heloisa Ramos Essa apostila do projeto Letras de Luz foi desenvolvida pela consultora Denise Guilherme da Silva sob encomenda da Fundação Victor Civita. AgrADecimento À eQUiPe Do inStitUto eDP Diretor executivo Pedro Sirgado Diretora De reLações institucionais e resPonsabiLiDaDe sociaL Tereza Rodrigues assessor Da Diretoria Paulo Ramicelli equiPe Ana Maria Schneider Talita Feliciano Tatiana de Toledo Lopes AgrADecimento À eQUiPe DA eDP no brASiL gestora executiva De marca e comunicação Flávia Ramos equiPe Ana Paula Nogueira Fernanda Santiago Lorena Paterlini Marcela Rodrigues assessoria De imPrensa Flávia Fonseca ©.2010.Fundação.Victor.Civita..Todos.os.direitos.reservados. Letras de luz.indd 172 29/11/10 17:30 estrutura e desenvolvimento letras de luz.indd 1 29.11.10 16:53:24