Perfil epidemiológico dos casos de leptospirose atendidos no centro
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Perfil epidemiológico dos casos de leptospirose atendidos no centro
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA NÚCLEO DE SAÚDE DEPARTAMENTO DE MEDICINA MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE GLAUCE ANNE CARDOSO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE LEPTOSPIROSE ATENDIDOS NO CENTRO DE MEDICINA TROPICAL DE RONDÔNIA NO PERÍODO DE 2009 A 2014 PORTO VELHO – RO 2015 GLAUCE ANNE CARDOSO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE LEPTOSPIROSE ATENDIDOS NO CENTRO DE MEDICINA TROPICAL DE RONDÔNIA NO PERÍODO DE 2009 A 2014 Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, área de concentração Processo Saúde e Doença, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Ensino em Ciências da Saúde. Orientador: Prof. Doutor Mauro Shugiro Tada Porto Velho – RO 2015 FI CHA CATALOGRÁFI CA BI BLI OTECA PROF. ROBERTO DUARTE PI RES C268p Cardoso, Glauce Anne. Perfil epidemiológico dos casos de leptospirose atendidos no Centro de Medicina Tropical de Rondônia no período de 2009 a 2014 / Glauce Anne Cardoso. - Porto Velho, Rondônia, 2015. 64 f. : il. Orientador: Prof. Dr. Mauro Shugiro Tada Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde) Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. 1. Leptospirose. 2. Epidemiologia. 3. Georreferenciamento. 4. Centro de medicina tropical de Rondônia. I Tada, Mauro Shugiro. II.Fundação Universidade Federal de Rondônia – UNIR. III.Título. CDU: 616.993 Bibliotecária Responsável: Edoneia Sampaio CRB 11/947 FOLHA DE APROVAÇÃO GLAUCE ANNE CARDOSO PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS CASOS DE LEPTOSPIROSE ATENDIDOS NO CENTRO DE MEDICINA TROPICAL DE RONDÔNIA NO PERÍODO DE 2009 A 2014 Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Rondônia – UNIR, área de concentração Processo Saúde e Doença, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Ensino em Ciências da Saúde. Aprovada em 27/11/2015 ___________________________________________________________________ Mauro Shugiro Tada – Doutor em Biologia Experimental – Pesquisador do Centro de Medicina Tropical ___________________________________________________________________ Juan Miguel Villalobos-Salcedo – Doutor em Ciências – Professor da Fundação Universidade Federal de Rondônia ___________________________________________________________________ Luis Marcelo Aranha Camargo – Doutor em Ciências – Professor da Universidade de São Paulo DEDICATÓRIA A minha família, aos meus pais Luiz Augusto Paiva Cardoso e Maria Marta Cardoso pelo amor e apoio incondicional, crença no meu potencial e incentivo as minhas escolhas. As minhas queridas e amadas irmãs Gleyce e Julli. AGRADECIMENTOS A Deus, obrigado pelo dom da vida; à toda espiritualidade que trabalha para que tenhamos condições de utilizar nosso livre arbítrio de forma adequada. Aos meus pais, por vossa retidão, pelo carinho e dedicação, pela estrutura e valores que sempre me ensinaram. Minha eterna gratidão por tudo. Aos ilustres membros da banca que dispendem de seu tempo e seus conhecimentos, contribuindo de forma inequívoca para a formação de mais uma profissional. Ao Dr. Mauro Shugiro Tada, pela oportunidade de desenvolver este estudo, por sua orientação, abrindo e apoiando opções para a minha formação como pesquisadora. Ao Dr. Tony Hiroshi Katsuragawa, por acreditar no meu trabalho, por sua orientação, seu incentivo e por abrir novas possibilidades para meu desenvolvimento profissional. A Dra. Stella Ângela Tarallo Zimmerli, por acreditar que podemos fazer algo a mais por nossos clientes e pelo valoroso apoio nesse árduo, porém necessário processo de desenvolvimento científico de nosso serviço. A Dra. Lúcia Rejane Gomes da Silva, por sua disponibilidade, atenção e discussões enriquecedoras e produtivas. A Marcos Veiga, Luiz Hassegawa, Miguel Amaral e Cid Scarpa e demais colegas do programa de pós-graduação, pelo convívio pacífico em nossos longos períodos de estudos e trabalho. A Estela Celene e Fagno pela atenção e disponibilidade em sempre ajudar e colaborar com a obtenção dos dados e formatação deste trabalho. RESUMO INTRODUÇÃO E OBJETIVO: A leptospirose é uma antropozoonose de ampla distribuição mundial, e causa epidemias em países de clima tropical, com pouca ou nenhuma infraestrutura de saneamento, atingindo principalmente as periferias urbanas. Na transição entre os anos de 2013 – 2014, o município de Porto Velho, foi palco de enchentes históricas, que perduraram por meses, afetando populações residentes em áreas urbana. A presente pesquisa almejou descrever o perfil epidemiológico dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2009 a 2014 e, amiúde, a real influência do período de chuvas com o aumento da frequência dos casos de leptospirose. METODOLOGIA: A pesquisa foi observacional, e o desenho do estudo de corte aberto retrospectivo, com amostragem de conveniência e institucional. As informações foram coletadas a partir das fichas do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), dos casos notificados de leptospirose atendidos no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2014, da população urbana da cidade de Porto Velho. RESULTADOS: Cerca de 77,8% dos casos ocorreram em áreas de periferia, nos bairros: Cuniã, São Francisco, Nova Porto Velho, Tancredo Neves, Teixeirão e Três Marias. Dos 63 casos confirmados, ocorreu o predomínio do sexo masculino na proporção 3:1, deste 85,7% encontravam-se na faixa etária de 12 a 69 anos, com mediana de 30 anos. O ambiente domiciliar (39,7%) representou o principal local de infecção. Em 46% deles as principais situações de risco foram contato com rio, córrego, lagoa ou represa (p = 0,046) e contato direto com roedores (p = 0,017). O bairro Três Marias apresentou a maior densidade de casos, sendo a zona leste na cidade, sugerindo como área de risco potencial para o estabelecimento da leptospirose. O maior acometimento foi em estudante (21%), agricultor (10%), do lar (8%) e serviços gerais (8%). A variável de sinais e sintomais que apresentou significância estatística entre os gêneros foi vômito (p= 0,0075). No período de 2009 a 2014, 87,3% dos casos de leptospirose evoluiram para a cura e 3,2% evoluiram para o óbito por leptospirose, em 1,6% evoluiram para óbito por outras causas. As manifestações clínicas que antecederam o óbito por leptospirose foram: insuficiência renal e hemorragia pulmonar. CONCLUSÃO: O presente estudo permitiu o delineamento de áreas de maior risco para a ocorrência de casos, determinou os principais fatores de risco de infecção, características clínico-epidemiológicas dos casos e falhas no serviço de notificação epidemiológica no ato do preenchimento das fichas do SINAN, além da falta de rotina no diagnóstico laboratorial da leptospirose realizado pelo LACEN. Enfatiza-se que as informações foram produzidas a partir dos casos notificados no SINAN na área urbana de Porto Velho. Descritores: Leptospirose, Epidemiologia, Georreferenciamento. ABSTRACT BACKGROUND AND OBJECTIVES: Leptospirosis is a globally widely-distributed anthropozoonosis and causes epidemics in countries with a tropical climate and little or no sanitation infrastructure, mainly affecting the urban suburbs. During the transition between 2013 and 2014, the municipality of Porto Velho was a setting for historical floods which lasted for months, affecting populations that live in urban areas. The current research aimed to describe the epidemiological profile of the Leptospirosis cases assisted at CEMETRON in the period between 2009 and 2014 and the real influence of the rainy season on the increase in the frequency of Leptospirosis cases. METHODOLOGY: The research was observational, and the study design was a retrospective open cohort, with institutional and convenience sampling. The data was collected from the records of the Notifiable Diseases Information System (SINAN), from the notified cases of Leptospirosis assisted in the period between January, 2009 and December, 2014 among the urban population of Porto Velho city. RESULTS: Around 77.8% of the cases occurred in suburban areas in the neighborhoods: Cuniã, São Francisco, Nova Porto Velho, Tancredo Neves, Teixeirão and Três Marias. Among the 63 confirmed cases, there was a predominance of the masculine sex with a 3:1 ratio. Out of these, 85.7% were in the age range between 12 and 69 years old, with a median equal to 30 years old. The home environment (39.7%) represented the main site of infection. In 46% of them, the keynote risk situations were the contact with a river, stream, lake or dam (p= 0.048) and the direct contact with rodents (p= 0.013). The neighborhood called Três Marias, located in the city’s Eastern Zone, represented the biggest density of cases, which implied it as an area of potential risk for the establishment of Leptospirosis. The biggest onset was among students (21%), farmers (10%), housewives (8%) and general services (8%). Vomiting (p= 0.0075) was the variable of signs and symptoms that presented statistical significance among the genders. In the period between 2009 and 2014, 87.3% of the leptospirosis cases were cured, 3.2% died from leptospirosis and 1.6% died from other causes. The clinical manifestations that preceded the death from leptospirosis were: renal insufficiency and pulmonary hemorrhage. CONCLUSION: The current study enabled to delineate the areas of biggest risk for the incidence of cases and determined the main risk factors for infection, the cases’ clinical and epidemiological characteristics, the flaws in the epidemiological notification service upon filling in SINAN’s records, as well as the lack of routine in LACEN’s laboratorial diagnosis of Leptospirosis. It is necessary to emphasize that the information was produced from the cases notified in SINAN in the urban area of Porto Velho. Keywords: Leptospirosis; Epidemiology; Georeferencing LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Localização da área de estudo............................................................. 30 FIGURA 2 – Imagens atuais da área do estudo, bairro Três Marias, na área urbana de Porto Velho .......................................................................................................... 31 FIGURA 3 – Distribuição temporal dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON e índices de precipitação pluviométrica no período de 2009 a 2014, na área urbana de Porto Velho ..................................................................................... 34 FIGURA 4 – Diagrama de controle dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2004 a 2014, na área urbana de Porto Velho ............. 35 FIGURA 5 – Distribuição espacial e estimativa de densidade de Kernel para os casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2009 a 2014, na área urbana de Porto Velho ..................................................................................... 36 FIGURA 6 – Distribuição da proporção por fator de risco e gênero dos casos de leptospirose de 2009 a 2014, na área urbana de Porto Velho ................................. 37 FIGURA 7 – Distribuição dos sinais e sintomas dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON, no período de 2009 a 2014, na área urbana de Porto Velho ....... 40 LISTA DE ABREVIATURAS CAAT – Cross-Aglutinin Absorption Test CDC – Centers for Disease Control and Prevention CEMETRON – Centro de Medicina Tropical de Rondônia CEP – Comitê de Ética em Pesquisa CEPEM – Centro de Pesquisa em Medicina Tropical COGEO – Coordenadoria de Geociências ELISA – Enzyme-Linked Immunosorbent Assay EMJH – Ellinghausen–McCullough–Johnson–Harris IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal IgM – Imunoglobulina M INMET – Instituto Nacional de Meteorologia INPE – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais IRA – Insuficiência Renal Aguda JH – Reação de Jarisch–Herxheimer LACEN – Laboratório Central MAT – Microscopic Agglutination Test MS – Ministério da Saúde NUSAU - Núcleo De Saúde Departamento De Medicina OMS – Organização Mundial da Saúde PCR – Reação em Cadeia da Polimerase pH – Potencial Hidrogeniônico SEDAM – Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia SINAN – Sistema de Informações de Agravos de Notificação SNC – Sistema Nervoso Central UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia WHO – World Health Organization SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................. 12 1.1.1 OBJETIVO GERAL: ................................................................................... 12 1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: ..................................................................... 12 2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 13 2.1 ASPECTOS GERAIS .................................................................................... 13 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS ........................................................................... 13 2.3 AGENTE ETIOLÓGICO ................................................................................ 14 2.4 EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO ........................................................... 16 2.5 PATOGENIA ................................................................................................. 18 2.6 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ...................................................................... 22 2.7 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL ................................................................ 24 2.7.1 Métodos de detecção direta ....................................................................... 24 2.7.2 Isolamento e identificação ......................................................................... 24 2.7.3 Métodos de detecção indireta .................................................................... 25 2.7.4 TRATAMENTO .......................................................................................... 26 2.7.5 PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEPTOSPIROSE.................................. 27 3 METODOLOGIA .................................................................................................... 29 3.1 ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................... 29 3.2 POPULAÇÃO ............................................................................................... 31 3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ................................................. 32 3.4 ANÁLISE ESPACIAL .................................................................................... 32 3.5 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS ........................................................................ 33 4 RESULTADOS ....................................................................................................... 34 4.1 DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL........................................................ 34 4.2 INDICADORES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA .................................. 37 4.3 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS ...................................................... 38 4.4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS ................................................................... 39 5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 41 6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 49 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 50 APÊNDICE A ............................................................................................................ 61 APÊNDICE B ............................................................................................................ 62 INTRODUÇÃO A leptospirose é uma doença febril, aguda com comprometimento sistêmico, causada por bactérias gram negativas do gênero Leptospira que compreende duas espécies: L. interrogans, patogênica, e L. biflexa, não patogênica e saprófíta (LEVETT et al, 2001; BHARTI et al, 2003; LAU et al, 2010). O homem, animais domésticos e silvestres infectam-se através do contato direto ou indireto de águas contaminadas com a urina dos roedores. A leptospirose é uma antropozoonose de ampla distribuição mundial, e causa epidemia em países de clima tropical e temperado via de regra nas estações de chuva (FAINE et al, 1999; BHARTI et al, 2003; DAHER et al, 2010). Ocorre principalmente em países e regiões com pouca ou nenhuma infraestrutura de saneamento, atingindo principalmente as periferias urbanas. Os fatores ambientais são determinantes para a transmissão da leptospirose em periferias urbanas (MACIEL et al, 2008), por atrair os animais sinantrópicos, tais como o rato de esgoto, considerado o principal reservatório do agente etiológico da leptospirose. A contaminação do ambiente dá-se, por meio das excretas do roedor infectado (KO et al, 1999). Apresenta um elevado impacto socioeconômico pelos dias de afastamento do trabalho, letalidade e alto custo hospitalar (BHARTI et al, 2003). A incidência é sazonal e varia com a condições climáticas e imunidade. Períodos chuvosos e áreas com elevada temperaturas, são ideais para a manutenção e sobrevivência da Leptospira no ambiente (SALABERRY et al, 2010). No Brasil, é uma doença endêmica de alta incidência das populações que vivem em aglomerações urbanas, sem a adequada infraestrutura sanitária, considerada um sério risco à saúde pública (FAINE et al, 1999; DAHER et al, 2010; FELZEMBURGH et al, 2014). A perpetuação das leptospiras em regiões rurais e urbanas é favorecida pelo clima tropical, associada a alta taxa de infestação por animais sinantrópicos domésticos e selvagens (KO et al, 1999; WHO, 2003; DAHER et al, 2010; FELZEMBURGH et al, 2014). A leptospirose era considerada tradicionalmente uma doença ocupacional, no entanto, devido ao intenso processo de urbanização que ocorreu após a década de 1970, este agravo sofreu importantes transformações, e passou de infecção transmitida no ambiente de trabalho para agravo adquirido no espaço domiciliar ou 11 recreacional (FAINE et al, 1999; BARRADAS, 1999; LEVETT et al, 2001; BHARTI et al, 2003; LAU et al, 2010). Segundo observado por Barcellos (2002) e também por Costa et al (2012), a distribuição espacial é importante para análise e avaliação de riscos à saúde, especialmente em áreas geográficas nas quais os moradores compartilham condições socioeconômicas, ambientais e de vida similares, a identificação dessas áreas possibilita a escolha de estratégias e intervenções específicas para a proteção dos seus moradores. Nos últimos anos não é raro deparar-se com notícias da mídia, e estudos científicos, que relacionam os desastres naturais às mudanças climáticas. Apesar do Brasil estar livre, até o momento, de desastres naturais como furacões e terremotos, tornou-se fato comum para a população a ocorrência de enchentes. Devido ao processo de ocupação desordenada e as características topográficas dos terrenos, Porto Velho dispõe de extensas áreas que oferecem riscos para a ocorrência da leptospirose. Na transição entre os anos de 2013 – 2014, o estado de Rondônia, em particular o município de Porto Velho, foi palco de enchentes históricas, que perduraram por meses, afetando populações residentes em áreas urbana e ribeirinha (ESPINOZA et al, 2014; FEARNSIDE, 2014; PHILIPPE, 2014). Os fenômenos climáticos associados a falta ou ao precário saneamento básico, culminaram no acréscimo da incidência de leptospirose no município de Porto Velho, o que elevou o número de casos confirmados atendidos no Centro de Medicina Tropical de Rondônia – CEMETRON. Dessa maneira, a presente pesquisa almejou descrever perfil clínicoepidemiológico e georreferenciar os casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2009 a 2014, para verificar a real influência da grande enchente registrada no início de 2014 com o aumento da incidência dos casos de leptospirose. 12 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 OBJETIVO GERAL: Descrever o perfil epidemiológico dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2009 a 2014 1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS: 1. Descrever o perfil demográfico da população estudada. 2. Descrever aspectos clínicos dos casos de leptospirose 3. Comparar a sazonalidade dos casos registrados, relacionando os mesmo com a pluviometria no período do estudo. 4. Avaliação da qualidade da ficha clínica dos casos de leptospirose internados. 5. Georreferenciar os casos confirmados registrados por local de residência. 6. Propor estratégias de intervenção e melhoria do Sistema de Vigilância e Controle de Agravos (SINAN). 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 ASPECTOS GERAIS A leptospirose é uma das antropozoonoses mais difundidas no mundo, causada por bactéria gram negativa do gênero Leptospira, espiroqueta aeróbica obrigatória, de ampla distribuição mundial, com duas espécies: Leptospira interrogans, patogênica, e Leptospira biflexa, não patogênica e saprofítica (DAHER et al, 2010), que é transmitida direta ou indiretamente entre os animais e o homem (FAINE et al, 1999). Apresenta distribuição global, porém mais frequente em países de clima tropical e temperado (BHARTI et al, 2003). O número de casos da leptospirose humana no mundo não é precisamente conhecido. A incidência pode variar desde aproximadamente 0.1-1 caso/100.000 pessoas por ano em zonas de clima temperado até 10-100 casos/100.000 pessoas nos trópicos úmidos. Durante surtos e em grupos de risco de alta exposição a incidência da doença pode alcançar mais de 100 casos/100.000 pessoas (WHO, 2003). 2.2 ASPECTOS HISTÓRICOS A leptospirose ictérica com falência renal foi descrita há aproximadamente 150 anos, em Heidelberg na Alemanha, por Adolf Weil (1886) (WEIL, 1886 apud LEVETT, 2001). No entanto uma síndrome idêntica, que ocorria em trabalhadores de rede de esgoto, e foi descrita alguns anos antes (LANDOUZY, 1883 apud LEVETT, 2001). No ano de 1887, a doença foi denominada, por Goldschimidt, como síndrome de Weil, considerada a forma mais grave da leptospirose humana (FAINE et al, 1999; LEVETT, 2001). Diversas epidemias de uma doença de características infecciosa e ictérica e com disfunção renal, foram observadas e documentadas até o final do século XVIII, contudo suas causas eram desconhecidas (FAINE et al, 1999). Claras descrições de leptospirose podem ser reconhecidas como tendo surgido no início do século XIX, alguns anos antes da descrição por Weil (FAINE, 1994). Porém, somente Stimson, em 1907, foi o primeiro a visualizar o microorganismo em necropsia de tecido renal de um paciente, durante um surto de febre amarela, mas somente em 1915, o agente foi cultivado com sucesso pelos 14 médicos determinando assim o agente patogênico, denominando-o Spirochaeta icterohaemorrhagie (LOMAR et al, 2005). A importância da ocupação como fator de risco e o papel do rato como uma fonte de infecção humana foram descobertos em 1917 (IDO et al, 1917). No mesmo ano, Noguchi isolou pela primeira vez o organismo de um rato, o qual propôs a criação do gênero Leptospira, passando a denominar-se Leptospira icterohaemorrhagiae (NOGUCHI, 1917), e Wadsworth em 1922 relatou o primeiro caso de leptospirose humana associado à exposição ao rato (LOMAR et al, 2005). No Brasil, a leptospirose foi reconhecida pela primeira vez no Pará, por Mcdowel (McDOWEL, 1917). No mesmo ano, Aragão verificou a presença de Leptospira icterohaemorrhagiae ao estudar seis Rattus novergicus da cidade do Rio de Janeiro (ARAGÃO, 1917). Em 1950, Gomes, et al apresentaram 45 casos de leptospirose humana com isolamento de Leptospira icterohaemorrhagiae em dois casos. A partir deste momento, começou-se a intensificar-se no Brasil, estudos sobre esta antropozoonose, particularmente em 1960 (LOMAR et al, 2005). Em 1963, Magaldi publicou um estudo de incidência, prevalência e distribuição da leptospirose no Brasil. O autor tornou-se o primeiro pesquisador a alertar para o risco que o país apresenta, frente a proliferação da leptospirose (MAGALDI, 1963). 2.3 AGENTE ETIOLÓGICO O agente etiológico da leptospirose pertence à ordem Spirochaetales, família Leptospiracea, gênero Leptospira (PASTEUR, 1991), caracterizado por bactérias, espiroquetas fortemente espiraladas, longas, finas e flexíveis, com uma ou ambas as extremidades curvadas em forma de gancho, que medem cerca de 0,1 mm de diâmetro por 6–20 mm de comprimento e incluem tanto saprófitas quanto espécies patogênicas do gênero Leptospira (FAINE, 1999). São móveis e facilmente visualizadas por microscopia de campo escuro, em preparações à fresco, observadas por contraste de fase ou por técnicas de impregnação pela prata, e ainda pela imunofluorescência e imunoperoxidase (AVELAR & PEREIRA, 2005). Essas bactérias apresentam uma arquitetura que se assemelha a de bactérias Gram negativas e Gram positivas (VIJAYACHARI et al, 2008), porém não são coradas pelo Gram e por terem dimensões reduzidas, não são visualizadas por 15 microscopia óptica convencional (AVELAR & PEREIRA, 2005). São aeróbias obrigatórias, que apresentam crescimento fastidioso in vitro nos meios de Fletcher ou Ellinghausen–McCullough–Johnson–Harris (EMJH), com pH de 6,8–7,4 e temperatura entre 28 e 300C (LEVETT, 2001; ADLER & de la PEÑA-MOCTEZUMA, 2010). As leptospiras requerem para sua sobrevivência, solo com pH em torno de 7,2 a 7,4 e, de preferência, com grande umidade no meio ambiente. Águas superficiais alcalinas, com pH entre 7 e 8, também favorecem a sobrevivência das leptospiras, mas em água do mar essas não se mantêm por mais de 24 horas (CHANG, 1948 apud JOUGLARD, 2005). A espécie com maior interesse zoonótico é a Leptospira interrogans, que apresenta mais de 210 sorovares, sendo que cada sorovar possui hospedeiros de predileção, e o ser humano é susceptível a um grande número de sorovares (BRASIL, 2009). O sorovar é a unidade taxonômica básica utilizada para a classificação de leptospiras. (CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009). No Brasil, os sorovares Icterohaemorrhagiae e Copenhagueni são com frequência, relacionados aos casos mais graves (OPAS, 2003). A leptospirose é considerada um problema de saúde pública, não somente pela gravidade de sua patogenia, mas também como elemento potencial de contágio ao ser humano (ACHA & SZYFRES, 1986; WHO, 2003). O isolamento e classificação de cepas patogênicas de leptospira são processos demorados, decorrentes principalmente do crescimento lento, muitas vezes aliado à contaminação concomitante com microrganismos de crescimento mais rápido, e rigorosas exigências da cultura in vitro desta bactéria (VALVERDE et al, 2008). Atualmente, as leptospiras podem ser classificadas tanto por métodos fenotípicos (convencionais) quanto por genotípicos. No sistema convencional, todas as leptospiras patogênicas pertencem à espécie Leptospira interrogans sensu lato (VALVERDE et al, 2008). Este sistema é baseado em critérios sorológicos nos quais as cepas de leptospiras são diferenciadas em sorovares (CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009). Porém, a identificação desse gênero bacteriano é bastante dificultada quando se observa que sorovares pertencentes ao mesmo sorogrupo encontram-se distribuídos entre diferentes espécies (LEVETT, 2001; CERQUEIRA & PICARDEAU, 2009; ADLER & de la PEÑA-MOCTEZUMA, 2010). 16 A sorotipagem é determinada pelo teste de aglutinação microscópica com absorção cruzada (cross-aglutinin absorption test - CAAT), no qual são utilizados soros imunes de referência produzidos em coelhos (HERRMANN et al, 1991). O CAAT é demorado e restrito a laboratórios de referência internacional, pois requer a existência de uma coleção completa de cepas de referência do gênero Leptospira; entretanto, é essencial na identificação de novos sorovares (WHO, 2003; ROMERO et al, 2006). Outro método é o teste de microaglutinação MAT (microscopic agglutination test) usando anticorpos monoclonais específicos (HERRMANN et al, 1991; WHO, 2003) que, mesmo quando apresenta títulos elevados para um determinado sorovar, embora sugestivo, não é conclusivo a respeito do sorovar infectante, devido à ocorrência de reações cruzadas (AHMAD et al, 2005). A identificação dos sorovares é importante para a epidemiologia, uma vez que eles apresentam relações diretas com alguns animais reservatórios, focos de infecção e distribuição geográfica (BHARTI et al, 2003). 2.4 EPIDEMIOLOGIA E TRANSMISSÃO Nos países desenvolvidos a leptospirose adquiriu um status de doença ocupacional, é considerada reemergente, acomete principalmente veterinários e outros profissionais que trabalham diretamente com animais e seus subprodutos (PALANIAPPAN et al, 2002; BHARADWAJ, 2004). Nos últimos anos, o surgimento de casos relacionados a atividades de lazer e esportivas ao ar livre, como a canoagem, rafting, ecoturismo, triatlon nestes países fez ressurgir o interesse pela enfermidade (LEVETT, 2001; MORGAN et al, 2002; SEJVAR et al, 2003). Por outro lado, em países em desenvolvimento, como o Brasil e os demais países da América Latina, a doença assume um caráter endêmico, principalmente na periferia das grandes cidades, onde a população está exposta aos fatores de risco, uma vez que vive em locais com precário saneamento básico, propício a enchentes e ao acúmulo de lixo, que favorecem a proliferação de roedores (KO et al, 1999). A perpetuação das leptospiras em regiões rurais e urbanas é favorecida pelo clima tropical, associado a uma enorme população de animais sinantrópicos, domésticos e selvagens, além do acúmulo de lixo, e devido à alta incidência nas 17 populações que vivem em aglomerações urbanas, sem a adequada infraestrutura sanitária e com alta taxa de infestação por roedores (KO et al, 1999; JOUGLARD, 1999; FIGUEIREDO et al., 2001; BRASIL, 2009). No Brasil mais de 10.000 casos de leptospirose são notificados a cada ano (KO et al, 2009), a grande maioria destes são residentes em favelas urbanas e necessitam de hospitalização (SOUZA et al, 2010), por apresentarem as formas graves da doença, tais como síndrome de Weil e hemorragia pulmonar associada a leptospirose (GOUVEIA et al, 2008; KO et al, 2009; SOUZA et al, 2010). A letalidade em geral é 0,1% entre os casos notificados e 0,5% a 70% nos casos que desenvolveram a hemorragia pulmonar associada a leptospirose (GOUVEIA et al, 2008; MAROTTO et al, 1990). A biodiversidade das leptospiras pode ser influenciada pelas variações climáticas, interações bióticas e atividades antropogênicas (VINETZ et al, 1996). Os fatores ligados ao agente etiológico, que favorecem a persistência dos focos de leptospirose, destacam-se o elevado grau de variação antigênica, a capacidade de sobrevivência após a sua excreção em água e solo úmido por semanas a meses (até 180 dias) e a ampla variedade de animais suscetíveis que podem ser reservatórios do microrganismo (BRASIL, 2009; MWACHUI et al, 2015). Os principais reservatórios são animais domésticos e selvagens, embora roedores sinantrópicos, como o Rattus norvegicus (ratazana ou rato de esgoto), Rattus rattus (rato de telhado ou rato preto) e Mus musculus (camundongo ou catita). Os roedores são reservatórios primaries, não desenvolvem a doença quando infectados e albergam a leptospira nos rins, eliminando-a viva no meio ambiente e contaminando água, solo e alimentos. São considerados a principal fonte de infecção em moradores de centros urbanos, e uma mesma espécie animal pode albergar diferentes sorovares leptospirais, dependendo da região geográfica em que se encontra. O R. norvegicus é o principal portador do sorovar Icterohaemorraghiae, um dos mais patogênicos para o homem (BRASIL, 2014, MWACHUI et al, 2015). Outros reservatórios são suínos, bovinos, ovinos e cães, entretanto o papel de desempenhado por eles é secundário no ciclo de transmissão. Os bovinos são fonte de transmissão no meio rural entre trabalhadores da pecuária, veterinários e agricultores (WHO, 2003; BRASIL, 2014; MWACHUI et al, 2015). Em cães, a infecção por Leptospira spp. também assume importância na saúde pública, decorrente da possibilidade de infecção em humanos (ACHA & SZYFRES, 2001). 18 No Brasil, os inquéritos sorológicos sobre leptospirose em cães encontraram resultados variáveis entre 3 a 30%, e os sorovares mais frequentes foram Icterohaemorrhagie, Copenhageni, Canicola, Pyrogenes, Hardjo, Castellonis e Ballum (JOUGLARD & BROD, 2000). Em inquérito realizado em município de Monte Negro, estado de Rondônia predominaram os sorovares Autumnalis, Pyrogenes e Hardjo entre os cães de zona urbana e rural (AGUIAR et al, 2007). A Leptospira é eliminada através da urina do rato, dessa forma, sua transmissão é mais comum através de contato com a água de enchentes, assim sendo, é uma doença de incidência é sazonal e varia com as condições climáticas e de imunidade (BRASIL, 2014). Períodos chuvosos onde as enchentes e áreas com elevadas temperaturas, são ideais para a manutenção e sobrevivência da Leptospira e propiciam a disseminação e a persistência das leptospiras no ambiente. Maiores prevalências são registradas nos países das regiões tropicais e subtropicais, com pouco ou nenhum sistema de saneamento (SALABERRY et al, 2010). O homem é um hospedeiro acidental na leptospirose e terminal, dentro da cadeia de transmissão (BRASIL, 2014). A infecção ocorre através do contato direto ou indireto com água contaminada com urina e fezes de animais portadores e tecidos animais contaminados com o agente, e a transmissão de humano para humano ocorre muito raramente (BOLIN & KOELLNER, 1988). A mordedura por animais infectados e a manipulação de tecidos animais, bem como a ingesta de água e alimentos contaminados, são modalidades menos frequentes de transmissão. A infecção inter-humana é rara (BRASIL, 2014). A distribuição espacial é importante para análise e avaliação de riscos à saúde, particularmente aquelas relacionadas com o meio ambiente e com o perfil socioeconômico da população. A identificação dessas áreas possibilita a escolha de estratégias e intervenção específica para as necessidades dos seus moradores (BARCELLOS, 2002). 2.5 PATOGENIA As leptospiras penetram ativamente no organismo através de lesões cutâneas (escoriações, abrasões e feridas), ou pelas mucosas, oral, nasofaríngea, conjuntival, esofágica e, possivelmente, também a vaginal, mesmo íntegras. A mucosa gastrointestinal é uma via de penetração excepcional, já que as leptospiras 19 dificilmente podem ultrapassar a barreira ácida do estômago (RIOS GONÇALVES et al, 1992). Há relatos na literatura da penetração por pele íntegra, quando esta encontrase macerada em virtude da exposição contínua e prolongada a água contaminada pela urina dos roedores (MARTINS,1994; REZENDE et al, 1997; LEVETT, 2001). Outro mecanismo de infecção é a ingestão ou mesmo inalação, após mergulho em água contaminada por leptospiras patogênicas (RIOS GONÇALVES et al, 1992; MARTINS,1994; MANHÃES DE CARVALHO, 1999; SAMBASIVA et al, 2003). Admite-se que a motilidade, uma característica, da espiroqueta contribui substancialmente para a intensa disseminação nos tecidos do hospedeiro (AVELAR & PEREIRA, 2005). Após a penetração no hospedeiro humano, a leptospira invade a corrente sanguínea e dissemina-se pelos órgãos: rins, fígado, pulmões, coração e sistema nervoso central, causando uma vasculite difusa, ocasionando o aumento da permeabilidade capilar (RIOS GONÇALVES et al, 1992; CDC, 1998; MANHÃES DE CARVALHO, 1999; CDC, 2000). O processo de patogênese da leptospirose fundamenta-se por lesão endotelial dos capilares sanguíneos, por mecanismos que ainda não estão bem esclarecidos. Todos os órgãos podem ser afetados, o que explica a grande variedade de manifestações clínicas (WHO, 2003). É caracterizado por uma vasculite difusa, lesão endotelial e infiltrado inflamatório composto por células monocíticas, plasmócitos, histiócitos e neutrófilos (AREÁN, 1962). Os fatores de virulência das leptospiras são mal compreendidos, por tal motivo ainda observa-se uma incógnita entre a infecção e a doença grave (CACHAY & VINETZ, 2005). Alguns sorovares geralmente tendem a causar quadro clínicos inapetentes ou leves e doenças graves com complicações, como por exemplo os sorovares Icterrohemorrhagiae, Copenhageni e Lai, que estão associados a doenças graves (CACHAY & VINETZ, 2005; WHO, 2003; SPICHLER et al, 2007). Não existe um sorovar-específico que justifique as diversas apresentações clínicas da doença, portanto qualquer sorovar pode causar doença leve ou grave, em diferentes hospedeiros (CACHAY & VINETZ, 2005; WHO, 2003). Indivíduos que possuem fatores como idade avançada e patologias de base subjacentes estão muitas das vezes associados a quadros clínicos mais graves e aumento da mortalidade. A carga infectante, ou seja, a concentração de patógeno 20 no organismo pode ter influência sobre o curso da leptospirose. A maioria dos pacientes recuperam-se totalmente da leptospirose. No entanto, alguns pacientes apresentam período de convalescência que pode levar meses ou até mesmo anos (WHO, 2003). Rezende et al (1997) ressaltam que, fundamentalmente, a patogenia decorre de infiltrado inflamatório do parênquima, localizado ou difuso, processos degenerativos, alterações vasculares sistêmicas, edema endotelial, aumento da permeabilidade capilar, anóxia dos tecidos, bem como das membranas celulares e discutem ainda três hipóteses para explicar as lesões encontradas, conforme mostrado a seguir: (I) A primeira sugere a presença da espiroqueta como responsável pela agressão. Mas tem sido demonstrado que, na fase septicêmica, os parasitos desintegram-se. (II) Na segunda hipótese, acredita-se em um envolvimento imunológico com participação de imunoglobulinas do hospedeiro e presumíveis produtos antigênicos do parasito. Contra esta ideia, levanta-se o fato de, na fase septicêmica, antes mesmo do aparecimento de anticorpos específicos, já existirem lesões parenquimatosas. (III) E por último, admite-se como terceira hipótese, a existência de uma endotoxina que seria responsável pelas alterações endoteliais e degenerativas das células. Considerando-se os aspectos de imunidade, pode-se afirmar, conforme Avelar & Pereira (2005), que as leptospiras pertencentes a espécies não patogênicas ou avirulentas são eliminadas pelas barreiras inatas de defesa, enquanto cepas patogênicas e virulentas sobrevivem e multiplicam-se. A resposta imune sistêmica é efetiva na eliminação da bactéria, porém, segundo os autores, pode produzir reações inflamatórias sintomáticas. Os autores ainda acrescentam que em alguns sítios anatômicos, as leptospiras podem persistir, devido a esses sítios serem inacessíveis ao sistema imunológico. O sítio de maior significância, levando-se em consideração o aspecto de persistência é o túbulo renal dos animais portadores, fazendo com que os mesmos excretem os patógenos intermitente ou regularmente por períodos de meses, anos ou por sua vida toda. No processo de patogênese da infecção, os sítios que apresentam maiores danos são as células endoteliais capilares, a causa básica das manifestações 21 clínicas, tais como disfunção tubular renal, hepática, miocardite e hemorragia pulmonar (HILL & SANDERS, 1997; BETHLEM, 2000). A lesão é causada por depósitos de imunocomplexos em capilares dos órgãos acometidos. A ativação da resposta imunoinflamatória determina a ativação e liberação da resposta imunológica, gerando o processo inflamatório (HILL & SANDERS, 1997). Ao exame laparoscópico, observa-se o fígado aumentado de volume, com superfície lisa, de coloração pardo amarelada ou avermelhada mais clara do que o normal. Sob o ponto de vista histopatológico, encontram-se alterações colestáticas, centro lobular, com vias biliares extra-hepáticas permeáveis, explicando o aumento da bilirrubina direta sem fezes descoradas. Os rins ficam ligeiramente hipertrofiados, lisos e algumas vezes, com hemorragia puntiforme na superfície. O exame histopatológico revela nefrite intersticial focal com acúmulo de células redondas e presença de leptospiras (HILL & SANDERS, 1997; REZENDE et al, 1997). No pulmão encontra-se pneumonite hemorrágica que irá variar de intensidade. A microscopia eletrônica revela que a lesão primária é ao nível das células endoteliais dos capilares pulmonares. Há endotelite com permeabilidade capilar, provocando extravasamento de líquidos e hemácias (EDWARDS & DOMM, 1960). As lesões pulmonares se caracterizam por uma pneumonite intersticial com infiltrados localizados ou difusos (REZENDE et al, 1997; SPICHLER et al, 2007). O período de incubação dura, em média, 5 e 14 dias, com extremos entre 1 a 30 dias (BRASIL, 2014). A suscetibilidade é universal, e a imunidade adquirida pósinfecção é sorovar-específica, podendo um mesmo indivíduo apresentar a doença mais de uma vez se o agente etiológico de cada episódio pertencer a um sorovar diferente do anterior (BRASIL, 2014). Conforme Felzemburgh et al (2014) o mesmo sorovar pode causar infecções assintomáticas e subclínicas, assim como doença grave em populações da periferia urbana, e observou que a reinfecção foi um evento frequente entre os individuos da mesma comunidade, o que a levou questionar se a infecção natural (primária) confere imunidade a uma infecção posterior com sorovar homólogo. 22 2.6 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A leptospirose é uma doença caracterizada por um amplo espectro de manifestações clínicas, desde formas assintomáticas até a forma mais grave (McBRIDE et al, 2005). Na maioria dos casos os pacientes têm evolução aguda e autolimitada, não apresentando icterícia, nem insuficiência renal (EDWARDS & DOMM, 1960). A forma grave ocorre em 5% a 15 % das infecções humanas, e geralmente associada a icterícia, injúria renal, miocardite ou hemorragia, conhecida como síndrome de Weil, com uma significante taxa de mortalidade (EDWARDS & DOMM, 1960; McBRIDE et al, 2005). A leptospirose, quando sintomática é acompanhada por manifestações clínicas que surgem de forma isolada ou combinada, de intensidade muito variada. A doença é classicamente descrita como bifásica (FAINE et al, 1999). Após início abrupto, fase leptospirêmica ou septicêmica, geralmente marcado por episódios de febre alta, calafrios e intenso mal estar, os sintomas iniciais são cefaleia, geralmente frontal, mialgia mais intensa nos músculos das panturrilhas e regiões lombares, febre com calafrios, anorexia, náuseas e vômitos. Podem aparecer também sintomas respiratórios, como tosse ou dor torácica, diarreia, dor abdominal, rash cutâneo papular ou roseoliforme, sufusão conjuntival, alteração do sensório e, menos freqüentemente, hemorragias cutâneas, esplenomegalia, linfadenomegalia e icterícia. A fase septicêmica, dura de quatro a nove dias (ASHER et al, 1941). A forma anictérica evolui com limitado comprometimento hepático, renal e pulmonar. Porém, o sistema nervoso central (SNC) mostra-se comprometido, e manifesta–se por cefaleia constante e intensa, ou pela presença de sinais de irritação meníngea. Podem ser observadas, ainda uveíte e outras manifestações oculares, em geral reversíveis (FAINE et al, 1999). Alguns trabalhos demonstraram que, os pacientes anictéricos passariam do estágio septicêmico diretamente para a convalescência (REZENDE et al, 1997). A vasodilatação sistêmica frequentemente leva a desidratação por extravasamento de líquido para o interstício, agravada por perdas externas quase sempre presente (taquipneia, sudorese, vômitos e diarreia) (ASHER et al, 1941). A forma ictérica carateriza-se pelo aparecimento de icterícia entre o terceiro e sétimo dia de doenca, intensificando-se com rapidez, podendo apresentar-se com o tom amarelo-avermelhado ou rubínica, devido à sua impregnação à pele e às 23 mucosas hiperemiadas (FARR, 1995; FAINE et al, 1999). A icterícia não está relacionada a necrose hepática fulminante, nem a lesão hepatocelular, sua origem parece relacionar-se com a colestase intra-hepática. A intensidade da icterícia costuma acompanhar a gravidade da doença, e a sua presença parece ser um indicador indireto de gravidade (BHARTI et al, 2003). Na segunda fase ou fase imune surgem anticorpos do tipo imunoglobulinas M (IgM), que determinam a formação de imunocomplexos circulantes que podem causar meningite, uveíte e colapso circulatório, entre outros distúrbios. A duração e as manifestações clínicas dessa fase são muito variáveis (FAINE et al, 1999). Vale ressaltar que apenas 5 a 10% dos pacientes evoluem com icterícia (FARR, 1995). Nas formas graves, essa é a fase de piora das lesões que se iniciaram no período septicêmico; é quando ocorre a maioria dos óbitos pela infecção (VINETZ, 2001). Ashe et al (1941) consideraram que, para fins práticos, os pacientes que não desenvolvem icterícia, a exceto os que apresentam quadro de meningite, não cursam o segundo período clínico. O envolvimento renal na leptospirose pode variar de um curso subclínico, com leve proteinúria e alterações do sedimento urinário, a um quadro de Insuficiência renal aguda (IRA) grave (SITPRIJA et al, 2003). Leucócitos e eritrócitos são vistos no sedimento urinário. Proteinúria, quando presente, geralmente é menor que 1 g/24h. Pigmentos biliares e cilindros granulares também podem ser vistos (SITPRIJA et al, 1997). A IRA se apresenta frequentemente com rápida elevação da ureia e creatinina séricas e podem estar associadas com icterícia. Insuficiência renal nos pacientes hiperbilirrubinêmicos representa uma forma grave, muitas vezes com oligoanúria (SITPRIJA et al, 1997). A IRA devido à leptospirose geralmente se apresenta de forma não oligúrica e com hipocalemia, que pode ser detectada em 41% a 45% dos pacientes com leptospirose associada à IRA (SEGURO et al, 1990). As alterações respiratórias no curso da leptospirose, bem conhecidas e provavelmente tão antigas quanto a própria doença, são basicamente representadas, na experiência de todos, por: tosse, dor de garganta; “estado gripal”; hemoptóicos; ocasionalmente, dor torácica e dispneia ou presença de estertores pulmonares com infiltrados pulmonares; sendo por vezes relatadas hemoptises (LEVETT, 2001). 24 O acometimento pulmonar varia entre 20% e 70% dos pacientes com leptospirose (LEVETT, 2001; CARVALHO, 1989). Alguns trabalhos foram publicados no Brasil descreveram o comprometimento pulmonar na leptospirose, o qual pode se manifestar como uma simples pneumonia intersticial ou, em casos graves como hemorragia pulmonar profusa (CARVALHO, 1989; SILVA et al, 1976; GONÇALVES et al, 1992). Clinicamente, traduz-se por hemoptise, dispneia e infiltrados pulmonares a radiografia de tórax, acompanhados geralmente de hipoxemia, o que configura o quadro de hemorragia alveolar (CARVALHO, 1989; SILVA et al, 1976). A hemorragia alveolar na leptospirose aparece precocemente, em geral na primeira semana de doença, às vezes de forma oculta (DU COUËDIC, 1998), e evolui comumente para cura em poucos dias. Porém, formas graves apresentam rápida evolução para hemoptise maciça, seguida de insuficiência respiratória e morte por asfixia (GONÇALVES, 1992; SILVA et al, 1998; SILVA et al, 2002). 2.7 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 2.7.1 Métodos de detecção direta A visualização direta de leptospiras em sangue ou urina por microscopia de campo escuro é uma ferramenta que pode ser utilizada para o diagnóstico da leptospirose, entretanto é uma técnica com baixa sensibilidade (40,2%) e especificidade (61,5%), visto que artefatos podem mistrurar-se ao material analisado e causar equívocos na interpretação (WHO, 2003; HAAKE & LEVETT, 2015). A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma técnica utilizada experimentalmente na detecção de leptospiras (MERIEN et al, 1992; JOUGLARD et al, 2006), porém exige mão de obra especializada e infra–estrutura laboratorial específica, além de freqüentemente sofrer a interferência de contaminantes e inibidores provenientes da amostra (TAYLOR et al, 1997). 2.7.2 Isolamento e identificação A cultura e isolamento da Leptospira pode ser realizado a partir do sangue, líquor, líquido dialisado peritoneal, e tecidos de indivíduos infectados é o padrão ouro do diagnóstico laboratorial da leptospirose nos primeiros dez dias iniciais da 25 doença (PALMER & ZOLCHOWSKI, 2000). Este método possui algumas limitações como, por exemplo, a necessidade de coletar-se a amostra de sangue antes da administração de antibióticos ao paciente. Apesar de o método apresentar um diagnóstico bastante confiável, as culturas devem ser observadas por pelo menos 16 semanas, já que o tempo necessário para o crescimento das leptospiras pode variar de 7 dias a várias semanas, de acordo com o sorovar infectante e o número inicial de bactérias viáveis (FAINE et al, 1999; SILVA et al, 2007). A cultura de urina pode ser realizada após a primeira semana da doença (PALMER & ZOLCHOWSKI, 2000). 2.7.3 Métodos de detecção indireta Segundo Haake & Levett (2015) os testes laboratoriais são necessários para confirmar o diagnóstico clínico de leptospirose, devido a ampla variedade dos sintomas. O diagnóstico laboratorial indireto de doenças infecciosas, se baseia na detecção dos anticorpos produzidos contra o agente infeccioso, tem a limitação de requerer um tempo de cerca de sete dias para que a concentração de anticorpos atinja um nível detectável (FAINE, 1999). Os testes sorológicos da leptospirose usualmente é feito através da demonstração de anticorpos contra leptospiras no soro através do teste de aglutinação microscópica (MAT) e de ensaios imunoenzimáticos (WHO, 2003). O MAT é o método considerado padrão ouro, para diagnóstico sorológico da leptospirose sendo capaz de detectar anticorpos contra sorovares específicos (WHO, 2003). Sua interpretação é prejudicada pelo elevada ocorrência de reações cruzadas que ocorre entre os diferentes sorogrupos, especialmente nas amostras na fase aguda. Nesta fase são necessárias amostras pareadas de soro para observar a elevação da titulação maior ou igual a 4 vezes a titulação inicial para confirmar o diagnóstico (HAAKE & LEVETT, 2015). Devido a complexidade do MAT, os ensaios imunoenzimáticos são considerados testes de triagem para o diagnóstico de leptospirose, pois os anticospos IgM tornam-se detectáveis na primeira semana de doença, assim permitindo o diagnóstico ser confirmado e o tratamento ser instituído precocemente. A detecção de IgM tem demosntrado ser mais sensível que o MAT, quando coletada no início na fase aguda da doença (HAAKE et al, 2000; HAAKE & LEVETT, 2015). 26 Os casos suspeitos que evoluem para óbito, sem confirmação laboratorial, poderão ser confirmados pela técnica de imunohistoquímica em amostras de tecidos (UIP, 1990). A detecção do antígeno da leptospira em amostras pós-mortem é importante para confirmação do diagnóstico, mas é limitada devido a deteriorização, se houver um período prolonga entre o óbito e a necropsia (ZAKI & SHIEH, 1995). 2.7.4 TRATAMENTO A instituição de terapia adequada precocemente é o ponto mais importante na leptospirose. Não há consenso quanto ao uso de antibióticos para tratamento da leptospirose (WATT et al, 1988; DAHER & NOGUERA, 2000; COSTA et al, 2003; GUIDUGLI et al, 2010). Uma meta–análise recente não encontrou evidência suficiente para indicar o uso de antibióticos na leptospirose, concluindo, entre- tanto, que a antibioticoterapia nesta doença parece ter mais benefício que prejuízo (GUIDUGLI et al, 2010). Entretanto, estudos clínicos têm demonstrado que a antibioticoterapia é eficiente nas fases inicial e tardia da doença (JAYAKUMAR et al, 2006). A partir da recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) de 2003, a leptospirose grave deve ser tratada com penicilina endovenosa (1.500.000 U a cada 6h), ceftriaxone (1g uma vez ao dia) ou cefotaxime (1g a cada 6h), todos apresentando eficácia equivalente, sendo que a antibioticoterapia deve ser mantida por 7 dias (PANAPHUT et al, 2003; PAPPAS & CASCIO, 2006). Antibióticos de uso oral, como doxiciclina, amoxicilina, ampicilina, eritromicina ou azitromicina são efetivos nos casos menos graves de leptospirose como alternativa para pacientes que não possuem envolvimento de órgãos vitais e possam ser tratados ambulatorialmente (PAPPAS & CASCIO, 2006; GRIFFITH et al, 2006). A doxiciclina tem sido utilizada principalmente como profilaxia em seres humanos (PAPPAS & CASCIO, 2006). Reação de Jarisch–Herxheimer (JH) pode ocorrer devido ao uso de penicilinas, bem como o surgimento de febre e hipotensão. Toxinas liberadas na lise das leptospiras pelo antibiótico podem induzir a produção e liberação de citocinas. O surgimento da síndrome JH não contraindica a antibioticoterapia (WATT et al, 1990; FRIEDLAND & WARRELL, 1991). 27 2.7.5 PREVENÇÃO E CONTROLE DA LEPTOSPIROSE A imunização, por meio de vacinas, é uma medida de prevenção possível tanto para a população humana quanto para os reservatórios que transmitem a leptospirose ao homem (LEVETT, 2001). Existem vacinas disponíveis para uso em animais domésticos (cães, bovinos e suínos). As vacinas veterinárias evitam o adoecimento do animal, mas não impedem a infecção e necessitam de reforço anual. Os animais imunizados podem eliminar a Leptospira pela urina, tornando-se fonte ativa de transmissão, porém em um período menor do que animais com a infecção natural (BRASIL, 2014; McBRIDE et al, 2005). Para uso humano, Cuba e China desenvolveram vacinas que mostram eficácia de 78% e 75%, respectivamente, prevenindo a manifestação clínica da doença por um período de um ano. Estas vacinas são específicas para os sorogrupos que as compõem, não conferindo imunidade cruzada e duradoura (McBRIDE et al, 2005). As medidas de controle da leptospirose devem considerar todos os determinantes envolvidos na produção da doença. Em relação aos roedores, tem-se adotado o conceito de manejo integrado, originalmente criado para combater as pragas da lavoura e adaptado ao combate das pragas urbanas, incluindo roedores sinantrópicos. Manejo integrado é um termo abrangente que envolve um conjunto de ações preventivas, corretivas e de eliminação, devendo ser conduzidas, de forma a diminuir os custos e minimizar os riscos envolvidos para a biodiversidade, especialmente para o homem (BRASIL, 2002). Abrigo, água e alimento são fatores essenciais para a sobrevivência da população de roedores. A limitação desses fatores exerce a força de fator controlador da população. Medidas de infraestrutura como saneamento, desempenham o papel de fator controlador (BRASIL, 2002). Quanto aos desastres naturais, a quimioprofilaxia é uma medida específica para determinados grupos em risco, como militares, bombeiros e outros, não sendo recomendada sua utilização em grande escala em populações expostas ao risco. A droga mais utilizada é a doxiciclina durante o período de prolongada exposição por tempo determinado (CHIN et al, 2001; McBRIDE et al, 2005). O Ministério da Saúde (MS) adotou desde 2004, como medida de prevenção, o tratamento pós-exposição em pessoas com síndrome febril após desastres 28 naturais (enchentes e inundações), procurou com este tratamento precoce, evitar as formas graves de doença (BRASIL, 2014). 29 3 METODOLOGIA 3.1 ÁREA DE ESTUDO A área do estudo compreendeu as localidades de procedência dos pacientes incluídos na presente pesquisa na área urbana do município de Porto Velho, capital do estado de Rondônia (Figura 01). O Estado está subdividido em 52 municípios, tendo como maior cidade, sua capital Porto Velho, situada à margem direita do rio Madeira, na porção Sul da região Norte do Brasil, inserida na Amazônia Ocidental. Possui 34.096.388 km2 de área territorial segundo o IBGE, ocupados por uma população estimada no ano de 2014 de 428.527 habitantes, distribuída nos 34.096.388 km2 de área formada pelo município, distribuição esta predominantemente urbana com índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM) em 2010 foi de 0,736 (IBGE, 2014). De acordo com o sistema de classificação de Köppen, o clima de Porto Velho se enquadra no tipo Aw - Clima Tropical Chuvoso, com precipitação pluvial que varia entre 2.200 a 2.300 mm/ano, e temperaturas médias anuais entre 200 e 330 C com umidade relativa do ar variando entre 75% a 85% (IBGE, 2014; SEDAM, 2015). A pesquisa foi observacional, e o desenho do estudo de corte aberto retrospectivo, com amostragem de conveniência e institucional. 30 FIGURA 1 – Localização da área de estudo. A: localização do estado de Rondônia; B: localização da cidade de Porto Velho; C: os polígonos vermelhos representam área urbana e os bairros da cidade de Porto Velho FONTE: Laboratório de Epidemiologia do CEPEM, 2014. 31 FIGURA 2 – Imagens atuais da área do estudo, bairro Três Marias. A: rua Canários, bairro: Três Marias; B, C, D e F: canais de drenagem de esgoto abertos; E: lixo em local inadequado. Fonte: CARDOSO, G. A.; 2015 3.2 POPULAÇÃO As informações necessárias para o desenvolvimento da pesquisa foram coletadas a partir das fichas do Sistema de Informações de Agravos de Notificação 32 (SINAN), dos casos notificados de leptospirose atendidos no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2014, da população urbana da cidade de Porto Velho. Para a construção do diagrama de controle foram utilizados o período de 2004 a 2014, para comparação com a ocorrência dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON. As informações foram armazenadas em arquivo digital do tipo banco de dados do Excell, tabuladas e comparadas com os dados oficiais e com a literatura científica, visando à elaboração do estudo. Foi utilzado o tese qui-quadrado de Yates para a comparação entre proporções e a teste t–Student com variância desigual para comparação de médias. Foi considerada um significância estatística inferior a 5%. Utilizou-se o site www.openepi.com para a análise de dados.. 3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Foram incluídos os casos notificados de leptospirose, através das fichas do Sistema de Informações de Agravos de Notificação (SINAN), de ambos os sexos, com registro entre janeiro a dezembro de 2014. Foram excluídos os casos notificados de não residentes na zona urbana de Porto Velho e menores de 12 anos. 3.4 ANÁLISE ESPACIAL As coordenadas geográficas dos locais prováveis de infecção e de residência foram coletadas através das informações contidas nas fichas do SINAN dos pacientes incluídos no estudo. Essas coordenadas foram identificadas por meio de levantamento de campo utilizando o Sistema de Posicionamento Global (GPS) com equipamento portátil Gramin® e Trex Vista®. As coordenadas de longitude e latitude representam o local provável de infecção. Após confirmação, essas informações foram exportadas para o software GPS TrackMaker® versão Pro 4.8, e foram elaborados de mapas combinados do perímetro territorial, coleções aquáticas, hidrografia, estradas e localidades. Os dados das coordenadas geográficas foram tabulados numa planilha do tipo banco de dados, Excel e exportadas para o software TerraView 4.2.0 de domínio público (BRASIL, 2014), disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Dessa forma as informações de cada caso de 33 leptospirose foi conectada a um banco de dado que foi relacionado a uma malha digitalizada que continha os limites de localidades do município de Porto Velho. Esta técnica realizou uma interpolação que gera uma superfície de densidade, que permitiu a identificação visual de áreas quentes, isto é, áreas de concentração de eventos, através da distribuição espacial (BRASIL, 2007). De acordo com Bradley et al (1995) por meio do mapa de Kernel, pode-se identificar as áreas com maior risco para a ocorrência de eventos e analisar o comportamento de padrões de pontos através de interpolação, fornecendo a análise de estimativa da intensidade pontual do evento analisado em toda a região do estudo. Dessa forma, é possível ter uma visão geral da intensidade desse evento em todas as regiões de interesse do mapa. As informações de dados pluviométricos foram obtidas através da homepage da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Ambiental de Rondônia (SEDAM), através da Coordenadoria de Geociências (COGEO Monitoramento), e do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (SEDAM, 2015; INMET, 2015). 3.7 CONSIDERAÇÕES ÉTICAS Foi utilizado para obtenção da autorização junto à direção (apêndice A) do Centro de Medicina Tropical de Rondônia – CEMETRON. A coleta de dados obedeceu a Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos. A pesquisa se fundamentou-se nos preceitos éticos da Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos (BRASIL, 2013) e foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e aprovada pelo CEP/NUSAU/UNIR – CAAE: 39107114.1.0000.5300. 34 4 RESULTADOS 4.1 DISTRIBUIÇÃO ESPAÇO-TEMPORAL Na figura 3 apresenta a precipitação pluviométrica registrada na estação pluviométrica de Santo Antônio no período de janeiro de 2009 a dezembro de 2014. Observamos que no mês dezembro de 2014 foi o que apresentou maior precipitação pluviométrica superior a 500 mm. Observa-se na série histórica que três períodos ocorreu elevação dos casos de leptospirose, dois destes respectivamente nos anos de 2009 e 2010 no período de seca, e um na transição de 2013 a 2014. Porém o maior número de casos foi registrado nos meses de janeiro a maio de 2014, posterior a época de maior precipitação pluviométrica (Figura 2). Os meses que compreenderam o período de chuva foram de janeiro a maio com média de 6,5 casos/mês, e o período de seca foram de junho a novembro com média de 4 casos/mês. Observa-se variâncias desiguais entre os períodos de chuva e seca do período de 2009 a 2014 e estas foram avaliadas aplicando o teste t–Student observa-se o valor de p < 0,02 nos períodos de chuva. FIGURA 3 – Distribuição temporal dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON e índices de precipitação pluviométrica no período de 2009 a 2014 Fonte: CEMETRON/ SINAN; SEDAM, 2015; INMET, 2015 35 Na figura 4 observamos o diagrama de controle dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2004 a 2014. Este foi elaborado para demonstrar elevação da frequência dos casos no ano de 2014. FIGURA 4 – Diagrama de controle dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON no período de 2004 a 2014 8 Casos de Leptospirose 7 6 5 4 3 2 1 0 -1 1 2 3 4 5 -2 6 7 8 9 10 11 12 Meses MÉDIA Limite Superior Esperado Limite inferior esperado CASOS 2014 Fonte: CEMETRON/SINAN Na figura 5 são apresentadas a distribuição pontual e a densidade de estimativa de Kernel. É possível observar que a zona de maior densidade (spot vermelho), na figura 5 A representa os bairros com maior ocorrência de casos no período de 2009 a 2013 que foram Cuniã, São Francisco, Nova Porto Velho, Tancredo Neves, Teixeirão e Três Marias, e na figura 5 B em 2014 o bairro o Três Marias apresentou maior ocorrência de casos. 36 FIGURA 5 – Distribuição espacial e estimativa de densidade de Kernel para os casos de leptospirose atendidos no CEMETRON, no período de 2009 a 2014 A: 2009 a 2013; B: 2014. Fonte: CEMETRON/ SINAN A análise epidemiológica baseou-se na distribuição espacial e temporal comparando-se os índices de precipitação pluviométrica, além das características demográficas da cidade de Porto Velho. Verifica-se na série histórica que em 2009 a maior ocorrência dos casos foi em junho nos bairros São Francisco e Cuniã; e em 37 2013, 80% dos casos ocorreram em janeiro e 20% dos casos em outubro nos bairros: Cohab II, Embratel, Jardim Santana, Mariana, Nova Porto Velho, Nossa Senhora das Graças, Planalto, Ronaldo Aragão e Triângulo. 4.2 INDICADORES DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA O ambiente domiciliar representou o principal local de infecção, com 39,7% dos casos, seguido pelo local de trabalho (30,2%) e lazer (0,8%), sendo que em 26,9% (17/63) das fichas de investigação esta informação encontrava-se ignorada ou em branco. As situações de risco frequentemente associadas aos casos foram o contato prévio com: locais com sinais de presença de roedores (47,6%), lama ou alagado (42,8%), e lixo ou entulho (34,9%). Observa-se o maior acometimento do sexo feminino na situação de contato com roedores (44,4%). O outro fator de risco foi contato direto com água da enchente, que ocorreu principalmente no ano de 2014. A proporção destas variáveis foi calculada por gênero (Figura 6). FIGURA 6 – Distribuição da proporção por fator de risco e gênero dos casos de leptospirose de 2009 a 2014 Fonte: CEMETRON/SINAN Do total, 95,2% (60/63) dos casos de leptospirose foram confirmados pelo diagnóstico sorológico pela técnica de ELISA IgM, 1,6% (1/63) dos casos foram 38 confirmados por critério clínico-epidemiológico, e em 3,2% (2/63) a informação encontrava-se em branco. Em 2014 foram 28 casos confirmados pela técnica de ELISA IgM, destes apenas 42,8% (12/28) foram testados para o MAT. Das amostras testadas os resultados encontrados foram: 58,4% (07/12) não reagentes, 16,7% (2/12) reagentes com baixa titulação (1/400), 16,7% (2/12) reagente para 3 sorvares distintos com titulação < 1/800 e 8,4% (1/12) reagente para 4 sorovares distintos com titulação < 1/800. Aproximadamente 71,4% (45/63) dos casos foram hospitalizados e em 3,2% (2/63) das fichas de investigação esta informação encontrava-se em branco. O ano de 2014 foi o período de maior número de hospitalizações, onde cerca de 67,8% (19/28) dos casos foram hospitalizados. No período de 2009 a 2014, 87,3% (55/63) dos casos de leptospirose evoluíram para a cura e 3,2% (2/63) evoluíram para o óbito por leptospirose, em 1,6% (1/63) evoluiu para óbito por outras causas, 6,3% (4/63) apresentaram evolução ignorada na ficha de notificação e 1,6% (1/63) das fichas de investigação do SINAN esta informação encontrava-se em branco. O ano de 2014 registrou o maior número de óbitos por leptospirose (3/28) e ocorreu respectivamente por hemorragia pulmonar, insuficiência renal e causa não relacionada a leptospirose. Ao calcularmos o coeficiente de letalidade dos casos atendidos no CEMETRON observaremos que no período de 2009 a 2014, este foi de 3,2%, e durante o ano de 2014 a leptospirose apresentou coeficiente de letalidade de 7,1%. 4.3 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS No período entre 2009 e 2014 foram investigados 250 pacientes, destes 63 pacientes foram confirmados com leptospirose, dos quais 45 (71,4%) eram do sexo masculino numa proporção de 3:1. Dentre os homens 85,7% (57/63) encontrava-se na faixa etária de 12 a 69 anos, com mediana de 30 anos (Tabela 1). 39 TABELA 1 – Idade e sexo dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON, no período de 2009 a 2014 Análise IDADE TODOS MASCULINO FEMININO N 63 45 18 Mínimo 12,0 13,0 12,0 Máximo 69,0 69,0 53,0 Percentil 25% 22,0 19,5 24,0 Mediana 30,0 29,0 35,5 Percentil 75% 42,0 41,5 43,5 Fonte: CEMETRON/SINAN Na variável escolaridade observou-se que 49,2% (31/63) possuíam o ensino fundamental incompleto, 7,9% (5/63) possuíam o ensino fundamental completo e 12,69% (8/63) com ensino médio incompleto, 11,1% (7/63) com ensino médio completo, 4,7% (3/63) com ensino superior incompleto, 1,6% (1/63) com ensino superior completo. Com a informação ignorada ou em branco foram encontradas 11,1% (7/63) das fichas de investigação. Na variável ocupação no período de 2009 a 2014 o maior acometimento foi em estudante (21%), agricultor (10%), do lar (8%) e serviços gerais (8%). Em 2014 a maior parcela acometida foram os estudantes (14,3%) (4/28) e agricultores (14,3%) (4/28). 4.4 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS Quanto as manifestações clínicas 49% (31/63) dos casos apresentaram a forma anictérica da doença, e os principais sinais e sintomas clínicos foram febre (84,1%), cefaleia (71,4%), mialgia (69,8%), dor na panturrilha (52,4%) e icterícia (50,8%) (Figura 7), a febre foi mais frequentes no sexo masculino (86,7%) e cefaleia, mialgia e vômitos foram mais frequentes no sexo feminino (83,3%). 40 FIGURA 7 – Distribuição dos sinais e sintomas dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON, no período de 2009 a 2014 Fonte: CEMETRON/SINAN As manifestações clínicas que antecederam o óbito por leptospirose foram: insuficiência renal e hemorragia pulmonar. 41 5 DISCUSSÃO A média de frequência dos casos atendidos no CEMETRON no período de 2005 a 2013 foi de 4,4 casos/mês, contudo nos meses de janeiro, março e maio do ano de 2014 ocorreu aumento da frequência, que foi superior ao limite máximo esperado de casos de leptospirose (3 casos/mês), porém estes casos não refletem a totalidade dos casos de leptospirose do município de Porto Velho, visto que, esta pesquisa foi realizada no hospital de referência de doenças infecciosas, e foram incluídos apenas os casos residentes na zona urbana do município e adultos. De acordo com os dados, o aumento da frequência dos casos de leptospirose, a média de casos de Dezembro a Maio são 6,5 casos/mês e de Junho a Novembro são 4 casos/mês, a cidade de Porto Velho sofre importante variação durante o período de chuvas e meses subsequentes a este período, ocorrendo um nítido aumento da frequência dos casos, com a elevação dos índices de precipitação pluviométrica conforme observado por Paula (2005), Elves et al (2008), Sampaio et al (2011) e Costa et al (2012). Observa-se a ocorrência de casos nos períodos de seca, justificada provavelmente devido a intersecção de fatores, tais como: precária infraestrutura de saneamento básico, alta infestação de ratos, além elevada persistência no meio ambiente da Leptospira spp. favorecem o surgimento de casos durante. A taxa de letalidade na população atendida no CEMETRON foi relativamente baixa, porém ressaltamos que esta não reflete a letalidade de leptospirose no município de Porto Velho, devido ao desenho deste estudo. Algumas fichas do SINAN encontravam-se com o preenchimento incompleto, o quê prejudicou a análise desta variável. Entretanto, tal cifra não se encontra em desacordo com o observado por Souza et al (2010) que descreveu a letalidade de 0,1% entre os casos notificados e 0,5 a 70% nos casos com síndrome da hemorragia pulmonar pela leptospirose. Essa baixa intensidade na ocorrência de casos graves pode ser atribuída a diversos fatores, dentre eles a virulência dos sorovares de leptospira circulantes, determinantes imunogenéticos do hospedeiro ou imunidade préexistente devido à exposição prévia ao patógeno (CACHAY & VINETZ, 2005). De tal forma estudos são necessários para estabelecer a influência dos diversos fatores de risco sobre o desfecho da infecção. É preciso atentar para a subnotificacão dos casos, que é uma realidade a ser considerada, especialmente em locais onde há prevalência de agravos cujos sintomas clínicos podem se sobrepor aos da 42 leptospirose, presença de infecção subclinical ou oligossintomáticos (BHARTI et al, 2003). Dentre os 63 casos notificados no CEMETRON, cerca de 77,8% ocorreram em áreas de periferia, nos quais os bairros: Cuniã, São Francisco, Nova Porto Velho, Tancredo Neves, Teixeirão e Três Marias. Considera-se que grande parte da área urbana de Porto Velho é cortada por igarapés, e o transbordamento destes, seja por aumento da precipitação pluviométrica ou por acúmulo de lixo, e associado com a fauna sinatrópica expõe essa população à infecção. Essas características, somadas ao saneamento básico deficiente ou inexistente pode explicar a elevação do número de casos. Essas características também foram observadas em estudos da região Norte por Costa et al (2012) e Jesus et al (2012) e também nas demais regiões do Brasil (CACHAY & VINETZ, 2005; PAULA, 2005; MACIEL et al, 2008; MARTINS & LILENBAUM, 2013; PEREIRA et al, 2014). A rápida urbanização e pobreza urbana levaram ao crescimento da periferia em áreas urbanas (FELZEMBURGH et al, 2014), e a elucidação dos fatores de risco na periferia pode guiar e propor intervenções para leptospirose baseadas nas necessidades das comunidades, tais como, rede de esgoto, coleta regular de lixos, limpeza de córregos e bueiros. Além disso esforços devem ser feitos para sensibilizar os moradores destas áreas sobre os riscos que correm no seu ambiente doméstico (MACIEL et al, 2008). A distribuição espacial é importante para análise e avaliação de riscos à saúde, particularmente aquelas relacionadas com o meio ambiente e com o perfil socioeconômico da população. A identificação dessas áreas possibilita a escolha de estratégias e intervenção específica para as necessidades dos seus moradores (BARCELLOS, 2002). A sazonalidade dos registros de casos foi observada em três períodos distintos na série histórica, sendo dois picos em períodos de seca, nos anos de 2009 e 2010, e no ano 2014 no período de chuvas e enchentes. O aumento da frequência dos casos de leptospirose nos períodos de seca é uma intersecção de fatores: (I) Períodos subsequentes aos períodos de chuva e a infecção ocorre em virtude da exposição contínua e prolongada a água contaminada pela urina dos roedores (MARTINS,1994; REZENDE et al, 1997; HUSTON, 2004); (II) Persistência da Leptospira é favorecida devido a capacidade de sobrevivência no meio ambiente (até 180 dias) e a ampla variedade 43 de animais suscetíveis que podem ser hospedeiros do microrganismo (BRASIL, 2009); (III) Período de incubação da doença que dura, em média, 5 e 14 dias, com extremos entre 1 a 30 dias (BRASIL, 2014). A incidência é sazonal e varia com as condições climáticas e de imunidade. Períodos chuvosos em áreas com clima tropical associado a populações que vivem em aglomerações urbanas, sem a adequada infraestrutura sanitária, com acúmulo de lixo e alta taxa de infestação por roedores são fatores ideais que propiciam a disseminação e a perpetuação Leptospira no ambiente e por conseguinte aumento da frequência de casos neste períodos (KO et al, 1999; JOUGLARD, 1999; FIGUEIREDO et al, 2001; SALABERRY et al, 2010; BRASIL, 2014). (IV) Busca de áreas recreacionais no período da seca que podem conter Leptospira sp. O contato prévio em locais com sinais de presença de roedores, lama ou alagado, e lixo ou entulho representou a situação de risco mais frequente no período estudado. Entretanto também observado nesta pesquisa que a situação de risco mais frequente no sexo feminino foi contato com roedores e no ano de 2014 e o sendo que as variáveis que apresentaram siginificacancia estatística foram: contato com rio, córrego, lagoa ou represa (p = 0,046), e contato direto com roedores (p = 0,017), estes dados assemelham-se ao observado por de Faria et al (2009); Costa et al (2012) e Felzemburgh et al (2014). O acometimento feminino pode ser justificado pela exposição a roedores no ambiente doméstico, que foi observado por Martins & Lilenbaum (2013). Observa-se falha no sistema de vigilância epidemiológica do CEMETRON, pois (27%) das fichas de investigação do SINAN estavam com preenchimento inadequado, o que gera incerteza quantos aos fatores mais frequentes que poderiam exercer efeito sobre a dinâmica de transmissão dos casos deste estudo. Esta pesquisa observou maior frequência de transmissão de leptospirose no ambiente domiciliar, seguido do trabalho e lazer. Tradicionalmente a leptospirose era considerada uma doença ocupacional, no entanto, a epidemiologia desse agravo sofreu importantes transformações após a década de 1970, passando de infecção transmitida no ambiente de trabalho para agravo adquirido no espaço domiciliar ou 44 de lazer (FAR, 1995; BHARTI et al, 2003). A ocorrência se deve aos fatores ambientais que são determinantes para a transmissão de leptospirose na periferia das cidades, e a exposição ocupacional pode contribuir também para a infecção nesta população. As ocupações podem ser compartilhadas entres os membros de um mesmo ambiente doméstico e ser um fator de confundimento (MACIEL et al, 2008). Ainda neste contexto, chama atenção o fato de que, apesar do ambiente domiciliar constituir a principal fonte de infecção, a proporção de casos em crianças foi muito baixa. Esta situação justifica-se pelo fato desta faixa etária ser atendida em serviços de saúde especializados em pediatria, porém estudos realizados por Silva et al (2003) apud Costa et al (2012) encontraram 41,1% (30/73) de soropositividade para infecção aguda ou recente entre crianças contatos–domiciliares de casos índices de leptospirose em Salvador, sendo 83,3% (25/30) classificados como oligossintomáticos. Outros inquéritos soroepidemiológicos têm apontado as forma clínicas assintomáticas ou oligossintomáticas como as apresentações mais comuns na infância (CHILDS et al, 1992; CRUZ, 1992). De acordo com Costa et al (2012), tais achados refletem subestimação dos casos de leptospirose na faixa etária pediátrica e sinalizam a necessidade de estudos clínico-epidemiológicos para conhecer a apresentação clínica e os prováveis fatores de risco de transmissão nessa população. Na variável ocupação no período de 2009 a 2014, os dados encontrados revelaram como principais, em ordem decrescente: estudante, agricultor, do lar e serviços gerais. No ano de 2014, a maior parcela acometida foram os estudantes e agricultores. A maior frequência em estudantes é justificada pois estes provavelmente expuseram-se com maior frequência as chuvas devido a atividade recreativa, comum desta faixa etária, e os agricultores foram acometidos provavelmente devido a exposição laboral (durante cultivo, colheita e armazenamento de produtos agrícolas em galpões, em ambientes com alta infestação de roedores) e domiciliar. Conforme Fontes et al (2010), a leptospirose está associada com baixo nível socioeconômico, dos pacientes em exercício de profissão (45/63), 71,4% exerciam ocupações de baixa qualificação. De acordo com Almeida et al (1994) e Ko et al (1999), a leptospirose é identificada no Brasil como uma doença ocupacional associada a população de pobre condição socioeconômica. 45 Neste estudo foram investigados 250 pacientes, destes 63 pacientes foram confirmados com leptospirose, dos quais 45 (71,4%) eram do sexo masculino numa proporção de 3:1. Dentre os homens 85,7% (57/63) encontrava-se na faixa etária de 12 a 69 anos, com mediana de 30 anos. A elevada frequência no sexo masculino justifica-se pela exposição tanto no ambiente domiciliar como de trabalho, pois 30,5% apresentavam ocupação de trabalho com risco de infecção por Leptospira sp.. O diagnóstico da infecção por Leptospira sp. deste estudo do total, 95,2% (60/63) dos casos de leptospirose foram confirmados pela diagnóstico sorológico pela técnica de ELISA IgM, 1,6% (1/63) dos casos foram confirmados por critério clínico-epidemiológico, e em 3,2% (2/63) a informação encontrava-se em branco. O MAT foi realizado em apenas (12/28) amostras em 2014. Neste estudo observamos: (I) Falha do serviço de vigilância epidemiológica hospitalar, por falta do preenchimento adequado, dos resultados dos teste sorológicos pela técnica de ELISA (primeira e segunda amostra) e MAT nas fichas de notificação do SINAN, isto reflete a falta de comunicação entre o LACEN com o CEMETRON; (II) Ausência de uma rotina de avaliação sorológica dos casos confirmados de leptospirose, visto que o padrão descrito na literatura é comparar os resultados sorológicos de fase aguda com os da fase de convalescência, entretanto nesta pesquisa observamos que as amostras foram triadas por sorologia pela técnica de ELISA na fase aguda, porém não ocorreu avaliação da fase de convalescência; (III) Realização do MAT em outro Estado e retardo da liberação dos resultados, estes são anexados aos prontuários meses após a coleta; (IV) Dificuldade de distinguir se o MAT reagente em baixa titulação é infecção primária em fase de convalescença ou reinfecção. (V) Ausência da realização de teste de biologia molecular, pois desta forma seria possível diferenciar infecção aguda de reinfecção. Segundo Haake & Levett (2015) os testes laboratoriais são necessários para confirmar o diagnóstico clínico de leptospirose, devido a ampla variedade dos sintomas. O MAT é o método considerado padrão ouro, para diagnóstico sorológico 46 da leptospirose sendo capaz de detectar anticorpos contra sorovares específicos (WHO, 2003). Sua interpretação é prejudicada pelo elevada ocorrência de reações cruzadas que ocorre entre os diferentes sorogrupos, especialmente nas amostras na fase aguda. Nesta fase são necessárias amostras pareadas de soro para observar a elevação da titulação maior ou igual a 4 vezes a titulação inicial para confirmar o diagnóstico (HAAKE & LEVETT, 2015). Devido a complexidade do MAT, os ensaios imunoenzimáticos são considerados testes de triagem para o diagnóstico de leptospirose, pois os anticorpos IgM tornam-se detectáveis na primeira semana de doença, assim permitindo o diagnóstico ser confirmado e o tratamento ser instituído precocemente. A detecção de IgM tem demosntrado ser mais sensível que o MAT, quando coletada no início na fase aguda da doença (HAAKE et al, 2000; HAAKE & LEVETT, 2015). Aproximadamente 71,4% (45/63) dos casos foram hospitalizados e em 3,2% (2/63) das fichas de investigação esta informação encontrava-se em branco. A grande proporção de indivíduos 71,4% (45/63) que necessitaram de internação hospitalar indica a ineficiência dos serviços de saúde em detectar as formas leves da leptospirose, possivelmente como resultado da falha de esclarecimento da população sobre o agravo. Além disso considera-se as dificuldades de acesso aos serviços assistenciais em função das distâncias ou sobrecarga na demanda por atendimento, da limitada suspeita clínica por profissionais da saúde; e das dificuldades de diagnóstico laboratorial. Segundo Haake & Levett (2015), o diagnóstico e a instituição de terapia antimicrobiana precoce previne a evolução da doença para as formas graves. A leptospirose grave é uma emergência médica que requer terapia antimicrobiana e suporte de vida adequado, a fim de diminuir as taxas de mortalidade. As queixas frequentemente apresentadas pelos pacientes foram febre, mialgia e cefaleia. Esta tríade sindrômica esteve presente em todos os casos de leptospirose. A forma anictérica da doença, foi a mais frequente (50,8%) nos casos, mostrando-se um pouco abaixo do que tem sido comumente relatado na literatura, em aproximadamente 90% dos casos. As formas graves, incluindo alterações respiratórias, hemorragia pulmonar, insuficiência renal aguda, alterações cardíacas e meningismo foram evidenciadas, respectivamente, em 25,4%, 3,2%, 15,9%, 4,8%, 1,6% dos casos. No estudo realizado por Sampaio et al (2011) em Rio Branco os sintomas mais frequentes foram: febre (92,3%), icterícia (69,2%), prostração 47 (84,6%), cefaleia (76,9%), vômitos (76,9%), mialgia (61,5%) e dor na panturrilha (15,3%). A variável de sinais e sintomais que apresentou significância estatística, sendo mais frequente em mulheres foi vômito (p=0,0075). As manifestações graves da doença foram alterações respiratórias (38,4%), insuficiência renal (15,3%), alterações cardíacas (7,9%) e hemorragia não especificada (7,9%), nenhum dos pacientes apresentou hemorragia pulmonar e meningismo e/ou outras alterações. Essa pequena ocorrência de casos graves pode ser atribuída a diversos fatores: virulência dos sorovares de leptospira circulantes, determinantes imunogenéticos do hospedeiro ou imunidade pré-existente devido à exposição prévia ao patógeno (CACHAY & VINETZ, 2005). Para Adler & de la Pena Moctezuma (2010) sugerem que a infecção aguda ou recente confere imunidade contra infecções subsequentes, assim diminuindo a morbidade durante uma nova exposição, porém essa conclusão é limitada devido ao reduzido número de casos do estudo e aos vários sorovares circulantes. Conforme observado por Costa et al (2015) estimam-se cerca de 1,03 milhões de casos de leptospirose a cada ano em todo o mundo. Estas estimativas coloca a leptospirose entre as principais causas de morbidade e mortalidade entre as antropozoonoses. O óbito por leptospirose ocorreu em 3,2% (2/63), e as principais causas observadas neste estudo foram: hemorragia pulmonar e insuficiência renal. Semelhante a observada por Ko et al (1999) e por Haake & Levett (2015), e ratifica que o aumento da incidência e aumento da frequência de surtos de leptospirose propicia o aumento de formas graves da doença, devido a: (I) Variabilidade antigênica dos sorovares circulantes em determinado ambiente; (II) Indivíduos com idade avançada e patologias de base subjacentes estão muitas das vezes associados a quadros clínicos mais graves e aumento da mortalidade (WHO, 2003); (III) A carga infectante, ou seja, a concentração de patógeno no organismo pode ter influência sobre o curso da leptospirose (WHO, 2003); (IV) Retardo do diagnóstico e tratamento antimicrobiano precoce. Alguns sorovares geralmente tendem a causar quadro clínicos inapetentes ou leves e doenças graves com complicações, como por exemplo os sorovares Icterrohemorrhagiae, Copenhageni e Lai, que estão associados a doenças graves 48 (CACHAY & VINETZ, 2005; WHO, 2003; SPICHLER et al, 2007). Em nosso estudo não foi possível determinar o sorovar circulante no período, pois o isolamento não é realizado pelo Laboratório Central (LACEN), e as amostras testadas pelo MAT apresentaram-se reagentes para vários sorovares do mesmo sorogrupo, este fenômeno é comum na fase aguda da doença. Neste caso sugerimos um novo estudo epidemiológico para evidenciar os sorovares circulantes nos períodos de maior frequência de casos em humanos, assim como na população sinantrópica da cidade de Porto Velho, como o estudo realizado por Martins & Lilenbaum (2013) no Rio de Janeiro, que identificaram a prevalência dos sorogrupos e seus reservatórios. Em nosso estudo observamos a ausência de preenchimento em diversos campos das fichas de notificação do SINAN, o que reflete um despreparo dos profissionais do núcleo de vigilância epidemiológica e do médico para a correta notificação dos casos de leptospirose no CEMETRON, acarretando sem sombra de dúvidas em subnotificações. 49 6 CONCLUSÃO A presente pesquisa revelou o atual cenário dos casos de leptospirose atendidos no CEMETRON, permitindo delinear o bairro Três Marias como de maior risco para ocorrência de casos. Neste contexto a definição de “zonas quentes” permitirá a elaboração de medidas de intervenção mais pontuais e efetivas, tais como implantação de rede de saneamento básico em bairros da periferia, efetiva drenagem dos canais, coleta de lixo regular, conscientização da população sobre os fatores de risco domiciliares e peridomiciliares para a leptospirose, permitindo assim a instituição precoce de quimioprofilaxia nos casos de risco durante os períodos de chuvas e enchentes. A elevação do nível de precipitação pluviométrica na cidade de Porto Velho é um fator que pode orientar o momento em que recursos específicos devem ser alocados a fim de evitar epidemias de leptospirose, visto que há uma relação direta e proporcional entre a pluviometria e o aumento dos números de casos, o que particularmente favorece o surgimento das formas graves da doença. Identificou-se a falta de preenchimento adequado das fichas de notificação do SINAN dos casos de leptospirose no CEMETRON, o que reflete um despreparo dos médicos e profissionais do núcleo de vigilância epidemiológica para a correta notificação dos casos de leptospirose no CEMETRON, acarretando sem sombra de dúvidas em subnotificações, que prejudicou as análises epidemiológica e sorológica, subnotificações. Torna-se importante e isolar o sorovar prevalente nos períodos de epidemia e a realização rotineira do MAT para confirmação dos casos agudos de leptospirose, assim como acompanhamento sorológico na fase de convalescência. Esta investigação propõe a elaboração de um protocolo de diagnóstico e de assistência multidisciplinar para o atendimento dos casos suspeitos de leptospirose, por esta patologia apresentar diagnóstico diferencial com as demais doenças infecciosas febris tropicais prevalentes no Estado de Rondônia. 50 REFERÊNCIAS ACHA, P.N.; SZYFRES, B. 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O projeto da pesquisa se fundamentará nos preceitos éticos da Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, que trata das Diretrizes e Normas de Pesquisa envolvendo Seres Humanos (BRASIL, 2013). A identificação dos pacientes será mantida sem absoluto sigilo, obedecendo a convenção de Helsing e será submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia – UNIR. Este projeto será desenvolvido pela médica Glauce Anne Cardoso, conforme cópia anexa, com a orientação do Prof. Dr. Mauro Shugiro Tada, Diretor Geral do Centro de Pesquisa em Medicina Tropical (CEPEM). Nesta perspectiva e contando com a vossa valorosa atenção, compreensão e contribuição, somos antecipadamente gratos. Atenciosamente, ______________________________ Glauce Anne Cardoso ( ) Concordamos com a solicitação ________________________________ Mauro Shugiro Tada ( ) Não concordamos com a solicitação ____________________________ Stella Angela Tarallo Zimmerli Diretora Geral do Centro de Medicina Tropical de Rondônia - CEMETRON 62 APÊNDICE B SINAN SISTEMA DE INFORMAÇÃO DE AGRAVOS DE NOTIFICAÇÃO República Federativa do Brasil Ministério da Saúde Nº LEPTOSPIROSE FICHA DE INVESTIGAÇÃO CASO SUSPEITO: Indivíduo com febre, cefaléia e mialgia, que apresente pelo menos um dos seguintes critérios: Critério 1antecedentes epidemiológicos sugestivos nos 30 dias anteriores `a data de início dos sintomas(exposição a situações de risco, vínculo epidemiológico com um caso confirmado por critério laboratorial ou residir/trabalhar em áreas de risco); Critério 2- pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: sufusão conjuntival, sinais de insuficiência renal aguda, icterícia e/ou aumento de bilirrubinas e fenômeno hemorrágico. Dados Gerais 1 Tipo de Notificação 2 - Individual Código (CID10) 3 Data da Notificação 2 Agravo/doença LEPTOSPIROSE 4 UF A 2 7. 9 | | | | | | | | | | | | | 1 - Hora 2 - Dia 3 - Mês 4 - Ano | | | | | | | 9 Data de Nascimento | | | | | | 7 Data dos Primeiros Sintomas Código 8 Nome do Paciente 10 (ou) Idade | | Código (IBGE) 6 Unidade de Saúde (ou outra fonte notificadora) Notificação I ndividual | | | 5 Município de Notificação 11 Sexo M - Masculino 12 Gestante 1-1ºTrimestre 2-2ºTrimestre 4- Idade gestacional Ignorada 9-Ignorado F - Feminino I - Ignorado | | | | 13 Raça/Cor 3-3ºTrimestre 5-Não 6- Não se aplica 1-Branca 4-Parda 2-Preta 3-Amarela 5-Indígena 9- Ignorado 14 Escolaridade 0-Analfabeto 1-1ª a 4ª série incompleta do EF (antigo primário ou 1º grau) 2-4ª série completa do EF (antigo primário ou 1º grau) 3-5ª à 8ª série incompleta do EF (antigo ginásio ou 1º grau) 4-Ensino fundamental completo (antigo ginásio ou 1º grau) 5-Ensino médio incompleto (antigo colegial ou 2º grau ) 6-Ensino médio completo (antigo colegial ou 2º grau ) 7-Educação superior incompleta 8-Educação superior completa 9-Ignorado 10- Não se aplica 16 Nome da mãe 15 Número do Cartão SUS | | | | | | | | | | | | | | | Código (IBGE) 17 UF 18 Município de Residência Dados de Residência | | 20 Bairro 19 Distrito | Código 23 Complemento (apto., casa, ...) 25 Geo campo 2 | | 24 Geo campo 1 26 Ponto de Referência | | | | | | | | | | | | - | | 27 CEP | | 29 Zona 1 - Urbana 2 - Rural 3 - Periurbana 9 - Ignorado 28 (DDD) Telefone | | | 21 Logradouro (rua, avenida,...) 22 Número | | 30 País (se residente fora do Brasil) Dados Complementares do Caso Antecedentes Epidemiológicos 31 Data da Investigação | | | | | 32 Ocupação | | 33 Situação de Risco Ocorrida nos 30 dias que Antecederam os Primeiros Sintomas - Contato/ limpeza de: 1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado Água ou lama de enchente Caixa d´água Criação de animais Fossa, caixa de gordura ou esgoto Local com sinais de roedores Rio, córrego, lagoa ou represa Roedores diretamente Terreno baldio Lixo/ entulho 34 Casos Anteriores de Leptospirose no Local Provável de Infecção nos últimos dois meses Casos Humanos Casos Animais 36 Sinais e Sintomas Dados Clinicos 35 Data de Atendimento Atendimento Plantio/ colheita (lavoura) Armazenamento de grãos/ alimentos Outras__________________ | | | | | | | 1 - Sim 2 - Não 1- Sim 2- Não 9- Ignorado 9 - Ignorado Febre Mialgia Cefaléia Prostração Congestão conjuntival Dor na panturrilha Vômito Diarréia Icterícia Insuficiência renal Hemorragia pulmonar Outras hemorragias Alterações respiratórias Meningismo Outros, quais? ___________ 37 Ocorreu Hospitalização 1 - Sim 2 - Não 9 - Ignorado 40 UF 41 Município do Hospital 38 Data da Internação | | | | | Alterações cardíacas 39 Data de Alta | | | | | | | 42 Nome do Hospital Leptospirose | | | | Código (IBGE) | | | | Código Sinan NET | SVS | | | | | 02/02/2007 63