apresentação - Ordem dos Economistas
Transcrição
apresentação - Ordem dos Economistas
Sistemas de Pensões: Solidariedade, Equidade, Sustentabilidade Jorge Miguel Bravo Universidade de Évora - Departamento de Economia [email protected] 1 Agenda 1. Condições de partida: demografia, mercado de trabalho, crescimento e finanças públicas 2. Objectivos, Tipologia e Arquitectura dos sistemas de pensões 3. Mecanismos de partilha de riscos 4. Sistemas de incentivos implícitos no desenho dos sistemas 5. Reformas recentes nos sistemas de pensões na União Europeia 6. Mecanismos de reequilíbrio automático da sustentabilidade 7. Lições da crise económica e financeira 8. Comentários finais 2 Índice Sintético de Fertilidade 3 Esperança de vida aos 65 anos 30 25 20 15 Male Female 10 5 0 4 Portugal: Estrutura etária em 2011 Portugal 2011* Homens / Males Females / Mulheres 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1.00 0.75 0.50 0.25 39.69 39.01 46.26 15.64 0.00 0.00 0.25 Idade média / Mean age 41.20 Idade mediana / Median age 41.00 Ratio dependência / Dependency ratio 49.81 Índice envelhecimento / Aging index 18.15 0.50 0.75 1.00 42.61 42.02 53.29 20.50 Fonte: The EUROPOP2010 (EUROSTAT); Estimativas dos autores 5 Portugal: Estrutura etária em 2060 Portugal 2060* Homens / Males Females / Mulheres 100 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 1.00 0.75 0.50 0.25 47.69 49.01 73.37 29.82 0.00 0.00 0.25 Idade média / Mean age 48.90 Idade mediana / Median age 51.00 Ratio dependência / Dependency ratio 78.65 Índice envelhecimento / Aging index 32.02 0.50 0.75 1.00 50.07 52.01 84.05 34.14 6 Sustentabilidade demográfica dos sistemas 7 Taxa de actividade 15-64 80,0 78,0 76,0 74,0 72,0 Female Male 70,0 68,0 66,0 64,0 8 2011 2013 2015 2017 2019 2021 2023 2025 2027 2029 2031 2033 2035 2037 2039 2041 2043 2045 2047 2049 2051 2053 2055 2057 2059 Taxa de Desemprego (15-74) Taxa de desemprego (AWG) 18,0 16,0 14,0 12,0 10,0 8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 9 Projecções Produto Potencial (AWG) Crescimento PIB potencial (%) 3,0% 2,0% 1,0% 0,0% -1,0% -2,0% -3,0% -4,0% Intensidade capitalística TFP horas trabalhadas (taxa cresc.) 10 Saldo Regimes Contributivos (% PIB) 0,0% 2011 2016 2021 2026 2031 2036 2041 2046 2051 2056 -1,0% -2,0% -3,0% -4,0% -5,0% -6,0% -7,0% Saldo em % do PIB 11 Dívida Administrações Públicas (% PIB) 12 Problema da adequação PENSÃO MÉDIA MENSAL VELHICE (PCT 2011, EUR), 12 PREST. RGSS 2011-2060 % 2011 2025 2060* 44,9% 474,0 561,7 686,8 45,9% 50,6% 32,8% 1559 1587 1545 97,1% 89,6% 56,4% Em % do salário médio CGA Em % do salário médio -0,9% 13 Objectivos dos sistemas de pensões • Para o indivíduo – Alisamento do consumo ao longo do ciclo de vida – Mecanismo de seguro (longevidade, invalidez, sobrevivência) • Para as políticas públicas – Redução dos níveis de pobreza – Redistribuição de rendimento – Equidade intra-geracional e inter-geracional – Sustentabilidade financeira – Efeitos neutros/positivos sobre a poupança/mercado de trabalho – Previsibilidade e robustez 14 Arquitectura dos Sistemas de Pensões Universal Pilar 0: obrigatório, público Means-Tested DB Pilar 1: obrigatório, público NDC Public DC, Provident Fund Sistemas de Pensões DC Pilar 2: integrado ou não, privado DB Pilar 3: voluntário Pilar 4: Outros programas sociais DC Saúde, habitação,… 15 Particularização do Pilar 0 Pilar 0: Transferências de rendimento Intervenções ex-ante Matching contributions Intervenções ex-post Pensões Sociais Universais / Básicas Pensões mínimas Com condição recursos Adaptado de Holzmann, Robalino e Takayama (2009) 16 Non-financial Defined Contribution, NDC • Sistema de pensões financiado essencialmente numa base de repartição contemporânea (Pay-As-You-GO) • As contribuições (fracção dos rendimentos do trabalho) efectuadas ao longo da vida são creditadas em contas individuais nocionais • As contas nocionais obtém uma taxa interna de retorno (taxa de crescimento da massa salarial, salário médio,…) • Os direitos não contributivos (redistribuição) são financiados externamente (via impostos, sistemas paralelos) • A pensão resulta da conversão actuarial do capital nocional acumulado numa renda vitalícia considerando a longevidade esperada de cada geração e uma taxa de desconto • Pode incorporar um mecanismo de reequilíbrio automático 17 Tipologia dos sistemas de pensões Adaptado de Lindbeck e Persson (2003) 18 Importância da criação de riqueza • Só existem duas formas de providenciar a satisfação das necessidades na velhice 1. Guardar produção actual para consumo futuro 2. Trocar produção durante a vida activa por um “direito de saque” sobre a produção futura – Poupando parte dos salários de forma a acumular activos – Assente numa “promessa” (dos seus filhos, do seu empregador, do Governo) • Os pensionistas não estão interessados em dinheiro per se, mas em consumo (bens e serviços) • A questão central não se altera em economia aberta 19 Importância da criação de riqueza • Os sistemas de capitalização financeira não constituem uma solução automática para as alterações demográficas O trabalhador médio pode acumular o montante necessário para financiar a sua reforma mas, a menos que o declínio na população activa não tenha impacto no produto, o produto cairá e, com ele o consumo e/ou o investimento • Os sistemas de capitalização financeira não contribuem necessariamente para o crescimento do produto porque: O seu impacto sobre a poupança global depende das reacções dos trabalhadores e do Governo O seu contributo para a melhoria da eficiência do funcionamento dos mercados financeiros não é garantido 20 A partilha de riscos nos sistemas é distinta • Os riscos com que se defrontam os sistemas são múltiplos Riscos sistémicos – Volatilidade macroeconómica – Riscos demográficos – Riscos políticos Riscos de mercado – Volatilidade nos rendimentos do trabalho (saúde, desemprego, …) – Riscos de investimento – Riscos de crédito – Life annuity risks Riscos relacionados com o comportamento individual (e.g., decisões de investimento) 21 A partilha de riscos nos sistemas é distinta • Financial Defined Contribution (FDC) Schemes O risco de investimento durante o processo de acumulação recai integralmente sobre o trabalhador Os activos acumulados financiam o consumo na reforma através de uma renda vitalícia ou uma série de levantamentos programados A anuitização transfere os riscos para as seguradoras mas permanece o risco de pricing no momento da conversão Se o trabalhador optar por não converter em renda, está exposto aos riscos de investimento e de longevidade 22 A partilha de riscos nos sistemas é distinta • Financial Mandatory Defined-Benefit (FDB) Schemes Os benefícios individuais são função da carreira contributiva e anos de serviço e os riscos de investimento e demográficos são acomodados alterando a taxa de contribuição A acumulação de défices de financiamento configura na prática transferência de riscos entre gerações de trabalhadores O risco de investimento reside no sponsor e pode ser partilhado entre actuais e futuras gerações via alterações nos salários, entre os accionistas (via política de dividendos) e entre os clientes via modificações nos preços dos produtos Os recursos tem que ser ajustados aos benefícios prometidos Risco de default do sponsor 23 A partilha de riscos nos sistemas é distinta • PAYGO Mandatory Defined-Benefit (NDB) Schemes Os benefícios individuais são função da carreira contributiva, anos de serviço e os outros parâmetros operacionais do sistema A acumulação de défices de financiamento configura na prática transferência de riscos entre gerações de trabalhadores O sponsor pode ajustar o nível de contribuições/benefícios alterando: – As condições de acesso (e.g., idade, prazo garantia) à reforma – O mecanismo de revalorização dos salários passados – O mecanismo de indexação das pensões em pagamento – As taxas de contribuição – A fórmula de cálculo das pensões – A taxa anual de formação da pensão – De forma had-hoc os benefícios, … 24 Os incentivos dos sistemas são iguais? • Os sistemas de pensões de contribuição definida (NDC, FDC) incorporam um conjunto de incentivos desejáveis: Recompensam a participação formal no mercado de trabalho Incentivam a declaração de rendimentos Não colocam entraves à mobilidade no mercado de trabalho Incentivam e recompensam o prolongamento da vida activa São mais facilmente compatíveis com uma transição gradual e flexível para a reforma Tendem a ser mais transparentes 25 4 caminhos para a solução • Os problemas de financiamento das pensões de velhice só podem ser resolvidos mediante 4 (e só 4!) vias alternativas 1. Redução no valor médio das pensões mensais 2. Aumento da idade de reforma mantendo o benefício 3. Aumento das contribuições e/ou outras fontes de receita 4. Alargamento da base contributiva Aumento do produto e da produtividade do trabalho Políticas de natalidade Medidas sobre o mercado de trabalho Redução da economia informal 26 Existem sistemas de pensões perfeitos? • Há princípios sólidos no desenho de um sistema de pensões mas não existe um modelo óptimo para todos os países porque – Os decisores políticos atribuem pesos diferentes aos vários objectivos de um sistema de pensões – O padrão de restrições fiscais e institucionais difere entre os países • Condicionantes – Legacy costs (sistema herdado, custos transição, privilégios especiais) – Capacidade fiscal e institucional – Perfil da distribuição de rendimentos – Tendências económicas e demográficas – Situação do mercado de capitais • O sistema óptimo diferirá entre países e no tempo 27 Reformas nos sistemas de pensões na UE • Nos últimos anos a maioria dos Estados Membros da UE efectuou reformas paramétricas e/ou sistémicas nos sistemas de pensões • Principais tendências 1. Reforço do princípio da contributividade • Aumento do período contributivo considerado no cálculo da pensão dos “x melhores anos” para a totalidade da carreira • Aumento do prazo de garantia requerido para o recebimento de pensões mínimas 2. Aumento da idade pensionável (estatutária e efectiva) e igualização entre homens e mulheres 3. Reforma dos mecanismos de saída antecipada do mercado de trabalho (desemprego de longa duração, invalidez, pensões de sobrevivência) 28 Reformas nos sistemas de pensões na UE • Principais tendências (cont.) 4. Introdução de mecanismos de ajustamento actuariais Sistemas de Bonus-Malus no acesso antecipado/diferido à reforma Introdução de caminhos flexíveis de entrada na reforma e conjugação da reforma com a continuação da actividade 5. Maior preponderância dos sistemas multi-pilar 6. Reforço do pré-financiamento dos sistemas Introdução de novos sistemas do tipo DC (obrigatórios com adesão automática ou voluntários com incentivos fiscais) Expansão dos planos ocupacionais existentes Constituição de fundos de reserva centralizados Amortizando dívida pública 29 Reformas dos sistemas pensões na UE • Principais tendências (cont.) 7. Alterações nas regras de valorização e indexação Um número crescente de países passou a valorizar os salários passados com base no crescimento dos preços em detrimento do crescimento dos salários ou através de um mix das duas componentes Indexação das pensões em pagamento ligada ao crescimento do PIB, e/ou dos salários e/ou dos preços Factores de sustentabilidade Progressividade na indexação das pensões Ajustamentos had-hoc nas regras de indexação 30 Reformas dos sistemas pensões na UE • Principais tendências (cont.) 8. Melhoria da cobertura dos sistemas Inclusão dos agricultores, trabalhadores independentes, empregadas domésticas,…) 9. Reforço dos sistemas de combate à pobreza Introdução de transferências mínimas de rendimento para idosos e outras formas de assistência (habitação, aquecimento, saúde,…) Flat rate pensions 10.Introdução de mecanismos de reequilíbrio automático da sustentabilidade financeira 31 Mecanismos de reequilíbrio automático • Objectivo: assegurar um equilíbrio entre activos (fundos de reserva, contribuições) e responsabilidades (pensões actuais e futuras) dos sistemas • Modalidades 1. benefícios iniciais indexados à evolução da esperança de vida (e.g., factor de sustentabilidade em Portugal) 2. Ajustamento dos benefícios via mecanismo de valorização dos salários passados (e.g., “modifier” no Japão) 3. Ajustamento dos benefícios via método de indexação das pensões em pagamento (e.g., Sweden’s ABM) 4. Indexação da idade de acesso à reforma à esperança de vida 5. Ajustamentos nas taxas de contribuição 6. Utilização de fundos de reserva 32 Lições da crise financeira/económica • Nos sistemas públicos do tipo PAYGO a desaceleração/contracção da economia, o aumento do desemprego e a queda nos salários aumentou a pressão sobre as finanças públicas e as contribuições • Nos sistemas do tipo FDC, a queda abrupta no valor dos activos e a redução nas suas taxas de retorno expôs as suas vulnerabilidades ao comportamento dos mercados financeiros reform reversals • Com as devidas excepções, na maior parte dos países os sistemas mantiveram as promessas relativamente aos actuais pensionistas • Alguns países aumentaram a taxa de contribuição e/ou a idade de acesso à reforma, fazendo recair os custos do ajustamento nas gerações mais jovens • Aumentaram os riscos de default dos sponsors • A percepção sobre a inter-dependência dos riscos nos sistemas multipilar é hoje muito mais clara 33 Planos de poupança complementar • Os indivíduos tomam decisões com base em informação imperfeita (conhecimento limitado dos riscos, longevidade,…), assimétrica e tem insuficiente literacia financeira • Tem um comportamento frequentemente não racional (miopia, procrastinação, inércia, familiaridade,…) • Tornar as pensões obrigatórias ou inscrever os participantes por defeito num plano (e.g., The Thrift Savings Plan (US), NEST (UK), Kimisaver individual accounts (NZ)) • Oferecer um n.º restrito e diferenciado de escolhas de investimento • Incluir uma opção por defeito (e.g., life-cycle profiling) • Garantir custos de administração baixos • Não descurar a fase de desacumulação da poupança (e.g. rendas) 34 Comentários finais • A reforma dos sistemas de pensões requer uma abordagem holística • A criação de riqueza é central • Não existe um modelo óptimo de sistema de pensões para todos os países mas há princípios sólidos a ter em conta no seu desenho • A forma como os riscos são partilhados é crucial • O tipo de incentivos dado aos agentes económicos é crítico • Todas as reformas têm efeitos redistributivos • Os custos de transição, de implementação e administrativos não devem ser menosprezados 35 “The future interests me more than the past, because I expect to live there.” Albert Einstein Obrigado pela atenção! 36
Documentos relacionados
Untitled - Fundação D. Pedro IV
Para responder a tema que me foi dado para este encontro, ocorreu-me revisitar as Cartas Morais de Lúcio Anneo Séneca, quando se ocupa das Vantagens da Velhice (Carta XII) e da chamada de atenção...
Leia mais