Cirrose Descompensada
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Cirrose Descompensada
Módulo IV Cirrose Descompensada Abordagem Inicial do Cirrótico 21 Paulo Lisboa Bittencourt Cirrose hepática (CH) é definida pela desorganização da arquitetura lobular do fígado, definida histologicamente por fibrose e formação de nódulos regenerativos. Como cirrose é um conceito anatomopatológico, opta-se pelo uso do termo doença crônica parenquimatosa do fígado (DCPF) para caracterizar pacientes com evidências clínicas, laboratoriais e radiológicas de cirrose hepática e sem avaliação histológica do parênquima hepático. Clinicamente, a DCPF é classificada em compensada ou descompensada de acordo com a presença de complicações da hipertensão portal e insuficiência hepática. A DCPF é dita descompensada na ocorrência de ascite, hemorragia digestiva varicosa, encefalopatia hepática (EH) e infecções tais como a peritonite bacteriana espontânea (PBE). A abordagem do paciente com DCPF deve incluir avaliação etiológica (Tabela 1) e prevenção e rastreamento de complicações (Tabela 2). A abordagem terapêutica da CH compensada deve incluir avaliação de tratamento da causa subjacente da doença; tratamento dos sintomas e complicações associadas; suporte nutricional e avaliação de elegibilidade para transplante de fígado. 104 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Doença Crônica Parenquimatosa do Fígado Avaliação de complicações (Ascite/hidrotórax / Hemorragia digestiva / Infecções [PBE, infecção respiratória e urinária, de pele e tecido celular subcutâneo] / Encefalopatia Hepática / Insuficiência Renal Aguda / Coagulopatia) Vide algoritmo de complicações Avaliação laboratorial: De acordo com protocolos de complicações Coleta de Na, K, U, Cr, HMG, Glicose TGO, TGP, FA, GGT, PT e F, BT e F, Na Urinário (na 1a internação) Avaliação de etiologia (Tabela 1 e 2) 1. P adrão bioquímico: Hepatocelular (elevação preponderante de AST, ALT), Colestático (elevação preponderante de FA, GGT) 2. Avaliação Inicial: • Consumo de álcool: (no unidades/semana) / Uso de medicações/ fitoterápicos (Consultar hepatox) / Antecedentes familiares de DCPF, doenças auto-imunes e consaguinidade; uso de transfusões ou de drogas IV e inalatórias 3. Exames laboratoriais (Fase I) • Perfil bioquímico hepatocelular/ misto: AgHbs, Anti-HBC total, Anti-HCV, Ferro, CTLFe • Perfil colestático: US, AAM, CPRE ou CPRM, A1AT 4. Exames laboratoriais (Fase II [ I se suspeita clínica importante]) • Ceruloplasmina, Cobre sérico e urinário e Pesquisa de anel de KF • AAML, AAMFR, AAN, AAM • A1AT 5. Considerar biópsia hepática Estadiamento: Classificação de Child/Pugh e MELD (Tabela 3 e 4) Prevenção de complicações EDA: Ausência de varizes + Child A Ausência de varizes + Child B/C VE de fino calibre (≤ 5 mm) + Child A VE fino calibre (≤ 5 mm) + Child B/C Sinais vermelhos VE médio/grosso calibre (> 5 mm) + Child A VE médio/grosso calibre (> 5 mm) + Child B/C Sinais vermelhos Repetir EDA de 3/3 anos Repetir EDA de 1/1 ano Considerar profilaxia com betabloqueador não seletivo (BBNS) até dose máxima tolerável Na ausência de profilaxia repetir EDA de 1-2/1-2 anos Profilaxia com BBNS Profilaxia com BBNS ou ligadura elástica (LE) na presença de contraindicações aos BBNS Profilaxia com BBNS ou LE Módulo IV ■ Capítulo 21 ■ Abordagem Inicial do Cirrótico Rastreamento de Hepatocarcinoma Ultrassonografia de abdomen superior + alfafetoproteína de 6/6 m Profilaxia de infeccções (PBE) Antecedente de PBE ou proteína de LA < 1,5 g/dL ou cirrose avançada Child 9 com BT > 3,0 g/dL ou Creatinina > 1,2 mg/mL ou Na ≤ 130 mEq/L Norfloxacin 400 mg/dia Ciprofloxacin 500 mg/dia Ciprofloxacin 750 mg/semana TMP/SMZ 800/160 mg/dia Profilaxia de síndrome hepatorrenal (PBE) Vide algoritmo de síndrome hepatorrenal e de PBE Profilaxia de infecções na hemorragia varicosa Vide algoritmo de hemorragia varicosa Avaliação de pacientes cirróticos para transplante de fígado (Coleta de grupo sanguíneo; BT, Cr, TP com INR, Albumina e Na para cálculo do MELD e da Classificação Child-Pugh antes da avaliação por equipe de transplante [www.abto.org.br] Pontuação Child-Pugh B > 7 e MELD > 10 Descompensação: ascite, HDA, infecções ou encefalopatia hepática Carcinoma hepatocelular (diagnóstico de acordo com os critérios de Barcelona e indicações de acordo com os critérios de Milão [nódulo único de até 5 cm ou até 3 nódulos de até 3 cm]) (Tabela 4, Figuras 1 e 2) Tabela 1: Principais Causas de Cirrose Hepática Hepatites Virais Distúrbios Vasculares Vírus C Insuficiência Cardíaca Direita Vírus B Síndrome de Budd-Chiari Vírus B e delta Doenças Hepatobiliares Álcool Cirrose Biliar Secundária Drogas Atresia de Vias Biliares Isoniazida, Alfa-Metildopa, Vitamina A, Metotrexate Ductopenia do Adulto Doenças Auto-Imunes do Fígado Hepatite Auto-Imune Colestase Intrahepática Familiar Progressiva Cirrose Biliar Primária Criptogênica Colangite Esclerosante Primária Doenças Metabólicas Esteatohepatite Não-Alcoólica Hemocromatose Doença de Wilson Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Tirosinemia, etc 105 106 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Tabela 2: Correlação entre Dados de História Clínica e Exame Físico e Provável Etiológica da Cirrose. Causas Dados de História e Exame Físico Vírus C Uso de sangue, hemoderivados e transplante de órgãos antes de 1992; hemodiálise; uso de drogas intravenosas com compartilhamento de seringas e agulhas; emprego de cocaína inalatória, tatuagem e piercing Estado de portador do HIV Vírus B Vida sexual promíscua Mãe portadora do vírus B Hepatite AutoImune Presença de outras doenças ou manifestações auto-imunes (artrite, tiroidite) no paciente ou em familiares de primeiro grau Cirrose Biliar Primária Idade usualmente superior a 50-60 anos Outras doenças ou manifestações auto-imunes (CREST, síndrome sicca) no paciente ou em familiares de primeiro grau Xantomas e xantelasmas Colangite Esclerosante Primária Associação com doença inflamatória intestinal Colangite de repetição Xantomas e xantelasmas Hemocromatose Idade usualmente superior a 50 anos; diabetes; cardiomegalia, hiperpigmentação cutânea História familiar de cirrose e consanguinidade Doença de Wilson Idade usualmente inferior a 35 anos História familiar de cirrose e consanguinidade Alterações neurológicas e presença de anel de Kayser Fleischer Doença Alcoólica do Fígado Uso abusivo de álcool superior a 21 unidades * por semana para homens e 14 unidades por semana para mulheres por período usualmente superior a 8 anos Sinais de feminização Cirrose de etiologia medicamentosa Uso crônico de medicamentos associadas ao desenvolvimento de cirrose hepática, particularmente oxifenisatina, metildopa, nitrofurantoína, iproniazida, vitamina A e metotrexate. Síndrome de Budd-Chiari Uso de fitoterápicos contendo alcalóides da pirrozilidina e drogas incluindo contraceptivos orais e azatioprina Presença de síndrome pró-coagulante (deficiência de proteína C ou S ou de antitrobina III) ou mielodisplásica * Aproximadamente 12 gramas de álcool que corresponde a uma dose (50 mL) de bebida destilada, um cálice de vinho ou um copo de cerveja Módulo IV ■ Capítulo 21 ■ Abordagem Inicial do Cirrótico Tabela 3: Classificação de Child-Pugh modificada Pontos 1 2 3 Encefalopatia Ausente 1e2 3e4 Ascite Ausente Discreta Moderada Bilirrubinas (mg/dL) 1-2 2-3 >3 Bilirrubinas (mg/dL) (Hepatopatias colestáticas) 1-4 4-10 > 10 Albumina (mg/dL) > 3,5 2,8-3,5 < 2,8 Tp (dif. Em seg.) 1-4 4-6 >6 A = escore de 5 a 6; B = escore de 7 a 9; C = escore de 10-15 Tabela 4: Model for End-stage Liver Disease (MELD): 3.8 x log BT (mg/dL) + 11.2 x log INR + 9.6 x log creatinina (mg/dL) Tabela 5: Critérios Diagnósticos de Barcelona para Hepatocarcinoma Critério Histológico Critérios Não-Invasivos: Radiológico: Duas técnicas de imagem coincidentes (USG/CT helicoidal/ RNM/ Angiografia) mostrando lesão focal > 2cm com hipervascularização arterial Combinado: Uma técnica de imagem mostrando lesão focal > 2cm com hipervascularização arterial + AFP > 400 ng/mL 107 108 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Carcinoma Hepatocelular PST 0 Child-Pugh A Estadio Muito Precoce Nódulo único < 2 cm Estadio Precoce PS 0 / Nódulo único ou 3 nódulos < 3 cm Nódulo único 3 nódulos ≤ 3 cm Hipertensão Aumentada Portal Bilirrubina Estadio Intermediário PS 0 / Multinodular Estadio Avançado PS 1-2 / Invasão Portal / N1 / M1 Estadio Terminal Invasão Portal / N1 / M1 Doenças associadas Normal Ressecção PST > 2 Child-Pugh C PST 0-2 Child-Pugh A-B Não Transplante Hepática Sim Não Alcoolização / Radiofrequência Sim Novos Agentes (Sorafenib) QuimioEmbolização TRATAMENTO CURATIVO RCTs Sintomáticos Figura 1 Estratégia de Diagnóstico e Tratamento do Hepatocarcinoma do grupo de Barcelona (BCLC) Módulo IV ■ Capítulo 21 ■ Abordagem Inicial do Cirrótico 0 Ativo para exercer atividades cotidianas sem restrições 1 Restrição à atividade fisíca, mas capaz de deambular e exercer atividades profissionais sedentárias 2 Deambulação preservada e capaz de realizar cuidados pessoais, mas sem capacidade para o trabalho. Confinado ao leito ou a cadeira por menos de 50% do período normal de deambulação 3 Capaz de executar cuidados pessoais limitados. Confinado ao leito ou a cadeira por mais de 50% do período normal de deambulação 4 Incapaz de executar cuidados pessoais. Confinado ao leito ou a cadeira Figura 2 Graus de “performance status” da World Health Organization Referências Bibliográficas 1. Bittencourt PL; Couto CA; Farias AQ. Cirrose Hepática. In Cerri GG; de Castilho EA; Carrilho FJ; Martins MA; Alves VAF (eds). Clínica Médica – HCFMUSP. Editora Manole, São Paulo, 2007 (no prelo) 2. Garcia-Tsao G, Bosch J, Groszmann RJ. Portal hypertension and variceal bleeding-unresolved issues. Summary of an American Association for the study of liver diseases and European Association for the study of the liver single-topic conference. Hepatology. 2008;47:1764-72. 3. Murray KF, Carithers RL Jr; AASLD practice guidelines: Evaluation of the patient for liver transplantation. Hepatology. 2005;41(6):1407-32. 109 Ascite 22 Andréa Ribeiro Cavalcanti Ascite é secundária à sobrecarga de volume devido a maior retenção de sódio e água e consequente acúmulo de líquido na cavidade peritoneal pelo regime de hipertensão portal e hipertensão linfática secundárias às alterações estruturais da cirrose. É uma complicação frequente de DCPF. Estima-se que 50% dos cirróticos desenvolverão ascite ao longo da vida. O surgimento de ascite associase a redução da qualidade de vida e sobrevida para cerca de 50% em 2-5 anos. Ascite é usualmente diagnosticada clinicamente. No entanto, é recomendado punção de líquido ascítico em todo paciente com DCPF e ascite de início recente para determinação do teor de proteína do liquido ascitico (LA), mensuração do gradiente soro-ascite de albumina (subtração da albumina sérica da albumina de LA) e realização de contagem de polimorfonucleares neutrófilos (PMNN), visando respectivamente o diagnóstico de ascite associada à hipertensão portal e de peritonite bacteriana espontânea (PBE). Profilaxia primária com norfloxacino 400 mg/dia; ciprofloxacino 750 mg/semana ou 500 mg/dia ou trimetoprimsulfametoxazol 800/160 mg/dia tem sido associada a menor frequência de PBE e maior sobrevida a médio e longo-prazo em pacientes selecionados com cirrose avançada e níveis baixos de proteína em líquido ascítico. Gradiente soro-ascite maior ou igual a 1,1 g/dL é indicativo da presença de hipertensão portal e contagem de PMNN maior ou igual a 250 células/mm3 é diagnóstica de PBE, mesmo na ausência de sintomas. O tratamento inicial de escolha da ascite é dieta hipossódica para 2 g de NaCl / dia e uso escalonado de diuréticos: espironolactona 100-300 mg/dia e furosemida 40-80 mg/dia caso seja necessário. Deve-se monitorizar a função renal e 112 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed os eletrólitos para detecção precoce dos distúrbios hidroeletrolíticos e disfunção renal associados ao uso dessas drogas. Restrição hídrica não é recomendada, exceto se o sódio sérico for inferior a 120-125 mEq/L. Pacientes com ascite tensa e ascite refratária podem se beneficiar de paracentese terapêutica com infusão de albumina. O uso de shunt transjugular intra-hepático portossistêmico (TIPS) pode ser avaliado em pacientes que não tolerem ou que necessitem de mais que duas a três paracenteses de repetição no período de um mês. Referências Bibliográficas 1. Runyon BA; Practice Guidelines Committee, American Association for the Study of Liver Diseases (AASLD). Management of adult patients with ascites due to cirrhosis. Hepatology. 2004;39:841-56. 2. Fernández J, Navasa M, Planas R, Montoliu S, Monfort D, Soriano G, Vila C, Pardo A, Quintero E, Vargas V, Such J, Ginès P, Arroyo V. Primary prophylaxis of spontaneous bacterial peritonitis delays hepatorenal syndrome and improves survival in cirrhosis. Gastroenterology. 2007;133(3):818-24. Módulo IV ■ Capítulo 22 ■ Ascite Ascite Ascite de início recente ou sem punção de líquido ascítico (PLA) prévia Hospitalização / Sintomas GI sugestivos de PBE (dor abdominal, diarréia, vômitos ou íleo) Sinais de infecção sistêmica (febre, leucocitose ou íleo) / Encefalopatia / Piora da função renal PARACENTESE (punção preferencial em linha média ou flanco inferior esquerdo) (Uso de plaquetas e hemoderivados não é justificado mesmo na presença de coagulopatia) Contagem de leucócitos e PMNN Dosagem de proteína total (PT) e albumina em LA (se 1ª PLA) Cultura em balão de hemocultura (n=2) e hemocultura 2 pares (se SD de PBE) Outras análises a depender do contexto clínico: ADA, CBAAR, PBAAR se SD de BK; triglicérides se ascite quilosa; citologia oncótica se SD de HCC ou Carcinomatose peritoneal Gradiente Soro-Ascite de albumina ≥ 1,1 < 1,1 Contagem de leucócitos PT no LA < 1,5 g/dL Considerar BK peritoneal (Mensurar ADA no LA, Rx tórax, PPD), ascite cardíaca, carcinomatose, etc. Ascite não associada a Hipertensão Portal PMNN > 250/mm3 ou cultura positiva (algoritmo de PBE) Linfócitos > 250 cel/mm3 – Considerar BK Cirrose avançada * Profilaxia primária com norfloxacino 400 mg/dia Ascite associada a Hipertensão Porta Controle de Peso e Diurese Na urinário em urina de 24 h, Na, K, U, Cr, HMG, TP, PT e F (nício recente) Dieta 2 g (88 mmol) NaCl/dia Espironolactona 100 mg a 300 mg/dia e Furosemida 40 mg-80 mg/dia (manter perda ponderal 300-500 g/dia na ausência de edema de MMII ou e até 1 kg/dia na presença de edema de MMII) Triantereno 100-300 mg/dia ou amilorida 10-40 mg/dia podem ser alternativas à espironolactona na presença de efeitos colaterais Monitorizar Na, K, U, Cr Restrição ao uso de anti-inflamatórios não hormonais e rastreamento de sinais clínicos de encefalopatia hepática Evitar hipovolemia associada a uso abusivo de diuréticos Restrição hídrica apenas se Na+ < 120-125 mmol/l * CPS > 9 com BT > 3,0 mg/dL ou Cr > 1,2 ou Na ≤ 130 mg/dL Resposta satisfatória: ascite sensível a diuréticos Acompanhamento quinzenal a semestral com Na, K, U, Cr 113 114 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia Resposta insatisfatória ■ Nycomed Verificar aderência Coleta de sódio urinário Na Urinário < 78 mmol/L Na Urinário > 78 mmol/L Ascite Refratária Orientação Paracentese terapêutica de repetição com infusão de albumina (+ 8 g/l) [Obs.: 2 frascos para cada 3 l de LA = 6,6 g /L] particularmente se drenagem superior a 5 litros Considerar TIPS na necessidade de mais de duas a três paracenteses/mês como ponte para o transplante de fígado Ascite Tensa Paracentese terapêutica com infusão de albumina (+ 8 g/l) [Obs.: 2 frascos para cada 3 l de LA = 6,6 g /L particularmente se drenagem superior a 5 litros] Tratamento convencional de ascite Hidrotórax Hepático 23 Andréa Ribeiro Cavalcanti O hidrotórax hepático (HH) e definido pela presença de derrame pleural em quantidade superior a 500 mL em paciente com cirrose hepática (CH). Acomete cerca de 10% dos portadores de CH descompensada com ou sem ascite, ocorrendo preferencialmente em hemitórax direito. É secundário à hipertensão portal sendo o acúmulo de líquido em cavidade pleural possibilitado pela ocorrência de falhas ou defeitos diafragmáticos que permitem a passagem do liquido ascítico para o espaço pleural devido à presença de pressão intra-torácica negativa. A abordagem do HH no cirrótico varia a depender da coexistência de ascite. Nos pacientes com ascite, deve-se realizar paracentese diagnóstica para determinação do gradiente soro-ascite de albumina e leucometria e cultura para exclusão de infecções: peritonite bacteriana espontânea (PBE) e tuberculose peritoneal. O tratamento do HH nesses pacientes segue o mesmo algoritmo para tratamento de ascite. Toracocentese diagnostica deve ser realizada apenas naqueles pacientes sem PBE e com suspeita clínica de empiema bacteriano espontâneo ou em casos refratários ao esquema terapêutico para ascite. Nos pacientes sem ascite ou com ascite mínima, deve-se realizar toracocentese diagnóstica com mensuração do gradiente soro-líquido pleural de albumina e leucometria para afastar empiema bacteriano espontâneo ou tuberculose pleural. 116 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Hidrotorax Hepático Ascite ausente ou mínima Ascite puncionável Toracocentese diagnóstica para diagnóstico diferencial (Mensuração de pH, albumina, DHL Glicose, adenosina deaminase [SD de BK pleural] e contagem global e diferencial de leucócitos) Gradiente soro-liquido pleural > 1.1 Citologia com PMNN < 250 cel/ mm3 Hidrotórax Hepático Tratamento Dieta hipossódica e diuréticos (vide algoritmo de ascite) Paracentese (vide algoritmo de ascite) Na presença de desconforto respiratório a despeito de paracentese esvaziadora Optar por toracocentese terapêutica (retirada máxima de 2 litros de líquido pleural) Citologia com PMNN > 250 cel/mm3 Empiema bacteriano espontâneo Cefotaxima 2 g 8/8 horas por 7 dias Ausência de resposta (necessidade de mais de 1-2 toracocenteses de alívio por mês) Avaliar TIPS Na presença de contra-indicação ao uso de TIPS (doença avançada com CPS > 10; idade superior a 60 anos e encefalopatia prévia) ou inelegibilidade para o transplante avaliar risco-benefício de pleurodese e/ou reparo dos defeitos diafragmáticos guiados por toracoscopia Módulo IV ■ Capítulo 23 ■ Hidrotórax Hepático Tabela 1: Principais causas de derrame pleural de acordo com a apresentação como exsudato e transudato Apresentação habitual como exsudato Doenças Neoplásicas: metástases, mesotelioma, linfoma Doenças infecciosas: infecções piogênicas, tuberculose, actinomicose, nocardiose, infeccções fúngicas, virais e parasitárias Tromboembolismo pulmonar Doenças gastrointestinais: perfuração esofágica, pancreatites, abscessos intraabdominais, hérnia diafragmática, pós-operatório de cirurgia abdominal Doenças reumatológicas: artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, linfadenopatia imunoblástica, síndrome de Sjogren, síndrome de Churg-Strauss, granulomatose de Wegener Síndrome pós-lesão cardíaca Apresentação habitual como transudato Insuficiência cardíaca congestiva Doenças do pericárdio Hidrotórax hepático Síndrome nefrótica Diálise peritoneal Urinotórax Mixedema Síndrome de veia cava superior Doença veno-oclusiva Transplante de medula óssea Referências Bibliográficas 1. Bittencourt PL & Zolinger CC. Hérnias e Hidrotórax Hepático. In Terra C & Mattos AA. Complicações da cirrose: ascite e insuficiência renal. Ed. Revinter, Rio de Janeiro, 2009; pag. 177-189. 2. Porcel JM, Light RW. Diagnostic approach to pleural effusion in adults. Am Fam Physician. 2006;73:1211-20. 117 Encefalopatia Hepática 24 Andréa Ribeiro Cavalcanti A encefalopatia hepática (EH) é um distúrbio funcional do sistema nervoso central (SNC) associado à insuficiência hepática decorrente de quadros agudos ou crônicos de hepatopatia; à presença de shunts porto-sistêmicos, sejam eles espontâneos, cirúrgicos ou após a colocação de shunt transjugular intra-hepático porto-sistêmico (TIPS). A EH associada a cirrose é classificada em 1) episódica precipitada, espontânea ou recorrente e 2) persitente leve, acentuada ou dependente de tratamento e 3) mínima (Tabela 1). A EH episódica precipitada é a mais frequentemente observada em UTI, associada à hemorragia digestiva, infecções ou uso de benzodiazepínicos. O diagnóstico de EH é de exclusão (Tabela 2), particularmente naqueles pacientes com EH de início recente, pacientes com sinais e sintomas atípicos ou naqueles indivíduos com doenças neurológicas associadas. Recomenda-se que o diagnóstico e a graduação da EH em cirróticos devam ser baseados em três pontos principais: 1) História clínica visando avaliar a presença de sinais e sintomas de cirrose hepática associada à hipertensão portal e presença de distúrbios neurológicos e neuropsiquiátricos, com particular atenção às funções motora e cognitiva, à habilidade para executar atividades rotineiras e anormalidades do ciclo sono-vigília, 2) Exclusão de outras causas, particularmente distúrbios metabólicos (uremia), doenças infecciosas, processos expansivos do SNC (hematomas, neoplasias), distúrbios psiquiátricos e alterações de comportamento, especialmente abstinência alcoólica, 3) Uso de um dos seguintes sistemas de graduação do estado mental: Os critérios de West Haven e a Escala 120 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed de Coma de Glasgow (Tabela 3 e 4), estando a EH grave definida como um escore menor que 12. As estratégias terapêuticas empregadas para o tratamento da EH no cirrótico são diferentes de acordo com a classificação da síndrome. Encefalopatia hepática episódica, precipitada por fatores desencadeantes, pode ser revertida apenas com a remoção ou correção do evento relacionado (Tabela 5), particularmente na presença de sinais e sintomas leves de EH (graus I e II). Habitualmente, associam-se medidas farmacológicas nesses pacientes visando evitar progressão para graus mais avançados de encefalopatia. Portadores de EH episódica recorrente devem ser submetidos à orientação dietética e alertados para o emprego de medidas profiláticas visando diminuir ocorrência de fatores precipitantes associados. As medidas terapêuticas para a EH incluem: 1) tratamento de suporte; 2) identificação e remoção dos fatores precipitantes; 3) nutrição; 4) medidas farmacológicas; 5) prevenção de novos episódios de EH; 6) avaliação de elegibilidade para transplante de fígado. Tabela 1: Classificação da encefalopatia hepática associada à cirrose Tipo Caracterização Episódica precipitada Espontânea Recorrente Persistente Leve Acentuada Dependente de tratamento Mínima Nomenclatura estabelecida no 11º Congresso Mundial de Gastroenterologia, Viena . Tabela 2: Diagnóstico diferencial da encefalopatia hepática Encefalopatias metabólicas: Hipoglicemia; Uremia; Hipóxia; Narcose por CO2,, Cetoacidose Encefalopatias tóxicas: Alcoólica (Intoxicação aguda; Síndrome de abstinência; Síndrome de Wernicke-Korsakoff); Abuso de drogas psicotrópicas; Intoxicação por salicilatos; Intoxicação por metais pesados Lesões intracranianas: Hemorragia subaracnóide, subdural e intracerebral; Infartos cerebrais; Tumores cerebrais; Abscessos cerebrais; Meningite; Encefalite; Epilepsia, Encefalopatia pos-ictal Distúrbios neuropsiquiátricos (psicoses) Módulo IV ■ Capítulo 24 ■ Encefalopatia Hepática Manejo e Tratamento da Encefalopatia Hepática Episódica Graus I - II Graus III- IV Glicemia capilar / Acesso venoso periférico Expansão volêmica / Haloperidol SN Coleta de hemograma, Na, K, U,Cr, glicemia, gasometria venosa, INR, BT e F, microscopia de urina Considerar coleta de enzimas hepáticas, PT e F Considerar citologia global e diferencial de líquido ascítico (LA), cultura de LA, urocultura, hemocultura e radiografia de torax na suspeita diagnóstica de infecção PESQUISAR FATORES PRECIPITANTES HDA, Infecções, Transgressão dietética, Uso de BDZ ou Psicotrópicos, Insuficiência Renal, Dist. Hidroeletrolíticos, Hipovolemia Corrigir Fatores Precipitantes HDA Avaliar necessidade de intubação orotraqueal Acesso venoso periférico Glicemia capilar / Oximetria de pulso Expansão volêmica Suspender Diuréticos, Expansão volêmica e Correção de Dist HE Uso de Catárticos e/ou Lavagem intestinal Constipação BDZ Flumazenil 0,5 –1 mg Infecção Tratamento específico TRATAMENTO Dieta hipercalórica (>1500Kcal/d) e hipoprotéica (0,5g/Kg/d) por 12-24 horas Lactulose 30mL vo ou via SNE 1/1 h até fezes liquidas + Lactulose 30mL 6/6 h ate atingir 2-3 dejeções/dia * Enema de lactulose (300mL de lactulose / 1L de água) de 6-12/6-12 h se íleo Resposta Ausente 24-48 h Resposta + Aumentar proteína na dieta 1020 g/d ate até -1,5g/kg/d ou EH Considerar avaliação neurológica com TC/RM crânio e punção liquórica se necessário Reavaliar diagnóstico, tratamento e controle de fatores desencadeantes Acrescentar metronidazol 400mg vo de 12/12 h Considerar LOLA IV 20 g/dia na infusão máxima de 5g/hora seguido da dose oral de 3 g de 12/12 horas 121 122 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Tabela 3: Critérios de West Haven para Classificação da encefalopatia hepática de acordo com a gravidade Grau I Alterações leves de comportamento e de funções biorregulatórias, como alternância do ritmo do sono, distúrbios discretos do comportamento como riso e choro “ fácil”, hálito hepático Grau II Letargia ou apatia, lentidão nas respostas, desorientação no tempo e espaço, alterações na personalidade e comportamento inadequado, presença de flapping. Grau III Sonolência e torpor com resposta aos estímulos verbais, desorientação grosseira e agitação psicomotora, desaparecimento do flapping. Grau IV Coma não responsivo aos estímulos verbais e com resposta flutuante à dor. Tabela 4: Escala de coma de Glasgow para Classificação da encefalopatia hepática de acordo com a gravidade. Abertura ocular Melhor resposta motora Melhor resposta verbal Espontânea 4 Estímulo verbal 3 Estímulo doloroso 2 Sem resposta 1 Obedece ordens verbais 6 Localiza estímulo doloroso 5 Reação de retirada 4 Decorticação 3 Descerebração 2 Não responde 1 Orientado 5 Confuso 4 Emite palavras inapropriadas 3 Emite sons inapropriados 2 Não responde 1 A pontuação na escala de Glasgow varia de 3 a 15. Encefalopatia hepática grave é definida como pontuação menor que 12. Módulo IV ■ Capítulo 24 ■ Encefalopatia Hepática Tabela 5: Fatores precipitantes da encefalopatia hepática Fatores Precipitantes Excesso de proteína na dieta Constipação Hemorragia digestiva Infecção Hipocalemia Alcalose metabólica Hipovolemia Restrição hídrica Diuréticos Paracentese Diarréia osmótica / uso de laxantes Uso de benzodiazepínicos Uso de psicotrópicos Shunts portossistêmicos: Espontâneos; Cirúrgicos; TIPS Insuficiência hepática progressiva Hepatocarcinoma REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Oliveira RLB; Cavalcanti AR; Lyra TG; Bittencourt PL. Encefalopatia hepática. GED 2007; 26(2): 41-54. 2. Ferenci P., Lockwood A, Mullen K, Tarter R, Weissenborn K, Blei AT. Hepatic Encephalopathy- definition, nomenclature, diagnosis and quantification: final report of the Working Party at the World Congresses of Gastroenterology, Viena, 1998. Hepatology 2002; 35:716-21. 123 Infecções no Cirrótico 25 Liana Machado de Codes Infecções bacterianas, particularmente por bacilos gram-negativos, ocorrem em cerca de 30%-50% dos pacientes hospitalizados por cirrose hepática descompensada. Na Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia do Hospital Português, infecções são observadas em 30% dos pacientes á admissão e em 16% dos pacientes durante a internação hospitalar. As principais infecções observadas foram peritonite bacteriana espontânea (PBE), infecção do trato urinário e infecção respiratória, sendo sua ocorrência associada à maior mortalidade intra-hospitalar. Bactérias gram-negativas, membros da família Enterobacteriaceae como a E. coli e Klebsiella spp, enterococos e outras espécies de estreptococos são as bactérias que mais comumente fazem a translocação do lúmen intestinal para os linfonodos mesentéricos, sendo comumente implicadas nas infecções adquiridas na comunidade pelos cirróticos. A incidência de infecção por cocos gram-positivos tem aumentado recentemente, especialmente em pacientes hospitalizados, provavelmente devido aos procedimentos invasivos, aos quais esse grupo de pacientes é frequentemente submetido em unidade de terapia intensiva. Pacientes cirróticos admitidos com hemorragia digestiva são particularmente suscetíveis a infecções bacterianas. Profilaxia antibiótica de curto prazo neste subgrupo de doentes diminui o risco de complicações infecciosas e melhora sobrevida. A profilaxia com quinolonas por longo período, embora seja efetiva na prevenção da recorrência de PBE, tem sido associada ao surgimento de infecções causadas por organismos resistentes, assim, o uso de norfloxacin deve ser limitado ao subgrupo de pacientes com alto risco de desenvolver a PBE. 126 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Infecções No Cirrótico PROFILAXIA DE INFECÇÕES NO CIRRÓTICO Profilaxia secundária de peritonite bacteriana espontânea Profilaxia primária proteína total em líquido ascítico ≤ 1,5 g/dL ou • cirrose avançada (CPS ≥ 9 com bilirrubina sérica superior a 3,0 mg/dL) • Creatinina > 1,2 mg/mL • Na ≤ 130 mEq/L Norfloxacin 400 mg vo /dia Esquemas alternativos: • TMP/SMZ 800/160 mg 5-7 vezes por semana • Ciprofloxacin 500 mg/dia • Ciprofloxacin 750 mg/semana Profilaxia de infecções após hemorragia digestiva alta Norfloxacin 400 mg vo ou VSNG de 12/12 por 7 dias. Considerar ciprofloxacina 400 mg IV 12/12h, na presença de íleo ou hematêmese Considerar ceftriaxone 1 g IV/ dia por 7 dias em pacientes com cirrose avançada Child C ou com sangramento clinicamente relevante Módulo IV ■ Capítulo 25 ■ Infecções no Cirrótico SD de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE): ascite de início recente; sintomas sugestivos de PBE (dor abdominal / vômitos / febre / diarréia / íleo); sinais de infecção sistêmica; piora da função renal e encefalopatia hepática espontânea Punção de Líquido Ascítico (PLA) preferencialmente em linha média ou FI Leucometria (Contagem de hemácias se LA hemorrágico. Na presença de LA hemorrágico ajustar contagem 1 PMNN /250 hemácias) Cultura em balão de hemocultura (n=2) Hemocultura 2 pares Considerar estudo adicional do líquido ascítico com glicose, DHL, PT e F na SD de peritonite bacteriana secundária Considerar Rx simples de abdômen e tórax e CT de abdômen com contraste oral na SD de peritonite bacteriana secundária PMNN ≥ 250/ mm3 Flora polimicrobiana PMNN < 250/mm3 Ausência de PBE PBE: Cefotaxima 2g IV 8/8 h por 7-10 dias * Considerar albumina 1.5 g/kg em 6 h + 1 g/kg no 3º dia pós-tratamento Tratar como Cultura + (Bacterascite) Paracentese 48-72 h Cultura + e/ou PMNN > 250 Cultura negativa: Ausência de PBE Cultura negativa: ascite neutrofílica com cultura negativa Cultura positiva: Ajustar antibioticoterapia conforme antibiograma Considerar PLA de controle em 48 h ↓ < 25% dos PMNN Considerar PBS ** Considerar falência terapêutica ** ↓ ≥ 25% dos PMNN Resposta satisfatória Profilaxia 2a com norfloxacino 400 mg/dia * Ciprofloxacin 500 mg vo 12/12 h ou ofloxacin 400 mg vo 12/12 h por 7 dias se hipersensibilidade a beta-lactamicos na ausência de profilaxia previa com norfloxacin ou se o paciente nao apresentar ileo, choque, encefalopatia ou Cr > 3.0 mg/dL ** Na suspeita de PBS ou falência terapêutica introduzir tazobactam 4,5g IV 8/8h 127 128 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed SD DE EMPIEMA BACTERIANO ESPONTÂNEO Toracocentese Avaliar PLA na presença de líquido ascítico puncionável Reavaliar toracocentese na ausência de PBE em pacientes com hidrotórax hepático e suspeita de empiema bacteriano espontâneo Coleta de leucometria; PT e F; DHL, glicose; pH Leucometria de líquido pleural > 250 cel/ mm3 Tratar como PBE Avaliar criteriosamente necessidade de drenagem de tórax SD DE INFECÇÃO DE TRATO URINÁRIO (ITU) (Tabelas 1-4) Cistite Coleta de Sumário de urina Considerar Urocultura apenas se ITU complicada Ciprofloxacino 500 mg VO 12/12 h por 3 dias Bacteriúria assintomática Não tratar Pielonefrite Coleta: SU / Urocultura / Hemocultura / Hemograma Iniciar tratamento com ciprofloxacin * 400 mg IV 12/12 h mantendo esquema antibiótico intravenoso ou subsequentemente oral por 7-14 dias No caso de ITU hospitalar optar por cefepime * IV 2g de 12/12 h / Optar por carbapenêmico na suspeita de ESBL Ajustar antibiótico de acordo com antibiograma Reavaliar antibioticoterapia a depender do uso prévio de antibióticos e outros fatores modificadores Módulo IV ■ Capítulo 25 ■ Infecções no Cirrótico SD DE INFECÇÃO DO TRATO RESPIRATÓRIO (ITR) SD DE INFECÇÃO DE PNEUMONIA COMUNITÁRIA Diagnóstico: > 2 parametros: temperatura > 37,8°C, FC > 100 bpm, MV diminuído, Estertores creptantes, FR > 20 bpm e Rx tórax com infiltrado pulmonar Hospitalização preferencial pela presença de comorbidade (cirrose) descompensada Iniciar tratamento com fluoroquinolona antipneumococo (moxafloxacin 400 mg vo / dia ou Levofloxacin 500-750 mg vo ou IV/ dia) + Ceftriaxone * por 7-14 dias Risco de infecção por pseudomonas: Cefepime 2 g IV de 8/8 h + fluoroquonolona antipneumococo * Reavaliar antibioticoterapia com 48-72 horas de acordo com evolução clínica e resultado de culturas Ajustar esquema antibiótico de acordo com resultados de culturas SD DE INFECÇÃO DE PNEUMONIA HOSPITALAR Iniciar tratamento com cefepime 2 g IV de 8/8 horas * por 7-14 dias Se pneumonia associada à ventilação mecânica de início tardio > 5 dias avaliar substituição por carbapenêmicos antipseudomonas [imipenem 500 mg 6/6 h ou meropenem 1 g 8/8 h] ou beta-lactâmicos com inibidores de beta-lactamase [piperacilina-tazobactam 4,5 g 6/6 h] + teicoplanina [6 mg/kg 12/12 horas por três doses e após 6 mg/kg a cada 24 horas] ou linezolida [600 mg 12/12 h] Reavaliar antibioticoterapia com 48-72 horas de acordo com evolução clínica e resultado de culturas (Cultura de secreção traqueal negativa tem alto valor preditivo negativo) Ajustar esquema antibiótico de acordo com resultados de culturas 129 130 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Tabela 1: Características clínico-laboratoriais da peritonite bacteriana secundária Infecção polimicrobiana Bioquimica do liquido ascitico: glicose < 50mg/dL LDH elevado proteína > 1,0mg/dL CEA > 5ng/mL fosfatase alcalina > 240 UI/L. Tabela 2: Características das Infecções do Trato Urinário Cistite Quadro clínico: disuria, hematúria, urgência, dor suprapúbica Considerar uretrite por N gonorrhoeae ou Chlamydophila trachomatis em mulheres sexualmente ativas Considerar prostatite em homens > 50 anos Pielonefrite aguda QC: Febre, calafrios, dor lombar, SRIS Ausência de febre: 1/3 dos pacientes idosos / imunocomprometidos Sintomas respiratórios e GI: 20% dos pacientes idosos / imunocomprometidos Pielonefrite crônica ITU recorrente: Bexiga neurogênica Refluxo vesico-ureteral ITU não complicada Pacientes jovens, saudáveis que não estejam grávidas com anatomia de trato urinário normal ITU complicada Alteração anatômica, obstrução, imunodeficiência, cateterização ou sondagem urinária, infecção em pacientes institucionalizados ou hospitalizados, pacientes transplantados Bacteriúria assintomática Presença de . 105 UFC em urina de jato médio ou . 105 UFC em pacientes cateterizados na ausência de sintomas Módulo IV ■ Capítulo 25 ■ Infecções no Cirrótico Tabela 3: Diagnóstico das Infecções do Trato urinário Sensibilidade Especificidade Esterase leucocitária + 77% 54% Nitritos + 81% 87% Achado na Microscopia de urina de: > 5-10 leucócitos/campo > 5 eritrócitos > bactéris ++ 65% 74% Gram 96% 93% Obs.: Pacientes com PBE podem apresentar piúria Tabela 4: Diagnóstico das Infecções do Trato urinário Urocultura (Indicações: Pielonefrite / Gravidez / Pacientes imunocomprometidos / Idosos > 65 anos / ITU recorrente ou em homens / Pacientes com ITU complicada) Bacteriúria / ITU: Presença de >105 UFC (Considerar ITU com resultado > 105 UFC na presença de sintomas, piúria ou cateterismo vesical) Referências Bibliográficas 1. Runyon AR. Management of adult patients with ascites due to cirrhosis. Hepatology. 2004; 39: 841-56. 2. Caly WR, StraussE. A prospective study of bacterial infections in patients with cirrhosis. J Hepatol, 1993; 18:353-8. 3. Garcia-Tsao G. Current management of the complications of cirrhosis and portal hypertension: varices and variceal hemorrhage, ascites and spontaneous bacterial peritonitis. Gastroenterology, 2001; 120: 726-48. 4. Fernández J, Navasa M, Planas R, Montoliu S, Monfort D, Soriano G, Vila C, Pardo A, Quintero E, Vargas V, Such J, Ginès P, Arroyo V. Primary prophylaxis of spontaneous bacterial peritonitis delays hepatorenal syndrome and improves survival in cirrhosis. Gastroenterology. 2007;133(3):818-24. 5. Guimarães AC & Melo LH. Pneumonia comunitária. In Caldeira Filho M, Westphal GA. Manual Prático de Medicina Intensiva. Ed. Segmento-Farma, São Paulo 2009; p. 99-101 6. Caldeira Filho M, Westphal GA. Pneumonia associada a ventilação mecânica. In Caldeira Filho M, Westphal GA. Manual Prático de Medicina Intensiva. Ed. Segmento-Farma, São Paulo 2009; p. 102-104 7. Norris DL, Young JD. Urinary tract infections: Diagnosis and management in the emergency department. Emerg Med Clin N Am 2008; 26: 413-430. 131 Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico no Hepatopata 26 Maria Alice Pires Soares Sepse é definida pela presença síndrome de resposta inflamatória sistêmica (SRIS) (Tabela 1) secundária a uma infecção comprovada ou suspeita. Sepse grave e choque séptico se correlacionam, respectivamente, com a sepse associada a sinais de hipoperfusão e disfunção orgânica e a hipotensão responsiva ou não a ressuscitação volêmica. Sua ocorrência está associada a alta mortalidade, estimada 34%, 47% e 52% , respectivamente, para sepse, sepse grave e choque séptico no Brasil. Infecções, particularmente por bacilos gram-negativos, ocorrem em cerca de 30%-50% dos pacientes hospitalizados por cirrose hepática descompensada. Sepse é a principal causa de morte neste grupo de pacientes. Os critérios atualmente empregados para definição de sepse, sepse grave e choque séptico de acordo com o Survival Sepsis Campaign Guidelines (SSCG) de 2008 estão descritos nas tabelas 2 e 3. A acurácia destes critérios para diagnóstico de sepse no hepatopata não foi estabelecida. No entanto, vale ressaltar que muitos dos parâmetros utilizados para definição de sepse, sepse grave e choque séptico não podem ser empregados indistintamente no paciente cirrótico, devido a ocorrência dos seguintes fatores no hepatopata: 1. Alterações basais na contagem de leucócitos devido ao hiperesplenismo 2. Alterações cronotrópicas do ritmo cardíaco inerentes seja a circulação hiperdinâmica do cirrótico (taquicardia) ou uso de betabloqueadores (bradicardia) a despeito da presença de resposta inflamatória 134 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed 3. Alterações de temperatura infreqüentes mesmo na presença de infecção 4. Ocorrência de aumento na freqüência respiratória e alteração do estado mental associados à encefalopatia hepática e não à SRIS 5. Alteração freqüente do controle glicêmico devido a aumento da resistência a insulina do cirrótico (hiperglicemia) ou redução das reservas de glicogênio e gliconeogênese hepáticas (hipoglicemia) 6. Presença de disfunção circulatória na cirrose avançada Child B e C levando a uma circulação hiperdinâmica (semelhante àquela observada na sepse), caracterizada por: aumento no fluxo sanguíneo esplâncnico e no volume plasmático com redução no volume circulatório efetivo, redução na resistência vascular periférica, aumento compensatório do índice cardíaco e redução na pressão arterial média 7. Ocorrência de hipoxemia secundária à síndrome hepatopulmonar (17% dos cirróticos no nosso meio) e de oliguria ou elevação de creatinina por síndrome hepatorenal na ausência de sepse 8. Coagulopatia com elevação do INR por déficit de síntese hepática de fatores de coagulação e plaquetopenia secundária ao hiperesplenismo 9. Hiperbilirrubinemia associada a insuficiência hepática basal 10. Elevação de lactato por déficit de depuração hepática As recomendações atuais do SSCG para manejo da sepse, sepse grave e choque séptico incluem medidas de: 1) ressuscitação inicial; 2) diagnóstico; 3) tratamento antibiótico; 4) identificação e controle do foco infeccioso; 5) suporte hemodinâmico e terapêutica adjuvante. Estas recomendações estão esquematizadas abaixo com observações sobre seu emprego no paciente cirrótico com sepse. Módulo IV ■ Capítulo 26 ■ Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico no Hepatopata Tabela 1: Critérios para Definição de Sepse Infecção documentada ou suspeita + um ou mais dos seguintes parâmetros Variáveis Gerais: Febre > 38.3°C ou hipotermia < 36°C FC > 90 bpm ou > 2 DP acima da faixa normal para idade Taquipnéia (FR > 20 ipm) Alteração do estado mental Edema significativo ou balanço hídrico positivo (> 20 mL/Kg nas 24 hrs) Hiperglicemia (glucose >140 mg/dL) na ausência de diabetes Variáveis inflamatórias Leucocitose (>12.000 cel/mm3) ou leucopenia ( < 4000 cel/mm3) Leucograma normal com desvio > 10% de formas jovens Proteína C reativa > 2 DP acima do valor normal Procalcitonina plasmática > 2 DP acima do valor normal Variáveis hemodinâmicas Hipotensão arterial (PAS < 90 mmHg; PAM < 70 mmHg; ou redução da PAS > 40 mmHg ou > 2 DP acima da faixa normal para idade Variáveis de disfunção orgânica Hipoxemia arterial (PaO2/FIO2 < 300) Oliguria (diurese < 0.5 mL/Kg/hr a despeito de ressuscitação volêmica) Aumento de creatinina > 0.5 mg/dL Coagulopatia (INR > 1.5 ou TTPA > 60 s) Íleo (RHA ausentes) Trombocitopenia < 100.000 Hiperbilirubinemia > 4 mg/dL Variáveis de perfusão Hiperlactatemia superior ao limite da normalidade Redução da perfusão capilar -Sepse Grave: sepse associada a hipoperfusão tecidual ou disfunção orgânica atribuída à infecção Hipotensão induzida por sepse Lactato > valores normais Oliguria (diurese < 0.5 mL/Kg/hr por 2 horas a despeito de ressuscitação volêmica) Lesão pulmonarar aguda: PaO2/FIO2 < 250 na ausência de pneumonia ou < 200 na presença de pneumonia Creatinina > 2.0 mg/dL Bilirubina > 2 mg/dL Contagem de plaquetas < 100.000 Coagulopatia com INR > 1,5 135 136 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed SEPSE, SEPSE GRAVE E CHOQUE SÉPTICO NO HEPATOPATA Ressuscitação inicial (SEPSE GRAVE): Imediata em pacientes com hipotensão ou lactato sérico elevado. Metas: PVC : 8-12 mm Hg / PAM : ≥ 65 mmHg, diurese : ≥ 0,5 mL/kg/hora / Saturação venosa central de oxigênio (SvcO2): ≥ 70% Se SvcO2 < 70%, considerar transfusão de hemácias e/ou dobutamina (dose máxima 20mcg/kg/min) Observações no cirrótico: • Tolerar PAM 60-65 mmHg (disfunção circulatória do cirrótico) na ausência de outros sinais de hipoperfusão periférica • Como o lactato sérico basal pode se encontrar elevado, não valorizar isoladamente seu valor absoluto, mas sua queda durante a ressuscitação inicial. • Devido a circulação hiperdinâmica, SvcO2 > 70% pode não ser indicativa de ressuscitação volêmica adequada Diagnóstico Colher duas ou mais hemoculturas antes de iniciar antibioticoterapia. Colher pelo menos uma amostra periférica e amostras de vias de acesso vascular que estejam implantados há mais de 48h. Conforme suspeita clínica, coletar amostras para culturas de outros locais: líquor, secreção respiratória, urina, lesões e outros fluidos corporais. Observações no cirrótico: realizar paracentese, se necessário guiada por ultrassonografia nas ascites pequenas não puncionáveis Antibioticoterapia Iniciar a antibioticoterapia até 1 hora do diagnóstico de sepse grave Iniciar uma ou mais drogas que sejam efetivas no controle dos prováveis agentes responsáveis pela infecção Reavaliar a antibioticoterapia 48-72h após o início do tratamento com o objetivo de diminuir o espectro antibiótico. Considerar associação de drogas em pacientes neutropênicos e com infecção por Pseudomonas. Interromper antibioticoterapia caso seja diagnosticada causa não infecciosa responsável pela resposta inflamatória. Observações no cirrótico: vide algoritmo infecções no cirrótico Controle do Foco Infeccioso Detectar o provável foco infeccioso e se possível realizar drenagem de abscesso ou desbridamento tecidual. Instituir as medidas para controle do foco infeccioso tão logo ele seja diagnosticado. Remover os acessos intravasculares que sejam potenciais fontes de infecção após disponibilizar um novo acesso. Módulo IV ■ Capítulo 26 ■ Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico no Hepatopata Terapia com Volume Usar cristalóides ou colóides Administrar de 500 a 1000 mL de cristalóides ou 300 a 500 de colóides em 30 minutos em pacientes com perfusão tecidual inadequada. Repetir caso PAM e o débito urinário não se elevem na ausência de siansi de sobrecarga de volume intravascular. Observações no cirrótico: • Maior propensão a congestão pulmonar devido a hipoalbuminemia • Expansão volêmica vigorosa pode precipitar recorrência de sangramento varicoso • Expansão com albumina quando comparada com amido se associou a melhora significante em parametros hemodinâmicos em pacientes com PBE • Expansão com albumina 1 g/kg até 100 mg/dia foi recomendada para manejo da disfunção renal no cirrótico pelo Clube Internacional de Ascite Vasopressores Iniciar os vasopressores por via central (dopamina/noradrenalina) caso a expansão com cristalóides ou colóides não otimize a perfusão tecidual e os níveis pressóricos Não empregar dose baixa de dopamina visando proteção renal Instalar PAM invasiva em todo paciente usando vasopressores Iniciar tatamento adjuvante com vasopressina caso o paciente permaneça com choque refratário a despeito da restauração da volemia e altas doses de vasopressores. Terapia Inotrópica Avaliar uso de dobutamina em pacientes com débito baixo apesar da ressuscitação volêmica Observações no cirrótico: taquicardia pode limitar uso de dobutamina no cirrótico Corticoterapia Em pacientes que necessitem de vasopressor em dose alta, a despeito da reposição volêmica adequada, deve-se iniciar hidrocortisona (200 a 300 mg/d). • - Diminuir a dose de corticóide caso o choque séptico seja revertido. • - Diminuir de forma escalonada a dose de corticoterapia no final da terapia. Observações no cirrótico: insuficiência adrenal relativa é observada em 51%69% dos cirróticos com sepse Proteína C Ativada Recombinante Humana Observações no cirrótico: contra-indicada pelo maior risco de sangramento, exceto em casos altamente selecionados. 137 138 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Administração de Hemoderivados- Transfundir concentrado de hemácias após resolução de hipoperfusão tecidual quando a hemoglobina estiver abaixo de 7g/dL e tenha como alvo 7 a 9 g/dL na ausência de doença arterial coronariana significativa ou sangramento- Não usar eritropoetina para anemia relacionada à sepse.- Não usar plasma fresco para corrigir distúrbio de coagulação a menos que exista sangramento ou previsão procedimento invasivo.- Não usar terapia com anti-trombina - Transfundir plaquetas como profilaxia de sangramento quando o nível de plaquetas estiver menor que 5.000/mm3.- Transfundir plaquetas quando o nível estiver entre 5.000 a 30.000 e exista risco de sangramento. Caso seja necessária cirurgia ou procedimento invasivo, manter asplaquetas acima de 50.000. Observações no cirrótico: vide algoritmo de coagulopatia Ventilação Mecânica em Pacientes com Lesão Pulmonar Aguda ou SARA induzida por Sepse Evitar associação de volumes correntes altos com pressão de platô elevada. Ter como objetivo reduzir o volume corrente até 6 mL/kg em 1 a 2 horas e manter a pressão de platô menor que 30 cmH2O.- Se necessário estabelecer hipercapnia permissiva Escolher um nível de PEEP que evite colapso pulmonar.- Escolher PEEP baseada na PaO2/FiO2 e guiada pela FiO2 necessária para manter oxigenação adequada ou escalonar as PEEP de acordo.- Previnir pneumonia associada à ventilação mecânica mantendo a cabeceira elevada a 45 graus. Usar protocolos de desmame e fazer teste de ventilação espontânea diariamente para avaliar a retirada da ventilação mecânica. As opções de teste para ventilação espontânea incluem baixo nível de pressão de suporte com PEEP de 5 cmH2O ou tubo T. Teste para ventilação espontanea quando o paciente estiver: colaborativo; com a hemodinâmica estável, sem vasopressores; sem nenhum novo evento grave; com parâmetros baixos de ventilação Considerar extubação se o teste for bem sucedido. Sedação, Analgesia e Bloqueio Neuromuscular em Sepse Usar protocolos de sedação para pacientes em ventilação mecânica. Escala de sedação objetiva deve ser usada como guia para sedação com alvo de sedação estabelecido Usar infusão intermitente ou contínua com interrupção diária que permita o despertar. Evitar bloqueadores neuromusculares se possível. Módulo IV ■ Capítulo 26 ■ Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico no Hepatopata Controle Glicêmico Manter a glicemia menor que 150 mg/dL após a estabilização inicial. Utilizar infusão contínua de glicose e insulina. Monitorar a glicemia cada 30 - 60 minutos até estabilização, então monitorar a cada 4 horas. Uso de Bicarbonato Em condições de hipoperfusão tecidual refletida por lactacidemia não está indicado o uso de bicarbonato com intuito de melhora de hemodinâmica ou redução de vasopressores, exceto em pacientes selecionados, com o pH menor que 7,15. Terapia de Substituição Renal Hemodiálise intermitente e hemofiltração veno-venosa contínua (CVVH) são consideradas equivalentes. Em pacientes com hemodinâmica instável , a CVVH permite manejo mais fácil do paciente. Observação no cirrótico: Dar preferência a banho com solução de bicarbonato vs. Lactato durante CVVH Profilaxia de Trombose Venosa Profunda (TVP) Usar heparina de alto ou baixo peso molecular. Usar meias de compressão ou método de compressão intermitente, quando heparina for contra-indicada. Em pacientes com alto risco de TVP utilizar a combinação de terapia com heparina e métodos mecânicos Observações no cirrótico: • Risco de TVP apesar de INR alargado (vide algoritmo de coagulopatia) • Preferir métodos mecânicos em pacientes com INR muito alargado Considerações sobre Limitação de Suporte Informação aos familiares. Esclarecer os prováveis prognósticos e objetivos do tratamento Observações no cirrótico: avaliação de limitação de suporte em pacientes com inelegibilidade para transplante de fígado Profilaxia de Lesão aguda de mucosa gástrica Considerar IBP ou bloqueador de receptor H2 Suporte nutricional: (vide algoritmo) 139 140 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Referências bibliográficas 1. Canabal JM, Kramer DJ. Management of sepsis in patients with liver failure. Curr Opinion Crit Care 2008; 14:189-197 2. Silva E, Pedro MA, Sogayar ACB et al. Brazilian Sepsis Epidemiological Study (BASES study) Critical Care 2004;8:R251-R260 3. Dellinger RP, Levy MM, Carlet JM, et al. Surviving Sepsis Campaign: international guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2008. Crit Care Med 2008;36(1):296-327. Insuficiência Renal Aguda no Cirrótico 27 Maria Alice Pires Soares Insuficiência renal aguda (IRA) é definida como alteração abrupta da função renal, caracterizada por aumento absoluto dos níveis séricos de creatinina (superior a 1,5 x o valor basal) ou redução do débito urinário a volume inferior a 0,5 ml/Kg/hora por mais de seis horas. Ela pode ser desencadeada no cirrótico por hipovolemia, secundária à hemorragia digestiva, desidratação ou uso intempestivo de diuréticos, necrose tubular aguda, por uso de drogas e agentes de contraste nefrotóxicas ou choque, doença parenquimatosa renal e síndrome hepatorrenal. As principais causas de IRA em cirróticos hospitalizados na Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia são: infecções (40%); hipovolemia (31%); insuficiência renal crônica agudizada (14%); síndrome hepatorrenal (SHR) tipo I (4%) e tipo II (8%). Outras causas de IRA no cirrótico são a nefrotoxidade por drogas: antibióticos e anti-inflamatórios não-hormonais e por de contrastes endovenosos. A freqüência de nefropatia renal parenquimatosa é largamente subestimada, uma vez vários estudos têm demonstrado presença de doença glomerular e/ou intersticila em até 85% dos cirróticos submetidos à biópsia renal. No cirrótico, o Clube Internacional de Ascite definiu arbitrariamente IRA como alteração da função renal caracterizada por níveis de creatinina superiores a 1,4 mg/dl. Baseados nesses critérios, observamos IRA em 49% dos pacientes admitidos na Unidade de Gastroenterologia e Hepatologia, associando-se significantemente a maior morbimortalidade. A SHR é uma insuficiência renal funcional, secundária à progressão da disfunção circulatória do cirrótico, sendo freqüentemente associada à ascite, hiponatremia e hipotensão arterial sistêmica. Os critérios para diagnóstico de SHR foram definidos pelo Clube Internacional 142 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed de Ascite, tendo sido recentemente revisados. Requerem exclusão de outras causas, tais como hipovolemia,, infecções com repercussão circulatória (choque) e uso de drogas nefrotóxicas. Tabela 1: Classificação da síndrome hepatorrenal TIPO I Duplicação do nível inicial de creatinina para valor > 2.5 mg/dL ou redução de 50% do ClCr inicial para valor < 20 ml/min em < 2 semanas TIPO 2 Alterações de creatinina sérica e Cl Cr inferiores aos observados no Tipo I Tabela 2: Critérios Diagnósticos de Síndrome Hepatorrenal Cirrose com ascite Creatinina >1.5mg/dl Ausência de choque Ausência de tratamento prévio com drogas nefrotóxicas Ausência de melhora da função renal (diminuição no nível sérico de creatinina para nivel igual ou menor 1.5mg/dl) após 2 dias da retirada dos diuréticos e expansão de volume plasmático (albumina 1 g/kg até máximo de 100 g/dia) Ausência de doença renal parenquimatosa (proteinúria > 500mg/24hs; microhematúria > 50 hemácias por campo e evidência ultrassonográfica de uropatia obstrutiva ou doença renal parenquimatosa) Módulo IV ■ Capítulo 27 ■ Insuficiência Renal Aguda no Cirrótico INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA NO CIRRÓTICO (Creatinina >1.4 mg/dl) Dieta Hipossódica para 2g de NaCl/dia Acesso periférico Expansão ao menos com SF 0,9% 1500 ml em 12 h (Considerar expansão com albumina 1 mg/kg até 100 mg/dia particularmente no paciente Child C ou com infecções bacterianas) Descontinuar uso de diuréticos ou quaisquer drogas nefrotóxicas ou vasodilatadores Investigar foco infeccioso: (PLA, UROCULTURA , Rx tórax de acordo com quadro clínico) Controle de peso e diurese Coleta de Na, K, U, Cr, HMG, SU, NaU, Cl de Creatinina, Proteinúria de 24 h Hipovolemia Observar e manter expansão volêmica Infecção Observar e tratar processo infeccioso Necrose Tubular aguda Observar e manter expansão volêmica de acordo com variáveis de pré-carga e perfusão Considerar diuréticos Critérios sugestivos de Síndrome Hepatorrenal Realizar US de rins e vias urinarias Checar resultado de proteinúria de 24 horas Confirmação de Síndrome Hepatorrenal Ausência de Melhora em 72 h Considerar uso de vasoconstrictores + albumina (idade, comorbidades, elegibilidade para transplante de fígado) Esquema de terlipressina + Albumina (duração máxima de tratamento 14 dias) (ECG diário; Acesso venoso central e SVD, Monitorização de PVC, Monitorização cardíaca e de PA não invasiva) Terlipressina 1 mg 4/4 h (aumentar dose a cada 3 dias com incrementos de 0,5 mg até dose máxima de 2 mg de 4/4 h se não houver decréscimo da creatinina de ao menos 25% dos níveis pré-tratamento) Interromper esquema de terlipressina na presença de eventos isquêmicos e suspender infusão quando creatinina < 1,5 mg/ml com redução gradual em 0-3 dias. Albumina 1g/kg/dia no D1; 40 g no D2-D3; 30 g no D4 e 20 g a a partir do D5 Se PVC > 18 mmHg interromper infusão Efeitos colaterais ou ausência de resposta Considerar TIPS (Classificação Child Pugh < 12 ) 143 144 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Referências bibliográficas 1. Kalil JR; Cerqueira LA, Silva DB, Motta MP, Nery MS, Bittencourt PL. Poor outcomes with treatment of hepatorenal failure type i with splancnic vasoconstrictors and albumin: report of seven cases and review of the literature. Arq Gastroenterol 2008 (no prelo) 2. Bittencourt PL; Couto CA; Farias AQ. Cirrose Hepática. In Cerri GG; de Castilho EA; Carrilho FJ; Martins MA; Alves VAF (eds). Clínica Médica – HCFMUSP. Editora Manole, São Paulo, 2007 (no prelo) 3. Cárdenas A. Hepatorenal. Syndrome. Clin Liver Dis 2006; 10: 371-385 4. Salerno F, Gerbes A, Ginès P, Wong F, Arroyo V. Diagnosis, prevention and treatment of hepatorenal syndrome in cirrhosis. Gut. 2007;56:1310-8. Coagulopatia no Hepatopata 28 Sylvania Campos Pinho Eron Santana Ana Carla Franco Coagulopatia pode ser arbitrariamente definida como diátese hemorrágica causada por distúrbios quantitativos ou qualitativos nos fatores relacionados à manutenção da hemostasia: endotélio vascular; plaquetas; fatores de coagulação e sistema fibrinolítico. Pode ser hereditária ou adquirida (Tabela 1). No cirrótico, várias alterações na hemostasia podem ser observadas podendo ocasionar coagulopatias ou menos frequentemente a fenômenos tromboembólicos, devido aos seguintes distúrbios: 1. Déficit na produção hepática de fatores prócoagulantes (fatores I, II, V, VII, VIII, IX, X, XI e XIII) e anticoagulantes (antitrombina III, proteína C e S) 2. Disfunção endotelial pela circulação hiperdinâmica associada a hipertensão portal, agravada frequentemente por insuficiência renal coexistente 3. Trombocitopenia (seqüestração esplênica; deficiência de trombopoietina; anticorpos antiplaquetas; alcoolismo) ou alteração da função plaquetária (interferência pela presença de produtos de degradação de fibrina; distúrbios no metabolismo lipídico com alterações nas membranas plaquetárias, uremia) 4. Distúrbios superimpostos (infecção / doença hepática avançada) ■■ coagulação vascular disseminada ■■ hiperfibrinólise ■■ disfibrinogenemia ■■ deficiência de vitamina K induzida por dieta, antibióticos ou colestase ■■ efeito heparinóide (infecção) 146 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Vários testes podem ser empregados para avaliação da hemostasia. Os principais exames convencionais usados para monitorizar a coagulação, incluindo tempo de protombina (TP) com INR, contagem de plaquetas e tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) tem limitações para avaliação dos distúrbios de coagulação no cirrótico e não tem potencial para predizer maior risco de sangramento associado à procedimentos invasivos. No cirrótico, o TP se correlaciona com déficit de fatores prócoagulantes, mas é incapaz de avaliar as alterações no sistema anticoagulante. Além disto, não foi padronizado para uso em pacientes com cirrose hepática e apresenta grande variabilidade interlaboratorial. Hepatopatas com INR alargado não necessariamente tem maior risco de sangramento e podem inclusive apresentar manifestações tromboembólicas. Avaliação da coagulação por ensaios de geração de trombina não correlacionou no cirrótico INR com alteração da coagulação. Níveis de plaquetas inferiores a 60.000, por outro lado, se associaram a a menor geração de trombina, demonstrando relação potencial de plaquetopenia com maior risco de sangramento no cirrótico. Os agentes disponíveis para tratamento da coagulopatia no cirrótico são: Vitamina K; Sangue e hemoderivados (plasma fresco congelado e crioprecipitado); Fator VIIa recombinante (rFVIIa); Conjugado de complexo protombínico; antifibrinolíticos: ácido épsilonaminocapróico; ácido tranexâmico e aprotinina e Desmopressina. O uso de plasma raramente se associa a normalização do INR no cirrótico e pode desencadear sobrecarga de volume associada a transfusão (TRACO) ou lesão pulmonar associada a transfusão (TRALI) (Tabela 3) A maioria dos outros agentes não foi adequadamente investigada no cirrótico. Uso profilático do rFVIIa não se associou a menor risco de ressangramento e de mortalidade em cirróticos com hemorragia varicosa ou a menor requerimento de hemoderivados durante o transplante de fígado. Fenômenos tromboembólicos podem ocorrer com uso de rFVIIa, havendo risco maior com uso do conjugado de complexo protombínico, particularmente quando empregado no cirrótico sem administração prévia de antitrombina III. Módulo IV ■ Capítulo 28 ■ Coagulopatia no Hepatopata Tabela 1: Causas de Coagulopatia 1) Déficit quantitativo ou qualitativo da função plaquetária: hipoplasia de células hematopoieticas: anemia aplastica, lesão medular por drogas, radioterapia, álcool e infecções infiltração da medula óssea por neoplasias: leucemias; tumores metastaticos (prostata, mama, linfoma) trombocitopoese ineficiente (número normal ou aumentado de megacariocitos): deficiencia de folato ou vitamina b12, síndromes mielodisplásicas aumento na destruição de plaquetas por mecanismos imunológicos (púrpura trombocitopenica idiopática; drogas: quinidina, heparina, sulfonamidas) e mecanismos nãoimunológicos (coagulação intravascular disseminada, púrpura trombocitopenica trombótica) disordens de distribuição: hiperesplenismo mecanismos dilucionais: transfusão 2) Anormalidades dos fatores da coagulação 2.1 Coagulopatias hereditárias hipofrinogenemia, afibrinogenemia ou disfibrinogenemia deficiência de fator II ou protrombina, ou hipoprotrombinemia deficiência de fator V ou proacelerina deficiência de fator VII ou proconvertina deficiência de fator VIII ou hemofilia a deficiência do fator IX ou hemofilia b deficiência do fator X ou fator StuartPower deficiência do fator XI, antecedente tromboplástico do plasma ou PTA deficiência do fator XII, fator Hageman ou fator contato deficiência do fator estabilizador da fibrina ou fator XIII deficiência da precalicreína ou fator Fletcher deficiência do cininogênio de alto peso molecular deficiência da α2antiplasmina deficiência combinadas dos fatores V e VIII ou dos fatores VII e X doença de Von Willebrandt 2.2) Coagulopatias adquiridas deficiências de múltiplos fatores da hemostasia destruição e consumo acelerado de fatores da coagulação deficiência por diminuição na produção hepática presença de inibidores patológicos da coagulação (antitrombina, antifator VII, IX, X, XIII e anticoagulante lúpico 3. Alterações endoteliais 3.1) Congênitas (teleangectasia hemorrágica hereditária, hemangiomas cavernosos, doenças do tecido conjuntivo, síndrome de ehlersdanlos, osteogenesis imperfecta, pseudoxanthoma elasticum) 3.2) Adquiridas (escorbuto, crioglobulinemia, hiperglobulinemia benigna, macroglobulinemia de waldenstrom, mieloma múltiplo, purpura de henochschonlein; síndrome de cushing, uso de corticóides) 4. associações 147 148 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Tabela 2: Avaliação Laboratorial da Coagulação Tempo de protombina INR Tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPA) Contagem de plaquetas Tempo de sangramento Teste de agregação plaquetária Tromboelastograma Teste de geração de trombina Níveis dos fatores Fibrinogênio Fator V Fator VII Fator VIII Marcadores de fibrinólise Ddímero Produtos de degradação de fibrina Teste de lise de coágulo Teste de lise de euglobina Tabela 3: Critérios para definição de sobrecarga de volume associada a transfusão (TRACO) ou lesão pulmonar associada a transfusão (TRALI) TRALI TRACO Início de Sintomas em 6 horas póstransfusão Início de Sintomas em 6 horas póstransfusão Hipoxemia aguda com gradiente alveoloarterial de O2 > 300 ou Saturação em ar ambiente < 90% Hipoxemia aguda com gradiente alveoloarterial de O2 > 300 ou Saturação em ar ambiente < 90% Infiltrados bilaterais Infiltrados bilaterais PVC ou PCP normais ou baixas Um ou mais dos seguintes critérios: PCP > 18 mmHg Peptídeo atrial natriurético (BNP) > 250 ou relação pré/póstransfusão do BNP > 1,5 Ausência de melhora rápida com diuréticos Ausência de lesão pulmonar prévia Fração de Ejeção do VE < 45% ou PAS > 160 mmHg Módulo IV ■ Capítulo 28 ■ Coagulopatia no Hepatopata Coagulopatia No Cirrótico Definição: INR > 1,5 e/ou plaquetopenia inferior a 50.000-60.000 Prevenção de sangramento associado à procedimentos invasivos: Paracentese: Não é necessária avaliação laboratorial ou correção de coagulopatia antes do procedimento (vide algoritmo de ascite Passagem de cateter venoso central: Não é necessária avaliação laboratorial ou correção de coagulopatia antes do procedimento Toracocentese: Avaliação laboratorial prévia e adminstração de plaquetas caso contagem seja inferiro a 50.000-60.000 Biópsia Hepática: Avaliação laboratorial prévia e adminstração de plaquetas caso contagem seja inferiro a 50.000-60.000. Na presença de INR alargado, optar por biópsia laparoscópica ou transjugular Sangramento Avaliação laboratorial com TP, TTPA, contagem de plaquetas Sangramento varicoso: Não é necessária correção da coagulopatia (sangramento associado à magnitude da hipertensão portal Sangramento dentário / superfícies mucosas / sítios de inserção de catéteres (SD de hiperfibrinólise / CIVD) Sangramento superficial ou profundo de grande magnitude -Uso de tromboelastograma (se disponível) Avaliação laboratorial adicional: D-dímero / produtos de degradação de fibrina Na suspeita de hiperfibrinólise avaliar ácido tranexamico (500-1000 mg IV de 8/8 horas ou ácido epsilon-aminocapróico 4 g em 1 hora seguido de 1-2 g de 6-8/5-8 horas Na presença de plaquetopenia < 50.000, transfundir plaquetas Na presença de fibrinogênio < 100, transfundir crioprecipitado Na presença de suspeita de deficit de fatores de coagulação: avaliar uso de plasma (atentar para risco de TRACO e TRALI) e avaliar uso de plasma ou rFVIIa (se disponível) ou conjugado de complexo protombínico precedido por infusão de anti-trombina III após dosagem 149 150 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Referências Bibliográficas 1. 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Sua freqüência é aumentada no cirrótico devido à ocorrência de ascite e perda de massa muscular e no caso de hérnia umbilical, por recanalização da veia umbilical associada à hipertensão portal. No cirrótico, particularmente naqueles com ascite tensa ou refratária, observa-se maior freqüência de complicações das HPA, incluindo encarceramento, estrangulamento, ulceração da pele sobrejacente à hérnia com conseqüente vazamento de líquido ascítico e peritonite bacteriana secundária. As complicações das HPA no cirrótico são graves e se associam alto risco de mortalidade. Por outro lado, correção eletiva das HPA também tem sido associada a maior morbi-mortalidade, dificultando o manejo do paciente cirrótico com HPA. Na ausência de controle da ascite, observa-se maior freqüência de complicações, assim como também de recorrência da ascite após correção cirúrgica das HPA no cirrótico. 152 Manual de Cuidados Intensivos em Gastroenterologia e Hepatologia ■ Nycomed Hérnias De Parede Abdominal Hérnia umbilical Tratamento da ascite (vide algoritmo de ascite) Avaliação precoce de elegibilidade para TIPS na presença de ascite refratária Cuidados locais para evitar escarificação /adelgaçamento de pele Atentar para possibilidade de encarceramento pós-paracentese terapêutica ou TIPS Baixo risco de complicações: Hérnias pequenas/ assintomáticas Ascite controlada Complicações: encarceramento /rotura Alto risco de complicações: Hérnias volumosas / sintomáticas Escarificação ou Adelgaçamento de pele sobrejacente Conduta conservadora Correção cirúrgica no momento do transplante hepático Controle pré e pós- operatório da ascite (Reavaliar indicação de TIPS) Cirurgia aberta com emprego de tela Hérnia Inguinal Tratamento da ascite (vide algoritmo de ascite) Avaliação de elegibilidade para TIPS na presença de ascite refratária Cuidados locais para evitar escarificação /adelgaçamento de pele Atentar para possibilidade de encarceramento pós-paracentese terapêutica ou TIPS Baixo risco de complicações Conduta conservadora Correção cirúrgica no momento do transplante hepático Avaliar risco-benefíco de correção cirúrgica em pacientes com hérnias volumosas, sintomáticos e fora de lista de transplante Optar por cirurgia aberta com colocação de tela associada a controle pré e pósoperatório da ascit Módulo IV ■ Capítulo 29 ■ Hérnias de Parede Abdominal no Cirrótico Referências bibliográficas 1. 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