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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO ETNOGRAFIA VIRTUAL: UMA TENDÊNCIA PARA PESQUISA EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E DE PRÁTICA Daniel Ferraz Denise Pelegrinelli Ecivaldo de Souza Matos Julio Cesar Mansur Haddad Marta Terezinha Motta Campos Martins Raquel La Corte dos Santos Renata Prieto Faria Ricardo Medeiros Tatiana Visnevski Mendes São Paulo Jullho de 2009 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... 4 RESUMO ........................................................................................................................................ 5 1 – INTRODUÇÃO: NASCE UMA NOVA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM E DE PRÁTICA ............................................................................................ 6 2 - DO PENSAMENTO MODERNO/POSITIVISTA À PÓSMODERNIDADE: EDUCAÇÃO, NOVAS TECNOLOGIAS, NOVAS EPISTEMOLOGIAS E AS REDES SOCIAIS VIRTUAIS ...................................................... 11 2.1 - AS ESPISTEMOLOGIAS MODERNA E PÓS-MODERNA ....................................................... 11 2.2 – VIVENDO EM REDE ................................................................................................. 17 2.3 – A SOCIEDADE LÍQUIDA, EFÊMERA, FLUIDA..................................................... 21 2.4 – POR UM NOVO CONCEITO DE COMUNIDADE: REDES SOCIAIS, COMUNIDADES PESSOAIS E INTELIGÊNCIA COLETIVA ........................................ 27 2.5 – REDES DE GUERRA E GUERRAS EM REDE NO CIBERESPAÇO ...................... 31 3 - METODOLOGIA DE PESQUISA: MÉTODOS ETNOGRÁFICOS PARA A PESQUISA EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E DE PRÁTICA ...................................................................................................................................... 35 3.1 – DAS METODOLOGIAS .................................................................................................... 35 3.2 – ETNOGRAFIA TRADICIONAL: DAS BASES À ATUALIDADE .............................................. 37 3.3 - ETNOGRAFIA VIRTUAL: INVESTIGANDO NO CIBERESPAÇO ............................................ 41 CAPÍTULO 4 – MAPEAMENTO DOS PROJETOS MUNDIAIS E TENDÊNCIAS SOBRE A ETNOGRAFIA VIRTUAL: ESCOLA DO FUTURO E PPGCOM (BRASIL), VKS (HOLANDA), THE VIRTUAL ETHNOGRAPHY (REINO UNIDO) E DIGITAL ETHNOGRAPHY (ESTADOS UNIDOS) .................................................................................................................. 45 4.1 MANIFESTO DIGITAL ................................................................................................ 45 4.2 PROJETOS MUNDIAIS E A ETNOGRAFIA VIRTUAL/DIGITAL ........................... 50 4.3 A ETNOGRAFIA VIRTUAL E OS PROJETOS DA ESCOLA DO FUTURO (LINTEE E PPGCOM - USP) ............................................................................................... 55 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 60 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 65 APÊNDICE: MAKING-OF .......................................................................................................... 69 2 “O importante não são as respostas a que se chegam, mas sim as perguntas que se fazem.” Jostein Gaarder (adaptado) 3 AGRADECIMENTOS Nossos sinceros agradecimentos à nossa professora Dra. Brasilina Passarelli por ter nos concedido oportunidade desta experiência tão enriquecedora: compartilhar espaços, conhecimentos, tempo, sonhos, risos e, especialmente, elaborar este texto coletivo. Agradecemos também à Profa. Dra. Anamelea de Campos Pinto pela sua gentileza e disponibilidade, vindo das Alagoas para nos ajudar, oferecendo seu tempo e sua atenção para as nossas inquietações. E, por fim, não poderíamos deixar de agradecer àquela pessoa que sempre esteve presente. No começo parecia que iria apoiar a professora, mas logo percebemos que ela estava ali de corpo e alma para nos ajudar, sempre prontamente e com a sua simpatia encatadora. Muito obrigado Cacau (Claudia Pontes Freire), a nossa fada madrinha. Os autores. 4 RESUMO Este texto é resultado de um esforço cognitivo coletivo, tendo como objeto de investigação o mapeamento de trabalhos que fazem uso do método etnográfico em ambientes virtuais de aprendizagem – Etnografia Virtual. Nosso olhar focalizou os trabalhos desenvolvidos no Programa de Pós-graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo orientados pela profa. Dra. Brasilina Passarelli, além de outros trabalhos, em diferentes países, que fazem uso consciente ou inconsciente de uma “etnografia virtual”. Observamos ao longo do trabalho os recursos utilizados por quem faz uso do método etnográfico em pesquisas sobre ambientes de aprendizagem e de prática e/ou em comunidades virtuais. Em princípio, revisitamos a epistemologia moderna e assinalamos sua influência na prática da sala de aula. Em seguida, comparamos com a epistemologia pósmoderna e refletimos sobre os novos paradigmas que esta anuncia. Realizamos, por fim, uma revisão da literatura e dos trabalhos ora assinalados, observando as contribuições para o estudo do ciberespaço, dos dispositivos e das ferramentas de aprendizagem que esse novo ambiente convoca. 5 1 – INTRODUÇÃO: NASCE UMA NOVA COMUNIDADE DE APRENDIZAGEM E DE PRÁTICA Each of us is part of a large cluster, the worldwide social net, from which no one is left out. We do not know everybody on this globe, but it is guaranteed there is a path between any two of us in this web of people (BARABASI, 2003, p. 18). Sempre que iniciamos uma nova disciplina, procuramos saber de que maneira essa disciplina irá contribuir com a nossa pesquisa. Cremos que a disciplina, carinhosamente intitulada CCVAP – Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática1, tornou-se uma daquelas disciplinas fundamentais para quaisquer alunos que pesquisam não somente os ambientes de comunidades virtuais, mas também a todos aqueles que buscam entender o papel das novas tecnologias na educação – segundo um olhar novo, que quebra paradigmas e faz refletir, na prática, sobre seus próprios processos de aprendizagem. Isso porque, além de questionar certos paradigmas arraigados em nosso entendimento de educação, ela apresenta outras possibilidades, como: entender questões anteriores como as relacionadas à metodologia; compreender a educação inserida na modernidade (textual, tipográfica) e na pós-modernidade (multimodal, digital, virtual); 1 Portal CCVAP: http://ccvap.futuro.usp.br 6 entender os contextos atuais nos quais os usos das tecnologias são tidos como extensões humanas (Understading Media, McLuhan 1964; A Pele da Cultura, de Kerckhove 1997); entender novos conceitos de comunidades reais e/ou virtuais e como construções de conhecimento se dão nesses contextos. Os comentários iniciais nos corredores, durante os intervalos ou nas discussões promovidas a cada final de aula, eram inevitáveis: “– Será que conseguiremos construir um texto coletivamente com tantas pessoas?”, “– Como lidar com uma metodologia até então nova para todos os alunos de pósgraduação ali presentes?, “ – [essa disciplina] mudou minha maneira de pensar a prática pedagógica”, “ – [essa disciplina] mudou minha maneira de pensar as comunidades nas quais sou agente”, “ – Estou em crise, tenho que colaborar... e ser ajudado!”. Essas eram algumas inquietações do grupo que participou dessa disciplina. Certamente, ela abalou os sistemas de pensamento de muitos de nós e serviu como reflexão sobre as epistemologias vigentes, ou seja, sobre as construções de conhecimento nas quais estávamos embasados e “formados”, também, para muitos participantes do grupo que são educadores e formadores de professores, a disciplina provocou a reflexão sobre suas práticas pedagógicas. Entendemos como nossa forma a forma positivista neoliberal moderna de pensar, ver e se relacionar com o mundo influencia nossas atitudes em sala de aula (como alunos, e, para os professores do grupo, como educadores), nossas pesquisas e nossos comportamentos como agentes sociais. Quando entendemos o porquê dessas construções, como frisou a professora Brasillina em suas aulas, adquirimos maior agência e, portanto, maior responsabilidade sobre os processos sociais, sobre as relações de poder e um maior entendimento sobre uma educação tradicional (em pleno século XXI?) que necessita ser revisitada, re-visionada e reprogramada. Dessa forma, explanaremos, nessa introdução, nossos processos de construções do conhecimento coletivo nas aulas da disciplina CCVAP. Trata-se de uma turma bastante heterogênea, formada de professores universitáriospesquisadores nas áreas de comunicação, línguas inglesa, francesa e 7 espanhola, alunos-pesquisadores de comunicação social, jornalistas, jornalistas da área de educação internacional, da área da ciência da computação, educação (formação de professores), uns doutorandos, outros mestres, alguns pleiteando vaga para mestrado. Os nossos macro-objetivos foram: 1. construção do texto coletivo com a participação de todos os alunos da disciplina CCVAP 2009 (proposta da disciplina e da professora) e 2. utilizarmos os conhecimentos construídos/debatidos em pesquisas de mestrado e doutorado em andamento ou a serem desenvolvidas proximamente. Nossas etapas de pré-concepçao do texto foram: assimilação, discussão, trocas e produção de conhecimento individual e coletiva a partir das aulas, palestras (neste período letivo – 2009.1, tivemos o privilégio de participar da palestra da Prof. Dra. Anamelea de Campos Pinto (UFAL2) sobre o Sistema UAB – Universidade Aberta do Brasil) e do sítio eletrônico da disciplina; estudo dos textos coletivos das turmas CCVAP de 2001 até 2008. Para isso, nos dividimos em subgrupos, cada subgrupo postou no blog coletivo da turma3 um resumo dos trabalhos desenvolvidos nesse período; aprofundamento dos conhecimentos sobre o quadro teórico fundamental para entendimento das questões tais como as TIC, redes sociais, comunidades virtuais, comunidades de aprendizagem, teorias de aprendizagem, múltiplas inteligências e os novos paradigmas da educação. 2 Universidade Federal de Alagoas 3 http://ccvap.futuro.usp.br/blog/~2009 8 Para a realização da disciplina CCVAP, cercamo-nos de recursos disponibilizados pela professora Brasilina, bem como por outros recursos trazidos por nós à turma, a citar: aulas presenciais (aulas e aulas externas de discussão) e a distância (encontros virtuais usando Skype®, MSN®, Googlegroups®); compartilhamento de informações e relatórios no Portal CCVAP. Neste portal estão disponoibilizados o conteúdo da disciplina, as aulas presenciais e as referências bibliográficas, dentre outras coisas; desenvolvimento, inicialmente, de blogs individuais, reservados a cada um dos alunos da disciplina. Posteriormente, optamos pelo BLOG de todos, passamos, portanto, a postar nossas atividades cotidianas em um só blog; preparação e disponibilização de relatorias das aulas, ou seja, um diário das atividades mais relevantes realizadas durante os encontros e aulas presenciais. Para esta tarefa, nós elaboramos uma escala em que nos revezávamos no registrarar e disponibilização desse artefato; disponibilização, no Portal do CCVAP, o nosso making-of. Para essa atividade, optamos por registros visuais, escritos e gravações de aúdio (fotos e vídeo em anexo – CD). No capítulo a seguir, apresentamos um panorama das teorias que embasam as discussões e análises. Neste, enfatizamos a importância da conexão de áreas muitas vezes consideradas distantes e não-interconectáveis. Nossos estudos nos levaram a percorrer os caminhos da tecnologia de Pierre Levy e Manuel Castells; da virtualidade de O‟Gorman; das comunidades e redes sociais de Rheingold, Barabasi, Rogério da Costa e Brasilina Passarelli; da educação de Paulo Freire, Saviani; da etnografia tradicional propostas por Geetz; da etnografia virtual teorizadas recentemente por Christine Hine e estudos de linguagem e da sociedade defendidos em Latour, McLuhan e de Kerchhove. 9 No capítulo seguinte, apresentaremos uma análise mais aprofundada dos temas que nos interessa analisar: as redes sociais e as comunidades virtuais de aprendizagem e de prática. Uma das metodologias possíveis para análise dessas comunidades é a etnografia virtual. Esta metodologia será o foco da nossa terceira etapa, havendo uma breve introdução sobre a etnografia tradicional e um posterior estudo sobre a possibilidade de estender/transportar essa metodologia para ambientes virtuais, tal como vem sendo realizado por pesquisas de mestrado do programa PPGCOM e pelos projetos gerados na Escola do Futuro (www.futuro.usp.br). No último capítulo, realizamos uma análise em que as duas pesquisas de mestrado realizadas sobre o assunto e entrevistas concedidas pela orientadora e pelos pesquisadores formam nossos dados de análise e interpretação. Finalmente, uma análise da nossa própria pesquisa se faz necessária. Nas conclusões, apontamos para algumas possibilidades de uso da etnografia virtual em pesquisas sobre comunidades de prática em níveis de mestrado e de doutorado. Observação importante: retiramos definição da disciplina do texto coletivo de nossos colegas da turma de 2007e fizemos nossas atualizações: Essa é uma disciplina mantida pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP, desde 2001, coordenada pela Professora Doutora Brasilina Passarelli. O principal objetivo da disciplina é fazer com que os alunos, em curso, estudem aspectos relativos às comunidades virtuais, utilizem 14 ferramentas tecnológicas existentes nas comunidades virtuais e, por fim, desenvolvam um texto coletivo relativo ao que estudaram e às suas experiências vivenciadas durante o curso. Por se tratar de uma disciplina realizada no âmbito da pós-graduação da ECA, é esperado que cada grupo, turma que freqüentou a disciplina em um determinado ano, tenha realizado um trabalho científico referente ao tema estudado. Assim, para cada ano em que a disciplina foi realizada, existe um trabalho científico desenvolvido, de forma coletiva, pela turma que realizou a disciplina. O servidor (computador) da Escola do Futuro, projeto vinculado à ECA, mantém os trabalhos científicos desenvolvidos durante o período 2001 a 2008. 10 2 - DO PENSAMENTO MODERNO/POSITIVISTA À PÓS- MODERNIDADE: EDUCAÇÃO, NOVAS TECNOLOGIAS, NOVAS EPISTEMOLOGIAS E AS REDES SOCIAIS VIRTUAIS 2.1 - As espistemologias moderna e pós-moderna >>>>>> Para nós, modernos, desvelar era tarefa sagrada. Revelar sob as falsas consciências os verdadeiros cálculos ou sob os falsos cálculos os verdadeiros interesses. (...) Será nossa culpa se as redes são ao mesmo tempo reais como a natureza, narradas como discurso, coletivas como a sociedade? Será que devemos segui-las abandonando os recursos da critica, ou abandona-las posicionando-nos junto ao senso comum da tripartição critica? Nossas pobres redes são como os curdos anexados pelos Iranianos, iraquianos e turcos que, uma vez caída a noite, atravessam as fronteiras, casam-se entre eles e sonham com uma pátria a ser extraída dos três países que os desmembram. (LATOUR, 2008, p.12 ). A primeira parte deste texto busca entender a epistemologia na sociedade moderna. A partir de questões filosóficas tais como o entendimento do positivismo, liberalismo e dialética, veremos como o nosso modo de pensar é influenciado por esses sistemas filosóficos. Ao iniciar os estudos sobre o positivismo, o liberalismo e a dialética questionamos a razão pela qual estaríamos aprofundando conhecimentos nessas áreas. Qual seria a relação com as pesquisas sobre o virtual, com as comunidades e com a educação? Parece-nos, à primeira vista, que esses estudos não teriam conexão com as nossas pesquisas e, portanto, não seriam relevantes. Entretanto, tratam-se de 11 questões fundamentais para entendermos nossos processos de construção de conhecimentos (modernos). Entender esses estudos utilizando a metáfora da árvore representada por raízes, tronco, galhos e folhas proporcionaria, inicialmente, uma relação entre a filosofia e a educação. A metáfora mostra que o positivismo, o liberalismo e a dialética formam as raízes da “árvore da sociedade moderna”, ou seja, são fundamentais para compreendermos o mundo moderno no qual estamos inseridos e somos agentes. No âmbito educacional, veremos que o entendimento dessas raízes é essencial, pois delas originam muitas de nossas teorias sobre o ensinar e nossas atitudes em sala de aula. Muito do que se discute sobre a educação, entretanto, refere-se às metodologias e técnicas de ensino, ou seja, ao tronco, galhos e folhas. Nós, professores e pesquisadores, muitas vezes, ainda não enxergamos as raízes do processo educacional e mantemos o papel de reprodutores de conhecimento (à luz das teorias do reprodutivismo de Bourdieu). Segundo Giroux (1997), os professores (e profissionais modernos) são reduzidos ao papel de técnicos obedientes, executando os preceitos do programa curricular. Portanto, somos meros técnicos reprodutores e dificilmente chegamos à discussão sobre os processos mentais gerados pelos sistemas positivistas e neoliberais que influenciam nossa educação. Do mesmo modo, negligenciamos um estudo mais aprofundado sobre a dialética (o diálogo que, ao nosso ver, é elemento essencial à formação e manutenção das comunidades de prática). Quais seriam esses modos de pensar gerados pelo positivismo, liberalismo e dialética? O positivismo, criado por Auguste Comte no início do séc. XIX, é a base filosófica do pensamento da sociedade moderna e refere-se ao período logo após a Idade Média européia. A quebra do monopólio da Igreja Católica e a inicial formação do capitalismo deram condições à transição Idade Média – Era Moderna. O homem passa a ter novos modos de produção, relações comerciais e novas concepções religiosas. Antes teocêntrico e governado pelos ideais cristãos tendo Deus como o centro do universo, agora o homem passa a olhar para si. Todas essas transformações influenciaram o modo de pensar. O saber filosófico adquire novo formato: não é mais a metafísica que explica os fenômenos sociais, mas o racionalismo (a razão humana), o 12 positivismo (o estado positivo de anular / eliminar o negativo) e o empirismo. Com eles, cria-se o conceito de ciência com seu mito de objetividade e veracidade. Há diversas perspectivas pelas quais o positivismo pode ser visto: “1) como religião – a religião da humanidade 2) como filosofia ou corrente filosófica- conhecimento – epistemologia e 3) como método – o método positivista, a busca da verdade através do empirismo e do cientificismo” (Cf. Ribeira Junior, 1982, p.14). O positivismo está arraigado na sociedade moderna. A educação é um exemplo da força desse pensamento. O que se tem feito nas aulas de geografia, história, química, ciência e mesmo as aulas de tecnologia e informática nas quais o professor foca no uso mecânico e funcional da tecnologia? O que se tem feito além do estabelecimento de regras e fórmulas e memorização de datas descontextualizadas? O que se tem feito na universidade além de reprodução de conceitos de forma hierarquizada, ou seja, o professor, detentor da verdade, dita as regras aos “alunos receptáculos”? Nesse sentido, caberia, de início, questionarmos, como feito por Derrida, Bourdieu e por essa disciplina que cursamos, se a maioria dos cursos de pós-graduação não seguem, à risca, esse modelo de educação onde o papel do professor é o de técnico que repete conceitos já estabelecidos e tidos como “a verdade”. Zeichner (2001), em palestra apresentada na Universidade de Londrina – Paraná, fala do processo de reforma educacional: It has not been common for educational planners, developers, and government officials to view teachers as significant agents in the educational reform process. On the contrary, the dominant approach has been to train teachers to be efficient implementers of policies developed by others removed from the classroom. In many educational reform projects throughout the world, the goal is to have unreflective and obedient teacher civil servants who faithfully implement a prescribed state curriculum using prescribed teaching methods(2001, p.4). Segundo o autor, busca-se eficiência na atuação dos professores, falase no aprendizado completo de uma língua e implementa-se métodos para a garantia desse aprendizado. Zeichner cita exemplos de locais no mundo onde essa reforma está sendo proposta: Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, 13 África do Sul e Reino Unido. Apesar de não citar o Brasil, ele poderia tê-lo feito já que o nosso sistema educacional também prima pelos “unreflective and obedient teacher civil servants”. Nosso país que não chegou a conhecer nenhum outro modelo filosófico ou educacional que não o positivismo (Monte Mór, 1991;1999). O positivismo reforça e mantém as relações de poder na medida em que, independentemente da esfera social, diz o que é certo e o que é errado e qual é a verdade que prevalece: a do mais forte. Outro conceito importante que diz respeito às raízes da árvore que estamos procurando entender é o neoliberalismo. O liberalismo, base para o neoliberalismo, surgiu após a época medieval, contrapondo-se aos princípios de dominação da Igreja e dos feudos. Ele pode, assim como o positivismo, ser visto sob algumas perspectivas: como concepção do mundo ou filosofia centrada no indivíduo; como teoria política que se preocupa com as origens e a natureza do poder; como teoria econômica organizada sobre as leis do mercado e que fundamenta as relações da produção capitalista (Biachetti,1996, p.44). Seu papel fundamental é, entretanto, fundamentar o capitalismo. Mesmo como uma filosofia, o liberalismo tem como premissa o indivíduo que maximiza suas ações para o coletivo. Essa mentalidade é uma maneira de justificar o capitalismo, pois, se meus interesses (conquistas, posses, vendas) servem para o bem estar coletivo (meu individual é maximizado) posso adquirir sem culpa cada vez mais: estou fazendo para o bem de todos. O liberalismo tem sua queda no início do século XX com o surgimento e fortificação do fascismo italiano e alemão. O neoliberalismo é a “nova fase” do liberalismo e surge como ideologia baseada nas leis e mercado e na liberdade do indivíduo. Este é um movimento político-econômico particular, heterogêneo consolidado nos países capitalistas desenvolvidos, em meados da década de 70 cuja proposta econômica significa o retorno aos princípios ortodoxos do liberalismo como a única alternativa à superação da crise pela qual passam essas sociedades (Bianchetti, ibid). Ele tem como função fundamentar a fase mais recente do capitalismo onde as desigualdades econômicas e sociais são ainda mais evidentes. Dessa forma, todos são livres, porém uns são mais livres do que os outros, ou seja, apenas aqueles que têm acesso a educação, cultura e bens vão usufruir dessa 14 suposta liberdade. Como é vista e educação segundo a concepção (neo) liberal? As propostas neoliberais para a educação estão atreladas ao mercado e à produção. Veremos que, se o capitalismo é a lei do mercado e o liberalismo o fundamenta, a educação sofrerá influencia marcante desse discurso. Ainda no entendimento de Biachetti (ibid), a lógica do mercado na educação supõe uma relação entre a oferta do serviço educativo e a demanda da sociedade. A ação do Estado se reduz a garantir uma educação básica geral, liberando os outros níveis do sistema às leis de mercado. A educação é vista, portanto, como mais um produto do mercado onde aqueles que têm mais capital têm acesso ao “produto de qualidade” (questionável). Não deveríamos ver a educação como um produto a ser entregue a nós, alunos, como algo pronto e acabado. Em suas aulas, nossa orientadora profa. Brasilina sempre enfatizou que o nosso papel é o de interferir no processo, ou seja, que sejamos capazes de produzir conhecimento ao invés de recebê-lo passivamente. Além disso, que sejamos capazes de criar coletivamente. Cremos que esse deveria ser um dos propósitos maiores de uma educação de novos paradigmas. Devemos, portanto, ter consciência da influência do discurso neoliberal em nossa prática pedagógica para que iniciemos um processo de construção crítica, onde tomemos consciência desses discursos e possamos criar outras possibilidades de prática. Em nosso entendimento, um possível caminho a trilhar seria o da dialética. Vista como o múltiplo, o caminho de ida e vinda, o círculo que não se fecha, possibilidade do diálogo, da dialogia. Sua importância vem do fato de estar presente no pensamento de alguns filósofos pósmodernos como Bakhtin e Derrida que vêem a sociedade em constante mudança e transformação. A dialética é uma possibilidade, o múltiplo, uma raiz que muitos não querem regar nem cultivar. Uma educação dialética permite possibilidades de interpretações negociações do saber. Positivismo, (neo)liberalismo e dialética são, portanto, as principais bases filosóficas para a construção epistemológica da sociedade moderna. Uma possibilidade de resposta às intrigantes questões acima levantadas onde discutimos o projeto da modernidade e as posturas pós-modernas. Como vimos, na primeira parte do curso, a trama positivista (neo)liberal é o 15 sustentáculo da era moderna. Entretanto, para muitos críticos e pensadores, essa era está chegando ao fim (e se não está chegando, deveria), pois o sistema capitalista já não consegue camuflar as gigantescas desigualdades sociais e econômicas que vêm produzindo ao longo de sua existência. Dussel (op. cit. Mignolo, 2000) argumenta que a modernidade está sustentada por um mito da modernidade, ou seja, os europeus devem levar aos bárbaros não civilizados ( demais não europeus) a civilidade e o conhecimento. Quando não aceitos, deve-se usar da violência para que essas nações subdesenvolvidas sejam “modernizadas”. A violência parece ser um recurso moderno e atual para a garantia desse “iluminar o mundo”. O termo pós-moderno, segundo Lyotard (op. cit. Hall, 1992, p. 357), “designates the state of our culture following the transformations which, since the end of the 19th Century have altered the game rules for Science literature and the Arts. [...] Simplifying to the extreme, I define postmodern as incredulity toward metanarratives”. Lyotard resume a condição pós-moderna como sendo a descrença/crítica às grandes narrativas, ou seja, às grandes verdades que são inquestionáveis, que “estão lá e sempre foram assim”. Incrivelmente “impregnados” em nós desde os primeiros contatos com nossas famílias e primeiros passos na escola, essas verdades/narrativas passam desapercebidas e, por “sempre estarem lá”, tornam-se invisíveis e inquestionáveis para muitos. Como se relaciona, então, a modernidade e pós-modernidade com a educação brasileira ? O pós-moderno faz a tomada de consciência por parte dos educadores. Assim, mesmo estando em um contexto onde prevaleça o modo de pensar positivista (quase todos os contextos escolares brasileiros), o educador crítico pós-moderno é contingencial e agente. Ele não se esquece que há um locus de enunciação, ou seja, não se esquece de que há um contexto e que determinadas metodologias não servem para todos os contextos. A pós-modernidade nos apresenta tais possibilidades ao questionar as grandes narrativas do mundo moderno. Para Usher e Edwards(1994, p.8), “postmodernity refers to a new epoch, a new socio-economic order, associated with the notion of a post-culture, post-industrial society and the changes produced by information technology, particularly in the sphere of global 16 communications and media”. Ela tem a difícil tarefa de substituir (1) um cânon por vários cânones (dicotomia uno x múltiplo); questionar o que é verdadeiro e o que é falso, ou, ainda, questionar os critérios pelos quais se chega a essas definições; entender a teoria de uma pragmática multifacetada ? e entender a paralogia (idéia de dissenso e geração de novos movimentos e afirmações). Finalmente, concluímos que, das duas atitudes mostradas acima, a moderna é a vigente no contexto neoliberal capitalista do século XXI. Em contrapatida, a pós-moderna, vista sob a metáfora de Kiziltan, Bain e Canizares (idem, p. 225) do labirinto cujas paredes se rearranjam a si mesmas a cada passo que nós damos, parece incerta por não ter todas as respostas de seus questionamentos. Desordem, repensar, pensar a educação pública e subversão são atitudes pós-modernas que nós, educadores (professores de língua) temos negligenciado nos meandros desse labirinto. Colocados os modos de pensar bem como as construções de conhecimento vigentes em nossa sociedade, caberia questionarmos: como esses pensamentos se relacionam com uma etapa que, segundo alguns teóricos, já transcende o que entendemos como pós-modernos? Somos influenciados por todos esses paradigmas, ou seja, o pensar moderno, pósmoderno, o pensar em redes e o pensar multimodal atuam concomitantemente nos processos sociais/educacionais? 2.2 – VIVENDO EM REDE Esse não é necessariamente um momento animador porque, finalmente sozinhos em nosso mundo de humanos, teremos de olhar-nos no espelho da realidade histórica. E talvez não gostemos da realidade refletida. (Castells, 1999, p.574) É justamente nesse contexto de embate entre filosofias, epistemologias das sociedades moderna e pós-moderna que a disciplina CCVAP traz grandes contribuições ao propor uma "quebra do pensamento tradicional” (pensamento geralmente atribuído a modernidade) e ao propor práticas de sala de aula que 17 questionam o real/virtual, práticas estas que privilegiam a construção do conhecimento coletivo. Nesse sentido, discutiremos os novos meios de comunicação tais como a Web, as redes sociais, bem como os modos pelos quais as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) influenciam a sociedade, a educação e o Mercado de trabalho. Vivemos um momento histórico de transformação social e econômica. O capitalismo como o conhecíamos, fruto da revolução industrial e de avanços de matrizes energéticas (do vapor à eletricidade), vem sofrendo, desde meados do século XX, fortes abalos em seus pilares. Em menos de duas décadas, a economia mundial tornou-se global graças à nova infra-estrutura proporcionada pelas TIC e às políticas de desregulamentação e de liberação colocadas em prática pelos governos e instituições internacionais. No entendimento de Castells (1999, p.189), “a nova economia surgiu em local específico, na década de 90, em espaço específico, nos Estados Unidos, e ao redor/proveniente de ramos específicos, em especial da tecnologia da informação e das finanças, com a biotecnologia avultando-se no horizonte”. Apesar das novas interrelações e interdependências planetárias oriundas da nova economia global, a indústria continua sendo o cerne do sistema econômico mundial. A nova sociedade está longe de ser pós-industrial, ou seja, de ter o segundo setor totalmente substituído pelo terceiro, como trata alguns teóricos, por exemplo De Masi (2000). Apesar do crescimento do segmento de serviços, continuamos com uma economia industrial, porém com mudanças estruturais e organizacionais profundas, focadas, especialmente, em como usar o conhecimento e a informação para se obter ganhos de produtividade. Novas formas do “saber fazer” e do “fazer saber” começaram a surgir com a emergência das novas TIC. Trata-se de uma fase cujos alicerces não estão mais embasados numa riqueza tangível e acumulável, e sim em como as informações são adquiridas, tratadas, organizadas, compartilhadas e transformadas em conhecimento, numa cadeia auto-sustentável, em que a ação do conhecimento é sobre os próprios conhecimentos. Além de global e informacional, a nova economia possui uma nova morfologia: a rede. Tal formato permite uma maior interação entre os nós 18 (empresas, países, instituições acadêmicas, etc.), que são os responsáveis pelas conexões entre os fluxos de negócios. Ela não é linear, o que permite uma total flexibilidade, sendo que o status de um nó na rede pode mudar em questão de segundos. A “triste” realidade, segundo Castells, é que quem está fora da rede, está fora da nova economia e tende a sucumbir rapidamente. Segundo Castells (1999), o conceito de rede é re-significado na sociedade permeada pela tecnologia. Nossa reflexão aponta, similarmente, essa re-significação. Em nosso entendimento, as redes, como por exemplo as redes sociais de CMC (Orkut®, Myspace®, Facebook®, Googlegroups® ou Yahoogroups®) são uma realidade que a escola não deve ignorar, pois elas podem ser ferramentas de apoio (quando não métodos do trabalho) em sala de aula e for a dela. Outro indivíduo entra em cena na nova sociedade da informação. O modo de viver, pensar e agir sofre grandes mudanças que impõem importantes quebras de paradigmas. Como fora elucidado neste texto, a busca por identidade se torna uma obstinação, onde se misturam o desejo de estar dentro da rede, e ser como a “maioria bem sucedida” (pensamento moderno de sucesso e perfeição) que ali está, e a necessidade de se destacar e se diferenciar dentro desse grupo. Um exemplo disso é o surgimento do consumo personalizado, seja de produtos, informação, entretenimento, cultura etc. O consumo, bem como o sentimento de pertencer à nova sociedade, são sustentados principalmente pelos novos meios de comunicação de massa. Uma cultura audiovisual emerge com a chegada do cinema e da TV, por onde a sedução corre solta e a manipulação se dá facilmente por meio de estimulação sensorial da realidade. Com a Comunicação Mediada por Computadores – CMC, a escalabilidade de comunicação de massa toma proporções jamais imaginadas, trazendo uma gama de novas formas de comunicar-se e sociabilizar-se. Com a CMC, a comunicação “de um para muitos”, oriunda das mídias convencionais, como as mídias impressas, televisivas e radiofônicas, dá espaço a comunicação “de muitos para muitos”, fenômeno esse que reúne os elementos essenciais da nova sociedade da informação, tais como: 19 interatividade, dando voz e poder de atuar e interferir a quem jamais teve anteriormente, favorecendo, inclusive, a dialética; colaboração, trazendo à tona a necessidade e a importância das intra e inter-relações sociais; nova organização do espaço (fluxos), que independe de aproximação física, e do tempo, que permite conexões simultâneas, viabilizando comunicação instantâneas e conversas em tempo real. Obviamente por estarmos inseridos num contexto de uma disciplina que traballha as questões da rede, CMC, das fronteiras entre o “real” e o virtual, Castells nos mostra que esses são os novos rumos da sociedade, das construções de conhecimento. Nossa interpretação, vinda da prática da disciplina cursada, é de que, no âmbito educacional, há ainda muito caminho a ser percorrido. São diversas as transformações apontadas por Castells. Entre elas, as mudanças no modo de gerir, produzir e de se relacionar que provoca a quebra de muitos paradigmas. Se no século XVIII, XIX e boa parte do XX o pensamento dominante nas indústrias era o individualismo, a centralização de poder, a hierarquia vertical, a competição e a produtividade em função da aceleração do tempo, originárias da cultura norte-americana e européia, hoje o que está em alta e sendo copiado por indústrias do mundo inteiro é a filosofia organizacional encontrada nas empresas orientais, onde predominam o coletivo e o cooperativismo, a descentralização de poder, a hierarquia horizontal, a confiança, a satisfação e o comprometimento como propulsores da produtividade. Na educação, percebemos esse movimento (ainda lento) de descentralização do poder quando, por exemplo, os professores se consideram o centro do conhecimento (esse conceito foi teorizado por Paulo Freire como a educação bancária, onde o professor “deposita” conhecimento nos alunos). Hoje em dia, estamos passando ao cooperativismo e descentralização (haja vista essa disciplina CCVAP que vem sendo explanada nos capítulos desse trabalho). 20 Cremos que as reflexões de Castells nos permitem ver um novo ser, seus costumes, medos e crenças. O autor discorre sobre uma elite que possui um estilo de vida padrão em todo o mundo, num ambiente simbólico mundial. Ele deixa de lado suas raízes e passa a ser mais um nos cenários que se equalizam pelo mundo afora, como salas vips de aeroportos, hotéis internacionais (decoração padrão), acesso móvel às redes de comunicação, uso regular de spas, cor camurça clara nas paredes, prática de jogging,etc. Alterações no ritmo biológico também são observadas pelo autor, assim como as novas formas de encarar a vida e a morte. Se por um lado há o aumento da expectativa de vida, com redução do tempo de serviço e valorização da velhice, por outro lado, há uma grande redução da natalidade, devido à emancipação profissional da mulher, e também o que ele chama de “o triunfo dos desejos individuais”, referindo-se às mulheres que mesmo em idade avançada, após tantos anos de dedicação exclusiva à vida profissional, lançam mão das tecnologias reprodutivas. Quanto à morte, uma das poucas certezas que temos na vida, é, atualmente, ignorada e até mesmo negada. O que vemos é uma obsessão pela prevenção da velhice e da morte, com o surgimento de uma verdadeira “indústria da vida saudável”, e do prolongamento máximo da vida (a luta até o fim), numa batalha médica incansável de querer afastar o inevitável, sendo que muitas vezes, uma morte que poderia acontecer tranqüila em domicílio, com a atenção e carinho familiar, é estendida num confinamento espacial e temporal em meio a tubos, máquinas e pessoas estranhas do ambiente hospitalar, simplesmente pela incapacidade médica de desistir e de admitir sua “derrota”. 2.3 – A SOCIEDADE LÍQUIDA, EFÊMERA, FLUIDA Tanto em termos individuais como coletivos, todos nos elevamos sobre a finitude de nossa vida corporal, e, no entanto sabemos - não conseguimos não saber, embora façamos tudo (e mais) para esquecer - que o vôo da vida de maneira inevitável, vai cair no solo. (A Sociedade Individualizada, Bauman, 2009, p.7) 21 Continuamos nossa discussão sobre sociedade, redes e educação agora sob as perspectivas das teorias líquidas de Bauman. Para o autor, vivemos uma modernidade líquida (o que chamamos acima de sociedade pósmoderna) uma vez que as relações e transformações na sociedade já não são mais estáticas (haja vista os processos de globalização, a internet e a conectividade mundial) e sólidas (como por exemplo os sistemas financeiros no passado as pessoas acreditavam na solidez dos bancos, e hoje? Isso é possível?). Bauman analisa as transformações ocorridas na sociedade, do fordismo à sociedade líquida, e a incapacidade de as pessoas desenvolverem iniciativas de libertação e serem juízes de suas próprias vidas. Poucas pessoas desejam ser libertadas, e um número muito menor está disposta a agir para que isso ocorra. “A realidade é criada pelo ato de querer, é a teimosa indiferença do mundo em relação à minha intenção” (Schopenhauer apud Bauman, 2001, p. 24). Assim, no mundo real, constrangedor e limitante, sentir-se livre significa: ser livre para agir conforme os desejos, atingir o equilíbrio entre os desejos, a imaginação e a capacidade de agir. “Sentimo-nos livres na medida em que a imaginação não vai mais longe que nossos desejos e que nem uma nem os outros ultrapassem nossa capacidade de agir” (Bauman, ibid, p. 24). O equilíbrio entre estas duas diferenças (desejo e imaginação) é um slogan sem sentido, pois falta força motivacional. As pessoas podem, mas não querem se libertar, pois em algum momento sentem-se satisfeitas com sua condição. Nesse aspecto, como saída, Bauman acredita que as pessoas podem ser juízes incompetentes de sua própria situação e devem ser forçadas ou seduzidas ou guiadas “para experimentar” a necessidade de ser objetivamente livres e assim reunir a coragem e a determinação para lutar para isso. Nossa interpretação de Bauman é a de que estamos ainda atrelados aos pensamentos vigentes tais como o neoliberalismo (na economia) o positivismo (na filosofia) e o racionalismo (nas ciências exatas e humanas). Essa condição nos leva a sermos juízes incompetentes (quase alienados) de nossas vidas, ou seja, muitas vezes não somos aqueles que tomam as decisões ou escolhemos. Um exemplo é o próprio liberalismo (ou neoliberalismo) que defende a individualidade (citada acima por Bauman) e 22 liberdade numa sociedade onde nem todos podem ser individuais (massificação) ou livres. O tipo de modernidade que era o alvo e o quadro cognitivo da teoria crítica clássica, numa análise retrospectiva, parece muito diferente daquele que enquadra a vida das gerações de hoje. Ela era “pesada” (contra a “leve” modernidade contemporânea), “sólida” (e não “fluida”, “líquida” ou “liquefeita”), condensada (contra difusa ou “capilar”) e, finalmente, “sistêmica” (por oposição a “em forma de rede”). (Bauman, ibid, p. 33) Nesse sentido, ao conectarmos nossos estudos pos-graduandos com as teorias de Bauman, cabe refletir se nossas práticas educativas representam essa liquidez e capiliaridade a que se refere o autor ou se ainda estamos na solidez “pesada” ( por exemplo quando nos referimos aos livros; nossa visão é a de que livros são materiais, sólidos e lineares ou que eles podem ser intangíveis virtuais lidos multimodalmente?). A libertação é uma benção ou uma maldição já que vivemos numa rede social tecida de dependências. Essa individualização é uma fatalidade e não uma escolha. Sua reformulação (do ser alguém para o ter alguma coisa) é, na verdade, uma renegociação diária de interesses inserida em uma rede de relacionamentos a qual tornou-se uma fatalidade e não uma escolha. “Na terra da liberdade individual de escolher, as opção de escapar à individualização e de se recusar a participar do jogo da individualização está decididamente fora da jogada” (Bauman, ibid, p. 43). A opção de individualização está decididamente fora da jogada. Foi justamente esse embate individual x coletivo um dos focos e preocupações iniciais desse grupo. Se, para Bauman, escapar a individualização é uma fatalidade, para nós participantes da disciplina, a individualização deveria, muitas vezes, ser eliminada (para o bem coletivo) É nesse contexto que o privado coloniza o público, espremendo e expulsando o que não possa ser expresso “numa tela gigante”. O público agora é reduzido à curiosidade sobre as vidas privadas, de figuras públicas, e a arte da vida pública está reduzida à exposição de questões privadas e „a confissões de sentimentos privados com os quais todos são chamados a se “solidarizarem”. Um exemplo disso é a questão do falecimento de celebridades. A televisão convida a todos para se solidarizarem numa comoção coletiva 23 (Airton Senna no Brasil, Princesa Diana no mundo e Michael Jackson, mais recentemente, nos Estados Unidos). O capitalismo nos dias de hoje “está mais sutil, mais leve” e não mais ligado aos antigos moldes do sistema fordista de produção, que engessava capitalistas e seus trabalhadores em sólidos estabelecimentos. O capitalismo na sociedade fluida não está mais fixado no solo, ele viaja de avião portando seus poderosos notebooks e modernos celulares, podendo saltar e ser montado e desmontado em qualquer parte do planeta, numa velocidade nunca antes imaginada. E esse capitalismo terá, como tempo de duração, “o tempo que durar a satisfação” para a qual ele foi desenvolvido para satisfazer. Outro aspecto abordado por Bauman é o desaparecimento das regras, “a não existência do certo ou do errado”. Pois se antes vivíamos num sistema de regras ditado pelas “Grandes Repartições Burocráticas”, o mundo na sociedade líquida é um mundo de incertezas, marcado por um novo tipo de incerteza: “não saber os fins, em lugar da incerteza tradicional de não saber os meios” (Bauman, ibid, p. 72). E esse não saber os meios acaba levando incondicionalmente à não exigência de uma reflexão no mundo (pós-fordista) e o “moderno fluido”. Tudo agora corre por conta dos indivíduos e cabe a eles o ato de descobrir o que se é capaz de fazer e esticar essa capacidade ao máximo para poder melhor servir e satisfazer: “Pare de me dizer, mostre-me”. Nesse ato de mostrar, Bauman ressalta que, na sociedade da modernidade líquida, existe uma procura incessante por exemplos, conselhos ou orientação; contudo, quanto mais se procura mais se precisa (em alusão a uma droga ou um vício). Assim, sofremos mais quando estamos privados da nossa dose “diária” de droga e , como todos os vícios são autodestrutivos, mais e mais vamos destruindo a possibilidade de chegar à satisfação. Bauman afirma que esse vício está ligado diretamente à eterna corrida e satisfação da consciência em permanecer na corrida, o que se torna então o verdadeiro vício. “O arquétipo da corrida particular em que cada membro de uma sociedade de consumo está correndo (tudo numa sociedade de consumo é uma questão de escolha, exceto a compulsão da escolha – a compulsão evolui até se tornar um vício e assim não é mais percebida como compulsão) é a atividade de comprar” (Bauman, ibid, p. 87). Assim, vamos às compras pelas 24 mercadorias necessárias ao nosso sustento, pela imagem que gostaríamos de vestir, para chamar a atenção etc. A história do consumo é a história da quebra e do descarte de sucessivos obstáculos “sólidos”. O consumismo hoje não está tão mais ligado às necessidades do indivíduo, mas sim ao desejo, o desejo mais volátil (fluido), efêmero, evasivo e caprichoso e essencialmente não referencial. Assim, comprar significa esquadrinhar possibilidades, examinar, trocar, sentir, comparar seus custos com o “conteúdo das carteiras ou o crédito do cartão”. O ato de consumo transformou-se em um ato compulsivo, um “ritual de exorcismo” das incertezas e inseguranças que assombram os homens. Nessa sociedade viciada em comprar/ajudar os mais pobres, as pessoas não conseguem desviar seus olhos das ofertas; pois não há mais para onde olhar: “quanto maior a liberdade na tela, maior e mais sedutoras serão as tentações que elas emanam”, sempre crescentes de desejos voláteis. Conforme Bauman, quanto mais escolhas “parecem ter os ricos”, tanto mais a vida parece sem escolha para “todos”. É nesse contexto que, segundo Bauman, surgem o ideal de vida em comunidades, vistas como “última relíquia das utopias, da boa sociedade de outrora” (ibid, p. 108). É o ideal dos sonhos de uma vida melhor, compartilhada com “melhores” vizinhos, todos seguindo melhores regras de convívio, “vigiadas de perto”: os que fazem algo que desagrade aos outros e provoque ressentimento serão punidos e postos na linha, “enquanto desocupados, vagabundos e outros intrusos que „não fazem parte‟ são impedidos de entrar ou, então, cercados e expulsos” (ibid, p. 108). É interessante o conceito de comunidade trazido por Bauman. Nesse setido, a comunidade gerada pela sociedade moderna líquida é quase essa “cerca de fios farpados” ou essa “vila de muros altos” onde as regras e as linhas devem ser seguidas por todos dentro dessa comunidade. Como no filme “A Vila” ou “ Truman O Show da Vida”, vivemos em bolhas cercados por câmeras de vigilância e muros invisíveis (fotos de Sebastião Salgado abaixo) que nos mantém dentro (ou fora ) de determinadas comunidades. 25 Em contrapartida, na sociedade de consumo, os encontros “inevitáveis” em espaços lotados projetados por mestres da falsificação e da vigarice, onde a impressão é tudo (templos de consumo) reforçam esse conceito de comunidade. Esses encontros devem ser breves e superficiais para não interferirem no “maravilhoso isolamento do comprador consumidor, protegido contra aqueles que costumam quebrar as regras (mendigos, chatos etc.) num templo de consumo bem supervisionado e apropriadamente vigiado, um lugar sem lugar, que agrega em si um reconfortante sentimento de pertencer em espaços vazios de significado. Assim, o que acontecer dentro do templo do consumo tem pouca ou nenhuma relação com o que acontece “fora dos portões”. Outro aspecto apresentado por Bauman é a mudança em relação à modernidade pesada para a leve: passamos da idade do hardware, em alusão as capacidade de armazenamento e velocidade, para a idade do software (leve), com a eficácia e otimização do tempo como meio de alcançar um valor próximo ao infinito. Nessa nova sociedade fluida, o tempo é instantâneo, o mundo do software é também um tempo sem conseqüências. Essa instantaneidade significa realização imediata e ao mesmo tempo exaustão e desaparecimento do interesse. O indivíduo perdeu o significado do valor percebido das coisas, e em seu lugar encontra apenas momentos, aliados cada vez mais a tecnologias mais avançadas e seus processadores cada vez mais poderosos. O trabalho (sem corpo) na era do software não é mais amarrado ao capital, aos locais “sólidos”, permitindo assim o surgimento de um capital extraterritorial, volátil e inconstante aliado a uma crescente capacidade de produção cada vez mais incompleta e irrealizável isoladamente. A sociedade fluida vive cercada de incertezas e de insegurança, proporcionada principalmente pela falta de garantias em relação às expectativas, ao futuro. Expectativas ligadas diretamente às suas extensões de posse, de convívio com a vizinhança e com a comunidade onde está inserida. Essa insegurança tem relação direta com a própria sobrevivência (pela falta ou desaparecimento do trabalho), o que a torna ainda mais frágil e menos 26 confiável a cada dia que passa. Todos os indivíduos são afetados por essa insegurança e ninguém pode se sentir verdadeiramente seguro. Assim, os indivíduos, contentam-se com uma satisfação instantânea, a qual parece ser uma estratégia razoável. “Qualquer oportunidade que não for aproveitada aqui e agora é uma oportunidade perdida.” Finalmente, assim como as políticas adotadas pelos operadores de mercado, os indivíduos comuns acabam também adotando certas práticas ao administrar suas vidas, deliberadamente ou não. Assim, laços e parcerias tendem a ser tratados como mercadorias a serem consumidas e não produzidas, sujeitas ao mesmo critério de avaliação de todos os outros objetos de consumo. 2.4 – POR UM NOVO CONCEITO DE COMUNIDADE: REDES SOCIAIS, COMUNIDADES PESSOAIS E INTELIGÊNCIA COLETIVA What do people gain from Virtual Communitiesthat keeps them sharing information with people they might never meet face-to-face? Smith’s answer was “social network capital, knowledge capital and communion – people can put a little of what they know and how they feel into the online network and draw out larger amounts of knowledge and opportunities for sociability than they put in. (Rheingold, 2002, p. ) Linked: estamos lincados! Essa é a nova realidade. Em seu livro Smart Mobs, Rheingold (2002) aponta para um fenômeno (para ele espantoso) percebido nas ruas de Tóquio (precisamente no cruzamento da rua Shibuia) onde todos estão conectados com seus “palm devices” em mãos. Nesse cruzamento, a precocupação de milhares de pessoas não é atravessar a rua, mas fazê-lo enviando msns ou falando ao celular. Esse fenômeno, também verificado por Rheingold nas ruas de Helsinque foi o mesmo responsável já foi também responsável por queda de governo ou, por outro lado, contribuição à eleição de presidentes. Barack Obama foi, recentemente, um dos primeiros 27 presidentes eleitos ajudado pelas redes sociais. Através de Mark Zuckerberg (menino prodígio e o criador do Facebook®) foi um dos coordenadores da cruzada online do Presidente, milhares de votos e muito apoio foram conquistados através dessa rede social. No Twitter® ( twitter.com) outra rede de media social onde o usuário tem menos de 140 caracteres para se comunicar foi também decisiva. Todos sabiam onde Barack Obama estava, ou seja, se estava com seus filhos com sua família, o que foi decidido numa reunião importante e, isso, Segundo os analistas políticos e de redes sociais, fez com que ele se tornasse um “amigo” próximo do povo. Todos esses exemplos nos mostram o quanto e a velocidade das transformações de uma sociedade em rede e conectada pode influenciar e, por vezes, determinar, eventos sociais, políticos e econômicos. Todos esses fenômenos formam esse grupo social que estamos chamando de comunidades ( ou redes sociais). Rogério da Costa (2004), ao discorrer sobre esse novo conceito de comunidade, aborda a evolução do conceito de "comunidade", o qual contemporaneamente pode ser compreendido como "rede social". Uma das causas para tal fenômeno é a dinâmica atual das redes de comunicação que se constitui a partir da aproximação virtual de sujeitos que se relacionam particular e coletivamente no ciberespaço. Costa menciona que “estamos em rede, interconectados com um número cada vez maior de pontos e com uma freqüência que só faz crescer” e isso estimula o empenho para compreender os modos como estes coletivos interagem na pós-modernidade por meio da formação das comunidades virtuais. As discordâncias e as inquietações dos estudiosos sobre o sentido que o termo comunidade assume na atualidade, contudo nos pareceu muito adequada a informação de haver os que acreditam que este conceito somente mudou de sentido. O pensamento de Bauman discorrido anteriormente ecoa em Costa quando este analisa a noção de comunidade nos dias de hoje e destaca a série de conceitos em jogo tais como individualismo, liberdade, transitoriedade, cosmopolitismo dos “bem sucedidos”, comunidade estética e segurança. Segundo Bauman a idéia de que a vida individual se reveste de riscos e que querer viver em liberdade deve significar viver sem segurança. “Já a comunidade, o lugar da segurança, remete-nos ao sentido mais tradicional que conhecemos, em que os laços por proximidade 28 local, parentesco, solidariedade de vizinhanças seriam a base dos relacionamentos consistentes” (COSTA, 2004, p.237). Barry Wellman & Stephen Berkowitz (1988) identificam a complexidade compreendida na análise que estes estudiosos fazem sobre conceito de comunidade. Esta abordagem pode ser percebida quando Barry Wellman & Stephen Berkowitz afirmam que estamos associados em redes, mas por meio de comunidades pessoais. Segundo os estudiosos, hoje vivemos numa sociedade onde os laços comunitários não se mostram firmemente atados e por conta deste quadro os indivíduos arcam com conseqüências, até mesmo patológicas, decorrentes do sentimento de solidão em que vivem mergulhados. Ao avaliar o pensamento de analistas de redes mais recentes, Costa visualiza sua compreensão sobre a necessidade de revisão do conceito de comunidade, visto que novas formas de comunidade surgiram, o que tornou mais complexa nossa relação com as antigas formas. Essa re-significação do conceito de comunidade é para nos um dos pontos chave para entendermos as novas propostas para a educação e para algumas disciplinas de pós-graduação. Muitas vezes pensamos que somente as interações professor-alunos ou alunos-alunos em sala de aula seriam suficientes para formamos uma comunidade. O que temos revisitado é o fato de que em muitos contextos onde essas interações ocorrem, uma comunidade no sentido de rede social não se forma, pois não se constrói coletivamente ( os trabalhos finais são individuais, e somente) e mesmo que interações ocorram entre os alunos, vemos, na verdade, pequenos grupos trabalhando isoladamente e sem inter-conectividade entre os grupos. Segundo afirma Costa (2005, p. 239), “se solidariedade, vizinhança e parentesco eram aspectos predominantes quando se procurava definir uma comunidade, hoje eles são apenas alguns dentre os muitos padrões possíveis das redes sociais”. A tradução pós-moderna para “Capital social”, conforme o autor, é a capacidade que os sujeitos têm de produzir suas próprias redes e suas comunidades pessoais. Por mais que as instituições tradicionais como escolas, empresas, clubes, igrejas, famílias estejam debilitadas nos nossos dias, elas continuam funcionando como berço para as relações sociais, devido a seu 29 papel regulador e mediador de processos mais profundos. A análise do capital social deve envolver variáveis como a sociabilidade, cooperação, reciprocidade, pró-atividade, confiança, o respeito, as simpatias levantando “a implicação dos indivíduos em associações locais e redes (capital social estrutural), avaliar a confiança e aderência às normas (capital social cognitivo) e, igualmente, analisar a ocorrência de ações coletivas (coesão social)” (COSTA, 2005, p. 240). Endossamos as palavras de Costa quando este recusa o pensamento de alguns analistas que consideram a natureza humana como egoísta: Hume (1983), por exemplo, defende a generosidade humana como uma virtude limitada por natureza, portanto pode-se dizer que o homem seja parcial, mas não essencialmente egoísta. A análise busca justificar a necessidade de estudar os contratos sociais “porque eles seriam uma forma de limitação de um egoísmo supostamente “natural” dos homens” (Costa, 2005, p. 242). Ao abordar as redes digitais Costa foca o pensamento de Howard Rheingold que defende o potencial para a multiplicação da sinergia entre as pessoas via web. Deste modo compreender as redes sociais nos nossos dias é determinante para a compreensão da expansão de novas formas de redes sociais e da ampliação de capital social. As diversas formas de comunidades virtuais atestam que o ciberespaço organiza de novos modos o capital social e cultural. Barabási participa do debate uma vez que se refere constantemente “uma sociologia de afluência na web, promovida pela forma como os links entre páginas se estabelecem”. Pierre Lévy (2002) argumenta que a participação em comunidades virtuais estimula a formação de inteligências coletivas e que os indivíduos podem a elas recorrer para trocar informações e conhecimentos. Ao estabelecer um comparativo entre o pensamento de Rheingold e Lévy o autor afirma que o segundo “está profundamente convencido de que uma comunidade virtual, quando convenientemente organizada, representa uma importante riqueza em termos de conhecimento distribuído, de capacidade de ação e de potência cooperativa” (COSTA, 2005, p.246). Finalmente, a importância de se pensar as comunidades re-significandoas como redes sociais se dá pelo fato de elas permearem nossas realidades sociais, políticas, econômicas e educacionais. Insistimos no fato de muitos 30 programas e currículos ainda não trabalharem essas questões simplesmente pois não perceberem essa nova geração icônica e digital. Em muitos casos, como colocado pro Brian Street e Van Leween, os professores nem chegam a aceitar a multimodalidade de uma sociedade em rede (as imagens, o som, o movimento, gestual e corporal atuando concomitantemente nas interpretações das realidades). Concordamos com todos os teóricos acima expostos tais como Rheigold, Levy, Barabasi, Costa e com nossa orientadora Passerelli quando todos defendem novos posicionamentos frente as TICs, as comunidades virtuais de aprendizagem e prática, bem como um maior entendimento do tênue limite entre real x virtual. 2.5 – REDES DE GUERRA E GUERRAS EM REDE NO CIBERESPAÇO Nevetheless, whatever the importance of these trends, of greater significance are the direct and indirect repercussions that the growth of the knowledge economy, the use of information and communication technologies (ICT), and globalization can have on education. (OROSCO, 2007, p.137). Encerramos, dessa forma, nossas reflexões deste capitulo sobre a sociedade, educação, comunidades ( redes sociais) e as TIC à luz de Antoun (2004), Rheingold, Arquila & Ronfeldt (pesquisadores ligados à RAND - agência de fomento a Pesquisa e Desenvolvimento do Departamento de Defesa dos Estados Unidos) , Barber (teórico político conhecido por seu ensaio que divide o mundo contemporâneo em duas tendências: o tribalismo e o globalismo) e Glenn Misha (autor de McMafia - palestra no mundo inteiro advertindo sobre os perigos do cyber crime). Todos esses teóricos apresentam, de certo modo, algum contraponto (projeções negativas, por vezes apocalípticas, ou mesmo perspectivas sobre o mal uso da tecnologia) em relação a todos os benefícios e importância apontadas anteriormente. Cremos estar realizando um trabalho crítico ao expor também pontos de vista que talvez não sejam necessariamente o que acreditamos. 31 As guerras e movimentos organizados em rede, tendo como agentes catalisadores as TIC e a CMC, são os temas discutidos por Henrique Antoun (2004). O autor faz um resgate da origem militar das TIC e CMC, como maquinários que receberam fortes investimentos – um dos maiores do século XX – do Departamento de Defesa norte-americano, que, em meados dos anos 60, já percebia o espírito colaborativo como essencial para seu fortalecimento bélico, na medida em que articulava forças aliadas e conectava membros da comunidade científica dispersos pelo mundo. Arquilla e Ronfeldt (1993, 1996) defendem os conceitos de guerra em rede (netwar), guerra de controle (cyberwar), guerra da informação (infowar), revelando a informação como principal arma das guerras atuais. “No que diz respeito à conduta, para Aquilla e Ronfeldt a guerra em redes se refere a conflitos onde um combate está organizado em forma de rede ou as emprega para as comunicações e o controle operacional”. (ANTOUN, 2004, p. 210) Essa teoria ecoa nos estudos de Misha que, atraves da pratica de percorrer e entrevistar os criminosos “virtuais” no mundo todo, mostra como o crime organizado vem sendo reconceituado a partir das novas tecnologias e da internet. Antoun, ao discorrer sobre o futuro, menciona o apocalíptico ensaio de Baber (1992) e revela um futuro sem qualquer possibilidade de liberdade e democracia social. A dicotomia Jihah e McMundo é o foco desse trabalho, onde preconiza que a humanidade se tornará refém ou do totalitarismo regional ou de uma homogeneização global. Cremos ser essa também uma das funções dos educadores que trabalham com as novas tecnologias, bem como aqueles que pesquisam as TIC, a internet. Cabe a todos nos, acreditamos, analisar e alertar para os efeitos negativos desses recursos e ferramentas. Segundo Misha, o Brasil é um dos principais alvos do crime cibernético mundial. Nossos bancos, sistemas de crédito e de compras já foram penetrados e fraudados. Antoun apresenta, ainda, dois pontos de vista negativos em relação à interferência das novas TIC e da CMC nos relacionamentos sociais, criação de comunidades e engajamento cívico. De acordo com Fernback e Thompson, o ciberespaço jamais será um ambiente que permitirá a real participação comunitária, pois não pode ser considerada uma esfera pública, já que causa a 32 disjunção com a vizinhança geográfica, a exclusão da maior parte da sociedade devido ao custo e o conhecimento sobre o uso de computadores e a diminuição dos encontros face a face devido ao aumento dos encontros virtuais. Na mesma linha, Robert Putnam publica, em 1996, o resultado de uma pesquisa sobre o desaparecimento do capital social e do engajamento cívico nos Estados Unidos. Através desse estudo empírico, Putnam acusa as TICs, dizendo que “elas promovem o isolamento individual e o desengajamento político, corroendo a vida ativa das sociedades democráticas”. A estrutura flexível e descentralização do poder (leaderness) são umas das principais características da guerra em rede. Formada por atores/nós e vínculos/ligações, a rede pode ter diversas formas e tipos de conexões, porém, a mais usada, por sua eficácia, é a do tipo “todos-canais” (all-channel), uma arquitetura que permite a interação de cada nó diretamente com outro nó. Porém, segundo Aquilla e Ronfeldt é a análise organizacional que revela informações mais importantes sobre uma rede. Diversos níveis, além do design, devem ser considerados, como o nível narrativo, doutrinário, tecnológico e o social. Antoun destaca o nível narrativo que, muito em breve, se sobressairá diante os demais, inclusive, diante ao do design na sua constituição. “A rede mais forte será aquela na qual o design organizacional é sustentado por uma história vitoriosa e uma doutrina bem definida, e na qual tudo isso está de ante-mão reproduzindo-se como brotos em sua superfície”. (ANTOUN, 2004, p. 220) Tal ponto de vista nos parece muito familiar, já que no campo de estudo das Relações Públicas sabemos da importância da identidade para o fortalecimento de uma cultura e conseqüente motivação dos envolvidos. Fazendo uma correlação, o “nível narrativo”, tratado pelo autor, seriam canais e fluxos de comunicação bem trabalhados no sentido de se estabelecer uma identidade e uma cultura organizacional que seja conhecida e incorporada por todos os atores envolvidos, gerando, assim, uma imagem positiva do grupo, ou seja, a tal da história vitoriosa. Aquilla e Ronfeldt (1993) apresentam duas formas de rede: a SPIN segmented, polycentric, ideologically integrated network, a qual remete a forma de um espiral e a teia de aranha, com multi-eixos bem estruturados e que se 33 utiliza de ligações do tipo “todos os canais”. Antoun (2004) volta a falar da importância do nível narrativo para a estruturação de uma rede de guerra, ressaltando as questões da autoria e do papel do líder (avatar). Se por um lado, nas redes de guerra fundamentalistas e etnonacionalistas, como por exemplo a liderada por Bin Laden, é possível identificar os autores de suas narrativas, por outro lado, foge a esse padrão o movimentos como o Zapatista e os grupos envolvidos na manifestação de Seattle, onde a narrativa é feita por diversos autores, sendo impossível desassociar as conversas durante a organização e desenvolvimento da rede dos relatos que acompanham os fatos.“Nas duas últimas redes a narrativa mais se assemelha ao roteiro de um filme experimental, que vai sendo escrito por toda equipe conforme a filmagem se desenrola” (ANTOUN, 2004, p. 224) Aqui, vemos um paradoxo das guerras de rede; o que para a elite política dominante pode parecer uma rebelião ou revolta, para os que se organizam nessas redes vindas “de baixo” lutam por direitos. Como exemplo de organização e movimentação em rede, vemos o Movimento Zapatista, que, por possuir uma forma de teia de aranha, sofre metamorfoses constantes em sua estrutura e até mesmo em seus ideais. O que seria a princípio um movimento de guerrilha padrão, com o objetivo macro de tomada do poder do Estado, se transformou numa rede de lutas sociais. Como não poderia deixar de ser na era da informação, tal readaptação se deu após muito diálogo e colaboração, realizados em quatro congressos. O resultado foi uma agenda de reivindicações comum entre guerrilheiros, ativistas de ONG e comunidades indígenas. Corroboramos o pensamento de Antoun quando este fala da irreversibilidade do papel principal da informação como armamento social. Ele reforça que vivemos numa guerra civil permanente, também chamada pelo Movimento Zapatista de “Quarta guerra mundial”, na qual a sociedade munida de informação e capacidade de interação e articulação, proporcionadas pelas TIC e pela CMC, tende a se apropriar cada vez mais do contexto do ciberespaço para fazer valer a sua voz. 34 3 - METODOLOGIA DE PESQUISA: MÉTODOS ETNOGRÁFICOS PARA A PESQUISA EM AMBIENTES VIRTUAIS DE APRENDIZAGEM E DE PRÁTICA In my view, neutrality does not exist anywhere (…) Our worlds are formed through interpretation. The concept of neutrality is itself an interpretation. (Entrevista com o prof. Dr. Lynn Mario Menezes Texeira de Souza)4 3.1 – Das metodologias Propomos, nesse capítulo, um entendimento maior sobre as metodologias de pesquisa quantitativas e qualitativas (principalmente) à luz de Gil (2007), Menezes de Souza (2000), vanLier (1998), Cavalcanti & Moita Lopes (1991), Passarelli (2007) e Hine (2000, 2005(b)). Buscamos 4 Entrevista com o Prof. Dr. Menezes de Souza, professor da Universidade de São Paulo em 2002 para a dissertação “Investigações sobre a leitura através do cinema na universidade: o letramento crítico no ensino de inglês” – dissertação de Mestrado, Universidade de São Paulo. 35 compreender a pesquisa etnográfica em suas bases, para entender suas apropriações realizadas pelas metodologias de pesquisa atuais. Finalmante, apresentamos nossa metodologia de trabalho, ou seja, uma pesquisa exploratoria de analise de dados providos em duas dissertações de mestrado do programa PPGCOM da ECA-USP, bem como a realização de pesquisa com “preocupações” etnográficas, haja vista nossos registros imagéticos, auditivos realizados em nossas aulas, bem como as entrevistas realizadas junto aos autores das teses analisadas e junto a seus orientadores. A literatura sobre pesquisa social na modernidade apresenta propostas e visões de diferentes estudiosos que se preocupam com a ciência e pesquisa para gerar conhecimentos. Dentre os autores reconhecidos na área, referenciamos Gil (2007) por ser um autor que trata de assunto tão complexo com muita didática, segundo uma avaliação particular. Gil (ibid) define a pesquisa como sendo o desenvolvimento de método científico. Analisando a pesquisa social, o autor então apresenta em seu conceito que é a partir da pesquisa que novos conhecimentos são produzidos no campo da realidade social. Em sua obra Gil classifica os níveis de pesquisa em exploratória, descritiva e pesquisa explicativa. Como ficou informado na relatoria do encontro de um grupo de alunos da disciplina, a turma produzirá seu texto coletivo a partir da adoção de uma pesquisa exploratória que analisará projetos da “Escola do Futuro”. Diante deste encaminhamento, considero interessante discorrer sobre a pesquisa exploratória, conforme a percepção de Gil. Para enriquecer a resenha, trarei a contribuição de Fonseca (2002), o qual criou um quadro comparativo entre pesquisa qualitativa e quantitativa que ilustra a pertinência da adoção do método qualitativo na nossa pesquisa, mediante o qual o problema de investigação receberá uma abordagem dialética, conforme parece-nos ser a necessidade do objeto definido para nosso estudo. A pesquisa exploratória cuja finalidade é impulsionar novos estudos a partir de seu desenvolvimento, muitas vezes constitui a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Geralmente envolve levantamento bibliográfico e documental, podendo ainda se valer de outros instrumentos tais como entrevistas não padronizadas e estudos de caso. O método quantitativo, 36 segundo Gil (2007), não se adequa plenamente a este tipo de pesquisa, pois se trata de um tipo de pesquisa na qual não se formula hipóteses tão precisas. Diante da exposição do pensamento de Fonseca e Gil, acredito que nossa decisão sobre o texto coletivo se apresenta ajustada e cientificamente concebida. 3.2 – Etnografia tradicional: das bases à atualidade A etnografia tem origem na antropologia e vem sendo revisitada por estudiosos das Ciências Humanas, os quais chegam a novos conceitos. Há uma distinção entre a etnografia em sua origem e a dos tempos atuais: “Eu faria uma distinção da etnografia tradicional do século XIX que esta muito ligada à noção da antropologia (ligada ao colonialismo) e a antropologia que eu chamaria de pós-moderna, da década de oitenta para cá”. Para van Lier (1988, p. 53), “Ethnography is literally the description of culture (or of groups of people that are perceived as possessing some degree of cultural unit)”. Há, contudo, várias definições de etnografia: • etnografia é a investigação detalhada de modelos de interação social (GUMPERZ, 1981); • etnografia é um conjunto de análises holísticas das sociedades (LUTZ, 1981); • etnografia é um método essencialmente descritivo, uma forma do “contar histórias” (WALKER, 1981); • etnografia preza pelo desenvolvimento e teste de teoria (GLAZER & STRAUSS, 1967) ; • etnografia é um método de pesquisa social (HAMMESLEY & ATKINSON, 1983); Ainda segundo van Lier (1998) é possível identificar três grandes subdivisões da etnografia que pode ser vista num continuum de “versão mais fraca” à “forte”. Em sua versão fraca, a etnografia é uma ferramenta e a observação ajuda a identificar conceitos relevantes. Em sua versão forte, ela é 37 tida como formuladora de teoria (theory-building), ou seja, o núcleo de uma abordagem humanística para a ciência social. Na pesquisa etnográfica, é possível ver o objeto (na relação sujeito – objeto) como criação do sujeito e, por decorrência ver o etnógrafo como um “ficcionista” uma vez que etnógrafos tem consciência de seu papel como criador de um relato etnográfico. O etnógrafo lida com uma multiplicidade de estruturas conceituais complexas. Insistimos no fato da presença do olhar do etnógrafo nas leituras. Segundo Watson (1987, p. 35), a influência do pesquisador na etnografia não pode ser neutralizada ou descartada: “The more the ethnographer reports on methods, the more he or she must acknowledge that his or her own behavior and presence in the field are data”. Edmund Leach (1996, p. 357) escreve: “Every anthropological observer will see something no other such observer can recognize, namely a kind of harmonious projection of the observer`s own personality”. A metodologia etnográfica foi bastante criticada por ter essa “consciência” do papel da subjetividade na pesquisa. Tudo passa pelo olhar do etnógrafo. Caberia, então, indagarmos qual ciência seria totalmente objetiva e neutra. Diferentemente dos métodos quantitativos, a etnografia propõe uma nova visão de pesquisa qualitativa. Para o etnógrafo, a multiplicidade do olhar, a subjetividade do pesquisador, o contexto e a descrição estão sempre presentes. Segundo Cavalcanti & Moita Lopes (1991), em termos práticos, a pesquisa de base antropológica, ou etnográfica, baseia-se na observação e levantamento de hipóteses. Nela, “a observação é feita através da elaboração de notas de campo que vão fornecer os meios para a posterior construção de diários em que o pesquisador-observador procura descrever o que, na sua visão, ou seja, na sua interpretação, está ocorrendo no contexto de ensino – aprendizagem” (ibid, p. 138). Assim, as etapas de uma pesquisa etnográfica em sala de aula seria: Base Antropológica 38 1) Observação de Aula – notas de campo – construção de diários. 2) Interpretação de dados através de: • Leitura global – o todo dos diários • Leitura detalhada – identificar irregularidades. 3) Codificação de dados. 4) Definição do tópico de investigação: (tópico hipotético) o documentário registra a verdade, ou seja, é portador da verdade na interpretação do espectador. 5) Definição dos instrumentos de investigação: a. Observação de documentários pelos espectadores e pesquisadores. b. Gravação de depoimentos de espectadores e/ou pesquisadores. c. Relatos de espectadores. d. Entrevistas com diretores/teóricos. 6) Análise e interpretação de dados. (vide procedimentos 2 e 3). 7) Formulação de teorias. Há, ainda, o que os etnógrafos denominam triangulação etnográfica, ou seja, a observação de dados por três pontos de vista. Existem diversas maneiras de se realizar a triangulação. Na triangulação teórica (theoretical triangulation), há diferentes perspectivas teóricas sobre um mesmo dado. A triangulação de informações (data triangulation) tenta unir as observações e as múltiplas estratégias sobre diferentes informações (por exemplo pessoas em variadas formas de interação podem ser analisadas juntas). Finalmente, há a triangulação de observadores (investigator triangulation) onde há mais de um observador no local. 39 Observador/pesquisador Análise Interpretação 1 Interpretação 3 Expectador Aluno Interpretação 2 Filmes e gravações Figura 1 - investigator triangulation Na triangulação acima, por exemplo, podemos obter três olhares diferentes ao estudarmos como um determinado objeto. O Observadorpesquisador poderia transcrever as entrevistas e realizar, a partir delas, a sua interpretação 1. O mesmo pode ser feito a partir da leitura das imagens, ou seja, uma segunda interpretação. Seria possível, ainda, analisamos as respostas escritas dos questionários aplicados bem como analisar as anotações de campo, gerando, dessa forma uma terceira interpretação. Ainda segundo Cavalcanti & Moita Lopes (1991) os dados colocados nessa perspectiva adquirem uma natureza intersubjetiva ao se levar em conta as várias subjetividades – ou várias maneiras de olhar para o mesmo objeto de investigação –na tarefa de interpretação dos dados. Muito se fala em novas tecnologias e das pedagogias que surgem conjuntamante. Entretanto, pouco se estuda sobre a maneira, os “comos” de uma educação influenciada ou baseada nas TIC, no caso mais especifico dessa pesquisa, das comunidades virtuais de aprendizagem e pratica? Como avaliar seus impactos? E possível realizar uma analise avaliação ou interepretacao dos ambientes virtuais de aprendizagem somente com a 40 pesquisa quantitativa? Interessa chegar a verdades universais, validadas a aceitas em ambientes de comunidades virtuais onde as premissas são construções coletivas, movimentos de copyleft e descentramento? Pareceral essas serem as preocupações da nossa orientadora profa; Dra; Brasillina ao nos guiar pelo caminho das comunidades e novas metodologias de pesquisa. Vimos ai alguns desafios, tais como o de 1. entender a possibilidade desse encontro entre a etnografia (que, à principio observa e registra situações tidas como “reais” presenciais) e as comunidades virtuais; 2. analisar as escassas pesquisas já realizadas sobre esse encontro e 3. compreender nosso próprio processo de execução metodológica, ou seja, colocamo-nos o desafio de também praticar uma pesquisa exploratória que esboce características etnográficas. 3.3 - Etnografia virtual: investigando no ciberespaço The coming of the Internet has posed a significant challenge for our understanding of research methods. Chisritine Hine, 2005a, p. 1 A sociedade evoluiu. A ciência também evoluiu. Nesse percurso progressivo, evoluem também os métodos de pesquisa. A sociedade evoluiu paras as conexões instantâneas em rede, criou novos espaços e tempos diferenciados. Se espaço e tempo são categorias importantes para a etnografia tradicional, também o são para qualquer outra coisa que, por ventura, queira utilizar o verbete “etnografia” ou “etnográfico” consigo. É o caso da Etnografia Virtual. Virtual Ethnography is not only virtual in the sense of being disembodied. Virtuality also carries a connotation of 'not quite', adequate for practical purposes even if not strictly the real thing (although this definition of virtuality is often suppressed in favour of its trendier alternative). Virtual ethnography is adequate for the practical purpose of exploring the relations of mediated interaction, even if not quite the real thing in methodologically purist terms. It is an adaptive ethnography which sets out to suit itself to the conditions in which it finds itself. 41 Christine Hine, 2000, p.65 A etnografia virtual desponta como uma tendência como método/metodologia de pesquisa em ambientes virtuais em um momento em que surgem diversas soluções metodológicas para estudo do ciberespaço e seus desdobramentos. Todavia, como aponta Hine, ainda não está claro como utilizar, em sua plenitude, essas metodologias herdadas das ciências tradicionais, bem como quais as lacunas existentes (HINE, 2005a). Ou seja, há muito a ser pesquisado nessa área. Mas seria a etnografia virtual um novo tipo ou classe de etnografia? Como já fora discutido na seção anterior, um das grandes características da etnografia é a presença física do pesquisador e a observação in loco. Seria possível fazer jus a essas características no ciberespaço? Essa é uma questão um tanto geográfica e bastante relevante. Na complexidade e no caos da Web, podemos considerar a existência de espaços, lugares, tempos e territórios, indiciando dialeticamente relações de poder e de troca. Hine (2000, 2005b) apresenta uma longa discussão sobre o encontro entre a etnografia tradicional e a virtual, evidenciando possibilidades e apresentando práticas de pesquisadores de diversos países, inclusive do Brasil. Segundo a autora, a contribuição de seu trabalho se dá pelas possibilidades de debate sobre o significado dos recentes avanços nas comunicacões virtuais. Desse debate surgiram diversos trabalhos, dentre eles um framework teórico que emprega a etnografia no ciberespaço (GUIMARÃES, 2005). Nesse contexto tecnosocial de linguagens líquidas e leitores imersivos (SANTAELLA, 2004), a etnografia virtual apresenta-se como uma possibilidade metodológica para investigação de comunidades, práticas e culturas sitiadas na Internet. Segundo Hine (2000, p. 8), a etnografia virtual nos permite responder algumas questões no que diz respeito ao ciberespaço: 42 como os usuários da Internet “enxergam” suas capacidades comunicativas e interativas; como a Internet afeta as organizações e relações sociais, com o espaço e com o tempo; quais são as implicações para a autenticidade e segurança e se a experiência do virtual é radicalmente diferente da experiência do real físico. Faz-se importante entender a tecnologia como potencial agente de transformações. Segundo a autora, “uma etnografia da Internet pode olhar em detalhes para as maneiras pelas quais a tecnologia é experienciada na prática. Na sua forma básica a etnografia virtual tambem consite em um pesquisador usando um período de tempo estendido imerso num 'campo de ação', percebendo as relações, atividades e compreensões daqueles que estão nesse ambiente e participam do processo“. (ibid, p. 4, tradução nossa). Portanto, vemos que a autora defende o “encontro” entre a etnografia tradicional e a virtual. Dado que o pesquisador, similarmente ao que ocorre na etnografia tradicional, analisa/interpreta/observa uma comunidade, mesmo que seja no ciberespaço. Em relação à crítica sobre a inconsistência de uma etnografia virtual, onde não se garantiria a presença do pesquisador in loco fisicamente, remetemo-nos às discussões iniciais desse trabalho, ou seja, às questões das transformações da sociedade, das mudanças de paradigmas, das dualidades modernidade x pós-modernidade e das novas TIC e realidades de CMC. Citando Lyotard, Hine também postula sobre a pós-modernidade: Postmodern theorists have it that the foundations of modernity are increasingly in crisis, and that the basis for organizing social life are undergoing a rapid change. A fragmentation of concepts such as the self, society and culture accompanies a loss of faith in the grand narratives of science and religion. (Lyotard apud Hine, 1984) 43 Dessa forma, ao criticar o modo de pensar moderno e reprodutivista, Hine lança as bases para suas pesquisas baseadas na etnografia virtual. Para a pesquisadora, para utilizarmos a etnografia em pesquisas sobre ambientes virtuais, necessitamos, inicialmente, questionar os conceitos espacialidade, temporalidade, físico, dialógico real vs. presencial estabelecidos, resignificando-os. Nesse sentido, a etnografia pode ser utilizada para desenvolver sentidos e significados da tecnologia e das culturas. Vale lembrar que na perspectiva apresentada, a Internet é um artefato cultural e, por si só, uma cultura, a cibercultura. Duas categorias importantes na definição de etnografia virtual pela Hine e, importantes na consideração etnográfica dessa metodologia. Dessa forma, Hine (2000) comenta a(s) diferença(s) entre as abordagens tradicional e virtual da etnografia, evidenciando como uma não sobrepuja a outra: Face-to-face interaction and the rhetoric of having traveled to a remote field site, have played a major part in the presentation of ethnographic descriptions as authentic. A limited medium like CMC seems to pose problems for ethnography's claims to test knowledge through experience and interaction. The position changes somewhat if we recognize the ethnographer could instead be construed as needing to have similar experiences to those of informants, however those experiences are mediated. Conducting an ethnographic enquiry through the use of CMC opens up the possibility of gaining a reflexive understanding of what it is to be a part of the internet. (p. 10) Com base nessa abordagem de etnografia virtual, analisaremos, nos capítulos a seguir, como alguns trabalhos de pesquisa a usam, mesmo que anonimamente. 44 CAPÍTULO 4 – MAPEAMENTO DOS PROJETOS MUNDIAIS E TENDÊNCIAS SOBRE A ETNOGRAFIA VIRTUAL: ESCOLA DO FUTURO E PPGCOM (BRASIL), VKS (HOLANDA), THE VIRTUAL ETHNOGRAPHY (REINO UNIDO) E DIGITAL ETHNOGRAPHY (ESTADOS UNIDOS) 4.1 MANIFESTO DIGITAL The digital is the realm of the open: open source, open resources, open doors. Co-creation is one of the founding features of the digital turn in the human sciences, because of the greater complexity. But this collaborative turn doesn’t exclude … perhaps there is a space of hermetic works of the mad individual. Digital Humanities Manifesto - A Project of the Mellon Seminar in Digital Humanities at UCLA Iniciamos nosso último capítulo com um pensamento: mais uma época iluminada no planeta Terra! Só pode dar um nó na cabeça de quem pára para refletir que muitos dos paradigmas atuais, econômicos, sociais e culturais estão 45 no limite de serem deflagrados e novas verdades construídas. Surge um debate em torno das novas formas de perceber, conhecer, aprender e aplicar, influenciada por um universo composto de novos elementos e ambientes, virtuais e digitais, e novos hábitos sociais praticados mundialmente. Digital humanities is not a unified field but an array of convergent practices that explore a universe in which print is no longer the exclusive or the normative medium in which knowledge is produced and/or disseminated” (Digital Humanities Manifesto - A Project of the Mellon Seminar in Digital Humanities at UCLA. Disponível em: http://dev.cdh.ucla.edu/digitalhumanities/2008/12/15/digital-humanitiesmanifesto/) Países no mundo inteiro se dão conta de que o seu bem mais precioso são os seus cérebros, e quanto maior o número cabeças pensantes mais chances eles têm de se projetar e se manter competitivos. Justamente quando a informação extrapola as fronteiras físicas, as distâncias são reavaliadas assim como os recursos didáticos e todo o tipo de dado que percorre e envolve o mundo num alcance ampliado possibilitando uma eqüidade nessa distribuição, jamais experimentada. As grandes massas passam a ter livre-arbítrio nessa rede, escolhem as suas tribos, redefinem as suas preferências diante de novas descobertas, criam as suas “páginas” com os seus saberes, dividem as suas experiências e seu conhecimento com milhares de pessoas numa velocidade de entrega e “feedback” nunca vistos. “wicked,wiki, untamed, social and single global brain”. Observando por um ângulo, essa rede presenteia a humanidade com a chance de equilibrar a balança do conhecimento sem distinção de raça, cor, credo e classe social e extrapola as fronteiras econômicas; sua capilaridade ilimitada atinge os países desenvolvidos, os emergentes e ainda os subdesenvolvidos. 46 A expansão das bases educacionais assim como a possibilidade de ampliação do seu conteúdo e das novas formas de comunicar e ensinar serão os principais responsáveis por essa mudança que proporciona oportunidades similares, à grande parte da população global. Hoje a rede e as comunidades criadas espontaneamente por meio desta, instigam estudiosos das diversas áreas do conhecimento e educadores do globo a analisar as práticas desse novo percurso e repensar o modelo educacional presente por reconhecer a sua célere falência. Segundo Brasilina Passarelli (2007), em seu livro Interfaces Digitais na Educação: @lucin [ações] consentidas (...) a fim de se amoldar às mudanças ocorridas na sociedade nas últimas décadas, o paradigma educacional hoje em desenvolvimento propõe uma escola inteligente, um local rico em recursos para que a aprendizagem seja de fato significativa. (p.42) Ainda nas palavras de Brasilina (ibid, p. 82) O homem tem buscado a integração, a harmonização das diversas formas de apreensão e percepção do mundo. Nesse contexto, os ambientes de hipermídia constituem a mais recente tecnologia para a integração e contextualização do saber, tornando-se assim uma ferramenta poderosa no processo de construção da aprendizagem. Um sistema educacional que se proponha aberto deverá privilegiar a obtenção e organização do conhecimento para possibilitar ao indivíduo uma visão global do mundo, valorizando a inovação e a descoberta como etapa fundamental do processo de aprendizagem, transformando a escola no templo do aprender a aprender. Os “conhecidos” processos educacionais ainda são reproduzidos nos ambientes virtuais, alguns disponibilizados na rede gratuitamente. Outros não, seja por questões econômicas ou pela dificuldade que o ser humano tem, como sociedade consolidada, de quebrar paradigmas, ousar, buscar pela criatividade e “sair do quadrado” desconstruindo processos há muito enraizados nas suas formas de operar. Uma outra referência do Digital Humanities Manifesto do 47 Mellon Seminar in Digital Humanities at UCLA fala da complexidadede ambas, ou seja, a larga escala combinada com as ciências humanas: Like all media revolutions, the first wave of the digital revolution looked backwards as it moved forward. It replicated a world where print was primary and visuality was secondary, while vastly accelerating search and retrieval. Now it must look forward into an immediate future in which the medium specific features of the digital become its core. The first wave was quantitative, mobilizing the vertiginous search and retrieval powers of the database. The second wave is qualitative, interpretive, experiential, even emotive. It immerses the digital toolkit within what represents the very core strength of the Humanities: complexity. Large-scale complexity: need for teamwork as new model for the production and reproduction of humanistic knowledge. Teams sometimes fail because they take risks. This is the heart of digital humanities: Risktaking, collaboration, and experimentation. Nesse sentido, o grupo CCVAP 2009 apresenta nesse capítulo uma compilação de organizações e trabalhos de pesquisadores veteranos da internet de diversas partes do mundo. São textos, ilustrações e vídeos com testemunhos importantes sobre “O estado da arte” de diversas iniciativas que têm com objetivo principal o de criar novas formas de construção do conhecimento em comunidades virtuais utilizando métodos colaborativos, ou seja, de criação coletiva, empregando as novas tecnologias de informação e comunicação, TIC. As iniciativas aqui apresentadas também utilizam, investem ou adotam a etnografia Virtual em suas pesquisas para avaliar ambientes de aprendizagem e prática, tema principal desse trabalho. Encontramos diversos termos para a Etnografia digital nesse campo de estudo: etnografia por meio da internet, etnografia conectiva, etnografia da rede, ciberetnografia, etnografia virtual. 48 São também distintos os entendimentos sobre a etnografia virtual, há quem entenda que essa é uma metodologia específica em “ambiente” e com “objeto” diferenciado que utiliza a etnografia, como também há aqueles que entendem que não existe nenhum diferencial entre investigar em ambientes reais ou no ciberespaço. Segundo uma publicação cujo o título é Etnografía virtual, escrito por Daniel Domínguez, Anne Beaulieu, Adolfo Estalella, Edgar Gómez, Bernt Schnettler & Rosie Read, Volumen 8, No. 3 – Septiembre 2007, e publicado no http://www.qualitative-research.net/index.php/fqs/article/view/274/603 Las diversas formas de conceptualizar la etnografía virtual están asociadas con una reflexión sobre el trasfondo cultural de internet y sobre el diálogo de las experiencias y las interacciones sociales con ese trasfondo cultural. Internet es un lugar rico en interacciones sociales donde la práctica, los significados y las identidades culturales se entremezclan a través de diversas vías. Las formas de relación social en el escenario virtual suponen un reto para los investigadores sociales y abren nuevos campos para el análisis en el terreno de la metodología cualitativa. Si bien los problemas etnográficos de la representación, de la perspectiva y de la participación no son nuevos en la etnografía, hacer de internet el objeto estudio lleva a que se replanteen nuevamente y que se reformulen, junto con otros elementos fundamentales como el de comunidad, el valor de la experiencia del investigador en el campo o las ideas de acceso y abandono del mismo. De modo que el tratamiento de internet interpela a una reflexión amplia sobre los aspectos centrales de la etnografía. Como parodia a Professora Brasilina, de “França a Bahia”, com extensão global, os estudiosos aqui apresentados vêm construindo ao longo da última década plataformas importantes para sustentar pesquisas e discussões dessas novas formas de elaborar conhecimento e pesquisar sobre esse fenômeno da interação da educação com as tecnologias de comunicação, 49 sendo estas presenciais ou virtuais, tais como fóruns, encontros, manifestos, blogs, laboratórios, etc. Em uma das reflexões importantes da Brasilina O homem tem buscado a integração, a harmonização das diversas formas de apreensão e percepção do mundo. Nesse contexto, os ambientes de hipermídia constituem a mais recente tecnologia para a integração e contextualização do saber, tornando-se assim uma ferramenta poderosa no processo de construção da aprendizagem. Um sistema educacional que se proponha aberto deverá privilegiar a obtenção e organização do conhecimento para possibilitar ao indivíduo uma visão global do mundo, valorizando a inovação e a descoberta como etapa fundamental do processo de aprendizagem, transformando a escola no templo do aprender a aprender. (PASSARELLI, 1993, p. 82) 4.2 PROJETOS MUNDIAIS E A ETNOGRAFIA VIRTUAL/DIGITAL O VKS (Virtual Knowledge Studio) da Academia Real de Artes da Holanda(The Royal Netherlands Academy of Arts and Sciences - KNAW), http://vimeo.com/album/84977, apóia pesquisadores das ciências humanas e ciência social (Holanda) na criação de novas praticas escolares e nas reflexões sobre a pesquisa eletrônica (e-research). Um dos conceitos centrais do VKS é a integração de design e análise em cooperação entre cientista social, pesquisadores, experts em tecnologia e cientistas da informação. Essa abordagem integrada investiga como a pesquisa eletrônica pode contribuir com novas pesquisas e métodos. O mesmo projeto é desenvolvido em parceria com a Erasmus University Rotterdam (Erasmus Studio5)e com a Maastricht University em Maastricht. Um 5 The Erasmus Studio will carry out a research programme including a number of projects with researchers from various disciplinary backgrounds, such as social sciences, economics, management research, and informatics. The Erasmus Studio will also organize a series of interdisciplinary seminars on e-research, in which both senior researchers as well as PhD students and undergraduates can participate. The Erasmus Studio is a collaboration with the Virtual Knowledge Studio for the Humanities and Social Sciences (VKS), a KNAW institute in Amsterdam which started in January 2006. A similar collaborative 50 dos projetos é o método etnográfico como método de pesquisa virtual ( etnografia virtual): The research focuses attention on challenges posed to ethnographic methods by the new digital and electronic media. It will be of interest to scholars engaged in ethnographic research which touches on digital media as well as other social scientists studying globalization and cultural change, digital communication, or cultures of digital media. The workshop forms part of the ongoing programme of the Virtual Knowledge Studio to study and stimulate new research practices in the humanities and social sciences. http://www.virtualknowledgestudio.nl/conferences/virtual-ethnography/ FQS, projeto desenvolvido pelo fórum de pesquisa social em Berlim, Alemanha (Fórum Qualitative Sozialforschung / Forum: Qualitative Social Research Berlim, Alemanha) pesquisa empiricamente utilizando métodos qualitativos que trabalham a teoria, a metodologia e aplicação da pesquisa qualitativa. Através de discussões online, o projeto promove interações entre autores e leitores, por exemplo sob uma perspectiva interdisciplinar e multinacional e de co-autoria. Convidamos nossos leitores a acompanharem o DVD gravado do site do Virtual Knowledge Studio (VKS) intitulado “Virtual Knowledge: a new reasearch agenda in th humanities and the social sciences” anexado nesse trabalho ou a assistir ao vídeo diretamente do site: initiative is the Maastricht Studio. It was lauched in October 2007 and has been set up by the VKS and the Universiteit Maastricht. The Erasmus Studio secretariat is housed by the Erasmus School of Economics. 51 http://www.virtualknowledgestudio.nl/ Através de um jornal online, o projeto6 de pesquisa social online (The Virtual Ethnography – Online Social Research) no Reino Unido faz uso das novas mídias, publica artigos nas diversas áreas da pesquisa social online, entre elas a etnografia virtual. Alguns dos pesquisadores são Christine Hine (University of Surrey), autora de Virtual Ethnography – livro que nos baseamos para discutir a etnografia virtual, Bruce Mason (ESRC Research Associate at the Cardiff School of Social Sciences) tem explorado a etnografia hipermidiática e questões metodológicas em relação ao compartilhamento de dados. Ele é o autor do livro Qualitative Research and hypermedia: Ethnography in the Digital Age e Bella Dicks, coordenadora do projeto Ethnography, Culture and Interpretive Analysis Global Political Economy (GPE). Convidamos a visita ao site: Projeto das University of Surrey, the University of Stirling, the British Sociological Association and SAGE Publications Ltd. 6 52 http://www.socresonline.org.uk/cgibin/perlfect/search/search.pl?q=ethnography&showurl=%2F1 2%2F6%2F3.html Nos Estados Unidos, temos acompanhado o projeto DIGITAL ETHNOGRAPHY de Mike Wesch, professor de Antropologia Cultural em Kansas State University, que publica online (principalmente no Youtube) trabalhos dos alunos da disciplina de antropologia. Trata-se de diversos vídeos produzidos pelos próprios alunos. 53 Alguns desses trabalhos podem ser acessados em: Na anthropological Introduction: http://www.youtube.com/watch?v=TPAO-lZ4_hU The Machine is Us/ing Us (Final Version) http://www.youtube.com/watch?v=NLlGopyXT_g A portal to media literacy: http://www.youtube.com/watch?v=J4yApagnr0s Information R/evolution http://www.youtube.com/watch?v=-4CV05HyAbM A Associação de pesquisadores da Internet (The Association of Internet Researchers – AoIR) é uma associação para estudantes e pesquisadores de qualquer área ou disciplina com interesse em estudos da internet (http://inthegameworkshop.blogspot.com). Essa associação promove um debate em torno da etnografia, mediação e conhecimento. Além disso, discute-se continuidade, responsabilidade, afetividade e práticas escolares. 54 Portanto, como vimos, são diversos os projetos que defendem e utilizam a etnografia virtual/digital como metodologia de pesquisa. Veremos no próximo sub-capítulo os projetos desenvolvidos no Brasil, pela Escola do Futuro e pelo programa de pós-graduaçáo da ECA-SUP mais especificamente. 4.3 A ETNOGRAFIA VIRTUAL E OS PROJETOS DA ESCOLA DO FUTURO (LIntEe e PPGCOM - USP) Escola do Futuro da USP - São Paulo, Brasil Fundada em 1989, objetivou estudar os impactos causados pelas Tecnologias da Informação em espaços de aprendizagem e práticas de ensino. A escola não conta com recursos financeiros da USP e reúne 60 pesquisadores entre docentes e alunos da USP, além de contar com profissionais associados. Como pode ser constatado em http://www.futuro.usp.br/, a atuação da Escola do Futuro tem como referência cinco princípios: 1. O compromisso com a pesquisa, a discussão e a avaliação de diferentes estratégias educacionais, privilegiando aquelas que incorporam, por um lado, os mais modernos conceitos sobre os processos de cognição humana e, por outro, as novas tecnologias de informação. 2. Desenvolver metodologias e materiais didáticos que conferiram um novo dinamismo ao ensino e à aprendizagem, presencialmente ou à distância. 3. Preparar novas gerações de educadores que vejam na interface entre educação e comunicação um campo fértil para sua criatividade, discernimento e constante aperfeiçoamento. 4. Promover a aceleração do intercâmbio de idéias e experiências entre educadores e instituições acadêmicas através da realização de cursos, seminários, oficinas e outros eventos. Pretende-se, assim, conciliar a pesquisa universitária com a prática da sala de aula. 5. Servir como um modelo de parceria entre a universidade, a sociedade e diferentes agências e esferas de governo, todos comprometidos com o aperfeiçoamento da Educação no Brasil. Este compromisso fundamenta-se em um novo horizonte de justiça social e de construção e exercício da cidadania em nosso país. 55 No Brasil, entendemos que os projetos do Laboratório de Interfaces em Educação - LIntEe da escola do futuro/USP, responsável por projetos experimentais de educação a distância com utilização da internet voltado a alunos e professores, apresentam experiências com o virtual engajado no social. Todos os projetos, de uma forma ou outra, utilizam metodologias de pesquisa relacionadas a etnografia virtual (o foco desse trabalho). À luz de Malinowski (MINAYO, 1995), vemos que nesse tipo de investigação “o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo, sua própria pesquisa e que esse trabalho de observação direta é parte integrante da mesma. Dessa forma, a etnografia apregoa a existência de uma identidade entre sujeito e objeto”, sendo o objeto das ciências sociais, essencialmente qualitativo. Geertz (1978) diz que “a etnografia não é uma questão de métodos, mas sim estabelecer relações, selecionar informantes, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos manter um diário, ao que ele denomina descrição densa.” São quatro os sites/projetos: To ligado – O Jornal Interativo da sua escola, conexão Escola – Interação total com o professor, Nexus – Da Informação ao Conhecimento para alunos da graduação e o CCVAP, como parte da disciplina de pós-graduação, Criando Comunidades Virtuais de Aprendizagem e Prática: http://futuro.usp.br/portal/website.ef www.toligado.futuro.usp.br/ www.ccvap.futuro.usp.br www.nexus.futuro.usp.br Analisamos, ainda, os projetos do programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA/USP. Vimos que praticamente todas as pesquisas utilizam, de alguma forma, ou seja, como objeto de estudo ou como método de pesquisa, a metodologia qualitativa, ou seja, a etnografia qualitativa. Alguns deles são: 1. CAPITAL SOCIAL EM COMUNIDADES VIRTUAIS DADOS: - Dissertação: Capital Social em Comuidades de aprendizagem e prática. - Autor: Anita Bliska 56 - Ana de Defesa: 2007 - Falcudade / Área: (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. 2. A EMERGÊNCIA DAS RELAÇÕES DE PODER NO COLETIVO MEDIADO DADOS: - Dissertação: A Emergência das Relaçoes de Poder no Coletivo Dediado: um estudo de caso na disciplina Criando Comunidades Virtuais de Apredizagem e de Prática - Autor: Claudia Pontes Freire - Ana de Defesa: 2009 - Falcudade / Área: (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. 3. PROCESSOS DE INOVAÇÃO EM COMUNIDADES VIRTUAIS DADOS: - Dissertação: Processos de Inovação em Comunidades Virtuais - Autor: Cristina Rui Santo - Ana de Defesa: 2009 - Falcudade / Área: falta informação 4. COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E INCLUSÃO DIGITAL DADOS: - Dissertação: Comunicação, Educação e Inclusão Digital: quem "tá ligado" na escola estadual paulista? ma análise da interatividade no projeto Tôligado: o jornal da sua escola. - Autor: Cristina Álvare Beslow - Ana de Defesa: 2008 - Falcudade / Área: (Mestrado em Ciências da Comunicação) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo. - apresentaçao dos trabalhos analisados Nossa análise focou dois trabalhos. Na primeira, a dissertação de mestrado de Anita Vera Bliska tem por objetivo propor um instrumento de medição de desempenho em comunidades virtuais de aprendizagem. Para isso, ela utiliza variáveis da teoria do capital social. Ela constrói uma matriz com 3 variáveis: capital social estrutural – compreende a infra-estrutura tecnológica e o uso de ambientes virtuais bem como políticas de incentivo ao 57 uso de recursos da tecnologia da informação; capital social cognitivo, gerado pela cultura virtual e coesão social que se relaciona com as ações coletivas, a partir das análises da interação e colaboração entre os participantes. A metodologia é a análise etnográfica do ambiente. Anita diz que usa o método etnográfico para interpretar experiências e condutas, abrangendo o que dizem, sabem, constroem e usam os estudantes das CVAs. Diz que é uma forte compreensão dos significados, comportamentos , ações e situações vivenciadas pelos participantes em seu cotidiano. A configuração etnográfica permite olhar, narrar, descrever, interpretar e indagar sobre o objeto investigado para narrar, descrever, interpretar sua materialidade discursiva, mantido como procedimento metodológico o princípio da interação constante entre o pesquisador e o objeto pesquisado. Na segunda, Conforme pode ser constatado no resumo do trabalho a autora informa que sua pesquisa analisou a interatividade propiciada pelo projeto de inclusão digital TôLigado - o Jornal Interativo da Sua Escola, site educativo concebido pelo então “Laboratório de Interfaces em Educação – LintE da Escola do Futuro/USP e implementado em parceria com a Fundação para o Desenvolvimento da Educação da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Obteve participação de 1.428 escolas de ensino médio e fundamental em diferentes cidades do estado, entre os anos de 2001 e 2006. A pesquisa analisou o site e os recursos que possibilitam a interação e a interatividade com seu público-alvo, com especial atenção para as atividades de produção do conhecimento entre os anos de 2002 e 2005. Utilizou-se a metodologia de pesquisa qualitativa e quantitativa, por meio da etnografia no virtual (grifos nossos), em que foram analisadas 814 publicações nas atividades de produção do conhecimento, referentes a 135 escolas participantes do projeto; além de etnografia na escola pública, por meio de pesquisa de campo em duas escolas estaduais paulistas que tiveram destaque de envolvimento no TôLigado – a E.E. Prof. José Felício Miziara e a E.E. Prof. João Portugal –, ambas localizadas na região de São José do Rio Preto. A partir da análise da participação no projeto e do contato com a realidade da escola pública, esta pesquisa detectou as dificuldades enfrentadas pela instituição escolar do Estado de São Paulo em incorporar as novas tecnologias 58 de comunicação e informação ao seu dia-a-dia, assim como os avanços alcançados pelo projeto de inclusão digital. 59 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS O que aprendemos até agora é apenas o começo. O universo virtual, tal como esfinge enigmática, reitera constantemente seu desafio a todos que queiram decifrá-los Passarelli, 2007, p. 185 As tecnologias da informação associadas ao ciberespaço proporcionam um crescimento exponencial e caótico das informações disponíveis e dos vínculos que unem essas informações. No ciberespaço, o saber não pode ser uma entidade estável e bem-definida. O ciberespaço transforma a relação com o saber. Lembrando a conceituação de Levy, veremos que o saber é um saber/fluxo, um saber em movimento. Essa mudança da relação com o saber repercute sobre as disciplinas ensinadas no nível universitário, particularmente nas disciplinas técninas e científicas. Novas teorias surgem e as pesquisas levam a novos conhecimentos. Os avanços tecnológicos fazem com que os campos de aplicação das diversas disciplinas e as ferramentas que lhe são próprias estejam em permanente mudança. Esse contexto requer que os aprendizes atualizem permanentemente seus conhecimentos. O ciberespaço, particularmente a internet, facilita o acesso à informação para um público amplo e oferece um ambiente com um potencial interessante de aprendizagem. Considerando as necessidades crescentes de diversificação e de personalização da formação, a aprendizagem autônoma parece ser um ideal a ser atingido. “As tecnologias poderiam trazer elementos de resposta a essa busca de autonomia na formação. De fato, graças a elas, a informação torna-se acessível a um grande número de indivíduos, mesmo na ausência de um mediador humano ou fora dos programas de formação estabelecidos. Assim o ciberespaço permite o acesso a banco de dados ou sites www, que dão conta 60 dos desenvolvimentos recentes nas diversas disciplinas e colocam à disposição dos professores e estudantes universitários um material que pode servir para fins didáticos. A exploração desses recursos nos programas universitários, por professores e estudantes, pode enriquecer as atividades de aprendizagem e de ensino. Essa nova situação deve levar-nos a adaptar a pedagogia universitária em função desses novos parâmetros. De fato, a utilização das tecnologias para fins de aprendizagem coloca em questão o ambiente pedagógico que permitirá favorecer as aprendizagens com ajuda das tecnologias, pois o acesso facilitado às informações não garante necessariamente melhores aprendizagens. Haughey (1995) diz que as tecnologias da informação e da comunicação, se não forem utilizadas em um contexto pedagógico renovado, podem simplesmente reproduzir o modelo de ensino tradicional, sem que se aproveite a liberdade que elas poderiam proporcionar ao professor. Como discorrido ao longo de todo esse trabalho, cremos ser essa a pedagogia questionada por essa disciplina de pos ( e por seus participantes): o questionamento de um modelo de ensino tradicional. Dentre as diferentes linhas pedagógicas, a abordagem construtivista é vista por muitos autores como particularmente apropriada ao ensino universitário. Para Bostock (1998), os ambientes de aprendizagem concebidos respeitando os princípios construtivistas deveriam oferecer aos aprendizes um alto grau de controle sobre sua aprendizagem, propor contextos de aprendizagem significativos e diversos tipos de interação. Voltando a Levy (1997), menciona que no contexto do ciberespaço é necessário um reforma que estabeleça um novo estilo de pedagogia que favoreça a aprendizagem personalizada e a aprendizagem cooperativa em rede. Muitos autores concordam que a utilização das tecnologias da informação e da comunicação deveria levar a uma mudança na relação pedagógica entre o professor e o estudante. O professor deveria abandonar seu papel de transmissor da informação para desempenhar um papel de guia e de conselheiro para o estudante. 61 Dado que a aprendizagem não se limita à aquisição de conhecimentos, é importante desenvolver no aprendiz habilidades que ajudem a explorar novas informações, sintetizar e fazer aplicações práticas. Segundo Haughey (1995), a educação é um processo interpretativo no qual o sentido emerge do diálogo e no qual os aprendizes são participantes ativos. O essencial da conduta educativa se situa na construção de sentidos com os aprendizes e não na transmissão de informação. Uma das formas que pode assumir a integração das novas tecnologias no meio universitário é a elaboração de cursos multimídia. O desenvolvimento do ciberespaço possibilita uma revisão dos conceitos de ensino a distãncia, dispositivo de formação e de autoformação. Ao permitir que alunos e professores entrem em contato e interajam apesar da distância física que os separam, as novas tecnologias da informação e da comunicação põem em xeque a noção de distância baseada exclusivamente no critério geográfico. A idéia de distância transacional, descrita por Paul Bouchard parece mais relevante que a idéia de distância geográfica. “Os desenvolvimentos tecnológicos também atuam em favor de uma visão ampliada do conceito de dispositivo de formação, que não pode ser reduzido ao simples suporte físico.” (ibid, p.111) O dispositivo é um lugar de interação que deve considerar o sujeito aprendiz e sua experiência de formação. “Os dispositivos de formação que exploram o ciberespaço, por dar acesso a recursos informacionais e humanos quase ilimitados, constituem sistemas mais abertos, cujos limites é difícil circunscrever claramente. O acesso facilitado à informação proporcionado pelo ciberespaço questiona os conteúdos da formação e as práticas. Como a informação está disponível o tempo todo, a aquisição desta informação passa a ter menos importância, o essencial da aprendizagem se desloca para o desenvolvimento de habilidades para saber buscar a informação, julgar sua validade ou pertinência e tratá-la. Como no ciberespaço o aluno tem acesso a uma quantidade enorme de informações e também a recursos humanos variados, o professor não é mais a única fonte de conhecimentos, adquirindo outros papéis 62 como o de animar, acompanhar e avaliar. Os idealizadores de dispositivos não podem reduzir seu papel à simples transmissão de informação. Embora saibamos que “a utilização de produtos multimídia não é a garantia de uma aprendizagem mais autônoma, vimos na prática (como alunos participantes da comunidade de aprendizagem e de pratica - real e virtualproporcionada por essa disciplina) que e‟ perfeitamente possível engajamento, trocas e construções coletivas. Para o fim, argumentamos, juntamente com O‟Gorman e Brasilina, contra uma visão tecno-burocrática da educação em favor de uma visão onde novos métodos e materialidades computacionais sejam inseridos. Uma possibilidades de teoria que reflete/ é refletida pela sociedade, seria aquela que questiona o cânone grafocêntrico mostrando, como citado por O„Gorman, que a “geração Nintendo” (já estamos nas gerações Playstation ou outras mais avançadas?) desenvolve habilidades específicas visuais e digitais que ultrapassam facilmente as gerações anteriores. “We are getting sillier by the minute”, ou seja, nós, os educadores de hoje, estamos ficando para trás a cada minuto, com “caras de bobos”: Mas e se a televisão, jogar video-games e surfar na internet são bons para nos? E se exercitar estes modos de cognição exigidos pelos sofisticados vídeo games visuais e os ambientes da Web pudessem na verdade aumentar a inteligência de alguém?7 Dessa forma, questionamos se não estamos aplicando velhos modelos a modelos novos que se transformam continuamente; questionamos se esse choque de gerações não se reflete no plano da educação e do conhecimento, ou seja, somos rápidos ao julgar e desvalorizar o aluno “pós-moderno” que aprende com a televisão, com vídeo games e com a Web, mas negligenciamos o fato de que essas epistemologias trazem conseqüências à vida pública. Como educadores, jornalistas e pesquisadores de redes sociais MCM e TIC, faz-se necessário refletir: a influência do visual e do digital, o “posicionar-se criticamente” também em relação ao digital e o pensar novas metodologias que abarquem e dialoguem com “velhos” e novos paradigmas educacionais. 7 traducao dos pesquisadores But what if television, playing video games, and surfing on the Web are actually good for you? What if exercising the modes of cognition demanded by visually sophisticated video game and Web environments could actually increase one’s intelligence?” p.72 63 Para o fim, discutimos extensivamente a quebra de paradigmas da sociedade, as questões de reprodutivismo versus construção de conhecimento (Bourdieu, Morin), as novas TIC, os novos usos e aplicações do ciberespaço, as comunicações mediadas por computadores (CMC). Não poderíamos deixar de convidá-los a assistir à nossa contribuição para a disciplina CCVAP 2009. Além da criação do texto coletivo, construímos uma apresentação em PowerPoint com linha do tempo, gráficos de dados e de presença virtual, bem como o vídeo abaixo. Não poderíamos deixar de agradecer (como fizemos no vídeo) a orientação da prof. Dra. Brasilina Passarelli que, em meio à greve, não mediu esforços para nos orientar. Temos certeza que esse projeto e essa comunidade continuam nos grupos de emails googlegroups, googledocs, nos msns e skype.com e nos artigos e livros (talvez?) que um dia publicaremos coletivamente, uma prova (empírica racional) de que comunidades de aprendizagem e prática podem acontecer real e virtualmente; comunidades que pensem e façam uma nova educação, o diferente, a vanguarda: http://www.youtube.com/watch?v=RZnc_rAsPzk 64 REFERÊNCIAS ALAVA, S.(org.) Ciberespaço e formações abertas: rumo a novas práticas educacionais?. Porto Alegre: Artmed, 2002. ANTOUN, Henrique. “Democracia, multidão e guerra no ciberespaço”. In: PARENTE, André (Org.) Tramas na Rede. 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Londrina (PR): Eduel 2001. 68 APÊNDICE: MAKING-OF Apresentamos nesse capítulo a apresentação final da linha do tempo, os links de produção de cada aluno, os gráficos com dados sobre nossa produção, comunicação e evolução durante a disciplina. 363 emails trocados no googlegroups. destes o dia com maior troca foi terças-feira, dia da aula, seguido de segundas-feira, pré-aula e quartas-feira, pós-aula. 69 Porcentagem de emails X Semana de estudo X Dia da Semana 70 71 72 73 74