A nova ocupação da Amazônia”, do jornal O Estado de S. Paulo
Transcrição
A nova ocupação da Amazônia”, do jornal O Estado de S. Paulo
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 1 DE JUNHO DE 2014 E&N Gigante dos alimentos China em reforma JBS faz mudança ‘relâmpago’ no controle acionário Sob o comando de Xi Jiping, governo propõe mudanças Pág. B6 Págs. B12 a B14 ECONOMIA & NEGÓCIOS Reportagem Especial * 17 milhões de habitantes é a população estimada do Norte em projeção feita pelo IBGE no ano passado. Até 2015, serão 18,2 milhões A nova ocupação da Amazônia AMAZÔNIA ATRAI R$ 130 BI E ENFRENTA NOVOS PROBLEMAS Usinas, portos e minas geram riqueza, mas podem provocar desequilíbrios sociais e ambientais Renée Pereira / TEXTOS Sérgio Castro / FOTOS ITAITUBA (PA) A riqueza mineral e o potencial da bacia hidrográfica fizeram da Amazônia um novo foco de investimentos do Brasil. Até 2022, o volume de obras anunciadas na região soma mais de R$ 130 bilhões, entre projetos de mineração, hidrelétricas e terminais portuários. Muito ainda deve vir pela frente, já que há vários estudos em andamento. O problema será contornar os impactos ambientais que boa parte dos projetos trarão para a região. Os empreendimentos vão ajudar a turbinar a economia do Norte. Estudo da consultoria Tendências mostra que, entre 2015 e 2018, os Estados da região vão crescer 3,8% ao ano – acima da média nacional de 2,9%. A renda familiar deverá seguir o mesmo ritmo e subir mais que o resto do País: 3,8%, ante 3,0%. Consequentemente, a população aumentará 1,35% ao ano no período (no Sul e Sudeste, a taxa ficará em 0,7%). Pelas últimas previsões feitas pelo IBGE, no ano pas- sado, o Norte alcançou 17 milhões de habitantes. Até 2015, serão 18,2 milhões. Nesse período, a taxa de desemprego terá ligeira queda, dos atuais 6,6% para 6,4%. A partir de hoje, o Estado publica uma série de reportagens sobre o novo ciclo de investimentos na Amazônia, os reflexos na vida da população local e na comunidade indígena e os impactos nas áreas de preservação ambiental. Os empreendimentos têm sido motivo de preocupação entre governantes locais e ambientalistas, que questionam os benefícios dos projetos bilionários. “O País precisa rever seu olhar sobre a Amazônia e redesenhar o padrão de ocupação da região. Caso contrário, daqui a 30 anos estaremos discutindo a coexistência entre crescimento e pobreza”, argumenta o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB). Com o esgotamento de potenciais hidrelétricos e o estrangulamento do sistema portuário das Regiões Sul e Sudeste, a solução tem sido erguer usinas e portos no Norte. O movimento começou com as usinas do Rio Madeira e Belo Monte e deve seguir com outros 13 mil megawatts (MW) nos próximos dez anos. “Cerca de 60% do potencial hidrelétrico está na Região Norte, mas sabemos que apenas uma Cenário. Vista do trecho urbano da cidade de Itaituba pelo Rio Tapajós parte será explorada”, afirma o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. Para permitir o início dos estudos de São Luiz do Tapajós e Jatobá, as próximas usinas a serem leiloadas, a presidente Dilma Rousseff criou uma medida provisória e alterou os limites do Parque Nacional da Amazônia e de uma série de florestas, campos e áreas de preservação ambiental. “Essa é uma das questões mais delicadas na discussão sobre as hidrelétricas do Tapajós. Não faz sentido ter critérios para criar uma área de preservação e não ter nenhum para diminuir essa mesma área”, critica o superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil, Jean-François Timmers. Nada garante que em outros casos medida semelhante seja adotada. Além das questões ambientais, as últimas construções têm provocado sérios problemas sociais, como o in- chaço populacional em cidades com infraestrutura precária. Quando um projeto de bilhões de reais chega a um pequeno município, quase sempre com ausência do Estado e indicadores precários, ele desestabiliza o pouco de equilíbrio que a população tem, afirma o governador do Pará. Segundo ele, embora seja o segundo maior saldo da balança comercial brasileira, grande produtor de energia e de minério e ter o 4.º ou 5.º maior rebanho de gado, o Pará tem uma renda per capita de um pouco mais da metade da média nacional. No caso dos portos, o impacto tende a ser menor durante as obras. Mas, com o aumento de caminhões nas estradas rumo aos terminais e a expansão dos comboios nos rios, o cotidiano da população local muda radicalmente. E a captura de benefícios é ainda mais difícil. Os terminais são operados por poucas pessoas, já que têm um elevado grau de automatização. “Na década de 70, fomos válvula de escape para a reforma agrária. Agora vamos ser para o esgotamento da logística? Não queremos ser apenas um corredor de passagem. Queremos que tenha projetos que agreguem valor aqui”, diz Jatene. WELCOME TO OUR WORLD w Thom Richard é um dos raros pilotos do planeta a ter o talento, a experiência e a coragem para disputar a final das célebres Reno Air Races – o desporto motorizado mais rápido do mundo. Menos de dez campeões são capazes de se confrontar a cerca de 800 km/h, asas contra asas, correndo risco de vida, a alguns metros do solo. É para esta elite de aviadores que a Breitling concebe os seus cronógrafos, instrumentos robustos, funcionais e de altas performances, todos equipados com movimentos, cronômetros certificados pelo COSC – a mais alta referência oficial, em matéria de confiabilidade e precisão. Bem-vindo ao mundo da Breitling. CHRONOMAT 44 FABRIZIO BENSCH /REUTERS B1 %HermesFileInfo:B-1:20140601: B2 Economia %HermesFileInfo:B-2:20140601: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 1 DE JUNHO DE 2014 CELSO MING [email protected] Pecados capitais A sucessãoderesultadosmedíocres do PIB e de inflação alta demais (à altura dos 6,0% ao ano) ao longo do governo Dilma não pode ser atribuída à crise global, como alega o ministro Guido Mantega. Esta é, em si mesma, uma alegação incoerente. Se a situação externa tivessetanta influência,a inflação estariaemtorno dezero,comolá. Ereclamar da desaceleração do crédito não tem pé nem cabeça. Não é também esse efeito que procura uma política monetária restritiva, como a de hoje? A má condução da economia, num cenárioexternodesfavorável,éverdade,masmarcadaporescolhasequivocadas, é a única explicação para essa cadeia de frustrações. A desarrumação começou ainda em2011,quandoogovernoDilmapre- tendeu ativar o avanço econômico com uma política fiscal frouxa e derrubada acentuada dos juros (até abril de 2013), acompanhada de uma política de desvalorização da moeda (alta do dólar), para ativar o consumo. Ajustificativaparaessearranjofoiade queseprecisoumontarumapolíticaeconômicacontracíclicaparaenfrentaraestagnação. Até mesmo os pressupostos da manobra são equivocados. Não basta estimular o consumo com mais despesaspúblicasejurosartificialmenteachatados,numquadrodebaixacompetitividadedaindústria.Oaumentodademanda passou a ser atendido com mais importações e, apesar do bom desempenhodosetoragrícola,provocou deterioração nas contas externas. O mergulho prematuro dos juros em 2011, acompanhado da política de desvalorização do FRUSTRAÇÕES ● Brasil: crescimento do PIB e inflação em 12 meses EM PORCENTAGEM DO PIB 6,5 2,7 2011 2,3 2012 6,5 5,7 1,6 1,0 2013 2014* *Projeções da Pesquisa Focus de 26/maio FONTES: IBGE E BANCO CENTRAL INFOGRÁFICO/ESTADÃO real, além de não ampliar o mercado externo para o setor produtivo, causou mais inflação. Para evitar a escalada dos preços, o governo optou pelo represa- Editorial econômico CONFIRA ● Participação das atividades no PIB, em 2013 Agropecuária 5,7% Serviços Indústria 69,3% 25% FONTE: IBGE INFOGRÁFICO/ESTADÃO Aí está a participação dos três principais setores da economia no bolo do PIB. (Não há dados de 2014.) ● Agronegócio O desempenho do setor agropecuário (crescimento de 3,6% no primeiro trimestre sobre igual período do ano passado) foi o que impediu um desastre total do PIB, apesar da precariedade da infraestrutura, que mantém elevados os custos de produção. E, no entanto, o governo Dilma continua com o desmonte do setor do etanol, na medida em que mantém artificialmente baixos os preços da gasolina. Opinião O impasse dos fundos de pensão Poupança menor não afeta o crédito à moradia Houvemaisretiradasdoquedepósitosemcadernetas de poupança, em abril, o que não chegou a afetar os empréstimos habitacionais, que cresceram,noSistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), 10% em relação a abril do ano passado, de R$ 8,3 bilhões para R$ 9,2 bilhões, e de 11% em relação a março. Os empréstimos à casa própria no SBPE, majoritariamente destinados à classe média,sãooaspectomenospreocupante do mercado imobiliário, que enfrenta uma desaceleração, em São Paulo, segundo os levantamentos do sindicato da habitação (Secovi). No primeiroquadrimestredo ano passado, os depósitos de poupança registraram aumento líquido de R$ 9 bilhões, mas no mesmo período deste ano o crescimento líquido foi de apenas R$ 3,6 bilhões – e R$ 736 milhões foram sacados em abril. Ainda assim os saldos das cadernetas cresceram de R$ 404,9 bilhões, em abril de 2013, para R$ 480,4 bilhões, em abril último. O aumento das retiradas da poupança se explica pela queda do poderaquisitivodossaláriosdecorrente da inflação e pela necessidade de cobrir gastos correntes, mas também pelo elevado endividamento 5,8 mento das tarifas de energia, dos combustíveis e dos transportes urbanos. A reviravolta da política de juros em 2013 nãofoisuficienteparasegurarainflação. Tudo isso junto derrubou a confiança do setor produtivo e do consumidor. O Tesouro está esgotado porque gastou emexcessoefezrenúnciasdemaisàarrecadação de impostos. Não consegue manterseufocoanticíclicoquandomais precisa dele para reativar a economia. O governo Dilma descobriu tarde que a ênfase no consumo, sem acionamento doinvestimento,produziriaaderrapada em curso. A abertura às concessões de serviços públicos também não deslanchou, por falhas de gerenciamento do mesmo tipo das que causaram atraso e desperdício nas obras da Copa. ComoocorreucomoTesouro,oavanço ao patrimônio das joias da coroa, como Petrobrás e Eletrobrás, sacrificou a capacidade de investimento e derrubou setorespromissoresdaeconomia,como o do etanol e o da produção de energia alternativa. Há quem argumente que a economia só precisa de uns ajustes. Não é verdade. Alémdeumaforterecalibragemnosfundamentos para que voltem a dar sustentabilidade ao crescimento, a economia precisa de reformas. E isso, por sua vez, exige uma custosa transferência de contas a pagar para toda a sociedade. ✽ ● SUELY CALDAS das famílias e, em especial, pelo avanço dos juros. Esse avanço tem dois efeitos imediatos: eleva o valor dasprestaçõesnasoperaçõesdecrédito e desloca aplicações em caderneta para outras modalidades, tornadas mais competitivas pela alta da Selic, de 7,25% para 11% ao ano, interrompida agora pelo Copom. Se não houve impacto sobre as operações ativas de crédito a imóveis, é porque há uma sobra histórica de recursos no SBPE, que só tenderãoaesgotar-se,segundoespecialistas, em mais dois ou três anos. E, se isso de fato ocorrer, os bancos poderão se valer de mecanismos de captaçãojábastanteconhecidos,como as letras de crédito imobiliário e os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs). Havendo demanda forte, mais de 550 mil imóveis foram financiados nos últimos 12 meses, um crescimento da ordem de 20% em relação aos 12 meses passados. E quase 700 mil unidades foram financiadas no primeiro quadrimestre, 16% mais do que em igual período de 2013. Os dados sugerem que o ritmo de crescimento do crédito habitacional apresenta uma acomodação, após a elevação do montante de empréstimos em quase 32%, entre 2012 e 2013. Acomodação, entenda-se, perfeitamente explicável pela preocupação dos trabalhadores com os rumos da economia. O s fundos de pensão de empresas estatais voltaram a ocupar espaço na mídia com denúnciasdefraudesfinanceirasedesviosde dinheiro como não se via há anos. O Petros (fundo da Petrobrás) perdeu R$ 1 bilhão no falido Banco BVA, em queoBancoCentralencontrouumempréstimoilegaldeR$100milhõesfeito pelo fundo à empresa Providax, ligada a diretores do BVA, e que jamais seria pago. A Comissão de Valores Mobiliários(CVM)identificouoperaçõesfraudulentas no Postalis (Correios), entre elas um aporte de R$ 40 milhões feito ao Banco BNY Mellon, por influência de acusados na Operação Lava Jato da Polícia Federal, e que resultou em graveprejuízoparaofundo,informaojornal O Globo. Previ (Banco do Brasil), Funcef (Caixa Econômica) e Petros são acusados por seus aposentados de realizarem investimentos de baixa ou de nenhuma rentabilidade para atender a interesses do governo federal, lesando o patrimônio dos três fundos. Os funcionários dessas estatais passaram a reagir em defesa de seu patrimônio e a resposta começou a chegar, na semana passada, com a eleição de novos diretores independentes para o Funcef e o Previ, derrotando a chapa apoiadapelaCentralÚnicadosTrabalhadores (CUT) e pelo Palácio do Planalto. Insatisfeitos com gestões que cuidamdeinteressesdogovernoedes- protegemagarantiadepagamentodas aposentadorias,funcionáriosepensionistas da Caixa Econômica e do Banco doBrasilrejeitaramoscandidatoschapa branca que engoliram há anos por pressão política sindical e despejaram seusvotosemopositorescomprometidos com uma gestão focada no lucro e maximização do patrimônio. Foi um golpe para o governo federal, que tem recorrido ao capital desses fundos para tapar buraco de empresários privados que têm desistido de investimentospatrocinadospelogoverno,sejapelograuderiscoouporconsiderá-losde rentabilidade duvidosa. Nopassado,osfuncionáriosdeestataisnãoprecisavamfiscalizarseusfundosporqueelesnuncaarriscavamperdas:asregraslhesgarantiamaposentadorias de valores definidos e, se o fundoapresentasserombo,aestatalpatrocinadoraocobria,obviamentetransferindo o ônus para todos os brasileiros, seusacionistas.NogovernoFHCasregras começaram a mudar e os prejuízos passaram a ser obrigatoriamente divididos entre empresa e participantes – os aposentados com redução do benefícioefuncionáriosativoscomaumentodascontribuições.Apopulação ficou livre de mais esse ônus. Porém,asregrasdeescolhadosdiretoresnãomudaram:metadedeleséindicada pela estatal patrocinadora e a outra metade, em eleição direta por funcionários e aposentados. Foi o temor de ver seu benefício reduzido de valor que tem levado os participantes, principalmente os aposentados, a se preocuparem com o desempenho fi- nanceiro do fundo e fiscalizar seus investimentos.Ecomeçaramaseorganizar para derrotar o governo e os sindicatos na eleição da diretoria. A chapa vencedora no Previ é liderada por um ex-presidente da Associação Nacional de Aposentados do Banco do Brasil. TambémnoPetroscresceomovimento crítico à gestão da atual diretoria e o Conselho Fiscal acaba de reprovar as contasde2013,queapuraramumrombo calculado em R$ 7 bilhões. A função central da diretoria de um fundo de pensão é administrar a poupançaacumuladaaolongodosanospela empresa e seus funcionários, tendo por foco multiplicar o patrimônio que vai garantir o pagamento de aposentadorias – no presente e no futuro. No Brasil, fundos de empresas privadas costumamterceirizaressafunçãoainstituições financeiras especializadas, submetidasaresultados,cobradasefiscalizadas por representantes da empresaedosfuncionários.Naestatal,os gestores são os próprios funcionários da empresa, muitos deles despreparados para exercer a função e que entregam certas operações parabancos, pagando comissões elevadas e que geramdesconfiançadosparticipantes.Isso sem contar as operações suspeitas de aplicação de dinheiro em empresas fantasmas ou falidas, que causam perdas para o patrimônio do fundo e ganhos para seus diretores. ✽ JORNALISTA, É PROFESSORA DE COMUNICAÇÃO DA PUC-RIO. E-MAIL: [email protected] Panorama Econômico PEDRO PASSOS COELHO CLODOALDO HUGUENEY EDUARDO SANOVICZ PRIMEIRO-MINISTRO DE PORTUGAL EX-EMBAIXADOR DO BRASIL NA CHINA PRESIDENTE DA ABEAR “Vamos anunciar, na hora oportuna, como vamos superar essa enorme frustração (veto da Justiça a corte de salários).” “A China cresceu quase 10% ao ano em 40 anos, mas isso gerou renda concentrada e queda do consumo como parcela do PIB.” “A redução do preço do querosene é essencial para ampliar a aviação no País. Se o preço cair, mais regiões podem receber voos.” EUROPA AVIAÇÃO Espanha prepara pacote Bombardier interrompe de estímulo à economia testes com jato CSeries O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, disse ontem que seu governo vai anunciar um pacote de estímulo de € 6,3 bilhões para impulsionar a economia. Segundo ele, o plano pretende “mobilizar” €2,7 bilhões do setor privado e outros € 3,5 bilhões da governo. Os detalhes do pacote serão anunciados na sexta-feira. O novo jato CSeries da Bombardier sofreu um “incidente de motor” enquanto estava estacionado, o que fez a empresa interromper os testes com o avião. Esse é mais um revés para a entrada da Bombardier no mercado de jatos menores, prevista inicialmente para o fim de 2013, A data foi adiada para o segundo semestre de 2015. MERCADO FINANCEIRO “Há uma carência generalizada na América Latina de investimento em inovação. Sem isso, a produtividade das empresas crescerá abaixo das outras regiões, trazendo expansão menor na economia.” Jamele Rigolini GERENTE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO PARA OS PAÍSES ANDINOS DO BANCO MUNDIAL BRIAN SPURLOCK/USA TODAY SPORTS FBI e SEC investigam jogador de golfe ● Internet O FBI e o órgão regulador de mercados dos Estados Unidos (SEC) estão investigando um possível uso de informação privilegiada envolvendo o investidor bilionário Carl Icahn, o jogador de golfe Phil Mickelson e o apostador William Walters de Las Vegas, disse a Reuters uma fonte próxima a questão. A investigação se concentra solicitações foram enviadas ao Google por europeus que querem excluir seus dados do resultado das buscas. A empresa começou a oferecer um formulário para solicitar a retirada de informações após o Tribunal de Justiça da União Europeia reconhecer no dia 16 o direito dos cidadãos de serem “esquecidos” na web. 12 mil em operações suspeitas com ações da fabricante de produtos de limpeza Clorox por Walters e Mickelson, um dia antes Icahn anunciar uma oferta para adquirir a empresa em 2011. B4 Economia %HermesFileInfo:B-4:20140601: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 1 DE JUNHO DE 2014 Reportagem Especial * 30% dos carros e comerciais leves são de caminhonetes (nacionais e importadas). Muitos não têm casa, mas têm uma caminhonete ‘traçada’ A nova ocupação da Amazônia FOTOS SERGIO CASTRO/ESTADÃO GARIMPO MARCOU HISTÓRIA DA CIDADE Mineração e venda de ouro representam mais da metade da economia de Itaituba Beneficiamento. Ouro é transformado em barra numa casa de compra do metal em Itaituba, no Pará Renée Pereira / TEXTOS Sergio Castro / FOTOS ITAITUBA (PA) A diversidade do Vale do Rio Tapajósfoiumdosgrandes responsáveis pela ocupação de Itaituba,quehoje ostentatítuloscomo Cidade Pepita e Província Mineral. A história de cada morador do município tem uma passagem pelo garimpo, algumas bem-sucedidas, outras nem tanto. Maria de Lourdes Linharesda Silvaviveu asduasexperiências. Ainda mocinha, deixou o Maranhão rumo a Itaituba para trabalhar no garimpo, onde o irmão já estava há algum tempo. Não tinha ideia do que era uma mina de extração de ouro. Aochegarnolocal,foiencaminhada para uma casa de prostituição. Por sorte, foi resgatada pelo irmão, que queria enviá-la de volta para o Maranhão. Mas Maria de Lourdes ● Economia dourada 430 é o número de pistas de pouso no Vale do Tapajós bateu o pé e encontrou uma forma de ganhar dinheiro: cozinhava, lavava e passava para os garimpeiros. Em troca recebia ouro. “Juntei 150 gramas (de ouro), fui para Manaus, comprei várias mercadorias e comecei a vender no garimpo.” Aos poucos, montou uma loja para atender os trabalhadores. “Com o dinheiro, comprei terra e casa em Itaituba”, conta ela. Personagens como Maria de Lourdes estão espalhados por todos os cantos de Itaituba. Nem todos, no entanto, gostam de falar do garimpo. Muitos fizeram do ouro o trampolim para negócios mais sólidos. Viraram donos de empresasde aviões,comércio erestaurantes. Muitos garimpeiros, no entanto, continuam sem dinheiro e sem patrimônio. Reinvestiram tudo na exploração de ouro, sonhando em fazer uma fortuna que até hoje não veio. Na cidade do ouro, as caminhonetes (nacionais e importadas) – sonho de consumodemuitos brasileiros–representam 30% dos automóveis e comerciais leves. Os moradores dizem que muitos não têm casa própria, mas têm uma caminhonete “traçada” (com tração nas quatro rodas). Uma Hilux 2010, por exemplo, está na casa de R$ 99 mil. Cidade Pepita. Comércio de ouro é principal atividade econômica de Itaituba Economia. Hoje a mineração e o co- 600 é o número de pontos de exploração de ouro na região 400 e 800 kg de ouro circulam pela região por mês mércio de ouro representam mais da metade da economia de Itaituba, por onde circulam entre 400 e 800 quilos do metal por mês. “Infelizmente, uma parte vem do garimpo ilegal”, afirma o presidente da Associação Nacional do Ouro (Anore), Dirceu Frederico. Ele conta que há cerca de 430 pistas depousonoValedoTapajóse600pon- tos de exploração do mineral na região, considerada a maior área em extensãoterritorial domundocom registro de ouro. “Ali também temos o mais antigo vulcão do mundo, o que possivelmente pode explicar a diversidade geológica que há na área, com ocorrência de ouro, diamante, ametista, ferro, manganês,entreoutros”, diz Frederico. Toda essa diversidade tem reflexosemItaituba.Numadasruasprincipais da cidade, na Travessa 13 de Maio, entre lojas de armarinho, restaurantes e hotéis, vários Distribuidores de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM) e joalherias se destacam com letras garrafais anunciando a compra de “Ouro”. Num passeio pelas ruas da cidade é muito comumencontrar funcionáriosdas lojas beneficiando o ouro ou pessoas encomendando joias exclusivas. São dezenas de lojas, instaladas ao lado do concorrente. Algumas não seguem as regras para a compra de ouro, como a exigência de certificações para a exploração. Normalmente, essas lojas pagam mais pelo ouro do que as lojas legalizadas. “Se na bolsa o ouro está R$ 91, as lojas legalizadas compram por R$ 87,5 o grama. As demais compram por R$ 90. Esse ouro está indo para outros mercados que não é o de joias”, diz o presidente da Anore. Frederico afirma que boa parte da exploração no Vale do Rio Tapajós é feita de forma manual, sem grandes tecnologias. Alguns usam escavadeiras hidráulicas, que melhoram a produtividade da mineração. Mas são poucas as grandes empresas que estão na região, afirma Frederico. “Nos últimos 60 anos, foram extraídos cerca de 700 toneladas de ouro do Tapajós. Podemos dizer que isso representa um terço do potencial da região. Ainda há um potencial magnífico a ser explorado.” POTENCIAL HIDRELÉTRICO Bacia do Amazonas* ● Aproveitamentos que estão sendo estudados pelo governo federal Complexo Hidrelétrico do Tapajós prevê a construção de 5 usinas nos rios Tapajós e Jamanxim Projetos SUB-BACIA EM MEGAWATTS AM PA RIO TAPAJÓS EM ESTUDO OU JÁ LEILOADOS Floresta Nacional do Tapajós OCEANO ATLÂNTICO N Belém Itaituba Parque Nacional da Amazônia Manaus Miritituba B AM 2 R- 30 TAPAJÓS 6.875 17.841 XINGU 5.681 MADEIRA 13.144 1.556 TROMBETAS 1.491 4.745 NEGRO 0 4.184 JARI 318 1.373 BRANCO 419 660 PARU 820 118 PURUS 213 213 MAECURU 161 161 OIAPOQUE 0 250 NHAMUNDÃ 0 110 UATUMÃ 75 0 Trairão MA PA SÃO LUIZ DO TAPAJÓS JATOBÁ Porto Velho RO Bela Vista do Caracol CACHOEIRA DO CAÍ TO Jatobá MT BR JAMANXIM -16 3 BOLÍVIA Cuiabá GO CACHOEIRA DOS PATOS SEM RESTRIÇÕES COM RESTRIÇÕES 17.114 29.196 mw TOTAL 47.862 mw sem restrições ambientais 77.058 com restrições ambientais mw *Alguns potenciais já foram aproveitados FONTES: EPE, PLANO NACIONAL DE ENERGIA 2030 NORTE TEM 60% DO POTENCIAL HIDRELÉTRICO A Região Norte detém 60% de todo potencial hidrelétrico doBrasil.Mas,segundooúltimo Plano Nacional de Energia, elaborado pela Empresa de Pesquisa 0 Energética(EPE), boapartetemrestrições ambientais para exploração. O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirma que, para os próximos dez anos, a expectativa é construir cerca de 13 mil megawatts (MW) de energia dentro da Bacia do Amazonas, incluindo São Luiz do Tapajós e Jatobá, no Rio Tapajós. Tolmasquim afirma que o Norte é a grande fronteira hidrelétrica do País. “Mas essa também é a região com maior riqueza de biodiversidade (de faunaeflora)ecomgrandescomunidades indígenas.” Segundo ele, o grande desafio é saber que parte do potencial hidrelétricopoderáser usadosem causar risco ao patrimônio ecológico. “A tendência é ficar cada vez mais restritivopara a construçãodehidrelétricas na Amazônia.” Por isso, a solução será apostar em novas fontes de energia, como as eólicas e as termoelétricas.Tolmasquim explicaquea parti- 5000 10000 cipação das hidrelétricas na matriz energética deverá cair de 69% para 59% nos próximos dez anos. Isso não significa que o País deixará de construir hidrelétricas no País, mas que outras fontes ganharão mais peso no planejamento, diz ele. O professor da USP, José Goldemberg, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo, defende a diversificação da matriz elétrica, com o aumento da participação das eólicas e biomassa. 15000 20000 INFOGRÁFICO/ESTADÃO 25000 “Estão negligenciando o enorme potencial do bagaço de cana na produção de energia elétrica.” Na avaliação dele, no entanto, essa diversificação não significa abandonar a construção de hidrelétrica, mesmo que seja na Amazônia. Mas é preciso ser feito com cuidado, prevendo todas as mitigações possíveis, diz ele. “As compensações precisam ser feitas com planejamento e custam caro.” B8 Economia %HermesFileInfo:B-8:20140608: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 8 DE JUNHO DE 2014 Reportagem Especial ✽ “O corredor norte é a maior obra de expansão do País” ANTONIO HENRIQUE PINHEIRO SILVEIRA, A nova ocupação da Amazônia MINISTRO DOS PORTOS EXPORTAR PELO NORTE COMEÇA A VIRAR REALIDADE Complexo portuário no Pará impulsiona outros projetos Renée Pereira / TEXTO Sergio Castro / FOTOS MIRITITUBA (PA) O estrangulamento do sistema portuário das Regiões Sul e Sudeste acelerou os planos da iniciativa privada para abrir um novo corredor de exportação, mais curto e até 35% mais barato. Sonho antigo dos empresários do agronegócio, a chamada “saída pelo norte” começou a virar realidade no fim de abril, quando a americana Bunge inaugurou o complexo portuário em Miritituba e Barcarena, no Pará. Daqui para a frente, uma série de outros projetos estão programados para sair do papel. Dados da Secretaria de Portos (SEP) mostram que há mais de R$ 5,5 bilhões de investimentos na Amazônia, entre áreasqueserão arrendadaspelogoverno federal e Terminais de Uso Privativo já autorizados. Há ainda uma série de projetos aguardando autorização da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) ou ainda em estudos que não estão computados nessa conta, como os projetos da Cianport, Odebrecht, Unirios e Caramuru Alimentos. “O corredor norte é a maior obra de expansão do País”, afirma o ministro de Portos, Antonio Henrique Pinheiro Silveira. Abuscapornovasalternativaslogísticavirouprioridadecomamudançageográfica do agronegócio. Com os maiores produtores de grãos instalados no norte de Mato Grosso, a saída natural eram os portos do Norte. Mas, com a falta de capacidade dos terminais, quase toda a safra era – e ainda é – escoada pelos portos do Sul e Sudeste, em especial Santos e Paranaguá (distantes 2.250 km e 2.350 km, respectivamente, de Sorriso). Cansados de conviver com congestionamentos gigantes, que todo ano se formam nas rodovias que ligam esses portos, várias empresas deram início a uma série de projetos. Emtrêsanos,ovolumedemovimentação de grãos pelo Norte deverá quadruplicar, saindo de 5 milhões de toneladas para até 20 milhões de toneladas, afirma o ministro de portos. Segundo ele, os sistema do Sul e Sudeste não vão perder carga, mas todo o acréscimo de safra será transportado pelo novo corredor, que consolida no País o conceito de intermodalidade. A rota de exportação pelo Norte interliga rodovia, rio e mar. Miritituba e Santarenzinho, na beira do Tapajós, são os locais com maior número de projetos, afirma o coordenador executivo do Movimento Pró Logística, Edeon Vaz Ferreira. Segundo ele, a lista de empresas inclui Cianport, Hidrovias do Brasil (do Pátria), Cargill, Unirios, Amaggi, Dreyfus, Odebrecht e Bertolini. Alguns desses investidores também apostam em terminais na ponta final. O complexo da Cianport, empresa formada por Agrosoja e Fiagril, prevê uma estação de transbordo em Miritituba e um terminal em Santana, no Amapá. O projeto, de R$ 350 milhões, aguardaautorizaçãoda Antaq elicença de instalação para iniciar as obras, diz o diretor-presidente da companhia, Cláudio José Zancanaro. A previsão é que cada comboio de barcaças transporte 32 mil toneladas de grãos, o que representa tirar 850 caminhões das es- Investimentos CORREDOR NORTE ● Nova P Porto de Santana rota de exportação diminui custo e distância de viagem RODOVIA tradas. “De Miritituba, as barcaças vão percorrer 300 km pelo rio Tapajós e 550 km pelo Amazonas até Santana.” AHidroviasdoBrasiloptoupeloPorto de Vila do Conde. No momento, a empresa aguarda a assinatura do contratocomaAntaqparacomeçaraconstruir o complexo, com terminais em Miritituba e Vila do Conde, em Barcarena.Afrotaparanavegaçãojáfoiencomendada. São 140 barcaças e 5 empurradores, afirma Bruno Serapião, presidentedacompanhia.Segundoele,a expectativa é que o sistema esteja pronto para entrar em operação em fevereiro de 2016. “Na primeira fase, que vai durar entre 3 e 5 anos para maturar, o complexo terá capacidade para transportar 4,4 milhões de toneladas.” A gigante americana ADM também escolheu Barcarena para instalar seu terminal, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas na primeira fase. O empreendimento já foi concluído e aguarda as últimas licenças para iniciar operação. Na segunda fase, prevista para 2016, o terminal poderá movimentar 6 milhões de toneladas. A multinacional disse que está finalizando um projeto na região de Miritituba para fazer o transporte pelo Rio Tapajós. Na opinião do consultor Frederico Bussinger, diante de tanta prosperidadeoPaísnãopodecairnamesmaarmadilha do último ciclo de investimento da Amazônia. “É preciso ter uma visão de médio e longo prazos para incluir a população nesse desenvolvimento. Por enquanto, as cidades não participam desse avanço.” Terminais de uso privativo HIDROVIA TRECHO A SER LICITADO ● CIANPORT ● CARAMURU ● UNIRIOS AMAPÁ Vila do Conde Terminais de uso privativo N Porto de Santana P Macapá Belém Porto de Santarém Santarém P Porto de Vila do Conde 6 ÁREAS ESTÃO PREVISTAS PARA SEREM LICITADAS PELO GOVERNO FEDERAL Itaituba T ● Fora do eixo Miritituba Vila do Con- de (PA) ou Santana (AP), outro empreendimento tem sido esperado com ansiedade pelos produtores do chamado Matopi (Mato Grosso, Tocantins e Piauí). Trata-se do Terminal de Grãos do Maranhão (Tegram), no Porto de Itaqui. O empreendimento, de R$ 600 milhões, está sendo tocado por um grupo de empresas que inclui Glencore, CGG Trading, Consórcio Crescimento (formado pela francesa Louis Dreyfus Commodities e a Amaggi Exportação) e NovaAgri. O primeiro dos quatro terminais do Tegram deverá ser inaugurado entre agosto e setembro. Até o fim do ano, os outros três terminais entram em operação, sendo um por mês. Inicialmente vão movimentar 5 milhões de toneladas de grãos, podendo atingir futuramente 10 milhões de toneladas. A operação será feita por esteiras que levarão os grãos até os carregadores (shiploaders) dos navios. “Como as condições do porto são boas, com uma profundidade de 15 metros, poderemos receber navios de 75 mil a 80 mil toneladas”, afirma Santarém Arrendamentos Saída. Terminal de grãos da Bunge começou a operar no fim de abril o diretor de Logística da CGG Trading, Luiz Claudio Santos. Ele conta 80% dos grãos que chegarão ao terminal serão transportados pela ferrovia Norte Sul e o restante por rodovia. Além dos investimentos no terminal, as empresas também vão gastar cerca de R$ 300 milhões para construir estruturas de armazenamento nas cidades do interior. “Com o Tegram, será possível explorar áreas que hoje estão ociosas. Há cerca de 2 milhões de hectares no Tocantins e outros 2 milhões de área de pastagem degradada que podem ser usadas para plantação de grãos. PARÁ Distrito de Mirituba (Interligação rodo-hidroviária) Miritituba e Santarenzinho Terminais de uso privativo ● BUNGE ● HIDROVIAS DO ● ● ● ● ● BRASIL ● CARGILL ● UNIRIOS CIANPORT PASSARÃO DREYFUS ODEBRECHT BERTOLINI BR-163 ITIQUIRA - SINOP (MT) Palmas ● concessão TOCANTINS Cabotagem. A expansão de terminais na região deve fortalecer a cabotagem no Brasil. Hoje muitos produtos feitos na Zona Franca de Manaus vão até Santa Catarina, por exemplo, de caminhão. “Estamos tentando convencer esses clientes de que a cabotagem é mais vantajosa. Temos conseguido grandes avanços”, afirma o diretor da Santos Brasil, Mauro Salgado. A empresa tem um terminal de contêineres em Vila do Conde, no Pará, desde 2008. “Vivemos o melhor momento desde que compramos o terminal. Neste ano, já crescemos entre 30% e 40% comparado ao período anterior, muito em função da cabotagem.” Mas a exportação de madeira, carnes, pescado e pimenta também reagiu e impulsionou o desempenho positivo, diz o executivo. 7 ÁREAS ESTÃO PREVISTAS PARA SEREM LICITADAS PELO GOVERNO FEDERAL BUNGE ADM HIDROVIAS DO BRASIL ODEBRECHT MINERAÇÃO BURITAMA P AMAZONAS Produtores aguardam início de operação de terminal no Maranhão ● ● ● ● ● Arrendamentos dada à Odebrecht GUARANTÃ DO NORTE - DIVISA MT/PA ● Pavimentação Sinop concluída DIVISA MT/PA ATÉ RURÓPOLIS Sorriso ● KM 0 AO 103: Lucas do Rio Verde em obras concluído ● KM 103 AO 241: ● KM 241 AO 309 (NOVO PROGRESSO): em obras em obras ● KM 676 AO 789 (RURÓPOLIS): em Obras Nova Mutum ● KM 355 AO 676 (MIRITITUBA): MATO GROSSO BR-163 Cuiabá GOIÁS DF Belém, Miramar e Outeiro Brasília Arrendamentos Goiânia 13 ÁREAS ESTÃO PREVISTAS PARA SEREM LICITADAS PELO GOVERNO FEDERAL CHEGADA Exemplo do Trajeto 850 km SAÍDA 1.100 km SORRISO 1 De Sorriso até Miritituba, a carga vai percorrer por estrada, asfaltada ou de terra, em caminhões bitrens FONTES: MINISTÉRIO DOS TRANSPORTES, SECRETARIA DE PORTOS E MERCADO 2 PORTO DE SANTANA CHEGADA MIRITUBA Em Mirituba, a carga é transferida para barcaças que seguem em comboios pelos rios Tapajós e Amazonas num trajeto até o Porto de Vila do Conde (PA) ou até o Porto de Santana (AP) 1.000 km PORTO DE VILA DO CONDE 3 Nos portos, a carga é armazenada em grandes silos e, posteriormente, embarcados em grandes navios rumo a Europa ou Ásia INFOGRÁFICO: RUBENS PAIVA E DIOGO SHIRAIWA/ESTADÃO %HermesFileInfo:B-9:20140608: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 8 DE JUNHO DE 2014 ● R$ 5,5 bilhões Economia B9 BR-163 e Transamazônica Os 976 km entre Sinop e os terminais de Miritituba estão entre os cinco trechos de rodovias que deverão ser leiloados pelo governo federal é o volume de investimento na Amazônia, entre áreas que serão arrendadas pelo governo federal e Terminais de Uso Privativo FOTOS SERGIO CASTRO/ESTADÃO Acesso. Trecho da Rodovia Transamazônica (BR- 230); com a precariedade e falta de manutenção da estrada, basta um chuvisco qualquer para interromper o tráfego de caminhões RODOVIAS PRECÁRIAS SÃO UM PROBLEMA PARA OS MOTORISTAS MIRITITUBA (PA) U maladeirademenos de100metros de distância virou o grande entraveasersuperadopeloscaminhoneiros que chegam ao terminal da Bunge, em Miritituba (PA). Basta um chuvisco para interromper o tráfego de caminhões na BR-230, mais conhecida como Transamazônica. Ali, a poucos quilômetros do destino, as carretas bitrens, de 70 toneladas, carregadas de soja, só passam se forem rebocadas por retroescavadeiras, que ficam de plantão no local à espera de ajuda. A rota é nova e os motoristas também. Muitos têm entre 28 e 30 anos e fazem a viagem pela primeira vez. A recente inauguração da Estação de Transbordo de Miritituba, da Bunge, atraiuvárioscaminhoneirosacostumados a fazer viagens menores, entre a fazendaeos pátiosdaferrovia, emRondonópolis, em Mato Grosso. Maurivan Severiano de Almeida, de 28 anos, por exemplo, estava na sua primeiraexperiênciapela BR-163e Transamazônica. Ele era um dos dez motoristas que aguardavam na manhã daquela sexta-feira – quando a reportagem esteve na região – para ser rebocado pela retroescavadeira. “Não dá paraarriscar. Ocaminhãonãoconseguesubiressetrechoepossoprovocarumacidente.”Apesar de o preço do frete ser mais vantajoso que a remuneração local, ele reclamou das condições da rodovia e da falta de infraestrutura para os motoristas. A BR-163é a únicavia deacesso entre Mato Grosso e Miritituba. Saindo de Sorriso, a maior cidade produtora de soja do Brasil, são 1.100 km de estrada. Em Mato Grosso, toda a extensão da rodoviaestá pavimentada,segundo informação do Ministério dos Transportes. Nos 676 km entre a divisa de Mato Grosso ePará até Miritituba, há 184 km concluídos e 492 km em obras. A previsão é que 427 km estejam concluídos até o fim do ano e 65 km sejam finalizados em dezembro de 2015. “Tem um monte de estrada com asfalto e um monte sem asfalto. É essa parte sem asfalto que dá uma dor de cabeça danada pra gente”, afirma Welton Soares da Silva, de 30 anos, que está na terceira viagem para Miritituba.Eleconta que,mesmonapartepavimentada da BR-163, recém construída, há trechos delicados. Como não existe acostamento e as chuvas nessa época do ano são constantes, parte do asfalto já foi corroído. Ainda não há sinalização vertical ou horizontal, nem faixas Mercado inflacionado TERRAS SOBEM DE R$ 50 MIL PARA R$ 2 MILHÕES A corridadegrandesempresaspara construir terminais na beira do Rio Tapajós tem inflacionadoasterrasemMirititubaeSantarenzinho, pertencentes à Itaituba. Ali terrenos que há dois anos eram vendidos por R$ 50 mil agora não saem por menos de R$ 2 milhões. Os números enchem os olhos de proprietários antigos da região, que compraram terras com o dinheiro do garimpo. Maria de Lourdes da Silva, de 75 anos, tem três lotes na área onde estão sendo construídos os terminais. Com medo de ser enganada, ela não quis intermediárionavenda dosterrenos. Sozinha, atravessou o Rio Tapajós de balsa para tratar da venda diretamente com os interessados. “Dizem que a minha área vale mais de R$ 1 milhão. Mas os corretores querem pagar menos.” Arelaçãoentreproprietáriosecorretores tem sido difícil. Com os valores milionários, os donos das terras se recusam a pagar comissões altas. A solução tem sido fazer acordos, como fez o Estreia. Muitos motoristas cruzam a Transamazônica pela primeira vez centrais dividindo as pistas. A pavimentação da BR está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e seu cronograma já foi revisto inúmeras vezes. Alguns trechos deveriam ter sido concluídos em 2010, mas continuam em obras. Para o início de operação da nova rota de transportes, algumas empresas produtoras de grãossereuniram pararecuperarotrecho sem asfalto. “Elas compraram o material e o Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes)entroucom a mãode obra”,afirma o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Ricardo Tomczwk. “Não está 100%, mas não tem atoleiro.” Emcomparaçãocomopassado,houve melhorias indiscutíveis. A rodovia, aberta na década de 70, durante o governo militar, mais parecia uma trilha, com lamaçais intermináveis, atoleiros epontes de madeira improvisadascom troncos de árvores. Ali, durante anos, donos de terras cobravam pedágio para carros e caminhões passarem em suas propriedades, com a justificativa de que o caminho era melhor. Na realidade, era tão ruim quanto a rodovia. A nova geração de motoristas não chegou a viajar pela BR-163 nessaépoca, mas conheceuafamanegativadaestrada.Hoje, mesmo com a melhora, eles não estão contentes com o estado da rodovia nem ● Dor de cabeça “Tem um monte de estrada com asfalto e um monte sem asfalto. É essa parte sem asfalto que dá uma dor de cabeça danada pra gente.” Welton Soares da Silva CAMINHONEIRO, 30 ANOS Falta de planejamento corretor Ivenildo Cohen Claudio Rodrigues. O dono dos lotes pediu R$ 4 milhões por 680 hectares de terra. “O que conseguisse acima disso, era meu.”Ninguémimaginavaqueeleconseguiria uma oferta de R$ 8 milhões. Ou seja, se o acordo for cumprido, ele se tornará o novo milionário de Itaituba, com R$ 4 milhões no bolso. Além das área na beira do rio, terrenosmaisafastados,localizadosnamargem da Transamazônica, também são disputados. Vislumbrando a demanda com a construção dos demais terminais,osendinheiradosdeItaitubadecidiramconstruirhotéis,estacionamentos e áreas de convivência. O engenheiro Nilson Guerra conta que está elaborando o projeto de um complexodeestabelecimentoscomerciaisvoltadosparamotoristasevisitantes da região. “Haverá um estacionamento para 800 carretas, um hotel com 150 apartamentos e uma área de convivência para os caminhoneiros, com restaurantes e banheiros.” Essenãodeveseroúnicoempreendimento. Há outros em estudo. O que a administração de Itaituba reclama é que toda a economia vai movimentar do outro lado do rio. Com os hotéis e restaurantes, quem for para Miritituba nem precisa atravessar o rio. CAMINHÕES INVADEM RUAS DE BARCARENA D e um dia para o outro, a cidade de Barcarena, localizada a uma hora da capital Belém, foi invadidaporcentenasdecaminhõesgraneleiros. As ruas da cidade e a estrada que cruza o município ficaram lotadas de carretas aguardando para descarregar norecém-inauguradoterminaldaamericanaBunge,conta oconsultordoInstituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente (Idel), Frederico Bussinger, que estava na região para um trabalho na área. “Só no postodo entroncamento darodoviatinha cerca de 150 carretas. Novos pátios surgiram em terrenos recém-desmatados aqui e acolá.” O caos durou alguns dias efoi provocado pelo descasamento entre a entrada em operação do terminal em Barcarena e da Estação de Transbordo de Miritituba. Sem licença de operação (que só foi obtida em 19 de maio), o terminal não pode começar a funcionar simultaneamente ao de Barcarena. Assim, toda a carga, que iria por hidro- com a falta de estrutura para comer e tomar banho. As refeições, por exemplo, são feitas na chamada “caixa” do caminhão. “Mas quando chove nem isso dá pra fazer”, diz Emerson Davi Aguiar, de 32 anos. Nos 30 km da Transamazônica, que dão acesso a Miritituba, também há trechos com problemas. Curiosamente, eles surgem nas partes mais perigosas,nasdescidasesubidaspróximas de pontes, algumas de madeira. Quando são surpreendidos pelo fim do asfalto e início da rodovia de terra, molhada e lisa, muitos caminhões freiam e acabam atravessados na pista. Aí vão horas para serem removidos e a estrada fica interditada. Enquantoo acessoterrestre ainda carece de modernização, na outra ponta,aEstaçãodeTransbordo,nessecasodaBunge,primapelaautomatização das instalações. Os grãos são descarregados dos caminhões e armazenados em grandes silos. Mais tarde, quando for formado o comboiopara o transporte via hidrovia,a sojaou o milhosãotransferidos para as barcaças via esteiras automatizadas que exigem pouca mão de obra. No terminal, o controle é total. Para manter a ordem na região, os caminhões aguardam a sua vez num enorme estacionamento construído à beira da Transamazônica. Quandochegaa vez,elesseguempara o terminal para descarregar – métodoquevemsendotestadoemSantos e já funciona em Paranaguá. A dúvida é se tanta organização vai funcionar quando os demais projetos forem tirados do papel. Sítio arqueológico via, foi transportada por caminhão até a cidade, de 99 mil habitantes. O morador de Barcarena, Benedito daBarra,diretordaCâmaradeDirigentes Lojistas de cidade (CDL), conta que, por causa do excesso de peso dos caminhões, o asfalto das ruas e das estradas ficou danificado. Segundo ele, por enquanto, os investimentos feitos no Porto de Vila do Conde e nos terminais de uso privativo não trouxeram grandes benefícios para o município, ondemenos de30% dos domicíliossão abastecidos por rede de água e, em 88% deles, o esgoto não é tratado. “Infelizmente,nãovemosos benefícios desses empreendimentos. O emprego está mais difícil e o comércio piorou”, conta o morador. Ele destaca queumaempresadealumínio,programada para se instalar em Barcarena, desistiu do investimento. “A expectativaé quegerariamuitos empregospara o município. Os novos terminais exigem pessoas qualificadas, que não tem aqui.” Para Bussinger, é preciso tomar cuidado para não criar novamente ilhas isoladas das cidades, como ocorreu no passado com o ciclo de investimentos na Amazônia. “É preciso ter uma integração entre os projetos e as cidades”, destaca o consultor. MORADOR SE PREOCUPA COM PRESERVAÇÃO C obiçada pelas empresas, a comunidade de Santarezinho, pertencente a Itaituba, tem apenas cinco famílias. Algumas delas já venderam suas terras para a construção dos terminais. Outras ainda estão em negociação, como é o caso da família de Martineli Albuquerque. Ela conta que os irmãos do pai já se desfizeram dos lotes e mudaram do local. A preocupação de Martineli, no entanto, é com o sítio arqueológico que tem na região. Estudante de história, ela montou um museu na comunidade com todas as peças que encontrava pelo caminho. “A comunidade foi a primeira missão de Itaituba. Tem uma infinidade de peças espalhadas pelo local.” O museu de Martineli tem cerca de 600 peças, entre objetos indígenas e portugueses. “Agora vamos ver qual será a proposta das empresas para recuperar as peças e preservar o museu.” B4 Economia %HermesFileInfo:B-4:20140615: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 15 DE JUNHO DE 2014 Reportagem Especial ✽ A nova ocupação da Amazônia ● Crescimento Após o início da construção da Usina de Belo Monte, Altamira já começou a levantar seu primeiro shopping center GRANDES OBRAS DEIXAM COMO HERANÇA PROGRESSO E CAOS Altamira, no Pará, e Porto Velho, em Rondônia, se transformam com a construção de usinas hidrelétricas A construção de grandes obras sempre transforma as cidades que estão no seu entorno, para o bem ou para o mal. Sem planejamento adequado, todos os ganhos econômicos conseguidos com o aumento da população, consumo e renda se transformam em desequilíbrios difíceis de serem revertidos. Quando a obra é concluída, sobram problemas. O nível de desempregoaumentanum cenárioquasesempredeíndicesde criminalidade elevados. Os comerciantes fecham os estabelecimentos e correm para a próxima oportunidade. Na reportagem deste domingo, relatamos o dia a dia de Altami- ra, que vive o auge da construção da Hidrelétrica de Belo Monte, e Porto Velho, que começa a sentir a ressaca do fim das usinas de Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira. Os dois empreendimentos já foram feitos sob as regras de exigência de condicionantes para amenizar os impactos ambientais e sociais. As cidades têm aproveitado para obter melhorias em serviços essenciais para a população, como saneamento básico, construção de escolas e hospitais. A ideia é conseguir que os empreendimentos deixem um legado importante para a população, já que ao fim das obras o impacto nas finanças da região é elevado e certo. O objetivo é evitar que casos antigos, como o do antigo Projeto Jari e Tucuruí, se repitam. O Projeto Jari foi idealizado pelo americano Daniel Keith Ludwig, que sonhou construir um império na Amazônia com atividadesvoltadasàexploraçãodecelulose,pecuáriaeagricultura.Iniciadonadécadade60,oprojeto(quevingouapenasnapartedacelulose) criou duas cidades opostas. Do lado do Amapá, a cidade dos trabalhadoresvirouumaimensafavelasobrepalafitas,jáconsiderada a maior do mundo. Do outro lado, no Pará, o distrito de Monte Douradoéumacomunidadeplanejada,nosmoldesdaclassemédia americana.EmTucuruí,depoisqueaconstruçãodausinaacabou,a economia minguou e a população ficou sem emprego e renda. Males. Altamira vê aumento da criminalidade e piora no trânsito COM BELO MONTE, ALTAMIRA TEM DIAS DE CIDADE GRANDE Renée Pereira / TEXTO Sergio Castro / FOTOS D esde que a bilionária Hidrelétrica de Belo Monte, no oeste do Pará, começou a serconstruída, Altamiravive diasde cidade grande. O trânsito é caótico, a população não para de crescer e os índices de criminalidade aumentam. Por outro lado, o município ganhou novas redes de varejo, obras de infraestrutura e novos projetos comerciais, como shopping centers. Por enquanto, a população só consegue ver a parte ruim. Se antes a opinião sobre a usina era dividida, hoje a maioria se diz contra. A principal reclamação é com os constantes congestionamentos e com o aumento da criminalidade. Em menos de três anos, a frota de automóveiscresceu83%.Ademotocicletas, 113%. A cidade tem sido campeã nacional na comercialização de motos. Apenas numa loja são vendidas entre 130 e 150 unidades por mês – número que ajuda no aumento de acidentes no trânsito. Nos últimos três meses, duas mortes de ciclistas chocaram a cidade. Uma delas ocorreu na Avenida Djalma Dutra, principal rua de Altamira, onde a bicicleta da vítima está pen- durada no poste do semáforo, como forma de protesto. “Só estamos vendo os malefícios da obra. Aqui era tranquilo. Agora vira e mexe uma pessoa morre atropelada”, afirma o guarda de trânsito Mizael Carneiro.Outroproblemacausadopeloaumento da frota é a falta de lugar para estacionar. Sem espaço disponível nas ruas estreitas da cidade, os raríssimos estacionamentos cobram preço semelhantesaosdeSãoPaulo.UmahoracustaR$10.Ummês,R$390.“Tantotranstorno não compensa”, diz Ocleci Polla, dona de uma loja de chocolates. Além do aumento de carros e motos nas ruas, os congestionamentos têm sido causados por obras de saneamento, que interditam várias ruas. Como parte do Projeto Básico Ambiental, a Norte Energia – concessionária de Belo Monte – está construindo 220 quilômetros (km) de rede de esgoto e 170 km de tubulações de água potável. Até agoraforamconcluídos134kmdeesgotamento sanitário e 108 km de rede de água. A oferta de água potável na cidade será reforçada com a construção de oito reservatórios. Hoje Altamira não tem sistema de coleta e de tratamento de esgoto e o atendimentodeáguaencanadaérestrito a 14% do município. A obra colocará a cidade entre as poucas do Estado Energia de Belo Monte deve atrasar um ano ● O diretor presidente da Norte Energia S.A. (Nesa), Duílio Diniz, afirmou que negocia com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a prorrogação da entrada em operação das primeiras turbinas de Belo Monte. A empresa foi a vencedora do leilão da usina. “Precisamos prorrogar em um ano a entrada de operação do sítio Pimental”, disse Diniz. O início das operações deve passar de 2015 para 2016. Segundo Diniz, os atrasos são decorrentes da série de paralisações que a obra sofreu com manifestações. Ontem, o jornal ‘Folha de S. Paulo’ informou que a Nesa fez o pedido formal de adiamento, em correspondência enviada no mês passado à Aneel. Saneamento básico. Obras na orla do Rio Xingu em Altamira, no Pará com saneamento básico. Mas, como nem tudo pode ser perfeito, a grande polêmica do momento é quem fará a ligação entre residências e rede, diz o empresário Waldir Antonio Narzetti. Como as casas foram construídas sem essa infraestrutura, o investimento para se conectar ao sistema deve ficar por volta de R$ 4 mil – dinheiro que muitos moradores não têm. A Norte Energia fará todo o investimento da redee,quandoconcluída,entregarápara a prefeitura. Mas, segundo Narzetti, a discussão é que a responsável pelo saneamento da cidade é a Companhia de Saneamento do Pará (Cosanpa), quenãoconsegueresolver nemos problemas de vazamento. Oempresárioconta que outroinves- timento de extrema importância para a cidadejátem sentidoos efeitosda má gestão. A Norte Energia construiu um aterro sanitário e entregou para a prefeitura. “Mas já está dando problema, pois não tem recebido o tratamento adequado.” Narzettiquestiona a lentidão dos investimentos da Norte Energia, mas reconhece que se a usina não estivesse em construção a cidade nunca teria saneamento básico ou asfalto no trecho urbano da Transamazônica. “Espero que todo o transtorno de hoje possa ser traduzido em melhorias no futuro.”Achegadada hidrelétricatransformou a cidade num canteiro de obras. Os outdoors anunciam venda de espaços em galerias, construção de shop- pings, universidades e bairros planejados. Hoje há entre 8 e 10 loteamentos sendo vendidos. Altamira ganhou até um hotel em formato de castelo. Por outro lado, o aumento do número de trabalhadores na hidrelétrica – são 25 mil no total – e novos moradores impulsionaramosíndicesdecriminalidade. O superintendente regional da PolíciaCivil,CristianoMarcelodoNascimento, conta que, de 2010 para cá, o número de homicídios cresceu 61% e o de estupros, 66%. O consumo de drogas também subiu. “Em 2010, 22 traficantes foram presos; e em 2013, 178. Neste ano deve passar de 200.” O delegado diz que 90% da droga consumida é crack. “Um grama de cocaína custa R$ 70. É caro para a população local.” %HermesFileInfo:B-5:20140615: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 15 DE JUNHO DE 2014 ● Protesto “Antes não dava para fazer nada, pois a cada chuva poderia perder tudo.” Bicicleta de vítima pendurada no poste marca local de acidente; dois ciclistas morreram nos últimos três meses em Altamira Benigna Rabelo Dutra, EX-MORADORA DE PALAFITA, AGORA NO LOTEAMENTO JATOBÁ ALTAMIRA (PA) F oram 15 anos de muitas noites em abrigos, de móveis perdidos pela cheia do Rio Xingu e medo de perder a vida. “Todo inverno era a mesma coisa. A água subia 2,4 metros e tinha desair correndo de casa”, lembra Eduardo Barbosa da Silva, de 56 anos. Há três meses, os dias de agruras vividos nas palafitas de Altamira terminaram e, enfim, ele tem uma casa de verdade para morar com a mulher e os filhos. “O conforto que temos aqui nem se compara com a vida que tínha● Moradias 229 famílias já estão no bairro Jatobá, que possui 1.235 residências, todas com o mesmo formato e o mesmo tamanho mos nas palafitas.” O imóvel faz parte do Projeto Básico Ambiental da Hidrelétrica de Belo Monte. Todas as palafitas (casas de madeira construídas sobre estacas em áreas que são alagadas na época de chuvas) de Altamira serão destruídas e os moradores deslocados para as 4.100 casas em cinco novos bairros queestãosendo construídospelaNorte Energia, empresa que detém a concessão da usina. Silva se mudou para o bairro Jatobá, o primeiro a ser entregue pela companhia, que já tem 229 famílias. São 1.235 residências, todas no mesmo formato. As casas têm 60 metros quadrados (m²), com três quartos, sala, cozinha e banheiro num terreno de 300m². Para diferenciar, cada morador escolheu a cor quequeria para a frenteda residência. A de Silva é azul. Ao contrário das palafitas, que ficam próximas da região central da cidade, os novos bairros são mais afastados – cerca de 15 minutos do centro. O trajeto até Jatobá é ruim, com ruas de terra e esburacadas. Mas, no bairro, as vias são amplas e pavimentadas. O melhor de tudo, no entanto, é que os moradores estão livres dos riscos que as palafitas representavam, com lixo espalha- Casa nova. Eduardo Barbosa da Silva tem planos de ampliar o imóvel do por todo lado, esgoto a céu aberto e constantes inundações. “Aqui é longe, mas as crianças podem brincar sossegadas”, afirma Benigna Rabelo Dutra, de 57 anos, que passou boa parte da vida na zona rural. Para escapar da malária que ameaçava a saúde dos filhos, mudou-se para a cidade e foi viver num assentamento. Ali, teve de conviver com as constantesenchentes a cadainverno.Com seis filhos e 24 netos, ela banca sozinha as seis pessoas que moram na nova casa. Sobrevive da aposentadoria e da venda dechopp, masconhecidocomo geladinho ou chup-chup no Sudeste. Apesar das dificuldades, ela mostra com orgulho as aquisições e melhorias feitas no imóvel. Na sala, o sofá e a mesasãoforradoscomtecidosverdes,trocados toda semana. O rack e a TV de 42 polegadas foram adquiridos recentemente. “Antes não dava para fazer nada, pois a cada chuva corríamos o risco de perder tudo.” No fundo da casa, ela construiu umacozinhaampla,ondesófaltacolocar as “lajotas”. “E ainda vai ter uma churrasqueira, que acabei de comprar.”Silvatambémtemplanosdeampliar o imóvel. “Quero construir mais dois quartos, uma cozinha e fazer mu- PORTO VELHO JÁ VIVE PERÍODO ‘PÓS-USINAS’ DIVULGAÇÃO Com o fim das obras de Santo Antônio e Jirau, cresce número de desempregados; preços de imóveis, aluguéis e outros serviços já começaram a cair Quetila Ruiz PORTO VELHO (RO) ESPECIAL PARA O ESTADO P orto Velho, capital do Estado de Rondônia, já começa a viver o período do “pós-usinas” com a finalização das obras das hidrelétricas Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. Já é notável o aumento no número de desempregados na cidade, a queda no preçodos imóveisedos aluguéis, entre outros serviços. As usinas começaram a ser construídas no segundo semestre de 2008 e atraíram milhares de pessoas de várias partes do País. Até 2010, as estatísticas mostramque a população de Porto Velho já havia crescido 12,5%. Cerca de 40 mil trabalhadores vieram para a capital atrás das ofertas de empregos na construção civil, o que provocou o avanço no preço dos aluguéis e dos imóveis à venda. Diárias de hotéis e o custo de vida da população também aumentaram no período. Mas esse quadro já está mudando. Com o fim das obras, a maioria dos trabalhadores está migrando para outrosEstados – algunspara Altamira em busca de emprego na Hidrelétrica de Belo Monte. A população teme que a Mais oferta. Em Porto Velho, preço de imóvel caiu junto com a procura construçãodashidrelétricasrepitaoutros ciclos de crescimento, como o da borracha e do garimpo, que não deixaram nenhum legado para a região. Dados do Sistema Nacional de Emprego (Sine) de Porto Velho apontam que a construção civil é o principal fator de queda na oferta de emprego. De abril de 2013 até abril deste ano, 61.600 vagas foram criadas, mas o número de desempregados foi maior, 71 mil. “O desemprego hoje é decorrente da conclusão das usinas. Isso também ocorreu em Foz do Iguaçu (PR) na época da construção da Usina de Itaipu, e aqui nãoseriadiferente”,dizAntônioGeraldo Affonso, secretário de Desenvolvimento Econômico (Semdestur), res- NA WEB Online. Os reflexos de Belo Monte na cidade de Altamira estadao.com.br/e/altamira ro em volta de toda a casa”, diz ele, que recebe um salário mínimo do INSS, depois que perdeu uma perna. “Não é muito, mas graças a Deus me ajuda bastante.” MORADORES DEIXAM PALAFITAS E OCUPAM NOVAS CASAS DE 60 M² Loteamento fica mais distante, mas moradores estão livres dos riscos provocados pelo lixo espalhado, esgoto a céu aberto e constantes inundações Economia B5 ponsável pela gestão do Sine municipal. A fase alta no ritmo dos negócios na cidade também já se foi. “Os preços dos imóveis não estão mais como estavamnoiníciodasconstruções. Osvalores estão menores, ficando estabilizados. Um imóvel que eu alugava por R$ 5 mil hoje estou alugando pela metade do preço”, relatou Fernando Casal, ● Mais crimes O índice de criminalidade em Rondônia aumentou bastante durante as obras. De 2008 a 2010, o número de estupros no Estado cresceu 76,5% proprietário de imobiliária e presidente licenciado do Conselho Regional de Corretores de Imóveis de Rondônia (Creci/RO). Assim como quem vende ou aluga imóvel, donos de hotéis já sentem o efeito pós-usinas. Os preços das diárias de alguns deles têm sido revisados para um valor menor. “Antes eu tinha vários quartos alugados para os próprios consórcios, para os trabalhadores. Hoje tenho vagas sobrando. Esse cenário não acontece só comigo, vários outros hotéis já estão com vagas sobrando, coisa que a um ano atrás seria impossível”, relatou Isaac Oliveira, proprietário de um hotel no centro da capital. Criminalidade. O índice de criminalidade também aumentou bastante duranteas obras.De2008a2010,onúmero de estupros em Rondônia cresceu 76,5%. A quantidade de crianças e adolescentes vítimas de abuso ou exploração sexual subiu 18% no período e o númerodehomicídiosdolososaumentou44%.Comosaltosíndicesnacriminalidade,oPoderPúblicoiniciouprojetos de melhorias na segurança. O secretário de Segurança, Defesa e Cidadania, Antônio Carlos dos Reis, afirmouquenosúltimostrêsanoshouve avanços em todas as áreas da segurança no Estado de Rondônia. “Na área de tecnologia, houve melhora nos equipamentos para a atuação policial. Também tivemos avanços nas questões das investigações. Temos, hoje, um bom índice de resolução de cri- À espera da casa nova. Enquanto Benignae Silva festejam a vida nova, outros esperam ansiosos para deixar de vez as palafitas. Francisca do Socorro das Chagas ainda não faz ideiadequando vaimudar. Suacasa, no entanto, parece não aguentar muito tempo. Construída à beira de um córrego, a casa está tombada para um lado e as pontes de acesso com as tábuas soltas, um perigo para as crianças que transitam sem parar pelo local. “Quero mudar logo, masninguémdizquandoserá.Aúnica coisa que sei é que iremos para o bairro São Joaquim.” A filha de Maria Aparecida Silva está prestes a fazer a mudança, também para o São Joaquim. Durante a visita da reportagem, sua filha tinha ido olhar a casa nova. “Minha neta chora toda vez que vê um vizinho mudar. Ela sempre diz que não dá para brincar aqui. De um lado corre o risco de cair na água, do outro pode ser atropelada pelos carros.” Naquele dia, o barraco da vizinha que havia acabado de mudar estava sendo desmontado. As empresas responsáveis pela demolição contam que, se deixarem um dia o barraco vazio, no dia seguinte aparece alguém para ocupar. “E depois só pagando para eles saírem”, conta um funcionário da empresa contratada pela Norte Energia. mes.” Nos primeiros meses de 2014, houve um aumento no número de homicídios, assaltos e furtos. Nova Mutum. Para abrigar os engenheiros e encarregados da Usina de Jirau, e os ribeirinhos removidos pelo alagamento da Velha Mutum, o consórcioEnergiaSustentávelconstruiu uma cidade, Nova Mutum. Mas muitas das famílias que foram transferidasparaolocal nãoseadaptaram com a nova realidade e procuraram outros locais para morar. Alguns se uniram e foram morar perto do igarapé que leva o nome de Jirau, outros foram morar em Jacy-Paraná ou Porto Velho. A vendedora autônoma Maria das Graças não se adaptou ao local. “Não tinha nada lá. Era um monte de casa no meio do nada. Me mudei para Jacy-Paraná.” Ela conta que muitos vizinhos ficaram por lá e se acostumaram com a nova realidade da cidade. “Eles não sabem como vai ficardepoisque acabarde vezaconstrução, mas já está todo mundo acomodado lá”, relatou. Mesmo com vários ribeirinhos e funcionários da usina morando em Nova Mutum, o futuro das mais de 1.500 casas do local é preocupante. A previsão de entrega total das obras de Jirau é de 2016, mas o empreendimento já começou a reduzir de forma significativa a quantidade de trabalhadores na obra. Até agora, nenhuma indústria ou atividade de geração de renda independente da construção da usina foi criada no local para tentar amenizar os efeitos negativoscomofimdarendaproporcionada com o projeto. B4 Economia %HermesFileInfo:B-4:20140622: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 22 DE JUNHO DE 2014 Reportagem Especial ✽ ● Previsão As turbinas do sítio Belo Monte estão previstas para funcionar a partir de 2016 A nova ocupação da Amazônia COM ATRASO, BELO MONTE ENTRA NA FASE FINAL Cronograma das obras foi comprometido por causa de manifestações e invasões de ribeirinhos, índios, ambientalistas, além de greves e decisões judiciais Renée Pereira/ TEXTOS Sergio Castro/FOTOS ALTAMIRA e VITÓRIA DO XINGU (PA) As seis carretas que deixaram Taubaté,nointeriorde São Paulo, com as primeiras peças para montagem eletromecânica da Hidrelétrica de Belo Monte demoraram quase três meses parachegaraodestinofinal,emVitó- riadoXingu,noPará.Foramquase3mil quilômetros de estrada e rio carregando partes do pré distribuidor, que montado tem 11 metros de diâmetro, quatro metrosdealturae261 toneladas.A peça foi instalada na casa de força n.º 1, de Belo Monte, no dia 10 de junho, em evento com a presença de engenheiros, operários e do diretor presidente da NorteEnergia,DuílioDinizFigueiredo. “Quando viemos aqui pela primeira vez perguntei ao consórcio (constru- tor) contratado qual seria o maior desafio na construção da usina. Eles me responderam que seria a logística e estavamcertos”,afirmouFigueiredo,comemorando mais um passo da hidrelétrica, de 11.233 MW, mas sem esconder a preocupação com os atrasos da obra. O cronograma está um ano atrasado devido à série de paralisações causada por manifestações e invasões de ribeirinhos, índios, integrantes dos atingidos por barragens e ambientalistas, além de greves e decisões judiciais. No sítio Pimental, as interrupções representaram 441 dias de atraso desde o segundo semestre de 2011. No sítio Belo Monte, foram 124 dias. Segundo o diretorpresidentedaNorteEnergia,porcausadasparalisações,aempresaestánegociando com a AgênciaNacional de Energia Elétrica (Aneel) a expansão em um ano dos prazos para a entrada em operação das primeiras turbinas. De acordo com a “Cartilha de Belo Monte”, o cronograma original prevê a entrada em operação das seis unidades geradoras no Sítio Pimental, onde está abarragemprincipal,overtedouroecasa de força complementar. A obra tem outrosdoislocaisdeconstrução:canais e diques e Sítio Belo Monte, onde está a casa de força principal com 18 turbinas. As turbinas do Sítio Belo Monte estão previstas para funcionar a partir de 2016. “Por enquanto estamos negociando o cronograma de 2015. Não decidimos se vamos pedir algum adiamento para o Sítio Belo Monte. Estamos tentando manter a entrada em operação da primeira turbina em março de 2016”, diz Figueiredo. Se não conseguir convencer a agência, a empresa pode perder receita e ainda ser obrigada a recorrer ao mercado à vista para cumprir os contratos. Além dos atrasos, Belo Monte também convive com o aumento dos custos. Hoje o volume de investimentos está em R$ 30 bilhões, afirma Figueiredo. “O aumento de R$ 25 bilhões para R$30bilhõeséinflação.”Masahidrelétrica já teve, pelo menos, outros dois orçamentos. O valor inicial calculado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) era R$ 16 bilhões e antes do lei- SÉRGIO CASTRO / ESTADÃO MEGA CANAL DA HIDRELÉTRICA MUDA PAISAGEM DO XINGU VITÓRIA DO XINGU O enorme canal que vai ligar o RioXinguaoreservatóriointermediário da Hidrelétrica de Belo Monte começa a ganhar formase mudara paisagem local. Os 20 quilômetros de extensão da obra já foram abertos e estão em estágios diferenciados de trabalho. Por enquanto, apenas 1 km está concluído. Outrosestãoemfasederevestimento do leito e taludes do canal ou na etapa de aprofundamento do terreno. Aexpectativaéconcluirtodootrabalho até o fim do ano. Mas a meta não será uma tarefa fácil de cumprir, especialmente com o histórico de paralisações desde o início das obrasdahidrelétrica.Alémdisso,pareceumtrabalhosemfim.Aconstrução do canal, que na prática é um rio artificial construído no meio da Amazônia para desviar a água do Xingu,exigeaescavação de110,8 milhões de m³ de rocha e solo – volume equivalente ao Canal do Panamá. Todo esse material encheria 5 milhões de caminhões basculantes. Hoje 1.400 máquinas, tratores e caminhões trabalham freneticamentepara cumprirosprazos docanal, que terá 25 metros de profundidade, 210 metros de largura na base e 360 metros na superfície. Toda a retirada de rocha e solo é feita em camadas.“Primeiro fazemos a aber- tura do canal para a cota 84 (em relação ao nível do mar). Retiramos todo o material, criamos uma frente de serviço e praça de manobra para as máquinas e caminhões. Depois começamos tudo de novo, com detonações de rocha e retirada de material para a cota 75, que será o fundo do canal”, afirma o engenheiro da Norte Energia, Marcelo Boaventura. Com o solo nivelado, é hora de fazer o revestimento do leito e dos taludes. As rochas retiradas de outros locais da obra são trituradas e usadas para cobrir o fundo do canal. As pedras precisam ter tamanhos e pesos similares, paraaguentar ovolume de águaquevai passar pelo canal: a vazão será de 14 mil m³ por segundo, afirma Boaventura. Porestarnuma áreasensível do ponto de vista ambiental, o projeto exigiu uma série de soluções diferenciadas. Nos20 quilômetros de extensãodo canal de derivação, passavam dezenas de igarapés cujo curso foi interrompido com a construção de diques paraevitar o alagamento da área de trabalho das máquinas e caminhões. O engenheiro da Norte Energia explica que foram criados cinco sistemas de drenagens com canais paralelos nas margens do grande canal principal para absorver a água desses pequenos rios. Alguns igarapés tiveram seu curso invertido. Corriam para um lado e agoravãodesaguarnoRio Xingu.Aempresa garante que a medida não provocará impactos ambientais ao meio am- Construção. Estrutura que vai receber a primeira turbina da Usina de Belo Monte está sendo montada ● Obra 20 km é a extensão da obra que vai ligar o grande canal entre o Rio Xingu ao reservatório intermediário da Hidrelétrica de Belo Monte. Apenas 1 km foi concluído biente. No total, serão construídos 27 diques para barrar os igarapés ou para evitar que a água do reservatório intermediário de Belo Monte se espalhe para regiões mais baixas. Ao contrário da maioria das usinas, em que a construção se concentra num único local, Belo Monte tem três grandes frentes de trabalho: Pimental, Bela Vista e Belo Monte. O barramento e o vertedouro principal ficam no SítioPimental,ondeestásendoinstalada também a Casa de Força Complementar, há 40 km de Altamira. Desse ponto, por meio do canal de derivação, parte da água do rio será desviada para a Casa de Força Principal, no sítio Belo Monte, que terá 18 turbinas. Pelo gigantismo da obra, dá para entender porque índios e ribeirinhos temem que o rio seque abaixo da barragem principal quando a usina começar a funcionar. Mas os executivos garantem que a hidrelétrica terá um rígido sistema para controlar o volume mínimo de água no rio, definido pela InstitutoBrasileirodeMeioAmbiente (Iba- ma),noprocessodelicenciamentoambiental. Mas a vida dos ribeirinhos já mudou. Quem antes andava sem restrições pelo Rio Xingu agora tem de passar pelo Sistema de Transposição de Barcos construído pela Norte Energia, no Sítio Pimental. Desde fevereiro de 2013, dois sistemas estão em operação: um para barcos pequenos, como rabetas e voadeiras, e outro para embarcações maiores. No primeiro caso, a embarcação é rebocada por um trator num percurso de 700 metros. No outro, carretas são responsáveis pela transposição dos barcos. Entre o início do ano e final de março, foram realizadas 259 transposições, com um total de 1.169 usuários atendidos. /R.P. Economia B5 %HermesFileInfo:B-5:20140622: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 22 DE JUNHO DE 2014 27 é o número de ações contra Belo Monte, segundo a Advocacia Geral da União. Nenhuma decisão em vigor determina paralisação das obras 25 mil ● Força tarefa trabalhadores se revezam em três turnos diários nos três sítios da usina. O número é superior aos 23 mil previstos inicialmente Hoje 1.400 máquinas, tratores e caminhões trabalham no canal, que vai ligar o Rio Xingu ao reservatório SÉRGIO CASTRO / ESTADÃO Contra o relógio. Cronograma de obras da usina está um ano atrasado OBRA NA AMAZÔNIA OCEANO ATLÂNTICO AP Dados gerais da hidrelétrica ● Ao contrário da maioria das hidrelétricas, Belo Monte tem três áreas diferentes de construção. Na área 2 onde será feito um super canal, apenas 1 km foi concluído. Os demais trechos estão em fase revestimento e de terraplenagem para aprofundamento do canal Investimento: R$ 30 bilhões Área alagada: 503 km2 NOVO PERCURSO DO RIO ÁREA 1 0 km Altamira Rod. Transa ÁREAS DE CONSTRUÇÃO O XI N ic a ôn m az estadao.com.br/e/belomonte 0) -23 CASA DE FORÇA PRINCIPAL Belo Monte do Portal GU RESERVATÓRIO O canal de derivação vai desviar água do Rio Xingu para o reservatório intermediário da Casa de Força principal, que terá 18 turbinas Vídeo. Confira imagens da construção da hidrelétrica na região do Xingu (BR SÍTIO PIMENTAL CANAL BARRAGEM PRINCIPAL 14 mil m³ O super canal de Belo Monte CA JÁ TERRA INDÍGENA ARARA DA VOLTA GRANDE DO XINGU BA SISTEMAS DI MARIA E XINGU VOLTA GRANDE O assuri ni por segundo TERRA INDÍGENA PAQUIÇAMBA RI ss d. Tr an Ro A vazão no canal será de ÁREA 3 SÍTIO BELA VISTA A 40 km de Altamira ficará o vertedouro principal e a casa de força complementar com 9 turbinas para gerar 233 MW A obra terá 20 km de extensão SISTEMA DE BACIAS INTERMEDIÁRIAS Igarapés Como a obra está sendo feita numa área cheia de igarapés, a solução foi interromper os pequenos rios e criar sistemas de drenagem em todo trecho SISTEMA TICARUCA Construção 1 Durante a escavação do canal foram retiradas rochas (migmatito) para serem usadas nas paredes laterais e no revestimento do fundo SISTEMA PAQUIÇAMBA nal o Ca ed Cort 360 25 m Diques Serão construídos 27 diques para barrar os igarapés ou para evitar que a água do reservatório intermediário de Belo Monte se espalhe para regiões mais baixas PASTAGENS MT Belo Monte RI ÁREA 2 PARÁ 7 SÍTIO BELO MONTE Onde será construída a casa de força principal com 20 turbinas para gerar 11 mil MW NA WEB Altamira 3 mil Frota de máquinas e caminhões: Belém AM 25 mil Número de trabalhadores: As 3 áreas de Belo Monte Belo Monte 11.233 MW Capacidade: 5 quer trabalhar na usina.” Embora tenha começado a fase de montagem dos equipamentos, ainda há muita obra de terraplenagem para ser feita nos próximos meses, ou anos. Além da conclusão do canal e diques, a preparaçãodosreservatóriosaindaexigirámuitotrabalhopela frente.Por enquanto, é um amontoado de terras e rochas que precisam ser detonadas e retiradasdocaminho.Nototal,a hidrelétrica vai alagar uma área de 503 km², sendo que uma parte já é alagada naturalmentedurante a cheia do Rio Xingu. Segundo dados da Advocacia Geral da União (AGU), hoje há 27 ações contra BeloMonte.Nenhuma,porém,temdecisão em vigor determinando a paralisação das obras ou do licenciamento. São aguardados os próximos capítulos dessa que hoje é considerada a maior obra de infraestrutura do País em andamento. PA -41 lão mudou para R$ 19 bilhões. “É maldade o que falam sobre o aumento de custos. Já arrematamos o projeto da usina orçado em R$ 25 bilhões”, diz o presidente da Norte Energia. De qualquer forma, para evitar prejuízos maiores, Belo Monte corre contra o tempo para acelerar as obras atrasadas. Hoje são 25 mil trabalhadores – acima das 23 mil pessoas previstas inicialmente para o pico daobra – se revezando em três turnos diários nos três sítios dausina.Com o fimdo inverno e, consequentemente,daschuvas,aconstrução ganha um ritmo mais acelerado, com o vaivém frenético de 3 mil máquinas, tratores e caminhões. Durante o inverno, a empresa dispensou vários trabalhadores já que o volumedeserviçoerabaixo.Umexecutivo da Norte Energia afirmou que a rotatividade dos trabalhadores da obra é grande, em torno de 30%, mas que o cadastro de pessoas interessadas em trabalhar na construção da usinaé extenso.O comerciantedeAltamira Waldir Narzetti sabe bem o que isso significa. “Tive de aumentar a minha folha de pagamento para conseguir segurar os funcionários. Ainda assim, não tem sido suficiente. Todo mundo de p rofu m de largu ra ndid ade NAS MARGENS DO GRANDE CANAL, FORAM CONSTRUÍDOS PEQUENOS CANAIS PARA ABSORVER A ÁGUA DOS IGARAPÉS E LEVÁ-LOS ATÉ O RIO XINGU 210 m SISTEMA GALHOSO 2 Depois de completada a escavação o revestimento de rochas é aplicado e compactado INFOGRÁFICO: RUBENS PAIVA/ESTADÃO B14 Economia %HermesFileInfo:B-14:20140629: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 Reportagem Especial ✽ ● Asfalto Só 20% da cidade tem asfalto, água tratada e esgoto; prefeitura promete elevar para 55% o total de ruas asfaltadas A nova ocupação da Amazônia MINERAÇÃO VAI LEVAR US$ 47 BI EM INVESTIMENTOS AO PARÁ Quantidades de recursos injetados na economia local terá reflexo direto na criação de 99 mil empregos setor de mineração têm sido um dos principais motoresdecrescimentodaRegiãoNorte,emespecial no Pará, onde estão as grandes jazidas minerais. Nos próximos quatro anos, até 2018, só esse Estado deverá receber cerca de US$ 47 bilhões de novosinvestimentos,segundodados do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral). Aquantidade derecursos injetadosnaeconomialocal teráreflexo direto na criação de 99 mil postos de trabalho. Até o ano passado, a cadeia produtiva mineral respondia por 271 mil empregos diretos e indiretos no Estado. Para cada emprego direto, outros 13 postos detrabalho são criadosaolongo da cadeia,diz o presidente do Simineral, José Fernando Gomes Júnior. Naavaliaçãodele, todoesse investimentovaitrazer desenvolvimento e progresso para a região, já que as cidades envolvidas O recebem uma compensação financeira pela exploração dos recursos minerais, uma espécie de royalty da mineração. Em 2013, a arrecadação dessa conta cresceu 53% no Estado, segundo o Simineral. Parauapebas recebeu 87% do total e Canaã dos Carajás, 4,8% – quando o projeto S11D da Vale entrar em operação esse porcentual subirá. “Mas a população tem de cobrar dos governantes a aplicação adequada dos valores arrecadados”, afirma Gomes Júnior. O governador do Pará, Simão Jatene, é um dos defensores de mudanças no sistema de tributação e divisão dos recursos do ICMS. Segundo ele, hoje no Estado municípios de 200 mil habitantes têm a mesma cota-parte de ICMS que a capital Belém, que tem 1,5 milhãode moradores.“Aí você cria umailha deprosperidade num mardetormentas,comumentornopaupérrimo”,diz ele,questionando a gestão dos recursos por parte de alguns municípios. Várias cidades que recebem grandes projetos continuam com uma infraestrutura que deixa a desejar, apesar da arrecadação maior. Saneamento básico é a principal deficiência. A justificativa dos governantes locais é que os recursos são consumidos pelo explosão populacional das cidades, que recebem uma quantidade enorme de migrantes. Do lado ambiental, apesar de as jazidas estarem na Amazônia, a pressão das ONGs tem sido bem menor que na construção de hidrelétricas. Em recente entrevista ao Estado, o superintendente de Política Públicas do WWF-Brasil, Jean-François Timmers, disse que os impactos da mineração são pontuais e mais restritos comparadosà construção deumausina. Poroutrolado, ele ressalta que o setor mineral precisa de elevada oferta de energia para produzir.Ouseja, elaacaba demandandonovosprojetosdeeletricidade. EM CANAÃ DOS CARAJÁS, O MAIOR PROJETO DA VALE Renée Pereira / TEXTOS Sergio Castro / FOTOS CANAÃ DOS CARAJÁS (PA) Qualquer morador de Canaã dos Carajás, no Sudoeste do Pará, sabebemoquesignifica S11D, sigla que está espalhada pela cidade em adesivos de carros e placas de sinalização nas estradas. Trata-se do bilionário projeto Ferro Carajás S11D (potencial e localização da reserva), localizado da Serra SuldeCarajás.Éomaiorempreendimento da história da Vale e o maior da indústria de mineração. Serão investidos em todo o complexo US$ 19,67 bilhões. No pico da obra, a expectativa é criar 30 mil empregos nos Estados do Pará e Maranhão. O projeto consiste na construção da mina, usina de processamento e sistema de logística. Quase 60% do volumedeinvestimentoseráaplicadonaexpansãodaferroviaedosistema portuário no Terminal de Ponta da Madeira, em São Luiz (MA). Na usina, que fica cerca de 50 km de Canaã dos Carajás, o minério explorado será transportado até a usina por meio de um sistema de correias com 9 km de extensão, o que vai reduzir o número de caminhões na operação. A previsão é que o projeto entre em operação em 2016, produzindo 90 milhões de toneladas de minério de ferro por ano – volume pouco menor que a produção atual da mina de Carajás, atingida após duas décadas de operação. Segundo dados da Vale, quando estiverpronto,o S11D criará3.600postos permanentes de trabalho na região. A esperança da população de Canaãdos Carajásé queos jovens dacidade consigam uma chance na empresa. Trabalhar na Vale virou status para a população local. Todo mundo quer ser “verdinho”, uma referência à camisa verde dos funcionários da Vale. Com esse uniforme, os funcionários levam vantagem, tanto na paquera com as moças da cidade como nos negócios. Boa parte dos funcionários da Vale e do pessoal mais graduado das constru- Megaprojeto. Módulos que vão formar a usina de processamento S11D, que deve criar 30 mil empregos toras mora em hotéis alugados pelas empresas. O principal gasto deles é com a comida. E não faltam opções na cidade. Todos os dias, quando o sol se põe, moradores montam seus restaurantes ambulantes no meio da praça construída no canteiro central da AvenidaWeyne Cavalcante– a principalda cidade. Ali, tem comida para todos os gostos, de cachorro-quente, churrasquinho a um jantar completo. Maria Aparecida Silva, de 48 anos, fechou seu restaurante num ponto fixo da avenida para servir suas refeições na praça. Ela transformou a churrasqueira num fogão onde coloca grandes panelas com buchada, chambaril (um ensopado de carne), assado e galinha caipira. No fim de semana, tem sarapatel. Os preços variam de R$ 10 a R$ 15. “Aqui vem todo tipo de gente comer minha comida, advogados, médicos e engenheiros. Está sempre cheio.” A vantagem de Maria Aparecida é que agora ela não paga nenhum aluguel. Rebelião. Os operários da obra ficam nos alojamentos, distantes da cidade. E, como em outras grandes obras, de vez em quando se rebelam. No último feriado, um grupo queimou parte do alojamento, quebrou máquinas e fez um engenheiro de refém. %HermesFileInfo:B-15:20140629: O ESTADO DE S. PAULO 10.679% DOMINGO, 29 DE JUNHO DE 2014 Economia B15 ● “Aqui vem todo tipo de gente comer foi o crescimento do PIB de Canãa dos Carajás, que era de R$ 28 milhões em 2000 e atingiu cifra de R$ 2,9 bilhões em 2011, segundo dados do IBGE minha comida. Está sempre cheio.” Maria Aparecida Silva, vendedora de comida na rua Em obras. Construção da usina de processamento do projeto S11D, da Vale De mudança. Antônio Maurício: ‘Hoje temos de comprar tudo’ OBRA DA S11D FAZ 90 FAMÍLIAS SAÍREM DE VILA O início da construção do S11D, da Vale, isolou os moradores da Vila Mozartinópolis, mais conhecida como Racha Placa. Boa parte da população da vila sobrevivia do trabalho nas fazendas compradas pela mineradora para o empreendimento. Alémdisso, plantavammilho, mandioca e arroz. “Não dependíamos de nada. Hoje temos de comprar tudo, até o milho para dar às galinhas”, diz Antônio Maurício Gustavo, de 57 anos, um dos fundadores da Vila. A família de oito pessoas mora na pequena casa de madeira, com dois quartos, sala e cozinha. No total, 90 famílias deixarão o Racha Placa para morar em outros locais. Segundo a Vale, foram oferecidas três opções aos moradores: “A livre negociaçãodos imóveis;atrocaporresidên- Ritmo acelerado. Avenida Weyne Cavalcante, a principal de Canaã dos Carajás: alto custo de vida é um grande desafio para os empresários DE CANAÃ DOS CARAJÁS (ACIACCA) racterísticas de outras localidades do Pará: apenas 20% da cidade têm água tratada, esgoto e rua pavimentada – isso porque a Vale investiu cerca de R$ 100 milhões na infraestrutura local. A prefeitura promete elevar para 55% o total de ruas asfaltadas até dezembro. Naeducação,ocenárionãoédiferente. Para dar conta de toda demanda, foi preciso criar turnos intermediários no meio do dia, o que não é o ideal, diz o prefeito. “Nossa meta é acabar com esses turnos e construir mais três escolas para atender todas as crianças.” Segundo ele, apesar de a receita ter aumentado, a demanda explodiu com achegadadenovosmoradores.Oavanço da receita própria do município, especialmente de ISS pago pelos prestadores de serviços da Vale, cresceu 293% entre 2005 e 2013, para R$ 72 milhões. A receita total alcançou R$ 189 milhões, incluindo os royalties da mineração, que deverão aumentar com a operação do S11D, em 2016. mil pessoas haviam se mudado para a “Terra Prometida” em busca de riqueza. Mas o prefeito de Canaã dos Carajás, Jeová Gonçalves de Andrade (PMDB), diz que esse número está defasado. “Na prática, deve haver umas 50milpessoasnacidade”,dizele,reclamandoque a infraestruturado municípionãocomportatamanhoinchaçopopulacional. Apesar da riqueza em seu solo, crescimento do PIB e arrecadação maior, Canaã dos Carajás mantém várias ca- Povo pobre. Mas muitos moradores não estão contentes com o retorno do empreendimento. “É uma cidade rica com um povo pobre”, afirma Anderson Mendes, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agropastoril deCanaãdosCarajás(Aciacca).Segundo ele, parte do comércio não vai bem. Comoaumentodapopulação,onúmero de estabelecimentos comerciais também cresceu. Em três anos, por exemplo,a quantidadedefarmáciassubiu de 15 para 50 e a de lojas de material de construção, de 4 para 60. O grande CIDADE VIVE CRESCIMENTO EXPLOSIVO APÓS MINERADORA Até 2000, Canaã dos Carajás era um lugarejo desconhecido; chegada da Vale em 2004 mudou a história, e em 2011 PIB já havia crescido 10.679% CANAÃ DOS CARAJÁS (PA) D e um lado da Rodovia PA-160, quedáacesso àpequena Canaã dosCarajás,nosudoestedo Pará, um estande de vendas dá sinais de que o progresso chegou na cidade. Lotesde bairrosplanejados, com 300metros quadrados, são vendidos por R$ 89 mil, em 180 parcelas. Dos 200 terrenos postos à venda há apenas uma semana, só restavam oito disponíveis. Naoutramargem da estrada,noentanto, o outdoor alertava para outro reflexodocrescimento:“Abusosexualécrime. Denuncie”. Trata-se de uma campanha para reduzir os altos índices de estupro e de pedofilia no município. Batizada com nome de origem bíblica (70% da população local é evangélica), que significa Terra Prometida, Canaã dos Carajás era um lugarejo desconhecido no mapa do Brasil até o início dos anos 2000. Sua história, no entanto,ganhounovanarrativa coma chega- da da Vale e a instalação da Mina de Cobre de Sossego, em 2004. O empreendimento foi o grande responsávelpeloelevadocrescimentoeconômico da cidade. Até 2000, o Produto Interno Bruto (PIB) do município não passava de R$ 28 milhões. Em 2011, já havia crescido 10.679% e alcançado R$ 2,9 bilhões. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no mesmo período o PIB do Pará avançou 363% e o do Brasil, 251%. O crescimento colocou a cidade em terceiro lugar no ranking estadual do ÍndiceFirjande DesenvolvimentoMunicipal (IFDM). Entre 2000 e 2011, o municípiosaiudopatamarde baixodesenvolvimentoparaumníveldedesenvolvimento moderado. Hoje, aos 19 anos,Canaã dos Carajás abriga omaior empreendimento da indústria mundial de minério de ferro (o S11D, de US$ 19,67 bilhões, da Vale) e sonha em absorverparte detoda riquezamineral de seu território para o bem-estar da população. O sonho, no entanto, já extrapolou os limites do município. Em pouco tempo, a fama de província mineralganhou outros Estados e atraiu milhares demigrantesdevárias partesdo Brasil. Até o ano passado, a estimativa do IBGE era de que, entre 2000 e 2013, 20 ● Impressões “Na prática, deve haver umas 50 mil pessoas na cidade.” “Nossa meta é acabar com esses turnos e construir mais três escolas para atender todas as crianças.” Jeová Gonçalves de Andrade PREFEITO DE CANAÃ DOS CARAJÁS “É uma cidade rica com um povo pobre.” Anderson Mendes PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL, INDUSTRIAL E AGROPASTORIL cias na cidade; e o atendimento rural, por meio da criação de assentamento em parceria com o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra), cabendo a cada um cinco alqueires de terra e a construção de uma casa”. Do total de famílias, 48 escolheram essa última opção. Mas os moradores estão ansiosos pela mudança, uma vez que a vila está praticamente acabada. Algumas famílias que optaram pelas outras alternativas já saíram do bairro, deixando para trás um rastro de ruínas. A Vale diz que o cronograma de obras das 50 unidades do assentamento está em dia e que as casas serão entregues em dezembro. Segundo a mineradora, a realocação não era uma condição para a implantação do S11D. Foram os moradoresdavilaquemanifestaraminteresse em mudar, disse a empresa. A história entre a população local é diferente. Eles dizem que foi a Vale que, em 2008, começou a entrevistar as famílias para indenizar. problema, diz ele, é que o dinheiro não está circulando na cidade. Como os funcionários das construtoras que estão levantando o projeto são de fora do município e ficam em alojamentos, o dinheiro é enviado para suas cidades de origem. Outra reclamação é que o sistema bancário não funcionabem. Às 6 horas já tem gente na fila aguardando a abertura do banco. Em dias de pagamento, os moradores chegam a esperar quatro horas para ser atendido. E, muitas vezes, o dinheiro não é suficiente para todos, diz Mendes. “Os moradores acabam indo para Parauapebas usar os bancos de lá. O problema é que aí gastam tudo no shopping.” Para a dona do bar e restaurante Premier, Uelma Lima, o alto custo de vida da cidade é o grande desafio para os empresários. Depois de morar na Europa por um tempo, ela foi incentivada pelo tio a abrir um estabelecimento em Canaã dos Carajás. Uelma está na cidade há dois anos e já pensa se conseguirá manter o restaurante aberto por mais tempo. “Só de aluguel pago R$ 6 mil. É difícil conseguir manter o negócio.” Segundo ela, várias lojas abertas na AvenidaWeyneCavalcantejáfecharam as portas por falta de demanda. Os empresários do ramo imobiliário e da construção civil vivem situação contrária. Na mesma avenida do restaurantedeUelma,EdisondeMorais não tem do que reclamar da loja de materiais de construção. Natural deGoiás,eleestáhádoisanosnacidade. “A concorrência é alta e a margem de lucro pequena. Mas tenho vendidobastante.”NocasodeRoberto Andrade, do grupo Moreira Empreendimentos Imobiliários, a margemdelucroébem alta.Aempresajá vendeu 5 mil lotes e prepara outros 1,2 mil para comercialização a partir de 15 de julho e 1 mil para 2015. Ele conta que, no início, lotes acimade360m²eramvendidosporapenas R$ 3 mil. “Hoje não sai por menos de R$ 60 mil.” E, mesmo assim, alguns residenciais de até 450 lotes são vendidos em apenas uma hora, com direito a briga entre os compradores. “A fila de espera tem mais 2 mil clientes”, diz Andrade, um mineiro de Patos de Minas. “Apesar da distribuição de renda estar muito aquém, há um espaço enorme para crescer. Afinal, temos a maior jazida de ferro do planeta.” NA WEB TV Estadão. Canãa dos Carajás vive transformação estadao.com.br/e/carajas
Documentos relacionados
Portos do Norte firmam-se como opção
em uma operação quase silenciosa. O Porto de Vila do Conde, na cidade, em nada lembra a balbúrdia dos portos
brasileiros. A calmaria que a
reportagem do ‘Broadcast
Agro’ observou no local, em
meado...