ONU demanda acesso humanitário à Yarmouk, após invasão do ISIS

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ONU demanda acesso humanitário à Yarmouk, após invasão do ISIS
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ONU demanda acesso humanitário à Yarmouk, após invasão do
ISIS
Author : Natalia Nahas Carneiro Maia Calfat - Colaboradora Voluntária Júnior 1
Categories : COOPERAÇÃO INTERNACIONAL, NOTAS ANALÍTICAS, ORIENTE MÉDIO
Date : 10 de abril de 2015
As Nações Unidas estão exigindo acesso humanitário aos residentes de Yarmouk, campo de refugiados
palestinos localizado nas periferias de Damasco, capital síria. O campo, que é situado a menos de 10
quilômetros do palácio presidencial sírio, foi invadido no primeiro dia de abril por combatentes do Estado
Islâmico do Iraque e de al-Sham (ISIS), e desde então apenas algumas centenas de moradores foram
capazes de escapar[1]. De acordo com Pierre Krähenbühl, Comissário-Geral da Agência de Obras
Públicas e de Socorro das Nações Unidas, estimadas 18.000 pessoas que residem nos
campos, incluindo 3.500 crianças, estão presas em meio aos combates e passam fome[1]. “A
situação no campo está para além de desumana”[2], afirmou Christopher Gunness, porta-voz da
Agência, que classifica o cerco como uma catástrofe humanitária[2]. “Furiosos conflitos tomam conta das
ruas ao redor das casas”[1], complementou.
Durante esta semana foram reportados mais relatos de bombardeios e combates esporádicos entre
facções armadas palestinas e militantes do ISIS. Os avanços do autoproclamado Estado Islâmico sobre
Yarmouk refletem a incursão cada vez mais profunda do grupo dentro de Damasco[3]. O grupo vem
colaborando declaradamente com seus rivais da Frente al-Nusra, ligada à al-Qaeda, para manter seu
cerco ao acampamento e já controla quase a totalidade do território[2].
Uma delegação para discutir a possibilidade da implementação de corredores humanitários para fornecer
comida, água e suprimentos médicos ao campo estava a caminho de Damasco no início desta semana,
declarou Ahmed Majdalani, funcionário da Organização para Libertação da Palestina, à BBC.
Yarmouk já foi o maior enclave de refugiados palestinos na Síria. Se a ajuda irá ou não alcançá-los será
“um teste de todo o sistema internacional”[1] , disse Krähenbühl.
De acordo com Christopher Gunness, em entrevista concedida ao Democracy Now, a situação em
Yarmouk está além de desumana. O acampamento desceu a níveis de desumanidade que são
desconhecidos até mesmo neste lugar, isto em se tratando de uma sociedade em que as mulheres
morrem no parto por falta de medicamentos e as crianças morrem de desnutrição. Agora, com a tomada
do campo pelo ISIS, os habitantes encolhem-se em suas casas destroçadas e estão apavorados demais
para saírem às ruas. “Nós na UNRWA [Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados
Palestinos] não tivemos acesso [ao campo] desde o início do conflito, de modo que não há comida da
ONU, não há água da ONU, nem nenhum remédio da ONU. O fornecimento de eletricidade é muito,
muito escasso. É surpreendente que o mundo civilizado possa ficar imóvel enquanto 18.000 civis,
incluindo 3.500 crianças, podem enfrentar potencial abate iminente e não fazer nada”[2]. Hatem
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ativista baseado em Yalda, uma área ao sul de Damasco, relatou que mesquitas
al-Dimashqi,
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suplicavam por doações de sangue nas áreas ao redor do acampamento, incluindo Yalda, Babila e Beit
Saham, conforme os hospitais recebiam civis feridos de Yarmouk[3].
Autoridades palestinas e ativistas sírios afirmaram que combatentes do ISIS trabalham ao lado de seu até
então rival, a Frente al-Nusra. Os dois grupos travaram batalhas sangrentas entre si em outras partes da
Síria, mas parecem cooperar no ataque à Yarmouk[3]. Relatos locais dão conta que houve um acordo
feito por debaixo da mesa entre a Frente al-Nusra e o ISIS. Muitos ficaram chocados, disse o ativista
Hatem al-Dimashqi à Al Jazeera[3]. “A Frente al-Nusra divulgou um comunicado afirmando ser neutra,
mas na realidade isso não é verdade. A al-Nusra tem vários checkpoints dentro de Yarmouk, e o ISIS
entrou sem quaisquer dificuldade. Esta é a razão mais importante pela qual o ISIS foi capaz de invadir
Yarmouk e controlá-lo”[3]. De acordo com a Agência EFE, a infiltração teria sido motivada, sobretudo,
para atacar o grupo palestino Aknaf Beit al-Madqis[4].
Grupos armados palestinos estão lutando ao lado do Exército Sírio Livre para impedir que o ISIS
estabeleça uma posição em Damasco, declarou Salem al-Meslet, porta-voz da Coalizão Síria. Ele diz,
no entanto, que os grupos estão subequipados. Além dos confrontos terrestres, as forças aéreas sírias
também bombardeavam o acampamento, como relatado pelo Observatório Sírio para os Direitos
Humanos, com sede em Londres, que monitora o conflito sírio através de uma rede de ativistas[3].
A captura de Yarmouk pelo ISIS marca a sua incursão mais profunda em Damasco, aumentando a
pressão sobre o regime de Bashar al Assad, uma semana depois da tomada da importante e estratégica
cidade de Idlib pelas forças rebeldes. Os arredores de Damasco são de importância simbólica ao ISIS,
pois são mencionados nas tradições islâmicas apocalípticas sobre as quais sua filosofia se baseia[5].
Stefanie Dekker, correspondente da Al Jazeera, reportando de Beirute, declarou: “É uma situação
complexa. As forças do governo controlam a parte norte [do campo] em direção a Damasco. É a sua
prioridade manter a capital segura”[3]. Ponderou ainda: “O fato dos militantes do ISIL estarem a menos de
10 km de distância é de uma enorme preocupação. Caso eles permitam que um corredor humanitário
seja implementado, quem será que sairá do campo?”.
Um funcionário palestino baseado em Damasco, Khaled Abdul-Majid, afirmou que o ISIS controla cerca
de 90% do campo de Yarmouk[3]. O local, situado na fronteira da capital síria e configurado como um
campo de refugiados palestinos em 1957, tornou-se uma espécie de bairro residencial para mais de 160
mil habitantes, inclusive sírios. Com o estopim da guerra civil, em 2011, a região de 2 Km2 – uma vez a
maior comunidade palestina na Síria[6] – começou a ser gradualmente evacuada até atingir as cifras
atuais estimadas em 18.000 habitantes[3][4]. O campo esteve sitiado sob cerco do Governo sírio por
cerca de dois anos e já foi palco de diversas rodadas de combates mortais entre forças governantes e
rebeldes[3]. Yarmouk é atualmente uma espécie de amostra aumentada do conflito sírio; na prática, o
país se tornou um campo de batalha para potências regionais que disputam controle e preponderância
regional[5].
-----------------------------------------------------------------------------------------------Imagem “Campo de refugiados palestinos, Yarmouk, em Damasco, na capital síria em 6 de abril de
2015. A intensificação dos combates no local obrigou cerca de 2.000 pessoas de uma população já
sitiada a fugirem” (Fonte – AFP / Getty Images):
http://america.aljazeera.com/multimedia/photo-gallery/2015/4/photos-islamic-state-lays-siege-to-yarmoukrefugee-camp-2000-flee.html
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Fontes http://www.jornal.ceiri.com.br
Consultadas:
[1] Ver:
http://link.foreignpolicy.com/view/525440b6c16bcfa46f6fced82gubk.60q/8baec00a
[2] Ver:
http://www.democracynow.org/2015/4/7/headlines#471
[3] Ver:
http://www.aljazeera.com/news/2015/04/isil-seizes-syria-yarmouk-refugee-camp-150404135525226.html
[4] Ver:
http://operamundi.uol.com.br/conteudo/noticias/40040/estado+islamico+invasao+a+campo+de+refugiados
+palestinos+causa+catastrofe+humanitaria+na+siria.shtml
[5] Ver:
http://www.telegraph.co.uk/news/worldnews/islamic-state/11520845/Inside-the-living-hell-of-Yarmouk.html
[6] Ver:
http://www.haaretz.com/blogs/a-special-place-in-hell/1.650850
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