1. o caminho do colono foi criado antes ou depois
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1. o caminho do colono foi criado antes ou depois
1. O CAMINHO DO COLONO FOI CRIADO ANTES OU DEPOIS DO PARQUE NACIONAL DO IGUAÇU? Além dos índios guaranis que habitavam a região, no período entre o Século XVI e o Século XVIII, também cruzaram pora li espanhóis, portugueses e inúmeros aventureiros em busca de riquezas, do próprio paraíso e da fonte da vida eterna. o processo de ocupação das regiões Sudoeste e Oeste do Paraná, da Argentina e do Paraguai remontam ao Século XVI, mais exatamente ao ano de 1516, com a expedição do espanhol Juan de Solis ao estuário do Rio da Prata. De acordo com os relatos, a expedição foi atacada pelos índios guaranis na Costa Uruguaia, quando, numa tentativa de retornar, terminou naufragando na Costa de Santa Catarina. Foi neste momento que Aleixo Garcia, sobrevivente e comandante da expedição, em contato com indígenas, descobriu que existia um caminho para o Oeste, onde supostamente existiria um império de ouro e prata. Anos mais tarde, em 1521, uma nova tentativa. A expedição retornou e seguiu um desses caminhos, o Peabirú, que atravessava todo o território paranaense, cruzando o Rio Iguaçu na altura do Rio Santo Antônio, indo dar no Rio Paraná, próximo à Foz do Rio Piquiri. Daquele ponto, atravessando o Chaco, chegou ao Planalto Peruano e ao Oceano Pacífico. Em 1541, o conquistador espanhol, de família nobre, Alvaar Nuñes Cabeza de Vaca parte da Espanha em direção a Buenos Aires e, chegando a Ilha de Santa Catarina, fica sabendo sobre o império de ouro e prata e sobre o Peabirú – o caminho que levava aos Andes, onde se localizaria esse império. De acordo com relatos do próprio conquistador, em 14 de janeiro de 1542 Cabeza de Vaca, chegou às margens e à Foz do Rio Iguaçu. Foi o primeiro europeu a conhecer as Cataratas do Iguaçu, hoje localizadas no Parque Nacional do Iguaçu. Cabeza de Vaca descreve as inúmeras aldeias guaranis encontradas ao largo do caminho, desde a Ilha de Santa Catarina, cujos habitantes mantinham cultivos de mandioca, milho e outras plantas, além da criação de aves e outros pequenos animais. Outro personagem histórico foi Joahan Ferdinando, que passou por ali em 1549, vindo de Assunção para incrementar o plantio da mandioca em Santa Catarina, com o objetivo de abastecer os navios castelhanos. Em 1551 Hans Standen, um aventureiro mercenário alemão do século XVI, registrou sua passagem por terra, pela mesma região, vindo do litoral de Santa Catarina em direção a Assunção, conforme consta em seu livro “Viagens e Cativeiros entre os Selvagens do Brasil”. Bem depois, entre 1865 a 1870, durante a Guerra do Paraguai, militares brasileiros constataram a existência de inúmeras picadas abertas por paraguaios e argentinos, visando a extração da erva-mate e de madeira, contrabandeadas para esses países. Essas picadas deram origem aos caminhos e até às estradas ainda hoje existentes na região. Já no início do Século XX, precisamente em 14 de julho de 1903, bem próximo do Porto Lupion e do acesso ao Caminho do Colono, foi inaugurado um marco no qual se lê, na base, Brasil – Argentina. Foi ele, originalmente, um marco da fronteira. Posteriormente esta fronteira teria sido expandida para o outro lado do Rio Paraná e para a divisa do Rio Santo Antonio. Assim, em 1906, foi implantado outro marco, que, segundo registros, foi levado de Foz do Iguaçu em lombo de burros pela picada que se conhece hoje como Caminho do Colono. Extraído do livro "Os rios Santo Antônio e PeperiGuaçu na questão de fronteiras entre Brasil e Argentina no Sudoeste do Paraná e os Marcos da Linha Seca". Em 1924, o tenente Luiz Carlos Prestes cria a Divisão Rio Grande, adere ao Movimento Tenentista, e parte de Santo Ângelo, no Rio Grande do Sul, em direção ao Paraná, passando por Barracão e Santo Antônio. Em abril de 1925 o tenente Prestes foi até o cruzamento da Picada Benjamim (Caminho do Colono) para encontrar-se com as tropas de Miguel Costa, vindas de Catanduvas, de onde partiram para Santa Helena. Mapa dos deslocamentos efetuados pela Coluna Prestes, disponível em: http://www.brasilcult ura.com.br/historia/ coluna-prestes/ e em História Cronológica do Parque Nacional do Iguaçu, 1999. Adaptação: D. 2 Mas foi a partir da década de 1930 que o uso do caminho foi intensificado como rota natural para a colonização da Região Oeste do Paraná. Os 18 Km que separam os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema faziam a ligação entre as famílias de colonos de um e de outro lado do Parque Nacional do Iguaçu. Essa afirmação tem relação com a forma como se desenvolveu a ocupação do Estado do Paraná, ilustrada no mapa a seguir: Fonte: BALHANA, Altiva P. et. al. História do Paraná. Curitiba: GRAFIPAR, 1969, p. 261. No ano de 1948, o Poder Executivo Estadual "inaugurou o Porto Lupion, no Rio Iguaçu, junto à divisa do PNI, região que, hoje, corresponde ao município de Capanema (no Sudoeste do Paraná). A partir deste porto foi estabelecido um serviço regular de balsas entre as duas margens para o transporte de animais e carroças"2. Sobre esse ponto, o Senhor Marcelino Ampessan, vereador no Município de Capanema que era balseiro na época em que a Estrada do Colono era utilizada, relatou, durante o encontro da Comissão Especial da Câmara dos Deputados (PL 7123/2010), realizado naquele Município em novembro de 2011, que chegava a transportar, naquela época, 300 mudanças por dia de pessoas vindas do Rio Grande do Sul para morar no Paraná. Reforçando ainda mais os relatos sobre a utilização e o reconhecimento do trajeto, em 1953 o Departamento de Estradas e Rodagem do Paraná (DER) executa obras de ampliação (alargamento, compactação e macadamização) do caminho que ligava Medianeira até as barrancas do Rio Iguaçu. Em 1954, com objetivo de ligar os centros produtores agrícolas e pecuários do Rio Grande do Sul e Santa Catarina aos frigoríficos do oeste paranaense, o Governo do Paraná inclui a estrada na sua malha rodoviária com o prefixo de PR 495,". 3 Mais tarde, em 1986, o Governo do Estado deu início ao processo de asfaltamento da via, para melhorar suas condições de trafegabilidade. O fato foi suficiente para provocar a iniciativa do Ministério Público Federal, que buscou judicialmente o fechamento da Estrada do Colono. Foi neste momento que a utilização do caminho histórico, cultural e extremamente relevante na ocupação geográfica do Oeste do Paraná foi obstruída por uma decisão judicial. Ainda sobre a questão da ocupação do Oeste do estado, dados do IBGE (demonstrados no gráfico a seguir) registram de que forma o Oeste e o Sudoeste do Paraná foram formados, apontando para o trajeto da Estrada do Colono. É visível que, em especial depois da transformação da Estrada do Colono em uma rodovia do Estado do Paraná, houve forte migração da população para o Oeste e também a estabilização do número de ocupantes do Sudoeste. Por fim, e em síntese gráfica, esta é a trajetória da Estrada do Colono: Conforme se verifica, o leito da Estrada do Colono é preexistente ao Parque Nacional do Iguaçu. Quando de sua instituição nessa categoria de unidade de conservação, o trajeto havia se consolidado como rota histórica, econômica e cultural das Regiões Oeste e Sudoeste do Paraná. 4