Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários

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Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários
Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência
Dezembro/2013
Análise e diretrizes para a produção de
abrigos temporários em situações de emergência
Ana Elizabeth Lopes do Rêgo - [email protected]
Pós Graduação lato sensu Master em Arquitetura
Instituto de Pós Graduação - IPOG
Recife, PE, 19 de março de 2013
Resumo
Este trabalho se propõe analisar o que vem sendo produzido em termos de habitação
transitória num contexto pós-catástrofe, considerando as implicações específicas de tempo,
tanto de resposta quanto de permanência desses abrigos. Mesmo com as frequêntes situações
de caos provocadas por fenômenos naturais, as inciativas de socorro, no campo do abrigar e
devolver autonomia a população atingida de retornar a normalidade cotidiana, é
inespressiva. O despreparo do Estado, a pequena contribuição do meio acadêmico e a falta
de organização social, tem prorrogado um enfrentamento mais efetivo e eficaz do problema.
Esta investigação visa, a partir de um conhecimento da problemática no âmbito da
emergência, apresentar diretrizes projetuais, fundamentando-se numa metodologia que
contribua para o desenvolvimento sustentável. Para concretização do objetivo foram feitas
pesquisas, no período de setembro a março de 2011. Bibliográfica, principalmente de
trabalhos acadêmicos; e documental com material cedido pela Coordenadoria de Defesa
Civil do Recife. Os resultados desta pesquisa indicam a vulnerável condição do Estado em
atender a população vitimada e poucos projetos para esse fim. Por sua vez, a tecnologia
integrada a sistemas construtivos mais simples e a preocupação com a sustentabilidade,
apenas confimam a necessidade de organização e cooperação, do Estado e Sociedade.
Palavras-chave: Arquitetura efêmera. Abrigo temporário. Emergência. Catástrofe.
Sustentabilidade.
1. Introdução
Este artigo trará uma breve discussão das questões que envolvem a produção do abrigo
temporário em situações de emergência, é objetivo analisar, o que e como, vem sendo
produzido em termos de habitação para atender as necessidades da população inserida neste
contexto.
Embora estando em um contexto atípico da rotina profissional da maioria, a humanidade
desde os primórdios tem se deparado com essa problemática e tem sido induzida a lutar pela
sobrevivência. A interessante observação do arquiteto Ian Davis, no seu livro Arquitetura de
Emergência, nos remete a situação semelhante em um tempo bastante longínquo.
Quando Noé e a sua família subiram à arca, estavam entrando num refúgio de um
tipo bastante especial, construído como uma peça de um minucioso projecto précatástrofe. Deve ser um dos exemplo mais primitivos de provisão de refúgio contra
catástrofes, neste caso uma força maior, um “acto da vontade de Deus” num sentido
muito literal. (IAN DAVIS apud ZIEBELL, 2010, p 45).
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A demanda por este tipo de arquitetura de emergência tem aumentado consideravelmente em
virtude da frequência, cada vez maior, dos fenômenos citados em todo o mundo,
intensificando-se nos últimos quarenta anos, e cuja correspondência tem se dado de forma
lenta e pontual.
É um problema fundamentalmente contemporâneo e para ser tratado de forma
multidisciplinar. No âmbito da arquitetura efêmera, buscaremos diretrizes pragmáticas de
projeto, levando-se em consideração a sustentabilidade tendo como base a transitoriedade. O
renomado arquiteto Shigeru Ban enfoca: “o século XXI como prognóstico de uma época na
qual a arquitetura se verá compelida a abraçar ativamente inquietudes mais amplas, inclusive
tendo em conta a responsabilidade em referência ao meio ambiente”. (SHIGERU BAN apud
CAMPOS, 2009).
A discussão a respeito do tema é pertinente, visto que, o diálogo no meio acadêmico irá
contribuir de forma qualitativa e quantitativamente para os modelos de abrigos provisórios.
Disciplinarmente a arquitetura dispõe de grandes avanços tecnológicos e experiências
adquiridas das civilizações passadas, porém, a contribuição social expressa em termos de
produção arquitetônica não tem sido satisfatória. Tendo em vista esse fato, em 1984 a ONU,
apresentou relatório contendo diretrizes para a prestação de assistência nas situações de
calamidade, intitulado “O abrigo depois do desastre”, direcionando as ações de competência
tanto para a arquitetura quanto para o governo através dos órgãos assistenciais
correspondentes. Mesmo assim, não se faz suficiente a ação estabelecida sem a participação
efetiva do meio acadêmico. “Quando a arquitetura não corresponde aos questionamentos (ou
modos de ser) de um lugar/mundo torna-se um campo do conhecimento que se encontra em
crise”. (LISSONGER apud DOS ANJOS, 2003, p 7). Sem o radicalismo de Lissonger,
entendemos que no mínimo o tema é merecedor de pauta no meio profissional da arquitetura.
Dando-se uma visão global do problema, observam-se as dificuldades em apresentar soluções
nas diversas situações. Contextualizamos a problemática na situação específica da cidade de
Recife, no período entre os anos de 2005 e 2012, veremos pelos dados cedidos pela
CODECIR (Coordenadoria de Defesa Civil do Recife), a frequência de inundações e
deslizamentos causados pelas enxurradas, que são os tipos mais comuns na cidade.
Focalizaremos o abrigo temporário, com suas implicações de projeto devido à condição de
transitoriedade, então, analisaremos dentro dessa produção arquitetônica, questões
imprescindíveis como a da habitabilidade, transportabilidade e sustentabilidade, o que torna
ainda mais complexa esta modalidade de projeto. Como assim analisa Daniel Paz:
Cabe dizer que à arquitetura portátil recaem incumbências mais severas que na
arquitetura sedentária. Pois ninguém pode negar que o desgaste do material é maior
com seu contínuo movimento. E que essa construção, ainda assim, não pode
descurar daquelas qualidades elementares que buscamos no ambiente construído,
perene ou temporário. (PAZ, 2008).
Vamos nos ater ao produto em si, embora façamos rápida menção às experiências estudadas
sobre melhor localização e implantação do mesmo no campo.
Objetivamos crescimento profissional ao trazer ao debate este tema, sem a pretensão de
exauri-lo e muito menos defender modelos como exemplos a serem seguidos de forma
universal. Assim estaríamos apenas prosseguindo no círculo vicioso da mediocridade. Por
outro lado é utópico achar que toda essa complexidade de condicionantes será respondida
integralmente. Outro propósito deste artigo é mais uma vez trazer para reflexão a
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responsabilidade social do exercício da profissão do arquiteto, numa intervenção de
envergadura humanitária como é o caso.
Os abrigos produzidos estão disponíveis a população? E se estão, suprem as necessidades de
habitabilidade da mesma? Com a frequência das catástrofes naturais, os governos em suas
instâncias distintas, estão preparados para o atendimento eficaz às vítimas? Supomos que as
respostas são de forma paliativa, com as famílias sendo mal acomodadas nas instituições de
ensino e/ou religiosas, até que possam retornar para suas habitações permanentes.
O cotidiano das cidades vivenciado por seus habitantes ou retratado pelos meios de
comunicação, nos aproxima desta temática, objeto de estudo desta pesquisa. E outro fato que
torna a pesquisa relevante é a distancia entre a necessidade urgente de soluções e o acesso da
população aos resultados já obtidos.
O que motivou essa investigação é que ela poderá instrumentalizar profissionais na prática
dirigida à solução de projeto para esses abrigos, agilizando o processo de assistência às
vítimas e dando suporte às políticas públicas de combate ao déficit habitacional emergencial.
2. Metodologia da pesquisa
Utilizou-se de pesquisa bibliográfica e documental, para adentrar aos fatos que compõem o
universo da construção de abrigos temporários para a população vitimada pelas catástrofes
naturais.
Baseando-se em documentos cedidos pela CODECIR (Coordenadoria de Defesa Civil do
Recife), analisaremos dados dos boletins de ocorrências desses fenômenos, do ano de 2005
até 2012, e a entrevista com a gerente geral de atenção social da CODECIR, a assistente
social Keila Ferreira, em anexo no final deste trabalho.
Tomamos a cidade de Recife como amostra, por se tratar de uma realidade mais próxima,
visando compreender a real necessidade deste tipo de habitação.
2.1. Análise dos dados coletados
De acordo com os boletins fornecidos pela CODECIR, confirma-se a vulnerabilidade nessas
ocorrências que afetam periodicamente a convivência das famílias nas áreas de risco. Sendo
necessários atendimentos emergenciais através de colocação de lonas nas encostas dos morros
e a remoção de famílias, nos casos mais graves, para abrigos temporários coletivos (casa
adaptada), casas de parentes e auxílio moradia (AM).
Em função dessa vulnerabilidade, consequência dos poucos recursos disponíveis para
solucionar os problemas nas áreas de risco, sugerimos aqui, uma ação governamental mais
efetiva, capaz de pelo menos atenuar as situações nas ocorrências mais vultuosas. Assim,
propomos um atendimento, cuja remoção dar-se-á coletivamente para acampamentos
provisórios móveis, conforme modelos unifamiliares estudados a seguir.
3. Um breve trajeto da arquitetura efêmera e sua vertente emergencial
Efêmero é definido no Dicionário online de português como o que é “breve, fugaz,
instantâneo, lábil, momentâneo, morredouro, passageiro e transitório”. Segundo o professor
Cianciardi (2012), “O critério definidor da arquitetura efêmera não é a durabilidade potencial
do objeto arquitetônico, mas sim o tempo que este se desfaz de um dado lugar”. Ou seja, a
condição de efemeridade é cumprida na sequência de montagem e desmontagem de um
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objeto, no caso o construído. Sendo assim, observa-se um aparente paradoxo entre a
conceituação da arquitetura efêmera e a capacidade de sua permanência de fato, visto que,
dispõe de tecnologia avançada para longa duração e atender o requisito de transportabilidade,
esta última, condição básica para a arquitetura num contexto catastrófico, chamada arquitetura
de emergência, focalizada neste estudo.
A trajetória dessa classe da arquitetura confunde-se com a dinâmica história do homem. No
início, em busca das descobertas que lhe garantissem a sobrevivência, até os dias atuais de
uma sociedade pós-moderna em que a flexibilidade, a praticidade e a busca pelo
desenvolvimento sustentável do planeta é de substancial importância, não deixando de ser
ainda uma questão de sobrevivência, mais também quando se trata de casos urgentes, onde
um dos maiores desafios é o necessário imediatismo nas respostas. O texto abaixo mostra a
arquitetura inserida nessa dinâmica.
Na segunda metade do século XX, a arquitetura ocidental já havia respondido às
solicitações primárias da sociedade industrial. O mundo entrava em uma nova fase
no pós-guerra, a revolução tecnológica. Energia nuclear, computadores, motores a
jato, televisão e outras conquistas, entravam rapidamente na vida das pessoas e
passavam a fazer parte do seu dia-a-dia. Da mesma forma que vinham, as novidades
rapidamente eram superadas e descartadas. Tudo passou a ter vida efêmera. Era a
sociedade de consumo nascendo ávida por novos produtos. A arquitetura teria de se
posicionar
a
respeito
desta
nova
postura
da
sociedade.
(www.cimentoeareia.com.br/arquiteturas3.htm, 2002 apud DOS ANJOS, 2003, p 8).
A partir do início do século XX, intensificam-se os fenômenos naturais catastróficos e os
conflitos sociais e políticos no mundo, dando forma ao contexto que chamamos de
emergência. O conceito de emergência é incorporado à arquitetura efêmera e novos critérios
são acrescentados para a construção do abrigo, como: a rapidez no fornecimento, baixo custo,
adaptação ao terreno, flexibilidade, facilidade no transporte e na montagem.
O abrigo temporário tem origem no estilo de vida nômade, quando o clima passou a ser
preponderante na busca por proteção e qualidade no habitar. As tendas foram se aprimorando
ao longo da história, embora a essência do abrigar, proteger, guardar e confortar das antigas
cavernas continuasse. O constante trânsito passou a exigir mais da estrutura do abrigo, pelo
processo de montagem e desmontagem. Mesmo havendo disparidades regionais de culturas,
as necessidades eram comuns e ainda continuam atualmente, importando a durabilidade dos
materiais, a flexibilidade e a simplificação no transporte. Na transitoriedade encontramos o
principal elemento da relação entre o abrigo temporário para situações de emergência e as
culturas nômades, mesmo essa transitoriedade se dando por razões distintas, é dever hoje
também, corresponder adequadamente ao meio ambiente minimizando o impacto.
A produção dos abrigos, temporários e portáteis, teve desenvolvimento crucial desde a
primeira grande guerra mundial para uso militar, destacando-se o modelo criado pelo
engenheiro canadense, o Capitão Nissen, “Esse grande sucesso se deveu ao fato de sua
estrutura utilizar componentes fáceis de fabricar, intercambiáveis e obedecerem a uma
coordenação modular, facilitando assim, sua montagem em campo” (ANDERS, 2007).
Até a década de 70, embora tenha havido importante contribuição à arquitetura efêmera por
grandes nomes como Frank Lloyd Wright, Le Corbusier, Alvar Aalto, e os arquitetos do
grupo Archigram entre outros, como afirmam Neto e Marum (s.d), essas tentativas apenas
apontaram para futuros projetos na área da emergência, “Na realidade todas estas
investigações e experiências nunca foram aplicadas à arquitetura de emergência. Eram linhas
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de produtos não acessíveis a todos. Nunca aplicadas às situações de emergência. Porque na
realidade, não tinham sido concebidos para esse fim”.
Da década de 70 em diante, inquietações instigaram estudos e alguns movimentos que
produziram avanços específicos nessa área, como a preocupação com os materiais utilizados
para esse fim e a necessidade das intervenções arquitetônicas. Ainda assim, Neto e Marum
são categóricos em afirmar:
Apesar das várias tentativas em contribuir e investigar para melhorar a habitação
pós-catástrofe, continua a ser a tenda de campanha, o abrigo de emergência mais
utilizado pelas organizações intervenientes. Em parte, a justificação para o modelo
de habitação-refúgio em situações pós-catástrofe se manter quase inalterada ao
longo dos anos (apesar de várias tentativas de melhoramento), é, talvez, pelo fato de
serem consideradas manifestações deslocadas e desvalorizadas pela crítica teórica da
arquitetura, impedindo a continuidade das investigações. Contudo estes projetos
dão-nos coordenadas valiosas que permitem recuperar e repensar a ideia de
habitação pós-catástrofe. (NETO; MARUM, s.d)
Veremos alguns exemplos mais recentes de abrigos temporários, alguns ainda em estudo.
Aplicando conceitos de sustentabilidade e estabelecendo premissas para uma habitação digna.
3.1. O abrigo de papel
O arquiteto Japonês, Shigeru Ban, tem se destacado por sua importante contribuição na busca
por soluções para habitações de emergência. Foi assim num campo para refugiados de guerra
em Ruanda na África, em Kobe no Japão depois de um terremoto, no Vietnã, Turquia, Sri
Lanka, etc. Usando materiais abundantes em cada região, vem desenvolvendo soluções
simples e eficientes, garantindo privacidade à população deslocada. Bambu, plástico, madeira
e principalmente o papel, materiais simples, de baixo custo, flexível, fácil de transportar, de
montar e que geram poucos resíduos ao meio ambiente.
Figura 1 – Paper Loghouse in Kobe, 1995
Figura 2 – Detalhe da base em caixas de cerveja
Fonte: disponível em: http://www.designboom.com/history/ban_paper.html
Kobe, Japão, 1995. Os abrigos de emergência das figuras 1 e 2 são casas com base feita de
caixas de cervejas cheias de areia, paredes em tubos de papelão e a coberta de lona plástica,
mantida separada do forro para que haja circulação de ar no verão, e no inverno, esse espaço é
fechado mantendo o ar quente.
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3.2. Projecto SIES (Sustainable and inflated Emergency Shelter)
Abrigo intitulado de emergência sustentável e inflado, de autoria da arquiteta Maria Canteiro
Neto, começou como trabalho de mestrado na Universidade da Beira Interior (UBI), Covilhã
em Portugal, e continuou no doutorado na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
(FAUP), também em Portugal. Este produto está para ser patenteado e foi experimentado no
Sismo de 2009 em Áquila na Itália.
O projeto é composto de três células, como mostra a figura 3: dormitórios, instalações
sanitárias e a social/serviços. SIES I, célula dormitório dimensionada para no máximo 8
pessoas; SIES II, banheiro servindo a 64 pessoas, correspondendo a 8 célula dormitório; SIES
III, é uma célula multiuso, que pode ser desde refeitório a posto médico tipo hospital de
campanha.
São insufladas não necessitando de montagem e adaptando-se facilmente ao terreno. A
matéria prima utilizada é o pneu reciclado, tornando o projeto sustentável da gestão ao
descarte e com boas características de climatização. Sobre o projeto sintetiza a autora:
Os estudos comparativos efetuados, mostram uma relação qualidade/preço muito
superior à existente em objetos similares, concretamente, as tendas de campanha.
Sendo flexível e facilmente transportável, cada unidade dá resposta às necessidades
básicas de higiene, conforto e sociabilidade independentemente, viabilizando todo o
processo de estabelecimento de campos temporários de deslocados, baseados num
produto ligeiro, de baixo custo, flexível, reciclável e pré-fabricado. (NETO;
MARUM, s.d)
Figura 3 – Cápsula SIES
Fonte: Projecto SIES (s.d)
disponível em http://www.clipquick.com/files/imprensa/2012/0301/4/1_1772116_ffee3410f75c7b91d95ec679504aa314.pdf
3.3. Abrigo efêmero portátil de caráter emergencial
De autoria de Giovana Savietto Feres, orientado pelo professor Leandro Silva Medrano. Foi
trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Engenharia Civil,
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(FEC) da Unicamp. O estudo originou-se após as enchentes no município de São Luiz do
Paraitinga, São Paulo, em 2010, catástrofe que deixou mais de cinco mil desabrigados.
É um módulo pré-fabricado unifamiliar para 4, 6 e 8 pessoas, podendo ser adaptado para
posto de saúde, escola, etc. De volume compacto é montado por encaixe, em poucas horas,
por apenas duas pessoas como mostra a figura 5. O módulo se transforma numa espécie de
maleta e daí é transportado. O banheiro é químico, acoplado ao volume principal. O módulo
contém placas solares para aquecimento da água e as instalações elétricas e hidráulicas
utilizam-se da enérgica eólica. Construído com materiais reciclados, o piso é feito de pneu e a
estrutura de polietileno de alta densidade. Foi pensado o mobiliário preocupando-se com a
ergonomia, exemplo das camas e mesa, sendo bancadas tipo dobráveis.
Figura 4 – Layout Planta Baixa
Figura 5 – Montagem
Fonte: disponível em http://www.fec.unicamp.br/~evandrozig/posters_sal/sal_giovana_Feres.pdf
Por este projeto a arquiteta, conquistou prêmio no 23º Concurso Nacional Ópera Prima 2011,
com o seguinte parecer do júri:
Tema apropriado às adversidades enfrentadas pela humanidade. A concepção do
projeto está baseada na criação de uma unidade padrão, um abrigo efêmero, com um
sistema construtivo pré-fabricado. Vale ressaltar a preocupação do autor no que
concerne aos aspectos ergonômicos e a qualidade do desenho dos abrigos, que,
interligados, configuram significativo valor formal e expressão plástica ao projeto.
Disponível em: (http://www.arcoweb.com.br/especiais/opera-prima-2011).
4. Habitabilidade
4.1. Do abrigo
Em se tratando de um habitar atípico, fora de um contexto de normalidade, deve ser pensado
para abrigar uma população resultante de uma situação traumática. Deparamos nos então com
questões emocionais e econômicas que comprometem a dignidade desse usuário, condição a
ser restabelecida pela segurança e privacidade do abrigo; Há implicações de identidade dos
deslocados, essa podendo ser readquirida através do uso de materiais que façam referência a
sua cultura. A compreensão dessa problemática auxiliará na criação de condições de
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habitabilidade por meio da proteção climática; armazenamento e proteção dos bens materiais;
equilíbrio emocional e privacidade.
4.2. Do acampamento
A qualidade de vida, proposta pelas condições de habitabilidade, deve ir além do habitar com
dignidade e identificação sócio/cultural, mas se projetar à localização e implantação dos
abrigos no campo. Embora tendo que lidar, com a imprevisibilidade dos fenômenos naturais,
tornando impossível um planejamento do local de assentamento dos abrigos, os estudos nos
levam a algumas recomendações, dentre outras, para escolha do campo: os terrenos devem
estar relativamente próximos às áreas de risco, sem causar perigo; optar por espaço amplo,
mas que agrupe pequenas comunidades autônomas, estimulando a sociabilidade; o
acampamento deve ser drenado, suprido de água e longe de focos de insetos e dos lixões.
5. Premissas fundamentais para o abrigo temporário de emergência
Rápido fornecimento, baixo custo, flexibilidade de adaptação ao terreno, fácil
montagem/desmontagem que permita a participação do utilizador do abrigo, são
características essenciais que nortearão a construção dos abrigos em situações de emergência,
seja de qual ordem for. Observando princípios sustentáveis e funcionais, procurando seguir
diretrizes lógicas e eficazes para o design desse produto.
5.1. A estrutura
É o elemento central na formulação de uma proposta viável para abrigos de natureza
emergencial, por conta da necessária rapidez e eficácia de resposta. Classificaremos em
tradicionais construídas in loco e alternativas as entregues em forma de kit para montagem no
local. O avanço tecnológico contribui para o surgimento de mais modelos de sistemas
estruturais alternativos, esses por sua vez, subdividimos em modulares e desmontáveis, tendo
em comum entre eles a pré-fabricação.
5.1.1. Tradicionais



São predominantemente utilizadas em áreas rurais e nas áreas urbanas de menor porte;
Técnicas construtivas conhecidas pela população, facilitando a autoconstrução, a
rapidez e a aceitação pela comunidade;
Baixo custo, dando-se pelo acesso aos materiais locais e a reutilização dos mesmos.
5.1.2. Modulares



Estruturas pré-fabricadas, entregues no local como volume acabado para implantação
imediata;
São unidades autônomas, permitindo o acoplamento de outros módulos, seguindo a
mesma repetição volumétrica;
As unidades podem vir equipadas com mobiliário, coletores solares, sistema de coleta
de água, etc.
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5.1.3. Rígidas




Estruturas pré-fabricadas, entregues no local de forma parcelada, para serem montadas
fácil e rapidamente no local, pelos próprios utilizadores;
É uma opção para áreas de difícil acesso pela facilidade do transporte parcial, porém
não são as mais indicadas onde se exige flexibilidade para com o terreno;
Rigidez conferida pela planificação geométrica do piso, paredes e cobertura;
As unidades podem vir equipadas com mobiliário, coletores solares, sistema de coleta
de água, etc.
5.1.4. Tensionadas




Sistema construtivo semelhante ao das tendas tradicionais, onde uma membrana fina
(lona) é sustentada por uma armação rígida, confere facilidade de transporte e rapidez
na montagem;
Os materiais mais utilizados são o poliéster coberto com PVC para a membrana de
cobertura e o aço ou alumínio para à armação;
Indicada para locais que necessitem de espaços mais flexíveis;
Soluções mais complexas e menor durabilidade inviabilizam este tipo de abrigo para
situações de emergência.
5.1.5. Pneumáticas





A Estrutura é formada por uma membrana impermeável e insuflada, cuja estabilidade
se dá pela permanente pressão do ar, necessitando de constante suprimento de energia;
Alguns inconvenientes como, a pouca resistência à força do vento, maior risco de
incêndio e a dificuldade de manter o equilíbrio térmico, precisam ser observados e
corrigidos em projeto;
É uma das opções mais econômicas. De materiais reciclados como o pneu e a fibra de
poliéster com PVC, contribuem para o baixo custo do produto.
São estruturas bastante flexíveis e leves. Desmontada torna-se um pequeno volume
para transporte;
A montagem/desmontagem é fácil e rápida.
5.2. Considerações de parâmetros sustentáveis
O equilíbrio entre os aspectos ambientais, econômicos e sociais, contribui para o
desenvolvimento sustentável, que é o atendimento as necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias. “Um projeto
sustentável deve ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável”
(RITTER, 2012). Refletindo sobre o conceito de sustentabilidade, na produção arquitetônica
para os abrigos emergenciais, é imprescindível a tomada de consciência para a minimização
da pegada ecológica, utilizando-se de sistemas que respondam a finalidade do produto e se
adeque às circunstâncias do lugar. Visto isso, é importante considerar as características
básicas de uma edificação sustentável, listadas pelo IDHEA (Instituto para o
Desenvolvimento da Habitação Ecológica):

Gestão sustentável da implantação da obra
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
Consumir mínima quantidade de energia e água na implantação da obra e
ao longo de sua vida útil
 Uso de matérias-primas ecoeficientes
 Gerar mínimo de resíduos e contaminação ao longo de sua vida útil
 Utilizar mínimo de terreno e integrar-se ao ambiente natural
 Não provocar ou reduzir impactos no entorno – paisagem, temperaturas, e
concentração de calor, sensação de bem-estar
 Adaptar-se às necessidades atuais e futuras dos usuários
 Criar um ambiente interior saudável (free VOCs/COVs)
 Proporcionar saúde e bem-estar aos usuários
Disponível em: (http://www.idhea.com.br/pdf/nove_passos.pdf.url).
Sequenciando esses argumentos sobre sustentabilidade na construção, lançamos mão de
alguns princípios para a prática do ecodesign, abordados em sala de aula.

Escolha de materiais de baixo impacto ambiental: não poluentes, não
tóxicos, de produção sustentável, reciclados, menos energia na fabricação.
 Eficiência energética: utilizar processos de fabricação com menos energia.
 Qualidade e durabilidade: produzir produtos que durem mais tempo e
funcionem melhor a fim de gerar menos lixo.
 Modularidade: criar objetos cujas peças possam ser trocadas em caso de
defeito, pois assim não é todo o produto que é substituido, o que também
gera menos lixo.
 Reutilização/Reaproveitamento: Propor objetos feitos a partir da
reutilização ou reaproveitamento de outros objetos; projetar o objeto para
sobreviver seu ciclo de vida, criar ciclos fechados sustentáveis.
(RITTER, 2012).
A respeito de outros componentes da construção, abordaremos critérios de seleção para
otimizar seu desempenho, são eles: os materiais, equipamentos e elementos construtivos
complementares.
5.2.1. Materiais
A análise do ciclo de vida dos materiais, que vai desde a extração da matéria-prima, passando
pela produção até o descarte, se faz necessária, visto que, são os resíduos gerados desse
processo grandes causadores de impacto ambiental. Objetivando evitar ou diminuir, a
produção destes, a opção pelos componentes pré-fabricados na construção se prestam muito
bem a esse papel, pela condição de reuso ou descarte em partes e não do todo.
O uso de materiais disponíveis na região é uma forma de baratear a construção e ter maior
aceitação pelos usuários, guardadas suas devidas proporções para não causar impacto e nem
inflacionar o mercado, é uma opção bastante utilizada como vimos nos projetos do arquiteto
Shigeru Ban. Os materiais renováveis tem trazido inovação, um exemplo é o bioplástico, feito
a partir de materiais naturais derivados de plantas como o milho; madeira de demolição, o
bambu de baixo impacto ambiental; as tintas naturais dentre outros. Outro tipo são os
recicláveis, reutilizáveis ou reaproveitáveis materiais provindos do lixo, a exemplo do papel,
vidro, pneu, garrafas pet, etc. Os materiais são elementos primordiais na composição do
orçamento e o uso racional deles, auxiliará na funcionalidade como um todo do objeto.
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5.2.2. Equipamentos e elementos construtivos
A tecnologia dos equipamentos, somados aos elementos integrados na estrutura e aliados a
um conjunto de ações, podem reduzir o consumo energético e melhorar o conforto ambiental.
podemos citar:
 Painéis solares: aquece a água pelo acúmulo de carga térmica.
 Painéis fotovoltaicos: transforma energia solar em eletricidade.
 Baterias: para armazenamento de energia eólica, cuja voltagem é alternada pela
velocidade do vento.
 Lâmpadas fluorescentes compactas: solução de iluminação mais eficiente.
 Torneiras e bacias sanitárias de baixo consumo.
 Sistema de calha e reservatório: que respectivamente captam e armazenam água da
chuva.
 Texturas nas superfícies: podem ser usadas para auxiliar no conforto térmico e
acústico.
 Bioclimatização: aproveitamento da luz natural usando cortinas, persianas, brises,
cores claras no ambiente, etc.
Eficiência energética e sustentabilidade envolvem o emprego de materiais, produtos, forma,
orientação solar, uso das cores, texturas, vegetação, aberturas e brises, para contribuir no
alcance do objetivo final que é proporcionar conforto com economia, quando utilizados
conscientemente. Embora seja um processo a ser desenvolvido e estudado, podemos encontrar
em variadas versões arquitetônicas, segundo relata a professora Roberta Mulfarth: “O projeto
bioclimático começa na leitura do contexto, ou seja, no entendimento das condições
ambientais locais, e pode ser visto tanto na arquitetura vernacular como nos exemplos
conhecidos como “high-tec” ou “eco-tec”.” (MULFARTH, 2011)
6. Conclusão
Vivemos em tempos de grandes e rápidas transformações sem precedentes, em todos os
âmbitos, na arquitetura não é diferente, há uma demanda mundial pela habitação póscatástrofe. Não bastando, portanto, à evolução tecnológica nem o conhecimento de técnicas
construtivas para amenizar ou solucionar o problema, mas organização social como forma de
pressionar os governos e por outro lado, uma estruturação acadêmica que promova a
investigação metodológica. A análise deste estudo mostra a importância de estabelecer uma
arquitetura específica para a habitação de emergência, não esquecendo seu vínculo original
com a arquitetura efêmera, mas atentando para outras necessidades e limitações impostas por
sua peculiaridade, denotando um grau de complexidade além da questão da transitoriedade.
Constatamos na nossa pesquisa a indisponibilidade de abrigos móveis na cidade de Recife. A
forma de abrigo oferecida pelo governo supre momentaneamente à necessidade de um
pequeno número de desalojados, ou seja, a ajuda é tímida e paliativa, confirmando a falta de
estratégia e despreparo para o enfrentamento da crise.
O ainda não despertado, interesse coletivo profissional pelo tema, reflete-se na escassa
bibliografia que aborde o assunto. É de grande valia que profissionais e pesquisadores
intensifiquem as investigações, trazendo subsídios para novas soluções, aperfeiçoamentos de
novas técnicas e uso de materiais, pois cada estudo abre caminhos para outros experimentos.
ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013
Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência
Dezembro/2013
Por fim, entendemos que a mudança de panorama, implica ações mais efetivas por parte do
Estado, no sentido de financiar e coordenar ações paralelas de cooperação das universidades,
pesquisadores, organizações sociais e comunitárias.
Referências
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Acesso em: 8 fev. 2013.
Anexo
Entrevista
ORGÃO: Coordenadoria de Defesa Civil Recife (CODECIR)
ENDEREÇO: Rua Afonso Pena, n.500, Santo Amaro, Recife-PE
ENTREVISTADA: Keila Ferreira (Gerente Geral de Atenção Social)
PROFISSÃO: Assistente Social
TELEFONES: (81) 9488.6247 / (81) 3355.2115
EMAIL: [email protected]
1. Como é feito o socorro às famílias vitimadas?
KF – O atendimento é preventivo, mas quando ocorre à emergência podemos atender. Se a
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situação for grave pelo Corpo de Bombeiros.
2. Onde são abrigadas essas famílias?
KF – Em abrigos temporários, um na Zona Norte e outro na Zona Sul.
3. Existe algum tipo de abrigo temporário móvel?
KF – Não
4. Como é vista essa necessidade, por vocês profissionais?
KF – Seria importante, nos daria melhores condições de trabalho.
5. A quem pertencem esses abrigos?
KF – O abrigo pertence à Prefeitura, que garante a logística da Assistência Social.
6. A quem cabe fazer a segurança das famílias nos abrigos?
KF – A Guarda Municipal.
7. Como é o controle sanitário nos alojamento?
KF – A limpeza é feita pela Prefeitura - EMLURBE, também é feito acordo de convivência
com as famílias abrigadas.
8. Quais as estratégias governamentais e seus resultados?
KF – A prevenção. O que trás resultado bom é o trabalho preventivo.
9. Como tem sido a relação do governo com as ONGs, no socorro as vítimas de catástrofes
naturais em Recife?
KF – Não há relação com as ONGs.
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