normas internacionais de contabilidade
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NORMAS INTERNACIONAIS DE CONTABILIDADE Diocézar Costa de Souza (Unicentro/UFPR) Marcos Roberto Kühl (Unicentro/UFPR) Roberto Rivelino Martins Ribeiro (UEM/UFPR) Resumo Este trabalho realiza um estudo teórico sobre o contexto atual das normas internacionais de contabilidade. Para tanto, faz a priori uma rápida contextualização do cenário brasileiro, para em seguida discorrer sobre o cenário internacional. Contempla especificamente, como se encontra o processo de harmonização na Europa e na seqüência, analisa o caso brasileiro. Do exposto, faz uma análise de como se encontra o processo como um todo. Conclui que é necessário a harmonização, e que os países e organismos responsáveis, devem empreender esforços para viabilizar a integração de forma eficaz e mais ágil, do que se apresenta na relidade. Palavras-chave: Normas Internacionais de Contabilidade, harmonização contábil, contabilidade internacional Considerações Iniciais Denota-se, atualmente, um esforço mundial em busca da padronização das práticas contábeis e de auditoria, que requerem a adoção plena das Normas Internacionais de Relatórios Contábeis (IFRS, antigas Normas Internacionais de Contabilidade). Não obstante, essa evolução vai requerer, também, a modernização da contabilidade brasileira, que é boa e avançada, mas que ainda não está totalmente alinhada aos padrões internacionais, necessitando assim, de melhor normatização, apesar dos avanços dos últimos anos e dos esforços do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) e do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). O movimento mundial, por sua vez, é integrado pelos principais organismos internacionais, como International Organization for Governmental Securities Commissions (Iosco), Comitê da Basiléia, International Financial Stability Forum, Banco Mundial, Conselho de Normas Internacionais de Contabilidade (Iasb), International Federation of Accountants (Ifac) e Unctad, visa quebrar as barreiras que impedem que o capital chegue aos países que mais necessitam, além da proteção dos investidores de modo a incentivá-los a aplicar também em diferentes países. Foram identificados 39 países por onde flui o comércio mundial e há consenso de que a padronização é urgente. A maior parte desses países possui projetos de adoção das IFRS até 2007. Até os Estados Unidos, que sempre 2 resistiram às normas internacionais, se integraram a essa onda e mantém projeto conjunto com o Iasb para propiciar a convergência entre seus padrões (US Gaap) e as IFRS. O Brasil está entre esses 39 países, mas não tem projeto e possui entraves que dificultam a adoção plena dessas normas. Nossos principais concorrentes entre os países emergentes, China e Rússia, possuem projetos de adoção plena das normas contábeis e de auditoria, sendo que a China hoje está bastante avançada em seu processo de modernização de seu ambiente contábil. Mas as dificuldades não param aí. A profissão contábil brasileira não está debatendo suficientemente esse assunto e não está preparada para a mudança. Os cursos de Ciências Contábeis não discutem e avaliam às Normas Internacionais de Contabilidade e muitos profissionais e professores desconhecem o alcance das principais diferenças entre o conjunto brasileiro de normas contábeis e o conjunto internacional. Além disso, de nada vale um conjunto moderno de normas contábeis se o mesmo não for adotado por todas as empresas que atuam no país. Contabilidade é controle, informação e prestação de contas. A existência de mais de um conjunto de regras (normas internacionais e normas fiscais), retira da contabilidade a comparabilidade, a credibilidade e a sua capacidade de bem informar, pois o usuário comum não saberá quais são as diferenças e qual regra é mais adequada para informar o desempenho das empresas. Nesses sentido, é fundamental o envolvimento do Ministério da Fazenda, para orientar seus agentes (Banco Central, CVM e Receita Federal) que as normas a serem adotadas no país são aquelas estabelecidas internacionalmente. Essa é uma sinalização fundamental se quisermos ter um único conjunto de normas contábeis. As IFRS possuem a virtude de serem conhecidas pelos usuários internacionais, o que de imediato agregará confiabilidade às informações prestadas pelas empresas, aumentando suas chances de captação e de exposição mundial. Além disso, por seguirem um conjunto de regras validado pelos organismos internacionais, acabarão conseguindo maior confiabilidade, que por si só propicia acesso aos recursos a custos mais acessíveis. Mas outro aspecto importante da iniciativa da Bovespa é a possibilidade de firmas de auditoria menores, que estão alijadas desse segmento, possam voltar a nele atuar. Aí também se requerem melhorias na prática profissional, em especial no conjunto das normas de auditoria, o que nos faz recomendar que adotemos de imediato as Normas Internacionais de Auditoria, escritas pela IFAC, na qual o Brasil tem tido destacada 3 participação. Esse conjunto de normas é o mesmo que a Inglaterra adotou a partir de 2005 e que a Comunidade Européia estuda adotar a partir de 2006. Se as companhias brasileiras são auditadas segundo um conjunto de práticas conhecido dos investidores internacionais, maior confiabilidade estará se dando a esses investidores, facilitando sua decisão em investir no Brasil. Nosso país é carente de poupança interna, que é uma das variáveis fundamentais para o equilíbrio da economia. Por seu lado, o estado brasileiro que foi o grande investidor até o início dos anos 1980, não mais tem recursos e perdeu sua capacidade de planejar e gerar investimentos de infra-estrutura. Nossa dependência do financiamento estrangeiro nos deixa vulneráveis. O mercado de capitais é uma ferramenta que deve ser utilizada e as iniciativas da Bovespa e de outros participantes do mercado de capitais podem ajudar para o desenvolvimento do país. A sociedade brasileira precisa discutir esses assuntos com certa urgência. As resistências decorrem de crenças e certezas, além de interesses não confessados. Somente o debate franco poderá esclarecer as dúvidas e indicar qual caminho a ser percorrido. Normas no Cenário Internacional Atualmente existe o IASC – International Accouting Standards Committee que é o Comitê de Padrões de Contabilidade Internacional, foi constituído em 29 de junho de 1973, através de acordos efetuados entre organismos profissionais de contabilidade de diversos países. O IASC é um organismo independente do setor privado, que tem como objetivo alcançar uniformidade nos princípios contábeis utilizados pelas empresas e outras instituições que preparam demonstrações contábeis no mundo. Segundo o IBRACON (1997) os objetivos do IASC são: 1. Formular e publicar no interesse público normas contábeis a serem cumpridas na apresentação das demonstrações contábeis e promover mundialmente sua aceitação e cumprimentos; 2. Trabalhar em geral pela melhoria e harmonização das regulamentações, normas contábeis e procedimentos referentes às demonstrações contábeis. Necessário se faz ressaltar que atualmente nas normas brasileiras, as sociedades em geral são reguladas pelo código civil brasileiro, alterado em 2002, sendo que as sociedades 4 anônimas possuem normas especificas que norteiam suas ações e regulamentam suas atividades conforme preceitua a Lei n. 6.404/76 – Lei das S/A. O desejo de harmonização contábil não passou desapercebido no seio das diversas instituições que revelam interesses pela contabilidade. Muitas iniciativas foram desenvolvidas de maneira a que se tentasse resolver a questão da harmonização contábil. As iniciativas mais importantes foram as do IASC (International Accouting Standard Committee), e as da União Européia. Mas também existiram outras contribuições valiosas por parte de organizações como a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e a Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCED). A IASC (International Accounting Standards Committee) iniciou suas atividades do resultado de um acordo entre associações profissionais da Alemanha, Austrália, Canadá, EUA, França, Holanda, Japão, México, Reino Unido e Irlanda, mas o ritmo das suas ações e feitos não tem sido uniforme ao longo deste período. As tarefas do IASC são conduzidas por um conselho que compreende representantes de até 13 países e com um máximo de 4 organizações interessadas no relato financeiro. O IASC tem ampla e completa autonomia no estabelecimento e emissão de normas internacionais de contabilidade. Existe uma relação entre o IASC e a Federação Internacional de contabilistas (IFAC-International Federal of Accountants), que é ratificada pelos compromissos mútuos a que estas se obrigam. Com vistas a apoiar os objetivos do IASC os seus membros devem assegurar que as demonstrações financeiras publicadas estejam em conformidade com as normas internacionais de contabilidade em todos os aspectos materialmente relevantes. Anteriormente à formação da IASC existiam inúmeras diferenças na forma e conteúdo entre as normas contábeis publicadas na maior parte dos países. É evidente que cada país rege com maior ou menor grau a emissão das demonstrações financeiras, e é preciso esclarecer que as normas do IASC não se sobrepõem às disposições locais que regulam a emissão das demonstrações financeiras num determinado país. Nestes últimos anos, o IASC dedicou-se essencialmente sobre a International Organisation of Securities Commissions, no reconhecimento das suas normas nas bolsas de valores de todo o mundo. As normas do IASC são utilizadas como referência, mesmo que a maioria das instâncias nacionais prefira ditar as suas próprias regras para o seu país, ou então adaptá-las caso a caso. Muitas empresas de diferentes países têm contudo, como 5 referência o IASC, como solução à interligação das suas contas consolidadas. Nos anos 80, o IASC considerou que a sua missão não consistia só na elaboração de normas contábeis para os países desenvolvidos, mas também devia oferecer às Sociedades Profissionais de Contabilistas mais recentes e aos novos organismos de normalização um conjunto de normas elaboradas à sua medida. Este nova missão aproximou o IASC do IFAC (International Federation of Accoutants) o que proporcionou o apoio das organizações membros do IFAC. Foi um grande benefício para o IASC, visto que as suas normas passaram a ser adotadas por novos membros, como o Chipre, a Índia e a Malásia e também serviram como referência ao estabelecimento de uma regulamentação contábil em certos países, como a Polônia, a Ucrânia, a Rússia e a Hungria. No fim dos anos 80, o IASC adaptou uma nova política caracterizada por uma maior implicação das instâncias nacionais de normalização, dos utilizadores e das empresas, por um financiamento mais diversificado e sobretudo pelo estabelecimento de normas reconhecidas por todas as bolsas do mundo. Acredita-se que a adoção nos países das normas da IASC terão com o decorrer dos tempos um impacto significativo. A qualidade das demonstrações financeiras será melhorada e poderá chegar-se a um crescente grau de comparabilidade. A harmonização ao nível da União Européia é vista de uma maneira diferente, visto que existe um mecanismo de harmonização legal dirigido pelo Conselho de Ministros, que elabora as diretivas jurídicas que os Estados Membros devem aplicar. Esta experiência que teve lugar, nos anos 70 e 80, modificou consideravelmente a contabilidade na Europa ocidental e influenciou fortemente a contabilidade dos países da Europa de leste em transição para uma economia de mercado. O Tratado de Roma teve como objetivo a livre circulação de pessoas, de capitais, de bens e serviços em toda a União Européia. A Comissão Européia, que constitui o poder executivo de união, adotou um programa de harmonização relativamente ao direito das sociedades, em que se constituía um verdadeiro “terreno uniforme” para todas as empresas européias. O primeiro objetivo era o de eliminar a concorrência e de criar um mercado único; o segundo objetivo era evitar a constituição de “paraísos legais” suscetíveis de atrair a atenção de empresas graças à existência de uma legislação particularmente constrangedora. O programa de harmonização foi inicialmente realizado com grande entusiasmo, sendo menos durante os anos 80. Após o Tratado de Maastricht em 1992, muitas diretivas ainda estavam em fase de elaboração. 6 No que diz respeito ao direito das sociedades a 4ª e a 7ª diretiva são as que se relacionam com a contabilidade. Na maior parte dos países, a aplicação da 4ª diretiva não constituiu uma revisão profunda da legislação contábil. Foi simplesmente adicionar novos elementos à legislação já existente. Um dos pontos essenciais a reter, é que a 4ª diretiva faz referência a que a contabilidade das empresas forneça uma imagem fidedigna da mesma. Devido à lentidão dos processos, as diretivas poderão estar ultrapassadas quando se dá a sua aplicação num determinado país. Elas não podem dar uma resposta rápida às alterações na envolvente economia, ainda que a rapidez da reação é geralmente considerada como uma das qualidades essenciais do processo de normalização. A questão da eficácia da harmonização européia em matéria contábil é certamente uma das que mais debates tem suscitado. A harmonização da prestação de contas tem sido um estudo difícil e os resultados obtidos neste domínio são reais e úteis. É igualmente evidente que as regras contábeis a nível nacional continuam a assentar em bases diversas e que estão cada vez mais interligadas aos aspectos econômicos e sociais de um País. Tal diversificação é mais evidente relativamente aos princípios contábeis do que propriamente às regras de avaliação ou às exigências na publicação. A comissão Européia pode bem estar a caminhar para um erro estratégico, por ter defendido, desde o início, uma harmonização contábil para todo o tipo de empresas, qualquer que fosse a sua dimensão. Nas recomendações do grupo Elmendorff só estavam incluídas as empresas que estivessem cotadas em bolsa, mas o primeiro projeto da diretiva tornou extensível a todas as sociedades de capitais. Esta expansão às pequenas e médias empresas foi talvez, um dos mais importantes obstáculos à obtenção de uma diretiva coerente. Em 1991, foi criado um Fórum Contabilístico Consultivo (Accounting Advisory Forum), constituído por representantes dos organismos nacionais de normalização e por outros grupos de interesse. Não tem qualquer poder, mas a sua existência permite à Comissão o diálogo direto e informal com os “normalizadores”. O Fórum criou vários grupos de trabalho incumbidos de estudar problemas contábeis particulares. É difícil medir o impacto destes dois comitês sobre a regulamentação ou a prática contábil na Europa visto que eles não exercem qualquer poder de regulamentação. Todavia, é provável que contribuam para a formação de um consenso a nível europeu. O obstáculo fundamental à harmonização é a dimensão das diferenças entre as práticas contábeis dos diferentes países. Isto significa que se o “reporting” financeiro varia de País para País será razoável dizer que o seu significado também. Uma da formas de se 7 contornar este problema é a elaboração de dois relatórios financeiros: um para consumo doméstico outro para consumo internacional. A falta de entidades nacionais, profissionais e reguladores no domínio da contabilidade em alguns países é outro dos grandes obstáculos. Quando esta situação acontece, a função do IASC torna-se bastante difícil e pouco objetiva. Outro dos problemas tem a ver com o nacionalismo exacerbado. Em alguns países, a recusa ou o não cumprimento de determinadas normas contábeis está relacionado unicamente com o manter da soberania e a não aceitação de outros valores estrangeiros, ou então correspondem à total falta de interesse e conhecimento de novos e mais modernos princípios contábeis. Existe ainda outra dificuldade ou obstáculo também relacionado com a implementação de “standards contábeis”, que é o chamado efeito das conseqüências econômicas que daí possam advir. Este problema pode por si só vir a provocar uma impossibilidade à não ser implementada a harmonização contábil. Sabe-se que as regras contábeis de cada País foram evoluindo ao longo dos tempos por forma a responder às necessidades da envolvente social, cultural e econômica de cada país, mas que com a implementação de uma harmonização seriam quebradas porque, tal como o nome indica, seriam elaborados conjuntos de regras comuns. É de salientar que a heterogeneidade das prioridades e dos objetivos contábeis e financeiros entre Países representa outro obstáculo à harmonização. Conforme retrata Schimdt (2004) um simples lançamento contábil, pode gerar resultados adversos em empresas que efetuem transações internacionais. Como por exemplo é o caso dos lançamentos de “reavaliações de imobilizados” e de “equivalência patrimonial”, entre outros. Para as empresas uma harmonização internacional dos procedimentos contábeis tem custos. Uma alteração dos métodos contábeis pressupõe também uma alteração nos relatórios financeiros da empresa e os utilizadores dessa informação têm de ter consciência dos efeitos dessas alterações. A nível interno a empresa suporta igualmente os custos de formação e de adaptação informática, mas de uma maneira geral esses custos serão muito mais onerosos para pequenas empresas do que para grandes empresas, pois estas últimas têm maior facilidade em repartir esses custos que são na sua maioria fixos. Uma das razões, para a padronização contábil, tem a ver com a importação e exportação de técnicas, instituições e conceitos para todos os cantos do mundo. As 8 empresas multinacionais também têm desempenhado um importante papel na transferência das técnicas contábeis de um país para outro. Devido a sua abrangência, torna-se necessário a elaboração de relatórios financeiros para o País de origem, de acordo com as respectivas leis e práticas vigentes. Assim, analistas e investidores necessitam de ter um conhecimento aprofundado do sistema financeiro de vários países, tendo em conta também, que as multinacionais angariam fundos não só a nível doméstico, mas principalmente nos mercados de capitais mais diversos. Quanto à razão de comparação pode-se dizer que é talvez uma das mais importantes etapas atualmente vivenciada, pois assim, permite a um país ao observar e comparar-se com outro, procurar aperfeiçoar sua contabilidade territorial. É assim possível, observar como é que outros países reagiram ou estão a reagir a problemas que lhe poderão ser equiparados. Até à poucos anos atrás, a contabilidade tem sido discutida somente numa base nacional, não sendo dada grande atenção aos conceitos adotados por outros países, ignora-se o fato de que os métodos contábeis instituídos e propostos para um determinado país, podem estar já em vigor em outro, e que a sua observação poderá ajudar a melhorar e se necessário alterar tais métodos. Por exemplo, no Reino Unido e nos Estados Unidos da América, existiram por vezes alturas de grande uniformidade no planejamento de relatórios financeiros e nos princípios de avaliação de empresas, de forma a que se chegasse a uma proximidade entre a contabilidade e a tributação. (Muitos contadores norte americanos decidiram que devia existir uma legislação mais forte para empresas; para tal, os contadores britânicos recomendaram que se devia criar um organismo governamental regulador com poder sobre os assuntos contábeis). A razão de existência da harmonização tem vindo a desenvolver-se como sendo também de bastante importância nos últimos anos. A harmonização poder ser definida como um processo de crescimento de compatibilidade das práticas de contabilidade fixando-se um limite para os seus graus de possível variação. A standardização aparece como forma de imposição para um mais rígido e restrito conjunto de regras, e surge daqueles que regulam, preparam e analisam os relatórios/balanços financeiros. Os investidores e os analistas financeiros precisam conhecer e perceber o sistema financeiro de empresas estrangeiras cujas ações eles estejam interessados em adquirir. Os relatórios financeiros de empresas que operam em diferentes 9 países têm de ser comparáveis e fidedignos, ou então que sejam claros quanto à natureza e magnitude das possíveis diferenças. O desejo de existência de harmonização não é só requerido por empresas multinacionais, mas para estas as vantagens que daí possam advir são muito mais significativas. Com a harmonização da contabilidade tornar-se-á mais fácil a elaboração de relatórios financeiros, visto serem elaborados de acordo com uma mesma base, e a informação interna de empresas subsidiárias será muito mais fácil de comparar e analisar, tornando-se mais claro e vantajoso. A Harmonização das Normas Contábeis na Europa A harmonização faz parte da legislação comercial e é instituída por meio de Diretivas, que são pronunciamentos da Comunidade Européia. Essas Diretivas são instrumentos legais transmitidos aos países, nos quais são impostos por via de processo legislativo. A harmonização não objetiva chegar a normas uniformes, mas a obter equivalência e comparabilidade. Para restaurar a comparabilidade, onde diferentes soluções são permitidas, por serem consideradas equivalentes, informações adicionais precisam ser dadas em notas explicativas. Esta é uma parte importante do processo de harmonização. A divulgação de notas explicativas é aceita como meio de corrigir informações no balanço patrimonial e na demonstração de resultados. A aplicação das Diretivas Contábeis é supervisionada pela Comissão Européia, sob o controle da Corte de Justiça Européia. Cerca de 4 milhões de empresas em toda a Europa são diretamente interessadas nas Diretivas Contábeis. Estas têm, também, desempenhado importante papel nas reformas contábeis de muitos países da Europa Central e Oriental. Em 1995, a Comissão Européia pôs em prática uma nova estratégia contábil, que objetivava a integração da harmonização européia na harmonização internacional. Em comunicado aos países membros, a Comissão recomenda que as empresas européias que estão procurando capitais nos mercados internacionais apresentem seus balanços consolidados em conformidade com as normas internacionais (IAS), até onde não existirem conflitos com as Diretivas Contábeis. Um exame da conformidade entre as IAS e as Diretivas, feito pela Comissão Européia conjuntamente com os países membros, concluiu que não há, no momento, conflitos importantes entre esses dois conjuntos de normas. 10 Ao recomendar o uso das IAS, para a consolidação de balanços, aos que atuam no mercado global, a Comissão expressou uma clara preferência pela iniciativa IOSCO-IASC, em vez da aplicação de GAAPs americanos pelas companhias européias. É claro, contudo, que estes podem ser aplicados nos casos em que não conflitam com as Diretivas. Um levantamento geral da conformidade entre os GAAPs e as Diretivas ainda não foi feito. O Caso Brasileiro Inegável é a demanda por padrões de contabilidade internacionais, que ganhou força depois dos escândalos ocorridos com grandes empresas americanas e européias. Desde a sua formação, em 2001, o Iasb tem progredido nos esforços de desenvolver a uniformização dos padrões de contabilidade globais para os mercados de capitais mundiais. Em 2002, várias jurisdições, incluindo Austrália, União Européia e Rússia, anunciaram que adotariam padrões internacionais até 1 de janeiro de 2005. No caso da União Européia, não apenas as companhias abertas, mas todas as cerca de 7 mil grandes ou médias empresas da região estarão migrando para as normas do Iasb. Em setembro de 2002, o Iasb e seu correspondente nos EUA, o Financial Accounting Standards Board (Fasb), firmaram um acordo para trabalhar na busca da convergência entre as práticas americanas e as internacionais e o desenvolvimento em comum de padrões futuros. Se entrar na ativa de fato, a Fenc1 poderá ser mais uma agente dessa harmonização. A idéia dos idealizadores da Fenc e criá-la nos moldes do Fasb e do Iasb, ambos representados por diversas categorias de profissionais envolvidos com a utilização de padrões contábeis. A autonomia para emissão de normas é que poderá ser diferente. O Fasb edita as normas sem a interferência da Securities and Exchange Commission, a CVM norte-americana, que tem apenas o poder de veto. No caso do Iasb, a autonomia é ainda maior, já que as regras por ele emitidas são definitivas. No caso brasileiro, os instituidores 1 Assim foi concluída no final de setembro a minuta do estatuto que cria a Fundação de Estudos e Normas Contábeis (Fenc), uma espécie de laboratório de normas e procedimentos em contabilidade. Em sua estrutura, não faltam fóruns para incorporar os mais diversos agentes de mercado. A começar pelo conselho curador, órgão máximo da fundação, formado por representantes dos contadores, auditores, empresários, profissionais de investimentos e acadêmicos, além das bolsas (Bovespa e BM&F) e o governo federal (Comissão de Valores Mobiliários e Banco Central). Abaixo do conselho curador vem o conselho consultivo, para o qual estão sendo convidados representantes da Receita Federal, de agências reguladoras, entidades de classe, da Fundação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), além de companhias abertas e outros interessados. 11 da Fenc esperam que as normas criadas na fundação sejam também validadas pelos órgãos competentes, uma vez que todos participarão em conjunto da sua elaboração. Mesmo antes de entrar em funcionamento, a fundação já discute os caminhos que pretende seguir na elaboração das normas contábeis brasileiras. Não há como escapar da discussão que vem envolvendo contadores em todo o mundo desde que os escândalos contábeis nos Estados Unidos colocaram à prova todos os sistemas mais tradicionais. Deve a contabilidade seguir um modelo baseado em regras bem definidas e específicas ou em uma declaração de princípios gerais, mais focada na essência do que na forma? Os dois modelos - o primeiro mais semelhante com a contabilidade desenvolvida no mercado norte-americano e o segundo mais alinhado com o formato anglo-saxão – foram discutidos em profundidade pelo congresso dos Estados Unidos durante a preparação da lei Sarbanes-Oxley – lançada em meados de 2002 para regular o comportamento das corporações em resposta aos escândalos deflagrados pelo Enron. Os legisladores norte-americanos tinham receio de que o modelo de padrões contábeis calçado em exceções e interpretações pudesse Ter favorecido os esforços dos executivos para estruturar transações que provocassem um resultado contábil desejado e ainda tivessem permitido que a companhia desse pouca transparência aos impactos dessas operações nos balanços. Para tirar a dúvida, solicitaram à SEC o estudo de viabilidade de um sistema baseado em princípios e menos em regras definidas. Como primeiros resultados, concluiu-se que um modelo baseado apenas em princípios traria dificuldades para a fiscalização porque oferece poucas indicações para o julgamento da aplicação desses princípios. Concluiu também que um sistema muito calcado em regras freqüentemente se torna um veículo para escapar do princípio contido na regra. A SEC acabou optando por um modelo intermediário, baseado em conceitos e acompanhado de evidências claras do objetivo das regras. Esse modelo deve contemplar ainda detalhes suficientes para a aplicação consistente da norma, poucas exceções e pouco uso de premissas baseadas em percentuais. Segundo o SEC, esse sistema não é divergente daquele que vem sendo adotado pelo Fasb. O estatuto da Fenc estava sendo analisado por diversas entidades do mercado e algumas ainda avaliavam sua participação no grupo. A idéia é iniciar as atividades do comitê o quanto antes, além do conselho curador e do conselho consultivo, a Fenc terá um conselho fiscal e uma diretoria, a ser composta por profissionais contratados no mercado. 12 No modelo desenhado pelos fundadores, os custos de administração da Fenc serão financiados por empresas e entidades patrocinadoras. O Processo Internacional de Harmonização Se não levarmos em consideração harmonizações regionais, como a da União Européia, podemos mencionar várias iniciativas de harmonização em nível internacional mais amplo. Entre as iniciativas oficiais podemos citar a do ISAR (Grupo de Trabalho Intergovernamental de Peritos sobre Normas Internacionais de Contabilidade e Relatório), da ONU, e a do Grupo de Trabalho da OECD (Organização Européia para o Comércio e o Desenvolvimento). Contudo, a mais importante é uma do setor privado, de iniciativa do IASC. Esta iniciativa ganhou importância desde que a IOSCO (Organização Internacional de Comissões de Valores Mobiliários) declarou-se disposta a endossar as IAS para fins de registro de ações em bolsas de valores. Hoje, a maior parte do trabalho do IASC está baseado nos esforços de fixadores de normas de quatro países, denominados Grupo de 4 (Austrália, Canadá, Reino Unido e Estado Unidos). Esses países são os que investem mais recursos e esforço na fixação de normas contábeis. Entre os quatro, os Estados Unidos ocupam uma posição muito especial. Os US GAAP (Princípios de Contabilidade Geralmente Aceitos) norte americanos, hoje emitidos pelo FASB (Financial Accounting Standards Board) têm influência na fixação de normas de muitos países. Dentro da estrutura do IASC, somente a Europa tem contribuído, por meio da Comissão Européia, que mantém um membro observador dentro do IASC. Contudo, as opiniões desse membro nem sempre representam uma posição unânime de todos os países membros da União Européia. Mas não há dúvida de que a preferência da Comissão Européia em favor das IAS teve um impacto muito positivo nas negociações entre IASC e IOSCO, as quais objetivam facilitar os registros de ações nas principais bolsas de valores do mundo.” A verdadeira harmonização internacional deve ser um processo realmente internacional. No momento, não se pode dizer que o processo do IASC é verdadeiramente internacional. Há dois problemas importantes. O primeiro é que nem todos os países aceitam a forma de pensar dos anglo-saxões, cujas normas contábeis atendem às 13 considerações do mercado de capital. O segundo problema é que o procedimento seguido pelo IASC, para aprovar as normas, é o utilizado nos países anglo-saxões, de divulgar os rascunhos de pronunciamentos, para receber comentários. Como muitos países não estão habituados ao processo, não respondem, tornando imperfeito o processo de decisão. Em virtude dessas dificuldades, o processo não é adequado às exigências de todas as companhias do mundo. Com os entendimentos entre IASC e IOSCO, não há problemas das companhias adequarem suas contas para poderem registrar-se em qualquer bolsa de valores do mundo. No campo da Contabilidade, não é a mesma coisa que a harmonização de normas técnicas (ISO). No que se refere às relações entre órgãos emissores de normas, seja no âmbito nacional, regional ou internacional, deve realizar pesquisas de modo descentralizado, em todos os níveis e haver ação coordenada em nível internacional. O atual sistema, no qual a maior parte do trabalho tem sido preparado pelo Grupo 4, não é, contudo, um mau sistema. Mas para ser realmente internacional, é necessário haver outras iniciativas, que possam servir de base para normas a serem adotadas internacionalmente. O mundo ainda não está suficientemente harmonizado para estabelecer um pensamento contábil global, mas o IASC deve ser o lugar de encontro dos fixadores de normas de todo o mundo. Desde que exista harmonização regional, isto facilitaria o processo internacional de harmonização. As entidades regionais são importantes não somente na preparação das normas, mas também na imposição e fiscalização de seu uso. Elas ajudariam a resolver os problemas de incorporação de normas internacionais aos diferentes ambientes sócio-econômicos e legais.” A Europa optou por uma abordagem internacional. A moeda única deverá ser uma força motriz para obter melhor coordenação em nível europeu. A falta de imposição das normas contábeis internacionais na Europa é devida à inexistência de reconhecimento oficial, o que dificulta sua vigência compulsória. A obrigatoriedade deve ser imposta pelas autoridades contábeis nacionais, não podendo ser deixada a cargo do IASC. As pequenas e médias empresas têm um ambiente diferente, não sendo possível impor-lhes as mesmas normas adotadas pelas grandes empresas. A estratégia contábil posta em prática pela Comissão Européia, pressupõe que a harmonização européia deve ser integrada á internacional e que empresas internacionais européias devem apresentar 14 somente um conjunto de contas consolidadas, preparadas preferencialmente na base das IAS (normas do IASC). Considerações Finais A necessidade de normalização e harmonização da contabilidade internacional é uma questão de tempo, entretanto, existem diversos empecilhos que vêm dificultando os estudo para normalização e harmonização. Uma das diferenças é o perfil da classe contábil dos países. Alguns têm um perfil de classe onde existe a necessidade de normalização governamental e em outros as próprias entidades de classe é que normalizam a prática contábil. Constitui-se num entrave, a imposição do mercado americano de ações sobre o resto do mundo, contrapondo os interesses de outros mercados, como por exemplo o europeu. Outra dificuldade considerável, é o nível de desenvolvimento tecnológico e da própria profissão contábil, das entidades de classe e do próprio sistema jurídico, ou como visto em uma das referencias “há muito por se fazer e que as resistências regionais se apóiam no sistema jurídico vigente em cada país, portanto, em suas tradições, regionalismo e nacionalismo exagerado. Referências ALMEIDA, Fabiana Lucas de; NEVES, Fernanda Ramos das. Harmonização contábil: um estudo sobre a transição para a nova tendência mundial. Disponível em http://www.contadoresaic.org/libreria/biblioteca%20de%20eventos/biblioteca_por_temas.htm acessado em 20/05/2006. AMENÁBAR, Ana Maria Hinojosa. Harmonização contábil em cinco países da América do Sul. Dissertação (Mestrado). 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